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Texto publicado pela Editora Vozes, Petrópolis – Rio de Janeiro 2002, p. 5-25
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Introdução ao LIVRO DO GENTIO E DOS TRÊS SÁBIOS (1274-1276), de Raimundo Lúlio*
Esteve Jaulent
Sumário
Raimundo Lúlio (Ramon Llull) e sua ilha natal
Um mesmo Deus, o Deus de Abraão
A postura de Lúlio
As razões necessárias de Raimundo Lúlio
Uma nova atitude frente ao real
A realidade se torna patente para nós
Argumentos de congruência
A concepção ativa e produtiva da realidade
O Livro do gentio e dos três sábios. Estrutura e conteúdo
Imaginemos que uma autoridade nacional ou mesmo internacional comunicasse, via
satélite, ao mundo a erradicação da fome. Quem acreditaria? Ainda que a notícia viesse de
personalidades ou entidades excepcionalmente poderosas como o presidente dos EUA ou o
Parlamento Europeu, não seria de estranhar que seriam bem poucos os que acreditariam em
tal informação, na sua veracidade. Por quê? A resposta é óbvia: é quase impossível
conceber o inverossímil, aquilo que se suspeita não seja verdadeiro. Mesmo naquelas
circunstâncias em que se deposita muita confiança na pessoa ou na fonte da informação
que nos traz a novidade, se acharmos ser esta inverossímil, o mais provável será que lhe
neguemos a confiança.
As relações entre a fé e a razão – quer se trate de crenças religiosas ou de tantos
outros conhecimentos que aceitamos sem criticá-los – constituem um tema complexo cujo
estudo vem-se alongando por muitos séculos. Na comunicação interpessoal, tudo parece
indicar que ocorre uma simbiose entre fé e razão, pois acreditar no testemunho do outro é
algo que não se faz sem alguma limitação. Quase sempre fundamentamos nossa fé no
conteúdo do que nos estão dizendo, na confiança que nos merece a pessoa que fala; mas,
por outro lado, para garantir-nos, exigimos algumas razões para crer. Fazemos isto porque
as palavras, mesmo as pronunciadas pela pessoa mais amiga, podem albergar as maiores
mentiras e por este motivo nossa confiança nunca deveria ser cega. Basta termos algum
motivo para pensar que quem nos fala pode enganar-se ou enganar-nos, para fazer
averiguações, indagar, ou recorrer a outras fontes de informação.
Quando o sábio cristão do Livro do gentio e dos três sábios defende a sua fé junto ao
gentio, afirma taxativamente que a fé tem de ser verdadeira: A fé dos cristãos não poderia
ser verdadeira se estes cressem que, depois da ressurreição, a alma de Cristo desceu ao
inferno e se isto não fosse verdadeiro. Ao longo do livro, os três sábios não farão outra
coisa senão procurar provar, cada qual, a verdade de sua fé.
Há, portanto, uma simbiose entre razão e fé. Depositamos confiança e exigimos
racionalidade. Como se afirmou acima, dificilmente se acredita no inverossímil. Explica-se
desta forma que o ato de fé não pode estar dissociado da razão a ponto de esta abrir mão de
sua estrutura fundamental. Seria um contra-senso. Por isto, o exercício de nossa capacidade
racional tem uma certa prioridade frente ao ato de fé.
Esta doutrina aplica-se também às crenças religiosas. Nelas há um conteúdo
revelado, que se recebe na fé, porque se acredita que Deus não pode nos enganar nem se
enganar, e há um trabalho da razão – a teologia – que reflete sobre esse conteúdo tido
como verdadeiro e tenta explicá-lo, ou pelo menos provar que não contradiz nem as leis da
lógica nem as conclusões das ciências.
Referindo-se a esta prioridade do exercício da razão, implícita no ato de fé,
Raimundo Lúlio afirmava constantemente que o homem foi criado principalmente para
entender; não para crer. Entender é ato primitivo, verdadeiro e necessário do entendimento,
esclarece o filósofo maiorquino. Esta postura adotada por Lúlio ao analisar as relações
entre razão e fé lhe confere um lugar único entre aqueles que estudaram e discutiram este
tema.
Raimundo Lúlio (Ramon Llull) e sua ilha natal
Na opinião de Bonner, Raimundo Lúlio deu ao que P. Burns denominou o sonho da
conversão no século XIII uma solução que, embora à primeira vista possa parecer a mais
passional, talvez seja a mais friamente pensada e mais conscientemente dirigida ao outroi.
Nos anos 1200, o esforço apologético desenvolvido pela Igreja na Coroa catalano-
aragonesa apoiou-se fundamentalmente na Ordem dos Pregadores, e sobretudo na pessoa
de Raimundo de Penyafort, confessor e conselheiro do rei Jaime I seu protetor. O grande
dominicano catalão, alma da política religiosa do rei, tinha idealizado um projeto
missionário que incluía a fundação de escolas nas cidades ocupadas pelos reis cristãos, a
imposição da pregação cristã nas sinagogas e a organização de controvérsias entre teólogos
e rabinos. Seu projeto estendia seu raio de ação até Túnis e Parisii. Raimundo de Penyafort
soube transmitir seus enfoques e estratégias peculiares aos que o ajudavam na difícil tarefa
da conversão dos infiéis. Dentro deste quadro geral, surge Lúlio, que, muito embora nunca
tenha se afastado da órbita dominicana e contasse com a amizade de muitos frades – dentre
eles o próprio Raimundo de Penyafort –, adotou desde o começo uma postura isolada e
original.
