169

IV CILH Livro de Resumos - uni-bamberg.de · Conceitos de autor e edição genética ... Sintaxe, variação e ... Os domínios científicos nucleares deste congresso são a linguística

  • Upload
    buitu

  • View
    230

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

ÍNDICE

O IV Congresso Internacional de Linguística Histórica .............................................................................. 3Conferências plenárias ........................................................................................................................................ 7Crítica textual, edição de texto, humanidades digitais ............................................................................... 13

Sessão 1. Problemas de transmissão ............................................................................................................. 13Sessão 2. Problemas dos textos modernos (sécs. XVIII-1921) ................................................................... 16Sessão 3. Escrita e filologia ............................................................................................................................. 19Sessão 4. A língua no processo de transmissão textual ............................................................................. 20Sessão 5. Questões de doutrina e teoria em crítica textual ........................................................................ 24Sessão 6. Conceitos de autor e edição genética ........................................................................................... 26Sessão 7A. Edição e meios digitais ................................................................................................................ 28Sessão 7B. Edição de cancioneiros ................................................................................................................ 32

Mudança linguística, linguística teórica ........................................................................................................ 36Sessão 1A. Português medieval ..................................................................................................................... 36Sessão 2A. Português clássico ........................................................................................................................ 40Sessão 3A. Diacronia do português .............................................................................................................. 44Sessão 4A. Português brasileiro I .................................................................................................................. 48Sessão 5A. Português brasileiro II ................................................................................................................. 53Sessão 6A. Linguística histórica e corpora ................................................................................................... 57Sessão 1B. Gramaticalização I ........................................................................................................................ 61Sessão 2B. Gramaticalização II ...................................................................................................................... 65Sessão 3B. Fonologia histórica ....................................................................................................................... 68Sessão 4B. Morfologia histórica ..................................................................................................................... 71Sessão 5B. Línguas em contacto .................................................................................................................... 74Sessão 6B. Sintaxe, Semântica ........................................................................................................................ 78Sessão 7. Fonologia .......................................................................................................................................... 82

Léxico, etimologia .............................................................................................................................................. 87Sessão 1. Periodização do léxico .................................................................................................................... 87Sessão 2. Morfologia e etimologia ................................................................................................................. 91Sessão 3. Terminologia ................................................................................................................................... 95Sessão 4. Onomástica I .................................................................................................................................... 98Sessão 5. Onomástica II ................................................................................................................................ 101Sessão 6. Descrição lexical e técnica lexicográfica .................................................................................... 104

Sociolinguística, dialetologia ........................................................................................................................ 107Sessão 1. Variação e mudança no ocidente da Península Ibérica ........................................................... 107Sessão 2. Variação fonético-fonológica ....................................................................................................... 110Sessão 3. Sintaxe, variação e mudança ....................................................................................................... 112Sessão 4. Variação, contextos e recursos .................................................................................................... 115Sessão 5. Variação morfofonológica e morfossintática ............................................................................ 119Sessão 6. Variação lexical no português brasileiro ................................................................................... 122

História social, história da escrita, tradições discursivas, periodização ............................................... 125Sessão 1. Formação e periodização do PB .................................................................................................. 125Sessão 2. Pragmática e discurso na história do PB ................................................................................... 128Sessão 3. A filologia e as fontes do PB ........................................................................................................ 130Sessão 4. Contacto com a variedade standard em PB .............................................................................. 134Sessão 5. Registo escrito e sociedade .......................................................................................................... 137

Historiografia linguística, pedagogia, tradução ......................................................................................... 141Sessão 1. Ensino de línguas .......................................................................................................................... 141Sessão 2. Historiografia linguística ............................................................................................................. 144Sessão 3. Património linguístico .................................................................................................................. 148

Música, cultura, literatura .............................................................................................................................. 150Sessão 1. Música: prosódia, léxico e linguística cognitiva ....................................................................... 150Sessão 2. Literatura do final da Idade Média ao século XX .................................................................... 153

Pósteres .............................................................................................................................................................. 157

3

O IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

OrganizadopeloCentrodeLinguísticadaUniversidadedeLisboa,oIVºCILHdácontinuidadeà série iniciada em Salvador (Rosae – I CILH, 2009) e seguida pelas edições de São Paulo(Castilho – II CILH, 2012) e Santiago de Compostela (Gallaecia – III CILH, 2015), quehomenagearamRosaVirgíniaMattoseSilva,AtalibaTeixeiradeCastilho,RamónLorenzoeAntónSantamarina.

Os domínios científicos nucleares deste congresso são a linguística histórica e a críticatextual,masoutrasáreasdosaberquedialogamcomalinguísticahistóricaouacríticatextualtêmigualmentelugar.

O HOMENAGEADO

IvoCastronasceuemLisboaem1945,estudouemLisboaeemParis,iniciouasuacarreiradedocentedaFaculdadedeLetrasdaUniversidadedeLisboaem 1969,percorreubibliotecas euniversidadesdaEuropaedoBrasil,comopesquisador,professorouconferencistaconvidado.Mas a sua carreira de docente desenvolveu-se sempre na Universidade de Lisboa, onde foiprofessor catedrático, diretor do Departamento de Linguística, diretor do Centro deLinguística e do seu grupo de Filologia, diretor daCátedra de EstudosGalegos e diretor daÁreadeCiênciasdaLinguagem.Em2016,trêsanosapósasuaaposentação,foi-lheatribuídopeloReitordaUniversidadedeLisboao títulodeprofessoremérito, emreconhecimentodoseuperfilinvulgardehumanistaedainfluênciadoseumagistérioemgeraçõesdeestudantesqueorientouemmestradosedoutoramentos.

Responsável pela edição crítica de autores como Fernando Pessoa e Camilo CasteloBranco, editor de textos medievais e barrocos, crítico, conhecedor notável e divulgador detextosportuguesesdediferentesépocasegéneros, IvoCastroestádesdehámuitonocentrodainvestigaçãofilológicaemPortugal.Especialistaemhistóriadalínguaportuguesaecríticatextual, em articulação feliz com a literatura, a cultura e a história, é autor de umaextensíssima,influenteevariadaproduçãocientíficaemestredeinvestigadoresdeorientaçõesdiversas, dentro e fora de Portugal. Impulsionador nato do diálogo entre investigadores dediferentesgeraçõeseáreasdisciplinares,continua,comasuaintervençãooriginal,ainstigaraconstrução de pontes e o trabalho colaborativo entre os estudiosos da língua portuguesaespalhadospelomundo.

Da sua densa produção bibliográfica, destacam-se as obras:Introdução à História doPortuguês(2006), com traduções italiana (2006) e espanhola (2013);História da LínguaPortuguesaemlinha(2001);SobreadatadaintroduçãonapenínsulaIbéricadocicloarturiano

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

4

daPost-Vulgata(1983);Estratégiaetácticadatranscrição(1986;comMariaAnaRamos);Surlebilinguisme littéraire castillan-portugais (2002); A primitiva produção escrita em português(2004); ‘AsTardesdeVerão’deFr. JerónimoBaía (1971);Livrode JosédeArimateia: estudoeediçãodocod.ANTT643(1984;tesededoutoramento);FernandoPessoa,OManuscritode“OGuardador de Rebanhos”(1986);Editar Pessoa(1990), 2.ª edição revista e ampliada em 2013;FernandoPessoa,PoemasdeFernandoPessoa. 1921-1930(2001)ePoemasdeFernandoPessoa.1931-1933(2004);CamiloCasteloBranco,AmordePerdição(2007,2012);HugoSchuchardt,JoséLeite de Vasconcellos, Correspondência(2015; com Enrique Rodrigues-Moura); e a ediçãodigitaldeODicionáriodeRegionalismoseArcaísmosdeJoséLeitedeVasconcellos(emfasedefinalização).

PRESIDENTES DE HONRA RamónLorenzoInêsDuarte

COMISSÃO ORGANIZADORA AnaMariaMartinsAnabelaGonçalvesCristinaSobralErnestinaCarrilhoEsperançaCardeiraFernandoBrissosJoãoDionísioJoãoPauloSilvestreRitaMarquilhasSandraPereiraSilvanaAbaladaTiagoCastro

SECRETARIADO CarlotaPimentaClaraPintoElenaLombardoFernandoBrissosRaïssaGillierSandraAntunesSandraPereiraSilvanaAbaladaVanessaKöbkeLópez

HOMENAGEM A IVO CASTRO

5

COMISSÃO CIENTÍFICA AlanBaxter(UniversidadedeSaintJoseph,Macau)AnaBoullónAgrelo(UniversidadedeSantiagodeCompostela)AnaMariaMartins(UniversidadedeLisboa)AnaPaulaBanza(UniversidadedeÉvora)AnabelaGonçalves(UniversidadedeLisboa)AnabelaLealdeBarros(UniversidadedoMinho)ÂngelaCorreia(UniversidadedeLisboa)AtalibaTeixeiradeCastilho(UniversidadedeSãoPaulo)BernardodeSáNogueira(UniversidadedeLisboa)CarlosAlbertoFaraco(UniversidadeFederaldoParaná)CharlotteGalves(UniversidadeEstadualdeCampinas)ClaraBarros(UniversidadedoPorto)ClarindadeAzevedoMaia(UniversidadedeCoimbra)CristinaSobral(UniversidadedeLisboa)DanteLucchesi(UniversidadeFederalFluminense)DieterKremer(UniversidadedeTrier)ElsaGonçalves(UniversidadedeLisboa)EnriqueRodrigues-Moura(UniversidadedeBamberg)ErnestinaCarrilho(UniversidadedeLisboa)ErnestoGonzálezSeoane(UniversidadedeSantiagodeCompostela)EsperançaCardeira(UniversidadedeLisboa)FilomenaGonçalves(UniversidadedeÉvora)GabrielRei-Doval(UniversidadedeWisconsin–Milwaukee)GiuliaLanciani(UniversidadedeRomaTre)GiuseppeTavani(UniversidadedeRoma–Sapienza)HenriqueMonteagudoRomero(UniversidadedeSantiagodeCompostela)JoãoDionísio(UniversidadedeLisboa)JoãoPauloSilvestre(King’sCollege,Londres)JoãoSaramago(UniversidadedeLisboa)JohannesKabatek(UniversidadedeZurique)JoséPintodeLima(UniversidadedeLisboa)LuizFagundesDuarte(UniversidadeNovadeLisboa)ManoelMourivaldoSantiago(UniversidadedeSãoPaulo)MariaAnaRamos(UniversidadedeZurique)MariaAntóniaMota(UniversidadedeLisboa)MariaAparecidaTorresMorais(UniversidadedeSãoPaulo)MariaTeresaBrocardo(UniversidadeNovadeLisboa)RamónMariñoPaz(UniversidadedeSantiagodeCompostela)RitaMarquilhas(UniversidadedeLisboa)RosarioÁlvarezBlanco(UniversidadedeSantiagodeCompostela)SílviaBrandão(UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro)SílvioToledoNeto(UniversidadedeSãoPaulo)StephenParkinson(UniversidadedeOxford)TâniaLobo(UniversidadeFederaldaBahia)TelmoVerdelho(UniversidadedeAveiro)XavierVarelaBarreiro(UniversidadedeSantiagodeCompostela)YaraFrateschiVieira(UniversidadeEstadualdeCampinas)

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

6

INSTITUIÇÕES FCT–FundaçãoparaaCiênciaeaTecnologia(financiamento)FLUL–FaculdadedeLetrasdaUniversidadedeLisboa(infraestruturas)CLUL–CentrodeLinguísticadaUniversidadedeLisboa(organização)

7

CONFERÊNCIAS PLENÁRIAS

A PROPÓSITO DE UMA PSEUDO "CANTIGA DE AMIGO" PROVENÇAL: PROBLEMAS LINGUÍSTICOS, EXEGÉTICOS E ATRIBUTIVOS

GiuseppeTavaniUniversidadedeRoma-SapienzaOproblemadostextostardiosimpropriamenteincorporadosnoscancioneirosmedievais,eatribuídossubrepticiamenteatrovadoresilustresporamanuensesignaros,apresenta-senãoapenasnatradiçãodalíricagalegaeportuguesa–naqualsãonumerosososexemplosdepoesiasdecunhoclaramentetrecentistaequatrocentistaincluídasnosdoiscancioneirosdeAngeloColoccinassecções,porexemplo,deDomDinizoudeJuiãoBolseiro–mastambémemalgunsdoscancioneirosprovençais,ondeporvezespodesermenosfácilreconheceroabusivismodessestextosespúrios.

É o caso da composiçãoAltas undas que venez suz lamar, transcrita unicamente numcancioneiro catalão, conservado na Biblioteca de Catalunya (Sg), onde várias outrascomposições parecem de discutível autenticidade, apesar das rubricas que as atribuem atrovadoresfamosos.

Estapeça foiclassificada,hámaisdeumséculo,como«cantigadeamigo»eo trovadorsob o nome do qual aparece no cancioneiro, Raimbaut de Vaqueiras, consideradomais oumenoscomoo«inventor»dogénero.Naminhaconferênciaintentareidemonstrarnãoapenasa abusividade da denominação e da atribuição do texto, como também o seu carácter depatchworkdepéssimaqualidadeliterária.

Transcrevo o texto numa minha leitura, para oferecer aos ouvintes a possibilidade deseguirmaisfàcilmenteaexposiçãooral.

Haltasundasquevenezsuzlamar,quefailoventçayelaydemenar,demunamicsabetznovascomtarquilaipasset?Noloveiretornar!EtoiDeu,d'amor!adhora·mdonajoietadhoradolor!Aurasdulzasquivenezdeverslaiunmunamicdormesejorn'ejai,deldolzaleinunbeurem'aportai:labocaobre,pergrandesirquen'ai.EtoiDeu,d'amor!adhora·mdonajoieadhoradolor.Malamarfaivassald'estranpaiscarenplortornanesosiocesosris:januncudeimunamicmetraïs qu'eulidoneiçoqued'amormequis!EtoiDeu,d'amor!adhora·mdonajoietadhoradolor.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

8

I. Altas ondas que vindes sobre omar, que aqui e ali o vento faz agitar, sabeis dar-menotíciasdomeuamigo,quesefoiali?Nãoovejovoltar!

II.Aurasdocesquevindesdealiondeomeuamigodormeesojornaejaz,do[seu]docealentotrazei-meumtrago!Abocaabro,pelogrãodesejoquedeletenho!EohDeus,oamor!oradá-mejoieorador!

III.Malfazamarumvassalodeumpaísestrangeiro,poisemchoroacabamseusjogoseseuriso.Nuncapenseiqueomeuamigometraísse,poiseulhedeioquedoamormequis!EohDeus,oamor!oradá-mejoieorador!O ARTIFICIO DAS ETIMOLOXÍAS: ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA TOPONIMIA GALEGA

AnaBoullónAgreloUniversidadedeSantiagodeCompostelaO estudo do corpus da toponimiamaior de Galicia, a partir do seu nomenclátor moderno(máis de 40.000 lugares, freguesías e concellos, que supoñen case 17.000 formas distintas),permite facer unha clasificación dos seus elementos constitutivos. É tarefa que se podecomezar a emprender grazas ao aumento nos últimos anos do coñecemento científico datoponimiagalega,peroquecómpreafrontarconcautela,dadaaescuridade,ahomonimiaouadiscusión etimolóxica de moitas formas. O catálogo dos topónimos prerromanos, latinos exermánicos(osprincipaisestratos)deitaráluztaménnacronoloxía,aíndaquetendoencontaque as voces comúns se puideron habilitar como nomes de lugar en calquera momentohistórico.Paradeterminaropesorelativodecadaundosestratos,assúasprincipaisachegassemánticasedeseñarproxecciónscartográficas,servirémonosdoartificiodasetimoloxías.SINTAXE E DISCURSO NO PORTUGUÊS CLÁSSICO: O FENÔMENO V2

CharlotteGalvesUniversidadeEstadualdeCampinasO estudo de um corpus de 11 textos anotados do Corpus Tycho Brahe, escritos por autoresnascidos de 1502 a 1675, totalizando 485.767 palavras, mostra que a sintaxe do portuguêsclássico tem claras características que a aproximam das chamadas línguas V2. Taiscaracterísticas,computadaseobservadasnumuniversode7.574frases,são:-aaltafrequênciadaordemVerbo-Sujeitoemfrasesdeclarativasnãodependentes:50%dasorações(V2)e60%das oraçõesV1; - a alta freqüência das frases emque o verbo é precedidopor um sintagmaoutro que o sujeito: 70% das orações V2; - a possível interpretação dos sujeitos pospostoscomo informaçãodada enão como informaçãonova (focus informacional), quemostraqueesses sujeitos ocupam uma posição alta na estrutura oracional, e que consequentemente overbo tambémocupaumaposição alta; - a ocorrênciade fenômenos típicosdas línguasV2,como a ordem Verbo-Sujeito-Advérbio, ou Auxiliar-Sujeito-Verbo; - a ocorrência da ordemObjeto-Verbo-Sujeito, em que o objeto recebe interpretação de foco informacional. Essascaracterísticasdiferenciamasintaxedoportuguêsclássicodadoportuguêseuropeumoderno(Cavalcante et al. 2015, Galves e Gibrail 2017; Costa 2004, Costa e Martins 2011). NestacomunicaçãoargumentaremosquesãoimputáveisaumagramáticaemqueoverbosemoveparaonúcleoFin(Antonelli2011).Omovimentodeumoumaissintagmasparaaesquerdadoverbo depende da existência de traços discursivos associados a esses sintagmas, como emoutras línguasromânicasantigasenopróprioalemãoantigo(HinterholzlePetrova2010).Aperiferiaesquerdadoportuguêsclássicoativacategoriasdistintas.Umaéacategoriaassociada

9

aotraço«kontrast»(VallduvieVilkuna1998),noespecificadordaqualsãomovidososobjetosantepostosnãoretomadosporclíticos,alémdegrandepartedossujeitosantepostoseoutrossintagmascomoadvérbiose sintagmaspreposicionais.Outra,napartemaisaltadaperiferiaesquerda e com possível recursividade, é a categoria TOP. Tal proposta é empiricamentesuportadapelosfatosdecolocaçãodeclíticos.Palavras-chave:portuguêsclássico;sintaxeV2;periferiaesquerda;corpusTychoBrahe. Referências:ANTONELLI, A. (2011) Sintaxe de posição do verbo e mudança gramatical na história do portuguêseuropeu,PhDThesis,Unicamp.CAVALCANTE,S,C.Galves&M.C.PaixãodeSousa (2015)Topics, subjects andgrammatical change:fromClassicaltoModernEuropeanPortuguese,LaborHistorico1.2.97-107.COSTA,J.(2004)SubjectPositionsandInterfaces:ThecaseofEuropeanPortuguese.MoutondeGruyter.COSTA,J.&A.M.Martins(2011)OnFocusMovementinEuropeanPortuguese.Probus23:217-245.GALVES, C & A. Gibrail (2017). Subject inversion in transitive sentences from Classical to ModernEuropeanPortuguese:acorpus-basedstudy.InA.CardosoandA.M.Martins(eds.)WordOrderChange.OUP,toappear.HINTERHOLZL,R.&S.Petrova(2010)FromV1toV2inWestGermanic.Lingua120:315-328.VALLDUVÍ,E.&M.Vilkuna(1998)Onrhemeandcontrast.InP.CulicoverandL.McNally(eds.).Thelimitsofsyntax.AcademicPress.79-108.ESTEREOTIPOS E ICONIZACIÓN NAS REPRESENTACIÓNS DO PORTUGUÉS EN TEXTOS GALEGOS DA IDADE MODERNA

ErnestoGonzálezSeoaneUniversidadedeSantiagodeCompostelaNasliteraturaspeninsularesdosséculosXVIeXVIIéhabitualaintroducióndepersonaxesdeprocedencias diversas que (pretendidamente) falan na súa lingua de orixe ou ben nunhavariedade híbrida, un español ou portugués fortemente interferidos pola súa variedade deorixe.Esterecursoéparticularmentecomúnencertosxénerosdramáticos,comooentremés,ondeéexplotadoconfinalidadeeminentementecómica.Ospersonaxesquenelescomparecen(o galego, o portugués, o castelán, o biscaíño, o negro...) responden a unha caracterizaciónfortementeestereotipada,naquealinguadesempeñaunpapelcentral.

Como é ben sabido, non son moitos os textos escritos en galego ao longo da IdadeModerna.Aíndaasí,entreasmostrasqueseconservaronechegaronatanósfiguraunbrevetextodramáticode1671,queosseuseditoresmodernostitularonContendadoslabradoresdeCaldelas(outaménEntremésfamososobreapescanoríoMiño)equepresentaalgúnstrazossingularesquereforzanoseu interese.Trátaseduntextosendúbidaescritoporungalegoedesdeopuntodevistagalego,noqueconvivenunicamentepersonaxesgalegoseportugueses(oespañolestápresentesónasdidascalias),equefoicompostoeambientadonunterritoriodefronteiraenunmomentohistóricoespecialmentedelicado,sótresanosdespoisdasinaturadoTratadodeLisboa,queponfináGuerradaRestauraçãoequesupónarecuperacióndasúaindependenciaporpartedePortugal.

Esteconxuntodecircunstanciasconfírelleaestetextounintereseespecialparaoestudoda caracterización de galego e portugués como entidades diferenciadas dentro do espazogalego-portuguésmediantea selecciónde trazos lingüísticosque,por razóndasúasalienciaoudoseuvaloricónico,seconvertenenestereotípicos.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

10

VARIACIÓN LINGÜÍSTICA E TRADICIÓN MANUSCRITA DA LÍRICA TROBADORESCA: UNHA ACHEGA DESDE O GALEGO

HenriqueMonteagudoUniversidadedeSantiagodeCompostelaEn contributos anteriores achegámonos ao estudo da variación lingüística nos cancioneirostrobadorescos, centrando a nosa análise na distribución e frecuencia de determinadasvariantes(coyta/cuyta,coydar/cuydar,nullo/nulho,oer/ouver)ecomparandoasituaciónque presentan nos tres relatores principais, A e B / V. Constatamos que a aparición destasvariantesseconcentranassecciónsiniciaisdoscancioneiros(nomeadamente,deBeA),equea súa distribución, unida a outros datos e hipóteses de natureza scriptolingüística,codicolóxicaehistórico-literaria,fundamentalmentedebidosaAntónioResendedeOliveiraeMaria Ana Ramos, convida a unha lectura estratigráfica da súa presenza nos cancioneiros,relacionada coas etapas primitivas da constitución da tradiciónmanuscrita da lírica galego-portuguesa. O estudo das devanditas variantes conduciunos, por tanto, ás etapas primeirasdesta tradición e obrigounos a prestar unha atención especial ao ramo esquerdo desta,representadoporA.

Senosditostraballosfixamosonosofoconosectorinicial(eportanto,máisantigo)doscancioneiros,napresenteimosdirixiloaomáisrecente,oqueimplicaqueanosaatenciónsevai centrar case exclusivamente nos apógrafos italianos (B / V) –isto é, no ramo dereito datradición–coapoio, como testemuñosauxiliares,doPergamiñoVindel (N), edoFragmentoSharrer(T).Comezarmospreguntándonossenoprocesodeconstitucióndoramodereitodatradición (que desemboca en B / V, supostamente a través doLivro das Cantigasmandadocompilar polo Conde de Barcelos) se produciu algunha intervención ‘normalizadora’ dostextos recollidos. Dado que a resposta é indubitablemente positiva, verificaremos en queconsistiuesanormalización.Definidanasliñasxeraisa ‘norma’gráfica(ouscriptolingüística)quesubxaceaB/V,estudaremoscalessonasvariantesmáissignificativasqueseapartandetalnormaeanalizaradistribucióndedúasdelas,especialmentereveladoras.

Axeitodeconclusión,argumentaremosqueosresultadosdanosaanálisesoncompatiblescoaatribuciónaDonDenisdacompilacióndogrosodostextosrecollidosnoantecedentedeB/V(unhaespeciedeCompilaciónXeralI),epermitiráconxecturarcalestextoseautoresforonincorporados posteriormente ao cancioneiro compilado por iniciativa doConde de Barcelos(que podemos denominarCompilaciónXeral II). En definitiva, grazas á análise da variaciónlingüística,coidamospoderofrecerunsignificativoavanceparaocoñecementodoprocesodeconstitucióndatradiciónmanuscritadalíricagalego-portuguesa.PREPOSIÇÕES COMPLEXAS DO PORTUGUÊS: QUESTÕES DE LEXICALIZAÇÃO E GRAMATICALIZAÇÃO

JoséPintodeLimaUniversidadedeLisboa,CECC

A nossa comunicação visa essencialmente fazer uma apresentação da categoria daspreposições complexas no Português Europeu, bem como empreender uma primeiracaracterizaçãodelas em termosde lexicalizaçãoedegramaticalização. Seráapresentadouminventário (não definitivo) das preposições complexas do Português Europeu, classificadasformalmente e ordenadas por frequência. Serão propostos dois conjuntos básicos depreposiçõescomplexas:umprimeiroéconstituídoporpreposiçõesmaisgramaticalizadas,quenormalmentetêmumalongahistórianalíngua,eumsegundoconjunto,quesecentraàvoltadepreposiçõesquesofreramlexicalizaçãomasqueatestamgeralmenteummaisfraconívelde

11

gramaticalização. Verificar-se-á que, ao contrário das preposições simples, as preposiçõescomplexas não atingiram elevados graus de gramaticalização, pelo que raramentedesempenham funções gramaticais centrais. Se atendermos à sua frequência, constataremosque existe uma correlação entremaior frequência emaior gramaticalização das preposiçõescomplexas,oqueestádeacordocomoquesetemdefendidoemestudosdegramaticalizaçãobaseados no uso linguístico. Contudo, esta correlação nem sempre se verifica, pois hápreposiçõesdosegundoconjuntoqueatingemaltasfrequências.Tentaremosumaexplicaçãoparaestefenómenoprocedendoaumaanálisesintáticaesemânticadapreposiçãocomplexaem relação a. Será sugerido que mesmo preposições complexas que não sofreram longosprocessos de gramaticalização podem atingir grande frequência desde que tenhamdesenvolvido significados gerais e abstratos. Por outro lado, preposições com mais longosprocessosdegramaticalizaçãoatingemapreciáveisníveisdefrequência.Umcasodesteséodeapesarde,cujoprocessodegramaticalizaçãoanalisaremos,comoduplointuitodeilustrarumcasoimportantedegramaticalizaçãorealizadointeiramentedentrodahistóriadoPortuguêsedeobservaracorrelaçãoentregramaticalizaçãoefrequência.DE QUANTA FILOLOGIA PRECISA UM LINGUISTA E DE QUANTA LINGUÍSTICA PRECISA UM FILÓLOGO

MariaAnaRamosUniversidadedeZuriqueFilologia,maisdoquelinguística,étermopolissémicoecomplexo.Oseusentidovariaránãoapenasdeacordocomocontextoemqueéadotado,mastambémcomasmatériasenvolvidas(produçãoliterária,não-literária,histórica...)ecomasnumerosastradiçõesautóctones.Assim,a filologia italiana pode não corresponder à filologia alemã, francesa, espanhola, inglesa,americana, ou portuguesa, mesmo que se tenham em consideração conceitos como (old)philology ou new philology... Da variabilidade de procedimentos, resultante das filologiasnacionais do século XIX (filologia literária...), aos usos hodiernos (crítica textual, edição detexto...),afilologiacarateriza-seessencialmentecomoumaciênciadoescrito.E,maisdoqueumadisciplina,afilologiaéummétodo.

Ainda que a linguística não se focalize, em geral, no escrito, não poderá deixar de oexaminar, quando se volta para fases pretéritas da língua, podendo indispensavelmenteconceptualizar-se como filologia linguística ou como linguística filológica (mudançalinguística,variaçãografemática,scriptae,históriadaescrita...).

Atravésdealgumaexemplificaçãoprocurareievidenciarcasos–diferentestiposdetexto,diferentes cronologias e diferentes ambientes de produção – que tanto documentam ainconstânciafilológicae linguísticanotempoenoespaço,comorevelamainteraçãoentreafilologiadaediçãoealinguísticahistórica.

13

CRÍTICA TEXTUAL, EDIÇÃO DE TEXTO, HUMANIDADES DIGITAIS

SESSÃO 1. PROBLEMAS DE TRANSMISSÃO

O TEXTO LATINO DA REGRA DE SÃO BENTO E AS SUAS TRADUÇÕES PORTUGUESAS: NOVAS PERSPETIVAS DAS RELAÇÕES GENEALÓGICAS

JoanaSerafimUniversidadeEuropeia,LaureateInternationalUniversities/CentrodeLinguística,UniversidadedeLisboaFilipaRoldãoCentrodeHistóriadaSociedadeedaCulturadaUniversidadedeCoimbra/CentrodeHistória,UniversidadedeLisboa/FCTPartindo das propostas apresentadas por Ivo Castro sobre as famílias das traduçõesportuguesasdaRegradeSãoBentoesuasrelaçõescomostestemunhoslatinosdestetexto,noartigodedicadoàtradiçãomanuscritaportuguesamedieval,“TheManuscriptTraditionoftheRegulaBenedicti inPortuguese” (inPortugueseStudies (2015),Vol. 31,No.2,pp. 195-208),énossoobjetivofazerumanovaabordagemàsrelaçõesgenealógicasdastraduçõesportuguesas.Para tal, numa primeira fase, procuraremos analisar os lugares críticos dos manuscritosportugueses que contêm o texto latino da Regra e estabelecer relações entre estestestemunhos.Numsegundomomento,confrontaremosos lugarescríticosestudadoscomasdiferentes traduções portuguesas, de modo a perceber se as traduções incorporam esteslugarescríticose,consequentemente,qualotestemunholatinoqueteráservidodebaseàsuaredação. Este cotejo permitir-nos-á, então, contribuir para a definição não só das relaçõesgenealógicas entre os testemunhos do texto latino da Regula Benedicti,mas também entreesteseastraduçõesportuguesas.Oresultadodestaabordagemprocuraráresponderaodesafiolançado por Ivo Castro no artigo supramencionado: “The relationship between Latin andPortuguesemanuscriptsisyettobefullydeterminedandthereforethereisplentyofworktobedone.”(Castro,I.,2015,p.208).SOBRE A TRANSMISSÃO DO SUMARIO DE TODAS AS COUSAS SUCCEDIDAS EM BERBERIA...

ElenaLombardoFaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaNeste trabalho irei apresentar algumas reflexões a respeito da transmissão de um relatohistoriográficoanônimosobreacampanhadeÁfricadeD.Sebastião.Taltextoéregistradoem

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

14

dois manuscritos do século XVII com o título Sumario de todas as cousas succedidas emBerberiadesde[…]1573te[...]1578[…]enummanuscritodoséculoXVIIIcomotítuloHistoriada jornada del ReyD. SebastiamaAfrica […]. Trata-se, respectivamente, doMs.Nº 41, Serie2422daBibliotecaNacionaldeEspanha,doCOD.13282daBibliotecaNacionaldePortugaledoCIII/1-14,série1daBibliotecaPúblicadeÉvora.OmanuscritodaBNEfoieditadoem1987porFranciscoMascarenhasLoureiro;olisboetafoiobjetodeduasedições–umadiplomáticaeuma semidiplomática – disponibilizadas online em 2015 e o eborense, por sua vez, foirecentemente identificado pelo Dr. Filipe Alves Moreira. As considerações aqui elaboradasintegram-se às atividades de preenchimento das casas do campo bibliográfico do Sumario.Para os trêsmanuscritos conhecidos, de fato, pretendo desenvolver edições filológicas comdiferentesgrausdeintervenção,disponibilizandootextoparapesquisaslinguísticascomvistaaencaminharumamaisamplareflexãosobreascaracterísticastextuaisdosrelatosacercadaocupaçãoportuguesadonoroestedaÁfrica.Nomeadamente,nestacomunicação,proponho-me a expor algumas reflexões suscitadas pelo trabalho com os manuscritos madrileno eeborense e pelo cotejo das edições destes com a do testemunho lisboeta. Para tanto, ireiapresentar brevemente o texto e registrar alguns dados sobre a materialidade dos trêsmanuscritos.Emseguida, ireiprocederàcatalogaçãodasvariantesencontradasao longodocotejo e à seleção e discussão de lugares críticos. Será, portanto, com base em critériosfilológicos, linguísticos e materiais que irei propor algumas considerações acerca datransmissãodoSumarioeumahipótesedeestema.Palavras-chave:Campobibliográfico;Estudodevariantes;Transmissãomanuscrita;CrônicasHistóricasPortuguesas;HistóriadoPortuguês.Referências:CASTRO,Ivo,RAMOS,MariaAna.“Estratégiaetácticadatranscrição”.In:Critiquetextuelleportugaise(Paris,1981).Actesducolloque.Paris:FondationCalousteGulbenkian,1986,pp.99-122.CrónicadoXarifeMuleiMahametedel-ReyD.Sebastião1573-1578: introduçãoenotasporLOUREIRO,FranciscodeSalesMascarenhas.Lisboa:Europress,1987.FERREIRA,TeresaA.S.Duarte.CatálogodaColeçãodeCódices(COD.12888-13292).Lisboa:BN,1999.LOMBARDO,Elena.Dogrande incêndioquetamraromovimentoaBerberiapertubou:estudoeediçãodiplomática de um relato histórico quinhentista. 2015a. Dissertação (Mestrado em Filologia e LínguaPortuguesa)-FaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanas,UniversidadedeSãoPaulo,SãoPaulo,2015.PASQUALI,Giorgio.Storiadellatradizioneecriticadeltesto.Firenze:LeMonnier,1962.UM OLHAR SOBRE A VITA CHRISTI: DESCRIÇÃO E TRANSCRIÇÃO DOS FRAGMENTOS DA PRIMEIRA PARTE DA OBRA

SílviodeAlmeidaToledoNetoUniversidadedeSãoPauloO livroVitaDomininostri JesuChristi exquatuorevangeliis, escritoporLudolfodeSaxônia,monge cartusiano em Estrasburgo, na segunda metade do século XIV, teve uma enormedifusão por toda a Europa. Desde os finais do referido século, circulavam inúmerosmanuscritosdaobra,dosquaisseconservamcercadecentenaemeia.NaVitaChristi,oautorelaboraumabiografiadeJesusCristoapartirdosquatroevangelhos,acrescidadecomentáriosdossantospadresedosescolásticos,alémdeconsideraçõespessoais.EmboraoautógrafodeLudolfodeSaxôniatenhadesaparecido,ascópiasmanuscritascircularamnossécs.XIVeXV.E,combasenotextolatino,chegadotambémaPortugal,faz-seatraduçãoparaoportuguês.Atraduçãodaobra, alteradadurante a sua transmissãomanuscrita, foi impressa em 1495,porNicolaudeSaxôniaeValentimdeMorávia,amandodeD.JoãoIIedeD.LeonordeLencastre.

15

Doperíodoquemedeiaentreatraduçãoparaoportuguêseapublicaçãoimpressa,preservam-sehojepartes (códicese fragmentos)depelomenosseiscópiasmanuscritas,quedevemtercompostodiferentes transcrições integraisdaobra.Essa tradiçãomanuscritaencontra-seatéhojequase toda inédita,apesardasua importâncianãosóparaoconhecimentodaobra,noqueconcerneasuaproduçãoecirculação,comoparaoestudodalínguaportuguesaescritanasegundametadedoséculoXV.Nestacomunicação,concentro-menoexamedos fragmentospreservadosemÉvoraeemLisboa,osquaisintegramaprimeirapartedaobra.Osfragmentosdenominados respectivamente Pergaminhos fragmentados, pasta 4, doc. 3, e Pergaminhosfragmentados,pasta4,doc.4,encontram-sedepositadosatualmentenaBibliotecaPúblicadeÉvora, Portugal. Infere-se que tenham sido executados por volta de 1450, dadas as suascaracterísticas codicológicas e paleográficas. Ambos os fragmentos terão sido usados comoforrointernodeencadernaçãoecomocapadelivrostabeliônicos,provavelmenteapartirdoséculoXVI,oqueexplicaasmáscondiçõesdepreservaçãoedeleituradepartedostextos.Ofragmento com a cotaMs/P/IL, cx. 4/ p. 6/ fr. 1 [capa] preserva-se no Museu Nacional deArqueologia, em Lisboa, Portugal. Trata-se de umbifólio que serviu de encadernação a umexemplar daChorografiade Gaspar Barreiros (Coimbra, 1561). Por suas característicascodicológicasepaleográficas,suponhoqueessefragmentotenhasidoconfeccionadoeescritoduranteo séc.XV.Façoumadescriçãodosprincipaisaspectoscodicológicosepaleográficosdos fragmentos referidos. Apresento, alémdisso, a transcrição semidiplomática integral dosfragmentos,assimcomoatranscriçãodaspassagenscorrespondentesnosdemaistestemunhosda primeira parte da obra. A leitura justalinear permite, muitas vezes, elucidar passagensduvidosas dos fragmentos, que se encontrammaterialmente danificados.A partir do examedos testemunhos, levanto hipóteses sobre a filiação dos fragmentos à tradição da obra. ApublicaçãodessesfragmentosfazpartedeumprojetodetranscriçãoedeestudofilológicoelinguísticodetodaatradiçãodaVitaChristiemportuguês.Palavras-chave:VitaChristi;Ediçãosemidiplomática;Recensio;Stemmacodicum;Portuguêsmédio.ASCENDENTES TEXTUAIS DO LIVRO DE MARCO POLO

MariaHelenaGarvãoUniversidadedeLisboaNaminhadissertaçãodeDoutoramento emLiteraturaPortuguesa, avaliei adifusãodaobraMarcoPauloemPortugalaoserimpressaem1502porValentimFernandes,umdosprimeirosimpressores alemães e talvez uma das figurasmais destacadas dos primórdios da produçãotipográficaemPortugal.

Refletisobreaorigemdaobradocélebreviajanteveneziano,relatordeumdosmaioressucessosdevendasmedievais, tratando-sedeumanarrativaquemisturahistória, relatosdeviagem,aventuraefantasia.AobraretrataasrelaçõeseconómicasentreoOrientemongoleoOcidente cristão no último quartel do século XIII, sendo Marco Polo (1254-1324) umtestemunhoúnico,dadaasuaexperiênciasingularnaÁsia.

Analiseioseupercursoatéchegaraonossopaísquaseumséculoantesdeser impressa,numatentativadedeterminarrazõesparaasuatraduçãoemportuguês.Tomeicomopontosdepartidaduasinformaçõesfundamentais:ofactodenoelencodoslivrosdabibliotecadoreiD.Duarteexistirum“Marcopaulo latime lingoaJememhuũvolume”eaindaqueao irmãodaquelerei,oinfanteD.Pedro,tinhasidooferecidopelodogedeVenezaumexemplardaobrapoliana,em1428,aquandodoseupériploeuropeu,queocelebrizoucomooinfantedassetepartidas. E tendo em conta o facto de o livro ter sido um dos primeiros impressos em

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

16

português,despertou-meaindamaisointeressepeloaprofundamentodestaquestão–aobraimpressa.

Tracei a genealogia textual do Livro de Marco Polo, a versão portuguesa da narrativaescritaporfreiFranciscoPipino.Comefeito,olivroMarcoPauloconstituiaversãoportuguesafeitaapartirdaversãolatinadoséculoXIVdestefradedominicano,etambém,comoesperoterprovado,deumaversãoveneziana.Nestesentido,desenvolvioperações típicasdacríticatextual, designadamente no âmbito da colação e da estemática. Para esse fim, tomei comotexto-baseaediçãodeF.M.EstevesPereira,de 1922, feitaapartirdaprimeira impressaemportuguêsnatipografiadeValentimFernandes,em1502.

Parapoderestabeleceragenealogiadotexto,tomeicomobrasdereferênciaostrabalhosefetuadosnestecampoatéàdata,nomeadamenteodeLuigiFoscoloBenedetto(1928)quefeza primeira recensão sistemática do conjunto de testemunhos do livro de Marco Polo naintroduçãodasuaprimeiraediçãointegraldotextofranco-italiano.Bibliografia:1.ImpressodolivroMarcoPaulo:MarcoPaulo.HoliurodeNycolaoVeneto.Otralladodacartadehuũgenouesdasditasterras.Lisboa:porValentimFernandes,1502.BN:RES.431V.2.EdiçõesdetextosimpressosporValentimFernandeseafins:BARBIERI, Álvaro e ANDREOSE, Alvise (1999) Marco Polo Il «Milione» veneto – ms. CM 211 dellaBibliotecaCívicadiPadova,Venezia:Marsilio.PEREIRA,F.M.Esteves(1922)MarcoPaulo:oLivrodeMarcoPaulo–oLivrodeNicolaoVeneto–CartadeJeronimodeSantoEstevam,Lisboa:Ofic.Gráf.daBibliotecaNacional.BENEDETTO,LuigiFoscolo(1928)MarcoPolo–IlMilione–Primaedizioneintegrale,Firenze.

SESSÃO 2. PROBLEMAS DOS TEXTOS MODERNOS (SÉCS. XVIII-1921)

METODOLOGIA PARA A EDIÇÃO CRÍTICA DO TEATRO POPULAR ESPANHOL DO SÉCULO XVIII. UM CASO PRÁTICO NAS COMÉDIAS DE MANUEL FERMÍN DE LAVIANO

AlbertoEscalanteVaronaUniversidaddeExtremaduraOcorpusdecomédiasespanholasdoséculoXVIIIaindaprecisadecontribuiçõescríticasquepermitamoacesoànumerosasobrasaindadesconhecidasda literaturaespanhola.Éprecisocontarcomumametodologiarigorosaemténicasdacríticatextual,quenospermitaelaboraredições críticas onde se tenham em conta as peculiariedades específicas da transmisão ereceção destes textos, e a relação deste processo com a realidade cenográfica e a acolhidapopularda“comédiadeespetáculo”.

AobradeManuelFermíndeLaviano,autordecomédiasemMadriddoúltimoterciodoséculo XVIII, propõe exemplos adequados para o objetivo proposto. Nesta comunicação,estudiaremosocasopráticodascomédiasElcastellanoadalid eLaconquistadeMadrid.Emelas trataremosasduasviasprincipaisde transmisãoescritado teatropopular.Elcastellanoadalid conserva-se em cinco manuscritos, tres deles procedentes da estreia da obra emdezembrode1785,eninguémdelesescritopeloautor;LaconquistadeMadrid,estrenadaem

17

1786, conserva-se em um único impresso do ano 1797, talvez correspondente à umarepresentação da obra em Barcelona. A fixação do estema das duas obras e a seleção dasvariantescorretasexpõeproblemasquetrataremosderesolver:atransmisãomanuscritadeElcastellano adalid presenta variabilidade ortográfica e alteraçõesmotivadas pela censura e ascaraterísticascenográficasdarepresentação;poroutrolado,aúnicamanifestaçãodocumentalconservadadeLaconquistadeMadridestádistanciadatemporalmentedomanuscritooriginaldoautor,oquedificultaoestabelecimentodeleiturasalternativas–nestecaso,sópoderemosproporumestemahipotéticosobreastransmisõesdotextonasrepresentaçõesdocumentadasemMadrideBarcelonanaúltimadécadadoséculoXVIII–.

Emconclusão,nestaapresentaçãoexporemosumapropostadeediçãodosdoistextos,apartirdoobjetivoprincipaldeconfigurarumametodologiacomumerigorosaparaoestudiocomplementário de duas comédias planeadas e escritas comoparte dummesmoprojeto dereformulaçãodos relatosmedievais castelhanos.Alémdisso,os resultadospoderiamaportarnovasperspetivasparaoestudotextualdoteatroespanholdoséculoXVIII.

Bibliografia:BLECUA,A.(2001).Manualdecríticatextual.Madrid,Castalia.CAÑASMURILLO, J. (1990).«Apostillasaunahistoriadel teatroespañoldelsigloXVIII».AnuariodeEstudiosFilológicos,XIII,UEX,págs.53-63.DE MONROY Y SILVA, Cristóbal (2002). La batalla de Pavía y prisión del rey Francisco. Ed. PaoloPintacuda.Pisa,EdizioniETS.PÉREZPRIEGO,M.Á.(2011).Laedicióndetextos.Madrid:Síntesis.ASPETOS DE VARIAÇÃO LEXICAL ENTRE UM MANUSCRITO MINHOTO DO SÉCULO XVIII E A SUA FONTE IMPRESSA

AnaJoãoHerdeiroUniversidadedoMinhoNesta comunicação, propomo-nos apresentar certos aspetos de variação linguísticaencontradosno«TratadodeMedicina» incluídonoManuscrito608doArquivoDistrital deBragaequefoipornóseditadoemHerdeiro(2016).Conformepudemosapurar,oseuautor–umeclesiásticoqueassinavapelonomede“ReytorAntonioDias”–eranaturaldaregiãodoMinhoeteráproduzidoostextospresentesnocódiceemmeadosdoséculoXVIII.

Noentanto, cedo concluímosqueo referido«TratadodeMedicina»–que se apresentacomouma espécie de compêndio das principais doenças e respetivos tratamentos da épocasetecentista – constituía uma síntese da extensa e portentosaMedicina Lusitana (1710), doconsagrado médico Francisco da Fonseca Henriques (1665-1731), também conhecido porDoutorMirandella,emreferênciaaotopónimodasuanaturalidade.

É, por isso, curioso que,mesmo tendo sido consultada uma obra comum registomaiscuidadoepadronizadodoportuguês,seencontrem,nomanuscrito,numerosasesignificativasformas linguísticas que evidenciam variação ao nível gráfico, fonético, fonológico,morfológico, sintático e lexical. Esteúltimo aspeto será aquele emque centraremos anossacomunicação,evidenciandoeanalisandoasdiferençasmaisrelevantesnoquetocaàsescolhasvocabulares dos dois autores. Assim, ao longo da leitura do documento manuscrito emconfrontocomadodocumentoimpressoquelheserviudebase,podemosidentificarcasosemqueoReitorAntónioDiasoptouporsubstituirolexemaousintagmadafonteimpressa(porvezes, de cariz mais erudito) por um outro mais simples ou mais coloquial (por exemplo,venéfico/venenoso; lançar/botar), ou casos em que o copista, deliberadamente, ignorou eevitouostermosmédicosdediversasdoençasmencionadosnaMedicinaLusitana,preferindoregistarsomenteaquelescomqueestariamaisfamiliarizado,ouseja,ostermosmaiscorrentes

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

18

oupopulares(porexemplo,hérnia/quebradura;epilepsia/gotacoral);éaindapossíveldetetar,no manuscrito, certos vocábulos ou variantes considerados característicos dos dialetossetentrionaisou,maisespecificamente,dodialetominhoto.

Deste modo, entendemos que, além de acrescentar um interessante contributo para oconhecimento mais aprofundado da língua dos falantes do Minho no século XVIII, otestemunhodo«TratadodeMedicina»doReitorAntónioDiasdáaconhecerumapráticadecríticatextualqueémuitodefendidamasinsuficientementedesenvolvida:adacirculaçãodostextosmodelaresesuanaturalizaçãoeadaptaçãoporpartedosleitores.

Palavras-chave: manuscritos e impressos medicinais; português setecentista; variação lexical; dialetominhoto.Referênciasbibliográficas:HENRIQUES, Francisco da Fonseca (1710). Medicina lusitana, e soccorro delphico aos clamores danaturezahumana,paratotalprofligaçãodeseusmales.Amsterdam:EmcasadeMiguelDiaz.HERDEIRO,AnaJoão(2016).UmtratadodemedicinainéditodoséculoXVIII:estudocomparativocomfonteimpressaeaspetosdevariaçãonalínguadoMinho.Dissertaçãodemestrado.Braga:UniversidadedoMinho.DA TRANSCRIÇÃO COMO EXERCÍCIO DE ESCOLHO MÚLTIPLO

JoséCamõesCentrodeEstudosdeTeatro,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaAriadneNunesCentrodeEstudosComparatistas,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaNo séc. XVIII, diversos pareceres da Real Mesa Censória mostram que o desrespeito dedeterminadagrafiaeramotivoateremcontanaproibiçãodeumtexto,oqueapontajáparaaexistênciadeumanormaortográficavinculativa;noentanto,avariaçãoqueseobservaentreimpressoemanuscrito(ouimpressosemanuscritos)deummesmotextofazhesitaroeditormodernonoestabelecimentodecritériosdetranscrição.

Umaposturaconservadoralevariaaoptarpelamanutençãodasdiversas formas,mastaldificulta a leitura e interessa quase exclusivamente ao leitor especializado que, em boaverdade, dispensa a transcrição e consegue ler os originais cujo acesso – através dereproduçõesnosmaisvariadosformatos–estáactualmentemuitofacilitado.

Pretende-se questionar emquemedida a grafia adoptada na passagem a escrito de umtextoéconstitutivadoprópriotexto,e,portanto,reflectirsobreamedidaemqueumeditordeve intervir perante lições vilipendiadas, muitas vezes pelo próprio autor. Perante umoriginal e o seu impresso damesmadata, comduas oumais lições divergentes, comodeveactuaroeditor,designadamenteconsiderandoqueoimpressopode–ounão–tersidoobjectoderevisãopeloautor?Edeveráaopiniãodoscensores,autoridadesnaescritaeortografianaépoca,equeseafirmamcomotal,sertomadaemconsideraçãopeloeditor?

Recorrendo a vários exemplos, argumentaremos nesta comunicação a favor damodernização ortográfica, em textos do séc. XVIII e mesmo anteriores. A conservação dagrafia pode servir estudos de literacia – o que fará sentido nos casos de existência de umanorma ortográfica –, mas não contribui para a leitura do texto, que se mantém inalteradoindependentementedasuarepresentaçãoortográfica.

19

SESSÃO 3. ESCRITA E FILOLOGIA

RECORTE DA ESCRITA NA CORTE DO BRASIL

ManoelMourivaldoSantiagoAlmeidaUniversidadedeSãoPauloO objetivo é apresentar dois manuscritos da tipologia carta atribuídos a D. Pedro II paradiscutir sua real autoria. Para tanto, olha-se pelomenos para três direções: por uma delas,seguem-se as pistas materiais evidentes, como suporte e instrumento de escrita, além deaspectos paleográficos e do sistema ortográfico; por outra, buscam-se dados conjecturáveis,comodatação(casonãoestejaexplícita),referênciasonomásticasedecontextosocioculturalehistórico; a terceira via tem a ver comos traços linguísticosmanifestados nas cartas.Nestaúltima direção serão levantados exemplos dos aspectosmorfossintático, semântico-lexical eque também remetem ao fonético que,mais uma vez, podem favorecer os estudos sobre oportuguêsescritonoBrasil,noséculoXIX,numcontextosupostamentecontroladoemrelaçãoànormaditacultaedepadrão.AcomunicaçãotrazmaisresultadosdoProjetodeHistóriadoPortuguês Paulista (PHPP – Projeto Caipira) que, evidentemente, se movimenta pelaLinguística Histórica e também pela Filologia na medida em que dela se utiliza para aconstituiçãodeumcorpusconfiávelparaasanáliseslinguísticaspretendidas.Palavras-chave:Filologia;LinguísticaHistórica;PortuguêsescritonoBrasil.Bibliografia:AMARAL,A.[1920].Odialetocaipira.3ªed.SãoPaulo:Hucitec,1976.LIMA-HERNANDES, M. C; SANTIAGO-ALMEIDA, M. M; TEIXEIRA-E-SILVA, R. Redes sociais eatitudeslinguísticas:ocaipirêsnomeioacadêmico.In:M.M.Santiago-Almeida;M.C.Lima-Hernandes.(Org.).História do português paulista. Série estudos III. Campinas/São Paulo: UNICAMP/PublicaçõesIEL/FAPESP,2012,p.485-497.MARQUILHAS,R.Normagráficasetecentista:doautógrafoaoimpresso,Lisboa:INIC/CLUL,1991.SANTIAGO-ALMEIDA,M.M.CartasesonetosdePedroIeII:cartasdaCorte.In:C.M.deS.Abbade;G.N.T.Sobral;M.daC.R.Teixeira.(Org.).Entreapalavra,odiscursoeotexto:caminhosfilológicos.Curitiba:Appris,2016,p.141-157.SIMÕES,J.daS;KEWITZ,V.CartasPaulistasdosséculosXVIIIeXIX:umacontribuiçãoparaoscorporadoPHPB.SãoPaulo:AssociaçãoEditorialHumanitas,2006.SIQUEIRA,L.F.de.Ediçãosemidiplomáticade"cartasdechamada"de imigrantesportugueses(1911 -1920).DissertaçãodeMestrado.SãoPaulo:USP,2011.UMA HISTÓRIA ESCRITA À MÃO: EDIÇÕES DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS BRASILEIROS

AlíciaDuháLoseUniversidadeFederaldaBahia–CEPEDOP/MemóriaeArteTrabalhar com documentos históricos é um privilégio para poucos. Documentos quepermanecem fora do alcance dos olhos e dasmãos damaioria das pessoas por décadas ouséculos são objeto de curiosidade e podem preencher lacunas da história emudar a formacomo vemosdeterminados fatos.A presente comunicaçãopretende apresentar ponderaçõessobre o trabalho de edição de documentos históricos, em especial sobre os aspectosmetodológicos que impactam na abrangência do acesso ao conteúdo e à língua desses

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

20

documentos. Embora haja excelentes exemplos de edições preparadas por paleógrafos,historiadores e linguistas, quem mais se ocupa, sistematicamente, de preparar edições detextosmanuscritossãoosfilólogos(QUEIROZ,2007).Otextoéoobjetodafilologiaenquantocrítica textual sendo seu objetivo preparar, com base em critérios cuidadosos, ediçõesconfiáveisquesirvamdebaseparaacessoaoconteúdodostextosalipresentes.Otextoquesepretende reconstituir e conservar, conforme as características que apresenta, define ocomportamento do editor que desenvolve teorias emetodologias apropriadas ao objeto emquestão.Assim, “A filologia textual é,desde sempre, a vertentebásicadaFilologia,umadassuasformasmaisantigas,amaisclássicae,paramuitos,amaisautêntica.”(BANZA,2013)Osdocumentos antigos, em grande parte, são também documentos históricos, muitas vezes,porque dizem respeito a momentos, passagens e personagens cujos fatos e ações foramemblemáticoserelevanteseotemposeencarregoudedaraelesesseatributo.Textosantigos,independentedoseuconteúdo,carregamemsialínguaemestadospassados.Aopesquisadordahistóriada língua, o conteúdodeum texto,muitas vezes, torna-se elementode segundoplano.Paraohistoriador,noentanto,oconteúdoéocernedaquestão,estáemprimeiroplano(LOSE, 2017). E os relatos da história através de textos escritos não são a única saída,mascertamente,sãoumadasmaisricasemaisimportantes.Assim,paraaquelequequeracessarinformaçõeslinguísticasdeépocasnasquaisoregistroerarestritoàescrita,eparaàquelequequera riquezadedetalhesdeumrelatoouos indíciosdisfarçadosempequenosdetalhes, aúnicasaídasãoostextos.Portanto,restringindo,nossoolharàmemóriadosquatroprimeirosséculosde“formaçãoculturalbrasileira”(séc.XVI-XIX),apresentaremosexemplosdeediçõespreparadas a partir de documentos encontrados em quatro acervos históricos do Estado daBahia.Referências:ALMADA,Márcia.Dasartesdapena edopincel: caligrafia epintura emmanuscritosno séculoXVIII.BeloHorizonte:FinoTraço,2012.BANZA, Ana Paula. Da antiga à nova Filologia: práticas de edição de textos modernos. CONCRÉSINTERNACIONALDELINGUISTIQUEEPHILOLOGIEROMAINE,Anais...2013.LOSE, Alícia Duhá. Edições de documentos históricos: a quem interessam? a quem se destinam?,RevistadaABRALIN,n.16,v.2,mar.2017,SãoPaulo.QUEIROZ,RitadeCássiaRibeirode.Manuscritosbaianosdos séculosXVIIIaoXX: livrosdenotasdeescrituras.v.1.FeiradeSantana,BA:UEFS,2007.

