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1 FONTES DE CARBOIDRATOS NÃO FIBROSOS NA TERMINAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE Luis Felipe P. Silva, Viviane B. Ferrari, Nara R. B. Cônsolo, Rafael T. Sousa, Johnny M. Souza, Dannylo O. Sousa, Matheus O. Frasseto e Juliane Diniz-Magalhães. Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade de São Paulo. INTRODUÇÃO A fase de terminação de bovinos de corte em confinamento é parte importante do processo de intensificação de pecuária de corte brasileira, uma vez que permite maior lotação das pastagens no período de verão. Durante a terminação, os gastos com alimentação representam de 70 a 80% do custo total (Pacheco et al., 2006) e, portanto, o confinador busca a maior eficiência do uso de alimentos que leve ao menor custo de ganho de peso. Apesar do menor valor nutritivo em relação às silagens de milho e sorgo (Andrade et al., 2004), a cana-de-açúcar apresenta características de grande interesse aos bovinocultores, como elevada produção de matéria seca por hectare, facilidade de cultivo e persistência da cultura, boa aceitação pelos animais; elevado teor de carboidratos solúveis e menor custo de produção (Freitas et al., 2006; Landell et al., 2002; Nussio et al., 2002). Ao contrário de outras forrageiras, a cana não reduz seu valor nutritivo de forma expressiva no período de estiagem, e destaca-se pelo aumento no teor de sacarose nesta época do ano (Borges; Pereira, 2003). A cana-de-açúcar colhida diariamente e oferecida fresca aos animais é uma prática tradicional e de amplo conhecimento de pecuaristas. Porém, o manejo industrial de canaviais exige que o corte dos talhões seja realizado de forma concentrada, para aumentar a eficiência dos tratos culturais. Além disso, o corte diário torna-se problemático em razão da dificuldade de sua colheita em dias de chuva, e à perda de seu valor nutritivo durante o verão. O desenvolvimento recente de técnicas de conservação da planta inteira da cana-de-açúcar na forma de silagem permite sua utilização por um número maior de pecuaristas nos mais diversos sistemas de produção (Queiroz et al., 2008; Schmidt et al., 2007). Poucos trabalhos avaliaram diferentes fontes de carboidratos solúveis em dietas tendo a cana-de-açúcar, in natura ou em silagem, como fonte de volumoso (Pereira et al., 2007; Simas et al., 2008), sendo fundamental o entendimento dos efeitos de diferentes fontes energéticas sobre o metabolismo ruminal e desempenho animal. Assim, pretende-se com esta

INTRODUÇÃO - posvnp.org · reserva de energia e manter estrutura das plantas (Lehninger, 1986). Para os ruminantes, os carboidratos compreendem entre 70 e 80% das rações e são

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FONTES DE CARBOIDRATOS NÃO FIBROSOS NA TERMINAÇÃO DE BOVINOS

DE CORTE

Luis Felipe P. Silva, Viviane B. Ferrari, Nara R. B. Cônsolo, Rafael T. Sousa, Johnny M.

Souza, Dannylo O. Sousa, Matheus O. Frasseto e Juliane Diniz-Magalhães.

Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia - Universidade de São Paulo.

INTRODUÇÃO

A fase de terminação de bovinos de corte em confinamento é parte importante do

processo de intensificação de pecuária de corte brasileira, uma vez que permite maior lotação

das pastagens no período de verão. Durante a terminação, os gastos com alimentação

representam de 70 a 80% do custo total (Pacheco et al., 2006) e, portanto, o confinador busca

a maior eficiência do uso de alimentos que leve ao menor custo de ganho de peso.

Apesar do menor valor nutritivo em relação às silagens de milho e sorgo (Andrade et

al., 2004), a cana-de-açúcar apresenta características de grande interesse aos bovinocultores,

como elevada produção de matéria seca por hectare, facilidade de cultivo e persistência da

cultura, boa aceitação pelos animais; elevado teor de carboidratos solúveis e menor custo de

produção (Freitas et al., 2006; Landell et al., 2002; Nussio et al., 2002). Ao contrário de

outras forrageiras, a cana não reduz seu valor nutritivo de forma expressiva no período de

estiagem, e destaca-se pelo aumento no teor de sacarose nesta época do ano (Borges; Pereira,

2003).

A cana-de-açúcar colhida diariamente e oferecida fresca aos animais é uma prática

tradicional e de amplo conhecimento de pecuaristas. Porém, o manejo industrial de canaviais

exige que o corte dos talhões seja realizado de forma concentrada, para aumentar a eficiência

dos tratos culturais. Além disso, o corte diário torna-se problemático em razão da dificuldade

de sua colheita em dias de chuva, e à perda de seu valor nutritivo durante o verão. O

desenvolvimento recente de técnicas de conservação da planta inteira da cana-de-açúcar na

forma de silagem permite sua utilização por um número maior de pecuaristas nos mais

diversos sistemas de produção (Queiroz et al., 2008; Schmidt et al., 2007).

Poucos trabalhos avaliaram diferentes fontes de carboidratos solúveis em dietas tendo a

cana-de-açúcar, in natura ou em silagem, como fonte de volumoso (Pereira et al., 2007;

Simas et al., 2008), sendo fundamental o entendimento dos efeitos de diferentes fontes

energéticas sobre o metabolismo ruminal e desempenho animal. Assim, pretende-se com esta

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revisão, discutir e apresentar resultados sobre o fornecimento de diferentes fontes de

carboidrato não estrutural sobre o desempenho e metabolismo ruminal de bovinos de corte.

FONTES DE CARBOIDRATOS NÃO-FIBROSOS

Os carboidratos são as biomoléculas mais abundantes da Terra, apresentam a fórmula

(CH2O)n e, nas plantas, sua síntese se dá através da fotossíntese onde, na presença de energia

luminosa, o carbono presente no na atmosfera na forma de CO2 é combinado com a água e

transformado em carboidratos. Suas principais funções nas células vegetais são: fonte e

reserva de energia e manter estrutura das plantas (Lehninger, 1986).

Para os ruminantes, os carboidratos compreendem entre 70 e 80% das rações e são

fundamentais para o atendimento das exigências de energia, síntese de proteína microbiana e

da saúde animal (Mertens, 1996). Os carboidratos são divididos em dois grandes grupos: os

da parede celular (carboidrato estrutural) e os de conteúdo celular (carboidrato não estrutural -

CNE), como pode ser observado na Figura 1.

