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| 1 QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO

Internacionalização e Projeção de Estratégias Futuras de Promoção

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QUADRILÁTERO EMPRESARIALBARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO

E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS

DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO

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ÍndiceINTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO

1. INTRODUÇÃO 161.1. Nota introdutória 16

2. O TERRITÓRIO NACIONAL 202.1. O Desenvolvimento Regional 202.2. Enquadramento do Quadrilátero 232.2.1. Contexto político e institucional 272.2.2. Contexto social e demográfico 282.2.3. Contexto económico e empresarial 352.2.4. Contexto tecnológico 39

3. COMPETITIVIDADE TERRITORIAL DO QUADRILÁTERO 463.1. O tecido empresarial 463.1.1. Setores de atividade e tecido empresarial por concelho 483.1.2. Mercados internacionais de referência 583.1.3. Clusters empresariais 673.1.4. A análise SWOT 72

4. INTERNACIONALIZAÇÃO E BOAS PRÁTICAS 764.1 Abordagem metodológica 764.2. O Quadrilátero e condições da envolvente 794.3. Clusters e cooperação em rede 824.4. Empreendedorismo e renovação do tecido empresarial 834.5. Investigação, desenvolvimento e inovação 854.6. Fatores críticos na afirmação internacional 874.7. Quadro-resumo 89

5. ORIENTAÇÕES PARA O FUTURO 945.1. Resultados obtidos 945.2. Vetores estratégicos para a promoção do Quadrilátero 965.3 Propostas de ação 100

6. CONCLUSÃO 102

7. ANEXOS 1077.1. Fichas de entrevista 107

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Índice de abreviaturas3B’s Research Group in Biomaterials, Biodegradables and BiomimeticsACIG Associação Comercial e Industrial de GuimarãesAICEP Agência para o Investimento e Comércio Externo de PortugalAIMinho Associação Industrial do MinhoAIPCLOP Associación de Industrias de Punto y Confección de Lugo, Ourense e

Pontevedra AMP Área Metropolitana do PortoANJE Associação Nacional de Jovens EmpresáriosAPBio Associação Portuguesa de BioindústriasAPCM Associação Pólo de Competitividade da ModaAPIC Associação Portuguesa dos Industriais de CarnesAPIP Associação Portuguesa da Indústria de PlásticosAPICCAPS Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos

de Pele e seus SucedâneosAAUM Associação Académica da Universidade do MinhoATP Associação Têxtil e Vestuário de PortugalCAE Classificação das Atividades EconómicasCCDRN Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do NorteCENTI Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e InteligentesCESPU Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e UniversitárioCIM Comunidade IntermunicipalCIP Confederação Empresarial de PortugalCITEVE Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de PortugalCVR Centro para a Valorização de ResíduosCTCP Centro Tecnológico do Calçado de PortugalDGEEC Direção-Geral de Estatísticas da Educação e CiênciaEMI Electro-mechanical impedanceGAPI Gabinete de Apoio à Propriedade IndustrialI&D Investigação & DesenvolvimentoIAPMEI Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à InovaçãoIB-S Instituto de Ciência e Inovação para a BiosustentabilidadeIDE Investimento Direto EstrangeiroIDI Investigação, Desenvolvimento e InovaçãoIEFP Instituto do Emprego e Formação ProfissionalIMI Imposto Municipal sobre ImóveisINE Instituto Nacional de EstatísticaINL Laboratório Ibérico Internacional de NanotecnologiaINPI Instituto Nacional da Propriedade IndustrialIPCA Instituto Politécnico do Cávado e do AveIpC Indicador per CapitaIRN Instituto dos Registos e Notariado

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ISDR Índice Sintético de Desenvolvimento RegionalNUT Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins estatísticosPALOP Países Africanos de Língua Oficial PortuguesaPDM Plano Diretor MunicipalPEC Programa Estratégico de CooperaçãoPEDIP Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria PortuguesaPIB Produto Interno BrutoPIEP Pólo de Inovação em Engenharia de PolímerosPME Pequena e Média EmpresaPORDATA Base de Dados de Portugal ContemporâneoPPC Paridade de Poder de CompraPRODER Programa de Desenvolvimento RuralQREN Quadro de Referência Estratégico NacionalSCTN Sistema Científico - Tecnológico NacionalSHM Structuring Health MonitiringSIREVE Sistema de Recuperação de Empresas por Via ExtrajudicialTecMinho Associação Universidade-Empresa para o DesenvolvimentoTIC Tecnologias da Informação e ComunicaçãoTGV Train à Grande VitesseUE União EuropeiaUERN União Empresarial da Região NorteUKTI UK Trade & InvestmentUMinho Universidade do MinhoVAB Valor Acrescentado Bruto

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Sumário Executivo3O território em estudo apre-

senta-se como um espaço territorial denso, no qual é possível identificar um elevado número de áreas com uma forte componente urbana. A aglomeração urbana do Porto emerge progressivamente mais vocacionada para os setores de serviços em geral, para a logística e para as atividades associadas ao conhecimento, à cultura e ao lazer. Por sua vez, o Quadrilátero é um território especializado em comér-cio, serviços, indústria, educação, investigação e desenvolvimento, património e turismo. Na faixa mais litoral, que vai de Vila do Conde até Caminha, passando por Póvoa

1O estudo “Internacionalização do Quadrilátero e Projeção de

Estratégias Futuras de Promoção do Território” visa, por um lado, identi-ficar e avaliar os projetos de interna-cionalização bem-sucedidos das em-presas localizadas neste território e, por outro, estabelecer um conjunto de estratégias e ações futuras de promoção territorial com vista à sua internacionalização e à atração de Investimento Direto Estrangeiro. O estudo propõe-se estabelecer um rumo estratégico que permita o desenvolvimento de um modelo de intervenção concertado entre os municípios de Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão

que apoie a internacionalização do tecido empresarial e também a captação de investimento para este território.

2Na análise das estratégias de desenvolvimento, o espaço tem

um papel fundamental. A raciona-lidade da organização espacial e o aproveitamento das dinâmicas re-gionais são essenciais para explicar o sucesso ou insucesso das estraté-gias de competitividade territorial. A organização espacial e a racionaliza-ção política das dinâmicas regionais devem enquadrar-se num processo de construção bottom-up de médio e longo prazo.

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de Varzim, Esposende e Viana do Castelo, o nível de especialização é, no essencial, turístico, ambiental e de lazer. Nos territórios fronteiriços, o nível de especialização do aglome-rado constituído por Valença e Tui assenta nas relações transfrontei-riças e nas atividades de transporte de mercadorias, ainda que a ativida-de industrial tenha ganho um peso considerável nos últimos anos.

4O Quadrilátero encaixa-se numa área geográfica limítrofe da

Galiza. Esta região espanhola possui uma superfície de 29.575 km2 (6% da área total de Espanha), uma população de 2,8 milhões de habi-tantes e uma estrutura produtiva diversificada, com setores tradi-cionais modernos e empresas bem posicionadas nos seus respetivos setores de atividade. A Euro-região constituída pela Galiza e pelo Norte de Portugal, constitui um espaço de forte interação social, económica e cultural, sendo, por isso, um impor-tante foco de desenvolvimento a vários níveis.

5Em média, as cidades do Qua-drilátero distam entre si cerca

de 20-25 km, estando a menos de 30 minutos de distância-tempo. O território usufrui de boas ligações rodoviárias, sendo as principais conexões rodoviárias a A7, a A3 e a A11. A autoestrada A7 facilita a mobilidade no eixo Oeste-Este, e a ligação à A24, garante a conexão do litoral com Espanha. A autoestrada A3, no eixo Norte-Sul, é uma cone-xão prioritária nas ligações ao Porto

e à fronteira de Valença (a mais movimentada do país). Por sua vez, a autoestrada A11 facilita as ligações dos concelhos de Braga e Guimarães e a conexão com a autoestrada A28, que faz a ligação do Litoral Norte. A rede de autoestradas existente liga as cidades do Quadrilátero por au-toestrada, de forma direta em quase todos os casos.

6Em comparação com a rede de autoestradas, a rede ferroviária

está bastante menos desenvolvida e o seu contributo para a articulação entre as quatro cidades é pratica-mente marginal, destacando-se, por exemplo, o facto de Guimarães apenas possuir conexão ferroviária direta com umas das restantes três cidades que compõem o Quadriláte-ro (Vila Nova de Famalicão). Ao nível das ligações aéreas e marítimas, importa referir a proximidade com os aeroportos do Porto e de Vigo e com os portos marítimos de Leixões, de Viana do Castelo e de Vigo. Estas infraestruturas de transporte são cruciais para o desenvolvimento do território, dado que facilitam a circulação de pessoas e a mobili-dade/escoamento de mercadorias, nomeadamente das produções da indústria transformadora localizada na região.

7Ainda no âmbito das infraes-truturas, convém destacar a

existência de inúmeros parques in-dustriais e empresariais nos quatro concelhos que compõem o Quadrilá-tero. A oferta destes equipamentos é muito heterogénea, convivendo

infraestruturas dotadas de boas condições gerais e boas acessibilida-des, com outras mal concebidas ou mal localizadas.

8Em termos demográficos, o Quadrilátero é um território

predominantemente urbano, com grandes espaços rururbanos, e com uma elevada densidade popula-cional. Em 2011, a sua densidade populacional era de 591 habitantes/km2, um valor muito superior ao na-cional de 115 habitantes/km2, e ao da região Norte de 173 habitantes/km2. A nível concelhio, observam--se diferenças assinaláveis. Braga tem uma densidade populacional de 990 habitantes/km2, Vila Nova de Famalicão de 664 habitantes/km2, Guimarães de 656 habitantes/km2 e Barcelos de 318 habitantes/km2.

9As mulheres representavam cerca de 52% da população resi-

dente e os homens os 48% restan-tes. Na última década, a população residente em Braga aumentou em aproximadamente 11%, tratando-se do segundo maior acréscimo a nível nacional (seguindo-se ao município de Cascais). Este crescimento elevou Braga, com cerca de 182 mil habi-tantes, à sétima posição do ranking populacional dos municípios portu-gueses, ultrapassando o município de Matosinhos.

10 As habilitações da po-pulação do Quadrilátero

alteraram-se significativamente entre 1981 e o momento atual. Entre 1981 e 2011, a população com ensino secundário e ensino superior

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aumentou substancialmente. Nesse período, o aumento da população com ensino secundário foi superior a 1000%, passando-se, grosso modo, de 7.000 indivíduos em 1981 para 72.000 indivíduos em 2011. Este crescimento verificou-se nos quatro municípios do Quadrilátero de um modo bastante uniforme. No total do Quadrilátero, cerca de 12% da população possui habilitações ao nível do ensino superior.

11A melhoria nos níveis de qualificação da população

no Quadrilátero deriva sobretudo da perceção da importância e valor de uma formação escolar sólida. Resultou também, do desenho e implementação de políticas públicas a nível nacional destinadas a escola-rizar e manter no sistema educativo os mais novos durante mais tempo. Neste contexto, destaca-se ainda o sucessivo aumento da escolaridade mínima obrigatória ao longo dos anos.

12No Quadrilátero, o desem-prego afeta maioritariamen-

te o grupo etário dos 35-54 anos seguido do grupo etário dos maiores de 55 anos, em todos os municípios. Os concelhos de Braga e de Gui-marães são os mais afetados, em termos absolutos, pelo desemprego, com 15.135 e 14.213 desemprega-dos registados, respetivamente. O desemprego feminino representa 53% do desemprego total no Qua-drilátero. O desemprego de longa duração também tem uma expres-são significativa neste território. Em

2012, no total nacional, 41% dos desempregados estavam inscritos nos Centros de Emprego há pelo menos 12 meses. No Norte, esta percentagem situava-se nos 21%. No Quadrilátero, o desemprego de longa duração afetava cerca de 46% dos desempregados.

13A região Norte contribui em cerca de um terço para a

formação do Produto Interno Bruto português. Apesar de possuir uma capacidade exportadora considerá-vel (a mais elevada de todas as NUT II), a estrutura produtiva apresenta-va, até há poucos anos, fragilidades evidentes, derivadas dos baixos níveis de produtividade e do eleva-do peso relativo de um conjunto de setores intensivos em mão-de-obra, com escassa dotação de capital e reduzidos níveis de incorporação tecnológica. Estas fragilidades eram ainda mais marcadas nas NUT III Ave e Cávado, devido à elevada con-centração de empresas com essas características, ligadas sobretudo ao setor da construção civil e à indús-tria têxtil e do vestuário, as quais, na primeira metade da década de dois mil, enfrentaram dificuldades acres-cidas como consequência da pujante concorrência dos países da Asia central e sul-oriental, da Europa de leste e, em menor medida, do norte de África, assim como da profunda contração do mercado interno.

14No território do Quadrilátero, predominam as empresas

pertencentes a três setores de ativi-dade: comércio por grosso e a reta-

lho (26%); indústrias transformado-ras (14%), onde se inclui a indústria têxtil e do vestuário; e, atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares (10%), onde se enquadram a maior parte das empresas que atuam na área das tecnologias da informação e comunicação. O setor da construção civil tem também um peso significativo (8%). Em termos de volume de negócios, os seto-res com maior importância são a indústria transformadora (41%), o comércio (33%) e a construção civil (13%).

15Entre 1997 e 2010, a Univer-sidade do Minho formalizou

100 pedidos de patentes no Institu-to Nacional da Propriedade Indus-trial, 65 dos quais com patente con-cedida à universidade. Em 2012, a Universidade do Minho, apresentou 14 pedidos de registo de patentes e a Universidade do Porto 18 pedidos. A existência de um grande número de pedido de patentes registadas e/ou concedidas não significa, porém, que esse conhecimento tecnológico venha a ser aproveitado para fins in-dustriais e/ou empresariais. Porém a Universidade do Minho destaca-se, nesta matéria, por ser a universida-de portuguesa com mais tecnologia rendibilizada em contextos empre-sariais, com cerca de vinte patentes utilizadas pela indústria.

16No Quadrilátero, o contributo da Universidade do Minho

para o desenvolvimento económico do território, nas últimas quatro décadas, é absolutamente inegável.

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Desde a sua instalação, em meados da década de setenta do século XX, a universidade tem contribuído para a formação de quadros, engenhei-ros e tecnólogos das empresas da região. Tem igualmente formado muitos dos empreendedores que pilotam iniciativas empresariais bem-sucedidas com sede no Qua-drilátero e operações nos mercados internacionais. Tem transferido conhecimento, tecnologia e inova-ção para as empresas da envolvente através das interaces que dispõe. A Universidade do Minho atua ainda como uma instituição equilibradora no território, criadora de consensos e de articulação das vontades e pro-postas dos vários agentes sedeados no território, cujo potencial neste domínio está longe de ser esgotado.

17O peso da indústria trans-formadora é relativamente

desigual entre os vários concelhos do Quadrilátero. Nos de Guimarães e de Vila Nova de Famalicão, a indús-tria transformadora é responsável por 52% e 65% do Valor Acrescen-tado Bruto total, respetivamente, enquanto em Braga não ultrapassa os 27%. Apesar da importância das empresas ligadas às tecnologias de informação e comunicação ser ainda relativamente marginal, também se observam diferenças interconcelhias consideráveis.

18De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em

2010 o tecido empresarial do Qua-drilátero era constituído por apro-ximadamente 58 mil empresas, das

quais 34% se situavam em Braga, 25% em Guimarães, 21% em Vila Nova de Famalicão e 20% em Bar-celos. No que respeita à densidade empresarial, medida em termos de empresas por cada 1.000 habitan-tes, Braga apresenta 181,5 empre-sas, Guimarães 158,1, Vila Nova de Famalicão 133,8 e Barcelos 98,4.

19O município de Barcelos ba-seia as suas atividades eco-

nómicas essencialmente no setor secundário. As principais produções agrícolas assentam no cultivo de ce-reais, forragens e vinha, assim como na cultura do pinheiro e do eucalip-to e na produção de leite. Ao nível industrial, as atividades exercidas relacionam-se fundamentalmente com a indústria têxtil e do vestuário, a indústria do calçado e a indústria da construção civil, as quais geram cerca de 47% do volume de negó-cios total. A mais representativa de todas é a indústria têxtil e do ves-tuário, que absorve 33% do volume de negócios do concelho.

20Braga apresenta uma estru-tura produtiva relativamen-

te diferente dos outros concelhos em análise. A sua atividade econó-mica distribui-se pelos setores do comércio e os serviços, do ensino e a investigação, da construção civil, da informática e as novas tecnolo-gias, do turismo, e por vários ramos da indústria e do artesanato. Como consequência da sua expansão ur-bana e da terciarização da economia local, o setor primário tem atual-mente uma presença testemunhal.

As empresas ligadas à vinicultura, à floricultura e à floresta e à extração de pedra, foram sendo substituídas por empresas ligadas ao setor ter-ciário. A agricultura tradicional está em franco declínio, cingindo-se cada vez mais a uma atividade para auto-consumo. A sua indústria apresenta--se cada vez mais diversificada, destacando-se as empresas ligadas à tecnologia e eletrónica, à indústria metalúrgica e à construção civil. Com menor presença mas da mesma for-ma representativos, destacam-se o setor têxtil e do vestuário. No total, estas indústrias representavam, em 2010, 24% das empresas do conce-lho, 62% do volume de negócios e ocupavam 50% da população ativa.

21À semelhança do que acontece em Barcelos, em

Guimarães a indústria têxtil e do vestuário é também a mais relevan-te na estrutura setorial do concelho, de acordo com os vários indicadores comummente utilizados. 19% das empresas vimaranenses perten-cem ao setor, o qual é responsável por 37% do emprego no concelho. Apesar do ligeiro decréscimo no número de empresas e no número de trabalhadores ao serviço nos últi-mos anos, em 2010, o setor obteve um volume de negócios de cerca de 1.000 milhões de euros, representa-tivos de 30% do total concelhio. Em Guimarães, a indústria do calçado também tem uma presença muito destacada.

22No concelho de Vila Nova de Famalicão, o setor industrial

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tem um peso muito significativo. Contudo, em algumas freguesias do concelho, o setor primário ainda tem alguma importância. As culturas predominantes são a vinha, o milho, o feijão, os produtos hortícolas e as árvores de fruto, assim como a criação de pecuária. Também neste concelho, a indústria têxtil e do vestuário é preponderante. Esta in-dústria é responsável por aproxima-damente 16% do total de volume de negócios do concelho (628 milhões de euros) e emprega cerca de 30% dos trabalhadores.

23O Norte domina as transa-ções com o exterior, sendo

responsável, em 2011, por 37% das exportações nacionais. Segue-se Lisboa, com um peso de 33%. Na comparação com o ano preceden-te, o Norte perdeu peso (-0,3 p.p.), enquanto Lisboa o incrementou em 3,1 p.p. Em conjunto, estas duas NUT II foram responsáveis por 70,4% das exportações nacionais, em 2011.

24As empresas localizadas no Quadrilátero são responsá-

veis por cerca de 9% das exporta-ções portuguesas (cerca de 4.045 milhões de euros) e 4% das impor-tações nacionais (aproximadamente 2 mil milhões de euros). 25% das exportações do Norte são realizadas por empresas localizadas nos con-celhos que compõem o Quadrilátero. Os países da União Europeia são os parceiros comerciais de eleição das empresas deste território, represen-tando 87% das suas exportações e 71% das suas importações.

25No Quadrilátero, os principais mercados de destino das exporta-ções, em 2011, foram a Alemanha, a Espanha, a França e o Reino Unido. Estes quatro países de destino representaram 65% das exporta-ções dos quatro concelhos, asseme-lhando-se ao que acontece ao nível nacional.

i. A Alemanha lidera as expedições em Barcelos, Braga e Vila Nova Famalicão, seguindo-se a Espa-nha, a França e o Reino Unido. Por sua vez, as expedições efetuadas por empresas de Guimarães têm como principal destino a Espanha, a França, o Reino Unido e a Alema-nha. A Bélgica, a Itália e os Países Baixos assumem-se igualmente como importantes destinos das exportações, contudo os seus níveis de importância diferem de concelho para concelho.

ii. O mercado angolano apresenta--se relevante para as expedições efetuadas por Braga e Guimarães, recebendo 5% e 2% das exporta-ções, respetivamente. Por sua vez, o mercado norte-americano mostra--se mais atrativo para as empresas de Guimarães e Vila Nova de Fama-licão, concentrando 6% e 4% das expedições, respetivamente.

iii. No concelho de Barcelos são exportadas essencialmente maté-rias-primas (74%), seguindo-se o calçado (14%) e, com menor peso, os plásticos e borrachas (3%). Estes três produtos compõem 91% dos bens exportados pelo concelho

iv. As exportações efetuadas por empresas bracarenses incluem-se maioritariamente na categoria de máquinas e aparelhos (64%), o que confirma a importância da indústria eletrónica neste município. O segun-do grupo de produtos mais vendidos no exterior são as matérias-primas (13%), das quais uma grande pro-porção está relacionada com vestu-ário e os seus acessórios. Pode-se constatar ainda a importância dos metais comuns nas exportações deste concelho (11%).

v. As exportações de Guimarães pertencem à categoria de matérias--primas e suas obras, as quais en-volvem dois terços das vendas totais ao exterior (66%), seguindo-se o calçado (15%) e os metais comuns (7%). Estes dados confirmam a relevância da indústria têxtil e do vestuário, do calçado e da metalúr-gica e metalomecânica na atividade económica do município.

vi. O padrão das vendas ao exterior em Vila Nova de Famalicão assume contornos similares aos dos restan-tes municípios. Este concelho expor-ta, fundamentalmente, material de transporte (50%), matérias-primas (25%) e, em menor medida, máqui-nas e aparelhos (7%).

26O conceito de cluster está sujeito a diversas

interpretações. As vantagens da clusterização derivam dos fluxos de informação sobre mercados, produtos e tecnologia, da existência de fornecedores e clientes espe-cializados e da disponibilidade de

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recursos humanos em quantidade e com as habilidades requeridas pelos setores de atividade que integram o cluster. Estas vantagens podem resultar da acumulação de experiên-cias, saber-fazer, conhecimentos e formas de organização e trabalho, formais ou informais, ou da sua promoção institucional a partir dos recursos territoriais, potenciando-os e orientando-os para a obtenção de ganhos de competitividade indivi-duais ou coletivos. Acresce ainda que essas vantagens, do ponto de vista territorial, não têm porque se concentrar num único setor. Aliás, é razoável pensar que o seu desenvol-vimento pode envolver mais setores de atividade, relacionados de forma direta ou indireta, que podem usu-fruir de vantagens similares, poten-ciando ainda mais a competitividade do território em questão.

27A institucionalização do cluster permite definir

estratégias comuns de maneira formal e implementar planos ope-racionais, setoriais ou transversais, para garantir o seu cumprimento. Os motores da institucionalização do cluster são variados, ainda que na literatura especializada habitual-mente se aponte o desenvolvimento de atividades de I&D e a potencia-ção da dimensão internacional das empresas. A cooperação institucio-nalizada através do cluster permite às empresas partilhar custos e obter sinergias de diversa natureza.

28Das forças do Quadrilátero, destacam-se a existência

de infraestruturas de excelência ao nível das telecomunicações e da rede rodoviária que facilitam a comunicação e as relações empresa-riais com outros mercados nacionais e internacionais. O território apre-senta também um forte know-how em setores como o calçado, o têxtil e vestuário, e, mais recentemente, no setor das tecnologias de informação e comunicação, nos quais possui vantagens competitivas em relação aos seus concorrentes internacio-nais.

29No que respeita às fra-quezas, destaca-se uma

estrutura produtiva em fase de transição da produção de bens de baixo valor acrescentado, a reduzida dimensão das empresas, com níveis de competitividade e internacionali-zação ainda insuficientes, a falta de liderança económica, política e insti-tucional no território e a inexistência de estruturas de apoio à internacio-nalização de base territorial.

30Ao analisar as oportuni-dades e ameaças que o

território enfrenta realça-se, entre as primeiras, o ambiente empreen-dedor que envolve várias entida-des regionais, nomeadamente as instituições de ensino superior e os centros tecnológicos, assim como a existência de sistemas de incentivos à I&D, que propiciam o desenvol-vimento da capacidade inovadora do território e a criação de novas empresas. Por outro lado, a crise económica e financeira nacional e a forte concorrência de outras re-

giões apresentam-se como grandes ameaças às atividades desenvolvi-das no território.

31A metodologia aplicada na presente investigação

envolveu, num primeiro momento, a recolha e seleção de literatura teó-rica e empírica, tanto nacional como internacional, com especial desta-que para a consulta efetuada em re-vistas especializadas e para a leitura de outra informação complementar. Numa segunda fase, entendeu-se desenvolver uma análise qualitativa suportada em estudos de caso. A recolha de dados para a elabora-ção deste trabalho teve por base a entrevista, por se entender ser uma técnica por excelência para os estu-dos de caso, possibilitando a obten-ção de experiências acumuladas, testemunhos, opiniões e confissões dos entrevistados.

32Os resultados das entre-vistas foram tratados em 5

subcapítulos.

i. O Quadrilátero e condições da envolvente: questões relacionadas com as valências mais importantes do território, como infraestruturas, pessoas, vias de comunicação, con-texto político, fiscal e económico.

ii. Clusters e cooperação em rede: a importância das estratégias de cooperação entre as empresas que constituem o tecido produtivo do Quadrilátero;

iii. Empreendedorismo e renovação do tecido empresarial: as condições oferecidas pelo território ao nível da

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inovação e do empreendedorismo e as áreas de atividade com maior potencial de desenvolvimento no território, bem como as ações que poderiam ser desenvolvidas para fomentar a geração de ideias e a criação de projetos empresariais de elevado valor científico e tecnológi-co.

iv. Investigação, desenvolvimento e inovação: a utilidade e a relevância da ligação entre as empresas e as entidades do Sistema Científico--Tecnológico Nacional para o desen-volvimento de produtos e serviços de elevado valor acrescentado.

v. Fatores críticos na afirmação internacional: o processo de in-ternacionalização das empresas instaladas no território, o poten-cial do território para a atração de Investimento Direto Estrangeiro e o papel e o trabalho desenvolvido pelos organismos com competências na área.

33Um dos objetivos deste estudo passa por projetar

um conjunto de estratégias e ações futuras de promoção do Quadrilá-tero com vista à sua internacionali-zação e à atração de Investimento Direto Estrangeiro. Definiram-se 6 vetores estratégicos considerados basilares para a melhoria das condi-ções existentes e para a criação de um ambiente favorável à dinâmica e crescimento do tecido empresarial.

34Vetor estratégico 1 - Definir para o território do Quadri-

látero um modelo institucional e de

governança: o Quadrilátero carece de uma estrutura de governação supramunicipal e de um modelo de institutional governance. Um mode-lo de governança implica lideranças fortes e capazes de articular ações coletivas e interesses comuns. O processo de tomada de decisão para ser eficaz, tem necessariamente de ser ágil, devendo ter como base um conjunto de princípios estratégicos previamente discutidos e estabe-lecidos. A questão institucional em torno do Quadrilátero é de particular importância, na medida em que a estrutura que possa dar resposta às estratégias de cooperação acorda-das ou a acordar entre os quatro mu-nicípios, tem de estar capacitada e apetrechada dos recursos essenciais à prossecução dos objetivos que lhe estejam atribuídos.

35Vetor estratégico 2 - Es-pecializar uma estrutura

regional no marketing territorial e na internacionalização do território: Apesar de a AICEP ser o organismo responsável pela internacionaliza-ção das empresas portuguesas e por encorajar as empresas internacio-nais a olhar para Portugal como um bom local para se investir, considera--se que a sua ação não consegue dar uma resposta satisfatória e adequa-da às características intrínsecas de territórios específicos. A existência de uma estrutura dedicada à inter-nacionalização do Quadrilátero, teria como principais objetivos fornecer um conjunto ímpar de serviços e informações para as empresas insta-

ladas neste território e para aquelas que estejam a ponderar internacio-nalizar os seus produtos e serviços. Estes serviços de facilitação e acon-selhamento e a disponibilização de eventuais estudos setoriais poderão reduzir e minimizar os tão referidos custos com a obtenção de informa-ção que as empresas enfrentam no seu processo de internacionalização.

36Vetor estratégico 3 - Pro-porcionar uma maior ligação

entre entidades do Sistema Científi-co - Tecnológico Nacional e o tecido empresarial: Para que a ligação entre as entidades do Sistema Científico - Tecnológico Nacional e o tecido empresarial fosse mais efetiva e profícua, seria conveniente definir um modelo de transferência de conhecimento que envolvesse as partes mas cujos resultados fossem devidamente partilhados através de um modelo de exploração defini-do a priori e que proporcionasse vantagens mútuas. O território deverá ser promovido numa lógica restrita, definindo claramente em que domínios ou setores apresenta vantagens comparativas. Só através da focalização em determinadas áreas será possível fomentar a com-petitividade e a atratividade deste território de forma eficaz e eficiente. Aqui, o papel da Universidade do Minho e das outras instituições de ensino ou investigação do território é fundamental, tendo em conside-ração as suas funções na formação de recursos humanos altamente qualificados e as infraestruturas de

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I&D que deverão estar à disposição do tecido empresarial.

37Vetor estratégico 4 - Criar redes/espaços de excelência

para fomentar o empreendedorismo e os negócios: É importante criar as condições para que os negócios inovadores prosperem e floresçam. Neste aspeto, o modo de funciona-mento das instituições económicas e políticas é essencial, na medida em que são responsáveis por estabe-lecer os incentivos às empresas e aos indivíduos. Neste sentido, a realização continuada de ações de sensibilização e informação ligadas ao empreendedorismo e a criação de espaços informais de partilha de experiências entre empresários e investigadores constituiriam gran-des contributos para este propósito. Sugere-se a criação de um clube de empresários de elite/referência no território e/ou a criação de um espa-ço aprazível (se possível em contex-to universitário, mas onde exista facilidade de acesso e parques de estacionamento), que facilitasse um clima informal entre professores/in-vestigadores, empresários e inves-tidores. A criação de uma infraes-trutura ou programa especialmente dirigido para angariar fundos e capital (fundraising) neste território, é igualmente uma ação crucial para fomentar e criar condições ótimas para o sucesso das start ups.

38Vetor estratégico 5 - Garan-tir um sistema integrado

de mobilidade e de transportes nos quatro concelhos do Quadrilátero:

O território do Quadrilátero carece de condições de mobilidade susten-tável, tanto aos níveis intraurbano como interurbano, as quais são fundamentais para a criação de um espaço de vida comum para cida-dãos e empresas. Nesta linha de pensamento, torna-se necessário desenvolver e gerir um sistema de transporte integrado e intermodal, capaz de proporcionar melhorias significativas na mobilidade das pessoas e bens. Atualmente, o Qua-drilátero não salvaguarda as infraes-truturas necessárias à dinâmica empresarial e, apesar das grandes melhorias verificadas ao nível das vias de comunicação, persistem algumas deficiências, nomeada-mente ao nível das ligações ferro-viárias. Estes aspetos revestem-se de particular importância para o território, dado que minimizariam o facto de ser um território, ainda que geograficamente próximo, afastado em termos logísticos dos grandes portos de embarque e desembarque de mercadorias.

39Vetor estratégico 6 - Pro-mover a qualificação e

atratividade do ambiente urbano do Quadrilátero: O conceito de cidade passou a implicar qualidade na vida urbana, nomeadamente no que se relaciona com a estética, os valo-res e o convívio entre pessoas. O território do Quadrilátero em geral e as cidades em particular, ao promo-verem a relação com o exterior não podem descurar a necessidade de assegurar a dolce vita e as compo-

nentes culturais e criativas. Para isso, é fundamental requalificar as cidades e reabilitar os seus centros históricos, efetuando uma progra-mação cultural integral verdadeira-mente articulada, associada a novos modelos culturais e de revitalização da urbe. Questões culturais, organi-zacionais e ambientais entram agora na equação da atratividade de uma região, lançando novos desafios aos diversos atores locais que necessi-tam de promover o seu território e atrair os recursos que lhes garantam maior competitividade, rumo ao crescimento sustentado do territó-rio onde se inserem.

40A importância de um traba-lho desta natureza assenta

no contributo que pretende dar para o crescimento, desenvolvimento e internacionalização de um território com base numa estrutura em rede que abreviadamente se denomina por Quadrilátero. Neste sentido, constatou-se a necessidade de uma visão estratégica agregadora e capaz, vocacionada para facilitar, dinamizar e aumentar a competitivi-dade do território e a internacionali-zação do seu tecido empresarial. Ao longo deste estudo, foram identifi-cadas e estudadas as oportunida-des a explorar para o Quadrilátero, apresentando-se propostas para o rumo a seguir e elencando-se uma panóplia de ações capazes de desenvolver os vetores estratégicos definidos, num contexto de facilita-ção do aparecimento a prazo de uma nova economia, que incorpore mais

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valor acrescentado para o território.

41Das principais conclusões destaca-se a necessidade

de trabalhar na criação de uma liderança clara para o Quadrilátero. Enfatiza-se e aconselha-se a exis-tência de uma estrutura regional dedicada à internacionalização e ao marketing territorial, que se foque essencialmente na atração de Inves-timento Direto Estrangeiro, no apoio à internacionalização de empresas locais e na promoção internacional do território.

42Para promover as ideias inovadoras, a Investigação

& Desenvolvimento e a competiti-vidade, é importante criar redes e espaços de excelência para fo-mentar o empreendedorismo e os negócios no território, definindo-se um modelo de transferência de tec-nologia das universidades para as empresas. Sugere-se ainda a criação de um fundo de capital de risco para apoiar a criação de empresas de base tecnológica e inovadoras no Quadrilátero, o fomento de políticas de empreendedorismo no território, uniformizando-as em torno de um sistema de inovação com capaci-dade para gerar negócios de valor acrescentado. Na vertente de I&D destaca-se, por exemplo, a neces-sidade de existir uma maior ligação entre as entidades do Sistema Científico-Tecnológico Nacional e o tecido empresarial.

43Para garantir as infraestru-turas necessárias à dinâ-

mica empresarial nos quatro conce-

lhos que compõem o Quadrilátero, considera-se igualmente funda-mental a adoção de uma estratégia de promoção, de requalificação e de gestão coletiva dos espaços de acolhimento empresarial existentes no território. Na ótica da mobilidade, destaca-se a importância de ajustar o sistema de transportes públicos e privados ao território do Quadriláte-ro como um todo e, no longo prazo, equacionar a implementação no território de uma plataforma logísti-ca multimodal.

44No que se refere à cultura e à arte, destaca-se a impor-

tância de articular a oferta cultural das quatro cidades, de promover programas internacionais de inter-câmbio com cidades inteligentes e criativas e, a prazo, requalificar os centros históricos, tornando-os atrativos para uma população jovem e cosmopolita.

45Dada a sua natureza e importância, este trabalho

tem como objetivo servir de contri-buto para a valorização de vetores estratégicos numa sub-região como o Baixo Minho num país como Portugal. Revela-se extremamente importante para o tecido empresa-rial a articulação com outros agentes que favoreçam a capacitação tec-nológica e a competitividade. Tendo em conta a perspetiva estratégica baseada na Sociedade do Conhe-cimento, é impossível descurar a abordagem da temática em causa no âmbito do Minho como “Região do Conhecimento”, dada a importância

de harmonização de políticas, recur-sos e competências.

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1. Introdução1.1. NOTA INTRODUTÓRIA

À medida que os mercados internos se abrem às transações comerciais e ao capital estrangeiro, as regiões urbanas ficam cada vez mais expos-tas às forças globais e às influên-cias da conjuntura externa. Por um lado, encontram-se mais expostas a ameaças externas mas, por outro lado, podem desenvolver as suas próprias estratégias de competiti-vidade e penetrar em novos mer-cados a nível mundial. Tornando-se mais competitivas, podem garantir melhores qualidade e nível de vida à sua população (Webster e Muller,

2000).

Assim, segundo Webster e Muller (2000), a competitividade territo-rial de uma região/cidade depende da sua capacidade em produzir e comercializar bens (tangíveis) e serviços (intangíveis) com um valor superior ao dos bens e serviços produzidos noutras regiões urbanas, seja através do preço, qualidade ou inovação associada. A capacidade de criar conhecimento e de o integrar em novos produtos e processos produtivos e organizacionais, ou em novas soluções materiais e imate-

riais (inovação), aparece como es-sencial para aumentar a atratividade e sustentabilidade dos territórios.

A competitividade de um território não provém apenas da competitivi-dade das empresas que nele estão instaladas e da sua capacidade de interação. As redes formais e infor-mais de inovação e conhecimento, o capital social e a confiança insti-tucional, são agentes coletivos que assumem uma importância crescen-te. Desta forma, a aferição do nível de competitividade de um determi-nado território requer uma análise a

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diferentes níveis, que se interligam e se auto influenciam, passando tanto por fatores tangíveis como por fatores intangíveis, de difícil deter-minação, não sendo portanto fácil medir a sua competitividade.

Nos dias que correm, para se poder ser competitivo, é necessário uma aposta efetiva na diferenciação e/ou na criação de algo novo e, por isso, a inovação passou a ser um fator-chave. A pressão e exigên-cia do mercado motivam cada vez mais as empresas para a busca de vantagens competitivas diferen-ciadoras. Diferenças ao nível dos valores, evolução histórica, tradição industrial, papel do governo e dos agentes locais, são tudo fatores que influenciam a competitividade terri-torial. Mais do que dos seus recursos territoriais, a competitividade de um território depende da sua capacida-de em transformá-los em vantagens competitivas diferenciadoras e geradoras de valor.

O desenvolvimento está cada vez mais “territorializado e isso im-plica atuações mais relevantes dos agentes económicos, sociais, culturais e administrativos a nível local e regional - municípios, em-presas e associações empresariais, sindicatos, organizações de defesa do ambiente e do património, etc. Todos exercem poderes reais. A par dos poderes fácticos, de natureza corporativa, os agentes territoriais contribuem muito para que os go-vernos nacionais tenham cada vez menos poder” (Ferreira, 2007:32).

Em consequência, impõe-se uma reflexão sobre o desenvolvimento regional do Quadrilátero na ótica da competitividade e da internacio-nalização do território que envolva todos os agentes direta ou indireta-mente associados e que tenha como objetivo garantir que o património de recursos e o leque de oportuni-dades das futuras gerações sejam superiores aos disponíveis para as gerações atuais. Daí a importância de estudar, na ótica da estratégia e da competitividade, o território do Quadrilátero, projetando-o enquan-to rede, isto é, parceria de atores e espaço de concertação económica, social, institucional, tendo como principal objetivo catapultar o terri-tório para novos patamares de de-sempenho e de projeção de imagem que lhe potenciem a competitivida-de e fomentem a internacionaliza-ção e, logo, a internacionalização de todo o seu tecido empresarial.

O Quadrilátero constitui um projeto inovador a nível nacional. Através da Associação de Municípios de Fins Específicos - Quadrilátero Urbano, criada em fevereiro de 2010, este projeto encontra-se em ação nos municípios de Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova Famalicão, e conta com a participação de entida-des de relevo para a região como a AIMinho - Associação Industrial do Minho, o CITEVE - Centro Tecnológi-co da indústria têxtil do vestuário de Portugal e a UMinho - Universidade do Minho.

A materialização de um projeto des-

ta natureza revela-se fundamental para o desenvolvimento e para a competitividade territorial, tirando o máximo partido das sinergias, ex-ternalidades e economias de escala geradas. De acordo com o PEC - Pro-grama Estratégico de Cooperação (assinado em 2008), o projeto “Um Quadrilátero Urbano para a Compe-titividade, a Inovação e a Internacio-nalização” propunha-se a “potenciar a relação entre um modelo urbano policêntrico qualificado e inovador nas práticas de governança urbana e territorial e uma estratégia de competitividade e internacionaliza-ção da base económica sustentada em competências e recursos para a inovação gerados a partir da ligação entre os tecidos científicos, de for-mação, tecnológico e empresarial”.

O presente estudo, denominado “Internacionalização do Quadrilátero e Projeção de Estratégias Futuras de Promoção do Território” visa, por um lado, identificar e avaliar os proje-tos de internacionalização bem--sucedidos das empresas localizadas neste território e, por outro lado, estabelecer um conjunto de estra-tégias e ações futuras de promoção territorial com vista à sua internacio-nalização e à atração de IDE - Inves-timento Direto Estrangeiro. De uma forma geral, o estudo propõe-se a estabelecer um modelo de interven-ção concertado entre os municípios de Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão que apoie a internacionalização do tecido empresarial e também a captação de

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Índice de Competitividade Índice de Coesão Índice Qualidade ambiental

investimento para este território.

Este trabalho encontra-se organi-zado em nove capítulos. No capítulo 2 faz-se uma contextualização do território português, através de uma abordagem que vai do geral para o particular, onde se analisa o desen-volvimento regional do país e, mais concretamente o enquadramento político, económico, social e tecno-lógico do território do Quadrilátero. A análise ao tecido empresarial e a estratégia territorial, focando os principais setores de atividade, os mercados internacionais de refe-rência, a lógica de clusters empre-sariais e a identificação das forças e fraquezas, das oportunidades e ameaças é feita na terceira parte do estudo. Casos bem-sucedidos ou com potencial de sucesso, no que à internacionalização diz respeito, foram selecionados, estudados e comparados no quarto capítulo deste estudo.

A título de proposta, nos capítulos cinco e seis identificam-se os veto-res críticos para a promoção do Qua-drilátero, expõe-se um conjunto de possibilidades para viabilizar ações no terreno que sustentem as opções estratégicas defendidas e reúnem--se as principais conclusões.

Agradece a colaboração e a dispo-nibilidade de todas as entidades envolvidas no presente estudo, com particular destaque para as empresas que aceitaram ser caso de estudo, disponibilizando algum do

seu tempo para a partilha de infor-mação, experiência e saber. Todos os seus contributos e a riqueza da informação partilhada constituem uma importante mais-valia para o resultado final deste trabalho e para o cumprimento dos objetivos traçados.

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2. O território nacional2.1. O DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Com o objetivo de contextualizar o desempenho das regiões, apresen-tam-se e comentam-se os valores dum índice de desenvolvimento, enquanto ferramenta válida para a aferição das divergências regio-nais. O INE - Instituto Nacional de Estatística - procedeu à elaboração do ISDR - Índice Sintético de Desen-volvimento Regional, que visa medir o desenvolvimento regional em Portugal. Ao sintetizar o desenvolvi-mento regional nas diversas verten-tes (económica, social e ambiental), o indicador proposto possibilita, por

um lado, uma visão multidimensio-nal do desenvolvimento regional e, por outro, captar a complexidade do desenvolvimento através da hetero-geneidade dos perfis sub-regionais (INE, 2013). O ISDR assenta numa estrutura tridimensional em que o desenvolvimento de cada região re-sulta da ponderação de três índices temáticos parciais, concebidos com base numa matriz de 65 indicadores. São eles os seguintes:

- Índice de Competitividade: preten-de captar o potencial em termos de recursos humanos e de infraestru-

turas físicas de cada sub-região para o seu desempenho em termos de competitividade, assim como o grau de eficiência na trajetória seguida, medido pelos perfis educacional, profissional, empresarial e produti-vo, e, ainda, a eficácia na criação de riqueza e a capacidade demonstrada pelo tecido empresarial para compe-tir no con texto internacional. Este índice agrupa 25 indicadores, entre os quais, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, a produtividade do trabalho, a relação entre as exporta-ções e o PIB, a densidade populacio-

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nal, a taxa de penetração da banda larga e as despesas em I&D - Inves-tigação e Desenvolvimento no VAB - Valor Acrescentado Bruto;

- Índice de Coesão: reflete o grau de acesso da população a equipamen-tos e serviços coletivos básicos de qualidade, os perfis conducentes a uma maior inclusão social e a eficá-cia das políticas públicas, traduzida no aumento da qualidade de vida e na redução das disparidades terri-toriais. Agrega 25 indicadores, dos quais se destacam a esperança de vida à nascença, a taxa quinquenal de mortalidade infantil, o índice regional de rendimento familiar por habitante, o índice de juventude, a taxa de retenção no ensino básico, a taxa de criminalidade, o número de médicos ao serviço nos centros de saúde por 1.000 habitantes e a taxa de fecundidade na adolescência;

- Índice de Qualidade Ambiental: está associado às pressões exerci-das pelas atividades económicas e pelas práticas sociais sobre o meio ambiente numa perspetiva vasta, que se estende à qualificação e ao ordenamento do território, aos res-petivos efeitos sobre o estado am-biental e às consequentes respostas económicas e sociais em termos de comportamentos individuais e de implementação de políticas públicas. O índice incorpora 15 indicadores, como, por exemplo, a qualidade da água para consumo humano, a qualidade do ar, a eficiência poten-cial do processo de urbanização, o consumo doméstico de água por

habitante servido e a eco-eficiência (INE, 2013).

Tanto o indicador sintético de de-senvolvimento regional como os três índices parciais temáticos fornecem uma base de comparação normaliza-da e relativizada da dimensão regio-nal à escala das NUT - Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins

estatísticos - II e III face à média nacional (valor 100 dos índices em apreço).

De acordo com os valores do IDSR, entre 2004 e 2010, 21 das sub--regiões convergiram relativamente à média nacional. No âmbito da competitividade destacam as assi-metrias entre o Litoral e o Interior, registando o índice correspondente valores mais elevados no Litoral. Esta dicotomia prevalece no relati-vo à qualidade ambiental, embora neste caso no índice corresponden-te ao Interior apresenta desempe-nhos mais favoráveis. No âmbito da coesão, o espaço continental central

apresenta-se mais compacto e equilibrado face às sub-regiões con-tinentais do Interior Norte e do Sul e às regiões autónomas insulares.

Figura 1 - Índice sintético de desenvolvimento regional (2010)Fonte: INE, 2013

Em 2010 apenas 5 das 30 sub--regiões superavam a média nacional do índice sintético de desenvolvimento regional: Grande Lisboa (109,46), Cávado (100,75), Baixo Vouga (100,32), Minho-Lima (100,11) e Grande Porto (100,10). O Ave e o Pinhal Litoral ficavam pouco abaixo da média nacional.

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Figura 2 - Competitividade, Coesão e Qualidade Ambiental (2010)Fonte: INE, 2013

Relativamente ao índice de competitividade, apenas 4 sub-regiões se posicionaram acima da média nacional, nomeadamente: Grande Lisboa (119,95), Grande Porto (104,19), Baixo Vouga (103,07) e Ave (100,52). No índice de coesão, 17 das 30 sub-regiões destacaram-se das demais: Baixo Mondego (107,52), Alentejo Central (106,72), Serra da Estrela (106,21), Grande Lisboa (105,26), Médio Tejo (104,68), Alto Alentejo (104,18), Pinhal Litoral (103,15), Península de Setúbal (103,01) e Grande Porto (102,51). Quanto ao índice de qualidade ambiental, são 19 as sub-regiões que apresentam valores acima da média, das quais destacam:

Serra da Estrela (111,76), Alto Alentejo (109,50), Douro (107,38), Alto Trás-os-Montes (106,88), Beira Interior Norte (106,86), Região Autónoma da Madeira (106,64), Cova da Beira (105,64), Tâmega (105,02), Pinhal Interior Sul (104,94), Baixo Alentejo (104,93).

