inventario extrajudicial

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LEI N. 11.441 DE 04.01.2007 - INVENTRIO, PARTILHA, SEPARAO E DIVRCIO CONSENSUAIS ATRAVS DE ESCRITURA PBLICARnan Kfuri Lopes Advogado

SUMRIO : 01. 02. DESOPRESSO DO JUDICIRIO INVENTRIO E PARTILHA DE CAPAZES E CONCORDES POR ESCRITURA PBLICA 02.1. CAPACIDADE CIVIL E CONCORDNCIA 02.2. ` LEGITIMIDADE DA COMPANHEIRA EM UNIO ESTVEL 02.3. CONSTITUIO DE TTULO HBIL PERANTE O REGISTRO DE IMVEIS 02.4. OBRIGATRIA ASSISTNCIA DAS PARTES POR ADVOGADO 02.5. RESPONSABILIDADE CIVIL DO NOTRIO PRAZO PARA INCIO E FIM DO INVENTRIO JUDICIAL 03.1. HOMOLOGAO DA PARTILHA AMIGVEL SEPARAO E DIVRCIO CONSENSUAIS POR ESCRITURA PBLICA 04.1 CONSTITUIO DE TTULO HBIL 04.2. OBRIGATRIA ASSISTNCIA DOS CNJUGES POR ADVOGADO 1

03.

04.

04.3.

GRATUIDADE DA ESCRITURA E ATOS NOTARIAIS

05.

DIREITO INTERTEMPORAL

01.

DESOPRESSO DO JUDICIRIO Dando prosseguimento reforma processual com o

intento de aliviar o Poder Judicirio de questes que possam ser resolvidas diretamente pelas partes, desde 05 de janeiro de 2.007 passou a vigorar a Lei n. 11.441. Doravante, os jurisdicionados maiores e capazes, se assim optarem, atravs de procedimento administrativo, desde que acordes, sem conflito e assistidos por advogado, podem se ajustar livremente em inventrio e partilha, separao e divrcio, por intermdio de escritura pblica lavrada perante o cartrio de notas, com fora de ttulo hbil para se exigir o cumprimento das clusulas e condies aventadas. No se olvida que as vrias reformas introduzidas transformaram o CPC numa colcha de retalhos, sem perder de vista que outras esto por vir. Todavia, a expectativa maior a desopresso do Judicirio, que lento e sem estrutura razovel, retarda apenas a o prestao jurisdicional. da lei No havendo qualquer suprimindo 2 interesse do legislador em melhor aparelhar o judicirio, restou enxugamento processual,

procedimentos judiciais que passaram a ser considerados dispensveis. A Lei 11.441/07, seguramente, atender com mais agilidade para aqueles que preenchem seus requisitos, excluindo os juzes da negociao firmada entre particulares, vez que o Judicirio ficar desobrigado de homologar cerca de 250 mil processos de separaes e divrcios por ano. Os dados do IBGE no ano de 2.005 traduziram a realizao de 150.714 divrcios em todo judicirio brasileiro, sendo que deste total, 102.112 foram consensuais, o equivalente a 68%. Enquanto as separaes chegaram ao nmero de 100.448, das quais 77.201 foram consensuais, o correspondente a 77%. Merece reparo a Lei n. 11.441/07 quanto falta de prazo para sua implementao. Sancionada em 04.01.2007 a lei passou a vigorar no dia seguinte, 05.01.2007, data da sua publicao, conforme previso contida no art.4. Evidente que necessitaria um prazo maior de vacatio legis para que os Cartrios e as Corregedorias de Justia pudessem melhor se organizar e desbastar as eventuais dvidas na aplicao do novel texto legal.

02.

