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iTffí ioK La Jornal Um esnann n&mnnráfin, Um espaço Democrático de Comunicação e Educação Popular Ano XXI - N 0 214 - Julho de 1995 - Publicação Mensal - RS 0 50 CP V ? MO m Uma descida ao fundo do poço, a Depressão ép doença cada vez r|iais freqüente no fim deste I A miiemo Pág, 06 e 07 Militantes de saia parte 1: a vida das mulheres que se dividem entre a família e as organizações sedais e políticas Pág. 10 Órgãos públicos e organizações sociais discutem alternativas para agricultura no Sudoeste Pág. 04 Agricultores marcham sobre Brasília para discutir crédito agrícola com o governo Pág. 05 Escritor e humorista, Luís Fernando Veríssimo faz uma avaliação da política e do governo FHC Pág. 08 v micro agroindústria "ivados animais discussão Pág. 03 ->

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iTffí ioK La

Jornal Um esnann n&mnnráfin, Um espaço Democrático de Comunicação e Educação Popular

Ano XXI - N0 214 - Julho de 1995 - Publicação Mensal - RS 0 50

CP V

? MO m Uma descida ao fundo do poço, a Depressão ép doença cada vez r|iais freqüente no fim deste

• I A

miiemo Pág, 06 e 07

Militantes de saia parte 1: a vida das mulheres que se

dividem entre a família e as organizações

sedais e políticas Pág. 10

Órgãos públicos e organizações sociais discutem alternativas para agricultura

no Sudoeste Pág. 04

Agricultores marcham sobre Brasília para discutir crédito agrícola com o governo

Pág. 05

Escritor e humorista, Luís Fernando Veríssimo faz uma avaliação da política e do governo FHC

Pág. 08

vy» micro agroindústria "ivados animais

discussão Pág. 03

->

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Editorial Jornal Cambot

Políticos, Democracia e Nós

"Luis Inácio (300 picaretas)", c único lugar onde o presidente ainda é mo sem saber que depois eles manda- o nome de uma musica do ultimo dis- homenageado) riam às favas suas promessa bonitas co do grupo de rock Paralamas do Su- Mas. v oltando a questão da hon- e nos ficaríamos aqui. ranzmsas como cesso, e usa como gancho uma frase ra atacada dos nossos políticos, que tias velhas e virgens Não podíamos do Lula de 93. quando o Congresso diabos se espera de uma democracia saber que as promessas de ajudar o zumbia como um vespeiro atingido por onde não se pode nem reclamar se nos agricultor seriam passar o juro de 4%

a das denúncias de sentimos sacaneados? No mês de julho, ao ano para empréstimos a" mini e pe- a grande imprensa \oltou a expor ai- quenos agricultores para 16%. igual- gumas mazelas dos nossos governantes, zinho aos grandes. Não sabíamos que O jornal Folha de São Paulo fez uma o enorme benefício de uma cesta bá-

sica a um custo razoável Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou

São 300 picaretas com anel de doutor Eles ficaram ofendidos com a afirmação

Que reflete na verdade o sentimento da nação É lobby, é conchavo, é propina ejetom

Variações do mesmo tema sem sair do tom Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei

Uma cidade que fabrica sua própria lei Aonde.se vive mais ou menos como na Disneylândia

Se essa palhaçada fosse na Cinelàndia Ia juntar muita gente pra pegar na saída

Pra fazer justiça uma vez na vida Eu me vali desse discurso panfletário Mas a minha burrice faz aniversário

Ao permitir que num país como o Brasil Ainda se obrigue a votar, por qualquer trocado Por um par de sapatos, por um saco de farinha

A nossa imensa massa de íletrados Parabéns coronéis, vocês venceram outra vez

O Congresso continua a serviço de vocês Papai quando eu crescer, eu quero ser anão

Para roubar, renunciar, voltar na próxima eleição E se eu fosse dizer nomes a canção era pequena

João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena De exemplo em exemplo aprendemos a lição

Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão De rádio FM e de televisão.

corrupção. E o vespeiro voltou a zum bir em começo de junho, quando os rockeiros resolveram cantar a música em um show em Brasília. O que os nobres deputados fi- zeram'' Chamaram a poli- cia e resolveram poibir o grupo de incluir a música naquela apresentação. O procurador geral da Câma- ra, deputado Bonifácio Andrada(PTB-MG). expli- cou "Se écensura, eu não sei. A mim compete defen- der a imagem da Câmara" Ele acha que esse tipo de coisa desacredita os nobres parlamentares perante o po\ o. e onde será que o pais vai parar se a popula- ção ficar tirando sarro ou criticando os políticos'.'

Onde o país vai pa- rar, não sabemos. Sabemos apenas que o nosso presi- dente já parou sete vezes no exterior desde que assumiu a presidência, e tem agendados mais onze via- gens até o final do ano. Não

significaria quebrar os pro- dutores com os preços mi- núsculos pagos pela produ- ção agrícola. E o que pode- mos fazer'.'

Talvez seja cedo. mas resolvemos ja começar a fa- lar nas eleições municipais do ano que vem. E que é a partir de agora que muitos interessados em cargos po- líticos começam a mexer os pauzinhos e bater nas nos- sas costas. Vai começar o período das inaugurações, da liberação de verbas e obras, das v isitas amigáveis e dos ótimos projetos. Va- mos ficar de olho. Vamos desconfiar dos "bonzinhos demais". Vamos pesquisar, analisar os projetos de de- senvolvimento de cada par- tido. Vamos nos impor, pe- dir para participar, dar a nossa contribuição. E, prin

e que seja chato viajar, mas geralmen- iIsta dos deputados que menos compa- cipaimente, vamos trancar o nosso te a gente elege um presidente para que ele governe o país e que esteja aqui quando se precisa dele. Sem conside- rarmos a validade da marcha, o "caminhonaço". dos grandes e médios agricultores sobre Brasília para dis- cutir a política agrícola, mas é que quando queriam ver o presidente, ele estava em Portugal, recebendo home- nagens (talvez porque o exterior é o

receram às sessões do Congresso no primeiro semestre, algo que deu o que pensar. Trouxe outra lista da parentada de políticos que estão recebendo car- gos bastante importantes e muito bem remunerados no setor das telecomuni- cações.

Bom. já é sabido que os maiores chatos são aqueles que reclamam de- mais. Claro, votamos nos caras, mes-

voto em uma baú a sete chaves e ficar sentado em cima com uma espingar- da na mão. Voto não se venda, não se dá, não se troca (já basta o que fazem os deputados com seus votos no Con- gresso).

Está começando o processo de definição das linhas políticas de nos- sa região para os próximos anos. e não vamos ficar de fora!

O JORNAL CAMBOTA é um espaço democrático de comunicação e educação popular no Sudoeste do Paraná. Publicação mensal CONSELHO ADMINISTRATIVO Ademir Dala/em Ari Silvestre, Avelino Calegari, Aores da Silva, /.elide 1'ossamai. Aldir Roeli. Francisco Reeh. I.orimar Berticelli, Paulo de Sou/a. Mana Floni Agnes. João Valdir da Silva. Francisco Quevedo.

FOTOS E TEXTOS NÃO ASSINADOS Verena Cilass

JORNALISTA RESPONS.: Verena Glass Mtb 3072 As matérias assinadas nào representam, necessariamente. a opinião desse jornal. Tiragem desta edição: 2.500 jornais.

COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO: GRAFIT Artes Gráficas - Fone (046) 523-1998 Av. General Osório. 500 - Francisco Beltrão - PR

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Jornal Cambota

A LEI DA MICRO AGROINDÚSTRIA Considerada uma das melhores saídas para a agricultura familiar, a micro

agroindustrialização esbarra na regulamentação legal

Reunião entre organizações de agricultores e SEAB discute a legislação para micro agroindústrias

Dentre os projetos para um novo modelo de viabilização da agricultura familiar, a agregação de valor aos pro- dutos agrícolas dentro da própria propri- edade deve ser prioridade absoluta, o que, simplificando, significa: vamos criar microagroindústrias, gente! Com a che- gada do Mercosul, a venda dos grãos como milho e soja já deixou de valer a pena. Transforma-los em ração para os animais é melhor, mas como a venda in- dividual ou integrada dos animais intei- ros pode ser um negócio incerto, o pro- cessamento artesanal da carne ou do lei- te acaba sendo uma das melhores opções de atividade financeira em uma pequena propriedade. Esta conclusão, é verdade, já não é novidade, mas da iniciativa até a realização de uma microagroindústria a caminhada é longa e cheia de obstáculos, entre os quais os dois principais se cha- mam legislação e financiamentos.

