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ISSN: 1807-6378 LINGUAGEM EM (RE)VISTA (Ano 10, n o 20, jul./dez. 2015) Niterói 2015

ISSN: 1807-6378 LINGUAGEM EM (RE VISTA - filologia.org.br · O uso do discurso citado em reportagens sobre ques-tões indígenas na mídia sul-mato-grossense: uma aná- ... no poema

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  • ISSN: 1807-6378

    LINGUAGEM EM (RE)VISTA

    (Ano 10, no 20, jul./dez. 2015)

    Niteri

    2015

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    EXPEDIENTE

    A LINGUAGEM EM (RE)VISTA um peridico semes-

    tral destinado expanso e socializao de pesquisas ins-

    critas no mbito de estudos da linguagem. Eventualmen-

    te, poder receber contribuies de reas afins.

    Conselho Editorial

    Ana La Rosa da Cruz

    Antnio Carlos da Silva

    Beatriz dos Santos Feres

    Iran Nascimento Pitthan

    Maria Isaura Rodrigues Pinto

    Maria Luiza de Castro da Silva

    Olga Maria Guanabara de Lima

    Regina Souza Gomes

    Direo e organizao: Maria Isaura Rodrigues Pinto

    Capa e editorao: Maria Isaura Rodrigues Pinto

    Diagramao, editorao e

    edio: Jos Pereira da Silva

    Editorao eletrnica: Silvia Avelar Silva

    Impresso: Universidade das Cpias

    As ideias apresentadas nos artigos assinados so de

    exclusiva responsabilidade de seus autores.

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    SUMRIO

    0. Apresentao ................................................................ 05 Maria Isaura Rodrigues Pinto

    1 PARTE: QUESTES DE ENSINO E DE LNGUAS

    1. Centenrio da ortografia oficial da lngua portuguesa: caminhos percorridos ................................................... 8

    Celina Mrcia de Souza Abbade

    2. Novas tecnologias no ensino de espanhol: do mapea-mento do que existe elaborao de propostas peda-

    ggicas pelo PIBID ...................................................... 21

    Greice da Silva Castela

    3. O uso do discurso citado em reportagens sobre ques-tes indgenas na mdia sul-mato-grossense: uma an-

    lise enunciativa sob a perspectiva terica bakhtiniana 39

    Geraldo Jos da Silva

    4. Sobre a pretensa "norma culta": ser que ela existe? Por que seria "culta"? ................................................ 59

    Zinda Vasconcellos

    5. Vocalismos e consonantismos na Romnia ............... 70

    Roberto Arruda de Oliveira

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    2 PARTE: O LITERRIO E SEU ENSINO

    6. A conscincia dilacerada ou os lugares incomuns de Clarice Lispector .......................................................... 89

    Valdemar Valente Jnior

    7. Histria da escrava Guiomar: uma reescrita de A Es-crava Isaura na literatura de cordel ........................ 110

    Raymundo Jos da Silva

    8. O tema da Anunciao em Orgenes e em Manuel Bandeira .................................................................... 126

    Lus Carlos Lima Carpinetti

    9. O direito do surdo literatura: por uma educao li-terria multimodal .................................................... 140

    Bruno Ferreira Abraho e Danielle Cristina Mendes Pe-

    reira

    10. Memrias (no) hegemnicas e interaes culturais no cordel do Brasil .......................................................... 160

    Maria Isaura Rodrigues Pinto

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    APRESENTAO

    Os artigos reunidos nesta publicao trazem instigantes in-vestigaes que, com suas propostas diferenciadas, aprofundam

    reflexes no campo de estudos da linguagem.

    Em termos de organizao, a revista apresenta duas sees.

    Na primeira, esto agrupados artigos que focalizam questes de ensino e de lnguas.

    Na abertura da primeira parte, o artigo Centenrio da or-tografia oficial da lngua portuguesa: caminhos percorridos, de

    Celina Mrcia de Souza Abbade, traa uma trajetria ortogrfica da lngua portuguesa, em que focaliza momentos de divergncia

    entre Portugal e Brasil na busca polmica de uma ortografia uni-ficada. A autora encontra no enfoque sinttico dos (des-

    com)passos que marcaram essa procura uma forma de homenage-ar a lngua portuguesa no seu centenrio de incio de uma unifi-

    cao ortogrfica oficial.

    Greice da Silva Castela, em Novas tecnologias no ensino

    de espanhol: do mapeamento do que existe elaborao de pro-postas pedaggicas pelo PIBID, apresenta aes realizadas pelo

    subprojeto de espanhol do PIBID da Universidade Estadual do Oeste do Paran, as quais visaram ao mapeamento de sites dispo-

    nveis na Internet com o propsito de subsidiar professores em suas prticas docentes, por meio da construo de um catlogo

    com as informaes coletadas. As consideraes da autora tam-bm fazem referncia a atividades pedaggicas desenvolvidas pe-

    los bolsistas nas escolas parceiras da rede estadual, voltadas para a utilizao das novas tecnologias de ensino.

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    No artigo O uso do discurso citado em reportagens sobre

    questes indgenas na mdia sul-mato-grossense: uma anlise enunciativa sob a perspectiva terica bakhtiniana, Geraldo Jos

    da Silva dedica-se a examinar o discurso citado em dois textos re-tirados de dois jornais on-line sul-mato-grossenses, um do jornal

    Dirio MS e outro do jornal Correio do Estado, cujo tema, em ambos os casos, se refere a questes indgenas em Mato Grosso

    do Sul. Privilegia-se, na abordagem, a observao de efeitos de sentido que esse recurso lingustico-discursivo pode gerar no lei-

    tor-interlocutor.

    O artigo de Zinda Vasconcellos, intitulado Sobre a pre-

    tensa 'norma culta': ser que ela existe? Por que seria 'culta'?, traz tona mitos e equvocos vinculados ao acatamento de uma

    norma culta, que as gramticas normativas e os dicionrios de lngua descrevem e legitimam, e que serve, em muitos casos, para

    fixar o preconceito lingustico contra as variantes desprestigiadas da lngua, normalmente associadas a falantes de classes popula-

    res.

    A primeira parte concluda com o artigo Vocalismos e

    consonantismos na Romnia, preparado por Roberto Arruda. Alm de conceituar Romnia e tecer um panorama do processo

    de expanso romana pelo Ocidente, o autor, valendo-se de exem-plos, discute algumas leis fixas que prevalecem nas variaes vo-

    clicas e consonnticas da Romnia.

    Na segunda seo, esto reunidas as produes que reali-

    zam estudos sobre o literrio e seu ensino.

    Em seu incio, com o artigo A conscincia dilacerada ou

    os lugares incomuns de Clarice Lispector, Valdemar Valente J-nior prope-se a analisar alguns romances mais significativos da

    obra de Clarice Lispector, so eles: A Paixo Segundo G. H., Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres e A Hora da Es-

    trela. Para tanto, privilegia o enfoque de um sentido de interiori-dade problematizadora ao extremo, que, segundo o autor, per-

    passa as obras.

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    O trabalho de Raymundo Jos da Silva, Histria da Es-

    crava Guiomar: uma reescrita de A Escrava Isaura na literatura de cordel, focaliza dilogos da literatura de cordel com a litera-

    tura brasileira oficial. As consideraes do autor chamam a aten-o para o fato de que, na trajetria do cordel, essa proximidade

    um dado recorrente.

    Em O tema da Anunciao em Orgenes e em Manuel

    Bandeira, Lus Carlos Lima Carpinetti se detm no exame de processos de retomada do tema da Anunciao, engendrados por

    Orgenes, em Homlias sobre So Lucas, e por Manuel Bandei-ra, no poema Eu vi uma rosa. Para proceder ao tratamento da

    questo, recorre a definies de gnero lrico e de relaes inter-textuais

    O artigo O direito do surdo literatura: por uma educao literria multimodal, de Bruno Ferreira Abraho e Danielle Cris-

    tina Mendes Pereira, trata criticamente da importncia de o surdo ter acesso experincia literria. Nesse sentido, reflete sobre mo-

    dos de organizar procedimentos de ensino-aprendizagem para es-se fim, valendo-se de estudos de multimodalidade.

    Encerrando o peridico, o artigo de Maria Isaura Rodri-gues Pinto, Memrias (no) hegemnicas e interaes culturais

    no cordel do Brasil, a partir de uma reflexo em torno do concei-to de memria social, prope que se pense o cordel do Brasil co-

    mo uma produo literria atravessada por ecos de uma memria oficial e ecos de memrias no hegemnica, o que lhe confere um

    carter plural.

    Para concluir, ficam aqui os agradecimentos a todos os co-

    laboradores desta revista e o desejo de que seus artigos suscitem novas discusses e pesquisas.

    Rio de Janeiro, dezembro de 2015.

    Maria Isaura Rodrigues Pinto

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    CENTENRIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL

    DA LNGUA PORTUGUESA:

    CAMINHOS PERCORRIDOS

    Celina Mrcia de Souza Abbade (UNEB)

    [email protected]

    Orthographia he scencia de bem screuer

    qualquer lingoagem: porque per ella sa-

    bemos, com que letras se ho de escreuer

    as palavras.

    (LIO, 1576, p. 1)

    RESUMO

    At o incio do sculo XX a lngua portuguesa ainda se via com

    uma pluralidade de grafias no padronizadas. Em 1907 a Academia

    Brasileira de Letras decide aprovar uma reforma ortogrfica que ficou

    limitada praticamente s publicaes da prpria Academia. No ano de

    1910 em Portugal, com a implantao da repblica, foi nomeada uma

    comisso para estabelecer uma ortografia simplificada que s foi oficia-

    lizada 1911. Essa reforma foi profunda e modificou completamente o

    aspecto da lngua escrita. Apesar de tambm haver resistncia em Por-

    tugal pelas reformas ocorridas, foi o Brasil quem mais resistiu. A partir

    da, os dois pases ficaram com ortografias completamente diferentes:

    Portugal com uma ortografia reformada e o Brasil com a velha ortogra-

    fia, ainda com influncias etimolgicas. Mas no ano de 1915 a Academia

    Brasileira de Letras consegue finalmente assemelhar a sua ortografia

    com a portuguesa. Apesar de esta resoluo ter sido revogada j em

    1919, o ano de 1915 foi o marco da busca de um acordo de unificao

    ortogrfica da lngua portuguesa. Assim, a partir desse ano, a Academia

    das Cincias de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras comearam a

    buscar uma ortografia comum. Da em diante, muitos acordos e desa-

    cordos ocorreram at hoje, com uma proposta de unificao para todos

    mailto:[email protected]

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    os pases lusfonos. Foi na sesso de 11 de novembro de 1915, que Por-

    tugal toma conhecimento de que a Academia Brasileira aprovou, quase

    que por unanimidade, a proposta de Silva Ramos, para harmonizar a

    reforma brasileira de 1907 com a portuguesa de 1911, desaparecendo,

    por parte da Academia Brasileira, as diferenas que separavam a grafia

    da lngua portuguesa desses pases. Pretende-se aqui homenagear a nos-

    sa lngua nesse centenrio de incio da unificao ortogrfica oficial da

    lngua portuguesa.