INVENTRIO E PARTILHA DE CAPAZES E CONCORDES POR ESCRITURA PBLICA 3

A Lei n. 11.441/07 deu nova redao ao caput do art.982 do CPC e introduziu o pargrafo nico nesse dispositivo. A anterior limitava-se a impor a necessidade do inventrio judicial mesmo sendo as partes capazes: proceder-se- ao inventrio judicial, ainda que todas as partes sejam capazes. A nova vestimenta do art.982 caput do CPC trouxe a possibilidade (poder) dos interessados optarem pelo procedimento extrajudicial do inventrio e partilha dos bens, se todos forem capazes e concordes nos termos entabulados por escritura pblica, que ter fora de ttulo hbil para averbar e registrar no Cartrio de Registro de Imveis as deliberaes nela inseridas. O pargrafo nico do art.982 do CPC a novidade includa com o designo de impor que todas as partes interessadas na lavratura da escritura pblica para os fins do caput estejam assistidas por advogado que assinar o ato notarial, in verbis: "Art. 982. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se- ao inventrio judicial; se todos forem capazes e concordes, poder fazer-se o inventrio e a partilha por escritura pblica, a qual constituir ttulo hbil para o registro imobilirio. Pargrafo nico. O tabelio somente lavrar a escritura pblica se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas, cuja qualificao e assinatura constaro do ato notarial

4

Conceitua-se o inventrio como o procedimento que presta para descrever, avaliar e liquidar os bens pertencentes e deixados poca de sua morte pelo inventariado (de cujus) que ser objeto de partilha e distribuio em favor dos seus sucessores o monte lquido de seus respectivos quinhes. O inventrio judicial obrigatrio sempre que houver testamento ou figurar no plo ativo incapazes (art.982 caput incio). Escolhendo o inventrio extrajudicial, por escritura pblica, os sucessores e interessados, atravs de advogado, comparecero no escritrio do profissional e contrataro seus servios para verificar, inicialmente, se satisfazem os requisitos do caput (capazes e concordes quanto partilha). Superada a legitimidade para o ato notarial, o advogado ouvir as pretenses das partes quanto partilha e se a diviso proposta obedece s regras legais previstas nos artigos 2.013 usque 2.022 do Cdigo Civil. O advogado elaborar em seu escritrio minuta do acordo quanto partilha traada que ser enviada ao Cartrio de Notas para a prvia conferncia do Tabelio quanto aos termos e clusulas convencionados, acompanhada dos documentos que comprovam a legitimidade dos interessados e a propriedade do falecido dos bens inventariados.

5

Estando tudo regular, os interessados em dia e hora combinado com a repartio, pessoalmente ou por procurador munido de mandato com poderes especiais para esse mister, assistidos por advogado, assinaro perante o Tabelio a escritura pblica do inventrio. A escritura pblica ser levada ao Cartrio de Registro de Imveis para a averbao nas matrculas dos termos pactuados efetivar a quanto aos novos de proprietrios de dos bens imveis mveis, inventariados. Tambm a escritura pblica gerar direito para transferncia propriedade apresentando-a nos rgos e estabelecimentos competentes, verbi gratia, DETRAN (veculos), bancos (valores em contacorrente, caderneta de poupana e aplicaes em geral), juntas comerciais (cotas sociais), etc.

02.1.

CAPACIDADE CIVIL E CONCORDNCIA

Exige o art.982 caput que os interessados sejam capazes e concordes, complementado pelo pargrafo nico que prescreve a obrigatoriedade de todos estarem assistidos por advogado. Considera-se capaz a pessoa habilitada prtica de todos os atos da vida civil a partir do dia que completar 18

6

(dezoito) anos 1 , cessando a partir da a incapacidade civil absoluta e relativa 2 . Embora menor, a incapacidade cessar

excepcionalmente nas hipteses conjeturadas nos incisos do pargrafo nico do art.5 do Cdigo Civil 3 , autorizando, assim, nestas circunstncias, capacidade para inventariar via escritura pblica. O Ministrio Pblico no intervir na escritura pblica do inventrio extrajudicial, vez que ausente a participao de incapaz (CPC, art.82,I). A concordncia outro quesito inarredvel e at bvio para que as partes harmonicamente se acordem na combinao da partilha, consoante dicciona a primeira parte do art.982 caput do CPC. Na verdade o Tabelio ao permitir se lavrar a escritura do inventrio, mutatis mutantis, atua como o juiz quando homologa celebrados por sentena a partilha judicial, atravs amigvel cujos de que lhe apresentada em processo termos foram pblica,

