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Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais Régis André Silveira Limana A Atividade de Inteligência de Segurança Pública na Produção de Informação e Conhecimento para Grandes Eventos: Novo Paradigma e Legado Belo Horizonte 2010

Inteligência de segurança pública para grandes eventos

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Autor: Régis André Silveira Limana. Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMPMG). Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco.A concepção de Inteligência de Segurança Pública é ainda incipiente, e surge no escopo da implantação de uma Política Nacional de Segurança Pública e criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública, originando-se o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública pelo Decreto 3.695 de 2000 e com isso dando início a uma Doutrina de Inteligência de Segurança Pública. Essa nova concepção de atividade de inteligência deve atender várias demandas ligadas à segurança pública, dentre estas a realização de Grandes Eventos, objeto central desta pesquisa.

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Fundação Escola Superior do Ministério Público de M inas Gerais

Régis André Silveira Limana

A Atividade de Inteligência de Segurança Pública na Produção de Informação e Conhecimento para Grandes Eventos:

Novo Paradigma e Legado

Belo Horizonte 2010

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Régis André Silveira Limana

A Atividade de Inteligência de Segurança Pública na Produção de Informação e Conhecimento para Grandes Eventos:

Novo Paradigma e Legado

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública, oferecido pela Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de especialista em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco Coorientador: Prof. Doutorando Giovani de Paula

Belo Horizonte 2010

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Centro Universitário Newton Paiva Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais

Curso de Pós-Graduação de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública

Monografia intitulada A atividade de inteligência de segurança pública na produção de informação e conhecimento para grandes eventos: novo paradigma e legado, de autoria de Régis Limana, considerado _APROVADO_____________, com a nota 8,50 (Oito e Cincoenta), pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

____________________________________________________________

Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco – Orientador

____________________________________________________________

Prof. Post doc José Luiz Gonsalves da Silveira – Membro Externo

____________________________________________________________

Prof. Ms. Sérgio Antônio Teixeira

____________________________________________________________

Prof. Especialista Ronaldo da Silveira Alcântara

Belo Horizonte/MG, 26/maio/2010

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Desconfiai do mais trivial na aparência do singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, da humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.

Bertold Brecht

Uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio o previne. Albert Einstein

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Dedico este Trabalho...

Aquela que, sempre especial, possui virtudes infindáveis,

A que a qualquer momento está disposta a oferecer uma palavra de carinho e um

olhar de ternura e compreensão,

A quem entendeu minhas necessidades essenciais

e meus anseios mais profundos,

À pessoa que se traduz em amor e altruísmo,

Àquela que abre os braços num abraço quando preciso de calmaria,

A esta mulher que é sensível, mas que sabe se transfazer em fortaleza.

Tua força e teu amor me dirigiram pela vida

e me deram as asas de que eu precisava para voar.

Dedico este trabalho à

Tereza Silveira Limana

Obrigado, Mãe!

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela minha existência !

A meus pais por me conceberem e por esta dádiva chamada Vida!

À minha esposa, pela compreensão da ausência nos momentos de pesquisa

e estudos!

Ao meu orientador, Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco, pela precisa

orientação e pelas luzes e reflexões trazidas durante a elaboração deste trabalho!

Ao meu Coorientador, Prof. Doutorando Giovani de Paula, pelas discussões

promovidas e apontamentos sugeridos.

Aos membros da Banca, que, com suas luzes, lançaram um olhar crítico para reflexão e aprimoramento da presente obra: Profº Ms. Sérgio Antônio Teixeira; Profº Esp. Ronaldo Silveira de Alcântara e Profº Dr. José Luiz Gonçalves da Silveira.

Ao Exmo. Sr. Secretário Nacional de Segurança Pública pelo apoio e

incentivo intelectual durante essa jornada acadêmica!

Aos companheiros de trabalho da Coordenação-Geral de

Inteligência/SENASP/MJ pelo companheirismo e pelas contribuições teóricas e

empíricas que trouxeram para o desenvolvimento deste trabalho!

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RESUMO

A atividade de inteligência faz parte do contexto histórico das sociedades e Estados em buscar informação e conhecimento como um dos instrumentos para a solidificação de sua soberania e expansão de seus domínios. No Brasil os órgãos de inteligência foram constituídos a partir do ano de 1927 para fazer frente às ameaças internas e externas que pudessem vir a comprometer os chamados “interesses nacionais”, disso originando a concepção de Inteligência Clássica ou de “Estado”. A concepção de Inteligência de Segurança Pública é ainda incipiente, e surge no escopo da implantação de uma Política Nacional de Segurança Pública e criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública, originando-se o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública pelo Decreto 3.695 de 2000 e com isso dando início a uma Doutrina de Inteligência de Segurança Pública. Essa nova concepção de atividade de inteligência deve atender várias demandas ligadas à segurança pública, dentre estas a realização de Grandes Eventos, objeto central desta pesquisa. Os Grandes Eventos são caracterizados pelo seu significado histórico, político e de popularidade, envolvendo grande número de pessoas, dentre estas a de autoridades e VIP´s, estando sujeito a ameaças reais ou potenciais, requerendo a mobilização geral dos organismos de inteligência. O planejamento da segurança em Grandes Eventos perpassa por um conjunto de ações dos órgãos de inteligência que possam dar subsídios para a prevenção e dissuação do risco de ocorrências e ameaças atentatórias à sua realização. As ações de Inteligência de Segurança Pública para Grandes Eventos contribuem para a perspectiva de atuação do Estado-Prevenção e da Segurança Cidadã. Palavras-Chave: Inteligência de Segurança Pública; Doutrina de Inteligência; Grandes Eventos; Planejamento; Segurança Cidadã.

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ABSTRACT

Intelligence activities are part of the historical context of the societies and states in search of information and knowledge as a tool for the solidification of their sovereignty and expansion of their domains. In Brazil, the intelligence agencies were set up from the year 1927 to cope with internal and external threats that could eventually jeopardize the so-called "national interests", also originating the concept of intelligence Classical or "State". The concept of intelligence in law enforcement is just beginning, and comes within the scope of the deployment of a National Public Security and the creation of the National Secretariat of Public Security, creating the intelligence subsystem Public Security Decree 3695 of 2000 and that starting a doctrine of intelligence in public safety. This new conception of intelligence activities must meet several demands related to public security, among them the realization of Major Events, the central object of this research. The Major Events are characterized by their historical significance, popularity and political, involving large numbers of people, among them the authorities and VIPs, is subject to actual or potential threat, requiring a general mobilization of the intelligence agencies. Planning for security in Big Events run through a set of actions of intelligence agencies that can provide support to the deterrent and prevention of risk of assault incidents and threats to their attainment. Shares Security Intelligence Service Major events to contribute to the prospect of action by the State-Prevention and Public Safety. Keywords: Intelligence; Public Security Intelligence; Intelligence Doctrine; Major Events;Planning; Public Safety.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIN - Agência Brasileira de Inteligência CGI – Coordenação-Geral de Inteligência C.I. – Ciência da Informação CIA – Central Intelligence Agency CIEx – Centro de Informações do Exterior DI – Departamento de Inteligência DIA – Defense Intelligence Agency DNISP – Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública DOI-Codi – Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna DOPS – Delegacia de Ordem Política e Social DPS – Divisão de Polícia Política e Social DSI – Divisão de Segurança e Informações ESG – Escola Superior de Guerra ESNI – Escola Nacional de Informações EUA – Estados Unidos da América EU-SEC - Coordenação de Programas Nacionais de Investigação sobre Segurança de Grandes Eventos na Europa FBI – Federal Bureau of Investigation INPOLSE - International Police Services IPES – Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais ISP – Inteligência de Segurança Pública KGB – Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti MI-6 – Military Intelligence, section 6 MRE – Ministério das Relações Exteriores NSA – National Security Agency OBAN – Operação Bandeirante OPS – Office of Public Safety OSS – Office of Strategic Services PDE – Plano de Diretrizes Estratégicas. Copa do Mundo FIFA 2014. PEAG – Plano Estratégico de Ações Governamentais PNSP – Plano Nacional de Segurança Pública PUISO – Planejamento da Unidade Integrada de Segurança e Operações –

Vancover - 2010 SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos SFICI – Serviço Federal de Informações e Contra-Informação SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública SISBIN – Sistema Brasileiro de Inteligência SIVAM – Sistema de vigilância da Amazônia SNI – Serviço Nacional de Informação TICs – Tecnologia da Informação e da Comunicação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................... 12

2 HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA .............................. 16

3 INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA .................................... 24

3.1 INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA E O PLANO

NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA.......................................... 27

3.2 SUBSISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA.. ... 28

3.3 DOUTRINA NACIONAL DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA

PÚBLICA........................................................................................ 34

3.4 INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA NA PREVENÇÃO

DA VIOLÊNCIA URBANA ............................................................. 38

4 INTELIGÊNCIA EM GRANDES EVENTOS: POLÍTICAS E

ESTRATÉGIAS ................................................................................. 45

4.1 GRANDES EVENTOS.......................................................................... 45

4.2 POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS................................................................... 47

4.3 SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS............................................... 52

5 CONCLUSÃO ....................................................................................... 59

REFERÊNCIAS........................................................................................ 62

ANEXO A – Lei no 9.883, de 7 de dezembro 1999. Institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, e dá outras providências ........................................................................... 67 ANEXO B – Decreto nº 4.376, de 13 de setembro de 2002. Dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999, e dá outras providências.............. 71 ANEXO C – Decreto nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000. Cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, e dá outras providências ..................... 77

ANEXO D – Portaria nº 22/SENASP/MJ/2009. Aprova a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública ............................................................... 80

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ANEXO E – Portaria nº 155, de 6 de fevereiro de 2009. Criar a Comissão Especial de Segurança – CESEG ................................................................. 81

ANEXO F – Proposta de Portaria para instituição da Câmara Temática de Inteligência de Segurança Pública para a Copa do Mundo 2014 (CTISP-COPA 2014) ..................................................................................... 83

DEFINIÇÃO DE TERMOS DO PRESENTE ESTUDO ................................. 86

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1 INTRODUÇÃO

As transformações das sociedades na era da informação e do conhecimento

vêm promovendo a quebra de paradigmas nas mais variadas áreas das ciências, em

que a velocidade com que as mudanças são apresentadas vem a exigir aumento da

previsão dos cenários de riscos que possam vir a comprometer a ordem e a

pacificação social.

O Estado brasileiro cada vez mais se consolida como uma potência

emergente, sendo que as ameaças que recaem sobre alguns países alvos de ações

terroristas devem passar a fazer parte de suas preocupações diante da

inexperiência em confrontar esses problemas e em razão da previsão de ser

protagonista de grandes eventos, como os Jogos Mundiais Militares de 2011, a

Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos

de 2016, o que fará com que o Brasil seja o foco das atenções mundiais e provável

alvo de ações atentatórias à segurança pública e à ordem social.

Diante disso, urge o investimento em infraestrutura e em tecnologias de

inteligência que façam frente aos prováveis cenários de riscos que podem se

apresentar de forma a comprometer a segurança dos grande eventos que cada vez

mais passam a fazer parte do calendário de eventos no Brasil.

A segurança em grandes eventos exige ações e procedimentos que anulem

ou ao menos minimizem a probabilidade de ocorrências atentatórias à ordem pública

e social, impondo-se a realização de ações de inteligência que predigam os riscos e

as probabilidades de eventos que impliquem em qualquer forma ou expressão de

violência.

Desse modo, pretende-se apresentar, nessa pesquisa, o conjunto de

elementos na área de inteligência necessários para se dar suporte às ações de

segurança pública em grandes eventos, destacando-se a abordagem da sua

concepção, avaliação, gerenciamento e análise de riscos, que compreendem o

papel da Atividade de Inteligência.

Sintetivamente a pesquisa se caracterizou como descritiva e os

procedimentos metodológicos utilizados no desenvolvimento do estudo podem ser

resumidos da seguinte forma: quanto ao método de abordagem foi dedutivo; com

relação ao tipo de pesquisa, referente a sua natureza, foi aplicada; quanto ao

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objetivo foi descritiva; e, com relação a técnicas de pesquisa, caracterizou-se

como bibliográfica.

Ao longo do trabalho serão analisados os principais desafios e formas de

atuação dos organismos de inteligência no sentido de assegurar a “obtenção,

análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre

fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a

ação governamental, e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do

Estado”, conforme previsto no artigo 1º, § 2° da Le i 9.883, de 07 de dezembro de

1999, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência, tendo como objeto central de

atenção a realização dos grandes eventos.

Nesta pesquisa, o emprego do método dedutivo viabilizou a análise do

Sistema de Segurança Pública no país, com uma leitura sobre a composição e

competência institucional das estruturas de inteligência no que tange ao contexto da

ordem pública e da “paz social”.

No âmbito dos dos grandes eventos realizou-se uma análise sobre a

importância dos organismos de inteligência, delineando suas possibilidades de

darem suporte como sistemas de informação e gestão do conhecimento para o

planejamento e execução dessas ações de segurança pública, bem como os

reflexos disso na prevenção sob a perspectiva da segurança cidadã e sua

adequação aos direitos e garantias fundamentais.

De acordo com as características metodológicas, adotadas no presente

estudo, apresentamos a estrutura a seguir:

No segundo capítulo abordaremos aspectos voltados ao histórico da

aAtividade de inteligência no Brasil e no mundo, de maneira a esclarecer que a

atividade de inteligência faz parte de períodos remotos da história da humanidade,

sendo certo que, desde os primórdios da civilização, a busca pelo conhecimento

impulsionou o homem no desvendamento dos fatos da vida e sua compreensão num

sentido de lhe proporcionar a satisfação de suas necessidades, notadamente a

sobrevivência e segurança.

No terceiro capítulo, a abordagem recairá sobre o âmbito da atividade de

inteligência de segurança pública, a estruturação e composição dos órgãos que

atuam em segurança pública no país e as perspectivas que se apresentam diante do

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fenômeno da violência e da criminalidade no que tange à produção da informação e

do conhecimento.

Ainda no terceiro capítulo, a pesquisa recairá sobre a produção e a gestão da

informação e do conhecimento no âmbito da atividade de inteligência de segurança

pública: cenários de riscos, buscando aquilatar elementos que possam despertar

para a importância do uso de metodologias adequadas para fazer frente aos

desafios do mundo contemporâneo, segundo uma concepção de “segurança

cidadã”.

Por fim, no quarto capítulo se analisará a dimensão conceitual de “grandes

eventos” e as ameaças, riscos e vulnerabilidades que apresentam ou podem

apresentar, bem como o conjunto de medidas e estratégias necessárias para se

contraporem às situações de insegurança e seus impactos.

Diante da complexidade da atividade de inteligência de segurança pública, a

questão dos riscos latentes e potenciais em grandes eventos exige o

estabelecimento de um conjunto de conexões das informações produzidas, que

sejam capazes de aproximar os enunciados emitidos do conhecimento da verdade.

Desse modo, parte-se da premissa de que o conhecimento é processo,

produzido mediante investigação fundada na compreensão dialética e total da

realidade, que se converte em saber científico, o qual permitirá se proceder a

intervenções que possam minimizar a manifestação de expressões de violência e de

criminalidade em suas múltiplas dimensões.

A segurança em grandes eventos exige um novo conceito em segurança

pública, perpassando pela busca de condições socioambientais que permitam

cumplicidade entre os poderes públicos e a sociedade, no sentido de prevenir as

eventuais adversidades. A atividade de inteligência, nesse contexto, se apresenta

como suporte para processos decisórios que visam fazer frente às situações de

risco, com destaque para ações do crime organizado ou ações terroristas.

A articulação das estruturas de segurança na realização de grandes eventos

fica na dependência de um planejamento de inteligência que releve o gerenciamento

e a análise de riscos, cuja responsabilidade tem recaído sobre a Secretaria Nacional

de Segurança Pública (SENASP) através da Coordenação-Geral de Inteligência

(CGI), a qual por ocasião do XV Jogos Pan-americanos de 2007 realizados no

Estado do Rio de Janeiro, teve como objetivo principal assegurar um ambiente

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pacífico e seguro para os Jogos, mediante o estabelecimento de um novo padrão de

interoperabilidade entre as forças de segurança atuantes.

O objeto central dessa pesquisa irá considerar a produção de informação e

conhecimento para “Grandes Eventos”, apontando para um novo paradigma de

segurança pública, considerados aqueles de caráter esportivo e de natureza

internacional, tendo destaque a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de

2016, o que exigirá um modelo de planejamento de inteligência alicerçado em novas

concepções e novas práticas de coordenação e controle.

Nesse sentido, um grande evento deve ter algumas características,

destacando-se os aspectos histórico, político, significado popular, participação e

cobertura ampla da mídia, participação de diferentes países, participação de

autoridades e de personalidades, e grande número de pessoas nos eventos, o que

enseja um conjunto de ameaças que exigem mobilização e cooperação nacional e

internacional.

A amplitude de medidas necessárias, no âmbito da atividade de inteligência

de segurança pública para fins de diagnósticos, planejamento e desencadeamento

de ações de segurança pública em grandes eventos enseja mobilização geral das

pessoas e dos órgãos envolvidos, direta ou indiretamente, de maneira que os

processos decisórios estejam alicerçados numa base sólida dos conhecimentos

produzidos.

Desse modo, esta pesquisa sobre as atividades de inteligência na produção

de informação e conhecimento para grandes eventos aborda questões de interesse

vital para a segurança de sua realização. A hipótese central desta pesquisa, diante

do atual cenário sócio-econômico e político-estratégico – em constante e acelerada

mudança, está configurada na seguinte questão de pesquisa: A Inteligência de

segurança pública, pode fornecer elementos essenciais que subsídiem o

alinhamento de ações governamentais e não governamentais para fazer frente à

complexidade dos riscos e desafios para preservação das garantias individuais e

coletivas nos grandes eventos e deixar um legado para sob a perspectiva da

segurança cidadã ?

