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CURSO DE PSICOLOGIA - NOTURNO - 6º SEMESTRE ELIONAI MUNIZ FABIANNE COSTA IRANILDES LIMA KÁTIA PENNA LAHIRI ARGOLLO RAFAELA ROSSI A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

Inter Relação Terapêutica

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Análise da importância da relação terapêutica.

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CURSO DE PSICOLOGIA - NOTURNO - 6º SEMESTRE

ELIONAI MUNIZ

FABIANNE COSTA

IRANILDES LIMA

KÁTIA PENNA

LAHIRI ARGOLLO

RAFAELA ROSSI

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

Ilhéus / 2015

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ELIONAI MUNIZ

FABIANNE ANDRADE

KÁTIA PENNA

IRANILDES LIMA

LAHIRI ARGOLO

RAFAELA ROSSI

A RELAÇÃO TERAPÊUTICA

Atividade apresentada no Interdisciplinar (7º semestre - Noturno) da Faculdade de Ilhéus, sob a orientação da Profa. Luciana Ferreira Chagas.

Ilhéus

Setembro – 2015

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RESUMO

Palavras chaves:.

ABSTRACT

.

Keywords:

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................06

2 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA E O PSICODIAGNÓSTICO....................................08

3 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA PSICANÁLISE.................................................11

4 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA PSICOLOGIA HUMANISTA............................13

5 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NAS TEORIAS COGNITIVAS................................15

6 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA ANÁLISE FUNCIONAL DO

COMPORTAMENTO..................................................................................................17

7 ASPECTOS UNIVERAIS DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA.....................................19

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................18

9 REFERÊNCIA.........................................................................................................19

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1 INTRODUÇÃO

A Psicologia tem como seu tradicional marco inicial as pesquisas

desenvolvidas por Wundt, Weber e Fechner na Universidade de Leipzig, na

Alemanha do final do século XIX. Todavia, o reconhecimento de seu status de

ciência não se deu de forma automática, sendo, ao contrário, construído

paulatinamente até os dias de hoje (BOCK, 2009).

Duas principais exigências são feitas para que um corpo de conhecimentos

possa ser chamado de científico: um objeto de estudo e uma metodologia bem

definidos. A grande diversidade de abordagens teóricas dentro da Psicologia e o fato

de pesquisador e pesquisado confundirem-se em essência (o homem pesquisando a

si mesmo) criam obstáculos árduos para o atendimento daqueles requisitos. Nesse

aspecto, convencionou-se dizer que os diversos saberes psicológicos tem como

cerne o comportamento humano, o que se poderia tomar como um objeto de estudo

comum, resolvendo parcialmente a questão (BOCK, 2009).

Conquanto já seja aceito hoje, pela maioria dos psicólogos, como natural a

dispersão teórica dentro da Psicologia, não mais vista como um problema e, sim,

como uma peculiaridade própria de sua natureza, grande discussão assoma os

meios científicos quando o assunto é a clínica. No tratamento de seres humanos, a

incongruência de métodos dificilmente pode ser tida como aceitável ou natural.

Apesar de todas as abordagens dedicarem-se a analise do comportamento humano,

a partir de suas bases teóricas, desenvolvem métodos próprios de intervenção

neste, por vezes tão díspares que não se vislumbra, prima face, possibilidade de se

estabelecer um aspecto que seja comum a todas.

Aqui, o paralelo com a medicina é quase inevitável. Não se concebe a

utilização de remédios de categorias diferentes para a solução do mesmo problema

orgânico. Seria, então, concebível que constructos teóricos tão diversos como os

presentes na Psicologia possam ser utilizados para o tratamento de sofrimentos

psíquicos similares? Nesse sentido, afirma Roberto Novaes de Sá (2002, p. 349)

que

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[...] mesmo com as flexibilizações e mudanças nos paradigmas contemporâneos de cientificidade, permanece a necessidade de critérios que possam estabelecer limites ao campo das psicoterapias. Os usuários, os psicoterapeutas e a sociedade em geral demandam, das instituições acadêmicas e órgãos de regulação profissional, orientação e proteção contra os abusos e usos indevidos do estatuto de legitimidade conferido pela denominação de uma prática como psicoterapêutica.

