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INVESTIGAÇÕES MATEMÁTICAS EM SALA DE AULA: PROPONDO E ANALISANDO A APLICAÇÃO DE TAREFAS INVESTIGATIVAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA Caroline Hellen Martendal dos Santos (IC), (Fundação Araucária), UNESPAR/ FECILCAM, [email protected] Willian Belline (OR), UNESPAR/FECILCAM, [email protected] INTRODUÇÃO A Matemática é vista por vários alunos como uma disciplina de difícil entendimento, em que fórmulas complicadas devem ser decoradas. Para os alunos, a principal razão do insucesso na disciplina de Matemática resulta desta ser extremamente difícil de compreender. No seu entender, os professores não a explicam muito bem nem a tornam interessante. Não percebem para que serve nem porque são obrigados a estudá-la. Alguns alunos interiorizam mesmo desde cedo uma auto-imagem de incapacidade em relação à disciplina. Dum modo geral, culpam-se a si próprios, aos professores, ou às características específicas da Matemática (PONTE, 1994, p. 2). Para alguns autores como Tudella et al. (1999), Ponte (2006), Lamonato (2007) uma das formas para se desenvolver um trabalho diferenciado em aulas de Matemática trata da Investigação Matemática. Assim como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de 5 à 8, publicados em 1998, dão uma significativa importância à realização de atividades de investigação e pesquisa no ensino e na aprendizagem da Matemática, em estreita associação com a resolução de problemas. Atividades de natureza investigativa têm ganhado crescente visibilidade nos currículos escolares, em particular na disciplina de Matemática. Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCE) encontramos um dos objetivos de utilizar Atividades Investigativas na sala de aula e matemática: “na investigação matemática, o aluno é chamado a agir como um matemático, não apenas porque é solicitado a propor questões, mas, principalmente, porque formula conjecturas a respeito do que está investigando” (PARANÁ, 2008, p. 67). Deste modo esta pesquisa teve o propósito de apresentar como as atividades investigativas contribuíram para o ensino-aprendizagem dos alunos em matemática no âmbito escolar. Primeiramente foi apresentada uma breve fundamentação teórica sobre atividades investigativas nas aulas de matemática e em seguida foi apresentada a análise da atividade investigativa intitulada “Potências e Regularidades” desenvolvida com os alunos do sexto ano do ensino fundamental do Colégio Campina da Lagoa, localizado em Campina da Lagoa - PR. As atividades foram aplicadas no primeiro semestre de 2013, a atividade contou com 2 horas/aulas, totalizando o tempo de 1 hora e 40 minutos. Estavam presentes na turma do 6º ano vinte e

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INVESTIGAÇÕES MATEMÁTICAS EM SALA DE AULA: PROPONDO E ANALISANDO A

APLICAÇÃO DE TAREFAS INVESTIGATIVAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Caroline Hellen Martendal dos Santos (IC), (Fundação Araucária), UNESPAR/ FECILCAM, [email protected]

Willian Belline (OR), UNESPAR/FECILCAM, [email protected]

INTRODUÇÃO

A Matemática é vista por vários alunos como uma disciplina de difícil entendimento, em que

fórmulas complicadas devem ser decoradas.

Para os alunos, a principal razão do insucesso na disciplina de Matemática resulta desta ser extremamente difícil de compreender. No seu entender, os professores não a explicam muito bem nem a tornam interessante. Não percebem para que serve nem porque são obrigados a estudá-la. Alguns alunos interiorizam mesmo desde cedo uma auto-imagem de incapacidade em relação à disciplina. Dum modo geral, culpam-se a si próprios, aos professores, ou às características específicas da Matemática (PONTE, 1994, p. 2).

Para alguns autores como Tudella et al. (1999), Ponte (2006), Lamonato (2007) uma das

formas para se desenvolver um trabalho diferenciado em aulas de Matemática trata da Investigação

Matemática.

Assim como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de 5 à 8, publicados em 1998, dão

uma significativa importância à realização de atividades de investigação e pesquisa no ensino e na

aprendizagem da Matemática, em estreita associação com a resolução de problemas. Atividades de

natureza investigativa têm ganhado crescente visibilidade nos currículos escolares, em particular na

disciplina de Matemática. Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCE) encontramos um

dos objetivos de utilizar Atividades Investigativas na sala de aula e matemática: “na investigação

matemática, o aluno é chamado a agir como um matemático, não apenas porque é solicitado a propor

questões, mas, principalmente, porque formula conjecturas a respeito do que está investigando”

(PARANÁ, 2008, p. 67).

