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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS PARA CONCURSOS Verônica Daniel Kobs Série

Interpretação de Textos Para Concursos - Veronica Kobs (1)

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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS PARA CONCURSOS IN

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Verônica Daniel Kobs

SérieSérie

Série Aprova Concursos Os concursos no Brasil atraem, todos os anos, milhares de pessoas interessadas em conquistar uma vaga em uma instituição pública. Pensando em você, que busca um diferencial e, consequentemente, a aprovação, o IESDE BRASIL S.A. – Inteligência Educacional lança a Série Aprova Concursos. Nos livros e videoaulas você encontra conteúdos cuidadosamente selecionados e editados, questões resolvidas baseadas nos principais concursos, dicas úteis de estudo e muitas outras informações relevantes, apresentadas de forma didática e atraente, para quem deseja passar em um concurso. Conheça alguns títulos da série:

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das Pessoas Portadoras de Deficiência – Declaração Universal dos Direitos Humanos – Direito da Criança e do Adolescente)

Questões Resolvidas de Língua Portuguesa para Concursos Questões Resolvidas de Matemática para Concursos Questões Resolvidas de Raciocínio Lógico para Concursos Questões Resolvidas de Direito Constitucional para Concursos

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS PARA CONCURSOS

Verônica Daniel Kobs

IESDE Brasil S.A.Curitiba2010

K75i Kobs. Verônica Daniel, / Interpretação de textos para concursos. / Verônica Daniel Kobs. — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2010.

204 p. [Série Aprova Concursos]

ISBN: 978-85-387-3008-8

1. Interpretação. 2. Tipologia textual. 3. Estrutura. 4. Elementos coesivos. I. Título.

CDD 869.07

IESDE Brasil S.A Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Todos os direitos reservados.

© 2010 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Capa: IESDE Brasil S.A.

Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

Verônica Daniel KobsDoutora em Estudos Literários mestra em Li-

teratura Brasileira e licenciada em Letras Portu-guês-latim pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Elementos estruturais do texto 9

9 | Parágrafo

11 | Período

Coesão 27

30 | Elementos coesivos e relações lógicas

30 | Causa e efeito

33 | Coesão e sinonímia

Partes do texto e compreensão do texto 45

45 | Partes do texto

50 | Compreensão do texto

Ambiguidade e paráfrase 65

65 | Ambiguidade

70 | Paráfrase

Fato, opinião e tipos de discurso 87

87 | O que é fato ou opinião no texto?

92 | Tipos de discurso

Tipos de texto 107

107 | Informativos e literários

109 | Textos informativos

112 | Textos literários

Texto argumentativo 125

127 | Partes do texto argumentativo

130 | Recursos do texto argumentativo

Textos não verbais, humorísticos e irônicos 143

143 | Textos não verbais

Estratégias e recursos na construção do texto 165

168 | Pontuação e elementos coesivos

169 | Citação e exemplos

170 | Perguntas

171 | Oralidade

172 | Temas do cotidiano

174 | Comparação

175 | Escolha vocabular

176 | Repetição

Interpretação de textos complexos 187

189 | Leitura do texto

190 | Análise do texto

Interpretação de Textos para C

oncursosApresentação

O material de interpretação de textos é com-posto de dez aulas e visa à apresentação dos ele-mentos fundamentais para a elaboração textual nos aspectos de estrutura e conteúdo. Partindo das questões básicas para as mais complexas, os tópicos abordados objetivam treinar o aluno para a análise de textos diversos e com diferentes graus de dificuldade. Para isso, os conteúdos encontram-se organizados conforme abaixo.

Capítulo 1 – Elementos estruturais do texto

Capítulo 2 – Coesão

Capítulo 3 – Partes do texto e compreensão do texto

Capítulo 4 – Ambiguidade e paráfrase.

Capítulo 5 – Fato, opinião e tipos de discurso

Capítulo 6 – Tipos de texto

Capítulo 7 – Texto argumentativo

Capítulo 8 – Textos não verbais, humorísti-cos e irônicos

Capítulo 9 – Estratégias e recursos na cons-trução do texto

Capítulo 10 – Interpretação de textos complexos

Elementos estruturais do texto

O texto é um conjunto de ideias acerca de um tema e deve desenvolver e aprofundar um assunto, a partir do encadeamento e da progressão de infor-mações. Partindo da estrutura maior para a menor, temos

texto; �

parágrafos; e �

períodos. �

ParágrafoOs parágrafos têm duas funções de muita importância na organização tex-

tual. A primeira delas é oferecer um leiaute agradável aos leitores. Ler um texto longo e com um parágrafo único não é uma tarefa muito fácil e muito menos atraente. Por isso, a paragrafação encarrega-se de dividir o texto em blocos.

Claro que essa divisão não é aleatória e é nesse ponto da questão que en-tramos na segunda função desempenhada pelo parágrafo: a unidade temá-tica. Cada parágrafo detém-se sobre uma parte do tema do texto. Vejamos um exemplo.

Britânicos desvendam mistério de cova com 51 crânios

(BRITÂNICOS desvendam mistério de cova com 51 crânios, 2010, grifos nossos)

As ossadas de 51 pessoas decapitadas encontradas no sul da Grã-Bretanha em junho do ano passado foram identificadas como pertencendo a povos vi-kings que habitaram o país na virada para o segundo milênio.

Desde que a cova foi encontrada em junho de 2009, durante a construção de uma rodovia no condado de Dorset para os Jogos Olímpicos de Londres--2012, arqueólogos vinham tentando desvendar o mistério da identidade da-

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Elementos estruturais do texto

queles ossos e por que os crânios estavam separados do restante dos corpos.

[…]

A partir do teste do carbono-14, os cientistas concluíram que aquelas pessoas foram mortas entre os anos 910 e 1030.

Nessa época, os anglo-saxões sofriam com as constantes incursões de povos vikings na Grã-Bretanha, e conflitos entre líderes dos dois lados por controle da região eram comuns.

Com a leitura do trecho acima, comprovamos facilmente que, embora o texto esteja dividido em quatro parágrafos, há uma sequência lógica. Obser-vando o começo e o final de cada parágrafo, a continuidade aparece como característica positiva e fundamental na organização do texto.

Para entender como a relação entre os parágrafos funciona, vamos ana-lisar o texto. Primeiro, vamos tentar recortar apenas o início e o fim de cada parágrafo, destacados em itálico. Se colarmos cada uma dessas partes uma ao lado da outra, na ordem em que aparecem, aparentemente não haverá continuidade e muito menos lógica. No entanto, o uso da expressão nessa época, no último parágrafo, só faz sentido quando percebemos claramente que ela se refere ao que já foi mencionado, anteriormente, no texto, ou seja, o período “entre os anos 910 e 1030”.

Mas falávamos, antes, sobre a unidade temática do parágrafo. Pois bem: no terceiro parágrafo, o foco é o teste usado para determinar quando as pes-soas tinham sido mortas. Já no quarto parágrafo, a opção do autor é clara: oferecer mais dados sobre a época informada no parágrafo anterior.

Parágrafo e apresentação do textoVamos, agora, analisar um parágrafo apenas, sobre assunto diferente da-

quele abordado no texto acima:

Na semana passada, a indisciplina na escola foi notícia em diversos meios de comunicação. Diante das últimas notícias envolvendo adolescentes entre 14 e 18 anos, pais e especialistas em educação e comportamento têm se mobilizado para tentar entender a causa da agressividade dos jovens de hoje. A falta de limites e o acesso irrestrito à tecnologia aparecem como os fatores mais preocupantes.

Elementos estruturais do texto

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O parágrafo que acabamos de ler faz uma síntese, o que é muito comum no início dos textos, quando o assunto é apresentado ao leitor. É a partir dele que outros parágrafos serão criados e organizados, para o desenvolvimento da ideia apresentada. Não temos o texto inteiro, ainda, mas já podemos tirar conclusões a partir desse início que nos foi exposto. Vamos lá!

Qual é o tema do texto? – A indisciplina de adolescentes na escola. �

A julgar pelo trecho lido, qual foi o resultado dessa indisciplina? – Algum �caso de violência noticiado pelos principais meios de comunicação.

Que outros temas podem ser desenvolvidos, em parágrafos posterio- �res, para aprofundar as informações do parágrafo inicial? – Algumas possibilidades são depoimentos de pais e pessoas ligadas à educação, como professores, diretores de escolas etc.; e detalhamento das causas que receberam destaque no parágrafo dado (“falta de limites” e “aces-so irrestrito à tecnologia”).

PeríodoAssim como um texto é formado de parágrafos, o parágrafo é formado de

unidades menores, chamadas períodos. Os períodos podem ser simples ou compostos, e o que determina o tipo ou a modalidade de cada período é o número de orações ou de verbos que ele apresenta. Considera-se um período cada bloco de palavras iniciado por letra maiúscula e finalizado por ponto.

Exemplo de período simples:

A instalação de mais radares eletrônicos garantirá mais segurança no trânsito.

(um verbo = uma oração = período simples)

Exemplo de período composto:

O crescimento desenfreado, nas grandes cidades, provoca inúmeros pro-blemas no trânsito, que passará a ser monitorado por novos radares.

(dois verbos ou mais = duas ou mais orações = período composto)

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Elementos estruturais do texto

Relação entre os períodos

Assim como a sequência dos parágrafos não pode ser aleatória no texto, os períodos contam com alguns elementos que garantem a construção lógica, a progressão de ideias e, principalmente, a completude da informação.

Vamos retomar o exemplo dado na parte anterior, para uma análise mais detalhada:

O crescimento desenfreado, nas grandes cidades, provoca inúmeros pro-blemas no trânsito, que passará a ser monitorado por novos radares.

De imediato, temos uma relação de causa (“crescimento desenfreado”) e consequência (“inúmeros problemas no trânsito”).

Para sanar o problema causado pelo crescimento desenfreado, uma so-lução é apresentada. Logo, temos uma segunda relação de causa e conse-quência, mas, agora, a causa (“inúmeros problemas no trânsito”) tem como consequência a instalação de novos radares.

Tudo o que mencionamos até agora pode ser resumido com o seguinte esquema:

Causa 1 → Consequência 1

= Causa 2 → Consequência 2

Outra possibilidade de simplificação desse encadeamento de ideias é:

Causa → Consequência/problema → Solução

O importante é que, independentemente do esquema que se utilize, con-firma-se a clareza do período, que não atropela a sequência dos fatos. Ima-ginem o caos que poderia ser causado se as partes do período aparecessem organizadas de outro modo:

O crescimento desenfreado passará a ser monitorado por novos radares, nas grandes cidades, provoca inúmeros problemas no trânsito.

Agora, indo um pouco além da ordem das informações, dentro do perío-do, pensemos sobre a função de determinadas palavras, sem as quais ficaria difícil entender a mensagem. Se tirarmos do período, por exemplo, a palavra que, o prejuízo será grande:

Elementos estruturais do texto

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O crescimento desenfreado, nas grandes cidades, provoca inúmeros pro-blemas no trânsito, passará a ser monitorado por novos radares.

A ausência do que faz com que o verbo passar (passará) não seja ligado a nenhum termo. O resultado é incompletude e confusão – afinal, não está claro o que “passará a ser monitorado por novos radares”. Seria o trânsito ou o crescimento desenfreado?

O problema do período incompletoQuem já não escreveu um período incompleto? Observemos dois exem-

plos de ocorrências bastante comuns na língua portuguesa:

O livro X, que comprei na semana passada.

Nesse exemplo, o período simplesmente não tem um fim. Duas formas de arrumar essa construção facilmente são:

Comprei o livro X, na semana passada.

Ou:

O livro X, que comprei na semana passada, não custou caro.

Solucionar o problema não é difícil, mas saber por que o problema acon-teceu é fundamental e aí vai o recado: cuidado com o uso do que. Esse pro-nome relativo sempre insere no período uma informação complementar, mas o que de fato importa é não se esquecer de terminar ou completar a informação principal ou básica.

Para entender a função das informações básica e complementar no perí-odo, observemos o esquema abaixo:

O Livro X que comprei na semana passada não custou caro.Parte 1 da

informação básica

Informação complementarParte 2 da

informação básica

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Elementos estruturais do texto

Vejam que, somando as partes 1 e 2 da informação básica do período, temos uma ideia completa, formada por sujeito e predicado:

O livro x não custou caro.

Sujeito Predicado

Se destacarmos do período apenas a informação complementar, teremos

…que comprei na semana passada…

Mas o que foi comprado? Faltam dados importantes nesse tipo de infor-mação, mas a conclusão é simples: a informação complementar não é com-pleta e não tem autonomia no período.

RelatoresRelatores equivalem ao que muitos livros e gramáticas de língua portu-

guesa denominam conectivos e são as palavras encarregadas de, como o nome já diz, estabelecer relações entre os períodos ou entre suas partes. Essas relações podem ser de soma, contradição etc. Os tipos de relatores são bastante numerosos. Vejamos alguns exemplos.

Amanhã tenho um compromisso, mas darei um jeito de ir à reunião.

O mas estabelece uma relação de contrariedade entre as partes do perí-odo porque o fato de já existir um compromisso teria como consequência a ausência na reunião. No entanto, isso não ocorre e o termo responsável por isso é o mas, que é uma conjunção adversativa.

Disse que não iria à reunião. Além disso, telefonou ao chefe comunicando que faltaria ao trabalho no dia seguinte.

No exemplo acima, o relator além disso liga um período ao outro e ressal-ta a ideia de soma (ausência na reunião + ausência no emprego).

A função de relator pode ser desempenhada por palavras ou locuções conjuntivas, assim como por pronomes ou substantivos, como nos exemplos abaixo.

A Lua, que é o satélite natural da Terra, tem quatro fases.

Elementos estruturais do texto

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O que é um pronome relativo, que dá nova informação sobre a Lua e ao mesmo tempo evita a repetição da palavra a que se refere (Lua). Sendo assim, podemos dizer que o período acima é o resultado da união de duas informações:

A Lua é o satélite natural da Terra + A Lua tem quatro fases.

A mesma função desempenhada pelo que pode ser desempenhada por um substantivo sinônimo da palavra sobre a qual temos duas informações a dar:

A professora de Educação Física só tem aulas às quartas. A docente dá aulas às turmas de primeiro ano.

Outra opção de relator bastante comum é o uso de pronomes pessoais:

A professora de Educação Física só tem aulas às quartas. Ela dá aulas às turmas de primeiro ano.

Vejamos, agora, alguns modos de transformar os dois períodos em um só, evitando repetições e organizando as informações logicamente:

A professora de Educação Física só tem aulas às quartas e dá aulas às turmas de primeiro ano.

(O e simplesmente une as duas informações sobre a professora.)

A professora de Educação Física só tem aulas às quartas, nas turmas de pri-meiro ano.

(Aqui, em vez de relatores, são usadas a pontuação e a abreviação da se-gunda informação.)

A professora de Educação Física, que só tem aulas às quartas, dá aulas às turmas de primeiro ano.

(O pronome relativo que é usado para transformar um dos períodos em informação complementar.)

Relatores internos e externosÉ importante perceber que, na fala e na escrita, podem ser usados relato-

res externos, ou seja, elementos que não fazem referência a palavras men-cionadas anteriormente. Nesse caso, a elucidação do termo usado como re-

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Elementos estruturais do texto

lator pode depender do ambiente que cerca os falantes, em uma situação de diálogo, por exemplo, ou do conhecimento prévio. Exemplos do uso de relatores externos na fala:

O que será que é aquilo ali?Olha só a roupa dela!E daí, conseguiu resolver aquela questão?Para entender o uso dos relatores sem um antecedente expresso, façamos algumas suposições sobre os exemplos apresentados:

Os interlocutores veem um objeto que gera curiosidade, porque eles �não sabem do que se trata, por isso o emprego de aquilo ali.

Os falantes podem estar, por exemplo, em um ônibus, e veem uma �mulher na rua que lhes chama atenção pela roupa que usa, daí o em-prego do relator dela.

Provavelmente, os falantes são amigos e já tinham conversado, anterior- �mente, sobre aquela questão, que pode ser o pagamento de uma dívida, a ameaça de reprovação no colégio, uma briga com a namorada etc.

Pensando, agora, no uso dos relatores internos, é indispensável que eles se relacionem a um antecedente e que, como o nome já diz, que os antece-dentes sejam apresentados antes dos relatores. Em uma escrita formal, que não pressupõe muita intimidade entre o escritor e o leitor do texto, não é adequado começar com a utilização de relatores sem antecedentes. Para en-tender melhor a necessidade de obedecer à ordem antecedente + relator, vamos comparar as ocorrências abaixo:

A diretora dessa escola é muito rígida.

(Dessa escola? De qual escola?)

A escola X fica no bairro onde moro. A diretora dessa escola é muito rígida.

(Dessa escola = Da escola X)

A primeira opção deixa uma lacuna que não pode ser preenchida sim-plesmente porque o nome da escola não foi apresentado antes do uso do relator dessa.

Já a opção dois está correta, porque apresenta, em dois períodos diferentes, duas informações sobre a escola: uma sobre a localização e outra sobre a dire-

Elementos estruturais do texto

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tora. Neste caso, o relator dessa cumpre duas funções: a de evitar a repetição do nome da escola e a de estabelecer uma relação lógica entre os períodos.

Texto complementarLeia o texto abaixo observando o uso de relatores, a formação dos perío-

dos e a divisão do texto em parágrafos. Boa leitura!

Aula de redação(GOMES, 2000, p. 74-77)

Dia desses meu filho João Marcelo veio com jeito de quem acabou de pensar no assunto, colocou a mão no meu ombro e pediu:

– Me ajuda a fazer uma redação?

Fiquei espantado. Primeiro, ele não é de pedir ajuda, cuidando de seus as-suntos de escola com total independência – de resto, não admite que nin-guém meta neles o nariz (o que inclui o meu nariz e o da mãe dele). Segundo, escreve com facilidade, por que estaria me fazendo aquele pedido? Terceiro, e pior de tudo, entrei em pânico com a perspectiva de “escrever uma redação”.

Sempre padeci de calafrios diante de professores de português. Lembro de um – o professor Salles, do Colégio D. Pedro II, em Blumenau –, que havia es-crito um livro inteiro sobre as funções do pronome que, com o que nos assom-brou ao longo de todo o segundo grau. A redação não me produzia tantos calafrios, mas era um sofrimento arranjar com o que preencher 30 linhas a respeito do “Fim de semana com meus pais” ou “A gota de orvalho”.

Por isso, sempre que posso saio em defesa dos pobres alunos de redação. Escrever, mesmo um bilhete para o vizinho, é uma tarefa solitária, que merece todo o respeito. Já os alunos são obrigados a escrever em público, em meio a uma multidão de carteiras, de olhos curiosos, risinhos de mofa, além do severo e vigilante olhar de águia do professor. É demais.

Depois, servem-se apenas de uma caneta e de uma folha de papel na qual devem depositar tantas linhas. Acho desumano. Eu, que já vou para o 12.º livro, escrevo no meu tugúrio, protegido por portas e campainhas, o telefo-ne fora do gancho, armado com vários dicionários, diversas enciclopédias, o corretor ortográfico instalado no computador e, quando tudo isso falha, saio

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Elementos estruturais do texto

pela casa ao encalço de minha mulher para fazer a ela, pela milésima vez, a pergunta humilhante, já errando na grafia:

– Cozinha é com z ou com s?

Não consigo decidir. Há um trauma profundo que me impede fixar de uma vez por todas a grafia de certas palavras, além de algumas concordâncias. Pensei que eu fosse um caso único no planeta dos escritores, mas dia destes li uma crônica do Fernando Sabino confessando ser incapaz, entre outras coisas, de lembrar se pêsames é com z ou com s.

Quando não descubro nos livros a resposta para minhas dúvidas e minha mulher não está em casa, telefono para dois amigos que são craques nesta seara. O João Alfredo Dal’Bello, meu consultor para latim, alemão, italiano e gramatiquices em geral, e o Sírio Possenti, que alcanço lá em Campinas, de onde me salva de minhas asnices, não raro aconselhando que eu mande a gramática cachimbar formiga.

Além de dispor de todo este arsenal, só escrevo quando bem entendo e sobre o que bem entendo, dono absoluto de meu nariz e de meus delírios. Por isso morro de pena dos estudantes obrigados a fazer redação. Sem dicioná-rios, enciclopédias, sem o Sírio Possenti e o João Alfredo, sem o corretor orto-gráfico do micro, engessados em 20 linhas que devem cobrir com letra legível – ó tormento dos tormentos! – e ideias originais a respeito de um assunto ao qual acabaram de ser apresentados! Pode tortura maior?

Por isso entrei em parafuso quando meu filho me fez o pedido fatal. E agora? E se a ação se passar na cosinha (ou cozinha) e, por alguma razão in-sondável, for necessário dar pêsames (ou pêzames) a alguém? Como vou ex-plicar ao João Marcelo que, depois de 12 livros, nem isso aprendi?

E como vou fazer uma introdução, um desenvolvimento, uma conclusão? Como vou ter certeza de que, num parágrafo, desenvolvi uma ideia completa? E o pronome que? E as regras da próclise e da ênclise? E a ordem direta e a clareza? E a crase, meu Deus, a crase!?

Estou há três dias sofrendo amargamente, rezando para que meu filho es-queça do pedido ou não precise mais de mim. Ontem ele me disse que, antes de começarmos a redação, iria telefonar para uma amiga (a Fernanda, a Bruna, a Manu, não sei). Acabou engatado ao telefone pelas duas horas seguintes, esqueceu de mim, graças a Deus. Hoje, resolveu fazer um hambúrguer, depois

Elementos estruturais do texto

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começaríamos. Fiquei aqui suando frio. Acabou dizendo que estava cansado, ia dormir. Respirei aliviado.

E amanhã? Que me espera? Além disso, acrescentei uma nova aflição a meus tormentos: o que pensará a professora de nossa redação? Posso vê-la com um imenso lápis vermelho em punho distribuindo bangornadas correti-vas em minhas mal traçadas linhas. E, aflito, me imagino nos próximos dias a perguntar ao João Marcelo: que nota tiramos?

Pior ainda: e se a professora ler esta crônica? Acabo reprovado. Meu Deus, nada é mais assustador do que um professor de português! Ó, Senhor, tenha piedade dos escritores e dos pobres alunos obrigados a escrever redações!

AtividadesO texto abaixo também foi retirado do site da Globo. O começo você leu

no início deste capítulo. Leia, agora, o final.

1. Se tivéssemos de resumir o assunto de cada parágrafo apresentado, acima, faríamos a divisão abaixo.

Com base nas cerâmicas encontradas na cova, os arqueólogos suspeitaram inicialmente que as ossadas datavam de um período entre 800 a.C. e 43 d.C., ou seja, entre a Idade do Ferro e o início da Era Romana. Mas os exames do carbono 14 provaram que os restos mortais eram muito mais recentes.

Os cientistas sabem também que a maioria dos ossos pertencia a adolescentes e jovens, que seriam altos e teriam boa saúde. Há também a suspeita de que eles tenham sido mortos ou enterrados nus, porque não há vestígio de roupas ou adornos na cova. (BRITÂ-NICOS..., 2010, grifos nossos)

Primeiro parágrafo:

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Elementos estruturais do texto

Segundo parágrafo:

2. Classifique o último período do primeiro parágrafo como simples ou composto e explique o porquê.

3. Retome os relatores marcados no texto e cite a ideia que estabelecem ou os antecedentes a que se referem.

4. Retome os períodos do segundo parágrafo do texto e marque apenas as informações básicas de cada um deles. Justifique sua resposta.

5. Una os períodos abaixo usando relatores.

a) A moça era alta. A moça usava sapatos de salto alto.

Elementos estruturais do texto

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b) Meu amigo excedeu o limite de velocidade. O limite de velocidade é de 60 km/h.

c) Ele adoeceu. Ele não foi à viagem com os amigos.

6. (EFOA - MG) Há período composto em

a) “Ao lado da dissertação, deveria restaurar-se também o prestígio da tabuada.”

b) “…o mesmo não se pode dizer de outros engenhos.”

c) “Temos aí, reproduzido, com a máxima fidelidade, o diálogo.”

d) “Aí, então, podem contar comigo para aplaudir a máquina.”

7. No período: Ele tentou ser rápido, porém não deixou de chegar atrasa-do ao encontro, temos

a) ausência de relator.

b) relator que expressa sentido de acréscimo.

c) o uso do porém como relator adversativo, expressando contrarie-dade.

d) o uso do porém como relator externo.

8. Considerando os exemplos abaixo, em qual deles está correta a rela-ção entre pronome relativo e antecedente?

a) “A revista que procuro tem uma matéria sobre animais abandona-dos.” (que: revista)

b) “O professor da matéria que não consigo entender ganhou uma bolsa de estudo.” (que: professor)

c) “Eu contei o segredo que guardava comigo, desde criança.” (que: eu)

d) “A igreja fica na praça central, que está sempre lotada. (que: igre-ja)

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Elementos estruturais do texto

9. Marque a alternativa que faz uso de um relator externo.

a) “A moça que avistei na rua não me parecia estranha.”

b) “Parece que lá você pode encontrar o que está procurando.”

c) “Além de mandar um e-mail, telefonei para avisar da promoção.”

d. “Vim até aqui porque você não atendeu ao meu telefonema mais cedo.”

10. Leia o fragmento a seguir:

A partir do teste do carbono 14, os cientistas concluíram que aquelas pessoas foram mortas entre os anos 910 e 1030.

Sobre o período acima, é correto afirmar que

a) é composto por período simples.

b) é formado apenas por informação básica.

c) é formado por período composto.

d) tem como informação complementar o trecho: “que aquelas pes-soas foram mortas entre os anos 910 e 1030”.

11. Observe as marcações das informações complementares, nos perío-dos abaixo.

I. Apesar de chover forte, terá de sair.

II. A prova, da matéria de matemática, será realizada amanhã, na sala 302.

III. A dívida, que passa dos dez mil reais, será paga em três meses ape-nas.

Estão corretas:

a) Apenas a alternativa I.

b) Apenas as alternativas I e II.

c) Apenas as alternativas II e III.

d) Apenas a alternativa III.

Elementos estruturais do texto

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12. Observe o parágrafo abaixo.

Os cientistas sabem também que a maioria dos ossos pertencia a adolescentes e jovens, que seriam altos e teriam boa saúde. Há também a suspeita de que eles tenham sido mortos ou enterrados nus, porque não há vestígio de roupas ou adornos na cova.

É correto afirmar que o relator destacado (eles)

a) refere-se a cientistas.

b) é o único relator que se refere a adolescentes e jovens.

c) exemplifica o uso do relator externo.

d) é usado (assim como o que) para retomar o antecedente adoles-centes e jovens.

13. Marque a opção que une os períodos abaixo corretamente.

O etanol teve queda de preço, na semana passada. O etanol voltou a ser a opção de combustível mais barata.

a) O etanol, que teve queda de preço na semana passada, voltou a ser a opção de combustível mais barata.

b) O etanol teve queda de preço na semana passada, mas voltou a ser a opção de combustível mais barata.

c) O etanol teve queda de preço porque voltou a ser a opção de com-bustível mais barata na semana passada.

d) Além da queda de preço na semana passada, o etanol voltou a ser a opção de combustível mais barata.

Gabarito1. Primeiro parágrafo: pesquisas científicas para determinar a época das

ossadas encontradas.

Segundo parágrafo: características das ossadas encontradas.

2. O período: “Mas os exames do carbono-14 provaram que os restos mortais eram muito mais recentes.” é composto, porque nele há dois verbos – provaram e eram.

24

Elementos estruturais do texto

3. Mas: o antecedente é a ideia expressa no texto, em todo o primeiro período, e mas é uma conjunção adversativa; indica contrariedade.

Os restos mortais: referem-se a “ossadas” (linha 2). O relator é sinônimo do antecedente. Que: é um pronome relativo que retoma adolescentes e jovens. Para confirmar isso, basta reler o período inteiro: “Os cientistas sabem também que a maioria dos ossos pertencia a adolescentes e jovens, que seriam altos e teriam boa saúde.”

4. Primeiro período: “Os cientistas sabem também que a maioria dos os-sos pertencia a adolescentes e jovens, que seriam altos e teriam boa saúde.” A informação básica é a parte sublinhada, porque é composta de sentido completo e tem autonomia de significado. Segundo perío-do: “Há também a suspeita de que eles tenham sido mortos ou enter-rados nus, porque não há vestígio de roupas ou adornos na cova.” Aqui também a informação básica é a parte sublinhada, porque é composta de sentido completo e tem autonomia de significado.

Repare que nos dois períodos as informações complementares são aquelas iniciadas por relatores (que e porque), o que as torna incom-pletas e não autônomas.

5.a) Resposta possível: A moça era alta e usava sapatos de salto alto.

b) Resposta possível: Meu amigo excedeu o limite de velocidade, que é de 60 km/h.

c) Resposta possível: Porque ele adoeceu, não foi à viagem com os amigos.

6. D

7. C

8. A

9. B

10. C

11. C

12. D

13. A

Elementos estruturais do texto

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Dica de estudoPara fixar os conteúdos apresentados, escreva um parágrafo a partir da

oração:

É cada vez maior o número de adolescentes com problemas de alcoolismo.

Desenvolva a ideia proposta formando um parágrafo de cinco períodos ou mais. Não se esqueça de, nesse texto, usar relatores.

ReferênciasBRITÂNICOS desvendam mistério de cova com 51 crânios. G1 Globo.com, 12 mar. 2010, Seção Ciência e Saúde. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1526589-5603,00.html>. Acesso em: 12 mar. 2010.

GOMES, Roberto. Aula de redação. In: ______. Alma de Bicho. Curitiba: Criar Edi-ções, 2000.

Coesão

A coesão é o principal elemento de encadeamento e construção do texto. Os elementos coesivos desempenham a função de ligar as ideias umas às outras, sem descuidar da lógica e da progressão das informações dadas. Para que o texto seja coeso, não basta escrever um número razoável de períodos, agrupá-los sem muito critério em parágrafos e, depois, somar os parágrafos já formados a outros, para, da união deles, chegar à construção de um texto.

Como se vê, de acordo com esse raciocínio, que retomou brevemente as etapas de formação de um texto, os períodos e os parágrafos não passam de peças de um grande quebra-cabeças. Sendo assim, para unir uma peça à outra e para conseguir, com numerosas combinações, formar um conjunto que faça sentido e seja compreendido pela maioria dos leitores, é necessário escolher com cuidado os elementos coesivos, que são os grandes responsá-veis pela montagem textual.

Essa tarefa é desempenhada por diferentes tipos de palavras: conjunções, advérbios, pronomes, preposições, locuções etc. O correto emprego dos ele-mentos coesivos gera a interdependência das informações apresentadas no texto, promovendo a continuidade e estabelecendo relações entre o que está sendo dito ou escrito e os dados já mencionados anteriormente.

Obviamente, a coesão relaciona-se fortemente à coerência do texto – afinal, para que um texto seja coerente é necessário que os conectivos tenham sido bem empregados, para evitar a incompletude de algumas partes do texto ou mesmo o conflito entre as ideias apresentadas. Vejamos um exemplo de texto coeso (e também coerente).

Scorsese domina um jogo de aparências(NETTO, 2010)

Começa Ilha do medo, o detetive Teddy Daniels passa mal. Logo se descobre que ele está num navio e sente enjoo. No convés, ao lado do parceiro Chuck e debaixo de um céu cinza, carregado, ele conversa

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Coesão

sobre o trabalho. Os dois viajam para uma ilha-presídio onde ficam os criminosos com distúrbios mentais que ninguém mais tem disposição para tratar. Os doentes mais perigosos do país.

A cena é banal, nada demais acontece, mas a música de fundo sugere a presença do mal – parece que o navio vai ser engolido pelo mar ou outra tragédia qualquer. A composição de Krzysztof Penderecki não é um achado do diretor Martin Scorsese porque o polonês já trabalhou para David Lynch (o que diz muito sobre sua obra) e muitos o estimam.

Para entender melhor a importância dos elementos coesivos no texto e iden-tificar os antecedentes a que eles se referem, façamos uma rápida análise dos termos destacados no trecho transcrito.

Já no início, temos o uso de três relatores:

ele � , que a aparece duas vezes;

no convés � ; e

os dois � .

Relembrando o início do texto, temos:

Começa Ilha do medo, o detetive Teddy Daniels passa mal. Logo se desco-bre que ele está num navio e sente enjoo. No convés, ao lado do parceiro Chuck e debaixo de um céu cinza, carregado, ele conversa sobre o trabalho. Os dois viajam […].

Fica claro que ele, nos dois casos, refere-se ao detetive Teddy Daniels, pois primeiro vem a informação de que ele “passa mal” e, logo depois, de que “ele está num navio e sente enjoo”. O uso do ele, pronome pessoal do caso reto, dá nova informação sobre o detetive e evita a repetição do seu nome.

A locução adverbial no convés serve para lembrar ao leitor que os perso-nagens estão em um navio e para indicar a posição deles nesse ambiente. No mesmo período introduzido por essa locução há o uso do relator ele no-vamente: “[…] ao lado do parceiro Chuck e debaixo de um céu cinza, carre-gado, ele conversa sobre o trabalho”. Não há dúvida de que ele refere-se a Teddy e não a Chuck, já que esse segundo personagem ainda é periférico e secundário no texto. Mesmo ele tendo aparecido, o texto continua a infor-mar sobre Teddy, principalmente.

Coesão

29

Porém, no próximo período, Chuck começa a ganhar importância. Como ele já foi apresentado, passa agora a dividir a cena com Teddy. Em razão disso, o relator os dois retoma Teddy e Chuck. Perceba que, nesse caso, não foi usado um pronome, mas um numeral que serve de sinônimo ao antece-dente. Além disso, destaque-se que a substituição também evita a repetição e abrevia o texto.

Mas o que se diz sobre os dois? Diz-se que “viajam para uma ilha-presídio onde ficam os criminosos com distúrbios mentais que ninguém mais tem disposição para tratar.” Pois bem: nessa continuidade, aparece outro relator, onde, um pronome relativo que retoma o local de destino dos personagens, ou seja, a ilha-presídio. Nesse mesmo período, há a informação de que, na-quele local, “ficam os criminosos com distúrbios mentais que ninguém mais tem disposição para tratar”.

Mas o autor do texto quer dar outra informação sobre as pessoas que habitam a ilha. Simples: ele substitui criminosos com distúrbios mentais por doentes, apenas, no período seguinte. Além disso, reparem que o período inteiro: “Os doentes mais perigosos do país” ainda não deixa o leitor se es-quecer de que não se trata de doentes comuns, mas de criminosos doentes, por isso eles são também qualificados como os “mais perigosos do país”. O lembrete alinhava as partes do texto e acentua a ideia de que cada linha, cada período ou cada parágrafo é apenas uma pequena parte do todo.

Passemos agora à análise do segundo parágrafo do texto.

A cena é banal, nada demais acontece, mas a música de fundo sugere a presença do mal – parece que o navio vai ser engolido pelo mar ou outra tragédia qualquer. A composição de Krzysztof Penderecki não é um achado do diretor Martin Scorsese porque o polonês já trabalhou para David Lynch (o que diz muito sobre sua obra) e muitos o estimam.

De início, é usado o relator a cena, cujo antecedente pode ser facilmente identificado. Para tanto, basta que o leitor pergunte “Que cena?” para lembrar a viagem da dupla de detetives à ilha-presídio. Essa é a cena e ela é composta pela chegada deles e pelo que veem no local.