extrajudicialmente

escritura

1 2

Cd.Civil,art.5 caput. Cd.Civil,art.3 (incapacidade absoluta) e art.4 (incapacidade relativa). 3 Cd.Civil, art.5,pargrafo nico: I-pela concesso dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento pblico, independentemente de homologao judicial, ou por sentena do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;II- pelo casamento; III-pelo exerccio de emprego pblico efetivo; IVpela colao de grau em curso de ensino superior; V- pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existncia de relao de emprego, desde que, em funo deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia prpria.

7

consoante prescrevem o art.1.031 do CPC e 2.015 do Cdigo Civil 4 . Se divergirem os herdeiros, ou se algum deles for incapaz, a partilha se dar impositivamente no inventrio judicial, ex-vi art.2.016 do Cdigo Civil e agora expressamente o art.982 caput do CPC.

02.2. `

LEGITIMIDADE DA COMPANHEIRA EM UNIO ESTVEL

A Constituio Federal conceitua a unio estvel como uma entidade familiar (artigo 226, 3). Hoje no h mais dvida de que a legislao ptria salvaguarda os direitos patrimoniais adquiridos pelos companheiros durante o perodo de unio estvel. A Lei n. 8.971/94 regula o Direito dos Companheiros Alimentos e Sucesso e a Lei n. 9.278/96 regulamenta o 3 do art.. 226 da CF quanto aos bens adquiridos durante a unio estvel e o direito real de habitao ao companheiro sobrevivente.

O Cdigo Civil veio consagrar os companheiros com presuno juris et de jure integrantes na ordem de vocao4

CPC, art.1.031 caput, alterado pela Lei 11.441/05 prev que a partilha amigvel celebrada entre capazes nos termos do art.2.015 do Cdigo Civil (por escritura pblica ou nos autos do inventrio, ou escrito particular) ser homologada de plano pelo juiz.

8

hereditria ao lado dos ascendentes, descendentes, irmos e cnjuge (Cdigo Civil, art. 1.802). Considera a lei substantiva civil a unio estvel para fins de partilha como o casamento realizado sob o regime de comunho parcial de bens (Cd.Civil, art. 1.725), permitindo concorrer na participao dos bens onerosamente adquiridos e os frutos percebidos na constncia da relao (Cd.Civil, art.1.790), com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior (Cd.Civil, arts.1.660,II e V e 1.662), inclusive assumindo o cargo de inventariante (RSTJ 114:209) 5 .

Na vanguarda do melhor direito, desnecessrio se exigir que a unio estvel seja reconhecida por sentena judicial se a companheira do falecido apresentar ao Tabelio prova documental segura, indene de qualquer dvida, comprovando a existncia da unio estvel (ad exemplificandum: a escritura pblica de reconhecimento de unio estvel), fato ratificado por outros documentos, pelos herdeiros e interessados que anuiro escritura pblica do inventrio extrajudicial, reconhecendo expressamente a existncia da sociedade de fato.

Ademais,

no

tendo

o

companheiro

falecido

descendentes ou ascendentes, a companheira adquire direito totalidade da herana, revelando a tendncia isonmica aos direitos dos cnjuges,art. 2, inc. III, da Lei n. 8.971/94 apud TJSP in RT 764:218. Assevera o autorizado Zeno Veloso que "no direito sucessrio brasileiro j estava consolidado e quieto o entendimento de que, na falta de parentes em linha reta do5

A Companheira tem Legitimidade no Inventrio, www.rkladvocacia.com , acessado em 10.01.2007.

Rnan

Kfuri

Lopes,

9

falecido, o companheiro sobrevivente deve ser o herdeiro, afastando-se os colaterais e o Estado" 6 .