    Palavras-chave: Ortografia. Lngua portuguesa. Centenrio. Histria.

    1. Apresentao

    Originada do grego orto reto, direito, correto, normal

    + grafia representao escrita de uma palavra, ortografia o

    conjunto de regras estabelecidas pela gramtica normativa que

    ensina a grafia correta das palavras.

    A lngua portuguesa, desde o seu surgimento, passou

    por diversas possibilidades ortogrficas de acordo com os

    critrios utilizados poca. Na verdade, at o sculo XVI,

    predominava a ortografia fontica e cada indivduo tinha a

    liberdade de escrever conforme falava. O surgimento da

    topografia no sculo XVI, de certa forma, contribuiu para uma

    regularizao ortogrfica.

    Apesar de vrios pases terem a lngua portuguesa como

    lngua oficial, a busca por uma regularizao ortogrfica

    sempre foi pleiteada entre Portugal e Brasil. A cada dia, a

    necessidade de uma regularizao da ortografia, ia crescendo

    entre os falantes lusfonos. Mas no foi nada fcil, os

    desacordos sempre predominavam aos acordos. Assim, pelo

    menos at 1915, Portugal e Brasil no conseguiram chegar a

    um consenso.

    O que se pretende aqui fazer uma trajetria ortogrfica

    da lngua portuguesa, mostrando que, mesmo querendo,

    difcil ceder s mudanas. Mas, para se fazer um acordo,

    sempre algum tem que ceder. E como Portugal e Brasil no

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    se entendiam e nem cediam, o acordo pretendido se quebrava

    sem ao menos ter se instaurado.

    O centenrio anunciado no ttulo, nada mais do que a

    lembrana do perodo em que finalmente, mesmo repleto de

    desavenas, Portugal e Brasil concordaram que precisavam ter

    uma ortografia unificada. Eles at tentaram, mas no foi nada

    fcil.

    A seguir, apresentar-se- uma sntese dessa epopeia or-

    togrfica protagonizada por Portugal e Brasil como uma forma

    de homenagear a lngua portuguesa nesse centenrio de incio

    de uma unificao ortogrfica oficial.

    2. De onde viemos

    Sabe-se que a lngua portuguesa de origem latina, lo-

    go, uma lngua romnica. Sua formao se deve a inmeros

    traos lingusticos deixados por um latim ibrico que se for-

    mou por volta de dois sculos a.C. quando os romanos desem-

    barcaram na Pennsula Ibrica e conquistaram essa regio. Na

    Pennsula Ibrica, a lngua portuguesa foi se formando junta-

    mente com outras lnguas originadas do latim hispnico como:

    galego, castelhano, catalo etc.

    O sculo XVI foi o marco das investidas martimas em

    busca de novas terras. Na Amrica, portugueses e espanhis,

    principalmente, iniciavam suas conquistas com interesses pre-

    dominantemente polticos e econmicos. Mais uma vez, a ln-

    gua e a cultura desses povos penetravam nas regies invadidas

    assim como os romanos j haviam feito na Europa.

    Atualmente a comunidade lusfona est espalhada pelos

    diversos continentes do planeta: na Europa, Portugal que deu

    incio formao da lngua; de l, ela se espalhou pelo Brasil

    na Amrica do Sul; no continente africano foi a vez de Ango-

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    la, Moambique, Cabo Verde, Guin Bissau e So Tom e

    Prncipe, e ainda Macau e Timor Leste, em Goa, no Oriente.

    3. Para onde vamos: caminhos percorridos na busca da unificao

    Tentar unificar uma lngua, seja ela em qualquer pers-

    pectiva, tarefa deveras almejada, porm praticamente impos-

    svel. Com relao ortografia, que o foco desse artigo, at o

    incio do sculo XX a lngua portuguesa, diferente de outras

    lnguas romnicas, ainda se via com uma pluralidade de grafi-

    as no padronizadas porque nenhum acordo satisfazia os dois

    lados da moeda: Brasil e Portugal. Os demais falantes, por se-

    rem minoria, se pronunciaram menos ou quase nada.

    O processo de formao da lngua portuguesa pode ser

    dividido em duas fases:

    Fase Arcaica entre os sculos XII e XVI, perduran-do a confuso ortogrfica (minha mia/mha/mya; hoje

    oje/oye/ oie)

    Fase Clssica a partir do sculo XVI, com Os Lus-adas de Cames. nessa poca que surge a primeira

    gramtica da lngua portuguesa. Escrita pelo padre

    Ferno de Oliveira, publicada a Grammatica da lin-

    goagem portugueza (OLIVEIRA, 1536). Nessa fase,

    apesar de j haver um sistema ortogrfico regular, ain-

    da existiam muitas variantes na grafia porque predo-

    minava a grafia fontica.

    Essas fases permeiam trs perodos:

    Perodo fontico: dos primeiros documentos at o sc. XVI. Baseado na pronncia, ou seja, na relao

    som/letra. Como existem diversas possibilidades de se

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    fazer essa relao, a ortografia no tinha como se uni-

    ficar dessa maneira.

    Perodo pseudoetimolgico: do sculo XVI ao incio do sculo XX. Nesse perodo, alm da grafia fontica,

    buscou-se justificar a grafia verncula atravs de seus

    antecedentes clssicos: grego e latim. Apesar de no se

    estabelecer a etimologia com exatido por no conhe-

    c-la poca (da o nome pseudoetimolgico), esse

    perodo foi um passo histrico visando sustentar o sis-

    tema grfico. Originalmente teorizada por Duarte Nu-

    nes Leo na sua Orthographia da lingoa portuguesa

    (1576), seu apogeu se deu somente no sculo XVIII

    com a obra de Madureira Feij, Orthographia, ou Arte

    de Escrever, e pronunciar com acerto a Lingua Portu-

    gueza (1734).

    Perodo histrico-cientfico (simplificado): esse per-odo vai do incio do sculo XX com a publicao da

    Orthografia Nacional de Gonalves Viana (1904), aos

    dias atuais. Estava baseado nos dois sistemas ortogr-

    ficos vigentes: Portugal e Brasil.

    No sculo XVI, enquanto a escrita ainda era fontica e

    cada um escrevia conforme falava, vale ressaltar as contribui-

    es de Duarte Nunes Leo. Escritor de vrias obras, compe

    material deveras valioso para aqueles que se interessam pelo

    estudo do latim e das mudanas que nele ocorreram ao longo

    do tempo e dos contatos lingusticos, dando origem s lnguas

    romnicas.

    As obras de Duarte Nunes do Leo foram publicadas em

    Lisboa, uma em 1576 (Ortographia da Lngua Portuguesa) e

    outra em 1606 (Origem da Lngua Portuguesa). Em 1784 es-

    sas obras foram reeditadas, s que dessa vez elas foram uni-

    das. O autor teve o cuidado de manter a mesma originalidade

    da primeira edio, respeitando no s a ortografia, como a

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    mesma pontuao, para que os estudiosos da lngua pudessem

    recorrer a essa segunda edio, tendo a certeza de que esto

    buscando a antiga obra desse desembargador e sbio portugus

    que tanto contribuiu para o estudo histrico da lngua portu-

    guesa. A primeira das regras gerais da obra de Duarte deixa

    claro que a escrita da poca enfatizava a fontica:

    REGRAS GEERAES- Regra I- Do que tractei em parrticular

    da fora e natureza de cada letra, podemos inferir a primeira re-

    gra da orthographia Portuguesa: que assi hemos de escreuer, co-

    mo pronunciamos, e assi hemos de pronunciar, como escreue-

    mos. (LIO, 1576, p. 108)

    Desde o sculo XVII (1779) j existia em Portugal a

    Academia das Cincias de Lisboa. Em 1857, Machado de As-

    sis funda no Rio de Janeiro, juntamente com alguns compa-

    nheiros, a Academia Brasileira de Letras. A partir da, cria-se

    um espao para se discutir a lngua portuguesa. Mas, em rela-

    o ortografia, o portugus lusitano continuou com uma or-

    tografia oficial diferente do portugus brasileiro.

    Somente a partir do sculo XX que surgem trabalhos

    que visavam normalizar a ortografia portuguesa de forma mais

    ampla. Pode-se dizer que o mais completo deles foi apresenta-

    do em 1904 pelo foneticista e ortgrafo lusitano Aniceto dos

    Reis Gonalves Viana: Ortografia Nacional. Simplificao e

    uniformizao sistemtica das ortografias portuguesas. Essa

    obra, juntamente com o Vocabulrio Ortogrfico e Ortopico

    da Lngua Portuguesa (1909) do mesmo autor, serviria de ba-

    se para quaisquer reformas posteriores no campo da ortografia.

    Elas formaram a base para a reforma oficial da ortografia por-

    tuguesa de 1911 na qual o prprio Gonalves Viana foi o rela-

    tor da Comisso.

    A reforma simplificadora de 1904 recebeu no Brasil a

    aprovao de Silva Ramos representando a Academia, e, no

    magistrio, a acolhida de Mrio Barreto, Sousa da Silveira,

    Antenor Nascentes, Clvis Monteiro e Jaques Raimundo, den-

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    tre outros, citando apenas alguns dos mais representativos pro-

    fessores do Rio de Janeiro poca.