Tendo em consideração os valores do ISDR entre 2004 e 2010, pode afirmar-se que existe uma eleva-da correlação entre os índices de competitividade e de coesão e o índice sintético de desenvolvimento regional. Em contrapartida, a cor-relação entre o índice de qualidade ambiental e o índice sintético de desenvolvimento regional é muito

reduzida. Das principais conclusões sobre os índices calibrados, o INE destaca as seguintes:

- “No que respeita ao índice de com-petitividade, os valores apurados apontam para um retrato territorial da competitividade em que se des-tacam dois espaços centrados nos territórios metropolitanos de Lisboa e do Porto, que contrastam com o restante território nacional e, em particular, com o Interior continental;

- No que se refere ao índice de coe-são, os resultados obtidos refletem um retrato territorial mais equili-brado, que evidencia um espaço continental central mais coeso, em comparação com as NUT III do

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Interior Norte e do Sul e das Regiões Autónomas;

- Quanto ao índice de qualidade ambiental, os resultados apurados retratam uma imagem territorial em que as NUT III do Interior continental em geral apresentam valores mais elevados. A Serra da Estrela apre-senta o índice de qualidade am-biental mais elevado (111,76)” (INE, 2013:1).

Figura 3 - Índices de Competitividade, Coesão e Qualidade Ambiental (2010)Fonte: INE, 2013

A Grande Lisboa é a única sub--região que se situa acima da média em todos os índices parciais que constituem o ISDR. Por contraponto, o Alentejo Litoral, o Algarve, Entre Douro e Vouga e Dão-Lafões são as únicas sub-regiões que apresentam valores abaixo da média em todos os índices. De acordo com o INE

(2013), o facto de não haver mais sub-regiões com comportamentos homogéneos em todos os índices afigura-se expectável tendo em consideração as tensões entre os fenómenos representados em cada uma das componentes, o que é revelador da complexidade do desenvolvimento regional, quando interpretado sob uma perspetiva multidimensional.

2.2. ENQUADRAMENTO DO QUADRILÁTERO

Na análise das estratégias de desen-volvimento o espaço tem um papel fundamental. A racionalidade da organização espacial e o aproveita-mento das dinâmicas regionais são essenciais para explicar o sucesso ou insucesso das estratégias de competitividade territorial. A orga-nização espacial e a racionalização política das dinâmicas regionais devem enquadrar-se num processo de construção botton-up de médio e longo prazo.

O quadrilátero está inserido na NUT

II Norte. A região Norte de Portugal possui uma área de 21.287 km2 e uma densidade populacional de 175 habitantes/km2. Caracteriza-se por uma forte concentração da popula-ção no litoral; a nível urbano verifica--se um forte contraste entre o litoral e o interior. O Norte abrange oito sub-regiões NUT III Norte: Minho-

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-Lima, Cávado, Ave, Grande Porto, Tâmega, Entre Douro e Vouga, Dou-ro e Alto Trás-os-Montes.

O Norte caracteriza-se, do ponto de vista espacial, pela existência de cinco tipos de áreas: i) a Área Metro-politana do Porto (AMP) que tem o seu centro na cidade do Porto e que constitui um espaço maioritaria-mente urbano com fortes relações de interdependência funcional in-terna; ii) uma mancha urbano-indus-trial descontínua, de algum modo envolvente da mencionada área metropolitana do Porto, integrada por cidades de pequena e média di-mensão (à escala nacional), algumas das quais têm vindo a desenvolver novas funções terciárias, e por contínuos rururbanos, sem funções claramente definidas, que garan-tem, em certa medida, a existência de alguma consistência em termos espaciais entre os núcleos mais qualificados; iii) uma área de conso-lidação urbana, a nordeste da área metropolitana do Porto, com dinâmi-cas territoriais, produtivas e de pres-tação de serviços tendencialmente autónomas, que se consubstanciam no Quadrilátero de desenvolvimento constituído pelas cidades de Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão e Barcelos, o qual se vê progressiva-mente reforçado pela atração que estes locais exercem sobre as áreas envolventes próximas; iv) áreas de intermediação, onde prevalecem os conflitos no uso dos solos, escassa dotação de infraestruturas básicas e espaços urbanos fragmentados e

desqualificados, e onde a dicotomia urbano-rural atinge uma expres-são significativa; e, v) áreas rurais, afastadas das pressões urbanísticas e industriais, caracterizadas por uma estrutura económica frágil, pelos baixos níveis de prestação de serviços e pelas dificuldades de articulação com os centros urbanos mais próximos.

A região Norte evidencia um padrão urbano policêntrico, desequilibrado em termos espaciais, com uma de-ficiente articulação entre os dife-rentes níveis hierárquicos e carente de suficientes centros de dimensão intermédia com capacidade para as-sumir as funções correspondentes em termos hierárquicos. A estrutura urbana da área metropolitana do Porto apresenta uma policentri-cidade difusa, ainda que a cidade central, o Porto, e a aglomeração desestruturada de Gaia, se desta-quem relativamente às centralida-des envolventes.

As centralidades “periféricas” apre-sentam uma diversidade elevada: o quadrilátero de desenvolvimento referido, no qual a cidade de Braga assume um papel hierárquico de ordem superior, diferencia-se pela sua crescente afirmação; os centros do Vale do Sousa caracterizam-se pela fragilidade da oferta urbana e a incapacidade de, pelo menos um deles singularmente, oferecer servi-ços mais qualificados e destacar-se em termos hierárquicos; e a cidade de Viana do Castelo releva-se pelas valências ambientais, turísticas e de

lazer, resultantes de um processo de requalificação urbana cujos resul-tados começam a evidenciar-se em termos de atratividade.

A AMP tem um núcleo central que se tem vindo a expandir e que vem questionando o conceito de cidade tradicional. Em torno deste núcleo urbano central emerge uma coroa em expansão, onde o urbano tem prevalência sobre outras formas de ocupação do solo e se assis-te à emergência de fenómenos de periurbanização. No contexto territorial adjacente a este espaço desenvolve-se uma mancha difusa urbano-industrial, com povoamento disperso, dinâmicas populacionais e construtivas bem significativas e morfologia urbana fragmentada. Outros espaços urbanos progres-sivamente mais integrados, como o Quadrilátero, têm consolidado as malhas urbanas respetivas, qualifi-cando e diversificando a sua oferta de serviços, e melhorando a sua po-sição em termos hierárquicos, ainda que as funções de ordem superior e os serviços avançados que se lhe associam continuem, em grande medida, reservados para os espaços centrais da AMP.

Em termos funcionais, a região Norte caracteriza-se por uma alta diversidade funcional e por ele-vados índices de terciarização. A consolidação de espaços urbanos funcionalmente mais autónomos tem implicações para os espaços centrais da AMP, os quais têm reve-lado certa dificuldade para manter

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a sua centralidade competencial e o seu status funcional, vendo-se obrigados a partilhá-los com outras centralidades tendencialmente mais dinâmicas, como o Quadrilátero.

O território em estudo apresenta-se como um espaço territorial denso, no qual é possível identificar um elevado número de áreas com uma forte componente urbana. A aglo-meração urbana do Porto emerge progressivamente mais vocacionada para os setores de serviços em geral, para a logística e para as atividades associadas ao conhecimento, à cul-tura e ao lazer. Por sua vez, o Quadri-látero é um território especializado em comércio, serviços, indústria, educação, investigação e desenvol-vimento, património e turismo. Na faixa mais litoral, que vai de Vila do Conde até Caminha, passando por Póvoa de Varzim, Esposende e Viana do Castelo, o nível de especialização é, no essencial, turístico, ambiental e de lazer. Nos territórios fronteiriços, o nível de especialização do aglome-rado constituído por Valença e Tui assenta nas relações transfrontei-riças e nas atividades de transporte de mercadorias, ainda que a ativida-de industrial tenha ganho um peso considerável nos últimos anos.

No âmbito da região Norte, a organi-zação do território pode responder a outros critérios menos formais. Neste contexto, o território noroes-te da região constitui o Minho. Esta região responde a elementos de organização vinculados à tradição e ao entendimento endógeno da

existência de certa homogeneidade paisagística, social e cultural. Esta região, que ocupa uma superfície de 4.885 km2 (que representa 5,5% do território nacional), é composta por dois distritos, os quais dividem a região em Baixo Minho e Alto Minho: o distrito de Braga e o distrito de Viana do Castelo, respetivamente. O Minho encontra-se limitado a Norte e a Nordeste pela Galiza, a Este por Trás-os-Montes e Alto Douro, a Sul pelo Douro Litoral e a Oeste pelo Oceano Atlântico. A área geográfica da região minhota não se apresen-ta muito expressiva se comparada com a densidade populacional que representa. Apesar de existir certo grau de heterogeneidade do ponto de vista demográfico e económico, numa perspetiva cultural, a re-gião apresenta-se homogénea no relativo aos seus usos e costumes, às suas tradições e aos seus valores morais.

O Minho, enquanto território, abran-ge quatro NUT III (Minho-Lima e Cávado na sua totalidade e parte do Ave e do Tâmega) e 24 municípios, nomeadamente:

- Distrito de Braga: Amares, Bar-celos, Braga, Esposende, Terras de Bouro, Vila Verde, Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Vizela, Cabeceiras de Basto e Celorico de Basto; e,

- Distrito de Viana do Castelo: Ar-cos de Valdevez, Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Valença, Viana

do Castelo e Vila Nova de Cerveira.

O Quadrilátero enquadra-se no Minho, nomeadamente no denomi-nado Baixo Minho. O território do Quadrilátero estende-se por uma área de 1.004,90 km2 e tem uma população total de aproximadamen-te 600 mil habitantes, distribuída pelos quatro concelhos de forma relativamente equitativa. Assume--se como um espaço de bastante relevo a nível nacional, uma vez que representa cerca de 6% da popu-lação nacional e concentra 35% da população residente na região Norte.

O Quadrilátero encaixa-se numa área geográfica limítrofe da Galiza. Esta região espanhola possui uma superfície de 29.575 km2 (6% da área total de Espanha), uma popula-ção de 2,8 milhões de habitantes e uma estrutura produtiva diversifica-da, com setores tradicionais moder-nos e empresas bem posicionadas nos seus respetivos setores de atividade. A Euro-região constituída pela Galiza e o Norte de Portugal constitui um espaço de forte inte-ração social, económica e cultural, sendo, por isso, um importante foco de desenvolvimento a vários níveis. Para facilitar o seu enquadramento, a Figura 4 destaca o território do Quadrilátero no mapa de Portugal.

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Figura 4 - O território do QuadriláteroFonte: PORDATA

A rede de equipamentos, de infraes-truturas e as vias de comunicação à disposição das empresas configuram uma valência muito importante de um território. Ao longo de mais de 25 anos de aplicação de fundos comunitários em Portugal, mate-rializou-se um forte investimento nestas áreas por parte dos suces-sivos governos. Desde a adesão de Portugal à EU - União Europeia, em 1986, o Norte, classificada como uma região de coesão, tem benefi-ciado de importantes apoios finan-ceiros comunitários, dirigidos aos mais variados setores de atividade pública e privada, no âmbito das

políticas estruturais e de coesão. Apesar dos grandes investimentos efetuados, nomeadamente no do-mínio infraestrutural, e das políticas públicas implementadas persistem défices em certas áreas que difi-cultam a integração e articulação territorial, condicionam as dinâmicas de desenvolvimento, lastram a com-petitividade empresarial e atrasam a necessária coesão económica e social.

Existe evidência empírica na lite-ratura que corrobora que, na maior parte dos casos, as regiões assisti-das por massivas injeções de fundos comunitários não têm revelado capacidade suficiente para crescer para além dos patamares de assis-tência (Rodríguez-Pose e Fratesi, 2004). O único domínio onde é possível identificar efeitos positivos no médio-prazo é na educação e no desenvolvimento do capital huma-no. Rodríguez-Pose e Fratesi (2004) indicam ainda que em áreas periféri-cas, com uma base económica frágil e vulnerável e com uma estrutura empresarial pouco dinâmica, o investimento em infraestruturas para melhorar as acessibilidades não é uma condição suficiente para garantir o seu desenvolvimento. Aliás, a adoção desta política implica normalmente o incremento do grau de exposição à concorrência de empresas tecnologicamente mais fortes e avançadas, oriundas de regiões centrais, com consequências negativas sobre o tecido empresarial local.

No território do Quadrilátero veri-ficaram-se melhorias significativas no domínio das infraestruturas de transporte e comunicação que facili-tam a mobilidade interna e a ligação com o exterior, melhorando a com-petitividade de empresas e setores (Figura 5). Em média, as cidades do Quadrilátero distam entre si cerca de 20-25 km, estando a menos de 30 minutos de distância-tempo. O terri-tório usufrui de boas ligações rodo-viárias, sendo as principais conexões rodoviárias a A7, a A3 e a A11. A au-toestrada A7 facilita a mobilidade no eixo Oeste-Este, e a ligação à A24, que garante a conexão do litoral com Espanha. A autoestrada A3, no eixo Norte-Sul, é uma conexão prioritária nas ligações ao Porto e à fronteira de Valença (a mais movimentada do país). Por sua vez, a autoestrada A11 facilita as ligações dos concelhos de Braga e Guimarães e a conexão com a autoestrada A28, que faz a ligação do Litoral Norte. A rede de autoes-tradas existente liga as cidades do Quadrilátero por autoestrada, de forma direta em quase todos os casos.

Em comparação com a rede de autoestradas, a rede ferroviária está bastante menos desenvolvida e o seu contributo para a articulação entre as quatro cidades é pratica-mente marginal, destacando-se, por exemplo, o facto de Guimarães apenas possuir conexão ferroviária direta com umas das restantes três cidades que compõem o Quadriláte-ro (Vila Nova de Famalicão). Ao nível

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das ligações aéreas e marítimas, importa referir a proximidade com os aeroportos do Porto e de Vigo e com os portos marítimos de Leixões, de Viana do Castelo e de Vigo. Estas infraestruturas de transporte são cruciais para o desenvolvimento do território, dado que facilitam a circu-lação de pessoas e a mobilidade/es-coamento de mercadorias, nomea-damente das produções da indústria transformadora localizada na região. Ainda no âmbito das infraestruturas, convém destacar a existência de inúmeros parques industriais e em-

presariais nos quatro concelhos que compõem o Quadrilátero. A oferta destes equipamentos é muito hete-rogénea, convivendo infraestruturas dotadas de boas condições gerais e boas acessibilidades, com outras mal concebidas e mal localizadas.

A mobilização dos fundos estrutu-rais permitiu melhorar também a qualificação dos recursos humanos,

a dotação de serviços das empresas e a modernização tecnológica do tecido produtivo. Apesar dos pro-gressos efetuados, persistem impor-tantes défices nestes domínios, que convém colmatar nos próximo anos. Para tal afigura-se fundamental a melhoria da concertação institucio-nal dos vários agentes do território com vista à definição de uma es-tratégia territorial competitiva que garanta a efetividade das políticas adotadas e a aplicação eficiente dos recursos disponíveis.

Figura 5 - Infraestruturas de comunicação de ligação do QuadriláteroFonte: Programa Estratégico de Cooperação (2008)

2.2.1. CONTEXTO POLÍTICO E INSTITUCIONAL

O Quadrilátero é constituído por quatro concelhos e subdivide-se num total de 269 freguesias. Os quatro municípios têm autonomia executiva, administrativa e finan-ceira, e estão governados pelas respetivas Câmaras Municipais. Desde o ano 1976, os concelhos de Braga e Guimarães são governados por presidentes do partido socia-lista. Vila Nova de Famalicão, pelo contrário, é governada, desde 2001 por um presidente da coligação PPD/PSD-CDS/PP, tendo uma tradição política de alternância entre parti-dos de centro-esquerda e de centro--direita. Nas eleições autárquicas de 2009, em Bacelos assistiu-se à mudança do partido que estava à frente da edilidade, tendo sido eleito um presidente do partido socialista, pondo termo a 20 anos de executi-vos social-democratas.

O Estado português tem uma estru-tura político-administrativa extre-mamente centralizada. No enqua-dramento português não há espaço para regiões político-administrati-vas, com poderes e competências próprias e com representantes políticos eleitos pelas populações residentes nos seus territórios. O Estado português é portanto um estado desconcentrado, no qual as Comissões de Coordenação e Desen-volvimento Regional (CCDR) ope-ram como delegações do governo central, com escassas competências

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

próprias, que neste momento se circunscrevem, quase em exclusivo, à gestão dos programas operacio-nais e ao licenciamento ambiental. Apesar das várias tentativas de descentralizar o Estado português, dividindo o país em várias regiões político-administrativas, a sua

concretização está longe de ser uma realidade. A descentralização tem enfrentado obstáculos de diversa natureza, sobretudo pela falta de um modelo predefinido e a desin-formação social sobre um processo que poderia melhorar a tomada de decisões políticas e a afetação de recursos públicos. As tentativas de pseudo-descentralização promovi-das pelos diferentes governos, des-de finais da década de noventa, têm ficado muito aquém das expectati-vas, pelas dificuldades de definição da escala territorial de intervenção e de auto-organização dos agentes territoriais, a escassez de recursos para desenvolver as diversas inicia-tivas e a falta de um quadro legal suficientemente estável.

Neste contexto, no ano de 2008 foi criada a figura das Comunidades Intermunicipais (CIM). O objetivo destas associações de municípios é conjugar, promover e articular interesses comuns dos municípios que as integram. Surgem, desta forma, como mais um organismo

com competências e responsabilida-des no desenvolvimento e projeção dos seus associados. Neste quadro legal, foi constituída, nesse mesmo ano, a CIM do Cávado, que engloba os concelhos de Amares, Braga, Bar-celos, Esposende, Terras de Bouro e Vila Verde. Mais tarde, em 2009, foi criada a CIM do Ave, que engloba os municípios de Fafe, Vizela, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Cabe-ceiras de Basto, Mondim de Basto, Guimarães e Vila Nova de Famalicão.

Com a finalidade de ilustrar a dimen-são dos municípios que integram o Quadrilátero e simultaneamente caracterizar a situação das suas finanças, apresenta-se na Figura 6 uma comparação da sua estrutura financeira. Os dados revelam uma

contenção dos orçamentos muni-cipais, na generalidade dos casos, com exceção de Guimarães, que no ano de 2011 expandiu consideravel-mente o seu orçamento. Neste caso, essa expansão poderá estar explica-da pela realização, no município, da Capital Europeia da Cultura 2012.

Figura 6 - Câmaras municipais do Quadrilátero: despesas, receitas e saldo (2009-2011)Fonte: PORDATA

2.2.2 CONTEXTO SOCIAL E DEMOGRÁFICO

Em termos demográficos o Quadri-látero é um território predominante-mente urbano, com grandes espaços rururbanos, e com uma elevada densidade populacional. Em 2011, a sua densidade populacional era de 591 habitantes/km2, um valor muito superior ao nacional de 115 habitan-tes/km2, e ao da região Norte de 173 habitantes/km2. A nível concelhio

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observam-se diferenças assina-láveis. Braga tem uma densidade populacional de 990 habitantes/km2, Vila Nova de Famalicão de 664 habitantes/km2, Guimarães de 656 habitantes/km2 e Barcelos de 318 habitantes/km2.

Figura 7 - População Residente no Quadrilátero (1981-2011)Fonte: INE

Entre 2001 e 2011, a evolução da população no Quadrilátero foi bas-tante positiva, graças aos aumentos populacionais de Braga e Vila Nova de Famalicão, que conseguiram compensar os decréscimos regista-dos em Barcelos e Guimarães. Am-pliando o período inter-censal aos últimos 30 anos (1981-2011), para ter uma perspetiva mais abrangen-te, observa-se um crescimento da população residente muito significa-tivo em todos os concelhos (Figura 7).

De acordo com os dados dos Cen-sos de 2011, a população total do

Quadrilátero atingiu os 593.841 habitantes, um aumento de 4% face a 2001. As mulheres representavam cerca de 52% da população residen-te e os homens os 48% restantes. Na última década, a população residente em Braga aumentou em

aproximadamente 11%, tratando-se do segundo maior acréscimo a nível nacional (seguindo-se ao município de Cascais). Este crescimento elevou Braga, com cerca de 182 mil habi-tantes, à sétima posição do ranking populacional dos municípios portu-gueses, ultrapassando o município de Matosinhos.

Em 2012 o grupo etário dos maiores de 64 anos representava cerca de 14% da população total (Figura 8). Por sua vez, o grupo dos jovens até aos 14 anos representava aproxima-damente 16% da população resi-dente. O índice de envelhecimento do território, que traduz a relação entre a população idosa e a popu-lação jovem, é de 79,9. Este valor demonstra que se trata de um terri-tório jovem, quando comparado com

a média nacional (128,6), com uma proporção de cerca de 80 indivíduos com 65 ou mais anos por cada 100 indivíduos com idade inferior a 15 anos. O índice de sustentabilidade potencial apresenta também um valor positivo, com uma média de 5

indivíduos em idade ativa por cada idoso.

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Figura 8 - Distribuição da população do Quadrilátero por grupos etários (2011)Fonte: PORDATA

Entre 2001 e 2011 verificou-se um reforço do envelhecimento demo-gráfico no território do Quadrilátero. Em 2001 o índice de envelhecimen-to era de aproximadamente 55 (55 residentes com idade superior a 65 anos por cada 100 residentes com menos de 15 anos). Também nesse ano, o grupo etário “maiores de 64 anos” representava 10,6% da popu-lação residente e o grupo etário dos “jovens até aos 14 anos” tinha um peso de 19,3% na população total.

Em 2011 a taxa de natalidade do país situava-se nos 9,2‰ e na região Norte nos 8,5‰, ou seja, 8,5 nados-vivos por cada 1.000 residentes. As taxas de natalidade dos concelhos do Quadrilátero foram superiores às da região Norte. Braga apresentou a taxa mais elevada, com cerca de 10 nados-vivos por cada

1.000 residentes, enquanto os res-tantes municípios registaram uma taxa de 8,9‰ (quase 9 nados-vivos por cada 1.000 residentes). Estes valores são inferiores aos registados em 2001. Em 2000, Barcelos e Braga apresentavam taxas de natalidade de 14,0‰, Guimarães de 13,6‰ e Vila Nova de Famalicão de 13,3‰. Relativamente à taxa de fecundida-de, em 2011, a taxa de fecundidade no país foi de 38,6 nados-vivos por cada 1.000 mulheres entre os 15 e os 49 anos (idade fértil), enquanto na região Norte ficou-se pelos 34,6. No Quadrilátero foi de 34,0‰ e em Braga de 36,8‰.

A taxa de mortalidade tem vindo a diminuir ao longo dos anos. Em 2011, a taxa de mortalidade no país foi de 9,7‰ e na região Norte de 8,6‰. Nos quatro concelhos que compõem o Quadrilátero registam--se taxas de mortalidade substan-cialmente mais baixas que no país e na região Norte: 5,9‰ em Braga, 6,8‰ em Guimarães, 6,9‰ em Barcelos e 7,1‰ em Vila Nova de

Famalicão.

Todos estes fatores contribuíram para o aumento da população ao longo dos últimos anos. Os valores positivos da taxa de crescimento natural, que expressa a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade, corroboram as varia-ções positivas da população residen-te nos quatro municípios. Apesar dos seus valores serem muito baixos, entre 2010 e 2011 houve uma ligeira melhoria em todos os concelhos, a exceção de Vila Nova de Famalicão. Para o conjunto do país esta taxa apresenta sistematicamente, desde 2007, valores negativos ou nulos. A região Norte registou em 2011, pela primeira vez, nas últimas décadas, uma taxa de crescimento natural praticamente nula.

No que se refere ao saldo migra-tório, em 2011, Braga apresentou pela primeira vez, nas últimas duas décadas, um valor negativo, ou seja, as entradas de população foram inferiores às saídas. Contrariamente, Vila Nova de Famalicão apresentou

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um saldo migratório positivo. Os restantes concelhos do Quadrilátero, à semelhança do que acontece no conjunto da região Norte, exibem saldos migratórios negativos desde o início do milénio. O saldo migra-tório é igualmente um bom indica-dor para avaliar a atratividade das diferentes regiões para as popula-ções estrangeiras ou pertencentes a outras regiões nacionais. Nesta dimensão, à exceção de Vila Nova de Famalicão, pode-se concluir que o território do Quadrilátero não é atra-tivo para a captação de população.

A análise da evolução do saldo na-

tural e do saldo migratório permite perceber se as variações popu-lacionais são mais influenciadas pelo efeito natural (nascimentos e óbitos) ou pelo efeito migratório. Em Portugal, até 2009, o acréscimo de população é explicado pelos valores positivos do saldo migratório, que compensou, em alguns anos, o valor mais negativo do saldo natural. No Norte, os decréscimos populacionais registados estão em grande medida explicados por um saldo migratório muito negativo. Quando se compa-ram estes dois indicadores em cada um dos quatro concelhos (Figura 9), conclui-se que, entre 2005 e 2011,

os decréscimos populacionais nos concelhos de Barcelos e Guimarães foram influenciados maioritaria-mente pela existência dum saldo migratório negativo. Contrariamen-te, os crescimentos populacionais dos concelhos de Braga e Vila Nova Famalicão são explicados pela conju-gação dos saldos naturais e migrató-rios positivos, verificados em vários dos últimos anos.

Figura 9 - Saldo natural e saldo migratório no Quadrilátero (2005-2011)Fonte: INE

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Na análise social do território importa analisar os aspetos ligados à qualificação e à capacidade de cap-tar e fixar população com habilita-ções literárias superiores. O Norte destacou-se ao longo de várias décadas pelas baixas qualificações da sua população ativa. As ativida-des agrícolas, sobretudo a agricultu-ra de subsistência e minifundiária, as atividades de construção civil e as atividades industriais mão-de-obra intensivas geraram, durante déca-das, um grande número de ofertas de trabalho sem grandes requisitos ao nível de formação secundária e superior. Estas circunstâncias fizeram com que esta região apre-senta-se, nesse período, um dos piores desempenhos em matéria de qualificação dos recursos humanos. Este paradigma tem-se modificado nos últimos anos, em parte, por via da diminuição da população em-pregada no setor primário, que se transferiu para o setor secundário, onde os salários são apesar de tudo mais elevados e onde há exigências mínimas de escolaridade. Simul-

taneamente, a terciarização da economia tem gerado uma procura crescente de recursos humanos com níveis mais elevados de formação, que acabou por incentivar a popula-ção a melhorar as suas qualificações profissionais para ir ao encontro dos requerimentos de uma economia mais complexa do ponto de vista se-torial. Adicionalmente, a adoção de políticas públicas, à escala nacional, destinadas a aumentar a escolarida-de e as qualificações da população, contribuiu significativamente para o aumento das qualificações literárias da população do território.

Em 1981 o setor primário empregava 10% da população ativa dos quatro concelhos do Quadrilátero. Em 2011 o setor passou a empregar apenas 1% dos ativos. O setor terciário ocupava 27% da população ativa em 1981 e passou a ocupar 54% em 2011. Neste território o setor secundário tem assumido persis-tentemente uma importância muito significativa. Entre 1981 e 2001, em-pregou mais de 50% da população ativa, enquanto em 2011 represen-

tava 45% do emprego total.

As habilitações da população do Quadrilátero alteraram-se significa-tivamente entre 1981 e o momento atual. A redução da população sem qualquer nível de escolaridade foi substancial (Figura 10). Em 2011 representava aproximadamente 8% da população total. Braga é o município que apresenta o pior desempenho neste domínio. Entre 1981 e 2011, a população com ensino secundário e ensino superior aumentou substancialmente. Nesse período o aumento da população com ensino secundário foi superior a 1000%, passando-se, grosso modo, de 7.000 indivíduos em 1981 para 72.000 indivíduos em 2011. Este crescimento foi mais ou menos uniforme nos quatro municípios do Quadrilátero.

Figura 10 - Distribuição da população por nível de escolaridade no Quadrilátero (1981-2011)Fonte: PORDATA

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Em 2011, 28% da população do Quadrilátero possuía escolaridade ao nível do 1º ciclo do ensino básico, 20% ao nível do 3º ciclo e 17% ao nível do 2º ciclo. Os indivíduos com ensino secundário representam

aproximadamente 15% da popula-ção do Quadrilátero, destacando-se o município de Braga com cerca de 17% da população com habilitações deste tipo. O concelho de Braga é também o que dispõe de uma maior proporção de pessoas com ensino superior, cerca de 19% do total, seguindo-se o concelho de Vila Nova de Famalicão com 10% do total. No total do Quadrilátero, cerca de 12% da população possui habilitações ao nível do ensino superior.

A população feminina foi predomi-nante entre os alunos matriculados em instituições de ensino superior nos quatro concelhos do Quadrilá-tero, entre 1990 e 2012. De acordo com a DGEEC - Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, os alunos matriculados nesse perío-do escolheram fundamentalmente três áreas de educação e formação:

ciências sociais, comércio e direito; engenharia, indústrias transfor-madoras e construção; e, ciências, matemática e informática.

A melhoria nos níveis de qualifica-

ção da população no Quadrilátero deriva sobretudo da perceção da importância e valor de uma forma-ção escolar sólida. Resultou também do desenho e implementação de políticas públicas a nível nacional destinadas a escolarizar e manter no sistema educativo os mais novos durante mais tempo. Neste contex-to, destaca o sucessivo aumento da escolaridade mínima obrigatória ao longo dos anos. A escolaridade obri-gatória estabelecida para os indiví-duos que nasceram antes de 1967 era o 1º ciclo, tendo aumentado para os 6 anos de escolaridade (2º ciclo) para os indivíduos nascidos entre 1967 e 1980. A partir de 1981 e para todos os indivíduos nascidos após esta data, passou a ser obrigatório o 9º ano de escolaridade (3º ciclo). Mais recentemente, a escolaridade obrigatória foi prolongada para o 12º

ano de escolaridade (secundário).

Tabela 1 - População por nível de escolaridade no Quadrilátero (2011)Fonte: PORDATA e DGEEC

O aumento do número de univer-sidades públicas e privadas e o aumento do nível de vida das popu-lações contribuiu igualmente para a manutenção durante mais tempo dos jovens no sistema de ensino. O aumento substancial da popu-lação com ensino superior poderá ser, em certa medida, justificado pela abertura em Braga do Polo da Universidade Católica Portuguesa, em 1967, e da UMinho, em Braga e Guimarães, em 1973. Entre 1981 e 2001, o aumento neste segmento de população foi superior a 500%, e, entre 2001 e 2011, foi de cerca de 120%. A abertura, na década de 80 e 90, de universidades privadas e de institutos politécnicos no território contribuiu igualmente para o au-mento do nível médio de escolarida-de da população aí residente. A este nível, destaca-se a Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão,

SEM NÍVEL DE ESCOLARIDADE

BÁSICO 1º CICLO

BÁSICO 2º CICLO

BÁSICO 3º CICLO

SECUNDÁRIO MÉDIO SUPERIOR

Barcelos 9% 30% 21% 20% 12% 0,7% 7%

Braga 7% 22% 13% 20% 17% 0,9% 19%

Guimarães 9% 31% 16% 20% 13% 0,7% 9%

Famalicão 9% 29% 18% 20% 14% 0,9% 10%

Quadrilátero 8% 28% 17% 20% 15% 0,8% 12%

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a CESPU - Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário, também em Vila Nova de Famalicão, e o IPCA - Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, em Barcelos. No âmbito da permanência no sistema

de ensino convém destacar também a redução da taxa de abandono es-colar verificada nas últimas décadas. A título de exemplo, na região Norte, entre 2002 e 2011, verificou-se uma redução de 27 p.p. na taxa de aban-dono precoce.

A taxa de desemprego no Quadrilá-tero tem apresentado uma evolução ascendente, entre 2008 e 2012, apenas interrompida por uma pe-quena diminuição em 2011 (Figura 11). Segundo os dados do IEFP - Instituto de Emprego e Formação Profissional, em 2012, havia 45.000 desempregados inscritos nos Cen-tros de Emprego dos concelhos do Quadrilátero, mais 8.000 trabalha-dores que em 2011 e mais 17.000 que em 2008.

Figura 11 - Evolução do número de inscritos no IEFP por grupo etário no Quadrilátero (2008-2012)Fonte: Cálculos próprios com base no IEFP

No Quadrilátero, o desemprego afe-ta maioritariamente ao grupo etário dos 35 anos 54 anos seguido do dos maiores de 55 anos, em todos os municípios. Os concelhos de Braga e de Guimarães são os mais afetados, em termos absolutos, pelo desem-prego. O desemprego registado afe-ta 15.135 trabalhadores em Braga e 14.213 em Guimarães.

O desemprego feminino representa 53% do desemprego total no Qua-drilátero. O desemprego de longa duração também tem uma expres-são significativa neste território. Em 2012, no conjunto do país, 41% dos desempregados se encontravam inscritos nos Centros de Emprego há pelo menos 12 meses. No Norte, esta percentagem situava-se nos 21%. No Quadrilátero o desemprego

de longa duração afetava cerca de 46% dos desempregados.

A incidência do desemprego difere também entre indivíduos, em fun-ção dos seus níveis de qualificação. A população mais qualificada é a

menos afetada pelo desemprego. Em 2012, do total de desemprega-dos registados em Portugal, 12,8% possuíam ensino superior, 24% en-sino secundário e 59% habilitações ao nível do ensino básico. A região Norte apresenta um fraco desempe-nho ao nível do desemprego quali-ficado, dado que concentra 40% do total de desempregados registados no país com habilitação superior. Lis-boa e o Centro concentravam 34% e 18%, respetivamente, e as regiões do Alentejo e do Algarve, em conjun-to, menos de 10% dos inscritos com formação superior.

No contexto do Quadrilátero, o grupo de trabalhadores com habi-litações ao nível do 1º ciclo são os mais afetados pelo desemprego. Em 2012, este grupo representa 30%

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do total de desempregados. Os de-sempregados com ensino superior representam 11% do desemprego total no Quadrilátero.

Figura 12 - Evolução do número de inscritos no IEFP por nível de ensino no Quadrilátero (2008-2012)Fonte: Cálculos próprios com base no IEFP

Para aferir os níveis de bem-estar da população do Quadrilátero recorreu--se ao Indicador do Poder de Compra per Capita (IpC). Este indicador tem a vantagem de permitir efetuar com-parações a nível municipal e regional no contexto do país. De acordo com dados de 2009, as regiões metropo-litanas de Lisboa (145,25) e do Porto (115,04) e alguns concelhos noutras regiões do país são os que apresen-tam os valores mais elevados neste indicador. O indicador médio para a região Norte é de 87,6. Nos quatro municípios que compõem o Quadri-látero observa-se alguma heteroge-

neidade, sendo Braga o que apre-senta o valor mais elevado (105,59), superior, por tanto, à média nacional (100). Quanto aos restantes, Bar-celos apresenta o valor mais baixo (67,49), seguido de Guimarães (79,78) e de Vila Nova de Famalicão (82,37). De acordo com o INE, existe uma relação positiva entre o grau de urbanização das unidades territo-

riais e o poder de compra efetivo. Esta evidência justificaria, em certa medida, o valor registado em Braga.

2.2.3. CONTEXTO ECONÓMICO E EMPRESARIAL1

A região Norte contribui em cerca de um terço para a formação do PIB

1 A ausência de dados disponíveis para cada um dos quatro municípios que compõem o Quadrilátero implicou a realização de uma análise mais ampla, utilizando os dados disponíveis para a região Norte e as NUT III Cávado e Ave.

português. Apesar de possuir uma capacidade exportadora consi-derável (a mais elevada de todas as NUT II), a estrutura produtiva apresentava, até há poucos anos, fragilidades evidentes, derivadas dos baixos níveis de produtividade e do elevado peso de um conjunto de setores intensivos em mão-de-obra, com escassa dotação de capital e

reduzidos níveis de incorporação tecnológica. Estas fragilidades eram ainda mais marcadas nas NUT III Ave e Cávado, devido à elevada con-centração de empresas com essas características, ligadas sobretudo ao setor da construção civil e à indús-tria têxtil e do vestuário, as quais, na primeira metade da década de dois mil, enfrentaram dificuldades acres-cidas como consequência da pujante concorrência dos países de Asia central e sul-oriental, de Europa do leste e, em menor medida, do Norte de África, assim como da profunda contração do mercado interno.

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

De acordo com a CCDRN, o PIB per capita (medido em Paridade de Po-der de Compra) da região Norte não ultrapassava, em 2011, os 64% da média da UE-27. O PIB per capita do Cávado e o Ave representava 62% e 57% da mesma média, respeti-vamente. Na comparação com a média nacional, o posicionamento de ambas as sub-regiões é também desfavorável. No mesmo ano, os níveis de PIB per capita do Cávado e do Ave representavam 78% e 72% da média nacional, respetivamente (índice = 100). Estes dados confir-mam a existência de disparidades significativas nos níveis de riqueza produzida entre regiões. Aliás, da análise da evolução temporal dos mesmos resulta que, ao longo dos anos, se tem assistido a um agravamento das assimetrias de rendimento entre regiões, tanto no contexto do país como no contex-to da UE. Um resultado paradoxal dos últimos vente e cinco anos de política regional comunitária é que as assimetrias de rendimento entre regiões à escala comunitária se têm aprofundado, enquanto entre esta-dos membros se têm esbatido, ainda que de forma relativamente mode-rada. Entre 2000 e 2010, o Norte piorou a sua posição relativa tanto no âmbito do país como no âmbito comunitário. Esta evolução confirma a tendência divergente que esta região portuguesa tinha iniciado na década precedente.

Em 2010, existiam cerca de 58 mil empresas não financeiras com sede

no Quadrilátero. Esse universo inclui sociedades, empresários em nome individual e trabalhadores indepen-dentes. Na Figura 13 apresenta-se a distribuição setorial dessas entida-des, classificadas de acordo com a revisão 3 do CAE - Classificação das Atividades Económicas.

Figura 13 - Empresas por setor de atividade no Quadrilátero (2011)Fonte: PORDATA

No território do Quadrilátero predo-minam as empresas pertencentes aos setores do comércio por grosso e a retalho (26%), às indústrias transformadoras (14%), onde se in-clui a indústria têxtil e do vestuário, e às atividades de consultoria, cien-tíficas, técnicas e similares (10%), onde se enquadram a maior parte das empresas que atuam na área das TIC - tecnologias da informação e comunicação. O setor da constru-ção civil tem também um peso signi-ficativo (8%). Em termos de volume

de negócios, os setores com maior importância são a indústria transfor-madora (41%), o comércio (33%) e a construção civil (13%).

Como referido, a região Norte é a NUT II com maior intensidade expor-tadora do país. Os territórios mais próximos do litoral são os que mais contribuem para as exportações portuguesas, nomeadamente os das NUT III de Entre Douro e Vouga e do Ave. Contrariamente, os menos

dinâmicos em matéria de vendas ao exterior são os territórios do interior Norte, concretamente as NUT III do Douro e de Alto Trás-os-Montes.

O Gráfico 9 mostra a evolução das exportações de mercadorias em valor dos quatro concelhos do Quadrilátero, na década de 2000. Nos primeiros anos, os montantes e repartição inter-concelhia das exportações mantiveram-se rela-tivamente estáveis, ainda que em 2005 se assistisse a um retrocesso

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dos valores exportados nos dois concelhos mais dinâmicos (Guimarães e Vila Nova de Famalicão). Entre 2002 e 2005, o concelho de Braga registou um bom desempenho. A partir desse ano e até 2009, o valor das suas exportações diminui progressivamente, para voltar a crescer novamente em 2010 (cerca de 20% num ano). Apesar de apresen-tar valores de vendas ao exterior superiores aos de Braga, Guimarães mostrou uma evolução similar na segunda metade da década. Até o ano de 2005, Vila Nova de Famalicão foi o segundo concelho mais exportador do grupo. A partir desse ano, o crescimento das suas vendas ao exterior o colocou à frente do ranking neste domínio. Barcelos apresenta os níveis de exportação mais baixos do Quadrilátero (14% do total). Ao longo da série, as exportações do concelho de Barcelos correspondem, em termos médios, a menos de metade (46%) das do concelho de Vila Nova de Famalicão. Guimarães e Vila Nova de Famalicão são responsáveis por 63% das vendas ao exterior de mercadorias do Quadrilátero, e os de Braga e Barcelos pelos 37% restantes.

Figura 14 - Evolução da exportação de mercadorias no Quadrilátero (2001-2010)Fonte: CCDRN

Ao longo das últimas duas décadas o pessoal ao serviço médio das empresas da região Norte tem vindo a diminuir. Esta evolução é consequência, por um lado, dos intensos processos de reestruturação e reorganização empresarial levados a cabo nas grandes empresas de alguns setores e, por outro, do aumento do número de micro e pequenas empresas (que empregam menos de 10 trabalhadores), derivada do crescimento da taxa de iniciativa empresarial. Atualmente, a estrutura empresarial do Cávado e do Ave, em termos de dimensão medida pelo indicador do pessoal ao serviço, é similar à do todo nacional (Figura 15).

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Figura 15 - Dimensão das empresas em função do pessoal ao serviço (2010)Fonte: INE

Na última década, observa-se um in-cremento da capacidade de criação de novos projetos empresariais. De acordo com o INE, a taxa de natalida-de empresarial,2 no Cávado e no Ave, rondava os 14%, no ano de 2008 (último para o que existem dados). Relativamente à taxa de mortali-dade empresarial,3 nestas NUT III situava-se nos 19%, no mesmo ano. Nos anos prévios, a mortalidade em-presarial tinha evoluído desfavora-velmente, dado que passou de 10% em 2004 para 13% em 2007, e para os referidos 19% um ano depois, já depois do início da crise económico--financeira.

Para além da compreensão dos fatores que promovem a iniciativa

2 Proporção de novas empresas no total de empresas no ativo.3 Proporção de empresas que deixam de estar ativas no total de empresas no ativo.

empresarial, a análise das dinâmicas empresariais implica o entendi-mento dos fatores que explicam o sucesso ou a capacidade das novas iniciativas se manterem no merca-do. Em termos quantitativos estes

últimos sintetizam-se na taxa de so-brevivência das empresas. De acordo com o INE, a taxa de sobrevivência empresarial no Cávado e o Ave tem vindo a diminuir. Em 2006, a taxa de sobrevivência das empresas nasci-das nos dois anos precedentes era de 63% no Cávado e de 66% no Ave. Em 2010, essa percentagem se reduziu em cerca de 10 p.p. no Ave, situando-se nos 56%, e em aproximadamente 7 p.p. no Cávado, passando a ser de igualmente de 56%.

A evolução negativa da taxa de sobrevivência empresarial revela que as empresas encontram gran-des dificuldades para permanecer no mercado, por motivos internos ou externos. Entre os primeiros, impu-táveis exclusivamente às empresas, os mais destacados são os défices no planeamento do negócio, na

definição e implementação da estra-tégia e na abordagem do mercado. Entre os externos emergem a fraca qualidade da envolvente empresa-rial e a falta de apoios, assim como a conjuntura económica geral ou

do próprio setor de atividade. Num contexto de crise, como o que se vive há vários anos, a manutenção das empresas no mercado torna-se bem mais difícil, razão pela qual, o número de falências e insolvências de empresas tem vindo a aumentar exponencialmente.

Entre 2009 e 2012 verificaram-se aproximadamente 5 mil dissolu-ções de empresas, nos concelhos do Quadrilátero (PORDATA). O setor dos serviços é responsável por mais de 62% do total. Em 2012 foram comunicadas, no conjunto dos quatro concelhos, 1.283 dissoluções de empresas, uma média de 3,5 dis-soluções por dia. Braga e Guimarães concentraram cerca de dois terços do total de entidades dissolvidas. O rácio número de sociedades consti-tuídas sobre número de sociedades dissolvidas é de cerca de 1,5. Isto

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significa que, mesmo num contexto absolutamente desfavorável em termos de mercado, o número de so-ciedades constituídas é superior ao número de sociedades dissolvidas.

Para além da degradação da ativi-dade económica provocada pela crise, nas várias escalas de análise, as dificuldades de acesso ao crédito têm sido reiteradamente assinala-das pelas empresas como graves entraves para o desenvolvimento e crescimento do seu negócio. Entre 2001 e 2010, houve um crescimen-

to acentuado do crédito concedido aos agentes económicos residentes no Quadrilátero (Figura 16). No ano 2000, o crédito à habitação repre-sentava aproximadamente um terço do total, destinando-se os restantes dois terços a financiar outras ativi-dades de consumo ou investimento. A partir do ano 2009, observa-se uma distribuição equitativa do crédito concedido entre essas duas grandes tipologias. Em termos de montantes, em 2010, o crédito

concedido aproximou-se dos 9 mil milhões euros, mais 4 mil milhões euros que em 2000. Em 2011, o cré-dito concedido diminuiu ligeiramen-te (PORDATA). O concelho de Braga absorveu, ao longo da série, a maior proporção do crédito concedido no contexto do Quadrilátero, seguido do concelho de Guimarães.

Figura 16 - Crédito concedido por tipologia no Quadrilátero (2000-2011)Fonte: PORDATA

2.2.4. CONTEXTO TECNOLÓGICO

De acordo com a UTEN - University Technology Enterprise Network (2012), entre 2005 e 2007, Portu-gal experimentou um pronuncia-do incremento das despesas em I&D, as quais representaram, pela primeira vez, mais de 1,2% do PIB, igualando desta forma os valores de Espanha, Irlanda e Itália. Este aumento significativo é explicado

fundamentalmente pelo esforço das empresas, que mais que duplicaram o seu investimento nestas áreas. Os benefícios fiscais outorgados aos investimentos em I&D levados a cabo pelas empresas (dedução no IRC de até 82,5% do investimento) e a estratégia delineada para o desen-volvimento da ciência e da tecnolo-gia são apontados pela UTEN como os fatores mais importantes para explicar os excelentes resultados alcançados pelo país nesta matéria.

O setor das tecnologias de infor-

mação e comunicação apresenta a percentagem mais alta de pessoal afeto a atividades de I&D, seguido do setor dos serviços, do setor de equipamentos industriais e do setor dos serviços financeiros e de segu-ros. No período compreendido entre 2005 e 2010, observou-se um forte crescimento do pessoal afeto a ativi-dades de investigação nas empresas portuguesas (164%). De acordo com o UTEN (2012), em apenas uma década, Portugal duplicou o número

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de investigadores nas mais diversas áreas de atividade.

Figura 17 - Investigadores a tempo integral nas empresas em Portugal (2005-2010)Fonte: INE

Lisboa e Vale do Tejo e a região Norte são as NUT II do país com maior número de pessoas afetas a atividades de I&D a tempo integral (Figura 17). No lado oposto, encontram-se as regiões do Alentejo e do Algarve. Em 2005, a região Norte ocupava já uma posição favorável, registando o segundo valor mais elevado. Esta evolução confirma a importância crescente que as empresas atribuem ao investimento em I&D, razão pela qual se justifica o desenho de políticas de incentivo a este tipo de atividades, entre as quais as de carácter fiscal devem continuar a ter um papel destacado. Um aspeto interessante sobre o pessoal ao serviço em atividades de I&D nas empresas portuguesas é a predominância dos homens face às mulheres (em média, três quartos versus um quarto), em todas as regiões do país, ao longo da série (Figura 18).

