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INSULADA: Fotoperformances em ilhas de Belém1
Rosilene da Conceição Cordeiro2 (UNAMA/ PA)
Pedro Ivan Olaia Ribeiro Filho3 (UFPA/PA)
Analaura Corradi4 (UNAMA/PA)
RESUMO: O presente artigo surgiu no intuito de produzir reflexões teórico-críticas em torno
de algumas considerações/posicionamentos/análises quanto aos elementos compositivos das
relações conceituais, artísticas e estéticas, ´resentes nas performances do Projeto “INSULADA:
o ato de se transformar em ilha”. O projeto em tela se configurou como um ensaio
fotoperformático realizado em três ilhas da região insular da cidade de Belém-PA, Ilha de
Cotijuba, Ilha das Onças e Ilha do Combu, sendo ele concebido e levado a termo por um
coletivo de artistas performers, também, da cidade de Belém, ao ser contemplado com o Prêmio
de Produção e Difusão Artística 2016, patrocinado pela Fundação Casa das Artes, no estado do
Pará. Os artistas objetivavam propor uma forma artística diferenciada, interfaceada num
trabalho interlinguagens „entre‟ fotografia, corpo, performance e dos recursos tecnológicos que
dispunham, a fim de problematizar indagações sobre vida continental e vida insular as quais, na
maioria das vezes reapareciam separadas, nos sentenciando a pensar/ sentir/ experimentar/
produzir saberes culturais sobre tais espaços pertencentes da cidade de forma fragmentada, de
realidades dissociadas e culturalmente desiguais. As fotoperformances insulares, assim
chamadas, reabriram esses canais de descobertas e análises pelas experimentações diversas
(visuais, sonoras, auditivas, olfativas e táteis) percepções contextuais vividas em cada imersão.
Ao término das viagens o trabalho foi compartilhado com o público em ações distintas, entre
exposições, catálogo virtual, rodas de conversa sobre o processo artístico e duas performances
cênicas inclusas no rol de atividades interventivas com o público, INFUSÃO e FISSURA,
ambas [a]presentadas no Estúdio REATOR. A performance FISSURA foi re-apresentada na Elf
Galeria, em agosto de 2018 por ocasião da exposição “
1 ‘Trabalho apresentado no III Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre
os dias 19 e 21 de setembro de 2018, Belém/PA”. 2 Mestra em Comunicação, Linguagens e Cultura pela Universidade da Amazônia PPGCLC/UNAMA
(2018). Especialização em Artes Cênicas, Estudos Contemporâneos do Corpo, UFPA (2012). Graduação
em Pedagogia pela UFPA (2003) e atriz, pela Escola de Teatro e Dança da UFPA (2006). Integrante dos
grupos de pesquisa Capital Social e Cultural no Contexto Midiático Contemporâneo, Grupo de Pesquisa
Arte Contemporânea na Amazônia: fluxos, redes e cartografias, ambos da Universidade da Amazônia.
Pesquisadore integrante do grupo de pesquisa PERAU - Memória, História e Artes Cênicas na Amazônia,
da Universidade Federal do Pará. Email: [email protected] 3 Mestrando em Linguagens e Saberes na Amazônia - Leitura e Tradução - UFPA-Bragança (2017). Pós-
graduado em Educação Matemática Comparada, Escola Superior Aberta do Brasil, ESAB (2015).
Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Pará (2010). Ator pela Escola de Teatro e
Dança da UFPA. Faz parte do Grupo de Pesquisa LELIM (Laboratório de Estudo Linguagem Imagem e
Memórias) e do editorial da Nova Revista Amazônica. Artista multimídia e pesquisador cujo trabalho tem
como foco as performances de Sophia, que é sua drag queen.. Email: [email protected]
4 Doutorado em Ciências Agrícolas pela Universidade Federal Rural da Amazônia em Ecossistemas
Amazônia ( 2009) mestrado em Letras: Lingüística da Universidade Federal do Pará (1998) É licenciada
em Comunicação Social pela Universidade Católica de Pelotas (1980). Professora titular na Universidade
da Amazônia, nos cursos de Comunicação Social (Publicidade e Jornalismo) (1990) e do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura (2009) Vice coordenadora do ITA Interações e
Tecnologia da Amazônia (UNAMA / UFPA), coordenadora do Grupo de Estudos de Capital, Assuntos
Sociais e Culturais no contexto da mídia contemporânea (UNAMA) e do Projeto Banzeiro. Email:
2
Membrana insulada Metrópole” da qual fez parte do Projeto Circular. Como resultado da
pesquisa obteve-se um processo que não apenas reinaugurou o olhar cotidiano sobre as ilhas da
cidade de Belém-Pa, numa perspectiva humana e estética, bem como oportunizou aos artistas
performers e ao público participante uma visão de dentro e de fora, o meio, o desvio e o avesso
de diversos olhares voltados à vida que pulsa e se retroalimenta de ambos os lados. A relação
arte-vida entendida pelas lentes dos estudos da performance (SCHECHNER, 2003; LIGIÈRO
2011), bem como restauraram e ressignificaram comportamentos memoriais (CORRADI E
CORDEIRO, 2016; CORDEIRO, 2018), alargando reflexões socioculturais acerca da presença
dos afetos nos trajetos pessoais e coletivos nas intervenções artísticas presentes, como
reaproximaram os atuantes do seu imaginário cultural amazônico paraense, reprocessado nas
representações imagéticas da relação corpo-fotografia-performance nesta contemporaneidade
emergente, ainda por desvendar-se.
Palavras-chave: Insulada. Corpo e fotografia. Corpo e performance. Fotoperformances.
1 O EU e os “eus” do projeto INSULADA: Introdução
Este artigo surgiu de um universo maior, de um a priori que nos indaga
permanentemente em algumas de nossas amazonidades cotidianas latentes, buscando
potencializar o posteriori reflexivo que dele decorra com vistas a uma teorização crítica
que não apenas justifique sua realização, como objetiva situar o leitor acerca de como,
de onde partimos e os motivos que moveram o desejo dessas investidas escriturais
interlinguagens por onde tais estudos se apresentaram, revelaram e reverberaram.
Apresentamos, portanto, as margens, enchentes-vazantes deste relato para sua tessitura,
digamos, mais funda e fluida.
INSULADA: o ato de se transformar em ilha foi um trabalho que se deu no
âmbito das pesquisas contemporâneas em torno dos corpos performers e da relação
destes com os contextos socioculturais das ilhas visitadas no universo das linguagens
artísticas presentes no trabalho, sendo elas fotografia, performances cênicas,
audiovisualidades, artes digitais (no que concerne ao trabalho de edições e montagens
realizadas em estúdio), totalmente vinculadas à experiência cultural manifestada na
oralidade local dos sujeitos participantes das ações. Como oralidade, partimos do
pressuposto de que esta se configura importante fonte de conhecimento, tendo em vista
que para Cristo (2012 p. 15 APUD LOUREIRO, 2000) pode ser interpretada como uma
manifestação da cultura e ao mesmo tempo responsável pela transmissão de saberes, fazeres e
viveres culturais. Para a autora, na Amazônia, para muitos povos, ela ainda permanece
como tradição, assumindo caráter poetizante nos mitos e nas artes.
