Upload
jose-branco
View
216
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
intra 01 Motivação e retenção de capital humano 02 Trabalho temporário Nº16 EDIÇÃO 2 JULHO 2009 7.5 EUROS intra Qualificações em mudança
Citation preview
intra
Directorde RecursosHumanos#0201 Motivação e retenção de capital humano
02 Trabalho temporário
Nº16
EDIÇÃO 2
JULHO 2009
7.5 EUROS
intra
Qualificações em mudança
intra
Índice
01Motivação e retenção de capital humano
P. 07
“O DRH deve contribuir positivamente para que os seus colaboradores sejam mais esclarecidos”Serafim Gonçalves, LeYa
P. 10
Motivar e reter talentosPatrícia Pedrosa da Silva, Bacardi Martini
P. 14
“Não existem mecanismos que premeiem a aprendizagem adquirida, imobilizando a motivação para a aprendizagem futura”Luís Filipe Monteiro, Mota-Engil
P. 20
Motivação e RetençãoJosé Guerra
02Trabalho temporário
P. 23
“Sobretudo ao nível dos call centers, temos detectado alguns abusos”Vitalino Canas, Provedor do Trabalho Temporário
P. 28
Trabalho Temporário: presente e futuro de uma actividade económicaMarcelino Pena Costa, APESPE
P. 30
“Os trabalhadores temporários são tão precários como contratados a termo certo”Nuno Mourão, Oni Communications
Em FocoP. 35
Inventariação de talentosJosé Bancaleiro, Humancap Internacional
Grande EntrevistaP. 39
“Em Portugal, achamos que tudo o que não é contrato fixo e vinculativo é mau e precário”Miguel Pina e Cunha, Universidade Nova de Lisboa
EmpresaP. 45
“É necessário criar uma nova mentalidade de valorização do trabalho”Amândio da Fonseca, Egor
Editorial
Visionários precisam-se
A incapacidade de reter capital huma-no constitui um enorme revés para o desenvolvimento e modernização do tecido empresarial português. Aborda-dos no primeiro dossier deste número da Intra DRH, motivação e retenção são temas prioritários das organiza-ções e uma preocupação na agenda diária do DRH actual. Numa conjuntu-ra em que, para o colaborador, manter um emprego acaba por ser a neces-sidade básica, enquanto reter e moti-var os melhores consiste num esforço absoluto para o empregador, importa também saber como o trabalho tem-porário pode ser respeitado do ponto de vista ético. Mas no tema que esco-lhemos para o segundo dossier nem tudo é tão linear como parece, ou não estivéssemos a lidar com pessoas...O fosso adensa-se quando há opi-
nion makers que colocam o trabalho temporário – opção cada vez mais re-corrente no sector público – como o exemplo máximo da precariedade e uma ameaça permanente, ao contrário de outros, que o consideram como um instrumento ao serviço do emprego. Portugal necessita urgentemente de estancar a fuga dos seus licenciados, que se vem adensando nos últimos anos, de modo a evitar um rombo ain-da maior no seu capital intelectual. Em
tempo de crise, o mercado está, de facto, menos desafiante, há – para mal de muitos – melhor aceitação da mo-deração salarial e, no final, a exigência de maior polivalência, carga horária e (a inevitável) pressão.Este é o momento para reter talento como forma de sobreviver à crise. A tão em voga noção de “talento” não é mais do que a (absolutamente ne-cessária) valorização dos quadros da empresa. Importa que a pessoa sinta que a empresa investe em si e que não está esquecida. Aqui, o DRH tem um papel activo, um desafio ao mesmo tempo prático e estratégico no estabe-lecimento de uma política de segmen-tação e gestão de talento, com vista à sua motivação e retenção. A mobi-lidade interna, oportunidade de cresci-mento, reconhecimento e recompensa, promoções, planos de remuneração indiferenciados, autonomia, o envolvi-mento constante dos colaboradores na empresa através de uma comunicação interna eficaz – mesmo quando os pro-cessos não são perfeitos –, fomentan-do o envolvimento de ambas as partes ou a simples possibilidade de conciliar a vida familiar com a profissional, são hoje beneces quase sem preço para o colaborador e uma forma de o envolver e reter na organização.
José Branco
intra
01DossierMotivação e retenção de capital humano
7
EntrevistaSerafim Gonçalves“O DRH deve contribuir positivamente para que os seus colaboradores sejam mais esclarecidos”
Para sabermos mais sobre a forma de reter e motivar os quadros estratégicos de uma organização, fomos ouvir o responsável de RH do Grupo LeYa. Para Serafim Gonçalves, o DRH deve ajudar o colaborador a repensar constantemente a sua posição dentro da empresa mas, contudo, deve evitar propor-lhe desafios para os quais ainda não esteja preparado.
O risco de as organizações perderem capital humano
importante é elevado nesta altura porque muitos cola-
boradores estão a preparar um plano de contingência
para a sua carreira. Sente que, investindo na comunica-
ção e na valorização da presença do indivíduo na orga-
nização, é suficiente para reter esses colaboradores?
Todos os colaboradores que estão seguros de si têm cons-
ciência da sua importância dentro de uma organização, da
sua competência e do seu saber e, estão sempre a pensar
na sua carreira a curto/médio prazo. Não creio que seja
preciso estarmos a viver um momento de crise económica
para começarem a pensar nisso. Claro que um colaborador
seguro de si sabe que uma crise económica pode ser uma
janela de oportunidade, quer para poder brilhar a grande
altura dentro da sua organização, quer para se fazer no-
tar junto de empresas que sejam atractivas nestes tempos
difíceis. Cabe à organização preparar-se para reter estes
elementos que são as pedras basilares do seu negócio.
Pode ser através de comunicação interna eficaz, onde se
Entrevista de José Branco
dê a entender a importância da posição destes elementos,
ou em manter-lhes o nível de entusiasmo no trabalho, des-
viando-lhes a atenção de propostas externas que possam
eventualmente surgir.
A criação de uma equipa de medição de gestão de de-
sempenho poderá ser a solução para obter uma cali-
bração mais precisa?
Ninguém chega a bom porto navegando às cegas. Na mi-
nha opinião, quando se apresenta a um colaborador um
projecto para si e para a sua equipa, além de lhe transmitir
quais os meios, em material e em tempo, que vai ter ao
seu alcance para a elaboração desse projecto, deve-se-lhe
apresentar também quais os objectivos que se pretendem
alcançar no final do projecto concluído, bem como qual
vai ser a forma de medição para o alcance dos mesmos.
A “escala de medição” (chamemos-lhe assim) deverá ser
clara e objectiva e o projecto só deve arrancar depois de
todos os intervenientes terem pleno conhecimento e aceite
intra
a forma como irá ser avaliado o seu desempenho ao longo
do processo. Claro que, se houver na empresa capacida-
de para ter um departamento de “controlo e avaliação da
qualidade dos resultados” dos projectos, apenas dedicado
a esta situação, tanto melhor. Tenho a certeza que os re-
sultados serão mais isentos e mais consensuais no seio de
avaliados e avaliadores.
A gestão de desempenho, na maioria dos casos ainda
é vista como um procedimento meramente burocráti-
co e não como um processo integrado de sucesso. No
Grupo LeYa, que contributo têm este método com vista
à motivação e retenção de colaboradores?
O Grupo LeYa é muito recente e nasceu da junção de rea-
lidades bem diferentes de empresas que, apesar de esta-
rem no mesmo ramo de actividade, também elas tinham
posturas diferentes na forma como olhavam os seus cola-
boradores. Neste momento estamos a “baralhar para dar
de novo”, ou seja, aproveitamos o que de melhor se fazia
nas diferentes empresas, avaliar se estas práticas estavam
em linha com o que é a estratégia do Grupo para os seus
colaboradores. Queremos também inovar, trazer moderni-
dade e exigência de valores, incutindo a todos um espírito
de grupo, para que sejamos encarados pelos nossos como
uma empresa de excelência neste ramo de actividade,
onde lhes dê essencialmente muito gozo desenvolver as
suas competências; bem como fazer com que a LeYa seja
atractiva para quem quer começar a desenvolver a sua ac-
tividade profissional na área editorial. Queremos, sem dú-
vida, ser a “primeira escolha” dos alunos mais talentosos,
quando estes pensarem em entrar no mercado de trabalho.
Claro que os métodos de avaliação e gestão de desempe-
nho que a LeYa vier a aplicar irão ser decisivos na retenção
e atracção de talento. Daí o cuidado que estamos a ter na
sua criação e aplicação.
A gestão de desempenho visa assegurar a manuten-
ção e o foco. Entende que os Directores de Recursos
Humanos (DRH), através deste processo, são elemen-
tos-chave no estabelecimento de relações claras e in-
terligadas entre os valores, ambições individuais e ob-
jectivos globais da empresa?
Os RH de uma empresa devem definir uma politica de ava-
liação do desempenho que seja clara, objectiva e que sirva
a todos os diferentes sectores da empresa. Devem aplicar
aquilo que realmente precisam e não o que já é feito por
outros ou o que vem nos livros só porque a doutrina diz
que é assim. A explicação exaustiva dos objectivos que
se pretendem alcançar com a avaliação do desempenho
é da competência dos RH, bem como a boa gestão de
todo o processo. Tenho a certeza que, se os avaliadores
concordarem com o processo, irão aplicá-lo na íntegra e
perceberão a curto prazo os bons resultados que uma ava-
liação justa trarão ao desempenho futuro da sua equipa e,
como consequência, aos resultados globais da empresa.
Assim, na forma como conduzem estes processos, os RH
são elementos-chave para a organização.
Quais deverão ser as principais preocupações das
pessoas para manterem um bom nível de desempenho
das suas funções?
Terão que ser esclarecidas. O colaborador deve saber
avaliar as suas capacidades face aos objectivos que lhe
propõem para alcançar. Se vir que não tem essas capaci-
dades, nunca deve aceitar a responsabilidade, ou então,
aceitar, mas sobre condições. O problema, muitas vezes, é
que esta falta de esclarecimento “turva a vista”, querendo
dar passos de gigante antes do tempo certo e leva os cola-
9
boradores a cometerem erros. O mesmo acontece da parte
das empresas. Teremos de saber sempre quais as reais ca-
pacidades dos nossos elementos e tentar não lhes propor
desafios para os quais ainda não estão preparados.
As organizações estão a preferir atribuir prémios de
desempenho aos colaboradores em detrimento de au-
mentos salariais. Concorda com esta tendência?
É, sem dúvida, a melhor forma de manter os colaboradores
focalizados naquilo que é a sua missão dentro da empresa.
Agora, não quero com isto dizer que não se devem dar
aumentos salariais. O salário é a base da nossa economia
e este deve acompanhar as exigências que cada um de
nós se habitua ao longo da sua vida activa. Os prémios
de desempenho serão, cada vez mais, uma “manobra de
excelência” para segurar e tornar os nossos melhores pro-
fissionais, e uma forma do seu bom desempenho ser reco-
nhecido pela organização.
Um estudo da Hays mostra que, apesar do período
de incerteza, há uma importante percentagem de em-
presários que pretende aumentar os seus quadros em
2009. Enquanto DRH, pensa que é preferível contratar
ou fazer um esforço para manter os quadros actuais?
Para contratar é preciso que o seu negócio cresça e todos
sabemos que actualmente poucos são os sectores de ac-
tividade que estão em crescimento. Pode ser uma forma
de a empresa se preparar para a retoma dos mercados,
quando esta vier. Mas para isso acontecer deverão ter
condições de suportar os encargos financeiros em meios
humanos.
Tudo depende da realidade de cada organização mas se,
neste momento, uma empresa conseguir reter os seus
quadros, é sinal que está bem preparada para vencer estes
tempos mais próximos e está decididamente a contribuir
para que esta crise económica seja mais curta.
Na actualidade, há muitas pessoas que ficam satis-
feitas só por manterem o emprego. Qual deve ser a
postura de um DRH para motivar o capital humano da
organização de modo a não encarar as coisas deste
modo?
Como já disse, deve contribuir positivamente para que os
seus colaboradores sejam mais esclarecidos. Ajudá-los a
procurar forma de aprenderem sempre mais, de repen-
sarem a sua posição na empresa e de, juntamente com
todos os outros sectores, procurarem estímulos para que
não deixem cair a bandeira da “empresa de excelência”.
Daí o DRH ser por natureza uma pessoa constantemente
“incomodada” com a rotina. Deve ter mais cuidado com
os seus recrutamentos, medir o verdadeiro sentido da for-
mação que vai realizar, pesar o valor de cada sector dentro
da organização, fazer circular as pessoas pelos diferentes
sectores da empresa onde possam continuar a ser uma
verdadeira mais valia.
Perfil
Serafim Gonçalves, 35 anos, é actualmente Direc-tor de Recursos Humanos do Grupo LeYa. Natural de Gouveia. Foi militar da Força Aérea entre 1993 e 1995. Licenciado em Sociologia do Trabalho - Pla-neamento de Pessoal, pela Universidade Técnica de Lisboa (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas), terminado em 1999. Ainda em 1999 entrou no Departamento de Recursos Humanos da CEPSA Portuguesa (ramo petrolífero) como técni-co de RH. Em 2003 passou a ser Responsável de Recursos Humanos da Empresa Propel - Produ-tos de Petróleo, Lda., empresa de retalho da mar-ca CEPSA. Em 2006, ingresso como Director de Recursos Humanos da Texto Editores, empresa do ramo editorial. Em 2007 o Grupo LeYa nasce com a aquisição da Texto Editores e é convidado pela Ad-ministração para Director de Recursos Humanos do Grupo, tendo como principal objectivo a inte-gração de todas as empresas do ramo editorial que viriam a ser adquiridas e a criação de um modelo de gestão de pessoas único para os diferentes co-laboradores das diferentes empresas, projecto que ainda continua actualmente.
intra
Sobre cada uma destas forças é pos-
sível agir e é urgente fazê-lo. Retirar
das pessoas o que elas têm de melhor
é a mais desafiante e recompensado-
ra missão dos gestores de recursos
humanos nas empresas. E aqui não
parecem existir tantas verdades trans-
versais mas muitas mais questões e
motivos de constante reflexão, dado
que a forma de agir sobre cada uma
das forças tem que ser tão dinâmica e
‘camaleónica’ quanto a diversidade de
tempos, contextos, personalidades e
situações.
Motivar as pessoas nas organizações é
a forma de agir sobre a sua vontade de
atingirem os melhores resultados. É en-
contrar e estimular os seus motivos. É
observá-las, conhecê-las, viver por mo-
mentos as suas vidas, desempenhar as
suas funções, fazer os seus percursos,
perceber as suas ambições, encontrar
esses seus motivos e agir sobre eles.
Motivação – Um código pessoal e
intransmissível
Da remuneração ao reconhecimento,
do conteúdo funcional ao ambiente
laboral, do envolvimento à autonomia,
do desenvolvimento à progressão, da
aculturação à confiança no líder... são
todos factores capazes de motivar um
indivíduo e extrair dele o maior valor
em cada momento. Constituem uma
longa lista de motivos que se podem
destacar e conjugar num código pes-
soal e intransmissível.