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2 HISTORICO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

A busca pelo conhecimento é inerente ao ser humano. Dessa forma, a

Atividade de Inteligência é tão antiga quanto a própria humanidade. Valia-se essa

Atividade como recurso para que as autoridades constituídas mantivessem os seus

interesses. De forma específica, a manutenção das relações de poder, controle

social, sobrevivência e segurança. Como tais relações sempre existiram, mesmo as

sociedade anteriores ao conhecimento da escrita, utilizavam a Inteligência. A

exemplo, na antiguidade clássica:

No primeiro Império Universal (medos e persas), promovido por Ciro, o Grande, Dario, “O Grande Rei”, sucessor do primeiro, organizou um corpo de espiões: “Os olhos e os ouvidos do rei” para espionar os sátrapas (vice-reis das unidades político-administrativas chamadas Satrapias). Na Roma Antiga era comum a presença de espiões atrás das cortinas para ouvir segredos. Antes do século II esta potência não possuía um corpo diplomático. Para resolver problemas, enviava ao exterior pequenas missões que agiam em nome do governo, tornando-se, posteriormente, embaixadas permanentes: muitos membros prestaram-se ao serviço de espionagem. Toda a aristocracia romana tinha sua rede permanente de agentes clandestinos e casas com compartimentos secretos para espionarem seus hóspedes. Apesar desse histórico, os romanos só institucionalizaram a atividade de Inteligência e espionagem no período do Império. (FARIAS, Revista Brasileira de Inteligência, 2005, p. 87).

Ao longo da história pode-se constatar vários registros históricos da atividade

de Inteligência. Citamos como exemplo, na Bíblia, o Livro dos Números, capítulo 13,

no qual Moisés recebe uma ordem para enviar espiãs à terra de Canaã. No livro de

Josué, capítulo 2, ele envia espiãs para fazer reconhecimento avançado em Jericó.

No livro a Arte da Guerra, de Sun Tzun, sobre estratégias de guerra, escrito em 510

a.C. destacam-se os papéis dos diferentes tipos de profissionais que tinham o

objetivo de conseguir conhecimento avançado sobre dificuldades do terreno, planos

do inimigo, das movimentações e do estado de espírito das tropas:

..se não conheces a ti e nem a teu inimigo, sempre sereis derrotado...

...se conheces a ti e não a teu inimigo, para cada vitória terás uma derrota...

...se conheces a ti e a teu inimigo, não temereis o resultado de cem batalhas... [Sun tzu, 2002]

O texto a seguir é elucidativo sobre a escrita como meio de transmissão de

informações de Inteligência:

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Entre os hititas, povo indo-europeu que há mais de 3 mil anos habitava na região onde hoje é a Turquia, já circulavam dados sobre os inimigos, escritos em pedaços de argila. O primeiro tratado conhecido sobre Inteligência é do ano 510 antes de Cristo. Chama-se “Princípios da Guerra”, e foi elaborado pelo general chinês Sun-tzu que queria sempre ganhar as guerras.[www.abin.gov.br, acessado em 12 de março de 2010].

Consta também que as legiões de César, imperador romano, obtinham

informações dos exércitos inimigos usando especuladores, com o objetivo de vencer

a guerra e ampliar os seus limites territoriais. (ACADEMIA NACIONAL DE POLÍCIA,

2009)

Antes de invadir a Pérsia, Alexandre, O Grande, informava-se com viajantes

que vinham de terras estrangeiras, obtendo assim dados sobre outros territórios.

Informações que lhe foram úteis para a invasão do império Persa.(OLIVEIRA, 2009)

Já na Idade Média, segundo a Revista da Abin, nº 01, pág. 89, o serviço de

espionagem foi posto de lado, devido a influência da Igreja e da Cavalaria, que o

julgavam pecado. Porém Maomé o utilizou em 624. Seus agentes infiltrados em

Meca (Arábia Saudita) o avisaram de um ataque de soldados árabes a Medina,

cidade em que estava refugiado. Ele mandou então que fizessem trincheiras e

barreiras ao redor da cidade, que impediram o avanço dos soldados.

Entretanto, mesmo condenados pela Igreja e pela Cavalaria há registros de

sua utilização nessa época:

[...] muitos ministros e diplomatas foram responsáveis pela coleta de informações. O Cardeal Richelieu (1585-1642) fundou na França o Gabinet Noir, que monitorava as atividades da nobreza, e Sir Francis Walsingham (1537-1590) frustrou os empreendimentos de Mary Stuart e Felipe II, ambos católicos, contra a coroa inglesa de Elizabeth I, protestante, por meio do serviço de Inteligência. [FARIAS, 2005, p. 89-90].

Na transição da Idade Média para a Idade Moderna ocorreram muitas

conquistas para humanidade. Mudou-se a maneira de pensar as coisas e as

relações da vida, houve muitos enfrentamentos e disputas e mais uma vez a

Atividade de Inteligência se fez presente nesse contexto, pois os pensadores se

valeram da rede de relacionamentos e informações para a construção do

pensamento e de percepção de dados da realidade material que pudessem servir de

subsídios para ações de seus interesses.

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Nesse cenário de afirmação dos Estados Nacionais da Europa, tento como

pressuposto a conquista de territórios e populações, surgem as primeiras

organizações estáveis especializadas em Inteligência e Segurança, os Serviços

Secretos, que mais tarde foram chamados de Serviços de Inteligência.

O lento processo de especialização e diferenciação organizacional das

funções informacionais e coercitivas está inter-relacionada a instituição dos

Sistemas Nacionais de Inteligência. A sua formação é reflexo da identidade nacional,

da própria construção dos Estados, da institucionalização democrática, da utilização

dos sistemas de informações e da utilização do meios de força. Nesse período,

todos os conhecimentos produzidos pela Atividade de Inteligência Clássica foram de

natureza estratégica para a proteção do Estado, funcionando como instrumentos

decisórios para os chefes de governo. (ACADEMIA NACIONAL DE POLÍCIA, 2009)

No mundo contemporâneo, junto aos novos conhecimentos, surgem novas

tecnologias que se tornaram aliadas da Atividade de Inteligência, a exemplo do

código Morse, oficinas de impressão, fotografia, dentre outros avanços tecnológicos.

Em 1909 o Inglês MI-6 (nome oficial era Secret Intelligence Service), também

conhecido como a firma ou a empresa. E logo após a II Guerra Mundial, destacam-

se a criação dos seguintes Organismos de Inteligência: Em 1946 a Central

Intelligence Agency (CIA) nos Estados Unidos. Em abril de 1951 foi criado o Órgão

de Inteligência Israelense, o Mossad, também conhecido por o “Instituto”. Nesse

mesmo ano na União Soviética a NKGB, Órgão de Inteligência Soviético, o qual em

1954 passou a se chamar Comitê de Segurança do Estado (KGB). (ACADEMIA

NACIONAL DE POLÍCIA, 2009)

O surgimento e desenvolvimento da Atividade de Inteligência no Brasil,

chamado imnicialmente de Atividade de Informação, foi oficialmente iniciado em

1927 no Governo Washington Luis com a instituição de um órgão civil federal, o

Conselho de Defesa Nacional, por meio do Decreto nº 17.999 de 17 de novembro de

1927. Tal conselho era subordinado diretamente ao Presidente da República e tinha

como atribuição coordenar a produção de conhecimento sobre “questões de ordem

econômica, financeira, bélica e moral referentes ao Brasil”. (ACADEMIA NACIONAL

DE POLÍCIA, 2009)

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Antes desse período a atividade de inteligência era exercida apenas no

âmbito das atividades militares e ministérios então existentes, que se dedicavam

exclusivamente a Defesa Nacional e atuavam em proveito dos Estados e de suas

forças.

Com a Constituição de 1937, também conhecida como a “Polaca”, o Conselho

Superior de Segurança Nacional ficou conhecido apenas como Conselho de

Segurança Nacional - CSN, o qual executava o serviço de busca de informações

para subsidiar ações do governo, mas com o foco na questões de Estado e não em

outras estratégias de governo e segurança pública, por exemplo.

Ao longo do processo político nacional diversas foram as reformulações no

citado Conselho e no desenvolvimento da Atividade de Informações, cabendo

destacar nesse período do governo de Eurico Gaspar Dutra, a criação do Serviço

Federal de Informações – SFICI, por meio do Decreto-Lei 9.775-A de 06 de

setembro de 1946, que tinha a incumbência de “superintender e coordenar as

Atividades de Informações que interessassem à Segurança Nacional”. Percebe-se o

viés de “inteligência de Estado” nesse contexto. (ACADEMIA NACIONAL DE

POLÍCIA, 2009)

O SFICI foi concebido em um momento histórico de luta ideológica que

caracterizou a “Guerra Fria” entre as duas maiores potências mundiais: Estados

Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O Brasil acabou

se inserindo nesse conflito, o que estimulou a estrutura de inteligência brasileira a

tratar com maior atenção de questões de cunho ideológico, gerando a chamada

produção de Atividades de Informação e de Contra-Informações, principalmente

concernentes ao acompanhamento de movimentos sociais ligados a esquerda do

País e visando, sobretudo, a repressão. Na prática, tal serviço só foi implantado

durante o governo de Juscelino Kubitscheck, em 1956. (ACADEMIA NACIONAL DE

POLÍCIA, 2009)

O cenário político institucional do país no início da década de 60 se

apresentava bastante conturbado, com um conjunto sucessivo de greves,

mobilização nacional, instabilidade polpitico-institucional, culminando na intervenção

militar no processo político nacional a partir de 1964. Com a assunção à Chefia do

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Executivo do General Humberto Castelo Branco, o Serviço Secreto Brasileiro é

fortalecio, extinguindo-se o SFCI e criando o Serviço Nacional de Informações – SNI.

(ACADEMIA NACIONAL DE POLÍCIA, 2009)

O General Costa e Silva perceveu a importância e fortaleceu o Serviço de

Informações, tornando-o mais atuante e,imclusive, com atribuições e competências

típicas de polícia, de forma que atuasse juntamente com Serviço Nacional de

Informações – SNI (em vigor entre 1964 e 1985) e que fosse estruturado nas bases

do Serviço Reservado do Exército. Consta que:

Com o endurecimento do regime, a partir de 1967, o SNI ganhou tentáculos. Abriu escritórios nos ministérios civis – as chamadas Divisões de Segurança e Informações (DSI) – e nas autarquias e órgãos federais – as Assessorias de Segurança e Informações (ASI). Também ganhou parceiros nas Forças Armadas, com a criação ou reorganização dos serviços secretos militares – o Centro de Informações do Exército (CIE), o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) e o Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA). Era a chamada “comunidade de informações”, em que o SNI entrava com a vigilância e os serviços secretos militares com a repressão e as armas. [FIGUEIREDO, 2006, p. 17].

Dessa maneira, dois meses após a posse do Presidente Costa e Silva, em

julho de 1967, o Centro de Inteligência do Exército – CIEX, foi inaugurado. Tal centro

foi reforçado em estruturas e ações quando o Emílio Garrastazu Médice assumiu a

presidência do País tendo como foco questões que pudessem comprometer a

estabilidade política e institucional do país.

Com o início da transição política de Poder e advento da redemocratização do

País, tanto o governo de João Figueiredo quanto o de José Sarney procuraram

alocar a Atividade de Informações no seu correto espaço e em seu devido limite, em

um cenário de estabilidade das instituições democráticas e de respeito aos direitos e

garantias fundamentais. (ACADEMIA NACIONAL DE POLÍCIA, 2009)

Diante do histórico estigma produzido pelas atividades chamdas de

“informação”, o Governo de Fernando Collor de Melo efetuou reformas

administrativas que abrangeram a extinção do SNI e a criação da Secretaria de

Assuntos Estratégicos – SAE, que foi comandada por civis até o ano de 1992. Nesta

Secretaria foi definido o espaço para a Atividade de Inteligência e instituídos como

organismos responsáveis por essas atribuições o Departamento de Inteligência, o

Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos – CEFARH e as

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agências regionais. No período do governo Itamar Franco, criou-se a Subsecretaria

de Inteligência – SSI, no âmbito da SAE. (ACADEMIA NACIONAL DE POLÍCIA,

2009)

Em janeiro de 1995 Fernando Henrique Cardoso assume a Presidência da

República, promove mudança no Serviço Secreto visando o fortalecimento do

serviço e a criação de mecanismos de controle externo. Em dezembro de 1999 é

criada a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN e o Sistema Brasileiro de

Inteligência – SISBIN. (ACADEMIA NACIONAL DE POLÍCIA, 2009)

A ABIN é destacada como órgão central do SISBIN, diretamente subordinado

à Presidência da República, através do Gabinete de Segurança Institucional – GSI.

A ABIN tem como objetivo “planejar e executar atividades de natureza permanente,

relativas ao levantamento, coleta e análise de informações estratégicas, planejar e

executar atividades de Contra-Informação, e executar atividades de natureza

sigilosa necessárias a segurança do Estado e da sociedade”. (Lei nº 9.883/99)

O Decreto nº 4.376 de 13 de setembro de 2002 dispõe sobre o funcionamento

e organização do SISBIN, o qual tem como atribuição integrar as ações de

planejamento e execução da Atividade de Inteligência do País, tendo por finalidade

ofertar subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional. Os

órgãos que constituem o SISBIN estão expressos no art. 4º do Decreto 4.376, sendo

eles:

Art. 4º Constituem o Sistema Brasileiro de Inteligência: I – a Casa Civil da Presidência da República, por meio do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia – CENSIPAM; II – o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, órgão de coordenação das atividades de inteligência federal; III – a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, como órgão central do Sistema; IV – o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Departamento de Polícia Rodoviária Federal e da Coordenação de Inteligência do Departamento de Polícia Federal; V – o Ministério da Defesa, por meio do Departamento de Inteligência Estratégica, da Subchefia de Inteligência do Estado- Maior de Defesa, do Centro de Inteligência da Marinha, do Centro de Inteligência do Exército, da Secretaria de Inteligência da Aeronáutica; VI – o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Coordenação- Geral de Combate a Ilícitos Transnacionais; VII – o Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria-Executiva do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, da Secretaria da Receita Federal e do Banco Central do Brasil; VIII – o Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria- Executiva;

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IX – o Ministério da Saúde, por meio do Gabinete do Ministro e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; X – o Ministério da Previdência e Assistência Social, por meio da Secretaria-Executiva; XI – o Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do Gabinete do Ministro; XII – o Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria- Executiva; XIII – o Ministério de Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil.

No ano 2000, por meio do Decreto 3.695 foi criado o Subsistema de

Inteligência de Segurança Pública – SISP.

O SISP tem como órgão central a SENASP/MJ, integrando também sua

estrutura os Ministérios da Justiça, Fazenda, Defesa e Integração Nacional e

Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República – GSI. Os

Oganismos de Inteligência de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal,

através de convênio com a SENASP também podem integrar o SISP.

A estrutura criada pela SENASP para atuar como Órgão Central de

Inteligência de Segurança Pública no país é a Coordenação-Geral de Inteligência, a

qual tem a função de realizar a produção de Informação e de Conhecimento para

assessorar as decisões do Secretário Nacional, nas mais diversas áreas de atuação

em Segurança Pública, fomentar políticas públicas na seara da Inteligência, bem

como realizar pesquisas e desenvolver e difundir ferramentas e novas tecnologias

para as atividades dos membros do SISP e dos demais integrantes do Sistema de

Justiça Criminal.

Segundo uma concepção filosófica pautada nos pilares da integração,

compartilhamento e produção de conhecimento, o Planejamento Estratégico da

Coordenação-Geral de Inteligência tem como matrizes de atuação e valores:

Missão: integrar e padronizar os organismos de Intelig\Ência de Segurança Pública. Valores: ética, lealdade,responsabilidade e proatividade. Visão de Futuro: ser referência na produção de conhecimento estratégico e emações de integração. [disponível em http://cgi.infoseg.gov.br/repart.php?id=12]

Essa breve sinopse histórica é importante para que compreendamos os

rumos, caminhos e possibilidades da Atividade de Inteligência no país, evitando os

erros do passado. Eis que, segundo Oliveira:

Com a sociedade da informação o poder do indivíduo e da sociedade aumentou. Com mais informações e um acesso a uma variedade de fontes, a população fica mais atenta ao comportamento das empresas e dos

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Estados. Os temas de desenvolvimento sustentável, meio ambiente, responsabilidades sociais são cada dia mais fortes. As empresas e os lideres públicos tem que levar esses aspectos em conta para não perder a legitimidade social de atuar. Os valores e a reputação das organizações são aspectos que se tornam ainda mais importantes. Neste contexto a Inteligência Estratégica é considerada necessária para a vida política, econômica, diplomática e social. [OLIVEIRA, 2009, p. 12]

No próximo capítulo veremos como tem se estruturado a atividade de

inteligência de segurança pública no país, sua concepção e em que bases

doutrinárias se assentam suas ações.

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3 INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA – ISP

As demandas e os conflitos sociais e suas diferentes formas de expressão

apontam cada vez mais para a necessidade das estruturas de segurança pública se

adequarem para fazer frente ao problema da violência e da criminalidade de forma a

assegurar a garantia da ordem pública e social e a promoção da pacificação social.

A violência urbana tem se apresentado como uma das ameaças mais reais

das sociedades, tanto em países desenvolvidos como em países subdesenvolvidos,

gerando um quadro de insegurança e medo que acaba tornando o espaço de

algumas cidades em local de intolerâncias e desrespeitos, gerando prejuízos

irreparáveis aos direta ou indiretamente envolvidos.

Nas palavras de Sérgio Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida:

A crescente violência urbana expõe um monumental déficit na vida democrática do Brasil. Caem regimes autoritários, constituições se aperfeiçoam – e a repressão fica cada vez mais letal, a Justiça ainda é inacessível, os agentes estatais não sofrem controle sobre suas ações. A violência de caráter endêmico, implantada num sistema de relações sociais profundamente assimétricas, não é fenômeno novo: dá continuidade a uma longa tradição de práticas de autoritarismo.[PINHEIRO;ALMEIDA, 2003, contracapa]

A consolidação de um Estado Democrático de Direito não se coaduna com

um “Estado do medo”, em que as relações espúrias de poder ditam as regras, razão

pela qual o problema da violência urbana deve ter primazia no estabelecimento das

políticas públicas de segurança, pois este tipo de violência interfere diretamente no

cotidiano das pessoas, inclusive no contexto da realização de Grandes Eventos.