3
Assim, aqui nos inclinamos a categorizar a oralidade ligada ao horizonte
criativo vasto, compreendendo criatividade como o trabalho coletivo de um grupo de
pessoas interessadas em criar atividades perceptivas corporais em performances
(CORDEIRO, 2018) numa proposta de interlinguagens guiadas por tal cultura. Algo
que, para além da perspectiva solo, permite a investigação numa tessitura orgânica
social coletiva e comprometedora deste ser/pensar/sentir/fazer arte junto e relacionado a
um determinado contexto, neste caso, o da performance entendida como parte da
cultura cotidiana. Nesse jogo imaginativo a pesquisa desenvolvida conseguiu linkar
desejos pessoais e íntimos, considerados pelos artistas, no universo performático,
produto/meio/processos das práticas culturais mais amplas que margeiam o
viver/produzir/compartilhar mediado por linguagens artísticas.
Logo, Rosilene Cordeiro e Pedro Olaia, performers ligados à cena das
intervenções urbanas5, Dudu Lobato
6 um fotógrafo que atua no campo da fotografia de
imersão (penetrando e vinculando-se de forma proximal aos cenários e vivências do
contexto a ser registrado) e Nando Lima, performer paraense com atuação nos campos
tecnológico e plurimidiático fizeram deste encontro um trabalho de performances sobre
muitas camadas, as quais analisadas metodologicamente pelos estudos da performance
(SCHECHNER 2003) evidenciam ressonâncias significativas às vivências-
aprendizagens dos performers na atualidade, sobretudo quando a experiência se propõe
em diálogo com a cena acadêmica o que, neste caso, corria paralela à formação em pós-
graduação (Mestrado acadêmico) dos performers, Rosilene e Pedro, ao qual os mesmos
estavam vinculados à época.
Dentre as questões motivadoras, estão, portanto: o trabalho com a performance
como chave movente surgiu em face de nossas práticas de pesquisas pessoais estarem
entrelaçadas pela cena artística contemporânea na cidade de Belém passando, inclusive,
5 Processos artísticos vividos no campo aberto, em espaços não convencionais, com público não
programado, a-priori, para a recepção dessa arte, digamos mais “arredia”, subversiva, fugaz aos
dogmativos de uma arquitetura, ou estética formal voltada a um público selecionado. [...] “tomada do
espaço público como campo de conexão direta entre o sujeito e a sociedade e analisada sob o conceito de
Corpomídia, que considera o corpo inserido em suas relações ambientais dos espaços urbanos [como
suporte e conteúdo], e não apenas um depositário de informações”. Cf. O corpomídia e a Intervenção
Urbana. Monografia apresentada por Fabiana Prado para o curso de Pós-graduação “Corpo, Espaço e
Pensamento Moderno”, ECA - USP. São Paulo, 2006. (grifos nossos). 6 O fotógrafo Dudu Lobato produz trabalhos artísticos na linguagem da fotografia, onde busca a produção
de fotografias que interajam com o corpo em movimento, como nas propostas de trabalhos desenvolvidos
na linguagem da performance, onde o fotógrafo capta o momento efêmero do movimento espetacular do
performer, que a partir desta perspectiva de produção fotográfica que resulta em instalação. (Depoimento
obtido do artista, gentilmente cedido para o presente trabalho. 2018)
4
a interromper nosso interesse canônico pelas ditas artes convencionais do espetáculo ou
da cena espetacular mais restrita (no caso um teatro puramente caixa preta, quase
sempre ligado ao espaço teatral e as formas tradicionais de um teatro em sua forma
clássica) e um alto teor de experimentação, como forma e conteúdo, bastante marcante
em nossas pesquisas como artistas independentes. Na verdade o desinteresse decorre do
fato de que para nós vigora o entendimento da arte não apenas como produto ou
resultado desse “espetáculo” alheio, de uns para muitos, construído para o que se
considera o “grande público consumidor” passivo da não compreensão do trabalho
artístico presente nas tais produções em si. Tal ideário deste teatro comercial, na maioria
das vezes, é elaborado e nutrido pelo discurso capitalista criticado por Debord (1997), o
qual opera pela segregação do processo que atravessa a relação produção-apreciação, e
não dá a devida atenção à valorização do trabalho criativo mais amplo, ao ato criador
como trabalho, como ofício, considerado em etapas importantes, desconsiderando todas
as fases primordiais vivenciadas pelo mesmo ao ser construído como um todo
indissolúvel, valorizando apenas os resultados representativos da vida e não pela vida
em movimento em si. Obra, portanto, desvinculada de seus realizadores diretos.
Como as performances nos propõem reflexões de cunho político em sentido
macro nos interessa, então, os meios de produção como parte desse todo, pois nosso
foco de experimentação perpassa as dimensões dos processos como essas partes sem as
quais não alcançamos a arte da obra. Então, em se tratando do Projeto INSULADA as
ações são compreendidas em composição, justaposição, circuito e interdependência
entre códigos e linguagens, desde a elaboração do projeto, construído também
coletivamente, como na captura dos registros, das edições dos áudios e vídeos,
perpassando a seleção, decupagens, prensagens e organização dos registros em 12
imagens em papel e 12 fotogrfias em tecido como as que se tornaram suporte das
fotoperformances levadas à exposição, como „resultado/produto‟ do projeto de pesquisa
e difusão artística.
Portanto, o trabalho com a linguagem performance, ao contrário, implica uma
outra reflexão sobre a cena artística em questão por se constituir numa teia re-
significada pelo componente corpo e no corpo por agir com muitas outras formas desse
dizer da arte em contexto contemporâneo, a qual oportuniza outros meios e fins que os
de natureza vendável, porque se ocupa dos processos vividos,
experimentáveis/vivenciados que se desejam compartilhar.
5
Para Ligièro (2011, p. 13) interessa aos estudos da performance, essa
confrontação direta com o vivido, o comportamento vivenciado, concentrando-se, desta
forma, na observação do fenômeno em si como apresentação, celebração ou
representação perene e única. Logo, uma vez “finalizados” esses
meios/processos/fenômenos retornam-nos, sempre à reflexão coletiva, à inquietação e à
incompletude dessa vida como grande tema dos processos criativos imediatos, sempre
se fazendo presente como algo incompleto e por re-descobrir, a reinventar-se trabalho
após trabalho. Eis então nosso porto de partida e de chegada: um trabalho de
performances artísticas entre corpos e interlinguagens vivenciadas em ilhas de Belém-
PA as quais podem ser melhor entendidas no site do plano diretor da cidade7.