    Em 1907 a Academia Brasileira de Letras decide por

    aprovar uma reforma ortogrfica simplificada para ser utiliza-

    da principalmente nas suas publicaes. Essa reforma ficou

    limitada praticamente s publicaes da prpria Academia.

    No ano de 1910 em Portugal, com a implantao da re-

    pblica, foi nomeada uma comisso para estabelecer uma or-

    tografia simplificada: Carolina Michaelis de Vasconcelos,

    Aniceto do Reis Gonalves Viana, Antnio Cndido de Fi-

    gueiredo, Francisco Adolfo Coelho, Jos Leite de Vasconce-

    los.

    Essa reforma a primeira oficial em Portugal foi pro-

    funda e modificou completamente o aspecto da lngua escrita,

    mas s foi oficializada em 19111. Na primeira sesso, em 15

    de maro de 1911, a comisso decide convocar mais seis

    membros: Augusto Epifnio da Silva Dias, Manoel Borges

    Grainha, Antnio Jos Gonalves Guimares, Jlio Moreira,

    Jos Joaquim Nunes, Antnio Garcia Ribeiro de Vasconcelos.

    Essa seria a primeira reforma oficial em Portugal. Foi

    profunda e modificou completamente o aspecto da lngua es-

    crita naquele pas com uma ortografia reformada, tomando

    como base a obra de Gonalves Viana (1904). Essa reforma

    ignorou os aspectos lingusticos do Brasil que, por isso, foi

    contra o acordo. Os demais pases no se pronunciaram.

    Apesar de tambm haver resistncia em Portugal pelas

    reformas ocorridas, foi o Brasil quem mais resistiu. A partir

    da, os dois pases ficaram com ortografias completamente di-

    ferentes: Portugal com uma ortografia reformada e o Brasil

    com a velha ortografia ainda com influncias etimolgicas.

    1 Publicada no Dirio do Governo, n. 213, 12 de setembro de 1911.

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    4. 1915: o marco na busca de um acordo de unificao or-togrfica entre Portugal e Brasil

    Todo e qualquer sistema ortogrfico sempre uma con-

    veno, um combinado, um acordo, de natureza poltico-

    cultural. A necessidade de uma ortografia portuguesa regular

    surge com a sua escrita. Nesse sentido, muito se discutiu acer-

    ca da unificao ortogrfica portuguesa, mas s em 1911 ini-

    ciou-se uma ao governamental com esse propsito, partindo

    de Portugal, mas com a resistncia do Brasil.

    Em 1915, na sesso de 11 de novembro, Portugal toma

    conhecimento de que a Academia Brasileira aprovou, quase

    que por unanimidade, a proposta do acadmico Dr. Silva Ra-

    mos, no sentido de harmonizar a reforma brasileira de 1907

    com a portuguesa de 1911, desaparecendo, por parte da Aca-

    demia Brasileira, as diferenas insignificantes, que separavam

    a lngua portuguesa desses pases.

    E finalmente no ano de 1915 a Academia Brasileira de

    Letras consegue assemelhar a sua ortografia com a portuguesa.

    A partir desse ano, a Academia das Cincias de Lisboa e a

    Academia Brasileira de Letras comeam juntas a buscar uma

    ortografia comum. Apesar de essa resoluo ter durado to

    pouco e ter sido revogada j em 1919, o ano de 1915 foi o

    marco da busca de um acordo de unificao ortogrfica entre

    esses pases.

    5. A busca continua

    Em 1924 Portugal e Brasil recomeam a procurar uma

    grafia comum, mas no chegam a um acordo. Mais adiante,

    em 1929, a Academia Brasileira de Letras altera as regras de

    escrita baseada na etimologia e retoma o caminho da

    simplificao.

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    Em 1931 ocorre um retorno ortografia portuguesa de

    1911 que duraria trs anos. Por iniciativa de ambas as

    Academias, foi aprovado o primeiro Acordo Ortogrfico entre

    Brasil e Portugal. A iniciativa foi da Academia Brasileira que

    recebeu a aprovao da Academia das Cincias de Lisboa2.

    Mais uma vez, agora em 1934, a Constituio Brasileira

    revoga o acordo de 1931 e retorna ao passado, ou seja, a

    ortografia voltar ento a ser orthographia. Essa deciso

    s vai ser revista em 1943 pela Conveno Luso-Brasileira que

    retoma o acordo de 1931, sendo redigido o Formulrio Orto-

    grfico de 1943.

    Em 1945 ocorre uma tentativa de retorno etimologia

    por parte de Portugal e a recusa do Brasil: Conveno Orto-

    grfica Luso-Brasileira de 1945 ou Acordo Ortogrfico de

    19453. Dessa forma, mais uma vez, um novo Acordo Ortogr-

    fico torna-se lei em Portugal, mas no no Brasil por no ter si-

    do ratificado pelo Governo; os brasileiros continuam a regular-

    se pela ortografia do Vocabulrio de 1943. Mais adiante, no

    ano de 1971, o governo portugus cria um decreto do governo

    alterando algumas regras da ortografia de 1943.

    Em 1973 Portugal realiza alteraes que so

    promulgadas, reduzindo as divergncias ortogrficas com o

    Brasil e, em 1975, a Academia das Cincias de Lisboa e a

    Academia Brasileira de Letras elaboram novo projeto de

    acordo, que no aprovado oficialmente.

    No Rio de Janeiro, em 1986, ocorre um encontro dos

    pases de lngua oficial portuguesa para impulsionar um novo

    Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa. Dessa reunio, os

    sete pases de lngua portuguesa organizam as Bases Analti-

    cas da Ortografia Simplificada da Lngua Portuguesa (1945),

    2 Publicado no Dirio do Govrno, n. 120, I Srie, 25 de maio de 1931

    3 Decreto n. 35.228 no Dirio do Governo, 8 de dezembro de 1945.

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    17

    renegociadas em 1975 e consolidadas nesse encontro em 1986.

    Mas nunca chegaram a ser implementadas.

    6. O novo acordo ortogrfico

    A Academia das Cincias de Lisboa convoca novo

    encontro em 1990. Em Lisboa, representantes das duas

    Academias debatem uma unificao ortogrfica, elaborando a

    base do Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa que est

    hoje contemplada em lei: o Novo Acordo Ortogrfico da Ln-

    gua Portuguesa, previsto para entrar em vigor em 01 de janei-

    ro de 1994, mas que at os dias atuais continua sendo discuti-

    do e cada pas toma uma atitude diferente. O novo texto, bem

    menos problemtico que o de 1986, teve dois grandes

    objetivos: fixar e delimitar as diferenas entre os falantes da

    lngua portuguesa e criar uma comunidade com uma unidade

    lingustica expressiva para ampliar o seu prestgio

    internacional. Com isso, o Acordo Ortogrfico da Lngua

    Portuguesa de 1990 tinha como pretenso unificar a ortografia

    do portugus para ser aplicado nos oito pases que integram a

    CPLP- Comunidade dos pases de lngua portuguesa: Portugal,

    Brasil, Angola, Moambique, Guin-Bissau, Cabo Verde, So

    Tom e Prncipe e Timor Leste.

    Os membros desse acordo, representantes de todos os

    pases foram: Filipe Silvino de Pina Zau em Angola; Antnio

    Houaiss e Nlida Pion no Brasil; Gabriel Moacyr Rodrigues e

    Manuel Veiga em Cabo Verde; Antnio Gil Hernndez e Jos

    Lus Fontenla na Galcia como observadores; Antnio Soares

    Lopes Jnior e Joo Wilson Barbosa em Guine-Bissau; Joo

    Pontfex e Maria Eugnia Cruz em Moambique; Amrico

    Dona Costa Ramalho, Anbal Pinto de Castro, Fernando

    Cristvo, Fernando Roldo Dias Agut, Joo Malacca

    Casteleiro, Jos Tiago d'Oliveira, Lus Filipe Lindley Cintra,

    Manuel Jacinto Nunes, Maria Helena Dna Rocha Pereira e

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    18

    Vasconcelos Marquis em Portugal e Albertino dos Santos

    Bragana e Joo Hermnio Pontfex em So Tom e Prncipe.

    Esse novo acordo previa inmeras vantagens: possibili-

    tar a comunicao diplomtica entre os pases lusfonos; au-

    mentar a difuso da cultura entre os pases envolvidos; estabe-

    lecer a lngua portuguesa como lngua de cultura, ampliando

    seu prestgio junto s Instituies Nacionais; permitir que as

    obras escritas possam ser vendidas em todos os pases lusfo-

    nos; favorecer o intercmbio de materiais didticos.

    Mas, em cada pas, o acordo sofreu algumas mudanas:

    em Cabo Verde, no ano de 1998, foi assinado um Protocolo

    Modificativo ao Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa.

    Esse protocolo teve como objetivo retirar do texto original a

    data para a sua entrada em vigor. So Tom e Prncipe, em

    2004, aprova um Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo

    Ortogrfico. Esse protocolo apoiava a necessidade de ratifica-

    o por apenas trs membros para que o Acordo Ortogrfico

    de 1990 entrasse em vigor nesses pases, ao invs da exigncia

    de que houvesse a concordncia de todos. O Acordo entrou em

    vigor no Brasil a partir de 01 de janeiro de 2009, enquanto

    que, em Portugal, somente no dia 13 de maio desse ano.

    Mesmo em vigor foi prevista uma fase de transio em

    que as normas anteriores ainda fossem aceitas como oficial-

    mente vlidas. O fim desse perodo terminou em Portugal em

    13 de maio de 2015. No Brasil, est previsto para 31 de de-

    zembro de 2015, aps vrias remarcaes.

    7. Consideraes finais

    A lngua de Cames tem se espalhado pelo mundo

    desde os sculos XV e XVI, juntamente com a construo e

    expanso do Imprio Portugus, que ultrapassou os limites

    europeus, chegando aos Aores, Japo, China, costa africana e

    Brasil. H hoje cerca de 240 milhes de falantes de portugus

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    19

    no mundo: Brasil (190 milhes), Moambique (20 milhes),

    Angola (17 milhes), Portugal (11 milhes), Guin-Bissau

    (1,5 milhes), Timor (1 milho), Cabo Verde (0,5 milhes), S.

    Tom e Prncipe (152 mil).