A prioridade estratégica outorgada ao desenvolvimento científico e tecnológico foi igualmente acompanhada por uma forte mobilização da comunidade científica. De acordo com o UTEN (2012), Portugal experimentou um notório crescimento da produção científica, com resultados visíveis a nível internacional, registando um aumento do número de publicações em revistas científicas internacionais.

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Figura 18 - Investigadores a tempo integral nas empresas por género, em Portugal (2005-2010)Fonte: INE

No que diz respeito ao número de doutoramentos realizados e reconhecidos em Portugal, verificou-se tam-bém um aumento considerável (Figura 19). Entre 2000 e 2010, o número de doutoramentos cresceu à volta de 94%. Desde 2008, têm-se registado cerca de 1.500 novos doutoramentos por ano. Convém destacar ainda que, a partir desse ano, a maioria dos doutoramentos foram obtidos por mulheres.

Figura 19 - Doutoramentos realizados e reconhecidos em Portugal (2000-2010)Fonte: DGEEC

De acordo com o UTEN (2012), estas alterações estruturais foram acompanhadas por profundas alterações no ensino superior. As reformas neste nível de ensino permitiram abrir as suas portas à sociedade e a outros grupos sociais, à mobilidade e ao reconhecimento internacional, assim como promover o reconhecimento da diversidade de programas de educação e a diversidade curricular.

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Figura 20 - Evolução de pedido de invenções em Portugal (2007-2012)Fonte: INPI

De acordo com o INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial, Lisboa e Vale do Tejo e a região Norte são as regiões do país com maior atividade inventiva, em oposição ao Alentejo e ao Algarve (Figura 20). Em 2012, 31% dos pedidos de registo tiveram origem na região Norte (212), ficando apenas atrás de Lisboa e Vale do Tejo, a qual foi responsável por 33% dos pedidos (225) (Tabela 2). Em termos relativos, ou seja, ponderando o número de pedidos de registo pela população da NUT II, a região Norte ocupa a quarta posição, atrás, por esta ordem, da região Centro, de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve, com 57 pedidos de registo de invenções por milhão de habitantes.

Tabela 2 - Pedidos de registo de invenções por NUT II (2011-2012)

Fonte: INPI

Na região Norte, 62 dos 212 pedidos de registo de invenções foram requeridos por empresas, 75 por inventores independentes, 40 por universidades e 1 por parte de uma instituição de investigação. Estes dados corroboram a intensa atividade das empresas da região Norte nas atividades de I&D. Em termos percentuais, apenas as empresas

NUT II 2011 2012 % ANUAL % SOBRE TOTAL

PEDIDOS POR MILHÃO DE HABITANTES

Alentejo 27 20 -26% 3% 26

Algarve 31 30 -3% 4% 67

Centro 177 195 10% 28% 84

Lisboa 228 225 -1% 33% 80

Norte 188 212 13% 31% 57

Madeira 6 8 33% 1% 30

Açores 3 3 0% 0,4% 12

Total 660 693 5,0% 100% Média nacional 66

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da região Centro apresentam uma dinâmica similar às do Norte neste domínio, com perto de 30% dos pedidos de registo de invenções totais a nível regional, em ambos os casos.

Entre 1997 e 2010, a UMinho formalizou 100 pedidos de patentes no INPI, 65 dos quais com patente concedida à universidade. Em 2012, a UMinho apresentou 14 pedidos de registo de patentes, ficando atrás da Universidade do Porto, com 18 pedidos, da Universidade de Coimbra e do Instituto Superior Técnico, ambos com 16 pedidos cada um, e da Universidade de Aveiro, com 15 pedidos a dar entrada no INPI. A existência de um grande número de pedidos de patentes registadas e/ou concedidas não significa, porém, que esse conhecimento tecnológico venha a ser aprovei-tado para fins industriais e/ou empresariais. A UMinho destaca-se, nesta matéria, por ser a universidade com mais tecnologia rendibilizada em contextos empresariais, com aproximadamente vinte patentes utilizadas pela indústria.

Para a materialização de um número crescente de invenções e impulsionar os processos de inovação, é de extrema importância manter o esforço de I&D. De acordo com DGEEC (2011),4 na região Norte a despesa total em I&D, no ano de 2010, foi de aproximadamente 735 milhões euros. Este montante é representativo de 27% da despesa total em I&D a nível nacional, nesse ano, apenas ultrapassada por Lisboa e Vale do Tejo. Entre 2005 e 2010, o crescimento deste tipo de despesas foi muito significativo, tendo praticamente triplicado o seu valor nesse período. Nas empre-sas o crescimento foi ainda mais intenso, até tal ponto que, em 2010, 46% do investimento total em I&D, realizado na região Norte, foi executado por empresas (Figura 21). As instituições de ensino superior e investigação foram as segundas em ordem de importância, sendo responsáveis por 38% do investimento total. Estes dados confirmam novamente a dinâmica de investimento neste domínio do setor empresarial da região. Adicionalmente traduz uma atitude mais ativa na utilização de tecnologia e o esforço por acompanhar as novas exigências ao nível de um modelo de desenvolvimento mais competitivo, assente em fatores dinâmicos de competitividade, tais como a tecnologia, a qualidade, a diferenciação, a propriedade intelectual e os recursos humanos qualificados.

Figura 21 - Despesas em I&D na região Norte, por setor de execução (2005, 2009 e 2010)Fonte: DGEEC

4 Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional.

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Apesar das dificuldades de medição do impacte económico das institui-ções de ensino superior nos territó-rios onde se inserem, estas institui-ções são usualmente consideradas como importantes mecanismos de desenvolvimento económico e regional. A transferência de tecnolo-gia dos laboratórios das universida-des para o setor privado e a criação de novas empresas baseadas no conhecimento são aspetos que têm ganho a atenção dos especialistas em desenvolvimento regional.

No Quadrilátero, o contributo da UMinho para o desenvolvimento económico do território, nas últi-mas três décadas, é absolutamente inegável. Desde a sua instalação, em meados da década de setenta, a universidade tem contribuído para a formação de quadros, engenheiros e tecnólogos das empresas da região. Tem igualmente formado muitos dos empreendedores que pilotam inicia-tivas empresariais bem-sucedidas com sede no Quadrilátero e opera-ções nos mercados internacionais. Tem transferido conhecimento, tec-nologia e inovação para as empresas da envolvente através da TecMinho - Associação Universidade-Empresa para o Desenvolvimento. Muitos dos seus departamentos e centros de investigação prestam serviços especializados e de consultadoria às empresas e entidades para-em-presariais da região. Inclusivamente alguns dos seus investigadores, de forma individual ou em conjunto

com alunos e outros empreende-dores locais, têm abraçado projetos empresariais e lançado no mercado start-ups com um elevado poten-cial de crescimento. Por último, a UMinho atua como uma instituição equilibradora no território, criadora de consensos e de articulação das vontades e propostas dos vários agentes sedeados no território, cujo potencial neste domínio está longe de ser esgotado.

À volta da universidade, umas vezes com participação direta e outras indireta, tem-se desenvolvido um ecossistema de apoio ao desenvol-vimento empresarial, constituído maioritariamente por parques tecnológicos e incubadoras empre-sariais. O investimento em infraes-truturas e equipamentos desta na-tureza tinha como principal objetivo criar as condições necessárias para o surgimento de novas empresas, sobretudo de empresas inovadoras de base científica e/ou tecnológica. No âmbito do Quadrilátero, destaca a este respeito o AvePark, sedeado no concelho de Guimarães e for-temente vinculado à UMinho, que

acolhe um conjunto de empresas de base científica ou tecnológica ou cuja atividade precisa da disponibili-dade de excelentes infraestruturas tecnológicas e de comunicação.5 Ao nível das infraestruturas e equipa-mentos para a promoção da ciência e a tecnologia destacam-se tam-bém, pelo seu potencial em termos de investigação, aquando do seu funcionamento a pleno rendimen-to, o INL - Laboratório Ibérico de Nanotecnologia, em Braga, e, pelo seu papel no apoio à qualificação e complexificação do setor tradicio-nal mais importante da região, o do têxtil e do vestuário, o CITEVE, em Vila Nova de Famalicão.

Ao nível de infraestruturas para incubação de empresas, nos con-celhos do Quadrilátero existem várias alternativas promovidas por entidades tanto públicas como privadas. Destacam-se, por exemplo, o Spinpark - Centro de Incubação de Base Tecnológica, inserido no Avepark, em Guimarães; o BICMI-NHO, que integra a rede europeia de Business Innovation Centres (Centros de Inovação Empresarial)

5 O IASP - International Association of Science Parks elenca, por ordem decrescente de importância, as princi-pais razões apontadas pelas empresas quando optam por se localizar num PCT: prestígio e imagem do parque; proximi-dade e cooperação com universidades e outros centros de I&D; localização geo-gráfica (proximidade a importantes vias de comunicação); apoio e presença insti-tucionais; presença de empresas âncora; acesso aos mercados; e, a existência de procura e clientes na área (IASP, 2012).

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e que possui duas incubadoras, uma em Braga e outra em Viana do Castelo; a Ideia Atlântico - Centro de Negócios e Incubadora de Empre-sas, de iniciativa privada e também localizado em Braga, e o Centro de Incubação de Barcelos, resultante de uma parceria entre a ANJE - Associa-ção Nacional de Jovens Empresários e da autarquia de local. Em Vila Nova de Famalicão existe o CAR IDT - Centro de Alto Rendimento de I&DT, que foi promovido pelo CITEVE para incubar iniciativas empresariais que apostem em atividades de I&D como base para o desenvolvimento dos seus negócios.

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3. Competitividade territorial do Quadrilátero3.1. O TECIDO EMPRESARIAL

O tecido empresarial dos conce-lhos que integram o Quadrilátero é eminentemente industrial. O VAB das empresas transformadoras re-presentava, em 2011, praticamente metade do VAB empresarial nesse território (47,14%). Para além do se-

tor transformador destacam ainda, pela sua contribuição para a forma-ção do VAB, o comércio por grosso e a retalho e o setor da construção civil (Figura 22). Os setores de média e alta tecnologia contribuem ainda relativamente pouco para a forma-

ção do VAB do território.

Figura 22 - Repartição setorial do VAB das empresas do Quadrilátero, em % do total (2011)Fonte: PORDATA

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O peso da indústria transformadora é relativamente desigual entre os vários concelhos. Nos de Guimarães e Vila Nova de Famalicão a indústria transformadora é responsável por 52% e 65% do VAB total, respe-tivamente, enquanto em Braga não ultrapassa os 27%. Apesar da importância das empresas ligadas às Tecnologias de Informação e Comunicação ser ainda relativamen-te marginal, também se observam diferenças interconcelhias conside-ráveis. O peso do VAB deste setor no concelho de Braga é de 3%, enquan-to nos restantes municípios a sua importância, medida nos mesmos termos, não ultrapassou os 0,5%. Em outros setores de elevado valor acrescentado, tais como as ativida-des de consultoria científica e téc-nica e as relacionadas com a saúde humana e o apoio social, observam--se também diferenças significativas entre Braga e os restantes conce-lhos que integram o Quadrilátero.

De acordo com o INE, em 2010 o

tecido empresarial do Quadrilátero era constituído por aproximadamen-te 58 mil empresas, das quais 34% se situavam em Braga, 25% em Guimarães, 21% em Vila Nova de Fa-malicão e 20% em Barcelos. No que respeita à densidade empresarial, medida em termos de empresas por cada 1.000 habitantes, Braga apre-senta 181,5 empresas, Guimarães 158,1, Vila Nova de Famalicão 133,8 e Barcelos 98,4. Entre 2004 e 2008, observa-se um crescimento do nú-mero de empresas, tanto em termos agregados como em termos conce-lhios (Figura 23). A partir de 2008, assiste-se a um ligeiro decréscimo no número de empresas, que deverá ser maioritariamente explicado pela grave crise que atravessa a econo-mia portuguesa desde esse ano.

Figura 23 - Evolução do número de empresas no Quadrilátero (2004-2010)Fonte: INE

No ano de 2010, as empresas com sede no território eram responsáveis por 1.157.300 de euros de volume de negócios, o que representa 5% do volume de negócios nacional e 17% do volume de negócios da região Norte. O tecido empresarial do Quadrilátero é constituído predo-minantemente por micro empresas e pequenas e médias empresas (PME). A dimensão das empresas tem reflexo no número de traba-lhadores ao serviço. Devido ao seu reduzido tamanho, a grande maioria das empresas localizadas nos quatro concelhos tem menos de 10 traba-lhadores (95% em Braga, 94% em Vila Nova de Famalicão, 93% em Barcelos e 92% em Guimarães). Os trabalhadores ao serviço destas empresas representam 5% do total nacional e 18% do da região Norte. Do ponto de vista da sua identidade jurídica, uma elevada percentagem das empresas é constituída por empresários em nome individual e trabalhadores independentes.

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Concretamente, estes representam 68% das empresas em Barcelos, 66% em Braga, 65% em Vila Nova de Famalicão e 62% em Guimarães.

3.1.1. SETORES DE ATIVIDADE E TECIDO EMPRESARIAL POR CONCELHO

No Quadrilátero, as atividades em-presariais, que no passado estive-ram intimamente ligadas à agricul-tura e a outras atividades do setor primário, têm vindo reorientar-se progressivamente para as indústrias transformadoras e os serviços. Como referido, a indústria têxtil e do ves-tuário e o setor da construção civil assumem uma importância fulcral

em todos os concelhos do Quadrilá-tero. Em termos tendenciais, obser-va-se que o setor das tecnologias de informação e comunicação está progressivamente a ganhar impor-tância, quer em termos de volume de negócios e número de empresas quer em termos de emprego.

O município de Barcelos baseia as suas atividades económicas essen-cialmente no setor secundário. As

principais produções agrícolas as-sentam no cultivo de cereais, forra-gens e vinha, assim como na cultura do pinheiro e do eucalipto e na pro-dução de leite. Ao nível industrial, as atividades exercidas relacionam-se fundamentalmente com a indústria têxtil e do vestuário, a indústria do calçado e a indústria da construção civil, as quais geram cerca de 47% do volume de negócios total.6 A mais representativa de todas é a indústria têxtil e do vestuário, a qual absor-ve 33% do volume de negócios do concelho.

Tabela 3 - Setores dominantes do tecido empresarial de Barcelos (2010)Fonte: IRN

As principais indústrias do concelho concentram aproximadamente 39% das empresas do município e 62% do emprego. A indústria têxtil e do vestuário é responsável por 40% do emprego em Barcelos, enquanto os setores da construção civil e de produção de calçado representam 18% e 4% do emprego concelhio, respetivamente.

6 Dados do IRN - Instituto dos Registos e Notariado, relativos a ano de 2010.

INDÚSTRIA EMPRESAS TRABALHADORES VOLUME DE NEGÓCIOS % VOLUME DE NEGÓCIOS NO TOTAL

Têxtil e vestuário 1.355 13.955 796.387.637,09 33%

Construção civil 815 6.053 226.204.940,49 11%

Calçado 31 1.287 81.705.215,67 3%

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Tabela 4 - Maiores empresas de Barcelos (2011)Fonte: Diário Económico

POSIÇÃO RANKING NACIONAL

VOLUME DE NEGÓCIOS (€)

EXPORTAÇÕES (€)

Gabor Portugal - Indústria de Calçado, Lda. 374 81.973.160 80.921.122

Alexandre Barbosa Borges, S.A. 534 59.426.061 n.d.

Águas do Noroeste, S.A. 780 42.016.939 n.d.

Petcom - Comércio de Combustíveis e Lubri-ficantes, Lda

992 33.745.038 n.d.

Quatro das 1.000 maiores empresas de Portugal estão localizadas neste município.7 As mais relevantes, em termos de volume de negócios, são a Gabor Portugal - Indústria de Calçado, Lda. (374ª posição), que desenvolve a sua atividade na

indústria do calçado e a Alexandre Barbosa Borges, S.A. (534ª posição), que atua no setor da construção civil (Tabela 4).

7 Diário Económico nº 5569 - 10 dezem-bro de 2012.

A importância das principais indús-trias também se manifesta no vetor da internacionalização. A maioria das empresas internacionalizadas

do concelho de Barcelos opera nestas indústrias (cerca de 39% das empresas), sendo notória a impor-tância da indústria têxtil e do ves-tuário, a qual é responsável por 28% das exportações. Nos últimos anos, é de notar o decréscimo do número

de empresas internacionalizadas, nomeadamente na indústria têxtil e do vestuário. O setor da construção, com uma importância historica-mente forte, tem experimentado também uma variação negativa no número de empresas internacionali-

zadas (Figura 24).

Figura 24 - Empresas internacionalizadas, por setores mais representativos, em Barcelos (2006-2010)Fonte: IRN

De acordo com a APICCAPS,8 Barce-los é o 5º concelho no ranking portu-guês de exportações de calçado e o sexto no de trabalhadores do setor.

8 APICCAPS - Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componen-tes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Nos últimos anos tem-se assistido a um forte crescimento das exporta-ções em valor. Em 2005, as expor-tações de calçado do concelho eram de 45 milhões euros e passaram a ser de 74 milhões euros, em 2010. Esta variação representou um cres-cimento do valor das exportações de 65%, num período de cinco anos.

O concelho de Braga apresenta uma estrutura produtiva relativa-mente diferente dos outros con-celhos em análise. A sua atividade económica distribui-se pelos setores do comércio e os serviços, do ensino e a investigação, da construção civil, da informática e as novas tecnolo-gias, do turismo, e por vários ramos

da indústria e do artesanato.

Como consequência da sua expan-são urbana e da terciarização da economia local, o setor primário tem atualmente uma presença testemunhal. As empresas ligadas à vinicultura, à floricultura e à floresta e à extração de pedra foram sendo substituídas por empresas ligadas ao setor terciário. A agricultura tradicional está em franco declínio,

sendo cada vez mais uma atividade para autoconsumo. A sua indústria apresenta-se cada vez mais diversi-ficada, destacando-se as empresas ligadas à tecnologia e à eletrónica, à indústria metalúrgica e à constru-ção civil. Com menor presença, mas da mesma forma representativos, destacam-se o setor têxtil e do vestuário. No total, estas indústrias representavam, em 2010, 24% das empresas do concelho, 62% do vo-lume de negócios e ocupavam 50% da população ativa.

Tabela 5 - Setores dominantes do tecido empresarial de Braga (2010)Fonte: IRN

O setor da construção civil ocupa um lugar de destaque, integrando 1.404 empresas, com um volume de negócios agregado de 1.409 milhões de euros, correspondente a 27% do volume de negócios total do concelho. O setor conta com 10.191 trabalhadores, destacando-se tam-bém nesta dimensão das restantes indústrias. O setor da metalúrgica e metalomecânica, por sua vez, é

composto por 379 empresas, que empregavam 6.351 trabalhadores, atingindo um volume de negócios de 933 milhões de euros. A indús-tria têxtil e do vestuário tem uma presença relativamente modesta, com um peso de 2% no volume de negócios total do concelho. As atividades ligadas à informática e às novas tecnologias têm vindo a ganhar importância no concelho. O setor da eletrónica9 tem crescido gradualmente a uma taxa média de 7% por ano.

9 Inclui a fabricação de equipamentos informáticos, equipamento para comu-nicações e produtos eletrónicos e óticos (CAE Rev. 3 - Divisão 26)

INDÚSTRIA EMPRESAS TRABALHADORES VOLUME DE NEGÓCIOS

VOLUME DE NEGÓCIOS NO TOTAL

Construção civil 1.404 10.191 1.409.332.560,41 27%

Metalúrgica e Meta-lomecânica

379 6.351 933.695.119,04 18%

Eletrónica 16 2.115 598.550.663,21 11%

Saúde humana 339 3.053 186.816.600,53 4%

Têxtil e vestuário 269 3.224 131.464.233,15 2%

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Tabela 6 - Maiores empresas de Braga (2011)Fonte: Diário Económico

POSIÇÃO RANKING NACIONAL

VOLUME DE NEGÓCIOS (€) EXPORTAÇÕES (€)

Bosch Car Multimedia Portugal, S.A. 32 651.264.100 118.011.824

Ilídio Mota - Petróleos e Derivados, Lda. 71 351.054.834 n.d.

Casais - Engenharia e Construção, S.A. 254 116.343.216 12.652.167

Escala Braga - Sociedade Gestora do Esta-belecimento, S.A.

257 114.764.324 n.d.

Domingos da Silva Teixeira, S.A. 269 111.530.154 199.885

Auto - Sueco, Lda. 371 82.419.728 n.d.

Carclasse - Comércio de Automóveis, S.A. 403 76.279.020 916.987

Navarra - Extrusão Alumínio, S.A. 555 56.909.672 27.531.290

Groupfix N - Engenharia e Serviços, S.A. 683 46.971.299 n.d.

Arlindo Correia & Filhos, S.A 723 45.215.118 n.d.

No ranking das maiores empresas Portuguesas encontram-se várias empresas do concelho (Tabela 5). Por volume de faturação as mais relevantes são a Bosch Car Multime-dia Portugal, S.A., na 32ª posição, e a Ilídio Mota - Petróleos e Derivados, Lda., na 71ª posição. Neste grupo destacam-se ainda um número

significativo de empresas ligadas ao setor da construção civil.

Figura 25 - Empresas internacionalizadas, por setores mais representativos, em Braga (2006-2010)Fonte: IRN

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

As empresas internacionaliza-das distribuem-se pelos vários setores de atividade do conce-lho. A proporção de empresas internacionalizadas é bastante reduzida. Os setores com maior percentagem de empresas internacionalizadas são o da metalúrgica e metalomecânica (8,4%) e o da construção civil (8,2%). Convém destacar ainda, nesta matéria, que a indústria têxtil e do vestuário, apesar de ser responsável por apenas 2% do volume de negócios con-celhio, é o terceiro setor mais internacionalizado do concelho.

Em Guimarães, apesar da riqueza do solo para o desenvol-vimento de atividades agrícolas e das boas condições para a pecuária, as atividades do setor primário baseiam-se no traba-lho intensivo das famílias e des-tinam-se fundamentalmente ao autoconsumo nesses agrega-

INDÚSTRIA EMPRESAS TRABALHADORES VOLUME DE NEGÓCIOS

VOLUME DE NEGÓCIOS NO TOTAL

Têxtil e vestuário 1.716 19.484 1.109.780.639,70 30%

Calçado 266 4.342 216.440.149,95 6%

Construção civil 830 3.663 233.242.802,29 6%

Metalúrgica e Meta-lomecânica

208 3.193 239.408.413,72 6%

Saúde humana 190 2.436 119.299.435,60 3%

Alimentar 69 1.271 60.245.952,38 2%

dos. Entre os principais produtos so-bressaem a vinha, a batata, o milho e o feijão, além de produtos pecuários como o leite e a carne, sendo estas as principais fontes de rendimento das explorações agrícolas. O setor secundário é o mais importante em termos setoriais. Muitas das fregue-sias do concelho são os espaços com maiores índices de industrialização no âmbito do Quadrilátero.

Tabela 7 - Setores dominantes do tecido empresarial de Guimarães (2010)Fonte: IRN

À semelhança do que acontece em Barcelos, em Guimarães a indústria têxtil e do vestuário é também a mais relevante na estrutura setorial do concelho, de acordo com os vários indicadores comummente utilizados. 19% das empresas Vimaranenses pertencem ao setor, o qual é res-ponsável por 37% do emprego no concelho. Apesar do ligeiro decrés-

cimo no número de empresas e no número de trabalhadores ao serviço nos últimos anos, em 2010, o setor obteve um volume de negócios de cerca de mil milhões de euros, representativos de 30% do total do concelho. Em Guimarães a indústria do calçado também tem uma pre-sença muito destacada. Segundo a APICCAPS, o concelho de Guimarães é o 3º maior exportador de calçado, em valor, atrás de Felgueiras e de Santa Maria da Feira, e o 4º maior empregador do país neste setor. Ou-tros setores relevantes na estrutura setorial Vimaranense são os setores da construção civil, da metalome-

cânica, da saúde humana e o setor alimentar (Tabela 7). O conjunto desses setores representa 36% das empresas, 52% do volume de negócios e 65% dos trabalhadores ao serviço no concelho.

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Tabela 8 - Maiores empresas de Guimarães (2011)Fonte: Diário Económico

POSIÇÃO RANKING NACIONAL

VOLUME DE NEGÓCIOS (€) EXPORTAÇÕES (€)

Mundifios - Comércio de Fios, S.A. 370 82.524.886 20.802.282

Polopiqué - Comércio e Indústria de Confecções, S.A

432 71.705.052 70.906.273

Amtrol - Alfa Metalomecânica, S.A. 542 58.486.290 55.120.991

Lameirinho - Indústria Têxtil, S.A. 605 52.895.041 47.785.692

António de Almeida & Filhos - Têx-teis, S.A.

702 46.124.883 29.691.256

A. Rodrigues Correia Lopes, Bebidas e Alimentação, S.A

711 45.783.183 1.339.234

Somelos - Tecidos, S.A. 930 36.081.295 31.291.315

Filasa - Fiação de Armando da Silva Antunes, S.A.

935 35.971.229 2.595.501

Guimarães conta com um conjunto alargado de empresas entre as maiores do país (Tabela 8). Das oito empresas incluídas no ranking das 1.000 maiores, seis estão ligadas à indústria têxtil e do vestuário. As duas maiores, com uma faturação conjunta superior a 150 milhões de euros, são a Mundifios - Comércio de Fios, S.A. e a Polopiqué - Comér-cio e Indústria de Confecções, S.A. É também importante a Amtrol - Alfa Metalomecânica, S.A., pelo que contribui em termos de diversificação setorial e internacionalização.

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Figura 26 - Empresas internacionalizadas, por setores mais representativos, em Guimarães (2006-2010)Fonte: IRN

Aproximadamente 18% das empresas de Guimarães desenvolvem atividades em mercados externos. Uma propor-ção muito significativa das empresas internacionalizadas pertence à indústria têxtil e do vestuário (Figura 26). Nos últimos anos tem havido variações no número de empresas com atividade internacional. Até 2008 registou-se um aumento no número de empresas com atividade internacional em todos os setores, com exceção da metalúrgica e a metalomecânica. A partir de 2009 houve uma ligeira diminuição nas atividades internacionais das empresas Vimara-nenses em quase todos os setores.

No concelho de Vila Nova de Famalicão o setor industrial tem um peso muito significativo. Contudo, em algumas freguesias do concelho o setor primário ainda tem alguma importância. Nestas, as culturas predominantes são a vinha, o milho, o feijão, os produtos hortícolas e as árvores de fruto, assim como a criação de pecuária. Também neste concelho, a indústria têxtil e do vestuário é preponderante. Esta indústria é responsável por aproximadamente 16% do volume de negócios total do concelho (628 milhões de euros) e emprega cerca de 30% dos trabalhadores (Tabela 9). A construção civil assume também um papel importante, representando 14% do volume de negócios concelhio (570 milhões de euros) e ocupando 12% da mão-de-obra residente.

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Tabela 9 - Setores dominantes do tecido empresarial de Vila Nova de Famalicão (2010)Fonte: IRN

INDÚSTRIA EMPRESAS TRABALHADORES VOLUME DE NEGÓCIOS (€) PESO NO VN TOTAL

Borracha e Plásticos 39 1.919 629.702.054,83 16%

Têxtil e vestuário 1.094 12.382 628.016.747,70 16%

Construção civil 879 4.887 570.701.717,56 14%

Metalúrgica e Meta-lomecânica

271 3.676 301.770.157,43 8%

Alimentar 147 2.686 286.078.832,21 7%

Eletrónica 14 832 71.834.880,34 2%

No caso de Vila Nova de Famalicão, a indústria da borracha e do plástico é a primeira em termos de faturação. Contu-do, o setor está integralmente concentrado numa única empresa (Continental Mabor). Em 2010, as empresas desta indústria obtiveram um volume de negócios de 629 milhões de euros, superior ao da indústria têxtil e do vestuário. Adicionalmente, em Vila Nova de Famalicão, a indústria alimentar, a metalúrgica e metalomecânica, a eletrónica e a do automóvel são também muito importantes, tanto do ponto de vista do número de empresas, como da produção e da mão-de-obra empregue.

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Tabela 10 - Maiores empresas de Vila Nova de Famalicão (2011)Fonte: Diário Económico

POSIÇÃO RANKING NACIONAL

VOLUME DE NEGÓCIOS (€) EXPORTAÇÕES (€)

Continental Mabor - Indústria de Pneus, S.A. 29 744.468.528 724.328.187

Construções Gabriel A.S. Couto, S.A. 308 97.828.248 478.931

Coindu - Componentes para a Indústria Automóvel, S.A. 384 80.524.610 78.535.942

Indústria Têxtil do Ave, S.A. 411 75.070.473 40.946.020

Irmãos Vila Nova, S.A. 446 69.683.566 36.068.754

ICM - Indústrias de Carnes do Minho, S.A. 544 58.155.992 21.127.701

Riopele Textêis, S.A. 562 56.340.085 45.042.077

Continental Pneus (Portugal), S.A. 582 54.309.038 51.617

Empresa de Construções Amân-dio Carvalho, S.A. 620 51.835.109 72.860

TMG - Tecidos Plastificados e ou-tros Revestimentos p/a Indústria Automóvel, S.A.

628 51.264.042 48.301.925

Alberto Couto Alves, S.A. 667 48.290.608 n.d.

Carnes Campicarn, S.A. 752 43.602.997 4.738.405

Cofemel - Sociedade de Vestuá-rio, S.A. 832 39.541.122 97.756

SLS salsa - Comércio e Difusão de Vestuário, S.A. 837 39.273.947 n.d.

Ricon Industrial - Produção de Vestuário, S.A. 884 37.767.053 31.525.537

Leica - Aparelhos Ópticos de Precisão, S.A. 887 37.691.460 37.526.944

Primor Charcutaria - Prima, S.A. 924 36.266.262 3.488.561

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No ranking nacional das 1.000 maiores empresas existem 17 empresas localizadas no concelho de Vila Nova de Famalicão (Tabela 10). Entre elas destaca-se a Continental Mabor - Indústria de Pneus, S.A., posicionada no 29º lugar do ranking nacional, com exportações que rondam os 724 milhões de euros.

Figura 27 - Empresas internacionalizadas, por setores mais representativos, em Famalicão (2006-2010)Fonte: IRN

Em Vila Nova de Famalicão existem 1.250 empresas internacionalizadas, das quais 21% pertencem à indústria têxtil e do vestuário. As empresas dos restantes setores representam valores inferiores a 5%. Nos últimos anos, observa--se uma queda do número de empresas com atividade internacional, especialmente a partir de 2009 (Figura 27).

Em suma, as atividades relacionadas com a indústria têxtil e do vestuário, a construção civil, a metalúrgica e metalo-mecânica, a eletrónica, a alimentar, o calçado e a saúde humana são de elevada importância no Quadrilátero, devido ao seu valor acrescentado para a economia regional e nacional, ao número de trabalhadores empregues e a sua importância no comércio internacional (Tabela 11).

Tabela 11 - Indústrias relevantes por município do QuadriláteroFonte: Elaboração própria

POSIÇÃO BARCELOS GUIMARÃES FAMALICÃO BRAGA

1º Têxtil e vestuário Têxtil e vestuário Borracha e Plásticos Construção civil

2º Construção civil Calçado Têxtil e vestuárioMetalúrgica e metalome-cânica

3º Calçado Construção civil Construção civil Eletrónica

4º -Metalúrgica e metalome-cânica

Metalúrgica e metalomecâ-nica

Saúde humana

5º - Saúde humana Alimentar Têxtil e vestuário

6º - Alimentar Eletrónica -

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Para além dos setores tradicio-nais, os setores da eletrónica e das Tecnologias de Informação e Comunicação merecem algum destaque. O primeiro tem alcançado alguma relevância nos concelhos de Vila Nova de Famalicão e Braga. O segundo apresenta elevadas taxas de crescimento em todos os muni-cípios. Entre 2006 e 2010, o volume de negócios do setor, nos quatro municípios, registou um crescimento de 40%, o que equivale a uma taxa de crescimento média anual de 9%, aproximadamente.

Tabela 12 - Crescimento do setor das TIC no Quadrilátero (2006-2010)Fonte: IRN

MUNICÍPIO VOLUME DE NEGÓCIOS EM 2010

PESO NO VOLUME DE NEGÓCIOS TOTAL

EMPRESAS CRESCIMENTO

2006-2010 (%)

TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA ANUAL

Barcelos 2.335.571,24 0,10% 22 179% 29%

Braga 43.888.561,39 0,83% 178 38% 8%

Guimarães 9.569.771,75 0,26% 67 36% 8%

Famalicão 2.851.177,39 0,07% 50 40% 9%

O maior crescimento do setor, em termos de volume de negócios, verificou-se no concelho de Barcelos (Tabela 12). Os restantes municípios apresentam taxas de crescimento mais baixas. O volume de negócios no concelho de Braga rondou os 44 milhões de euros (bastante superior ao dos restantes concelhos).

3.1.2. MERCADOS INTERNACIONAIS DE REFERÊNCIA

O valor das exportações nacionais, em 2011, foi consideravelmente superior ao registado nos dois anos anteriores. Nesse ano, o valor das exportações portuguesas rondou os 43 mil milhões de euros. Os prin-cipais mercados exteriores foram Espanha, Alemanha e França. No total, estes três países, representa-ram 51% do valor total de saídas de bens.

Espanha mantém-se como o princi-pal cliente externo, com um peso de 25%, ainda que nos últimos anos se

tenha registado uma redução do seu peso relativo. Por sua vez, a Alema-nha contabiliza o maior aumento em valor, com um acréscimo anual de 20%, principalmente em resultado da expedição de veículos e outro material de transporte. Mantém--se, desta forma, como segundo maior cliente, com um peso de 14%. França é o terceiro maior cliente

externo, com um peso de 12%, com as expedições de bens a aumen-tar cerca de 17% por ano. França compra veículos e outro material de transporte, máquinas e aparelhos e plásticos e borrachas. O mercado angolano foi o quarto maior merca-do externo com um peso de 5,4%, tendo aumentado significativamen-te o seu peso em comparação com o ano 2010 (+22%), nomeadamente pelo crescimento das vendas de produtos alimentares, agrícolas e de metais comuns. O Reino Unido ocupa o quinto lugar no ranking dos clientes das empresas portuguesas, com um peso de 5%.

Por seu lado, os Países Baixos, Itália e Estados Unidos ocuparam as

seguintes posições cimeiras, com pesos de 3,9%, 3,7% e 3,5%, respe-tivamente. Deve-se ainda destacar o peso relativo que a Bélgica e o Brasil têm assumido como destino das exportações nacionais, reflexo do acréscimo anual registado em 2011 (+37% e +33%, respetivamente).

A região Norte domina as transações com o exterior, sendo responsável,

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em 2011, por 37% das exportações nacionais. Segue-se Lisboa, com um peso de 33% (Figura 28). Na compa-ração com o ano precedente, o Norte perdeu peso (-0,3 p.p.), enquanto Lisboa o incrementou em 3,1 p.p. Em conjunto, estas duas NUT II foram responsáveis por 70,4% das expor-tações, em 2011.

Figura 28 - Exportações por regiões NUT II (2011)Fonte: INE (2011)

As empresas sedeadas no Centro e no Alentejo foram responsáveis por 19% e 6% do total das expedições de bens em 2011, respetivamente. As Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores e o Algarve têm uma importância marginal em matéria de comércio externo, dado que representam, em conjunto, menos de 1% das exportações nacionais. Apesar disto, convém assinalar que a Região Autónoma da Madeira é na que as transações extracomu-nitárias têm um peso mais elevado

(60% do total).

Relativamente aos países de destino das exportações, o Norte e o Centro são os territórios que mais se asse-melham ao padrão nacional (Gráfico 24). Em Lisboa, Espanha é o princi-pal destino das vendas ao exterior, seguida de Alemanha e de Angola, muito devido às expedições de com-bustíveis minerais. Nas restantes NUT II, Espanha é o principal merca-do, exceto na Região Autónoma da Madeira. No Alentejo os mercados

francês e holandês têm uma impor-tância considerável. No Algarve, a China e Angola têm vindo a ganhar importância como compradores. A Região Autónoma dos Açores tem entre os seus três principais parcei-ros comerciais o Gana e a Itália.

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Figura 29 - Comércio Internacional: Saída de bens por país de destino e por NUT II (2011)Fonte: INE

Tabela 13 - Comércio internacional português de serviços (2011)Fonte: AICEP- Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal

EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES

BENS TOTAL % TOTAL TOTAL % TOTAL

TOTAL 19.158.930 100,00% 11.461.954 100,0%

Viagens e turismo 8.145.557 43% 2.973.567 26%

Transportes 5.184.460 27% 3.401.395 30%

Outros serviços fornecidos por empresas 3.585.652 19% 2.406.798 21%

Serviços de construção 570.743 3% 116.804 1%

Serviços de comunicação 472.192 3% 419.850 4%

Serviços de informação e de informática 377.121 2% 440.305 4%

Serviços de natureza pessoal, cultural e recreativa 239.584 1% 478.571 4%

Operações governamentais 205.659 1% 91.160 0,8%

Serviços financeiros 227.349 1% 521.700 5%

Seguros 107.017 0,6% 224.723 2%

Direitos de utilização 43.596 0,2% 387.082 3%

MERCADOS

UE 13.692.871 72% 8.067.989 70%

Resto do Mundo 5.466.059 29% 3.393.965 30%

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No âmbito dos serviços, o valor das exportações portuguesas, em 2011, foi de 19 mil milhões de euros, ultrapassando o valor dos serviços importados, que equivaliam a 11 mil milhões de euros. As viagens e o turismo são os serviços mais transa-cionados internacionalmente (43% do total), seguidos dos serviços de transporte (27%) e da categoria de outros serviços fornecidos por empresas (19%) (Tabela 13). Por sua vez, serviços de construção, comunicação, informação e informá-tica, de natureza pessoal, cultural e recreativa, entre outros, apresentam vendas exteriores pouco significa-tivas, perfazendo, no seu conjunto, cerca de 12% das exportações de serviços. A maioria destas vendas de serviços concentra-se no mercado europeu (cerca de 70%). O Reino Unido (15%), a França (14%) e a Espanha (13%) são os principais mercados para a exportação de

serviços (Tabela 14). Destaca-se ainda o facto de, entre os principais destinos, existirem três países de fora da UE: Angola, Brasil e EUA.

Nas importações, de forma similar às exportações, o capítulo mais impor-tante são os serviços de transporte (30%), seguidos das viagens e turismo (26%) e dos outros serviços fornecidos por empresas (21%). Cerca de 70% das importações são oriundas da UE. Por países, as aquisições de serviços são realiza-das maioritariamente em Espanha (24%), no Reino Unido (11%) e em França (10%) (Tabela 14). O saldo das transações de serviços com Espanha e a Suíça apresentam um saldo negativo.

Tabela 14 - Comércio internacional de serviços por país (2011)Fonte: AICEP- Agência para o Investimento e

Comércio Externo de Portugal

Ao nível regional, os municípios em análise, do Cávado e do Ave, apre-sentam uma taxa de cobertura das importações pelas exportações superior à média nacional (72%). Em 2010, as exportações do Cávado e do Ave representaram, respeti-vamente, 166% e 161% das suas importações. Apesar disto, a inten-sidade exportadora destas regiões apresenta-se bastante diferente, tendo sofrido várias oscilações ao longo dos anos (Figura 30). O Ave apresenta valores geralmente acima dos 50%, tendo sofrido um pequeno decréscimo em 2009, e registando uma intensidade máxima de exportação de 63% do PIB, em 1998. Por sua vez, o Cávado mante-ve valores abaixo dos 50% ao longo da série, tendo vindo a decrescer ao logo dos anos.

EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO

TOTAL 2011 % TOTAL TOTAL 2011 % TOTAL

Reino Unido 2.778.127 15% 1.218.639 11% 1.559.488

França 2.685.754 14% 1.097.741 10% 1.588.013

Espanha 2.529.201 13% 2.720.462 24% -191.261

Alemanha 1.891.657 10% 969.000 9% 922.657

Angola 1.084.988 6% 134.703 1% 950.285

Brasil 998.468 5% 369.759 3% 628.709

EUA 893.699 5% 668.841 6% 224.858

Países Baixos 809.939 4% 515.620 5% 294.319

Suíça 689.180 4% 965.348 8% -276.168

Bélgica 574.469 3% 351.645 3% 222.824

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Figura 30 - Intensidade exportadora das empresas NUT III Cávado e Ave (1995-2011)Fonte: INE

À semelhança da intensidade exportadora, o grau de abertura observado nas NUT III do Quadrilátero, em 2010, é bastante diverso. Enquanto o grau de abertura do Cávado é bastante superior à média nacional (54% face a 22%), no Ave os valores encontram-se muito próximos (29% face a 22%).

As empresas localizadas no Quadrilátero são responsáveis por cerca de 9% das exportações Portuguesas (à volta de 4.045 milhões de euros) e 4% das importações nacionais (aproximadamente 2 mil milhões de euros). 25% das exportações do Norte são realizadas por empresas localizadas nos concelhos que integram o Quadrilátero. Os países da UE são os parceiros comerciais de eleição das empresas localizadas neste território, representando 87% das suas exportações e 71% das suas importações (Tabela 15).

Tabela 15 - Comércio internacional de mercadorias no Quadrilátero de sede dos operadores (2011)Fonte: INE

UNIDADE: MILHARES DE EUROS

EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES

TOTAL COMÉRCIO INTRACOMU-NITÁRIO

COMÉRCIO EXTRACOMU-NITÁRIO

TOTAL COMÉRCIO INTRA-COMUNITÁRIO

COMÉRCIO EXTRA-COMUNITÁRIO

BARCELOS 597.353 554.260 43.093 208.038 183.660 24.378

BRAGA 933.154 851.037 82.117 672.063 538.340 133.723

GUIMARÃES 1.077.165 892.300 184.865 590.519 324-.197 266.322

FAMALICÃO 1.437.546 1.204.629 232.917 856.018 615.501 240.517

QUADRILÁTERO 4.045.218 3.502.226 542.992 2.326.638 1.337.501 664.940

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No Quadrilátero, os principais mer-cados de destino das exportações, em 2011, foram Alemanha, Espa-nha, França e o Reino Unido (Figura 31). Estes quatro países de destino representam 65% das exportações dos quatro concelhos, asseme-lhando-se ao que acontece ao nível nacional.

Figura 31 - Principais países de destino das exportações do Quadrilátero (2011)Fonte: INE

A Alemanha lidera as expedições em Barcelos, Braga e Vila Nova de Famalicão, seguindo-se a Espanha, a França e o Reino Unido (Figura 32). Por sua vez, as expedições efetua-das por empresas de Guimarães têm como principal destino a Espanha, seguindo-se a França, o Reino Unido e a Alemanha. A Bélgica, a Itália e os Países Baixos assumem-se igual-mente como importantes destinos das exportações, contudo os seus níveis de importância diferem de concelho para concelho.

A Tunísia surge entre os dez prin-cipais mercados de destino das

exportações do concelho de Barce-los, com uma importância relativa de 3%. A Suécia apresenta um peso relativo de 3% e a Dinamarca de 1%. A quota nas exportações Famalicen-ses da Suécia é ainda maior (4%). Neste concelho, a República Checa apresenta uma quota bastante similar (4%).

Entre os dez principais mercados de

exportação das empresas locali-zadas em Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão estão dois países extracomunitários: Angola e os Estados Unidos. O mercado angola-no apresenta-se relevante para as expedições efetuadas por Braga e Guimarães, recebendo 5% e 2% das exportações, respetivamente. Por sua vez, o mercado norte-americano mostra-se mais atrativo para as em-presas de Guimarães e Vila Nova de Famalicão, concentrando 6% e 4%

das expedições, respetivamente.

Os setores tradicionais ainda assu-mem uma importância fulcral nas exportações do Quadrilátero. Em 2011, os principais produtos expor-tados foram os materiais têxteis, o material de transporte e as máqui-nas e aparelhos, que no conjunto representaram 76% do total das vendas exteriores do Quadrilátero (Figura 33).

Figura 32 - Principais países nas exportações do Quadrilátero por concelho (2011)Fonte: INE

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Figura 33 - Principais grupos de produtos exportados pelos municípios do Quadrilátero (2011)Fonte: INE

No concelho de Barcelos são exportadas essencialmente matérias-primas (74%), seguindo-se de calçado (14%) e, em menor medida, de plásticos e borrachas (3%) (Tabela 16). Estes três produtos representam 91% dos bens expor-tados pelo concelho.

Tabela 16 - Principais grupos de produtos exportados de Barcelos (2011)Fonte: INE

GRUPO DE PRODUTO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (€) PESO NAS EXPORTAÇÕES (%)

Materiais têxteis 440.372.702,00 74%

Calçado 85.134.929,00 14%

Plásticos e borracha 19.949.268,00 3%

Obras de pedra e matérias semelhantes, produtos cerâmicos e vidro

13.159.332,00 2%

Animais Vivos e produtos do Reino animal 6.158.750,00 1%

Outros produtos 32.459.169,00 5%

As exportações efetuadas por empresas bracarenses incluem-se maioritariamente na categoria de máquinas e apa-relhos (64%), o qual confirma a importância da indústria eletrónica neste município (Tabela 17). O segundo grupo de produtos mais vendidos no exterior são os materiais têxteis (13%), dos quais, uma grande proporção, estão relacio-nados com o vestuário e os seus acessórios. Pode-se constatar ainda a importância dos metais comuns nas exporta-ções deste concelho (11%).

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Tabela 17 - Principais grupos de produtos exportados de Braga (2011)Fonte: INE

GRUPO DE PRODUTO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (€) PESO NAS EXPORTAÇÕES (%)

Máquinas e aparelhos 593.831.452,00 64%

Materiais têxteis 116.653.338,00 13%

Metais comuns 104.092.353,00 11%

Pérolas, pedras e metais preciosos e outros 30.732.828,00 3%

Material de transporte 26.875.422,00 3%

Outros produtos 60.968.773,00 7%

Tabela 18 - Principais grupos de produtos exportados de Guimarães (2011)Fonte: INE

GRUPO DE PRODUTO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (€) PESO NAS EXPORTAÇÕES

Materiais Têxteis 713.242.319,00 66%

Calçado 161.856.477,00 15%

Metais Comuns 70.933.718,00 7%

Máquinas e Aparelhos 63.843.655,00 6%

Madeira e Cortiça 12.663.472,00 1%

Outros Produtos 54.624.872,00 5%

As exportações de Guimarães pertencem à categoria de matérias-primas e suas obras, as quais envolvem dois terços das vendas totais ao exterior (66%), seguindo-se do calçado (15%) e dos metais comuns (7%) (Tabela 18). Estes dados confirmam a relevância da indústria têxtil e do vestuário, do calçado e da metalúrgica e metalomecânica na atividade económica do município.

O padrão das vendas ao exterior em Vila Nova de Famalicão assume contornos similares aos dos restantes municí-pios (Tabela 19). Este concelho exporta, fundamentalmente, material de transporte (50%), matérias-primas (25%) e, em menor medida, máquinas e aparelhos (7%).

