58
29 INTRODUÇÃO É surpreendente que em uma fazenda localizada numa cidadezinha do interior paulista seja possível encontrar manifestações culturais de alto nível, conviver com pessoas de diversas partes do mundo, vivenciar e criar a arte em sua plenitude. Em Mirandópolis, município do noroeste do Estado de São Paulo, uma pequena comunidade de imigrantes japoneses denominada Yuba, promove diariamente diversas manifestações culturais como teatro, dança, música, cerâmica e coral entre outras. Povos de diversas partes do Brasil e do mundo visitam a pequena comunidade e participam do seu cotidiano numa constante permuta cultural. Artistas de diversos segmentos também chegam para vivenciar e garimpar o fazer cultural promovido pelas pessoas que vivem na Comunidade Yuba. Essas manifestações culturais aplaudidas por povos de todo o mundo, acontecem principalmente em um galpão de madeira construído precariamente na década de 1960, denominado “Teatro Yuba”. O presente trabalho acadêmico tem como objetivo o desenvolvimento deum projeto de um novo teatro para a Comunidade Yuba. Verificada a estrutura improvisada do teatro existente, único do múnicípio, o que se contrapõeà qualidade da arte ali apresentada, indagou-se aos moradores da comunidade se almejavam um novo teatro, ou uma intervenção que trouxesse melhorias ao espaço hoje utilizado como teatro. Em entrevista com o Sr. Masakatsu Yazaki, professor de música,maestro e responsável por manter a memória da comunidade viva através de fotos e relatos, foi revelado o

INTRODUÇÃO promovido pelas pessoas que vivem na 02.pdf · novo e estruturado teatro com um palco maior e competente, camarins e toda a estrutura necessária que um teatro deve proporcionar

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29

INTRODUÇÃO

É surpreendente que em uma fazenda

localizada numa cidadezinha do interior

paulista seja possível encontrar

manifestações culturais de alto nível,

conviver com pessoas de diversas partes do

mundo, vivenciar e criar a arte em sua

plenitude.

Em Mirandópolis, município do

noroeste do Estado de São Paulo, uma

pequena comunidade de imigrantes japoneses

denominada Yuba, promove diariamente

diversas manifestações culturais como

teatro, dança, música, cerâmica e coral

entre outras. Povos de diversas partes do

Brasil e do mundo visitam a pequena

comunidade e participam do seu cotidiano

numa constante permuta cultural. Artistas

de diversos segmentos também chegam para

vivenciar e garimpar o fazer cultural

promovido pelas pessoas que vivem na

Comunidade Yuba.

Essas manifestações culturais

aplaudidas por povos de todo o mundo,

acontecem principalmente em um galpão de

madeira construído precariamente na década

de 1960, denominado “Teatro Yuba”.

O presente trabalho acadêmico tem

como objetivo o desenvolvimento deum

projeto de um novo teatro para a

Comunidade Yuba.

Verificada a estrutura improvisada do

teatro existente, único do múnicípio, o

que se contrapõeà qualidade da arte ali

apresentada, indagou-se aos moradores da

comunidade se almejavam um novo teatro, ou

uma intervenção que trouxesse melhorias ao

espaço hoje utilizado como teatro. Em

entrevista com o Sr. Masakatsu Yazaki,

professor de música,maestro e responsável

por manter a memória da comunidade viva

através de fotos e relatos, foi revelado o

30

desejo dos membros da comunidade:Erguer um

novo e estruturado teatro com um palco

maior e competente, camarins e toda a

estrutura necessária que um teatro deve

proporcionar aos artistas e expectadores.

Tornou-se então concreta a proposta de

elaboração de um projeto para o novo

teatro que possa ir aoencontro das

pretensões desses moradores-artistas.

Refletir de forma direta o sentimento

desses artistas e a profundidade de sua

arte, através de estudo da história da

comunidade, do uso do atual teatro, bem

como,a escolha de referências para a

execução do projeto é o desafio a ser

vencido, uma vez que várias gerações

utilizam o velho palco e se adptaram

completamente a ele. O novo teatro precisa

ser oferecido com a difícil missão de se

apresentar íntimo e familiar.

31

1. FUNDAMENTAÇÃO

1.1 Mirandópolis

Conhecida como a “altaneira cidade

labor”, Mirandópolis está localizada no

noroeste paulista (Figura 01) a

uma altitude 21º08'01"sul e a

uma longitude 51º06'06" oeste. Foi fundada

em 24 de junho de 1934 pelo nordestino

Manoel Alves de Ataíde. O município

(Figura 02) possuía 27.483 habitantes,

segundo o Censo de 2010 (IBGE).

Figura 01: Localização de Mirandópolis no

Estado de São Paulo

Fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:SaoPaulo_Municip_

Mirandopolis.sv

Segundo o site oficial da Prefeitura

de Mirandópolis, o início da história do

município é atrelado ao desenvolvimento

ferroviário na região.

Por volta de 1920, a Estrada de Ferro

Noroeste do Brasil, deu início à construção

de sua variante Araçatuba-Juquiá,

promovendo o surgimento de vários núcleos

populacionais, no local que ficou conhecido

por “Região da Variante”. Nessa época,

32

Manoel Alves de Atayde desmatou uma gleba

de terras, entre as cabeceiras do Ribeirão

Claro e do córrego da Saudade (de São

João), na vertente do rio Feio. A

construção de algumas cabanas, deu início

ao primeiro núcleo populacional, que ficou

conhecido por São João da Saudade. Em 1934,

Atayde doou à Ferrovia, os terrenos

necessários à implantação de uma estação.

Auxiliado por outros povoados, elaborou o

plano da cidade e construiu uma rústica

capela. Dois anos depois, foi inaugurada a

estação, ficando a povoação denominada

Mirandópolis, em homenagem ao Senador

Rodolfo Miranda, ativo colaborador da

comunidade. Quando da elevação a Distrito

de Paz, em 1937, foi-lhe conferido o nome

Comandante Árbues. Nessa ocasião, o Sr.

Raul da Cunha Bueno traçou um loteamento

urbano na Fazenda São Joaquim, da qual era

proprietário. Esse loteamento, que ficava

de frente a Mirandópolis (Comandante

Árbues), recebeu o nome de Nova Paulicéia.

Somente por ocasião da elevação à categoria

de Município, o topônimo Mirandópolis ficou

oficializado, em atendimento à vontade da

comunidade local. (Mirandópolis.

Htpp://www.mirandopolis.sp.gov.br/historia,

2015).

Figura02: Foto área do centro da cidade de

Mirandópolis

Fonte:

http://fotoshistoricasmirandopolis.blogspot.com.br/2012

/04/lembrancas-em-fotos.html

1.1.1 Imigração Japonesa e Distrito de

Alianças

Antes do surgimento do município de

Mirandópolis, imigrantes japoneses

33

enfrentaram as matas virgens das terras

devolutas da alta noroeste paulista a fim

de conquistarem um novo lar em uma terra

tão distante. Clareiras foram abertas na

mata e pequenas construções formaram um

povoado denominado Alianças. Os bravos

pioneiros japoneses que enfrentaram a mata

virgem e todos os seus perigos são

reverenciados em todas as manifestações da

colônia japonesa no município.