Nascido em Maiorca em 1232, três anos após a conquista da ilha pelo exército de
Jaime I, passou sua juventude em convívio diário com muçulmanos e judeus. Será,
portanto, útil descrever a situação peculiar dos habitantes daquela ilha para entendermos a
postura da Igreja, do rei e da sociedade maiorquina em geral, perante o delicado tema da
conversão dos não-cristãos.
A expansão cristã pelos territórios muçulmanos era considerada nos reinos cristãos
uma reconquista de territórios usurpadosiii, por isso, a distribuição das terras após as
invasões se fizesse em função da religião e não do nascimento. Como diz Domínguez, o
fato de pertencer à cristandade e às suas estruturas administrativas era o elemento
fundamental da coesão social na Idade Média. Todavia, em Maiorca, situada no
arquipélago mediterrâneo das Ilhas Baleares, a posse dos territórios conquistados ganhou
feições diferentes. Não se constituíram ali, como em outras partes da Península Ibérica, as
mourarias. É provável que o motivo fosse o fato de a ilha haver sido tomada com violência
por Jaime I sem que houvesse qualquer negociação prévia a respeito da sua rendição. Seja
como for, o certo é que os sobreviventes continuaram na ilha sob a condição de escravos,
isto é, sem direitos.
Calcula-se mais ou menos em 50.000 iv o número de habitantes da ilha antes da
reconquista. Aproximadamente 40% deles eram muçulmanos. Os judeus constituíam uma
minoria de pouco mais de 3.000 pessoas. Nem todos os habitantes da ilha, porém,
passaram a sofrer a condição de cativos; os poucos que colaboraram com o conquistador
receberam tratamento especial sendo-lhes permitido exercer alguns ofícios e trabalhar no
comércio. Contudo, não usufruíam igualdade de direitos com a população cristã. De modo
geral, havia uma atitude de desconfiança com relação à população muçulmana.
Muito embora as conversões dos muçulmanos à religião cristã alcançasse um número
elevado após 1229, uma parte da população continuou sendo fiel à sua fé. Era-lhes
permitido, tanto aos livres como aos escravos, praticar em privado a sua religião, uma vez
que as mesquitas foram convertidas em igrejas, em oficinas ou simples moradias. Em
Maiorca, portanto, os muçulmanos sofriam condições bem mais duras para o exercício de
sua religiosidade do que no resto da Península.
Apesar disso, já em 1233, uma disposição pontifícia estimulava a cristianização dos
mourosv. A conversão dos muçulmanos, porém, não era bem vista pelos senhores de
Maiorca em virtude de certos prejuízos econômicos. O batismo devolvia ao esacravo a
condição de livre e melhorava sua condição de alforria. Por estes motivos, a conversão dos
cativos muçulmanos não era muito favorecida e, sem qualquer dúvida, pode-se afirmar que
os esforços de Lúlio para promover a cristianização dos muçulmanos contrariaram os
interesses de boa parte da sociedade cristã e também das poderosas ordens militares do
Templo e do Hospitalvi.
Provavelmente, Lúlio dedicou-se ao grupo de muçulmanos livres, já estabelecidos, e
só bem mais tarde, em 1299, quando obteve uma licença do rei Jaime II de Aragão,
permitindo-lhe pregar nas sinagogas dos judeus às sextas-feiras, aos sábados e domingos, e
nas mesquitas dos mouros às sextas e sábados, por todas as nossas terras e domínios, se
aventurou a um público mais amplo. É difícil admitir, no entanto, que, devido às condições
peculiares de sua ilha natal, como acima referido, tenha usado esta licença para pregar em
Maiorca.
Tenha-se em conta também a natural dificuldade que Lúlio encontraria na conversão
dos muçulmanos, por possuírem estes uma tradição filosófica e científica que, ainda no
século XIII, inexistia no Ocidente. Lúlio, visto por alguns historiadores como anti-
muçulmano, era, antes de mais nada, um homem de seu tempo, e tinha viva consciência da
importância do Islã na vida cultural dos cristãos. Mesmo assim, preferiu começar seu
trabalho de conversão entre os judeus, por serem estes mais familiares ao cristianismo.
Com relação à população judaica, sabe-se que esta existia na ilha desde os tempos da
diáspora. Juntou-se a ela o grupo de judeus que ajudou Jaime I na reconquista e que foi
recompensado no Repartiment das terras. Cabe recordar que em Maiorca a população
judaica, embora fosse muito pequena em números absolutos, era em termos relativos
extremamente superior – quase três vezes – à dos outros territórios da Coroa de Aragão,
onde não ultrapassava 2% do total dos habitantes. Esta comunidade israelita estava
perfeitamente organizada e possuía governo próprio reconhecido oficialmente. Existiam
diversas sinagogas na cidade e grupos relativamente numerosos de israelitas no campo.
