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DO TEXTO O autor cria o texto a partir de sua visão de mundo, suas emoções, sua criatividade, sua inspiração; e o leitor recria o texto, insuflando nele a pessoa que ele é (experiência de vida, sensibilidade, emoções, imaginação). Vejamos os textos a seguir. T E C E L Ã O Meu último livro se chama “Bocas do Tempo” e são textos curtos, num estilo levemente parecido com o do “Livro dos Abraços”. São 333 histórias, mas isso não foi deliberado, foi o número que encontrei quando fiz o índice. É um número bom, dá sorte. Mas uma quantidade imensa de histórias ficou de fora, porque quem escreve, tece. A palavra texto vem do latim textum, que significa tecido. Ou seja, quem escreve está tecendo, é um trabalho têxtil. Você trabalha com fios e cores, que são as palavras, as frases, os relatos. Eles vão se encontrando e há alguns fios que são lindíssimos, mas que não coincidem, não combinam. Então, com dor na alma, ficam de fora. Foram oito anos de trabalho para esse livro, umas histórias simples, mas que de simples não tem nada. Quanto maior é a sensação que o leitor percebe de transparência, mais complicado é o trabalho que essa aparente simplicidade contém. Para mim, escrever é uma força enorme.E me dá uma alegria imensa também. No fim, quando consigo sentir que essas palavras são bastante parecidas com o desejo de dizer, fico com certeza de que a condição para não ser mudo é não ser surdo. Ou seja, só é capaz de dizer quem é capaz de escutar. Sou um caçador de vozes e histórias. É a realidade que me conta as coisas que acho que vale a pena que sejam contagiadas. (Eduardo Galeano) PARADOXO MARAVILHOSO A relação primordial entre escritor e leitor apresenta um paradoxo maravilhoso: ao criar o papel do leitor, o escritor decreta também a morte do escritor, pois, para que um texto fique pronto, o escritor deve se retirar, deve deixar de existir. Enquanto o escritor está presente, o texto continua incompleto. Somente quando o escritor abandona o texto é que este ganha existência. Neste ponto, a existência do texto é silenciosa, silenciosa até o momento em que um leitor o lê. Somente quando olhos capazes fazem contato com as marcas na tabuleta é que o texto ganha vida ativa. Toda escrita depende da generosidade do leitor. 1

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DO TEXTO

O autor cria o texto a partir de sua visão de mundo, suas emoções, sua criatividade, sua inspiração; e o leitor recria o texto, insuflando nele a pessoa que ele é (experiência de vida, sensibilidade, emoções, imaginação). Vejamos os textos a seguir.

T E C E L Ã O

Meu último livro se chama “Bocas do Tempo” e são textos curtos, num estilo levemente parecido com o do “Livro dos Abraços”. São 333 histórias, mas isso não foi deliberado, foi o número que encontrei quando fiz o índice. É um número bom, dá sorte. Mas uma quantidade imensa de histórias ficou de fora, porque quem escreve, tece. A palavra texto vem do latim textum, que significa tecido. Ou seja, quem escreve está tecendo, é um trabalho têxtil. Você trabalha com fios e cores, que são as palavras, as frases, os relatos. Eles vão se encontrando e há alguns fios que são lindíssimos, mas que não coincidem, não combinam. Então, com dor na alma, ficam de fora. Foram oito anos de trabalho para esse livro, umas histórias simples, mas que de simples não tem nada. Quanto maior é a sensação que o leitor percebe de transparência, mais complicado é o trabalho que essa aparente simplicidade contém. Para mim, escrever é uma força enorme.E me dá uma alegria imensa também. No fim, quando consigo sentir que essas palavras são bastante parecidas com o desejo de dizer, fico com certeza de que a condição para não ser mudo é não ser surdo. Ou seja, só é capaz de dizer quem é capaz de escutar. Sou um caçador de vozes e histórias. É a realidade que me conta as coisas que acho que vale a pena que sejam contagiadas. (Eduardo Galeano)

PARADOXO MARAVILHOSO

A relação primordial entre escritor e leitor apresenta um paradoxo maravilhoso: ao criar o papel do leitor, o escritor decreta também a morte do escritor, pois, para que um texto fique pronto, o escritor deve se retirar, deve deixar de existir. Enquanto o escritor está presente, o texto continua incompleto. Somente quando o escritor abandona o texto é que este ganha existência. Neste ponto, a existência do texto é silenciosa, silenciosa até o momento em que um leitor o lê. Somente quando olhos capazes fazem contato com as marcas na tabuleta é que o texto ganha vida ativa. Toda escrita depende da generosidade do leitor. (Alberto Manguel)

Aqui, o estudo do texto tem como objetivo básico reconhecer os elementos que o compõem. Isto significa observar o que diz e como diz. Para tanto, é necessário compreender claramente o que está dito no texto e não se afastar dele. O autor permanece presente durante a leitura. O significado de uma palavra só pode ser encontrado em sua relação com as outras palavras do texto. É a partir do conjunto de um texto que podemos entender o significado de suas partes.

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O texto é a visão do mundo através do autor. Não é a imagem do mundo como ele é, mas a visão do mundo como o autor é. E isto, o leitor (concursando, vestibulando, etc.) deve respeitar, mesmo que discorde das ideias expostas.

DA LEITURA DO TEXTO.

1ª.) É uma leitura para o primeiro contato com o texto. Ler o texto do início ao fim, sem comprometimento maior, vê-lo como se olhasse uma pessoa pela primeira vez.

2ª.) A segunda leitura é demorada, profunda. É a leitura de reconhecimento do texto. É conhecê-lo internamente, comprometer-se com ele. Usar o lápis para ir marcando, sublinhando, anotando, etc:

a) as palavras e as expressões desconhecidas ou que o significado não esteja muito claro... Esclarecer as dúvidas a partir do contexto;

b) sublinhar palavras, expressões ou frases importantes para o entendimento do texto;c) se houver passagens em linguagem conotativa, marcá-las e determinar o

significado numa linguagem denotativa; d) marcar tudo que chamar a atenção e refletir sobre a importância do item

destacado para o entendimento do texto, bem como sua relação com o todo;e) determinar a ideia principal e as ideias secundárias (busque o tema, o assunto do

texto e as ideias que sustentam esse tema);f) dar uma olhada na estrutura do texto: número de parágrafos, relações entre eles;

número de linhas; procedência (jornal, revista, trecho de livro, autor, data);g) se o texto apresentar título, leve-o em consideração. Geralmente o título enfoca a

ideia principal.