Figura 1. Frações dos carboidratos das plantas. FDA = Fibra em Detergente Ácido, FDN =

Fibra em Detergente Neutro, FSDN = Fibra Solúvel em Detergente Neutro (que inclui todos

os polissacarídeos não presentes no FDN), CNF = Carboidratos não-fibrosos. Adaptado de

Hall (2003).

A fibra é um termo usado para estabelecer um conceito puramente nutricional sendo

definida por nutricionistas como a fração indigestível ou de lenta digestão do alimento que

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ocupa espaço no trato gastrointestinal (Berchielli, 2006). Deste modo a parede celular não

pode ser levada em conta como uma medida exata de fibra, uma vez que engloba substâncias

pécticas que são de alta digestibilidade (Mertens, 1996). Os carboidratos não fibrosos (CNF) é

uma fração facilmente e quase completamente digerida pela maioria dos animais que engloba

ácidos orgânicos, mono e oligossacarídeos, frutanas, amido, pectina e outros carboidratos

exceto a hemicelulose e celulose encontradas na fração da Fibra em Detergente Neutro (FDN)

(Van Soest, 1993; Hall 2003).

A pectina, apesar de ser um componente associado à parede celular, é quase

completamente digerida no rúmen (90 a 100%) e, além disso, apresenta menor efeito

acidogênico ruminal do que o milho (Nocek & Tamminga, 1991). É encontrada em altos

níveis em polpa cítrica ou de beterraba, casca de soja e forrageiras leguminosas dicotiledôneas

e ausente em gramíneas (Allen & Knowlton, 1995). Já o amido é o carboidrato de reserva

encontrado na maioria dos grãos de cereais como milho. A pectina e o amido, por serem

altamente digestíveis e energéticos, são geralmente inseridos na dieta em substituição à FDN

para atender os requerimentos de energia de animais de alto ganho, principalmente em

terminação.

Quando analisados no enfoque da nutrição, os subprodutos agroindustriais podem

apresentar-se como fontes nutricionais de excelente qualidade. Outra vantagem na utilização

destes alimentos é a possibilidade de uma maior flexibilidade na formulação de dietas, em

função da variedade de ingredientes. Além disso, alguns subprodutos podem conter nutrientes

especiais ou complementares aos já existentes nas dietas tradicionais (Meneghetti et al.,

2008). Dentre as várias possibilidades, três produtos da indústria alimentícia brasileira, a

Polpa cítrica, a Casca de Soja e o Farelo de Glúten de Milho despontam como alternativas

interessantes para substituir, pelo menos em parte, o milho das dietas de bovinos.

Polpa Cítrica Peletizada: A polpa cítrica peletizada é um subproduto da produção de

suco de laranja e vem conquistando cada vez mais espaço no mercado pecuário nacional,

principalmente devido a seu preço e suas qualidades nutricionais (Neto et al., 2007). O

processo de obtenção da polpa cítrica consiste em três etapas: Inicialmente, se realiza uma

desidratação da massa de resíduos cítricos, com posterior adição de melaço e finalmente, a

peletização. No início do processo ocorre adição de hidróxido de cálcio para facilitar a

desidratação da massa e promover um ajuste de pH (Yamanaka, 2005). A sua época de

produção, tem inicio em maio e termina em janeiro, coincidindo com a entressafra de grãos de

grãos como o milho e sorgo. Diante disso, os produtores de gado de corte podem contar com

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um importante suplemento energético nos meses em que o milho atinge cotação máxima

(Scoton, 2003).

No que diz respeito ao aspecto nutricional, o principal carboidrato da polpa cítrica

peletizada é a pectina, sua molécula é formada por uma cadeia linear de ácido galacturônico,

interrompida por unidades de ramnose. A cadeia de ácido galacturônico é ligada por ligações

α1-4, similar a que acontece no amido, porém difere na ligação axial do carbono 4, não sendo

portanto, susceptível a ação da amilase (Van Soest, 1994). Em comparação ao amido, a

pectina possui menor propensão em causar queda de pH ruminal, devido a sua fermentação

ser realizada por microrganismos celulolíticos, o que favorece a produção de acetato e não de

lactato e propionato, como ocorre na fermentação por microrganismos que degradam o amido

(Pedroso & Carvalho, 2006). Em função dos seus teores de FDN e Fibra Insolúvel em

Detergente Ácido (FDA) e das suas características de fermentação ruminal, a mesma se

enquadra como produto intermediário entre volumosos e concentrados. É um alimento rico

em cálcio e pobre em fósforo, e sua fração fibrosa apresenta elevada degradabilidade ruminal,

que está associada principalmente ao seu baixo teor de lignina (Pedroso & Carvalho, 2006).

Em função da sua rápida degradabilidade ruminal, a polpa cítrica peletizada é um

alimento interessante de ser utilizado em dietas com elevadas concentrações de proteína

solúvel, o que contribui para o melhor aproveitamento da amônia produzida, reduzindo os

seus efeitos tóxicos no rúmen. Isto por que quando a velocidade de síntese da amônia pelos

microrganismos excede a sua utilização, há uma elevação nas concentrações de amônia, no

rúmen com consequente aumento da excreção de ureia, resultando em perda de proteína

(Morrison e Mackie, 1996).

O valor nutricional da polpa cítrica peletizada pode se modificar dependendo da

variedade, proporção de casca, sementes ou bagaço das frutas utilizadas e o tipo de

processamento. Este alimento apresenta em torno de 85 a 90% do valor energético do milho

(NRC, 2001, Tabela 1). Além disso, esse ingrediente possui baixo teor de amido, porém um

alto teor de carboidratos solúveis (cerca de 25% da MS) e pectina (Mertens, 1992).

Em um estudo realizado por Prado et al. (2000) para avaliar os níveis de substituição do

milho pela polpa cítrica sobre o desempenho e características de carcaça de bovinos mestiços

confinados. Observaram que a substituição de diferentes níveis de milho (40, 60, 80 e 100%)

pela polpa cítrica peletizada não alterou em ganho de peso, consumo de matéria seca, proteína

bruta e fibra em detergente neutro, conversão alimentar da matéria seca e proteína bruta,

rendimento de carcaça, gordura de cobertura e área de olho de lombo de bovinos machos

inteiros (F1-Nelore x Angus).