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Tabela 19 - Principais grupos de produtos exportados de Famalicão (2011)Fonte: INE

GRUPO DE PRODUTO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (€) PESO NAS EXPORTAÇÕES

Plásticos e Borracha 711.239.515,00 50%

Materiais Têxteis 360.256.086,00 25%

Máquinas e Aparelhos 105.836.042,00 7%

Mercadorias e Produtos diversos 88.290.675,00 6%

Animais Vivos e Produtos do Reino Animal 38.007.884,00 3%

Outros Produtos 133.902.258,00 9%

Os mercados mais relevantes em cada indústria constam da Tabela 20. No caso da indústria têxtil e do vestuário (têxteis-lar, vestuário e o têxtil) os principais mercados de exportação são Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e os EUA. Por sua vez, a indústria alimentar tem como principais clientes Espanha, Angola, França e o Reino Unido. Já o setor automóvel, que faz parte do setor metalúrgico e metalomecânico, concentra as suas vendas nos mercados alemão, espanhol, francês e inglês.

Tabela 20 - Comércio Externo de produtos com origem no Quadrilátero (2011)Fonte: AICEP

SETOR CLIENTES (4 PAÍSES MAIS RELEVANTES) FORNECEDORES (4 PAÍSES MAIS RELEVANTES)

Têxteis-lar Espanha, França, EUA e Reino Unido Espanha, Índia, Alemanha, China

Alimentar Espanha, Angola, França e Reino Unido Espanha, França, Alemanha e Brasil

Automóvel Alemanha, Espanha, França e Reino Unido Alemanha, Espanha, França, Itália

Vestuário Espanha, França, Alemanha e Reino Unido Espanha, Itália, França e China

Calçado França, Alemanha, Holanda e Espanha Espanha, Itália, China, Bélgica

Têxtil Espanha, França, Alemanha e Reino Unido Espanha, Itália, França, Alemanha

Por sua vez, a indústria alimentar tem como principais clientes a Espanha, a Angola, a França e o Reino Unido. Já o setor automóvel, que faz parte do setor metalúrgico e metalomecânico, remete as suas expedições para o mercado

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alemão, espanhol, francês e inglês.

3.1.3. CLUSTERS EMPRESARIAIS

O conceito de cluster está sujeito a diversas interpretações. A sua clas-sificação depende, em certa medida, das dimensões que se tenham em consideração em cada momento, nomeadamente, as de tipo setorial, institucional, organizacional, entre outras. Em todo caso, é relativa-mente consensual que os clusters são agrupamentos de empresas, regra geral, situadas relativamente próximas entre si, e que, na maioria dos casos, partilham setor de ativi-dade em sentido lato. A clusteriza-ção da atividade económica poderá ser espontânea ou dirigida. Entre os agrupamentos espontâneos en-contram-se os distritos industriais e entre os dirigidos os parques de fornecedores. A meio caminho entre ambos estão um conjunto de estru-turas nas que, partindo de agrupa-mentos espontâneos, se promove, mediante políticas públicas de base territorial, o desenvolvimento de empresas relacionadas, com o intui-to de promover sinergias, assentes na iteração e na definição de estra-tégias cooperativas. As vantagens da clusterização derivam dos fluxos de informação sobre mercados, produtos e tecnologia, da existência de fornecedores e clientes espe-cializados e da disponibilidade de recursos humanos em quantidade e com as habilidades requeridas pelos

setores de atividade que integram o cluster. Estas vantagens podem resultar da acumulação de experiên-cias, saber-fazer, conhecimentos e formas de organização e trabalho, formais ou informais, ou da sua promoção institucional a partir dos recursos territoriais, potenciando-os e orientando-os para a obtenção de ganhos de competitividade indivi-duais ou coletivos. Acresce ainda que essas vantagens, do ponto de vista territorial, não têm porque se concentrar num único setor. Aliás é razoável pensar que o seu desenvol-vimento pode envolver mais setores de atividade, relacionados de forma direta ou indireta, que podem usu-fruir de vantagens similares, poten-ciando ainda mais a competitividade do território em questão.

A institucionalização do cluster permite definir estratégias comuns de maneira formal e implemen-tar planos operacionais, setoriais ou transversais, para garantir o seu cumprimento. Os motores da institucionalização do cluster são variados, ainda que na literatura especializada costumam apontar-se o desenvolvimento de atividades de I&D e a potenciação da dimensão internacional das empresas. A cooperação institucionalizada através do cluster permite às empresas partilhar custos e obter sinergias de diversa natureza.

A diferenciação estabelecida per-mite classificar os clusters em duas grandes categorias. Por um lado, os clusters em sentido lato que

são aqueles cujo desenvolvimento é espontâneo e a apropriação das vantagens derivadas da concentra-ção espacial da atividade é relativa-mente inconsciente. Por outro lado, os clusters em sentido estrito que são aqueles cujo desenvolvimento é dirigido e responde a uma estraté-gia cooperativa das empresas e de outros agentes do território. Neste caso, a apropriação das vantagens derivadas da concentração espacial e da cooperação entre agentes é consciente, e não está necessaria-mente aberta à comunidade. Con-vém não confundir, neste âmbito, os Clusters em sentido estrito com as associações setoriais dedicadas à defesa dos interesses de um dado setor de atividade, as quais poderão ou não estabelecer acordos com outras entidades para potenciar algumas dimensões que promovam a competitividade dos seus asso-ciados (I&D/Internacionalização). Nestas iniciativas, as empresas não partilham a mesma base territorial e o envolvimento de agentes não empresariais costuma ser totalmen-te preterido.

Com o intuito de se identificar os clusters em sentido lato presen-tes no território do Quadrilátero, calculou-se o grau de concentração de atividade económica, por ramo de atividade. Para este efeito, utilizou--se como instrumento o quociente de localização (QL), que compara o contributo de um determinado setor de atividade para a atividade económica de um dado território,

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

com o contributo setorial, medido da mesma forma, num território de referência, que normalmente inclui o primeiro.

Considerando que o território alvo do estudo é o Quadrilátero e que o território de referência é a totalida-de do território nacional, este indica-dor permite identificar as atividades económicas em que o Quadrilátero apresenta uma maior especialização face ao todo nacional. Para o cálculo do QL foram utilizados dados de emprego, desagregados territorial e setorialmente, para o ano de 2009 (último ano para o que existem dados), retirados da base de dados Quadros do Pessoal. Os resultados da análise constam na tabela 21.

Tabela 21 - Quociente de localização no Quadrilátero, por setor de atividade (2009)Fonte: cálculos próprios, com base nos Quadros de Pessoal, Ministério da Solidariedade e Segurança Social

CAE DESCRIÇÃO QL

13 Fabricação de têxteis 8,22

14 Indústria do vestuário 5,36

26Fabricação de equipamentos informáticos, equipamentos para comunicações e produtos eletrónicos e óticos

4,05

15 Indústria do couro e produtos do couro (inclui o calçado) 2,36

24 Indústrias metalúrgicas de base 2,12

22 Fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas 2,00

42 Engenharia Civil (inclui construção) 1,40

25 Fabricação de produtos metálicos, exceto máquinas e equipamentos 1,30

10 Indústrias alimentares 0,98

86 Atividades de saúde humana 0,62

De acordo com os resultados, o Qua-drilátero está extremamente espe-cializado na fabricação de têxteis. O quociente de localização neste caso é de 8,22. Praticamente metade dos trabalhadores que, em território nacional, participa na atividade de fabricação de têxteis localiza-se no Quadrilátero, sendo o concelho de Guimarães o que concentra maior atividade neste setor. A indústria do vestuário também apresenta um elevado QL neste território, concre-tamente de 5,36. No ano de 2009, o território do Quadrilátero garantia ocupação laboral a cerca de 32,8% da população empregada neste ramo de atividade, no total do país. Barcelos é o município que mais con-tribui para esta realidade, dado que representa 38,2% dos empregados totais do Quadrilátero neste setor.

Com a finalidade de complementar a análise anterior, foi calculada a densidade empresarial dos setores acima identificados. Desta forma, foi apurado o número de empresas

existentes nos quatro municípios que compõem o Quadrilátero, em vá-rios setores, comparando-o depois com a totalidade das empresas a nível nacional, em cada setor. Esta medida permitirá perceber qual a proporção de empresas de um determinado setor localizado neste território face ao todo nacional, ob-tendo-se consequentemente uma medida de concentração empresa-rial. Os resultados obtidos constam da Tabela 22:

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Tabela 22 - Proporção das indústrias no Quadrilátero em comparação com o território nacional (2009)Fonte: cálculos próprios, com base na base de dados Amadeus

CAE DESCRIÇÃO QL

13 Fabricação de têxteis 8,22

14 Indústria do vestuário 5,36

26Fabricação de equipamentos informáticos, equipamentos para comunicações e produtos eletrónicos e óticos

4,05

15 Indústria do couro e produtos do couro (inclui o calçado) 2,36

24 Indústrias metalúrgicas de base 2,12

22 Fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas 2,00

42 Engenharia Civil (inclui construção) 1,40

25 Fabricação de produtos metálicos, exceto máquinas e equipamentos 1,30

10 Indústrias alimentares 0,98

86 Atividades de saúde humana 0,62

A Tabela 22 demonstra, mais uma vez, a predominância do setor do têxtil e do vestuário no Quadrilátero. Repare-se que, em ambos os casos, a região acolhe mais de 40% das empresas ligadas ao setor localiza-das em Portugal. As metalúrgicas de base afirmam-se como o terceiro se-tor com maior proporção de empre-sas, albergando cerca de 14% das empresas nacionais ligadas a esta atividade. Da análise dos valores do QL e da concentração empresarial depreende-se que, para além de existir uma importante especiali-zação em setores tradicionais, o Quadrilátero concentra um número significativo de atividade e empre-sas em setores com um grau de in-corporação tecnológica média-alta,

nomeadamente o setor da fabrica-ção de equipamentos informáticos, equipamentos para comunicações e produtos eletrónicos e óticos e o de fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas.

Apesar da forte concentração em-presarial e de atividade económica e emprego em alguns setores no Qua-drilátero, nenhum destes clusters em sentido lato têm evoluído para clusters em sentido estrito, de ca-rácter setorial e, muito menos, para um cluster multissetorial de base regional. No entanto, nestes setores existem várias associações setoriais, muitas delas com um âmbito de intervenção que extravasa os limites do Quadrilátero e inclusivamente da região Norte. Estas iniciativas têm algum interesse no contexto deste levantamento, dado que permitem identificar setores onde existe um histórico cooperativo ou uma maior propensão a concertar posições e delinear estratégias comuns.

As iniciativas associativas que se identificam a seguir têm, em alguns casos, uma intervenção relativa-mente tradicional e noutros se-guem uma abordagem cooperativa muito mais proactiva. A ATP - As-sociação do Têxtil e Vestuário de

Portugal agrupa à indústria têxtil e do vestuário portuguesa. Esta associação, integrada maioritaria-mente por PME (96%), tem uma base bastante heterogénea, com-preendendo empresas dedicadas às várias fases de produção e a diver-sas atividades, desde a produção de fibras até à confeção de vestuário.

No âmbito deste setor, a ATP em parceria com a Asociación de Industrias de Punto y Confección de Lugo, Ourense e Pontevedra (AIPCLOP), da Galiza, assinaram um protocolo de cooperação com a finalidade de criar um megacluster inter-regional do setor do têxtil e do vestuário. Desta forma, em 2009, constituiu-se o Euroclustex que, para além das duas associações

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

referidas anteriormente, teve tam-bém o apoio do CITEVE. O objetivo deste projeto é fomentar a coope-ração intersetorial, aproveitando as experiências e as complementari-dades resultantes da diversificação estrutural das atividades ligadas ao setor na Euro-região Norte de Portugal-Galiza. A ATP conside-ra importante ainda a criação de parcerias comerciais, com benefícios para ambas as partes, com o setor do calçado, do automóvel, da saúde, dos curtumes, da cortiça e dos produtos químicos. Prevê-se que a cooperação entre setores sirva de base para solucionar os problemas que a indústria têxtil e do vestuário enfrenta. Por outro lado, a ATP reco-nhece a importância de potenciar a internacionalização das empresas, através da participação em feiras in-ternacionais e em desfiles de moda e de promover a formação profissio-nal e o marketing.

Em 2008, foi criada a APCM - As-sociação Pólo de Competitividade da Moda, a qual apenas entrou em pleno funcionamento em 2009. De entre as entidades fundadoras desta associação, que, na generali-dade, atua nos subsetores da moda (indústria têxtil, do vestuário, do cal-çado, da ourivesaria e da relojoaria), destaca-se a presença de empresas como a Flor Moda (Barcelos), Irmãos Vila Nova e Riopele (Vila Nova de Famalicão) e Kyaya e Somelos Fiafio (Guimarães). Com o intuito de pro-mover a competitividade do setor da moda, que passa pela afirmação

da indústria a nível da inovação e conceção de novos produtos, e de forma a complementar o espectro desta associação, juntaram-se aos fundadores algumas organizações de renome no âmbito do desenvol-vimento tecnológico e da inovação. O principal objetivo da APCM passa por garantir a afirmação de Portugal a nível internacional como produtor e criador de moda. Segundo a APCM, a convergência da indústria têxtil, do vestuário, do calçado, da ourivesaria e da joalharia traduz-se na criação de sinergias que, se aproveitadas de forma coordenada, permitirá a desejada projeção dos produtos portugueses internacionalmente, viabilizando a progressão da indús-tria na cadeia de valor. A associação considera ser fundamental reforçar as competências nacionais a nível da vigilância e inteligência compe-titiva, recebendo atempadamente informações sobre as tendências da moda que se desenvolvem a nível internacional e perceber as estra-tégias dos restantes concorrentes, assim como os principais riscos e oportunidades daí resultantes. Por outro lado, promover a inovação é também uma prioridade, principal-mente na vertente da I&D, com o propósito de diferenciar a oferta e minimizar as desvantagens do custo de produção, tentando assim ame-nizar a discrepância face aos concor-rentes que beneficiam de custos de mão-de-obra mais reduzidos.

A Associação da Fileira da Cons-trução do Minho (AFCM), criada

em abril de 2011, está constituída pelas principais empresas do setor com sede no Quadrilátero; pretende promover a internacionalização dos seus sócios, através da cooperação interempresarial. A criação de um grupo coeso de empresas ligadas ao setor tem como finalidade aumentar a capacidade de negociação, afir-mar o cluster a nível internacional, incrementar os níveis de inovação no setor e definir estratégias con-juntas para o desenvolvimento da atividade. Integram esta associação diversas empresas ligadas à cons-trução de edifícios, obras de enge-nharia civil, madeiras e carpintaria, pichelaria, fabricação de estruturas metálicas e partes de estruturas, instalações elétricas, materiais de construção, atividades de arquitetu-ra e engenharia e outras áreas espe-cializadas. Recentemente, a UMinho e a AFCM assinaram um protocolo de cooperação, que procura promover o reforço da cooperação técnico-cien-tífica entre as instituições. Neste contexto, deverão ser desenvolvidos mecanismos de cooperação que possibilitem um maior investimento em investigação e desenvolvimento, materializando projetos que permi-tam projetar as empresas no âmbito da inovação.

A Portugal Foods é uma associação constituída por empresas, instituições e outros agentes repre-sentativos dos vários subsetores agroalimentares, que tem como principal objetivo incrementar a competitividade das empresas do

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setor através da inovação e da inves-tigação, mediante novos métodos de cooperação. A Portugal Foods tem ainda como objetivo a orienta-ção dos produtos agroalimentares portugueses para o mercado exter-no, identificando e captando oportu-nidades de negócio no estrangeiro. Em 2011 as empresas que integram esta associação geravam cerca de 16% do volume de negócios e 18% das exportações da indústria agroa-limentar portuguesa e empregavam cerca de 14.250 colaboradores. Apesar dos seus associados estarem distribuídos por todo o território nacional, vários deles têm a sua sede e operações em concelhos do Quadrilátero, como por exemplo a Porminho Alimentação, a Vieira de Castro e a Primor. Existem também um conjunto de empresas que, não estando localizadas no Quadriláte-ro, situam-se em concelhos muito próximos. As mais destacadas são a Minho Fumeiro, em Ponte de Lima, e a Cerealis e a Frulact, ambas com sede na Maia.

O Health Cluster Portugal - Asso-ciação do Polo de Competitividade da Saúde integra diversas empresas e instituições nacionais ligadas ao setor da saúde. Criada em abril de 2008, trata-se de uma associação de direito privado sem fins lucrati-vos, com mais de 120 associados, distribuídos pela totalidade do território nacional. A missão desta associação é tornar Portugal num local de referência internacional nos campos da investigação, con-

ceção, desenvolvimento, fabrico e comercialização de equipamentos e serviços ligados à saúde, em nichos de mercado e de tecnologia selecio-nados, tendo como objetivo principal o reconhecimento da excelência por parte do mercado externo. O HCP procura também promover o desen-volvimento económico e social das regiões onde se localizam os sócios do projeto, assim como do país em geral. As iniciativas conduzidas por esta organização visam o incre-mento do volume de negócios, das exportações e do emprego quali-ficado nas atividades económicas ligadas à saúde. De um modo geral, procura-se também contribuir para a melhoria da prestação de cuidados de saúde à população. No sentido de atingir os seus objetivos, a associa-ção privilegia a sua atuação na área do bem-estar e do envelhecimen-to, procurando combater doenças neuro-degenerativas, cancerígenas, cardiovasculares, degenerativas osteoarticulares, inflamatórias, infe-ciosas e metabólicas. A sua aposta principal em termos de intervenção é a promoção do conhecimento e da I&D, procurando dar especial preponderância à biotecnologia e às nanotecnologias. O Quadrilátero está representado nesta iniciativa, através de diversas empresas e instituições da região.

No contexto das Tecnologias de In-formação e Comunicação destaca o Polo das Tecnologias de Informação, Comunicação e Eletrónica (TICE), o qual pretende promover as relações

de cooperação entre as empresas do setor. Este polo foi formalmente fundando em 2009, no âmbito das Estratégias de Eficiência Coletiva do QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional, engloba 50 associados e 28 empresas das regiões Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo. Entre estas destacam-se algumas com sede e operações no Quadrilátero. As empresas asso-ciadas têm um volume de negócios conjunto de aproximadamente 5.400 milhões de euros, dos quais 500 milhões procedem do mercado externo. O montante canalizado para I&D pelos associados é de 130 milhões de euros, representati-vo de 3% do volume de negócios conjunto. Este Polo tenciona tornar Portugal numa referência mundial ao nível das TICE. Com essa finalida-de pretende-se incrementar o peso das TICE no PIB, no emprego, e no volume de exportações. O Polo de Competitividade e Tecnologia tem como objetivo promover a coope-ração e a criação de sinergias entre empresas do setor, nomeadamente entre as grandes empresas e as PME. Todavia, dinamiza e apoia can-didaturas das empresas a programas de incentivos que lhes permitam ganhar capacidade financeira para realizar projetos mais arrojados. A presença e representação portu-guesa em eventos internacionais é também uma preocupação do polo, que reconhece que as empresas devem acompanhar e delinear a sua estratégia com base nas principais

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tendências mundiais. Na agenda do TICE está também a promoção da cooperação entre instituições de ensino superior, associações do foro tecnológico e da inovação e o tecido empresarial.

3.1.4. A ANÁLISE SWOT

A análise SWOT é uma das ferra-mentas mais utilizadas na realização de diagnósticos e na avaliação de potenciais. É utilizada em diversos âmbitos para análise e avaliação de empresas, mercados, setores e territórios, entre outros. Esta análise baseia-se numa matriz que relacio-na Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Oportunities) e Ameaças (Threats).

A Tabela 23 sintetiza as principais forças e fraquezas do Quadrilátero. Entre as forças destacam-se o ele-vado know-how em setores como o têxtil e o vestuário e o calçado, apre-sentando vantagens competitivas face a muitos players internacionais e o acolhimento de alguns setores atividade com elevado potencial de crescimento, nomeadamente na área das TIC, da biotecnologia e dos materiais. Releva ainda a existência de tradição e capacidade exporta-dora no tecido empresarial. Entre as principais fraquezas as mais relevantes derivam do facto de a estrutura produtiva estar numa fase de transição da produção de bens de baixo valor acrescentado para um outra de bens e serviços com maior valor acrescentado. A nível insti-

tucional e de liderança, surgem os défices de arquitetura institucional e governança e a falta de liderança económica, política e mesmo institu-cional no território.

Na Tabela 24 incluem-se as princi-pais oportunidades e ameaças que enfrenta o território em análise. Entre as primeiras convém destacar a progressiva compreensão da ne-cessidade de articular iniciativas de cooperação e concertação territorial para potenciar a competitividade regional a vários níveis, a existên-cia de condições favoráveis para tornar o território num centro de competências e inovação nalgumas áreas do conhecimento a partir das capacidades existentes na UMinho e noutras instituições de referência, como o INL.

Os concelhos do Quadrilátero apre-sentam, da mesma forma, condições e infraestruturas adequadas para a instalação de empresas estrangei-ras. Por outro lado, a crise económica e financeira nacional e o incremento da competitividade de espaços con-correntes em termos de produção e posicionamento apresentam-se como grandes ameaça às atividades desenvolvidas no território.

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Tabela 23 - Forças e Fraquezas do território do QuadriláteroFonte: Elaboração própria

FORÇAS

- Elevado know-how em setores como o calçado, têxtil e vestuário, apresentando inclusive vantagens competitivas face a muitos players inter-nacionais;

- Existência de tradição e capacidade exportadora no tecido empresarial;

- Acolhimento de alguns setores atividade com elevado potencial de crescimento, nomeadamente na área das TIC, da biotecnologia e dos mate-riais;

- Oferta de mão-de-obra relativamente jovem e crescentemente qualificada;

- Existência de instituições do ensino superior crescentemente prestigiadas e com alguma relação de proximidade com a indústria;

- Presença de vários centros de I&D e de centros de investigação aplicada no âmbito universitário, reconhecidos quer nacional e quer interna-cionalmente;

- Existência de associações empresariais setoriais interessadas na internacionalização, na promoção do I&D e na formação do capital humano;

- Posicionamento junto de grandes eixos infraestruturais (rodoviários, aeroportuários, marítimos, digitais - fibra ótica - e de transporte de eletricidade e gás natural);

- Existência de um vasto património histórico e natural e existência de espaços diversificados para a realização de eventos;

- Presença de uma incipiente especialização no turismo cultural e religioso.

FRAQUEZAS

- Estrutura produtiva em fase de transição da produção de bens de baixo valor acrescentado, na maioria das vezes num quadro de subcontrata-ção internacional, para a produção de bens e serviços com maior valor acrescentado, nalguns casos com distribuição e/ou com marcas próprias;

- Reduzida dimensão das empresas, com níveis de competitividade e internacionalização ainda insuficientes;

- Baixo nível de informatização das PME;

- Reduzido investimento em I&D;

- Elevada taxa de desemprego e elevada percentagem de mão-de-obra detentora de baixas qualificações académicas e profissionais;

- Falta de liderança económica, política e institucional no território;

- Ausência de estruturas (político-administrativas) de nível supramunicipal consistentes e convenientemente legitimadas, capazes de se constituir num interlocutor credível com os agentes sociais e empresariais do território e em parceiros na consolidação e desenvolvimento do Quadrilátero;

- Falta de uma estratégia territorial que melhore a sua articulação e amorteça as consequências negativas da sua desestruturação;

- Inexistência de estruturas de apoio à internacionalização de base territorial;

- Ausência de uma estratégia de marketing territorial;

- Falta de infraestruturas logísticas de apoio às empresas.

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Tabela 24 - Oportunidades e Ameaças do território do QuadriláteroFonte: Elaboração própria

OPORTUNIDADES

- Progressiva compreensão da necessidade de articular iniciativas de cooperação e concertação territorial para potenciar a competitividade regional a vários níveis;

- Existência de condições favoráveis para tornar o território num centro de competências e inovação nalgumas áreas do conhecimento a partir das capacidades existentes na UMinho e noutras instituições de referência, como o INL;

- Crescente interiorização, por parte dos atores regionais, da importância da criatividade, a inovação e o conhecimento na geração de oportuni-dades económicas;

- Crescente reconhecimento nacional e internacional de entidades instaladas no território que pertencem ao SCTN - Sistema Científico-Tecno-lógico Nacional;

- Crescente sensibilidade para a necessidade de conseguir uma maior simbiose Universidade-Empresa, com o objetivo de acrescentar valor aos bens produzidos e comercializados pelo tecido empresarial;

- Existência de sistemas de incentivos fiscais à I&D empresarial;

- Disponibilidade de programas de apoio e incentivo ao investimento;

- Progressiva valorização social do espírito de iniciativa e da capacidade empreendedora;

- Potencial aproveitamento do crescimento do setor das TIC e dos efeitos de desdobramento que pode provocar em outros âmbitos e atividades do território;

- Existência de boas condições e de adequadas infraestruturas de acolhimento de empresas internacionais (IDE);

- Eventual investimento em redes de infraestruturas e sistemas logísticos que facilitem o escoamento de produtos e auxiliem a integração da cadeia de valor das empresas multiplanta, com operações em vários países;

- Proximidade ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e crescimento da oferta de novas rotas das companhias aéreas low-cost;

- Proximidade ao Porto de Leixões;

- Proximidade geográfica e cultural com a Galiza (Espanha);

- Capitalização potencial dos canais de exposição internacional do território (desporto, redes de I&D, turismo religioso, entre outros).

AMEAÇAS

- Continuação da crise económica e financeira nacional e internacional;

- Incremento da competitividade de espaços concorrentes em termos de produção e posicionamento;

- Elevada taxa de desemprego;

- Intensificação do envelhecimento populacional;

- Reforço do Porto e da sua área metropolitana como centro aglutinador de recursos;

- Desadequação do sistema fiscal português: autismo permanente relativamente às características intrínsecas dos territórios e das empresas;

- Falta de coerência entre as políticas públicas de âmbito nacional e regional/local;

- Falta de competência da administração pública: crescente burocrática e centralizada;

- Ineficácia e lentidão do sistema judiciário português;

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4. Internacionalização e boas práticas4.1. ABORDAGEM METODOLÓGICA

A metodologia de pesquisa e inves-tigação que se entendeu adotar no presente estudo foi objeto de particular atenção tendo em conta a sua importância para os resultados a atingir. Consistindo em várias fases, a metodologia aplicada na presente investigação envolveu, num primeiro momento, a recolha e seleção de literatura teórica e empírica, tanto nacional como internacional, com especial destaque para a consulta efetuada em revistas especializadas e para a leitura de outra informação.

Para a elaboração do relatório “In-

ternacionalização do Quadrilátero e Projeção de Estratégias Futuras de Promoção do Território” foi impor-tante a consulta de alguns trabalhos já realizados sobre a temática da cooperação territorial e a promoção e atratividade do território para arrecadar investimento. Em razão disso, procedeu-se à recolha de informação científica existente, e posterior seleção e validação, tendo como referência a sua atualidade e relevância.

À medida que a recolha da informação se avolumou, houve

necessidade de a organizar também por áreas, considerando as várias perspetivas de visualização e entendimento da realidade em análise. O objetivo centrou-se em facilitar o acesso rápido e intuitivo a uma panóplia de informação em constante atualização, cuja relevância se mostrou transversal a todos os momentos de reflexão e de redação deste relatório. Simultaneamente, houve lugar à recolha documental, o que impli-cou o levantamento da informação estatística disponível, estudos e outras publicações consideradas

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de interesse para a temática em estudo. Existiu aqui uma vontade expressa e denunciada de aprovei-tar, tanto quanto possível, todo o trabalho desenvolvido até então. Ultrapassada esta fase, foi possível ampliar o conhecimento do assunto e delinear o trabalho que se preten-dia desenvolver.

Tratando-se de uma população restrita, entendeu-se desenvolver também uma análise qualitativa suportada por estudos de caso. A recolha de dados mais crítica para a elaboração deste trabalho balizou-se na entrevista, dado ser uma técnica por excelência para os estudos de caso. Esta técnica possui como grande vantagem a possibili-dade de obtenção de experiências acumuladas, testemunhos, opiniões e confissões dos entrevistados. Ao consubstanciar-se numa forma aprazível de obtenção de dados com alguma pormenorização, o recurso à entrevista facilita a introdução ou o afastamento de potenciais questões. Decidiu-se enveredar pela aplicação da entrevista do tipo focalizado, pois interessava que o tempo de realização da entrevista não excedesse os noventa minutos. Neste âmbito, foi pensado e definido um guião de entrevista, no qual está patente um conjunto de questões e tópicos de conversação. Esta técnica permite cruzar distintas opiniões, as quais dão lugar a uma análise quali-tativa mais concisa e efetiva.

Este estudo propôs-se fazer uma análise concreta e prática do terri-

tório do Quadrilátero, mais propria-mente do seu tecido empresarial, com o objetivo de projetar o seu futuro e a sua internacionalização, potenciando as sinergias e os divi-dendos que, no curto e no longo pra-zo, daí possam advir. Neste sentido, considerou-se importante identificar um conjunto de empresas conside-radas casos de sucesso e, através de entrevistas semiestruturadas, poder compreender, no terreno, quais os principais obstáculos e quais as principais estratégias adotadas para os ultrapassar. Esta metodologia serviu igualmente para envolver as empresas num projeto em que estas se assumem como principal parte interessada.

As entrevistas foram desencadea-das visando os principais responsá-veis de cada entidade. Foi efetuado um trabalho de levantamento e identificação do leque de projetos de internacionalização das empre-sas que se enquadram nos clusters do Quadrilátero (reunindo empre-sas fortemente exportadoras mas também projetos empresariais com um forte potencial de internaciona-lização), assim como um conjunto de casos cujas estratégias de interna-cionalização se apresentam bem--sucedidas, procurando diversificar a escolha das empresas tanto quanto possível quer em termos setoriais quer em termos de características intrínsecas. Para além deste conjun-to de empresas, entendeu-se tam-bém abordar algumas das empresas multinacionais que se encontram

instaladas no território do Quadrilá-tero e alguns agentes relacionados a instituições de relevo no território como a UMinho, a AIMinho e o IAP-MEI - Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação.

Esta fase implicou a elaboração de um total de 17 entrevistas explo-ratórias. Na tabela que se segue, é possível visualizarmos alguma informação complementar:

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Tabela 25 - Entrevistas realizadas

NOME DA ENTIDADE NOME DO ENTREVISTADO DIA E HORA

Balanças Marques de José Pimenta Marques, Lda. Paulo Marques e Tiago Marques 02 abril14h30

Primavera - Business Software Solutions, S.A. José Dionísio04 abril 9h30

SICI 93 BRAGA - Sociedade de Investimentos Comer-ciais e Industriais, S.A.

António Ressurreição04 abril15h00

Silicolife, Lda. Simão Soares04 abril18h00

Critical Materials, S.A. Gustavo Dias10 abril14h30

Coltec - Neves & Companhia, Lda. Francisco Fernandes15 abril10h00

Success Gadget - Nanotecnologia e Novos Materiais, Lda.

Pedro Pinto16 abril10h00

CELOPLAS - Plásticos para a Indústria, S.A. João Cortez10 maio16h00

APC - Instrumentos Musicais, Lda. António Pinto Carvalho15 maio9h30

Porminho - Alimentação S.A. Tiago Freitas15 maio14h30

Amtrol Holding Portugal, SGPS, Unipessoal Lda. Tiago Oliveira17 maio11h30

Construções Gabriel A.S. Couto, S.A. Ricardo Poças29 maio14h30

LEICA - Aparelhos Óticos de Precisão, S.A. Filomena Machado29 maio10h30

Domingos da Silva Teixeira, S.A. José Teixeira5 junho18h00

AIMinho José Manuel de Capa Pereira16 maio11h00

IAPMEI João Carvalho Fernandes31 maio10h30

UMinho Manuel José Magalhães Gomes Mota3 junho14h30

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Com o devido consentimento dos visados, as entrevistas foram grava-das e cronometradas, o que possi-bilitou complementar as anotações que foram retiradas no decorrer das entrevistas. A realização das entre-vistas sucedeu-se entre abril e maio de 2013. O tratamento dos dados foi realizado através da elaboração de fichas de entrevista (em anexo) validadas pelos entrevistados.

Optou-se também por uma aborda-gem qualitativa na análise dos dados recolhidos, até porque o objetivo científico neste tipo de investigação (estudo qualitativo) está orientado para a compreensão e construção (e não para a verificação, como acontece nas investigações quanti-tativas). A investigação qualitativa não pretende atingir quantificadores universais. Muito pelo contrário, a condição de sucesso da investiga-ção qualitativa não é a confirmação de hipóteses (tal como acontece nos estudos quantitativos) mas a emergência de algo novo ou inespe-rado através de um questionamento aberto e exploratório acerca do que se pretende estudar (não se deci-dindo nada a priori).

4.2. O QUADRILÁTERO E CONDIÇÕES DA ENVOLVENTE

De acordo com António Ressurrei-ção, CEO da S.I.C.I., nos últimos 40 anos, a UMinho foi o investimento estrutural mais importante que se realizou neste território. Todavia, salienta o facto de o INL e o Avepark

não apresentarem, até ao momento, impactes e efeitos visíveis no terri-tório equivalentes aos da UMinho. Para isso, sugere que é necessária a existência de uma visão global, estratégica e integradora para estes projetos.

Os responsáveis pela Primavera BSS foram alunos da UMinho e reconhecem a importância que esta instituição tem tido para a região, nomeadamente para o desenvolvi-mento de iniciativas empresariais na área das tecnologias de comu-nicação e informação. Porém, são também apologistas de que o tecido associativo encontra-se demasiado repartido por cidades ou concelhos e este território merecia uma lideran-ça associativa de cariz empresarial mais forte. Referem, por exemplo, que não se encontram espaços destinados a uma elite empresarial, facilitadores do networking e dos negócios.

Gustavo Dias fundador da Critical Materials, afirma que a região tem hoje excelentes condições de partida para um projeto de desen-volvimento regional a médio e longo prazo. São disso exemplo a UMinho e os seus interfaces (TecMinho/GAPI - Gabinete de Apoio à Propriedade Industrial, Avepark/Spinpark, 3B’s - Research Group in Biomaterials, Biodegradables and Biomimetics e o CVR - Centro para a Valorização de Resíduos), mas também o INL, a existência de uma população jovem e qualificada, vontade empreende-dora em contexto académico, uma

interessante tradição e um tecido industrial ainda tradicional com o potencial para absorver processos de I&DT.

O Quadrilátero carece de uma maior conexão e orientação estratégica. Não bastam as infraestruturas exis-tentes como o Avepark/Spinpark. De acordo com Simão Soares da Silicoli-fe, estes espaços não compreendem elevados custos e são interessantes na ótica do marketing, em virtude de terem o rótulo de “parque tec-nológico”. Os principais problemas apontados a esta estrutura estão sobretudo relacionados com a sua localização e ao défice de estratégia, de rede e de dinamismo. Embora não esteja sedeada num parque desta natureza, a Success Gadget também concorda com o facto de serem excelentes estruturas para promover a imagem e a credibilidade das empresas que comportam.

A mobilidade digital, como a fibra ótica, embora seja mais colateral, não deixa de ser importante para uma maior conexão no território en-tre os seus agentes. Contudo, não é suficiente para uma mobilidade físi-ca que se quer maior entre os quatro concelhos. Daí que alguns empre-sários apontem para o facto de que um metro de superfície ou uma rede ferroviária que ligue Guimarães a Braga poderia assumir-se como uma mais-valia para o território.

Simão Soares considera necessário alterar aspetos culturais importan-tes, pouco abertos à cooperação. Esta empresa entende a sua presen-

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ça no Minho como natural, reco-nhecendo vantagens na angariação de recursos humanos qualificados. Todavia, António Ressurreição reconhece que falta uma visão para território suficientemente forte e capaz de orientar os agentes e os projetos para o mesmo sentido.

Segundo Gustavo Dias, o Minho tem uma relação ambivalente com o Por-to e “sofre” por estar na sua órbitra, dificultando ações que ultrapassem essa condição. Para as Constru-ções Gabriel Couto, a proximidade com o Porto de Leixões e com o Aeroporto Francisco Sá Carneiro são uma enorme vantagem para o tecido empresarial do território do Quadri-látero, destacando o facto de que a estrutura portuária é o principal canal de comunicação utilizado pela empresa no transporte de equipa-mentos e mercadorias para os mer-cados internacionais, assim como o aeroporto o é para o transporte de pessoas, técnicos e engenheiros.

José Capa Pereira, ex-presidente da AIMinho, considera que juntar as quatro cidades/concelhos do Baixo Minho “faz todo o sentido”. Porém, o Quadrilátero não pode estar tão exposto a conjunturas e motiva-ções de índole político-partidário. A grande razão de ser da estrutura institucional entretanto criada - a Associação Municípios para Fins Es-pecíficos Quadrilátero Urbano - não pode cingir-se ao acesso a financia-mentos públicos e comunitários. É necessária também uma liderança com peso institucional, capaz de

definir uma matriz de interesses e de especialização sobre a qual possa trabalhar com alguma autonomia, nomeadamente ao nível da dina-mização empresarial e de atração de investimento. Nesse sentido, haveria que definir por consenso as bases mínimas em matéria de objetivos e, assim, a gestão poderia operar com alguma autonomia e eficácia dentro desta associação de municípios.

Exprimindo a opinião de que o Minho carece de uma maior liderança empresarial, Capa Pereira acres-centa que, simultaneamente, na relação entre Braga e Guimarães, é importante manter presente que a UMinho é um parceiro indispen-sável nomeadamente no seu papel de promoção e de fortalecimento de eixos de entendimento. Manuel Mota, que foi vice-reitor UMinho, acrescenta que se considerarmos o Minho como uma região, denota-se que Viana do Castelo tem cumplici-dade implícita com o Porto. Segundo Manuel Mota as dificuldades de pro-jetos como o Quadrilátero prendem--se com o protagonismo político e pela concorrência que se estabelece entre os cabeças de cartaz e jus-tificar os obstáculos que se criam com questões relacionadas com as diferentes tendências políticas é insuficiente. Porém, ao contrário do que seria de esperar e, tendo em consideração a experiência que a UMinho viveu com o seu projeto de cooperação para o Minho enquanto “Região do Conhecimento”, os políti-

cos sentem-se desconfortáveis com a liderança da UMinho.

Apesar de tudo, segundo Carvalho Fernandes, com funções na exten-são de Braga do Centro de Desen-volvimento Empresarial do Norte do IAPMEI, o território do Quadrilátero beneficia de uma cultura de trabalho que lhe é reconhecida e de um con-junto de indústrias muito capazes. Em Portugal há custos de contexto desfavoráveis. De acordo com o dirigente da S.I.C.I., a política fiscal é cega e não é viável passar subi-tamente de um certo laxismo para uma evidente rigidez, pois o proces-so tem de ser incremental e constru-tivo e não radical e destrutivo.

Para Simão Soares, o ponto de maior desvantagem será a limitação do mercado nacional, a burocracia, a ausência de uma estratégia de clus-ter tecnológico e um capital nacional muito limitado que dificulta finan-ciamento. João Cortez da Celoplás e António Ressurreição realçam que os apoios e incentivos destinados às empresas não estão bem formata-dos, dando-se o exemplo da forma-ção financiada que é apontada como muito genérica, rígida e burocrática.

Ao nível das políticas públicas portu-guesas, o CEO da Success Gadget considera serem necessárias pes-soas que conheçam a realidade no terreno, e que existem demasiadas estruturas com o propósito enuncia-do de apoiar as empresas. Para além disso, a política de financiamento tem de ser revista, tendo em conta que os bancos e os fundos públicos

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não estão devidamente formatados às reais necessidades do tecido empresarial. Considerando que o país vai atravessar vários anos de enormes dificuldades e precisa de se reformar, reorganizar e reestruturar, João Cortez identifica também o problema de que o ensino secundá-rio não forma convenientemente os jovens. O sistema de ensino devia ser dual, unindo os ensinamentos teóricos da escola ou universidade com a aprendizagem prática da empresa.

António Pinto Carvalho, da APC Instrumentos Musicais, destaca o facto de Portugal ter de contrariar os entraves e as burocracias que co-loca ao crescimento das empresas. Tiago Freitas, da Porminho Ali-mentação, acrescenta ainda que o direito laboral evoluiu mas ainda carece de ajustes.

João Carvalho Fernandes e Capa Pereira estão de acordo no que res-peita às políticas públicas. Existem aspetos a melhorar na definição de prioridades e articulações ao nível do Estado e dos organismos da Administração Pública. João Carvalho Fernandes acrescenta ainda que há necessidade de uma maior consis-tência das políticas públicas imple-mentadas, mas também ao nível da gestão das equipas que estão no terreno. Os resultados alcançados com essas políticas refletem algu-mas debilidades e inconsistências e se as políticas públicas continuarem a ter uma eficácia muito baixa é ne-cessário identificar criteriosamente

as ações prioritárias e promover a afetação dos recursos a essas ações.

O país evidencia grandes dispa-ridades e diferentes realidades socioeconómicas, em particular quando se olha para os grandes centros urbanos. De acordo com Carvalho Fernandes, Lisboa assume uma preponderância, ao ponto de a crise económica e financeira, de-sencadeada em 2008, ter tido, em média, um impacto mais ténue na capital até 2011, quando se deram as primeiras descidas de salários na função pública e os aumentos de impostos; quando na região já se sentia, por força do encerramento de empresas, em particular, a partir do início deste século, sobretudo devido à concorrência internacional, à abertura de fronteiras a Leste e à desproteção aduaneira ocorrida na UE relativamente ao Oriente. O te-cido económico da região de Lisboa está mais dependente do terciário o que, apesar da limitação de atribui-ção de fundos, ajuda a explicar esta diferença. Adicionalmente, com a entrada na UE e na moeda única, Portugal passou a enfrentar um quadro macro e microeconómico de enorme condicionamento. O tecido empresarial português está a ser penalizado pela atual situação a ní-vel interno e pelas suas implicações em termos de condicionamento financeiro.

Ricardo Poças da Construções Ga-briel Couto entende que a menta-lidade em Portugal está a mudar. “Ir lá para fora tornou-se uma necessi-

dade”, o que permite uma transfor-mação significativa nas empresas portuguesas que as fazem “pensar global”. Todavia, ao nível interna-cional, a UE tem de se pronunciar sobre os desequilíbrios comerciais à escala internacional e deve clari-ficar a sua posição relativamente às regras a que deve atender, sob pena de pôr em causa o bem-estar económico dos países membros e de hipotecar irremediavelmente o seu modelo social, considera Carvalho Fernandes. Segundo, o dirigente da Critical Materials, de forma geral, falta especialização à diplomacia económica portuguesa; além de ser, em parte por essa razão, pouco operacional. António Pinto Carvalho acrescenta que importa uma maior diplomacia económica para reduzir as taxas aduaneiras em países como o Brasil: “Se for o Brasil a vender a Portugal há um tipo de tratamento, mas se for Portugal a vender para o Brasil há outro”.

No que diz respeito à atração de IDE em Portugal, José Capa Pereira refere que o impacto da justiça no IDE é muito grande para quem de-cide a melhor localização para o seu negócio, assim como as questões associadas ao licenciamento indus-trial, à fiscalidade e ao direito do trabalho. Para Tiago Oliveira da mul-tinacional Amtrol-Alfa, o território português apresenta vantagens em termos de inovação e desvantagens no que toca aos custos de produção (a evolução do euro face ao dólar não se tem manifestado vantajosa).

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Porém, os investidores, no momento da tomada de decisão para escolher um país para o seu investimento, pri-vilegiam a “competência, o ambiente político e o conhecimento tecnoló-gico” e, a este nível, os portugueses estão bem posicionados.

4.3. CLUSTERS E COOPERAÇÃO EM REDE

Na opinião do João Cortez, tudo se resume ao verbo “fazer”. Na sua opi-nião, Portugal carece de empresas com dimensão crítica para pensarem não apenas nacional mas também global. Embora o país também ne-cessite de se reformar e reorganizar, empresas com estas característi-cas só se conseguem refazendo e juntando, o que necessariamente implica uma maior abertura dos empresários nacionais a modelos de cooperação. Nos contactos estabe-lecidos com a Balanças Marques, empresa sedeada no concelho de Braga, verificou-se que gostavam de chegar a um país como um cluster, em vez de terem de provar o que fa-zem, muito por força de que, muitas vezes, os clientes nem sabem onde fica Portugal.

Segundo António Ressurreição, as infraestruturas existentes são mui-to importantes para a promoção da cooperação mas não são suficientes per si. É necessário uma maior arti-culação e funcionamento em rede. Apesar disso, o empresário têxtil confirma as vantagens e os contri-butos que podem ser obtidos por

intermédio do conceito de cluster, reconhecendo que existe neste ter-ritório um conjunto de especialistas em diversas áreas da cadeia de valor, nomeadamente no setor do têxtil e do vestuário. Por seu lado, Pedro Pinto da Success Gadget, confirma que os empresários são, generica-mente, muito egoístas e fechados e também não tem dúvidas de que “juntos, somos mais fortes”. Tiago Freitas, uma indústria de carnes lo-calizada em Vila Nova de Famalicão, considera que a cooperação win-win entre empresas ganha mais consis-tência e sentido com esta geração de empresários do que com a sua antecessora. Os clusters, nomeada-mente o das TIC, resumem-se a 5/6 empresários que se dão bem, o que é manifestamente pouco, refere José Dionísio da Primavera BSS.

Em determinadas áreas como a nanotecnologia, há muito a fazer para potenciar as estruturas e o know-how já existentes no territó-rio. Para a Success Gadget, uma “NanoValor” (agrupamento com-plementar de empresas entretanto criado) é um exemplo do quanto se pode fazer na ótica da cooperação. O objetivo desta associação, consi-derada essencial para o intercâmbio, para o network e para as sinergias que podem ser desenvolvidas, é dar consistência à rede e às políticas de cooperação. Na ótica do responsá-vel da Porminho Alimentação, também faria sentido a criação no Quadrilátero de uma associação ou cluster para a área agroalimentar,

tendo em conta a expressão que este tipo de indústria apresenta neste território. Para Tiago Freitas, denota-se que cada empresário atua por si quando em alguns domínios a cooperação seria mais benéfica.

As próprias associações empre-sariais e sindicais têm um papel importante na sociedade em geral, e na região, em particular, afirma António Ressurreição. Defende que estas organizações deveriam ter como razão de ser “pensar, propor, intervir e ter uma visão para o terri-tório”. Devia ser esse o seu principal papel, ao invés de se envolverem em projetos que se resumem à sua “sobrevivência”. João Carvalho Fer-nandes, também é defensor de que as associações empresariais devem ser agentes mobilizadores, com capacidade de agregação e lideran-ça. A este nível, destaca-se o facto das Construções Gabriel Couto e do grupo DST estarem a trabalhar em rede através de um agrupamen-to complementar de empresas que foi criado no Minho para a fileira da construção, numa iniciativa de-sencadeada com a colaboração da AIMinho. Trata-se de um exemplo de que a promoção e o fomento dos clusters empresariais se afigura essencial para facilitar a cooperação das empresas e a internacionaliza-ção.