Todavia, se o Tabelio no se convencer da qualidade de companheiro do cnjuge sobrevivente, desautorizar que se lavre a escritura pblica do inventrio extrajudicial, pois requisito inafastvel a prova contundente de companheiro para a admisso no plo ativo do inventrio. Caber ao pretenso companheiro, destarte, ajuizar ao ordinria de reconhecimento de unio estvel, inclusive com pedido de tutela antecipada para suspender a formalizao do inventrio ou a reserva de bens no quinho que entenda de seu direito, afastando que esse patrimnio em litgio integre o inventrio extrajudicial (TJMG, apelaes ns. 1.0473.03.002385-6/001-DJ 11.03.05 e 1.0515.05.014147-9/001, DJ 11.04.2006).

A dos outros

parte

incontroversa poder

por ser

lei

ou

expressamente do inventrio

reconhecida pelo pretenso companheiro como de propriedade sucessores, objeto formalizado atravs de escritura pblica.

02.3.

CONSTITUIO DE TTULO HBIL PERANTE O REGISTRO DE IMVEIS

O art.982 caput do CPC deu fora executiva para o cumprimento6

da

partilha

de

imveis,

bastando

que

seja

apresentada a estrutura da diviso dos bens entabulada eDo Direito Sucessrio dos Companheiros, in Direito de Famlia e o novo Cdigo Civil, ed. Del Rey e IBDFAM, Belo Horizonte, 2001, p. 236

10

proceder-se- sua transcrio nas respectivas matrculas dos imveis. Assim, a escritura pblica ser apresentada em cada cartrio de imvel competente, que esteja registrado o imvel, para a transferncia da propriedade. As partes podero requerer perante o Cartrio de Notas a extrao de mais vias da escritura de compra e venda para facilitar o registro se forem muitos imveis e bens espalhados em vrias localidades. Este procedimento se equipara ao usual registro de escritura pblica de compra e venda, atendendo s normas da Lei de Registros Pblicos-LRP, Lei n. 6.015 de 31.12.1973 que dispe acerca dos registros pblicos, valendo destacar algumas regras dessa lex speciais: os atos jurdicos entre vivos que dividirem imveis so registrados e averbados na matrcula de cada imvel no cartrio da situao do imvel (arts.127,I; 167,I,23 e II,14; 169 e 236,LPR); os registros seguiro obrigatoriamente a cadeia dominial para fins de registro. Se desatendida a concatenao nesta continuidade o Tabelio poder exigir que seja suprida, sob pena de no registrar a escritura de partilha(arts.195 e 237,LRP). a escritura pblica possibilitada pela Lei 11.441/07 equivale ao formal de partilha que admitido para registro 11 (arts.221,I,IV e 222, LRP);

na

escritura

pblica

deve

se

fazer

individualmente

a

referncia ao nmero de cada matrcula com identificao do cartrio de imvel (art.222, LRP).

02.4.

OBRIGATRIA ASSISTNCIA DAS PARTES POR ADVOGADO

O jus postulandi prerrogativa

do advogado para

defender os interesses da parte na demanda, representando e resistindo em prol dos interesses do seu constituinte. Essa a forma de afastar o desequilbrio de foras no processo, igualando-se os desiguais na expresso consagrada por Rui Barbosa. Para assegurar esta igualdade faz-se necessria a presena do advogado ao lado de cada uma das partes, pois no sendo assim, avultar a violao da isonomia das partes, comprometendo o contraditrio e a ampla defesa 7 . imposio da Lei pice tutelar o princpio da

proporcionalidade para atingir uma soluo ponderada nos conflitos. Essa exigncia deita no leito da noo de Estado Constitucional. Assim, dentro do esprito de garantir tudo aquilo que os interessados tm direito de obter, evidente, que sem a presena do advogado redundar no comprometimento da segurana jurdica.7

O art.133 da CF ressalta a importncia e a imprescindibilidade do advogado, indispensvel administrao da justia, sendo inviolvel seus atos e manifestaes no exerccio da profisso, nos limites da lei.