A descoberta de cada um destes có-
digos é um dos exercícios mais desa-
fiadores e interessantes da gestão de
pessoas. Recentemente, dei por mim
a fazê-lo, por defeito, na tentativa de
desvendar os motivos que levam al-
guém a colocar em risco a sua vida,
por exemplo, para ‘pegar um toiro’!
Não me foi fácil descobrir este códi-
go de motivos e, mais uma vez, não
serão sempre os mesmos, mas con-
segui destacar alguns que me fizeram
muito sentido e, mais ainda, no con-
texto em que vivemos – a necessida-
de de sentir emoções fortes, de viver
a solidariedade e amizade singulares
que resultam de momentos de vida
OpiniãoPatrícia Pedrosa da SilvaMotivar e reter talentosUma das poucas verdades inquestionáveis e transversais a todas as reflexões, opiniões, teses e modelos sobre a ges-tão de pessoas nas organizações é a de que a vontade, a capacidade e o conhecimento são três grandes forças motrizes que, cumulativamente, levam um indivíduo, uma organização, um povo, a atingir os seus objectivos, a fazer acontecer!
Patrícia Pedrosa da Silva
É Directora de Recursos Humanos da Bacardi-
Martini Portugal desde 2004. É autora de várias
monografias e artigos na área de Gestão de
Recursos Humanos e desenvolve actividade
regular como conferencista em eventos
profissionais. Anteriormente, desenvolveu
a sua actividade profissional na área de
Desenvolvimento Organizacional na Avon
Cosméticos, inicialmente, a nível nacional e,
mais tarde, a nível internacional, como apoio a
um conjunto de empresas do grupo localizadas
na Europa do Sul. É licenciada em Estudos
Europeus Aplicados, pela Universidade Católica
Portuguesa (UCP) e Mestre em Comportamento
Organizacional pelo Instituto Superior de
Psicologia Aplicada (ISPA).
11
ou morte partilhados e, é claro, o de-
sejo de demonstração de um acto de
bravura viril e inequívoco. Num tem-
po e numa sociedade providencial
e de tantas liberdades gratuitas, já
conquistadas, parecem faltar estímu-
los. Os jovens que chegam agora ao
mercado de trabalho, educados nesta
sociedade, focada na concessão de
direitos e com um medo anti-fascista
da disciplina e do dever, mostram-se
tantas vezes incapazes de se auto-
motivarem, esperando, é claro, que
todos os motivos lhes sejam pronta-
mente providenciados, cada vez mais
difíceis de estimular, emoções ausen-
tes, já só experienciadas em situa-
ções extremas, como a de uma ‘pega
de caras’!
A motivação não se cria,
cultiva-se!
Nem só da satisfação de necessida-
des hierarquizadas (teoria de Maslow)
vive a motivação do indivíduo. Como
no exemplo ‘tauromáquico’, este é
capaz, muitas vezes até mais capaz,
de encontrar em si motivos para al-
cançar metas, mesmo quando a sua
segurança ou sobrevivência está em
risco. Isto porque o indivíduo pode ter
em si mesmo uma força que o mo-
biliza (e, mais interessante ainda, que
mobiliza as pessoas à sua volta) – a
sua motivação intrínseca. O papel do
gestor, do líder, é apenas o de ajudar
as pessoas a identificarem as suas
próprias necessidades e conduzi-
las até à fonte de satisfação, e não
o de criar motivos (motivar) que não
existem. É por isto que a motivação
é inúmeras vezes bem comparada
ao cultivo, no sentido em que não
se pode cultivar um trigo de forma a
transformá-lo numa laranjeira, assim
como não é possível motivar esse tri-
go a tornar-se o trigo mais rico e ro-
busto da sementeira. Mas é possível
criar as melhores condições para o
seu crescimento, em termos de clima,
de solo, de rega. Gerir motivação nas
organizações significa, portanto, se-
leccionar os indivíduos com as moti-
vações certas e criar-lhes as melhores
condições para que se desenvolvam.
É aqui que pode estar o maior retorno
de todo o investimento que se pos-
sa fazer nas pessoas: na capacidade
de identificar e atrair pessoas auto-
motivadas, e saber manter e estimular
constantemente a sua motivação in-
trínseca. Diversas ferramentas utiliza-
das com o objectivo de gerar melho-
res desempenhos e resultados, têm,
tantas vezes, um efeito de muito curta
duração e baixo impacto isto sucede
porque não conseguem ir de encontro
às motivações intrínsecas das pesso-
as, e ainda criam dependência, cani-
balizam essa motivação intrínseca e,
logo, são de reduzido retorno sobre
esse investimento.
A boa prática de gestão de recursos
humanos nas organizações implica,
impreterivelmente, a constante obser-
vação atenta e assimiladora de tudo o
que pode influenciar e ditar as vonta-
des dos indivíduos e dos grupos em
cada momento, a constante e difícil
tarefa de evitar frustrações, desen-
ganos castradores ou bloqueado-
res da motivação intrínseca. Depois,
colocam-se os adjectivos certos em
cada um dos factores de motivação:
remunerações equitativas, benefícios
competitivos e diferenciadores, reco-
nhecimentos sinceros e pertinentes,
postos de trabalho enriquecidos, pla-
nos de desenvolvimento adaptados,
envolvimento atempado e visibilida-
de merecida, boas oportunidades de
mobilidade interna, uma cultura forte
e única e um líder inspiracional.
O líder inspiracional
O factor que tanto a estatística como a
experiência de vida nas organizações
facilmente revelam como o mais in-
fluenciador da motivação é a existên-
cia de um líder inspiracional. As pes-
soas e mais ainda, as pessoas com
talento, procuram, nas acções e nas
O papel do gestor, do líder, é apenas o de ajudar as pessoas a identificarem as suas próprias necessidades e conduzi-las até à fonte de satisfação, e não o de criar motivos (motivar) que não existem. É por isto que a motivação é inúmeras vezes bem comparada ao cultivo, no sentido em que não se pode cultivar um trigo de forma a transformá-lo numa laranjeira, assim como não é possível motivar esse trigo a tornar-se o trigo mais rico e robusto da sementeira.
intra
palavras (por esta ordem, é claro) dos
seus líderes um sentido a dar àquilo
que possam fazer de melhor. Liderar
eficazmente passa por dominar a arte
de mobilizar os outros de forma a não
apenas fazerem, como um acto condi-
cionado, mas a quererem fazer o que
for necessário para se atingirem ob-
jectivos comuns. Este é um elemento
fundamental, que pode fazer toda a
diferença na retenção de talentos. As
pessoas que as empresas mais valo-
rizam são também as pessoas mais
procuradas e que podem escolher a
empresa e a quem colocam à disposi-
ção o seu talento.
Na maioria das vezes, escolhem um
líder capaz de perceber as suas moti-
vações e estimulá-las, orientando, de-
safiando, inspirando. Um líder capaz
de definir claramente estratégias, fo-
car os esforços e recursos na prosse-
cução dessas estratégias, que pensa
‘fora do quadrado’, explorando solu-
ções novas, que comunica a sua vi-
são – fazendo com que todos se con-
sigam identificar e reflictam essa visão
nas suas próprias visões e missões.
Um líder empenhado e confiante, ho-
nesto e capaz de demonstrar respeito
genuíno pelas pessoas que lidera. Um
líder que ouve a sua intuição e a dos
outros, tolera os erros acarretados
pelo risco e cometidos pelas devidas
razões. Um líder que sabe que, sem
a atitude e a motivação certa, nada é
possível. Um líder que ouve e envolve,
que partilha e celebra, que confia e
reconhece.
A liderança inspiracional contribui di-
rectamente para a satisfação de mui-
tas das necessidades emocionais das
pessoas. É por isso que é um factor
motivacional tão poderoso. A partir
daqui, a retenção dos talentos torna-
se muito mais fácil.
E em tempos de crise...?
Atrair e motivar talentos em tempos de
crise é algo que as empresas devem
ver da perspectiva do retorno sobre o
investimento e não apenas da rápida
redução de custos, para que possam
assegurar sucesso sustentável numa
realidade ainda mais competitiva, em
que só sobrevivem os melhores. Isto
significa um maior focus na optimiza-
ção (e não mera redução) dos custos
com os recursos humanos e uma
maior atenção no valor que se preten-
de que esses recursos gerem.
As empresas que encaram a crise
com uma visão de curto-prazo
sobre a gestão de recursos hu-
manos poderão ‘morrer na praia’
À Direcção de Recursos Humanos
cabe defender esta perspectiva, de-
senvolver políticas e práticas neste
sentido, medir e demonstrar esse re-
torno. Em termos de optimização de
custos, este cenário de crise apresen-
ta uma excelente oportunidade para
se analisarem os ‘custos com pesso-
al’, por exemplo, de forma a respon-
der às seguintes questões: como se
comparam os meus custos com pes-
soal com os custos de empresas com
o mesmo nível de competitividade?
(Benchmarking); como posso gerar
melhores resultados para a empresa,
conceder melhores benefícios às pes-
soas e contribuir de forma a influenciar
mais positivamente a sua motivação,
sem aumentar, ou até reduzindo, os
meus custos?
Em termos do maior valor gerado
pelos talentos nas organizações, é
preciso que se saibam distinguir as
conquistas de cada pessoa, as atitu-
des e comportamentos que fazem a
diferença em cada situação, os seus
contributos inequívocos para o suces-
so da empresa.
Para além disto, a verdade é que os
factores mais influenciadores da moti-
vação de talentos, particularmente em
tempos de crise, até são ‘bastante ba-
ratos’. Basta que se mantenham vias
de comunicação abertas e francas
acerca da natureza e magnitude dos
desafios, que se chamem os talentos
a uma maior participação e contributo
nas estratégias e tácticas de ‘comba-
te’ e, mais uma vez, que o líder saiba
inspirar as suas ‘tropas’ a seguir a sua
visão, como William Wallace numa
das batalhas em defesa da Escócia,
contra o violento domínio dos ingle-
ses, a qual acabou por vencer, apesar
da desvantagem numérica e de arma-
mento.
“Lutem e poderão morrer. Retirem-se
e viverão... pelo menos por mais um
tempo. E no vosso leito de morte, da-
qui a muitos anos, será que estariam
dispostos a trocar todos esses dias
das vossas vidas, por uma oportuni-
dade, só uma oportunidade, de voltar
aqui e dizer aos nossos inimigos que
eles podem tirar as nossas vidas, mas
nunca nos poderão tirar... a nossa li-berdade”?
InterfaceJornadas
Contabilidade analítiCa na administração PúbliCa23 setembro de 2009
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES:[email protected]
tel: 21 120 43 33 › Fax: 21 120 43 49www.agenda.algebrica.pt
intra
EntrevistaLuís Filipe Monteiro“Não existem mecanismos que premeiem a aprendizagem adquirida, imobilizando a motivação para a aprendizagem futura”
De modo a que o saber não se torne rapidamente obsoleto, na opinião de Luís Filipe Mon-teiro, exigem-se estratégias que encorajem a introdução de competências organizativas transversais. Para este membro da Direcção Corporativa de RH do Grupo Mota-Engil, esta é uma forma de, por exemplo, no caso dos colaboradores mais antigos, se estabele-ça uma relação entre conhecimento acumulado e contribuição para a cadeia de valor do negócio.
Em tempos de grande competição pelos talentos, como
é possível motivar e reter os melhores?
Em primeiro lugar, há que clarificar – quem são os melho-
res? Na minha opinião, em muitas empresas este conceito
não está interiorizado. Responder a isso implica reflectir so-
bre dois factores essenciais:
- quais são as pessoas que o meu modelo de negócio im-
põe que sejam críticas? Nem sempre é óbvio. No caso da
Fedex, as pessoas que têm um impacto extremamente sig-
nificativo na cadeia de valor são os couriers, colaboradores
que têm a responsabilidade pela recepção e expedição do
produto, visto que asseguram directamente a relação com
o cliente e são responsáveis por decisões operacionais que
muito influenciam a eficiência e eficácia de todo o proces-
so.
- qual o portfolio de competências que é expectável que
detenham, para garantir que produzem os resultados chave
necessários à prossecução da missão da empresa e qual
Entrevista de José Branco
a facilidade em captar/desenvolver essas competências no
mercado.
O segundo passo consiste em instituir um conjunto de prá-
ticas de gestão que se adeqúe à cultura e princípios ope-
rativos da empresa e seja atractivo e mobilizador dos me-
lhores: alargar o escopo de responsabilidades associadas
ao trabalho em si, conferindo-lhes desafio, variedade, au-
tonomia e feedback intrínseco; criar mecanismos no design
organizacional, que induzam uma relação clara entre esforço
e reconhecimento, através de prémios de desempenho, pro-
gressão de carreira, iniciativas de desenvolvimento; definir
pacotes retributivos customizados aos diferentes segmentos
de talento, que respondam às diferentes expectativas e fo-
calizem nos drivers de motivação e resultados; alargar aos
melhores a participação em reuniões com a gestão de topo
da organização, de forma a garantir a sua aproximação e
compromisso com a estratégia; criar mecanismos que visem
fomentar a partilha da visão e objectivos de longo prazo da
15
empresa, através, por exemplo, de esquemas de participa-
ção no capital da mesma; integrar os melhores em equipas
de alto rendimento e reforçar a necessidade de cooperação
com as diferentes áreas funcionais.
Como se consegue levar um funcionário experiente e
reconhecido a continuar motivado para apostar na sua
formação pessoal?
A motivação é o produto de um conjunto extremamente alar-
gado de condicionantes. Estudos demonstram que existem
pessoas inerentemente mais orientadas para a aprendiza-
gem que outras, o que acentua a importância dos proces-
sos de recrutamento e selecção serem orientados para a
identificação de competências críticas. Mas isso, por si só,
é insuficiente. A capacidade de mobilizar indivíduos para
continuarem a investir na melhoria contínua exige que a
organização, por um lado, construa um ambiente que seja
indutor da aprendizagem dos seus colaboradores e, por ou-
tro, estabeleça uma relação muito directa com os resulta-
dos do negócio. Reforçando o ambiente organizacional, por
via de sistemas de reconhecimento, feedback, carreiras e
desenvolvimento, encoraja-o a continuar a valorizar na sua
formação, criando um círculo virtuoso de aprendizagem.
Além disso, uma empresa tem de encarar de forma muito
séria a sua equação de conhecimento. Numa economia, na
qual ¾ do valor acrescentado resulta do conhecimento que
é incorporado nos processos produtivos e no deliverable do
serviço, as organizações devem actuar na forma como fa-
zem o aproveitamento do conhecimento existente nos vários
segmentos do capital humano que dispõem. A dificuldade
em motivar os colaboradores para continuarem a apostar na
sua formação reside muitas vezes no facto de não ser claro
para estes quais as competências a desenvolver. Quando
isso é explícito, por vezes falta clareza na relação que tem
com o negócio (o que leva, em grande parte dos casos, ao
desaproveitamento do conhecimento adquirido em forma-
ção). A percepção de que “a formação foi excelente, mas
não tenho forma de aplicá-la no meu contexto de trabalho”
é extraordinariamente frequente em análises de satisfação e
revela a incapacidade das empresas gerirem, muitas vezes,
esta equação de valor. Por último, existem situações em que,
sendo claras as competências a desenvolver e a sua relação
para o negócio, não existem mecanismos que premeiem a
aprendizagem adquirida, imobilizando a motivação para a
aprendizagem futura.