3ª.) Faça, agora, uma terceira leitura do início ao fim do texto. Como a segunda, foi uma leitura fragmentada com paradas para reflexões e tomada de posições, a terceira será uma leitura integradora do texto, tornando-o um todo externa e internamente.

Após esse trabalho, relaxar e, mentalmente, resumir o que leu e exclamar confiante “Conheço bem este texto, pois o tenho na mão!”... E ir ao encontro das questões da prova que, certamente, serão todas baseadas no texto

CUIDADO COM

a) A INVERSÃO (as informações contidas nas alternativas contradizem o texto).b) A FALTA (quando na alternativa faltam informações essenciais).c) O EXCESSO (quando na alternativa se encontram informações estranhas ao texto).

COMPREENSÃO, INTERPRETAÇÃO E REESCRITURA DE TEXTO

DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Por mais variados que sejam os sentidos das palavras situam-se em dois níveis ou planos: o dadenotação e o da conotação. Denotação é o elemento estável da significação de uma palavra, elemento não subjetivo e analisável fora do discurso (contexto). A conotação é substituída pelos elementos subjetivos, que varia segundo o contexto. (Othon M. Garcia)

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Denotação (sentido referencial, real)

OURO: metal amarelo, brilhante, muito pesado e muito útil, do qual se fazem moedas e jóias de alto preço e que tem grande valor comercial. (Dicionário de Laudelino Freire)

MAR: massa de água salgada que cobre a maior parte da superfície da Terra. (Luft – minidicionário)

Conotação (sentido figurado, afetivo) “Embraseia o Ocidente em Agonia O sol ... Aves, em bandos destacados, Por céus de ouro e de púrpura raiados, Fogem ... Fecha-se a pálpebra do dia ...” (R. Correia) “Não te prometi um mar de rosas Nem sempre o sol brilhando...” Em dezembro, à tarde, transita um mar de gente pela rua da Praia! / O tio João tem um coração de ouro!

FIGURAS DE ESTILO (Figuras de Linguagem) Figuras de estilo são recursos para o enriquecimento artístico da língua. Dividem-se em figuras de palavras ou tropos (quando o sentido lógico da palavra recebe um novo dimensionamento graças à capacidade que adquire de comunicar outras ideias e emoções), e figuras de pensamento (quando é a frase que recebe aquele novo dimensionamento). (Hildebrando A. de André)

Metáfora é o emprego de um termo com sentido que se lhe associa por força de uma comparação de ordem subjetiva. A comparação fica subentendida. “Seus olhos são duas esmeraldas; seus dentes, um colar de pérolas; suas mãos, dois lírios muito brancos; suas lágrimas, contas de um rosário.” (Othon M. Garcia)

“Ó minha amada Que olhos os teus São cais noturnos Cheios de adeus.” (Vinícius de Moraes)

Metonímia/Sinédoque é o emprego de um termo em lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou contigüidade de sentido (metonímia), ou havendo entre ambos relação de extensão, ou seja, um – de extensão menor – se inclui no outro – de extensão maior – (sinédoque).a) Gosto de ler Fernando Pessoa. (obra de F. P.)b) Édson ilumina o mundo. (as lâmpadas)c) Não te afastes da cruz. (religião)d) “Porém já cinco sóis eram passados... (dias)e) Carlos sempre foi um bom garfo! (comilão)

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f) As chaminés forjam a grandeza de São Paulo. (Fábrica/chaminés)g) Marcela completa quinze primaveras. (Ano/primavera)h) No Brasil, há muitas crianças sem teto. (casa/teto)

Antonomásia/ Perífrase é a designação de uma pessoa pela qualidade ou circunstância que a notabilizaram (antonomásia), ou a substituição de um nome (geralmente substantivo próprio) por uma expressão ou frase com a intenção de destacar uma qualidade que a palavra sozinha não evoca (perífrase).a) Estive na Catedral conversando com o Divino Mestre. (Jesus Cristo)b) O Poeta dos Escravos amou Maria Eugênia. (Castro Alves)c) A Cidade Maravilhosa prepara-se para o carnaval. (Rio de Janeiro)d) Quero conhecer a Terra dos Faraós. (Egito)

Catacrese é o emprego de dois termos cujo relacionamento ou é aparentemente contraditório ou fundamentado em acidental e remota semelhança.a) Montei a cavalo num burrico.b) Embarcamos no trem das onze!c) A parede foi revestida com azulejos verdes.d) O braço da cadeira quebrou.

Antítese é o emprego de expressões com sentidos opostos. “Uns querem o mal, e fazem-nos o bem. Outros nos almejam o bem, e trazem o mal.” (Rui Barbosa)“Desceu aos pântanos com os tapires; / subiu aos Andes com os condores.”

(Castro Alves) Uns nascem, outros morrem.

Paradoxo é a utilização de palavras ou expressões que contêm “verdades” expressas de maneira oposta ao usual. É expressão de ideias que, aparentemente, exprime o contrário. É afirmação que parece contrária ao senso comum. Pela literatura, toda luta é um prazer, todo sacrifício é alegria. Há silêncios eloqüentes, como palavras vãs.

“Estou morto e assim vivo.”

Comparação Metafórica é quando “os objetos comparados não apenas pertencem a níveis de referências diferentes, mas também o segundo deles é o representante por excelência do atributo que se quer ressaltar no primeiro”, o que distingue da comparação estritamente gramatical (O menino é tão forte como o pai.).

O dono do minimercado é forte como um touro! (exagera-se a força do homem ao se compará-la com a do touro. Muito forte é abstração / forte como um touro é concreção) Apóstrofe é a interpelação enfática de pessoas ou coisas que podem estar presentes ou ausentes.

“ Não basta ainda de dor, ó Deus terrível?” (Castro Alves)

Ironia é a expressão que contém o oposto do que se quer dizer, com a intenção de criticar ou desprezar. “Pareces realmente um “santinho” digno do altar...”

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Hipérbole é a expressão intencionalmente exagerada com o fito de realçar o pensamento.

“ Chorei um rio de lágrimas.”

Eufemismo é o emprego de expressão mais suave, para comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante.

“Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor.” (morreu)

Prosopopéia/Personificação é a atribuição de ações ou qualidades humanas a seres inanimados , irracionais ou mesmo abstratos.