Os japoneses participaram da colonização e

do desenvolvimento do município de

Mirandópolis aos instalarem nessas terras,

um núcleo de colonização, dez anos antes da

fundação da cidade que viria a ser a sede

da comuna. (FALLEIROS, 2000, p.73).

Um dos princípios dos imigrantes

instalados no Distrito da Aliança foi a

preservação de sua cultura, que por vários

anos não sofreu consideráveis influências

brasileiras.

A colônia das alianças tinha todas as

características de uma província japonesa.

O idioma era o japonês; os usos e costumes

eram japoneses; a arquitetura, sempre que

possível, copiava o estilo oriental; a

religião praticada pela maioria era o

budismo e o ensino nas escolas ministrado

em língua japonesa. (FALLEIROS, 2000,

p.79).

1.2 Comunidade Yuba, o sonho de um

jovem

A história da comunidade Yuba, inicia-

se no sonho de seu fundador, Isamu Yuba

(Figura 03), inspirado principalmente nas

idéias iluministas de Rousseau.

No início, Isamu Yuba queria mesmo ser

marinheiro. Capitão de preferência. Desde

criança já suspeitava que o destino não lhe

daria uma vida ordinária. Por um momento,

achou que seu lugar poderia ser o mar. E

três tentativas fracassadas de ingressar na

escola naval não foram suficientes para

demovê-lo dessa idéia. Até que conheceu

Jean-Jacques Rousseau. Foi na casa de um

primo,em Kobe, Isamu tinha 19 anos e havia

ido à cidade para tentar, pela quarta vez,

ser aceito como marinheiro. Sobre a cama,

viu um exemplar em japonês de Emílio,

clássico do Iluminismo em que o filósofo

34

francês apontava os caminhos para preservar

a bondade natural do homem numa sociedade

corrupta (KANZAWA, 2010, p10).

A possibilidade de ida ao Brasil

surgiu através de um cartaz o qual Isamu

Yuba, teve acesso.

Mais tarde, enquanto aguardava o trem que o

levaria de volta à aldeia natal, por uma

dessas imponderáveis contingências que nos

assaltam de vez em quando, um cartaz saltou

aos olhos do rapaz. “Vá para a terra

prometida”, livre e sagrada da América do

Sul, dizia. Naquela noite, Isamu já não

sonhava mais com o mar (KANZAWA, 2010,

p.10).

Em 1926, estando sua família com

problemas financeiros, Isamu consegue

convencer seu pai a buscar no Brasil uma

nova possibilidade de recomeço para sua

família, como relata Kanzawa,(2010).

Empobrecido e com sete filhos para

sustentar, o velho Tamenosuke logo se

deixou convencer pelo primogênito, naquela

altura já embriagado pelas idéias de

Rosseaue ansioso por plantá-las em solo

virgem. No primeiro dia de abril daquele

ano, Isamu, acompanhado de seus pais, seus

seis irmãos e sua avó, embarcaram no navio

Hawai-Maru com destino a Santos (KANZAWA,

2010, p.11).

Ao se fixar na Primeira Aliança,

IsamuYubadividia-se entre derrubadas da

mata virgem e a leitura da Bíblia e de

filósofos como Rousseau e Tolstói.

Nutrindo-se de ensinamentos cristãos,

somados aos de Rousseau e de Tolstói, o

jovem Isamu não via a hora de botar em

prática seu projeto pessoal, ainda mais

audaz que o de Nagata: construir uma

sociedade igualitária, apegada aos valores

nipônicos, mas não ao dinheiro, em que

todos vivessem próximos à natureza e se

dedicassem a cultivar as artes com o mesmo

empenho com que cultivassem a terra

(KANZAWA, 2010, p.15).

Em 1935, Isamu Yuba, adquire 40

alqueires no distrito de Guaraçaí (atual

distrito de Formosa, município de

Guaraçaí-SP) e dá inicio ao seu projeto

pessoal da criação de uma sociedade

melhor.

Tal projeto germinou no outono de 1935, sob

o nome de Fazenda Yuba, num terreno de

quarenta alqueires no então distrito de

Guaraçaí, pertinho da Primeira Aliança. No

35

começo era, apenas Isamu, meia dúzia de

amigos e suas respectivas famílias.

Dedicavam-se à avicultura e, de vez em

quando, reuniam-se na cozinha para cantar

(KANZAWA, 2010, p.15).

Com o passar dos anos, a Comunidade

Yuba, prosperou, chegando a possuir 300

moradores e ser considerada a maior granja

avícola da América Latina, até ocorrer seu

declínio e a falência, no ano de 1956

Dez anos depois, a comunidade somava mais

de trezentas pessoas. Muitos nikkeis vieram

pedir asilo depois que a guerra estourou,

para escapar da repressão. Isamu nunca

negava. Quando gente do governo veio

investigar como é que podia haver tanto

japonês junto, ele argumentou que estavam

trabalhando para o crescimento do país. O

governo autorizou. Nos anos da guerra,

aquele pedaço do Brasil foi um dos raros

lugares onde a língua japonesa pôde ser

usada.

Tamanha mão de obra transformou a Fazenda

Yuba na maior granja da América Latina,

dona de 220 mil aves. Em 1951, ganhou até

reportagem na revista O Cruzeiro, onde seu

fundador figurava como “O Rei das

Galinhas”. Isamu Yuba ficou famoso; rodou o

Brasil, virou amigo de gente como Getúlio

Vargas e Assis Chateaubriand. Então,

quebrou (KANZAWA, 2010, p.15).

Figura 03:Isamu Yuba

Fonte: Acervo da Comunidade

Mesmo após a falência, Isamu Yuba não

desistiu de seu sonho e com ajuda de

amigos, adquiriu um novo local para

reiniciar o modelo cooperativista de sua

comunidade, local onde seus descendentes e

novos moradores estão instalados até os

dias atuais.

Em junho de 1956, graças à ajuda de amigos,

Isamu obteve um terreno de dez alqueires na

Primeira Aliança, agora parte do município

de Mirandópolis. E lá começou a reerguer a

fazenda Yuba, ainda com um terço do tamanho

36

que tem hoje. Quando por fim o dinheiro

começou a entrar de novo na comunidade,

Isamu logo pegou estrada para São Paulo.

Todo mundo achava que ele chegaria com um

trator ou algo do tipo. Voltou com um piano

de cauda(KANZAWA, 2010, p.15).

1.3 Comunidade Yuba: onde a arte brota

da terra

Os anos se passaram e as atividades

culturais e artísticas produzidas pela

comunidade foram ficando cada vez mais

conhecidas. Falleiros (2000), enfatiza o

destaque obtido pela Comunidade Yuba

através de suas atribuições culturais

(Figuras 04 e 05).