De acordo com o referido site de pesquisa da cidade de Belém, esses lugares
representativos da vida estão localizados em uma área intermediária do estuário
amazônico, sendo que, nessa área de transição entre a água doce (ao sul da Baía de
Guajará e à direita do Rio Guamá) e a água salgada (ao norte de Belém na altura da
cidade de Colares) encontram-se a Ilha de Cotijuba, Ilha das Onças e Ilha do Combu,
caracterizadas por rios, canais de maré (“igarapés”), florestas, várzeas, baías, campos
alagados e praias pouco exploradas pelo „estrangeiro‟ visitante.
Ainda com base no referido projeto, nessas ilhas as populações nativas e/ou
ribeirinhas de tradição são a maioria dos povos habitantes da mata e da beira, vivendo
principalmente do extrativismo e da pesca, se inserindo na economia local
principalmente como fornecedora de produtos primários. No entanto é necessário
esclarecer: não apenas de agricultura, turismo, pesca artesanal e uma vida pouco
impactada pelo vício urbano vivem essas regiões: as ilhas configuram, primordialmente,
lugares de convívio com dinâmica própria, lócus de afetos, relação biunívoca seres
humanos-vegetais-animais, magia em estado bruto, conexão astral entre elementares,
olhos d‟água a nos acorrentar para dentro de si8.
Premiado com recurso público estadual, o projeto inclinou-se, assim, na
reinauguração de „um possível outro olhar‟ e sua devolução pública no trabalho artístico
em performances oferecido à cidade de Belém-PA sobre uma possível representação de
sua região insular por um posicionamento rtístico e estético, humanizado e humanizante
7 Segundo o referido site o Município de Belém está dividido em 8 Distritos Administrativos e 71 bairros,
com um território de 50.582,30 ha, sendo a porção continental correspondente a 17.378,63 ha ou 34,36%
da área total, e a porção insular composta por 39 ilhas, que correspondem a 33.203,67 ha ou 65,64%.
http://www.belem.pa.gov.br/planodiretor/paginas/brasao.php. Acessado em janeiro/2018. 8 Cf. http://www.fundoamazonia.gov.br/pt/projeto/Ilhas-de-Belem/# , acessado em abril/2016.
6
revendo a relação continente-ilhas, olhar de dentro e de fora, o entre e o avesso de
diversas formas existentes de ver a vida cotidiana que pulsa, se re-inventa e ressignifica
na dimensão colaborativas vital entre rios, matas, terra firme, lama, ar, vegetais, animais
todos pertencentes a este universo único e cósmico que nos irmana e arrebanha em
torno de si, reverberando na região que julgamos continental da cidade.
A problemática das relações compositivas no ato criativo INSULADA: o ato
de se transformar em ilha, desdobrou-se como atividades realizadas no mês de
dezembro de 2016 e janeiro de 2017como participante do rol de atividades do Estúdio
REATOR9.
Fotoperformances 1 e 2: Ilha das Onças. Performer Rosilene Cordeiro e Pedro Olaia,
respectivamente. Dudu Lobato. 2016
Metodologicamente optamos pelo registro memorial, crítico e reflexivo, da
concepção, elaboração e realização das ações inerentes ao processo criativo dos
atuantes-performers a partir de algumas concepções conceituais trazidas pelas
discussões enlaçadas pela fotografia, num diálogo de corpo, performance e
fotoperformance considerando que a oralidade, também e sobretudo, se constituiu num
documento relevante ao trabalho, tendo em vista que “a relevância cultural da oralidade
está na sua importância enquanto forma de comunicação ainda predominante em muitos
lugares da Amazônia, onde os meios de comunicação de massa e a internet ainda não
existem ou existem de forma restrita” (CRISTO, 2012, p. 15).
9 O REATOR é um estúdio criado por Nando Lima, em parceria com Artistas, Grupos, e Cia Artísticas
empreendedoras de Belém, para viabilizar ações em vários segmentos artístico disponível em
https://www.reator.net/sobre. Acessado em agosto/2017.
7
Como resultado das reflexões teóricas aqui propostas entre os artistas-autores
acerca dos diálogos estreitos estabelecidos a partir da tríade fotografia-corpo-
performance, consideramos que os trabalhos concebidos em etapas, perpassando o
deslocamentos dos performers às ilhas, à produção local, à ambientação ao lócus das
ações em cada ilha chegada, ao trabalho fotoperformativo triangulado entre Pedro,
Rosilene e Dudu, e das ações de produção, edição e montagens, obtivemos um rico
material que hoje compõe o acervo audiovisual, imagético e textual das ações
performativas presentadas nos diferentes tempos e espaços, igualmente apresentado em
sua escritura acadêmica ( como literatura resultante da ação) compondo o acervo das
experiências performáticas, hoje, igualmente compreendidas performances em
comunicação.
2 Atravessamentos, convergências e fragmentações: relações metodológicas
INsuLares
Na justificativa do projeto INSULADA10
, lemos:
“Nossos antepassados indígenas e africanos tinham o hábito de conviver
pacificamente e respeitar profundamente a natureza e a força, intensidade e
poder das coisas que não vemos e que popularmente, nessa região, chamamos
de visagens/assombrações, termos, conceitos, ampliados na literatura
maravilhosa/ fantástica e nas ciências, procurando “explicar” daquilo que
bem sabemos que existe, pois ainda que não consigamos provar sua
existência, podemos senti-las, mesmo que não a vemos. Aquilo que na Física
se denomina como energia-matéria escura ou invisível”.
Tais orientações nos ajudam a pensar que, como amazônidas (moradores
naturais dos rios, matas e florestas desta vasta região natural que se abriu em cidades),
temos um imaginário expressivo (tanto tradicional de matas ou campesino, como
urbano) bastante aflorado pelas questões que atravessam, totalmente, os viveres locais
entre lendas e mitos próprios de nossa diversidade regional. Para Durans (1989)
imaginário corresponde ao conjunto das relações de imagens que constituem o capital
pensado do homo-sapiens e disso não podemos nos apartar ao pensar as relações
estabelecidas entre esse „lá‟ e „cá‟ da ilha e do continente, tão presente e difundida pela
oralidade de seus habitantes, repassada de gerações a gerações como um expressivo
ritual de memória da ancestralidade que os habita.
Dentre eles, por exemplo, alguns moradores das ilhas e do continente, depõem
que em Belém há uma cobra grande enterrada, e que quando ela acordar a cidade vai
10
Trecho obtido da justificativa do Projeto INSULADA enviado à Casa das Artes. 2016
8
ruir e será engolida pelas águas11
. Acredita-se, ainda, que foi essa mesma cobra grande
que abriu os rios, onde antes só existia terra e a cobra grande nasceu pequena e foi
crescendo ao longo do tempo e saiu abrindo caminho na terra para a água passar, e por
isso nossos rios são em formatos serpentoidais.