Adicionando o factor “experiência”, “idade” e “antiguidade”,
esta abordagem torna-se ainda mais crítica. A forma como
encaramos a aprendizagem hoje em dia, mudou radical-
mente. O saber é um bem altamente perecível, tornando-se
rapidamente obsoleto. Estas alterações exigem que as or-
ganizações encontrem estratégias para induzir e encorajar a
aposta em competências mais transversais e adquiridas com
a experiência, de modo a criar condições para que os cola-
boradores mais velhos identifiquem de forma clara a relação
entre o conhecimento acumulado e a sua contribuição para a
cadeia de valor do negócio.
Pensa que o maior envolvimento dos colaboradores
na actividade e no processo decisor da empresa pode
intra
favorecer a dinâmica de trabalho? De que forma pode
haver esta participação sem que estejamos perante um
processo caótico?
A preocupação com o envolvimento dos colaboradores não
surge apenas pela natureza democrática que lhe é ineren-
te. Ela surge porque as empresas que a têm incorporado
na sua filosofia de gestão demonstram que é altamente efi-
caz! Um estudo realizado pelo Corporate Executive Board
em cerca de 30 países procurou medir o impacto do grau
de envolvimento e compromisso dos trabalhadores ao nível
da rotatividade e rentabilidade. As conclusões do estudo fo-
ram sistematizadas na regra 12:11 e 10:6:2. O aumento do
grau de envolvimento/compromisso dos colaboradores em
12% reduz potencialmente em 11% o desejo de sair da em-
presa. O aumento do grau de envolvimento/compromisso
em 10%, aumenta o esforço adicional em 6%, que, por seu
turno, pode melhorar em 2% os resultados da empresa. O
receio de produzir um efeito caótico e, não menos frequente,
a vontade de manter o status quo, é precisamente a razão
que leva muitas organizações a limitarem (em alguns casos,
penalizarem!) a iniciativa e participação dos trabalhadores.
Num mercado acelerado e em constante mudança, é nas
dinâmicas de envolvimento e trabalho colaborativo que as
empresas potenciam as suas vantagens competitivas e pro-
duzem resultados superiores à “soma das partes”.
Segundo um estudo do Observatório Nacional dos Re-
cursos Humanos, o sector privado regista melhores ín-
dices de satisfação relativamente ao sector público. No
seu entender, porque razão isto sucede? Será devido
aos constrangimentos legais que não premeiam com
aumento salarial o maior empenho e prestação?
Julgo que existe uma miríade de razões. Desde logo, a ine-
xistência de uma visão e valores partilhados. Em muitos
organismos públicos o que é claro é o que não se deve
fazer, aspecto que, na generalidade dos casos, é reforça-
do pelos gestores dos mesmos, em efeito de cascata. E,
paradoxalmente, é no que “não se deve fazer” que reside
o caminho crítico para a excelência dessas organizações.
Mas as estruturas não se tornam excelentes pelo que não
fazem, mas sim, pelo que são capazes de imaginar, plane-
ar, definir e implementar. Quando, na organização pública,
saímos da esfera do que “não se deve fazer” e pensamos
em “o que fazer”, mergulhamos num mar de ambiguida-
des. Estes aspectos, que estão associados aos factores
intrínsecos do trabalho, são os vectores primordiais de
motivação e satisfação. Para além disso, a inexistência de
um ambiente organizacional desafiante. Se analisarmos o
modelo de gestão aplicável na generalidade das estruturas
públicas, constatamos que os resultados são previsíveis: os
sistemas de reconhecimento enfatizam consistentemente a
lealdade/conformidade (por via do incentivo à antiguidade,
do foco no cumprimento das regras e na manutenção do
status quo) e o estatuto (por via dos mecanismos de pro-
gressão na carreira). Os sistemas de elevada performance
têm uma configuração precisamente oposta: valoriza-se o
desenvolvimento de competências nucleares e a concre-
tização dos objectivos chave, em detrimento da lealdade,
através de mecanismos de formação, esquemas de incen-
tivos direccionados e carreiras em zig-zag; promove-se a
informalidade e a comunicação horizontal, através da ges-
tão por competências e projectos, compressão das práticas
salariais e estruturas matriciais, em oposição a factores de
estatuto. Penso, no entanto, que o sector público tem feito
um esforço relevante de modernização das suas práticas e
conheço já organismos, sobretudo aqueles que gozam de
autonomia relativa na adopção de práticas de gestão, que
são uma referência em matéria de boas práticas, com resul-
O receio de produzir um efeito caótico e, não menos frequente, a vontade de manter o status quo, é precisamente a razão que leva muitas organizações a limitarem (em alguns casos, penalizarem!) a iniciativa e participação dos trabalhadores. Num mercado acelerado e em constante mudança, é nas dinâmicas de envolvimento e trabalho colaborativo que as empresas potenciam as suas vantagens competitivas e produzem resultados superiores à “soma das partes”
17
tados visíveis em termos do grau de compromisso, motiva-
ção e produtividade das pessoas.
Alguns investigadores de RH prevêem que, a curto pra-
zo, caminharemos para uma nova intelectualidade, onde
veremos indivíduos mais autónomos ao nível da toma-
da de decisões, sendo que, para tal, estarão envolvidos
num processo de aprendizagem e formação contínua,
para toda a vida. Como pensa que o ser humano lidará
com esta mudança estrutural?
Na minha opinião teremos reacções diferenciadas. Os co-
laboradores, que segundo Gerard Fairtlough, podem ser
apelidados por “especialistas da obediência”, têm e terão,
previsivelmente, maior dificuldade em evoluir para um am-
biente no qual a iniciativa, a capacidade de assumir riscos
e a necessidade de tomar decisões são factores críticos de
sucesso. Do outro lado da balança, temos a designada ge-
ração Y, que inclui os nossos jovens. Estes, pelas suas vivên-
cias, educação e características, privilegiam a autonomia, e
a possibilidade de serem envolvidos na tomada de decisão e
de participarem nos aspectos fundamentais da organização.
Mas isto cria um gap ao nível da gestão das empresas. Por
um lado, temos gestores que continuam presos a um estilo
de gestão autocrático. Do outro, temos os jovens profissio-
nais que se sentem inadaptados a um ambiente organiza-
cional que limita as suas capacidades e potencial criativo.
Penso, por isso, que o grande desafio em Portugal consiste
em criar as condições para que esta nova intelectualidade
emerja, pois é condição chave para optimizarmos as capa-
cidades individuais e melhorarmos a competitividade das
nossas empresas.
A realidade actual da gestão de empresas obriga a uma
maior flexibilidade e adaptabilidade. Contudo, e apesar
deste ser o preço da competitividade, não estaremos,
com a actual precarização da relação laboral, a agravar
os problemas sociais e até a contribuir negativamente
para dedicação do trabalhador?
Eu encaro a competitividade, não como uma fatalidade, mas
como um desafio à capacidade de optimizarmos as potencia-
lidades das pessoas, em geral. Quando isto acontece, estas
sentem-se intrinsecamente recompensadas e as empresas
perseguem a excelência. A flexibilidade e a adaptabilidade
são, muitas vezes, a forma das organizações potenciarem
uma maior força competitiva. Mas importa dizer que flexibili-
dade e adaptabilidade não são sinónimo de precarização da
relação laboral. No meu entendimento, flexibilidade e adap-
tabilidade estão associadas a capacidades críticas que o
meio empresarial deve desenvolver. No entender de algumas
estruturas e entidades, flexibilidade e adaptabilidade referem-
se a direitos que as empresas podem exercer. As que ad-
vogam a primeira abordagem, identificam as competências
a internalizar e externalizar que lhes confiram a capacidade
de atingirem os resultados críticos de forma ágil e eficiente,
e focalizam nos eixos de aprendizagem que lhes garantam
a renovação e o desenvolvimento de novas competências
necessárias para competir nos mercados futuros. As empre-
sas que defendem a segunda abordagem concentram-se
nos mecanismos que lhes permitam diminuir os seus custos
estruturais, nomeadamente através da dispensa da força de
trabalho, da flexibilização contratual, etc., a ponto de reequili-
brarem os seus recursos face ao market-pull. O risco em que
incorrem é desfocalizarem-se do processo de criação de va-
lor, com prejuízos sérios a longo prazo e com consequências
ao nível do compromisso dos colaboradores.
Tendo em conta a debilidade dos índices de motivação
actuais, será este o timing oportuno para implementar a
Eu encaro a competitividade, não como uma fatalidade, mas como um desafio à capacidade de optimizarmos as potencialidades das pessoas, em geral. Quando isto acontece, estas sentem-se intrinsecamente recompensadas e as empresas perseguem a excelência. A flexibilidade e a adaptabilidade são, muitas vezes, a forma das organizações potenciarem uma maior força competitiva. Mas importa dizer que flexibilidade e adaptabilidade não são sinónimo de precarização da relação laboral.
intra
flexibilidade das relações laborais a todos os níveis da
empresa?
Como referi, não deve ser confundido o conceito de flexibili-
dade com precariedade e degradação da relação laboral. Ao
contrário daquilo que comummente se pensa, a estabilidade
e segurança laboral continuam a ser factores de primordial
importância no grau de compromisso dos colaboradores,
com efeitos objectiváveis no valor de mercado das empre-
sas. A generalidade dos estudos sobre melhores práticas
incluem a segurança laboral como uma best practice, sendo
esta uma variável que estou a analisar na investigação que
estou actualmente a conduzir nas 500 Maiores e Melhores
Empresas. Um estudo extremamente interessante, realizado
pela Watson Wyatt, demonstrou os efeitos resultantes do
grau de segurança laboral existente. Organizações nas quais
a percepção de segurança é baixa, afectada, por exemplo,
pelo receio de um layoff, registam piores resultados econó-
micos. Curiosamente, o oposto extremo também é verdade.
No mesmo estudo, realizado na Europa – na qual os níveis
de segurança laboral são genericamente altos, concluiu-se
que a percepção de elevada segurança laboral é, por sua
vez, também contraproducente, na óptica dos resultados de
performance. O equilíbrio é atingível se coexistirem outras
práticas de gestão de pessoas que sejam estimulantes do
desempenho, que induzam a aprendizagem e desenvolvi-
mento, que incentivem a inovação, a iniciativa e o desafio
ao status quo.
Recentrando a questão, não entendo a flexibilidade das re-
lações laborais como a solução, ou parte da solução, para
a motivação das pessoas. Vejo a flexibilidade como um
princípio de gestão que deve ser analisado na perspectiva
da formulação estratégica do modelo organizacional. Cito
o Richard Branson, CEO da Virgin, cuja filosofia de gestão
assenta no seguinte princípio: sempre que uma unidade
de negócios atinge a dimensão de 100 colaboradores, ele
autonomiza-a para garantir que se mantém ágil, flexível e
adaptável. Utilizar a flexibilidade das relações laborais, não
sob uma perspectiva de gestão estratégica do negócio, mas
como uma forma de instrumentalizar as relações laborais,
através da precarização das mesmas, será o equivalente a
“comprar tempo”, em termos da sobrevivência a longo prazo
da empresa, e a agravar os problemas de motivação, falta
de compromisso e rotatividade do capital humano. A conju-
gação destes factores produz uma solução de baixo valor
para o accionista, como têm demonstrado os estudos reali-
zados nesta matéria.
Perfil
Luís Filipe Monteiro é licenciado em Gestão de Re-cursos Humanos pelo ISCTE e encontra-se na fase de dissertação do mestrado da Escola de Econo-mia e Gestão da Universidade do Minho.Encontra-se actualmente a conduzir um estudo pioneiro em Portugal, que visa analisar a influência de best practices de Gestão do Capital Humano nos resultados de performance das 500 Maiores e Melhores Empresas.Foi recentemente distinguido com o prémio Best Paper Universidades 2008, pela Associação Indus-trial Portuguesa (AIP-CE), que visa reconhecer o melhor trabalho académico na área da Gestão de Recursos Humanos desenvolvido em Universida-des em Portugal.Integra actualmente a Direcção Corporativa de Re-cursos Humanos do Grupo Mota-Engil. Desenvolveu a sua experiência profissional no ramo da Consultoria, especializando-se na área do dese-nho e implementação de Sistemas de Gestão Es-tratégica de Recursos Humanos com impacto na Performance Organizacional.Exerceu funções na Deloitte e na Pedro Câmara & Associados e integrou múltiplos projectos em sec-tores tais como: Banca, Construção, Distribuição, Energia, Indústria, Serviços, TIC, Transportes, Saú-de, Público e Non-Profit.Tem sido orador convidado em diversos seminários subordinados à temática da Gestão da Performan-ce e Recursos Humanos e é autor de artigos, tendo colaborado com o Jornal de Negócios, Semanário Económico, Revista Portuguesa de Gestão e Saú-de, RH Magazine e Revista Pessoal (APG).
19
Serviços Empresariais AlgébricaDo seu lado certo
Com a experiência do tempo, a qualidade do núcleo editorial, a fiabilidade das Bases de Dados e a competência da equipa técnica, pode confiar-nos a materialização da sua comunicação, objectivamente para o target pretendido.
Eventos
Revistas
Newsletters
Conteúdos
Bases de dados
Grupo AlgébricaAv. da Liberdade, 227 - 3º.1250-142 LisboaPortugal
intra
Também pelo aumento da esperança
média de vida, as pessoas irão viver
mais tempo e, por conseguinte, po-
derão trabalhar mais anos, estando,
por isso, mais disponíveis para as
suas carreiras profissionais e para as
organizações onde trabalham. Não
obstante alguns ciclos económicos
adversos que invertem estas tendên-
cias, a aposta em termos motivacio-
nais faz-se agora nos níveis superio-
res de Maslow, nos patamares das
necessidades sociais, da auto-estima
e auto-realização. É inconcebível e
paradoxal apostar em competitivida-
de empresarial à custa de políticas de
Recurosos Humanos que não tenham
em conta o elemento humano como
fazendo parte integrante da estratégia
da empresa e da sua cultura.
A aposta, nesta altura, deverá ir, sem
dúvida, para as pessoas, acreditando
no seu potencial, valorizando a sua
criatividade, fomentando a sua inicia-
tiva, promovendo a criação de laços
de confiança duradouros e compro-
metendo-as com a organização. Es-
tamos a falar de retenção de talentos,
por meio de uma avaliação de com-
petências e de desempenho justa e
coerente, premiando comportamen-
tos empreendedores e inovadores,
que, de alguma forma, possam mar-
car a diferença na alavancagem das
empresas.