Deste modo esta pesquisa teve o propósito de apresentar como as atividades investigativas

contribuíram para o ensino-aprendizagem dos alunos em matemática no âmbito escolar.

Primeiramente foi apresentada uma breve fundamentação teórica sobre atividades investigativas nas

aulas de matemática e em seguida foi apresentada a análise da atividade investigativa intitulada

“Potências e Regularidades” desenvolvida com os alunos do sexto ano do ensino fundamental do

Colégio Campina da Lagoa, localizado em Campina da Lagoa - PR.

As atividades foram aplicadas no primeiro semestre de 2013, a atividade contou com 2

horas/aulas, totalizando o tempo de 1 hora e 40 minutos. Estavam presentes na turma do 6º ano vinte e

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seis alunos. Também esteve sempre presente a professora regente observando o desenvolvimento da

atividade.

Esta pesquisa teve como objetivo analisar as possibilidades e contribuições de práticas

exploratório-investigativas na sala de aula, a introdução de tarefas investigativas em aulas de

matemática e verificar se ocorrem mudanças de atitude na concepção dos alunos em relação à

matemática e à capacidade de fazer matemática.

Dessa maneira a pesquisa contribuiu para ao ensino de matemática, oferecendo reflexões e

apontando o uso de investigações matemática, assim como levou os alunos a discutir idéias

matemáticas que já tinham trabalhado parcialmente, revendo, apurando e aprofundando essas idéias e

relacionando-as com outras idéias.

REFERENCIAL TEÓRICO

Investigar em Matemática

Para Ponte, Brocardo e Oliveira (2006) é interessante utilizar investigações matemáticas na

sala de aula, pois estudos em educação têm mostrado que é uma poderosa forma de construir

conhecimento.

A investigação vista pelos matemáticos profissionais procura “[...] descobrir relações entre

objetos matemáticos conhecidos ou desconhecidos, procurando identificar as respectivas

propriedades” (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2006, p. 13).

Ainda de acordo com estes autores, uma Investigação Matemática é desenvolvida em torno de

um ou mais problemas em que o investigador precisa identificar o problema e resolver.

Por isso, para alguns pesquisadores, a Investigação Matemática tem sido considerada uma

parte da Resolução de Problemas, pois existe uma estreita relação entre problemas e investigações.

Mesmo a Resolução de Problemas tendo uma estreita relação com a investigação matemática, há uma

diferenciação entre tais estratégias de se ensinar matemática.

Para Ernest (1996) o aspecto que mais distingue Resolução de Problemas de atividades

investigativas é que:

A resolução de problemas permite ao aluno aplicar a sua aprendizagem criativamente, numa nova situação, mas o professor ainda mantém muito do seu controlo sobre o conteúdo e o modo de ensinar. Se a abordagem investigativa é adoptada de modo a permitir ao aluno a formulação de problemas e questões para investigação de modo relativamente livre, torna-se emancipadora (ERNEST, 1996, p. 31).

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Desta forma na Resolução de Problemas o professor traz o problema pronto para o aluno, assim o

aluno deve encontrar um caminho para resolver o problema com os conhecimentos já existentes, já nas

atividades investigativas o professor escolhe uma situação de partida e o aluno que formula o

problema de uma dada situação e assim tenta resolver o problema de um modo livre, ou seja, pelo seu

próprio caminho.

Processos usados num numa Investigação Matemática e em uma aula de Investigação

A atividade investigativa, de acordo com Ponte, Brocardo e Oliveira (2006), se desenvolve na

sala de aula em três fases.

Na primeira fase das atividades investigativas que também é conhecida como o arranque da

aula, Ponte, Brocardo e Oliveira (2006), discorrem que para que os alunos consigam realmente

investigar é necessário que eles entendam o que se espera com essa atividade, o professor deve

explicar o papel em que eles devem desempenhar, dizer a eles que deveram apresentar aquilo que foi

pensado aos seus colegas e saber que eles podem contar com o apoio do professor.

