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1 O Tratado de Lisboa oferece aos cida‑ dãos europeus uma nova possibilidade para estes se fazerem ouvir. A iniciativa dos cidadãos, com um milhão de assina‑ turas, pode solicitar à Comissão que tome acções legais para enfrentar um problema que, no entender dos cidadãos, esteja a ser descurado. A antiga presidente do CESE, Anne‑Marie Sigmund, analisa minuciosa‑ mente esta iniciativa. CESE info: Que mudanças vem trazer o novo Tratado para as organizações da sociedade civil e para os cidadãos, em geral? Anne‑Marie Sigmund (AMS): Pela primeira vez, temos um Tratado euro‑ peu que enuncia o princípio de que o processo político europeu não se baseia somente numa votação dos cidadãos de x em x anos, deixando, depois, o trabalho nas mãos dos políticos. Agora, o Tratado introduz um novo artigo sobre democra‑ cia participativa e diálogo com os cida‑ dãos, para acompanhar a democracia Presidência espanhola: a Europa está de volta Iniciativa dos cidadãos europeus: fazer a Europa agir! EDITORIAL www.eesc.europa.eu Caros leitores, Chegou ao fim uma década de regateio institucional egocên‑ trico. É o início de uma nova era. Aliás, «novo» é, neste momento, a palavra mais ouvida. Um novo Tratado entrou em vigor, os novos lugares por ele criados foram preenchidos, um novo Parlamento Europeu foi recen‑ temente eleito, uma nova Comissão Europeia está a ser constituída, abriu‑se uma nova ronda política e novas prioridades estão a ser identificadas. Nos últimos cinco anos, Margot Wallström, a comissária europeia cessante, mudou a forma de comunicar das instituições europeias, tendo dado início a uma comunicação bidireccional que tem por objectivo ouvir, responder e aproximar‑se dos cidadãos. Se tudo evoluir de acordo com a vontade do presidente da Comissão, Durão Barroso, Viviane Reding será a responsável pela comunicação e cidadania na nova Comissão Europeia. Congratulo‑me com essa escolha e aguardo com interesse a oportunidade de trabalhar com a nova comissária. Da mesma forma, foi com enorme satisfação que soube da designação pelo Parlamento Europeu de Rodi Kratsa para vice‑presidente do Grupo Interinstitucional de Informação. É gratificante ver que a comunicação e a cidadania estão cada vez mais interligadas a nível institucional, na medida em que as duas são interdependentes. Ambas têm por objectivo envolver os cidadãos, fazer ouvir as suas opiniões e chamar a atenção para as suas preocupações. É corriqueiro dizer‑se que não se pode separar a comunicação das boas políticas. Na União Europeia há efectivamente boas políticas, vimo‑las e ainda as vemos em acção durante a crise, mas é muito difícil comunicá‑las. Estou neste momento a terminar uma nova estratégia da comunicação para o Comité, onde pretendo passar da informação para uma comunicação genuína. O CESE encontra‑se numa posição muito privilegiada. Enquanto órgão consultivo, goza de bastante liberdade de expressão e reflexão. Os membros, o bem mais valioso do CESE, estão radicados em comunidades nacionais, regionais e locais de diferentes estratos sociais, o que lhes proporciona conhe‑ cimentos e competências excepcionais. Esses dois factores constituem um enorme trunfo para uma comunicação flexível e reactiva, permitindo ao CESE responder a acontecimentos de actualidade. No entanto, os resultados só serão bons se todos participarmos na comunicação. Na minha proposta de nova estratégia, insisto também num reforço das sinergias entre as instituições europeias na comunicação da nossa Europa. Estamos todos no mesmo barco e devemos todos remar na mesma direcção. É por isso que a parceria é essencial para a comunicação, tendo já provado o seu valor acrescentado e a sua utilidade em diversas ocasiões, como aconteceu nos trabalhos preparatórios para a cimeira sobre o clima em Copenhaga. Jean‑Jacques Rousseau identificou, há muito, a imaginação como a força motriz de todas as actividades políticas. Nos próximos anos, teremos de provar a nossa imaginação e coragem apresentando resultados aos nossos cidadãos e construindo uma Europa mais sólida. Não obstante, só teremos sido realmente bem sucedidos se a nossa comunicação estiver à altura das nossas realizações. Irini Pari Vice‑presidente do CESE Responsável pela comunicação Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial PT ISSN 1830‑6365 representativa. Por exemplo, o conceito de diálogo civil, entre as próprias organi‑ zações da sociedade civil e, também, entre as organizações da sociedade civil e as ins‑ tituições da União Europeia, faz, agora, parte do Tratado. Todas as instituições terão de intensificar os seus esforços e tra‑ var um diálogo estruturado e permanente com as organizações da sociedade civil e os cidadãos, o que vai além das consultas habituais sobre uma proposta específica da Comissão. Para mim, isto representa uma grande conquista, porque a demo‑ cracia participativa foi uma das priorida‑ des do meu mandato como presidente do CESE entre 2004 e 2006. CESE info: A Anne‑Marie foi observadora do CESE na Convenção Europeia, que apresentou, inicialmente, a ideia de uma iniciativa dos cidadãos europeus no Tra‑ tado Constitucional. É conhecida como acérrima defensora desta ideia. Qual é o ponto da situação? AMS: O Tratado de Lisboa retomou esta ideia do Tratado Constitucional e define os princípios fundamentais da iniciativa dos cidadãos. Contudo, a União Europeia ainda precisa de resolver certos porme‑ A partir de 1 de Janeiro de 2010, a Espa‑ nha é o primeiro país a presidir a União Europeia nos termos do novo Tratado de Lisboa, em vigor desde Dezembro. Será, por conseguinte, uma presidência de tran‑ sição, marcada pela transferência do Tra‑ tado de Nice para a nova era do Tratado de Lisboa. «Se há algo que define a nossa Presidência, é a aplicação do Tratado de Lisboa», afirmou o primeiro‑ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, numa reunião com os deputados euro‑ peus. É por isso que se espera, em grande medida, que a Espanha estabeleça os pre‑ cedentes que determinarão o funciona‑ mento prático das novas possibilidades e estruturas introduzidas pelo Tratado. O programa da Presidência espanhola foi preparado pela Espanha, em conjunto com as presidências belga e húngara, que se seguirão. A Economia no topo da agenda A primeira prioridade será o relan‑ çamento da economia e a criação de emprego. A crise de 2008 atingiu forte‑ mente as economias europeias, inclu‑ sivamente em Espanha, onde a taxa de desemprego ronda os 20%. Como foi sublinhado por Zapatero, se alguma coisa a Europa aprendeu com a crise foi que é necessária coordenação para responder aos desafios da economia globalizada. «Se temos na União Europeia um mercado e uma moeda comuns, temos também de ter uma governação económica comum», disse. Esta afirmação foi feita na altura certa, uma vez que o Tratado de Lisboa permite uma melhor coordenação das políticas económicas, o que acelerará o relançamento da economia. Como os excessos no sector finan‑ ceiro são parcialmene responsáveis pela crise, a Presidência apela a que se legisle melhor e a que se supervisionem os mer‑ cados financeiros, e em particular a que se estabeleçam imediatamente o Conse‑ lho Europeu do Risco Sistémico e as novas autoridades europeias de supervisão. De acordo com o programa divulgado pela Presidência espanhola, a revisão da Estratégia de Lisboa é uma prioridade. A actual crise, conjugada com um envelhe‑ cimento acelerado da população, torna o vasto programa de reformas económicas ainda mais crucial e urgente. O objectivo geral é encontrar um novo modelo econó‑ mico que seja sustentável, impulsionado pela inovação, respeitador do ambiente, baseado no ideal de solidariedade e mun‑ dialmente competitivo. A nova estratégia terá o papel particular de atenuar as consequências negativas da crise finan‑ ceira e económica e deverá ser mais bem conjugada com a política de coesão para ajudar as regiões e os grupos mais pobres a recuperar. A estratégia incentivará a inovação como forma de criar cresci‑ mento e emprego. Uma vez que 2010 é o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, a Presidência prestará particular atenção aos desempregados e aos mais pobres. A nova estratégia deverá ter um sistema de governação melhorado, com objectivos realistas definidos para os próximos dez anos, um mecanismo de aplicação renovado e um maior envolvi‑ mento das partes interessadas, sobretudo a nível local e regional. A Espanha e os dois países que seguidamente presidirão a União Europeia terão de se esforçar não só por assegurar que o mercado único fun‑ ciona de forma correcta, mas também por alcançar «um mercado único plenamente integrado». Vamos tornar a economia respeitadora do ambiente A prioridade global das futuras pre‑ sidências é tornar as políticas da União Europeia o mais respeitadoras do ambiente possível. A protecção do ambiente já não é um fim, mas sim um meio para fomentar o crescimento e o emprego. O desenvol‑ vimento e a promoção de empregos eco‑ lógicos, da eco‑inovação e de automóveis eléctricos contribuirão para o relança‑ mento da economia. Serão realizadas mais acções para promover as energias reno‑ váveis e a eficiência energética dos edifí‑ cios e encorajar a utilização de meios de transporte respeitadores do ambiente. Os instrumentos fiscais serão analisados para assegurar que favorecem produtos eficien‑ tes em termos energéticos. Ainda que se preveja que a «revolução verde» reduza certamente a dependência da Europa em relação aos combustíveis fósseis, a segu‑ rança energética permanecerá uma ques‑ tão central. Neste contexto, a Presidência >>> p. 2 >>> p. 2 CESE info Comité Económico e Social Europeu Uma ponte entre a Europa e a sociedade civil organizada 28 de Janeiro de 2010: Audição pública do CESE: «Acesso ao crédito: armadilhas e riscos» 17‑18 de Fevereiro de 2010: Reunião plenária do CESE 15 de Março de 2010: Dia Europeu do Consumidor NESTA EDIÇÃO Energia nuclear: oportunidades e riscos; opiniões da sociedade civil e das partes interessadas Edição especial sobre o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social Avançar juntos para uma nova cultura da mobilidade urbana «Designers» premiados pela sua visão criativa de um futuro sustentável AGENDA 2 8 7 3-6 Anne‑Marie Sigmund CESE info em 22 línguas!

ISSN 1830‑6365 Janeiro de 2010 / 1 - eesc.europa.eu vez que mais de metade da ener‑ gia da União Europeia é importada e que a maior parte dos hidrocarbonetos se con‑ centram

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CESE info — Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial 1

O Tratado de Lisboa oferece aos cida‑dãos europeus uma nova possibilidade para estes se fazerem ouvir. A iniciativa dos cidadãos, com um milhão de assina‑turas, pode solicitar à Comissão que tome acções legais para enfrentar um problema que, no entender dos cidadãos, esteja a ser descurado. A antiga presidente do CESE, Anne‑Marie Sigmund, analisa minuciosa‑mente esta iniciativa.

CESE info: Que mudanças vem trazer o novo Tratado para as organizações da sociedade civil e para os cidadãos, em geral?