Embora estivesse socialmente marginalizada, como ocorria em toda Europa, usufruía em
Maiorca de autonomia religiosa e de um forte poder econômico. Por um privilégio que foi
confirmado repetidas vezes, os judeus maiorquinos tinham os mesmos direitos que os
cidadãos cristãos da ilha.
Um mesmo Deus, o Deus de Abraão
No prólogo do Livro do gentio e dos três sábios, Lúlio surpreende o leitor com estas
audazes e belas palavras: Pensai, senhores, disse o sábio a seus companheiros, quantos são
os danos que se originam pelo fato de os homens não seguirem uma só religião, e quantos
são os bens que adviriam se todos tivessem uma só fé e uma só Lei. Possuidor de uma
vontade poderosa, Lúlio gastará generosamente sua vida escrevendo opúsculos para a
formação dos missionários, redigindo petições aos Papas e Imperadores com a finalidade
de conquistá-los para a sua empresa unionista e apologética.
Seus métodos, porém, foram bastante diferentes dos habitualmente empregados por
seus contemporâneos. Defendeu sempre o diálogo – que devia obedecer a certas
características que serão examinadas logo a seguir – entre as três religiões reveladas. Tinha
havido, não resta dúvida, outras tentativas anteriores de diálogo, mas o diálogo luliano
revela uma feição bem mais simpática: brota com força da experiência da própria miséria
pessoal, e do desejo de ver triunfar a Verdade.
A ação missionária sofre necessariamente o influxo de quem a realiza. À medida que
a pessoa ganha experiência e amadurece, muda e aperfeiçoa seus métodos e técnicas de
conversão. Bonner observa que em 1263 ocorreu um ponto de inflexão nas táticas
utilizadas pela apologética cristã da Coroa catalano-aragonesa em seu empenho
missionário. Até esta data, o método tradicional consistia em procurar os pontos débeis dos
livros ou das argumentações dos adversários para condená-los. Era habitual nas
controvérsias, cada lado pretender demonstrar a superioridade de sua févii. Não é de
estranhar, por isso, que quase sempre surgisse algum confronto e até o litígio. Assim, aos
poucos, sobretudo no século XIII, a hostilidade aberta contra judeus e muçulmanos, contra
iudeus et contra sarracenos, explodiu.
Eis o ponto de inflexão. Em 1263, na cidade de Barcelona, no palácio real e na
presença do rei Jaime, de Raimundo de Penyafort e de numerosos prelados, teve lugar a
famosa Disputa entre o mestre Mosé ben Nahman de Girona, conhecido também pelo
nome de Bonastruc de Porta, e o judeu convertido da cidade de Montpellier, Pau Crestiàviii.
Nela fez-se uma descoberta que irá modificar, a partir de então, as discussões com o infiel.
Viu-se com clareza que os mesmos textos alegados pelos adversários podiam também ser
utilizados nos debates a favor dos argumentos cristãos, e provar, por exemplo, que o
Messias era Cristo. Pau Crestià, por exemplo, alegou nessa Disputa que os autores do
Talmude acreditavam que Jesus era o Messias e que o consideravam homem perfeito e
Deus verdadeiro. Assim, observa Bonner, mudava-se o núcleo da questão, que a partir de
então deixou de ser um texto escrito num passado longínquo para centrar-se num povo,
cujos dirigentes teriam interpretado mal o conteúdo do livro. Os debates deslocavam-se
deste modo do terreno puramente teológico para um campo explicitamente teológico, mas,
com implicações político-sociais implícitas.
Os missionários e apologetas cristãos da Coroa, depois desta data, estudarão com
profundidade os textos islâmicos e judeus chegando alguns deles a se tornarem exímios
especialistas.
Qual será a postura do Doutor Iluminado perante estas inovações?
A postura de Lúlio
Em primeiro lugar, convém lembrar que a conversão de Lúlio deu-se precisamente
no ano da Disputa de Barcelona, e que logo a seguir, como conta em sua Vida coetânea,
gastou nove anos completos de intenso estudo antes de se dedicar à defesa da fé cristãix. Ao
iniciar sua atividade apostólica, portanto, desfrutava de uma ampla perspectiva dos
resultados dos diversos métodos empregados pelos dominicanos. Embora em nenhum
lugar de sua obra se refira à Disputa de Barcelona, nem às mudanças por ela introduzidas,
é indiscutível que Lúlio nunca as utilizou, pois era profundamente avesso a qualquer
argumentação baseada em verdades de fé. O maiorquino nunca utilizou o apoio da
autoridade da Sagrada Escritura em suas argumentações racionais. Nas suas exposições e
debates apresentava apenas o que ele chamava, inspirando-se em S. Anselmo, razões
necessárias, que nunca poderiam ser rebatidas por qualquer texto revelado.
Numa passagem conhecida da Disputa dos cinco sábios, diz assim: Muitos
argumentos de autoridade dos homens santos poder-se-iam aplicar aos que apresentamos.
