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Integração da América do Sul: o BNDES como agente da política regional do
governo Lula
Gabrielle S. Paz 1
Resumo
Este artigo estuda a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na política regional
do governo Lula (2003-2010), com destaque para a Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana
(IIRSA). O BNDES atuou como agente econômico da política de integração regional enquanto fonte de crédito
subsidiado para a IIRSA. Em virtude da importância estratégica da América do Sul, o governo Lula, através do Banco,
financiou a Iniciativa, assumindo a condição de paymaster da integração. Ocorre que o protagonismo do BNDES na
política sul-americana beneficiou o empresariado nacional, reduziu a atuação na IIRSA de outras instituições
multilaterais de financiamento, bem como reafirmou a liderança do Brasil na Iniciativa. Cabe ainda ponderar que as
obras da IIRSA financiadas pelo BNDES impactou decisivamente sobre as populações e territórios da América Sul.
Palavras-chave: BNDES; integração regional; governo Lula
Introdução
Este artigo analisa a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) na política regional do governo Lula (2003-2010) com destaque para a participação do
Banco à frente do financiamento das obras da Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional
Sul-americana (IIRSA). A IIRSA consiste em um mecanismo institucional de coordenação de ações
intergovernamentais dos doze países sul-americanos cujo objetivo é impulsionar projetos de
infraestrutura na área de transportes, energia e comunicação. Uma de suas principais realizações se
materializou na Agenda de Implementação Consensuada (AIC) – um conjunto de 31 projetos
prioritários em infraestrutura no período de 2005 a 20102 (INICIATIVA PARA INTEGRAÇÃO
DA INFRAESTRUTURA REGIONAL SUL-AMERICANA).
O BNDES (Lei nº 1.628/1952), empresa pública federal, é o principal instrumento de
financiamento de longo prazo para investimentos em todos os setores da economia brasileira, em
uma política que inclui as dimensões social, regional e ambiental. Sua atuação se destaca no apoio à
agricultura, indústria, infraestrutura, comércio e serviços, além de oferecer condições especiais para
micro, pequenas e médias empresas. O apoio do BNDES se dá por meio de financiamentos a
projetos de investimentos, aquisição de equipamentos e exportação de bens e serviços. Além disso,
1 Mestranda da Universada do Estado do Rio de Janeiro. [email protected].
2 Para mais informações, acessar o site da Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA).
Disponível em: <www.iirsa.org>
2
o Banco atua no fortalecimento da estrutura de capital das empresas privadas e destina
financiamentos não reembolsáveis a projetos que contribuam para o desenvolvimento social,
cultural e tecnológico. Recentemente o BNDES deu início a sua internacionalização com a abertura
de um escritório em Montevidéu no Uruguai3, a instalação de uma subsidiária em Londres, a
BNDES Limited4, em 2009 no Reino Unido, e a inauguração de mais um escritório em 2013 em
Joanesburgo, África do Sul5 (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E
SOCIAL).
O BNDES durante o governo Lula foi um importante ator de política externa que trabalhou
pela defesa dos interesses econômicos do Brasil na América do Sul através do processo de
internacionalização das empresas brasileiras. O protagonismo do Banco esteve presente na IIRSA
na condição de fonte de financiamento de longo prazo para as construtoras brasileiras para
realização das grandes obras de infraestrutura na região. Observa-se que o governo Lula privilegiou
o espaço sul-americano para o exercício da liderança do Brasil e elegeu o BNDES como agente
executor da política regional que beneficiou a expansão do empresariado nacional para os países
vizinhos.
A acomodação das diretrizes da política regional com a política do Banco de incentivo à
internacionalização produziu um fenômeno que parte da literatura considera predatório e de
natureza subimperialista. Deste debate, também surgem questionamentos acerca dos custos do
processo integracionista na América do Sul e se o Brasil foi capaz de assumir a condição de
paymaster da integração. Ademais, não existe consenso se a IIRSA produziu efetivamente
resultados que tenham aprofundado a integração regional, uma vez que houve pouca transparência
na execução dos seus projetos. Em decorrência da alegação de sigilo bancário sobre os contratos
negociados entre o Banco e as empreiteiras brasileiras, bem como das limitações do site da IIRSA
que disponibiliza poucos dados sobre o financiamento dos projetos – apenas valores totais de
3 A abertura da representação do BNDES no Uruguai em 27 de agosto de 2009 foi parte do empenho brasileiro para
diminuir as assimetrias dentro do MERCOSUL. O objetivo era intensificar os esforços do Banco para ampliar o
intercâmbio comercial entre os países da região e bem como apoiar projetos de infraestrutura que tenham impacto
regional. Mais informações em: <www.bndes.gov.br > 4 A BNDES Limited foi concebida como importante instrumento para aumentar a presença das empresas brasileiras no
exterior. À época, o presidente do Banco, Luciano Coutinho declarou no dia da inauguração (04/11/09) que o BNDES
teria “condições de observar o mercado e auxiliar no acesso aos mercados de crédito e de capitais, a partir do próprio
coração financeiro do sistema, que é a City de Londres”. Mais informações em: <www.bndes.gov.br> 5 Inaugurado em 06 de dezembro de 2013, o escritório em Joanesburgo representou a reafirmação da prioridade dada
pelo governo brasileiro às relações com a África visando a ampliação do seu relacionamento com as instituições
regionais e locais, assim como aprofundar os conhecimentos sobre o ambiente empresarial africano. Mais informações
em: <www.bndes.gov.br >
3
investimento em carteira, sem discriminar o volume por fonte de financiamento6. De acordo com o
site da Iniciativa, para o período aqui analisado, existem algumas informações discriminadas
qualitativamente entre investimentos na modalidade público-privado, público ou privado, mas no
geral, os pesquisadores têm que trabalhar com estimativas dos meios de comunicação. Ademais, no
site do BNDES Transparente, nas poucas informações disponíveis acerca dos contratos de
financiamento de exportações para obras no exterior não existe uma sessão destinada aos projetos
da IIRSA7.