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Tabela 1. Composição química média da polpa cítrica peletizada comparada com o milho

Nutriente Polpa cítrica Milho

Matéria Seca 80-90% 90%

Proteína Bruta 7,0% 9%

FDN 25% 11,61%

FDA 24% 4,13%

Lignina 1,0% 1.10%

NDT 77% 85,65%

Ca 1,59% 0,03%

P 0,08% 0,25%

Amido 0,2% 66,25%

Pectina 25% -

Fonte: Mertens (1992).

Casca de Soja: A casca de soja é um subproduto obtido da industrialização do grão de

soja (Glycine max). O processamento do grão de soja inicia-se com a obtenção da soja crua e

termina com a extração do óleo e outros subprodutos como lecitina e farelo de soja (Restle,

2004). De acordo com Rhee (2000), depois de classificado e limpo, o grão de soja é seco até

alcançar cerca de 10% de umidade, fase na qual é submetido a quebra e solta a casca, que

corresponde a cerca de 7 a 8% de seu peso. Em razão das suas características nutricionais, a

casca de soja pode ser incorporada as dietas tanto como substituto de alimentos concentrados

como volumosos. Geralmente, a casca de soja é submetida posteriormente ao processo de

moagem, ou peletização, visando reduzir o custo de transporte (Restle, 2004).

Assim como a polpa cítrica peletizada, a casca de soja também apresenta características

de um alimento intermediário entre volumoso e concentrado. O seu valor nutricional é

determinado inicialmente pela natureza química da casca e por outros fatores como métodos

de processamento do grão (Ipharraguerre & Clark, 2003). Ela pode ser classificada como um

suplemento energético, tendo em vista que a mesma atinge cerca de 80% do valor energético

do milho (Tabela 2).

Tabela 2. Composição química da casca de soja

Nutriente Mínimo Máximo

Proteína Bruta 9,4 19,2

FDA 39,6 52,8

FDN 53,4 73,7

Celulose 29,0 51,2

Hemicelulose 15,1 19,7

Lignina 1,4 3,9

Extrato Etéreo 0,8 4,4

Amido 0,0 9,4

Fonte: Adaptado de Ipharraguerre & Clark (2003)

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A casca de soja apresenta teores de proteína bruta em torno de 12% e, assim como o

farelo de soja, é uma fonte rica de lisina 0,71 a 0,72% da matéria seca (Cunningham et

al.,1993). Com relação á sua fração fibrosa, este subproduto possui elevados teores de FDN e

FDA, isto se deve principalmente aos baixos valores de lignina e elevados valores de pectina,

sendo rápida e extensamente degradada no rúmen (Nakamura & Owen, 1989).

Segundo Ezequiel et al. (2006) a substituição do milho moído por até 70% casca de

soja, não altera o consumo de matéria seca, o ganho de peso, a conversão e eficiência

alimentar e o rendimento de carcaça de Novilhos Nelore em confinamento. De acordo com

Santos et al. (2007) resultados positivos terão mais chances de ocorrer caso a casca de soja

substitua não o milho, mas parte do milho e da fonte de forragem da ração para bovinos de

corte em confinamento, desde que seja atendido um mínimo de efetividade da FDN.

Farelo de Glúten de Milho: O Farelo de Glúten de Milho constitui subproduto do

processamento industrial do milho, obtido pela separação e secagem das fibras dos grãos

durante o processo de moagem do cereal úmido. Tecnicamente, é o que sobra do grão de

milho após a extração da maior parte do amido, glúten e gérmen, pelos processos de moagem

e separação empregados na produção de amido purificado e xarope de milho, sendo 2/3 de

conteúdo fibroso e 1/3 de licor concentrado de maceração (Blasi et al., 2001).

No Brasil o farelo de glúten de milho é comercializado principalmente na forma seca,

contendo cerca de 20% de proteína bruta com base na matéria seca, apresenta-se na forma

farelada, contendo em média 90% de matéria seca. Seu alto teor de proteína, superior a

maioria dos suplementos proteicos de origem vegetal, com alta digestibilidade e alto teor de

proteína não degradada no rúmen (55%), torna esse produto interessante na composição de

dietas de diversas categorias de bovino de corte. Sua proteína é considerada de boa qualidade,

com alto teor de metionina, aminoácido limitante em diversos tipos de dietas (Fernandes,

2000). A FDN do farelo de glúten de milho é caracterizada pela rápida degradação (Firkins et

al., 1992). Devido principalmente, á sua característica pobre em gordura e rica em amido, e

bastante rico em fibra altamente digestível, o farelo de glúten de milho constitui alternativa

para inclusão em rações balanceadas em grãos e silagem de milho (Fellner & Belyea, 1991).

PROCESSAMENTO DE FONTES DE CARBOIDRATOS NÃO-FIBROSOS

Uma vez que os ruminantes são capazes de mastigar e ruminar assumiu-se, no passado,

que não era necessário o processamento (mecânico, térmico ou por cozimento) dos alimentos

por eles consumidos. Com o avanço do melhoramento genético e de pesquisas na área de

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nutrição, tornou-se fundamental o aumento do nível energético da dieta com o incremento da

proporção de grãos na dieta e sua digestibilidade por meio do processamento para alcançar o

potencial de ganho de animais de alto desempenho. Assim sendo, a formulação de dietas deve

levar em conta não somente a quantidade de grãos, mas também a fonte, método de

processamento, concentração de fibra e tamanho de partículas da dieta, além do uso de

aditivos.

Existem diversos grãos de cereais disponíveis para alimentação de ruminantes, que

podem variar em tamanho, textura, formato, maturidade, umidade e digestibilidade

justificando, portanto o processamento desses alimentos por permitir melhorar

significativamente a forma física e o valor nutritivo de grãos de cereais para gado de corte. Os

processamentos físicos mais comuns são laminação e moagem do grão com ou sem adição de

umidade e promovem a ruptura do pericarpo e expõem os grânulos de amido a fim de

melhorar a digestão (Beauchemin et al., 1994). A natureza da matriz proteica que envolve os

grânulos de amido também tem impacto na taxa e extensão da digestão do amido (McAllister

& Cheng, 1966). O milho amarelo dentado, tipicamente usado na alimentação de ruminantes

nos Estados Unidos, surgiu a partir do cruzamento de genótipos do milho flint com farináceo.