É necessário promover todas as formas de aquisição de massa crítica das empresas e instituições, considera José Capa Pereira dando como exemplos a cooperação, mas

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também as fusões e aquisições de empresas. Nos bens transacioná-veis, para se ir além do mercado local, a escala é decisiva. Todavia, a grande motivação, por exemplo, para o estabelecimento de um agrupa-mento complementar de empresas ou de outro tipo de base associativa, tem sido a perceção ou existência de uma ameaça externa (ou seja, a cooperação tem surgido apenas em contextos de grande adversidade). João Cortez sumariza este raciocínio referindo que temos de “fazer” (refa-zer, juntar, reorganizar) empresas com dimensão crítica para pensarem não apenas nacional mas sobretudo global.

Na opinião de José Dionísio, CEO da Primavera BSS, deveriam exis-tir políticas de ordem fiscal para incentivar a fusão de empresas com maturidade no mercado. Pelo contrário, acrescenta, em Portugal temos as “Empresas na Hora” que praticamente não necessitam de capital social e que fomentam a que sejamos um país composto por empresas unipessoais. Daí a neces-sidade de pensarmos que tipo de tecido empresarial pretendemos ter nos próximos anos em Portugal e, em particular, no Quadrilátero.

Segundo Manuel Mota, catedrático da UMinho, existem forças e oportu-nidades no território do Quadrilátero que devem ser aproveitadas para as sinergias que se devem desenvolver em torno dos conceitos de rede e cooperação. Destaca, por exemplo, a existência de infraestruturas

empresariais e tecnológicas capazes (o Spinpark e o Avepark, único ponto do país com 4 redundâncias de fibra ótica mas, que está a ser fortemen-te penalizado por não usufruir de um acesso direto à autoestrada). O conhecimento de ponta e a exis-tência de empresas de referência em áreas emergentes das tecno-logias como as TIC, os materiais e a biotecnologia, os espaços como o GNRation com capacidade para fazer evoluir as indústrias criativas e, presença de uma estrutura como o INL, direcionada para apostar nos novos materiais são também desta-cados como forças e oportunidades para este território. Como principais fragilidades do Quadrilátero, aponta a inexistência de lideranças políticas fortes e com capacidade de inter-venção (capazes de influenciar as decisões de Lisboa) e a existência de um problema cultural associado a um certo egoísmo minhoto, onde existe tendência para dividir em vez de unir.

À semelhança do que AIMinho tentou fazer com a criação de um Centro Internacional de Negócios, de acordo com José Capa Pereira, seria importante que o território pudesse contar com um conjunto de recursos técnicos especializados e articulados, dedicados à captação de investimento e à promoção de estratégias de cooperação entre empresas (seguindo o modelo de operação das câmara de comércio e indústria existentes noutros luga-res). Acredita ainda que deve mesmo

ser analisada a pertinência da constituição de uma infraestrutura regional com essa vocação.

4.4. EMPREENDEDORISMO E RENOVAÇÃO DO TECIDO EMPRESARIAL

A renovação do tecido empresarial só se obtém através do empreen-dedorismo no seu sentido mais lato (entrepreneurship e/ou intra-preneurship). Da entrevista com Gustavo Dias da Critical Materials, percebe-se que a malha empresarial deve mudar com base numa aposta efetiva no empreendedorismo tec-nológico, até porque neste território sente-se que “há vontade de fazer coisas”.

Para além de ser importante criar empresas tecnológicas novas, é igualmente necessário incubar start ups no tecido empresarial atual, já envelhecido. De acordo com este empresário, nem todos os projetos ou ideias de negócio devem origi-nar a criação de novas empresas. Na maior parte dos casos, faz mais sentido integrá-las em empresas existentes, já consolidadas no mercado, dado ser uma estratégia que pode beneficiar ambas. Gustavo Dias considera ser preciso “reinven-tar” os setores tradicionais (têxtil e construção) através das TIC e do software. Existem também condi-ções no Quadrilátero para apostar na área da saúde e para se optar numa especialização em alguns

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nichos de mercado. Uma opção por áreas técnico-científicas capazes de aportar negócios e produtos de ele-vado valor acrescentado, benefician-do de vários cruzamentos possíveis entre elas (software com materiais, software com biologia, biologia com materiais, etc…) pode trazer, agora e no futuro, muito retorno para este território.

Na opinião de José Capa Pereira, mantém-se vigente a necessidade de conceção de um espaço voca-cionado à promoção de encontros informais entre empresários, docen-tes universitários, investigadores, alunos/empreendedores e inves-tidores, funcionando necessaria-mente como um facilitador de uma renovação empresarial por via do conhecimento. O ideal era conseguir cruzar e estabelecer relações de ca-ráter informal entre pessoas ligadas ao contexto académico e ao tecido empresarial deste território. Mesmo considerando apenas os próprios empresários, este encontro seria de grande valia, na medida em esta rotina era propiciadora da identifi-cação de novas ideias de negócio (benchmarking) e, simultaneamen-te, potenciadora de difusão de boas práticas. Dado que já existiram ten-tativas semelhantes no passado que não funcionaram, considera que são necessários animadores e dirigentes que promovam a dinâmica do espaço para que uma estrutura desta natu-reza possa ter sucesso.

Todavia, para se alterar a malha empresarial do território, é funda-

mental uma política em torno do empreendedorismo devidamente concertada e integrada, com re-cursos suficientes para alterar os padrões culturais e os modelos e condições de financiamento: é necessário ter capacidade de “pagar para ver”, considera o empresário da Critical Materials. Para além da necessidade de continuar a alimen-tar a geração constante de ideias em contexto académico e das conexões que devem ser estabelecidas entre os diversos players da região, im-porta ter disponível seed e venture capital ou outros meios financeiros para o “grande salto”. Para Gustavo Dias, o processo de financiamento tem de cobrir as várias fases de de-senvolvimento dos projetos. Nesse sentido, é vital que o financiamento seja pensado e operacionalizado de modo a evitar bloqueios inibidores que desanimam os empreendedo-res e que levam ao fracasso ou ao abandono prematuro dos projetos. O financiamento deverá ser fasea-do, assegurando as várias fases do percurso: investigação; desenvol-vimento de soluções e protótipos; licenciamento/patentes; criação de empresa; e, acesso aos mercados de destino.

António Ressurreição também entende que, ao nível do empreen-dedorismo, não deve ser o empreen-dedor ou o aluno da UMinho a ter de procurar financiamento junto dos Business Angels ou de outros inves-tidores. Pelo contrário, acrescenta que a universidade é que deveria as-

sumir a disponibilização de espaços e condições para que os investidores estejam continuamente nos campi a conhecer as novas ideias e projetos.

Simão Soares refere por experiência própria que, nos casos de empresas de menor dimensão, apoios específi-cos e não burocratizados destinados à captação de fundos para arranque e expansão de start ups, financia-mento para prospeção e marketing internacional, angariação de proje-tos públicos, serviços de informação comercial e facilitação de contactos com mercados externos e fomento da cooperação e da prática de clus-tering, são altamente valorizados pelos empreendedores.

Considerando que a tónica do finan-ciamento é realmente crucial, Gus-tavo Dias acrescenta ser necessário proporcionar meios para operações de financiamento de maior enver-gadura e/ou de capitalização. No entender da Critical Materials, é fundamental alavancar o crescimen-to da estrutura empresarial visando criar empresas com capacidade para competir à escala global, o que requer a existência de fundos espe-cíficos e de acesso a capital de uma forma estruturada. Simultaneamen-te entende importante a criação de uma estrutura de fundraising (com capitais públicos e privados) com impacto na captação de recursos capazes de gerar “campeões”. Existe um problema de capitalização das empresas tecnológicas: são neces-sários acionistas de longo prazo ao invés de empréstimos comerciais

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de curto e médio prazo, remata este empresário.

Para além das questões de financia-mento e capacitação de um tecido empresarial que se quer fortalecido e renovado, João Cortez, salienta o facto de termos “péssimos gestores” em Portugal. O problema da com-petitividade das empresas não está no trabalhador ou no operário mas sim em quem as dirige. Há muitos patrões e poucos empresários, ressalvando as deficiências de planeamento (inclusive pessoal) que apresentam.

A liderança faz-se com base numa estratégia sustentada, clara e bem definida. Para a Critical Materials, sedeada no Spinpark, o complexo Avepark/Spinpark carece de uma maior definição estratégica para favorecer a própria continuidade do projeto. Para além da necessidade de atração de empresas-âncora com dimensão, o mais importante passa pela existência de uma ideia es-tratégica sustentada que cative os empreendedores nacionais e locais e o investimento industrial externo. Uma maior especialização em áreas de IDI ou setores de atividade pode ser uma das estratégias a seguir, até porque, a título de exemplo, pode-ria fazer sentido a criação de um campus exclusivamente destinado a empresas de software. Estendendo o Quadrilátero como um todo, muito pode ser feito a este nível, até por-que basta partirmos do que já existe e que pode ser potenciado quase de imediato. Mediante objetivos bem

definidos, uma estratégia devida-mente sustentada e com a conjuga-ção de vontades das forças locais e regionais, tudo se torna possível.

4.5. INVESTIGAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO

Com base na auscultação efetua-da a algumas empresas do teci-do empresarial do Quadrilátero, verificou-se que existem temáticas e preocupações que são transver-sais à maior parte dos empresários entrevistados. O enriquecimento da proposta de valor dos produtos, com origem nas empresas do território do Quadrilátero é um tópico comum que corroboram, na medida em que reconhecem a importância da IDI na cadeia de valor. A ligação do tecido empresarial ao SCTN, nomeada-mente à UMinho e a outros centros tecnológicos ou do saber, permite uma aposta na inovação que é fun-damental para competir num mundo globalizado.

Sedeada em Braga, a Success Gadget, uma PME do setor têxtil vocacionada para as nanotecnolo-gias que ainda se encontra em fase de afirmação comercial, também privilegia o bom relacionamento com as instituições e fontes de saber. A existência destes agentes no terri-tório permite ganhos significativos para as empresas que se pretendem afirmar pela inovação, pelo valor acrescentado e pela diferenciação

no mercado. Uma competição mais focada no mix do produto aporta benefícios para a empresa e exter-nalidades positivas para a região em que se insere. A deteção de opor-tunidades do ponto de vista tecno-lógico contribui para a reinvenção constante do tecido empresarial e potencia a sua afirmação interna-cional. A própria Primavera BSS, surgiu no encalce de uma oportu-nidade que identificou na área do software. A sua aposta foi desen-volver software de gestão com base no sistema operativo Windows, contrariando o que o mercado da altura fazia, mantendo os desenvol-vimentos para MS-DOS.

Para Gustavo Dias, uma ligação mais estreita entre o potencial de “soft-ware” proporcionado pela academia minhota e o tecido empresarial é uma necessidade e uma forte possibilidade, por um lado, tendo em conta o upgrade de inovação e tecnologia de que a indústria carece e, por outro, com base no acesso à indústria que se revela vital para os investigadores. O objetivo dessa parceria resultaria na capacidade sustentada de oferecer ao mercado global produtos e soluções de maior valor, até porque o resultado econó-mico deve ser um dos focos estraté-gicos deste processo.

O fortalecimento do tecido empre-sarial no território do Quadrilátero pode ser conseguido apoiando a criação de valor. José Carvalho Fer-nandes afirma mesmo ser “neces-sário juntar quem sabe com quem

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produz” e, simultaneamente captar investimentos externos provenien-tes do estrangeiro ou de outras regiões do país. Apoiar a criação de valor nas empresas implica conceber um modelo de negócio onde sejam envolvidos os investigadores da UMinho (ou de outras entidades do SCTN) e onde a partilha de resulta-dos esteja bem definida, existindo inclusivamente apoios comunitários que devem ser aproveitados para esse fim.

Tiago Oliveira, vice-Presidente da Amtrol-Alfa, uma multinacional sedeada em Guimarães que é uma das maiores exportadoras mundiais de garrafas de gás transportáveis, considera existir um problema com a indústria que é não reconhecer a excelência do conhecimento tec-nológico. A indústria tem de ir às universidades procurar o que lhe interessa e, depois, a indústria deve “guiar” as universidades para um de-senvolvimento mais aplicado da I&D que se faz nestes centros de saber. Todavia, o mais importante nestes processos não são as instituições, mas sim as pessoas, isto é, os canais que importa cultivar são, sobretudo, os informais/pessoais.

A relação bilateral universidades - empresas pode ser muito profí-cua para as partes mas, apesar de existirem casos bem-sucedidos, é certo que ainda há muito a fazer para que os resultados possam ser mais amplos e eficazes. Na opinião de João Cortez, as instituições de ensino superior e de investigação

deveriam fomentar encontros com pessoas da indústria e com investi-dores. Simultaneamente, a avaliação dos resultados da I&D não deveria ser efetuada com base em patentes. No seu entender, a I&D também tem de ter utilidade para gerar riqueza, sendo certo que transformar I&D em produtos continua a ser uma grande dificuldade que ainda não consegui-mos ultrapassar.

A Coltec que atua no setor têxtil e do vestuário e que reconhece que a proximidade com entidades de IDI deve ser particularmente valorizada pela indústria. Francisco Fernandes é um dos apologistas de que as relações com este tipo de institui-ções são de grande utilidade, sendo para isso necessário manter os canais abertos e facilitar a comu-nicação das empresas com estes agentes, nomeadamente no quadro da participação em consórcios que permitam aproveitar recursos que potenciem a inovação de produtos e processos.

José Teixeira, presidente do grupo DST, reconhece que o Quadrilátero beneficia de uma “ótima universi-dade, inovadora e aberta”. Atento às áreas de maior interesse para o grupo DST, elogia o trabalho desen-volvido pela Escola de Engenharia e destaca que existe neste momento um projeto de grande interesse que se encontra em curso na UMinho e que se denomina IB-S - Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-sus-tentabilidade. Este novo projeto que está a ser criado na UMinho vai per-

mitir atuar ao nível das Smart Grids e também dos elementos passivos de construção, o que será de grande valia para o setor que representa.

Neste sentido, Gustavo Dias da Critical Materials, entende como fundamental a definição de uma visão comum para o território. Todavia, esta visão para o territó-rio tem de ser apontada com base no retorno económico e não nas áreas do saber. A própria UMinho não deveria prestar serviços que já estão no domínio das empresas e do mercado, mas sim serviços com inovação e com risco tecnológico. O contexto necessário à construção de uma “Região do Conhecimen-to” só se obtém ou modifica, com mecanismos que garantam uma geração continuada de ideias na ótica académica e empresarial e com financiamento público e privado ca-paz de implementar esses projetos de elevado valor acrescentado.

Embora persista alguma dificul-dade em aceder a financiamento para projetos desta natureza, uma vez que os investidores continuam reticentes a negócios que não têm retorno imediato, como é o caso de negócios baseados em IDI, o certo é que existem vários casos no territó-rio do Quadrilátero que se revelaram bem-sucedidos e com escala global.

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4.6. FATORES CRÍTICOS NA AFIRMAÇÃO INTERNACIONAL

A Primavera BSS reconhece a importância dos PALOP - Países Afri-canos de Língua Oficial Portuguesa para o arranque do seu processo de internacionalização. Esta opinião é partilhada por outras empresas que, à semelhança da Primavera BSS, também valorizam as comunidades portuguesas na sua afirmação inter-nacional, em grande medida devido à importância da língua portuguesa, uma vez que figura entre as línguas mais faladas no mundo. A Coltec é um desses exemplos: sabendo que a entrada no mercado asiático (prin-cipalmente na China) é inatingível, encontra-se a delinear estratégias que lhe permitam entrar no Brasil e nos mercados africanos, aproveitan-do nomeadamente as vantagens da partilha da língua.

Um outro fator a ter em considera-ção no processo de internaciona-lização é a dimensão da empresa. No momento em que a Primavera BSS pensou na internacionalização, verificou que não tinha dimensão para o fazer. O processo de interna-cionalização incorpora riscos eleva-dos e são necessários recursos que permitam a instalação do negócio num outro país, onde é necessário contrariar a distância e conquistar a confiança do mercado. Da experiên-cia acumulada, esta empresa con-cluiu que para que o desenvolvimen-to de negócio seja eficaz no mercado

internacional, o country manager deve ser português. Para além disso, é importante a informação sobre o mercado e o apoio ao nível de serviços de consultoria que facilite os “contactos certos”. Apesar das di-ficuldades sentidas com a operação em Espanha, José Dionísio afirmou que não têm nenhum dado que dê substância à ideia de existência de descrédito nos produtos de origem portugueses, destaca ainda que no mercado africano os produtos e serviços da Primavera BSS “são estrelas”. Todavia, foi também re-ferido que é necessária capacidade de financiamento para aguentar o tempo necessário ao retorno do investimento, principalmente quando este tarda em chegar.

De acordo com o testemunho de João Carvalho Fernandes do IAPMEI, o processo de internacionalização das empresas deve ser planeado e o risco que implica deve ser acaute-lado. As empresas devem ponderar, sempre que possível, a realização de parcerias com empresas locais, uma vez que estas conhecem em primei-ra mão a realidade do mercado que se tenta abordar.

Segundo António Pinto Carvalho, uma empresa de Braga com história e know-how reconhecido inter-nacionalmente nos instrumentos de corda, “é preciso quem abra portas lá fora”. Considera que as associações empresariais e a AICEP deveriam empenhar esforços numa maior promoção internacional das empresas. Simão Soares não

valoriza as ações de grande enver-gadura (do tipo mega-missões) que a AICEP promove com a presença de governantes, dado entender que estes eventos podem interessar mais a grandes grupos económicos e não tanto às pequenas empresas tecnológicas como a sua. Para além disso são, em geral, entidades de-masiado institucionais, não ajudan-do a resolver as dificuldades mais quotidianas deste tipo de empresas.

José Dionísio acrescenta que, a es-trutura da AICEP precisaria de estar fora do país e não cá dentro. As em-presas portuguesas viriam com bons olhos um maior apoio nos mercados externos e nos seus processos de internacionalização. A ideia seria a AICEP trabalhar do exterior para Por-tugal. O que se verifica atualmente é que os recursos fora de portas são escassos, resumindo-se à presença de uma pessoa no país de destino e a um papel de cariz marcadamen-te informativo. Para além disso, a avaliação do desempenho dessa pessoa deveria ser efetuada com base em objetivos. Se assim fosse, essa pessoa estaria motivada e inte-ressada em fazer o follow up e atrair as empresas portuguesas para esse mercado em concreto.

Na opinião de Francisco Fernandes, CEO da Coltec, o esforço da AICEP é apreciado em matéria de trazer “mercado” para as empresas, se bem que também entende que os contactos propiciados nem sempre são direcionados como deviam ser. Considera que há um caminho a

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fazer por aquele organismo ou por outro que se possa criar em matéria de facilitação de contactos específi-cos, similares àqueles que resultam da ação dos agentes comerciais que as empresas mantêm.

Outro aspeto considerado funda-mental pela maior parte dos en-trevistados é o facto de que este território carece de políticas de marketing que o promovam inter-nacionalmente, até porque conside-ram que as empresas tecnológicas nacionais são aceites com naturali-dade nos mercados externos. Tiago Oliveira da multinacional Amtrol-Alfa refere com conhecimento de causa que Portugal é reconhecido no ex-terior como um país de “1.º mundo”, inovador e feito de gente trabalha-dora. Porém, acredita também que “Portugal é demasiado pequeno para ser visto [a partir do exterior] como constituído por diferentes territórios”, isto é, as oportunidades oferecidas pelas distintas localiza-ções regionais do país não se distan-ciam ao ponto de justificarem uma política de marketing diferenciada.

Filomena Machado exerce funções de controlling na multinacional Leica, cuja unidade portuguesa de produção de aparelhos óticos de precisão está localizada em Vila Nova de Famalicão. Na sua perspetiva, para este território ser capaz de atrair IDE, deve potenciar e comunicar todos os seus atributos. No caso concreto da Leica, a casa--mãe encontra-se na Alemanha, o que obriga a várias deslocações dos

seus donos e gestores à unidade sedeada no Quadrilátero. Porém, estas deslocações que fazem a Por-tugal são por eles muito apreciadas, em virtude do sol, da proximidade do mar, do saber receber do povo português e da sua vontade de fazer mais e melhor. Em contraponto, o administrador da Celoplás acres-centa que a marca “Portugal” não é bem vista nos mercados internacio-nais, tendo em conta que a presença da Troika não contribui para melho-rar a imagem externa do país.

O Quadrilátero carece de estratégias de marketing territorial que promo-vam a região e que possam associar a componente turística à cultural, defende Manuel Mota. Nesta linha de pensamento, o líder do grupo DST, acrescenta que para atrairmos IDE para o Quadrilátero, importa que exista um programa integrado que considere as quatro parcelas do território como um todo e nos mais variados aspetos, que capacite o território para um maior cosmopoli-tismo. Simultaneamente têm-se que comunicar através do marketing territorial as excelentes condições de trabalho e de vida de que dispo-mos (tempo, condições naturais e segurança pública).

Ricardo Poças, da direção de pla-neamento e controle de obras das Construções Gabriel Couto, o território do Quadrilátero apresen-ta todas as condições necessárias para o desenvolvimento da sua atividade empresarial. Contudo, também defende que a existência

de um organismo facilitador que apoie as empresas de pequena e média dimensão no seu processo de internacionalização seria muito im-portante. Simão Soares reforça que uma eventual estrutura que venha a ser criada pode ser interessante para as empresas emergentes (tec-nológicas, para o mercado global), mas deve incorporar regras claras e simples: liderança eficiente com estratégia bem definida para apoio a micro e pequenas empresas; baixo custo operacional; especialização na exportação de conhecimento; e, foco nos apoios quotidianos.

Quanto à criação de um organismo regional para desenvolver um pro-jeto de internacionalização para o território, a resposta do dirigente da Critical Materials, não sendo pre-cisa, é positiva mas com reservas. As barreiras podem vir de dentro, espe-cialmente das estruturas existentes, dos objetivos do próprio projeto e, acima de tido, da liderança. Todavia, considera que a avaliação dos seus resultados deve ser feita através da taxa de conversão em negócio que conseguirem produzir ou facilitar. Esta entidade devia evitar o que as associações empresariais costumam fazer, isto é, “misturarem tudo”. Para além disso, podia apoiar na “desbu-rocratização” dos projetos financia-dos e, simultaneamente promover a consolidação empresarial e a fusão e aquisição de empresas.

Para José Capa Pereira, no passado muito ligado à AIMinho, o Quadrilá-tero é um processo. A região carece

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de uma verdadeira “infraestrutura institucional”, isto é, de uma prática organizativa e sistémica de coopera-ção efetiva que “alinhe” estratégias, valorizando as complementaridades mais do que as divergências. João Carvalho Fernandes do IAPMEI cor-robora deste pensamento, dizendo que para a captação de investimen-to, os agentes têm de ser direta-mente envolvidos. Para tal, salienta ser necessário criar consensos em torno de uma Carta de Negócio para o território (com os benefícios e as disponibilidades bem estabelecidas) que incluísse as questões fiscais, laborais, ambientais, de licencia-mento e formação, mas que também considerasse eventuais reduções de custos de contexto através do IRS, do IMI, da derrama e das taxas de licenciamento de água, tratamento de esgotos e resíduos. Uma medi-da desta natureza teria um forte impacto, com resultados visíveis no imediato, embora só fosse fazível pondo todos os organismos em con-tacto e a trabalhar em conjunto.

Por seu lado, Manuel Mota, profes-sor catedrático da UMinho, consi-dera que, a ser possível a criação de uma agência de desenvolvimento supramunicipal, seria fundamental que os municípios acordassem entre si um modelo de funcionamento e governança em áreas cuja coope-ração se revela um fator crítico de sucesso. Tanto a internacionalização como o marketing territorial são domínios, entre outros possíveis, em que a cooperação poderia resultar

sobremaneira.

4.7. QUADRO-RESUMO

Na tabela que se segue, são destacados os principais pontos referidos pelos três entrevistados com ligações, no presente ou no passado, à AIMinho, à UMinho e ao IAPMEI. Tenta-se resumir os quatro pontos anteriores de forma esquemática e de fácil consulta e são apenas referidos os contributos mais relevantes partilhados pelos entrevistados.

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Tabela 26 - Contributos dos entrevistados ligados à AIMinho, UMinho e IAPMEI

DIMENSÕES-CHAVE CONTRIBUIÇÕES DOS ENTREVISTADOS

QUADRILÁTERO E CONDIÇÕES DA ENVOLVENTE

Com a entrada na UE, particularmente, na moeda única, Portugal passou a enfrentar um quadro macro e microeconómico de enorme condicionamento. A UE tem de se pronunciar sobre os desequilíbrios comerciais à escala internacional e deve clarificar a sua posição relativamente às regras a que deve atender, sob pena de pôr em causa o bem-estar económico dos países membros. O tecido empresarial português está a ser penalizado pela atual situação a nível interno e pelas suas implicações em termos de condicionamento financeiro (Carvalho Fernandes).

Existem aspetos a melhorar na definição de prioridades e articulações ao nível do Estado e dos organismos da Administração Pública. Há necessidade de uma maior consistência das políticas públicas implementadas, mas também ao nível da gestão das equipas que estão no terreno (Carvalho Fernandes).

A eficiência do sistema judicial, o licenciamento industrial, a fiscalidade e o direito do trabalho são fatores muito importante para quem decide a melhor localização para o seu negócio (José Capa Pereira).

Dada a pouca eficácia das políticas públicas é necessário identificar criteriosamente as ações prioritárias e pro-mover a afetação dos recursos a essas ações prioritárias (José Capa Pereira).

O Quadrilátero não pode estar tão exposto a conjunturas e motivações de índole político-partidário. É necessária uma liderança com peso institucional, capaz de definir uma matriz de interesses e de especialização sobre a qual possa trabalhar com autonomia, nomeadamente ao nível da dinamização empresarial e de atração de investi-mento (José Capa Pereira).

As dificuldades de projetos como o Quadrilátero prendem-se com o “protagonismo” político e pela concorrência que se estabelece entre os “cabeças de cartaz” (Manuel Mota).

CLUSTERS E COOPERAÇÃO EM REDE

No Quadrilátero existem infraestruturas empresariais e tecnológicas capazes, conhecimento de ponta e em-presas de referência em áreas emergentes das tecnologias como as TIC, os materiais e a biotecnologia (Manuel Mota). Seria importante que o território pudesse contar com um conjunto de recursos técnicos especializados e articulados, dedicados à captação de investimento e à promoção de estratégias de cooperação entre empresas (José Capa Pereira).

É necessário promover todas as formas de aquisição de massa crítica das empresas e instituições. A coopera-ção tem surgido apenas em contextos de grande adversidade (José Capa Pereira). As associações empresariais devem ser agentes mobilizadores, com capacidade de agregação e liderança (Carvalho Fernandes). A UMinho é também um parceiro indispensável, nomeadamente no seu papel de promoção e fortalecimento de eixos de entendimento (José Capa Pereira).

Faltam lideranças políticas fortes, com capacidade de intervenção e capazes de influenciar as decisões de Lisboa. Existe ainda um problema cultural associado a um certo egoísmo minhoto, onde existe tendência para dividir em vez de unir (Manuel Mota).

EMPREENDEDORISMO E RENOVAÇÃO DO TECIDO EMPRESARIAL

Sente-se a necessidade de criar de um espaço que promova encontros informais entre os empresários, os professores universitários e os investigadores. O objetivo seria cruzar e estabelecer relações de caráter informal entre pessoas ligadas ao contexto académico e ao tecido empresarial. Para uma estrutura desta natureza poder ter sucesso, terá de ter alguém responsável pela dinâmica do espaço (José Capa Pereira).

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INVESTIGAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO

Para fortalecer o tecido empresarial no território do Quadrilátero deve-se apoiar a criação de valor (“é necessário juntar quem sabe com quem produz”) e captar investimentos externos. Apoiar a criação de valor nas empresas implica conceber um modelo de negócio onde sejam envolvidos os investigadores e onde a partilha de resulta-dos esteja bem definida (Carvalho Fernandes).

FATORES CRÍTICOS NA AFIRMAÇÃO INTERNACIONAL

O processo de internacionalização das empresas deve ser planeado e o risco deve ser acautelado. As empresas devem ponderar a realização de parcerias com empresas locais, uma vez que estas conhecem a realidade do mercado que se tenta abordar (Carvalho Fernandes).

Para a captação de investimento, os agentes têm de ser diretamente envolvidos. Uma boa solução seria a criação de uma Carta de Negócio para o território que incluísse as questões fiscais, laborais, ambientais, de licenciamen-to e formação, mas que também considerasse eventuais reduções de custos de contexto através do IRS, do IMI, da derrama e das taxas de licenciamento de água, tratamento de esgotos e resíduos (Carvalho Fernandes).

O Quadrilátero é um processo. O território carece de uma verdadeira “infraestrutura institucional”, isto é, de uma prática organizativa e sistémica de cooperação efetiva que alinhe estratégias, valorizando as complementarida-des mais do que as divergências (José Capa Pereira). O Quadrilátero carece de estratégias de marketing territorial que promovam o território e que possam associar a componente turística à cultural. A criação de uma agência de desenvolvimento supramunicipal faria sentido se os municípios acordassem entre si um modelo de funciona-mento e governança em áreas cuja cooperação se revela um fator crítico de sucesso (Manuel Mota).

Na tabela seguinte, são destacadas as principais ideias-chave referidas pelos representantes das empresas. O obje-tivo passa por apresentar de forma esquemática e simples os contributos mais relevantes partilhados pelos entrevis-tados.

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Tabela 27 - Contributos dos representantes das empresas entrevistadas

DIMENSÕES-CHAVE CONTRIBUIÇÕES DOS ENTREVISTADOS

QUADRILÁTERO E CONDIÇÕES DA ENVOLVENTE

O tecido associativo encontra-se repartido por cidades/concelhos. É necessário criar espaços e condições facili-tadoras do networking e dos negócios (José Dionísio, Primavera BSS). É crucial reformar, organizar e reestrutu-rar (João Cortez, Celoplás). Existe a necessidade de uma maior mobilidade entre os 4 concelhos (Gustavo Dias, Critical Materials).

É urgente, uma visão para o território, capaz de orientar e direcionar as vontades no mesmo sentido (António Ressureição, S.I.C.I.). A este nível, é também importante que os decisores de política sejam pessoas conhecedo-ras da realidade no terreno (Pedro Pinto, Success Gadget).

A diplomacia económica é pouco eficaz (Gustavo Dias, Critical Materials). Nomeia-se o caso das relações econó-micas com o Brasil, onde existe uma diferença muito grande entre as taxas aduaneiras aplicadas ao comércio Brasil-Portugal e ao comércio Portugal-Brasil (António Carvalho, APC Instrumentos Musicais).

É necessário diminuir a burocracia que impede o crescimento das empresas (António Carvalho, APC Instrumen-tos Musicais e Simão Soares, Silicolife). Os apoios e incentivos às empresas estão mal formatados. Deverão estar mais adequados às necessidades reais do tecido empresarial (João Cortez, Celoplás e António Ressureição, S.I.C.I.).

Apesar da recente evolução do direito laboral, são ainda necessário alguns ajustamentos (Tiago Freitas, Pormi-nho Alimentação).

CLUSTERS E COOPERAÇÃO EM REDE

Os empresários são, genericamente, muito egoístas e fechados (Pedro Pinto, Success Gadget). É necessário alterar os aspetos culturais pouco abertos à cooperação. (Simão Soares, Silicolife e António Ressureição, S.I.C.I.).

Os clusters são importantes pois sinalizam a especialização produtiva dos territórios, identificam a existência de especialistas (António Ressureição, S.I.C.I.) o que reduz a necessidade de provar a competência e a qualidade do que se faz (Paulo Marques e José Marques, Balanças Marques). A promoção e o fomento dos clusters empre-sariais afigura-se essencial para facilitar a cooperação das empresas e a internacionalização (Ricardo Poças, Construções Gabriel Couto).

A política fiscal deveria incentivar a fusão de empresas (José Dionísio, Primavera BSS). É importante que as empresas tenham dimensão crítica para pensarem nacional e global (João Cortez, Celoplás).

As associações empresariais devem ter como razão de ser “pensar, propor, intervir e ter uma visão para o territó-rio” (António Ressureição, S.I.C.I.). Deve-se aproveitar a existência do INL como uma infraestrutura de referência para o território (Pedro Pinto, Success Gadget)

EMPREENDEDORISMO E RENOVAÇÃO DO TECIDO EMPRESARIAL

É necessária uma aposta efetiva no empreendedorismo tecnológico e incubar start ups no tecido empresarial envelhecido (Gustavo Dias, Critical Materials). A universidade deve criar condições para que os investidores vão à universidade conhecer as ideias e projetos (António Ressureição, S.I.C.I.).

O complexo AvePark/Spinpark carece de definição, de uma ideia estratégica sustentada, que cative os empreen-dedores nacionais/locais e o investimento industrial externo e que favoreça a própria continuidade do projeto (Gustavo Dias, Critical Materials).

Existe um problema de capitalização das empresas tecnológicas: são necessários acionistas de longo prazo em substituição de empréstimos. É preciso criar uma estrutura para o fundraising de capitais públicos e privados (Gustavo Dias, Critical Materials).

O financiamento e apoio às startups devem ser desburocratizados e pensados de uma forma faseada. Ini-cialmente deve-se assegurar o investimento em I&DT, em protótipos, em licenciamento/patentes, na própria criação de empresa e no acesso aos mercados de destino (Simão Soares, Silicolife). Em fases posteriores, há uma questão de “mega financiamento” e/ou de capitalização (Gustavo Dias, Critical Materials).

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INVESTIGAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO

A parceria entre as universidades e as empresas deveria ter como objetivo a oferta de produtos/soluções de maior valor (Gustavo Dias, Critical Materials). É de extrema utilidade manter canais abertos e facilitar a comu-nicação das empresas com o SCTN, aproveitando recursos que potenciem a inovação de produtos e processos (Francisco Fernandes, Coltec).

As instituições do SCTN devem fomentar o encontro entre a indústria e os investidores. Os resultados da I&D devem ser medidos com base na geração de riqueza para a economia). É necessário transformar I&D em produ-tos (João Cortez, Celoplás). A indústria deve “guiar” as universidades para um desenvolvimento mais aplicado da I&D (Tiago Oliveira, Amtrol-Alfa).

FATORES CRÍTICOS NA AFIRMAÇÃO INTERNACIONAL

A marca “Portugal” não é muito bem vista nos mercados externos e a presença da Troika não ajuda a melhorar a sua imagem externa (João Cortez, Celoplás). O território carece de políticas de marketing que o promovam (José Dionísio, Primavera BSS).

Na atração de IDE deve-se potenciar e comunicar todos atributos do território. O sol, a proximidade do mar, o saber receber do povo português e a sua vontade de fazer mais e melhor, as condições de trabalho e de vida devem ser bem comunicadas e potenciadas (José Teixeira, grupo DST e Filomena Machado, Leica).

As mega-missões da AICEP são mais eficazes para os grandes grupos económicos e menos às pequenas empre-sas tecnológicas (Simão Soares, Silicolife).

A AICEP, como organismo de apoio para as empresas nacionais, deveria empenhar esforços numa maior promoção internacional das empresas (António Carvalho, APC Instrumentos Musicais). A presença no exterior deveria ser reforçada, verificando-se que os recursos “fora de portas” são escassos, resumindo-se à presença de uma pessoa no país de destino e a um papel de cariz informativo (José Dionísio, Primavera BSS). Os contactos propiciados nem sempre são direcionados como deviam ser, isto é, entende-se que há um caminho em matéria de facilitação de contactos específicos (Francisco Fernandes, Coltec).

A criação de uma estrutura de promoção e de fomento à internacionalização do Quadrilátero pode ser inte-ressante para as empresas emergentes. Importa que sejam definidas regras claras, simples, para garantir uma liderança eficiente deste território (Simão Soares, Silicolife e Ricardo Poças, Construções Gabriel Couto).

A avaliação dos organismos de promoção territorial e internacionalização deve ser feita através da taxa de con-versão em negócio que conseguirem produzir ou facilitar, devem ser definido um sistema de avaliação com base em objetivos (José Dionísio, Primavera BSS e Gustavo Dias, Critical Materials).

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5. Orientações para o futuro5.1. RESULTADOS OBTIDOS

O conceito de território transformou-se numa realidade incontornável. A no-ção de território “passou a englobar, para além do espaço físico ou geográ-fico, as vertentes do espaço administrativo, económico, social e percetivo. Ou seja: atualmente, o conceito de território, exprime a entidade suporte, de integração e de síntese, de toda a atividade humana, com particular realce para as atividades produtivas, o habitat, os recursos naturais e ambientais, as identidades, bem como os agentes desses processos” (Ferreira, 2007: 31). A competitividade territorial ganha maior relevo com a intensificação da competitividade global, a qual passa a conferir uma maior importância ao “lugar”. Fatores qualitativos inerentes ao território podem constituir fatores de atração entre empresas, pessoas e capitais (Carvalho, 2002).

Ao longo dos tempos, a competitividade territorial tem assumido cada vez mais importância, atribuindo-se particular atenção à valorização do ter-ritório. Tendo em conta que é possível dividir o território em vários níveis, importa considerarmos que, para cada nível de território, definem-se po-líticas públicas que influenciam a produtividade das empresas e dos seto-res. Em consequência, o território é uma unidade de análise em termos de competitividade, cuja gestão é assumida pelo poder público. Desta forma, as políticas públicas são uma variável de extrema importância, em virtude de influenciarem significativamente o ambiente de competitividade de um país (Porter, 1994).

Este estudo surge como um contributo para suportar decisões e opções de carácter estratégico (mas também operacional), devidamente sustentadas

e enquadradas nas especificidades do território que compõe o Quadrilá-tero, capazes de produzir efeitos no curto, no médio e no longo prazo, no que à competitividade e à interna-cionalização diz respeito. Quando se fala de competitividade de um terri-tório, deve-se ter presente que em todas as regiões existem empresas extremamente competitivas em de-trimento de outras nada competiti-vas, mas isso não é determinante da competitividade global do território. Em contrapartida, características/fa-tores inerentes ao próprio território afetam e influenciam a competitivi-dade de todas as empresas situadas nessa região (Comissão Europeia, 1999). A competitividade de um território depende assim, não tanto da existência ou não de empresas competitivas, mas principalmente da existência de diversos fatores inerentes à região em si, sejam eles naturais, humanos ou sociais, que promovam a competitividade da região como um todo.

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Como resultado das 17 entrevistas exploratórias, dos contributos e ideias-chave partilhadas e com base na análise SWOT elaborada para o território, estruturou-se uma matriz estratégica (Tabela 28) para o território do Quadrilátero. A apresentação sob a forma de matriz estratégica pretende facilitar a leitura e interpretação da informação.

Tabela 28 - Matriz estratégicaFonte: Elaboração própria

IDEIAS-FORÇA PARTILHADAS

- Afirmar este território como “Região do Conhecimento”, potenciando as redes empresariais e de I&D;

- Dotar a Associação de Municípios de Fins Específicos Quadrilátero Urbano de recursos e competências capazes de potenciar o território para acolher empresas internacionais e para projetar as empresas nacionais no mercado internacional;

- Projetar o Quadrilátero no contexto nacional e europeu;

- Identificar e promover as vantagens competitivas setoriais internas existentes e otimizar (racionalizar esforços, individualidades e coerência, projetar a região, extrair benefícios materiais do processo);

- Identificar e apostar no âmbito do Quadrilátero em áreas/clusters de excelência, tanto a nível nacional como europeu, com capacidade de atração e retenção de investimento e capital humano talentoso e qualificado;

- Colmatar as carências existentes ao nível da identidade e da notoriedade do Quadrilátero. Clarificar e acionar uma estratégia de comunicação e de marketing eficaz (marketing territorial);

- Potenciar a ligação entre as universidades e as entidades do SCTN e o tecido empresarial do território, de forma a enriquecer a proposta de valor dos produtos e serviços;

- Definir uma estratégia de atuação para o Avepark e para outras estruturas de apoio às empresas, reforçando o funcionamento em rede e a dinâmica deste espaço;

- Criar condições para tornar o INL num investimento estruturante para o território.

- Tornar a rede de transportes eficiente e adequar a rede à generalidade dos operadores, isto criar, uma verdadeira infraestrutura logística para o território;

- Progressiva compreensão da necessidade de articular iniciativas de cooperação e concertação territo-rial para potenciar a competitividade regional a vários níveis;

- Crescente interiorização, por parte dos atores regionais, da importância da criatividade, a inovação e o conhecimento na geração de oportunidades económicas;

RISCOS E/OU ADVERSIDADES

- Insuficiente solidariedade política e institucional entre os atores do Quadrilátero e entre outras forças ou stakeholders;

- Afastamento das associações empresariais do tecido produtivo, não dando respostas às reais necessi-dades do mesmo.

- Barreiras regionais/nacionais de natureza financeira e políticas decorrentes de incoerências nas políti-cas públicas ou de um processo de regionalização;

- Instabilidade do sistema fiscal e judicial;

- Problemas e burocracia relacionada com o licenciamento industrial;

- Não concretização dos projetos relacionados com a operacionalização do território ao nível do sistema de transporte público (rodoviário e ferroviário);

- Inexistência de um enquadramento legal para o ordenamento e planeamento dos transportes;

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5.2. VETORES ESTRATÉGICOS PARA A PROMOÇÃO DO QUADRILÁTERO

Um dos objetivos deste estudo, delineados e apresentados ante-riormente, passa por estabelecer um conjunto de estratégias e ações futuras de promoção do Quadrilá-tero com vista à sua internaciona-lização e à atração de IDE. De uma forma geral, o presente capítulo pretende apresentar os vetores estratégicos para a criação de um modelo de intervenção concertado entre os municípios que compõem o Quadrilátero que apoie e fomente a internacionalização do tecido em-presarial e, também, a captação de investimento para estes territórios.

Neste sentido, apresentam-se de seguida os vetores estratégi-cos considerados basilares para a melhoria das condições existentes e para a criação de um ambiente favorável à dinâmica e crescimento do tecido empresarial. O conjunto de propostas que se seguem, baseiam--se, por um lado, na leitura ampla do território por parte dos consultores e autores deste estudo e, por outro, na análise crítica dos empresários estabelecidos no território que, melhor que ninguém e dentro da sua área de atuação, conhecem as dificuldades quotidianas encaradas no terreno e que, com o saber e experiência acumulada, identifi-cam os aspetos mais importantes e prementes.

Vetor estratégico 1: Definir para o território do Quadriláte-ro um modelo institucional e de governança

Um dos pontos fracos apontados na análise teórica do presente estudo está relacionado com a ausência de estruturas político-administrativas de nível supramunicipal consisten-tes e convenientemente legitima-das, capazes de se constituírem como um interlocutor credível na relação com agentes sociais e em-presariais do território e parceiros no projeto de consolidação e de-senvolvimento do Quadrilátero. Um outro ponto a resolver está ligado com a problemática da liderança económica, política e institucional do território.

Face ao exposto, o Quadrilátero ca-rece de uma estrutura de governa-ção supramunicipal e de um modelo de institutional governance. Um modelo de governança implica lide-ranças fortes e capazes de articular ações coletivas e interesses comuns. O processo de tomada de decisão para ser eficaz, tem necessariamen-te de ser ágil, devendo ter como base um conjunto de princípios estratégicos previamente discutidos e estabelecidos.

Embora se entenda como o vetor estratégico mais importante para o Quadrilátero, são inúmeros os exemplos e possibilidades para a definição de um sistema de gover-nança capaz de acomodar interesses e levar a efeito ações de cooperação entre os mais diversos atores. Aliás,

a rede de atores é tão alargada e heterogénea que inclui cidadãos, empresas públicas e privadas, asso-ciações, institutos, fundações, entre outras entidades de natureza similar ou equivalente.

Um modelo institucional bem defi-nido pode exercer um importante papel no sucesso da gestão e pro-moção do território. Para isso, uma carta de objetivos (bem definidos) e um plano de atividades (coerente com os propósitos), são fatores a ter em conta na estruturação de um modelo de governança para o Quadrilátero.

A questão institucional em torno do Quadrilátero é de particular importância, na medida em que a estrutura que possa dar resposta às estratégias de cooperação acorda-das ou a acordar entre os quatro mu-nicípios, tem de estar capacitada e apetrechada dos recursos essenciais à prossecução dos objetivos que lhe estejam atribuídos.

Para que o modelo de intervenção funcione, são necessários meca-nismos que possam minimizar ou eliminar os conflitos de interesse. O impacto da governança corporativa deve ser sentido através da maximi-zação de valor para os intervenien-tes diretos, neste caso, os municí-pios.

O institutional governance é composto por um conjunto de mecanismos e regras pelas quais se estabelecem formas de controlo e de gestão, com instrumentos de mo-

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nitorização e de responsabilização das lideranças pelas suas decisões ou atos de gestão. A governança corporativa visa diminuir os even-tuais problemas que podem surgir na relação entre as lideranças de uma estrutura institucional para o Quadrilátero e os intervenientes que lhe estão diretamente associados.

Vetor estratégico 2: Especiali-zar uma estrutura regional no marketing territorial e na inter-nacionalização do território

Numa economia e sociedade inten-sivas em conhecimento e sujeitas cada vez mais à competição global, o sucesso e a competitividade de uma cidade/região parece depender de diversos fatores, deixando de estar tão relacionada com aspetos físicos e com os seus recursos naturais. No-vas formas de cooperação e atuação e, ao mesmo tempo, novas formas de estar e novos valores, lançam novos desafios à administração local e demais atores da região, ao exigi-rem um esforço adicional ao nível da promoção regional, de forma a atrair e reter recursos potenciadores do crescimento e garantir a manuten-ção da competitividade do território.

Atualmente, assiste-se a uma inten-sificação das ações de divulgação e promoção da imagem das cidades e das regiões junto dos potenciais empreendedores locais, regionais, nacionais e internacionais. O desenvolvimento económico de uma região depende em grande parte da sua capacidade de atração e fixação de indústrias e, neste

sentido, é comum a manipulação de instrumentos de política regional, desde benefícios fiscais a incentivos financeiros, no processo de concor-rência inter-regional pela atração das empresas.

A internacionalização dos territórios é algo muito estudado e abordado pelos críticos e pensadores econó-micos. Todavia, para além dos quatro municípios que a constituem, da AIMinho, do CITEVE e da UMinho, é necessário conseguir um maior envolvimento por parte das outras associações empresariais existentes no território. É necessário garantir uma parceria e um entendimento entre os agentes empresariais e os decisores políticos para a concreti-zação desta estrutura.

Apesar de a AICEP ser o organismo responsável pela internacionaliza-ção das empresas portuguesas e por encorajar as empresas internacio-nais a olhar para Portugal como um bom local para se investir, considera--se que a sua ação não consegue dar uma resposta satisfatória e adequa-da às características intrínsecas de territórios específicos. A existência de uma estrutura dedicada à inter-nacionalização do Quadrilátero, teria como principais objetivos fornecer um conjunto ímpar de serviços e informações para as empresas insta-ladas neste território e para aquelas que estejam a ponderar internacio-nalizar os seus produtos e serviços. Estes serviços de facilitação e acon-selhamento e a disponibilização de eventuais estudos setoriais poderão

reduzir e minimizar os tão referidos custos com a obtenção de informa-ção que as empresas enfrentam no seu processo de internacionalização.

