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Introduçãocorrigida Por Mim

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INTRODUÇÃO

Totalitarismo é uma forma de governo cuja concentração de poderes

centraliza-se em torno de uma única pessoa ou facção, caracterizando-se, sobretudo,

 pelo autoritarismo, uso demasiado de propaganda e concentração ideológica. Nesta

forma de regime toda oposição poltica tende a ser eliminada, uma vez !ue a e"ist#ncia

de v$rias correntes ideológicas se tornaria um entrave para !ue um determinado pas se

direcionasse para um sentido único. %ode-se dizer !ue os maiores e"poentes do

totalitarismo no século && foram o Nazismo de 'dolf (itler, na 'leman)a* o +ascismo

de enito ussolini, na t$lia e o /talinismo de 0osef /talin, na 1nião /oviética.

2ontudo, )ouve outros pases em !ue essa forma de governo se fez presente como, por 

e"emplo, o +ran!uismo na 3span)a, o /alazarismo em %ortugal, e, por !ue não dizer, o

4arguismo no rasil. 5e acordo com ortuluce 67889:, um regime totalit$rio possui, em

sua ess#ncia, uma estética !ue serve como modelo de sua organização, controle e

manutenção. 1tiliza as artes visuais, o cinema, a música, a ar!uitetura, a literatura e os

meios de comunicação como instrumentos !ue legitimam a sua poltica. 3ssa estética é

em geral caracterizada por uma padronização do estilo artstico !ue tende a suprimir 

todos os outros./egundo 'rendt 6;<9<, p.=>?:, a )omogeneidade dos elementos de uma

sociedade é condição fundamental para o nascimento do totalitarismo. @ lder totalit$rio

não é tão somente um indivduo sedento de poder impondo aos seus governados uma

vontade tirAnica e arbitr$ria, como o senso comum nos leva a crer. No fim das contas, é

também um funcion$rio das massas, e, como tal, pode ser substitudo. 3m outras

 palavras, o lder depende tanto do desejo das massas !ue ele incorpora, !uanto as

massas dependem dele. /em o lder, as massas perdem sua representação e"terna e

assim se tornam um bando amorfo* sem as massas, por outro lado, o lder seria uma

nulidade. sso significa !ue as massas precisam ser con!uistadas por meio da

 propaganda, e, depois da propaganda segue-se a doutrinação e o emprego de viol#ncia.

%or essa perspectiva, 'rendt assegura !ue o totalitarismo usa o 3stado como

fac)ada e"terna para representar-se perante o mundo não totalit$rio. 4$rios regimes

assim se estabeleceram. @ Nazismo, por e"emplo, estruturou-se a partir de uma

 plataforma de ação !ue visava construir um 3stado supostamente com base na

confiança, )onra, disciplina, ordem e dedicação. 0únior 6;<<;: ressalta !ue o regime

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nazista foi uma resposta B situação de ansiedade perante B profunda crise social e

econCmica vivida pela 'leman)a pós %rimeira Duerra undial, a !ual produziu no

Amago dos elementos sociais )omog#neos o temor e a aversão ao caos. @ autor afirma

!ue na origem do Nazismo encontram-se elementos como regime democr$tico inst$vel

e sem autoridade, e a cristalização de sentimentos nacionais na pessoa de um lder, o

 Führer .

%ara sua difusão ideológica, os procedimentos propagandsticos da poltica

nazista concentraram-se no conceito de Volksgemeinschaft 6comunidade do povo:. 3ssa

nova comunidade, concretizada no movimento e na atmosfera pré-totalit$ria, baseava-se

na )omogeneidade étnica e racial* uma nação fundada no entendimento de sua suposta

superioridade frente a todos os outros povos 6'E3N5T, ;<9<, p. F8<:. /ua força residia

num mundo imagin$rio e na capacidade de isolar as massas do mundo real. 5e acordo

com 'rendt, o objetivo da propaganda nazista era transformar todos em simpatizantes

de um movimento cujo objetivo era a defesa de interesses ideológicos.

2ompartil)ando com o pensamento de 'rendt, 5ie)l 6;<<G: afirma !ue a

propaganda nazista desempenhou uma função central no Nacional-

Socialismo, de maneira que abrangeu todas as atividades sociais. Isso

leva a compreender que para atingir seu objetivo ideolgico, a

m!quina de controle popular do regime de "itler devia cingir todas as

classes da sociedade alemã. #uscando algo que pudesse chegar a tal

propsito, os art$%ces da propaganda nazista utilizaram da arte em

geral& m'sica, literatura, artes pl!sticas, cinema, dentre outras.