O milho flint contém altas concentrações de endosperma vítreo e é mais lentamente digerido

no rúmen do que o milho que possui maiores concentrações de endosperma farináceo

(Philippeau & Michalet-Doreau, 1997).

As bactérias ruminais colonizam preferencialmente os grânulos de amido que são

embebidos na matriz proteica vítrea. Ao decorrer da digestão, elas hidrolisam os grânulos de

amido em direção ao interior das células do endosperma deixando, porém, a matriz proteica

intacta. Com a prolongada exposição às bactérias ruminais, todos os grânulos de amido são

digeridos e apenas a matriz proteica que envolve as células do endosperma permanece

(McAllister et al., 2006). Boa parte da diferença na digestão entre grãos lentamente

fermentáveis (milho e sorgo) e os mais rapidamente fermentáveis (cevada e trigo), pode ser

atribuída a diferenças na propriedade da matriz proteica entre esses grãos (McAllister et al,

1990).

O processamento tanto pela moagem, laminação, peletização ou floculação rompe

barreiras à digestão tais como a casca, pericarpo e matriz proteica e permite o acesso

microbiano ao amido abrigado no interior das células do endosperma. Além disso, a

habilidade da microbiota ruminal em digerir o grão depende, dentre outros fatores, do

tamanho da partícula (Galyean, et al., 1981; Beauchemin et al., 1994), portanto partículas

processadas mais finas são digeridas mais rapidamente do que partículas grosseiras, devido a

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maior área de contato para colonização. Em poucos casos, o processamento do grão inteiro

não é benéfico, mas é exceção e não regra.

Em estudos com processamento, notou-se que a digestibilidade do milho inteiro

aumentou em cerca de 25% quando moído (Clark et al., 1975) ou quebrado (Moe et al.,

1973). Grande parte da diferença na digestibilidade do milho quebrado ou moído é causada

pelo aumento de 7 a 10% da digestão do amido, mas parte desse aumento é prejudicada pela

redução na digestibilidade da fibra da dieta. Estudos apontam que a floculação aumenta cerca

de 10 a 20% da digestibilidade do amido, mas a digestibilidade da fibra decresce na mesma

proporção (Plascencia & Zinn, 1996). Entretanto, o sítio de digestão do amido é mais afetado

pela moagem do que pela digestibilidade do amido no trato total. Com base em ensaios in

situ, aproximadamente 44% do amido do milho quebrado grosseiramente é digerido no

rúmen, comparado com 60 – 65% do milho finamente moído (Cerneau & Michalet-Doreau,

1991; Lykos et al., 1997). A Tabela 3 apresenta o efeito de diferentes processamentos sobre a

digestibilidade de alguns nutrientes presentes no milho.

Tabela 3. Efeito do processamento do milho sobre a digestibilidade.

Digestibilidade (%)

Método de processamento

Quebrado Floculado Floculado

quebrado

Cozido

quebrado

Matéria seca 70,1 77,5 77,1 72,4

Proteína 59,6 66,8 65,6 62,5

Fibra em detergente ácido 33,3 40,9 38,7 40,2

1966. Colorado. (Adaptado de Johnson).

Dietas modernas de terminação contém entre 2,7 a 3,45 Mcal de energia metabolizável

(EM)/kg de MS (Krehbiel et al., 2006), sendo o milho e sorgo as principais fontes de energia

utilizadas no Brasil (Millen et al., 2009). O aumento da proporção de alimentos concentrados

na dieta, com consequente aumento do teor de EM, resulta em maior CMS e maior eficiência

alimentar (EA), até certo ponto, a partir do qual o CMS é reduzido mantendo-se o mesmo

consumo de energia (Owens et al., 1995; Krehbiel et al., 2006). A relação entre aumento da

energia da dieta e EA também não é linear, mostrando que com o aumento da EM da dieta, a

EA aumenta de forma quadrática (Krehbiel et al., 2006).

Em estudo com dietas contendo 50% de milho e 20% de semente de algodão inteira,

Zinn (1987) concluiu que o milho floculado continha 13,4 e 14,2% mais ELm e ELg,

respectivamente, do que o milho laminado a seco. Em outro estudo realizado por Owens et al.

(1997) com diferentes formas de processamento do milho, foi avaliada a energia

9

metabolizável (EM) do milho laminado a seco, do milho com alta umidade e do milho

floculado. Concluiu-se que o milho floculado (processamento com umidade, temperatura e

laminação) possui maior EM kg-1

do que o milho com alta umidade, e este maior que

laminado a seco, sendo 3,70; 3,44 e 3,22 Mcal kg-1

, respectivamente, para cada tipo de

processamento. Esses resultados mostram o benefício do nível de processamento no

incremento energético do grão, que se espera consequentemente melhoria no desempenho dos

animais com eles alimentados.

Dentre os trabalhos desenvolvidos com diferentes formas de processamento, Theurer et

al. (1999) avaliaram o efeito da densidade do grão sobre o metabolismo ruminal. Nesse estudo

concluiu-se que diminuindo a densidade do floco de 437 para 283g L-1

a proporção de amido

digerido no rúmen e no trato total é aumentada. Hales et al. (2009) trabalhou com machos não

castrados em terminação alimentados com milho floculado em duas densidades com alfafa

como volumoso e observou um aumento na eficiência alimentar de cerca de 4% quando

diminuiu a densidade do floco de 386 para 335g L-1

.

Em um estudo realizado no Laboratório de Pesquisas em Gado de Corte na FMVZ-USP

Pirassununga (Ferrari et al., 20141) foram testadas dietas contendo diferentes fontes

energéticas, como milho floculado e polpa cítrica peletizada, em substituição parcial ao milho

moído fino no concentrado, e dois níveis de concentrado na dieta (60 e 80%) sobre o

desempenho dos animais Nelore em terminação. Os resultados estão apresentados na Tabela

4.

Tabela 4. Ganho de peso e rendimento de carcaça de animais alimentados com diferentes

fontes energéticas1.