    Nesse cenrio, por mais que se tente, no existe nem

    existir uma ortografia perfeita, pois a escrita, nada mais do

    que uma tentativa de representar a fala. Ora, ningum

    consegue escrever conforme fala. A fala real e dinmica, ao

    passo que a escrita artificial e estvel. Escolher a letra

    correta na hora de escrever tarefa que exige memorizao e

    prtica. E, por acaso, voc conhece algum que nunca se

    equivocou? Que atire a primeira pedra, quem nunca se equivo-

    cou...

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ACADEMIA Brasileira de Letras. Pequeno vocabulrio orto-

    grfico da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Imprensa Naci-

    onal, 1943.

    BARBOSA, J. S. Grammatica philosophica da lingua portu-

    gueza ou principios de grammatica geral applicados nossa

    linguagem. Lisboa: Academia Real das Sciencias, 1882. Dis-

    ponvel em: . Acesso em: 12-08-2015.

    BECHARA, E. O congresso brasileiro e a unificao ortogr-

    fica. In: ELIA, S. (Org.). Na ponta da lngua, 1. 2. ed. Rio de

    Janeiro: Lucerna, 2000.

    BRASIL. Decreto n. 54, de 21 de abril de 1995. Dispe sobre

    a aprovao do texto do Acordo Ortogrfico da Lngua Portu-

    guesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. Di-

    rio do Congresso Nacional [da] Repblica Federativa do Bra-

    sil, Braslia, seo 2, p. 5837-5879, 1995.

    http://purl.pt/128/3/l-296-v_PDF/l-296-v_PDF_24-C-R0072/l-296-_0000_capa-guardas2_t24-C-R0072.pdfhttp://purl.pt/128/3/l-296-v_PDF/l-296-v_PDF_24-C-R0072/l-296-_0000_capa-guardas2_t24-C-R0072.pdfhttp://purl.pt/128/3/l-296-v_PDF/l-296-v_PDF_24-C-R0072/l-296-_0000_capa-guardas2_t24-C-R0072.pdf

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    XVIII: para uma histria da ortografia portuguesa. Lisboa: Mi-

    nistrio da Educao/Instituto de Cultura e Lngua Portuguesa,

    1992.

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    sa. Prefcio de Ribeiro Couto. Coimbra: Atlntica, 1947, p.

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    nhol como a latina & quaesquer outras que da latina teem ori-

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    LEO, Duarte Nunes de. Origem da lngua portuguesa. Lis-

    boa: Jos Pedro Machado, 1945.

    NEVES, M. H. M. Um painel do Acordo: As idas e vindas das

    questes polticas que envolveram a unificao da nova grafia.

    Revista Lngua Portuguesa: guia da nova ortografia. So Pau-

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    fontica e morfologia. 6. ed. Lisboa: Clssica, 1960.

    PORTUGAL. Protocolo de Acordo de 1986. Disponvel em:

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    http://queremosportugues.multiply.com/journal/item/21

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    21

    NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE ESPANHOL:

    DO MAPEAMENTO DO QUE EXISTE

    ELABORAO DE PROPOSTAS PEDAGGICAS

    PELO PIBID4

    Greice da Silva Castela (UNIOESTE)

    [email protected]

    RESUMO

    Neste artigo, realizado com apoio financeiro da CAPES e da Funda-

    o Araucria, apresentamos aes realizadas na Universidade Estadual

    do Oeste do Paran (UNIOESTE) no mbito do subprojeto de espanhol

    do Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia (PIBID),

    financiado pela CAPES, e dos projetos de pesquisa Novas tecnologias

    na educao: anlise de sites para ensino/aprendizagem de espanhol

    como lngua estrangeira, financiado pela Fundao Araucria, e

    Formao inicial e continuada de docentes em foco: vivncias, impac-

    tos e reflexes. A integrao desses projetos de ensino e pesquisa est

    contribuindo para a realizao de um mapeamento de uma grande

    quantidade de sites disponveis na Internet, a fim de auxiliar docentes a

    localizarem endereos eletrnicos com recursos hipermdia e com ativi-

    dades que contribuam para os processos de ensino e aprendizagem por

    meio da construo de um catlogo descritivo e analtico de sites ade-

    quados para alunos brasileiros dessa lngua estrangeira. Alm disso, os

    bolsistas tm elaborado e aplicado, nas escolas da rede estadual de ensi-

    no parceiras, propostas pedaggicas de utilizao das novas tecnologias

    4 Artigo realizado com apoio financeiro da Capes ao PIBID e da Fundao Araucria ao projeto de pesquisa Novas tecnologias na educao: anlise de sites para ensi-no-aprendizagem de espanhol como lngua estrangeira. Uma verso preliminar desse texto foi publicada nos Anais do II Seminrio Internacional e III Nacional em Estudos da Linguagem, na Unioeste, em 2014.

    mailto:[email protected]

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    22

    nas aulas de espanhol como lngua estrangeira, o que tm apresentado

    resultados bastante positivos.

    Palavras-chave:

    Novas tecnologias. Espanhol lngua estrangeira. PIBID. Ensino. Sites.

    1. Introduo

    Por um lado, ainda h poucos estudos voltados para a

    utilizao do computador e da Internet pelos docentes nas au-

    las e para autoaprendizagem de lngua, sobretudo em relao

    s aulas de aulas de espanhol como lngua estrangeira. Por ou-

    tro, muitos colgios possuem laboratrios de informtica e,

    como os gneros digitais e os hipertextos eletrnicos dispon-

    veis na mdia Internet constituem uma prtica social nas aulas

    de lngua estrangeira, devido ao baixo custo, diversidade e

    atualidade oferecida pela Web, os professores, por iniciativa

    prpria, comeam a tentar incorpor-los em suas aulas, mesmo

    sem ter tido reflexes e modelos durante sua formao. No en-

    tanto, como relata Ramal (2002), nem sempre h objetivos pe-

    daggicos bem definidos quando se solicita que os alunos pes-

    quisem algo na Internet, mas fundamental que o professor

    tenha clareza dos objetivos que podem ser alcanados com o

    uso do computador em determinada aula e dos sites e links que

    podem auxiliar a compreenso do hipertexto acessado pelo es-

    tudante, de acordo com seu conhecimento da lngua meta, seus

    interesses e contedo a ser trabalhado.

    Julgamos que a discusso no se deve deter na falta de

    recursos informticos nas escolas, mas avanar no sentido de

    encontrar possibilidades de contribuir para os processos de en-

    sino e aprendizagem, empregando os recursos computacionais

    disponveis, considerando todos os fatores envolvidos, sejam

    de ordem financeira, social, poltica, cultural ou pedaggica

    (CASTELA, 2009). Nessa perspectiva, vislumbra-se a neces-

    sidade de auxiliar os docentes na seleo de sites que possam

    contribuir para os processos de ensino e aprendizagem de es-

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    23

    panhol como lngua estrangeira, dentre os inmeros existentes

    na Internet, j que o acesso grande quantidade de fontes de

    informao, hipertextos e sites no suficiente para garantir a

    aprendizagem. Consideramos que o ensino s tem sentido se

    estiver vinculado aprendizagem. Compartilhamos com Stone

    Wiske (2006, p. 243) a concepo de que a aprendizagem

    um processo ativo e social de indagao e interpretao e que

    o ensino um processo que aponta para cultivar as capacida-

    des dos estudantes para desenvolver e aplicar criativamente

    sua compreenso no mundo. Dessa maneira, o ensino de uma

    lngua estrangeira necessita criar condies para que ocorra

    continuamente a interao em diferentes nveis, permitindo

    desenvolver a estrutura cognitiva do aluno a partir do confron-

    to de seu conhecimento prvio com novas situaes lingusti-

    cas e culturais. (CORACINI, 1999)

    Ramal (2002) e Castela (2009) enfatizam a necessidade

    de desenvolver nos professores o perfil de usurios crticos e

    criativos da tecnologia, que a percebam em todas as suas po-

    tencialidades. Assim, consideramos, como Baptista, que ne-

    cessrio:

    [...] desenvolver o esprito crtico e preparar os alunos para en-

    tender e refletir sobre discursos de diversas mdias e culturas, le-

    vando em considerao as finalidades e intencionalidades pre-

    sentes nos diversos textos que circulam na sociedade. (BAPTIS-

    TA, 2010, p. 119)

    Alm disso, os Parmetros Curriculares Nacionais pa-

    ra o Ensino Mdio j apontavam que A aprendizagem de ln-

    gua estrangeira uma possibilidade de aumentar a autopercep-

    o do aluno como ser humano e como cidado (BRASIL,

    1998, p. 15). A utilizao da Internet na educao um fato

    relativamente recente e que exige reflexes tanto sobre suas

    possveis contribuies como sobre as maneiras de implemen-

    t-la nas aulas. Cabe comentar que, como advertimos h al-

    guns anos atrs:

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    24

    O uso de equipamentos informticos na sala de aula, muitas

    vezes, gera uma aparncia moderna ao reproduzir prticas tradi-

    cionais de ensino, nas quais o docente subaproveita as possibili-

    dades que o computador lhe oferece e o aluno no exerce um pa-

    pel ativo de quem constri o conhecimento e analisa criticamente

    as informaes. Portanto, no se estabelece um novo paradigma

    de ensino, embora o computador esteja presente. (CASTELA,

    2009, p. 34)

    Como esclarece Valente (1993), h uma grande diferen-

    a entre o paradigma instrucionista de aprendizagem no qual

    ocorre a informatizao dos mtodos tradicionais de ensino,

    com nfase na transmisso de conhecimento, e o paradigma

    construcionista, em que se utilizam as novssimas tecnologias

    de modo que o aluno construa seu prprio conhecimento. Di-

    versos autores afirmam que fatores como a motivao, o ldi-

    co, a interao e o uso das novas tecnologias facilitam a

    aprendizagem da lngua estrangeira. No entanto, somente a

    presena da tecnologia no muda a metodologia empregada.