Hoje, mais do que nunca e, perante
esta difícil conjuntura, falamos da mo-
tivação intrínseca como factor cata-
lisador, na qual o capital humano é,
cada vez mais, mobilizado por bene-
fícios e valores intangíveis, tais como
o sucesso, a competição, realização
pessoal ou a independência, em de-
trimento dos benefícios materiais ou
tangíveis. Aliás, diversos estudos de-
monstram que o salário só aparece
em terceiro lugar como factor moti-
vador, relegando a motivação, para
segundo plano. Por isso, é cada vez
mais credível e realista a opção pelos
benefícios em detrimento dos aumen-
tos salariais. Por exemplo, o reconhe-
OpiniãoJosé GuerraMotivação e RetençãoO mundo empresarial está revestido de contornos comple-xos porque as organizações são, na sua essência, consti-tuídas por pessoas, com as suas diferentes idiossincrasias, ambições, desejos, motivações, expectativas, ideologias, etc. Motivar pessoas hoje em dia é substancialmente dife-rente do que era há algumas décadas atrás. As pessoas, de uma forma geral, estão mais ambiciosas e intelectualmen-te mais capacitadas.
José Manuel B. Guerra
Licenciado em Psicologia das Organizações
e do Trabalho pela Univ. Lusófona. Possui
várias especializações em e-Learning; desde
a Pedagogia ao nível das Tecnologias da
Comunicação no ensino e na Formação até
à Criação e Gestão de Conteúdos. Possui
um Micro MBA em Gestão Empresarial e
especialização em Consultoria PME. De 2000
até 2002 desempenhou cargos de Consultor
e Técnico de RH em múltiplos processos de
Recrutamento e Selecção. De 2002 até 2005
foi Formador nas áreas comportamentais
e Consultor Especialista e de Ligação em
Projectos Formação PME. Actualmente, e
desde 2005, desempenha funções como
Consultor e Formador Independente em
Desenvolvimento Pessoal e Organizacional
sendo também colaborador de algumas revistas
e sites institucionais na elaboração de artigos
de opinião acerca das tendências no universo
Empresarial e RH. Para além do investimento
noutras áreas do conhecimento, pretende
apostar continuamente no desenvolvimento
do Capital Humano nas Organizações através
das novas tecnologias de informação e
comunicação, nomeadamente no e-Learning
como canal alternativo, privilegiando a
valorização das competências por esta via.
21
cimento e o mérito pessoal terão mais
peso na maior parte das situações
que um simples aumento de salário. O
que é pecuniário é efémero e não mo-
tiva a longo prazo. O que é intangível
é duradouro, motiva e retém a longo
prazo, principalmente os talentos que
vêm reconhecidos o seu potencial.
Também neste âmbito a aposta na
formação parece ser outra das valên-
cias competitivas e motivadoras, quer
facilitando o acesso à formação por
parte dos colaboradores, quer apoian-
do a gestão individual de carreira. O
acesso à formação não só é um direi-
to constitucional, como também é dos
melhores investimentos que actual-
mente se pode fazer. Só podemos fa-
lar em competências e competitivida-
de se apostarmos no conhecimento,
fazendo com que as pessoas possam
evoluir ao máximo do seu potencial.
Por outro lado, existem outros facto-
res de suma importância que fazem a
diferença na retenção de talentos, tais
como a comunicação. A importância
da comunicação aberta e transparen-
te aproxima o colaborador das deci-
sões. Muitas das vezes, o feedback
atempado e regular, o incentivo e o
reconhecimento por parte das chefias
constituem, por si só, um estímulo en-
corajador e uma força adicional, que
motiva o sujeito a dar o melhor de si,
comprometendo-se com a organiza-
ção onde trabalha. A par da comuni-
cação como mecanismo facilitador e
mobilizador, hoje em dia a flexibilidade
nas organizações e o downsizing acen-
tuado facilitam a mobilidade interna e
a polivalência de funções e responsa-
bilidades, permitindo aos colaborado-
res assumirem diversos papéis.
O capital humano é portador de uma
intelectualidade enorme. Só acreditan-
do nas pessoas é que estas podem
dar o melhor de si. É disto que as em-
presas e o país precisam: de capital
humano criativo e talentoso, motivado
e com soluções capazes de surpre-
enderem e de ajudar a combater o
sentimento de impotência que se vive
actualmente. Isto não se consegue se
tivermos pessoas nas empresas com
receio, desconfiadas, nas quais não
acreditamos, sub-capacitadas, explo-
radas e mal pagas. Se comprometer-
mos as pessoas com as organizações,
naturalmente que as motivaremos e,
por conseguinte, mais fácil será a sua
retenção e fidelização a um projecto,
uma missão e um conjunto de valores
partilhados, essenciais para a sobrevi-
vência de uma empresa ou organiza-
ção. Evita-se também, de igual modo,
a “fuga” massiva de talentos para o
estrangeiro e o empobrecimento da
economia pelo não retorno do inves-
timento feito nos nossos talentos. É
desta forma que se cria uma imagem
interna forte de um país e se reforça o
espírito de cultura corporativa empre-
sarial sustentável, capaz de enfrentar
os desafios e as tormentas que aí se
avizinham.
Email: [email protected]
Página pessoal: http://jguerra.no.comunidades.net
Blog: http://jmguerra.blogspot.com
Wiki: http://jguerra.pbwiki.com
“Se contratar as pessoas certas e lhes der a oportunidade de abrirem as suas asas – e lhes der compensações como combustível – quase não tem de as gerir!”
Jack Welch
“O talento humano de pouco vale se não lhe for dada oportunidade para o demonstrar”
José Guerra
intra
02DossierTrabalho Temporário
23
EntrevistaVitalino Canas“Sobretudo ao nível dos call centers, temos detectado alguns abusos”
Desde 2007 que o Provedor do Trabalhador Temporário procura mediar quaisquer confli-tos que surjam entre as empresas do sector e os seus funcionários ou potenciais candida-tos. Vitalino Canas considera que esta é uma tarefa que ganha crescente reconhecimento entre os vários agentes, mas alerta para algumas situações mais dúbias, às quais garante estar atento.
Qual é a importância do Provedor do Trabalhador Tem-
porário?
Eu direi que é uma importância crescentemente reconhe-
cida pelos trabalhores temporários, uma vez que está a
aumentar o número de processos que recebemos: este
ano já abrimos 75 processos, e ainda agora terminámos
o primeiro semestre do ano, o que significa um acréscimo
muito significativo em relação aos 18 primeiros meses do
nosso trabalho. Por outro lado, preenchemos um espaço
que estava relativamente vazio nesta área, onde os funcio-
nários têm, seguramente, imensas dificuldades em fazer
garantir os seus direitos. A este nível existe muita precarie-
dade, um grande receio de se perder o emprego ou assu-
mir conflitualidade. E, por isso, com a criação do Provedor
do Trabalhador Temporário (PTT), pela APESPE, é possível
darmos uma ajuda através da nossa mediação, sem conflito
nem obrigar os trabalhadores a tomarem uma atitude mais
drástica – como queixarem-se à ACT ou irem aos tribunais.
Por outro lado, também temos sentido que este serviço é
utilizado para esclarecimento de direitos. Creio que 80%
dos processos que abrimos dizem respeito a pedidos de
informação sobre a situação jurídico-legal de trabalhadores
temporários, que têm dúvidas sobre algumas questões e
pretendem argumentar com as respectivas empresas, para
assim tomar as suas atitudes.
Onde incidem as principais queixas apresentadas pelos
trabalhadores?
Nesta altura é difícil fazer-se um balanço. Só no final do
ano será apresentado um relatório. Agora, muito impres-
sionisticamente, houve uma fase inicial deste ano em que
verificámos a existência de muitas queixas e pedidos de in-
formação associados a situações de despedimento e ces-
sação de contratos de trabalho temporário, o que nos fez
pensar que realmente esta área estava a ser muito atingida
pelo fenómeno da reestruturação dos recursos humanos
por parte das empresas. Esse tipo de processos diminuiu
um pouco, nos últimos dois ou três meses. Aquilo com que
intra
somos confrontados agora é com um conjunto enorme de
questões relacionadas com férias, faltas, aviso prévio ne-
cessário para a dispensa do trabalhador. Mas diria que nos
aparece de tudo o que diga respeito ao regime jurídico-legal
do trabalho temporário.
E as empresas, como têm reagido a estes processos e
às suas advertências?
As empresas têm reagido bem, particularmente as que são
associadas da APESPE e que aderiram ao PTT, as quais
são obrigadas a guiar-se pelas nossas recomendações.
Mas eu diria que a generalidade das organizações tem sido
receptiva ao nosso trabalho. O que nós temos feito, numa
percentagem muito elevada, é sobretudo dar informações
aos trabalhadores em situações nas quais não querem se-
quer entrar ou assumir o conflito. Isto porque, pela natureza
do vínculo que têm – e que é precário –, estão muito depen-
dentes da relação com a empresa de trabalho temporário,
seja para o emprego actual, seja para futuros empregos,
porque a natureza destas implica que o funcionário vá cir-
culando por vários cargos.
Por força deste período de crise financeira à escala glo-
bal, sente que há uma forma diferente de relacionamento
entre os trabalhadores e as suas entidades patronais?
Não é possível, de momento, fazer nenhuma apreciação em
relação a isso. Precisaremos de mais espaço temporal para
ter essa noção. É claro que os trabalhadores temporários,
de uma forma geral, e eventualmente sentindo que exista
essa crise e incerteza de emprego, procuram garantir os
seus postos de trabalho, mesmo quando são de natureza
precária. Hoje em dia, a generalidade das pessoas está mui-
to mais preocupada em manter o emprego do que em exigir
os seus direitos, sente-se que há mais transigência. E ao
nível do trabalho temporário também me parece que existe
essa maior tolerância, às vezes em relação a situações que
noutras ocasiões não se admitiria tão facilmente.
Referiu no último colóquio do CIETT que, para além do
ponto de vista jurídico, também é importante uma abor-
dagem ética ao trabalho temporário. Porquê?
Esse é um diálogo que temos mantido com a APESPE, e
em relação ao qual chegámos a um consenso, pois verificá-
mos que, nalgumas situações que nos chegam, existe, por
parte das empresas, um escrupuloso cumprimento da lei,
mas cujos procedimentos do ponto de vista ético podem
ser condenáveis. E por isso, a APESPE aceitou que o PTT
pudesse também apreciar queixas que lhe são dirigidas pe-
los trabalhadores temporários do ponto de vista da ética do
mercado laboral, do relacionamento entre as empresas e os
seus funcionários.
Pode dar alguns exemplos de falta de ética da parte das
empresas para com os seus trabalhadores?
Por exemplo, nada na lei exige que a empresa diga que re-
cebeu o currículo de um candidato e está a analisá-lo, que
refira ter efectuado uma entrevista e procura encontrar co-
locação ou se o perfil afinal não corresponde ao posto que
queria ocupar. Mas, do ponto de vista ético, os trabalhado-
res temporários têm os seus direitos e dignidade e creio que
seria muito aceitável, talvez exigível, que as empresas, nes-
sas circunstâncias, os mantivessem ao corrente do que se
está a passar. Parece-me que o PTT, com esta nova faceta
das suas funções, poderá também contribuir para melhorar
as questões subordinadas à ética do relacionamento.
Pela sua experiência ao longo destes dois anos, o tra-
balho temporário é uma oportunidade de emprego ou é
apenas um período para estudantes e desempregados
ocuparem o seu tempo, enquanto procuram uma real
carreira profissional?
Eu acho que todas essas situações são comuns. Desde
logo, há estudantes que estão a fazer os seus cursos e
que, numa determinada altura, – com mais disponibilidade
– pretendem ter um emprego. Existem também casos de
Sabemos que existem muitos indivíduos que iniciam a sua carreira profissional como trabalhadores temporários e que depois vão-se perpetuando em vínculos precários durante longos anos.
25
pessoas que sairam temporariamente do mercado laboral
e agora pretendem regressar: mulheres que tiveram uma
criança, indivíduos que se viram desempregados durante
algum tempo ou que suspenderam a sua carreira profis-
sional para irem estudarem. Por fim, creio que a esmaga-
dora maioria das pessoas sujeitas a vínculos de trabalho
temporário são jovens, muitas vezes à procura do primeiro
emprego, no interesse de continuar a sua formação profis-
sional ou ganhar maior experiência. Sabemos também que
uma grande percentagem destas pessoas acaba, em certo
momento, por conseguir um vínculo mais permanente com
as empresas utilizadoras. Em Portugal, infelizmente, não te-
mos ainda estatísticas fidedignas em relação a isso. Como
tal, um dos projectos que a APESPE está nesta altura a
lançar, juntamente com o PTT e com o ISEG, é a criação
de um Observatório do Trabalho Temporário (que permita,
por exemplo, ter estatísticas rigorosas sobre o que sucede
no nosso país).
Não se pode tornar também num ciclo vicioso?
Infelizmente, existe esse risco em Portugal e temos recebido
muitas queixas a esse nível. Sabemos que existem muitos
indivíduos que iniciam a sua carreira profissional como tra-
balhadores temporários e que depois vão-se perpetuando
em vínculos precários durante longos anos. Aliás, temos no
escritório dos serviços do Provedor situações de pessoas
que se queixam de chegar a estar mais de cinco anos em
trabalho temporário, prestação de serviços ou recibos ver-
des, sempre a exercer as mesmas funções no mesmo local
de trabalho. Não têm qualquer tipo de estabilidade ao nível
do emprego, aspecto que se prolonga por muitos anos, às
vezes também com a desvantagem de não lhes ser faculta-
da formação profissional que permita prepararem-se melhor
para o mercado de emprego e para terem oportunidades
mais estáveis. Também não têm, em certos períodos da sua
vida, qualquer regalia ao nível social (fundo de desemprego
ou outro tipo de assistência de natureza social).
Os sindicatos criticam muitas vezes as entidades pa-
tronais de ultrapassarem os limites na contratação
de trabalhadores temporários para os seus quadros.
Concorda que haja esse excesso de oferta de trabalho
temporário na estrutura interna das grandes empresas
nacionais?
Temos, antes de mais, que distinguir com clareza o verda-
deiro trabalho temporário daquela situação de prestação de
serviços, os chamados recibos verdes e contrato a termo.
Muitas vezes, as empresas, desconfiadas de uma pretensa
inflexibilidade e excessiva rigidez da nossa legislação labo-
ral (que, em meu entender, pelo contrário, tem um nível de
flexibilidade bastante apreciável), e também inseguras em
relação ao seu futuro, recorrem a vínculos com essa confi-
guração. No entanto, o recurso ao trabalho temporário está
estritamente previsto na lei, que define com rigor e taxativa-
mente quais são as situações em que existe uma manifesta
necessidade temporária para recorrer áquele tipo de traba-
lhadores. Portanto, diria que, hoje em dia, e tendo em conta
o conjunto de soluções que o nosso Código de Trabalho
Foto
: Mar
ina
Mar
que
s
intra
já oferece às empresas (particularmente após a última revi-
são), não há razão para recorrer ao trabalho temporário, a
não ser em situações muito específicas.