Todavia, como nenhuma verdadeira autoridade pode ir contra as razões necessárias, não
pretendemos cuidar deles neste tratado; até mesmo porque os argumentos de autoridade
podem ser expostos de diversas maneiras e se podem ter deles diversas opiniões, o que
multiplica as palavras e o entendimento entra em confusão, quando os homens disputam
entre si baseados em argumentos de autoridade. Nos Provérbios de Ramon sintetiza este
m o d o d e v e r a s c o i s a s l a m e n t a n d o-se: Não há descanso nas disputas por argumentos de
autoridade. Ora, se não estava disposto a usar os argumentos de sua própria fé, quanto
menos acharia útil utilizar em seu favor as crenças dos infiéis!
A forte convicção que Lúlio alimentava de utilizar apenas argumentos racionais na
defesa das verdades cristãs, costumava condensá-la numa esclarecedora história que repete
em diversos lugares de sua obra. Conta-nos como o sultão Miramoli, depois de se deixar
persuadir da falsidade do Islã por um certo religioso cristão, garantiu que se demonstrasse
por razões necessárias a fé dos cristãos ser verdadeira, tornar-se-ia cristão, far-se-ia batizar
e submeteria seus territórios aos mandamentos da Santa Igreja. O religioso respondeu-lhe
que a fé cristã não pode ser demonstrada; mas, disse, eis aqui o símbolo da fé cristã
exposto em árabe: acredita nele. Ao que respondeu, indignado, o sultão: “Não estou
disposto a trocar fé por fé, mas de bom grado deixaria o crer pelo entender. Fizeste muito
mal em refutar a Lei que eu antes possuía, uma vez que não me podes dar razões
necessárias da tua. Deste modo me deixaste sem nenhuma Lei” O acontecido deixou o
sultão tão irritado que, tendo ameaçado o religioso de morte, este teve de fugir e o sultão
morreu no erro, de onde seguiram-se muitos males para ele e seus territórios.
Hoje é aceite por quase todos os pesquisadores que o religioso em questão era
Ramón Marti, o dominicano que melhor conhecia na época as fontes orientais; que o
símbolo da fé exposto em árabe era a tradução de sua obra Explanatio symboli
Apostolorum; e que o sultão era al-Mustansir, de Túnisx. Com efeito, Ramón Marti tentou
converter pessoalmente Multansir nos anos de 1268-9, em Túnis, quando nosso
maiorquino, após uma comovente conversão, dedicava nove anos de sua vida a um intenso
estudo contemplando suas razões necessárias.
As razões necessárias de Raimundo Lúlio
Brucker, cuja História crítica da filosofia, escrita no século XVIII, continua sendo
útil, aventura-se a dizer que o pensamento de Lúlio marca o começo de uma nova época na
história intelectual do Ocidente. Certamente, referia-se ao resumo que o maiorquino fez de
seu sistema na Ars generalis ultima, escrita em 1308 e conhecida depois simplesmente
como Arte, versão definitiva daquela primeira Arte abreviada de encontrar a verdade que,
segundo o próprio Lúlio nos conta, recebeu durante uma iluminação divina na montanha de
Randa, em sua ilha natal, no ano de 1274. Ao longo dos 36 anos que separam a redação das
duas obras, escreveu diversas versões da Arte, aperfeiçoando-a e adaptando-a às diferentes
circunstâncias e níveis de compreensão do público a que as dirigia.
A Arte é um sistema argumentativo baseado nas relações necessárias que se dão
entre os princípios que constituem a realidade, que, na opinião do maiorquino, são os
mesmos – embora em combinações e intensidades diferentes – para tudo o que existe,
desde Deus, suprema Realidade, até a realidade mais ínfima. Estas relações obedecem a
certas leis ou razões necessárias que permitem fundamentar um modo de argumentar que
se apóia na realidade tal como ela é e não nas consistências mentais que a realidade
pensada pode oferecer. Uma breve explicação sobre os pressupostos em que se baseiam
estas razões necessárias sintetizará de alguma maneira a original Teoria de conhecimento
do Doutor Iluminado.
Em Lúlio encontramos uma nova maneira de encarar a realidade; uma nova postura
frente ao real. Os autênticos filósofos buscaram sempre explicar o real, fugindo dos
abstracionismos que nos levam a apontar apenas generalidades; o que diferencia, porém,
uns dos outros é sua particular postura frente ao real, assim como a sua compreensão da
estrutura interna do mesmo.
Uma nova postura frente ao mundo (real)
A realidade, por seu dinamismo íntimo e sua permanente auto-reposição, não se
deixa abarcar de um modo absoluto e total pelo homem, sendo que, por este motivo, com
freqüência, é confundida com a idéia que dela se faz. O conhecido refrão cria fama e deita-
te na cama, existente em diversas línguas, é uma de tantas constatações que se poderiam
apresentar deste fato. Introduzida a fama de alguém na mente de todos, essa pessoa poderá
já descansar tranqüilamente, sem se preocupar com possíveis deteriorações futuras. Para
poupar-se o trabalho de conhecer novamente o assunto em questão, geralmente se troca sua
realidade atual por aquela expressa na fama, já conhecida, e abarcada anteriormente pela
mente.