(antendo esse objetivo, em )*+ foi institu$do o Tag der deutschen Kunst 

6dia da arte alemã:, organizando-se um gigantesco desfile militar aberto com a Terceira

/infonia de 'nton rucHner 6DII'N, ;<<>, p.>?:.

 Na música, o Nazismo privilegiou a obra de grandes compositores alemães

cuja principal finalidade era a de manipular a massa. Nessa e"pectativa, deu-se incio a

um programa de fomento oficial junto ao +estival de aJreut) a fim de )omenagear 

Eic)ard Kagner 62'I2@, 7887, p.788:. 5e acordo com Larter 6;<<>:, 'dolf (itler via

o +estival de aJreut) como uma permanente celebração do Nacional-/ocialismo e do

Terceiro Eeic), por!ue para o lder nazista, além do seu significado artstico o festival

também trazia B tona alguns elementos ideológicos !ue se identificavam com a poltica

do Nazismo. ' presença de (itler no evento, desde ;<==, o transformou em espet$culo

nacional. Neste perodo, o +estival foi convertido num dos principais veculos de

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manipulação nazista M união entre arte e poltica, agnerianismo e )itlerismo 6L 'ET3E ,

;<<>, p. <<:.

@utro grande compositor alemão apropriado pelo Nazismo foi eet)oven,

!ue passou a representar a imagem do Künstlerischen Führer 1  6(E/2(, 78;8, p.;87:.

3ssa representação, segundo (irsc), serviria para legitimar a poltica do %artido

 Nazista, promovendo eet)oven como smbolo dos ideais )eroicos do Nacional-

/ocialismo. (irsc) comenta !ue a música de eet)oven foi regularmente utilizada em

comcios e eventos, sempre dentro de uma perspectiva manipulatória. /ua proemin#ncia

na 'leman)a levou o crtico de arte, Kalter 0acobs, a sugerir !ue a Terceira /infonia

fosse eleita como representação musical do Terceiro Eeic).

+oi nessa perspectiva !ue em ;<=G ouviu-se o  Finale da Nona /infonia nos

0ogos @lmpicos de erlim. (irsc) observa !ue com essa iniciativa os nazistas !ueriam

dar significação universal B poesia de /c)Oler e B música de eet)oven na atmosfera de

um evento internacional. 0osep) Doebbels, ministro da propaganda, con)ecia a

mensagem da obra e !ueria mostrar ao mundo a imagem de uma 'leman)a fraterna. 5e

acordo com (irsc), os organizadores das @limpadas viram essa ocorr#ncia como a

 proclamação da Volksgemeinschaft , fato !ue se confirma nas palavras de IocHood

6788>: ao proferir !ue

6...: a @de B alegria foi apresentada, em ;<=G, nos 0ogos @lmpicos de erlim,com uma precaução !ue )oje parece irCnica, e foi anunciada não como um

smbolo da fraternidade internacional, mas como a proclamação daVolksgemeinschaft nazista 6p. F>9:.

 No !ue tange B utilização da música dentro de uma perspectiva

 propagandista, semel)ante ocorr#ncia pode ser notada no rasil durante o governo de

Detúlio 4argas M regime autorit$rio con)ecido como 4arguismo ou Detulismo. /egundoIoureiro 6788;:, o desejo de 4argas em educar a massa por meio da música pCs em

 pr$tica o projeto de 4illa-Iobos para o ensino do canto orfeCnico nas escolas,

implementando-o lentamente durante os anos =8.

Ioureiro afirma !ue com isso em mente 4argas assina o decreto n ;9.9<8,

de ;9 de abril de ;<=7, tornando o 2anto @rfeCnico obrigatório nas escolas públicas do

; Ider 'rtstico. 2onforme IocHood 6788>: o termo foi criado em ;<=F pelo musicólogo simpatizante

nazista, 'rnold /c)ering, associando a imagem de eet)oven B de 'dolf (itler.

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Eio de 0aneiro, o !ue passaria a ser um dos principais veculos de divulgação do

4arguismo. 'inda de acordo com Ioureiro, por intermédio das grandes concentraçPes

de alunos em est$dios e de desfiles colegiais, e"altava-se o sentido da coletividade, do

 patriotismo e da disciplina.

%ara +uHs 6;<<;:, com a massa anCnima !ue participava das grandes

concentraçPes orfeCnicas almejava-se desenvolver, em ordem de importAncia, a

disciplina, o civismo e a educação artstica. Nesse conte"to, o canto orfeCnico era

apresentado nas e"ortaçPes cvicas, transformando-se em manifestação pública de apoio

e e"altação B figura de Detúlio 4argas. 2)egando a reunir cerca de F8 mil vozes juvenis

e mil bandas de música, os espet$culos orfeCnicos eram apresentados fre!uentemente

em est$dios de futebol e marcavam todos os feriados nacionais.