Verifica-se por parte das organizações (inclusivamente
do sector público) a publicitação da criação de novos
empregos na sua estrutura, tantas vezes trabalho tem-
porário e/ou call centers. Não há um exagero dessas em-
presas, um aproveitamento da conjuntura de crise, para
apresentarem resultados na promoção do trabalho?
Desde já, trabalho temporário é apenas uma das formas de
precariedade, e nem sequer é a mais frequente em Portugal.
Quando se fala que o nosso país tem uma grande percenta-
gem de trabalhadores com vínculos precários, se formos a
analisar bem, isso verifica-se porque existe o fenómeno ilegal
dos recibos verdes e o recurso à contratação a termo cer-
to ou incerto. O trabalho temporário – na rigorosa acepção
do termo – tem uma percentagem relativamente pequena,
eu diria que não mais que 2% dos trabalhadores. Existe um
problema ao nível da nossa economia; as próprias empresas
também passam por dificuldades e procuram equilibrar as
suas contas. Creio, contudo, que é necessário referir: sobre-
tudo ao nível dos call centers temos detectado alguns abu-
sos e verificamos muitas vezes esse fenómeno, que já referi,
da circulação dos trabalhadores anos e anos a fio, com vín-
culos diversificados mas sempre com a mesma função, o
que, em meu entender, configura uma fraude à lei.
Referiu há pouco que muitas das questões que lhe
levantam são de natureza jurídica, como aspectos de
cessação do vínculo laboral. Acredita que o novo Siste-
ma de Mediação Laboral poderá ajudar a sanar grande
parte desses conflitos, ou estamos a falar de realidades
diferentes?
Sou favorável a situações como a do PTT, que também é
um mediador, embora recrutado e pago pela sociedade ci-
vil. Esta é uma função normalmente flexível e, como somos
apoiados financeiramente pela APESPE, os trabalhadores
que aqui recorrem têm um serviço totalmente gratuito. Pro-
curamos responder com alguma celeridade e fazê-lo discre-
tamente, sem estar a empolar um conflito. Tendo em conta
as actuais condições do mercado laboral, todas as situa-
ções de mediação como esta são totalmente adequadas e
bem-vindas; até porque sabemos que, quando se recorre
a outras estruturas mais formais, como a ACT ou os tribu-
nais, estas têm outras condicionantes e constrangimentos.
Muitas vezes não conseguem agir com a rapidez que o tra-
balhador necessita, nomeadamente os tribunais, e quando
é deliberada uma decisão por parte dessas instituições, o
trabalhador, ou já conseguiu resolver a sua situação e está
noutro emprego, ou então encontra-se numa situação mui-
to delicada.
Perfil
Vitalino Canas, de 50 anos, é natural das Caldas da Rainha. Licenciado em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lis-boa, em 1982, possui ainda o grau de mestre em Ciências Jurídico-Políticas pelo mesmo estabele-cimento de ensino. Actualmente, rege a disciplina de Direito Administrativo no Curso de Solicitadoria do ISCAD (Grupo Lusófona). É ainda docente do Instituto Superior de Ciências Polícias e de Segu-rança Interna (ISCPSI), leccionando em cursos de pós-graduação. Colabora, igualmente, com a Uni-versidade Nova e o Instituto de Estudos Superiores Militares, em cursos de pós-graduação no domí-nio do Direito da Segurança. Para além de uma extensa actividade académica, elaborou vários pareceres sobre Direito Constitucional, Direito Ad-ministrativo, Direito Fiscal e outras áreas jurídicas. Advogado desde 2004, é senior partner da Vitali-no Canas & Associados. Deputado por Santarém, eleito pela lista do Partido Socialista, é membro do Secretariado Nacional deste partido e conciliou até Junho deste ano as funções de porta-voz dos so-cialistas. Ao nível de funções governativas, exerceu entre Outubro de 1995 e Abril de 2002 o cargo de secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
27
Quem deCide ConheCe
www.algebrica.pt
intra
As empresas filiadas na APESPE regem-
se por um código de ética da associa-
ção, em que se vinculam a cumprir a
legislação vigente para o sector e a ter
procedimentos éticos e transparentes
com os candidatos a emprego, trabalha-
dores temporários e empresas clientes.
Pelo nosso lado, a APESPE cria con-
dições, através de campanhas apoia-
das por entidades oficiais, para que as
empresas associadas, seus clientes e
colaboradores, se sensibilizem para as
questões da prevenção dos aciden-
tes de trabalho e riscos profissionais
que, sem dúvida, contribuíram para a
descida do número deste na cedência
temporária
A APESPE presta serviços aos seus
associados no plano de interpreta-
ção jurídica da lei que rege a activi-
dade, bem como de outras maté-
rias que interessam às empresas.
O facto de o trabalho temporário pres-
tado por empresas estruturadas estar
rodeado de um sem número de orga-
nismos em situação irregular, que fun-
cionam na base do exercício não de-
clarado de actividades ou através do
recibo verde, simulando uma situação
de trabalho temporário, falsas presta-
ções de serviços ou outsourcing, fa-
zem com que a imagem do sector seja
diariamente denegrida por estas ditas
“empresas do sector informal da eco-
nomia”. Acrescente-se que a passivi-
dade das entidades oficiais, que nos
traz prejuízos incalculáveis, com as
fugas aos pagamentos ao fisco, IVA e
Segurança Social... Ou seja, perdem
todos face à esperteza de uns tan-
tos e à passividade de outros. Isto no
século XXI, na União Europeia, é ina-
creditável que aconteça, mas podem
acreditar: A_C_O_N_T_E_C_E !
A APESPE procurou ter na figura do
Provedor do Trabalhador Temporá-
rio uma entidade que transmitisse a
credibilidade do sector aos trabalha-
OpiniãoMarcelino Pena CostaTrabalho Temporário: presente e futuro de uma actividade económicaO Trabalho Temporário Organizado, constituído pelas em-presas associadas na APESPE – Associação Portuguesa das Empresas do Sector Privado de Emprego – é uma acti-vidade económica regulada, regulamentada, estável e com campo para crescimento, dado que Portugal, comparado com os países seus congéneres europeus, ainda apresenta rácios muito baixos de utilização
Manuel Marcelino Peralta da Pena Costa
E desde Julho de 2008, director de
responsabilidade social e corporate affairs da
Manpower Portuguesa, SA. É também sócio
gerente da RITMO – Formação, Comunicação,
Imagem, Outsourcing e Serviços, Lda. e da
PPC, gestão de imóveis. Sócio fundador e
actual Presidente da Direcção da APESPE
– Associação Portuguesa das Empresas do
Sector Privado de Emprego. Vice – Presidente
da CCP – Comissão Permanente da
Certificação Profissional. Membro do CA da
Agência Europeia de Bilbau. Membro do Ponto
focal nacional da Agência de Bilbau. Membro
do CC da ACT. Delegado empregador em
vários comités da UE. Delegado empregador
Português à 95.ª sessão da OIT. Antes da venda
da Manpower Portuguesa, empresa familiar de
capital social à empresa-mãe desempenhou
na empresa cargos diversos desde Gestor de
RH, Director de Operações, Administrador e
Presidente do Conselho de Administração.
29
dores temporários, candidatos e pú-
blico em geral, dando esclarecimentos
e aconselhamento quanto aos aspec-
tos legais e contratuais da actividade.
Basta visitar o site do Provedor para
se ver a qualidade e diversidade da
informação que o Dr. Vitalino Canas
pôs à disposição de todos. www.pro-
vedortt.org
A APESPE é parceiro social filiado na
Confederação do Comércio e Serviços
de Portugal, assim como na Confede-
ração Mundial da Actividade (CIETT).
Um dos fantasmas que persegue a
actividade vem de más práticas de
“falsas ETT” (Empresas de Trabalho
Temporário) e da informação origina-
da em centros de intoxicação infor-
mativa.
Começemos por analisar a “preca-
rização do trabalho pelas ETT”. O
Trabalho Temporário Organizado pre-
carizaria o emprego se recrutasse os
seus quadros junto dos trabalhadores
com contrato sem termo – o que, ob-
viamente, não é o caso – basta a ló-
gica, não é necessária argumentação.
Quem são e onde estão as fontes de
recrutamento dos trabalhadores tem-
porários???
São os desempregados, trabalhado-
res à procura de primeiro emprego,
aqueles que querem mudar de vida
ou encontrar novas oportunidades. E,
quer estas pessoas tenham ofertas de
trabalho de curta duração ou não, a ver-
dade é que não estão inactivas. Nem
a perder competências, ou a caminho
da exclusão social: estão a trabalhar, a
receber remuneração, a aumentar as
suas competências pessoais e profis-
sionais e a ganhar competitividade.
Mais, a lei protege os trabalhadores
temporários (TT) em toda a linha: tra-
balham 11 meses e recebem 15, são
inscritos no sistema nacional de Segu-
rança Social, têm seguro de acidentes
de trabalho e toda a protecção social:
as ETT não podem cobrar qualquer
importância pelo serviço de coloca-
ção que é prestado ao trabalhador.
Como disse há dias, não podemos
confundir os sindicatos e as suas con-
federações com este linguarejar, pois
sabem o que está na lei, que discuti-
ram amplamente em concertação so-
cial. Não é por acaso que a APESPE
assinou em 1989 a primeira Conven-
ção Colectiva de Trabalho (CCT) com
a FETESE/UGT e que, neste momen-
to, está a negociar um novo Contrato
de Trabalho Temporário (CTT), amplo
e com visão de futuro, englobando
todos os trabalhadores que possuem
um contrato de trabalho, seja qual for
a forma.
Esses senhores que por aí andam,
na praça pública e nos media, “atrás
das bruxas do TT”, são falsos pro-
tectores dos trabalhadores temporá-
rios e amigos dos que aproveitam a
confusão e a inoperância de quem
devia actuar sobre estes abusos para
ganharem dinheiro sem escrúpulos
e qualquer rasgo de humanismo.
Termino com algumas notas relativas
ao futuro:
- no pós-crise nada será como dantes;
- penso que a maioria dos leitores
concorda com estas palavras – que
nada têm de originais –, o trabalho
temporário crescerá tanto em novos
mercados como em todas as compe-
tências profissionais, e ganhará novos
campos de actuação;
- o TT será mais especializado, ultra-
passando a mera cedência de traba-
lhadores. Incluirá a sua gestão de um
modo alargado;
- os técnicos de RH das ETT serão
cada dia mais requisitados pelas em-
presas utilizadoras para, em conjunto
com os seus quadros, optimizarem a
gestão global dos recursos humanos;
- a produção irá procurar nas ETT o
diálogo para planificar a actividade e
ter ganhos de produtividade.
Uma coisa é certa, as ETT acabarão
por ser reconhecidas como interlocu-
tores nas políticas de emprego e na
gestão das empresas que não que-
rem correr riscos desnecessários nos
conturbados mercados comerciais
mundiais.
Quem são e onde estão as fontes de recrutamento dos trabalhadores temporários???São os desempregados, trabalhadores à procura de primeiro emprego, aqueles que querem mudar de vida ou encontrar novas oportunidades. E, quer estas pessoas tenham ofertas de trabalho de curta duração ou não, a verdade é que não estão inactivas.
intra
EntrevistaNuno Mourão“Os trabalhadores temporários são tão precários como os contratados a termo certo”
Vivemos num período de contracção do ciclo económico onde o trabalho temporário aca-ba por ser o elo mais fraco. Para o DRH da Oni Communications, Nuno Mourão, é possivel que a precariedade e menor protecção social possam ser reduzidas com maior fiscaliza-ção.
Nos processos de recrutamento e selecção, as em-
presas são cada vez mais exigentes, mesmo ao nível
de trabalhadores temporários. Será fruto da crescente
globalização do mercado? Quais são os vossos crité-
rios de escolha?
O recurso a Trabalho Temporário (TT) exige uma justifica-
ção inequívoca e que se encontra devidamente tipificada,
como, por exemplo, um acréscimo extraordinário de traba-
lho num determinado período.
Com a crescente competitividade do mercado e a procura
sistemática de racionalização de meios e eficiência, quan-
do há necessidade de utilização de Trabalho Temporário, a
selecção é efectuada, necessariamente, com rigor.
Hoje em dia, o TT não deve ser entendido como desempe-
nho de tarefas indiferenciadas ou de baixas qualificações.
Há uma crescente procura de TT para funções técnicas,
requerendo pessoas com as devidas habilitações.
Os critérios de escolha dependem das funções a desem-
penhar e do projecto onde o recurso vai ser inserido.
Para além das competências técnicas necessárias, valori-
Entrevista de José Branco
zamos a experiência profissional e o perfil psicológico, as-
sim como a facilidade de adaptação a novas situações, o
trabalho em equipa e a proactividade.
Em que medida o trabalho temporário poderá ser um
instrumento ao serviço do emprego?
A utilização do TT origina “liquidez” ao mercado de traba-
lho, na medida que permite utilizar recursos em períodos
limitados, sem a obrigatoriedade de efectuar um recruta-
mento, mesmo que a “termo”.
Numa outra perspectiva, se o trabalhador contratado
neste regime for competente e executar um trabalho de
qualidade, há uma boa probabilidade de poder vir a ser,
posteriormente, utilizado ou mesmo recrutado.
Por estas razões, não tenho dúvida que se trata de um
instrumento ao serviço do emprego.
Qual é o vosso volume de trabalhadores temporários
e a percentagem dos que são integrados nos quadros
da empresa?
31
Nos últimos dois anos tivemos uma média de 3,5% de tra-
balhadores em regime de Trabalho Temporário, em com-
paração com o número total de trabalhadores.
Dos recursos utilizados em TT, cerca de 30% foram inte-
grados nos nossos quadros.
Na opinião do Ministro do Trabalho Vieira da Silva,
nesta altura, a preocupação principal deverá ser “man-
ter o emprego, mesmo que instável”. Sente que a Oni
Communications está a contribuir positivamente para
uma certa harmonia social, estancando o desempre-
go, mesmo que recorrendo ao trabalho temporário?
Concordo que manter o emprego é muito importante; no
entanto, no nosso caso, apenas recorremos a TT para ta-
refas ou projectos específicos. Por esse facto, o volume
contratado não é uma utilização conjuntural ou táctica, se-
gue as necessidades identificadas em cada situação.
Na Oni Communications estamos a contribuir positivamen-
te para o crescimento do emprego, uma vez que estamos
em contra-ciclo. Desde o início do ano e até final de Junho,
o número de colaboradores aumentou 5,3%.
Uma das propostas da alteração ao código do traba-
lho passa pela penalização do verdadeiro contrato a
termo (em 3% de imposto), o que originará transfigura-
ções para o formato de contrato de prestação de ser-
viços ou contrato de trabalho temporário. Pensa que o
aumento tendencial da precariedade e da menor pro-
tecção social não poderiam ser evitados com melhor
fiscalização?
Certamente que, se houver mais fiscalização, a precarie-
dade do trabalho reduzir-se-á. Mas não creio que seja su-
ficiente.