12

Dentro dos princpios de salvaguardar o equilbrio e o direito das partes, possibilitando que antes da assinatura do acordo as questes pendentes sejam amplamente debatidas at alcanar um ponto comum, o pargrafo nico do art.982 estatuiu que o tabelio somente lavrar a escritura se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas, cuja qualificao e assinatura constaro do ato notarial . Preservou-se o que ocorria na esfera judicial quando as partes eram obrigatoriamente representadas por um advogado, detentor do ius postulandi, podendo agir em juzo para defesa dos interesses do seu cliente. Agora, a presena de profissional tecnicamente habilitado refletir no exerccio mximo do direito de defesa garantido constitucionalmente (CF, art.5 LV). No corpo da escritura pblica ser identificado o advogado, sua qualificao (nome, nmero inscrio na OAB, estado civil, nacionalidade, endereo do escritrio) e o nome de quem assiste. O advogado estar presente pessoalmente e assinar o livro onde ser lavrada a escritura pblica juntamente com seu cliente e os demais interessados, rubricando todas as pginas.

02.5.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO NOTRIO

A atividade notarial e de registro se enquadram como instituies pr-jurdicas, sendo entidade do Estado como um 13

corpo social independente, no integrante do governo ou de outro Poder Poltico. Os atos praticados pelos Notrios e Registradores so, tipicamente, de direito material, de cidadania, no administrativos, uma atividade pblica atpica com regramento prprio. J os procedimentos de ingresso ou de disciplina, estes sim, so administrativos, porque vinculam o Notrio ou o Registrador ao Poder Pblico, mas s nessa uno e disciplina obedecem as normas pblicas 8 . Assim, insta pontuar que os servios notariais no se encaixam dentre aqueles prestados pelo Estado ou por quem lhe faa s vezes, sob um regime de direito pblico. E no mbito da responsabilidade civil no se aplica aos Notrios e Registradores o preceito contido no art. 37, 6 da Carta Federal, porque, como dito, no se cuida de servio pblico de ordem material da Administrao direta ou indireta. O 1 do art. 236 da Constituio Federal remeteu Lei Ordinria a regulao da disciplina da atividade e da responsabilidade civil e criminal dos notrios. Se o legislador pretendesse situar a atividade notarial como servio pblico, enquadraria a mesma no Captulo de Administrao Pblica. A responsabilidade civil dos notrios decorre da prtica de ato ilegal, doloso ou culposo, por ao ou omisso, praticados nos servios prestados que resultem prejuzos de8

Responsabilidade Civil-Estudos Homenagem Centenrio do Nascimento de Aguiar Dias, Forense, 2.006, artigo Resp.Civil, Penal e Administrativa dos Notrios e Registradores e o Dano Moral, pgs.47 e segs.

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ordem material e moral a terceiros (nexo causal). Aplica-se os princpios gerais da responsabilidade extracontratual previstos nos arts. 927 9 e 932,III do Cdigo Civil 10 . No campo das provas, indubitavelmente, o nus do notarial, pois detm os documentos necessrios para melhor instruir o processo, aplicando-se, noutro norte o Cdigo de Defesa do Consumidor.

03.

PRAZO PARA INCIO E FIM DO INVENTRIO JUDICIAL Inventrio judicial se d atravs de um processo com o

propsito

de

se

relacionar

os

bens e

deixados distribuindo

pelo aos

falecido/inventariado,

partilhando-os

sucessores aps a quitao das dvidas deixadas pelo de cujus. No ser necessria a abertura do processo de inventrio judicial se presentes as partes, maiores, concordarem previamente com a partilha amigvel (CC,art.2.015), levada ao juzo simplesmente para sua homologao (CPC, art.1.031); e

9

Art.927.Aquele que, por ato ilcito (arts.186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo. Pargrafo nico . Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especficos em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 10 Art.932. So tambm responsveis pela reparao civil:...III-o empregador ou comitente, por seus empregados, serviais e prepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou em razo dele; (...).