Parâmetros Dieta 60% Dieta 80%

EPM Valor P

MM MF PC MM MF PC Dieta CHO D*C

CMS, kg.d-1

9,89 9,11 8,41 9,57 9,37 8,47 0,46 0,81 <0,01 0,25

CMS, %PV 2,20 2,08 1,95 2,19 2,12 2,03 0,09 0,16 <0,01 0,33

EA 0,140 0,140 0,147 0,164 0,161 0,152 0,019 0,02 0,96 0,47

CA 7,80 7,64 7,70 6,51 6,71 7,00 0,95 <0,05 0,94 0,86

GMD, kg.d-1

1,38 1,27 1,22 1,58 1,52 1,30 0,06 0,001 0,006 0,42

RC % 52,68 52,84 52,02 53,16 54,26 52,00 0,50 0,049 0,001 0,17

GMD=ganho médio diário; RC%=rendimento de carcaça; MM=milho moído; MF=milho

floculado; PC=polpa cítrica; CHO=efeito de carboidrato; D*C=efeito da interação dieta vs.

Carboidrato; EA=eficiência alimentar; CA=conversão alimentar; EPM=erro padrão da média.

1 Tese de doutorado, dados não publicados.

10

Não houve efeito de nível de concentrado na dieta sobre o consumo de matéria seca

(CMS) dos animais (P > 0,05), mas houve efeito de fonte de carboidrato. O CMS dos animais

alimentados com milho moído fino foi superior ao dos alimentados com milho floculado e

este maior que o CMS dos que receberam polpa cítrica na dieta, sendo as médias de 9,73; 9,24

e 8,44 kg.d-1

, respectivamente. De forma semelhante, Owens et al. (1997) obervaram menor

CMS quando os animais receberam dieta com o milho floculado (8,34 kg.d-1

) quando

comparado ao fornecimento de milho laminado a seco (9,43 kg.d-1

). Ainda nesse trabalho, a

floculação e laminação do milho melhorou o ganho de peso dos animais em relação à dieta

com milho com alta umidade. Os autores atribuem esses resultados ao aumento de energia

metabolizável presente no milho após a floculação, diminuindo o consumo e mantendo alto

ganho de peso. Não houve efeito da interação nível de concentrado na dieta vs. tipo de

carboidrato (D*C). O mesmo ocorreu para CMS na porcentagem do peso vivo do animal

(CMS, %PV), havendo apenas efeito de carboidrato. O milho moído fino promoveu consumo

de 2,20% PV, sendo superior ao dos que receberam milho floculado com 2,1 e este maior que

o CMS %PV dos alimentado com polpa cítrica.

Os níveis de concentrado na dieta tiveram efeito significativo (P < 0,05) sobre a

eficiência alimentar (EA) bem como na conversão alimentar (CA). Esses parâmetros foram

melhorados quando se aumentou para 80% o nível de concentrado comparado com as dietas

com 60%. As médias de EA e CA foram de 0,142 e 7,71 vs. 0,159 e 6,74 para dietas com 60 e

80% de concentrado, respectivamente. Isso sugere que os animais que receberam mais

concentrado foram mais eficientes no aproveitamento da dieta e, consequentemente,

consumiram menos alimento para cada unidade de peso ganho.

Houve efeito significativo do nível de concentrado e tipo de carboidrato na dieta sobre o

ganho médio diário (GMD) e rendimento de carcaça (RC%) dos animais (P < 0,05). As dietas

que continham 80% de concentrado promoveram GMD de 1,47 vs 1,29 kg.d-1

dos animais que

receberam 60% de concentrado, representando um aumento de cerca de 14% quando

aumentou-se o nível de concentrado para 80%. Houve diferença estatística no GMD entre os

animais que receberam as diferentes fontes energéticas. O GMD dos animais alimentados com

milho floculado (1,4 kg.d-1

) não diferiram dos que consumiram milho moído fino (1,48 kg.d-1

)

ou polpa cítrica (1,26 kg.d-1

), porém o tratamento com milho foi superior ao tratamento com

polpa. Em relação ao RC, a dieta com 80% de concentrado promoveu maior RC (53,14%) em

relação à dieta com 60% que apresentou 52,52% para o mesmo parâmetro. O RC dos animais

alimentados com o milho floculado e o moído fino não diferiram entre si (53,55 e 52,92%,

11

respectivamente), mas foi superior comparado ao RC dos animais que receberam a polpa

cítrica (52,01%). Não houve efeito para interação nível de concentrado e carboidratos.

Dietas com excesso de fermentação ruminal ou com baixos teores de fibra efetiva,

podem levar a distúrbios metabólicos prejudiciais, tais como acidose ruminal, ruminites,

abscessos hepáticos e broncopneumonias (Krause & Oetzel, 2006). Algumas teorias foram

postuladas para explicar o mecanismo pelo qual o excesso de fermentação e acidose

subclínica leva à queda no consumo de MS. Pesquisas recentes com gado de corte (Faleiro et

al., 2011) indicam que a queda do pH per se não é responsável pela queda no CMS. Uma

segunda teoria é que o acúmulo de AGCC e glicose promoveria aumento da osmolaridade

ruminal, que por sua vez seria responsável direta pela queda no consumo (Owens et al.,

1998). A alta osmolaridade, tanto ruminal quanto sanguínea, têm sido relacionadas com

controle do consumo em ruminantes (Carter & Grovum, 1990; Langhans et al., 1995), no

entanto esta hipótese é de difícil comprovação em experimentos in vivo. Uma terceira

hipótese, mais aceita atualmente, é que os produtos da fermentação ruminal, mais

precisamente o propionato, são oxidados ou metabolizados à glicose no fígado.

Eventualmente, a saturação na taxa de gliconeogênese e excesso de oxidação, com

consequente acúmulo de ATP, levaria a um sinal de feedback negativo ao cérebro ativando o

centro da saciedade no hipotálamo (Britton & Stock, 1989; Allen et al., 2005).

Nesse mesmo experimento realizado no LPGC-USP (Ferrari et al., 20142) também foi

feita a medição do pH ruminal dos animais nos tempos 0 (antes da alimentação), 1, 3, 6, 9 e

12 horas após a alimentação (Tabela 5).

Tabela 5. Efeito da fonte de carboidrato sobre o pH ruminal.