Na cena, o autor destaca a função da música, mencionando que ela “sugere a presença do mal”. Logo em seguida, o novo período afirma que “A composição de Krzysztof Penderecki não é um achado […].” A composição é um relator e serve de sinônimo para música. Perceba que as informações são apresentadas progressivamente. Primeiro, falou-se do efeito da música,

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Coesão

depois, de quem a compôs. Na sequência, naturalmente, há relatores que retomam o nome do compositor, para apresentar mais dados sobre ele. Isso explica a continuação: “o polonês já trabalhou para David Lynch (o que diz muito sobre sua obra) e muitos o estimam” – na qual o polonês retoma Krzysztof Penderecki, assim como sua obra (A obra de quem? De Krzysztof Penderecki) e muitos o estimam (Estimam quem? Krzysztof Penderecki).

Verificamos, com essa análise, que o texto encadeia informações relacio-nadas a um grande tema, o filme Ilha do medo, de Martin Scorsese, tornando perceptível a função dos elementos coesivos para o desenvolvimento gradual e progressivo do conteúdo do texto e para a riqueza do léxico ou vocabulário utilizado. Portanto, algumas informações dizem respeito a um mesmo objeto, que é nomeado de diferentes formas, com o uso de palavras sinônimas.

Elementos coesivos e relações lógicas

Causa e efeitoPara estabelecer essa relação, são usados diversos tipos de relatores, tais

como os que aparecem em destaque nos exemplos abaixo.

Como há muitas etapas burocráticas a serem cumpridas, o processo ainda demorará meses.

Por causa da falta de emprego, a situação financeira dessa família é precária.

Embora os exemplos tenham apresentado como relatores apenas como e por causa de, podemos ampliar essa lista, tentando substituir os elementos coesivos usados por outros, de sentido semelhante:

Já que há muitas etapas burocráticas a serem cumpridas, o processo ainda demorará meses.

Porque há muitas etapas burocráticas a serem cumpridas, o processo ainda demorará meses.

Invertendo a ordem das orações do período, é possível também usar o pois:

O processo ainda demorará meses, pois há muitas etapas burocráticas a serem cumpridas.

Coesão

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Tentando, agora, a substituição do relator por causa de, no outro exemplo, é possível a seguinte construção:

Em consequência da falta de emprego, a situação financeira dessa família é precária.

Outra possibilidade é dividir o período composto em dois outros, simples, interligados pelo relator portanto:

Há falta de emprego. Portanto, a situação financeira dessa família é precária.

A relação de causa e efeito está presente em todos os exemplos, ligando o fato gerador (excesso de burocracia e falta de emprego) à sua consequência (lentidão do processo e situação precária). Porém, variam os modos de rela-cionar as duas partes da ideia, ou seja, variam os elementos coesivos usados e a prova disso é que, a partir de apenas dois exemplos, formamos muitos outros, mantendo o mesmo sentido.

Causa e efeito contrárioEsse tipo de relação rompe com o efeito esperado, ou seja, a consequên-

cia provocada vai contra o que se espera diante do fato gerador. Para simpli-ficar essa ideia, observemos o período abaixo:

Embora estivesse com pressa, evitou pegar o atalho.

Nessa situação, a pressa justificaria o recurso de tomar um atalho. No en-tanto, a ação esperada não foi concretizada. A causa (pressa) gerou o efeito contrário (recusa à possibilidade de pegar o atalho).

Nesse exemplo, o relator usado foi embora, mas há outros que podem cumprir a mesma função. Vejamos:

Apesar de estar com pressa, evitou pegar o atalho.

Estava com pressa, mas evitou pegar o atalho.

Estava com pressa, mas evitou pegar o atalho.

Estava com pressa. Contudo, evitou pegar o atalho.

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Coesão

Estava com pressa. Entretanto, evitou pegar o atalho.

Evitou pegar o atalho, mesmo estando com pressa.

Além dessas possibilidades, há outras, mas mais importante do que mul-tiplicar os exemplos é perceber que os relatores usados para estabelecer a relação de causa e efeito contrário são as conjunções adversativas ou conces-sivas, porque ambas trabalham com a ideia de oposição ou contrariedade.

CondiçãoEssa relação também é bastante conhecida pelos falantes e escritores

da língua portuguesa. A ideia básica que ela encerra é impor uma condição para que algo se realize. Exemplo:

Passarei de ano se estudar bastante.

Nessa possibilidade, foi empregado o relator se, porém é permitido o uso de outros elementos coesivos, pois o efeito será o mesmo. Vamos conferir:

Passarei de ano caso estude bastante.

Desde que estude bastante, passarei de ano.

Contanto que estude bastante, passarei de ano.

FinalidadeA finalidade, ou o objetivo, também pode ser marcada pelo uso de rela-

tores. Embora a preposição para seja o elemento coesivo mais utilizado em uma relação de finalidade, quase sempre é viável a substituição desse relator por a fim de ou a fim de que, como demonstram as ocorrências abaixo.

A fim de evitarem a cobrança abusiva de juros, resolveram pagar o impos-to em dia.

Para evitarem a cobrança abusiva de juros, resolveram pagar o imposto em dia.

Coesão

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AdiçãoTalvez a relação de acréscimo ou adição seja uma das mais utilizadas, pois apa-

rece não apenas na junção de períodos e parágrafos mas também nos termos de uma enumeração, caso que aparece entre os exemplos arrolados abaixo.

Comprei caneta, lápis, caderno e apontador.

Ela corre e faz musculação.

Ela corre, mas também faz musculação.

Ela faz musculação, além de correr.

Coesão e sinonímiaAssim como é possível substituir um elemento coesivo por outro, equi-

valente, sem grandes prejuízos de significado, pode-se usar um ou outro substantivo como relator. Esse tipo de recurso, também chamado sinonímia, permite que o texto se desenvolva e anule as repetições. Às vezes, depen-dendo da palavra, usar sinônimo como relator é tarefa bastante complica-da. No entanto, há palavras que admitem um número bastante variado de opções. Vejamos:

A menina não cansava de brincar. Jogando bola, a menina se divertia.

A menina não cansava de brincar. Jogando bola, a garota se divertia.

A menina não cansava de brincar. Jogando bola, a criança se divertia.

A menina não cansava de brincar. Jogando bola, a pequena se divertia.

Com base nessas possibilidades, é fácil concluir que é possível se refe-rir ao sujeito (a menina) ao menos de quatro modos diferentes (a menina, a garota, a criança e a pequena). Isso, claro, sem contar a substituição da pa-lavra em questão pelo pronome pessoal ela, por um nome próprio (Letícia, por exemplo), ou, ainda, por palavras específicas de determinadas regiões do país (como é o caso de guria, muito comum no extremo Sul do Brasil).

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Coesão

Sinonímia e manutenção do sentidoPara treinar o bastante usado recurso dos sinônimos, para demonstrar a

imensa flexibilidade linguística que permite a construção de ideias similares a partir da combinação de diferentes elementos, vamos substituir por sinô-nimos as palavras marcadas nos períodos abaixo.

O lembreteO recadoO avisoO comunicado

foi passado por e-mail a todos os funcionários.

Durante o verão, a casa a moradia a habitação a propriedade

foi alugada.

Nos dois conjuntos, as mudanças propostas não acarretaram alteração significativa no significado dos períodos. Isso quer dizer que, por mais que tenham sido usadas palavras diferentes, a ideia principal e inicial foi mantida.

Porém, isso nem sempre acontece. Há muitas palavras com sinônimos bastante conhecidos e utilizados, mas que, se empregados em determina-das situações, podem sugerir intimidade, preconceito, emotividade e assim por diante. Para ilustrar essa possibilidade, vamos experimentar trocar a pa-lavra casa por lar no último exemplo dado. Teríamos, então:

Durante o verão, o lar foi alugado.

Obviamente, não se pode negar que lar e casa são sinônimos. Entretanto, lar não é a alternativa mais apropriada para a ocasião, já que seu significado envolve afetividade. Uma casa pode ser qualquer casa, mas um lar é a sua casa e, justamente por esse laço afetivo, não é normal que ele seja alugado.

Sinonímia e alteração de sentidoGeralmente, a alteração de sentido acontece em casos de substituição de

um termo por outro, em situações que imprimem à palavra um tom pejora-tivo – encerrando, portanto, um juízo de valor negativo. Vamos analisar os exemplos abaixo, na ordem em que aparecem.

Coesão

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Ontem, ele se excedeu na bebida.

Ontem, foi dia de bebedeira para ele.

Ontem, ele tomou um pileque.

A ordem dos períodos que nos servem de exemplo é fundamental, porque a escala vai desde a expressão comportada e formal se excedeu na bebida, passa pelo termo bebedeira, bem mais informal, e chega à expressão popu-laríssima e quase de baixo calão tomou um pileque. Nessa pequena relação de períodos isolados, os sinônimos estão corretamente empregados. No en-tanto, o uso de determinada palavra ou expressão deve ser sempre regulado pelo contexto, que envolve a situação da fala e da escrita e, principalmente, o público-alvo a quem se destina a fala ou o texto.

Outro exemplo similar acontece com os termos menino e moleque. A pri-meira é uma forma mais “neutra” de se referir a uma criança do sexo mascu-lino. Já a segunda depende dos gestos, da entonação etc. – afinal, quando alguém emprega o termo moleque pode estar querendo ressaltar a moleca-gem ou o jeito brincalhão de uma criança, ou pode estar usando a palavra como modo de humilhar e desvalorizar a criança (nesse caso, é como se mo-leque fosse igual a criança de rua, menor abandonado). Por isso, atenção aos sinônimos! Isoladamente, a substituição de um termo por outro pode pare-cer a melhor escolha, mas sempre é bom analisar o contexto ou a moldura textual (o antes e o depois do texto) em que aquela palavra, tão cuidadosa-mente selecionada, será encaixada.

Texto complementarO texto abaixo reúne diversos exemplos de uso de elementos coesivos e

relações lógicas por eles estabelecidas.

Crise e literaturaA palavra escrita reconquistou um espaço avassalador no ambiente da vida. Hoje parece que tudo provoca curiosamente uma compulsão de ler e escrever

(TEZZA, 2010)

Uma velha pergunta: o que leva alguém a escrever? Parece que escre-ver é sempre a manifestação de uma crise. Talvez seja preciso inverter a

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Coesão

equação, da crise mundial (como todas, em todos os tempos, e essa não foi sequer a pior), para a crise da literatura, hoje quase um patinho feio da cultura. E penso que nem de longe ela voltará à glória com que explodiu no século XIX, quando se criaram enfim as suas condições modernas – o leitor, o lazer, o império da escrita, a circulação espetacular do livro, a valorização do indivíduo e a sempre importante separação política entre Igreja e Estado, marca registrada do Ocidente (sem essa separação crucial, abandonemos toda esperança).

Por um bom tempo a literatura foi a arena em que se discutiam, pela sim-ples representação ficcional do mundo, praticamente todos os grandes temas das humanidades. Leia-se Dostoiévski, Dickens, Tolstói, Balzac, e é isso que se encontra. Mas a ficção foi perdendo terreno para outros meios da cultura popular, começando pelo cinema, avançando pela televisão e hoje chegando à internet (o que é outro momento e outra história). A primeira “vítima” (se é lícito falar assim) desse avanço foi o tempo de lazer – ingrediente indispensá-vel de quem lê – agora repartido entre mil outras atividades, quem sabe muito mais atraentes, cantos da sereia tecnológica que ao mesmo tempo colocou o mundo inteiro à disposição e nos tirou a paz e as condições de desfrutá-lo. Não tenho nada contra os novos meios, é bom deixar claro. Escrevo esse texto num computador de última geração, sou viciado em Google e me encanta o infinito potencial informativo desses novos tempos – não sofro de nenhuma nostalgia da máquina de escrever.

O que me interessa é localizar o espaço da literatura que restou nesse mundo novo. Não vou falar em “função” da literatura porque isso seria lhe dar uma direção e um sentido a priori; melhor pensar em “espaço” mesmo, o lugar em que ela surge, cria forma e se move. Pelo menos num ponto, estamos melhor do que há 30 anos: da era da televisão, um lugar de pura oralidade, passamos à internet, que é basicamente escrita. Sempre bato nessa tecla: a pa-lavra escrita reconquistou um espaço avassalador no ambiente da vida. Hoje parece que tudo provoca curiosamente uma compulsão de ler e escrever.

Certo, todas são palavras “pragmáticas” – nesse mundo de utilidades, o escritor respira em solidão, afirmando uma contrapalavra. Não é a crise do mundo que faz nascer romancistas e poetas. Eles escrevem porque são eles mesmos que estão em crise – um poderoso sentimento de inadequação, que é a alma da arte, sopra-lhes a primeira palavra, com a qual eles tentam rede-senhar o mundo.

Coesão

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Atividades1. Retome o último parágrafo do texto de Cristovão Tezza, identifique os

relatores e relacione-os aos antecedentes ou às funções que eles de-sempenham.

2. Destaque os elementos coesivos nos períodos abaixo e explicite a re-lação estabelecida por eles.

a) Apesar de ter chovido durante toda a semana, descerão para a praia.

b) Devido à falta de dinheiro, estão restringindo gastos.

c) Para chegar ao hotel que não conhecia, imprimiu um mapa.

3. Substitua as palavras marcadas nos períodos abaixo por sinônimos.

a) Os detalhes da narração fizeram diferença!

b) A televisão está no conserto.

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Coesão

c) Ela não percebeu que havia sido vítima de um embuste.

d) Comprou um carro zero, no final do ano.

e) O show foi sensacional.

4. Analise o efeito dos termos em destaque, nas ocorrências abaixo.

I. O negócio foi celebrado pelos sócios da empresa.

II. A negociata gerou muito lucro para o comerciante.

5. No período “Caso consiga rever seus horários, irá à festa do sábado.”, temos um relator que expressa sentido de

a) causa e efeito.

b) causa e efeito contrário.

c) finalidade.

d) condição.

6. Analise as substituições de termos propostas.

I. O prédio [edifício] fica em um bairro nobre da cidade.

II. A loja [o estabelecimento] tem um bom faturamento mensal.

III. Não conhecia ninguém que gostasse daquela comida [gororoba].

O sinônimo proposto entre colchetes pode ser usado, sem prejuízo ao significado:

a) apenas na I e na III.

b) apenas na I e na II.

c) apenas na I.

d) apenas na II.

Coesão

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7. Analise o período abaixo.

Pelo menos num ponto, estamos melhor do que há 30 anos: da era da televisão, um lugar de pura oralidade, passamos à internet, que é basicamente escrita.

É correto afirmar que o relator destacado, um lugar de pura oralidade,

a) refere-se à internet.

b) está incorreto, porque apenas as conjunções podem cumprir a função de relator.

c) exemplifica o uso do relator externo.

d) refere-se ao antecedente televisão.

8. (FFCL Belo Horizonte - MG) Em todas as alternativas o que serve como elemento de retomada (relator), exceto em

a) “As empresas que decidem proibir o fumo em suas dependências têm todo o direito de fazê-lo.”

b) “Muitos funcionários que não fumam se incomodam com a fuma-ça dos cigarros.”

c) “Muitos fumantes admitem que seu hábito de fumar não deveria ser imposto aos demais.”

d) “Diante de uma afirmação tão contundente, vinda de uma orga-nização que goza de credibilidade, a opinião pública americana reagiu no limite da histeria.”

9. (FCM Santa Casa - SP) “Ainda que fosse bom alfaiate, não acertou nas roupas daquele freguês.”

O período acima expressa

a) causa.

b) concessão.

c) finalidade.

d) condição.

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Coesão

10. “Como ele foi muito simpático, não pude recusar-lhe o favor.”

Começando o período com: “Não pude recusar-lhe o favor…”, seria exigido o uso de

a) porque.

b) à medida que.

c) então.

d) assim.

11. “Devido à escassez de comida, sofriam de desnutrição.”

Começando o período com: “Sofriam de desnutrição…”, seria exigido o uso de

a) mas.

b) por causa da.

c) além da.

d) portanto.

12. “Reforçou o recado, a fim de evitar esquecimentos.”

Começando o período com: “O recado foi reforçado…”, seria exigido o uso de

a) se.

b) além de.

c) para que.

d) entretanto.

Gabarito

1. “Certo, todas são palavras ‘pragmáticas’ – nesse mundo de utilidades, o escritor respira em solidão, afirmando uma contrapalavra. Não é a crise do mundo que faz nascer romancistas e poetas. Eles [romancistas e po-etas] escrevem porque [relação de causa e efeito] são eles [romancistas e poetas] mesmos que estão em crise – um poderoso sentimento de

Coesão

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inadequação [crise], que [um poderoso sentimento de inadequação] é a alma da arte, sopra-lhes a primeira palavra, com a qual [a primeira palavra] eles [romancistas e poetas] tentam redesenhar o mundo.”

2.

a) Apesar de – causa e efeito contrário.

b) Devido a – causa e efeito.

c) Para – finalidade.

3.

a. Os detalhes [os pormenores, as minúcias, as particularidades] da narração fizeram diferença!

b. A televisão [a tevê, o aparelho] está no conserto.

c. Ela não percebeu que havia sido vítima de um embuste [uma cila-da, uma armadilha].

d. Comprou um carro [um veículo, um automóvel] zero, no final do ano.

e. O show [o espetáculo, a apresentação] foi sensacional.

4. Os exemplos são bastante diferentes. Na opção I, o termo negócio não encerra juízo de valor negativo e, por isso, é usado quando o objetivo é passar certa neutralidade ou atender à formalidade exigida pela situa-ção ou pelo público-alvo. Na opção II, o termo negociata compromete o sentido do período. A palavra negociata, embora se pareça muito com negócio, significa negócio ilegal e, portanto, tem um tom pejorati-vo que desqualifica quem é adepto dessa prática.

5. D

6. B

7. D

8. C

9. B

10. A

11. B

12. C

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Coesão

Dica de estudoPara saber mais sobre o uso de sinônimos, vale consultar um livro:

FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Prática de Texto. Petrópolis: Vozes, 1994.

ReferênciasNETTO, Irinêo Baptista. Scorsese domina um jogo de aparências. Gazeta do Povo, 12 mar. 2010.

TEZZA, Cristovão. Crise e literatura. Gazeta do Povo, 23 fev. 2010.

Partes do texto e compreensão do texto

Partes do textoPara que o texto seja completo, além do título, é preciso atender a três

etapas:

introdução, �

desenvolvimento, e �

conclusão. �

Devemos observar, porém, que essa estrutura não equivale a três pará-grafos apenas. Geralmente, a introdução e a conclusão do texto são forma-das de parágrafo único. No entanto, o desenvolvimento necessita de mais espaço, porque é nele que a ideia principal é aprofundada, discutida e com-provada, dependendo do modelo de texto que está sendo produzido. Ao contrário do que muitos pensam, o título também é uma parte importante do texto, razão pela qual a escolha de um título apropriado às vezes é tarefa bastante difícil. Vamos a uma apresentação das características e das funções de cada parte formadora do texto, para detalhar algumas informações:

TítuloO título deve fazer referência ao tema principal do texto e suas principais

características são a concisão e a ligação estabelecida com o conjunto do texto. Observemos, entretanto, que a concisão deve ser medida sempre em relação ao tamanho do texto, o que significa que a brevidade do título não implica o uso de poucas palavras. Há bons títulos com uma linha ou pouco mais. O importante é que, comparando esse volume com o volume total de linhas do texto (por exemplo, 20 linhas), percebe-se claramente que a função de tentar passar apenas as coisas mais importantes foi de fato cumprida.

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Partes do texto e compreensão do texto

Quanto à ligação entre título e texto, só depois da leitura o leitor consegue avaliar se a associação foi feita adequadamente ou não. Há títulos que têm maior clareza e outros que, embora se refiram ao tema principal do texto, optam por uma abrangência maior, omitindo os detalhes que um título mais completo ou claro revela. Isso não significa, entretanto, que aquele mais abrangente é inadequado. Se, depois de terminada a leitura, a escolha do título fizer sentido, a partir de sua comparação com o conteúdo desenvolvi-do, significa que há o encaixe necessário entre o título e o conjunto do texto. Para entender melhor essa questão, imaginemos os títulos abaixo.

Filmes influenciam comportamento de adolescentes

O poder do cinema

O primeiro é mais explicativo que o segundo porque já associa o cinema ao comportamento dos adolescentes e até deixa clara a relação de causa e con-sequência. O segundo é mais rápido, também subentende que o cinema seja a causa, mas sem informar exatamente do quê. Logo, o segundo título é mais aberto do que o primeiro, que restringe as informações. Por isso são diferentes, mas nenhum pode ser considerado errado se imaginarmos que o texto conta-rá sobre mais um crime cometido por um adolescente que reproduziu o com-portamento violento de um personagem de algum filme recém--lançado.

Outra coisa fundamental acerca do título é que se faz uma confusão recor-rente entre ele e o tema do texto, mas na verdade o tema não corresponde ao título e o título não corresponde ao tema: tema é sinônimo de “assunto” e a única relação que existe entre o tema e o título é que o título deve se referir ao assunto principal do texto.

Retomando os títulos dados acima, é fácil pensar em possibilidades para elucidar o assunto do texto que possivelmente os acompanhe:

Repercussão do cinema na sociedade

Cinema e violência

Analisando atentamente as opções dadas e comparando-as com os títulos sugeridos, conclui-se que não há repetição. O que existe é uma proximidade que estabelece a coerência entre o assunto do texto e uma de suas partes – o título. Afinal, que sentido teria um texto que falasse sobre um tema, mas apresentasse título totalmente diverso?

Partes do texto e compreensão do texto

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IntroduçãoA introdução abre o texto e tem a função de apresentá-lo em linhas gerais.

Funciona quase como um pequeno resumo do que o leitor encontrará no desenvolvimento. Aliás, aproveitando a relação entre introdução e desen-volvimento, podemos considerar que o desenvolvimento detalha os dados apresentados rapidamente na introdução.

Vejamos um texto.

Com a cabeça no mundo da Lua

Alunos da rede estadual participam da Olimpíada de Astronomia

(COM A CABEÇA no mundo da lua, 2010)

Rio - Viagem à Lua, Sistema Solar, Via Láctea e corpos celestes: estudantes do 2.º e 3.º ano do ensino médio da rede estadual que dominam esses temas não podem perder a Olimpíada de Astronomia, promovida pela Secretaria de Estado de Educação, em parceria com o Jornal O Dia e a Fundação Planetário.

As inscrições, que vão até o dia 19 de março, são através do site www.co-nexaoaluno.rj.gov.br. Quem não tem login no site pode se inscrever através da secretaria da própria escola.

Inicialmente, a Olimpíada seria em dezembro do ano passado, mas para não entrar em conflito com as datas das últimas provas e o início das férias escolares, a competição foi adiada. Quem já tinha feito a inscrição terá que se cadastrar novamente.

Mesmo quem não é um estudioso da ciência dos astros não pode perder a chance de conhecer o Centro Espacial John F. Kennedy, na Flórida. A Olimpía-da levará o vencedor para visitar o centro, que, além de ser local de lançamen-to de foguetes e ônibus espaciais, é a sede da Nasa.

Além do prêmio principal, a disputa premiará até os 40 primeiros coloca-dos: do segundo ao quinto lugar receberão telescópios, e 40 vão levar livros e kits de astronomia. As duas primeiras fases da Olimpíada serão através da internet pelo site do Conexão Aluno. A primeira etapa será de 5 a 9 de abril e a segunda, de 26 a 30 de abril. A decisão será no Planetário da Gávea, em 20 e 21 de maio.

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Partes do texto e compreensão do texto

Retomando apenas a introdução do texto, temos:

Viagem à Lua, Sistema Solar, Via Láctea e corpos celestes: estudantes do 2.º e 3.º ano do ensino médio da rede estadual que dominam esses temas não podem perder a Olimpíada de Astronomia, promovida pela Secretaria de Estado de Educação, em parceria com o jornal O Dia e a Fundação Planetário.

A partir desse parágrafo de introdução, é possível listar alguns temas que, depois, foram mais bem explorados no desenvolvimento:

a relação do texto com a área da astronomia; �

a realização de uma olimpíada de astronomia; e �

o papel dos estudantes no evento. �

Outra informação fundamental é a que abre a introdução, chamada de tópico frasal ou frase-guia. No parágrafo em análise, o tópico frasal já dá dicas preciosas para o leitor entender o título dado ao texto – afinal, fazendo uma brincadeira com o sentido real e figurado do título (“Com a cabeça no mundo da Lua”), o autor transfere para o leitor a tarefa de entender qual dos dois sentidos da expressão estará em jogo no texto.

A percepção do sentido se dará logo depois da leitura da introdução e não implica divagação ou imaginação, porque em uma olimpíada de astro-nomia os alunos precisarão conhecer “o mundo da lua” para responder às perguntas que serão feitas a eles. Obviamente, para vencer esse desafio, o sentido figurado de ter a cabeça no mundo da lua (= sonhar, sair da realida-de) em nada ajudaria os candidatos.

DesenvolvimentoO desenvolvimento é o meio do texto, a parte que detalha e aprofunda as

informações introdutórias. É composto de dois parágrafos ou mais e segue uma progressão no modo de apresentar o conteúdo, primando pelo encade-amento e pela concatenação de ideias. Vamos analisar melhor a construção do desenvolvimento do texto lido há pouco:

As inscrições, que vão até o dia 19 de março, são através do site www.cone-xaoaluno.rj.gov.br. Quem não tem login no site pode se inscrever através da secretaria da própria escola.

Partes do texto e compreensão do texto

49

Inicialmente, a Olimpíada seria em dezembro do ano passado, mas para não entrar em conflito com as datas das últimas provas e o início das férias escolares, a competição foi adiada. Quem já tinha feito a inscrição terá que se cadastrar novamente.

Mesmo quem não é um estudioso da ciência dos astros não pode perder a chance de conhecer o Centro Espacial John F. Kennedy, na Flórida. A Olim-píada levará o vencedor para visitar o centro, que, além de ser local de lan-çamento de foguetes e ônibus espaciais, é a sede da Nasa.

O desenvolvimento desse texto compreende três parágrafos.

O primeiro menciona a data-limite para as inscrições na Olimpíada de Astro-nomia e informa o site que deve ser acessado. Além disso, nesse parágrafo o autor enfatiza que a escola também pode auxiliar os alunos na etapa da inscrição.

O segundo parágrafo informa e justifica a mudança de data para a re-alização do evento e ressalta a importância de repetir a inscrição, no caso daqueles alunos que a efetuaram antes da mudança de data.

Por fim, no terceiro parágrafo, o autor incentiva os alunos a participarem do evento mencionando a premiação: uma visita ao Centro Espacial John F. Kennedy, na Flórida.

Essa breve retomada do miolo do texto permite que seja confirmada a organização dos parágrafos, de acordo com a ordem de importância das in-formações que cada um deles contém. É isso que delineia uma sequência progressiva no texto. Simplificando essa escala, chega-se à seguinte ordem:

datas e inscrições; �

mudança no cronograma; e �

premiação. �

O desenvolvimento do texto analisado organizou adequadamente os pa-rágrafos que o compõem.

ConclusãoA conclusão corresponde à parte final do texto e tem a função de arrema-

tar o conteúdo apresentado, reforçando algumas informações importantes.

50

Partes do texto e compreensão do texto

É preciso, no entanto, que não se associe essa retomada à repetição pura e simples. Mesmo no caso de o autor julgar importante mencionar novamente um dado que já foi mencionado anteriormente no texto, isso deve ser feito por meio de sinônimos e não de uma cópia do trecho que se quer ressaltar.

Vamos ver como foi feita a conclusão do texto que estamos analisando, sobre a Olimpíada de Astronomia:

Além do prêmio principal, a disputa premiará até os 40 primeiros colo-cados: do segundo ao quinto lugar receberão telescópios, e 40 vão levar livros e kits de astronomia. As duas primeiras fases da Olimpíada serão através da internet pelo site do Conexão Aluno. A primeira etapa será de 5 a 9 de abril e a segunda, de 26 a 30 de abril. A decisão será no Planetário da Gávea, em 20 e 21 de maio.

No último parágrafo desse texto, há informações novas. No entanto, elas estão automaticamente ligadas a outras, citadas na introdução ou no desen-volvimento. Para entender melhor como funciona o processo de retomada não textual, basta atentarmos para o fato de que, quando o autor do texto informa os outros prêmios da competição, o prêmio principal vem à tona novamente. O mesmo acontece no momento em que o escritor detalha o número de etapas e as datas em que cada uma irá ocorrer, porque, logicamente, o cronograma acontecerá depois de encerradas as inscrições – mas até quando mesmo os alunos podem se inscrever no evento? Com essa pergunta, volta-se ao início do texto, reforçando, portanto, o prazo das inscrições.

Compreensão do texto

Introdução à compreensão textualA compreensão de um texto é feita em dois níveis – um mais superficial e

outro mais profundo.

No primeiro caso, trata-se de fazer uma leitura atenta e de ser capaz de localizar as principais informações do conteúdo apresentado. Para cumprir essa etapa, são feitas perguntas bem objetivas acerca do texto, as quais exigem apenas que o leitor retome o texto, em busca das respostas pedidas, a fim de fixar os pontos mais importantes da explanação feita pelo autor. Logo, nesse nível o teste é mais de leitura e de atenção, porque as respostas pedidas aparecem de maneira explícita, em diferentes partes do texto.

Partes do texto e compreensão do texto

51

O segundo nível obriga que o leitor vá além do texto, desempenhando tarefas um pouco mais complexas. Depois do mapeamento feito na primeira etapa da compreensão do texto, agora o leitor deve estabelecer relações, fazer inferências, desenvolver um raciocínio lógico sobre determinadas ques-tões que, partindo do texto, permitem uma extensão de conteúdo à medida que o texto possibilita ao leitor o uso de conhecimentos prévios no debate de algumas questões relevantes e representativas – do aspecto social, por exemplo.

Informações explícitas no textoA retomada das informações mais importantes do texto visa ao objetivo

de funcionar como síntese e reforço daquilo que o leitor deve reter em meio ao conjunto de ideias que lhe foi apresentado. Logo, esse primeiro passo da compreensão textual funciona como um exercício de fixação. Como as ques-tões, nesse tipo de interpretação, são objetivas, elas também cumprem a função de suprir a lacuna resultante de alguma desatenção durante a leitura, ou mesmo corrigir desvios de entendimento, possibilitando a confirmação dos dados essenciais do texto lido.

Usando novamente o texto sobre a Olimpíada de Astronomia, façamos um exercício de interpretação que consiste em um resgate de informações explícitas no texto.

Resgate de informações

A que público se destina a Olimpíada de Astronomia? �

O evento destina-se a “estudantes do 2.º e 3.º ano do ensino médio da rede estadual” e que conhecem os temas da área.

Até quando podem ser feitas as inscrições para participação no evento? �

As inscrições serão aceitas até “o dia 19 de março”.

Por que houve mudança no cronograma do evento? �

A mudança aconteceu para evitar que o período de realização da Olimpí-ada entrasse “em conflito com as datas das últimas provas e o início das férias escolares”.

52

Partes do texto e compreensão do texto

Quais os prêmios oferecidos pelos realizadores do evento e que coloca- �ções serão premiadas?

O primeiro prêmio é uma visita ao “Centro Espacial John F. Kennedy, na Fló-rida”. Porém, “a disputa premiará até os 40 primeiros colocados”. Os alunos que alcançarem colocações “do segundo ao quinto lugar receberão telescópios” e os 40 primeiros colocados “vão levar livros e kits de astronomia”.

Como será dividida a Olimpíada de Astronomia e quando ela será rea- �lizada?

O evento será dividido em duas etapas: “A primeira etapa será de 5 a 9 de abril e a segunda, de 26 a 30 de abril.”

Depois de respondidas as questões propostas, algumas conclusões sobre essa etapa interpretativa inicial devem ser apresentadas.

A primeira delas diz respeito à ordem das perguntas – que, em geral, seguem a ordem do texto.

A segunda conclusão remete ao título da parte que estamos estudando – “Informações explícitas no texto”. Como o exercício retoma informações já apresentadas e lidas no texto, a função do leitor é apenas identificá-las e usá-las na formulação das respostas, que se compõem de muitas palavras do próprio texto, o que significa que as respostas estão explícitas no texto apresentado.

Informações não explícitas no textoAs informações que não são explícitas no texto, mas que se relacionam

ao seu conteúdo, fazem parte da segunda etapa da interpretação e impli-cam certa profundidade. Além da identificação e da fixação do assunto e da sequência textual, as informações não explícitas no texto obrigam o leitor a pensar sobre o conteúdo lido, relacionando-o à realidade, a outros textos já conhecidos ou mesmo ao julgamento da posição defendida pelo autor. Sendo assim, as perguntas que compreendem essa etapa do exercício inter-pretativo funcionam como dicas de possíveis desdobramentos que ampliam o significado do texto. Vejamos, com base no texto que estamos analisando, três exemplos desse nível mais avançado de compreensão.

Partes do texto e compreensão do texto

53

Ampliação de significado

A partir do início do texto (“Viagem à Lua, Sistema Solar, Via Láctea e �corpos celestes”), pesquise outros temas de astronomia que poderiam figurar na lista dos conteúdos a serem conhecidos e estudados pelos participantes da competição.

Ao lado dos conteúdos mencionados, poderiam ser incluídos temas como movimentos de translação e rotação, resultados das principais experiências sobre indícios de vida em outros planetas, fases da lua e suas influências sobre as marés etc.

Considerando o fragmento “Inicialmente, a Olimpíada seria em dezem- �bro do ano passado, mas para não entrar em conflito com as datas das últimas provas e o início das férias escolares, a competição foi adiada.”, é possível aventar outra(s) hipótese(s) para a mudança da data de reali-zação do evento? Por quê?

Sim, outra hipótese para a transferência do evento leva em conta o número de participantes e a visibilidade da competição. O número de candidatos inscritos sofreria uma diminuição, em função do período atribulado das provas ou do início das férias, quando muitos alunos via-jam. Diante disso, a reduzida participação não resultaria na repercussão esperada pelos realizadores dessa olimpíada.

No texto, há duas referências à internet: a informação do site � que deve ser acessado pelos alunos interessados em fazer a inscrição para o even-to e a informação de que as duas etapas da competição serão on-line. Com base nesses elementos, comente o papel da tecnologia na socie-dade contemporânea.

Esta questão, por ser mais aberta, admite vários tipos de resposta.

Uma possibilidade abrange a afirmação de um papel de destaque da tec-nologia, atualmente. Para embasar essa ideia, podem ser citados exemplos como a comunicação por e-mails e salas de bate-papo, que, muitas vezes, substituem as ligações telefônicas; a metodologia do ensino a distância (EaD), que vem se consolidando ano após ano; as possibilidades de se encontrar na internet, com extrema facilidade, livros, músicas e filmes, antes de acesso to-talmente restrito. A conclusão é simples: com certeza o avanço tecnológico influencia os costumes e o modo de vida das pessoas – afinal, quando pode-ríamos pensar em uma Olimpíada realizada com cada competidor no recinto do seu lar, diante de seu computador, talvez a apenas um clique da vitória?

54

Partes do texto e compreensão do texto

Com os exemplos dados, percebemos claramente que, apesar de terem partido do texto lido, as questões propostas levaram o leitor a expandir o conteúdo apresentado, tornando possível a comparação, a efetiva aplicação do texto na sua vida e na sociedade que o cerca. Além disso, incentivou-se o aprofundamento de tópicos que passariam despercebidos se a interpretação ficasse restrita àquela primeira etapa, mais superficial.

Texto complementarObserve a divisão do texto abaixo nas partes que o compõem: título, in-

trodução, desenvolvimento e conclusão.