Diante do que foi exposto, este artigo reúne esforços para examinar o papel desempenhado
pelo BNDES na política regional do governo Lula e conclui que o Banco atuou como agente
econômico brasileiro na IIRSA projetando os interesses nacionais sob a retórica da integração sul-
americana. Este trabalho será dividido em duas sessões e para tal serão analisadas fontes primárias
(em especial, os sites da IIRSA e do BNDES) e secundárias (com breve revisão da literatura). A
primeira sessão contará com as principais diretrizes da política de Lula para a América do Sul, de
modo a evidenciar a importância da região. Enquanto a segunda se dedicará a análise da atuação do
BNDES, com o intuito de examinar sua relevância enquanto fonte de financiamento das grandes
obras de infraestrutura e os seus impactos na região.
A América do Sul para o governo Lula: integração e liderança regional
Esta sessão será dedicada à América do Sul como prioridade da agenda do governo Lula de
política externa brasileira, em especial no tocante à integração da infraestrutura sul-americana. Da
política regional serão priorizadas duas diretrizes, a saber: a projeção da liderança do Brasil sobre a
América do Sul; e a atuação do BNDES enquanto agente econômico da política externa no processo
de internacionalização do capital brasileiro para a região. Enquanto a primeira diretriz será abordada
na sequência, a segunda será analisada na próxima sessão. Importante acrescentar que as diretrizes
6 Para mais informações, acessar < http://www.iirsa.org/Page/Detail?menuItemId=72 >. Conferir também o Relatório de
Avaliação da AIC 2005-2010 de julho de 2010, disponível em:
<http://www.iirsa.org/admin_iirsa_web/Uploads/Documents/aic_2005_2010_relatorio_de_avaliacao.pdf > 7Para mais informações, acessar site do BNDES Transparente, disponível em:
<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/consulta_as_operacoes_exp
ortacao/index.html >. Além disso, recentemente foi aprovada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar
pedidos de informações entre 2003-2015 referentes à atuação das subsidiárias do Banco, o que inclui cópias de
contratos de obras no exterior, disponível em: <
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/ADMINISTRACAO-PUBLICA/494163-CPI-DO-BNDES-
APROVA-SOLICITACAO-DE-CONTRATOS-COM-O-EXTERIOR.html >
4
escolhidas para esta análise foram identificadas na tentativa de examinar o protagonismo do
BNDES como agente da política regional. No entanto, cabe acrescentar que nas análises de Maria
Regina Soares de Lima e Mônica Hirst (Apud BRAGA, 2013a, p.8) em “Brasil como poder
intermediário e poder regional”, as autoras apontam para outras premissas que teriam orientado a
política regional de Lula, a saber: o estreitamento das relações com a Argentina via MERCOSUL; a
democracia brasileira como elemento estabilizador na América do Sul; e o reconhecimento da
liderança regional do Brasil pelos países sul-americanos – tendo em vista que esta condição
projetaria o país no cenário internacional. Dito isto, este artigo reconhece outras perspectivas,
entretanto, coincide com a terceira premissa da liderança regional, mas acrescenta e a projeção do
BNDES na América do Sul como uma das características definidoras da política regional do
governo Lula.
Ao longo da gestão de Lula, o Brasil tomou a dianteira de projetos que visavam consolidar a
integração da América do Sul, como por exemplo, a Comunidade das Nações Sul-americanas
(CASA), que posteriormente seria a União das Nações Sul-americanas (UNASUL)8, entretanto, não
descartou iniciativas já operantes como o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)9. Esta postura de
conciliação de diferentes iniciativas de integração seria um tipo de regionalismo “à brasileira”10
presente, por exemplo, na proposta da IIRSA, na qual o Brasil procurou a convergência política
entre os países da região, sem sobrepor as ações do plano bilateral. Em outras palavras, a política
regional foi assertiva, mas caminhou em paralelo às iniciativas de integração propostas por ela
(HONÓRIO, 2013, p.198).
8 Foi criada em 2004 e nesta ocasião, foi chamado de CASA (Comunidade Sul-americana de Nações). Conforme a
Declaração de Cuzco a intenção é de seguir os moldes da União Europeia para dentro de alguns anos constituir um
continente integrado politicamente e, se possível, com a implementação de uma moeda própria. A iniciativa evoluiu e
ganhou consentimento dos países-mebros e dela criou-se a UNASUL em 2008 com assinatura de tratado constitutivo
(SILVEIRA, 2010, p.19). Dando sequência ao projeto de integração e inspirado nas Declarações de Cuzco (2004),
Brasília (2005) e Cochabamba (2006) os presidentes sul-americanos assinaram a constituição da União de Nações Sul-
Americanas em 23 de maio de 2008 (VALDEZ, 2011, p. 61). 9 Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram o Tratado de Assunção (26/03/91), para criar o Mercado Comum do
Sul (MERCOSUL). O objetivo é a integração dos Estados Partes por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores
produtivos, do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da adoção de uma política comercial comum, da
coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas pertinentes.
Atualmente o bloco conta com a participação de toda a América do Sul, com a Venezuela como país membro desde
2012 e a Bolívia em processo de adesão. Disponível em: <http://www.mercosul.gov.br/index.php/saiba-mais-sobre-o-
mercosul> 10
Segundo Honório (2013, p.198) “O regionalismo à brasileira na década de 2000 pode se representado por algumas
características principais: o fortalecimento do caráter de negociação bilateral/intergovernamental nas iniciativas, baixo
compromisso institucional, afirmação da importância da integração regional nos discursos diplomáticos buscando
convergência política dos países vizinhos em temas de interesses próprios de sua política externa”.