A segurança alimentar, a sanidade no processamento e do produto final comercializado no mercado regional atu- almente são regulamentados com bastante rigor, principalmente em função do códi- go do consumidor, criando-se uma legis- lação específica para agroindustrializa- ção que, apesar de garantir teoricamente a qualidade dos produtos, não faz uma distinção entre pequenos e grandes em- preendimentos e acaba dificultando bas- tante a implantação de mini e pequenas agroindústrias. Para conseguir a autori- zação legal de comercialização de seus produtos, toda agroindústria tem de ter um selo de qualidade, concedido pelo SIM (Serviço de Inspeção Municipal, se a co- mercialização pretende ser local), pelo SIP (Serviço de Inspeção do Paraná, que

permite a comercia- ização do produto

no estado) ou pelo SIF (Serviço de Ins- peção Federal, que permite a comercia- ização do produto

em todo o país e para exportação). Infeliz- mente, ainda são poucos os municípi- os que possuem o SIM, e o SIP acaba exigindo estruturas muito caras para as

pequenas indústrias (altura exagerada dos abatedouros, reservatórios exagerados de água por animal, etc).

Para discutir uma solução para o impasse criado pela legislação, uma co- missão, composta pela FETAEP, pela ASSESOAR, pelo Fundo de Crédito Ro- tativo, pelo DESER, pela Micro-Região Sindical do Sudoeste e por alguns Sindi- catos e Entidades de outras regiões, se reuniu com a Secretaria Estadual da Agri- cultura, o SIP e a EMATER no dia 23 de junho (reunião marcada durante o Grito da Terra) na tentativa de definir uma po- lítica legal e financeira para a microagroindustrialização, ou seja, o pro- cessamento artesanal de derivados ani- mais. A princípio, o diretor do SIP, Miro Souza, argumentou que já existem regras especiais para este tipo de processamen- tp, mas não apresentou nenhum documen- to sobre o assunto. Segundo Miro, ape- nas são exigidas normas mínimas que ga- rantem a qualidade do saneamento dos produtos oferecidos ao consumidor, e que estas normas absolutamente não dificul- tam a instalação de microagroindústrias. O que se percebe, porém, é que as nor- mas impostas pelo SIP, principalmente no tocante às cons- truções, acabam sen- do mais complicadas do que as do próprio SIF. Em relação ao custo financeiro, po- demos citar o mini- abatedouro de aves e suínos da Associa-

ção Nossa Senhora Aparecida em Nova Prata. Para um abate de, no máximo. 166 animais/dia, a associação teve que erguer paredes do abatedouro de 4 metros de altura e providenciar um reservatório de água de 500 litros por animal. O projeto, financiado pelo Fundo de Crédito Rota- tivo, estava estimado em R$ 4.200,00,

- mas já alcançou o custo de R$ 7.700,00. Como resultado da reunião entre a

Secretaria da Agricultura e as entidades representantes dos agricultores, resolveu- se criar um Conselho Estadual, compos- to pela SEAB, EMATER, IAP, FETAEP, FEPAR e Secretaria da Saúde, responsá- vel por fazer um trabalho de elaboração de propostas de padrões, fiscalização e informações para e sobre a microagroindustrialização. Os trabalhos começaram no dia 24 de julho e tem pra- zo até setembro para serem finalizados, e serão discutidas especificamente as áre- as de suinocultura, leite, aves, etc.

Sobre uma política de financiamen- to para a microagroindustrialização, odí- retor do departamento de agricultura da Secretaria, Humberto Malucelh, afirmou desconhecer qualquer projeto na área (apesar das promessas do governador Lerner, veja o Cambota de maio). Existe uma pequena verba de R$ 1.500,00 para cada iniciativa, que obviamente é insufi- ciente. O que se conseguiu foi a promes- sa de uma visita ao Sudoeste por parte de uma comissão de técnicos da SEAB, para avaliar 27 projetos avançados de microagroindústrias. Quaisquer outros pedidos de financiamentos devem estar contemplados pelo Plano de Desenvolvi- mento Rural dos municípios, afirmou Malucelli.

Construção do abatedouro de Nova Prata

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4 Jornal Cambota

ENCONTRO DISCUTE DESENVOLVIMENTO RURAL NO SUDOESTE

No dia 18 de julho, o Encontro Regional sobre Tecnologias e Desenvol- vimento Rural Sustentável reuniu na ASSESOAR as entidades ligadas direta- mente à agricultura e ao desenvolvimen- to rural no Sudoeste (STRs, EMATER, AMSOP. Banco do Brasil Associativis- mo. IAPAR. SEAB: curso de agronomia do CEFET. Colégio Agrícola de Beltrão, ASSESOAR, lideres sindicais e dos agri- cultores) para discutir um projeto de de- senvolvimento rural para a região, em uma primeira tentativa de se conhecer os planos de cada entidade para o meio rural e de estabelecer uma agenda minima de parcerias e ações conjuntas.

Em um primeiro momen- to, representantes de várias en- tidades colocaram para a ple- nária suas concepções de desen- volvimento rural. Segundo Enio Ceni. prefeito de Chopinzinho e representante da AMSOP. os órgãos públicos tem que se adaptar a um novo modelo de discussão e implantação de ações para viabilizar a agricultura. Ceni avalia que a família rural deve ser o prin- cipal beneficiado destas ações, e. para isso, deve ocupar um grande espaço nos fóruns de decisão. É necessário quebrar o modelo vertical que hoje traz as deci- sões de cima para baixo, o que significa a divisão do poder e dos trabalhos nesta área. "Temos que atuar em conjunto, prin- cipalmente com a participação dos mo- vimentos e entidades de representação dos agricultores nos planejamentos das polí- ticas e dos projetos agrícolas. Os órgãos públicos e o poder local tem que demons- trar ^ ontade política para viabilizar esta democracia. Temos que criar em todos os municípios o Conselho Municipal de Agricultura, contemplando todos os seg- mentos envolvidos na área, principalmen- te o próprio agricultor", avalia Ceni.

O representante da EMATER e da SEAB, engenheiro agrônomo Sérgio Carniel, teve a niesma avaliação política de Ceni, acrescentando que a grande dis- cussão de projetos para o meio rural está acontecendo hoje nos fóruns que traba- lham o Plano de Desenvolvimento Agrí- cola (PDA) e o Plano de Desenvolvimen- to Rural (PDR) nos municípios. Segun- do Carniel. o desenvolvimento rural não

passa mais apenas pela geração de dinhei- ro a todo custo (dinheiro que, até hoje. não ficou na mão do agricultor). Para segurar o colono no campo, é fundamen- tal que ele se sinta em condições de cres- cer e levar uma vida digna. Isto significa investimentos em saúde, transporte, edu- cação e na agricultura. O modelo agríco- la que hoje vem se afirmando, segundo Carniel. deve se preocupar com a saúde alimentar, ou seja, menos agrotóxicos; se preocupar com a retomada do crescimen- to econômico da agricultura familiar, ou

seja. gerar renda para a família: se preo- cupar com a integração do homem do campo, ou seja. eliminar as diferenças sociais e as desigualdades econômicas. Carniel avalia que grande parte das solu- ções para os problemas das propriedades podem ser encontradas dentro delas, uti- lizando-se os recursos internos. Neste sentido, o principal objetivo do agricul- tor deve ser a agregação de valor ao pró- prio produto, o que aponta a agroindus- trialização como um dos principais pro- jetos a ser levantado em qualquer discus- são de desenvolvimento rural.

