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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO INTERVENHO, LOGO EXISTO: A AUDIÊNCIA POTENTE E AS NOVAS RELAÇÕES NO JORNALISMO GIOVANA BORGES MESQUITA Recife – PE 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

INTERVENHO, LOGO EXISTO:

A AUDIÊNCIA POTENTE E AS NOVAS RELAÇÕES NO JORNALISMO

GIOVANA BORGES MESQUITA

Recife – PE

2014

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GIOVANA BORGES MESQUITA

INTERVENHO, LOGO EXISTO:

A AUDIÊNCIA POTENTE E AS NOVAS RELAÇÕES NO JORNALISMO

Tese apresentada ao Programa dePós-graduação em Comunicação daUniversidade Federal de Pernambuco, comorequisito parcial para obtenção do título deDoutora em Comunicação.Orientador: Prof. Dr. Alfredo Eurico VizeuPereira JúniorCo-orientador: Prof. Dr.Javier Diaz Noci

Recife – PE

2014

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Catalogação na fonteBibliotecária Delane Mendonça de Oliveira Diu, CRB4-849

M582i Mesquita, Giovana Borges Intervenho, logo existo: a audiência potente e as novas relações no

jornalismo / Giovana Borges Mesquita – Recife: O Autor, 2014. 196 f.: il.

Orientador: Alfredo Eurico Vizeu Pereira Júnior. Co-Orientador: Javier Díaz Noci. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de

Artes e Comunicação. Comunicação, 2014. Inclui referências, anexos.

1. Audiência. 2. Jornalismo. 3. Redes Sociais. I. Pereira Júnior, AlfredoEurico Vizeu (Orientador). II. Noci, Javier Díaz (Co-Orientador). III.Titulo.

302.2 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2014-34)

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GIOVANA BORGES MESQUITA

INTERVENHO, LOGO EXISTO:

A AUDIÊNCIA POTENTE E AS NOVAS RELAÇÕES NO JORNALISMO

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Dr. Alfredo Eurico Vizeu Pereira Júnior, UFPE (orientador)

________________________________________

Professora Dra. Irenilda de Souza Lima, UFRPE (membro externo)

________________________________________

Professora Dra. Fabiana Moraes da Silva, FAFIRE (membro externo)

________________________________________

Prof. Dr. Paulo Carneiro da Cunha Filho, UFPE (membro interno)

________________________________________

Prof. Dr. Heitor Costa Lima da Rocha, UFPE (membro interno)

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A meu eterno menino Janjão.

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AGRADECIMENTOS

O que é um doutorado?

Lembro-me, como se fosse hoje, a manhã ensolarada na qual recebi o resultado de que

tinha sido aprovada no processo de seleção para o doutorado. Ri muito, agradeci a Deus, fui

parabenizada pelos meus pais, pelo meu companheiro, pelos amigos e pelo meu orientador.

Esse último, além de informar que era um período de muito estudo e dedicação, fez questão

de ressaltar a necessidade de que eu entendesse que ao longo da trajetória era preciso “saber

compartilhar, socializar, solidarizar e ser afetivo (a)”.

Assim tento responder a questão que coloquei no inicio do texto. Mais do que um

título, do que uma produção de conhecimento, o que é um doutorado se o compartilhamento,

a socialização, a solidariedade e afetividade estiverem ausentes? Para mim, nada!

Os quatro anos que são sucedidos de alegrias e tristezas, estímulos e desânimos,

reflexões, ausências, restrições e muitas “otras cositas mas”, para mim só são possíveis de

serem concluídos, com a equação que reúne compartilhar, socializar, ser solidário e ter afeto.

Entendendo assim, passo para os agradecimentos inúmeros as pessoas que comigo

compartilharam afeto ao longo dessa ou de outras tantas caminhadas.

A Deus.

Aos meus pais Jozelia e Alfredo, minha sempre amada voinha Cecília (in memoriam) e

a meu irmão, também Alfredo, minhas bases e meus sustentáculos. Manifestações de afetos de

forma silenciosa, muitas vezes na escuta, no apoio, no cuidado, na preocupação, no zelo, no

riso, no abraço, no carinho, na reza, na torcida, na esperança, no orgulho, mas todas

fundamentais.

A meu companheiro Félix, que mesmo sendo de outra área de conhecimento,

completamente diferente da minha, acabou se “apaixonando” também pelo jornalismo, nas

leituras que por sua própria iniciativa teve sobre o campo, só para depois conversar, me

questionar, me “provocar”... Mas sempre com a disposição e paciência para, quantas vezes eu

quisesse e a que horas fosse, discutir questões do campo do jornalismo. Provas de

Amor-Afeto.

A meu filho João, que desde os seis anos dias de idade ouvia falar que a mãe dele fazia

doutorado, e que ao longo da tese, na esperança que eu diminuísse a frequência de uso do

escritório (onde estudava) e fosse mais para a praia e jogasse bola de vez em quando, me

propôs muitos acordos de diminuição da jornada (risos). Um dia já meio “sem esperança” de

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que os acordos seriam cumpridos resolveu lançar a seguinte proposta: “-Todo mundo na

escola diz que eu escrevo bem, então você diz qual é o assunto e eu escrevo também para

você terminar logo”. Mais lindo ainda foi o dia que abri meu e-mail e havia uma mensagem

dele intitulada “jornalismo”. No corpo, objetivamente, o texto dizia: “Só quero dar uma

ajudinha”. Abaixo vinha uma pesquisa sobre jornalismo feita na Internet. Amor, afeto,

orgulho!

A meu orientador, um pesquisador por quem tenho uma enorme admiração, um

apaixonado, igual a mim, pelo jornalismo; um homem generoso, que ao longo dos quatro

anos, mostrou na prática, o que é compartilhar, socializar, ser solidário e ter afeto.

Ao professor Javier Diaz Noci, da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, que

também me acolheu com afeto e muito me orientou em terras espanholas.

Aos professores e funcionários do PPGCOM.

A banca de qualificação, com contribuições muito relevantes para o trabalho, e

antecipadamente a banca de defesa.

Aos profissionais do La Vanguardia e do Diario de Pernambuco.

A CAPES e a FACEPE.

A Montserrat, Carmén e Julia, religiosas que abriram sua casa, nos recebendo

afetivamente enquanto ainda não encontrávamos lugar para morar em Barcelona. Também nos

dias difíceis naquela cidade, com inúmeros cafés e muito afeto, Fabrício, um gaúcho, que

resolveu trocar o Brasil por Barcelona, acolhia minha família e eu.

Aos irmãos que a vida me deu (por ordem alfabética): Acionildo, Adilma, Alcioneide,

Águeda(in memoriam), Carmota, Carol, Deby, Delma, Fátima, Guida, Glaura, Iolanda, João,

Lívia, Lucinha, Mariana, Mônica, Paty, Yana e Verônica.

Aos meus queridos amigos Jorgianos: Mufula, Heitor, Ana, Pedro e Zezinho.

Aos meus queridos amigos da Escola Arco-Íris e da FAFICA.

Aos amigos que fiz no doutorado e os de toda a vida.

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“Dicen que soy héroe, yo débil, tímido, casi insignificante, si siendo

como soy hice lo que hice, imagínense lo que pueden hacer todos

ustedes juntos”.

(Mahatma Gandhi)

“Em face de todas as transformações tecnológicas com as quais nos

defrontamos devemos colocar a seguinte pergunta: de que problemas

atuais o jornalismo é a solução? Se conseguirmos responder, então o

jornalismo jamais desaparecerá”.

(Ignácio Ramonet)

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RESUMO

O trabalho teve a preocupação central de compreender como as audiências são envolvidas eque mudanças têm provocado na produção das notícias em veículos de referência, após o quese denomina WEB 2.0, uma fase no desenvolvimento da World Wide Web que favorece epromove a participação dos usuários. Para realizá-lo, acompanhamos as atividades do Diariode Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação na América Latina, fundado em 1825,sediado no Recife, Pernambuco; e do lavanguardia.com, edição digital do diário LaVanguardia, o mais importante jornal de Barcelona, segundo da Espanha, depois do El País, eo oitavo diário digital em espanhol de maior audiência do mundo. Dois jornais que sãopioneiros em suas cidades, não só na abertura de espaços ditos colaborativos ou participativos,como também na criação de novas editorias, como a de Mídias Sociais (Diario dePernambuco) e a de Redes Sociais (La Vanguardia), cujo objetivo é envolver a audiência naconstrução da notícia. Propusemos a hipótese de que há uma Audiência Potente, definidacomo um agente que se envolve ou é envolvido nos processos, nas práticas e nas rotinasjornalísticas possuindo: capacidade de propagação da informação, não necessariamentenotícia; capacidade de ação, possibilitada pelo acesso aos meios de produção; capacidade detransformação, na medida em que muda sua forma de ação e de comportamento ao longo dotempo, dependendo de condições culturais, econômicas, sociais, tecnológicas, dentre outras; ecapacidade de amplificação, ao ressignificar o conteúdo, por meio de comentários, opiniões enovos olhares sobre o assunto, que é reverberado nas redes, oferecendo um extrato do quequerem e do que pensam esses cidadãos e cidadãs que se envolvem com os meios decomunicação. A capacidade de amplificação pode constituir-se em uma expressão dainteligência e da consciência coletivas. Apresentamos também onze características dessaAudiência Potente: tecnológica, de conectividade, de rede, de interatividade, de autonomia naapropriação do conteúdo, de testemunha, de coprodução, de vigilância, de reação, depropagação e de amplificação. Com a presença desse agente que se incorpora ao campojornalístico, as notícias não são mais construídas somente a partir da imagem que osjornalistas têm da audiência. A produção da notícia nos veículos de referência - que envolviauma série de paradigmas e práticas profissionais dadas como naturais, somadas à culturaprofissional e às restrições ligadas às organizações do trabalho - é acrescida das contribuiçõesda Audiência Potente, que enriquecem o jornalismo oferecendo outros olhares da realidade.

Palavras-Chave: Audiência; Audiência Potente; Jornalismo; Redes Sociais.

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ABSTRACT

The work is mainly concerned with the way in which audiences are involved and whatchanges it has caused in news production by reference mass media companies after theoutcome of WEB 2.0 – the so called development stage of the World Wide Web, which favorsand promotes interaction with users. In order to accomplish this work we followed theactivities of Diario de Pernambuco – the oldest daily newspaper in circulation in SouthAmerica – founded in 1825, based in Recife - Pernambuco – and lavanguardia.com, thedigital edition of the daily newspaper La Vanguardia – the most important newspaper ofBarcelona, second in Spain after El País and eighth in world audience among all digital dailynewspapers published in Spanish. Those are two pioneer newspapers in their cities – not onlyin openning up participative and collaborative spaces, but also in the creation of new editorialoffices, such as those like the Social Media (Diario de Pernambuco) and the Social Networks(La Vanguardia), whose objectives include the involvement of the audience in the newsconstruction. We have proposed a hypothesis stating that there exists a Potent Audience,defined as an agent that involves itself or is involved in the journalism processes, practicesand routines and having: the capacity for information propagation – not necessarily news -;capacity for action – made possible by the easy access to certain production means –; capacityfor transformation, since it changes its action and behavior forms through time, depending onseveral conditions such as cultural, economical, social and technological ones, and capacity ofamplification, in the sense that it re-signifies contents by means of commentaries, opinionsand new insights on subjects being reverberated on networks, offering an extract about needsand thoughts of citizens involved with communication media. The capacity of amplificationmay become an expression of the collective intelligence and conscience. We also havepresented eleven features of this Potent Audience: technological, connection-related,network-related, interactivity-related, autonomy-related, witness-related,co-production-related, watching-related, reaction-related, propagation-related andamplification-related. With the presence of this agent, which is incorporated in the journalismfield, the news are no longer constructed only from the starting point of the image thatjournalists have about the audience. News production, which consisted of a series ofprofessional paradigms and practices that were taken as natural, certain aspects ofprofessional culture and some restrictions related to work organization, is now augmented bythe contributions of the Potent Audience, which enrich journalism by providing other realityperceptions.

Keywords: Audience; Potent Audience; Journalism; Social Networks.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Quadro com as características da Audiência Potente................................................72

Figura 2-Expediente do Diario de Pernambuco, imagem disponível no endereço

http://www.diariodepernambuco.com.br/outros/fale_conosco.................................................83

Figura 3 - Primeira edição do Diario de Pernambuco...............................................................91

Figura 4 - Edição atual do Diario de Pernambuco....................................................................93

Figura 5 - Redação do Diario de Pernambuco, em novembro de 2013....................................94

Figura 6 - Primeiro post publicado no Facebook do Diario sobre acidente da Ponte d'Uchôa.

.................................................................................................................................................113

Figura 7 - Chamada de capa do Diario de Pernambuco sobre acidente na Ponte d’Uchôa....114

Figura 8 - Notícia surgida de um comentário no Facebook e publicada no

diariodepernambuco.com........................................................................................................116

Figura 9 - Notícia feita em coprodução com a Audiência Potente e publicada no

diariodepernambuco.com usando foto da audiência..............................................................117

Figura 10 - Capa do Diario com foto produzida pela audiência testemunha..........................118

Figura 11 - Post no Facebook sobre novo preço do PSP.........................................................119

Figura 12 - Capa do Diario com notícia sobre o novo preço do PSP, fruto de uma pauta

surgida nas redes sociais.........................................................................................................120

Figura 13 - Post no Facebook sobre maior onda surfada por um pernambucano. Fórmula que

reúne grande número de “curtidas” e de “compartilhamentos” é igual a chamada de capa do

jornal.......................................................................................................................................121

Figura 14 - Capa do Diario com a chamada sobre maior onda surfada por um pernambucano.

.................................................................................................................................................122

Figura 15 - Capa do Diario com o líder da banda Papaninfa, que foi Trending Topics no

Twitter.....................................................................................................................................123

Figura 16 - Manchete do Diario sobre assunto de muita discussão nas redes sociais............124

Figura 17 - Homepage do lavanguardia.com em 25 de janeiro de 2014................................126

Figura 18 - Redação do lavanguardia.com, em 05 de fevereiro de 2013................................128

Figura 19 - Notícia de Ciências, referindo-se a uma nova espécie de barata que estava

invadindo a Espanha, que teve moderação prévia de comentários.........................................137

Figura 20 - Imagem da seção de Participação no lavanguardia.com......................................139

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Figura 21 - Imagem do espaço “Lector del més”, que traz a entrevista com o empresário que

não conseguiu sair de Guiné Bissau em virtude de um golpe de estado.................................158

Figura 22 - Notícia sobre a renúncia do papa publicada no lavanguardia.com......................159

Figura 23 - Tuíte feito pela community manager do lavanguardia.com sobre o papa............161

Figura 24 - Tuíte de uma das seguidoras do lavanguardia.com..............................................161

Figura 25 - Tuíte de Josep Maria Ganyet “KEEP CALM and SPEAK CATALAN”.............162

Figura 26 - O 'keep calm and speak catalan' chega ao Congresso..........................................163

Figura 27 - Notícia surgida a partir dos comentários nas redes sociais..................................166

Figura 28 - Entrevista com a cantora Roko............................................................................167

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valores-notícia segundo Galtung & Ruge................................................................31

Tabela 2 - Trechos da transcrição do programa exibido pela Globo News sobre a cobertura das

enchentes no Rio de Janeiro......................................................................................................49

Tabela 3 - Taxonomia de Sims (1997) sobre as os processos interativos.................................61

Tabela 4 - Níveis de participação versus funções do público no noticiário colaborativo.........64

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SUMÁRIO

Sumário.....................................................................................................................................12

INTRODUÇÃO........................................................................................................................14

CAPÍTULO 1 - JORNALISMO E SOCIEDADE....................................................................19

1.1 Jornalismo e a construção do real.......................................................................................19

1.2 Um mundo organizado pelo jornalismo..............................................................................20

1.3 Jornalismo, uma forma de conhecimento...........................................................................23

1.4 Jornalismo: trama da faticidade..........................................................................................27

1.5 Um campo em transformação.............................................................................................34

CAPÍTULO 2 - UM BREVE PERCURSO PELA AUDIÊNCIA............................................39

2.1 Da audiência passiva a ativa...............................................................................................39

2.2 A audiência no jornalismo...................................................................................................44

2.3 Os coprodutores da notícia..................................................................................................48

2.4 Uma audiência interativa....................................................................................................52

CAPÍTULO 3 - UM NOVO AGENTE NO JORNALISMO: A AUDIÊNCIA POTENTE.....57

3.1- A Audiência Potente: considerações iniciais.....................................................................57

3.2 As características da Audiência Potente .............................................................................62

3.3 Os aspectos considerados na proposta de definição da Audiência Potente........................72

3.4 Redes sociais: um dos espaços de manifestação da Audiência Potente..............................76

3.5 A Audiência Potente e as mudanças no jornalismo.............................................................80

CAPÍTULO 4 – O DIARIO DE PERNAMBUCO: A AUDIÊNCIA POTENTE E O EDITOR

DE MÍDIAS SOCIAIS.............................................................................................................91

4.1 O pernambucano Diario......................................................................................................91

4.2 O Cidadão Repórter: início de uma relação com a audiência pós web 2.0 ........................98

4.3 As redes sociais e a intensificação da relação Audiência Potente-Diario de Pernambuco104

4.4 Editor de mídias sociais: um novo perfil profissional no Diario de Pernambuco............107

4.5 O Diario de Pernambuco e a Audiência Potente...............................................................111

4.5.1 A Audiência Potente com características de reação.......................................................112

4.5.2 A Audiência Potente com características de testemunha e de coprodução................... 115

4.5.3 A Audiência Potente com características de propagação...............................................1184.5.4 Dos Trending Topics a capa do Diario...........................................................................123

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CAPÍTULO 5 - O LAVANGUARDIA E A APROPRIAÇÃO DA AUDIÊNCIA POTENTE

.................................................................................................................................................126

5.1 A redação sinergética do espanhol La Vanguardia ...........................................................128

5.2 Os espaços abertos à “participação” da audiência no lavanguardia.com.........................134

5.2.1 Mais espaços abertos à audiência...................................................................................1445.3 Uma “participação” da audiência com regras muito bem estabelecidas .........................145

5.4 O olhar para as redes sociais e o reflexo na produção da notícia.....................................147

5.5 Colocando o decálogo do prescriptor na prática: a community manager do la

vanguardia.com e as diversas formas de envolver a audiência ..............................................156

5.5.1 A Audiência Potente coprodutora...................................................................................156

5.5.2 A Audiência Potente balizadora de decisões e amplificadora........................................158

5.5.3 A potência da audiência: o caso Keep calm and speak catalán.....................................162

5.5.4 Promovendo o efeito “viral” da notícia..........................................................................164

5.5.4.1 A viralização na prática...............................................................................................166

CONCLUSÕES......................................................................................................................169REFERÊNCIAS......................................................................................................................173

ANEXOS................................................................................................................................185

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INTRODUÇÃO

Antes de ingressar na vida acadêmica, como alguns pesquisadores do campo

jornalístico, tivemos nossa passagem pelas redações, período que foi muito valioso para a

realização desta pesquisa sobre o envolvimento da audiência na produção da notícia.

Em nossos primeiros anos de redação, no início da década de 1990, o máximo de

envolvimento do leitor na produção jornalística acontecia quando ele queria repassar alguma

informação – que no seu entender poderia resultar em uma matéria no jornal ou em qualquer

outro veículo massivo – quando queria ver publicada uma carta ou um artigo, ou quando

entendia que aquela edição continha um erro gramatical, uma informação incompleta,

incorreta e o leitor se dispunha, portanto, a telefonar informando seu desagrado com a falha.

Na redação, quando o telefone tocava e do outro lado da linha aquela senhora toda bem

intencionada fazia a reclamação, o profissional envolto num “trabalho muito mais nobre do

que aquela escuta”, respirava fundo, ouvia o mais apressado que podia e fazia algum

comentário sobre a “chatice” que era alguém apontar algum erro cometido por um jornalista.

Ficar procurando “detalhes pequenos” dentro de um trabalho tão mais importante realizado

por um profissional que, ao desempenhar sua função, converte-se numa das principais fontes

de conhecimento sobre o mundo social para a maior parte do seres humanos, “era coisa de

quem não tinha o que fazer”.

Em praticamente uma década esse quadro mudou. No fim do século XX e início do

XXI, a senhora que antes pegava o telefone e informava o jornal sobre os erros cometidos,

pode continuar fazendo a mesma coisa, mas pode também tirar uma foto ou produzir um texto

sobre um tema que o jornalista não teve acesso, e dessa vez é o veículo quem a procura para

incorporar aquele conteúdo à sua produção. Mais do que informar sobre erros gramaticais,

essa audiência pode questionar em redes sociais, como Twitter e Facebook, a cobertura feita

pelo jornalista, acrescentando informação, criticando ou até questionando o motivo daquele

veículo deixar de lado certas temáticas. Pessoas que não cursaram jornalismo, nem

necessariamente trabalham na área de comunicação, foram se familiarizando em registrar

conteúdos da atualidade, compartilhá-los e amplificá-los. Como a natureza do jornalismo está

identificada com a atualidade, muitos desses conteúdos, produzidos por não profissionais,

passaram a interessar e, mais do que isso, foram incorporados pelo campo em espaços que não

eram somente os de Cartas à Redação.

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As possíveis tranformações na forma como os conteúdos jornalísticos estão sendo

produzidos, consumidos e distribuídos motivaram a pesquisa, que teve, como objetivo central,

o intuito de compreender como as audiências são envolvidas e que mudanças elas têm

provocado no processo produtivo da notícia em veículos de referência, após o que se

denominou WEB 2.01, uma fase no desenvolvimento da World Wide Web (www) que

favorece e promove a participação dos usuários.

Para realizar a pesquisa, acompanhamos as atividades do Diario de Pernambuco, o

jornal mais antigo em circulação na América Latina, fundado em 1825, sediado no Recife,

Pernambuco; e do lavanguardia.com, edição digital do diário La Vanguardia, o mais

importante jornal de Barcelona, segundo da Espanha, depois do El País, e o oitavo diário

digital em espanhol de maior audiência do mundo. Dois jornais que são pioneiros em suas

cidades, não só na abertura de espaços ditos colaborativos ou participativos, como também na

criação de novas editorias, como a de Mídias Sociais (Diario de Pernambuco) e a de Redes

Sociais (La Vanguardia), com o objetivo de envolver a audiência na construção da notícia.

Com a escolha desses dois importantes diários acreditávamos ser possível responder as

nossas perguntas de pesquisa: a audiência, após o que se denomina Web 2.0, é envolvida pelos

veículos de referência e consegue intervir no processo produtivo da notícia? Esse

envolvimento da audiência traz mudanças para o jornalismo?

Como pretendíamos centrar o estudo no envolvimento da audiência com os veículos

jornalísticos de referência, observamos e descrevemos as rotinas dos editores e repórteres que

trabalham em espaços identificados como de “participação” da audiência e nas recém surgidas

editorias de Redes Sociais e de Mídias Sociais das empresas objetos de nosso estudo.

Queríamos compreender como os veículos de referência incorporam os conteúdos advindos

da audiência à sua produção.

Seguindo Casetti & Chio (1999), que entendem que é necessário o analista observar a

realidade diretamente ao vivo, para não correr o risco de ter dados contaminados por

mediações, viabilizamos uma permanência possível nas duas redações para ver, em detalhes,

como os jornalistas têm envolvido a audiência na produção dos diários. Assim, escolhemos

uma abordagem etnográfica para a realização da pesquisa de campo, na forma de uma

observação participante, que possibilita reunir e obter sistematicamente os dados e as

1A Web 2.0 foi definida por Tim O’ Reilly, no texto “What is Web 2.0” como uma nova fase no desenvolvimento da World Wide Web (www), que se opõe a Web 1.0, por favorecer e promover a participação dos usuários. Esta plataforma aberta não possibilita somente que o usuário leia e navegue, mas que também produza a informação emuda o paradigma de produção de um para muitos para uma produção de muitos para muitos.

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informações sobre as rotinas de produção que acontecem nos media. “Os dados são recolhidos

pelo investigador presente no ambiente que é o objeto de estudo, quer pela observação

sistemática de tudo o que aí acontece, quer através de conversas, mais ou menos informais e

ocasionais, ou verdadeiras entrevistas com pessoas que põem em prática os processos

produtivos” (WOLF, 1994, p.167).

Como parte da observação, realizamos também entrevistas em profundidade com os

jornalistas envolvidos na pesquisa. Segundo M. Bauer & G. Gaskell (2002), a entrevista

qualitativa fornece os dados básicos para o desenvolvimento e compreensão das relações

sociais entre os atores sociais e sua situação.

Entendíamos que a abertura de canais ditos colaborativos ou participativos, bem como

a utilização do material produzido pela audiência, em alguns momentos como complementar

ao trabalho da redação, não esgotavam a relação audiência-jornalismo. A mudança na

produção da notícia surge a partir das novas relações que os veículos passam a estabelecer

com a audiência, mediada pelas redes sociais (Twitter e Facebook).

Propusemos, então, a hipótese de que há uma Audiência Potente, definida como um

agente que se envolve ou é envolvido nos processos, práticas e nas rotinas jornalísticas

possuindo: capacidade de propagação da informação, não necessariamente notícia; capacidade

de ação, possibilitada pelo acesso aos meios de produção; capacidade de transformação, na

medida em que muda sua forma de ação e de comportamento ao longo do tempo, dependendo

de condições culturais, econômicas, sociais, tecnológicas, dentre outras; e capacidade de

amplificação, ao ressignificar o conteúdo, por meio de comentários, opiniões e novos olhares

sobre o assunto, que é reverberado nas redes, oferecendo um extrato do que querem e do que

pensam esses cidadãos e cidadãs que se envolvem com os meios de comunicação. Ao

construir a hipótese da Audiência Potente, apresentamos onze características dessa audiência

(tecnológica, de conectividade, de rede, de interatividade, de autonomia na apropriação do

conteúdo, de testemunha, de coprodução, de vigilância, de reação, de propagação e de

amplificação) que – num segundo momento, quando buscamos verificar a viabilidade prática

da hipótese a partir do estudo de dois jornais – foram usadas como referencial teórico para

análise.

Com acesso, habilidade de uso dos dispositivos tecnológicos, conectividade e a

possibilidade de interatividade, a Audiência Potente passa a ter a possibilidade não só de

ressignificar as mensagens que recebe, como também de se envolver com os veículos de

comunicação das mais diversas formas. A capacidade de propagação dessa Audiência

Potente tem levado o jornalista, não só a incorporar esses conteúdos que estão nessas redes

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conversacionais, mas a movimentar ou ativar essas redes para “ter” os “olhares” desse novo

agente, que não é necessariamente uma fonte institucionalizada do jornalismo. Adghirni

(2012, p.66) diz que “trata-se de uma situação de interatividade e de reflexividade inédita na

história, que obriga os produtores de conteúdos a ajustarem rapidamente sua produção para os

leitores e para os concorrentes”.

Acreditamos que se trata de um estudo relevante, não só pela atualidade, tentativa de

encontros em meio a tantos desencontros sobre o tema, mas, sobretudo, pela carência de

pesquisas mais aprofundadas sobre essa relação ainda mutável (oscilante, sujeita a mutações)

e mutante (sempre em mudança), que envolve uma audiência com potencialidade para

contribuir com o jornalismo e o campo com práticas ainda confusas e questionáveis nesta

relação com essa audiência.

O estudo, ao nosso ver, contribui ainda para uma reflexão sobre o papel do jornalista,

pós Web 2.0, com suas rotinas transformadas. Tem ainda uma relevância, na medida em que

foi feito em um dos mais importantes diários espanhóis e no jornal mais antigo em circulação

da América Latina, o Diario de Pernambuco, ambos pioneiros nessa nova relação veículo de

referência e Audiência Potente.

Para compreender todo esse processo de mudança na construção da notícia pós Web

2.0 e a conseqüente potencialização da audiência no processo noticioso, buscamos o

embasamento teórico que contextualizasse o tema da pesquisa em autores que trouxessem

contribuições para o campo jornalístico; para o estudo das notícias e das novas tecnologias de

informação e comunicação; e que abordassem as rotinas produtivas e a cultura profissional do

jornalista. As bases epistemológicas do trabalho centram-se nos Estudos e Teorias do

Jornalismo.

A pesquisa foi dividida, além da introdução e da conclusão, em cinco capítulos:

jornalismo e sociedade; um breve percurso pela audiência; um novo agente no jornalismo: a

Audiência Potente; o Diario de Pernambuco: Audiência Potente o editor de mídias sociais;

o La Vanguardia e a apropriação da Audiência Potente.

O Capítulo 1 analisa o lugar ocupado pelo jornalismo na sociedade, num momento de

muitos discursos sobre transformações e até mesmo sobre o fim do jornalismo. Para isso,

primeiro propomos a reflexão sobre os conceitos de jornalismo em um cenário no qual se

apregoa que todos têm legitimidade para desempenhar a função do jornalista. Em seguida,

tentamos descrever as mudanças que afetam o campo, centrando-se nas mudanças estruturais

das relações do campo com a audiência, tendo por base, dentre outros aspectos, as inovações

tecnológicas que marcam o final do século XX e o início do XXI.

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Segundo Repoll (2006), a audiência está para as Ciências da Comunicação, como a

cultura está para as ciências humanas em geral. A ideia do Capítulo 2 é traçar um percurso

conceitual dos estudos sobre audiência para analisar o momento atual dessa audiência, que

denominamos “potente”. O capítulo mostra como a audiência foi se inserindo no processo

noticioso, inicialmente buscando os veículos de comunicação de massa e, num segundo

momento, pós Web 2.0, sendo buscada pelos veículos.

Uma questão central, que tentamos esclarecer no capítulo 3, é que a Audiência

Potente não é jornalista. É um agente no processo, nas práticas jornalísticas e nas rotinas.

Com as novas tecnologias sociais (WILLIAMS, 2011) a audiência vem afetando o jornalismo

de diversas formas. Essa afirmativa vem antes de todas as denominações e caracterizações

que trazemos no capítulo porque, após o que se denominou Web 2.0, que, dentre outras coisas,

tornou viável a incorporação aos produtos jornalísticos de registros de acontecimentos em

vídeos e fotografias feitos pela audiência, alguns teóricos questionavam o que diferenciava

uma produção do profissional e a do não profissional. No Capítulo 3, ressaltamos porque

consideramos que a audiência é potente e apresentamos onze características dessa audiência.

Como a audiência vem sendo envolvida no mais antigo jornal em circulação da

América Latina? A resposta à pergunta é central no Capítulo 4, que foi construído a partir da

observação participante e das entrevistas com jornalistas do diário brasileiro. A entrada na

redação aconteceu em um momento importante de mudanças no Diario de Pernambuco, que

passou a integrar em 2013 a editoria de Mídias Sociais, com a finalidade de relacionar-se com

essa audiência que denominamos potente.

O Capítulo 5, que é resultado da observação participante no lavanguardia.com,

ressalta as diversas formas de envolvimento da audiência promovidas pelo jornal espanhol.

No olhar para as redes sociais destacamos a figura do comunnity manager, uma nova função

assumida pelo jornalista nessa potencialização da audiência. Também fazemos uma reflexão

sobre como o jornal tem regras muito bem estabelecidas nesse trato com audiência, lançando

por terra o entendimento de total democratização do conteúdo produzido pela audiência.

Finalizamos nosso trabalho no Capítulo 6, apresentando as reflexões acerca da

pesquisa e propondo sugestões de novos estudos.

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CAPÍTULO 1 - JORNALISMO E SOCIEDADE

1.1 Jornalismo e a construção do real

O jornalismo ocupa lugar proeminente na forma como a maioria dos homens e das

mulheres percebe o mundo que os cerca. A agenda diária de cobertura dos fatos pelos

noticiários influencia a agenda pública. As consequências desse agendamento e do

enquadramento dos acontecimentos feito pelos noticiários sugerem que eles não só nos

propõem sobre o que devemos pensar, como também nos propõem como pensar

(MCCOMBS; SHAW, 1993).

O campo jornalístico, segundo Bourdieu (1997), constituiu-se como tal no século XIX,

em torno da oposição entre os jornais sensacionalistas e jornais que se propunham a análises e

comentários. Estes últimos procurando diferenciar-se dos primeiros por afirmar valores de

“objetividade”. A definição de campo jornalístico, trazida por Bourdieu (1997), é de um

espaço estruturado onde agentes sociais interagem, concorrem entre si, marcam posições,

dominam ou são dominados. “É o lugar de uma lógica específica, propriamente cultural, que

se impõe aos jornalistas através das restrições e dos controles cruzados que eles impõem uns

aos outros e cujo respeito (por vezes designados como deontologia) funda as reputações de

honorabilidade profissional” (BOURDIEU, 1997, p.105).

Dessa forma, o campo jornalístico é constituído por regras, normas, rotinas, pela

linguagem, pelas pressões econômicas, políticas e sociais, bem como pela disputa de uma

hegemonia entre os agentes que o constituem. Traquina (2005) afirma que a existência de um

“campo” implica a existência:

1) de um número ilimitado de “jogadores”, isto é, agentes sociais quequerem mobilizar o jornalismo como recurso para as suas estratégias decomunicação; 2) um enjeu ou prêmio que os “jogadores” disputam,nomeadamente as notícias; e 3) um grupo especializado, isto é, profissionaisdo campo, que reivindicam possuir um monopólio de conhecimentos ousaberes especializados, nomeadamente, o que é notícia e a sua construção(TRAQUINA, 2005, p.27).

O prêmio que os componentes do campo jornalístico disputam, ou seja, as notícias,

têm um processo de produção extremamente complexo, que se inicia com a captação e segue

com a redação, a edição e a circulação. Envolve momentos de contextualização e

descontextualização dos fatos. É resultado da cultura profissional, da organização do trabalho,

dos processos produtivos, dos códigos particulares (as regras da redação), da língua e das

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regras do campo das linguagens, da enunciação jornalística e das práticas jornalísticas.

Acontece dentro de contextos sociais, históricos e culturais estruturados. Os jornalistas, como

observa Bourdieu (1997, p. 25), têm “óculos” especiais a partir dos quais vêem certas coisas e

não outras: “eles operam uma seleção e uma construção do que é selecionado”. A notícia ao

refratar a realidade constitui e é constituída por ela.

Tomando por base Bourdieu (1997), que defende que os jornalistas, na lógica de sua

profissão, selecionam e enquadram as realidades do cotidiano em função de categorias que

lhes são próprias, resultado de sua educação, de sua história e de sua cultura, Vizeu (2011)

ressalta que a seleção e a construção do que é selecionado são centrais para o jornalismo

construtivista. “Não se trata de afirmar que toda a realidade é uma construção, mas de que a

realidade social, sim, é” (VIZEU, 2011, p.11).

Assim, o campo jornalístico é um lugar relevante e central na construção social da

realidade (VERÓN, 1995). A imagem que a mídia constrói da realidade é resultado de uma

atividade de mediação vinculada a uma organização que se dedica basicamente a interpretar a

realidade social e mediar os que fazem parte do espetáculo mundano e o público (GOMIS,

1991). Para Vizeu (2008) a mídia não só transmite, mas prepara e apresenta uma realidade

dentro das normas e das regras do campo jornalístico, tendo a linguagem como possibilidade

de “fazer presente” uma diversidade de objetos que se acham ausentes do “aqui e agora”.

1.2 Um mundo organizado pelo jornalismo

O jornalismo é essencial para a vida em sociedade. Os jornais (impressos ou digitais),

noticiários de rádio e televisão, cumprem uma função de sistematizar, organizar, classificar e

hierarquizar a realidade, contribuindo para que homens e mulheres, ao se inteirarem dos

acontecimentos, tenham ao seu dispor uma certa organização do mundo circundante (VIZEU,

2008).

É um mundo burocraticamente organizado pelos jornalistas (FISHMAN, 1990, p.51).

Essa afirmativa é compartilhada por Vizeu (2008) que, ao pesquisar sobre a definição das

notícias em um telejornal de Pernambuco, observou que o noticiário sempre é organizado de

forma que a abertura traz uma notícia de impacto do dia, enquanto que o encerramento é

marcado por notícias leves (eventos culturais, mostras...), dando a sensação ao telespectador

de que o mundo segue dentro de uma normalidade, sem nenhum caos circundante.

Hall (2005) afirma que as notícias já estão praticamente escritas antes dos jornalistas

sentarem nos terminais de computador das redações e redigirem suas matérias. O autor mostra

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com essa afirmativa que na construção das notícias os jornalistas mobilizam enquadramentos

conhecidos e ajustes que fazem o velho e o banal parecerem novos. Alguns desses

procedimentos, como observa Chandler (2005), na produção da notícia num telejornal é a

gravação de imagens de detalhes da entrevista para serem utilizadas na edição da fala do

entrevistado, ocultando o processo de edição para quem assiste e, consequentemente, dando

um efeito de realidade para a matéria.

Quem também compartilha com a ideia de que em suas práticas diárias os jornalistas

fazem enquadramentos das múltiplas realidades é Tuchman (1980). Trazendo exemplos de

telejornais, Tuchman (1980) mostra como os enquadramentos conferem significados especiais

às reportagens. Ela explica que uma imagem mais próxima procura enfatizar alguns aspectos

mais dramáticos da matéria, já quando o telejornal usa uma imagem mais geral procura

transmitir uma espécie de reprodução da realidade, como se a realidade estivesse sendo

mostrada de uma forma tal como é, produzindo um efeito de real (VIZEU, 2008).

Outro exemplo destacado por Tuchman (1980) de que nas práticas diárias os

jornalistas fazem enquadramentos das múltiplas realidades é a tipificação dos acontecimentos

em notícias: duras (que são as factuais ou as notícias do dia. Enquadram-se nesse exemplo,

acidentes com mortes); leves (referentes a eventos culturais: shows, peças de teatro, cinemas.

São notícias que não perdem a atualidade com tanta rapidez, como é o caso das “duras”), e as

súbitas (aquelas que representam uma ruptura no cotidiano, como por exemplo, um incêndio).

Juntam-se a essas, as notícias em desenvolvimento (que vão mudando ao longo do dia em

função das novas informações) e as notícias em sequência (que estão relacionadas a um

calendário prévio de acontecimentos).

O enquadramento das notícias, segundo Tuchman (1980), é uma forma de organizar a

realidade cotidiana e é parte importante dessa realidade por causa do caráter público que é

uma característica essencial da notícia. Mas para a autora, a notícia não só define, como

redefine, constitui e reconstitui maneiras de fazer coisas: os processos existentes e as

instituições (TUCHMAN, 1980). Nesse processo de enquadramento da realidade, os

jornalistas estabelecem uma trama de faticidade, ou seja, eles são impelidos a identificar como

fatos, interpretações que são produzidas por determinadas fontes, mas não por outras

(TUCHMAN, 1980).

O enquadramento desempenha uma função central na construção social do real no

jornalismo. Entendemos o construtivismo como qualidade pertencente a fenômenos que

reconhecemos terem um ser independente de nossa própria volição, e o conhecimento como a

certeza de que os fenômenos são reais e possuem características específicas. É uma análise

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não do conhecimento, mas de suas representações sociais, das concepções construídas pelo

homem comum, independente de sua realidade ou irrealidade última (BERGER &

LUCKMAN, TUCHMAN). O construtivismo é então um grande espectro de teorias, análises,

autores e olhares. Por isso, Vizeu (2011) ressalta a necessidade de definir o que é

construtivismo no jornalismo.

A perspectiva construtivista permeia as investigações de vários autores que estudam o

jornalismo (ALSINA, 2009; CORREIA, 2011: CHANDLER, 2005; HALL, 2005; GADINI,

2007), com os mais diferentes olhares sobre o tema, desde a Sociofenomenologia até os

Estudos Culturais.

Consideramos importante também refletir a perspectiva apontada por Scolari (2011,

p.130-131) sobre a possibilidade de construção de mundos possíveis como um processo

coletivo:

Segundo Eco, ao ler um livro ou ver um filme, criamos mundos possíveis,hipóteses que tratam de antecipar a continuação da história. À medida que orelato avança, muitas dessas hipóteses não se verificam e devemosdescartá-las. Esse processo é individual, os mundos possíveis são umaconstrução cognitiva do leitor ou do espectador, agora se dá um fenômenodiferente: em certos casos, esta construção de hipotéticos se tornou umprocesso coletivo. Basta terminar a emissão de um episódio de uma sérietelevisiva, para que poucos minutos depois, os fóruns da web entrem emestado de agitação. Os espectadores discutem o texto que acabaram de ver,analisam suas possíveis continuações e debatem sobre os personagens e atrama do episódio. Ou seja, em muitos casos a construção de mundospossíveis deixou de ser um processo individual para se tornar um processocoletivo que se desenvolve nas redes sociais (p. 130-131).

A proposta de Scolari (2011) pode trazer importantes contribuições para a reflexão do

construtivismo no jornalismo, que vem passando por uma série de mudanças resultantes das

novas tecnologias, que vão desde as configurações das redações (integradas, sinergéticas,

convergentes) até o que consideramos a mudança mais importante atualmente, que é o

envolvimento cada vez maior da audiência no processo noticioso. Para Vizeu (2011),

mudança que muito se aproxima da construção coletiva sugerida por Scolari (2011).

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1.3 Jornalismo, uma forma de conhecimento

O construtivismo no jornalismo está intimamente ligado à questão do conhecimento,

à produção do conhecimento (VIZEU, 2011). Um dos primeiros pesquisadores a trabalhar

essa perspectiva do jornalismo como uma forma de conhecimento foi Robert Park (1972).

Com base no pensador William James, Park (1972) explica que existem dois tipos

fundamentais de conhecimento: o conhecimento de, uma espécie de conhecimento que

adquirimos no curso dos nossos encontros pessoais, ou seja, de “primeira mão” a partir do

mundo que nos rodeia. Já o conhecimento acerca de é formal. É o conhecimento que atingiu

um certo grau de precisão e exatidão, substituindo a realidade concreta por ideias e as coisas

por palavras (VIZEU, 2011).

No Brasil, Adelmo Genro (1977) tem um trabalho importante para se pensar o

jornalismo como uma forma social de conhecimento. E com base nesse referencial teórico

de Genro (1977), Meditsch (1992) esclarece que o conhecimento trabalhado pelo jornalismo

é diferente do conhecimento científico.

Meditsch (1992) ressalta que embora jornalismo e ciência tenham coisas em comum

(ambos são formas de conhecimento condicionados historicamente pelo desenvolvimento

da sociedade industrial capitalista), eles assumiram tarefas diferentes e desenvolveram

metodologias específicas. Enquanto o primeiro é o modo de conhecimento do mundo

explicável, o segundo é o modo de conhecimento do mundo sensível. A ciência trabalha

com hipóteses, enquanto o jornalismo trabalha com o universo das notícias que diz respeito

às aparências do mundo.

Metodologicamente ciência e jornalismo têm diferenças importantes. Na ciência, a

hipótese está relacionada com a experimentação controlada. É um corte abstrato na

realidade através do isolamento de variáveis que permite a obtenção de respostas a um

questionamento baseado em conhecimento anterior. A teoria científica expõe uma relação

entre fatos e a partir dela surgem novas deduções através da lógica (MEDITSCH, 1992).

Diferentemente da ciência, o jornalismo, de acordo com Meditsch (1992), não parte

de uma hipótese, mas de uma pauta (agenda de assuntos que podem virar notícia). A pauta,

diferentemente da hipótese, não surge de um sistema teórico anterior, mas da observação

não controlada (do ponto de vista da metodologia científica). Na pauta, o isolamento das

variáveis é substituído pelo ideal de apreender o fato dos mais diversos pontos de vista. Isso

determina o limite da abstração possível no modo de conhecimento do jornalismo e sua

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possibilidade de acumulação. O conhecimento produzido pelo jornalismo é de fundamental

importância para a sociedade (VIZEU, 2011).

Vizeu (2011) enfatiza que as notícias produzidas nas empresas de comunicação são

relevantes para as audiências porque contribuem para que entendam o cotidiano cada vez

mais complexo e de difícil acesso, bem como supõe efeitos concretos em relação à

percepção que elas estabelecem entre os temas da agenda e a construção do espaço público.

A informação jornalística funciona então como uma ferramenta para a inserção na

socialização cotidiana.

A complexidade a que ele se refere, no entanto, não está relacionada com as teorias

da complexidade e nem do pensamento complexo (MORIN, 2006), mas com a origem

etimológica da palavra do latim complexus; ou seja, algo confuso, complicado (MELUCCI,

2001). Refere-se simplesmente a um mundo fragmentado, em que não há mais valores em

comum, em que a velocidade do crescimento populacional, da migração, do crescimento

desordenado das cidades e da economia de mercado contribui para desorientação de homens

e mulheres na modernidade (VIZEU, 2011).

Ao informar, esclarecer, interpretar a realidade social e trazer explicação sobre o

mundo que nos cerca, o jornalismo reduz a complexidade (VIZEU, 2011), contribuindo

para tornar o mundo mais compreensível para homens e mulheres. Concordamos com Vizeu

(2011) quando este afirma que não podemos ser ingênuos em acreditar que tornar o mundo

mais compreensível seja a preocupação da maioria das empresas jornalísticas. Mas

acreditamos que ao produzir as notícias, os jornalistas podem ter essa preocupação, ainda

mais com uma audiência que, além de significar e ressignificar os conteúdos apresentados,

ainda tem potência para reverberá-los, obrigando os veículos de comunicação de massa a

repensar sua ação.

Ao construir a hipótese do jornalismo como forma de conhecimento, Vizeu (2011)

parte da definição de Alsina (2009) sobre “mundo possível”. Para Alsina (2009, p. 299), “a

notícia é uma representação social da realidade cotidiana produzida institucionalmente, que

se manifesta na construção de um mundo possível”. Sem a preocupação de trabalhar o

conceito de notícia como Alsina propôs, Vizeu (2011) mobilizá-o para construir o esboço de

uma teoria do jornalismo construtivista.

A primeira questão que ele destaca é que o jornalismo é uma prática social e cultural

produzida institucionalmente. Nesse sentido, entende como Berger e Luckmann (1973) que

as instituições têm uma historicidade e implicam enquadramentos. As tipificações das ações

humanas são construídas ao longo de uma história compartilhada. As instituições têm

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sempre uma história da qual são produtos, da qual fazem parte num processo constante de

construção e reconstrução. Assim fica impossível compreender adequadamente uma

instituição sem compreender os processos social, cultural, histórico e econômico nos quais

foi construída. É nessa perspectiva que Vizeu (2011) vê o jornalismo construtivista.

Quanto à realidade que nos circunda, Vizeu (2011), sem procurar se deter na questão

da nomeação que vai envolver o discurso e a linguagem, entende que ela independe de

homens e mulheres. Assim, dá ênfase a ideia de que a realidade social é uma construção do

ser humano que a constitui e é constituído por ela. Trazendo o exemplo de Searle (1997), de

que as montanhas, diferentemente da dor, existem independente de qualquer “receptor” ou

de qualquer estado mental, num entendimento de que a realidade é ontologicamente

objetiva, Vizeu (2011) reafirma que existe uma realidade social que é construída

cotidianamente.

O caminho apontado por Alsina (2009) sobre os “mundos do jornalismo” (o real, o

de referência e o possível), de acordo com Vizeu (2011), traz uma boa contribuição à teoria

construtivista do jornalismo. O “mundo real” é o mundo dos fatos e acontecimentos. O

jornalismo interpreta a realidade social para que as pessoas possam entendê-la, adaptar-se a

ela e modificá-la (VIZEU, 2011; GOMIS, 1991). No processo de produção da notícia,

partindo do princípio que o jornalismo trabalha com o “mundo real”, cuja referência é a

realidade, os jornalistas vão trabalhar uma série de enquadramentos dos acontecimentos

como parte de um processo muito maior do que eles, a partir de sua cultura profissional

(VIZEU, 2011).

No chamado “mundo de referência” vão influir uma série de práticas, procedimentos

e discursos que estão envolvidos no trabalho diário dos jornalistas a partir da cultura

profissional, da organização do trabalho, dos processos produtivos, dos códigos particulares

(as regras de redação), da língua e das regras do campo das linguagens que buscam

interpretar a realidade social. O trabalho que os profissionais realizam nas suas práticas

sociais diárias resulta em construções que, no jargão jornalístico, podem ser chamadas de

notícias (VIZEU, 2005).

Para o esboço de uma teoria construtivista do jornalismo, Vizeu (2011) considera

que longe de ser um lugar-comum, o conceito de “mundo possível” é básico. Alsina (2009,

p. 310) define “mundo possível” como:

O mundo narrativo construído pelo sujeito enunciador a partir dos outrosmundos citados. Se no “mundo real” se produzia a verificação e no “mundo

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de referência” se determinava a verossimilhança, no “mundo possível” sedesenvolve a veracidade. O enunciador deve fazer parecer verdade o “mundopossível” que ele mesmo constrói.

Mesmo tendo o conceito dos “mundos do jornalismo” como base, Vizeu (2011)

identifica na obra de Paulo Freire “o caminho mais profícuo para compreender e procurar

definir o conhecimento do jornalismo” (VIZEU, 2011, p.17). Com base em Freire, ele

propõe um “conhecimento do desvelamento” para o jornalismo. “Um conhecimento que tira

o véu que cobre a realidade procurando mostrar as suas múltiplas faces, procurando

contribuir para que homens e mulheres tenham um forte instrumento para compreender o

mundo que os cerca” (VIZEU, 2011, p.17).

Ainda com base em Freire, Vizeu (2011, p. 17) considera que o contexto teórico do

conhecimento do jornalismo é o contexto da práxis. “O jornalismo precisa ‘molhar-se’ pela

realidade”. Mas para explicar o conhecimento do jornalismo - que trata dos acontecimentos

do mundo, dos diversos saberes, dos campos da experiência e do cotidiano - Vizeu (2011)

parte da comparação que Paulo Freire (1987) faz entre a ingenuidade e a criticidade. Ao

explicar que não há diferença e nem distância entre a ingenuidade e a criticidade, Freire

(1997) argumenta que não “acontece uma ruptura porque a curiosidade ingênua, sem deixar

de ser curiosidade, continuando a ser curiosidade se criticiza. Ao criticizar-se, tornando-se

curiosidade epistemológica, metodicamente ‘rigorizando-se’ na sua aproximação ao objeto,

conota seus achados de maior exatidão. A curiosidade metodicamente rigorosa do método

cognoscível se torna curiosidade epistemológica, mudando de qualidade, mas não na

essência”.

Vizeu (2011, p. 17) mostra que é dentro desse quadro que opera o conhecimento do

jornalismo:

Na produção da notícia o jornalista trabalha constantemente dentro dessaperspectiva de superação. Não é permitido ao jornalista que seja ingênuo nacobertura dos fatos. A tomada de consciência (FREIRE, 2003) é o ponto departida da sua atividade. Como é possível dar conta da cobertura dosacontecimentos, da mediação entre eles e a sociedade, se antes de construir ainformação não conheço o objeto? É tomando consciência dele que me douconta do objeto, que é conhecido por mim.

Outros dois aspectos importantes do método Paulo Freire que Vizeu (2011) acha

importante para pensar o jornalismo, não só do ponto de vista metodológico, mas como uma

forma de conhecimento, são: a problematização e o diálogo.

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Como na educação, Vizeu (2011) considera que não é possível se falar em

conhecimento do jornalismo sem uma problematização constante das práticas jornalísticas,

na sua função de informar. “É dentro desse contexto que o método, a investigação

jornalística que atravessa todo o processo de produção do jornalismo, da coleta de dados até

a audiência comunicativa (BARKER, 2003), é central na construção da realidade” (VIZEU,

2011, p. 18). Assim como a problematização constante das práticas jornalísticas, outro

aspecto importante é a centralidade do diálogo nos processos jornalísticos de construção do

real. O fazer jornalístico é um “estar em diálogo” (VIZEU, 2011).

1.4 Jornalismo: trama da faticidade

Igual acontece em outras atividades, as pessoas também podem ter a “experiência” do

jornalismo. O que isso quer dizer? A facilidade com determinado assunto, somada a

habilidades redacionais possibilita a produção de um texto. O acesso e a capacidade de usar

programas computacionais podem resultar na criação de um jornal. O que diferencia aquela

produção de uma produção jornalística é que a segunda segue um procedimento rotineiro de

aproximação dos fatos, em que são estabelecidos recortes e enquadramentos, que contribuem

para construção social da realidade.