5
A postura brasileira para a América do Sul está baseada em um cálculo estratégico para
reduzir a ingerência externa e aumentar a confiança dos vizinhos sobre a projeção internacional do
país. Dentre os temas da agenda, a integração física ganhou especial relevância, com o objetivo de
atrair investimentos para região (COUTO, 2013, p.205-206), atribuindo grande a importância para a
IIRSA como uma diretriz da política regional. Constatou-se que o desenvolvimento nacional
dependia do desenvolvimento da América do Sul, e que este, por sua vez, dependia da construção
de uma rede de infraestrutura produtiva (JACOMO; OLIVEIRA, 2011, p.12). O governo Lula
priorizou os aspectos políticos e democráticos característicos da integração sul-americana, sem, no
entanto, negligenciar a ênfase aos aspectos econômico-comerciais na condição de alicerces do
processo. O argumento que conferiu legitimidade à presençado Brasil na América do Sul foi a
consolidação da região como área de inserção comercial do país no mundo e como mercado para o
escoamento do excedente brasileiro (VALDEZ, 2011, p. 59-60).
A atuação do Brasil na América do Sul se intensificou naquelas esferas nas quais havia
maior consenso interno e externo e privilegiou estratégias pragmáticas no campo econômico,
valendo-se em grande medida do BNDES como fonte de financiamento (SANTOS, 2013, p.196). E
no que se refere ao papel do financiamento das obras na região, Couto (2013, p.204) considera que
o aprofundamento dos laços com os países sul-americanos foi possível com o respaldo do Estado
brasileiro em concordância aos interesses do empresariado nacional.
Conforme Almeida (2005, p. 39) o governo Lula abandonou a ideia de América Latina em
detrimento de um conceito politicamente mais interessante e logisticamente mais viável,
consolidando o espaço geográfico no qual o Brasil está inserido como América do Sul: conceito
“geograficamente mais focado e dotado de um conteúdo econômico-comercial mais preciso”. Para
Lima (2013, p. 182) a principal iniciativa de regionalização na América do Sul, durante o governo
Lula, foi a criação da UNASUL em 2008 – que surge como uma forma de ir além da integração
comercial. A autora entende que a União possibilitaria outras modalidades de cooperação regional e
superaria as restrições ocasionadas pelos respectivos regimes comerciais já operantes. A UNASUL
seria um mecanismo institucional de integração para propiciar iniciativas de cooperação regional
em diversos campos, como o energético, militar, logístico, produtivo e de infraestrutura, assim
como na área da saúde pública e mesmo na coordenação de temas de segurança referentes às drogas
e ao narcotráfico.
6
No debate acerca da liderança brasileira, Almeida (2005, p. 39) observa que uma das
características da diplomacia do governo Lula foi a “vocação” do Brasil como um dos líderes dos
países em desenvolvimento. Segundo o autor, o país teria trabalhado para reunir esforços e
capacidade de manobra no plano multilateral no sistema político – o “eixo de poder” – e no
econômico – a “nova geografia do comércio internacional”. Essa “vocação” seria mais
autoproclamada do que efetivamente demandada, seja no sistema internacional, seja no âmbito sul-
americano (ALMEIDA, 2005, p.42). O autor ainda considera (2005, p.42-43) que essa vocação
seria justificada em parte pelo peso da economia brasileira, pela extensão geográfica do país e pelo
tamanho do seu mercado interno. Contudo, a liderança brasileira haveria de se chocar com a visão
de alguns países, como a Argentina, que resistem a qualquer perspectiva de “hegemonia brasileira”,
na região e além dela.
Almeida (2005, p.43) argumenta que, ao se posicionar como um “líder natural” na região, o
Brasil passou a desfrutar determinadas vantagens no plano político, mas também teve de assimilar
certo “fardo imperial” com relação aos aparelhos de segurança e agentes econômicos. O exercício
da liderança exige excedentes financeiros e recursos materiais, para cooperação e assistência técnica
– de caráter não recíproco – e capacitação militar e de segurança com autonomia operacional e
alicerces nos “excedentes de poder”, para intervir em crises e processos sistêmicos pela segurança e
a estabilidade da região. De acordo com o autor, o Brasil seria um país parcialmente capacitado a
cumprir essas duas funções, seja no sentido de prover recursos de natureza assistencial ou
cooperativa, seja em termos de disposição de forças suficientes para ações de intervenção
multilateral.
Acerca das eventuais limitações do Brasil, Lima (2013, p.196-197) destaca um ponto
relevante que consiste em distinguir capacidade material e liderança, visto que a capacidade de
influência é difícil de ser mensurada e que liderança é tratada como sinônimo de reconhecimento.
Dessa forma, a autora define “liderança não como influência sobre terceiros, mas como influência
sobre os resultados” e que o Brasil seria um ator com poder de veto na região, ou seja, “aquele sem
cuja anuência um acordo, iniciativa, ou negociação não se realizam”. Lima conclui que:
“Desagregando o conceito, que tipo de poder regional é o Brasil?
Materialmente mais forte que os vizinhos, age como ator de veto naquelas
situações em que custo de oportunidade do não acordo é mais baixo para o
país do que para os parceiros regionais. As questões relativas a
financiamento se adéquam a essa situação. Em outras situações, porém, o
7
repertório foi distinto, prevalecendo um estilo de liderança cooperativo. A
explicação para essa opção tem que ver com as orientações político-
ideológicas do governo” (LIMA, 2013, p.198)
Os autores Saraiva e Valença (2012, p.18-19) caracterizam como traço fundamental da
aspiração à liderança brasileira do governo Lula, a ideia de soft power11
estruturada em iniciativas
de integração regional com baixa institucionalidade. Os autores sustentam que o Brasil assumiu o
papel de paymaster na América do Sul arcando com os custos da cooperação técnico-financeira,
com vistas a inserção internacional do país como importante ferramenta de influência e poder.
Diante do que foi dito, a presença brasileira na região esteve também atrelada ao momento
politicoeconômico em que os governos sul-americanos se encontravam12
e, no caso brasileiro, o
governo esteve atento as possibilidades de projetar sua influência sobre esses países por meio da
retórica do desenvolvimento da América do Sul. Outro fator importante está no contexto
internacional favorável com a valorização do preço das commodities e o redirecionamento das ações
diplomáticas dos Estados Unidos para o Oriente Médio e Europa. Além disso, a crise internacional
de 2008 teve repercussões na dinâmica da integração liderada pelo Brasil, visto que houve uma
retração na liquidez nos mercados externos, e coube ao país ocupar este espaço na América do Sul.