O Mundo (a realidade), diz Lúlio, pela complexidade ativa do seu ser, está em
permanente expansão e mobilidade. É ativa, complexa e dinâmica, portanto; por esse
motivo, não se deixa abarcar pelo entendimento humano que necessita da imobilidade do
objeto a ser compreendido, ou melhor, necessita de imobilizar o objeto a ser abarcado. A
idéia é extremamente limitada, pois necessita cristalizar, como que efetivar um corte nesta
mesma realidade, que em si mesma é ativa e dinâmica: como uma fotografia que a
imobilizasse para sempre. Tudo se torna imóvel e eterno no pensamento: desde um sorriso
até o rápido momento da morte do ente querido. Realidade do mundo e idéias; pela sua
diferente constituição, dinâmica uma e estática a outra, constituem como que dois
universos separados. Unificam-se, no entanto, pela mente humana; ao menos, no breve
instante em que o homem pensa. Pois quando pensamos, a realidade está de algum modo
presente em nós e nós presentes nela. É desta última presença, de nossa presença mental no
mundo, que Lúlio vai nos falar.
A realidade se torna patente para nós
Estamos presentes no mundo, de um modo físico, pois somos realidades imersas em
outras. Se ninguém escapa desta presença física, pois por mais que corramos e fujamos,
sempre estaremos entre realidades, também não deixamos, nem por um segundo, de estar
mentalmente presentes no mundo: ao pensar, nosso pensamento torna-se realidade nele.
Mas além desta presença que se constitui no momento em que realizamos atos de
pensamento, e que deaparecerá mal os terminemos, dá-se outra maneira de estarmos
mentalmente presentes no mundo. É a que provém não do pensamento intermitente, mas
daquele conhecimento habitual e quase inconsciente por meio do qual temos a certeza de
sermos nós mesmos e a certeza de que o mundo que nos rodeia é algo real. Com outras
palavras, o mundo é algo patente à nossa pessoa, e isto de modo permanente. Existe, pois,
em nós um conhecimento habitual, sempre em ato, que torna patente a realidade do mundo
e ao mesmo tempo nos torna mental e habitualmente presentes nele.
Ora, este conhecimento torna patente para nós a realidade e é algo tão habitual que
não nos damos conta disso. Pois bem, sob esta luz, nascida do contato permanente que se
dá entre o ser do homem e a realidade, é que Lúlio escreverá toda a sua obra. Uma luz que
é simultânea e, ao mesmo tempo, transcende os atos particulares de conhecimento que
realizamos, que começam e terminam. Uma luz que, embora não nos dê a conhecer
exaustivamente o real, nos informa que está aí, e não nos permite duvidar de sua
existência.
A teoria de conhecimento de Lúlio se apóia nesta abertura do e no mundo (real). A
noção luliana de verdade é a clássica e tradicional: nossas idéias são verdadeiras, quando
se conformam, quando se ajustam à realidade. Ora, sem a luz permanente do contato com a
realidade patente, não poderíamos julgar sobre a verdade ou falsidade das idéias, pois é ela
que permite o confronto entre a realidade presente e patente em nós e o que nós pensamos
a seu respeito.
Argumentos de congruência
Pelo que se acaba de expor, conclui-se que o sistema luliano, a sua Arte, parte
claramente de uma especial teoria do conhecimento que se baseia na congruência que deve
existir sempre entre a realidade de quem conhece e a realidade do conhecido. No exato
momento em que se efetua um ato de conhecer, a realidade da coisa conhecida e a do
conhecedor estão implícitas nesse ato, podendo-se estabelecer um paralelismo entre ambos.
Uma analogia ajudará a entender esta afirmação.
Vendo correr alguém ao longe, mas não distinguindo claramente quem é, caberia
usar o estratagema de colocar-se ao seu lado, correndo à mesma velocidade. Isto permitiria
reconhecer facilmente a pessoa do corredor. Enquanto o objeto observado estiver em
movimento e atividade, nosso olhar encontrará dificuldades em reconhecê-lo; porém,
igualar as velocidades das corridas fará com que o objeto pareça fixo e reconhecível.
Consideremos com atenção o que ocorre então. A equiparação dos dois atos de correr
permite conhecer o corredor, não o próprio correr. Este último escapará sempre do nosso
olhar – como qualquer outra atividade, pois estas, por serem atos e não apresentarem
fixação suficiente, não podem ser captadas pelo olhar humano –, embora esteja implícito
no reconhecimento do corredor. Nosso olhar vê, portanto, o sujeito da corrida, não a
corrida, estando esta última apenas implícita nele. Analogamente, as idéias humanas só
podem captar o sujeito da realidade e não seu ser, isto é, a atividade que constitui a
realidade como tal. O ser, contudo, permanece implícito nos atos de conhecimento que
realizamos, possibilitando-os, como a luz do dia permite enxergar as coisas e sem ela nada
veríamos.
Em outras palavras: a realidade da pessoa define e limita seu campo de
conhecimento. Esta doutrina ilumina notavelmente as relações entre ser e conhecer,
podendo-se afirmar, de acordo com ela, por exemplo, que só o homem bom, que ama o
bem, poderá conhecê-lo; e que só se pode alcançar uma noção do mal quando se odeia.