Entre as atividades desenvolvidas pela

colônia japonesa no município, destacam-se

as da Comunidade Yuba. Sabiamente

implantada pelo grande líder Isamu Yuba, lá

as famílias de agricultores laboram o

regime de que, além de suas atividades na

lavoura, cultivam belíssima atividade

cultural que inclui artes marciais, teatro,

balé clássico e artes plásticas, seus

artistas divulgam o nome de Mirandópolis

através do Brasil e do mundo (FALLEIROS,

2000, p.82).

Figura 04:Arte sendo passada por gerações

:

Fonte: Foto extraída do livro “Yuba”, Lucilene Kanzawa,

Ed. Terra Virgem

Figura 05: Coral Yuba

Fonte: Acervo cedido pela Comunidade Yuba

37

1.3.1 Balé Yuba

A vinda do casal Hisao e Akiko Ohara

transformou profundamente a rotina

cultural da comunidade. Hisao, ou Shoosan

como era conhecido, era escultor e Akiko,

bailarina e coreógrafa. Akiko (Figura 06)

foi a inspiração para a construção do

Teatro Yuba. Reunindo diariamente o corpo

de dança da comunidade em um páteo,

aprimorava suas técnicas e desenvolvendo

novas e belas coreografias. Assistindo

esses ensaios, Isamu Yuba decidiu derrubar

centenas de pés de café e em poucos dias o

Teatro Yuba, tal qual se apresenta hoje,

estava erguido e a professora de balé

tinha então um palco para ensinar suas

alunas. Assim surgiu o respeitado Balé

Yuba.

O ano é 1961 e o lugar é Tóquio, a capital

japonesa. O jovem escultor Hisao Ohara, de 29

anos, e sua esposa, a bailarina e coreógrafa

Akiko Ohara (foto abaixo), de 26 anos,

preparam suas malas para uma viagem

inesquecível ao Brasil. Mas não iriam fazer

turismo. Haviam decidido morar na Fazenda

Yuba, em Mirandópolis/SP, onde o patriarca

Isamu Yuba, visualizava uma nova fase

cultural em sua comunidade, com a construção

do teatro e o ensino da arte da escultura.

O casal chegou no dia 14 de dezembro daquele

ano, e a comunidade começava a construir o

seu teatro, onde a experiência de Hisao,

formado em Belas Artes e com vivência em

atuação, cenografia e iluminação, seria muito

útil. Enquanto isso, as crianças ensaiavam as

peças que seriam apresentadas na festa de

Natal, e Akiko, com experiência em

coreografia para televisão, começou a

orientá-las. Logo, Akiko passou a ensinar

balé moderno a esse grupo, formando o famoso

balé de Yuba, que divulgaria o nome da

fazenda comunitária para todo o mundo. Em

1974, o balé Yuba se apresentou ao então

primeiro ministro Kakuei Tanaka, e em

1997,foi visto pelocasalimperial japonês em

sua visita pelo Brasil

(Cultura Japonesa.

http://www.culturajaponesa.com.br/?tag=akiko-

ohara, 2015).

38

Figura 06: Coreógrava Akiko Ohara

Fonte: http://www.culturajaponesa.com.br/wp-

content/uploads/2014/08/Tomodachi-Biritiba-Yuba-Akiko-

Ohara.jpg

2. TEATROS

2.1 Teatro

“Um espaço, um homem que ocupa este

espaço, outro homem que o observa”.

Peixoto (1995, página 9).

Existem várias teorias sobre o

surgimento do teatro. De acordo com o

volume6, Teatro 1, de Raymundo Magalhães

Júnior, a origem do teatro é tida como

egípcia (Figura 07).

Antes mesmo do florescimento do teatro

grego da antiguidade (Figura 08), a

civilização egípcia tinha nas

representações dramáticas uma das

expressões de sua cultura. Essas

representações tiveram origem religiosa,

sendo destinadas a exaltar as principais

divindades da mitologia egípcia,

principalmente Osíris e Ísis. Três mil e

duzentos anos antes de Cristo, já existiam

tais representações teatrais. E foi do

Egito que elas passaram para a Grécia, onde

o teatro teve um florescimento admirável,

graças à genialidade dos dramaturgos

gregos. Para o mundo ocidental a Grécia é

considerada o berço do teatro, ainda que a

precedência seja do Egito

(JUNIOR,1980,p.3).

39

Figura 07: Deuses Osíris e Ísis

Fonte: http://historias-

fantasticas.blogs.sapo.pt/2090.html

Figura 08: Teatro Grego (350-300 A.C)

http://sesi.webensino.com.br/sistema/webensino/aulas/re

pository_data//SESIeduca/ENS_MED/ENS_MED_F01_PORT/660_P

OR_ENS_MED_01_04/imagens/ref/FIG_008.png

2.2 Teatro no Japão

O surgimento do teatro no Japão

(Figura 09) dá-se durante a Idade Média.

“O primeiro dramaturgo japonês, o

sacerdote Kwanamy Kyotsugu, viveu entre os

anos de 1333 e 1184 da era cristã”

(Junior,1980, p.4).

40

Figura 9: Palco do Teatro Nacional de Nô,

Tóquio.

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Noh-

stage.jpg

3. RECORTE ESPACIAL

3.1 Marcas da comunidade japonesa no

município de Mirandópolis

Mirandópolis, recebeu e recebe

influência cultural de seus moradores

descentes de japoneses. Essa cultura foi

absorvida por grande parte dos moradores

do município: comer sushi, jogar beisebol,

frequentar templos de religiões orientais,

participar da festa do Bon Odori, são

vistos como algo rotineiro no dia-a-dia da

sociedade.

3.1.1 Religião

Parte dos moradores da Comunidade Yuba

e das três Alianças frequentam a igreja

evangélica que realiza cultos no idioma

japonês (Figura 10) situada no bairro

Primeira Aliança. Na cidade de

Mirandópolis existem ainda a Igrejas

Messianica Mundial do Brasil (Figura 11) e

também um templo da Seicho-No-Ie do Brasil

(Figura 12), frequentadas por japoneses e

seus descendentes e também por brasileiros

sem nenhuma descendencia japonesa.

41

Figura 10: Igreja Evangélica Aliança

Fonte: Do autor, 2015.

Figura 11:Igreja Messiânica Mundial do Brasil

Fonte: Do autor, 2015

Figura 12: Templo da Seicho-No-Ie do Brasil

Figura: Do autor, 201

42

3.1.2 Monumentos e Praças

No município é comum encontrar

monumentos com características japonesas

erguidos (Figuras 13 a 18) para marcar uma

data ou ainda para comemorar um momento

histórico como a “Aliança Eterna” (figura

16) escultura produzida pelo escultor

Ohara (morador da Comunidade Yuba).

Algumas praças da cidade possuem nomes e

características típicas japonesas.