15

tambm quando existir apenas herdeiro nico, adjudicando-se os bens (CPC, art.1.031 1). O caput do art.983 tem nova redao e foi revogado o anterior pargrafo nico do CPC pelo art. 5 da Lei n. 11.441/07. A novidade que agora esto pontualmente fixados os prazos para o incio e o fim do inventrio judicial. O processo de inventrio e partilha dever iniciar dentro de 60 (sessenta) dias, significa dizer distribudo perante o juzo competente, a contar da abertura da sucesso, que se d a partir da data do bito do inventariado. E seu prazo de tramitao de 12 (doze) meses contados a partir da data da distribuio. Portanto, analisando o dispositivo sob a tica da reforma processual buscando a celeridade do judicirio, tem-se que o prazo agora dobrado (o anterior era de 06 meses) teve o intuito de fazer que se cumpra. Todavia, entendemos que em caso de retardamento na conduo do processo pelo inventariante no poder ocorrer a extino do processo com base no art.267 incisos II e III do CPC (regra geral), pois o mesmo codex instrumental civil prev que nestas hipteses o juiz ter de remover o inventariante, ex-vi art.995,II (regra especial) mas no proferir sentena extintiva. Inadmissvel considerar a lei letra morta para

cumprimento do prazo de 12 (doze) meses. Mas para atingir esse desiderato, as partes, os advogados, as secretarias 16

judiciais, os juzes e os promotores de justia devem estudar a matria e se aparelhar para juntos, cada um dentro de suas funes, cumprir esse prazo que a regra geral para ultimar o inventrio. O STF considerou constitucional a multa fiscal prevista por leis estaduais pelo retardamento aos prazos de incio e encerramento do inventrio judicial 11 . A exceo ser a prorrogao desse prazo que ficar a cargo de deciso proferida pelo juiz de ofcio ou a requerimento de parte. Advirta-se que o pedido de dilao do prazo conter justificativas plausveis. E por seu turno, a deciso que prorrogar haver de ser fundamentada e de antemo estipular um novo prazo para o encerramento do inventrio dentro da realidade apresentada nos autos. Melhor ser se o juiz nessa deciso pontue as pendncias e ordene a sua satisfao pelos responsveis, sob pena de remoo do inventariante por no dar ao inventrio andamento regular (CPC, art.995,II).

03.1.

HOMOLOGAO DA PARTILHA AMIGVEL

O art.1.031 caput do CPC foi alterado apenas na meno do art.2.015 do novo Cdigo Civil (Lei n. 10.406 de 10.01.2002) em substituio do art.1.773 do revogado CC/1.916, in verbis:

11

STF,Smula 542: No inconstitucional a multa instituda pelo Estadomembro, como sano pelo retardamento do incio ou da ultimao do inventrio.

17

Art.1.031. A partilha amigvel, celebrada entre partes capazes, nos termos do art. 2.015 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Cdigo Civil, ser homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da quitao dos tributos relativos aos bens do esplio e s suas rendas, com observncia dos arts.1.032 a 1.035 desta Lei O art.1.031 do CPC trata da opo concedida aos herdeiros capazes que unanimemente acordes e quites com os tributos relativos aos bens do esplio e s suas rendas, buscam a chancela judicial para que a partilha amigavelmente estabelecida seja homologada por sentena, constituindo-se em um ttulo executivo judicial (CPC, art.475-N,VII). Necessrio que antes da apresentao em juzo para a homologao ocorra prvia diviso amigvel do monte lquido entre os sucessores do de cujus pelas 03 (trs) formas previstas no art. 2.015 do Cdigo Civil: por escritura pblica; por termo nos autos do inventrio e por escrito particular. A petio inicial ser instruda com os documentos reveladores da opo de composio da partilha dos capazes (CC, art.2.015), a prova da propriedade do de cujus, da quitao dos tributos relativos aos bens partilhados e s suas rendas (CPC,art.1.031 caput fine), atendendo, ainda, s exigncias do art.282 do CPC.

18

04.