Uma tempestade do tamanho de três Terras que já dura 400 anos (e está aquecendo)

(BARBOSA, 2010)

Quando se fala em grande mancha vermelha, Júpiter vem à mente na hora. Falou em Júpiter imediatamente vem à cabeça a grande mancha vermelha. São coisas absolutamente indissociáveis. Essa mancha especial é na verdade uma imensa tempestade na atmosfera de Júpiter, tão grande que nela cabe-riam duas ou três Terras.

A tempestade já dura pelo menos 400 anos. Foi observada pela primeira vez no século XVII. Existe alguma controvérsia de quem teria sido o primeiro a fazê-lo, é difícil acreditar que Galileu, com o seu telescópio rudimentar, tenha conseguido. Robert Hook, físico e astrônomo britânico, foi o primeiro a des-crever uma mancha na “superfície” de Júpiter, só que a descrição não corres-ponde com a posição da grande mancha.

Certeza mesmo, apenas dos relatos de Giovanni Cassini, que em 1665 des-creveu uma mancha permanente em Júpiter. Cassini também é reconhecido pela descoberta da rotação diferencial de Júpiter, bem como da faixa escura no sistema de anéis de Saturno que recebe o seu nome.

De todo modo, essa tempestade tem, por baixo, uns 400 anos de idade, e não parece perder força ano após ano. Só de observações contínuas já são quase 200 anos.

Agora, o que se descobriu é que ela está sofrendo um aquecimento. Ima-gens de dois dos melhores telescópios do mundo, o europeu VLT e o Gemini

Partes do texto e compreensão do texto

55

(operado por um consórcio internacional que envolve o Brasil), mostram que a mancha se aqueceu. O miolo alaranjado do meio da mancha oval na parte direi-ta da imagem está entre três e quatro graus mais quente que o seu entorno.

Uau! Quatro graus mais quente, quanta diferença!

Mas só isso faz toda a diferença quando o sistema é fortemente dependen-te da temperatura. Somente esses quatro graus foram suficientes para rever-ter a rotação das nuvens, nesse miolo alaranjado, de anti-horária para horária. Em imagens no infravermelho, [...] a mancha ficou também mais brilhante, em decorrência do aquecimento.

Leigh Fletcher, um dos autores da descoberta, afirma que pela primeira vez ficou evidente a ligação entre as condições ambientais, tais como temperatu-ra, ventos e pressão, com a cor da grande mancha. A cor das nuvens que com-põem a mancha é determinada pela sua composição química. Ainda que nin-guém saiba ao certo como as nuvens de diferentes composições se alternam nesse ambiente turbulento, ao menos agora já se sabe como a temperatura pode alterar esse regime de ventos.

Atividades1. Leia o texto abaixo.

Cantora mistura jazz e música brasileira(CANTORA mistura jazz e música brasileira, 2010)

Com emoções de felicidade e luto se misturando à sua volta, a can-tora de jazz Luciana Souza encontrou dificuldades para trabalhar em seu novo álbum. No espaço de nove meses, a artista brasileira enfren-tou as mortes de seu pai e da sua mãe, enquanto celebrava o nasci-mento do seu primeiro filho.

Agora, avalie a combinação entre o título desse texto e o seu conteúdo.

56

Partes do texto e compreensão do texto

2. Retome o texto complementar e relacione o título ao conteúdo apre-sentado.

3. Identifique o parágrafo que serve de introdução ao texto complemen-tar e faça uma lista das informações que ele reúne e serão detalhadas no desenvolvimento.

Partes do texto e compreensão do texto

57

4. Responda a algumas questões sobre o texto.

a) Qual o tempo de duração da tempestade, em Júpiter?

b) Qual foi a primeira pessoa a se referir à “mancha” de Júpiter?

c) Analise a função deste trecho do texto: “Uau! Quatro graus mais quente, quanta diferença!”

d) Das questões propostas nesta atividade, quais se referem a infor-mações explícitas e quais dizem respeito a informações não explí-citas no texto? Por quê?

5. Marque a alternativa que apresenta corretamente as partes do texto.

a) Tema, introdução, desenvolvimento e conclusão.

b) Título, introdução, desenvolvimento e conclusão.

c) Título, sumário, introdução e desenvolvimento.

d) Sumário, introdução, desenvolvimento e conclusão.

58

Partes do texto e compreensão do texto

6. Analise o texto abaixo.

O otimismo entre os empresários da indústria brasileira é o maior dos últimos 11 anos, informou levantamento da Confederação Nacio-nal da Indústria (CNI) divulgado ontem (26). De acordo com o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), divulgado trimestral-mente e que se tornará mensal a partir desta edição, o indicador ficou em 68,7 pontos em janeiro, resultado 2,8 pontos acima do registrado em outubro. (OTIMISMO é o maior em onze anos, 2010)

Sabendo que o título do texto acima foi omitido propositalmente, para não servir de pista para a solução da questão, marque a alternati-va que explicita o tema do texto.

a) A atividade comercial brasileira.

b) A Confederação Nacional da Indústria.

c) A periodicidade da medição do Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei).

d) O elevado otimismo entre os empresários da indústria brasileira.

O texto abaixo será usado para responder as questões de 7 a 12.

Cientistas descobrem como envelhecer e matar células do câncer

Ratos transgênicos com gene Skp2 inativo não desenvolveram tumores. Descoberta pode significar nova estratégia para combate à doença

(CIENTISTAS descobrem como envelhecer e matar células do câncer, 2010)

Em vez de matar células cancerígenas com drogas tóxicas, cientistas de Har-vard descobriram um caminho molecular que as obriga a envelhecer e morrer.

As células cancerígenas se espalham e crescem porque podem dividir-se in-definidamente. Mas um estudo em ratos mostrou que o bloqueio de um gene causador do câncer chamado Skp2 forçou células cancerígenas a passar por um

Partes do texto e compreensão do texto

59

processo de envelhecimento conhecido como senescência – o mesmo processo envolvido na ação de livrar o corpo de células danificadas pela luz solar.

Se você bloqueia o Skp2 em células cancerígenas, o processo é desenca-deado, relatou Pier Paolo Pandolfi da Harvard Medical School, em Boston, e colegas em artigo publicado na revista Nature.

A droga experimental contra o câncer MLN4924, da Takeda Pharmaceuti-cal – já na primeira fase de experimento clínico em humanos – parece ter o poder de fazer exatamente isso, disse Pandolfi em entrevista por telefone.

A descoberta pode significar uma nova estratégia para o combate ao câncer. “O que descobrimos é que se você danifica células, as células têm um mecanismo de adensamento para se colocar fora de ação”, disse Pandolfi. “Elas são impedidas irreversivelmente de crescer.”

A equipe usou para o estudo ratos geneticamente modificados que de-senvolveram uma forma de câncer de próstata. Em alguns deles, os cientistas tornaram inativo o gene Skp2. Quando o rato atingiu seis meses de vida, eles descobriram que os portadores de um gene Skp2 inativo não desenvolveram tumores, ao contrário dos outros ratos da pesquisa.

Quando eles analisaram os tecidos de nódulos linfáticos e da próstata, descobriram que muitas células tinham começado a envelhecer, e também encontraram uma lentidão na divisão de células.

Esse não era o caso em ratos com a função normal do Skp2. Eles obtiveram efeito semelhante quando usaram a droga MLN4924 no bloqueio do Skp2 em culturas de laboratório de células de câncer da próstata.

7. A partir da análise do texto, pode-se afirmar que a introdução corres-ponde

a) ao conjunto que abrange os quatro primeiros parágrafos do texto.

b) aos dois primeiros parágrafos do texto.

c) ao primeiro parágrafo do texto.

d) ao subtítulo e ao primeiro parágrafo do texto.

60

Partes do texto e compreensão do texto

8. Sobre a conclusão do texto, é correto afirmar que

a) aponta os pontos positivos e negativos da experiência.

b) exalta a vantagem de se isolar o gene Skp2.

c) descreve os experimentos passo a passo.

d) ressalta que a pesquisa é inconclusa.

9. Quanto ao desenvolvimento do texto, é correto afirmar que

a) restringe-se às experiências relativas ao envelhecimento.

b) restringe-se às experiências relativas a como combater o câncer.

c) detalha e aprofunda a descoberta anunciada já no título.

d) é composto de três parágrafos do texto.

10. O tema do texto é

a) a inatividade do gene Skp2.

b) o relato de experimentos científicos.

c) a descoberta da cura do câncer.

d) a descoberta de como envelhecer e matar as células do câncer.

11. Sobre a droga testada, MLN4924, o texto afirma que

a) tem efeito anticancerígeno se usada juntamente com o Skp2.

b) motiva a proliferação das células cancerígenas, só controladas pelo Skp2.

c) é uma droga experimental que bloqueia o Skp2.

d) ainda não foi testada em humanos.

12. Os procedimentos experimentados e descritos podem ser considerados

a) informações explicitadas no texto.

b) elementos formadores da introdução textual.

c) informações não explicitadas no texto.

d) elementos formadores da conclusão textual.

Partes do texto e compreensão do texto

61

Gabarito1. O título “Cantora mistura jazz e música brasileira” é inadequado e está

em discordância com o texto, porque a nota fala mais da vida pessoal da cantora que de sua obra. Além disso, a única vez em que o adjetivo brasileira aparece no texto refere-se à cantora e não à sua música.

2. O título “Uma tempestade do tamanho de três Terras que já dura 400 anos (e está aquecendo)” é adequado, porque menciona o fenômeno apresentado e explicado no texto. Entre parênteses aparece uma in-formação secundária, que funciona apenas como acréscimo.

3. O parágrafo que corresponde à introdução do texto vai de “Quando se fala em grande mancha vermelha [...]” até “[...] tão grande que nela caberiam duas ou três Terras.” Nesse parágrafo, as informações apre-sentadas, e que serão aprofundadas no desenvolvimento, são

a associação entre Júpiter e uma “grande mancha vermelha”; �

a mancha é, na verdade, uma tempestade na atmosfera do planeta; �

o tamanho da tempestade equivale a “duas ou três Terras”. �

4.

a) “A tempestade já dura pelo menos 400 anos.”

b) “Robert Hook, físico e astrônomo britânico, foi o primeiro a descre-ver uma mancha na ‘superfície’ de Júpiter.”

c) Esse trecho tem função irônica: com ele, o autor incorpora no texto a visão do senso comum, que considera pequena a elevação da temperatura, para depois invalidá-la, no parágrafo seguinte.

d) As questões que se referem a informações explícitas no texto são as de letras a e b porque nas suas respostas é suficiente transcre-ver partes do texto. Já a pergunta c trabalha com as informações não explícitas no texto porque amplia o conteúdo apresentado no artigo, tornando possível o estabelecimento de relações entre os elementos intra e extratextuais.

5. B

6. D

62

Partes do texto e compreensão do texto

7. C

8. B

9. C

10. D

11. C

12. A

Dica de estudoNos jornais, as notícias mais obedientes à estrutura textual apresentada

neste capítulo são as da editoria policial. Então, acesse o site de sua preferên-cia ou recorra ao jornal impresso, selecione alguns textos da seção indicada e revise os conteúdos que acabamos de estudar.

ReferênciasBARBOSA, Cássio Leandro Dal Ri. Uma tempestade do tamanho de três Terras que já dura 400 anos (e está aquecendo). G1Globo.com, 23 mar. 2010, Seção Obser-vatório. Disponível em: <http://colunas.g1.com.br/observatoriog1/2010/03/23/uma-tempestade-do-tamanho-de-3-terras-que-ja-dura-400-anos-e-esta-aque-cendo/>. Acesso em: 25 mar. 2010.

CANTORA mistura jazz e música brasileira. Jornal Primeira Página, 27 jan. 2010, Seção Cultura. Disponível em: <http://www.jornalpp.com.br>. Acesso em: 18 mar. 2010.

CIENTISTAS descobrem como envelhecer e matar células do câncer. G1Globo.com, 18 mar. 2010, Seção Ciência e Saúde. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1534873-5603,00-CIENTISTAS+DESCOBREM+COMO+ENVELHECER+E+MATAR+CELULAS+DO+CANCER.html>. Acesso em: 18 mar. 2010.

COM A CABEÇA no mundo da lua. O Dia On-line. Disponível em: <http://odia.terra.com.br/portal/educacao/html/2010/3/com_a_cabeca_no_mundo_da_lua_68644.html>. Acesso em: 18 mar. 2010.

OTIMISMO é o maior em onze anos. Jornal Primeira Página, 27 jan. 2010, Seção Economia. Disponível em: <http://www.jornalpp.com.br>. Acesso em: 18 mar. 2010.

Ambiguidade e paráfrase

AmbiguidadeA ambiguidade é uma das interferências negativas na coesão textual. Geral-

mente, esse problema ocorre pelo encadeamento desatento de informações, fazendo com que uma ideia possa ser atribuída a dois antecedentes. Para corri-gir um trecho ambíguo, às vezes basta a reordenação das palavras no período. Mas há casos em que é necessária a inclusão de um novo período, a fim de esclarecer a qual antecedente refere-se a nova informação dada no texto.

Efeitos da ambiguidadePara demonstrar os efeitos da ambiguidade na construção textual e, con-

sequentemente, na comunicação, vamos analisar um exemplo:

O diretor da escola, professor João Aristides Gonçalves, iniciou sua gestão na semana passada.

A ambiguidade aparece quando o leitor se depara com o aposto “profes-sor João Aristides Gonçalves”. Afinal, qual é o antecedente a que esse nome se refere: o diretor ou a escola? O problema aparece porque, no rol de possi-bilidades, o nome pode ser da escola, como uma homenagem a algum pro-fessor de relevo na região, por exemplo. A outra hipótese é que um professor tenha assumido a direção. Há diversas saídas para a resolução do problema. Vamos verificar algumas delas.

O diretor, professor João Aristides Gonçalves, iniciou sua gestão na semana passada.

Nessa possibilidade, a opção foi tirar a extensão “da escola”. O nome do diretor continua fazendo o papel de aposto, razão pela qual aparece entre vírgulas, logo depois de “diretor”, que é o antecedente a que “professor João Aristides Gonçalves” se refere.

66

Ambiguidade e paráfrase

Para completar a informação com o nome da escola cuja direção foi assu-mida pelo professor, pode-se propor a alternativa abaixo:

A escola do bairro está com novo diretor. O professor João Aristides Gonçal-ves iniciou sua gestão na semana passada.

Essa alternativa já apresenta mudanças mais consideráveis, pois para des-fazer a ambiguidade reformula todo o texto. A escola é o foco do primeiro período, tem seu nome apresentado e depois vem a informação de que ela tem novo diretor. Porém, apenas no período seguinte o nome do diretor é citado. Destaque-se também que é desnecessária a repetição da palavra dire-tor junto ao nome do professor que assumiu o cargo porque a continuidade do período (“O professor João Aristides Gonçalves iniciou sua gestão […].”) já permite que o leitor conclua que se trata do diretor e não de outra pessoa.

A escola Professor João Aristides Gonçalves ganhou novo diretor. Antô-nio da Silva iniciou sua gestão na semana passada e já definiu uma lista de prioridades.

Pressupondo que “Professor João Aristides Gonçalves” seja o nome da escola, uma alternativa é informar o nome do estabelecimento de ensino logo depois da palavra escola. O diretor é apresentado apenas no segundo período.

Embora seja possível resolver o problema da ambiguidade de diversos modos, é necessário saber reconhecer trechos ambíguos para depois reescre-vê-los adequadamente, garantindo maior clareza na elaboração do texto.

Análise e reescrita da ambiguidadeA primeira coisa que indica a ocorrência da ambiguidade é a duplicidade

de sentidos. A seguir, serão apresentados vários períodos com esse proble-ma coesivo. O exercício proposto abrangerá duas etapas.

A primeira envolve a compreensão de por que o período é considerado ambíguo e onde exatamente está o problema.

Na segunda etapa, a tarefa é propor outros modos de dar a mesma infor-mação de modo claro.

Ao longo desse processo, serão exigidas habilidades de escrita e, sobretudo, de interpretação, pois o ponto de partida para a elaboração de um novo

Ambiguidade e paráfrase

67

período é a compreensão do efeito provocado pela palavra ou pela ordem que estabelece a ambiguidade. Então, vamos praticar.

Esse é um dos engenheiros da casa, cuja compra eu lhe aconselhei.

O funcionário dirigiu-se ao patrão irritado.

Comprei o carro do meu amigo, que estava com vários problemas.

O convite foi feito aos atores e ao patrocinador, mas estes faltaram ao encontro.

O diretor contou detalhes do espetáculo que bateu o recorde de bilheteria e esse fato teve grande repercussão na mídia.

Levando-se em conta todos os períodos apresentados, é possível verificar a existência de um ponto comum entre eles: há dois elementos no início da informação e posteriormente apenas um é retomado, sobre ele sendo fornecido um novo dado. Desse modo, vamos acrescentar esse raciocínio a cada período dado para identificar como a ambiguidade se configura em cada exemplo.

Esse é um dos engenheiros da casa, cuja compra eu lhe aconselhei.

Antecedentes: “engenheiros” e “casa”. �

Informação nova: uma compra foi aconselhada. �

Conclusão: a compra deve se relacionar apenas à palavra � casa.

O funcionário dirigiu-se ao patrão irritado.

Antecedentes: “funcionário” e “patrão”. �

Informação nova: � alguém está irritado.

Conclusão: � a irritação pode se relacionar tanto ao funcionário como ao patrão.

Comprei o carro do meu amigo, que estava com vários problemas.

Antecedentes: “carro” e “amigo”. �

68

Ambiguidade e paráfrase

Informação nova: o carro ou o amigo tinha problemas. �

Conclusão: � os problemas podem ser atribuídos ao carro (problemas mecânicos) ou ao amigo (problemas financeiros, provavelmente).

O convite foi feito aos atores e ao patrocinador, mas estes faltaram ao encontro.

Antecedentes: “atores” e “patrocinador”. �

Informação nova: � mais de uma pessoa faltou ao encontro.

Conclusão: � os atores e o patrocinador faltaram ao encontro, ou ape-nas os atores faltaram.

O diretor contou detalhes do espetáculo que bateu o recorde de bilheteria e esse fato teve grande repercussão na mídia.

Antecedentes: � “detalhes do espetáculo” e “bateu o recorde de bi-lheteria”.

Informação nova: � um “fato teve grande repercussão na mídia”.

Conclusão: o fato que “teve grande repercussão na mídia” serve �para a narração detalhada do diretor, mas também para a audiên-cia do espetáculo.

Depois dos exemplos analisados, nossa tarefa agora é propor uma nova redação aos períodos dados, para corrigir o problema da ambiguidade. Vamos a isso.

Esse é um dos engenheiros da casa, cuja compra eu lhe aconselhei.

→ Essa é a casa que eu lhe aconselhei a comprar e ele é o engenheiro que a construiu.

(A compra foi relacionada apenas à casa e a informação sobre o en-genheiro foi ampliada.)

O funcionário dirigiu-se ao patrão irritado.

→ O funcionário, irritado, dirigiu-se ao patrão.

(Quem aparece irritado, nesse exemplo, é o funcionário.)

Ambiguidade e paráfrase

69

→ O funcionário dirigiu-se ao patrão, que estava irritado desde cedo.

(Aqui, quem está irritado, e desde cedo, é o patrão.)

Comprei o carro do meu amigo, que estava com vários problemas.

→ O carro que comprei do meu amigo estava com vários problemas.

(O carro tinha problemas.)

→ Comprei o carro para ajudar meu amigo, que estava com vários pro-blemas.

(Quem tinha problemas era o amigo.)

O convite foi feito aos atores e ao patrocinador, mas estes faltaram ao encontro.

→ Foi marcado um encontro entre os atores e o patrocinador, mas nin-guém compareceu.

(Tanto os atores como o patrocinador faltaram ao encontro.)

→ Os atores faltaram ao encontro marcado com o patrocinador.

(Apenas os atores faltaram, mas o patrocinador compareceu.)

O diretor contou detalhes do espetáculo que bateu o recorde de bi-lheteria e esse fato teve grande repercussão na mídia.

→ Os detalhes da narração do diretor sobre o espetáculo, o qual bateu o recorde de bilheteria, tiveram grande repercussão na mídia.

(O que ganhou repercussão foi a narrativa detalhada do diretor e não o espetáculo.)

→ Um espetáculo, que bateu o recorde de bilheteria, teve grande re-percussão na mídia. Nesta semana, o diretor contou detalhes da produção.

(Investe-se em alguns acréscimos para garantir a clareza das infor-mações. Do modo como as informações são apresentadas nesse exemplo, fica claro que aquilo que teve grande repercussão foi o espetáculo, e não os detalhes sobre a produção divulgados pelo diretor.)

70

Ambiguidade e paráfrase

ParáfraseA paráfrase é um tipo de escrita que exige um bom domínio do léxico,

ou do vocabulário. Parafrasear um texto é reescrevê-lo mantendo o sentido original, mas, para se chegar a esse resultado, em vez da cópia pura e simples devem ser usados sinônimos. Exatamente por essa razão, a riqueza vocabu-lar é o principal requisito para uma boa paráfrase. Cotidianamente, fazemos paráfrases o tempo todo, sobretudo quando contamos a alguém um fato que nos chamou a atenção.

Saber parafrasear um texto pode evitar situações bastante embaraçosas.

Uma delas é a do plágio. Já a paráfrase é a opção honesta que evita a cópia de um trecho escrito por outra pessoa.

Outra situação difícil e que pode ser evitada pelo uso da paráfrase ocorre quando temos de repetir o que alguém disse. Imaginemos a situação de uma entrevista: mesmo que o entrevistador grave toda a conversa que manteve com a pessoa entrevistada, passar as falas registradas pelo gravador para a forma escrita é um desafio e tanto. Qualquer deslize pode desvirtuar a fala da pessoa, nela imprimindo um significado que não fazia parte do enunciado original. Está claro que a pessoa que deu a entrevista não pode pagar por uma possível falta de habilidade daquele que parafraseou seu discurso.

Conclusão: a paráfrase é uma arte e tem como principal objetivo a manu-tenção do sentido do texto ou do enunciado original.

Paráfrase e encadeamento textualAssim como, em geral, a ambiguidade aparece em períodos mais longos

– afinal, é justamente no uso de relatores ou conectivos que esse problema coesivo aparece –, a paráfrase apresenta maior grau de dificuldade quando a proposta é reunir várias orações pequenas em um longo período. Nas liga-ções que se estabelecem para dar unidade ao texto, surgem equívocos que podem desvirtuar completamente o sentido original do conjunto de breves orações que foi dado no início.

Em um pequeno texto, há duas informações ou mais sobre um mesmo objeto ou sujeito. Em exercícios que pedem a união de diversos períodos breves, um erro básico e muito frequente é fazer a junção pedida pelo uso de um pronome relativo, mas sem se preocupar com o local exato em que a segunda informação sobre o objeto ou sujeito em questão será inserida.

Ambiguidade e paráfrase

71

Vamos a um exemplo.

O senado estabeleceu um novo cenário político. O senado determinou a intensificação das alianças partidárias.

→ O senado estabeleceu um novo cenário político, que determinou a intensificação das alianças partidárias.

A união das orações está incorreta porque atribui a determinação da “intensificação das alianças partidárias” ao “novo cenário político” e não ao “senado”. Sendo assim, percebe-se facilmente que, para se obter uma boa paráfrase, é de suma importância interpretar as informações corretamente – afinal, é isso que irá determinar a clareza do texto produzido. Em suma, para evitar ambiguidades e parafrasear um texto corretamente, interpretação e clareza são imprescindíveis.

Para desenvolver a paráfrase, vamos propor modos de agrupar alguns conjuntos de orações.

A casa é pequena. Comprei a casa. A casa fica no bairro Água Verde.

→ A casa que comprei é pequena e fica no bairro Água Verde.

(O sentido original foi mantido: é informada a compra da casa e depois são citados os dois atributos da casa comprada, ou seja, tamanho – “pequena” – e localização – “fica no bairro Água Verde”).

Queria deixar o carro no estacionamento. O estacionamento estava lotado.

→ O estacionamento, onde queria deixar o carro, estava lotado.

(Escolheu-se como informação principal a segunda oração: “O es-tacionamento estava lotado.” Mas, afinal, onde mesmo eu “queria deixar o carro”? No estacionamento. Então, foi introduzida uma in-formação secundária – “onde queria deixar o carro” – logo após a palavra estacionamento, pois a informação acrescentada refere-se a esse antecedente.)

Inúmeras pessoas leem livros de não ficção. Relações interpessoais e esote-rismo são os temas mais procurados atualmente.

→ Inúmeras pessoas leem livros de não ficção, principalmente sobre relações interpessoais e esoterismo, que são os temas mais procu-rados atualmente.

72

Ambiguidade e paráfrase

(A sugestão para unir as orações desse exercício é bastante parecida com a do exercício anterior: o início permanece o mesmo – “Inúmeras pessoas leem livros de não ficção” – porque a escolha foi manter o primeiro período como informação principal do novo texto. Porém, depois há uma informação sobre dois temas. Por fim, depois de es-pecificados os dois temas, usa-se a vírgula e o pronome relativo que, retomando “relações interpessoais” e “esoterismo”, mas evitando a repetição, para mencionar que esses “são os temas mais procurados atualmente”.

Nesses exemplos vistos e trabalhados, a paráfrase investiu menos no uso de sinônimos e mais na estruturação textual. Nesse primeiro nível de dificuldade do uso da paráfrase, a exigência é menor: a manutenção do sentido envolve a interpretação correta do que se quer comunicar, o uso adequado de relatores e o estabelecimento de uma ordem lógica e coerente para as informações. No entanto, quando a paráfrase pede maior preocupação com o conteúdo, e não com a estrutura, todos esses cuidados continuam merecendo atenção, mas a novidade é que a riqueza vocabular daquele que produz o texto passa a ser determinante.

Paráfrase e sinonímiaA elaboração da paráfrase põe à prova o repertório de quem escreve um

texto, pois o desafio é claro: trata-se de afirmar a mesma coisa, mas usando pa-lavras diferentes. A flexibilidade da língua é um recurso praticamente inesgotá-vel e isso pode ser colocado em prática não apenas pela variação na estrutura, como demonstramos há pouco, mas também pelo uso de sinônimos. Vamos testar a paráfrase feita com o auxílio da sinonímia ou do uso dos sinônimos, com a reescrita do texto abaixo.

Parede coberta de chicletes(PAREDE COBERTA de chicletes mascados vira atração turística nos EUA, 2010)

O muro no bairro de Post Alley, próximo do Mercado Park Place, é co-nhecido hoje por Parede de Chicletes de Seattle e começou a receber inter-venções dos turistas e locais no começo da década de 1990.

À época, muitas pessoas passavam pela região e formavam longas filas para comprar ingressos para o teatro local. Irritadas, elas grudavam seus chicletes na parede e, algumas vezes, também colavam uma moeda.

Com o passar dos anos as moedas foram perdendo espaço para os chi-cletes e, em 1999, a cidade oficializou o local como ponto turístico.

Ambiguidade e paráfrase

73

Para facilitar a tarefa, vamos reescrever um período de cada vez.

O muro no bairro de Post Alley, próximo do Mercado Park Place, é conheci-do hoje por Parede de Chicletes de Seattle e começou a receber interven-ções dos turistas e locais no começo da década de 1990.

→ No bairro de Post Alley, há um muro, perto do Mercado Park Place, hoje chamado Parede de Chicletes de Seattle e que começou a contar com a participação de estrangeiros e moradores da região no início da década de 1990.

Vejamos as principais mudanças feitas no trecho a partir do uso de sinônimos.

“Próximo” foi trocado por “perto”. �

Em vez de “começou a receber intervenções dos turistas e locais”, foi �usado “começou a contar com a participação de estrangeiros e mora-dores da região”.

Por fim, para indicar quando começou a formação do muro de chicle- �tes, “no começo da década de 1990”, foi escolhida a opção “no início da década de 1990”.

À época, muitas pessoas passavam pela região e formavam longas filas para comprar ingressos para o teatro local.

→ Naquela época, vários visitantes iam à região e faziam grandes filas para adquirir ingressos para o teatro local.

A primeira mudança foi a troca de “À época” por “Naquela época”. �

O trecho original “muitas pessoas passavam pela região” foi substituí- �do, na nova versão, por “vários visitantes iam à região”.

No final do período, “e formavam longas filas para comprar ingressos �para o teatro local”, o uso de sinônimos fez a seguinte alteração: “e fa-ziam grandes filas para adquirir ingressos para o teatro local”.

Irritadas, elas grudavam seus chicletes na parede e, algumas vezes, também colavam uma moeda.

→ Nervosas, as pessoas grudavam suas gomas de mascar no muro e, às vezes, colocavam ainda uma moeda.

74

Ambiguidade e paráfrase

A parte “Irritadas, elas grudavam seus chicletes na parede” foi substituída �por “Nervosas, as pessoas grudavam suas gomas de mascar no muro”.

Em vez de “e, algumas vezes, também colavam uma moeda”, foi usado �“e, às vezes, colocavam ainda uma moeda.”

Com o passar dos anos as moedas foram perdendo espaço para os chi-cletes e, em 1999, a cidade oficializou o local como ponto turístico.

→ Ao longo do tempo as moedas foram diminuindo e o número de chicletes foi aumentando e, há mais de dez anos, a cidade tornou o muro, oficialmente, um ponto turístico.

A locução adverbial “Com o passar dos anos” se converteu em “Ao �longo do tempo”.

No lugar de “as moedas foram perdendo espaço para os chicletes”, �escreveu-se “as moedas foram diminuindo e o número de chicletes foi aumentando”.

Finalmente, a parte “e, em 1999, a cidade oficializou o local como pon- �to turístico” foi substituída por “e, há mais de dez anos, a cidade tornou o muro, oficialmente, um ponto turístico”.

Evidentemente, com as paráfrases sugeridas e o breve comentário que segue cada uma delas, é fácil perceber que a sinonímia só pode ser usada para substituir determinadas palavras: nomes próprios, idade, nomes de órgãos públicos e outras referências invariáveis são mantidos. Mesmo assim e mesmo em se tratando de um texto curto, como o que foi utilizado nesse exercício, o uso de sinônimos abre possibilidades interessantes para a rees-crita do texto, às vezes exigindo pequenos ajustes, como ocorreu na paráfra-se do último período, quando se falou da predominância dos chicletes sobre as moedas.

Outro recurso que poderia ter sido utilizado paralelamente à sinonímia, nos exemplos trabalhados, é a mudança na ordem das informações. Os ad-vérbios prestam-se muito bem a esse tipo de alteração, pois podem ser colo-cados em diferentes posições no período sem que isso cause alteração signi-ficativa no sentido do texto.

Ambiguidade e paráfrase

75

Mais um dado fundamental sobre os advérbios é que, apesar de muitos encararem as palavras que desempenham essa função como inalteráveis, elas também admitem o recurso da sinonímia. Exemplificamos isso na substituição da locução adverbial de tempo “em 1999” por “há mais de dez anos”.

Texto complementarLeia o texto de Luis Fernando Verissimo, construído de forma clara e inteli-

gente. Apesar de a ambiguidade ser muito comum em textos cômicos (estilo que predomina na produção desse autor), no conto “Lixo” ela não aparece.

Lixo(VERISSIMO, 1994, p. 31-34)

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a pri-meira vez que se falam.

– Bom dia...

– Bom dia.

– A senhora é do 610.

– E o senhor do 612.

– É.

– Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...

– Pois é...

– Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...

– O meu quê?

– O seu lixo.

– Ah...

– Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...

– Na verdade sou só eu.

– Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.

– É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...

76

Ambiguidade e paráfrase

– Entendo.

– A senhora também...

– Me chame de você.

– Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...

– É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...

– A senhora... Você não tem família?

– Tenho, mas não aqui.

– No Espírito Santo.

– Como é que você sabe?

– Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.

– É. Mamãe escreve todas as semanas.

– Ela é professora?

– Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?

– Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.

– O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.

– Pois é...

– No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.

– É.

– Más notícias?

– Meu pai. Morreu.

– Sinto muito.

– Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.

– Foi por isso que você recomeçou a fumar?

– Como é que você sabe?

– De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.

– É verdade. Mas consegui parar outra vez.

– Eu, graças a Deus, nunca fumei.

– Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...

– Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.

Ambiguidade e paráfrase

77

– Você brigou com o namorado, certo?

– Isso você também descobriu no lixo?

– Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.

– É, chorei bastante, mas já passou.

– Mas hoje ainda tem uns lencinhos...

– É que eu estou com um pouco de coriza.

– Ah.

– Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.

– É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.

– Namorada?

– Não.

– Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.

– Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.

– Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.

– Você já está analisando o meu lixo!

– Não posso negar que o seu lixo me interessou.

– Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhe-cê-la. Acho que foi a poesia.

– Não! Você viu meus poemas?

– Vi e gostei muito.

– Mas são muito ruins!

– Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.

– Se eu soubesse que você ia ler...

– Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?

– Acho que não. Lixo é domínio público.

– Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?

78

Ambiguidade e paráfrase

– Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...

– Ontem, no seu lixo...

– O quê?

– Me enganei, ou eram cascas de camarão?

– Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.

– Eu adoro camarão.

– Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...

– Jantar juntos?

– É.

– Não quero dar trabalho.

– Trabalho nenhum.

– Vai sujar a sua cozinha?

– Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.

– No seu lixo ou no meu?

Atividades1. Reescreva os períodos abaixo desfazendo a ambiguidade.

a) A professora da escola, premiada internacionalmente, apareceu em diversos jornais, na semana passada.

b) Ele despediu-se do pai, porque estava doente e precisava ser inter-nado.

Ambiguidade e paráfrase

79

2. A partir do conjunto de períodos dado, forme um período maior, enca-deando as informações sem alterar o sentido.

a) Marilyn Monroe fez muito sucesso em Hollywood. Marilyn Monroe foi a estrela de Os homens preferem as loiras e Quanto mais quente melhor.

b) Fazer pagamentos em lotéricas é uma atitude cada vez mais fre-quente. As lotéricas estão investindo em bons esquemas de segu-rança.

3. Utilize sinônimos para propor uma paráfrase adequada ao texto abaixo.

Produção na safra atual é 7,5% menor(PRODUÇÃO na safra atual é 7,5% menor, 2010)

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) afirmou ontem que a produção de álcool combustível do Centro-Sul do Brasil até 16 de janeiro na safra 09/10 está 7,54% abaixo da do mesmo período da safra anterior.

Até a primeira quinzena de janeiro, a produção total do combus-tível na região Centro-Sul atingiu 22,9 bilhões de litros, contra 24,8 bilhões de litros no mesmo período de 08/09.

80

Ambiguidade e paráfrase

4. Marque a alternativa que apresenta ambiguidade.

a) Fui a uma casa que tinha 30 cômodos.

b) O livro a que me refiro é de um autor paranaense.

c) A caneta que lhe emprestei e que você não devolveu era azul.

d) A irmã da minha tia, que não via há anos, casou-se novamente.

5. Considere o período abaixo e as opções que o seguem.

A receita da minha cozinheira, que é sueca, ensina como preparar almôndegas.

I. Minha cozinheira sueca deu-me uma receita que ensina como pre-parar almôndegas.

II. A receita da minha cozinheira sueca ensina como preparar almôn-degas.

III. Tenho uma cozinheira e ela me deu uma receita, que é sueca e ensina como preparar almôndegas.

A ambiguidade é corrigida

a) apenas em III.

b) apenas em I e III.

c) apenas em I e II.

d) apenas em I.