Estou de acordo com a proposta que refere, mas esta
medida não poderá ser isolada, uma vez que têm de ser,
simultaneamente, definidos apoios à contratação de efec-
tivos, nomeadamente através da redução da Taxa Social
Única para essas situações.
Sente que a época de Verão é mais propícia à contra-
tação temporária, face à vossa necessidade de manter
a mesma qualidade de serviços, apesar do período de
férias dos funcionários?
A Oni Communications serve o mercado empresarial, pelo
que não sentimos maior necessidade de contratação tem-
porária no Verão, até porque se regista um abrandamento
da actividade.
As nossas equipas estão dimensionadas para que os pe-
ríodos de férias não sejam um constrangimento, mas te-
mos, obviamente, que planear com tempo a marcação de
férias dentro de cada área.
Por outro lado, em tempo de crise, com vista à pro-
tecção do funcionário pertencente aos quadros, não
será o trabalhador temporários o elo mais fraco desta
cadeia?
Os Trabalhadores Temporários são tão precários como os
que são contratados a termo certo: são colaborações limi-
tadas temporalmente.
Em situações de contracção do ciclo económico, estes
são realmente os que a priori, são os primeiros a ser afec-
tados – veja-se os recentes casos de grandes companhias
que actuam no nosso país –, mas a própria Lei do Trabalho
assim o determina.
Por exemplo, não se pode despedir um trabalhador – num
processo de Despedimento Colectivo ou Extinção do Pos-
to de Trabalho –, se o colega do lado executa funções se-
melhantes e se encontra em regime de TT ou com contrato
a termo.
É reconhecido que muitos dos trabalhadores em si-
tuação temporária executam tarefas que não se coa-
No entanto, no nosso caso, apenas recorremos a TT para tarefas ou projectos específicos. Por esse facto, o volume contratado não é uma utilização conjuntural ou táctica, segue as necessidades identificadas em cada situação.
intra
dunam com a sua formação profissional e académica.
Tem a Oni Communications interesse em filtrar e apro-
veitar esse capital humano para funções mais condi-
zentes com a sua capacidade?
Estou de acordo que é frequente verificar-se esse desfa-
samento e isso deve-se, em meu entender, a duas razões.
Por um lado, o nível de habilitações médio em Portugal au-
mentou significativamente nos últimos 20 anos, sem que
se tenham criado empresas / projectos para os absorver.
Por outro lado, não há alinhamento entre as áreas cientí-
ficas dos estabelecimentos de ensino com o mercado de
trabalho.
Nós tentamos adequar ao máximo o perfil / habilitações do
trabalhador com a função requerida, mas, caso um recur-
so tenha potencial para funções de maior complexidade,
temos interesse e promovemos o seu desenvolvimento,
até para o motivar.
Um dos maiores dilemas da actualidade é a subida do
desemprego de longa duração (sobretudo, entre os
mais velhos e os jovens licenciados). No seu entender,
será que este tipo de trabalho poderá permitir uma re-
ciclagem profissional destas pessoas?
Ao nível de jovens licenciados já se sente essa situação.
Quanto aos trabalhadores mais velhos, dependerá, em
parte, da sua vontade e apoios disponíveis para a sua re-
ciclagem. Para estes, o TT é uma via profissional diferente
da que estavam habituados, pelo que também é necessá-
rio sensibilizá-los relativamente a este tipo de contratação.
Voltando à opinião do Ministro, a preocupação principal
deverá ser “manter o emprego, mesmo que instável”.
Perfil
Nuno Mourão, licenciado em Organização e Ges-tão de Empresas. Participou no ETP - Executive Training Programme in Japan (entre 1989 e 1990).Iniciou a carreira profissional em 1988 na Tagol/Grupo Mendes Godinho, como controller financei-ro. Dentro do mesmo grupo, foi entre 1992 e 1996 Director da Divisão Alimentar de Fábricas Mendes Godinho. Seguidamente, Responsável Financeiro da MaxitelCom (1996 a 1998) e Director Financeiro da Yamaha Motors Portugal (1998 a 2001).Ingressou em 2001 na ONI, como analista finan-ceiro do Gabinete de Planeamento Estratégico. Posteriormente, foi responsável pelo lançamento e dinamização de novos canais de venda com par-ceiros estratégicos e Assessor da Administração, responsável pela informação de gestão e contratos de outsourcing.É, desde 2007, responsável pela área HR Develo-pment & Legal.
Nós tentamos adequar ao máximo o perfil / habilitações do trabalhador com a função requerida, mas, caso um recurso tenha potencial para funções de maior complexidade, temos interesse e promovemos o seu desenvolvimento, até para o motivar.
*Que
m d
ecid
e C
onhe
ce
www.algebrica.pt*
33
*Que
m d
ecid
e C
onhe
ce
www.algebrica.pt*
intra
Em Foco
35
A única forma de competir com suces-
so em ambientes concorrenciais como
estes é ter equipas total e inequivoca-
mente talentosas, isto é, equipas em
que todos (não há espaço para ex-
cepções) os seus membros possuem
as competências adequadas, estão
motivados e focalizados em atingir os
seus objectivos – e transformam essa
energia em resultados.
Ter talentos numa organização só é
possível atraindo-os, desenvolvendo-
os e retendo-os, daí a importância
dos três seguintes processos de ges-
tão de Recursos Humanos: (i) a atrac-
ção, recrutamento e integração, (ii) a
inventariação e desenvolvimento e (iii)
a retenção activa de talentos. Vejamos
cada um deles, com particular desta-
que para o segundo.
Comecemos pelo recrutamento. Se o
activo mais valioso duma organização
são as suas pessoas, então o proces-
so de as atrair, recrutar e integrar é,
certamente, um dos que mais pode
contribuir ou dificultar o seu sucesso.
Mas este processo já não é o que era.
Nas organizações mais evoluídas, o
processo deixou (correctamente) de
se chamar recrutamento para se cha-
mar “resourcing” ou “fornecimento de
recursos”. De facto, na maioria dos
casos, o que os nossos clientes inter-
nos nos pedem não é que recrutemos
uma pessoa, mas que lhe encontre-
mos a melhor solução para responder
às suas necessidades. E isso pode
ser feito através do recrutamento tra-
dicional, mas também por via de uma
prestação de serviço, comissão de
serviço, contrato de Trabalho Tempo-
rário, “Interim management”, trabalho
a tempo parcial, etc.
Por outro lado, a amplitude deste pro-
cesso é muito maior. Começa mui-
to mais cedo, através da criação de
uma marca de empregador (Employer
Branding) que atraia proactivamente
os candidatos certos. E termina mais
tarde, porque já se percebeu que o
OpiniãoJosé BancaleiroInventariação de Talentos“O mercado está cada vez mais competitivo”, “as margens estão cada vez são mais apertadas”, “cada vez é mais di-fícil reter os melhores colaboradores”, são frases que po-demos ouvir a qualquer empresário ou gestor, seja qual for o seu sector de actividade. E estas afirmações são ainda mais veementes quando as suas empresas estão a passar (e quais não estão) por processos de downsizing ou turna-round, crescimento acelerado, diversificação, internacio-nalização ou Fusões e Aquisições.
José Bancaleiro
É CEO da HumanCap Internacional – Executive
Search & Talent Management. Foi partner da
Boyden, Director Central de RH do Grupo
Banco Finantia, DRH da Essilor Portugal,
e da OPCA, Vice-presidente na Corporate
Human Resources da Altitude Software,
DRH da Electroliber, da Smithkline Beecham
Farmacêutica (actual GSK). Entre 1983/84
seguiu a carreira de Magistrado Judicial.
Exerceu funções técnicas e de direcção de RH
na Tabaqueira durante 10 anos. Licenciado
em Direito pela Universidade de Lisboa, José
Bancaleiro fez várias Pós-graduações, entre as
quais Gestão de RH (ISG), Magistrado Judicial
(CEJ) e MBA de Marketing (Universidade
Católica). Tem leccionado disciplinas ligadas
à Gestão de RH e ao Direito do Trabalho em
cursos de Pós-graduação e MBA de diversas
universidades públicas e privadas, sendo
actualmente coordenador de vários Executive
MBA em Gestão de Negócios da Universidade
Autónoma de Lisboa.
É autor de vários livros na área da Gestão de
RH e Comportamento Organizacional e recebeu
o prémio “RH Carreira 2005”, atribuído pela RH
Magazine.
intra
investimento numa boa integração é
tão importante quanto o processo de
selecção do candidato.
De acordo com alguns estudos, o
investimento nos talentos que já es-
tão na organização tem um retorno
substancialmente superior ao que é
feito na atracção de novos talentos.
Mas para isso é fundamental que se-
jam verdadeiros talentos, pelo que é
fundamental ter sistemas eficazes de
inventariação dos diversos tipos de
talentos existentes na organização.
Os sistemas de “talent inventory” são ferramentas electrónicas que
permitem avaliar e analisar de forma
integrada e consistente as capacida-
des individuais e de equipas para res-
ponder às necessidades, objectivos
actuais e futuros da organização, para
em face disso, criar planos individuais
e colectivos de desenvolvimento, re-
tenção e sucessão.
Em regra, baseiam-se na avaliação de
factores, como a capacidade de rea-
lização (performance), o potencial de
evolução, o alinhamento com os valo-
res organizacionais, a focalização nos
objectivos, a afiliação (engagement),
entre outros.
A conjugação e o cruzamento destes
factores (um exemplo na figura 2) per-
mite identificar os diferentes tipos de
talento existentes na organização e,
com base nos resultados e posicio-
namento, estruturar planos individu-
ais de desenvolvimento (também de
retenção e sucessão) adequados a
cada caso concreto.
A agregação dos resultados individu-
ais em grupos estruturados (equipa,
departamento, unidade de negócio,
empresa) permite segmentar os cola-
boradores realçar, – os pontos fortes
e as áreas onde existem “gaps” que
merecem ser resolvidos.
A informação retirada dos relatórios
(individuais e colectivos) é duma enor-
me variedade e riqueza, razão pela
qual eles, pouco a pouco, se têm
vindo a tornar em instrumentos fun-
damentais, não só para objectivos
específicos (medir os níveis de “en-
gagement” ou de alinhamento com
Figura 1
Figura 2
37
os valores organizacionais) mas tam-
bém para planear e estruturar de for-
ma consistente políticas de recursos
humanos baseadas na segmentação
dos colaboradores.
Um dos aspectos para os quais a in-
ventariação de talentos pode ser usa-
da é o da retenção, processo que é
por muitos considerado como aquele
que, entre todos os processos RH,
tem um ROI (Return on Investment)
mais elevado.
De facto, segundo David Sturn do
The Loyalty Institute, substituir um co-
laborador custa, em regra, entre 50 a
200% do respectivo salário anual. Isto
sem contar com aspectos como a
perda de Capital Intelectual, o impac-
to negativo no moral (perturbação) da
equipa, a perda de clientes, o conhe-
cimento pela concorrência da estraté-
gia da empresa, a perda de quota de
mercado, o efeito de imitação e ainda
os danos na imagem externa da Em-
presa.
Mas, em matéria de retenção, um dos
factores fundamentais é saber quem
reter, pois, como já escrevi noutras
oportunidades, “pior que os que se
demitem e saem... são os que se de-
mitem e ficam”! Costumo, aliás, dizer
que a retenção é uma falácia porque,
se existem colaboradores que nós
queremos a toda a força manter na
organização, também há outros que
até pagamos para se irem embora.
A utilização de ferramentas de in-
ventariação de talentos com factores
adaptados à retenção, permite, duma
forma estruturada, identificar não só
aqueles que devem ser retidos mas
também aqueles sobre os quais exis-
te maior necessidade de investimento
(tempo, dinheiro e emoção), em ter-
mos de retenção. A figura acima é um
exemplo.
Habitualmente, as organizações lem-
bram-se da retenção quando o tra-
balhador apresentou a sua carta de
demissão. Este tipo de exercício per-
mite antecipar grupos de risco e, com
base nisso, trabalhar a retenção nos
seus diferentes momentos.
A gestão dos talentos duma organiza-
ção é importante de mais para ser fei-
ta de forma amadora e com base em
palpites. Conhecer as soluções possí-
veis e possuir as ferramentas certas é
fundamental.
“The thing that wakes me up in the middle of the night is not what might happen in the economy or what our competitors might do next. It is worrying about whether we have the leadership capacity and the talent to implement the new and more complexes global strategies.”
David Whirwam, CEO da Whirlpool Corporation
Figura 3
intra
GrandeEntrevista
39
EntrevistaMiguel Pina e Cunha“Em Portugal, achamos que tudo o que não é contrato fixo e vinculativo é mau e precário”
Miguel Pina e Cunha considera que ainda perdura o erro de classificar como soft as áreas comportamentais e que para muitos gestores a gestão de pessoas se baseia sobretudo na experiência na “universidade da vida”. O professor associado na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, defende que apesar de a teoria não substituir a prática, “não há nada mais prático que uma boa teoria”.
A nossa cultura caracteriza-se, ao nível empresarial,
por uma elevada centralização do poder, por um grande
conformismo e aceitação das estruturas hierárquicas -
que são, na generalidade, pouco acessíveis. Dada esta
rigidez circunstancial e tendo em conta que uma das
suas mais-valias deverá ser a elevada capacidade de
antecipação, como é que o DRH tem margem de mano-
bra para gerir as mudanças institucionais?
Acho que a Direcção de Recursos Humanos deve ter um
papel crítico na criação de modelos de liderança mais alinha-
dos com as necessidades das empresas. No fundo, definir
perfis de liderança que tenham como foco uma necessidade
de dispersar o seu foco em vez de o concentrar. Sobretudo
em Portugal, parece-me que há a noção da liderança ser um
exercício praticado por um número relativo de pessoas nas
organizações quando, na verdade, o papel dos líderes, em
parte, é o de levar os outros a assumirem a liderança na sua
área de actividade e de negócio. Os RH podem assumir um
papel crucial, se se assumirem como parceiros da própria
gestão - nomeadamente na de topo - para esse processo de
mudança de mentalidades de liderança (problema que não
é exclusivamente português). Nos últimos anos têm surgido
mais publicações relacionadas com temas como “lideran-
ça partilhada” ou “liderança dispersa”, o que mostra que há
interesse renovado pela noção de liderança enquanto algo
que existe espalhado pelo sistema mais do que concentrado
apenas no topo do sistema (como era o taylorismo).
Sente essas alterações, neste momento?
Há casos de empresas que, pela sua natureza, centro de
actividade ou tipo de líderes, já estão muito alinhadas com o
que enunciei. Mas continuam a ser uma minoria.
Em Portugal, o panorama da gestão de pessoas ainda
está longe de ser o ideal...
Diria que sim, embora nos últimos anos haja uma mudança
positiva. Não só multinacionais mas algumas empresas por-
tuguesas têm sistemas de gestão exemplares. Casos como
o da Jerónimo Martins, que já possui uma presença inter-
nacional e cria sistemas de gestão que se podem transferir.
intra
Esta competição de mercado aberto exigente obriga a ter
processos e sistemas de gestão mais sofisticados, o que
representa uma tremenda fonte de melhoria potencial.