As estruturas de segurança pública no país são as responsáveis pela

intervenção mais direta e imediata nos problemas que dizem respeito à

criminalidade, criminalização e enfrentamento à violência, muito embora se saiba

que uma atuação efetuada de forma cooperativa, envolvendo não apenas o poder

público, mas também ações do empresariado, da sociedade civil organizada e de

comunidades locais tenham efeitos bem mais úteis quando os esforços são

empreendidos sob o aspecto da solução integrada desses problemas sociais.

O desenvolvimento de formas modernas de se articular ações de segurança

pública perpassam pela adequação e viabilidade de políticas públicas que permitam

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a interação entre os vários atores, desde os integrantes do sistema de justiça

criminal, a sociedade civil organizada e os cidadãos. (DEPAULA, 2010)

Nesse sentido,

Os grandes eventos são uma excelente oportunidade para a Polícia ganhar e aumentar a confiança e respeito da comunidade que serve. É importante, desde o primeiro dia, envolver as pessoas que a Polícia tem de proteger e servir e com as quais tem de trabalhar em conjunto, particularmente os idosos, os jovens e outros grupos vulneráveis. Sempre que possível, as pessoas devem ser, de forma honesta, informadas e actualizadas. As autoridades devem objectivamente chamar a atenção para os riscos e problemas mas também promover as contra-medidas. Devem também explicar, em termos simples, por que será necessário impor certas restrições, mas salientando o seu carácter temporário. Também é recomendável informar a comunidade sobre os encargos financeiros adicionais que o grande evento implica para a economia local e em que termos a comunidade beneficiará, no longo prazo, das melhorias nas infra-estruturas que os planeadores de segurança pretendem introduzir para apoiar a operação policial. Um evento bem sucedido pode promover um país ou uma região de forma muito positiva e nos anos seguintes atrair o turismo, o comércio e as empresas, melhorando assim a economia e criando oportunidades para continuar a desenvolver comunidades mais seguras e reduzir o crime e a delinquência. [UNICRI, Modelo de Planejamento da Segurança, 2009]

Por este viés, a atividade de inteligência de segurança pública se apresenta

como valioso instrumento de busca e produção de conhecimento que podem

possibilitar ações mais efetivas e eficazes na administração dos conflitos e na busca

de reformulação de políticas de Estados e de governos.

A Inteligência de Segurança Pública, sob uma perspectiva que releve os

direitos de cidadania e aponte para outras possibilidades de intervenção nos

conflitos, que não apenas a voltada para o sistema de justiça criminal é algo novo no

país, pois, como visto na abordagem histórica constante da Unidade 1, e sempre

esteve direta ou indiretamente vinculada às mais variadas formas do

estabelecimento de relações de poder.

Revendo o papel da Inteligência, conforme segue:

A Inteligência não tem poder de polícia, usa-se o cérebro para avaliar a informação. Esta pode ser classificada de diversas maneiras, tais como: informação militar, tática, geral, diplomática, política, econômica, social, biográfica, científica, tecnológica e informação sobre comunicações e transportes. O seu processo envolve as seguintes fases: necessidade de conhecimento; coleta de dados na imprensa ou outros similares, incluindo coleta de dados não disponíveis; processamento dos dados; disseminação do conhecimento ao usuário, para a tomada de decisão. A atividade deve ser centralizada e seu quadro de profissionais deve ser preenchido por

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pessoas íntegras e com bons propósitos. [REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. Brasília: Abin, v. 1, n. 1, dez. 2005.p. 85-86]

O desafio que se apresenta para consecução da Atividade de Inteligência de

Segurança Pública consiste na percepção de que a produção de informação e

conhecimento visando a manutenção da ordem pública e a promoção da pacificação

social tem outras especificidades que se diferenciam da chamada Inteligência

Clássica, ou seja, vinculada à Inteligência de Estado, a qual, segundo Joanisval Brito

Gonçalves, é aquela atividade:

[...] associada a informações, processos e organizações relacionados à produção de conhecimentos, tendo por escopo a segurança do Estado e da sociedade, e que constituem subsídios ao processo decisório da mais alta esfera de governo.(...) A Inteligência de Estado, portanto, reúne a produção de conhecimento de diferentes matizes, também podendo ser fruto da integração de inteligência produzida por diversos órgãos, e tem como objetivo assessorar o processo decisório de mais alto escalão, de maneira a dotar o tomador de decisão com informações na sua maioria de caráter estratégico na defesa do Estado e da sociedade contra ameaças reais ou potenciais. [GONÇALVES, 2009, p. 40]

A concepção de Inteligência de Estado, sob o aspecto estratégico, é

conceituada pelo Manual da ESG como sendo aquele que é:

[...] a resultante da obtenção, análise, interpretação e disseminação de conhecimentos sobre as situações nacional e internacional, no que se refere ao Poder Nacional, aos Óbices, às suas Vulnerabilidades, às Possibilidades e outros aspectos correlatos, com possível projeção para o futuro. [...] A Atividade de Inteligência é reconhecida em nível mundial como fator indispensável de assessoria na estrutura dministrativa do Estado. Como conseqüência é aplicada a qualquer planejamento estratégico de governo em todas as suas fases. É conveniente, portanto, que a Atividade seja estruturada através de Planos que orientem o trabalho a ser desenvolvido. Entendendo Plano como sendo um conjunto ordenado de disposições e procedimentos visando a operacionalização de decisões governamentais, é interessante que ele seja elaborado na cúpula do SISBIN. [ESG, Manual Básico, Volume II, 2008]

Os processos decisórios que dizem respeito à segurança pública se

distinguem daqueles inerentes às decisões de Estado, muito embora possam haver

pontos de interseção. Isto porque a dinâmica dos conflitos que exigem intervenção

do aparato policial perpassa por medidas de caráter imediato para que não haja a

ruptura da ordem legal e o comprometimento da segurança coletiva.

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3.1 Inteligência de Segurança Pública e o Plano Nacional de Segurança Pública

O desenvolvimento de formas modernas de se articular ações de segurança

pública perpassam pela adequação e viabilidade de políticas públicas que permitam

a interação entre os vários atores, desde os integrantes do sistema de justiça

criminal, a sociedade civil organizada e os cidadãos. Essa questão tem destaque no

Plano Nacional de Segurança Pública, conforme segue:

A solução para a complexa e desafiadora questão da segurança exige o efetivo envolvimento de diferentes órgãos governamentais em todos os níveis, entidades privadas e sociedade civil. Busca-se, com o estabelecimento de medidas integradas, aperfeiçoar a atuação dos órgãos e instituições voltadas à segurança pública em nosso País, permitindo-lhes trabalhar segundo um enfoque de mútua colaboração. Somente com essa participação conjunta, este programa terá efetividade e criará condições para o desenvolvimento de ações mais eficazes. [PNSP, 2000]

Cabe destacar os compromissos do Plano Nacional de Segurança Pública, o

qual previu medidas no âmbito do governo federal de cooperação com os governos

estaduais, medidas estas de natureza normativa e de natureza institucional, que

foram assim distribuídos:

O PNSP, no âmbito do Governo Federal previu o seguinte:

1. Combate ao narcotráfico e ao crime organizado 2. Desarmamento e controle de armas 3. Repressão ao roubo de cargas e melhoria da segurança nas estradas 4. Implantação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública 5. Ampliação do Programa de Proteção a Testemunhas e Vítimas de Crime 6. Mídia x Violência: regulamentação

E em cooperação com os governos estaduais:

1. Redução da violência urbana 2. Inibição de gangues e combate à desordem 3. Eliminação de chacinas e execuções sumárias 4. Combate à violência rural 5. Intensificação das ações do Programa Nacional dos Direitos Humanos 6. Capacitação profissional e reaparelhamento das polícias 7. Aperfeiçoamento do sistema penitenciário

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No âmbito normativo houve previsão do aperfeiçoamento legislativo e em

questões de natureza Institucional se previu a implantação do Sistema Nacional de

Segurança Pública.

O compromisso n° 4 do PNSP previu a implementação d o Subsistema de

Inteligência de Segurança Pública, nas seguintes ações:

38. Implantar o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública 39. Integração dos Estados ao Subsistema de Inteligência de Segurança Pública 40. Criação dos Núcleos Federais e Estaduais do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública 41. Atuação dos Núcleos Estaduais do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública

E diante dos novos cenários de riscos, surge também a responsabilidade das

estruturas de segurança pública na realização de “Grandes Eventos”, que ensejam

toda uma preparação e um planejamento que minimize as probabilidades de

comprometimento da ordem e da segurança pública.

Disso decorre a necessidade de uma estrutura de Inteligência de Segurança

Pública que permita às estruturas de polícia uma atuação mais precisa nos conflitos,

seja de natureza preventiva ou repressiva, combinado com um sistema de

interoperabilidade entre os órgãos policiais que apontem para diagnósticos ou

prognósticos que possam auxiliar na tomada de decisões gerenciais em segurança

pública, quer no plano estratégico ou no plano tático.

A criação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública representou

um avanço nesse sentido, o que passaremos a tratar.

3.2 Subsistema de Inteligência de Segurança Pública

A necessidade de uma estrutura de produção de informação e conhecimento

que atendesse à complexidade das demandas em segurança pública ensejou a

criação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, surgido com o Decreto

Executivo 3.695 de 2000, conforme se depreende a seguir:

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O SISP foi estabelecido em dezembro de 2000, por meio do decreto-executivo 3.695, para organizar de forma cooperativa os fluxos de informação nas áreas de inteligência criminal, inteligência de segurança (ou interna), bem como contra-inteligência. Este subsistema é coordenado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça. Os principais órgãos do SISP são o Departamento de Polícia Federal (DPF) e o Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF), no Ministério da Justiça, além de componentes do Ministério da Fazenda (COAF, COEPI e SRF), do Ministério da Integração Regional, do Ministério da Defesa (SPEAI), do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (ABIN e SENAD), além das polícias civis e militares dos 26 estados e do Distrito Federal. Embora definido como um subsistema do SISBIN, não se sabe até que ponto a presença da ABIN no SISP garanta um fluxo significativo de informações relevantes e a integração entre as agências. [CEPIK;ANTUNES, 2003, p. 119]

A criação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública vem ao

encontro da necessidade de reformulação de um modelo que venha mais ao

encontro das demandas sociais, que tenha por objetivo a promoção do

desenvolvimento social, o que tende a reflexos direitos na segurança, e que também

auxilia na produção de informação e conhecimento para uma atuação mais efetiva

contra os problemas sociais que acabam culminando em conflitos.

O conceito da Atividade de Inteligência de Segurança Pública corrobora esse

entendimento, senão vejamos:

A atividade de ISP é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, basicamente orientadas para subsidiar os governos federal e estaduais a tomada de decisões, para o planejamento e à execução de uma política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou atentatórios à ordem pública. [Doutrina Nacional de Segurança Pública, 2009, p. 13]

Percebe-se que além da importância das Ações de Inteligência como valioso

recurso para a investigação preliminar, visando a elucidação e prevenção de

práticas criminosas, também tem destaque seu papel na produção de informação e

conhecimento no âmbito da manutenção da ordem pública.

A dimensão da ordem pública, segundo Álvaro Lazzarini, é:

[...] a ausência de desordens, de atos de violência contra as pessoas, os bens ou o próprio Estado, noção essa que, apesar de vaga, é clássica, no dizer autorizado de Paul Bernard, mas que possibilita a afirmação de que assegurar a ordem pública é assegurar a tranqüilidade pública, a segurança

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pública e a salubridade pública e nada mais do que isso. [LAZZARINI, 1999, p. 143]

Essa concepção permite a percepção sobre a extensão da Atividades de

Inteligência, que além de visar diagnósticos que possam conter eventuais abusos

por parte de particulares contra o ordem vigente, também tem por escopo proteger

ações contrárias, nocivas ou perturbadoras do bem estar social e ao

desenvolvimento e à segurança nacional.

Para José Afonso da Silva:

Ordem Pública será uma situação de pacífica convivência social, isenta de ameaça de violência ou de sublevação que tenha produzido ou que supostamente possa produzir, a curto prazo, a prática de crimes. Convivência pacífica não significa isenta de divergências, de debates, de controvérsias e até de certas rusgas interpessoais. Ela deixa de ser tal quando discussões, divergências, rusgas e outras contendas ameaçam chegar às vias de fato com iminência de desforço pessoal, de violência e do crime. A segurança pública consiste numa situação de preservação ou restabelecimento dessa convivência social que permite que todos gozem de seus direitos e exerçam suas atividades sem perturbação de outrem, salvo nos limites de gozo e reivindicação de seus próprios direitos e defesa de seus legítimos interesses. Na sua dinâmica, é uma atividade de vigilância, prevenção e repressão e condutas delituosas. Segundo a Constituição, a segurança pública é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio através da polícia federal, da polícia rodoviária federal, da policia ferroviária federal, das polícias civis, das polícias militares e corpos de bombeiros militares (art. 144). [SILVA, 2007, pp. 777-778]

A noção de “ordem pública”, portanto, confunde-se com a questão do

interesse público, no sentido de que bens e interesses de particulares sujeitam-se à

supremacia geral que o Estado exerce em seu território sobre as pessoas, sem

olvidar das questões inerentes aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos.

A defesa da ordem pública tem como um de seus fundamentos a

manifestação do poder de polícia. Segundo Odete Medauar:

[...] a chamada ordem pública, como fundamento do exercício do poder de polícia, na sua concepção atual, identifica-se com o interesse público e diz respeito à custódia de qualquer tipo de bem ou interesse de todos ante o indivíduo ou grupo restrito de indivíduos. O interesse público que informa todas as atividades da Administração, é mencionado sob diversos nomes: interesse geral, bem comum, interesse coletivo, necessidades coletivas, necessidades da vida social. [MEDAUAR, 2002, p. 407]

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Pela sua própria natureza, a Atividade de Inteligência de Segurança Pública

não possui o chamado “poder de polícia”, mas são catalisadas para que este poder

possa manifestar-se de forma oportuna e efetiva, visando, como dito, a manutenção

da ordem pública, facilitando e dando suporte para o exercício das funções de

prevenção, repressão, investigação e cooperação judiciária, naquilo que se chama

de “poder de polícia de segurança pública”.(SULOCKI, 2007)

Suloccki corrobora esse entendimento ao afirmar que:

[...] ordem pública é um conceito extremamente abrangente, que abriga em seu seio diversas conotações e atuações do poder estatal, já que é ele o encarregado de mantê-la, ou melhor de preservá-la, amparado pelo poder de polícia. Ordem pública e poder de polícia são figuras que andam juntas, posto que é pelo poder de polícia que o Estado, mais especificamente o Poder Executivo, através da Administração Pública, intervém na sociedade civil para limitar as liberdades individuais com o intuito de manter a atuação destas dentro do quadro da ordem vigente. [SULOCKI, 2007, p. 47]

Cabe destacar que as possibilidades de produção de conhecimentos para a

tomada de decisões, ou em apoio às instituições de segurança pública, tem a

própria extensão do poder de polícia, que é atualmente muito ampla. Segundo Hely

Lopes Meirelles:

[...] abrangendo desde a proteção à moral e aos bons costumes, a preservação da saúde pública, o controle de publicações, a segurança das construções e dos transportes até a segurança nacional em particular. Daí encontrarmos nos Estados modernos a polícia de costumes, a polícia sanitária, a polícia das construções, a polícia das águas, a policia da atmosfera, a polícia florestal, a polícia de trânsito, a polícia dos meios de comunicação e divulgação, a polícia das profissões, a polícia ambiental, a polícia da economia popular, e tantas outras que atuam sobre atividades particulares que afetam ou possam afetar os superiores interesses da comunidade que ao Estado incumbe velar e proteger. Onde houver interesse relevante da coletividade ou do próprio Estado haverá, correlatamente, igual poder de polícia administrativa para a proteção desses interesses. É a regra, sem exceção. [MEIRELLES, 1993, p. 118]

A Atividades de Inteligência de Segurança Pública pode, por este viés,

atender demandas de informação e conhecimento para as funções estatais

comumente denominadas como polícia administrativa, de segurança e judiciária.

Segundo Valter Foleto Santin,

[...] As referidas `policias´ não são instituições públicas autônomas, mas sim tradução de funções, que podem ser desempenhadas por inúmeros órgãos públicos, não apenas órgãos policiais propriamente ditos. Pode ser exercido o poder de polícia por inúmeros outros órgãos executivos, por exemplo

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pelos órgãos de vigilância sanitária, de saúde pública, ambientais e fiscais. Também por órgãos legislativos (poder de polícia parlamentar, nas audiências e sessões parlamentares do processo legislativo) e judiciários (poder de polícia judicial em audiências e no andamento de processo). O juiz detém o poder de polícia na vigilância, fiscalização e disciplina dos atos processuais e nas audiências, para a adequada atuação das partes e regular tramitação de procedimento de investigação e processo.(...) O poder de polícia de segurança pública é exercido para permitir e facilitar o exercício das funções de prevenção, repressão, vigilância de fronteiras, investigação e cooperação judiciária. [SANTIN, 2004, p. 107 – 108]

Nesse contexto se insere a questão da segurança em grandes eventos, cuja

realização exige uma série de diagnósticos e prognósticos, imanentes às atividades

de inteligência de segurança pública, que enseja ainda subsidiar o planejamento

estratégico das ações que serão desenvolvidas, apoiar com informações de

natureza preventiva e repressiva os órgãos policiais envolvidos, prover alertas em

caso de situações de risco eminente, ataques e outras intercorrências e auxiliar na

investigação de delitos.

Esse entendimento, de que a segurança pública tem uma natureza

multimensional, multiagencial multidisciplinar e multiatorial, mais abrangente na

proteção da população, é previsto na Constituição Federal, in verbis:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,

organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em

detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da

União. § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e

mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais

§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.

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§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei [Constituição da República Federativa do Brasil de 1988]

A questão da segurança pública vem sendo assumida como responsabilidade

de todos, sociedade e Estado, muito embora tenhamos as competências e

responsabilidades dos órgãos que a compõe como um “sistema”. A amplitude,

portanto, da ordem pública, insere-se num contexto mais amplo de proteção da

sociedade e do Estado e de prevenção às mais variadas formas de expressão da

violência.

Disso decorre a necessidade de que a Atividade de Inteligência de Segurança

Pública se desenvolva de forma articulada e cooperativa, preservando-se, de um

lado, a repartição de competências previstas na Constituição Federal, mas por outro

assegurando parcerias que permitam o planejamento e a execução com eficiência

das ações de preservação e de manutenção da ordem pública.