SESSÃO 4. A LÍNGUA NO PROCESSO DE TRANSMISSÃO TEXTUAL

O ESTRATO LINGUÍSTICO DUOCENTISTA NUM MANUSCRITO SEISCENTISTA - A VIDA DE SANTA SENHORINHA DE BASTO

MartaCruzFaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaDa Vida e Milagres de Santa Senhorinha de Basto em português conhecem-se quatrotestemunhos manuscritos e sabe-se (por vias meramente históricas e sociais) que a suaredaçãooriginal1édatáveldoséculoXIII.Nãonegandoaurgênciadeumestudoestemáticoedoestabelecimentocríticodestetexto,aquipropõe-sefazeraanálisedoestadodeconservação

21

doestratolinguísticoduocentistanomanuscritomaisantigodestatradição2,testemunhandoem que medida algumas características linguísticas dessa cópia siescentista podem ou nãocorroborar a janela de datação sugerida e, em última análise, demonstrando como aindividualidadedecadatestemunhodetransmissãodeumtextopodeoferecerinformaçãoútil(nestecasolinguística)sobreaépocaemquefoiproduzido.Deummodogeral,conclui-sequeo copista responsável pela cópia em causa teve uma atitude relativamente conservadoraquanto à sintaxe do texto (próclise/ênclise em contextos de variação, interpolação deconstituintes ≠ não e concordância negativa), mas que quanto ao uso do sistema depossessivosdoportuguês,dospronomesrelativos locativosu/ondeedaconjunçãocapareceteractualizadoquasetotalmentealínguadotextoquecopiava.Alémdisso,conclui-sequeosdiversos vestígiosdoportuguêsduocentistadesta cópia argumentama favordahipótesedooriginal ter sido redigido no século XIII. Por fim, chega-se à conclusão de que adisponibilização autenticada de cópias em corpora de trabalho depende de estudoslinguísticos prévios que permitam classificá-las e categorizá-las como representantes doestratolinguísticodopontodepartidae/oudopontodechegada.Bibliografia:CARDEIRA, Esperança. 2005. Entre o Português Antigo e o Português Clássico. Lisboa: ImprensaNacional–CasadaMoeda.CASTRO,Ivo.2006.IntroduçãoàHistóriadoPortuguês.2ªed.aumentadaLisboa,Colibri,2006.MARTINS,AnaMaria.2013.«Copiaroportuguêsduocentista:ADemandaeo JosédeArimateia».AoSabordoTexto:283-402.SOBRAL,Cristina.2012.«Exumaçãodeumavida:SantaSenhorinhaemportuguêsmedieval»,RomancePhilology,66/1,Spring2012:165-183.--------------------VidaemilagresdeSantaSenhorinhadeBasto,noCorpusdeTextosAntigosdoCentrode Linguística daUniversidade de Lisboa, edição semidiplomática doMs. daColegiada 793 (fls. 211r-236r)doArquivoMunicipalAlfredoPimenta.http://alfclul.clul.ul.pt/teitok/cta/index.php?action=edit&id=M1614T12967.xmlO LIVRO DOS MÁRTIRES DE BERNARDO DE BRIHUEGA: DOIS SÉCULOS DE LEITURA EM PORTUGUÊS

CristinaSobralCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaEsperançaCardeiraCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaO liuro e legẽda que fala de todolos feytos e payxoões dos sãtos martires em lingoagemportuguesfoiimpressoem1513,porJoãoPedroBonhominideCremona,“perespeçialmãdadodo muy alto e muy poderoso senhor Rey dom Manuel”. Este impressor italiano, que terátrabalhado temporariamente na oficina de Valentim Fernandes (Dias 1995), utilizou umoriginalde imprensaque traduzo textocastelhanodo terceiro livrodaobrahagiográficadeBernardo de Brihuega, composta em 1260-80, mas faltam estudos que determinem comexatidão as circunstâncias da tradução. Em 1993, Cepeda identificou, da mesma obra, umfragmento manuscrito do séc. XV (IANTT, Fragmentos. Caixa 20, n. 10) e propôs que atradução foi feita no reinado deD.Dinis.Nesta comunicação analisam-se as circunstânciashistóricasdaproduçãodopós-incunábuloeasuarelaçãotextualcomofragmentomanuscritoeempreende-seumestudolinguísticodostextosquepermitasituá-losnotempo.Umaleituraexploratóriareveloujánoimpressotraçosnãoesperáveisem1513e indiciadoresdeumtextomaisantigo.A títulodeexemplo: (i)alternânciaentreparticípiospassados terminadosem–udo e -ido, para verbos da 2ª conjugação (vençudo~vençido, crehudo~crido, teudo~tido); (ii)

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

22

oscilação entre formas verbais de 2ª pp com conservação ou síncope de -d- (estades~estaes,seredes~serees);(iii)presençasignificativadeterminaçõesnasaiscorrespondentesàetimologia(verificável, p. ex. na alternância paixõ~paixã, em que <õ, om> é grafia claramentemaioritária).Comoobjetivodecontribuirparaadataçãodoestadoda línguadocumentadoquer no Livro dosMártires quer no fragmentomanuscrito, serão observadas estas e outrasvariáveis linguísticas e comparada a sua frequência nestes textos com a encontrada emdocumentaçãodoséculoXVedoiníciodoséculoXVI.Palavras-chave:LivrodosMártires;Tradução;Filologia;Linguísticahistórica.Referências:BAUTISTA,Francisco,«BernardodeBrihuegaylacolecciónhagiográficadelms.BNE10252»,Zeitschriftfurromanischephilologie,Vol.130,Nº1,2014,páginas71-104.BAUTISTA,Francisco,«ElfinaldelaGeneralestoria»,RevistadeFilologíaEspañola,vol.XCV,nº2,2015,pp.251-278.CEPEDA, Isabel, “Os ‘Quarenta mártires de Sebaste’. Um testemunho manuscrito do século xv emportuguês”,Theologica,2ªsérie,28,2,1993,pp.507-514.DIAS,JoãoJoséAlves,«OsprimeirosimpressoresalemãesemPortugal»,NoCentenáriodaVitaChristi.OsprimeirosimpressoresalemãesemPortugal,coord.JoãoJoséAlvesDias,Lisboa,I.B.N.L.,1995,pp.15-27.DÍAZ Y DÍAZ, Manuel C., "La Obra de Bernardo de Brihuega, colaborador de Alfonso X", Strenae.Estudios de Filología e Historia dedicados al profesor Manuel García Blanco. Acta Salmanticensia,FilosofíayLetras,16,Salamanca,UniversidaddeSalamanca,1962,pp.145-61.MARTINS,Mário,“AlegendadosSantosMártireseoFlosSanctorumde1513",Brotéria,72,1961,pp.155-165.FORMAS E FÓRMULAS GALEGAS EN INSTRUMENTOS NOTARIAIS DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVI

PedroDonoLópezUniversidadedoMinhoNos finais da Idade Media verifícase unha mudanza escriptolingüística na documentaciónnotarial galega, onde o uso amplo e consistente do romance proprio do reinomedieval daGalizadeixapasoaoromancecastelán,aíndaquechegamosaencontraros instrumentosengalego ata finais do século XVI (cf. Lorenzo 2004). Na documentación notarial da centuriaanteriorxaépatenteainfluenciadoromancecastelánnaescritainstrumentalgalega,comoéo caso dos non infrecuentes documentos redactados nesa lingua ou nunha modalidadelingüística que podemos considerar híbrida galegocastelá, pero tamén en forma decastelanismosoumesmo fragmentos compactosdos textosdodiplomas (comoéo casodassuscricións de certos notarios), o que preludia a sustitución que se producirá en épocamoderna.Apartirdesemomentooromancegalegosóapareceránosinstrumentosenformade palabras illadas ou fórmulas que perviven nos novos usos escritos. A presentecomunicación presta atención á documentación instrumental galega desa altura, unhadocumentación que non acostuma integrar as coleccións diplomáticas monásticas oucatedraliciasetampoucotenmerecidounhaexcesivaatenciónporpartedainvestigación.Enconcreto,tomaremosenconsideraciónadocumentaciónenpergamiñodomosteiroourensándeSantaCombadeNaves,doqueconservamosunsvintecincoexemplaresdatadosentreosanos1500e 1547.Oconxuntodocumentalestácompostonasúamaioríapordocumentosencastelán,perotaméncontacontresexemplaresengalegocoasuscriciónnotarialencastelán(omáisrecenteéde1513)eaíndaconoutrostresdocumentosondeaadscripciónlingüísticaédubidosa.Aanáliseatenderáátotalidadedosdocumentosdoperíodomaisprestandoespecial

23

atención ás form(ul)as galegas presentes nos textos redactados en romance castelán,destacando a componente galega cando se trata da caracterización e delimitación depropiedades,adesignacióndetributosouoselementosonomásticos.Palabraschave:documentosnotariaismodernos;mosteirodeSantaCombadeNaves;galeguismos.Referenciasbibliográficas:LORENZO,Ramón(2004):“Emerxenciaedecadenciadogalegoescrito(séculosXIII-XVI)”,enRosarioÁLVAREZ BLANCO, Rosario, Francisco FERNÁNDEZ REI e Antón SANTAMARINA (eds.): A linguagalega:historiaeactualidade.ActasdoICongresoInternacional(16-20desetembrode1996,SantiagodeCompostela),vol.III.SantiagodeCompostela:ConsellodaCulturaGalega-InstitutodaLinguaGalega,pp.27-153.UN NOVO TESTEMUNHO GALEGO DA QUINTA PARTIDA DE AFONSO X

RicardoPichelGotérrezUniversidaddeAlcalá/UniversidadedeSantiagodeCompostelaHarveyL.SharrerUniversityofCalifornia–SantaBarbaraApresentamos nesta comunicação um novo testemunho fragmentário da transmisãooccidental dasPartidas deAfonsoXno ámbito galego-portugués, nomeadamente naGalizatrecentista.Trata-sedeumbifóliolocalizadoem2014porGemmaAvenozanaSecçãoNobrezadoArquivoHistóricoNacionaldeEspanha (AHNNoblOsuna,C.327,D.11), servindode capaparaumlivrodecontasdoséc.XVIesendo identificadoporHarveyL.Sharrer (2014)comoum fragmento do Título V (Leis 38-50) daQuinta Partida. O fragmento transmite tambémdoisinteressantesíndicesdosquinzetítulosdaPartidaedasleisdosquatroprimeirostítulos.Para além de introduzir a características externas do manuscrito e a sua procedência, ointeresse da comunicação radica na apresentação do texto e das suas particularidadeslinguísticas e textuaismais relevantes, tendo en conta a sua condição de tradução desde ocastelhanoeasuarelaçãocomosdemaistestemunhosgalegosdasPartidasdoreiSábio.Palavras-chave:Prosajurídicamedieval;AfonsoX;Partidas;traduçãogalega;séc.XIV.Bibliografía:ASKINS,ArthurL-F./GemmaAVENOZA/JoséIgnacioPÉREZPASCUAL/AidaFERNANDESDIAS/HarveyL.SHARRER(1997):"Novosfragmentosdetextosxurídicosmedievaisgalegos(s.XIV)",RevistadeLiteraturaMedieval9,9-43.AVENOZA, Gemma (1995): "Atopáronse uns pergamiños... O redescubrimento duns fragmentos engalegodasPartidas",RomancePhilology49,119-29.BITAGAP.BibliografiadeTextosAntigosGalegosePortugueses.Manid.6142.CRADDOCK, Jerry R. (1986): The Legislative Works of Alfonso X, el Sabio: a critical bibliography(ResearchBibliographies&Checklists,45).London:Grant&Cutler.FRADEJAS RUEDA, José Manuel (dir): 7PartidasDigital. Edición crítica digital de las Siete Partidas.Universidad de Valladolid. Projecto financiado pelo MINECO (FFI2016-75014-P) <http://7partidas.hypotheses.org/>.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

24

SESSÃO 5. QUESTÕES DE DOUTRINA E TEORIA EM CRÍTICA TEXTUAL

PORTUGAL, FRANÇA E BRASIL: UMA, DUAS OU TRÊS CRÍTICAS GENÉTICAS?

CarlotaPimentaCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaNesta comunicação, proponho-me reflectir sobre omodo como os estudos genéticos foramimplantados em Portugal, França e Brasil, advogando que a expressão “crítica genética”corresponde, nestes países, a conceitos que não são rigorosamente iguais, embora sejammaioritariamentesobreponíveis.EmPortugal,paísherdeirodetradiçãofilológica,aatençãoàgénesedasobrasestáintimamenteligadaàdisciplinadacríticatextual,cujacompetênciaéaedição do texto. As primeiras questões sobre a génese das obras em Portugal surgiram docontacto directo com amaterialidade dosmanuscritosmodernos num contexto filológico eprecedemaprimeirasistematizaçãoteóricadacríticagenéticafrancesa,realizadaem1994,porAlmuth Grésillon, no seu manual Éléments de critique génétique. Considero, assim, que acrítica genética portuguesa não é uma importação da sua homónima francesa e que onascimento da crítica genética em Portugal e em França é um fenómeno poligenético. UmbomcontrapontoaestarealidadeéaorigemdacríticagenéticanoBrasil,queresultadeumfenómeno de difusão da crítica genética francesa, sob influência de PhilippeWillemart. Apartir de uma selecção de estudos, proponho-me analisar as semelhanças e diferenças dasabordagenscientíficasaosmanuscritosmodernosnestestrêspaíses.Bibliografia:BIASI,Pierre-Marcde,2011,Génétiquedestextes,Paris,CNRS.CASTRO,Ivo,1995,“Oretornoàfilologia”,inMiscelâneadeEstudosLinguísticos,FilológicoseLiteráriosinMemoriamCelsoCunha,RiodeJaneiro,NovaFronteira,pp.511-520.GRÉSILLON,Almuth,1994,Élémentsdecritiquegénétique,Paris,PressesUniversitairesdeFrance.SALLES,Cecile,2000,CríticaGenética:Uma(nova)introdução,SãoPaulo,Educ.WILLEMART,Philippe, 2009,Osprocessos de criaçãona escritura, na arte e na psicanálise, S. Paulo,Perspectiva.FILÓLOGOS: QUEM SÃO E PARA QUE SERVEM?

LuizFagundesDuarteUniversidadeNOVAdeLisboaPretende-sediscutiropapeldofilólogoeasuaresponsabilidadenoprocessodetransmissãodos textosmodernos, envolvendonão só osmanuscritos e outrosmateriais autógrafos,mastambém as edições em vida do autor e as tradições delas derivadas. O facto de, muitofrequentemente–ousempre–duasoumaisediçõescríticasdeumdadotextoapresentaremresultadosdiferentes,queultrapassamameraidentificaçãodevariantesparaafirmaremtextoscríticosaquereputamautoridadecomosedoautorsetratasse,obriga-nos–anós,osfilólogos–aumareflexãoaturadasobreoquesomos,oquefazemos,paraqueservimos,e,oqueémaisimportante,qualoconceitoquetemosdaentidadeautor.

Equaloconceitoquetemosdo filólogo?Seráeleummero intérpretedesinaismaisoumenosobscurosdeixadospeloautornosseuspapéis?Umzelosocumpridordevontadesmaldefinidas nos textos? Um eficaz desambiguador de lições variantes mas autênticas, cujo

25

problema é serem diferentes porque ocorrem em momentos diferentes, como se o textotivesse que ser único e não pudesse ser polimórfico? E por que há-de a postura teleológica(sim-não)serconsideradaapenasaoníveldaderradeiravontadedoautor?

AolongodacomunicaçãoserãoanalisadoscasosconcretosretiradosdetextospoéticosdeAnterodeQuentalporelepublicadoscomlições–eintenções?–diferentes.ELOGIO DELLA CONTAMINAZIONE (CON ALCUNE RIFLESSIONI SULLE COSIDDETTE 'VARIANTI ADIAFORE' E SULL’USUS SCRIBENDI)

AnnaFerrariUniversitàdegliStudidell’AquilaControlacontaminazionenonc'èrimedio,dicevaPaulMaas.Puòdarsi,madaquiavederlacomelabestianeradellacriticatestualecenepassa.Saràforseirrimediabile,manell’assenzaquasitotaledielementisicuriperlacostituzionedeltesto–vistocheanchel’errore"predicatosicuro"(G.Contini),spessosicurononè–, lacontaminazioneèunelementoconcreto,reale(quando ben argomentata, ovviamente) a nostra disposizione, che non può certo essereignoratoinquantopuòfornircipreziosielementiperillaricostruzionedeltestooriginale.Cisto riflettendo da tempo (come molti altri, vedi Bibliografia minima) e non ho risultaticoncretiedefinitividaproporre,masperoditrovarnecontinuandolariflessioneinvistadelCongressoperIvoCastro,esoprattuttonelladiscussionecongliespertidicriticatestualechesarannopresenti,speriamonumerosi.

Intanto, ritengo che sia necessario porre ancora una volta il problema con lamassimachiarezzaelamassimaurgenza,perribaltarelaprospettivaoffertadaipurottimimanuali(etrattazioni)dicriticatestualeclassici,suiqualicisiamoformati.

Contemporaneamente,eallostessoscopodicuisopra(ilprogressodeglistudiecdotici),occorre soffermarsi su almenodue concetti tanto fondamentali nella critica testuale quantoassolutamente ambigui e fuorvianti, vale a dire le (cosiddette) 'varianti adiafore' e l'ususscribendi.

Dellamia amatissima "Filologiamateriale" non avrò certo il tempo di parlare,ma saràsempre presente in filigrana nell' esposizione, in quanto è lo strumento 'nuovo' che a mioavvisoconsenteundiversopuntodivista,fornendocielementinoncontestabili:materiali,perl'appunto,concretieverificabili.Bibliografia:M.D.REEVE,StemmaticMethod: «qualcosanon funziona»? [1986], in Id.,Manuscripts andMethods.EssaysonEditingandTransmission,Roma2011,pS.RESCONI,Sullacontaminazioneinambitotrobadorico:fenomenologiae implicazionitestuali,Ibid.,pp.201-227.G.BELLONI,Contaminazioneinfilologia,in«ActaHistriae»,23(2015),pp.153-169.P. GOLITSIS, Collation but not contamination: on some textual problems of Aristotle'sMetaphysicsKappa...in«Revued'histoiredestextes»,X(2015),pp.1-24

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

26

SESSÃO 6. CONCEITOS DE AUTOR E EDIÇÃO GENÉTICA

«DE CABEÇA PARA BAIXO A VER A TERRA GIRAR». OS AUTÓGRAFOS DE MÁRIO CESARINY COMO DESAFIO PARA A CRÍTICA TEXTUAL

LauraMateusFonsecaInstitutodeEstudosdeLiteraturaeTradição,UniversidadeNOVAdeLisboaOsmanuscritosautógrafosdeMárioCesarinydocumentamumconjuntode situaçõesaindanãoprevistas, ounãoprevistas cabalmente, pelosmodelos teóricos e pelapráticadaCríticaTextual moderna e genética, o que os torna um objeto de trabalho particularmenteinteressante.As correções de uma edição para outra, assim como a reutilização de versos eestrofes completas, assumindo até composições gráficas diferentes, e emdiferentes poemas,denunciamasconstantespossibilidadesdeotextoserecriar,desetornaroutrocontinuandoomesmo.Oferecemao filólogoumcampodetrabalhomovediço,commuitasvariantes, tantono texto emprocesso de produção comono texto emprocesso de transmissão, sembalizasconcretas, num caos, aparentemente paradoxal, onde se articula uma obramanifestamente«surreal»,nosentidomaisliteraldotermo.

Apresenta-se,emlinhasgeraismas ilustradocomexemplosconcretos,umatipologiadomanuscritoautógrafodeMárioCesarinyea sua relaçãocomo texto impresso,bemcomoopensamentodoautorperanteconceitoscomo«textoacabado».Discutir-se-áaaplicabilidadedos modelos da Crítica Textual genética a este tipo de materiais, propondo-se uma novaperspetivaquevalorizeocaráctermovediçodotextoliteráriosurrealista.Assim,colocam-seasquestões:sabendo-sequeCesarinynuncaseinteressoupelaconstrução,laboraçãomeditadaeconscienteda sua«ObraPoética», terádeixadonos seusmanuscritos autógrafos indicações,marcasdasuaintençãofaceaostextosmanuscritoseaquiloquepoderãoviraser?Tornar-se-áesta escrita permeável a uma nova realidade filológica, (re)criando-se infraestruturas,ferramentas de análise sustentadas em plataformas digitais, capazes de açambarcar umnúmerode reproduçõesdemanuscritos e textos originais, aumentando exponencialmente apossibilidade de cruzamento de dados, de partilha e de acessos? Perante as diferentes ediversificadas conjeturas e possíveis interpretações dos materiais disponíveis, o que poderáesperar o leitor de um trabalho da crítica textual? Os materiais a inventariar serão todosdestinadosaummesmolivro?Comoéquesepoderãoorganizar?Serãotodosdomesmonívelgenético?Terãotodosomesmoestatutoperanteumhipotéticotextofinal?Eemúltimo:nocontextodosautógrafosdeCesariny,serápossívelexistiressetextofinale,porisso,acabado?

EDIÇÃO CRÍTICO-GENÉTICA E PRÁXIS POÉTICA

EnriqueRodrigues-MouraUniversidadedeBambergDo ponto de vista da teoria literária, um texto ficcional vem a ser apreciado comoprodutoestético,cujosignificadoouinterpretaçãohádeseencontrarnoprópriotexto,logo,nãocomodocumento biográfico relativo ao autor empírico. Nesse sentido, a importância do autorempírico, que pertence ao mundo exterior ao texto e não ao mundo da ficção (diferençaontológica), vema ser,paraa interpretaçãodo seupróprio texto,umassuntomenorouatéirrelevante.DiferentescríticosdoséculoXXpostularamadiferençaontológicaentreautorenarrador(Friedmann,Hamburger,Kayser,Booth),atésechegaràmortedoprimeiro(Barthes,

27

Foucault). No entanto, os estudos de gênero e/ou os estudos pós-coloniais relançaram ointeressehermenêuticosobreafiguradoautorempírico.NaviradadoséculoXXparaoXXI,afiguradoautorvoltouaganhar interesseacadêmico (Chartier, Jannidisetalii), emboracomnotáveis restrições, se levarmos em consideração a sua clara hegemoniano séculoXIX.Umautorempíricoéodetentordosdireitosautorais,respondeperanteapossívelcensuradoseutexto e oferece uma unidade a um possível corpus de textos, além de que não se lhe podenegar apossibilidadede sero fundadordeumdiscursoou sistemade ideias,no sentidodeFoucault(Chartier).

Umaediçãocrítico-genéticaprocura,enquantocrítica,fixarotextomaisautorizado,porser a vontade reconstituível do autor empírico, ao tempo que, enquanto genética, procuradocumentareapresentardeformavisívelopercursoqueoautorseguiunaelaboraçãodoseutexto (Castro, Spaggiari/Perugi).Estadefiniçãoparteda ideiadequeum texto, tambémumtextoliterário,nãoéumobjetoestático,massimumprocessohistórico,logo,conotadopelotempo.Omovimentoéimanenteaotexto.

Tendo em consideração as duas reflexões anteriores, tanto sobre o conceito de autorcomo sobre a definição e implicações interpretativas de uma edição crítico-genética, estaapresentaçãoestudaasvariantesgenéticasdeumtexto literárionãocomosimplesvariantesestéticas, ou até de correção de gralhas, mas como a possibilidade de apreensão do quepoderíamosdenominarpráxispoéticadoautorempírico.Determinadascorreções, taiscomosupressões, substituições ou adições ao texto, chamam a atenção, do ponto de vista damaterialidade da escrita, para a consciência narrativa de uma práxis poética que o autorempíricoquerimprimiraoseutexto.Essapráxispoéticasóseapreciadurantealeituradeumaedição crítico-genética e passa despercebida, no entanto, em quase qualquer outro tipo deedição.Usar-se-ão exemplos das edições genéticas de Fernando Pessoa/Alberto Caeiro e doromanceAmor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, realizadas por Ivo Castro, professorhomenageadonoIV.°CongressoInternacionaldeLinguísticaHistórica(Lisboa,Julhode2017).OS SONETOS QUE HOUVE ENTRE ANTERO DE QUENTAL E OLIVEIRA MARTINS

ÂngelaCorreiaCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaA propósito dos sonetos deAntero deQuental, editados e publicados porOliveiraMartins,refletir-se-ásobreesteeoutroscasosdeediçãodeoriginaisdeautoresdoséc.XIX,bemcomosobre as implicações deste tipo de influência nos processos de edição crítica e de ediçãogenética.Bibliografia:SonetosdeAnthero,Coimbra:ImprensaLiteraria,1861Os Sonetos Completos de Anthero de Quental publicados por J. P. Oliveira Martins, Porto: LivrariaPortuense,1886ColecçãoAnterodeQuental(http://purl.pt/14355/1/index.html)Luís PRISTA, Para a Edição do Guia de Portugal, Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras daUniversidadedeLiaboa,1993.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

28

O TEXTO QUE SE LÊ DE O SEMINARISTA, DE BERNARDO GUIMARÃES

LuanaBatistadeSouzaUniversidadedeSãoPauloO objetivo deste trabalho é apresentar a trajetória editorial do romance brasileiro OSeminarista, deBernardoGuimarães, apontandopara as alterações sofridas ao longodo seuprocessodetransmissão.Enfatizam-se,sobretudo,oscasosemqueotextoéreescrito.

A primeira edição do romance, datada de 1872, foi publicada em formato de livro peloeditorBaptiste-LouisGarnier(B.-L.Garnier).OautorcederaaB.-L.Garnierosdireitosautoraisdaobra,práticapoucocomumnaépoca.Emboraosdireitosautoraispertencessemaoeditor,as várias edições disponíveis evidenciam quemuitas editoras publicaram o romance após amortedoautor.

Analisando-seasediçõespublicadasantesdeaobrapertenceraodomíniopúblico,nota-se que o conteúdo foi alterado e diverge, assim, da vontade do autor. Apenas duas ediçõesforam publicadas durante a vida do Bernardo Guimarães. A segunda edição, embora nãoinformadona folhade rosto, éuma reimpressãodaprimeira, pois contémosmesmos errostipográficos, a mesma mancha e paginação. As modificações não-autorais surgem na obrasessentaanosapósaprimeiraedição.Entreaediçãopríncipeeamodificada,continuaramaserpublicadas ediçõesque reproduziamo textoda ediçãopríncipe.Descarta-se,portanto, apossibilidade de a ediçãomodificada resultar de umoriginal alterado e corrigido, até entãoinédito,quetenhachegadotardiamenteàsmãosdoeditor.Amodificaçãodotextodaediçãopríncipe produz um texto com acréscimos, alterações de ordem, omissões, substituições ereelaborações.

Entre os tiposdemodificação encontrados, énotável a recorrênciada reelaboração.Aocotejar-se uma edição atual de O Seminarista com a edição príncipe, encontram-se nadamenos do que 20 lugares do texto em que ocorre a reelaboração ou reescrita do texto.Analisando-se os casos encontrados, percebe-se que sempre incidem sobre trechos do textoque trazemumadescrição,diálogosounarrativas.Comoesses sãopontos fortesdaobradeBernardo Guimarães, conforme aponta a literatura especializada, o leitor que tiver contatoapenascomasediçõesrecentesestarádistantedotextotalqualoautoroconcebeu.Palavras-chave:CríticaTextual;OSeminarista;trajetóriaeditorial;BernardoGuimarães;variantes.

SESSÃO 7A. EDIÇÃO E MEIOS DIGITAIS

AUTORIA, REVISÃO COLABORATIVA E APROPRIAÇÃO CULTURAL: PARA UM MODELO DE EDIÇÃO DA POESIA DE PEDRO HOMEM DE MELLO

ElsaPereiraCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaDurantegrandepartedoséc.XX,acorrentedominantenacríticatextualanglo-americana–lideradaporW.W.Greg,FredsonBowerseG.ThomasTanselle–estabeleciaqueoprincipalobjetivodeumaediçãodeobrasmodernaspassavaporfixarotexto,deacordocoma(última)vontadedoautor.Estaposiçãoteórica–queIvoCastroteveoméritodearticularemPortugalcomasescolasitalianaefrancesa–acabaria,noentanto,sendomatizadapelasteoriassociais

29

dosanos80(propostassobretudoporD.F.McKenzie,JeromeMcGanneJackStillinger),quevieram chamar a atenção para outros intervenientes no processo criativo,mostrando que avontadedoautorémuitasvezescondicionadaporagentesexternos,comoamigos,editoresoumesmo leitores. Ao invés de fixar (um)a vontade autoral, expurgando-a de interferênciasexternas, o trabalho de edição crítica tem vindo progressivamente a orientar-se para otratamento de múltiplas versões, com tipos variáveis de autoridade. Esta tendência –comumente designada de versioning ou multiple texts – beneficia especialmente dasvirtualidades do hipertexto eletrónico e pode circunscrever-se às versões sancionadas peloautor (posiçãodefendidaporSiegfriedScheibenosanos90)oualargar-se jáàsapropriaçõesculturaisquelhesãocompletamentealheias(segundopropostamaisrecentedeJohnBryant).

Partindo de considerações teóricas desta natureza, a comunicação procurará abordaralgunspressupostosemqueassentaomodelodeediçãoatualmenteemcursoparaapoesiadePedro Homem de Mello. Deter-se-á, para isso, numa situação documentada de revisãocolaborativa (envolvendo um conjunto de cartas trocadas por Pedro Homem de Mello eEugénio deAndrade, em junhode 1970), bem comonalguns poemas sujeitos a apropriaçãocultural,ondeporvezesseobservaumrelacionamentoambíguoentreoarquivoepigenéticodaproduçãoeoarquivosocialdatransmissão.O FUTURO DAS HUMANIDADES DIGITAIS É O PASSADO

JorgeVianaSantosUniversidadeEstadualdoSudoestedaBahiaCristianeNamiutiUniversidadeEstadualdoSudoestedaBahiaOs estudos emLinguísticaHistórica dependemde fontes antigas.Na era dasHumanidadesDigitais, buscam-se maneiras de se beneficiar das vantagens do digital na investigação dasfontes. Destacam-se iniciativas envolvendo construção de base de dados (bio)bibliográficos(comoaPhiloBiblon,basededadosdetextosantigosemlínguasdaPenínsulaIbérica),corporaanotados (como o Corpus Histórico do Português Tycho Brahe), acervos digitais (como aBibliotecaBrasiliana),hiperedições(comoOPasquineirodaRoça).ConsoanteBarreiros(2014),muitasediçõeseletrônicasouhipertextuaisreproduzemmodelosdasediçõespensadasparaouniversodosimpressos(suportefísico)nãoexplorandoopotencialdomeiodigital.Aquestãocentraldotrabalhocomtextosantigoscomofundamentosparaestudoslinguísticosnomeioeletrônico é a busca por garantia da fidelidade às formas originais dos textos em umaabordagem global com integração entre diferentes planos de análise (PAIXÃODE SOUSA,2006).Nestetrabalho,questionamos:comosebeneficiardasvantagensdosuportedigitalsemdispensaraautenticidadedodocumentooriginalfísico?NaposiçãodePesquisadorFormadorde Corpus (PFC) (NAMIUTI; SANTOS; LEITE, 2011), focalizamos a reflexão sobre acomplexidadedasfontesdocumentaisempapelasetornardocumentodigital.Assim,temosdesenvolvido e aplicado um método de construção de corpora digitais anotadoscientificamentecontrolados(NAMIUTI;SANTOS,2016):partindodoDocumentoFísico(DF),constrói-seoDocumentoDigital Imagem(DDI)queservirádefontenomeiodigitalparaosprocessos de constituição de corpora anotados, processos estes que terão como resultado oDocumento Digital Texto (DDT) com camadas de anotação que registram a memória doprocessamento.Natransposiçãomaterialcientificamentecontroladadopapelparaosuportedigital, mediante desenvolvimento e uso de procedimentos, ferramentas e tecnologiaspotencializadoras da exploração das possibilidades do suporte digital para pesquisas emhumanidades,chegamosaumaparatoquegarantearecuperaçãodeinformaçõesdenatureza

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

30

variada, a exemplo da filológica: o Aparato deMetadados Estruturados (AME) que permiterecuperar, no digital, a complexidade do documento histórico físico, cuja realidade étridimensional, irregular e subjetivamente construída. Atualmente o AME engloba cincocomponentesfundamentais:i)CatálogoVisual;ii)DossiêdeObservaçõesPertinentes(DOP);iii) Fotografia Cientificamente Controlada (FCC); iv) Análise Topográfica; v) AnáliseDescritiva.Bibliografia:BARREIROS, Patrício Nunes. O Pasquineiro da Roça: a hiperedição dos panfletos de Eulálio Motta.https://eulaliomotta.wordpress.comBARREIROS,PatrícioNunes.Novaspráticasculturaisdaescrita,novasperspectivasdaCríticaTextual.FilolologiaeLinguísticaPortuguesa,SãoPaulo,16:1,2014.BIBLIOTECABRASILIANA.http://www.brasiliana.usp.brGALVES, Charlotte; Pablo FARIA. 2010. Corpus do Português Histórico Tycho Brahe.http://www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/corpus/en/index.html.NAMIUTI,Cristiane;JorgeVianaSANTOS.Novosdesafiosparaantigasfontes:aexperiênciaDOViCnanova linguística histórica. E-Book do Congresso deHumanidades Digitais em Portugal. 2015. Lisboa:UniversidadeNovadeLisboa,2016(prelo).NAMIUTI,Cristiane; JorgeViana SANTOS;Cândida LEITE.Propostas e desafios dos novosmeios dasantigasfontes.AnaisdoXColóquioNacionaleIIColóquioInternacionaldoMuseuPedagógicoUESB.VitóriadaConquista:UESB,2011.PAIXÃODESOUSA,MariaClara.MemóriasdoTexto.RevistaTextoDigital,2:1,2006.PhiloBiblon. Dir. Charles B. Faulhaber. Bancroft Library. University of California, Berkeley, 1997.http://vm136.lib.berkeley.edu/BANC/philobiblon/index.html.A FILOLOGIA DIGITAL EM DISCUSSÃO: O CASO DA EDIÇÃO DO ROMANCEIRO DE ALMEIDA GARRETT

SandraBotoFundaçãoparaaCiênciaeTecnologia–CIAC,UniversidadedoAlgarve/CLP,UniversidadedeCoimbraNesta comunicação abordar-se-á a estruturação da edição crítico-genética integral doRomanceiro de Almeida Garrett enquanto produto digital. Pretende-se, efectivamente,reproduzir os 99 poemas e respectivos paratextos que compõem actualmente o corpusromancístico do poeta, após a integração dos materiais manuscritos oriundos da ColeçãoFutscherPereira,descobertaem2004.

Emsíntese,oprocessocompositivodecadaumdosromanceseditadosporAlmeidaGarrettrevelou-nos uma obra com algumas características peculiares que poderemos simplificar doseguinte modo: a) necessariamente inacabada; b) materialmente dispersa; c) composta porpoemasnarrativos emestádiosdeelaboração radicalmentedistintos equemantêmrelaçõesbastante heterogéneas com as suas fontes, que vão desde a mera tradução criativa deromances de autoria alheia, passando pela recriação romântica da própria minerva doVisconde, e ainda por versões de romances consideravelmente próximas da conjecturaltradiçãooraldoséculoXIX.

Partindo das particularidades deste corpus, apresentaremos o mapeamento da ediçãodigitaldoRomanceiro,discutiremosasopçõestecnológicasemimplementaçãoeabordaremosas estratégias ecdóticas adoptadas neste projecto actualmente em curso, que aqui serãodevidamentejustificadas.Palavras-chave:AlmeidaGarrett;Romanceiro;ediçãocrítico-genética;filologiadigital;Romantismo.

31

Bibliografia:SandraBOTO(2011).AsFontesdoRomanceirodeAlmeidaGarrett:umapropostade‘ediçãocrítica’.Tesede doutoramento no Ramo de Línguas, Literaturas e Culturas, Especialidade de Estudos Literários,apresentadaàFaculdadedeCiênciasSociaiseHumanasdaUniversidadeNovadeLisboa.SandraBOTO(2013).“Nuevasperspectivasparaunviejoproblema:laedicióncríticadelromancerodefuente tradicional”. Dicenda. Cuadernos de Filología Hispánica, Norteamérica, 30, feb. 2013. DOI:http://dx.doi.org/10.5209/rev_DICE.2012.v30.41362.Url:http://revistas.ucm.es/index.php/DICE/article/view/41362[últimoacessoa16dejunhode2016].Dino BUZZETTI (2009). “Digital editions and text processing” in Marilyn Deegan and KathrynSutherland(eds.),TextEditing,PrintandtheDigitalWorld.Farnham:Ashgate,pp.45-61.Matthew JamesDRISCOLLandElenaPIERAZZO(eds.) (2016).Digital ScholarlyEditing.TheoriesandPractices.Cambridge,UK:OpenBookPublishers.Jerome McGANN (2014). A New Republic of Letters: Memory and Scholarship in the Age of DigitalReproduction,Cambridge,MA:HarvardUniversityPress.FERNANDO PESSOA 2.0: NOVAS FERRAMENTAS PARA VELHOS PROBLEMAS

SimoneCelaniSapienzaUniversitàdiRomaOEspólioPessoarepresenta,reconhecidamente,umexemploextremonoâmbitodafilologia,devido em particular à sua estrutura, muito ampla e complexa, mas que conserva poucoselementos da ordenação original deixada pelo autor. Na materialidade dos documentosoriginaisestãopresentes,porém,inúmerosindíciosquepermitemreconstruirdiferentesgrausdeproximidadegenéticaentreaspeças,dadosfundamentaisparaeditarcriticamenteasobrasdeFernandoPessoa;masoselementosateremconsideraçãosãoinúmeroseconseguirumavisão global utilizando apenas os métodos tradicionais exigiria tempos de análise muitolongos.NaUniversidadedeRomaLaSapienzacomeçouumanovaexperimentaçãoquevisaexaminarumamplonúmerodevariáveisdeumaformaautomática,utilizandoumalgoritmoquedesfruteaspotencialidadesdosSistemasArtificiaisAdaptativos(AAS,ArtificialAdaptiveSystems)eforneçaummapagráficodasligaçõesentreelas(formalmenteumMST,MinimumSpanningTree).Nosúltimosanosdeu-seinícioaumprimeirotestebaseadonumdatasetquecontémuma formalização das variáveismateriais (suportes, canetas, etc.) das peças (Castro1990:33)quecompõemOcasoVargas,identificandoumasériedefamíliasouclustersemqueas peças podem ser divididas, cada uma das quais possivelmente associada a uma fase daescrita da obra.Omapa resultante da análise automática pode ser confrontado com dadosligadosaosconteúdosdaspeçasefornecerindicaçõesúteissobreassincroniasnaproduçãodediferentespartesdeumamesmaobraoudeobrasdiferentes.Ampliandooexameaobrasmaisextensas, a séries de obras ou,melhor ainda, ao Espólio na sua totalidade, será possível teruma hipótese de visão estratigráfica do Espólio, demodo a identificar ligações entre partesdiferentesdaobradePessoaeafornecerimportantesindicaçõescronológicasegenéticas.Emconclusão o que se pretende demonstrar não é, obviamente, a possibilidade de teorizar aexistência de um filólogo automático ou virtual, mas a de integrar novas ferramentas notrabalhodeumfilólogodecarneeossoque tenteenfrentaradifícil tarefade reconstruirasgrandesfasesdaescritadaobradePessoa.Referências:CANETTIERI, Paolo, LORETO, Vittorio, ROVETTA, Marta, SANTINI, Giovanna, Ecdotics andInformationTheory,in“FilologiaCognitiva”3(2005),http://w3.uniroma1.it/cogfil/ecdotica.htmlCASTRO, Ivo,Editar Pessoa, EdiçãoCrítica de Fernando Pessoa, Colleção “Estudos”, vol. I, ImprensaNacional–CasadaMoeda,Lisboa,19901,20132

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

32

CELANI,Simone,ArtificialAdaptiveSystemsforPhylologicalAnalysis:thePessoaCase,inArcheosema.ArtificialAdaptiveSystemsfortheAnalysisofComplexPhenomena.CollectedPapersinHonourofDavidLeonardClarke,editedbyMarcoRamazzotti,«ArcheologiaeCalcolatori»,Supplemento6(2014),203-215CELANI,Simone,QualePessoa?Ultimeedizionienuoveprospettive,in«CriticadelTesto»XVI/2(2013),335-353CELANI, Simone, I SistemiArtificialiAdattivi e l’operadi FernandoPessoa: possibili applicazioni a finiecdoticiecritici,in«Semicerchio»LIII/2(2015),109-116.Edizioni critiche digitali/Digital Critical Editions, a cura di Paola Italia e Claudia Bonsi, SapienzaUniversitàEditrice,Roma,2016.RAMAZZOTTI, Marco, Archeosema. Un modello archeologico per la ricerca teorica, analitica esperimentaledeifenomenicomplessi,inArcheologiaeCalcolatori24(2013),283-303.

SESSÃO 7B. EDIÇÃO DE CANCIONEIROS

PROBLEMAS DE AUTORIA NO CANCIONEIRO DE MEM RODRIGUES TENOIRO

EduardoRuiP.SerafimFaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboa

O cancioneirodeMemRodriguesTenoiro é constituídopor 13 composições poéticas e pelofragmentodeumaoutra.Nasuasimplicidade,estaafirmaçãopecapormaximalista,poisnãoequacionaemtodaasuadimensãoocomplexoproblemadeatribuiçãoqueenvolveapoesiade Tenoiro; do lado oposto, pode colocar-se a perspectiva minimalista que, com certezaabsoluta,apenasreconheceaopoetaaautoriadecincodaquelestextos.

AproduçãopoéticadeMemRodriguesTenoirochegouaténóspor intermédiodas trêsgrandes compilações da poesia profana galego-portuguesa, distribuindo-se, no entanto, deforma desigual por cada uma delas: enquanto o Cancioneiro da Ajuda (testemunho A)contempla somente duas cantigas de amor, o da Vaticana (V) contém, pela ordem que sesegue, 13 textos, em que se incluem as duas composições presentes em A: seis cantigas deamor,umatenção,quatrocantigasdeamigoeduasdeescárnio.OcancioneirodaBibliotecaNacional (B), por sua vez, apresentando estamesma sequência de textos, não reconhece atodos a autoria deMem Rodrigues Tenoiro, mas somente a uma das cantigas de amor, àsquatro de amigo e a uma de escárnio, exactamente asmesmas composições que aparecemlistadascomosuasnotestemunhoconhecidoporLaTavolaColocciana(C),umacoincidêncialógica,poisCétidocomoíndicedeB.Asrestantescantigas,atendendoaoselementostextuaisem presença, são susceptíveis de ser atribuídas a Afonso Fernandez Cebolhilha, excepto noque respeita à segunda cantiga de escárnio, que se encontra sob a rubrica de Airas PerezVuitoron.

Nacomunicação,sendotidosemcontaostrabalhosdeG.Marronisobreoscancioneirosde Tenoiro e Cebolhilha, pretende-se justamente apresentar o problema de atribuição queenvolve o trovador Mem Rodrigues Tenoiro, bem como pôr em evidência os elementoscodicológicos e textuais que apontem para uma decisão de atribuição das cantigasrelativamente às quais os manuscritos consentem ou impõem a dúvida. Este é um passofundamentalparaoeditorquenecessitededelimitarocorpusdeediçãocríticadascantigasdeTenoiro.

33

Palavras-chave:cantiga;Tenoiro;rubrica;autoria;manuscritos.

Bibliografia:BREA,Mercedes(coord.),LíricaProfanaGalego-Portuguesa,SantiagodeCompostela,1996.CancioneirodaAjuda,ed.fac-similada,Lisboa,1994.CancioneirodaBibliotecaNacional(Cod.10991),ed.fac-similada,Lisboa,1982.CancioneiroPortuguêsdaVaticana(Cód.4803),ed.fac-similada,Lisboa,1973.GONÇALVES,Elsa,LaTavolaColocciana—AutoriPortughesi,Paris,1976.MARRONI, Giovanna, «Sull'entità del canzoniere di Men Rodrigues Tenoiro», Studi di FilologiaRomanzaoffertiaSilvioPellegrini,Padova,1971.MARRONI,Giovanna,«AfonsoFernandezCebolhilhaeilsuominuscolocanzoniere»,EstratodaStudiMediolatinievolgari,XVIII,Pisa,1970.LANCIANI, Giulia e TAVANI, Giuseppe (org. e coord.), Dicionário da Literatura Medieval Galego-Portuguesa,Lisboa,1993.OLIVEIRA,AntónioResendede,DepoisdoEspectáculoTrovadoresco—AEstruturadosCancioneirosPeninsulareseasRecolhasdosSéculosXIIIeXIV,Lisboa,1994.TAVANI, Giuseppe, Trovadores e Jograis —Introdução à Poesia Medieval Galego-Portuguesa, Lisboa,2002.VASCONCELOS,CarolinaMichaelisde,CancioneirodaAjuda,ed.crítica,Lisboa,1990(reimpressão).CAROLINA MICHAËLIS E HENRY LANG: UM DIÁLOGO ENTRE ROMANISTAS

LêniaMárciaMongelliUniversidadedeSãoPauloYaraFrateschiVieiraUniversidadeEstadualdeCampinasEm 1894,o filólogosuíço-americanoHenryLangpublicavaDasLiederbuchdesKönigsDenisvonPortugal,ediçãocríticadocancioneirodionisinoelaboradadentrodasnormasdo“melhormétodo científico”,naspalavrasdeCarolinaMichaëlis (1990: II, 76), que lhededicou logoaseguirdetalhadarecensão(1895a).

AoorganizarmosacoletâneaCancioneirod’elReiDomDeniseEstudosDispersos (2010),reunindo em versão portuguesa a principal produção de Lang acerca da líricagalego-portuguesa,nãonosfoipossível,porquestãodeespaço,incluirarecensãomichaëliana.Propondo-nossanaragoraesta lacuna,contamoscomavantagemdoacessoaoexemplardoLiederbuch pertencente à Biblioteca de Joseph M. Piel, graças à generosa intervenção doProfessor Ivo Castro, responsável pelo achado do volume, a identificação da letra dasanotaçõeseahipótesedequesetratavadoexemplardetrabalhodeCarolinaMichaëlis.

Os meticulosos apontamentos da romanista, ali presentes, asseguram-nos melhorescondições de concluir o projeto anterior. Oferecem-nos subsídios para esclarecer eventuaispontosobscurosdarecensãoeatédocumentaraspectosdométododetrabalhofilológicodaépoca,comoapráticadeausteraeexaustivadiscussãoacadêmicaformal, inclusivepormeiodacorrespondênciafrequente,àsvezesmesmopolêmica,entreosestudiosos.

Arecensãoestádivididaemduaspartes:aprimeirafazcríticaspontuaisàediçãodotextoporLang;asegundadiscuteaspropostasdoromanistasuíçoquantoàorigemdalíricagalego-portuguesa,suasrelaçõescomalíricaprovençalefrancesa,gêneroseformas.Nestetrabalho,porrestriçõesdetempo,concentrar-nos-emosnatraduçãoecomentáriodaprimeirapartedoartigo.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

34

Palavras-chave:CarolinaMichaëlisdeVasconcelos;HenryR.Lang;DasLiederbuchdesKönigsDenisvonPortugal;ediçãotextual.Bibliografia:LANG,HenryR.(1894).DasLiederbuchdesKönigsDenisvonPortugal.Hallea.S.:MaxNiemeyer.LANG, Henry R. (2010). Cancioneiro d’el Rei Dom Denis e Estudos Dispersos. Niterói/RJ: EdUFF.(Coleção“EstanteMedieval”,6)VASCONCELOS, Carolina Michaëlis (1895a). “Zum Liederbuch des Königs Denis von Portugal”,ZeitschriftfürromanischePhilologie,XIX(Halle,MaxNiemeyer)pp.513-541;“Besprechungen”,pp.578-615.VASCONCELOS, Carolina Michaëlis (1895b). “Henry R. Lang.Das Liederbuch des Königs Denis vonPortugal. Zum erstenmal vollständig herausgegeben und mit Einleitung, Anmerkungen und Glossarversehen.Hallea.S.:MaxNiemeyer.CXLVIII,174S.,8º.LitteraturblattfürgermanischeundromanischePhilologie,8,pp.271-276.VASCONCELOS, Carolina Michaëlis (1990). Cancioneiro da Ajuda. Edição de Carolina Michaëlis deVasconcelos.ReimpressãodaediçãodeHalle (1904), acrescentadadeumprefáciode IvoCastroedoglossáriodascantigas(RevistaLusitana,XXIII).2vols.Lisboa:ImprensaNacional-CasadaMoeda.CRÍTICA TEXTUAL E FILOLOGIA MUSICAL. A PROPÓSITO DAS CHANSONS RS 206 E RS 1752

FabioBarberiniCNRS/UniversitédeToulouse2“JeanJaurès”GianlucaBocchinoUniversitàdiRoma“LaSapienza”Aindaqueatradiçãomanuscritadalíricafrancesamedievalapresenteumgrandenúmerodetextos com melodia preservada, as pesquisas de filólogos e musicólogos tendem a andarseparadamentesem,exceptoemcasosmuitoraros,asduasdisciplinasteremaposibilidadededialogar entre si de modo proveitoso. O trabalho que aqui se apresenta propõe uma novaanálisetextualemusicaldaschansonsEsprisd’amoretdelongueatandance(RS206)eQuiquede chanter recroie (RS 1752). Do ponto de vistametodológico, os dois poemas têm especialimportância.

1)AsduaschansonssãopreservadasapenaspeloCancioneiro“deSaint-GermaindePrés”(Paris, Bibliothèque nationale de France, fr. 20050) e pelo Cancioneiro “de Berna” (Bern,Burgerbibliothek,389),respectivamenteUeCnanomenclaturadoscancioneirosdalíricadostrouvères. Trata-se de doismanuscritos que têm uma relação de parentescomuito estreita,comojátemsidodemonstradoporEduardSchwanem1886noseufundamentalestudo(atéhojenuncaimpugnado)sobreatradiçãomanuscritadalíricafrancesamedieval:oprimeiroéprovavelmente omais antigo cancioneiro francês preservado e também guarda asmelodiasdostextos;osegundotemapenasoespaçoparaamúsica,masosneumasnãochegaramasercopiados.

2)Naprimeira transcriçãodoprimeiroversodorefrão,ambosospoemasapresentamomesmo problema (uma leve hipermetria) causado pelomesmo factor (ummonossílabo, ja,queemambososcasosparecetersidoadicionadonummomentoposterior).

Nãoseimportandodocontextomusical,oseditoresrestabelecemamedidadoverso(umheptassílaboagudo)suprimindoomonossílaboemambosostextose,teoricamente,seriaestaasoluçãomaissimples.Noentanto,atranscriçãodamelodiaemUpermiteverificarqueemambos os poemas juntamente comomonossílabo também foi adicionado o neumaque lhecorresponde.Ocontextomusical, portanto, sugere avaliar aquestãoda edição críticadeRS206eRS1752numaperspectivamaisamplaque,aomesmotempo,tenhaemcontaosdados

35

oferecidospelaanálisedotextoeosresultadosdeumaanálisepormenorizadadoselementosmelódicos.BibliografiaV.BELDON, IlCanzoniere di Saint-Germain-des-Prés.Descrizione codicologica e tavola del contenuto,Padova2009.P.MEYER–G.RAYNAUD,LeChansonnierfrançaisdeSaint-Germain-de-Près(Bibl.Nat.fr.20050),Paris1892.P. MORENO, «Intavulare». Tables de chansonniers romans. II. Chansonniers français. 3. C (Bern,Burgerbibliothek389),Liège1999.I.PARKER,NotesontheChansonnierdeSaint-Germain-de-Près, in«MusicandLetters»,60(1979),pp.261-280.G.RAYNAUD,BibliographiedeschansonniersfrançaisdesXIIeetXIIIesiècles,2vols.,Paris1884,I,pp.172-183.E.SCHWAN,DiealtfranzösischenLiederhandschriften,Berlin1886.M. TYSSENS, Les copistes du Chansonnier français U, in Lyrique RomaneMédiévale. La tradition deschansonniers(ActesduColloquedeLiège,1989),Liège1991.M.TYSSENS,«Intavulare».Tablesdechansonniersromans.II.Chansonniersfrançais.5.U(Paris,BnFfr.20050),Liège2007M.TYSSENS,LeChansonnierfrançaisU,Paris2015.H.VANDERWERF,Trouvères-Melodien,Kassel–Basel–Tours–London1977e1979.

36

MUDANÇA LINGUÍSTICA, LINGUÍSTICA TEÓRICA

SESSÃO 1A. PORTUGUÊS MEDIEVAL

FEZELHE CRE ̃E ̃TE QUE AVYA HI HU ̃U ̃ POSTIGOO: FAZER + PARTICÍPIO PRESENTE EM PORTUGUÊS ANTIGO

CláudiaMartinsCLUNL-FCSH,UniversidadeNOVAdeLisboaAlexandraFiéisCLUNL-FCSH,UniversidadeNOVAdeLisboaMariaLoboCLUNL-FCSH,UniversidadeNOVAdeLisboaNoportuguêsantigo(PA), talcomo jáaconteciaem latim(eàsemelhançadoquepodemosobservarnoutraslínguas),oparticípiopresente,alémdeocorrercomonomeeadjetivo,comoacontece no português contemporâneo, podia ainda ocorrer com função verbal, alternando,nestecaso,comformasdogerúndioe,aindaquemaisraramente,doinfinitivo(Martins2015).Umdoscontextosemqueencontramosoparticípiopresentecomfunçãoverbalcorrespondeaestruturasemqueoparticípioéselecionadopeloverbocausativofazer:

(1)Ca,sevoselquerfazerentendente/quevosserviusemoutraencoberta(CEM445,séc.XIII)

(2)E,essanoyte,fezelhecrẽẽtequeavyahihũũpostigooperondetomariaÇamora.(CGE496,séc.XIV)

(3)E auendoo de uender q(ue) o faça p(ri)meiro sabent(e) ao d(i)to (con)uento (e) m(osteiro)(DN184,séc.XV)

(4)oupoemdofogoẽalgũacousaououtrasemelhamtesedanoualguemoutalhoualgũasaruoresousefezperdemtealguusbeensalguemperqualquermaneiraqueseia.(TC,séc.XV)

Ora, segundo os dados do PA, estes são contextos em que se encontra, tipicamente, oinfinitivo. A ocorrência destes particípios presentes no mesmo contexto leva a pensar napossibilidadedeasduasformasterem,emalgummomento,funcionadocomovariantes,assimcomonapossibilidadedenelasencontrarmospropriedadescomuns.DeacordocomMartins(2004), na complementação dos verbos causativos e percetivos do PA, podíamos encontrarconstruçõesfazer-inf(5)ouconstruçõesECM(6):

(5)fazendooprimeirossaberaelas(Documentonotarial,anode1447.Martins2001b:499)

(6)queofezleixarafedeJhesuChristo(CrónicaGeraldeEspanhade1344.CitadoporDavies1994:52)1

Mudança linguística, linguística teórica

37

Estas tinham características diferentes, nomeadamente quanto à obrigatoriedade dasubidadeclíticoseàocorrênciadeclíticonaformadativaouacusativa(cf.Martins2004).

Esta apresentação pretende, a partir da análise de textos literários e não literários doportuguês dos séc. XIII a XVI, incluídos no Corpus Informatizado do Português Medieval(CLUNL/FCSH-UNL),verificarsemelhançasediferençasnaestruturaecomportamentoentreas construções fazer-inf e ECM e as construções em que o particípio presente verbal surgetambémcomocomplementodeverboscausativoscomofazer.

________1ExemplosretiradosdeMartins2004.Referências:MARTINS, A. M. (2004). Ambiguidade estrutural e mudança linguística: A emergência do infinitivoflexionado nas orações complemento de verbos causativos e perceptivos. Linguística Histórica eHistóriadaLínguaPortuguesa.ActasdoEncontrodeHomenagemaMariaHelenaPaiva.Porto:SecçãodeLinguísticadoDepartamentodeEstudosPortuguesesedeEstudosRomânicosdaFac.LetrasUniv.Porto,197-225.MARTINS, C. (2015). “entrante aa noite” O particípio presente no português antigo. Dissertação deMestrado,FaculdadedeCiênciasSociaiseHumanas,UniversidadeNovadeLisboa.OS MÚLTIPLOS VALORES DO ITEM HOMEM NO PORTUGUÊS ANTIGO

ClaraPintoCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaProveniente da forma latina hominem, o nome comum homem surge com frequência emtextosmedievais como traço [+humano] egéneromasculino.Noentanto, aobservaçãodetextos compreendidos entre os séculos XIII e XVI permite identificar outros usos do itemhomem que se afastam do nome comum. Nesta comunicação pretendemos mostrar que oPortuguêsAntigodispunhadeduasoutrasconstruçõesenvolvendoumitemhomem,masquenãosubsistiramparaalémdoséculoXVI.

Por um lado, encontra-se atestado o uso de homem enquanto minimizador indefinidocombaixograudereferencialidade(cf.Pinto2015).Enquantominimizadorindefinido,homemcomportava-se como um tipo particular de item de polaridade negativa fraco (segundoterminologia proposta em Martins 2000), estando, portanto, excluído de contextosafirmativos/assertivos eocorrendomaioritariamente emcontextosnegativos, legitimadoporumoperadordenegaçãoregular,comoem(1).Poderia tambémsurgiremcontextosmodaisnão-negativos como em (2), embora com menor frequência. Em ambos os casos a leituraassociadaéequivalenteaoinglêsanyone.

(1)Eaodoodarainhanuncahomemviopar.(DSG,cap.CCCCLV)(2)[...]esabedequesasarmaseramtaesqueadurpoderiahomemmelhoresachar.(DSG,cap.

CXXXIII)

Poroutrolado,épossívelencontrarocorrênciasdehomemquenãocorrespondemaumusoenquantonomecomum,masquetambémnãopodemserclassificadascomominimizadorindefinidoporocorrerememcontextos afirmativos/assertivos (emboranãoexclusivamente).Este tipo de construção envolvendo um item homem é descrito por Ramat e Sansò (2007)comoumfenómenogeneralizadonaslínguasdaEuropaatéaoséculoXVI.Osautoresutilizamadesignaçãoindefiniteman-constructionsparaclassificarexemploscomoodoItalianoAntigouomo,ilustradoem(3).NosdadosdoPortuguêsAntigoencontramosexemploscomo(4)quese aproximam das indefinite man-constructions descritas por Ramat e Sansò (2007) e quehaviam já sido notadas por Mattos e Silva (1989) como uma estratégia de indefinição dosujeito.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

38

Ambasasestratégiasapresentamcaraterísticascomuns,sobretudoporpartilharembaixareferencialidadeetraçosdeindefinição,peloquesetornanecessáriodistinguircomdetalheoscontextos de ocorrência de cada uma e os traços que permitirão apresentá-las comoconstruçõesdiferentes.

(3)quandouomotruovaladonnolanellavia…(Novellino,32,rr.7-8) Whenonefindsaweaselonhisway’(RamateSansò,2007)(4)Mas,aotempodagrandecoyta,hahomemmestersisoecastigo,consselhoeesforçoeescolher

omelhor.(CGE,2,cap.CDXCIV)

Referências:CGE=Miranda,Sílvia. (2013):Reconstituiçãodoms.LdaCrónicaGeraldeEspanhade 1344 (2.ªparte),RelatóriofinaldeestágiodeMestrado,FLUL.DSG=Piel,J.&I.Nunes.(1988):DemandadoSantoGraal,Lisboa:INCM.MATTOSESILVA,RosaVirgínia(1989):Estruturastrecentistas.Lisboa:INCM.MARTINS, A.M. (2000): “Polarity Items in Romance: Underspecification and Lexical Change”, in S.Pintzuk, G. Tsoulas and A.Warner (eds.),Diachronic Syntax:Models andMechanisms, Oxford/NewYork:OxfordUniversityPress.191-219.PINTO,C.(2015)."Paraahistóriadanegação:ominimizadorhomemnoportuguêsantigo".EstudosdeLingüísticaGalega7.109-123.RAMAT,A.eA.SANSÒ(2007):“Thespreadanddeclineof indefiniteman-constructions inEuropeanlanguages:anarealperspective”,inP.RamatandE.Roma(eds.).EuropeandMediterraneanaslinguisticareas:Convergenciesfromahistoricalandtypologicalperspective.Amsterdam:JohnBenjamins,95-131.CONSTRUÇÕES COM HAVER E TER DE VALOR EPISTÉMICO – ALGUNS DADOS DE TESTEMUNHOS DOS SÉCULOS XIII-XV

MariaTeresaBrocardoCLUNL-FCSH,UniversidadeNOVAdeLisboaOsverboshavereter foramjáobjetodemuitosestudosdiacrónicostendoemvistaexplorardiferentesaspetosdoseufuncionamento(v.,porexemplo,referênciasemMartins2016:23-25),comoverbosprincipaisplenoseleves,asuaemergênciacomoauxiliaresdetemposcompostose tambémasuaocorrênciaemconstruções (haver /terPrep)cominfinitivodenotadorasdevalorestemporaisemodaisdeônticos.

A apresentação proposta tem como objetivo de algum modo contribuir paracomplementarestasabordagenscomadescriçãodedadosdefasespassadasdalínguaemqueestes verbos ocorrem emdiferentes tipos de construções (estruturas transitivas predicativashaver/terSN(por)SN/SA;terqueintroduzindoumacompletiva)quedesencadeiamleiturasepistémicas,sendoparafraseáveispor‘considerar’,‘crer’,‘achar’.

Como é sabido, na diacronia do português haver e ter competem para expressão dosdiferentes tipos de valores acionados na sua ocorrência nas várias construções, e essacompetiçãotendencialmenteviráadeterminarumapredominânciadetersobrehaver,excetonoqueserefereaconstruções(temporaise)modaiscominfinitivo(haverde/terde),emque,muito simplificadamente, se parece antes observar a diferenciação dos valores modaisdeônticosexpressoscomosdoisverbos(diferentementecaraterizadosemportuguêseuropeucontemporâneo,v.,porexemplo,OliveiraeMendes2013:646-651).

Nocasodeconstruçõescomvalorepistémico,terque(introduzindoumacompletiva),porexemplo,pareceestarbastanterepresentadoemtestemunhosantigos,oquecontrastacomoseuaparecimentotardioemconstruçõesmodaisdeônticascomoterde+infinitivo(cf.Mattose Silva 1989: 466). Por outro lado, na língua contemporânea serão, se não residuais, poucoprodutivos estes tipos de construções epistémicas com haver ou ter, exceto talvez na

Mudança linguística, linguística teórica

39

ocorrência em expressões fixas como ter por bem, já atestadas também em testemunhos doportuguêsantigo.

Muitas questões, portanto, se colocam sobre a diacronia dehaver e ter neste contexto.Propõe-se começar por aduzir alguns dados de testemunhos dos séculos XIII-XV, tendo-separa jáprivilegiado, tantoquantopossível,umadiversificaçãodosgénerosdas fontesparaarecolhadeocorrências.Pretende-sequeadescriçãodosdados levantadospossaenquadrarevirasustentardiscussõesteóricassobreaidentificaçãodefatoresdesencadeadoresdeleiturasepistémicas comos referidos verbos, procurando relacionar, e idealmente integrarde formaarticulada, o tratamento dos processos de gramaticalização associados à emergência dediferentesleiturasmodaisnasváriasconstruçõesatestadasnahistóriadalíngua.Palavras-chave:havereter;modalidadeepistémica;gramaticalização.Referências:MARTINS,A.M.(2016)Oportuguêsnumaperspetivadiacrónicaecomparativa.InA.M.MartinseE.Carrilho(eds.)ManualdeLinguísticaPortuguesa.Berlin:DeGruyter,pp.1-39.MATTOS E SILVA, R.V. (1989) Estruturas trecentistas. Elementos para uma Gramática do PortuguêsArcaico.Lisboa:IN-CM.OLIVEIRA,F.eA.MENDES(2013)Modalidade. InE.P.Raposoetal. (orgs.)GramáticadoPortuguês.Lisboa:FundaçãoCalousteGulbenkian,pp.623-669.SOBREMODALIZAR É SOBREMORALIZAR? A COOCORRÊNCIA DE MODAIS NO PORTUGUÊS MEDIEVAL

JoséAntónioCostaCentrodeLinguísticadaUniversidadedoPorto/EscolaSuperiordeEducaçãodoInstitutoPolitécnicodoPortoConstituindoamodalidadeaexpressãodaatitudedolocutorfaceaumdeterminadoestadodecoisas,asuaconcretizaçãolinguísticapodeenvolveroperadoresdediferentestipos,como,porexemplo,verbos(principaisousemiauxiliares),nomes,adjetivos,sufixosouexpressõespredicativas(Oliveira&Mendes,2013).Estadiversidadefavoreceaocorrênciasimultâneadediferentesmarcadoresmodais,comefeitosdiscursivosparticulares.Benveniste(1974)identificaaquiumprocessodesobremodalização(ex:Todosdeveríamospoderouvirmúsica.),enquantoCampos(1997)restringeestadesignaçãoàcoocorrênciadeduas operações de aplicação da modalidade epistémica, por exemplo com o recurso simultâneo aofuturodoindicativoeaosemiauxiliardever(ex:Eledeverápoderviramanhã.).Nesteúltimocaso,ovalorepistémico é exterior à proposição encaixada, constituindo um comentário à relação predicativa(Halliday,2004).