“Os montes de mais perto respondiam, quase movidos de alta piedade.” (Camões) Gradação é a sucessão de palavras que, sinônimas ou não, expressam uma progressão ou uma regressão: deve apenas partir da menos para a mais intensa.

“O pobre diabo entristeceu-se, adoeceu, entregou-se, acamou-se, morreu.” “O homem melhorou, reagiu, levantou-se e partiu feliz.”

Vamos fazer alguns exercícios! Aponte as figuras de estilo presentes nos textos abaixo!

1. “A felicidade é como a gota do orvalho numa pétala de flor Brilha tranqüila, depois de leve oscila

E cai como uma lágrima de amor! (Vinícius de Moraes”

2. “Então a Lua condoída, estendeu a mão carinhosa de um raio de prata, e ficou afagando suavemente os cabelos doirados da menina.”

3. “Está muito calor! Os jogadores estão morrendo de sede no campo!”

4. “O homem é lobo ou cordeiro?”

5. “As palavras são pedras que o artesão arranca ao seio da montanha.”

6. Vocês, concursandos, são criaturas grandes, ótimas, bravas, vencedoras!

7. “Fui comprar, vendi; quis protestar, concordei; quis chorar, sorri!”

8. “Voai, pássaro metálico, alcançai as nuvens por mim!”

9. Ele comeu uma caixa de doces. / Ele ficou sem um níquel.

10. “Última flor do Lácio, inculta e bela, és a um tempo esplendor e sepultura.” (Olavo Bilac)

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Vamos “treinar” mais possibilidades de significados que ajudam no entendimento do texto!

Relacione as colunas adequadamente!

1. Sinônimos ( ) vidro/vidraça/ vitrô/ vítreo/envidraçado.2. Antônimos ( ) ordem, anarquia / egoísmo, solidariedade.3. Parônimos ( ) mar = vastidão, amplidão, imensidade, etc4. Homônimos * ( ) Porto Alegre / São Leopoldo/ Osório / Feliz/ Canoas.5. Polissemia * ( ) O cabo da enxada / cabo eleitoral / cabos telefônicos.6. Hipônimos ( ) baleia / paineira / liquidificador / garfo / blusa.7. Hiperônimos ( ) animal / árvore / eletrodoméstico/ talher / vestuário.8. Topônimos ( ) sessão, seção, cessão / concertado, consertado.9. Associação ( ) eminente, iminente / sustar, suster / retificar, ratificar.10. Família de Palavras ( ) justo, exato, preciso / palavra, vocábulo, termo.

(FUNRIO) “Para esse trabalho, você precisará utilizar uma caneta, uma prancheta e um bloco de papel em que fará as anotações diárias. Todo esse material será fornecido pela empresa contratante. A informação acima usa o hiperônimo “material” para

A) substituir os sinônimos caneta, prancheta e bloco de papel.B) evitar a ambigüidade de caneta, prancheta e bloco de papel.C) desfazer a polissemia de caneta, prancheta e bloco de papel.D) ampliar a conotatividade de caneta, prancheta e bloco de papel.E) englobar os hipônimos caneta, prancheta e bloco de papel.

(FUNRIO) Na passagem do texto 3 “As rodas do veículo passaram sobre a sua cabeça”, a palavra cabeça está empregada com o sentido de “extremidade superior do corpo humano”. Noutros contextos, porém, ela pode assumir acepções distintas – por exemplo, em “saber de cabeça”, “perder a cabeça”, “pagar tanto por cabeça”, “ferir a cabeça do dedo”, etc. exemplos desta ordem são característicos de propriedade semântica da palavra denominada:

A) homonímia;B) polissemia;C) ambigüidade,D) conotação;E) cumulação.

COERÊNCIA E COESÃO

A coerência se refere ao sentido global do texto e entre suas partes constitutivas, como parágrafos e períodos. A coerência diz respeito às inferências captadas pelo leitor a partir do texto lido, sua compreensão e decodificação das idéias apresentadas. A coesão diz respeito às amarras internas do texto, à sua superfície, ao relacionamento entre as diversas partes que compõem o substrato escrito. Por exemplo, as marcas morfossintáticas. A coesão é concreta; a coerência é abstrata.

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Exemplos (coesão)

1. Castro Alves morreu jovem. O poeta dos escravos teve uma vida atribulada. ( perífrase)2. Todos conversavam sem parar. A conversa não deixou de ser proveitosa. 3. Os versos de Neruda encantaram multidões. Os poemas ganharam o mundo.4. Os homens destroem o meio ambiente. Os homens destroem o ecossistema. Os homens

destroem matas e similares. Todos esses crimes apontam para o suicídio. 5. Poucos resistem à virtude e ao vício. Este leva a sucumbir; aquela leva a viver.6. Dois homens estiveram aqui. O primeiro foi seu pai; o segundo, seu irmão. Não havia

nenhum terceiro.7. Os cortes de árvores são erros clamorosos. O desmatamento é uma ferida que arde sem dó

nem piedade.8. Os concursandos que são determinados alcançam seus objetivos. /Há árvores, neste bosque,

que têm mais de duzentos anos.9. “A verdadeira beleza é uma luz que está no coração (interior) e você pode externá-la com a

vontade.”10. Os valorosos levam as feridas; e os venturosos, os prêmios.

INFERÊNCIA

Inferência é a conclusão, é a dedução pelo raciocínio apoiado em indícios que expressam probabilidade ou possibilidade. Há inferências extremamente prováveis e inferências extremamente improváveis. “Se um aluno, durante a prova, se comunica com um dos colegas ou parece consultar caderno de notas sob a carteira é provável que esteja colando: Tomemos-lhe a prova e demos-lhe zero. Nosso comportamento em face desses indícios foi de uma pura inferência. Indícios podem persuadir, mas não provam.” (Othon M. Garcia) Geralmente encontramos no enunciado da questão verbos como inferir, subentender, depreender, deduzir, concluir, etc.

(QUESTÃO DE INFERÊNCIA) O poeta nasce com uma especial intuição. Trata-se de um axioma irreversível, consagrado tanto pela sabedoria popular como pelos mais célebres filósofos, desde Platão. Essa faculdade de pressentir, prever e captar, não apenas a realidade imediata, mas ainda a realidade que escapa do mundo tangível, situa-se nas vizinhanças da profecia, embora não possa denominá-la “revelação divina”, pelo menos com espírito de humildade. Parece possuir algo de sobrenatural, por eximir-se de qualquer explicação lógica. (Henriqueta Lisboa) * AXIOMA: princípio ou teoria que se admite como universalmente verdadeira.