Desse modo, para que os Órgãos de Inteligência de Segurança Pública

possam atuar de forma conjugada e harmônica, criou-se então o Subsistema de

Inteligência de Segurança Pública, cujo órgão central,como visto, é a Secretaria

Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça – SENASP.

Essa compleição faz com que os sistemas governamentais de Inteligência de

Segurança Pública adotem novas premissas na produção de conhecimentos

estratégicos visando a promoção da pacificação social e a garantia da ordem

pública, que além de questões inerentes à investigação preliminar, também apontem

para a avaliação de outras ameaças, reais ou potenciais, que possam servir como

subsídio para a tomada de decisões, notadamente em uma época em que as novas

tecnologias de informações e comunicação (TICs) tem ampliado a produção e os

fluxos informacionais e de conhecimentos nas mais variadas áreas que requerem

políticas públicas adequadas.

Page 34: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

34

3.3 Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública - DNISP

No esteio da criação do Subsistema de Inteligência em Segurança Pública –

SISP, decorreu a necessidade de se rever alguns aspectos doutrinários no sentido

de se alinharem com os princípios norteadores da Atividade de Inteligência de

Segurança Pública no país, numa perspectiva que viesse ao encontro da busca

pela construção da paz mediante a adoção de uma transformação estrutural nas

ações de segurança pública, com o enfoque privilegiado na lógica da prevenção e

da gestão.

A Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública – DNISP passa,

então, a ser elaborada pela SENASP, tendo sido apresentado no ano de 2005 uma

prévia dos trabalhos, intitulada “Matriz Doutrinária para a Atividade de Inteligência de

Segurança Pública”.

No ano de 2008 a CGI iniciou um processo de cosntrução e lapidação da

DNISP, com a participação de todos os órgãos que compõem o SISP e com todos

os Estados. Essa construção deu-se dentro de um processo participativo, dinçamico

e dialógico, tendo como resultado a oficialização e publicação da DNISP pela

Portaria nº 22, de 22 de julho de 2009, constante do anexo IV. Estava criado e

oficializado pelo Conselho Especial do SISP o marco da Atividade de Inteligência de

Segurança Pública do país.

O marco conceitual da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança

Pública é definido como:

Um conjunto de conceitos, características, princípios, valores, normas, métodos, procedimentos, ações e técnicas que orientam e disciplinam a atividade de ISP. Propõe uma linguagem especializada entre os profissionais da atividade de ISP, de modo que as relações de comunicação essenciais ao seu exercício ocorram sem distorções ou incompreensões. Dentro desta perspectiva, a doutrina deve ser capaz de padronizar a atuação das agências que integram o Subsistema de Inteligência de Segurança Pùblica (SISP), visando maximizar os seus padrões de eficácia e eficiência, convertendo-se em importante instrumento de assessoria às políticas e ações relacionadas à área de Segurança Pública. [Matriz Doutrinária para a Atividade de Inteligência de Segurança Pública, 2005]

A importância de uma doutrina para a Inteligência de Segurança Pública

funda-se na necessidade de novas bases para a mediação dos conflitos, em que as

concepções pautadas no modelo clássico, também chamado de Inteligência de

Estado, se mostraram inadequadas diante do entendimento de que a segurança

Page 35: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

35

pública “é um bem democrático, legitimamente desejado por todos os setores

sociais, um direito fundamental da cidadania, obrigação constitucional do Estado e

responsabilidade de cada um de nós”. (Relatório do Sistema Único de Segurança

Pública. Ministério da Justiça. [s.ed.] 2005)

O complexo cenário da violência e dos fenômenos ditos “criminais” enseja a

necessidade de uma assessoria qualificada, método adequado e interlocução com

vários atores que integram o Sistema de Inteligência no sentido de garantir a ordem

pública, em consonância com os ditames que caracterizam um Estado Democrático

de Direito, em destaque a preservação dos direitos e garantias fundamentais e a

promoção dos direitosde cidadania.

Os fundamentos doutrinários da Doutrina Nacional de Inteligência de

Segurança Pública, ao tratar das finalidades da Atividade de Inteligência de

Segurança Pública, apresenta o seguinte conjunto de atribuições:

[...] - Proporcionar diagnósticos e prognósticos sobre a evolução de situações do interesse da segurança pública, subsidiando seus usuários no processo decisório.

- Contribuir para que o processo interativo entre usuários e profissionais de Inteligência produza efeitos cumulativos, aumentando o nível de efetividade desses usuários e de suas respectivas organizações.

- Subsidiar o planejamento estratégico integrado do sistema e a elaboração de planos específicos para as diversas organizações do Sistema de Segurança Pública.

- Apoiar diretamente com informações relevantes as operações policiais de prevenção, repressão, patrulhamento ostensivo e de investigação criminal.

- Prover alerta avançado para os responsáveis civis e militares contra crises, grave perturbação da ordem pública, ataques surpresa e outras intercorrências.

- Auxiliar na investigação de delitos. - Preservar o segredo governamental sobre as necessidades

informacionais, as fontes, fluxos, métodos, técnicas e capacidades de Inteligência das agências encarregadas da gestão da segurança pública [DNISP, item 1.2]

A base doutrinária para a consecução dessas atribuições perpassa pela

observância dos preceitos constitucionais relativos aos direitos e garantias do

cidadão e da sociedade, num sentido de que a busca de dados, informações e

conhecimentos sobre antagonismos e às ameaças reais ou potenciais não fiquem

adstritas à uma concepção estratégica de Estado, mas sim que vá muito mais além,

permeando outros métodos e formas de compreensão e tratamento dos conflitos,

Page 36: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

36

apontando para novas formas multiagenciais e com base dialógica na prevenção e

promoção de direitos.

Nesse sentido, Theodomiro Dias Neto nos elucida:

A política de prevenção integrada caracteriza-se pela diversificação das respostas sociais e governamentais aos problemas do crime e da insegurança. Não há ator social que não possua alguma responsabilidade na gestão da segurança no espaço urbano. De acordo com os princípios da transversalidade, da descentralização, da interdependência da competências de governo se reconhece que toda decisão política possui algum impacto na segurança e que somente a ação concertada envolvendo recursos do Estado e das organizações da sociedade civil pode viabilizar uma estratégia de defesa integral dos direitos. [DIAS NETO, 2005, p. 143]

A DNISP se contrapõe a uma perspectiva de Inteligência que releve o

controle social, a regulação e a intervenção punitiva como preceitos básicos para a

construção da paz, pois via de regra a atuação desse tipo de Agência acaba

remetendo para atos de violência, abuso da força e uso desmedido do poder.

Salo de Carvalho nos leva á reflexão sobre os riscos disso:

[...] se as agências de controle social são inserid as na burocracia com os objetivos de gestão dos desvios (caráter prevent ivo) e punição (caráter repressivo), o direito (penal), ao pretend er-se cientifico, recepciona o estatuto e a programação do racionalis mo cartesiano. Nos passos das demais áreas das ciências naturais, é lançado na grande aventura da Modernidade: elaborar tecnologia (racionalidade instrumental) direcionada ao progresso e ao avanço social, de forma a conquistar condições de felicidade individual e bem -estar comunitário. A expectativa das comunidades científica e política em relação à ciência jurídico-penal não é outra, portanto, que a de desenvolver instrumentos capazes de erradicação do resto bárbar o que insistentemente emerge na cultura. Associada com a noção de crime, a violência impede a constituição da civilização, mot ivo pelo qual este último obstáculo deve ser extirpado. [grifo nosso] [CARVALHO, 2008, p. 3]

A institucionalização dos Organismos de Inteligência de Segurança Pública no

Brasil devem estar permeadas por uma concepção que faça frente ao modelo de

Estado pautado na racionalidade das relações e em instâncias de controle policial e

jurídico. A atenção estatal não pode estar recorrentemente pautada em processos

de exclusão, no combate a “inimigos” (no caso os criminosos) e na judicialização dos

conflitos, mas sim no redirecionamento das estratégias de controle da violência e do

crime.

Desta forma, a produção da informação e do conhecimento para a Atividade

de Segurança Pública assume importância no campo não apenas das políticas

Page 37: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

37

criminais, mas também em outras áreas de domínio estatal, que ensejam respostas

permanentes a situações de conflito ou emergência. Por essa razão a percepção

tem que ir além do senso comum sobre violência e criminalidade, de maneira que se

compreenda o que subjaz a esse modelo de controle penal.

Para a professora Vera Regina Pereira de Andrade:

Fortalecendo o discurso e as técnicas da guerra contra o crime e da segurança pública (limpeza do espaço público e devolução das ruas aos cidadãos), o controle penal globalizado radicaliza a função simbólica do Direito Penal através de uma hiperinflação legislativa, ou seja, a promessa e a a ilusão de resolução dos mais diversos problemas sociais através do penal, ao tempo em que redescobre, ao lado dos tradicionais, os novos `inimigos´ (o mal) contra os quais deve guerrear (terroristas, traficantes, sem teto, sem terra, etc.) não poupando, ainda que simbolicamente, a própria burguesia nacional (sonegadores, depredadores ambientais, corruptos, condutores de veículos, etc.), que se torna também vulnerável ao poder globalizado do capital. [ANDRADE, 2003, p. 25]

A Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública caminha nesse

sentido, ou seja, para um modelo que atenda as reais necessidades do “Estado-

prevenção”, pacificador dos conflitos, percebendo-se isso nos valores consignados

para a Atividade de Inteligência de Segurança pública, considerada como um serviço

à causa pública e que está submetida obrigatoriamente “aos princípios

constitucionais da moralidade, impessoalidade, eficiência e legalidade, e, em

especial, à observância ao direito básico à vida, à ética, aos direitos e garantias

individuais e sociais e ao Estado democrático de direito.”(DNISP)

A instauração de uma nova Doutrina perpassa também pelos valores

individuais dos profissionais que atuam na área de Inteligência razão pela qual:

A busca da verdade, o senso crítico, a iniciativa, a independência (no sentido do sapere aude kantiano), a isenção analítica, a firmeza de propósitos e de opiniões, a parcimônia na classificação dos segredos públicos, os limites legais de tipo de operação, a aceitação do princípio da compartimentação de informações (need-to-know) e a não utilização das informações e conhecimentos para fins privados são alguns dos valores que conferem aceitabilidade social à atividade de inteligência governamental. [CEPIK; ANTUNES, 2003, p. 117]

A DNISP ao tratar da questão do profissionalismo apresenta um conjunto de

atributos necessários ao profissional de Inteligência de Segurança Pública, aos

quais devem estar imbricados princípios éticos, ou seja na consciência não apenas

Page 38: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

38

legal, mas também de cunho moral na forma de agir na busca da informação e do

conhecimento. Cabe esclarecer que:

[...] Um Código de ética deontológico da atividade de inteligência estaria centrado na responsabilidade profissional que estes agentes do Estado têm para com a segurança dos cidadãos contra ameaças vitais externas (soberania) e internas (ordem pública). A segurança da Constituição, na medida em que a segurança dos cidadãos dela depende, é o principal elemento que justifica a existência dos serviços de inteligência. E a Constituição fornece os principais parâmetros de conduta esperada destes agentes que servem e protegem o público. [CEPIK; ANTUNES, 2003, p. 117]

Desse modo, o perfil político institucional do Subsistema de Inteligência de

Segurança Pública no Brasil perpassa pela incorporação da DNISP junto às

agências, de modo a se buscar o aperfeiçoamento da atividade e para que se possa

cumprir adequadamente seus objetivos em prol da defesa social, da ordem pública e

na busca da pacificação social.

3.4 Inteligência de Segurança Pública na Prevenção da Violência Urbana

A violência decorre de uma série de contingências inerentes a

comportamentos individuais, interpessoais ou coletivos que ensejam a necessidade

de intervenção por parte da sociedade organizada ou do Estado visando o

restabelecimento de condições pacificas no convívio social.

Cabe ressaltar que a questão da violência, do crime e da criminalidade, e da

(in)segurança pública, tem contornos bem distintos, conforme o ângulo de

percepção pretendido. Cada campo do conhecimento humano poderá ter uma

explicação distinta para esses fenômenos, não obstante todos acabam convergindo

para o centro da discussão: o homem, sua condição e seu comportamento, quer

individual ou coletivo.

Conforme Yves Michaud:

Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários autores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. [MICHAUD, 2001, p. 11]

Page 39: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

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Com o processo civilizatório e um conjunto de transformações sociais,

econômicas e políticas, notadamente a partir da Idade Média, ocorre o

favorecimento para o surgimento de muitas cidades, fazendo com que muitas

famílias passem a deixar o campo para tentar a vida nos centros urbanos. Esse

fenômeno se protrai no tempo e atinge a contemporaneidade, tendo como uma de

suas principais conseqüências a interiorização da violência pelo homem no ambiente

das cidades, o que podemos chamar de “violência urbana”.

O conjunto de relações assimétricas existentes em nossa sociedade contribui

para a emergência de conflitos que culminam na criminalização. Os desequilíbrios

de forças de natureza político-econômico-social e o choque entre os mecanismos de

produção e seus impulsores econômicos, ou seja, entre o capital e o trabalho,

empregado e empregador, renda e consumo, ricos e pobres acaba por criar um

ambiente propício ao crescimento dos conflitos no espaço urbano.

Esse fenômeno fez parte da consolidação do Estado brasileiro, na medida em

que grupos hegemônicos protraíram ao longo de nossa história a concentração de

propriedades, de rendas, os domínios e acesso às estruturas de poder, favorecendo

o servilismo, o clientelismo, o nepotismo, o bacharelismo, e, no século XX o

chamado “populismo”, que tem encontrado campo fértil na América Latina e no

Brasil, e em que se buscam soluções simples para problemas da mais alta

complexidade, como é o caso da segurança pública. (DE PAULA, 2007).

Os dados estatísticos da atualidade sobre violência e criminalidade

apresentam um concentração de conflitos nos espaços urbanos e os principais

fatores apontados para isso são a questão da segregação dos espaços, falta de

infra-estrutura, desemprego, desestruturação familiar, impessoalidade das relações,

enfim, um conjunto de causas e concausas que têm provocado a cultura do “medo”

e a insegurança nos espaços.

O número de homicídios no Brasil, que ultrapassa a casa dos 30 para cada

100 mil habitantes, diante da média mundial que é de 5 para cada 100 mil, retrata a

realidade de nossas cidades e a dimensão da violência urbana. Alguns

pesquisadores comparam esse resultado ao de uma Guerra Civil.

O mapa da violência no país apresenta indicadores sobre a violência urbana

que ensejam medidas urgentes por parte do Estado. Segundo o jornal O Estado de

São Paulo, edição de 03/03/2007:

Page 40: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

40

Os números revelam que as taxas de mortalidade por homicídio tendem a subir entre os segmentos mais desfavorecidos da população, envolvendo basicamente adolescentes e jovens pobres. Em 2004, quatro de cada dez jovens mortos no País foram vítimas de assassinato. Entre 1980 e 2004, a taxa de homicídios cujas vítimas estavam na faixa etária entre 15 e 24 anos subiu de 30 para 51,7 por 100 mil habitantes. Entre as vítimas com idade superior a 25 anos, a taxa cai de 21,3 para 20,8 por 100 mil habitantes. A pesquisa também mostra que a taxa de assassinato de negros superou a de brancos em 73%. A principal constatação da pesquisa é a tendência de “interiorização” da violência. Cerca de 72% dos homicídios ocorreram em 556 cidades, onde vivem 42% da população. E, dos dez municípios com maiores taxas de assassinatos, seis estão localizados no Centro-Oeste. São municípios de pequeno porte situados em áreas de conflitos fundiários, desmatamento, exploração ilegal de madeiras nobres e demarcação de terras indígenas. Das quatro demais cidades, a mais violenta é Foz do Iguaçu, no Paraná, que teve 223,3 assassinados na faixa etária entre 15 e 24 anos por 100 mil habitantes, em 2004. Por ser localizada na região da tríplice fronteira com o Paraguai e a Argentina, a cidade sofre a ação do crime organizado, principalmente o contrabando. Serra, município da Grande Vitória, aparece em segundo lugar, com 222 mortes de jovens por 100 mil habitantes, a maioria ligada a drogas. [O Estado de São Paulo, edição de 03 de março de 2007]

A violência urbana no Brasil tem atingido todas as cidades de grande e de

médio porte, com um número de vítimas que tem causado preocupação inclusive na

comunidade internacional, a ponto de colocar o país entre os focos de preocupação

de agências de ajuda internacional humanitária e de especialistas em direitos

humanos.

A criminalidade, principalmente a das áreas urbanas, ultrapassou os limites

aceitáveis para um Estado Democrático de Direito, em que chacinas, seqüestros,

tráfico de entorpecentes, aumento significativo do numero de homicídios

(principalmente entre jovens do sexo masculino) e o fortalecimento do crime

organizado tornaram-se fatos comuns exigindo intervenção estatal imediata.