' presença de escolares, em cerimCnias públicas, cantando )inos e músicas!ue celebravam a grandeza do pas, ajudava a criar a imagem de um povosaud$vel e disciplinado, de um povo unido em torno do projeto de

reconstrução nacional conduzido pelo 3stado-Novo 6I@1E3E@, 788;, p.G7:.

%ara 2ontier 6;<<9:, a propaganda dirigida Bs massas, com o objetivo de

atra-las para a figura de Detúlio 4argas, acabou se tornando um novo recurso para a

sedimentação do conceito de brasilidade nas esferas da música e da poltica. @ sentido

nacionalista, cvico e profundamente romAntico desses espet$culos, aliado a um

momento de intensa euforia, também contribuiu para fi"ar a imagem de 4illa-Iobos

 perante a crtica e ao público em geral. /egundo 2ontier, o car$ter disciplinador 

implcito no projeto do canto orfeCnico interessava ao 3stado, assim, durante toda a

década de =8, os espet$culos orfeCnicos, intimamente associados B propaganda

varguista, se tornaram notcia em !uase todos os jornais e revistas do Eio de 0aneiro,

/ão %aulo e outras capitais.

%onderando sobre isso, surge a seguinte !uestãoQ o canto orfeCnico teve uma

função especfica na construção do mito da unidade nacional no rasil da era e 4argas,

gerando sentimento de nacionalismoR 2omo base nesse !uestionamento pode-se

levantar a )ipótese de !ue o regime getulista tin)a em mente uma poltica de

apropriação da música para propagar sua ideologia poltica. Nesse sentido, dentro de

uma conte"tura totalit$ria, o presente trabal)o busca compreender o car$ter simbólico

da música !uanto B sua utilização na perspectiva das representaçPes sociais.

'ssim, a fim de entender tal pr$tica, esta pes!uisa construiu seu alicerce na

STeoria das EepresentaçPes /ociais, buscando encontrar respaldo para refletir acerca

da maneira como o 4arguismo representeou e deu significado ao canto orfeCnico de

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acordo com seus interesses particulares, tendo como suporte a manipulação das massas

e do imagin$rio coletivo. %ara uma leitura das !uestPes relacionadas ao poder poltico

como jogo dram$tico também se buscou au"lio no antropólogo Deorges alandier.

3ste autor recorre B antropologia, B sociologia e B )istória, para demonstrar 

a semel)ança dos mecanismos do poder em v$rias civilizaçPes, revelando, assim, o

nvel profundo das relaçPes socias, !ue, controladas pelo poder, dão sentido Bs

apar#ncias superficiais a par da ação das estruturas sociais. 'o dar sentido a imagens

codificadas, alandier penetra na dinAmica das sociedades comparando situaçPes em

termos de tempo e de espaço, valorizando o conceito de alternativas !ue possibilitam a

escol)a da orientação da ação a partir de diferenças !ue juntamente com os valores

oferecem o sentido da organização social.

Uuanto B sua estrutura, o trabal)o foi dividido em tr#s captulos. @ primeiro

captulo aborda a Teoria das EepresentaçPes /ocias, a origem desse conceito e suas

 principais correntes, fazendo, com base nessa teoria, uma conte"tualização com os

espet$culos de poder nos regimes totalit$rios. @ segundo discorre sobre a ascensão do

4arguismo focalizando a espetacularização do poder nesse regime por meio da

 propaganda governista. %or fim, o terceiro captulo realiza um estudo de caso por meio

da an$lise da partitura de alguns dos cantos orfeCnicos a fim de averiguar como este foi

apropriado pelo regime de Detulio 4argas para servir de veiculo de manipulação social.

2omo procedimento metodológico para sua realização, esta pes!uisa lançou

mão do paradigma !ualitativo, por meio da descrição, compreensão e significado do

fenCmeno observado. +oram realizadas pes!uisas bibliogr$ficas e investigação

documental em fontes prim$rias, sendo !ue a pes!uisa bibliogr$fica apoiou-se

 basicamente no material oriundo das fontes primarias, isto é, livros, teses, dissertaçPes,

artigos de periódicos e outros trabal)os relevantes. ' investigação documental ficou por 

conta de constatar as ocorr#ncias do canto orfeCnico na era 4argas em fotografias,

filmes, gravaçPes e ar!uivos de vdeo !ue estão ane"ados no fim do trabal)o.