Ambiguidade e paráfrase

81

6. A partir da análise do período “A caixa do anel, que perdi há poucos dias, estava entre as almofadas do sofá.”, pode-se afirmar que a ambi-guidade

a) está no fato de não se saber ao certo o que foi perdido – a caixa ou o anel.

b) é inexistente, porque fica claro que o anel foi perdido.

c) não representa problema porque o pronome relativo que foi em-pregado corretamente.

d) não compromete o período, porque apenas a caixa poderia estar “entre as almofadas do sofá”.

7. Sobre a paráfrase, é correto afirmar que

a) realiza-se a partir da reprodução exata de partes do texto dado.

b) não constitui uma atividade de interpretação.

c) utiliza principalmente sinônimos para a reescrita do texto dado.

d) pode ser considerada similar à ambiguidade porque envolve inter-pretação e uso de elementos coesivos.

8. Considerando o conjunto de períodos “O beta é um tipo de peixe carnívoro. O beta é o peixe ornamental mais vendido no mundo. O peixe ornamental mais vendido no mundo é de origem japonesa.”, marque a alternativa que faz uma paráfrase adequada, sem alteração de sentido.

a) O beta é um tipo de peixe carnívoro, ornamental mais vendido no mundo, é de origem japonesa.

b) O beta, peixe ornamental mais vendido no mundo, é um peixe car-nívoro e tem origem japonesa.

c) O peixe carnívoro, beta, mais vendido no mundo é de origem japo-nesa.

d) O peixe ornamental mais vendido no mundo é de origem japone-sa, é o beta, que é um tipo de peixe carnívoro.

82

Ambiguidade e paráfrase

9. Marque a alternativa que parafraseia corretamente o período “Os alu-nos da rede pública aumentaram seu desempenho na Prova Brasil.”:

a) Os alunos da minha escola aumentaram seu desempenho na Pro-va Brasil.

b) Os alunos da rede pública participaram mais da Prova Brasil.

c) Os estudantes brasileiros da rede pública aumentaram seu desem-penho na Prova aplicada anualmente pelo MEC.

d) Os estudantes da rede pública obtiveram melhores notas na Prova Brasil.

10a. Assinale a alternativa que substitui corretamente os termos marca-dos, na ordem em que eles aparecem:

O veículo bateu violentamente contra o pedestre. O motorista não se feriu. Transeuntes informaram os socorristas de plantão.

a) automóvel/morreu/avisaram/paramédicos.

b) carro/machucou/chamaram/plantonistas.

c) automóvel/machucou/avisaram/paramédicos.

d) carro/cortou/recorreram/enfermeiros.

10b.

A postagem da documentação deverá ocorrer até a data informada no edital.

A alternativa que apresenta correta paráfrase do período acima trans-crito é

a) “A postagem da documentação deverá ocorrer até a data do edital”.

b) “O envio da documentação deverá ser feito até a data estipulada no edital”.

c) “A remessa da documentação deverá ocorrer até a data do edital”.

d) “O envio da documentação deverá ocorrer até a data de divulga-ção do edital”.

Ambiguidade e paráfrase

83

Gabarito1.

a)

→ A professora, que trabalha em uma escola premiada internacional-mente, apareceu em diversos jornais, na semana passada.

(A escola é premiada.)

→ A professora, premiada internacionalmente, apareceu em diversos jornais, na semana passada. Atualmente, ela trabalha na escola do bairro.

(A professora é premiada.)

b)→ Ele, porque estava doente e precisava ser internado, despediu-se

do pai.

(O filho estava doente.)

→ Eles despediram-se porque o pai estava doente e precisava ser in-ternado.

(O pai estava doente.)

2.

a) Sugestão de resposta:

→ Marilyn Monroe, estrela de Os homens preferem as loiras e Quanto mais quente melhor, fez muito sucesso em Hollywood.

b) Sugestão de resposta:

→ Fazer pagamentos em lotéricas é uma atitude cada vez mais fre-quente, razão pela qual esses estabelecimentos estão investindo em bons esquemas de segurança.

3. Sugestão de resposta:

Produção nesta safra sofre queda de 7,5%

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) declarou ontem que o Centro-Sul do Brasil produziu, até 16 de janeiro, na safra 09/10, menos 7,54% de combustível etanol em relação ao mesmo período e safra do ano anterior.

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Ambiguidade e paráfrase

Até 15 de janeiro, a produção de álcool totalizou 22,9 bilhões de litros no Centro-Sul do país, enquanto a safra de 08/09 fechou em 24,8 bi-lhões de litros.

4. D

5. C

6. A

7. C

8. B

9. D

10a. C

10b. B

Dicas de estudoQue tal treinar a paráfrase textual? Um bom exercício é ler ou ouvir entre-

vistas ou notícias apresentadas em telejornais ou em sites e jornais impressos e depois reescrever o texto com suas palavras. Não se esqueça de comparar a versão que você escreveu com o original, para avaliar seu desempenho.

Um livro que aprofunda o conceito de paráfrase é

SANT’ANNA, Afonso Romano de. Paródia, Paráfrase & Cia. São Paulo: Ática, 1991.

ReferênciasPAREDE COBERTA de chicletes mascados vira atração turística nos EUA. G1Globo.com, 25 mar. 2010, Seção Planeta Bizarro. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL1543114-6091,00-PAREDE+COBERTA+DE+CHICLETES+MASCADOS+VIRA+ATRACAO+TURISTICA+NOS+EUA.html>. Acesso em: 25 mar. 2010.

PRODUÇÃO na safra atual é 7,5% menor. Jornal Primeira Página, 27 jan. 2010, Seção Economia. Disponível em: <http://www.jornalpp.com.br>. Acesso em: 18 mar. 2010.

VERISSIMO, Luis Fernando. Lixo. In: ________. Comédias da Vida Privada. Porto Alegre: LP&M, 1994, p. 31-34.

Fato, opinião e tipos de discurso

O que é fato ou opinião no texto?Um fato é algo que aconteceu na realidade. Por isso, para muitos, essa ver-

dade que o fato representa exige total isenção do autor do texto: fato é fato – opinião é outra coisa. No entanto, as coisas não são assim tão simples. Não existem compartimentos que garantam que esses dois polos nunca se cruzem. É certo que um texto que se restringe aos fatos evita excessivas marcas de opi-nião. Isso é possível, por exemplo, com o abandono de adjetivos.

Mas será que todos recontam um fato exatamente do mesmo modo? Não: cada um começa de um jeito e organiza as ideias que formam o con-junto textual de uma maneira bastante específica. Até mesmo a seleção das informações que vão figurar no texto ou que receberão prioridade revela a opinião do autor.

Essas brechas garantem espaço à opinião, mas ela se instala no texto de modo sorrateiro, nesses casos, e é percebida por poucas pessoas. Se a opinião pode ser evidenciada até mesmo na organização textual, quando o autor quer dar mais relevo ao fato em si é comum que ele obedeça a alguns critérios que objetivam controlar o nível de opinião do texto, assegurando que ela não se alastre, a fim de não comprometer o conteúdo e também para evitar excessiva influência sobre o leitor. A fórmula mais usada para tentar esse controle sobre a opinião e para dar mais destaque ao fato é bem conhe-cida: verbos na terceira pessoa, pouca adjetivação e ênfase na descrição.

Vamos, agora, analisar o que é fato e o que é opinião em algumas notas de jornais.

Idosos terão recursos

(IDOSOS terão recursos, 2010)

A prefeitura de Curitiba, através da Secretaria Municipal do esporte e Lazer, receberá R$100 mil para atender projetos voltados à terceira idade neste ano.

88

Fato, opinião e tipos de discurso

Os recursos são provenientes de emenda ao Orçamento da União, aprovada por solicitação da Câmara, junto aos deputados federais, no Congresso Nacional.

De acordo com o projeto, a verba será investida na implantação e modernização da infraestrutura de esporte recreativo e de lazer para idosos.

O texto transcrito acima consegue se deter sobre o fato, sem muitas in-terferências de opinião. Não há adjetivação que julgue as informações apre-sentadas. Pode-se dizer apenas, pelo conjunto, que o texto deixa transpare-cer o lado positivo da notícia, o que fica claro desde o título: “Idosos terão recursos”. As palavras desse título não foram escolhidas ao acaso: elas dão um bom resumo da notícia, apresentam coerência em relação ao texto, mas também passam a ideia de que o fato de os idosos receberem recursos é algo benéfico.

Luta(LUTA, 2010)

Acontecerá no próximo dia 13 de março, às 19h, no Palácio de Cristal, no Círculo Militar do Paraná, o Power Fight Extreme 2, eleito o melhor evento de MMA em 2009 […].

Apesar de também nesta nota o fato ser privilegiado, nela há uma pe-quena amostra de como a seleção das informações passadas ao leitor pode variar, demonstrando opinião, mesmo que em escala bastante reduzida. O texto divulga um evento, informando data, hora e local, e fornecendo o nome completo desse evento. Porém, o que chama atenção é que o texto também menciona o fato de o Power Fight Extreme 2 ter sido “eleito o melhor evento de MMA em 2009”. Sem dúvida isso é um fato, pois a eleição aconteceu e o evento de artes marciais mistas (ou mixed martial arts – MMA) foi mesmo premiado. Porém, dar essa informação ao se divulgar o evento serve para influenciar o público positivamente – afinal, para quem gosta desse tipo de campeonato, o prêmio é um estímulo a mais para que a pessoa decida pela participação. Destaque-se, porém, que esse tipo de recurso é normal em textos de divulgação, cujo principal objetivo é criar público para a atração.

Fato, opinião e tipos de discurso

89

Fim do sufoco(FIM do sufoco, 2010)

Ponte que vai desafogar o trânsito da região Fazendinha e CIC será inaugu-rada em março. Obra é uma reivindicação antiga da comunidade, e já está em fase de acabamento.

Nesse texto, ao contrário dos dois anteriores, a opinião é mais evidenciada. O primeiro indício dessa predominância é o título: “Fim do sufoco”. Em tom bastante apelativo, o título corresponde a algo como “até que enfim!” e isso acontece porque o autor recuperou o fato mentalmente, fez uma avaliação sobre ele e, no título, registrou o resultado dessa avaliação.

E as marcas de opinião aparecem ainda em outros pontos. É o caso do verbo desafogar, que não apareceria em uma nota que privilegiasse o fato. E qual é o fato? É a construção de uma ponte. Apenas isso precisava ser in-formado. A conclusão de que a “ponte vai desafogar o trânsito da região” é subjetividade, opinião, e, com certeza, influenciará potencialmente o pensa-mento do leitor.

Outro detalhe que demonstra opinião é a afirmação de que a “obra é uma reivindicação antiga da comunidade”: esse trecho ressalta o quanto os mo-radores da região esperavam e lutavam pela construção da ponte e, de certa forma, essa interferência opinativa reforça a ideia de “até que enfim”, implí-cita no título.

Marcas de opiniãoCom um simples exercício de separar fato da opinião, pode-se concluir

que há diferentes modos de a opinião interferir no texto. Alguns, mais abun-dantes e bastante eficazes, merecem destaque. Veja abaixo.

1. Uso de adjetivos.

2. Uso de frases, locuções ou expressões.

3. Escolha vocabular.

4. Ordem das informações na oração.

90

Fato, opinião e tipos de discurso

Comecemos pelo uso de adjetivos, classe de palavras que tem a função de apresentar qualidades ou defeitos de pessoas ou objetos. Para exemplifi-car como o uso de adjetivos serve para demonstrar opinião, vamos recuperar algumas construções largamente utilizadas na mídia:

O irreverente show da banda…

O bom desempenho do jogador…

A má atuação do político…

1. Os adjetivos, nos exemplos dados, aparecem destacados e são usados para qualificar as palavras a que se referem. Justamente por isso, ou seja, pelo fato de escolherem atributos positivos ou negativos para qualificar o show, o desempenho do jogador e a atuação do político, o autor do texto marca sua opinião, desviando-se da informação pura e simples. Retomando o exemplo do jogador, considerando que o de-sempenho do atleta tenha sido realmente bom, bastaria que o autor do texto descrevesse os melhores lances de que ele participou. Com isso, o próprio leitor chegaria à conclusão de que o jogador teve boa atuação.

2. Vamos imaginar agora um exemplo para o uso de frases, locuções ou expressões para marcar opinião:

XXX, redator de um jornal espanhol de grande circulação, denunciou que uma de suas matérias foi reescrita, com a supressão de vários trechos. O fato, sem dúvida, é um acinte à liberdade de opinião e à democracia.

Aqui, a opinião é explícita e corresponde a todo o segundo período do texto: “O fato, sem dúvida, é um acinte à liberdade de opinião e à democracia.” Esse tipo de construção textual privilegia a alternância entre fato e opinião e geralmente aparece em crônicas ou colunas de jornais e revistas.

3. Quanto à escolha vocabular, a comparação é o melhor modo de en-tender o impacto que determinadas palavras podem causar no texto. Admitamos, então, dois modos diferentes de noticiar um fato:

O presidente da França visita vários países em companhia de Carla Bruni.

O presidente da França visita vários países em companhia da esposa, Carla Bruni.

Fato, opinião e tipos de discurso

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A única diferença entre os dois períodos é pequena, mas de funda-mental importância. Enquanto o primeiro período cita apenas o nome de Carla Bruni, o segundo faz questão de informar que ela é esposa do presidente. Esse detalhe pode passar despercebido no primeiro mo-mento – afinal, esposa nem é adjetivo. Entretanto, o substantivo espo-sa dá maior importância a Carla Bruni, porque no primeiro período o nome dela poderia ser substituído pelo nome de qualquer outra mu-lher, talvez alguém do meio político. Já no segundo período isso não é possível, porque o vocábulo esposa faz parte da informação principal, ao passo que Carla Bruni desempenha apenas a função de aposto.

No que se refere à escolha das palavras que irão compor o texto, ressal-te-se que algumas são usadas com o claro intuito de provocar a emo-tividade do leitor. Para entender melhor como esse efeito pode ser obtido, basta pensar na diferença de linguagem entre um jornal “sério” e outro “sensacionalista”. Supondo que uma notícia apresenta uma in-justiça sofrida por um idoso, por exemplo, haveria diferença considerá-vel se um jornal (o “sério”) usasse o substantivo idoso e o outro (o “sen-sacionalista”) optasse pelo diminutivo velhinho. Isso porque uma das funções do diminutivo é provocar afetividade e, somando essa carga do diminutivo à ideia de injustiça, é certo que o leitor sentiria piedade depois de ler o texto, dando a resposta que o autor esperava quando optou por usar velhinho em vez de idoso.

4. O quarto modo de marcar a opinião no texto diz respeito à ordem dos elementos no período. Vamos analisar um exemplo:

A casa do rei do rock recebe dezenas de pessoas diariamente. Em pleno século XXI, o culto a Elvis Presley continua.

Há duas coisas importantes, na ordem desse período: o destaque ao número de pessoas que visitam a casa do artista e o fato de o título “rei do rock” ser mencionado antes do nome de Elvis, o que só é possível porque essa expressão já foi empregada tantas vezes para se fazer re-ferência a Elvis Presley que acaba funcionando quase como um sinôni-mo para o seu nome próprio. Além disso, no exemplo dado se acentua o fato de Elvis ser considerado uma lenda, o que justifica tantas home-nagens e visitas à sua mansão, diariamente.

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Fato, opinião e tipos de discurso

Experimentemos agora inverter a ordem do exemplo dado:

Em pleno século XXI, o culto a Elvis Presley continua. A casa do rei do rock recebe dezenas de pessoas diariamente.

A transformação pode parecer inexistente ou insignificante, mas o fato é que, com essa pequena troca de posição dos períodos, o sentido do texto sofreu um impacto. Indubitavelmente, tudo o que foi dito no pri-meiro texto também é dito nesse. O que é diferente é o modo como as informações são apresentadas. O começo do texto prioriza a atempo-ralidade de Elvis, para só depois mencionar o número de visitantes que chegam à mansão do cantor todos os dias. Enfatize-se, porém, que o uso da locução adverbial “Em pleno século XXI”, logo no início do tex-to, empresta um tom que pode ser interpretado como crítica àqueles que cultuam a imagem do rei do rock, como se a atitude dos fãs fosse considerada fora de época.

Tipos de discursoFazer uma citação é um bom recurso para garantir a predominância do

fato sobre a opinião. Se a fala de alguém, transcrita direta ou indiretamente, fizer algum julgamento de valor, o autor do texto não se compromete com isso: o crédito ou descrédito da afirmação ou da crítica vai para aquela pessoa que fez a declaração. Ao autor do texto apenas coube a tarefa da transcrição. Desse modo, seja qual for o tipo de discurso adotado pelo autor do texto – direto, indireto ou indireto livre –, a utilização da palavra do outro é um bom artifício para se isentar de opinar sobre o fato apresentado no texto.

Para exemplificar isso, vamos transformar o trecho “O bom desempenho do jogador…” em um discurso proferido por outra pessoa e apenas citado pelo autor do texto.

Vamos tentar primeiro a citação da forma direta:

O técnico disse: “O jogador teve um bom desempenho.”

Agora, vamos utilizar o discurso indireto:

O técnico disse que o jogador teve um bom desempenho.

Mesmo considerando as diferentes modalidades de discurso, a conclu-são é uma só: quem achou que “O jogador teve um bom desempenho” foi o técnico e não o autor do texto. Isso comprova a validade das citações como meio de dar mais destaque ao fato que à opinião do autor do texto.

Fato, opinião e tipos de discurso

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Veterinárias lançam sorvete para cachorro; especialista condena petiscos

(GRANJEIA, 2010)

Os sorvetes tradicionais podem causar diarreia, vômito e cáries nos dentes dos animais de estimação. Com o forte calor do verão e a relação cada vez mais cheia de mimos entre os donos e seus bichos, duas veterinárias de São Paulo lançaram, em janeiro, um sorvete produzido especialmente para cachorros.

Thaís Mucher, veterinária e empresária, afirma que a ideia surgiu porque ela mesma dava sorvete para seu cachorro. “Muita gente faz isso, mas não é reco-mendado. Nós pegamos a fórmula básica de um sorvete e tiramos a gordura hidrogenada, o açúcar e diminuímos em quase 50% o teor de lactose”, explica.

[…]

Mas, assim como os demais petiscos, o sorvete não deve substituir a ração. Thaís e sua irmã Juliana, que também é veterinária, dizem acreditar que o produto é o primeiro do tipo fabricado no Brasil. “Fizemos muitas pesquisas, achamos uma marca registrada, mas não achamos o sorvete para vender e não achamos site da empresa. Encontramos sorvetes para cachorros produzi-dos nos Estados Unidos, Bélgica e Taiwan”, diz Thaís.

[…]

O médico veterinário especialista em dermatologia, Alexandre Pasternak, não recomenda nenhum tipo de petisco para os animais de estimação. Paster-nak, que é diretor da Anclivepa (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais) de São Paulo, diz que 90% das alergias em cachorros são causadas por esses tipos de alimentos.

[…]

De acordo com o veterinário, a alimentação desregulada, com o excesso de carboidrato dos petiscos, pode causar distúrbios gastrointestinal, endocrino-lógico ou dermatológico, como as alergias, obesidade, diabetes e hipertireoi-dismo. “Eu não recomendo bife, sorvete, nada disso. Uma cenoura e interação com o animal são mais indicados do que esses petiscos”, afirma Pasternak.

Porém, não basta sabermos que fato e opinião têm relação com os tipos de discurso: também é necessário que nos lembremos de como identificar e como usar cada um deles. Para isso, com base na breve retomada feita pelos exemplos acima, leia o texto a seguir e nele tente localizar as partes que exemplificam os discursos direto e indireto, muito usados diariamente, em diversas situações da fala ou da escrita.

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Fato, opinião e tipos de discurso

Discurso diretoO discurso direto inclui no texto uma fala ou um texto escrito, na íntegra

ou em partes. As marcas que evidenciam que a citação corresponde à fala ou ao texto de outra pessoa compõem uma espécie de fórmula responsável por introduzir o discurso do outro no texto que está sendo escrito. A fórmula do discurso direto é composta dos elementos abaixo.

Indicação do autor do discurso que será citado – Pode ser feita pelo �nome próprio ou pelo uso de um relator, como cargo/função ou pronome pessoal (ele/ela), por exemplo.

Abertura – Pode ser feita por um verbo � dicendi, ou seja, por um ver-bo que anuncia que alguém disse, relatou, afirmou ou contou alguma coisa. Também é comum o uso de verbos no imperativo (observe, leia, confira…). Além disso, a abertura pode ser extensa e compreender até mesmo um período inteiro (A passagem que demonstra isso, no texto, é...).

Dois-pontos – Vêm logo depois da abertura e funcionam como diviso- �res entre o texto que está sendo escrito e o texto do outro (citação).

Mas também há outra fórmula para o discurso direto. Vejamos.

Vírgula – Vem logo depois do discurso citado, a fim de separar a apre- �sentação da citação em si.

Verbo � dicendi.

Indicação do autor do discurso que foi citado. �

O que determina qual esquema será usado é a ordem escolhida. O pri-meiro esquema é utilizado quando a citação é feita depois da apresentação de seu autor. Já o segundo, vale para situações em que a citação vem antes de se dizer ao leitor quem é o autor do discurso citado.

No entanto, há um ponto comum entre esses dois modos de se usar o discurso direto: as aspas, que são usadas para indicar que a passagem foi transcrita tal como se apresenta no texto original. Em se tratando de fala, indicam que o que o outro falou foi transcrito literalmente, sem nenhuma modificação. Quando as aspas não aparecem, é usado o travessão, com a mesma função de preservar o conteúdo do discurso alheio.

Fato, opinião e tipos de discurso

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Depois dessa breve introdução, é possível classificarmos algumas passa-gens do texto lido como exemplos de discurso direto:

“Muita gente faz isso, mas não é recomendado. Nós pegamos a fórmula básica de um sorvete e tiramos a gordura hidrogenada, o açúcar e diminu-ímos em quase 50% o teor de lactose”, explica.

(Quem explica é Thaís Mucher, veterinária e empresária.)

“Fizemos muitas pesquisas, achamos uma marca registrada, mas não acha-mos o sorvete para vender e não achamos site da empresa. Encontramos sorvetes para cachorros produzidos nos Estados Unidos, Bélgica e Taiwan”, diz Thaís.

(Refere-se a ela mesma e à sua irmã Juliana.)

“Eu não recomendo bife, sorvete, nada disso. Uma cenoura e interação com o animal são mais indicados do que esses petiscos”, afirma Pasternak.

Observe que todos esses trechos usam o segundo esquema, isto é, primei-ramente fazem a citação e depois informam a autoria. Os elementos básicos do esquema utilizado (vírgula, verbo dicendi e nome do autor) aparecem res-saltados em cada citação. Repare, porém, que o primeiro exemplo é o único que não cita o nome de quem fez a declaração apresentada entre aspas. Isso é possível porque antes da citação o nome dessa pessoa já foi anunciado. Logo, nesse caso, o autor da citação pode ficar subentendido.

Discurso indiretoO discurso indireto diferencia-se bastante do discurso direto. Em primeiro

lugar, isso ocorre porque o discurso indireto dispensa as aspas. O mesmo ocorre com a pontuação: vírgula e dois-pontos não aparecem em uma pas-sagem que privilegia o discurso indireto. Entretanto, o discurso indireto in-forma quem é o autor do discurso citado e, para isso, também precisa da ajuda do verbo dicendi e do que:

A mãe disse que…

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Fato, opinião e tipos de discurso

Mas há casos em que o verbo dicendi e o que são desnecessários, quando, em vez dele, o autor do texto prefere usar uma conjunção ou uma locução conjuntiva, como conforme, de acordo com, segundo etc.

Vamos retomar alguns exemplos de discurso indireto que apareceram no texto lido para tornar mais claras todas essas informações.

Thaís Mucher, veterinária e empresária, afirma que a ideia surgiu porque ela mesma dava sorvete para seu cachorro.

Thaís e sua irmã Juliana, que também é veterinária, dizem acreditar que o produto é o primeiro do tipo fabricado no Brasil.

Pasternak, que é diretor da Anclivepa (Associação Nacional de Clínicos Ve-terinários de Pequenos Animais) de São Paulo, diz que 90% das alergias em cachorros são causadas por esses tipos de alimentos.

De acordo com o veterinário, a alimentação desregulada, com o excesso de carboidrato dos petiscos, pode causar distúrbios gastrointestinal, en-docrinológico ou dermatológico, como as alergias, obesidade, diabetes e hipertireoidismo.

Para analisarmos os exemplos retirados do texto, vamos dividi-los em dois grupos: um que abrange os três primeiros e outro que se restringe ao último.

Observe, no primeiro grupo, o destaque dado ao autor do discurso citado, ao verbo dicendi e ao que: esses três elementos introduzem a citação propria-mente dita (as partes que, nos exemplos, estão sublinhadas). As citações não estão entre aspas, mas isso não quer dizer que o autor do texto que recupera o discurso de outra pessoa pode transcrevê-lo de qualquer maneira. Em ab-soluto: o discurso indireto precisa ser uma paráfrase, sem provocar alteração considerável no sentido daquilo que foi dito ou escrito.

Antes de passarmos ao último exemplo, vamos ressaltar que os três pri-meiros apresentam aposto ou oração explicativa depois de informar o nome da pessoa que é dona do discurso que está sendo citado. Embora tenham valor secundário, o aposto e a oração explicativa servem para fornecer ao leitor mais detalhes sobre a pessoa que disse ou escreveu aquilo que foi citado no texto.

Já no último exemplo, percebemos claramente que, em vez do verbo di-cendi seguido de que, o autor do texto utiliza “De acordo com o veterinário”,

Fato, opinião e tipos de discurso

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trecho em que a locução conjuntiva de acordo com é seguida da informação de quem é o autor da citação – “o veterinário”. Além disso, merece atenção a vírgula utilizada entre a primeira e a segunda parte do trecho, pois nesse caso a pontuação serve para separar a abertura do discurso propriamente dito (parte sublinhada).

Discurso indireto livreA modalidade do discurso indireto livre abre mão das referências à auto-

ria da fala ou do texto transcrito. É comum também que a passagem da voz do narrador para a do personagem que fala não seja marcada por pontua-ção. Apesar da falta de delimitação entre as vozes que compõem esse tipo de discurso, a fusão garante maior dinamismo e fluência do texto. No entanto, é claro que também exige maior atenção do leitor, que já não conta com os sinais gráficos ajudando a indicar onde acaba o discurso do autor do texto e começa o discurso de outra pessoa, citada pelo autor para reforçar ou exem-plificar sua ideia.

Para apreender a diferença que representa o discurso indireto livre em re-lação às outras duas modalidades de discurso, mais conhecidas e utilizadas, vamos supor uma situação.

Há um casal e o marido decide pedir demissão do emprego, por diversas razões, sobre as quais já conversou com a esposa. Depois de ele informar a escolha à mulher, ela diz , tocando a mão dele, que o apoiará sempre.

Vejam que, no exemplo acima, foi usado o discurso indireto (parte su-blinhada), para apresentar o que a mulher disse ao marido. As principais marcas desse discurso (indicação de quem fala + verbo dicendi + que) estão destacadas.

Agora vejamos a cena dada em forma de discurso direto.

O marido decide pedir demissão do emprego, por diversas razões, sobre as quais já conversou com a esposa. Depois de ele informar a escolha à mulher, ela diz, tocando a mão dele:

– Eu sempre vou apoiar você.

O mesmo exemplo, mantendo a forma de discurso direto, poderia, ainda, ser apresentado desta forma, usando aspas, em vez de travessão:

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Fato, opinião e tipos de discurso

Os cães de gravata(MAINARDI, 2007)

Cada um escolhe seu próprio inimigo. O meu morreu no mês passado, aos 95 anos. Era Joseph Barbera, um dos fundadores dos estúdios Hanna-Barbera. No começo de janeiro, morreu também um de seus principais colaboradores, Iwao Takamoto, criador do Scooby-Doo. Estou com sorte. Livrei-me de dois inimigos em menos de um mês.

O marido decide pedir demissão do emprego, por diversas razões, sobre as quais já conversou com a esposa. Depois de ele informar a escolha à mulher, ela diz, tocando a mão dele: “Eu sempre vou apoiar você.”

Já no discurso indireto livre, as marcas das modalidades anteriores de dis-curso, acima exemplificadas, desaparecem por completo:

O marido decide pedir demissão do emprego, por diversas razões, sobre as quais já conversou com a esposa. Depois de ele informar a escolha à mulher, ela toca a mão dele. Eu sempre vou apoiar você.

Não há verbo dicendi, que, dois-pontos, aspas e nem mesmo a indicação clara de que ela assumiu a palavra. Isso é subentendido pela sequência da ação – afinal, depois de ser informada da decisão tomada pelo marido, ela se aproxima dele, toca sua mão e, no período seguinte, já aparece uma fala que combina perfeitamente com a situação. A lógica não permite que o leitor interprete essa fala como sendo do marido. Isso quer dizer que a ausência das marcas dos outros discursos não prejudica a compreensão do texto, mas é certo que exige muito mais atenção e comprometimento do leitor para interpretá-lo.

Desse modo, o discurso indireto livre é mais comum em textos literários. Os textos de jornais, revistas e sites, por privilegiarem uma comunicação mais imediata, tendem a privilegiar textos mais claros e objetivos e os discursos direto e indireto servem melhor a essa finalidade.

Texto complementarLeia o texto abaixo analisando a relação entre fato e opinião e tentando

identificar os tipos de discursos utilizados pelo autor.

Fato, opinião e tipos de discurso

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Atribuo grande parte do meu fracasso pessoal aos desenhos animados de Hanna-Barbera. O fato de ter assistido a todos os episódios dos Herculoides, da Tartaruga Touché e dos Flintstones comprometeu meu futuro. O dano cau-sado por horas e horas de Space Ghost, de Wally Gator e de Jonny Quest foi definitivo. Muitas de minhas falhas intelectuais e de personalidade podem ser imputadas a eles. De nada adiantou ler Montaigne mais tarde. No deserto mental provocado por Frankenstein Júnior, pelos Irmãos Rocha e pela Formi-ga Atômica, Montaigne simplesmente não frutifica.

Até a década de 1960, um episódio de Tom e Jerry ou de Pernalonga era feito com algo entre 25 mil e 40 mil desenhos. Joseph Barbera e seu sócio bolaram um jeito de produzir suas séries com menos de dois mil, abatendo seus custos. A técnica recebeu o nome de animação limitada. Os personagens permaneciam estáticos. A única parte de seu corpo que se movia era a cabeça, que pulava compulsivamente da direita para a esquerda, ora com a boca fe-chada, ora com a boca aberta. Para facilitar o corte, todas as figuras tinham o pescoço encoberto por um colarinho ou por uma gravata. Nos desenhos da Hanna-Barbera, sempre há um cachorro de gravata, um super-herói de grava-ta, um dinossauro de gravata.

As paisagens sofreram o mesmo tratamento reducionista. Os personagens dos desenhos de Hanna-Barbera habitam um mundo claustrofobicamente cir-cular. De dois em dois segundos eles passam pela mesma pedra, pelo mesmo veículo espacial, pelo mesmo homenzinho careca e bigodudo de terno azul. A angústia de pertencer a um universo que se repete continuamente só é su-perada pelo fato de que ninguém se dá conta disso. Maguila, Simbad Júnior e os Brasinhas do Espaço parecem desprovidos de memória. As tramas também se repetem de uma série para a outra. Muda apenas o mote de cada persona-gem, a sua frase característica, como “Saída pela esquerda”, “Shazam!” ou “Oh, querida Clementina”, recitada por um mau dublador.

Joseph Barbera e Iwao Takamoto empobreceram minha vida. Assim como empobreceram a vida de todos os meus contemporâneos. Há fases em que a humanidade melhora e há fases em que ela piora. Nada representa com tanta clareza o barateamento intelectual do nosso tempo quanto os desenhos ani-mados de Hanna-Barbera. Cada quadro economizado por eles significou para

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Fato, opinião e tipos de discurso

nós uma ideia a menos, um pensamento a menos, uma sinapse a menos. Os pioneiros de Hanna-Barbera acabam de morrer, mas nossa época está irreme-diavelmente perdida. O único consolo é que esquecemos a miséria em que vivemos de dois em dois segundos.

Atividades1. Identifique as marcas de opinião no texto abaixo.

Navegar é preciso(NAVEGAR é preciso, 2009)

O velejador, economista e empresário Vilfredo Schürmann lançou o livro Navegando com o Sucesso na praça central do Shopping Muel-ler, em Joinville, e na praça central do Shopping Neumarkt, em Blu-menau. Ótimo contador de histórias, apresentou reflexões sobre o sentido de palavras como sucesso, família, trabalho em equipe, sonho e disciplina.

2. O texto abaixo se atém mais aos fatos ou à expressão da opinião? Por quê?

Nascida em Curitiba, em 1982, Marjorie Estiano se mudou para São Paulo aos 18 anos, onde se profissionalizou como atriz e cantora. Já no Rio de Janeiro, estreou na tevê em 2003, em Malhação, e desde então esteve em várias novelas […].” (MARJORIE ESTIANO atriz e can-tora, 2009)

Fato, opinião e tipos de discurso

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3. Identifique a modalidade de discurso dada e depois faça a alteração indicada entre parênteses.

a) O pai disse ao filho: “Decidi lhe dar um carro.” (Passar para o discur-so indireto.)

b) A professora informou aos alunos que no dia seguinte não haveria aula. (Passar para o discurso direto.)

c) O neto abraçou o avô e disse que quando crescer quer ser aviador. (Passar para o discurso indireto livre.)

4. Assinale a alternativa que exemplifica o discurso indireto livre:

a) A menina disse: “Não gosto desse tipo de comida.”

b) O secretário alertou que a reunião seria longa.

c) O chefe parecia verdadeiramente irritado. Não ousem me pertur-bar com problemas!

d) “Cansei de carregar peso”, disse ele.

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Fato, opinião e tipos de discurso

5. Marque a alternativa em que há uma explícita interferência de opinião.

a) Ele leu o relatório e se dirigiu à sala do redator.

b) A aplicação de multas é um meio eficaz para controlar o excesso de velocidade.

c) Como atleta, ele pratica exercícios regularmente.

d) O gaveteiro era grande e marrom.

6. Sobre o discurso indireto, é correto afirmar que

a) em algumas situações, introduz o discurso do outro depois do ver-bo dicendi seguido de que.

b) permite a utilização de aspas ou travessão.

c) utiliza o “que” em todas as situações.

d) é o tipo de discurso que mais preserva a fala do outro.

7. Assinale a alternativa que apresenta a principal mudança que se faz na passagem do discurso direto para o discurso indireto livre.

a) Uso do que.

b) Ausência da informação de quem está falando, impedindo a total compreensão do texto.

c) Uso de conjunções.

d) Não utilização de sinais gráficos para indicar a inclusão do discurso do outro no texto.

8. Leia o trecho abaixo.

O vendedor perguntou ao cliente:

– Em quantas prestações você pretende pagar?

Assinale a opção que classifica corretamente o tipo de discurso utiliza-do no fragmento lido.

a) Discurso indireto.

b) Discurso direto.

Fato, opinião e tipos de discurso

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c) Discurso indireto livre.

d) Discurso direto livre.

9. A(s) modalidade(s) de discurso mais utilizada(s) nos textos publicados em veículos de comunicação de massa é(são)

a) indireto e indireto livre.

b) direto e indireto.

c) direto e indireto livre.

d) direto.

10. Assinale a opção que faz corretamente a transposição do discurso in-direto abaixo reproduzido para o indireto livre.

O padre deu dois passos em direção ao homem, abençoou-o e de-sejou, com palavras ternas, que ele ficasse em paz.

a) O padre deu dois passos em direção ao homem, abençoou-o e lhe desejou paz.

b) O padre deu dois passos em direção ao homem, abençoou-o e de-sejou ternamente. Fique em paz.

c) O padre deu dois passos em direção ao homem e o abençoou. Fi-que em paz.

d) O padre deu dois passos em direção ao homem, o abençoou e de-sejou: “Fique em paz.”