Esses mesmos autores ressaltam que mesmo que a tarefa seja fornecida por escrito aos alunos,

é relevante que o professor faça uma leitura do enunciado para uma melhor compreensão e para

esclarecer termos que até então não estavam familiarizados, pois quando os alunos estão pouco

familiarizados com as investigações é importante que seja feito uma introdução, “o que além do mais

contribui para que o trabalho progrida mais depressa”. (p.28). Nesta fase faz-se necessário certo

cuidado, pois “se a introdução inicial do professor for demasiado pormenorizada relativamente o que

“é para fazer” poderá condicionar a exploração a realizar pelos alunos” ( p.28).

Para que uma aula de investigação tenha sucesso, também é necessário um ambiente de

aprendizagem propicio, em que “[...]o aluno se sinta a vontade e lhe seja dado tempo para colocar

questões, pensar, explorar as suas idéias e exprimi-las, tanto ao professor como aos colegas” (PONTE;

BROCARDO; OLIVEIRA, 2006, p.28).

Assim finalizam que a primeira fase da investigação deve ser breve para que o aluno não perca

o interesse pela tarefa.

Já na segunda fase, conhecida como desenvolvimento do trabalho, Ponte, Brocardo e Oliveira

(2006) ponderam que após os alunos terem compreendido o que esta sendo pedido com essas

atividades, cabe ao professor observar os alunos e prestar apoio aos alunos se necessário. Nessa fase os

alunos começaram a trabalhar em grupos e as interações do grupo é importante para o

desenvolvimento das investigações.

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Os autores citam alguns processos que espera-se que os alunos utilizem, que caracterizam a

atividade investigativa em matemática, como: “a exploração e formulação de questões, a formulação

de conjecturas, o teste e a reformulação de conjecturas e ainda a justificação de conjecturas e avaliação

do trabalho” (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2006, p. 29).

Conforme os autores, é nesse momento inicial que os alunos gastam algum tempo, em que

parece para o professor que nada está acontecendo, mas é necessário esse tempo para os alunos

pensarem e depois começarem a formular questões e conjecturar.

[...] os alunos são levados a começar a gerar (mais) dados e a organizá-los, e só depois começam a conseguir formular questões. Por vezes, as conjecturas surgem logo na seqüência da manipulação desses dados. Por sua vez, o surgimento de conjecturas leva à necessidade de fazer testes, o que poderá exigir que sejam gerados ainda mais dados (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2006, p.31).

Às vezes os alunos continuam a explorar uma mesma direção que se mostra infrutífera, então

nesse caso a intervenção do professor é importante.

Durante esse processo o professor precisa estar atento para propor questões aos alunos que os

estimulem a olhar em outras direções e também a refletir no que estão fazendo. Segundo Tudella et al

(1999):

Se confirma ideias e soluções, se mostra intenção de chegar a determinadas conclusões ou mostra saber o que vai acontecer, então, para o aluno, o “saber” continua centrado no professor. E por vezes tudo se passa de uma forma subtil, escapando à percepção de quem está a gerir a aula. As interacções que se realizam de forma menos explícita são, por vezes, tão informativas como as explícitas. Um sorriso, uma hesitação face a uma resposta, um comentário feito num tom mais entusiástico, ... são, muitas vezes, sinônimos de “muito bem, estás no bom caminho” ou “por aí não vais a lado nenhum”. É principalmente através das intervenções do professor que se torna mais claro para o aluno aquilo que se pretende realmente que ele faça neste tipo de propostas e adquira uma visão diferente do papel do professor. (TUDELLA et al, 1999, p.4).

Ponte, Brocardo e Oliveira (2006) ponderam sobre a importância dos alunos fazerem registros

escritos no trabalho de investigação, pois é nesse momento de registrar suas conjecturas que os alunos

vêem a necessidade de explicarem suas idéias e “favorece o estabelecimento de consensos e de um

entendimento comum quanto às suas realizações” (p. 36).

Na terceira e ultima fase em que os alunos expõem suas descobertas à turma, “o professor

deve garantir que sejam comunicados os resultados e os processos mais significativos da investigação

realizada e estimular os alunos a questionarem-se mutuamente”. (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA,

2006, p.41).

Esta fase é muito importante, pois é nela que os alunos entendem o que significa investigar e

também desenvolvem a capacidade de comunicar matematicamente e refletir sobre as atividades

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propostas, intervindo sempre que quiserem fazer um comentário, podendo acrescentar sempre alguma

passagem ao que esta sendo apresentado.