Anne‑Marie Sigmund (AMS): Pela primeira vez, temos um Tratado euro‑peu que enuncia o princípio de que o processo político europeu não se baseia somente numa votação dos cidadãos de x em x anos, deixando, depois, o trabalho nas mãos dos políticos. Agora, o Tratado introduz um novo artigo sobre democra‑cia participativa e diálogo com os cida‑dãos, para acompanhar a democracia

Presidência espanhola: a Europa está de volta

Iniciativa dos cidadãos europeus: fazer a Europa agir!

EDITORIAL

www.eesc.europa.eu

Caros leitores,Chegou ao fim uma década de regateio institucional egocên‑trico. É o início de uma nova era. Aliás, «novo» é, neste momento, a palavra mais ouvida. Um novo Tratado entrou em vigor, os novos lugares por ele criados foram preenchidos, um novo Parlamento Europeu foi recen‑

temente eleito, uma nova Comissão Europeia está a ser constituída, abriu‑se uma nova ronda política e novas prioridades estão a ser identificadas.

Nos últimos cinco anos, Margot Wallström, a comissária europeia cessante, mudou a forma de comunicar das instituições europeias, tendo dado início a uma comunicação bidireccional que tem por objectivo ouvir, responder e aproximar‑se dos cidadãos.

Se tudo evoluir de acordo com a vontade do presidente da Comissão, Durão Barroso, Viviane Reding será a responsável pela comunicação e cidadania na nova Comissão Europeia. Congratulo‑me com essa escolha e aguardo com interesse a oportunidade de trabalhar com a nova comissária. Da mesma forma, foi com enorme satisfação que soube da designação pelo Parlamento Europeu de Rodi Kratsa para vice‑presidente do Grupo Interinstitucional de Informação. É gratificante ver que a comunicação e a cidadania estão cada vez mais interligadas a nível institucional, na medida em que as duas são interdependentes. Ambas têm por objectivo envolver os cidadãos, fazer ouvir as suas opiniões e chamar a atenção para as suas preocupações.

É corriqueiro dizer‑se que não se pode separar a comunicação das boas políticas. Na União Europeia há efectivamente boas políticas, vimo‑las e ainda as vemos em acção durante a crise, mas é muito difícil comunicá‑las.

Estou neste momento a terminar uma nova estratégia da comunicação para o Comité, onde pretendo passar da informação para uma comunicação genuína.

O CESE encontra‑se numa posição muito privilegiada. Enquanto órgão consultivo, goza de bastante liberdade de expressão e ref lexão. Os membros, o bem mais valioso do CESE, estão radicados em comunidades nacionais, regionais e locais de diferentes estratos sociais, o que lhes proporciona conhe‑cimentos e competências excepcionais. Esses dois factores constituem um enorme trunfo para uma comunicação f lexível e reactiva, permitindo ao CESE responder a acontecimentos de actualidade. No entanto, os resultados só serão bons se todos participarmos na comunicação.

Na minha proposta de nova estratégia, insisto também num reforço das sinergias entre as instituições europeias na comunicação da nossa Europa.

Estamos todos no mesmo barco e devemos todos remar na mesma direcção. É por isso que a parceria é essencial para a comunicação, tendo já provado o seu valor acrescentado e a sua utilidade em diversas ocasiões, como aconteceu nos trabalhos preparatórios para a cimeira sobre o clima em Copenhaga.

Jean‑Jacques Rousseau identificou, há muito, a imaginação como a força motriz de todas as actividades políticas. Nos próximos anos, teremos de provar a nossa imaginação e coragem apresentando resultados aos nossos cidadãos e construindo uma Europa mais sólida. Não obstante, só teremos sido realmente bem sucedidos se a nossa comunicação estiver à altura das nossas realizações.

Irini PariVice‑presidente do CESE

Responsável pela comunicação

Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial PTISSN 1830‑6365

representativa. Por exemplo, o conceito de diálogo civil, entre as próprias organi‑zações da sociedade civil e, também, entre as organizações da sociedade civil e as ins‑tituições da União Europeia, faz, agora, parte do Tratado. Todas as instituições terão de intensificar os seus esforços e tra‑var um diálogo estruturado e permanente

com as organizações da sociedade civil e os cidadãos, o que vai além das consultas habituais sobre uma proposta específica da Comissão. Para mim, isto representa uma grande conquista, porque a demo‑cracia participativa foi uma das priorida‑des do meu mandato como presidente do CESE entre 2004 e 2006.

CESE info: A Anne‑Marie foi observadora do CESE na Convenção Europeia, que apresentou, inicialmente, a ideia de uma iniciativa dos cidadãos europeus no Tra‑tado Constitucional. É conhecida como acérrima defensora desta ideia. Qual é o ponto da situação?

AMS: O Tratado de Lisboa retomou esta ideia do Tratado Constitucional e define os princípios fundamentais da iniciativa dos cidadãos. Contudo, a União Europeia ainda precisa de resolver certos porme‑

A partir de 1 de Janeiro de 2010, a Espa‑nha é o primeiro país a presidir a União Europeia nos termos do novo Tratado de Lisboa, em vigor desde Dezembro. Será, por conseguinte, uma presidência de tran‑sição, marcada pela transferência do Tra‑tado de Nice para a nova era do Tratado de Lisboa. «Se há algo que define a nossa Presidência, é a aplicação do Tratado de Lisboa», afirmou o primeiro‑ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, numa reunião com os deputados euro‑peus. É por isso que se espera, em grande medida, que a Espanha estabeleça os pre‑cedentes que determinarão o funciona‑mento prático das novas possibilidades e estruturas introduzidas pelo Tratado.

O programa da Presidência espanhola foi preparado pela Espanha, em conjunto com as presidências belga e húngara, que se seguirão.

A Economia no topo da agenda

A primeira prioridade será o relan‑çamento da economia e a criação de emprego. A crise de 2008 atingiu forte‑mente as economias europeias, inclu‑sivamente em Espanha, onde a taxa de desemprego ronda os 20%. Como foi sublinhado por Zapatero, se alguma coisa a Europa aprendeu com a crise foi que é necessária coordenação para responder aos desafios da economia globalizada. «Se temos na União Europeia um mercado e uma moeda comuns, temos também de ter uma governação económica comum»,

disse. Esta afirmação foi feita na altura certa, uma vez que o Tratado de Lisboa permite uma melhor coordenação das políticas económicas, o que acelerará o relançamento da economia.

Como os excessos no sector finan‑ceiro são parcialmene responsáveis pela crise, a Presidência apela a que se legisle melhor e a que se supervisionem os mer‑cados financeiros, e em particular a que se estabeleçam imediatamente o Conse‑lho Europeu do Risco Sistémico e as novas autoridades europeias de supervisão.

De acordo com o programa divulgado pela Presidência espanhola, a revisão da Estratégia de Lisboa é uma prioridade. A actual crise, conjugada com um envelhe‑cimento acelerado da população, torna o vasto programa de reformas económicas ainda mais crucial e urgente. O objectivo geral é encontrar um novo modelo econó‑mico que seja sustentável, impulsionado pela inovação, respeitador do ambiente, baseado no ideal de solidariedade e mun‑dialmente competitivo. A nova estratégia terá o papel particular de atenuar as consequências negativas da crise finan‑ceira e económica e deverá ser mais bem conjugada com a política de coesão para ajudar as regiões e os grupos mais pobres a recuperar. A estratégia incentivará a inovação como forma de criar cresci‑mento e emprego. Uma vez que 2010 é o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, a Presidência prestará particular atenção aos desempregados e aos mais pobres. A nova estratégia deverá ter um sistema de governação melhorado,

com objectivos realistas definidos para os próximos dez anos, um mecanismo de aplicação renovado e um maior envolvi‑mento das partes interessadas, sobretudo a nível local e regional. A Espanha e os dois países que seguidamente presidirão a União Europeia terão de se esforçar não só por assegurar que o mercado único fun‑ciona de forma correcta, mas também por alcançar «um mercado único plenamente integrado».

Vamos tornar a economia respeitadora do ambiente

A prioridade global das futuras pre‑sidências é tornar as políticas da União Europeia o mais respeitadoras do ambiente possível. A protecção do ambiente já não é um fim, mas sim um meio para fomentar o crescimento e o emprego. O desenvol‑vimento e a promoção de empregos eco‑lógicos, da eco‑inovação e de automóveis eléctricos contribuirão para o relança‑mento da economia. Serão realizadas mais acções para promover as energias reno‑váveis e a eficiência energética dos edifí‑cios e encorajar a utilização de meios de transporte respeitadores do ambiente. Os instrumentos fiscais serão analisados para assegurar que favorecem produtos eficien‑tes em termos energéticos. Ainda que se preveja que a «revolução verde» reduza certamente a dependência da Europa em relação aos combustíveis fósseis, a segu‑rança energética permanecerá uma ques‑tão central. Neste contexto, a Presidência

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CESE info Co mi té Eco nó mi co e So ci al Eu ro peuUma pon te en tre a Eu ro pa e a so ci e da de ci vil or ga ni za da

28 de Janeiro de 2010: Audição pública do CESE: «Acesso ao crédito: armadilhas e riscos»

17‑18 de Fevereiro de 2010:Reunião plenária do CESE

15 de Março de 2010:Dia Europeu do Consumidor

NESTA EDIÇÃOEnergia nuclear: oportunidades e riscos; opiniões da sociedade civil e das partes interessadas

Edição especial sobre o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social

Avançar juntos para uma nova cultura da mobilidade urbana

«Designers» premiados pela sua visão criativa de um futuro sustentável

AGENDA

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3-6

Anne‑Marie Sigmund

CESE info

em 22 línguas!

2 CESE info — Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial

Presidência espanhola apela a que a União Europeia «fale a uma só voz» com os países fornecedores, de trânsito e consumidores.

A União Europeia enquanto protagonista mundial: é agora ou nunca

Verifica‑se actualmente uma mudança assinalável a nível internacional. Os Estados Unidos continuam a ser o principal actor, enquanto a China e outros poderes emergen‑tes têm um papel cada vez mais importante. Alguns acreditam que o G2, constituído pelos Estados Unidos e pela China, traçará a ordem mundial do futuro. No que respeita à União Europeia, «hoje ainda somos menos do que a soma das nossas partes», admite o primeiro‑ministro espanhol.

Obviamente que o Tratado de Lisboa consolida o potencial da União para exer‑cer maior influência mundial, uma vez que

espanhola apela à solidariedade entre os Estados‑Membros em situações de emer‑gência e promove o desenvolvimento de interligações de gás e de electricidade na União Europeia.

Uma vez que mais de metade da ener‑gia da União Europeia é importada e que a maior parte dos hidrocarbonetos se con‑centram em países vizinhos da Europa, a abordagem aos temas energéticos exige que a União tenha uma acção externa mais determinada. É esta a razão por que a

Con ti nu a ção da p. 1 — Presidência espanhola: a Europa está de volta

Estou verdadeiramente entusiasmada com esta nova forma de os cidadãos se fazerem ouvir e levarem a Europa a agir! Será, sem dúvida, uma oportunidade única para os cidadãos manifestarem as suas preocupa‑ções, se unirem num contexto transfron‑teiriço e forçarem a Comissão a tomar a iniciativa! A longo prazo, esta iniciativa poderá também contribuir para o esta‑belecimento de um verdadeiro debate europeu entre os cidadãos e a esfera pública europeia.