Figura 13: Monumento comemorativo 40 anos das

cidades co-irmãs Mirandópolis-Takaoka

Fonte: Do autor, 2015

43

Figura 14: Praça Brasil-Japão

Fonte: Do autor, 2015

Figura 15: Monumento comemorativo 30 anos

cidades co-irmãs, Mirandópolis-Takaoka

Fonte: Do autor, 2015

44

Figura 16: Monumento Aliança eterna

Fonte: Do autor, 2015

Figura 17: Praça Takaoka, batizada com o nome

da cidade japonesa co-irmã de Mirandópolis

Fonte: Do autor, 2015

45

Figura 18: Bosque Chikazu Kitahara (homenagem

a um dos primeiros imigrantes japonês das

Aliança)

Fonte: Do autor, 2015

3.1.3 Educação e esporte

Mirandópolis recebe grande influência

japonesa na educação e no esporte

(Figuras 19 a 22). O município conta com

escolas de língua japonesa onde o

professor é cedido e parcialmente

custeado pelo governo japonês cabendo a

colônia japonesa de Mirandópolis arcar

com um complemento salarial e acomodações

para o mestre japonês, que é substituido

a cada dois anos. Tanto a cidade de

Mirandópolis como os bairros das Alianças

possuem campos de beisebol e de

atletismo.

Figura 19: Escola de Língua Japonesa de

Mirandópolis

Fonte: Do autor, 2015

46

Figura 20: Escola de língua japonesa do bairro

Primeira Aliança

Fonte: Do autor, 2015

Figura 21: Kaikan e centro de atletismo

Fonte: Do autor, 2015

47

Figura 22: Campo de Beisebol (esporte

difundido em Mirandópolis por Isamu Yuba)

Fonte: Do autor, 2015

3.1.4 Lazer e Gastronomia

A cidade conta com clubes nipônicos

(Figuras 23 a 25) que reunem a colônia

japonesa e não descendentes através de

reuniões e festivais culturais. Feiras

com produtos japoneses (Figura 26) são

bastante comuns em Mirandópolis. Jantares

com objetivos de arrecadar fundos para

esportes e educação ocorrem frequentemente

nos Nipos.

Figura 23: Clube Nipo do Bairro Primeira

Aliança

Fonte: Do autor, 2015

48

Figura 24: Clube Nipo do Bairro Segunda

Aliança

Fonte: Do autor, 2015

Figura 25: Clube Nipo da cidade de

Mirandópolis

Fonte: Do autor, 2015

Figura 26: Feirante de culinária típica

Fonte: Do autor, 2015

3.1.5 Construções

Percorrendo as ruas da cidade e dos

bairros Amandaba e Alianças é comum

encontrar construções erguidas pelos

pioneiros imigrantes japoneses (Figura

27). As casas apresentam uma arquitetura

peculiar com forte relação com o país de

origem. Era a maneira que os imigrantes

tinham de implantar no solo brasileiro as

linhas das construções japonesas.

49

Figura 27: Exemplo de construção típica de

imigrante japonês no bairro Segunda Aliança

Fonte: Do autor, 2015

3.2 Fazenda Yuba

O Ponto Cultural Comunidade Yuba

localiza-se na zona rural de Mirandópolis,

defronte à Vicinal Shikazu Kitahara, a 2,5

km do Distrito de Primeira Aliança e 20 km

da sede do município de Mirandópolis

(Figuras 28 e 29).

De clima tropical, o vento

predominante vem da direção sudeleste

(Figura 30).

Figura 28: Demonstrativo distância Yuba – Sede

do Município

Fonte: Adaptado de Google Map

50

Figura 29: Demonstrativo distância Yuba -

Distrito

Fonte: Adaptado de Google Maps

Figura 30: Ventos predominantes

Fonte: Adaptado de Google Maps

51

Figura 31: Vista aérea das edificações da

comunidade

Fonte: Acervo cedido pela Comunidade Yuba

3.2.1 Em Yuba

“Comunidade Yuba, onde a arte brota da

terra”. Com este slogan YUBA K. (2014), 68

anos, filha do fundador da comunidade

Isamu Yuba, escritora, cantora lírica e

bailarina do Balé Yuba, define seu lar

(Figura 31) e apresenta a “alma” dos

aproximadamente 88 moradores da

comunidade.

“Ao chegar à comunidade o visitante

depara-se com uma fazenda como outra

qualquer, mas na medida em que o carro vai

se aproximando e as casas vão surgindo

diante dos olhos percebe-se que existe

algo maior ali naquele espaço. Um grande

galpão de madeira revela-se com uma imensa

árvore (flamboyant) ao lado. Logo mais

adiante à esquerda o refeitório e em torno

do mesmo, as casas dos moradores sem

banheiros e cozinha privativa” (YAMAZAKI,

2014).

Foi assim com este olhar, traduzido para

o português por um morador da comunidade,

que Minako Yamazaki, uma turista japonesa

que visitou recentemente a comunidade,

definiu seu ponto de vista a respeito

daquele lugar e daquelas pessoas.

52

Poucas obras existem sobre a

Comunidade Yuba e uma entrevista com os

moradores, tornou-se imprescindível para o

melhor entendimento das possibilidades de

uso de um teatro naquele espaço.

YUBA K.(2014) informa que a rotina da

comunidade é simples: “Logo de manhã, ao

som de um antigo berrante, os moradores e

turistas são convidados a chegar até o

refeitório para o café da manhã. Antes de

se alimentarem, um minuto de silêncio para

uma oração de agradecimento pelo alimento

e pelo dia que se inicia (Figura 32).

Assim, os dias se sucedem aqui em nossa

casa, onde cada morador tem uma história

incrível para contar. Um deles, por

exemplo, o Sr. Tsuji, saiu do Japão em sua

juventude, de bicicleta rumo ao Canadá,

com o objetivo de cruzar o mundo, passou

por diversos países e lugares, até chegar

aqui na Comunidade e encontrar a garota

que viria ser sua futura esposa.” Katsue

Yuba informa que entre os diversos

moradores muitas histórias existem para

serem colhidas e ela mesma já escreveu

dois livros a respeito dos habitantes de

Yuba e agora está finalizando o terceiro,

com publicação prevista para o próximo

ano.

Figura 32: Momento oração silenciosa

Fonte: foto extraída do livro “Yuba”, Lucilene

Kanzawa, Ed. Terra Virgem

Katsue explica que hoje avô, o Sr.

Tsuji ainda vive na comunidade Yuba e é

responsável pelo cultivo de cogumelos

53

Shitake. Detalhe importante, ainda guarda

a velha e guerreira bicicleta com a qual

cruzou boa parte do mundo. Katsue conta

que cada pessoa que ali se encontra tem a

liberdade de expressar sua arte e de dar

forma aos seus desejos criativos. Porém,

todos também possuem suas tarefas

relacionadas ao campo.