11. Sobre o discurso direto, é correto afirmar que

a) não se preocupa em informar quem está falando.

b) usa a vírgula ou os dois-pontos, dependendo da ordem em que a fala citada aparece no texto.

c) substitui o verbo dicendi pelos dois-pontos.

d) admite paráfrase do discurso citado.

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Fato, opinião e tipos de discurso

Gabarito1. Há marca de opinião no uso do adjetivo em “Ótimo contador de histó-

rias [...].”

2. O texto se restringe aos fatos, pois não apresenta marcas de opinião explícitas. As informações dizem respeito à cidade de origem da ar-tista, a idade com que se mudou para São Paulo, o ano de sua estreia na tevê etc., e essas informações não são julgadas nem positiva, nem negativamente.

3.a) Discurso direto. Passagem para o discurso indireto: O pai disse ao

filho que tinha decidido lhe dar um carro.

b) Discurso indireto. Passagem para o discurso direto: A professora informou aos alunos: “Amanhã não haverá aula.”

c) Discurso indireto. Passagem para o discurso indireto livre: O neto abraçou o avô. Quando eu crescer, quero ser aviador.

4. C

5. B

6. A

7. D

8. B

9. B

10. C

11. B

Dica de estudoPara treinar os tipos de discursos mais utilizados, procure algumas en-

trevistas publicadas em jornais, revistas ou sites e observe as marcas do dis-curso direto. Em uma segunda etapa, tente a transcrição de algumas falas, usando a modalidade do discurso indireto.

Fato, opinião e tipos de discurso

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ReferênciasFIM DO SUFOCO. Correio do Salles, 5 mar. 2010.

GRANJEIA, Julianna. Veterinárias lançam sorvete para cachorro; especialista condena petiscos. Folha On-line, 16 mar. 2010, Seção Bichos. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/bichos/ult10006u707616.shtml>. Acesso em: 20 mar. 2010.

IDOSOS terão recursos. Correio do Salles, 5 mar. 2010.

LUTA. Correio do Salles, 5 mar. 2010.

MAINARDI, Diogo. Cães de gravata. Veja, 31 jan. 2007.

MARJORIE ESTIANO, atriz e cantora. Ler & Cia, set. e out. 2009.

NAVEGAR é preciso. Ler & Cia, set. e out. 2009.

Tipos de texto

Informativos e literáriosOs diversos tipos de texto podem ser divididos em dois grandes blocos:

um que abrange textos de caráter informativo e outro que compreende textos de caráter literário.

Podemos resumir as principais diferenças entre esses dois conjuntos elencando

intenção ou objetivo, �

público-alvo, �

linguagem, e �

comprometimento com a realidade. �

Vamos tratar, então, de comentar cada um desses pontos para tornar as coisas mais claras:

IntençãoO texto informativo tem a evidente intenção de informar. Exemplos desse

tipo de texto são os textos jornalísticos, os panfletos, as bulas de remédio, os manuais de instrução etc. Textos informativos têm objetivos bastante varia-dos: eles podem mencionar as consequências de uma forte chuva, a oferta de um serviço e até mesmo o lançamento de um produto.

Já a intenção do texto literário é diferente porque envolve uma expres-são artística. Obviamente, o texto literário pode, também, informar, mas essa não é a sua principal função. Textos literários podem, simplesmente, propor-cionar entretenimento, contar uma história ou, até mesmo, romper com o padrão artístico vigente a partir da apresentação de uma nova proposta de literatura.

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Tipos de texto

Público-alvoDepois de estabelecida uma intenção, os textos têm definido seu público-

-alvo. Os leitores de um texto informativo são muitos, justamente pelo alcan-ce desse texto. A diversidade de pessoas que formam esse público é tanta que é preciso fazer um nivelamento buscando equilibrar as coisas – afinal, há pessoas de várias idades, de diferentes níveis socioeconômicos, homens e mulheres, talvez até crianças, com interesses e profissões diferentes, níveis de escolaridade também distintos e assim por diante.

No que se refere ao público dos textos literários, de alcance mais restrito por causa da especificidade desse conjunto, as coisas mudam consideravel-mente. É claro que isso se deve à maior dificuldade de acesso a esses textos: o estilo do autor, a divulgação da obra e, sobretudo, o preço do livro restrin-gem o público.

LinguagemA restrição de que falamos também é reflexo da linguagem que o texto

literário usa ou pode usar. As figuras de linguagem são largamente utiliza-das, assim como são permitidas algumas licenças poéticas – assim chamadas porque vão de encontro ao padrão gramatical. Em contrapartida, o texto in-formativo tende a facilitar a linguagem, para atender à demanda do públi-co: notícias, panfletos e informes são consumidos rapidamente e, por isso, devem investir na objetividade e concisão, sem artifícios que compliquem a apreensão do sentido do texto.

RealidadeO último quesito usado para diferenciar textos informativos e literários é

o comprometimento com a realidade. Esse comprometimento é palavra de lei para os textos que objetivam informar o leitor. Considerando uma notícia de jornal, por exemplo, é sabido que os fatos devem ser priorizados, inclusive com a apresentação de diversas versões sobre o que aconteceu, de modo a levar até o leitor o maior número de informações apuradas, para evitar par-cialidade. Um redator de textos publicados em jornal, revista ou site, a rigor, não pode inventar notícias, pois a sua tarefa é registrar o fato da maneira mais neutra possível.

Em um caminho totalmente inverso, o texto literário pode partir da re-alidade, mas uma vez que o fato foi transposto para o universo da ficção, admitem-se distorções, cortes ou excessos.

Tipos de texto

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Há, inclusive, textos literários que se afastam bastante da realidade. É o caso das histórias de terror, de alguns contos de fada, da literatura fantás-tica ou da ficção científica. Outros textos literários, mais afeitos à realidade, apesar de pertencerem ao universo ficcional (que envolve o criado e o ima-ginado), investem na verossimilhança. Mas atenção: um texto verossímil tra-balha para “parecer” real. Aliás, esse esforço de alguns textos dessa categoria para parecerem reais já é a prova contundente de que eles não são reais e por isso apelam à verossimilhança, que tenta promover o convencimento do leitor para envolvê-lo com a história que ele está lendo.

Textos informativos

Textos jornalísticosOs textos jornalísticos priorizam a informação, têm um público bastan-

te amplo e, por isso, são escritos em língua padrão, o que significa que as normas gramaticais devem ser obedecidas à risca. Embora haja a preocupa-ção com a “neutralidade” e a “imparcialidade” do texto, é certo que ocorrem interferências da opinião, às vezes até inconscientemente, por um adjetivo que aparece no texto, pela ordenação das partes que formam os períodos etc. Há algumas editorias, em jornais e revistas, que acumulam textos que utilizam uma carga maior de opinião. Podemos citar como exemplos as co-lunas, principalmente as colunas sociais, os artigos sobre cultura, turismo, gastronomia, moda, televisão e algumas matérias esportivas.

Para verificar como essas características aparecem em um texto jornalís-tico, vamos analisar o texto abaixo.

Cirque du Soleil abre 200 vagas para apresentação em Porto Alegre

Salários variam de R$ 800 a R$ 1.200.

É preciso ter ensino médio completo. Inglês fluente é diferencial

(CIRQUE DU SOLEIL abre 200 vagas para apresentação em Porto Alegre, 2010)

A agência de empregos Allis recebe inscrições para 200 vagas em Porto Alegre (RS) para o espetáculo Quidam, do Cirque du Soleil, que acontecerá no final de maio na cidade. O salário varia de R$ 800 a R$ 1.200 e inclui benefícios como vale-transporte e alimentação no local.

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Tipos de texto

As oportunidades são para os cargos de atendente de bar, caixa, auxiliar de cozinha, cozinheiro bilíngue, garçom, recepcionista, recepcionista bilíngue, vendedor, estoquista, assistente de camarim bilíngue, analista de suporte, au-xiliar administrativo, costureira bilíngue e mâitre.

Os candidatos devem ter ensino médio completo e disponibilidade de ho-rário nos períodos da tarde, noite e finais de semana. É desejável ter experiên-cia na função. Fluência em inglês será considerada um diferencial.

Características como dinamismo, proatividade e facilidade em comunica-ção também são vistas como essenciais para integrar a equipe do evento.

O texto cumpre as principais funções e apresenta as características próprias do texto informativo. Considerando o site em que foi publicado – um site das or-ganizações Globo, com a sua força de divulgação –, conclui-se que o público-alvo abrange grande número de pessoas. Isso se relaciona fortemente ao objetivo do texto, que é informar uma oportunidade de emprego em um dos grupos mais famosos do mundo. Obviamente, a repercussão é grande, pela oferta e pelo site em que a matéria foi publicada.

Analisando atentamente a linguagem, o texto foi escrito de acordo com as normas da língua portuguesa. É visível também o predomínio do fato sobre a opinião. Nenhum trecho demonstra opinião. Alguns períodos podem até ser apontados como exemplos de marca de opinião, como: “É desejável ter experiência na função. Fluência em inglês será considerada um diferen-cial.” Porém, uma leitura mais cuidadosa revela que “É desejável” e “Fluência em inglês será considerada um diferencial” não demonstram a opinião do autor do texto, mas a expectativa dos contratantes em relação ao perfil dos candidatos.

Para reforçar o teor informativo do texto, basta tentar um rápido esboço do texto, listando tópicos na ordem em que eles aparecem, parágrafo a parágrafo:

1) empresa contratante, número de vagas, salário e benefícios;

2) cargos disponíveis; e

3 e 4) habilidades exigidas.

Tipos de texto

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Textos técnicosOs textos técnicos também fazem parte do conjunto dos textos informa-

tivos. O adjetivo técnicos deve-se ao fato de a língua padrão dividir espaço com a nomenclatura específica da área de conhecimento com a qual o texto se relaciona. Uma bula de remédio é exemplo de texto técnico e traz um vo-cabulário bastante específico, da área de medicina, química, ou similar.

Nessa categoria, também podem ser incluídos os manuais de instrução, os livros didáticos, os dicionários, os contratos etc. Vamos, agora, à análise de um texto técnico.

MERITÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE (XXX)

(PETIÇÃO, 2009)

Proc. n.º: (XXX)

REQUERENTE, previamente qualificado nos presentes autos, ciente da prova apresentada no processo, vem, à presença de V. Exa., requerer a rea-lização de exame pericial, uma vez que tal prova – gravação feita em inter-ceptação telefônica e respectiva transcrição – constitui, na realidade, produto de adulterações através de edição, fato este responsável por retirar toda sua validade.

Conforme o exposto, fica impugnada a mencionada prova.

A natureza técnica do texto é evidente, desde o início, quando se percebe que se trata de um documento da área do Direito, destinado à apreciação de um juiz. Além do formato que o texto tem de obedecer, com indicação do destinatário, informação do número do processo, o pedido em si e a conclu-são, nota-se também que a linguagem é bastante específica. O jargão jurídi-co é largamente utilizado e é isso que garante a classificação do texto como técnico. O vocabulário é todo jurídico, como bem demonstra esta pequena lista de palavras retiradas do texto: Meritíssimo juiz, vara criminal, requerente, autos e exame pericial.

É inegável o aspecto informativo do texto analisado, porém, ressalte-se que o texto anterior, jornalístico, é muito mais abrangente e de maior reper-cussão que a petição transcrita acima. Essa diferença serve para demonstrar

112

Tipos de texto

a principal característica do texto técnico – a especificidade, porque a lingua-gem utilizada e, muitas vezes, até o assunto tratado dirigem-se a pessoas de uma determinada área, o que reduz, e muito, a repercussão do texto.

Textos literários

ProsaOs textos em prosa são aqueles escritos de modo contínuo, de uma

margem à outra da página, formando períodos que são reunidos nos pa-rágrafos que compõem o texto. Há diversos tipos de textos em prosa: ro-mances, novelas, contos, crônicas etc. De variados tipos e tamanhos, a prosa literária só difere da prosa informativa pelos quesitos já apresentados e ana-lisados (intenção, público, linguagem e comprometimento com a realidade). Mas o formato é exatamente o mesmo.

A fim de consolidar as características da prosa literária, vamos analisar dois textos.

O filho da mãe(CARVALHO, 2010)

Andrei sai do quartel a tempo de chegar à praça da estação às nove da noite. Não deve ser visto. As ruas ainda não estão completamente deser-tas, mas a essa hora, pelo menos, sua figura solitária não despertará tanta suspeita quanto se passasse por ali de madrugada. […] No vagão em que ele entra, há apenas uma mulher com maquiagem carregada. Andrei senta, sem se dar conta, no banco diante do dela. É uma espécie de compulsão in-consciente. Evita ficar sozinho. Como se a proximidade dos outros pudesse desviar a atenção de si mesmo.

O trecho acima tem como personagem Andrei. A sua história é contada por um narrador que usa a terceira pessoa (“Andrei sai”), já que ele está se ocupando com a trajetória de outra pessoa e não a sua própria. Apenas pelo fato de o trecho transcrito fazer parte da obra O Filho da Mãe, livro publicado em 2009, pelo escritor Bernardo Carvalho, já sabemos de detalhes importan-tes sobre o texto: é uma história de ficção, com intenção artística e, portanto, tem público mais restrito e pode admitir numerosas variações linguísticas.

Tipos de texto

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Como um bom texto literário em prosa, é uma narrativa. No entanto, isso não quer dizer que não existam trechos descritivos dentro da narração. Vamos tratar de exemplificar e comentar essa diferença.

Andrei sai do quartel a tempo de chegar à praça da estação às nove da noite. Não deve ser visto.

Andrei senta, sem se dar conta, no banco diante do dela.

Os dois trechos são exemplos de narração. Coincidentemente, ambos começam com o nome do personagem seguido de um verbo (sai e senta). A função de uma narrativa: contar um fato, detendo-se sobre as ações dos personagens.

Agora vem a descrição, que pode ser assim exemplificada:

As ruas ainda não estão completamente desertas […].

No vagão em que ele entra, há apenas uma mulher com maquiagem carregada.

Percebam que a descrição quebra um pouco o ritmo do texto, que se torna mais lento. Esse intervalo se dá para que as coisas ou pessoas sejam apresen-tadas com mais detalhe ao leitor, razão pela qual aumenta o uso de adjetivos (desertas e carregadas).

O Filho da Mãe, de Bernardo Carvalho, é um romance e, sendo assim, apre-senta um volume de páginas bastante considerável. Entretanto, a prosa literá-ria nem sempre é longa. Vejamos um texto surpreendentemente curto:

Agulhas brancas ligeirinhas costuram o ar. Chove. (TREVISAN, 1997, p. 12)

Esse texto tem dois períodos, mas não chega a completar uma linha, em uma rapidez que é marca registrada do escritor Dalton Trevisan. E esse texto também tem intenção artística, público mais específico e teor ficcional. O mais importante, porém, é a linguagem. Apesar de sermos capazes de inter-pretar o texto, a linguagem não é transparente. No primeiro período, o narra-dor faz uso de metáforas, cujo significado simbólico precisa ser desvendado para se chegar ao real objeto ou à real situação que está sendo descrita ou apresentada. Ao final da leitura do primeiro período, “agulhas brancas” são apenas “agulhas brancas”, mas o segundo período traz uma pista importante, causando uma reviravolta no sentido do texto. Assim, “Chove” não fecha o texto por acaso – afinal, qual é a relação desse verbo com as “agulhas bran-

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Tipos de texto

cas”? É respondendo a essa questão que o leitor descobre o real sentido por trás da metáfora e conclui que as “agulhas brancas” não passam de pingos de chuva.

Interpretação mais trabalhosa, não é mesmo? É por essa razão que o texto de Dalton Trevisan é uma prosa literária. Um texto artístico pode usar e abusar das metáforas. O mesmo não se pode dizer de um texto técnico, no qual a metáfora, se utilizada, poderá ser um obstáculo e tanto para a com-preensão correta e imediata do sentido do texto.

PoemaOutra estrutura que pode ser adotada pelos textos literários é a escrita em

versos. Nesse formato, cada linha do texto constitui um verso e não é preciso que os versos sejam escritos de forma contínua, formando períodos, parágra-fos e indo de um lado ao outro da página. Nada disso: os versos privilegiam a sonoridade, preocupam-se mais com as rimas, o ritmo, ou com a falta deles, e são compostos de sílabas poéticas. É a partir delas que se dá a cadência rítmi-ca do texto. Cada conjunto de versos é separado de outro por um espaço em branco, formando blocos. Um bloco equivale a uma estrofe e é o conjunto de estrofes que chamamos poema. Entretanto, como há exceções para tudo, exis-tem poemas com apenas uma estrofe. Como exemplo de texto poético, vamos ler esta estrofe, que integra um soneto de Camões (2007):

Transforma-se o amador na cousa amada,

Por virtude do muito imaginar;

Não tenho logo mais que desejar,

Pois em mim tenho a parte desejada.

Como os demais textos literários, a intenção artística é evidente. O públi-co-alvo é bastante específico, não só porque a maioria das pessoas prefere ler textos em prosa a ler textos em versos mas também porque a linguagem, somada à estrutura fragmentada dos versos, constitui um desafio maior de interpretação. O escritor português Luís Vaz de Camões tem sua produção datada do século XVII. A distância temporal é, portanto, o primeiro entrave a ser superado pelos leitores dos seus textos. Isso sem falar na linguagem figurada e na inversão sintática – afinal, alguns versos usam a ordem indireta (“Transforma-se o amador na cousa amada”), em vez da ordem direta (sujeito + verbo + predicado = “O amador transforma-se na cousa amada”).

Tipos de texto

115

Quanto à estrutura, o fragmento compreende quatro versos e, por isso, é uma estrofe chamada de quadra ou quarteto. No que se refere à sonoridade, destacam-se as rimas (“amada” e “desejada” / “imaginar” e “desejar”).

Texto complementarO texto abaixo é uma crônica. A crônica é um texto em prosa que fica

entre o informativo e o literário. Essa duplicidade deve-se ao fato de a crô-nica poder se referir a um acontecimento real, como, aliás, parece o caso do episódio que Paulo Coelho retrata em seu texto.

Tudo é uma coisa só(COELHO, 2010)

Reunião na casa de um pintor paulista que está vivendo em Nova York.

Conversamos sobre anjos e sobre alquimia.

Em determinado momento, tento explicar a outros convidados a ideia al-química de que cada um de nós contém dentro de si, o Universo inteiro – e é, portanto, responsável por ele; luto com as palavras, mas não consigo uma boa imagem que explique meu ponto de vista.

O pintor, que está escutando calado, pede para que todos olhem pela janela do seu estúdio.

“O que estão vendo?”, pergunta.

“Uma rua do Village”, responde alguém.

O pintor cola um papel no vidro, de modo que a rua não pode mais ser vista. Com um canivete, corta um pequeno quadrado no papel.

“E, se alguém olhar por aqui, o que verá?”

“A mesma rua”, é a resposta.

O pintor faz vários quadrados no papel.

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Tipos de texto

“Assim como cada buraquinho neste papel contém, dentro dele, a visão da mesma rua, cada um de nós contém, em sua alma, o reflexo do mesmo Universo”, diz ele.

E todos os presentes batem palmas pela bela imagem encontrada.

Atividades1. Considerando a seção de classificados de qualquer jornal, defina os

textos que a compõem como informativos ou literários. Justifique sua resposta.

Tipos de texto

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2. Escolha um texto técnico e apresente as suas principais características, exemplificando-as.

3. Explique qual a relação entre intenção, público-alvo e a linguagem utilizada nos textos informativos, especificamente nos textos jorna-lísticos.

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Tipos de texto

4. Marque a alternativa que apresenta as principais diferenças entre tex-tos literários e textos informativos.

a) Intenção, público-alvo, linguagem e comprometimento com a re-alidade.

b) Tema, público-alvo, linguagem e comprometimento com a reali-dade.

c) Intenção, público-alvo, estrutura e comprometimento com a reali-dade.

d) Intenção, público-alvo, linguagem e vocabulário técnico.

5. Assinale os exemplos de texto informativo.

a) Panfleto, notícia de jornal e conto.

b) Manual de instrução, romance e notícia de jornal.

c) Manual de instrução, panfleto e notícia de jornal.

d) Romance, conto e poema.

6. Sobre os textos literários, é correto afirmar que

a) têm natureza informativa.

b) podem ser escritos em prosa ou em versos.

c) destacam-se pelo uso de jargões.

d) têm na crônica o exemplo mais tradicional.

Tipos de texto

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7. Assinale os exemplos de textos literários.

a) Receita culinária, bilhete e romance.

b) Crônica, carta e poema.

c) Romance, conto e poema.

d) Documentos, manual de instrução e contrato.

8. Sobre o uso de metáforas, é correto afirmar que

a) constituem a principal característica do texto informativo.

b) não são comuns em poemas.

c) são admitidas exclusivamente nos textos literários.

d) geralmente afetam a clareza do texto, razão pela qual costumam ser evitadas em textos de caráter informativo.

9. Marque a alternativa que se refere a um elemento comum em textos informativos.

a) Estrutura fragmentada.

b) Narração ficcional.

c) Desobediência à norma gramatical.

d) Interferência mínima de opiniões.

10. Rimas, ritmo, estrofes e metáforas são elementos básicos formadores geralmente associados aos

a) romances.

b) poemas.

c) textos jornalísticos.

d) contos.

11. No que diz respeito à descrição e à narração, é correto afirmar que

a) servem tanto ao texto literário como ao informativo.

b) são componentes que servem exclusivamente ao texto literário.

c) são componentes que servem exclusivamente ao poema.

d) são componentes que servem exclusivamente ao texto informativo.

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Tipos de texto

Gabarito1. Os anúncios classificados são informativos porque não têm intenção

artística, mas informativa. O público desse tipo de texto é bastante amplo e variado, razão pela qual os classificados são escritos em língua padrão. A única ressalva cabe às abreviaturas, aceitas para dar maior brevidade aos textos. Por fim, o comprometimento desse tipo de texto com a realidade deve ser total, porque, em tese, eles anunciam vagas, produtos ou serviços que de fato estão disponíveis no mercado.

2. Resposta possível:

Pão de bafo

(CARNEIRO JÚNIOR, 2004, p. 89)

Ingredientes

Massa do pão

1 kg de farinha de trigo

Sal a gosto

Fermento

Óleo

Água morna

1 ovo

Complemento

Repolho ou couve refogada

Bacon

Costelinha defumada

Linguiça

Modo de preparar

Faça o pão, misturando todos os ingredientes e deixando a massa crescer. Prepare o complemento misturando os ingredientes em uma panela, frite e depois deixe cozinhar. Abra a massa do pão, passe a banha no meio e enrole em forma de bolinhas, deixando crescer. Depois de crescido, coloque sobre o complemento, tampe e deixe ferver por 40 minutos.

Tipos de texto

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Análise: A receita de pão de bafo pode ser considerada um texto técnico, porque tem caráter informativo e utiliza um vocabulário específico da área de gastronomia. Exemplos que comprovam essa particularidade: “1 kg de farinha de trigo” e “tampe e deixe ferver por 40 minutos”. Além disso, a es-trutura também é comum à maioria das receitas, que primeiro apresentam a lista de ingredientes e depois o modo de preparo. Acrescente-se ainda que o texto obedece à norma gramatical.

3. Os textos jornalísticos devem priorizar o objetivo da informação, bus-cada por quase todas as pessoas, diariamente. Esse público, amplo e variado, é largamente atingido pelo uso da língua padrão, a qual, jus-tamente por ser padrão, pode ser compreendida por pessoas de dife-rentes regiões, profissões, idades, interesses, classes sociais, níveis de escolaridade etc.

4. A

5. C

6. B

7. C

8. D

9. D

10. B

11. A

Dica de estudoQuer saber mais sobre as crônicas? O melhor jeito é ler algumas e com-

pará-las a contos ou a romances. Machado de Assis é um autor que escreveu tanto crônicas como romances e contos, entre outros tipos de textos. Que tal uma busca rápida na internet, para poder comparar esses textos, reforçando as diferenças entre eles?

ReferênciasCAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos de Camões. Disponível em: <http://www.sonetos-decamoes/lirica/poemas.html>. Acesso em: 21 abr. 2007.

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Tipos de texto

CARNEIRO JÚNIOR., Renato Augusto (coord.). Pratos Típicos Paranaenses. Curiti-ba: Secretaria de Estado da Cultura, 2004.

CARVALHO, Bernardo. O Filho da Mãe. Disponível em: <http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/trechos/2009/04/12/ult5747u55.jhtm>. Acesso em: 7 mar. 2010.

CIRQUE DU SOLEIL abre 200 vagas para apresentação em Porto Alegre. G1 globo.com, 25 mar. 2010, Seção Concursos e Empregos. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Concursos_Empregos>. Acesso em: 25 mar. 2010.

COELHO, Paulo. Tudo é uma coisa só. G1 globo.com, 25 mar. 2010, Seção Blogs e Colunas Paulo Coelho. Disponível em: <http://colunas.g1.com.br/paulocoelho/>. Acesso em: 25 mar. 2010.

PETIÇÃO discordando-se da prova anexada aos autos. Disponível em: <http://www.uj.com.br/publicacoes/peticoes/1623/peticao_disdordando-se_da_prova_anexada_aos_autos>. Acesso em: 19 ago. 2009.

TREVISAN, Dalton. 234. Rio de Janeiro: Record, 1997.

Texto argumentativo

O texto argumentativo tem total compromisso com a opinião, pois ele é a defesa de um ponto de vista, contra ou a favor de algum assunto. Em geral, o tema de um texto argumentativo é suficientemente polêmico – caracterís-tica que se evidencia no interesse demonstrado pelo autor em expressar um ponto de vista a respeito.

Se a intenção do texto argumentativo é expressar opinião sobre um fato ou uma situação, podemos dizer que a escolha do ponto de vista a ser defen-dido pelo autor corresponde a uma tese. Depois de apresentado o posicio-namento, são necessários bons argumentos para defender a tese. Justamen-te aqui está o foco do texto argumentativo, que tem a possibilidade de, em certas situações, exceder o simples expressar de uma opinião, porque a ideia defendida pelo autor pode influenciar os leitores e chegar a fazê-los mu-darem de postura quanto à polêmica retomada a partir da escrita do texto. Dessa forma, a argumentação relaciona-se ao convencimento e, mesmo que acabem por não concordar totalmente com o autor, os leitores do texto em questão devem identificar bom embasamento nos argumentos apresenta-dos e coerência no raciocínio exposto.

Como qualquer outro, o texto argumentativo deve ter começo, meio e fim. No entanto, há elementos específicos que devem aparecer em cada uma de suas partes. É o atrelamento desses elementos às suas respectivas partes que determina a estrutura do texto. Além disso, a argumentação conta com alguns recursos que potencializam seu efeito, oferecendo modos bastante eficazes de provar o raciocínio escolhido e convencer o leitor.

Depois dessa breve introdução sobre o texto argumentativo, vejamos um exemplo, para ser analisado à medida que detalhamos o seu conteúdo.

Literatura: um olhar aberto para o mundo (COELHO, 2007)

Neste limiar de século e de milênio, estamos assistindo ao final de um extenso período da cultura humana (Era Romântica, sécs. XVIII-XIX) e, simulta-neamente, estamos vivendo (conscientemente ou não) uma acelerada muta-

126

Texto argumentativo

ção que está engendrando uma nova cultura, radicalmente diferente da ante-rior, e exigindo a formação de uma nova mente.

Sentimo-nos perdidos diante dessa avalanche de mudanças em todos os níveis da sociedade, porque ainda não nos foi possível descobrir racionalmen-te o encadeamento de todos os elos dessa transformação em curso. Talvez fique mais fácil entendermos a natureza ou o sentido desse processo que es-tamos vivendo se nos valermos do pensamento de Oswald Spengler (A Deca-dência do Ocidente, 1918-1922), ao definir cultura e civilização. […].

Estamos hoje vivendo em pleno “ponto de mutação” (Fritjof Capra), daí a fragmentação, o desnorteamento que caracterizam o mundo que nos rodeia e que precisamos aprender a conhecer, para nele podermos agir. A grande revolução-evolução, hoje vivida por toda humanidade, está acontecendo na esfera da cultura (da mente, do espírito, do pensamento, da reflexão, do ser in-terior) e, evidentemente, em conflito com a esfera da civilização em que ainda predominam as formas consagradas ontem, mas já superadas pelas novas formas emergentes com a revolução tecnológica-cibernética que vem mu-dando a face do mundo, pela anulação das distâncias geográficas e da ruptura de todos os antigos limites (espaciais, temporais, mentais, éticos, estéticos...).

[…]

É dentro desse ciberespaço, desse fascinante mundo virtual, que na esfera da educação e do ensino, o problema leitura/literatura vem crescendo em im-portância. E por quê? […] Está mais do que evidente que estamos vivendo em plena civilização da imagem. […] Mas há já algum tempo se vem descobrindo que só esse contato não basta para a dinamização interior do indivíduo, para o desenvolvimento de suas potencialidades, de maneira plena... Para esse es-tímulo, a leitura é fundamental. É o contato, a interação íntima do eu com a palavra escrita, com o texto, que o leva a desenvolver aquilo que o define como ser humano: a sua própria expressão verbal, sua fala, sua linguagem, sua própria palavra, sem a qual não há nenhuma relação profunda entre o eu e os outros que o rodeiam.

[…] concluímos estas reflexões enfatizando o fato de que é preciso neu-tralizar a ameaça de robotização que paira sobre os indivíduos, neste ciberes-paço. E um dos meios para essa neutralização está, sem dúvida, na literatura/leitura que vem sendo descoberta (ou redescoberta) como um “exercício de viver” ou como fecundo instrumento de “formação das mentes” e de conheci-mento de mundo, da vida. [...]

Texto argumentativo

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Partes do texto argumentativo

IntroduçãoA introdução desempenha o papel de informar a posição assumida pelo

autor do texto diante de algum assunto, é na introdução que se explicita a tese do texto argumentativo. No entanto, como em qualquer outro texto, a introdução do texto argumentativo investe apenas em uma brevíssima apre-sentação do tema, de modo a situar o leitor, familiarizando-o com a questão que motivou a escrita. Para verificar essas considerações na prática, vamos analisar a introdução do texto que apresentamos anteriormente, de Nelly Novaes Coelho.

Neste limiar de século e de milênio, estamos assistindo ao final de um ex-tenso período da cultura humana (Era Romântica, sécs. XVIII-XIX) e, simul-taneamente, estamos vivendo (conscientemente ou não) uma acelerada mutação que está engendrando uma nova cultura, radicalmente diferente da anterior, e exigindo a formação de uma nova mente.

Com a releitura dessa introdução, chega-se facilmente à ideia sintetizada nesse parágrafo. Simplificando ou esquematizando a posição da autora, po-demos propor a seguinte ordem:

“limiar de século e de milênio” → fim de um “período da cultura humana” → “acelerada mutação” → engendramento de “uma nova cultura” → exi-gência de uma nova mentalidade.

Perceba que os elementos que compõem essa sequência organizam-se de modo coerente e progressivo, mas não fomos nós que estabelecemos essa ordem: nós apenas retomamos peças-chave da introdução, na ordem em que a autora as apresentou.

Depois de explicitada a tese, que deve ser identificada e compreendida pelo leitor, é hora de apresentar os argumentos que irão sustentá-la e aden-sá-la, de modo a demonstrar a pertinência do raciocínio introdutório – mas essa função cabe a outra parte do texto.

DesenvolvimentoOs argumentos são listados e aprofundados no desenvolvimento do

texto argumentativo. É nesta parte que a tese é expandida e defendida de fato.

128

Texto argumentativo

Há diferentes modos de argumentar, firmando uma posição sobre o as-sunto em pauta. Variam também os argumentos selecionados para a defesa da tese – afinal, toda construção textual, sobretudo quando está em jogo o expressar de uma opinião, envolve ideologia – isto é, um conjunto de concei-tos culturais próprios de determinado grupo ou época e, portanto, vinculado ao contexto histórico-social.

Apesar disso, alguns autores preferem fazer uma argumentação objetiva, com verbos na terceira pessoa (como em “pressupõe-se que...” ou “observa- -se...”). Claro que isso é apenas um subterfúgio para diminuir a carga de opi-nião, mas diminuir não é sinônimo de anular: a opção pelo texto argumenta-tivo objetivo apenas equilibra o seu tom.

Em contrapartida, o discurso subjetivo enfatiza a carga opinativa e ide-ológica do texto, pois o autor assume com convicção a tese e os argumen-tos citados, chegando, inclusive, a usar situações de sua vida pessoal para as exemplificações feitas no texto.

Para ver como essas orientações sobre o desenvolvimento do texto podem servir à argumentação, vamos nos deter sobre os parágrafos que formam o desenvolvimento do texto que estamos analisando, identificando os argumentos arrolados pela autora.

Sentimo-nos perdidos diante dessa avalanche de mudanças em todos os níveis da sociedade, porque ainda não nos foi possível descobrir racional-mente o encadeamento de todos os elos dessa transformação em curso. Talvez fique mais fácil entendermos a natureza ou o sentido desse processo que estamos vivendo se nos valermos do pensamento de Oswald Spengler (A Decadência do Ocidente, 1918-1922), ao definir cultura e civilização. […].

Estamos hoje vivendo em pleno “ponto de mutação” (Fritjof Capra), daí a fragmentação, o desnorteamento que caracterizam o mundo que nos rodeia e que precisamos aprender a conhecer, para nele podermos agir. A grande revolução-evolução, hoje vivida por toda humanidade, está acontecendo na esfera da cultura (da mente, do espírito, do pensamento, da reflexão, do ser interior) e, evidentemente, em conflito com a esfera da civilização em que ainda predominam as formas consagradas ontem, mas já superadas pelas novas formas emergentes com a revolução tecnológica-cibernética que vem mudando a face do mundo, pela anulação das distâncias geográ-ficas e da ruptura de todos os antigos limites (espaciais, temporais, mentais, éticos, estéticos...).

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[…]

É dentro desse ciberespaço, desse fascinante mundo virtual, que na esfera da educação e do ensino, o problema leitura/literatura vem crescendo em importância. E por quê? […] Está mais do que evidente que estamos viven-do em plena civilização da imagem. […] Mas há já algum tempo se vem descobrindo que só esse contato não basta para a dinamização interior do indivíduo, para o desenvolvimento de suas potencialidades, de maneira plena... Para esse estímulo, a leitura é fundamental. É o contato, a interação íntima do eu com a palavra escrita, com o texto, que o leva a desenvolver aquilo que o define como ser humano: a sua própria expressão verbal, sua fala, sua linguagem, sua própria palavra, sem a qual não há nenhuma rela-ção profunda entre o eu e os outros que o rodeiam.

Seguindo a função própria dessa parte, no primeiro parágrafo do de-senvolvimento, a autora enfatiza a multiplicidade das mudanças que estão ocorrendo, assim como acentua o fato de tais novidades serem percebidas com dificuldade pelas pessoas, já que se diferem muito do antigo modelo de sociedade.

Já no segundo parágrafo, é destacada a mutação, relacionando-a a pro-blemas hoje usuais: “fragmentação” e “desnorteamento”. Em seguida, nova-mente é mencionado que a consequência da transformação em curso é o embate cultural entre as formas antiga e nova. Por fim, a “revolução tecnoló-gica-cibernética” é apontada como a responsável por tantas mudanças.