Depreende-se da leitura do texto que o poeta temA) o inquestionável poder sobrenatural que o distingue dos outros homens.B) o dom de profetizar do qual ele não fala por espírito de humildade.C) a faculdade de compreender o mundo tangível através do raciocínio e da intuição.

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D) o espírito humilde devido à especial intuição que lhe permite apreender a realidade.E) a capacidade inata de apreender e prever a realidade.

PARALELISMO Paralelismo Gramatical (sintático) “Se a coordenação é um processo de encadeamento de valores sintáticos idênticos, é justo presumir que quaisquer elementos da frase – sejam orações, sejam termos dela --, coordenados entre si, devam – em princípio pelo menos – apresentar estrutura gramatical idêntica.” (Othon M. Garcia).

a) Precisamos de cadernos, de livros didáticos, de canetas e de lápis.b) Seu jeito era carinhoso, leal e charmoso. c) Mário é uma pessoa que trabalha muito e que também estuda.d) O estudo refere-se à História, à Literatura e à Língua Portuguesa.e) Iremos ao cinema e, depois, à festa no clube.f) Ele gosta de conversar e principalmente de ouvir anedotas.g) Ele gosta de conversas e principalmente de anedotas.

Paralelismo Semântico (significado) Em certos casos, há paralelismo gramatical, mas não há correlação de sentido ou conveniência de situações.

Fiz duas operações: uma em São Paulo e outra no ouvido. (errado)

DISCURSO DIRETO E INDIRETO

Discurso Direto: Acontece quando o narrador transmite a fala literal da personagem, anunciando-as com verbos como dizer, falar, comentar, retrucar, etc. “No melhor do filme, alguém ao meu lado me segreda: -- Vamos cair fora, meu velho?” (Orígenes Lessa) “E Alexandre abriu a torneira: -- Meu pai, homem de boa família, possuía fortuna grossa, como não ignoram.” (Graciliano Ramos)Discurso Indireto: Acontece quando o narrador incorpora ao seu próprio discurso, o falar da personagem.

“O padre Lopes confessou que não imaginara a existência de tantos doudos no mundo...” (Machado de Assis) “Um dos vizinhos disse-lhes serem as autoridades do Cachoeiro.” (Graça Aranha)*Discurso Indireto Livre:

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Acontece quando o narrador transcreve o que pensa a personagem. Há uma aproximação entre narrador e personagem, dando-nos a impressão de que passam a falar em uníssono. “D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos.” (Graciliano Ramos) “Mil idéias confusas me agoniavam. Pelo espelho, examinava aquela cara, não de todo desconhecida. Onde vira antes o miserável? No escritório, não. Em casa, nunca. Súbito, encarei-o.” (Orígenes Lessa)

(CONESUL) Assinale a correta transposição para o discurso indireto do seguinte trecho da fala do fiscal: “Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.”

A) O fiscal disse à velhinha que ninguém lhe tira da cabeça que a senhora é contrabandista.B) O fiscal disse à velhinha que ninguém lhe tirava da cabeça que a senhora é contrabandista.C) O fiscal disse à velhinha que ninguém lhe tiraria da cabeça que a velhinha era contrabandista.D) O fiscal disse à velhinha que ninguém lhe tirava da cabeça que a senhora era contrabandista.E) O fiscal disse à velhinha que ninguém tirava da cabeça dele que ela era contrabandista.

TIPOS DE TEXTOS

DESCRITIVO. A descrição se caracteriza por ser o retrato verbal de pessoas, objetos, cenas ou ambientes. Esse tipo de texto trabalha com imagens, permitindo uma visualização do que está sendo descrito. Entretanto, uma descrição não se resume à enumeração pura e simples. È necessário algo mais; o essencial é saber captar o traço distintivo, particular, o que diferencia aquele ser descrito de todos os demais de sua espécie.

Descrição Objetiva. “A casa tinha dois andares e uma boa chácara ao fundo. O salão de visitas era no primeiro andar. Mobília antiga, um tanto mesclada; ao centro, um grande lustre de cristal coberto de filó amarelo. Três largas janelas de sacadas, guarnecidas de cortinas brancas, davam para a rua; do lado oposto, um enorme espelho de moldura dourada e gasta inclinava-se sobre um sofá de molas.” (Aluísio de Azevedo)

Descrição Subjetiva. “Eu conheci seu quarto de solteira. Era pequeno, gracioso e azul; ou é a distância que o azula na minha lembrança? Junto à janela, havia uma grande amendoeira antiga; às vezes, o vento levava para dentro uma grande folha cor de cobre – gentileza da amendoeira. Que tinha outras: pássaros, quase sempre pardais, às vezes um tico-tico, ou uma rolinha, ou um casal de sanhaços azulados. E, no verão, como as cigarras ziniam! Lembro o armário escuro e simples, onde cabiam seus vestidos de solteira que não eram muitos; e lembro alguns deles, um roxinho singelo, um estampado alegre, de flores, um outro de linho grosso, cor de areia. Havia uma pequena estante: e, entre os livros, o meu primeiro livro, com uma dedicatória tímida.” (Rubem Braga)

NARRATIVO.

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Narrar é contar fatos. Consiste na elaboração de um texto que relate episódios, acontecimentos. Ao contrário da descrição que é estática, a narração é eminentemente dinâmica. Narrar é relatar fatos vividos por personagens numa sequência lógica e temporal, onde ocorre a movimentação das personagens no tempo e no espaço ao decorrer de suas ações. O foco narrativo pode ser em primeira pessoa ( o narrador é também personagem), ou em terceira pessoa ( o narrador conta a história apenas, é um observador dos fatos).Exemplo 1 O Gérson acordou cedo no dia primeiro e declarou para a mulher, Fátima, que tinha tomado uma resolução de Ano-Novo. - Agora eu sou neoliberal. Gérson e Fátima moravam numa casa de dois quartos junto com três filhos, a mãe dele, a mãe e o irmão dela, uma irmã da mãe que era nervosa e um irmão mais velho da Fátima que foi quem fez o único comentário, que ninguém entendeu muito bem, sobre a decisão do Gérson: - Eu acho que agora é tarde. (Luís Fernando Veríssimo)

Exemplo 2 “Capitu, alheia a ambos, fitava agora a outra borda da mesa; mas dizendo-lhe eu que, na beleza, os olhos de Ezequiel saíam aos da mãe, Capitu sorriu, abanando a cabeça com um ar que nunca achei em mulher alguma, provavelmente porque não gostei tanto das outras. As pessoas valem o que vale a afeição da gente, e é daí que mestre Povo tirou aquele adágio de quem o feio ama bonito lhe parece. Capitu tinha meia dúzia de gestos únicos na terra. Aquele entrou-me pela alma a dentro.” (Machado de Assis)

DISSERTATIVO (texto argumentativo) Dissertar é apresentar idéias, defender um ponto de vista, de acordo com determinada visão subjetiva, considerando-se as informações disponíveis e os princípios e valores de quem escreve. Dissertar é argumentar, é apresentar pontos de vista e defendê-los.