Para participar na consulte, visite o sítio: http://ec.europa.eu/dgs/secretariat_general/citizens_initiative/index_pt.htm. (cw) ●

nores.: Qual o número «significativo» de Estados‑Membros? Como organizar a recolha de assinaturas? Quem verificará as assinaturas? São muitas perguntas difíceis de responder! Temos de ser extremamente cuidadosos para não impormos mais obs‑táculos que comprometam o sucesso desta iniciativa. Por esta razão, a Comissão lan‑çou, em Novembro, um amplo processo de consulta que decorrerá até final Janeiro, pelo que aproveito para convidar toda a gente a participar! De momento, estou a elaborar um parecer do Comité sobre as disposições da democracia participativa e a iniciativa dos cidadãos e, recentemente, realizámos uma audição muito interes‑sante sobre este tema com as organiza‑ções da sociedade civil europeias. Tam‑bém pretendo organizar uma conferência das partes interessadas sobre este assunto, eventualmente no final deste ano.

CESE info: Quando estará tudo pronto e a funcionar? Para quando podemos esperar as primeiras iniciativas?

AMS: A Comissão deverá apresentar a sua proposta de regulamento na Primavera. Depois, o Parlamento e o Conselho têm de chegar a acordo, mas espero que a ini‑ciativa esteja operacional no final de 2010.

Con ti nu a ção da p. 1 — Iniciativa dos cidadãos europeus: fazer a Europa agir!

O CESE na COP 15

A conferência sobre alterações climáticas, cujo nome formal é décima quinta confe‑rência de partes interessadas, realizou‑se em Copenhaga em 7 e 8 de Dezembro, no âmbito da Convenção‑Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Contudo, a cimeira é usualmente conhecida por COP 15 ou Conferência de Copenhaga. Todos os anos se realizam duas reuniões: a primeira, em Junho, é realizada em Bona, e a segunda, em Dezembro, é organizada sempre em locais diferentes. A reunião de Dezembro de 2007 teve lugar em Bali; em Dezembro de 2008, em Poznan; e em 2009, em Copenhaga.

Nos últimos anos, o Comité trabalhou arduamente sobre a questão das alterações climáticas e tem constantemente apelado à Comissão para que leve os seus esforços mais longe para reduzir as emissões de CO2, responsáveis pelo aquecimento global. Para este fim, organizaram‑se eventos e foram ela‑borados pareceres. Estes trabalhos culmina‑ram com a resolução «Voltar atrás, não», que foi adoptada em reunião plenária por uma larga maioria de votos, em Novembro de 2009. O documento apresenta a abordagem do Comité às alterações climáticas e declara que é essencial manter o objectivo de reduzir as emissões de CO2 em 30% até 2020.

A primeira semana da Conferência de Copenhaga envolveu um número significa‑tivo de trabalhos técnicos e preparatórios. Depois da abertura oficial em plenária, representantes de cada uma das partes (da União Europeia e de cada país) reuniram‑se em vários grupos e subgrupos para prepa‑rar as decisões a serem tomadas pelos deci‑

sores políticos durante a segunda semana do evento. Estas negociações não tiveram um carácter público e disseram apenas respeito a algumas das 15 mil pessoas que participaram na conferência. A maioria dos outros participantes era constituída por observadores dos países membros da ONU (estiveram representados cerca de 200 países na conferência) e também por ONG e outros grupos de interesse que aproveitaram a COP 15 para promover a sua causa, influenciar os decisores políticos e incrementar a sua visibilidade.

Uma consulta rápida ao programa de um típico dia da COP mostra uma reu‑nião plenária, duas reuniões de grupos de trabalho eventuais, cinco reuniões de grupos informais, 16 reuniões de grupos de países, oito reuniões de organizações de observadores, 39 conferências de imprensa, 22 eventos à margem da reunião, sete apre‑sentações sobre ciência e ainda apresenta‑ções e debates organizados por países indi‑viduais ou grupos de países (por exemplo, nove da União Europeia, nove do Brasil, três da China e sete dos Países Baixos). Todos estes eventos foram realizados no centro de conferências (que pode ser com‑parado ao Centro Mundial de Exposições do Heysel), mas devido à falta de espaço outros eventos acabaram por se realizar no centro da cidade de Copenhaga.

Uma delegação de três membros do CESE participou na segunda semana da

conferência, de 13 a 18 de Dezembro. O CESE não teve um papel oficial de nego‑ciador, mas esteve presente por duas razões: para apresentar o actual trabalho do Comité, sintetizado na resolução «Vol‑tar atrás, não», a uma audiência alargada e organizar um evento à margem da con‑ferência. Esse tipo de eventos envolve, normalmente, uma pequena conferência com a duração de cerca de uma hora e meia a duas horas: alguns oradores fazem apresentações e segue‑se um debate com o público.

O evento do CESE à margem da con‑ferência, realizado em 18 de Dezembro, sexta‑feira, foi sobre o PIB e formas alter‑nativas de avaliar a prosperidade. À pri‑meira vista este tema pode não parecer muito importante para as alterações cli‑máticas, mas a forma como o crescimento e bem‑estar são medidos tem um impacto profundo nas escolhas políticas. Para que um evento deste género seja um sucesso, há que criar um programa interessante e atra‑ente e divulgá‑lo bem. A lista de oradores era impressionante e incluía académicos e decisores políticos de alto nível com exce‑lentes capacidades de comunicação, por isso, o passo seguinte era atrair um grande público participativo. Distribuíram‑se panfletos, afixaram‑se pósteres, utiliza‑ram‑se todos os contactos disponíveis e forneceu‑se alimentação e bebidas. Num evento em que a atenção é tão disputada, nada pode ser deixado ao acaso. (ja) ●

Energia nuclear: oportunidades e riscos; opiniões da sociedade civil e das partes interessadasAgora que temos a Cimeira de Copenhaga atrás de nós, é a altura ideal para debater até que ponto a energia nuclear poderá eventualmente contribuir para alcançar as metas acordadas pela comunidade inter‑nacional. O Comité sempre tem defendido que não se deve pôr de parte a energia nuclear, uma das formas actualmente disponíveis de produção de energia com baixas emissões de carbono. Mas isso não significa que não seja um assunto a debater em extensão e em profundidade com todas as partes envolvidas, incluindo empresas, trabalhadores, associações e, não por último, os cidadãos europeus. O objectivo é sensibilizar a população da União Europeia para esta questão, a fim de assegurar que os políticos tomem decisões equilibradas, proactivas e justas.

A conferência realizada em 30 de Novembro de 2009 pela Secção TEN, intitulada «Energia nuclear: oportuni‑dades e riscos; opiniões da sociedade civil europeia e das partes interessadas» não foi mais do que o prosseguimento dos esforços anteriores e persistentes do Comité para aumentar a transparência do debate sobre a energia nuclear.

A conferência fazia parte do Fórum Europeu de Energia Nuclear (FEEN) lançado em 2007 pela Comissão Euro‑peia. János Tóth preside ao grupo de tra‑balho «Transparência» e vários membros do CESE participam nos grupos de trabalho do FEEN dedicados aos riscos e às oportunidades.

Participou neste evento um vasto número de representantes de um amplo leque de organizações. Foram debatidos os temas: competitividade da energia nuclear, a sua influência nos preços da electricidade, bem como a gestão dos resíduos nucleares. Dominique Ristori, director‑geral adjunto da DG TREN e os deputados do Parlamento Europeu, Edit Herczog e Ivailo Kalfin, encontra‑vam‑se entre os principais oradores. Os painéis de debate foram presididos pelos membros do CESE, Edgardo Maria Iozia, Ulla Sirkeinen, Gerd Wolf e Ernst Erik Ehnmark, todos eles com um papel activo no domínio da energia e do desenvolvimento sustentável.

János Tóth realçou que, os debates foram marcados pela prioridade estabe‑lecida pelo CESE de sensibilizar os euro‑peus para várias opções e pela missão mais ampla do FEEN de encorajar o diálogo com as partes envolvidas e de melhorar o perfil do debate sobre a energia nuclear em toda a sociedade.

As conclusões dos debates são inequí‑vocas: ainda é preciso melhorar muito a transparência no âmbito da energia nuclear! Ninguém duvida da importância das conferências ao nível da União Euro‑peia, mas na fase seguinte é indispensável agir ao nível local e apoiar o desenvolvi‑mento de fóruns nacionais e locais em torno da energia nuclear.

Os participantes chegaram a um consenso nalguns pontos, mas deixa‑ram ainda muitas questões em aberto, designadamente, a gestão dos resíduos ou a competitividade dos custos (devido especialmente aos inesperados custos elevados das novas centrais nucleares na União Europeia). Convém assinalar que a energia nuclear nem sempre significa electricidade mais barata, isso sobretudo devido à implementação incorrecta da liberalização do mercado energético da União Europeia. (ak) ●

NOTÍCIAS DOS MEMBROSMario Sepi condecorado com uma distinção honorífica do Conselho búlgaro

Mario Sepi, presidente do CESE, recebeu do presidente do Conselho Económico e Social búlgaro, Lalko Dule‑vski, a distinção honorífica deste conselho pelo seu contri‑buto para o desenvolvimento da sociedade civil organizada. Esta é a condecoração mais

elevada que a Bulgária atribui a dirigentes que tenham contri‑buído activamente para a promoção de valores associados ao diálogo civil. A cerimónia foi realizada paralelamente à reunião

anual dos presidentes e secretários‑gerais dos conselhos nacio‑nais e do CESE, em 27 de Novembro de 2009, em Sófia. Nessa ocasião, os participantes adoptaram uma declaração sobre o mercado de trabalho europeu: Medidas anticrise. (jr)

Tomasz Jasiński lidera os jovens sindicalistas europeusFelicitações a Tomasz Jasiński (Grupo dos Trabalhadores, Polónia), que foi recente‑mente eleito presidente da Comissão da Juventude da Confederação Europeia dos Sindicatos (CES). A Comissão da Juventude desenvolve pro‑gramas de acção e influencia os trabalhos da CES, garan‑

tindo que as estratégias, políticas e posições desta dão a devida atenção às opiniões e necessidades dos jovens. (mb)

as mudanças institucionais respeitantes à dimensão externa da União Europeia são uma das maiores inovações do novo Tra‑tado, que criou os cargos de presidente do Conselho Europeu e de alto‑representante para os Negócios Estrangeiros e a Polí‑tica de Segurança, assim como o Serviço Europeu para a Acção Externa, embrião do serviço diplomático europeu. Dado o potencial do Tratado e a vontade mani‑festada pela Presidência espanhola de se esforçar por alcançar um «multilateralismo efectivo» autêntico e de fazer da União Europeia um «líder mundial», são espera‑das evoluções importantes neste domínio.

