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NOÇÕES GERAIS DE INTERPRETAÇÃO Toda norma precisa de interpretação, por mais claro que seja seu texto; logo, não é correto o antigo brocardo in claris cessat interpretatio (as normas claras não precisam ser interpretadas). Critérios de interpretação Fala-se em interpretação literal (gramatical), sistemática (lógico-sistemática), teleoló- gica e histórica. Interpretação literal/gramatical => leva em conta exclusivamente o rigoroso significado léxico das palavras do texto, sem considerar qq outro valor. Ex: CTN exige q normas q versem sobre certos conteúdos sejam interpretadas literalmente. Interpretação sistemática/lógico-sistemática => analisa norma como parte de sistema, buscando harmonia e unicidade c/ ordenamento jurídico, afastando antinomias (contradições). Texto é analisado em conjunto c/ todos demais dispositivos da mesma norma e c/ todas normas correlatas q integram ordenamento jurídico, respeitando-se a hierarquia. Interpretação teleológica => busca entender finalidade da inserção da norma no ordenamento jurídico. Interpretação histórica => considera circunstâncias políticas, sociais, econômicas e culturais na edição da norma. Tais critérios não são hierarquizados nem mutuamente excludentes. ● Interpretação quanto à fonte (autêntica, doutrinária, judicial ou administrativa). Interpretação autêntica => é feita pela mesma autoridade responsável pela elaboração da lei interpretada. Interpretação doutrinária => é feita por doutrinadores ao analisarem normas criadas pelas autoridades competentes. É comumente usada como base p/ demais fontes interpretativas. Interpretação é judicial => é emanada pelos órgãos do Poder Judiciário (juízes e tribunais) ao analisarem processos. A decisão de um juiz é fruto de interpretação judicial. P/ se falar em jurisprudência é necessário conjunto de decisões de órgãos judiciais diversos (ou de estatura constitucional elevada) no mesmo sentido. Interpretação administrativa => é feita pela administração pública ao concretizar disposições abstratas da lei (por atos gerais e abstratos ou por meio de atos individuais e concretos). Ex: quando Secretário-Geral da Receita Federal edita instrução normativa interpretando determinada lei tributária, o ato é geral (é p/ todos q se ponham ao alcance da lei) e abstrato (versa sobre hipóteses). Já quando Auditor Fiscal da Receita Federal elabora auto de infração, tb interpreta administrativamente a lei - mas o ato é individual (é só p/ contribuinte autuado) e concreto (versa sobre fatos concretos). ● Interpretação quanto aos efeitos/resultados Há casos em q é necessário q intérprete faça retificação (ampliação/redução) de alcance (caso em q interpretação, quanto aos efeitos/resultados, pode ser classificada como declaratória, extensiva ou restritiva). Interpretação declaratória => intérprete conclui q há coincidência entre o q legislador quis dizer e o q consta no texto legal; logo, não há necessidade de qq correção interpretativa (ampliação/restrição) do alcance normativo. Interpretação extensiva => intérprete percebe q no texto escrito o legislador disse menos do q pretendia; logo, há necessidade de ampliar conteúdo aparente da norma. Interpretação restritiva => intérprete percebe q no texto escrito o legislador disse mais

Interpretação Da Legislação Tributária

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Page 1: Interpretação Da Legislação Tributária

NOÇÕES GERAIS DE INTERPRETAÇÃO

Toda norma precisa de interpretação, por mais claro que seja seu texto; logo, não é correto o antigo brocardo in claris cessat interpretatio (as normas claras não precisam ser interpretadas).

Critérios de interpretação

Fala-se em interpretação literal (gramatical), sistemática (lógico-sistemática), teleológica e histórica.

Interpretação literal/gramatical => leva em conta exclusivamente o rigoroso significado léxico das palavras do texto, sem considerar qq outro valor. Ex: CTN exige q normas q versem sobre certos conteúdos sejam interpretadas literalmente.