Segundo Elimar Pinheiro do Nascimento:

Nos últimos 20 anos, a violência urbana transformou radicalmente as relações sociais, a arquitetura das grandes cidades, o comportamento e os hábitos de seus moradores, assim como as suas representações sociais. As pessoas planejam os seus deslocamentos, como faziam na Europa da Idade Média. A residência de classe média ganhou novos atrativos, pois tende a ser ocupada por mais tempo pelos moradores temerosos dos riscos encontrados “na rua”. Os seus filhos tardam em deixar a casa paterna e se comunicam mais com pessoas de outros países do que com os habitantes dos bairros pobres de sua própria cidade, que aliás não conhecem, pois nunca trafegaram por lá. Os condomínios fechados proliferam, os muros se erguem, os corredores privados se formam: os espaços urbanos, mais que outra coisa, segregam. [NASCIMENTO, 2002, p. 14]

Page 41: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

41

Diante desse contexto, ações de segurança não bastam para fazer frente ao

problema, sendo necessárias intervenções em outros campos que possam promover

o desenvolvimento social. Políticas de Segurança Pública que visem prevenir a

violência urbana não podem pautar-se apenas no sistema de justiça criminal, cujas

bases se assentam nos processos de criminalização, pois os resultados disso tem

sido catastróficos, como se pode depreender da realidade de nosso sistema

penitenciário, conforme diagnóstico que nos apresenta Luiz Francisco Carvalho

Filho:

As prisões brasileiras são insalubres, corrompidas, superlotadas, esquecidas. A maioria de seus habitantes não exerce o direito de defesa. Milhares de condenados cumprem penas em locais impróprios. O Relatório da caravana da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados por diversos presídios do país, divulgado em setembro de 2000, aponta um quadro “fora da lei”, trágico e vergonhoso, que invariavelmente atinge gente pobre, jovem e semi-alfabetizada. No Ceará, presos se alimentavam com as mãos, e a comida, “estragada”, era distribuída em sacos plásticos – sacos plásticos que, em Pernambuco, serviam para que detentos isolados pudessem defecar. No Rio de janeiro, em Bangu I, penitenciária de segurança máxima, verificou-se que não havia oportunidade de trabalho e de estudo porque trabalho e estudo ameaçavam a segurança. No Paraná, os deputados se defrontaram com um preso recolhido em cela de isolamento (utilizada para punição disciplinar) havia sete anos, período que passou sem ter recebido visitas nem tomado banho de sol.(...) O cheiro e o ar que dominam as carceragens do Brasil são indescritíveis, e não se imagina que nelas é possível viver. [CARVALHO FILHO, 2002, p. 10]

A crise do sistema penitenciário tem relação direta com a violência urbana,

pois a constante violação de normas prisionais e dos direitos humanos em nossas

prisões se reflete na própria sociedade em decorrência do impacto que produz, pois

o que tem prevalecido é um aparato do Estado mobilizado e responsável pela

excessiva criminalização e pela repressão das classes menos favorecidas e com

menos acesso aos direitos de cidadania, o que, por si só, representa a violência

institucionalizada do Estado. A regra tem sido a “exclusão pela criminalização”.

As políticas públicas de segurança no Brasil sempre foram catalisadas sob a

perspectiva do controle social, numa dimensão que priorizou os processos de

exclusão pela criminalização, relegando a um segundo plano a mediação pacifica

dos conflitos e os direitos de cidadania. Cláudio Beato nos esclarece a respeito:

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[...] A proposição de políticas públicas de segurança consiste num movimento pendular oscilando entre a reforma social e a dissuasão individual. A idéia da reforma decorre da crença de que o crime resulta de fatores sócio-econômicos que bloqueiam o acesso a meios legítimos de se ganhar a vida. Esta deterioração das condições de vidas traduz-se tanto no acesso restrito de alguns setores da população a oportunidades no mercado de trabalho e de bens e serviços, como na má socialização a que são submetidos no âmbito familiar, escolar e na convivência com sub-grupos desviantes. Conseqüentemente propostas de controle da criminalidade passam inevitavelmente tanto por reformas sociais de profundidade, como por reformas individuais no intuito de reeducar e ressocializar criminosos para o convívio em sociedade. À par de políticas convencionais de geração de emprego e de combate à fome e à miséria, ações de cunho assistencialista visariam minimizar os efeitos mais imediatos da carência, além de incutir em jovens candidatos potenciais ao crime novos valores através da educação, prática de esportes, ensino profissionalizante, aprendizado de artes e na convivência pacífica e harmoniosa com seus semelhantes. [BEATO, 2006, disponível em http://www.crisp.ufmg.br/polpub.pdf]

Nesse sentido desponta a questão do Estado-Prevenção, em que:

[...] “A ação policial se desvincula da questão criminal. Da mesma forma que um problema de natureza criminal não deve ser de competência exclusiva da polícia, mas de diversas instituições atuando coordenadamente, um problema não necessita estar previsto na legislação penal para suscitar a intervenção policial. [...] A criminalização deixa de ser pressuposto para inclusão de um conflito na pauta da segurança; uma conduta não necessita ser classificada como criminal para ser reconhecida como problemática”. [DIAS NETO, 2005, p. 110]

Para a consecução de novas modalidades de intervenção que façam frente à

violência urbana, as estruturas de Inteligência de Segurança Pública tem um papel

determinante na previsão de cenários de riscos que possam fornecer subsídios

capazes de catalisar ações limitadoras diante das expressões de violência.

Assim, além da produção de informação e de conhecimento sobre o crime

organizado, tráfico de drogas e armas, homicídios, modalidade de violência nas

cidades e comunidades, estatísticas criminais georeferenciadas, sistema

penitenciário, corrupção e sobre outras práticas delitivas, as estruturas de

Inteligência de Segurança Pública devem propiciar outros diagnósticos e projeções

que impliquem na segurança do cidadão e na condição de exercício do seu direito

de cidadania.

As estruturas de Inteligência de Segurança Pública assumem nova

importância e precisam se adequar de forma premente às novas realidades diante

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43

da crescente violência urbana para que as intervenções e respostas sejam as mais

adequadas e precisas e se realizem com o respeito aos direitos de todos.

Isso porque:

Um dos enigmas a desvendar na história republicana do Brasil é a longa continuidade da violência ilegal do Estado contra os cidadãos. Caem regimes autoritários, instauram-se democracias, Constituições se aperfeiçoam – e a repressão fica dava vez mais letal, a Justiça ainda é inacessível, as prisões permanecem subumanas, a defesa legal dos pobres inexiste, os agentes estatais não sofrem controle sobre suas ações. As violações tradicionais dos direitos civis (mesmo quando garantidos pela Constituição) continuam sendo praticadas pelas autoridades e se articulam com a falta de respeito pelos direitos civis no âmbito das relações interpessoais. Um “autoritarismo socialmente implantado” interioriza métodos impostos pela força ilegal, freqüentemente tolerados pelos grupos no poder, que colaboram para restringir a representação e limitar as condições de participação política. [PINHEIRO; ALMEIDA. 2003, p. 79]

Desse modo, apontamos algumas ações que poderiam tornar mais efetivas

as ações na seara da Inteligência de Segurança Pública visando-se a prevenção da

violência urbana:

1. Atuação de forma sistêmica dos órgãos integrantes do Sistema de Inteligência de Segurança Pública, com ênfase nas ações voltadas para a emancipação humana e de exercício dos direitos de cidadania.

2. Auxiliar e cooperar na mediação de conflitos decorrentes das mais variadas expressões de violência, contribuindo nos encaminhamentos com suporte de informação e conhecimento.

3. Acompanhar o planejamento operacional, tático e estratégico das forças de segurança pública, bem como de suas ações, visando assessorar no resguardo e na defesa dos direitos de cidadania.

4. Acompanhar e assessorar a criação de programas e projetos, no âmbito público ou privado, que visem a prevenção da violência, da criminalidade e dos processos de criminalização.

5. Apoiar atividades de pesquisa científica que tenham por objetivo contribuir com o apontamento de políticas públicas de segurança.

6. Assessorar projetos que, direta ou indiretamente, impliquem na integração, defesa e proteção social e cidadania.

7. Servir como um Fórum permanente de discussão sobre questões referentes à violência e à segurança social e do cidadão conjugado com as demais estruturas de segurança pública.

Diante das demandas por proteção de bens e direitos visando a prevenção da

violência urbana, as estruturas de inteligência têm um papel relevante no sentido de

evitar que o epicentro das discussões radique em respostas pautadas apenas na

“política criminal”, em que prevalece o autoritarismo punitivo, mas sim buscar novos

Page 44: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

44

compromissos assentados sobre bases democráticas e cidadãs, em que a mediação

pacifica seja o caminho para a construção de uma sociedade mais justa e feliz. E

isso exige políticas e estratégias alinhadas com uma nova perspectiva de

segurança, a segurança cidadã, o que veremos no próximo capítulo.

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4 INTELIGÊNCIA EM GRANDES EVENTOS: POLÍTICAS E

ESTRATÉGIAS

A realização de grandes eventos, nacionais ou internacionais, sejam eles

desportivos, religiosos, tecnológicos, culturais ou políticos, cada vez mais fazem

parte do calendário dos países, o que tem ensejado preocupação especial com o

tema “segurança” diante dos riscos que proporcionam e que estão diretamente

relacionados com a elevada concentração de pessoas, de sua grande visibilidade

que gera a atenção do público, a presença de VIPs e uma intensa cobertura

mediática, o que são fatores determinantes para que criminosos comuns, membros

do crime organizado e até mesmo ativistas radicais possam vir a explorar.

A Atividades de Inteligência nesse contexto, inclusive a Inteligência de

Estado, considerada como “aquela voltada à identificação de oportunidades e

ameaças relacionadas às capacidades, intenções e atividades de pessoas, grupos

ou Estados estrangeiros, bem como de organizações internacionais e

transnacionais” (GONÇALVES, 2009, p.41) se apresentam como indispensáveis

para fazer frente aos riscos e ameaças, reais ou potenciais, que podem

comprometer a segurança dos Grandes Eventos.

4.1 Grandes Eventos

Na realização de Grandes Eventos a questão da segurança é fundamental

para a avaliação do sucesso nacional e internacional, de maneira que todos os

envolvidos possam participar sem riscos à sua incolumidade física e sem

comprometimento do desenrolar do conjunto de atividades que serão desenvolvidas.

Não se pode descuidar de que a mobilidade e as facilidades do mundo

contemporâneo tem exigido também o aperfeiçoamento do aparato e dos

mecanismos de segurança, notadamente nos espaços públicos onde ocorre maior

concentração de pessoas e, por conseguinte, aumento dos riscos de conflitos.

Nesse sentido, as estruturas de Segurança Pública devem catalisar esforços

buscando novas tecnologias, como por exemplo o videomonitoramento, as TICs, o

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46

Georeferenciamento, as novas ferramentas de análise criminal e destacadamente o

investimento nas estruturas de Inteligência de Segurança Pública, que

desempenham papel determinante para a prevenção de conflitos.

A Coordenação de Programas Nacionais de Investigação sobre Segurança de

Grandes Eventos na Europa (EU-SEC), conceitua os grande eventos levando em

consideração um conjunto de informações detalhadas sobre medidas de segurança,

que conceberam e implementaram por ocasião da organização de eventos no

passado.

Um conjunto de características identificam os grandes eventos, segundo o

Security Planinning Model/UNICRI/2007, conforme o seguinte:

1. Grande presença de VIP's (políticos, atletas, artistas, etc.) 2. Grande cobertura mediática 3. Grande número de pessoas 4. Dispersão/ concentração ou outros eventos durante o grande evento 5. Risco dos adeptos/ manifestantes (motins) 6. Significado histórico ou político e de popularidade 7. Grande número de policiais envolvidos 8. Grande número de cidadãos estrangeiros 9. Cooperação policial internacional 10. Outros riscos (álcool, drogas, falsificações, etc.) 11. Novo contexto Internacional/ Ameaça terrorista (tempo)

Com base nessas características, foi proposto pelo projecto EU-SEC uma

definição comum de grande evento:

Um Grande Evento pode ser definido como um evento previsível que deve ter, pelo menos, uma das seguintes características: 1. Significado histórico, político ou de popularidade 2. Grande cobertura midiática 3. Participação de cidadãos de diversos países e/ou possível grupo alvo 4. Participação de VIP’s e/ou altas entidades 5. Grande número de pessoas, estando sujeito a potenciais ameaças e, portanto, podendo requerer cooperação internacional e assistência técnica. [UNICRI, Modelo de Planejamento da Segurança, 2009]

A realização de Grandes Eventos é um empreendimento que exige

mobilização geral das estruturas de Segurança Pública, mas se deve ter em conta

que o ideal é a busca de uma segurança eficaz e que traga tranqüilidade para o

público sem prejudicar o evento ou trazer muitos incomodos e transtornos aos

participantes. Para alcançar este equilíbrio as estrutruras de Inteligência tem um

Page 47: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

47

papel preponderante na elaboração do sistema de segurança em todas as suas

fases.

4.2 Políticas e Estratégias

As políticas e estratégias adotadas para a segurança em Grandes Eventos

exige um conjunto de habilidades e experiências por parte das equipes de

Inteligência diretamente envolvidas no processo, no sentido de que as ameaças

possam ser detectadas tempestivamente e de maneira que as ações de intervenção

adotadas possam ser eficazes.

O plexo de riscos que podem surgir durante a realização de Grandes eventos

vão muito além dos espaços físicos em que os mesmos ocorrem, e dizem respeito à

ecologia social que subjaz à toda sua organização, ou seja, as condições de

desequilíbrio e intolerância social, instabilidade política, crise nos sistema de justiça

criminal e outros problemas complexos que culminam em conflitos merecem atenção

especial dos Organismos de Inteligência no sentido de produzirem prognósticos que

possam vir a auxiliar no estabelecimento de políticas e estratégias que previnam os

riscos e as ameaças.

A prevenção situacional do crime, por exemplo, é um aspecto relevante

quando se aborda a segurança em Grandes Eventos. Com base nela é possível um

enfrentamento mais preciso dos fatores de risco existentes. Sobre esse tipo de

prevenção, Marcos Rolim nos elucida:

Sabemos que uma parte considerável dos crimes é cometida por conta de uma situação interpretada como favorável pelos infratores. A formulação mais influente nesse sentido foi oferecida por Ron Clarke (1992), para quem as taxas de criminalidade respondiam á configuração de três fatores básicos: O esforço exigido para a pratica do crime; O risco concreto que se corre ao praticá-lo; O tamanho da recompensa oferecida pela sua relização. Tendo em conta esses três elementos, é possível sistematizar as iniciativas destinadas a tornar o crime mais difícil e, portanto, menos provável. Quando defendemos melhor o alvo do crime (pessoas e/ou objetos), tornamos mais difícil aos eventuais infratores a aproximação do alvo, desenvolvemos políticas que estimulam as pessoas a agir de forma correta e educada e estabelecemos o controle de alguns `facilitadores do crime´ - como armas e drogas -, estamos fazendo com que a decisão de cometer um delito seja mais complicada. Da mesma forma, aumentamos o risco dos infratores quando melhoramos as condições de vigilância, seja ela formal – oferecida

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48

pela polícia, pelos guardas ou funcionários de um estabelecimento – ou natural – que pode ser oferecida por câmeras, ambientes iluminados, remoção de obstáculos que permitam a ocultação de pessoas etc. No mesmo sentido, podemos diminuir a recompensa do crime se conseguirmos remover o alvo, se identificarmos os bens cobiçados, se melhorarmos o desempenho da polícia etc. [ROLIM, 2006, p.136]

Além do uso da força dissuassória de caráter preventivo, o estabelecimento

de políticas públicas de segurança, antecipadas à realização do evento, contribuem

para que as situações de riscos sejam minimizadas, inclusive durante os Jogos.

Quanto mais a ação estatal se dirigir a fenômenos pré-conflitivos, a prevenção

será mais ampla e prospectiva, evitando-se ações delitivas, subversivas ou que

atentem contra a ordem pública.

Nesse sentido, Theodomiro Dias Neto esclarece:

O Estado-prevenção é a maneira como a estrutura política se adequa ás características da sociedade que, de forma cada vez mais acelerada, conduz a situações de risco: é a forma política que assume a sociedade de risco. Os procedimentos de decisão política e legislativa tendem a se reorganizar permanentemente como resposta a uma situação e emergência estrutural. (DIAS NETO, 2005, p. 31)

Os Jogos Panamericanos de 2007 foi uma destacada experiência na

formulação e implementação de politicas comunitárias pró-ativas e democráticas. O

Plano Estratégico de Ações Governamentais dos XV Jogos Panamericanos ,

realizados no Rio de Janeiro em 2007, na área de atuação de Segurança Pùblica e

Inteligência, teve como objetivo principal “Garantir um ambiente pacífico e seguro

para os jogos, por meio do estabelecimento de um novo padrão de relacionamento

entre as comunidades e as forças de segurança”, vindo ao encontro da concepção

que dá primazia à prevenção.

A concepção do planejamento e das ações dos Jogos Panamericanos de

2007 teve como escopo a “Segurança Cidadã”. Conforme o “Planejamento

Operacional Detalhado nas Áreas de Competição especificando a integração e

interação dos planejamentos de emprego das Ações de Segurança Cidadã”:

A particularidade da temática da segurança cidadã permite e requer uma ênfase local na formulação e implementação de políticas comunitárias pró-ativas, democráticas e integrais. Esta estratégia tem o potencial para influir diretamente sobre os problemas de segurança local, assim como para captar maior atenção da comunidade que se sentem parte do problema e de suas soluções. [OLIVEIRA FILHO, 2006, p. 4]

Page 49: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

49

Tanto que um de seus subprojetos foi denominado “prevenção”, o qual tinha

por escopo a “Criação e implementação de programas de prevenção à violência

com o objetivo de estabelecer um novo padrão de relacionamento entre a

comunidade e os diversos agentes de segurança pública.” (PEAG, 2007)

A experiência dos XV Jogos Pan-americanos contribuiu para com essa

concepção na coordenação e controle da segurança de grandes eventos a qual

percebeu que era necessário:

(...) consolidar uma ampla aliança entre o indivíduo e os agentes de segurança por meio de estímulo ao bom comportamento individual e coletivo e ao acatamento das normas de convivência, ou pela participação ativa no desenvolvimento de programas de prevenção e reabilitação. Assim, a segurança pública passa a operar de maneira articulada e pró-ativa com as comunidades. Não é a abdicação da força, mas seu uso – quando necessário – de forma técnica, racional e ética. (BRASIL, PEAG, 2007,p. 24)

Nesse sentido, houve a articulação de esforços entre os diversos órgãos da

União, Estados e Municípios, visando o estabelecimento de medidas preventivas, a

chamada “Segurança Cidadã”, como consectária de medidas e ações cooperativas

envolvendo também empresas privadas, comunidades, serviços sociais, de saúde,

educação, de infra-estrutura e de planejamento urbano, visando atingir os seguintes

objetivos:

1 aumentar o cumprimento de normas de convivência; 2 aumentar a capacidade de alguns cidadãos para que influenciem outros

ao cumprimento de normas; 3 aumentar a capacidade de convivência e de solução pacifica dos

confitos entre os cidadãos; 4 aumentar a capacidade de comunicação dos cidadãos (expressão,

interpretação) por meio da arte, da cultura, do entretenimento e do esporte; e atuar em todos os níveis da segurança pública, com base no respeito aos direitos humanos e agindo de forma preventiva ou com repressão qualificada. [PEAG, 2007,p. 24]

Portanto, aliada à necessidade de modernização, capacitação e

reaparelhamento das estruturas de Segurança Pública, de maneira que possam

estar em condições de prover a tranquilidade e a segurança em Grandes Eventos,

torna-se imperioso uma parceria com as comunidades locais, um resgate dos

direitos de cidadania das pessoas direta ou indiretamente envolvidas no processo, o

que facultará ao planejamento das Ações de Inteligência a possibilidade de poder

Page 50: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

50

contar com uma grande rede de colaboradores em potencial dando suporte àquelas

situações em que a intervenção seja necessária.