Cumprindo esse ritual imaginativo difundido pela oralidade acredita-se, ainda
hoje, que o Curupira12
é uma entidade travessa, moradora da mata, que não pode ver um
novelo de cipó porque senão ele fica entretido tentando desfazê-lo, pois sua função é
“proteger árvores, plantas e animais das florestas”. Crê-se, ainda, que o Muiraquitã é um
talismã sagrado construído por índias Icamiabas, mulheres guerreiras, Amazonas sem
marido que cultuam a grande mãe Lua e do barro esverdeado modelam muiraquitãs e
outros amuletos13
.
Dessas histórias comuns contidas no imaginário paraense e repassadas de boca
em boca foram pensadas fotoperformances, em que os atuantes estivessem envolvidos
numa atmosfera intimista realizando um trabalho de corpos conectados a essas energias
do mesmo modo aos elementos naturais dos contextos de imersão procurando, por meio
dos registros fotográficos capturar sentidos/sensações/emoções presentes naquele „ali-
agora‟ dessas performances cênicas como experimentações corpóreas atravessadas pelos
sentidos, pelas percepções dos fenômenos advindos desses diálogos presenciais que
aconteceram nos lócus considerados centros ativos de re-existências, resistência e
ressignificações poéticas aonde a natureza persiste em meio ao apelo de um caos
urbano, sendo que estes sofrem e exercem influencias dos contextos entre si. Se o meio
ambiente nos leva ao pensamento de estarmos em „nossa casa original‟ foram os anseios
que nos motivaram a irmos em busca da alquimia exata entre a captura da objetividade
das câmeras “em punho” e os instantes quânticos de energias moldáveis onde tudo
acontece, tudo se transforma, onde o corpo se transmuta cenicamente ao ponto de se
plasmar uma energia captada, foto e/ou vídeo capturada Performance. Lá onde a obra
se corporifica se tornando poesia.
Para os Estudos da Performance, com base em Schechner (2003),
comportamentos alteram-se de forma prática e conceitualmente ao encontrar-se com
11
Cf. A cobra grande. Disponível em
http://www.orm.com.br/tvliberal/revistas/npara/edicao4/lendas/cobra.htm 12
Adaptado de Lenda do Curupira http://lendasdobrasil.blogspot.com/2010/10/lenda-do-curupira.html 13
Cf. Lenda do Muiraquitâ. http://www.sohistoria.com.br/lendasemitos/muiraquita/
9
relações reflexivas sobre este ser/fazer/mostrar-se fazendo performance oportunizando
a ampliação do olhar e o aprofundamento de conceitos em torno das temáticas e das
circunstâncias contextuais em que elas decorrem. Segundo Ligièro (2011, p. 13 APUD
CORDEIRO, 2018, p. 23) para os estudos da performance importa, contudo, a
confrontação direta com este „vivido‟ como exercício da vida, o comportamento
vivenciado restaurado, revisitado pela cena artística concentrando-se, assim, na
observação do fenômeno em si como apresentação, celebração ou representação perene
e única. Assim, poderíamos seguir Cordeiro (2018) considerando que em se tratando de
uma pesquisa grupal vai-se do individual ao coletivo, da vivência pessoal mais orgânica
à restauração de comportamentos da vida social, uma vez que
Na perspectiva da pesquisa do grupo, tais comportamentos, pensamentos,
palavras, objetos, gestos, sensações, percepções estariam associadas ao
sagrado cotidiano, à vida cultural e social produzido no exercício de viver, a
uma memória individual ligada à memória da comunidade, a qual os sujeitos
envolvidos na atividade pertenciam, às vivências simbólicas e representativas
de uma fé tipicamente cotidiana experimentada na rotina da vida presente não
espetcularizada. [...] (CORDEIRO, 2018, p. 23)
Fotoperformances 3 e 4: Ilha do Combu. Performers Pedro Olaia e Rosilene Cordeiro. Dudu Lobato. 2016
Para Cordeiro (2018 APUD CANTON 2009) cortes, interrupções, misturas,
fragmentações, as quebras de fronteiras, as relações híbridas, assim como as distorções
conceituais, os desvios, os vazamentos estéticos, as mobilidades em trânsito, os pontos
de fuga, os resíduos, e as efemeridades, são palavras relacionadas que traduzem com a
necessária imprecisão, a exata fugacidade da possibilidade, no atual contexto, na
dificuldade em conceituar Arte, hermeticamente falando, na contemporaneidade
recente. Dificuldade acentuada, sobretudo, porque utiliza vocábulos escorregadios
10
demais, comporta e agrega tanto, ao ponto de desagregar-se com maior facilidade a cada
nova tentativa.
É Cancline (1997), inclusive, quem esclarece, inclusive, que após qualquer
conversa sobre a arte, a expressão “quando não somos capazes de falar, devemos ficar
em silêncio” chega a parecer uma doutrina bastante aceitável. No entanto, segundo ele
“à exceção daqueles que são verdadeiramente indiferentes à arte, no entanto,
pouquíssimas pessoas, e entre elas os próprios artistas, conseguem manter esse silêncio”
(CANCLINE 1997, p. 143). Para o autor, a questão que envolve a nossa percepção de
qualquer coisa (a capacidade que temos em apreender por meio dos sentidos ou da
mente) aspectos que julgamos importantes em alguma obra em especial ou nas artes em
geral encoraja comentários incessantes, sejam estes falados ou escritos e não podemos
esquecer em seu canto, banhando-se em sua própria significância, algo que
significa tanto para nós. (CANCLINE, 1997, p. 143). [grifos nossos]
Do mesmo modo numa dimensão inter-colaborativa vital e inteira entre rios,
matas, terra firme, lama, ar, vegetais, animais, a parte fixa e a região hídrica, e a parte
urbanizada do continente, todos pertencemos a este mesmo cosmo de significância
indiscutível no qual o inventado da vida está presente e integra-se, pertenças do
imaginário e mitologias das encantarias com que convivemos, as quais irmanam e
reúnem os seres todos em torno de si e no qual os seres humanos sempre estiveram
presentes, apesar de seu distanciamento causado pela equivocada dicotomia no
entendimento da relação continental versus região insular da cidade, logo, natureza
versus cultura separados de modo arbitrário.
Atualmente interrogamo-nos, artistica e academicamente falando, nesses temas
sociais que objetivam a reaproximação desse homem com uma totalidade, portanto
sensível ligado aos fenômenos naturais, culturais e místicos, coletivizado de forma tão
insensível, com a matéria da sua humanização ultrajada, contida no espaçotempo14
desse “entre” da arte e da vida, e nessa humanidade, na subjetividade a ser redescoberta
uma redefinição de conceitos que a arte pode propiciar.