Exemplo: “O silêncio não é a negação da palavra, como a palavra tampouco é a negação do silêncio. Há silêncios eloquentes, como palavras vãs. É precisamente a continuidade entre um estado e outro que forma a trama completa da vida do espírito. É na riqueza do silêncio interior que se forma a qualidade das manifestações verbais, como é na riqueza de sua repercussão no silêncio posterior que reside o sentido mais profundo do nosso privilégio verbal.” (PUC/RS)

INFORMATIVO É informativo todo o texto que tem o objetivo básico de modificar o comportamento do leitor através de alterações em seu universo cognitivo. Produz maior ou menor grau de informação, conforme o nível de conhecimento do leitor. A linguagem é predominantemente denotativa. Ex: notícias, reportagens, trechos históricos, instruções, etc. “Em 1535, Jacques Quartier, levando em sua nave 103 homens, teve 100 deles atingidos pelo escorbuto. Desses, só morreram 25, graças ao espírito observador de um de seus tripulantes que, ao aportarem no Canadá, observou que os índios administravam decocto de brotos de pinheiro para a cura da doença. Imitando-os, conseguiu o milagre de salvar a tripulação doente.” (Irma Fioravante Lobato –História da Vitamina C)

PERSUASIVO

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O texto persuasivo caracteriza-se pelo desejo do emissor em interferir nas convicções e representações do receptor , provocando mudanças no leitor, convencendo-o. Linguagem denotativa e conotativa, devidamente escolhida pelo emissor que se coloca também no lugar do receptor. Ex: propagandas, editoriais jornalísticos, debates, julgamentos, depoimentos, cartazes, panfletos, discursos políticos, leis, etc.

“SE VOCÊ NÃO QUER SAIR ATRÁS DA CONCORRÊNCIA, ENTÃO SAIA NA FRENTE!”

Garanta a melhor posição para o seu produto.Anuncie determinado.

Z E R O H O R A

LITERÁRIO O texto literário baseia-se na concepção de que a arte obtém sua especificidade na forma como se realiza: ou seja, por um certo uso da linguagem que é diferente do uso ordinário. Já não é o que se comunica o mais importante, mas o como é comunicado. A linguagem literária desenvolve a partir da linguagem comum, sentidos que lhe são próprios, caracterizando-se fundamentalmente pelo uso da conotação. Ex: poesias, crônicas, contos, trechos de romances, etc.

Exemplo 1 (poesia)

C O L A R D E C A R O L I N A

Com seu colar de coral, Carolina corre por entre as colunas da colina.

O calor de Carolina colore o colo de cal, torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor do colar de Carolina, põe coroas de coral

nas colunas da colina. (Cecília Meireles)

Exemplo 2 (prosa) Às vezes, quando vejo uma pessoa que nunca vi, e tenho algum tempo para observá-la, eu me encarno nela e assim dou um grande passo para conhecê-la. E essa intrusão numa pessoa, qualquer que seja ela, nunca termina pela sua própria autoacusação: ao nela me encarnar, compreendo-lhe os motivos e perdoo. Preciso é prestar atenção para não me encarnar numa vida perigosa e atraente, e que por isso mesmo eu não queira o retorno a mim mesma. Um dia, no avião... ah, meu Deus – implorei – isso não, não quero ser essa missionária! Mas era inútil. Eu sabia que, por causa de três horas de sua presença, eu, por vários dias, seria missionária.

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(Adaptado de: LISPECTOR,Clarice. “Encarnação involuntária”. In: Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro, Rocco, 1998)

Questões de provas!

(FCC) A frase redigida com clareza e correção é:

A) O caminho mais eficiente para tirar pessoas da linha de miséria e construir um modelo de sociedade mais justo reside em desarmar os mecanismos que concentram renda no Brasil.

B) Os mecanismos que concentram renda no Brasil precisa ser desarmado,enquanto que o caminho mais eficiente para tirar pessoas da linha de miséria é esse, com um modelo de sociedade mais justa.

C) Criar mecanismos para construir modelo de sociedade mais justa é tirar as pessoas da linha de miséria, com o desarme de concentração de renda no Brasil, com seus mecanismos.

D) Os mecanismos que concentram renda no Brasil, que não tira as pessoas da linha de miséria, deve ser desarmado, como o caminho mais eficiente para construir uma sociedade mais justa.

E) Construir um modelo de sociedade mais justo, onde as pessoas se tiram da linha de miséria, desarmando os mecanismos de concentração de renda no Brasil, sendo esse o caminho.

(FUNDATEC) Assinale a alternativa cuja proposta de reescrita para o período Além disso, o presidencialismo já deu mostras do desastre que é, posto que qualquer crise governamental, aqui, acaba sendo crise das instituições mantém o sentido original da frase

A) O presidencialismo, além disso, já deu mostras do desastre que é, conquanto qualquer crise governamental, aqui, acaba sendo crise das instituições.

B) Além disso, o presidencialismo já deu mostras do desastre que é; destarte, qualquer crise governamental, aqui, acaba sendo crise das instituições.

C) O presidencialismo já deu, além disso, mostras do desastre que é, visto que qualquer crise governamental, aqui, acaba sendo crise das instituições.

D) Além disso, o presidencialismo já deu mostras do desastre que é; aqui, por conseguinte, qualquer crise governamental, acaba sendo crise das instituições.

E) Além disso, o presidencialismo já deu mostras do desastre que é, não obstante qualquer crise governamental acaba sendo crise das instituições.

(FAURGS) Considere os períodos abaixo retirados do texto:

I. Estamos tão mergulhados na necessidade de não perder tempo, de nos integrarmos rapidamente ao mercado, de ganhar muito dinheiro que nos colocamos em uma posição individualista e exclusivamente “mercadológica”.