Interpretação sistemática/lógico-sistemática => analisa norma como parte de sistema, buscando harmonia e unicidade c/ ordenamento jurídico, afastando antinomias (contradições). Texto é analisado em conjunto c/ todos demais dispositivos da mesma norma e c/ todas normas correlatas q integram ordenamento jurídico, respeitando-se a hierarquia.

Interpretação teleológica => busca entender finalidade da inserção da norma no ordenamento jurídico.

Interpretação histórica => considera circunstâncias políticas, sociais, econômicas e culturais na edição da norma.

Tais critérios não são hierarquizados nem mutuamente excludentes.

● Interpretação quanto à fonte (autêntica, doutrinária, judicial ou administrativa).

Interpretação autêntica => é feita pela mesma autoridade responsável pela elaboração da lei interpretada.

Interpretação doutrinária => é feita por doutrinadores ao analisarem normas criadas pelas autoridades competentes. É comumente usada como base p/ demais fontes interpretativas.

Interpretação é judicial => é emanada pelos órgãos do Poder Judiciário (juízes e tribunais) ao analisarem processos. A decisão de um juiz é fruto de interpretação judicial. P/ se falar em jurisprudência é necessário conjunto de decisões de órgãos judiciais diversos (ou de estatura constitucional elevada) no mesmo sentido.

Interpretação administrativa => é feita pela administração pública ao concretizar disposições abstratas da lei (por atos gerais e abstratos ou por meio de atos individuais e concretos). Ex: quando Secretário-Geral da Receita Federal edita instrução normativa interpretando determinada lei tributária, o ato é geral (é p/ todos q se ponham ao alcance da lei) e abstrato (versa sobre hipóteses). Já quando Auditor Fiscal da Receita Federal elabora auto de infração, tb interpreta administrativamente a lei - mas o ato é individual (é só p/ contribuinte autuado) e concreto (versa sobre fatos concretos).

● Interpretação quanto aos efeitos/resultados

Há casos em q é necessário q intérprete faça retificação (ampliação/redução) de alcance (caso em q interpretação, quanto aos efeitos/resultados, pode ser classificada como declaratória, extensiva ou restritiva).

Interpretação declaratória => intérprete conclui q há coincidência entre o q legislador quis dizer e o q consta no texto legal; logo, não há necessidade de qq correção interpretativa (ampliação/restrição) do alcance normativo.

Interpretação extensiva => intérprete percebe q no texto escrito o legislador disse menos do q pretendia; logo, há necessidade de ampliar conteúdo aparente da norma.

Interpretação restritiva => intérprete percebe q no texto escrito o legislador disse mais do q pretendia; logo, há necessidade de reduzir conteúdo aparente da norma.

Interpretação da legislação tributária no CTN

CTN tem poucas regras específicas sobre interpretação da legislação tributária (pq regras estudadas pela hermenêutica jurídica valem p/ todo direito - o qual é uno; a separação em ramos é só didática). Logo, na interpretação e integração da legislação tributária, podem ser usados métodos derivados da própria ciência da interpretação (hermenêutica) valendo-se de qq processos clarificadores dos institutos jurídicos (desde q não colidam c/ o CTN).

● A interpretação necessariamente literal de determinados institutos

É princípio de hermenêutica q exceções devem ser interpretadas estritamente, s/ possibilidade de restrições (e, principalmente, de ampliações/analogias). Se fossem permitidas interpretações extensivas e uso d analogias p/ pesquisa do alcance das exceções, estas tenderiam a suplantar a regra. Logo, CTN submeteu determinados institutos tributários à interpretação necessariamente literal (onde todos se referem a situações de exceções a importantes regras tributárias).

O CTN, ao afirmar q interpretação de certas normas deveria ser literal, não quis afirmar ser impossível uso dos critérios teleológico, histórico e sistemático. Toda norma jurídica infraconstitucional está sujeita à aferição de sua compatibilidade c/ CF. Toda norma deve ser interpretada tb de maneira sistêmica (mesmo aquelas q o CTN afirma deverem ser interpretadas literalmente). Na realidade, CTN quer q certas normas sejam interpretadas estritamente (sem possibilidade de ampliações). Assim, CTN afirma, em seu art. 111, q se interpreta literalmente a legislação tributária q disponha sobre:

- suspensão/exclusão do crédito tributário;- outorga de isenção;- dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

O art. 111 não previu a exigência de interpretação literal p/ as hipóteses de extinção do crédito tributário.