YUBA T.(2014), sobrinho do fundador

Isamu Yuba e atual líder da comunidade,

explica: “se você gosta de trabalhar com a

terra, pode ir e desenvolver sua vocação

de semear o solo, se você gosta de lidar

com porcos, tudo bem também, a comunidade

precisa de porcos e você pode iniciar sua

cultura de suínos”. Tsuni Yuba conclui que

basicamente é isso, ninguém é obrigado a

nada, mas todos tem a iniciativa de

produzir algo que venha a ser importante

para oferecer ao restante do grupo. Com

isso, todos ganham, todos dividem, todos

sentam à mesma mesa e partilham os

resultados de seus trabalhos (Figuras 33 e

34).

Figura 33: Mosaico de atividades diárias da

Comunidade

Fonte: Acervo cedido pela Comunidade Yuba

Katsue Yuba explica que o livro de

receitas da Comunidade possui mais de 70

54

anos, teve origem com sua mãe e com as

primeiras mulheres integrantes da

comunidade e é seguido à risca pelos

atuais moradores. “As antigas receitas são

escolhidas e realizadas pelas mulheres da

comunidade. No final da tarde as crianças

recebem aulas de culinária para poderem ir

se acostumando com a rotina da grande

cozinha coletiva. Caso o cardápio do dia

contenha frango, então haverá necessidade

que antes aproximadamente 50 aves sejam

abatidas e limpas, visto que as aves como

a maioria dos alimentos utilizados são

produzidos na própria comunidade”, conta

YUBA K.(2015).

Figura 34: Parte dos moradores da Comunidade

Fonte: www1.folha.uol.com.br

YAZAKI(2014), responsável por manter

viva a memória da comunidade, professor de

música e maestro, informa que um ponto

muito inusitado da vida dos moradores é

que eles possuem duas salas de banho. Uma

destinada aos homens e outra às mulheres.

Assim diferentes gerações tomam banho

juntas, o momento do banho é considerado

muito especial para eles, diz Masakatsu:

55

“assim avôs e netos, filhos e pais podem

dialogar de forma pura, simples e sem

reservas”.

Sobre a rotina das artes (Figura 35 a

39), Katsue Yuba em entrevista conta que

todos os dias depois do jantar o palco do

teatro se acende e as atividades culturais

iniciam-se. YUBA K.(2014) diz: “sempre é

assim, no inicio da noite, após um dia

inteiro de trabalho no campo, os moradores

se reúnem para outra maratona de

atividades, seja na sala de balé, ou na

sala de musica onde recebem aulas de

violino, violoncelo, piano, flauta, violão

e outros instrumentos”.

Todas as aulas são ministradas por

algum morador. Eventualmente algum outro

artista, músico ou escritor que venha se

hospedar ou transitar pela comunidade

realiza algum tipo de intercâmbio

cultural, ensinando novas técnicas ou

apresentando suas particularidades aos

moradores.

Figura35: Cenas de Apresentações do Balé Yuba

Fonte: Acervo cedido pela Comunidade Yuba

A comunidade recebe turistas do mundo

todo e essas visitas distribuem-se quase

que regularmente por todos os meses. As

pessoas chegam, na maioria das vezes sem

avisar, mesmo assim logo são recebidas e

já participam da vida dentro da

comunidade. Quando partem levam consigo a

experiência inédita do convívio com

pessoas que vivem em função da arte e da

cultura semeando o solo durante o dia e

56

produzindo arte com maestria durante a

noite

Figura 36: Galpão adaptado

Fonte: Acervo cedido pela Comunidade Yuba

Figura 37: Apresentação de orquestra na

Comunidade

Fonte: Acervo cedido pela Comunidade Yuba

3.2.2 Teatro Existente

“O velho teatro de madeira (Figuras 42

a 44), embora rústico e improvisado, foi

edificado em uma semana pelos próprios

membros da comunidade para receber a

ilustre bailarina japonesa Akiko Ohara que

viera do Japão com o marido, o escultor

Hisao Ohara”, relata YUBA K.(2015) com os

olhos brilhantes.

Sobre o casal, Katsue explica que

eles chegaram na comunidade na década de

57

60 e se encantaram com os moradores do

local. Ali se instalaram e tiveram seus

filhos que hoje vivem na comunidade

juntamente com seus netos.

“A grande bailarina observou o rústico

palco improvisado no meio do cafezal e se

surpreendeu quando as luzes se acenderam e

iluminaram o palco. O som, embora simples,

também lhe era agradável e bem

estruturado. O que a fez sentir que era

possível desenvolver a arte do balé

naquele espaço e assim formar um corpo de

balé que logo mais seria conhecido como

Balé Yuba,desde então até os dias atuais

encanta platéias por onde se apresenta

emocionando pela beleza das coreografias e

pelo sentimento profundo de cada movimento

que minuciosamente apresentam”, YUBA

K.(2014).

Figura 38: Apresentações Balé Yuba

Fonte: Acervo cedido pela Comunidade Yuba

“Tudo em Yuba se relaciona com a

natureza, com Deus e com o universo”

explica YUBA T.(2014). “Dessa forma

construímos nossa arte e nossa cultura,”

conclui.

Cerâmica, móveis, instrumentos

musicais; tudo é produzido dentro da

própria comunidade. Praticamente nada é

comprado; esta proposta é mantida de

geração para geração, assim como a

manutenção do idioma oficial, o japonês,

língua fluente entre os moradores.

“As crianças aprendem o português

apenas quando passam a freqüentar a escola

58

estadual do bairro Primeira Aliança”,

conta YUBA T.(2014).

Figura 39: Apresentações variadas

Fonte: Acervo cedido pela Comunidade Yuba

O Sr. Masakatsu Yazaki explica que

moradores ilustres viveram na comunidade,

como o reconhecido pintor Manabu Mabe que

inclusive desenvolveu algumas obras dentro

da comunidade, deixando de presente uma

grande e bela tela para os moradores.

Takao Kusuno coreógrafo e precursor no

Brasil do balé Butô, uma dança onde os

gestos são repletos de significados e que

surgiu no Japão devastado pela guerra. Em

sua estadia Takao influenciou o corpo de

Balé Yuba e durante anos manteve

intercambio trazendo sua Companhia de

dança de São Paulo conhecida como “O Olho

do Tamanduá” para se apresentar no palco

da comunidade.

“No palco do nosso teatro grandes

nomes da música, do canto e da dança já se

apresentaram. Em visita a comunidade o

então ministro da Cultura Francisco

Weffort, na gestão do Presidente Fernando

Henrique Cardoso, disse ser inacreditável

59

que ali naquele sitio afastado de um

grande centro se produzisse cultura com

tamanha qualidade” relata YAZAKI(2014).

“O ator Sérgio Mamberti (Figura 40)

que interpretou grandes papéis na TV, no

cinema e no teatro ficou fascinado com o

que viu em sua visita e lutou bravamente

para transformar a comunidade em um Ponto

Cultural com a ajuda do ministro da

cultura Gilberto Gil” explica YAZAKI

(2014).