Pensa que, a cada vez maior presença de multinacionais
no nosso país contribui para uma mudança significativa
de mentalidades, ao nível do próprio comportamento
empresarial das outras organizações?
Quando nos referimos a mudanças de mentalidades falamos
de um espírito mais cosmopolita, aceitar que todos temos
de aprender, nomeadamente matérias cujo grau de exigên-
cia seja tão elevado lá fora. Ao avaliar a história da gestão
de RH em Portugal, em relação há três ou quatro décadas
atrás, a situação é agora muito melhor, mas sinto que há
ainda um caminho a percorrer.
A grande vantagem das multinacionais é que possuem sis-
temas que foram trabalhados e aperfeiçoados ao longo de
muito tempo, os quais podem ser transferidos para outros
contextos. As empresas mais pequenas não passaram por
esse processo de organização e possuem modelos menos
estabilizados. É interessante ver que há casos de pequenas
empresas que conseguiram, logo de início, alinhar proces-
sos com as multinacionais, em alguns casos porque os seus
fundadores trabalharam com esses modelos (como é o caso
da WeDo Technologies, que surgiu logo com a ideia de in-
ternacionalização).
Há a ideia que muitas áreas da gestão são técnicas e exigen-
tes desse ponto de vista, nomeadamente o que está ligado
com as finanças, marketing e operações, etc. Julgo também
que tudo o que tem a ver com pessoas é encarado, na maio-
ria dos casos, como algo que se aprende com a experiência
na “universidade da vida”. A experiência é muito importante,
não só na gestão, e há um conjunto de saberes, testados ao
longo do tempo, que pode ajudar a melhorar as práticas de
liderança e evitar determinados erros. Existe muito a noção
que estas áreas são comportamentais soft. Sendo verdade
que a teoria não substitui a prática, não há nada mais prático
que uma boa teoria. Nesse sentido, acho que deve haver
um casamento feliz entre estas duas matérias. Noto que os
técnicos mais sofisticados em termos de conhecimentos de
gestão são muito sensíveis a estas matérias, independen-
temente da geração. As pessoas percebem que, para lidar
com a parte mais quantitativa do negócio, é necessário ter
uma formação sistemática e estruturada. A área de RH é
ainda tida como intangível, soft, que se aprende praticando,
mais do que tendo formação. Muito passa também pelo co-
nhecimento dos modelos, por um conhecimento sustentado
que, provavelmente, permitirá ter melhores resultados do
que a visão empírica e intuitiva da realidade.
Talvez aí resida a diferença entre o que é a teoria e a
aplicação prática diária...
Mais do que isso, sinto que importa perceber o hiato entre o
Foto
s: M
arin
a M
arq
ues
41
que é a investigação e a aplicação. Parece-me que os aca-
démicos falam menos para os “práticos” do que deviam e
estes procuram muito pouco os resultados académicos. Há
um desencontro algures no meio do caminho que acaba por
fazer com que, muitas vezes, o conhecimento, ou a aplica-
ção deste, não seja bem feita.
E a partir dos DRH com que lida regularmente, como
sente esse “conflito”?
Tenho a sorte de poder trabalhar com organizações que
acredito serem das mais sofisticadas em Portugal em termos
de gestão - aquelas que normalmente nos abordam. De vez
em quando há processos do ponto de vista do exercício e da
melhoria de liderança, etc., que estão um pouco desalinha-
dos com as melhores práticas. E quando assim é, há algo
que se perde no processo. Sinto que nos RH há um risco
maior de fazer aquilo que parece correcto e ceder ao peso
da tradição - algo que nenhuma empresa arriscaria noutras
áreas, onde são necessárias constantes actualizações.
Os Directores de Recursos Humanos possuem a res-
ponsabilidade de gerir várias actividades dentro do seu
departamento. Neste puzzle de difícil encaixe organiza-
cional, como se define o papel de líder de um DRH na
operacionalização e na criação de sistemas internos de
equilíbrio de gestão?
Há funções muito importantes e o papel dos RH tem sido
muito conservador e administrativo. Contudo, parece-me
que os RH têm de ser parceiros importantes do topo, na
criação de sistemas organizacionais que permitam níveis
elevados de desempenho com base nas pessoas. Isto signi-
fica que é necessário equilibrar o interesse do negócio com
o interesse das pessoas: é necessário procurar pessoas que
garantam que a organização possua o talento para obter
bons resultados e, sobretudo, garantir que a organização
deixe de ver as pessoas como uma massa mais ou menos
uniforme – em grande parte, o que aconteceu até há bem
pouco tempo atrás. É também fulcral entender os funcioná-
rios como indivíduos que detêm necessidades e motivações
diferentes. Porque olhar os RH como uma massa de traba-
lhadores indiferenciados é algo cada vez menos interessante
para as empresas.
Analisando o discurso dos DRH, muitas vezes sente-se
que é dirigido a essa mole humana, que não é indiferen-
ciado. Como se gerem e motivam pessoas numa empre-
sa – que são tão diferentes umas das outras?
Acho que há uma resposta que as empresas já deram: quan-
do se pensa em pessoas dentro da organização, assume-se,
sobretudo junto dos que têm funções semelhantes, que são
todas iguais. Mas estas empresas, quando olham para fora,
para o mercado, segmentam-no, não colocando todos os
clientes no mesmo saco. Logo, talvez também faça sentido
segmentar por dentro. As pessoas trabalham por motivos di-
ferentes, embora alguns sejam comuns. Uma forma de moti-
var é tentar perceber o que é que os trabalhadores esperam
da organização e vice-versa. Isto não é muito original, mas
um estudo realizado pela Tesco no Reino Unido mostra que
há quem trabalhe nas suas lojas por razões de necessida-
de - por responsabilidades familiares. Este estímulo não é
relevante, por exemplo, para o estudante que trabalha mais
algumas horas e ganha dinheiro para se divertir. O facto de
não querer aumentar a carga de trabalho para receber mais
dinheiro é relevante, pois colidiria com a sua motivação pes-
soal. Ao assumirmos que todos os trabalhadores são iguais
estamos a perder a essência da diferença.
O trabalho temporário, tantas vezes visto como uma for-
ma menor de trabalho, é também muito utilizado pelo
Estado para suprir algumas faltas. Sendo que a questão
(...) é necessário procurar pessoas que garantam que a organização possua o talento para obter bons resultados e, sobretudo, garantir que a organização deixe de ver as pessoas como uma massa mais ou menos uniforme – em grande parte, o que aconteceu até há bem pouco tempo atrás.
intra
ética é mais delicada nesta matéria, não estará o Estado
a dar um mau exemplo?
Curiosamente, eu não tenho uma imagem negativa do tra-
balho temporário. Acho que em Portugal associamos deter-
minados tipos de contratos a precariedade, o que nem sem-
pre é verdade. Por exemplo, quando acabei o doutoramento
recebia e-mail sindicais a apelar contra a precariedade de
contratos no ensino superior. Portanto, passava-se a ideia
que era necessário aumentar a estabilidade no ensino supe-
rior. Levado um bocadinho ao absurdo, o ideal do ponto de
vista da estabilidade é que, mal a pessoa entra, como assis-
tente estagiário (depois de fazer a licenciatura), deve ficar de
imediato com o vínculo definitivo à universidade. Eu percebo
as vantagens que isto tem do ponto de vista do trabalhador,
mas é evidente que do ponto de vista do funcionamento do
sistema isto não tem qualquer sentido. Em qualquer parte
do mundo, após o doutoramento, o académico ascenderá
a professor auxiliar e terá então de mostrar que é capaz de
publicar e alcançar os resultados que se esperam. Só depois
terá um vínculo definitivo com a organização, o que me pa-
rece totalmente normal. Se não servir, porque é que há-de
ter um vínculo definitivo? Em Portugal, talvez por sermos um
país com um temor muito elevado face à incerteza, achamos
que tudo o que não é contrato fixo e vinculativo é mau e pre-
cário. Provavelmente a conotação negativa do trabalho tem-
porário tem a ver com o facto de muitas pessoas se encon-
trarem sob este vínculo porque não conseguem outro tipo
de contratos. É uma solução perfeitamente plausível que um
indivíduo prefira ter um conjunto de vínculos não estáveis
com várias e organizações e projectos ao longo do tempo,
que permitam muito maior liberdade pessoal, do que ter um
contrato que o ligue a uma organização até ao fim da vida.
Em Portugal, a tradição – em especial na administração
pública – remete para um emprego estável ao longo dos
anos...
Há uma ideia recorrente, em que se espera que quem entra
numa empresa mantenha essa relação para a vida. Se isto
não é verdade para o casamento com outra pessoa, porque
é que há-de ser para o casamento com uma empresa? O
que se coloca é que, enquanto está numa empresa, tempo-
rariamente ou a mais longo prazo, o trabalhador deve sentir
que está a fazer alguma coisa que aumente a sua empre-
gabilidade. Nesse sentido, ter uma relação temporária até
pode ser positivo, pelo menos para aqueles que desejem
gerir as suas carreiras de acordo com a sua necessidade
e interesse pessoal. Por exemplo, há uma função cada vez
mais requisitada lá fora, a de gestor interino – um gestor que
não faz parte dos quadros da empresa, é contratado tempo-
rariamente para fazer um projecto, seja o projecto qual for, e
que ao fim desse tempo sai e vai fazer outra coisa qualquer,
eventualmente noutro país.
Seremos capazes de ter o pensamento ou a postura es-
candinava, onde as pessoas podem mudar de trabalho
inúmeras vezes?
É evidente que as pessoas mais jovens já não acham tão
Perfil
Miguel Pina e Cunha é, desde 2004, professor associado na Faculdade de Economia da Univer-sidade Nova de Lisboa (FEUNL). Actualmente, é também o director do MBA das Universidades Católica/Nova. É doutorado pela Universidade de Tilburg e agregado pela Universidade Nova de Lisboa. Foi director da licenciatura em ges-tão da FEUNL, tem uma licenciatura em Psi-cologia Social e das Organizações (Instituto Superior de Psicologia aplicada - ISPA) e um mes-trado em Comportamento Organizacional (ISPA). Entre 1987 e 1997 trabalhou no ISPA como mo-nitor, assistente-estagiário e assistente. Foi assis-tente nas disciplinas de psicologia organizacional e ergonomia. Antes de iniciar o doutoramento, traba-lhou em selecção no Centro de Psicologia da Força Aérea e na Egor. Concluído o doutoramento, co-meçou a sua colaboração com a FEUNL em 1998 como professor auxiliar. Na Faculdade de Economia foi director da licenciatura em gestão (2003/05).
43
apetecível trabalhar ao serviço de outrem para a vida toda.
A questão que aqui se coloca é de saber em que medida a
organização deve criar condições para as pessoas lá quere-
rem continuar, e isso é uma obrigação da empresa, em que
pelo menos uma parte da sua força de trabalho deve ser
suficientemente integrada. Contudo, e com isto não estou
a fazer a apologia do trabalho temporário, nestas entidades
também há lugar para pessoas que querem tipos diferentes
de vinculações. E eu conheço vários casos, em particular
de mulheres, especialmente depois de terem filhos, que não
querem continuar o tipo de carreira que tinham antes, o que
é perfeitamente legítimo.
Como acha que deve ser uma boa empresa para se tra-
balhar?
Posso-lhe dizer um nome: Faculdade de Economia da Uni-
versidade Nova de Lisboa, pois é um sítio onde somos desa-
fiados, respeitados, sentimos que estamos a contribuir para
uma missão de que nos orgulhamos e julgo que é fácil “vestir
a camisola”. Eu não tenho nada contra as listas dos “best
places to work”, acho que são instrumentos interessantes.
Agora, a forma como são apresentadas é que acaba por ser
pouco convincente. Ao ler-se aquilo é tudo positivo: têm um
ginásio para fazer desporto, organizam piqueniques ao fim-
de-semana, possuem lugar na cantina para os reformados,
dão um cabaz de Natal a todos os antigos funcionários, têm
um professor de yôga, e poderíamos continuar com mui-
tos mais exemplos. Não estou a dizer que isso não exista,
o que me parece estranho é que, apesar de todas estas
vantagens, eu tenho a certeza que nenhuma daquelas em-
presas é um “cantinho do paraíso”, porque não há estes não
existem. Há aspectos positivos e negativos em todas as or-
ganizações, incluindo esta que eu dei como exemplo de um
bom local para trabalhar. Uma lista destas, para ser útil, deve
informar sobre aspectos que sejam alvo da nossa admiração
e eventualmente imitação, sem deixar de considerar factores
menos positivos. A verdade é que se consegue folhear uma
revista inteira praticamente sem qualquer referência negati-
va. Eu percebo, porque também é um instrumento de rela-
ções públicas. Veja-se, quando um sítio é muito bom para
trabalhar, uma implicação lógica é que as pessoas passem
lá mais do que aquilo que, se calhar, deviam do ponto de vis-
ta do equilíbrio com a família, e isso tem custos. Estas listas
poderiam ser mais convincente se nos ajudassem também
a verificar o que é que as empresas (inclusivamente as gran-
des) não conseguiram resolver totalmente, dimensão que há
uns anos era mais enfatizada. Outro aspecto crítico, e o mais
óbvio de todos, é a remuneração; quando as pessoas eram
questionadas, a satisfação nunca era total, mas essa infor-
mação já não é apresentada.
intra
Empresa
45
EntrevistaAmândio da Fonseca“É necessário criar uma novamentalidade de valorização do trabalho”
Na opinião do responsável máximo pela empresa de recrutamento e selecção EGOR, com mais de 20 anos de experiência, retomar a economia e mitigar o problema do desemprego devem ser prioridades. Para Amândio da Fonseca o único caminho possível passa por uma corajosa criação de instrumentos legislativos que incentivem e premeiem aquelas pessoas que não aceitam que o desemprego constitua uma fatalidade na sua vida profis-sional.
Sente uma maior prudência do mercado na escolha de
parceiros de recrutamento/consultadoria de Recursos
Humanos (RH)?
O facto de os investimentos no desenvolvimento das em-
presas serem hoje decididos com maior rigor em termos
de custo/benefício leva a que a selecção dos parceiros a
envolver em qualquer projecto de consultoria seja feita de
forma mais criteriosa e menos influenciada por factores de
duvidosa clareza ou rigor. É bem verdade que se torna im-
possível afirmar que a escolha de fornecedores, por via
das “old boys network”, de natureza política, corporativa
ou de outros interesses menos transparentes, deixou de
se verificar. Mas é um facto que a grande maioria das or-
ganizações adjudica, cada vez mais, os seus trabalhos de
consultoria nos recursos humanos, como noutras áreas da
gestão, a empresas que lhes garantam objectivos de custo
e qualidade perfeitamente definidos.