O primeiro‑ministro espanhol, José Zapatero, afirmou recentemente que: «A Europa foi e continua a ser um projecto de sucesso (...). Mas não estamos satis‑feitos, queremos mais (…). A Europa está de volta». O programa da Presidên‑cia é testemunho desta vontade de agir. (mb) ●

Mario SepiTomasz Jasiński

CESE info — Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial 3

EDITORIAL

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Caros leitores,Esta edição especial do CESE info surge no início do Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social, dois temas que merecem uma atenção especial do Comité Económico e Social Europeu. Em 2009, o nosso Comité publicou vários pareceres importantes sobre estes temas, centrando‑se principalmente no desafio da «pobreza no trabalho» e nos objectivos da Agenda Social

Renovada. Em nome da sociedade civil, acolhemos com satisfação a decisão de tornar 2010 num ano para acções. A União Europeia oferece o enqua‑dramento de direitos que estão na base de acções concretas para combater a pobreza. A relação entre a dignidade humana e as condições económicas e sociais dos indivíduos está consagrada na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, bem como em muitas constituições nacionais. É urgente encontrar uma vontade política firme que exija a aplicação por todos os níveis de governo das medidas sociais necessárias para combater a exclusão social e a pobreza.

Estamos perante uma situação dramática: actualmente mais de 79 milhões de pessoas vivem na pobreza na União Europeia, incluindo 19 milhões de crianças. Ou seja, um em cada cinco cidadãos europeus vive em condições sociais inaceitáveis.

Embora a União Europeia, em comparação com os governos nacionais, detenha competências limitadas em domínios relacionados com a protecção social, há que ter a consciência de que o Ano Europeu em 2010 pode consti‑tuir uma oportunidade importante para forçar esta questão para um lugar prioritário na agenda política e exigir respostas concretas.

Em diversas ocasiões em 2009, o Comité Económico e Social Europeu cha‑mou a atenção para a importância de uma agenda social comunitária renovada e relevante. Com Notre Europe adoptámos uma declaração instando os cida‑dãos e as organizações da sociedade civil a assinar uma petição para um novo programa de acção social onde os direitos sociais sejam tão importantes como as liberdades económicas. Um verdadeiro acesso a direitos, e, em particular, aos direitos sociais, é o primeiro passo para que a luta contra a exclusão social se torne um objectivo concreto e realizável na União Europeia.

A exclusão social e a pobreza (em que a primeira tanto pode ser a causa como a consequência da segunda) têm de ser combatidas em conjunto, em especial num contexto de crise económica.

Tratar os problemas dos trabalhadores pobres significa intervir em dife‑rentes domínios, tanto a nível europeu como nacional, designadamente a política de emprego, a assistência e a segurança social e medidas específicas para as famílias.

Há também que ter atenção aos grupos mais vulneráveis, tais como as minorias étnicas, os trabalhadores migrantes, os sem‑abrigo e as famílias monoparentais.

Isto é especialmente importante dada a actual situação económica. Enquanto a Europa avança lentamente para a retoma, muitos cidadãos ainda sofrem o impacto do desemprego, do endividamento e da deterioração das condições de vida. Temos de garantir que os que se encontram em dificuldades não estão a pagar o preço de uma crise que nunca provocaram. O ano de 2010 é a altura para os líderes comunitários e os governos nacionais passarem da retórica à acção. E para tal, a União Europeia tem de intensificar a sua acção com base nalguns princípios e mais‑valias: reforçar o modelo social europeu, melhorar a eficácia do método aberto de coordenação, promover os direitos fundamentais no trabalho e o princípio do trabalho digno e integrar a questão dos trabalhadores pobres no âmbito do diálogo social a nível europeu.

Mario SepiPresidente do CESE

Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial PT

CESE info Co mi té Eco nó mi co e So ci al Eu ro peuUma pon te en tre a Eu ro pa e a so ci e da de ci vil or ga ni za da

21 de Janeiro de 2010 — Madrid, Espanha: Conferência de abertura do Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social

17‑30 de Maio de 2010 — Bruxelas, Bélgica:Semanas Europeias da Primavera

10‑24 de Outubro de 2010 — Bruxelas, Bélgica:Semanas Europeias do Outono

AGENDA

Conseguirá a Europa livrar-se algum dia da pobreza?O cineasta britânico Ken Loach é conhe-cido em toda a Europa pelos seus dramas intensos que retratam o impacto da injustiça social. Em Dezembro de 2009, o vencedor da Palma de Ouro de Cannes juntou mais um prémio à sua colecção ao receber o Prémio de Carreira da Academia Europeia de Cinema. Ken Loach deu uma entrevista exclusiva ao CESE info.

CESE info: Considera que um dos princi-pais temas dos seus filmes é pôr em desta-que a miséria da pobreza?

Ken Loach: Esse tem sido um elemento nos meus filmes, mas detesto reduzir os temas a um ou dois aspectos. Eu tento fazer algo bastante complexo. Mas uma das coisas que os escritores com quem tra‑balho têm procurado fazer é relacionar a experiência pessoal com o contexto social. Nenhum de nós cresce num vácuo. Tudo está determinado pelo contexto social e político em que vivemos. Os ignorados são as pessoas pobres e... não gosto do termo «excluídas». Mesmo desemprega‑das elas têm uma função económica, ou seja, baixar o valor do trabalho. A ideia de que o desemprego e a exclusão social, para usar uma expressão em voga, são uma aberração é falsa. Ela está implícita no sistema dos que detêm, controlam e criam um enquadramento político para o capitalismo, essa palavra tão temida.

CESE info: Em sua opinião, um Ano Euro‑peu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social pode fazer a diferença?

KL: Penso que é preciso avaliá‑lo de um ponto de vista crítico. Tanto quanto per‑cebo, há directivas da União Europeia que insistem em que os serviços públicos têm de estar abertos a contratos privados e que o Estado não pode ter um papel no investimento na indústria e na produção. Significa isto que são as empresas privadas

e as grandes empresas que determinam a actividade económica. A luta pelo lucro é de tal modo renhida que não deixa espaço para empregos de longo prazo. O trabalho prestado através de agências de trabalho temporário, o trabalho a termo certo e os contratos a curto prazo passaram a subs‑tituir os empregos a longo prazo que as pessoas costumavam ter.

O meu pai trabalhou durante 43 anos na mesma fábrica. Hoje em dia, já nin‑guém faz isso. Ele começou como apren‑diz. Hoje já não há aprendizes. No meu país, a taxa de desemprego entre os jovens é de 20%. Se o sistema económico não consegue criar trabalho e se nós não for‑mos capazes de o fazer colectivamente, então o que irá acontecer?

CESE info: Numa Europa com 80 milhões de pessoas em risco de pobreza, que pode fazer a sociedade civil para resolver o problema?

KL: Se os dirigentes políticos não proce‑derem a uma correcção de rumo radical, a sociedade civil não pode, de facto, fazer nada. Eu diria mesmo que a mudança de rumo deve ser feita no sentido da proprie‑dade comum, do controlo democrático, da satisfação das necessidades em vez da pro‑cura de lucro, e da protecção do ambiente.

Ken Loach

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A própria necessidade de um ano especial para combater a pobreza e a exclusão social salienta o facto de que os níveis de pobreza na União Europeia são inaceitavelmente — alguns diriam incrivelmente — altos. No entanto, no geral, a Europa é uma das regi‑ões mais ricas do mundo.

Estes factos levantam uma questão mais fundamental: O que é a pobreza e o que a causa? Oficialmente significa viver com menos 60% do rendimento médio num país. Mas será que esta definição abstracta reflecte as experiências das pessoas? Dois inquéritos do Eurobarómetro em 2009 dão algumas respostas.

O que pensam os europeus da pobreza?

Os resultados revelaram que três quar‑tos dos europeus pensam que a pobreza é um problema generalizado nos seus paí‑ses e nove em cada dez pedem uma acção urgente para lidar com o problema. Mas não houve consenso quanto a o que era a pobreza. Os inquiridos dividiram‑se em três grupos: os que identificavam pobreza com a falta de recursos para participar plenamente na sociedade (24%), os que a identificavam com ser incapaz de comprar produtos básicos (22%) e os que a identifi‑cavam como dependendo da caridade ou de subsídios públicos (21%). Menos de um em cinco partilhavam da definição oficial dos decisores políticos.

As estatísticas revelam que 16% da população da União Europeia vive abaixo do limiar oficial da pobreza. E segundo o inquérito de Agosto‑Setembro de 2009, a maioria das pessoas acredita que o pro‑blema está a piorar: 84% dos europeus pensa que a pobreza aumentou no seu país nos últimos três anos, particularmente na Hungria, Letónia e Grécia. No entanto, de forma algo surpreendente, muito menos (53%) são aqueles que afirmam que a pobreza aumentou na área específica onde vivem, e apenas 12% dos inquiridos admi‑tem ter dificuldades em chegar ao fim do mês com todas as contas pagas.

Será que sentir‑se pobre é o mesmo que ser pobre? «As pessoas são peritas em jul‑gar se estão a sofrer de pobreza ou não», insiste Robert Manchin, director executivo da Gallup Organisation na Europa que realizou o outro inquérito (um inquérito telefónico) em Julho. No entanto, os resi‑dentes de certos países tendem a ser mais optimistas do que de outros. Por exemplo, a percentagem de pessoas em Chipre que vê a pobreza como generalizada é mais pequena do que em qualquer outro país, à excepção da Dinamarca. E no entanto, em termos estatísticos, Chipre é um dos seis países com mais elevados níveis de privação na União Europeia: um indicador revelador da complexidade do problema que sugere que a solidariedade social e as percepções

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ISSN 1830‑6365

4 CESE info — Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial

CESE info: Dentre todos os seus filmes há algum que, a seu ver, tenha contribuído em especial para mudar a percepção que temos da pobreza? Por exemplo, o filme «Cathy Come Home»?

KL: O impacto desse filme deveu‑se prin‑cipalmente à importância que a televisão tinha na época. Já fizemos melhores tra‑balhos, mas o que se passa é que esse filme surgiu no momento certo. Houve depois «Kes», mas, pelo menos aí, o rapaz tinha trabalho. No filme «Sweet Sixteen» o ado‑lescente é um pouco mais velho e não tem nada: entregue a si próprio, sem trabalho, sem nada. Esta é a diferença entre os dois filmes que distam 30 anos um do outro. «Sweet Sixteen» passa‑se em Greenock, uma cidade na Escócia, antigamente uma cidade de construção naval, mas onde agora impera o desemprego em massa. A maior indústria era a da droga. Os mais espertos foram‑se embora e o resto ficou por lá a apodrecer. ●

O estranho é que os que detêm o poder [os políticos] aceitam a situação como se fosse um acto divino, mas que na verdade não é. É o resultado deste modo de organização da actividade económica. Que esperam eles? É como se o diabo se queixasse do pecado.

CESE info: O seu filme «Neste Mundo Livre» (It’s a Free World, título original) retrata de uma forma dura e crua a explo-ração dos trabalhadores migrantes na Europa. Pensa, no entanto, que a liberdade de circulação e a maior facilidade de viajar dentro da União Europeia podem ajudar as pessoas a escapar à pobreza?

KL: Mas como é que elas podem viajar se estão desempregadas? Nem sequer uma migalha para comer têm. Há em tudo isto uma grande hipocrisia. Eles deviam era dar uma volta pelas zonas pobres (que as há em qualquer país) e dizer «vocês têm toda a liberdade de viajar». Está bem, mas com que dinheiro? É como dizer a um mendigo que ninguém o impede de jantar no Ritz. Fantástico.

Con ti nu a ção da p. 3 — Conseguirá a Europa livrar‑se algum dia da pobreza?

medo» pode‑se tornar numa profecia que acaba por se cumprir no que diz respeito ao bem‑estar das pessoas, salienta Robert Manchin. Na actual crise, 26% dos euro‑peus esperam que as coisas se venham a tornar mais difíceis no próximo ano, con‑tra 16% que prevêem uma melhoria.