Desta forma, a inserção de atividades investigativas em sala de aula envolve uma participação

efetiva do professor na elaboração de atividades que despertem o interesse dos estudantes levando-os

ao envolvimento e que ao mesmo tempo envolvam conceitos com os quais deseja trabalhar, exige que

o professor esteja preparado para compreender e respeitar as estratégias apresentadas pelos estudantes

bem como a auxiliá-los na busca de estratégias e reflexão sobre os resultados encontrados.

Os Papéis do professor numa Aula de Investigação

O professor tem um papel determinante nas aulas de investigação, pois o decorrer da aula

depende, “da atuação do professor e daquilo que fomenta através das suas intervenções de um modo

explícito, como as indicações que fornece sobre o modo de trabalho dos alunos e o tipo de apoio que

presta no desenvolvimento das investigações”(TUDELLA, et al 1999., p.90).

Ponte, Brocardo e Oliveira (2006) afirmam que há diferença na forma de interação do

professor com os alunos em uma aula de investigação dos demais tipos de aula. Nas aulas de

investigação o professor precisa encontrar um equilíbrio em dois pólos. Por um lado “dar-lhes a

autonomia que é necessária para não comprometer a sua autoria da investigação e, por outro lado,

garantir que o trabalho dos alunos vá fluindo e seja significativo do ponto de vista da disciplina de

Matemática” (PONTE, BROCARDO; OLIVEIRA, 2006, p.47).

Para Lamonato (2007, p. 85), “[...] o professor em uma aula investigativa assume diversos

papéis: desafiar os alunos, avaliar o progresso deles, raciocinar matematicamente, apoiar seu trabalho

dos alunos e promover reflexões, fornecer e recordar informações”.

Dentre diversos papéis do professor no decorrer de uma investigação, o professor precisa

primeiramente desafiar os alunos para que eles se sintam motivados para assim resolverem as

atividades, escolhendo “[...] questões ou situações iniciais que, potencialmente, constituam um

verdadeiro desafio para os alunos (PONTE, BROCARDO; OLIVEIRA, 2006, p. 47).

Os professores precisam observar se os alunos compreenderam a tarefa e com foi a reação

deles e se realmente esta tarefa é um desafio para os alunos, neste momento em que o professor

observa os grupos “[...] um dos seus objetivos é recolher informações sobre o desenrolar da

investigação. Antes de mais nada procura compreender o pensamento dos alunos, fazendo perguntas e

pedindo explicações” (PONTE, BROCARDO e OLIVEIRA 2006, p.49).

O professor precisa evitar emitir opiniões muito concretas apressadamente sobre o seu

trabalho, pois durante a realização da tarefa o professor interage com os alunos tanto de forma

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explicita como implícita, assim o professor não deve demonstrar suas opiniões ou confirmar

conjecturas, pois conforme Tudela et al (1999, p.90) “se confirma ideias e soluções, se mostra

intenção de chegar a determinadas conclusões ou mostra saber o que vai acontecer, então, para o

aluno, o “saber” continua centrado no professor”.

Por fim, Ponte, Brocardo e Oliveira (2006, p.52) afirmam que o professor empregando uma

postura investigativa em sala de aula ajuda “os alunos a compreenderem que o papel principal do

professor é o de apoiar o seu trabalho e não simplesmente validá-lo”.

APLICAÇÃO DA TAREFA DE INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA

Primeiramente iremos apresentar o ambiente da aplicação da tarefa, a escola, os alunos e a

professora regente. A seguir tratamos acerca de como procederam às aplicações das tarefas e como os

alunos se portaram no transcorrer da resolução.

Este trabalho foi desenvolvido durante o primeiro semestre de 2013 no Colégio Estadual

Campina da Lagoa – PR. O trabalho foi aplicado no 6º Ano do Ensino Fundamental, pois as atividades

Investigativas escolhidas são apropriadas a esse ano de escolaridade.

Primeiramente conversamos com a professora regente da turma, que se mostrou bem receptiva

para realização desse trabalho no 6º Ano. Ela dialogou conosco sobre o comportamento, as

dificuldades de alguns alunos e o rendimento da turma.

A turma do 6º Ano em que aplicamos este trabalho conversava bastante o que atrapalhou um

pouco o desenvolvimento das atividades, pois perdemos muito tempo chamando a atenção dos alunos,

para que ficassem em silencio para conseguir explicar como funcionava a atividade. Além disso, a

conversa fora do contexto atrapalhou a análise das atividades através do áudio dos gravadores.