A Arte luliana é, pois, um sistema argumentativo intelectual baseado na realidade das
coisas que conhecemos e na da pessoa que as conhece. Uma vez que o Ser é a atividade
divina que confere realidade às coisas do universo, a Arte demonstrará em primeiro lugar a
existência da realidade do Ser divino e logo a seguir postulará a participação finita dos
constitutivos deste Ser nas distintas realidades criadas. Trata-se, portanto, de
argumentações que partem sempre da ótica do ser; não das idéias.
A concepção ativa e produtiva da realidade
Lúlio apresenta uma concepção ativa e produtiva do ser. O ser constrói a realidade.
Esclarece também que o Ser de Deus é uma fusão de todas as atividades – ou perfeições –
possíveis, unificadas num Ato Puro de Ser, com atividade interna e externa. O ser das
criaturas, recebido e mantido ao longo de sua existência por Deus, será uma combinação
das mesmas atividades divinas, porém em grau finito. As semelhanças, concordâncias ou
discordâncias entre as atividades criadas serão um reflexo das semelhanças, concordâncias
ou discordâncias que existem entre as atividades divinas. Baseado nisto, Lúlio apresentará
definições novas, por vezes inusitadas, das diferentes realidades, sempre a partir desta ótica
do ser ativo e produtivo. Assim, por exemplo, dirá que a bondade é a razão por que o que é
bom faz, produz, e comunica o bem ou que o homem é um animal que humaniza.
A realidade do Ser primeiro, Deus, mostra-se ao entendimento humano por um
conjunto de princípios ativos, primitivos e absolutos que, quando são considerados em
Deus, Lúlio denominará Virtudes ou Dignidades divinas: Bondade, Grandeza, Duração,
Poder, Sabedoria, Vontade, Virtude, Verdade e Glória. Ricardo de São Vítor já afirmara
antes que Deus reunia todas as perfeições e estava além delas, pois sua existência era
anterior a elas. Lúlio identifica em Deus estas perfeições e iguala assim o Deus da
filosofia, o Ser, com o Deus do cristianismo.
A Arte dará a Lúlio os meios para provar que o Deus das três grandes religiões
monoteístas é o mesmo. As argumentações utilizadas consistem na maior parte dos casos
em associar as conveniências, diferenças e oposições que necessariamente apresentam as
Dignidades divinas com as conveniências, diferenças e oposições que os princípios
apresentam nas criaturas. O que está implícito neste modo de argumentar é que na medida
em que os princípios primitivos são mais intensos, mais convém ao ser, e quando são
infinitos, então, necessariamente terão de ser. Nesta altura devem ser chamados de
Dignidades e identificar-se, cada uma deles, com a Essência divina.
Seguindo este seu método, Lúlio demonstra desta maneira que a eternidade é algo de
bom: Boa coisa é a eternidade, pois o bem e o ser convêm à eternidade; e eternidade e ser,
à bondade. Se a eternidade fosse coisa má, o não-ser e a bondade estariam de acordo entre
si contra o ser e a eternidade; e se isto fosse assim, os homens, as plantas e as feras
desejariam não-ser, o que não acontece de modo algum, pois é uma realidade todos
amarem ser e deixarem de amar o não-ser. Observe-se como o argumento se apóia na
observação da realidade, do que acontece no mundo, e não em idéias já possuídas com
anterioridade, como ocorre com a maior parte dos sistemas dedutivos.
O Livro do gentio e dos três sábios
O Livro do gentio e dos três sábios segue o método da Arte, se bem que de um modo
menos esquemático e mais acessível. No prólogo, apresenta um gentio, profundo filósofo,
mas que desconhecendo a existência de Deus e da ressurreição, entra em profunda
depressão todas as vezes que lembra que um dia haverá de morrer e voltar ao nada.
Mergulhado nos seus tristes pensamentos, adentra-se numa floresta para distrair-se.
Estando o gentio em meio a tais considerações, tanto sofria que lhe veio ao coração a idéia
de partir daquela terra e dirigir-se a outro lugar para ver se porventura poderia encontrar lá
remédio para sua tristeza. Pensou em ir a uma grande e desabitada floresta, repleta de
fontes e de muitas belas árvores carregadas de frutos, pelas quais o corpo humano poderia
sustentar a vida.
Lá se encontrará com três sábios, um judeu, um cristão e um muçulmano, que lhe
demonstrarão em primeiro lugar a existência de Deus e da ressurreição e depois as
características principais das três religiões. As argumentações dos três sábios seguirão
r i g o r o s a m e n t e a s d i r e t r i z e s d a d a s p o r u m a D a m a , a I n t e l i g ê n c i a , q u e , p o u c o a n t e s , l h e s
aparece, numa belíssima clareira formada por cinco árvores, onde havia uma fonte. Junto à
fonte havia uma mulher muito bela, nobremente vestida, cavalgando belíssimo cavalo que
bebia na fonte. Os sábios, vendo as cinco árvores, tão agradáveis à vista, e a mulher de
formosa aparência, dirigiram-se até o lugar e saudaram-na devota e humildemente, a qual
adequadamente retribuiu a cortesia.