Quem é o responsável segundo os europeus? A maioria diz que os governos nacionais têm de tomar medidas para reduzir a pobreza, proporcionando traba‑lho e formação, promovendo crescimento e construindo casas a preços comportáveis. Mas os resultados revelam que as pessoas também estão à espera que a União Euro‑peia aja. «Os europeus estão fortemente conscientes dos problemas da pobreza e da exclusão social na sociedade actual», conclui o comissário europeu Vladimir Spidla. «Três quartos deles esperam que a União Europeia desempenhe um papel importante». ●

de riqueza relativa têm um grande impacto na forma de pensar das pessoas.

O desemprego é visto como a principal causa social da pobreza na União Euro‑peia, sendo a falta de educação e for‑mação a principal culpada pela pobreza individual. No Sul da Europa, o contexto e o apoio familiares têm uma influência mais forte do que nos países do Norte. Mas enquanto 56% dos europeus identifica os desempregados como as pessoas que estão mais em risco, apenas um em cinco pensa que as crianças e as famílias monoparen‑tais são vulneráveis. No entanto os dados mostram que estes estão entre os grupos de maior risco (19% e 32% deles respec‑tivamente sofrem de pobreza).

As pessoas desempregadas têm duas vezes mais probabilidades de se preocupa‑rem com pobreza e falta de casa. O «factor

Con ti nu a ção da p. 3 — O que pensam os europeus da pobreza?

Até que ponto pensa que a pobreza está generalizada no seu país?

Um «Ano» pode fazer toda a diferençaOs membros do Comité Económico e Social Europeu acolheram, com entu‑siasmo, a decisão de dedicar o ano de 2010 ao combate à pobreza na União Europeia. O parecer do Comité, de Maio de 2008, vê este Ano Europeu como «uma iniciativa válida que visa a sensibilização da opinião pública para as bolsas de pobreza persisten‑tes e a marginalização na Europa e o apoio a medidas eficazes de combate aos proble‑mas em causa». Infelizmente, estas «bol‑sas» estão longe ser insignificantes. Dados recentes revelam que cerca de 80 milhões de pessoas na União Europeia vivem em condições de pobreza, ou seja, quase 16% da população. Esta situação é classificada como «intolerável» pelo CESE.

A «redução da pobreza e da exclusão social é do interesse de todos os cidadãos. Por conseguinte, todos devem contribuir

para alcançar este objectivo». Esta é mais uma citação do parecer, um ponto que é sublinhado pelo autor do mesmo, Krzysztof Pater (CESE, Grupo dos Interes‑ses Diversos), vice‑presidente da Associa‑ção de Escutismo de Varsóvia. «Os ricos não podem partir do princípio de que o pagamento dos seus impostos os exonera de qualquer responsabilidade», explica. «Qualquer tipo de actividade pode fazer a diferença, mesmo uma pequena tarefa semanal de trabalho voluntário. É uma questão de mentalidade da sociedade».

Krzysztof Pater acredita que a Europa precisa de novos indicadores que revelem a dimensão das privações reais e da capa‑cidade dos indivíduos adquirirem bens e serviços para si e suas famílias, em vez de indicarem apenas as desigualdades rela‑tivas em matéria salarial. «Tanto quanto sabemos a Comissão está a trabalhar neste sentido», disse. «Em última análise, a res‑ponsabilidade primeira está nas mãos dos decisores políticos».

O CESE identificou cinco temas que merecem atenção especial durante o «Ano»:

trabalho não declarado;•acções para inserção no emprego;•investimento em sectores industriais •e de serviços que criem emprego;impacto das políticas no crescimento •económico futuro;acesso das populações mais vulnerá‑•veis à alimentação e energia.

Para se erradicar a pobreza, têm de se conjugar várias áreas políticas diferentes,

incumbindo aos decisores políticos mos‑trar o caminho. Como indica o parecer, «seria de fixar como objectivo político fundamental a nível europeu a necessi‑dade de garantir uma partilha mais equi‑tativa da prosperidade adquirida».

O emprego é largamente considerado como o melhor meio para sair da pobreza. Em 2007, cerca de 10% dos adultos em idade activa na União Europeia fazia parte de um agregado familiar sem emprego. Os migrantes estão sujeitos a uma maior taxa de desemprego do que a população autóc‑tone (num país como a Dinamarca esta taxa é superior em 16%), pelo que são mais vul‑neráveis à pobreza e à exclusão social.

Infelizmente, ter um emprego não garante protecção. O inquérito de 2008 sobre a Protecção Social e a Inclusão Social na União Europeia revelou que 8% dos cidadãos com emprego na UE‑25 vivem abaixo do limiar da pobreza. Tal deve‑se aos baixos salários, às poucas qualifica‑ções, às condições de trabalho precárias e a situações de emprego a meio‑tempo frequentemente indesejado. O parecer do CESE de Setembro de 2009 sobre Traba-lho e Pobreza: Para uma abordagem global indispensável realça a difícil situação dos «trabalhadores pobres». Apela a emprego de qualidade, melhor formação e apren‑dizagem ao longo da vida e à criação de novos mecanismos que combinem protec‑ção social e trabalho, de modo a assegurar que as famílias recebem um rendimento adequado. Com os trabalhadores sem con‑trato de trabalho estável na Europa esti‑mados em 48,1 milhões, a insegurança no emprego é crescente, contribuindo para a pobreza no trabalho.

«Há pessoas nos sectores que represento (metalurgia, construção, serviços) que não

Os «anos europeus» e o que eles significamIrini PariVice‑presidente do CESE responsável pela comunicação

Muitas vezes oiço as pessoas pergun‑tarem qual é realmente o significado dos «anos europeus».

Os «anos europeus» impulsionam assuntos importantes para a Europa e as nossas sociedades, trazendo para a luz da ribalta actividades que estão a decorrer, alimentando o debate público, ganhando o merecido respeito para organizações e iniciativas voluntárias empenhadas e aumentando, assim, as hipóteses de acção governamental.

Os dois últimos «anos europeus», o Ano Europeu da Criatividade e Inovação (2009) e o Ano Europeu do Diálogo Inter-cultural (2008) foram tão «intervenientes» que estiveram muito perto do coração e do trabalho do nosso Comité.

2010 é o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Isto coloca‑nos um desafio especial de comunicação, já que as atitudes em relação à pobreza e à exclusão social variam. Criam‑se acções, mas também embaraço. Não é um assunto «agradável» e pode‑se mesmo tornar dolo‑roso discuti‑lo. No entanto, estamos a falar das vidas quotidianas de mulheres, homens e crianças que passam por circunstâncias difíceis sem saberem se amanhã vão ter uma casa quente onde dormir ou um prato de comida quente para comer. Por isso temos de falar sobre isto com sensibilidade e com respeito. Este assunto dá‑vos uma ideia dos passos que o CESE teve de dar na prática para manter este assunto social importante no topo da nossa agenda. ●

Krzysztof Pater

podem viver dignamente com o salário que recebem, especialmente nos centros urba‑nos. Para nós, esta ideia é inaceitável», explica Nicole Prud’homme, membro do Grupo dos Empregadores e da Federação francesa dos Trabalhadores Cristãos, res‑ponsável pela elaboração do parecer. «O trabalho deveria conferir dignidade às pessoas e garantir o bem‑estar das suas famílias». Para a elaboração do parecer foi realizada uma audição pública, cujos resul‑tados foram incorporados no parecer. «O texto corresponde à realidade e à experiên‑cia vivida pelas pessoas na Europa. Espero que a Comissão se sirva deste documento durante o próximo ano»

Realçou que a iniciativa fora lançada antes de a crise económica se revelar. «A minha ideia era centrar‑me no facto de que o trabalho nem sempre é um bastião contra a pobreza, nem mesmo o trabalho a tempo inteiro. É um problema estrutu‑ral, que a crise agravou, e ainda não che‑gámos à curva ascendente! O Ano Europeu é uma oportunidade de fazer progressos, evitando regredir para a situação que existia previamente».

A ausência de uma definição da pobreza a nível europeu fez com que o problema fosse subestimado no passado. Como indi‑cado pela Rede Europeia das Associações de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social, para se ter uma ideia clara da desigualdade social tem também de se estudar a riqueza, saber quem a detém, de onde vem e como é redistribuída. Há igualmente desigualdades enormes entre os 27 Estados‑Membros da União Europeia. As pessoas que vivem no limiar da pobreza no Reino Unido, na Dina‑marca ou na Irlanda podem ter um rendi‑mento nove vezes superior aos pobres da Bulgária, da Roménia e da Letónia. Lamen‑tavelmente estas diferenças aumentaram com o alargamento da União Europeia aos novos países. Como conclui o CESE: «Tal sublinha a importância de pôr em prática uma acção eficaz rumo à coesão socioeco‑nómica e à redução das actuais disparida‑

Irini Pari

des económicas na União para diminuir os domínios de privação».

Antonello Pezzini, membro do Grupo dos Empregadores, foi o co‑relator do parecer de Janeiro de 2009 sobre a Agenda social renovada. «Se utilizarmos judiciosa‑mente o «Ano», este pode realmente fazer toda a diferença», afirmou recordando o Ano Europeu das Pequenas e Médias Empresas em 1982. «Nessa altura, lançá‑mos uma série de iniciativas e os bene‑fícios fizeram‑se sentir durante muito tempo. É este o valor de consagrar um ano a um tema especial: focaliza a aten‑ção e conduz a uma mudança duradoura». Referiu ainda que a pobreza e a exclusão social prejudicam a economia europeia e salientou o papel do diálogo civil para sensibilizar todas as partes interessadas e reduzir as desigualdades na sociedade.

Como o parecer afirma claramente: «Face à crise que se vive, convém não per‑der de vista que o bem‑estar dos indiví‑duos é uma responsabilidade da sociedade no seu conjunto». ●

Antonello Pezzini

Nicole Prud’homme

HungaryBulgariaRomania

LatviaPortugal

FranceGreece

LithuaniaSlovakiaSloveniaBelgium

ItalyEstonia

EU‑27Germany

PolandIreland

United KingdomSpain

Czech RepublicThe Netherlands

LuxembourgFinland

MaltaAustria

SwedenCyprus

Denmark

WidespreadNot widespreadDon’t know

CESE info — Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial 5

Erradicar a pobreza infantil na União Europeia

O vigésimo aniversário da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança é a ocasião para recordarmos que na Europa quase uma em cada cinco crianças vive na pobreza. A situação não melhorou desde 2003. Em alguns Esta‑dos‑Membros, a proporção é de uma em cada quatro.

Habitação inadequada, problemas de saúde e maior exposição a comportamen‑tos de risco são alguns dos condicionalis‑mos que a pobreza impõe aos mais vulne‑ráveis da Europa e, consequentemente, ao futuro da Europa.

As crianças que vivem em famílias monoparentais correm maior risco de pobreza. Como consequência da crise financeira, diversos Estados‑Membros fizeram cortes de orçamento na educação,

nos cuidados de saúde e nas prestações sociais. Tais medidas podem aumentar o risco de perpetuar a denominada «trans‑missão intergeracional da pobreza».