    Se a concepo de leitura, por exemplo, que subjaz ao docente

    voltada para o texto com nfase em localizao de informa-

    es, ele no elaborar questes de perspectiva discursiva, que

    considera conhecimentos prvios do leitor, o texto e o contex-

    to, s porque tem outros recursos a sua disposio. Assim, pa-

    ra que a tecnologia possa contribuir de fato para os processos

    de ensino e aprendizagem preciso que haja, primeiramente,

    mudana em relao s concepes que os docentes que a uti-

    lizam possuem em relao a cada uma das habilidades e refle-

    xo em relao finalidade de se proporem determinados tipos

    de atividades tradicionais e que j so criticadas em suporte

    impresso, em um suporte eletrnico capaz de possibilitar mul-

    tiletramentos (CASTELA, 2013). Da mesma maneira, como

    aponta Coscarelli, no basta ser um hipertexto para que o pro-

    cessamento da informao seja melhorado:

    No porque a informao apresentada em formato hiper-

    textual que ela ser melhor compreendida ou melhor aprendida.

    preciso que muitos fatores sejam considerados na produo de

    um hipertexto, e muito provvel que diferentes formatos e for-

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    25

    mas de organizao vo ter sua eficcia variando de acordo com

    a situao. (COSCARELLI, 2005, p. 121)

    No entanto, essa mesma autora pondera que

    O hipertexto pode, no entanto, trazer contribuies para a

    leitura e para ambientes de aprendizagem se produzido e usado

    adequadamente, tendo como suporte boas teorias de compreen-

    so e de aprendizagem. (COSCARELLI, 2005, p. 122)

    Da a relevncia de se identificar que concepes esto

    presentes nos materiais socializados na Internet para ensi-

    no/aprendizagem de espanhol como lngua estrangeira. Alm

    disso, somente a partir da anlise de textos, atividades e recur-

    sos disponveis em sites para ensino/aprendizagem de espa-

    nhol como lngua estrangeira poderemos saber quais apresen-

    tam informaes confiveis e atividades adequadas a alunos

    brasileiros e recursos multimiditicos que possam ser aprovei-

    tados nas aulas.

    Nessa comunicao apresentamos os critrios que esta-

    mos utilizamos no projeto de pesquisa Novas tecnologias na

    educao: anlise de sites para ensino/aprendizagem de espa-

    nhol como lngua estrangeira, desenvolvido na Universidade

    Estadual do Oeste do Paran e financiado pela Fundao

    Araucria, para anlise de sites disponveis na Internet a fim

    de identificar se esto adequados para o ensino e/ou para a

    aprendizagem de espanhol como lngua estrangeira (espanhol

    como lngua estrangeira). Estes mesmos itens podem ser em-

    pregados para anlise de sites voltados para aulas de outras

    lnguas estrangeiras.

    O aporte terico que subsidia a anlise consiste nos do-

    cumentos oficiais que norteiam o ensino de lnguas estrangei-

    ras no Brasil, leitura e produo textual na perspectiva intera-

    cional/discursiva e novas tecnologias da informao e da co-

    municao na educao. Nesse artigo no detalharemos cada

    uma delas, em funo do limite do nmero de pginas e do re-

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    26

    corte realizado enfocar especificamente os critrios de anlise

    e no a anlise de um site especfico.

    Como destaca Perrenoud, as competncias dos professo-

    res devem ser fundamentadas em uma cultura tecnolgica, que

    consiste em utilizar a tecnologia dentro e fora da sala de aula,

    sendo esta cultura necessria a qualquer um que pretenda lu-

    tar contra o fracasso escolar e a excluso social (PERRE-

    NOUD, 2000, p. 139). Quanto a isso, necessrio considerar

    que, como afirmam Coll, Mauri e Onrubia, avana-se no de-

    senvolvimento do domnio tcnico, mas no se avana na

    questo de explorar as potencialidades das tecnologias digitais

    para o ensino e a aprendizagem:

    Enquanto no se proceder a essa reviso profunda do curr-

    culo escolar, vamos talvez continuar avanando na incorporao

    das TIC na educao, no sentido de melhorar o conhecimento e

    domnio que os alunos possuem dessas tecnologias, e at a utili-

    zao eficaz destas por parte do professorado e dos alunos para

    desenvolver sua atividade como docentes e aprendizes respecti-

    vamente, muito mais difcil, contudo, ser avanar no aprovei-

    tamento efetivo das novas possibilidades de ensino e aprendiza-

    gem que nos oferecem, potencialmente, as tecnologias de infor-

    mao e comunicao. (COLL, MAURI & ONRUBIA, 2010, p.

    89)

    Por isso, cremos que a universidade necessita ser um

    espao de vivncias, discusses, reflexes e experincias sobre

    a questo das novas tecnologias da informao e da comunica-

    o nos processos educacionais, no se restringindo ao manu-

    seio e avanando na articulao entre teoria e prtica, de modo

    a permear tanto as aulas que os acadmicos das licenciaturas

    assistem como sua introduo nas prticas docentes por meio

    do estgio supervisionado e de projetos de ensino. Somente

    assim, estaremos preparando futuros professores para utiliza-

    o das potencialidades das novas tecnologias da informao e

    da comunicao em suas aulas. Como afirma Vergnano-

    Junger, em relao maneira como professores e instituies

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    27

    de ensino devem posicionar-se em relao ao uso das novas

    tecnologias da informao e da comunicao nas aulas:

    Professores e sistema escolar precisam ocupar seu espao

    nessa nova organizao social, que aproxima pessoas e lugares,

    oferece quantidade quase infinita de dados e propicia a elabora-

    o e manipulao da informao de forma mais rpida e abran-

    gente do que jamais antes imaginado. Tm papel orientador, fo-

    mentador de criatividade e criticidade, que no compete com ou-

    tras instituies sociais, mas lhes complementar. (VERGNA-

    NO JUNGER, 2011, p. 121)

    O projeto de espanhol que a Unioeste, campus de Cas-

    cavel realiza, por meio do Programa Institucional de Bolsas de

    Iniciao Docncia (PIBID), aproveita, em algumas de suas

    atividades voltadas para uso de novas tecnologias nas aulas,

    leituras tericas realizadas e sites encontrados por meio do

    projeto de pesquisa citado. O PIBID um projeto de ensino,

    financiado pela CAPES, para o aperfeioamento e a valoriza-

    o da formao de professores para a educao bsica, com

    foco na formao inicial de acadmicos de cursos de licencia-

    tura

    O PIBID-Espanhol da Unioeste, para trabalhar com no-

    vas tecnologias da informao e da comunicao no ensino,

    parte da observao nas escolas para criao de novas prticas

    e da reviso bibliogrfica de teoria e de pesquisas j realizadas

    para elaborao de materiais didticos, planos de aula e enca-

    minhamentos metodolgicos e, posterior aplicao das ofici-

    nas. Por exemplo, os bolsistas realizaram oficinas a partir da

    criao de glosters, avatares, histrias em quadrinho online e

    revistas online, utilizando sites encontrados no projeto de pes-

    quisa:

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    28

    Imagem 1- Exemplo de glogster criado no PBID

    Imagem 2- Exemplo de avatar criado no PBID

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    29

    Imagem 3- Exemplo de HQ criada no PBID

    Imagem 4- Exemplo de revista online criada no PBID

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    30

    A partir da aplicao das oficinas com esses materiais,

    realiza-se a reflexo tanto sobre a prtica docente dos bolsistas

    como sobre os materiais elaborados pelo projeto. Depois se

    escrevem relatos de experincia e reformulam-se e ajustam-se

    os materiais e metodologias empregados, a fim de socializ-los

    por meio de publicaes. Por fim, promovem oficinas para

    alunos das escolas e para professores da rede estadual, nos

    quais a interao amplia os conhecimentos e a reflexo dos

    alunos, dos docentes e dos acadmicos bolsistas. Essa integra-

    o com a extenso tambm ocorre por meio de uma das ativi-

    dades prevista no projeto de pesquisa, que a realizao de ci-

    clo de debates sobre uso de novas tecnologias no ensino, no

    qual ocorrem palestras e cursos relacionados ao tema. Essas

    atividades de extenso, por sua vez, tambm so passveis de

    anlise por meio de pesquisa. Essas aes relatadas aqui po-

    dem ser representadas por meio do seguinte esquema:

    Imagem 5

    Representao da interao entre ensino, pesquisa e extenso no PIBID

    Dessa maneira, conjugamos em nossas aes a integra-

    o entre pesquisa, ensino e extenso. A seguir nos detemos

    especificamente em relacionar os critrios de anlise de sites

    considerados em nosso projeto de pesquisa.

    Mais informaes sobre o PIBID podem ser obtidas no

    endereo eletrnico e sobre o PIBID na Unioeste no site

    .

    http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibidhttp://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibidhttp://www.unioeste.br/pibid

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    31

    2. Critrios de anlise

    Como critrios de anlise estabelecemos um conjunto

    de itens a serem observados em cada site encontrado na Inter-

    net e que esteja voltado para ensino e/ou aprendizagem de es-

    panhol como lngua estrangeira ou que possa ser empregado

    com esse fim. A seguir apresentamos cada um deles.

    1. Endereo do site: (direo eletrnica para localizao da

    pgina)

    2. Apresentao, organizao e orientaes didticas:

    2.1 A apresentao do site diz se ele foi pensado para

    brasileiros ou no? Se est dirigido a alunos (de que n-

    vel) ou a professores? Quem criou o site e com que ob-

    jetivo?

    2.2 Descreve a organizao geral do site?

    2.3 Quais as sees que apresenta? (dizer quais so e

    brevemente o que h em cada uma)

    2.4 Explicita os pressupostos terico-metodolgicos as-

    sumidos pelo site?

    2.5 Explicita os objetivos da proposta didtico-

    pedaggica efetivada pelo site?

    2.6 Apresenta orientaes didticas para que docentes

    e/ou estudantes possam fazer um uso adequado da tec-

    nologia?

    2.7 Orienta possibilidades de avaliao que o professor

    poder utilizar ao longo do processo de ensino e apren-

    dizagem?

    2.8 Indica possibilidades de trabalho interdisciplinar na

    escola?

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    32

    3. Textos:

    3.1 Os textos so autnticos ou foram criados especifi-

    camente para o ensino?

    3.2 Os textos esto acompanhadas dos respectivos crdi-

    tos / fontes de onde foram retirados?

    3.3 Utiliza textos e/ou atividades como veculo de pu-

    blicidade, difuso de marcas, produtos ou servios co-

    merciais?