Figura 40: Sergio Mamberti

Fonte: www.sergiomambeti.com.br

“Laurita Castro, dançarina flamenca

(Figura 41); Kunico Kato, cantora lírica

japonesa; Jaime Jorge, violinista

naturalizado americano; Cecília Raab

Forastieri, pianista de Araçatuba;

orquestras; Grupos Folclóricos

Brasil/Portugal, Brasil/Espanha, o grande

bailarino Yoshito Onno e centenas de

outros grandes nomes utilizaram o palco do

velho teatro e se apresentaram para

platéias de centenas de pessoas acomodadas

em bancos de madeira sobre o chão de terra

batida”, YAZAKI(2014).

Figura 41: Grupo de dança Laurita Castro

Fonte: www.lauritacastro.com.br

60

“O contraste é incrível frente à

qualidade da arte apresentada e o espaço

físico de que os artistas dispõem para

realizar sua arte” KANZAWA (2015). “Sim,

em Yuba, a arte brota da terra.” Conclui.

Figura 42: Atual Teatro Yuba

Fonte: Acervo da Comunidade

Figura 43: Vistas do atual Teatro Yuba

Fonte: Acervo da Comunidade

Obs: Sem escala

61

Figura 44: Planta do Teatro

Fonte: Acervo da Comunidade

Obs: Sem Escala

3.2.3 Área destinada para construção

de novo teatro

O local destinado para a nova

edificação do Teatro Yuba, é o mesmo do

atual teatro, sendo necessária apenas

ampliação do espaço utilizado para o

desenvolvimento do novo projeto, uma vez

que o local é de fácil acesso aos turistas

e próximo das edificações anexas do

teatro, como sala de aula de dança, de

música e depósitos, como também de galpões

utilizados pela agricultura durante o

turno do dia (Figura 45).

Figura 45: Entorno da área do teatro

Fonte: Do autor, 2015

62

4. REFERÊNCIAS PROJETUAIS

4.1 Obras de Tadao Ando

Tadao Ando é um arquiteto autodidata

de nacionalidade japonesa, nascido em

1941, ganhador do Prêmio Pritzer de

Arquitetura no ano de 1995. Segundo o

site: www.arqbacana.com.br A escolha do

juri do Pritzer 1995, dá-se entre outros

aspectos pela sensibilidade artística de

Tadao Ando.

Tadao Ando é aquele arquiteto raro que

combina sensibilidade artística e

intelectual em um indivíduo único capaz de

produzir edifícios, grandes e pequenos, que

servem e inspiram. Sua poderosa visão

interior ignora qualquer movimento, escola

ou estilo atual, criando edifícios com

forma e composição relacionados com os

tipos de vidaque neles serão vividos.

Em uma idade na qual a maioria dos

arquitetos está começando a fazer seus

primeiros grandes trabalhos, Ando realizou

trabalhos mais simples, primeiramente em

sua terra nativa, o Japão, que já o

diferenciou. Trabalhando o concreto de

forma suave como uma seda, Ando cria

espaços usando paredes que ele define como

o elemento mais básico da arquitetura, mas

o mais enriquecedor. Apesar de seu

consistente uso de materiais e elementos

como pilar, paredes, e nichos, suas

combinações diferentes destes elementos,

sempre mostram excitação e dinamicidade.

Seus conceitos de design e materiais uniram

o Modernismo internacional à estética

tradicional japonesa. Sua dedicação e

entendimento da importância do artesanato

lhe renderam a denominação de construtor

assim como arquiteto.

Ele está cumprindo sua missão auto-imposta

de restaurar a unidade entre a casa e a

natureza. Usando as mais básicas formas

geométricas, ele cria microcosmos para o

indivíduo sem mudar os padrões de luz.

Entretanto, mais do que ativar alguns

conceitos abstratos de design, sua

arquitetura é um reflexo de um processo

fundamental no construir algo para

habitação.

A arquitetura de Ando é um conjunto de

surpresas compostas artisticamente em

espaço e forma. Não existe um movimento

previsível quando alguém passeia por seus

edifícios. Ele se recusa a ser vinculado à

convenção. Originalidade é seu meio, e sua

visão pessoal do mundo é sua fonte de

inspiração.

O Prêmio Pritzker de Arquitetura homenageia

Tadao Ando não somente por seus trabalhos

finalizados, mas por seus projetos futuros

que quando realizados, certamente

enriquecerão a arte da arquitetura.

Segundo: Pritzker 1995 – Tadao Ando.

Arqbacana disponível em:

63

(www.arqbacana.com.br/internal/arq!mix/read/1

497/pritzker-1995---tadao-ando , 2015).

Figura 46: Interior Igreja da Luz

Fonte:

http://farm7.static.flickr.com/6034/6303120643_768c52fa

0c.jpg

Figura 47: Interior do Teatro Tadao Ando

Fonte:

http://pt.socialdesignmagazine.com/site/architettura/in

augurato-a-venezia-il-nuovo-teatro-disegnato-da-tadao-

ando.html

As características a serem destacadas

nas obras de Tadao (Figuras 46 e 47) como

contribuição para o projeto do Teatro Yuba

são:

Relação Luz-Sombra;

A valorização da experiência interior dos

edifícios;

O conceito difundido pelo arquiteto: “a

caixa que surpreende”;

64

Minimalismo.

4.2 Obras de Shigeru Ban

Shigeru Ban é um arquiteto de origem

japonesa, nascido em 1957, suas obras se

destacam pelo uso de materias alternativos

e ecológivos e pelo embasamento às causas

humanitárias.

Shigeru Ban foi o homenageado com o

Pritzker 2014 por ser um revolucionário na

escolha e no uso (inclusive estrutural) de

materiais como papel,madeira,plásticoe

contêineres, bem como pela sua dedicação ao

trabalho humanitário. Aos 56 anos, o

arquiteto é o sétimo japonês a ser

reconhecido com o Nobel da arquitetura

mundial. Segundo: Arqbacana, Pritzer 2014 –

Shigeru Ban disponível em

(http://www.arqbacana.com.br/internal/arq!m

ix/read/13826/pritzker-2014-%E2%80%93-

shigeru-ban , 2015).

Figura 48:Habitações permanentes na Índia

feitas de tubos de papelão pelo arquiteto

Shigeru Ban

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/766673/shigeru-

ban-lanca-campanha-para-construir-abrigos-emergenciais-

no-nepal

65

Figura 49: Museu de Arte de Aspen

Fonte:http://www.archdaily.com.br/br/627250/museu-de-

arte-de-aspen-shigeru-ban-architects

Figura 50: Interior da Catedral de Papelão

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-144107/premio-

pritzker-2014-novas-fotos-da-catedral-de-papelao-de-

shigeru-ban-na-nova-zelandia

66

Como características a serem

destacadas nas obras de Shigeru Ban como

contribuição para o projeto do Teatro Yuba

são (Figuras 48 a 50):

Uso de materiais alternativos;

Projetos realizados com baixo

orçamento.