O IAPAR de Pato branco continuou nesta linha, avaliando que hoje o desen- volvimento rural tem que ser sustentável. Para isso, vem desenvolvendo pesquisas na área da adubação verde, da conserva- ção de solos, do plantio direto, da produ- ção de semente de milho variedade, da suinocultura (inclusive ao ar livre), entre outros, procurando integrar os agricul- tores neste processo, através de experi- ências dentro das próprias propriedades. Segundo o IAPAR. é fundamental utili- zar os recursos naturais sem degradar o meio ambiente, e pafa isso a assistência técnica deve ter muito mais investimen- tos por parte dos órgãos públicos.

Houve ainda a colocação do Ban- co do Brasil (que apenas relatou as difi- culdades financeiras da agricultura e avi- sou que o crédito está difícil), do CEFET. que expôs a visão do curso de agronomia sobre o seu papel na região, e do coletivo dos movimentos sociais, representados pelo técnico da ASSESOAR Valdir Duarte. Segundo Valdir, a miséria e os problemas sociais não são frutos da falta de um projeto de desenvolvimento, mas sim de um desenvolvimento que causa a exclusão de grande parte da população.

Para resolver estes problemas, os movimentos sociais avaliam que o desenvolvimento passa pela formação e capacitação profissional dos agricultores, por uma política pública dife- renciada para mini e pequenos produtores, por uma valoriza- ção real do homem do campo, por um projeto de atendimento das necessidades básicas da fa- mília (habitação, energia elétri- ca, saneamento, estradas, esco- las rurais, etc) e por uma tec-

nologia adaptada a realidade da agricul- tura familiar, o que presume uma autono- mia política, econômica e financeira e prin- cipalmente o reconhecimento do trabalho desenvolvido pelas entidades representati- vas dos agricultores e pelos movimentos so- ciais por parte do poder público.

Segundo as entidades presentes, o encontro pode ser avaliado como uma iniciativa muito positiva, uma vez que a troca de idéias entre as organizações so- ciais, o poder público e as instituições oficiais possibilitou o estabelecimento de alguns acordos de parceria, abrindo o caminho para um trabalho conjunto, como. por exemplo, um estudo da legis- lação que regulamenta a agroindustria- lizaçào e um trabalho para adaptá-la as condições do pequeno agricultor, a parti- cipação das organizações dos agriculto- res nos fóruns de decisão das políticas agrícolas e da linha de pesquisa do IAPAR e a abertura de vagas para está- gios escolares junto as atividades das or- ganizações. Estes e outros encaminha- mentos serão definidos posteriormente em reunião com a participação da ASSESO- AR. do IAPAR. da EMATER. da Cen- tral de Associações-PR. do CEFET e do Movimento Sindical.

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Jornal Cambota 5

Governo supera preconceito e já fala "em separar o joio do trigo" para resolver a crise da agricultura

Milhares de Caminhões invadem Brasília para protestar contra a política agrícola do governo, no que foi chamado de Marcha dos Agriadtores ou Caminhonaço

"O governo precisa se- parar o joio do trigo na ques- tão agrícola", admitiu o pre- sidente Fernando Henrique, quinta-feira passada, em Por- tugal.

O pronunciamento de FHC mostra que a marcha dos agricultores sobre Brasília sensibilizou o governo, a pon- to de mudar os rumos das ne- gociações.

Há \ ários interesses em jogo nesta crise, mas até a se- mana passada o Palácio do Planalto, influenciado pela avaliação do Banco do Brasil, só conseguia enxergar caloteiros e aproveitadores nos acampamentos cm Brasília.

"Nossa visão estava certa. É tudo gen- te da UDR". di/.ia ao ministro Andrade Vieira, pelo telefone, um assessor do Minis- tério da Agricultura, enquanto observava da janela de seu gabinete a manifestação ruralista no último dia 19.

Lá fora. porém, havia caminhões de todos os cantos do país. Cada região com uma realidade agrícola diferente.

Enquanto os pequenos arrendatários do Rio Grande do Sul. arruinados pela seca de 94. tentam prorrogar dí\ idas entre R$ 50 mil c R$ 100 mil. os grande produtores de grãos do Centro-Oeste empurram com a bar- riga débitos de mais de R$ 500 mil.

A caravana que atravessou o sul e sudeste até Brasília, percorrendo 2.365 qui- lômetros, carregava diesel. charque. macar- rão e arroz. Tudo doado por postos de gaso- lina, comécio c até prefeituras.

Nas pequenas cidades agrícolas, ven- cei a crise é uma questão de sobrevivência.

Rapidinhas SALÁRIOS: uma luz começa a piscar para os assalari- ados no fim dos corredores do Senado. A Medida Pro- visória do governo que quer acabar com todo e qual- quertipo de indexação salarial está sendo revista pelo Senador Coutinho Jorge (PMDB-PA) relator da dita cuja. Coutinho quer alterar totalmente o texto da Me- dida e propôs ao Ministro do Trabalho que os salários sejam corrigidos automaticamente pelos índices da inflação, além de manter o Índice de Preços ao Con- sumidor (IPCr) que reajustava os salários até dezem- bro deste ano. O nosso governo, no entanto, afirmou que não vai se pronunciar sobre esta proposta.

A falência no campo tem efeito cas- cata: quebra o comércio, expulsa os bóias- frias c engrossa a miséria na periferia dos grandes centros urbanos.

Só no Rio Grande do Sul. a crise agrí- cola levou 200 municípios ao estado de emergência.

A dívida rural no Rio Grande do Sul é equivalente a uma safra e meia ou 14 mi- lhões de toneladas de grãos, segun- do os cálculos do Sindicato Rural de São Borja.

"Com a crise, muitos peque- nos proprietários são obrigados a se desfa/er de seus bens e migrar para áreas urbanas, causando um efeito anti-reforma agrária", prevê o eco- nomista Ângelo Bressan Filho, da Companhia Nacional de Abasteci- mento (Conab).

Segundo Bressan. o resulta- do da insolvencia dos produtores é perverso. A desvalorização da ter- ra indu/ os sobreviventes a optar

por atividades de menor risco, como a pecuária.

Para Guilherme Dias, secretário nacional de Política Agrícola, a única saída é flexibilizar a prorrogação da dívida, "com cuidado para não dar a quem não precisa". Na opinião do secretário, muitos aproveitadores, "que devem fortunas ao Banco do Brasil e têm patrimônio suficiente para quitar seus compromissos", pe- garam carona na marcha.

"Esta gente não está dormindo em caminhões e co- mendo carreteiro à beira da es-

trada", comentou, em Brasília, um produtor de Santo Antônio das Missões (RS).

O governo espera obter entre $ 3.5 bilhões c R$ 4 bilhões de "dinheiro novo" para a agricultura.

"Isto vai cobrir 70% das perdas. O restante do rombo terá que ser coberto com a desmobilização do patrimônio dos deve- dores", avisa Guilherme Dias.

(I olha de S. Paul,.)

CONGRESSO DO MST: o Movimento dos Trabalha- dores Rurais Sem Terra (MST) realizou na última se- mana de julho, em Brasília, o seu 3o Congresso Na- cional. No dia 27, eles se reuniram com o presiden- te DHC para apresentar as suas propostas, no sen- tido de negociar subsídios para os assentamentos já constituídos, desapropriação das terras dos gran- des caloteiros do Banco do Brasil para fins de re- forma agrária e a exigência de se ampliar o projeto de assentamento do governo. A cobertura comple- ta do Congresso será apresentada no Cambota de agosto.

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DEPRESSA O: a doença do fim do milênio

Muitos profetas e visionários previ- ram, ao longo dos tempos, que o final do milênio viria acompanhado pelo fim do mundo. Ora. não é provável que anjos e de- mônios se apressem tanto para nos levar da- qui, principalmente porque a humanidade muito tem a evoluir ainda, e agora só cau- saria problemas no além.