É nesta configuração de fatores internos e externos que o BNDES assume protagonismo na política
regional do governo Lula e desempenha papel desequilibrador no jogo político sul-americano
financiando a internacionalização do capital brasileiro na região. E em virtude das dimensões
continentais do Brasil, qualquer iniciativa de integração sul-americana dependeria da participação
ativa do governo brasileiro. Tanto para o bem, quanto para o mal, a integração da América do Sul
estava instrinsicamente relacionada às pretensões brasileiras com relação aos seus vizinhos.
O BNDES na América do Sul: agente da política regional e fonte de financiamento da IIRSA
11
“O soft power constitui uma dimensão importante da política externa brasileira e ajudou o país a garantir sua parcela
de interesses, bem como a construção de uma participação mais perene na política internacional” (SARAIVA;
VALENÇA, 2012, p.26). 12
Adicionalmente, a bonança vivida pela América Latina a partir dos anos 2000, decorrente do aumento dos preços das
commodities e do barril do petróleo, acelerou a substituição dos Estados Unidos pela China como principal parceiro
comercial do Brasil e diminuiu consideravelmente os impactos da crise financeira de 2008 sobre a região. As mudanças
sistêmicas desencadeadas desde o fim da ordem bipolar – com os ataques de 11 de setembro e a crise financeira de 2008
– dentre as quais se destacam o declínio do poder relativo dos Estados Unidos e a ascensão das chamadas economias
emergentes, são alguns dos fatores externos que facilitaram o maior ativismo brasileiro no cenário internacional a partir
dos anos 2000. (PEDROSO, 2014, p.30, 22).
8
Esta sessão será dedicada à atuação do BNDES na política externa do governo Lula para
América do Sul no âmbito da IIRSA – uma vez que o Banco assume papel de protagonista na
internacionalização do capital brasileiro. Aqui será dada ênfase à internacionalização via exportação
de bens e serviços, considerando o financiamento das obras de infraestrutura regional. Importante
acrescentar que durante o governo Lula, houve a intensificação de um processo de expansão do
capital nacional para o exterior, sobretudo para as economias dos países vizinhos13
.
A presença de parte das obras da IIRSA no Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC)14
é motivo de críticas à participação brasileira no processo de integração da infraestrutura
regional. Por esta razão, o governo brasileiro, e consequentemente o Banco, foi acusado por alguns
autores como Hirt (2013) e Novoa (2009) de atitude subimperialista, enquanto outros, como Braga
(2013b) e Luce (2007) interpretaram a ação do Brasil na região enquanto um projeto de potência
regional norteado por interesses nacionais e que acentuou as assimetrias socioeconômicas na
América do Sul. O ponto em comum entre os autores é a interpretação negativa acerca dos impactos
da aspiração brasileira de liderança à frente do processo de integração, que beneficiaria os interesses
econômicos do Brasil apesar da égide do desenvolvimento regional discursada pelo país.
Neste projeto brasileiro de consolidação da liderança regional e ascensão no sistema
internacional, o BNDES tem desempenhado um papel relevante no apoio à inserção das empresas
brasileiras no exterior, especialmente por meio do incentivo à exportação. Desde 2003, após
mudanças em seu estatuto social, o Banco também apoia o investimento direto de empresas
brasileiras em outros países – tanto por meio de financiamento quanto pela participação acionária.
Suas principais diretrizes de atuação são voltadas para o desenvolvimento da integração na América
do Sul e suas linhas de financiamento se dividem em dois ramos: produção na fase pré-embarque; e
comercialização na etapa pós-embarque. Na fase de produção, os recursos para o financiamento são
disponibilizados em prazos de acordo com o ciclo produtivo da exportadora. Enquanto que na etapa
de comercialização, a exportadora pode financiar seu importador, visto que neste caso a empresa
13
Para além do apoio às exportações brasileiras, o BNDES também estimula a realização de Investimento Direito
Externo que até 2000 se restringia ao uso de linhas de financiamento do mercado de capitais, mas com o novo estatuto
se dá ou pelo apoio à capitalização via subscrição de valores mobiliários ou pelo financiamento com cláusulas de
desempenho com distribuição de ganhos. Os investimentos apoiados são destinados à empresas de capital nacional com
atividades industriais ou de engenharia que apresentem estratégia de internacionalização de longo prazo, bem como
contribuam para a geração de empregos e aumento das exportações. Para mais informações consultar
www.bndes.gov.br 14
O entrelaçamento entre a IIRSA e o PAC seria possível pelo fato de 60% dos projetos da Iniciativa seriam obras
nacionais com algum impacto em países vizinhos e os demais empreendimentos binacionais seriam pontes, túneis,
passagens de fronteira, transmissão de energia, hidrovias, ferrovias e hidrovias (CARVALHO, 2012, p.7).
9
recebe os títulos da operação para desconta-los em uma instituição credenciada. Com o crédito
subsidiado pelo BNDES, as empresas brasileiras podem competir internacionalmente com prazos
mais flexíveis e condições mais atraentes para seus compradores (VALDEZ, 2011, p. 47).
Dessa forma, o Banco se transformou em principal instrumento financiador da política de
investimento do governo federal no exterior (VALDEZ, 2011, p. 46). Coube a ele tentar
potencializar a presença brasileira na América do Sul e privilegiar a mitigação de custos do
comércio exterior, a partir da intensificação da integração regional (BRAGA, 2013b, p.10). Este
objetivo seria alcançado por meio do incentivo à competitividade das empresas brasileiras por meio
das linhas de financiamento com juros abaixo do mercado para que as firmas possam promover
investimentos que contribuam para a economia do Brasil.
O fortalecimento da integração da América do Sul passou a fazer parte da missão do
BNDES já em 2003, tendo como objetivos principais; a atração de investimentos, sobretudo em
infraestrutura; a expansão do comércio entre os países; o ganho de escala na produção; capacitação
tecnológica e humana mediante cooperação e o fortalecimento do poder de negociação dos países.