Este tipo de estruturas encontra-se presente já no português medieval, razão pela qual nospropomosanalisar,convocandocritériossintáticos,semânticosepragmático-discursivos,adiversidadede situações de coocorrência demodais no texto deADemanda do Santo Graal (edição de Irene F.Nunes,2005),emparticularcomossemiauxiliarespoderedever(ex:canompodiamcuidarqueemdousanos podesse seer derribado per mal que lhe podesse viir, DSG: 445, 147c). A modalidade epistémicaocorre tipicamente em posição inicial, tendo no seu escopo enunciados deônticos, epistémicos ourelativosàsmodalidadesinternaouexternaaoparticipante(vanderAuwera&Plungian,1998).Permiteexprimirumacontraexpectativaouumefeitodeatenuaçãooude intensificaçãodacrença,operaçõesque, no texto em análise, dialogam com o objetivo de afirmar um código de cavalaria preciso, quecombinaimperativoscristãoseobrigaçõesdapráxisguerreira(Storti,2013).Asobremodalizaçãosurgecomorecursorelevantenaconstruçãodeimagensdolocutoredoalocutárioe,porvezes,nacriaçãodeumefeitomoralizadorfaceaoscomportamentosdoscavaleirosnumasociedadeemmudança.Palavras-chave: modalidade linguística; português medieval; sobremodalização; atenuação eintensificação.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

40

Referênciasbibliográficas:BENVENISTE, É. (1974). Structure des relations d’auxiliarité. In É. Benveniste (1974). Problèmes delinguistiquegénerale(vol.2).Paris:ÉditionsGallimard(Originalpublicadoem1965).CAMPOS,M.H.C.(1997).Tempo,AspectoeModalidade.Porto:PortoEditora.HALLIDAY,M.A.K. (2004).An introduction to functional grammar (3rded.). London:HodderArnold(Originalpublicadoem1985).NUNES,I.F.(2005).ADemandadoSantoGraal(2.ªed).Lisboa:IN-CM.OLIVEIRA,F.&Mendes,A.(2013).Modalidade.InE.B.P.Raposoetal.(orgs.).GramáticadoPortuguês(Vol.1,pp.623-669).Lisboa:FundaçãoCalousteGulbenkian.STORTI, F. (2013). A cavalaria. In U. Eco (org.). Idade Média (1.ª ed. portuguesa, vol. II). Lisboa:PublicaçõesD.Quixote.vanderAUWERA,J.&Plungian,V.(1998).Modality’ssemanticmap.LinguisticTypology,2,79-124.

SESSÃO 2A. PORTUGUÊS CLÁSSICO

PRÓCLISE E ÊNCLISE NA ORATÓRIA BARROCA

AnaPaulaBanzaCIDEHUS,UniversidadedeÉvoraNofinaldoperíodoclássicodalíngua(séc.XVII),estavaemcursoumamudançanosentidodasubstituiçãodapróclisepelaênclisenasoraçõesprincipaisafirmativassemproclisadores,verificando-se que, por um lado, autores comoD. FranciscoManuel deMelo e Pe.AntónioVieiraapresentavamtendênciasmuitodiferentesquantoàposiçãodosclíticos(Martins1994)e,poroutro,que,emVieira, tais tendênciaseramtambémmuitodiversasentreos sermões,estudadosporMartins(1994),ondeaêncliseéjámaioritária,eascartas,estudadasporGalves(2003)eGalves,BrittoeSousa(2005),ondeapróclisesemantémdominante,àsemelhançadoqueseverificanaobradeMelo.OsdadosapresentadosporBanza(2015),combasenaanálisedo texto da defesa do Padre António Vieira perante o Tribunal do Santo Ofício, apontamtambémparaarelaçãodotraçoinovadorcomogénerotextual,jásugeridaporGalves(idem).

Assim,torna-serelevanteaveriguarseousodaênclise,registadonossermõesdeVieira,écomum, ou não, a sermões de outros autores da mesma época, com o objectivo depercebermos se efectivamente estamos perante uma marca do género oratório no períodobarrocoouperanteumamarcadaoratóriadeVieira.

Para o efeito, analisaremos, seguindo uma abordagem fundamentalmente quantitativa,textos oratórios de autores da mesma época, nomeadamente um conjunto de sermões dediferentesautoresrepresentativosdoséc.XVII,comoéocasodeManueldaSilva,FranciscodeMendonça, JoãodeCeita,FilipedaLuz,RafaeldeJesusouAntónioFranco,coligidos,emobrascomoaSylvaConcionatoria(1698-1703),ouavulsos(Lopes1993:29;Marques2004:111).Palavras-chave:diacronia,portuguêsclássico,oratóriabarroca,clíticos.Referências:BANZA,AnaPaula (2015): “PrócliseeêncliseemPadreAntónioVieira”.ComunicaçãoapresentadaaoGallaecia-IIICILH.SantiagodeCompostela,Julhode2015.GALVES,Charlotte(2003):“SyntaxandStyle:clitic-placementinPadreAntonioVieira”.Disponívelem:http://www.tycho.iel.unicamp.br/gentle-wiki/arquivos/3/32/GALVES_C-Fase1e.pdf.GALVES,Charlotte,HelenaBRITTO&MariaClaraPAIXÃODESOUSA(2005): “TheChange inCliticplacement from Classical to Modern European Portuguese: Results from the Tycho Brahe Corpus”.

Mudança linguística, linguística teórica

41

Journal of Portuguese Linguistics, Vol. 4, n.1: Special Issue on variation and change in the Iberianlanguages:thePeninsulaandbeyond,39-67.LOPES, António (1993): “A educação em Portugal, de D. João III à expulsão dos Jesuítas em 1759”.Lusitania Sacra, Revista do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade CatólicaPortuguesa,2ªSérie,tomo5:JesuítasnaCulturaeSociedadePortuguesa,13-41.MARQUES, João Francisco (2004): “O púlpito barroco português e os seus conteúdos doutrinários esociológicos–apregaçãoseiscentistadoDomingodasVerdades”.Viaspiritus,11,111-148.MARTINS,AnaMaria(1994):ClíticosnaHistóriadoPortuguês.FaculdadedeLetrasdaUniversidadedeLisboa.DissertaçãodeDoutoramento.Sylva Concionatoria (1698-1703). Parte I: Sermões Panegyricos. 4 Tomos. Lisboa: Oficina de MiguelDeslandes.DEMONSTRATIVES AS ANAPHORS: ANOTHER CLUE FOR V2 COMPARING OLDER ROMANCE AND GERMANIC

AroldodeAndradeUniversidadedaIntegraçãoInternacionaldaLusofoniaAfro-BrasileiraCharlotteGalvesUniversidadeEstadualdeCampinasSomeworkshavenoticedthatV2languageshaveafrequentuseoftwosetsofpronouns,ad-pronoun (close toademonstrative)beingused to refer tomore salient constituents (cf.Los2012, a.o.). In face of the long-standing debate on the characterization of older Romancelanguages as V2 languages, i.e. with V-to-C movement, we intend to verify whether thisprediction is correct for Classical Portuguese (ClP). Thus themain goal of this paper is toanalyzethestructureandthecontextswheredemonstrativesareusedasanaphors,intheleftperipheryoftheclauseofClP,andexplore itsdifferenceswrt.ModernEuropeanPortuguese(MEP).WeassumethePrinciplesandParametersTheoryviewofdiachronicchange.ThedataincludedsentenceswithpreverbaldemonstrativesautomaticallyqueriedfromtwoparsedandparallelversionsofNewTestamentbooksavailableontheinternet(cf.GalvesandFaria2010andLight2011,inClPandinEarlyHighGerman,respectively).Afterwards,acomparisonwasmadewiththeMEPversion(deAlmeida2001).Wehavefoundtwotypesofsentences.Inthefirstone,aDPprecedesthedemonstrativepronoun,totheleftoftheverb,whichresemblesContrastiveLeftDislocation,asinthefollowingrenderingsofJohn8:26:

(1) a.eeu,oquedeletenhoouvido,issofaloaomundo. b.vndwasichvonyhmgehorethabe,dasredeichfurderwelt

Second, thedemonstrativemaybe topicalized in thevery firstpositionof the sentence,with important similaritiesbetweenClP (2a)andEarlyHighGerman(2b). Interestingly, theMEPcounterpartshowsacliticpronouninthemiddlefield(2c),asintheparallelversionofActs5:31:

(2)a.AesteexalçouDeuscomsuamãodireitaporpríncipeeSalvador... b.denhatGottesrechtehanderhohetzueynemHetzogenundheyland... c.Deus,comasuadextra,oelevouaPríncipeeSalvador...

ThecomparisonbetweentheClPandMEPversionshasshownthattheconstructionin(1)keeps being used only for contrastive topics.We conclude that its larger availability inClPderivesfromtheV-to-Ccharacterofthisgrammar(cf.Antonelli2011),wherethereisahighernumber of preposed phrases, thus making necessary to distinguish between more or lesssalientpronominalantecedents.ThedemonstrativetopicmustbeintheCPfieldbecausetheactivationofthisprojectiontriggersproclisisinMEP.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

42

References:deALMEIDA,J.F.2001.BíbliaSagrada.Lisbon:SociedadeBíblicadePortugal.ANTONELLI, A. 2011. Sintaxe da posição do verbo e mudança gramatical na história do portuguêseuropeu.PhDdiss.,Unicamp.GALVES, C. and P. FARIA. 2010. Tycho Brahe Corpus of Historical Portuguese. Campinas: Unicamp.http://www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/corpus/.LIGHT, C. 2011. Parsed Corpus of Early New High German. Philadelphia: UPenn.http://enhgcorpus.wikispaces.com/LOS, B. 2012. The Loss of Verb-Second and the Switch from Bounded to Unbounded Systems. In:Information Structure and Syntactic Change in the History of English, eds. A. Meurman-Solin, M.-J.López-Couso,andB.Los,21–46.Oxford:OUP.QUE OR QUEM? THE VARIABLE USE OF RELATIVIZERS IN CLASSICAL PORTUGUESE

AroldodeAndradeUniversidadedaIntegraçãoInternacionaldaLusofoniaAfro-BrasileiraInModernEuropeanPortuguese(MEP),arelativizer—atheory-neutralterm,usedinsteadof‘relative pronoun’—preceded by a preposition shows the following distribution:que is usedwith [-human] antecedents,whereasquem is used onlywith [+human] antecedents (Veloso2015: 2089ff). Nevertheless, such a distribution was blurred in Classical Portuguese (ClP)where,forinstance,quecouldrefertoahuman:

(1) entenderei em te comprar aos pescadores negotiate.FUT.1SG in 2SG buy to.the fishermen [de queme dizes que és cativo]. (16thcentury) of who1SG.DAT say.2SG that are.2SG captive

Thepresentationgoalsare (i) todescribe theuseofque/quem inClPand(ii) toexplain theprocessof change intoMEP. I assume thegenerative framework for the studyofdiachronicchange.Thedata,organisedintwoperiods(16th-17thcenturiesand18th-19thcenturies),wereautomaticallyqueried fromsixteenparsed textsavailable in theTychoBraheCorpus (Galvesand Faria 2010), and classified according to the relativizer grammatical function, relativeclause type and the antecedent definiteness level. The results show that, among [-human]antecedents,que isalmostcategorical (99%) inbothperiods. In[+human]contexts, though,the use of quem increases from 87% to 96%. Besides, it is possible to observe that, among[+human] antecedents, the antecedent definiteness level conditions the variation betweendifferentrelativizers,theotherindependentvariablesstudiedbeingnotrelevanttodescribeit.This suggests thatdefiniteness is relevant for reference-tracking in thegrammarofClassicalPortuguese.Inthisgrammar,extrapositionwithanexternalheadisstillpossible,sometimesevenapplyingatlongdistance:

(2)São os índios Catingas nação de língua geral, are.3PLthe indiansCaatingas nation of language general e vivem nos sertões do rio dos Tocantins, and live.3PL in.the wilderness.PL of.the river of.the Tocantins, [aquem muitasvezes fizeramguerra os Portugueses] towhom many times made.3PL war the Portuguese.PL

(17thcentury)

Extrapositionslowlydeclinedovertime,becomingseverelyrestrictedinMEP(Cardoso2012),thus leading to the fixation of an animacy-based distribution of relativizers in this context.

Mudança linguística, linguística teórica

43

FromthereIdiscusstheapplicabilityofananalysisforrelativizersinClPbeinggeneratedbyraisingoftheantecedent(PolettoandSanfelici2015;deVries2002).References:CARDOSO, A. 2012. Extraposition of restrictive relative clauses in the history of Portuguese. In: C.Galvesetal.(eds.),Parametertheoryandlinguisticchange,77-96.Oxford:OxfordUniversityPress.GALVES, C. and P. FARIA 2010. Tycho Brahe Corpus of Historical Portuguese. Campinas: Unicamp.http://www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/corpus/.POLETTO, C. and E. SANFELICI. 2015.On complementizers: insights from Italian restrictive relativeclauses. Paper presented at the 48th Meeting of the Societas Linguistica Europaea, Leiden, theNetherlands.VELOSO, R. (2015). Subordinação relativa. In: Raposo, E. B. P. et al.Gramática do português, vol. II,2061-2134.Lisbon:FundaçãoCalousteGulbenkian.deVRIES,M.2002.TheSyntaxofRelativization.Utrecht:LOT.ORDEM E FUNÇÃO DO CLÍTICO SE NA HISTÓRIA DO PORTUGUÊS

EloísaM.B.LopesUniversidadeFederaldaBahia/UniversidadeEstadualdoSudoestedaBahiaCristianeNamiutiUniversidadeEstadualdoSudoestedaBahiaDannielS.CarvalhoUniversidadeFederaldaBahiaO clítico SE se destaca por apresentar um comportamento particular, pois o SE pode seassociar às funções de sujeito ou objeto. Baseados em Brito, Duarte e Matos (2003),caracterizamos três tipos de SE associados às funções de sujeito e objeto: o SE-Passivo, nasconstruçõesemqueoargumento internoconcordacomoverbotransitivodireto,sendoummorfemaapassivador relacionadoaosujeito;oSE-Indeterminado,nasconstruçõesemqueoverbonãoconcordacomoseuargumentointernoeopronomerecebeocasonominativo;oSE-Reflexivo,nasconstruçõesemque recebeocasoacusativodoverbo transitivodireto.Osestudos de Cavalcante (2006) sobre as ocorrências de SE nas orações não finitas em trêsvariantesdoportuguêsapontamahipótesedequeadiferençanousodeSEcominfinitivonoPortuguêsClássico (PCl),PortuguêsEuropeuModerno (PE) ePortuguêsBrasileiro (PE) estáassociada à natureza do SE (passivo, indefinido ou impessoal). Neste trabalho, partimos dahipótesedequeanaturezadoSE influencia aordemrelativadopronomenos contextosdevariaçãoênclise/prócliseenoscontextosdeinterpolação.Dessaforma,descrevemosousodoclíticoSEemoraçõesfinitas,observandoapossívelexistênciadeumarelaçãoentreaordemeotipo/funçãodesseclíticoemtextosdeautoresportuguesesnascidosnosséculosXVI,XVIIeXVIII,períodoquecompreendeagramáticadoPortuguêsClássico,extraídosdoCorpusTychoBrahe.Os resultados apontamqueousode SE associado à função sujeito, SE-Passivo e SE-Indeterminado,parecefavoreceracolocaçãoenclíticanoscontextosdevariação,mesmonosséculosXVIeXVII,emqueafrequênciadeprócliseésuperior,pois,nadistribuiçãodotipodeSE pela colocação, a frequência de ênclise para esses dois tipos de SEmantém-se bastanteelevadanoscontextosdevariaçãoênclise/próclise.OopostoacontececomoSE-Reflexivoquemantémelevadafrequênciadeprócliseeênclisemarginal.Referências:BRITO,A.M.;Duarte,I.;MATOS,G.ATipologiaedistribuiçãodasexpressõesnominais.In:MATEUS,MariaHelenaMira,etal.GramáticadaLínguaPortuguesa.Lisboa:Caminho,2003,p.826-848.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

44

CAVALCANTE, Silvia Regina de Oliveira. O uso de se com infinitivo na História do Português: DoPortuguês Clássico ao Português Europeu e BrasileiroModerno. 2006. 206f. Instituto de Estudos daLinguagem.UniversidadeEstadualdeCampinas,Campinas.

SESSÃO 3A. DIACRONIA DO PORTUGUÊS

A CODIFICAÇÃO DE TÓPICO DO SUJEITO NAS CONSTRUÇÕES PARTICIPIAIS ABSOLUTAS LICENCIADAS EM TEXTOS DE AUTORES PORTUGUESES DOS SÉCULOS XV, XVI E XVII

AlbaGibrailInstitutodeEstudosdaLinguagem-UniversidadeEstadualdeCampinasOs dados levantados junto ao Corpus Tycho Brahe de orações participiais absolutas,produzidas em textos de autores portugueses nascidos entre o séc. XV e séc. XVII, revelamhaverumamudançana estruturada informaçãopartir do séc.XVIno licenciamentodessasconstruções.Osdados levantadosdo textoCrônicadel-ReiD.AfonsoHenriques, deDuarteGalvão,autornascidonoséc.XV,apresentamvariaçãodaordemdoargumentoverbalnessasoraçõesemcontextoscomverbostransitivose/ouinacusativos.AssumindooDP-argumentalcomosujeito(ÂMBAR1992),osdadosdessetextoapresentamalternânciadasordensSV/VS.

(1)eistofeitofarásaívigíliapondooMeninoquecriassobreoAltar,(G-009,5.27).(2)Elasfeitas,El-ReiDomAffonsopartiudeCoimbraparaaquelelugar,(G-009,28.216).(3)FeitoistoEl-Reicavalgoulogoemumcavalograndeeformoso,(G-009,23.175).(4)EvistaaProcuração,El-Reitomousuafilha,(G-009,50.358).

Por outro lado, os textos dos autores nascidos no séc. XVI e séc. XVII apresentam usocategóricodessasconstruçõesnaordemVS.

(5)DespedidooAlvarado,evindaamonçãodeseiremperaaIndia,embarcouDomJorgenanáoda carreira Belchior Fernandes Correia com todos estes protestos por muitas vias, (C-007,92.812).

(6)AcabadaelaserezouLadainha,(M-010,138.1131)

Aalternânciadeusodaordemderealizaçãodoargumentoverbalnessasconstruçõesdoportuguêseuropeumodernocodificainformaçãodiscursiva,comesseconstituinteemposiçãopré-verbalinterpretadocomotópicoeemposiçãopós-verbalcomofoco(SANTOS1999:72).

Nos dados em (1), (2), (3) e (4), acima, de Duarte Galvão, a codificação de tópico aosujeitoéasseguradanasocorrênciasdeordemSVetambémnasocorrênciasdeordemVS.Em(5) e (6), o sujeito pós-verbal é um elemento retomado do discurso, por conseguinte,codificadocomotópico.

Assim considerando, a não realização de construções participiais absolutas na ordemvarianteSVnostextosdosséc.XVI-XVIIpodeserjustificadaemfunçãodeumamudançanaestruturadainformaçãonoportuguêsdesseperíodoquelevaàrestriçãodeossujeitosdessasorações ocuparem uma posição pré-verbal de tópico. A posição destinada ao sujeitointerpretado como tópicopassa a ser exclusivamente a posiçãopós-verbal.A codificaçãodetópicodesujeitosemposiçãopós-verbalélegitimadaemoraçõesdeclarativasfinitasformadasnesses textos. Nessas orações, o sujeito pós-verbal codifica o tópico familiar (GALVES &GIBRAIL2017).

(7)ComeçouFreiBertolameuseunoviciadodesassombradamente,(S-001,0.135).

Mudança linguística, linguística teórica

45

(8)PassaEzechielaterceiraparede:(V-004,189.2939).

Palavras-chave:Oraçõesparticipiaisabsolutas;Sujeito-tópico;EstruturadaInformação.ReferênciasBibliográficas:ÂMBAR,M.Paraumasintaxedainversãosujeito-verboemportuguês.EdiçõesColibri,Apartado5488-1709.LisboaCodex,1992,p.110-118.SANTOS, A. L. O particípio absoluto em português e em outras línguas românicas. Dissertação demestrado.FaculdadedeLetrasdaUniversidadedeLisboa,1999.GALVES,C.,GIBRAILA.Subject Inversion fromClassical toModernEuropeanPortuguese:aCorpus-Based study. In: A.Cardoso and A.M.Martins (eds.)WordOrder Change. Oxford: Oxford UniversityPress.Noprelo2017.ARTIGO DEFINIDO ANTES DE ANTROPÓNIMO EM DOCUMENTOS PORTUGUESES (SÉCULOS XV E XVI)

YoselinHenriquesUniversidadedeZuriqueSofiaSabatiniUniversidadedeZuriquePartindo da variação diatópica da presença ou ausência de artigo definido antes deantropónimo, esta contribuição procurará aclarar a questão da proveniência destavariabilidade,documentadanoportuguêsatual.Seráexaminada,emparticular,umacentenade textos,datadosdos séculosXVeXVI, comoobjetivodeanalisaro sintagmaemquestãoduranteoperíodoinicialdaexpansãodalínguaportuguesa.Conscientesdocondicionamento,mas também da importância de documentos notariais para a análise linguística (Glessgen2006)focalizaremosanossapesquisanostextosdisponíveisnoCIPM(CorpusInformatizadodo português medieval, http://cipm.fcsh.unl.pt). Sempre que sejam necessáriosesclarecimentosaosdadosobtidos,serãoefetuadascomparaçõespontuaiscomoutrosgénerostextuais.

Baseando-nos na análise qualitativa de dados quantitativos, registados nos documentosnotariais do corpus, anteriormente citado, procuraremos verificar a hipótese de que oportuguêsdosséculosXVeXVIrevelavaumusonãogeneralizadodoartigodefinidoantesdenomeprópriodepessoa,oquepodeterproporcionadovariaçãona(s)norma(s)doportuguêsatual. Além do estudo de fatores linguísticos, que possam ter favorecido a presença ouausênciadoartigo,considerar-se-ãotambémfatoresextralinguísticoscomoaprocedênciadostextos,quepoderáseresclarecedoraparaanossareflexão.Dadoqueestefenómenonãotemsidoparticularmentecontempladoporestudosrecentes(ressalve-se,noentanto,areflexãodeLins(2009)),procuraremoscontextualizartantoasituaçãodoportuguêsnesteperíodo,comoaindausossignificativosemoutraslínguasromânicas.Palavras-chave:artigodefinido;antropónimos;documentosnotariais;séculosXVeXVI.Bibliografiasumária:CALLOU,DinaheSilva,GiselleM.O.(1997): “Ousodoartigodefinidoemcontextosespecíficos”, in:Hora,Demervalda(org.):DiversidadeLingüísticanoBrasil,JoãoPessoa:Idéia,11-28.CAMPOSJÚNIOR,HeitordaSilva(2010):“Avariaçãodoartigodefinidonoportuguês”,AnaisdoSeta,4,465-475.CAMPOS JÚNIOR, Heitor da Silva (2012): “A variação morfosintáctica do artigo definido na capitalcapixaba”,PercursosLinguísticos2.5,21-39.Disponívelem:<http://periodicos.ufes.br/percursos/article/view/3178>

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

46

CIPM-Corpusinformatizadodoportuguêsmedieval.Disponívelem:http://cipm.fcsh.unl.ptGLESSGEN, Martin Dietrich(2006): “L’écrit documentaire dans l’histoire linguistique de la France”,in:Guyotjeannin, O., La langue des actes, Actes du XIe congrès de la Commission internationale dediplomatique,Paris:Éditionsenlignedel'Écoledeschartes(ELEC),1-18.KYRIAKAKI,Maria (2014): „The threedegreesofdefiniteness”, in:Proceedingsof the fortiethAnnualMeeting of the Berkeley Linguistics Society. Disponível em:<http://www.revitalization.al.uw.edu.pl/Content/Uploaded/Documents/bls40_proceedings_OlkoSullivan2014%20(1)-f6e3c79c-d33b-4b91-b186-635851507b7a.pdf>LEDGEWAY, Adam (2015a): „Parallels in Romance Nominal and Clausal Microvariation”, Revueroumainedelinguistique,LX,105-127.LINS, Alex Batista (2009): “Nas fases arcaica e moderna do português: a questão dos usos efuncionamentosdosartigos”,in:AnaisdoVICongressoInternacionaldaABRALIN-ABRALIN40Anos,2009,149-158.Disponívelem:<http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/ABRALIN_2009/PDF/Alex%20Batista%20Lins.pdf>SOBRE O USO DO MODO SUBJUNTIVO AO LONGO DA HISTÓRIA DO PORTUGUÊS

DinahCallouUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro/CNPqEricaAlmeidaInstitutoFederaldoRiodeJaneiroO objetivo deste trabalho é discutir a variação de uso do modo subjuntivo, maisespecificamente, emorações encaixadas, ao longodahistóriada línguaportuguesa, fazendouso da teoria demudança linguistica de base laboviana (Labov, 1994). Trabalhos anteriores(Callou&Almeida,2009;2016), combaseemoutroscorpora, jácomprovaramqueousodosubjuntivo/indicativoestá sempre relacionadoaocomponente léxico/semânticodoverbodaoraçãomatriz.

AanálisedetextosescritosdoséculoXIIIaoXXrevelouqueavariaçãodetectadanosdiasatuais remontaaoportuguêsarcaico.Foipossível concluirque (i)algunsverbosapresentamumusoestáveldeumdosdoismodos,nodecorrerdosséculos,e(ii)apenasalgunsadmitemumusovariável(exemplos1e2),commaior/menorfrequênciadeusodoportuguêsmedievalao contemporâneo. O estudo concentrou-se em verbos que podem ser enquadrados sob orótulo ‘de opinião’ (epistêmicos), verbos que foram registrados em praticamente todos osséculos.

(1) Eupensavaquefossesemprepelamanhã(2) Poucosaindahojepensamquevãomorrer

É importante ressaltar que há pontos de semelhança/contraste entre o presente e opassado,vistoque(i)algunsverbosmantêmomesmocomportamentoao longodotempoe(ii)outrossofremumprocessodegramaticalização,comesvaziamentosemântico(‘semanticbleaching’),correspondendoaummodalizadorepistêmico,comperdadaestruturasintática,equivalente,algumasvezes,a‘talvez’.

(3)Euacho...queeumelembreassim..quetinhaunscaldeirõesenormes...(4)EuachoqueaquinoRionãoháassimuma...Achoqueé...

Aspectos cruciais relativos ao uso domodo subjuntivo na história do português dizemrespeitoaofatodepropriedadesessenciaisdeseleçãoserempreservadas,asaber:(i)quandooverbo é precedido pela partícula negativa ‘não’ o modo subjuntivo é ativado na oração

Mudança linguística, linguística teórica

47

encaixadae (ii) verbos comopensar selecionamo subjuntivonaoraçãoencaixadaquandooverbodamatrizestánopassado(pretéritoperfeitoouimperfeito).

(4) eu não... não acredito que haja desastre por falta de segurança... quase sempre é porimprudência...dealguém...

(5)eupensei/pensavaquefossealgumacoisaqueeletivesseroubado...

Emsuma,emboramuitosestudiosostenhamsemprevistoaseleçãodomodoverbalcomosendo semanticamentemotivado (realis expresso pelo indicativo e irrealis pelo subjuntivo),vários trabalhos, numaperspectiva diacrônica, em várias línguas românicas, já confirmaramqueéoléxicoocontroladoressencial,levandoaprocessosdegramaticalizaçãoelexicalizaçãoqueacabamporreduzirafrequênciadeusodosubjuntivo.

Palavras-chave:subjuntivo;variação;mudança;oraçõesencaixadas.ReferênciasBibliográficas:CALLOU, D. & ALMEIDA, E. 2009. Textos selecionados do 24ª Encontro Nacional da AssociaçãoPortuguesadeLingüística:Lisboa/UL.CALLOU,D.&ALMEIDA,E.2016.OntheuseofsubjunctivemoodinPortuguese:regionalandnationalvariation. MUHR. R. (ed.) Pluricentric languages and non-dominant varieties worldwide. Parte II.FrankfurtandMain:99-111.LABOV,W.1994.Principlesoflinguisticchange.Internalfactors.Cambridge,Blackwell.A CORRELAÇÃO ENTRE ORDEM SUJEITO-VERBO E PRÓCLISE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UM ESTUDO FORMAL-DIACRÔNICO

MarcoAntonioMartinsUniversidadeFederaldeSantaCatarina/CNPqIzeteCoelhoUniversidadeFederaldeSantaCatarina/CNPqA proposta desta comunicação é correlacionar os resultados empíricos sobre a variação daordem do sujeito em construções transitivas, de Berlinck e Coelho (2017), e a posição dosclíticos, deMartins (2017), em contextos [XP]V com verbos biargumentais na diacronia doPortuguês Brasileiro (PB). Consideramos uma mesma amostra extraída de documentos daimpressabrasileira(cartasdeleitores,cartadeleitoreseanúncios)edecartaspessoaisescritasno Brasil nos séculos XIX e XX, pertencentes ao corpus do Projeto Para a História doPortuguêsBrasileiro(PHPB).OsresultadosdeBerlinckeCoelhosobreaordemdosujeitoemconstruçõesbiargumentaismostramqueasintaxedasconstruçõesVSnaescritabrasileiradoséculoXIXparaoséculoXXmudou:noséculoXIX,VSmanifestaresquíciodepadrões[XP]VS,especificamente nessas construções, commovimento do verbo para uma posiçãomais alta,conforme(1)Em2docorrenteescrevi-tedandocontadasdespezasquefezoChicoduranteomez passado (Carta pessoal, século XIX, Rio de Janeiro); no século XX, a ordem [S]VO é aúnica opção disponível em contextos nãomarcados, conforme (2)ODoutor P. CelydonioconcordoucompletamentecomasindicaçõesdoDoutorReis(Cartapessoal,séculoXIX,RiodeJaneiro). Em relação à posição dos clíticos em “contextos neutros” – orações finitas nãodependentes iniciadas por sujeitos e sintagmas preposicionais não focalizados e advérbiosmodalizadores – definidos por Martins (1994) como contextos de variação diacrônica, osresultadosdeMartins(2017)revelamqueapróclisenoPBcomeçaaapareceremumambientebastante específico: orações com sujeitos DP antepostos em estruturas [XP]V com verbosbiargumentaistambémnoiníciodoséculoXX,conformeexemplo(3)OEurailpasslhedálivreacessoaostrensmaisconfortáveisdaEuropa, levando-oa 13países,comrapidezesegurança.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

48

(Anúncio, século XX, Santa Catarina). A hipótese que defendemos, seguindo a perspectivagerativistademudançalinguística(Roberts;Roussou2003,entreoutros),édequeamudançanospadrõesdeordenaçãodosujeitoestádiretamentecorrelacionadaàmudançanaposiçãosuperficialdosujeito[DP]–de[XP]VSparaSVO–edoclítico–deêncliseparapróclise–nocontexto [DP]V na estrutura da sentença. Mais especificamente, defendemos que os dadosempíricos do início do século XX refletem a implementação de umamudança que está naorigemdagramáticadoPB–quemuitopossivelmentetemorigemnosséculosanteriores:aperdadaspropriedadesdeuma línguaV2(oude [XP]VS irrestrita),commovimentoaltodoverbo.Essamudançaparamétricaestádiretamenteatreladaàposiçãodoclíticoemambientesneutros, em que próclise tambémpassa a ser a única opção disponível nesse contexto comsujeitosDP([DP]clV).Palavras-chave:ordemSV;próclise;mudançasintática;PortuguêsBrasileiro.Referências:BERLINCK,R.;COELHO,I.L.Aordemdosujeitoemconstruçõesdeclarativasnahistóriadoportuguêsbrasileiro. In:CYRINO, S.M. L.; TORRESMORAIS,M.A.Mudança sintáticano português brasileiro:perspectivagerativista.HistoriandooPortuguêsBrasileiro.Volume4.AsairpelaContextoem2017.MARTINS, A. M. Clíticos na história do português. Tese de doutoramento, Universidade de Lisboa,FaculdadedeLetras,1994.MARTINS, M. A. A sintaxe dos pronomes pessoais clíticos na história do português brasileiro. In:CYRINO, S. M. L.; TORRES MORAIS, M. A.Mudança sintática no português brasileiro: perspectivagerativista.HistoriandooPortuguêsBrasileiro.Volume4.AsairpelaContextoem2017.ROBERTS, Ian; ROUSSOU, Anna. Syntactic change: A minimalist approach to grammaticalization.Cambridge:CambridgeUniversityPress.2003.

SESSÃO 4A. PORTUGUÊS BRASILEIRO I

ANÁLISES DAS ORDENS COM INVERSÃO DO SUJEITO (VSO E VOS) NA DIACRONIA DO PORTUGUÊS EUROPEU E DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

AlinePeixotoGravinaUniversidadeFederaldaFronteiraSulPara a realização desse estudo comparativo foi utilizado um corpus linguístico, formal ehistórico, composto por jornais que circularam nas cidades de Ouro Preto MG/Brasil e nacidade de Évora/Portugal. Especificamente, os jornais e as datas utilizadas para elaboraçãodessecorpusforam:ORecreadorMineiro(1845-1848);OJornalMineiro(1897-1900);eTribunadeOuroPreto(1945-1948)noBrasil;AIllustraçãoluzo-brasileira(1856-1858);OManuelinhodeÉvora(1890-1898);eNotíciasdeÉvora(1945-1948)emPortugal.Todacomposiçãodomaterialseguiu amesmametodologia utilizada no corpus eletrônico Tycho Brahe, coordenado pelaprofessora Charlotte Galves na Universidade Estadual de Campinas. Foram realizadasanotações morfológicas (software edictor) e sintáticas (software corpusdraw) nos textos,totalizando300milpalavras.Asbuscassintáticas(softwarecorpusearch)foramrealizadasemtodas as sentenças finitas com verbos de 2 e 3 argumentos, em que o sujeito (argumentoexterno)seencontrassenasordensVSOeVOS.EmrelaçãoaoPE,essapesquisasepautaemMartinseCosta(2016)queestabelecemtrêstiposdessasinversõesaseconsiderarnoPEatual:i)a ordem VSO que exprime juízos téticos , no sentido de Kuroda (1972), 1992, 2005); ii) a

Mudança linguística, linguística teórica

49

ordem VSO, quando o sujeito da sentença é, ao mesmo tempo, foco constrativo e focoinformacional; iii) a ordem VOS, quando é atribuído ao sujeito em posição final umaproeminênciaprosódicae informacional.Os resultadosdiacrônicosquantitativosapontarampreferência pela ordem VSO em relação à ordem VOS no PE nos 3 períodos estudados.Qualitativamente, averigou-se que as sentenças VSO possuíam a noção de evidencialidade(Aikhenvald,2006),permitindoaleituracomjuízostéticosnagrandemaioriadessesdados.JáosresultadosdoPBforamdiferentes,especialmentenaprimeirametadedoséculo20,quandoosdadosdeVOSforamsuperioresaosdeVSO.Alémdadiferençaquantitativa,assentençascom ordem VSO no PB apontaram que a interpretação do sujeito poderia ser vinculada aincidênciadeumaduplamarcaçãodefoco:osujeitosertantofococontrastivo,quantoofocoinformacional.Ouseja,aordemVSOemPBfoifavorecidapelainterpretaçãodemarcaçãodeduplo foco do sujeito e não pela possiblidade de leitura tética como ocorreu no PE. EsseresultadodiacrônicodoPBvaiaoencontrodoestudodeCavalcanteeSimioni(2015)paraoPBatual.OsautoresdefendemquenaordemVSO,emimperativas,aposiçãodosujeitonãoderivadomovimentodoverbo,masdeprocessosdefocalizaçãoqueatuamemcontextospragmáticosdistintos. Em relação à ordem VOS na diacronia do PE, foram identificados os seguintescontextos: i)complementos verbais com uso de clíticos; ii) a existência de uma predicadoinformacionalmente fraco; iii)presençade sujeitos informacionalmente fortese longos. Já osdados VOS do PB, na primeira metade do século 20, além de apresentar uma drásticadiminuição de ocorrências com clíticos, demonstraram preferência de algum elemento (X),antes do verbo, ou seja, umapreferência pornãodeixar o verbo emprimeira posiçãonessalínguadesujeitonuloparcial.ESTRUTURAS DE FOCALIZAÇÃO EM PEÇAS BRASILEIRAS E PORTUGUESAS

SilviaReginadeOliveiraCavalcanteUniversidadeFederaldoRiodeJaneiroMariaEugêniaL.DuarteUniversidadeFederaldoRiodeJaneiroMayaraNicolaudePaulaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiroOs diversos estudos sobre a sintaxe da ordem nas línguas naturais apontam para umacorrelaçãoentreaposiçãodosconstituintesnasentença,maisespecificamente,aposiçãodosujeito (préoupós-verbal),e fatoresdenaturezagramaticaledeestrutura informacionaldasentença. Assim, em determinadas línguas, o sujeito pós-verbal aparece em sentençasinterrogativas e/ou subordinadas devido à natureza do complementizador. O estatutoinformacional do sujeito também influencia a sua posição: grosso modo, sujeitos cominformação velha tendem a aparecer na posição pré-verbal, ao passo que sujeitos cominformaçãonova (de foco informacional ou contrastivo) tendemaocuparumaposiçãopós-verbal,comoocorreemEspanholeItaliano,porexemplo.

A título de exemplo, sobre a sintaxe da ordem no Português Brasileiro, tomemos otrabalhopioneirodeBerlinck(1989),queobservatanto“fatoresgramaticais”quanto“fatoresdiscursivos” para a ocorrência do sujeito pós-verbal: até o século XIX, estava em jogo oestatuto informacional do sujeito como favorecedor da sua posição pós-verbal; a partir doséculo XIX, o fator favorecedor de sujeitos pós-verbais passa a ser o tipo de verbo (verbosinacusativos). Mais recentemente, com base numa amostra de cartas pessoais, Cavalcante(2014) observa que a diminuição de VS (em comparação com SV) está relacionada tanto afatoresgramaticaisquantoaoestatutoinformacional,talcomoobservadoporBerlinck(1989).

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

50

OsresultadoscomcartaspessoaistambémrevelamqueadiminuiçãodeVSestáassociadaaumaumentodeconstruçõescomsujeitosclivadosparamarcarfocalização.

Ao recuarmos no tempo, do Português Antigo até o Português Europeu (PE), tambémvemosalteraçãonasintaxedaordemdosujeito, sugerindoumamudançadeumperíododesintaxe V2 no Português Antigo e no Português Clássico para uma sintaxe SVO no PEmoderno(GalvesePaixãodeSousa,2005;Ribeiro,2007;2015;KatoeRibeiro,2009).Emtodososperíodosparecehaverumarelaçãomaisoumenosintrínsecaentreoestatutoinformacionaldosujeitoesuaposiçãopós-verbal.

A sintaxe das estruturas focalizadas envolve não somente a posição do sujeito, mastambém a posição de outros constituintes focalizados (como o objeto, o sintagma verbal, esintagmas adjuntos). Neste trabalho, objetivamos fazer uma análise comparativa dasconstruçõesdefoconumaamostradepeçasdeteatroescritasaolongodosséculosXIXeXX,em comparando PB e PE. Por hipótese, com base em resultados de pesquisas anteriores(Duarte, 1992; Kato, 2009; Pinheiro e Marins, 2012; Nicolau de Paula, 2016), esperamosencontrar na amostra do PB a diminuição de VS associada às construções clivadas,diferentementedoPE,emque,alémdaclivagem,ofocopodeaparecernasconstruçõescomsujeitospós-verbais.Alémdisso,comonoPBaordemSVestáassociadatantoasentençasdejuízo categórico, quanto a sentenças de juízo tético (Britto, 2000; Kato e Martins, 2016),esperamos encontraroutras estratégiasde focalizaçãoparamarcar sentenças apresentativas.Dessemodo,vamosobservar:(i)opercursodiacrônicodeconstruçõesdefocalizaçãoempeçasbrasileiras e portuguesas; (ii) as diferenças nas estruturas de focalização e os constituintesfocalizados (sujeito, objeto, sintagmas verbais, adjuntos); (iii) a relação entre as estruturasfocalizadaseopadrãodeordememsentençasdejuízocategóricoetéticonoPBenoPE.Referências:BERLINCK, R. A. (1989) A construção V SN no português do Brasil - um estudo diacrônico sobre ofenômenodaordem.In:F.L.Tarallo.(Org.).FotografiasSociolingüísticas.Campinas,SP:Pontes.p.95-112.BRITTO,H.S.(2000)SyntacticcodificationofcategoricalandtheticjudgmentsinBrazilianPortuguese.In:M.Kato;E.Negrão.(Org.).BrazilianPortugueseandtheNullSubjectParameter.FrankfurtamMain:Vervuert,p.195-222.CAVALCANTE, S. R. de O. (2014) Posição do sujeito e posição social: um caso de competição degramáticasemcartasdosséculosXIXeXX.FilologiaeLinguísticaPortuguesa(Online),v.16,p.147-170.NICOLAUDEPAULA,M. (2016)AOrdemVS/SV e as interrogativasQ no PB e no PE: uma análisediacrônica.TesedeDoutorado.FaculdadedeLetras/UFRJ.DUARTE,M.E. L. (1992)AperdadaordemV(erbo) S(ujeito) em interrogativas-QunoportuguêsdoBrasil.DELTA.v.8,n.Especial,p.37-52.DUARTE, M. E. L. (2012) O sujeito em peças de teatro (1833-1992): estudos diacrônicos. São Paulo:ParábolaEditorial,2012.v.1.GALVES,C.M.C.;SOUSA,M.C.P.(2005)CliticplacementandthepositionofsubjectsinthehistoryofEuropeanPortuguese. In:TwanGeerts; Ivo vanGinneken;Haike Jacobs.. (Org.).RomanceLanguagesandLinguisticTheory2003;SelectedPapersfrom´GoingRomance2003.Amsterdam:JohnBenjamins,p.97-113.KATO, M. (2009) Mudança de ordem e gramaticalização na evolução das estruturas de foco noPortuguêsBrasileiro.RevistadoGEL(Araraquara),v.38,p.375-385.KATO,M.; MARTINS, A. M. (2016) European Portuguese and Brazilian Portuguese: an overview onwordorder. In.W.LeoWetzels; J.Costa; S.Menuzzi. (eds.)TheHandbookofPortugueseLinguistics.Oxford:Wiley-Blackwell.p.15-40.KATO,M.A.;RIBEIRO,I.(2009)CleftsentencesfromoldPortuguesetoModernBrazilianPortuguese.In: A. Dufter & D. Jacob. (Org.). Focus and Background in Romance Languages. Amsterdam: JohnBenjamins,p.123-154.PINHEIRO,D.O.R.;MARINS,J.E.(2012)AtrajetóriadasinterrogativasQU-clivadasenãoclivadasnoportuguêsbrasileiro. In:MariaEugeniaLammogliaDuarte. (Org.).Osujeitoempeçasde teatro (1833-1992)Estudosdiacrônicos.SãoPaulo:ParábolaEditorial,p.161-180.

Mudança linguística, linguística teórica

51

RIBEIRO,I.(2007)AsmudançassintáticasdoPE-Questõessobreperiodização.In:AtalibadeCastilho;MariaAparecida TorresMorais; Ruth Lopes; SôniaCyrino. (Org.).Descrição,História e Aquisição doPortuguêsBrasileiro.SãoPaulo;Campinas:Pontes;Fapesp,2007,p.529-548.RIBEIRO, I. (2015) Ensaios em sintaxe diacrônica do português. Araújo, R. C.; C. Figueiredo (eds.)Salvador:EDUFBA.SINTAXE DA ORDEM E ESTRUTURA INFORMACIONAL DA SENTENÇA NA HISTÓRIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

SilviaReginadeOliveiraCavalcanteUniversidadeFederaldoRiodeJaneiroOPortuguêsBrasileiro(PB)temsidodescritocomoumagramáticacomordemVSrestritaacontextos inacusativos e apresentativos (Tarallo e Kato, 1989; Berlinck, 1989; Tarallo, 1993;Kato,Duarte,Cyrino,Berlinck,2006).NoquetangeaosestudossobreasintaxedaordemnoPB,apartirdeTaralloeKato(1989),diversosestudosforamfeitosassociandoospressupostosteóricos do modelo gerativo com os do modelo da sociolinguística laboviana. Assim, osestudosquepassamacontarcomafrequênciadosdadosforamfundamentaisparaentenderasdiferençasparamétricasexistentesentrePBePortuguêsEuropeu(PE),deumlado;eentrefases distintas do PB. De fato, diversos estudos diacrônicos têmmostrado a diminuição daordemVSaolongotempo,nãosóemrelaçãoàordemSV,mastambémemdiversoscontextossintáticos: o trabalho de Berlinck (1989) mostra uma mudança na influência de fatorescondicionadores da ordemVS: de fatores discursivos para fatores estritamente sintáticos. AautoramostraqueatéoséculoXVIII,ossujeitospós-verbaistinhamestatutoinformacionaldefoco (informacional ou contrastivo); ao passo que na amostra do século XX o fator queinfluenciaosujeitopós-verbalpassaaseratransitividadeverbal(verbosmonoargumentais).

Nestesentido,este trabalhoprocura investigaraposiçãodosujeitoemcartas familiaresescritas no Brasil entre os séculos XIX e XX a fim de observar: (i)mudanças na sintaxe daordemenvolvendoaposiçãodosujeito;(ii)codificaçãodaestruturainformacionaldasentençaao longodotempo; (iii) fatoresestritamentesintáticosquecondicionemaordemVSnoPB;(iv)caracterizaçãodaordemVSnoPB.

O andamento da pesquisa está no sentido de analisar a mudança que ocorre nacodificaçãodos juízos téticoecategóricoeaordemVS.ParaBritto (2000)eKatoeMartins(2016),aordemSVnoPBatualmarcatantosentençascomjuízocategórico,quantoasdejuízotético;diferentementedoqueocorrenoPEenahistóriadoPB.Dessemodo,nestetrabalho,aobservação da mudança na ordem VS para SV analisa também a questão do juízo téticomarcado com SV. Neste trabalho, tomo como ponto de partida resultados encontrados empesquisas anteriores (Cavalcante, 2014) em que a diminuição da ordem VS é observada aolongodotempo,eamplioaamostraafimdeobservararelaçãoentreoestatutoinformacionaldosujeitoeadiminuiçãodeVSaolongodotempo.

Paratanto,utilizocomocorpusumaamostradecartaspessoais familiaresescritasentreosanosde1870’se1990’s,porsetefamíliasbrasileiras(CorpusHistLing).Osresultadosiniciaismostram,alémdadiminuiçãodaordemVSaolongodotempoumadiferençadeusoentreosmissivistas (Homens vs. Mulheres). No geral, as mulheres desde o fim do século XIXapresentamíndicesdeVSmenoresdoqueosdoshomenseumtipodeVSrestritaacontextosinacusativos; ao passo que os homens apresentam VS em contextos morfossintáticos maisvariados(sentençasinterrogativasesubordinadas,porexemplo).

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

52

Referências:BERLINCK, R. A. (1989) A construção V SN no português do Brasil - um estudo diacrônico sobre ofenômenodaordem.In:F.L.Tarallo.(Org.).FotografiasSociolingüísticas.Campinas,SP:Pontes.p.95-112.BRITTO,H.S.(2000)SyntacticcodificationofcategoricalandtheticjudgmentsinBrazilianPortuguese.In:M.Kato;E.Negrão.(Org.).BrazilianPortugueseandtheNullSubjectParameter.FrankfurtamMain:Vervuert,p.195-222.CAVALCANTE, S. R. de O. (2014) Posição do sujeito e posição social: um caso de competição degramáticasemcartasdosséculosXIXeXX.FilologiaeLinguísticaPortuguesa(Online),v.16,p.147-170.KATO,M.; MARTINS, A. M. (2016) European Portuguese and Brazilian Portuguese: an overview onwordorder. In.W.LeoWetzels; J.Costa; S.Menuzzi. (eds.)TheHandbookofPortugueseLinguistics.Oxford:Wiley-Blackwell.p.15-40.KATO,M.; CYRINO, S.; DUARTE,M. E. L.; BERLINCK, R. A. (2006) Português brasileiro no fim doséculoXIXenaviradadomilênio.In:R.V.MattoseSilva;S.Cardoso;J.Mota;.(Orgs.)Quinhentosanosdehistória linguísticadoBrasil.Salvador:SecretariadaCulturaeTurismodoEstadodaBahia,p.413-438.TARALLO(1993)Diagnosticandoumagramáticabrasileira:oportuguêsd’aquémed’além-maraofinaldo séculoXIX. In ROBERTS, Ian&M.A. KATO (orgs.) PortuguêsBrasileiro: uma viagemdiacrônica.Campinas:Ed.daUNICAMP.69-106.TARALLOeKATO(1989)Harmonia trans-sistêmica: variação inter e intralingüística. In:Preedição 5.Campinas,Unicamp.315-353.O FEIXE DE PROPRIEDADES RELACIONADAS AO PARÂMETRO DO SUJEITO NULO EM PEÇAS DE TEATRO PORTUGUESAS E BRASILEIRAS DOS SÉCULOS XIX E XX

MariaEugêniaL.DuarteUniversidadeFederaldoRiodeJaneiroJulianaEspositoMarinsUniversidadeFederaldoRiodeJaneiroHumbertoSoaresdaSilvaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiroUmpontochavenasformulaçõesclássicasdoParâmetrodoSujeitoNulo(PSN)éoconjuntodepropriedadesrelacionadasàslínguas[+SujeitoNulo].SegundoRobertseHolmberg(2010),investigações realizadas ao longo de mais de trinta anos mostraram que algumas dessas“prediçõestipológicas”nãoseconfirmavam,levandoaumcertoceticismoemrelaçãoàTeoriadePrincípioseParâmetros(P&P).Paraosautores,oproblemaresidiajustamenteemassociara umdeterminadoparâmetro princípios que pertenceriam a outros domínios específicos dagramática universal. O objetivo desta comunicação é justamente mostrar que muitas daspropriedades,quehojeabarcamumconjuntomaisdetalhadodoqueoinicialmentepropostopor Chomsky (1981) e Rizzi (1982), estão de fato interrelacionadas. A partir de amostrasconstituídas de peças portuguesas e brasileiras, escritas ao longo dos séculos XIX e XX,mostraremos que um sistema de sujeitos nulos consistente como o PE exibe todas aspropriedadeselencadasem (a) enquantoumsistemaemmudançanamarcaçãodovalordoPSN, como o PB, passa a preferir as estruturas em (b). Essamudança não ocorre em taxasidênticas, mas em cadeia a partir de sujeitos [+referenciais] e configurações sintáticas comantecedentsmenosacessíveis.Todasasestruturasem(b),exceto(3b),sãoasformasatuaisdofrancês,queperdeutodasessaspropriedadesdelíngua[+SujeitoNulo].NocasodoPB,onãodesenvolvimento de um expletivo lexical só pode ser explicado pelo fato de este ser umsistema com proeminência de tópico, e línguas com tal característica não apresentam itens

Mudança linguística, linguística teórica

53

lexicaissemconteúdosemântico(LieThompson,1976);daíaocorrênciadealçamentosparaevitarumexpletivonulo.

(1)Osujeitonulodereferênciadefinidaeindeterminadaemcontextosderaiz(neutros)(a)∅ 1psFaloportuguês.∅genTrabalha-semuitoaqui(b)Eufaloportuguês/Vocêtrabalhamuitoaqui

(2)Opronomederetomadavaziovspreenchidoemsubordinadas(contextosneutros)(a)[OJoão]idisseque∅ ivem.(b)[OJoão]idissequeeleivem

(3)Osujeitoexpletivonulovspreenchido(a)∅explNevamuito nessas regiões. /∅explTem uma banca de jornal naminha rua /∅expl

Parecequeelasvêm.(b) [Essas cidades]i nevammuito [t]i. / Eu tenho uma banca de jornal naminha rua. /Elasiparecemque[t]ivêm.

Outraspropriedades:usodepronomespessoaiscomotraço[-animado];perdadainversão“livre”.Referências:CHOMSKY,Noam.LecturesonGovernmentandBinding.Dordrecht:Foris.1981[2a.ed.1982].LI,Charles-N;THOMPSON,Sandra.Subjectand topic: anew typologyof language. In:Charles-N.LI(Ed.)SubjectandTopic.NewYork:AcademicPress,1976,457-489.RIZZI,Luigi.IssuesinItalianSyntax.Foris:Dordrecht,1982.ROBERTS,I.;HOLMBERG,A.2010.Introduction:parametersinMinimalisttheory.InT.BIBERAUERetal. (eds) Parametric Variation: null subjects in Minimalist Theory. Cambridge: Cambridge UniversityPress.1-57.

SESSÃO 5A. PORTUGUÊS BRASILEIRO II

A ARBITRARIEDADE DE TERCEIRA PESSOA EM PB

FernandaCerqueiraUniversidadeFederaldaBahiaTrabalhoscomoosdeKerstens(1993),HarleyeRitter(2002),D’Alessandro(2004),Carvalho(2008)eGruber (2013)demonstramapossibilidadedepronomespessoais referenciaremumconstituintenominalgenérico,ouseja,retomarumDPcujasignificaçãosejadeclasse,grupo,tipoouespécie(cf.SARAIVA,1997,RIBEIRO,2010),comoem(1).

(1) a.Navida,agentebateeagenteapanha.b.Diantedeumasituaçãodessa,vocênãosabeoquefaz.

Em(1a),aleituraédequetodaequalquerpessoabateeapanhaemsuasexperiênciasaolongodavida.Em(1b),háinterpretaçãodequetodaequalquerpessoa,medianteàsituaçãoexpressa, não saberia o que fazer. Em contrapartida, a terceira pessoa apresenta umcomportamentodivergentedasoutrasduas,comoem(2)e(3).

(2) Euadorocaféi./*Euadoroelei.(3) Maçãjéumadelícia./*Elajéumadelícia.

Os nomes café emaçã, presentes nas sentenças (2) e (3), referem-se respectivamente àcategoriacafé eàcategoriamaçã,porconseguinte, todoequalquercafé éadoradoem(2)etodaequalquermaçãéadoradaem(3).Porém,opronomedeterceirapessoanãopreservataiscaracterísticasemprocessodereferenciaçãodosDPscaféemaçã.Quandoaretomadadestes

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

54

nominaisé feita comopronomede terceirapessoa, a interpretaçãodadaédeque falanteeouvintesabemprecisamentequalcafééadoradoequalmaçãédeliciosa.Nomomentoemqueas sentenças (2) e (3) são representadas como (2’) e (3’), o pronome de terceira pessoaconseguerecuperartodasascaracterísticassemânticasdeseureferentesemnenhumprejuízoàssentenças.

(2’)Euadoro[essecafé]i./Euadoroelei.(3’)[AmaçãdoBomPreço]jéumadelícia./Elajéumadelícia.

Quandoopronomede terceirapessoa retomaumDPnu, condiçãonaqualo sintagmanominalassumecategoricamenteinterpretaçãogenérica(LYONS,1999,p.189),oresultadoédeumasentençaagramatical(cf.2e3).Osdadosacimamostramquehárestriçãoquantoapossibilidade de pronomes de terceira pessoa assumirem leitura de “género, tipo, grupo,espécie”.Assim,oobjetivodeste trabalhoé ampliar adiscussãoa respeitoda arbitrariedadepronominal,visandoatestarqueaterceirapessoapronominalnãodispõedestapropriedade.Para tanto, assumimos que a impossibilidade de arbitrariedade em terceira pessoa estejacondicionada não só a presença dos traços [Definido] e/ou [Específico], mas também àausência dos traços [Falante] e [Ouvinte] (cf. HARLEY; RITTER, 2002; BÉJAR, 2003;CARVALHO,2008;CERQUEIRA,2015).Palavras-chave:Arbitrariedade;Terceirapessoa;DefinitudeeEspecificidade.Referências:BÉJAR, S. Phi-syntax: a theory of agreement, 2003. Tese (Doutorado em Linguística) – University ofToronto,Ontário.CARVALHO, D. S. A Estrutura interna dos pronomes pessoais em português brasileiro, 2008. Tese(DoutoradoemLetraseLinguística)–FaculdadedeLetras,UFAL,Alagoas.CERQUEIRA, F. O.A sintaxe do pronome acusativo de terceira pessoa no português brasileiro, 2015.Dissertação(MestradoemLínguaeCultura)–InstitutodeLetras,Salvador:UFBA.D’ALESSANDRO,Syntacticandpragmaticfeatures:acasestudy.Leitura.RevistadoProgramadePós-GraduaçãoemLetraseLinguística(UFAL).Maceió:EDUFAL,n.33,p.185-202.GRUBER,B.Thespatiotemporaldimensionsofperson:amorphosyntacticaccountofindexicalpronouns,2013.Tese(DoutoradoemLinguística).UtrechtUniversity,UiL-OTS.HARBOUR,D.;ADGER,D;BÉJAR,S.PhiTheory:Phi-Featuresacrossmodulesandinterfaces.NewYork:OxfordUniversityPress,2008.HARLEY,H.;RITTER,E.Personandnumberinpronouns:afeature-geometricanalysis.Language,2002,v.78.p.482-526.KERSTENS, J. The syntax of number, person, and gender: a theory of phi-features. Berlin: New YorkMountonDeGruyter,1993[1946].LYONS,C.Definiteness.Cambridge:UniversityPress,1999.RIBEIRO, I. O sistema de definitude e de referencialidade de uma falante afrobrasileira idosa.Comunicação apresentada no congresso da ABECS – Associação Brasileira de Estudos Crioulos eSimilares,2010.SARAIVA,M. E. F. O comportamento gramatical do SN nu objeto. In: Buscar menino no colégio: aquestãodoobjetoincorporadoemportuguês.Campinas:Pontes,1997,p.25-59.POSSESSIVOS DE 3.ª PESSOA NA HISTÓRIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO (PB)

MariaAparecidaTorresMoraisUniversidadedeSãoPauloNahistória doPB, a gramaticalizaçãodas formas você/vocês comopronomespessoais de 2apessoaampliaaambiguidadedopossessivoseu, jádesdeasuaorigemespecificadosomentecom o traço de 3a pessoa gramatical do antecedente, mas não com os traços de número e

Mudança linguística, linguística teórica

55

gênero. Os estudos quantitativos revelam que, no PB falado, em oposição ao escrito, opossessivoseuéreanalisadocomoformacorrespondenteà2apessoasemântica,enquantoa3apessoa semântica envolve o desenvolvimento das formas perifrásticas de+ele/ela/eles/elas,marcadas com traços de pessoa, número e gênero do possuidor (Silva 1991, 1996; Cerqueira1993).Ahipótesedasubsitutiçãodeformasnãoé,porém,consensual.Umasegundahipóteseéque o possessivo seu tornou-se um anafórico (anaphor) de 3a pessoa, interpretado comovarávelligadaecondicionadopelanaturezasemânticadoantecedente.

Porsuavez,aformapreposicionadaafirma-senaretomadadosantecedentesreferenciais,expressando a correferência (Negrão & Muller 1996; Muller 1997; 2003). Neste estudo,proponho dar uma contribuição para os estudos sobre o PB, trazendo para o cenário dadiscussãoseuvs.dele,umtipodeconstruçãodeposseexterna,naqualopossuidorexternoéosujeito nominativo. Na esteira do proposto por TorresMorais & Salles (2016), para a posseexterna dativa, assumirei que, na posse externa nominativa, não houve alçamento oumovimentodopossuidordeumaposiçãointernaàfrasenominal.Aocontrário,aconstruçãoexpressaumadependênciaanafóricaenvolvendoumpossuidornulo(cf.1):

(1) Giseleilava[oscabeloseci]comxampuimportado.

Naabordagemdas reanálisesdospossessivosde3apessoa,nahistóriadoPB,adotareiapropostadeReinhartandReuland(1993),arespeitodascondiçõesdeeconomiaevisibilidadenas dependências anafóricas, as quais impõem que o antecedente esteja plenamenteespecificado com traços- φ, enquanto os anafóricos devem ser subespecificados ou menosespecificadosparaessestraços.Emparticular,assumoaaplicaçãodessascondiçõesparaoPB,apresentada em Menuzzi (1999, 2003b e Menuzzi & Lobo (2016). Segundo os autores, asdiferenteslínguasescolhemasformasligadasemoposiçãoaospronomesplenos.