Mas o final deste século sem dúvidas se caracteriza por uma série de acontecimen- tos e fatos novos. Os homens fizeram avan- ços incríveis nas áreas da ciência, da medi- cina e da informática, a consciência social começou a se fazer presente nas grande po- líticas internacionais, a individualidade dos povos está dando, cada vez mais. lugar a uma globalização; mas. por outro lado. a modernidade também faz as suas vitimas. Solidão, conflitos internos, perda de refe- rências culturais e emocionais, falta de al- ternativas para a própria individualidade num mundo onde quase tudo já existe e pode ser comprado pronto são alguns dos preços pagos pelo homem moderno. Doenças como a AIDS e outros vírus e bactérias violentos são uma marca do final de século, mas o grande mal que traduz principalmente a grande angústia, a falta total de perspectiva e a insegurança de milhares de pessoas é a depressão, doença que tem levado um nú- mero cada vez maior de pessoas ao desespe- ro e ao suicídio. Ao contrário do que muitos podem pensar, a depressão não é um estado de espírito passageiro (um "baixo astral" ou uma "deprê"), mas tem causas físicas e deve ser tratado como uma doença grave. Segun- do a psicóloga Dr. Dílma Schirr. a depres- são pode ser causada por características ge- néticas hereditárias (que passam dos pais para os filhos), por fatores e acontecimen- tos que interferem diretamente na vida das pessoas, como o uso de drogas, álcool ou alguns remédios, golpes do destino (perda de pessoas queridas, rompimento com o companheiro ou companheira, problemas familiares, no trabalho, stress. etc), proble- mas psiquiátricos, ou simplesmente por uma disfunção do organismo que venha a causar algum distúrbio hormonal (nos casos em que a pessoa está bem. e. de repente, entra em depressão).

Os sintomas da depressão são bastan- te claros. A pessoa perde o interesse pela vida. tem um sentimento de profunda tris- teza e desesperança, uma sensação de futi- lidade e falta de sentido nas coisas e na vida. muitas vezes tem medo. complexo de perse- guição (as vezes se torna violento), se irrita com muita facilidade, perde ou tem excesso de sono. tenta se isolar de todo inundo, tem dificuldade de raciocinar e se concentrar.

tem acessos freqüentes de choro sem moti- vo aparente, come demais ou não come. pode ter dores de cabeça, de estômago e dificul- dades sexuais, e. na grande maioria dos ca- sos, repentinos e fortes impulsos de querer se matar.

A depressão pode atacar qualquer um. homem ou mulher, em todas as idades. Mas em mulheres e pessoas entre 20 e 40 anos a doença se manifesta com mais freqüência, e a primeira coisa a fazer, assim que uma pes- soa percebe os sintomas, é procurar um mé- dico.

Existem muitos remédios antide- pressivos que agem diretamente sobre as disfunções do organismo causadores da de- pressão, e seus efeitos podem ser percebi- dos de forma positiva depois de 3 a 4 sema- nas. Além disso, o depressivo deve procu- rar um psicólogo ou um terapeuta para ses- sões de terapia e conversas, o que também costuma ajudar bastante. Em casos muito graves, pode haver internação em uma ins- tituição especializada O apoio e a compre-

ensão da família e dos amigos, no entanto. é fundamental.

A Depressão no Sudoeste

O Sudoeste do Paraná é recordista em uma atitude da qual realmente não pode se orgulhar; o suicídio. Pesquisas apontam que. nos últimos anos. os casos de suicídio au- mentaram consideravelmente, atingindo um número realmente preocupante.

Aí. surge a pergunta: porque os sudoestinos estão acabando com as próprias

'vidas? O que causa esse desespero, essa de- pressão extrema?

Como descendente direta de euro- peus, a grande maioria da população do Su- doeste por natureza já é mais soturna do que os alegres nordestinos. A cultura sulista do trabalho muitas vezes relega o lazer, o "es- tar bem consigo", o convívio social e o "tem- po para mim" para segundo plano, o que fica e\ idenciado pela falta de opções lúdicas (lazer, cultura) que a região oferece.

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Jornal Cambota

A reportagem cio CAMBOTA conver- sou com três pessoas totalmente diferentes que sofreram o mesma problema: a depres- são. Em depoimentos dramáticos, eles fa- lam dessa experiência.

Ncíva Sukenski, 38 anos, professo- ra no interior de Francisco Beltrão. "Tudo começou há 10 anos. No inicio, eu não sa- bia o que estava acontecendo. Eu andava pelas ruas. e de repente me perdia, não sa- bia onde estava. Parecia que estava sonhan- do. Quando "acordava", eu via que tinha caminhado muito além do ponto que que- ria, tinha que voltar tudo de novo. E me dava medo. eu não sabia do que. Medo de desa- parecer, de morrer longe da família, solitá- ria. Às vezes, me dava a sensação de que tinha alguém me perseguindo, qualquer ba- rulho me apavorava, assim, a toa. Depois, as coisas pioraram. Eu não comia, não dor- mia, não linha força pra ficar de pé. Aí. eu comecei a me afastar dos outros. Tinha ver- gonha do que sentia, mas. ao mesmo tem- po, comecei a me odiar e odiar as pessoas. Se alguém ria do meu lado. me dava vonta- de de bater, puxar e arrastar pelos cabelos.

Tinha vergonha,do que sentia, mas, ao mesmo tempo, comecei a me odiar e

odiar as pessoas

Eu chorava muito, começava de manhã, cho- rava o dia inteiro, até à noite. Me dava uma trisic/a. uma tristeza tão grande... Quando vinha visita, eu não conseguia ficar junto, parada. De repente, ia pra sala, me jogava no sofá. e chorava. Até que um dia uma amiga percebeu que eu não estava bem e foi atrás de mim. saber o que eu tinha. Foi ela que me disse para procurar um médico, e realmente, depois de três palavras ele diag- nosticou a depressão. Procurei, então, um psiquiatra de Pato Branco, mas o tratamen- to saiu muito caro. Comecei a tomar remé- dios antidepressivos. mas o que me ajudou mesmo foi conversar com pessoas amigas. Quer dizer, pessoas de fora. porque minha família não conseguiu entender o que esta- va acontecendo. Eles não me compreendi- am, e parecia que. me vendo naquele esta- do, se distanciavam de mim. Isso foi muito ruim. mas. por outro lado. eu também não conseguia chegar neles, falar com eles.

Qual foi a causa da minha depressão? Acho que foi excesso de trabalho, de carga de responsabilidades. Era a escola, os filhos, o marido, e eu não conseguia tirar um tem- po para mim. Fazia demais pelos outros, e não tinha retribuição. Acharia importantís- simo que todo mundo ti\ esse pelo menos duas horas de lazer por dia. para sair dos trilhos do trabalho. Adoro trabalhos artísti- cos, dançar, música, cantar. Até conversar, trocar idéias, se chegar mais nas pessoas...

Hoje tenho fases ótimas, e de repente uma volta da depressão. Cheguei ao extre- mo, cheguei a me sentir com o pé na cova. não via mais sentido nenhum na vida. o sui- cídio foi uma coisa bem próxima, e acho que

só o pensamento nos dois filhos evitou o pior. Para pessoas que sofrem de depressão, que têm os sintomas, é muito importante logo escancarar o problema, falar para a família, os amigos e procurar um médico. Eu. infe- lizmente, deixei passar muito tempo antes de me tratar".

Brás Cavasini, 36 anos, agricultor no Palmeirinha "Quando começou a me dar umas coisas estranhas, era no tempo em que eu trabalhava na bodega da igreja. Me dava uma dor na parede do estômago, acho que isso me atacou a cabeça. Me dava uma tris- teza, parecia que tava tudo errado comigo, comecei a fugir das pessoas. Trabalhar eu

Não sabia o que estava acontecendo,

fieiisei que era nud feito, qualquer

coisa assim

até trabalhava, mas sem prazer. Não sabia o que estava acontecendo, pensei que era mal feito, qualquer coisa assim. E eu ficava mui- to irritado com as pessoas. Tinha gente que quando me incomodava eu tinha até vonta- de de matar. Um dia. então, eu estava numa festa em Beltrão, e de repente começou a me dar uma angústia, um medo. eu só que- ria fugir. Só lembro que comecei a bater nas pessoas, tentando fugir, até que fui preso pela polícia. Quando eu dei por mim. pri- meiro pensei que estava na cadeia, mas eles tinham me internado em uma clínica em Ponta Grossa. Era um lugar estranho, cheio de qente meio doida. A Hcnte não era aten- dido diretamente pelos médicos, mas os en- fermeiros nos davam remédios. Foi muito ruim. no começo, ficar no meio daquela gen- te depressiva, alguns bem ruins mesmo. De- pois, uma irmã que mora em Curitiba me levou para lá. e eu me tratei com um psiqui- atra.