Para além da vertente Quadrilá-tero-Mundo, este organismo iria igualmente promover a vertente Mundo-Quadrilátero, ou seja, o IDE no território, fornecendo, para além do apoio personalizado, um conjunto de informações que vão desde os incentivos ao investimento, o acesso ao financiamento, as áreas de aco-lhimento empresarial, a legislação, até à I&D e inovação. Pretende-se que esta estrutura assuma uma postura ativa e dinâmica na atração de investimento estrangeiro para o território (marketing territorial).

Vetor estratégico 3: Proporcio-nar uma maior ligação entre entidades do SCTN e o tecido empresarial

Para que a ligação entre as entida-des do STCN e o tecido empresarial fosse mais efetiva e profícua, seria conveniente definir um modelo de transferência de conhecimento que envolvesse as partes mas cujos resultados fossem devidamente partilhados através de um modelo de exploração definido a priori e que proporcionasse vantagens mútuas.

A renovação do tecido empresarial do território deverá ter em conside-ração a definição clara de objetivos e de áreas estratégicas, formando quadros qualificados e desenvolven-do conhecimento aplicado, integran-do novas ideias e projetos de valor

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em empresas já consolidadas no mercado e apoiando novas start ups aos mais diversos níveis. O território deverá ser promovido numa lógica restrita, definindo claramente em que áreas ou setores apresenta van-tagens comparativas. Só através da focalização em determinadas áreas será possível fomentar a competiti-vidade e a atratividade deste territó-rio de forma eficaz e eficiente. Aqui, o papel da UMinho e das outras ins-tituições de ensino ou investigação do território é fundamental, tendo em consideração as suas funções na formação de recursos humanos altamente qualificados e as infraes-truturas de I&D que deverão estar à disposição do tecido empresarial. Embora, a UMinho seja já considera-da a, nível nacional, a universidade com maior número de patentes ren-dibilizadas em contexto empresarial, considera-se que, até pela poten-cialidade do território em questão, se deveriam intensificar as colabo-rações universidade-empresa. A UMinho, neste território, é o player melhor posicionado, com boas condições infraestruturais e com excelentes capacidades para prestar serviços de maior risco tecnológico às empresas que pretendem apostar em novos produtos e desenvolver ideias inovadoras (serviços, estes, que o mercado não oferece).

A interligação entre a UMinho, outras entidades do SCTN e as associações empresariais, é igual-mente uma importante mais-valia para o território, dado que, no caso

das associações, beneficiam de uma relação mais estreita com o tecido empresarial, sendo assim um excelente interlocutor entre este e a universidade.

Ainda neste âmbito, destaca-se o papel do Avepark como interface da própria universidade. Sendo o Avepark uma infraestrutura de relevo para as empresas de base tecnológica, urge a definição de uma estratégia que se foque na captação das empresas inovadoras e de base tecnológica, na aposta no marketing internacional, como forma de atrair empresas-âncora e investidores. In-fraestruturas como o INL ou os 3B’s têm de ser potenciadas no território.

Vetor estratégico 4: Criar re-des/espaços de excelência para fomentar o empreendedorismo e os negócios

Em termos históricos, o conceito de mobilidade social (ideia/capacidade de alterar o estatuto económico e social) revela-se um elemento mar-cante neste território. Fato que jus-tifica a forte iniciativa empresarial e competitividade do Quadrilátero ao longo dos anos. Mais recentemente, e a título de exemplo, verificou-se a criação e dinamização, na UMinho, de uma oferta formativa de curta duração em áreas de empreende-dorismo e de inovação, que aliadas à apetência/vontade de criar um negócio próprio, fez crescer a eco-nomia em torno de determinados setores, nomeadamente as TIC.

É importante criar as condições para

que os negócios inovadores pros-perem e floresçam. Neste aspeto, o modo de funcionamento das instituições económicas e políti-cas é essencial, na medida em que são responsáveis por estabelecer os incentivos às empresas e aos indivíduos. As instituições econó-micas e políticas são responsáveis por determinar os incentivos para os indivíduos se instruírem, pouparem, investirem, inovarem e adotarem novas tecnologias. As instituições influenciam o comportamento e os incentivos na vida real e, por conse-guinte, contribuem para o êxito ou fracasso das nações e, em menor escala, dos territórios (Acemoglu e Robinson, 2013).

Acemoglu e Robinson (2013) afirmam que “o talento individual é importante, a todos os níveis da sociedade, mas necessita de um quadro institucional que o transfor-me numa força positiva”. Exemplifi-cam recorrendo ao caso de Bill Gates e da Microsoft: “Bill Gates, tal como outras figuras lendárias da indús-tria das TIC, possuía um talento imenso e ambição. Mas, em última análise, respondeu a incentivos. O sistema educativo dos EUA per-mitiu a Gates e a outros como ele adquirirem um conjunto único de aptidões para complementarem o seu talento. As instituições eco-nómicas dos EUA permitiram-lhes criar facilmente empresas… Essas instituições viabilizaram também o financiamento dos seus proje-tos. Os mercados laborais dos EUA

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permitiram-lhes contratar pessoal qualificado e as condições relati-vamente competitivas do mercado permitiram-lhes expandir as suas empresas e comercializar os seus produtos”. Desta forma, as institui-ções e a forma como funcionam são cruciais para os territórios.

As universidades enquanto fontes recetoras de fundos para I&D por excelência, funcionam como centros de investigação e desenvolvimento e criação de empresas spin-off, li-derando muitas vezes o processo de inovação tecnológica. Por outro lado, atraem e desenvolvem talentos, promovendo o intercâmbio de ideias e o empreendedorismo e, ao mesmo tempo, moldam o ambiente externo onde estão inseridas, tornando-o mais aberto e recetivo a novas ideias e à diversidade.

Em Portugal, muito se fez, ao longo dos últimos anos, para melhorar o sistema educativo e as institui-ções em geral. Contudo, apesar dos recentes esforços, o trabalho feito ao nível da promoção do espírito em-preendedor é ainda muito incipiente. A este nível considera-se que as estruturas do Quadrilátero, estando tão próximas da realidade do territó-rio estão numa posição privilegiada para atuarem.

Vetor 5: Garantir um sistema integrado de mobilidade e de transportes nos quatro conce-lhos do Quadrilátero

O território do Quadrilátero carece de condições de mobilidade susten-

tável, tanto aos níveis intraurbano como interurbano, as quais são fundamentais para a criação de um espaço de vida comum para cida-dãos e empresas. Nesta linha de pensamento, torna-se necessário desenvolver e gerir um sistema de transporte integrado e intermodal, capaz de proporcionar melhorias significativas na mobilidade tanto de pessoas como de bens.

Simultaneamente, pela sua configu-ração nuclear, o território do Qua-drilátero é um forte potenciador de outras articulações funcionais entre os aglomerados urbanos vizinhos, o que deve ser aproveitado. O sub-sistema formado pelas cidades de Braga, Barcelos, Amares e Vila Verde é um dos exemplos, necessitando de uma solução intermunicipal para os transportes urbanos/suburba-nos. Do mesmo modo, também se verifica uma forte interdependência entre as cidades de Guimarães e Fafe, Vizela e Felgueiras, Vila Nova de Famalicão, Santo Tirso e Trofa.

Atualmente, o Quadrilátero não salvaguarda as infraestruturas necessárias à dinâmica empresarial e, apesar das grandes melhorias verificadas ao nível das vias de co-municação, persistem algumas de-ficiências, nomeadamente ao nível das ligações ferroviárias. Apesar do transporte ferroviário não ter tanta expressão como o transporte rodo-viário, perspetiva-se a inversão da tendência dominante. Por um lado, devido ao contínuo aumento do pre-ço dos combustíveis, à generaliza-

ção das preocupações com a polui-ção e o meio-ambiente e, por outro, pela necessidade de uma oferta ferroviária e de uma rede intermodal de qualidade, garantindo a facilida-de de comunicação e circulação de pessoas e mercadorias através da rede de transportes públicos.

A ideia de criação de um sistema multimodal (pessoas e mercado-rias), à semelhança do que se fez em Lisboa com a Gare do Oriente, deveria ser pensado também para este território, quanto mais não seja quando se vier a equacionar a possibilidade de uma estação de comboio de altas prestações no Quadrilátero se o investimento para uma ligação Porto-Vigo avançar. Independentemente de se tratar de um investimento que não se vislum-bra para os próximos tempos, é de referir a elevada importância para o território de se conseguir influenciar para que, a médio ou a longo prazo, venha a ser efetuada uma ligação de TGV (Train à Grand Vitesse) entre Porto e Vigo, onde esteja garantida a passagem por Braga ou mesmo pelas imediações de Braga.

Apesar da atual conjuntura econó-mica nacional e dado o elevado in-vestimento que estaria envolvido na concretização das propostas apre-sentadas no presente vetor estraté-gico, realça-se a importância, para o território, de uma rede de transpor-tes mais eficiente e eficaz que asse-gure a intermodalidade. No passado recente, foram realizados avultados investimentos na rede rodoviária,

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contudo as recentes orientações da UE conduzem para uma maior uti-lização da rede ferroviária de forma a minimizar o crescente aumento do preço dos combustíveis e o impacte ambiental provocado pela excessiva utilização do transporte rodoviário.

Vetor 6: Promover a qualifica-ção e atratividade do ambiente urbano do Quadrilátero

Atualmente há dois vetores que moldam o mundo: a tecnologia e a globalização. O primeiro ajuda a determinar as preferências humanas e o segundo as realidades económicas (Levitt, 1991). A criatividade surge agora como fator decisivo para o desenvolvimento regional.

O sucesso de uma cidade está rela-cionado com diferentes dimensões: talento; inovação; conectividade; e, características distintivas. Estas di-mensões é que a tornam num espa-ço único e mais competitivo/atrativo que as demais cidades. Na socieda-de do conhecimento, valorizam-se novas dimensões que até então não faziam sentido. O capital humano (talentos), a capacidade de inova-ção e de geração de novas ideias, a abertura, diversidade e ligações a outras regiões, a interação cultural e as suas características e infraestru-turas, em conjunto, contribuem para a inovação e criatividade, promoven-do o sucesso e competitividade da sociedade.

O desenvolvimento regional não pode ser dissociado do capital

humano. A competitividade de uma cidade e/ou região depende larga-mente da “qualidade” do seu capital humano, sendo que quanto maior for essa concentração de capital humano criativo e talentoso, mais competitivo será o território e, mais atrativo será para a concentração de indústrias inovadoras e de base tec-nológica. Assim, quanto mais criativa e diversificada for uma cidade/região, quer seja como resultado da sua abertura ou devido à existência de uma percentagem elevada de população estrangeira, maior será o seu nível de empreendedorismo e inovação, aumentando a sua compe-titividade.

À medida que passamos da antiga “economia industrial” para a emergente “economia criativa”, reforçando o papel do conhecimento e da criatividade enquanto fontes de crescimento da inovação e de produtividade, as próprias universidades passam a desempenhar um importante papel ao nível dos “3 T’s” do desenvolvimento económico: tecnologia, talento e tolerância, conforme defendem os autores Florida, Gates, Knudsen e Stolarick (2006). A “atração e fixação de ocupações criativas podem funcio-nar como motores da capacidade de inovação e do desenvolvimento económico de áreas rurais e peque-nos centros urbanos”.

As novas gerações procuram cada vez mais um estilo de vida saudável associado à qualidade de vida da ci-

dade e a tudo quanto pode oferecer em termos de história, cosmopolitis-mo, alimentação, desporto, cultura, saúde, ambiente e sociedade. O conceito de cidade passou a implicar qualidade na vida urbana, nomea-damente no que se relaciona com a estética, os valores e o convívio entre pessoas. O território do Qua-drilátero em geral e as cidades em particular, ao promoverem a relação com o exterior não podem descurar a necessidade de assegurar a dolce vita e as componentes culturais e criativas. Para isso, é fundamental requalificar as cidades e reabilitar os seus centros históricos, efetuando uma programação cultural integral verdadeiramente articulada asso-ciada a novos modelos culturais e de revitalização da urbe. Questões culturais, organizacionais e ambien-tais entram agora na equação da atratividade de uma região, lan-çando novos desafios aos diversos atores locais que necessitam de promover o seu território e atrair os recursos que lhes garantam maior competitividade, rumo ao cresci-mento sustentado do território onde se inserem.

5.3. PROPOSTAS DE AÇÃO

Na tabela seguinte ilustram-se as ações a realizar no curto e no médio e longo prazo que pretendem dar resposta aos vetores estratégicos apresentados no ponto anterior. Trata-se de ações concretas que visam contribuir para capacitação

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tecnológica e para o aumento da competitividade do território, pressupondo a aposta no capital humano, no conhe-cimento, na criatividade e na excelência para a sua afirmação na nacional e internacional.

Tabela 29 - Propostas de ação no curto, médio e longo prazo para a promoção do Quadrilátero

VETOR ESTRATÉGICO CURTO PRAZO MÉDIO E LONGO PRAZO

1: DEFINIR PARA O TERRITÓRIO DO QUADRILÁTERO UM MODELO INSTITUCIONAL E DE GOVERNANÇA.

# Criar uma infraestrutura própria do Quadrilátero focada na atração de IDE, no apoio à internacionalização de empresas locais e na promoção inter-nacional do território (que pode vir a ser integrada na Associação de Fins Específicos Quadrilátero Urbano);

2: ESPECIALIZAR UMA ESTRUTURA REGIONAL NO MARKETING TERRITORIAL E NA INTERNACIONALIZAÇÃO DO TERRITÓRIO

# Elaborar um plano de comunicação e marketing territorial para o Quadrilá-tero, realçando as forças deste território face a outros;

# Conceber uma marca e uma imagem comum para o Quadrilátero (bran-ding territorial), promovendo a identidade do território, os focos de compe-titividade e definindo o posicionamento estratégico.

# Associar o território ao conhecimento e à tecnologia, usando a excelência em nanotecnologia como mensagem principal;

# Criar uma plataforma de disponibilização de dados estatísticos e recolha de informação relevante sobre o Quadrilátero;

# Desenvolver esforços para fomentar a criação de uma delegação/repre-sentação de um jornal de alcance nacional, em Braga.

# Desenvolver, de forma cons-tante e no próprio território, iniciativas de marketing que permitam consolidar interna-mente os conceitos e o posicio-namento que estão subjacentes ao branding territorial definido.

3: PROPORCIONAR UMA MAIOR LIGAÇÃO ENTRE ENTIDADES DO SCTN E O TECIDO EMPRESARIAL

# Definir um modelo de transferência da tecnologia das universidades para as empresas;

# Disponibilizar as infraestruturas de I&D em prol de projetos que surjam do tecido empresarial;

# Desenvolver uma estratégia para o Avepark, apostando na instalação de empresas exclusivamente de base tecnológica ou inovadoras;

# Definir de forma clara as prioridades do território em termos de oferta formativa dirigida para o tecido empresarial;

# Assumir a nanotecnologia e outras áreas relacionadas como uma área de excelência na promoção do Quadrilátero e ajustar a investigação e a oferta de cursos superiores às necessidades e às oportunidades existentes em torno das novas tecnologias;

# Organizar tertúlias periódicas entre empresários e investigadores e outros stakeholders;

# Contribuir para o aumento da massa crítica e do conhecimento em nano-tecnologia, promovendo o surgimento de novas empresas que atuem nesta área, garantindo investimento que potencie negócios com escala global;

# Criar condições para inter-setar o conhecimento em nanotecnologia com outras áreas de referência como as TIC, os polímeros ou os materiais, fomentando a existência de investigação aplicada para setores mais tradicionais como o têxtil ou a construção.

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4: CRIAR REDES/ESPAÇOS DE EXCELÊNCIA PARA FOMENTAR O EMPREENDEDORISMO E OS NEGÓCIOS

# Criar e fomentar um fundo de capital de risco para apoiar a criação de empresas de base tecnológica e inovadoras no Quadrilátero;

# Sensibilizar os empresários já instalados a “apadrinhar” start ups ou projetos inovadores que surjam neste território;

# Conceber um espaço informal que promova o encontro entre o público universitário, investidores, empresários, empreendedores, investigadores e outros stakeholders que seja dinamizado através de um conjunto de eventos de interesse (clube de negócios);

# Agregar as políticas de empreendedorismo do território, uniformizando--as em torno de um sistema de inovação com capacidade para gerar negó-cios de valor acrescentado;

# Estabelecer relações com redes de empreendedorismo e inovação internacionais;

5: GARANTIR UM SISTEMA INTEGRADO DE MOBILIDADE E DE TRANSPORTES NOS QUATRO CONCELHOS DO QUADRILÁTERO

# Ajustar o sistema de transportes públicos e privados ao território do Quadrilátero como um todo, invertendo a lógica concelhia de carácter mais individualizada que existe atualmente;

# Fomentar a utilização de transportes amigos do ambiente, menos polui-dores e energeticamente mais eficientes;

# Realizar um estudo de custo-benefício para a construção de uma plata-forma logística multimodal no território;

# Adotar uma estratégia de promoção, de requalificação e de gestão coleti-va dos espaços de acolhimento empresarial existentes no território.

# Implementar a plataforma multimodal

6: PROMOVER A QUALIFICAÇÃO E ATRATIVIDADE DO AMBIENTE URBANO DO QUADRILÁTERO

# Articular a oferta cultural das quatro cidades para o território do Quadrilá-tero como um todo;

# Promover programas internacionais de intercâmbio com cidades inteli-gentes e criativas de referência;

# Criar eventos mobilizadores periódicos que envolvam as quatro cidades em torno da criatividade e da expressão artística e cultural;

# Incentivar projetos inovadores na área do comércio e da restauração, revitalizando o centro urbano das quatro cidades.

# Requalificar os centros históricos das quatro cidades, tornando-os atrativos para uma população jovem e cosmopolita;

# Concertar os investimentos dos municípios em infraestru-turas culturais e desportivas, considerando o território na sua globalidade.

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6. ConclusãoAs regiões não são meros espaços geográficos dado que surgem dota-das de recursos e competências de variada natureza, quantidade e valor. No caso da região Minho, é possível identificar uma raiz endógena de de-senvolvimento, sendo fundamental aferir na atualidade e para o futuro as potencialidades do seu tecido empresarial e as capacidades da rede em que assenta a base produti-va deste território. Embora marcado por uma forte componente rural e agrícola, o Minho não deixa de ser conhecido pela sua tradição indus-trial e pela sua vitalidade económica e cultural.

A tendência tradicional de focar a determinação da competitividade de um território na sua estrutura económica em elementos como a composição setorial, produtividade,

produção, VAB e níveis de investi-mento (nacional e estrangeiro) está a revelar-se claramente insuficiente. Esta abordagem deve ser comple-mentada a outros níveis. Fatores como as condições geográficas, localização, infraestruturas existen-tes, recursos naturais, custo de vida e a imagem urbana da região são também fatores determinantes da competitividade territorial. Por sua vez, o desenvolvimento dos seus recursos humanos, a qualidade da educação e formação, assim como o nível de habilitações literárias são vitais no sentido de acompanharem e suportarem o aumento da compe-titividade. A questão cultural e insti-tucional, a existência de políticas de fomento e um ambiente propício aos negócios também não devem ser esquecidas.

Porter (1998) defende que países e economias prósperas não advêm apenas de recursos naturais e da força de trabalho disponível ou do valor da moeda nacional. Depen-dem, sobretudo, da capacidade dos seus atores utilizarem os recursos disponíveis de forma eficiente, assim como da sua capacidade de inovação e introdução de mudanças que garantam um desenvolvimento sustentável. A criação e assimilação de conhecimento são também con-sideradas cruciais. A determinação da competitividade de um território envolve a utilização de um indica-dor tridimensional que depende de áreas como: as relações económicas internacionais; os recursos naturais, ecológicos, financeiros e legais; e, a localização geográfica/conjuntura económica em que se atua.

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Na economia do conhecimento, as regiões “tornam-se competitivas se forem capazes de atrair trabalhado-res qualificados, para criar e aplicar conhecimento no desenvolvimen-to de clusters de atividades que propiciem crescimento económico e gerem níveis de vida padronizados para os seus habitantes. Para isso, exige-se uma grande capacidade organizacional e de liderança. A capacidade de inserção de uma ci-dade na economia do conhecimento define-se pela dimensão, excelência e diversidade das suas bases econó-mica (constituída pelas atividades transacionáveis) e do conhecimento (constituída pelos níveis educacio-nal e criativo da população e pelas instituições produtoras de conheci-mento científico, cultural e artístico), pela sua conectividade (incluindo a digital), pela qualidade de vida que proporciona aos seus habitantes e visitantes, pela diversidade urbana e pela capacidade de integração social dos diferentes grupos populacio-nais que a habitam” (Martins et al. 2007:1).

As redes têm também um papel vital aquando da seleção do local ou região onde investir, funcionando como meio privilegiado de divulga-ção de informação essencial para apoiar o processo de decisão de investimento. Atualmente, há dois vetores que moldam o mundo: a tec-nologia e a globalização. O primeiro ajuda a determinar as preferências humanas e, o segundo, as realidades económicas (Levitt, 1991). O antigo

papel das matérias-primas e dos recursos naturais, enquanto fatores decisivos para o desenvolvimento regional, perdeu peso em prol da criatividade, que surge agora como fator decisivo para a competitivida-de territorial. Apesar disso, todos parecem concordar que as condições naturais e infraestruturais de uma determinada região são fatores de-cisivos para a atratividade e desen-volvimento desse mesmo território.

De acordo com Figueiredo e Guima-rães et al. (2002), a decisão de loca-lização das empresas deriva quer de fatores pessoais e de networking, quer de assimetria de informação sobre o ambiente urbano e regio-nal. Estes autores afirmam que, em muitas ocasiões, mesmo os investi-dores bem-informados apresentam alguma relutância em optar por regiões diferentes das do seu local de residência, onde o conhecimento do território e a rede de contactos é naturalmente maior. Os aspetos intangíveis, difíceis de mensurar, nomeadamente a existência de relações de networking com insti-tuições e entidades, impossíveis de replicar em outros locais, assumem especial relevo e influência na de-cisão de localização das empresas, com especial destaque para as em-presas de capital nacional. Os laços formais e informais com entidades públicas e privadas assumem, assim, alguma importância na decisão da localização do negócio.

A importância de um trabalho desta natureza assenta no contributo que

pretende dar para o crescimento, desenvolvimento e internacionaliza-ção de um território com base numa estrutura em rede que abreviada-mente se denomina por Quadrilá-tero. Neste sentido, constatou-se a necessidade de uma visão estratégi-ca agregadora e capaz, vocacionada para facilitar, dinamizar e aumentar a competitividade do território e a internacionalização do seu tecido empresarial.

Ao longo deste estudo, foram identificadas e estudadas as opor-tunidades a explorar para o Quadri-látero, apresentando-se propostas para o rumo a seguir e elencando-se uma panóplia de ações capazes de desenvolver os vetores estratégicos definidos, num contexto de facilita-ção do aparecimento a prazo de uma nova economia, que incorpore mais valor acrescentado para o território. O estudo desenvolvido apoiou-se na realização de 17 entrevistas explora-tórias. Todas as entidades entrevis-tadas reconheceram a importância da cooperação estratégica em torno de uma ideia comum para o aumento da competitividade de um território como este, o que pressu-põe a aposta no capital humano, no conhecimento, na criatividade e na excelência para a sua afirmação na “aldeia global”.

Das principais conclusões destaca--se a necessidade de trabalhar na criação de uma liderança clara e uníssona para o Quadrilátero, de forma a definir e estabelecer uma matriz de estratégias de atuação

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comum a este território. A atribui-ção de poderes e competências e o reconhecimento institucional da Associação Municípios de Fins Espe-cíficos Quadrilátero Urbano é fulcral para a implementação deste projeto, não podendo cingir-se ao simples acesso e gestão de projetos de fi-nanciamentos público e comunitário.

Enfatiza-se e aconselha-se a cria-ção de uma estrutura regional dedicada à internacionalização e ao marketing territorial, que se foque essencialmente na atração de IDE, no apoio à internacio-nalização de empresas locais e na promoção internacional do território.

Para promover as ideias inovadoras, o I&D e a competitividade é impor-tante criar redes e espaços de exce-lência para fomentar o empreende-dorismo e os negócios no território, definindo-se um modelo de transferência de tecnologia das universidades para as empresas. Para tal, sugere-se, por exemplo, a criação de um fundo de capital de risco para apoiar a criação de empresas de base tecnológica e ino-vadoras no Quadrilátero, o fomento de políticas de empreendedoris-mo no território, uniformizando--as em torno de um sistema de inovação com capacidade para gerar negócios de valor acrescen-tado. Na vertente de I&D destaca--se, por exemplo, a necessidade de existir uma maior ligação entre as estruturas da UMinho e outras entidades do SCTN e o tecido

empresarial, com recurso à organi-zação de tertúlias periódicas entre empresários e investigadores e outros stakeholders, com a dispo-nibilização das infraestruturas de I&D em prol de projetos que surjam do tecido empresarial e através da definição e desenvolvimento uma estratégia para o Avepark, apos-tando na instalação de empresas exclusivamente inovadoras ou de valor acrescentado.

Para garantir as infraestruturas necessárias à dinâmica empresa-rial nos quatro concelhos que com-põem o Quadrilátero, considera-se igualmente fundamental a adoção de uma estratégia de promoção, de requalificação e de gestão coletiva dos espaços de acolhi-mento empresarial existentes no território.

Na ótica da mobilidade, destaca-se a importância de ajustar o sistema de transportes públicos e priva-dos ao território do Quadrilátero como um todo e, no longo prazo, equacionar a implementação no território de uma plataforma logística multimodal.

Por fim, no que se refere à cultura e à arte, destaca-se a importância de articular a oferta cultural das quatro cidades, de promover pro-gramas internacionais de inter-câmbio com cidades inteligentes e criativas e, a prazo, requalificar os centros históricos, tornando--os atrativos para uma população jovem e cosmopolita.

Dada a sua natureza e importância, este trabalho tem como objetivo servir de contributo para a valoriza-ção de vetores estratégicos numa sub-região como o Baixo Minho num país como Portugal. Como vimos, revela-se extremamente importan-te para o tecido empresarial a arti-culação com outros agentes que fa-voreçam a capacitação tecnológica e a competitividade. Tendo em conta a perspetiva estratégica baseada na Sociedade do Conhecimento, é impossível descurar a abordagem da temática em causa no âmbito do Minho como “Região do Conhe-cimento”, dada a importância de harmonização de políticas, recursos e competências.

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7. Anexos7.1. FICHAS DE ENTREVISTA

FICHA DE ENTREVISTA N.º 1

Empresa: Balanças Marques, de José Pimen-ta Marques, Lda.

Interlocutor da empresa: Paulo Marques e Tiago Pereira

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos

Caracterização da empresa: Com sede em Braga, a empresa Balanças Marques, de José Pimenta Marques, Lda, conta já com um histo-rial de 40 anos. Teve início como Entidade em Nome Individual e evoluiu para uma socieda-de por quotas (em 1989). Por este motivo, a história da empresa confunde-se com a do seu sócio fundador.

Inicialmente, a empresa só atuava na área das balanças industriais. Posteriormente, a partir de 2004, as Balanças Marques especializaram-se no fabrico de balanças para a indústria e comércio, incluindo balanças para supermercados, sendo hoje uma das principais empresas a operar na Península Ibérica nestes setores da pesagem.

Esta PME bracarense caracteriza-se por ter uma equipa dinâmica, mas também pela tecnologia que aplica aos produtos, balanças integradas especialmente vocacionadas para a indústria (logística) e para o comércio (supermercados). A empresa investiu em instalações novas, tendo-se mudado para um parque industrial (Celeirós) em meados dos anos 90 do Século XX. Beneficia de insta-lações modernas e funcionais, que incluem

desde áreas de construção a áreas reservadas à assistência técnica e espaços destinados à exposição dos produtos, atendimento ao público e escritórios.

A certificação CE dos seus principais produtos e, particularmente, a certificação do seu sistema de qualidade, em 2002, foram marcos importantes na evolução e percurso da empresa. No ano 2005, o seu volume de negócios internacional ultrapassou metade da sua faturação. No ano que se sucedeu, no quadro de uma reestruturação orgânica dos negócios da família (Marques), a empresa foi integrada no Grupo José Pimenta Marques, o qual contempla outras empresas do setor de pesagem mas também empresas de outras áreas de negócio. Ao longo dos anos, tem ob-tido certificações várias no âmbito do Sistema de Gestão da Qualidade.

Desta reorganização resultou a diversifica-ção do produto oferecido ao mercado com a autonomização de uma empresa dedicada à produção de software para balanças e design, que comercializa diretamente os seus produtos.

Envolvente e estratégia empresarial: A ligação à UMinho e a aposta na inovação têm sido responsáveis pelo sucesso obtido. Refira--se, a propósito, que o software é desen-volvido internamente ao grupo empresarial. Mais recentes são a ligação ao IPCA (design) e a uma instituição universitária de Bilbau (desenvolvimento de hardware/eletrónica).

Tendo hoje como base duas marcas regista-das (“Marques” e “EPS”), a internacionalização da empresa iniciou-se em Espanha (País Basco), onde hoje em dia tem um distribuidor

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

(empresa) próprio(a). Outro mercado relevan-te, onde mantém operação própria, é França, embora operem também na Áustria, entre outros destinos.

O princípio subjacente à internacionalização é o da procura de um parceiro técnico no país onde pretendem operar. Essa orientação prende-se com a aposta na oferta de res-postas flexíveis aos clientes. O acompanha-mento técnico dos distribuidores também é considerado um elemento central do sucesso da operação da empresa.

A principal ideia estratégica enunciada, conforme já referido, exprime-se na palavra “flexibilidade”. Sublinhada com recurso à ex-pressão “IKEA das balanças”, isto é, a empresa tomar por referência o modelo de produto/operação oferecido pelo IKEA. Esta ideia é completada por outra, que é: “o parceiro comercial preferido é aquele que tiver mais capacidade técnica” (independentemente da sua capacidade comercial). Para que possam “tratar bem o produto”, cuja durabilidade pode ser de 20 anos, se houver uma boa manuten-ção, a empresa disponibiliza constantemente formação e acompanhamento aos seus distribuidores ou parceiros.

Como elementos promocionais, a empresa tem um canal no Youtube e uma página no Facebook. Por estes canais, disponibiliza vídeos sobre a empresa e os seus produtos. Para identificar clientes e chegar a novos mercados, tem participado quer em mis-sões empresariais quer em feiras, aparte uma postura ativa em matéria de contactos individuais.

Os responsáveis da empresa são críticos sobre a atuação do movimento associativo empresarial. Nas palavras de um dos entrevis-tados, que é vice-presidente da AIMinho, “É difícil rendibilizar o tempo gasto no movimen-to associativo”.

Contributos, propostas ou opiniões: Os principais contributos e propostas retiradas desta entrevista são descritos nos pontos seguintes.

i) Considera a localização da sua sede a mais adequada. Foi dito por um dos entrevistados que “Não vejo outra região mais interessante que esta para operarmos”. Todavia, acrescen-ta que “Gostava muito de chegar a um país como um cluster, em vez de ter de provar o que fazemos - alguns clientes nem sabem onde fica Portugal”.

ii) São críticos do movimento associativo empresarial e descreem do trabalho dos chamados especialistas (consultores) de internacionalização.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 2

Empresa: Primavera - Business Software Solutions, S.A.

Interlocutor da empresa: José Dionísio

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos

Volume de negócios (2012): 15 milhões de euros

Nº de empregados (2012): 220 empre-gados

% de exportação (2012): 40%

Caracterização da empresa: Nasceu em 1993 (ano de crise) pela mão de dois promo-tores, então provenientes de outra empresa do setor, onde trabalharam durante 7 anos. No dizer do entrevistado, “A crise aguçou o engenho”. A oportunidade tecnológica dete-tada baseou-se na conceção de um software de gestão baseado no sistema operativo Windows, ao invés de MS-DOS, como acon-tecia com os restantes softwares existentes no mercado.

Não nasceu numa garagem, mas quase. Ten-do nascido num apartamento, com o objetivo de desenvolver soluções de vanguarda que respondessem às necessidades futuras das empresas. Criada e sedeada em Braga, a Primavera BSS é atualmente o maior fabri-cante português de software de gestão para o mercado empresarial. A Primavera BSS é hoje uma empresa que se dedica ao desen-volvimento e comercialização de soluções de gestão e plataformas para integração de processos empresariais num mercado global, disponibilizando soluções para as PME, as Grandes Organizações e a Administração Pública.

Em 1994, não estavam a pensar na interna-cionalização mas curiosamente, três anos volvidos, estavam internacionalizados. Este processo iniciou-se em 1997, através dos PALOP, muito por força do contexto familiar de ambos os empreendedores, de origem angolana e moçambicana. A introdução do IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado nestes países, na década de 90 do Século XX, fez com que procurassem soluções em Portugal. Foram decisores (contactos) portugueses que colocaram a empresa nestes outros merca-dos.

Há sete anos (2006), entraram em Espanha (Madrid) e, para isso, tiveram de recorrer à banca, solicitando 500 mil euros. A ideia inicial era adquirirem uma empresa local mas tal não foi conseguido. Espanha foi desde o início um mercado muito difícil, entre outros motivos, pela multiplicidade de comunidades autónomas e de línguas/culturas regionais. Só agora começam a recuperar parte do in-vestimento realizado (mas 4 milhões de euros não são recuperáveis no curto prazo, referiu o

empresário).

Atualmente, a Primavera BSS está presente em Portugal, Espanha, Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau, sendo líder de mercado em muitos destes países. Foi estu-dado o mercado brasileiro, tendo-se concluído que os produtos da Primavera BSS não estão adequados às especificidades (fiscais) do Bra-sil. Também foi estudado o mercado polaco.

A empresa pertence ao grupo das 500 maio-res empresas europeias com maior potencial de crescimento, num ranking promovido pela Growth Plus. Em 2006, ganhou o prémio PME Inovação, atribuído pela COTEC Portugal e, em 2009, renovou a sua presença na Rede Inovação da COTEC.

Segundo José Dionísio, a sua empresa é um negócio atrativo para outros (grandes) operadores do mercado.

Envolvente e estratégia empresarial: Os dois responsáveis pela Primavera BSS foram alunos da UMinho e reconhecem a impor-tância que esta instituição tem tido para a região, nomeadamente para o desenvolvi-mento de iniciativas empresariais na área das tecnologias de comunicação e informação. A localização em Braga também é facilitadora do acesso a mão-de-obra especializada, com custos competitivos relativamente a outras localizações mais centrais.

Quando quiseram internacionalizar-se, verificaram que não tinham dimensão para o fazer. Um processo de internacionalização incorpora riscos elevados e são necessários recursos que permitam a instalação num outro país, onde é necessário contrariar a dis-tância e conquistar a confiança do mercado. Da experiência acumulada, concluíram que o country manager tem de ser português para que resulte. Para além disso, é importante a informação sobre o mercado e apoio ao nível de serviços de consultoria que facilitem os “contactos certos”. Entre 2013 e 2015, pre-tendem alargar o seu negócio para França.

Apesar das dificuldades sentidas com a operação em Espanha, foi dito que não têm nenhum dado que dê substância à ideia de existência de descrédito nos produtos de origem portugueses, realçando, por exemplo, o facto de os seus produtos em África serem “estrelas”.

Contributos, propostas ou opiniões: Da conversa com José Dionísio, foi possível retirar alguns pontos que considera pertinentes ou fundamentais, a saber:

i) A estrutura da AICEP precisaria de estar mais fora do país e não tanto cá dentro. A ideia seria trabalhar no exterior para Portugal. O que se verifica atualmente é que os recur-sos “fora de portas” são escassos, resumindo--se à presença de uma pessoa no país de destino e a um papel de cariz essencialmente

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informativo. Acresce o facto de que a avalia-ção do desempenho dessa pessoa deveria ser efetuada com base em objetivos que tivessem a ver com a concretização efetiva de negócios das empresas portuguesas nesses países. Se assim fosse, essa pessoa estaria motivada e interessada em fazer o follow up e “puxar” as empresas portuguesas para esse mercado;

ii) “Não há profissão que seja tão exigen-te como ser empresário”: em Portugal há licenças e certificados para tudo, mas para ser empresário qualquer um pode sê-lo sem que seja necessária qualquer preparação para esse efeito;

iii) O tecido associativo encontra-se repartido por cidades/concelhos. Os líderes não estão lá e não se encontram espaços (ex.: clubes) destinados a uma elite empresarial, facilita-dores do networking e dos negócios. Para além disso, não se revê na “linguagem das associações”, quer regionais quer nacionais;

iv) Deveriam existir políticas de ordem fiscal para incentivar a fusão de empresas. Pelo contrário, temos “Empresas na Hora” que praticamente não necessitam de capital social e que fomentam a que sejamos um país composto por empresas unipessoais;

v) Os clusters, nomeadamente o das TIC, resumem-se a 5/6 empresários que se dão bem, o que é manifestamente pouco;

vi) Este território carece de políticas de marketing que o promovam: a título de exemplo, refira-se os Seminários do Expresso, que decorreram recentemente, em que a “demografia” foi o tema discutido em Braga e a “tecnologia” foi o tema abordado em Aveiro.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 3

Empresa: Silicolife, Lda.

Interlocutor da empresa: Simão Soares

Consultores: Álvaro Cristóvam; Nuno Pinto Bastos

Volume de Negócios (2012): 103 mil euros

Nº de empregados (2012): 6 trabalhado-res

% de exportação (2012): 100%

Caracterização da empresa: A Silicolife foi fundada a 14 de abril de 2010 por elementos do Instituto de Biotecnologia e Bioenge-nharia, Laboratório Associado (UMinho e Instituto Superior Técnico) e do Centro de Ciências e Tecnologias da Computação da UMinho. A empresa, spin-off do programa MIT Portugal Bioengenharia, é uma start up dedicada à criação de soluções de Biologia Computacional para as Ciências da Vida. O seu quadro técnico apresenta larga experiência e know-how nesta área e conta já com diversas

colaborações internacionais.

Desde a sua génese, tem beneficiado de alguns apoios proporcionados por estruturas da UMinho: a TecMinho (através do IdeaLab); o Liftoff (a primeira sede da empresa foi no edifício da AAUM - Associação Académica da Universidade do Minho); e, o Spinpark (incubadora onde se encontra a funcionar atualmente). Neste processo de afirmação, foi vencedora de um concurso nacional de em-preendedorismo - o “Atreve-te 2010”- onde obteve um apoio monetário de 30 mil euros.

O modelo de negócio consiste na prestação de serviços de computação especializa-da, para apoio a projetos e processos de investigação, em regra a grandes empresas industriais que não possuam departamentos próprios. A empresa fundamenta-se nos seus recursos técnicos internos e na fonte de ali-mentação de recursos humanos da UMinho.

A Silicolife disponibiliza serviços altamente especializados, e normalmente ausentes nas empresas dos setores da Biotecnologia e da Saúde, procurando maximizar a rentabilização das potencialidades oferecidas pela análise de informação de origem genómica na I&D nestes setores, bem como fornecer soluções no âmbito da exploração de diversos tipos de dados experimentais.

A empresa procura colmatar a ausência, verificada em diversos tipos de empresas, de vários serviços e produtos que colocam as Ciências da Computação ao serviço da Saúde e da Biotecnologia industrial. Para tal, ofere-cem diferentes serviços e ferramentas, desde o tratamento estatístico de dados biológicos, a sua exploração, análise e integração, até à reconstrução de modelos de microrganismos e sua utilização na otimização de estirpes in silico.

Os setores-alvo são a petroquímica e os labo-ratórios/produtores de medicamentos. Trata--se de uma born global firm, razão porque atua desde o seu início para o mercado global (especialmente USA, Japão e Europa). Como se percebe, é pouca a presença de clientes nacionais.

Esta microempresa tem a sua gestão técnica e de marketing centralizada no CEO (Simão Soares), recorrendo ao aconselhamento científico de professores investigadores da UMinho (alguns dos quais sócios deste proje-to empresarial). Esta ligação privilegiada aos centros de saber, permite-lhe beneficiar de uma network internacional importante.

O facto de terem valorizado a análise estraté-gica e o plano de negócios para a constituição da empresa (2010), justifica o facto de terem conseguido os primeiros contactos comerciais em 2011 e a assinatura do primeiro contrato em 2012. A empresa tem já em curso projetos com clientes de peso. Na sua estratégia de negócio tem privilegiado a participação em

diversos eventos, como o European Forum for Industrial Biotechnology and Biobased Economy, em 2010, onde fez a sua primeira apresentação internacional. Só desta partici-pação resultaram dois contratos com multina-cionais estrangeiras que dada a sua dimensão ainda se encontram em curso. Esta tem sido a sua estratégia de entrada no mercado, sendo que a proximidade com a UMinho tem propor-cionado algumas vantagens, nomeadamente algumas colaborações nos Estados Unidos, na Espanha, na Dinamarca e em Inglaterra.

Envolvente e estratégia empresarial: O mercado-alvo dos serviços prestados pela Silicolife reside na intersecção entre o mer-cado da Bioinformática, Biologia e Sistemas e o mercado da biotecnologia industrial. A maior aposta desta PME recai sobre a Simulação e Otimização de microrganismos, pois observa-se o seu grande potencial de mercado, sobretudo devido ao interesse crescente das indústrias de biotecnologia. No futuro perspetiva-se que muitos processos na indústria química, na têxtil e em outras in-dústrias tradicionais serão progressivamente substituídos por processos de biotecnologia. O desenvolvimento de produtos inovadores em biotecnologia está, por isso, intimamente relacionado com desenvolvimentos cien-tíficos, expresso na elevada formação dos recursos humanos e no peso das atividades de I&D das empresas.

Atuando no mercado global e dada a reduzida dimensão do mercado nacional, a proximida-de da UMinho tem servido de alavanca para a inserção comercial. A aposta na inovação e no I&D faz parte do ADN da empresa, tudo fazendo para se relacionar ao máximo com a sua envolvente. As empresas tecnológicas nacionais são aceites com naturalidade nos mercados internacionais. O custo dos recur-sos humanos pode ser fator de vantagem em termos europeus (embora seja relativo, atendendo a que há regiões com potencial tecnológico, ainda mais baratas).

A empresa identifica como principais dificul-dades, o acesso aos clientes e a impossibili-dade de usar os clientes como referência no processo de angariação de novos clientes (o sigilo e a reserva têm cláusulas muito exigen-tes nos contratos obtidos).

Ao nível associativo, é sócia da APBio - Asso-ciação Portuguesa de Bioindústrias (principal interlocutor com a UE para as estratégias nesta área “bio”).

Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista destacam-se os seguintes pontos:

i) A presença no Minho como natural, reco-nhecendo vantagens na angariação de recur-sos humanos qualificados (a UMinho tem boa cotação na área em que atuam).

ii) A sua presença no Avepark/Spinpark não compreende elevados custos e é interessan-

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110 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO

QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

te na ótica do marketing (em virtude de se tratar de um parque tecnológico). O problema que apontam é a sua localização, o défice de estratégia e o dinamismo deste tipo de estruturas.

iii) O ponto de maior desvantagem será a limitação do mercado nacional, a burocracia, a ausência de uma estratégia de cluster tec-nológico e um capital nacional muito restrito que dificulta financiamento.

iv) As ações de grande envergadura - do tipo mega missões AICEP, com presença de governantes, etc. - são eventos que interes-sam apenas aos grandes grupos económicos e menos às pequenas empresas tecnológicas. Para além disso são, em geral, demasiado ins-titucionais (pelo que não ajudam a resolver as dificuldades deste tipo de empresas, as quais são essencialmente quotidianas);

ii) Valoriza apoios específicos, não burocrati-zados e que estejam ao alcance da capa-cidade administrativa/financeira das start ups (ex: captação de fundos para arranque e expansão, angariação de projetos públicos, financiamento da presença em feiras e de outras despesas de promoção nos merca-dos, preparação de contactos com outros mercados, serviços de informação comer-cial, fomento da cooperação e da prática de clustering);

iii) Uma eventual “estrutura” pode ser inte-ressante para as empresas emergentes (tec-nológicas, para o mercado global), mas com regras claras e simples: liderança eficiente, estratégia bem definida para apoio a micro e pequenas empresas; baixo custo operacional; especialização na exportação de conheci-mento; e, foco nos apoios quotidianos.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 4

Empresa: S.I.C.I. 93 Braga - Soc. de Investi-mentos Comerciais e Industriais, S.A.

Interlocutor da empresa: António Ressur-reição

Consultores: Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos

Volume de negócios (2012): 5 milhões de euros

Nº de empregados (2012): 32 trabalha-dores

% de exportação (2012): 100%

Caracterização da empresa: António Ressurreição, promotor, impulsionador e dirigente da S.I.C.I. Braga - Soc. de Investimen-tos Comerciais e Industriais SA, é licenciado em Engenharia Têxtil pela Universidade do Minho. Desempenhou funções no setor até decidir abrir esta empresa, muito por força da sua discordância com o rumo que se estava a seguir.

A S.I.C.I. foi fundada em 1993 e, desde essa al-tura, a sua produção é totalmente destinada ao mercado externo (born global firm). Situa-da em Braga, a empresa dedica-se à confeção de vestuário, trabalhando sobretudo com o private label, nomeadamente para grandes marcas internacionais que se direcionam para um segmento de mercado médio-alto.

A empresa cedo percebeu a importância da “terciarização” do processo produtivo, valo-rizando a componente dos serviços que po-deria prestar para incorporar valor na cadeia produtiva. Foi assim que, ao contrário do que acontecia com a maior parte das empresas do setor em Portugal, começou a integrar servi-ços na sua oferta, como são disso exemplo os serviços prestados ao nível do design. A rela-ção de proximidade com o cliente e a lógica de parceria de negócio alimentaram desde muito cedo este princípio.

Aliás, o mercado daquela altura (década de 90 do Século XX) começava a dar uma impor-tância crescente ao mix do preço no processo de escolha do fornecedor. Os serviços viriam a revelar-se um fator crítico de sucesso da S.I.C.I., na medida em que criavam uma interdependência da empresa com os seus clientes.

O mercado internacional era muito regula-mentado, mas com a globalização sofreu pro-fundas alterações, o que implicou um maior foco estratégico e adaptações constantes ao modelo de negócio. Em 1999, nasce um segundo projeto empresarial: a NaturaPura Ibérica - Produção e Comércio de Produtos Naturais S.A.. Esta ideia de negócio surgiu com os movimentos ecológicos verificados no Centro da Europa, em meados da década de 90 (Século XX). A empresa da marca “Natura Pura” dedica-se ao fabrico e venda de produtos orgânicos, denominados por Têxteis Verdes ou eco-têxteis, contribuindo para a sustentabilidade do planeta. A sua produção é destinada ao mercado interno (50%) e ao mercado externo (50%).

Em 2004/2005 nasce uma terceira empre-sa nas instalações da S.I.C.I., a denominada PlayVest S.A.. Este projeto empresarial insere-se no subsetor dos têxteis funcionais (os denominados Smart Textiles) e a sua produção é totalmente destinada ao mercado externo.

Envolvente e estratégia empresarial: “O mundo está a mudar e muda para todos”, con-sidera o promotor. Neste seguimento, tem-se verificado um efeito “Cauda Longa”, que veio substituir a venda grandes quantidades de produtos menos variados, pela venda de poucas quantidades de uma maior variedade de produtos.