NocasodoPB,taisformassãoosujeitonulo,reflexivosse/sieopossessivoseu.Nocasodopossessivoseu, taispropriedadessemanifestamdaseguinte forma:alémdemais “pobre”em termos morfossintáticos do que as formas preposicionadas, seu: não tem interpretaçãodêiticanocasodoreferentede3apessoaerequerumantecedendelocalqueoc-comande.Namesma perspectiva, sugiro que o possuidor nulo, nas construções de posse externanominativa,apresentaumarestriçãodelocalidadeadicionalparaasuainterpretação,aqualédependentedeumantecedente sujeito.Ou seja,opossuidornuloéumanafóricoorientadoparaosujeito(cf.Duek2015).(cf.aindaRocrigues2010,segundoaqual,opossuidornuloéumanafóricocontroladoobrigatoriamente).

O embate diacrônico das formas possessivas de 3a pessoa no PB será empiricamenteatestado em corpus histórico coletado dentro do projeto Para a História do PortuguêsBrasileiro(PHPB).Referências:MENUZZI,S.&LOBO,M(2016)BindingandPronominalFormsinPortuguese.InW.LeoWetzels,JoãoCosta,andSergioMenuzzi(eds.).TheHandbookofPortugueseLinguistics.JohnWiley&Sons,Inc.pp.338-355.SUBJUNTIVO VS. INDICATIVO EM ORAÇÕES COMPLETIVAS: PERCURSO DIACRÔNICO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

RosanedeAndradeBerlinckFaculdadedeCiênciaseLetras-Araraquara,UniversidadeEstadualPaulistaO emprego do modo subjuntivo é associado na tradição gramatical portuguesa a regentes(verbais e não-verbais), em contextos de subordinação que veiculam dúvida, volição, não-factualidade, ordem. Em contraste com essa prescrição, estudos sociolinguísticos têm

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

56

demonstradoumatendêncianoportuguêsbrasileiro(PB)aousodeformasdoindicativoemcontextos normativos de subjuntivo (Almeida,2010; Berlinck,2015; Callou, Almeida,2009;Pimpão,1999,2012;entreoutros),comovemosem“euacreditoquenumdevatercota”[AC-85,349]e“agenteacreditaquedevetercobrasmaioreslá”[AC-086,278].

Aocontráriodoquadrosincrônico,opercursodiacrônicoqueconduziuaoestadoatualnãomereceuaindaamesmaatenção(Almeida(2010)ePimpão(2012)sendoexceções).Assimpropusemos um estudo, orientado pelos pressupostos teórico-metodológicos da Teoria daVariação e Mudança Linguísticas (Labov,1972;1994), com o objetivo geral de caracterizar opercursodeentradaeexpansãodoindicativonoscontextosnormativosdesubjuntivonoPB.OestudocobreoperíododosséculosXVIII,XIXeXX(einíciodoXXI)eosdadosprovêmdepeçasteatraiseentrevistassociolinguísticas(ProjetoALIP;Gonçalves,s.d).

A análise dos dados variáveis chegou às seguintes constatações: (i) observa-se umasensíveldiminuiçãononúmeroderegentesdesubjuntivo(108-séc.XVIII,43-séc.XXI));(ii)aexpansãodoindicativoestásujeitaaumforteefeitolexical,nãoatingindouniformementeasclasses semânticas dos verbos tradicionalmente associadas com o subjuntivo; (iii) esseprocessocorrespondeaumatendênciadeentrincheiramentoe lexificaçãodosubjuntivo,quesecircunscreve,então,acertascombinaçõesdeverbosetempos,emparteassociadasaograudesaliênciadasformasverbais.Conclui-seque,paraalémdaservidãogramaticaldequefalavaCâmara Jr. (1985,p.133), o caráter idiossincrático do subjuntivo no PB se caracteriza nesseprocessocomoumacrescenteservidãolexical.Palavras-chave:modoverbal;oraçãocompletiva;variaçãoemudançalinguística;portuguêsbrasileiro.Referências:ALMEIDA,E.S.de.Variaçãodeusodosubjuntivoemestruturassubordinadas:doséculoXIIIaoXX.RiodeJaneiro,2010.TesedeDoutorado.UFRJ.2010.BERLINCK, R.A. Entre subjuntivo e indicativo: para onde e até onde vai a variação? ComunicaçãoapresentadanoVSIMELP.Outubrode2015.Lecce,ItáliaCALLOU, D.; ALMEIDA, E. Mudanças em curso no português brasileiro: contrastando duascomunidades.TextosSeleccionados.XXIVEncontroNacionaldaAPL.Lisboa,APL,2009,p.161-168.CÂMARAJr.,J.M.Históriaeestruturadalínguaportuguesa.4ed.RiodeJaneiro:Padrão,1985.GONÇALVES, S.C.L. Banco de dados Iboruna: amostras eletrônicas do português falado no interiorpaulista.(http://iboruna.ibilce.unesp.br/)LABOV,W.PadrõesSociolinguísticos.SãoPaulo:ParábolaEditorial,2008[1972].LABOV,W.PrinciplesofLinguisticChange.Vol.1:InternalFactors.Cambridge,MA/Oxford:BlackwellPublishers.1994.PIMPÃO, T.S. Variação no presente do modo do subjuntivo: uma abordagem discursivo-pragmática.DissertaçãodeMestrado.UFSC.1999.PIMPÃO,T.S.Usovariáveldopresentenomodosubjuntivo:umaanálisedeamostrasdefalaeescritadascidadesdeFlorianópoliseLagesnosséculosXIXeXX.TesedeDoutorado.UFSC.2012.“EU NÃO VI NÃO, EU” – A RECORRÊNCIA DE NOVAS ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

MariaHozanetedeLimaUniversidadeFederalDoRioGrandeDoNorte–ProgramadePós-graduaçãoemEstudosdaLinguagemTeresadeOliveiraUniversidadeFederalDoRioGrandeDoNorte–ProgramadePós-graduaçãoemEstudosdaLinguagem

No ano de 2003, observamos, na cidade de Maceió (Alagoas-Brasil), a recorrência dedeterminadasestruturasnalínguaportuguesaquenoschamaram,naépoca,certaatenção.Em

Mudança linguística, linguística teórica

57

tais estruturas, os pronomes pessoais do caso reto apareciam duplicados em específicosenunciadosdosfalantes,comopodeservistonosexemploscoletados:“eunãovielanão,eu”,“elacomprouablusa,ela”,“eunãofaçoisso,eu”.Naépoca,considerávamosquetaisestruturaspoderiamser,apenas,marcadeumestiloprópriodedeterminadossujeitos.Todavia,passados14anos–emboranãotenhamosdesenvolvidoinvestigaçõesmaisdensas,acoletadosdadosfoisendo realizada –, percebemos que há recorrência significativa no uso dessas estruturas. E,destavez,emsituaçõesmaisformais–aexemplodasaladeaula–eemdiversosestadosdopaís,comoPernambucoeRioGrandedoNorte.Domesmomodo,temosobservadooseuuso,aindaqueemmenorescala,naescritadeinternautasemredessociais,comoofacebook.Talusonaescritanosalertouparaofatodequetalrecorrênciapoderiaser,nahistóriadalínguaportuguesa, uma tendência atual na fala e jámerecia umolharmais acurado. Este trabalhotemcomoobjetivoapresentaracoletaeasanálisesdesenvolvidasatéopresentemomentoemrelaçãoaousoeàrecorrênciadetaisestruturas.Emnossosestudos,refletimossobreotipodeestruturasintática(seafirmativa,negativaouinterrogativa,porexemplo),sobreoselementossintáticos que poderiam influenciar a duplicidade dos pronomes e sobre sua naturezadiscursiva, pragmática e enunciativa. Nossas análises, ainda que iniciais, mostram-nos queparece não se tratar de pressão sintática, como acontece com os eventos de topicalização,deslocamento à esquerda ou antitopicalização (PONTES, 1981),mas um evento de naturezapragmática(PARRET,1988)eenunciativa(BENVENISTE,1995a,1995b).Palavras-chave:Pronomes;Novoseventosdemanifestaçãodospronomes;Variaçãoemudança.Referênciasbibliográficas:BENVENISTE,Émile.ProblemasdelinguísticageralI.Campinas:Pontes,1995a.BENVENISTE,Émile.ProblemasdelinguísticageralII.Campinas:Pontes,1995b.FIORIN,JoséLuiz.Asastúciasdaenunciação:ascategoriasdepessoa,espaçoetempo.SãoPaulo:Ática,1996.MATTOSeSILVA,RosaVirgínia.CaminhosdaLinguísticaHistórica:“ouviroinaudível”.SãoPaulo:ParábolaEditorial,2008.PARRET,Heman.EnunciaçãoePragmática.Campinas:Pontes,1998.PONTES,E.Daimportânciadotópicoemportuguês.AnaisdoVEncontrodeLinguística,V.II.PUC-RJ,1981.TARALLO,Fernando.Apesquisasociolinguística.SãoPaulo:Ática,1994.WEINREICH,Uriel;LABOV,WilliameHERZOG,Marvin.Fundamentosempíricosparaumateoriadamudançalinguística.SãoPaulo:Parábola,2006[1968]

SESSÃO 6A. LINGUÍSTICA HISTÓRICA E CORPORA

ANÁLISE DE MACROCORPORA E MICROCORPORA PARA ESTUDOS DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

JuanM.CarrascoGonzálezUniversidaddeExtremaduraOs estudos de lingüística histórica baseados em grandes corpora que incorporam grandesperíodosde tempo,ouumagrandequantidadede textosparaumperíodomais restrito,porvezes não conseguem averiguar exatamente como é que se produzem determinados

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

58

fenómenos de mudança linguística, os quais, pelo contrário, podem ser muito melhordescritosquandoseestudame secomparampequenoscorporacorrespondentesaumautorou uma coleção de documentos muito melhor localizados no tempo, no espaço e no seuregistolinguístico.

Umbomexemplodissoéaformaçãodostemposcompostoseoutrosusosdosverbosterehaveremépocaclássica.Emestudoslevadosacabonotrânsitoentreoportuguêsmédioeoportuguês clássico, os grandes corpora linguísticos revelaram que o verbo ter acabou porprevalecercomoauxiliardestes tempos,masnãonos informamdequeoverbohaver,nesteuso,acaboupordesaparecerquasecompletamentenaprimeirametadedoséculoXVI,comosepodecomprovarnosestudosdeRosaVirgíniaMattoseSilva,equearecuperaçãoposteriorapresenta características bem diferentes do uso que tinha em época anterior e do uso queaindavaiteroverboternostemposcompostosaolongodosséculosXVIeXVII.

Palavras-chave:linguísticadecorpus;portuguêsclássico;temposcompostos;haver;ter.Bibliografia:CARRASCOGONZÁLEZ, J.M.: “Evoluciónde los tiemposcompuestosenportuguésdurante los siglosXVIyXVII”,Archivum,t.LXIV,2014,pp.77-100.MATTOSESILVA,R.V.:“Paraumacaracterizaçãodoperíodoarcaicodoportuguês”,DELTA,10,1994,pp.247-276.MATTOSESILVA,R.V.:“VitóriasdetersobrehavernosmeadosdoséculoXVI:usoseteoriasemJoãodeBarros”e“Avariaçãoser/estarehaver/ternasCartasdeD.JoãoIIIentre1540e1553:comparaçãocomosusoscoetâneosdeJoãodeBarros”inR.V.MattoseSilva&A.V.LopesMachadoFilho,Oportuguêsquinhentista:estudos linguísticos,Salvador,UniversidadeFederaldaBahia/UniversidadeEstadualdeFeiradeSantana,2002,pp.119-142epp.143-160.MATTOS E SILVA, R.S.: O português arcaico. Fonologia, morfologia e sintaxe, São Paulo, EditoraContexto,2006.Osório,P.: “Linguísticahistóricaehistóriada língua:aportações teóricasemetodológicas”, ISIMELP,SãoPaulo,UniversidadedeSãoPaulo,2008[http://fflch,uso.br/dlcv/lport/pdf/slp04/01.pdf].CONTINUANDO O DEBATE SOBRE A ORIGEM DO INFINITIVO FLEXIONADO PORTUGUÊS: UMA ABORDAGEM “MISTA” E BASEADA EM CORPORA

GiuliaBossagliaUniversidadeFederaldeMinasGeraisApresenta-se aqui uma proposta alternativa para a identificação das origens do infinitivoflexionado(IF)português,apartirdaproblematizaçãodeváriosaspectosdediferentesteoriasque pertencem às duas vertentes tradicionais, a “criativa” e a “do conjuntivo imperfeito”. Apresentepropostadepreende-sedaobservaçãodanecessidadedeconsiderara interacçãodemultíplices factores na génese do IF, diferentemente do que propostas anteriores têm feito,apesar de seus incontestáveis méritos em outros respeitos. Portanto, propõe-se umaabordagem“mista”,queconsideraa interacçãodediferentesparâmetros relacionadoscomaorigemdo IFnoportuguêsantigo,eque seapoiaemcorporahistóricosdoportuguêscomobasede verificação empírica,nomeadamenteoCorpus InformatizadodoPortuguêsMedieval(Xavieretal.1994)paraosséculosXIIIeXIVeoCorpusdoPortuguês(Davies&Ferreira2006)para os séculos XIV-XVI. Através da observação dos usos do infinitivo flexionado e nãoflexionadonoportuguêsantigo,emtermosdealternânciadasduasformasedefrequênciaemcadaconstruçãolevantadanoscorpora,épossívelidentificardiferenteslocidagénesedoIFetambém observar a sua expansão às expensas do não flexionado ampliando o escopo deobservação para a fase do portuguêsmédio. Levando em conta tambémo desenvolvimentohistóricodoportuguêsantigonoquedizrespeitoaousodasformasinfinitivas(A.c.I.eusos

Mudança linguística, linguística teórica

59

preposicionados) na transição do latim vulgar para as línguas românicas (Castro 2006), osdados levantadospermitem identificardois contextos sintácticos relevantesparaa formaçãodo IF,nomeadamente, (i) contextosde infinitivopreposicionadoemdependênciadenomesouadjectivos,e(ii)subordinadasadverbiais introduzidasporpreposições,comaperspectivadeexplorar, ainda,as relaçõesde integração sintáctica (Foley&VanValin 1984,Givón 1985,Lehmann1988)nestasconstruções.Éassimpossívelreorganizardeumaformacoerentee/ouexcluir da análise multíplices factores já descritos ou esboçados por outros autores(continuidade com formas de complementação do latim, influência do conjuntivo futuro,influênciadoconjuntivo imperfeito,proximidade funcionaldo IFàs formas finitasdoverbo,entre outros), chegando a uma nova proposta para as origens do IF português, maisabrangenteecomumabasedeverificaçãoempíricaconsistente.

Referências:CASTRO,I.(2006).Introduçãoàhistóriadoportuguês.Lisboa:EdiçõesColibri.DAVIES, M., & Ferreira, M. (2006). Corpus do Português (45 milhões de palavras, sécs. XIVXX).http://www.corpusdoportugues.orgFOLEY, W. A., & Van Valin Jr, R. D. (1984). Functional syntax and universal grammar. CambridgeStudiesinLinguisticsLondon,(38).GIVÓN,T.(1985). Iconicity, isomorphismandnon-arbitrarycoding insyntax.Iconicity insyntax, 187-219.LEHMANN, C. (1988). Towards a typology of clause linkage. Clause combining in grammar anddiscourse,18,181-225.XAVIER, M. F., Brocardo, M. T., & Vincente, M. G. (1994). CIPM–Um Corpus Informatizado doPortuguês Medieval. Actas do X Encontro da Associação Portuguesa de Linguística, 2, 599-612.http://cipm.fcsh.unl.pt/CONSTRUCCIONES DE PARTICIPIO EN DOCUMENTACIÓN CATEDRALICIA GALLEGA, ASTURIANA Y CASTELLANA

PatriciaFernándezMartínUniversidadAutònomadeMadridElobjetivodelapresentecomunicaciónescompararelfuncionamientodelasconstruccionesperifrásticas de participio, representadas en esencia por tener/haber y ser/estar, endocumentacióncatedraliciadelsigloXIII,reunidaentresnúcleosgeográficospertenecientesalo que hoy se asocia prototípicamente con sendas lenguas románicas: astur-leonés, gallego-portuguésycastellano.

Para ello, en primer lugar, se hará alusión al continuum que constituye la doblenaturaleza, verbal y adjetival, del participio (Bosque 1990), que aflora dependiendo siempredelcontextolingüísticoenqueseencuentre,seacercanoala{atribución/acciónpassiva}delpar{ser/estar},seacercanoa{laposesión/elaspecto}delpar{tener/haber}(FernándezMartín2012a,2012b).

En segundo lugar, se relacionará este complejo concepto con el de perífrasis verbal, untérmino,ensuformadeinfinitivoygerundio,nomenoscomplejodedefinir,porencontrarse,diacrónicamente,entrelagramáticadeltiempoverbal(Romani2006),elléxicodelalocución(García-Page2008)yeltextodelmarcadordiscursivo(GarcíaFernández2006).

Entercerlugar,semostraránlosresultadosdelanálisispropiamentedicho,paraelcualseempleauncorpuslingüísticoqueabarcadocumentoscatedraliciosencastellano(VillarGarcía1990),gallego-portugués(edicióndeLópezCarreiraenelTMILG)yastur-leonés(TueroMorís1994;FernándezRodríguez1996).

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

60

Lasreflexionesfinaleshacenalusiónalpapelejercidoporelparticipioenlaformacióndetiemposcompuestosoperífrasisverbalesenlastreslenguasestudiadas,caracterizandoasíloquedecomúnydediferentetienenlaslenguasrománicasenelMedievo(DeAndrés2013).

Palabrasclave:Perífrasisverbal;castellanomedieval;gallego-portugués;astur-leonés;participio.Bibliografía:BOSQUE,I.(1990).«Sobreelaspectoenlosadjetivosyenlosparticipios»,enI.Bosque(coord.).Tiempoyaspectoenespañol,Madrid:Cátedra,177-211.DEANDRÉSDÍAZ,R.(2013).Gramáticacomparadadelaslenguasibéricas.Gijón:Trea.FERNÁNDEZMARTÍN, P. (2012a). «El estudio de la construcción pasiva en documentos del ArchivoMunicipaldeAlcaládeHenares:reflexionesyejemplos»,enMªJ.TorrensÁlvarezyP.Sánchez-PrietoBorja(eds.),Nuevasperspectivasparalaediciónyelestudiodedocumentoshispánicosantiguos.Berna:PeterLang,109-126.FERNÁNDEZMARTÍN,P.(2012b).«Propuestadeunprototipoparticipialconbaseencuatroperífrasisverbales».BoletíndeFilologíadelaUniversidaddeChile,47:1,33-68.FERNÁNDEZRODRÍGUEZ,A.I.(1996).DocumentacióndelaCatedrald’Uviéu(SiegluXIII)[2],Uviéu:ALLA.GARCÍAFERNÁNDEZ,L.(dir.)(2006).Diccionariodeperífrasisverbales.Madrid:Gredos.GARCÍA-PAGESÁNCHEZ,M.(2008).Introducciónalafraseologíaespañola.Estudiodelaslocuciones,Barcelona:Anthropos.ROMANI, P. (2006). “Tiempos de formación romance I. Los tiempos compuestos”, en C. CompanyCompany (dir.).Sintaxis histórica de la lengua española. Primeraparte: La frase verbal.México,D.F.:UNAM/FCE,pp.241-346.TUEROMORIS,M.(1994).DocumentacióndelaCatedrald’Uviéu(SiegluXIII),Uviéu:ALLA.VILLARGARCÍA,L. (1990).Documentaciónmedieval de laCatedral de Segovia (1115-1300), Salamanca:Universidad.PROPRIEDADES DA ANOTAÇÃO SINTÁTICA E SEU IMPACTO NA ANÁLISE AUTOMÁTICA E NA DETECÇÃO DE INCONSISTÊNCIAS

PabloFariaUniversidadeEstadualdeCampinasEmcertostreebanks,assentençassãoanotadasquantoasuaestruturasintagmáticaefunçõessintáticasdeseuselementos(verMarcusetal.,1993).Suaconstruçãoconsomemuitotempo,razãopelaqualtemsidoutilizadasferramentasautomáticasemconjuntocomprocedimentosmanuais, demodo a darmais agilidade ao processo. É inevitável, entretanto, que ocorraminconsistências na anotação, causadas por discordância quanto à interpretação, orientaçõesincompletas, entre outras razões (ver Blaheta, 2002). Tais inconsistências podem afetarnegativamente a extração de informação do corpus e o treinamento de analisadoresautomáticos. Neste cenário, métodos automáticos de detecção de inconsistências (p.e.,Dickinson&Meurers,2003;Kulicketal,2011;Faria,2014,2015)temumimportantepapel,namedida em que permitem detectar rapidamente grande parte das inconsistências de umcorpus, para que possam ser corrigidas.O estudo de taismétodosmostra ainda que certasescolhas quanto ao sistema de anotação podem facilitar ou dificultar o processamentoautomático. Dois aspectos ressaltam: a consistência interna do sistema, isto é, o grau deconsistência que o sistema apresenta quanto à forma de anotação de construções similares(p.e.,coordenações);e,ainda,aprecisãocomqueaanotaçãodistingueasclassesdeelementose construções, de modo que o sistema seja o mais conciso possível e ainda apresente asinformaçõesdesejadas.Nestapalestra,seráapresentadaumavisãogeraldatarefadedetecçãode inconsistências, além de casos ilustrativos de inconsistências e erros de anotação. Serãoainda apresentados resultadosdeumestudoemque foramavaliadas algumasmudançasno

Mudança linguística, linguística teórica

61

sistemadeanotaçãoquantoaseuimpactosobreaperformancedoanalisador(FariaeGalves,2016).Taisresultadosservemparaquepesquisadoresenvolvidosnaconstruçãodetreebankspossamreavaliarseussistemasdeanotaçãoetirarmaiorproveitodeferramentasautomáticas,demodoaagilizaroprocessodeanotação.

Palavras-chave:linguísticadecorpus;anotaçãosintática;controledequalidade;parsing.Referências:BLAHETA,D.(2002).Handlingnoisytrainingandtestingdata.InProceedingsoftheACL-02conferenceon Empirical methods in natural language processing-Volume 10(pp. 111-116). Association forComputationalLinguistics.DICKINSON,M.,eMEURERS,W.D.(2003).Detectinginconsistenciesintreebanks.InProceedingsofTLT(Vol.3,pp.45-56).FARIA,P.(2014)Usingdominancechainstodetectannotationvariantsinparsedcorpora.In:e-Science(e-Science),2014IEEE10thInternationalConference.Volume2.,25–32.FARIA,P.(2015).IncreasedRecallinAnnotationVarianceDetectioninTreebanks.InText,Speech,andDialogue(pp.578-586).SpringerInternationalPublishing.FARIA,P.eGALVES,C.(2016).Criando“bancosdeárvores”:osistemadeanotaçãoeoprocessamentoautomático.CadernosdeEstudosLinguísticos,(58.2),Campinas,pp.299-315–mai./ago.KULICK, S., BIES, A. eMOTT, J. (2011) Using derivation trees for treebank error detection. In: ACL(ShortPapers).693–698.MARCUS,M.P.,MARCINKIEWICZ,M.A.,eSANTORINI,B.(1993).BuildingalargeannotatedcorpusofEnglish:ThePennTreebank.Computationallinguistics,19(2),313-330.

SESSÃO 1B. GRAMATICALIZAÇÃO I

ENTRE O SABER E A FÉ. CONSTRUCIONALIZAÇÃO DE SEICA E ABOFÉ COMO MARCADORES EPISTÊMICOS DE ASSERTIVIDADE EM GALEGO

FranciscoCidrásInstitutodaLinguaGalega–UniversidadedeSantiagodeCompostelaOtrabalhoconstituiumaachegaaoestudodoprocessodeconstruçãodosistemademarcadoda modalidade epistêmica e evidencial em galego, nomeadamente referido à expressãoassertivadoconhecimento.Trata-sedumaspectorelativamentepoucoestudadonoportuguês–emenosaindanogalego–masquemostra interessantespeculiaridadesde tipogramatical,discursivoepragmático.Coloca-seofoconoprocessodeconstrucionalizaçãoeoseguimentodousodosdoismarcadoresepistêmicosdeassertividademaiscaracterísticosdogalego,seicaeabofé,construídosrespectivamentesobreaafirmaçãodosaberedaboaféqueofalanteseauto-atribuearespeitodoqueenuncia.

Acontribuiçãoinsere-senoquadroteóricodosmodelosbaseadosnouso,nomeadamentenos estudos de gramaticalização na sua versão construcionista (mudança construcional econs-trucionalização)comachegasdoutrasabordagenspróximascomoosmodelosdegrama-ticalização em contexto (Heine, Diewald). Como suporte empírico exploram-se os corporaTesouroInformatizadodaLinguaGalega (TILG)eTesouroMedieval InformatizadodaLinguaGalega(TMILG),desenvolvidosnoInstitutodaLinguaGalegadaUniversidadedeSantiagodeCompostela,querecolhemdeformacomplementartodoopercursohistóricodogalego.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

62

Sustentara-seahipótesedequeapartículaseica(<(eu)seique)emergenogalegomédioatravésdedoiscontextoscríticosradicalmentediferentesecoetâneos,apontandoaomesmotempo como marcador assertivo de certeza (i.e., como intensificador ou booster) ecuriosamente tambémde falta de certeza (i.e., como atenuador ouhedge). Esta situação deduplicidade dificilmente sustentável leva no século XIX ao prático desaparecimento do usoassertivo,aliássempreminoritário.Esteusoerasemanticamentemaisfranco,masapresentavaproblemas formais e pragmáticos, como ato potencialmente ameaçador da imagem dointerlocutor.Tais problemasdeterminaram, em contrapartida, o enorme êxito que alcançouem galego seica com valor de evidência inferida primeiro e reportada depois – apesar daarrevesadamudançasemânticaqueessesvalorescomportam:‘eusei’>‘eunaverdadenãosei,nãotenhocertezapessoal’.

Argumentara-sequeodesaparecimentodoseica assertivovemacompanhadopeloêxitoque alcança na altura, em galego, a forma abofé (< a boa fé, ‘de boa fé’) como marcadorepistêmicodecerteza,superandoosproblemaspragmáticosdeseica.Far-se-áumseguimentodaevoluçãodosusosdeambasasformasatéaopresente,desenhandooquadrodeumaáreacríticadalexicogramáticadogalego–osistemaepistêmico–muitoinstávelecomdinâmicasdemudançasemânticaemcurso.A GRAMATICALIZAÇÃO DE NOSSA SENHORA NOS FALARES MINEIRO E FLUMINENSE

BrunaA.M.CohenUniversidadeFederaldeMinasGeraisEmMinas Gerais, o nome da santaNossa Senhora vem, ao longo do tempo, perdendo seuvalor lexical (e religioso) e tornando-se itemgramatical – transformando-se, assim, emumainterjeição e ocorrendo em contextos não religiosos. No entanto, Nossa Senhora é umaexpressãoouvidatambémemoutroslugaresdoBrasil,como,porexemplo,noestadodoRiodeJaneiro.Destaforma,nossapesquisaconsistenaanálisedagramaticalizaçãodoitemlexicalNossa Senhora no estado deMinas Gerais, de acordo com o artigo de Ramos (2010), e suacomparaçãonaperspectivadiacrônicacomagramaticalizaçãodomesmoitemlexicalnoRiode Janeiro–conformedivisãodoBrasil emáreas linguísticas feitaporNascentes (1953),queconsidera sete dialetos do português brasileiro, dentre os quais o mineiro e o fluminense.Pretende-se, desta maneira, verificar se o item gramaticalNossa Senhora! e suas variaçõesocorrememambosdialetos,esehádiferençaemsuaocorrênciaeporquê.

Para esta análise, baseamo-nos nas teorias de Hopper e Traugott (1993) sobre agramaticalização,alémdedoartigodeRamos–queanalisajustamenteagramaticalizaçãodaexpressão Nossa Senhora! no dialeto mineiro, compondo, assim, o histórico do tema. Oscorporautilizadosforam,asaber:ocorpus“PEUL”,daFaculdadedeLetras/UFRJ;ocorpusdoprojeto “Mineirês”, da Faculdade de Letras/UFMG; e o corpus do projeto “Pelas trilhas deMinas”, também da Faculdade de Letras/UFMG, de modo a formar dois grupos: A) o deinformantesdeMinasGerais(MG)eB)odeinformantesdoRiodeJaneiro(RJ).Cadagrupoécompostopor20entrevistas,cadaumacomaproximadamenteomesmotamanho.

De acordo com Hopper & Traugott, a gramaticalização se define pelo esvaziamentosemântico de um termo lexical a fim de que ele possa tornar-se gramatical. Como essamudançado lexicalparaogramaticalnão sedáde formaabrupta,masemumprocesso,osautoresdefinemumclinedegramaticalização,queseriaumafórmulaparaoprocesso:

itemlexical>itemgramatical>clítico>afixo

Ramos, por sua vez, estabelece um cline de gramaticalização do item referencialNossaSenhora–queaperdeseuvalorreferencialesofreredução:

Mudança linguística, linguística teórica

63

NossaSenhora>NossaSenhora!>Nossa!>Nó>Nu

Naanálisedosdadosemnossapesquisa,verificamosque,nogrupoA,agramaticalizaçãoapresentoutodooespectrodopercursodegramaticalizaçãodeNossaSenhorareferencialparaos itens não-referenciais, definido por Ramos. Enquanto isso, o grupo B apresentou apenasduasetapasdopercurso.

Palavras-chave:dialetosmineiroefluminense;gramaticalização;interjeição;NossaSenhora!;vocativo.Bibliografia:HOPPER,P.&TRAUGOTT,E.,Cap.1“Somepreliminaries”ecap.2“Thehistoryofgrammaticalization.In:Grammaticalization,CambridgeUniversityPress:Cambridge,1993.NASCENTES,Antenor.Olinguajarcarioca.RiodeJaneiro:OrganizaçãoSimões,1953.RAMOS,Jânia.“Interjeições&Gramaticalização:Nó!eNossaSenhora!nodialetomineiro”,In:Vitral,L.e Coelho, S. (orgs),Estudos de gramaticalização em português:metodologias e aplicações. Campinas:MercadodasLetras,2010.UMA ANÁLISE CONSTRUCIONAL DAS PERÍFRASES DE GERÚNDIO DE ASPECTO CURSIVO NO PORTUGUÊS

QueziaOliveiraUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro/UniversidadedeSantiagodeCompostelaO presente estudo investiga, sob a ótica dos modelos baseados no uso e do modelo deConstrucionalização eMudança Construcional proposto por Traugott & Trousdale (2013), oprocesso de formação das perífrases de gerúndio, no português, marcadoras de aspectocursivo,especificamenteasconstituídaspelosauxiliares ir,vir,ficareestar.Avaliatambémahistória dessas construções ao longode sua existência na língua. Tais objetivos se orientampelas hipóteses de que: 1) todos os verbos que co-ocorrem com o gerúndio seguiram atrajetória de construcionalização da perífrase estar+ gerúndio na língua portuguesa; e 2) aperífraseverbalestar+gerúndioestámaisavançadanoprocessodeMudançaConstrucionaldo que aquelas com os outros verbos, o que é evidenciado pelo seu caráter altamentegramaticalepelasuamarcaçãoaspectualneutra,comoédemonstradopelaliteraturacorrentesobreoassunto.

Paraesse trabalho, foramanalisadasamostrasde textosescritosdos séculosXIIIaoXX.TalmaterialcorrespondeaumbancodedadosorganizadoporTorrent(2009)ecompreendediversificadostextosdoportuguêsarcaico,antigoemoderno.

Os dados foram analisados segundo algumas categorias linguísticas. Entre elas, destacoduas para este trabalho: o tipo semântico do verbo principal das perífrases e a natureza dosujeito que ocorre com elas. Tais fatores servem para evidenciar alterações nos níveis deesquematicidade,produtividadeecomposicionalidadedecadaumadelas,conformeomodelodeTraugott&Trousdale(2013)e,comisso,revelarsuaformaçãoemudança.

Ao final do trabalho, procuro responder as hipóteses levantadas, atestando o que aliteraturaafirmasobreanaturezagramaticaldaperífrasecomestar,eapresentoumesquemarepresentativodeConstrucionalizaçãoeMudançaconstrucionaldeaspectualizaçãocursivanoportuguêscomperífrasesdegerúndio.

Palavras-chave:perífrasescursivasdegerúndio;Mudançaconstrucional;Construcionalização.Referênciasbibliográficas:CASTILHO,A.T.de(1968)IntroduçãoaoEstudodoAspectoVerbalnaLínguaPortuguesa.Marília:Alfa,FaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanasdeMarília,12.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

64

CASTILHO,A.T.de “Aspectoverbalnoportuguês falado”. In:ABAURRE,MariaB.M.;RODRIGUES,ÂngelaCecília(orgs.).Gramáticadoportuguês falado.Campinas:EditoradaUniversidadeEstadualdeCampinas,v.VIII,83-122.2002.COMRIE,B.(1976)Aspect.Cambridge:CambridgeUniversityPress.TRAUGOTT,ElisabethC.eTROUSDALE,Graeme.ConstructionalizationandConstructionalChanges.Oxford,OxfordUniversityPress,2013.O LEGADO DA LÍNGUA LATINA NO PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO DE CONSTRUÇÕES ASPECTUAIS INCEPTIVO-ITERATIVAS NA LÍNGUA PORTUGUESA

SueliM.CoelhoFaculdadedeLetras,UniversidadeFederaldeMinasGeraisDadoque, como língua românicaque é, oportuguêsnãodispõedeummorfema específicoparamarcar a categoria aspectual, esta émajoritariamente expressa pormeio de perífrasesverbais (cf. CASTILHO, 1968; COSTA, 1980; BARROSO, 1994), as quais resultam de umprocessode gramaticalizaçãodeuma forma lexical plena emverbo auxiliar. Pormeiodesseprocesso, a forma auxiliar (V1) passa a incidir diretamente sobre a forma principal (V2),modificando-a. Talmodificação pode se dar ainda indiretamente, isto é, por intermédio deumapreposição.Fatoéquealgumasperífrasesverbaisdenaturezaaspectual,aquiconcebidascomoconstruções,nostermosdeGoldberg(1995),alémdedenotaremmaisdeumaconotaçãode aspecto,marcando tanto o início de um evento, quanto sua iteração, admitemounão apresença da preposição – João danou (a) gritar –, enquanto outras, embora preservem amarcação cumulativa do aspecto, só se realizam por intermédio de uma preposição demovimento– Joãodeuparabeber.CoelhoePaula(2016)demonstraramqueaopcionalidadeda preposição no primeiro grupo é um legado da língua latina: a preposição é umareminiscênciadoacusativodemovimentoedoacusativodeextensão.Sendoumpreciosismosemânticoenãoumtraçosintático,talpreposiçãojápodiaserelididanalíngualatina,oqueexplica sua opcionalidade também nas construções contemporâneas. A hipótese a serexplorada nesta comunicação é a de que, ao contrário das construções com danar, asconstruçõescomdarnãopodemprescindirdapreposição,porserestaumareminiscênciadocasodativoe,portanto,umtraçosintáticoquepersistiunoprocessodegramaticalizaçãodaformaverbaldolatimaoportuguês.Issoreforçatantoatesedapersistênciadetraçosformaisnoprocessodegramaticalização(cf.LOPES,2010),quantoa tesedequeos traçossintáticossãomais persistentes e, portanto,menos passíveis de apagamentono percurso damudançalinguística(cf.COELHO,2013).

Referências:BARROSO, Henrique. O aspecto verbal perifrástico em português contemporâneo: visão funcional /sincrónica.Porto:PortoEditora,1994.CASTILHO,Atalibade.Introduçãoaoestudodoaspectoverbalnalínguaportuguesa.Marília,FaculdadedeFilosofia,CiênciaseLetras,1968.(ColeçãodeTeses,6).COELHO.S.M.Gradualismodoprocessodegramaticalizaçãoeprincípiodapersistência: indíciosdeumahierarquiadetraços?FilologiaeLinguísticaPortuguesa,SãoPaulo,v.15(2),p.519-541,2013.COELHO, S. M.; PAULA, T. F. de. Gramaticalização do verbo danar como marcador aspectual: umlegadolatino.Caligrama,BeloHorizonte,v.21(2),p.21-48,2016.COSTA,SôniaBastosBorba.Oaspectoemportuguês.SãoPaulo:Contexto,1990.GOLDBERG,A.Constructions:aconstructiongrammarapproachtoargumentstructure.Chicago:TheUniversityofChicagoPress,1995.

Mudança linguística, linguística teórica

65

LOPES, Célia R. dos S. A persistência e a decategorização nos processos de gramaticalização. In.:VITRAL, L.; COELHO, S. M. (orgs.) Estudos de processos de gramaticalização em português:metodologiaseaplicações.Campinas,SP:MercadodeLetras,2010,p.275-314.

SESSÃO 2B. GRAMATICALIZAÇÃO II

EMERGÊNCIA DE JUNTORES CONTRASTIVOS NA HISTÓRIA DO PORTUGUÊS: CONTEXTOS, POLISSEMIA E SUBJECTIVIZAÇÃO

SanderléiaR.LonghinUniversidadeEstadualPaulista,CampusSãoJosédoRioPretoOs juntores contrastivos têm uma natureza singular: são argumentativos por excelência e,assim,decisivosparasinalizaçãodaatitudesubjetiva,expressiva,dosusuáriosdalíngua.Essevalor subjetivo os torna suscetíveis a constantes variações e renovações no tempo (Meillet,1912; Ramat;Mauri, 2011) e especialmente interessantes para investigações diacrônicas, pelapossibilidade de testar hipóteses acerca de tendências recentes em mudança semântica,relacionadasaopesodoscontextos,àemergênciadepolissemiaseàcrescentesubjetivização.

Nestaapresentação,concentro-menasmudançasexperimentadaspelasconstruçõescomenquanto do português.O propósito é explicitar como as construções com enquanto, queexpressam significado originariamente temporal, desenvolveram significados contrastivos,comteorproceduraleargumentativo.Ainvestigaçãoéconduzidaemperspectivadiacrônica,àluz de um quadro teórico que reserva à pragmática um papel fundamental na mudançasemântica (Traugott; Dasher, 2002). As questões centrais a serem respondidas são: 1) emperspectivasemasiológica,quaissãooscontextosquepredispuseramaemergênciadosentidode contraste de enquanto e que relações podem ser capturadas entre esses contextoscondicionadores,osignificadofonte(temporal)eosignificadoalvo(contrastivo)?2)qualéoestatutodosignificadocontrastivoassociadoaenquantonoportuguêscontemporâneo?Estásemantizado ou depende ainda do aporte contextual que permitiu sua emergência egeneralização?3)tendoemcontaapolissemiaquepodeexistirdentrodoprópriodomíniodecontraste,emtermosdostiposderelaçõessemântico-pragmáticasemjogo,quaissãoostiposcontrastivos mobilizados por enquanto e em que medida esses tipos, por representareminstânciasdemaioroumenorsubjetividade,contribuemparamensurarasubjetivizaçãoqueestarialatenteàsmudançasdeenquanto?

Referências:MEILLET,A.Linguistiquehistoriqueetlinguistiquegénérale.Paris:LibraireHonoréChampion,1912.RAMAT,A.G.;MAURI,C.Thegrammaticalizationofcoordinatinginterclausalconnectives.In:HeineB,NarrogH(eds)TheOxfordHandbookofGrammaticalization.NewYork:OxfordUniversityPress;2011.TRAUGOTT,E.;DASHER,R.Regularity in semantic change.Cambridge:CambridgeUniversityPress,2002NÃO OBSTANTE ~ APESAR DE: VARIAÇÃO E GRAMATICALIZAÇÃO

PâmellaA.PereiraUniversidadeFederaldosValesdoJequitinhonhaeMucuri

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

66

LarissaP.M.FerreiraUniversidadeFederaldosValesdoJequitinhonhaeMucuriEstetrabalhopropõeumapesquisasobremudançalinguística,emespecialsobreofenômenode gramaticalização (Hopper & Traugott, 1993) envolvendo a construção APESAR DE noportuguêse,ainda,umaanálisedavariação(Labov,1972)detalestruturacomaexpressãoNÃOOBSTANTE. Em Pereira (2012), verificou-se que a frequência de ocorrência do uso maisgramaticalizado do NÃO OBSTANTE ao longo da história do português parece ter sofridooscilações decorrentes da variação dessa construção com o item EMBORA como conjunçãoconcessiva. Nessamesma pesquisa, foi verificada ainda uma possível competição de outrosusos do NÃO OBSTANTE com as construções APESAR DE e NO ENTANTO, o que parece terdeterminadoaquedanousodeNÃOOBSTANTEnoséculoXX.Assim,apropostadestetrabalhocentra-seemumestudomaisamplodaconstruçãoAPESARDEedavariaçãoNÃOOBSTANTE~APESARDE.Justifica-se,portanto,aanálisedetaisestruturasconsiderandoummesmocorpus,oCorpusdoPortuguês,deDavieseFerreira(2006).NaanálisedosdadosdeAPESARDE,vimosque o substantivo PESAR, item lexical, passou a integrar a expressão A PESAR DE; depois, apreposição A tornou-se uma sílaba átona da palavra APESAR, que passou a fazer parte dalocuçãoprepositivaAPESARDE,construçãogramatical.VimosquefoientreosséculosXVIIIeXIX que o aumento da frequência de ocorrência da construção APESAR DE mostrou-sesignificativo.NoprocessodemudançaenvolvendoaconstruçãoAPESARDE,encontramos,noséculoXIX,ousodalocuçãoconjuntivaAPESARDEQUE.Entendemosquetallocuçãosejaumestágiomaisgramaticaldaexpressãoemanálise,jáquesetratadeumalocuçãomaislimitadasintaticamenteaosempreiniciaroraçõescomverbosflexionadoseporserumaestruturamaisfixa: não encontramos exemplos quemostrem algum elemento entre os itens APESAR, DE eQUE.Semanticamente,podemosdizerquehouvemudançadesentidomaisconcretoparamaisabstratonamudançadosubstantivoPESARparaasconstruçõesAPESARDEeAPESARDEQUE:osentidodosubstantivoPESAR–remorso,arrependimento,tristeza–parecesermaisconcretoque o sentido de concessão estabelecido pela locução prepositiva APESAR DE e pela locuçãoconjuntiva APESAR DE QUE. Na comparação APESAR DE e NÃO OBSTANTE, vimos que o NÃOOBSTANTEsurgiunoséculoXVepassouaconcorrercomoAPESARDE,quejáexistianoséculoXIV. Não é possível dizer que uma das formas tenha vencido essa concorrência entre osséculos XV e XVII: eram duas formas diferentes usadas para expressar a mesma ideia deconcessão.EntreosséculosXVIIIeXIX,aformaAPESARDEparecevenceraconcorrênciacomoNÃOOBSTANTE.Palavras-chave:gramaticalização;variação;apesarde;embora.

Referências:DAVIES, M. & FERREIRA, M. J. O corpus do Português [online] Disponível na internet via URL:http://www.corpusdoportugues.org.(2006-)HOPPER,P.&E.TRAUGOTT.Gramaticalization.Cambridge:CambridgeUniversityPress.2003.LABOV,W.SociolinguisticPatterns.Philadelphia:UniversityofPennsylvaniaPress,1972.PEREIRA, P.A. não em formações nominais no português: morfologização e gramaticalização. BeloHorizonte:UFMG.TesededoutoradoemEstudosLinguísticos,2012.AS PREPOSIÇÕES COM E EM EM CONTEXTOS DE CONSTRUCIONALIZAÇÃO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

VandaCardozodeMenezesUniversidadeFederalFluminense

Mudança linguística, linguística teórica

67

MonclarGuimarãesLopesUniversidadeFederalFluminenseEste trabalhotemcomoobjetivoa investigaçãodiacrônicadaspreposições “com”e “em”emPortuguês Brasileiro (PB), sob a perspectiva da Linguística Cognitiva. Embora noFuncionalismo clássico já se tenham investigado a fundo as diferentes preposições doportuguês,essaabordagemtinhacomofocoaanálisedeitens,enãodeconstruções.ÀluzdaLinguística Cognitiva, numa perspectiva que se poderia chamar cognitiva-funcional, aspreposiçõesdevemseranalisadasnasconstruçõesdequefazemparte.Assimsendo,osentidodedireçãoquepode serdepreendidodapreposição “a”em“aspiroaocargodediretor”,porexemplo, está diretamente relacionado à própria construção do verbo “aspirar”, que recrutaum elemento relacional com esse valor semântico. Nesta pesquisa, especificamente, temoscomo foco “novas” construções cujas preposições apresentem um avançado processo degramaticalização.Nosdadosdequedispomos,corporadetextosescritosdoséculoXIXaXXI(notícias e cartas), investigamos duas construções transitivas dos verbos “desaparecer” e“sumir”,quesurgiramnalínguaportuguesanoséculoXX.Emborasejamoriginalmenteformasinacusativas,istoé,verbosintransitivosqueexigemumsujeitodepapelpaciente(e.g.“olivrodesapareceu”),essasduasformasapresentam,nasincroniadoPortuguêsBrasileiro(PB),usostransitivos regidos pela preposição “com”, como em “o ladrão desapareceu com minhacarteira”.Valeressaltarque,nessecaso,osentidobásicodapreposição“com”–deassociação–encontra-setotalmenteesmaecido,nãorecuperávelpelofalante.Paralelamente,“sumircom”e“desaparecer com”, nesses contextos, assumem um sentido diverso dos usos intransitivosdessas formas verbais. Investigamos também uma construção transitiva do verbo “mandar”com a preposição “em”, com sentido aproximado ao da expressão “ter poder sobre”,encontradanosdadosmaisrecentesemregistrosamplosegênerostextuaisdiversos–comono exemplo “mandar no Senado” e, ainda, examinamos a construção “mandar bem” (“dicasparamandarbemnomarketingderede”), intransitiva,encontradanosdadosmais recentes,emregistrossociaisegênerostextuaisrestritos.Aanálisedessasduasconstruçõescomoverbo“mandar”sugerequeamudançapodesedarnosdoissentidos,paraatransitivizaçãoouparaadetransitivização,epodeocorrernoplanodaformaedosentido–havendo,nessecaso,umaconstrucionalização (isto é,umpareamentodeumaFORMANOVA-SENTIDONOVO), ouapenasem um dos planos – caracterizando uma mudança construcional (TRAUGOTT &TROUSDALE,2014).Palavras-chave:preposições;construcionalização;LinguísticaCognitiva-funcional.Referênciabibliográfica:TRAUGOTT, E. C; TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional Changes. New York:OxfordUniversityPress,2014.PARADIGMATIZAÇÃO DE FORMAS GRAMATICALIZADAS: PARA QUE E CADÊ QUE

OdeteP.S.MenonUniversidadeFederaldoParanáRetomando Saussure, Jakobson (1977) demonstra que produzir linguagem se realizaconjuntamenteemdoiseixos–paradigmáticoesintagmático.Apresenta-se,então,aquestãodaparadigmatização:umaformagramaticalizadaseinseririaemumparadigmajáexistentenalíngua,(comonovosverbosauxiliares:ficar,continuar,ir;novospronomes:você,agente).

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

68

Mas quandonão há ainda umparadigma reconhecido, como o dosmarcadores discursivos,comocadêquê?Nocasodeparaque,agramaticalizaçãocomeçanalocuçãoprepositiva(LP),apartirdolatimproad(“emdireçãoa”,“emprolde”)>porad;perdeaconsoantefinal>pora,passandoapera/pra,depoispara.EsseprocessocomeçoutransformandoaLPempreposição,que “regia” substantivos (pora o filo); pronomes (pora ti), advérbios (pora la). A locuçãocontendo esse substantivo pode ser sujeito de um verbo no infinitivo flexionado: Pedrocomprou um carro para os filhos saírem sozinhos). Ligando orações, a preposição torna-se,funcionalmente,umaconjunção.Naanálisemorfológicada sintaxeestámuitoarraigadosedenominar algumas conjunções pela sua categoria de origem: pronome relativo, pronomeintegrante,preposição...Masnemsempre:nãosedizquelogo(conclusiva)éadvérbio;nemque porém é retomada anafórica ou salvo um particípio passado ... Como toda oraçãoreduzida pode se transformar numa desenvolvida, já no estágio pera se lhe ajunta um que(doravanteQ): “Pedro [...]paraQ eles saíssem sozinhos”. Já conjunção,pera se insere numparadigma conjuncional junto com a, até, em, por, sem; ou pera que, seguida de verboflexionado. Noutro processo, da gramaticalização da frase “Que é [feito] de Fulano?”,resultandoemquede/quede/cadê/quedele/cadele, aindaé incertaa suaclassificação: advérbioou pronome interrogativo? A fase final, cadê que (Cadê que eu lembrava qual som era?),aparentemente ainda não dispõe de paradigma a se encaixar, pelomenos no das classes depalavras tradicional. Historicamente, houve o surgimento de uma série de expressões “comqueexpletivo”:quaseQ,comoQ,enquantoQ,vai/váQ,sendoQ,emboraSaidAli(1964)digaqueaadjunçãodesseQdá“origemaconjunçõesdenovaespécie”.Osexemplossãoantigos:emdocumentode 1438háocorrênciadepoisQ, aindaprodutivo, e do arcaicoporendeQ(porissoque):“[...]Porendequeeuprotestoqueosdictosregimentosnomsejamemperjuizo[...]poisquepertodosfoyordenado.”Palavras-chave:gramaticalização;paradigmatização;conjunção;marcadordiscursivo.Bibliografia:JAKOBSON, Roman. 1977. Dois Aspectos da linguagem e dois tipos de afasia. In: Lingüística ecomunicação.9.ed.SãoPaulo:Cultrix.p.34-62.SAIDALI,M.1964.GramáticasecundáriaeGramáticahistóricadalínguaportuguêsa.Brasília:UnB.

SESSÃO 3B. FONOLOGIA HISTÓRICA LAS GRAFIAS «FF», «F», «H» EN LA DOCUMENTACIÓN MEDIEVAL CASTELLANA

VicenteJ.MarcetRodríguezUniversidaddeSalamancaManuelNevotNavarroUniversidaddeSalamancaNuestropropósitoesllevaracabounestudiodeladocumentaciónmedievalcastellanadelossiglos XV y XVI para analizar un fenómeno tan característico del castellano como es laaspiraciónypérdidadelaF-latina,asícomoelcasodeotrosfenómenosdeaspiración,comosucedecon laaspiraciónde/x/ode/s/ implosivaendeterminadaszonasdelsurdeCastilla(comoen laprovinciadeÁvila).Paraelloanalizaremosmásdeuncentenardedocumentos

Mudança linguística, linguística teórica

69

conservados en distintos archivos de Castilla y León (Ávila, Burgos, Segovia, León).Pretendemostratardedeterminarlaantigüedaddealgunosdeestosfenómenos,asícomolaconfiguraciónde losusosescriturariosenesta regiónde laPenínsula.EnestecasoconcretonoscentraremosenlaevoluciónyrepresentacióndeF-latinayenlosempleosdelasgrafías«ff»,«f»y«h».Prestaremosespecialatenciónalosposiblescasosdeconfusiónoalternanciagráficaquepudieranrevelar laaspiracióndeF- (comoenelcasode faca, frentealmodernojaca, que también aparece comohaca oaca en los siglosXIV-XVII). También analizaremosdiversosusosdelagrafía«h»enlaescrituramedieval,entrelosqueseencuentranelornatográficooresabioetimológico,elmarcadorvocálico,lamarcadehelenismooelreforzamientohiático,entreotros.Compararemoslosresultadosobtenidosenestosdocumentosconloquesucedeenotrastradicionesdeescrituravecinasalcastellano:comoeselcasodelaleonesaylaportuguesa.Bibliografiabásica:CABRERA MORALES, Carlos (2000): «Reflexiones sobre grafemática histórica. Usos y mecanismosgrafémicos en losdocumentos romancesprimitivos». J.Borrego, J. Fernández,L. Santos yR. Senabre(eds.),Cuestionesdeactualidaden lenguaespañola.Salamanca:InstitutoCaroyCuervo–UniversidaddeSalamanca,161-169.CHAMORROMARTÍNEZ,JoséMª(1992):«SobrelaaspiracióndepalatalesenlaEdadMedia».ManuelArizaetal.(eds.),ActasdelIICongresoInternacionaldeHistoriadelaLenguaEspañola,vol.II.Madrid:PabellóndeEspaña,s.a.,237-245.DEFERRARI,Harry(1936):«NotesontheValueofhinOldSpanish».HispanicReview,IV,183-186.QUILISMERÍN,Mercedes (2003): «Oralidad y representación gráfica de f- inicial latina en textos deorígenesdelespañol».HermógenesPerdigueroVillarreal(coord.)Lenguaromanceentextoslatinosdela Edad Media: Sobre los orígenes del castellano escrito. Burgos: Universidad de Burgos – InstitutocastellanoyleonésdelaLengua,229-249.ALÇAMENTO DE VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS /E/ E /O/ NO PORTUGUÊS SUL-RIO-GRANDENSE: RETRATO OITOCENTISTA E ALTERNATIVA DE INTERPRETAÇÃO DO GRAFEMA COMO INDÍCIO FONÉTICO/FONOLÓGICO

ValériaMonarettoUniversidadeFederaldoRioGrandedoSulRobertoNasiUniversidadeFederaldoRioGrandedoSulEsta pesquisa propõemostrar uma investigação de um processo fonológico de elevação devogais médias pretônicas /e/ e /o/ no português brasileiro sul-rio-grandense, por meio detextos escritos do séculoXIX, iniciada emNasi (2012), combase na ideia de que o grafemapodesinalizarindíciosdeprocessosfonológicos(MONARETTO,2005).Acredita-sequealgunscasosdeformasgráficasdevogais<i>e<u>nolugarde<e>e<o>,respectivamente,combasena ortografia atual do português brasileiro, possam ser indícios de um processofonético/fonológico de alçamento de vogais médias /e/ e /o/, de modo semelhante ao queocorrenalínguafaladaesobosmesmoscondicionamentoslinguísticos.Estetrabalhopropõefazer um retrato da presença desse fenômeno em jornais e manuscritos oitocentistas,produzidosnoRioGrandedoSul, eproporumametodologiaparao trabalhoemFonologiaDiacrônica,atravésdeumlevantamentoeorganizaçãodecorporadetextosoitocentistas,combaseemestudiososdaLinguísticaHistórica(ROMAINE,1982;LASS,2000;SCHNEIDER,2002;MONTGOMERY,2007).Olevantamentodedadosemcorporadelínguaescritabaseou-seemfenômenos estudados em pesquisas sobre elevação de pretônicas no português brasileiro,como a harmonia vocalica, alçamento sem motivação aparente (BISOL, 1981; SCHWINDT,

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

70

1995;KLUNCK,2007;SILVA,2012,dentreoutros).Corporavariadosdetextosimpressosedealguns manuscritos são disponibilizados de forma digitalizada (fotografia), inéditos para acomunidadeacadêmica.Propõe-sediscutirseasformasencontradassãocasosdereflexosdeoralidade ou possíveis ajustes a uma suposta norma escrita oitocentista em construção noBrasil, através do confronto de registros em gramáticas, dicionários e vocabuláriosoitocentistas portugueses e brasileiros. Palavras-chave: português oitocentista sul-rio-grandense,vogaismédiaspretônicas,fonologiadiacrônica.Referências:BISOL,L.Harmonizaçãovocálica:umaregravariável.TesedeDoutorado.UFRJ,RiodeJaneiro,Brasil,1981.KLUNCK, Patrícia.Alçamento da Vogais Médias Pretônicas semMotivação Aparente,Dissertação deMestrado,PUCRS,PortoAlegre,Brasil,2007.LASS.R.HistoricalLinguisticsandLanguageChange.CambridgeUniversityPress,Inglaterra,2000.MONARETTO,V.Oestudodamudançadosomnoregistroescrito: fonteparaoestudodafonologiadiacrônica.In:LetrasdeHoje,v.40,n.3,PortoAlegre,Brasil,2005.MONTGOMERY, M. Variation and historical linguistics. In: BAYLEY, R.; LUCAS, C. SociolinguisticVariation,theories,methods,andapplications.CambridgeUniversityPress,2007.NASI,R.F.VariáveisFonológicasemJornaisGaúchosdoSéculoXIX.DissertaçãodeMestrado,UFRGS,PortoAlegre,Brasil,2012.ROMAINE, S. Socio-Historical Linguistics: its status and methodology. Cambridge University Press.Inglaterra,1982.SCHNEIDER, E. Investigating variation and change in written documents. In J.K. Chambers, PeterTrudgill & Natalie Schilling-Estes, eds. The Handbook of Language Variation and Change. Oxford,Malden,MA:Blackwell,p.67-96,2002.SCHWINDT,L.Aharmoniavocálicaemdialetosdosuldopaís:umaanálisevariacionista.DissertaçãodeMestrado,PUCRS,PortoAlegre,Brasil,1995.SILVA,A.Aspretônicasnofalarteresinense.TesedeDoutorado.PUCRS,PortoAlegre,Brasil,2009.ASSIMILAÇÃO VOCÁLICA NA DIACRONIA E NA SINCRONIA DO PORTUGUÊS EXPLICADA PELA FONOLOGIA DOS ELEMENTOS

JoãoVelosoCentrodeLinguísticadaUniversidadedoPorto,FaculdadedeLetrasdaUniversidadedoPortoI - Na formação do léxico do português, é muito produtivo um processo de assimilaçãovocálicaquelevaavogalabertacentral/a/,quandoantecedeumadasduasvogaisaltas/i/ou/u/,aabsorverparcialmenteapalatalidadede/i/oualabialidade/recuode/u/(vd.(1)).

(1).Lat.auru>Port.ouro['o(w)ɾu]

Lat.lacte>Port.leite['lejtɨ]

II - Em descrições que assumem os elementos como primitivos fonológicos, estes casosexplicam-secomoinstânciasdecoloração(Donegan,1973),vistoqueoelementodeabertura(desprovidodecoloração){A}absorveumdosdoiselementosdetonalidade:{I}(palatalidade)ou{U}(labialidade).Vd.(2).

(2)./aU/à[ow]/aI/à[ej]|||\||||\| {A}{U}{A}{U}{A}{I}{A}{I]

III – Noutras línguas, como o francês, verificou-se um fenómeno semelhante. Em francês,contudo, a assimilação vocálica conheceuumpasso suplementar, dadoque a coloraçãodeu

Mudança linguística, linguística teórica

71

lugar,posteriormente,àmonotongação,comafusãototaldosdoisvocoideshistoricamentesucessivosnumasóvogal:vd.(3).

(3).Lat.auru>Fr.or[ɔ]rLat.lacte>Fr.laitl[ε]

Propostas de formalização como (4) (Angoujard (2003), para o francês; Backley (2011), paraalgumasvariedadesdo inglês)procuramexplicara fusãototaldosvocoidessucessivosnumasóvogal.

(4)./aU/à[o]/aI/à[e]|||\|||\|||\|||\{A}{U}{A}{U}{A}{I}{A}{I}

IV - O mesmo processo é atestado nos dialetos meridionais do português, bem como nocastelhano, onde aos ditongos do português contemporâneo [ow] (</aU/) e [ej]/[ɐj] (</aI/)correspondem,respetivamente,asvogais[o]/[ɔ]e[e]/[ε](vd.(5)).

(5).Lat..lacte>Port.Meridionall[e]te,Cast.l[έ]tʃeLat.auru>Port.Meridional[o]ro,Cast.[ɔ]ro

V-Emconformidade,propõe-seque:(a)aassimilaçãovocálicadoportuguêscorrespondaaum caso de coloração, com interação dos elementos {I}, {A} e {U}; (b) nos dialetos(“monotongados”) do Sul seja aceite a fusão total de elementos, explicável através de umaanálisecomoade(4);(c)paraosdialetossetentrionaissejaaceiteumafusãoincompletadoselementos,aplicando-se-lhesaanálisepropostaem(2);(d)estaexplicaçãosejaaindavalidadapara as realizações alomórficas da vogal temática verbal /A/, quando ela precedeflexionalmente um morfema de tempo-modo-aspeto ou pessoa-número cujo primeirosegmento fonológico é um /i/ ouum /u/, tal comonos exemplos (6), aos quais se aplicariatambémaanálisede(2).

(6).[[cant]Radical+[a>e]VogalTemática+[i]MNP]Verbo---‘(eu)cantei’[[cant]Radical+[a>o]VogalTemática+[u]MNP]Verbo---‘(ele/ela)cantou’

Referências:ANGOUJARD, J.-P. (2003) Phonologie et diachronie. In: J. P. Angouojard et al. (Eds.). Phonologie:Champsetperspectives.Lyon:ENSEditions,173-194.BACKLEY,P.(2011).AnIntroductiontoElementTheory.Edinburgh:EdinburghUniversityPress.DONEGAN[Miller],P.(1973).BleachingandColoring.PapersfromtheNinthRegionalMeeting.ChicagoLinguisticSociety.ChicagoIL:ChicagoLinguisticSociety,386-397.