Os sábios perguntaram-lhe o seu nome, e ela lhes disse ser a ‘Inteligência’. Os sábios
pediram-lhe que condescendesse em lhes dizer a natureza e as propriedades daquelas cinco
árvores, e o que significavam as letras escritas em cada uma das flores.
As diversas flores que embelezam as árvores significam algumas das possíveis
combinações dos princípios que constituem a realidade. As concordâncias ou discordâncias
entre esses princípios fornecerão as razões necessárias ou condições da argumentação.
Podem resumir-se em dez:
1) Deve-se reconhecer e atribuir a Deus sempre a maior nobreza na essência, nas
virtudes e nas obras.
2) As virtudes divinas não podem ser contrárias umas às outras, nem umas menos
que as outras.
3) As virtudes criadas têm de ser tanto maiores e mais nobres quanto mais
signifiquem e demonstrem a grande nobreza das virtudes incriadas ou divinas.
4) As virtudes incriadas e as criadas jamais serão contrárias.
5) As virtudes de Deus não podem concordar com os vícios.
6) Convém afirmar tudo aquilo mediante o qual, pelos vícios, as virtudes de Deus são
melhor significadas ao entendimento humano, e negar tudo aquilo que for contrário à
maior significação anteriormente dita, e também tudo quanto diminua a contrariedade entre
as virtudes, Deus, e os vícios humanos, salvas as condições das outras árvores.
7) Nenhuma das virtudes criadas pode ser contrária à outra.
8) Aquilo que for mais conveniente para os homens serem mais perfeitos e terem
maior mérito, através das virtudes criadas, tem de ser verdadeiro; e o contrário, falso;
salvando-se as condições das outras árvores.
9) Que as virtudes criadas não concordem nunca com os vícios.
10) Que as virtudes criadas mais contrárias aos vícios sejam as mais amáveis, e os
vícios que são mais contrários às virtudes sejam os mais odiosos.
Muito se tem escrito sobre estas dez condições que aparecem repetidas vezes nas
obras de Lúlio. Elas servem de guia para que a inteligência humana compreenda as
verdades cristãs – sobretudo os dogmas da Trindade e da encarnação – e forneça uma
maneira adequada de entender o mundo. Se algum pensasse, por exemplo, que Deus, por
ter um poder infinito poderia autodestruir-se, a condição 2) o impede, pois tal
autodestruição iria contra sua infinita bondade.
No primeiro livro, os três sábios decidem mostrar ao gentio, através de um raciocínio
que envolverá três grupos de realidades – as sete virtudes divinas, as sete virtudes criadas e
sete vícios – e que respeitará sempre as dez condições mencionadas, três verdades: 1) que
Deus existe; 2) que nele se encontram as sete virtudes divinas representadas nas flores da
primeira árvore; 3) e que se pode ter esperança de ressuscitar. O leitor não sabe qual é o
sábio que está demonstrando estas três verdades, indicando-se assim que são comuns às
três religiões. Escolhem, para argumentar, algumas das flores que se encontram em cada
árvore, representando cada uma delas duas virtudes, ou um vício e uma virtude ou os
víciosxi.
Entusiasmado com a força das demonstrações e tendo sido libertado por elas do erro
em que se encontrava, o gentio se ajoelhou na terra e levantou ao céu suas mãos e seus
olhos, que se banhavam em lágrimas e em choro, e com fervoroso coração, adorou e disse:
“Bendito seja Deus glorioso, Pai e Senhor poderoso de tudo quanto existe! Graças te dou,
Senhor, por ter sido de teu agrado lembrar-te deste homem pecador que estava à porta da
infinita maldição infernal! Adoro-te, Senhor, bendigo o teu nome, e peço-te perdão. Em ti
coloquei a minha esperança, de ti espero a bênção e a graça. Praza-te, Senhor, que se a
ignorância me tornou teu desconhecedor, o conhecimento em que me colocaste me faça
amar-te, honrar-te e servir-te; e daqui em diante que todos os meus dias e todas as minhas
forças corporais e espirituais não estejam em nada mais que não seja em honrar-te e
louvar-te, e em desejar a tua glória e a tua bênção, nem em meu coração não haja outra
coisa que não seja senão somente tu”.
Imediatamente, pede instruções aos três sábios sobre como poderia pregar entre seus
familiares, amigos e povo em geral de sua terra, que ainda se encontravam na mesma
ignorância em que ele estivera até aquele dia, e neste momento descobre com espanto que
os três sábios seguem leis e crenças diferentes. Horrorizado e desconsolado, ao mesmo
tempo, o gentio lamenta-se da nova situação dizendo:
– Ah, senhores! Em quão grande alegria e esperança me havíeis colocado! Mas agora
me fizestes retornar à muito maior ira e dor do que costumava estar, porque depois de
minha morte não tinha temor de sustentar trabalhos infinitos. Mas agora estou certo, que,
se não estiver no caminho verdadeiro, toda pena está já pronta para atormentar
perenemente a minha alma depois de minha morte! Ah, senhores! E que ventura é esta que
me havia tirado de tão grande erro em que estava a minha alma? E por que minha alma
retornou a dores muito mais graves que as primeiras?