Mesmo que de forma inconsciente, o método é o procedimento que os jornalistas

adotam o tempo todo nas práticas diárias de produção da notícia (VIZEU, 2011) e deve ser

trabalhado com rigor (CORNU, 1999).

E o que é o método? Sponholz (2009) define como uma série de ações ou decisões

planejadas e adotadas conscientemente para atingir um determinado objetivo. Essas ações são

conscientes e representam uma escolha entre possibilidades diferentes. No método

jornalístico, a escolha de um tema implica em enquadramentos, seleção de fontes, formulação

de perguntas. São procedimentos que exigem decisões que não são tomadas de uma forma

automática ou obrigatória e também não são arbitrárias, pois levam a um determinado

objetivo, como medição de informações atuais, relevantes e concordantes com a realidade.

Dessa forma o jornalismo vai contribuindo para a construção do real. Por isso, a centralidade

do método e da investigação jornalística (SPONHOLZ, 2009).

Vizeu (2011) considera importante a discussão sobre o método trazida por Sponholz

(2009) numa forma de mostrar que por detrás de uma simples reportagem existe todo um

método de investigação que foi “naturalizado” pelos jornalistas “e que só a formação superior

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num curso de jornalismo pode garantir essa instrumentalização, tanto teórica, como prática, já

que ambas estão imbricadas”(VIZEU, 2011, p. 21).

Fazendo uso do método, como destaca Sponholz (2009), o jornalista inicia seu

trabalho com a pré-investigação, momento onde será definido o que ele quer esclarecer ou

descobrir. Em seguida estabelece um roteiro: onde estão as informações de que necessita e

quem pode fornecer tais informações. Esse processo engloba fontes não diretamente

envolvidas, como materiais de arquivo, experts, bibliotecas, bancos de dados e, com o acesso

às novas tecnologias, incorpora também buscas em sites, portais e, mais recentemente,

entendemos que são agregadas informações provenientes das redes sociais, como Twitter e

Facebook.

Na pré-investigação surgem as hipóteses, que “são suspeitas que o jornalista quer

averiguar e não são testadas rigorosamente como na ciência, mas sim através da confrontação

de informações, de versões e explicações obtidas em entrevistas” (SPONHOLZ, 2009, p.

146).

Na redação da notícia, quando o jornalista faz as ligações entre as informações

levantadas e o problema investigado, é que suas hipóteses são testadas. É nesse momento,

também, que é feito o enquadramento e a seleção de informações que serão utilizadas na

produção da notícia. “Para que o profissional produza conhecimentos válidos precisa de um

método que o permita entender e mediar informações de áreas diferentes, e níveis distintos

vindos de fontes diversas em um prazo curto” (SPONHOLZ, 2009, p. 147).

Assim o jornalismo, que para Gomis (1991) é “uma atividade profissional de

mediação (...), seu produto, a notícia, é sempre um bem público, que se dedica a interpretar a

realidade social e mediar entre os que fazem o espetáculo da cobertura diária e o público (...)”,

vai tecendo a realidade.

Compreendendo que o jornalismo é um método de interpretação da realidade social,

não se preocupando, portanto, com o que acontece na intimidade das consciências, nem nas

profundidades do inconsciente, Gomis (1991) considera que a realidade pode fragmentar-se

em períodos, sendo que o único período interpretado pelo jornalismo é o atual. A realidade

pode fragmentar-se em unidades completas e independentes (os fatos), capazes de interpretar

em forma de textos breves e autônomos (notícias). Nos veículos de massa, a realidade

interpretada deve poder assimilar-se de forma satisfatória em tempos distintos e variáveis por

um público heterogêneo e deve encaixar-se em um espaço (periódico) e tempo (programação

dos veículos de comunicação). Por fim, segundo Gomis (1991), a realidade interpretada deve

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chegar ao público de um modo completo através de vários filtros e formas convencionais

(gêneros jornalísticos) que permitam entendê-la melhor.

Desse modo, o método e a investigação jornalística vão construindo uma “trama da

faticidade”(TUCHMANN, 1983) que, para Vizeu (2011), significa que, ao estabelecer

recortes e enquadramentos sobre o mundo, o jornalismo vai contribuindo para a construção da

realidade social. Vizeu (2011, p.22) exemplifica:

se os jornais diariamente criminalizam o Movimento dos Sem Terra vãocontribuindo para um agendamento da esfera pública (McCOMBS,2009),que passa a olhar o movimento como uma questão de polícia, não socialcomo realmente é, resultado da falta de uma reforma agrária que assentehomens e mulheres no campo.

Dessa forma o jornalismo atua na construção da realidade, mas é constituído por essa

própria realidade. E, no processo de construção do real, a questão da noticiabilidade e das

operações e construções jornalísticas fazem parte efetiva da produção da realidade (VIZEU,

2011).

Tomamos a conceituação de Wolf (1994, p.170) para quem “noticiabilidade”

corresponde:

ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais os órgãos deinformação enfrentam a tarefa de escolher, quotidianamente, de um entre umnúmero imprevisível e indefinido de fatos, uma quantidade finita etendencialmente estável de notícias (WOLF,1994, p.170).

Diretamente relacionada com os processos de rotinização e estandardização das

práticas produtivas, a noticiabilidade é uma forma de se estabelecer práticas produtivas

estáveis no trato com uma “matéria-prima” (os fatos que acontecem no mundo), que é por

natureza variável e, na maioria das vezes, difícil de se prever (VIZEU, 2011).

A resposta para a pergunta “quais os acontecimentos são considerados suficientemente

interessantes, significativos e relevantes para serem transformados em notícia?” é o que Wolf

(1997, p.175) denomina valores-notícia, que podem variar dependendo do momento histórico,

mas como observa Vizeu (2011), diferentemente do que colocam alguns setores da academia,

não acabaram.Traquina (2008), num estudo onde apresenta quais valores são mais

considerados pelos jornais, ou pré-jornais em três diferentes momentos históricos,

convida-nos a um entendimento de como os valores-notícia são dinâmicos e vão mudando

com a sociedade, mas não se acabam.

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Um dos primeiros momentos que ele considera é o ano de 1616, quando ainda não

havia jornais diários e as novidades eram repassadas por meio das chamadas “folhas

volantes”, que se dedicavam habitualmente a um único tema. Nesse momento as notícias

eram, em sua maioria, avisos moralistas ou interpretações religiosas. Só para se ter uma ideia,

um terço do que foi publicado em um total de 25 folhas volantes, no ano de 1616, foi

dedicado a um tipo de acontecimento: assassínios. Um outro terço, às notícias sobre

celebridades, incluindo uma sobre um discurso de um rei. Um dado curioso é que, embora

circulando no ano da morte do dramaturgo William Shakespeare, as folhas volantes não

fizeram a menor referência ao acontecimento (TRAQUINA, 2008).

Havia espaço nas folhas volantes para o insólito, “os acontecimentos que produziam o

maior espanto, a mais profunda maravilha, a maior surpresa”(TRAQUINA, 2008, p. 65),

como os que retratavam milagres, abominações, catástrofes e as coisas bizarras. Guerras e

trocas comerciais eram dois dos assuntos principais, contemplando as questões internacionais

e deixando de fora, quase completamente, os acontecimentos de interesse local. O espaço era

salvaguardado para os assuntos a que as pessoas não tinham acesso (TRAQUINA, 2008).

“Mas outro valor-notícia importante nesta época estava relacionado aos atos e as palavras das

pessoas importantes, as crônicas e as proezas de personalidades de “elite”, como, por

exemplo, o rei e/ou a rainha” (TRAQUINA, 2008, p. 98).

O segundo momento, que Traquina (2008) tomou por base para observar os

valores-notícia, foi a passagem do século XVIII para o XIX. Até o aparecimento da chamada

penny press na década de 30 do século XIX, as publicações periódicas, como os jornais, eram

dominadas pelo pólo político e os meios de comunicação social eram essencialmente vistos

como uma arma política. Nos Estados Unidos, com o lançamento do New York Sun e, na

França, com a circulação do La Presse, começa um novo jornalismo. A ênfase do jornal

americano era dada às notícias locais, às histórias de interesse humano, e as reportagens

sensacionalistas de fatos surpreendentes. Até à época da penny press as notícias eram apenas

sobre assuntos políticos e econômicos. O discurso parlamentar, as cotações da Bolsa, o

câmbio, os conflitos militares, as informações comerciais preenchiam o conteúdo da

imprensa. O New York Sun não só dava essas informações de forma acessível, como enchia as

suas páginas com outros assuntos: histórias de crime, escândalos, tragédias, notícias que o

homem comum achava interessantes ou divertidas (TRAQUINA, 2008).

Por fim, o último momento observado por Traquina (2008) é o século XX. Neste

século as “qualidades duradouras” das notícias são ressaltadas num estudo de Herbert Gans

(1979) sobre os telejornais de três principais cadeias de televisão norte-americanas (CBS,

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ABC e NBC), no ano de 1967; e sobre as revistas de informação Newsweek e Time, em três

diferentes anos da década de 70. O estudo demonstra a importância do valor-notícia

“notoriedade” do ator principal do acontecimento, isto é, a proeminência do ator. Na época do

estudo, Gans identificou que entre 70 e 85 por cento das notícias sobre assuntos nacionais

envolviam pessoas conhecidas: a) o presidente dos Estados Unidos; b) outras figuras

nacionais como os ministros e a família Kennedy, bem como os governadores e os presidentes

de câmaras locais; e c) pessoas conhecidas envolvidas em escândalos.

Gans (1979) também observou um aspecto muito relevante para o nosso trabalho, que

as pessoas não conhecidas, na época, viravam notícia quando: a) eram manifestantes,

grevistas ou amotinados – indivíduos que faziam barulho ou provocavam tumultos; b) eram

vítimas de desastres, naturais ou sociais – em particular na televisão, quando havia imagens

fortes; c) eram transgressores das leis e da moral; e d) eram praticantes de atividades

invulgares (TRAQUINA, 2008).

Embora, como elencamos anteriormente, cada época distinta destacasse mais um

valor-notícia do que outro, academicamente, a primeira tentativa de identificar de forma

sistemática e exaustiva os valores-notícia que a comunidade interpretativa dos jornalistas

utiliza no seu trabalho (ou, na linguagem dos especialistas, os fatores que influenciam o fluxo

de notícias), foi o estudo de Galtung e Ruge (1965/1993).

Em resposta à pergunta “como é que os acontecimentos se tornam notícias?”, Galtung

e Ruge (1965/1993) enumeraram doze valores-notícia (Tabela 1):

Tabela 1 - Valores-notícia segundo Galtung & RugeValores-notícia

1 a frequência, ou seja, a duração do acontecimento;2 a amplitude do evento;3 a clareza ou falta de ambiguidades;4 a relevância;5 a consonância, isto é, a facilidade de inserir o “novo” numa “velha” ideia que corresponde ao

que se espera que aconteça;6 o inesperado;7 a continuidade, isto é, a continuação como notícia do que já ganhou noticiabilidade;8 a composição, isto é, a necessidade de manter um equilíbrio nas notícias com uma diversidade

de assuntos abordados;9 a referência a nações de elite;10 a referência a pessoas de elite, isto é, o valor-notícia da proeminência do ator do acontecimento;11 a composição e personificação;12 a negatividade, ou seja, segundo a máxima “bad news is a good news”.Fonte: Galtung & Ruge (1965/1993)

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Galtung e Ruge (1965/1993) observam que um acontecimento será tanto mais

noticiável, quanto maior número de valores possuir, embora não seja uma regra absoluta. Da

mesma forma, eles consideram que um acontecimento poderá ter pouco de um valor e

compensar isso com muito de outro valor.

Além de Galtung e Ruge (1965/1993), outros autores, como por exemplo Wolf (1994),

se preocuparam em classificar os valores-notícias, distribuindo-os, assim, em cinco grandes

categorias: substantivas; relativas ao produto; relativas aos meios de informação; relativas ao

público; e relativas à concorrência.

As categorias substantivas ligam-se ao fato em si (por isso substantivas) e seus

personagens, o impacto e o interesse desses assuntos para o país, o número de pessoas

envolvidas no acontecimento e a possibilidade de ter desdobramentos e consequências.

A categoria relativa ao produto diz respeito à disponibilidade de materiais e

características específicas do produto informativo. Depende da acessibilidade ao fato, e tem a

ver também com a possibilidade de tratamento jornalístico, além das qualidades técnicas e

organizativas do material enviado. No entanto, todos esses fatores estão relacionados com a

importância do fato, significando que ele pode ser tão importante que essas categorias ficam

marginalizadas.

A categoria relativa aos meios de informação refere-se à forma como a informação é

selecionada e a notícia é exibida. A categoria relativa ao público diz respeito à imagem que os

jornalistas têm do público.

Por fim, a categoria relativa à concorrência indica que as empresas de comunicação

concorrem entre si e buscam saber, antecipadamente, qual é a pauta do concorrente. O

objetivo é neutralizar as manobras dos adversários.

Um aspecto importante é que, nas principais fases da produção diária da informação,

captação, seleção e apresentação, os valores-notícia são critérios de relevância. Na primeira

fase, que Wolf (1994, p.196) chama de recolha, é captado o que é preciso para se dar forma a

um noticiário ou a um jornal. Um componente fundamental dessa fase são as fontes, divididas

entre as propriamente ditas e as agências de informação. As primeiras são as instituições ou

pessoas que podem virar notícia.

A agenda de serviço, como classifica Wolf (1994, p.212), é conhecida como pauta, ou

seja, uma listagem com os assuntos que serão tratados durante o dia.

A seleção das notícias é um processo complexo que se desenvolve ao longo de todo o

ciclo de trabalho, realizado em diferentes etapas, desde as fontes até o editor (VIZEU, 2011).

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A apresentação das notícias é o processo final de elaboração da notícia no jornal:

"A fase de preparação e apresentação dos acontecimentos dentro do formatode duração dos noticiários consiste, precisamente, em anular os efeitos daslimitações provocadas pela organização produtiva, para ‘restituir’ àinformação o seu aspecto de espelho do que acontece na realidade exterior,independentemente do órgão informativo"(WOLF, 1994, p.219).

Como bem observa Vizeu (2011), as fases de produção da informação cotidiana

elencadas por Wolf (1994) – recolha (captação), seleção e apresentação – representam, na

maioria das vezes, o quadro geral das empresas jornalísticas. No entanto, o envolvimento da

audiência, que começa a interferir nos processos de produção da notícia, é uma mudança

importante no jornalismo. “Sem dúvida os valores-notícia vêm mudando com as tecnologias,

os novos suportes e as redações integradas, mas não deixaram de existir nem acabaram”

(VIZEU, 2011, p.26).

Trazendo o exemplo do telejornalismo, Vizeu et al. (2009), ressalta como a audiência -

que capta imagens de fatos inesperados, de flagrantes únicos - “passa a ter uma participação

efetiva na decisão do que deve ou não entrar em um telejornal, na hora de definição da

noticiabilidade de um fato” (VIZEU, 2011, p.26).

Essa audiência que dialoga com os veículos de referência, informando, fotografando,

filmando, também mantém nos Trending Topics (TTs) o que considera importante, obrigando

o jornalista a ficar atento para o que está sendo mais discutido nessa esfera conversacional2.

Traduzido como tópico em tendência, mas usado na versão em português como "Assuntos do

Momento", considera-se Trending Topics, segundo Coelho (2011), o número de twitters com

uma hashtag ou palavra(s) relacionada(s) a um tópico que têm sido disseminados por um

vasto número de pessoas num determinado período. Quando isso acontece, o assunto entra

para um ranking de assuntos mais populares do Twitter.

O conjunto de critérios de relevância que define a noticiabilidade de um fato, junto

com os valores-notícia, estiveram sempre relacionados de forma implícita na ideia de

construção de uma audiência. No entanto, a relação estabelecida entre jornalistas e audiência,

pós Web 2.0, se diferencia de outros momentos, já que agora a definição de noticiabilidade de

um fato não é feita somente a partir de uma audiência presumida (VIZEU, 2002), mas baseada

também no que entendemos como uma Audiência Potente que manifesta seu interesse, ou

descontentamento junto aos veículos de comunicação na forma de likes, compartilhamentos,

2Vamos nos deter mais na discussão sobre Trending Topics, no capítulo 3, onde destacaremos as mudanças no jornalismo coma Audiência Potente.

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visualizações, comentários, além de contribuir para que determinados temas passem a fazer

parte do ranking dos Trending Topics.

Para Brambilla (2005), as pessoas organizadas em comunidades virtuais são os

dispositivos ideais para coleta e difusão de informações que dizem respeito aos seus entornos,

aos seus contextos culturais, aos seus cotidianos, às suas realidades particulares. E isso

acontece não apenas na fase de produção de uma notícia, mas também na pós-circulação,

quando se pode ter um retorno imediato dos agentes, tradicionalmente chamados de

receptores, ou seja, há uma maior plenitude no processo comunicacional.

A nossa proposta do Trending Topics ser incorporado como valor-notícia atesta o que

diz Traquina (2008): que os valores-notícia não são imutáveis. Eles passam por mudanças de

uma época histórica para outra, com sensibilidades diversas de uma localidade para outra,

com destaques diversos de uma empresa jornalística para outra empresa, tendo em conta as

políticas editoriais. Assim como as definições do que é notícia estão inseridas historicamente,

a definição da noticiabilidade de um acontecimento ou de um assunto implica um esboço da

compreensão contemporânea do significado dos acontecimentos como regras do

comportamento humano e institucional (TRAQUINA, 2008).

Traquina (2008) ressalta que à pergunta “o que é a notícia?” podemos dizer que ao

contrário do jogo de cartas, o bridge, não há regras que indiquem que critérios têm prioridade

sobre os outros critérios; mas os critérios de noticiabilidade existem, e são duradouros ao

longo do tempo.

1.5 Um campo em transformação

O aparecimento da Internet, rede cujas forças principais são a capacidade de

armazenamento e o potencial de processamento (SANTAELLA, 2004), foi mudando o

ecossistema midiático3 e a forma como nos relacionamos com os meios de comunicação

(CANAVILHAS, 2011). Uma dessas transformações na esfera midiática se deu pela liberação

da palavra, permitindo a qualquer pessoa, além das empresas de comunicação, não só

consumir, como produzir e distribuir informações sob qualquer formato em tempo real, para

3Canavilhas (2011, p.13) afirma que “originalmente usado para describir la relación entre la blogosfera y la mediasfera, el concepto de Ecosistema Mediático se extendió a otro tipo de relaciones, pasando a designar todo el complejo sistema de relaciones entre los medios de comunicación. Las nuevas formas de interacción con los contenidos y los cambios en el consumo mediático motivados por la movilidad y las nuevas interfaces, han producido alteraciones importantes en los propios medios de comunicación que han tenido que adaptarse a esta nueva realidad.”

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qualquer lugar do mundo, sem ter que movimentar grandes volumes financeiros, ou ter que

pedir concessão a quem quer que seja (LEMOS & LÉVY, 2010).

O êxito da Internet e dos dispositivos móveis modificou a forma que as pessoas se

acostumaram a se informar sobre a atualidade, e a natureza da informação jornalística. De

periódica, a informação jornalística passou a ser onipresente. De um sistema “pull”, no qual o

consumidor busca a notícia, caminha-se para um sistema “push”, onde as notícias buscam os

consumidores, que além de eleger o que querem, decidem ainda como, quando e onde.

Essa alteração afeta o nível dos conteúdos, e também o jornalismo (FIDALGO y

CANAVILHAS, 2009), colocando-lhe uma série de desafios: lidar com o envolvimento cada

vez maior da audiência na produção de conteúdos e na agenda da mídia; com a

democratização das formas de acesso ao espaço público midiático e com o tempo de escolha,

que se contrapõe ao tempo real (do receptor preso ao fluxo do “aqui” e do “agora”).

As empresas de comunicação, além de terem que lidar com os desafios impostos ao

jornalismo, perceberam quase que instantaneamente à popularização da Internet, que a

audiência quer informações completas, confiáveis e multimidiáticas a todo instante, e com um

adicional: que sejam totalmente gratuitas.

O acesso aos blogs e às redes sociais possibilitou à audiência ter um papel mais ativo,

sobretudo, atuando na seleção de informação que lhe interessa filtrar no fluxo recebido

diariamente da Web. Canavilhas (2011, p.21) afirma que:

El gatewatching (BRUNS, 2003), es decir, la selección de informaciónllevada a cabo por los ‘amigos’ de las redes sociales en torno a los cualesnacen comunidades virtuales, adquieren importancia renovada en unecosistema en el que asistimos a una recuperación del modelo Two-step-flow(LAZARSFELD, BERELSON Y GAUDET, 1944).

Esse consumo individual, contínuo, móvel e global obriga aos antigos emissores a

buscar novas formas de transmitir a informação para uma audiência heterogênea, ao mesmo

tempo local e global, dispersa geograficamente e cujos interesses podem mudar em função de

variáveis desconhecidas do emissor.

Neste ecossistema, segundo Cardoso (2008, p.619), emerge um novo modelo

comunicacional:

caracterizado por la fusión de la comunicación interpersonal con lacomunicación de masas, que conecta al público, los organismos deradiodifusión y los editores en una matriz de dispositivos de comunicaciónen red que van desde los periódicos a los videojuegos y dan nuevos palcosde mediación a los usuarios.

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Segundo Alves (2005) agora é a rede quem tem o poder da inovação. São as empresas

de comunicação que estão seguindo as pessoas e não o contrário. Para ele as criações das

redes sociais, a produção dos aficcionados e os blogs determinam o que está por vir. E diante

desse cenário:

Los medios tradicionales tienen que aparcar la arrogancia de las últimasdécadas. La arrogancia del poder que da tener las llaves de la puerta. Losmedios tienen que abrazar la revolución digital y aceptar que los individuosse apoderen de la Red, y intentar sobrevivir en el nuevo ecosistema. Lainformación pasa a ser algo abierto, ya no es una información final, comoantes, que se cierra y se publica. La información pasa a ser un procesodinámico en la búsqueda de la verdad.

Lévy (2010) acrescenta que os valores e os modos de ação trazidos pela nova esfera

pública digital são a abertura, as relações entre pares e a colaboração. Para ele, enquanto as

mídias de massa, desde a tipografia até a televisão, funcionavam a partir de um centro emissor

para uma multiplicidade receptora na periferia, os meios interativos funcionam de muitos para

muitos em um espaço descentralizado. Assim, em vez de enquadrada pelas mídias (jornais,

revistas, emissoras de rádio e de televisão), a nova comunicação pública é polarizada por

pessoas que fornecem, ao mesmo tempo, os conteúdos, a crítica, a filtragem e se organizam,

elas mesmas, em redes de troca e de colaboração.

No clima da computação social (a famosa Web 2.0), a avaliação, a crítica, a

categorização também não são mais reservadas aos mediadores culturais tradicionais (clero,

professores, jornalistas, editores), estando também nas mãos das multidões, como bem

observa Pierre Lévy (2010, p.11):

São os utilizadores de Digg4 que fazem montar ou descer as informaçõesafixadas sobre o sítio, na primeira ou na última fila. São os utilizadores deDelicious5, de Flickr6, ou Youtube que decidem anotar um link, umafotografia ou um vídeo com tal ou tal tag. São os leitores que categorizam ecriticam os livros na Amazon ou no Librarything. Onipresentes no meio dacomputação social, as redes sociais, que chamávamos de “comunidadesvirtuais”, há alguns anos conhecem um desenvolvimento fulminante.

4Digg é um site norte-americano que reúne links para notícias, podcasts e vídeos enviados e avaliados pelos próprios usuários. As notícias mais aclamadas pela comunidade chegam a alcançar mais de 1000 votos (diggs).

5 O Delicious é uma ferramenta para arquivar e catalogar os sites preferidos para acesso de qualquer lugar.

6 O Flickr é um site de hospedagem e partilha de imagens fotográficas (e eventualmente de outros tipos de documentos gráficos, como desenhos e ilustrações) na web.

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Os efeitos dessa transformação da esfera pública sobre a democracia afetam, segundo

Lévy (2010), positivamente os quatro domínios estreitamente interdependentes: a capacidade

de aquisição de informação, de expressão, de associação e de deliberação dos cidadãos. O que

significa para ele que a computação social aumenta as possibilidades da inteligência coletiva

e, por sua, vez a potência do “povo” (aspas do autor).

Esse rápido desenvolvimento dos sistemas de redes digitais (os chats, as webzines, os

blogs) oferece aos públicos a possibilidade de reagir aos conteúdos, com opiniões,

comentários ou complementos de informação, o que não é possível na mídia tradicional

(RUELLAN, 2006).

Autores, como Pavlik (2005), chegam a afirmar com isso que o jornalismo vive uma

transformação radical, quiçá a maior desde o auge da imprensa. Essa transformação que

começa no final do século XX e vai se fortalecendo no século XXI, embora sendo muitas

vezes creditada à Internet, não se dá apenas em função dela. Razões mais complexas, como

um conjunto de forças econômicas, reguladoras e culturais, somadas a mudanças

tecnológicas, convergem de modo que provocam uma enorme transformação no caráter do

jornalismo do novo milênio. Pavlik (2005, p.14) traça um pouco esse cenário:

El crecimiento de un sistema económico global, integrado por economíasregionales, todas ellas interrelacionadas, y cada vez más controlado porgigantes multinacionales, ha alterado la base financiera del periodismo y delos medios de comunicación en general.(...) El final de la Guerra Fría hadesatado diversas fuerzas políticas y culturales que estaban contenidas y quetodavía no han llegado a una estabilización. Son fuerzas que han impuesto,en su conjunto, una atmósfera de incertidumbre para un periodismo queentra en una nueva era, donde el alineamento de las superpotencias se hatrastocado, los accionistas hacen prevalecer sus intereses y la competencia esmás probable que venga de una compañia de software radicada enWashington (cidade sede da Microsoft), que del periódico o del locutor delotro lado de la ciudad.

Neste novo sistema midiático, o jornalismo, que Pavilk (2005) nomeia como

contextualizado, surge com cinco aspectos básicos: amplitude das modalidades comunicativas

(texto, áudio, vídeo, fotografia, gráficos e animação, que correspondem a multimidialidade),

hipermídia (possibilidades de ligação hipertextual, quer entre textos escritos, quer entre

diferentes formatos de media), participação muito maior da audiência (interatividade),

conteúdos dinâmicos (possibilidades de recuperação da informação a qualquer momento, de

modo instantâneo e ubíquo) e personalização (possibilidade que o novo meio dá ao visitante

de configurar, seguindo critérios pessoais, a forma como tem acesso aos conteúdos).

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Esse jornalismo contextualizado, como nomeia Pavlik (2005), aos olhos de autores

como Jones (2009), atravessa um momento de crise, surgida com as transformações sociais,

especialmente a diversidade de fontes e novos modos de produção e circulação de

informação. Crise que passa a afetar aquilo que seria a base da legimitidade jornalística, ou

seja, a sua condição de mediador privilegiado da verdade social (JONES, 2009).

Assim, para Jones (2009), os desafios ao jornalismo na era digital não são apenas

econômicos, ou seja, sobre como devem ser reconfigurados os modelos de negócio, produção

e/ou distribuição para que se possa dar conta das mudanças no comportamento do consumidor

e no dinheiro proveniente da publicidade. O autor americano entende que esses desafios estão

também presentes em como o uso e a disponibilidade de tecnologias digitais ajudarão na

transformação das expectativas do público a respeito de quem na sociedade tem legitimidade

discursiva e pode participar da configuração da realidade e da verdade.

A era digital trouxe novas condições para as formas de construção social da realidade e

o jornalismo enfrenta não apenas transformações internas em seus processos e produtos, mas

também modos cada vez mais diversificados de mediação social e de estabelecimento do que

seria verdade ou não (JONES, 2009).

López (2012) argumenta que se está produzindo, sem dúvida, uma metamorfose

jornalística e que as pesquisas devem contribuir para que o jornalismo mantenha sua essência

de:

contar lo que acontece en la sociedad a partir de su carácter de servicio a laciudadanía (servicio público), de utilidad social desde la mediaciónprofesional, y de compromiso con la veracidad-honestidad profesional - ydel compromiso con una sociedad que camina de la mano del desarollosostenible y de la lucha por una mayor justicia social (LÓPEZ, 2012, p.30).

Sem usar a palavra crise, Adghirni (2010) fala em mudanças estruturais no jornalismo,

aquelas suficientemente abrangentes e profundas para alterar radicalmente o modo como a

atividade é praticada e simbolicamente reconhecida/definida pelos atores. Segundo Adghirni

(2012), mudanças estruturais no jornalismo implicam no reconhecimento da profissão como

uma prática social, marcada por um processo de reinvenção permanente, pois o jornalismo é

parte da sociedade, assim, é (re)construído a partir da participação contínua de diferentes

atores sociais.

Após essas reflexões sobre jornalismo, Internet e mudanças, passamos para o

Capítulo 2, onde traçaremos um percurso conceitual dos estudos sobre audiência até esse

momento de interação com as empresas de comunicação.

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CAPÍTULO 2 - UM BREVE PERCURSO PELA AUDIÊNCIA

2.1 Da audiência “passiva” a ativa

“O conceito de audiência é às Ciências da Comunicação, o que o conceito de cultura é

às Ciências Sociais em geral” (REPOLL, 2006, p. 74). A pesquisa sobre a audiência sempre

fez parte das preocupações dos teóricos da comunicação, visto que em meio aos muitos

sentidos dados à audiência ligam-se distintas conceituações de comunicação (REPOLL,

2006). A ideia deste capítulo é traçar um percurso conceitual dos estudos sobre audiência para

observarmos as mudanças e lançarmos a base do que denominamos “Audiência Potente”.

Rodrigues (2003, p. 97) afirma que a “audiência já foi um termo coletivo dado aos

receptores, segundo o modelo sequencial do processo de comunicação mediada: fonte, canal,

mensagem, receptor, efeito”. Mas a audiência “pode ser mais bem definida como um conjunto

de indivíduos em contextos e ambientes sociais que moldam a sua experiência, as suas

necessidades, bem como os respectivos significados atribuídos ao consumo dos media”.

Sendo uma palavra que se refere de uma maneira geral a leitores, espectadores, usuários da

mídia, “audiência” tem vários significados e conflitos teóricos sobre o tema (RODRIGUES,

2003, p.97).

As pesquisas iniciais sobre “audiência” centraram-se nos efeitos das mensagens sobre

o que consideravam recepção, preocupação predominante nos Estados Unidos, logo depois da

Primeira Guerra. Tendo como senso comum no pós-guerra que a derrota dos alemães foi

devido ao trabalho de propaganda dos Aliados, os meios de difusão eram tidos como

instrumentos indispensáveis à gestão governamental das opiniões públicas, quer das

populações aliadas, quer das inimigas. O receptor da comunicação era encarado como um

alvo amorfo, que obedecia cegamente ao estímulo/resposta (MATTELART & MATTELART,

1997).

Harold Lasswell (1927) afirma que a propaganda constitui o único meio de suscitar a

adesão das massas, sendo mais barata que a violência, a corrupção, ou outras técnicas de

governança desse estilo. Já a mídia age como o modelo “agulha hipodérmica”, termo criado

por Lasswell para designar o efeito ou o impacto direto e indiferenciado sobre os indivíduos

atomizados. Para a Teoria da Agulha Hipodérmica, também denominada Teoria da Correia de

Transmissão, da Bala Mágica, ou ainda Teoria Mecanicista S-R(estímulo-resposta), as

mensagens passadas pela mídia aos receptores eram recebidas uniformemente, e esses

estímulos provocavam respostas imediatas e diretas. O poder de convencimento da

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propaganda por intermédio dos meios de comunicação de massa deixava a audiência

desarmada, restringindo-a a condição de receptor passivo de mensagens manipuladas pelos

especialistas de opinião (TOCANTINS, 2012).

No final da década de 30, um projeto de investigação administrativo, encomendado e

realizado por Frank Stanton, diretor de pesquisas da rede radiofônica CBS; junto com

Lazarsfeld, considerado um dos “pais” da Mass Communication Research, inaugurou um

ramo de estudos quantitativos sobre as audiências. A pesquisa da dupla analisou o papel

desempenhado pelo rádio em confronto com diversos tipos de público e revelou um esforço

constante para associar as características dos programas preferidos por um certo público aos

motivos pelos quais determinada audiência ouve certos programas e não ouve outros (VIZEU,

2002).

A pesquisa resultou na elaboração do “analisador de programas”(program analyzer) ou

“máquina de perfis”(profile machine), incumbido de registrar as reações dos ouvintes em

termos de gosto, repulsa ou indiferença (MATTELART & MATTELART, 1997). A máquina

batizada de “analisador Lazarsfeld-Stanton” possuía botões ligados a um transcritor em que

estiletes inscreviam num cilindro de papel em rotação os altos e baixos da reação do ouvinte.

O processo criado para o rádio foi recuperado por especialistas da análise das reações do

público de cinema (MATTELART & MATTELART, 1997).

O projeto de metodologia empírica de Lazarsfeld, dominado por repetidos inquéritos a

uma mesma amostra de pessoas (panel) sobre os efeitos dos media, demonstrava uma vontade

de formalização matemática dos fatos sociais (MATTELART & MATTELART, 1997).

Ainda numa perspectiva funcionalista, na segunda metade da década de 40, o fluxo de

comunicação é visto como um processo em duas etapas, com o papel decisivo dos líderes de

opinião. É a teoria do Two-step-flow, que considera que há um primeiro patamar de pessoas

relativamente bem informadas (o líder), graças a sua exposição aos media e outro patamar

com pessoas que dependem das primeiras para receber informação, já que não são tão

expostas à mídia. A descoberta confronta o modelo mecanicista de Lasswell do efeito direto

indiferenciado e do efeito massificador na sociedade de massas.

Com a Teoria Matemática da Comunicação, apresentada também na década de 40, a

noção de informação adquire estatuto de símbolo calculável. Para Claude Shannon, um dos

representantes desta teoria, o problema da comunicação é “reproduzir num dado ponto uma

mensagem selecionada num outro ponto”. Nesse esquema linear de Shannon, a comunicação

tem os seguintes constituintes: a fonte (de informação), que produz uma mensagem (a palavra

no telefone); o encoder, ou emissor, que transforma a mensagem em sinais a fim de torná-la

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transmissível (o telefone transforma a voz em oscilações elétricas); o canal, que é o meio

utilizado para o transporte dos sinais (cabo telefônico); o decoder, ou receptor, que reconstitui

a mensagem a partir dos sinais; e a destination, ou destinatário, que é a pessoa ou coisa a

quem a mensagem é transmitida.

A audiência, neste caso, é vista como um mero receptáculo de uma mensagem e a

preocupação do matemático é com a lógica do mecanismo e com a diminuição de ruídos – ou

falhas que impeçam o isomorfismo, ou seja, a plena correspondência entre os dois pólos. A

teoria de Shannon não leva em consideração o sentido que o destinatário (audiência) atribui à

mensagem, nem a intenção que presidiu à sua emissão.

Inscrevendo-se numa contra-corrente à Teoria Matemática da Comunicação de

Shannon, que começava a impor como referência o Modelo Linear de Comunicação, um

grupo de pesquisadores a exemplo de Bateson, Hall, Goffman, Watzlawick, ainda na década

de 40, trabalha a partir do Modelo Circular Retroativo proposto por Norbert Wiener,

ex-professor de Shannon.

O grupo, conhecido como Escola de Palo Alto ou Colégio Invisível, entende que o

receptor tem um papel tão importante quanto o emissor. Esta visão de comunicação baseia-se

em três hipóteses: a essência da comunicação reside nos processos relacionais e de interação;

todos os comportamentos humanos têm um valor de comunicação; é possível descobrir uma

lógica de comunicação observando a sucessão de mensagens retomadas no contexto

horizontal (a sequência das sucessivas mensagens) e no contexto vertical (a relação entre os

elementos e o sistema). Assim, sendo a comunicação concebida como um processo

permanente a diferentes níveis, o investigador deve, para captar a emergência da significação,

descrever o funcionamento de diferentes modos de comportamento num dado contexto.

No que McQuail (1997) denomina de segunda fase dos estudos sobre audiência, até

princípios dos anos sessenta, os meios passam a ser considerados parcialmente ineficazes para

modificar atitudes do receptor, como bem ressalta a Teoria dos Efeitos Limitados

(RODRIGUES, 2003).

Nos anos 70, ainda dentro da Sociologia Funcionalista, a corrente dos “Usos e

Gratificações” interessa-se pelas satisfações dos utilizadores, questionando “o que é que as

pessoas fazem dos media” (BLUMLER & KATZ, 1975). Uma década depois aprofunda sua

própria noção de leitura negociada: o sentido e os efeitos nascem da interação dos textos e dos

papeis assumidos pelas audiências (MATTELART & MATELLART, 1997).

O paradigma da audiência ativa tão ressaltado atualmente nos estudos do jornalismo,

com a presença cada vez maior de não jornalistas interferindo no processo de construção

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noticioso, ganha destaque a partir de duas perspectivas teóricas: os Estudos Culturais e os

Estudos sobre a Recepção Literária (BARKER, 1999).

A perspectiva dos Estudos Culturais concebe a audiência como uma arena de disputa

do poder, constituída e constituinte de relações de poder. Assim, o estudo das audiências,

segundo Repoll (2006), converte-se numa plataforma de pesquisa dos processos culturais das

sociedades massmidiatizadas. Nas décadas de 70 e 80 duas propostas ergueram-se como

novos debates, e, principalmente, como linhas de ação para o estudo dos processos de

comunicação: o modelo de codificação-decodificação proposto por Hall na década de 70 e o

convite feito por Martín-Barbero, na década de 80, para olhar da mídia às mediações.

O modelo codificação-decodificação, proposto por Hall (1981), entende a

comunicação como um processo de produção de sentidos articulado em vários momentos:

produção, circulação, distribuição-consumo e reprodução. Barker (1999), analisando o

modelo de Hall (1981), diz que a audiência se porta de duas maneiras diferentes: quando

compartilha um marco cultural com os produtores-codificadores há uma decodificação dos

signos da mesma maneira, ou seja, há uma leitura dominante. Quando, no entanto, a audiência

está situada em posições sociais diferentes (classe e gênero, por exemplo) e com diferentes

recursos culturais, ela pode decodificar os programas (televisivos) de maneira alternativa, ou

seja, a partir de uma leitura negociada ou oposicional.

Barbero (1998) entende que “a comunicação virou questão de mediações mais do que

de mídia, questão de cultura (...) um reconhecimento que foi de entrada, operação de

deslocamento metodológico para rever o processo inteiro da comunicação desde o outro lado,

o da recepção, o das resistências que aí tem lugar, o da apropriação, desde os usos”

(MARTÍN-BARBERO, 1998, p.10).

Essa discussão proposta por Barbero, e que foi encampada por autores

latino-americanos, a exemplo de Orozco Gómez, advoga pela reinserção da comunicação no

mundo da cultura. Neste sentido, como destaca Repoll (2006), recupera-se o sentido de

audiência como uma perspectiva desde onde abordar a produção de sentido. Dessa forma,

Orozco Gómez (2001, p. 23) entende audiência:

... não como um simples recebimento, mas como uma interação, sempremediada desde diversas fontes e contextualizada material, cognitiva eemocionalmente, que se desdobra ao longo de um processo complexosituado em vários cenários e que inclui estratégias e negociações de sujeitoscom o referente midiático da qual resultam apropriações variadas que vãodesde a simples reprodução até a resistência e a contestação.

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Com a perspectiva teórica dos Estudos Culturais é reconhecido um papel ativo à

audiência na construção do sentido das mensagens, e é realçada a importância do contexto da

recepção (MATTELART & MATTELART, 1997).

Repensa-se o lugar da cultura na sua relação com a ideologia, considerando-se que ela

faz uma mediação. A cultura não está mais subordinada à ideologia, mas possui uma

autonomia que a torna capaz de realizar a mediação do processo político – seja a partir do

poder, seja a partir da resistência. É o processo de mediação cultural. É um novo olhar sobre a

recepção, como um sujeito ativo (VIZEU, 2002).

A problemática do leitor e da recepção foi também posta em evidência pela pesquisa

literária, nos anos 60. Essa problemática desenvolveu-se, sobretudo, a partir dos países de

língua alemã, particularmente da Escola de Constança. O movimento, lançado em 1967 numa

conferência proferida por Hans Robert Jauss, fundou uma abordagem: a estética da influência

e da recepção. Influência era entendida como a parte devida ao texto na definição de leitura e

do consumo que dele faz o leitor, o receptor, o público - indispensável parceiro da obra

literária. Já por recepção entendem-se as sucessivas concretizações de uma obra, a relação de

diálogo entre o texto e o leitor, relação que em cada época liberta o potencial

semântico-artístico da obra e o inscreve na tradição literária. Mas o leitor pode ser também

um fator de conservantismo, na medida em que o seu horizonte de expectativa, formado pelo

que foi feito em matéria de literatura, oferece maior ou menor resistência às iniciativas

inovadoras do escritor (MATTELART & MATTELART, 1997).

Antes de ser evidenciada pela pesquisa literária, a relação leitor-autor já era sublinhada

por escritores como Jean Paul Sartre que, em 1947, na obra “O que é Literatura”, pontuava o

“esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objeto concreto e imaginário que é a

obra do espírito”.

Umberto Eco, numa conferência em 1958, que foi a base de seu livro “A obra aberta”,

ligava esta questão do papel cocriador do leitor e do receptor à própria transformação da

literatura e da arte, que procura realizar “a ambiguidade enquanto valor”, oferecendo obras

manifestamente abertas à multiplicidade de significações.

Roland Barthes, no ensaio sobre a morte do autor, ressalta que o sentido último de

qualquer texto cultural é desvendado pelo leitor.

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2.2 A audiência no jornalismo

Para Vizeu (2008), a audiência ativa7 (BARKER, 2003) busca informar-se, mas há

outro objetivo não explícito, mas não menos relevante que é buscar compreender o mundo

complexo em que vivemos. E isso se dá na busca das informações trazidas pelos veículos de

comunicação de massa, sobretudo pela televisão, uma vez que as notícias produzidas nas

empresas de comunicação ainda são relevantes para a audiência porque contribuem para que

ela entenda o cotidiano cada vez mais complexo e de difícil acesso, bem como supõe efeitos

concretos em relação à percepção que estabelece entre os temas da agenda e a construção do

espaço público (VIZEU, 2008). Em sua tese de doutoramento, Vizeu (2002) propôs o conceito

de Audiência Presumida, assim enunciado (VIZEU, 2002):

Os jornalistas constroem antecipadamente a audiência a partir da culturaprofissional, da organização e do trabalho, dos processos produtivos, doscódigos particulares (as regras da redação), da língua e das regras doscampos das linguagens para, no trabalho de enunciação, produziremdiscursos. E o trabalho que os profissionais do jornalismo realizam, aooperar sobre os vários discursos, resulta em construções que, no jargãojornalístico, podem ser chamadas de notícias.

Durante o estudo, Vizeu (2002) observou que a imagem que os jornalistas tinham da

audiência é muito intuitiva. Os jornalistas pesquisados assumiam, por exemplo, que a

audiência dos telejornais do meio dia era composta por mulheres, aposentados e crianças. O

pesquisador destaca que nessa maneira intuitiva de definir a audiência havia também um certo

preconceito: “na hora do almoço os homens tinham que estar trabalhando” (VIZEU, 2002, p.

100). Outra idealização da audiência aparecia nos conteúdos que deveriam ser apresentados.

Para os jornalistas, o jornal do meio dia suscitava interesse a partir de “temas mais leves, o dia

a dia da cidade” (VIZEU, 2002, p.100).

Vizeu (2002) ainda destacou em seu trabalho que, com a dificuldade de saber quem de

fato é a audiência, o jornalista agia auto-suficientemente, partindo da premissa de que seu

interesse é o de informar, mesmo que esse interesse fosse indiferente às expectativas e desejos

da audiência. Nessa relação “às escuras”, duas preocupações eram evidenciadas na relação

dos jornalistas com a sua audiência: a estrutura narrativa e a protetividade. A preocupação

com a estrutura narrativa pode ser percebida na importância dada à clareza, manifestada desde

a plena identificação dos personagens envolvidos e do fato narrado, até as informações de

7Neste trabalho os termos audiência ativa e audiência comunicativa são utilizados com o mesmo sentido.

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serviço (por exemplo: quais os serviços que funcionam no feriado, bolsa (oferta) de empregos,

etc.). Já a protetividade manifesta-se quando o jornalista evita noticiar o que pode causar

pânico ou ansiedade desnecessária, por exemplo, acidentes sem detalhes, catástrofes naturais,

pestes, etc. Outra restrição muito comum na mídia são as informações sobre suicídio. As

empresas entendem que a divulgação pode contribuir para incentivar as pessoas a atentarem

contra a própria vida (VIZEU, 2002).

Mesmo que de uma forma idealizada, sempre houve uma relação da audiência com o

jornalismo, mas como ressalta Madureira (2010, p. 42), essa relação mantinha “jornalista e

audiência em suas funções originais – o primeiro com absoluto controle sobre o que será ou

não publicado, o segundo em uma postura meramente reativa ao trabalho do jornalista”.

A audiência com acesso a espaços colaborativos, e que atualmente tenta intervir na

produção de conteúdos midiáticos, é um prolongamento da relação fonte-jornalista, que

começou a mudar nos primórdios da década de 1970, segundo observa Ruellan (2006, p.33):

Se a “rua” perde a vez para um jornalismo de tipo mais estático, imobilista,essa evolução é decorrente da transformação da relação com as fontes e doespaço que estas ocupam no continuum da produção informativa. Para seinformar, o jornalista mobiliza redes de relacionamentos que lhe permitementrar em contato, diretamente ou via agências, com o discurso que os atoressociais produzem sobre a realidade. Esse relacionamento, sem o qual otrabalho de apuração de informações não existiria, induz a umainterdependência complexa.

Em parte, as mídias dependem desse fornecimento espontâneo de informações pelas

organizações (municipais, sindicais, associativas, comerciais...). Um estado de dependência

que leva os profissionais da informação a não entrar em conflito com as fontes, em particular

as mais importantes sob o ponto de vista do fornecimento de informação (RUELLAN, 2006).

Há ainda a expectativa de atores sociais (movimentos sindicais, por exemplo) que desejam

não apenas a veiculação de seus discursos (ações e pontos-de-vista), como também,

principalmente, sua legitimação por meio de sua incorporação aos propósitos jornalísticos.

Essas situações, para Ruellan (2006), não colocam jornalistas e fontes em campos opostos, e,

sim, numa convergência de interesses. Os primeiros necessitam da informação, oficial e

oficiosa, que os outros têm a ambição de ver veiculada por meio de um discurso externo.

Ruellan (2006) lembra que essa interdependência jornalista/fonte é estrutural, mas a

profissionalização de certos atores nessa relação é recente, e parece transformar as trocas

entre fontes e difusores de informação. Passo a passo, a partir da década de 1970, as

organizações foram se munindo de serviços e ferramentas voltadas para a relação com o

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público e com a mídia. Houve uma proliferação de espaços de relacionamento estabelecidos

pelas fontes para ordenar a respectiva participação no processo de produção da informação,

assim como a diversidade de estratégias utilizadas – criação de mídias próprias, com objetivo

de falar diretamente ao público (as mídias de consumo, fomentadas pelas redes de

estabelecimentos comerciais de distribuição, os jornais criados por instituições públicas, ou

programas de televisão produzidos por entidades corporativas) para interferir sobre o

conteúdo das mídias tradicionais. Um intercâmbio de atores, cujo papel é às vezes assumido

como fonte, às vezes como mediador.

De acordo com Ruellan (2006), o Brasil é, sem dúvida, um dos terrenos mais férteis do

Jornalismo de Fontes, expressão utilizada por Sant’Anna (2005). Essa fertilidade brasileira

para o Jornalismo de Fontes se deu pela necessidade dos movimentos políticos e sociais

brasileiros, durante o regime militar, de criar mídias alternativas, veiculando mensagens que

se dirigiam diretamente aos públicos, sem passar pelas mídias tradicionais, na época,

controladas. O hábito manteve-se e desenvolveu-se com o fim da ditadura e o processo de

redemocratização brasileira, dentro de um entendimento das organizações (políticas, sindicais,

associativas, administrativas) de que a posse de uma mídia apresenta duas vantagens:

comunicação direta com os públicos e uma grande capacidade de interferir na agenda das

mídias tradicionais (RUELLAN, 2006).

Duas décadas depois, com o avanço das mídias digitais, as fontes potencializaram

ainda mais essa produção de conteúdos, utilizando, muitas vezes, o mesmo discurso

jornalístico e as ferramentas que fazem com que aquele conteúdo ganhe visibilidade

midiática.

Chaparro (2009) diz que houve uma “revolução das fontes”, ou seja, homens e

mulheres começam a deixar de serem “receptores passivos” da televisão, do rádio e dos

jornais para interferirem e participarem de uma forma mais efetiva no processo de produção

de conteúdos para as mídias. Chaparro (2009, p.7) destaca que “(...) as fontes, antigamente

passivas, se transformaram em instituições deliberadamente produtoras de conteúdos, por

meio de fatos e falas noticiáveis”.

Mas não só com as fontes oficiais e aquelas que cada vez mais se profissionalizam o

jornalismo vem estabelecendo relação. Com a facilidade de acesso as chamadas Tecnologias

da Informação e Comunicação (TICs), o cidadão comum, por vezes excluído do debate

público articulado pelo jornalismo, começou a intervir no processo de produção de conteúdos

para as mídias, disputando visibilidade midiática com as fontes oficiais, que alimentam a

pauta jornalística.

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Historicamente, o acesso privilegiado à pauta jornalística vem sendo usufruído pelas

fontes oficiais. As demais fontes – movimentos sociais e o cidadão comum de uma maneira

geral – que se encontram na periferia da estrutura de poder sofrem, quase sempre, uma

exclusão sistemática do debate público articulado pelo jornalismo. Essa exclusão compromete

a representatividade e a legitimidade da representação simbólica que constrói a realidade.

Em uma rápida passagem pelas Teorias do Jornalismo, fica clara essa exclusão. Na

tradição da Teoria do Agendamento, Molotch & Lester (1999) denominam, como os

“promotores da notícia” (news promoters), a agenda política governamental. Os jornalistas e

editores, na Teoria do Agendamento, trabalham a partir dos materiais fornecidos pelos

promotores da notícia, transformando um conjunto finito de ocorrências em acontecimentos

públicos através de publicação ou radiodifusão. Os consumidores de notícia (news

consumers), que analogamente assistem a determinadas ocorrências disponibilizadas como

recursos pelos meios de comunicação social, criam, desse modo, nos seus espíritos, uma

sensação do tempo público (MOLOTCH & LESTER, 1999).

Na Teoria Estruturalista, Hall (1999) e outros pesquisadores observam que, quase

sempre, os jornalistas não são os definidores primários – e sim secundários – da notícia

devido à sua dependência das informações estratégicas monopolizadas pelas autoridades do

aparelho de Estado e das grandes corporações do mercado. “Os media não criam

automaticamente as notícias; melhor, estão dependentes de assuntos noticiosos específicos

fornecidos por fontes institucionais regulares e credíveis (...)” (HALL et al., 1999, p. 228).

As oportunidades de surgirem informações da periferia da estrutura de poder

(movimentos sociais e simples cidadãos) que enriqueçam e confiram maior representatividade

ao espaço público articulado pelo jornalismo, em geral, só acontecem em situações de crise,

quando o sistema de sanções e recompensas dos meios de controle sistêmicos não consegue

compensar as expectativas de maior legitimidade nas deliberações sobre as questões de

interesse coletivo. Neste caso, verifica-se nas decisões o que Habermas (1997) denomina de

modelo de iniciativa externa (VIZEU; ROCHA; MESQUITA, 2010).