SEPARAO E DIVRCIO CONSENSUAIS POR ESCRITURA PBLICA A separao consensual e o divrcio consensual podem

ser formalizados extrajudicialmente atravs do ato administrativo da escritura pblica perante o Cartrio de Notas, desde que presentes as situaes fticas e de direito traados pelo novo art. 1.124-A caput e que os cnjuges estejamassistidos por advogado ( 2). Exige o art.1.124-A caput: - que o casal no tenha filhos menores ou incapazes; para a escritura pblica de separao consensual tenha ultrapassado o prazo legal de mais de um ano da data do casamento (CC, art.1.574 caput); para a escritura pblica do divrcio consensual, tenham ultrapassados os prazos de um ano da data da publicao da sentena que houver decretado a separao judicial (CC, art. 1.580 caput e art.25 da Lei n. 6.515/77) ou que esteja o casal separado de fato h mais de 02 (dois) anos (CF, art.226 6; Lei n. 6.515/77, art.40 e alterados pela Lei n. 7.841/89); a descrio e partilha dos bens comuns; estabelecida a penso alimentcia; deliberado se a varoa retomar seu nome de solteira ou manter o de casado.

19

Observa-se que no poder computar o prazo de um ano da deciso concessiva da medida cautelar de separao de corpos (CC, art. 1.580), pois se presume estejam em curso as aes principais de separao ou de divrcio, no se permitindo um ambiente jurdico hbrido, judicial e extrajudicial concomitantemente.

04.1

CONSTITUIO DE TTULO HBIL O 1 do art. 1.124-A claro ao frisar que a escritura

pblica da separao e do divrcio consensual independe de qualquer homologao judicial, se constituindo em ttulo hbil para averbar o novo estado civil diante do cartrio de registro civil (LRP, arts.29 1,a e 100); e averbar nas matrculas a combinao da partilha dos bens imveis perante o cartrio de registro de imvel competente (LRP, art.167,II,14). Continua em vigor a possibilidade do casal separado consensualmente atravs de escritura pblica restabelecer a todo tempo a sociedade conjugal. Mas ter de vir a juzo, atravs de um processo autnomo, pleiteando seja por sentena homologada a restaurao da sociedade conjugal (CC, art. 1.577).

04.2.

OBRIGATRIA ASSISTNCIA DOS CNJUGES POR ADVOGADO 20

Pelos mesmos motivos alinhavados no item 02.4 supra que trata do inventrio extrajudicial, aqui tambm na separao e divrcio consensuais, o tabelio somente lavrar a escritura se os contratantes/cnjuges estiverem assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja qualificao e assinatura constaro do ato notarial (CPC, art.1.124-A 2). A mantena dos princpios gerais de direito quanto ao equilbrio, proporcionalidade e isonomia no resguardo dos direitos dos cnjuges s estaro presentes com a atuao do profissional na rea do direito, o advogado. No corpo da escritura pblica ser identificado o advogado, sua qualificao (nome, nmero inscrio na OAB, estado civil, nacionalidade, endereo do escritrio) e o nome de quem assiste. O advogado estar presente pessoalmente e assinar o livro onde ser lavrada a escritura pblica juntamente com seu cliente e os demais interessados, rubricando todas as pginas.

04.3.

GRATUIDADE DA ESCRITURA E ATOS NOTARIAIS

Dispe o art. 1.124-A 3 que a escritura e demais atos notariais sero gratuitos queles que se declararem pobres sob as penas da lei. 21

Esse dispositivo de suma importncia para tambm abrigar a aplicao dos novos dispositivos da Lei n. 11.441/07 queles considerados pobres pela lei. Basta o interessado manifestar de prprio punho, expressamente, que a sua situao econmica no permite o pagamento das despesas com a escritura e demais atos notariais noinventrio, separao e divrcio consensuais. A mens legis equivale ao prescrito pelo art. 1.512 do Cdigo Civil que trata da gratuidade das despesas para a habilitao do casamento das pessoas cuja pobreza for declarada. Por analogia, em tese, pode-se buscar raciocnio com espeque na Lei n. 1.060/1950 e do art.5,LXXIV da CF nos casos de assistncia gratuita no judicirio. Aquele que inserir declarao falsa ou diversa da que deveria constar, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, responder pelo cometimento do crime de falsidade ideolgica, ex-vi art.299 do Cdigo Penal 12 .