Hoje, eu continuo tomando remédi- os, e. de tempos em tempos, a depressão volta. Não sei porque me deu isso, não tem explicação, não dá para entender. A minha mulher é muito quieta, a gente não conse- gue conversar sobre o que eu tenho e acabo guardando a angústia dentro de mim. Não é fácil falar com as pessoas. Eu só queria vi- ver bem. viver muito bem".

M.S., 39 anos, empresária. "Tudo começou com uma vontade muito louca de morrer. Eu estava com muitos problemas: problemas em casa. problemas emocionais, de relacionamento, e de repente comecei a me sentir como se eu não fizesse mais parte do mundo, como se a v ida não me perten- cesse, como se eu tivesse caído aqui por en- gano. Entrei num processo de crise existen- cial, c morrer me parecia a única solução. A princípio, eu sentia medo: todo ser hu- mano tem medo da morte: só que esse senti- mento de desespero foi ficando tão forte, que me deu outro medo. Porque, a princípio, eu chorava de pensar na morte, em deixar tudo. Depois a coisa foi ficando tão forte, que a morte não me assustava mais. passou a ser uma coisa natural. Foi nesse ponto que eu fui procurar ajuda médica, uma psicóloga.

No início, eu não falei desse meu instinto suicida. A gente só trabalhava os problemas pelos quais eu estava passando, quer dizer, eu sentia as pessoas muito falsas, mentiro- sas. Todos me pressionavam muito, queren- do que eu vivesse da forma que eles queri- am que eu vivesse, e não o caminho que eu escolhi para mim. Todo mundo queria me impor conceitos e comportamentos que acha- vam que seriam bons para mim. não respei- tando a minha individualidade. Ao mesmo tempo, eu carregava uma grande carga de responsabilidades. Com a separação de meus pais. fui eu quem tive que assumir a casa, resolver os problemas, cuidar da família. E quando alguma coisa não dava certo, eles me cobravam, indiretamente, mas era eu que tinha que resolver. As pessoas não paravam para ver como eu estava. Simplesmente eu era uma caixa, onde todo mundo jogava os problemas para se ver livre deles. Um dia. a caixa estourou. Eu comecei a ficar cada vez mais angustiada, não tinha perspectivas, batia uma tristeza infinita, uma solidão enor- me, eu chorava muito. E ninguém percebia. Eu sentia falta de carinho, de um colo para chorar. No começo, eu tentei compensar essa situação saindo muito, e comecei a beber, porque o álcool me deixava alegre, festeira. Até o ponto em que me deu medo de ficar dependente do álcool e daí eu me fechei; comecei a me isolar de todos. Um dia. eu falei desse meu lado suicida para a psicólo- ga, e ela logo juntou todos os sintomas e diagnosticou a depressão. Comecei a tomar remédios, e me sentia mais leve,"menos pre--

ocupada, mas a vontade de morrer não pas- sava. Até que eu resolvi. Um dia, eu che- guei em casa e peguei uma caixinha de cada remédio e coloquei na bolsa. Voltei no tra- balho, abri a bolsa, tirei os remédios todos e decidi: vou tomar, Era a decisão do suicí- dio. Tirei os remédios da caixinha e colo- quei todos em cima de um papel. Eu estava

Entrei num processo de crise

existencial, e morrer me parecia a única solução.

consciente, me lembro da dúvida do tomo oü não tomo. Mas já estava decidido. Mi- nhas mãos tremiam demais, mas peguei aquele papel e fui engolindo os remédios com goles de água. Não lembro o que acon- teceu depois disso, acho que desliguei. Me levaram para o hospital e passei dois dias de coma. Depois, acordei e não senti nada. Nem raiva, nem alívio. E depois de tudo nada mudou, as cobranças continuaram, os problemas, a vontade de morrer. Agora, es- tou procurando outra ajuda, uma ajuda mais espiritual, não tomo mais remédios. Estou me sentindo um pouco melhor. Acho que preciso me afirmar, encarar e resolver meus problemas, não deixando mais que me pres- sionem ou que tentem resolvê-los por mim. Mas isso não é fácil, é um processo muito difícil e lento, e nesta caminhada, por ve- zes, a depressão tem voltado.

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Jornal Cambota

ENTREVISTA Éfe Agá é um impostor? REVISTA ISTO E

Às vésperas de lançar um novo livro. Lias Fernando Veríssimo ironiza: talvez FHCesteja amarrado e amordaçado em algum porão

Aos 58 anos. Luis Fernando Veríssimo está em todas as rodas e bocas. Seja pelos arti- gos que escreve diariamente para jornais do Rio de Janeiro. Porto Alegre e São Paulo, seja pelas crônicas semanais ou pelos episódios de Comédia da vida privada na tevê. Verissimo é especialmente cultuado pelos órfãos das últi- mas eleições. Dono de um bom humor invejá- vel e de uma verve saborosa, ele tem surpre- endido até seus leitores do Jornal do Brasil. Em vez do humorista sutil, o Verissimo que ocupa as páginas do diário carioca c um criti- co feroz do go\ erno Fernando Henrique Car- doso. "Se era para sermos governados pelo PFL seria melhor ter o ACM (o senador Antônio Carlos Magalhães) na Presidência"..declarou ele a Isto É. De tão descontente e decepciona- do com o presidente, que ele chama de Éfe Agá. Verissimo chegou a sugerir há duas se- manas que fosse feito um exame de DNA no ocupante do Palácio do Planalto, pois. com toda <grte/.a:jjpinou ele. trata-se de uni im- postor

O governo FHC encontrou pouca resistên- cia a seus projetos de reforma nestes pri- meiros seis meses. Poucas pessoas na im- prensa têm levantado a voz contra FHC. O sr. tem sido uma voz dissonante, um crítico feroz e quase solitário. Como se sente? Luis Fernando Verissimo - Nem tão feroz nem tão solitário. Tem mais gente criticando o governo na imprensa, com mais informação e autoridade do que eu. Simpatizo com o Fernando Henrique e acho que. em termos de capacidade intelectual c até de estampa, ele é um progresso sobre os nossos presidentes re- centes, talvez sobre todos os nossos presiden- tes. Não acho que o esteja injuriando. No caso. o injuriado sou eu. que o julgava um bom re- presentante da minha geração, alguém que parecia ter o diagnóstico certo do que estava errado no Brasil, e vi se aliar ao errado para chegar ao go\ erno e governar. E ainda fazer o elogio do errado. Estratégia eleitoral é uma coisa. Adotar as prioridades e os métodos dos outros no governo, contrariando sua própria biografia e o programa do seu partido, c ou- tra. Se era para sermos governados pelo PFL seria melhor ter o ACM na Presidência. As- sim, seríamos poupados, pelo menos, da de- cepção. Mas não acho que esteja sendo um crí- tico feroz. não. Talvez a critica chame a aten- ção pelo contraste com o oba-oba generaliza- do da grande imprensa, mas no caso o oba- oba é que me parece desproporcional.

Em quem o sr. votou para presidente? Verissimo - Votei no Lula nas duas últimas

eleições, não por qualquer grande entusiasmo com o homem, mas porque nos dois casos es- tava xotando contra a mesma coisa, contra a frente que se formou para barrá-lo. contra o conluio. Gosto da palavra conluio. É menos sombria do que "conspiração", mas descreve bem a aliança de interesses que nos governa e que só permite as mudanças que não mudem o essencial. ■ ■

Quais eram suas expectativas? Em que FHC está decepcionado? Verissimo - Nem digo o Fernando Henrique, mas. ouvindo as pregações do PSDB. alguém imaginaria que seria essa sua agenda de re- formas mais urgentes'.' Os atos de um governo novo lambem são simbólicos, também são semafóricos. E esse governo entrou fazendo sinais para Washington e Nova York. sem nem um abano para os de casa e suas emergências. Ninguém discute que se deva abrir a econo- mia, mas a navegação de cabotagem não era exatamente uma emergência nacional. E não estão abrindo a economia, estão arrombando. A primeira preocupação do novo governo foi apresentar suas credenciais neoliberais. à custa do bom senso e da sua própria coerência.