A solução ao impasse, todavia, parece estar presente na própria prática

clínica dos psicólogos. Como bem aponta FREIRE (2000), diversas pesquisas já

comprovaram não existir significativas diferenças nos resultados de variados

tratamentos psicoterapêuticos. E isso se deve ao fato de se encontrar um ponto

comum em todas as práticas clínicas: a relação terapêutica. E esta ideia não é nova,

como aponta FREIRE (idem, pág. 11):

A concepção de que a eficácia das diferentes terapias se deve mais aos seus elementos comuns do que aos princípios teóricos nos quais se baseiam não é nova. Em 1936, Saul Rosenzweig já sistematizara a idéia de que os fatores comuns entre as diversas formas de psicoterapia são tão onipresentes que estudos comparativos de tratamentos não mostrariam diferenças significativas nos seus resultados (Luborsky, 1995). Em particular, Rosenzweig mencionou que um dos principais fatores comuns a todas as terapias é o relacionamento entre cliente e clínico. Posteriormente, Carl Rogers, em 1957, na sua hipótese acerca das condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica da personalidade, identificou as características da relação terapeuta-cliente que estariam presentes, necessariamente, em qualquer psicoterapia eficaz.

Este trabalho almeja levantar a importância da relação terapêutica nas

atividades do psicólogo, desde o psicodiagnóstico até o tratamento. Pretende-se

também traçar os aspectos comuns presentes em toda relação terapêutica, a

despeito das diferentes posições teóricas que alicerçam a ação do psicólogo, o que

permite o delineamento de uma metodologia de caráter científico para a

psicoterapia.

Para tanto, primeiramente busca-se definir o que vem a ser relação

terapêutica, estabelecendo-se comparações entre as ciências da saúde. Após, faz-

se um levantamento das bases psicoterápicas de diferentes abordagens

(Psicanálise, Psicologia Comportamental, Psicologia Cognitiva e Psicologia

Humanista). Por fim, pretende-se traçar um paralelo da relação terapêutica entre

essas correntes que permita a discussão da possibilidade de construção de uma

metodologia básica da prática clínica.

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2 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA E O PSICODIAGNÓSTICO

O primeiro ato de qualquer psicólogo na atuação clínica é realizar o

diagnóstico do paciente. Conforme ARAÚJO (2007), diagnosticar é promover um

detalhado estudo objetivando conhecer certos fenômenos ou realidade mediante um

conjunto de procedimentos teóricos, metodológicos e técnicos. Esse pensamento,

de origem na medicina e influenciado pela escola positivista, acabou sendo a fôrma

para o estabelecimento da expressão psicodiagnóstico, integrando o modelo médico

à Psicologia (ANDRADE; MIRANDA, 2012).

A avaliação psicológica é um procedimento clínico que envolve um corpo

organizado de princípios teóricos, métodos e técnicas de investigação tanto da

personalidade como de outras funções cognitivas. Entre os instrumentos utilizados

encontram-se entrevistas, observações clínicas, testes psicológicos, técnicas

projetivas e de diversas estratégias, de forma individual ou coletiva, para avaliar o

sujeito de forma sistemática e científica, à sujeito à luz de determinados

pressupostos teóricos (CUNHA, 2008). A escolha das estratégias e dos instrumentos

empregados é feita sempre de acordo com o referencial teórico, o objetivo (clínico,

profissional, educacional, forense etc.) e a finalidade (diagnóstico, indicação de

tratamento e/ou prevenção), conforme ARAÚJO (2007).

A influência do modelo médico levou a adoção de procedimentos neutros e

impessoais, desconsiderando-se qualquer contato com o paciente que não fosse

objetivo e voltado para a clínica da patologia. Predominavam as avaliações

psicométricas, justamente pelo caráter técnico da testagem. Os dados obtidos, uma

série de traços ou descrições da capacidade do paciente, desconsiderava suas

características idiossincráticas, seu contexto histórico-social, e tinha como objetivo

primário atender a solicitações de outros profissionais, tais como psiquiatras,

neurologistas, pediatras, etc (ARAÚJO, 2007).