No último parágrafo que compõe o desenvolvimento do texto em ques-tão, a “revolução tecnológica-cibernética” relaciona-se ao “ciberespaço”, possibilitando-se maior importância à leitura e à literatura, que por sua vez auxiliam o desenvolvimento da expressão individual ou da “linguagem”, “sem a qual não há nenhuma relação profunda entre o eu e os outros que o rodeiam”.

A partir dessas breves colocações sobre o desenvolvimento do texto, foi possível perceber o encadeamento lógico entre os parágrafos, novamente a progressão dos fatos e, no final, apesar de a revolução tecnológica trazer benefícios à sociedade, fica claro que ela precisa ser neutralizada, em alguns momentos – daí a importância da literatura hoje.

130

Texto argumentativo

ConclusãoA conclusão sintetiza o texto, retomando, na maioria das vezes, o ar-

gumento principal, citado no desenvolvimento, para sustentar a tese, que também é retomada nesta parte. Vamos rever a conclusão do texto de Nelly Novaes Coelho.

[…] concluímos estas reflexões enfatizando o fato de que é preciso neu-tralizar a ameaça de robotização que paira sobre os indivíduos, neste ci-berespaço. E um dos meios para essa neutralização está, sem dúvida, na literatura/leitura que vem sendo descoberta (ou redescoberta) como um “exercício de viver” ou como fecundo instrumento de “formação das mentes” e de conhecimento de mundo, da vida. [...]

Embora, no texto, a autora tenha iniciado sua conclusão de modo explí-cito, usando o verbo concluir (“concluímos estas reflexões...”), ressalte-se que o final de um texto não precisa iniciar dessa forma. Fora a síntese que deve ser feita pela conclusão, não há regras rígidas de como iniciar essa parte do texto.

Analisando a conclusão transcrita acima, percebe-se que a autora não atribui apenas aspectos positivos à revolução tecnológica, que indubitavel-mente apresenta vantagens, mas precisa dividir espaço com a literatura, que é uma espécie de contraponto dessa revolução, de modo a não se acabar com tudo excessivamente robotizado. Em outras palavras, a autora sugere que o lado humano da leitura é necessário para contrabalançar a mecaniza-ção da era contemporânea.

A partir do desvendamento dessa conclusão, é impossível não retomar o título – “Literatura: um olhar aberto para o mundo” –, pois ele sintetiza o posicionamento da autora frente às mudanças que caracterizam a sociedade contemporânea.

Recursos do texto argumentativo

DetalhamentoO detalhamento pode ser usado para aumentar o poder de convencimen-

to do texto. Ele garante maior credibilidade para a tese defendida e assim a ideia apresentada tem maior aceitação do público. Detalhar um texto em-

Texto argumentativo

131

presta à argumentação certo didatismo: é como se o autor guiasse os seus leitores “pela mão”, e cada passo, objetivo ou exemplo é acompanhado pelo leitor, de modo a dirimir dúvidas e a aumentar as certezas e a crença em re-lação à tese que está sendo defendida.

O detalhamento pode ser feito pela citação de exemplos ou pela apre-sentação de alguns desdobramentos dos argumentos principais, de modo a consolidar a importância deles para o tema debatido e para a posição assu-mida pelo autor desde a introdução.

Esse recurso é ativado pela autora do texto com o uso dos parênteses, em três situações:

“final de um extenso período da cultura humana (Era Romântica, sécs. XVIII-XIX)”;

“se nos valermos do pensamento de Oswald Spengler (A Decadência do Ocidente, 1918-1922)”;

“pela anulação das distâncias geográficas e da ruptura de todos os antigos limites (espaciais, temporais, mentais, éticos, estéticos...)”.

Nesses três exemplos, o que aparece entre parênteses tem a função de expandir a informação, tornando-a mais clara para o público leitor.

Citação de fontes e exemplosCom a finalidade de embasar a tese defendida no texto, citam-se autores

de renome, que compartilham a mesma posição ou os exemplos que tentam concretizar a ideia apresentada e sustentada, de modo a unir teoria e prá-tica. No texto analisado, há três ocorrências que, nesse quesito, merecem destaque:

referência a Spengler; �

menção a Fritjof Capra; �

o fato de se citar a literatura/leitura como modo de neutralizar a ro- �botização ou a tecnologia excessiva – afinal, a autora poderia apenas mencionar que um modo de contenção seria exigido, mas ela vai além disso e, em vez de apenas alertar para a busca de uma saída, aventa uma possibilidade de saída.

132

Texto argumentativo

O fato de se recorrer a autores de renome comprova para o leitor que a ideia defendida no texto não é absurda, pois há outros autores que a com-partilham. Além disso, citar autores que já se pronunciaram sobre o tema que está sendo debatido promove um empréstimo de credibilidade, o que, sem dúvida, é um modo de avalizar o discurso em elaboração, ou seja, o texto argumentativo.

Quanto ao exemplo que é citado no texto, isso deixa claro para o leitor que a autora do texto foi além de apenas pensar nos reflexos dessa onda tecnológica, já que propõe ao menos um modo de tentar contê-la, para que o aspecto humano não seja totalmente engolido pela robotização.

Raciocínio lógicoApesar de ser um princípio óbvio para a construção de qualquer texto, o

raciocínio lógico se faz mais necessário em um texto argumentativo porque a compreensão da ideia defendida pelo autor é o primeiro passo para o con-vencimento do leitor. Mas nem precisamos ir tão longe: por mais que o leitor não concorde totalmente com a tese defendida, ele pensará sobre o texto e o levará em conta (para rever sua ideologia e seu ponto de vista sobre a questão debatida), se tiver conseguido compreender o raciocínio apresen-tado pelo autor.

Para confirmar que o texto de Nelly Novaes Coelho atende a esse pres-suposto, basta voltar rapidamente aos parágrafos do desenvolvimento e à análise desses parágrafos para verificar que as etapas são enunciadas pro-gressivamente, levando o público leitor, paulatinamente, até o X da questão, ou seja, à robotização e à necessidade de contê-la.

A antítese como pressupostoA antítese corresponde à posição contrária àquela defendida pelo autor

do texto. No entanto, mesmo assim é possível utilizá-la como uma espécie de sombra, no momento da produção do texto argumentativo, para tentar responder de antemão a questões que podem ser feitas por pessoas que defendem postura diferente daquela do autor do texto.

Assim, haverá menos margem para réplicas e se atenderá a um bom número de expectativas. Esse exercício ajuda a aprimorar a argumentação

Texto argumentativo

133

porque investe na produção de um texto mais completo, mais claro e com argumentos menos frágeis.

No texto em análise, isso se verifica no momento em que a autora usa os parênteses para detalhar informações e quando cita a literatura/leitura como antídoto para a robotização. Para fechar o raciocínio, é como se, preenchen-do essas lacunas, a escritora pudesse responder a questões que imaginou surgindo na hora da leitura, como nos exemplos abaixo:

“final de um extenso período da cultura humana”

Possível pergunta do leitor: De que “extenso período” se trata?

Resposta incluída no texto: “(Era Romântica/sécs. XVIII-XIX)”;

“pela anulação das distâncias geográficas e da ruptura de todos os an-tigos limites”

Possível pergunta do leitor: Quais são esses “antigos limites”?

Resposta incluída no texto: “(espaciais, temporais, mentais, éticos, estéticos...)”.

Texto complementarLeia o artigo abaixo, de Stephen Kanitz, atentando para as partes do texto

argumentativo, sobretudo para o desenvolvimento, em que são arrolados os argumentos escolhidos pelo autor para comprovar sua tese.

A favor dos videogames(KANITZ, 2005)

O cérebro humano é um órgão que absorve quase 25% da glicose que con-sumimos e 20% do oxigênio que respiramos. Carregar neurônios ou sinapses que interligam os neurônios em demasia é uma desvantagem evolutiva, e não uma vantagem, como se costuma afirmar.

Todos nós nascemos com muito mais sinapses do que precisamos. Aqueles que crescem em ambientes seguros e tranquilos vão perdendo essas sinap-ses, que acabam não se conectando entre si, fenômeno chamado de regressão sináptica.

134

Texto argumentativo

Portanto, toda criança nasce com inteligência, mas aquelas que não a usam vão perdendo-a com o tempo. Por isso, menino de rua é mais esperto do que filho de classe média que fica tranquilamente assistindo às aulas de um professor. Estimular o cérebro da criança desde cedo é uma das tarefas mais importantes de toda mãe e todo pai modernos.

Sempre fui a favor de videogames, considerados uma praga pela maioria dos educadores e pedagogos. Só que bons videogames impedem a regressão sináptica, porque enganam o cérebro fazendo-o achar que seus filhos nas-ceram num ambiente hostil e perigoso, sinal de que vão precisar de todas as sinapses disponíveis. O truque é encontrar bons jogos, mas não é tarefa impossível.

O primeiro videogame que comprei para meus filhos foi o famoso SimCity, um jogo em que você é o prefeito de uma pequena vila, e, dependendo de suas decisões, ela pode se tornar uma megalópole ou não. Se você for um péssimo prefeito, a população se mudará para a cidade vizinha, e fim do jogo. Em vez de eleger prefeitos, seria muito melhor se empossássemos o vencedor do campeonato de SimCity em cada cidade.

Um dia eu estava brincando de “prefeito” quando meus filhos de 11 e 13 anos de idade, analisando meu “planejamento urbano” inicial, balançaram a cabeça em desaprovação: “Tsk, tsk, tsk. Pai, daqui a 50 anos você vai dar com os burros n’água”. Eu, literalmente, caí da cadeira. Quantos de nós, aos 11 anos, tínhamos consciência de que atos feitos na época poderiam ter consequên-cias nefastas 50 anos depois? Quantos de nós pensaríamos em prever um futuro para dali a 50 anos?

A lição que me deram com o famoso videogame Mario Brothers foi ainda melhor. Não tendo a paciência de meus filhos, eu vivia cortando caminho pelos vários atalhos existentes no jogo, quando novamente me deram o seguinte conselho: “Não se podem queimar etapas, senão você não adquire a experiên-cia e a competência necessárias para as situações mais difíceis que estão por vir.” A frase não foi exatamente essa, mas foi o suficiente para me deixar com os cabelos em pé. Dois garotos estavam me ensinando que cada etapa da vida tem seu tempo e aprendizado, e nela não se pode ser um apressado.

Texto argumentativo

135

No jogo Médico, as crianças aprendem a fazer um diagnóstico diferen-cial, a pior das alternativas sendo uma apendicite. Nesses casos, elas têm de operar “virtualmente” o paciente seguindo condutas médicas corretas. Um dos procedimentos é a assepsia da pele, e ai de quem não escovar o peito do paciente, com o mouse nesse caso, por três minutos, o que é uma eternidade num videogame e para uma criança. Quem gasta menos do que isso é su-mariamente expulso do hospital por erro médico. Que matéria ou professor ensina esse tipo de autodisciplina?

Em A-Train, o jogador é um administrador de empresa ferroviária. A criança tem de investir enormes somas colocando trilhos e locomotivas sem contar com muitos passageiros no início das operações. Aprende-se logo cedo que uma empresa começa com prejuízo social e tem de ter recursos para suportar os vários anos deficitários.

Aos 12 anos, meus filhos já tinham noção de que os primeiros anos de um negócio são os mais difíceis, e controlar o capital de giro é essencial. Avaliar riscos e administrar o capital de giro, nem grandes empresários sabem fazer isso até hoje.

Como em tudo na vida, é necessário ter moderação nas horas devotadas ao videogame. Mas ele é uma ótima forma de estimular o cérebro da criança e impedir sua regressão sináptica, além de ensinar planejamento, paciência, disciplina e raciocínio, algo que nem sempre se aprende numa sala de aula.

Atividades1. Elabore uma pequena lista, com três argumentos ou mais, para de-

fender a ideia de que se deve evitar o uso de um carro pelo centro da cidade em horários de pico.

136

Texto argumentativo

2. Considerando este início de texto (veja abaixo), defina a tese defendi-da pelo autor e um argumento principal para respaldá-la.

O aumento no mercado de empréstimos financeiros desenca-deou crescimento em diversos setores do comércio.

3. Usando a antítese como recurso que auxilia na escolha dos argumen-tos, defina

a) uma tese:

b) uma antítese:

c) os argumentos que sirvam de réplica a essa antítese:

Texto argumentativo

137

4. A principal parte do texto argumentativo é

a) a antítese.

b) a introdução.

c) a conclusão.

d) o desenvolvimento.

5. O principal elemento constituinte do texto argumentativo é

a) a linguagem.

b) o título.

c) a opinião.

d) a informação.

6. Sobre a tese, é correto afirmar que

a) em qualquer situação, ela deve ser evidenciada desde o título.

b) ela deve expressar, de modo sintetizado, o ponto de vista defendi-do pelo autor do texto.

c) ela deve ser repetida, ipsis litteris, na conclusão.

d) ela não deve prever a antítese.

7. Sobre os recursos que podem ser utilizados na escrita de um texto ar-gumentativo, é correto afirmar que

a) a ordem das informações não é relevante, já que o texto privilegia a opinião.

b) citar autores de renome e dar exemplos é útil, respectivamente, para dar credibilidade à tese e concretude à ideia apresentada.

c) o detalhamento insere a descrição no texto de um modo inade-quado.

d) recorrer à antítese demonstra evidente contradição e fragilidade discursiva.

8. Este fragmento do “Prefácio interessantíssimo”, de Mário de Andra-de (veja abaixo), poderia ser usado em que parte do texto argu-mentativo?

138

Texto argumentativo

Para juntar à teoria:(ANDRADE, 2007)

1.º. Os gênios poéticos do passado conseguiram dar maior inte-resse ao verso melódico, não só criando-o mais belo, como fazen-do-o mais variado, mais comotivo, mais imprevisto. Alguns mesmo conseguiram formar harmonias, por vezes ricas. Harmonias porém inconscientes, esporádicas. Provo inconsciência: Victor Hugo, muita vez harmônico, exclamou depois de ouvir o quarteto do Rigoleto: “Façam que possa combinar simultaneamente várias frases e verão de que sou capaz.” […]

2.º. Há certas figuras de retórica em que podemos ver embrião da harmonia oral, como na lição das sinfonias de Pitágoras encon-tramos germe da harmonia musical.

a) Desenvolvimento, porque fornece exemplos que relacionam teoria e prática e facilitam a compreensão da ideia defendida no texto.

b) Introdução, pela brevidade.

c) Conclusão, por relacionar adequadamente o título a um ou mais argumentos de relevo.

d) O trecho cita exemplos, os quais não devem ser usados no texto argumentativo.

9. Marque a alternativa que faz a correta recomendação para a escrita de um texto argumentativo.

a) Não use citações.

b) Os parênteses não têm nenhuma utilidade.

c) Seja detalhista.

d) Prefira a generalização às especificidades.

10. Assinale a alternativa que oferece um tema adequado à escrita de um texto argumentativo.

a) O casamento de uma atriz famosa.

b) Uma receita culinária.

Texto argumentativo

139

c) Curiosidades de uma superprodução do cinema.

d) A pertinência da lei antifumo.

11. Sobre os objetivos de um texto argumentativo, é correto afirmar que

I. o convencimento do leitor não indica a eficácia do texto.

II. a informação sobre um fato de repercussão é prioridade.

III. o importante é o debate gerado pelo texto.

Dentre as alternativas acima,

a) apenas a II está correta.

b) apenas I e III estão corretas.

c) apenas a I está correta.

d) apenas II e III estão corretas.

Gabarito1.

a) O elevado número de carros e motos aumenta o risco de acidente;

b) O tráfego intenso pode provocar congestionamentos;

c) O tempo de deslocamento entre um lugar e outro pode dobrar, o que implica perda de tempo.

2. Há grande chance de a tese defendida pelo autor do texto ser a favor dos empréstimos financeiros, pois esse início relaciona o aumento nos empréstimos a uma consequência positiva – o “crescimento em diver-sos setores do comércio”.

Um bom argumento para sustentar essa posição é o fato de a anteci-pação de determinada quantia ao consumidor possibilitar o imediato fechamento de um negócio, pois sem a quantia em mãos a compra pode ser protelada. E essa protelação ainda traz o risco de a compra não se efetivar em função de a quantia necessária ser relativamente gran-de, de modo que, mesmo economizando, o consumidor pode vir a gastar seu dinheiro em outra situação ou outro produto.

140

Texto argumentativo

3. Resposta possível:

a) Tese: A amizade entre pais e filhos pode facilitar a passagem pela adolescência.

b) Antítese: A amizade entre pais e filhos restringe a privacidade do adolescente.

c) Argumentos de réplica à antítese: A limitação da privacidade pode ser facilmente contornada, ao passo que algumas coisas que ad-vêm da falta de amizade entre pais e filhos podem colocar o ado-lescente em um caminho sem volta.

4. D

5. C

6. B

7. B

8. A

9. C

10. D

11. B

Dica de estudoPlaneje e escreva um texto argumentativo sobre a questão “Internet: pre-

juízo ou benefício?” Escolha um ponto de vista, reúna bons argumentos para defendê-lo e bom trabalho!

ReferênciasANDRADE, Mário de. Prefácio Interessantíssimo. Disponível em: <http://www.geocities.com/SoHo/Nook/4880/mario.html>. Acesso em: 11 fev. 2007.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura: um olhar aberto para o mundo. Disponível em: <http://www.collconsultoria.com/artigo7.htm>. Acesso em: 2 jun. 2007.

KANITZ, Stephen. A favor dos videogames. Veja, 12 out. 2005.

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

Textos não verbaisJá há algum tempo, considera-se texto tudo o que pode ser interpretado.

Em nosso dia a dia, não percebemos, mas até inconscientemente somos to-cados pelo efeito de um outdoor, de uma música, ou de uma paisagem.

Ora, se o significado de texto foi ampliado, é natural que o significado de leitura tenha sofrido uma alteração semelhante. De fato, ler não implica mais apenas a decodificação de signos escritos (letras ou palavras): ler é perceber as coisas e emitir julgamentos sobre elas. Trata-se de dois níveis diferentes de interação.

A simples percepção acontece quando olhamos algo muito rapidamente e, talvez por pressa ou pelo fato de o que observamos não ser importante no momento, não damos muita importância.

Isso não quer dizer, porém, que aquilo que foi visto não tenha sido apre-endido ou não tenha provocado nenhum efeito. Toda informação que nos chega é arquivada em nosso cérebro e, algum tempo depois, ela pode ser recuperada, por algum estímulo externo nos avisando que aquela música, aquela foto ou aquela placa já foi visualizada, faz parte de uma memória e, portanto, é parte da bagagem cultural do sujeito. A partir do momento em que uma informação é retomada, aquilo que antes estava inerte no arquivo mental torna-se disponível para o uso em análises, comparações etc.

A partir dessas informações sobre o que pode ser considerado texto e sobre o conceito mais amplo de leitura, chegamos facilmente a textos feitos apenas a partir de imagens ou feitos predominantemente pela imagem. Tais textos podem ser chamados de não verbais e há muitos exemplos deles em nosso cotidiano. Mapas, gráficos, quadros e placas são apenas alguns desses exemplos.

144

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

Por condensarem a informação, muitos desses textos não verbais têm um valor simbólico. As placas e os outdoors são um bom exemplo disso, pois são textos que exigem comunicação imediata: a mensagem tem de ser passada rapidamente, para ser apreendida também em poucos segundos.

Sempre que se fala de textos não verbais, vem à tona um debate infin-dável e já velho conhecido nosso: o que vale mais – uma imagem ou mil palavras? Se fosse fácil de responder a essa pergunta, ela não despertaria tantas opiniões, nem seria tema de debate ainda hoje. A única coisa que se pode afirmar sobre o assunto é que, assim como os textos escritos, algumas imagens se prestam a uma interpretação fácil, enquanto outras requerem mais análise, permitindo uma multiplicidade de pontos de vista. Logo, a uni-lateralidade ou a multiplicidade estão intrinsecamente ligadas à intenção do texto verbal ou não verbal, o que, por sua vez, está diretamente ligado com a finalidade e com o público a que se destina.

PlacasAs placas de sinalização têm uma intenção puramente informativa e, por-

tanto, não admitem interpretações variadas: elas precisam ser entendidas do mesmo modo por todos. A rapidez é outro quesito importante nesse tipo de texto não verbal, razão pela qual um desenho, ou seja, um signo não verbal, pode corresponder a uma mensagem que, na escrita, seria passada por um conjunto de signos escritos (palavras). Por exemplo, a placa indicando que é proibido fumar em determinado local aglutina e resume várias palavras ao optar pela representação visual da mensagem.

Abaixo, vejamos algumas placas bem conhecidas, entre elas a de “Proibi-do fumar”.

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Textos não verbais, humorísticos e irônicos

145

Outra característica importante das placas de sinalização é que o uso da imagem torna-as universais. Se, em diferentes partes do mundo, fosse usada a escrita para indicar a proibição do fumo, ou o banheiro feminino, ou o masculino, seria preciso escrever na língua oficial de cada lugar. Com o uso da imagem nas placas de sinalização, isso não se faz necessário, já que, por exemplo, o bonequinho com características femininas vai ser compreendido da mesma forma por pessoas de diferentes nacionalidades – alemães, brasi-leiros, cubanos, dinamarqueses, ingleses etc.

GráficosOs gráficos compreendem outro tipo de texto não verbal e podem ser

de diversos modelos. O fundamental, em um gráfico, é a apresentação de dados, de modo a facilitar a apreensão, por parte de quem o visualiza.

Com certeza em um texto há alguns dados que poderiam se perder em meio a tantas informações, ainda mais se esse texto for relativamente ex-tenso. Utilizando-se o gráfico, que geralmente associa cores e números, a apreensão dos dados é facilitada, sem mencionar que, em caso de dúvida, basta ao leitor recorrer ao gráfico novamente, sem necessidade de procurar, em meio às palavras do texto, aquela informação de que precisa.

Vamos ver um exemplo de gráfico de formato circular, popularmente cha-mado de gráfico pizza.

Infoescravo Blog

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15

Escravos da tecnologia

Blogueiros

Técnicos em TI

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146

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

Esse gráfico traz informações que poderiam ser apresentadas em forma de texto. Há um título – “Infoescravo Blog” – e, na legenda, três categorias rela-cionadas ao título. Cada categoria corresponde a uma cor marcada no gráfico circular. Correspondendo a uma parte do todo, os três tipos de “infoescravos” também ganham um número, que indica a porcentagem alcançada pela ca-tegoria em relação à totalidade do círculo. A partir daí, é fácil a síntese, bastan-do associar os números e as cores às categorias informadas na legenda:

escravos da tecnologia = 65% �

blogueiros = 15% �

técnicos em TI = 20% �

E podemos fazer ainda outras duas observações importantes a respeito do gráfico. A primeira: é evidente a predominância da imagem (não verbal) em relação às palavras (verbal), que aparecem só na legenda e no título. Além disso, repare que a concretização dos dados apresentados na forma de um círculo dividido em cores, possibilita uma clara percepção do que representa os 65% atribuídos aos “escravos da tecnologia” perto das outras porcentagens, muito menores. Obviamente, chegaríamos a essa mesma conclusão apenas pela comparação dos números, mas o desenho mostra essa diferença.

MapasAssim como os gráficos, os mapas também trabalham com o predomínio

das imagens, sendo exemplos de textos não verbais. No entanto, existe uma diferença básica: o gráfico tem de ser construído, enquanto o mapa já está feito, bastando usar as delimitações entre estados e cidades, por exemplo, indicando os agrupamentos importantes para a informação a ser dada, com o uso de cores ou hachuras. Vamos a um exemplo.

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

147

NÚMERO DE LIVROS LIDOS POR ANOLivros lidos por ano por região

3,7 na escola e0,2 fora dela 3,9

4,2

4,5

4,9

5,5

3,4 na escola e1,1 fora dela

3,7 na escola e1,8 fora dela

3,0 na escola e1,9 fora dela

3,6 na escola e0,6 fora dela

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Nesse mapa, as cores formam conjuntos que relegam a divisão original para um segundo plano, pois não importa mais a divisão em estados, mas que conjunto de estados corresponde ao mesmo dado sobre a leitura. Como o subtítulo anuncia, o mapa tem a intenção de informar as quantidades de “Livros lidos por ano por região”. Dessa forma, cada região, formada por vários estados, recebe uma cor e, depois, um número é colocado em desta-que em cada uma delas. Por fim, para detalhar a informação, uma linha liga esse número a um quadro, que especifica qual é a quantidade de livros lidos na escola e fora dela.

148

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

Poemas visuaisHá dois tipos de poemas visuais: aqueles feitos de palavras e de imagens

e aqueles feitos apenas de imagens. Mas essa duplicidade também pode aparecer nas placas, nos gráficos e nos mapas. Sendo assim, o diferencial dos poemas visuais em relação aos demais textos não verbais já apresentados refere-se à intenção artística – que, por sua vez, vai restringir o alcance do texto, porque textos literários como os poemas visuais têm um público mais restrito que os textos informativos.

Em geral, os poemas visuais que conjugam imagem e palavra tendem a reforçar, pelo desenho ou pela forma, o significado de uma palavra básica usada na sua construção. Vejamos um exemplo do compositor, poeta e cantor Arnaldo Antunes.

(AN

TUN

ES, 1

997,

p. 4

5)

Esse texto transforma o seu título (“Rio: o ir”) em um elemento concreto ao formar três círculos com as letras da palavra rio, que se multiplicam, for-mando uma figura geométrica. Além disso, também fica clara a ideia de que todo rio desemboca no mar, razão pela qual o o funciona como um ralo por onde escoam as águas que chegam até ele.

Mais um detalhe importante é que a escolha do título não foi aleatória, o que é provado não apenas pelo fato de os rios correrem para o mar: o ir é

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

149

a palavra rio ao contrário, comprovando que a forma obtida pelo artista foi descoberta a partir de uma análise bastante atenta da palavra rio.

Sendo assim, o poema que analisamos não é feito apenas de imagens, mas sobrepõe a forma à escrita a partir do momento em que rompe com a apresentação da palavra na página. Se, antes, ela era apenas impressa sobre a folha em branco, no poema visual a palavra aparece com uma forma deter-minada, a qual ajuda a compor o sentido do texto.

Textos humorísticosVoltando agora aos textos verbais, vamos falar de um estilo específico de

escrita: a humorística. Claro que o humor também pode aparecer em textos não verbais. Independentemente do texto em que esse recurso apareça, o re-sultado vai ser o mesmo: o riso. Todo jornal tem uma seção de piadas – um tipo de texto que, tanto na fala quanto na escrita, é o mais associado ao humor.

No teatro, no cinema e na televisão, há diversos exemplos de comédia. Mas os exemplos também aparecem na literatura. Nessa área, podemos citar os nomes dos cronistas Roberto Gomes e José Simão, de Luis Fernando Ve-rissimo e Jô Soares, entre outros.

Fiquemos com a leitura de dois haicais escritos por Dalton Trevisan, que também se dedica a esse tipo de texto, embora eles sejam minoria em sua produção literária.

Já reparei(TREVISAN, 1994, p. 89-90)

– Já reparei, garçom: a segunda empadinha nunca é tão boa como a primeira.

– …

– Hoje você me traga a segunda antes da primeira.

É bom ser churrasqueiro

– É bom ser churrasqueiro: fico olhando o fogo, até esqueço da carne.

150

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

Mas antes de passarmos à análise dos textos vamos saber um pouco mais sobre os haicais. De origem japonesa, esse tipo de texto privilegia a síntese. Os haicais mais tradicionais são escritos em três versos de cinco, sete e cinco sílabas poéticas, respectivamente. Em geral, essas produções se detêm sobre a descrição de uma paisagem ou a lembrança de um fato.

Dalton Trevisan, porém, ao usar esse tipo de texto, faz algumas adapta-ções. A primeira diz respeito à forma: o autor escreve os textos em prosa, e não em verso. A segunda mudança refere-se ao tema, porque esses haicais que acabamos de ler são voltados ao humor, característica inexistente nos haicais tradicionais.

Os dois haicais de Dalton Trevisan pertencem ao mesmo livro – Dinorá – e a sua leveza não se deve apenas ao tom humorístico mas também à sua bre-vidade e à simplicidade dos temas. Perceba ainda que o final é importante.

No primeiro texto, a graça reside no fato de a conclusão do cliente ser tão apressada que nem atenta para o detalhe de que, se a ordem das empadas for invertida, o problema não deixará de existir, já que a segunda empadinha passará a ser a primeira.

E no segundo exemplo, apesar de no início haver referência ao churras-queiro, o texto termina afirmando que o fogo faz o churrasqueiro se esque-cer da carne, o que deixa implícita a questão que provoca o riso: mas, afinal, que tipo de churrasqueiro é esse?

Há autores que trabalham com o humor de uma maneira diferente e mais peculiar. Os mestres do chamado humor negro costumam associar situações engraçadas a momentos tristes, às vezes trágicos. O fato é que, no humor negro, o riso é provocado em um contexto sério, que não se relaciona à ale-gria. Essa inadequação é a principal característica desse tipo de humor que era característica marcante de vários textos do escritor Machado de Assis. Abaixo, foi transcrita uma passagem de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em um bom exemplo do humor negro na literatura.

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

151

O sujeito magro(ASSIS, 1970, p. 271)

O sujeito magro […] tornou a tratar da casa, alteando a proposta.

– Trinta e oito contos, disse ele.

– Ahn?… gemeu o enfermo.

O sujeito magro aproximou-se da cama, pegou-lhe na mão, e sentiu-a fria. […]

– Não… não… quar… quaren… quar… quar…

Teve um acesso de tosse, e foi o último; daí a pouco expirava ele, com grande consternação do sujeito magro, que me confessou depois a disposi-ção em que estava de oferecer os quarenta contos; mas era tarde.

Pela leitura do fragmento acima, a situação já parece estranha desde o começo, quando um homem à morte, querendo vender uma propriedade, negocia com o interessado na compra sem conseguir chegar a um acordo. Desde o início ele deixa claro que só venderá a casa por 40 contos de réis (a moeda da época), mas o outro tenta negociar um preço mais baixo. O resul-tado da cena, bastante inusitado, é trágico: o doente tem uma crise de tosse da qual não consegue se recuperar e acaba morrendo. Em meio a um certo lamento, vem o riso um pouco tímido – dada a morte do personagem –, mas inevitável diante da descoberta de que a pessoa interessada na compra tinha ideia de pagar os 40 contos pedidos e, se fosse assim, talvez não hou-vesse o acesso de tosse e o enfermo ainda estivesse vivo.

Textos irônicosOs textos irônicos são aqueles que fazem uso da ironia, uma figura de

linguagem que trabalha com a duplicidade de sentidos, obrigando o leitor a interagir com um discurso construído em dois níveis – um visível e o outro, invisível. Ser irônico é escrever ou falar justamente o oposto do que se pre-tende expressar. Sendo assim, a fala ou a escrita constitui a parte visível do

152

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

texto. No entanto, a correta interpretação de um texto ou de uma fala com ironia exige que o receptor vá além das palavras, chegando à parte invisível, mas subentendida pelo conjunto lido ou ouvido, o que o ajudará a descobrir por exemplo que, embora tenha sido usada uma palavra positiva para quali-ficar uma pessoa, na verdade o autor sente um profundo desprezo por essa pessoa. Esse jogo duplo proposto pela ironia requer habilidade do leitor ou do ouvinte – afinal, não chegar ao real significado de um texto irônico dará uma ideia completamente contrária daquela que fazia parte da real intenção do autor do texto. É como não entender o final de uma piada.

Para exemplificar a linguagem irônica, fiquemos com outra passagem de Machado de Assis, também retirada do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Notas(ASSIS, 1970, p. 154)

Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa, to-cheiros, convites, convidados que entravam, lentamente, a passo surdo […] Isto que parece um simples inventário eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo.

Na sua forma original, o capítulo de que foi retirado esse trecho tem pouco mais de meia página e é todo feito de enumerações, assim como as que podem ser lidas nas três primeiras linhas transcritas. A ironia está no final da citação. Já sabemos que o trecho faz parte de um capítulo, denominado “Notas” e, mesmo assim, o narrador nega isso, dizendo justamente o contrário quando afirma que “Isto que parece um simples inventário eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo.” Como não escreve se o leitor acabou de ler o capítulo? É nessa contradição que está a ironia: o narrador afirma que não escreve, mas o fato é que acabou escrevendo.

É comum a associação entre ironia e humor, o que pode ser comprova-do pelo trecho que estamos analisando. A princípio, a contradição gera um estranhamento, mas quando se percebe a ironia também se percebe o bom humor do narrador ao fazer a brincadeira, e o riso é quase inevitável.

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

153

Texto complementarA crônica abaixo é um bom exemplo de texto humorístico. Boa leitura e

divirta-se!

Diga não às drogas(VERISSIMO, 2010)

Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de “experimenta, depois, quando você quiser, é só parar...” e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de “raiz”, “natu-ral”, “da terra”, que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do Chitãozi-nho e Xororó e em seguida um do Leandro e Leonardo. Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais frequente, comecei a chamar todo mundo de “Amigo” e acabei comprando pela primeira vez.

Lembro que cheguei na loja e pedi: – Me dá um CD do Zezé di Camargo e Luciano. Era o princípio de tudo! Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... Banda Eva, Cheiro de Amor, Netinho etc. Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: É o Tchan, Companhia do Pagode, Asa de Águia e muito mais. Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes, então, meu “amigo” me deu o que eu queria, um CD do Harmonia do Samba. […] Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais... Comecei a frequentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show de encontro dos grupos Karametade e Só pra Contrariar, e até comprei a Caras que tinha o Rodriguinho na capa.

Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu outra: entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados can-tavam uma “música” que não dizia nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos, fazíamos sinais combinados.

154

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a coletâ-nea As Melhores do Molejão. Foi terrível!! Eu já não pensava mais!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas “miseráveis” e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando comecei a escutar “Popozudas”, “Bondes”, “Tigrões”, “Motinhas” e “Tapi-nhas”. Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saia à noite para as festas, pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o “caminho das pedras”, outros extremistas preferiam o “caminho dos templos”. Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radi-cais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa.

Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de rock, mpb, progressivo e blues. Mas o meu médico falou que é possível que tenham que recorrer ao jazz e até mesmo a Mozart e Bach. Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinhei-ro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisas boas e te oferecem drogas.

Se você não reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrá-vel, consumível, descartável e distante; vai perder as referências e definhar mentalmente.

Em vez de encher a cabeça com porcaria, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte: Não ligue a tevê no domingo à tarde; Não escute nada que venha de Goiânia ou do interior de São Paulo; Não entre em carros com adesivos “Fui...”.

Se te oferecerem um CD, procure saber se o suspeito foi ao programa da Hebe ou se apareceu no Sabadão do Gugu; Mulheres gritando histericamen-te é outro indício; Não compre nenhum CD que tenha mais de seis pessoas na capa; Não vá a shows em que os suspeitos façam gestos ensaiados; Não compre nenhum CD que a capa tenha nuvens ao fundo; Não compre qual-quer CD que tenha vendido mais de um milhão de cópias no Brasil; e Não escute nada que o autor não consiga uma concordância verbal mínima. Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos. A vida é bela! Eu sei que você consegue! Diga não às drogas.

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

155

Atividades1. Faça uma pequena lista de textos não verbais, além daqueles apresen-

tados neste capítulo. Não se esqueça de justificar a inclusão dos textos listados na categoria de textos estudada.

2. Escreva um breve parágrafo interpretativo para o quadro reproduzido abaixo, Summer (1573), de Giuseppe Arcimboldo.

Dom

ínio

púb

lico.