Para quebrar este círculo vicioso é necessária uma estratégia integrada, com políticas dotadas de objectivos específicos e quantificáveis. Contudo, até agora não existe nenhum objectivo oficial a nível europeu para reduzir a pobreza infan‑til. O Parlamento Europeu propôs uma redução de 50% até 2012, mas a Comissão Europeia ainda não se pronunciou sobre esta questão.

«A ideia de reduzir a pobreza infan‑til na União Europeia em 50% é boa, e apoio‑a plenamente, mas consigo perceber as dificuldades da sua realização, em par‑ticular quando a Comissão não tem auto‑

ridade para aplicar sanções aos países que não alcançam os seus objectivos», afirmou Jillian van Turnhout, membro do Grupo III e presidente executiva da Aliança para os Direitos das Crianças. «A Comissão está consciente destes problemas, e creio que isso explica o seu silêncio», acrescen‑tou ainda.

Em Março de 2006, o Conselho Euro‑peu solicitou aos Estados‑Membros que tomassem medidas para reduzir a pobreza infantil. Um ano mais tarde, a Comissão e os governos nacionais declararam este tema

Pobreza, um problema especificamente feminino

Jillian van Turnhout

Claus Sørensen

Na Europa, as mães solteiras têm de lutar para satisfazer as necessidades básicas dos seus filhos. Um trabalho estável é ape‑nas parte da solução. As mães solteiras vêem‑se a braços com tarefas múltiplas que vão desde a prestação de cuidados à família até à organização de um horário de trabalho compatível com a sua vida familiar. Mas a falta de flexibilidade e mobilidade no emprego significa que as mães solteiras estão expostas a um maior risco de pobreza. E, portanto, também os seus filhos. Na Europa, a pobreza é uma realidade para 34% dos agregados fami‑liares monoparentais.

«Mais de metade de todos os agrega‑dos familiares formados por mães sol‑teiras vive na pobreza. No Reino Unido a percentagem atinge os 53%», afirma Brenda King, ex‑comissária da Comissão Nacional das Mulheres. «De modo geral, as mães solteiras não têm flexibilidade em termos de horário de trabalho. O local de trabalho pode também ser um factor res‑tritivo, pois, frequentemente, as mães e pais solteiros não podem trabalhar muito longe do local de guarda dos seus filhos, se é que o seu rendimento lhes permite pagar este tipo de serviço».

Por quase toda a União Europeia, são as mulheres que enfrentam um maior risco de pobreza. O impacto da crise financeira contribuiu para agravar ainda mais o pro‑blema. No ano que se avizinha, o desem‑prego vai aumentar e atingir «níveis que já não se viam há dez anos». Foi esta a conclusão desoladora de um relatório apresentado, em Outubro de 2009, pela Direcção‑Geral dos Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão Europeia. As pessoas com contratos precários e menos qualificadas têm e continuarão a ter de lutar para sair da actual recessão.

O relatório acrescenta que, no início, as taxas de emprego feminino foram menos afectadas pela crise devido ao facto de muitas mulheres estarem empregadas nos sectores sociais. «Eventualmente manti‑veram os seus empregos, mas só com um horário reduzido», explica Brenda King.

Mais de três quartos dos trabalhadores a tempo parcial são mulheres, o que cor‑responde a uma em cada três mulheres, ao passo que apenas um em cada dez homens

trabalha a tempo parcial. E as disparidades salariais entre homens e mulheres (15%) permanecem inalteradas desde 2003. Em alguns Estados‑Membros, a diferença é ainda mais acentuada.

Trinta e cinco anos após a directiva de 1974 sobre a igualdade dos vencimentos, na União Europeia, as mulheres conti‑nuam a ser discriminadas no trabalho. As mulheres, apesar de terem hoje um maior nível de educação, ocupam relativamente poucos cargos de decisão. Na Europa, 71% de todos os gestores de empresas são homens, enquanto que as mulheres trabalham predominantemente no sector dos serviços.

A Comissão Europeia procura formas de atenuar estas disparidades e eliminar os estereótipos que determinam os papéis de género e reforçam os preconceitos. No ano transacto, disponibilizou mais de 100 milhões de euros para progra‑mas de emprego, coesão social e igual‑dade de oportunidades entre homens e mulheres. Brenda King

No entanto, a União Europeia não definiu objectivos concretos para reduzir a pobreza entre as mulheres. Reduzir a pobreza entre as mulheres proporcionaria melhores oportunidades de sucesso para

Envolver os cidadãos«Sem comunicação, pode acontecer o pior… ou seja, absolutamente nada», disse Claus Sørensen, director‑geral da comunicação da Comissão Europeia. Diri‑gindo‑se aos participantes da conferência europeia sobre A pobreza entre a realidade e as percepções: o desafio da comunicação, em Outubro de 2009, Claus Sørensen afir‑mou que para passar a mensagem sobre a necessidade de combater a pobreza e a exclusão social, a principal prioridade é estabelecer contacto com o público.

A gravidade da situação dos pobres e dos socialmente excluídos é um assunto

que tem sido largamente marginalizado. Para envolver o público a um nível mais pessoal, é preciso dar a conhecer e chamar a atenção para as condições em que vivem as pessoas mais vulneráveis da Europa. Para isso, é especialmente importante fazer chegar a informação a casa das pes‑soas e às suas redes sociais em linha.

«Há que preparar o público e fazê‑lo compreender que é preciso fazer alguma coisa para combater a exclusão social», disse Sørensen, reconhecendo que, até agora, a sua DG não fora tão eficaz como ele gostaria. ●

prioritário. Reduzir a pobreza infantil exige mais do que apenas facilitar o acesso ao mercado de trabalho. Requer igualmente uma abordagem global que visa o desen‑volvimento emocional e social da criança.

Graças a uma análise conjunta e coor‑denada dos dados nacionais, a Comissão e Conselho podem formular uma série de recomendações. De acordo com um rela‑tório de 2008, os Estados‑Membros devem melhorar o acompanhamento e avaliar o impacto das políticas para combater a pobreza infantil e a exclusão social.

Erradicar a pobreza infantil pode ser uma questão prioritária na maioria, se não em todos os Estados‑Membros. Mas a realidade é que muitos têm ainda de aplicar as recomendações que aprovaram nos seus planos de acção nacionais para 2008‑2010. Por falta de investimento e empenho ao nível nacional e local, as iniciativas não dão resultados concretos. Consequentemente, os níveis de pobreza infantil permanecem elevados. Por muito injusto que seja, a realidade é que 19% das crianças vivem na pobreza. ●

os filhos. Como conclusão, Brenda King declara: «Não vejo como poderemos erra‑dicar a pobreza infantil sem que haja um objectivo concreto de reduzir a pobreza entre as mulheres». ●

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6 CESE info — Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial

Minorias étnicas continuam a lutar por um «lugar ao sol» na Europa

A discriminação por razões étnicas é considerada a forma de discriminação mais frequente na Europa. O inquérito do Eurobarómetro de 2009 sobre discri‑minação assinala que mais de metade dos europeus considera que a origem étnica constitui um obstáculo no mercado de trabalho, o que não augura nada de bom para os imigrantes e a integração das minorias.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, deseja criar uma política de imigração comum assente no respeito dos direitos fundamentais e na dignidade humana, e considera que a chave da integração reside na educação e na formação.

Mas a discriminação e os estigmas sociais continuam a marginalizar as mino‑rias étnicas e os imigrantes. Muitos dos candidatos a asilo por razões legítimas são repatriados à força ou detidos em condições semelhantes às que se vivem nas prisões. Outros não têm onde viver enquanto aguardam o desfecho das moro‑

sas diligências administrativas de pedido de asilo.

A situação dos romes (o maior grupo étnico da Europa) continua a lançar gran‑des desafios. O inquérito do Eurobaróme-tro de 2008 sobre discriminação revelou que quase um quarto dos europeus não gostaria de ter um rome por vizinho. A proporção desce para um sexto se o vizi‑nho for de outra minoria étnica. Resul‑tado: alguns romes fazem tudo por escon‑der a sua origem étnica.

Em 2006, a comissária para a comu‑nicação, Margot Wallström, solicitou ao CESE um parecer exploratório sobre o combate à discriminação e a promoção da integração de minorias, em particu‑lar dos romes. O parecer assinala as más condições de habitação, o baixo nível de educação, a falta de acesso aos cuidados de saúde e a segregação como algumas realidades do seu quotidiano. Cerca de 60% dos romes vivem em condições de pobreza extrema e as crianças são fre‑quentemente segregadas nas escolas desde muito cedo.

O objectivo do parecer é de mostrar às instituições da União Europeia os proble‑mas que enfrentam os romes e formular recomendações para formas de acção. A situação não muda com simples palavras, há que tomar medidas decisivas. Até agora nada de concreto foi feito, declarou Madi Sharma, co‑relatora do parecer do CESE com Anne‑Marie Sigmund.

O êxito da integração das minorias passa por uma rede de cooperação entre

todos os protagonistas, o que inclui os romes, que continuam a estar claramente subrepresentados a nível das decisões. O parecer do CESE convida a Comissão a estudar como poderá a legislação da União Europeia abordar a situação dos romes, eventualmente por meio de uma directiva anti‑segregação.

As directivas da União Europeia contra a discriminação e pela igualdade étnica são instrumentos poderosos. Mas compete aos Estados‑Membros aplicar e fazer cumprir a lei. Alguns países conse‑guem melhores resultados do que outros. Em Itália, o Conselho de Estado apro‑vou a recolha de impressões digitais de todos os romes e o uso obrigatório de um cartão para quem sai dos acampamen‑tos. Na Irlanda do Norte, os romes pro‑curaram protecção face à investida das multidões. Casos de alegada esterilização forçada de mulheres romes na República Checa continuaram a surgir até 2005. Em Novembro de 2009, o primeiro‑ministro checo, Jan Fischer, apresentou desculpas oficialmente e prometeu adoptar medi‑das para pôr definitivamente cobro a estas práticas.

«O Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social é uma iniciativa exce‑lente, mas não será a situação dos romes eclipsada pela crise financeira e o grande número de cidadãos europeus que estão a cair na pobreza?», pergunta Madi Sharma. Se o Ano Europeu não identificar medidas claras e concretas para enfrentar a pobreza e a exclusão social dos romes, a acção da Comissão arrisca‑se a não passar de mero «pró‑forma». ●

Para combater a pobreza há que combater também as alterações climáticasAs alterações climáticas estiveram no topo da agenda política em Dezembro, com a realização da conferência COP 15, em Copenhaga. O CESE info perguntou a Rajendra Pachauri, presidente do Painel Internacional sobre as Alterações Climá-ticas, qual a ligação entre as alterações climáticas e a pobreza, tanto na Europa como no mundo em desenvolvimento.

Rajendra Pachauri: As alterações cli‑máticas influenciam de várias maneiras a pobreza na Europa. Em primeiro lugar, o aumento da frequência e intensidade de fenómenos climáticos extremos afecta acima de tudo os pobres. Mesmo nas nações mais prósperas, as maiores vítimas das alterações climáticas são os mais des‑favorecidos, tal como sucedeu em Nova Orleães, com o furacão Katrina.