Desde o início do governo Lula, o BNDES foi instado a participar como agente financeiro em
diversos empreendimentos na região15
(CARVALHO, 2012, p.2-3). E é neste contexto que o Banco
passa a atuar como braço econômico da política de integração regional financiando a IIRSA e
representando a expansão do capital brasileiro em operações de fusão-aquisição (F&A) (LUCE,
2007, p.75).
O BNDES possui três as formas de financiar a infraestrutura sul-americana: pela concessão
de crédito para os projetos da carteira da IIRSA; em parceria com a CAF; e por meio da liberação
de financiamento direto (CARVALHO, 2012, p.3). E diante da ausência ou baixa capacidade de
investimento pela maioria dos países da região, o BNDES adotou o financiamento da IIRSA, como
parte das competências do Departamento de Integração Sul-Americana. A adesão do BNDES à
IIRSA foi idealizada como um novo componente da política de promoção às exportações. Como
uma das condições impostas para a liberação de crédito, foi exigida a contratação exclusiva de
construtoras brasileiras, e a aquisição de bens para realização das obras teria de ser feita no mercado
brasileiro (LUCE, 2007, p.75).
15
Um tema central e sempre problemático nas estratégias de integração da região: a questão dos financiamentos dos
projetos de infraestrutura passou a ser tratada pelo governo brasileiro numa perspectiva de fortalecimento das agências
financeiras nacionais e regionais de fomento (SANTOS, 2013, p.198).
10
Os antecedentes de criação da IIRSA são importantes pois revelam seus objetivos originais e
a consonância com os interesses do Brasil na região, uma vez que a proposta nasceu do chamado
Estudo dos Eixos de Integração e Desenvolvimento (ENID). Este estudo foi encomendado pelo
governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) ao empresário Eliezer Batista e executado
pelo BNDES, sendo posteriormente incorpado ao programa Avança Brasil (Plano Plurianual 2000-
2003) (DIAS, 2014, p.11). Nota-se que as principais obras executadas pelo Brasil no âmbito da
IIRSA não se referem diretamente à integração física regional e por esta razão, alguns autores como
Couto (2013, p.208), entendem que o Banco apenas responderia aos interesses dos atores privados
que participam dos empreendimentos nos países vizinhos, sobretudo no ramo da construção civil.
A IIRSA recorta a América do Sul em eixos, tendo em vista o potencial exportador de cada
região. A Iniciativa conta com projetos escolhidos a partir de alguns parâmetros, a saber: os
impactos transnacionais; a complementariedade entre projetos; as sinergias resultantes da interação
entre os eixos; e a criação de oportunidades de emprego e renda para as populações locais. Esses
parâmetros levaram à definição dos Eixos de Integração e Desenvolvimento (EID’s) da IIRSA
conforme a seguir: Eixo Mercosul-Chile (São Paulo-Montevidéu-Buenos Aires-Santiago); Eixo
Andino (Caracas-Bogotá-Quito-Lima-La Paz); Eixo Andino Sul (Norte ao Sul da Argentina); Eixo
Multimodal do Amazonas (Brasil-Colômbia-Equador-Peru); Eixo da Hidrovia Panamá-Paraguai;
Eixo Capricórnio (Antofogosta/Chile-Jujuy/Argentina-Assunção/Paraguai-Porto Alegre/Brasil);
Eixo do Escudo Guyanes (Venezuela-Brasil-Guiana-Suriname); Eixo do Sul (Talcahuano-
Concepción/Chile-Neuquen-Bahia Blanca/Argentina); Eixo Peru-Brasil-Bolívia; Eixo Interoceânico
Central (Brasil-Bolívia-Paraguai-Peru-Chile). Constitui um projeto que visa conectar os centros
produtivos sul-americanos aos portos do continente em detrimento da integração das estruturas
produtivas entre os países sul-americanos. Em suma, os EID’s determinam a organização territorial
na região para o desenvolvimento da infraestrutura, a partir de uma avaliação geoeconômica para a
construção de corredores de exportação. Seu planejamento contempla uma carteira de 532 projetos,
dispostos em faixas multinacionais na América do Sul, determinando os fluxos comerciais
potenciais e atuais. Em 2004 foi acertada a prioridade de 31 projetos dentro da AIC 2005-2010
(SILVEIRA, 2010, p.17; JACOMO; OLIVEIRA, 2011, p.9; SANTOS, 2013, p.197; DIAS, 2014,
p.6).
11
De acordo com o Relatório de Avaliação da AIC publicado em julho de 201016
, dos 31
projetos prioritários, 13 perpassam o território brasileiro ou impactam diretamente sobre o Brasil,
contra 7 projetos para Argentina, 6 para o Chile, 3 para a Colômbia e 3 para a Venezuela. Os 13
projetos envolvendo o Brasil são: a duplicação da Rodovia 14 entre Paso de Los Libres e
Gualeguaychú (US$ 780 mi/ em execução); a adequação do Corredor Rio Branca-Montevidéu-
Colonia-Nueva Palmira (US$234 mi/ em execução); a construção da Ponte Internacional Jaguarão-
Rio Branco (US$35 mi/ em pré-execução); a duplicação do trecho Palhoça-Osório/ Rodovia
MERCOSUL (US$700 mi/ em execução); a nova Ponte Presidente Franco-Porto Meira, com Centro
de Fronteira Paraguai-Brasil (US$80 mi/ em pré-execução); a construção da Rodovia Pailós-San
José-Puerto Suárez (US$477 mi/ em execução); o Anel Ferroviário de São Paulo/ Trechos Norte e
Sul (US$850 mi/ em pré-execução); a Rodovia Paita-Tarapoto-Yurimaguas, Portos e Centros
Logísticos (US$681,2 mi/ em execução); a Rodovia Lima-Tingo-María-Pucallpa, Portos e Centros
Logísticos (US$1.351,3 bi/ em execução); a pavimentação Iñapari-Pueto Maldonado-Inambari e
Inambari-Juliaca/Inhambari-Cusco (US$1.384,3 bi/ em execução); a ponte sobre o Rio Acre
(US$12 mi/ concluído); a Rodovia Boa Vista-Bonfim-Lethem-Georgetown (Primeira Etapa:
Estudos) (US$3,3 mi/ em execução); a ponte sobre o Rio Takutu (US$10 mi/ projeto concluído).