156

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

3. Identifique e comente o uso da ironia nos períodos abaixo.

a) Sua nota, na prova de matemática, foi excelente: três e meio!

b) Na quinta-feira, meu carro foi parar na oficina. O conserto custou a bagatela de 1.500 reais.

4. Marque a alternativa que cita três exemplos de textos não verbais.

a) Romance, notícia e fotografia.

b) Poema, bilhete e outdoor.

c) História em quadrinhos, gráfico e romance.

d) Fotografia, gráfico e placa de trânsito.

5.IE

SDE

Bras

il S.

A.

A placa acima

I. é exemplo de texto verbal porque pode ser associada às palavras “pessoas com necessidades especiais”.

II. é um texto não verbal porque usa uma imagem em vez de palavras.

III. tem a universalidade como sua principal característica, porque pode ser entendida por pessoas de diversas nacionalidades.

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

157

Entre as afirmações acima,

a) apenas a I é correta.

b) apenas II e III são corretas.

c) apenas a III é correta.

d) apenas I e III são corretas.

6.

Os melhores do ano

A rentabilidade das aplicações

de janeiro a maio (em %)

Ouro Dólarcomercial

Poupança CDI Carteiralivro (ações)

Fundo de ações

Bolsa do Rio

Bolsa de São Paulo

Inflação(IGPM)

-4,18

3,115,94 8,55

31,51

43,99

52,69

61,14

4,30

(FRI

EDLA

ND

ER; G

RIN

BAU

M, 2

010.

Ada

ptad

o.)

Segundo o gráfico acima,

a) o dólar comercial foi o investimento com menor rentabilidade.

b) o ouro foi o investimento com menor rentabilidade.

c) o fundo de ações só perdeu para a Bolsa do Rio.

d) o texto não precisa da palavra para ser compreendido.

158

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

7. O humor

a) não se realiza em textos não verbais.

b) perde seu efeito quando associado a situações de tristeza ou tra-gédia.

c) confere leveza ao texto e na maioria das vezes depende do final da história.

d) é exclusividade do discurso literário.

8. Analise o período abaixo e depois assinale a alternativa com conside-rações corretas.

Praia e chuva: não poderia existir melhor combinação.

a) O trecho apresenta a leveza própria do humor.

b) O texto é verbal e exemplifica o humor negro.

c) O texto é irônico, característica percebida na associação “praia e chuva”.

d) O texto usa ironia, que se evidencia no uso da palavra melhor.

9. Analise o fragmento abaixo:

Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de “experimenta, depois, quando você quiser, é só parar...” e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de “raiz”, “natu-ral”, “da terra”, que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do Chitãozi-nho e Xororó e em seguida um do Leandro e Leonardo. Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais frequente, comecei a chamar todo mundo de “Amigo” e acabei comprando pela primeira vez.

Agora, avalie as afirmações.

I. O texto usa comparações para obter o tom humorístico.

II. O texto é verbal e se caracteriza pela leveza, traço marcante nos textos de humor.

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

159

III. O texto é exemplo de humor negro, porque relaciona a música ao consumo de drogas.

Entre essas afirmações,

a) apenas I e II são corretas.

b) apenas II e III são corretas.

c) apenas a III é correta.

d) apenas I e III são corretas.

O mapa abaixo servirá para as questões 10 e 11.

(Div

ulga

ção

IBG

E. A

dapt

ado.

)

0 53Km

Escala gráfica aproximada

10. Segundo os dados apresentados no mapa,

a) a divisão proposta corresponde à divisão original do mapa do Brasil.

b) na região Sul predomina o clima “sempre úmido” com “verão morno”.

c) a região Centro-Oeste é o único exemplo de clima seco.

d) as gradações de cor correspondem à divisão apresentada na le-genda.

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Textos não verbais, humorísticos e irônicos

11. Analise algumas afirmações sobre o mapa apresentado.

I. As cores se responsabilizam por propor uma divisão que apresente a diferença climática.

II. As palavras (elementos verbais) dividem espaço com o mapa (ele-mento não verbal).

III. A diferença climática é o fator predeterminante para a divisão ado-tada no mapa, que se apresenta em cores e tons variados.

Entre tais afirmações,

a) apenas I e II são corretas.

b) I, II e III são corretas.

c) II e III são corretas.

d) I e III são corretas.

Gabarito1. Outros exemplos de textos não verbais são escultura, fotografia, lo-

gomarca, outdoor etc., e podem ser assim classificados porque usam a imagem como principal meio de comunicação, permitindo variadas interpretações, já que a falta do signo escrito não inviabiliza a compre-ensão do texto.

2. Respostas possíveis:

Modo literal de representar o ditado popular “Você é o que você come.”

Os alimentos são essenciais ao ser humano.

Relação entre o colorido dos legumes e das frutas próprios do verão (Summer) e o humor das pessoas, pelo que a estação representa.

3.

a) A ironia está na palavra excelente, usada para se referir a uma nota baixa.

b) É irônico o trecho “custou a bagatela de 1.500 reais”, pois 1.500 re-ais não é uma bagatela (como 3,5 não é uma boa nota) e, sendo

Textos não verbais, humorísticos e irônicos

161

assim, comprova-se a ironia, que usa um termo para se referir à ideia contrária àquilo que ele representa.

4. D

5. B

6. B

7. C

8. D

9. A

10. D

11. B

Dica de estudoPara ir se acostumando com os recursos do humor e da ironia e, principal-

mente, para aprimorar a interpretação de textos irônicos, leia diariamente, no caderno cultural dos jornais, algumas tiras e histórias em quadrinhos: esses tipos de texto são campeões no uso das linguagens humorística e irônica.

ReferênciasANTUNES, Arnaldo. 2 ou + Corpos no Mesmo Espaço. São Paulo: Perspectiva, 1997, p. 45.

ARCIMBOLDO, Giuseppe. Summer. Disponível em: <http://www.theartbook.com/summer_arcimboldo>. Acesso em: 25 fev. 2005.

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: W. M. Jack-son, 1970.

FRIEDLANDER, Davi; GRINBAUM, Ricardo. A festa do investidor. Veja, Seção Eco-nomia e Negócios. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/180697/p_132.html>. Acesso em: 2 abr. 2010.

MAPA DO CLIMA no Brasil. Disponível em: <http://campeche.inf.furb.br/sisga/educacao/ensino/mapaClima.php>. Acesso em: 2 abr. 2010.

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Textos não verbais, humorísticos e irônicos

NÚMERO DE LIVROS lidos por ano. Disponível em: <http://bp1.blogger.com/_WKOFK4Y6rNw/SEcEWkmqzGI/AAAAAAAAAiI/qaqHV4_LUNk/s1600-h/brasil_lei-tura2007.png>. Acesso em: 2 abr. 2010.

PLACAS de sinalização. Disponível em: <http://www.abafire.com.br/sinalizacao_placas.php?gclid=CKyuioKR6aACFUwf7godDyeAFg>. Acesso em: 2 abr. 2010.

TETERA, Eduardo. Infoescravo Blog. Disponível em: www.teteraconsultoria.com.br. Acesso em: 2 abr. 2010.

TREVISAN, Dalton. Dinorá. Rio de Janeiro: Record, 1994.

VERISSIMO, Luis Fernando. Diga Não às Drogas. Disponível em: <http://www.correaneto.com.br/ curiosidades/naoasdrogas.htm>. Acesso em: 2 abr. 2010.

Estratégias e recursos na construção do texto

Há inúmeros elementos que podem ser usados na construção de um texto, provocando diferentes efeitos. Alguns podem interferir na clareza, tornando a apreensão do sentido mais fácil ou mais difícil. Outros, se apare-cerem com relativa frequência, podem tornar o texto engraçado ou irônico. Desse modo, temos de dominar um número razoável desses elementos (ao menos aqueles considerados básicos na construção textual), conhecendo sua função e seus efeitos, para aprimorar nossas possibilidades de comuni-cação e diversificar nossas técnicas de escrita.

Os recursos mais básicos para a elaboração de um texto são:

a ordem das informações nos períodos; �

a concatenação das ideias, que devem ser ligadas por relatores ou co- �nectivos adequados para assegurar a lógica da informação que está sendo passada; e

a pontuação. �

Talvez a pontuação seja a peça-chave de todo texto. O uso de pontos e sobretudo de vírgulas de modo incorreto pode alterar significativamente o sentido de um texto. Uma vírgula colocada em um lugar impróprio pode gerar ambiguidade, dar ou tirar ênfases, ou mesmo gerar períodos intermi-náveis, que, justamente por serem longos demais, às vezes fazem o autor se perder em meio a tanta informação, esquecendo de completar uma in-formação básica, iniciada antes da primeira vírgula do período. O resultado disso é um período incompleto: tantos encadeamentos vão surgindo, pelas emendas de uma informação complementar à outra, que se termina o perío-do com diversas informações extras – relacionadas à informação básica, sem dúvida alguma, mas que não completam, efetivamente, seu sentido.

166

Estratégias e recursos na construção do texto

Passando, agora, do que é inerente a todo tipo de texto para o que pode ser uma opção na escrita, vamos comentar o uso de citações e exemplos. Tanto um como outro serve para dar mais respaldo às colocações feitas pelo autor.

Um exemplo tem a função de comprovar as afirmações feitas, ligando a teoria à prática.

Já as citações, mais do que comprovar um pensamento, introduzem no texto a ideia de outro escritor, que também discutiu determinado assunto. Esse recurso serve para avalizar a tese defendida no texto. Para conseguir isso, o autor empresta a credibilidade de um autor de renome para demons-trar ao leitor que esse escritor respeitado na área e bastante conhecido por sua obra pensa da mesma forma, razão pela qual os trechos citados podem servir de complemento ao texto que está sendo escrito.

No que diz respeito à tentativa de estabelecer maior proximidade entre o autor e o leitor do texto, podemos citar as perguntas, o uso de verbos e pro-nomes na primeira pessoa, a escolha vocabular e a incorporação de marcas da oralidade na escrita. Em geral, textos não muito formais lançam mão desses elementos. Mas há exceções.

Há, por exemplo, textos argumentativos que se inserem na modalidade de textos formais, mas utilizam perguntas e verbos na primeira pessoa, no meio do texto, como instrumento de reforço ao convencimento do leitor.

A escolha do vocabulário é algo que depende essencialmente do perfil do público-alvo e das características do modelo de texto. Uma crônica ou um anúncio publicitário, por exemplo, têm mais liberdade para o uso de gírias e palavras mais simples. O estilo mais despojado da crônica e a necessidade de o anúncio publicitário seduzir o consumidor exigem a proximidade com o público como pressuposto. Para atingir essa meta, é preciso pensar em um modo de comunicação eficaz e, nesse momento, a escolha do vocabulário a ser utilizado é questão da maior importância.

Com base nesse rápido panorama, percebemos que um texto é um pro-duto extremamente moldável, permitindo interferências dos mais variados recursos. No entanto, é fundamental, para saber usar algumas dessas inúme-ras possibilidades, pensar no efeito que será provocado, verificando se ele corresponde perfeitamente à finalidade pretendida.

Estratégias e recursos na construção do texto

167

A fim de aprofundarmos a análise dos elementos aqui apresentados, ve-rificando os efeitos provocados no texto, vamos à leitura de alguns textos, que depois serão comentados, levando-se em conta os recursos utilizados pelos autores.

Por que ler os clássicosOs grandes textos da escrita universal permitem ao leitor descobrir

mais sobre a alma, o mundo e os recursos estilísticos da língua

(BENCINI, 2003)

Só as obras bem escritas passam para a posteridade, tornam-se fonte de conhecimento — e não apenas de entretenimento — e, enfim, podem ser chamadas de clássicos. Seus autores são verdadeiros artistas. Eles conseguem organizar bem seus pensamentos, esculpem a língua com cuidado e estilo e põem em foco os principais conflitos da existência humana. Assim, ao expe-rimentar as emoções de diversos personagens consagrados, o leitor busca respostas para a própria vida, compreende melhor o mundo e se torna um escritor mais criativo.

“Já que não podemos entrar em uma máquina do tempo e conhecer o cotidiano da Grécia Antiga ou a realidade do século XVIII, ler é a melhor ma-neira de nos transportar para outros universos, tempos e espaços”, diz a es-critora Ana Maria Machado. “Todo leitor é, quando está lendo, um leitor de si mesmo”, disse Marcel Proust (1871-1922), um dos maiores escritores france-ses, autor da obra-prima Em busca do tempo perdido. Isso acontece quando os personagens retratados servem de inspiração e reflexão para leitores de qualquer época e lugar.

E como trabalhar com esses livros? Em que fase os estudantes estão prepa-rados para esse tipo de leitura? É um equívoco explorar apenas títulos que o grau de autonomia da turma permite compreender sem dificuldade. Um pro-jeto de leitura comprometido com a formação de leitores apresenta, além de títulos que podem ser lidos com fluência, uma cuidadosa seleção que rompa com seu universo de expectativas. Um clássico pode ser retomado em dife-rentes etapas do processo de aprendizagem. Quanto mais velhos forem os alunos, maior o aprofundamento da análise da obra.

168

Estratégias e recursos na construção do texto

Pontuação e elementos coesivosPara a análise desses recursos, vamos retomar parte do primeiro parágra-

fo do texto que acabamos de ler.

Seus autores são verdadeiros artistas. Eles conseguem organizar bem seus pensamentos, esculpem a língua com cuidado e estilo e põem em foco os principais conflitos da existência humana. Assim, ao experimentar as emo-ções de diversos personagens consagrados, o leitor busca respostas para a própria vida, compreende melhor o mundo e se torna um escritor mais criativo.

Para comentar a pontuação, basta nos determos sobre o último perío-do do fragmento destacado. Nessa parte do texto, a autora utiliza ponto final e vírgulas porque agrega dois tipos de informação – as básicas e as complementares.

Relembrando esses conceitos rapidamente: as básicas têm autonomia de significado e são compostas de sujeito e predicado; as acessórias ou com-plementares se encarregam apenas de detalhar algum ponto da informação básica. Aposto ou advérbio são os mais usados na composição das informa-ções complementares.

Sendo assim, a informação básica do último período do trecho acima resume-se a “o leitor busca respostas para a própria vida”. Embora essa infor-mação já tenha sentido completo e seja formada de sujeito (“o leitor”) e pre-dicado (“busca respostas para a própria vida”), outras duas ações são unidas a ela, formando uma enumeração. Desse modo, “o leitor”:

“busca respostas para a própria vida”; �

“compreende melhor o mundo”; �

“e se torna um escritor mais criativo”. �

Esses três itens formam a enumeração, que é parte da informação básica.

No que se refere às informações complementares, temos “Assim, ao expe-rimentar as emoções de diversos personagens consagrados”. Esse início do período reúne duas informações acessórias, divididas em blocos pelo uso da vírgula. O primeiro bloco é formado pela conjunção assim e o segundo, pelo longo trecho “ao experimentar as emoções de diversos personagens consa-grados”, que desempenha a função de advérbio.

Estratégias e recursos na construção do texto

169

Passando agora para a verificação dos elementos coesivos utilizados, per-cebemos que cada período tem um relator que retoma uma palavra já men-cionada no período anterior. Isso dá lógica ao texto, permitindo que as infor-mações sejam apresentadas de modo encadeado e organizado, pois existe uma continuidade no desenvolvimento do raciocínio.

Para comprovarmos a coesão textual, vamos retomar novamente o trecho que estamos analisando para incluir algumas observações que vão consoli-dar as relações estabelecidas pelos elementos coesivos.

Seus autores [os autores dos clássicos, mencionados logo no início do texto, no período anterior a este] são verdadeiros artistas. Eles [referência a “artistas” e, por consequência, aos “autores dos clássicos”] conseguem or-ganizar bem seus pensamentos, esculpem a língua com cuidado e estilo e põem em foco os principais conflitos da existência humana. Assim [con-junção que liga “os principais conflitos da existência humana” vividos pelos personagens à experiência do leitor, principal assunto deste período], ao experimentar as emoções de diversos personagens consagrados, o leitor busca respostas para a própria vida, compreende melhor o mundo e se torna um escritor mais criativo.

Por meio das marcações e das observações feitas no trecho acima, ficou evidente a progressão do texto e a preocupação do autor em associar uma ideia à outra para formar um todo organizado e coerente. Sem essa intenção, com certeza o sentido do texto poderia sofrer enorme prejuízo. Se não há clareza, por parte do autor, o texto não será legível e, com certeza, não fun-cionará como um meio de comunicação entre autor e leitor.

Citação e exemplosPara analisarmos como a autora utiliza a citação e os exemplos a seu favor

no texto que escreve, vamos voltar ao início do segundo parágrafo.

“Já que não podemos entrar em uma máquina do tempo e conhecer o cotidiano da Grécia Antiga ou a realidade do século XVIII, ler é a melhor maneira de nos transportar para outros universos, tempos e espaços”, diz a escritora Ana Maria Machado. “Todo leitor é, quando está lendo, um leitor de si mesmo”, disse Marcel Proust (1871-1922), um dos maiores escritores franceses, autor da obra-prima Em busca do tempo perdido.

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Estratégias e recursos na construção do texto

Os dados que nos interessam estão destacados no fragmento que reti-ramos do texto lido. As duas primeiras marcações servem para exemplificar tanto o papel da citação como do exemplo – afinal, quando a autora revela ao leitor quem disse as palavras que ela resolveu transcrever, por meio do discurso direto, ela deixa claro que optou pela citação para completar e avali-zar seu discurso, pois o texto que estamos lendo faz afirmações semelhantes àquelas feitas por autores de renome, como Ana Maria Machado e Marcel Proust. De modos diferentes, os autores mencionados no texto “auxiliam” a autora Roberta Bencini a respaldar e consolidar a ideia por ela apresentada.

Evidentemente, não foi por acaso que a autora escolheu citar os nomes de Ana Maria Machado, especialista em leitura e autora de diversas obras infanto-juvenis, e Marcel Proust, o qual, aliás, ela própria faz questão de apre-sentar melhor ao leitor, mencionando que ele é “um dos maiores escritores franceses, autor da obra-prima Em busca do tempo perdido”. A estratégia é clara: pelas citações e pelos exemplos mencionados, a própria autora cre-dencia seu texto, porque o insere no mesmo universo de que fazem parte os textos dos autores citados – detalhe que, com certeza, impressiona o leitor. O efeito provocado é imediato e muito simples de ser compreendido: se o leitor conhece e respeita os autores citados pelas obras que produziram, automaticamente ele irá dar importância ao texto que está lendo naquele momento.

PerguntasNo começo do terceiro parágrafo do texto, a autora utiliza algumas

perguntas.

E como trabalhar com esses livros? Em que fase os estudantes estão prepa-rados para esse tipo de leitura?

Esse artifício é importante porque delimita para o leitor os objetivos do texto. Depois de propor os questionamentos, é natural o leitor esperar da autora que ela apresente respostas. No excerto que lemos, essas questões começam a ser respondidas e, até o final do texto, que tem várias páginas, elas são comentadas e aprofundadas.

Mas além de dar ao leitor as informações sobre as metas a serem atingidas até o final as perguntas também têm a função de atrair mais público. As per-guntas usadas foram cuidadosamente escolhidas. Elas representam dúvidas

Estratégias e recursos na construção do texto

171

frequentes. É como se, reproduzindo-as, a autora conseguisse incorporar em seu texto o senso comum. Dessa forma, sabendo quais são as principais dúvi-das do público em geral sobre o tema debatido, e prometendo apresentar so-luções eficazes para elas, a autora consegue ampliar o alcance de seu texto.

Vamos, agora, ler e analisar uma crônica de José Simão para demonstrar que as diversas modalidades textuais usam recursos também diferentes.

Chega de prata! Vamos virar faqueiro!(SIMÃO, 2010)

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! […]

E o Pândega 2007? Chega de prata! O Brasil vai virar um faqueiro. […]

E um amigo meu diz que na casa dele há anos que chegou o Pan: pan com ovo, pan com mortadela e pan com manteiga! […]

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. Pancreatite: companheiro inflamado com o clima do Pan! Pancreático! Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês. […] Hoje só amanhã! […] E vai indo que eu não vou!

OralidadeCoerente com a simplicidade e o despojamento permitidos na crônica, a

oralidade é usada para tornar o texto mais próximo do leitor.

Para entender melhor como esse recurso é utilizado e para reforçar os efeitos provocados por ele, vamos a alguns exemplos que retomam partes do texto lido.

E o Pândega 2007? Chega de prata! O Brasil vai virar um faqueiro. […]

E um amigo meu diz que na casa dele há anos que chegou o Pan: pan com ovo, pan com mortadela e pan com manteiga! […]

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. Pancreatite: companheiro inflamado com o clima do Pan! Pancreático! Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês. […] Hoje só amanhã! […] E vai indo que eu não vou!

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Estratégias e recursos na construção do texto

A primeira coisa que chama a atenção é a profusão de e. Os três parágra-fos destacados começam com essa mesma vogal. A repetição é uma marca típica da oralidade, bem como a onomatopeia rarará, figura de linguagem que tenta imitar o som de uma gargalhada.

Outra característica importante do autor é que ele subverte alguns vocá-bulos, ao substituí-los por outros, com som parecido, mas escrita diferente (óbvio lulante, em vez de óbvio ululante; e pan, em vez de pão). Sendo assim, em vários momentos a gramática não é obedecida. Essa é uma das licenças da crônica e do autor, que já é dono de um estilo bastante peculiar que se transfere de um texto para outro. O estilo funciona como uma marca regis-trada, assegurando a correspondência entre o autor e os seus textos. No caso do exemplo óbvio lulante, os leitores bem sabem que lulante não existe: é um termo criado pelo autor e refere-se ao presidente Lula. Isso exemplifica, no texto, outra característica bastante acentuada no estilo desse cronista – o neologismo, recurso que permite a criação de palavras.

Digno de comentário é também o uso das exclamações, outra marca da oralidade, geralmente não utilizada em textos formais, mas que é admitida na crônica pela linguagem simples que esse tipo de texto costuma privilegiar.

Temas do cotidianoA escolha de temas cotidianos é bastante conveniente para a simplicida-

de pretendida pela crônica. Pela leitura dos trechos do texto de José Simão, já foi possível perceber que ele encadeia uma série de fatos, de modo a fazer um resumo das novidades da semana no país.

Esse artifício exige uma contribuição bastante específica do leitor: para entender o texto lido, ele deve lançar mão de seu conhecimento prévio, re-tomando as informações que lhe chegaram recentemente, pela mídia, para poder entender a piada. Sem fazer essa relação do texto com os fatos que deram origem à crítica e ao gracejo, o texto perde completamente o seu efeito.

Nesse jogo que o autor estabelece com o leitor, referências de vários tipos são exigidas. Vejamos os fragmentos a seguir.

Estratégias e recursos na construção do texto

173

E o Pândega 2007? Chega de prata! O Brasil vai virar um faqueiro. […]

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. Pancreatite: companheiro inflamado com o clima do Pan! Pancreático! Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês. […] Hoje só amanhã! […] E vai indo que eu não vou!

Ambos pedem que o leitor colabore, acionando seu conhecimento prévio. O primeiro, porém, exige que o leitor esteja por dentro de algo que estava acontecendo na época em que o texto foi escrito: os Jogos Pan-americanos de 2007, também chamados Pan 2007, no Rio de Janeiro. Logo, quem acom-panhava as competições e tinha a informação sobre o número de medalhas de prata estar alcançando uma marca impressionante vai saber que se jus-tifica o fato de o autor afirmar que “O Brasil vai virar um faqueiro” – já que a prata é o material de que são feitos os faqueiros de luxo.

O segundo trecho, diferentemente do primeiro, já requer um conheci-mento mais amplo do leitor. O autor não se refere a uma situação específica: ele brinca com os frequentes deslizes do presidente Lula no uso da língua portuguesa, razão pela qual o cronista cria outro significado para pancreatite – “companheiro inflamado com o clima do Pan” – e afirma que “O lulês é mais fácil que o inglês”.

Brasileiros e brasilianos(KANITZ, 2010)

Por 500 anos mentiram para nós. Esconderam um dado muito importan-te sobre o Brasil. Disseram-nos que éramos brasileiros. Que éramos cidadãos brasileiros, que deveríamos ajudar os outros, pagando impostos sem reclamar nem esperar muito em troca. Esconderam todo esse tempo o fato de que o termo brasileiro não é sinônimo de cidadania, e sim o nome de uma profissão. Brasileiro rima com padeiro, pedreiro, ferreiro.

[…] Só que você, caro leitor, é um brasiliano. Brasiliano rima com italia-no, indiano, australiano. Brasiliano não é profissão, mas uma declaração de cidadania.

174

Estratégias e recursos na construção do texto

[…]

Brasilianos investem na Bolsa de Valores de São Paulo. Brasileiros investem em offshores1 nas ilhas Cayman ou vivem seis meses por ano na Inglaterra para não pagar impostos no Brasil. Brasileiros adoram o livro O ócio criativo, de Domenico de Masi, enquanto os brasilianos não encontram livro algum com o título O trabalho produtivo, algo preocupante. […]

Não vou fazer estimativa, deixarei o leitor fazê-la com base nas próprias observações, para sabermos se haverá crescimento ou somente a continua-ção do “conflito distributivo” deste país. O eterno conflito entre aqueles que se preocupam com a geração de empregos e aqueles que só pensam na dis-tribuição da renda. Os brasilianos desta terra não têm uma Constituição, que ainda é negada a uma parte importante da população. Uma Constituição feita pelos verdadeiros cidadãos, que estimule o trabalho, o investimento, a famí-lia, a responsabilidade social, a geração de renda, e não somente sua distribui-ção. Uma Constituição de obrigações, como a de construir um futuro, e não somente de direitos, de quem quer apenas garantir o seu. […]

São 500 anos de cultura brasileira que precisamos mudar, a começar pela nossa própria identidade, pelo nosso próprio nome, pela nossa própria definição.

1 O termo offshore é usado para qualificar empresas que funcionam fora do país, em um arti-fício que, quase sempre, garante aos associados alguns benefícios, porque a empresa segue as leis do país em que está situada. Em vários casos, há, inclu-sive, isenção de impostos, medida frequentemente adotada para estimular a aplicação do capital estrangeiro.

ComparaçãoNo texto de Stephen Kanitz, a comparação serve para exemplificar e opor

características das duas “classes” que o autor apresenta: brasileiros e brasilia-nos. Observe este trecho comparativo:

Brasilianos investem na Bolsa de Valores de São Paulo. Brasileiros inves-tem em offshores nas ilhas Cayman ou vivem seis meses por ano na In-glaterra para não pagar impostos no Brasil.

Como o autor define desde o início o que – para ele – é ser brasileiro e brasiliano, a comparação também serve para tornar as informações mais claras. Em vez da parte teórica dos conceitos, privilegia-se a exemplificação, na tentativa de buscar, para a teoria, um correspondente na prática.

Estratégias e recursos na construção do texto

175

No trecho em análise, o que faz a comparação e também a oposição é o fato de os exemplos aparecerem em sequência e associados às duas catego-rias apresentadas.

Além disso, comparar é estabelecer relações e os polos da comparação podem fazer menção a elementos do texto ou de fora dele. De novo, torna--se importante o conhecimento prévio do leitor, porque saber que os “Brasi-leiros investem em offshores nas ilhas Cayman” vai ao encontro da intenção do autor, que defende a superioridade dos brasilianos em relação aos brasi-leiros. Considerando o fato de as ilhas Cayman serem consideradas um paraí-so fiscal, o leitor compreende, a partir da comparação feita, a ideia defendida pelo autor, depois de relacioná-la com fatos que repercutiram na mídia.

Escolha vocabularA escolha das palavras que serão usadas, como já mencionamos, depen-

de do tipo do texto e do estilo do autor. Depois de ler os textos de José Simão e Stephen Kanitz, torna-se evidente o poder das palavras. O texto “Brasileiros e brasilianos” não usa gírias, nem onomatopeias, nem neologismos. O autor segue à risca a gramática e escolhe um vocabulário apropriado à seriedade do seu texto.

No entanto, pode-se perceber que, além disso, determinadas palavras ex-cedem a função de emprestar um tom sério ao texto. A utilização de verbos e pronomes na primeira pessoa, por exemplo, tenta transpor os obstáculos que distanciam autor e leitor. Em numerosas vezes, o autor se inclui no texto para gerar a ideia de que é igual ao leitor. Vejamos alguns exemplos da utili-zação desse recurso.

Disseram-nos que éramos brasileiros.

Só que você, caro leitor, é um brasiliano.

Não vou fazer estimativa, deixarei o leitor fazê-la com base nas próprias ob-servações […].

São 500 anos de cultura brasileira que precisamos mudar, a começar pela nossa própria identidade, pelo nosso próprio nome, pela nossa própria definição.

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Estratégias e recursos na construção do texto

No primeiro e no último exemplo, o autor usa abundantemente de verbos e pronomes na primeira pessoa do plural. Isso confere o mesmo status ao autor e ao leitor e consolida a proximidade pretendida pelo autor, para en-volver o leitor e facilitar a sua adesão à tese defendida no texto.

No segundo exemplo, aparece outro recurso, de efeito bastante parecido à utilização da primeira pessoa: o autor conversa com o leitor, usando o pro-nome você e o vocativo caro leitor.

No terceiro exemplo, outro artifício interessante é que, por meio de um vocabulário cuidadosamente escolhido, o autor faz parecer que dá liberdade de julgamento ao leitor. É claro que se trata de outro modo de conquistar a sua simpatia. Na verdade, a indução é fundamental em qualquer texto ar-gumentativo, razão pela qual o autor tenta se aproximar do leitor e, depois, finge completo desinteresse sobre as observações que o leitor irá fazer. Porém, há um ponto comum nas duas estratégias: o convencimento.

RepetiçãoEm geral, a repetição costuma ser evitada nos textos porque deixa trans-

parecer certa infantilidade no uso da língua portuguesa, por acusar um vo-cabulário restrito. Entretanto, há casos em que a repetição pode assumir outros papéis – os quais, aliás, não desmerecem o texto e nem o autor. Para demonstrar isso, vejamos dois trechos do texto lido.

Disseram-nos que éramos brasileiros. Que éramos cidadãos brasileiros, que deveríamos ajudar os outros […].

Os brasilianos desta terra não têm uma Constituição, que ainda é negada a uma parte importante da população. Uma Constituição feita pelos verda-deiros cidadãos, que estimule o trabalho, o investimento, a família, a res-ponsabilidade social, a geração de renda, e não somente sua distribuição. Uma Constituição de obrigações, como a de construir um futuro, e não so-mente de direitos, de quem quer apenas garantir o seu.

O primeiro destes exemplos repete o uso do que. No primeiro período, essa conjunção aparece completando o sentido de disseram-nos. No segun-do período do mesmo trecho, o que antes dos verbos éramos e deveríamos é um modo peculiar e paradoxal que o autor encontrou de evitar a repetição

Estratégias e recursos na construção do texto

177

de disseram-nos, usando outra repetição, a do que... Brincadeiras à parte, a atitude é eficaz, porque o que, por subentender disseram-nos, não deixa o texto incompleto, e porque é muito melhor usar a repetição de um trecho pequeno do que de um trecho muito longo. Veja abaixo como ficaria o texto, se disseram-nos também fosse repetido, junto com o que.

Disseram-nos que éramos brasileiros. Disseram-nos que éramos cidadãos brasileiros, disseram-nos que deveríamos ajudar os outros […].

Quanto ao segundo trecho que utiliza repetição, destaque-se o uso de “Uma Constituição”, que aparece três vezes em um espaço de poucas linhas. Aqui, o objetivo é reforçar uma ideia.

Primeiramente, o autor escreve com todas as letras que “Os brasilianos desta terra não têm uma Constituição”.

Depois, a cada aparição de “Uma Constituição”, reforça-se a ausência, ao mesmo tempo em que o autor aproveita para elencar as características que deveriam fazer parte de uma Constituição de fato. Pode-se dizer, então, que, nesse caso, o objetivo da repetição é fixar para criticar.

Texto complementarO texto a seguir fala da importância da correta utilização da vírgula no

texto. Leia-o com atenção e depois não deixe de procurar saber um pouco mais sobre esse sinal de pontuação.

No mundo das vírgulas(SOUZA, 1994)

Tive outro dia uma conversa com acadêmicos de Comunicação da PUC e notei certa ansiedade da garotada em relação a uma rotina da vida jornalísti-ca, que é a obrigatoriedade de escrever sob a pressão do horário e nos limites do espaço disponível. Tentei tranquilizá-los: sempre é possível e, com a práti-ca, todo o mundo consegue, não é preciso ter nenhum dom especial. Difícil mesmo é escrever bem. Para isso, não basta ter tempo, espaço ou vontade; é necessário, acima de tudo, persistência. Nunca tive a pretensão de orien-

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Estratégias e recursos na construção do texto

tar ninguém sobre esta matéria, até mesmo porque também suo diariamen-te para dar uma forma apresentável a meus textos – e nem sempre consi-go. Mas recolhi das leituras da madrugada (leiam, leiam, leiam, mas também procurem escrever e submeter o texto à apreciação de leitores qualificados!) alguns ensinamentos que agora retransmito, na esperança de que sejam úteis a quem se interessa pelo tema.

O primeiro deles é de Isaac Bashevis Singer, para quem o melhor amigo do escritor é a lata de lixo. Pode parecer um tanto desestimulante, mas é um admi-rável conselho. Lembra que a boa redação – aliás, como tudo na vida – só pode ser alcançada com humildade, com o reconhecimento da má obra. Fazer, cortar e refazer repetidamente: este é o ciclo. Trabalhoso, mas necessário. O que é es-crito sem esforço, disse Samuel Johnson, geralmente é lido sem prazer.

O escritor tem que se preocupar com os mínimos detalhes de sua obra, e especialmente com estes. Tom Campbell andou certa vez dez quilômetros até a gráfica que imprimia um dos seus livros (e dez quilômetros de volta) para mudar uma vírgula num ponto e vírgula. E é exatamente nas vírgulas que tropeçam os redatores iniciantes, separando o que não deve ser separa-do e unindo o que não pode estar junto. A pontuação é o cimento do texto. Querem um exemplo? Leiam a historinha abaixo, que retirei de uma coletâ-nea de pensamentos de Mansour Challita:

Foi encontrado o seguinte testamento: “Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres”. Quem tinha direito ao espólio? Eram quatro os concorrentes. O sobrinho assim pontuou o texto: “deixo os meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres”. A irmã pontuou assim: “deixo os bens à minha irmã. Não ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres.” O alfaiate fez a sua versão. “Deixo os bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres”. O procurador dos pobres pontuou assim: “Deixo os meus bens à minha irmã? Não! Ao meu so-brinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres!”

O anônimo moribundo, como podem perceber os leitores, não era um bom redator. Ou então tinha – por motivos óbvios – a pressa dos jornalistas nos minutos que precedem ao fechamento da edição.

Estratégias e recursos na construção do texto

179

Atividades1. Leia o fragmento abaixo.

Vinte e uma coisas que aprendi como escritor(SCLIAR, 2010)

Aprendi que escrever é basicamente contar histórias, e que os melhores livros de ficção que li eram aqueles que tinham uma história para contar.

Aprendi que o ato de escrever é uma sequela do ato de ler. É preciso captar com os olhos as imagens das letras, guardá-las no reservatório que temos em nossa mente e utilizá-las para compor depois as nossas próprias palavras.

Agora, comente

a) a escolha vocabular.

b) a repetição.

180

Estratégias e recursos na construção do texto

2. Explique o efeito provocado pelo uso de citações em um texto.

3. Pontue o texto abaixo e depois sublinhe apenas a informação básica de cada período.

Ontem à tarde uma forte chuva deixou vários bairros da cidade sem luz. Moradores do Boa Vista Sítio Cercado Portão e Água Verde foram os que mais sofreram com a falta de energia que durou três horas.