Usualmente, no entanto, prevalece, no processo de formação de opinião e de

deliberação sobre questões públicas, o modelo de acesso interno, em que os resultados ficam

restritos à lógica e aos interesses exclusivos da estrutura de poder. Desta maneira, as

deliberações são apenas comunicadas à sociedade, sem que tenham sido precedidas de uma

discussão aberta na esfera pública, conforme o ideal republicano democrático de autogoverno

dos cidadãos que formam a sociedade. Até mesmo quando o jornalismo investigativo ou a

pressão dos cidadãos nos movimentos sociais conseguem institucionalizar, no espaço público,

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assuntos inconvenientes para a estrutura de poder – modelo de mobilização, conforme

Habermas (1997) – ainda assim, geralmente, prevalece a lógica dos interesses particulares

poderosos, já que estes setores possuem muito mais recursos para mobilizar apoios e adesões

às suas pretensões (VIZEU; ROCHA; MESQUITA, 2010).

Nesse quadro fechado, a presença mais forte do cidadão no universo midiático acena

para novas possibilidades. Segundo Berger & Luckmann (2004), isso promove uma

renovação do espaço público com a inclusão pelo jornalismo de “instituições intermediárias”,

aquelas que reconhecem no cidadão o direito de participar da construção de sentido e,

consequentemente, da construção social da realidade, diminuindo a crise subjetiva e

intersubjetiva de sentido alimentada pela tendência à alienação e anomia que se verifica na

modernidade (VIZEU; ROCHA; MESQUITA, 2010).

2.3 Os coprodutores da notícia

Referimo-nos a esse cidadão, em artigo publicado em 2011, na Revista Estudos de

Comunicação, não como fonte, mas como mediador público, ou seja, homens e mulheres que

de uma forma ou de outra passam a intervir no processo de produção da notícia. São os

coprodutores da notícia que, por meio do uso de suas câmeras, celulares ou máquinas

fotográficas digitais, vêm dialogando com os jornalistas que trabalham em várias mídias

(Internet, rádio, jornal ou televisão) e, também, com outros cidadãos como ele (VIZEU &

MESQUITA, 2011).

Em outro trabalho, publicado em 2009, observamos que esse conteúdo da audiência é

mais “aceito”, pelos veículos de comunicação de referência, quando se refere a eventos de

crise, como desastres naturais, atentados terroristas e situações de conflitos que, dada a sua

imprevisibilidade, dificulta a cobertura pelas equipes jornalísticas. Esses eventos foram

caracterizados por Molotch & Lester (1999), ao fazerem uma tipologia de acontecimentos

públicos, como acontecimentos ocorridos involuntariamente (acidentes), ou seja, aqueles

acontecimentos que levam à quebra da ordem habitual (MESQUITA, 2010).

No Brasil, por exemplo, a cobertura das enchentes de 2010, no Rio de Janeiro, foi um

momento marcante da presença de coprodutores, que trouxeram conteúdos diversos sobre o

desastre climático. Foram tantos vídeos recebidos por empresas de comunicação que

possuíam canais de interação com a audiência que, no dia oito de abril de 2010, o Globo

News deslocou o foco da cobertura das enchentes para “autorreflexões” sobre a intervenção da

audiência no episódio das enchentes. Alguns trechos do programa mostram como os

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jornalistas, no diálogo com especialistas, tentam entender o fenômeno do envolvimento dessa

audiência (Tabela 2):

Tabela 2 - Trechos da transcrição do programa exibido pela Globo News sobre a cobertura dasenchentes no Rio de Janeiro

Jornalista Recorte do diálogoOff “O Rio de Janeiro sob as águas de abril. Quase 200 mortos. O Rio de Janeiro

sob as lentes de abril, centenas de vídeos. Nunca uma tragédia brasileira foiretratada por tantos olhos, tantas câmeras, em tantos ângulos. Sem ter comoconter as águas, internautas, espectadores e leitores inundaram a Internet, asredações, as TVs com vídeos colaborativos. Testemunhos da chuvaexcessiva, de antigas mazelas da cidade e também das novas formas decomunicação. Onde não chegava o repórter, havia o internauta, o espectador,o leitor, sempre de câmera na mão. (...)”.

Mônica Waldvogel “Para falar sobre a participação de internautas e de espectadores na coberturajornalística da tragédia do Rio de Janeiro recebemos, em nossos estúdios doRecife, o professor titular de Engenharia de Software da UniversidadeFederal de Pernambuco, Sílvio Meira. E aqui nos estúdios de São Paulo, oprofessor livre docente da Escola de Comunicação e Artes da USP, SérgioBaroni, Bairon, aliás, e o editor da primeira página do G1, portal de notíciasda Globo, David Butter. (...) De certa forma a gente descobriu que ... temosum Eu repórter, né?! (risos)... havia muito mais repórteres no Brasil, soltospor aí, ou com este desejo, já quase que com um olho treinado, umalinguagem para isso. Como foi para você, que estava lá num Portal tãoimportante como o G1, receber esta inundação de imagens?”

David Butter “A gente ficou impressionado com o volume. É, porque a gente já tem umcanal de interatividade aberto há três anos, mas a gente nunca tinha tido umaexperiência de tanto impulso externo chegando ao mesmo tempo (...). E issofoi o que me deixou mais impressionado, porque demonstra, e isso a gentevai acabar conversando, um avanço. Tem aparelhos melhores na mão daspessoas.”

Sérgio Bairon “Sem dúvida. Eu acho que com a entrada do celular, sobretudo, naschamadas classes menos favorecidas (...). E creio que a grande novidade nosúltimos dois anos, talvez, e acho que vai se radicalizar mais ainda neste ano,que a gente prevê o início da banda larga, do 3G, famoso 3G, da banda largapara os celulares pré-pagos... As pessoas vão de fato inundar a web devídeos, e de fotos, e assim por diante, né?!”

Mônica Waldvogel “É uma experiência do jornalismo que é preciosa numa hora dessas. Nasredes sociais as coisas não têm frequentemente este filtro... A gente temalgumas imagens que chegaram para o G1 e que foram utilizadas nostelejornais como uma novidade. (...) Aqui a gente percebe que há umapreocupação grande com (...) o registrar cenas...”

Sílvio Meira “Eu acho que a gente tá vivendo (...) uma espécie de um nascimento de umanova forma de fazer a crônica da vida pessoal. (...) Essas pessoas não estãofilmando para aparecer no G1, na Globo, ou na Globo News. Elas estãoregistrando o que está acontecendo no mundo, ao redor delas, porque hojeelas têm os meios.”

Mônica Waldvogel “Essa é uma concepção completamente diferente que você tem, que é umestar no mundo muito diferente, muito mais participativo, e você,digamos...tá acostumado a um mundo (...) com um centro grande, mesmoque expandido, que enuncia, que emite notícias, e agora isso começa a semisturar. Há um conceito para isso, um jornalismo... líquido, não é?”

Sérgio Bairon “Ou espumoso. Nesta estratégia se sobressai uma outra modalidade de ator,

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pelo trabalho dos especialistas. Os comentários prognosticam também oadvento de um novo jornalismo. O fazem através de estratégias de auto eco-referencialidades, nomeando a novidade e não deixando a interpretaçãonas mãos das lógicas dos atores sociais. Não se importam se o que nomeiam,é uma modalidade de jornalismo “líquida ou espumosa”...

Fonte: Globo News, 2010.

O debate chamava a atenção para esse cidadão, muitas vezes excluído do debate

público articulado pelo jornalismo, que passou a ser envolvido, ainda que de uma forma

restrita, na produção de conteúdos para os meios de comunicação, relacionando-se de outras

formas com os veículos de comunicação de massa e abrindo a possibilidade de figurar ao lado

das fontes oficiais que, historicamente, alimentaram a agenda jornalística. No papel não só de

fonte, mas de registro, o público capta feitos privados ou públicos para remetê-los a diversos

meios de comunicação, influindo na forma em que se desenvolve o processo de produção

(VIZEU; SIQUEIRA et al, 2010).

Dalmonte (2009) vê nisso uma possibilidade de conferir ao material jornalístico uma

maior dimensão de veracidade, já que não se trata de um leitor qualquer opinando sobre um

texto, mas de uma testemunha que dá seu depoimento. “Articula-se a ideia de que não é

preciso enviar um repórter para cobrir um acontecimento. Alguém envolvido diretamente no

ocorrido pode relatar com maior propriedade” (DALMONTE, 2009, p.198).

Dalmonte (2009) defende, também, que a “participação”, ou possibilidade de

“participação”, desempenha importante papel para o desenvolvimento do efeito do real,

incorporando ao discurso outras maneiras de aproximação com o seu público, possibilitando a

este público interagir com um produto jornalístico, agregando outras vozes e fazendo com que

a matéria se torne mais polifônica.

Todo esse quadro mostra que o conceito de audiência elaborado pelas teorias de

comunicação de massa vem perdendo, a cada dia, algo de seu sentido em entornos digitais

marcados pela diluição dos papéis de consumidores e produtores, pela personalização dos

conteúdos, pelo consumo assincrônico e pelo intercâmbio muitos-muitos (SCOLARI, 2008).

Para entender essa audiência, que vem se caracterizando por uma produção

colaborativa, Scolari (2008) propõe mergulharmos nas transformações dos processos de

consumo cultural, uma vez que as comunicações digitais têm renovado todas as fases do

processo social de produção da informação, pondo em cheque um modo de produção cultural

nascido no século XV, com a imprensa, e consolidado no período que vai desde a segunda

metade do século XIX até a primeira metade do XX, ou seja, da imprensa de massa aos meios

eletrônicos.

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São vários os processos que confluem nas novas formas cooperativas de produção

comunicativa. A rede digital permite o intercâmbio de conteúdos entre milhares de sujeitos,

rompendo com o modelo “um para muitos”, que caracterizava o broadcasting; além disso, a

estandardização e o barateamento da tecnologia põem nas mãos de milhões de usuários

instrumentos fáceis de usar para a criação e manipulação textual (SCOLARI, 2008).

Bowman & Willis (2005), no livro Nosotros, el medio. Cómo las audiencias están

modelando el futuro de la noticias y la información, lembram que a ideia de introduzir as

audiências no processo noticioso para obter novas perspectivas, ou converter os leitores em

repórteres ou comentaristas, não é nova. No começo dos anos 90, sobretudo nos Estados

Unidos, os jornais experimentaram a ideia do Jornalismo Cívico, ou Jornalismo Público, que

buscava a participação dos leitores e das comunidades em forma de sessões de grupo (‘focus

groups’, em inglês), enquetes e reação às histórias noticiosas diárias.

Os objetivos do Jornalismo Cívico ou Jornalismo Público seriam voltar a suscitar o

interesse do cidadão americano pelos assuntos públicos (NIP, 2006), mediante iniciativas

orientadas a promover uma participação mais ativa desse cidadão no processo de produção

das notícias.

Para Suau & Masip (2011), tratava-se de um movimento pouco coeso, em que

diferentes jornalistas e meios experimentavam novas formas de fazer jornalismo, em uma

época (fim do século XX) na qual as novas formas de comunicação e difusão da informação

possibilitadas pela Internet começavam a cobrar importância.

As primeiras experiências do Jornalismo Cívico surgiram nas eleições locais e estatais

(FRIEDLAND & NICHOLS, 2002), com o objetivo de dar voz aos cidadãos durante a

campanha eleitoral. Depois, os jornais buscaram envolver a audiência em decisões sobre

temas públicos, como questões raciais, desenvolvimento e crime (BOWMAN & WILLIS,

2005). As relações entre os jornalistas e a audiência foram se manifestando de diversas

formas: reuniões periódicas, nas quais os jornalistas explicavam a evolução de suas

investigações a grupos de cidadãos afetados pelos temas investigados, com o objetivo de

encontrar novas perspectivas ou soluções (CHARITY, 1995); até espaços diários onde os

cidadãos podiam escrever diretamente sobre os temas que os preocupavam (FRIEDLAND &

NICHOLS, 2002).

Nesses projetos, as organizações noticiosas, ainda que tratassem de estimular

ativamente a participação, mantinham um alto grau de controle, definindo a agenda,

escolhendo os participantes e controlando a conversação (BOWMAN & WILLIS, 2005).

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Tentativas de fazer jornalismo que, para Bruns (2011), não alteram de maneira

significativa a relação audiência-veículo. Uma vez que o papel de gatekeeper da informação

continua sendo dos jornalistas, e que a audiência dá apenas uma olhada um pouco mais

detalhada sobre a maneira em que estes processos ocorrem, ou seja, o Jornalismo Público, ou

Cívico, restringe-se apenas a mostrar para a audiência como o jornalismo é feito e o que

influencia as decisões dos jornalistas.

Ruellan (2006) analisa que as iniciativas de Jornalismo Cívico, ou Público, podem ser

interpretadas como uma reação corporativa dos jornalistas preocupados com a influência

crescente do marketing e das fontes sobre o projeto editorial das mídias. Para o teórico

francês, o Jornalismo Público permite aos jornalistas legitimar práticas editoriais centralizadas

sobre as expectativas do público e o interesse dos anunciantes, e de justificar a participação

dos jornalistas nessas novas orientações.

2.4 Uma audiência interativa

Após essa experiência inicial de envolver as audiências na rotina jornalística, ainda no

final da década de 1990, foram tomando forma as ideias de incluir a colaboração dos

cidadãos, e a de informar sobre temas que os meios tradicionais ignoram. Entendia-se que era

uma nova forma de fazer jornalismo, realizada por não profissionais e contraposta ao

jornalismo tradicional e analógico, feito por jornalistas. Surgia a denominação: Jornalismo

Cidadão (BOWMAN & WILLIS, 2003; NIP, 2006).

Espiritusanto e Rodríguez (2011) consideram que o movimento Indymedia, The

Independent Media Center, deu os primeiros passos, nos idos de 1999, para o que se

denomina Jornalismo Cidadão. Criado inicialmente como uma rede de jornalistas que se

dedicava a informar sobre conteúdos políticos ou sociais, o Indymedia se particularizou ao

abrir espaço, em novembro de 1999, para a participação da audiência durante os protestos

contra a reunião do Fórum da Organização Mundial de Comércio (OMC), em Seattle,

Washington. A proposta era de atuar como um meio alternativo, que documentasse todos os

acontecimentos. Após esse primeiro momento, o Indymedia experimentou um crescimento

vertiginoso, chegando a ter, no ano de 2006, sites em 150 países, e publicando informação em

inglês, espanhol, alemão, italiano, português, francês, russo, árabe e hebreu.

No Brasil, um dos países onde o Indymedia atua, a ideologia repassada é de “dar voz a

quem não tem voz, constituindo uma alternativa à mídia empresarial que, frequentemente,

distorce fatos e apresenta interpretações de acordo com os interesses das elites econômicas,

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sociais e culturais. (...). A ênfase da cobertura é em movimentos sociais, particularmente em

movimentos de ação direta (os “novos movimentos”) e sobre as políticas as quais se opõem”

(INDYMEDIA, 2006).

Dentro de uma lógica colaborativa, a audiência foi sendo envolvida de diferentes

formas, em diferentes sites, como: o Slashdot.org (http://slashdot.org), que “permite a

participação de múltiplas vozes, ao mesmo tempo em que prevê um filtro útil para a

discussão” (BOWMAN & WILLIS, 2003); o DIGG (http://www.digg.com), que posiciona os

assuntos mais votados, sejam da mídia tradicional ou não, em destaque na página principal,

permitindo ainda que se publiquem histórias dos usuários; e o famoso OhMyNews

(http://www. ohmynews.com), fundado em 2000, aberto a participação dos que

convencionaram chamar de “amadores”.

No Brasil, os principais portais de notícias lançaram, durante os anos 2000, o que

consideravam iniciativas de colaboração, entre elas o “Minha Notícia”, no IG

(http://minhanoticia.ig.com.br); o “Você no G1”, na Globo.com (http://g1.globo.com.br/

vc-no-g1) e o “Você Repórter”, no Terra (http://noticias.terra.com.br/vcreporter). Seguindo o

caminho dos portais, muitos jornais aproveitaram o espaço na Web para criar canais de

colaboração, como é o caso do Zero Hora, do Estadão, de O Globo, do Jornal do Brasil, de O

Dia e dos pernambucanos Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio.

Chillón (2010) considera que o Jornalismo Cidadão, como reclamação de um novo

jornalismo que transforma radicalmente as estruturas dos meios de comunicação para fazê-las

mais democráticas e descentralizadas, começa a ter cobertura teórica a partir da obra de Dan

Gilmor, We The media: Gransroots Journalism by the people, for the people.

Acreditando na possibilidade de todo mundo produzir notícia, Gilmor (2004)

antecipou a emergência do cidadão-repórter. Embora também não seja consenso, há um

reconhecimento de que as reportagens de crises, consolidadas pelas imediatas conseqüências

do Tsunami no Sul da Ásia, em dezembro de 2004, tenham sido um momento decisivo, como

observa Allan (2009), para o termo Jornalismo Cidadão figurar proeminentemente no mundo

jornalístico. Ele acrescenta:

A quantidade notável de filmagem de vídeo amador, fotos instantâneas decelular – muitas das quais foram postadas em blogs e páginas pessoais –sendo feitas por cidadãos comuns que estavam no momento (turistas, emmuitos casos) foi largamente reconhecida como uma contribuição única paraa cobertura do jornalismo de massa (ALLAN, 2009, p. 18).

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Nos anos após o Tsunami, a produção do cidadão-repórter tinha conseguido seu lugar

no meio jornalístico, estando freqüentemente associada a eventos específicos de crise. A

atuação dessa audiência passou a ser descrita de várias maneiras: “Jornalismo Popular”,

“Jornalismo de Código Aberto”, “Jornalismo Participativo”, “Jornalismo Super Local”,

“Jornalismo de Rede”, entre outros termos. Mas, como reforça Allan (2009), mesmo com

várias descrições e controvérsias, um fato não deixa dúvida: essa nova forma de produção de

conteúdos para os media estava remodelando os protocolos e as prioridades da reportagem de

crise.

Para Bowman & Willis (2005, p.9), o papel da audiência é ativo “en el proceso de

colectar, reportar, analizar y diseminar información. La intención de esta participación es

suministrar la información independiente, confiable, exacta, de amplio rasgo y relevante, que

una democracia requiere”.

Essa cultura participativa, que pode trazer modificações importantes para o jornalismo,

de acordo com Anderson (2006), é movida por três forças de aceleração. A primeira é a

democratização das ferramentas de produção - que resultou num grande número de conteúdos

diariamente postados em redes sociais, por qualquer pessoa com acesso a um computador ou a

um dispositivo móvel, conexão com a Internet para a publicização, e a habilidade para usar

alguma das muitas redes sociais.

A segunda força é a redução dos custos do consumo pela democratização da

distribuição. “O fato de qualquer um ser capaz de produzir conteúdo só é significativo se

outros puderem desfrutá-lo. O computador pessoal (PC) transformou todas as pessoas em

produtores e editores, mas foi a Internet que converteu todo mundo em distribuidores”

(ANDERSON, 206, p. 55). Por fim, a última força é a ligação, cada vez mais próxima, entre

oferta e demanda. Os consumidores acabam por descobrir “que em conjunto, suas

preferências são muito mais diversificadas do que sugerem os planos de marketing”

(ANDERSON, 206, p. 55).

A difusão dos Weblogs foi um dos primeiros sintomas de que algo estava mudando,

porque, até então, na primeira década de desenvolvimento da Web, a distância entre o autor e

o leitor era quase similar à do livro impresso. Ao final dos anos 90, essas páginas pessoais

começaram a incorporar um espaço que permitia a seus leitores agregar comentários aos

artigos, e uma série de dispositivos que facilitavam a publicação de posts escritos por seus

criadores. Em 1998, eram vários estes sítios chamados Weblogs, ou simplesmente blogs,

denominação dada por Jon Barger, em 1997(SCOLARI, 2008).

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A explosão dos Weblogs foi gerando diferentes descendências de blogs, dos

estritamente pessoais até aqueles informativos, inspirados na imprensa tradicional. O Twitter,

ao permitir o envio de breves conteúdos ao longo do dia e a formação de comunidades de

leitores (followers), levou a prática do blogging a um nível microtextual.

Olhando para esse fenômeno, Gilmor (2004) assegura que estamos assistindo ao

casamento entre a lógica do código aberto e da produção informativa (open sourcing the

news), que é um processo inédito na história dos meios, onde as fontes tendem a

multiplicar-se e numerosas vozes se cruzam no ciberespaço.

Scolari (2008) sustenta que estamos na presença de um ecossistema, onde a aparição

de novas espécies - as tecnologias colaborativas – modifica o entorno ao entrar em relação

com as entidades que já o habitam (por exemplo, as tecnologias do broadcasting). No entanto,

as novas tecnologias não desprezam as anteriores, nem, como observa Scolari (2008, p. 201),

“se suceden linealmente en una cuenta regresiva hacia el paraíso digital, sino que transforman

el ecossistema al interactuar entre si y dar lugar a nuevas configuraciones”.

Este cenário de mudanças e multiplicação de vozes surge como um processo que

David Bolter e Richard Grusin (1999) denominaram “remediação”. Nesse processo de

adaptação ao mundo digital, as mídias tradicionais remodelam seus produtos com base na

nova lógica, enquanto os meios emergentes remodelam os antigos, ou seja, uma remodelagem

mútua.

Del Bianco (2009, p.235) cita o exemplo da televisão:

No presente a Internet usa os testes padrões estabelecidos pela televisão afim de determinar como trabalhar com a imagem na tela. Isso acontece aomesmo tempo em que a televisão usa colocar várias janelas com imagens emmovimento na mesma tela, ou põe o texto em desdobramento, correndo naparte de baixo da tela, remodelando o estilo da narrativa do online.

A base do conceito de “remediação” se estrutura no pensamento Mcluhaniano que, na

década de 60, entendia a transformação dos meios como um processo de mutação que se dava

por hibridização, fazendo nascer uma nova forma. Para Mcluhan (2000, p.72), “o rádio

alterou a forma das estórias noticiosas, bem como a imagem filmica, com o advento do

sonoro. A televisão provocou mudanças drásticas na programação do rádio e na forma das

radionovelas”.

Wolton (1999) que, igualmente a Scolari (2008), não vê as modalidades midiáticas

(mídias de oferta, caracterizadas pelos meios tradicionais e mídias de demanda, caracterizadas

pelas novas tecnologias de comunicação) como pontos ascendentes numa escala progressiva e

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evolucionária, mas como complementares, atenta para a capacidade das novas tecnologias de

comunicação no que se refere à oferta de informação e de bancos de dados, mas enfatiza que

esse aglomerado de informação requer processos profissionais de filtragem, triagem e

priorização. Ele explica:

Comunicação direta, sem mediações, como uma mera performance técnica.Isso apela para sonhos de liberdade individual, mas é ilusório. A rede podedar acesso a uma massa de informações, mas ninguém é um cidadão domundo, querendo saber tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto maisinformação há, maior é a necessidade de intermediários - jornalistas,arquivistas, editores, etc - que filtrem, organizem, priorizem. Ninguém querassumir o papel de editor-chefe a cada manhã. A igualdade de acesso àinformação não cria igualdade de uso da informação. Confundir uma coisacom a outra é tecno-ideologia (WOLTON, 1999, p. 85).

Deuze (2009) chama a atenção para o fato de que a audiência, no que se denomina

Jornalismo Cidadão, está presente no contexto de um esvaziamento de criatividade – ou, em

outras palavras, de um esvaziamento do trabalho assalariado, trabalho de notícia na direção de

voluntários não pagos - e de se interpelarem os mencionados consumidores-cidadãos como

“colegas-cidadãos”, sem necessariamente investirem em treinamento, monitoração ou

arranjos de proteção.

Já Díaz-Noci (2010) ressalta que a incorporação dos usuários como autores é um

fenômeno que ainda deve ser contemplado em sua verdadeira dimensão, sem cair no

determinismo ou no otimismo não justificado. Ele considera que do ponto de vista econômico,

os meios digitais, sobretudo os diários, oferecem como valor agregado os mecanismos de

participação (e de fidelização).

A tentativa de fazer uma revisão dos estudos sobre a audiência teve o intuito de

esclarecer porque esses trabalhos, embora tragam importantes contribuições para nossa

pesquisa, não contemplam a nossa hipótese da Audiência Potente. No Capítulo três

tentaremos conceituar Audiência Potente, trazendo as características desse novo agente no

jornalismo.

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CAPÍTULO 3 - UM NOVO AGENTE NO JORNALISMO: A AUDIÊNCIA

POTENTE

3.1- A Audiência Potente: considerações iniciais

Uma questão central, que entendemos ser necessária esclarecer, é que a Audiência

Potente não é jornalista, mas um novo agente no processo, nas práticas jornalísticas, nas

rotinas, que, com as novas tecnologias sociais (WILLIAMS, 2011), vem afetando o

jornalismo de diversas formas. Essa afirmativa vem antes de todas as denominações e

caracterizações que trazemos neste trabalho, porque após o que se denominou Web 2.0, que,

dentre outras coisas, tornou viável a incorporação, aos produtos jornalísticos, de registros de

acontecimentos em vídeos e fotografias feitos pela audiência, alguns teóricos questionavam o

que diferenciava uma produção do profissional e a do não-profissional.

No papel de produtora e receptora de informações, a audiência, para alguns teóricos,

ameaçava a atividade jornalística na medida em que tinha acesso aos meios de produção para

participar da configuração da realidade. As denominações para o papel desempenhado por

essa audiência eram várias: jornalismo participativo, cidadão repórter, jornalismo de código

aberto, jornalismo público, jornalismo cívico. Em meio a muitas discussões nesse momento,

os autores só conseguiam convergir para o entendimento de que há uma mudança nas relações

entre os veículos de comunicação e a audiência, já que esta última, além de ativa e

comunicativa, tem, agora, acesso aos meios de produção de conteúdos. Assim, uma das

primeiras afirmativas referentes à Audiência Potente, é que ela, embora se integre cada vez

mais ao campo jornalístico e contribua com o jornalismo, não é jornalista.

Quando nos referimos à Audiência Potente, estamos falando de cidadãs e cidadãos

que, de alguma forma, estabelecem uma relação ativa com os veículos de comunicação,

envolvendo-se, ou sendo envolvidos, nos processos produtivos e nas rotinas jornalísticas. É

importante deixar claro que o conceito de audiência que trabalhamos nesta tese não está

atrelado à da audience-as-market, como observa Ang (1991, p.43-84), perspectiva na qual a

audiência é tratada como um número a ser vendido, tendo como base o modelo comercial

norte-americano, em que os ratings (audiência média) são vendidos pelas empresas de

comunicação aos anunciantes. Não desconsideramos a importância dos institutos de pesquisa,

a exemplo do IBOPE e do Ipsos Marplan, ao fazerem seus levantamentos, para as empresas

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jornalísticas, acerca do perfil da audiência. No entanto, o objetivo desses levantamentos é

atender ao mercado de consumo, como observa Vizeu (2002, p.96):

Na televisão aberta, a pesquisa de audiência feita pelo IBOPE édisponibilizada a todas as emissoras de TV, empresas jornalísticas e mercadopublicitário. As agências de propaganda usam essa informação para indicaraos seus clientes onde é melhor anunciar. Os números de audiência que sãomais divulgados, e sobre os quais mais se fala, são medidos com base nonúmero de residências com aparelhos8.

Também entendemos, como muitos autores do campo do jornalismo, superada a ideia

da mídia que funciona como emissor e de uma audiência passiva e amorfa, que recebe a

informação. Estudos sobre recepção, principalmente a partir da década de 1980, já repensaram

o processo de recepção, vendo-o como decodificação, ou seja, um processo de significação e

de ressignificação, e lançaram um novo olhar sobre o receptor como um sujeito ativo.

A Audiência Potente surge em um contexto de mudanças sociais, culturais e

tecnológicas, de democratização das ferramentas de produção, redução dos custos do

consumo da informação pela democratização da distribuição (ANDERSON, 2006) e da

interatividade. A facilidade de acesso às ferramentas de produção possibilita à Audiência

Potente dois caminhos: criar e alimentar seus próprios espaços de visibilidade (blogs e outros

sites de redes sociais); e disponibilizar um grande número de conteúdos, principalmente em

redes sociais9, bastando que tenha disponibilidade, habilidade para usar algumas ferramentas e

acesso a um computador ou a dispositivos moveis, como celulares, smartphones, tablets,

dentre outros, conectados à Internet.

No entanto, como bem destaca Anderson (2006, p. 55), “o fato de qualquer um ser

capaz de produzir conteúdo só é significativo se outros puderem desfrutá-lo. O computador

pessoal (PC) transformou todas as pessoas em produtores e editores, mas foi a Internet que

converteu todo mundo em distribuidores”. Assim, com o acesso aos meios de produção e a

facilidade de distribuição, a Audiência Potente pode registrar acontecimentos que, em alguns

casos, são incorporados a um produto jornalístico, ao mesmo tempo em que dispõe de canais

pelos quais manifesta seu olhar sobre o mundo que a cerca.

8 Vizeu (2002) explica que, para contabilizar a audiência, os institutos de pesquisas levam em conta o número deaparelhos desligados. Cada ponto de audiência representa 1% dos domicílios com TV na cidade ou região pesquisada. Outra forma de medir é com base nas pessoas que estão assistindo a TV em cada um dos aparelhos de televisão (audiência individual). Outro indicador é o chamado share, que considera os domicílios que estão com televisores ligados no momento de medição.

9Neste trabalho, enquadramos na definição de rede social: blogs e sites como Twitter, Facebook.

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Nesse contexto, uma questão central, para a construção do que denominamos

Audiência Potente, é a interatividade. Uma das características do jornalismo na Internet10, a

interatividade, além de possuir uma multiplicidade de sentidos, é um desses conceitos como

“convergência”, que é abarcado por diferentes campos, como o sociológico, o da

comunicação e o da informática, apesar de ser um conceito, como ressalta Rost (2006, p.

168), com “estrecha relación con la evolución que han tenido la informática y las nuevas

tecnologias de la información y la comunicación en los últimos 35 años”.

Embora numa relação mais visível com as tecnologias da informação, não podemos

pensar, como observa Jorge (2013), que a interatividade é uma nova característica das

comunicações, pois já “havia interatividade na Grécia, quando inscrições nas paredes se

dirigiam a quem lia, e nas catedrais medievais quando as pessoas interagiam com os santos de

devoção. Também nos túmulos e nos graffiti, os escritos têm a preocupação de atingir o leitor”

(JORGE, 2013, p. 67).

Bertold Brecht, entre finais da década de 1920 e início da década de 1930, num

discurso sobre a função da radiodifusão, integrante da Teoria do Rádio, já antecipava o que

hoje se convencionou chamar interatividade. Brecht (2005, p. 42) afirmava:

(...) é preciso transformar o rádio, convertê-lo de aparelho de distribuição emaparelho de comunicação. O rádio seria o mais fabuloso meio decomunicação imaginável na vida pública, um fantástico sistema decanalização. Isto é, seria, se não fosse somente capaz de emitir, mas tambémreceber; portanto, se conseguisse não apenas se fazer escutar pelo ouvinte,mas também pôr-se em comunicação com ele. A radiodifusão deveria,conseqüentemente, afastar-se dos que a abastecem e construir osradiouvintes como abastecedores.

Vinculada à criação da informática e da telemática, a interatividade é vista, desde estes

campos, como a capacidade dos computadores responderem aos requerimentos dos usuários

(ROST, 2006).

Na comunicação, segundo Rost (2006), o termo recebeu um pouco mais de atenção na

década de 80, com as investigações que tentavam, não só traçar definições, como medir os

diferentes graus de interação. Essas investigações ganharam, a partir da década de 90, um

novo impulso, com o crescimento dos serviços oferecidos pela Internet e, principalmente, com

10No Manual de Laboratório de Jornalismo na Internet, os pesquisadores Marcos Palacios e Beatriz Ribas (2007) ressaltam como características do jornalismo na Internet, além da Interatividade, a Hipertextualidade, a Multimedialidade, a Personalização do Conteúdo, a Memória e a Atualização Contínua.

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a criação e popularização da World Wide Web. Para Jorge (2013, p.67), a Internet vem

recuperar “o lugar de participação das pessoas no processo de comunicação”.

Vários autores definiram interatividade, considerando-a desde uma característica do

meio (HOLTZ-BONNEAU, 1986; ROGERS, 1986), até como uma medida da capacidade do

meio para deixar o usuário exercer uma influência sobre o conteúdo e na forma da

comunicação mediatizada (JENSEN, 1988).

Rost (2006, p. 195), autor da tese La Interactividad en el periódico digital, considera

interatividade: “a capacidade gradual e variável que tem um meio de comunicação para dar

aos usuários-leitores um maior poder, tanto na seleção de conteúdos, como nas possibilidades

de expressão e comunicação”. Quando se refere às possibilidades de seleção de conteúdos, o

que chama de interatividade seletiva, Rost (2006) está destacando a capacidade dos meios

para responder aos requerimentos do usuário e oferecer-lhe um menu de conteúdos que o

leitor pode escolher. Já as possibilidades de expressão e comunicação, que ele chama de

interatividade comunicativa, referem-se aos espaços que abrem o meio para que o leitor emita

opiniões e possa realizar intercâmbios dialógicos com outros indivíduos (jornalistas,

personagens da atualidade e outros leitores). Resumidamente, a interatividade seletiva diz

respeito à interação dos indivíduos com os conteúdos (com a máquina ou com o sistema) e a

comunicativa corresponde à interação dialógica entre indivíduos, ou grupos de indivíduos, em

seus contextos mais diversos, com seus diferentes repertórios interpretativos, atuando em um

âmbito planetário.

Mais do que as possibilidades de acesso, gestão e distribuição da informação

permitidas pela interatividade seletiva, outras relações mais complexas são experimentadas na

interatividade comunicativa, uma vez que os atores, nessa última, são os indivíduos ou grupos

de indivíduos que entram em contato em diversos contextos, contribuindo com a constituição

das chamadas comunidades virtuais, ou seja, novos espaços de produção simbólica de mundos

representados e compartidos (ROST, 2006).

Autores como Bordewijk e Van Kaam (2005, apud Salaverría, p. 34-35) apresentam

outras designações: como “interatividade conversacional”, em oposição às “interatividade de

transmissão” (que permite apenas ativar ou cancelar uma “emissão”); “interatividade de

consulta” (que permite ao utilizador escolher entre um menu de alternativas) e “interatividade

de registro” (a capacidade de o meio registrar informação do utilizador e adaptar,

automaticamente, o seu formato e conteúdos aos dados ou interesses desse utilizador).

Sims (1997) propôs uma das mais completas taxonomias em relação aos processos

interativos, destacando onze formas de interatividade:

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Tabela 3 - Taxonomia de Sims (1997) sobre as os processos interativosFormas de interatividade

1 Do objeto: refere-se aos sistemas em que os objetos podem ser ativados pelo mouse;2 Linear: sistemas onde há movimentos para frente e para trás na sequência de exibição do

conteúdo;3 Hierárquica: oferece um conjunto de opções em que o usuário escolhe uma delas, e parte

para uma nova etapa do sistema, como acontece nos menus de navegação;4 De suporte: caracteriza-se pela capacidade que o sistema tem de dar suporte ao usuário

para solucionar problemas durante sua utilização;5 De atualização: as ações do usuário afetam o conteúdo que o sistema irá exibir (o banco

de dados, que vai desde a mais simples “pergunta e resposta” até simulações deinteligência artificial, com diálogos induzidos entre homem e máquina);

6 De construção: o sistema pode manipular objetos para obter da máquina as respostasrequeridas;

7 Refletida: o sistema grava as entradas dos usuários em seu banco de dados e possibilita oacesso a ele mesmo, evitando que somente suas respostas pré-definidas sejam acessadas,deixando para o usuário a responsabilidade de analisar os resultados que obteve e decompará-los com os de outros usuários, dentro de cada contexto específico;

8 De simulação: o usuário tem o controle do processo interativo e são suas ações quedeterminam o curso da disposição de conteúdos seguintes;

9 De hiperlinks: ocorre quando há um grande número de links e possibilidades denavegação, e o usuário pode construir seu caminho informativo de maneira individual;

10 Contextual não-imersiva: seria a combinação de todas as anteriores, em um ambienteque simule o local de trabalho ou a convivência comum ao mundo “real” do usuário;

11 Virtual imersiva: quando o usuário passa a participar do ambiente imersivo, que éprojetado para responder a cada movimento ou ação, individualmente.

Fonte: Sims (1997).

Mas tão complexo como estabelecer um conceito único para interatividade é

determinar a data concreta do início do que se pode chamar “meios interativos”. Rost (2006)

diz que o telefone é considerado por muitos estudiosos como o meio interativo mais antigo,

uma vez que permite um duplo fluxo de comunicação e um intercâmbio de papéis entre

emissores e receptores. Mas outros autores têm como referência inicial da interatividade as

chamadas novas tecnologias da comunicação.

Compartilhamos com Rost (2006) o entendimento de que, em vez de separar uma

suposta era dos meios não interativos e outra era dos meios interativos, é mais propício

apostar numa evolução contínua dos meios a um maior grau de interatividade que, embora nos

últimos anos tenha sido potencializada pelas novas tecnologias, não desconsidera a

interatividade, ainda que baixa, dos meios massivos, refletida, por exemplo, nas Cartas à

Redação e nas chamadas telefônicas para as redações dos jornais, rádios e televisões.

Outro ponto fundamental em que concordamos com Rost (2006) é que o grau de

interatividade, nos meios analógicos e digitais, depende não só da tecnologia comunicacional,

mas do uso que se faz dela, porque como bem observa Tanjev Schultz (1999, p.3):

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O uso de máquinas e das suas aplicações não é, em si próprio, interativo. Asmáquinas não compreendem e respondem autonomamente às mensagens,por mais que os investigadores da área da inteligência artificial gostassem.(…) As máquinas não podem produzir ou partilhar significado num sentido‘narrow’. Mas, indubitavelmente, elas podem mediar – e facilitar ou impedir– a comunicação interativa.

O que, objetivamente, significa dizer que “la tecnologia genera posibilidades

interactivas pero éstas pueden ser aprovechadas o no por los dueños y directivos de los

medios, de acuerdo a sus objetivos e intereses en la construcción de la actualidad”(ROST,

2006, p.240).

Rost (2006, p. 241-242) acredita que mesmo com as novas vias de participação que se

abrem para os leitores, o ciberdiário “se reserva siempre el control de los momentos clave en

la producción de contenidos, y este control es más notório cuando los contenidos tienen un

espacio más destacado y una mayor transcedencia social”.

Comungamos com Rost (2006) o entendimento de que, apesar desse controle, a

audiência pode transformar-se em um cidadão ativo quando participa na construção da

realidade do ciberjornal, oferecendo uma informação, dando uma opinião, interactuando com

um personagem, requerendo mais informação aos jornalistas ou dialogando com outros

leitores. “En todos estos casos, su participación no se resume en el proceso de recepción

individual sino que se hace pública en el periódico: es decir, los demás lectores pueden

acceder a sus contenidos” (ROST, 2006, p.201). Como bem ressalta Rost (2006, p. 252), “un

medio es mas interactivo cuando favorece mas la participación activa y crítica del lectores en

la construcción de la actualidade”.

3.2 As características da Audiência Potente

O envolvimento da audiência no âmbito da comunicação, após o que se denominou

Web 2.0, varia muito, dependendo de suas necessidades e motivações básicas. Autores como

Bowman & Willis (2003), Bruns (2005), Madureira (2010) e Espiritusanto (2011)

catalogaram alguns níveis de envolvimento da audiência dentro do ecossistema informativo, e

alguns deles são relevantes para a caracterização do que pretendemos definir como Audiência

Potente.

Para Bowman & Willis (2003) há diferentes possibilidades de envolvimento da

audiência na construção do noticiário. A mais elementar seria o comentário, que foi tomando,

ao longo dos anos, a forma de fóruns, newsgroup, salas de bate-papo e mensagens

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instantâneas na web. Incluem ainda o processo de filtro e edição, que pode ser passivo, no

qual a audiência acessa a informação, e o site cria visualizações como, por exemplo, as

notícias mais lidas; ou ativo, como o processo de votação de notícias (BOWMAN & WILLIS,

2003).

A audiência, segundo Bowman & Willis (2003), “participa” da checagem dos fatos, o

que é comum em sites como o http://slashdot.org; faz o registro do flagrante de um

acontecimento; a complementação da apuração da informação jornalística; e a produção open

source de notícias, com a revisão e complementação por pares. Bowman & Willis (2003)

ainda incluem, nesse processo de envolvimento da audiência, os modelos de transmissão ao

vivo de áudio e vídeo, a publicidade colaborativa e o gerenciamento de conhecimento.

Bruns (2005, p.124), que analisou Slasdshot, Indymedia, Wikipedia, Media Channel e

Kuro5hin, também ressalta o nível de envolvimento da audiência permitido por um site

jornalístico:

1 Participação na entrada da informação: quando a audiência consegue contribuir com

material para o processo de construção das notícias, no estágio de apuração e coleta de

material;

2 Participação na saída da informação: quando a audiência consegue influenciar o

conteúdo que será publicado, seja por processos de filtro ou de edição;

3 Participação na resposta à informação: quando a audiência pode comentar, relacionar,

filtrar ou editar conteúdos que já foram publicados;

4 Centralização do gatewatching: quando o site foca na publicação de material noticioso

original ou no fornecimento de comentários sobre itens previamente selecionados;

5 Papéis fixos ou móveis: quando papéis específicos (editor, jornalista, usuário, leitor)

permanecem intocados no processo de produção da notícia;

6 Mobilidade de pares: a habilidade dos participantes se elevou ou caiu, dependendo da

frequência e da qualidade de sua colaboração ao site;

7 Centralização da organização: a formação institucional e tecnológica do site, de

servidores e equipes centralizadas até redes descentralizadas.

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Madureira (2010, p.52), esboçando uma nova taxonomia da “participação”, acrescenta

às classificações de Bowman & Willis (2003), e de Brunns (2005), o conceito de interator,

proposto por Murray (2003), que destaca os processos interativos que a Internet e o

computador possibilitaram diante das narrativas tradicionais. Assim, juntando os conceitos

dos autores, ele propõe os seguintes níveis de “participação”, ou de engajamento, da audiência

na construção do noticiário:

Tabela 4 - Níveis de participação versus funções do público no noticiário colaborativo

Função da audiênciaNíveis de Participação

ExemplosBowman & Willis (2003) Bruns (2005)

Leitor ComentárioNoticiário fechado11

(Gatekeeping)

The New York

Times

Usuário Filtro e Edição

Noticiário Colaborativo12

(Gatekeeping fechado)Media Channel

Noticiário Colaborativo

(Gatewatching

supervisionado)

Slashdot.org

Interator

Registro flagranteNoticiário Aberto

Assistido pelo Editor13

VC no G1

VC Repórter

OhMyNews

Checagem de fatos

Apuração complementar

Notícias Open Source Noticiário Aberto14 IndymediaFonte: Madureira (2010, p.52).

Espiritusanto (2011) entende que a audiência pode “participar” de uma comunidade ou

de um meio por uma questão de ego, status ou reputação, assim como para criar conexões

com outros autores ou audiências; para crescer profissionalmente ou pessoalmente; para ter

11Para Bruns (2005), noticiários fechados são produzidos por aqueles veículos que só aceitam produção de conteúdos de suas afiliadas ou repórteres, ou seja, mantém-se o papel da audiência apenas como “receptora” de conteúdos.

12Bruns (2005), no que considera noticiário colaborativo faz a seguinte divisão: gatewatching fechado - são osobservatórios da imprensa que avaliam a qualidade das publicações noticiosas, só permitindo a publicação deconteúdo por afiliados, sejam jornalistas ou representantes da sociedade civil; o gatewatching supervisionado -são os sites que permitem um alto grau de participação dos usuários no envio de informações, mas nem todas sãopublicadas, já que os editores julgam se os conteúdos podem ou não ser destacados. Os comentários dosmateriais selecionados para publicação pelos editores são livres.

13Para Bruns (2005), os noticiários abertos assistidos pelo editor estão enquadrados entre os sites que reúnemuma equipe editorial que seleciona, edita e coordena o trabalho dos cidadãos-repórteres espalhados pelo mundo.

14Para Bruns (2005), os noticiários abertos são aqueles que a figura tradicional do editor é eliminada. Os portõesde entrada, saída e resposta da informação são completamente gerenciados pelos produsuários, termo quemistura produtores e usuários.

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impacto e amplificação das histórias que lhe interessam; por intercâmbio de conhecimento;

por solidariedade ou de maneira altruísta, para defender uma causa ou uma posição; ou ainda

para conseguir uma remuneração de seu conteúdo. Ele destaca alguns níveis de “participação”

dentro do ecossistema informativo que são relevantes para a construção de nosso conceito de

Audiência Potente.

Um desses primeiros níveis considerados por Espiritusanto (2011, p.15), diz respeito à

atuação da audiência nas redes sociais:

Los usuários pueden decir sobre una noticia “me gusta”, y estánparticipando; pueden comentarla, y esa participación aumenta y se amplía.Pero también pueden votarla en los diferentes medios que hay jerarquizaciónde noticias (Digg, Menéame…). Si tenemos en cuenta que la jerarquizaciónde la información es (o era) una de las funciones de los medios decomunicación y del periodista, aquí nos encontraríamos con que los usuariosestán realizando, en la actualidad, una labor que hasta ahora correspondía alperiodista tradicional.

A audiência, para Espiritusanto (2011, p.15-16), também pode “aportar material a un

medio, generar medios propios o compartir contenidos con otras personas”; além disso, pode

converter-se em “periodistas ciudadanos” por estar:

en el momento justo en el lugar preciso; de esta manera, gracias a latecnología que tengan a su alcance y al uso que sepan hacer de ella, podránrealizar fotos, vídeos, textos…, podrán compartirlos en las redes sociales, enTwitter, Facebook, YouTube, en los blogs, y amplificarlos en los medios decomunicación tradicional.

No que considera um grau maior de implicação, Espiritusanto (2011) afirma que a

audiência pode se converter em vigilante dos governos e dos meios de comunicação. Para

Espiritusanto (2011, p. 16) trata-se de “periodistas ciudadanos” comprometidos com uma

situação de injustiça, censura, etc.:

Estos usuarios suelen tener un mayor conocimiento sobre el uso de lasherramientas de participación y la tecnología. En general, se trata deactivistas y periodistas ciudadanos que saben cómo hacer llegar lainformación de una situación concreta a la agenda internacional. Casos comoo Irán, Túnez, o durante los terremotos de Haití, o Chile, reflejan a laimportancia de este tipo de comunicadores en línea, en los que la accióncoordinada de muchos informadores voluntarios acaba permitiendo tener unavisión pormenorizada de una situación concreta que, además, suele serdifícilmente accesible a los medios tradicionales. (…) Incluso últimamentevenimos observando lo que los medios y algunos gobiernos estándenominando “el efecto contagio”, como si de un virus o una gripe setratase; saber qué ocurre en un país determinado, a través de las redes

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sociales e Internet (por ejemplo, en Túnez), puede animar a otros colectivos,en otro país, a tomar ejemplo e intentar llevar a cabo algo similar (porejemplo no Egipto). Debido a esto, algunos gobiernos optan por tirar abajo ycensurar las redes móviles y fijas del país15

Por fim, em sua tipologia da “participação”, Espiritusanto (2011, p. 16) considera que

há “periodistas ciudadanos que saben cómo hacer llegar la información de una situación

concreta a la agenda internacional” e os que “deciden informar de los pequeños y grandes

hechos cotidianos que suceden en su comunidad, a sus vecinos, a los que viven dentro de ella

(ESPIRITUSANTO, 2011, p. 16)”. Trabalham com o tipo de informação denominada

“hiperlocal”16 (aspas do autor).

Compartilhamos com Espiritusanto (2011) a ideia de que a audiência pode, graças à

tecnologia que tenha a seu alcance e ao uso que saiba fazer dela, atuar no registro fotográfico,

de vídeo, de texto ou de áudio, assim como oferece uma enorme contribuição à democracia,

na medida em que atua como vigilante do poder ou dos meios de comunicação. No entanto,

como ressaltamos no início do capítulo, apesar disso não consideramos que ela desempenhe o

papel de jornalista cidadão, continuando, para nós, audiência, com múltiplas características, e

potente.

Dessa forma, não consideramos que nos veículos de referência a audiência atue na

edição dos conteúdos publicados (BRUNS, 2005), tão pouco na produção de notícias open

source (MADUREIRA, 2010). Ao relacionar-se com os veículos de comunicação de

referência, como destacamos neste trabalho, a Audiência Potente também não tem a

possibilidade de envolver-se de todas as formas consideradas por Bowman & Wills (2003).

Assim, quando caracterizamos Audiência Potente, não entendemos que ela faça a checagem

dos fatos, participe da produção open source de notícias com revisão e complementação por

pares (nos veículos de referência), bem como não atua no gerenciamento de conhecimento.

Um dos primeiros aspectos que consideramos na caracterização da Audiência Potente

é que para sua ação faz-se necessário que ela tenha acesso a dispositivos tecnológicos, tais

como computadores, celulares, smartphones, dentre outros. Com o acesso e habilidade para

usar os dispositivos tecnológicos é essencial que a Audiência Potente tenha também

conectividade, no sentido da “capacidad para enviar voz, texto, datos, gráficos, imágenes,

15Espiritusanto (2011) considera a rede de blogueiros do Global Voice, e os membros da plataforma em defesa dos Direitos Humanos, Witness, como esses cidadãos com um maior grau de implicação, funcionando assim como vigilantes do governo.

16Espiritusanto (2011) cita como exemplo de meios cidadãos hiperlocais a rede de Diarios Ciudadanos do Chile.

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vídeos y películas (...) por medio de una red multipunto, bidireccional y de banda ancha”

(MAJÓ, p.71). O acesso à tecnologia e à conectividade diferenciam as possibilidades de ação

da audiência. Como bem destaca Espiritusanto (2011, p. 15):

Se puede coordinar una acción colectiva contando con la participación de losusuarios a través de listas de correos, grupos de discusión, foros…, pero noserá una participación en tiempo real, o a través de las actuales herramientasen línea o redes sociales, como Twitter, Facebook, o Quora, que permitenofrecer respuestas e interacciones casi inmediatas.

Outro aspecto fundamental para a Audiência Potente é a interatividade. A Internet

permite que a Audiência Potente possa interatuar com os veículos de referência, tanto no que

Rost (2006) denomina como interatividade seletiva – que diz respeito à interação dos

indivíduos com os conteúdos (com a máquina ou com o sistema) – quanto na comunicativa –

que corresponde à interação dialógica entre indivíduos ou grupos de indivíduos em seus

contextos mais diversos, com seus diferentes repertórios interpretativos atuando em um

âmbito planetário.

Assim, com acesso e habilidade de uso dos dispositivos tecnológicos, conectividade, e

com a possibilidade de interatividade, a audiência passa a ter a possibilidade, não só de

ressignificar as mensagens que recebe, como de se envolver com os veículos de comunicação

das mais diversas formas.

Para nós, uma das características mais elementares, mas não menos importante, da

Audiência Potente é sua autonomia na apropriação do conteúdo, que leva em conta o

processo de escolha de quando e onde disporá do conteúdo noticioso. Não é preciso mais estar

pontualmente às 20 h diante da televisão para assistir o telejornal brasileiro de mais tempo no

ar, tão pouco é preciso estar no Brasil para ter acesso a essas informações. Ou seja, o tempo

de receber a informação, assim como o espaço onde a informação circula, não são mais os

mesmos da era analógica. Os dispositivos também são diversos. Voltando ao exemplo do

telejornal, podemos assisti-lo na sala diante do aparelho de TV e na Globo, e também no

celular ou no laptop, acessando redes sociais como, por exemplo, o youtube. A audiência tem

todo um processo decisório de apropriação do conteúdo (o que, quando, onde e com que

dispositivo), que pode impactar, por exemplo, na definição dos ratings (audiência média), que

são vendidos pelas empresas de comunicação aos anunciantes.