Quanto aos conteúdos, os alunos tinham algumas dificuldades, principalmente com o conceito

de expoente que já havia sido estudado, Alguns alunos se confundiram como ex: 3^6 pensavam em

3x6.

Mesmo assim, a atividade foi bem realizada pelos alunos, eles se emprenharam em realizar as

atividades propostas.

ANÁLISE DOS DADOS

Foi aplicada uma Atividade Investigativa entitulada “Potências e Regularidades” e a análise

dessas atividades se deu por meio do áudio dos gravadores que foram colocados em cada equipe e por

meio da análise do material escrito pelos alunos, que foi entregue ao fim da aula.

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Alguns alunos sentiram-se envergonhados inicialmente com a presença do gravador, pois

sabiam que seriam gravados, mas esse desconforto só ocorreu no inicio das atividades, depois se

esqueceram dos gravadores e se concentraram na atividade, já outros alunos se sentiram bem à

vontade, se apresentaram, cantaram.

A atividade foi aplicada no primeiro semestre de 2013, contou com 2 horas/aulas, totalizando

o tempo de 1 hora e 40 minutos. Estavam presentes na turma do 6º ano vinte e seis alunos. Também

esteve sempre presente a professora regente observando o desenvolvimento das atividades.

Os alunos foram divididos em cinco grupos, sendo um grupo com seis alunos e os outros

quatro grupos com 5 alunos. Os grupos foram divididos pelos pró-pios alunos.

Os grupos foram nomeadas como grupo A, B, C, D e E e os alunos foram identificados como

A1, A2, A3, A4, A5, A6 e B1, B2, B3, B4, B5 e C1, C2, C3, C4, C5 e D1, D2, D3, D4, D5 e E1, E2,

E3, E4 e E5.. A nomenclatura dos grupos e dos alunos foi feita desta forma para assegurar seu

anonimato.

Na sequencia está o quadro 1 com as atividades exploratório-investigativa.

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Quadro 1 - Atividade exploratório-investigativa Fonte: Elaborado pela autora para o Projeto "Explorar e Investigar para Aprender Matemática". Centro de Investigação em Educação da FCUL - Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 1998.

A seguir apresentaremos a resolução da atividade desenvolvida pelos grupos A, B, C, D e E.

Primeiro apresentando o áudio referente ao grupo A e a resolução escrita pelos alunos dos grupos A,

B, C e E que pensaram de forma análoga na primeira questão e a resolução escrita do grupo D.

Atividade

Potências e Regularidades

1. O número 729 poderá ser escrito como uma potência na base 3? Para o verificar basta

escrever as sucessivas potências de 3:

= 9

= 27

= 81

= 243

= 729

• Procura escrever os números que se seguem como potência de 2:

64=

128=

200=

256=

1000=

• Que conjecturas podes fazer acerca dos números que podem ser escritos como potências de

2? E como potências de 3?

2. Observe as seguintes potências de 5:

= 5

= 25

= 125

= 625

• O ultimo algarismo de cada uma dessas potências é sempre 5. Será que isso também se

verifica para as potências de 5 seguintes?

• Investiga o que se passa com as potências de 6.

• Investiga também as potências de 9 e as de 7.

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1. O número 729 poderá ser escrito como uma potência na base 3 Para o

verificar basta escrever as sucessivas potências de 3:

= 9

= 27

= 81

= 243

= 729

• Procura escrever os números que se seguem como potência de 2:

64=

128=

200=

256=

1000=

• Que conjecturas podes fazer acerca dos números que podem ser escritos

como potências de 2? E como potências de 3?

Quadro 2 - questão 1

Grupo A

Imagem 1 - Resolução Grupo A, questão1

A2: Como fazer?

A3: Vamos fazer em um rascunho, quantos dois vezes dois, vezes dois, vezes dois... é

necessário pra dar 64.

A1: Então vamos fazer

A3: Vamos fazer juntos

A1: Beleza, vamos!

A1 e A3: Duas vezes dois da quatro, quatro vezes dois da oito, oito vezes dois da dezesseis,

dezesseis vezes dois da trinta e dois e trinta e dois vezes dois da sessenta e quatro

A2: Agora vamos contar a quantidade de dois que deu

A1: Deu por 6

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A4: Vai dar seis vezes o dois.