Dietas Carboidratos Valor de P

MF MM PC CHO Tempo Tempo*C

80% 6,41ab

6,25b 6,62

a 0,03 <0,01 0,21

60% 6,32b 6,45

b 6,74

a <0,01 <0,01 0,04

MM, milho moído; MF, milho floculado; PC, polpa cítrica; CHO, efeito de carboidrato;

CHO*Tempo, efeito da interação carboidrato vs. tempo.

Em ambos os níveis de inclusão de concentrado houve efeito de tempo após

alimentação e do tipo de carboidrato na dieta sobre o pH ruminal dos animais (P < 0,05). Na

dieta com 80% de concentrado, o fornecimento de polpa cítrica na dieta manteve o pH

2 Tese de doutorado. Dados não publicados.

12

ruminal mais elevado (6,62) quando comparado ao milho (6,25). A dieta com milho

floculado, entretanto, não resultou em diferença estatística em comparação às outras duas

dietas (6,41). Para as dietas com 60% de concentrado, a dieta com polpa manteve o pH mais

elevado (6,74) que as demais (6,32 e 6,45 para milho floculado e moído, respectivamente).

Houve efeito da interação Tempo vs. Carboidrato sobre o pH para as dietas com 60% de

concentrado. A Figura 2 demonstra essa interação ao longo do tempo.

Figura 2. Valores de pH ruminal dos animais alimentados com dieta 60% contendo milho

floculado (F) ou polpa cítrica (P) em substituição parcial ao milho moído fino (M).

Em experimento de substituição do milho moído fino por polpa cítrica em dietas de

tourinhos em terminação recebendo 30% de silagem de cana-de-açúcar e 70% de concentrado,

Pereira et al. (2007) observaram queda no consumo de MS e no ganho de peso quando os

animais receberam dietas com 75 e 100% de substituição de polpa cítrica por milho no

concentrado, em relação à dieta com 50% de substituição. Os autores esperavam efeito

positivo da polpa cítrica sobre o consumo de MS, devido ao menor teor de amido e, portanto,

melhor manutenção do pH ruminal. Estes resultados sugerem que 30% de silagem de cana-de-

açúcar na dieta foi suficiente para manutenção da estabilidade do pH ruminal, mesmo na dieta

sem polpa cítrica (55,9% de milho).

FONTES DE CARBOIDRATOS E METABOLISMO RUMINAL

O desempenho animal está diretamente relacionado ao consumo de nutrientes, que por

sua vez, depende da natureza física e química dos alimentos e da digestibilidade da dieta

(Waldo, 1973; Ferrell, 1993). Nesse aspecto, se faz importante a caracterização da

13

digestibilidade dos ingredientes direcionando a formulação das dietas para melhor

aproveitamento do alimento e consequentemente aumento no desempenho dos animais. No

entanto, além das características intrínsecas do alimento como teor de matéria seca, fibra em

detergente neutro e lignina outros fatores interferem na fermentação do alimento,

especialmente o ambiente ruminal que pode variar em função do pH e principalmente da

concentração e tipo de microrganismos.

Nesse contexto, Cônsolo et al. (2014)3 avaliaram o efeito de fontes energéticas, no

ambiente ruminal sobre a digestibilidade in-vitro da matéria seca (DIVMS) e fibra em

detergente neutro (DIVFDN) de diferentes fontes de volumosos e concentrados, incubadas em

30 e 48 horas no meio de cultura. Os autores utilizaram 3 novilhos Nelore, do rebanho do

Laboratório de Pesquisa em Gado de Corte (LPGC), castrados e canulados no rúmen. O

delineamento experimental foi em quadrado latino 3x3, sendo os três tratamentos as

correspondentes fonte energética da dieta: milho moído, milho floculado e polpa cítrica; e três

períodos de coleta. Os animais foram alimentados por 13 dias com as dietas correspondestes,

sendo que no 14o dia foi coletado líquido ruminal para avaliação DIVMS e DIVFDN de

diferentes alimentos comumente utilizados para alimentação de bovinos, tais como: silagem

de cana, silagem de milho e feno como alimentos volumosos; farelo de soja, milho moído,

milho floculado e polpa cítrica como alimentos concentrados. As amostras de liquido ruminal

foram levadas ao Laboratório de Lignina e a análise de digestibilidade in vitro (DIV) foi

realizada de acordo com Tilley e Terry (1963).

Os autores não encontraram diferença na digestibilidade dos alimentos volumosos e

concentrados em função do tipo de carboidrato presente no líquido ruminal durante 30 horas

de incubação. No entanto, quando se avalia 48 horas de incubação, nota-se efeito da fonte de

carboidrato no líquido ruminal para DIVMS (P = 0,026) e DIVFDN (P = 0,018) dos alimentos

volumosos, sendo que o liquido ruminal provindo de animais alimentados com milho

floculado conferiu um menor valor de DIVMS e DIVFDN, diferindo dos demais (Tabela 6).

Esse fato se deve ao processamento do milho floculado, afinal como foi dito acima, o amido

presente no grão se torna mais rapidamente fermentável em relação ao milho inteiro ou

quebrado. Incrementos desse carboidrato dentro do rúmen podem ocasionar queda no pH

ruminal com consequente redução da digestibilidade de volumosos (Owens e Goetsch, 1993;

Van Soest, 1994).

3 Dados não publicados

14

Tabela 6. Efeito dos tratamentos na DIVMS e DIVFDN dos alimentos volumosos por 30 e 48

horas de incubação

Item Tratamentos

P- Valor MM MF PC

DIVMS

30 horas 39,64 39,31 39,39 0,839

48 horas 50,03a 46,73b 49,85a 0,026

DIVFDN

30 horas 17,69 17,25 17,23 0,783

48 horas 32,32a 27,84b 32,18a 0,018

Tratamentos: Líquido ruminal proveniente de animais alimentados com milho moído (MM),

milho floculado (MF) e polpa cítrica (PC). 2Trat: efeito de tratamento; Ali: efeito do alimento

e Ali*Trat: interação alimento e tratamento.

Como ilustrado na Figura 2, o menor valor de pH ruminal foi encontrado para animais

alimentados com milho floculado. Nota-se que os animais alimentados com MF tiveram

queda mais abrupta de pH em relação aos demais, fato que pode ter interferido na atividade

fibrolítica das bactérias ruminais (Owens e Goetsch, 1993; Van Soest, 1994).