Texto para as questões 4 a 8.

8 de janeiro de 1935(BELLOTTO, 2010)

Fazia muito calor naquele verão em Memphis, no Tenessee. Quando Sam Phillips, o dono da Sun Records – um pequeno estúdio especializado em gra-vações de música country e jazz –, chegou para a sessão daquela tarde, os meninos já estavam tocando. Sam entrou na sala de controle e perguntou a um dos técnicos de gravação que som era aquele que os malucos estavam fazendo. Jack não soube explicar. “Estão zoando com o blues do Crudup”.

Só então Sam se deu conta de que os garotos estavam tocando “That’s All Right, Mamma”, um blues de Artur Crudup.

“Quer que eu peça pra eles pararem?”, perguntou Jack.

“Não!”, disse Sam. “Grave o que eles estão tocando.”

Estratégias e recursos na construção do texto

181

“Mas, Sam, isso não é blues, não é country, não é pop…”.

“Não importa Jack, grave!”, ordenou Sam.

Sam tinha gostado do som que os garotos estavam fazendo. Era um blues, mas eles estavam tocando num andamento mais rápido, como uma canção country. Os garotos eram três figuraças. O cantor tinha um topete enorme, parecia uma couve-flor negra e brilhante no alto da cabeça.

“Quem é o cantor?”, Sam perguntou. “Não sei”, disse Jack. “Parece que é um chofer de caminhão de Tupelo”.

Não sei se as coisas aconteceram exatamente assim naquela tarde de 5 de julho de 1954 em Memphis, mas imagino que sim. Agora em janeiro, no dia 8, comemorou-se o nascimento do garoto do topete, Elvis Aaron Presley, que se não foi o único, foi sem dúvida um dos mais importantes inventores desse ritmo musical que transcendeu a música e virou um modo de vida: o rock.

Estudiosos dizem que o rock nasceu naquela sessão de gravação no dia 5 de julho de 1954 em Memphis, no Tenessee. Eu acho que o rock nasceu em Tupelo, Mississippi, no dia 8 de janeiro de 1935.

[…]

Num verão quente como esse que vivemos, nada melhor que escutar o pri-meiro disco do Elvis, ELVIS PRESLEY. Você não encontrará nada mais moderno por aí, apesar do disco estar completando 54 anos de idade.

4. No trecho “Não sei se as coisas aconteceram exatamente assim […]”, é usado um recurso que provoca determinado efeito no texto. Assinale a alternativa que associa recurso e efeito corretamente.

a) Exemplo/comprovação.

b) Citação/credibilidade.

c) Escolha vocabular/formalidade.

d) Escolha vocabular/inclusão do narrador no texto.

182

Estratégias e recursos na construção do texto

5. Assinale a alternativa que transcreve um trecho que utiliza o mesmo recurso que pode ser percebido em: “Não sei se as coisas aconteceram exatamente assim […]”.

a) “Estudiosos dizem que o rock nasceu naquela sessão de gravação no dia 5 de julho [...].”

b) “‘Quer que eu peça pra eles pararem?’, perguntou Jack.”

c) “Eu acho que o rock nasceu em Tupelo, Mississippi, no dia 8 de ja-neiro de 1935.”

d) “Fazia muito calor naquele verão em Memphis […].”

6. Sobre o trecho: “Você não encontrará nada mais moderno por aí […]”, é correto afirmar que

a) utiliza marcas de oralidade.

b) estabelece uma conversa com o leitor.

c) é um exemplo, para a comprovação de uma ideia.

d) exige que o leitor utilize seu conhecimento prévio.

7. Marque a alternativa que apresenta os dois recursos a que se relacio-nam, na ordem em que aparecem, as partes marcadas no fragmento: “Era um blues, mas eles estavam tocando num andamento mais rápi-do, como uma canção country. Os garotos eram três figuraças.”

a) Comparação/marca de oralidade.

b) Citação/marca de oralidade.

c) Comparação/exemplo.

d) Pontuação/marca de oralidade.

8. Marque a alternativa que analisa corretamente a pontuação deste tre-cho do texto: “Num verão quente como esse que vivemos, nada me-lhor que escutar o primeiro disco do Elvis, ELVIS PRESLEY.”

a) A vírgula está empregada incorretamente porque “Num verão quente como esse que vivemos” é parte da informação básica.

b) A vírgula está empregada corretamente porque “Num verão quen-te como esse que vivemos”, oração que desempenha a função de sujeito, deve ser separada do restante do período (predicado).

Estratégias e recursos na construção do texto

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c) A vírgula está empregada corretamente, depois de “Elvis” porque “ELVIS PRESLEY” é um aposto.

d) A informação básica do período, indicada pela marcação das vír-gulas, é “Num verão quente como esse que vivemos, nada melhor que escutar o primeiro disco do Elvis”.

9. Marque a opção que apresenta exemplo de pontuação correta.

a) Dunga, técnico da seleção brasileira ainda não se decidiu sobre a escalação do time para a Copa do Mundo.

b) Dunga, técnico da seleção brasileira, ainda não se decidiu sobre a escalação do time para a Copa do Mundo.

c) Dunga técnico da seleção brasileira, ainda não se decidiu sobre a escalação do time para a Copa do Mundo.

d) Dunga técnico da seleção brasileira ainda não se decidiu, sobre a escalação do time para a Copa do Mundo.

10. Sobre o uso de elementos coesivos, é correto afirmar que

a) permite a repetição de termos no texto.

b) dificulta a compreensão textual.

c) serve como principal modo de manipular o leitor.

d) é inerente a qualquer tipo de texto, pois assegura a clareza da in-formação transmitida pelo autor.

11. Observe a pontuação utilizada neste período: “O professor disse, tam-bém, que a prova foi adiada.”

Agora, assinale a alternativa que interpreta corretamente o efeito pro-vocado pelo uso das vírgulas.

a) Ênfase.

b) Aposto.

c) Vocativo.

d) Restrição.

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Estratégias e recursos na construção do texto

Gabarito1.

a) A escolha vocabular privilegia uma escrita formal. Dessa forma, o autor não utiliza marcas de oralidade. Percebe-se também a recor-rência de verbos na primeira pessoa do singular, como aprendi, que se repete ao início de cada parágrafo, em uma clara referência ao título do texto, Vinte e uma coisas que aprendi como escritor. Esse recurso combina com a simplicidade da crônica e com a pro-ximidade entre autor e leitor, exigida por esse tipo de texto.

b) A repetição é uma opção de estilo do autor. Iniciando cada pará-grafo com o mesmo verbo (aprendi), acentua-se a subjetividade e a quantidade – afinal, como o título indica, serão listadas “vinte e uma coisas”.

2. As citações podem servir de sustentação à tese defendida pelo au-tor do texto, ao mesmo tempo em que empresta a credibilidade do autor do trecho utilizado para avalizar o texto que o incorporou.

3. Ontem à tarde, uma forte chuva deixou vários bairros da cidade sem luz. Moradores do Boa Vista, Sítio Cercado, Portão e Água Verde foram os que mais sofreram com a falta de energia, que durou três horas.

4. D

5. C

6. B

7. A

8. C

9. B

10. D

11. A

Estratégias e recursos na construção do texto

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Dica de estudoPara saber mais sobre os recursos que podem ser utilizados nos textos

e sobre os efeitos provocados por eles, procure, em qualquer gramática, o capítulo que trata de figuras de linguagem. Lá você vai encontrar outras pos-sibilidades que servem para a produção de diferentes tipos de textos.

ReferênciasBELLOTTO, Tony. 8 de janeiro de 1935. Veja, 22 mar. 2010, Seção Colunistas Tony Bellotto. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blogs/cenas-urbanas/cenas/8-de-janeiro-de-1935/>.

BENCINI, Roberta. Por que ler os clássicos. Nova Escola, n. 161, abr. 2003.

KANITZ, Stephen. Brasileiros e Brasilianos. Disponível em: <http://arquivoetc.blogspot.com/2007/12/stephen-kanitz.html>. Acesso em: 9 abr. 2010.

SCLIAR, Moacyr. Vinte e Uma Coisas que Aprendi como Escritor. Disponível em: <http://www.pucrs.br/gpt/escritores.php>. Acesso em: 9 abr. 2010.

SIMÃO, José. Chega de prata! Vamos virar faqueiro! O Povo Online, 18 jul. 2007, Seção Colunas José Simão. Disponível em: <http://opovo.uol.com.br/opovo/colu-nas/josesimao/712986.html>. Acesso em: 9 abr. 2010.

SOUZA, Nilson. No mundo das vírgulas. Zero Hora, 1 set. 1994.

Interpretação de textos complexos

A interpretação de textos abrange dois níveis: o básico e o avançado. A diferença entre um e outro diz respeito às questões que motivam a recupe-ração das informações e ao modo de fazer esse resgate.

Depois de lermos o texto, devemos ter claro em nossa mente um esboço que o simplifique e o resuma. Nesse nível, que é o básico, importa retomar os tópicos principais no texto, de preferência seguindo a ordem proposta pelo autor. Em geral, não há dificuldade em fazer essa retomada. Necessita--se apenas de atenção. Afinal, todas as informações estão lá, explícitas, no texto.

Partindo para o nível avançado, é preciso aprofundar algumas questões (apenas citadas ou sugeridas no texto). Sendo assim, essa etapa interpretati-va exige que o leitor estabeleça relações com outros textos ou com filmes e livros que já conhece. Além disso, é de extrema relevância tentar relacionar os temas discutidos no texto com problemas da realidade, pois é inegável que todo tipo de reflexão está embasada nas questões que caracterizam a sua época ou o seu contexto.

Na primeira leitura que se faz de um texto, alguns elementos devem ser observados para facilitar e permitir a interpretação. É fundamental, por exemplo, identificar o tipo de texto lido (é uma argumentação, uma crôni-ca, um poema?). Também é importante se certificar de que o seu conteúdo geral foi apreendido, o que, às vezes, torna indispensável uma consulta ao dicionário.

O leitor também estará interpretando o texto quando tenta relacionar suas partes para perceber a progressão das ideias, as ligações entre elas, se há coerência entre o texto e o título e quais os pequenos tópicos que acabam desdobrando e aprofundando o tema maior, o qual o leitor identifica mais fácil e rapidamente.

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Interpretação de textos complexos

Mais associados à etapa avançada da interpretação estão fatores como uma breve pesquisa sobre o autor do texto, seu estilo, o contexto histórico- -cultural em que ele está inserido etc. Questões como essas auxiliam a am-pliação do texto: é assim que o leitor percebe a relação do texto com a socie-dade e verifica a abrangência da reflexão que ele propõe, a partir dos temas discutidos.

No entanto, perceba que, quando descobrimos que o texto em análise foi escrito em uma época muito distante da nossa, é preciso evitar julgamen-tos que desconsiderem o seu contexto original. Sendo assim, não podemos cobrar de um texto posicionamentos mais coerentes com a nossa época, as nossas crenças, em detrimento dos princípios que eram considerados no passado e constituíam o contexto no qual o texto foi escrito. Se um texto sempre é influenciado por questões de seu tempo, é tarefa do leitor verificar que questões eram debatidas em uma época que não é a sua – nada que uma breve pesquisa de história não possa resolver… Sobretudo hoje, com a facilidade da internet.

Esse levantamento pode render outras comparações, pois, conhecendo mais sobre uma época diferente da nossa, sempre é possível mudar o modo de vermos as coisas. Quanto mais conhecimento, mais elementos vão sendo acrescentados à interpretação textual.

Porém, também podem existir dicas dentro do texto, motivando relações que permitam a expansão do conteúdo. Há casos em que o autor cita o título de uma obra, o nome de outro autor, e pode, inclusive, citar uma passagem de um artigo ou de um livro. Sem dúvida, o trecho citado não foi uma escolha aleatória. Portanto, o exercício interpretativo é entender a relação do conte-údo do texto lido com o trecho citado. Às vezes, a apreensão dessa relação é facilitada pelo autor, que é bem explicativo ao comentar a citação, mas em algumas situações essa tarefa fica mais a cargo do leitor.

Vamos, agora, deixar a teoria um pouco de lado, passando para a ativida-de interpretativa propriamente dita. Vamos ler dois textos diferentes e fazer comentários acerca de um e de outro obedecendo às recomendações desta parte introdutória.

Interpretação de textos complexos

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Leitura do texto

Do que é feito o Nobel da Paz?(FRANÇA, 2010)

A eleição do presidente Barack Obama ao prêmio Nobel da Paz, anunciada nesta sexta-feira, é um prêmio às boas intenções. Porque essas são, por en-quanto, as credenciais de seu governo. Cabe analisar do que é feito, afinal o prêmio Nobel da Paz, a mais simpática e política das seis premiações da Real Academia de Ciências da Suécia. É de ações individuais ou das de governo? No caso de Obama, seu principal gesto individual será a doação do dinheiro do prêmio a instituições de caridade.

Como governante, sim, ele tem o que mostrar. Sua recente proposta de desarmamento nuclear tem um peso extraordinário. Aponta uma mudança importante na posição do governo americano. Sua disposição ao diálogo com os países islâmicos, sem perder a firmeza na condenação ao avanço iraniano na área nuclear, também. A recente crítica ao governo de Israel pelas ocupa-ções em território palestino é outra guinada admirável.

Mas são ações motivadas pela necessidade de uma correção de rumos inescapável. Deveriam resultar, no máximo, em um prêmio Nobel do Bom Senso. […]

O reposicionamento da política externa americana é resultado do deslo-camento do eixo político global com [a] entrada da China e dos outros emer-gentes no jogo. É resultado também da absurda situação de endividamento legada por George W. Bush, que ele precisa contornar se quiser manter a ca-pacidade de intervenção em conflitos regionais ao redor do mundo. Não se pode dizer que seja uma propensão do presidente à bondade.

O líder político que, durante sua campanha, encantou multidões com a perspectiva de uma nova era de Aquarius, é pragmático a ponto de manter a posição americana em relação às guerras e adiar a retirada de tropas do Iraque. Da mesma forma, adotou medidas para redução das emissões de gases de efeito estufa muitíssimo mais modestas do que prometeu na campanha.

O prêmio que acaba de ganhar criou a suspeita de que os senhores da Nobel Foundation, na Suécia, estão de birra com George W. Bush. […]

Premiar Obama agora, com apenas nove meses de governo, parece um recado claro de contestação ao governo Bush — que diga-se de passagem, lutou com afinco contra a paz mundial. Talvez o maior feito de Obama seja não ser Bush.

190

Interpretação de textos complexos

Análise do textoPara atendermos ao nível mais básico, que corresponde à primeira etapa

da interpretação, algumas considerações são importantes. Pelas caracterís-ticas e pela referência do texto, podemos concluir que é um texto típico de uma coluna. Os textos que são incluídos nessa categoria, em jornais, revistas ou sites, têm maior liberdade para mesclar fatos com opinião.

Quanto ao vocabulário, não há palavras de difícil compreensão. Portanto, não há obstáculos que impeçam uma boa interpretação do texto.

Cabe, também, ressaltarmos que o texto comenta um fato que alcançou grande repercussão na mídia. Logo, o autor do texto já pressupõe que o leitor esteja razoavelmente informado a respeito do tema abordado. O presidente Barack Obama recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2009. Por se tratar de um fato recente, basta que o leitor faça uso de seus conhecimentos prévios para acompanhar o desenvolvimento do texto. Textos como esse, que se detêm sobre fatos relativamente atuais, dispensam aquela pesquisa histórica e dis-pensam o cuidado do leitor de tentar não cobrar do autor e do próprio texto coisas que eles não podem oferecer, porque estão relacionados a um contex-to completamente diverso do atual.

Agora, para retomarmos a estrutura do texto em linhas gerias, vamos montar um rápido esboço:

problema; �

análise dos prós e contras que compõem a questão proposta; e �

conclusão. �

Pela estrutura que resultou do esboço, está claro que o texto tem a in-tenção de questionar algo para consolidar uma posição sobre o problema analisado. Sendo assim, temos base para afirmar que se trata de um texto ar-gumentativo. Nesse tipo de texto, a opinião é peça fundamental e o próprio título, em formato de pergunta (“Do que é feito o Nobel da Paz?”), deixa claro o destaque ao teor opinativo e não informativo do texto.

Associando agora o conteúdo que integra cada uma das partes relaciona-das acima, podemos chegar a um esquema bem mais detalhado, expondo tópicos gerais e específicos e fazendo a correspondência correta entre as-suntos e partes do texto:

Interpretação de textos complexos

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Problema �

Nessa parte, inter-relacionam-se as duas questões abaixo.

a) Quais critérios determinam o vencedor do prêmio Nobel da Paz?

b) Obama de fato mereceu ganhar o Nobel da Paz, em 2009?

Análise dos prós e contras que compõem a questão proposta. �

Prós:

a) proposta de desarmamento nuclear;

b) abertura ao diálogo com os países islâmicos; e

c) crítica a Israel.

Contras:

a) Obama não mudou a postura americana em relação às guerras;

b) adiamento da retirada das tropas americanas do Iraque; e

c) apresentação de poucas medidas para a redução do efeito estufa, considerando que esse era o ponto forte de sua campanha eleitoral.

Conclusão �

Os critérios usados para a premiação não são adequados e, portanto, Obama não mereceu o prêmio Nobel da Paz.

Agora, vamos passar a questões não tão evidentes sobre o texto, atentan-do para detalhes que geralmente passam despercebidos em uma primeira leitura. Isso significa que, para chegarmos a esse nível de compreensão tex-tual, é necessária uma releitura, com muito mais atenção e de modo a buscar outros elementos que não aqueles óbvios ou de caráter geral.

Retomando o esquema feito, com a estrutura e a divisão de conteúdo do texto lido, temos que considerar algumas afirmações, antecipando o que depois irá se configurar como a conclusão do autor.

Depois da apresentação dos tópicos favoráveis ao prêmio concedido a Obama, o autor do texto escreve que:

Mas são ações motivadas pela necessidade de uma correção de rumos inescapável. Deveriam resultar, no máximo, em um prêmio Nobel do Bom Senso. […]

192

Interpretação de textos complexos

O reposicionamento da política externa americana é resultado do desloca-mento do eixo político global com [a] entrada da China e dos outros emer-gentes no jogo. É resultado também da absurda situação de endividamen-to legada por George W. Bush, que ele precisa contornar se quiser manter a capacidade de intervenção em conflitos regionais ao redor do mundo.

Desta parte, é primordial a análise do autor, o qual julga que as caracterís-ticas positivas apresentadas pelo presidente norte-americano, justificadoras da concessão do prêmio, não passam de obrigações. Logo, “deveriam resul-tar, no máximo, em um prêmio Nobel do Bom Senso”.

Para aprofundar essa postura, o autor fornece, no parágrafo seguinte, ele-mentos que desencadearam as atitudes do presidente: “entrada da China e dos outros emergentes” no cenário político global, e a “absurda situação de endividamento legada por George W. Bush”. A partir desses dois elementos, o autor reforça sua posição contrária ao prêmio dado a Obama, porque ele agiu conforme a necessidade. Sendo assim, suas atitudes não podem ser consideradas um feito: elas apenas atenderam à expectativa dos Estados Unidos e de outros países.

Já na terceira parte, na conclusão, o autor questiona enfaticamente a lisura da comissão avaliadora do Nobel quando menciona que “O prêmio que acaba de ganhar criou a suspeita de que os senhores da Nobel Founda-tion, na Suécia, estão de birra com George W. Bush.” Esse período reforça os argumentos anteriores contra a atribuição do prêmio a Obama, assim como reduz a competição a rixas políticas de pouca importância.

Voltando, agora, ao início do texto, ainda há partes repletas de crítica e que merecem ser comentadas:

A eleição do presidente Barack Obama ao prêmio Nobel da Paz, anunciada nesta sexta-feira, é um prêmio às boas intenções. Porque essas são, por en-quanto, as credenciais de seu governo. Cabe analisar do que é feito, afinal o prêmio Nobel da Paz, a mais simpática e política das seis premiações da Real Academia de Ciências da Suécia.

Nesse trecho, foram marcados dois grupos de palavras. O primeiro afirma que o Nobel da Paz “é um prêmio às boas intenções”. Apenas essa referência já reduz a importância da premiação. Mas quando o autor retoma as boas intenções, registrando que “essas são, por enquanto, as credenciais” do go-

Interpretação de textos complexos

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Impávida clava forte(TOLEDO, 2009)

Quem não conhecia a cantora Vanusa, ou não se lembrava dela, agora já a conhece e tem motivos para dela não mais se esquecer. Ela fez seu triunfal in-gresso, ou retorno, à fama com uma interpretação do Hino Nacional que circu-la amplamente na internet. Para os poucos que ainda não viram o vídeo, feito durante uma cerimônia na Assembleia Legislativa paulista, a cantora, cuja voz arrastada, de tonalidades sonambúlicas, já fazia suspeitar de algo errado desde o início, a certa altura se atrapalha de vez e faz a melodia descasar-se sem remédio da letra, e a letra por sua vez livrar-se da sequência em que foi

verno de Barack Obama, a crítica se intensifica. Intenções não significam ação efetiva. Dessa forma, a afirmação do autor equivale à consideração de que existe um abismo entre as propostas e a sua realização, ou seja, teoria e prá-tica estão em desacordo.

Quanto ao segundo grupo destacado no fragmento que acabamos de reler, percebe-se a marcação de uma postura muito parecida com aquela apontada na conclusão do texto. Ao mencionar que a premiação do Nobel da Paz é “simpática e política”, o autor está demonstrando a tendenciosida-de da concessão do prêmio, nessa categoria, ao passo que o recomendável seria a imparcialidade.

Evidentemente, a interpretação que fizemos do texto foi apenas um modelo. Há outras possibilidades. O importante, porém, é sempre considerar as questões apresentadas na introdução deste capítulo, relacionando estru-tura e conteúdo, e sempre buscar atender aos níveis básico e avançado do exercício interpretativo, pois uma coisa leva à outra. Apreender as caracterís-ticas mais superficiais do texto é o ponto de partida para o aprofundamento de questões que ficam nas entrelinhas e que, portanto, pedem uma análise mais atenta e cuidadosa.

Texto complementarLeia o texto abaixo tentando fazer a sua interpretação segundo as mesmas

etapas e considerações que levamos em conta na análise do texto anterior. Bom trabalho!

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composta, a terra mais garrida estranhando-se com o sol do Novo Mundo, o gigante pela própria natureza irrompendo em lugar que nunca antes frequen-tara. O braço forte ganhou reforços, e virou braços fortes. O berço esplêndi-do transmudou-se em verso esplêndido. E, na mais estonteante estocada na estabilidade das estrofes, entoou: “És belo és forte és risonho límpido se em teu formoso risonho e límpido a imagem do Cruzeiro” – assim mesmo, não só deslocando ou pulando palavras, como terminando abruptamente na palavra “Cruzeiro”, desprovida do socorro do “resplandece”.

A performance de Vanusa passa de computador a computador para fazer rir. Este artigo tem por objetivo defendê-la. Que atire a primeira pedra quem nunca confundiu os versos de ida (“Ouviram do Ipiranga” etc.) com os da volta (“Deitado eternamente em berço esplêndido”). Que só continue a ridicularizar a cantora quem nunca removeu os raios fúlgidos para o lugar do raio vívido, ou vice-versa. Vanusa disse que estava sob efeito de remédios, daí seus atro-pelos. Não há dúvida, pelo andar hesitante de seu desempenho, e pelo tom resmungado da voz, de que estava fora de controle. É pena. Fosse deliberada, e interpretada com arte, sua versão do hino teria dois altos destinos. Primeiro, iria se revestir do caráter de uma variação, interessante por ser uma espécie de comentário à composição tal qual a conhecemos. Não seria uma variante tão bela como a Grande fantasia triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Got-tschalk, mas teria seus encantos. Segundo, assumiria a feição de uma leitura crítica do hino. Serviria para mostrar, com a insistente troca de palavras e de versos, como a letra é difícil, e extrairia um efeito cômico – deliberadamente cômico – das confusões que pode causar na mente de quem a entoa.

O inglês Lewis Carroll (1832-1898), autor de Alice no País das Maravilhas, criador do Chapeleiro Maluco e da festa de desaniversário, levou seu gosto pelo absurdo para a criação de um poema feito de palavras inventadas que se alternam com outras existentes, e cuja bonita sonoridade contrasta com o enigma de um significado impossível de ser alcançado. O poema chama-se Jabberwocky, e jabberwocky, em inglês, passou a significar um texto brinca-lhão, composto em linguagem inventada, mas parecendo real, sonora e sem sentido. Uma tradução do Jabberwocky para o português, do poeta Augus-to de Campos, começa assim: “Era briluz. As lesmolisas touvas/ Roldavam e relviam nos gramilvos./ Estavam mimsicais as pintalouvas/ E os momirratos davam grilvos.”

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Não. Não é que o Hino Nacional seja exatamente um jabberwocky. Não há nele palavras inventadas. Mas a combinação dos raios fúlgidos com o penhor dessa igualdade, do impávido colosso com o florão da América e do lábaro estrelado com a clava forte tem tudo para produzir um efeito jabberwocky para a multidão de brasileiros com ouvidos destreinados para os preciosismos parnasianos. A presença de palavras familiares no meio de outras estranhas, como no jabberwocky, confere a certeza de que caminhamos num terreno co-nhecido – no nosso caso, a língua portuguesa; no do jabberwocky original, a língua inglesa. Ao mesmo tempo, o inalcançável significado das palavras nos transfere para um universo em que a realidade se perde numa nebulosa onírica. Já houve, e ainda deve haver, movimentos para mudar a letra do Hino Nacional. Não, por favor, não – seria uma pena. Seu caráter jabberwocky lhe cai bem. Se à sonoridade das palavras se contrapõe um misterioso significado, tanto melhor: o hino fica instigante como encantamento de fada, e impõe respeito como reza em latim. Vanusa devia aproveitar a experiência e a recon-quistada fama para aprimorar uma versão cara limpa, sem voz arrastada nem tons sonambúlicos, de sua interpretação. Ela explicita como nenhuma outra o charme jabberwocky da letra de Osório Duque Estrada.

AtividadesAbaixo, o texto para as questões de 1 a 3.

Chapeuzinho Vermelho (FERNANDES, 2010)

Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em subs-tituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). […] Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal sel-vagem carnívoro do gênero cão […]

Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo Lobo, que lhe disse: (Outro parên-tese: os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de

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fantasia do autor […] Esse princípio animista é ancestralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: “Aonde vais, linda menina?” Respondeu Chapeuzinho Vermelho: “Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográ-ficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde”.

Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: Psychopathology Of Everiday Life, The Modern Library Inc. N.Y.). Che-gando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez – o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a ideia do capitalismo devorando o proletariado – e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó.

Passaram-se 15 minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da história). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de otite, inflamação do ouvido […]. Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localiza-ção da avó através da Roentgenfotografia.

E Chapeuzinho Vermelho viveu tranquila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.

1. Explique a função dos parênteses utilizados no texto.

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2. O texto de Millôr Fernandes tem o mesmo título do famoso conto de fadas. Essa semelhança assegura também a semelhança no perfil dos personagens, no texto clássico e nesse que acabamos de ler? Explique sua resposta.

3. Retome o final do texto e analise a relevância da referência ao nome do filósofo Rousseau.

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Agora, o texto para as questões 4 a 11.

Meu pequeno búlgaro (MAINARDI, 2001)

Diagnosticaram uma paralisia cerebral em meu filho de sete meses. Vista de fora, uma notícia do gênero pode parecer desesperadora. De dentro, é muito diferente. Foi como se me tivessem dito que meu filho era búlgaro. Ou seja, nenhum desespero, só estupor. Se eu descobrisse que meu filho era búlgaro, minha primeira atitude seria consultar um almanaque em busca de informações sobre a Bulgária: produto interno bruto, principais rios, riquezas minerais. Depois tentaria aprender seus costumes e sua língua, a fim de poder me comunicar com ele. No caso da paralisia cerebral, fiz a mesma coisa. […] Meu filho tem uma leve paralisia cerebral de tipo espástico. Os músculos que deveriam alongar-se contraem-se. Algumas crianças ficam completamente paralisadas. Outras conseguem recuperar a funcionalidade. É incurável. Mas há maneiras de ajudar a criança a conquistar certa autonomia, por meio de cirurgias, remédios ou fisioterapia.

Um dia meu filho talvez reclame desta coluna, dizendo que tornei público seu problema. O fato é que a paralisia cerebral é pública. No sentido de que é impossível escondê-la. Na maioria das vezes, acarreta algum tipo de defici-ência física, fazendo com que a criança seja marginalizada, estigmatizada. Eu sempre pertenci a maiorias. Pela primeira vez, faço parte de uma minoria. É uma mudança e tanto. […]

A paralisia cerebral de meu filho também me fez compreender o peso das palavras. Eu achava que as palavras eram inofensivas, que não precisavam de explicações, de intermediações. […]

Considero-me um escritor cômico. Nada mais cômico, para mim, do que uma esperança frustrada. Esperança frustrada no progresso social, na força do amor, nas descobertas da ciência. Sempre trabalhei com essa óptica anti- -iluminista. Agora cultivo a patética esperança iluminista de que nos próximos

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anos a ciência invente algum remédio capaz de facilitar a vida de meu filho. E, se não inventar, paciência: passei a acreditar na força do amor. Amor por um pequeno búlgaro.

4. Marque a alternativa correta sobre a relação entre as partes do texto e o seu conteúdo.

a) Introdução/paralisia cerebral do filho.

b) Conclusão/resultados dos levantamentos feitos na internet.

c) Desenvolvimento/a lição de vida recebida pelo narrador com o diagnóstico do problema do filho.

d) Introdução/preconceito enfrentado pelas pessoas com paralisia cerebral.

5. Sobre o título, é correto afirmar que

a) indica a nacionalidade búlgara da criança mencionada no texto.

b) é inadequado, pois não tem relação com o texto.

c) é adequado e resulta de uma comparação, para explicitar a estranhe-za causada pela notícia de que o filho apresentava paralisia cerebral.

d) é desprovido de questionamentos, pois é característico de textos literários.

6. Assinale a alternativa que faz considerações corretas sobre esta parte do texto: “Meu filho tem uma leve paralisia cerebral de tipo espástico. Os músculos que deveriam alongar-se contraem-se. Algumas crianças ficam completamente paralisadas. Outras conseguem recuperar a fun-cionalidade. É incurável. Mas há maneiras de ajudar a criança a conquis-tar certa autonomia, por meio de cirurgias, remédios ou fisioterapia.”

a) O aspecto sintético do trecho reforça sua função de conclusão do texto.

b) A passagem segue o tom do trecho que a antecede.

c) A passagem destoa do restante do texto, demonstrando deficiên-cia na elaboração do texto.

d) O trecho mostra mudança de tom para revelar que o narrador foi atrás de maiores informações, tentando lidar da melhor maneira com a paralisia do filho.

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7. Com base no fragmento “Eu sempre pertenci a maiorias. Pela primeira vez, faço parte de uma minoria. É uma mudança e tanto.”, é correto afirmar que, para interpretar adequadamente o fragmento transcrito, é necessário

a) associar texto e título.

b) levar em conta o contexto que se relaciona ao texto, muito diferen-te daquele em que o leitor de hoje está inserido.

c) elucidar as metáforas que o compõem.

d) que o leitor busque informações sobre a biografia do autor/narra-dor do texto.

8. Considerando o trecho “A paralisia cerebral de meu filho também me fez compreender o peso das palavras. Eu achava que as palavras eram inofensivas, que não precisavam de explicações, de intermediações”, estabelece-se que, entre os dois períodos, há um relação de

a) finalidade.

b) causa e efeito.

c) hipótese.

d) causa e efeito contrário.

9. O período “O fato é que a paralisia cerebral é pública.” associa-se ao fato de o texto passar a fazer considerações sobre outro tema relacio-nado à paralisia cerebral. Assinale a alternativa que apresenta correta-mente esse tema.

a) Limitação da ciência.

b) Mundo das celebridades.

c) Preconceito.

d) Detalhes do diagnóstico.

10. Marque a opção que apresenta corretamente o significado de cômico, na visão do narrador do texto.

a) “Esperança frustrada”.

b) “Progresso social”.

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c) “Força do amor”.

d) “Descobertas da ciência”.

11. Quando o autor/narrador classifica a “esperança iluminista” como “paté-tica”, o uso do adjetivo patética se justifica pelo fato de esse narrador

a) ser cientista e saber da impossibilidade da descoberta da cura para a paralisia cerebral.

b) ter assumido que, até o nascimento do filho, ele trabalhava com a “óptica anti-iluminista”.

c) não acreditar na possibilidade de a ciência descobrir a cura para a paralisia cerebral.

d) achar graça da possibilidade de descoberta da cura para a paralisia cerebral, já que é um escritor cômico.

Gabarito1. Os parênteses servem para eliminar o aspecto de fantasia do texto.

Isso fica evidente com a releitura do trecho “Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo Lobo que lhe disse: (Outro parêntese: os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor […]. Esse princípio animista é ancestralíssimo e está em todo o folclore universal.).” O recurso usado pelo autor, em vez de permitir que o leitor dê asas à imaginação, lembra o leitor de que os animais não falam.

2. Não. A Chapeuzinho do conto clássico é totalmente diferente da per-sonagem do texto de Millôr Fernades. O que prova isso é que, logo no início do texto, o narrador refere-se à garota como sendo “linda e um pouco tola”. Além disso, quando ela chega à casa da avó e não percebe que a avó é, na verdade, o lobo fantasiado, a “tolice” da garota é des-culpada pelo “astigmatismo convergente”.

3. Jean-Jacques Rousseau foi um filósofo iluminista suíço. A principal característica do Iluminismo era o racionalismo. Portanto, é extrema-mente relevante a citação do nome desse filósofo, pelo autor, ao final do texto, porque isso explica a versão racional que se faz do conto de fadas, tipo de texto que não tem nada de racional. Muito pelo contrá-rio: o conto clássico é fantasioso, imaginativo e admite a irrealidade desde o famoso “era uma vez”.

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4. A

5. C

6. D

7. D

8. B

9. C

10. A

11. B

Dica de estudoPara saber mais sobre interpretação e fazer alguns exercícios que seguem

os moldes das provas dos principais concursos, a dica é o livro Interpretação de textos: aprenda fazendo – questões gabaritadas e comentadas das princi-pais bancas examinadoras, de Antonio Oliveira Lima.

ReferênciasFERNANDES, Millôr. Chapeuzinho Vermelho. Disponível em: <http://www.dejovu.com/mensagens/ver/?3852/Chapeuzinho+Vermelho>. Acesso em: 9 abr. 2010.

FRANÇA, Ronaldo. Do que é feito o Nobel da Paz? Veja 40 anos, 9 out. 2009, Seção Blog: Ambiente. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/40anos/blog/ronaldo- -franca/>. Acesso em: 10 mar. 2010.

LIMA, A. Oliveira. Interpretação de Textos: aprenda fazendo – questões gabari-tadas e comentadas das principais bancas examinadoras. Rio de Janeiro: Campus, 2008.

MAINARDI, Diogo. Meu pequeno búlgaro. Veja, 9 maio 2001, Seção Colunas Diogo Mainardi. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/090501/mainardi.html>.

TOLEDO, Roberto Pompeu de. Impávida clava forte. Veja, 23 set. 2009. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/230909/impavida-clava-forte-p-150s.html>.

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Verônica Daniel Kobs

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Fundação Biblioteca NacionalISBN 978-85-387-3008-8