No que respeita à região do Mediterrâ‑neo, prevê‑se que a escassez de água aumente como resultado das alterações climáticas, o que mais uma vez afectará gravemente os pequenos agricultores e as camadas mais pobres da sociedade. A Europa será afec‑tada também de outra forma. Várias regi‑ões do mundo em desenvolvimento serão prejudicadas pelos impactos negativos das alterações climáticas, como o declínio da produção agrícola e uma enorme pressão sobre os recursos hídricos. Os habitantes de pequenos Estados insulares e zonas costeiras baixas são ameaçados pela elevação do nível do mar. Estes impactos ambientais podem levar a que muitas pessoas abandonem os seus países, provocando uma afluência de refugiados pobres à Europa, o que contri‑buirá para um aumento da população que vive em situação de pobreza. ●

Juntos por um novo programa de acção social«Instamos a Comissão Europeia a propor um programa de acção social que garanta que os direitos sociais fundamentais sejam tratados em pé de igualdade com as regras da concorrência e as liberdades económi‑cas». Por ocasião da conferência, realizada em 30 de Novembro, para comemorar o 20.º aniversário da Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais, o CESE e a

Notre Europe quiseram salientar a neces‑sidade de relançar um programa de acção social adaptado à situação actual da União Europeia. Como declarou Bruno Vever, antigo membro do Grupo dos Emprega‑dores, «a União Europeia está a viver uma crise que descura os cidadãos. O CESE não pode conformar‑se com esta situação». O evento contou com a presença de Jacques

O CESE sensibilizará e motivará os cidadãos para as questões da pobreza

Madi Sharma

Rajendra Pachauri

Delors, antigo presidente da Comissão Europeia, tendo reunido mais de duzen‑tos participantes. Foi adoptada uma decla‑ração no final da conferência que deverá ser assinada por todas as organizações da sociedade civil e pelos cidadãos europeus. O texto encontra‑se disponível em 22 lín‑guas no seguinte sítio: www.eesc‑europa.eu/social‑rights. (jr) ●

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nião

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peia

Em 2010, estão previstas centenas de acti‑vidades em toda a União Europeia. Os principais eventos são a conferência inau‑gural (21 de Janeiro, em Madrid), a confe‑rência de encerramento (17 de Dezembro, em Bruxelas), uma exposição de arte em toda a Europa e um concurso de jorna‑listas. Terão também lugar, em Bruxelas, duas «semanas europeias» dedicadas ao tema da pobreza e da exclusão social. O objectivo é criar uma dinâmica, concen‑trando as actividades em dois períodos específicos: 17 a 30 de Maio e 10 a 24 de Outubro de 2010. Do mesmo modo, as «semanas nacionais» organizadas pelos

Estados‑Membros realizar‑se‑ão ao longo do ano, de Fevereiro a Novembro.

No CESE, a Secção Especializada de Emprego, Assuntos Sociais e Cidadania (SOC) propôs a criação de um grupo de estudo permanente envolvendo várias sec‑ções com o objectivo de mobilizar recursos e assegurar a participação do Comité nos principais eventos a realizar tanto em Bru‑xelas como nos vários Estados‑Membros. Este grupo elaborará um relatório sobre o papel do CESE na sensibilização do público ao longo deste ano e sobre as suas princi‑pais mensagens após 2010. (mjb) ●

CESE info — Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial 7

Avançar juntos para uma nova cultura da mobilidade urbana

O Small Business Act: um aniversário sem brilhoO apoio às pequenas e médias empresas (PME) é essencial para resolver não ape‑nas a crise financeira, mas também os problemas sociais e ambientais. As nos‑sas PME situam‑se no coração da ino‑vação e da criatividade e merecem que a União Europeia as apoie mais. Esta foi a mensagem enviada aos decisores euro‑peus pelo Grupo dos Empregadores do CESE, a Eurochambres, a UEAPME e a Businesseurope durante uma conferên‑cia conjunta em 2 de Dezembro de 2009, por ocasião do aniversário do Small Busi‑ness Act (SBA). O conjunto de medidas lançadas pela Comissão Europeia para «pensar primeiro nos pequenos» não levantou os obstáculos que travam o crescimento da criação de emprego e da

inovação. Acontece muitas vezes que os empresários duvidam das suas próprias capacidades ou não compreendem que a Europa os pode realmente ajudar a iniciar e concretizar as suas próprias actividades. Henri Malosse, presidente do Grupo dos Empregadores do CESE deseja um empe‑nho mais forte da União Europeia em favor das PME: «Não há a mínima dúvida de que a Europa pode contar com as PME para gerar crescimento e emprego, mas será que as PME e os empresários podem contar com a Europa?», interroga‑se ele. Os participantes comprometeram‑se igualmente a proceder a um novo exercí‑cio de avaliação e de retorno de informa‑ção sobre a aplicação do SBA no próximo ano. (jr) ●

rou uma exposição na qual se mostra o que o público e a sociedade civil podem fazer para ajudar os respectivos governos a apoiar um conjunto de boas práticas destinadas a melhorar a mobilidade nas nossas cidades. A exposição que esteve patente no CESE, até 18 de Dezembro, foi também visitada por 114 alunos da Escola Europeia de Woluwé, com idades entre os 10 e os 12 anos, que frequentam cinco sec‑ções linguísticas (inglesa, francesa, alemã, lituana e finlandesa), no âmbito de uma viagem de estudo sob o tema da mobili‑dade sustentável.

Para mais informações, consulte:http://www.eesc.europa.eu/sections/ten/index_en.asp?id=2300011tenen (acc) ●

A mobilidade urbana preocupa cada vez mais os cidadãos europeus. As escolhas que fazemos quanto à forma de viajar afectarão não apenas o nosso bem‑estar e a nossa saúde, mas também, e cada vez mais, o bem‑estar dos outros e o ambiente. Neste contexto, a Secção Especializada de Transportes, Energia, Infra‑estruturas e Sociedade da Informação (TEN) do CESE acolheu em Bruxelas, em 7 de Dezembro de 2009, a conferência final do projecto «Avançar Juntos», lançado no âmbito sétimo programa‑quadro de investiga‑ção da União Europeia com o objec‑tivo de debater novas possibilidades de criar, na Europa, uma cultura da mobilidade urbana de melhor qualidade e mais inclusiva.

Decorridos 18 meses sobre a conferên‑cia de lançamento do projecto (que teve também lugar no CESE), o evento reuniu membros do CESE, representantes de 14 cidades participantes no consórcio e de outros órgãos de poder local (incluindo Roma, Madrid, Kaliningrado e Esto‑colmo), responsáveis políticos ao nível da União Europeia e um grupo de cida‑dãos seleccionados aleatoriamente. Todos consideraram que deveria haver um maior envolvimento ao nível da União Europeia e mais medidas para melhorar a aplicação dos projectos no domínio da mobilidade sustentável. Edgardo Iozia (Grupo II, Itá‑lia), vice‑presidente da Secção TEN, fri‑sou que «o CESE tem de participar mais na realização de medidas concretas para que a mobilidade sustentável se torne uma realidade nas cidades europeias».

Na intervenção que fez na conferência, Brian Simpson, deputado do Parlamento Europeu e presidente da Comissão dos Transportes e do Turismo do Parlamento Europeu, acolheu favoravelmente a abor‑dagem aberta e participativa da iniciativa, tendo salientado que para o Parlamento Europeu é muito importante intensificar a cooperação com o CESE no desenvolvi‑mento da política de mobilidade urbana. Na sessão de encerramento, Stéphane Buffetaut (Grupo I, França) salientou que «no entender do CESE, qualquer iniciativa para promover a mobilidade sustentável tem de centrar‑se nos cidadãos».

Na sequência do «Dia Avançar Juntos», em 8 de Dezembro, o presidente da Sec‑ção TEN do CESE, János Tóth, inaugu‑

Combater a prevalência do cancro e as disparidades na União Europeia

O CESE apresentou o seu parecer sobre acções para reduzir a preva‑lência do cancro na União Europeia e eliminar as disparidades entre os Estados‑Membros ao nível das taxas de incidência e mortalidade causadas por esta doença. Em 2006, o cancro foi a causa de morte mais comum na União Europeia, a seguir às doenças cardiovasculares. Anualmente, em cerca de 3,2 milhões de cidadãos europeus é diag‑nosticada esta doença. O CESE saúda e apoia o desenvolvimento da proposta da Comissão Europeia para uma parceria europeia em torno de uma acção de luta contra o cancro, que assista os Estados‑Membros na criação de planos integrados de combate ao cancro.

O CESE defende uma abordagem educativa que passe pela infor‑mação dos jovens sobre factores que contribuem para a incidência do cancro, como o estilo de vida, as condições de trabalho e o meio ambiente. Além da educação pré‑escolar, há que reforçar as iniciativas de investigação para se reunir mais conhecimento sobre a prevenção do cancro. No quadro dos planos de prevenção, o CESE apoia as propostas de novos objectivos para o rastreio do cancro. (al)

É precisa uma acção mais forte para impulsionar a economia real

São necessárias novas regras para as finanças internacionais, um segundo, e mais ambicioso plano de apoio europeu e uma Europa mais política para coordenar as acções e garantir a recuperação económica e social. Esta é a principal mensagem do parecer sobre «Crise financeira: consequências para a economia real» apresentado pelo relator Carmelo Cedrone (Grupo dos Trabalhadores, Itália) e adoptado na sessão plenária do CESE em 16 de Dezembro.

O parecer enuncia a necessidade de introduzir regras de supervisão e sanções para evitar toda e qualquer recorrência de um sistema descontrolado. Também é necessário um acordo sobre uma abor‑dagem comum dos bancos europeus. «Perante uma crise como a actual, devem ser tomadas acções fortes para identificar medidas e propostas tanto a curto, como a longo prazo», disse Carmelo Cedrone no seu discurso de abertura.

O CESE também insta a Comissão a propor medidas concretas para construir uma Europa política da base para o topo através, por exemplo, da elaboração de um livro branco sobre governação polí‑tica. «É importante assegurar que, no futuro, o público não continua a pagar o preço de uma não‑Europa», afirmou C. Cedrone. (ds)

É necessária uma mudança radical para assegurar um futuro sustentável para o sector dos transportes

Na reunião plenária de Dezembro, a pedido da Comissão Europeia e da Presidência sueca, o CESE adoptou um parecer sobre uma política dos transportes sustentável após 2010.

«O actual sistema de transportes é insustentável. É necessária uma mudança radical de orientação», afirmou o relator, Lutz Ribbe (Grupo dos Interesses Diversos, Alemanha). Não é suficiente satis‑fazer e aumentar a procura de transportes. «Temos de analisar qual é a origem do tráfego para determinar a pertinência de determinadas actividades de transporte», referiu ainda Ribbe.

O CESE sublinha a necessidade de se analisar cuidadosamente o impacto das políticas nos modelos de transporte antes de serem tomadas decisões políticas.

Apela aos legisladores europeus a que examinem a sustentabili‑dade do sector dos transportes no seu conjunto e não apenas com vista aos objectivos ambientais. O sector dos transportes só será verdadeiramente sustentável quando os seus trabalhadores tiverem melhores condições sociais e quando todos os cidadãos, incluindo os deficientes e os idosos, tiverem um acesso adequado aos trans‑portes públicos.