As curvas da degradação das fontes de carboidratos não fibrosos utilizados, bem como

do farelo de soja, seguindo a metodologia sugerida por Tilley e Terry (1963), são

apresentadas na Figura 4.

Figura 4. Curvas da degradação de alimentos concentrados. Fonte: Cônsolo et al. (2014)

4

4 Dados não publicados

15

Os resultados obtidos foram utilizados para calcular as degradabilidades potenciais

segundo o modelo proposto por Ørskov e McDonald (1979). Foi observado que o milho

moído apresentou uma taxa de degradação entre 2,6 – 3,2 % h-1

, sendo em média de 2,9 % h-1

,

enquanto a taxa de degradação do milho floculado foi de 4,4-5,6 % h-1

, sendo em média de

5,0 % h-1

. Os resultados apresentados de pH do líquido ruminal e a taxa de degradação

ruminal dos carboidratos evidenciam que a fonte de carboidrato da dieta interfere na

digestibilidade de alimentos volumosos, e isso deve ser levado em consideração a fim de

maximizar o desempenho animal.

FONTES DE CARBOIDRATOS E COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA RUMINAL

Qualquer estratégia de manipulação da fermentação ruminal deve levar em consideração

aspectos relacionados à microbiota presente no rúmen, assim como as características desta

câmara fermentativa. Para uma efetiva manipulação da microflora ruminal, com o intuito de

melhorias na produção animal, a compreensão da população de microrganismos ruminais é

fundamental para o fornecimento de condições necessárias ao melhor aproveitamento do

processo de digestão (McSweeney et al., 1994). Tais microrganismos são altamente sensíveis

a alterações na dieta, em que quantidades de espécies bacterianas individuais podem alterar

em resposta à alimentação (Li et al., 2009; Hernandez-Sanabria et al., 2012), alterando o

modo de aproveitamento do alimento ofertado.

Dentre estes microrganismos, as bactérias representam o grupo microbiano mais

importante e diversificado no ambiente ruminal, e desempenham um papel importante na

degradação biológica de carboidratos. Tais microrganismos são classificados de acordo com

sua principal atividade metabólica no ambiente ruminal. Fibrobacter succinogenes,

Ruminococcus albus, Butyrivibrio fibrisolvens e Ruminococcus flavefaciens são reconhecidas

como as principais bactérias celulolíticas encontradas no rúmen (Forster et al., 1997; Shinkai

& Kobayashi, 2007; Wanapat & Cherdthong, 2009). Além das fibrolíticas, têm-se as bactérias

amilolíticas (por exemplo, Selenomonas ruminantium, Streptococcus bovis), proteolíticas

(Prevotella spp.), lipolíticas (Anaerovibrio lipolytica), produtoras de lactato (por exemplo, S.

bovis e S. ruminantium), e consumidoras de lactato (Megasphaera elsdenii) (Belanche, et al.,

2012).

A quantidade e a composição da dieta são variáveis externas que afetam a taxa de

digestão, a taxa de passagem e, consequentemente, o turnover do conteúdo ruminal. Nesse

contexto, dietas com altos teores de proteína favorecem microrganismos proteolíticos,

16

enquanto que em dietas com alta inclusão de amido, e baixa fibra, estão associadas a uma

grande população de bactérias amilolíticas (Van Soest, 1994). Com o aumento da

concentração de carboidratos fermentáveis no rúmen, o crescimento microbiano é estimulado,

resultando no aumento da taxa de fermentação ruminal. Por outro lado, o aumento da

digestibilidade dos carboidratos resulta na queda do pH ruminal muitas vezes para valores

abaixo de 6,0, devido a maior produção de AGCC. Nesta situação, ocorre a redução da

atividade das bactérias fibrolíticas, prejudicando desta forma a digestibilidade da fibra e,

simultaneamente, ocorre estímulo à atividade das bactérias amilolíticas e utilizadoras de

lactato no rúmen (Tajima et al., 2001; Nagaraja & Titgemeyer, 2007). Além da inibição

direta, na situação de pH abaixo de 6,0, a fixação por parte dos microrganismos ao substrato é

reduzida, justificada pela falta de compostos que aumentam esta fixação, como o bicarbonato,

ou pela presença de inibidores de fixação, como o amido solúvel, resultando na inibição da

digestão da celulose (Owens & Goetsch, 1993).

Em dietas com alto nível de inclusão de concentrado, bactérias consumidoras de lactato

que são sensíveis à ácido, tais como Selenomonas e Veillonella, são substituídas pelas

tolerantes à ácido, tais como Anaerovibrio e Megasphaera. As bactérias amilolíticas

pertencentes ao gênero Prevotella são substituídas pelas produtoras de lactato, tais como as

dos gêneros Lactobacillus, Eubacterium e Streptococcus. A acidose lática, que surge nessas

condições, parece ser resultado da incapacidade de aumento das bactérias que utilizam este

substrato, ocorrendo o seu acúmulo no rúmen e, consequentemente, a redução no pH ruminal

(Owens & Goetsch, 1993). As bactérias celulolíticas, assim como as metanogênicas, são

menos tolerantes à queda brusca de pH ruminal.

Tajima et al. (2001) relataram que a prevalência da F. succinogenes em animais

recebendo feno caiu 20 vezes no terceiro dia da mudança para uma dieta de alto concentrado,

seguida por uma nova diminuição, com 28 dias, apresentando uma redução de 57 vezes no

tamanho da população. Já a concentração de DNA para a bactéria R. flavefaciens no dia 3

reduziu em aproximadamente 10% do seu valor inicial para os animais recebendo feno, e

permaneceu nesse nível no dia 28. Fernando et al. (2010) avaliaram a dinâmica populacional

de bactérias ruminais durante a adaptação à uma dieta de alto grão. Para tanto, utilizaram

novilhos de corte canulados, que foram adaptados à dieta de alto grão pelo método de

adaptação em escadas (Step-Up), em diferentes proporções de volumoso:concentrado (80:20,

60:40, 40:60, e 20:80). Os autores observaram a prevalência das bactérias Ruminococcus

albus e F. succinogenes reduziu gradativamente em animais adaptados à dieta de alto

concentrado, e seu número foi até 40 vezes menor que em animais recebendo feno. Esta

17

redução da população de bactérias celulolíticas em resposta ao aumento do nível de inclusão

de concentrado na dieta é consistente com dados reportados em estudos anteriores (Singh et

al., 2014; Tajima et al., 2001).