14 Cordeiro (2018, p. 25) designa o termo relacionado à perspectiva formativa e em rede, faz referência à
ação de escrita que ocorre noutra relação temporal e espacial conjugada que não apenas reatualiza a
narrativa do ocorrido, como instaura uma outra visão, crítica e reflexiva, sobre o produto derivante (o que
se escreve) como processo igualmente experimental, vivencial presente, neste caso, a corpografia
memorial.
11
O espetacular, corrompido em Debord (1997) nos convocando a sua nova
conceituação, re-aproximando-nos desse espetacular do encantamento adormecido,
manifesto na re-ativação dos sentidos amortecidos pela rotina dilacerante das relações
urbanizadas. Ativa-nos as criações produzidas no campo artístico, manifestados nas
sensações, nos afetos; canais abertos liberando-nos para a experiência do sagrado
cotidiano (CORDEIRO 2018) deslegitimado na sociedade de consumo que nos foi
sufocado pelo cartesianismo imposto pelas relações produtivas valoradas pela indústria
cultural15
na experiência16
do tempo presente.
Contudo, para Durand (1989, p. 14) o ser humano é dotado de uma extensa
capacidade de formar símbolos em sua vida sociocultural, assim “O imaginário, longe
de ser a epifenomenal louca da casa a que a psicologia clássica o reduz, é, pelo
contrário, a norma fundamental, a justiça suprema”. Destacamos que o autor utiliza a
expressão imaginário ao invés de simbolismo, uma vez que para ele o símbolo seria a
maneira de expressar o imaginário.
Em Cordeiro (2016) evidencia-se que a experiência do corpo como suporte
performativo „jogando‟ com a fotografia significa compreender, quadro a quadro, a
„estampa e a moldura do conteúdo e dos discursos que o envolvem como material dessa
matéria orgânica e sensorial maior não gessada por funções rígidas ou
condicionamentos estáticos. Uma forma outra de emoldurar as ilhas da cidade pelos
sentidos, nos movimentos, nas ações re-vendo-as nele, re-visitando suas margens e
superfície a partir dele, como quem aprecia-se em contato, instalando-se entre os
elementos naturais compositivos dessa matéria orgânica, quase [des]conhecidas,
reconhecendo-a e re-descobrindo-se nela, saltando pra dentro do corpo instaurado obra
artística que, recorrendo à experimentação de algo vivido concretamente per-formou-
se nele.
15
Para Adorno e Horkheimer, Indústria Cultural distingue-se de cultura de massa. Esta é oriunda do
povo, das suas regionalizações, costumes e sem a pretensão de ser comercializada, enquanto que aquela
possui padrões que sempre se repetem com a finalidade de formar uma estética ou percepção comum
voltada ao consumismo. CABRAL, João Francisco Pereira. "Conceito de Indústria Cultural em Adorno e
Horkheimer"; Brasil Escola. Disponível em http://brasilescola.uol.com.br/cultura/industria-cultural.htm.
Acessado em fevereiro/2018. 16
Experiência não como o que passa, mas o que nos passa. Não relacionada ao que acontece, mas ao que
nos acontece, não o que toca, mas o que nos toca (Cf. BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência
e o saber de experiência. 2002 , p.20)
12
O cênico dessas relações dialógicas confluentes em torno das referidas
categorias que se encontram na vida diária desaguando em cores e matizes distintos na
cena performativa foi obtido nas fotografias corpografadas, igualmente, pelo corpo do
performer-fotógrafo imerso no processo de feitura, na imersão espaçotemporal de
fotógrafo performando/se exercitando essa imersão de forma mais intencional, expondo-
se duplamente uma vez que se permitiu adentrar o universo performativo com ênfase e
decisão pessoal como o inusitado não previsto que a performance comporta como
linguagem (CORDEIRO 2018). Algo que em Schechner (2003, p.29) pode ser
corroborado pelo fato do autor enfatizar as múltiplas formas de vivenciar performance.
Para ele nas artes, “realizar performance” é colocar o desempenho, a excelência deste
em um show, numa peça, numa dança, num concerto, e acrescentamos: numa ação
fotográfica, numa ação física mais efetiva com a câmera perfazendo movimentos
deliberadamente cotidianos de forma mais enfática, desenhando-se como corpo
interventivo nos corpos que captura no espaçotempo, performando-se em percurso.
Schechner (2003) enfatiza que performance se dá tanto na vida cotidiana quanto na arte,
uma dessas formas “realizar performance”, portanto, consiste em exibir-se, chegar a
extremos, traçar uma ação para aqueles que assistem. E ainda, como performance,
descreve:
também pode ser entendida em relação a: sendo, fazendo, mostrar fazendo,
explicar esse “mostrar fazendo”. “Sendo” é a existência por ela mesma.
“Fazendo” é a atividade de todos que existem, dos quarks até seres
conscientes e cordas supergaláticas. “Mostrar fazendo” é desempenhar:
apontar, sobrelinhar, e exibir fazendo. “Explicar „mostrar fazendo” são os
estudos performáticos. (SCHECHNER, 2003, p.29).
Performance, então, para exibir fatos, relacionada a “mostrar fazendo” de
forma destacada, sublinhada, marcada para o olhar dos outros seria um meio
significativo para pensar o trabalho em INSULADA. Um fotógrafo performer em cena
destacando corporalmente seu ato de imersão sem capturar a si mesmo nessas imagens,
mas sublinhando-se subjetivamente pela fotoperformances que registrou ingressando na
arena dessa ação duplamente, como performer fotógrafo e como uma espécie de
observador (plateia) diferenciado, pois de forma simultânea coube a ele registrar, um
tipo de audiência desses momentos como presente dos processos vividos. Entre a
fricção imaginativa como participante do ato, sem perder de vistas a dimensão criativa e
técnica que o levou até ali esse precisou orquestrar esse lidar semi-estruturado de onde
partiu e com isso, em fluxo, exercitou sua imersão como experiência, experiência
13
entendida como conteúdo estético do trabalho em performance. Algo, segundo ele,
aprendido no contexto desse trabalho de forma diferencial.
Em INSULADA, as performances, se deram no campo desse “mostrar-se
fazendo”, ultrapassando o estado de clichês criado sobre as ilhas de espaços fixos que
permitem uma única visão sobre elas: a natureza exótica, contraposta ao urbano, estável
e paralisante, sem mobilidade, fluidez e instransponível desse “ambiente inalterado
habitado por ele mesmo” fruto de um imaginário muitas vezes alienado e alienante
construído pela mídia como olhar de fora, estrangeiro a nós. Clichês entendidos aqui
apenas como as “imagens que supõem um espaço de interioridade. Ou seja, territórios
capturados e imóveis, conjuntos e fronteiras estáveis, corpos orgânicos” (PARENTE,
1993, p. 18).