Assim os alunos foram multiplicando o dois pelo dois, para ver quantas vezes seria necessário

multiplicar para obter o resultado 64, assim repetiram o mesmo processo para o resultado 128 e 256.

A3: Vamos multiplicar o 64 por 2

A5: Vamos

A4: Olha deu 128

A6: Deu por 7 o resultado 128

A3: Agora vamos multiplicar o 128 por 2

A6: Deu por 8 o resultado 256

A1: A primeira deu por 6, a segunda deu por 7 e a quarta deu por 8, agora vamos fazer por 9.

A6: Agora vamos ver que número que da pro 200.

Os alunos consideraram que o 200 não dava para ser escrito na potencia de 2, pois quando

fizeram o 2^7 o resultado deu 128 que é menor que 200 e quando fizeram 2^8 o resultado deu 256 que

é maior que 200.

Após essa conclusão, começaram a analisar com o número 1000. Multiplicaram nove vezes o

dois, pelo dois que obtiveram como resultado 512, então observaram que é menor que 1000, então

testaram pra o próximo valor, fizeram 10 vezes o dois pelo dois que obtiveram 1024 que é maior que

1000. Assim concluíram que o 1000 também não da para ser escrito como potência de 2.

Grupo B

Imagem 2 - Resolução Grupo B, questão1

O pensamento para o desenvolvimento dessa questão pelo grupo B foi análogo ao grupo A,

mas não chegaram à mesma resposta, pois cometeram erros na multiplicação, como quando

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multiplicaram cento e vinte oito por dois e obtiveram duzentos e quarenta e seis, sendo que o resultado

correto é duzentos e cinqüenta e seis. Também se confundiram com os conceitos de algarismo e de

potencias na hora de formalizar a resposta por escrito.

Grupo C

Imagem 3- Resolução Grupo C, questão1

O pensamento para o desenvolvimento dessa questão pelo grupo C foi análogo aos grupos A e

B.

Grupo D

Imagem 4 - Resolução Grupo D, questão1

O Grupo D, mesmo já tendo estudado o conteúdo de expoente, esqueceu este conceito, os

alunos pensaram em fazer a multiplicação e não o potencialização, como a base é dois, dividiram esse

resultado dado por dois e o resultado que obtiveram colocaram no expoente da base 2, assim

multiplicaram a base pelo expoente.

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Grupo E

Imagem 5 - Resolução Grupo E, questão1

O Grupo E, assim como os Grupos A, B e C, lembraram do conceito de expoente, mas este

grupo não fez na ordem disposta dos resultados dados. Assim como também analisaram que o valor

200 e o 1000 dado não se dava para fazer na base 2, em sua conclusão, coloram que o 200 e o 1000 na

base 2 não dão para ser multiplicados, mas na hora da apresentação para toda a turma, explicaram que

não dava para ir fazendo dois vezes o dois que desse o valor 200, ou seja que o 200 e o 1000 não da

para ser escrito na base 2. Os alunos tiveram dificuldade de formalizar a resposta por escrito.

2. Observe as seguintes potências de 5:

= 5

= 25

= 125

= 625

• O ultimo algarismo de cada uma dessas potências é sempre 5. Será que isso também se

verifica para as potências de 5 seguintes?

• Investiga o que se passa com as potências de 6.

• Investiga também as potências de 9 e as de 7.

Quadro 3 - questão2

Grupo A

Imagem 6 - Resolução Grupo A, questão2

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Os alunos do Grupo A analisaram a regularidade com os últimos dígitos das sucessivas

potências de uma base e verificaram que os últimos dígitos das sucessivas potências da base 5,

estavam dando 5X5, já nas potências de 6, 7 e 9 se esqueceram do conceito de potência e foram olhar

na tabuada de cada um dos números dados. Assim concluíram que os últimos dígitos de 6, 7 e 9 seriam

diferentes.

Grupo B

Imagem 7 - Resolução Grupo B, questão2

Os alunos do Grupo B, C e E, pensaram de maneira parecida, analisaram a regularidade com

os últimos dígitos das sucessivas potências de uma base e verificaram que o último digito das

sucessivas potências da base 5, estava dando 5, assim como fizeram algumas sucessivas potências de

base 6, 7 e 9 e concluíram que nas potências de base 6 o último digito encontrado termina em 6 e nas

potências de 7 e 9 o último digito dos resultados encontrados são diferentes.