O tipo de carboidrato consumido pelo ruminante altera a composição da população

microbiana ruminal e, consequentemente, modifica o padrão de fermentação ruminal. A

substituição de produtos com alto teor de amido (milho) por alimentos com alto teor de

pectina (polpa cítrica), contribui para redução na queda do pH ruminal devido à fermentação

acética em substituição à fermentação láctica e pela capacidade de tamponamento ruminal da

pectina. Em comparação com o amido, a pectina possui menor propensão em causar queda de

pH ruminal, pois sua fermentação ruminal favorece a produção de acetato, ao contrário de

lactato e propionato como a fermentação amilolítica (Van Soest, 1987; Broderick et al.,

2002). Rocha Filho (1998) relata que a inclusão de polpa cítrica aumentou a proporção molar

de acetato e diminuiu a proporção molar de propionato em relação à dieta contendo milho,

pelo fato do melhor ambiente ruminal para bactérias celulolíticas.

Franzolin et al. (2000), ao avaliar o efeito da substituição do milho por níveis crescentes

de polpa cítrica sobre a degradabilidade e a fauna ruminal em bubalinos, relataram que a

substituição do milho em grãos moídos pela polpa cítrica no concentrado promoveu

diminuição no número e na concentração total de protozoários (Entodinium). Além disso, a

inclusão de polpa cítrica proporcionou melhora na degradabilidade efetiva da FDA e,

também, no fornecimento de energia para o crescimento microbiano celulolítico.

Highfill et al. (1987) relataram aumento na produção de proteína bruta microbiana em

bovinos recebendo a dieta suplementada com 85% de polpa cítrica mais 12,5% de farelo de

soja quando comparado à dieta com 95% de milho mais 5% de farelo de soja, indicando que

suplementos energéticos ricos em fibras são menos susceptíveis às interações alimentares

negativas, possivelmente devido à redução dos efeitos inibitórios de bactérias amilolíticas,

evitando alteração da potencialidade na microflora ruminal.

Hall e Herejk (2001), ao mensurarem a produção da proteína microbiana, in vitro,

utilizando diferentes substratos fermentativos (pectina, amido, sacarose ou fibra), observaram

que o crescimento microbiano nos estágios iniciais da incubação foi mais rápido com pectina

do que com amido. Concomitantemente, o crescimento microbiano com sacarose foi o mais

rápido entre todos os substratos testados, e com fibra foi o mais lento.

Abughazaleh et al. (2010) avaliaram a substituição de milho por glicerol em

experimento in vitro, e descrevem que as concentrações de DNA para a bactéria Butyrovibrio

fibrosolvens e Selenomonas ruminantium foram reduzidas nas dietas com 30 e 45% de

18

substituição. A redução de DNA S. ruminantium em níveis elevados de substituição com

glicerol pode ser explicado pela redução de disponibilidade de amido e de açúcares, resultado

desta substituição. A concentração de DNA para R. albus e Succinovibrio dextrinosolvens não

foi afetada pela substituição do milho pelo glicerol. Com relação à redução na concentração

de DNA para R. albus, é possível que o glicerol tenha reduzido a atividade enzimática desta

bactéria para a degradação de fibra (Martin, 2002). Os autores descrevem que a concentração

de acetato foi reduzida a partir de 30% de substituição, sendo que o propionato aumentou

apenas na dieta com 45% de substituição.

Em estudo realizado por Roger et al. (1992), onde se avaliou o efeito do glicerol no

crescimento, capacidade de adesão e atividade de duas bactérias celulolíticas (R. flavefaciens

e F. succinogenes) e de uma espécie de fungo anaeróbio (Neocallimastix frontalis), o glicerol

em concentração acima de 5% contribui para inibição do crescimento e da atividade

celulolítica, sem efeitos sobre a adesão. Já em baixas concentrações (0,1 a 1%), não foi

observado nenhum efeito sobre estas características descritas. Além disso, na concentração de

5%, o glicerol inibiu completamente a atividade celulolítica do fungo N. frontalis, sendo que

sua capacidade de crescimento também foi inibida. Paggi et al. (2004) relataram, de maneira

semelhante, que o glicerol pode alterar a atividade in vitro da microbiota ruminal, reduzindo a

atividade celulolítica em fluído ruminal, quando a concentração de glicerol nas culturas

aumentou de 50 a 300 mM.

Em estudo realizado por Golder et al. (2014), cujo objetivo foi avaliar o efeito da

combinação de grãos, frutose e histidina em novilhas de leite não-adaptadas para este desafio,

sobre a composição da microbiota ruminal, foi observado que a S. bovis se tornou mais

prevalente em novilhas alimentadas com frutose, indicando que esta bactéria responde

rapidamente à alterações na dieta, pelo fato da exposição brusca à fontes de carboidratos

prontamente fermentescíveis, atuando nas alterações iniciais da microbiota ruminal em

bovinos que não foram adaptados à este desafio. Os autores citam que a frutose é mais

rapidamente metabolizada quando comparado ao amido. Além destes dados, a abundância

relativa das famílias Streptococcaceae e Veillonellaceae aumentou nas novilhas que

receberam frutose. O autor ainda cita que os bovinos apresentam comunidades bacterianas

distintas, que podem influenciar sua capacidade de lidar com as mudanças no tipo e

quantidade de substrato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os aspectos levantados nesta revisão podem auxiliar a formulação de dietas mais

19

eficientes para animais em terminação, difundindo o uso da silagem de cana-de-açúcar aliada

à suplementação eficiente de carboidratos não fibrosos.

Ainda, a elucidação dos mecanismos pelos quais o excesso de fermentação ruminal de

carboidratos não fibrosos leva a queda da digestibilidade da fibra e a acidose ruminal, bem

como das principais populações afetadas, auxiliará no desenvolvimento de técnicas para

manutenção da função ruminal, como uso de probióticos, processamento do amido, ionóforos

e vacina contra microorganismos ruminais indesejados.

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