De onde veio a idéia de suspeitar que FHC seja um impostor? Verissimo - Eu levantei a hipótese de que esse presidente seja um impostor. Quem nos asse- gura que o verdadeiro Fernando Henrique, o que escrevia e dizia todas aquelas coisas, não esteja neste momento amarrado e amordaça- do em algum porão enquanto seu duble entre- ga a nação aos tmstes internacionais? A dona Ruth não pode denunciar a trama porque a vida dele está em jogo. Acho que a hipótese deve ser investigada. Se o verdadeiro FHC tem uma cicalriz de apendicite. por exemplo, na próxima entrevista coletiva a imprensa tem a obrigação moral de pedir ao presidente: "Mos- tra! Mostra!"

O sr. acha que o Brasil deu certo? Verissimo - Não sei bem o que significa "dar certo". Depende dos critérios de cada um. Se o critério for a lotação dos vôos charter para Cancun. o Brasil está muito próximo de dar certo. Se o critério for a distribuição de renda, por exemplo, acho que estamos cada vez mais longe. A mesma coisa vale para o resto do mundo e para julgar o neoliberalismo triun- fante. Não estou sendo sarcástico. Você pode concluir que a exclusão social é inevitável e

não ser monstro de insensibilidade. É tudo muito subjetivo. Meu critério não é o da lota- ção dos vôos charter

FHC declarou recentemente que a esquer- da é burra. O sr. concorda com o presiden- te? Verissimo - Eu concordo que a esquerda é bur- ra. Burra e incompetente Nunca teve o poder no Brasil, salvo na breve ilusão com Jango. e mesmo assim consegue levar a culpa pelos males que a direita vive dizendo que vai des- fazer. Há anos que a direita em seus vários disfarces se elege ou toma o poder para corri- gir o que ela mesmo fez. numa pantomima em que a esquerda só entra para dizer algu- mas boas frases e apanhar no fim. A direita tem a inteligência do camaleão, da simulação, enquanto a esquerda burra, além de tudo. tem que carregar sua coerência nas costas. E quan- do a gente pensa que apareceu uma esquerda v iável e inteligente, vai ver é outro disfarce da direita.

O sr. não tem receio de ser visto como mais um "petrossauro" da esquerda, alguém pre- so a conceitos ultrapassados? Verissimo - Não acho a comparação com dinossauros ruim. Foram grandes criaturas. Já os bichos que se adaptam a tudo. que estão ai desde o começo do mundo e sobreviv crào ale o fim. todos sabem quais são: as baratas, os ratos...

Sua obra tem a marca do humor sutil. Mas, ao falar do presidente, chamando-o de Éfe Agá, o sr. parece ter abandonado a sutile- za. Não teme perder o ofício de humorista e virar um articulista seríssimo, quase um so- ciólogo? Verissimo - Não penso muito nisso. No senti- do de pensar "hoje v ou ser sério" e botar gra- vata para escrever ou decidir se vou ser sutil ou não. Escrevo condicionado, claro, pelos humores do momento e pela intenção do tex- to, mas não é uma coisa deliberada, medida.

O sr. acha que os escritores de humor so- frem seria concorrência da realidade com os tipos que aparecem na política, na eco- nomia e nas colunas sociais? Quem são os mais risíveis? Verissimo - O pior não é o humorismo incons- ciente, é que as pessoas sabem que são cômi- cas e vivem de seu próprio exagero e a faturar com o tipo O Ilamar Franco, por exemplo, já estav a desempenhando o papel de Itamar. Des- confio que havia uma secreta intenção de irreverência, de gozar com a indignação dos outros, na construção daquela suntuosa sede do Superior Tribunal de Justiça em Brasília. Nomear um ex-membro da UDR para dirigir o Incn) só pode ser uma piada intencional. Se eu tivesse inventado aquela fala do Francisco WeíTorl elogiando a sensibilidade social do PFL. iam dizer que era uma sátira grosseira. Fica difícil parodiar o que já é uma autoparódia.

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Jornal Cambota 9

FESTA REGIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS

Denise Engeler, de Salto do Lontra, Miss eleita na festa

No dia 9 de julho, mais de 1200 pes- soas se reuniram no Seminário São José em Francisco Beltrão, onde aconteceu a pri- meira grande Festa Regional dos Trabalha- dores Rurais, organizada pelos 3? Sindi- catos de Trabalhadores Rurais que compõe a Micro Região Sindical do Sudoeste.

O evento, uma antecipação das co-

memorações do Dia do Colono (25 de ju- lho), foi aberto com uma celebração e pros- seguiu durante todo o dia com atividades como o Campeonato Intermunicipal de Fu- tebol Suiço nas categorias feminino (com vitória de Dois Vizinhos) e masculino (com vitória de Coronel Vivida), um almoço co- letivo, cabo de guerra e, à tarde, com duas atrações especiais: o desfile de 18 candidatas ao título de Garota Rural do Su- doeste e o sorteio de uma rifa valendo uma moto e dois escortes zero km.

Como primeiro evento do gênero, a escolha da Garota Rural causou grande ex- pectativa e foi um sucesso. As candidatas, não acostumadas a este tipo de concurso, se sairam muito bem. apesar de alguns exa- geros nos trajes que não eram nada rurais e fizeram do evento algo próximo a um desfile de alta costu- ra. Claro que este ca- pricho apenas fez au- mentar a beleza do desfile, apesar dos critérios de avaliação prioriza-rem simpa- tia, charme, desen- voltura, inteligência e consciência critica da situação econômica e organizativa da atual

realidade da pequena agricultura. Por fim, a grande vencedora do concurso e ganha- dora do título de primeira Garota Rural do Sudoeste foi Denise Engeler. candidata do STR de Salto do Lontra. O sorteio da rifa, apesar de um pouco demorado, acabou pre- miando três ausentes da festa, na ordem: Duzolína Compessa, de Planalto, com a moto, a rifa de n0 83229; Jaime Lazarotto, de Santo Antônio, com um escorte, rifa de n0 07567; e Darli Furlaneto, de Realeza, com outro escorte, rifa de n0 58068. A ver- ba arrecadada pela venda das rifas e pela festa sustentarão as'atividades de 1995 da Micro Região Sindical, principalmente na área de formação c nos projetos das sub- comissões de mulheres e jovens, além de possibilitarem o trabalho orgânico dos 33 STRs.

Nona Duzolina ganhou a moto no dia de seu aniversário ■ 73 anos

CIAPA abre "mercadinho"

A CIAPA - Central Intermunicipal de Associações

de Pequenos Agricultores da região de Francisco Beltrão - está iniciando um trabalho na área da comercialização

de produtos alimentícios e agrícolas de qualidade superior

e a preços até 50% mais baixos do que os de mercado.

Na área da alimentação e saúde, a CIAPA vem tra- balhando com queijos, mel, erva-mate natural e remédios homeopáticos naturais, e na área agrícola oferece desde sementes (pastagem de inverno: aveia, avica, azevém e nabo forrageiro. Adubação verde de verão: mucuna, den-

te-de-burro, feijão-de-porco, e outros) até húmus, apare- lhos elétricos para cerca (com garantia de um ano), sal

mineral para gado, suplementos para suínos (nutris, suiplus e supra da Alisul) e isca para formigas da Mirex. Além

disso, está solicitando sementes de milho variedade lapar 26, 50, 51 e 52 e feijão preto.

Segundo João Bednarski, coordenador da CIAPA, a experiência de comercialização da Central visa, de um

lado, oferecer um escoamento alternativo à produção agrí-

cola dos pequenos agricultores, e, de outro lado, oferecer-

lhes produtos essenciais a preços mais acessíveis. A sede

da CIAPA fica no STR de Beltrão, fone (046) 523-1387.