Além da questão da experiência, a realização dos XV Jogos Pan-americanos

fizeram com que se percebesse a importância de um bom planejamento, razão pela

qual:

O Governo Federal do Brasil e os Governos Estadual e Municipal do Rio de Janeiro estão totalmente comprometidos em garantir a segurança de todos os clientes dos Jogos, da população e dos visitantes antes, durante e depois dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016. Os Governos trabalharão de forma integrada com o objetivo de garantir um ambiente seguro e proveitoso para os Jogos. Os riscos para a segurança durante os eventos serão mitigados através da implantação de uma extensa operação de segurança. Os Jogos funcionarão como um grande catalisador de melhorias de longo prazo nos sistemas de segurança da cidade do Rio de Janeiro, representando uma oportunidade real de transformação. Trata-se um processo que se iniciou durante os Jogos Pan-americanos de 2007 e está evoluindo com os preparativos para a Copa do Mundo da FIFA de 2014. [RIO 2016 BID COMMITTEE. Disponível em HTTP://www.rio2016.org.br/pt/Default.aspx]

O planejamento de grandes eventos exige uma série de ações dos

organismos de inteligência que consigam prever ameaças, avaliar os riscos e

perceber as vulnerabilidades, havendo complexidade nas diversas áreas de atuação

e responsabilidade. Com base no diagnóstico estratégico para as ações de

segurança para a Copa do Mundo FIFA 2014 (BRASIL, MJ, 2009) dentre as áreas

que exigem atenção especial destacam-se:

1. Seleção e recrutamento de pessoal qualificado

2. Investimento em comunicação e Tecnologia da Informação

3. Controle de acesso e segurança física

4. Transporte e trânsito

5. Credenciamento

6. Apoio administrativo e logístico

7. Proteção das infra-estruturas críticas e utilitários

8. Serviços de saúde pública e socorrimento público

9. Detecção de materiais e produtos perigosos e armas de destruição

em massa

10. Terrorismo

Page 51: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

51

11. Formação e capacitação da equipe de segurança

12. Manifestações públicas

13. Ataques cibernéticos

14. Prevenção a desastres e catastráfofes naturais

Os Organismos de Inteligência envolvidos deverão elaborar um relatório

circunstanciado e com detalhamento, valendo-se de todas as fontes que forem

disponíveis, o que ensejará profissionais altamente qualificados e capazes de

proceder à coleta seletiva de informações e sua análise. Para isso deverão levar em

conta algumas premissas extraídas do Plano de Diretrizes Estratégicas da Copa do

Mundo FIFA 2014:

1. Os eventos não deverão ser afetados , de forma significativa, por ações terroristas, crimes ou outros problemas de segurança;

2. A segurança terá alta prioridade, devendo seus resultados obter alta eficiência, eficácia e efetividade, tudo com muita discrição;

3. Empregar na segurança, tecnologias de alta performance, adequadas e de reconhecimento internacional;

4. O investimento financeiro a ser destinado para os projetos e subprojetos de segurança oferecerá um legado de longo prazo para toda a sociedade;

5. O recurso a ser planejado para a segurança deverá ser economicamente viável e a mesma deverá estar de acordo com os melhores padrões internacionais;

6. O estabelecimento de uma estrutura única de Comando e Controle da Segurança dos Jogos;

7. A necessidade de integração de todos os órgãos e ações de defesa, segurança, inteligência e controle do tráfego urbano em todas as cidades onde ocorrerão eventos;

8. O aproveitamento da oportunidade de realização dos Jogos para intercâmbios internacionais que capacitem os integrantes de órgãos públicos de defesa, segurança, inteligência e controle de tráfego urbano em práticas, procedimentos, metodologias e técnicas de atuação;

9. O legado de capacitação e tecnologia de integração das ações de Comando e Controle para a Segurança Pública no Brasil;

10. As autoridades governamentais do Brasil, país sede de Grandes eventos (destacadamente a Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016), garantem a total tranqüilidade e normalidade de realização para que sejam observados os seguintes princípios de Segurança:

a. Controle fronteiriço b. Credenciamento e controle/fiscalização da acessibilidade c. Análise de riscos das instalações d. Segurança física de instalações e. Forças policiais de intervenção e reação f. Proteção de planos de contingência para o fornecimento de água, luz,

gás, iluminação, telecomunicações g. Segurança da Informação h. Infra-estrutura de Tecnologia da Informação (BRASIL, PDE Copa do Mundo FIFA 2014, 2009)

Page 52: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

52

O planejamento desse conjunto de ações deve levar em consideração o

aspecto “tempo”. Para se ter uma idéia, seguem dados referentes a datas de início

de planejamento e datas de realização de Grandes Eventos:

Jogos Olímpicos Início do Planejamento Início d os Jogos

Barcelona 01.01.1988 10.07.1992

Lillehammer 01.02.1989 12.02.1994

Atlanta 10.09.1991 19.07.1996

Salt Lake City 01.03.1998 08.02.2002

Atenas 01.08.2000 13.08.2004

Turim 11.10.2001 10.02.2006

Fonte: UNICRI. Security During Major Events. International Permanent Observatpry. Itália,

Torino: Ed. Editoriale, 2007.

As estratégias a serem adotadas para a realização de Grandes Eventos

devem, portanto, estar pautadas numa gestão de segurança em cuja agenda os

Organismos de Inteligência tenham relevância no sentido de fornecerem subsídios

desde a fase inicial do extenso planejamento até sua execução, de forma que a

necessidade de identificação e eventual resposta às ameaças seja efetuada de

forma antecipada e sem riscos, prejuízos ou danos.

4.2 Segurança em Grandes Eventos

A Atividade de Inteligência de Segurança Pública no Brasil, como visto, estão

sob a responsabilidade da Coordenação-Geral de Inteligência da SENASP, o que

ocorre também com relação a segurança em Grandes Eventos, muito embora

envolvam também outras instituições.

Por ocasião da realização dos XV Jogos pan-americanos de 2007 a

Coordenação-Geral de Inteligência da SENASP efetuou esse papel, sendo que não

ocorreu incidente de maior magnitude que comprometesse a segurança do evento,

tanto que, resultados de “um grande esforço multidisplinar e de uma boa articulação

público-privada”, os Jogos são considerados:

Page 53: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

53

[...] exemplos da capacidade brasileira de captar, sediar e organizar grandes eventos internacionais, fundamentais para atrair novos investimentos para o País, gerar empregos e promover desenvolvimento social das comunidades brasileiras. [PEAG, 2007,p. 11]

Os Jogos serviram como um grande catalisador de melhorias de longo prazo

nos sistemas de segurança da cidade do Rio de Janeiro, despontando algumas

transformações na seara da Segurança Pública cuja experiência ajudará no

planejamento e execução para novas ações em Grandes Eventos que estão por vir,

como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas 2016.

No espectro do planejamento para grandes eventos, cabe destacar a

necessidade de ações nas seguintes áreas:

1. Segurança das cidades-sede dos eventos e circunvizinhas

2. Ações antiterroristas (informação e prevenção)

3. Ações contraterrorista

4. Controle de entrada/saída do país

5. Controle de divisa dos municípios anfitriões

6. Execução de operações tipo varredura e anti-bombas nos locais de

vulnerabilidade

7. Ocorrência com reféns

8. Segurança dos dignatários

9. Segurança das delegações

10. Segurança física das instalações

11. Segurança viária

12. Segurança na fronteira,orla marítima e pontos turísticos

13. Ações de segurança em áreas especiais (sistema penitenciário, comunidades

carentes)

14. Controle de acesso

15. Ações de prevenção, busca e salvamento, socorrimento e Defesa Civil

16. Planos de Evacuação para os locais dos eventos

17. Planos de Contingência para Desastres

[BRASIL, PDE Copa do Mundo FIFA 2014, 2009]

Page 54: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

54

A atuação dos Organismos de Inteligência nesses campos devem se

direcionar no sentido de mitigar riscos, reduzir as vulnerabilidades, deter as

ameaças e minimizar as conseqüências de ataques terroristas e outros desastres

naturais ou causados pelo homem, de forma que os responsáveis pelo

planejamento, gerenciamento e análise dos riscos possam proceder a avaliações

com maior precisão e, quando for o caso, acionar os recursos administrativos e

operacionais para o enfrentamento do problema.

Cabe destacar que nesse processo a comunicação, a coordenação e a

cooperação entre agências federais, estaduais e locais de Inteligência, a diplomacia,

as ONG, e o estabelecimento de canais de cooperação com a sociedade podem

proporcionar pontos de convergência para a análise dos cenários de risco que dizem

respeito à realização de Grandes Eventos.

Um exemplo que serve para denotar a importância desse aspecto foi a

preocupação recente das estruturas de segurança do Canadá por ocasião dos

Jogos Olímpicos de Inverno de 2010. O Planejamento da Unidade Integrada de

Segurança e Operações tinha como missão:

The mission will be accomplished through the effctive use of an integrated security model throughout the planning and operational phases of the games. This will require the cooperative, coordinate and collective effort of the entire security community at the international, federal, provincial, and local levels. [...]The 2010 winter games is the largest security operation undertaken in Canadian history1.[PUISO, Vancouver 2010, p.9]

Os Serviços de Inteligência no contexto dos Jogos de Inverno em Vancouver

– 2010 ficaram vinculados diretamente ao Diretor de Operações (Chief Operating

Officer ) e tiveram destacado papel, qual seja:

Its mandate is to collect, collate analyze, and disseminate accurate information an intelligence in a timely manner to facilitate the decision-making process in both the security planning and execution phases of the 2010 winter games. 2. [PUISO, Vancouver 2010, p.11]

1 Tradução do autor: A missão será realizada através do uso efetivo de um modelo de segurança integrada em todo o planejamento e fases de realização dos jogos. Isto requer a cooperação, coordenação e esforço coletivo de toda a comunidade de segurança a nível internacional, federal, provincial e local. (...) Os jogos de inverno 2010 é a maior operação de segurança realizada na história do Canadá. 2 Tradução do autor: Seu mandato é recolher, organizar, analisar e disseminar informações precisas, realizando uma inteligência em tempo hábil para facilitar o processo decisório, tanto na segurança como nas fases de planejamento e execução dos Jogos de Inverno de 2010.

Page 55: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

55

Evidencia-se que a produção de conhecimento pelos Organismos de

Inteligência tem influência direta nos processos decisórios inerentes a questões e

problemas estratégicos da contemporaneidade, sendo componente determinante

nas ações de segurança que dizem respeito aos grandes eventos.

As avaliações voltadas à contenção de ameaças possíveis de ocorrer em

Grandes Eventos exige o emprego de profissionais que atuam na Área de

Inteligência, que possam identificar dentro do conjuntio de categorias possíveis, os

níveis de riscos e suas modalidades, de maneira que os conhecimentos produzidos

possam neutralizar as ações adversas e os fatores de riscos.

No Brasil, com base nos dados colimados nesta pesquisa, pontamos algumas

ações se fazem necessárias no âmbito do Subsistema de Inteligência de Segurança

Pública (SISP), para que se tenham condições satisfatórias na produção de

conhecimentos qualificados, visando a realização de grandes eventos, quais sejam:

a) Sensibilização das autoridades quanto à importância da Atividade de

Inteligência de Segurança Pública (ISP) em Grandes Eventos;

b) Criação de grupos de trabalho que estudem as variávies nos cenários de

riscos e apontem para soluções;

c) Apresentação de normas próprias de ISP em Grandes Eventos;

d) Capacitação dos agentes que atuarão na Inteligência em Grandes Eventos;

e) Promover encontros visando a integração de todos os membros dos

organismos de ISP e a busca de padronização de procedimentos;

f) Proceder a união de banco de dados para rapidez na acessibilidade;

g) Padronização técnica (mínima) de equipamentos através de uma certificação

da Coordenação-Geral de Inteligência,enquanto órgão central operativo do

SISP, visando a proteção e segurança das informações;

h) Investimento em redes e busca da qualidade no armazenamento dos dados.

i) Planejamento estratégico de longo prazo visando à integração através da

constante retroalimentação de informação e conhecimento e feed back;

j) Padronização das ações dos Organismos de Inteligência de Segurança

Pública e implementação da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança

Pública.

Page 56: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

56

Com relação à Copa do Mundo de 2014 e Olímpiadas de 2016, que serão

realizadas no Brasil, a Portaria MJ 155, de fevereiro de 2009, constante do anexo,

instituiu a Comissão Especial de Segurança – CESEG, diretamente vinculada à

Coordenação-Geral de Inteligência da SENASP, com o objetivo de realizar o

planejamento e a execução das ações destes Grandes Eventos.

Ocorre que todos os níveis de governo têm participação direta ou indireta na

realização de Grandes Eventos, sendo que os encargos recaem, observadas as

respectivas competências institucionais, principalmente sobre as seguintes

estruturas:

1) Ministério da Justiça

2) Secretaria Nacional de Segurança Pública e órgãos vinculados

3) Departamento de Polícia Federal

4) Departamento de Polícia Rodoviária Federal

5) Agência Brasileira de Inteligência

6) Gabinete de Segurança Institucional

7) Infraero

8) Anatel

9) Ministério da Defesa

10) Exército Brasileiro

11) Marinha do Brasil

12) Força Aérea Brasileira

13) Governadoria dos Estados (Anfitrião dos Jogos)

14) Secretarias Estaduais de Segurança Pública

15) Polícias Militares

16) Polícias Civis

17) Corpos de Bombeiros Militares

18) Defesas Civis Estaduais

19) Polícias Técnicas

20) Detrans

21) Prefeituras (das cidades anfitriãs dos Jogos)

22) Secretarias Municipais de Segurança

23) Guardas Municipais

Page 57: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

57

24) Órgãos municipais de trânsito e/ou engenharia de tráfego

25) Defesa Civil Municipal.

A participação e o apoio das diversas estruturas dos poderes públicos e as

parcerias com entidades privadas e com a sociedade civil são condições

indispensáveis para o sucesso nas operações de segurança em Grandes Eventos.

Os Grandes Eventos cada vez mais exigem aperfeiçoamento das medidas de

segurança a serem adotadas, conforme se depreende a seguir:

O conhecimento, as práticas e orientações dos organismos internacionais visando ajudar os Estados a organizarem grandes eventos não se desenvolveram de forma suficientemente rápida. Basta recordarmo-nos das tragédias ocorridas nos Jogos Olímpicos de Munique 1972 ou Atlanta 1996, para percebermos que os grandes eventos aumentam drasticamente o risco de ataques terroristas. Os grandes eventos, infelizmente, proporcionam uma grande visibilidade, a atenção do público, uma elevada concentração de pessoas, a presença de VIPs e uma cobertura mediática que os membros do crime organizado, criminosos comuns e activistas radicais podem explorar. A ameaça que o terrorismo constitui para a segurança quotidiana já é substancial, como vimos nos ataques de Setembro de 2001, nos atentados de Madrid de Março de 2004 e nos ataques suicidas de Julho de 2005. Dada a crescente vulnerabilidade dos grandes eventos, maior do que as já significativas ameaças do dia-a-dia, o planeamento da segurança e o intercâmbio internacional de boas práticas na organização de grandes eventos devem ser mais avançados que nunca. (UNICRI, Modelo de Planejamento da Segurança, 2009)

A dimensão dos Grandes Eventos enseja, portanto, a articulação de meios e

a cooperação entre as instituições. Com esse propósito se apresenta no anexo VI,

como um dos resultados desta pesquisa cientifica, proposta à ser implementada pela

Coordenação-Geral de Inteligência/SENASP, que diz respeito à instituição da

Câmara Temática de Inteligência de Segurança Pública para a Copa do Mundo 2014

(CTISP-COPA 2014), a qual foi inclusive discutida com os chefes de organismos de

inteligência dos estados-sede da Copa do Mundo 2014, em reunião na

CGI/SENASP/MJ, no dia 03 de maio de 2010, com as seguintes finalidades:

1. Elaborar o Plano Geral do Projeto de Inteligência de Segurança Pública

como parte integrante do portfólio de projetos da Copa do Mundo de

Futebol FIFA 2014, bem como coordenar e supervisionar a implementação

das ações decorrentes.

Page 58: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

58

2. Estabelecer as diretrizes para identificar, acompanhar e avaliar riscos,

vulnerabilidades e ameaças, reais ou potenciais, de segurança pública e

produzir informações e conhecimentos que subsidiem ações para

neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza, que

possam ter efeito ou incidir sobre as atividades de segurança pública ou a

ordem pública;

3. Produzir, integrar e compartilhar conhecimentos para os três níveis de

Governo, subsidiando a tomada de decisões, bem como norteando os

planos estratégicos, táticos e operacionais das ações de segurança

pública.

Os desafios que se apresentam para a realização de Grandes Eventos

implicam na necessidade de uma mobilização geral de esforços no sentido de

contenção das probabilidades de riscos que sua escala global e complexidade

ensejam, e em que uma estrutura eficaz, a adoção de estratégias claramente

definidas, uma equipe capacitada e empenhada, uma excelente logística, um

controle financeiro rigoroso e boa gestão dos subprojectos, possam efetivamente se

unir tornando o evento um sucesso.

Page 59: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

59

5 CONCLUSÃO

Do conjunto de dados colimados e análises efetuadas, a visão sobre as ações

de segurança necessárias para a realização de grandes eventos não se subsumem

na questão criminal. Pelo contrário, envolvem a compreensão do fenômeno da

violência e da criminalidade como algo multifatorial, cujo preparo e

instrumentalização das estruturas de inteligência não podem voltar-se para uma

perspectiva eminentemente repressiva, qual seja, pautada numa concepção

militarizada e beligerante, de fácil manipulação e de “combate” a um pseudo-inimigo

e de pouco espaço para a discussão e prática dialógica na resolução dos conflitos.