O processo psicodiagnóstico, portanto, era visto, somente, como meio de

investigação e levantamento de demandas a serem tratadas posteriormente por

outros profissionais. Não havia razão para se preocupar com o indivíduo submetido

aos testes. Os resultados das avaliações indicariam o curso do tratamento. Essa

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visão do psicodiagnóstico ainda é encontrada entre muitos profissionais (PAULO,

2006).

A mudança desse cenário começou quando surgiram pesquisas

demonstrando que, mesmo sendo bem diferente da intervenção, ocorriam efeitos

terapêuticos durante o processo de investigação diagnóstica (ANDRADE;

MIRANDA, 2012). Também ficou demonstrado que a postura assumida pelo

psicólogo durante a investigação diagnóstica era determinante para o aparecimento

desses efeitos. Esses conceitos resultaram na hipótese do duplo caráter do

psicodiagnóstico: investigativo e interventivo. Portanto, existiria sim uma relação

terapêutica no psicodiagnóstico (PAULO, 2006).

Para que o efeito terapêutico se faça presente na análise diagnóstica, mister

se faz que o paciente se torna ativo no processo e o profissional compartilhe a todo

instante da compreensão do problema apresentado. CUNHA assevera que "o

psicodiagnóstico é uma tarefa do psicólogo clínico e a única que lhe é privativa. É,

pois de fundamental importância que consiga exercê-la bem" (2000, p. 08). Ou seja,

a responsabilidade do psicodiagnóstico cabe ao psicólogo clínico, devendo este

estar preparado para acompanhar todo o processo com a atenção devida e, para

que aconteça de maneira eficaz, surtindo desde já implicações terapêuticas,

pressupõe-se o estabelecimento de uma relação de confiança entre terapeuta e

cliente, independente da abordagem teórica e das técnicas utilizadas.

Nesse sentido, a realização de devolutivas não tem apenas o intuito de

informar o paciente, como acontece no trabalho tradicional, mas de oferecer a ele

uma experiência transformadora por meio do vínculo com o psicólogo, que coloque

em marcha os seus processos de desenvolvimento (PAULO, 2006). Ou seja, é

importante informar ao paciente o seu problema, porém o psicólogo com vínculos

devidamente estabelecidos facilitará para que essa pessoa possa ter experiências

que possibilite mudanças e impulsione os seus processos de desenvolvimento.

Fica claro, então, que a questão da relação terapêutica possui grande

importância desde os contatos iniciais entre terapeuta e paciente, ainda que aquele

esteja voltado exclusivamente para elaboração de um diagnóstico sem previsão de

tratamento posterior, pois os resultados da análise sofrerão, e muito, o impacto da

dinâmica estabelecida. Como bem coloca CUNHA (2008):

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A pessoa em sofrimento chega para o primeiro contato com o psicólogo premida pela necessidade de ajuda e pela necessidade de rendição e de entrega.

A atitude de respeito do psicólogo, ou seja, o “olhar de novo”, com o coração, em conjunto com o paciente para a sua conflitiva, livre de críticas, menosprezo e desvalia, é basilar no exercício de tocar a psique, para uma ligação de confiança. Estabelecer a proximidade necessária para a consecução do processo significa mostrar ao paciente que as dificuldades parecem não ir embora enquanto não forem primeiro bem acolhidas. A solução só ganhará espaço e lugar se houver contato. As atitudes de esperança (Hillman, 1993) e da aceitação por parte do psicólogo, da angústia e “da luta entre os opostos”, enquanto expressão da “verdade psicológica do eterno jogo de antagonismos” (Silveira, 1992, p. 116), são fundamentais para a pessoa que vem para o primeiro contato, dentro do processo psicodiagnóstico.