SESSÃO 4B. MORFOLOGIA HISTÓRICA

PERSPECTIVAS NOVAS PARA A HISTÓRIA DA MORFOLOGIA GALEGO-PORTUGUESA

PaulO’NeillUniversidadedeSheffieldNos últimos tempos, tem havido uma renascença em questões teóricas sobre a mudançamorfológica.Maiden(2003,2014),baseando-seemevidênciasdosdesenvolvimentoshistóricos

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

72

nas línguas românicas, foi pioneirano conceitodo ‘morphome’ (Aronoff 1994) e alegouqueesseconceitoteóricoéumarealidadeparaaslínguasromânicasepodemotivarecondicionara mudança morfológica. Além disso, Fertig (2013) ofereceu uma definição mais matizada esofisticadadaanalogia,onivelamentoeamudançamorfológicaemgeral.

O presente artigo analisa estes desenvolvimentos teóricos no contexto da morfológicahistóricadoverbogalaico-português.Emparticular,examinareiaorigemdosdiferentestiposdealomorfianosverbosirregularesdopretéritoperfeitoetambémospadrõesdealternânciavocálica e alomorfia no presente indicativo e conjuntivo. Conclui-se que a apreciação doconceito teórico do morfome lança luz sobre vários desenvolvimentos problemáticos nahistóriadogalaico-português,osquais,emboramuitodiferentes,atéagora foramexplicadospelorecursoaomesmotermo:“aanalogia".Alémdisso,osdesenvolvimentosnoverbogalaico-português desafiam os modelos morfológicos que supõem que os morfemas são a unidadebásica de análise e armazenamento lexical e favorecemmodelos morfológicos baseados noarmazenamentoemmassadepalavrasinteiras(porexemploBlevins2016).

Referênciasbibliográficas:ARONOFF,M(1994)MorphologybyItself.Cambridge,MA:MITpress.BLEVIS,J.P.(2016)WordandParadigmMorphology.Oxford:OUPFERTIG,D.(2013)AnalogyandMorphologicalChange.Edinburgh:EdinburghUniversityPress.MAIDEN,M.(2004):‘MorphologicalAutonomyandDiachrony’YearbookofMorphology,pp.137–75.MAIDEN,Martin(2016).‘Morphomes’,inAdamLedgewayandMartinMaiden(eds).TheOxfordGuidetotheRomanceLanguages.Oxford:OxfordUniversityPress.CONTRIBUTOS PARA O ESTUDO DA MORFOLOGIA DERIVACIONAL NO PORTUGUÊS ANTIGO

MariadoCéuCaetanoCLUNL-FCSH,UniversidadeNOVAdeLisboaVários estudiosos descreveram já aspetos da formação de palavras do português numaperspetivadiacrónicae,alémdosestudosincluídosnasgramáticashistóricas,existemalgunstrabalhos dedicados a temas mais específicos, como, por exemplo, Piel (1989), em que sepretendem analisar aspetos relativos às mudanças semânticas sofridas por alguns sufixos,contendoobservaçõesde interesseparaumestudodemorfologiaderivacionaldiacrónicadoportuguês.

EmCastro (1991) encontramos,no capítulo “DoLatimaoPortuguêsAntigo”,quando sediscute a “estrutura e evolução do latim vulgar”, um ponto dedicado à “Derivação ecomposição” (ibid: 126-127), em que se refere a utilização inovadora de prefixos e sufixos jáexistentes, bem como amudança que levaria à formação do sufixo derivacional -mente.Nocapítulodedicadoao“PortuguêsAntigo”(ibid:161-240),partindodocomentáriolinguísticodoTestamento de Afonso II (cf. Costa 1979) e daNotícia de Torto (cf. Cintra 1990), procura-secaraterizaresseperíodo(vejam-setambém,e.o.,ostrabalhosdeBrocardo2014,Cardeira2005,Martins 2004 e Mattos e Silva 2008) e dá-se conta da origem de algumas formas, mas adiscussão não se centra, naturalmente, em aspetos derivacionais. Assim, formas comodemorancia, folgãcia, departiã, aguardada (Testamento de Afonso II) e acanocese, defructar,quebrãtado, fíímento (Notícia de Torto), merecerão algumas reflexões, no que respeita, porexemplo, a aspetos relativos às mudanças que terão afetado o valor e/ou produtividade dedeterminadosafixosouaocorrênciadealgunsprocessosmorfológicos.

Pretende-se, pois, sublinhar que é pertinente, como de resto já tem sido notado, umaabordagem não exclusivamente sincrónica da formação de palavras, uma vez que os dadosdisponíveis evidenciam contrastes diacrónicos assinaláveis neste domínio e espera-se que a

Mudança linguística, linguística teórica

73

análise proposta nos permita fornecer algumas achegas para a caraterização da morfologiaderivacionaldoPortuguêsAntigo.

Referências:BROCARDO,MariaTeresa.2014.TópicosdeHistóriadaLínguaPortuguesa.Lisboa:EdiçõesColibri.CARDEIRA, Esperança. 2005. Entre o Português Antigo e o Português Clássico. Lisboa: ImprensaNacional-CasadaMoeda.CASTRO, Ivo. 1991. Curso de História da Língua Portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta (com acolaboraçãodeRitaMarquilhas&J.LéonAcosta).CINTRA, L. F. Lindley. 1990. Sobre omais antigo texto não-literário português: a 'Notícia de Torto'(leituracrítica,data,lugarderedacçãoecomentáriolinguístico)".InBoletimdeFilologia,vol.XXXI,pp.21–77.COSTA,Pe.AvelinodeJesusda. 1979.Osmaisantigosdocumentosescritosemportuguês:revisãodeumproblemahistórico-linguístico.InRevistaPortuguesadeHistória,vol.XVII,pp.307-321.MARTINS,AnaMaria.2004.Ambiguidadeestruturalemudançalinguística:Aemergênciadoinfinitivoflexionado nas orações complemento de verbos causativos e perceptivos. In Brito, AnaMaria,OlíviaFigueiredo & Clara Barros (eds.) Linguística Histórica e História da Língua Portuguesa. Actas doEncontrodeHomenagemaMariaHelenaPaiva.Porto:FaculdadedeLetrasdaUniversidadedoPorto,pp.197-225.MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. 2008. O Português Arcaico. Uma aproximação. 2 vols. Lisboa:ImprensaNacional-CasadaMoeda.PIEL, Joseph-Maria. 1989. Estudos de Linguística Histórica Galego-Portuguesa. Lisboa: ImprensaNacional-CasadaMoeda.O SUFIXO DIMINUTIVO -INHO EM TEXTOS PORTUGUESES DO SÉCULO XVI

MessiasS.SantanaUniversidadeEstadualdoPiauí/UniversidadedeSãoPauloO sufixodiminutivoemportuguêsé, especialmentenoque se referea sincroniaspretéritas,umtemasobreoqualaindaexistemmuitosquestionamentos,queremrelaçãoà formaeaofuncionamento,querquantoaossignificadosqueessetipodesufixoécapazdetransmitir(cf.SANTANA,2017).Assim,porexemplo,osufixo-inho,emboracitadoemOliveira(2000[1536¹],p.222)eemBarros(1540,p.7),poucoseencontracaracterizado,nessesaspectos,tantonestesautores,comoemestudosseguintes–comoosrealizadosapartirdoséculoXX.Considerando,portanto, o exposto, esta pesquisa objetiva descrever o sufixo diminutivo -inho em textosportuguesesdoséculoXVItantoemrelaçãoaosseusaspectosformaisefuncionais,quantoemrelaçãoà sua significação.Para isso, analisaram-seosdiminutivosem -inhoencontradosemtextos do século XVI, a partir de pesquisas junto ao site Corpus do Português (DAVIES &FERREIRA, 2006).As análises empreendidas apresentamcomo resultados, dentre outros, osseguintes: i)essesufixopodeocorrerantecedidoounãodeumgrafemaconsonantal–nestecaso,<s>e<z>–,aomesmotempoemqueavogal[i]podevirgrafadacomo<i>,<y>e<j>;ii)o seu acréscimopode ser feito a palavras que terminamemdiferentes contextos, tais comovogalátonaoral,consoante,ditongooraleditongonasal;iii)asformasquesefazemantecederde consoante não provocam alteração na forma da palavra primitiva, enquanto que oacréscimo das formas que se iniciam em vogal, dependendo do contexto, pode provocar aeliminaçãodoúltimoelemento sonorodapalavra; iv) o empregodesse sufixopode sofrer ainfluênciadefatorescomoonúmerodesílabasdapalavraprimitivaeotipodeconsoanteemqueestatermina;v)odiminutivoconservaomesmogênerodapalavraprimitivaepertenceàmesma classe morfológica que esta; vi) semanticamente, os diminutivos em -inho não serestringemaexpressarumaúnicasignificação,orasignificandotamanhopequeno,oracarinhoeafeição,oradesprezo,oraintensidadeetc..

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

74

Palavras-chave:Diminutivo;Línguaportuguesa;Sufixo–inho;SéculoXVI.Referências:BARROS, João de. Grammatica da lingua portuguesa. Olyssipone [Lisboa]. Typographum L , 1540.Disponívelem:<http://purl.pt/12148>.Acessoem:20nov.2016.DAVIES, Marc; FERREIRA, Michael. Corpus do Português: 45 million words, 1300s-1900s. 2006.Disponívelem:<http://www.corpusdoportugues.org>.Acessode01a31demar.2015.OLIVEIRA,Fernãode.Gramáticadalinguagemportuguesa.Ediçãocrítica,semidiplomáticaeanastáticaporAmadeuTorreseCarlosAssunção.Comumestudointrodutóriodoprof.EugenioCoseriu.Lisboa:AcademiadasCiências,2000[1536¹].SANTANA,MessiasdosSantos.Osufixodiminutivoemportuguês:forma,funcionamentoesignificação–doséculoXIIIaoXX.3vols.Tese.UniversidadedeSãoPaulo–USP,SãoPaulo,2017.

SESSÃO 5B. LÍNGUAS EM CONTACTO

MANUSCRITOS PORTUGUESES DO ARQUIVO REGIONAL DE ERNAKULAM, ÍNDIA (SÉCS. XVII-XIX)

HugoC.CardosoCentrodeLinguística,UniversidadedeLisboaAantigaCostadoMalabardosudoesteindiano(actualEstadodeKerala)foiaprimeiraregiãoasiáticaaacolherestabelecimentosportuguesese,porconsequência,comunidadesde línguaportuguesa. A presença imperial portuguesa nesta costa durou cerca de um século emeio,desde o início do século XVI até ao momento em que, em meados do século XVII, asimportantes fortalezas de Cochim, Coulão, Cananor e Cranganor foram tomadas pelosholandeses.Aresiliênciadaimplantaçãolinguísticaficademonstradapelofactodeoscrioulosindo-portugueses do Malabar terem sobrevivido até ao séc. XX ou, nalguns casos, XXI (v.Cardoso,Hagemeijer&Alexandre2015)masaevidênciadocumentalparareconstituirousodoportuguês nesta região durante o período holandês é extremamente limitada. Porém, oArquivoRegionaldeErnakulam[ARE],nasimediaçõesdeCochim,preservaumararacolecçãodemanuscritosemlínguaportuguesacompostosnesteperíodo.AindaqueaconstituiçãodoARE não seja inteiramente clara, Bes (2012: 106), num estudo da documentação em línguaholandesa,referequeparececongregaroArquivodaCasaRealdeCochimepartedoArquivodoDarbar(cortesanuais)deCochim.

Osdocumentosemportuguêsencontram-sedispersospor2colecçõesidentificadascomo“Portuguese Records” (série P) e “Dutch Records” (série D) e descritas de forma muitosimplificadanumcatálogodecirculaçãointerna.Estecorpusdocumental,quenãoforaantesalvodequalquerestudo,foiintegralmenterecolhidoetranscritoentre2015e2016.Arecolhaidentificou 51 manuscritos em 42 pastas do Arquivo, datados de 1693 a 1816, incluindo: a)correspondênciaentreaCompanhiaHolandesadasÍndiasOrientaiseautoridadesdoMalabar,em particular o Rei de Cochim (incluindo traduções de originais holandeses); b)correspondênciaentreautoridadescatólicaseoReideCochim;c)petições/acordosreferentesatransacçõescomerciaisefinanceiras;d)relaçõesdemercadorias;e)cartasdeteorpessoalefamiliar;ef)documentos(relatóriosecartas)relativosàsmissõescatólicasnoMalabar.

Mudança linguística, linguística teórica

75

Estesmanuscritos,dedimensão,autoriaeorigemmuitovariadas,constituemumcorpusdemaisde22.000palavrasqueseráaquiapresentadoecontextualizadopelaprimeiravez.Pelasuararidade,estecorpuséinestimávelenquantorepositóriodalínguaportuguesaproduzidaemCochim/Malabar enoutras regiõesdaÁsia (já que contémdocumentosprovenientesdeBatáviaeBengala)eindicadordosdomíniosdeusoquealínguaaípreservouentreosséculosXVII eXIX.Dopontode vista linguístico, comoveremos, também seobservauma variaçãoextrema, com registos muito próximos do português-padrão L1 da sua época, outros maisdivergentes (e certos pontos de contacto com os crioulos locais) e ainda textos claramenteproduzidosportradutoresparaquemoportuguêseraumaL2.

Referências:BES,Lennart.2012.Gold-leafflattery,Calcuttandust,andabrandnewflagpole:Fivelittle-knownVOCcollectionsinAsiaonIndiaandCeylon.Itinerario36(1):91-106.CARDOSO,HugoC.,TjerkHagemeijer&NéliaAlexandre.2015.Crioulosdebaselexicalportuguesa.InMaria Iliescu & Eugeen Roegiest (eds.),Manuel des anthologies, corpus et textes romans, 670-692.Berlim:MoutondeGruyter.PONTES ENTRE OS CRIOULOS DO GOLFO DA GUINÉ E A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS

TjerkHagemeijerCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaNesta comunicação propomo-nos analisar os crioulos do Golfo da Guiné (CGG) à luz daperiodizaçãodiacrónicaestabelecidaparaoportuguêseuropeu(PE)(e.g.Cardeira2010;Castro2006;Martins 2016; Teyssier 1980), analisando, emparticular i) se estas línguas de contactoapresentamcaracterísticas lexicais egramaticaisdoportuguêsmédioouapenasdeperíodossubsequentes e ii) se evidenciam traços que possam ser atribuídos à variação linguísticaregionalhistóricanoPE.Apresençadetraçoslinguísticosregionaisdalínguadesuperstratonoscrioulostemmerecidopoucaatençãonocasodoscrioulosdebaselexicalportuguesa,mastemsidoexploradaparacrioulosdeoutrasbaseslexicais(e.g.Smith2008).

Existeevidênciahistóricae linguísticaquemostraqueacrioulizaçãonoGolfodaGuinéfoi um processo rápido no período subsequente ao povoamento definitivo da ilha de SãoTomé,em1493(Hagemeijer2011),sendo,porisso,expectávelqueosCGGapresentemtraçosque integrem a caracterização linguística habitualmente atribuída ao portuguêsmédio. Emrelação à variação regional, pouco se sabe sobre a origem dos primeiros povoadoresportugueses em São Tomé, colocando-se a hipótese de ter havido uma koineização, àsemelhançadoquesedefendeparaosuperstratodecrioulosdeoutrasbaseslexicais.

Paratentarresponderaospontosi)eii)acima,analisaremosumconjuntodeitenslexicaisde origem portuguesa e de traços fonológicos, morfológicos e sintáticos sensíveis àperiodização em questão e à variação. Na discussão será dado um papel de relevo ao Fad’Ambô (crioulo de Ano Bom), que se autonomizou na segunda metade do século XVI edepois evoluiu num contexto de grande isolamento geográfico (e.g. Hagemeijer & Zamora2016),apresentandodiversostraçosconservadoresemcomparaçãocomosoutrosCGG.Palavras-chave:crioulosdoGolfodaGuiné;periodizaçãodoportuguês;variaçãoregionalhistórica. Referências:CASTRO,I.2006.Introduçãoàhistóriadoportuguês.Lisboa:Colibri.CARDEIRA,E.2010.Portuguêsmédio:Umafasedetransiçãoouumatransiçãodefase?.Diacrítica,24:1,75-95.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

76

HAGEMEIJER,T.2011.TheGulfofGuineacreoles:geneticand typological relations. JournalofPidginandCreoleLanguages,26:1,111-154.HAGEMEIJER,T.&A.Zamora.2016.Fad’Ambô:Pastandpresent.InternationalJournaloftheSociologyofLanguage,239,193-209.MARTINS,A.M. 2016. Introdução:Oportuguêsnumaperspetiva diacrónica e comparativa. InA.M.Martins&E.Carrilho(eds.),Manualdelinguísticaportuguesa,1-39.Berlim:MoutondeGruyter.SMITH,N.2008.Creolephonology.InS.Kouwenberg&J.V.Singler(eds.),Thehandbookofpidginandcreolestudies,98-129.Oxford:Wiley-Blackwell.TEYSSIER,P.1980.Históriadalínguaportuguesa.Lisboa:SádaCosta.CONTACTO E VARIAÇÃO EM CABO-VERDIANO: UMA QUESTÃO DE TEMPO

FernandaPratasCentrodeLinguística,UniversidadedeLisboaAs construções do progressivo em cabo-verdiano são particularmente interessantes para osestudos linguísticos por diversas razões independentes. Uma vez que existem nesta línguacriouladebaselexicalportuguesapelomenostrêsestratégiasbemdefinidasparaexpressaroprogressivo passado – o equivalente em português a, por exemplo, ‘Eu estava a ver-te’ –, aanálisedestasproduçõespermiteobservaçõesreveladorasquanto:

(i)afenómenosdevariaçãodialetal(estasconstruçõesenvolvemnúcleosfuncionais,quesão,deacordocomaconjeturaBorer-Chomsky(Baker2008),responsáveisportodaavariaçãolinguística);

(ii)àexpressãodetraçosdetemponaslínguasnaturais(umadaquelasvariantesobtémovalordeprogressivopassadosemrecursoaqualquermarcadorespecíficodetempo,alinhandoassimcomalgumaslínguasquetêmsidodescritascomo‘línguassemtempo’(cf.Bittner2005,Tonhauser2011,Cable2013,Ritter&Wiltschko2014,e.o.))

(iii) ao papel da distribuição sociolinguística desta variação (cf. Adger & Smith 2010,Thráinsson2013,Barbosa2014,Cornips2015)

(iv) à contribuição do contacto linguístico para a evolução diacrónica de cada umadasvariantes((a)ocontactoqueestevenaorigemdestalínguacrioula,e(b)ocontactoquehojesemantémcomoportuguês,presentenavidadacomunidadenumasituaçãodediglossiamaisdoquedebilinguismo(Lopes2011))

(v) ao possível papel de determinadas atitudes linguísticas na variação intra-individual(em certos casos, existem duas variantes ‘à escolha’ dos falantes, sendo uma delas maispróximadoportuguês;cf.Garrett2010)).

Estacomunicaçãoabordatambémostrêsúltimospontos, levantandohipótesesaseremexploradas numa investigação ainda em curso, mas dedica-se mais longamente aos doisprimeiros, discutindo os dados relevantes e apresentando propostas concretas para a suaanálise.Referências:ADGER,D.&J.Smith.2010.Variationinagreement:Alexicalfeature-basedapproach.Lingua120:1109–1134.BAKER,M.2008.Themacroparameter inamicroparametricworld.InT.Biberauer(ed)TheLimitsofSyntacticVariation.Amsterdam:JohnBenjamins,351–373.BARBOSA, P. 2014. The sociolinguistic profile of Braga´s speech variety.http://cehum.ilch.uminho.pt/variationBITTNER,M.2005.FutureDiscourseinaTenselessLanguage.JournalofSemantics22(4):339–388.CABLE,S.2013.Beyondthepast,presentandfuture:towardsthesemanticsof‘gradedtense’inGĩkũyũ.NaturalLanguageSemantics21(3):219–276.

Mudança linguística, linguística teórica

77

CORNIPS,L. 2015.Thenoman’s landbetween syntaxandvariationist sociolinguistics. InA.Adli,M.GARCÍA&G.Kaufmann(eds)VariationinLanguages.Berlin:DeGruyter,147–172GARRETT, P. 2011. Attitudes to Language (Key Topics to Sociolinguistics). Cambridge: CambridgeUniversityPress.LOPES,A.2011.AslínguasdeCaboVerde:umaradiografiasociolinguística.PhDDissertation,FLUL.RITTER, E.&M.Wiltschiko. The composition of INFL:An exploration of tense, tenseless languages,andtenselessconstructions.NaturalLanguageandLinguisticTheory32(4):1331–1386THRÁINSSON, H. 2013. Ideal speakers and other speakers. In B. Fernández & R. Etxepare (eds)VariationinDatives:AMicro-ComparativePerspective.OxfordUniv.Press,161–188.TONHAUSER,J.2011.TemporalreferenceinParaguayanGuaraní,atenselesslanguage.LinguisticsandPhilsophy34:257–303.UM OLHAR SOBRE O CRIOULO DE CABO VERDE DO SÉCULO XIX ATRAVÉS DAS CARTAS DE A.J. RIBEIRO A H. SCHUCHARDT

NéliaAlexandreCentrodeLinguística,UniversidadedeLisboaNo fim do século XV, início do século XVI, ter-se-á desenvolvido na ilha de Santiago umalíngua que surgiu num contexto de escravatura e de contacto linguístico entre o portuguêsmédioedialetaleváriaslínguasafricanas(Duarte2003,Jacobs2010):ocrioulodeCaboVerde(CCV). Este crioulo de base lexical portuguesa é um dos crioulos da Alta Guinémais bemdescritos desde o século XIX, especificamente em correspondência entre falantes nativos efilólogos,emrecolhasdetradiçãooral,emtrabalhosacadémicosvários(Cardoso,Hagemeijer&Alexandre 2015).H. Schuchardt, a pardeAdolfoCoelho, foi umdosprimeiros filólogos ainteressar-sepeloestudodaslínguascrioulase,porisso,recorreuadiversosinformantescomos quais se correspondia interpelando-os a propósito dos pormenores linguísticos que lheescapavam.AntónioJoaquimRibeirofoiumdeles,tendotrocado7cartascomH.Schuchardtentre1881e1883(Alexandre&Lang2016).

A partir de uma peça de teatro escrita em CCV - A mi qué bóde! -, traduzida paraportuguês e comentada por A. J. Ribeiro, observa-se que o crioulo falado naquela épocaapresentava já (i) característicasque identificamoshojenoCCV(emparticular,aoníveldospronomes pessoais, damarcação de número, do sistema de interrogativos e relativos e doscomplementadores)e(ii)marcasdocontactocomoportuguês(concretamente,naexpressãodenúmero–e.g.,ûndadoundinheros–ounousodealgunscomplementadores,comopurquitadura).

Estacomunicaçãotemdoisobjetivosprincipais:porumlado,registaressascaracterísticasdo CCV do século XIX, confrontando-as com as contemporâneas (Alexandre 2012, Baptista2002).Poroutrolado,mostrarquealíngua(pelomenos,avariedadedeSantiago)nãosofreuumprocessodedescrioulização,comodefendeHolm(1988:274).

SendoCaboVerdeumacomunidadebilingue(pelomenos)desdeoséculoXIX,énaturalque encontremos no crioulo da altura, assim como no de hoje, produtos do contactolinguísticoentreoCCVeoportuguês(Winford2003).

Referências:ALEXANDRE,N. (2012).TheDefectiveCopyTheoryofMovement: Evidence fromWh-Constructions inCapeVerdeanCreole,CreoleLanguageLibrary41,Amsterdam:JohnBenjaminsPubl.ALEXANDRE, N. & Lang, J. (2016). Die Korrespondenz zwischen António J. Ribeiro und HugoSchuchardt[Acorrespondênciaentreocabo-verdianoAntónioJoaquimRibeiroeHugoSchuchardt].InBernhard Hurch (Hg.) (2007-).Hugo Schuchardt Archiv. Webedition: http://schuchardt.uni-graz.at/korrespondenz/briefe/korrespondenzpartner/alle/1014/briefe/jahr/alle

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

78

BAPTISTA,M.(2002).TheSyntaxofCapeVerdeanCreole:TheSotaventoVarieties,LinguisticsToday54,Amsterdam:JohnBenjaminsPubl.CARDOSO,H.;Hagemeijer,T.&Alexandre,N.(2015).CrioulosdeBaseLexicalPortuguesa.M.Iliescu&E. Roegiest (eds.). Manuel des Anthologies, Corpus et Textes Romans, Cap. 38, 670-692, Dordrech:MountondeGruyter.DUARTE,D.(2003).BilinguismoouDiglossia?,2ªed.,SãoVicente:Spleen.HOLM,J.(1984).PidginsandCreoles,vol.II,Cambridge:CUP.JACOBS,B.(2010).UpperGuineaCreole:evidenceinfavorofaSantiagobirth.JPCL,25:2,289-343.WINFORD,D.(2003).AnIntroductiontoContactLinguistics(LanguageinSociety),Oxford:BlackwellPubl.

SESSÃO 6B. SINTAXE, SEMÂNTICA

PORQUE É QUE OS RELÓGIOS NÃO QUEBRAM OS PONTEIROS EM PORTUGUÊS EUROPEU?

AnabelaGonçalvesCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaMatildeMiguelCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaO presente trabalho visa analisar construções com tópicos-sujeitos (1), específicas doportuguêsbrasileiro(PB)coloquial,comparando-seestavariedadecomoportuguêseuropeu(PE),emqueestaconstruçãonãoseencontraatestada.

(1) a.Orelógioquebrouoponteiro.(*PE;OKPB)b.Essacasabatebastantesol. (*PE;OKPB)

EstaconstruçãodoPBtemsidodescritacomoumcasoemque,naausênciadeumsujeitotípico, constituintes genitivos ou locativos podem ocupar essa posição e desencadearconcordância com o verbo (e.o., Pontes 1987; Galves 1998, 2001; Martins & Nunes 2010;Munhoz 2011; Munhoz & Naves 2012; Andrade & Galves 2014). No presente trabalho,limitaremosanossaanáliseaconstruçõescomgenitivos(1a).

Asváriasanálisestêmpostoemevidência:(i)aspropriedadesaspetuaisdospredicadoresverbais envolvidos (uma subclasse de verbos inacusativos que permitem estabelecer umarelaçãoparte-todoentreotópico-sujeitoeotemaquepermaneceemposiçãopós-verbal);(ii)a posição final do tópico-sujeito (geralmente, Spec, TP); (iii) as propriedades de T quelegitimam,naposiçãodeSpec,partedotema.

Partindo das propostas que têm sido feitas, procuramos mostrar por que razãoconstruçõescomo(1a)nãoestãodisponíveisemPE,emboraocorramfrasescomo(2):

(2)OJoãopartiuacabeça.

A nossa proposta centrar-se-á nas seguintes questões: (i) as diferentes formas decodificaçãodaposseexternanasduasvariedadese(ii)aspropriedadesdeTemPEeemPB.Relativamenteàprimeiraquestão,mostraremosqueadiferençaentreasduasvariedadesestárelacionada com a (quase) ausência (PB) vs. a presença (PE) de constituintes dativosintroduzidos pela preposiçãoa,a par dos constituintes genitivos (3) – Brito (2009);Miguel,Gonçalves&Duarte(2011).

(3)Obarbeirocortouocabeloao/doJoão.

Mudança linguística, linguística teórica

79

Relativamente à segunda questão, centrar-nos-emos nos traços-φ de T que legitimamsujeitosnãocanónicosemPB,masnãoemPE,relacionandoesteaspetocomconstruçõescomsujeitosarbitrárioscomo(4)(Galves2001):

(4)Aquivendefrutas./Aquitrabalhamuito.(*PE;OKPB)

Referências:ANDRADE&GALVES2014.AunifiedanalysisforsubjectstopicsinBrazilianPortuguese.JPL3.1BRITO 2009. Construções de objecto indirecto preposicionais e não preposicionais: uma abordagemgenerativo-construtivista.TextosSeleccionadosdoXXIVEncontroNacionaldaAPL.Lisboa:APL.GALVES1998.Tópicos,sujeitos,pronomeseconcordâncianoportuguêsbrasileiro.CadernosdeEstudosLingüísticos34.GALVES2001.EnsaiossobreasGramáticasdoPortuguês.Campinas:UNICAMP.MIGUEL,GONÇALVES&DUARTE2011.Dativosnãoargumentaisemportuguês.TextosSeleccionadosdoXXVIEncontroNacionaldaAPL.Lisboa:APL.MUNHOZ 2011. A Estrutura Argumental das Construções de Tópico-Sujeito: o Caso dos SujeitosLocativos.Diss.Mestrado,Univ.Brasília.MUNHOZ & NAVES 2012. Construções de tópico-sujeito: uma proposta em termos de estruturaargumentaledetransferênciadetraçosdeC.Signum15.PONTES1987.OTópiconoPortuguêsdoBrasil.Campinas:Pontes.MARTINS & NUNES 2010. Apparent hyper-raising in Brazilian Portuguese: Agreement with topicsacross a finiteCP.InP.Panagiotidis (ed.).TheComplementiserPhase: SubjectsandWh-dependencies.Oxford:OxfordUniversityPress.COORDENAÇÃO DE CONSTITUINTES NOMINAIS COM APENAS UM DETERMINANTE

MadalenaColaçoCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaCarolinaGramachoFaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaEm português europeu (PE), contrariamente ao que acontece noutras línguas, como oespanhol,ounoutrasvariedades,comooportuguêsbrasileiro,existem,paramuitos falantes,fortes restrições sobre DPs com o formato <Det N Conj N>. Embora com certos tipos denomes ambas as alternativas sejam possíveis, a ocorrência de um ou de mais do que umdeterminante com nomes no singular tem, frequentemente, consequências ao nível dainterpretaçãoedaformacomoserealizaaconcordância:

(1) a.AprimaeamigadaMariaviajou/?viajaramparaoBrasil. b.AprimaeaamigadaMaria*viajou/viajaramparaoBrasil.

Em trabalhos anteriores sobre o PE (Colaço 2016), embora a questão não sejaaprofundada, sugere-se que a ocorrência de apenas um determinante singular com nomescoordenadosnosingularémaiscomumcomnomesabstratos:

(2)OpresidenteelogiouacoragemedeterminaçãodaMaria.

No entanto, uma pesquisa feita com base em corpora revelou um uso bastante maisalargadodestasconstruçõesporalgunsfalantes,emque,inclusivamente,osnomesenvolvidosnacoordenaçãopodemtermarcasdegéneroounúmerodiferentes:

(3)Ostumoresdacabeçaepescoçosãomuitofrequentes.(4)Opovonuncafoirealmentetocado,porquealinguagemdonacionalismoeramuitoabstracta,

muitosofisticadaparaohomememulhercomum.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

80

(5) (...) ela finalmente aceitou a proposta do Felipe (...), após muitas negociações entre osembaixadoresdesteeopaieirmãosdeD.Isabel.

A descrição dos dados de corpora recolhidos abrirá uma nova discussão sobre ascondiçõessintáticasesemânticasquelegitimamestasconstruções,nomeadamentenoquedizrespeitoaos tiposdenomesquepodem integrar.Permitiráumareflexãosobreasestruturassintáticas envolvidas, confrontando duas hipóteses: (i) DP&DP, com elipse do segundodeterminante,e(ii)DetNP&NP.Ambasashipóteseslevantamdesafiosteóricosinteressantes.Ahipótese (i) poderá explicar agramaticalidades comoade (6), assumindoum requisitodeidentidade que condiciona o apagamento do segundo determinante (Camacho 2003). Noentanto,dadoscomo(3)-(5)desafiamestacondição.

(6)*Ospaiemãedavítimachegaramaolocal.

Ahipótese(ii)apresentaummaiorpoderexplicativo,mascolocaquestões interessantesrelacionadas com o fenómeno da concordância parcial, se assumirmos que a concordânciaresultadeAgree comnúcleos funcionaisqueocorremno interiordoDP.A variaçãodequedecorremasdiferentescondiçõesquelegitimamacoordenaçãodeconstituintesnominaiscomapenasumdeterminantenasváriaslínguas-veja-se,porexemplo,Demonte&Jiménez(2012),paraoespanhol-poderáserumpontodepartidaparaaexplicaçãodavariaçãoqueseverificanaaceitaçãodestasconstruçõesporpartedosfalantesdoPE.Referências:CAMACHO,J.(2003).TheStructureofCoordination:ConjunctionandAgreementPhenomenainSpanishandotherLanguages.Dordrecht,KluwerAcademicPress.COLAÇO, M. (2016). Especificidades das estruturas de coordenação: padrões de concordância. InMartins,A.M.&E.Carrilho(eds.).ManualdeLinguísticaPortuguesa.Germany:TheGruyter,502-522.DEMONTE,V. Jiménez, I.P.(2012).ClosestConjunctAgreement inSpanishDPs.Syntaxandbeyond.FoliaLinguistica2012,46(1).VARIACIÓN E CAMBIO NA EXPRESIÓN DA ALTERNANCIA CAUSATIVA EN PARES VERBAIS DO GALEGO

MaríaBeatrizDomínguezOroñaInstitutodaLinguaGalega–UniversidadedeSantiagodeCompostelaNestetraballoempregamosotermo ‘alternanciacausativa’paradesignararelaciónexistenteentre dous esquemas sintáctico-semánticos que presentan omesmo significado básico peroqueseopoñenpolotrazo[±causativo],detalxeitoqueoobxectodaconstrucióncausativaéosuxeitodaanticausativa.Existendiferentes formasdeexpresarestaalternancia,entreelas,oempregodunmesmopredicadoparaasdúasconstrucións,causativa(1a)eanticausativa(1b),ouousodedouspredicadoslexicamentediferenciadosparacadaconstrución(2,3ae3b,4ae4b). Haspelmath (1993) denomina alternancia lábil o primeiro caso sinalado e alternanciasupletivaosegundo.Nalinguagalegaactual,detectamosunhacertapearmeabilidadeentreosdiferentes tipos de expresión da alternancia causativa, principalmente, nos dous tiposmencionados.Senosfixamosnoscasosdealternanciasupletiva(2,3e4),observamosque,porunlado,é frecuenteatoparconstruciónsanticausativasdopredicadoaprioricausativo(4.c),debidoaunprocesodereducióndevalenciasemellanteaoderomper(1)(Cidrás2003:90-96);eque,poroutro,nalgunhasvariedadesdogalego,omembroanticausativodalgúnsdosparessinalados adquire as propiedades construcionais dopredicado causativo (3.c. e 4.d.), porunprocesodeextensióndevalencia.

A nosa investigación baséase, fundamentalmente, na análise de exemplos de uso dogalego escrito, extraídos fundamentalmente do Tesouro Informatizado da Lingua Galega

Mudança linguística, linguística teórica

81

(TILG)edatadosentreoséculoXVIIeaactualidade,edogalegooral,tiradosdedouscorpus(ArquivodoGalegoOral(AGO)eCorpusOralInformatizadodaLinguaGalega(CORILG)),quepermitenoaccesoagravaciónseproporcionantranscriciónsdasmesmas.Entreasconclusiónsásquechegamos,apartirdainvestigaciónrealizada,destacamosdúas:anaturezadavariaciónque encontramosnas construcións dos predicados básicos anticausativos é, nomeadamente,dialectal,perononsó;e,polomenos,algunhasdascostruciónscausativasdomembroapriorianticausativosoninnovaciónsquetiveronlugarnogalegomoderno.

Exemplos:

1. a.Maríarompeuacunca.b.Acuncarompeu.

2. a.Xoánmatouopolo.b.Opolomorreu.

3. a.Oprofesorensínalleoalfabetoáalumna.b.Aalumnaaprendeoalfabeto.c.Oprofesorapréndelleoalfabetoáalumna.

4. a.Oavóquentaasmans.b.Asmansquecen.c.Asmansquentan/quentanse.d.Oavóqueceasmans.

Palabras chave: alternancia causativa; pares supletivos; variación; cambio.Referenciasbibliográficas:CIDRÁS,F.(2003):“Alternanciastransitivo-intransitivoeformacióndepredicadosengalego”,enVerba30,81-115.HASPELMATH, M. (1993): “More on the tipology of inchoative/causative verb alternations”, en B.Comrie andM. Polinsky (eds.):Causatives and transitivity. Amsterdam/Philadelphia: JohnBenjaminsPublishingco,87-120.INDEFINIDOS EPISTÉMICOS EM PORTUGUÊS EUROPEU

FátimaOliveiraCentrodeLinguísticadaUniversidadedoPorto,FaculdadedeLetrasdaUniversidadedoPortoNesta apresentação será abordada a questão dos indefinidos epistémicos em portuguêseuropeu (doravante, PE). Estes indefinidos apresentamuma leitura existencialmas tambémpodem veicular ignorância/indiferença por parte do falante ou do agente relativamente aoreferente do indefinido, tratando-se portanto de uma questão de vaguidade referencial. EmPE,umdessescasosé‘algum’talcomoemoutraslínguasentreasquaisasromânicas(‘algún’em espanhol, ‘quelque’ em francês, ‘vreun’ em romeno ou ‘un qualche’ em italiano) (cf.Haspelmath,1997).

Assim, será discutida a diferença entre ‘um’ e ’algum’,mostrando que a sua semânticadivergenosentidode‘um’admitirleiturasespecíficasenãoespecíficase‘algum’,paraalémdaleituraexistencial,apresentartambémumaleituraassociadadequeofalantedesconhecequeentidadepode satisfazer tal leitura, ouatéqualo seunúmero, tal como sepodever em (1).Com efeito, este quantificador parece operar um alargamento do contexto (ou dasalternativas),masessealargamentoédiferentedodalivreescolha(cf.Kratzer&Shimoyama2002),considerando-seporissoquesetratadeumainferênciamaisfraca.Porisso,recorre-seàpropostade“ModalVariation”,deacordocomaAlonso-Ovalle&Menendez-Benito(2010).

(1) Quemsabeseamanhãnãoteremosalgumautorconsagradononossocatálogo?par=ext210329-clt-94b-1

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

82

Por seu turno, ‘uns’ e ‘alguns’ também divergem entre si, apresentando o primeirofundamentalmente uma leitura cumulativa e o segundo uma leitura escalar. Tentaremosmostrar também,de formabreve,quea sua semânticaédiferentedados indefinidos ‘um’e‘algum’(cf.(2)-(3)).

(2) Segundoalgunsórgãos de comunicação social, estaria para breve uma remodelaçãogovernamentalqueimplicariaasubstituiçãodediversossecretáriosdeEstado.par=ext999519-pol-96b-3

(3) ?/#Segundounsórgãosdecomunicaçãosocial,estariaparabreveumaremodelaçãogovernamentalqueimplicariaasubstituiçãodediversossecretáriosdeEstado.

Palavras-chave:indefinidosepistémicos;‘um’e‘algum’,‘alguns’.Referências:ALONSO-OVALLE, Luis and Menéndez-Benito, Paula (2010). Modal Indefinites. Natural LanguageSemantics,18(1):1–31.HASPELMATH,Martin.1997.IndefinitePronouns.OxfordUniversityPress.KRATZER,AngelikaandShimoyama,Junko(2002).Indeterminatepronouns:TheviewfromJapanese.Otsu,Y(ed.),Proceedingsofthe3rdTokyoConferenceonPsycholinguistics,pp.1–25.LE BRUYN, Bert and Pozas-Loyo, Julia (2014) Plural indefinite articles: The case of unos and des,ProceedingsofSALT24:255–270.CETEMPúblico(CorpusdeExtractosdeTextosElectrónicosMCT/Público)-http://www.linguateca.pt/

SESSÃO 7. FONOLOGIA

DISTRIBUIÇÃO DAS CONSOANTES RÓTICAS EM PORTUGUÊS

AndréiadeSouzaUniversitéduQuébecàMontréalAsconsoantes róticas “r forte”e “r fraco”doportuguêsestãoemdistribuiçãocomplementarnoscontextos:iníciodepalavra,apósumaconsoanteheterossilábicaenasegundaposiçãodeum grupo consonantal tautossilábico. No contexto intervocálico, há contraste entre asconsoantes róticas. Em coda silábica, ambas consoantes podem semanifestar em funçãodavariedade regionalda língua semgerar contraste semântico.Paraexplicaradistribuiçãodasconsoantes róticas, alguns pesquisadores, no quadro das teorias fonológicas tradicionais,propõem que o r forte e o r fraco correspondem a duas consoantes fonológicas que seneutralizamemcoda(B,C).Taisanálisesenfrentamdesafiosparaexplicarporqueor fraconãosemanifestaeminíciodepalavraouapósumaconsoanteheterossilábica.Poroutrolado,outrospesquisadores,tambémnoquadrodasteoriasfonológicastradicionais,propõemqueor forteeo r fraco sãoduas realizações fonéticasdeumaúnica consoante fonológica.Nestasanálises, o r forte é uma geminada e o r fraco, uma consoante simples (A, E). Tal propostaenfrenta o desafio de explicar a presença de geminadas em início de palavra, após umaconsoanteheterossilábicaeemcoda.NossoobjetivoéexplicaradistribuiçãodasconsoantesróticasdoportuguêsnoquadrodateoriaCVCV(E,F).Contrariamenteàsteoriasfonológicastradicionaisquepressupõemumaestruturasilábicadetipoarborescente,CVCVpropõeumaestrutura silábica linear onde as relações hierárquicas entre os constituintes silábicos seoperamlateralmente.Deacordocomanossaproposta,orforteeorfracosãoefetivamente

Mudança linguística, linguística teórica

83

duas realizações fonéticas de uma única consoante fonológica. Porém, o r forte não é umageminada,esim,arealizaçãofonéticadaconsoanteróticasubjacenteemcontextossilábicosprecedidos de um núcleo vocálico governado e por isso, mudo. Uma hipótese que poderiaexplicarapresençadetalnúcleogovernadoàesquerdadorforteestárelacionadaàevoluçãodalínguaportuguesa.Emlatim,orforteeraumaconsoantegeminada.Aolongodaevoluçãodo latim ao português, o r forte conservou apenas a necessidade de ser precedido por umnúcleogovernadosemterdeseassociaràduasposiçõesconsonantais.Concluímosqueumaconcepçãolineardaestruturasilábicaofereceumaexplicaçãoadequadaquantoàdistribuiçãodasconsoantesróticasdoportuguês.Referências:A ABAURRE, Maria Bernadete Marques e Maria Filomena Spatti Sândalo. 2003. Os róticosrevisitados.Teoria linguística: Fonologia e outros temas, sob a direção deDermeval daHora eGiselaCollischonn,144-180.JoãoPessoa:EditoraUniversitária/UFPB.B CRISTÓFARO SILVA, Thaïs. 2010.Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia deexercícios.10aedição.SãoPaulo:Contexto.C D’ANGELIS, Wilmar da Rocha. 2002. Sistema fonológico do Português: rediscutindo o consenso.DeLTA,18.1:1-24.DMATEUS,MariaHelenaeErnestod'Andrade.2003.ThephonologyofPortuguese.NewYork:OxfordUniversityPress.E SCHEER, Tobias. 2004.A lateral theory of phonology,Vol. 1:What is CVCV andwhy should it be?,Berlin:MoutondeGruyter.F SCHEER, Tobias. 2015.Précis de structure syllabique. Accompagné d'un apparat critique. Lyon: ENSEditions.FONOLOXIZACIÓN DO CONTRASTE ENTRE VOGAIS MEDIAS EN POSICIÓN PRETÓNICA NO GALEGO ACTUAL

AlbaAgueteCajiaoInstitutodaLinguaGalega–UniversidadedeSantiagodeCompostelaElisaFernándezReiInstitutodaLinguaGalega–UniversidadedeSantiagodeCompostelaTensedescritoquenogalegoactual seproduciuuncambiorecentequeafectaaovocalismoátonogalegoeniniciodepalabraequeconsistenafonoloxizacióndocontrasteentreasvogaismediasaltasemediasbaixas/e/-/ɛ/e/o/-/ɔ/enposiciónpretónica[1].Algúnsestudossuxirenque, seguindounpatróndevariación testemuñadonoutras linguas románicas [2],estenovocontraste podería estar motivado polo reforzamento articulatorio da sílaba inicial, queprovocaría o aumento da duración do xesto articulatorio [3]. Estamaior duración do xestoarticulatorio, propiciada pola estrutura silábica e a posición prosódica, facilitará un maiorcontrasteentreasvogaismediasaltasemediasbaixas.

Nunestudopreviopuidemoscomprobarquesiexisteunhacorrelaciónsignificativaentreaduracióndoxestoarticulatorioeadistanciaacústicaentreasvogaismediasaltasemediasbaixasdogalego.Esesresultadosleváronnosapreguntarnosseesaamaiordiferenciaciónquesedánoplanoacústico taménépercibidapolos falantes,ou se,polacontra,nonsepercibecomotal.Ahipótesequepropoñemosnoestudoqueaquípresentamoséqueasvogaismediasaltas son identificadas como vogais medias baixas cando o xesto articulatorio ten unhaduraciónmenor,mentresqueasvogaismediasbaixassonidentificadascomomediasaltasconduraciónsdoxestoarticulatoriomaiores.

Paracomprobaranosahipóteserealizamosunexperimentoperceptivo,formadopordoustests perceptivos complementarios: un test de identificación de vogais e un test de

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

84

discriminación.O obxectivo destes tests é comprobar se os xuíces categorizan os estímulosauditivoscomodiferentesunidadesdependendodaduracióndoxesto,edelimitaropuntoenqueunhaunidadepasaadistinguirsedaoutra.

Osresultadosobtidosnesteexperimentopermitirannoscomprobarseaduracióndoxestoarticulatoriotenalgunhaimplicaciónnacategorizacióndasvogaisqueinflúanosprocesosdecambioactivosnovocalismogalegoactual.Palabraschave:vocalismo;variaciónecambiolingüístico;percepción.Bibliografía:[1] REGUEIRA, X.L. 2009. Cambios fonéticos e fonolóxicos no galego contemporáneo. Estudos deLingüísticaGalega1,147–167.http://dx.doi.org/10.3309/1989-578X-09-8.[2]FOUGERON,C.&Keating,P.1997.Articulatorystrengtheningatedgesofprosodicdomains.JournaloftheAcousticalSocietyofAmerica101(6).3728-3740.[3]AGUETE,A.2015.TheroleofgesturedurationintheinitialunstressedvowelshiftinGalician.Afirstapproximation.Loquens,2(2).MÉTRICAS FONOLÓGICAS NA IDENTIFICAÇÃO/CARACTERIZAÇÃO DE AUTOR

MarinaVigário;FernandoMartins;SóniaFrotaCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaCarlaPiresInstitutodeInvestigaçãodoMedicamento,UniversidadedeLisboaA identificação de propriedades linguísticas capazes de individualizar textos, orais ou escritos,produzidosporumúnicosujeitoouporumgrupodesujeitoséumaimportantelinhadeinvestigação,designadamente nos domínios forense e da crítica textual (Kredens&Coulthard 2012).Metodologiasdiversas são hoje exploradas, variando por exemplo em função dos marcadores linguístico-textuaisestudados,dasferramentasdeanálisedosdados,e/oudimensãodostextosconsiderados(Stamatatosetal.2000;Stamatatos2009).

OestudosistemáticodaatribuiçãodeautorianoPortuguêsEuropeuérecenteetem-secentradoemtraçoslinguísticosessencialmentenão-fonológicos(morfossintáticos,sintáticos,lexicaisefonéticos-Marquilhas&Cardoso2011;Martins,Simões,Brissos&Rodrigues2014;Teles2015).Nopresenteestudoinvestiga-se opotencial demedidasdenaturezapredominantemente fonológicapara isolar textosdeescritoresdistintos.

VáriostrabalhossobreoPortuguêsvêmmostrandoqueafrequênciadeocorrênciadeunidadesepadrõesfonológicospermitedistinguir,demodoestatisticamentesignificativo,textosoraiseescritosdetipos distintos, em particular textos produzidos por falantes com graus de instrução ou de regiõesdiversas (Aguiar&Vigário 2010; Pires,Martins, Cavaco&Vigário 2017), textos escritos emdiferentesépocas(Frota,Galves,Vigário&Abaurre2012)etextosescritospertencentesagénerosdiferentes,comonotíciasjornalísticasefolhetosdemedicamentos(Piresetal.2017).

No presente trabalho, explora-se a possibilidade de medidas de frequência similares tambémpermitiremdistinguir textos literários produzidospor escritoresdiferentes.Tomam-se asmedidasdecomplexidade/frequência identificadas nos estudos anteriores, utiliza-se a mesma ferramentaelectrónicaparacontabilizarasfrequênciasdeocorrência(Martins, Vigário & Frota2011),eaplicam-setestesestatísticosnaanálisedetextosdedimensãosemelhante,pertencentesaomesmogénero,escritospordiferentesautorescontemporâneos,oriundosdamesmaregião.Resultadospreliminaresreferentesa 4 autores (L1, M2, V3 e L4; apenas um texto curto por autor) sugerem que: (i) o elevado uso depalavrascom4oumaissílabas(formatomenosfrequentenalíngua)distingueV3dosrestantesautores;(ii)L1distingue-seporumamuitobaixarazãopalavrasprosódicas/clíticos(indiciandomaiordensidadesemântica); a elevada ocorrência de palavras com V-slot (Mateus & Andrade 2000), muito raras nalíngua,separaclaramenteL4;otamanhodefrase(aquibaseadonapontuação) isolanumextremoL1,

Mudança linguística, linguística teórica

85

comunidadeslongas,enooutroL4,comvaloresbaixosqueseaproximamdostextosorais(Piresetal.2017). A rácio token/type, medida reveladora de diversidade lexical, parece, pelo contrário, apenasdistinguirostextosescritosdosorais,deacordocomosvaloresemPiresetal.(2017).

Planeia-se apresentar resultados com base numa amostra ampliada, que permita a avaliação dasignificânciaestatísticadasdiferençasencontradas,assimcomodaconstânciadosvaloresnummesmoescritor.

Julga-se que esta é uma linha de investigação promissora. As métricas de natureza fonológicapodemsercombinadascommedidasdeoutrostipos,comganhosnarobustezefiabilidadedoprocessodeidentificação/autenticaçãodaautoriadetextos.

Referênciasselecionadas:MARTINS, F., M. Vigário & S. Frota (2011). FreP - Frequency in Portuguese. Version 3.0. Lisbon:PhoneticLaboratory,CLUL/FLUL.Stamatatos, E. (2009) A survey of modern authorship attribution methods. Journal of the AmericanSocietyforInformationScienceandTechnology60(3),538-556.TELES,L.(2015)Atribuiçãodeautoriaemlinguísticaforense:Umaanálisecombinadaparaidentificaçãodeautoratravésdotexto.TesedeMestrado,UniversidadedeLisboa.PIRES,C.,A.Cavaco&M.Vigário(2017)Towardsthedefinitionoflinguisticmetricsforevaluatingtextreadability.JournalofQuantitativeLinguistics24(2).

87

LÉXICO, ETIMOLOGIA

SESSÃO 1. PERIODIZAÇÃO DO LÉXICO

QUINHENTISTAS E O LÉXICO GALEGO-PORTUGUÊS

FernandoVenâncioUniversiteitAmsterdamO século XVI português assistiu a uma notável confrontação de dois sectores do léxico: ofundo hereditário galego-português e asmodernas aquisições do latim e do castelhano. EmOrigemdaLínguaPortuguesa,DuarteNunesdeLeãotomaexplicitamentepartidopelosectormodernizante.Omesmofazem,implicitamente,algunscelebrizadospoetaseprosadores,comdestaqueparaLuísdeCamões.Neles, o investimentono léxicopatrimonial émodesto, e asestreiasnessedomíniopouconumerosas.

Nítidasexcepçõessão,nestepanorama,aobrateatraldeGilVicenteeadeJorgeFerreirade Vasconcelos, que fazem perdurar, e mesmo reactivam, o sector léxico patrimonial. Semdeixarem de promover a inovação vocabular, essas obras contêm abundantes estreiasdocumentaisdumléxicoirredutivelmentegalego-português.Poroutrolado,econtrariamenteao que poderia supor-se, a insistência de Fernão de Oliveira e de António Ferreira noprivilegiardaproduçãoemlínguaportuguesanãosefazacompanhardumespecialcultivodoléxicovernáculo.

Poderia objectar-se que não é legítimo comparar a hierática linguagem da poesia, emormente da epopeia, com a quase desbragada linguagem do citado teatro. Facto é queCamões, entre outros, tinha à disposição um bom número formas patrimoniais altamentecuidadasdequenuncafezuso.

Fica a pergunta sobre osmotivos para esse genérico 'desinvestimento' quinhentista noportuguêspatrimonial.Trêspossíveis respostas serãoaqui examinadas.Umapositiva:houveum esforço por internacionalizaro português, fazendo dele uma 'coinè culta', directamenteacessível ao leitor estrangeiro (como era então convicção ser o caso do espanhol). Umanegativa: foi diminuta a estandardização do léxico autóctone, o qual não garantiriaestabilidade e durabilidade suficientes. E uma neutra: investiu-se numa vernaculização decriaçõescastelhanas,fazendomenosprementeumvernáculoderaizprópria.

Entrarão neste exame tanto o léxico de estrita criação autóctone como os latinismosexclusivos.Serãoexaminados,demodotendencialmenteexaustivo,osterrenosdoadjectivoedo verbo. O mesmo se fará com certos tipos de substantivos: os das terminações -ice e -idom/idão e os deverbais regressivos. A identificação e datação desses sectores do léxicoexclusivogalego-portuguêsforamobjectodeestudosanteriores.

Palavras-chave:léxico;galego-português;Quinhentismo;latim;castelhano.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

88

Bibliografia:Alistaderecursoslexicográficosimpressos,electrónicosoudisponibilizadosnaNet,galegos,brasileiroseportugueses,émuitoextensa.Neladevedestacar-se,pelasuanotávelutilidade:VERDELHO,Telmo(2012):LuísdeCamões.Concordânciadaobratoda,Coimbra,CentroUniversitáriodeEstudosCamonianos.Estudosanteriores:VENÂNCIO, Fernando (2017). «Verbos exclusivos do Galego-Português moderno: história emetodologia»,inActasdoIIICongressoInternacionaldeLinguísticaHistórica,SantiagodeCompostela.VENÂNCIO, Fernando (2014). «O castelhano como vernáculo português»,Limite. Revista de EstudiosPortuguesesydelaLusofonía,nº8,UniversidaddeExtremadura,Cáceres,págs.127-146.VENÂNCIO, Fernando (2012). «O espanhol proveitoso. Sobre deverbais regressivos em português»,SantaBarbaraPortugueseStudies,XI,6-41[emactualização]O TRATAMENTO DOS EMPRÉSTIMOS DO FRANCÊS AO PORTUGUÊS NO TRÉSOR DE LA LANGUE FRANÇAISE E NO PETIT ROBERT

MyriamBenarrochUniversitéParis-SorbonneA línguaportuguesa forneceuumapequenaquantidadede lexemasao francês.Paraamaiorpartedeles, serviude intermediárioentre línguas faladasnas terras longínquasdaÁfrica,doBrasiledaÁsiaviajadaspelosportuguesesnaépocadosdescobrimentoselínguaseuropeias,entre as quais o francês. Os dicionários da língua francesa nem sempre refletem fielmenteestesempréstimosaoportuguêsnemocaminhoseguidopeloslexemasadotados.Escolhemosanalisar aqui o tratamento reservado aos empréstimos do francês ao português em doisdicionáriosdalínguafrancesa,oTrésordelalanguefrançaiseeoPetitRobert,nasrespectivasversõesdigitalizadas(TLFiePR2017).

Aprimeiraquestãoquesecolocoufoiadeidentificarnovastooceanolexicaldasentradasdo TLF o riacho constituído pelos portuguesismos (lusismos e brasileirismos). Omotor depesquisadodicionáriopermitiu,atravésdaferramenta“Langueempruntée”, fazermosalistados lexemas que ele considerava como empréstimos ao português. Mas ficou rapidamenteclaro que muitos lexemas escaparam à pesquisa (balise, fétiche, p. ex.), o que nos levou aalargarestamanualmente.Omotordepesquisatambémrecolheulexemasparaosquaistinhasido eliminada a origem portuguesa. O que, paradoxalmente, estendeu a nossa lista deportuguesismos, jáqueas razõesdaeliminaçãodaetimologiaportuguesanemsempreeramválidas(porex.,adeumaprimeiradocumentaçãoanterioremespanhol).Umoutrocasoquetambémalargouanossalistafoiodoslexemasparaosquaisaferramenta“Langueempruntée”não identificou o intermediário português (piranha). Alguns portuguesismos faltavam nanomenclaturadodicionário(bossanova),outroseramconsideradoscomoxenismos(samba).Issolevou-nosapesquisaremdicionáriosmaisrecentes,comooPetitRobert2017.Vinteetrêsanos separamapublicaçãodoúltimo volumedoTLFdoPR 2017 e algumasdessaspalavrasignoradas no TLF já aparecem na nomenclatura do PR, amaior parte delas refletindo umarealidadeculturalbrasileiraentretantomaisconhecidaemFrança.

Interessámo-nospela origemdos empréstimosqueo francês fez aoportuguês, já que amaiorpartedelesjátinhamsidotomadospeloportuguêsdeoutraslínguas:árabe(anil),tupi(piranha), línguas bantas (macaque) ou asiáticas (mangue). Alguns desses empréstimos doportuguês a outras línguas não passaram diretamente para o francês, uma outra línguaeuropeiacomooinglês(coolie)ouoneerlandês(mousson?)serviudeintermediário,eporissonãopodemserconsideradoscomoempréstimosaoportuguêsnosentidoestritodaetimologiaprossima. Nesta perspectiva, lexemas como porto ou andradite também não podem ser

Léxico, etimologia

89

considerados,comoofazoTLF,comodeonomásticos,jáquenãosãosenãoempréstimosaossubstantivos portugueses correspondentes. Num esboço de tipologia dos empréstimos dofrancês ao português, avaliámos o grau de adaptação dos lexemas portugueses ao sistemagráfico e fonético do francês. Também tivemos em consideração aspetos morfo-sintáticos(comoamudançadegénero:port.sambam.masfr.samba f.)esemânticos(empréstimodeacepções).Palavras-chave:etimologia;empréstimos;portuguesismos;francês;TLFi;PetitRobert.Bibliografia:REY,Alainet alii, 2017, LePetitRobert de la langue française, versionnumérique, version 5,Paris, LeRobert.IMBS, Paul e QUEMADA, Bernard (dir.), 1971–1994,Trésor de la langue française. Dictionnaire de lalangueduXIXeetduXXesiècle(1789–1960),16vol.,Paris,ÉditionsduCNRS/Gallimard.DE FANTASMAS, ESPECTROS, ILUSÕES E OUTROS ASSUNTOS LEXICOGRÁFICOS

DoraManchevaFacultédesLettres,UniversitédeGenèveAapresentação irá tentar fazerum levantamentoecomentáriodevestígiosqueoportuguêsdeixounalínguadossefarditasorientais.Aênfaseserápostaprincipalmentenoimpactosobreovocabulário.

A questão da presença – ou ausência – de lusismos no judeu-espanhol tem uma longahistória; os estudos, porém, são escassos, o que se deve principalmente ao facto de que aidentificação precisa da origem duma palavra supõe uma pesquisa histórico-etimológica degrandecomplexidade.Esta,comopodeocorrerigualmentenasvariedadesromânicasmelhorconhecidas, àsvezesé impossívelde levar a cabo,devidoàexiguidadedosdadosoferecidospelageografialinguísticaedialetologiadiacrónica.Acrescente-setambémqueasdificuldadeshabituais a seremsuperadas sãoaindamaioresnocasodos lusismosno judeu-espanholporcausadasparticularidadesdaprópriamodalidadesefardi,naqual,porumlado,nãoexisteumpadrão linguístico, e por outro, o polimorfismo é a sua principal caraterística. Além disso,dicionários, vocabulários e glossários da mais variada espécie, feitos por e para sefarditas,saem,emgeral,daautoriadelexicógrafosnãoprofissionais.Paracompletar,ojudeu-espanholcarece de duas ferramentas essenciais para fazer um estudo aprofundado e rigoroso: umdicionário etimológico e uma base de dados de referência sobre a história das palavras.Naúltimadécada,noentanto,graçasaosesforçosdos investigadores, àsnovas tecnologiaseaotrabalho de equipa, vão-se preenchendo as lacunas e até um Diccionario Histórico delJudeoespañol(DHJE)encontra-sebemencaminhado(http://esefardic.es/dhje).