Depreende-se também que, a fim de viabilizar ações integradas de prevenção

à violência e à criminalidade em grandes eventos, além da necessidade de

cooperação intergovernamental e interinstitucional em segurança pública, torna-se

imperioso o estabelecimento de um novo padrão de relacionamento entre as

comunidades e as forças de segurança direta ou indiretamente envolvidas, com o

fortalecimento das relações entre os indivíduos e a sociedade de maneira que a

responsabilidade moral e a consideração dos “sujeitos” como cidadãos capazes de

contribuir nos processos decisórios possa auxiliar no enfrentamento aos riscos e na

prevenção de ocorrências que comprometam a segurança e a paz social.

O planejamento para a segurança em grandes eventos é outro aspecto

importante, envolvendo uma série de ações dos Organismos de Inteligência de

Segurança Pública que consigam prever ameaças, avaliar os riscos e perceber as

vulnerabilidades. Desse modo, há complexidade nas diversas áreas de atuação e

responsabilidades – conforme abordagem do capítulo 4, devendo ser elaborado

tempestivamente e com razoável prazo para o cumprimento dos objetivos propostos.

Vimos que, em grandes eventos o tempo médio entre o planejamento e a sua

realização oscila entre quatro a cinco anos.

A responsabilidade pela segurança em Grandes Eventos é do Governo

Federal, representado pelo Ministério da Justiça e através da SENASP, que irá

coordenar o envolvimento das autoridades de segurança federais, estaduais e

municipais e das agências de defesa e inteligência na operação de segurança dos

Jogos, integradas ao Comitê Organizador respectivo. Para este propósito, foi criada

uma Comissão Especial de Segurança, denominada CESEG, pela Portaria n°

Page 60: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

60

155/MJ, de 6 de fevereiro de 2009, com o objetivo de coordenar, planejar e

implementar as ações necessárias na área de segurança e ordem públicas, no

âmbito do Comitê de Gestão das Ações Governamentais para a candidatura do Rio

de Janeiro aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, bem como realizar

estudos e diagnósticos preliminares, encaminhando proposições acerca das

questões de segurança que envolvem os jogos da Copa do Mundo de 2014.

Desta feita, a Coordenação-Geral de Inteligência (CGI), como órgão central

do Sistema de Segurança Pública no país, sob o escopo de “Integrar e padronizar os

Organismos de Inteligência de Segurança Pública”, tem como um de seus objetivos

a coordenação, de forma eficiente, de toda a operação das forças de segurança e

dos seus especialistas no planejamento e realização de Grandes Eventos.

Evidencia-se que as áreas de atuação da Atividade de Inteligência de

Segurança Pública tem um cunho não apenas tático, mas também estratégico e

voltado para a sustentabilidade da democracia e busca incessante da paz social.

Aspectos como a intercomunicação de dados, levantamentos estatísticos, produção

de conhecimento qualificado, assessoria com base cientifica para a concepção de

planejamento estratégico diante dos novos cenários, avaliação do desempenho e o

realinhamento das metas e ações, podem permitir que o Estado esteja na vanguarda

e possa antecipar-se aos conflitos, prevenindo-os e agindo, pois, de maneira a

cumprir os ditames constitucionais, cujas bases estão na construção de uma

sociedade livre, justa e solidária.

Depreende-se também que as ações no campo da Inteligência de Segurança

Pública cada vez mais devem estar alicerçadas sobre teses, teorias e doutrinas, mas

também naquilo que a Atividade de Inteligência pode oferecer de mais especial e

suas possíves consequências, que dizem respeito à materialidade substancial da

realidade, de modo a oferecer intervenções qualificadas nos conflitos ou sobre seus

riscos, ampliando a dimensão da cidadania e reduzindo os impactos sobre a paz

social.

Nesse contexto insere-se a segurança em Grandes Eventos, onde a atuação

dos Organismos de Inteligência de Segurança Pública tem o relevante papel de

fornecer os elementos necessários para o desenvolvimento regular das atividades e

para a segurança de cada cidadão, de forma que os conflitos e as eventuais

expressões de violência passem por processos de contenção, sempre com a

Page 61: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

61

observância dos princípios consectários de um Estado Democrático de Direito, tendo

como primado a dignidade da pessoa humana e o exercício pleno dos direitos de

cidadania.

Esse é o maior legado da Inteligência de Segurança Pública decorrente

de suas ações para os Grandes Eventos.

Page 62: Inteligência de segurança pública para grandes eventos

62

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LEGISLAÇÃO CONSULTADA:

LEI N.º 9.883, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1999. Institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, e dá outras providências. DECRETO N.º 3.505, DE 13 DE JUNHO DE 2000. Institui a Política de Segurança da Informação nos órgãos e entidades da Administração Pública Federal. DECRETO Nº 3.695, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2000. Cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, e dá outras providências. DECRETO N.º 4.376, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002. Dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei no 9.883/1999, e dá outras providências. DECRETO N.º 4.553, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2002. Dispõe sobre a salvaguarda de dados, informações, documentos e materiais sigilosos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, no âmbito da Administração Pública Federal, e dá outras providências. DECRETO N.º 4.872, DE 06 DE NOVEMBRO DE 2003. Dispõe nova redação aos artigos 4º, 8º e 9º do Decreto no 4.376, de 13 de setembro de 2002, que dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999 DECRETO Nº 6.540, DE 19 DE AGOSTO DE 2008. Altera e acresce dispositivos ao Decreto nº 4.376/2002, que dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela

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Lei nº 9.883/1999. RESOLUÇÃO Nº 1, DE 15 DE JULHO DE 2009. Regulamenta o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), e dá outras providências. PORTARIA MJ Nº 22, DE 22 DE JULHO DE 2009.

Portaria MJ 155, de fevereiro de 2009.

SITES CONSULTADOS:

www.mj.gov.br

http://www.infoseg.gov.br/infoseg/cgi/renisp/rede-nacional-de-inteligencia-de-seguranca-publica

http://www.abin.gov.br/

http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/gsi/

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http://www.mossad.gov.il/

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www.forumseguranca.org.br

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ANEXO A

LEI No 9.883, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1999.

Institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Fica instituído o Sistema Brasileiro de Inteligência, que integra as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência do País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional.

§ 1o O Sistema Brasileiro de Inteligência tem como fundamentos a preservação da soberania nacional, a defesa do Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana, devendo ainda cumprir e preservar os direitos e garantias individuais e demais dispositivos da Constituição Federal, os tratados, convenções, acordos e ajustes internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte ou signatário, e a legislação ordinária.

§ 2o Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.

§ 3o Entende-se como contra-inteligência a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa.

Art. 2o Os órgãos e entidades da Administração Pública Federal que, direta ou indiretamente, possam produzir conhecimentos de interesse das atividades de inteligência, em especial aqueles responsáveis pela defesa externa, segurança interna e relações exteriores, constituirão o Sistema Brasileiro de Inteligência, na forma de ato do Presidente da República.

§ 1o O Sistema Brasileiro de Inteligência é responsável pelo processo de obtenção, análise e disseminação da informação necessária ao processo decisório do Poder Executivo, bem como pela salvaguarda da informação contra o acesso de pessoas ou órgãos não autorizados.

§ 2o Mediante ajustes específicos e convênios, ouvido o competente órgão de controle externo da atividade de inteligência, as Unidades da Federação poderão compor o Sistema Brasileiro de Inteligência.

Art. 3o Fica criada a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, órgão da Presidência da República, que, na posição de órgão central do Sistema Brasileiro de

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Inteligência, terá a seu cargo planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência do País, obedecidas à política e às diretrizes superiormente traçadas nos termos desta Lei. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

Parágrafo único. As atividades de inteligência serão desenvolvidas, no que se refere aos limites de sua extensão e ao uso de técnicas e meios sigilosos, com irrestrita observância dos direitos e garantias individuais, fidelidade às instituições e aos princípios éticos que regem os interesses e a segurança do Estado.

Art. 4o À ABIN, além do que lhe prescreve o artigo anterior, compete:

I - planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à obtenção e análise de dados para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o Presidente da República;

II - planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade;

III - avaliar as ameaças, internas e externas, à ordem constitucional;

IV - promover o desenvolvimento de recursos humanos e da doutrina de inteligência, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento da atividade de inteligência.

Parágrafo único. Os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência fornecerão à ABIN, nos termos e condições a serem aprovados mediante ato presidencial, para fins de integração, dados e conhecimentos específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses nacionais.

Art. 5o A execução da Política Nacional de Inteligência, fixada pelo Presidente da República, será levada a efeito pela ABIN, sob a supervisão da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Conselho de Governo.

Parágrafo único. Antes de ser fixada pelo Presidente da República, a Política Nacional de Inteligência será remetida ao exame e sugestões do competente órgão de controle externo da atividade de inteligência.

Art. 6o O controle e fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso Nacional.

§ 1o Integrarão o órgão de controle externo da atividade de inteligência os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, assim como os Presidentes das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

§ 2o O ato a que se refere o caput deste artigo definirá o funcionamento do órgão de controle e a forma de desenvolvimento dos seus trabalhos com vistas ao

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controle e fiscalização dos atos decorrentes da execução da Política Nacional de Inteligência.

Art. 7o A ABIN, observada a legislação e normas pertinentes, e objetivando o desempenho de suas atribuições, poderá firmar convênios, acordos, contratos e quaisquer outros ajustes.

Art. 8o A ABIN será dirigida por um Diretor-Geral, cujas funções serão estabelecidas no decreto que aprovar a sua estrutura organizacional.

§ 1o O regimento interno da ABIN disporá sobre a competência e o funcionamento de suas unidades, assim como as atribuições dos titulares e demais integrantes destas.

§ 2o A elaboração e edição do regimento interno da ABIN serão de responsabilidade de seu Diretor-Geral, que o submeterá à aprovação do Presidente da República.

Art. 9o Os atos da ABIN, cuja publicidade possa comprometer o êxito de suas atividades sigilosas, deverão ser publicados em extrato.

§ 1o Incluem-se entre os atos objeto deste artigo os referentes ao seu peculiar funcionamento, como às atribuições, à atuação e às especificações dos respectivos cargos, e à movimentação dos seus titulares.

§ 2o A obrigatoriedade de publicação dos atos em extrato independe de serem de caráter ostensivo ou sigiloso os recursos utilizados, em cada caso.

Art. 9º A - Quaisquer informações ou documentos sobre as atividades e assuntos de inteligência produzidos, em curso ou sob a custódia da ABIN somente poderão ser fornecidos, às autoridades que tenham competência legal para solicitá-los, pelo Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, observado o respectivo grau de sigilo conferido com base na legislação em vigor, excluídos aqueles cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

§ 1o O fornecimento de documentos ou informações, não abrangidos pelas hipóteses previstas no caput deste artigo, será regulado em ato próprio do Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

§ 2o A autoridade ou qualquer outra pessoa que tiver conhecimento ou acesso aos documentos ou informações referidos no caput deste artigo obriga-se a manter o respectivo sigilo, sob pena de responsabilidade administrativa, civil e penal, e, em se tratando de procedimento judicial, fica configurado o interesse público de que trata o art. 155, inciso I, do Código de Processo Civil, devendo qualquer investigação correr, igualmente, sob sigilo. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.216-37, de 2001)

Art. 10. A ABIN somente poderá comunicar-se com os demais órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da

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União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com o conhecimento prévio da autoridade competente de maior hierarquia do respectivo órgão, ou um seu delegado.

Art. 11. Ficam criados os cargos de Diretor-Geral e de Diretor-Adjunto da ABIN, de natureza especial, e os em comissão, de que trata o Anexo a esta Lei.

Parágrafo único. São privativas do Presidente da República a escolha e a nomeação do Diretor-Geral da ABIN, após aprovação de seu nome pelo Senado Federal.

Art. 12. A unidade técnica encarregada das ações de inteligência, hoje vinculada à Casa Militar da Presidência da República, fica absorvida pela ABIN.

§ 1o Fica o Poder Executivo autorizado a transferir para a ABIN, mediante alteração de denominação e especificação, os cargos e funções de confiança do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores, as Funções Gratificadas e as Gratificações de Representação, da unidade técnica encarregada das ações de inteligência, alocados na Casa Militar da Presidência da República.

§ 2o O Poder Executivo disporá sobre a transferência, para a ABIN, do acervo patrimonial alocado à unidade técnica encarregada das ações de inteligência.

§ 3o Fica o Poder Executivo autorizado a remanejar ou transferir para a ABIN os saldos das dotações orçamentárias consignadas para as atividades de inteligência nos orçamentos da Secretaria de Assuntos Estratégicos e do Gabinete da Presidência da República.

Art. 13. As despesas decorrentes desta Lei correrão à conta das dotações orçamentárias próprias.

Parágrafo único. O Orçamento Geral da União contemplará, anualmente, em rubrica específica, os recursos necessários ao desenvolvimento das ações de caráter sigiloso a cargo da ABIN.

Art. 14. As atividades de controle interno da ABIN, inclusive as de contabilidade analítica, serão exercidas pela Secretaria de Controle Interno da Presidência da República.

Art. 15. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 7 de dezembro de 1999; 178o da Independência e 111o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Amaury Guilherme Bier Martus Tavares Alberto Mendes Cardoso

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ANEXO B

DECRETO Nº 4.376, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002.

Dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea "a", da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999,

DECRETA:

Art. 1o A organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999, obedecem ao disposto neste Decreto.

§ 1o O Sistema Brasileiro de Inteligência tem por objetivo integrar as ações de planejamento e execução da atividade de inteligência do País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional.

§ 2o O Sistema Brasileiro de Inteligência é responsável pelo processo de obtenção e análise de dados e informações e pela produção e difusão de conhecimentos necessários ao processo decisório do Poder Executivo, em especial no tocante à segurança da sociedade e do Estado, bem como pela salvaguarda de assuntos sigilosos de interesse nacional.

Art. 2o Para os efeitos deste Decreto, entende-se como inteligência a atividade de obtenção e análise de dados e informações e de produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.

Art. 3o Entende-se como contra-inteligência a atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a inteligência adversa e ações de qualquer natureza que constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações e conhecimentos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, bem como das áreas e dos meios que os retenham ou em que transitem.

Art. 4o O Sistema Brasileiro de Inteligência é composto pelos seguintes órgãos: (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

I - Casa Civil da Presidência da República, por meio do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia - CENSIPAM; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

II - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, órgão de coordenação das atividades de inteligência federal; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

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III - Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, como órgão central do Sistema; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

IV - Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal, do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, do Departamento Penitenciário Nacional e do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, da Secretaria Nacional de Justiça; (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

V - Ministério da Defesa, por meio do Departamento de Inteligência Estratégica da Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais, da Subchefia de Inteligência do Estado-Maior de Defesa, do Estado-Maior da Armada, do Centro de Inteligência da Marinha, do Centro de Inteligência do Exército e do Centro de Inteligência da Aeronáutica; (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

VI - Ministério das Relações Exteriores, por meio da Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais da Subsecretaria-Geral da América do Sul; (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

VII - Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria-Executiva do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, da Secretaria da Receita Federal do Brasil e do Banco Central do Brasil; (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

VIII - Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria-Executiva; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

IX - Ministério da Saúde, por meio do Gabinete do Ministro de Estado e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

X - Ministério da Previdência Social, por meio da Secretaria-Executiva; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

XI - Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do Gabinete do Ministro de Estado; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

XII - Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria-Executiva; e (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

XIII - Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil. (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

XIV - Controladoria-Geral da União, por meio da Secretaria-Executiva. (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

Parágrafo único. Mediante ajustes específicos e convênios, ouvido o competente órgão de controle externo da atividade de inteligência, as unidades da Federação poderão compor o Sistema Brasileiro de Inteligência.

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Art. 5o O funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência efetivar-se-á mediante articulação coordenada dos órgãos que o constituem, respeitada a autonomia funcional de cada um e observadas as normas legais pertinentes a segurança, sigilo profissional e salvaguarda de assuntos sigilosos.

Art. 6o Cabe aos órgãos que compõem o Sistema Brasileiro de Inteligência, no âmbito de suas competências:

I - produzir conhecimentos, em atendimento às prescrições dos planos e programas de inteligência, decorrentes da Política Nacional de Inteligência;

II - planejar e executar ações relativas à obtenção e integração de dados e informações;

III - intercambiar informações necessárias à produção de conhecimentos relacionados com as atividades de inteligência e contra-inteligência;

IV - fornecer ao órgão central do Sistema, para fins de integração, informações e conhecimentos específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses nacionais; e

V - estabelecer os respectivos mecanismos e procedimentos particulares necessários às comunicações e ao intercâmbio de informações e conhecimentos no âmbito do Sistema, observando medidas e procedimentos de segurança e sigilo, sob coordenação da ABIN, com base na legislação pertinente em vigor.

Art. 6o-A. A ABIN poderá manter, em caráter permanente, representantes dos órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência no Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

§ 1o Para os fins do caput, a ABIN poderá requerer aos órgãos integrantes do Sistema Brasileiro de Inteligência a designação de representantes para atuarem no Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

§ 2o O Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência terá por atribuição coordenar a articulação do fluxo de dados e informações oportunas e de interesse da atividade de Inteligência de Estado, com a finalidade de subsidiar o Presidente da República em seu processo decisório. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

§ 3o Os representantes de que trata o caput cumprirão expediente no Centro de Integração do Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência da ABIN, ficando dispensados do exercício das atribuições habituais no órgão de origem e trabalhando em regime de disponibilidade permanente, na forma do disposto no regimento interno da ABIN, a ser proposto pelo seu Diretor-Geral e aprovado pelo Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

§ 4o Os representantes mencionados no caput poderão acessar, por meio eletrônico, as bases de dados de seus órgãos de origem, respeitadas as normas e limites de cada instituição e as normas legais pertinentes à segurança, ao sigilo profissional e à salvaguarda de assuntos sigilosos. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

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Art. 7o Fica instituído, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional, o Conselho Consultivo do Sistema Brasileiro de Inteligência, ao qual compete:

I - emitir pareceres sobre a execução da Política Nacional de Inteligência;

II - propor normas e procedimentos gerais para o intercâmbio de conhecimentos e as comunicações entre os órgãos que constituem o Sistema Brasileiro de Inteligência, inclusive no que respeita à segurança da informação;

III - contribuir para o aperfeiçoamento da doutrina de inteligência;

IV - opinar sobre propostas de integração de novos órgãos e entidades ao Sistema Brasileiro de Inteligência;

V - propor a criação e a extinção de grupos de trabalho para estudar problemas específicos, com atribuições, composição e funcionamento regulados no ato que os instituir; e

VI - propor ao seu Presidente o regimento interno.