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3 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA PSICANÁLISE

O processo terapêutico psicanalítico consiste em desvendar conflitos

originados na maioria das vezes no passado do paciente e que estão no

inconsciente causando-lhe sofrimento na vida. Para a compreensão da relação

terapêutica na psicanálise, a transferência e a contratransferência são conceitos

essenciais. Freud toma a expressão "transferência" como uma forma de resistência,

ou seja, um obstáculo ao processo analítico, como meio de evitação aos conteúdos

da sexualidade infantil que ainda permanece ligada às "zonas erógenas", as quais,

na evolução normal, já deveriam estar desligadas (HEIMANN, 1995)

Na linha psicanalítica, o terapeuta trabalha de forma a refletir, como um

espelho, somente aquilo que o paciente lhe mostra. A tomada de consciência de

seus conflitos inconscientes propicia ao paciente o alargamento do seu ego, quanto

mais ele tiver consciência de seus desejos, medos e fantasias desconhecidas, mais

recursos ele disporá para lidar com as exigências da realidade (PERES, 2009).

Diz MEZAN (1996) ser necessário que o terapeuta haja no sentido de não

colocar seus próprios pontos de vista, desejo ou compreensão, que apoiem visões

particulares da situação que está sendo expressa. Essa tomada de consciência

propicia ao paciente uma alternativa de transformação de sua vida psíquica, desde

que seu sistema defensivo também seja amenizado. A realização desse processo

ocorre em um setting específico: o uso do divã, o atendimento individual várias

vezes por semana e a neutralidade de princípio do analista. Tal arranjo, continua o

autor, facilitariam a regressão, ou seja, a superação das defesas do ego e a

emersão dos conteúdos inconscientes.

Nessa linha de pensamento, existiriam duas relações na terapia: aquela fruto

de uma falsa ligação paciente com o psicoterapeuta (transferência) e a real,

estabelecida pelo terapeuta na condução da análise. Se a transferência é uma

condição essencial para que ocorra um processo terapêutico com sucesso, a

contratransferência também tem sua importância e seus riscos.

Para MEZAN (1996), a contratransferência é o conjunto de sentimentos do

terapeuta em relação ao paciente. Destaca que a reação emocional do terapeuta às

projeções do paciente é um instrumento a ser compreendido pelo terapeuta e que,

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para ser utilizado, o terapeuta deve ser capaz de controlar os sentimentos que nele

foram despertados, ao invés de, como faz o paciente, descarregá-los.

A posição de neutralidade do analista é seu traço primordial, tanto para o

controle deste sobre a transferência e contratransferência. FREUD (1996c)

enfatizava a importância desse aspecto inclusive desde as entrevistas preliminares,

nas quais se deveria deixar o paciente falar todo o tempo, oferecendo a mínima

explicação possível. Também recomendou evitar: conversar demasiado com o

paciente antes do tratamento, atender pacientes sobre os quais de tenha prévios

conhecimentos relevantes e manter relações de amizade com o paciente e, ou,

familiares. Observa-se, portanto, que a relação terapêutica na psicanálise possui

contornos muito específicos.

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4 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA PSICOLOGIA HUMANISTA

A primeira vez que se ouviu falar em humanismo foi durante o Renascimento

como uma forma de romper com os dogmas medievais da Igreja Católica com maior

liberdade de pensamento. Uma concepção mais moderna, o Existencialismo,

responsabiliza o homem por todas as decisões que toma sobre sua vida e suas

consequências e não pela responsabilidade da ação divina ou do sobrenatural

(GREENING, 1975).

Segundo CASTAÑON (2007), a Psicologia Humanista surge para contrapor-

se às duas grandes influências americanas nas décadas de 40 e de 50 do século

XX, o behaviorismo e a psicanálise, que reduziam o indivíduo às experiências

passadas, ao inconsciente e à determinação do condicionamento. Combatendo

essas ideias pessimistas, reducionistas e fragmentadas sobre a natureza humana,

Maslow um dos grandes precursores do movimento humanista, traz uma nova

perspectiva em que o foco da terapia é o homem sadio e não a psicopatologia.