Entre eles, 7 são projetos âncoras e 2 são âncoras-associados, o que representa a importância do
Brasil para a promoção da integração da infraestrutura regional – contra 4 âncoras para Argentina, 3
para Chile, 3 para Colômbia e 3 para Venezuela. Do total de US$14.023,0 bilhões refente aos 31
projetos da AIC, US$6.598,1 bilhões correspondem aos 13 projetos relacionados ao território
brasileiro (INICIATIVA PARA A INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURAL REGIONAL SUL-
AMERICANA).
16
Disponível em:
<http://www.iirsa.org/admin_iirsa_web/Uploads/Documents/aic_2005_2010_relatorio_de_avaliacao.pdf >
12
Fonte: IIRSA
Segundo texto publicado na página do International Centre for Trade and Sustainable
Development (2008), o apoio à exportação de serviços de engenharia e construção civil possui
grande potencial de geração de empregos na cadeia produtiva nacional, intensiva em tecnologia e
em conhecimento, sobretudo por integrar tal cadeial regionalmente. Assim, o governo brasileiro
desenvolveu uma política de exportação integrada, com o apoio do BNDES, para incorporar o setor
de serviços, de modo a ter uma atuação mais competitiva no comércio mundial com o crescimento
das exportações das commodities (HIRT, 2013, p.6). O apoio às exportações de serviços é entendido
como fundamental para agregar valor nas transações comerciais, melhorar o saldo de serviço e,
além disso, o país apresenta vantagens comparativas no setor de construção (INTERNATIONAL
CENTRE FOR TRADE AND SUSTAINABLE DEVELOPMENT, 2008).
Já a análise de Vasconcellos, (2012, p.4) sustenta que a atuação das construtoras brasileiras
na América do Sul suscita controvérsias da política externa brasileira. Para a autora esta relação
entre o Estado brasileiro e a internacionalização do empresariado nacional faz com que o Brasil
estabeleça com os países sul-americanos uma relação de dependência indireta através dos
financiamentos. O governo brasileiro promoveria um alto custo político para que aqueles Estados
13
que optassem por romper ou não firmar determinados acordos com o Brasil, em oposição ao
discurso oficial de uma governança regional sem hegemonia. Seria possível ainda observar,
segundo a autora, uma hierarquia de valores em que a decisão política e a ação econômica seriam
privilegiadas em detrimento aos impactos socioambientais. A atuação das empresariado brasileiro
acobertaria a responsabilidade do Estado sobre as consequências indesejadas das obras de
infraestrutura, de modo que o Brasil não teria sua imagem diretamente vinculada ao
desenvolvimento não sustentável.
Para Luce (2007, p.103) As grandes obras de engenharia destinadas à infraestrutura
energética e de circulação/ distribuição de mercadoria, tem por objetivo reduzir os cursos de
realização e circulação, auxiliando decisivamente na criação espaço novo para a acumulação de
capital. O autor (2007, p.76) aponta para o fato de que o governo brasileiro dividiu o mercado
regional para a concretização da IIRSA, em reunião na sede do BNDES, com as construtoras
brasileiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, OAS, Carioca e EIT.
A partir da reserva de mercado e com o apoio do Banco, as empresas brasileiras asseguram a
presença competitiva para as licitações pelos contratos das obras de infraestrutura, visto que
“quando uma empresa brasileira vai participar de uma concorrência pública e outro país já leva o
financiamento, que é o diferencial das licitações”. Logo, a propensão ao crescimento do volume de
negócios possibilita ganhos de escala. Quanto aos ganhos de escopo, são contemplados na exigência
do aquisição de máquinas e equipamentos brasileiros, o que beneficia a indústria de bens de capital
(LUCE, 2007, p.76).
Paralelamente, o governo brasileiro fez um esforço para harmonizar normas e outros
procedimentos e desta maneira permitir que as transações entre os países sul-americanos fossem
efetivadas via Convênio de Crédito Recíproco (CCR). O CCR consiste em uma câmara de
compensação de valores que reduz a necessidade de divisas nas transações comerciais e seria visto
como um prólogo de uma futura moeda sul-americana, além de ser considerado mecanismo
importante para a promoção das exportações brasileiras relacionadas à IIRSA (LUCE, 2007, p.76-
77).
Para Novoa (2009, p.200) o BNDES, teria se transformado no principal alicerce para as
obras do PAC, assim como para os corredores da IIRSA, deslocando o ativismo do BID de sua
posição originária. Para o autor a IIRSA seria uma ferramenta política do subimperialista que
impulsionaria acordos econômicos e políticos, para aumentar a escala dos atuais corredores de
14
exportação e criar novos. Novoa considera que a Iniciativa oferece, além dos eixos físicos dos
corredores de escoamento, novos marcos regulatórios para os setores de infraestrutura, novas
formas de regulamentação social e ambiental, etc. Portanto, constituíria uma “arma
imperialista/sub-imperialista inteligente com embalagem de desenvolvimento e integração” que
teria desenvolvido um modus operandi para o repasse de recursos naturais a mercados potenciais e
para concessão de soberania a investidores privados, com consentimento político e garantias legais.
Hirt (2009, p.9) entende que ao investir em modelos que promovem desigualdades, em
detrimento do fomento à diversificação e a integração produtiva na América do Sul, o BNDES,
através da IIRSA, estaria comprometido em propor um modelo de atuação que incentiva a
reprimarização da pauta comercial das a economias sul-americanas. Desta forma, o Banco também
estaria atuando em prol da expansão das empresas brasileiras na região, bem como viabilizaria aos
bens manufaturados do Brasil o acesso aos mercados consumidores de seus vizinhos. Logo, a autora
conclui que o papel desempenhado pelo BNDES na política de integração rgional seria o de agente
facilitador da concentração de capital, por meio do financiamento de obras que serviriam aos
interesses do capital privado brasileiro.