O promotor considera que Portugal beneficia neste momento de algumas circunstâncias específicas: verifica-se uma mudança no

mundo em relação ao custo do dinheiro (os custos financeiros no nosso país são mais reduzidos, dado que não há cartas de crédito); quanto ao custo do petróleo, o transporte de mercadorias na Europa é mais barato; a Pegada do CO2, cujos efeitos se traduzirão num aumento dos custos de transporte também são uma oportunidade; e, ao nível da Segurança, não existe instabilidade política e violência, do mesmo modo que acontece em outros países que competem nesta área com Portugal.

Para o dirigente, o que mais lhe interessa é saber qual a estratégia do cliente-alvo e de que modo a empresa se pode encaixar na mesma (importa ser um espécie de “Provedor do Cliente”). Em sua opinião, as empresas devem ir ao encontro do cliente que lhes inte-ressa e serem capazes de “pescar” o cliente.

O empresário valoriza também os aspetos mais intangíveis do negócio. Por isso, aposta fortemente nas relações informais, nas redes pessoais e na network que se consegue criar. A estratégia da S.I.C.I. passa pela dispersão do risco, aspeto que o leva a investir em áreas diferentes dentro do setor em que atua.

Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista com o promotor, destaca-se:

i) Existe neste território uma série de espe-cialistas em diversas áreas da cadeia de valor. Todavia, há custos de contexto desfavorá-veis, a “política fiscal é cega” e não podemos passar subitamente de um certo laxismo para uma evidente rigidez, pois o processo tem de ser incremental e construtivo e não radical e destrutivo.

ii) Nos últimos 40 anos, a Universidade do Minho foi o investimento estrutural mais importante que se realizou neste território. Quanto ao INL e ao Avepark ainda não se veem os seus efeitos e entende necessário que tenham impactos visíveis no território. Para isso, é necessária a existência de uma vi-são global, estratégica, integradora suficien-temente forte e capaz de orientar os agentes e os projetos para o mesmo sentido;

iii) Ao nível do empreendedorismo, considera que não deve ser o aluno da UMinho a ter de procurar financiamento nos Business Angels ou outros investidores. Pelo contrário, sugere que a universidade é que deveria ser responsável por criar condições para que os investidores possam ir à universidade conhe-cer as ideias e projetos;

iv) Considera necessário alterar aspetos culturais importantes, pouco abertos à cooperação;

v) As associações empresariais e sindicais têm um papel importante na sociedade em geral, e na região, em particular. Assim, estas organizações deveriam ter como razão de ser “pensar, propor, intervir e ter uma visão para

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o território”. Devia ser esse o seu principal papel, ao invés de se envolverem em projetos que se resumem à sua “sobrevivência”;

vi) Os apoios e incentivos destinados às empresas não estão bem formatados e dá o exemplo da formação financiada, tão genérica, rígida e burocrática. Na sua opinião, falta a disponibilização de formação mais especializada e adequada às necessidades reais do tecido empresarial, isto é, “formação com retorno”. Por exemplo, uma empresa que adquira um equipamento produtivo novo e complexo, cuja formação tem de ser contrata-da no estrangeiro e é altamente dispendiosa. Contudo, se a empresa tivesse a oportuni-dade de enviar uma pessoa para outro país receber formação aplicada nesse equipamen-to, em que os custos pudessem ser compar-ticipados, isso era realmente interessante e teria impacto, até porque internalizávamos competências e essa pessoa poderia integrar nos quadros da empresa após a formação.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 5

Empresa: Critical Materials, Lda.

Interlocutor da empresa: Prof. Doutor Gustavo Dias

Consultores: Álvaro Cristóvam; Nuno Pinto Bastos

Volume de negócios (2012): 635 mil euros

Nº de empregados (2012): 20 trabalha-dores

% de exportação (2012): 60%

Caracterização da empresa: A Critical Ma-terials está sedeada em Guimarães desde o início da sua atividade, em 2008. A criação da empresa resultou de uma Joint Venture entre o Grupo Critical Software e dois investigado-res da UMinho. Por um lado, o Grupo Critical Software forneceu e fornece o suporte necessário para a entrada e manutenção no mercado, e, por outro lado, os dois investiga-dores da UMinho contribuem com a expe-riência e know-how na área dos materiais e estruturas.

A empresa atua no ramo das atividades de programação informática, mais especifica-mente, fornece soluções tecnológicas e pro-dutos de tecnologia de diagnóstico, avaliação e manutenção de diversos equipamentos, designadas tecnologias SHM (Structural Health Monitoring).

Os fundadores da Critical Materials pos-suem mais de dez anos de experiência em I&D, nomeadamente no campo da análise estrutural e desenvolvimento de materiais e aplicação dos mesmos às indústrias aeronáu-ticas, espacial, automóvel, da energia e das infraestruturas. Os promotores desenvolve-

ram trabalhos de referência com empresas de renome nacional e internacional, tais como a Simoldes, Plasfil, PSA, AutoEuropa, Amtrol--Alfa, Boeing, Lockheed e ESA, entre outras.

A Critical Materials tem como objetivos principais oferecer serviços e produtos que possibilitem o aumento da durabilidade dos equipamentos, sistemas de monitorização das estruturas dos aviões e helicópteros e sistemas de monitorização, diagnóstico e prognóstico com aplicação em condutas de petróleo, turbinas eólicas, entre outras infraestruturas energéticas.

Os mercados-alvo e os setores-alvo da Critical Materials são diversos, tratando-se de uma born global firm: “A Europa não é interna-cionalização para nós”, refere o dirigente. A equipa técnica da empresa é multidisciplinar: os seus quadros têm formação nas áreas de engenharia dos materiais, eletrónica, softwa-re e hardware, características singulares que permitem o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras por si só e também pela aplicação de diferentes domínios do saber. Materials with intelligence é a assina-tura de marca da empresa. Na sua essência estão três aspetos que a empresa considera cruciais: Software, Materiais e Hardware.

Envolvente e estratégia empresarial: O setor das TIC caracteriza-se por uma mão-de--obra qualificada, com grande versatilidade, elevada empatia cultural, preços competi-tivos, qualidade das instituições de ensino superior e de I&D, incluindo instituições de interface, e acesso privilegiado a mercados de língua oficial portuguesa com elevado crescimento projetado.

A crise económica e financeira no mundo desenvolvido, em particular na Europa e em Portugal, a emergência de novos modelos de negócio nas TIC, com propensão à grande escala, e a deslocalização de multinacionais resultam no quadro de ameaças. Outros pon-tos fracos que devem ser melhorados estão relacionados com a insuficiente orientação para o exterior do setor TIC português. De facto, existe uma oferta indiferenciada e de baixo valor acrescentado, não obstante os desenvolvimentos mais recentes no software e nos serviços em matéria de IDE. Há ainda problemas de imagem global do país; os mer-cados internacionais não associam Portugal a tecnologia nem a um país inovador.

A estes fatores acresce a falta de players nacionais de dimensão, com massa crítica e capacidade para marcar presença em concursos internacionais e para alavancar a estrutura das nossas PME. A tudo isto junta--se a baixa capacidade do setor TIC nacional para desenvolver software e soluções TIC escaláveis, passíveis de serem produzidos e vendidos internacionalmente, devido a debilidades em matéria de gestão de produto, marketing, vendas e valorização económica

da I&D e da Propriedade Intelectual.

Analisando os pontos anteriores, verifica--se que a Critical Materials encontra-se bem posicionada face à concorrência, principal-mente no sentido em que não partilha com o setor os pontos fracos identificados. De facto, a cooperação com o SCTN é permanente, os seus recursos humanos detêm qualificações superiores e a aposta na inovação é intrínse-ca à missão empresarial, possuindo mesmo um departamento de I&D. Por outro lado, a Critical Materials pertence a um grupo portu-guês que desde a sua génese trabalhou com os mercados externos e, por esse motivo, os produtos produzidos pela empresa adaptam--se a qualquer mercado internacional.

No futuro imediato, o principal objetivo da Critical Materials é a consolidação da empresa e dos seus produtos e serviços no mercado e aumentar o seu rendimento financeiro. Para tal, como estratégia de curto prazo, tem investido na área da energia eólica offsho-re. As especificações e a versatilidade do seu principal produto, o PRODDIA, têm sido aproveitadas neste nicho de mercado ainda em desenvolvimento. Se por um lado, as tec-nologias para equipamentos eólicos onshore estão já muito desenvolvidas, por outro lado ainda existem desenvolvimentos insuficien-tes para as tecnologias de near offshore e deep offshore. Esta PME encontra-se já a desenvolver alguns trabalhos nesta área. Também na área de negócio da aeronáutica, a empresa decidiu-se por uma estratégia de curto prazo, através da adaptação do PRODDIA aos helicópteros, sendo este um mercado light quando comparado com os aviões, permite no entanto algum retorno financeiro no curto prazo.

A Critical Materials aposta fortemente na componente de inovação, investigação e de-senvolvimento. Como perspetivas de futuro pretende desenvolver uma tecnologia EMI (Electro - mechanical impedance) que é uma tecnologia de diagnóstico (SHM) e de controlo de qualidade dos processos de fabrico e de diagnóstico, com diversas aplicabilidades.

Também é objetivo da Critical Materials, o reconhecimento e atuação internacional e, para isso, tem beneficiado de programas europeus destinados a apoiar o I&D e a inter-nacionalização, o que lhe permite conhecer as características intrínsecas dos países-alvo e aumentar a sua notoriedade em mercados como o Reino Unido (onde a indústria de de-fesa é muito desenvolvida e interessada em nova tecnologia) e o Brasil (onde esta é uma área emergente, do ponto de vista do cresci-mento). No futuro, não exclui a hipótese de virem a ter uma subsidiária no Reino Unido.

Contributos, propostas ou opiniões: Segundo o dirigente da Critical Materials:

i) Falta especialização à diplomacia económi-

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112 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO

QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

ca portuguesa; além de ser, em parte por essa razão, pouco operacional. A este propósito fo-cou o seu contacto com a realidade do Reino Unido, que possui instrumentos operacionais interessantes como é o caso da UKTI. Trata-se de uma estrutura de diplomacia económica de facilitação local, que estabelece contactos, apoiam as empresas na criação de ambientes favoráveis aos negócios e à venda, visitam inclusivamente empresas estrangeiras que têm negócios com o Reino Unido e fazem o follow up destes processos.

ii) O Minho (ou o Quadrilátero) tem uma relação ambivalente com o Porto e “sofre” por estar na sua órbitra, dificultando ações que ultrapassem essa condição. Porém a região, com uma taxa de desemprego muito elevada, tem hoje excelentes condições de partida para um projeto de desenvolvimento regional a médio/longo prazo, dispondo objetivamente de um apreciável potencial: a UMinho e seus interfaces (TecMinho/GAPI, Avepark/Spinpa-rk, 3B’s, CVR, PIEP eCCG); o INL; uma popula-ção jovem e qualificada; vontade empreen-dedora em contexto académico/tecnológico; e, um interessante tecido (ainda) industrial tradicional (setores têxtil, calçado, constru-ção e metalurgia), potencialmente capaz de absorver processos de I&DT).

iii) A ligação mais estreita entre o potencial de software proporcionado pela academia e o tecido empresarial é ao mesmo tempo uma necessidade e uma forte possibilidade, com vista ao upgrade de inovação e tecnologia de que a indústria carece, por um lado, e ao acesso à indústria que é vital para os inves-tigadores/tecnólogos, por outro. O objetivo dessa “parceria” resultaria na capacidade sustentada de oferecer ao mercado global produtos/soluções de maior valor. O resultado económico deve ser um dos focos estratégi-cos deste processo;

iv) É necessária uma aposta efetiva no empreendedorismo tecnológico. Neste território sente-se que “há vontade de fazer coisas”, até pelos concursos de ideias, mas há concursos a mais. É preciso criar empresas tecnológicas e incubar start ups no tecido empresarial envelhecido. Na opinião do empresário, nem todos os projetos/ideias devem originar a criação de novas empresas. Na maior parte dos casos, faz mais sentido integrá-las em empresas já existentes, dado que pode beneficiar ambas.

v) É preciso “reinventar” os setores tradicionais (têxtil, construção) através das TIC e do software. Existem condições para apostar na área da saúde e especializar em nichos, isto é, áreas técnico-científicas capazes de ancorar negócios e produtos de elevado valor acrescentado, podendo fazer cruzamentos (software com mate-riais, software com biológica, biológica com materiais, etc). Depois é necessário “pagar para ver”, alterando a cultura e as condições

de financiamento. Em 10/15 anos é preciso al-terar o tecido empresarial da região, mas para isso é necessário uma maior articulação (em especial na UMinho) e uma visão agregadora para direcionar os recursos existentes para o que faz sentido. É necessária uma maior articulação entre a UMinho e as associa-ções empresariais para mudar a estrutura industrial e económica, criando conexões com o que já está estabelecido e proporcionando um stream de ideias constante (com seed e venture capital e outros meios financeiros para o “salto grande”);

vi) O processo de financiamento, nas várias fases do desenvolvimento dos projetos é vital, tendo mesmo de ser pensado e opera-cionalizado para evitar bloqueios inibidores que desanimam, levam ao fracasso ou ao abandono prematuro. O financiamento deverá ser faseado, primeiro assegurando as várias fases do percurso: investigação, desenvolvimento de soluções e protótipos, licenciamento/patentes, criação de empresa, acesso aos mercados de destino;

vii) Em seguida, haverá uma questão de mega financiamento e/ou de capitalização. Após a consolidação das fases anteriores, é funda-mental alavancar o crescimento da estrutura empresarial visando criar empresas globais. Situação que requer a existência de fundos específicos e de acesso a capital de uma for-ma estruturada (de novo, o dirigente referiu o exemplo do Reino Unido e o seu conhecimen-to do trading investment aí praticado).

viii) Para além disso, era importante a criação de fundraising (com capitais públicos e pri-vados) com capacidade para captar recursos capazes de gerar “campeões”. Existe um problema de capitalização das empresas tecnológicas: são necessários acionistas de longo prazo ao invés de empréstimos;

ix) O complexo AvePark/Spinpark carece de definição, de uma ideia estratégica sustenta-da, que cative os empreendedores nacionais/locais e o investimento industrial externo, que favoreça a continuidade do projeto (ex.: criação de um campus destinado apenas a empresas de software). Ainda carece de empresas-âncora e com dimensão. A este ní-vel há, seguramente, bastante a fazer, a partir do que já existe e que pode ser potenciado quase de imediato. Mediante uma estratégia sustentada e conjugação de vontades das forças locais/regionais, mas com objetivos bem definidos;

x) Existe a necessidade de uma maior mobili-dade entre os quatro concelhos. A mobilidade física no Quadrilátero é reduzida. Um metro de superfície ou uma rede ferroviária escalá-vel que ligue inicialmente Guimarães a Braga poderia fazer todo o sentido;

xi) É fundamental uma visão comum para o território. Esta visão tem de ser apontada

com base no retorno económico e não na área do saber. A própria UMinho não deveria prestar serviços que já estão no domínio das empresas e do mercado, mas sim serviços com inovação e com risco tecnológico. O con-texto só se modifica com geração de ideias, financiamento/parcerias público-privadas e ferramentas empresariais (investimento e fusões/aquisições numa fase mais madura do processo);

xii) A opinião quanto à criação de um orga-nismo regional para desenvolver um projeto de internacionalização para o território, não sendo precisa, é positiva mas com reservas. As barreiras podem vir de dentro, especialmente das estruturas existentes, dos objetivos do próprio projeto e, acima de tudo, da liderança… Todavia, considera que a avaliação dos seus resultados deve ser feita através da taxa de conversão em negócio que conseguirem produzir ou facilitar. Esta entidade devia evitar o que as associações empresariais costumam fazer, isto é, “mistu-rarem tudo”. Para além disso, podia apoiar na “desburocratização” dos projetos financiados e, simultaneamente promover a consolidação empresarial (existe um estigma em que cada um quer ser “dono da sua quinta”) e a fusão/aquisição de empresas (agregando muitas “pequeninas”).

FICHA DE ENTREVISTA N.º 6

Empresa: Coltec - Neves & Companhia, Lda.

Interlocutor da empresa: Francisco Fernandes

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Carlos Pereira

Volume de negócios (2012): 3,5 milhões de euros

Nº de empregados (2012): 35 trabalha-dores

% de exportação (2012): 32%

Caracterização da empresa: A empresa Coltec foi criada em 1981 com o intuito de comercializar produtos para o calçado a retalho e fornecer serviços ligados ao setor. Na fase inicial, a empresa não dispunha de linha de produção própria, tendo que recorrer a subcontratados para a realização dos seus produtos.

No final da década de 80, a empresa investiu em maquinaria para o calçado que lhe permitiu aumentar o seu leque de produtos para colmatar necessidades específicas neste setor. As funcionalidades da maquinaria adquirida e a sua capacidade de produção originaram novos produtos e pautaram a entrada da marca em novas áreas de negócio: calçado, têxteis-lar; e têxteis técnicos, como por exemplo o setor automóvel.

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Em 2004 a empresa decidiu mudar de instala-ções, de que resultou a implantação atual, no parque industrial de Sezim. Esta mudança visou o alargamento da sua infraestrutura, tornando viável a instalação de tecnologias de laminação, o que permitiu à empresa desenvolver novas áreas de negócio, (tecno-logias de colagem de materiais; aplicações no âmbito dos têxteis-lar; vestuário técnico; aplicações no âmbito dos calçado; aplicações no âmbito da área da saúde) definindo assim aquilo que a empresa faz atualmente.

A estratégia de produção da Coltec passa pela aposta na disponibilização de gama alargada de produtos e por uma resposta centrada no cliente, isto é, flexibilidade de resposta às necessidades do cliente. A Coltec não produz diretamente para o consumidor final. Os fatores competitivos em que aposta são: a flexibilidade; a qualidade; e o desen-volvimento/inovação. A empresa pretende colmatar lacunas existentes nos mercados em que opera, oferecendo assim uma solução personalizada a cada cliente.

Envolvente e estratégia empresarial: A Coltec procura oferecer produtos de elevada qualidade, apostando na inovação e desen-volvimento constante, aparte o cumprimento de prazos na resposta às encomendas. Para tanto, mantém uma política de vigilância tec-nológica no exterior (nomeadamente, através da visita a feiras), por forma a acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos que vão ocor-rendo (novos produtos; e novos mercados).

A Coltec marca presença assídua em feiras no exterior, normalmente acompanhada de ou-tros empresários portugueses, que permitem a realização de contactos no mercado ex-terno. Também tem participado em missões empresariais organizadas pela AICEP. Sobre a AICEP anota a preocupação deste organismo em trazer algum “mercado”, se bem que en-tenda os contactos propiciados nem sempre são direcionados como deviam ser.

Neste momento, a empresa têxtil está pre-sente apenas no mercado europeu, particu-larmente em Espanha, Bélgica e França. A empresa exporta diretamente cerca de 40% da sua produção, estimando o engenheiro Francisco Fernandes que 70% dos produ-tos poderão chegar ao mercado externo indiretamente, por meio dos seus clientes. Por esta via, sabe-se que os produtos Coltec já chegaram ao Japão e aos Estados Unidos da América, por exemplo.

Sabendo que a entrada no mercado asiático (principalmente na China) é inatingível, a Coltec encontra-se a delinear estratégias que lhe permitam entrar no Brasil e nos mercados africanos, aproveitando as vantagens da partilha da língua, nomeadamente.

A atual crise financeira que o país atravessa abala um pouco a imagem que os seus clien-

tes internacionais têm da marca portuguesa. No entanto, os clientes acabam por reco-nhecer a qualidades dos produtos assim que estabelecem contacto direto ou começam a ser fornecidos pela Coltec.

No mercado interno também se verificam algumas dificuldades. Contudo, os efeitos no volume de negócios agregado não se fazem sentir porque a empresa tenta compensar a quebra de vendas nos produtos mais afeta-dos pelas quedas e procura com as vendas noutras áreas de negócio.

As relações com as instituições presentes no meio envolvente possibilitam à empresa o acesso a um conjunto de ferramentas extre-mamente úteis para delinear estratégias e formas de abordar os mercados, assim como avançar para a criação de novos produtos.

Desde cedo que a Coltec se associou ao CTCP, uma ligação que foi central no desenvolvi-mento na sua fase inicial de operação. Em 2008, a empresa começou também a criar relações com o CITEVE e com a UMinho.

A relação com o CITEVE é de enorme impor-tância, dado que a empresa necessita obter a certificação dos seus produtos na área têxtil, sendo esta a instituição que lhe proporciona esse serviço.

A UMinho também é um parceiro importante dado que desta parceria surgiram produtos inovadores que potenciaram a Coltec.

A empresa é ainda associada da ATP e da ACIG, onde recorre para aceder a ações de formação e o apoio jurídico.

A localização no Baixo Minho é considera-da uma boa localização em expressão das infraestruturas (nomeadamente acessibili-dades físicas) e equipamentos disponíveis. O acesso a tecnologia não é um elemento condicionador da localização.

Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista destacam-se as seguintes declarações:

i) É apreciado o esforço da AICEP em matéria de trazer “mercado” para as empresas, se bem que entenda os contactos propiciados nem sempre são direcionados como deviam ser, isto é, entende-se que há um caminho a fazer por aquele organismo ou por outro que se possa criar em matéria de facilitação de contactos específicos (similares àqueles que resultam da ação dos agentes comerciais que as empresas mantêm);

ii) A empresa mantêm relação associativa ou desenvolve parcerias com diversos agentes coletivos existentes no território, onde vai buscar apoio em matéria de certificação de produtos, inovação de produto e proces-sos, formação de ativos e apoio jurídico; dá particular importância à relação com alguns desses agentes, desde o seu lançamento,

onde teve papel importante o CTCP, estando o seu posicionamento mais recente supor-tado em parcerias com o CITEVE e a UMinho, especialmente; daqui, deduz-se a utilidade de manter canais abertos e facilitar a comu-nicação das empresas com estes agentes, nomeadamente no quadro da participação em consórcios que permitam aproveitar re-cursos que potenciem a inovação de produtos e processos.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 7

Empresa: Success Gadget - Nanotecnologia e Novos Materiais, Lda.

Interlocutor da empresa: Pedro Pinto

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos

Volume de negócios (2012): 64 mil euros

Nº de trabalhadores (2012): 4 trabalha-dores

% de exportações (2012): 0%

Caracterização da empresa: A Success Gadget foi criada em 2010 pensada para pro-dução de soluções inovadoras, em concreto, assumiu por missão conceber e produzir solu-ções na área dos têxteis técnicos e biofun-cionais que promovam o conforto, bem-estar e/ou minimizar ou resolver necessidades das pessoas de forma a contribuir para uma sociedade mais saudável.

Até ao momento, já foram investidos cerca de 500 mil euros e, no dizer do seu promotor, “a empresa ainda não vendeu praticamente nada”. De acordo também com o empresário, em inovação, não devemos comprar tecnolo-gia. O que importa é desenvolvê-la. Por isso, embora a Success Gadegt tenha sido criada para ser uma empresa prestadora de serviços, transformou-se numa empresa de tecnologia: o que vende aos fabricantes de têxteis e de vestuário são nanopartículas. O processo de investigação e desenvolvimento é constante, para que possam manter sempre elevados os padrões de qualidade e inovação.

Todas as soluções da Success Gadget passam por um intensivo processo de testes desen-volvidos por laboratórios independentes, de grande prestígio a nível mundial.

O objetivo da empresa passa por identificar e desenvolver soluções inovadoras de elevado valor acrescentado out of the box no domínio da nanotecnologia, biotecnologia, têxteis biofuncionais e saúde, desafiando as regras e paradigmas estabelecidos, trazendo ganhos de competitividade e novos mercados para as empresas de forma rápida e continuada, com custos controlados.

Nesta altura, encontram-se em processo de registo de patente. Consideram que dispõem

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114 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO

QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

de um produto versátil e com muita utilidade para aplicação em têxteis e em tintas (para a construção). Dizem mesmo ser a única em-presa em Portugal e, muito provavelmente, na Europa a produzir nanopartículas com as funcionalidades que o seu produto apresenta.

Envolvente e estratégia empresarial: A empresa privilegia o bom relacionamento com as instituições e com as fontes de saber. No quadro de contactos mantidos com a UMinho, o entrevistado encontrou um aluno que estava a desenvolver uma tese com aplica-ção na área identificada e que lhes permitiu desenvolver um reator, juntamente com uma empresa de Barcelos, para materializar a operação da empresa. Recorrem também ao CITEVE, nomeadamente para a realização de testes de laboratório.

O potencial de internacionalização da em-presa encontra-se em mercados como África, Brasil, Índia, Vietname, Tailândia e Bangla-desh, países onde a sua tecnologia pode ser muito competitiva e eficaz, fundamental-mente nos seus atributos “anti - mosquito” e/ou “anti-microbiano” (considerados como “produtos estrela”, pese embora a diversifica-ção que têm estado a levar a efeito).

Ao nível do marketing internacional, a empre-sa encontra-se a preparar um workshop na Alfândega do Porto, destinado a embaixado-res e outros homens de negócio. Todavia, re-conhece que no processo de internacionaliza-ção, os lobbies são muito fortes e influentes, o que dificulta a penetração nos mercados.

Como estratégia de expansão, pretendem abrir concessões (cedência de direitos de exclusivos de produção dos seus produtos) em diversos países, sendo o marketing da ex-clusiva responsabilidade da Success Gadget.

Em Angola já estão a ser comercializados lençóis (produzidos pela Lameirinho) com aplicações antimicrobianas fornecidas pela Success Gadget. Estão nesta altura em ne-gociações com a Decathlon para virem a ser seus eventuais fornecedores.

Contributos, propostas ou opiniões: Desta entrevista, concluiu-se o seguinte:

i) É um erro constituir uma start up para cria-ção do 1.º emprego. Todavia, ao contrário do que se passa nos Estados Unidos da América, existe um problema de financiamento de start ups em Portugal;

ii) Sobre os problemas culturais e de contexto é realçado que, de forma genérica, os empre-sários são, genericamente, muito egoístas e fechados (defendendo-se a premissa “juntos, somos mais fortes”); deve-se perceber clara-mente o que fazem as universidades e o que fazem as empresas (o âmbito não se pode misturar); ao nível do financiamento, é neces-sário convencer os investidores tradicionais que os negócios que implicam inovação não

têm retorno imediato;

iii) Deve-se aproveitar a existência do INL como uma infraestrutura de referência para o território. A “NanoValor”, um agrupamento complementar de empresas entretanto cria-do, é uma associação considerada importante para o intercâmbio, o network e sinergias, mas deve ser mais agregador;

iv) Considera o Minho e Aveiro como bons ambientes para fazer florescer negócios desta natureza, também por força da exis-tência de parques tecnológicos, que entende serem excelentes estruturas para promover a imagem e a credibilidade das empresas neles sedeadas;

i) Ao nível das políticas públicas, considera serem necessárias pessoas que conheçam a realidade no terreno, e que existem estrutu-ras a mais criadas com o propósito enunciado de apoiar as empresas. Para além disso, a política de financiamento tem de ser revista, tendo em conta que os bancos e os fundos públicos são, por vezes, mal aplicados devido aos favoritismos existentes;

vi) Consideram o IAPMEI muito pesado e têm boa impressão da AICEP.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 8

Empresa: Celoplás - Plásticos para a Indús-tria S.A.

Interlocutor da empresa: João Cortez

Consultores: Nuno Pinto Bastos; Álvaro Cristóvam

Volume de Negócios (2012): 21,5 milhões de euros

Nº de empregados (2012): 140

% de exportação (2012): diretamente 35% e indiretamente 60%

Caracterização da empresa: A Celoplás surgiu em Barcelos no ano de 1989 e possui atualmente cerca de 150 trabalhadores, onde se inclui um corpo técnico composto por 30 engenheiros (no total das 4 empresas do gru-po, estamos a falar de 250 postos de trabalho criados). O core business da empresa está na conceção e desenvolvimento de componen-tes plásticos de pequena dimensão e alguns na área micro para a indústria, nomeadamen-te indústria automóvel, indústria eletrónica e indústria elétrica e médica. O seu capital social é de 500 mil euros e é detido em 100% por acionistas nacionais. A empresa conta atualmente com um parque de 66 máquinas de injeção em 10 mil m2 de área coberta. Fabricando mais de 100 milhões de peças/ano, utiliza mais de 160 tipos diferentes de termoplásticos de engenharia, bem como termoendurecíveis, BMC’s e silicones.

Trabalhando 7 dias por semana, a Celoplás

conta com 27% de licenciados nos seus quadros. Quase todos os trabalhadores foram recrutados aquando do seu 1.º emprego, com vista à melhor integração na cultura e meto-dologia da organização. A aposta em I&D e em processo internos de formação contínua, que inclusivamente relevam para fins de avaliação de desempenho e de progresso na carreira, é uma constante nesta empresa. No que respeita à vertente financeira da gestão, a empresa não depende das instituições bancárias para a sua atividade global.

As suas vendas destinam-se, direta ou indi-retamente, à exportação (mais de 95%), em especial para a Europa (Alemanha) e Japão. A Mercedes-Benz, a Tyco, a Yazaki, a Bosh, a Denso ou a Leica são alguns dos exemplos da sua carteira de clientes. Certificada em 1995 pela norma ISO 9002, atualmente a Celoplás encontra-se também certificada segundo as normas ISO 9001:2008, ISO TS 16949:2009 e ISO 14001:2004. É ainda de realçar a importância que dá à responsabilidade social, dado o relacionamento que estabelece com entidades locais como os Bombeiros Voluntá-rios de Viatodos.

A Celoplás dispõe atualmente de participa-ções em outras empresas, nomeadamente: CCL - Plásticos para a Indústria Lda; Celoprint - Impressões Lda; Centi - Support, Máquinas e Equipamentos para Indústria Lda; e, Nano-logic - Tecnologias de Micro e Nanomoldação Lda.

Envolvente e estratégia empresarial: A empresa identifica três vetores que considera essenciais: o empowerment (onde está a mais-valia das pessoas que nela trabalham); a consolidação; e, o crescimento.

Neste sentido, privilegia muito os recursos humanos e a sua formação e valorização pro-fissional. Simultaneamente, dado o seu foco em atividades de I&D (onde investe 3,3% do seu volume de negócios), estabelece relações de grande proximidade com várias entidades do Sistema Científico Tecnológico Nacional, como a Universidade do Minho, a Universi-dade do Porto, a Universidade de Coimbra, o CITEVE ou o PIEP - Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (entidade em que é sócia-fundadora). A ligação que estabelece, facilita-lhe e garante-lhe o acesso a qua-dros técnicos com habilitações superiores, fundamentalmente em áreas derivadas da engenharia.

Todavia, e tendo em conta que a empresa opta por recrutar pessoas em condições de 1.º emprego, a Celoplás preocupa-se em comple-mentar a formação dos seus quadros (referin-do mesmo que um novo quadro demora 4/5 anos a formar e a “formatar” de acordo com a política da empresa). Existe uma grande disponibilidade para formação de qualidade e

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que acrescente competências, seja em áreas técnicas ou comportamentais. Todavia, é de salientar que a melhoria contínua é transver-sal à estrutura, ao ponto que o trabalhador que não tiver propostas de melhoria contínua não tem aumento salarial.

A administração da empresa dispõe de um modelo de gestão composto por 25 indicado-res, 11 dos quais estratégicos, o que permite uma monitorização constante do negócio. Para além disso, a realização de exercícios de benchmarking que posicionem a empresa e a sua envolvente está bem presente na sua equipa gestora.

Ao nível dos clusters, João Cortez, fundador e administrador da empresa, considera que, se não tiverem uma dinâmica própria, pode-rão resultar apenas em custos para o país, sem trazer quaisquer resultados práticos. Todavia, é da opinião de que se deve testar e avaliar com todos os parceiros um plano trabalho e de cativação dos empresários para a discussão e criação clusters potenciando as sinergias em grupo, com o grande objetivo de atacar mercados-alvo muito bem caracteri-zados desde no início. Devido à dimensão da empresa e implementação no mercado global em que atua, demonstra valorizar particular-mente o cluster da saúde, onde se manifesta bastante ativo.

A Celoplás tem também ligações com asso-ciações do setor como a APIP - Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos ou com entidades promotoras da inovação como a COTEC Portugal. O networking é também muito valorizado pela gestão de topo, sendo de realçar o facto de que a empresa vai patro-cinar reuniões no PIEP e nos 3B’s de modo a mostrar a sua rede.

Uma dúvida que subsiste é se a Celoplás deve internacionalizar-se ou investir no seu país (é evidente a dificuldade existente para ultrapassar condicionalismos de contexto e os seus custos, porém “estamos no melhor país da Europa” com as “melhores pessoas”, competentes e com preços salariais ade-quados quando integradas em organizações eficientes; já para não falar dos “dias de sol que temos ao longo do ano”).

Contributos, propostas ou opiniões: Do contacto estabelecido com João Cortez, ad-ministrador da Celoplás, foi possível concluir o seguinte:

i) A marca “Portugal” não é muito bem vista nos mercados externos (e a presença da Troika não ajuda a melhorar a sua imagem externa);

ii) Em Portugal, temos “péssimos gestores” e somos “péssimos” no planeamento pessoal (há muitos patrões e poucos empresários/empreendedores, o problema não está no trabalhador/operário);

iii) O ensino secundário não forma conve-nientemente (a maior parte dos jovens com o 12.º ano “não sabe a tabuada”). O sistema de ensino devia ser dual, unindo os ensinamen-tos teóricos da escola ou universidade com a aprendizagem prática da empresa. Para além disso, considera a matemática fundamental;

iv) As instituições de ensino superior e de investigação deveriam fomentar encontros com pessoas da indústria e com investidores. Simultaneamente, a avaliação dos resultados da I&D não deveria ser efetuada com base em patentes (a I&D tem de ter utilidade para gerar riqueza);

v) Existe uma grande dificuldade que não conseguimos ultrapassar: transformar I&D em produtos;

vi) Temos de “fazer” (refazer, juntar, reorga-nizar) empresas com dimensão crítica para pensarem nacional e global;

vii) Os incentivos comunitários estão mal formatados (ex.: formação financiada);

viii) O país vai atravessar um “vale da morte” que vai durar vários anos e precisa de se re-formar, reorganizar e reestruturar (o segredo está no verbo “fazer”).

FICHA DE ENTREVISTA N.º 9

Empresa: APC - Instrumentos Musicais Lda.

Interlocutor da empresa: Sr. António Pinto Carvalho

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos

Volume de Negócios (2012): 850 mil euros

Nº de empregados (2012): 40

% de exportação (2012): 70%

Caracterização da empresa: António Pin-to Carvalho tem sido a alma do negócio dos instrumentos musicais em Braga. Em 1961, começou a trabalhar na produção de Cavaqui-nhos com um artesão talentoso, por sinal, seu avô, na pequena oficina artesanal que aquele dispunha. Estudou à noite, esteve na Guerra Colonial e em Timor e tinha intenção de tirar o curso de Economia na Universidade do Porto no pós-25 de abril de 1974 mas nessa altura tal não se mostrou viável.

A “APC” (siglas de António Pinto Carvalho) surgiu em 1976 enquanto empresa em nome individual. O mercado “empurrou” o promotor para crescer. Entre 1982/83, transferiu o negócio para as atuais instalações, as quais foram aumentando ao longo do tempo de acordo com as necessidades e com as possibi-lidades que a localização oferece.

A prospeção internacional começou em 1990, numa abordagem ao mercado espanhol que

o empresário decidiu fazer de carro para ad-quirir uma máquina. Resultado dos contactos estabelecidos aquando da visita referida, volvidos 2 anos, a empresa conseguiu um cliente no País Basco, em Espanha, que se manteve por 10 anos. Uma nova incursão de carro, desta feia ao mercado francês, é feita em 1992, aproveitando o conhecimento da realidade local de um amigo.

Desde o início que a “APC” tentou “evangeli-zar” a marca “Portugal”. Os clientes interna-cionais pediam frequentemente para colocar a expressão “Made in UE”, em vez de “Made in Portugal”. Foi sendo assim mas por pouco tempo.

Tendo sido entretanto transformada em sociedade por quotas, a APC - Instrumen-tos Musicais Lda. detém atualmente várias marcas comerciais registadas: “APC”, “António Carvalho”, “Ibéria” e “Lusitânia”.

Encontra-se certificada ao nível do sistema de gestão da qualidade baseado na norma ISO 9001:2008. Sendo uma empresa com uma forte tradição na área dos instrumentos musicais de corda, é única no país nas suas característicos e gama de produtos e um dos valores que defende é a satisfação dos clientes.

Envolvente e estratégia empresarial: Braga não apresenta uma grande mais-valia ao nível da atividade da APC - Instrumentos Musicais Lda., uma vez que a cena artística local é relativamente pobre. Todavia, é a partir deste território que exporta instrumentos musicais para a Europa, Estados Unidos da América, Malásia, Coreia do Sul, Rússia, Croá-cia e, mais recentemente, China e Moçambi-que. Cerca de 70% da sua produção tem por destino o mercado externo.

Parte dos seus clientes são os maiores vende-dores mundiais online. Todavia, uma grande parte dos seus clientes são empresas que fazem distribuição destes produtos para o retalho.

A empresa marca presença em feiras interna-cionais, dada a visibilidade e os contactos que consegue neste tipo de eventos. A este nível, tem beneficiado de alguns apoios do QREN de fomento à internacionalização das PME.

António Pinto Carvalho é um entusiasta do seu negócio mas considera que “a verdade não tem dono”. Demonstra uma grande admiração pelo seu avô, ao considerar que não foi muito conhecido por estar em Braga e não em Lisboa.

Os principais entraves com que se tem de-parado prendem-se com questões ligadas à burocracia e ao licenciamento.

Possui funcionários com muitos anos de casa, alguns dos quais (sete) com capacidade de construir artesanalmente uma guitarra, e conta já com o apoio dos seus 2 filhos, que

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

entretanto concluíram os seus estudos.

Acredita que o futuro está em África e na América do Sul e nas várias deslocações que faz ao estrangeiro diz pedir para que com-prem português (para ele, somos um povo trabalhador que merece ser reconhecido e é bem visto no exterior).

Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista efetuada, foi possível identificar os seguintes pontos como principais opiniões:

i) As associações empresariais e a AICEP deveriam empenhar esforços numa maior promoção internacional das empresas (“é preciso quem abra portas lá fora”);

ii) Portugal tem de contrariar os entraves e as burocracias que coloca ao crescimento das empresas;

iii) Importa uma maior diplomacia económica para reduzir as taxas aduaneiras em países como o Brasil (68%). Se for o Brasil a vender a Portugal há um tipo de tratamento, mas se for Portugal a vender para o Brasil há outro.”

FICHA DE ENTREVISTA N.º 10

Entrevistado: José Manuel Capa Pereira

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos

Contextualização: José Manuel Capa Pereira desempenhou funções enquanto Presidente da AIMinho durante dois manda-tos entre 1996 e 2002. Anteriormente tinha cumprido também dois mandatos como Vice--Presidente. Atualmente, não tem respon-sabilidades nos órgãos sociais da AIMinho, com cujo percurso recente se não identifica, e dedica-se essencialmente à atividade em-presarial, onde também tem assumido papéis de destaque. Foi também, no mesmo período, Presidente da UERN - União Empresarial da Região Norte (de que é Presidente Honorá-rio).

Lembra que, nos tempos em que presidiu à AIMinho, beneficiou de uma conjuntura favorável ao desenvolvimento de iniciativas e programas de apoio à atividade empresarial. Admite que alguns instrumentos de políticas públicas então implementados não tiveram a eficácia esperada e o correspondente impacto na alteração do tecido empresarial e da com-petitividade da região não correspondeu ao grande empenho e esforço desenvolvidos na conceção e execução de programas. Na última fase em que exerceu funções de direção na AIMinho, a tendência inverteu-se e houve necessidade de redimensionar a organização e a estrutura da associação e, por isso, foi decidido autonomizar algumas competências através da criação de empresas spin-off, que ainda hoje se mantêm no mercado.

Considera a AIMinho como a “maior associa-

ção empresarial de base regional” existente no país. Em seu entender, ao contrário do que seria de esperar, “não houve alterações signi-ficativas do comportamento dos empresários [da região] nos últimos anos”. Para além do facto de o perfil do tecido empresarial não ter mudado de configuração (as micro e pe-quenas empresas continuam a ser predomi-nantes), continua a notar-se alguma falta de preparação dos empresários para as funções de gestão e a inexistência de uma verda-deira “cultura empresarial”. Em razão disso, entende que, a nível associativo, é necessário continuar a trabalhar alguns aspetos numa lógica voluntarista, abordando temas de impacto direto na atividade empresarial mas sem esquecer outros aspetos como sejam os que se prendem com a melhoria da envol-vente. A componente da representação por parte da AIMinho do “lobby” patronal regional deverá continuar a ser marginal.

Continua a verificar-se uma tendência para o individualismo que tem face positiva uma vez que potencia a iniciativa empresarial ma soutra negativa (preponderante) que pulveriza as iniciativas não lhes conferindo a escala que, num quadro de competição globalizada, é necessária. Continua a sentir--se a relutância para a cooperação ou para as fusões e aquisições. Nota-se que, em muitos casos, o problema não é apenas cultural mas também de formação. Seria de esperar que a entrada no mercado de empresas formadas por empresários com níveis de qualificação mais altos permitisse alterar a qualidade da gestão das empresas. Mas esta tendência não é ainda visível.

Contrariando o que seria expectável, os empresários que saíram da UM deram con-tributos ainda insuficientes para alterar esse padrão.

Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista efetuada, foi possível registar algumas reflexões, ideias e contributos mais marcantes, que passamos a apresentar:

i) O Quadrilátero é um processo. A região ca-rece de uma verdadeira “infraestrutura insti-tucional”, isto é, de uma prática organizativa e sistémica de cooperação efetiva que “alinhe” estratégias, valorizando as complementarida-des mais do que as divergências;

ii) Continuando a eficácia das políticas públi-cas a ser muito baixa é necessário identificar criteriosamente as ações prioritárias e pro-mover a afetação dos recursos a essas ações;

iii) É necessário promover todas as formas de aquisição de massa crítica das empresas e instituições, por exemplo: fusões e aquisições de empresas e a cooperação. Nos bens tran-sacionáveis, para se ir além do mercado local, a escala é decisiva. Todavia, a grande motiva-ção, por exemplo, para o estabelecimento de um agrupamento complementar de empresas

ou de outro tipo de base associativa, o que tem funcionado tem sido é a existência/per-ceção de existência de uma ameaça externa (ou seja, a cooperação tem surgido apenas em contextos de grande adversidade);

iv) É necessária uma requalificação do tecido empresarial, a qual pode ser obtida com a atração de investimento estrangeiro de quali-dade (nem todo o IDE tem interesse: Que tipo de atividade? Quanto tempo permanece? Que tipo de interação com o tecido empresarial e instituições locais?) e com a capacidade de angariação de financiamento para empre-sas start up e spin-offs (falta na região, por exemplo, uma prática organizada de business angels);

v) O impacto da “Justiça” no IDE é muito gran-de para quem decide a melhor localização para o seu negócio, assim como as questões associadas ao licenciamento industrial, à fiscalidade e ao direito do trabalho;

vi) Mantém-se a necessidade de criação de um espaço que promova encontros infor-mais entre os empresários e os professores universitários e investigadores. No passado, a AIMinho já o tentou a nível estrito de espaço de encontro entre empresários, embora sem o sucesso desejado. O ideal era conseguir cru-zar e estabelecer relações de caráter informal entre pessoas ligadas ao contexto académico e ao tecido empresarial deste território (mes-mo entre os próprios empresários é importan-te este “encontro” porque, no fundo, trata-se de uma prática que tem implicações em matéria de difusão de boas práticas e pode ser propiciadora da identificação de novas ideias de negócio (benchmarking). Para uma estrutura desta natureza poder ter sucesso, terá de ter alguém responsável pela dinâmica do espaço (isto é, são necessários animado-res e dirigentes que o promovam);

vii) Juntar as 4 cidades/concelhos do Baixo Mi-nho “faz todo o sentido”. Porém, o Quadriláte-ro não pode estar tão exposto a conjunturas e motivações de índole “político-partidário”. A grande razão de ser da estrutura institucional entretanto criada (Associação Municípios para Fins Específicos Quadrilátero Urbano) não pode cingir-se ao acesso a financiamen-tos públicos e comunitários. É necessária também uma liderança com peso institucio-nal, capaz de definir uma matriz de interesses e de especialização sobre a qual possa traba-lhar com alguma autonomia, nomeadamente ao nível da dinamização empresarial e de atração de investimento (haveria que definir por consenso as bases mínimas em matéria de objetivos e, assim, a gestão poderia operar com alguma autonomia e eficácia dentro desta associação de municípios);

viii) À semelhança do que AIMinho tentou fa-zer com a criação de um Centro Internacional de Negócios, seria importante que o território pudesse contar com um conjunto de recursos

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técnicos especializados e articulados, dedica-dos à captação de investimento e à promoção de estratégias de cooperação entre empresas (seguindo o modelo de operação das câmara de comércio e indústria existentes noutros lugares). Deve ser analisada a pertinência da constituição de uma infraestrutura regional com essa vocação;

ix) Simultaneamente, na relação entre Braga e Guimarães, é importante manter presente que a UMinho é um parceiro indispensável nomeadamente no seu papel de grande importância na promoção e fortalecimento de eixos de entendimento;

x) Por último, exprimiu a opinião que o Minho carece de uma maior “liderança empresarial”.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 11

Empresa: Amtrol-Alfa Metalomecânica S.A.

Interlocutor da empresa: Tiago Oliveira

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos

Volume de Negócios (2012): 63 Milhões de Euros

Nº de empregados (2012): 550

% de exportação (2012): 96%

Caracterização da empresa: A Amtrol--Alfa é uma empresa de capitais estrangeiros sedeada na freguesia de Brito, Guimarães, cuja dimensão a configura na tipologia das “grandes empresas”. Sendo o maior produtor europeu e um dos 3 maiores exportadores do mundo de garrafas de gás transportáveis, a Amtrol-Alfa é especializada no fabrico de garrafas de gás para o mercado do Gás Petróleo Liquefeito (GPL) e de gases técnicos, desde os 34 aos 134 litros de capacidade. A partir de 2005, começou a produzir uma linha de garrafas, de conceção nacional, à base de materiais compósitos: mais leve, com design que permite um fácil manuseamento, isenta de corrosão e amiga do ambiente.

Neste momento, os produtos da empresa resumem-se a 4 tipos de garrafa, sendo de destacar o facto de terem conseguido passar de produtos destinados a uma pressão de teste até 60 Bar para produtos capazes de suportar pressões até aos 450 Bar (pressão de teste). As garrafas de metal são responsá-veis por 70% das vendas, embora os novos materiais compósitos utilizados nos novos produtos (resultantes dos investimentos feitos em I&D dos últimos 5 anos) totalizem os 30% remanescentes.

A sua carteira de clientes é muito vasta. Atualmente, tem clientes em mais de 100 paí-ses (60 dos quais ativos nos últimos 2 anos) e produz cerca de 4 milhões de garrafas por ano. Do seu volume de negócios anual, cerca de 95% é oriundo dos mercados externos.

Foi das primeiras empresas em Portugal a certificar-se no sistema de gestão da qualida-de baseado na norma portuguesa ISO 9001, processo que se revelou muito importante sob o ponto de vista organizacional.