Para FREIRE (2000), Carl Rogers é o grande responsável pelos estudos

sobre as condições necessárias para a verdadeira mudança na personalidade do

cliente através da eficácia garantida pela psicoterapia (termo usado para se referir

ao indivíduo que se submete à terapia). Sua visão de uma psicoterapia não diretiva,

mais tarde denominada Terapia Centrada no Cliente, compreende que o papel do

terapeuta é auxiliar o cliente em sua busca de desenvolvimento pessoal através do

autoconhecimento (COREY,1983). Esta relação, segundo FREIRE (2000, p. 94),

está condicionada as seis propostas de Rogers:

1. Que duas pessoas estejam em contato psicológico; 2. Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja em estado de incongruência, estando vulnerável e ansiosa; 3. Que a segunda pessoa, a quem chamaremos terapeuta, esteja congruente ou integrada na relação; 4. Que o terapeuta experiencie consideração positiva incondicional pelo cliente; 5. Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática do referencial da estrutura interna do cliente e se esforce por comunicar esta experiência ao cliente; 6. Que a comunicação ao cliente da compreensão empática do terapeuta e da consideração positiva incondicional seja efetiva, pelo menos num grau mínimo.

Assim, afirma COREY (1983, p. 77) que “a abordagem centrada-no-cliente

tem seu foco na responsabilidade e na capacidade do cliente para descobrir os

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meios de entrar num contato mais pleno com a realidade”. A postura do terapeuta,

portanto, deve ser a de compreender o problema e, sem julgamento diagnóstico,

utilizar de sua empatia terapêutica para ajudar o cliente a ver que seu problema

pode ser resolvido por ele mesmo. Daí FREIRE (2000) afirmar que não é o

conhecimento de métodos psicoterápicos o fator decisivo para o sucesso do

tratamento e, sim, a própria relação terapêutica. Esse sucesso relaciona-se mais

com as habilidades pessoais do que com o treinamento profissional. Portanto, um

terapeuta empático, acolhedor e congruente é capaz de dar à terapia o status de

eficácia, numa relação sem o rigor de técnicas fechadas e inflexíveis, mas numa

perspectiva de humanidade e de respeito ao sofrimento alheio.

SANTOS (1994), em consonância com os autores citados, defende ser o

cliente o principal agente no desfecho para seus problemas, residindo nele a decisão

de cura. O setting terapêutico, portanto, estaria no insight do terapeuta em ser

perspicaz para aproveitar as oportunidades e conteúdos que aparecem para fazer

boas intervenções. Acima de todas as ciências, teorias e técnicas, a mudança que o

cliente pretende fazer em sua própria vida estaria centrada na sua capacidade

humana de atualização organísmica e no estímulo à sua autonomia, ambos

passíveis de construção pela relação terapêutica.

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5 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NAS TEORIAS COGNITIVAS

A Relação Terapêutica é definida de diferentes maneiras por vários autores

de linha cognitivista, incluindo a congitiva-comportamrental, ressaltando-se em

comum o aspecto da fundamental importância desta para o tratamento do paciente.

RANGÉ (2011) afirma que a Teoria Cognitivo Comportamental é a corrente

que apresenta a maior ênfase à relação terapêutica nesses últimos anos, bem como

ser esta é quem vai instrumentalizar o cliente a sentir-se seguro com o terapeuta. O

mesmo autor defende a existência de três aspectos centrais: a tarefa, os objetivos e

ligações que, embora interdependentes, estão subordinadas ao manejo do

terapeuta.

A Relação Terapêutica é fundamental nas psicoterapias cognitivas e ocorre

no contexto clínico que favorece um processo de vinculação entre cliente e

terapeuta. Essa vinculação, evidencia um clima de segurança em que o cliente

revela elementos de seu mundo interior, contribuindo dessa forma para a

consolidação do processo terapêutico. A terapia é um processo que envolve

relações interpessoais entre cliente e terapeuta, na perspectiva do crescimento,

mudanças e auto-conhecimento, no qual o cliente demanda participação efetiva

RANGÉ (2011). Nesse contexto, a relação terapêutica constitui-se como basilar, pois

irá mobilizar o cliente para o engajamento na terapia e o terapeuta é o gerenciador

desse processo de empirismo colaborativo.

Para BECK (2013), o terapeuta atua em duas frentes: inicialmente acolhe o

paciente através da escuta e no segundo momento irá conduzir o processo no

sentido de favorecer que ele tenha uma percepção da própria realidade, ampliando-

a e recriando outras possibilidades de enfrentamento.