O que presenciamos, ao contrário, foram diferentes momentos de intervenção
corporal, dialógica e fotográfica, num contato rico, pela pluralidade e dinamismo em
que se deu, direto, presencial como fenômeno proposto em tempo real e obtido dessa
experiência corporal em contato orgânico com o ambiente natural das ilhas (com os rios,
as matas, a lama, o ar, os animais, nas conversas com os barqueiros, com os moradores
dos lugares no contexto urbanizado das comunidades visitadas nossas reconhecidas
colaboradoras de percurso). Momentos efêmeros entendidos como vestígios “perdidos”
no tempo-espaço cronológico da experiência, mas que a fotografia fixou como “devir”
dessas vertiginosas imersões. Imagens múltiplas, capturadas, segundo elementos
estabelecidos pelo próprio performer fotógrafo, na imagem objetivada desse corpo per-
formando-se ilha, contendo uma narratividade própria obtida dessa relação posta. E
esse, seja, talvez, um dos desafios que seja colocado ao fotógrafo contemporâneo:
descobrir (se)
Em que sentido é possível extrair imagens dos clichês imagens que nos
permitam realmente “viajar” (devir). Se tudo nos parece uma ficção, se tudo
parece conspirar para uma desmaterialização do mundo, se temos dificuldade
de viver a história, é porque tudo já parece ter sido programado, pré-
estabelecido, construído, calculado. (PARENTE, 1993, p. 18)
Na fala do fotógrafo, Dudu Lobato (2016), um fato importante a ser destacado:
“o que mais me impressionou foi que não precisamos ir lá longe, lá fora. Bastou
atravessar a cidade, uma parte da „nossa casa‟, em Belém mesmo, que eu ainda não
conhecia”. Talvez, no discurso do fotógrafo possamos identificar o quanto essa
interdição do espaço e do tempo na parte dessa cidade dita urbana continental
distanciada e distanciando-se cada vez mais da ilha, se deu essa automação da
14
percepção, citada por Parente (1997) tenha contribuído francamente para que esse
distanciamento que separou o olhar urbano do olhar insulado tenha se consolidado de
forma tão feroz, ao ponto da representação ter sido considerada de forma mais eficaz
que a apresentação, propriamente dita, enquanto o vivido da existência em estar lá foi
bastante significativo para o coletivo de artistas do INSULADA.
Um corpo performado/performando-se tornado público revelando,
publicamente, uma questão política num ato artístico: é preciso rever a forma com que
geograficamente fomos tratados por décadas de colonização, subjugo que ainda persiste
em práticas e pensamentos pós-colonialistas que nos fragmentam na atualidade.
Fotoperformances como hibridismo produzido no campo das narrativas contemporâneas
do corpo, re-arranjado, metaforizado implicando em criação, ativismo, denúncia,
poesia, acessando outras camadas poéticas no seu fazer criativo em diálogo. Corpo no
limite, como vida, imagem e representação nesse limiar do fenômeno artístico no qual a
vida se manifesta em poesia e crueldade e se materializa imagens, fotografias,
fotoperformações.
Durand (1989, p. 14) define imagem como a matéria de todo o processo de
simbolização, fundamento da consciência na percepção do mundo. Imaginário é a
capacidade individual e coletiva de dar sentido ao mundo. É o conjunto relacional de
imagens que dá significado a tudo o que existe. Uma resposta à angústia existencial
frente à experiência "negativa" da passagem do tempo. Imaginário mediando o contato
artístico entre fotografia, corpo, vídeo, performance em estreita interação com as
imagens que cada performer traz consigo da particularidade do seu imaginário íntimo à
disposição do grupo, fomentando o entrecruzamento de percepções, códigos distintos e
linguagens pessoais operalizadas na constituição das ações.
Fotografia cruzando-se nas vias e nos discursos traduzidos em dúvidas,
inquietações, incertezas e questionamentos que criam a possibilidade de re-inventar-se
como linguagem, já que mais que captar imagens o performer fotógrafo devolve ao
mundo o registro da sua imagem interior, da sua opinião e discurso, acerca das coisas e
do mundo, da vida em si. Seu próprio corpo, assim é posto a prova, não só pela
capacidade com que vai escrevendo tecnicamente sua ação própria atuação
fotonarrativa, como expondo, poética e politicamente, sua sensibilidade, seu
conhecimento, seu posicionamento como visão de mundo frente às tensões da vida, e
15
expressando-se artisticamente no sentido das possibilidades nascentes desse reolhar-se
diante e a partir da obra em que se comunica como artista de visualidades latentes.
Fotoperformances 5 e 6: Ilha de Cotijuba. Performers Pedro Olaia Rosilene Cordeiro. Dudu Lobato. 2016
Ambiente, planos, ângulos, formas, movimentos, tempos, texturas, cores,
sensações, sentimentos vem à tona expressar esse “dizer” guardado longe da palavra
oralizada, mas possível pelas conexões, teóricas e práticas, estabelecidas na pesquisa
INSULADA reunindo-se em torno do objeto “corpografado”, fotoperformado, portanto,
ao mesmo tempo em que, desgarrando-se pelo universo sígnico sem fim, se devolve ás
inquietações que o envolve e das ações performativas decolonialistas necessárias a essa
reflexão que se propõe crítica e transformadora.
Não se trata apenas de convergências em busca de uma unidade totalitária, ao
contrário, encaminharam-se por ocasionar deslocamentos, situações fronteiriças,
quebras e reencontros com várias interpretações possíveis e discursos plurais, como
manifestações localizadas nesse contemporâneo recente pertencente à área dessa
extremidade sugerida. Simultaneidade, processual (fotografia, corpo, performance e
captação em vídeo ocorrendo numa só frequência temporal no exato espaço sob
diferentes ângulos da mesma cena potencializando uma polivalência de imagens)
processo de descentralização do corpo como linguagem para a relação em contexto,
como meio e mensagem, como organismo complexo interligando, concomitantemente,
linguagens, sentidos, sensações, como diferentes processos de significação.
Um legado conceitual que é atravessado pelos sentidos, sentimentos e afetos de
uma relação a revelar as várias faces de uma cidade reencontrando-se em suas ilhas não
como uma geografia entendida da forma com que foi colonizada, mas enquanto pontos
16
de partida, indicações de caminhos, em que ideias suscitam ideias, em que a obra
transcende a si mesma e une ilhas e continente, no mesmo cenário e partir de um mesmo
tema. Importante, sobretudo, compreender que a memória faz parte desse conteído
acessado pois
O trabalho com a memória coletiva, portanto, implica sempre essa volta a si
mesmo: nos pensamentos nsa emoções, nos relatos, nas ações, nos objetos e
nos lugares que representam esse ponto de reencontro, sempre mediados por
lembranças, pessoas e espaços memoriais e o corpo continua sendo uma
forma bastante importante e significativa de se investigar essa relação
arquitetônica, igualmente histórica e memorial pelos afetos, sentidos e
significados nele contidos ( CORRADI E CORDEIRO, 2016, P. 16)
Para Cordeiro (2016) pensar a experiência do corpo como corpografia
memorial e em estado de performance significa compreender, ainda, quadro a quadro,
sua „estampa e a moldura do conteúdo e dos discursos que o envolvem como matérias
dessa matéria orgânica e sensorial maior não gessada por funções rígidas ou
condicionamentos estáticos; uma forma de emoldurar a cidade de sentidos outros para
que a cidade se re-veja nele, se re-visite a partir dele, como quem aprecia. Logo,
INSULADA revela-se, circularidade, uma exposição entre elementos quase
[des]conhecidos, reconhecendo-os/se, saltando para dentro do corpo recorrendo à
experiência do vivido para re-animá-lo em caminho reflexivo, produções escritas do
corpo grafadas por múltiplas relações imagéticas acionadas;.