Outra característica da Audiência Potente é a capacidade de reação imediata aos

conteúdos que lhe são apresentados. Isso possibilita que os veículos de comunicação tenham

um extrato em tempo real do que alguns membros de sua audiência estão refletindo sobre as

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notícias veiculadas. A audiência, com característica de reação, atua comentando as notícias,

complementando-as e até corrigindo-as, e, muitas vezes, com um olhar crítico para o tipo de

abordagem utilizada pelo veículo de comunicação. Durante a pesquisa, observamos várias

situações onde a audiência reagia fortemente à abordagem do veículo de comunicação. Uma

delas foi a notícia do Jornal do Commercio: “Descontrolado, filho mata os pais e depois tenta

suicídio17 veiculada no dia 27 de fevereiro de 2012. A audiência reagiu à maneira como o

jornal associava o crime ao fato de ser praticado por um filho adotivo. Um dos exemplos foi

publicado no próprio espaço aberto à audiência pelo Jornal do Commercio, o “Voz do Leitor”.

Intitulado “Crime e preconceito”, o artigo escrito pelo leitor Carlos Frederico Queiroz

questionava:

(...) esse caso, verifiquei mais uma forma de violência: o preconceito! Porque este ilustre Jornal e outras mídias ao noticiarem o fato, dizem emdestaque que o filho era “adotivo?” Será que o filho adotivo é menos filho?Para o Jornal, filiação é sinônimo de filiação biológica? Esta seria umaasserção que pode ser sustentada sem prejuízo dos referenciais simbólicosque sustentam os laços sociais? Ou será que só filhos adotivos matam ospais? Parece que não é isso que vemos nos jornais todos os dias! Aocontrário, a proporção é bem maior na “legitimidade”, não é mesmo? E porque quando se noticiam essas notícias não colocam: “Filho legítimo matapais?”(VOZ DO LEITOR, JORNAL DO COMMERCIO, 2012)18.

Além da capacidade de filtro e da capacidade de reagir aos conteúdos publicados pelo

veículo de comunicação, pode ser uma característica da Audiência Potente o envolvimento,

no acontecimento, como testemunha, na maioria das vezes sendo a única presença a dar uma

versão dos fatos. Ela pode conferir a sensação de maior veracidade à notícia. Não é de todo

novidade a presença da testemunha do acontecimento no produto noticioso. A diferença agora

é que essa testemunha tem acesso a dispositivos, que podem captar aquele acontecimento em

diversas mídias (áudio, vídeo e fotografia), e facilidade de distribuição do que é captado,

podendo fazer uma transmissão em tempo real. Geralmente, a Audiência Potente que tem a

característica de testemunha, tem também a característica de coprodução, uma vez que, em

uma sociedade que valoriza cada vez mais a exposição, não basta apenas presenciar um

acontecimento, mas registrá-lo, distribuí-lo e, preferencialmente, exibi-lo em redes sociais.

17.http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/policia/noticia/2012/02/27/ descontrolado-filho-mata-os-pais-e-depois-tenta-suicidio-33554.php

18 http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/voz-do-leitor/noticia/2012/03/01/crime-e-preconceito-34057.php

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Com a capacidade de coprodução, a Audiência Potente, que está no Facebook e no

Twitter, e se envolve com os veículos de referência, pode trazer para a redação registros

fotográficos, vídeos e textos. Esses últimos são apropriados pelos veículos de diversas formas:

como sugestão de pauta; como respostas a sondagens para municiar os veículos sobre como

pensa a audiência em relação a determinado assunto; como questionamento e crítica à falta de

determinados assuntos no noticiário; como opinião sobre determinado tema trabalhado pelos

veículos de referência. A audiência coprodutora vem, por meio do uso de suas câmeras,

celulares ou máquinas fotográficas digitais, dialogando com os jornalistas que trabalham em

várias mídias (Internet, rádio, jornal ou televisão), e também com outros cidadãos (VIZEU;

MESQUITA, 2011).

Na observação do jornal espanhol La Vanguardia, trazemos o caso de um leitor que

ficou sem condição de sair de Guiné Bissau, em virtude de um golpe de Estado, e que relatou

em tempo real o anúncio do golpe, a manifestação da população nas ruas, sua própria

dificuldade de sair do país africano, e seu estresse diante da situação. Essa forma crescente de

captar eventos cotidianos e disponibilizá-los na Internet passa a ser tão frequente no cotidiano

das pessoas que nem mesmo as situações mais inusitadas deixam de ter algum registro, como

observamos no decorrer da pesquisa. Embora não faça parte do corpus da tese, mas só como

ilustração, um desses registros foi feito pelo norte-americano Ferdinand Puentes, de 39 anos, e

obtido pela rede ABC News, no momento da queda de um avião no Havaí, que deixou uma

mulher de 65 anos morta, em dezembro de 2013. O UOL Notícias (2013)19 relata:

Imagens feitas com uma câmera GoPro, pelo norte-americano FerdinandPuentes, de 39 anos, mostra um relativo cenário de calma, mesmo quando oalarme do avião soa e a água invade a fuselagem. Puentes se agarrou a umadas asas do avião e registrou a tranquilidade com que os demais passageirossaíram da aeronave e flutuaram no mar agitado. Ele também aproveitou paratirar uma foto de si mesmo usando um salva-vidas amarelo.

O parto de Ruth Lorio foi outro registro relatado com riqueza de detalhes e fotos pela

própria parturiente, no Twitter, resultando na “notícia” Una mujer relata en directo por Twitter

su parto de 12 horas, veiculada no lavanguardia.com, no mesmo dia do registro da queda do

avião. No texto, o La Vanguardia traz a explicação de Ruth Lorio para estar “tuitando” no

momento do parto: “me está ayudando mucho poder moverme. No puedo imaginarme estar en

19Veiculada por várias empresas de comunicação de todo o mundo, a notícia “Passageiro registra queda de avião e faz “selfie” no mar do Havaí” saiu também no UOL Notícias, no dia 13 de janeiro de 2014, no endereço http://mais.uol.com.br/view/1575mnadmj5c/passageiro-registra-queda-de-aviao-e-faz-selfie-no-mar-do-havai-0402CC193068C8C14326?types=A&

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una cama con una vía intravenosa. Sería un palo. Tuitear también me ayuda. Las distracciones

son buenas" (LAVANGUARDIA.COM, 2013)20.

Interessante, neste exemplo do parto, que as características da audiência que

testemunha um acontecimento, fazendo questão de relatá-lo e de divulgá-lo, se misturam com

a característica de reação da audiência. Reproduzimos abaixo dois comentários à notícia do

parto, nos quais a audiência reagia ao espaço dado pelo veículo de comunicação ao evento:

Lamentable twits; lamentable noticia. Lamentables followers (JORDI12,2013);

Lo lamentable, es que alguien como este periódico lo publique, así cada díase verán más excentricidades (MECA, 2013).

Dessa forma, essa audiência, que denominamos potente, pode manifestar diversas

características, como a sua formação em redes, o que possibilita aos veículos de comunicação

informações de diversos lugares no mesmo momento. Essa interatividade veículo-audiência,

manifestada na forma de diálogo entre o jornalista da redação e a audiência distribuída nos

diversos cantos do mundo, aumenta a rede de fontes do veículo de comunicação, ao mesmo

tempo em que amplia a visibilidade dos conteúdos, não mais restritos a uma divulgação pelos

veículos de comunicação de referência, mas circulando em outros espaços, como por

exemplo, nas redes sociais. Um exemplo desse acréscimo de “olhares seletivos da realidade”,

que analisamos em um artigo publicado na reunião anual da SBPJor (MESQUITA et al.,

2011), aconteceu em fevereiro de 2011, quando uma falha numa subestação em Pernambuco

ocasionou o desligamento das usinas que fazem o abastecimento de energia nos estados de

Sergipe, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, deixando por

quase três horas, durante a madrugada, boa parte do Nordeste sem energia elétrica.

Portais, jornais impressos e telejornais foram informados por meio do Twitter, uma vez

que os termos “apagão” e “Chesf” figuraram entre os dez assuntos mais comentados da rede

social, no mundo todo. Além de serem pautadas pelo microblog, as matérias desses veículos

também foram construídas com base nos depoimentos de 140 caracteres dos tuiteiros, como

foi o caso da versão online de O Globo (“No Twitter, relatos de quem sofreu com o apagão e a

falta d'água”)21, do portal UOL (“Com apagão, calor e muriçocas acabam com o sono dos

20A “notícia” Una mujer relata en directo por Twitter su parto de 12 horas está disponível em http://www.lavanguardia.com/vida/20140113/54398054697/mujer-twitter-parto.html

21Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/02/04/no-twitter-relatos-de-quem-sofreu-com-apagao-a-falta-agua-923734534.asp>. Acesso em 21 jul 2011.

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nordestinos, que reclamam via Twitter”)22 e do Estadão (“Apagão atinge parte do Nordeste.

Relatos dos internautas sobre o apagão pelo @estadao”)23.

A proposta inicial do Twitter de responder à pergunta “What are you doing now?”

ganhou força e, sem que necessariamente percebesse, cada tuiteiro ia colaborando com a

cobertura. Durante o apagão, a conta @JornalOGlobo passou a dialogar com internautas de

vários estados atingidos, que informavam como estava a situação, diretamente de suas

regiões. As informações eram repassadas pelo perfil a seus seguidores. Que redação teria,

naquela como em qualquer outra madrugada, dezenas de correspondentes a postos?

(CARVALHO, 2011). O exemplo da cobertura do apagão mostra como os veículos de

referência estão tendo, a cada dia, que lidar com a voz amplificada de uma Audiência

Potente, que traz olhares diversos sobre o mundo em seu entorno, contribuindo para a

construção da realidade.

Essa audiência formada em rede apresenta-se também com uma possibilidade de

influenciar seus pares, podendo mudar os processos de formação de opinião pública. Majó

(2012, p. 84) exemplifica:

El error informativo cometido por el Gobierno español los dos días despuésde los actos terroristas ocurridos en Madrid, en marzo de 2004, quecambiaron el resultado de las elecciones y, en sentido inverso, la influenciadecisiva de la red en las elecciones norteamericanas de 2008 o en lassublevaciones del norte de África de 2011, muestran esta tendencia haciaunos espacios de comunicación mucho más abiertos, participativos y inclusodemocráticos, que más se intensificarán y más cambios van a suponer en lavida social.

Cientes da capacidade de distribuir, fazer circular os conteúdos e, consequentemente,

da capacidade de propagação dessa Audiência Potente, os veículos de comunicação utilizam

estratégias para “viralizar” seus conteúdos noticiosos. Também no capítulo sobre o

lavanguardia.com, vamos discutir sobre a “viralização” da notícia, mostrando dois exemplos

de como a comunnity manager do jornal trabalha os conteúdos com o objetivo de trazer mais

visibilidade para o veículo.

22Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/02/04/com-apagao-calor-e-muricocas-acabam-com-o-sono-do-nordestinos.jhtm>. Acesso em 21 jul 2011

23Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,apagao-atinge-parte-do-nordeste,675157,0.htm>. Acesso em 21 jul 2011

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Tecnológica - para a ação da Audiência Potente faz-se necessário que ela disponha de dispositivos

tecnológicos, tais como, computadores, celulares, smartphones, dentre outros;

De conectividade - Com o acesso e habilidade para usar os aparatos tecnológicos, é essencial que a

Audiência Potente tenha também conectividade, no sentido da “capacidad para enviar voz, texto,

datos, gráficos, imágenes, vídeos y películas(...) por medio de una red multpunto, bidireccional y de

banda ancha”(Majó, p.71);

De interatividade - A Internet permite que a Audiência Potente possa interatuar com os veículos de

referência;

De autonomia na apropriação do conteúdo – é a capacidade de escolher o que quer dispor do

conteúdo noticioso, quando, onde e como;

De rede – funciona quantitativamente, possibilitando aos veículos de comunicação ter informações de

diversos lugares ao mesmo tempo e ampliando a visibilidade dos conteúdos;

De testemunha - está envolvida no acontecimento e pode dar sua própria versão dos fatos;

De coprodução - fornece conteúdos (vídeos, áudios e fotos) que são utilizados pelo jornalismo;

De vigilância – atua vigiando, tanto os governos, quanto os meios de comunicação;

De reação - reage, por meio de críticas e/ou comentários às notícias;

De propagação - possui velocidade informativa;

De amplificação – une velocidade informativa a ressignificação do conteúdo.Figura 1- Quadro com as características da Audiência Potente.Fonte: autora da tese

3.3 Os aspectos considerados na proposta de definição da Audiência Potente

Denominamos Audiência Potente esse novo agente que se envolve ou é envolvido

nos processos, práticas e rotinas jornalísticas possuindo: capacidade de propagação da

informação, não necessariamente notícia; capacidade de ação, possibilitada pelo acesso aos

meios de produção; capacidade de transformação, na medida em que muda sua forma de ação

e de comportamento ao longo do tempo, dependendo de condições culturais, econômicas,

sociais, tecnológicas, dentre outras; e capacidade de amplificação, na medida em que

ressignifica o conteúdo, por meio de comentários, opiniões e novos olhares sobre o assunto,

reverberando-o nas redes. Essa última capacidade pode servir como norteador do que querem

e do que pensam esses cidadãos e cidadãs que se envolvem com os meios de comunicação.

Com a emergência da Audiência Potente, a escolha do que é notícia não é só feita de

uma forma presumida, uma vez que ela fornece indicativos de interesses, que vêm sendo

apropriados pelo jornalismo na construção da notícia.

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No conceito de Audiência Potente consideramos dois entendimentos de potência. O

primeiro no sentido Aristotélico, segundo o qual potência seria o que não existe realmente

num determinado momento, ou não está sendo realizado naquele momento, mas pode vir a

existir ou vir a ser realizado (em ato). O segundo no sentido das Ciências Naturais, que

estabelece o conceito de potência como trabalho realizado, num dado período de tempo.

Assim, se um mesmo trabalho é realizado em um tempo menor houve um uso maior de

potência. Tempo (velocidade) é um fator fundamental no conceito de potência para as

Ciências Naturais.

Escolhemos, neste contexto a palavra capacidade para unir os dois entendimentos de

potência (o Aristotélico e o das Ciências Naturais). Portanto, capacidade pode ser uma forma

do vir a ser da audiência, aquilo que ela tem em potência e que pode realizar em ato. E por

outro lado, capacidade pode significar o trabalho que a audiência realiza, mas com um sentido

sempre presente de velocidade em sua realização. Assim, por exemplo, se uma parte da

audiência decide utilizar sua capacidade de propagação de uma determinada notícia, então, ela

é propagadora da notícia em ato (sentido aristotélico), mas ao mesmo tempo ela realizou um

trabalho de propagar essa notícia para centenas de milhares de pessoas, em pouquíssimo

tempo (segundo entendimento de potência).

A capacidade de transformação se dá quando a audiência muda sua forma de ação e

seu comportamento ao longo do tempo. Ou seja, as características e a potência da audiência

de 50 anos atrás não são as mesmas de hoje. É importante ressaltar que a audiência pode

sempre usar uma ou mais de uma das suas capacidades. Uma hora a audiência pode ser

reativa, outra hora pode ser amplificadora, ou mesmo a combinação de todas essas

características. No entanto, a Audiência Potente pode modificar ao longo do tempo as suas

características e capacidades dependendo de condições culturais, econômicas, sociais,

tecnológicas, dentre outras.

Essa capacidade de transformação pode ser observada também na atuação da

Audiência Potente, quando ela traz novos agentes para o universo midiático, num embate

para que outros olhares sejam veiculados pelos meios de comunicação de referência. Dito de

outra forma, a Audiência Potente vem modificando não só a pauta dos jornais, rádios e

emissoras de televisão – colocando na esfera midiática novos assuntos, quebrando a

hegemonia das vozes institucionalizadas que são fontes para o jornalismo, e alterando alguns

valores-notícia – , como também as relações veículos-consumidores da informação.

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Mas toda essa mudança que a Audiência Potente vem produzindo na relação com os

veículos de comunicação só é vultuosa por três aspectos que consideramos em nossa

conceituação de Audiência Potente: a capacidade de propagação da informação, não

necessariamente notícia; a capacidade de ação, possibilitada pelo acesso aos meios de

produção e a capacidade de amplificação.

Com a Internet, os novos dispositivos tecnológicos (celulares, tablets) e as redes

sociais, a Audiência Potente consegue propagar um maior número de informações num

menor espaço de tempo, sem que emita nenhum juízo de valor sobre aquela informação. O

que antes poderia significar anos, agora depende de um click na tecla enviar de um

computador ou qualquer dispostivo móvel conectado a Internet.

Para tentar exemplificar nossa construção, aproximamo-nos da definição de potência

trabalhada pelas Ciências Naturais. Entendemos ser natural que as ciências busquem

conceitos de outras áreas e tragam-nos para o seu domínio, obviamente com o maior cuidado

e rigor acadêmico. A ideia de aproveitar conceitos das Ciências Naturais para as Ciências

Humanas não é nova. Já foi feita por teóricos como Bourdieu (1993) que, ao elaborar o

conceito de campo, tão apropriado pelo jornalismo, fundamentou-se no campo de força da

física, aproveitando-se de termos como refração e reflexo (BOURDIEU, 1993, p. 262,

249-250):

(...) O campo literário (...) é um campo de forças a agir sobre todos aquelesque entram nele (...)

(...) O grau de autonomia do campo pode ser medido pela importância doefeito de retradução ou de refração que sua lógica específica impõe àsinfluências ou aos comandos externos, e à transformação, ou mesmotransfiguração, por que faz passar as representações religiosas ou políticas eas imposições dos poderes temporais (a metáfora mecânica da refração,evidentemente muito imperfeita, vale aqui apenas negativamente paraexpulsar dos espíritos o modelo, mais impróprio ainda do reflexo (...).

Em nosso programa de pós-graduação, a pesquisadora Águeda Cabral foi para a

computação para conceituar Realidade Expandida. Afirma Cabral (2012 p. 22-23):

O termo Realidade Expandida é utilizado com inspiração na realidadeaumentada da computação, que ainda não tem uso efetivo e rotineiro notelejornalismo, embora acreditemos que, em breve, essa abordagem dacomputação deverá estar disponível também para uso na edição dostelejornais.

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Então, assim como Cabral (2012), que foi para a computação a fim de conceituar

Realidade Expandida, inspiramo-nos nas Ciências Naturais para trazer a discussão sobre

potência no jornalismo, nesse momento em que a audiência é envolvida na produção da

notícia. Potência pode ser entendida como sendo a razão entre um determinado trabalho

realizado, pelo tempo de realização deste trabalho. Assim, se um mesmo trabalho é realizado

em um tempo menor houve um uso maior de potência. Para clarear mais o conceito, vamos

usar o exemplo de um carro. Quando afirmamos que um carro tem maior potência, estamos

dizendo que ele consegue atingir uma maior velocidade no mesmo intervalo de tempo que

outro carro. O exemplo é perfeito para ilustrar nossa construção da hipótese da Audiência

Potente, no sentido de capacidade de propagação da informação. Assim como o carro potente

consegue atingir uma maior velocidade em um menor intervalo de tempo, com a Internet, os

novos dispositivos tecnológicos (celulares, tablets) e as redes sociais, a Audiência Potente

consegue propagar um maior número de informações num menor espaço de tempo, com um

esforço mínimo, como por exemplo, o de apertar uma tecla do computador ou de um

dispositivo móvel qualquer.

A maioria das redes sociais, como destaca Telles (2010), contém o conceito de um

grupo - um conjunto de pessoas unidas com um interesse comum. Os membros do grupo

interagem compartilhando informações, discutindo ou enviando mensagens privadas para um

determinado integrante, e podem ainda promover mobilizações que, no nosso entendimento,

podem ser presenciais, no sentido de manifestações organizadas pela rede e realizadas em dia

e local determinados, como também no sentido de formar um grupo de pressão, que não vai

necessariamente às ruas, mas que na própria rede exerce uma influência sobre instituições ou

empresas. E aí entra nosso segundo argumento para a conceituação da Audiência Potente:

sua capacidade de amplificação.

Espaços essencialmente conversacionais, as redes sociais têm a possibilidade de

amplificar as vozes da audiência. Portanto, ao usar a capacidade de amplificação, a audiência

ressignifica o conteúdo, por meio de comentários, opiniões e novos olhares sobre o assunto,

que é reverberado nas redes, oferecendo um extrato do que querem e do que pensam esses

cidadãos e cidadãs que se envolvem com os meios de comunicação. A capacidade de

amplificação pode constituir-se em uma expressão da inteligência e da consciência coletivas.

Por fim, a capacidade de ação pode ser entendida como a possibilidade da Audiência

Potente testemunhar e coproduzir conteúdos, além de vigiar (denunciando atividades públicas

ou privadas ilegais, abusivas ou insatisfatórias) e reagir (a notícias que violem valores sociais

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e ou culturais). Há nessa capacidade uma mistura do interesse público com o interesse da

audiência. A

Acerecho e Ayerdi (2012, p.194) consideram que as redes sociais “son las plataformas

sociales más populares y de mayor éxito para llevar a cabo la función dialógica, que permite

que se establezca una conversación a tiempo real entre dos o más personas”. Para eles, as

notícias se convertem em foco de debate entre os cidadãos, e as plataformas onde se debatem

as questões sociais, em sua maioria, são as redes sociais, que se transformam em plataformas

de apoio ou repulsa. Diante dessa possibilidade de dialogicidade, Juan Varela entende que o

jornalismo se converteu “en una conversación de la que los ciudadanos más activos no

quieren estar ausentes” (VARELA, 2005).

3.4 Redes sociais: um dos espaços de manifestação da Audiência Potente

Não ficando restrita aos espaços designados para participação nos jornais, a relação

veículos-audiência começou a se complexificar com o crescimento das redes sociais24, a partir

de 2008. A título de ilustração, só para se ter ideia do crescimento das redes sociais no Brasil,

em um artigo da Forbes, intitulado "O Futuro das Mídias Sociais? Esqueça os EUA, olhe para

o Brasil"25, é destacado que temos 65 milhões de usuários no Facebook, em segundo lugar

atrás apenas dos Estados Unidos; 41,2 milhões de usuários no Twitter, também atrás apenas

dos Estados Unidos; assim como o segundo maior mercado do Youtube, atrás também dos

norte-americanos apenas. Isso sem contar os 15 milhões de usuários do Linkedin (em terceiro

lugar atrás dos Estados Unidos e da Índia) e outras redes.

Além de crescer sem parar, as redes sociais são “muito importantes” para os

brasileiros, de acordo com um estudoe da Ipsos ITOX Ipsos Global @dvisor26, que realizaram

24A definição de rede adotada pela pesquisadora brasileira Raquel Recuero, que lançou, em 2009, o livro Redes sociais na Internet, é “uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores” (RECUERO, 2009, p.24). Para ela, “a abordagem de rede tem seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais, nem suas conexões”(RECUERO, 2009, p. 24). Wasserman e Faust (1994), assim como Degenne e Forsé (1999), entendem que uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos, os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais). Há autores com definições mais simples: “Quando uma rede de computadores conecta uma rede de pessoas e organizações, é uma rede social”( GARTON, HAYTHORNTHWAITE E WELLMAN, 1997, p.1).

25Disponível em http://www.forbes.com/sites/ciocentral/2013/09/12/the-future-of-social-media-forget-about-the-us-look-to-brazil/

26Dados disponíveis em http://www.emarketer.com/Article/Latin-Americans-Give-Strong-Seal-of-Approval-Social/1010322

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uma pesquisa, em julho de 2013, com usuários ao redor do mundo. O resultado do estudo

mostrou que, no Brasil, praticamente quatro a cada dez usuários consideram as redes sociais

“muito importantes”. Esse número ficou em 28% no México e em 27% na Argentina. Em uma

escala de 1 a 5, onde 1 era “Nada importante” e 5 “Muito importante”, outros 24% dos

usuários brasileiros responderam com a pontuação 4 e outros 27% com pontuação 3. Apenas

10% dos usuários responderam com os números 1 ou 2, indicando baixa importância das

redes sociais.

O Brasil, ainda de acordo com a pesquisa, impressiona também pelo tempo médio

gasto pelos usuários nas redes. No Facebook, o tempo médio gasto entre os brasileiros

aumentou 208% em 2013 (com relação ao ano anterior), chegando a 535 minutos por mês.

Do ponto de vista de negócios, apesar das redes sociais se apresentarem como serviços

de acesso gratuito, são empresas, muitas delas como o Facebook, com ações na bolsa de

valores. Cobo (2012) ressalta que, embora algumas redes experimentem um modelo de

negócio “freemiun” (no qual, para a maioria dos usuários, o acesso à rede é gratuito, pagando

um “servicio de subscripción” os que querem disfrutar de opções de mais valor), o que é

mesmo mais apreciado, nas redes sociais, são os dados pessoais (de onde somos, nossa idade,

onde trabalhamos, o que gostamos de fazer nas horas livres, se temos ou não filhos, etc.).

“Todos esses dados permitem fazer uma segmentação publicitária muito valiosa. (...) Assim,

não podemos dizer que as redes sociais, nem muitos serviços da web são grátis, porque

estamos dando algo em troca: nossos dados e nosso tempo” (COBO, 2012, p.104 -105).

Há muitas formas de classificar as redes sociais, sendo a mais básica a distinção entre

as redes horizontais e as verticais. As primeiras se dirigem, como afirma Cobo (2012, p. 102)

“a uma audiência generalista, não tem temática definida e agrupa pessoas que normalmente se

conhecem, e que são unidas por laços de amizade. O exemplo mais claro é o Facebook”. Já as

redes verticais são “as que têm um tema que aglutina seus usuários, que podem conhecer-se

ou não, havendo sempre um fio condutor na relação. Um exemplo é o Linkedin, uma espécie

de Facebook profissional” (COBO, 2012, p. 102).

É complexo fazer uma lista de redes sociais ativas. Segundo Cobo (2012), havia mais

de 300 catalogadas no ano de 2012. Mas nesta pesquisa, nos centraremos em duas redes, que

foram apontadas como as mais utilizadas pelos veículos analisados: o Facebook e o Twitter.

Criado em 2004, pelo jovem universitário Mark Zuckenberg, o Facebook pretendia

que os estudantes de Harvard pudessem assinalar quem eram seus amigos, publicamente e

online. Atualmente, figurando como a maior rede social do mundo, com mais de um bilhão de

usuários, o Facebook converteu-se, para Cobo (2012), “em uma espécie de herdeiro da lista

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telefônica, que havia em todo lugar, antes da Internet, permitindo conectar as pessoas. Agora,

basta fazer uma busca no Facebook para encontrar velhos companheiros de colégio e antigos

namorados e namoradas”( COBO, 2012, p. 107). No jornalismo, o uso do Facebook é feito

geralmente como agregador de notícias, como plataforma de difusão de informação e até

como uma forma de captar leitores (RODRIGUES, 2011).

O Twitter, conforme Tosat e Catalan (2012), começou como um projeto empresarial

que facilitaria a comunicação interna de seus empregados, em março de 2006. Mas a

popularidade do microblog foi tanta que ele foi lançado ao público em outubro de 2006 e dois

anos depois, em novembro de 2008, já se contabilizavam 1 bilhão de tweets. Um dos feitos

mais significativos do Twitter, segundo Tosat e Catalan (2012), aconteceu em janeiro de 2009,

quando um avião caiu no Rio Hudson, nos Estados Unidos. A primeira informação que

difundiu o acontecimento foi repassada por um usuário do microblog. Usado das mais

diversas formas no jornalismo (alerta, bastidores, feed, cobertura, pessoal, misto, notícia curta

e programação), o Twitter, é estruturado, de acordo com Recuero (2009, p.174), a partir de:

seguidores e pessoas a seguir onde cada twitter pode escolher quem desejaseguir e ser seguido por outros. Há também a possibilidade de enviarmensagem em modo privado para outros usuários. A janela particular decada usuário contém, assim, todas as mensagens públicas emitidas poraqueles indivíduos a quem ele segue.

Cobo (2012), sem se deter em uma ou outra rede, mostra alguns usos que os jornalistas

podem fazer da rede social, além da conversação pessoal. São eles: distribuição de conteúdos,

promoção do meio, alerta de notícias, investigação de temas, ideias para temas, contato com

as fontes, busca de testemunho e solicitação de opinião sobre um tema. A autora ainda

acrescenta que as redes sociais são espaços usados também para pedido de conselho em

alguma dificuldade técnica, construção e reforço de uma rede de contatos para os jornalistas.

A incorporação de redes sociais como o Twitter e o Facebook às rotinas das redações

levaram as organizações midiáticas, de início, a trilhar dois caminhos: o de reprodução do

modelo de transmissão massiva, com o uso de perfis, principalmente do Twitter e do

Facebook, para propagar informações, através de sistemas automatizados27; e o da busca de

um maior contato com a audiência. Os veículos que apostaram nessa interação com a

audiência adequam-se ao que é próprio das redes sociais, ou seja, estimular a conversação

(MARTINS, 2011).27Nos sistemas automatizados, a cada publicação de notícia, é lançado, automaticamente, na rede social, o título eo link da notícia, sem nenhuma mediação humana.

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A conversação em tempo real possibilitada pelas redes sociais leva ao envolvimento da

audiência como um agente que pode contribuir com as empresas jornalísticas. Brambilla

(2011) afirma que o ponto de virada do jornalismo colaborativo para o jornalismo nas mídias

sociais se dá a partir do momento que o usuário deixa de bater a porta de um veículo

oferecendo o seu conteúdo para publicação, passando a ser procurado pelo veículo, que está

em busca de um conteúdo diferenciado e com alto teor de noticiabilidade.

Para Brambilla (2013), as redes sociais e o jornalismo devem caminhar considerando

igualmente três aspectos: a ativação (postagens), a produção de conteúdo e o relacionamento.

Segundo ela, o relacionamento, que deve ser mais transparente e humano, não pode ser

pensado somente para buscar a participação do outro, mas tem que engajá-lo e envolvê-lo. O

jornalismo também precisa ter a mesma linguagem dos usuários das redes sociais

(BRAMBILLA, 2013).

Segundo Cobo (2012), Facebook e Twitter dominam hoje o panorama das redes

sociais, mas não são iguais, principalmente na relação com o jornalismo. A autora espanhola

aponta cinco diferenças entre o Facebook e o Twitter. A primeira delas é que o Facebook é

muito mais popular que o Twitter, sendo convertido em uma espécie de mass media. Apesar

disso, Cobo (2012) afirma que na hora de buscar informação, o Twitter é melhor, já que há

mais informação pública, ou seja, no Facebook pode haver restrições de acesso à informação

publicada na maioria dos perfis.

No contato com as fontes, Cobo (2012) entende que, devido à popularidade do

Facebook, é mais provável que uma fonte utilize esta rede social e que o jornalista possa

contactá-la como se fosse um correio eletrônico.

No Facebook, de acordo com Cobo (2012), as pessoas se movem em geral por

relações de amizades, que também existem no mundo “real”. No Twitter, pelo contrário, é

mais habitual que as pessoas se centrem por uma temática e sejam capazes de atrair a outros

que se interessam pelo mesmo tema, sem necessidade de que se conheçam na vida real

(COBO, 2012).“O Twitter ainda pode se converter em um sistema de notícias personalizado

sem necessidade da audiência publicar nem uma só mensagem. Existe uma grande quantidade

de usuários no Twitter que se dedicam tão só a ‘olhar’ e ‘informar-se’” (COBO, 2012, p. 114).

Ainda entre as diferenças, Cobo (2012) destaca que o Twitter, por não exigir

reciprocidade, é útil para “seguir” pessoas ou marcas sem a necessidade de que o jornalista

seja “aceito”. Tanto que o Facebook atento a essa facilidade do Twitter já permite subscrever

as pessoas sem necessidade de que elas sejam “amigos”.

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O ritmo de atualização das duas redes sociais também se diferencia. O Twitter prima

pela “última hora”. As mensagens nesta rede conversacional têm uma vida curta, já que a

timeline avança e é fácil perder-se a visibilidade das mensagens. Já o Facebook permite uma

visibilidade do conteúdo por um tempo maior, uma vez que nem todas as atualizações dos

“amigos” entram na nossa timeline. Isso acontece porque o Facebook, devido ao alto número

de notificações geradas, decidiu introduzir um algoritmo (Edgerank) para dosar o número de

atualizações que aparecem na nossa timeline (COBO, 2012). Com o Edgerank, o Facebook

tenta mostrar-nos somente aquelas publicações que crê que nos podem interessar mais,

analisando a afinidade do usuário com as publicações, sua relevância, quantas interações

geram e a antiguidade das publicações, favorecendo as mais recentes (COBO, 2012). Para que

os veículos de comunicação tenham um Edgerank mais elevado e, portanto, suas publicações

desfrutem de uma maior visibilidade nos perfis de seus seguidores, COBO (2012) recomenda

que os meios promovam uma interação dos usuários com seus conteúdos no Facebook.

As mudanças entre o Twitter e o Facebook apontadas por Cobo (2012, p.114) não se

esgotam, porque a cada dia estas diferenças podem mudar, uma vez que: “ambas as redes

estão metidas em uma espiral de mimetização de final incerto”. A autora exemplifica

mostrando que o Facebook “copiou a timeline do Twitter, e este fez o mesmo com o feed de

interações do Facebook” (COBO, 2012, p. 114). Em janeiro de 2014, o Facebook incorporou

os Trending Topics (TTs)28, similar ao que faz os TTs do Twitter.

3.5 A Audiência Potente e as mudanças no jornalismo

Está nas redes sociais o que denominamos Audiência Potente. E essa audiência que

utiliza as redes sociais vem se envolvendo, e sendo envolvida, pelos veículos de comunicação

de referência, trazendo novos elementos para o jornalista na construção social da realidade.

Como dissemos no início deste capítulo, a Audiência Potente não desempenha o

papel de jornalista, mas produz mudanças importantes no jornalismo, afetando o profissional,

a produção noticiosa e as empresas de comunicação.

Os profissionais entrevistados neste trabalho entendem que a Audiência Potente vem

complementar sua produção, colaborando, informando, trazendo novos olhares e muitas vezes

norteando as decisões. Mas lidar com a Audiência Potente exige uma mudança de postura.

28Notícia disponível em http://www1.folha.uol.com.br/tec/2014/01/1398579-facebook-tera-trending-topics-de-posts.shtml

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A primeira delas é ter clareza de que a Audiência Potente estabelece com os veículos

de comunicação um diálogo. Não há uma unidirecionalidade dos conteúdos (veículos de

comunicação-audiência), mas uma bidirecionalidade (veículos de comunicação-audiência e

vice-versa). Nessa via de duas mãos, a audiência não pode ser tratada “no automático”. As

perguntas feitas devem ser respondidas, as insatisfações consideradas, as sugestões checadas.

Os “olhares” desse novo agente “obrigam” o jornalista a rever seu processo produtivo. O

periodista 1 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) fez uma reflexão sobre esse novo momento:

Antes das redes sociais, tínhamos as fontes oficiais, nossos própriosjornalistas e as agências de notícias. Não eram as pessoas comuns eestávamos cômodos aí. As agências só se dirigiam aos meios, as pessoas nãotinham em sua casa acesso aos conteúdos das agências. Isso só tinham osmeios. Os contatos com as fontes oficiais também só tinham os meios,tampouco as pessoas. E estávamos sós, num mundo bastante tranquilo ecômodo. E o que acontece agora com as redes sociais? O que revolucionou?Todo mundo pode emitir a informação em qualquer momento e rapidamente.Fazendo com que o jornalista deva esforçar-se muito mais em contrastar essainformação. Chega um tuíte dizendo que há uma explosão, e esse tuíte estásendo visto por todo mundo, já não é só uma agência, nem só um veículo decomunicação, não, não! Há uma explosão e todo mundo tem acesso. E o queacontece é que tens que correr mais para chegar primeiro, porque todos estãocom acesso àquela informação. Não só os meios competidores, mas opúblico. O público já te exige: há uma explosão e o que estás fazendo, tujornalista, que não me contas, que não me explicas o que está havendo? Eisso criou um estresse de estar sempre conectado, sempre esperando o queexiste (...).

Nessa rotina frenética, o jornalista, além do estresse, da cobrança e da corrida pelo

“furo”, vê-se, como destaca o periodista 1 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL):

num esforço em responder e errando mais. Porque é preciso reconhecer quecometemos mais erros agora do que antes, por essa pressão de querer ser osprimeiros e do público estar exigindo explicação, informações... Tudo issomudou o trabalho jornalístico na medida em que alguém está fazendo umanotícia e salta um tuíte de algo, e ele deixa o que está fazendo e segue estapista. Aquilo é o último, o urgente e, muitas vezes, o urgente freia oimportante. E isso é uma reflexão que devemos fazer, porque muitas vezes éurgente, mas no final não leva a nada e perdemos tempo aí, mas isso seexplica porque o público fica esperando de nós mais informação disso quetodo mundo já sabe. Isso mudou radicalmente. Então, há mais estresse, maiserros e a obrigação do jornalista de estar sempre conectado. É mais perigoso!

O jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL), do Diario de Pernambuco, fala

dessa “ditadura da conexão” a que o jornalista está sujeito:

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As redes sociais são a última coisa que eu olho antes de dormir e a primeiracoisa que eu olho quando acordo. (...) Eu nunca trabalhei tantoextra-oficialmente (...) Oito horas da manhã eu já tenho uma mensagenzinhade alguém... Já tenho uma coisa para resolver... Porque é constante né? Asredes sociais não têm um momento.

Além de conectado, o jornalista passa a ter a “autonomia” regulada, não só pelas

organizações de mídia, como também pela Audiência Potente, que tem vários canais para

apresentar suas versões dos fatos e/ou opiniões. A fala do jornalista 3 (2013,

INFORMAÇÃO VERBAL) demonstra um pouco essa regulação:

O jornalista é um dos profissionais que respira redes sociais, que se importacom o que se projeta na rede social. Então, sem dúvida, o jornalista, hoje,quando escreve qualquer matéria, ele pensa na matéria dele no dia seguintena rede social. Não tenho a menor dúvida disso. A não ser que seja umamatéria de muita irrelevância. Mas ele sabe que o primeiro lugar que ele vaiter que responder é nas redes sociais.

Com as redes sociais, não faz parte da rotina dos jornalistas, atualmente, apenas as

rondas telefônicas e a checagem dos conteúdos que chegam à redação, por e-mail, cartas ou

fax. Integra-se à atividade profissional, o acompanhamento do que acontece nas redes sociais.

Nesse trabalho, cada jornalista vai montando uma rede formada pelo que consideram “perfis

de credibilidade”. A periodista 3 do La Vanguardia (2013, INFORMAÇÃO VERBAL)

explica como atua:

Sigo jornalistas, agências, meios internacionais, meios nacionais. Tambémperfis institucionais, de esportistas e de políticos... Disse que vejo coisas noTwitter, mas também é verdade que muita gente nos diz muitas coisas aquina conta do La Vanguardia (Twitter). Aqui as pessoas dizem que aconteceuisso e isso! Creio que cada jornalista deve seguir as suas fontes e as pessoasque lhe interessam para sua seção. É isso o que realmente pode fazer nasredes sociais um meio muito grande, se cada jornalista entender o valor quetem isso. Por exemplo, para o jornalista que cobre Internacional, o Twitter éuma fonte brutal. O jornalista que cobre Internacional tem que estar noTwitter. Quando Kadafi caiu, as primeiras coisas que obtivemos foi peloTwitter. O que significa que as redes sociais têm muito mais valor pelapossibilidade de trazer para nós coisas que estão distantes. Dessa maneira, seeu fosse jornalista de Internacional, seguiria pessoas que trouxessemcontribuições de valor, ou seja, blogs do Egito, da Síria, do Irã, todos essespaíses com dificuldades de liberdade de expressão e que têm muito ativistase redes sociais fortes. Eu seguiria essas pessoas e tentaria fazer notíciasmelhores que as agências ou fontes, que são somente oficiais..

No Diario de Pernambuco, o jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) também

tem toda uma metodologia para trabalhar com as redes sociais:

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As pessoas funcionam como funis da notícia, não é? Então sempre tem genteque vai ler, aí tem perfis de jornalistas, como o cara do Mídia Mundo queanalisa capas de jornais... Então, você tem gente que vai buscar informação ejá traz o filtro para mim. Então não vou precisar entrar todo dia no site daFolha de São Paulo. Eu já não entro mais em nenhum site, praticamente. Aminha pista de decolagem para as notícias é o Twitter e o Facebook. Euestando ali, eu sei que o que importa está ali. Então, eu abro a Folha de SãoPaulo através de um link que alguém colocou. Aí eu tenho plena segurançaque o que me interessa está ali. Até porque eu também vou dar uma olhadano Trending Topic. Se tiver alguma coisa fora do normal, vou clicar paraentender o que é aquilo.

Assim, uma outra mudança, fruto desse envolvimento da Audiência Potente com os

veículos de referência, que afeta o profissional, é o surgimento de duas novas funções: o

editor de mídias sociais e o comunnity manager, que reúnem atribuições da área jornalística e

do marketing. Detalharemos mais as funções assumidas pelos jornalistas que ocupam essas

funções nos capítulos sobre o Diario de Pernambuco e o La Vanguardia.

Mas, uma questão importante a destacar é que a incorporação de jornalistas para essa

função é tão recente que nem mesmo os jornalistas integrantes de outras editorias conhecem a

atuação do profissional voltado às redes sociais, como observa o jornalista 3 (2013,

INFORMAÇÃO VERBAL) do Diario de Pernambuco:

O Diario fez um estudo, contratou uma empresa e uma das perguntas era:“Quem é responsável por redes sociais no jornal?”, e as pessoas arriscavamvários nomes e ninguém nem sabia. Eu também errei (risos), quando fuiperguntado...

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Figura 2-Expediente do Diario de Pernambuco, imagem disponível no endereçohttp://www.diariodepernambuco.com.br/outros/fale_conosco.

A observação do jornalista 3 refere-se a um momento em que o jornal ainda estava

realizando um estudo para definir se seria formada ou não uma equipe voltada para as redes

sociais, mas mesmo depois da editoria criada, no período em que estivemos na redação, a

editoria de Mídias Sociais não constava no expediente do jornal. Até o final do mês de janeiro

de 2014, o editor de Mídias Sociais ainda aparecia na função de Editor de Primeira Página e

não havia nenhuma menção a editoria como pode ser visto na Figura 2.

Como destacamos logo no início, a Audiência Potente produz mudanças importantes

no jornalismo, afetando não só o profissional, como também a produção noticiosa e as

empresas de comunicação.

Na produção da notícia, uma questão importante a destacar é que a Audiência

Potente não participa de todo o processo (checagem, apuração, escrita, edição e publicação),

que fica, no caso dos veículos de referência, a cargo dos jornalistas. A Audiência Potente,

que está no Facebook e no Twitter, e se envolve com os veículos de referência, pode trazer

para a redação registros fotográficos, vídeos ou textos. Esses últimos são apropriados pelos

veículos de diversas formas: como sugestão de pauta; como respostas a sondagens para

municiar os veículos de como pensa a audiência sobre determinado assunto; como

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questionamento e crítica a falta de determinados assuntos no noticiário; como opinião sobre

determinado tema trabalhado pelos veículos de referência.

A Audiência Potente possui uma velocidade informativa significativa, de modo que

ela pode fazer chegar a informação a um grande número de pessoas, no espaço de tempo de

um click. Os veículos de comunicação estão atentos a essa capacidade e traçam estratégias

para conseguir trazer cada vez mais essa audiência para seus sites. O periodista 1 (2012,

INFORMAÇÃO VERBAL) do La Vanguardia fala de como o jornal espanhol atua nas redes

sociais:

(...) o La Vanguardia tem que estar no mundo e também no mundo das redessociais, mas com o objetivo de ser um referente e atrair o máximo depúblico, de audiência das redes sociais a nosso site. Toda nossa política depresença nas redes sociais é egoísta. É como podemos fazer para quemilhões de seguidores, que estão no Twitter e no Facebook, venham paranós. E aí está a comunity manager: estudando e fazendo modelos de comoredigir um tuíte, um post no Facebook para que seja atraente, para que aspessoas acessem e acabem clicando e vindo para o La Vanguardia. Esse é oprincipal objetivo. E por aí, todas as ações que fazemos dentro daparticipação, transferimos na hora para as redes sociais, para que elas nosdevolvam audiência. Essa é basicamente a estratégia.

Além da expectativa de que o jornal esteja nas redes sociais para atrair o máximo de

audiência para o veículo de comunicação, um dos responsáveis pelo La Vanguardia espera

também que “todos os jornalistas também estejam nas redes sociais” e que:

entendam a parte positiva dessa relação; que aprendam o que devem fazernas redes sociais (as boas e as más práticas). E uma vez com tudo issoaprendido, atuem, trabalhem para o fim de trazer gente para o nosso site e,então, isso é um trabalho transversal com todos os jornalistas. Pouco a poucoeles vão fazendo o que lhes pedimos e tendo essa cultura (PERIODISTA 1,2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

Os meios traçam vários caminhos na busca pela Audiência Potente. O periodista 1

(2013, INFORMAÇÃO VERBAL) exemplifica:

Quando fazemos ações de músicas, por exemplo, nos dirigimos a grupos noFacebook que tenham interesse em algum cantor e lhes dizemos: vem ao LaVanguardia, porque vamos fazer uma coisa com Madonna (fizemos isso anopassado). Vamos fazer uma coisa parecida com Justin Bieber. Na semana quevem vamos fazer uma chamada aos fãs de Justin Bieber convidando-os afazer uns clipes virtuais dirigidos ao cantor. O La Vanguardia vai oferecer aoganhador um encontro pessoal com Justin Bieber, quando ele vier para umshow em Barcelona. O encontro pessoal só quem pode fazer é o LaVanguardia, mas isso a gente só pode oferecer a quem possa interessar, nocaso os fãs de Justin Bieber. Pois então vou aos grupos de Justin Bieber no

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Facebook e digo: vamos fazer isso? E trago-os para meu site. Isso é o quemudou.

A estratégia é apostar no diálogo, na conversação, como afirma a periodista 3 (2013,

INFORMAÇÃO VERBAL) do La Vanguardia:

Aqui não há ciência, há tentativas e estamos fazendo com provas e erros.Mas em linhas gerais o que fazemos é estabelecer um diálogo com o leitoratravés das redes sociais, que aporte valor aos nossos conteúdos, que avanceno sentido de escutar o leitor. Também buscamos maneiras de integrar suaparticipação, suas contribuições à nossa web, e inclusive à versão impressa.

A aposta é que todas as estratégias utilizadas na relação veículos de

comunicação-audiência resultem num efeito recomendador, como deixa claro a periodista 3

(2013, INFORMAÇÃO VERBAL):

Fazemos uma matéria só com os depoimentos mais interessantes (surgidosda provocação da audiência pelos veículos de comunicação). Então o leitor,quando vê que lhe escutamos, se sente integrado à informação, numaexperiência de satisfação, que é boa. Então ele comparte e passa para o papelde recomendador, que é também marketing. Meu papel aqui não é só dejornalista, mas também marketiniano. Interessa-me que recomende a minhamarca. Assim, consigo um duplo objetivo, ou melhor, muitos objetivos: 1-melhorar o produto jornalístico; 2- que o leitor sinta-se escutado; 3- consigoo efeito recomendador e, portanto, 4- amplio minha comunidade entre osseguidores de qualidade, porque não é só o número de seguidores, mas aqualidade deles, que interessa.

As estratégias para conseguir essa recomendação são uma das tarefas assumidas pelos

jornalistas que interagem com as redes sociais. Mas a função desse profissional não se

restringe a buscar recomendação da audiência. Ouvir a voz potente das redes sociais é outra

atribuição, que vem mudando as decisões sobre o que deve ou não ser noticiado pelos

veículos de referência.

O periodista 1 (2012, INFORMAÇÃO VERBAL) ressalta como são decididas as

pautas, a partir dessa escuta do que se diz nas redes sociais:

Na web há quatro responsáveis: da informação, da participação, domultimeio e das redes sociais. Eles se reúnem e vão vendo como está fluindoa informação, se há novidade, se os leitores estão empurrando um tema ououtro, se têm mais interesse em um tema que outro. Eu também estou nessasreuniões. E a partir daí tomamos as decisões constantemente. E essatemperatura que tomamos constantemente da web é passada para o papel. Eentão se diz: alerta, há um tema que está quente e, quiçá, deveríamos tratá-lono papel.

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O monitoramento das redes sociais a fim de “garimpar” os temas de maior destaque

entre a audiência, para que daí resulte em notícia, é complementado pela análise sobre até que

ponto a empresa de comunicação “acerta” na abordagem que dá a um determinado tema. O

periodista 1 (2012, INFORMAÇÃO VERBAL) afirma:

Se temos um enfoque que nossa audiência não gosta, refletimos e dizemos:pois tem razão nossa audiência! Mudamos e fazemos novos conteúdos, massempre com uma reflexão prévia, não por impulso. Primeiro refletimosinternamente e depois vamos retificar, vamos mudar a orientação.

O jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) do Diario de Pernambuco entende

que as redes sociais são um “termômetro”, no qual se pode medir a imagem do jornal junto à

audiência, o que dificulta posturas mais conservadoras do veículo de comunicação. Para ele,

“as redes sociais não são a voz do país. Mas gritam. Elas influenciam muito qualquer postura

mais conservadora nossa”.

Essa voz da audiência redefine como o jornalista faz a escolha do que será noticiado e

qual enquadramento será privilegiado. Se, antes da Web 2.0, o jornalista presumia uma

audiência, trazendo conteúdos que, na sua intuição, eram de interesse dela, hoje as empresas

se baseiam no que se comenta em redes sociais, a exemplo de Twitter e Facebook, para

produzir notícia. Como relata a jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) do Diario de

Pernambuco:

Se alguma coisa que a gente não tem estiver estourada, aí a gente vai atrás, evai pedir: “Olhe, a gente tem isso no site? Não tem?”. Então eu ligo praminha equipe aqui, se eu estiver em casa, e a equipe vai pedir pro site fazer.E acontece muito. (...) Pronto, recentemente teve uma que até hoje está tendodesdobramentos. É a questão da Sony ter lançado o Playstation a quatro milreais. Isso veio das redes sociais e foi bater na capa do jornal.

Essa manifestação explícita do que interessa à audiência, não mais de uma forma

presumida pelos jornalistas, possibilita que a redação saiba melhor em que temas “apostar”. O

jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) explica que o Diario de Pernambuco, por

exemplo, “passou a dar muito mais cobertura do noticiário a questões de adoção, de violência

contra animal, de coisas relacionadas a animais, por conta das redes sociais”. Ele explica que

esses temas são garantia de audiência boa e, ainda por cima, são bons para a imagem do

jornal.

Por outro lado, a insatisfação da Audiência Potente com a cobertura feita pelo jornal

leva à quebra do “contrato de leitura” com o veículo. Por meio desse “contrato” ficava

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implícito que a audiência concordava, ou pelo menos aceitava, o filtro seletivo realizado

diariamente pelos jornalistas, filtro que produz um modo de leitura da realidade social.

Travancas (2010) lembra que, com o “contrato de leitura”, o público não se dá conta do que

ficou fora do seu noticiário e de como o que entrou foi selecionado. Ele dá ao jornalista “carta

branca” para, a partir de seus critérios e hierarquias, selecionar as informações que ele, leitor,

precisa ou deseja saber. No entanto, com a popularização da Internet e o surgimento da WEB

2.0, a audiência além de questionar o “contrato de leitura” (o que podia ser feito também em

outro momento) pode aportar outra versão ao que os veículos de comunicação divulgam e à

visão de mundo dos jornalistas.

O jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) cita um exemplo de como a

audiência reagiu à cobertura dada ao “beijaço”29 de artistas do mesmo sexo em repúdio ao

deputado federal pelo Partido Social Cristão(PSC), Marcos Feliciano, deixando de “seguir” o

Diario de Pernambuco e fazendo com que o jornal revisse a cobertura dada ao tema:

(...) naquele auge de anti-Feliciano a gente começou a mostrar fotos deartistas se beijando. (...) Não a favor. Na neutralidade. Mas dávamos muitoespaço pra isso. Cada dia mais. Tudo contra Feliciano explodia. Então, agente, lógico, ia botando mais coisa contra Feliciano. Aí quando começou ater artista demais se beijando... Teve um dia que foi aquilo de beijar, váriossaíram botando. Daniela Mercury botou, aí teve uma hora que botouMatheus Nachtergaele com outro cara. Foi o dia que teve mais gentedeixando de ser seguidor do Diario. Deixando mesmo. Chamando de jornalque abraça à causa homossexual e não sei o quê. Eu já vinha percebendoessa resistência e tava cada dia mais. E eu disse: acabou essa perseguição.Quando tiver notícia com ele, dá a notícia, pura e simples.(...) A genterecuou, tirou o espaço. Coisas que a gente, qualquer besteirinha de Felicianosaía nos jornais. Não só no Diario, em todos os jornais. Feliciano tropeçou,Feliciano... Aí parou. (...) Realmente, desde então, não me lembro nem de terFeliciano na capa, porque a gente tava perdendo muito mais do queganhando (...).