Os lusismos no judeu-espanhol talvez sejam o grupo mais difícil de definir por duasrazõesprincipais:aocontráriodosgalo-italianismosquesubstituíram–comoumsímbolodostemposmodernosedarenovaçãodasociedadesefardita–osturquismosdostemposremotos,os lusismos ter-se-iam incorporado num período inicial da formação da koiné, quando naPenínsulaIbéricaocastelhanoaindanãosetinhatornadolínguanacionalequandohaviaumacontinuidade linguística talque, emmuitoscasos, seriaarriscadoatribuiruma formaaumaúnicavariedadediatópica.

Nesta apresentação estudar-se-ão cinco fontes lexicográficas diferentes, publicadas emSófia, Jerusalém, Sarajevo e Madrid entre 1896 e 1977, e escritas em carateres latinos,algemiados e cirílicos. O objetivo principal é tentar encontrar os empréstimos de possível

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

90

origemportuguesa,reunidosnosrespetivoscorpora.Nofim,tirar-se-ãoalgumasconclusõesarespeitodosvestígiosreaisdoportuguêsnoléxicodossefarditasorientais.

Palavras-chave:lusismo;lexicografia;dicionário;judeu-espanhol.Bibliografia:CHEREZLÍ,ŠelomóIsrael:Petitdictionnairejudéo-espagnol−français(Jerusalém1896).M[efánov],D[imitar]:Малкословарченафренско-българско-еврейскиязик[=‘Pequeninovocabuláriofrancês–búlgaro–hebreu’](Sófia:Nadesda,1896).PIPANO,Albert:Diccionariojudeoespañol–búlgaro(Sófia:Nadesda,1913).ROMANO,Samuel:DictionaryofSpokenJudeo-Spanish/French/German(Zagreb1933;[ed.facsímile,Jerusalém:MisgavYerushalayim1995]).

A LINGUÍSTICA HISTÓRICA E O ESTUDO LEXICOLÓGICO DA VARIAÇÃO DIALETAL E SOCIOLINGUÍSTICA DE ALGUNS REGIONALISMOS DO PORTUGUÊS FALADO NA ILHA DA MADEIRA

NaideaNunesNunesUniversidadedaMadeiraPropomo-nos apresentar os resultados de inquéritos semântico-lexicais aplicados junto dapopulação de jovensmadeirenses, na suamaior parte estudantes naUniversidade daMadeira,paraaferiro(re)conhecimentoeusodealgunsregionalismoscaracterísticosdoPortuguêsfaladono Arquipélago da Madeira. O principal objetivo deste estudo é observar a vitalidade dosregionalismos enquanto património linguístico e cultural com valor identitário da sociedademadeirense. Para isso, comparamos os dados recolhidos junto dos estudantes oriundos dediferenteslocalidadesdaRegiãoAutónomadaMadeira(RAM),tendoemcontaofatorgeográfico(rural vs. urbano), mas também os resultados obtidos do ponto de vista do fator de variaçãosocioculturalsexoougénero.

O estudo do léxico diferencial, neste caso de alguns regionalismosmadeirenses, contribuipara um maior conhecimento da Linguística Histórica, permitindo compreender melhor aformação do Português regional e a mudança linguística atual. Pois, muitos regionalismosmadeirensessãoresultadodoconservadorismodeléxicodoPortuguêsantigo(arcaísmos),apardealgunsneologismosregionais(lexicaisesemânticos),geralmenteassociadosaparticularidadesetnográficasesocioculturaisdaregião.

Ofatordialetalouvariávelgeográficapodeserbastanterelevante,nocasodaspalavrasmaisantigas,conservadasnasáreasmaisisoladas,poroposiçãoàsmaiscomunsoucorrentes,usadastambémnacidadedoFunchal,capitaldoArquipélagodaMadeira,apresentando,porisso,maiorprestígiosocial.Assim,pretendemosverificaratéquepontoasnovasgeraçõestenderãoadeixarde (re)conhecer e usar os vocábulosmarcados como regionais e sentidos como ruralismos ourusticismos.De igualmodo,podemosobservaratéquepontoavariável socialgénero se revelamarcante,noquedizrespeitoàsdiferençaslexicaisesemânticasexistentesentreosmeiosruraiseaáreaurbana.

Palavras-chave:LinguísticaHistórica;Léxico;Semântica;Dialetologia;VariaçãoSociolinguística.Bibliografia:BARCELOS, J. M. Soares de, 2016. Dicionário de Falares do Arquipélago da Madeira, Funchal, DireçãoRegionaldaCultura,SecretariaRegionaldaEconomia,TurismoeCultura.CALDEIRA,A.Marques,1993[1961].Falaresdailha.Dicionáriodalinguagempopularmadeirense,2ªedição,Funchal,EcodoFunchal.

Léxico, etimologia

91

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia Portugal, Lisboa,TemaseDebates,2005.DRA:DicionáriodeRegionalismoseArcaísmos,CentrodeLinguísticadaUniversidadedeLisboa(CLUL).<http://alfclul.clul.ul.pt/clulsite/DRA/resources/DRA.pdf>.FIGUEIREDO, A. Cristina, 2004. Palavras d’aquintrodia: contribuição para o estudo dos regionalismosmadeirenses, dissertação na área da Dialetologia Portuguesa sob a orientação do Professor Doutor JoãoMalacaCasteleiro,apresentadaàUniversidadedaMadeira.FIGUEIREDO,Cândidode, 1996.GrandeDicionáriodaLínguaPortuguesa, 2vols.,VendaNova,BertrandEditora,25ªedição.NUNES,N.Nunes,2014.«VariaçãosocialevitalidadedealgunsregionalismosmadeirensesnoPortuguêsfaladonacidadedoFunchal»,Confluêncianº46,1ºsemestrede2014,RiodeJaneiro,335-370.

SESSÃO 2. MORFOLOGIA E ETIMOLOGIA

NOMES DEVERBAIS NÃO SUFIXADOS E NOMES DEVERBAIS CORRADICAIS SUFIXADOS: CONDIÇÕES HISTÓRICAS DE EXISTÊNCIA

GraçaRio-TortoDLLC,CELGA-ILTEC,UniversidadedeCoimbraEste estudo centra-se nos nomesdeverbais não sufixados, comoajuste (deajustar), voo (devoar). As condições estruturais de construção destes nomes, também conhecidos comoderivadosregressivos,foramdescritasporRodrigues2001,mormentenoqueconcerneaoseusemantismo e ao dos verbos de base. O presente trabalho analisa as relações históricas econjunturaisdecoexistênciaoudedescoincidênciatemporaldealgunsnomesdeverbaisnãosufixadosedosnomescorradicaissufixados(em-ção,-mento,-agem,-nça).

Oenquadramentoteóricoemetodológicoquepresideaestareflexãoassentanapremissadequeoconhecimentodeumitemlexicalganhaemseromaisholísticopossível,peloqueaabordagem que aqui se empreende contempla as dimensões etimológica, diacrónica esincrónicaquetodaaunidadedoléxicoconvoca.

A metodologia de seleção dos nomes nomes deverbais não sufixados obedeceu aosseguintesparâmetros:foramselecionados70,consideradosrepresentativosdeáreastemático-referenciaisdavidacomumdomundoglobalizadoemquevivemos;dosnomesselecionados,foram analisados dez dos quais existem nomes corradicais sufixados (v.g.: ajuste eajustamento, amostra e amostragem, embarque e embarcação, espera e esperança, ensino eensinamento,enfadoeenfadamento,pagaepagamento,permutaepermutação).

O objetivo do estudo consiste em analisar as condições de coexistência (ou dedescoincidênciatemporal)destesparescorradicaisaolongodahistóriadalíngua,indagandoasmotivaçõesdo (des)usode algumasdas formas edamaiorprojeçãodeoutras, tendo emcontaosmovimentosde flutuaçãona representatividadedealgunsdos sufixosao longodosséculos, o semantismo dos termos de cada par e os processos de variação e/ou mutaçãosemânticasregistadosnadiacroniadalíngua,porformaaexplicarasmotivaçõesdadinâmicadasmudanças.

Palavras-chave: Nomes deverbais não sufixados; morfologia histórica; semântica histórica; mudança;históriadalíngua. Bibliografia:

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

92

CARDEIRA, Esperança (2005) Entre o português antigo e o português clássico. Lisboa: ImprensaNacional-CasadaMOEDA.Hamawand,Zeki(2008),Morpho-LexicalAlternationinNounFormation.NewYork:PalgraveMacmillan.MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia (2008) O português arcaico. Uma aproximação. Vol. I. Léxico emorfologia.Lisboa:ImprensaNacional-CasadaMoeda.RIO-TORTO, Graça (2012), Morfologia lexical no português médio: variação nos padrões denominalização. Tânia Lobo et al.(Orgs.). ROSAE: linguística histórica, história das línguas e outrashistórias.Salvador:EDUFBA:305-322.RODRIGUES,Alexandra(2001),Aconstruçãodepostverbaisemportuguês.Porto:GranitoEditores.A COMBINAÇÃO DE PREFIXOS NO GALEGO-PORTUGUÊS

MailsondosSantosLopesUniversidadeFederaldaBahia/UniversidadedeCoimbraTendodesdeoprincípioaconvicção,talcomopreconizouMattoseSilva(2008),dequetodaproposta de estudo de fatos linguísticos de períodos historicamente remotos constituir-se-ásempreumaaproximaçãoàverdadeirarealidadedalíngua,almeja-seachegar-seàmorfologiado(galego)-portuguêsmedieval,incidindoespecificamentesobreofenômenodacombinaçãode prefixos nesse espectro linguístico em seu arco temporal arcaico (sécs. XIII a XVI),emergentedaobservaçãodo comportamentodos elementos afixaisdamargemesquerdadovocábulo em um corpus representativo do período (meia centena de documentosremanescentes, jurídico-notariais e literários, denatureza tipológica variada).Oque aqui sedenomina por combinação ou combinatória de prefixos é também conhecido por duplaprefixação,prefixossobrepostos,sobreposiçãodeprefixos,prefixaçãosucessiva,recursividadedeprefixos, superposição prefixal ou sobreprefixação e, como os próprios termos sugerem,consiste na adjunção de um prefixo2 a um vocábulo em que já figura um prefixo1, sob umesquema[pref.2[pref.1[X]]],como,porexemplo,emarrenegou(TC),arrepeendimẽto(VSMA),desaguissadas (DSG), desavẽtura (HRP), desaventurado (LEBC), desconfortado (DSG) edesenfadar(LC;HRP),nãoseconfundindo,portanto,comacoordenaçãodeprefixos(exempligratia,emcuidadospréepós-operatórios),sendoesteúltimoumfenômenoquenãopareceseregistrar nas sincroniasmediévicas.Apesar de ser algo que se registra na línguaportuguesadesde os seus estágios primevos (na verdade, que parece já se observar na língua latina), acombinatória de prefixos― tal como a de sufixos― tem sidomuito pouco explorada, sejanumviéssincrônico,sejanumviéshistórico-diacrônico,nãoapenasparaoportuguês,senãoparatodasaslínguasromânicas.Apresentar-se-ãoalgunsescóliosdescritivo-analíticossobreaconfiguração e o funcionamento da dupla prefixação no período recortado ― a partir dadescriçãoeanálisedoparadigmaprefixalarcaico(cerneempíricodoestudo)―,fincadosnaobservação dos moldes combinatórios entre os prefixos envolvidos (atinentes, portanto, àsintaxe internaao lexema),coma identificaçãodasunidadesprefixaisqueseprestamaessaoperação e quais têm maior e menor capacidade geradora, em qual posição normalmentefiguram, bem como quais não a licenciam, procedendo-se também, quando possível, a umcotejoentreessaspautascombinatóriasdoperíodoarcaicoeasemfuncionamentonoperíodohodierno, com a detecção de suas convergências e diferenciações. A proposta vem pautadanum modelo epistemológico compromissado ao fato linguístico, buscando associar umaatitude assumidamente indutiva à consideração do inegável fator diacrônico da língua(VIARO, 2014), apoiando-se também em um eixo de intersecção entre informações denatureza histórica e um olhar sistêmico dos processos morfolexicais e no lastro teórico-epistemológico das premissas fundamentais da morfologia histórica (RIO-TORTO, 2016;MÜLLERetal.,2015;VIARO,2014).

Léxico, etimologia

93

Palavras-chave:Morfologiahistórica;Galego-português;Sobreposiçãoprefixal.Bibliografia:MATTOSESILVA,R.V.Oportuguêsarcaico:umaaproximação.Lisboa:IN-CM,2008.MÜLLER,PeterO.etal.(Ed.).Word-Formation:AnInternationalHandbookoftheLanguagesofEurope.Berlin:DeGruyterMouton,2015.RIO-TORTO,G.M.(Org.).Gramáticaderivacionaldoportuguês.Coimbra:IUC,2016.VIARO,M.E.(Org.)MorfologiaHistórica.SãoPaulo:Cortez,2014.CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS PALAVRAS PORTUGUESAS TERMINADAS EM -OULO / -OILO

PrzemysławDębowiakUniversidadeJaguelónicadeCracóviaNa línguaportuguesaexistemalgumaspalavrasterminadasem -oulo (-oula)/-oilo (-oila).Amais conhecida é indubitavelmente crioulo, tendo-se difundido mundialmente (através deoutraslínguas)comotermolinguístico.Aorigemdestevocábulofoidiscutidaváriasvezesnaliteratura linguística (cf.p.ex.LeitedeVasconcelos 1928: 364;MichaëlisdeVasconcelos s.d.:219–220,Brüch1940),mashojeemdiaadmite-segeralmenteaetimologiasegundoaqualéumderivadosufixaldecria(cf.p.ex.osdicionáriosetimológicosdoportuguêsedoespanhol).

Noentanto,osufixo -oulo (easuavariante -oilo)costumaserconsideradocomopoucoclaroetemumaorigemincerta.Asuaformajuntaumtraçotipicamenteportuguês,queéaalternânciaou/oi,comumacaraterísticaalheiaaestalíngua,nomeadamente,apresençado-l-intervocálico.

Na comunicação proposta analizar-se-á o corpus constituído das palavras portuguesasterminadas em -oulo (-oula) / -oilo (-oila), como p.ex. caçoula / caçoila, canoula / canoila,ceroulas / ceroilas, cravoila, crioulo, ferragoulo, lantejoula, missoilo, moçoila e moçoilo,papoila, tejoula / tejoila; mencionar-se-á também o topónimo Palaçoulo, nome de umalocalidadenoconcelhodeMirandadeDouro.Aexplicaçãodaetimologiadosvocábulosemquestão permitirá esclarecer a sua estruturamorfológica, dividi-los em derivados sufixais evocábulossimplese,finalmente,proporumaorigempossíveldosufixo-oulo/-oilo.

Acomunicaçãoinscrever-se-ánoâmbitodemorfologiahistóricadoportuguês.

Palavras-chave:Português;etimologia;derivação;sufixação.Bibliografia:BRÜCH,Josef(1940),DasSuffixdesport.Crioulo,[em:]FritzSchalk(ed.),Portugal1140–1640:FestschriftderUniversitätKölnzudenportugiesischenStaatsfeierndesJahres1940,BalduinPickVerlag,Köln,pp.90–100.VASCONCELOS,CarolinaMichaëlisde(s.d.),Liçõesdefilologiaportuguesa,segundoasprelecçõesfeitasaoscursosde1911/12ede1912/13,seguidasdasliçõespráticasdeportuguêsarcaico,Dinalivro,Lisboa.VASCONCELOS, José Leite de (1928),Antroponímia Portuguesa, Imprensa Nacional Casa daMoeda,Lisboa.Dicionários etimológicos das línguas portuguesa e espanhola (J.P. Machado, A. Nascentes, A.G. daCunha,J.Corominas).

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

94

REPRESENTATIVIDADE DICIONARÍSTICA DOS PREFIXOS DE ORIGEM PREPOSICIONAL NA LÍNGUA PORTUGUESA: DO SÉCULO XVIII À ATUALIDADE

SusanaMargaridaNunesInstitutoPolitécnicodeLeiria/CELGA-ILTEC,UniversidadedeCoimbraDesdesempreconsideradacomo«leparentepauvredesprocessosd’analysede la formationdesmots»(Amiot1997:24),aprefixaçãotem,contudo,vindoaassumir,aolongodahistóriadalíngua, um papel de relevo nos processos de formação de palavras, sobretudo no que dizrespeitoaoseucontributoparaaformaçãodelinguagensdeespecialidade.

Alguns dos estudos existentes sobre prefixação identificam os prefixos com a categoriagramatical das preposições. A procedência etimológica preposicional de boa parte dosprefixos,bemcomoacoincidênciaformalesemânticaexistenteentreprefixosepreposições,fazemcomqueosprefixostenhamsido,aolongodostempos, frequentementeconsideradoscomovariantesligadasdaspreposições.

É objetivo desta comunicação dar a conhecer a representatividade dicionarística dosprefixos que em português coexistem com preposições configuracionalmente homólogas(co[m]-,contra-,entre-,sem-,sob-,sobre-),sublinhando(i)assuastendênciasdeacoplagem,(ii)a suaespecializaçãosemânticae (iii)o seucontributoparaa formaçãode linguagensdeespecialidadeaolongodahistóriadalíngua.

A análise empreendida ancora-se num corpus constituído por cerca de 2350 vocábulos,recolhidos em diversas fontes lexicográficas, designadamente em dicionários de línguaportuguesa (incluindo a variedade brasileira) publicados entre 1712 e 2002: Bluteau 1712,Domingos Vieira 1871, Moraes e Silva 1878, Figueiredo 1939, Casteleiro 2001, Ferreira 2001,Houaiss 2002. Esta análise permitirá aferir as características diferenciadoras dos elementosprefixais em estudo, designadamente no que concerne [i] à sua representatividadedicionarística (atual e pretérita), [ii] à(s) especificidade(s) semântica(s) por eles ativada(s)diacronicamente e [iii] ao contributo da(s) mesma(s) na formação das diversas realidadesontológicasdeespecialidade.

Palavras-chave: prefixação; preposição; representatividade dicionarística; especialização semântica;linguagensdeespacialidade.Bibliografia:AMIOT,Dany(1997).L’antérioritétemporelledanslapréfixationenfrançais.Villeneuved’Ascq:PressesUniversitairesdeSeptentrion.NUNES, Susana (2011). Prefixação de origem preposicional na língua portuguesa. Dissertação deDoutoramentoemLinguísticaPortuguesa.Coimbra,FLUC.RIO-TORTO, Graça (1988). Morfologia derivacional: teoria e aplicação ao português. Porto: PortoEditora.VARELA, Soledad & GARCÍA, Josefa Martín (1999). La prefijación. In: Bosque & Demonte (ed.),Gramáticadescriptivadelalenguaespañola.volume3.Madrid:Espasa,4993-5040.

Léxico, etimologia

95

SESSÃO 3. TERMINOLOGIA

AS LEXIAS DA CULINÁRIA MARANHENSE E SUA RIQUEZA ETIMOLÓGICA NA OBRA A LINGUAGEM POPULAR DO MARANHÃO

NádiaPereiraSilvaCentrodeCiênciasHumanas,DepartamentodeLetras,UniversidadeFederaldoMaranhãoConceiçãodeAraujoRamosCentrodeCiênciasHumanas,DepartamentodeLetras,UniversidadeFederaldoMaranhãoOTesourodoLéxicoPatrimonialGalegoePortuguês(TLPGP),quevemsendodesenvolvidonoDepartamentodeLetrasdaUniversidadeFederaldoMaranhão(UFMA),comopartedeumacordocelebradoentreesta IESeaUniversidadedeSantiagodeCompostela,naEspanha,éumprojetoque temcomoobjetivo reunir, emumúnicobancodedados,umamplo corpuscommaterialdialetal,noâmbitodoléxico,retiradodeobrasoriundasdaGalícia,dePortugaledo Brasil. Em se tratando doMaranhão, selecionou-se, para compor esse corpus, a obra ALinguagem Popular do Maranhão, escrita por um dos maiores estudiosos maranhenses doséculo XX, Domingos Vieira Filho. A obra em foco compõe o conjunto de estudos dosprimeiros registros sistemáticos da língua falada no Maranhão e explora a relação entre alíngua falada,ouvidadabocadopovo,ea línguaescrita,que registraousoe fornecepistassobreotempoemquesedeuesseuso.Aescolhadessaobrasedeveasuarelevânciaparaotrabalho de pesquisa e consulta dos que tenham interesse por conhecer a língua falada noEstado. Nessa perspectiva e tendo como suporte a ideia de que a compreensão da sócio-história do português brasileiro passa necessariamente pelo exame da interação secular daslínguasemcontatonoBrasil,oquepossibilitaabarcarnãosóahistória internadas línguas,mas tambémsuahistóriaexterna (MATTOSESILVA,2004), este trabalhobusca: (i) fazerolevantamento do léxico da culinária maranhense registrado na obra de Vieira Filho; (ii)examinar com base nesse léxico, as possíveis contribuições africana, indígena e portuguesaparaaformaçãodoportuguêsbrasileiro.Valedestacarqueoléxicoéocomponentedalínguaque mais e melhor arquiva e reflete o percurso sócio-histórico de uma comunidade,constituindo-se portanto em seu patrimônio vocabular. Tendo como parâmetro os estudossobreo léxico (Krieger, 2006,GarcíaMouton, 1990) e a linguísticahistórica (Mattos e Silva,2004,Faraco,2005),visa-seumamelhorcompreensãoda formaçãodopatrimôniovocabularbrasileiro.Palavras-chave:Léxico;Culinária;TesourodoLéxicoPatrimonialGalegoePortuguês.Bibliografia:ÁLVAREZ,Rosario(coord.):Tesourodoléxicopatrimonialgalegoeportugués.SantiagodeCompostela:InstitutodaLinguaGalega.[Consultado:].FARACO,CarlosAlberto.—Lingüísticahistórica:umaintroduçãoaoestudodahistóriadaslínguas.SãoPaulo:Parábola.Editorial,2005.GARCÍA MOUTON, Pilar. El estudio del léxico en los mapas lingüísticos. In: Moreno Fernández,Francisco. (Recop.).Estudios sobre variación lingüística. Alcalá deHenares:Universidad deAlcalá deHenares,1990,p.27-75.KRIEGER,MariadaGraça.Lexicografia: o léxiconodicionário. In: SEABRA,MariaCândidaTrindadeCostade.(Org.).Oléxicoemestudo.BeloHorizonte:FaculdadedeLetrasdaUFMG,2006,p.157-171.MATTOSE SILVA,RosaVirgínia.Ensaios parauma sócio-história do português brasileiro. SãoPaulo:ParábolaEditorial,2004.VIEIRAFILHO,Domingos(1979):AlinguagempopulardoMaranhão.SãoLuís.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

96

A FORÇA DO LÉXICO DO COMÉRCIO NO PERÍODO DOS GRANDES DESCOBRIMENTOS: O NOME DE MOEDAS, PESOS E MEDIDAS

BenildeSocreppaSchultzUniversidadeEstadualdoOestedoParanáA literaturadeviagemcompostaporrelatórios,cartasediáriostornou-se,nosséculosXVIeXVII, uma ferramenta imprescindível para a difusão da história ememória de povos poucoconhecidosouatémesmodesconhecidos.Alémdeexpressararealidadedospaísesvisitados,oviajante/escritor disponibiliza um conhecimento útil à sua pátria, que podia usufruir dasinformações contidas sobre o comércio, a produção de riquezas, além de outras de cunhohistórico, geográfico, científico, etnográfico, linguístico, cultural, etc. Nesta comunicaçãoexporemos um recorte de nossa pesquisa de doutorado, na qualobservamosque houveumexpressivo léxicoportuguêseum léxicode línguasexóticasmediadopela línguaportuguesa,que foidifundidopelosviajantes italianos noperíododosdescobrimentoseempregadoparafalar da cultura do país que visitavam, em especial para comentar sobre os produtos quecomercializavam, sobre a vegetação a fauna e flora, além de outros aspectos. Amat di SanFilippo(1874)atestaqueocomércioeareligiãoforamosfatoresquemotivaramositalianosaacompanharemosportuguesesnoiníciodosdescobrimentos.Alínguaportuguesanãosomenteinfluenciououtras línguas,mastambémfoi influenciadapelocomérciodosportuguesescompaísesdoNovoMundo,daÁfricaedoOriente (persae indiano)edoExtremoOriente. Essamúltiplaerecíprocainfluêncialinguísticaenriqueceuoléxicodalínguaportuguesacomnovostermos relacionados ao comércio, moedas, pesos e medidas. Ao acompanhar os lusitanos, oviajanteitalianoseapropriademuitaspalavrasdoportuguêsedepalavrasdaslínguasnativasdospaísessobodomínioportuguêsequeposteriormenteentraramparaa línguaportuguesa,transcrevendo-asdamaneiracomoasouvia.Muitasdessaspalavrasfaziampartedovocabuláriode base dos viajantes italianos, e a sua utilização se fazia necessária porque não haviaequivalentesemlínguaitaliana,assimsendo,seusescritossãopermeadosdessesempréstimos.Varthema(1885)registraosnomesdemoedas(fanão,pardau,cruzado),Corsali(1991)onomedepesos (sadim,quintal),Pigafetta (1994)onomedemedidas (légua, altura), etc., cadaumdeles,atendo-seaocampoquemaislhesinteressava.Comojádito,reconhecemosainfluênciaquealínguaportuguesarecebeudeoutraslínguasnoperíododasgrandesnavegações,porém,nestetrabalhonosateremosàsinfluênciasexercidaspelalínguaportuguesaemrelaçãoàquelaitalianagraçasaosviajantes italianos.Analisaremososdadosrecolhidosà luzdas teoriasdaslínguasemcontadodeWeinreich(1974)eCalvet(2002)eclassificaremososempréstimosque,baseadosemKlajn(1972),denominamosdeempréstimoscasuals.Verificaremosocontextonoqualocorreramequaisasadaptaçõesqueosviajantesutilizaramaoregistrá-los.Palavras-chave:viajantesitalianos;empréstimosdoportuguês;empréstimoscasuals;comércio;moedas,pesosemedidas.Referênciasbibliográficas:CALVET,Louis-Jean.Sociolinguísticaumaintroduçãocrítica.SãoPaulo:Parábola,2002.CORSALI, Andrea. Lettera a Lorenzo di Medici, duca d’Urbino. In: CARACI, Ilaria &; POZZI, Mario.Scopritori e viaggiatori del cinquecento e del seicento. Il cinquecento. Tomo I. Milano-Napoli: R.Ricciardi,1991.p.446-507.KLAJN,Ivan.Influssiinglesinellalinguaitaliana.Firenze:LeoS.OlsckiEditori,1972.PIGAFETTA,Antonio.Ilprimoviaggiointornoalmondo.In:AntonioPigafetta.Ilprimoviaggiointornoalmondo.Coniltrattatodellasfera.Vicenza:NeriPozzaEditore,1994.VARTHEMA, Ludovico de. Itinerario di Lodovico Varthema. A cura di Alberto Bacchi della Lega.Bologna:PressoGaetanoRomagnoli,1885.

Léxico, etimologia

97

WEINREICH,Uriel.Lingue in contatto.Traduçãoe introduçãodeGiorgioRaimondoCardona.Torino:Boringhieri,1974.DENOMINAÇÕES E EXPRESSÕES DE OLFATO NO CORPUS DO DICIONÁRIO HISTÓRICO DO PORTUGUÊS DO BRASIL (SÉCS. XVI A XVIII)

MariaFilomenaGonçalvesFCTUIDProjetoUID/HIS/00057/2013,CIDEHUS,UniversidadedeÉvoraO objetivo deste trabalho é inventariar e estudar as denominações de odor registadas nocorpus textualdoDHPB–DicionárioHistóricodoPortuguêsdoBrasil (sécs.XVIaXVIII).ODHPB é um projeto desenvolvido na UNESP (SP, Brasil) que foi concebido por Mª TerezaBidermanelevadoabomportoporClotildeMurakawa.

O corpus do DHPB faz um recorte de três séculos na história da língua portuguesa,reunindoessencialmentetextosnãoliterários(documentoscartoriais,cartas,diários,roteiros,descriçõesgeográficas,atosdecâmara,etc.)mastambémalgunstextosliterários(sermõesdoPe.AntónioVieiraeoutrosoradoressacros,porexemplo).Todosos textosdocorpusdizemrespeito à história do Brasil ou a alguma das suas regiões, representando vários génerostextuaisediscursivos(Murakawa&Gonçalves2015;Murakawa2011).

Numacervo textual relativo a três séculosdehistóriabrasileira énatural que abundemdescrições da fauna e da flora, assim como de aspetos relativos aos indígenas, a acidentesgeográficos e a outros referentes brasileiros. Essa dimensãodescritiva contempla traços queadvêmdaperceçãovisual,auditiva,olfativa,táctilegustativae,porconseguinte,incluimuitasdenominaçõesrelacionadacomcadaumdessesdomíniossensoriais.

Apartir docorpus doDHPB e combasenoquadro teóricopropostoporKleiber (2012,2011a,2011b),opropósitodeste trabalhoé identificareanalisarasdenominaçõesrelativasaosentidodoolfato–nomeseexpressõesdeodor–umavezqueocorpusdoDHPBapresenta,nestedomínio,talcomonocromático(Gonçalves2017),nãosóumaboavariedadedenomes(cheiro, odor, fragrância, aroma, exalação, perfume, fedor, etc.) como também muitasexpressões (entre outras, nominais, como “cheiro a + nome”, e verbais, como “cheirar a +nome”)quedesignam/definemdiferentesodores,estabelecendogradaçõesolfativas.

Comeste trabalhopretende-se trazer à luznovos elementos para a história do léxico eparaa“semânticadoolfato”emlínguaportuguesa.

Referências:GONÇALVES,Maria Filomena (2017): “O 'campo das cores' noDicionário Histórico do Português doBrasil (sécs.XVI-XVIII)”. In:Anais doV SIMELP – Simpósio 52 (Lecce,Università del Salento, 8-11 deoutubrode2015(noprelo).3-19.KLEIBER,Georges(2012):"Deladénominationàladésignation:leparadoxeontologico-dénominatifdesodeurs".Languefrançaise,2(n°174),45-58.KLEIBER, Georges (2011a): "Sémantique des odeurs". Langage, 1 (n° 181), 17-36. Disponível em:https://www.cairn.info/article.php?ID_ARTICLE=LANG_181_0017KLEIBER G. (2011b): "Petite sémantique des couleurs et des odeurs".In:S. Dessì Schmidetal.(éds),Rahmen des Sprechens. Beiträge zu Valenztheorie, Varietätenlinguistik, Kreolistik, KognitiverundHistorischerSemantik.PeterKochzum60.Geburtstag.Tübingen:GunterNarr,271-283.MURAKAWA, Clotilde de A. A. (2011): “A contribuição de um Dicionário Histórico: o DicionárioHistóricodoPortuguêsdoBrasil”.Organon(RevistadoInstitutodeLetrasdaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul),50,vol.25(jan-jun)241-274.MURAKAWA, Clotilde A. A. & Maria Filomena GONÇALVES (2015): “The corpus of theDicionárioHistóricodoPortuguêsdoBrasil(DHPB)”.In:J.P.SilvestreeAlinaVillalva(eds.),Planningnon-existentdictionaries.Lisboa/Aveiro:CLUL/UniversidadedeAveiro,19-41.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

98

SESSÃO 4. ONOMÁSTICA I

POR ENTRE OS VESTÍGIOS HISTÓRICOS DO GALEGO-PORTUGUÊS: CONTRIBUIÇÕES DA ONOMÁSTICA PARA UM ESTUDO FONOLÓGICO COMPARADO DO PORTUGUÊS ARCAICO E DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

NataliaZaninettiMacedoUniversidadeEstadualPaulistaJuliodeMesquitaFilho,AraraquaraSob uma perspectiva diacrônica, nesta comunicação, analisa-se como os nomes próprios deorigem estrangeira, no que tange as questões de acento e silabação, são tratados epronunciados–deformaadaptadaounão–porfalantesnativosdePortuguêsArcaico(PA)edePortuguêsBrasileiro(PB).ComocorpusdoPA,foramutilizadasasCantigasdeSantaMaria(CSM)easCantigasprofanase,paraoPB,ocorpuscoletadoporMacedo(2015).Noquedizrespeito aos dados coletados nas CSM, foi feito um levantamento de antropônimos etopônimos contidos noGlosariodeMettmann (1972), sendo registrados 221 antropônimos e334 topônimos. O corpus de suporte utilizado foi a edição de Mettmann (1986-1989), e osistema fonológico, o proposto por Massini-Cagliari (1999, 2005). Para a coleta e omapeamento de dados nas cantigas profanas, foi consultada a base de dados online dasCantigasMedievaisGalego-PortuguesasdeLopes,Ferreiraetal.(2011-),sendocontabilizados323 antropônimos e 334 topônimos. Para análise do PB, foi utilizado o corpus coletado porMacedo (2015), que estudou processos de adaptação fonológica na pronúncia de nomesprópriosestrangeirosnoBrasil, sendoeste compostopor 14.716nomespróprios.O interesseprincipaldesteestudo,partindo-sedepistasonomásticas,éinvestigar,naderivahistóricadoPortuguês, valiosas informações para os estudos das relações entre mudança linguística eidentidadefonológica,considerandooslimitesentreoqueéeoquenãoé(ouoqueeraeoquenãoera)considerado"português"(ou"galego-português",noperíodomedieval),dopontodevistadosom,paraosseuspróprios falantesnativosemumcontínuotemporalda língua.(Apoio:FAPESP–Númerodoprocesso:2015/08197-3)Bibliografia:LOPES,G. V.; FERREIRA,M. P. et al. (2011-),CantigasMedievais Galego Portuguesas [base de dadosonline].Lisboa:InstitutodeEstudosMedievais,FCSH/NOVA.[Consultaem22jun2016]Disponívelem:http://cantigas.fcsh.unl.pt.MACEDO, N. Z. Análise fonológica de nomes próprios de origem estrangeira e novas criações emPortuguês Brasileiro. Dissertação (Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa) - Faculdade deCiênciaseLetras,Unesp,Araraquara,2015.MASSINI-CAGLIARI,G.Dopoéticoaolingüísticonoritmodostrovadores:trêsmomentosdahistóriadoacento.Araraquara:FCL,UNESP;SãoPaulo:CulturaAcadêmica,1999.MASSINI-CAGLIARI,G.Amúsicada falados trovadores:EstudosdeprosódiadoPortuguêsArcaico,apartir das cantigas profanas e religiosas. Araraquara: Faculdade de Ciências e Letras. Tese de Livre-Docência,2005.METTMANN,W.Glossário.In:AFONSOX,OSÁBIO.CantigasdeSantaMaria.Coimbra:Universidade,1972.

Léxico, etimologia

99

O NOMENCLÁTOR GALLEGO DO PADRE SOBREIRA: UNHA MOSTRA DA TOPONIMIA GALEGA DOS SÉCULOS ESCUROS

SandraBeisSilvaInstitutodaLinguaGalega–UniversidadedeSantiagodeCompostelaOpadreXoánSobreira(1746-1805)compila,entreosanos1780-1800(datasofrecidaspolaRealAcademia de la Historia, quen actualmente custodia o documento) oNomenclátor gallego,subtitulado “Dictionario de las ciudades, Villas, Lugares, Aldeas, Granjas, cotos redondos, eIslas adiacentes del Reino de Galicia” e que fai unha clara alusión á súa condición delexicógrafo.

Trátase dun manuscrito composto por 179 páxinas nas que o padre Sobreira recolle amodo de dicionario -tal e como indica no encabezado da obra-, todas e cada unhas dasfreguesíasquecompoñenoReinodeGalicia,porordealfabéticaeprecedidasdas tres letrasiniciais. Omanuscrito imita unha obra lexicográfica e os topónimos están dispostos dunhaforma similar ao que posteriormente elabora Madoz. A información que se ofrece faireferencia á configuración administrativa do territorio: a freguesía, a xurisdición á quepertenceeonomedoarciprestado,ademaisdosantotitular,queprecedeonomeequetaménédeinteresedesdeopuntodevistaonomástico.

Nanosapresentaciónpretendemosofrecerunhadescricióndetalladadas característicasdestemanuscritoeoquesupónparaoestudodatoponimiagalegaunhacompilacióndestascaracterísticas, xa que, entre os testemuños de toponimia da época, apenas contamos cunspoucosdocumentosreferidosáxeografíagalega,nasúamaioríaelaboradosporpersoasalleasa Galicia e cun interese meramente administrativo. Entre estes destacan o Diccionariogeográfico-estadístico-históricodeEspañaysusposesionesdeUltramar,elaboradoporPascualMadozamediadosdoséculoXIX,aléndasMemoriasdelArzobispadodeSantiago,dispostasporGerónimodelHoyonoano1607.

Amais,cómpresinalarquenossituamosnosúltimosanosdoschamadosSéculosEscuros(XVI- XVIII) e, se ben o Nomenclátor está escrito maioritariamente es castelán, sonespecialmente salientables as correccións para o galego que se fan no texto sobre as formadeturpadas,oquenospodeachegarinformaciónlingüísticarelativaaoprocesodedeturpacióntoponímica,queveudadafundamentalmentedamandopoderadministrativoeeclesiástico.

Palabraschave:onomásticagalega;toponimia;SéculosEscuros.Bibliografía:BOULLÓNAGRELO,Ana Isabel (2010): “ToponimiadeGalicia:estadode lacuestión”,enMªDoloresGordón (coord.), Toponimia de España: estado actual y perspectivas de la investigacion. Berlin: DeGruyter,31-57.SANTAMARINA,Antón(2005):“Viaxepolaonomásticagalega”,ATrabedeOurotomoII,anoXVI,155-182.Versióngalegade “A Journey throughGalicianOnomastics”, enAna IsabelBoullónAgrelo (ed.):Actas doXXCongreso Internacional deCienciasOnomásticas: Santiago deCompostela, 20-2 setembro1999.ACoruña:FundaciónBarriédelaMaza,2002:3-32.SARMIENTO,Martín[1757](1998,1999):Onomásticoetimológicodelalenguagallega.EdicióneestudodeJ.L.Pensado,[ACoruña]:FundaciónPedroBarriédelaMaza,2vols.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

100

MOTIVAÇÃO SEMÂNTICA NA TOPONÍMIA URBANA BRASILEIRA: PARTICULARIDADES

AparecidaNegriIsquerdoUniversidadeFederaldeMatoGrossodoSulAnaPaulaDargelUniversidadeEstadualdeMatoGrossodoSulComo necessidade primária para localização e domínio espacial de um lugar, o homemnomeiaoselementosgeográficose,nesseprocesso,criasignostoponímicos(topônimos).Essaatividadesedáemrelaçãoaserras,rios,córregos,ruas,avenidas,municípios,fazendas.Alémdisso,atribuirumnomeaumespaçoéparticularizá-loentreosdemais.Aosenomear,nãosetemmaisapenasumrio,singulariza-se,porexemplo,oRioAmazonas,maiorcorrentehídricaemterrasbrasileiras;aAvenidaPaulista,umadasprincipaisviasurbanasdacapitaldoEstadodeSãoPaulo.Empesquisastoponímicas,osignotoponímicopodeseranalisadoemdiferentesperspectivas, tendo em vista que a toponímia de um espaço geográfico consubstanciapeculiaridadesrelacionadasàscamadaslinguísticas,àhistória,àgeografia,àculturaeaopovoquedesignouoespaço.Otoponimistapodeoptarpeloestudodosnomesdelugaresapartirde dois principais domínios: macrotoponímia (nomes dos municípios) e microtoponímia(nomes de rios, córregos, fazendas, ruas). A partir dessa seleção, ainda é possível outrasdivisões mais específicas para fins de delimitação de estudo como: a) toponímia urbana(designações de praças, ruas, avenidas, parques, avenidas); b) toponímia rural de naturezahumana (nomes de fazendas, retiros, sítios) e física (nomes de rios, cachoeiras, córregos,corixos).Essesmecanismosdenomeaçãosãodistintosparacadauniversodetopônimoscomotêm atestado as pesquisas toponímicas no Brasil. Afinal, o rio já existia quando o homemchegou,enquantoapraçaasernomeadaéalgoemconstruçãoapósaocupaçãodalocalidadee,alémdisso,oatodenomearindicaperspectivasdiferentesdodenominadoremrelaçãoaotipo de elemento geográfico. Este trabalho discute resultados de estudo sobre a toponímiaurbana, apresentando um panorama das tendências da toponímia urbana no Brasil,particularmente de cidades do Estado deMato Grosso do Sul. O estudo é voltado para osaspectos relacionados à motivação semântica como causas denominativas, taxionomiastoponímicasereferenciaistoponímicos.Palavras-chave:toponímiaurbana;léxicotoponímico;motivaçãosemântica;ATEMS.Referênciasbásicas:BACKHEUSER,Everardo(1952).Toponímia.Suasregras,suaevolução.In:Revistageográfica.RiodeJaneiro:InstitutoPan-AmericanodeGeografiaeHistória.v.IX,X.n.25,1952,p.163-195.BOUVIER,Jean-Claude;GUILLON,Jean-Marie.Latoponymieurbaine.Significationsetenjeux.Paris:L´Harmattan,2001.DAUZAT,Albert.Lesnomsdelieux.Origineetévolution.Paris:LibrairieDelagrave,1922.DICK, Maria Vicentina do Amaral. A Motivação Toponímica e a Realidade Brasileira. São Paulo:EdiçõesArquivodoEstado,1990.DICK,Maria Vicentina do Amaral.Toponímia e Antroponímia no Brasil. Coletânea de Estudos. SãoPaulo:ServiçodeArtesGráficas/FFLCH/USP,1992.DICK,MariaVicentinadoAmaral.Adinâmicadosnomesna toponímiadeSãoPaulo, 1954-1897.SãoPaulo:Annablume.1997.STEWART,GeorgeRippey.Aclassificationofplacenames.In:Names.Beckerley.v.II.n.1.Março,1954,p.01-13.(Tradução:Prof.Erasmod’AlmeidaMagalhães).

Léxico, etimologia

101

SESSÃO 5. ONOMÁSTICA II

NOMES PORTUGUESES, NOMES DE PORTUGUESES E NOMES EM PORTUGUÊS: NORMA LINGUÍSTICA E MUDANÇA SOCIOLINGUÍSTICA

JoãoPauloSilvestreKing’sCollege,LondresAantroponímiaportuguesacontemporânea,entendidacomooconjuntodenomesquepodemser atribuídos a cidadãos portugueses, é um conjunto lexical que se supõe amplo e emmudança. IvoCastrocolecionouretratosdessaevoluçãonumasériede trabalhospublicadosdesde os anos 90, notando que não existe uma descrição atualizada que dê conta dadiversidadedenomespróprios,apelidosealcunhasemuso,oumesmodaspeculiaridadesdaonomásticanacionalapartirdemeadosdoséculoXX.

AcomposiçãodosnomesdepessoasemPortugalestácondicionadapreceitoslegaisqueestabelecemlimitesaonúmerodeunidadeslexicaiseaorepertóriodenomesquepodemserselecionados.Os nomes próprios devem ser portugueses, o que inclui todos os que surgemdocumentados como tal em algummomento da história. Prevê-se, todavia, a admissão denomesestrangeirosquandoadaptadosgraficaefoneticamenteàlínguaportuguesa.

A comparação com as antroponímias do Brasil e de países de línguas românicas, bemcomocomosnomesinternacionalizadosatravésdalínguainglesa,têmmotivadopedidosderegistodemaisnomesestrangeirosea invençãodenovosnomes, recorrendoà formaçãodepalavras,porprocessosmorfológicosenão-morfológicos.

Nestacomunicação,tomandocomocorpusdetrabalhoalistadenomesatribuídosenãoadmitidos pelo Instituto de Registos e Notariados, na última década, consideram-se osseguintesaspectos:

1.oscritérioslinguísticosparaaadaptaçãodenomesestrangeiroseparacriaçãodenomesnovos;

2.manutençãodamemóriahistóricadaantroponímiaportuguesaerelevânciaestatísticadenovasunidades;

3.asalteraçõesdosnomesprópriosmotivadaspelasatualizaçõesdanormaortográfica.

Palavras-chave:antroponímia;mudançalinguística;históriasocial.Bibliografia:CASTRO,Ivo(2001)ADescensãodeMaria.On-line.http://www.clul.ulisboa.pt/files/ivo_castro/2002_Descenso_de_Maria.pdfCASTRO,Ivo(2001)Onomedosportugueses.On-line.http://www.clul.ulisboa.pt/files/ivo_castro/2001_Nome_dos_Portugueses.pdGARCÍA GALLARÍN, Consuelo (dir.) (2009) Los nombres de persona en la sociedad y en laliteraturadetresculturas.Madrid,Silex.GONÇALVES, Iria (2013)Maria, Catarina e tantas outras: ensaio de antroponímiaMedieval.[Lisboa]:CentrodeEstudosHistóricos.InstitutodoRegistosedoNotariado(2005-2016).Vocábulosadmitidosenãoadmitidoscomonomespróprios.LANGENDONCK,Willyvan(2001)Theoryandtypologyofpropernames.DeGruyter.NUNES, Naidea; Kremer, Dieter (2014) Antroponímia primitiva da Madeira e RepertórioonomásticohistóricodaMadeira.DeGruyter.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

102

ONOMÁSTICA HEBREA EN DOCUMENTACIÓN MEDIEVAL CASTELLANA (SIGLOS XIII-XV)

ManuelNevotNavarroUniversidaddeSalamancaVicenteJ.MarcetRodríguezUniversidaddeSalamancaLapresentecomunicacióntienecomoobjetodaraconocerlaantroponimiaempleadaporlosjudíoscastellanosdurantelaEdadMedia,especialmentedurantelossiglosXIII-XV,asícomolas estructuras más habituales en la identificación de los judíos, en comparación con laidentificacióndeloscristianos,dondesesuelerecurriralosoficios,parentescooprocedencia,entre otros recursos. Asimismo, centrándonos tanto en los nombres como en los apellidos,realizamos un análisis sucinto de los principales fenómenos lingüísticos que reflejan en laadaptacióndelaformahebreaoriginalalapronunciaciónyalaescrituracastellanas.Paraestefin,hemosrecogidodatosprocedentesdediversosarchivoseclesiásticosyciviles localizadosendiversosarchivosdelasprovinciasdeÁvila,Burgos,Cuenca,LeónyToledo.Sinduda,entrelas conclusiones, cabe destacar las diferencias entre la antroponimia de los hombres(normalmenteenhebreo)yeldelasmujeres(todaprácticamenteenromance);porotrolado,encontramoscambiosfonéticosexplicablestantoporelcastellanocomoporelhebreo,sinquepodemosdeterminaracuáldelosdoslenguascorrespondenelorigendelcambio.Bibliografiabásica:ANTONIO RUBIO, María Gloria de (2013): “Nombres de judíos y conversos en la GaliciaMedieval”,eSefarad.com[enlínea:http://esefarad.com/?p=41328]BECKER,Lidia(2009):“NamesofJewsinMedievalNavarre(13th–14thcenturies)”,enNamesinMulti-Lingual,Multi-Cultural andMulti-Ethnic Contact:Proceedings of the 23rd InternationalCongressofOnomasticSciences,Toronto,YorkUniversity,pp.140-156.CARRETE PARRONDO, Carlos y García Casar, Mª Fuencisla (1997): Fontes iudaorum regniCastellaeVII. El tribunal de la Inquisición de Sigüenza, Salamanca,Universidad PontificiadeSalamanca.GARBELl, Irene (1954): “The Pronunciation of Hebrew in Medieval Spain”, enHomenaje aMillásVallicrosa,vol.1,Barcelona:CSIC,pp.647-696.O LEGADO GERMÂNICO NA ANTROPONÍMIA NEOLÓGICA DO PORTUGUÊS DO BRASIL

JulianaSoledadeUniversidadedeBrasília/UniversidadeFederaldaBahiaMailsondosSantosLopesUniversidadeFederaldaBahia/UniversidadedeCoimbraLetíciaRodriguesUniversidadedeSãoPauloA antroponímia brasileira possui um caráter muito peculiar no que se refere à aceitação edifusãodofenômenoneológico,istoquerdizerqueprenomesinovadoresemesmoinusitados

Léxico, etimologia

103

sãoescolhidosparaanomeaçãodeindivíduosnoBrasil.Asinvestigaçõesacercadosprocessosmorfológicosdeformaçãodessesnomestêmnosdeixadosaberquesãobastanteprodutivososformativos de origem germânica, ou seja, prenomes que adentraram a língua portuguesaatravésdocontatocoma línguagermânicanaPenínsula Ibérica (PI)durantea IdadeMédiatêmservidodemodeloparaaformaçãodenovosnomesnoBrasil.Dessemodo,esteestudosebaseia na hipótese de que o sistema antroponímico germânico acabou por legar fortesinfluênciasparaaantroponímiabrasileira,umavezquenomes tradicionaiscomoAdalberto,Alberto,Roberto,Aguinaldo,Everaldo,Geraldo,Edgar,sãobastantedifundidosnoBrasil,desdeadécadade30,comoregistramdadosdocenso2010doIBGE.Assim,assumimosahipótesedeque os nomes tradicionais que remontam à influência germânica na PI têm servido demodelosparaaconstruçãodosnomesprópriosneológicoscomoRosiberto,Rosualdo,Edrose.NabasedapesquisaestáumacompreensãosobreaestruturaçãodoléxicoedamorfologiaapartirdaquiloqueseconhececomoTeoriadaentradaPlena,talqualtemsidodefendidaporBooij (2010), no âmbito da morfologia construcional. Essa teoria admite que o léxico daslínguas possui uma estrutura hierarquicamente organizada, em que palavras complexasarmazenadas na memória do falante são fontes/modelos para abstração de esquemas quepermitem a construção de novas palavras complexas seguindo o mesmo molde. Assim,partiremos dos aspectos sócio históricos que determinaram a influência germânica naantroponímia do português, para então apresentar os esquemas abstratos de formação deantropônimosquesãoadquiridosapartirdoconhecimentoearmazenamentomentaldeumconjunto de antropônimos tradicionais que instanciam os padrões de construção quepossibilitamageraçãodenovosprenomes,considerandoumconjuntodedadosrecolhidosnalista dos aprovados no vestibular daUFBA em 2005 e nos dados do censo do IBGE 2010. Énecessário,ainda,destacarqueparaefeitosdestapesquisa,ocritérioadotadoparaconfirmaracondiçãoneológicadeumantropônimoéaausênciaderegistronoDicionárioetimológicodalíngua portuguesa – Tomo II, de Antenor Nascentes (1952), e no Dicionário onomásticoetimológicodalínguaportuguesa,deJoséPedroMachado(2003),enãoestarempresentesnaBíblia.Assim,nãoestandoosprenomesregistradosemnenhumadasreferidasobras,coloca-seotermosobsuspeiçãodeserneológico–issosedeveaofatodeexistiremnomesestrangeirosque também podem não estar dicionarizados, mas que não se enquadram no rol deneologismos vernáculos, ou seja, nomes formados segundo a criatividade de indivíduosbrasileirosouresidentesnoBrasil.Referências:BOOIJ,Geert.ConstructionMorphology.Oxford:OxfordUniversityPress,2010.JACKENDOFF,Ray.Thearchitectureofthelanguagefaculty.CambridgeMass.:MITPress,1997.RIO-TORTO, Graça Maria. Morfologia derivacional: Teoria e aplicação ao português. Porto: PortoEditora,1998.«GONÇALUO DA BARJA E AFONSO DE PARADA E EYNES RRODRIGUES, YRMÃAOS DA DITA COSTANÇA GONÇALUES». ESTUDO ANTROPONÍMICO DUNHA COMUNIDADE GALEGA AO LONGO DO SÉCULO XV

PaulaBouzasSeminarfürRomanischePhilologie,Georg-August-UniversitätGöttingenEste estudo de carácter antroponímico céntrase na poboación que durante o século xvpertenceuaocoutodeSantoEstevodeRibasdeSil(Ourense).Abasematerialdocorpusestáconstituída polos documentos do mosteiro (Bouzas 2017), nos que se recollen os nomespropiosduntotalaproximadode850persoas.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

104

A análise terá como obxectivo a descrición do sistema antroponímico que se proxectanestadocumentación.As formas serándescritase clasificadas tendoencontaa funciónquedesempeñan na cadea onomástica, a súa orixe etimolóxica e mais o seu valor semánticoorixinal.Aléndisto, trataranseas seguintescuestións:Ataquépuntomanteñenossegundosnomes o seu carácter individualizador? Ata que punto segue a ser o patronímico unprocedementoprodutivonestaaltura?Percíbesealgunhaevoluciónnasformasdenomearaolongodoséculo?

Con este traballo espérase poder contribuír ao estudo do sistema antroponímicobaixomedievalgalaicoeachegarnovosdatosparaentenderasúaevolución.Bibliografía:BOUZAS, Paula (2017):Documentos galegos do mosteiro de Santo Estevo de Ribas de Sil (século xv).SantiagodeCompostela:ConsellodaCulturaGalega.BOULLÓNAGRELO,AnaIsabel(1999):Antroponimiamedievalgalega(séculosviii-xii).Tübingen:MaxNiemeyer.BOULLÓN AGRELO, Ana Isabel (2007): «Aproximación á configuración lingüística dos apelidos enGalicia»,in:Verba34,285-309.

SESSÃO 6. DESCRIÇÃO LEXICAL E TÉCNICA LEXICOGRÁFICA

LEXICOGRAFIA E CRÍTICA TEXTUAL: O VOCABULARIO EM IDIOMA BENGALLA E PORTUGUEZ E O MARSDEN LEXICON

StephenParkinsonUniversidadedeOxfordOprimeirodicionárioimpressodoBengalês,publicadoemÉvoraem1743porFreiManoeldaAssumpção, aproveitou um léxico Português-Bengalês feito em finais do século 17 econservado no espólioMarsden da Biblioteca da School ofOriental and African Studies.Oaparente plágio de Assumpção mereceu duras críticas por parte dos linguistas bengalesas.(Kholkar 1976, Chatterji & Sen 1931).Uma análise crítica dos dois textosmostra que não setrata de um caso normal da incorporação num dicionário das entradas de outro (Messner2009), porque o “Marsden Lexicon” não é um lexico tradicional, senão um instrumento depesquisa.Partindodeuma listadepalavrase frasesportuguesas,os inquiridores recolherampalavras e frases bengalesas, transcritas por várias mãos numa escrita bengalesa decompetência muito variável. A organização e os conteúdos dessa lista inicial, bastantepróximosdoTesourodaLinguaPortuguesadeBentoPereira,sãoreveladoresdospressupostoslinguísticosdosinquiridores.Oconjuntodepalavraserespostasconstituiorelatóriodeumainvestigação por questionário, um eposódio de linguística missionária (Zwartjes 2011), comtodas as complicações do dia a dia da pesquisa com informantes. Muitas entradas foraminseridas nas entrelinhas da lista original, e muitas palavras pesquisadas ficaram semcorrespondência bengalesa. O Marsden Lexicon traz portanto muitas informações sobre ocontacto linguístico entre o Português e o Bengalês, inclusive a entrada de palavrasportuguesasnobengalês.OVocabuláriodeAssumpção,dicionáriobilinguecomasentradasbengalesasromanizadas, implicaváriosprocessosdeconversãodoMarsdenLexicon.Aparte

Léxico, etimologia

105

Português-Bengalês retomaeampliaoMarsdenLexicon, reordenando-osegundonormasdealfabetizaçãosetecentistas,ecomas formasbengalesastransliteradas;odicionárioBengalês-Português, que constitui a primeira parte do Vocabulario, deriva-se directamente dodicionárioPortuguês-Bengalês,reorganizadosegundoumaalfabetizaçãoimprovisada.

Referências:ASSUMPÇÃO,Manuelda.VocabularioemIdomaBengalaePortuguez,Lisboa:FranciscodaSilva,1743.CHATTERJI, S and SEN, P. Manoel de Assumpçam’s Bengali Grammar. Facsimile of the OriginalPortuguesewithBengaliTranslationsandSelections fromhisBengali-PortugueseVocabulary,Calcutta:CalcuttaUniversityPress,1931KHONDKAR,A.R.The Portuguese Contribution to Bengali Prose, Grammar and Lexicography.Dacca:BanglaAcademy,1976MARSDENLEXICON,MS11963,MarsdenCollection,SchoolofOrientalandAfricanStudies,LondresMESSNER,DIETER,‘AObraLexicográficadeBentoPereira’inDicionariodosDicionariosPortugueses,40,2009,i-xix,ZWARTJES,Otto,PortugueseMissionaryGrammars inAsia,AfricaandBrazil. 1500-1800.Amsterdam,Benjamins,2011.TERMINAÇÕES -ÃO E -AU NA ONOMÁSTICA TÁRTARA DA PEREGRINAÇÃO DE FERNÃO MENDES PINTO

AfonsoXavierCanosaRodriguesUniversidadedeSantiagodeCompostelaNos capítulos 117 a 127 da Peregrinação, Fernão Mendes Pinto (1614) descreve a passagem pelo norte da China e terras dos tártaros, com quem convive junto com um grupo de portugueses até que, como recompensa pelos serviços prestados, são conduzidos pela via fluvial até ao mar. Ao tratar dos tártaros, Pinto refere nomes próprios e mesmo orações na língua usada na corte e invocações religiosas, que também traduz para o português. Ainda que a importância para a geografia humana da Peregrinação foi logo reconhecida por referentes da geografia descritiva como Purchas (1625), que integrou Pinto na sua coleção de viajeiros mesmo antes da primeira tradução íntegra para o inglês de Henry Cogan (Pinto, 1653), a presença mesma destas transcrições na língua asiática original, não decifradas até a atualidade, fez com que a crítica mais contemporânea tivesse dificuldades na interpretação desta passagem (Alves, 2010). Com o objetivo de contribuir para uma melhor compreensão do relatório redigido por Pinto, preparamos um corpus que chamamos da Tartária, para estudarmos termos cuja tradução para o Português é dada ou inferível pela descrição e podemos comparar com formas reconhecíveis no mongol atual. Nesta comunicação pretendemos mostrar que a principal dificuldade para iniciar a análise comparativa não é tanto a língua mongol, quanto o modo em que se está a ler o escrito na atualidade. Ao transcrever fenómenos fonéticos ausentes no português, Pinto tem de procurar equivalências gráficas, influindo na seleção das grafias tanto elementos de fonética acústica e da perceção quanto a codificação gráfica e, possivelmente, mesmo a variação dialectal. Como proposta e exemplo para mostrar a evidência das correspondências gráficas, usamos um termo que aparece com frequência no corpus, para o qual Pinto oferece não só descrições, mas tradução direta: o nome comum mongol хаан, transcrito khaan, com o significado de rei, com morfemas comparáveis nas formas Tuymicão, Tibremvucão e Abicau. Analisamos a variação da representação da terminação nasal com a transcrição oferecida na edição em inglês (Pinto, 1653) para concluirmos que possivelmente haja um intento de padronização editorial que, não obstante, não impede estabelecer equivalências plenas, achando uma correspondência com o mongol não só nas unidades fonéticas, vocálicas e consonânticas, mas também na morfossintaxe da frase nominal.

Palavras-chave: método comparativo; onomástica; vogais nasais; frase nominal.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

106

Bibliografia:ALVES, J. S. (Dir.). (2010). Fernão Mendes Pinto and the Peregrinação (4 vols.). Lisbon: FundaçãoOriente.PINTO,FernamMendez.(1614).Peregrinaçam.Lisboa:PedroCrasbeek.Disponívelemhttp://purl.pt/82PINTO,FernãoMendes.(1653).Thevoyagesandadventures,ofFernandMendezPinto,aPortugal...doneinto english by H. C. Gent. London: printed by J. Macock, for Henry Cripps, and Lodowick Lloyd.Disponívelemhttp://purl.pt/16425PURCHAS, S. (1625).Hakluytus posthumus or Purchas his Pilgrimes. London: by William Stans forHenrieFetherstone.Disponívelemhttp://purl.pt/23391.EN TORNO A LA FRASEOLOGÍA REPRESENTADA EN LOS DOZE TRABAJOS DE HÉRCULES DE DON ENRIQUE DE VILLENA

SantiagoVicenteLlavataUniversitatdeValència

A pesar de que la teoría fraseológica del español actual ha dedicado grandes esfuerzos alestudiodelosproblemasfundamentalesdelaFraseología,muypocoseconocetodavíaacercadesuprocesogeneraldeinstitucionalización.Dehecho,seafirmaquelanaturalezagramaticaldelasunidadesfraseológicasprovienedeetapashistóricasanteriores.

Tomandoestapremisateóricacomopuntodepartida,deuntiempoaestapartesevieneconsiderando lanecesidaddedescribir el origen,desarrollo y consolidaciónde lasunidadesfraseológicasalolargodelahistoriadelespañol(EcheniqueElizondo,2003,2008y20133).Estalínea de investigación pretende profundizar en el estudio de la red compleja de procesoshistóricosdefijaciónformalysemánticadeestasunidadesdelengua.