Os três sábios, perante a angústia do gentio, decidem provar por separado os artigos
de suas respectivas crenças utilizando-se do mesmo método da Dama Inteligência,
acrescentando-lhe, porém, uma regra básica: o gentio será a única pessoa que poderá
contestar ou fazer perguntas ao sábio que estiver falando.
Nos livros II, III e IV, por ordem de antiguidade, o judeu, o cristão e o muçulmano
mostram ao gentio as verdades de sua fé, oito artigos para o credo judaico, quatorze para o
cristão e doze para o islâmico. Em diversas ocasiões, e dirigindo-se aos três sábios por
separado, o gentio contesta e esclarece alguns matizes das provas oferecidas. O conteúdo
doutrinal dos três livros é irregular, mas surpreende ver como as descrições do judaísmo e
do islamismo sejam conformes aos textos fundamentais destas religiões. Lúlio mostra-se
bem informado sobre a Lei do povo judeu e a Lei islâmica.
Após as três exposições, o gentio, que já escolhera em seu coração a crença
verdadeira, dirige-se a Deus numa oração ardente e apaixonada, na qual vai considerando
as virtudes divinas, as criadas e os vícios. Uma belíssima e tocante reza que poderia ser
aceita em todo seu conteúdo pelas três religiões. Terminada a oração, o gentio divisa dois
companheiros, seus conhecidos, que se encontravam no mesmo erro em que ele havia
estado e pede aos sábios para esperarem, pois desejaria dar a conhecer aos seus
companheiros, na presença deles, qual fora a religião escolhida.
Todavia, os sábios preferem partir sem conhecer o resultado da escolha do gentio.
Como cada um deles pensava que o gentio escolhera a sua Lei, não tinham interesse em
saber qual fora a opção por ele feita.
“Este é um assunto para discutir entre nós, a fim de que encontremos, pela força da
razão e pela natureza do entendimento, qual é a Lei que tu poderás escolher. Se, em nossa
presença, dissesses qual é a Lei que mais amas, não teríamos mais assunto para discutir,
nem verdade a descobrir”.
Notas
* Texto publicado pela Editora Vozes, Petrópolis – Rio de Janeiro 2002, p. 5-25
i Cf. Anthony Bonner, L’apologética de Ramon Marti i Ramon Llull davant de l’Islam i del judaisme, El debat intercultural als segles XIII i XIv. Actes de les I Jornades de Filosofia Catalana, Girona, 25-7 de abril de 1988. Estudi General 9, ed. Marcel Salleras, (Girona: Col.legi Universitari, 1989), pp. 171-185. As próximas linhas são basicamente uma tradução resumida deste excelente artigo.
ii Cfr. Eusebi Colomer, El pensament als països catalans durant l’Edat Mitjana i el Renaixement, Institut d’Estudis Catalans, 1997, p. 187-8.
iii Cf. Fernando Domínguez, Ramon Llull, catalán de Mallorca, y la lengua árabe. Contexto sociolingüístico, in Literatura y bilingüismo. Homenaje a Pere Ramirez. Kassel (Reichenberger) 1993, p. 3-17. Literatura y bilingüismo. Homenaje a Pere Ramírez. A situação sócio-religiosa descrita nestas páginas baseia-se toda ela neste artigo do conhecido historiador.
iv Gabriel Alomar, Urbanismo regional en la Edad Media: las ordinacions de Jaime II (1300) en el reino de Mallorca, Editorial Gustavo Gili S.A., Barcelona 1976, p. 12.
v Cf. Lorenzo Pérez, Documentos del primer pontificado em Mallorca, in Boletín de la Sociedad Arqueológica Luliana 32 (1961-62) p. 52, citado por Domínguez , op. cit. , p. 12
vi Cf. Fernando Domínguez, op. cit., p. 13.
vii Cf. Bonner, op. cit., p. 174.
viii Cfr. Eusebi Colomer, op cit. p. 195.
ix Cf. Luísa Costa Gomes, Vida de Ramon, Publicações Dom Quixote, Lisboa 1991, p. 218.
x Bonner combina aqui as versões do Liber de acquisitione Terrae Sanctae, ed. Longpré, Criterion III (1927), p. 276-7 e do Libre de meravelles, Els nostres clàssics, I, p. 88. Outras versões mais livres desta história encontram-se in Blaquerna, caps. 84 e 43; Disputació de cinc savis, ATCA 5 (1986), p. 28-29; Disputatio fidei et intellectus, MOG IV, 480 - Int. VIII, 2; Liber de convenientia fidei et intellectus in objecto , MOG IV, 574 = Int. XI, 4; e Liber de fine, ROL IX, p. 267. Cf. Bonner, op. cit., p. 179-180 e nota 27.
xi Acha-se o número total de flores de cada árvore fazendo-se combinações binárias sem repetição de três grupos de sete elementos. A primeira e a quarta árvore têm 21 flores e a segunda, terceira e quinta, 49.