O empirismo colaborativo é um dos alicerces da relação, consistindo na coleta

de elementos sobre o cliente para confirmação ou não de hipóteses referentes às

crenças ou pensamentos automáticos. O aspecto colaborativo pode ser entendido à

partir da ajuda mútua em que terapeuta e cliente interagem. De um lado o terapeuta

inicialmente direciona a estrutura da sessão, mas no decorrer do processo o cliente

é estimulado a engajar-se na tarefa, desenvolvendo responsabilidade (BECK,

2013).

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Na Teoria Cognitivo Comportamental, a relação terapêutica evidencia o papel

do terapeuta, no sentido de colaboração junto ao cliente, favorecendo que este

identifique os pensamentos distorcidos e seja capaz de reformulá-los de forma

racional, ou seja, educa o cliente sobre os esquemas e modos de enfrentamento,

indicando os rumos da terapia. “Ensina ferramentas para avaliar seus pensamentos

de forma consciente, estruturada, especialmente quando eles estão aflitos”

(BECK,2013, p. 88).

Um aspecto de fundamental importância a ser considerado na relação

terapêutica é o papel das emoções. Segundo BECK (2013), a nomenclatura

“cognitivo” não deve supor uma conotação de complexo intelectual de regras em

detrimento dos sentimentos e emoções dos sujeitos. Deve-se considerar o enfoque

“humanista “ e não “mecanicista” na compreensão da teoria.

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6 A RELAÇÃO TERAPÊUTICA NA ANÁLISE FUNCIONAL DO

COMPORTAMENTO

De acordo com BRAGA e VANDENBERGHE (2006), é possível determinar

três ondas da terapia comportamental. A primeira, sob forte influência do

behaviorismo metodológico, foi marcada pela revolta contra o subjetivismo e a

ineficácia da psicoterapia. O tratamento era voltado especificamente para pessoas

diagnosticadas com retardo mental, esquizofrenia, autismo e transtornos psicóticos

em geral. Eram passadas instruções a enfermeiros e pessoas treinadas que

aplicavam um conjunto de técnicas. Não havia quase nenhum contato do terapeuta

com o paciente e o objetivo era somente a modificação do comportamento

(VANDENBERGHE, 2001).

Na segunda onda, com a extensão do tratamento para as clínicas fora das

instituições de internamento e atendendo pessoas não necessariamente com

comprometimento das funções cognitivas, adotou-se uma postura de valorização do

ser humano racional. Porém, foram preservadas boa parte das condutas objetivas e

impessoais. Não havia preocupações com a relação com o paciente, ainda tida

como irrelevante (VANDENBERGHE, 2001).

Já a terapia comportamental da terceira geração, denominada Análise

Funcional do Comportamento, resgata a subjetividade do cliente e do terapeuta no

contexto da relação interpessoal que constitui o processo psicoterapêutico. Com

forte inspiração na teoria psicanalista da transferência, baseia-se no princípio de que

o cliente fatalmente trará para a dinâmica da terapia, segundo a ideia de

generalização, os comportamentos socialmente inadequados que lhe provocam

sofrimento (BRAGA; VANDENBERGHE, 2006).

Os comportamentos que se tornam objetos de análise do terapeuta são

denominados de comportamentos clinicamente relevantes (CCR) e são classificados

em três tipos: CCR1 - comportamentos problemáticos que devem ser enfraquecidos

ao longo da terapia uma vez que impossibilitam a ocorrência de repertórios efetivos;

CCR2 - comportamentos que fazem parte do progresso do cliente ocorrido nas

sessões de terapia, e que apresentam uma baixa probabilidade de ocorrerem no

início do tratamento; CCR3 - interpretações que o próprio cliente faz de seu

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comportamento em relação ao terapeuta ou à situação terapêutica, sendo os mais

produtivos e correspondendo à aprendizagem da análise funcional pelo cliente

(VANDENBERGHE, 2001).

A Análise Funcional do Comportamento determina que o sucesso do

tratamento se relaciona com a estruturação de um setting terapêutico adequado,

devendo haver a maior compreensão possível do analista sobre a relação

estabelecida com o paciente. Nesse mister, BRAGA e VANDENBERGHE (2006)

ressaltam que a principal diferenciação, feita por Skinner, entre a relação terapêutica

das relações do cotidiano é a chamada audiência não puitiva, ou seja, o terapeuta

compreende os comportamentos do cliente sem julgá-lo, o que possibilita a este

compartilhar sentimentos, comunicando claramente o que pensam e o que querem.

