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MALINOWSKI, B. Introdução: tema, método e objetivo desta pesquisa. In. Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. São Paulo: Abril Cultura, 1987. Malinowski se propõe, na Introdução dos Argonautas, a “apresentar uma descrição dos métodos utilizados na coleta do material etnográfico”. De fato, Malinowski afirma que se faz necessário ter experiências concretas que nos levem a conclusões fiéis sobre a realidade. Para ele, “um trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se nos permitir distinguir claramente, de um lado, os resultados da observação direta e das declarações e interpretações nativas e, de outro, das inferências do autor, baseadas em seu próprio bom-senso e intuições psicológica” (p. 18). Faz-se necessário apresentar as tribulações do etnógrafo (p. 19). Apesar de ser um material “morto”, é interessante coletar dados concretos, isto é, fazer recenseamento, anotar genealogias, esboçar desenhos etc. (p. 20). Qual é a magia do etnógrafo? Através da “aplicação sistemática e paciente de algumas regras...” Ou seja, é um trabalho racional que se afasta de práticas mágicas e derivados. Para Malinowski, o pesquisador que deseja conhecer a totalidade de uma cultura deve seguir três princípios

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fichamento da introdução do argonautas..., de Malinowski

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MALINOWSKI, B. Introdução: tema, método e objetivo desta pesquisa. In.

Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos

nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. São Paulo: Abril Cultura, 1987.

Malinowski se propõe, na Introdução dos Argonautas, a “apresentar uma descrição dos

métodos utilizados na coleta do material etnográfico”. De fato, Malinowski afirma que

se faz necessário ter experiências concretas que nos levem a conclusões fiéis sobre a

realidade. Para ele, “um trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se nos

permitir distinguir claramente, de um lado, os resultados da observação direta e das

declarações e interpretações nativas e, de outro, das inferências do autor, baseadas

em seu próprio bom-senso e intuições psicológica” (p. 18).

Faz-se necessário apresentar as tribulações do etnógrafo (p. 19).

Apesar de ser um material “morto”, é interessante coletar dados concretos, isto é, fazer

recenseamento, anotar genealogias, esboçar desenhos etc. (p. 20).

Qual é a magia do etnógrafo? Através da “aplicação sistemática e paciente de algumas

regras...” Ou seja, é um trabalho racional que se afasta de práticas mágicas e derivados.

Para Malinowski, o pesquisador que deseja conhecer a totalidade de uma cultura deve

seguir três princípios metodológicos essenciais: o primeiro deles é: o etnógrafo deve

“possuir objetivos genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios da

etnografia moderna”; deve também morar entre os nativos; e, além disso, deve “aplicar

certos métodos especiais de coleta, manipulação e registro da evidência” (p. 20).

Malinowski propõe que o pesquisador dever encontrar uma maneira de ser aceito e,

depois, estar completamente inserido e naturalizado ao ambiente e aos nativos (p. 21).

Erros de etiqueta (p. 22).

É preciso caçar os fatos. “Ser um caçador ativo e atento” (p. 22).

Segundo Malinowski, “conhecer bem a teoria científica e estar a par de suas últimas

descobertas não significa estar sobrecarregado de ideias preconcebidas... Quanto maior

for o número de problemas que leve consigo para o trabalho de campo, quanto mais

esteja habituado a moldar suas teorias aos fatos e a decidir quão relevantes eles são às

suas teorias, tanto mais estará bem equipado para o seu trabalho de pesquisa” (p. 22).

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Para Malinowski, “o pesquisador de campo depende inteiramente da inspiração que lhe

oferecem os estudos teóricos” (p. 23).

Segundo Malinowski, o pesquisador dever tomar muito cuidado com as pré-noções.

Descobrir o esquema básico da vida tribal por meio de um levantamento geral de todos

os fenômenos. “Deve perscrutar a cultura nativa na totalidade de seus aspectos” (p. 24).

O pesquisador deve “coletar dados concretos sobre todos os fatos observados e através

disso formular as inferências gerais” (p. 24).

O pesquisador deve, a partir de um incidente ou ocorrência, retirar o máximo de

informações dos nativos. Dessa forma, esses evocam “expressões de indignação,

fazendo com que se dividam em suas opiniões e, provavelmente, em tudo isso iremos

não só encontrar uma grande variedade de pontos de vista já formados e censuras

morais bem definidas, mas também descobrir o mecanismo social” do grupo (p. 25).

O pesquisador deve fazer um esboço dos fatos observados para descobrir possíveis

deficiências no trabalho de campo. Essa técnica nos focar a novas investigações (p. 25).

O pesquisador deve coletar um grande número de dados, e organizá-los num “esquema

mental” que, todavia, transformar-se num “esquema real”, ou seja, “materializar-se na

forma de diagramas, planos de estudo e pesquisa e quadros sinóticos completos” (p. 26).

Segundo Malinowski, “cada fenômeno deve ser estudado a partir do maior número

possível de suas manifestações concretas; cada um deve ser estudado através de um

levantamento exaustivo de exemplos detalhados. Quando possível, os resultados obtidos

através dessa análise devem ser dispostos na forma de um quadro sinótico, o qual então

será utilizado como instrumento de estudo e apresentado como documento etnológico.

Por meio de documentos como esse a através de estudo de fatos concretos, é possível

apresentar um esboço claro e minucioso da estrutura da cultura nativa, em seu sentido

mais lato, e da sua constituição social. Esse método pode chamar-se método de

documentação estatística por evidência concreta” (p. 27).