Mulheres discutem um neãócío da China

De 15 a 18 de junho, realizou-se o Congresso Nacional das Mulheres Brasileiras rumo a Beijing. no Rio de Janeiro, para dis- cutir a realidade, os problemas, as ações e as reivindicações que serão levadas para a Conferência Internacional das Mulheres (a se realizar em setembro) articulado pela ONU para avaliar e defi- nir novas linhas para a questão feminina no mundo. No Rio, as mulheres brasileiras trabalharam a realidade nacional referente a questões gerais (saúde, previdência, direitos, educação) e aos mo- vimentos de mulheres. Segundo Margarete Preleper. uma das de- legadas do movimento de mulheres rurais do Sudoeste, as discus- sões foram um pouco difíceis por causa das diferentes concep- ções e das diferentes realidades das delegadas presentes. As urba- nas, avaliou Margarete, em sua grande maioria eram profissio- nais liberais (advogadas, psicólogas, políticas, etc.) sem proble- mas de desempregom descriminação e com posturas muito femi- nistas e teóricas, o que dificultou o seu entendimento dos proble- mas rurais (a delegação rural era muito pequena). O embate se deu também na discussão de políticas públicas, quando as rurais defenderam a pressão e a intervenção junto ao poder público e as urbanas avaliaram que isto não diz respeito às lutas das mulheres. As mulheres rurais do Paraná provavelmente mandarão duas re- presentantes para a Conferência Internacional, que acontecerá em Beijing. capital da China.

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10 Jornal Camboia

PERFIL: quem são e como vivem as mulheres de luta (parte 1)

Já se foi o tempo em que mulher de verdade era aquela que achava bonito pas- sar fome ao lado de seu homem, ou que fa- zia da limpeza do assoalho, do pudim para a família e do lavar meias e cuecas dos ma- ridos seu mais alto objetivo de \ ida. Não que as mulheres de hoje se descuidem do amor e do companheirismo, da família ou dos afa- zeres de casa. Mas hoje sonham mais alto, querem mais. abraçam o mundo com cora- gem. Em quase todos os campos e áreas a mulher se faz presente e constrõe o desen- volvimento. Mas isso. no fundo, não é nem uma grande novidade nem mais um grande mérito. Ou será que algumas atividades de algumas mulheres são realmente especiais?

O universo feminino é muito amplo e complexo, mas um tipo de mulher, mu- lheres agricultoras do Sudoeste, bem próxi- mas a nós, levam uma vida e fazem um tra- balho interessante: a militância nas organi- zações sociais. Para quem acha que não é nada demais a jovem mulher enfrentar a co- munidade e os pais para se preocupar com os rumos sociais, políticos, econômicos e- espirituais da realidade rural (ao invés de costurar seu enchoval). e, mais tarde, lar- gar a propriedade, a casa, os filhos e o ma- rido para passar dias ou semanas longe, em ônibus, em locais de encontros ou reuniões, para quem acha que isso não tem nada de mais, o Cambota se meteu na vida de algu- mas dessas mulheres para saber como elas resolvem suas cabeças, seus sentimentos, seus problemas domésticos e financeiros.

Zélide Possamaí, de Francisco Bel- trão, por exemplo, é uma das duas únicas mulheres na presidência de um STR no Su- doeste. Desde menina, conta Zélide, sentia uma fome, uma necessidade de atuar no meio social, e o primeiro canal que encon- trou foi o trabalho junto à Igreja. Mas en- controu, também, resistência por parte do pai. porque onde já se viu uma moça ficar perambulando por aí em encontros e reuni- ões. Foi também por causa da atuação como liderança do grupo de jovens e ministra da eucaristia que Zélide perdeu um namorado de dois anos. "Ele não quis entender, aca- bou". Depois ela conheceu o atual marido.

Zélide Possamaí e família

Ari Possamaí. e então começou uma bonita história de companheirismo e compreensão, eles começaram a acompanhar o trabalho do STR de Beltrão. Logo, Zélide se destacou no trabalho com as mulheres, assumiu a co- ordenação do movimento, até ser eleita pre- sidente do sindicato. A família teve que se adaptar à vida da mãe. Quando os dois fi- lhos do casal ainda eram pequenos, o pai assumiu a casa e as fraldas enquanto a mãe encabeçava lutas pelo interior de Beltrão. Hoje, os meninos não tem a menor dificuldade de cozinhar, fazer faxi- na ou qualquer outra ta- refa considerada "do lar". Mas nem tudo é um mar de rosas.

Foi no ano passa- do que. de repente, Ari começou a sentir uma certa tristeza. Seu lema sempre foi apoiar incon- dicionalmente o trabalho da companheira, o que significava assumir sozi- nho todo o trabalho na roça, tratar os animais e cuidar da casa. Mas. aos poucos, o acordar sozi- nho, trabalhar o dia in- teiro sozinho e deitar sozinho começou a ma- chucar. "Começou a me dar uma tristeza enorme, eu não conseguia mais trabalhar direito, a soli- dão parece que me espremia", conta Ari.

Não demorou muito, e foi diagnosticada a depressão. Para Zélide, de repente se colocou um impasse: certamente sua participação nas organizações e lutas dos agricultores já se transformara em compro- misso e responsabilidade. Sua posição de liderança lhe impunha obrigações das quais ela não podia mais se esquivar-se. Por outro lado, porém, a depressão do companheiro, decorrente de sua ausência junto à família, colocou-a frente a outro questionamento: o primeiro compromisso assumido foi com o

companheiro, com a família. Será que este projeto de vida estava sendo prejudicado pelo outro, pela luta social?

Junto com os companheiros e ami- gos • do sindicato, Zélide e Ari consegui- ram reorganizar a vida. Durante o perío- do agudo da depres- são, Ari recebeu todo o apoio dos compa- nheiros, que lhe fazi-

am companhia quando os compromissos de Zélide a afastavam de casa. Hoje, Zélide redimensionou seu trabalho, dividindo o tempo entre a família e suas obrigações de liderança. A propriedade da família vem prosperando, inclusive em função da renda referente ao trabalho de presidente do STR desempenhado por Zélide. "Tenho duas grandes paixões na vida: a família e a luta por uma sociedade mais justa. Não conse- guiria viver sem uma delas", avalia ela.

Outra história de \ ida nas lutas pode- ser contada por Irondina Schmidt, 27 anos, que hoje mora na cidade de Francisco Bel- trão. Filha de agricultores, Irondina tam- bém começou cedo a trabalhar com o movi- mento de jovens da Igreja. Logo. foi cha- mada a participar da escola de formação sin-

dical para jovens no STR de Beltrão (do qual. hoje, é diretora). e acabou assumindo o trabalho do setor junto a micro-região sindical do Sudoeste, junto com a secretaria da organi- zação.

Sua vida mudou, no entanto, quando um namoro acabou em uma gravidez não planejada e não assumida pelo companheiro.

Com o movi- mento da pequena Bia. Irondina se viu diante

Irondina Schmidt e família

dades

do desafio de criar so- zinha uma filha e dar conta de uma demanda considerável de traba- lho junto ao movimen- to sindical e a outras frentes de luta nas quais assumira responsabili-

Como militante do Partido dos Tra- balhadores, Irondina tinha sido indicada em 92 a concorrer a uma vaga de vereadora. Em 94, na coordenação da campanha do com- panheiro Arni Hall (candidato a deputado federal pelo PT), a nova mãe não abando- nou o barco; com alguns meses de idade, a pequena Bia era presença constante em reu- niões e comícios. O pai, que até hoje não conheceu a filha, foi substituído por amigos e companheiras que muitas vezes fazem as vezes da "babá" quando o trabalho da mãe não permite a presença da filha. A vida de Irondina é a sua luta. Sem condições de vol- tar a roça. seu sustento sai do trabalho de secretaria, que hoje acontece no Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Beltrão.

As amigas e companheiras de luta, Zélide e Irondina. tem histórias de vida di- ferentes, .mas sonhos muito parecidos. São mulheres especiais. Mulheres de verdade, que assumem a militância e a liderança en- quanto mulheres. No próximo número, o cambota tentará descobrir como é o dia-a- dia do trabalho militante, como se dá a re- lação com os companheiros e como é vista pela sociedade a mulher que trocou o cro- chê pelas bandeiras de luta.