Os mesmos autores defendem a necessidade de o terapeuta construir um

clima de confiança, respeito e honestidade, visto que as emoções evocadas pela

psicoterapia podem ser dolorosas. Portanto, o papel do terapeuta é bloquear a

esquiva, até que essas respostas diminuam em intensidade. Se o cliente tolerar e

tentar entender suas reações emocionais em vez de esquivar-se delas, é possível

promover o desenvolvimento de outros repertórios pela possibilidade de ter contato

com reforçadores distanciados até então pela evitação.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do quanto observado sobre a relação terapêutica nas diferentes

abordagens psicológicas, é possível notar a presença de elementos comuns, ainda

que sejam analisados e, ou, aplicados de formas próprias.

Destaca-se entre eles a questão da escuta do analista. Não se concebe em

nenhuma das correntes uma atuação psicológica que desconsidere o discurso do

paciente. Não a simples oitiva de tudo o que este diga, mas a percepção do que é

dito, a atenção ao discurso do não dito, as coerências e as incongruências de sua

fala. Seja num setting de menor interação, como no divã da psicanálise, ou de

relação mais intensa, como a participação colaborativa dos cognitivistas.

Trata-se de uma escuta qualificada, própria da competência do psicólogo,

uma atenção específica, livre de julgamentos ou não punitiva, que muito raramente é

encontrada nas relações interpessoais do dia a dia. Seu efeito terapêutico, por si só,

já restou comprovado em situações nas quais o tratamento nem mesmo era o

enfoque do atendimento, como no caso de elaboração de psicodiagnósticos

(PAULO, 2006).

Outro ponto de interseção é a postura do próprio paciente. Quem busca o

auxílio do terapeuta vive algum estado de sofrimento do qual deseja o alívio. A

predisposição do paciente ao tratamento é fundamental para que qualquer

intervenção possa surtir efeito. Na Psicologia Humanista vai-se além, defendendo-se

que o próprio cliente possui capacidade de resolver seus problemas psíquicos,

“facilitada pelo terapeuta simplesmente através da criação de um clima de aceitação

e permissividade na relação terapêutica” (FREIRE, 2000, p. 97).

Igualmente se vê em todas as abordagens a preocupação com a construção

de um setting terapêutico adequado para a expressão do paciente, ainda que

comprometido com uma postura teórica prévia. A relação terapêutica, portanto,

também é a expressão de um lugar, mais emocional do que físico, tecido pela

aliança e confiança entre as partes. O setting possibilita a liberdade de expressão

essencial para a intervenção do psicólogo, cuja razão cada teoria explica segundo

seus princípios: ocorrência de generalização do comportamento, abertura do

inconsciente, denúncia de erros cognitivos etc.

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Os critérios acima elencados são suficientes para demonstrar a existência de

uma metodologia universal básica para a prática clínica, independentemente das

diferenças teóricas, pautada nos elementos comuns da relação terapêutica. Os

construtos hipotéticos podem gerar explicações diversas para os mesmos

fenômenos comportamentais e criar infinitas possibilidades de intervenção, mas é a

relação entre o terapeuta e o paciente que determinará os rumos do tratamento.

Impossível deixar de lembrar a celebre frase atribuída à Carl Gustav Jung: “Conheça

todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja

apenas outra alma humana.”

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8 REFERÊNCIAS

ANDRADE, Andréa Martins de; MIRANDA, Cássio Eduardo Soares.

Psicodiagnóstico Interventivo como Modalidade de Atuação Terapêutica:

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BOCK, Ana Merces Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, MARIA de Lourdes Trassi.

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CASTAÑON, Gustavo Arja. Psicologia humanista: a história de um dilema

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outubro de 2015.

Page 22: Inter Relação Terapêutica

22

COREY, Gerald F. Técnicas de aconselhamento e psicoterapia. Campus, Rio de

Janeiro, 1983

CUNHA, Jurema Alcides [et al]. Psicodiagnóstico-V. 5.ed. revisada e ampliada-

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