A assistncia por advogado particular no afasta o direito da parte assistncia judiciria, pois no h previso

12

Art. 299 - Omitir, em documento pblico ou particular, declarao que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declarao falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigao ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - recluso, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa, se o documento pblico, e recluso de 1 (um) a 3 (trs) anos, e multa, se o documento particular.

22

legal

obrigando-a

recorrer

aos

servios

da

assistncia

judiciria 13 . A declarao de pobreza ser ofertada no cartrio de notas e conter seus termos no bojo da prpria escritura ou atravs de outro documento pblico apartado, mas integrante da escritura pblica a que destina o pleito da benesse. Ser de suma importncia o papel positivo e atuante das Corregedorias de Justia para levar prtica o objetivo da presente lei.

A gratuidade aambarca apenas as despesas com a escritura e atos notariais no se estendendo aos impostos e tributos exigidos pelas legislaes municipais, estaduais e federais, em especial aos impostos de transmisso de bens no inventrio ou entre vivos na separao ou divrcio consensuais. A gratuidade concedida definitiva e integral, no se permitindo a validade do benefcio por determinado prazo sob certa condio ou fracionado. Houve a um equilbrio, pois o esforo dos Cartrios no cobrando das pessoas pobres, certamente ser compensado com o resultado positivo obtido nas separaes e divrcios concretizados mediante o pagamento das despesas cartoriais.

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RT 707:119; STJ-Bol.AASP 1.703/205.

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Como a assistncia judiciria individual, a iseno ser proporcional ao pagamento que recairia sobre a responsabilidade da pessoa considerada pobre, mantendo-se a obrigao dos demais na proporo que lhes for correspondente por suas participaes no ato e apuradas baseando no cmputo dos bens e quinhes patrimoniais que lhes forem beneficiados. Poder ocorrer que uma das partes assuma no acordo arcar com a quitao das despesas notariais integrais ou parciais de outros partcipes da escritura pblica. A Tabelio interpretao na via da veracidade depois da de declarao examinar de as

pobreza para fins de sua admisso deciso exclusiva do administrativa, circunstncias e documentos de cada caso concreto quanto veracidade das alegaes do estado de miserabilidade. Se o Tabelio estiver convicto que o interessado no preenche aos requisitos legais para ser considerado pobre e gozar da gratuidade das despesas notariais, indeferir o pleito de forma motivada, expondo as razes do seu convencimento. Restar ao que se sentir prejudicado vir a juzo e promover perante o juzo competente (vara de registros pblicos nas comarcas que estejam instaladas) processo judicial para impelir ao Tabelio lavrar a escritura pblica sob os auspcios da gratuidade nos termos do 3 do art. 1.124-A do CPC. O nus da prova ser do Tabelio, pois a presuno juris tantum a favor do declarante. 24

05.

DIREITO INTERTEMPORAL O art.4 da Lei n. 11.441/07 estabeleceu sua vigncia a

partir da data da sua publicao, ocorrida em 05.01.2007. Assim, pblica desde o 05.01.2007 inventrio, os interessados e tm

disposio a possibilidade de proceder atravs de escritura extrajudicial separao divrcio consensuais, se adequados s normas da Lei n. 11.441/07. Os interessados em condies de utilizar das premissas da novel legislao, mas que estejam em curso processo judicial pendente para alcanar idntico propsito, tero de primeiramente obter sentena homologatria de desistncia deste processo sem julgamento do mrito (CPC, art.267,VIII). Transitada em julgado a sentena homologatria da desistncia, por no ter emergido qualquer efeito jurdico, possvel aos interessados pblica. Sub censura. buscarem seus intentos atravs da escritura

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