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Jornal Cambota I 1

Calendário Agrícola Astronômico Mês: agosto

Dia Órgão da Planta

01 Raiz 02 Raiz até as 15hse folha após as 16hs 03 Folha até as 2hs e raiz após as 6hs 04 Flor 05 Flor até as 2hs e folha após as 3hs 06 Folha 07 Folha até as 6hs e fruto após as 7hs

Dia Órgão da Planta

15 Folha até as I81is 16 Fruto 17 Fruto 18 Raiz 19 Raiz 20 Flor até as lOhs 21

Dia

29 30

Órgão da Planta

Raiz Raiz após as 8hs Raiz até a lhe flor após as 2hs

Dia Órgão da Planta

08 09 Fruto até as 7hs e após as 8hs 10 Raiz. 11 Raiz até as 4hs e flor após as 5hs 12 Flor 13 Folha 14 Folha

Dia Órgão da Planta

22 23 Fruto após as 6hs 24 Folha 25 Fruto 26 Fruto 27 Fruto até as I5hs e raiz após as 16hs 28 Raiz

Do dia 01 ao dia 04 - Lua descendente Do dia 05 ao dia 18 - Lua ascendente Do dia 19 ao dia 30 - Luz descendente

ANOTAÇÕES

Mês : setembro Dia Órgão da Planta

01 Flor ate as 8h e folha após as 9h 02 Folha 03 Folha até as 13h e fruto após as 14h 04 Fruto até as 11h 05 Fruto das llh as I5h e raiz após 16h 06 Rais 07 Raiz até as 14h e flor após as 15h

Dia

15 16 17 18 19 20 21

Dia

29 30

Órgão da Planta

Órgão da Planta

Folha até as 13h Folha das 8h as I8h e fruto após I9h

Dia

08 09 10 II 12 13 14

Órgão da Planta

Flor

Raiz até as 14h e fruto após as 15h 22 Fruto até as I4h e raiz das 5h as 16h Flor Flor Flor até as Llh e folha após as 14h 26 Folha Folha até as 6h e fruto após as 7h

Fruto até as I Ih e folha após as 12h Fruto até as lOh e folha após a Ih Folha Folha até a lhe fruto após as 7h Fruto Fruto até I4h e raiz após as I5h

Órgão da Planta

Fruto Fruto Raiz Raiz Raiz até as 8h e após as 12h Raiz até as 7h e flor após as 8h Flor até as 14h e folha após as 15h

Do dia 01 ao dia 04 - Lua descendente Do dia 05 ao dia 18 - Lua ascendente Do dia 19 ao dia 30 - Luz descendente

ANOTAÇÕES

Receita

ABACAXI EM CALDA

CALDA: misture 1kg de açúcar a 2 litros de água (calda rala), 1,5 litros de água (calda média) ou 1 litro de água (calda gros- •sa), ferva e coe em um pano branco de algodão fervido em água.

PREPARAÇÃO: Escolha abacaxis frescos, uniformemente maduros e em bom

estado. Descasque-os (das cascas podemos fazer suco, geléía ou licor) tire os olhos e lave-os bem. Elimine as extremidades, corte em fatias de mais ou menos um dedo e, se preferir, remova os centros.

Cozinhe por aproximadamente 10 minutos na calda, retire o abacaxi e arrume-o dentro de vidros estereiizados em água fer- vente e ainda quentes. Despeje a calda fervente enchendo o vi- dro até 1 cm da borda, tome cuidado para cobrir totalmente a fruta. Feche os vidros e pasteurize-os em banho-maria.

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12 Jornal Cambota

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

Edital de Convocação para a Assembléia Geral de Cons-

tituição da Cooperativa de Crédito dos Trabalhadores Rurais

filiados à ASSESOAR (Associação de Estudos, Orientação e As-

sistência Rural), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Francisco

Beltrão, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marmeleiro, Sin-

dicato dos Trabalhadores Rurais de Renascença e CIAPA (Cen-

tral Intermunicipal de Associação de Pequenos Agricultores).

Na condição de coordenador do grupo indicado para

promover a- constituição da Cooperativa de Crédito dos Traba-

lhadores Rurais, filiados à ASSESOAR (Associação de Estudos,

Orientação e Assistência Rural), Sindicato dos Trabalhadores

Rurais de Francisco Beltrão, Sindicato dos Trabalhadores Rurais

de Marmeleiro, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Renas-

cença e CIAPA (Central Intermunicipal de Associação dos Pe-

quenos Agricultores), convocamos aqueles associados para a

Assembléia Geral de Constituição a ser realizada na Casa de

Formação de Lideranças de Marmeleiro, sito à Rua 2 - Centro -

Marmeleiro/PR, no dia 09 de agosto de 1995 às 9 (nove) horas

em única convocação para tratar da seguinte ordem do dia:

Io Discutir a proposta de Estatuto Social;

2° Acolher os pedidos para associar-se com:

a - subscrição de quotas-partes

b - integralização de 50% das quotas-partes subscritas

3° Constituição da Cooperativa

4° Eleição do Conselho de Administração para o triênio 95/97

5o Eleição do Conselho Fiscal para o exercício de 1995

6o Assuntos Gerais de interesse da nova Sociedade.

• O quorum mínimo para a Assembléia é de 20 (vinte)

Trabalhadores Rurais que venham a subscrever e integralizar quo-

tas-partes.

Marmeleiro, 27 de [unho de 1995 Comissão Pró-Constituição da Cooperativa

A mulher chega ao céu com saudade do marido, que já está lá há alguns meses, e é recepcionada por São Pedro. - Seja bem-vinda, senhora... - Quero ver meu marido! - Qual o nome dele? -Zé! - Vai ser difícil encontrá-lo. nós temos mais de 10 milhões de homens com esse nome. Dê mais detalhes... - Ele era um homem muito bom. Antes de morrer, me pediu pra não traí- lo. E disse que cada vez que eu o traísse lá na terra, ele ia dar uma rodadinha aqui nò céu. São Pedro vira-se imediatamente para um anjo: - Arcanjo, vá buscar o Zé Pião e transfira essa senhora para o inferno!!!

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O garotinho de 3 anos sai do banheiro em direção à cozinha: - Mamãe! Sabonete fala e canta? - Não. meu filho! Por quê? - Então eu tomei banho com o seu radinho de pilha...

Joiro Zotta Pres. STR Renascença

Ademir L. Dallazem Pres. ASSESOAR

Gilmar Garbin Pres. STR Marmeleiro

João Bednarski Pres. CIAPA

Zélide Possamai Pres. STR Fco. Beltrão

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EDITAL DE CONVOCAÇÃO

O Presidente da COOPERATIVA DE CRÉDITO COM INTERAÇÃO SOLIDÁRIA DE DOIS VIZINHOS LTDA. - CRESOL, no uso de suas atribuições, convoca todos os 27 (vinte e sete) sócios fundadores, para uma Assembléia Geral Extraordinária de ratificação, a ser realizada no dia 12 de agosto de 1995. na sede do Sindicato dos Trabalhadores Ru- rais de Dois Vizinhos, sito à Rura Zacarias de Vasconcelos. 397 - Dois Vizinhos/Paraná.

A instalação da Assembléia será às 9:00 horas com a presença mínima de 2/3 (dois terços) do número de associa- dos em condições de votar, em primeira convocação; uma hora após com metade mais um do número de associados em con- dições de votar, em segunda convocação; uma hora após a segunda convocação, com no mínimo de 1/3 (um terço), res- peitando o mínimo de 10 (dez) associados em condições de votar, na terceira e última convocação, para tratar da seguin- te ordem do dia:

1. Ratificação de atos praticados na Assembléia Geral de Constituição realizada na data de 24 de junho de 1995. conforme recomendações do Banco Central do Brasil em des- pacho datado de 19 de julho de 1995;

2. Alterações Estatutárias, conforme recomendações do Banco Central do Brasil em despacho datado de 19 de julho de 1995.

Dois Vizinhos. 27 de julho de 1995.

Aores da Silva - Presidente

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