A empresa tem sido contemplada com várias distinções, podendo destacar-se o facto de ter sido vencedora do Prémio de Júri Especial na categoria de “Spirit of Conquest”, da JEC Innovations Composites Awards Programme 2005, a que se juntam vários prémios de design de produto conseguidos em países/mercados como a Austrália, a Espanha, a Alemanha, o Japão ou os Estados Unidos.

Envolvente e estratégia empresarial: O início da exportação dá-se em 1974. Dez anos volvidos, dá-se a integração da Comanor - Companhia de Manufacturas Metálicas do Norte S.A. na Petroleo Macanica Alfa e passa a ser um dos maiores fabricantes mundiais na sua área de intervenção. Em 1997 o Grupo Comanor-Alfa é adquirido pela Amtrol Inc (USA), nascendo então a Amtrol-Alfa. Em 2003/2004, surge a “Pluma”, um produto altamente inovador, responsável por vários prémios (dando-lhe visibilidade e notorie-dade) e que teve a capacidade de “integrar a inovação como um processo tão importante como a produção”. Daqui resulta uma patente para a Amtrol-Alfa, o que vem coroar a aposta que faz em I&D.

A empresa dispõe atualmente de um sistema de inovação e desenvolvimento baseado em equipas por projeto e mantém uma relação de grande proximidade com a Universidade do Minho (ao nível do cálculo matemático e estu-dos de eletricidade estática), com o PIEP (no que toca aos materiais compósitos e plásti-cos) e com a Universidade do Porto. Conside-ram que são reconhecidos por desenvolverem aquilo a que apelidam de “inovação séria”.

Incluindo mão-de-obra, assumem que pos-suem “56% de incorporação nacional”. Aliás, privilegiam os fornecedores de equipamento locais e nacionais e integram os fornecedores de componentes em novos projetos de inova-ção ou desenvolvimento, neste que dizem ser um negócio muito regulado, sujeito a normas muito exigentes.

Os principais concorrentes das garrafas “tradicionais” encontram-se em economias baseadas em dólares, nomeadamente Tailân-dia, Índia e Marrocos. Anotam que se registou nos últimos tempos uma “retração brutal de mercado na Europa”, com exceção dos países nórdicos, o que os obrigou a compensar a redução havida neste mercado com outros, especialmente no Médio Oriente e em África.

A Amtrol-Alfa só produz garrafas em Guima-rães e reconhece o seu interesse em estar sedeada no território do Quadrilátero, tendo em conta o aproveitamento que consegue fazer da sua localização (embora reconheça a

distância a Lisboa, enquanto centro de deci-são política). Todavia, o Quadrilátero oferece boas infraestruturas rodoviárias e marítimas, para além de que conseguem recrutar com facilidade o tipo de pessoa que procuram. Aproveitam alguns apoios estatais ao nível da Educação e da Inovação, embora não tomem as iniciativas que têm desenvolvido, nomea-damente em matéria de I&D, para beneficiar de incentivos. É política da empresa atuar a esse nível e, havendo programas de apoio que se enquadrem, obviamente que não deixam de os aproveitar.

Consideram ser “a referência mundial neste negócio”, particularmente em virtude da sua imagem inovadora ser reconhecida inter-nacionalmente. O apoio que a Amtrol-Alfa recebe da AICEP é bastante apreciado, tendo em conta os serviços “sérios” que são disponi-bilizados e, sobretudo, as respostas “rápidas” que têm tido por parte daquele organismo às suas solicitações.

Contributos, propostas ou opiniões: Como resultados extraídos da entrevista efetuada, elencamos os seguintes:

i) O território português apresenta vantagens em termos de inovação e desvantagens no que toca aos custos de produção (a evolução do euro face ao dólar não se tem manifestado vantajosa);

ii) Reconhecido no exterior como um país de “1.º mundo”, inovador e de gente trabalhado-ra, “Portugal é demasiado pequeno para ser visto [a partir do exterior] como constituído por diferentes territórios” (oportunidades associadas à opção por distintas localizações regionais);

iii) Os investidores, aquando da tomada de decisão para escolher um país para o seu investimento, privilegiam a “competência, o ambiente político (greves…) e o conhecimen-to tecnológico” e, a este nível, os portugueses estão bem posicionados;

iv) Há um problema com a indústria que está relacionado com o não reconhecimento da excelência do conhecimento tecnológico. A indústria tem de ir às universidades procurar o que lhe interessa e, depois, a indústria deve “guiar” as universidades para um desenvolvi-mento mais aplicado da I&D que se faz nestes centros de saber. Todavia, o mais importante nestes processos não são as instituições, mas sim as pessoas, isto é, os canais que importa cultivar são, sobretudo, os informais/pessoais.

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

FICHA DE ENTREVISTA N.º 12

Empresa: Porminho Alimentação, S.A.

Interlocutor da empresa: Tiago Freitas

Consultores: Nuno Pinto Bastos; Álvaro Cristóvam

Volume de Negócios (2012): 28,5 milhões de euros

Nº de empregados (2012): 160

% de exportação (2012): 10%

Caracterização da empresa: Fundada em 1984 por Alcino Freitas e Olinda Frei-tas, a Porminho iniciou a sua atividade com a comercialização de carne de suíno. Em 1998, realiza o objetivo da implementação de um matadouro próprio e passa a abater e desmanchar os animais para posterior distribuição.

O crescimento do negócio implicou que a carteira de produtos evoluísse das carnes frescas e congeladas para produtos trans-formados de charcutaria. Em 2002, obtém a certificação de acordo com a norma NP EN ISO 9001:2000, reforçando a sua competitividade e aumentando as garantias de qualidade e segurança alimentar.

Paralelamente, a empresa reforçou os seus quadros, com a integração dos filhos dos fun-dadores, Tânia Freitas e Tiago Freitas, com formação em Engenharia Alimentar e Gestão, respetivamente.

Num processo de crescimento contínuo, a Porminho passou a ser uma referência nacional no setor alimentar, nomeadamente na indústria de carnes. “Porminho”, “Vale da Garça” e “Outeiro Bravo” são as marcas re-gistadas da empresa. A evolução do negócio implicou o aumento das instalações para não perder a capacidade de resposta, o que se veio a verificar em duas fases.

A empresa identifica dois fatores que impul-sionaram sobremaneira a sua atividade: por um lado, o fornecimento de produtos para as cadeias nacionais de grande distribuição; e, por outro, a exportação para mercados como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo e Inglaterra.

As vendas para as grandes superfícies, impli-caram um aumento substancial das quantida-des produzidas e uma adaptação da empresa às exigências logísticas e de negociação des-tes players. No caso concreto da exportação, é de assinalar que representa atualmente 10% do volume de negócios. Tendo surgido como uma oportunidade para a empresa, as vendas para o exterior são realizadas por via da exportação direta mas também por intermédio das tradings (exportação indireta).

Envolvente e estratégia empresarial: O processo de internacionalização implicou

alguma preparação por parte da empresa, nomeadamente ao nível da análise de dados estatísticos e comerciais e, fundamental-mente, viagens de prospeção para avaliar a cultura, os hábitos de consumo e as necessi-dades ao nível do produto e da embalagem. Neste momento, a Porminho pretende entrar no mercado brasileiro, e posteriormente no mercado russo, estando a ser desenvolvidos contactos nesse sentido.

A empresa pretende privilegiar a exporta-ção onde possa predominar a sua principal marca (baseada na relação qualidade/preço) e os mercados onde esta ligação possa ser sustentável e duradoura.

Ao nível dos apoios e incentivos, a Porminho encontra-se a finalizar um projeto PRODER - Programa de Desenvolvimento Rural e um QREN Qualificação e Internacionalização de PME. Embora a indústria que atua no negócio das carnes esteja fortemente localizada no Montijo e no Minho, o “peso” da APIC - Asso-ciação Portuguesa dos Industriais de Carnes (da qual é associada) faz-se sentir mais a sul.

Recentemente, a Porminho esteve represen-tada em dois certames nacionais, o “SISAB Portugal 2013” e a “Alimentaria & Horexpo Lisboa” onde lançou um produto inovador que entretanto foi colocado no mercado denomi-nado “Mini-snacks”. Este produto resultou da I&D desenvolvida pela Porminho com entida-des do SCTN, numa estratégia de competição pelo “produto” em substituição da componen-te “preço”. A empresa prepara-se agora para encarar a inovação como um vetor essencial para a sua estratégia de desenvolvimento.

Contributos, propostas ou opiniões: Ao nível das sugestões e propostas, o entrevista-do destaca o seguinte:

i) Faria sentido a criação no Quadrilátero de uma associação ou cluster para a área agroali-mentar, tendo em conta a expressão que este tipo de indústria apresenta neste território (denota-se que cada empresário atua por si quando em alguns domínios a cooperação seria mais benéfica);

ii) É necessária uma aposta no marketing territorial para promover o Quadrilátero, sendo importante salientar “a força da marca Minho”;

iii) A cooperação win-win entre empresas ganha mais consistência e sentido com esta geração de empresários;

iv) O custo de mão-de-obra no Quadrilátero não é desajustado;

v) O direito laboral evoluiu mas ainda carece de ajustes. Um trabalhador facilmente se despede de uma empresa mas, inversamente, o despedimento de um trabalhador, mesmo havendo justa causa, é um processo difícil, o que retrai os empresários na contratação de novos trabalhadores (e a opção recai muitas

vezes no recurso às agências de trabalho temporário).

FICHA DE ENTREVISTA N.º 13

Empresa: Leica Portugal - Aparelhos Óticos de Precisão S.A.

Interlocutor da empresa: Dra. Filomena Machado

Consultores: Nuno Pinto Bastos; J. Cadima Ribeiro

Volume de Negócios (2012): 39,7 milhões de euros

Nº de empregados (2012): 709

% de exportação (2012): 99,3%

Caracterização da empresa: Leica Portugal - Aparelhos Óticos de Precisão S.A. é o nome da subsidiária portuguesa de uma marca reconhecida mundialmente simples-mente por “Leica”. Localizada em Vila Nova de Famalicão, a empresa inaugurou em finais de 2012 as suas novas instalações, tendo-se deslocado para a freguesia de Lousado.

A história da Leica em Portugal tem início em 1973 (sessenta anos depois da primeira câmara Leica ter sido inventada) numa pe-quena unidade fabril com lugar no centro da cidade de Vila Nova de Famalicão, por decisão dos austríacos irmãos Leitz, que optaram pela deslocalização de parte da produção. Com o crescimento da marca, deslocaram--se em 1976 para a periferia de Vila Nova de Famalicão, mais concretamente para Antas, onde, de um pavilhão industrial, passaram em poucos anos para três (mecânica, ótica e montagem).

A opção por Vila Nova de Famalicão poderá ter estado relacionada com muitos fatores, destacando-se os seguintes: o facto de nos anos 70 do século XX existir neste território experiência em máquinas de precisão, como os relógios (muito por força da presença da empresa “A Boa Reguladora Lda”) e em trabalhos manuais (como os têxteis); o historial que este concelho apresenta ao nível de investimentos alemães, como é disso exemplo a Continental Mabor; e a emigração de algumas famílias para a Alemanha, que facilitou que a língua fosse falada por alguns famalicenses. Todavia, estes motivos não foram confirmados pela representante da empresa.

Hoje, a importância enquanto unidade fabril da filial portuguesa já ultrapassou a da casa--mãe alemã. Embora tivesse chegado a ser equacionada a deslocalização para países com mão-de-obra mais barata, o certo é que o investimento que fizeram nas novas instala-ções vem fazer “a ponte para os próximos 40 anos”. A nova unidade produtiva encontra-se apetrechada com equipamento tecnológi-

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co de ponta, instalado nos 11.700 metros quadrados que foram implementados, num total de 21 mil metros quadrados de espaço disponível (o que facilita o alargamento futuro das instalações, se necessário for). As novas instalações da Leica, em Lousado, vêm colmatar as deficiências que existiam ao nível da capacidade de resposta e melhorar ainda mais os elevados padrões de qualidade que a marca faz questão de manter.

O grupo Leica conta com cerca de 1700 trabalhadores, 700 dos quais se encontram na unidade fabril portuguesa. As secções da mecânica e ótica laboram em três turnos. Acrescentando a secção de montagem, todas contam com um departamento de qualidade, que avalia ao detalhe a conceção de cada componente. A sincronização entre as secções da mecânica e ótica é planeada ao detalhe, para não interromper a fluidez da produção, uma vez que tudo funciona ao “cronómetro”. A capacidade para produzir componentes óticos com tolerâncias muito exigentes é uma vantagem competitiva que distingue a Leica da sua concorrência (Asamplant, Hasselblad, Nikon e Canon, em câmaras, e Swarovski, em binóculos).

A Leica Portugal produz máquinas foto-gráficas digitais (mas também algumas analógicas), binóculos, medidores de distâncias e miras telescópicas. Apenas os binóculos compactos têm a indicação “Made in Portugal”. Todos os restantes produtos são rotulados “Made in German”. Porém, esta fábrica portuguesa produz 95% da máquina fotográfica, estando a conceção/montagem final entregue à casa-mãe, na Alemanha (responsável pela colocação de um pequeno sensor essencial ao seu funcionamento). Como foi dito, a principal unidade produtiva da Leica é a portuguesa. Entretanto, tudo que produz é exportado para a casa-mãe.

A nível logístico, saliente-se que a interação ente a unidade portuguesa e a casa-mãe é feita sobretudo por camião, que parte para a Alemanha todas as 6ªs feiras.

Envolvente e estratégia empresarial: O departamento de I&D encontra-se localizado na Alemanha. Os primeiros modelos de série já são desenvolvidos com a colaboração da unidade portuguesa. Todavia, no que respeita ao processo, o I&D é todo ele nacional.

Os quadros superiores da Leica Portugal começaram por ser ocupados por alemães mas gradualmente têm sido substituídos por portugueses. Porém, a cultura de rigor, trabalho e reconhecimento que se vive na Leica tem passado de geração para geração. A qualidade do trabalho dos colaboradores portugueses é apontada como o principal fator para a empresa se manter em Portugal. O know-how acumulado em quarenta anos é um ativo muito valioso, até porque a estrutu-ra de trabalhadores da empresa mantém-se

muito estável.

A língua alemã tem vindo a dar lugar ao inglês dentro da empresa, embora ao nível técnico e no que toca a grandes decisões se mantenha o uso do alemão. A aposta e depósito de con-fiança que tem sido feito com a transferência de mais projetos de produção demonstram que a envolvente da Leica Portugal tem-se manifestado muito favorável ao desenvol-vimento do negócio e ao crescimento que a marca tem registado nas vendas em todo o globo.

O fornecimento da empresa portuguesa é decidido na Alemanha. As compras que fazem são oriundas de todo o mundo, como é disso demonstrador a compra de vidro no mercado asiático. Porém, casos há em que os fornecimentos são portugueses (a Celoplás, localizada em Barcelos, é um dos exemplos).

A unidade portuguesa apresenta ligações de proximidade com a AICEP, estrutura que facilita os processos de regularização de dívidas do Estado em termos de IVA e apoia noutros domínios quando a empresa solicita a sua intervenção.

Ao nível internacional, a empresa apostou forte no marketing e no conceito da “Lei-ca Store”, lojas comerciais que implantou nos centros mais cosmopolitas do mundo. Atualmente, o grupo atravessa o seu melhor momento, a julgar pelos records históricos de vendas em todo o mundo. Europa, Ásia, Japão, EUA e, mais recentemente, Coreia do Sul e Tailândia, são os principais mercados da marca.

Contributos, propostas ou opiniões: Como principal contributo retirado da entre-vista efetuada, salientamos um que congrega em si mesmo várias sugestões:

i) Para este território atrair IDE deve poten-ciar e comunicar todos os seus atributos. No caso dos donos da empresa e da gestão de topo, são muito apreciadas as deslocações que fazem a Portugal, em virtude do sol, da proximidade do mar, do saber receber do povo português e da sua vontade de fazer mais e melhor.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 14

Empresa: Construções Gabriel A. S. Couto, S.A.

Interlocutor da empresa: Ricardo Poças

Consultores: Nuno Pinto Bastos; Bruna Dias

Volume de Negócios (2012): 103 milhões de euros

Nº de empregados (2012): 715

% de exportação (2012): 25%

Caracterização da empresa: A Gabriel

Couto é das empresas mais antigas em Portugal a operar na área da construção civil. Surgiu há mais de 50 anos como uma empresa de cariz familiar e, durante muitos anos, o seu core business foi a construção de vias rodoviárias e ferroviárias e escolas. Em virtude das oportunidades geradas pelo mer-cado, a atividade da empresa alargou-se para a construção de parques eólicos (iniciou-se nesta área no ano 2000, sendo responsável pela construção de 35% dos parques eólicos que existiam em Portugal), infraestruturas de águas (drenagens e etares) e outras constru-ções de grande envergadura.

A empresa conta com muitos trabalhadores locais (a taxa de permanência é elevada) e dispõe de um parque de máquinas conside-rável, o que lhe tem permitido capacidade de resposta para os projetos de construção que realiza. Todavia, a maturação e o abranda-mento do mercado da construção civil em Portugal levaram a empresa a apostar nos mercados internacionais como forma de garantir e manter a sua dimensão e o nível de emprego. A sua primeira experiência interna-cional teve lugar em 1996, com a aquisição de uma empresa moçambicana. Atualmente, a aposta em projetos internacionais encontra--se fortemente enraizada na empresa e são disso exemplo a angariação de negócios na Roménia, na Moldávia, em Angola, em Mo-çambique e na Suazilândia. A partir de 2005, o acesso aos mercados internacionais passou a ser um vetor estratégico da gestão de topo. A abordagem aos mercados externos foi di-ferente de acordo com o país em questão. As estratégias de entrada adotadas, passaram pelo estabelecimento de parcerias com em-presas já instaladas no mercado de destino, pela criação de sucursais/ representações da Gabriel Couto nesses mesmos mercados ou pela compra de participações de empresas sedeadas no mercado de destino. A escolha pelo mercado africano justifica-se sobretudo pela ligação e proximidade histórica com Por-tugal, bem como pela Língua Portuguesa.

Envolvente e estratégia empresarial: A empresa valoriza as relações com as associações empresariais do setor e com as entidades do SCTN, nomeadamente com a FEPICOP - Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas, a AICCOPN - Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas, a AIMinho e a UMinho. Ricardo Poças considera que o associativismo é benéfico, pois proporciona e facilita a troca de ideias.

Realça ainda, que no setor da construção civil é frequente o estabelecimento de consórcios e que existe uma relação de cooperação entre as empresas do setor como forma de reduzir o risco envolvido em alguns projetos mas também para aumentar a proposta de valor e para obter a dimensão necessária para os projetos apresentados. A Associação da

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Fileira da Construção do Minho (“cluster da construção”) constituída em abril de 2011 por iniciativa da AIMinho materializa os esforços de união que têm sido realizados.

Ao nível do I&D, a empresa desenvolve ativi-dades em colaboração com a UMinho, nomea-damente atividades de investigação na área dos pavimentos betuminosos (aplicações a frio) e dos materiais reciclados.

Ricardo Poças refere também a importân-cia da AICEP e da sua atuação. Afirma que a criação da figura do gestor do cliente se assumiu como uma mais-valia, uma vez que consegue estabelecer uma linha de comunicação direta com a empresa. A relação com a AICEP permite à empresa, entre outros serviços, aceder a oportunidades de negócio de âmbito internacional e também a linhas de crédito especiais que foram criadas espe-cificamente para os mercados de Angola e Moçambique.

Recentemente, o envolvimento do Minis-tério da Economia na promoção do setor da construção civil mostrou-se igualmente de elevada relevância para a Gabriel Couto, tendo esta, em conjunto com outras empresas, beneficiado da diplomacia económica, o que lhes proporcionará a muito breve prazo alguns negócios na Argélia.

Por fim, a ligação à banca é essencial para o desenvolvimento da atividade da Gabriel Couto e a este nível Ricardo Poças refere que dada a dimensão e a história da empresa e apesar das recentes restrições à obtenção de financiamento que se verifica na economia em geral, este não se apresenta como um problema para a Gabriel Couto. A empresa tem também o privilégio de possuir alguns fundos e equipamentos próprios, o que lhe proporciona alguma segurança e estabilidade.

Contributos, propostas ou opiniões: Ao nível das sugestões e propostas, o entrevista-do destaca o seguinte:

i) O território apresenta todas as condições necessárias para o desenvolvimento da ativi-dade empresarial, contudo reconhece que a existência de um organismo facilitador e que apoie sobretudo as PME no seu processo de internacionalização seria muito importante;

ii) A promoção e o fomento dos clusters em-presariais afigura-se essencial para facilitar a cooperação das empresas e a internaciona-lização;

iii) A distância com Lisboa não é um problema, embora sejam necessárias várias deslocações de quadros da empresa para que não fiquem “fora” deste importante centro de decisão;

iv) A proximidade com o Porto de Leixões e com o Aeroporto Francisco Sá Carneiro são uma enorme vantagem para o tecido empresarial do território do Quadrilátero (a estrutura portuária é o principal canal de

comunicação utilizado pela Gabriel Couto no transporte de equipamentos e mercadorias para os mercados internacionais, assim como o aeroporto o é para o transporte de pessoas, técnicos e engenheiros);

A mentalidade em Portugal está a mudar. “Ir lá para fora tornou-se uma necessidade”, o que permite uma transformação significativa nas empresas portuguesas que as fazem “pensar global”.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 15

Empresa: João Carvalho Fernandes

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos

Contextualização: João Carvalho Fer-nandes começou a trabalhar no IAPMEI no ano de 1982. As funções que então exercia prendiam-se fundamentalmente com a preparação de estudos económicos e dossiês de financiamento para apoiar as empresas industriais na obtenção de crédito. Mais recentemente foi diretor da delegação de Braga deste instituto tutelado pelo Ministério da Economia, cargo que deixou entretanto de existir em virtude de uma remodelação orgâ-nica que transformou a estrutura existente em Braga numa extensão do IAPMEI Porto.

No seu entender, os apoios estruturais mar-cam a história do IAPMEI. Entre o 25 de abril de 1974 e finais da década de 80 do século XX, o então denominado Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investi-mento encontrava-se muito vocacionado para a indústria e, a título de exceção, para a prestação de serviços diretamente relaciona-dos com a gestão dos processos produtivos. Neste período, o conceito de empreendedo-rismo não existia como o conhecemos hoje e, por isso, pode-se atribuir ao IAPMEI algum pioneirismo na sua introdução nos meios empresariais, muito por força do denominado concurso de projetos industriais promovido pela Caixa Geral de Depósitos, onde o IAPMEI prestava funções de “avalista”.

Com a entrada de Portugal na UE, o país passou a beneficiar de fundos estruturais, facto que implicou uma mudança na principal entidade de apoio ao tecido empresarial. O IAPMEI alargou o seu âmbito de atuação e passou a responder também às solicitações do comércio e do setor da construção. Surgem os fundos PEDIP - Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa, o capital de risco e o sistema de garantia mú-tua. Note-se que este sistema de garantia foi “inventado” pelo IAPMEI, contando com uma grande recetividade da banca portuguesa (por permitir a diminuição dos riscos de crédi-to). Este sistema veio permitir a diversificação dos instrumentos financeiros disponíveis (como são disso exemplo as linhas de crédito

PME Invest ou PME Crescimento). O IAPMEI assume agora um papel mais relevante na intermediação, tendo em consideração que os instrumentos de apoio não estão na institui-ção (por exemplo: a “Portugal Ventures” tem a sua própria personalidade jurídica por estar organizada enquanto Portugal Capital Ventu-res - Sociedade de Capital de Risco S.A.).

Uma área do IAPMEI que se desenvolveu nos últimos anos, também por força da crise que assola o país, foi a da recuperação de empresas. O papel desempenhado por este organismo público enquadra-se no programa Revitalizar, no qual está inserido o SIREVE - Sistema de Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial, a que Carvalho Fernandes dedica atualmente a maior parte do tempo.

Contributos e propostas: Como resultado da entrevista realizada, passamos a elencar as principais notas ou ilações:

i) Existem aspetos a melhorar na definição de prioridades e articulações ao nível do Estado e dos organismos da Administração Pública. Há necessidade de uma maior consistência das políticas públicas implementadas, mas também ao nível da gestão das equipas que estão no terreno. Os resultados alcançados com essas políticas refletem algumas debili-dades e inconsistências;

ii) O país evidencia grandes disparidades e diferentes realidades socioeconómicas, em particular quando se olha para os grandes centros urbanos. Lisboa assume uma prepon-derância, ao ponto de a crise financeira e eco-nómica, desencadeada em 2008, ter tido, em média, um impacto mais ténue na capital até 2011, quando se deram as primeiras descidas de salários na função pública e os aumentos de impostos; quando na região já se sentia, por força do encerramento de empresas, em particular, a partir do início deste século, empresas estas sujeitas à concorrência internacional, à abertura de fronteiras a Leste e à “desproteção” aduaneira ocorrida na UE relativamente ao Oriente. O tecido económico da região de Lisboa está mais dependente do terciário o que, apesar da limitação de atribuição de fundos, ajuda a explicar esta diferença.

iii) Com a entrada na UE e na moeda única, Portugal passou a enfrentar um quadro macro e microeconómico de enorme condiciona-mento;

iv) A UE tem de se pronunciar sobre os dese-quilíbrios comerciais à escala internacional e deve clarificar a sua posição relativamente às regras a que deve atender, sob pena de pôr em causa o bem-estar económico dos países membros e de hipotecar irremediavelmente o seu modelo social;

v) O tecido empresarial português está a ser penalizado pela atual situação a nível interno e pelas suas implicações em termos de

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condicionamento financeiro (falta de crédito mais barato em função do rating do Estado português);

vi) O processo de internacionalização das em-presas deve ser planeado e o risco que implica deve ser acautelado. As empresas devem ponderar, sempre que possível, a realização de parcerias com empresas locais, uma vez que estas conhecem em primeira mão a reali-dade do mercado que se tenta abordar;

vii) O território do Quadrilátero beneficia de uma cultura de trabalho que lhe é reconhe-cida e de um conjunto de indústrias muito capazes (independentemente das dificulda-des que atravessam);

viii) As associações empresariais devem ser agentes mobilizadores, com capacidade de agregação e liderança;

ix) Para fortalecer o tecido empresarial no território do Quadrilátero deve-se apoiar a criação de valor (“é necessário juntar quem sabe com quem produz”) e captar investimen-tos externos (provenientes do estrangeiro ou de outras regiões do país). Apoiar a criação de valor nas empresas implica conceber um modelo de negócio onde sejam envolvidos os investigadores da UMinho ou de outras entidades do SCTN e onde a partilha de resul-tados esteja bem definida (sem esquecer o contributo que pode vir via instrumentos do QREN, tais como o Vale Inovação e o Vale IDT).

x) Para a captação de investimento, os agen-tes têm de estar/ser diretamente envolvidos. Para tal, seria necessário criar consensos em torno de uma Carta de Negócio para o terri-tório (com os benefícios e as disponibilidades bem estabelecidas) que incluísse as questões fiscais, laborais, ambientais, de licenciamento e formação, mas que também considerasse eventuais reduções de custos de contexto através do IRS, do IMI, da derrama e das taxas de licenciamento de água, tratamento de esgotos e resíduos. Isto só será possível de alcançar pondo todos os organismos em contacto e a trabalhar em conjunto.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 16

Entrevistado: Prof. Doutor Manuel Mota

Consultores: Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos

Contextualização: O Prof. Doutor Manuel José Magalhães Gomes Mota é Professor Catedrático do Departamento de Engenharia Biológica da Escola de Engenharia da Univer-sidade do Minho, atualmente aposentado. Exerceu ao longo da sua carreira funções de relevo das quais aqui se destacam apenas as seguintes: Membro do Conselho Científico da UMinho; Presidente da Direção da Associação Spinpark; Presidente do Conselho de Adminis-tração da TecMinho; e, Vice-Reitor da UMinho.

A UMinho foi fundada em Braga em 1973, iniciou as suas atividades académicas em 1975/1976 e foi integrada no denominado grupo das “Novas Universidades” que vieram alterar o panorama do ensino superior público em Portugal.

Quando ingressou na UMinho, em 1990, o Prof. Doutor Manuel Mota considera que a instituição já tinha um papel muito importan-te na região. Contrariando a praxis das “uni-versidades clássicas”, a UMinho foi a primeira universidade do país a criar um ambiente de integração profissional na sua oferta forma-tiva, dando um enquadramento institucional aos estágios curriculares. Este contacto dos alunos com as entidades da região permitiu uma forte ligação da universidade com o tecido empresarial e um diálogo permanente com cerca de 3.000 empresas. O processo de Bolonha que ocorreu na primeira década des-te século trouxe naturalmente adaptações a este projeto, mantendo-se agora com mais incidência no 2.ª ciclo (cursos de mestrado).

Por outro lado, a UMinho cedo privilegiou as parcerias com a comunidade empresarial envolvente e estabeleceu relações de proxi-midade com as associações empresariais da região. O fato destas entidades terem benefi-ciado de fundos do anterior quadro comunitá-rio de apoio como o PEDIP, permitiu consolidar o relacionamento com as empresas. Mais recentemente, com o QREN, mas também com projetos europeus como o Interreg, a relação foi saindo sempre fortalecida.

O projeto Quadrilátero é também consequên-cia da tentativa do anterior Reitor da UMinho, o Prof. Doutor António Guimarães Rodrigues, tentar unir os 23 concelhos que compõe a região Minho (distritos de Braga e de Viana do Castelo) em torno de projetos estratégicos e de cooperação. O Pacto de Desenvolvimento Regional então desenvolvido chega a ser assinado em 2004 por 19 Câmaras Municipais provenientes do Baixo Minho e do Alto Minho. Para além de todo este historial, a constitui-ção do Quadrilátero, em Fevereiro de 2010, permite materializar um projeto de coopera-ção em torno de Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão. O Quadrilátero acrescenta o fato das autarquias começarem a absorver a importâncias das estratégias conjuntas em rede.

O papel da UMinho na região tem sido tão estruturante na região Minho que resultou no “embrião de uma zona metropolitana vasta” (só na cidade de Braga, regista-se à semana mais entradas do que saídas de pessoas, o que só acontece em Lisboa e Porto e em mais nenhuma zona do país).

Contributos, propostas ou opiniões: Os contributos e propostas resultantes da entre-vista realizada são enunciados de seguida:

i) Considerando o Minho como uma região,

denota-se que Viana do Castelo tem cumplici-dade implícita com o Porto;

ii) Forças e oportunidades no território do Quadrilátero: existência de infraestruturas empresariais e tecnológicas capazes (por exemplo: o Spinpark/Avepark é o único ponto do país com 4 redundâncias de fibra ótica, mas está a ser fortemente penalizado por não usufruir de um acesso direto à autoestrada); conhecimento de ponta e empresas de refe-rência em áreas emergentes das tecnologias como as TIC, os Materiais (para setores tradi-cionais como o têxtil e vestuário, o calçado e a construção e metalomecânica; ou, avançados como nos plásticos técnicos) e a Biotec-nologia (alimentar e industrial, da saúde e ambiental); espaços como o GNRation com capacidade para fazer evoluir as indústrias criativas; e, presença de uma estrutura como o INL, direcionada para apostar nos novos materiais;

iii) Principais fragilidades do Quadrilátero: faltam lideranças políticas fortes, com capa-cidade de intervenção e capazes de influen-ciar as decisões de Lisboa; e, existência de um problema cultural associado a um certo egoísmo minhoto, onde existe tendência para dividir em vez de unir (incapacidade quase generalizada para as pessoas chegarem a acordo);

iv) As dificuldades de projetos como o Qua-drilátero prendem-se com o “protagonismo” político e pela concorrência que se estabelece entre os “cabeças de cartaz”. Justificar os obs-táculos que se criam com questões relaciona-das com as diferentes tendências políticas é de todo insuficiente;

v) Ao contrário do que seria de esperar, e a julgar pela experiência que a UMinho viveu com o seu projeto de cooperação para o Minho enquanto “Região do Conhecimento”, os políticos sentem-se desconfortáveis com a liderança da UMinho e as lideranças para funcionarem têm de ser aceites;

vi) Conciliar a oferta cultural e pensá-la para o território do Quadrilátero como um todo é fundamental, sendo para isso necessário ultrapassar questiúnculas que porventura possam existir com os agentes culturais que operam no território e que não estão direta-mente envolvidos com a administração local de cada município;

vii) O Quadrilátero carece de estratégias de marketing territorial que promovam a região e que possam associar a componente turística à cultural;

viii) Em Portugal, existe uma figura que pode ser apelidada de “Gnomo dos Ministérios” que apenas serve para complicar, criar entraves e incluir na legislação toda essa entropia;

ix) Os incentivos comunitários (QREN) para as empresas estão desajustados e mal dese-

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

nhados;

x) A criação de uma agência de desenvol-vimento supramunicipal faria sentido se os municípios acordassem entre si um modelo de funcionamento e governança em áreas cuja cooperação se revela um fator crítico de sucesso.

FICHA DE ENTREVISTA N.º 17

Empresa: Domingos da Silva Teixeira S.A.

Interlocutor da empresa: José Teixeira

Consultores: J. Cadima Ribeiro; Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos

Volume de Negócios (2012): 310 milhões de euros

Nº de empregados (2012): 970

% de exportação (2012): 17%

Caracterização da empresa: Fundado em Braga, o grupo DST (Domingos da Silva Teixeira) emprega hoje cerca de mil cola-boradores, desenvolvendo a sua atividade na engenharia civil, setor que está na sua origem e no qual é um dos players nacionais de referência. O grupo DST tem alargado o seu portfólio de negócios, expandindo as suas áreas de intervenção a setores como o da Água e Ambiente, das Telecomunicações, das Energias Renováveis e da Inovação, com investimentos em curso quer a nível nacional, quer a nível internacional. Sedeada em Braga, num parque com 1.000.000 metros quadra-dos, a empresa dispõe também de escritórios em Lisboa, embora a sua atividade decorra no país inteiro e se encontre estendida por outras partes do mundo como são exemplo França, Angola, Moçambique.

A DST é a empresa do grupo que se dedica à construção civil e obras públicas com expe-riência comprovada ao longo de décadas. O reconhecimento que a DST goza no mercado nacional e internacional deriva do facto de, ab initio, ter sabido acompanhar as exigências e tendências de mercado, apostando em áreas de atividade competitivas e de maior valor acrescentado.

Fortemente vocacionado para a constru-ção civil (edifícios comerciais, edifícios de habitação, naves industriais, remodelações e infraestruturas desportivas) e Obras Públicas (vias de comunicação, terraplanagens, in-fraestruturas, parque escolar e obras de arte), a atividade do grupo DST distribui-se hoje por uma panóplia de atividades associadas ou complementares, nomeadamente: montagem de negócios (superfícies comerciais, parques comerciais e parques industriais); energias renováveis (eólica, solar, hídrica e eficiência energética); água e ambiente (resíduos, abastecimento de água e saneamento, águas residuais e sistemas de rega); telecomunica-ções (infraestruturas de fibra ótica); e, inclusi-vamente, I&D (produção e comercialização de

ideias inovadoras).

O grupo DST assegura toda a sua ativida-de através de um conjunto assinalável de empresas detidas na totalidade ou em cujo capital participa (dst, s.a.; dte, empreitadas eléctricas, s.a.; cari construtores, s.a.; bysteel, s.a.; tgeotecnia s.a.; tmodular, s.a.; tagrega-dos, s.a.; tbetão, s.a.; way2b, ace; steelgreen, s.a.; dst renováveis, sgps, s.a.; geswater, sgps s.a.; aquapor serviços, s.a.; dstelecom, s.a.; innovation point, s.a.).

Ao longo da sua história, o grupo DST foi re-conhecido com prémios e distinções da mais diversa ordem. Neste momento, acaba de ser considerado por um estudo da revista Exame (em parceria com a consultora Accenture) como uma das “Melhores Empresas para Trabalhar” em Portugal (2013), tendo sido também distinguido com o prémio “Excelência no Trabalho” num estudo desenvolvido pelo Diário Económico, em parceria com a Heidrick & Struggles e a ISCTE Business School.

O grupo DST conta com um sistema de gestão de qualidade certificado (ISO 9001) nos seguintes âmbitos: Construção Civil e Obras Públicas; Ensaios Laboratoriais e Manuten-ção de Equipamentos e Viaturas; Conceção, Desenvolvimento Produção e Aplicação de Betão Betuminoso; e, Conceção, Desenvol-vimento e Fabrico de Produtos de Madeira e Derivados de Madeira e Mobiliário. Tem tam-bém atribuído a marca CE aos seus agregados e misturas betuminosas. O grupo é ainda certificado pelas OSHAS e NP 4397 - Higiene e Segurança no Trabalho. Quanto ao ambien-te, está certificado pela Norma 14001:2004 no que diz respeito à Produção de Betão Pronto, Transformação de Rochas Orna-mentais, Fabrico de Produtos de Madeira e Mobiliário, Produção de Estruturas Metálicas e Manutenção de Viaturas e Equipamentos. Por fim, algumas das empresas do grupo já se encontram também certificadas pela Norma NP 4457:2007 que visa acreditar Sistemas de Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação.

Envolvente: José Teixeira, presidente, con-sidera que o mais importante ao final de um dia de trabalho é “constatar que vendemos mais do que compramos”. Pensando através da sequência empresa-região-país e nunca o contrário (porque assim não fica à espera que terceiros resolvam os seus problemas), preocupa-se com o futuro, com as mudanças de comportamento e de compra e com a evolução das tendências de mercado. No seu entender, importa saber que produtos e ser-viços vão ser consumidos no futuro e de que modo pode ajustar as competências da DST a essa nova oferta (e não o contrário).

Para percecionar o futuro, a DST tem estu-dado o que está a acontecer nas principais cidades mundiais e tem procurado seguir o pensamento, os gostos e as vontades das no-vas gerações. Este exercício de benchmarking é dito ser muito importante para a definição

estratégica do grupo DST.

Consciente da importância de competir pelo produto e não tanto pelo preço, optou por investir no ambiente, uma nova área que permitiu a incorporação de conhecimento e gerar valor acrescentado, para que pudes-sem atuar nas águas, nas renováveis e nos resíduos. Esta aposta no ambiente é feita com base na Blue Ocean Strategy, de modo a diferenciar-se da concorrência (e a potenciar a internacionalização).

Na estratégia da DST, os conceitos de rede e networking foram sempre muito valorizados, assim como as ligações estabelecidas com associações empresariais ou setoriais. A cria-ção em 2011 da AFCM - Associação da Fileira da Construção do Minho, foi um passo muito importante para o cluster minhoto da cons-trução, permitindo desenvolver estratégias de cooperação e um maior foco e capacidade de atuação no que a negócios internacionais se refere.

A internacionalização tem sido a tábua de salvação de muitos industriais portugueses do setor da construção. O país atravessa uma fase de enormes dificuldades, o que obriga as empresas a procurarem novas oportunidades. As mudanças da banca portuguesa na relação que estabelecia com as empresas portugue-ses (diminuindo e dificultando o acesso ao crédito), os “cortes” (e não “ajustamento”) que estão a ser efetuados para equilibrar as finanças públicas e a capacidade de invasão e intrusão no tecido empresarial que a “máqui-na fiscal” ganhou, complicaram muito a vida das empresas do setor da construção: “estas empresas tinham competências de enge-nharia mas não de gestão”. O que acontecia era que os empresários investiam por feeling (porque as margens assim o permitiam) e não com base num Plano de Negócios. Todavia, “não pode haver uma transição que não seja geracional”. No passado, os empreendedo-res surgiam do trabalho infantil e não das universidades: “não se consegue jogar xadrez quando só se sabe jogar às damas”. Existe, por isso, nos dias que correm, uma necessida-de muito grande de abertura dos empresários ao conhecimento.

Neste momento, o setor da construção em Portugal encontra-se em declínio e precisa de atravessar um processo de reposiciona-mento e de mudança do modelo de negócio, capacitando-se para produtos de maior valor acrescentado. A indústria têxtil desta região já passou por isso e conseguiu dar a volta, mas levou 10 a 12 anos a fazê-lo. A fuga de empresários e trabalhadores para o estrangeiro é um ato de coragem fruto de um instinto de sobrevivência, embora continuem lá fora a fazer o que sabem (que é construir alugando mão-de-obra e equipamentos e não a gerir). Internacionalizar implica capital e investimento numa fase inicial, só depois se pode ter retorno. Neste momento, são muito os empresários que vão lá para fora sem

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dinheiro, isto é, numa completa aventura.

A internacionalização da DST assenta numa lógica de parcerias que são estabelecidas localmente (nos países de destino), onde se troca o saber-fazer pela posição que esses players ocupam no mercado, e decorrente capacidade local de lobby. Isto porque, “o sa-ber fazer do ponto de vista orgânico demora muitos anos”.

O forte investimento que têm realizado em engenharia e em software de apoio, permitiu-lhes adquirir know-how para aceder a grandes obras no exterior, “desenhando em Braga e aparafusando em qualquer parte do mundo”. Todavia, na DST cada projeto tem de ser sustentável per si, pelo que implica sem-pre uma avaliação do negócio e do risco.

O grupo DST investe muito na formação dos seus quadros e também em atividades e iniciativas que promovam a inovação. Sempre que possível, aproveita os mecanismos de apoio do QREN. Os serviços disponibilizados pelo AICEP são muito elogiados pelo Presi-dente do grupo, que considera que “estão a fazer bem o seu trabalho”.

O foco do grupo DST na inovação percebe-se pelos projetos a que se associa. O Dia da As-sociada COTEC é uma das iniciativas que pro-move, mas é também de referir que o grupo dispõe de uma empresa dedicada à produção e comercialização de ideias inovadoras.

Contando com 970 trabalhadores nas empre-sas detidas a 100%, é com agrado que o José Teixeira explica o programa “DecidInovar”, um projeto interno que considera altamen-te “disruptivo”. Com este programa, cada trabalhador dedica diariamente 30 minutos à inovação, tendo de contribuir para a “Caixa de Inovação”. Até ao momento, destaca duas ideias aí geradas: a Matriz de Empatia com o Cliente (que permite recolher e armazenar informações sobre o perfil e os gostos pes-soais do cliente); e, um Processo para Gestão de Conflitos (que implica a análise dos mais diversos conflitos e uma intervenção para so-lucionar as causas mais comuns ou transver-sais). Aparte estas questões, o grupo é muito sensível a questões que se prendem com a responsabilidade social, sendo de destacar, entre outras iniciativas, o “Grande Prémio de Literatura DST”, que já vai na sua 18.ª edição.

A regeneração urbana é uma área que a DST tem prestado particular atenção e a que vai continuar a fazê-lo no futuro. Este desafio é um negócio em torno da habitação nos centros das cidades mas, para ser bem--sucedido, tem de ter inovação. Um estudo desenvolvido pela DST, que analisou várias cidades por todo o mundo, permitiu concluir que esta nova geração, mais jovem, tende a viver nos centros históricos em apartamen-tos pequenos (40 metros quadrados), mas modulares e com espaços partilhados. A DST encontra-se inclusivamente a projetar novos modelos de negócio que permitam arrendar

espaços habitacionais a um preço que inclua utilities, como eletricidade, água e internet e onde o cliente, para além de poder exercer uma opção de compra do imóvel (à semelhan-ça do Leaseback), possa também beneficiar de um sistema de troca de pontos para mudar de habitação.

O tempo digital, as experiências Erasmus e o gosto por viajar deste público-alvo encurtam as diferenças e aceleram as tendências. Por isso, do ponto de vista social, é preciso estar muito desperto para estas situações e enten-der o que pretendem os novos consumidores: viver num centro citadino que tem de ser cosmopolita, cool e culto.

Em jeito de conclusão, disse-nos o nosso interlocutor que é necessário “um ajusta-mento da agulha para o conhecimento”, o que implica para uma grande parte das empresas “mudar de vida e começar de novo”.

Contributos, propostas ou opiniões: As principais sugestões e propostas recolhidas nesta entrevista, foram as seguintes:

i) O GNRation, em Braga, é espaço de enorme potencial, capaz de promover as artes digitais e as indústrias criativas e de atrair novos públicos. Todavia, a capacidade para criar um “campo de atração” só se consegue se tiver-mos um “programa de cidade”, com bares, com lojas e com outros espaços que congreguem e “agarrem” a população alvo, isto é, os jovens. Mas não basta ter, é preciso comunicar e, neste aspeto, o marketing territorial tem um importante papel a desempenhar para comu-nicar e valorizar os atributos conseguidos;

ii) O ordenamento do território, nomeada-mente ao nível do PDM - Plano Diretor Munici-pal, é concebido por engenheiros e arquite-tos, mas é fundamental que a equipa inclua cientistas sociais (é preciso ouvir o mercado e cada geração tem projetos de consumo e modelos de satisfação diferentes);

iii) Para atrair IDE para o Quadrilátero, importa que: exista um “programa de cidade” para cada uma das quatro parcelas do território, capacitando-as para um maior cosmopolitis-mo; e, comunicar através do marketing terri-torial as excelentes condições de trabalho e de vida de que dispomos (tempo, condições naturais e segurança pública);

iv) O Quadrilátero beneficia de uma “ótima universidade, inovadora e aberta”, sendo de destacar o trabalho desenvolvido pela Escola de Engenharia e, mais recentemente, tam-bém pela Escola de Ciências da Saúde. Existe um projeto de grande interesse, denominado IB-S - Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-sustentabilidade, que está a ser criado na UMinho e que vai permitir atuar ao nível das Smart Grids e também dos elementos passi-vos de construção (também aqui os investi-gadores sociais não devem ser esquecidos porque até as grandes empresas globais têm antropólogos e filósofos nos seus quadros).

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

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Comissão Nacional de Eleições: www.eleicoes.cne.pt

Diário Económico: www.economico.sapo.pt

Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência: www.dgeec.mec.pt

Instituto do Emprego e Formação Profissional: www.iefp.pt

Instituto dos Registos e do Notariado: www.irn.mj.pt

Instituto Nacional da Propriedade Industrial: www.marcasepatentes.pt

Instituto Nacional de Estatística: www.ine.pt

Portal Estatístico de Informação Empresarial do Instituto dos Registos e Notariado: www.estatisticasempresariais.mj.pt

Quadros de Pessoal do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social: www.gee.min-economia.pt

Universidade do Minho: www.uminho.pt

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QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES

Ficha técnicaTítulo

Quadrilátero Empresarial - Internacionalização do Quadrilátero e Projeção de Estratégias Futuras de Promoção do Território

Edição e Coordenação

AIMinho – Associação Industrial do Minho

CITEVE – Centro Tecnológico das Industrias Têxtil e do Vestuário de Portugal

Produção de Conteúdos Especializados

EDIT VALUE - Consultoria Empresarial

Equipa técnica: Nuno Pinto Bastos, Bruna Dias, Cristiano Guimarães, Carlos Pereira, Lara Leite, Diana Carvalho, J.Cadima Ribeiro, Francisco Carballo-Cruz, Alvaro Cristovam.

Design e Impressão

LK Comunicação

Tiragem

500 exemplares

Depósito Legal

367888/13

Outubro 2013

“É completamente interdita a reprodução mesmo parcial, de textos e ou ilustrações, sem autorização escrita dos editores”

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