II. E, no entanto, é no sonho, no ideal, no desejo do impossível, que se revela a força que existe em ser jovem e desenvolver um talento.

Os termos sublinhados traduzem respectivamente idéias deA) conseqüência - oposição.B) alternativa - concessãoC) causa - conclusão.D) comparação - negação.E) finalidade - condição.

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T E X T O S P A R A E S T U D O

TEXTO 1

“O silêncio não é a negação da palavra, como a palavra ..... ................... é a negação do silêncio. Há silêncios eloquentes, como palavras vãs. É precisamente a continuidade entre um estado e outro que forma a trama completa da vida do espírito. É na riqueza do silêncio interior que se forma a qualidade das manifestações verbais, como é na riqueza de sua ................................ no silêncio posterior que reside o sentido mais profundo do nosso ............................... verbal.” (PUCRS)

01. As lacunas do texto1 estão corretamente preenchidas com as palavras da alternativaA) tampouco -- repercução -- privilégio.B) tão pouco – repercussão -- privilégio.C) tampouco -- repercussão -- previlégio.D) tampouco -- repercussão -- privilégio.E) tão poco -- repercução -- previlégio.

02. O autor do texto pretendeA) demonstrar a superioridade do silêncio sobre a palavra.B) demonstrar a superioridade da palavra sobre o silêncio.C) valorizar o equilíbrio entre a palavra e o silêncio.D) comparar o silêncio e a palavra.E) distinguir a palavra do silêncio.

03. Em uma das expressões abaixo, há um aparente paradoxo:A) “silêncios eloquentes”B) “palavras vãs”C) “trama completa”D) “vida do espírito”E) “manifestações verbais”.

TEXTO 2 A importância da motivação

1 O mundo muda a uma velocidade tão alta que poucos conseguem acompanhar . Se o profissional quer que as coisas mudem para ele também, deve começar a pensar em mudar algumas coisas em si mesmo.4 Para começar, é preciso ter um objetivo e um propósito. Parece a mesma coisa? Mas não é. Um objetivo é algo mais concreto como fazer um curso. Ter um propósito é pensar mais além, de uma forma mais abrangente e profunda, é a motivação que alimenta um sonho, é a força que move o profissional em relação a sua carreira.8 Essa vontade de fazer mais, de ir além, essa força interna, que depende inteiramente de cada um de nós, é o motivo para a ação.

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10 Compreender a motivação em nós mesmos é um desafio constante. Em primeiro lugar, é a motivação que nos faz funcionar. As pessoas que souberem se automotivar gerarão resultados mais eficazes e terão maior interesse em agregar valor ao serviço que prestam, destacando-se rumo ao sucesso. 14 No entanto, não se confunda motivação com persistência. A motivação faz agir, a persistência faz continuar, apesar dos obstáculos. É o conjunto de uma série de características que leva um profissional ao sucesso. Essas duas características, aliadas ao dinamismo, ao comprometimento, a habilidades e atitudes é que poderão fazer do profissional um vencedor. (Zero Hora, 14/04/2002 -- adaptado)

01. O texto aborda os A) fatores do sucesso profissional.B) obstáculos da vida profissional.C) desafios das mudanças em geral.D) motivos das transformações atuais.E) objetivos de um profissional bem sucedido.

02. O objetivo do texto éA) enumerar as características de um profissional.B) enfatizar as mudanças do mundo contemporâneo.C) propor a adaptação do profissional ao meio em que atua.D) avaliar o sucesso de um profissional contemporâneo.E) valorizar a força interna que deve impulsionar o profissional.

03. A idéia que se encontra no texto éA) A eficácia dos resultados da ação é igual para todas as pessoas.B) O profissional bem preparado é obrigatoriamente motivado.C) Tanto o objetivo como o propósito têm o mesmo efeito no desempenho do profissional.D) A motivação em cada um de nós é compreendida com facilidade.E) O desencadeamento do processo de mudança profissional é uma escolha individual.

04. “Compreender a motivação em nós mesmos é um desafio constante.” (linha 10). A alternativa em que a palavra constante não é utilizada no mesmo sentido que ela tem no texto éA) A busca pelo aperfeiçoamento profissional deve ser constante.B) A mudança é um processo constante.C) O compromisso precisa ser constante na ação profissional.D) O dinamismo é um requisito constante nas atividades profissionais.E) Tudo parecia constante naquela situação de atraso.

05. Há conotação na seguinte passagem do texto:A) Um objetivo é algo mais concreto como fazer um curso.B) ... é a motivação que alimenta um sonho...C) Essa vontade de fazer mais... depende inteiramente de cada um de nós.D) Compreender a motivação em nós mesmos é um desafio constante.E) ... não se confunda motivação com persistência.

TEXTO 3

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Da janela de seu quarto, aberto para todos os quadrantes, o homem indaga o mundo, olha as razões do mundo, fareja os motivos e as consequências dessa ou daquela atitude, dessa ou daquela omissão, refletindo a vasta massa informe dos acontecimentos, das situações estacionárias, revolucionárias, ou reacionárias, das promessas e das mentiras universais. E olhando, indagando, farejando, refletindo, o seu interesse cruza com o interesse de milhões de outras criaturas que procuram um entendimento universal, uma evolução verdadeira, uma paz estável para as gerações novas, uma segurança solidária, um mundo afinal mais decente. (PUCRS)

01. A ideia que resume o primeiro parágrafo do texto éA) a admiração do homem pelo mundo.B) a liberdade do homem no mundo.C) a análise do mundo pelo homem.D) a variedade das situações mundiais.E) a renovação constante das informações.

02. A ideia que resume o segundo parágrafo do texto éA) a preocupação com a moral dos indivíduos.B) a certeza de um futuro melhor.C) a evolução das opiniões individuais.D) a curiosidade dos homens quanto ao futuro.E) a identidade de aspirações entre os homens.