Outro indicativo, considerado na tomada de decisões pelas redações se uma notícia

chega ou não a capa do jornal, ou é destacada na homepage, é o número de

compartilhamentos que tem no Facebook. O jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL)

do Diario de Pernambuco ressalta:

Hoje inclusive, ontem na verdade, também saiu uma matéria que foi umademanda das redes sociais. Demorou até muito pra sair essa matéria, mas

29Como forma de ironizar a conduta do parlamentar Marcos Feliciano, autor de diversas declarações polêmicas

em relação a temas como direitos homossexuais, simpatizantes da causa organizaram por meio do Facebook um

“Beijaço de Repúdio”. Artistas brasileiros se incorporaram a campanha “Liberdade na Vida e na Arte” e

participaram de um ensaio fotográfico produzido por Alex Silva, onde protagonizaram um “beijaço gay”.

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saiu... Um pernambucano participou do The Voice e a gente colocou, assimque ele venceu, um vídeo no Youtube, muito rápido. A gente colocou o vídeoainda de noite, tipo meia-noite mais ou menos, foi a última postagem.Quando eu abri o vídeo no outro dia de manhã, esse vídeo já tava comquatrocentos e oitenta compartilhamentos. Curtidas, muitos mais. Isso jágera mais de cem mil pessoas assistindo. Eu posso dizer depois essesnúmeros exatamente, mas já gera um número muito alto, já perto mesmo decem mil pessoas visualizando ou até mais. (...) Aí eu já avisei: olha, estámuito forte esse menino. Tanto que terminou o dia com mais de mil eduzentos, mil e trezentos compartilhamentos, e isso significa um númerogigantesco de visualização.

.

A decisão do que será noticiado a partir do “termômetro” da audiência é evidenciada

também com a incorporação dos Trending Topics (TTs), o que nos faz propor uma

categorização complementar aos valores-notícia, ampliando e atualizando a tipologia de Wolf

(1987). Segundo Padilha (2012, p. 210) “os valores-notícia compõem uma“lista” de atributos

cujo fato (candidato à notícia) deve estar em consonância com pelo menos um deles”30. A

autora ainda entende que os valores-notícia prevêem a existência de um conhecimento

consensual sobre o que cerca o fato, coincidindo a visão do profissional com a do público.

Assim, com relação aos Trending Topics, ao avaliarem a repercussão de um tema por ele

figurar entre o que mais se comenta numa rede social de muitos seguidores, como o Twitter,

os jornalistas estão assumindo que aquele tema é consenso também entre a audiência.

Evidentemente que nem tudo que figura na lista dos Trending Topics será

transformado em notícias. Nas redes conversacionais há muitos assuntos, como ficção e

propaganda, que não estariam dentro de alguns requisitos aceitos pelo campo jornalístico,

mas, seguramente, a força do que se comenta nas redes reforça, para o jornalista, que o tema

possui atributos que podem resultar em notícia.

Essa possibilidade de medir o “movimento” da audiência em tempo real é outra

mudança que vem sendo incorporada às rotinas jornalísticas. Todo o envolvimento da

Audiência Potente pode e vem sendo medido por ferramentas simples como o Google

Analytics. Para isso, segundo Cobo (2012, p. 77), os sites têm que incorporar umas etiquetas,

ou tags31, que “marcam” cada uma de suas páginas, e dessa forma:

30A maioria dos fatos, segundo Padilha (2012), salvo nos casos de interesses outros, para ganhar o status de notícia, devem ter atributos primários, principalmente: atualidade, relevância, imprevisibilidade, repercussão e interesse coletivo.

31Estas etiquetas ou tags, de acordo com Cobo (2012), têm o intuito de categorizar o conteúdo e descrever com palavras chaves os temas tratados nos artigos, nas notícias ou nos vídeos.

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Cada vez que um usuário navega por uma página “marcada” com o códigode analítica, um programa de software recolhe a informação sobre o que fazo usuário e envia aos servidores que alojam estes dados. O programaprocessa e oferece informação muito descritiva sobre o comportamento dosusuários: volume de visitas, tempo no site, procedência da visita, se sãousuários que já visitaram anteriormente, o tempo nessa página, palavras queutilizaram no buscador para chegar ao site.

Por fim, vale destacar que, embora a Audiência Potente esteja modificando o

processo de construção da notícia, ela não está, necessariamente, ciente de seu papel. Ou seja,

os veículos de referência estão aproveitando as potencialidades das discussões trazidas pela

Audiência Potente nas redes sociais, sem muitas vezes deixar claro, quando há conversação,

de que esta ou aquela movimentação na rede social pode ganhar novos espaços, no caso

páginas de jornais ou de sites.

Apesar disso, um ponto importante nessa relação da audiência com o jornalismo,

mediada pelas redes sociais, é que as pessoas não conhecidas, atualmente, ganham

visibilidade midiática sem necessariamente estarem em uma das situações elencadas por Gans

(1979): serem manifestantes, grevistas ou amotinados – indivíduos que fazem barulho ou

provocam tumultos; b) serem vítimas de desastres, naturais ou sociais; em particular na

televisão, quando havia imagens fortes; c) serem transgressores das leis e da moral; e d) serem

praticantes de atividades invulgares (TRAQUINA, 2008).

No Capítulo 4, vamos lançar o olhar para a Audiência Potente e sua interação com o

mais antigo jornal em circulação da América Latina, o Diario de Pernambuco.

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CAPÍTULO 4 – O DIARIO DE PERNAMBUCO: A AUDIÊNCIA

POTENTE E O EDITOR DE MÍDIAS SOCIAIS

O capítulo foi construído a partir da pesquisa de campo no jornal mais antigo em

circulação da América Latina, que fica sediado no Recife, capital do Estado de Pernambuco,

no Brasil. Em um momento de transformações no jornalismo, entendíamos a importância da

imersão na “fábrica” onde se produz a notícia, a redação, para acompanhar, no dia a dia, as

decisões, as negociações, as limitações e os filtros inerentes ao fazer jornalístico. Antes de

entrarmos na parte metodológica, faremos uma breve contextualização do jornal em análise.

4.1 O pernambucano Diario

O Diario de Pernambuco foi fundado em 7 de novembro de 1825, como um diário de

anúncios, no Recife, por Antonino José de Miranda Falcão (impressor do Typhis

Pernambucano, jornal de Frei Caneca para divulgar a Confederação do Equador).

Figura 3 - Primeira edição do Diario de Pernambuco.Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?

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Com a função de anunciar diversas transações comerciais, o Diario apresentava-se da

seguinte forma, na edição de lançamento:

Faltando nesta cidade assaz populosa um Diário de Anúncios, por meio doqual se facilitassem as transações, e se comunicassem ao público notícias,que a cada um em particular podem interessar, o administrador da TipografiaMiranda & Companhia se propôs a publicar todos os dias da semana, excetoaos domingos, o presente diário no qual debaixo dos títulos deCompras-Vendas-Leilões-Aluguéis-Arrendamentos-Aforamentos-Roubos-Perdas-Achados-Fugidas e Apreensões deescravos-Viagens-Afretamentos-Amas de Leite, etc, tudo quanto disserrespeito a tais artigos; para o que tem convidado a todas as pessoas, quehouverem de fazer estes ou outros quaisquer anúncios, a levarem à mesmaTipografia que lhes serão impressos grátis, devendo ir assinados(DIARIODE PERNAMBUCO, 1825).

Dez anos depois de sua fundação, o Diario de Pernambuco foi adquirido pelo

comendador Miguel Figueiroa de Faria. Na década de 30, o jornal pernambucano foi

incorporado pelos Diários Associados, de Assis Chateubriand, que congrega várias empresas

de comunicação em todo o Brasil, como os jornais Correio Brasiliense e Aqui DF

(Brasília-DF), Aqui CE (Fortaleza-CE), Estado de Minas e Aqui BH (Minas Gerais), Jornal do

Commercio e Diario Mercantil (Rio de Janeiro-RJ), O Imparcial e Aqui MA (São Luiz-MA)32.

No bairro central de Santo Antonio, mas especificamente na Praça da Independência,

que foi rebatizada como “pracinha do Diario”, o jornal funcionou até o ano de 2005, num

antigo e belo sobrado, próximo ao seu principal concorrente, o Jornal do Commercio que, por

anos, instalou-se na Rua do Imperador.

Nos anos 2000, o jornal deixou a região central do Recife e foi para o bairro de Santo

Amaro, na zona norte. Na Rua do Veiga, o Diario ganhou um prédio com arquitetura mais

contemporânea, todo com a fachada de vidros espelhados e reuniu, em um só espaço físico, os

veículos do grupo: os jornais Diario de Pernambuco e o Aqui PE; a TV Clube; as rádios Clube

AM e FM; os portais Pernambuco.com, Superesportes, Vrum, Lugar Certo e Admite-se.

32http://www.diariosassociados.com.br/

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Figura 4 - Edição atual do Diario de Pernambuco.Fonte: Internet

O Diario de Pernambuco tem uma circulação, somando as versões impressa e digital33,

de 23.089 exemplares (segunda a sábado) e de 37. 508 exemplares34 (domingo). O leitor do

Diario de Pernambuco pode acessar a versão digital do jornal no endereço www.

diariodepernambuco.com.br e ler o periódico na versão impressa (serviço exclusivo para

assinantes) ou flip (sistema em que o leitor folheia as páginas do jornal). O

diariodepernambuco.com traz as notícias distribuídas pelas editorias de Política, Brasil,

Mundo, Economia, Superesportes, Vida Urbana e Viver, disponibilizando o Diarinho para

crianças e adolescentes, além dos canais de serviços (Cidadão Repórter, Pernambucão e

Chacras).

33Edição Digital é a versão similar da publicação impressa que é distribuída eletronicamente.

34Dados do IVC, referentes ao mês de dezembro de 2013.

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Figura 5 - Redação do Diario de Pernambuco, em novembro de 2013.

A redação do Diario de Pernambuco (impresso e online) e do portal do grupo, o

Pernambuco.com, funciona no primeiro andar do edifício que reúne todas as empresas do

Grupo Associados em Pernambuco, no bairro de Santo Amaro, no Recife. Num espaço sem

divisórias trabalham repórteres, editores, estagiários, fotógrafos, diagramadores e as equipes

de arte e de vídeo. Os jornalistas vão se agrupando por editorias, em bancadas com

computador e telefone. O aspecto da redação, que estava em obras no momento em que

fizemos a observação, reforçava o estereótipo em torno dos jornalistas: jornais e papeis

empilhados, um certo ar de desorganização e telefones insistentes (SANTANA, 2011).

O espaço da redação do Diario de Pernambuco é relativamente pequeno se

considerarmos que funciona no sistema de integração, ou seja, sem separação de equipes do

impresso e do online. Há quatro anos, segundo a editora executiva do jornal, Paula Losada, a

redação passou a ser “integrada”. Salaverría y Negredo (2008, p. 51) definem integração

como:

La confluencia de dos o más unidades o corrientes en una sola. En el ámbitoperiodístico, hoy día alude sobre todo a la fusión de dos o más equiposredaccionales en un solo, de modo que, una vez completada la integración, laredacción resultante trabaja reunida en un mismo entorno físico, bajo unmando editorial único y con una infraestructura tecnológica común.

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Para os autores espanhóis, a redação integrada é “aquella capaz de nutrir de contenidos

a dos o más medios, mediante una única unidad de producción”(2008, p.51). O sistema de

redação integrada que o Diario adota funciona da seguinte forma: para cada editoria do jornal

há um editor e dois assistentes, além dos repórteres vinculados àquela editoria. Os editores

coordenam a produção e os repórteres produzem o material para a versão online e para a

impressa. Apesar da produção ser feita, tanto para versão online, quanto para a impressa, por

todos os membros da equipe, um dos editores assistentes, e um ou dois repórteres, possuem

uma dedicação de tempo maior à versão online. Na prática, essa integração acontece da

seguinte maneira:

(...) dependendo da dimensão da cobertura a gente vai mandar um ou doisrepórteres para fazer online e depois impresso. Ou ele vai passar asinformações da rua para alguém daqui ir fazendo.(...) Não há mais aquelaseparação. Lógico que a gente tem o pessoal do Pernambuco.com queproduz matéria para lá. Mas agora, quem produz matéria do online é opessoal do impresso. (...) Então cada matéria é pensada para o impresso, parao online, para o Ipad, para o vídeo (JORNALISTA 5, 2013, INFORMAÇÃOVERBAL).

Com a integração, algumas funções, como a de chefe de reportagem, deixaram de

existir, ficando o funcionamento da redação da seguinte forma:

cada editoria tem a sua particularidade, mas via de regra cada editoria temseu editor e tem o editor assistente, ou dois editores assistentes, dependendoda editoria. E essa equipe se divide. O editor às vezes vem mais tarde, ouvem mais cedo. O fato é que no começo do dia, a largada, como a gentechama, sempre tem um editor de cada editoria ou um editor assistente, oualguém que está ali para alimentar a Internet. Então essas notícias quechegam das assessorias ou das agências, elas chegam e já vão pras editorias.Então a gente não tem mais a figura do chefe de reportagem, e mesmo láatrás quando tinha o chefe de reportagem, ele funcionava basicamente praVida Urbana, pra Cidade e alguma coisa de Política. Agora o que acontece éque de manhã cedo tem uma reunião de pauta, que eu inclusive coordeno,que é onde as pautas são lançadas, mas não estão consolidadas, ao longo dodia elas mudam. Podem mudar ou não (JORNALISTA 4, 2013,INFORMAÇÃO VERBAL).

Sem equipe exclusiva para produzir conteúdos jornalísticos para a Internet, o Diario

incorporou, à equipe de Vida Urbana (cidades), a figura do redator, “que não atua, como no

passado, reescrevendo as matérias, mas fazendo o próprio texto. Mas a gente só tem essa

figura aqui na editoria de cidades” (JORNALISTA 4, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL):

(...) Então, o repórter que sai... Por exemplo, teve uma explosão, umacoletiva... Então, o redator que está aqui liga pra ele ou ele liga, e quando ele

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volta, ele vai fazer o texto do impresso, porque a gente já pegou asinformações, e o redator aqui pegou e redigiu. Não necessariamente ele vaichegar aqui e bater um texto pra internet, porque quem fica aqui já vaiapurando (JORNALISTA 4, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

São dois redatores que trabalham na editoria de Vida Urbana, produzindo textos para o

online. O primeiro, com uma jornada de oito horas, iniciada às 7h com término às 15h, e o

segundo, com início às 15h e encerramento da jornada no fechamento da edição.

Além da extinção do chefe de reportagem e da incorporação do redator, uma mudança

na equipe do Diario, e que interessa muito a nossa pesquisa, foi a criação, em março de 2013,

da Editoria de Mídias Sociais. A nova editoria, que se integra a todas editorias do jornal e

também ao portal, “funciona divulgando e captando notícias nas redes sociais”(JORNALISTA

3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL). Ainda neste capítulo, detalharemos mais toda a rotina

da editoria.

Em sua redação integrada, o Diario de Pernambuco tem uma equipe formada por 90

jornalistas, sem contar os diagramadores e os fotógrafos, que ampliam o quadro para 150

profissionais. A média de idade varia entre 20 e 25 anos, no caso dos repórteres, e 40 anos, no

caso dos editores. A carga horária dos repórteres gira em torno de cinco e sete horas, a maioria

trabalhando na jornada mais longa.

Depois de apresentado nosso objeto, passemos ao detalhamento de como fizemos a

pesquisa de campo (observação participante). Estivemos na redação do Diario de Pernambuco

no período de 24 de outubro a 1º de novembro de 2013. Esse período foi escolhido por estar

fora das épocas festivas: Natal, Ano Novo, Carnaval e, também, São João, que poderiam

afetar o que consideramos o ambiente normal de uma redação, com suas rotinas de produção,

enfim, seu dia a dia.

Com relação à observação participante, utilizamos o método proposto por Casetti e

Chio (1999), que entendem que o objetivo principal desse tipo de observação é captar a

realidade ao vivo, eliminando as mediações que podem contaminar os dados. Adotamos

algumas das estratégias propostas pelos autores para a realização da observação participante,

tais como: negociar em que termos seria a observação, respeitar as regras acertadas e não

esconder a finalidade da investigação.

Como outros autores, entendíamos que na convivência das redações, com suas práticas

jornalísticas, estavam várias respostas que lançariam as luzes sobre o problema de pesquisa.

Como vantagens da observação participante, Masip (2012) aponta que é uma metodologia que

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permite estudar os fenômenos em seu contexto natural, possibilitando dados de forma direta, o

que evita distorções por parte de intermediários.

Wolf (1994), no entanto, destaca algumas dificuldades na realização do trabalho de

investigação. Uma delas é a possibilidade de, no decorrer da investigação, o pesquisador

passar a agir e pensar como os jornalistas. A outra diz respeito ao acesso ao ambiente de

trabalho, muitas vezes dificultado pelas empresas. Entendemos que há um desconforto por

parte da empresa de abrir suas portas a um “estranho”. Por mais cordiais que sejam os

profissionais pesquisados, há sempre uma desconfiança sobre o que de fato faz o pesquisador

na redação.

No Diario de Pernambuco, os observados foram sempre muito gentis e disponíveis,

mas era possível sentir algum desconforto com a nossa presença investigativa. Um ato falho

de um deles motivou gargalhadas, mas para nós, isso pode resumir um pouco como é essa

relação observado-observador. Ao afirmar que a observação continuaria no dia seguinte, o

jornalista respondeu desatentamente: “pode incomodar à vontade”.

É compreensível esse desconforto. Estávamos observando editorias surgidas

recentemente. Fazia somente sete meses que a Editoria de Mídias Sociais do Diario de

Pernambuco tinha sido criada. Dessa forma, por mais que houvesse o “aval” da direção do

jornal para estarmos na redação (sem a permissão, o pesquisador não passa do hall de entrada

ou da sala de reuniões, como já acontece com alguns veículos nacionais), percebemos que os

jornalistas ficavam em dúvida sobre até que ponto se podia ver ou não o que eles estavam

fazendo. Uma dessas situações foi quando estava sendo preparado o relatório sobre a presença

do jornal nas redes sociais. A jornalista 1 avisou-nos que estava fazendo o relatório, mas que

se quiséssemos detalhes era necessário pedir à gerente da versão digital do jornal, Adriana

Reis.

Nossa presença na redação, analisando as rotinas dos profissionais, tinha como foco

observar a interação entre o veículo de comunicação e a audiência, no intuito de analisar se a

construção da notícia é afetada por esse novo agente que, por diferentes motivos, é envolvido

na produção de conteúdos informativos. Nossa investigação consistia basicamente em

acompanhar as atividades da editoria de Mídias Sociais, observando sua relação com a

audiência que denominamos “potente” e com algumas editorias do jornal, tentando entender

as interações formais e informais, registrando tudo em notas no caderno de campo, que para

Hammersley e Atkinson (1994) consiste em:

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descripciones más o menos concretas de procesos sociales y sus contextos.La finalidad es captar los procesos sociales en su integridad, destacando lascaracterísticas y propiedades, siempre según un cierto sentido común sobreaquello que es relevante para sus problemas planteados en la investigación.

Dentro de todo o processo complexo de produção da notícia, a editoria de Mídias

Sociais funciona, ora na captação junto às redes sociais de assuntos que serão transformados

em notícias, ora como balizador, para o jornal, de temas que estão sendo fortes nas redes

sociais, ora na circulação do conteúdo noticioso produzido pelo jornal. Todos os movimentos

eram importantes porque mostravam como os veículos de referência têm envolvido essa

audiência, que denominamos potente. Assim, como material complementar a nossa análise,

recorremos a um breve olhar sobre as capas do jornal na semana pesquisada, porque

queríamos ver como a Audiência Potente se fazia presente nelas.

Como parte da observação, realizamos ainda entrevistas em profundidade com os

jornalistas do Diario de Pernambuco envolvidos na pesquisa: uma editora executiva; uma

editora da versão digital; uma editora do portal; um editor de Mídias Sociais; um editor de

Primeira Página (capa); e uma repórter da equipe de Redes Sociais. Todas as entrevistas foram

realizadas no próprio jornal, algumas na sala de reuniões e outras na própria redação. Muito

embora todos os observados estivessem cientes, desde o primeiro contato, que o conteúdo

resultante daqueles dias imersos na redação resultaria num trabalho a ser publicizado,

preferimos, assim como Santana (2011), manter o anonimato dos observados que, a partir de

agora, serão identificados como jornalista 1, jornalista 2, jornalista 3, jornalista 4,

jornalista 5 e jornalista 6, respeitando a ordem de observação. A preocupação com o

anonimato é para que se evite qualquer constrangimento com relação às declarações, e o

mesmo vale para o lavanguardia.com.

Segundo M. Bauer & G. Gaskell (2002), a entrevista qualitativa fornece os dados

básicos para o desenvolvimento e para a compreensão das relações sociais entre os atores

sociais e sua situação. O objetivo é a compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e

motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos.

Essa técnica quase sempre produz uma melhor amostra da população de interesse e

tem como vantagem uma cobertura mais profunda sobre determinados assuntos. Além da

interação entre o entrevistador e o entrevistado que favorece respostas espontâneas, e

possibilita invocar assuntos mais complexos e delicados, o que pode fazer surgir questões

inesperadas ao entrevistador que poderão ser de grande utilidade na pesquisa.

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Nas entrevistas realizadas no Diario de Pernambuco, que também repetimos no

lavanguardia.com, levantamos questões como: quais seriam as mudanças com o acesso da

audiência a canais, que possibilitam interação com os jornais, como as redes sociais? Se as

pessoas comuns, ou seja, as fontes não institucionalizadas, têm potência para interferir na

notícia? Se a audiência é protagonista do Diario de Pernambuco na produção de notícia pós

Web 2.0? Se a audiência, com aceso a Internet, dispositivos móveis e a diversos canais de

publicação, tensiona o processo de produção de notícias, convidando o jornalista a revisar seu

papel?

Logo após esta etapa, organizamos e sistematizamos o material coletado para análise

posterior. Como não existem praticamente trabalhos nessa perspectiva da potência da

audiência, a análise foi feita com base no referencial teórico utilizado para a construção da

hipótese da Audiência Potente. Nesse sentido, destacamos dez características do que

denominamos Audiência Potente: tecnológica, de conectividade, de rede, de interatividade,

de autonomia na apropriação do conteúdo, de testemunha, de coprodução, de vigilância, de

reação e de amplificação.

4.2 O Cidadão Repórter: início de uma relação com a audiência pós web 2.0

Seguindo uma tendência mundial de relacionamento com a audiência para além dos

espaços de Cartas à Redação ou dos artigos de opinião, o Diario de Pernambuco colocou no

ar, em 2007, um Fórum denominado Cidadão Repórter, no qual as pessoas, desde que

cadastradas, podem discutir temas sobre cidadania, transporte, trânsito, cultura, saúde,

segurança pública, entre outros, com espaço ainda para publicação de fotos e vídeos feitos

pela audiência.

No portal do grupo Associados no Estado, o Pernambuco.com, o Cidadão Repórter35,

que aparece como um dos serviços do portal, é definido como:

uma iniciativa de jornalismo colaborativo do grupo DiáriosAssociados Pernambuco. Aqui, você pode sugerir pautas para nossos

35No primeiro ano de doutorado fizemos parte do projeto de extensão “Jornalismo: cidadão-repórter-cidadania”,vinculado ao Núcleo de Jornalismo e Contemporaneidade da Pós-Graduação em Comunicação da UniversidadeFederal de Pernambuco (UFPE), em parceria com o Diario de Pernambuco. O projeto tinha como objetivocontribuir com uma ação prática do jornalismo como um lugar relevante na construção da cidadania e daformação humana. Algumas das reflexões sobre o projeto de extensão encontram-se em: VIZEU, Alfredo;ROCHA, Heitor; SANTANA, Adriana; MESQUITA, Giovana; BEZERRA, Gabriela; LOPEZ, Gabriela.Cidadão-repórter: jornalismo e cidadania. In: Jowania Rosas; Christina Nunes; Solange Coutinha; FláviaCampos. (Org.). Universidade/Sociedade em diálogo: a formação humana. Recife: Editora Universitária, 2011, v.1, p. 41-52.

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veículos de comunicação, fazer denúncias sobre vários assuntos,contar pra todo mundo o que há de melhor no seu bairro e muito mais”(PERNAMBUCO.COM).

Apesar do nome Cidadão Repórter e da apresentação no portal como “uma iniciativa

de jornalismo colaborativo”, a jornalista 2 diz que nunca houve um interesse de que o

cidadão produzisse textos jornalísticos para o jornal, mas que fornecesse sugestões de pauta

ou conteúdos em fotos e vídeos:

O Cidadão Repórter é um espaço de rede social com “pegada” jornalística.Não consigo descrevê-lo com outra palavra que não seja assim, com uma“pegada” jornalística. Porque eles conversam, eles interagem, eles têm essacaracterística de rede social nesse espaço de convivência de assuntos emcomum, que pode ser transporte, saúde, segurança, consumidor, aquelestópicos que estão ali sugeridos, mas o objetivo é: fornecer conteúdo pragente. Fornecer sugestões de pauta. Ou conteúdo multimídia, porque foto evídeo a gente usa. O texto vem por opção do cidadão. Nunca ninguémmandou uma matéria. Manda um comentário, um parágrafo, ou então, umtexto opinativo (JORNALISTA 2, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Segundo a jornalista 2, as fotos e os vídeos são bem-vindos no espaço porque muitas

vezes trazem um registro único:

Uma foto é irrecuperável, né? Você não tem como recuperar aquelemomento que foi fotografado. O texto você tem como fazer. Então existeessa diferença. A gente pode até mandar o fotógrafo lá, não usamos todas asfotos do cidadão. Às vezes ele manda a foto, a gente checa e manda lá ofotógrafo e publica a foto do nosso fotógrafo. Mas às vezes ele manda a fotode um momento irrecuperável, a gente não tem opção. No texto, a gentepode voltar lá e entrevistar a pessoa, e recuperar o texto (JORNALISTA 2,2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Uma das jornalistas responsáveis pelo projeto do Cidadão Repórter relembra que o

Fórum surgiu a partir de uma nova demanda que se apresentava na Internet:

A gente já via esse interesse nos comentários, essa coisa que a gente lia sobrea Internet, sabe, essa demanda por participação. Esse início da Internet 2.0, agente sempre ouvia muito falar em participação. Tanto é que quando a gentefoi lançar o Cidadão Repórter, que foi levar para Vera Ogando, que é a nossadiretora de redação, a gente tinha pensado em ter uma interface com o jornale de ter uma coluna no impresso, em que uma vez por semana, a gentepudesse contar o que tava acontecendo. Ela gostou tanto da ideia quetransformou numa página e durante anos ela achou que ia render mais queuma coluna. (...) Na época, o objetivo era fazer, inovar... Mas tinha tambémessa característica de testar a participação, já percebendo que era ummovimento da Internet (JORNALISTA 2, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

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Além do Fórum, o Cidadão Repórter tinha uma página fixa na versão impressa, todas

as terças-feiras. A jornalista 5 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) explica a ideia de criar o

espaço e porque ele foi extinto:

Na verdade, a ideia original era um Leitor Repórter, um Cidadão Repórter,um Torcedor Repórter, a ideia era essa. Ter matéria ao longo da semana, outer no mesmo dia textos do Leitor Repórter, do Cidadão Repórter,dependendo do que chegasse. Mas ao longo, a gente foi vendo que chegavamais problemas da cidade, iluminação, esgoto, e que era muito parecido comCartas à Redação. Que era muito o que está na sua rua, no seu bairro, então,vamos fazer uma página especial para isso? Aí a gente viu que se tivessetodo dia, não precisava ter um dia na semana pra isso, mas se tiver todo dia,começa a atropelar os fatos do dia a dia... O bom de ter a página fixa é quevocê tem aquele material, mas aí ficou meio que uma forçação de barra,porque tinha semanas que você tinha assuntos ótimos, e outras semanas quenão eram tão bons, mas você tinha a obrigação de botar. Então achamosmelhor publicar quando surgissem na semana.(...).

O Diario de Pernambuco não tem mais a página impressa do Cidadão Repórter, mas

no dia 23 de novembro de 2013, muito depois da nossa observação na redação, na reportagem

“Cidadania na palma da mão”36, publicada na página de Tecnologia, era noticiado o

lançamento de um novo aplicativo37 do Cidadão, assim apresentado:

Pernambuco lança neste domingo uma ferramenta para fazer com que você,leitor, esteja sempre conectado à nossa equipe de jornalismo de todas asempresas dos Diários Associados no estado. Já está disponível no site doGoogle Play (https://play.google.com/store) o aplicativo Cidadão Repórter,que irá facilitar e agilizar a troca de informações entre o público e asredações do Diario, da TV Clube, da Clube FM, e dos sitesdiariodepernambuco.com.br e Aqui PE, e dos portais do Superesportes,Vrum e Pernambuco.com (DIARIO DE PERNAMBUCO, 2013).

Ainda segundo as informações contidas na reportagem “Cidadania na palma da mão”,

para enviar - de forma simples e rápida, a partir de qualquer lugar - informações, fotos e

vídeos é necessário baixar o aplicativo do Cidadão Repórter gratuitamente no site do Google

Play, desde que o cidadão ou a cidadã tenha um celular funcionando com o sistema36Disponível em http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vidaurbana/2013/11/23/

interna_vidaurbana,475422/cidadania-na-palma-da-mao.shtml

37O principal concorrente do Diario de Pernambuco, o Jornal do Commercio, lançou, três dias depois, oaplicativo móvel Comuniq, “criado para facilitar o envio de conteúdo multimídia para as redações por cidadãos erepórteres. O app, desenvolvido pela i2 Mobile Solutions, já pode ser baixado gratuitamente em smartphonesAndroid e iOS”(JORNAL DO COMMERCIO, 2013).

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operacional Android. Denominando “notícia” esse conteúdo enviado por cidadãos e cidadãs, o

Diario indicava qual o destino dos conteúdos:

As notícias transmitidas pelos usuários do aplicativo poderão ser publicadasem todos os veículos do grupo Diários Associados, nas versões impressa eonline, ou exibidas em programas de tevê como Cardinot, Aqui na Clube e oPE no Ar, ancorado pela jornalista Isly Viana(DIARIO DE PERNAMBUCO,2013)..

Segundo a reportagem, a versão do Cidadão Repórter para celular dispõe de serviço de

geolocalização e permite o envio de imagens paradas ou em movimento, além de textos de até

300 caracteres. Como adicional:

o aplicativo permite que o usuário veja se a notícia está em análise ou foipublicada e ainda envia o link da página onde ela foi veiculada para a pessoaque postou, possibilitando o compartilhamento com os amigos, por meio dasredes sociais(DIARIO DE PERNAMBUCO, 2013).

Para interagir com o Diario de Pernambuco, por meio do Cidadão Repórter (Fórum ou

pelo novo aplicativo), a audiência tem que primeiro fazer um cadastro. Além de nome,

número do CPF, e-mail e senha, o futuro Cidadão Repórter tem que concordar com as

Políticas de Uso38 do jornal, que entre outras coisas estabelece que:

o acesso e/ou a utilização dos serviços do site http:// cidadao.dpnet.com.brnão implica em nenhuma obrigação de remuneração por parte dos DiáriosAssociados Pernambuco, bem como não acarreta ao usuário nenhum direitode propriedade sobre nenhum dos serviços contidos nosite”(PERNAMBUCO.COM).

Segundo o Diario de Pernambuco, o conteúdo que o Cidadão Repórter posta no Fórum

não sofre interferência dos jornalistas, pela impossibilidade técnica de se efetuar

monitoramento preventivo de todos os conteúdos, e por isso, na Política de Uso, afirma-se que

o Diario de Pernambuco não se responsabiliza:

pelo conteúdo gerado e/ou inserido pelo usuário e/ou terceiro no site http://cidadao.dpnet.com.br, devendo o próprio usuário e/ou terceiro responder porquaisquer incorreções ou irregularidades alegadas e, também, pelaoriginalidade do conteúdo por ele gerado ou veiculado, sendo que qualquerprejudicado deverá demandar, judicial ou extrajudicialmente, diretamente oresponsável pela violação (PERNAMBUCO.COM).

38As Políticas de Uso podem ser acessadas em http://cidadao.dpnet.com.br/politicas-de-uso

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Embora o grupo Diários Associados de Pernambuco não interfira no conteúdo gerado

pelo Cidadão Repórter, de acordo com a Política de Uso, o grupo reserva-se no direito de:

de pré-visualizar, rever, sinalizar, filtrar, modificar, recusar ou excluir, aqualquer momento e sem notificação prévia, todo ou qualquer conteúdoinserido no site http://cidadao.dpnet.com.br, podendo suspender, inclusive, ahospedagem de qualquer conteúdo considerado impróprio, ilegal ou ofensivoao presente Termo de Uso, não sendo devida qualquer indenização aousuário.

A Política de Uso da empresa chega a estabelecer, no contrato de uso do Cidadão

Repórter, que pode cobrar indenização:

O usuário concorda que a utilização que fizer do sitehttp://cidadao.dpnet.com.br é de sua inteira responsabilidade, sendoexclusivamente responsável por todas as atitudes, atos e omissões queestarão sob o uso de seu login ou de sua senha pessoal, concordando, desdejá, em indenizar o Diários Associados Pernambuco e mantê-las a salvo detodas e quaisquer reclamações judiciais ou extrajudiciais, indenizações,responsabilidades, oriundos (i) do seu acesso aos serviços e veiculação deconteúdo ao site http:// cidadao.dpnet.com.br(...)

A relação com audiência estabelecida pelo Diario de Pernambuco, no Cidadão

Repórter, como em muitas empresas de comunicação, é marcada por uma série de restrições,

manifestadas em forma de contratos unilaterais, assegurando direitos para os grupos de mídia

e diversos deveres e obrigações para a audiência que se dispõe a interagir com os veículos.

Reflete bem o que afirma Molina (2008, p.176):

não é a tecnologia empregada e, sim, a vontade dos administradores eproprietários dos veículos de comunicação que fará com que esses espaçospossam se constituir em autênticas experiências de participação democráticana vida social ou, em outro extremo, que sejam tribunas privilegiadas para oenfrentamento da difusão de ideias antidemocráticas.

Cabrera (2005), em um artigo sobre os desafios éticos do ciberjornalismo, afirma que

o ciberjornalista, diante da necessidade de resposta para essa audiência que dialoga com os

veículos, deve atuar estando disposto a assumir a responsabilidade de responder as opiniões e

mensagens que enviam as audiências, a refletir sobre os novos dados enviados por elas, a

responder as questões formuladas, que podem ter sido feitas de forma pessoal ou coletiva, e a

fazer eco em suas próprias informações da participação dos usuários.

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Para Cabrera (2005), a participação dos cidadãos no processo de comunicação está

significando um maior reclamo pela qualidade dos meios. É como se o cidadão quisesse uma

qualidade no mínimo igual a que se exige normalmente a qualquer outro produto de mercado,

mas tendo em conta o singular poder de influência dos meios. Nas palavras de Hugo Aznar

seria uma “rebelião de públicos”, na qual os destinatários da comunicação social recuperam

seu protagonismo perdido e assumem também parte da responsabilidade que corresponde na

hora de fazer melhores os meios (AZNAR, 2005).

Independente da abertura, ou não, de espaço para se manifestar a audiência não figura

mais somente como indivíduos que respondem as enquetes ou povo fala para fundamentar a

visão do jornalista. Divulgando discursos opostos, é possível compreender a relação

audiência-jornalismo como um palco de diálogos, e não mais uma via de mão única para

divulgação de ideias de um núcleo propagador para uma periferia receptora (MADUREIRA,

2010, p.44).

4.3 As redes sociais e a intensificação da relação Audiência Potente-Diario de

Pernambuco

A relação do mais antigo jornal em circulação da América Latina com a audiência, que

começou a ganhar novos espaços com o Cidadão Repórter, passou a ser mais intensa com a

abertura de perfis nas redes sociais. O Diario de Pernambuco está presente no Twitter, no

Instagran e no Facebook, sendo este último o site de rede social mais usado pelo jornal.

Segundo o jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL), a presença maior no Facebook se

dá “porque a resposta é muito forte. A gente é muito forte no Facebook. (...) Realmente, nosso

trabalho encaixou muito bem no Facebook.”

Desde 12 de abril de 2011, o Diario de Pernambuco tem página no Facebook. Quase

dois anos depois, o jornal criou a editoria de Mídias Sociais com o intuito de coordenar toda a

relação entre o veículo de comunicação e a audiência.

No momento da realização da entrevista, no final do mês de outubro de 2013, o Diario

de Pernambuco possuía 125 mil amigos e entre 35 mil e 45 mil pessoas falando sobre ele. O

número de seguidores no Twitter do Diario de Pernambuco era bem inferior ao Facebook, 16

mil.

As redes sociais funcionam para o veículo como um termômetro do que:

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as pessoas estão comentando, do que as pessoas estão falando hoje que agente não tem material ainda. Então, tem esses dois lados: (...) pegar ummaterial do impresso e ir para as redes sociais, ou então, sei lá, vai ter umamobilização contra o Caiçara, aquilo está na rede, mas a gente não temmaterial, então a gente vai atrás, olha está bombando isso aqui... (...) Se vocêestá vendo que tem um assunto que está incomodando as pessoas, que estáemocionando as pessoas, lógico que tem que estar destacado, até mesmosendo manchete. É um retorno para a gente fantástico, um feedback imediato(JORNALISTA 5, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Mais do que um termômetro, as redes sociais são um espaço onde as fontes não

institucionalizadas passam a ter voz e uma possibilidade de visibilidade midiática. A

jornalista 5 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) exemplifica como vem acontecendo esse

envolvimento da Audiência Potente nos veículos de referência, como o Diario de

Pernambuco:

Muitas coisas desse movimentos, como o Coque Resiste, a gente ficousabendo nas redes sociais. Depois a gente recebe informações da assessoriade imprensa, vê comentários... Essa questão do Cais José Estelita, Caiçara,vários movimentos que você começa a ver nas redes sociais e que não temassessoria de imprensa, não é uma instituição, não é um sindicato que aassessoria liga e avisa. Geralmente são movimentos que estão ali naquelelocal que é o Facebook. Por exemplo, vi no Facebook que ia ter o show doOtto, Teatro Mágico e Silvério Pessoa no Baile Perfumado e o pessoal doViver não estava sabendo ainda. Estava lá na página deles no Facebook, masa assessoria não tinha mandado nada ainda. Agora veja, não fui eu que entreino Facebook deles, eu já vi no Facebook de outras pessoas (JORNALISTA5, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL). .

O poder de propagação da rede convida veículos de referência, como o Diario de

Pernambuco, a rever não só as fontes, que não são somente as institucionalizadas, mas a

ampliar o leque de assuntos, que são incorporados às edições diárias, muitas vezes pela força

com que as opiniões da audiência se movimentam nas redes:

Nas redes têm muita porcaria, mas tem muita coisa interessante. Então vocênão pode desprezar e nem ter preconceito. Por exemplo, se tem lá Anita nãosei o que lá... Mas se tem um movimento de um grupo que curte Anita, agente tem que avaliar isso, colocar um especialista de cultura, dizendo queisso é um fenômeno assim e assado. A gente tem que tirar nossospreconceitos. Se as pessoas tão ouvindo, tão gostando, a gente tem que ver oque está acontecendo. Que fenômeno é esse? Vamos mostrar o que é, comcrítica e com elogio. Eu acho que a gente tem que se livrar dos preconceitos.Nas redes sociais eu acho que os jornalistas não estão mais nessa de dizer“ah, está nas redes, mas eu não vou dar ”. Acho que como a redação é jovem,está todo mundo acompanhando (JORNALISTA 5, 2013, INFORMAÇÃOVERBAL).

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Essa velocidade informativa das redes sociais, que facilita a propagação das histórias,

tem ajudado os veículos de referência na escolha do que será transformado em notícia. A

jornalista 5 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) fala desse movimento que surge nas redes e

chega às páginas do jornal:

Às vezes você está na página de fulaninho, ai vê ele falando de um assunto,ou sei lá, um show que seja, aí entra na página de outros e estão falandotambém. Você conclui que aí tem um movimento nessa história. Entãovamos ver o que está acontecendo. Existe esse movimento. Você não está alipassivo, olhando... Não tem essa procura que não é intencionada. Como agente está ligado na notícia... Por exemplo, aquela notícia sobre a Ponted’Uchoa39, ninguém esperava que tivesse aquela repercussão nas redes.

Há editorias “mais beneficiadas” por essa conversação nas redes sociais. No caso do

Diario de Pernambuco, a editoria que tem mais colaboração das redes é Vida Urbana

(cidades), em virtude de:

hoje as pessoas estarem mais preocupadas com a cidade. A gente não tinhaessa preocupação antes, tanto é que a cidade está aí, inchada. Mas hoje temessa preocupação, um carro bate num monumento e vira essa comoção.Então, é uma editoria que tem sido beneficiada com as redes sociais. Políticatem muito, cultura muito, esportes muito. Eu acho que economia é a editoriaque não aproveita, mas as pessoas comentam assim mesmo (JORNALISTA5, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Esse feedback da Audiência Potente a partir das redes sociais tem alterado, por

exemplo, a escolha das manchetes:

o jornalismo é feito no “chutômetro”. A manchete você vai dar, dentro detodos aqueles critérios que você faz e tal, mas é um achismo. Com as redessociais e com a Internet é uma coisa bacana, porque você vê...(...) Vamosfazer um material desse jeito, porque nas redes sociais está todo mundomobilizado em relação a isso. Então isso é muito bom porque você tem umtermômetro a esse respeito (JORNALISTA 5, 2013, INFORMAÇÃOVERBAL).

Com as redes sociais, a busca por pautas envolve outros canais, como destaca a

jornalista 5 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL), ressaltando a criação da nova editoria, a de

Mídias Sociais:

Antigamente a gente recebia muita gente no jornal trazendo informações.Hoje em dia não. Quem ainda vem, mas muito pouco, são principalmente as

39http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2013/10/28/interna_vidaurbana,470520/carro-capota-atinge-ponte-d-uchoa-e-complica-transito-na-rui-barbosa.shtml

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pessoas muito pobres, que não têm acesso às redes. Também tinham muitascartas. Hoje ainda chegam, mas chegam mais por e-mail. As formas dechegarem as notícias eram por telefone, as pessoas ligavam para repassar ainformação; as pessoas que vinham à redação, os faxes e as cartas. Hoje emdia a gente faz as rondas, as cartas chegam em volume menor, as pessoas quevêm aqui na redação também são em um volume muito menor, e você temesses canais, que são as agências de notícias, e esse mundo todo de Internet,de redes sociais para você ter acesso à informação e trocar também, paravocê dar visibilidade ao jornal nas redes sociais. (...) Mas a gente está ligadoo tempo todo. Inclusive foi criada uma equipe pra fazer exatamente isso.

4.4 Editor de mídias sociais: um novo perfil profissional no Diario de Pernambuco

Na última década do século XX os processos de produção comunicativa incorporaram

novos perfis profissionais, ao mesmo tempo em que redesenharam as funções dos papéis

tradicionais. Enquanto algumas funções tendem a desaparecer, outras surgem ou são

profundamente modificadas(SCOLARI,2008). Desde o momento em que a comunicação se

volta para a interatividade e para a multimedialidade, a força de trabalho muda e geram-se

novas rotinas produtivas. No caso dos jornalistas, as transformações os levam a converter-se

em produtores-gestores polivalentes da informação em diferentes suportes e

formatos(SCOLARI,2008). Essa polivalência se dá em vários níveis, que não se excluem, de

acordo com a categorização proposta por Scolari (2008):

No nível tecnológico - o profissional da informação utiliza instrumentos (software e

hardware) que lhe permitem produzir e gerenciar conteúdos em diferentes suportes. Ilustra

esse nível a figura do jornalista que domina ao mesmo tempo a escrita, o tratamento

fotográfico, a edição não-linear de vídeo ou base de dados.

No nível midiático – o profissional da informação desenha e produz conteúdos em

diferentes linguagens (escrita, áudio, gráfica, vídeo e interativa). Scolari (2008) explica que

essa polivalência midiática pode ser exemplificada na situação em que o jornalista, depois de

cobrir um evento, prepara o texto para enviá-lo aos meios impressos ou onlines, grava uma

entrevista para rádio e edita o vídeo para transmiti-lo na tv. Esta polivalência exige

competências tecnológicas (conhecimento dos instrumentos técnicos) e semiótica

(conhecimento das linguagens dos diferentes meios).

No nível temático - um mesmo profissional da informação se ocupa de gerar

informações para as diferentes seções do meio (esportes, política, cultura...).

Nesse emaranhado de novas funções, o jornalista tem se deparado também com a

necessidade de gerenciar os espaços colaborativos abertos pelos veículos de referência, bem

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como de lidar com a Audiência Potente, que é capaz de interferir na produção de conteúdos

midiáticos.

No Diario de Pernambuco, como em muitos periódicos mundiais, os profissionais

estão tendo que se reinventar diante das novas exigências que, além de tecnológica, midiática

e temática, são também relacionais. São funções que deixam de existir e outras que surgem,

como o editor de Mídias Sociais. Berghella (2009) descreve a nova função:

Social Media Editor (Editor de medios sociales): sería la persona que seocupa de transmitir las virtudes y posibilidades que brindan las herramientassociales de la web dentro de la redacción periodística. Básicamente trabajaráen la alfabetización de las herramientas entre los periodistas y editores, peroademás planificará estrategias de uso de estas aplicaciones para mejorar lacomunicación e interacción entre los usuarios y el medio. Puede definircuáles serían las aplicaciones que la empresa, los periodistas o un proyectonecesitan y qué uso se les dará. Es necesario que esté a tono con las nuevastendencias y que conozca las herramientas emergentes para experimentar yaprovechar su aplicación dentro y desde el medio. Su perfil sería el de uninvestigador y cazador de tendencias web, planificador, además dealfabetizador en su uso.

O editor de Mídias Digitais foi incorporado ao quadro do Diario de Pernambuco em

março de 2013. A nova editoria é composta por sete jornalistas, incluindo o editor. O

jornalista responsável pela nova editoria diz que sua função é: “(...) pelo menos, sessenta por

cento de divulgação de nosso produto (a notícia) e quarenta por cento de captação de notícia

no Facebook”(FIGUEIRÔA, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

De uma maneira geral, o editor de Mídias Sociais e sua equipe estão na rede buscando

audiência para o Diario, mas lidar com essa bidirecionalidade (jornal-audiência,

audiência-jornal) ainda suscita muitas dúvidas: responder ou não responder a todos os

comentários?Antecipar nas redes sociais uma informação que a redação recebeu e que ainda

está sendo produzida pelos jornalistas? Considerar ou não as críticas feitas aos conteúdos e a

linha editorial do jornal?

Com relação aos questionamentos da audiência, a editoria de Mídias Sociais do Diario

de Pernambuco adota o seguinte procedimento:

Pode ter alguma pergunta e a gente tenta responder ao máximo. Porexemplo, o trânsito. A pergunta se o trânsito em Boa Viagem está intenso. Aía gente liga pra CTTU e responde: olha até agora a gente não tem nenhumainformação. Mas a gente tenta responder ao máximo às observações, aoscomentários... (JORNALISTA 1, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

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Um dos grandes desafios para os profissionais que integram a nova editoria e também

para a empresa de comunicação é entender que estão lidando com espaços conversacionais e

que, portanto, as perguntas feitas pela audiência devem ser respondidas, as dúvidas

esclarecidas, os erros consertados. Não se pode abrir um canal com o intuito de que a

audiência possa interagir, mas só permitir a interação quando ela for de interesse da empresa

de comunicação. Tão pouco se deve transformar esse espaço em um divulgador automático da

produção do jornal.

O e-book La función del community manager: cómo las empresas están

organizándose para crear y hacer crecer sus comunidades, editado pela ACERCO (2009, p.

8), alerta que “no contar con una monitorización activa y precisa de las conversaciones en

Internet es el camino más seguro hacia el fracaso”. Alerta válido não só para o community

manager, como para o editor de mídias sociais.

Dentre as muitas estratégias de relacionamento entre a audiência e o Diario de

Pernambuco, uma delas é usar as redes sociais, não só para responder, mas também para

perguntar:

(...) acontece da gente perguntar: está acontecendo isso, vocês estãosabendo? Tem alguma foto pra mandar pra gente? (...) Se alguém perguntaalguma coisa a gente responde. Mas pode ser impressão minha, mas achoque as pessoas interagem mais no Face que no Twitter. Eu observo isso.Pode ser que outras pessoas tenham outra percepção... Mas no Face eu achomuito maior. (...) A conversa, acho, que acontece mesmo no Face.(JORNALISTA 1, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

As atividades dos jornalistas que integram a recém-criada editoria de Mídias Sociais,

no Diario de Pernambuco, começam cedo e seguem até a meia-noite. Uma rotina de escutar,

identificar tendências e descobrir os temas que são de interesse da audiência. Uma das

jornalistas da equipe explica como é realizado o trabalho:

A primeira coisa que faço é olhar a home do site, onde estão as principaisnotícias, para ver o que é que tem de novidade, o que não tem. Depois deolhar a capa, aí olho essa parte aqui de últimas, que são as notícias que forampostadas recentemente, as últimas notícias literalmente. Aí eu vou vendo,mas como Robson já está aqui antes de mim, eu pergunto o que ele postou eo que foi postado no dia anterior. Sempre olho o que foi postado na tarde enoite do dia anterior. Pra ver se alguma coisa que saiu tarde da noite deontem, se entrou, ou se não entrou. Se a gente pode repetir alguma coisa queentrou no dia anterior porque rendeu muito. Aí eu sempre faço essaobservação, o que foi postado na tarde e noite e o que foi postado pelamanhã. Aí eu observo o que tem, o que não tem, o nível decompartilhamento (JORNALISTA 1, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

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Os posts no Facebook do Diario de Pernambuco são feitos a partir das últimas notícias

publicadas pelo site do jornal, “porque Internet é uma coisa que o que foi ontem já está velho.