A literatura especializada está longe de um consenso acerca do impacto dos financiamentos
do BNDES para o aprofundamento da integração regional. Falta convergência sobre a validade da
IIRSA como instrumento de adensamento do processo integracionista (CARVALHO, 2012, p.4). O
objetivo inicial da IIRSA foi o de potencializar o desenvolvimento da região para sua inserção no
mercado globalizado por meio da construção de infraestrutura para o fomento às exportações. Este
objetivo tinha como parâmetro primeiro a atração de investimentos e financiamento privado para as
obras de infraestrutura, em um momento de declínio dos investimentos diretos extrangeiros (IDE)
na região no final da década de 1990 (DIAS, 2014, p.5).
Contudo, ao longo do governo Lula, o discurso sobre a integração da infraestrutura se
descolou da IIRSA e ganhou autonomia na estratégia brasileira para a região, para legitimar os
financiamentos do BNDES às empresas brasileiras. Isso é interessante uma vez que o Banco havia
sido eleito nos primeiros anos do governo como um dos principais órgãos para financiamento dos
projetos da IIRSA. A participação do banco brasileiro no financiamento das obras teria adquirido
certa ambiguidade na avaliação dos países vizinhos e o governo brasileiro por vezes foi demandado
a assumir a condição de paymaster no financiamento da IIRSA, enquanto em outros momentos foi
acusado de usar o BNDES para fins hegemônicos (HONÓRIO, 2013, p.197-198).
15
A análise de Luce (2007, p.115) considera que tanto o processo de internacionalização de
empresas apoiado pelo BNDES, quanto a política regional do governo Lula executada pelo Banco
“não cumprem com o objetivo anunciado de enfrentar as assimetrias”. Para o autor houve “uma
tendência ao aprofundamento do intercâmbio desigual e uma consequente divisão regional desigual
do trabalho”. Para o autor:
“Todo esse esforço de construção hegemônica, reveste a política de
integração regional brasileira, sob o governo Lula da Silva, um caráter
subimperialista. Mas isso acontece na medida em que, a um só tempo, o
regionalismo aberto faz a integração com as corporações estadunidenses
para a expansão do agronegócio exportador, cria as veias para a distribuição
dessa produção agrícola, servindo de canal também para o acesso das
corporações da matriz nacional para a América do Sul, especialmente
aquelas baseadas em exploração intensiva de recursos naturais” (LUCE,
2007, p.116).
Braga (2013b, p.3) aponta para o fato de que essa relação ambígua entre o BNDES e as
empreiteiras tem causado constrangimentos e conflitos nos territórios sul-americanos, com
denúncias sobre os impactos que as obras financiadas pelo BNDES têm causado17
. As promessas de
uma integração regional orientada pela justiça social e pela responsabilidade ambiental, não se
concretizaram (BRAGA, 2013b, p.15). O BNDES tornou-se um ator relevante para a agenda
regional do Brasil e para a consolidação do projeto de potência do país. Além do mais, as obras da
IIRSA ameaçam impor às territorializações do capital sobre os interesses das sociedades locais
(BRAGA, 2013b, p.5).
Para Braga (2013b, p.12) o governo brasileiro, via BNDES, aportou um grande volume de
capital na região, com o objetivo de aumentar excedente produzido no país e capturar as
oportunidades do comércio exterior. O Banco também reforçou a política externa brasileira mais
ofensiva ao introduzir medidas de financiamento que privilegiaram expressivamente as
multinacionais brasileiras na América do Sul. O crédito público não esteve apenas restrito aos
17
Em 2009, o Rio de Janeiro sediou o I Encontro Sul-Americano de Populações Afetadas pelos Projetos Financiados
pelo BNDES. O evento, organizado pela Plataforma BNDES, reuniu mais de 30 entidades representando as populações
atingidas pelos grandes empreendimentos do Banco. O evento visava trazer à luz da sociedade brasileira a fragilidade e
a vulnerabilidade da estratégia de desenvolvimento sustentada na exportação de commodities, assim como denunciar a
falta de transparência dos critérios para a liberalização de recursos públicos, que privilegiava as multinacionais
brasileiras e as empresas estrangeiras em detrimento dos empreendimentos dos pequenos e médios produtores.
(BRAGA, 2013b, p.16).
16
empréstimos, mas também facilitou o acesso aos fundos de investimento e atuou como colaborador
na aquisição e fusões de empresas em outros países.
Neste sentido, cabe a avaliação de Vasconcellos (2012, p.3) de que “a política de
internacionalização de empresas insere-se no planejamento macroeconômico e industrial do Estado.
A empresa busca uma expansão no mercado internacional e o Estado, por sua vez, deseja promover
o desenvolvimento econômico. O Estado ao priorizar um setor ou liberar recursos para
determinadas empresas expressa seus interesses na dinâmica do mercado e política mundial, ou
seja, para o Estado, a internacionalização é uma escolha que reflete a sua diretriz política e
econômica”. Esta observação é válida uma vez que apesar de sua autonomia, o BNDES é
subordinado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), logo
reproduz a lógica neoliberal da política do governo Lula para a América do Sul, em especial na
execução das obras da IIRSA.
A explicação de Luce (2007, p. 101) possui uma característica mais sistêmica acerca do
fenômeno, na medida que sustenta seu argumento do subimperialismo brasileiro, com base na
definição estrutural de Marini. Logo, a ação subimperialista do governo Lula, através do BNDES na
IIRSA, seria um problema de mercado relacionado à realização do capital, uma vez que, no
capitalismo dependente, a expansão para o exterior torna-se um imperativo para que o ciclo do
capital possa completar-se. O autor ainda pondera que a expansão internacional do capital estaria
condicionada por imperativos para a sua realização e conclui que:
“(...) o subimperialismo brasileiro sob o governo Lula da Silva, em sua
escala adequada ao regionalismo sul-americano, se desenvolveria fazendo
prevalecer a esfera do consenso. A novidade dessa dinâmica, na qual segue
vigente o mesmo protagonismo das corporações e do Estado, se definiria a
partir das diversas políticas em que se anuncia o objetivo da redução das
assimetrias no interior do subcontinente. Seria portanto um novo
subimperialismo, um subimperialismo social-liberal” (LUCE, 2007, p.116).