Grupo D

Imagem 9 - Resolução Grupo D, questão2

Os alunos do Grupo D apenas observaram as potência de base 5 dadas, e concluíram que o

último dígito termina em 5.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve o propósito de analisar as possibilidades e contribuições da inserção de

tarefas investigativas na sala de aula, para os alunos da Educação Básica.

Consideramos que a presente pesquisa alcançou os objetivos esperados com a aplicação da

atividade investigativa, pois os alunos trabalharam em grupo e mostraram respeito pelos colegas,

entraram em acordo com as divergências de cada questão sem brigas e quando um colega do grupo

não entendia como os demais colegas estavam pensando no desenvolvendo da questão, eles tentavam

explicar o seu pensamento para o colega.

Outro objetivo alcançado trata de os alunos, por meio da questão 1, perceberem que nem todos

os números inteiros podem ser escritos como potências (inteiras) de uma certa base (inteira). Ao

formularem conjecturas acerca das propriedades das potências da base 2 e da base 3, os alunos estão

implicitamente a estabelecer critérios para verificar se um dado número é potência de uma dessas

bases. Este objetivo foi alcançado pela maioria dos alunos, que após formularem suas conjecturas

perceberam que nem todos os números inteiros podem ser escritos como potências (inteiras) de certa

base(inteira).

Na questão 2, que refere-se a regularidades com o último dígito das sucessivas potências de

uma base. Os alunos podem tentar descobrir regularidades análogas para os dois últimos dígitos uma

vez que no caso das potências de base 5 essas são bastante evidentes.O objetivo também foi alcançado,

pois o Grupo A verificou que os últimos dígitos eram 5X5 e os demais grupos que o último digito era

5.

Os alunos não estavam acostumados a esse tipo de atividade, e ainda com a presença de

gravadores, alguns se sentiam envergonhados, pois sabiam que seriam gravados, mas esse desconforto

com os gravadores só ocorreu no inicio das atividades, depois se esqueceram dos gravadores e se

concentraram na atividade, já outros alunos se sentiram bem à vontade, se apresentaram, cantaram, o

que causo bastante conversa que atrapalhou um pouco o desenvolvimento da atividade, pois perdi

muito tempo chamando a atenção dos alunos, para que ficassem em silencio para conseguir explicar

como funcionava a atividade. Além disso, a conversa fora do contexto atrapalhou a análise das

atividades através do áudio dos gravadores.

Quanto aos conteúdos, os alunos tinham algumas dificuldades, principalmente com o conceito

de expoente que já havia sido estudado, um dos grupos se confundiram, como ex: 2^6 pensaram em

2x6. O grupo mesmo já tendo estudado o conceito de expoente, no desenvolvimento em grupo

multiplicaram a base pelo expoente. Portanto mais um objetivo da Investigação Matemática foi

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alcançado, pois na hora da discussão com toda a turma, em que os demais grupos fizeram suas

apresentações, os alunos perceberam que haviam se confundido.

Acredito que o objetivo principal desta pesquisa foi alcançado, pois foi possível observar as

contribuições da investigação matemática no processo de aprendizagem dos alunos do 6º ano. E que

apesar dos alunos não serem acostumados a esse tipo de Atividade Investigativa, se envolveram na

atividade e se mostraram muito entusiasmados com uma atividade diferente e por trabalharem em

grupos.

REFERÊNCIA

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino de quinta a oitava séries: Matemática. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998. ERNEST, P. Investigações, Resolução de Problemas e Pedagogia. In. Investigar para aprender matemática (textos selecionados). ABRANTES, P; LAMONATO, M. Investigando geometria: aprendizagens de professores da educação infantil. São Carlos. 2007. 244p. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2007. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Matemática. Secretária do Estado da Educação do Paraná. 2008. PONTE, J. P.; BROCARDO, J.; OLIVEIRA, H. Investigação Matemática na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. PONTE, J. P. Matemática: Uma disciplina condenada ao insucesso. NOESIS, 1994, n. 32, p. 2. TUDELLA, A.; FERREIRA, C.; BERNARDO, C.; PIRES, F.; FONSECA, H.; SEGURADO, I.; VARANDAS, J. Dinâmica de uma aula com investigações. In (org.) Investigações Matemáticas na aula e no currículo. 1999, p. 87-96.