    3.4 Apresenta contextualizao de textos em relao: ao

    momento histrico, corrente artstica, ao autor do tex-

    to, aos aspectos culturais presentes no texto?

    3.5 Favorece o acesso diversidade de gneros textu-

    ais? Quais os gneros que mais aparecem no site?

    3.6 H links dentro do texto? (Ele um hipertexto ele-

    trnico ou um texto digitalizado?)

    3.7 Quais so as temticas predominantes tratadas nos

    textos?

    4. Atividades:

    4.1 Os enunciados esto em portugus ou em espanhol?

    4.2 Possui atividades para trabalhar as quatro habilida-

    des (ler, escrever, falar e escutar)? Predominam ativida-

    des sobre qual habilidade?

    4.3 Explora atividades que discutam e promovam rela-

    es de intertextualidade?

    4.4 As atividade de produo oral so contextualizadas?

    4.5 As atividade de produo escrita so contextualiza-

    das?

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    33

    4.6 As atividade de compreenso leitora so contextua-

    lizadas?

    4.7 As atividade de compreenso oral so contextuali-

    zadas?

    4.8 Valoriza nas atividades de compreenso leitora o

    processo que envolve atividades de pr- leitura, leitura e

    ps-leitura?

    4.9 Promove o acesso a diversas variedades lingusticas

    (diferentes pronncias e prosdias)?

    4.10 A compreenso oral trabalhada tanto em situao

    de compreenso intensiva (sons, palavras, sentenas),

    como extensiva (compreenso global) e seletiva (com-

    preenso pontual)?

    4.11 Prope a sistematizao contextualizada de conhe-

    cimentos lingusticos, a partir de situaes contextuali-

    zadas e de prticas discursivas variadas e autnticas?

    4.12 Organiza-se de forma a garantir a progresso do

    processo de ensino e aprendizagem?

    4.13 Prope reflexo crtica?

    4.14 H jogos ou atividades ldicas? De que tipo?

    4.15 Como so as atividades? (questes de mltipla es-

    colha, questes abertas, questes de completar lacunas,

    verdadeiro ou falso, atividades de vocabulrio, exerc-

    cios de gramtica)

    5. Cultura:

    5.1 Contextualiza as informaes culturais?

    5.2 Veicula esteretipos e preconceitos?

    5.3 Faz doutrinao religiosa ou poltica?

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    34

    5.4 Apresentam textos e informaes culturais de quais

    pases que falam o espanhol?

    6. Imagens:

    6.1 As ilustraes reproduzem adequadamente a diver-

    sidade tnica da populao, a pluralidade social e cultu-

    ral do Brasil?

    6.2 As imagens esto acompanhadas dos respectivos

    crditos / fontes de onde foram retiradas?

    7. Busca e interao:

    7.1 Apresentam sistema de busca capaz de refinar e fil-

    trar as informaes?

    7.2 O site permite aos usurios publicarem e receberem

    informaes de outros usurios?

    7.3 H possibilidade de integrao do professor como

    mediador e do estudante como sujeito ativo do processo

    de aprendizagem?

    7.4 H possibilidades de interao por meio de frum,

    chat, e-mail, blogs etc.?

    8. Recursos hipermiditicos:

    8.1 H links para outras pginas relacionadas ao ensino

    de espanhol?

    8.2 H vdeos, msicas ou animaes? De que tipo?

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    35

    9. Gramtica:

    9.1 H explicaes de gramtica e se estas esto em por-

    tugus ou em espanhol?

    9.2 O contedo gramatical apresentado de forma de-

    dutiva ou indutiva?

    10. Adequao a alunos brasileiros:

    10.1 Considerando os documentos oficiais que norteiam

    o ensino da lngua estrangeira, este que voc leu cr que

    est adequado para estudantes brasileiros? Por qu?

    10.2 Se considera o site adequado, para alunos de que

    nvel deveria ser usado?

    3. Consideraes finais

    Muitos dos materiais e textos encontrados at o momen-

    to nos mais de cem sites localizados no foram pensados para

    nossa realidade e subaproveitam recursos disponveis na rede,

    que poderiam auxiliar nos processos de ensino e aprendizagem

    de alunos brasileiros dessa lngua estrangeira. Outro ponto a

    destacar que o esforo de articulao que temos realizado

    com pesquisa, ensino e extenso fundamental, pois une es-

    foros para garantir a relao entre teoria e prtica, aproveitar

    ao mximo dados obtidos por meio do projeto de pesquisa

    apresentado e possibilitar a reflexo sobre todo processo e a

    socializao das pesquisas e projetos realizados pela universi-

    dade.

    O principal resultado esperado para esse projeto de pes-

    quisa, por meio da aplicao dos critrios elaborados e descri-

    tos acima na anlise dos sites localizados na Internet, dar a

    conhecer aos professores um catlogo descritivo e analtico de

    sites, que apresente de forma sinttica os principais aspectos

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    36

    observados em cada site. Dessa maneira, objetiva-se daqui a

    algum tempo auxiliar os docentes a localizarem endereos ele-

    trnicos com recursos hipermdia e com atividades que contri-

    buam para os processos de ensino e aprendizagem para aulas

    de espanhol como lngua estrangeira para alunos brasileiros.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    39

    O USO DO DISCURSO CITADO

    EM REPORTAGENS SOBRE QUESTES INDGENAS

    NA MDIA SUL-MATO-GROSSENSE:

    UMA ANLISE ENUNCIATIVA

    SOB A PERSPECTIVA TERICA BAKHTINIANA

    Geraldo Jos da Silva (UEMS)

    [email protected]

    RESUMO

    Este artigo consiste na anlise de dois textos extrados de dois jor-

    nais on-line sul-mato-grossenses, um do jornal Dirio MS e outro do

    jornal Correio do Estado. As matrias foram veiculadas em 2015 e tra-

    zem como tema questes indgenas em Mato Grosso do Sul. Para a an-

    lise, adota-se a perspectiva terica da lingustica enunciativa, sob a tica

    bakhtiniana com nfase no dialogismo e na interao verbal. Objetiva-

    se analisar, lingustico-enunciativamente, o uso do discurso citado/de

    outrem na elaborao de narrativas jornalsticas e os efeitos de sentido

    que este recurso lingustico-discursivo pode produzir no lei-

    tor/interlocutor. Como critrio avaliativo, considera-se o uso do discur-

    so citado na composio global dos textos. Os resultados mostram que o

    discurso citado constitutivo nesse gnero textual e serve ao locu-

    tor/reprter como ncora, para imprimir grau de verdade sobre o que

    informado e, ao mesmo tempo, como tentativa de iseno frente ao dito

    alheio.

    Palavras-chave: Questo indgena.

    Texto jornalstico. Discurso citado. Enunciao. Bakhtin

    mailto:[email protected]

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    40

    1. Introduo

    A questo indgena ocupou e ocupa espao na mdia na-

    cional e regional. A histria tem registrado uma srie de con-

    flitos que envolvem a questo da terra, da educao e da sade

    nas comunidades indgenas no pas. No Mato Grosso do Sul,

    vive uma populao indgena significativa. Em algumas co-

    munidades a realidade tem apresentado alguns avanos como a

    educao bilngue, cotas indgenas nas universidades pblicas,

    parque olmpico indgena, mas isso no tem sido suficiente pa-

    ra que a justia social acontea plenamente nas aldeias.

    Considerando que o jornal fala do mundo, no mundo e

    para o mundo, entra em cena a mdia com o propsito de in-

    vestigar e manter a sociedade informada sobre os fatos. ine-

    gvel a fora persuasiva que a mdia pode exercer sobre os lei-

    tores e, dessa forma, assume papel de formadora de opinio.

    Neste trabalho, a causa indgena tratada pelos jornais Dirio

    MS Online e Correio do Estado Online tem nas notcias e re-

    portagens o locus em que as vozes dos atores sociais se repre-

    sentam por meio do discurso citado, diludo em discurso direto

    e discurso indireto. Este recurso lingustico-discursivo serve

    ao locutor como ncora persuasiva na elaborao das matrias.

    No nos interessa discutir parcialidade ou imparcialidade jor-

    nalstica, uma vez que essa questo relativa na prpria litera-

    tura que trata da redao jornalstica.5

    Ressaltamos que nosso intuito estritamente fazer um

    estudo lingustico-enunciativo, sob a tica bakhtiniana, de um

    texto do jornal Dirio MS e outro do jornal Correio do Estado,

    veiculados em 2015. A opo por esses jornais justifica-se pe-

    lo valor scio-histrico e pela abrangncia com que esses por-

    5 No existe objetividade em jornalismo. Ao escolher um assunto, redigir um texto e edit-lo, o jornalista toma decises em larga medida subjetivas, influenciadas por suas posies pessoais, hbitos e emoes. Isso no o exime, porm, da obrigao de ser o mais objetivo possvel (NMR, 2001, p. 45).

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    41

    tadores se situam no contexto miditico regional e nacional,

    uma vez que, na mdia online no h fronteiras. Para atingir-

    mos nosso objetivo, fez-se necessrio um percurso metodol-

    gico. Em primeira instncia, buscamos subsdios tericos em-

    basados nos estudos de Bakhtin sobre o discurso citado/de ou-

    trem. Em segundo momento, faz-se a anlise do corpus ilustra-

    tivo e, posteriormente, tem-se as consideraes finais.

    2. Fundamentao terica

    Numa sociedade, os pontos de vista sobre temas pol-

    micos levam em conta interesses de grupos sociais distintos.

    Nesta perspectiva, o texto oral e/ou escrito serve de base para

    que se registrem os posicionamentos dos atores sociais sobre

    questes geradas no seio da sociedade. Cada vez mais, o dis-

    curso jornalstico se apresenta como uma espcie de saber ex-

    plicativo dos processos sociais. Assim, o jornal se lana numa

    fascinante batalha pela conquista de seus leitores. A arma des-

    sa batalha a palavra seja escrita ou oral. A esse respeito vale

    lembrar o que nos diz Bakhtin/Volochnov (2004, p. 113):

    toda palavra comporta duas faces. Ela determinada tanto pelo

    fato de que procede de algum, como pelo fato de que se dirige

    para algum. Ela constitui justamente o produto da interao do

    locutor e do ouvinte.