A atuação do BNDES na América do Sul, como parte das diretrizes da política regional do
governo Lula, contribuiu para a realização dos interesses politicoeconômicos brasileiros e beneficou
o empresariado nacional atráves da liberação de crédito subsidiado para as obras de infraestrutura
da região. Os esforços do Brasil para consolidar sua presença econômica nos países sul-americanos
correspondem a tentativa do país em aumentar sua inflência política e poderio econômico sobre a
estabilidade da região enquanto plataforma para projeção internacional brasileira. A decisão do
17
governo Lula de conceder ao Banco o protagonismo na execução da agenda para a América do Sul
reforçou a liderança brasileira à frente da IIRSA. O Brasil assumiu o compromisso de financiar
decisivamente as obras de infraestrutura regional, já que estas perpassam o território nacional ou
auxiliam no escoamento da produção brasileira.
Ocorre que o viés econômico assumido pela IIRSA sob a liderança do Brasil é alvo de duras
o que não deve desmerecer o potencial de integração sul-americana promovido pelo país e pelos
desembolsos do BNDES. Tendo em vista que é de interesse da política externa brasileira a unidade
da América do Sul, valem as considerações de Maria Regina Soares de Lima acerca do ator com
poder de veto que caracteriza a presença brasileira na região e a ideia de que liderança não está
necessariamente relacionada ao reconhecimento. Apesar da resistência e do receio de alguns países
sul-americanos, o financiamento da integração da infraestrutura regional depende em grande
medida da disposição brasileira em realocar seus recursos públicos atráves do BNDES para a
América do Sul.
Considerações finais
A atuação do governo Lula na América do Sul esteve consideravelmente influenciada pelo
contexto internacional do boom no preço das commodities, o que beneficiou economias de estrutura
primário-exportadora como a brasileira. O bom momento da economia nacional impulsionou a
projeção do Brasil no cenário internacional, tendo sido a inserção comercial do país um dos
objetivos que, para tal, contaria com o apoio decisivo do BNDES. Logo, o protagonismo do Banco
esteve no apoio à internacionalização – cujo principal destino foi a América do Sul –, como parte de
um projeto motivado por interesses econômicos, mas também de natureza política que acomodou o
empresariado brasileiro e as pretensões do governo Lula na região. O BNDES assumiu a condição
de agente executor da política regional atuando como fonte de financiamento para o capital
brasileiro no exterior, sobretudo na exportação de serviços de construção civil e engenharia no
âmbito da IIRSA. Desta forma, o governo Lula buscava consolidar a presença do Brasil na região
para assegurar a estabilidade econômica na América do Sul – espaço imediato e estratégico para
construção e exercício da liderança do país.
As críticas de que a Iniciativa serviu aos interesses subimperialistas do Brasil deveriam
considerar que o protagonismo do BNDES surgiu em um contexto de retração da liquidez
internacional, como um dos efeitos da crise de 2008, e no qual não havia outro banco de fomento
18
com interesse político e capacidade econômica para financiar as obras de infraestrutura sul-
americana. Partindo das contribuições de Marini e Luce de que o subimperialismo consiste em um
imperativo do sistema capitalista nas economias dependentes, acusar o BNDES de perpetuar o
caráter primário-exportador da região, é negligenciar que os constrangimentos estruturais ao
desenvolvimento econômico da América do Sul estão além de qualquer esforço integracionista
liderado pelo Brasil.
Cabe ponderar que, se o BNDES é um banco de desenvolvimento brasileiro é compatível
que ele se comprometa com o financiamento de empresas brasileiras, logo, é preciso considerar sua
natureza jurídica que o limita em sua política de concessão de crédito. Dito isto, a crítica ao
processo de integração da infraestrutura regional, sob a liderança brasileira, deve ser redirecionada
ao fato de que deveria ser o Banco do Sul18
a principal fonte de financiamento da IIRSA, na
qualidade de uma instituição multilateral. No entanto, aqui tem origem outro problema: as
desigualdades econômicas permaneceriam no seio do Banco do Sul, se considerados os aportes
financeiros de cada Estado com base no tamanho de suas economias – sendo a do Brasil a maior
entre elas. Ou seja, o problema não se limita ao BNDES como agente subimperialista para exercício
da liderança ou hegemonia do Brasil, mas existe também o fato de que as assimetrias econômicas
na América do Sul tendem a pender para o lado brasileiro em que qualquer iniciativa de
financiamento à integração regional.
Em outros termos, é preciso ir além do discurso da crítica subimperialista e identificar
possíveis resultados de longo prazo, além de buscar o engajamento da sociedade civil com o legado
da IIRSA para aperfeiçoar os mecanismos de controle e transparência do BNDES. Sem subestimar
o efeito desagregador causado pelo financiamento do Banco às obras, empreendimentos em
infraestrutura como os da IIRSA envolvem volumes expressivos de verba pública dentro do modelo
de Parcerias Público-Privadas (PPP). Portanto, ainda que mal executados, estes projetos não podem
ser simplesmente abandonados: obras de infraestrutura quando interrompidas podem representar um
desperdício público ainda maior, especialmente porque os impactos negativos sobre a população e
território locais costumam ser irreversíveis. Mais do que debater qual integração é a ideal para a
18
O Banco do Sul, proposto originalmente em 2005 pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, foi idealizado para
ser incluído em futuros financaimentos da IIRSA, a pedido do Brasil, contudo com a a crise de 2008, os países da
UNASUL passaram a concentrar suas energias na discussão de um projeto de Nova Arquitetura Financeira Regional
(NAFR) para reduzir a dependência regional do dólar, estimular o comércio, ganhar autonomia em relação às
instituições financeiras tradicionais e prever o perfil do Banco do Sul (com ênfase em investimentos em infraestrutura,
integração regional e redução das assimetrias) (SANTOS, 2013, p.201).
19
América do Sul, é necessário inaugurar um debate multidisciplinar sobre qual integração é possível
para os países sul-americanos levando em conta suas heranças neoliberais e as características do
sistema capitalista.
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