A partir del inventario de las unidades fraseológicas extraídas de Los doze trabajos deHérculesdeEnriquedeVillena, el objetivode estapropuesta es el de caracterizar en formaparcial una parcela fundamental de la fraseología hispánica medieval, así como de iniciarelementosdecomparaciónconotrosespacioslingüísticospróximos─comoeselcastellanoyelcatalánmedieval─,conelfindevalorarentérminosfilológicoslacontinuidadhistóricadeciertas unidades fraseológicas en sucesivos entornos literarios y culturales de la penínsulaibérica(conespecialincidenciaenlaobraliterariadedonÍñigoLópezdeMendoza).

Referenciasbibliográficas:CÁTEDRA,PedroM.(ed.)(1994):ObrascompletasdeEnriquedeVillena,Madrid,Turner.ECHENIQUE ELIZONDO, Mª Teresa (2003): “Pautas para el estudio histórico de las unidadesfraseológicas”,enJ.L.GIRÓN,R.SANTIAGOyE.deBUSTOS(eds.),HomenajeaJoséJesúsdeBustosTovar,Madrid,EditorialComplutense,545-560._____, María Teresa (2008): “Notas de sintaxis histórica en el marco del corpus de diacronía fraseológica del español (DIAFRAES)”, en E. STARK, R. SCHMIDT-RIESE y E. STOLL (eds.), Romanische Syntax in Wandel, Tübingen, Gunter Narr Verlag, 387-397. _____, M. Teresa y MARTÍNEZ ALCALDE, M. José (20133): Diacronía y gramática histórica de la lengua española, Valencia, Tirant Humanidades (Edición revisada y ampliada). GARCÍA-PAGE SÁNCHEZ, Mario (2008): Introducción a la fraseología española. Estudio de las locuciones, Barcelona, Anthropos. LAPESAMELGAR,Rafael(19819):Historiadelalenguaespañola,Madrid,Gredos.LLEAL GALCERÁN, Coloma (dir.): Diccionario del castellano del siglo XV en la Corona de Aragón(DiCCA-XV), Barcelona, Universidad de Barcelona, versión disponible en:http://ghcl.ub.edu/diccaxv/home/index/myLanguage:esMORREALE,Margherita (ed.) (1958):Los doze trabajos deHércules,Madrid,RealAcademiaEspañola(Col.BibliotecaSelectadeClásicosEspañoles).PASCUALRODRÍGUEZ,JoséAntonio(ed.)(1974):Latraduccióndela«DivinnaCommedia»atribuidaaD.EnriquedeVillena.EstudioyedicióndelInfierno.Salamanca,universidaddeSalamanca

107

SOCIOLINGUÍSTICA, DIALETOLOGIA

SESSÃO 1. VARIAÇÃO E MUDANÇA NO OCIDENTE DA PENÍNSULA IBÉRICA

PORTUGAL: A CIDADE E O INTERIOR. SOBRE A REFORMULAÇÃO DO MAPA DIALETAL PORTUGUÊS

FernandoBrissosCentrodeLinguística,UniversidadedeLisboaParalelamente a outros países europeus com condições históricas e geográficas próximas,Portugaltemsofrido,emtemposrecentes,umprocessointensodemodificaçãodasuatexturaeconómica e demográfica, evoluindo de uma estrutura produtiva com predomínio do setorprimário em regime de mão-de-obra intensiva, com a consequente ocupação dispersa doterritório, para um desenvolvimento da concentração no setor terciário e (menos) nosecundário, com a necessária centralização demográfica nas cidades, cujos expoentes estão,como sempre estiveram,no litoral.Daqui resulta a chamada«desertificaçãodo interior»ou«litoralizaçãodademografiaportuguesa»,processoquetornadefensávelatesedequeomapadialetal português mudou radicalmente nas últimas décadas, como referiu Ivo Castro ementrevistarecente[1]:

EmPortugal,há50anos,dizia-sequehaviadialetosnoNorteenoSuldopaísquesedistinguiam,enoNortehaviamaisdialetosquesedistinguiamunsdosoutros.[…]Haviaumpanoramaquefoicartografado, que é omapa de dialetos de Lindley Cintra. Ummapamuito semelhante aos dasregiõesportuguesasdeOrlandoRibeiro. Sãoprodutosdamesmaépocaequedavamcontamdasituaçãonessaaltura.Hojeemdianãoháisso.NãoháamesmadivisãoentreNorteeSul.Há,sim,divisãoentrelitoraleinterior.Eolitoraléconstituídoporumaespéciedemegacidadeondevivequase toda a população portuguesa, que vem desde Viana do Castelo até ao Algarve com umainterrupçãoentreSineseLagos.Nestamegacidadepredominaumsuperdialetoqueéoportuguêsstandard[…].

O mapa dialetal de Cintra, publicado em 1971 [2], reflete a visão tradicional de um paísdivididoemeixoshorizontais:norte~sule,consoanteocasoeaperspetiva,centro.AvisãodeCastro, pelo contrário, reflete a visão, já transversal aos estudos do Homem (economia,geografia, etc.), de umPortugal hoje dividido emdois eixos verticais: litoral―onde está alargamaioriadapopulação―einterior―despovoado,envelhecidoe,também,empobrecido.

Napresentecomunicação,verificaremosseseencontramjánoúltimoquarteldoséculoXX evidências do shift geolinguístico referido por Castro. Analisaremos para tal um corpusexaustivodefenómenosfonológicosemorfológicos/morfossintáticosdosdialetosportuguesesdo norte e do sul construído a partir dos materiais do Atlas Linguístico-Etnográfico dePortugaledaGaliza[3].Ocorpuscompreendeumtotalde157fenómenos(109fonológicos+48morfossintáticos)eseráanalisadodialetometricamentenoquadroteórico-metodológicodachamadaEscoladeSalzburgo.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

108

[1]Castro,I.(2016):entrevistadadaaTâniaPintoRibeiroparaPrelo.ImprensaNacional-CasadaMoeda,http://prelo.incm.pt/2016/01/ivo-castro-em-entrevista-so-os-nao.html?m=1(consulta:24/01/2017).[2]Cintra,L.Lindley(1971):«Novapropostadeclassificaçãodosdialectosgalego-portugueses»,BoletimdeFilologia22,81-116.[3] Saramago, J. (2006): «O Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG)», EstudisRomànics28,281-298.[4] E.g. Goebl, H. (2012): «Introduction aux problèmes et méthodes de l’“École dialectométrique deSalzboug”», em X. Álvarez Pérez, E. Carrilho & C. Magro (eds.), Proceedings of the InternationalSymposiumonLimitsandAreasinDialectology(LimiAr).Lisboa:CLUL,117-166.USO DEL PORTUGUÉS EN LA FRANJA OCCIDENTAL DE LA PROVINCIA DE HUELVA

IgnacioLópezdeAberasturiArreguiProyectoFRONTESPO–UAH/UGRDavidRodríguezProyectoFRONTESPO–UAH/InstitutodaLinguaGalega–UniversidadedeSantiagodeCompostelaEn el ámbito rural del área rayana de Huelva (margen izquierda de los ríos Chanza yGuadiana) es posible todavía encontrar hablantes de portugués (y español), como se hacomprobadodurantelasencuestasdialectalesqueelproyectoFrontespollevóacaboen2016alolargodelarayahispano-portuguesa.

Sehangrabadoentrevistasasujetosbilingüesnaturalesdeochomunicipiosdedichaárea:Paymogo, Puebla de Guzmán, El Almendro, El Granado, Sanlúcar de Guadiana (conocidotambién en elXV comoSanlúcar deAlcoutim), San Silvestre deGuzmán (donde, según losdatos delAtlas Lingüístico y Etnográfico de Andalucía, el 40% de la población reconoce unorigen portugués), Villablanca (fundada en el XVI por gentes de Portugal y de la vecinaDehesadelosVerdes)yAyamonte(tomadaalosárabesporSanchoIIdePortugal,ydonde,enlosañosanterioresa laguerracivil, loshabitantesdeprocedencia lusarepresentabanel 15%del total). En estas grabaciones se pone demanifiesto que aún es usado el portugués en elámbitodomésticoporpartedemuchosvecinosresidentesenaldeasymontinhosdeunazonaqueseextendíahastalaAldeadelGallego(cercadelactualRosaldelaFrontera),destruidaen1642durantelaGuerradelaRestauraciónPortuguesa.Aunqueciudadanosespañoles,setratadedescendientesdepastores,minerosyagricultoresquesehanidoasentandoenlamargenonubensedeloscitadosríosenoleadasqueseremontanavariascenturias,ydelasqueacasosea la de en torno a los años 20 del pasado siglo la última de la que se tiene más claramemoria,comopartedeunadinámicamigratoriabienconocidaenlazona.Engeneral,todosellossonbilingües, reservanelespañolparasurelaciónconextrañosy/opara la interacciónsocialenlascabecerasdemunicipio,adondemuchoshanterminadotrasladándose.

Deesapertenenciaaambosentornosculturalesynacionales(asistenciaa fiestasalotroladodelrío,contrabando)sederivaunanotoriaambigüedadidentitariaqueadopta,desdeunprisma lingüístico, la formade fenómenospropiosde lassituacionesde lenguasencontacto(code-switching,interferenciasmutuasentrevariedades-dialectalesyestándar-)entodoslosplanos de la lengua: elisión de consonantes finales y ceceo en las variedades locales deportugués,cierrede-ofinalycasosdeinfinitivopersonalenelespañollocal,entreotros.

Palabras-clave:bilingüismo;lenguasencontacto;fronterahispano-portuguesa.Bibliografía:ALVAR,M. (1963), "Portuguesismos en andaluz", enWeltoffene Romanistik Festschrift Alwin Khun.Innsbruck,309-324.

Sociolinguística, dialectologia

109

BASTO, A. de Magalhães (1923), "A fronteira hispano-portuguesa (Ensaio de geografia política)", OInstituto,Coimbra,70,nº2,57-69,103-117y211-225.MAIA,C.deAzevedo(1975-1978),"OsfalaresdoAlgarve:inovaçãoeconservação",RPF,17,37-205.SANCHASORIA,F.(2008),LaGuerradeRestauraciónPortuguesaenlaSierradeAroche(1640-1645),Huelva,DiputaciónProvincial.VALCUENDE DEL RÍO, J. M. (1998), Fronteras, territorios e identificaciones colectivas. Interacciónsocial, discursos políticos y procesos identitarios en la frontera sur hispano-portuguesa. Sevilla,FundaciónBlasInfante.ÁREAS LÉXICAS NO NOROESTE PENINSULAR DESDE UNHA APROXIMACIÓN DIALECTOMÉTRICA

MartaNegroRomeroInstitutodaLinguaGalega–UniversidadedeSantiagodeCompostelaOs atlas lingüísticos constitúen unha excelente fonte para a realización de estudos quepermitencoñeceravariaciónlingüísticanosdistintosniveisdeanálise,unhavezquerexistrannas súas cartas as variantes recorrentes en determinada área. Para o territorio peninsularcontamoscoAtlasLingüísticodelaPenínsulaIbérica(ALPI)(1934),unhadasaspiraciónsmáisimportantes de RamónMenéndez Pidal, coa que pretendía coñecer e deslindar variedadespeninsulares do territorio ibero-romance. O ALPI ofrece numerosos datos organizadosonomasioloxicamente,quepermiten,porunlado,realizaranálisespuntuaisdecadadominioe,polooutro,posibilitanaelaboracióndeestudoscomparativosdasdiversasáreas.

A finalidade deste traballo é presentar os resultados da análise dialectométrica dadistribución territorial no noroeste peninsular das variantes léxicas existentes noALPIparadesignarunnúmerosignificativodeconceptos.Concretamente,estudamosasdenominaciónsrexistradasen181puntosdeGalicia,nortedePortugal,Asturias,occidente leonésenortedeCáceres.Estaáreaxa foi focodeatencióndosprimeirosestudosdialectolóxicos realizadosanivel peninsular, por convivirneladistintas variedades románicas, alénde existir unhagrandiversidadelingüística.

Nun estudo previo de carácter cualitativo sobre léxico do corpo humano nestamesmaárea, realizado en coautoría co profesor Xulio Sousa, verificamos que as áreas portuguesa ecastelá son bastante compactas, mentres que a galega presenta unha maior variedadedenominativa.Aáreaastur-leonesarexistraouamesmavariaciónqueagalegaouformasquellesonpropias.Defeito,nunscasosencontramosasmesmasdenominaciónsquenoterritoriogalego-portuguésenoutrosquenocastelá,perodebidoaoescasonúmerodemapasutilizadosnon puidemos concluír a súa integración nunha área lingüística ou noutra. Na análiserealizadaporHansGoelb (2013) cosdatosdovolumepublicadodoALPI, esta áreapresentamáis afinidades coa zona castelá. Con este estudo pretendemos identificar as áreas léxicasexistentesnoterritorioseleccionadoemostrarasrelaciónsdeafinidadeexistentesentreelas.

Palabras-chave:Xeografíalingüística;léxico;ALPI;dialectometría.Referenciasbibliográficas:ÁLVAREZ BLANCO, Rosario / Francisco Dubert García / Xulio Sousa (2006): “Aplicación da análisedialectométrica aos datos do Atlas Lingüístico Galego”, en R. Álvarez / F. Dubert García / X. SousaFernández(eds.),Linguaeterritorio.SantiagodeCompostela:ConsellodaCulturaGalega/InstitutodaLinguaGalega,461-493.ÁLVAREZPÉREZ,XoséAfonso(2015):“IsoglossasportuguesasnosmateriaisdoAtlasLingüísticodelaPenínsula Ibérica: análise crítica da Nova Proposta de Lindley Cintra”, Zeitschrift für romanischePhilologie,131(1),185-223.FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ,Inés(2011):LalenguadeCastillaylaformacióndelespañol.Madrid:RAE.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

110

GOELB, HANS (2013): “La dialectometrización del ALPI: rápida presentación de los resultados”, enEmilia Casanova Herrero / Cesáreo Calvo rigual (eds.), Actas del XXVI Congreso internacional deLingüísticaydeFilologíaRománicas.Berlin/Boston:DeGruyter,143-154.TOMÁSNAVARRO,Tomás(ed.)(1931-1954):AtlasLingüísticodelaPenínsulaIbérica[materialinédito].

SESSÃO 2. VARIAÇÃO FONÉTICO-FONOLÓGICA

O APAGAMENTO DAS VOGAIS ÁTONAS FINAIS, [Ɨ] E [Ʊ], DIANTE DE CONSOANTE E DE PAUSA, A PARTIR DE DADOS DO ALEPG: CONTINENTE E ILHAS

MariadoCarmodeAraújoRoloUniversidadeFederaldaBahiaEste trabalho tem como objetivo verificar o fenômeno do apagamento das vogais [ɨ] e [ʊ]átonasemposiçãofinaldevocábulo,emlocalidadesquecompõemarededepontosdoAtlasLinguístico-EtnográficodePortugaledaGaliza(ALEPG).Foramselecionadastrêslocalidadesno Barlavento algarvio, ao Sul de Portugal: Praia da Salema, Vila do Bispo e Alvor; e trêslocalidades na ilha de São Miguel, nos Açores: Mosteiros, Nordeste e Rabo de Peixe. Essaseleção tomou como referência, dentre outras pesquisas, o registro de ocorrência doapagamento emestudos comoMaia (1975), SeguradaCruz (1987),Cintra (1983) eBernardo(1991), alémdosatlas linguísticospublicados.Esseestudopauta-seemelocuçõesde falantesnativosdasdiferentesáreascontempladas,vinculando-seaoscritériosdeseleçãoprevistosnametodologiageraldoALEPGeaospressupostosdaTeoriaVariacionista(LABOV,2008[1972]).As ocorrências foram extraídas por meio de audição de seis inquéritos completos,considerando as respostas válidas fornecidas ao questionário. Do ponto de vista social,consideraram-seduas faixasetárias:30a51anose55a70.Daanáliserealizada,observou-sequeavogal [ɨ] favoreceoapagamentonas localidades, com82%deocorrências,enquantoasua correspondente [ʊ] alcança um percentual de 68%. Os dados levam a crer que osinformantesmaisvelhosrealizammaisapócopes.Esses resultadosconfirmamoapagamentodocumentadonaspesquisaseregistradocomoumacaracterísticadofalardaparteOcidentaldoBarlaventodoAlgarveedosAçores.Palavras-chave:Apagamento;Dialetologia;Variaçãofônica;Vogaisátonasfinais.Referências:BERNARDO,M.C.R.OfalardaBretanha.268f.1991.Tese(AptidãoPedagógicaeCapacidadeCientífica)–UniversidadedosAçores,PontaDelgada,1991.CINTRA,L.F.L.EstudosdeDialectologiaPortuguesa.ColeçãoNovaUniversidade.Linguística.Lisboa:SádaCostaEditora,1983.LABOV,William.Padrõessociolingüísticos.TraduçãodeMarcosBagno,MariaMartaPereiraScherreeCarolineRodriguesCardoso.SãoPaulo:Parábola,2008[1972].MAIA,C.A.OsfalaresdoAlgarve(InovaçãoeConservação–com32mapas).SeparatadaRevistaPortuguesadeFilologia.v.XVII,TomosIeII.Coimbra:FaculdadedeLetrasdaUniversidadedeCoimbra.InstitutodeestudosRomânicos,1975.SEGURADACRUZ,MariaLuisa.AFronteiraDialectaldoBarlaventodoAlgarve.393f.1987.Dissertação(Investigador Auxiliar) – Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, Instituto Nacional deInvestigaçãoCientífica,Lisboa,1987.v1–Tese;v2–Cartas.

Sociolinguística, dialectologia

111

VARIAÇÃO DE INTENSIDADE NA PRODUÇÃO DE VOGAIS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS DIALETOS DE VITÓRIA DA CONQUISTA/BA, SALVADOR E TEÓFILO OTONI/MG

MarianOliveiraUniversidadeEstadualdoSudoestedaBahia–Brasil,ProgramadePós-graduaçãoemLinguísticaVeraPachecoUniversidadeEstadualdoSudoestedaBahia–Brasil,ProgramadePós-graduaçãoemLinguísticaTássiaCoelhoUniversidadeEstadualdoSudoestedaBahiaApresença ou ausência de vogaismédias abertasnaposiçãopretônica tem sidoumgrandemarcadorparaadistinçãodialectal,noterritóriobrasileiro.ÉmuitocomumassociarofalardonordestedoBrasilàpresençadessasvogaismédiasabertasnasílabapretônica.Adivisãoentreosfalares,contudo,nãoétãosimplesassim,poispodemostervariaçõesdasvogaispretônicasintrae interdialetoseessaocorrênciaparecenãoserespecíficadessa região.Apresençaounão das vogais médias abertas em sílaba pretônica não é, contudo, o único delimitadordialetal. Como afirma Cunha (2000), variações dialetais também são marcadasprosodicamenteepodemocorrercomasdemaisvogaisdosistema.

Essas variaçõesdialetaisprosodicamentemarcadaspodem ser atestadasna avaliaçãodaconfiguração de padrões acústicos tais como F0, intensidade e duração de sílabas tônicas epretônicas. Nesse sentido, foi realizada análise discriminante da F0 de sílabas tônicas epretônicas, nucleadas pelas vogais [a,i,u], produzidas por falantes de Vitória da Conquista(VC), realizada por Pacheco, Oliveira e Coelho (2016). Esta análise evidenciou diferençasdialetaisnessasvogaisdosistemafonológico,emsílabastônicasoupretêonicasemostrouqueelaspodemser“coparticipantesdedelimitaçãodialetal”equeVitóriadaConquista,cidadedointerior daBahia/Brasil, pode ter umaprodução vocálica comdelimitaçãoprópria,mas que“podeigualmenteestender-separaumpadrãomineirooubaiano.”(PACHECO,OLIVEIRAECOELHO,2016,p.611-612).

Dessa forma, buscando investigar possíveis variaçõesmelódicas no dialeto de VC e emquemedida este dialeto se aproxima ou se distancia dos dialetos de Salvador/BA e TeófiloOtoni/MG,analisamosaintensidadeemsílabastônicasepretônicasnucleadaspelasvogais/a,i, u/. A partir de dados coletados com dois falantes de cada dialeto, por meio Praat(BOERSMAN;WEENICK,2006), foimensuaradaa intensidadeno início,meioe finaldessasvogais pretônicas e tônicas. A análise dos resultados da curva de intensidade nos permiteafirmarqueesseparâmetroacústicoérealizadodeformadiferentenastrêscidadesavaliadas,tantonasílabatônicaquantonapretônicaparaastrêsvogaisinvestigadas.Palavras-chave:Intensidade,Variaçãodialectal,Vogais.Bibliografia:BOERSMA, P.; WEENINK, D. Praat: doing phonetics by computer. (Version 5.1.43) [Programa decomputador].2006.Disponívelemhttp://www.praat.org/.CUNHA,C.EntoaçãoRegionalnoPortuguêsdoBrasil.2000.s.fTese(Doutorado)FaculdadedeLetras,UFRJ,RiodeJaneiro.PACHECO,Vera;OLIVEIRA,Marian;COELHO,Tassia.Salvador,VitóriadaConquistaeTeófiloOtoni:cidades e falares diferentes?Uma análise discriminante da F0.Domínios de Lingu@gem, Uberlândia,vol.10,n.2,abr./jun.2016,590-615p.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

112

SESSÃO 3. SINTAXE, VARIAÇÃO E MUDANÇA

A VARIAÇÃO ENTRE TER E HAVER EM CONSTRUÇÕES EXISTENCIAIS NUMA VARIEDADE INSULAR DO PE (FUNCHAL)

AlineBazengaUniversidadedaMadeira/CLULAsintaxedoportuguês,talcomooutrosdomíniosdoseusistema,mudououlongodotempo.No entanto, algumas variedades do português europeu (PE), sobretudo insulares, exibemtraços sintáticos não-padrão mais conservadores (Carrilho e Pereira, 2011; Segura, 2013;Martins, 2016), que resistiram à mudança ocorrida em variedades continentais, de que éexemploousodeteremconstruçõesexistenciais(ondeeutrabalhotemmuitagentedeidade).O estudo que propomos, realizado no âmbito da Sociolinguística Variacionista (Weinreich,Labov&Herzog,1968;Labov(1972),visaanalisarasocorrênciasdeteredehavernestetipodeconstruções em amostras do PE falado no Funchal, selecionadas a partir do CorpusSociolinguísticodoFunchal(Bazenga,2014).Osresultadosapontamparavaloressignificativosdo uso da variante ter não-padrão - embora não tão expressivos quanto os observados emvariedadesdoPortuguêsdoBrasil(PB)((MattoseSilva,2002;Avelar,2006)-comotambémainfluênciadevariáveislinguísticas(morfologiadoverboetraçosemânticodoNqueintegraoSNàsuadireita)esociais(géneroeníveldeescolaridadedosfalantes),emconformidadecomoobservadoemtrabalhossimilares,realizadosnoâmbitodasvariedadesdoPB.Palavras-chave:variaçãoter/haveremconstruçõesexistenciais;sociolinguísticavariacionista;variedadedoPEfaladonoFunchal;ilhadaMadeira.Referênciasbibliográficas:AVELAR,J.(2006).Deverbofuncionalaverbosubstantivo:umahipóteseparaasupressãodeHAVERnoportuguêsbrasileiro”.LetrasdeHoje,143,49-74.CALLOU, D. & J. Avelar (2012). Preservação e mudança na história do português: de possessivo aexistencial.Matraga,Riodejaneiro,v.19,n.30,224-235.CARRILHO,E.&S.Pereira(2011).Sobreadistribuiçãogeográficadeconstruçõessintácticasnãopadrãoem português europeu. In: XXVI Encontro da Associação Portuguesa de Linguística (Anais), Lisboa,APL,2011,pp.125-139.LABOV,W.(1972).SociolinguisticPatterns.Philadelphia:U.ofPennsylvaniaPressMATTOSESILVA,R.V.(2002).VitóriasdetersobrehavernosmeadosdoséculoXVI:usoseteoriasemJoão de Barros. In R. V. Mattos e Silva & A. Venâncio Filho. O Português Quinhentista – EstudosLingüísticos.Salvador:EDUFBA/UEFS,pp.121-142.MARTINS,A.M.(2016).OPortuguêsnumaperspetivadiacrónicaecomparativa.InMartins,A.M&E.Carrilho(eds).Manualdelinguísticaportuguesa.DeGruyter,pp.1–40.SEGURA,L.(2013).VariedadesdialetaisdoPortuguêsEuropeu.InE.B.P.Raposoet.Al.GramáticadoPortuguês.Vol.I.Lisboa:FundaçãoCalousteGulbenkianpp.85-142.WEINREICH,U.,W.Labov&M.Herzog(1968).Empiricalfoundationsforatheoryoflanguagechange.InW. Lehmann & Y.Malkiel (eds.), Directions for historical linguistics. Austin: University of TexasPress,97-195.

Sociolinguística, dialectologia

113

CONSTRUÇÕES DE SE NO PORTUGUÊS EUROPEU E NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ANÁLISE SOCIOLETOMÉTRICA DA CONVERGÊNCIA OU DIVERGÊNCIA DIACRÓNICA

AugustoSoaresdaSilvaUniversidadeCatólicaPortuguesa–BragaDafnePalúUniversidadeCatólicaPortuguesa–BragaO presente estudo ocupa-se das construções de se no âmbito da investigação sobreconvergênciaedivergênciaentrePortuguêsEuropeu(PE)ePortuguêsBrasileiro(PB)aolongodos últimos 70 anos. As duas variedades nacionais diferem significativamente no uso dasconstruções com o clítico se (Martins & Nunes 2016). O PE utiliza frequentemente aconstruçãodesepassivo,como(1),eaconstruçãodeseimpessoal,como(2).Pelocontrário,oPBtendeaevitaroclítico,queroseacusativodaconstruçãopassivaquerosenominativodaconstrução impessoal, como (3). O apagamento do clítico se, mais acentuado no registocoloquial, tem sido atribuído à perda em curso dos clíticos no PB. Como alternativa, o PButilizanestescontextosformaspronominaisnominativas,comovocê,agenteenós,emvezdaconstruçãodeseimpessoal,como(4),oquetemsidoatribuídoàperdadosujeitonulonoPB(Duarte1995,Kato1999,Barbosaetal.2001,Duarteetal.2001).

(1)Vendem-secasas.(2)Vende-secasas.(3)Vendecasa(s).(4)Agentevendecasa(s).

Combasenumcorpusdetextosportuguesesebrasileirosdasdécadasde50,70,90e2010,dediferentes registos (jornais, blogues, fala espontânea), desenvolveremos uma análisesocioletométrica das construçõesde se paramedir a relativa (dis)similaridade entre as duasvariedades nacionais nas dimensões geográfica, social, estilística e histórica. Serãoidentificados os fatores conceptuais, estruturais e letais da variação construcional dasconstruções de se em PE e PB.O presente estudo sobre variação construcional representa,assim, uma extensãodos estudos socioletométricos sobre convergência e divergência lexicalentre PE e PB (Silva 2010). Analisaremos os perfis semasiológicos e onomasiológicos dasconstruções de se e utilizaremos medidas de uniformidade e de traços para calcular aconvergência/divergênciadiacrónicaeadistânciasincrónicaentrePEePB.Palavras-chave:construçõesdese;variaçãoconstrucional;socioletometria;perfil;PE/PB.Referências:BARBOSA,P.,M.Kato&M.E.Duarte(2001).Adistribuiçãodosujeitonulonoportuguêseuropeuenoportuguêsbrasileiro.InC.Correia&A.Gonçalves(eds.),ActasdoXVIEncontroNacionaldaAssociaçãoPortuguesadeLinguística.Lisboa:APL,539-550.DUARTE, M. E. (1995). A Perda do Princípio “Evite Pronome” no Português Brasileiro. Tese deDoutoramento.Campinas:UNICAMP.DUARTE,M.Eugênia,MaryKato&PilarBarbosa(2001).SujeitosindeterminadosemPEePB.AnaisdoIICongressoInternacionaldaABRALIN,405-409.KATO,Mary(1999).Strongandweakpronominalsandthenullsubjectparameter.Probus11:1-37.MARTINS,A.M.&J.Nunes(2016).Passivesandseconstructions.InW.L.Wetzels,S.Menuzzi&J.Costa(eds.),TheHandbookofPortugueseLinguistics.Oxford:Blackwell,318-337.SILVA, A. S. (2010). Measuring and parameterizing lexical convergence and divergence betweenEuropeanandBrazilianPortuguese. InD.Geeraerts,G.Kristiansen&Y.Peirsman(eds.),Advances inCognitiveSociolinguistics.Berlin/NewYork:DeGruyter,41-83.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

114

“EU NÃO FALO O NÃO DUAS VEZES NÃO”: A PERCEPÇÃO DA NEGAÇÃO NO PORTUGUÊS FALADO NO MARANHÃO

FláviaSerraUniversidadeFederaldoMaranhãoConceiçãoRamosUniversidadeFederaldoMaranhãoEstetrabalhoéumrecortedeumapesquisamaisampla,decarátersociolinguístico,quevemsendodesenvolvidacomodissertaçãodemestrado,noProgramadePós-GraduaçãoemLetrasdaUniversidadeFederaldoMaranhão/PGLetrasUFMA, intitulada “‘EunãodigoNÃOduasvezesnão’: aduplanegaçãonoportuguês faladonoMaranhão”,queobjetiva (i) investigaraexpressãodaduplanegaçãonoportuguêsfaladonoMaranhão,estadodoNordesteBrasileiro,e(ii)oníveldeconsciência linguísticados falantes,avaliandomaisprecisamenteseusníveisde segurança e insegurança linguísticas.A pesquisa está ancoradanos estudos deRoncarati(1996),Rocha(2013)eFurtadodaCunha(2003)acercadasconstruçõesnegativasnoportuguêsbrasileiro (PB); e deLabov (2006), LópezMorales (2004) eMorenoFernández (2009) sobreconsciênciaeatitudelinguísticas.OcorpusdapesquisafoiconstituídocombasenosdadosdefaladeinformantesnaturaisdeSãoLuís,capitaldoEstado,coletadospormeiodeentrevistasrealizadascomauxíliodeumRoteiroEtnolinguísticoeTestesdeProduçãoePercepçãoparaquepudessemserverificadososníveisdeconsciência linguísticados falantes.Considerandoque o PB possibilita a realização de três estruturas diferentes para expressão da negação –negaçãopré-verbal,duplanegaçãoenegaçãopós-verbal-,busca-secomestetrabalho,recortedadissertaçãodemestrado,observarquaiscontextospermitemarealizaçãodessasestruturas,bem como os fatores linguísticos, sociais e discursivo-pragmáticos que condicionam arealização das variantes. A análise prévia dos dados aponta que: (i) as mulheres tendem apercebermaisdiferençasentreasvariantes;(ii)oshomenseaspessoasdebaixaescolaridadedemonstram ter um nível menor de consciência linguística; e (iii) as pessoas mais idosasapresentamumnívelmaiordeinsegurançalinguística.Palavras-chave:PortuguêsMaranhense;ConsciênciaLinguística;Negação.Bibliografia:FERNÁNDEZ, Francisco. Principios de sociolingüística y sociología del lenguaje. Barcelona: EditorialAriel,2009.FURTADODACUNHA,MariaA.Variaçãoemudançadasestratégiasdanegação.In:ABRALIN:BoletimdaAssociaçãoBrasileiradeLingüística.v.1;1979Fortaleza:ImprensaUniversitária/UFC,2001.LABOV,William.PrincipiosdelCambioLingüístico:factoressociales.v.2.Madri:Gredos,2006.MORALES,HumbertoL.Sociolingüística.Madri:Gredos,2004.ROCHA, Rafael S. A negação dupla no português paulistano. 2013. 87 f. Dissertação (Mestrado emLinguística)–FaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanas,UniversidadedeSãoPaulo,SãoPaulo.2013.RONCARATI,Claudia.AnegaçãonoPortuguêsfalado.In:MACEDO,AlziraT.;RONCARATI,Claudia;MOLLICA,MariaC.(Orgs.).VariaçãoeDiscurso.RiodeJaneiro:TempoBrasileiro,1996.p.97-111.

Sociolinguística, dialectologia

115

SESSÃO 4. VARIAÇÃO, CONTEXTOS E RECURSOS

UM (DOS) CONTEXTO(S) HISTÓRICO(S) DO SUL PARANAENSE: A VOZ DE POLONO-BRASILEIROS SOBRE SUA LÍNGUA E CULTURA

IvelãPereiraUniversidadeFederaldeSantaCatarinaLoremiLoregian-PenkalUNICENTRO(campusIrati)Considerando a expressiva imigração polonesa no estado do Paraná (sul do Brasil), estainvestigaçãoprocurarefletirsobreaspercepçõeslinguísticasehistóricasdepolono-brasileirosdosuldesseestado,combaseem2entrevistasdesujeitosnascidoseresidentesnacidadedeQuedas do Iguaçu – PR (antiga “Iagoda”), as quais são constituintes do banco VARLINFE(UNICENTRO – campus Irati). O polonês – língua materna de tais informantes – éconsideradaumalínguaminoritárianoBrasil,emuitosdescendentesrestringiramseuusoporquestõeshistóricasdeinterdição.Oobjetivoprincipaldestapesquisa,portanto,édepreenderasdificuldadesencontradaspelossujeitosentrevistados(eantepassados)emsua inserçãonasociedadebrasileira, levandoemcontaasvariadasesferassociaisemqueconvivemea(não)consideração do pluralismo linguístico e cultural do Brasil ao longo da história. Para tanto,fundamentamo-nosem:Calvet(2007[1996]),Altenhofen(2007,2013),Maher(2013),Oliveira(2000), Delong e Kersch (2014), Wachowicz (1981, 1995), Polanczyk (2010), Urban e Urban(2004), bem como em outros teóricos dedicados a pesquisas nas áreas de história,sociolinguística e políticas linguísticas. A partir de uma metodologia qualitativa, foramtranscritoseanalisados trechosemqueos informantesrelatamsituaçõesde interaçãosocialenvolvendooutrasetniaseosempecilhosencontradosnesseprocesso.Acreditamosque,combaseemtaisdepoimentosereflexões feitasapartirdisso,serápossívelpensarestratégiasdepropagação do pluralismo linguístico e cultural, além de contribuir para a construção dahistóriaeparaamanutençãoda línguadesses imigrantestãorepresentativosaoParanáeaoBrasil.Palavras-chave:Plurilinguismo;HistóriadoParaná;Imigração;Polono-brasileiros.Referências:ALTENHOFEN,CléoV.As línguasde imigraçãonocontatocomoportuguêsnoBrasil. In:EncuentroInternacionaldeInvestigadoresdePolíticasLingüísticas.(Córdoba:2007)Atas...Córdoba:AsociacióndeUniversidades Grupo Montevideo; Núcleo Educación para la Integración ; Universidad de Córdoba,2007.p.73-78.ALTENHOFEN, Cléo V. Bases para uma política linguística de línguas minoritárias no Brasil. In:NICOLAIDES, Christine; SILVA, Cléber Aparecido da; TILIO, Rogério; ROCHA, Claudia Hilsdorf.PolíticaePolíticasLinguísticas.Campinas,SP:PontesEditores,2013,p.93-116.CALVET,Louis-Jean.Aspolíticaslingüísticas.SãoPaulo:ParábolaEditorial;IPOL,2007[1996].DELONGeKERSCH(2014).PerfildedescendentesdepolonesesresidentesnosuldoBrasil:aconstituiçãoda(s)identidade(s).Disponívelem:http://www.seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/viewFile/26418/15193.Acessoem 10dejan.de2017.MAHER,TerezinhaMachadoMaher.EcosdeResistência:PolíticasLinguísticaseLínguasMinoritáriasnoBrasil. In:NICOLAIDES,Christine; SILVA,CléberAparecidoda;TILIO,Rogério;ROCHA,ClaudiaHilsdorf.PolíticaePolíticasLinguísticas.Campinas,SP:PontesEditores,2013,p.117-134.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

116

OLIVEIRA,GilvanMüller de. Brasileiro fala português:monolinguismo e preconceito lingüístico. IN:SILVA, Fábio Lopes da;MOURA,HeronidesMaurílio deMelo (orgs.).O direito à fala: a questão dopreconceitolinguístico.Florianópolis:Insular,2000.p.83-92.POLANCZYK,A.J.OimigrantepolonêseacolôniaGuarany.PortoAlegre:Renascença:Edigal,2010.WACHOWICZ,R.C.OcamponêsPolonêsnoBrasil.Curitiba:FundaçãoCultural,CasaRomárioMartins,1981.WACHOWICZ,R.C.HistóriadoParaná.7.ed.Curitiba:Vicentina,1995.ANÁLISE DIALETOMÉTRICA DO ATLAS LINGUÍSTICO-ETNOGRÁFICO DA REGIÃO SUL DO BRASIL

FernandoBrissosCentrodeLinguística,UniversidadedeLisboaJoãoSaramagoCentrodeLinguística,UniversidadedeLisboaOAtlasLinguístico-EtnográficodaRegiãoSuldoBrasil(ALERS)[1]compreende,comooseutítulo indica, aspetos tanto linguísticos como etnográficos referentes aos três estados datradicionalmente designada região sul do Brasil, tendo uma rede de pontos de inquéritocompostapor275localidades:100noParaná,80emSantaCatarinae95noRioGrandedoSul;trata-sedeumprojeto inovadorprecisamentepornãose limitaraoestudogeolinguísticodeum só estado. Conta com três tipos de questionário, totalizando 711 questões ― 26 noQuestionárioFonético-Fonológico,75noQuestionárioMorfossintáticoe610noQuestionárioSemântico-lexical―,sendoquecadalocalidadedaredeestárepresentadapor2informantescom 28 a 58 anos de idade e escolaridade reduzida. É portanto um projeto que permiteproduzirumadescriçãoeficientedoestadodelínguaatualdaregiãosuldoBrasil.

Nesta comunicação, procederemos a uma análise dialetométrica exaustiva da variaçãolexical contida no ALERS. A abordagem dialetométrica explica-se por duas razões: (i) adialetometria é o ramo da dialetologia especializado na análise de atlas linguísticos, tendosurgido,nosanos1970,precisamentecomoferramentadeaproveitamentodoenormevolumede dados que esses atlas proporcionam [2]; (ii) aproveitamento esse que pode ser feito deformaeficazdevidoàmetodologiadebasemétricaequantitativaqueadialetometriasempreadotou(i.e.umametodologiaqueaplicaprocedimentosmatemático-estatísticoselaboradosaumconjuntodedadosmedidoscom índicesnuméricos totalmenteuniformese replicáveis).Enquadrar-nos-emosnaproposta teórico-metodológicada chamadaEscola de Salzburgo [3],com uma exceção: utilizaremos, sempre que existam, respostas múltiplas por ponto deinquérito,procedimentoextremamenteútilemdialetologiaromânicaqueépossibilitadopelaferramentainformáticaadotada,osoftwareDiatech.

Ametodologiautilizadafoijátestadacomsucessoemanálisetambémlexicaldedialetosportugueses por Brissos, Gillier & Saramago [5]. O presente estudo é, desse modo, umaextensãode trabalhoprévio realizado sobredialetos lusófonos,quepermitiu levara caboasprimeiras propostas de classificação dialetal dos dialetos madeirenses e açorianos (sistemainsular português). Permitirá introduzir os métodos de análise dialetométrica no casobrasileiro, que tem trazido recentemente a lume uma densidade de dados assinalável,sugerindo,porisso,arevisãohámuitopedidanaclassificaçãodosdialetosbrasileiros.

[1]ALTENHOFEN,C.&M.S.KLASSMANN(orgs.)(2011):AtlasLinguístico-EtnográficodaRegiãoSuldoBrasil.Cartassemântico-lexicais.PortoAlegre:UFRGS/Florianópolis:UFSC.[2]Veja-see.g.GOEBL,H.(1984):DialektometrischeStudien.Anhanditaloromanischer,rätoromanischerundgalloromanischerSprachmaterialienausAISundALF.3vols.Tübingen:Niemeyer.

Sociolinguística, dialectologia

117

[3] E.g.: GOEBL, H. (2006): «Recent advances in Salzburg dialectometry», Literary and LinguisticComputing21(4),411-435.[4]AURREKOETXEA,G.etal. (2013):«‘DiaTech’:Anewtool fordialectology»,LiteraryandLinguisticComputing28(1),23-30.[5]BRISSOS,F.,R.GILLIER&J.SARAMAGO(2016a):«Oproblemadasubdivisãodavariedadedialetalmadeirense:estudodialetométricodavariaçãolexical»,TextosSelecionados.XXXIEncontroNacionaldaAssociação Portuguesa de Linguística. Porto: FLUP/APL, 31-47; BRISSOS, F., J. SARAMAGO & R.GILLIER (2016b): «Variação lexical açoriana: estudo dialectométrico do Atlas Linguístico-EtnográficodosAçores».Submetido.O LÉXICO NO CONTINUUM RURAL-URBANO BRASILEIRO: A CONTRIBUIÇÃO DO ATLAS LINGUÍSTICO DO MARANHÃO AOS ESTUDOS LEXICAIS

ConceiçãoRamosUniversidadeFederaldoMaranhãoJoséMendesBezerraUniversidadeFederaldoMaranhãoEsteestudoépartedeumapesquisamaisampladesenvolvidanoProjetoAtlasLinguísticodoMaranhão (ALiMA),noâmbitodosestudossemântico-lexicais,quebuscaexaminar itensdoQuestionárioSemântico-Lexicalqueremetemdiretaou indiretamenteaomundorural.Maisparticularmente, objetiva-se verificar se referentes considerados mais tipicamentecaracterísticos do universo rural fazem parte do repertório linguístico-cultural ativo dosfalantes inseridos na zona urbana. O estudo encontra sua motivação na ideia de que atransição de uma sociedade de base eminentemente agrária, com traços ainda nitidamentepatriarcais,emqueavidagiravaemtornodosengenhosedosenhorrural,paraumadebaseindustrial ocasionou mudanças significativas na realidade sócio-espacial do País, afetando,consequentemente,alínguaemusoecontribuindoparaastransformaçõespelasquaispassaoportuguêsemsuavertentebrasileira.Fundamentadonospressupostosteórico-metodológicosdaDialetologiaPluridimensional(CARDOSO,2010,eELIZAINCÍN,2010),esteestudoobjetivaexaminaravariaçãodenominativanoseixosdiatópico,diageracionalediagenériconafalademaranhenses, com foco no possível polimorfismo, no continuum rural-urbano, continuumaquientendidosegundoReis(2006).Osdadosexaminados,obtidospormeiodaaplicaçãodequestionários, fazem parte do corpus do ALiMA, gravado em 18 pontos representativos dascinco mesorregiões maranhenses, coletado in loco a 76 informantes naturais da localidadeinvestigada, divididos equitativamente entre os dois sexos e duas faixas etárias Apenas nacapital, São Luís, foram considerados dois níveis de escolaridade – fundamental incompleto(atéo5ºano)esuperiorcompleto–eumtotaldeoito informantes.Nosdemaismunicípiossãoconsideradosapenasquatroinformantesporlocalidade,todoscomoensinofundamental.Paraesteestudo,fez-seumrecortequecontemplaapenasonzepontoslinguísticos–SãoLuís,Alto Parnaíba, Araioses, Bacabal, Balsas, Brejo, Carolina, Imperatriz, Pinheiro, Tuntum eTuriaçu,oqueequivaleaexaminarosdadosdequarentaeoito informantesconcernentesàvariaçãodenominativaparaosseguintesitens:vialáctea,cangalha,borregoeboisemchifre,pertencentes, respectivamente, aos campos semânticos astros e tempo e atividadesagropastoris.Aanálisedosdadosevidenciaqueosreferentesmaistipicamentecaracterísticosdezonasinterioranase,portanto,menospresentesnouniversodacapital,nãofazempartedorepertóriolinguísticoativodosfalantes,notadamentedosmaisjovens.Palavras-chave:PortuguêsFaladonoMaranhão;Léxico;VariaçãoDenominativa.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

118

Bibliografia:CARDOSO,SuzanaAlice.Geolinguística:tradiçãoemodernidade.SãoPaulo:ParábolaEditorial,2010.ELIZAINCÍN, Adolfo. Socio y geolingüística: nueva alianza en los estudios sobre el uso lingüístico.Estudos:LinguísticoseLiterários,Salvador,n.41,p.13-28,jan./jun.2010.REIS, Douglas Sathler dos. O rural e urbano no Brasil. Caxambu, 2006, p. 1-13. Disponível em:<www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2006/docspdf/ABEP2006_777.pdf.>Acessoem:27nov.2013.ARTES DE PESCA NA ILHA DE ITAPARICA: ESTUDO LÉXICO-SEMÂNTICO E SOCIODIALETAL

EvaniceRamosLimaBarretoUniversidadeFederaldaBahiaOpresente trabalho tempor objetivo apresentar os resultados da pesquisa desenvolvida noDoutorado Acadêmico, na Linha Variação da Língua Portuguesa, na Área LinguísticaHistórica, para a elaboração da tese intitulada “Artes de pesca na Ilha de Itaparica: estudoléxico-semânticoesociodialetal”,defendidaatravésdoProgramadePós-GraduaçãoemLínguaeCultura,naUniversidadeFederaldaBahia.Oestudodecaráterdescritivoobjetivouregistrare analisar o léxico empregado na pesca artesanal na Ilha de Itaparica, com base nospressupostos que norteiam aDialetologia, a Sociolinguística, a Lexicologia e a Lexicografia.Paratanto,foramconsideradasasvariáveisextralinguísticaseainclusãodositenslexicaisemdicionáriosgeraiseetimológicosda línguaportuguesa.Paraaconstituiçãodocorpus, foramadotados os seguintes procedimentos metodológicos: seleção de trinta e seis informantes(pescadores),deambosossexos,naturaisdeItaparicaeVeraCruz(municípiosquecompõema Ilha de Itaparica, na Bahia) ou residentes neles há, pelo menos, um terço de sua vida,distribuídos em três faixas etárias: 20 a 30, 35 a 55 e mais de 60 anos; aplicação de umquestionário linguístico comperguntas que contemplamosdiferentes aspectosda atividadepesqueira,desdeapreparaçãodosapetrechosatéavendadopescado;identificaçãodaslexiaspeculiares à pesca através doprogramaWordSmithTools 4.0, a partir da fragmentaçãodosdados.Afimdeprocederàanáliseléxico-semânticaesociodialetal,bemcomoàelaboraçãodovocabulário,ositenslevantadosforamorganizadosemseusrespectivoscamposlexicais,sobaperspectivadeCoseriu(1967).Deacordocomoautor,aanáliseestruturaldovocabuláriodevedeterminarocampolexicaldentrodeestruturaslexemáticas,emqueoslexemasintegramumsistemadeoposições.Assim,defineocampolexicalcomoumparadigmaconstituídodeitenslexicaisdeconteúdoquecompartilhamdeumazonadesignificaçãocontínuaeseencontramem oposição imediata uns com os outros. Através da análise léxico-semântica dos itensreunidos em seus respectivos campos lexicais e da observação dos fatores extralinguísticos,verificou-sequeoléxicodapescanaIlhadeItaparicaseconstituideformasjáconsagradasnousogeraldalíngua;delexiasjáexistentes,cujossignificadosforamampliadosnoprocessodereelaboração lexical; de formas dicionarizadas com o mesmo sentido; e de formasdicionarizadas com acepção diferente daquela documentada na comunidade. Compõe-se delexias simples, compostas e complexas, apresentando variações em nível fonético, lexical emorfossintático. Os resultados evidenciaram aspectos históricos, culturais e sociais dalocalidade,demonstrandoaimportânciadapescaparaaconstruçãodeumléxicoespecíficoeparaaidentidadedosindivíduosenvolvidosnessaatividade.

Sociolinguística, dialectologia

119

SESSÃO 5. VARIAÇÃO MORFOFONOLÓGICA E MORFOSSINTÁTICA

VARIAÇÃO NA CONCORDÂNCIA VERBAL DE NÓS NO PRESENTE E PRETÉRITO PERFEITO EM VERBOS REGULARES DE 1.ª E 2.ª CONJUGAÇÃO NO SUDESTE PARANAENSE

IvelãPereiraUniversidadeFederaldeSantaCatarinaEstapesquisatrabalhacomavariaçãomorfêmicanaP4(nós)emverbosregularesde1.ªe2.ªconjugação,comvistasàdescriçãoeanálisedasformascanônicasenãocanônicas–como-a-mo(s) versus -e-mo(s), alémde -e-mo(s) versus -i-mo(s) –namesorregiãosudestedoParaná(estado da região Sul do Brasil). A fundamentação teórica é constituída por Labov (2008[1972]; 1994),Weinreich,LaboveHerzog(2006[1968]),Bortoni-Ricardo(2011),Amaral (1976[1920]),CâmaraJunior([1970]),Castilho(1992),Guy(2001),Vasconcelos(1970[1901]),Pereira(2014), entre outros. Foi utilizada metodologia quantitativa, analisando-se dados de fala(pertencentesaobancoVARLINFE)emcidadesdosudestedoParaná.Pormeiodosresultadosobtidos,foipossívelconfirmarahipótesedeprodutividadedasvariantesnãocanônicasnessaregião (sobretudo na 2.ª conjugação) em contraposição, por exemplo, ao uso não (tão)recorrenteemoutrasregiões–comoapontaraapesquisadePereira(2014)emFlorianópolis–SC.Palavras-chave:Sociolinguística;Variaçãolinguística;SudestedoParaná;ConcordânciaVerbal.Referências:AMARAL,A.Odialetocaipira.3.ed.SãoPaulo:Hucitec,1976[1920].BORTONI-RICARDO,S.M.Docampoparaacidade:estudosociolinguísticodemigraçãoeredessociais.SãoPaulo:ParábolaEditorial,2011.CÂMARAJUNIOR,J.M.EstruturadaLínguaPortuguesa.41.ed.Petrópolis:Vozes,2010[1970].CASTILHO,A.T.de.OPortuguêsdoBrasil.In:ILARI,R.LinguísticaRomânica.SãoPaulo,Ática,p.237-285,1992.COSTA,I.B.Overbonafaladecamponeses:umestudodevariação.Tese(DoutoradoemLinguística).ProgramadePós-GraduaçãoemLinguística,UniversidadedeCampinas:Campinas,1990.COUTINHO,I.deL.Gramáticahistórica.7.ed.RiodeJaneiro:Aolivrotécnico,1974,p.150-165,1974.FROSI,V.;MIORANZA,C.Dialetositalianos.CaxiasdoSul:EDUCS,1983.GUY, G. As comunidades de fala: fronteiras internas e externas. In: II Congresso internacional daAbralin.Fortaleza:UniversidadeFederaldoCeará,2001.LABOV, W. Padrões sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno, Marta Pereira Scherre, CarolineRodriguesCardoso.SãoPaulo:ParábolaEditorial,2008[1972].LABOV,W.Principlesoflinguisticchange:Internalfactors.Cambridge:B.Blackwell,1994.PEREIRA, Ivelã. Cuidamo(s) e cuidemo(s): a variação morfêmica na p4 em verbos regulares de 1ªconjugação.RevistaWorkingPapers,v.2,n.14,p.49-71,Florianópolis,ago/dez.2014.SILVESTRE,J.C.C.SociolinguísticaHistórica.Madrid:EditorialGredos,2007.VASCONCELOS,J.L.de.Esquissed’unedialectologieportugaise.Lisboa:CentrodeEstudosFilológicos,1970[1901].WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudançalinguística.TraduçãodeMarcosBagno.SãoPaulo:Parábola,2006[1968].

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

120

DA DIVERSIDADE DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: A QUESTÃO DA MARCAÇÃO MORFO-FONOLÓGICA DE NÚMERO/PESSOA NA FALA GURUTUBANA

EuniceM.D.NicolauUniversidadeFederaldeMinasGeraisMariadoSocorroVieiraCoelhoUnimontesApresentereflexãotratadamarcaçãomorfo-fonológicadenúmero/pessoanasformasverbaisdo português do Brasil (PB), focalizando a variedade linguística falada pelos gurutubanos(descendentesétnicosdacomunidadequilomboladoTerritórioGurutubano,Centro-nortedeMinas Gerais). Essa reflexão parte do fato de essa marcação figurar entre os fenômenosregistradosporCoelho(2010),quedefendeaexistênciadetraçosespecíficosde“umfalardeárea rural gurutubana: o português brasileiro gurutubano”. É que, há quase um século, osparadigmas verbais do PB vêm se mostrando afetados por simplificações resultantes de:reduçãodo sistemapronominal (perdadas segundaspessoas - algumas comunidades, comodoRiode Janeiro, preservamo tu, embora semusodemarcade segundapessoa: “tuvai”);alternânciadeformascommarcasmorfo-fonológicasdepresentedoindicativoedepresentedo subjuntivo: “talvez ele venha/talvez ele vem”; ausência demarcas de flexão decorrente,parcialoutotalmente,daaçãoderegravariáveldeconcordânciaverbal(elecome/elescome;elechegou/eleschegou).EssasabordagensincluemadafaladamicrorregiãoSanfranciscanadeJanuária(MG),realizadaporAssisVeado(1980),cujaconclusãoapontaodialetoruralempautacontandocomapenasduasflexõesverbaisemrelaçãoàssuaspessoas:umareferenteàpessoadofalanteexclusivo(P1)eoutraexcluindoapessoadofalanteexclusivo(P2),referindo-se à(s) pessoa(s) não-falante(s); além disso, essas flexões não implicam oposiçãosingular/plural, mas, nos casos do sujeito com traço de plural, é atribuída ao verbodeterminadaflexãoque,emboranão-marcadaquantoaonúmero,éescolhidaemrazãodessesujeito,ouseja,emoposiçãoàformaflexionalP1(euprantomioxnóisprantamio,eleprantamio,elesprantamio).Considerandoessaconclusão,apresentereflexãotomacomoobjetoamarcaçãomorfo-fonológicadenúmero/pessoanoPB,buscando:

(1) mostrar que, na fala gurutubana, as formas verbais exibemmarcas diferentes dastradicionalmente previstas e, inclusive, das encontradas em dialetos do PB, como o dialetoruralacimareferido(euachi...;ieucrescei...fiquímoça...),mastaismarcasnãoconfiguraminovações;

(2) verificar se a simplificação dos paradigmas verbais do “português brasileirogurutubano” revela como resultado a mesma estrutura paradigmática do dialeto rural deJanuária/MG; ou seja, verificar se, no PB, a simplificação dos paradigmas verbais das áreasruraisapontamparaumamesmadireção.

Palavras-Chave:Sociolinguística;portuguêsgurutubano;flexão;paradigmasverbais.Bibliografia:ASSIS VEADO, Rosa M. Comportamento linguístico do dialeto rural. Belo Horizonte, UFMG,DissertaçãodeMestrado,1980.COELHO, Maria do Socorro Vieira.Os gurutubanos:língua, história e cultura. Belo Horizonte, PUCMinas,TesedeDoutorado,2010.

Sociolinguística, dialectologia

121

A PERCEPÇÃO SUBJETIVA DO IMPERATIVO POR FALANTES DO PORTUGUÊS DE SALVADOR-BA

LanuzaLimaSantosInstitutoFederaldeEducaçãoCiênciaeTecnologiadaBahiaAexpressãovariáveldoimperativo,cante(variantesubjuntiva)~canta(varianteindicativa)é,no português da Bahia, um traço contrastivo entre variedades do interior e da capital doestado (SANTOS, 2016).Tal quadro constitui-se, possivelmente, o resultadodeumprocessohistóricode formaçãodos falaresbaianos.Diante anecessidadede se reunir elementosquecontribuemcoma caracterização e compreensãodesse importante fenômenonaBahia, estetrabalhoinvestigaadimensãosubjetivadavariação.ApartirdaanálisedaavaliaçãodomodoimperativoentrefalantescomgraumédiodeescolarizaçãodacidadedeSalvador-Ba,capitaldo Estado, levantam-se, por meio de testes linguístcos, as seguintes questões: i) quais oscontrastesentreopadrãodeproduçãoeopadrãodeavaliaçãodoimperativoentreosusuáriosdoportuguêsdaBahia?; ii) comoocontextodiscursivo-pragmáticoatuasobreaescolhadasvariantesdoimperativo?;iii)comoosfalantesavaliamasformasdeacordocomoparadigmanormativo?Ostestesproduzidoseaplicadosaosparticipantesdapesquisabuscaramatenderobjetivos específicos que motivaram a execução em três etapas: i) testes de produçãomonitorada; ii) testes de adequação; (iii) testes de identificação normativa. Os resultadosapontam que o padrão empregado pelos sujeitos revela conformidade com o padrão geralsubjuntivo(cante)doportuguêsdeSalvador,77%paraanormaculta(SAMPAIO,2001);74%norma popular (SANTOS, 2016). A análise da seleção das variantes nas diferentes situaçõescomunicativasdemonstrouaatuaçãoconvergentededoisfatores,arelaçãocomointerlocutoreagradaçãosemântica.Asformasindicativassemostrarammaispositivamenteavaliadasnoscontextosqueenvolvemumarelaçãodemaisrespeitoepolidezcomointerlocutor,asaber,oscontextosemqueo interlocutoré superior ao falanteeos comandosmaisbrandos.Noquetoca à identificação do padrão normativo, as formas subjuntivas (cante), padrão entre osfalantesanalisadosenormageraldeSalvador,sãoavaliadaspelossujeitoscomoaopçãomaiscorreta.Palavras-chave:Imperativo;PortuguêsdaBahia;Testesdeavaliação.Referências:JESUS, Étel Teixeira de.ONordeste namídia e os estereótipos linguísticos: estudo do imperativo nanovelaSenhora do destino. 2006. 144 f.Dissertação (Mestrado em Letras) –Universidade de Brasília:Brasília,2006.REIS,MariléiadaSilva.Atosdefalanãodeclarativosdecomandonaexpressãodoimperativo:adimensãoestilísticadavariaçãosobumolharfuncionalista.2003.216f.Tese(DoutoradoemLinguística)–UniversidadeFederaldeSantaCatarina,2003.SAMPAIO, Dilcélia Almeida. Modo imperativo: sua manifestação/ expressão no portuguêscontemporâneo.2001.214f.Dissertação(MestradoemLetras)–InstitutodeLetrasdaUFBA,Salvador,2001.SANTOS,LanuzaLima.2016.319f.Tese(Doutoradoemlínguaecultura)InstitutodeLetrasdaUFBA,Salvador,2016.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

122

SESSÃO 6. VARIAÇÃO LEXICAL NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

AS VARIANTES LEXICAIS PARA A BRINCADEIRA "CAMBALHOTA" NA ÁREA DO FALAR NORDESTINO

SilvanaRibeiroUniversidadeFederaldaBahiaGrazieleFerreiradaSilvaSantosUniversidadeFederaldaBahia–PPGLinCEste trabalho é fruto do projeto de pesquisa: Descrevendo o Falar Nordestino. Realizou-sedurante três anos (2013-2016), eproporcionouadescriçãoparcialda realidade linguísticadoportuguês falado no Brasil, com ênfase na diversidade linguística e no léxico específico dejogos e diversões infantis. O estudo busca, sobretudo, descrever a variação diatópica, bemcomoidentificarregiõesdialetaisbrasileiras,emespecialaáreadoFalarNordestino,descritaporAntenorNascentesem1953.Oestudoemcausafundamenta-senospressupostosteóricosdaDialetologiaeGeolinguísticapluridimensional.OcorpusdestetrabalhofoiobtidojuntoaoBanco deDados do ProjetoAtlas Linguístico do Brasil – ProjetoALiB (dados coletados pormeiodos itenspresentesnoQuestionárioSemântico-lexical –QSL).Ametodologia adotadaparaapesquisaéaestabelecidapeloALiB:quatro informantes inquiridosemlocalidadesdointerior e oito informantes em capitais, os quais estão estratificados por sexo, faixa etária eescolaridade.A faixa etária contempladois falantesmaisnovos edoismais idosos.Osmaisnovosestãona faixaetária I (18a 30anos)eosmais idososestãona faixaetária II (50a65anos).Noquedizrespeitoàescolaridade,oProjetoALiBadotouoseguinteparâmetro:quatrofalantes com ensino fundamental incompleto para todas as localidades (interior e capital).Complementarmente, nas capitais, são entrevistados mais quatro informantes com níveluniversitário.Apesquisapossibilitouaanálisedesetedosnoveestadosdonordestebrasileiro(MA,PI,CE,RN,PB,PEeAL)eas13questõesdoQSL–seçãoJogosediversõesinfantis.Nestacomunicação,apresentam-seos resultadosalcançadosparaaquestão 155doQSL,quebuscaapurar as formas de nomear “a brincadeira em que se gira o corpo sobre a cabeça e acabasentado” (COMITÊ... 2001, p.34),” (COMITÊ NACIONAL... 2001, p.34). Documentaram-sevárias lexiasparadesignaroconceitoemestudo, taiscomo:“cambalhota”; “bundacanastra”;“carambela”;cambute”,dentreoutras,revelandotraçosespecíficosdoFalarNordestino.