3 IN fuSÃO e FISSURA do transbordamento das ilhas em nós: Consider@ções de
volta
Não é apenas a zona continental da cidade de Belém-PA, com seus 173,78 km,
representante dos 34,36% de sua área geral, que atrai o gosto e interesse por
investigações experimentais corpóreo-sensoriais no campo da performance. Em se
tratando dessa pesquisa foi justamente o seu território insular (já evidenciado)
distribuído em 39 ilhas, portanto 65,64% dessa área total que despertou nossa intenção
de trabalho proposto no Prêmio de Produção e Difusão Artística SEIVA 2016, da
Fundação Cultural do Pará.
Então esse é um dado importante para o fechamento do projeto “INSULAR: o
ato de se transformar em ilha”: encontramos importantes achados nesse abrir-se ao
ambiente, no deixar-se tocar por ele para, circundando aquilo que, por inúmeros e
urbanos motivos, nos inclinaram aos holofotes da cidade em detrimento das luzes que
hoje inundaram nosso olhar com a liquidez que banhou nossos corpos, deixemo-nos
17
seguir com o sol que tingiu nossa pele e cabelos com as cores do ar, do céu, das águas, a
terra, a lama, do fogo obtido no contato dessas penetrações de retorno, nos fazendo suar,
ativando nossa fome, nosso desejo criativo em trajeto. Nós afro brasileiros, afro-
indígenas amazônidas, paraenses, batizados na piedade de nossos ancestres seres da
encantaria cabocla amazônica de “afagos à beira rio” (na voz do poeta Antonio Silva)
espraiados nos demais espaços onde foi possível chegar; e vulgarmente afastados do
convívio com essas mesmas entidades pelo preconceito cultural desigual que nos
dividiu estabelecido na relação cidade-ilhas.
Para o fotógrafo Dudu Lobato esse foi um trabalho diferenciado e bastante
significativo, pois
Como fotógrafo e performer, fotografar um Projeto contemplado pelo SEIVA
2016 como o INSULADA, foi algo diferente para mim, já que ao mesmo
tempo, esse projeto me desafiou e agregou. Desafiou porque, antes de tudo,
era preciso compreender, respeitar e observar os locais (as tres ilhas
propostas onde foram apresentadas e fotografadas as perfomances: Cotijuba,
Ilha das Onças e Combu), a sua natureza característica, a geografia, sua
população e à luz disto construir o trabalho. Pois todos esses elementos
serviram para contribuir, a sua forma, para a composição das
fotoperformances. Ao mesmo tempo agregou, pois nas 3 ilhas propostas
neste projeto, onde foram apresentadas as performances que fotografei,
percebi que as mesmas se encontram em frente á cidade de Belém. Então me
permiti, no meu processo de criação, deixar meu corpo e minha mente
criarem a partir dessas imersões, como uma folha de papel em branco, algo
que seria preenchido no momento em que eu saísse de casa para atravessar o
rio para fotografar as performances. (Dudu Lobato. Depoimento oral. 2018)
Na fala do artista performer fotógrafo identificamos atos artísticos atravessados
pela experiência criativa pessoal a qual, no âmbito da performance se vive em atos
presenciais de contatos perceptíveis. Ora, a ilha não faz parte do universo diário do
artista mas este mantem com ela algo de cultural o que lhe permite redescobrir-se tanto
como fotógrafo como amazônida. Um gesto importante a ser considerado pelo coletivo
como ato gerador de outra reflexão discursiva relevante: essas ações ocorreram quando
nossa pesquisa adentrou a discussão da nossa própria porção sensível-geográfica de
artistas territorializados dessa região, revisitando esse nosso „torrão‟ insular, nossa
região insular interna e particular, alterando nossos corpos individuais numa
coletividade estabelecida pelo grupo de atuantes-performers envolvidos na ação,
potencializando os sentidos, nossas percepções humanas e estéticas, atravessando
nossas experiências cotidianas, pessoais, profissionais e políticas com atuação no centro
da cidade de Belém-PA. Entrava em jogo, igualmente, nossas relações com essa cidade
urbano-fluvial que nos cerca, envolve, que nos encanta e nos infere, afeta e questiona
18
em tudo que somos e nos tornamos (e a qual desconhecíamos também!) na relação com
esta arte que desenvolvemos a que denominamos performance.
Para Olaia (2018), artista performer que situa suas pesquisas no âmbito da
tríade corpo-performance-tecnologia sempre em relação com a cultura, ao referir-se ao
campo da linguagem performance, declara;
performance é arte, é vida, fricção, pulsação, choques de dor e prazer, jogo
cênico de improviso em que o afeto e o encantamento atravessam o espaço e
tempo, alterando, possibilitando outras dimensões que ultrapassam as
linguagens em si. Essas formas se desdobram em novas linguagens e fogem
do nosso próprio domínio, inclusive, do nosso discurso sobre elas.
(Pedro Olaia. Depoimento oral. 2018)
Sentimo-nos, então, no desejo múltiplo e exponencial de compartilhar a
natureza em entrelaçamentos: com seus seres aquáticos-terrestres-aéreos pensantes;
erveiros-bichos do mato correndo de nós e em mesmos; matas abertas dentro de
florestas intocáveis do que estamos a buscar no mundo; gentes-rios em mutação entre
vazante e cheia, alternando-se, eu diria, por inúmeras existências e em ininterruptas
gerações sempre em estado cíclico como a natureza que se refaz. Seres em ininterrupta
evolu(A)ção, flechados e capturados pela arte, reanimados pela vida em seu status
natural de vida em relação;.