Page 2: Interpretação Da Legislação Tributária

Nos casos de suspensão da exigibilidade (art. 151), temporariamente o tributo deixará de ser exigido. Nos casos de exclusão do crédito tributário, ou o tributo não será exigido (isenção), ou a punição não será aplicada (anistia).

A outorga de isenção é hipótese de exclusão do crédito tributário (sua menção no inciso II é redundante).

A última hipótese versa sobre a dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias (q são aquelas q não possuem conteúdo pecuniário - ex: escriturar livros fiscais/entregar declarações tributárias).

Vale citar q STJ afirma possibilidade de interpretação extensiva dos casos q CTN submete à necessária interpretação literal (tais como os dispositivos de lei q tratam dos institutos enumerados no art. 111).

● A interpretação benigna em matéria de infrações

O direito tributário penal (q se refere à definição de infrações administrativo-tributárias e suas respectivas punições na esfera administrativa) sofre influência direta do direito penal. Trata-se do princípio segundo o qual, na dúvida, deve-se adotar a interpretação + favorável à pessoa acusada do cometimento de uma infração (in dubio pro reo).

A interpretação benigna aplica-se exclusivamente à lei que define infrações/comina penalidades.

Em se tratando de lei q discipline o próprio tributo (definindo, por exemplo, o fato gerador, a alíquota, a base de cálculo ou o contribuinte) não há q se falar em interpretação mais favorável.

A lei tributária q define infrações/comina penalidades interpreta-se da maneira + favorável ao acusado na dúvida quanto:

- à capitulação legal do fato;- à natureza/circunstâncias materiais do fato ou à natureza/extensão dos seus efeitos;- à autoria/imputabilidade/punibilidade;- à natureza da penalidade aplicável/àsua graduação.

● Princípios de direito privado e princípios de direito público

O direito tributário é ramo de direito público; logo, está sujeito aos princípios q informam o regime jurídico publicista: a supremacia do interesse público sobre o interesse privado e a indisponibilidade do interesse público.

O direito privado se baseia em princípios opostos (pois, nas relações entre particulares, presume-se q as partes buscam interesses privados, sendo tratadas igual pela lei). Os interesses privados são, em regra, disponíveis. Os princípios gerais de direito privado devem ser usados p/ pesquisa da definição, conteúdo e alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não p/ definição dos seus efeitos tributários. Logo, se intérprete (por exemplo) quer entender significado de propriedade p/ interpretar regra q atribui ao M a competência p/ instituir o IPTU, deve procurar no direito civil.

Parte da doutrina entende q o direito tributário é um direito de sobreposição/superposição (pois incide sobre realidades previstas em ramos do direito privado, p/ destes buscar os contornos dos seus institutos, conceitos e formas).

A lei tributária não pode alterar definição/conteúdo/alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado usados pela CF, pelas CE ou pelas LO do DF/M p/ definir/limitar competências tributárias.

A interpretação a contrario sensu tb é importante, de forma q conceitos de direito privado que não tenham sido utilizados pelas citadas leis máximas podem ser alterados pelo legislador infraconstitucional.

O princípio do Pecunia non olet e capacidade tributária passiva

A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se a validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, bem como a natureza de seu objeto/efeitos ou dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.

Mesmo q o fato q der origem aos rendimentos seja criminoso, a renda é sujeita ao IR (pois “o dinheiro não tem cheiro”).

Da mesma forma, requisitos p/ q seja válido negócio jurídico na ótica do direito civil (agente capaz; objeto lícito, possível, determinado/determinável; forma prescrita/não defesa em lei) são irrelevantes p/ definição legal do fato gerador.