Entrevista de José Branco
Existem cerca de 1200 empresas fornecedoras de ser-
viços associados à gestão de RH, uma oferta aparen-
temente exagerada, se tivermos em conta a limitação
do crescimento do mercado de trabalho. Não se corre
o risco de a qualidade da oferta diminua face às exi-
gências que se apresentam a este sector?
As actividades de consultoria de recursos humanos estive-
ram, desde sempre, sujeitas a fenómenos de arrivismo, re-
sultantes não apenas da falta de uma regulamentação da
profissão mas também do facto de qualquer pessoa, com
passado profissional mais ou menos relacionado com a
área dos recursos humanos, poder invocar conhecimentos
e experiências difíceis de comprovar. Deste facto decorre
que, nos anos recentes e como consequência, por força
de alguma prosperidade económica inclusive da importân-
cia crescentemente reconhecida do capital humano das
organizações, tenha brotado um conjunto de organizações
intra
manifestamente superior ao necessário. Se, em muitos
casos, essas organizações vingaram por mérito próprio,
noutros, a longevidade destas organizações cogumelo é
normalmente reduzida e a taxa de mortalidade elevada,
não obstante os esforços de sobrevivência passarem, fre-
quentemente, por práticas de dumping de preços, ausên-
cia de princípios éticos, ilegalidades e nula, ou reduzida
eficácia. Embora o mercado seja, em última instância, o
verdadeiro regulador do funcionamento, isso não impede
que, enquanto resistem, essas organizações distorçam, de
forma por vezes grosseira, as regras de sã concorrência no
sector onde actuam.
A crise económica está a fazer crescer o desempre-
go (mais de 230 mil desde o início do ano até Julho) e,
num cenário realista – segundo previsões da OCDE –,
ultrapassará os 11% em 2010. Que medidas deverão
ser tomadas para combater este problema?
No desemprego, embora as causas estejam identificadas
e os sintomas sejam conhecidos, os remédios estão longe
de ser consensuais. Na prática, o desemprego resulta do
errático funcionamento das economias, bem como da difi-
culdade das empresas articularem, de forma harmoniosa,
o papel fundamental do trabalho na vida das pessoas e os
seus objectivos de lucro.
Sabemos que o problema do desemprego em Portugal só
começará a resolver-se a partir da altura em as taxas de
crescimento da economia rondarem os 2% anuais. Ora, o
nosso país sai particularmente prejudicado nesta equação.
As previsões de crescimento estão longe de se aproxima-
rem desta barreira nos próximos anos. Nessa perspectiva,
as soluções possíveis passam, simultaneamente, por uma
reformulação da economia real e pela mudança colectiva
de atitudes. Nas últimas dezenas de anos os portugueses
foram incentivados a gastar mais do que aquilo que ga-
nhavam. Esta cultura de facilitismo e o hábito de viver aci-
ma das posses, embora seriamente posto em causa pela
crise actual está, em muitos casos, a ser sustentado pela
excessiva duração e os valores de remuneração auferidos
pelos beneficiários dos subsídio de desemprego e outro
tipo de subsídios, que seriam louváveis se fossem conce-
didos de acordo com critérios claros. De uma forma per-
versa, a situação leva a que muitas pessoas que perderam
o seu emprego tenham desenvolvido hábitos de subsidio-
dependência e acomodação ao desemprego, que os levam
a recusar oportunidades de trabalho por as considerarem
semelhantes ou menos vantajosas do que a situação em
que se encontram subsidiados pela comunidade.
O facto de os organismos responsáveis pela gestão do
sector social não terem os meios necessários para con-
trolar este tipo de profissionalização do desemprego leva
a que a situação se perpetue com frequência. Para reto-
mar a economia e mitigar o problema do desemprego, é
necessário criar uma nova mentalidade de valorização do
trabalho como forma de realização pessoal e profissional.
47
Portugal não tem capacidade financeira para pagar sub-
sídios a meio milhão de pessoas. A solução passa por as
pessoas que recebem subsídios deverem, obrigatoriamen-
te, dar contrapartidas reais à comunidade. Recentemente
noticiou-se que vários milhares de quadros médios e supe-
riores tinham perdido os seus postos de trabalho. Muitos
desses quadros poderiam dar uma ajuda inestimável às
inúmeras PME que, apesar de viáveis, carecem de uma
efectiva eficácia de gestão. E, para os desempregados em
geral, não faltam neste país oportunidades de trabalho a
todos os níveis: trabalho social, limpeza de florestas e mui-
tas outras carências de recursos humanos na economia
e na sociedade. Para além do impacto que estas medi-
das provocariam na economia real, a profissionalização do
desemprego teria benefícios importantes na reconversão
profissional - on the job – de muitos milhares de trabalha-
dores, para quem o subsídio de desemprego não é mais
do que o reflexo de uma dolorosa vida de trabalho sem
honra e sem dignidade. A aceitação deste tipo de medi-
das passa pela corajosa criação de instrumentos legislati-
vos que incentivem e premeiem aquelas pessoas que não
aceitam que o desemprego constitua uma fatalidade na
sua vida profissional. De outra forma, a noção da diferen-
ça entre trabalho e emprego, num Estado que terá cada
vez menores condições para assegurar uma política social
insustentável, continuará a ser objecto de todas as mani-
pulações habituais.
Considera que um dos problemas centrais da cultura
portuguesa é a aversão à mudança e ao valor exces-
sivo que se atribui à segurança no emprego?
Considero que a cultura é o principal motor do desenvol-
vimento de um país. Neste sentido, e como dizia o Prof.
Lucas Pires, acredito que o nosso pecado original foi sem-
pre, e ainda é, a pouca importância atribuída à cultura.
E quando me refiro à cultura não me refiro à cultura das
elites mas sim à valorização da educação como ferramen-
ta básica da nossa identidade e futuro colectivo. Parece
fácil culpar os portugueses de resistência à mudança. A
diáspora portuguesa mostra bem a capacidade do nosso
povo para se adaptar e integrar nos mais diversos meios
culturais. Acontece que vivemos num país em que nunca
foi definida uma visão nacional a longo prazo, depois dos
Descobrimentos. A ausência desta visão de futuro leva a
WE MAKE I.T. ROCKAROUND THE WORLDCENTRO DE CONGRESSOS DE LISBOA I 29 SET. 2009Technology Briefing
É já no próximo dia 29 de Setembro que a Compuware realizará
em Lisboa, o seu evento anual intitulado "Compuware TechnologyBriefing". Esta é uma oportunidade impar para contactar com os
melhores parceiros de negócio, e conhecer aprofundadamente as
melhores práticas no sector das TI.
Para mais informações: http//agenda.algebrica.pt
intra
que o futebol seja a alternativa mais consensual da nossa
identidade. O valor atribuído à segurança do emprego e a
incapacidade de a distinguir do trabalho é uma das heran-
ças mais significativas das economias protegidas do Es-
tado Novo e da centralização das economias colectivistas
– ser empregado do Estado significava – a troco da obe-
diência política – a segurança de emprego para o resto da
vida. Com a democracia, as pessoas ganharam a liberda-
de da desobediência política mas o estatuto da segurança
institucional do emprego perdeu -se para sempre.
Os profissionais que têm a noção do seu valor não
têm medo de arriscar, mesmo numa altura de crise,
cientes que haverá sempre lugar para eles e dada
a mais-valia que representam para a organização.
Como reter um profissional com este perfil?
O principal desafio que se coloca a qualquer organização
é o de saber captar e merecer as pessoas talentosas de
que dispõe e não defraudar as suas expectativas. Para um
profissional ambicioso e talentoso, mais do que o paco-
te salarial, é muitas vezes a remuneração psicológica que
constitui o elemento de fidelização mais importante. Esta
remuneração psicológica traduz-se não apenas no senti-
mento de estar numa organização que ensina, mas tam-
bém numa organização que dialoga e proporciona desa-
fios de carreira que potenciem o desenvolvimento pessoal
e profissional dos seus colaboradores.
Segundo um estudo do Observatório Nacional dos Re-
cursos Humanos, os portugueses mostraram menos
satisfação (1,8% em relação a 2008), assim como leal-
dade e envolvimento com a organização (menos 2,1%
face a 2008). Do seu ponto de vista, o que tem levado
a esta insatisfação?
A deterioração afectiva das relações dos trabalhadores
com as organizações constitui o culminar do processo de
perda do sentimento do “emprego para a vida”, que carac-
terizou, na Europa social, as relações laborais no período
de prosperidade do pós-guerra e que, em Portugal, chegou
mais tarde do que noutros países. A competitividade da
economia induziu princípios de racionalização que levaram
as empresas a adoptar políticas de “lean management”, ba-
seadas em alterações dos processos produtivos, – mas tra-
duzidos frequentemente no emagrecimento, muitas vezes
brutal, dos seus efectivos. Este processo de retaylorização
do trabalho gerou um sentimento generalizado de retaliação
que teve como resultado o aumento da rotatividade de mui-
tos trabalhadores. Assediados por head hunters e por uma
miríade de novas oportunidades de uma economia a viver
um boom de prosperidade, os trabalhadores, beneficiados
pelo crescimento de novos negócios na banca, nos siste-
mas de informação, nas telecomunicações, na saúde, nos
transportes e nos serviços em geral – e também por níveis
de educação mais elevados –, aprenderam o valor da sua
liberdade e perceberam que a única segurança de emprego
a que podem ambicionar depende de uma gestão criteriosa
dos investimentos na sua própria carreira.
Quando o processo de desenvolvimento económico em
espiral começa a abrandar, com o fim dos anos dourados
e ainda mais quando a crise se instala generalizadamen-
te, o sentimento de insatisfação tende a agravar-se e, nas
bases mais desfavorecidas da pirâmide social, potencia o
risco de conflitos sociais semelhantes aos que os notici-
ários nos dão conta na Grécia, em França e um pouco
por todo o mundo. Embora incendiados por factores de
natureza religiosa, política ou racial – que ainda não são
significativos em Portugal –, o crescimento de uma massa
social cada vez mais alargada de desfavorecidos conduz
à probabilidade de tensões sociais próprias de uma socie-
dade em crise, porque “numa casa onde não há pão todos
ralham com ou sem razão”.
Qual a estratégia a médio/longo prazo do Grupo
Egor?
O Grupo Egor – um pequeno grupo de empresas agrupa-
das em torno de uma holding, a EGORGEST, SGPS,SA
“encara com apreensão a situação económica e social do
Para um profissional ambicioso e talentoso, mais do que o pacote salarial, é muitas vezes a remuneração psicológica que constitui o elemento de fidelização mais importante.
49
Perfil
Amândio da Fonseca é CEO da EGORGEST, S.G.P.S., S.A., a holding do Grupo EGOR, de que foi fundador em 1986.Ao longo da carreira profissional tem desenvolvido a sua principal actividade nas áreas de Consulto-ria de Recursos Humanos, com particular destaque para a formação e desenvolvimento de quadros, re-crutamento e selecção, consultoria de recursos hu-manos e liderança de projectos no âmbito da Melho-ria Contínua da Qualidade. Licenciado em Psicologia das Organizações tem participado em numerosas Acções de Formação Especializadas. Na área da Formação Experiencial, foi responsável pelo lança-mento do Challengers Trophy em Portugal e dos métodos activos de Formação. No âmbito das suas actividades contam-se, ainda, o desenvolvimento do e-recruitment, de que a EGOR foi pioneira em Por-tugal, ao lançar, em 1996, o primeiro site interactivo de emprego.Complementarmente às actividades empresariais no âmbito do Grupo EGOR, a sua actividade profissional tem incidido, nos últimos anos, na formação no âmbi-to das “Clínicas de Gestão” – componente formativa baseada na experiência –, e no desenvolvimento da Inteligência Emocional e Liderança para quadros su-periores e no lançamento de novos produtos e servi-ços no âmbito dos recursos humanos. Ultimamente, tem desenvolvido actividades como coach.
país mas, simultaneamente, perspectiva o futuro com op-
timismo. A caminho do 1º quarto de século de actividade,
baseamos este optimismo no acerto de uma política, defi-
nida no inicio da nossa actividade e consolidada ao longo
dos anos, com segurança e método, de diversificação de
actividades e negócios que nos levam a actuar nos 360º
graus do sector dos recursos humanos – indo literalmente
do recrutamento ao outplacement –, na aposta, há longos
anos definida como prioritária numa prática da Qualidade,
através da certificação sistemática das nossa áreas nobres
de actividade, de acordo com as normas mais actualizadas
das ISO 9000-2008, na prática de uma cultura de partici-
pação dos colaboradores na gestão e nos resultados das
respectivas unidades de negócio, numa permanente polí-
tica de reinvenção criativa, que se traduz num sistemático
esforço de auto financiamento nos sistemas informáticos
mais modernos, em instalações mais dignas, na perma-
nente atenção e escrutínio de novas áreas de actividade e,
sobretudo, numa aposta selectiva na qualificação e moti-
vação dos colaboradores mais talentosos.
Independentes de qualquer poder económico, político ou
financeiro, com capitais exclusivamente portugueses, des-
de 1992, a nossa segurança e o nosso futuro residem na
confiança dos nossos clientes, na crescente erradicação
de sistemas corruptos de decisão no país e no aumento
da notoriedade da marca EGOR, estruturada numa equi-
pa com mais de uma centena de colaboradores que, em
2009, tem como objectivo um volume de negócios a ron-
dar os quarenta milhões de euros.
O que vos caracteriza e diferencia da concorrência?
A Egor tem, como qualquer outra organização, uma identi-
dade própria que resulta não apenas do seu percurso his-
tórico mas também de um processo já longo de mais de 20
anos de crescimento sustentado. O facto de as raízes se
terem firmado nos anos oitenta, num grupo multinacional,
líder europeu na área do R&S, constitui uma marca distin-
tiva que muito nos orgulha e que continua a influenciar as
nossas linhas de orientação. O sucesso da operação de
management buy-out realizada em 1992 deu-nos a possi-
bilidade de ajustar a estrutura organizacional, a descentra-
lização da decisão e as ferramentas de gestão própria do
ADN de origem, às especificidades próprias das empresas
portuguesa. Esta cultura híbrida de gestão diferencia-nos,
eventualmente, quer de muitas das empresas concorrentes
de matriz portuguesa e das multinacionais, no que se refe-
re à autonomia e independência das decisões de gestão,
que, no nosso caso, são tomadas tendo em consideração
os interesses e características da envolvente económica e
nacional em que nos situamos.
intra
intra
DirectorNuno Santos
EditorJosé [email protected]
DesignLuís Silva
Composição Gráfica e Produção Margarida Soares
Direcção de [email protected].: 21 120 43 19Fax: 21 120 43 49
Aquisição de [email protected].: 21 120 43 00Fax: 21 120 43 49
[email protected]/intra_drhTel.: 21 120 43 00Fax: 21 120 43 49
ImpressãoLoures Gráfica, LdaRua João Camilo Alves, 6ABucelas2670-661 Loures
Registo NROCS nº 125010Depósito legal nº 251277/06Periodicidade Trimestral
PropriedadeMarço Editora
Av. da Liberdade, 227 - 3º.1250-142 Lisboawww.algebrica.pt