(...) A gente tenta pegar o que está mais fresco. O que tem mais novidade” (JORNALISTA 1,

2013, INFORMAÇÃO VERBAL). Funcionando como divulgadora do que está sendo

produzido na redação, a editoria de Mídias Sociais realiza, diariamente, o trabalho da seguinte

forma:

Vejo o que tem de destaque. Cada editoria tem um banner - caderno Viver,Economia, Política, Mundo, Viver, Vida Urbana. A gente também vê osblogs da casa. As editorias e os blogs e não necessariamente o que está aquia gente bota no Twitter, ou o que está aqui bota no Face. A gente sabe que àsvezes são perfis diferentes. A gente dá uma olhada também noPernambuco.com e no Twitter do portal, que não são feitos de notíciasfactuais. É um portal que a gente explora Pernambuco, o que é que Recifetem, coloca a foto da macaxeira com carne de sol, que já teve 831compartilhamentos. (JORNALISTA 1, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

No Diario de Pernambuco, a relação com as redes sociais não é pautada por

orientações definidas em manuais de relacionamento. No entanto, os integrantes da nova

editoria dizem que primam pelo:

(...) cuidado que a gente tem em dar a informação e também pela formaatrativa para que chame as pessoas pro Diario. Pra que não dê toda umainformação num post e assim as pessoas acabam perdendo o interesse pelanotícia. A gente tem um cuidado assim: todas as informações estão no site,mas nem todas as informações servem ou dão posts interessantes para oTwitter ou para o Facebook, então é uma percepção pessoal mesmo, ter umasacada... (JORNALISTA 1, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Se nem tudo que está no site do Diario de Pernambuco é interessante para as redes

sociais, o critério adotado pela editoria para fazer posts é:

A gente tem que escolher o que vai atingir muita gente, ou coisas queinteressam muito. O que hoje está batendo muito é política. Tem isso emalgumas épocas. A campanha eleitoral está batendo muito forte, emprego,concurso público que muita gente se interessa, os times daqui. Então, temmuito assunto que interessa: o trânsito, Arlindo dos 8 baixos, que é umartista daqui da região. Ou quando tem uma grande operação (JORNALISTA1, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

O Diario de Pernambuco, como outras empresas que estão nas redes sociais, tem por

objetivo conseguir o maior percentual de “engajamento” da audiência. O “engajamento” é

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quantificado pelo número total de “curtidas” e o “falando sobre isso”, que representa quantas

pessoas estão interagindo com a página naquele momento (dados disponíveis no próprio

Facebook). Na busca por um maior “engajamento” é importante movimentar os “amigos” do

Facebook. Encontrar estratégias para que eles “curtam”, “compartilhem” e “comentem” o

post. No Diario de Pernambuco, a editoria de Mídias Sociais utiliza algumas “fórmulas” para

engajar a audiência:

Às vezes, a gente bola umas perguntas. Em alguns casos a gente incita essaresposta. Por exemplo, o que eu botei aqui: teste seus conhecimentos! Omovimento Educar, que é um movimento do Diário com alguns colégios.Eles prepararam um simulado com 180 questões do Enem... Aí eu boto: testede vestibular, responda as questões. Eu que redigi e outras pessoas foramcompartilhando, um marcando outro. Outro amigo que gostou do post... Masa gente tenta não dar todas as informações, porque se não eles não vãoacessar o Diario...(JORNALISTA 1, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Ao longo do dia a editoria realiza várias postagens, uma média de um post a cada 15

minutos. A orientação é para que sejam feitos posts sobre notícias de várias editorias, mas na

prática cada jornalista que integra a equipe faz posts de acordo com suas preferências

pessoais. Durante a observação vimos, por exemplo, que o jornalista que abria a conversação

nas redes sociais lançava sempre posts sobre assuntos relacionados à televisão (novelas,

programas, atores e atrizes), enquanto a outra jornalista da manhã focava em temas como

trânsito, concursos, educação. Cada post, na maioria das vezes, era ilustrado com foto e

sempre com o link para a notícia: maneiras de usar as redes sociais para atrair ao jornal a

audiência interessada no tema.

4.5 O Diario de Pernambuco e a Audiência Potente

Com a emergência da Audiência Potente, a escolha do que é notícia não é só feita de

uma forma presumida (VIZEU, 2002), ou seja, com os jornalistas construindo

antecipadamente a audiência a partir de sua cultura profissional, da organização do trabalho,

dos processos produtivos, dos códigos particulares (as regras de redação), da língua e das

regras do campo das linguagens para, no trabalho de enunciação, produzirem discursos que,

no jargão jornalístico, são chamados de notícias (VIZEU, 2002).

A produção da notícia nos veículos de referência vem sendo afetada de diversas

formas pela Audiência Potente. O Diario de Pernambuco, ao envolver-se com a Audiência

Potente que está nas redes sociais, espera:

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se aproximar dessas pessoas, criar um vínculo, um relacionamento de troca,tanto com eles compartilhando o material da gente, como pautando a gente.Criar laços mesmo. O que é interessante é que essa nova geração dejornalistas (...) escreve para o impresso e fica querendo colocar as coisas nasredes sociais, pra ter um retorno. Essa angústia de hoje não aconteciaantigamente. Todo mundo estava lendo o jornal, em tese. Mas hoje, elesficam buscando se as pessoas estão comentando seu trabalho. E eles mesmosficam entrando ali pra se colocar ou pra rebater, ou pra complementar. (...)Então fica essa coisa de retorno que é imediato, ou para “meter o pau” ou praelogiar (JORNALISTA 5, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Para a ação da Audiência Potente é necessário que ela tenha acesso a dispositivos

tecnológicos, tais como computadores, celulares, smartphones, dentre outros. Com o acesso à

tecnologia, conectividade e interatividade, a audiência passa a ter a possibilidade, não só de

ressignificar as mensagens que recebe, como de se envolver com os veículos de comunicação

das mais diversas formas. Durante a pesquisa de campo, no Diario de Pernambuco,

observamos que a audiência, ao assumir certas características (de interatividade, de

conectividade, de reação, de amplificação, de testemunha, de coprodução), destacadas abaixo,

baliza as decisões do jornal na definição do que será notícia.

4.5.1 A Audiência Potente com característica de reação

A Audiência Potente tem como uma de suas características a formação em redes, o

que possibilita aos veículos de comunicação informações de diversos lugares no mesmo

momento. Essa interatividade veículo-audiência, manifestada na forma de diálogo entre o

jornalista da redação e a audiência distribuída nos diversos cantos do mundo, aumenta a rede

de fontes do veículo de comunicação, ao mesmo tempo em que amplia a visibilidade dos

conteúdos, não mais restritos a uma divulgação pelos veículos de comunicação de referência,

mas circulando em outros espaços, como por exemplo, nas redes sociais.

A formação em rede da Audiência Potente também favorece que ela influencie seus

pares, podendo mudar os processos de formação de opinião pública. No dia 28 de outubro de

2013 chegamos ao Diario de Pernambuco e a equipe das Mídias Sociais estava atenta à

movimentação da audiência no Facebook com relação a um acidente que resultou no

desmoronamento de parte da Ponte d'Uchôa, uma estação para os primeiros bondes do Recife,

construída em 1865.

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A primeira abordagem que a equipe da editoria de Mídias Sociais deu para o acidente

foi ressaltando “o trânsito complicado no local”, como podemos ver no post abaixo:

Diario de Pernambuco

Foto: Mayra Cavalcanti/DP/D.A Press

Um acidente registrado no início da manhã desta segunda-feira deixa o trânsito complicado na

Avenida Rui Barbosa, bairro das Graças, zona norte do Recife. Um carro capotou, atingindo a

estrutura da Ponte d'Uchôa. Parte do telhado da antiga estação caiu na pista, interditando uma faixa da

avenida. A CTTU removeu para o depósito de veículos do órgão o veículo envolvido no acidente. De

acordo com a companhia, o carro era conduzido por Vinícius Freitas Cândido.

Mais informações na matéria completa: http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/

2013/10/28/interna_vidaurbana,470560/cttu-reboca-carro-que-destruiu-ponte-d-uchoa.shtmlCurtir · · Compartilhar · 28 de outubro de 2013

137 pessoas curtiram isso. 102 compartilhamentos

Figura 6 - Primeiro post publicado no Facebook do Diario sobre acidente da Ponte d'Uchôa.Fonte: Facebook Diario de Pernambuco.

O número de compartilhamentos da informação no Facebook, que atualmente passa a

ser considerado, na tomada de decisões nas redações, para definir se uma notícia chega ou não

à capa do jornal, ou é destacada na home, já era grande. No primeiro post do dia, a notícia foi

curtida por 137 pessoas e compartilhada por 102.

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Mas o que a equipe de Mídias Sociais passou a perceber é que o interesse da

audiência, manifestado nas redes, não era pelo transtorno que o acidente causou no trânsito e,

sim, pelo dano ao patrimônio. Uma das jornalistas da equipe de Redes Sociais chegou a

comentar conosco, que tinha em mente que nas redes estaria circulando a informação das

pessoas a partir do transtorno no trânsito causado pelo acidente e, portanto, a equipe do jornal

começou a falar do trânsito. Mas o movimento das redes foi de indignação pelo dano ao

patrimônio e foi dado um novo encaminhamento à cobertura, como confirma a jornalista 5

(2013, INFORMAÇÃO VERBAL):

(...) aquela notícia sobre a Ponte d’Uchoa ninguém esperava que tivesseaquela repercussão nas redes. A mãe do menino até disse que estavam maispreocupados com o patrimônio do que com o filho dela. Porque todo mundoficou revoltado com aquilo e o menino ainda tinha um histórico de váriasmultas. E aí começou. Postaram um desenho maravilhoso da PonteD’Uchoa, que Cavani Rosas fez com bico de pena, e aí várias pessoascomeçaram a reproduzir aquilo. Inclusive a gente falou com Junior Cavanipara ver se ele emprestava o desenho para a gente publicar no jornal. É umatroca. Você tem que ficar atento.

Assim, no final do dia a cobertura, que começou tratando do trânsito, terminou com a

seguinte chamada na capa do jornal impresso: “Carro capota e destrói parte do patrimônio”

(DIARIO DE PERNAMBUCO, 2013).

Figura 7 - Chamada de capa do Diario de Pernambuco sobre acidente na Ponte d’Uchôa.

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4.5.2 Audiência Potente com característica de testemunha e de coprodução

A Audiência Potente, que está no Facebook e no Twitter, e se envolve com os

veículos de referência, pode trazer, para a redação, tanto seu testemunho por estar presente ao

local do acontecimento, como contribuir com registros fotográficos ou de vídeos, que

geralmente são registros únicos dos acontecimentos. Na maioria das vezes, o veículo de

referência se apropria de conteúdos vindos da audiência quando estes se referem a eventos de

crise, como desastres naturais, atentados terroristas e situações de conflitos que, dada a sua

imprevisibilidade, impossibilitam a cobertura integral pelas equipes jornalísticas. Esses

eventos de crise são caracterizados por Molotch e Lester (1999) a partir de uma tipologia de

acontecimentos públicos, como acontecimentos realizados involuntariamente (acidentes), ou

seja, aqueles que levam à quebra da ordem habitual (MESQUITA, 2010).

Durante nossa pesquisa na redação do Diario de Pernambuco, observamos um desses

exemplos da audiência funcionando como testemunha e depois como coprodutora, bem como

a apropriação desse conteúdo pelo veículo de referência:

O testemunho na rede - No dia 25 de outubro de 2013, uma das jornalistas que

compõe a equipe de Mídias Sociais viu, em sua página pessoal do Facebook, que um de seus

amigos na rede social falava sobre um incêndio no bairro da Imbiribeira. Ela passou a

informação para a redação, que entrou em contato com o Corpo de Bombeiros, e depois

colocou no ar a primeira notícia intitulada “Fogo - Bombeiros recebem chamado para conter

incêndio na Imbiribeira”. No primeiro parágrafo do texto havia a informação oficial de que o

“Corpo de Bombeiros recebeu, por volta das 11h50 desta sexta-feira, o chamado para conter

um incêndio no bairro da Imbiribeira, zona sul do Recife(DIARIODEPERNAMBUCO.COM,

2013)”. No segundo parágrafo, o indicativo de que a informação vinha da audiência: “Há

informações ainda não oficiais de que o fogo estaria atingindo um apartamento do Conjunto

Residencial Boa Viagem” (DIARIODEPERNAMBUCO.COM, 2013).

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Fogo »Bombeiros controlam incêndio em galpão no bairro da Imbiribeira

Publicação:25/10/2013 12:24 Atualização: 25/10/2013 14:02

Foto: Andréa Mascarenhas/Cortesia

O Corpo de Bombeiros controlou, no início da tarde desta sexta-feira, um incêndio em um galpão

localizado na Rua Guarabira, número 446, no bairro da Imbiribeira, zona sul do Recife. De acordo

com a assessoria de comunicação da corporação, três viaturas foram deslocadas para a ocorrência, por

conta do risco de propagação das chamas para uma subestação da Celpe, localizada nas proximidades.

Ninguém ficou ferido. Os bombeiros ainda não informaram que tipo de material era armazenado no

galpão e a proporção do incêndio. O chamado foi recebido por volta das 11h50 e as equipes se guiaram

pela fumaça para chegarem até o local. Uma nuvem escura pôde ser vista no bairro de Boa Viagem.Figura 8 - Notícia surgida de um comentário no Facebook e publicada no diariodepernambuco.com.

Na segunda matéria, além das informações do Corpo de Bombeiros, uma foto

produzida por Andréa Mascarenhas, complementava a notícia reproduzida acima. Uma

questão importante é que essa informação apropriada pelo jornal não foi resultado de uma

relação, onde uma cidadã disposta a contribuir com o jornalismo envia um conteúdo que

resulta em notícia. Mas de uma audiência, que é testemunha e também coprodutora, e está

mais voltada para o espaço do Facebook. O jornalista do veículo de referência, na busca

constante pela notícia, entendeu que aquele conteúdo poderia fazer parte do noticiário,

incorporando-o a agenda da mídia.

Essa apropriação do conteúdo da audiência apresenta-se de várias formas nos veículos

de referência, como afirma o jornalista 6 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

A gente coloca na capa do jornal as tuítadas que as pessoas deram. A gentesempre contempla frases do Facebook, como no apagão, por exemplo. Agente teve caso aqui de dar manchete de matérias que basicamente foram doTwitter. Um caso recente foi o caso do preconceito com os médicos cubanos,um comentário da menina do Ceará... Foi manchete também, entendeu?

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Então pauta sim, essa do Ceará, foi manchete. A gente investiu na matéria efoi manchete. E quando tem um assunto sério assim, como você falou, agente coloca frases do Twitter, do Facebook, coloca umas frases que a coisafoi muito forte também nas redes sociais, como o apagão... A gente semprecontempla.

No dia 31 de outubro, um outro exemplo da audiência que é testemunha e coprodutora

resultou na notícia “Protesto de comerciantes informais fecha a Avenida Caxangá”(DIARIO

DE PERNAMBUCO, 2013). A equipe de Mídias Sociais recebeu e publicou fotos de um

protesto que acontecia numa das maiores avenidas do Recife. Diferente do exemplo do

incêndio da Imbiribeira, a audiência procurou o jornal e cedeu o conteúdo, que no final do dia

foi para a capa do jornal, ilustrando a chamada “Ex-Femen, animais e pneus queimados nos

protestos” (DIARIO DE PERNAMBUCO, 2013). Importante ressaltar que a notícia teve um

grande número de curtidas (174) e compartilhamentos (128) que, como já destacamos antes,

figura como um dos critérios de seleção para que o assunto seja destacado ou na homepage do

diariodepernambuco.com ou na capa do jornal.

ATENÇÃO! PROTESTO DE COMERCIANTES INFORMAIS FECHA A AVENIDA CAXANGÁ

Um protesto fecha, na manhã desta quinta-feira, o tráfego da Avenida Caxangá nos dois sentidos.

Ateando fogo em pneus, comerciantes informais impedidos de atuar no local...Ver mais em http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2013/10/31/interna_vidaurbana,471227/protesto-de-comerciantes-informai

s-fecha-avenida-caxanga.shtml

Curtir · · Compartilhar · 31 de outubro de 2013 · Editado

174 pessoas curtiram isso. 128 compartilhamentos

Figura 9 - Notícia feita em coprodução com a Audiência Potente e publicada nodiariodepernambuco.com usando foto da audiência.

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Figura 10 - Capa do Diario com foto produzida pela audiência testemunha.

4.5.3 A Audiência Potente com característica de propagação

Outra característica da Audiência Potente é sua capacidade de propagação, num curto

espaço de tempo, das histórias que lhe interessa. Essa propagação materializada nas redes

sociais em forma de “curtidas” ganha mais força com os compartilhamentos. Esse movimento

da audiência nas redes sociais tem se refletido nas redações, modificando a pauta, a cobertura,

trazendo novos atores e novos assuntos para os veículos de referência.

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Diario de Pernambuco

Adquira um PlayStation 4 por menos da metade do preço e, de quebra, viaje para o Chile. E não é

promoção.http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/tecnologia/2013/10/17/interna_tecnologia,468628/adquira-um-playstation-4-por-menos

-da-metade-do-preco-e-de-quebra-ainda-viaje-para-o-chile.shtml

Curtir · · Compartilhar · 17 de outubro de 2013

467 pessoas curtiram isso. 305 compartilhamentos

Figura 11 - Post no Facebook sobre novo preço do PSP.

Um exemplo da incorporação de assuntos que possuem uma grande velocidade de

propagação nas redes sociais, e passam a fazer parte dos conteúdos publicados pelos veículos

de referência, foi o novo preço do Play Station 4, que não constava na pauta do jornal no dia

17 de outubro. O jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) conta como o assunto saiu

do “anonimato da imprensa” para a chamada de capa da edição veiculada no dia 18 de

outubro de 2013:

Esse movimento eu vi de manhã numa tuítada de Tiago Leifert da Globo. Ecomo assim? Quatro mil e num sei o quê! Eu não entendi direito, aí fui verna minha timeline, já tinha duas pessoas alarmadas com o preço, e foi porvolta de onze e pouca da manhã que surgiu isso. E aí começaram já aquelashistórias: não, é mais barato ir pros Estados Unidos, comprar e voltar e tal? Eaí, quando eu acionei o repórter da tarde (Redes Sociais), já estava ligadonisso também.(...) Sim, ele mesmo já estava fazendo a matéria (...),que eramais barato ir pro Chile, comprar um pacote de turismo, ficar hospedado,trazer o videogame e voltar. Eu disse: olha, vamos fazer os Estados Unidostambém, porque tem muita gente comparando com os Estados Unidos. E aípublicamos essa matéria no site para gente entrar com um post rápido noFacebook e no Twitter. Então eu cheguei para o pessoal da capa do jornal,para a editora executiva e disse: “Olha, está muito forte isso”.

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Figura 12 - Capa do Diario com notícia sobre o novo preço do PSP, fruto de uma pauta surgida nasredes sociais.

O jornalista 6 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) confirma a informação de que o

assunto não estava na pauta do jornal impresso e passou a fazer parte pela força de

propagação nas redes sociais:

Conversei com Fred e disse: poxa, esse negócio do preço do novoPlaystation, isso é legal, acho interessante. Está chamando atenção dopúblico jovem, acho que vale uma chamada na capa. A gente foi para aedição impressa e vimos que não estava contemplada. Aí a gente fez umareformulação e chamou a editora de Economia, que apurou a matéria e agente fez uma chamada na capa. É um exemplo claro da influência da redesocial. Agora a gente está sempre se pautando nessas coisas. Eu semprechego pra ele (editor de Mídias Sociais) e pergunto: o que é que estápegando aí? Ele passa para mim e eu vejo se está contemplado no jornal, e sevale a pena ou não chamar, mas geralmente vale, viu?

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Diario de Pernambuco Foto: Youtube/Reprodução

A maior onda da história, surfada por um pernambucano... Veja em

http://blogs.diariodepernambuco.com.br/esportes/?p=91672

O surfista pernambucano Carlos Burle, de 45 anos, teve durante um bom tempo a marca de maior

onda surfada no mundo. Perdeu o status em 2011. Para recuperá-lo, ele foi ao mesmo local do recorde

atual, estabelecido por Garrett Mcnamara, com uma montanha de água de 30 metros de altura. Na

Praia da Nazaré, na região central de Portugal, Burle encarou uma onda gigante, além de resgatar a

brasileira Maya Gabeira, que também tentou surfar uma super onda. Confira o vídeo no Blog de

Cassio Zirpoli.

Curtir · · Compartilhar · 28 de outubro de 2013 989 pessoas curtiram isso. 397 compartilhamentos

Figura 13 - Post no Facebook sobre maior onda surfada por um pernambucano. Fórmula que reúnegrande número de “curtidas” e de “compartilhamentos” é igual a chamada de capa do jornal.

Outro exemplo da ação de uma audiência propagadora que interfere no jornal,

colocando o assunto como pauta, aconteceu no dia 28 de outubro de 2013. Um post no blog

do editor assistente de Esportes do Diario de Pernambuco, sobre um pernambucano que

surfou uma onda de 30 metros, foi “compartilhado” por 397 pessoas e “curtido” por 989, indo

para a capa do Diario com a seguinte chamada: “Honra e glória de um pernambucano no topo

do mundo”. O jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) ressalta a força da propagação

da Audiência Potente, nesse caso da onda:

A gente colocou na rede ontem, e na mesma hora começou a render muito.Hoje estava em todos os sites, e é a maior foto que tem na capa. Tem coisasque são de Internet pra Internet mesmo. (...) Mas esse caso da onda é umclássico mesmo do que vem via Facebook ou via Twitter. Não foi nem agente que viu primeiro, foi o blogueiro de Esportes que viu, fez pra ele e jápediu a gente, porque sabendo que avisando pra gente teria um retornorápido de audiência pra ele, e aí acabou dando tudo certo.

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Figura 14 - Capa do Diario com a chamada sobre maior onda surfada por um pernambucano..

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4.5.4 Do Trending Topics para a capa do Diario

Figura 15 - Capa do Diario com o líder da banda Papaninfa, que foi Trending Topics noTwitter.

Com essa certeza a partir dos indicativos da audiência nas redes sociais, de que um

assunto tinha uma boa aceitação da audiência, também foi para a capa do Diario de

Pernambuco, no dia 23 de outubro de 2103, a entrevista40 com o líder da banda Papaninfa, que

participou da edição do programa musical da TV Globo, The Voice Brasil.

A breve aparição do recifense no programa, levou-o aos Trending Topics do Twitter e à

capa do Diario de Pernambuco. O jornalista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) explica

que o Diario de Pernambuco sempre leva muito em consideração “a coisa que estoura na

Internet”:

A gente colocou o vídeo ainda de noite. Tipo meia-noite, mais ou menos, foia última postagem. Quando eu abri o vídeo no outro dia de manhã, essevídeo já estava com quatrocentos e oitenta compartilhamentos. Curtidas

40http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2013/10/24/internas_viver,469922/estranho-e-receber-mensagens-de-todo-o-pais-diz-rafael-furtado.shtml

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muito mais. Isso já gera mais de cem mil pessoas vendo. Eu posso dizerdepois exatamente quanto gera precisamente, mas gera um número muitoalto, já perto mesmo de cem mil pessoas visualizando, ou até mais.

Figura 16 - Manchete do Diario sobre assunto de muita discussão nas redes sociais.

Outro exemplo que, embora não faça parte da semana de observação, mas que é bem

forte para caracterizar essa capacidade amplificadora da Audiência Potente, é a manchete do

Diario de Pernambuco do dia 14 de janeiro de 2014, “Professor da UFRPE em polêmica na

web”.

O texto ressalta que “as críticas a homoafetivos, escritas por um professor da UFRPE

em seu perfil no Facebook, causaram forte repercussão nas redes e nas instituições de Direitos

Humanos”, e evidencia duas questões relevantes: o quanto o jornal vem fazendo esse

monitoramento do que é veiculado nas redes, e o quanto a movimentação da audiência na rede

pode despertar o interesse da mídia. No Facebook do Diario de Pernambuco, a notícia teve

507 pessoas “curtindo” e 247 “compartilhamentos”.

A Audiência Potente quebra a hegemonia das fontes institucionalizadas, que sempre

tiveram prioridade no diálogo com o jornalismo. A jornalista 5 (2013, INFORMAÇÃO

VERBAL) faz uma reflexão bem pertinente sobre isso:

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Antes a gente só tinha informação de gabinete. Lógico que a gente tem queprocurar as fontes, mas antigamente a gente dependia muito da informaçãode gabinete. Muitas pautas eram: a secretaria de saúde, a secretaria deeducação... Lógico que hoje ainda existe, ainda tem. Mas é menor, porquevocê tem outras fontes. O pessoal das universidades, os especialistas, oseconomistas... Você sai daquela pauta que foi passada e você vai atrás dapauta que está vindo das pessoas: o que elas estão vendo, estão achando,estão falando... Então, existe uma certa diminuição dessas pautas degabinete. Claro que elas não vão acabar, mas agora não é mais: é isso, elesdisseram que é só isso e isso me basta. Não! Tem que ir atrás o tempo todo, agente era muito dependente das fontes institucionalizadas e hoje a pautamudou completamente, né? Você vê, na Rua da Aurora querem construircinco edifícios. Aí você vê a mobilização que começou no Facebook e osjornais foram atrás. Vamos ouvir as instituições, a prefeitura, a construtora.Mas veio a partir das redes sociais. É o que as pessoas estão dizendo, o queestão querendo.

A facilidade de acesso as chamadas novas Tecnologias da Informação (TICs) fez com

que o cidadão comum, por vezes excluído do debate público articulado pelo jornalismo,

começasse a intervir no processo de produção de conteúdos para as mídias, disputando

visibilidade midiática com as fontes oficiais, que alimentam a pauta jornalística.

Historicamente, o acesso privilegiado à pauta jornalística vinha sendo usufruído pelas

fontes oficiais. As demais fontes - movimentos sociais e o cidadão comum de uma maneira

geral - que se encontram na periferia da estrutura de poder sofriam, quase sempre, uma

exclusão sistemática do debate público articulado pelo jornalismo. Essa exclusão compromete

a representatividade e a legitimidade da representação simbólica que constrói a realidade.

Após essas reflexões sobre o Diario de Pernambuco, trazemos no capítulo 5 um olhar

sobre a Audiência Potente, construído a partir da pesquisa de campo realizada num dos mais

importantes jornais espanhóis, o La Vanguardia.

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CAPÍTULO 5 - O LAVANGUARDIA E A APROPRIAÇÃO DA

AUDIÊNCIA POTENTE

Adotamos uma abordagem etnográfica para a realização da pesquisa de campo, no

jornal espanhol lavanguardia.com, sediado em Barcelona, da mesma forma que fizemos com

o Diario de Pernambuco. Mas antes de nos determos na metodologia, daremos algumas

informações sobre o jornal observado.

O lavanguardia.com é a edição digital do diário La Vanguardia, o mais importante

jornal de Barcelona, segundo da Espanha, depois do El País, e o oitavo diário digital em

espanhol de maior audiência do mundo. O meio online, que oferece informação em tempo

real, 24 horas por dia, integra o grupo espanhol Godó, que detém, desde 1881, a propriedade

do diário impresso La Vanguardia, além de outros meios de comunicação como o jornal

Mundo Deportivo, das rádios RAC 1, RAC 105 FM e Prisa Radio, e dos canais televisivos

8TV, RAC 105 TV, GDA Pro e Nueva Veranda.

Figura 17 - Homepage do lavanguardia.com em 25 de janeiro de 2014.

Com sede em Barcelona, o La Vanguardia possui cinco sucursais na Espanha (em

Madri, Valência, Sevilha, Galícia e País Basco) e correspondentes na maioria das capitais da

Europa, nos Estados Unidos, na América Central, na América do Sul e na Ásia. No Brasil, o

correspondente do La Vanguardia está sediado em São Paulo.

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A versão digital do La Vanguardia foi lançada em 1995 e oferece conteúdos

multimídia em diversos gêneros: notícias de última hora, entrevistas, reportagens, narrações

minuto a minuto de eventos ao vivo, e colunas de opinião. Ainda dedica espaço a vários blogs

especializados.

Oliveira (2008) afirma que são três as fases históricas do lavanguardia.com. A

primeira, quando foi criada a edição online do centenário diário barcelonês, em junho de

1995, com a principal característica de que todo o conteúdo era gratuito. Como muitos

ciberdiários, o lavanguardia.com, nesta época, fazia apenas transposição do conteúdo do

impresso para a web e, para realizar esse trabalho, havia dois jornalistas responsáveis. Já neste

momento, o lavanguardia.com permitia o acesso ao mais antigo diário da Espanha,

disponibilizando em formato PDF as edições desde 1º de fevereiro de 1881 até os dias atuais.

Ainda de acordo com Oliveira (2008), o lavanguardia.com evoluiu muito rapidamente

em seus primeiros cinco anos, acompanhando o crescimento gradual da própria Internet. No

ano de 2000, 15 jornalistas formavam a equipe do diário digital. Mas, percebendo que o

negócio na Internet passava por uma crise, a empresa resolveu reduzir o número de pessoal e

revisar seu modelo de negócio. Dessa forma, em fevereiro de 2003, o ciberdiário entrou em

sua segunda fase. Estabeleceu um limite de consulta gratuita, mediante registro prévio de

usuários, a toda produção digital, às notícias do dia e da semana. Já o acesso às notícias

anteriores aos últimos sete dias somente era possível para os assinantes do meio digital, ou do

diário impresso.

Uma nova reorientação do modelo de negócio veio em junho de 2006, após mais

cortes de pessoal e uma estagnação do crescimento dos usuários e assinantes. A mudança do

visual resultou na separação do que é produção digital do que vinha do diário de papel. Assim,

tudo que era produzido pela redação digital passava a ser gratuito, enquanto que o que se

referia às edições impressas tinha acesso pago. Foi em 2006 que chegou no La Vanguardia o

veterano jornalista Enric Sierra, que passou a assumir duas funções no grupo: a de

redator-chefe, adjunto ao diretor da versão impressa, e a função de subdiretor do

lavanguardia.com.

Além da experiência de ter trabalhado em vários diários catalãs (El Punt, Diari Avui e

o Correio Catalã), em emissoras de rádio (Cadena 13), na Agência F e na TV Espanhola,

Enric Sierra trazia para o lavanguardia.com todo o know how com meios digitais, já que, não

só participou da criação do 20 minutos.es, como também estava na direção do ciberdiário no

momento em que se tornou o primeiro da Espanha em audiência.

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Toda essa experiência de Enric Sierra trouxe uma nova dinâmica para o

lavanguardia.com. Foi durante sua gestão que foi lançada a semente do que mais tarde se

tornou a seção de Participação, uma “abertura de porta” na relação do jornal com o que

denominamos Audiência Potente.

Dos dois jornalistas responsáveis quando foi criado em 1995, o lavanguardia.com

passou para 31 em 2013, ano em que realizamos a observação participante. Em novembro de

2012, o lavanguardia.com contabilizava 4 milhões de usuários únicos mensais, na Espanha,

com 95 milhões de page views. Segundo Enric Sierra (2012), na América Latina, América

Central e América do Sul, o lavanguardia.com possui 1,5 milhão de usuários. Já o diário de

papel, que é editado em castelhano e em catalão, teve uma tiragem média de 215.686

exemplares/dia, de julho de 2011 a junho de 2012, segundo dados oficiais de circulação,

fornecidos pela Oficina de Justificación de la Difusión (OJD), encarregada do controle da

tiragem e difusão de vários tipos de diários e revistas impressas na Espanha.

5.1 A redação sinergética do espanhol La Vanguardia

A redação do lavanguardia.com é ampla, ocupa todo o terceiro andar de um edifício

comercial de Barcelona. Os repórteres, editores e fotógrafos da web trabalham no mesmo

espaço, que é dividido também com os tradutores do jornal impresso (cujas edições são

veiculadas em castelhano e em catalão).

Figura 18 - Redação do lavanguardia.com, em 05 de fevereiro de 2013.

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Não há paredes, nem qualquer outra divisória, separando os repórteres dos chefes de

seção e do chefe de redação. A única sala separada é onde acontecem as entrevistas. Embora

fechada, as “paredes” da sala são de vidro, possibilitando a visão de toda a redação.

Também não existe mesa, tampouco uma sala para o responsável pela edição digital do

La Vanguardia, Enric Sierra, que sempre divide seu tempo entre as redações do

lavanguardia.com e do diário impresso. Várias vezes ao dia, podíamos ver, com um pequeno

bloco na mão, Enric Sierra sentando-se ao lado do responsável pela homepage, Joel Albarrán,

e do chefe de Informação, Josep Mª Calvet. Nestes momentos, ele olhava fixamente para o

computador, conversava e saía. Depois cumprimentava o chefe da redação, Txema Alegre, e

repetia o mesmo procedimento, sentando-se ao lado da chefe de Produção Própria e

Multimídia, Sílvia Colomé, para mais outra conversa. Feito isso, voltava para a redação

impressa. Notamos que essas conversas estavam substituindo a reunião de pauta, que, durante

nossa presença na redação, só aconteceu uma vez, embora alguns jornalistas entrevistados

garantissem que são diárias, realizadas pela manhã e à tarde.

Em fileiras horizontais, sentando-se um de frente para o outro, em “baias”,

agrupam-se os jornalistas por seção. Em cada “baia” há um computador dos modelos atuais,

com tela de LCD e um telefone. Os móveis são claros, de madeira, com gavetas para que os

jornalistas guardem seus pertences. De jornalista para jornalista vai mudando a arrumação do

espaço. Alguns, ao lado do computador, armazenam pilhas de jornais antigos, outros guardam

objetos pessoais, como fotos, bichinhos de pelúcia e até bebidas, usadas como decoração. No

fundo da sala há armários de madeira, da mesma cor das bancadas, com alguns livros, junto a

filmadoras e máquinas fotográficas usadas, principalmente por jornalistas da seção de

Produção Própria e Multimídia.

Espalhados pela redação há monitores de televisão, mas mesmo em pleno

funcionamento não há quase barulho. Era uma redação diferente de algumas no Brasil, com

poucos toques de telefone, um ruído quase imperceptível de rádio e da televisão, a não ser

quando havia alguma entrevista ao vivo, ou pronunciamento de algum político. Como

algumas redações web brasileiras, a busca pela notícia no lavanguardia.com acontece, na

maioria das vezes, através das relações facilitadas pela Internet. O que se refletia na

permanência, por um grande espaço de tempo, dos jornalistas na frente do computador e

dentro da redação, que funciona todos os dias da semana, 24 horas.

Os jornalistas, em sua maioria jovens entre 25 e 40 anos, têm uma jornada de oito

horas. Já os chefes de seção, profissionais mais experientes que, na maioria das vezes, já

atuaram na versão impressa ou em outros meios de comunicação, possuem um horário bem

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mais ampliado. Todas as horas excedentes ao contrato de trabalho são catalogadas em um

banco de horas e trocadas por folgas. Cada jornalista tem direito a um dia de folga na semana.

Com equipes reduzidas, só não pode acontecer que mais de um integrante da mesma seção

tire folga no mesmo dia.

Na Diagonal, uma das maiores e mais importantes avenidas de Barcelona, estão não só

a redação da versão impressa, como a da web, situando-se a primeira no sexto, sétimo e nono

andar, e a segunda no terceiro andar, o que, para Enric Sierra (2012,INFORMAÇÃO

VERBAL, facilita “uma estratégia de ‘sinergia’ entre o papel e a web”. Quando se refere a

“sinergia”, Sierra diz que prefere a expressão a outras como “convergência de redação” ou

“integração”. Para ele, sinergia é esse entendimento de que os fluxos e os tempos de trabalho

da redação de papel são diferentes da web e precisam de alguém que tenha um nível de

compreensão, de saber como funciona, para saber aproveitar os melhores fluxos de um lado

até outro. Como Sierra acumulara, ao longo de três décadas, experiência em jornais

impressos, televisão e Internet, o grupo Godó o convidou para “ajudar-lhes a reimpulsionar a

web de La Vanguardia e a planejar uma estratégia de sinergia entre o papel e a web”

(PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

Ao se referir à sinergia, o periodista 1 explica que usa esse termo para não levar ao

entendimento de que os jornalistas do grupo produzem para todos os veículos, sem estarem

atentos à necessidade de conteúdos apropriados para cada meio. “Gosto mais de falar que se

aproveitam conteúdos”, diz o periodista 1 (2012, INFORMAÇÃO VERBAL), afirmando

que:

A web é como o nexo de união dos meios do grupo (rádio, TV, impresso).(...)Qualquer coisa que se faz, reaproveita-se para outros meios. Sobretudo,conteúdos multimeios. Por exemplo, nossa televisão faz programas eentrevistas, faz todos os tipos de conteúdos. Esses conteúdos nósescolhemos, reempacotamos e colocamos na web. E por outro lado, se nossatelevisão vê que na web existe uma vídeo reportagem que lhe interessa, nosrecorre. Na rádio é igual. Segue aí uma sinergia. Gosto mais de falar desinergia do que integração, porque, mesmo as unidades estando juntas,sempre há a necessidade de alguém fazer conteúdos apropriados para cadameio. A sinergia é mais do que “todos fazemos tudo”, porque isso não podeser.

Para essa sinergia acontecer, Enric Sierra foi contratado pela web e também pelo jornal

impresso. Dessa forma, acumula os cargos de subdiretor do lavanguardia.com e de chefe de

redação, responsabilizando-se pela integração das versões impressa e on-line. Para concretizar

essa sinergia entre jornalistas de ambas as redações, Sierra designou um profissional de cada

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editoria do diário de papel para ser o que denomina “jornalista ponte”. Esse jornalista recebe

um treinamento intensivo na redação web para disponibilizar o conteúdo na Internet e, depois,

repassa o seu conhecimento técnico para os demais colegas de editoria do jornal impresso.

Segundo o periodista 1 (2012, INFORMAÇÃO VERBAL), essa decisão servia

também para que os jornalistas do papel não vissem os jornalistas da web como “secretários”.

Ou seja, profissionais que pegariam os conteúdos produzidos pelas equipes do impresso e, por

terem mais familiaridade com ferramentas da web, ficariam com a obrigação de lançá-los na

Internet. Um trabalho meramente técnico.

Embora Sierra (2012) utilize o termo sinergia, o que se faz no grupo Godó

aproxima-se muito do que Salaverría y Negredo (2008) caracterizam como convergência, ou

seja:

Un proceso multidimensional que, facilitado por la implantacióngeneralizada de las tecnologías digitales de telecomunicación, afecta alámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios decomunicación, propiciando una integración de herramientas, espacios,métodos de trabajo y lenguajes anteriormente disgregados, de forma que losperiodistas elaboran contenidos que se distribuyen a través de múltiplesplataformas, mediante los lenguajes propios de cada una.

Feita a apresentação do veículo pesquisado, passemos para as explicações de como foi

realizada a investigação no lavanguardia.com. Começamos a pesquisa de campo, literalmente

em terras estranhas, numa manhã de inverno, na qual, excepcionalmente, fazia sol e 13 graus.

Estávamos na cidade, prestes a terminar um estágio doutoral sob a orientação do professor

doutor Javier Diaz Noci, na Universidade Pompeu Fabra, iniciado há quatro meses.

Atendendo a sugestão do tutor, deixamos para realizar os contatos com o jornal em dezembro,

visto que nos meses anteriores (novembro, outubro e setembro) havia uma discussão sobre o

movimento independentista da Catalunha, fortemente relatado pelo jornal e que, na visão do

tutor, dificultaria meu acesso ao La Vanguardia. Assim, marcamos a entrevista com o

redator-chefe adjunto ao diretor da versão impressa, e subdiretor na web do La Vanguardia,

Enric Sierra, para o início de dezembro.

A entrevista, realizada na sede da empresa, que fica numa importante avenida

comercial de Barcelona, aconteceu de uma forma muito espontânea, foi gravada com a

autorização do entrevistado e, apesar do idioma, fluiu bem, tendo uma duração de quase duas

horas. A observação das rotinas na redação, no entanto, só foi iniciada no dia quatro de

fevereiro, seguindo até o dia 13 de fevereiro de 2013. Esse período foi solicitado pelo

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subdiretor do La Vanguardia, porque estava fora das festividades de Natal e Ano Novo.

Também houve um pedido para não ser em janeiro, mês muito escolhido pelos jornalistas do

veículo pesquisado para tirar férias.

Assim como no Diario de Pernambuco, utilizamos para a observação participante o

método proposto por Casetti e Chio (1999), que entendem que o objetivo principal desse tipo

de observação é captar a realidade ao vivo, eliminando as mediações que podem contaminar

os dados. Adotamos algumas das estratégias propostas pelos autores para a realização da

observação participante, tais como: negociar em que termos seria a observação, respeitar as

regras acertadas e não esconder a finalidade da investigação.

Diferentemente do jornal pernambucano, na Espanha, não conhecíamos um só

integrante da redação. Eles foram gentis, muito disponíveis, mas era perceptível o desconforto

de ter um observador sempre por perto, por mais que tentássemos ser o menos invasivos

possível. Muito educadamente, os jornalistas pesquisados costumavam nos perguntar “se não

iríamos almoçar”, “que horas iríamos embora da redação”, “por quanto tempo mesmo

ficaríamos ali”. Uma jornalista chegou a insinuar que “deveríamos ser muito amigos do

subdiretor do jornal para ele deixar que nós ficássemos conhecendo tão detalhadamente a

rotina da redação”. Assim, muito sensíveis à necessidade de não atrapalhar o trabalho dos

observados, sem deixar de levantar os dados que trouxessem respostas ao nosso problema de

pesquisa, ficamos no jornal nove dias. Para Peruzzo (2008, p. 143):

não existe tempo ideal que possa ser prefixado na observação participante.Depende do tipo de objeto, de quão rápida ou demoradamente ele se revelaao investigador, das condições em que os mecanismos internos do“objeto” sedão a conhecer ao pesquisador e da capacidade deste em captar suasmanifestações implícitas e explícitas.

Os jornalistas escolhidos inicialmente para a observação, um editor e duas repórteres,

integram a seção de Participação do lavanguardia.com. A proposta de observá-los foi feita por

nós e prontamente aceita pelo subdiretor, Enric Sierra. Mas depois da imersão no dia a dia da

redação e atentos ao seu funcionamento, sentimos a necessidade de observar também o

trabalho da seção de Redes Sociais, uma equipe composta de uma community manager e de

um estagiário. A negociação para observar o trabalho da seção de Redes Sociais foi

intermediada pelo editor de Participação, Toni Rubies.

Nossa investigação consistia basicamente em acompanhar as atividades desses

jornalistas, observando suas relações com a audiência que denominamos potente. Tudo

registrado em notas no caderno de campo, que para Hammersley e Atkinson (1994) consiste:

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en descripciones más o menos concretas de procesos sociales y suscontextos. La finalidad es captar los procesos sociales en su integridad,destacando las características y propiedades, siempre según un cierto sentidocomún sobre aquello que es relevante para sus problemas planteados en lainvestigación.

Como parte da observação, realizamos ainda entrevistas em profundidade com os

jornalistas do La Vanguardia: o subdiretor do lavanguardia.com, Enric Sierra; o chefe da

seção de Participação, Toni Rubies; a chefe da seção de Redes Sociais e community manager

do La Vanguardia, Patrícia Ventura; as redatoras da seção Participação, Mônica Cébrian e

Patrícia Plaza. Do mesmo modo que no Diario de Pernambuco, manteremos a equipe no

anonimato, para evitar constrangimentos relacionados as suas falas. Todas as vezes que

necessitarmos colocar a informação verbal repassada pelos entrevistados, como já fizemos no

início deste capítulo, identificá-los-emos como periodista 1, periodista 2, periodista 3,

periodista 4 e periodista 5.

O propósito das entrevistas, igualmente ao das realizadas no Diario de Pernambuco,

era sair de abstrações e compreender a relação dos jornalistas com a Audiência Potente, e as

mudanças decorrentes dessa relação na produção da notícia. Assim, as entrevistas

consideraram cinco aspectos:

1 O profissional jornalista – buscamos entender como os jornalistas têm se

posicionado diante desse novo agente envolvido na produção noticiosa. Como eles

veem essa relação com a Audiência Potente: há uma ameaça para o profissional?;

eles consideram que a voz da audiência põe fim à legitimidade profissional, ou seja, à

sua condição de mediador privilegiado da verdade dos fatos?; consideram que passam

a ter a “autonomia” regulada, além das organizações, também pelo cidadão que tem

vários canais para apresentar suas versões dos fatos e/ou opiniões?; os “olhares” desse

novo agente “obriga” o jornalista a rever seu processo produtivo?

2 As mudanças – A ideia era destacar as mudanças, que se dão na rotina do profissional

após o advento da Web 2.0, com a incorporação das redes sociais às práticas

jornalísticas e o envolvimento da audiência nessas práticas.

3 A produção da notícia - De que forma essa voz da audiência interfere na produção da

notícia nos veículos de comunicação de referência? A audiência participa em todas as

fases do processo noticioso: seleção de temas, recolha de dados, edição e publicação?

Quem interage diretamente com essa audiência e de que forma (o editor, o chefe de

reportagem, o repórter)? Em que medida essa interatividade se reflete na realidade

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cotidiana do trabalho jornalístico? O que muda na construção da notícia com esse

novo agente?

4 A Audiência Potente – quem é a Audiência Potente? Como é a relação dessa

audiência com os veículos de comunicação? De que forma a audiência contribui para o

trabalho do jornalista?

Segundo M. Bauer & G. Gaskell (2002), a entrevista qualitativa fornece os dados

básicos para o desenvolvimento e compreensão das relações sociais entre os atores sociais e

sua situação. O objetivo é a compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e

motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos.

Essa técnica quase sempre produz uma melhor amostra da população de interesse e

tem como vantagem uma cobertura mais profunda sobre determinados assuntos. Além da

interação entre o entrevistador e o entrevistado, que favorece respostas espontâneas e

possibilita invocar assuntos mais complexos e delicados, fazendo surgir questões inesperadas

para o entrevistador, e que poderão ser de grande utilidade na pesquisa.

Após organizarmos e sistematizarmos o material coletado, fomos para a análise com

base no referencial teórico utilizado para a construção da hipótese da Audiência Potente.

5.2 Os espaços abertos à “participação” da audiência no lavanguardia.com

Embora a versão impressa do La Vanguardia tenha um espaço destinado, na página de

Opinião, a conteúdos vindos da audiência, no caso, cartas, fotos, alguns posts pinçados do

Facebook ou tuítes, além de chamadas no fim dos textos convidando o leitor a participar do

debate, ou complementar a informação, é na versão digital que o Grupo Godó diz ter

planejado uma relação mais “ampliada” com a audiência. Os caminhos foram graduais.

Primeiro, a “abertura” dos comentários nas notícias, como lembra o periodista 1:

Antes de minha entrada aqui, fazer um comentário no lavanguardia.com eramuito complicado. Tinha que se registrar, colocar dados... Mas eu decidiabrir a barreira e fazer muito fácil. Que sucedeu? Tivemos um “tsunami”. Aspessoas começaram a comentar as notícias e começamos a nos perguntar:nós temos que ficar só com isso? Só com os comentários, ou vamos dirigiresses comentários a outras maneiras de participação? E assim fizemos(PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

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Essa abertura aos comentários a que se refere o periodista 1 (2012) aconteceu no ano

de 2007. Até então, era preciso registro do usuário, entrada em fóruns e, ainda assim, nem

todas as notícias ficavam abertas aos comentários da audiência. Para o periodista 2, a grande

revolução foi quando todos puderam comentar:

A partir daí monitoramos todas as contribuições dos usuários em seuscomentários e em suas opiniões. Assim nos deparávamos com comentáriosruins ou bons, que traziam informações que podiam ser incorporadas àsnotícias. Evidentemente que tínhamos que seguir os procedimentos habituaisdo jornalismo e checar a informação (PERIODISTA 2, 2013,INFORMAÇÃO VERBAL).

Embora não houvesse necessidade de registro das pessoas interessadas em comentar, a

empresa exigia um e-mail para possibilitar o contato da redação com aquela audiência, que,

ao comentar uma notícia, trazia alguma informação relevante. Dessa forma, foram sendo

construídos os pilares para que se estabelecesse uma relação mais próxima entre os jornalistas

da redação digital e a audiência do lavanguardia.com.

Nessa relação com a audiência, a segunda etapa, após o acesso aos comentários, foi a

incorporação de dois botões às notícias: “Notificar error” e “Tengo más información”.

Quando a audiência utiliza esses botões, toda a redação é informada, por e-mail, sobre falhas

na apuração, ou recebe informações complementares àquela notícia. O periodista 2 explica

que mais do que notificar um erro, cada dia mais, as pessoas querem complementar a notícia

com informações adicionais.

A cada dia recebemos muitas mensagens que o usuário repassa por meio dobotão “Tengo más información”. Muitas delas servem para incorporar ànotícia, muitas não. Mas não deixamos de escutar, não deixamos de terinteresse pelo leitor. Há autênticos experts fora da redação, em distintoscampos do conhecimento. Na ciência, por exemplo, para se falar numaevolução no campo científico, ou na descoberta de uma vacina, melhor queescreva um médico superespecializado, que sabe mais que um jornalista deuma agência, ou de uma redação. Há coisas muito setoriais, e por isso,aproveitamos a massa crítica do usuário, que é muito ilimitada(PERIODISTA 2, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Embora os jornalistas afirmem que a abertura aos comentários foi uma grande

revolução no lavanguardia.com, nem todas as notícias estão abertas para que a audiência

exponha o que pensa. O lavanguardia.com tem uma relação dos temas que podem e os que

não podem ser abertos aos comentários. Essa relação, obviamente, não é publicizada para o

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público externo, mas é seguida fielmente pela redação. São consideradas “sensíveis” pelo

grupo, com indicação de “Desativar formulário de comentários nas notícias sobre”:

- Família Real (o jornal pertence a um Conde);

- Mortes de menores de idade;

- Grupo Godó;

- Violência de gênero;

- Assassinatos;

-Mortes anônimas por acidentes(terrorismo, guerras, maltratos, imigração).

Na linguagem da redação, essas são notícias com comentários “capados”, ou seja,

notícias que não podem ser comentadas. A outra situação é a moderação prévia, ou seja, para

que o comentário seja divulgado, uma equipe de moderadores, composta por jornalistas

externos à redação e pela equipe de Participação do lavanguardia.com deve liberá-los. Na

mesma lista que indica as notícias com comentários fechados há a orientação do jornal para

quais temas deve ser ativada a moderação prévia. São eles:

-Mortes de políticos, artistas ou personagens conhecidos;

- Terrorismo (Al Qaeda, ETA);

- Israel-Palestina;

- Pederastia e prostituição;

- Racismo e xenofobia;

- Homofobia;

- Artigos de opinião;

- La Contra (página de entrevista do jornal La Vanguardia)

A lista de temas mostra que, embora o lavanguardia.com não faça exigência de registro

prévio para que se comente as notícias, o jornal estabelece limites, evitando que a fala da

audiência vá de encontro a alguns assuntos para os quais o grupo reserva-se o direito de falar

sem dar espaço ao diálogo.

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La Vanguardia.com Vida

Uma nueva cucaracha llega a España

Vida | 05/02/2013 - 00:05h

Las empresas de control de plagas alertan de la dificultad para eliminarla por la falta de un insecticida

específico | El Instituto de Biología Evolutiva confirma que se han encontrado focos estables de este

insecto doméstico | La 'Supella longipalpa' vive también en sitios secos, por lo que puede encontrarse

en cualquier rincón.

Leer

más: http://www.lavanguardia.com/vida/20130205/54362700851/nueva-cucaracha-supella-longipalpa.html#ixz

z2rhZOMWCE

Síguenos en: https://twitter.com/@LaVanguardia | http://facebook.com/LaVanguardiaFigura 19 - Notícia de Ciências, referindo-se a uma nova espécie de barata que estava invadindo aEspanha, que teve moderação prévia de comentários.

Com uma presença forte da audiência disposta a comentar as notícias (entre os que se

publicam e que ficam de fora, o lavanguardia.com contabiliza uma média de oito mil

comentários diários)41, o diário barcelonês tem um acompanhamento minucioso dos temas que

a audiência pode ou não comentar. Na pesquisa de campo, observamos, estranhamente, que

uma notícia de Ciências, referindo-se a uma nova espécie de barata que estava invadindo a

41Quando há temáticas que despertam mais interesse na audiência, como corrupção ou independência da Catalunha, o número de comentários sobe para 10 mil por dia (PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

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Espanha, tivesse moderação prévia, tendo os comentários publicados somente depois que os

moderadores decidissem pelos que poderiam ou não ser veiculados. Uma das jornalistas da

Seção de Participação explicou que os moderadores externos tiveram receio que os

comentários comparassem as baratas aos imigrantes e, por precaução, preferiram não deixar a

notícia com comentários abertos.

Após abolir a necessidade de registro nos comentários às notícias e observar o número

alto de pessoas dispostas a comentar, o lavanguardia.com investiu na abertura da seção de

Participação. Criada em 2006, a seção tem uma equipe enxuta comparada com a de Produção

Própria e Multimídia, mas bem maior do que a de Redes Sociais. É composta por três

jornalistas, incluindo o chefe da seção e mais uma estagiária. O periodista 1, sintetizando o

trabalho da equipe de Participação, afirma que ela se dedica a:

animar a participação, a receber a participação e canalizá-la por interesses,tanto dos leitores, como também nossos. Se nós damos uma notícia fazemosque o leitor se sinta protagonista de nosso meio, que participe da elaboraçãodessa informação junto ao profissional e logo apareça como copartícipe dainformação. Desde isso até que eles mesmos se sintam protagonistas porescreverem diretamente (PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃOVERBAL).