TEXTO 4

1 Há uma experiência clássica em psicologia. Bebês macacos, separados precocemente de suas mães, são colocados em contato com uma espécie de mãe artificial: uma armação de arame, revestida de trapos, na qual é encaixada uma mamadeira com leite morno. Pois os macacos se apegam a esse simulacro como se apegariam a uma criatura viva. Muitos achariam esta experiência de gosto no mínimo duvidoso, mas os cientistas dizem que ela comprova o papel desempenhado pelo contato sensorial na relação entre filho e mãe.7 Deve ser verdade. Mas existe também um aspecto alegórico nesta experiência. O leite, obviamente, é o próprio símbolo da maternidade. E os trapos? Bem, os trapos também encerram uma metáfora. Quantas mães não dizem, depois de um dia lidando com seus rebentos, estou em “trapos”? Os psicólogos enfatizam que o revestimento deve ser assim e não de um tecido liso, para que o bebê tenha como se agarrar à “mãe”, a preensão sendo uma forma instintiva de relação com o mundo material. Como se vê, aquela história de que ser mãe é desdobrar fibra por fibra, como quer o poeta, pode ser uma mera figura de retórica.14 E o arame? Ah, sim o arame. Sobre ele nada falam os psicólogos, talvez porque seu papel seja aparentemente secundário nesta experiência. Mas será que é secundário mesmo? Sem o arame, a estrutura não se sustentaria. Por outro lado, o arame é flexível, mas é resistente, dobra-se, mas não quebra. É de metal, sim, mas não admiramos as pessoas que tem nervos de aço? E se há coisas de que as mães precisam é de bons fortes nervos.19 Trapos, mamadeira, arame. Mas melhor de tudo ainda são as mães de verdade, as mães de carne e osso. As mães às quais os filhos se agarram, mas que também agarram seus filhos. É neste mútuo amplexo que nasce a maternidade. (Moacyr Scliar)

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Julgue os itens abaixo conforme sua capacidade de interpretação e seu conhecimento das normas cultas da língua. Marque Certo ou Errado e, se desconhecer a resposta, assinale Sem Resposta.1. O texto tem como objetivo, basicamente, evidenciar a importância da figura materna para o desenvolvimento do bebê. ( )2. O texto tem como objetivo, basicamente, apresentar resultados pouco difundidos de uma experiência em psicologia. ( )3. O quarto parágrafo refuta os resultados da experiência, ao defender o papel insubstituível das mães verdadeiras. ( )4. A disposição das ideias no texto conduz a argumentação progressivamente, de uma experiência concreta a uma generalização mais abstrata. ( )5. A frase É da maternidade que nasce este mútuo amplexo, aproxima-se, em significado, ao conteúdo do último período do texto. ( )6. As palavras simulacro (linha 4), duvidoso (linha 5) e amplexo (linha 21) poderiam ser substituídas, sem alteração básica de sentido que têm no texto, respectivamente, por imitação, questionável e abraço. ( )7. As expressões aspectos alegóricos (linha 7), metáfora (linha 9) e figura retórica (linha 13) pertencem ao mesmo campo de significação. ( )8. A indagação apresentada na linha 15 tem resposta no próprio texto, enquanto a indagação apresentada na linha 18 deixa a resposta a critério do leitor. ( )9. No trecho As mães às quais os filhos se agarram, mas que também agarram seus filhos, passando a palavra mães para mãe, quatro outras palavras, obrigatoriamente, sofreriam alteração de número para ajuste de concordância. ( )10. Na linha 14, há uma interjeição. ( )

TEXTO 5

Passando o veranico de maio, o frio de renguear cusco

1 Certos prazeres dependem diretamente da geografia e do clima. Não adianta nem pensar em saborear a preceito um vinho tinto encorpado sem um frio instalado na redondeza; comer feijoada no calor é uma coisa, e bem outra é fazê-lo no frio; um simples e ................................... café assume um sentido ................................. quando sorvido bem quente, contrastando firme e resoluto com a baixa temperatura ambiente. Vá explicar a um sujeito que vive eternamente à beira do mar cristalino, no Nordeste brasileiro, o íntimo regozijo que toma a alma e o corpo de qualquer um de nós quando estamos sentindo o nariz e as maçãs do rosto enregelados e já .................................. o calor que nos aguarda ali, passando a porta do restaurante acolhedor.10 Pessoalmente, estou longe de pensar em termos de determinismo total. Mas não me afasto da idéia de que geografia é mais ou menos como horóscopo ou cor dos olhos – uma espécie de destino, que cabe administrar da melhor maneira. O inverno ilustra perfeitamente o caso: como pensar em recolhimento, um livro diante dos olhos, o corpo aquecido, um fogo amigo perfumando o cenário, a não ser abaixo de 10º centígrados? Por isso mesmo é que um vizinho nosso, o portenho Jorge Luís Borges, disse que com o frio se sentia civilizado, com direito à vida inteligente. E disse mais, numa comparação que as mulheres jamais entenderão: que o frio lhe trazia uma agradável sensação física, parecida com a de estar recém-barbeado..19 O frio gaúcho nos permite pertencer ao restrito clube dos seres humanos que vão ao sol para aquecer-se – para lagartear mais propriamente. O verbo existe em todo o Brasil,

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mas aqui é que ele faz sentido: expor-se ao sol durante o tempo frio, como o lagarto. Eis aí uma atividade que o mundo tropical não compreenderá e que os povos de clima frio vivem intensamente: em inglês há o verbo to bask, que significa expor-se ao sol para aproveitar o calorzinho agradável. É verbo para compreender na Inglaterra, não na Jamaica.25 Tão vigorosa é a presença diferencial do inverno entre nós, que todo um vocabulário de uso específico vai-se forjando. Encorujar-se é possível em qualquer parte, bastando imitar a coruja; mas no frio o significado se acrescenta de desfrutar da intimidade consigo mesmo, de estar aquecido e satisfeito. Encarangar também é verbo brasileiro – mas em toda parte significa apenas ficar paralisado, sem movimento, enquanto no Rio Grande do Sul somamos a isso, elipticamente, o agente da travação: o frio. O proverbial cusco que fica rengo com o frio, só entre nós mesmo (nem cachorro se chama de cusco fora daqui, nem se fica rengo, com essa palavra, em outro lugar, nem os cães brasileiros sentem o frio que os daqui enfrentam). (Adaptado de Fischer, Luís Augusto. De ponta com o vento norte.) (FDRH/BANRISUL)

01. As lacunas das linhas 04 e 08 devem ser preenchidas, na ordem, porA) despretencioso -- transcendental -- antigozamos.B) despretensioso -- transcedental -- antigozamos.C) despretencioso -- transcendental -- antegozamos.D) despretensioso -- transcendental -- antegozamos.E) despretencioso – transcedental – antegozamos.