É necessário agir para alcançar os objectivos já definidos ante‑riormente, que não foram ainda aplicados, referentes à política dos transportes. A internalização dos custos externos é apenas um exemplo. (mb)

A REUNIÃO PLENÁRIA EM POUCAS PALAVRAS

Estudantes com Claude Leloup durante a visita de estudo

Henri Malosse

8 CESE info — Janeiro de 2010 / 1 — Edição especial

Foi inaugurada, em Dezembro, uma exposição dos projectos mais criativos, incluindo as candidaturas premiadas, que mostram, também, o conceito de susten‑tabilidade do concurso Design ZeroNine do CESE. A exposição multimédia contém igualmente um protótipo do conceito ven‑cedor, a «Bee House» (casa das abelhas), que é um vaso para flores. Este conceito foi reconhecido pela sua capacidade de «juntar a vida vegetal, animal e humana numa mensagem que enfatiza os valores ecológicos simples e essenciais na vida moderna», conforme declarou o júri de selecção internacional.

A noite de abertura, em 9 de Dezem‑bro, incluiu uma cerimónia de entrega dos prémios aos quatro «designers» ven‑

cedores pela vice‑presidente Irini Pari e pelo secretário‑geral, Martin Westlake. Além da «Bee House», foram premiados os projectos «Dynamic», um carrega‑dor de telemóvel alimentado pela força humana, «Useless», um pequeno objecto que nos lembra de encorajar a utilização ecológica dos recursos e, com menção

honrosa, «Sabbiode», um conjunto de objectos criado a partir de elementos naturais, que contribui para a redução de resíduos.

«O concurso Design ZeroNine para um presente sustentável baseia‑se num objectivo claro e muito aliciante, nome‑adamente, o de dar», concluiu a curadora Giovanna Massoni. O concurso também reforça a missão do CESE de construir pontes entre as iniciativas sociais da sociedade civil e as instituições euro‑peias, para influenciar e apoiar a polí‑tica social.

A exposição decorrerá até 31 de Janeiro de 2010 e os visitantes são convidados a vê‑la. (al) ●

Janeiro de 2010 / 1 Edição especial

CESE info em 22 línguas: http://www.eesc.europa.eu/activities/press/eescinfo/index_en.asp

QE‑A

A‑09‑010‑PT‑N

CESE infoEditoraBarbara Gessler

Editores adjuntosVincent BastienMaciej BuryIsolde JuchemAshley LewisMarco PezzaniJérôme RocheDaria Santoni

Coordenação geralAgnieszka Nyka

Colaboraram nesta edição: Jakob Andersen, Maria Judite Berkemeier, Ana‑Cristina Costea, Aleksandra Klenke, Maria Jose Lopez Grancha, Sebastien Occhipenti, Christian Weger, Laila Wold.As versões impressas do CESE info em alemão, francês e inglês podem ser obtidas gratuitamente junto do Serviço de Imprensa do Comité Económico e Social Europeu. Além disso, o CESE info encontra‑se disponível em 22 línguas, em formato PDF, no sítio do Comité na Internet. Consulte: http://www.eesc.europa.eu/activities/press/eescinfo/index_en.asp.O CESE info não pode ser considerado como o relato oficial dos trabalhos do CESE, que se encontra no Jornal Oficial da União Europeia e noutras publicações do Comité.

A reprodução, com menção de CESE info como fonte, é autorizada (mediante envio de cópia ao redactor)

Tiragem: 15 500 exemplares O próximo número sairá em Fevereiro de 2010Impresso em papel 100% recIclado

EndereçoComité Económico e Social EuropeuEdifício Jacques Delors, rue Belliard, 99, 1040 Bruxelles, BÉLGICATel.: +32 2 5469396 ou 5469586Fax: +32 2 5469764

Correio electrónico: [email protected] Internet: http://www.eesc.europa.eu/

O CESE info é publicado nove vezes por ano, por ocasião das reuniões plenárias do CESE.

Descubra a arquitectura sustentável do futuroO Dia do Sobreconsumo Mundial («Global Overshoot Day») marca o dia do ano em que a população mundial começa a viver acima dos seus meios ecológicos, consu‑mindo recursos em quantidade superior à que a Terra consegue produzir durante um ano. Em 2009, essa data foi o dia 25 de Setembro. O CESE organizou as suas jor‑

nadas para a eficiência energética em torno desse dia e produziu um pequeno filme que demonstra que a reciclagem está destinada a tornar‑se a palavra de ordem da arquitectura do futuro. Todos os participantes e visitantes das jorna‑das do CESE para a eficiência energética viram o que a habitação sustentável signi‑fica na prática. Para descobrir a casa que consome 10 vezes menos energia do que um prédio médio numa cidade europeia consulte:http://www.eesc.europa.eu/acti‑vities/press/media/AV/index_en.asp

Veja os vencedores do prémio do CESE para a sociedade civil organizada

Na sua reunião plenária de Novembro, o CESE atribuiu prémios a seis pioneiros da sociedade civil na Europa que, através das suas realizações inovadoras e iniciativas criativas, influenciaram de forma posi‑tiva a percepção pública da Europa e do processo de integração. O CESE realizou entrevistas com todos os vencedores. Se

NOTÍCIAS BREVES

Em breve no CESEArtistas e cientistas unem‑se para explorar as dimensões complexas das alterações climáticas

Nos últimos anos, a consciência e a com‑preensão das alterações climáticas na Europa aumentou consideravelmente. Apesar disso, ainda há um fosso entre o conhecimento científico e a compreensão pela sociedade. A mesma disparidade acontece no mundo cultural e artístico. Para lidar com isto, o Comité Económico e Social Europeu (CESE), o British Council, a União Europeia de Institutos Nacionais para a Cultura (EUNIC) e a organização Tippingpoint estão a organizar um grande encontro europeu de personalidades do sector cultural, incluindo artistas e cientis‑tas envolvidos no estudo e na divulgação das alterações climáticas. O evento reali‑zar‑se‑á no CESE, em 25 e 26 de Janeiro de 2010. O objectivo é explorar as dimensões culturais subtis e complexas das alterações climáticas e identificar áreas para mais acções que envolvam projectos conjuntos de artistas e cientistas. (ds)

Dia Europeu do Consumidor 2010O CESE organiza desde 1999 o Dia Euro-peu do Consumidor, evento que entretanto ganhou importância à escala europeia ao abordar assuntos essenciais para os consu‑midores europeus. Em 2010, o Dia Euro-

peu do Consumidor realizar‑se‑á em 15 de Março, em Madrid, e será organizado pelo CESE em cooperação com a Presidência espanhola e a Comissão Europeia. O tema principal do DEC 2010 será «A aplicação dos direitos dos consumidores». (mjlg)

Conferência sobre os recursos humanos no sector marítimo, em 11 de Março de 2010

O CESE tenciona promover o emprego e a competitividade no sector marítimo, através da sensibilização dos jovens para as possibilidades oferecidas pelas profis‑sões relacionadas com o mar. Por ocasião desta conferência, o CESE reunirá, para além dos jovens interessados nestas car‑reiras, os grandes intervenientes do sector (diferentes parceiros sociais, armadores, sindicatos e estabelecimentos de ensino e de formação, a Organização Marítima Internacional, etc.). (so) ●

«Designers» premiados pela sua visão criativa de um futuro sustentável

Irini Pari com James Ennis, vencedor do primeiro prémio

não pôde estar presente na cerimónia de entrega dos prémios e está curioso para saber o que podem ter em comum organizações italianas que combatem o crime organizado, uma ONG ambiental, uma Câmara Económica e organizações europeias que promovem a história e o voluntariado consulte http://www.eesc.europa.eu/activities/press/media/AV/index_en.asp e veja as entrevistas. (mb)

Reunião dos conselhos económicos e sociais em Moscovo

O conselho de administração da Associa‑ção Internacional dos Conselhos Econó‑micos e Sociais e Instituições Similares (Aicesis) reuniu‑se, pela primeira vez, em Moscovo, em 3 e 4 de Dezembro de 2009, a convite da Câmara Civil russa, presidida por Evgeny Velikhov.

Estiveram representados no evento cinco conselhos económicos e sociais da Europa, cinco da África, dois da Ásia e um da América Latina, bem como o CESE, a União dos Conselhos Econó‑micos e Sociais da África (UCESA), o Conselho Económico e Social (Ecosoc) da ONU e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A delegação do CESE foi liderada por Filip Hamro‑Drotz, que foi acompanhado por János Tóth e Martin Westlake. O conse‑lho de administração, sob a presidên‑cia de António Marzano, presidente da

Aicesis, adoptou o plano de desenvolvi‑mento a médio prazo da Aicesis.

A próxima reunião do conselho de admi‑nistração e a reunião geral serão realizadas em Nova Iorque, no Ecosoc da ONU, em 5 e 6 de Julho de 2010.

Assine a petição por um programa de acção social!

Em 30 de Novembro, o CESE organizou uma cerimónia para celebrar o vigésimo aniversário da Carta dos Direitos Sociais Fundamentais da UE. O evento teve como convidado de honra Jacques Delors que, em 1989, foi o primeiro a lutar por uma Europa Social com direitos sociais fun‑damentais, os quais foram incorporados no Tratado de Lisboa através da Carta dos Direitos Fundamentais. Por notável coincidência, o dia 1 de Dezembro marcou também a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, pelo que a cerimónia não podia ter ocorrido em momento mais oportuno!

Também foi adoptada uma declaração conjunta apelando às instituições euro‑peias para adoptarem um programa de acção social que assegure que os direitos sociais fundamentais são tratados em pé de igualdade com as regras da concorrên‑cia e as liberdades económicas. Todas as organizações da sociedade civil e os mem‑bros do público em geral são convidados a assinar esta petição: http://www.eesc.europa.eu/social‑rights.

UE‑Turquia: a sociedade civil e o processo de adesão

O CESE realizou a vigésima sétima reu‑nião do Comité Consultivo Misto (CCM) UE‑Turquia, em Estocolmo, em 1 e 2 de

Dezembro de 2009. A reunião contou com a presença de Cecilia Malmström, ministra dos Assuntos Europeus da Suécia, e de Ege‑men Bağış, ministro dos Assuntos Euro‑peus e negociador‑chefe da Turquia.

O debate foi dedicado ao papel da socie‑dade civil no processo de adesão, ao impacto da crise económica e finan‑ceira, à economia informal, bem como aos direitos e ao papel das mulheres na União Europeia e na Turquia. Além da reunião foi organizado um seminário, que envolveu representantes das orga‑nizações da sociedade civil sueca e os meios de comunicação social, destinado a lançar o debate sobre a forma como as organizações da sociedade civil e outras plataformas podem ajudar a disseminar informação sobre as negociações de ade‑são da Turquia nos Estados‑Membros da União Europeia.

No final da reunião foi adoptada uma declaração conjunta contendo recomen‑dações para os poderes públicos da União Europeia e da Turquia.

Para mais informações, consulte:http://www.eesc.europa.eu/sections/rex/europe/areaactivities/turkey/index_en.asp?id=507327rexen (lw) ●

Filip Hamro‑Drotz e Martin WestlakeSandy Boyle e Kudatgobilik