Em seu depoimento, Dudu Lobato reitera, ainda, como a cultura amazônica de
vida ribeirinha e urbana se assemelham, integram e se tornam comportamentos
restaurados compartilhados de forma cotidiana, sempre traduzidas entre acolhimento,
disponibilidades afinidades afetivas. E enfatiza:
Vale, ainda. ressaltar, outras relações estabelecidas nesse projeto. Essas
relações começavam sempre no mesmo rio que nos levou às 3 ilhas. Onde os
barqueiros sempre solícitos, nos contavam as mais variadas histórias durante
toda a travessia de ida e volta, assim como os próprios moradores das ilhas
propostas sempre nos acolheram e trataram da forma mais humana e gentil
possível, mesmo sem nos conhecerem. Nos recebiam e nos guiavam aos
locais bem apropriados e peculiares para a realização da nossa ação artística
com a maior disponibilidade. (Dudu Lobato. Depoimento oral. 2018)
A fala do fotógrafo performer foi um divisor de águas nesse trabalho tendo em
vista que a partir dele passamos a ver melhor e refletir de forma mais detalhada os
caminhos da performance como meios e fins do trabalho tendo em vista natureza do
trablho de performances entre performances (corpo/ fotografia/tecnologia) atravessadas,
pelas culturas locais (pois na Amazônia tais expressões são plurais) em suas
manifestações entre arte e vida. Ao se referir ao trabalho com Rosilene e Pedro em cena
performativa, o artista esclarece:
19
Em se tratando da relação estabelecida entre os performers da cena e o
fotógrafo performer com o propósito de realização deste projeto, destaco que
as performances nunca eram roteirizadas, elas surgiam “espontaneamente” do
contato dos mesmos com os ambientes em que nos encontrávamos, onde os
mesmos iniciavam com um "pedido de permissão" (uma espécie de ritual na
mata, feito com velas, jogos de cartas de tarô e entrega de bebidas tais como
vinho e cachaça) para os nossos antigos ancestrais para adentrar na floresta
com proteção e abertura, seguidos de um "encantamento/transe" que tomava
conta dela e dele. Depois "purificação/limpeza energética e espiritual" do
ambiente e por fim uma espécie de "batismo/renascimento", onde os
performes pareciam estar prontos para as adversidades dos 4 elementos da
natureza que buscávamos nos relacionar/representar/fotoperformar: terra,
água. ar e fogo. Dito isso, como eu trabalho com minha câmera no modo
manual, eu tinha que pensar rápido e saber o momento certo de fotografar
cada uma dessas nuances, dessas performances apresentadas nas 3 ilhas para
não perder a veracidade, a clareza e as sensações do momento, aquilo que ali
estava compartilhando em sensações com eles, sem comprometer o registro
do trabalho.
Como pode se observar, o fotógrafo se tornou um participante-comungante
determinante no trabalho pelo grau de envolvimento que este empreendeu nessa
participação interferindo diretamente, adentrando os espaços com disponibilidade e
entrega ao que estava fazendo ali, mesmo com a ideia vaga do que exatamente buscava,
mas certo de que estava junto, desdobando-se em todas as fases do trabalho, que era
parte fundamental do ato de performar e deste modo se marca performer. Ali, invadido
pela experiência de haver sido „tocado‟ pelas ações descobre que a performance,
igualmente, não era apenas captada pela câmera, mas era demandada, do mesmo modo
pelos fluxos sensitivos/intuitivos/estéticos/ poéticos que partiam dele e por ele como
performances.
Então o que tínhamos no retorno dessas vivências, naquele agora do término de
tudo, ante nossos olhos igualmente aprendizes, não eram apenas pedaços, fragmentos
“pegos aqui e ali das performances a três” e colados nessas fotoperformances que
representaram nossas viagens imaginativas e criativas ao atravessas nossos rios físicos e
imaginativos. O que brotou foi um mosaico desses corpos residuais nessa passagem
breve por essas experiências vitais propostas em intervenções e instalações
performativas de caráter sensorial, entre corpos, objetos e paisagens naturais, capturadas
em áudios, vídeos e imagens, entre sons, texturas, papel e tecido nos remetendo às
representações dessas relações que ora se apresenta ao corpo sem que nunca tivesse sido
interrompida nele, apesar de nosso afastamento cronológico. Um material. Agora, a ser
disponibilizado ao público no sentido lato do termo.
20
Exposição INSULADA. Estúdio REATOR. Fotoperformances Dudu Lobato. Instalação Nando
Lima. 2016
A exposição resultante deu forma ao corpus obtido da relação estabelecida na
atuação dos quatro performers denominado corpus criativo obtido desse conjunto plural
do corpoambiente, fotoperformatizado, habitado por suas imagens, entre corpo em
movimento, áudio, vídeo, fotografia entre-ações gerando a imagem “retalhada” em
imagens-corpo, habitando-nos e presentificando/se esse espaço comemorativo comum,
tornando público nossas intimidades de percurso, devolvendo-nos ao nosso porto de
origem. Envolvimento afetivo, sensível, ético, poético e político nesses meses de
trabalho, estados performativos configurados INFUSÃO e FISSURA17
, compartilhados
em janeiro de 2017, no estúdio REATOR, nossa ilha editorial e laboratorial desse corpo
que “volta para casa” para revelar-se „arte pública‟, obra compartilhada.
Resultado-processo proposto entre degustação de frutas, cheiros, imagens e
muita conversa, entre artistas, curadores de arte e comunidade em geral como ato de
performances receptivas do trabalho, que se desejou coletivo e generoso, expressando o
querer bem vivido durante as ações, um cuidar de si e dos outros, nos registros que
propõem essa re-união dos elementos naturais entre si e com a parte inventada da vida
recorrente. Uma tela em muitas janelas imagéticas, expressões de uma relação sagrado-
profanada em abertura espacial, interna e externa, nos lançando como redes para fora
das canoas em que inúmeras vezes naufragamos em poesia, gerando a maresia do
entorno (antes de tudo o nosso próprio afogamento nas aprendizagens de percurso). Em
agosto de 2018 o trabalho foi convidado a compor a Exposição “Membrana insulada
Metrópole‟, de organização de Nando Lima e Dudu Lobato, em parceria com a Elf
Galeria, a qual compôs o Circuito Circular no mês de agosto/2018, na cidade de Belém-
PA. E daí, quiçá, espraiando-se em novas camadas de pesquisa e outros possíveis
desdobramentos.
17
Cf http://www.fcp.pa.gov.br/espacos-culturais/teatro-margarida-schivasappa/98-noticias-teatro-
margarida-schivasappa/1359-show-mulher-lucinha-bastos . Acessado em março/2017;
21
Referências
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Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação (jan/fev/mar/abr. Nº 19. 2002)
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Tradução de Heloísa Pezza Cintrão e Ana Regina Lessa. São Paulo: EDUSP, 1997 (Ensaios
Latino-americanos, 1)
CANTON, Katia. Narrativas enviesadas. Martins Fontes. São Paulo: 2009 (Coleção Temas da
Arte Contemporânea)
CORDEIRO, Rosilene da Conceição; CORRADI, Analaura. CORPOGRAFIA MEMORIAL: a
narrativa poética do corpo em “Proibido para o banho, performance a São Marçal”. Artigo
aprovado como comunicação oral e apresentado no IV Seminário Brasileiro de Poéticas
Orais: narrativas, performances, cantos e seus arquivos de saberes, ocorrido entre os dias 26 a
28 de abril de 2017, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Salvador. Disponível em
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Belém, 2012. 275 f. (2018).
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