    Nota-se que a palavra sempre carrega um contedo, um

    sentido ideolgico ou vivencial. Destacando o valor da pala-

    vra, no s no aspecto morfolgico, mas tambm sinttico-

    semntico-discursivo, fazer uma leitura reflexiva envolvendo

    aspectos lingustico-enunciativos de fundamental relevncia

    para um leitor.

    Diante disso, buscamos em Bakhtin (2004; 2010a;

    2010b) subsdio terico ressaltando o uso do discurso citado

    no gnero jornalstico na arquitetura de textos informativos

    veiculados nos jornais on-line Correio do Estado e Dirio MS,

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    42

    sendo o primeiro com sede em Campo Grande e o segundo em

    Dourados, em Mato Grosso do Sul. O tema eleito para a com-

    posio do corpus demonstrativo verte sobre questes indge-

    nas no Estado j mencionado. Como sabido, o assunto po-

    lmico e passvel de uma anlise sob a tica enunciativa bakh-

    tiniana. Devido gama de possibilidades e estudos do terico

    russo, nos restringimos a tratar do discurso citado na constru-

    o da narrativa jornalstica, especificamente, notcia e repor-

    tagem. Considerando a perspectiva enunciativa da linguagem,

    lngua em uso, nos interessa verificar o papel do locu-

    tor/reprter quanto ao uso do discurso citado na elaborao das

    matrias.

    O fato de a narrativa jornalstica comportar diferentes

    pontos de vista sobre uma dada questo sugere que o locu-

    tor/reprter faa um crivo do que dizer/falar/escrever. Isso faz

    com que se leve em conta a interao social (locu-

    tor/interlocutor). Em Bakhtin/Volochnov (2004), a enuncia-

    o essencialmente produto da interao social, como fica

    registrado nas palavras dos autores:

    O centro organizador de toda a enunciao, de toda expres-

    so, no interior, mas exterior: est situado no meio social que

    envolve o indivduo. [...] A enunciao enquanto tal um ato de

    fala determinado pela situao imediata ou pelo contexto mais

    amplo que constitui o conjunto das conjunes de vida de uma

    determinada comunidade. (BAKHTIN/VOLOCHNOV (2004,

    p. 121).

    Sobre a enunciao (oral ou escrita), Bakhtin/Voloch-

    nov (2004, p. 123) acrescentam que

    o discurso escrito de certa maneira parte integrante de uma dis-

    cusso ideolgica em grande escala: ele responde a alguma coi-

    sa, refuta, confirma, antecipa as respostas e objees potenciais,

    procura apoio etc.

    Em Bakhtin (2010b, p. 214), tem-se que numa narrativa

    literria ocorre dois discursos, um do narrador e outro da per-

    sonagem, tido como discurso do outro e este organizado sob

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

    43

    a inteno do autor. Esse pressuposto nos permite inferir que

    tanto o autor (narrativa literria) quanto o locutor/reprter

    (texto informativo) trabalha/utiliza o discurso do outro a seu

    favor. Isto posto, sentimos a necessidade do excerto, a seguir,

    por consider-lo sumarizador sobre a questo do discurso do

    outro na enunciao, conforme Bakhtin (2010b, p. 223):

    As palavras do outro, introduzidas em nossa fala, so reves-

    tidas inevitavelmente de algo novo, da nossa compreenso e da

    nossa avaliao, isto , tornam-se bivocais. A nica que pode di-

    ferenciar-se a relao de reciprocidade entre essas duas vozes.

    A transmisso da afirmao do outro em forma de pergunta j

    leva a um atrito entre duas interpretaes numa s palavra, tendo

    em vista que no apenas perguntamos como problematizamos a

    afirmao do outro. O nosso discurso da vida prtica est cheio

    de palavras de outros. Com algumas delas fundimos inteiramente

    a nossa voz, esquecendo-nos de quem so; com outras, refora-

    mos as nossas prprias palavras, aceitando aquelas como autori-

    zadas para ns; por ltimo, revestimos terceiras das nossas pr-

    prias intenes, que so estranhas e hostis a elas.

    Como se v, em nossos discursos esto imbricados di-

    versos pontos de vista, considerando nossa histria scio-

    poltico-ideolgica. Dessa forma, quando se estuda o enuncia-

    do perceptvel os ecos discursivos nele existentes em situa-

    o de comunicao, seja escrita ou oral. A esse respeito, o au-

    tor argumenta que:

    O discurso do outro, desse modo, tem uma dupla expresso:

    a sua, isto , a alheia, e a expresso do enunciado que acolheu

    esse discurso. [...] citado textualmente e destacado com nitidez

    (entre aspas): os ecos da alternncia dos sujeitos do discurso e

    das suas mltiplas relaes dialgicas aqui se ouvem nitidamen-

    te. (BAKHTIN, 2010a, p. 299).

    Levando em conta que todo enunciado produzido para

    algum, esse algum passa a constituir-se parte importante na

    produo de efeitos de sentido intencionados pelo locutor no

    interlocutor no processo enunciativo. Neste processo entra em

    cena a interao verbal e dialgica da linguagem. Nesta esteira

    de discusso, por uma questo lingustico-enunciativo-discur-

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    siva, o uso do discurso citado estruturante, tambm, no gne-

    ro narrativo jornalstico.

    O texto jornalstico tido como um enunciado e, com

    isso, aspectos ligados ao dialogismo e interao verbal as-

    sumem relevncia terica na anlise pretendida. Partindo da

    premissa de que o signo e a enunciao so de natureza social

    e que a ideologia veiculada pela linguagem, vemos em Bakh-

    tin/Volochnov (2004, p. 14-15) que

    a palavra a arena onde se confrontam os valores sociais contra-

    ditrios; os conflitos da lngua refletem os conflitos de classe no

    interior mesmo do sistema: comunidade semitica e classe social

    no se recobrem.

    Na concepo dos autores, todo signo ideolgico e a

    ideologia reflete as estruturas sociais.

    Os autores, discorrendo sobre o discurso escrito, afir-

    mam que

    O discurso escrito de certa maneira parte integrante de uma

    discusso ideolgica em grande escala: ele responde a alguma

    coisa, refuta, confirma, antecipa as respostas e objees poten-

    ciais, procura apoio etc. (BAKHTIN/VOLOCHNOV, 2004, p.

    123)

    Na relao entre locutor e interlocutor h que se consi-

    derar que a enunciao produto da interao de dois indiv-

    duos socialmente organizados. A esse respeito, os autores as-

    severam que:

    Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela deter-

    minada tanto pelo fato de que procede de algum, como pelo fa-to de que se dirige a algum. Ela constitui justamente o produto

    da interao do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de ex-

    presso a um em relao ao outro. Atravs da palavra, defino-me

    em relao ao outro, isto , em ltima anlise, em relao cole-

    tividade. A palavra uma espcie de ponte entre mim e os ou-

    tros. (BAKHTIN/VOLOCHNOV, 2004, p. 113).

    Considerando a heterogeneidade textual, Bakhtin

    (2010a) admite que, no mundo contemporneo, impossvel

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    assumir uma verdade absoluta e v na citao uma forma de

    ncora na articulao discursivo-enunciativa. Bakhtin/Volo-

    chnov (2004, p. 144-145) asseveram que o discurso de outrem

    se constitui mais do que o tema do discurso, visto que ele entra

    na construo sinttica do discurso e tido como uma unidade

    integral dessa construo. Acrescentam, ainda, que o discurso

    citado conserva autonomia estrutural e semntica sem alterar a

    trama lingustica do contexto que o integrou. A esse respeito,

    alertam que a enunciao do narrador, tendo integrado na sua

    composio uma outra enunciao, elabora regras sintticas,

    estilsticas e composicionais para assimil-la parcialmente,

    [...]. Nesta esteira de reflexo, os autores ressaltam que no

    discurso citado e no contexto narrativo h relaes dinmicas e

    tensas, conforme citao: toda transmisso, particularmente

    sob forma escrita, tem seu fim especfico: narrativa, processos

    legais, polmica cientfica etc.". (BAKHTIN/VOLOCHNOV,

    2004, p. 146).

    Ampliando a reflexo sobre o discurso de outrem,

    Bakhtin/Volochnov (2004, p. 161-162), mencionam que a

    tendncia analtica do discurso indireto pode tomar duas vari-

    antes. A primeira, discurso indireto analisador de contedo,

    possibilita rplica e comentrio no contexto narrativo e, ao

    mesmo tempo, mantm distncia entre a voz citante e a voz ci-

    tada. A segunda, discurso indireto analisador da expresso, in-

    tegra construo indireta as palavras e as maneiras de dizer

    do discurso de outrem de forma que seu carter subjetivo fique

    perceptvel, sendo colocadas entre aspas na maioria das vezes.

    Em sntese, o discurso citado apresenta a voz alheia, via

    discurso direto e discurso indireto. No discurso direto, o locu-

    tor traz o dito alheio para a narrativa, seja literria ou jornals-

    tica, com o propsito de imprimir crdito ao que est sendo

    transmitido. O fato de iar a voz do outro para o texto, tal qual

    foi dita, d ao locutor a sensao de iseno, uma vez que

    quem diz isso o outro e no ele. J o discurso indireto de-

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    sempenha funo semntica de uma possvel sntese/traduo

    do dito alheio que incorporado narrativa.

    Diante do exposto, Silva (2014) ressalta que o discurso

    citado, em Bakhtin, vai alm das regras meramente gramati-

    cais, pois o aspecto discursivo-ideolgico presentificado nes-

    se tipo de discurso. Nesta perspectiva, uma palavra, bem como

    um conjunto delas, constituindo um enunciado, assume papel

    dialgico. Para Bakhtin, a palavra quer ser ouvida, respondida

    e, por isso, um elemento que carrega certa tenso em uso

    efetivo na enunciao, falada ou escrita.

    3. Apresentao do corpus

    Este trabalho consiste na anlise de dois textos, um ex-

    trado do jornal Correio do Estado, intitulado "ndios e fazen-

    deiros entram em conflito em fazenda em Mato Grosso do

    Sul", de 25 de junho de 2015, 17h03. A reportagem relata o

    conflito agrrio entre fazendeiros e indgenas em uma fazenda

    situada no municpio de Coronel Sapucaia-MS. O outro texto

    extrado do jornal Dirio MS, intitulado "ndios denunciam

    desaparecimentos durante conflito em fazenda de MS", de 2 de

    julho de 2015, 09h54. A matria trata do mesmo episdio

    ocorrido na mesma fazenda e municpio aqui mencionados.