Para o periodista 1, esse protagonismo se manifesta quando a audiência traz para o

jornal temas que não estavam na pauta jornalística e esses temas passam a ser incorporados

pelas equipes da redação. Numa estratégia de fidelização da audiência, o jornal adota a prática

de colocar junto à assinatura do jornalista, o nome da pessoa que passou a informação depois

transformada em notícia, “numa espécie de reconhecimento ao esforço e à fidelidade da

audiência com o La Vanguardia” (PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

O periodista 1 explica que o surgimento da seção de Participação transformou, ainda

mais, a audiência em um protagonista que escreve suas próprias informações, dando

“entidade jornalística a um fenômeno que existiu sempre no jornalismo, que é a relação com

os leitores”. Só que a relação com o leitor, antes da Web 2.0, como destaca Madureira (2010,

p. 42), mantinha “jornalista e audiência em suas funções originais – o primeiro com absoluto

controle sobre o que será ou não publicado, o segundo em uma postura meramente reativa ao

trabalho do jornalista”.

O periodista 1 enfatiza que tem interesse que a audiência participe de diversas formas

na produção do ciberdiário e ressalta as estratégias criadas para esse fim:

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quando vemos pessoas interessadas em natação, abrimos um fórum denatação e levamos essas pessoas para ali. Logo buscamos uma forma departicipação sobre natação, abrindo um concurso, ou qualquer outra formade participação (...). Nos leitores corresponsáveis, observamos que tinhagente que escrevia bem e que estava em diversos locais do mundo, entãopensamos: vamos convertê-los em leitores corresponsáveis. Desse grandevolume fomos extraindo ideias de participação mais concretas e gostamos detodas, não queremos renunciar a nenhuma. Por que? Porque a princípio,como te dizia, nós queremos fidelizar; que eles participem, mas não só queparticipem, mas que nos ajudem a fazer nosso meio a cada dia. E todas asfórmulas são boas (PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

Autores como Masip et al. (2010), embora entendam que esses espaços de

“participação” marcam a última grande tendência na evolução do jornalismo digital, após

investigações empíricas em algumas redações espanholas, concluíram que as empresas têm

desenvolvido os espaços de participação, principalmente, impulsionadas por interesses

econômicos (fidelizar a audiência, aumentar o trânsito), tentando minimizar sua incidência

nos processos de produção informativa. Essa constatação de Masip et al. (2010) sobre o

interesse dos jornais em fidelizar a audiência utilizando o discurso de participação também

ficou clara em nossas pesquisas, sendo evidenciadas, inclusive, nas entrevistas com os

jornalistas do lavanguardia.com.

Figura 20 - Imagem da seção de Participação no lavanguardia.com.

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Mas, embora no discurso o periodista 1 afirme que lhe interessa “as diversas formas

de participação da audiência”, na prática, o destaque dado na homepage à seção de

Participação não é tão grande. Apesar de poder ser acessada a partir da barra de navegação

principal do ciberdiário, a seção aparece quase no final da página, antes apenas da publicidade

de outras páginas web do grupo, das seções de serviços, hemeroteca e dos áudios.

O espaço destinado à Participação disponibiliza barras de navegação ou lapelas

específicas (Foros, Cartas, Blogs de los lectores, Lectores corresponsales, Foto Atlas,

Encuestas, Concursos e Encuentros digitales) para acesso direto da audiência aos seus

interesses pessoais.

Algumas são alimentadas e “animadas” periodicamente, como é o caso dos Concursos,

das Encuestas e dos Lectores Corresponsales. Outras vão sendo modificadas dependendo do

envio de conteúdos pela audiência. A seguir, descreveremos cada uma das subseções,

detendo-nos na de Lectores Corresponsales, iniciativa que, para o periodista 1, torna a

audiência “diretamente protagonista” e pode trazer elementos importantes para nossa

pesquisa:

Blogs de los lectores - como o próprio nome indica, o espaço é destinado aos leitores que o

lavanguardia.com considera “abalizados por um conhecimento, ou uma trajetória, levando a

crer que têm critérios para falar sobre um tema”. São perfis diversos, dos apaixonados por

literatura aos jogadores de videogames;

Cartas - neste espaço geralmente são colocadas as cartas de leitores já publicadas no espaço

de Opinião da versão impressa e algumas que são enviadas somente para a versão digital;

Concursos - nos mesmos moldes dos realizados nos meios massivos (rádio e televisão), com

premiações para os participantes escolhidos, os concursos no espaço de Participação do

lavanguardia.com se diferenciam dos realizados nas emissoras de rádio e de televisão porque

tentam envolver a audiência para que esta faça a cobertura de eventos, como por exemplo,

eclipses do sol, campeonatos de balonismo, só para citar alguns. É uma forma de motivar a

produção de vídeos, fotos e textos feitos pela audiência;

Encuestas - espaço onde, diariamente (com exceção dos finais de semana), é postada uma

pergunta com as opções de respostas: sim, não e não sei. Os temas geradores das encuestas

podem ser algo em destaque na mídia, ou assuntos diversos que, dependendo do interesse da

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audiência, demonstrado por meio de votação, poderão se transformar, no futuro, em produtos

jornalísticos;

Foros – espaço no qual os leitores dão sua opinião e discutem sobre temas propostos pelo

meio. Uma interação que não é em tempo real, sem restrições de espaço e tão pouco de

participações, que podem ser quantas interessarem ao usuário. Segundo o periodista 2, com a

opção de comentar as notícias, o interesse pelos foros está diminuindo;

Foto Atlas – espaço destinado à publicação de fotografias de paisagens feitas pela audiência.

Na subseção, a audiência é convocada “a ajudar a completar o Foto Atlas”, sendo possível

enviar para o espaço até 20 fotos de qualquer lugar do planeta. Segundo a jornalista

responsável pela subseção, o Foto Atlas costuma ser mais alimentado durante o Verão,

momento em que as pessoas viajam mais e têm mais tempo de fazer fotos de lugares distintos;

Consultórios - funcionam para tirar dúvidas sobre assuntos tão diversos, quanto gramática e

jardinagem;

Encuentros digitales – são chats nos quais os convidados respondem aos usuários ao vivo e

em streaming42. As perguntas podem ser enviadas à redação por Twitter, e-mail, ou no formato

de vídeo. Ao término se produz uma notícia com os principais enfoques do chat;

Lectores Corresponsales – esse espaço foi gestado nas eleições gerais de 2008. A ideia era

trazer para o lavanguardia.com novos olhares sobre as eleições, de espanhóis que estavam

fora do País, ou de pessoas que tinham o espanhol como língua. Começou de uma maneira

menos ambiciosa. Os próprios jornalistas da recém-criada seção de Participação iam

lembrando de amigos, ou de amigos dos amigos, que estavam fora e que pudessem enviar

material que seria publicado no espaço (PERIODISTA 5, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Depois das eleições, os lectores corresponsales43 passaram a trazer contribuições em

importantes momentos, a exemplo do tsunami em Fukojima, no Japão. Com o perigo iminente

de que o tsunami afetasse países costeiros da América do Sul, a equipe de Participação do

42É uma forma de distribuição de dados, geralmente dados multimídia, em uma rede através de pacotes. É frequentemente utilizada para distribuir conteúdo multimídia através da Internet.

43Para diferenciar, usamos lectores corresponsales com letras minúsculas quando nos referimos à audiência que interage e com letras maiúsculas para designar a seção Lectores Corrreponsales.

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lavanguardia.com emitiu um alerta e conseguiu muitos “olhares” dessa audiência que estava

em países como Colômbia e Chile. Os lectores corresponsales informavam como as pessoas

se precaviam dessa possibilidade iminente de um grave acidente natural (PERIODISTA 5,

2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Partindo do exemplo do Japão, a responsável pela subseção Lectores Corresponsales

constatou que em países com mais acesso às tecnologias, os relatos são mais multimidiáticos e

mais rápidos. Mas, durante todo o tempo em que trabalha na seção, conclui que não há a

presença mais forte de um ou de outro país na subseção. O perfil de colaboradores mais

frequente é composto por usuários que, por algum interesse, como, por exemplo, uma certa

afinidade com a escrita, procuram interagir com a seção. Para ratificar, a responsável pela

subseção cita o caso do jornalista aposentado Josep Coll, um dos mais ativos lectores

corresponsales. Morador de Oslo, na Noruega, Coll é um colaborador com o qual a equipe de

Participação do lavanguardia.com pode contar. Além dele, há mais quatro colaboradores

permanentes: uma da Arábia Saudita, outro de Miami, uma do México e outra da Escócia. Em

Barcelona, embora existam lectores corrresponsales cadastrados, eles não costumam escrever

por iniciativa própria. Só colaboram quando são estimulados pelo lavanguardia.com, em

momentos, por exemplo, de manifestações (PERIODISTA 5, 2013, INFORMAÇÃO

VERBAL). “Há 93 lectores corresponsales, num misto entre os muito atuantes e os que não

são tão frequentes assim, mas que permanecem colaborando” (PERIODISTA 5, 2013,

INFORMAÇÃO VERBAL).

Para fazer parte da “equipe” de lectores corresponsales do La Vanguardia, tem-se que

atender a alguns critérios: o primeiro deles é se o jornal quer ter um lector corresponsal

naquele local. Em caso positivo, o La Vanguardia faz uma:

investigação sobre quem é a pessoa, em que trabalha, a que se dedica, comoescreve, se escreve bem ou não, e se pode ser de nosso interesse tudo o quepode nos contar. Uma vez analisada a pessoa, se diz ok, você passa a serlector corresponsal. Abrimos uma ficha na web, com o nome, onde reside, oque faz e, a partir de então, há um acordo para que periodicamente nos enviecrônicas desde seu lugar (PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃOVERBAL).

Pelo menos uma vez por mês, o lector corresponsal deve enviar, sem ônus para a

empresa jornalística, um texto que considere interessante, sobre coisas que acontecem no

lugar onde vive, sobre visões da Espanha ou da Catalunha, ou atender as solicitações do

jornal, como aconteceu no caso do furacão Sandy, em 2012. “No furacão Sandy, entramos em

contato com os lectores corresponsales de Nova York e dissemos: explica-nos o que está

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passando, envia-nos fotos, envia-nos vídeos”(PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO

VERBAL).

Segundo o jornal, todo o material que chega dos lectores corresponsales passa por uma

revisão da equipe de Participação antes da publicação. O periodista 1 faz questão de afirmar

que sem “revisão, não há publicação”(PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

No entanto, observamos na pesquisa de campo que a revisão era somente ortográfica. Não há

uma checagem do conteúdo, e o jornal assume aquela “verdade do fato”, sem adotar todos os

critérios de verificação utilizados pelos jornalistas na construção da notícia.

Embora não dê o tratamento de notícia aos textos enviados pelos lectores

corresponsales, o lavanguardia.com usa alguns critérios jornalísticos como: priorizar temas

atuais, exigir que sejam citadas sempre as fontes e de que não sejam postadas mensagens

comerciais. Normas que a audiência tem que aceitar e que se assemelham muito as que são

ditadas aos jornalistas.

Os textos dos lectores corresponsales são publicados no lavanguardia.com, mesmo que

o jornal tenha naquele local um jornalista correspondente. No caso do furacão Sandy, segundo

o periodista 1 (2012), entraram textos, vídeos e fotos dos lectores corresponsales e a

cobertura do jornalista correspondente do jornal em Nova York.

Nesta proposta de trazer diferentes versões, tanto do jornalista da casa, quanto dos

lectores corresponsales houve uma situação, também um outro evento de crise, o terremoto no

Chile, que as informações trazidas pelos lectores corresponsales divergiam das relatadas pelo

correspondente do La Vanguardia. O periodista 1 (2012, INFORMAÇÃO VERBAL)

relembra:

Nosso correspondente na Argentina foi ao Chile e estava em uma zona emSantiago e contou que a situação era normal. Havia um lector corresponsalem outra zona dizendo que havia falta de carne nas lojas e nossupermercados. Nosso correspondente contou que estava normal e o lectorcorresponsal disse: não, não! Aqui falta carne! É contraditório, mas vejomais que é complementar, porque o correspondente não pode ver tudo quepassa num país.

No dia em questão, de acordo com o periodista 1 (2012, INFORMAÇÃO VERBAL),

o jornal colocou as duas versões: da normalidade trazida pelo jornalista e a da falta de carne

observada pelo lector corresponsal. Na suíte da matéria, o correspondente sob a orientação do

jornal foi checar o que o lector corresponsal trazia sobre a falta de carne, comprovou que

realmente faltava o produto e escreveu outra notícia. Esse é um exemplo de como o

envolvimento da Audiência Potente pode ser complementar e importante para o jornalismo.

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Afinal, é uma possibilidade para as redações terem olhares diversos dos mais longínquos

lugares. É uma socialização da informação, mas no nosso entendimento não substitui a tarefa

do jornalista, já que a Audiência Potente não é cobrada pelo rigor do método, que é central

para o jornalismo (SPONHOLZ, 2009; CORNU, 1994).

5.2.1 Mais espaços abertos à audiência

Além das subseções Foros, Cartas, Blogs de los lectores, Lectores Corresponsales,

Foto Atlas, Encuestas, Concursos e Encuentros Digitales, há outros espaços, por meio dos

quais a audiência pode interagir com o lavanguardia.com. São eles:

Mi rincón favorito – espaço para publicação de fotografias de qualquer parte do mundo onde

o leitor voltaria a visitar. A foto deve ser acompanhada com um texto breve, explicando o que

faz do lugar especial;

La vuelta al mundo con... – espaço para relatos da audiência que esteja “dando uma volta ao

mundo”, e que compartilhe sua experiência, podendo incorporar aos textos, vídeos e fotos;

Lector cronista – espaço para crônicas da audiência sobre seus temas de interesse,

principalmente culturais;

Testemonio del lector – espaço no qual a audiência, na primeira pessoa, descreve um

acontecimento que vivenciou. No espaço há também publicação de textos feitos pelos

jornalistas da seção de Participação, onde são incluídos depoimentos enviados pela audiência

para a redação;

Lector informador –“seria aquele leitor que nos traz uma pista, a partir de um dado, que

depois de verificado por nós, resulta em uma notícia” (PERIODISTA 2, 2013,

INFORMAÇÃO VERBAL). A notícia, com a pista da audiência, é normalmente escrita por

um jornalista da equipe de Produção Própria, diferente do “Testimonio del Lector”, em que o

relato publicado no ciberdiário é feito pela própria audiência.

La Vineta del lector - é um espaço semelhante ao Foto Atlas, só que, em vez de fotos, as

pessoas enviam ilustrações. Quando realizamos a pesquisa de campo, em fevereiro de 2013,

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existiam 66 desenhos com temáticas variadas (sociais, políticas, ambientais, infantis,

culturais...), disponibilizadas no espaço. Além da imagem, o desenhista deve enviar, também,

um texto sobre sua profissão, seu interesse pelo desenho, as técnicas utilizadas e os espaços

onde suas obras podem ser encontradas.

5.3 Uma “participação” da audiência com regras muito bem estabelecidas

A audiência que interage com o lavanguardia.com tem que se submeter a regras

estabelecidas na Política e Normas de Participação do La Vanguardia44, que, dentre outras

coisas, estabelece que:

El usuario se compromete a hacer un uso adecuado de los contenidos yservicios (como por ejemplo los de chat, foros de opinión o páginas abiertasal lector) que La Vanguardia Digital ofrece en su sede web, y a noemplearlos para incurrir en actividades ilícitas o contrarias a la buena fe y alordenamiento legal; difundir contenidos o propaganda de carácter racista,xenófobo, pornográfico-ilegal, de apología del terrorismo o atentatoriocontra los derechos humanos(…).

Mesmo fazendo questão de ressaltar que os comentários refletem a opinião dos

usuários do lavanguardia.com e não a do jornal, o Grupo Godó deixa bem claro quais as

condições a que a audiência está sujeita se quiser fazer parte dos espaços definidos como

participativos:

Respetar las normas básicas de convivencia: se eliminará cualquier mensaje cuyo

contenido sea difamatorio, obsceno, insultante, contenga amenazas o incite a cometer

cualquier acto no permitido por las leyes españolas.

Respetar la dignidad de la personas y el principio de no discriminación por motivos

de raza, religión, opinión, nacionalidad, discapacidad o cualquier otra circunstancia

personal o social.

Respetar la identidad: se eliminarán los mensajes que estén firmados por personas que

usurpen la identidad de otras o que denoten una intencionalidad perversa.

Respetar la etiqueta propia de un espacio electrónico: evitar las mayúsculas (da

apariencia de gritar o estar enojado), evitar reproducciones de textos de autores ajenos

sin aportar comentario propio alguno, citar siempre las fuentes y respetar los derechos44http://www.lavanguardia.com/ayuda/normas-de-participacion.html

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de autor, dedicar un tiempo a leer los mensajes de los demás usuarios y fomentar un

debate fluido, etc.

Ajustarse al tema de debate: se eliminarán los mensajes repetidos o aquellos que no se

ajusten a los temas propuestos en cada tema en debate o tengan fines comerciales

(‘spam’).

Participar en alguno de los idiomas utilizados en la web del diario: castellano y

catalán, o inglés en el caso de las versiones en inglés de los artículos de los blogs.

Evitar mensajes comerciales: o que incluyan números de teléfono o direcciones

personales. Se eliminarán todos los mensajes que anuncien o pongan a la venta

cualesquiera bienes o servicios, o realicen o promuevan encuestas, concursos o

cadenas de cartas, o descarguen de un foro un comentario enviado por otro usuario que

el usuario sepa, o razonablemente deba saber, que no se puede distribuir lícitamente de

esa manera (NORMAS DE PARTICIPAÇÃO DO LA VANGUARDIA, 2013).

O argumento da direção do lavanguardia.com é que esses critérios são adotados para

que o diálogo na web do jornal seja o mais civilizado possível:

Tanto nos comentários nas notícias, quanto no que pedimos ao leitorcorresponsável, sempre lhe dizemos que sejam respeitosos, que podem falaro que quiserem, mas sem insultar, sem fazer apologia a coisas ilegais, etc,etc. Dentro disso eles podem participar e nós moderamos e validamos, ouseja, se meu único objetivo é audiência eu não precisaria validar nada,deixaria tudo aberto. Eu opto por validar porque eu quero que a conversaçãoe a participação no site sejam civilizadas. Funcionamos um pouco comoagentes cívicos, não como policiais. Como agente cívico, se estás cometendoum erro na rua, há um aviso: espera o semáforo verde... É um pouco umordenamento da conversação e da participação, evitando que uma ou duaspessoas isoladas deem ao resto uma má imagem (PERIODISTA 1, 2013,INFORMAÇÃO VERBAL).

A questão da autoria é outro ponto importante nessa relação. A La Vanguardia

Ediciones, em seu aviso legal45, também deixa claro que todos os Direitos de Propriedade

Industrial e Intelectual de la Web www.lavanguardia.com e de seus conteúdos (textos,

imagens, sons, áudio, vídeo, desenhos, criatividades, software) pertencem, como autora de

obra coletiva ou como cessionária, à companhia (no caso a La Vanguardia Ediciones).

E, nessa condição de proprietária dos conteúdos publicados em sua web, a

lavanguardia.com entende que:

45http://www.lavanguardia.com/avisolegal/index.html

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Se podrán cerrar en cualquier momento y sin previo aviso cualquiera de losespacios de discusión existentes en la web. Asimismo, LaVanguardia.compodrá vetar el acceso de aquellos usuarios que reincidan en una actitudinadecuada y que no hagan caso de los mensajes de aviso del equiporesponsable de moderación (AVISO LEGAL LAVANGUARDIA,2013).

Nesta relação pouco simétrica, a empresa tem, sem ônus, o direito ao conteúdo (textos,

imagens, sons, áudio, vídeo, desenhos, criatividades). A audiência se submete às normas e

obrigações não só estabelecidas nos contratos pelas empresas, como também àquelas que

norteiam o campo do jornalismo. Como bem destaca Castro (2011, p.12):

No final das contas, o jornal se preocupa em educar, ou até mesmo emdomesticar, jornalisticamente o colaborador, apontando-lhe veladamente,sem explicações mais embasadas, os filtros que devem dirigir a seleção das“notícias” e que qualquer jornalista já conhece (ou deve conhecer) quandopassa a atuar na profissão.

5.4 O olhar para as redes sociais e o reflexo na produção da notícia

Palacios (2003), no prefácio do livro Ciberespaço como fonte para os jornalistas,

ressalta que as chamadas Novas Tecnologias de Comunicação possibilitam transformações

radicais na maneira não só de produzir, mas também de distribuir e consumir o jornalismo. E

que diferente de “(...) um tempo – não muito distante – em que se aprendia um ofício para

toda vida. (...) hoje exercer um ofício é (re)inventá-lo incessantemente, interpretando

continuidades, buscando potencializações, vislumbrando e propondo rupturas”.

(Re)inventar a profissão é um dos muitos desafios por que tem passado o jornalismo,

sobretudo após a experiência de incorporar as redes sociais ao trabalho diário. Estar nas redes,

hoje, mais de que uma simples conversação requer uma profissionalização, e empresas de

comunicação, como o La Vanguardia, incorporaram aos seus quadros a função do community

manager, um profissional que reúne habilidades de distintas áreas do saber, como informática,

publicidade e marketing, que são somadas a sua experiência como jornalista.

O community manager, também conhecido como gestor de conteúdos de comunidades

virtuais e de mídias sociais46, é, nas palavras de Vargas (2013, p.1), “un profesional en beta, en

construcción, su rol dentro de las organizaciones de noticias está definiéndose de la mano de

46Martínez Estremera (2012, p. 9) define Mídia Social como “un grupo de medios de comunicación online, caracterizados por ser participativos y abiertos, permitir conversaciones, crear comunidad y desarrollar conectividad”.

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la evolución del medio y de su adaptación a las nuevas tecnologías”. Para nós essa é uma das

definições que, neste momento, mais contempla esse novo profissional que aos poucos

começa a fazer parte das redações, modificando a forma de circulação da notícia.

Na concepção de Cobos (2011, p. 3), a definição do community manager “aún no es

clara, pues es un concepto que sigue en evolución”.

Os recentes estudos acadêmicos que analisam esse novo profissional partem das mais

diversas perspectivas, como a publicitária (MARTÍNEZ) e a pedagógica (ROJAS), para

definir não só o profissional – destacando suas atribuições – como se propõem a mostrar de

que maneira as empresas estão se organizando para criar e fazer crescer suas comunidades

virtuais.

Dessa forma, a definição de community manager varia, dependendo da perspectiva.

Para Castelló Martínez (2010, p.84-85), que define esse novo profissional a partir de uma

perspectiva publicitária, o comunnity manager surge nos Estados Unidos como:

encargado de escuchar a la comunidad online , relacionarse con ella ennombre de la empresa, hacer llegar a su compañía lo que se dice de ella en elmundo digital para identificar amenazas u oportunidades e integrar estosaspectos en las estrategias de negocio de la empresa. (…) todo ello coninmediatez y transparencia, utilizando un lenguaje cercano y ofreciendocontenidos relevantes.

A autora destaca que, ao desempenhar sua atividade, o community manager:

envía mensajes a través de plataformas como Facebook o Twitter, actualizael estado de su corporación, revisa lo que se dice de su producto,mercado y competencia, ofrece contenidos exclusivos (pre-estreno decampañas publicitarias en redes sociales online, concursos y sorteos,entrevistas y chats con personal de la empresa, etc.), revisa las estadísticas desu perfil corporativo (tráfico de visitas, comentarios, participantes, etc.),monitoriza lo que se dice de la marca en la Red e invita a los usuarios ainteractuar, entre otras tareas (CASTELLÓ MARTÍNEZ, 2010, p. 84-85).

A presença do community manager nas redações jornalísticas é recente. Mais comum

era ver esse profissional em grandes empresas como, por exemplo, Nike e Ford, traçando

estratégias nas redes sociais, em busca de fidelização dos consumidores e do aumento da

reputação da empresa, no intuito de aumentar as vendas. As funções do community manager

na redação se aproximam muito do trabalho que realizam em empresas, como as citadas

anteriormente, com a diferença de que, ao invés de carros ou tênis, trabalham com notícias.

Barrero y Ruiz (2013, p.36) ressaltam:

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Se trata de un nuevo perfil profesional que ha subvertido la dinámicatradicional del periodista a la hora de construir el relato informativo y hamodificado los modos de relacionarse de las empresas con los públicos.Igualmente, ha creado nuevas fórmulas comunicativas que se alejan de launidirecionalidad y de la jerarquía piramidal. La revolución que ha supuestopara las marcas y organizaciones la web social 2.0 deriva en una necesidadcada vez mayor de integrar en su organigrama empresarial a estas figurasprofesionales (…).

No La Vanguardia, que tem uma editoria de Redes Sociais desde 2010, o trabalho do

community manager é feito no sentido de integrar a participação da audiência a própria

informação do jornalista. A jornalista que desempenha a função de comunity manager47,

servindo de ponte entre a redação e a audiência que está no Twitter e no Facebook, tem as

seguintes atribuições:

(...) Estamos nas redes sociais pelas seguintes razões: a primeira porque o LaVanguardia tem que estar no mundo e, também, no mundo das redes sociais,mas com o objetivo de ser um referente e atrair o máximo de público, deaudiência das redes sociais a nosso site. Toda nossa política de presença nasredes sociais é egoísta. É como podemos fazer para que milhões deseguidores, que estão no Twitter e no Facebook, venham para nós. E aí estáPatrícia (a community manager), estudando e fazendo modelos de comoredigir um tuíte, um post no Facebook, para que seja atraente, para que aspessoas acessem e acabem clicando e vindo para o La Vanguardia. Esse é oprincipal objetivo e, por aí, todas as ações que fazemos dentro daparticipação, trasladamos, na hora, para as redes sociais, para que as redessociais nos devolvam audiência. Essa é basicamente a estratégia. E a níveljornalístico há que seguir sendo uma referência. O público reconhece o LaVanguardia como um diário que dá informação, deixando-o em dia, e se tunão estás aí dando informação, tentando ser os primeiros, os originais, osatraentes, sempre em todas as linhas, perde ranking (PERIODISTA 1, 2013,INFORMAÇÃO VERBAL).

A community manager do La Vanguardia resume sua função: “uma pessoa que fala em

nome do La Vanguardia nas Redes Sociais. Mediante o que dizemos, construímos uma

identidade. E não é só falar, mas buscar estratégias de diálogo com nossos seguidores nas

redes sociais” (PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

A jornalista trabalha integrada com a seção “Última Hora”, numa tentativa de trazer

para o ciberdiário, em primeira mão, o que as agências ou as pessoas comuns estão discutindo

nas redes sociais.

47Uma das definições para community manager é a do “profesional que debe convertirse en la voz y los oídos de su producto, y por lo tanto de su comunidad. Debe identificar riesgos y oportunidades. Y sobre todo, debe velar por la reputación de su producto, marca o compañía a través de las oportunidades que pueda conseguir o le sean ofrecidas (FERNÁNDEZ, 2012).

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Há diferentes maneiras como usamos o Twitter na redação. Para municiar“Últimas horas”, nos inteiramos mais rápido pelo Twitter do que pelossistemas tradicionais que as agências usam para transmitir a informação.Porque as agências, muitas vezes, soltam a informação, primeiro no Twitter,para só depois disponibilizar a notícia da maneira tradicional para asredações (PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

No Twitter, além das agências, a community manager está atenta à voz da audiência

nas ruas, o que pode gerar notícias para o ciberdiário. Foi pela rede conversacional que ela

trouxe para a redação a informação de um aviso de bomba numa escola de Barcelona:

No dia 21 de março, um follower nosso, um leitor, nos avisou por Twitterque estavam desalojando um edifício, onde funciona a escola de negócios, aESADE. Dizia-nos que estavam desalojando por um aviso de bomba. Aviseiaos meus companheiros de equipe o que o leitor estava nos informando.Então nossos repórteres foram em busca da polícia e de onde mais pudessemter informações, realizando o trabalho jornalístico (PERIODISTA 3, 2013,INFORMAÇÃO VERBAL).

Enquanto a redação buscava as fontes oficiais, a community manager do La

Vanguardia interagia com as audiências no Twitter, em busca de informações:

(...) pergunto ao follower: “tens mais detalhes”? E ele me responde quefecharam a área... Então faço um tuíte para todo mundo, dizendo: estás nazona da ESADE, então manda-nos um testemunho ou fotos para o@infolvlocal. Começaram a chegar uma quantidade de testemunhos de genteque dizia: estão evacuando, olhe essa foto... Quando olhamos as fotos vimoscarros de polícia. Então, publicamos a primeira foto que veio do Twitter.Publicamos a notícia com pouquíssima informação, com confirmação daevacuação pela polícia e sem a posição da ESADE, mas evidentementeestava acontecendo algo (PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃOVERBAL).

Siqueira (2013, p.86) observa que, com o acesso da audiência aos meios de produção,

“os processos de seleção sofreram transformações, pois as escolhas estão relacionadas com

aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos (e a tecnologia também está inserida dentro

desses aspectos)”. No caso do episódio da ameaça a bomba, o La Vanguardia, na pressa pelo

“furo”, aproveitou a imagem cedida pela audiência ainda que a qualidade técnica do material

não fosse a melhor. Na relação veículos de referência-Audiência Potente o valor-notícia

relativo ao produto (WOLF,1997), onde era observada, por exemplo a qualidade técnica, não

tem mais tanto peso na escolha do que será noticiado. A periodista 3 ressalta:

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Nenhum outro meio dá a informação, então claro, essa foto não tem uma boaqualidade, mas no momento que está passando, o breaknews tem um valorespecial, porque éramos o único veículo que estava com a imagem(PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Casero e Marzal (2011) reconhecem que o jornalismo mudou e, consequentemente, a

forma como ele se faz. Assim, para um determinado acontecimento ser transformado em

notícia, segundo os autores, não basta seguir a fórmula e contentar-se em responder apenas

algumas questões básicas dos antigos manuais jornalísticos. Para nós, uma mudança

importante, que observamos na pesquisa, é que se anteriormente, na produção da notícia, o

jornalista presumia uma audiência, hoje as empresas se baseiam também no que se comenta

em redes sociais, a exemplo de Twitter e Facebook, para produzir notícia. Como relata o

periodista 1 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL):

Na redação web, fazemos reunião a cada três horas. Na web há quatroresponsáveis: da informação, da participação, do multimeio e das redessociais. Reúnem-se e vão vendo como está fluindo a informação, se hánovidade, se os leitores estão “empurrando” um tema ou outro, se têm maisinteresse em um tema que outro. Eu também estou nessas reuniões. E a partirdaí tomamos as decisões, constantemente. E essa temperatura que tomamosconstantemente da Web é levada para o papel. E então se diz: alerta, há umtema que está quente nas redes e quiçá deveríamos tratá-lo no papel. E então,no papel, há duas reuniões no dia. Uma pela manhã e outra pela tarde, alémdas reuniões bilaterais, porque no papel há três subdiretores, que têm abaixodeles várias seções. Os subdiretores despacham com essas seções e nessasreuniões também vão se dando as indicações a partir dessas temperaturas quese toma do ambiente. Aí vão se canalizando os conteúdos. (...) Portanto,sempre estamos monitorizando e observando o que sucede na rede social.

Com a potência da audiência nas redes sociais, as empresas passam a agregar novos

critérios à escolha do que será definido como notícia. Dentre esses critérios está o Trending

Topics. O periodista 1 (2012, INFORMAÇÃO VERBAL) exemplifica:

(...) ontem detiveram o que foi presidente dos patronos da Espanha. Issogerou muito debate e na hora de fazer a capa, à noite, levamos em conta queeste tema tinha sido muito relevante, estava sendo Trending Topics. Entãodissemos: temos que colocar na capa. E o que mais colocar na capa? Outracoisa que estava sendo Trending Topics era isto destas crianças (real baby),então dissemos: vamos colocar na capa. Isso antes não acontecia. Antes era aintuição, outros critérios. Agora, não é esse o único critério, mas influifortemente e estamos muito agradecidos, porque antes era uma loteria.Acertavas ou não acertavas. Era uma loteria. Afirmavas: minha intuição mediz que esse tema interessa muito. Agora não! Agora sabemos de certo queeste tema interessa. Não há dúvida e logo acabas decidindo se vais com essetema, ou não vais, mas sabes certamente que esse tema está interessando.

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A periodista 3 confirmou, durante nossa entrevista, que na reunião de pauta, que

acontece diariamente entre 12h e 12h30 (suspensa no meu período de observação), ela “entra

com os Trending Topics” para balizar as decisões sobre quais temas o jornal vai destacar.

Segundo a periodista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL), nessa relação com as

redes sociais, além dos Trending Topics podem surgir notícias a partir de:

uma declaração de um político, que sendo muito polêmica, sempre vai geraruma conversação posterior nas redes sociais. Pois eu observo isso e, (...)quando posso, faço uma notícia a partir das reações nas redes sociais. Porexemplo, essa notícia (As palavras de Vert causam reação massiva nas redessociais) foi muito viral, muitos likes, muitos tuítes, muitoscompartilhamentos. Então fiz essa notícia com as reações das pessoasimportantes, por exemplo, políticos, opinadores, jornalistas e outros.

O monitoramento das redes sociais é ampliado para observar até que ponto o

lavanguardia.com “acerta” no enquadramento. O periodista 1 afirma:

Se temos um enfoque que nossa audiência não gosta, refletimos e dizemos:pois tem razão nossa audiência! Mudamos e fazemos novos conteúdos, massempre com uma reflexão prévia, não por impulso. Primeiro refletimosinternamente e depois vamos a retificar, vamos mudar a orientação(PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

A reação à cobertura dos veículos de referência é um das características importantes do

que denominamos Audiência Potente, mas um dos problemas éticos nessa relação do veículo

com a Audiência Potente é que, além dela não saber que sua opinião serve como balizador de

decisões, ainda há a questão de nem sempre estar explicitado que ela está dialogando nas

redes sociais com os jornais. Nas entrevistas, um dos nossos questionamentos era se todas as

vezes que está nas redes sociais em busca de conteúdos que possam ser apropriados pelos

veículos de referência, a community manager aparece “oficialmente” como jornalista do La

Vanguardia. A resposta da periodista 3 (2013, INFORMAÇÃO VERBAL) foi:

Não necessariamente. Hoje (07 de fevereiro de 2013), por exemplo, usei omeu twitter para pedir permissão para usar uma foto. Às vezes uso meutwitter pessoal para pedir permissão de uso de fotos. Hoje fiz isso porquesaiu uma notícia de que uma rainha de Carnaval de Tenerife teve o trajequeimado e está toda queimada. Nas minhas buscas no Twitter vi uma fotodo traje queimado e até agora só vi essa. Era de um DJ que estava no local.Fui para o perfil dele e fiz um tuíte da minha conta pessoal, perguntando seera dele a foto. Mas sabia que era, porque vi em seu twitter que ele estava nomédico com a bailarina queimada e que tuiteou uma foto da unidade ondeestava a bailarina, então me dava a impressão de que estava no momento.

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Sem atentar para questões éticas, o único argumento da periodista 3 para justificar sua

atitude é o fato de o perfil do La Vanguardia ser visto por muita gente. “Prefiro fazer de meu

twitter pessoal, porque é mais discreto. Não me parece bem fazer das contas corporativas,

porque isso é um diálogo” (PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Embora tenha contratado a community manager com a finalidade de atrair ao jornal

essa audiência que está no Facebook ou no Twitter, o La Vanguardia faz questão que toda a

equipe de jornalistas esteja atenta para o trato com a audiência que circula nas redes sociais.

Dessa forma, entre 2011 e 2012, os jornalistas do La Vanguardia receberam, segundo o

periodista 1, um material intitulado “Decálogo del prescriptor en las redes sociales - Manual

para captarlos y relacionarse con ellos”. Como o próprio nome indica, é um manual para que

os jornalistas entendam que o papel deles nas redes sociais não está dissociado de sua

atividade profissional. O periodista 1 (2012) faz questão de destacar que, fazendo parte do

grupo, a opinião do jornalista nas redes sociais não pode ser entendida somente com uma

atitude individual, mas também da empresa.

O jornalista do La Vanguardia não fala em nome particular, e sim, em nomedo La Vanguardia, portanto, tem que ser muito prudente no que diz, porqueisso pode ter uma transcendência. Sempre têm que colocar um link em seustuítes ou em seus posts no Facebook, porque nosso objetivo é atrairaudiência a nosso meio. Sempre têm que haver um link a nosso site. Se tuestás em Twitter e coloca: sou jornalista do La Vanguardia, quando tucolocas isso, tu estás em nome do La Vanguardia. E, portanto, não é meublog, ou meu Twitter, ou meu perfil, não. Se tu pões isso, estás em nome doLa Vanguardia. E, portanto, tens que seguir mais que umas normas, unsconselhos, um manual (PERIODISTA 1, 2012, INFORMAÇÃO VERBAL).

A primeira “lição” do manual é o entendimento do papel do prescriptor na rede, sua

influência e como os jornalistas devem fazer para chamar a atenção desses propagadores de

informação. Eis a lição número 1:

Prescriptor es quien prescribe, es decir, quien determina algo, quien receta uordena remedios, quien recomienda acciones, productos o servicios. En laweb, especialmente en las redes sociales, se considera prescriptor a aquelusuario con la suficiente relevancia e influencia como para atraer hasta unapágina a un gran volumen de internautas. Conviene tenerlos en cuenta aldifundir informaciones que puedan llamar su atención, puesto que si sehacen eco de ellas (en Facebook, Twitter, blogs, etc.), el tráfico quegenerarán hacia esos contenidos será enorme (DECÁLOGO DELPRESCRIPTOR EN LAS REDES SOCIALES, 2012).

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A segunda orientação repassada para os jornalistas é que:

Numerosos prescriptores se definen a sí mismos como seguidores de susseguidores y amigos de sus amigos. Lo primero que se debe hacer, pues, esseguirles en Twitter, Facebook y en cuantas redes estén presentes. A menudolo más aconsejable es hacerlo desde cuentas concretas - de periodistas, áreaso secciones - para potenciar la proximidad, aunque el seguimiento desde elperfil genérico de una cabecera, por la potencia de su marca, no estácontraindicado (DECÁLOGO DEL PRESCRIPTOR EN LAS REDESSOCIALES, 2012).

Ganhar a confiança de uma audiência muito ativa nas redes é outro ensinamento

ressaltado no manual:

Una buena práctica para lograr que un usuario muy popular en la política, laeconomía, la tecnología, la cultura, los espectáculos, la vida social o losdeportes acabe convirtiéndose en prescriptor de un periodista, una sección otodo un medio de comunicación, consiste en ganarse su confianza. Es fácilenunciarlo pero conseguirlo supone invertir un cierto tiempo. Estafamiliaridad podría empezar a fraguarse con un simple diálogo en una redsocial (DECÁLOGO DEL PRESCRIPTOR EN LAS REDES SOCIALES,2012).

Para que as informações sejam potencializadas pela audiência, outra estratégia é fazer

com que os jornalistas entendam que:

No basta con mencionarles al publicar informaciones en las que aparezcanprescriptores. Hay que analizar detalladamente qué días y durante qué horasson más activos en las redes sociales y hacerlo entonces, para tener másprobabilidades de que les llegue el tuit o el comentario en cualquier otroescenario digital (DECÁLOGO DEL PRESCRIPTOR EN LAS REDESSOCIALES, 2012).

O manual aconselha ainda que o jornalista difunda nas redes sociais: notícias,

reportagens, informes, entrevistas, crônicas, análises que sejam de interesse desse prescriptor,

em razão de seu trabalho, necessidades e gostos, tendo o cuidado de não deixá-lo saturado.

"Erro de estratégia que sería contraproducente ya que acarrearía lo contrario de lo que se

busca” (DECÁLOGO DEL PRESCRIPTOR EN LAS REDES SOCIALES, 2012).

Os temas difundidos seriam de atualidades ou feitos curiosos vinculados ao ambiente

natural do prescriptor: “la política en los políticos, los deportes en los deportistas, la

economía en los economistas y así sucesivamente. Sin embargo, determinados prescriptores

manifiestan un abanico más amplio de preferencias” (DECÁLOGO DEL PRESCRIPTOR EN

LAS REDES SOCIALES, 2012).

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Para iniciar uma conversação que no futuro possa render frutos na relação de

confiança entre jornalista e audiência, o manual propõe o que chama de "manobra arriscada":

Por chocante que suene, una mención o un comentario sobre unainformación negativa que afecte a un prescriptor puede dar pie a establecercon él una conversación que, a medio plazo, podría revelarse comoaltamente provechosa. Antes de plantear esta maniobra, la más arriesgada delas designadas hasta ahora, habría que conocer su carácter y actitud enInternet con el fin de prever su reacción (DECÁLOGO DELPRESCRIPTOR EN LAS REDES SOCIALES, 2012).

As estratégias utilizadas pelo La Vanguardia evidenciam as diversas tentativas feitas

pelos veículos de referência para diminuir os impactos financeiros decorrentes do aumento no

uso das redes sociais e dimunição do acesso aos meios de comunicação online. Uma pesquisa

feita pela ComScore48 (2011), traduz em números essa preocupação dos diários online. Os

resultados mostravam que se os espanhóis passavam 27 horas por mês na Internet, 5,4 horas

eram dedicadas às redes sociais, enquanto somente 1,1 hora aos meios online. Mundialmente,

segundo uma pesquisa feita pela eMarketer, divulgada no final de 2013, estima-se que 1,61

bilhão de pessoas, mais de um quinto dos habitantes do planeta, acessaram sites de redes

sociais pelo menos mensalmente no ano de 2012. De acordo com o estudo, a cifra subiu

14,2% com relação ao ano anterior e o crescimento vai empurrar este número até 2,33 bilhões

em 2017 (AGENCE FRANCE-PRESSE, 2013).

Como a questão do tempo nas páginas da Internet é importante para ingressos

publicitários, quanto mais tempo, mais “fidelizados”, ou, como se diz em inglês, maior o

engagement da audiência (COBO, 2012). Para atrair e fidelizar essa Audiência Potente

presente nas redes, que cada vez menos consome produtos jornalísticos nos meios online, os

veículos de referência incorporam estratégias de marketing à prática jornalística, esquecendo

questões éticas importantes. Mudam as rotinas de captação, produção e de distribuição da

notícia e a forma como os jornalistas desempenham sua atividade. Como ressalta Lassa &

Turmo (p.6, 2012), é uma dupla encruzilhada que está vivendo o jornalismo:

Por un lado, la crisis económica está afectando al sector de manera muyimportante. El cierre de multitud de medios de comunicación, los ajustes deplantillas, los serios recortes que se están produciendo están haciendopeligrar un aspecto fundamental de nuestra sociedad: la libertad de expresióny de opinión, siendo sometidos muchas veces los propios periodistas a las

48 ComScore é o único medidor das audiências online na Espanha até o final de 2014. http://www.lavanguardia.com/internet/20111027/54236534416/comscore-sera-el-medidor-unico-de-audiencias-nline-en-espana-hasta-2014.html

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directrices impuestas. Por otro lado, lo que está en cuestión es el propiomodelo de negocio tal y como se ha conocido a lo largo de la historia. Unmodelo basado en un acceso barato o gratuito a la información a cambio deofrecer una serie de espacios a la publicidad. Un modelo en el que lainformación ha sido un elemento de acceso universal y una de las bases delos sistemas políticos democráticos.

5.5 Colocando o decálogo do prescriptor na prática: a community manager do la

vanguardia.com e as diversas formas de envolver a audiência

A pesquisa de campo realizada no lavanguardia.com indicou que a Audiência Potente

vem sendo envolvida nesse veículo de referência e não está relacionada só com a produção da

notícia. A atuação da Audiência Potente, igual ao jornalista, cada vez mais polivalente, não

pode ser reduzida a um único papel nessa relação com o veículo de comunicação.

No jornal espanhol, duas editorias voltam-se para a relação com a audiência:

Participação e Redes Sociais. Cada uma delas com objetivos diferentes. Da forma mais

elementar, que é o comentário da notícia, passando pela integração de seus conteúdos à

produção do jornal, até as estratégias para que ela amplifique os conteúdos produzidos pelo

jornal, influenciando seus pares; a audiência se envolve e é envolvida de várias formas no La

Vanguardia. Abaixo, algumas das muitas formas que o jornal espanhol utiliza para envolver a

Audiência Potente.

5.5.1 A Audiência Potente coprodutora

Há o envolvimento mais explícito, manifestado no papel de coprodução, quando a

audiência atua enviando para o lavanguardia.com fotos, vídeos, ilustrações, crônicas e

informações complementares à notícia produzida na redação. Ainda que, como dissemos, o

lavanguardia.com não explicite em suas páginas que o conteúdo produzido pela audiência é

jornalístico, em muitos momentos esses colaboradores possibilitam ao grupo testemunhos,

não só exclusivos, mas de grande noticiabilidade, como no caso do empresário catalão Felipe

Recio que, em abril de 2012, passou uma semana em Guiné Bissau, por causa de um golpe de

estado.

Durante o tempo em que ficou sem poder sair de Guiné Bissau, mesmo com limitações

de luz, comida e segurança, o leitor enviava relatos, vídeos e fotos para a seção de

Participação do jornal espanhol, em um exemplo da audiência que atua tanto como

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testemunha de um acontecimento, quanto como coprodutor do jornalismo, na medida em que

envia textos, fotos, vídeos. Um conteúdo praticamente exclusivo que o jornal passa a ter

acesso, gratuitamente. Abaixo, alguns trechos dos testemunhos por ordem cronológica. O

primeiro foi publicado no dia 13 de abril de 2013, sendo seguido por publicações nos dias

1549, 18 50 e 19 51.

Testemunho 1 – 13/04/2012 O ANÚNCIO DO GOLPE

En estos momentos me encuentro en Guinea Bissau. Ayer por la noche, ungrupo de militares atacaron la residencia de Cadogo con bazokas ygranadas. Esta mañana los militares tienen tomadas las calles de Bissau. Unblanco paseando por la calle con un teléfono es sospechoso y los militares noquieren que se filtre información, así que el video que acompaña lainformación se ve algo borroso. Han asaltado la radio y hay cortes continuosde luz y los teléfonos están colapsados. Todo está cerrado y es unaincertidumbre saber qué pasara(RECIO, 2012).

Testemunho 2 – 15/04/2012A MANIFESTAÇÃO DA POPULAÇÃO NAS RUAS

Tras el Golpe de Estado la situación parecía estar normalizándose, aunque lacalma es relativa tras la masiva intervención militar | Los militares no dejande decir en cada comunicado que ellos no quieren el poder, pero no cuentancon el exprimer ministro Cadogo | En una situación de Golpe de Estado, enun país "complicado", ante mi solicitud de ayuda para salir, la embajadaespañola sólo me respondió: "es fin de semana". Finalmente, podré salir delpaís el lunes por la noche dirección Lisboa (RECIO, 2012).

Testemunho 3 – 18/04/2012O IMPEDIMENTO PARA SAIR DE GUINÉ BISSAU

No se puede salir de Guinea Bissau ni por tierra, ni por mar, ni por aire.Losbancos están cerrados, los cortes de luz cada vez son más frecuentes, la genteestá huyendo al campo y las fronteras están cerradas (RECIO, 2012).

Testemunho 4 – 19/04/2012 A SENSAÇÃO DE ABANDONO

No sé qué más tiene que pasar para que un país intervenga y nos saquen deaquí. Hay pillajes en las calles y los ciudadanos entran en las casas de losministros. Y todo esto a escasos minutos andando de donde estoy(RECIO,2012).

49http://www.lavanguardia.com/lectores-corresponsales/20120415/54284504123/calma-golpe-estado-guinea-bissau-situacion-politica.html

50http://www.lavanguardia.com/lectores-corresponsales/20120418/54284928969/salir-guinea-bissau-golpe-de-estado.html

51http://www.lavanguardia.com/lectores-corresponsales/20120419/54284959028/guinea-bissau-golpe-de-estado-transicion.html

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Além de publicar os relatos do empresário no espaço “Testimonio del lector”, o

lavanguardia.com ainda utilizou um dos vídeos produzido por essa testemunha-coprodutora

na reportagem “El ejército de Guinea-Bissau consuma el golpe de Estado”, feita pela agência

Reuters/EP e publicada no dia 16 de abril52.

Figura 21 - Imagem do espaço “Lector del més”, que traz a entrevista com o empresário que nãoconseguiu sair de Guiné Bissau em virtude de um golpe de estado.

Na volta do empresário para a Espanha, o lavanguardia.com dedicou a seção “El lector

del mes”53 a Felipe Rocio, destacando que ele “vivió y relató en primera persona el golpe de

Estado en Guinea Bissau en lavanguardia.com”. No final da entrevista, que continha um vídeo

onde Rocio conta como “fue su aventura para conseguir salir de Guinea Bissau después del

golpe de Estado militar”, o lavanguardia.com convida a audiência para que consulte “las

crónicas publicadas por Felipe Recio como testimonio en nuestra sección de

participación Lectores Corresponsales”(LAVANGUARDIA, 2012) .

5.5.2 A Audiência Potente balizadora de decisões e amplificadora

52 http://www.lavanguardia.com/internacional/20120416/5 4284825281/ejercito-guinea-bissau-golpe-de-estado.html

53 http://www.lavanguardia.com/participacion/20120507/54290134848/guinea-bissau-golpe-estado-disparos.html

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A Audiência Potente tem funcionado como uma espécie de balizadora de decisões

nos veículos de comunicação. Estávamos na redação no dia da renúncia do Papa Bento XVI e

acompanhamos como o jornal usava a audiência como “termômetro” para balizar as decisões

editoriais, em um país com um expressivo número de católicos.

A notícia da renúncia chegou à redação do La Vanguardia pela community manager do

jornal, resultado de um dos seus muitos monitoramentos diários no Twitter das agências de

notícias.

Após perceber que a agência Ansa tinha publicado o anúncio da renúncia do Papa, a

community manager informou à redação e foi verificar a conta do papa no Twitter, a

@pontifex, que não havia publicado nenhuma informação oficial. Em seguida, mesmo antes

de ser publicada a primeira notícia no site, a community manager lançou um tuíte de alerta, na

conta oficial do La Vanguardia, que dizia: “Papa Benedicto XVI renuncia”. Depois do Twitter,

a community manager colocou um post no Facebook do jornal e na página do Google Plus.

Internacional | 11/02/2013 - 11:59h |

Figura 22 - Notícia sobre a renúncia do papa publicada no lavanguardia.com

Só após o tuíte, o chefe da homepage coloca na página principal do La Vanguardia a

notícia “El Papa renuncia: Ya no tengo fuerzas - Benedicto XVI abandonará el Pontificado el

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28 de febrero por razones de salud y se iniciará entonces el procedimiento de elección del

nuevo papa”(lavanguardia.com, 2013).

O trabalho da community manager continuou com o monitoramento da conta do

Vaticano no Facebook, para ver se tinha sido postada a informação da renúncia. Enquanto

monitorava o Vaticano, agências de notícias e outros jornais, a community manager resolveu

fazer um tuíte de sua conta pessoal, onde afirmava que a conta @pontifex era “muito bem

pensada e que poderia ser reciclada para uso pelo novo papa” (@dialalluna). O tuíte na conta

pessoal da community manager resultou em propostas de nomes para a conta do novo papa, a

exemplo de @pontisex e @pontdonut e, mais do que isso, resultou no retuíte do escritor

espanhol Quim Monzó, que tinha na época da observação 109 mil seguidores no Twitter.

O retuíte do escritor Quim Monzó exemplifica a característica “propagação” da

Audiência Potente, que ressalto nesta pesquisa. O tuíte sobre a conta @pontifex, que a

jornalista postou em sua conta pessoal, teve somente 11 retuítes, o que, numa primeira leitura,

parece pouco, não fosse o fato de um dos 11 retuítes ter 109 mil seguidores, o que significa

que a mensagem não chegou a apenas 11 pessoas, mas, no mínimo, a 120 mil.“Podes ter

apenas três seguidores, mas se um deles for, por exemplo, Carlos Pujol, um jogador de futebol

que figura entre um dos mais influentes do Twitter, é como se tivesses 1 milhão de seguidores.

É muito melhor influência do que seguidores”(PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO

VERBAL).