4.3 Teatro Engenho Central

O Teatro Engenho Central (Figuras 51 a

53) se localiza na cidade de Piracicaba,

interior de São Paulo. O escritório autor

do projeto é o Brasil Arquitetura.

O engenho central é “marca da terra” e está

implantado na margem direita do

riopiracicaba, de onde se vê o centro da

cidade do outro lado. Seus volumes em tijolo

aparente oferecem uma visão impressionante,

com a presença do rio espelhando suas luzes e

compondo um cenário que singulariza a

paisagem urbana de piracicaba.

O conjunto mantém-se com a integridade de

quando foi desativado, como cidadela

resistente às grandes mudanças por que passou

seu entorno nas últimas décadas. não nasceu

como está. Ao contrário, ao longo de sua vida

foi recebendo acréscimos, reformas,

desenvolvimentos e, assim, guarda registro de

várias de suas idades.

Um dos galpões mais antigos do conjunto,

conhecido como “número seis”, será restaurado

e adaptado para receber um teatro

multifuncional.

O projeto tem como fundamento básico a

preservação da memória do antigo engenho

aliada ao perfeito funcionamento de um teatro

contemporâneo. assim, o valor da arqueologia

industrial se mescla às modernas tecnologias

construtivas e cenotécnicas.

O antigo galpão que abrigava tonéis de álcool

estará lá, íntegro, como testemunha de um

tempo que já não há, agora equipado e

preparado para novos tipos de produção:

música, teatro, dança, cinema e lazer.

Uma nova etapa será iniciada na longa vida do

engenho central de piracicaba. Segundo:

Teatro Engenho. Brasil Arquitetura.

Disponível em

(http://brasilarquitetura.com/projetos/teatro

-engenho-central/, 2015.)

67

Figura 51:Fachada Teatro Engenho

Fonte:http://brasilarquitetura.com/img/1004/l/jpeg/proj

etos/img642223jpg.jpeg

Figura 52:Detalhe Interno: uso de luz natural

Fonte:http://brasilarquitetura.com/img/556/l/jpeg/proje

tos/img623033jpg.jpeg

68

Figura 53:Interior teatro

Fonte:http://brasilarquitetura.com/img/998/l/jpeg/proje

tos/img607374jpg.jpeg

As características a serem destacadas

no Teatro Engenho como contribuição para o

projeto do Teatro Yuba são:

Uso de iluminação natural;

Relação material bruto e cor;

4.4 Pavilhão da China Expo 2015

Arquitetos: TsinghuaUniversity, Studio

Link-Arc

Localização: Ingresso Expo,Via Giorgio

Stephenson, 107, 20157 Milão, IT.

O tema para o Pavilhão da China é "A Terra da

Esperança". O projeto incorpora isso através

da forma ondulante de seu telhado, derivado

da fusão do perfil do skyline da cidade no

lado norte do edifício com o perfil de uma

paisagem no lado sul, expressando a ideia de

que a "esperança" se realiza quando a cidade

e a natureza existem em harmonia. Segundo:

“Expo Milão 2015: Pavilhão da China/Tsinghua

University + Studio Link-Arc”. ArchDaily

Brasil disponivel em

(http://www.archdaily.com.br/br/766507/pavilh

ao-chines-milan-expo-2015-tsinghua-

university-plus-studio-link-arc , 2015).

69

Figura 54 : Vista Pavilhão da China pelo

jardim

Fonte:http://www.archdaily.com.br/br/766507/pavilhao-

chines-milan-expo-2015-tsinghua-university-plus-studio-

link-arc

Figura 55 : Detalhe placas de madeira fixados

em estrutura metálica

Fonte:http://www.archdaily.com.br/br/766507/pavilhao-

chines-milan-expo-2015-tsinghua-university-plus-studio-

link-arc

70

As características a serem destacadas

no Pavilhão da China Expo 2015 Milão

(Figuras 54 e 55) como contribuição para o

projeto do Teatro Yuba estão:

Uso de madeira em placas anexas à

estrutura metálica;

Irregularidade no posicionamento das

placas, proporcionando aspecto de leveza,

e de uso de técnica e mão-de-obra locais.

5. PROJETO

5.1. Programa de Necessidades

Em visitas realizadas à comunidade e

entrevistando os responsáveis pelo uso do

atual teatro, chegou-se à definição de que

o novo teatro deveria apresentar as

seguintes características:

Construção de fácil execução e de

baixo orçamento;

Capacidade de público de no mínimo

400 pessoas;

Banheiros para uso do público;

Camarins isolados, com banheiro para

uso dos artistas;

Palco com medidas adequadas às

solicitações dos integrantes do corpo de

balé e teatro;

Depósito para guarda de cenários;

Pé direito compatível para trocas de

cenários no palco;

Local para exposição de trabalhos

executados pela comunidade;

Boa visualização do palco;

Adequado projeto de acústica;

Ambientes com temperaturas

agradáveis;

71

5.2 Sentimento de partida

O que torna Yuba um local especial não

são as edificações inseridas naquela

pequena fazenda, o que torna o lugar

diferente dos demais é a filosofia ali

vivenciada todos os dias por seus

moradores, a possibilidade constante de

intercâmbio cultural, o que tornam as

construções ali inseridas apenas molduras

do que ali é tido como mais importante: a

convivência.

Figura 56: Croqui Perspectiva

Fonte: Do Autor, 2015

Somar! Um balé que é conhecido e

respeitado por admiradores do mundo

inteiro tendo como palco principal um

galpão adaptado como teatro, merece uma

melhor estrutura, mas qualquer intervenção

proposta precisa respeitar a singeleza da

arte ali emanada.

72

5.3 Construtivo

Os recursos de nosso planeta

gradativamente estão se esgotando e buscar

soluções práticas e de baixo impacto

ambiental tem sido cada vez mais

necessário.

Com a demolição do atual galpão, vê-se

a possibilidades de reutilização da

madeira ali empregada nesses 50 anos de

construção. Além do valor sentimental,

este material servirá para o fechamento

externo do foyer e para as portas pivô,

que assim como as bailarinas, girarão em

um eixo central (Figuras 57 e 58).

73

Figura 57: Perspectiva Noturna

Fonte: Do Autor, 2015

74

O bloco estrutural, material de baixo

valor agregado, fará o fechamento das

demais partes do teatro, com técnica e

material de fácil manuseio, assim como a

construção do prédio anterior, a obra

poderá ser executada pelos moradores da

própria comunidade.

Figura 58: Perspectiva Portas-bailarinas

Fonte: Do Autor, 2015

O uso de estrutura metálica, agilizará

a execução da obra, sendo aplicada como

sustentação das áreas de vedação de

madeira, além do telhado.

5.4 Projetual

O projeto é constituído de hall

(Figura 59), banheiros para uso do

público, passarelas (Figura 60), sala de

controle de som e iluminação, área

destinada para 550 expectadores, acessos

laterais, palco, coxia, camarins com

banheiros privativos, sala para figurinos,

plataforma elevatória para entrada de

equipamentos e cenários e depósito

superior.