    Vale ressaltar que esses jornais so representativos e acompa-

    nham os fatos em todo o estado de Mato Grosso do Sul.

    3.1. Texto 1 Jornal Correio do Estado on-line

    "ndios e fazendeiros entram em conflito em fazenda em Ma-

    to Grosso do Sul", de 25 de junho de 2015, 17h03.

    Confronto ocorreu na fazenda ocupada por ndios na ltima

    segunda-feira (22)

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    (1) ndios e produtores rurais enfrentaram-se ontem (24) em

    uma fazenda de Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, a

    cerca de 180 quilmetros de Dourados, no sudoeste do estado. O

    confronto ocorreu na fazenda ocupada por ndios guarani e

    kaiow na ltima segunda-feira (22).

    (2) Dirigindo caminhonetes e picapes, um grupo de no ndios

    tentou desocupar a fazenda Madama sem uma deciso judicial ou

    apoio policial. Enquanto os motoristas ameaavam lanar os ve-

    culos contra os ndios, estes resistiam lanando pedras, paus e

    flechas. No h, at o momento, registro de feridos, mas os n-

    dios afirmam que, na confuso, uma mulher e duas crianas fugi-

    ram e ainda no voltaram para o acampamento.

    (3) O conflito foi acompanhado a distncia por agentes do De-

    partamento de Operaes de Fronteira (DOF) e da Polcia Civil,

    que no conseguiram evitar a entrada dos produtores rurais na fa-

    zenda. Segundo o assessor de comunicao do DOF, sargento J-

    lio Cesar Teles Arguelho, os quatro policiais do departamento es-

    tavam no local desde o incio da manh apenas para ajudar na re-

    tirada do gado e de bens do proprietrio da fazenda ocupada. Por

    volta do meio-dia, a guarnio foi surpreendida pela chegada de

    uma carreata com dezenas de veculos.

    (4) Os policiais orientaram o grupo a no entrar na rea para

    fazer a retomada, at porque o efetivo era insuficiente para garan-

    tir a segurana de todos, disse o sargento Agncia Brasil. Co-

    mo a atribuio de agir em conflitos indgenas da Polcia Fede-

    ral (PF), o efetivo era insuficiente para qualquer ao repressiva,

    os agentes do DOF retiraram-se do local.

    (5) Segundo lderes indgenas, a ocupao da fazenda Madama

    foi a forma encontrada para retomar e pressionar o Poder Pblico

    a reconhecer a rea como parte de um territrio ancestral indge-

    na. As tentativas de se fixar na rea intensificaram-se nos ltimos

    seis ou sete anos. Trs ndios morreram entre 2007 e 2009 em

    conflitos relacionados disputa fundiria.

    (6) Procurada, a Funai informou que est acompanhando o caso

    e que rgos como o Ministrio Pblico Federal e a Polcia Fede-

    ral esto frente das negociaes.

    (7) Os guaranis e kaiows alegam que uma rea no interior da

    fazenda Madama territrio sagrado indgena, o chamado Kuru-

    su Amb, assim como outras reas reivindicadas pelas etnias.

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    (8) Em outubro de 2012, ao comentar a tenso entre fazendei-

    ros e ndios, a Funai divulgou nota dizendo-se impedida de pros-

    seguir com o processo de reconhecimento de Kurusu Amb e de

    outras reas reivindicadas pelos guarani e kaiow em Mato Gros-

    so do Sul, em virtude de elas serem alvo de medidas judiciais

    impetradas por fazendeiros. Na ocasio, a Funai disse confiar que

    as decises do Poder Judicirio reconhecessem e reafirmassem

    o direito dos povos indgenas as suas terras de ocupao tradicio-

    nal.

    (9) A reao dos fazendeiros ocupao da fazenda ocorreu

    aps uma reunio no Sindicato Rural de Amambai. Cerca de 150

    proprietrios rurais discutiram a ocupao, em todo o estado, de

    terras que consideram produtivas. Segundo a Federao da Agri-

    cultura e Pecuria de Mato Grosso do Sul, 89 propriedades esto

    ocupadas por ndios algumas h mais de uma dcada. Alm da

    fazenda Madama, duas reas foram tomadas em Aral Moreira.

    (10) Durante o encontro, o presidente da federao, Nilton Pic-

    kler, recomendou que os produtores se unam para pressionar o

    governo federal a definir a situao das reas invadidas no esta-

    do. Ns nos colocamos disposio de todos os que passam

    por este momento to difcil, mas entendemos que necessrio

    buscar os caminhos jurdicos, declarou Pickler. Disponvel em:

    www.correiodoestado.com.br. Acesso em: 05-07-2015

    3.2. Texto 2 Jornal Dirio MS on-line

    "ndios denunciam desaparecimentos durante conflito em fa-

    zenda de MS", de 2 de julho de 2015, 09h54

    (1) ndios denunciaram polcia o sumio de um adolescente

    de 14 anos e de uma criana de 12, durante conflito na fazenda

    Madama, em Coronel Sapucaia, a 377 quilmetros de Campo

    Grande, no dia 24 de junho.

    (2) Segundo informaes do boletim de ocorrncia registrado

    dia 30 como desaparecimento de pessoa, os dois indgenas no

    so mais vistos desde a data do conflito entre ndios e fazendei-

    ros. Ambos so nascidos na aldeia Taquaperi.

    (3) Em nota divulgada semana passada pela Federao de

    Agricultura e Pecuria de Mato Grosso do Sul (Famasul), o pre-

    http://www.correiodoestado.com.br/

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    sidente Nilton Pickler disse que a instituio vem trabalhando pa-

    ra buscar a pacificao e a integrao social entre ndios e produ-

    tores. A federao tem atuado no sentido de orientar os produto-

    res a buscar a justia e sempre evitar a violncia, declarou.

    (4) Conforme o registro policial, aps os relatos de desapare-

    cimento, uma equipe da Fundao Nacional do ndio (Funai),

    Fora Nacional de Segurana Pblica, o proprietrio da fazenda e

    outros pecuaristas da regio procuraram pelos indgenas na pro-

    priedade rural e tambm nas pastagens ao fundo do local e nas

    proximidades de uma lagoa.

    (5) Consta no documento policial que diante do estado de co-

    moo do grupo indgena, a Funai decidiu levar a denncia dos

    ndios ao conhecimento da Polcia Civil. Diante disso, foi regis-

    trado o boletim de ocorrncia.

    Conflito

    (6) Cerca de 50 guarani kaiow entraram na fazenda Madama

    na segunda-feira (22). Na quarta-feira (24), produtores rurais en-

    traram no local com caminhonetes e fizeram buzinao e mano-

    bras perigosas. Os ndios reagiram com paus e flechas.

    (7) De longe, era possvel ver fogo no acampamento dos n-

    dios. Foram ouvidos disparos de arma de fogo,

    (8) Depois disso, os ndios saram do local. A Polcia Rodovi-

    ria Federal (PRF), Funai, Ministrio Pblico Federal (MPF) e o

    presidente da Comisso de Direitos Humanos, da Cmara Fede-

    ral, deputado Paulo Pimenta (PT) estiveram na fazenda e conver-

    saram com os dois lados envolvidos no conflito.

    (9) A Secretaria de Estado de Justia e Segurana Pblica (Se-

    jusp) pediu a Fora Nacional de Segurana Pblica na regio por

    conta dos conflitos. Os policiais chegaram sbado (27) e desde

    ento reforam a segurana. (G1 MS)

    Disponvel em: . Acesso em: 05-07-

    2015.

    http://www.diarioms.com.br/

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    4. Metodologia e anlise do corpus

    Os textos em anlise abordam o mesmo tema/fato a par-

    tir de dois portadores miditicos de Mato Grosso do Sul, sendo

    um da capital, Campo Grande, e outro do interior, Dourados.

    O gnero textual escolhido caracteriza-se como reportagem

    com veiculao em 2015. A temtica eleita trata sobre ques-

    tes indgenas no Estado. A opo pelo gnero textual jorna-

    lstico se d pela possibilidade de ele comportar as vozes ci-

    tante e citada na confeco das matrias. Como critrio avalia-

    tivo, considera-se o uso do discurso citado na composio glo-

    bal dos textos. A anlise apresentada em dois momentos:

    primeiro, em uma reportagem do Correio do Estado e, em se-

    guida, em uma reportagem do Dirio MS.

    4.1. Anlise do texto 1 jornal Correio do Estado on-line

    O texto "ndios e fazendeiros entram em conflito em fa-

    zenda em Mato Grosso do Sul", de 25 de junho de 2015,

    17h03 composto de 10 pargrafos. O ttulo uma declarao

    afirmativa sobre o conflito entre ndios e fazendeiros em fa-

    zenda de Mato Grosso do Sul. A forma verbal entram, no

    presente do indicativo, sugere que o aspecto verbal utilizado

    demonstra que a causa do conflito no pontual e sim recor-

    rente na regio. Vale destacar a diluio da informao contida

    no ttulo em um perodo que funciona como subttulo Con-

    fronto ocorreu na fazenda ocupada por ndios na ltima segun-

    da-feira (22). O fato de a matria ser veiculada no dia 25 de

    junho de 2015 requer do leitor um saber partilhado, uma vez

    que o confronto ocorreu no dia 24 do mesmo ms e ano. A

    omisso do fato registrado com o verbo "ocorrer" no pretrito

    perfeito do indicativo e a possvel causa do conflito constitu-

    em-se em uma forma de vocativo ao leitor para a leitura da

    matria em pauta.

  • Linguagem em (Re)vista, vol. 10, n. 20. Niteri, jul./dez. 2015

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    O uso da preposio "em" nas expresses "em conflito",

    "em fazenda", "em Mato Grosso do Sul" permite inferir uma

    leitura generalizante e que toma corpo no perodo seguinte,

    deslocado do ttulo, como complemento da mensagem. Aps

    ateno dada ao ttulo da reportagem, passamos a anlise glo-

    bal da