O pesquisador não deve confiar em informante e em documentos objetivos. Eles podem

ser usados como dados, mas não como dados que se referem ao comportamento real dos

sujeitos pesquisados. É o caso, por exemplo, dos dados divulgados pela mídia (p. 29).

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O pesquisador deve observar a vida nativa, tão somente, para preencher o esqueleto

vazio das construções abstratas com a carne e o sangue da vida real (p. 29).

O pesquisador deve observar os imponderáveis da vida real, ou seja, observar a rotina

dos sujeitos pesquisados.

O pesquisador deve observar as particularidades do comportamento das pessoas, pois o

comportamento é de extrema importância a compreensão da realidade social (p. 30).

O pesquisador deve se empenhar “no sentido de deixar que os fatos falem por si

mesmo” (p. 31).

O pesquisador deve ter um diário etnográfico no qual anotará todos os aspectos dos

imponderáveis da vida real, do comportamento típico e dos desvios da norma,

sistematicamente (p. 31).

O pesquisador deve deixar, por um dia, suas ferramentas de pesquisa e viver de forma

mais participativa o cotidiano dos nativos (p. 31).

O pesquisador deve, “além do esboço firme da constituição tribal e doas atos culturais

cristalizados que formam o esqueleto, além dos dados referentes à vida cotidiana e ao

comportamento habitual que são, por assim dizer, sua carne e seu sangue, há ainda a

registrar-lhe o espírito – os pontos de vista, as opiniões, as palavras dos nativos: pois em

todo ato da vida tribal existe, primeiro, a rotina estabelecida pela tradição e pelos

costumes, em seguida, a maneira como se desenvolve a rotina; e, finalmente, o

comentário a respeito dela, contido na mente dos nativos” (p. 32).

O pesquisador deve “partir do fato de que o objeto de nosso estudo são os modos

estereotipados de pensar e sentir. Enquanto sociólogos, não nos interessa pelo que A ou

B possam sentir como indivíduos no curso acidental de suas próprias experiências;

interessamo-nos, sim, apenas por aquilo que eles sentem e pensam enquanto membros

de uma dada comunidade” (. 32).

O pesquisador deve “descobri os modos de pensar e sentir típicos, correspondentes às

instituições e à cultura de determinada comunidade, e formular os resultados de maneira

vívida e convincente” (p. 32).

O pesquisador deve seguir três diferentes caminhos:

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“1. A organização da tribo e a anatomia de sua cultura devem ser delineadas de

modo claro e preciso. O método de documentação concreta e estatística fornece os

meios que podemos obtê-las” (p.33).

“2. Este quadro precisa ser completado pelos fatos imponderáveis da vida real, bem

como pelos tipos de comportamento, coletados através de observações detalhadas e

minuciosas que só são possíveis através do contato íntimo com a vida nativa e que

devem ser registradas nalgum tipo de diário etnográfico” (p. 33).

“3. O corpus inscriptionum – uma coleção de asserções, narrativas típicas, palavras

características, elementos folclóricos e fórmulas mágicas – devem ser apresentado como

documento da mentalidade nativa” (p. 33).

Por fim, o pesquisador deve, a partir dessas três abordagens, “apreender o ponto de vista

dos nativos, seu relacionamento com a vida, sua visão de mundo” (p. 33).

“Estudar as instituições, costumes e códigos, ou estudar o comportamento e mentalidade

do homem, sem atingir os desejos e sentimentos subjetivos pelos quais ele vive, e sem o

intuito de compreender o que é, para ele, a essência de sua felicidade, é, em minha

opinião, perder a maior recompensa que se possa esperar do estudo do homem” (p. 34).

Para Malinowski, diz Zaluar, a prática fundamental dos antropólogos é: “a convivência

diária com o ‘outro’ – os nativos ou estrangeiros, os silenciosos ou silenciados – a fim

de conhecê-los” (p. 10).

Segundo Zaluar, Malinowski sempre insistiu nessa “necessidade de conviver com os

nativos, de morar entre lês, participar de suas atividades cotidianas”, pois a estrutura da

sociedade nativa não estava em documentos históricos, mas sim no mais evasivo de

todos os materiais: o ser humano (p. 11).

Malinowski prezava pela observação de “‘casos reais’ para que o etnógrafo possa

observar seu comportamento e ouvi-los fala e discutir sobre o caso ocorrido ou sobre

outros similares no passado” (p. 11).

Na preocupação de extrair o que é regular, típico ou recorrente, Malinowski elabora três

tarefas de pesquisa.

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Segundo Malinowski, essas tarefas observariam três setores da “totalidade da vida

tribal”: o “arcabouço da constituição”, os “imponderáveis da vida real”

( “comportamento típico”) e o “espírito nativo” (p. 12).

Em nenhum momento Malinowski formula uma teoria da ordem social, mas seu aporte

teórico, assim como, seu problemas podem ser visualizados pela análise dos termos

empregados no texto.

Malinowski, primeiro, analisa as prescrições do costume e da tradição sobre a ação;

segundo, observa como a ação é pratica; e terceiro, escuta o comentário nativo a

respeito da ação. Essa ação não é ação individual. Ele busca padrões gerais,

regularidades, recorrências.

O etnógrafo precisa registrar o maior número de caos sobre todos os aspectos da vida

tribal.

Sobre os “imponderáveis da vida real”, Malinowski diz que o etnógrafo precisa

observar o comportamento nativo, isto é, os gestos cotidianos, o tom das conversas, as

atitudes do corpo e expressão facial. Segundo Malinowski, o comportamento é muito

expressivo sociologicamente falando, e diz algo sobre a situação vivida.