Figura 59: Perspectiva Hall

Fonte: Do Autor, 2015

75

Figura 60: Perspectiva Passarelas

Fonte: Do Autor, 2015

76

Figura 61: Planta

Fonte: Do autor, 2015

Obs: Sem escala

77

Figura 62: Corte AA

Fonte: Do autor, 2015

Obs: Sem escala

78

5.5 Conforto e sustentabilidade

Inserido em uma região quente

praticamente o ano todo, vê-se a

necessidade desse espaço ter uma

temperatura agradável, assim como as

primeiras construções japonesas na região.

As dependências do teatro serão suspensas,

a fim de facilitar a circulação de ar,

cobogós de concretos serão usados nos

fechamentos laterais para entrada de ar.

Um espelho d’água com carpas somado ao uso

de vegetação rasteira será utilizado para

amenizar a temperatura e melhorar a

umidade do ar (Figuras 63 a 65).

Figura 63: Perspectiva espelho d’água

vista do hall

o

Figura 64: Perspectiva cobogós, espelho

d’agua e vegetação

Fonte: Do autor, 2015

79

Figura 65: Perspectiva fachada, vista

espelho d’água

Fonte: Do autor, 2015

Por diferença de pressão, com

aberturas no piso do teatro, o ar frio

infiltrará a área destinada aos

expectadores e em aberturas localizadas

nas extremidades da cobertura, o ar quente

será expelido, gerando constante renovação

do ar (Figuras 60 e 61).

As fileiras do teatro são distribuídas

de forma que respeitem a curva de

visibilidade proposta pela ABNT, dando

possibilidades de boa visualização a todos

os expectadores.

Figura 66: Corte demonstrativo entrada

ar frio

Fonte: Do autor, 2015

Figura 67: Corte demonstrativo saída ar

quente

Fonte: Do autor, 2015

80

5.6 Acústica

Situada em uma fazenda, a área para

implantação do projeto (local do atual

teatro)(Figura 67) não sofre ação de

considerável ruído externo, visto que as

edificações próximas são utilizadas em

momentos alternados ao uso do teatro.

Figura 68: Implantação

Fonte: Do autor

Em estudo, foi observada incidência

irregular sonora no ambiente, o que foi

solucionado com o uso de painéis

absorvedores em regiões com grande

incidência e refletores para

direcionamento a regiões com pouca

incidência (Figura 68).

O Projeto do teatro consta com painéis

suspensos adaptativos para melhor

distribuição sonora no ambiente (Figura

69).

81

Figura 69: Corte demonstrativo painéis suspensos

Fonte: Do autor, 2015

82

Figura 70: Planta para estudo reflexão do som

Fonte: Do autor, 2015

83

Figura 71: Perspectiva interna teatro

Fonte: Do autor, 2015

84

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As fronteiras, embora invisíveis aos

olhos, são delimitadas pela cultura. A

cultura difere estados, países, tribos.

Isamu Yuba acreditava que, plantando

no solo do Brasil a forte e milenar

cultura japonesa, iria certamente colher

bons resultados. Em uma semana ergueu um

teatro. Em meio à mata virgem fez ecoar o

som do violino. Sem dúvida, um homem à

frente do seu tempo.

Orar, cultivar a terra e desenvolver

as artes. As três colunas que sustentam a

comunidade até os dias atuais possibilitam

e servem de inspiração para as linhas que

também “sustentam” o projeto do Teatro

Yuba: um lugar mágico que reúne pessoas de

variadas culturas e serve, muitas vezes,

de palco-mundo.

O incentivo ao desenvolvimento

cultural é um dos caminhos para tornar a

sociedade mais justa e igualitária.

Assim como a arte brota da terra em

Yuba, um novo teatro nasce da junção das

antigas madeiras com a vontade de oferecer

ao público o melhor espetáculo.

Um figurino precisa ser perfeito e

ajustado, o palco, a iluminação, a

acústica também precisam ser, o artista

necessita de boas ferramentas para

manifestar de forma absoluta sua arte.

Costurando múltiplos anseios, (o da

bailarina, do maestro, do coral, do

diretor de teatro, da cenógrafa,e tantos

outros moradores-artistas), o projeto do

Teatro Yuba nasce com a proposta de

transformar sonhos em arquitetura.

O sol brilha sobre as flores do grande

flamboyant.

85

REFERÊNCIAS

Bibliografia:

FALLEIROS, Alcides. Mirandópolis. Três

Lagoas: Dom Bosco, 2000. 289p.

JUNIOR, Raymundo Magalhães. Teatro 1.

Rio de Janeiro: Bloch Editores S.A, 1980.

64p.

KANZAWA, Lucille. Yuba. São Paulo:

Terra Virgem, 2010. 119p.

PEIXOTO, Fernando. O que é Teatro. São

Paulo: Brasiliense, 1980. 128p.

Webgrafia:

Expo Milão 2015: Pavilhão da China /

Tsinghua University + Studio Link-Arc"

[China Pavilion - Milan Expo 2015 /

Tsinghua University + Studio Link-Arc]

2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Victor

Delaqua) Disponível em :

http://www.archdaily.com.br/br/766507/pavi

lhao-chines-milan-expo-2015-tsinghua-

university-plus-studio-link-arc Acesso em

6 de maio de 2015.

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Disponível em:

htpp://www.culturajaponesa.com.br/tag=akik

o-ohara Acesso em 5 de maio de 2015.

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Mirandópolis. disponível em

htpp://www.mirandopolis.sp.gov.br/historia

Acesso em 20 de abril de 2015.

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Disponível em

htpp://www.arqbacana.com.br/internal/arq!m

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shigeru-ban Acesso em 1 de maio de 2015.

Pritzker 1995 - Tadao Ando. Arqbacana,

Disponível em:

htpp://www.arqbacana.com.br/internal/arq!m

86

ix/read/1497/pritzker-1995---tadao ando

Acesso em 1 de maio de 2015.

Teatro Engenho Central. Brasil

Arquitetura. Disponível em

http://brasilarquitetura.com/projetos/teat

ro-engenho-central/ Acesso em 5 de

Setembro de 2015.

Entrevistas:

KANZAWA, Lucille

KANZAWA: depoimento (junho 2015)

Entrevistador: Bruno Coquetti

YUBA, Katsue

YUBA K. : depoimentos (agosto e

setembro 2014)

Entrevistador: Bruno Coquetti

YUBA, Tsuni

Yuba T.: depoimento (novembro 2015)

Entrevistador: Bruno Coquetti

YAMAZAKI, Minako

Yamazaki: depoimento (agosto 2014)

Entrevistador: Bruno Coquetti

Intérprete: Katsue Yuba

YAZAKI, Masakatsu

Yazaki: depoimento (outubro 2014)

Entrevistador: Bruno Coquetti