02. Assinale a alternativa que está de acordo com o texto.A) Os nordestinos, por desfrutarem todo o ano de um mar cristalino, experimentam mais prazeres em função do clima do que os gaúchos.B) A influência, em nossa vida, dos astros, da cor dos olhos e do clima do lugar em que vivemos é irrelevante.C) A comparação feita por Jorge Luís Borges em relação à sensação física agradável trazida pelo frio menciona um componente que não pode ser compreendido por todas as pessoas.D) O uso disseminado do verbo lagartear no sul do Brasil se justifica plenamente porque apenas nessa região brasileira os lagartos se estendem ao sol.E) Entre os prazeres que o clima gaúcho proporciona, estão a leitura num ambiente aquecido, o desfrutar de um vinho numa temperatura baixa e a oportunidade de viajar para o mundo tropical.

03. A adjetivo portenho (linha 15), em relação à pessoa a que se refere, informa sobreA) suas qualidades morais.B) a atividade profissional que exerce.C) o clube de futebol para o qual torce.D) sua origem geográfica.E) seu estado civil.

04. Ao afirmar que o verbo to bask (linha 23) é “verbo para compreender na Inglaterra, não na Jamaica”, o autor do texto sugere queA) as pessoas, neste último país, por não falarem a língua inglesa, não o compreenderiam.B) apenas na Inglaterra é possível entender tal verbo, por se tratar de uma gíria inglesa, desconhecida por todos que não moram naquele país.C) tal verbo só é plenamente compreensível em lugares onde a atividade que o verbo nomeia é difundida.D) os jamaicanos não se expõem ao sol em seu país de origem.

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E) as diferenças de vocabulário entre jamaicanos e ingleses se devem primordialmente às diferenças de clima entre os dois países.

05. As palavras específico (linha 26) e elipticamente (linha 30) poderiam ser substituídas, no texto, sem prejuízo do seu significado contextual, respectivamente, porA) tradicional e explicitamente.B) regional e explicitamente.C) exclusivo e abreviadamente.D) coloquial e eficazmente.E) hermético e abreviadamente.

06. Dentre os advérbios abaixo listados, qual deles modifica outro advérbio no texto?

A) bem (linha 4) (café... quando sorvido bem quente,)B) eternamente (l. 5) (...um sujeito que vive eternamente à beira do mar...)C) perfeitamente (l. 11) (...ilustra perfeitamente o caso...)D) mais (linha 15) ( E disse mais, numa comparação que as mulheres não entenderam...)E) mais (linha 18 ) ( – para lagartear mais propriamente.)

TEXTO 6

A memória

A memória, por vezes, é uma maldição. Meu querido amigo Amílcar Herrera me confessou: “Eu desejaria, um dia, acordar havendo me esquecido do meu nome...” Não entendi. Esquecer o próprio nome deve ser uma experiência muito estranha. Aí ele explicou: “Quando eu me levanto e sei que meu nome é Amílcar Herrera, sei também tudo o que se espera de mim. O meu nome diz o que devo ser, o que devo pensar, o que devo falar. Meu nome é uma gaiola em que estou preso. Mas se, ao acordar, eu tiver me esquecido do meu nome, terei me esquecido também de tudo que se espera de mim. Se nada se espera de mim, estou livre para se aquilo que nunca fui. Começarei a viver minha vida a partir de mim mesmo, e não a partir do nome que me deram e pelo qual sou conhecido”. Entendi na hora e fiz ligação com algo que o poeta Alberto Caeiro escreveu: “Procuro despir-me do que aprendi, procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal humano que a natureza produziu”. (Adaptado de Rubem Alves, Quarto de badulaques/FCC)

1. A afirmação de que a memória, por vezes,é uma maldição justifica-se, de acordo com a argumentação do texto, pelo fato de que a memória

A) costuma ser falha, o que impede que reconstituamos corretamente o nosso passado.B) determina de tal modo nossa identidade que nos tornamos prisioneiros desta.C) impede que correspondamos às expectativas que os outros têm em relação a nós.D) nos torna tão saudosos do passado que não conseguimos projetar nosso futuro.E) é um processo sentimental que não nos deixa viver segundo os princípios da razão.

2. Considere as afirmações abaixo sobre o texto.

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I. As posições de Amílcar Herrera e Alberto Caeiro são contraditórias entre si, embora digam respeito ao mesmo assunto.

II. Para Amílcar Herrera, quem perde a memória do próprio nome liberta-se das expectativas criadas em relação à sua conduta.

III. Para Alberto Caeiro, o próprio processo de lembrar as coisas resulta não da natureza, mas de um aprendizado que acabou sendo imposto.

Em relação ao texto está correto o que se afirma em

A) I, II e III.B) I e II, apenas.C) I e III, apenas.D) II, apenas.E) II e III, apenas.

TEXTO 7

Página de História

De uma História Universal editada no século XXXIII: “Os homens do século XX, talvez por motivos que só a miséria explicaria, costumavam aglomerar-se desconfortavelmente em enormes cortiços de cimento. Alguns atribuem o fato a não se sabe que misterioso pânico ao simples contato com a natureza; mas isso é matéria de ficcionistas, místicos e poetas... O historiador sabe apenas que chegou a haver, em certas grandes áreas, conjuntos de cortiços erguidos lado a lado sem o suficiente espaço e arejamento, que poderiam alojar vários milhões de indivíduos. Era, por assim dizer, uma vida de insetos – mas sem a segurança que apresentam as habitações construídas por estes.” (Mário Quintana – Caderno H. Porto Alegre. Globo, 1973, p. 14 /FCC)

1. Atente para as seguintes afirmações:

I. Sugere o texto que a um historiador não cabe especular sobre conjecturas; ainda assim, o autor dessa imaginária História Universal levanta algumas suposições.

II. O texto levanta a possibilidade de que a supressão dos vínculos do homem do século XX com a natureza estaria numa inexplicável arrogância sua diante do mundo natural.

III. Pode-se depreender que, na perspectiva do autor do texto, em tempos futuros o homem terá superado modelos opressivos de habitação urbana.

Em relação ao texto, está correto o que se afirma em

A) II e III, apenas.B) II, apenas.C) I, II e III.D) I e II, apenas.E) I e III, apenas. [email protected]

G A B A R I T O

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TEXTO 1

1. D

2. C

3. A

TEXTO 2

1. A

2. E

3. E

4. E

5. B

TEXTO 3

1. C

2. E

TEXTO 4

1. C

2. E

3. E

4. C

5. E

6. C

7. C

8. C

9. C

10. C

TEXTO 5

1. D

2. C

3. D

4. C

5. C

6. E

TEXTO 6

1. B

2. E

TEXTO 7

1. E

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