Art. 8o São membros do Conselho os titulares dos seguintes órgãos: (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

I - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; (Incluído pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

II - Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; (Incluído pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

III - Secretaria Nacional de Segurança Pública, Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal e Departamento de Polícia Rodoviária Federal, todos do Ministério da Justiça; (Incluído pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

IV - Departamento de Inteligência Estratégica da Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais, Centro de Inteligência da Marinha, Centro de Inteligência do Exército, Secretaria de Inteligência da Aeronáutica, todos do Ministério da Defesa; (Incluído pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

V - Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais da Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos, do Ministério das Relações Exteriores; (Incluído pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

VI - Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda; e (Incluído pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

VII - Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia - CENSIPAM, da Casa Civil da Presidência da República. (Incluído pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

§ 1o O Conselho é presidido pelo Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que indicará seu substituto eventual.

§ 2o Os membros do Conselho indicarão os respectivos suplentes.

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§ 3o Aos membros do Conselho serão concedidas credenciais de segurança no grau "secreto".

Art. 9o O Conselho reunir-se-á, em caráter ordinário, até três vezes por ano, na sede da ABIN, em Brasília, e, extraordinariamente, sempre que convocado pelo seu Presidente ou a requerimento de um de seus membros. (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

§ 1o A critério do presidente do Conselho, as reuniões extraordinárias poderão ser realizadas fora da sede da ABIN.

§ 2o O Conselho reunir-se-á com a presença de, no mínimo, a maioria de seus membros.

§ 3o Mediante convite de qualquer membro do Conselho, representantes de outros órgãos ou entidades poderão participar das suas reuniões, como assessores ou observadores.

§ 4o O presidente do Conselho poderá convidar para participar das reuniões cidadãos de notório saber ou especialização sobre assuntos constantes da pauta.

§ 5o As despesas com deslocamento e estada dos membros do Conselho correrão à custa de recursos dos órgãos que representam, salvo na hipótese do § 4o ou em casos excepcionais, quando correrão à custa dos recursos da ABIN.

§ 6o A participação no Conselho não enseja nenhum tipo de remuneração e será considerada serviço de natureza relevante.

Art. 10. Na condição de órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, a ABIN tem a seu cargo:

I - estabelecer as necessidades de conhecimentos específicos, a serem produzidos pelos órgãos que constituem o Sistema Brasileiro de Inteligência, e consolidá-las no Plano Nacional de Inteligência;

II - coordenar a obtenção de dados e informações e a produção de conhecimentos sobre temas de competência de mais de um membro do Sistema Brasileiro de Inteligência, promovendo a necessária interação entre os envolvidos;

III - acompanhar a produção de conhecimentos, por meio de solicitação aos membros do Sistema Brasileiro de Inteligência, para assegurar o atendimento da finalidade legal do Sistema;

IV - analisar os dados, informações e conhecimentos recebidos, com vistas a verificar o atendimento das necessidades de conhecimentos estabelecidas no Plano Nacional de Inteligência;

V - integrar as informações e os conhecimentos fornecidos pelos membros do Sistema Brasileiro de Inteligência;

VI - solicitar dos órgãos e entidades da Administração Pública Federal os dados, conhecimentos, informações ou documentos necessários ao atendimento da finalidade legal do Sistema;

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VII - promover o desenvolvimento de recursos humanos e tecnológicos e da doutrina de inteligência, realizar estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento da atividade de inteligência, em coordenação com os demais órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência;

VIII - prover suporte técnico e administrativo às reuniões do Conselho e ao funcionamento dos grupos de trabalho, solicitando, se preciso, aos órgãos que constituem o Sistema colaboração de servidores por tempo determinado, observadas as normas pertinentes; e

IX - representar o Sistema Brasileiro de Inteligência perante o órgão de controle externo da atividade de inteligência.

Parágrafo único. Excetua-se das atribuições previstas neste artigo a atividade de inteligência operacional necessária ao planejamento e à condução de campanhas e operações militares das Forças Armadas, no interesse da defesa nacional.

Art. 11. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 13 de setembro de 2002; 181o da Independência e 114o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Tarso Ramos Ribeiro Geraldo Magela da Cruz Quintão Osmar Chohfi Alberto Mendes Cardoso

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ANEXO C

DECRETO Nº 3.695, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2000.

Cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribuições que lhe são conferidas no art. 84, incisos II, IV e VI, da Constituição,

D E C R E T A :

Art. 1º Fica criado, no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999, o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, com a finalidade de coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões neste campo.

Art. 2º Integram o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública os Ministérios da Justiça, da Fazenda, da Defesa e da Integração Nacional e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

§ 1º O órgão central do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública é a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça.

§ 2º Nos termos do § 2º do art. 2º da Lei no 9.883, de 1999, poderão integrar o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública os órgãos de Inteligência de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal.

§ 3º Cabe aos integrantes do Subsistema, no âmbito de suas competências, identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais de segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza.

Art. 3º Fica criado o Conselho Especial do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, órgão de deliberação coletiva, com a finalidade de estabelecer normas para as atividades de inteligência de segurança pública, que terá a seguinte composição:

I - como membros permanentes, com direito a voto:

a) o Secretário Nacional de Segurança Pública, que o presidirá;

b) um representante do órgão de Inteligência do Departamento de Polícia Federal e outro da área operacional da Polícia Rodoviária Federal;

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c) dois representantes do Ministério da Fazenda, sendo um do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) e outro da Coordenação Geral de Pesquisa e Investigação (COPEI) da Secretaria da Receita Federal;

d) dois representantes do Ministério da Defesa;

e) um representante do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;

f) um representante da Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional; e

g) um representante da Agência Brasileira de Inteligência.

II - como membros eventuais, sem direito a voto, um representante de cada um dos órgãos de que trata o § 2º do art. 2º.

§ 1º Os representantes referidos nas alíneas de a a g, do inciso I, e seus suplentes, serão indicados pelos respectivos órgãos e designados pelo Ministro de Estado da Justiça, para um mandato de dois anos, permitida a recondução.

§ 2º Os representantes referidos no inciso II, e seus suplentes, serão indicados pelos respectivos governadores e designados pelo Ministro de Estado da Justiça, para mandato de dois anos, permitida a recondução.

§ 3º A participação dos membros no Conselho Especial não enseja qualquer tipo de remuneração e será considerada de relevante interesse público.

§ 4º O Conselho Especial reunir-se-á em caráter ordinário a cada três meses, e, extraordinariamente, sempre que convocado por seu Presidente, por iniciativa própria ou a requerimento de um terço de seus membros.

§ 5º Os representantes referidos no inciso II somente participarão das reuniões do Conselho Especial quando convocados pelo seu Presidente.

§ 6º O Presidente do Conselho Especial poderá convidar pessoas de notório saber para participar das reuniões, sem direito a voto, para dar parecer sobre tema específico.

§ 7º As despesas com viagens dos conselheiros correrão por conta dos órgãos que representam, salvo na hipótese prevista no § 6º, em que correrão por conta do Ministério da Justiça.

Art. 4º Compete ao Conselho Especial:

I - elaborar e aprovar seu regimento interno;

II - propor a integração dos Órgãos de Inteligência de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal ao Subsistema;

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III - estabelecer as normas operativas e de coordenação da atividade de inteligência de segurança pública;

IV - acompanhar e avaliar o desempenho da atividade de inteligência de segurança pública; e

V - constituir comitês técnicos para analisar matérias específicas, podendo convidar especialistas para opinar sobre o assunto.

Art. 5º O regimento interno do Conselho Especial, com as atribuições e as competências, aprovado por maioria absoluta de seus membros, será submetido ao Ministro de Estado da Justiça.

Art. 6º Caberá à Secretaria Nacional de Segurança Pública prover os serviços de Secretaria-Executiva do Conselho Especial.

Art. 7º Este Decreto entra em vigor na data da sua publicação.

Art. 8º Fica revogado o Decreto no 3.448, de 5 de maio de 2000.

Brasília, 21 de dezembro de 2000; 179o da Independência e 112o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO José Gregori Pedro Malan Alberto Mendes Cardoso

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ANEXO D

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ANEXO E

PORTARIA Nº 155, DE 6 DE FEVEREIRO DE 2009

O SECRETÁRIO EXECUTIVO DO MINISTÉRIO DA

JUSTIÇA, no uso das atribuições que lhe foram conferidas pela Portaria GM nº 145, de 26 de janeiro de 2004, e

Considerando que o Ministério da Justiça é parte integrante do Comitê de Gestão das Ações Governamentais para a candidatura do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, denominado Comitê de Gestão da Candidatura RIO 2016, instituído pelo Decreto não numerado, de 14 de julho de 2008, com o objetivo de implementar medidas necessárias à coordenação da atuação governamental no cumprimento das responsabilidades assumidas pelo Governo Brasileiro para o desenvolvimento de ações, projetos, programas e promoção da candidatura ao evento.

Considerando o entendimento de que as ações do Ministério da Justiça tem como principal objetivo o planejamento e coordenação das ações de segurança pública referentes à candidatura do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.

Considerando que à Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP - conforme Anexo "I" do Decreto nº 6.061, de 15 de março de 2007, cumpre assessorar o Ministro da Justiça no fomento da integração dos órgãos de segurança publica e na promoção da interface com organismos governamentais e não governamentais de âmbito nacional e internacional.

Considerando que o Brasil será a sede da Copa do Mundo de 2014 e, que o planejamento e coordenação das ações de segurança pública para este evento repercutirão de forma decisiva no planejamento do sistema de segurança da candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, influenciando diretamente nos recursos humanos, materiais e orçamentários, resolve:

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Art. 1º - Criar a Comissão Especial de Segurança, denominada CESEG, com o objetivo de coordenar, planejar e implementar as ações necessárias na área de segurança e ordem públicas, no âmbito do Comitê de Gestão das Ações Governamentais para a candidatura do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.

Art. 2º - A CESEG - também terá por atribuição realizar estudos e diagnósticos preliminares, encaminhando proposições, a cerca das questões de segurança que envolve os jogos da Copa do Mundo de 2014.

Art. 3º - A referida comissão será presidida pelo Coordenador- Geral do Plano de Ações de Integração em Segurança Pública da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Parágrafo Único - A presente Comissão, para assuntos da candidatura RIO 2016, funcionará na sede do Ministério da Justiça, em Brasília, podendo ter como apoio, espaço físico na cidade do Rio de Janeiro e será composta por servidores do Ministério da Justiça, bem como por profissionais de segurança pública dos entes federados, podendo convidar técnicos e representantes de outros órgãos, entes e entidades das diversas esferas de Governo, conforme a demanda.

Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

LUIZ PAULO TELES FERREIRA BARRETO

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ANEXO F

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

SUBSISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

Portaria nº , de de maio de 2010.

(PROPOSTA)

O SECRETÁRIO NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, na qualidade de Titular do organismo central do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, nos termos do § 1º do artigo 2º do Decreto nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000; e no uso de suas atribuições que lhe foram conferidas pelo Decreto nº 6.160, de 15 de março de 2007, nos termos do inciso VII do artigo 40 da Portaria-MJ nº 1821, de 13 de outubro de 2006 e, especificamente; e

Considerando o disposto no artigo 12 do Decreto nº 6.061, de 15 de março de 2007, publicado no DOU em 16 de março de 2007, que versa sobre as competências regimentais da SENASP/MJ;

Considerando o Decreto Não Numerado, de 14 de janeiro de 2010, que versa sobre o Comitê Gestor da Copa do Mundo 2014;

Considerando a necessidade de continuidade dos trabalhos decorrentes da Portaria n.º 155, de 6 de fevereiro de 2009, publicada no DOU em 9 de fevereiro de 2009, que criou a Comissão Especial de Segurança – CESEG;

Considerando que o Brasil será a sede dos V Jogos Mundiais Militares de 2011, da Copa das Confederações de Futebol de 2013, da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Para-olímpicos de 2016;

Considerando que a Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP - do Ministério da Justiça tem por atribuição o fomento da integração dos órgãos de segurança pública e a promoção da interface com os organismos governamentais e não governamentais de âmbito nacional e internacional;

Considerando o legado de coordenação, comando e controle único deixado pelo XV Jogos Pan-americanos e Para-panamericanos à SENASP;

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Considerando a necessidade de dar início ao planejamento estratégico, tático e operacional de inteligência de segurança pública para os grandes eventos dos quais o Brasil sediará, bem como a constrição temporal até o início dos Jogos;

Considerando a necessidade dos organismos de inteligência de segurança pública e afetos a estes, nos três níveis de governo, de trabalharem em regime de parceria, cooperação mútua e intercâmbios de conhecimentos, de recursos humanos, materiais, orçamentários, financeiros e tecnológicos, a fim de efetivar as garantias dadas pelo Governo Brasileiro à Federação Internacional de Futebol – FIFA, quando da candidatura da República Federativa do Brasil a sediar a Copa do Mundo de 2014, RESOLVE:

Art. 1º Instituir a Câmara Temática de Inteligência de Segurança Pública para a Copa do Mundo 2014 (CTISP-COPA 2014) com as seguintes finalidades:

I – Elaborar o Plano Geral do Projeto de Inteligência de Segurança Pública como parte integrante do portfólio de projetos da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014, bem como coordenar e supervisionar a implementação das ações decorrentes.

II – Estabelecer as diretrizes para identificar, acompanhar e avaliar riscos, vulnerabilidades e ameaças, reais ou potenciais, de segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza, que possam ter efeito ou incidir sobre as atividades de segurança pública ou a ordem pública;

III – Produzir, integrar e compartilhar conhecimentos para os três níveis de Governo, subsidiando a tomada de decisões, bem como norteando os planos estratégicos, táticos e operacionais das ações de segurança pública.

Art. 2º A CTISP, observado o disposto no Parágrafo único deste artigo, deverá ter a seguinte composição:

I – O Coordenador-Geral de Inteligência/SENASP, que a coordenará;

II – Um representante da Inteligência do Departamento de Polícia Federal;

III – Um representante da Inteligência do Departamento de Polícia Rodoviária Federal;

IV – Um representante do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;

V – Um representante da Agência Brasileira de Inteligência;

VI – Um representante da Inteligência do Ministério da Defesa;

VII – Um representante da Inteligência do Ministério da Fazenda;

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VIII – Um representante da Inteligência do Ministério da Integração Nacional; e

IX – O Chefe do organismo central de inteligência da Secretaria de Segurança Pública ou Secretaria de Defesa Social de cada Unidade da Federação sede dos jogos da Copa do Mundo FIFA 2014.

Art. 3º O Secretariado da CTISP será composto por integrantes da Coordenação-Geral de Inteligência/SENASP/MJ.

Art. 4º O CTISP poderá convidar, para participar de suas reuniões representantes de outros órgãos ou entidades do Poder Público ou do setor privado, cujas atribuições ou conhecimentos guardem relação com ações ou políticas públicas de inteligência de segurança pública, ou que possam com elas colaborar.

Parágrafo único. A participação no CTISP será considerada serviço de natureza relevante e não enseja qualquer tipo de remuneração.

Art. 5o O CTISP deverá elaborar seu Regimento Interno disciplinando seu funcionamento, composição auxiliar e incumbências, através de resolução.

Art. 6o Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

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DEFINIÇÃO DE TERMOS DO PRESENTE ESTUDO

ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA: conjunto de ações destinadas à promoção da pacificação social, segundo uma perspectiva sistêmica, expressa na interação permanente dos diversos órgãos públicos interessados e entre eles e a sociedade civil organizada.

ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA – ISP: a atividade de ISP é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera da Segurança Pública, basicamente orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar os governos federal e estaduais na tomada de decisões, para o planejamento e à execução de uma política de Segurança Pública, bem como das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou atentatórios à ordem pública.

CONTRAINTELIGÊNCIA: é o ramo da ISP que se destina a produzir conhecimentos para neutralizar a inteligência adversa, a proteção da atividade e da instituição a que pertence.

DOUTRINA NACIONAL DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA: conjunto de preceitos e diretrizes para os serviços de inteligência das forças policiais, pautado em valores éticos e com base na legalidade e nas garantias do Estado Democrático de Direito e na preservação dos direitos de cidadania.

DEFESA CIVIL: é um conjunto de medidas que visam prevenir e limitar, em qualquer situação, os riscos e perdas a que estão sujeitos a população, os recursos da nação e os bens materiais de toda espécie, tanto por agressão externa quanto em conseqüência de calamidades e desastres da natureza.

DEFESA SOCIAL: compreende o conjunto de ações e de mecanismos coletivos, públicos e privados, para a promoção e preservação da paz social.

ESTADO-PREVENÇÃO: compreende a perspectiva de atuação do Estado pautada em ações nas mais diversas esferas de governo que possam prevenir violências, de forma a se preservar e fomentar os direitos de cidadania.

GRANDE EVENTO: evento previsível que tem como características o significado histórico, político ou de popularidade, a grande cobertura mediática e/ou presença da mídia internacional, a participação de cidadãos de diversos países e/ou possível grupo alvo, a participação de VIPS e/ou altas entidades e grande número de pessoas, estando sujeito a potenciais ameaças e, portanto, podendo requerer cooperação internacional e assistência técnica.

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PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO: é a característica da ISP que a qualifica como uma Atividade de Inteligência, na medida em que coleta e busca dados e, por meio de metodologia específica, transforma-os em conhecimento preciso, com a finalidade de assessorar os usuários no processo decisório.

SEGURANÇA CIDADÃ: Segurança cidadã se refere a uma ordem cidadã democrática, que elimina as ameaças da violência na população e permite a convivência segura e pacífica.

SEGURANÇA PÚBLICA: é uma atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações da criminalidade e da violência, efetivas ou potenciais, garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei.

VIOLÊNCIA URBANA: conjunto de situações que levam ao comprometimento da lei e da ordem pública e à manifestação das mais variadas expressões de violência no espaço urbano.