Procurando administrar sua conta pessoal com a do jornal, a community manager

refletia sobre a elaboração de um tuíte destacando a renúncia do papa, com o intuito de

promover uma conversação na conta do La Vanguardia. Segundo ela, o objetivo desse tuíte

seria “viralizar” a notícia (detalharemos ainda nesse capítulo como o jornal trabalha a

“viralização” dos conteúdos), mas, para conseguir o efeito “viral” da notícia papal, a jornalista

entendia que o tuíte devia ser redigido tendo “um tom simpático, sem ser demasiado, para não

correr o risco de frivolizar”( PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL). A jornalista

explica: “Somos o La Vanguardia, um diário muito sério. Temos que ter cuidado para não

frivolizar. Temos a imagem de diário sério e as pessoas católicas esperam que a gente seja um

diário sério, sei que permitem uma certa brincadeira, mas não muita” (PERIODISTA 3, 2013,

INFORMAÇÃO VERBAL).

Enquanto a community manager não resolvia o dilema de “viralizar” ou não a notícia,

no mundo virtual, a agência Ansa, que noticiou a renúncia, passava a figurar entre os

Trending Topics, às 12h13. Depois de perceber que a Ansa estava nos Trending Topics, a

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community manager decidiu convocar a audiência para uma conversação, fazendo o seguinte

tuite, pela conta institucional do La Vanguardia:

LaVanguardia.com@LaVanguardia

¿Cómo valoráis la renuncia del Papa? Dadnos vuestra opinión con la etiqueta #enuntuit

Figura 23 - Tuíte feito pela community manager do lavanguardia.com sobre o papa

Preocupada, porque já via algumas manifestações da audiência na rede, dizendo que o

“papa já ia tarde”, ou manifestações jocosas, a exemplo de o “papa donut”, a community

manager resolve reformular o tuíte. Depois de ler vários para sentir o “termômetro” da

audiência, fixou a atenção no tuíte de uma das seguidoras do La Vanguardia, Olga Casellas,

reproduzido abaixo:

Olga Casellas @olguita355

Si el Papa no te forces per seguir, que hem de fer els "curritos" amb el panorama que

tenim...#enuntuit54

Figura 24 - Tuíte de uma das seguidoras do lavanguardia.com

A community manager (PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL) afirmou

que o tuíte de Olga Casellas serviu de inspiração para que ela fizesse um tuíte “com mais

segurança de que não estaria fomentando comentários negativos”. Após inspirar-se na própria

audiência, a community manager muda o primeiro tuíte “¿Cómo valoráis la renuncia del

Papa?” por “¿Cómo valoráis el pontificado de Benedicto XVI?”

O entendimento da community manager era que a segunda pergunta geraria respostas

menos agressivas da audiência, não deixando o jornal numa situação desconfortável de

veicular “opiniões muito fortes”, num país predominantemente católico. Nessa preocupação

54"Se o Papa não tem forças para seguir, nós que temos que fazer os "trabalhinhos" com o panorama que temos "(tradução livre).

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de saber antecipadamente como a audiência pensava a renúncia do papa, o La Vanguardia

utilizou outras estratégias de envolvimento da Audiência Potente, como o uso da Encuesta,

cuja pergunta era: “ ¿Te parece bien que Benedicto XVI renuncie al Pontificado?”55 e a

solicitação de textos aos “Lectores Corresponsales” residentes em Roma.

5.5.3 A potência da audiência: o caso keep calm and speak catalán

Em outubro de 2012, o ministro da Cultura espanhol, José Ignacio Wert, viu sair das

redes sociais para a “vida real” toda a indignação dos barceloneses a uma frase infeliz, na qual

ele afirmava: “É preciso espanholizar Barcelona”56

As declarações do ministro Wert provocaram uma reação massiva nas redes sociais.

No Twitter proliferaram várias etiquetas, nas quais os usuários respondiam, sobretudo com

humor, à intenção do ministro de "españolizar" os alunos catalãs. Nessa movimentação nas

redes sociais, a etiqueta #EspañolizarEs se converteu em Trending Topics na Espanha, no dia

10 de outubro de 2012.

ganyet @ganyet

KEEP CALM and SPEAK CATALAN

237 RETWEETS 37 FAVORITOS

Figura 25 - Tuíte de Josep Maria Ganyet “KEEP CALM and SPEAK CATALAN”.

55 Responderam a encuesta “ ¿Te parece bien que Benedicto XVI renuncie al Pontificado?”, do La Vanguardia, 6.866 pessoas, 88% afirmando que “sim” , 9% “não” e 4% dizendo “não sei”.

56 Com a frase Wert afirmava que o seu interesse era que os alunos catalães se sintam tão orgulhosos de ser espanhóis, como de ser catalãs. http://www.lavanguardia.com/politica/20121010/54352442678/wert-admite-interes-espanolizar-alumnos-catalanes.html

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Na redação do La Vanguardia, a community manager observava as muitas reações da

audiência, mas uma lhe chamou atenção em particular. Tratava-se do tuíte de Josep

Maria Ganyet, engenheiro, professor universitário e colaborador de Rac1, que resolveu

converter o lema Keep calm and carry on, criado originalmente para levantar os ânimos dos

britânicos durante a II Guerra Mundial, em “KEEP CALM and SPEAK CATALAN”.

Além de recriar o texto do lema, Josep Maria Ganyet refez também a imagem.

Iniciativa que lhe rendeu mais de duas centenas de retuítes. Todas as interações eram

acompanhadas pela comunity manager do La Vanguardia, que relembra a movimentação nas

redes sociais:

Vi que algo importante estava se movendo com esta imagem e disse: vamosfazer esta notícia. E fiz a notícia: “A reforma de Vert viraliza nas redessociais”. Essa notícia acabou na agenda de todos os meios da Catalunha. Nofinal, o ministro estava respondendo ao “Keep Calm and speak catalan”, ouseja, saiu da agenda das redes, foi para a agenda do jornal, e para a agendapolítica. Isso é brutal!! O Congresso dizendo: “Keep Calm and speakcatalan”. Existem fotos. Os deputados com faixas em plena sessão. Depoisforam feitos “bambas”, sapatos com o logo (PERIODISTA 3, 2013,INFORMAÇÃO VERBAL).

Figura 26 - O 'keep calm and speak catalan' chega ao Congresso57.

A matéria a qual se refere Patrícia Ventura “El 'keep calm and speak catalan' llega al

Congreso” foi publicada no dia 12 de outubro e era mais uma referencia à logomarca que

movimentou o Twitter. Um exemplo de uma informação surgida e potencializada no Twitter,

57http://www.lavanguardia.com/politica/20121212/54356295711/el-keep-calm-and-speak-catalan-llega-al-congreso.html

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com o acréscimo de ser Trending Topic e que o jornal atento absorve como notícia,

contribuindo para que um assunto surgido em uma rede conversacional passe para a agenda

da mídia e depois para a agenda política.

5.5.4 Promovendo o efeito “viral” da notícia

Com a Internet, os veículos de comunicação de referência têm buscado diferentes

formas de distribuição da notícia: por e-mail, publicando o conteúdo em RSS58 ou, como

destaca COBO (2012, p.191), “promovendo os conteúdos nas redes sociais e em comunidades

de interesse”.

Esta última tarefa tem ganhado tanta importância nos veículos de referência que o La

Vanguardia, além de todas as ações já mencionadas anteriormente para envolver a audiência,

tem o comunnity manager para montar estratégias de distribuição de conteúdos que

promovam a “viralização” de algumas notícias produzidas pelo jornal. “Viralizar” é um termo

conhecido da publicidade, e é utilizado para explicar a ação de transmitir um conteúdo, nos

mais diversos formatos (vídeos, jogos, textos...), que faça referência direta ou indireta à marca

patrocinadora, atingindo a maior audiência possível através de um grande número de canais.

No entanto, a peça publicitária não basta só atingir, deve estimular a audiência a compartilhar

espontaneamente o conteúdo, geralmente vídeo. A força de propagação é fundamental para

que a ação seja exitosa. Quanto mais pessoas forem envolvidas num menor espaço de tempo,

maior a “epidemia”, porque o que buscam as empresas promotoras dos “virais” é um maior

engajamento com o tema.

A community manager do La Vanguardia está incorporando ao jornalismo o que

entedemos por “marketing viral das notícias”. Assim como na publicidade, no jornalismo

estão sendo promovidas estratégias para “viralizar” a notícia. A periodista 3 diz que a

responsabilidade de escolher os temas para a “viralização” é dela, não é uma orientação da

empresa. A escolha é feita a partir de notícias que:

Possam gerar uma opinião e que esta opinião possa trazer algo a um novoproduto informativo. É necessário ser um tema onde as pessoas tenhaminteresse em opinar, porque há coisas que as pessoas não se interessam.

58A tecnologia do RSS permite que o leitor receba a atualização de diversos sites, sem a rotina de ter que ir a cada um deles para saber se modificaram ou não os conteúdos (COBO, 2012).

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Também se faz necessário que o tema esteja de acordo com o contexto queestamos vivendo (PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Assim como faz a publicidade, o “marketing viral das notícias” leva em conta, dentre

outras coisas, se o conteúdo é de interesse para uma determinada audiência, se atinge pessoas

de referência que contribuem para reverberar o assunto (formadoras de opinião), em que rede

social o conteúdo deve ser trabalhado e em que horário. A periodista 3 enfatiza, ainda, que,

para produzir o efeito “viral”, ela tenta sempre destacar “temas positivos, que as pessoas

queiram falar, compartilhar e que provoquem uma conversação para, a partir das muitas

opiniões, o jornal criar outro produto” (PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL).

Com esse movimento, a comunnity manager do La Vanguardia acredita que consegue

“que o leitor se implique, ou seja, o leitor vendo que o jornal está incorporando sua opinião,

sente-se mais satisfeito por sua experiência participativa” (PERIODISTA 3, 2013,

INFORMAÇÃO VERBAL). Dessa forma, sendo escutado, “ele difunde a notícia para seus

amigos e isso gera uma“viralização”. O leitor também pode recomendar o La Vanguardia e,

quando faz isso, diz: “o La Vanguardia me escutou” (PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO

VERBAL).

Cobo (2012, p. 192) observa que, nessas estratégias para uma maior distribuição de

seus conteúdos, os veículos de referência têm em mente que “se a audiência redistribui nosso

conteúdo, compartilhando-o entre seus contatos, triunfamos: será o reconhecimento do valor

que há em nossos conteúdos”.

Com o envolvimento da audiência, o “jornal acaba atraindo mais atenção e, portanto,

consegue mais seguidores, em teoria, porque consegue o efeito recomendação”

(PERIODISTA 3, 2013, INFORMAÇÃO VERBAL). Então, para a community manager,

melhora-se a relação com os seguidores do jornal, ao mesmo tempo em que se cria uma

imagem nas redes sociais de um lugar para conversa e compartilhamentos entre a audiência, e

não só um espaço de divulgação do jornal. A community manager não esconde que o La

Vanguardia está nas redes “para conversar e ao mesmo tempo conseguir seus objetivos:

aumentar a comunidade e trazer mais pessoas para o jornal” (PERIODISTA 3, 2013,

INFORMAÇÃO VERBAL).

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5.5.4.1 A viralização na prática

Em tempos de crise, uma entrevista com uma especialista em saúde e nutrição59,

publicada no La Vanguardia, no dia oito de fevereiro de 2013, com ideias para gerenciar os

gastos domésticos de uma maneira eficiente, aparentava ser, para a community manager do La

Vanguardia, um tema com grande potencial de “viralização”. Trazia a possibilidade de

conversação e era um tema considerado positivo pela periodista 3.

Depois de analisar o potencial do tema, a community manager resolveu criar uma

“iniciativa de participação”, na qual a audiência fosse perguntada “em que mais ela gasta e em

que poderia economizar”, fazendo surgir a etiqueta @ahorrocreativo, no Twitter, no

Facebook e no Google Plus. A ideia era que a audiência, além de dar um testemunho de como

era possível economizar, compartilhasse o conteúdo já produzido pelo La Vanguardia,

promovendo uma “viralização” da entrevista.

Criada a etiqueta @ahorrocreativo, a community manager passou a lançar tuítes e

posts na intenção de que o conteúdo chegasse ao maior número de pessoas, preferencialmente

no menor espaço de tempo possível.

Figura 27 - Notícia surgida a partir dos comentários nas redes sociais.

59Disponível em http://www.lavanguardia.com/economia/20130208/54366471433/entrevista-irene-gelpi-ahorrar-gratis.html

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A quantidade de comentários e as respostas à pergunta feita pelo La Vanguardia eram

os indicativos para o jornal de que a notícia tinha sido “viralizada” ou não. A comunnity

manager do jornal afirma que a iniciativa pensada para “viralizar” a notícia, quando é exitosa,

gera outra notícia, a partir dos comentários surgidos pela ativação da conversação. No caso da

iniciativa @ahorrocreativo, a notícia surgida a partir dos comentários nas redes sociais foi

“Los Lectores explican sus mejores trucos para ahorrar”(LAVANGUARDIA, 2013).

Mas como toda conversação acontecia nas redes sociais e a intenção do veículo é

trazer essa audiência para dentro do jornal, uma das estratégias foi colocar na notícia “Los

Lectores explican sus mejores trucos para ahorrar” (LAVANGUARDIA, 2013) uma caixa,

onde os comentários da audiência iam sendo publicados e visualizados.

Figura 28 - Entrevista com a cantora Roko.

Outra iniciativa de “viralização”, durante nossa pesquisa de campo, foi feita a partir da

entrevista, produzida pela equipe de Produção Própria do lavanguardia.com, com a cantora

Rocío Pérez, conhecida artisticamente como Roko. A cantora era a principal favorita para

ganhar a final da segunda edição do programa televisivo Tu Cara Me Suena.

A escolha da entrevista, intitulada “Roko: "En 'Tu Cara Me Suena' he demostrado que

no se me puede encasillar" para que fosse trabalhada como “uma notícia viral” era motivada,

neste caso, pelo número de followers (seguidores) da cantora no Twitter, que, na época da

nossa observação, era 132 mil. Diferentemente da entrevista com a especialista em saúde, que

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trazia dicas para economizar, e com a qual a community manager apostava no envolvimento

da audiência para falar sobre o assunto, gerando inclusive outra notícia, no caso da cantora

Roko, a estratégia era aproveitar a própria força das redes sociais, para que o grande número

de seguidores da cantora no Twitter fosse trazido para o jornal.

A community manager explica que, diariamente, ao escolher a notícia com potencial

de “viralização”, um dos critérios observados é se o personagem da notícia, como neste caso

da cantora Roko, está também nas redes sociais e se ele tem um número grande de seguidores.

O La Vanguardia sabe que quanto maior o número de seguidores, maior a possibilidade de

amplificação da notícia. Ao propor a “viralização” de uma entrevista na qual a entrevistada já

possui 132 mil seguidores, existe a possibilidade de que o conteúdo do jornal chegue não só a

esssa centena de seguidores, mas a outras tantas centenas surgidas com um só retuíte.

Cobo (2012) destaca que o segredo de uma distribuição eficaz reside, em grande

medida, na capacidade dos veículos de comunicação encontrarem a audiência que mais se

interessa por seus conteúdos:

Quando se trata de um tema generalista, a audiência potencial pode ser muitonumerosa, mas seu grau de interesse pode ser menor. Pelo contrário, umconteúdo especializado, se soubermos onde está o público interessado, podegerar uma maior interação e redistribuição de nosso conteúdo, porqueobviamente nosso público se sentirá muito mais disposto a fazê-lo (COBO,2012, p.197).

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CONCLUSÕES

O jornalismo vem passando, desde o final do século XX, por uma série de mudanças, e

a que consideramos mais forte é a relação com a audiência. Dentro desse entendimento,

propusemos, neste trabalho, a hipótese de que há uma Audiência Potente que se envolve, ou

é envolvida, nos processos, nas práticas e nas rotinas jornalísticas, possuindo capacidade de

propagação da informação, não necessariamente notícia; capacidade de ação, possibilitada

pelo acesso aos meios de produção; capacidade de transformação, na medida em que muda

sua forma de ação e de comportamento ao longo do tempo, dependendo de condições

culturais, econômicas, sociais, tecnológicas, dentre outras; e capacidade de amplificação,

quando a audiência ressignifica o conteúdo, por meio de comentários, opiniões e novos

olhares sobre o assunto, que é reverberado nas redes, oferecendo um extrato do que querem e

do que pensam esses cidadãos e cidadãs que se envolvem com os meios de comunicação. A

capacidade de amplificação pode constituir-se em uma expressão da inteligência e da

consciência coletivas.

Com a presença desse novo agente que se incorpora ao campo jornalístico, as notícias

não são mais construídas somente a partir da imagem que os jornalistas têm da audiência. A

produção das notícias – que envolvia uma série de paradigmas e práticas profissionais dadas

como naturais, somadas à cultura profissional e às restrições ligadas às organizações do

trabalho – é acrescida dos olhares dessa Audiência Potente.

As redes sociais possibilitam que os jornalistas e as empresas de comunicação tenham

acesso, em tempo real, aos interesses dessa Audiência Potente, e esses dados vêm balizando

as decisões dos veículos de referência. Uma dessas manifestações da audiência incorporada

por veículos de referência, a exemplo do Diario de Pernambuco e do La Vanguardia, é o

Trending Topics (TTs), o que nos faz propor uma categorização complementar aos

valores-notícia, ampliando e atualizando a tipologia de Wolf (1987).

Evidentemente, nem tudo que figura na lista dos Trending Topics será transformado

em notícias ou destacado nas páginas dos veículos de referência. Pelas redes conversacionais

passam muitos assuntos, como ficção e propaganda, que não estariam dentro de alguns

requisitos exigidos pelo campo jornalístico, mas, seguramente, a força do que se comenta nas

redes reforça o valor que o tema possui, e isso interfere nas escolhas dos jornalistas.

Nos jornais pesquisados, observamos que a Audiência Potente é envolvida de

diferentes formas. O Diario de Pernambuco iniciou a relação com a Audiência Potente de

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uma maneira tímida, com a criação, em 2007, do Fórum Cidadão Repórter, espaço aberto para

a discussão de temas sobre cidadania, transporte, trânsito, cultura, saúde, segurança pública,

dentre outros; e, também, para publicação de fotos e vídeos feitos pela audiência. No ano de

2013, a abertura da editoria de Redes Sociais sinalizou que o jornal vem dando uma atenção

maior a essa Audiência Potente, que se movimenta principalmente no Facebook. A ação dos

jornalistas da editoria de Mídias Sociais é dividida em divulgar as notícias do Diario nas redes

sociais e buscar o que pode ser transformado em notícia, sempre atenta aos assuntos que se

destacam em espaços conversacionais, como o Facebook e o Twitter. No mesmo ano que

criou a editoria de Mídias Sociais, o Diario de Pernambuco lançou também um aplicativo do

Cidadão Repórter, para que a audiência envie informações para as redações do Diario, da TV

Clube, da Clube FM, dos sites diariodepernambuco.com.br , Aqui PE e dos portais do

Superesportes, Vrum e Pernambuco.com.

No La Vanguardia, o espaço dado à audiência é maior que no Diario de Pernambuco,

havendo duas formas de envolvimento da audiência. Uma que aparece explicitamente na

página do diário barcelonês, e outra, que é feita sem que a audiência perceba. A editoria de

Participação é o lado visível da relação entre a Audiência Potente e o La Vanguardia. Nela, a

audiência é convidada e tem espaço, no veículo de comunicação, para oferecer olhares sobre a

realidade, manifestados em diversos gêneros textuais (crônicas, cartas, opiniões, relatos

pessoais, blogs), fotos, desenhos, vídeos; além de trazer informações sobre acontecimentos na

região e no País onde mora, apontar erros, ou complementar, com mais informações, a notícia.

Isso sem falar em outras formas de envolvimento, como respostas a sondagens, sugestão de

temas, que podem ser transformados em notícias e comentários. Outra estratégia adotada pelo

La Vanguardia, embora não incorporada ao espaço de Participação, foi envolver a audiência

na produção do e-book “Bajo la sábana”, uma produção feita por 160 seguidores do jornal no

Facebook, junto com o escritor espanhol Quim Monzó, que é blogueiro do La Vanguardia. A

obra sobre a misteriosa morte de uma mulher foi criada em sete dias, editada no ano de 2011

pelos ‘Ebooks de Vanguardia’, e está disponível de forma gratuita, podendo ser descarregada

nos formatos Kindle, ePub e PDF.

A outra forma de envolvimento do La Vanguardia, não publicizada, é feita por meio de

estratégias pensadas para atrair para o jornal a audiência que está nas redes sociais. O manual

intitulado “Decálogo del prescriptor en las redes sociales - Manual para captarlos y

relacionarse con ellos”, produzido pela empresa, é um dos indicadores de que a relação

veículo-audiência não é amadora. Com orientações para os jornalistas, que vão desde “como

ganhar a confiança do prescriptor” até a “sugestão” de que os jornalistas analisem que horas e

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dias a audiência está mais ativa nas redes para que tenham a certeza de que a mensagem está

chegando, o manual evidencia que o trato com a audiência é pautado por relações comerciais.

A própria expressão “captarlos” já dá pistas do tipo de relação proposta. Se o manual orienta

todos os jornalistas para que saibam como o jornal quer que a audiência seja tratada, na

redação, um novo perfil profissional vem modificando os modos de relacionamento entre o

veículo e sua audiência. O community manager, que faz parte da editoria de Redes Sociais do

La Vanguardia, está nas redes, ouvindo, cotidianamente, o que a audiência tem a dizer,

fazendo com que os temas sejam propagados e amplificados nesses espaços conversacionais,

monitorando a reação da audiência à cobertura dada pelo veículo de referência e, nos casos de

resistência da audiência à cobertura dada pelos jornais à notícia, fornecendo dados aos

editores, para balizar as decisões, que podem resultar, inclusive, em um novo enquadramento

dado ao tema.

O Diario, mais tardiamente que o La Vanguardia, criou a editoria de Mídias Sociais,

mas, nos dois veículos, o trabalho das editorias de Mídias Sociais ou de Redes Sociais está

interligado a toda redação, e o que surge dessa relação entre o jornal e a audiência presente

nas redes sociais pode influenciar as decisões ao longo de todo processo produtivo da notícia.

Com a possibilidade de receber informação, mas tendo acesso aos meios de produção,

a Audiência Potente convida ainda mais o jornalista a rever sua responsabilidade com a

verdade, não a verdade filosófica, mas a verdade dos fatos. E nessa busca pela verdade dos

fatos se faz ainda mais necessário ter rigor no método, numa oposição radical à mentira, as

deformações e as omissões.

Não se podem confundir os papeis, tão pouco as responsabilidades do jornalismo e da

Audiência Potente. A audiência, ao disponibilizar uma informação numa rede

conversacional, mesmo com a intenção de que chegue aos veículos de comunicação, não tem

presente a necessidade de atentar para os elementos básicos do jornalismo, como, por

exemplo, o princípio do contraditório; a aproximação, por meio do método, da verdade dos

fatos; a disciplina de verificação dos fatos; a independência, ou seja, não se pauta por um

conjunto de práticas fundamentais para fomentar a credibilidade da informação. Na maioria

das vezes, a audiência não está, sequer, ciente de sua importância na relação com o

jornalismo. Os veículos de referência estão aproveitando as potencialidades das discussões

trazidas pela Audiência Potente nas redes sociais, sem muitas vezes deixar claro que aquela

movimentação na rede social pode ganhar novos espaços: páginas de jornais, sites e portais.

Mas se à audiência cabe esse “descompromisso” com a informação, ao jornalismo não.

Para o jornalismo - uma forma de conhecimento, não científico, que tem um papel relevante

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na compreensão de homens e mulheres sobre o mundo que os cerca - a ética e a busca da

verdade dos fatos são centrais e tudo isso está imbricado no rigor do método. Mesmo com a

pressão do tempo, a instantaneidade da informação e o excesso informativo, os jornalistas não

podem deixar de lado a crítica das fontes e a confirmação dos fatos, ou seja, não podem e

também não devem abandonar seu papel de investigadores.

Na relação com esse novo agente, a Audiência Potente, são muitas questões que

surgem como desafios para o jornalismo, para o profissional, para as empresas de

comunicação e, principalmente, para a academia, como geradora de novos conhecimentos e

muitas reflexões sobre o fazer-ser jornalista. Há que ser considerada, nessa relação, a questão

ética, a necessidade de atenção para que não haja nem um comprometimento da agenda

pública, nem um embaçamento do limite entre jornalismo e publicidade, e tão pouco, para que

o jornalismo não fique preso à “ditadura” da medição dessa Audiência Potente.

Por outro lado, não se pode deixar de ter um olhar esperançoso para essa audiência

com potencial de trazer, para a esfera midiática, assuntos importantes, mas que nunca teriam

espaço nos veículos de referência; para a possibilidade de que sua ação favoreça o debate

público, e contribua para que cidadãos e cidadãs, que o jornalismo rotula como fontes não

institucionalizadas, façam parte dessa propositura de temas, com um pluralismo de olhares

sobre a realidade, e passem a agir em prol de uma efetiva cidadania.

Para os próximos – Obviamente, em quatro anos, não conseguimos, tão pouco

tivemos a intenção de amarrar todos esses nós que ligam a Audiência Potente e o jornalismo,

mas, como nosso trabalho não termina aqui, pretendemos continuar pesquisando sobre outros

aspectos que envolvem essa Audiência Potente, como os efeitos ideológicos e as questões

éticas. Também esperamos que esse trabalho motive uma série de outros, trazendo muitas

contribuições para o campo.

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WASSERMAN, S.; FAUST, K. Social Network Analysis. Methods and Applications.Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1994.

WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 1997.

WOLTON, D. Internet e depois: uma teoria crítica das novas mídias. Paris: Flammarion, 1999.

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ANEXOS

ANEXO A – Normas de Participação do Lavanguardia.com

Espacios abiertos a la participación de los lectores

Los contenidos informativos de LaVanguardia.com constituyen espacios abiertos a la opiniónde los lectores. Los comentarios de los usuarios reflejan su opinión y no la deLaVanguardia.com.

El objetivo de los espacios de discusión es fomentar el debate sobre temas de actualidad ygenerar, a partir de la interacción, nuevos conocimientos a partir de los cuales dar forma acontenidos. LaVanguardia.com se reserva el derecho de suprimir aquellos comentariosinadecuados que incumplan las normas básicas de participación en cualquiera de los espaciosabiertos a los usuarios.

Se podrán cerrar en cualquier momento y sin previo aviso cualquiera de los espacios dediscusión existentes en la web. Asimismo, LaVanguardia.com podrá vetar el acceso deaquellos usuarios que reincidan en una actitud inadecuada y que no hagan caso de losmensajes de aviso del equipo responsable de moderación.

Puedes dar tu opinión sobre los contenidos informativos y temas de debate que se proponenen la web mediante la inserción de comentarios que no sobrepasen los 1.200 caracteres. Losusuarios se comprometen a cumplir las normas básicas de participación que se describen acontinuación:

Normas de participación• Respetar las normas básicas de convivencia: se eliminará cualquier mensaje cuyo

contenido sea difamatorio, obsceno, insultante, contenga amenazas o incite a cometercualquier acto no permitido por las leyes españolas.

• Respetar la dignidad de la personas y el principio de no discriminación pormotivos de raza, religión, opinión, nacionalidad, discapacidad o cualquier otra circunstanciapersonal o social.

• Respetar la identidad: se eliminarán los mensajes que estén firmados por personasque usurpen la identidad de otras o que denoten una intencionalidad perversa.

• Respetar la netiqueta propia de un espacio electrónico: evitar las mayúsculas (daapariencia de gritar o estar enojado), evitar reproducciones de textos de autores ajenos sinaportar comentario propio alguno, citar siempre las fuentes y respetar los derechos de autor,dedicar un tiempo a leer los mensajes de los demás usuarios y fomentar un debate fluido, etc.

• Ajustarse al tema de debate: se eliminarán los mensajes repetidos o aquellos que nose ajusten a los temas propuestos en cada tema a debate o tengan fines comerciales (‘spam’).

• Participar en alguno de los idiomas utilizados en la web del diario: castellano ycatalán, o inglés en el caso de las versiones en inglés de los artículos de los blogs.

• Evitar mensajes comerciales, o que incluyan números de teléfono o direccionespersonales. Se eliminarán todos los mensajes que anuncien o pongan a la venta cualesquierabienes o servicios, o realicen o promuevan encuestas, concursos o cadenas de cartas, o

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descarguen de un foro un comentario enviado por otro usuario que el usuario sepa, orazonablemente deba saber, que no se puede distribuir lícitamente de esa manera.

No se mantendrá correspondencia por correo electrónico ni se atenderán visitas ollamadas telefónicas sobre comentarios no publicados en la web.

LaVanguardia.com no se hace responsable del contenido de las opiniones publicadas por losinternautas en sus foros.

El usuario reconoce que todos los espacios de participación de LaVanguardia.com constituyenun medio de comunicación pública y no privada, y que los comentarios insertados por losusuarios en los contenidos no corresponden a la línea editorial.

http://www.lavanguardia.com/ayuda/normas-de-participacion.html

Envíanos tus sugerencias, dudas y propuestas a [email protected]

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ANEXO B – Direitos sobre a propriedade intelectual e industrial do Lavanguardia.com

LaVanguardia.com es la edición digital del diario La Vanguardia. Todos los derechos depropiedad industrial e intelectual de la sede web www.lavanguardia.es,www.lavanguardia.com o www.vanguardia.es y de sus contenidos (textos, imágenes,sonidos, audio, vídeo, diseños, creatividades, software) pertenecen a La Vanguardia EdicionesSL o, en su caso, a terceras personas.

Todos los derechos reservados. Quedan expresamente prohibidas la reproducción, ladistribución y la comunicación publica, incluida su modalidad de puesta a disposición, de latotalidad o parte de los contenidos de esta página web, con fines comerciales, en cualquiersoporte y por cualquier medio técnico, sin la autorización de LA VANGUARDIA el usuario secompromete a respetar los derechos de Propiedad Intelectual e Industrial titularidad de LAVANGUARDIA.

A los efectos de lo previsto en el artículo 32.1 del Texto Refundido de la Ley de PropiedadIntelectual, La Vanguardia Ediciones, SL se opone expresamente a la utilización decualesquiera contenidos de este diario con la finalidad de realizar reseñas o revistas de prensacon fines comerciales (press-clipping) sin contar con la previa autorización de La VanguardiaEdiciones, SL.

El usuario puede visualizar todos los elementos, imprimirlos, copiarlos y almacenarlos en eldisco duro de su ordenador o en cualquier otro soporte físico siempre y cuando sea, única yexclusivamente, para su uso personal y privado, quedando, por tanto, terminantementeprohibida su utilización con fines comerciales, su distribución, así como su modificación,alteración o descompilación. LaVanguardia.com proporciona el acceso a todo tipo deinformaciones, servicios, programas o datos en Internet que pueden pertenecer a terceraspersonas, en cuyo caso La Vanguardia Ediciones SL no se hace responsable de dichoscontenidos ni de cuantas reclamaciones puedan derivarse de la calidad, fiabilidad, exactitud ocorrección de los mismos. En el supuesto de que en la web se dispusieran enlaces ohipervínculos hacia otros lugares de Internet, LA VANGUARDIA no ejercerá ningún tipo decontrol sobre estos lugares y contenidos. En ningún caso LA VANGUARDIA asumiráresponsabilidad alguna por los contenidos de algún enlace perteneciente a un lugar web ajeno,ni garantizará la disponibilidad técnica, calidad, fiabilidad, exactitud, amplitud, veracidad,validez y constitucionalidad de cualquier material o información contenida en cabeza de loshipervínculos u otros lugares de Internet.

La Vanguardia Ediciones SL tan sólo autoriza menciones a sus contenidos en otras sedes web,con el tratamiento que éstas consideren siempre que sea respetuoso, cumpla la legislaciónvigente y en ningún caso reproduzcan, sin la debida autorización, los contenidos deLaVanguardia.com. En el caso de disponer de un enlace hipertexto a alguna de sus páginas, el

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usuario debe saber que está entrando en LaVanguardia.com y debe percibir en su navegadorsu dirección URL.

El usuario se compromete a hacer un uso adecuado de los contenidos y servicios (como porejemplo los de chat, foros de opinión o páginas abiertas al lector) que La Vanguardia Digitalofrece en su sede web y a no emplearlos para incurrir en actividades ilícitas o contrarias a labuena fe y al ordenamiento legal; difundir contenidos o propaganda de carácter racista,xenófobo, pornográfico-ilegal, de apología del terrorismo o atentatorio contra los derechoshumanos; provocar daños en los sistemas físicos y lógicos de La Vanguardia Ediciones SL, desus proveedores o de terceras personas, introducir o difundir en la red virus informáticos ocualesquiera otros sistemas físicos o lógicos que sean susceptibles de provocar los dañosanteriormente mencionados. LA VANGUARDIA no garantiza que la web y el servidor esténlibres de virus y no se hace responsable de los posibles daños o perjuicios que se puedanderivar de interferencias, omisiones, interrupciones, virus informáticos, averías telefónicas odesconexiones en el funcionamiento operativo de este sistema electrónico, motivados porcausas ajenas a LA VANGUARDIA, de retrasos o bloqueos en el uso de este sistemaelectrónico causados por deficiencias de líneas telefónicas o sobrecargas en el sistema deInternet o en otros sistemas electrónicos, así como también de daños que puedan ser causadospor terceras personas mediante intromisiones ilegítimas fuera del control de LAVANGUARDIA.

La Vanguardia Ediciones SL se reserva el derecho de efectuar sin previo aviso lasmodificaciones que considere oportunas en su sede web, pudiendo cambiar, suprimir o añadirtanto los contenidos y servicios que presta como la forma en la que éstos aparezcanpresentados o localizados. La utilización de la web www.lavanguardia.com implica laaceptación de cada una de las condiciones incluidas en este aviso legal, y por lo tanto, esnecesario que se lea atentamente. También hay algunos servicios ofrecidos en esta websometidos a condiciones particulares propias que complementan las contenidas en este avisolegal y en consecuencia hace falta leerlas y aceptarlas previamente.

La Vanguardia Ediciones SL perseguirá el incumplimiento de las anteriores condiciones asícomo cualquier utilización indebida de los contenidos presentados en su sede web ejerciendotodas las acciones civiles y penales que les puedan corresponder en derecho.

En relación a los servicios a disposición de los usuarios a través de registro previo, todos losdatos se mantienen en la más estricta Privacidad de acuerdo con la legislación vigente.LaVanguardia.com cumple esta legislación respecto a la protección de datos personales de sussuscriptores y los mantiene en la más estricta confidencialidad de acuerdo con los dispuestoen la Ley Orgánica 15/99 del 13 de diciembre de 1999 sobre Protección de Datos de CarácterPersonal (LOPD), así como en lo dispuesto en la Ley de Servicios de la Sociedad de laInformación y del Comercio Electrónico (ley 34/2002 de 11 de julio).

El usuario registrado en los servicios de las sociedades del Grupo Godó puede en todomomento ejercitar los derechos de consulta, acceso, rectificación, cancelación y oposición en

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los términos previstos en la LOPD y demás normas que la desarrollan, tal como figura en estapágina.

Los posibles conflictos relativos a esta web se regirán exclusivamente por la legislación española siendo los juzgados de Barcelona los únicos competentes. Toda persona usuaria de laweb, independientemente de la jurisdicción territorial desde la cual se produzca su acceso, acepta el cumplimiento y respecto de esta cláusula con renuncia expresa a cualquier otro fueroque le pudiera corresponder.

La Vanguardia Ediciones SLTeléfono: 93 481 25 00Avenida Diagonal 477, Planta 9, E-08036Barcelona, España

Sociedad unipersonal, inscrita en el Registro Mercantil de Barcelona, Tomo 30.171, Folio 109, Hoja 167.150NIF: B-61475257

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ANEXO C – Políticas de uso do Cidadão Repórter (Diario de Pernambuco)

Cidadão repórter – Condições de uso

1. Condições Gerais

1.1 O acesso e/ou utilização dos serviços do site Cidadão repórter(http://cidadao.dpnet.com.br) são regidos pelos termos, condições e responsabilidadesdescritas neste termo, cuja leitura é obrigatória.

1.2 O simples acesso e/ou utilização dos serviços do site implica na concordânciaincondicional com os termos aqui estabelecidos.

1.3 O grupo Diários Associados Pernambuco se reserva ao direito de acrescentar, apagar,modificar ou ajustar as informações constantes deste termo de uso, sem qualquer aviso prévio,as quais se tornarão efetivas por meio da simples divulgação no sitehttp://cidadao.dpnet.com.br. Para este efeito, o usuário deverá rever periodicamente ascondições dispostas neste Termo de Uso, sendo certo que o simples acesso ao site e/ouutilização dos serviços, caracteriza a aceitação dos termos e condições em vigor.

1.4 Além das condições dispostas neste Termo de Uso, sempre que for requerido, para quepossam ser utilizados alguns dos serviços disponíveis no site http://cidadao.dpnet.com.br, ousuário deverá prévia e expressamente concordar e aceitar as respectivas condiçõesadicionais.

1.5 O acesso e/ou a utilização dos serviços do site http://cidadao.dpnet.com.br não implica emnenhuma obrigação de remuneração por parte do Diários Associados Pernambuco, bem comonão acarreta ao usuário nenhum direito de propriedade sobre nenhum dos serviços contidos nosite.

1.6 É expressamente proibida a utilização do site Cidadão repórter para fins que atentemcontra a ética, a moral, os bons costumes ou que sejam contrários a lei ou a ordem pública.

1.7 Este Termo de Uso constitui um acordo legalmente firmado entre o usuário e osite http://cidadao.dpnet.com.br, para todos os fins de direito.

1.8 Qualquer violação às obrigações e aos direitos dispostos neste Termo de Uso é deresponsabilidade exclusiva do usuário que a cometer, não gerando qualquer responsabilidadepor parte do Diários Associados Pernambuco.

1.9 As obrigações e direitos decorrentes deste Termo de uso não importam na criação dequalquer vínculo, seja trabalhista, societário ou associativo,entre o usuário e o Diários Associados Pernambuco, restando desde já excluídas quaisquerpresunções de solidariedade entre as partes no cumprimento de suas obrigações.

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1.10 Qualquer usuário, cadastrado ou não, pode efetivar reclamações sobre este Termo deUso, bem como denunciar qualquer conteúdo constante dosite http://cidadao.dpnet.com.br por meio do e-mail [email protected].

2. Do Cadastro

2.1 Para que sejam utilizados os serviços do site Cidadão repórter é necessário que sejaefetuado um cadastro on-line do usuário, no qual devem ser informados os seus dadospessoais de forma completa, atualizada e idônea. As informações pessoais serão tratadas comoconfidenciais e poderão ser confirmadas por meio de consulta a órgãos públicos ou empresasespecializadas.

2.2 Somente poderão contratar os serviços disponibilizados pelosite http://cidadao.dpnet.com.br as pessoas com capacidade legal de forma que, todos menoresde 18 anos e/ou aqueles que necessitem de representação na forma da lei, devem estardevidamente representados por seus responsáveis legais.

2.3 O usuário é o único responsável pela veracidade e idoneidade das informações pessoaisprestadas, se comprometendo a mantê-las sempre atualizadas.

2.4 O usuário cadastrado no site http://cidadao.dpnet.com.br deverá escolher um login que oidentificará em todas as suas ações no site, bem como deverá escolher uma senha pessoal queo habilitará para acessar os serviços do site.

2.5 A senha do usuário é pessoal e, por isso, deve ser mantida em sigilo. É exclusiva dousuário a responsabilidade pela guarda e não divulgação de sua senha, bem como pelo seu usoindevido por terceiros.

2.6 Caso o usuário não concorde com quaisquer das obrigações constantes deste Termo deUso, poderá, a qualquer tempo, excluir o seu cadastro do site http://cidadao.dpnet.com.br, oque impedirá a utilização das áreas exclusivas destinadas apenas aos usuários cadastrados.

3. Das Informações dos Usuários

3.1 Todas as informações pessoais que forem fornecidas pelo usuário por meio do cadastroon-line serão tratadas como sigilosas.

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3.2 Não obstante o Diários Associados Pernambuco declarar que dispõe de avançadatecnologia pra proteger as informações pessoais inseridas pelo usuário no cadastro on-line, talempresa não se responsabiliza pela utilização de tais informações obtidas ilegalmente ou deforma não autorizada, como também, não se responsabiliza por eventuais prejuízos derivados.

3.3 O Diários Associados Pernambuco poderá monitorar e armazenar as atividades dosusuários dentro do site http://cidadao.dpnet.com.br, bem como dados referentes aos seuscódigos de acesso IP e, ainda, todos os acessos aos conteúdos e páginas dos usuários que terãosuas respectivas visitações ou visualizações (pageviews) computadas em favor do site.

3.4 O Diários Associados Pernambuco se reserva ao direito de revelar às autoridades judiciais,administrativas, policiais ou governamentais, em virtude de lei ou mediante simplesrequerimento, as informações ou dados, ainda que sigilosos, sobre qualquer usuário, sempreque houver indícios de ilícitos de qualquer natureza ou de desrespeito a quaisquer dascondições ou obrigações dispostas neste Termo de Uso.

4. Dos Serviços do Site

4.1 O Diários Associados Pernambuco disponibiliza livremente e de forma irrestrita e gratuita,o acesso por qualquer pessoa, usuário cadastrado ou não, ao conteúdo gerado pelo usuário nosite http://cidadao.dpnet.com.br, não restando qualquer limitação quanto à visualização de taisconteúdos que não serão tratados como informação confidencial.

4.2 Os serviços disponibilizados no site http://cidadao.dpnet.com.br permitem aos usuárioscadastrados (i) criar tópicos pessoais; (ii) participar de grupos de discussão, seções eambientes; e (iii) criar e veicular conteúdo e informações sob forma de textos, imagens, fotos,sons e/ou vídeos, sendo que tudo será hospedado e disponibilizado nas páginas dosite http://cidadao.dpnet.com.br, devendo, para tanto, ser respeitadas as condições adicionais,quando houver, e as características e regras de uso do site.

4.3 O Diários Associados Pernambuco não garante a disponibilidade e continuidade dosserviços e funcionalidades do sitehttp://cidadao.dpnet.com.br por tempo indeterminado,eximindo-se de toda e qualquer responsabilidade pelos danos e prejuízos de toda natureza quepossam decorrer da falta de disponibilidade e/ou de interrupção, seja total ou parcial, na ofertade tais serviços e tampouco, por não realizar armazenagem e/ou backups de qualquerconteúdo.

5. Das Responsabilidades pelo Conteúdo

5.1 O Diários Associados Pernambuco não interfere na elaboração e, em razão daimpossibilidade técnica de se efetuar monitoramento preventivo de todos os conteúdos,tampouco se responsabiliza pelo conteúdo gerado e/ou inserido pelo usuário e/ou terceiro no

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sitehttp://cidadao.dpnet.com.br, devendo o próprio usuário e/ou terceiro responder porquaisquer incorreções ou irregularidades alegadas e, também, pela originalidade do conteúdopor ele gerado ou veiculado, sendo que qualquer prejudicado deverá demandar, judicial ouextrajudicialmente, diretamente o responsável pela violação.

5.2 O usuário se responsabiliza expressamente por: (i) somente fazer uso de conteúdo de suapropriedade, responsabilizando-se perante o Diários Associados Pernambuco e terceiros porquaisquer reclamações relativas ao conteúdo; (ii) apenas inserir nositehttp://cidadao.dpnet.com.br conteúdos que estejam de acordo com as disposições legaisaplicáveis e com o presente Termo de Uso; (iii) não violar os direitos de terceiros e, assim,deverá providenciar previamente a utilização e/ou veiculação, total ou parcial, de qualquermaterial que esteja protegido por direito autoral, de imagem, intelectual, direitos dapersonalidade, de propriedade etc, a respectiva autorização necessária para a adequadainclusão de materiais de terceiros no site http://cidadao.dpnet.com.br.

5.3 O usuário, neste ato, isenta o Diários Associados Pernambuco de toda e qualquerresponsabilidade com relação à violação dos referidos direitos autorais, de imagem,intelectual, direitos da personalidade, de propriedade etc, eximindo tal empresa de qualquerdemanda judicial ou extrajudicial que venha a ser contra elas propostas em razão do conteúdopor ele gerado e inserido no sitehttp://cidadao.dpnet.com.br, sendo garantido o direito deregresso e de ressarcimento do Diários Associados Pernambuco em face do usuário.

5.4 Embora o Diários Associados Pernambuco não interfira no conteúdo gerado pelosusuários do site http://cidadao.dpnet.com.br, tal empresa se reserva, entretanto, ao direito depré-visualizar, rever, sinalizar, filtrar, modificar, recusar ou excluir, a qualquer momento esem notificação prévia, todo ou qualquer conteúdo inserido nosite http://cidadao.dpnet.com.br, podendo suspender, inclusive, a hospedagem de qualquerconteúdo considerado impróprio, ilegal ou ofensivo ao presente Termo de Uso, não sendodevida qualquer indenização ao usuário.

5.5 O encerramento da hospedagem e a exclusão de qualquer conteúdo dosite http://cidadao.dpnet.com.br poderá, a exclusivo critério do Diários AssociadosPernambuco, e sem qualquer notificação prévia, implicar na exclusão do usuário, “ login”, ena proibição do registro de seu cadastro para novas contribuições no site, sem qualquer direitode indenização ao usuário.

6. Das Limitações de Uso do Usuário

6.1 É expressamente proibido ao usuário do site http://cidadao.dpnet.com.br (i) cadastrar-seutilizando informações não verdadeiras, incorretas, desatualizadas e incompletas sobre simesmo, no momento de seu cadastramento; (ii) fazer-se passar por terceira pessoa ou aindautilizar o login ou senha de outro usuário; (iii) cadastrar-se no site, como maior ou capaz,sendo, na verdade, menor de 18 anos ou incapaz nos termos da lei; (iv) utilizar os serviçospara de qualquer modo reproduzir ou infringir direitos de terceiros, sejam imagens, áudio,vídeo, fotografias, softwares ou qualquer material protegido por leis de propriedadeintelectual, incluindo mas não se restringindo, a lei de direitos autorais, marcas e patentes, a

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menos que o usuário tenha as licenças necessárias para fazê-lo ou seja o titular de tais direitos;(v) incluir quaisquer conteúdos que sejam confidenciais ou sujeitos a contratos deconfidencialidade ou que possam causar dano a terceiros; sejam obscenos e/ou pornográficosou, ainda, contenham cena de sexo, contenham dados ou informações subliminares; queconstituem ou incitem ou possam constituir ou incitar a prática de crime ou contravençãopenal; contenham violência ou sejam, de qualquer forma, considerados ofensivos; que façamapologia às drogas ou às armas; que constituam ofensa à liberdade de crença e às religiões;que contenham informação racista ou discriminatória; que contenham menor de idade sem aautorização, expressa, dos responsáveis legais; que façam propaganda eleitoral ou divulguemopinião favorável ou contra partido ou candidato; e, ainda, que contenham condutas abusivas,ofensivas, contrárias à ética, à moral, aos bons costumes, à lei ou à ordem pública; e (vi)utilizar o site para fins comerciais, exceto se de outro modo expressamente, ficando o DiáriosAssociados Pernambuco integralmente isento de toda e qualquer responsabilidade pelos danose prejuízos de qualquer natureza, morais e materiais, inclusive lucros cessantes, que possamdecorrer do uso dos serviços para fins distintos dos exclusivamente não comerciais.

6.2 O usuário concorda que a utilização que fizer do site http://cidadao.dpnet.com.br é de suainteira responsabilidade, sendo exclusivamente responsável por todas as atitudes, atos eomissões que estarão sob o uso de seu login ou de sua senha pessoal, concordando, desde já,em indenizar o Diários Associados Pernambuco e mantê-las a salvo de todas e quaisquerreclamações judiciais ou extrajudiciais, indenizações, responsabilidades, oriundos (i) do seuacesso aos serviços e veiculação de conteúdo ao sitehttp://cidadao.dpnet.com.br; (ii) violaçãode quaisquer direitos de terceiros, incluindo mas não se limitando, a propriedade intelectual,de material protegido por direito autoral e software e de material protegido por direitoindustrial; (iii) por descumprimento pelo usuário ou terceiros da legislação em vigor, dopresente Termo de Uso, das condições adicionais e dos usos e costumes aplicáveis à internet;(iv) de informações, conteúdos, produtos e serviços de terceiros disponíveis em sites oupáginas de terceiros acessadas por meio de links e hiperlinks inseridos nosite http://cidadao.dpnet.com.br; (v) de problemas ocorridos na transmissão de dados,informações, conteúdos, programas, indisponibilidades totais ou parciais dos serviços do sitehttp:// cidadao.dpnet.com.br ou, ainda, manutenções técnicas e/ou operacionais que exijam odesligamento temporário do sistema ou impossibilitem a prestação dos serviços; (vi) deeventos que se caracterizem como caso fortuito ou força maior ou que dependam de recursose/ou serviços de responsabilidade da Administração Pública, direta ou indireta; (vii)incompatibilidade de equipamentos e sistemas utilizados pelo usuário com as funcionalidadese sistemas do site http://cidadao.dpnet.com.br; (viii) por qualquer dano ou prejuízodecorrentes de vírus e/ou programas de computador nocivos de qualquer natureza ou outrosprogramas e que possam vir a contaminar os equipamentos do usuário e/ou afetar seu acessoaos conteúdos e serviços e funcionalidades do site http://cidadao.dpnet.com.br; (ix) dautilização indevida ou ilegal, por terceiros e/ou pelos usuários dos serviços, dasfuncionalidades e/ou dos conteúdos disponibilizados no sitehttp://cidadao.dpnet.com.br; (x)dos anúncios publicitários de terceiros veiculados no site http://cidadao.dpnet.com.br; (xi) daobtenção por terceiros de informações relativas ao usuário e eventuais danos causados porterceiros ao usuário; (xii) das buscas efetuadas em mecanismos de buscas da internet quedirecionem ao conteúdo do usuário; e (xiii) de qualquer tipo de evento, ainda que não previstoneste rol, mas que esteja fora do controle dos Diários Associados Pernambuco.

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7. Das Limitações de Uso e Responsabilidades do Site

7.1 O Diários Associados Pernambuco não se responsabiliza ou assume garantia de nenhumaespécie e, tampouco, se responsabiliza pelos danos e prejuízos que oriundos: (i) da violaçãoda lei, ética, moral e bons costumes e da ordem pública decorrentes dos conteúdos dequalquer natureza inseridos pelos usuários no site http://cidadao.dpnet.com.br; (ii) da infraçãode direitos de propriedade intelectual e industrial, de segredos empresariais, de compromissoscontratuais, de direitos à honra, à intimidade pessoal e familiar, à imagem e à propriedade;(iii) pelo uso difamatório, ofensivo por terceiros em relação a qualquer conteúdodisponibilizado pelo usuário, independentemente de sua forma, cabendo exclusivamente aousuário e/ou terceiro agir com responsabilidade e zelo na disponibilização pública dosreferidos conteúdos; (iv) pelas informações pessoais desatualizadas, inverídicas ou inexatasinseridas no site pelos usuários; (iv) pelos links, banners, anúncios e serviços de terceirosinseridos no site http://cidadao.dpnet.com.br; e (v) por vícios e defeitos de toda e qualquernatureza nos produtos ou serviços ofertados no site http://cidadao.dpnet.com.br.

8. Das Disposições Finais

8.1 Os direitos e obrigações decorrentes deste documento poderão ser cedidos a qualquerempresa pertencente ao Grupo Associados.

8.2 Se, contrariamente às expectativas das partes, uma ou mais disposições do presente Termode Uso forem consideradas nulas, anuláveis ou inexeqüíveis, por qualquer razão, as demaisdisposições deste Termo de Uso permanecerão válidas e em pleno vigor, continuando avincular as partes. Nenhuma das partes será responsável perante a outra por qualquer falha ouatraso no desempenho de qualquer das obrigações constantes do presente Termo de Uso,causados por eventos de força maior ou casos fortuitos. Este instrumento será regido einterpretado de acordo com a legislação brasileira, sendo eleito o Foro da CircunscriçãoEspecial Judiciária de Recife/PE, para questões a ele relativas, com renúncia expressa aquaisquer outros, por mais privilegiados que sejam.