Por isso, o CTN prevê q a capacidade tributária passiva independe da capacidade civil das pessoas naturais. Nos termos do CC, não havendo capacidade civil o negócio jurídico celebrado é inválido. Porém, p/ o direito tributário, a falta de capacidade civil é irrelevante, pois se ocorrer a situação definida em lei como necessária e suficiente p/ o nascimento da obrigação tributária (fato gerador) o tributo será cobrado.

Integração da legislação tributária

No plano estático, normas têm lacunas; mas, em sua dinâmica, a integração da legislação garante a plenitude do direito.

Logo, o juiz está proibido de deixar de decidir, alegando q não existe lei disciplinando a matéria (proibição do non liquet) pois, nesses casos, o próprio direito lhe diz qual a providência a ser adotada. Porém, não se pode confundir lacuna c/ caso em q legislador quis q texto normativo abrangesse só certas situações (hipótese em q o silêncio da norma deve ser interpretado como manifestação no sentido de q ela não deve ser aplicada a casos q não foram previstos expressamente (pois só se aplica analogia quando, na lei, haja lacuna).

Page 3: Interpretação Da Legislação Tributária

Em matéria tributária, a solução do problema das lacunas está no art. 108 do CTN, q especifica o seguinte:

Na ausência de disposição expressa, autoridade competente p/ aplicar legislação tributária usará sucessivamente:

1º) analogia;2º) princípios gerais de direito tributário;3º) princípios gerais de direito público;4º) equidade.

O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei.O emprego da equidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido.

O dispositivo é direcionado tanto p/ autoridade fiscal quanto p/ autoridade judiciária.

A sequência das 4 técnicas p/ solucionar o problema da omissão na legislação tributária é taxativa e hierarquizada.

1ª) Analogia => aplicação de uma norma jurídica existente a um caso não previsto, mas essencialmente semelhante ao previsto. A regra existente não abrange explicitamente o caso concreto a ser resolvido, mas como este se assemelha ao previsto abstratamente pode desfrutar da mesma solução normativa prevista p/ aquele outro.

A analogia difere da interpretação extensiva. Nesta, intérprete percebe q legislador disse menos do q intentava; logo, é necessária ampliação do conteúdo aparente da norma. Na analogia, a situação a ser resolvida está fora do alcance da norma (pois legislador não pensava em tratar de tal situação ao escrever o texto - mas, como a situação imprevista se assemelha à expressamente prevista, acaba por ter a mesma solução desta).

O fundamento do uso da analogia é o princípio da isonomia (pois casos semelhantes devem tratados de forma análoga).

2ª) Princípios gerais de direito tributário => anterioridade, noventena, isonomia, capacidade contributiva, entre outros;

3ª) Princípios gerais de direito público;

4ª) Equidade => procura dar solução + justa p/ o caso concreto; trata-se de humanização do direito positivo, q traz p/ au-toridade responsável um amplo grau de discricionariedade p/ preencher a lacuna, adequando ordenamento jurídico (normalmente composto de normas gerais e abstratas) às especificidades do caso concreto.

Discricionariedade interpretativa e limitações ao uso das técnicas de integração

A ordem estabelecida pelo CTN visa solucionar o problema da lacuna normativa em direito tributário sem completo abandono da rigidez q caracteriza o princípio da legalidade neste ramo da ciência jurídica. O critério usado pelo legislador p/ consignar a sequência das 4 técnicas integrativas foi o de conferir à autoridade responsável o mínimo grau de discricionariedade possível (ampliando-o passo a passo, na medida do necessário). A discricionariedade existe na manipulação de cada técnica, mas nunca na escolha entre as técnicas.

Em nenhum caso se abandona por completo a legalidade (tão rígida em matéria tributária), pois:

- CTN proíbe q da utilização da analogia decorra cobrança de tributo não previsto em lei. Assim, por + q manifestação de riqueza sem previsão de tributação se assemelhe a uma outra tributada, o tributo não poderá ser cobrado;

- CTN proíbe q do emprego da equidade resulte a dispensa de tributo devido.