Palavras-chave:áreasdialetais;cambalhota;léxico;interiorecapital.

Referências:COMITÊNACIONALDOPROJETOALiB.AtlasLinguísticodoBrasil:questionário2001.Londrina:Ed.UEL,2001.NASCENTES,Antenor.Olinguajarcarioca.2.ed.RiodeJaneiro:OrganizaçãoSimões,1953.RIBEIRO,SilvanaSoaresCosta.Brinquedosebrincadeirasinfantisnaáreado“FalarBaiano”.2012.752f.Tese(DoutoradoemLetras).UniversidadeFederaldaBahia,Salvador.

Sociolinguística, dialectologia

123

VARIAÇÃO LEXICAL PARA O OBJETO QUE FICA NAS PAREDES E SERVE PARA ACENDER A LÂMPADA: O QUE REVELA O ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL

HélenCristinadaSilvaUniversidadedeSantiagodeCompostelaFabianeCristinaAltinoUniversidadeEstadualdeLondrinaEste trabalho de cunho geossociolinguístico tem por finalidade apresentar os resultadosobtidos para a questão n°.175 (como se chama o objeto que fica nas paredes e serve paraacender a lâmpada) constituinte do Questionário-Semântico-Lexical (QSL) do AtlasLinguísticodoBrasilALiB (CARDOSOet al., 2014). Para tanto, descrevemos e analisamosocorpus formado pelas respostas coletadas nas 250 localidades investigadas pelo atlas,perfazendoototalde1.100informantesestratificadosporsexo,idade(faixaI:18-30;faixaII:50a65anos)eporescolaridade(nocasodascapitais).Combasenessematerial,aindainéditodoALiB,procedemosàdistribuiçãodiatópicadasvariantespormeiodecartaslinguísticas,bemcomoàanálisedos fatoresextralinguísticosquepodem influenciarnos resultados.Ademais,buscamos a dicionarização dos itens registrados em Moraes Silva (1813), Cunha (1994) eFerreira (2004), respectivamente um dicionário mais antigo, um etimológico e um maismoderno.Dentreosresultados,oestudodemonstrouqueapenasduasformasconcorrememluta para a sobrevivência: interruptor e tomada. Esta última apresenta uma distribuiçãoespacialmaisbemdefinida,portanto,dialetal,naregiãoSul,einterruptor,emboramajoritária,pareceestaremfasedeaquisiçãopelosfalantes,hajavistaasmudançasfonéticasoperadasnosignificante, tais como: interrupitô, terrupitô, turrupitô, terrupitô, télépitô, tétô e assimpordiante. No que tange aos fatores sociais, verificamos, embora os números sejam poucoexpressivos, que os informantes de nível superior preferem a variante mais elaboradainterruptor em detrimento aos de nível fundamental que recorrem commais frequência àforma tomada.Alémdisso, constatamosque a etimologia popular é bastante produtiva, orarecorrendoametáforas,metonímias,onomatopeias,oraadotandodeoutraslínguasumnomequeseadapteaonovoobjetoinseridonavidacotidianadecadaum.Palavras-chave:variaçãolexical;AtlasLinguísticodoBrasil;interruptor;tomada.Bibliografia:CARDOSO,SuzanaAliceMarcelinodaSilvaetal.AtlasLinguísticodoBrasil.Londrina:Eduel,2014.2v.COMITÊNACIONALdoProjetoALiB(Brasil).AtlaslingüísticodoBrasil:questionários2001.Londrina:EDUEL,2001.CUNHA,ÂntonioGeraldoda.DicionárioEtimológicoNovaFronteiradaLínguaPortuguesa.2ed.RiodeJaneiro:NovaFronteira,1994.FERREIRA,AurélioBuarquedeHolanda.NovoDicionárioAuréliodeLínguaPortuguesa.3ed.Curitiba:Positivo,2004.MORAESSILVA,A.Diccionariodalinguaportugueza.2.ed.Lisboa:TypographiaLacérdina,1813.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

124

MARCAS DA IDENTIDADE CULTURAL NO LÉXICO DO CORPO HUMANO: A QUESTÃO DOS TABUS LINGUÍSTICOS

JulianyFraideNunesCEPEF/MSAparecidaNegriIsquerdoUniversidadeFederaldeMatoGrossodoSul/CNPqEmumpaíscomdimensõesterritoriaiscomoadoBrasil,emborahajaumanormalinguísticageral em uso por todos os falantes, há também realizações regionais que evidenciampeculiaridadesmotivadasporfatoresextralinguísticos,comoaculturaeageografia.Oestudoda norma em suas variações regionais é realizado, dentre outros níveis, a partir do léxico,acervovocabulardequeofalantesevaleparasecomunicarcomosdemaismembrosdeumacomunidadelinguística.Paraesteestudofoiselecionadaapergunta105doQSL–QuestionárioSemântico-Lexical do Projeto ALiB (Atlas Linguístico do Brasil) - que busca denominaçõespara a “parte alta do pescoço do homem”. Foram analisadas as respostas fornecidas pelosinformantesdoALiBpertencentesa68localidadesdarededepontosdasregiõesNorteeSuldoBrasil(interior),coletadasinlocojuntoa308informantesqueforamselecionadossegundoo seguinte perfil: duas faixas etárias (18 a 30 e 50 a 65 anos), de ambos os sexos, nível deescolaridade ensino fundamental, nascidos e criados nas localidades pesquisadas, com pais,preferencialmente,damesmaregião linguística.EstetrabalhodiscuteresultadosdapesquisadeNunes(2017).Orecortedocorpusanalisadonessetrabalhoreúne14variantesléxicas(220ocorrências)quenomeiamoconceitoexpressonapergunta105/QSL.Dessasunidadesléxicas,forammaisprodutivasgogó,nónagargantaepomodeAdão.Oexamedosdadosconsideroutrês perspectivas: i) distribuição diatópica das variantes representada por meio de cartaslinguísticas; ii) exame de aspectos relativos a processos de mudança e de manutenção doléxicoquenomeiaa “partealtadopescoçodohomem”; iii) análise semânticadasvariantes,comênfaseparaaquestãodostabuslinguísticos.Oestudopautou-seemprincípiosteóricosdaDialetologia/Geolinguística,daLexicologiaedaSemântica.Palavras-chave:Léxico;corpohumano;Atlaslinguístico;ProjetoALiB;Tabuslinguísticos.Bibliografiabásica:BIDERMAN,MariaTerezaCamargo(2001):Teorialinguística.Teorialexicalelinguísticacomputacional.SãoPaulo:MartinsFontes.COSERIU,Eugenio(1982):OhomemesuaLinguagem.SãoPaulo:UniversidadedeSãoPaulo.Guérios,RosárioFarâniMansur(1979):TabusLinguísticos.2ªed.SãoPaulo:EditoraNacional.LUNA, Julià Carolina (2010):Estructura y variación en el léxico del cuerpo humano. 2010. 665p. Tese(DoctoradoemFilologíaespañola)–UniversidadAutonomadeBarcelona,Barcelona.GARCÍAMOUTON, Pilar (1990): «El estudio léxico en losmapas lingüísticos», en FranciscoMorenoFernández(recop.),Estudiossobrevariaciónlingüística.Salamanca:UniversidaddeAlcaládeHenares,27-75.NUNES, Juliany Fraide (2017): Vocabulário do corpo humano nas regiões Norte e Sul do Brasil:perspectivassemânticaegeossociolinguística.259p.Dissertação(MestradoemEstudosdeLinguagem)–UniversidadeFederaldeMatoGrossodoSul,CampoGrande–MS.RODRIGUES,JoséCarlos(2006):Tabudocorpo.7.ed.,ver.RiodeJaneiro:EditoraFIOCRUZ.

125

HISTÓRIA SOCIAL, HISTÓRIA DA ESCRITA, TRADIÇÕES DISCURSIVAS, PERIODIZAÇÃO

SESSÃO 1. FORMAÇÃO E PERIODIZAÇÃO DO PB

PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA LINGUÍSTICA DO SUL DA BAHIA

WagnerArgoloUniãoMetropolitanadeEducaçãoeCulturaPara o geral do Brasil, Lobo (2003) propõe duas grandes fases, referências para queperiodizações regionais sejam, a partir delas, elaboradas. A primeira, calcada num Brasilgeneralizadamente multilíngue, rural, analfabeto e sem estandardização linguística, que seestendede1534,quandosãofundadasasCapitaniasHereditárias,até1850,quandoéproibidootráficointercontinentaldeescravos,atravésdaLeiEusébiodeQueirós.Asegunda,calcadanum Brasil localizadamente multilíngue, urbano, escolarizado e com estandardizaçãolinguística,queseestendeatéosdiasatuais.Emrelaçãodialéticacomseutrabalho,propomos,aqui,contribuirparaaelaboraçãodasperiodizaçõesregionaisàsquaissereferiu.Dessemodo,apresentamosumapropostainéditaparaoSuldaBahia,comaseguintematriz:Fase1,queseinicia em 1534, com o início efetivo da colonização da região, na qual os portuguesesencontramotupinambácomolínguasupra-étnica,sendoobrigadosaadquiri-locomoL2.Éomomento da fundação de engenhos de açúcar, contexto que dará ensejo à formação deambientesdecomunicaçãopeculiares,mantendo-seaté1600,quandoosengenhosentramemdecadência,dandoinícioàFase2.Nela,sãoalçadasaoprimeiroplanoaproduçãodegênerosdesubsistência,avendademadeirasde leieasexpediçõessertanistasdepreaçãode índios,observando-seumrearranjodosambientesdecomunicaçãodaregião.Esta fasemanter-se-áaté1760,quandosuaeconomiaentraemdecadência,devidoaovicejardeumnovociclo,odocacau, quando entra em cena aFase 3. Nela, têm início, para o Sul da Bahia, asmigraçõesoriundas do interior do Nordeste, onde o PB já prevalecia, no intuito de invadir grandesextensões de terra para o plantio do cacau, gerando graves conflitos pela sua posse. É operíodoemqueomultilinguismodosautóctonesentraemchoquecomounilinguismodossertanejos, estendendo-se até 1820, quando ainda é registrado o uso diminuto de línguasindígenasporcomunidadeslocais,atédesapareceremporcompleto,momentoemquetemosoiníciodaSubfase3.1.Nela,háatransiçãoparaounilinguismoemPB,devidaàsubstituiçãodepopulaçãoqueocorreunaregião,deacordocomorecenseamentodoImpériodoBrasil,de1872,quandojáconstatamos,ali,cercade100milnovoshabitantes,constituindo-senomarcoinicialdaSubfase3.2.Nela,observamosaquintuplicaçãodonovoquadrohumano,combasenorecenseamentodaRepúblicadoBrasil,de 1940,representativodaconsolidaçãodoSuldaBahiacomounilíngueemPB,cenárioquenãosealterouatéosdiasatuais.

Palavras-chave:linguística;história;periodização;Brasil;SuldaBahia.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

126

Referências:ANTT,“ProcessodeThomásFerreiramamaluco”,TribunaldoSantoOfício,InquisiçãodeLisboa,proc.11635.ARGOLO,Wagner.HistórialinguísticadoSuldaBahia(1534-1940).InstitutodeLetrasdaUniversidadeFederaldaBahia.Tesededoutoramentoinédita.Salvador,2015.CANCELA,Francisco.Deprojetoaprocessocolonial:índios,colonoseautoridadesrégiasnacolonizaçãoreformistadaantigaCapitaniadePortoSeguro(1763-1808).DepartamentodeHistóriadaUniversidadeFederaldaBahia.Tesededoutoramentoinédita.Salvador,2012.DIAS, Marcelo Henrique. Farinhas, madeiras e cabotagem: a Capitania de Ilhéus no antigo sistemacolonial.Ilhéus:EDITUS-UESC,2011.LOBO,Tânia.AquestãodaperiodizaçãodahistórialinguísticadoBrasil.In:Castro,Ivo&Duarte,Inês.(Orgs.).Razõeseemoção:miscelâneadeestudosemhomenagemaMariaHelenaMiraMateus.Lisboa:ImprensaNacional–CasadaMoeda,2003.p.395-409.SANTOS,Milton.ZonadoCacau.SãoPaulo:Brasiliana,1957.p.39-48.O PAPEL DA ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA NA FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL

EmilioGozzePagottoInstitutodeEstudosdaLinguagem-UniversidadeEstadualdeCampinasOs estudos de história social da língua portuguesa no Brasil no período colonial costumamcentrar-se no problema dos contatos linguísticos pensados no interior da economia agro-exportadora. À visão de uma colônia voltada exclusivamente para a exploração de recursosdestinadosàmetrópolecostumacorresponderumavisãodaestruturasocialemqueseopõem,de um lado, senhores e de outro, escravos. Tal visão leva a pensar a história dos contatoslinguísticos e suas consequências para os destinos da língua no Brasil de um modoextremamente dicotômico em que não há nuances na estrutura social e nem papel para ospobreseremediadoslivres,ospequenosproprietários,osartíficeseartesãos.

O trabalho se propõe a examinar a história social da língua no Brasil, a partir de umquadro desenhado nas duas últimas décadas em que a economia interna no Brasil colôniaadquire enorme relevância, a ponto de propiciar mesmo acumulação de capital capaz dealavancaratéasatividadesagro-exportadoras(cf.FRAGOSO,J.L.R.(1992),FRAGOSO,J.L.R.&FLORENTINO,M.G.(1993),dentreoutros).Paratanto,éprecisopensarahistóriasocialdalíngua como constituída de dois movimentos importantes, se pensamos nas consequênciashistóricasposteriores:ebuliçãoesedentarizaçãolinguística.Poressesdoistermosqueestamospropondo,desejamosabarcarduascondiçõesdefuncionamentolinguísticointerrelacionadasmasdiferentes.

Nacondiçãodeebulição, temosumasituaçãosociolinguísticaemqueas interaçõessão,emgeral,recentesedependentesdeumquadrosocialemqueouospapéissociaisnãoestãobem claros ou os sujeitos falantes se renovam em ciclos muitos rápidos, tornando adiversidadee as alteraçõesna línguanumerosas e extremamenteheterogêneas.As situaçõesdeefervescênciaspodem,nolimite,sedesvanecercompletamente,semdarorigemaqualquercomunidadelinguísticaperene,posteriormente.

Asedentarizaçãolinguísticaé,exatamente,asituaçãoemquealínguaseperenizanumadadacomunidadelinguística,nalinhadotempoquesegue.Nãoimplicaausênciadevariação,mas o que poderíamos chamar de estabilização sociolinguística. Nesse caso, os papéis sedefinem mais claramente, e os falantes tendem a permanecer mais tempo vinculados àcomunidade, fazendopartedosvaloressociaisqueimpulsionamosfenômenosdevariaçãoemudança.

Opontocentraldo trabalhoéexatamenteeste:ahistóriada línguanoBrasil se fezpormeio da passagemda ebulição para a sedentarização linguística. E são as condições criadas

História social, história da escrita, tradições discursivas, periodização

127

pelaeconomiadesubsistência,entendidacomosubsidiáriadomercadointerno,ounolimite,como subsistência propriamente, aquelas ideais para a consolidação dos dialetos queposteriormentecomporãoomosaicobrasileiro.Nessascondições:

1)hápredominânciadonúcleofamiliarcomocentrodaatividadeprodutora;2)ascondiçõesdeformaçãodedescendênciasãomaioresdoquenaeconomiadagrande

propriedade;3)oempregodeescravossedáemproporçõespequenas,porpropriedade.Háumagrande

dispersão.O deslocamento do eixo da investigação trará um ganho epistemológico grande e

seguramente recolocará o problema do papel dos contatos linguísticos em outros termos,levando-nos a pensa-los não a partir de hipóteses que partem da ruptura, mas a partir dehipótesesqueconsideremocontatodelongaduraçãoeemcondiçõesdeinteraçãoplenas.

Palavras-chave:históriasocial;portuguêsdoBrasil;economiacolonial;contatolinguístico.Bibliografia:FRAGOSO, J. L. R. & FLORENTINO, M. G. (1993) O arcaísmo como projeto: mercado atlântico,sociedadeagráriaeelitemercantilnoRiodeJaneiro,c.1790-c.1840.RiodeJaneiro:Diadorim,1993.FRAGOSO,J.L.R.(1992)Homensdegrossaaventura:acumulaçãoehierarquianapraçamercantildoRiodeJaneiro(1790-1830).RiodeJaneiro:ArquivoNacional.HISTORIANDO O PORTUGUÊS BRASILEIRO

AtalibaT.deCastilhoUniversidadedeSãoPauloRelatório sobre o Projeto para a História do Português Brasileiro (desde 1997), de âmbitonacional, que reúne atualmente mais de 200 pesquisadores, distribuídos por 14 equipesregionais.

OPHPBtemporobjetivosorganizarocorpusdiacrônicodoPB,investigandosuahistóriasocial,mudançagramatical,lexical,semântica,tradiçõesdiscursivaseorganizaçãotextual.

As pesquisas nestes últimos 20 anos estão sendo consolidadas para publicação na sérieHistóriadoPortuguêsBrasileiro,12volumes,7dosquaisjáenviadosàpublicação.A QUESTÃO DA PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA LINGUÍSTICA DO BRASIL

DanteLucchesiUniversidadeFederalFluminense/CNPqSeráfeitaumadiscussãodaquestãodaperiodizaçãodahistórialinguísticadoBrasil,comumabreve avaliação das propostas já publicadas, destacando-se as de Serafim da Silva Neto(1963[1951]),MarlosPessoa(2003),TâniaLobo(2003)eVolkerNoll(2008).Emseguida,serãoapresentados os fundamentos da elaboração de uma nova proposta, que enfatiza a relaçãoentre os processos linguísticos de variação e mudança e os processos sócio-históricos quecaracterizama formaçãoda sociedadebrasileira, comdestaqueparao contatomaciçoentrelínguas,jáque,desdemeadosdoséculoXVIatépelomenosofinaldoséculoXIX,maisdedoisterços da população do Brasil foram constituídos por índios aculturados e africanosescravizadoseseusdescendentes,endógamosemestiços.Avisãodefundoéadequeháumarelaçãoentreaformulaçãodeumaperiodizaçãoeaconcepçãodecomoamudançaoperanaestruturadalíngua.Anovapropostaapresentadaestáfundamentadanoarcabouçoteóricoda

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

128

Sociolinguística Variacionista (Labov, 1972 e seguintes), e se baseia na definição de RosaVirgínia Mattos e Silva (2004) da história linguística do Brasil como a passagem de ummultilinguismo generalizado amultilinguismo localizado, ou seja, a história sociolinguísticadoBrasilsedefineporumviolentoprocessodehomogeneizaçãolinguística,atravésdoqualoportuguêssetornaalínguadecercade98%dapopulaçãodopaís(Lucchesi,2015).Dentreospontos que distinguem essa nova proposta das anteriores está a ampliação do períodohistóricoabrangido,paraalémdoiníciodacolonizaçãoportuguesa(marcoinicialgeralmenteadotado), coma integraçãodoprocessode tupinizaçãoda costa que se estendedo anomil(circa)atéoséculoXVI,poistalprocessoteveimportantesconsequênciasparaaconfiguraçãoatualdalínguanoBrasil,nomeadamentenoplanodoléxico.Palavras-chave:periodização;históriadalíngua;contatoentrelínguas;portuguêsbrasileiro.Referências:LABOV,William.1972.SociolinguisticPatterns.Philadelphia:UniversityofPennsylvaniaPress.LOBO, Tânia. 2003. A questão da periodização da história linguística do Brasil. In: CASTRO, Ivo;DUARTE, Inês. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mateus.Lisboa:ImprensaNacional-CasadaMoeda.p.395-410.LUCCHESI,Dante.ALíngua e Sociedade Partidas: a polarização sociolinguística do Brasil. São Paulo:Contexto,2015.MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. 2004.Ensaios para uma sócio-história do português brasileiro. SãoPaulo:Parábola.NOLL,Volker.2008.Oportuguêsbrasileiro:formaçãoecontrastes.SãoPaulo:Globo.PESSOA,MarlosdeBarros.2003.Variaçãodeumavariedadeurbanaesemi-oralidade:ocasodoRecife,Brasil.Tübigen:Niemeyer.SILVANETO,Serafimda.1963[1951].IntroduçãoaoestudodalínguaportuguesanoBrasil.2.ed.RiodeJaneiro:INL.SESSÃO 2. PRAGMÁTICA E DISCURSO NA HISTÓRIA DO PB

A MACROESTRUTURA DA TRADIÇÃO DISCURSIVA "ANÚNCIO DE FUGA DE ESCRAVO" E SUAS FÓRMULAS FIXAS

AnaKarineP.deHolandaBastosUniversidadeFederaldePernambucoA tradição discursiva (TD) “anúncio de fuga de escravo” representou um gênero textualdifundido pela imprensa periódica do século XIX de grande produtividade no Brasil, i.e.enquanto vigeu a escravidão no país, como constatou Bastos (2016). A TD se constituiinternamente de elementos fortemente fixados, os traços composicionais, fórmulas fixas,palavrasomnibusoupasse-partoutqueaidentificaepermitequesereproduzaesedifundanasociedade.ParaestaanálisebuscamosrespaldoemOesterreicher(1994,1996),Pessoa(2003)eKabatek(2005).Identificamos,numcorpusconstituídodemaisde130anúnciospublicadosnoDiariodePernambucoenoDiarioNovo,queamacroestruturadoanúnciodefuga,constituídada abertura, do desenvolvimento e do fechamento, comporta variadas fórmulas fixas. Osresultados apontaram que na abertura dos anúncios são encontrados os verbos que fazemreferênciaàfugacomo“fugiu”,“desapareceu”dentreoutros,informaçõescomoadatadafuga,onomedoescravoeànaçãoaqueelespertenciam.Nodesenvolvimentoestãoabrigadosos

História social, história da escrita, tradições discursivas, periodização

129

aspectosmais descritivos do texto, os traços definidores dos negros em fuga, sobretudo ascaracterísticas físicas, asmarcas e sinaisdos castigos sofridospor eles.AsTDs referentes ao“fechamento”dosanúnciostêmcomoelementosprincipais:a intervençãodasautoridades,olocal a serentregueoescravo,ovalordagratificaçãoparaquemapreendesseo foragidoeaassinaturadequemsupostamente redigiuo anúncio.Noentanto, tais elementospodemserencontrados também em outras posições do texto sem comprometer a inteligibilidade doanúncio. O que define a composição deste gênero é um conjunto de elementos que sedistribuemnatramatextualeenformamaTD.ANÚNCIOS DE PROCURADOS: SUAS RAÍZES HISTÓRICAS

MarlosdeBarrosPessoaUniversidadeFederaldePernambucoAnaKarineP.deHolandaBastosUniversidadeFederaldePernambucoEste trabalho revela as raízes históricas dos anúncios de procurados (APs) do século XXI,textos elaborados para se capturarem acusados de crimes diversos (assalto, assassinato,sequestro etc.) (Bastos, 2016). São gêneros veiculados nos jornais, outdoors e outrosmeios,sendo amiúde afixados em repartições públicas e até emparadas de ônibus.Ametodologiainvestigativapauta-senaanálisecomparativa,estrutural,descritivaeinterpretativadosdados,enapesquisabibliográficaedocumental.Seuarcabouçoteóricoancora-senoparadigmadastradições discursivas (TDs), baseando-se na Filologia pragmático-alemã, com Coseriu(1967;1980),Koch(1997),Oesterreicher(1994)eKabatek(2004);eapartirdasconsideraçõesde Pessoa (2006) sobre a história da imprensa.OsAPs têm longa tradição e remontam aosanúnciosdefugadeescravos(AFEs)doséculoXIX.Fugindoumescravo,esteeraanunciadono jornal com todos os seus traços físicos e a promessa de gratificação para sua apreensão.Apesar de os avanços tecnológicos terem reconfigurado os APs atuais, como o uso dafotografia para a economia textual, os AFEsmantêm similaridade com osAPs nos aspectosconcernentes à retórica e àqueles linguístico-discursivos. Os anúncios atuais podem sercomparadosàquelesveiculadosnaGazetadeLisboa,primeiro jornal impressoemportuguêsnoséculoXVIII,ondeaparecemfórmulascomo“faz-seavisoàspessoas...”ouousorecorrentedorelativo“oqual”,dentreoutrasexpressões,componentesdesuatramatextualdesdeoséc.XVIII até ao séc. XXI. Caracteriza-se a sintaxe desses textos pelo uso de fórmulas fixas oupalavras omnibus, expressões encapsuladoras de sentido. Assim, aponta-se a fórmula fixa,aqui, como o traço composicionalmais relevante na formação das TDs. Como resultado, ocorpus de cotejo dos APs com os AFEs revelou o papel de algumas formas linguístico-discursivas para a perpetuação de certas TDs, permitindo amanutenção dos elementos dasAFEsnocontinuumtemporal.Palavras-chave:Anúncios;Escravos;Impressos;Tradições;Textos.Bibliografia:BASTOS,A.K.P.H.Anúnciosdeescravos:traçosdemudançasepermanênciasdetradiçõesdiscursivasnos jornais do Recife. Tese de Doutorado –Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Artes eComunicação.Letras,2016.COSERIU,E.Sistema,normayhabla.Teoríadellenguajeylinguísticageneral.Madrid:Gredos,1967.COSERIU,E.Liçõesdelinguísticageral.(Ediçãorevistaecorrigidapeloautor).RiodeJaneiro:AoLivroTécnico,1980.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

130

KABATEK, J. TDs e mudança linguística. Texto apresentado no encontro PHPB em Itaparica, Bahia,setembrode2004.Disponívelem<<www.kabatek.de/discurso>>KOCH,P.Diskurstraditionen:zu ihremsprachtheoretischenStatusund ihrerDynamik. In:FRANK,B;HAYE, T.; TOPHINKE, D. (Eds.). Gattungen mittelalterlicher Schriftlichkeit. Tübingen: Narr, 1997(ScriptOralia,99).Cf.traduçãodeAlessandraCastilhoFerreiradaCosta.OESTERREICHER,W.Elespañolentextosescritosporsemicultos.In:LÜDTKEJ.(Org.).Competenciaescritadeimprontaoralemlahistoriografiaindiana(sigloXVI).ActasdelsimposiodelInstitutoIbero-AmericanodeBerlin,23y24deabrilde1992.Madrid:Iberoamericana,1994.PESSOA, M. O primeiro número do Diario de Pernambuco: TDs e gramática. In: CIAPUSCIO, G.;JUNGBLUTH, K.; KAISER, D. LOPES, C. (eds.). Sincronía y diacronía de tradiciones discursivas enLatinoamérica.Madrid:Iberoamericana,2006.

SESSÃO 3. A FILOLOGIA E AS FONTES DO PB

CARTAS DE DATAS DE JUNDIAÍ (1657): DESCRIÇÃO DE ALGUNS ASPECTOS FILOLÓGICOS E LINGUÍSTICOS

VerenaKewitzUniversidadedeSãoPauloKathlinCarladeMoraisUniversidadedeSãoPauloEstudos recentes em Linguística Textual e Filologia têm demonstrado que textos antigosfornecembasessegurasparaainvestigaçãodemudançaslinguísticas,seselevaemcontaquealguns textos dãomargemaousode certas estruturas linguísticas, ao passo que outrosnão(Jacob 2001). Apoiando-nos nessa premissa, a presente comunicação tem como objetivoapresentaralgunsaspectosfilológicoselinguísticosdo1ºLivrodeCartasdeDatas,manuscritocolonialde1657,produzidoemJundiaí,umadasvilasmaisantigasdaCapitaniadeSãoPaulo.Apesquisainsere-senoProjetodeHistóriadoPortuguêsPaulista(faseII,FAPESPProcessonº11/51787-5),especificamentenosubprojetodeFormaçãodeCorporadoPortuguêsPaulista,sobcoordenaçãodoProf.Dr.JosédaSilvaSimões(USP).OdocumentoconsistenumacoleçãodecercadesessentacartasdedataslavradasporumescrivãodaviladeJundiaícomoobjetivoderegistrar a doação de porções de terras aosmoradores que as requisitavam. A estrutura dotextodascartasdedatasrepresenta,emcertamedida,arepetiçãodeumatradiçãodiscursiva(Kabatek 2006), diferindo sobretudo na especificação das porções de terra, como suasmedidas, fronteiras, localização, o nomedos suplicantes e suas respectivas justificativas.AoladodasAtasdaCâmaradeJundiaí,tambémlavradasnoséculoXVII(Morais2014),asCartasde Datas representam o conjunto de documentos oficiais mais antigos do município deJundiaí, bem como da Capitania de São Paulo. Ambos os documentos foram escritos pormembrosdaCâmaraMunicipaletinhampesodelei.Nestaapresentação,serãoconsideradosos aspectos codicológicos e paleográficos do manuscrito e serão apresentadas algumasestruturaslinguísticasquerepresentamarepetiçãodatradiçãodiscursivaquecaracterizaessetipodetexto(Kabatek2006,Koch&Oesterreicher1990).Referências:

História social, história da escrita, tradições discursivas, periodização

131

JACOB, Daniel (2001) ¿Representatividad lingüística o autonomía pragmática del texto antiguo? Elejemplodelpasadocompuesto.InJabob&Kabatek(eds.)LenguamedievalytradicionesdiscursivasenlaPenínsula Ibérica. Descripción gramatical – pragmática histórica – metodología. Frankfurt am Main:Vervuert;Madrid:Iberoamericana.KABATEK, Johannes. (2006) Tradições Discursivas e Mudança Linguística. In: Lobo, T.; Ribeiro, I.;Carneiro, Z.;Almeida,N. (Orgs.)Para aHistória do PortuguêsBrasileiro, vol.VI:Novosdados, novasanálises.Salvador:EDUFBa,TomoII,p.505-527.KOCH, Peter; OESTERREICHER, Wulf. (1990) Gesprochene Sprache in der Romania: Französisch,Italienisch,Spanisch.Tübingen:Niemeyer(RomanistischeArbeiteshefte,31).MORAIS, KathlinC. de. (2014)Edição semidiplomática do 1º Livro deAtas daCâmara de Jundiaí. SãoPaulo, Pesquisa de Iniciação Científica, FFLCH, USP, 2014. Disponível emwww.phpp.fflch.usp.br/corpus.EDIÇÃO SEMIDIPLOMÁTICA DE UM MANUSCRITO DA BAHIA RURAL OITOCENTISTA: ANÁLISE PRELIMINAR DOS ASPECTOS SOCIAL, HISTÓRICO E LINGUÍSTICO DO LIVRO DE RAZÃO

AdilsonSilva;EmíliaMonteirodeSouzaUniversidadeFederaldaBahiaZenaideNovaisCarneiro;MarianadeOliveiraLacerdaUniversidadeEstadualdeFeiradeSantanaO número de títulos publicados e as iniciativas acadêmicas e culturais sobre a história daescritaedolivro,nasúltimasdécadas,segundoCastilloGómez(2003),revelamqueosestudossobreahistóriadaculturaescritagozamdeboasaúde.Defato,osestudoshistóricossobreaspráticasde escritadohomem, emdiferentes épocas, têmganhadoênfasenosmais variadoscentros acadêmicos. No Brasil,Galvão (2010), retomandouma expressão de Roger Chartier,propõe cinco “entradas”paraestudar ahistóriada cultura escrita. Sinteticamente, a referidaautora esclarece que as práticas de escrita, em uma determinada sociedade, podem serinvestigadaspormeiodosobjetos,dossujeitos,das instâncias,dossuportesedosmodosdetransmissãodoescrito.Nobojodessadiscussão,LoboeOliveira(2012)lançamoHISCULTE–HistóriadaCulturaEscritanoBrasil:umprogramadeinvestigação,compropostasdepesquisaorganizadas em nove subcampos de investigação, dando ênfase a temas como escritasordinárias e de foro privado, acervos de irmandades negras, de mestiços e de terreiros decandomblé,políticas linguísticas, entreoutros.Énessecontextoque se inserea temáticadapresente comunicação. Trata-se da apresentação da edição semidiplomática e da análisepreliminardealgunsfóliosdoLivrodeRazãodoCampoSeco,manuscritodoperíodocolonialescrito por três pessoas da mesma família, nos séculos XVIII e XIX,que se conservou noarquivo do Sobrado do Brejo, da família Pinheiro Canguçu, no povoado de Bom Jesus dosMeiras,hojedenominadoBrumado,no sertãodaBahia.Registre-seque estemanuscrito fazpartedoacervodoProjetoCE-DOHS–CorpusEletrônicodeDocumentosHistóricosdoSertão,comsedenaUniversidadeEstadualdeFeiradeSantana,coordenadopelasprofessorasZenaidedeOliveiraNovaisCarneiroeMarianaFagundesdeOliveiraLacerda.Pretende-se, comesseestudo,contribuirparaareconstruçãodahistóriasociallinguísticadoBrasil,oferecendocomoprodutos aedição semidiplomáticadomanuscrito e um estudodo processo de aquisição daescrita dos sujeitos, considerando asinstâncias, os suportes e os modos de transmissão ecirculaçãodoescrito, colaborandocom informaçõesessenciais sobreapenetraçãodaescritano interior da Bahia, dados importantíssimos paraa compreensão da polarização entre asnormaslinguísticasdoportuguêsbrasileiro.Referências:

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

132

GALVÃO,AnaMariadeOliveira(2010).Históriasdasculturasdoescrito:tendênciasepossibilidadesdepesquisa.In:CARVALHO,GilcineiTeodoro;MARILDES,Marinho(Orgs.).Culturaescritaeletramento.BeloHorizonte:EditoraUFMG,p.218-248.GÓMEZ, Antonio Castillo (2003). Historia de La cultura escrita – ideas para el debate. In:Revistabrasileiradehistóriadaeducação,nº5,jan./jun.LOBO,T.C.F.;OLIVEIRA,K(2012).HistóriadaculturaescritanoBrasil:umprogramadeinvestigação-HISCULTE.Salvador.OS CAMINHOS DA ESCRITA NO GOVERNO DE RODRIGO CESAR DE MENEZES, CAPITÃO E GOVERNADOR GENERAL DA CAPITANIA DE SÃO PAULO - 1721-1728

PhabloRobertoMarchisFachinUniversidadedeSãoPauloNo campo da Filologia e ciências afins, continua crescente o número de edições comobservávelrigornabuscadeexatidãoe fidelidadetextual,comatitudenitidamentemarcadapela preocupação em não se deixar perder nenhumdos traços da fonte primária no ato detranscrição. Os trabalhos nessa área também têm considerado o contexto de produção, aformadetransmissãoecirculaçãodocumental,assimcomotodososelementosquecompõemsua materialidade, fundamentais para o conhecimento da história dos textos e do seusignificado para a realidade histórico-linguística a que pertencem. No contexto daadministraçãocolonial,porexemplo,sãoaspectosessenciaisparaa identificaçãodonívelderepresentatividade linguística das produções gráficas perante o uso corrente que se fazia dalínguanoperíodo.

ComoobjetivodecontribuirparaoconhecimentodapráticadeescritaadministrativanoBrasil colonial e o seu contexto de produção e circulação, predominantemente no séculoXVIII, e verificar como o seu conhecimento contribui para os estudos sobre a História daLínguaPortuguesa, analisa-se e edita-se documentação relacionada ao governador e capitãogeneral da capitania de São Paulo, Rodrigo Cesar de Menezes (1721-1728). Uma parte domaterial está editada em quatro volumes do Arquivo Público do Estado de São Paulo,denominadosDocumentosInteressantesparaaHistóriaeCostumesdeSãoPaulo;outraparte,manuscrita, selecionadanopróprio arquivo e no catálogodoProjetoResgate “BarãodoRioBranco”,emdocumentosavulsosdoArquivoHistóricoUltramarinodeLisboa.

OsmanuscritosanalisadosrevelamoscaminhosdaescritanogovernodeRodrigoCesardeMenezes,demonstramcomoconfiguravamocontextodeprodução,aformadetransmissãoe circulação de documentos nesse período, portanto também fundamentais para acompreensãodofuncionamentosocialdaregião,incluindoformasderecepção,circunstânciaseintencionalidades.Pormeiodepesquisascomoessa,pode-sesistematizarascaracterísticasdaspráticasdeescritanaesferaadministrativacolonialnoBrasil,asquaistestemunhamousodalínguaportuguesanumatradiçãodeescritaque,emboracomestruturasfixas,diplomáticas,apresentavamtambémformaslivres,muitodependentesdograudeconhecimentolinguísticodos escribasda época.O conhecimentodessaprática administrativa éde suma importânciapara os trabalhos filológicos e de ciências afins, especificamente no caso deMenezes, poisabrange um ciclo completo administrativo, num período importante para a história doportuguês.Palavras-chave: Filologia Portuguesa; História da Língua Portuguesa; Edição de manuscritos;AdministraçãoColonial;RodrigoCesardeMenezes.

História social, história da escrita, tradições discursivas, periodização

133

VÉSPERAS BRASILIANAS: CONTRIBUIÇÕES DE IVO CASTRO AO PROJETO PARA A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS PAULISTA

VerenaKewitzUniversidadedeSãoPauloPesquisas recentes vêm demonstrando que a base do português brasileiro é quatrocentista(MoraesdeCastilho2001, 2005, 2013).PorocasiãodoXSemináriodoProjetodeHistóriadoPortuguêsPaulista(1ªfase)em2009,ohomenageadodesteCongresso,Prof.IvoCastro,expôsquestões relacionadasaoportuguêsmédio, sobretudoapartirdoestudodeCardeira (2005).Intitulado“VésperasBrasilianas”,oseminário,alémdecomprovarashipótesesdeMoraesdeCastilho (op.cit.), legou ao Projeto de História do Português Paulista (2ª fase) o desafio deinvestigarmaissistematicamenteasintaxedoportuguêsmédio.Assim,lançou-seosubprojetoVésperas Brasilianas: uma agenda para os estudos sintáticos do português paulista nosprimeiros séculos, “consolidandoa certezadequeeraboaa semente lançadapor IvoCastroentrenós.”(Castilho;MoraesdeCastilho2013:109).Dentreosfenômenossintáticosemcursode levantamentoeanálise,destacam-se:estruturaargumentalda sentença,valênciaverbaleconcordância verbal e nominal. Para esta comunicação, serão examinados os principaisresultados obtidos até aqui, para que novas questões possam ser colocadas. Além disso,pretende-seapresentaraagendaparaosestudossintáticos,noquerespeitaàpossibilidadedeentrever os caminhos demudança gramatical e entender “como era o português falado emPortugalnasvésperasdoachamentoepovoamentodoBrasil?”(Castro2012:45).Referências:CARDEIRA, Esperança. (2005) Entre o Português Antigo e Português Clássico. Lisboa: ImprensaNacional-CasadaMoeda,ColeçãoFilologiaPortuguesa.CASTILHO, Ataliba T. de; MORAES DE CASTILHO, Célia Maria. (2013) Aspectos da concordânciaverbalnoportuguêsmédio.InÁlvarezetalii (Eds.)Aosabordotexto:estudosdedicadosaIvoCastro.Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, Serviço de Publicacións eIntercambioCientífico,p.107-124.CASTRO, Ivo. (2012) Vésperas Brasilianas. In Santiago-Almeida; Lima-Hernandes (Orgs.)História doPortuguêsPaulista,SérieEstudos,Vol.III.Campinas:IELPublicações/FAPESP,p.45-72.MORAESDECASTILHO,CéliaMaria.(2013)Fundamentossintáticosdoportuguêsbrasileiro.SãoPaulo:Contexto.MORAES DE CASTILHO, Célia Maria. (2005) O processo de redobramento sintático no portuguêsmedieval: redobramento pronominal e a formação das perífrases de estar + -ndo/-r. Campinas: IEL,Unicamp,Tesededoutoramento.MORAESDECASTILHO,CéliaMaria. (2001) Seria quatrocentista o português implantadonoBrasil?EstruturassintáticasduplicadasemtextosportuguesesdoséculoXV.In:R.V.MattoseSilva(Org.),ParaaHistóriadoPortuguêsBrasileiro.Vol.II:PrimeirosEstudos,TomoI.SãoPaulo:Humanitas.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

134

SESSÃO 4. CONTACTO COM A VARIEDADE STANDARD EM PB

LER, ESCREVER E CONTAR NA BAHIA SETECENTISTA: ESCRIVÃES-DIRETORES COMO AGENTES DE LETRAMENTO INDÍGENA

PedroDanieldosSantosSouzaUniversidadeFederaldaBahia/UniversidadedoEstadodaBahiaNo âmbito das reformas promovidas pela Coroa portuguesa na segunda metade do séculoXVIII, oDirectorio, que se deveobservarnaspovoaçoensdos índios doPará, eMaranhaõ emquanto Sua Magestade naõ mandar o contrario – conhecido simplesmente comoDiretóriopombalinoouDiretóriodos índios – instituiuumapolíticadegestãodas línguasnaAméricaquepreviaaproibiçãodousodaslínguasindígenase,emparticular,dachamadalínguageral,comoumdosprincipaisinstrumentospara“civilização”dosameríndios.Emboraformado,em1757,paraoEstadodoGrão-ParáeMaranhão,apartirde1758,oDiretóriodireciona-seàoutracolônia portuguesa na América, o Estado do Brasil, até finalmente suas disposições seremrevogadaspormeiodaCartaRégiade12demaiode1798.NaaplicaçãodoDiretórioaoEstadodo Brasil, o Parecer de 17 de maio de 1759, exarado pelo Tribunal Especial do ConselhoUltramarino que se instalou na Capitania da Bahia, desempenhou um papel central, namedidaemquedirecionouasfunçõesdeDiretordeíndios,cargocriadopeloDiretório,paraosescrivães das Câmaras dos aldeamentos indígenas elevados a vilas. Sem deixar de lado apolíticadetutelaprevistanareforma,essaalteraçãotornouosescrivães-diretoresagentesdeletramentoindígena,responsáveisporensinaraler,escreverecontaraosmeninosemeninas.Napresentecomunicação, investigamosaatuaçãodosescrivães-diretoresqueadministraramas vilas de índios criadas nas antigas Capitanias de Ilhéus e de Porto Seguro, espaços quecompartilharem uma história social linguística em que o contato entre colonizadores epopulações indígenasduroupormais tempoemrelaçãoàCapitaniadaBahia, sededoVice-ReinadoeGovernoaté1763.PartindodostrabalhosdeCancela(2012),Marcis(2013)eSantos(2014)edaanálisededocumentaçãodoArquivoHistóricoUltramarino(AHU)edoArquivoPúblicodoEstadodaBahia (APEB),buscamoscompreender a atuaçãoe importânciadessesescrivães-diretores,abrindocaminhosdeinterpretaçãosobreaconstruçãodasvilasdeíndiosesuas implicações linguísticas, a partir domapeamento do cumprimento das orientações doDiretório quanto à abertura de escolas públicas e, em caso positivo, à sua extensão, assimcomo até que ponto estavam ou não generalizadas, o papel que desempenharam naeliminaçãodelínguaseculturasesecumpriramoobjetivodeensinaralereaescrever.Bibliografia:CANCELA, Francisco Eduardo Torres.De projeto a processo colonial: índios, colonos e autoridadesrégias na colonização reformista da antiga capitania de Porto Seguro (1763-1808). 2012. 337f. Tese(DoutoradoemHistória)–FaculdadedeFilosofiaeCiênciasHumanas,UniversidadeFederaldaBahia,Salvador,2012.MARCIS,Teresinha.AintegraçãodosíndioscomosúditosdoreidePortugal:umaanálisedoprojeto,dosautoresedaimplementaçãonaCapitaniadeIlhéus,1758-1822.2013.309f.Tese(DoutoradoemHistória)–FaculdadedeFilosofiaeCiênciasHumanas,UniversidadeFederaldaBahia,Salvador,2013.SANTOS,FabricioLyrio.Dacatequeseàcivilização:colonizaçãoepovosindígenasnaBahia.CruzdasAlmas:EditoraUFRB,2014.

História social, história da escrita, tradições discursivas, periodização

135

O PORTUGUÊS BRASILEIRO DE SÃO PAULO NO SÉC. XVII E NO SÉC. XVIII EM UM CORPUS HISTÓRICO DE TEXTOS: FONTES PARA O ESTUDO DA DIFUSÃO DE NORMAS

JosédaSilvaSimõesDepartamentodeLetrasModernas,FaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanas,UniversidadedeSãoPauloA análisedemanuscritos produzidosnoBrasil no séc.XVII eXVIII indica a convivênciadenormascultasdistintas:umanormadecorrentederenovadosinsumosdoPortuguêsEuropeuno território do Brasil Colônia e outra norma que já indicava algum tipo de autonomia emrelação à primeira, fruto de interações com outras línguas faladas no território brasileiro,nomeadamente línguas indígenas autóctones e línguas africanas. Estudar a história dapresençadalínguaportuguesanoBrasil implicanecessariamenteemescolherexemplaresdetextos que sirvam de pistas linguísticas mais fidedignas dessas influências, no sentido deconstruirumaespéciedesemióticasocial,medianteaanálisedeestratégiasderetextualizaçãode práticas sociais ligadas à comunicação política, administrativa, jurídica, econômica,filosófica, teológica, religiosa, literária, técnica, artesanal, militar, familiar, privada, etc. (cf.Oesterreicher1997,2001,2002,2004,2005e2011).AequipedoProjetoHistóriadoPortuguêsPaulista(PHPP)contaumcorpushistóricoconstituídodeedições filológicasdedocumentosmanuscritoseimpressoscoletadosdeacordocomcritériosbaseadosnospressupostosteóricosdomodelodeTradiçõesDiscursivas(Coseriu1994;Koch1997e2008;Oesterreicher,op.cit.;Kabatek 2006, entre outros). Este trabalho tem como objetivos a) apresentar estratégias decoletademateriaisinteressantesparaadescriçãodahistóriadadifusãodalínguaportuguesanoterritóriodaCapitaniadeSãoVicente,posteriormentedenominadaCapitaniadeSãoPaulo,apartirde1720,comoformadeofereceraospesquisadoresdahistóriadoPortuguêsBrasileiro(PB)emSãoPauloumagamadetextososmaisrepresentativospossíveisdasváriasnormasemconvivência em cada uma das sincronias a serem estudadas. Além disso, esta comunicaçãotem também como objetivo b) discutir fenômenos linguísticos específicos encontrados emdocumentosbrasileirosdoséc.XVIIedoséc.XVIII,taiscomoasestratégiasdeapagamentooupreenchimentodeespecificadores,deobjetosindiretosedesujeitos,bemcomoaescolhaporuma determinada posição dos adjetivos (anteposição ou posposição) em sintagmas, opreenchimentoouapagamentodeadvérbiosedereferentes,usodetécnicasdejunçãoatravésdeoraçõesreduzidasdeinfinitivoegerúndio,preferênciapelousodepreposiçõescomplexaseaté mesmo a variação da posição de clíticos em relação à norma europeia, atestadainicialmente em sincronias mais tardias (p.ex. séc. XIX), mas que agora, à luz de outrosdocumentosrecentementeagregadosaocorpushistóricodoPHPP,assimcomoaquelesoutrosfenômenos acima listados, já se configuram como elementos identificáveis no portuguêsbrasileiro seiscentista e setecentista. Essas evidências serão ilustradas a partir de exemplosretiradosdeexemplaresdegênerostextuaisdiversos,consideradosportadoresdenormaculta,emalgunscasospelomenosdeformaconcepcional:inventáriosetestamentos,atasdecâmara,cartas de data, cartas oficiais, cartas de administração privada ememórias históricas. Essesobjetivos procuram trazer subsídios para a discussão acerca de questões relacionadas àsemióticasocialdostextos,comoestas:emquemedidaamudançanosprocessosconstitutivosdos textos implica em mudança na língua? Uma tradição da escrita (fórmulas, gênerostextuais,tiposdetextos)podemudaremfunçãodalínguaespecíficanaqualsedifunde?

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

136

ENSINO MÚTUO NA PROVÍNCIA DA BAHIA NO SÉCULO XIX: O QUE REVELAM OS DOCUMENTOS

ErickNunesSantosUniversidadeFederaldaBahiaEstetrabalhoinsere-senocampodeinvestigaçãosobreahistóriasocial linguísticadoBrasil,no que tange à formação do português brasileiro, e o papel da escolarização (MATTOS eSILVA,2004),alémdedialogarcomospressupostosdahistóriadaculturaescrita(CASTILLOGÓMEZ, 2003). Mattos e Silva, no livro “Ensaios para uma sócio-história do portuguêsbrasileiro”(2004),apresentahipótesesdetrabalhopararecuperarumahistóriadoportuguêsbrasileiro.Entreessashipótesesestáo“campoquesemoveránareconstruçãodeumahistóriasociallinguísticadoBrasil”.Aautorapropõeduasvertentesdeinvestigação,sendoumadelasareconstruçãodahistóriadaescolarizaçãonoBrasil,atravésdaspolíticaslinguísticas,fossemasdosjesuítasimplementadasnoiníciodacolonizaçãonoBrasil,oufosseaimplementadapeloMarquêsdePombalapartirdasegundametadedoséculoXVIII.Ecomelesatreladosofatordemográficoque,emboranãosejacapazdeexplicarosproblemaslinguísticos,servemcomoindicadores para interpretar “os processos linguageiros ocorridos no Brasil”. (MATTOS eSILVA, 2004. p. 59). Sendo assim, sabe-se que o sistema educacional brasileiro passou pordiversasmudançasaolongodosséculos.MaséoséculoXIX,objetodenossapesquisa,emqueváriosforamosdecretos,leis,voltadosparaaeducação;também,foramdiversososmétodosde ensino existentes. Dentre esses métodos, houve um aplicado, no início desse século,difundido,primeiramente,naEuropa,intituladoMétodoLencasteriano,ouMétododeEnsinoMútuo.Esseconsistiaemconcentrarumagrandequantidadedealunosemumamesmasala,sobadireçãodeumsómestre,eaquelesquesedestacavamerampromovidosamonitores.Em pesquisas no Arquivo Público do estado da Bahia, foi possível encontrar um maço dedocumentos identificado pelo número e título “4006: Ensino elementar Ensino mútuo –Método Lencastriano”. Nesta compilação, podem-se encontrar documentos referentes aosanos de 1825 até o ano de 1859, nos mais variados gêneros documentais: relatórios aopresidente da província, pedido de ordenado, reclamação em relação a atraso de salários,inventários, pedidos demateriais didáticos, entre outros.Os objetivos gerais desta pesquisasão: identificar nos documentos domaço 4006 doArquivo público do Estado da Bahia, emquaisestabelecimentosocorreuaaplicaçãodessemétodo,noséculoXIX;qualaquantidadedealunosquefrequentavamessesespaços,ebuscarinformaçõesreferentesamateriaisdidáticose conteúdos de Língua portuguesa ensinados. Através das pesquisas, constatamos, nessaescola, uma expressiva popularidade e êxito. De certo que foi uma das poucas escolas doensino mútuo puro que perdurou por tanto tempo. Como procedimentos metodológicosusados na pesquisa, esses são de cunho qualitativo, pois documental e bibliográfico. Foramfeitasleiturassobreocontextohistóricodaregiãoestudada,utilizando-sedefontesprimáriase secundárias. Os dados foram coletados em arquivos públicos e bibliotecas do Estado daBahia, além de materiais digitalizados disponíveis em sites. Os resultados devem elucidarsobre a aprendizagem da escrita, nessa escola de ensinomútuo, em Cachoeira - Bahia, noséculoXIX.Palavras-chave:EnsinoMútuo;Cachoeira–Bahia;SéculoXIX.Bibliografia:MATTOSESILVA,RosaVirgínia.Ensaiosparaumasócio-históriadoportuguêsbrasileiro.SãoPaulo:Parábola,2004.175p.CASTILLOGÓMEZ,Antonio(2003).Historiadelaculturaescrita:ideasparaeldebate,RevistaBrasileiradeHistóriadaEducação,Campinas,n.5.

História social, história da escrita, tradições discursivas, periodização

137

SESSÃO 5. REGISTO ESCRITO E SOCIEDADE

DO LATIM GALAICO AO GALEGO-PORTUGUÊS

MariaAliceFernandesUniversidadedoAlgarveAidentificaçãodasorigenshistóricasdogalego-portuguêscomolatimvulgargalaicopertenceao filólogo e linguista alemão Joseph-Maria Piel (1989). A sua área original, denominadaGaléciaMagna,compreendequasetodaaGaliza,oocidentedasAstúriasearegiãoportuguesaentreoMinhoeovaledoVouga(Castro1988,2006).Segundooautor,essaáreacaracteriza-sepelasuaindividualidadelexical,dialetaletoponímica,querefleteumaantigalatinidadevulgargalaica,produtodaeficáciadaromanizaçãodaGALLAECIA,apesardasuacronologiatardia.

As conclusões de Piel podem hoje ser reinterpretadas no quadro das teoriassociolinguísticassobreosdiferentestiposdeprocessodevariaçãoemudança.Énessesentidoque,emborabrevemente,procurareidemonstrarqueolatimgalaicoseformaporkoineização,induzida pelo contacto entre colonos falantes de diferentes variedades latinas, e que a suadifusãoacompanhaaevoluçãodopovoamentoruralromanoedocristianismodesdeoBaixo-Império até ao final daAntiguidadeTardia, ambas contribuindopara a evoluçãohistórica econstruçãoespacialgalaica.ProcurareiigualmentedemonstraromodocomoaReconquistaserefletenasmudançaslinguísticasquedãoorigemaogalego-portuguêsedelimitamasuaáreaoriginal e como o regime senhorial leva a que o galego-português se torne o símboloidentitário da nobreza, razão pela qual é elaborado literariamente para servir de veículo daculturaaristocráticadonoroeste(Miranda,2012).Palavras-chave: latim galaico; Galécia Magna; galego-português; processos de variação e mudançalinguística.Bibliografia:BARROCA,M.(2003).DaReconquistaaD.Dinis.Organizaçãoterritorialerecrutamentomilitar.InM.T.Barata,&N.S.Teixeira(Edits.),NovaHistóriaMilitardePortugal,vol.1(pp.69-94).CasaisdeMemMartins:CírculodeLeitores.BRITAIN,D.(2010).Conceptualizationsofgeographicspaceinlinguistics.InA.Lameli,R.Kerhein,&R.Stefan (Edits.), Language and Space. An International Handbook of Linguistic Variation. Volume 2:LanguageMapping(pp.69-97).Berlin-NewYork:deGruiterMouton.CASTRO,I.(Ed.)(1988).SeteEnsaiossobreaObradeJosephMariaPiel.Lisboa:PublicaçõesdoInstitutodeLinguísticadaFaculdadedeLetrasdeLisboa.CASTRO,I.(2006).IntroduçãoàHistóriadoPortuguês,2ªed.Lisboa:EdiçõesColibri.LABOV,W. (2010).Principles of LinguisticChange.Volume 3:Cognitive andCultural Factors.Oxford,UK:Wiley-Blackwell.LÓPEZCARREIRA,A.(1997).IdadeMedia.InHistoriaXeraldeGalicia(pp.93-204).Vigo:NosaTerra.MILROY,J.(1992).LinguisticVariationandChange:onthehistoricalsociolinguisticsofEnglish.Oxford:BasilBlackwell.MIRANDA, J. (2012). O galego-português e os seus detentores ao longo do século XIII. E-Spania, 13[https://e-spania.revues.org/21084].PIEL, J.-M. (1989). Estudos de Linguística Histórica Galego-Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional -CasadaMoeda.QUIROGA, J.L.,&Lovelle,M.R. (1997).Unmodelodeanálisisdelpoblamiento rural enel valledelDuero(siglosVIII-X)apartirdeunespaciomacro-regional:lastierrasgalaico-portuguesas.AnuariodeEstudiosMedievales27,687-748.TRUDGILL,P.(1986).Dialectsincontact.Oxford-NewYork:BasilBlackwell.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

138

REFLEXOS DA PAISAGEM HUMANA E SOCIAL DA IDADE MÉDIA EM TEXTOS JURÍDICOS: FENÓMENOS DE INDIREÇÃO OU DE ATENUAÇÃO DISCURSIVA EM ATOS DIRETIVOS

ClaraBarrosCentrodeLinguísticadaUniversidadedoPorto,FaculdadedeLetrasdaUniversidadedoPortoAlargando o âmbito do estudo de textos jurídicos portuguesesmedievais de queme tenhoocupado, pretendo agora analisar emquemedida alguns desses textos legislativos projetamaspetosdapaisagemhumanaesocialcoeva.Comefeito,mesmoemtextosdeumtipomuitoespecífico, como os jurídicos, é possível analisar no discurso prescritivo, reflexos de umsistema de crenças e de valores inerentes ao código de comportamento de grupos sociaisespecíficos.AlgoquesepatenteianodiscursolegislativodeAfonsoX,oSábio,nomodocomoestáequacionadaa representaçãodoalocutárioematosdiretivos.Diferentementedeoutrostextoslegislativosmedievais(FloresdeDereyto,TemposdosPreitoseForoReal,porexemplo)emqueosatosprescritivossedirigemaagentesdaclassejurídica(oalcaide,ojuizeoutros)─nasPartidas,paraalémdessegrupocomfunçõesadministrativasjudiciais,surgemalocutáriosdeoutrosgrupossociaiscomoosclérigos,osnobres,osestudantes,os‘físicos’,oscavaleiros...GruposdequeoLocutorpretendetambémgeriroscomportamentos,emitindonormasgeraisquevisamassegurarasuacondutaadequadaemcircunstânciasespecíficas.Esseoutrotipodealocutáriosdodiscursolegislativoabrangepotencialmenteumamultiplicidadedeindivíduosedeperfissociais,aosquaissãoimpostasobrigaçõesdenaturezaético-moralenãoapenaslegal.Eénessamedidaqueostextosjurídicosprojetamumsistemadecrençasedevaloreseumaimagemdomundoedapaisagemhumanaesocialmedieval.

Continuando a fazer, no quadro teórico da pragmática histórica, uma abordagemlinguístico-discursiva de textos legislativos medievais, centro-me, nesta comunicação, naanálise de atos diretivos de âmbito e amplitude diversos, dirigidos a diferentes alocutários,procurando captar traços específicos da sua estruturação discursiva ─ nomeadamente apresençaouaausênciadefenómenosdeindireçãooudeatenuaçãodiscursiva─quepossamsercorrelacionadoscomosdiferentescenáriosemqueseprojetaarelaçãolocutor-alocutário.Bibliografia:BARROS,Clara (2010):VersõesPortuguesasdaLegislaçãodeAfonsoX–EstudoLinguístico-discursivo.Porto:UPortoEditorial.FERREIRA,JosédeAzevedo(1980):AlphonseX.PrimeyraPartida.ÉditionetÉtude.Braga:INIC.AfonsoX.ForoReal,EdiçãoeEstudo.Lisboa, 1987; JacobdeJunta.FloresdeDereyto.Edição,EstudoeGlossário.Braga,1989.FERREIRA, José de Azevedo. (2001): Estudos de história da língua portuguesa: Obra dispersa.OrganizadaporBrianF.Head,MariaAldinaMarqueseAidaSampaio.Braga:UniversidadedoMinho/CentrodeEstudosHumanísticos.KABATEK,Johannes(2008,ed.):Sintaxishistóricadelespañolycambiolingüistico:NuevasperspectivasdesdelasTradicionesDiscursivas.FrankfurtamMain/Madrid:Vervuert/Iberoamericana.MAIA,ClarindaA.(1996):“Aabordagemdostextosmedievais(Reflexõessobrealgunsfragmentosdas‘Partidas’deAfonsoX)”,Castro,Ivo(ed.)ActasdoXIIEncontroNacionaldaAssociaçãoPortuguesadeLinguística,Lisboa:AssociaçãoPortuguesadeLinguística,vol.II,157-170.MATTOSO,J.(Dir.)HistóriadaVidaPrivadaemPortugal–AIdadeMédia1.ºVolume-2011Ed:TemaseDebates.

História social, história da escrita, tradições discursivas, periodização

139

REFORMAS ORTOGRÁFICAS: PRÁTICAS SEM TEORIAS

LuizCarlosCagliariUniversidadeEstadualPaulistaJúliodeMesquitaFilhoALínguaPortuguesapassoupormuitasreformasortográficasdesdeosdocumentosmedievaisescritos até a escritadehoje.Dependendodopontode vista, algumas foramsentidas comoprofundas,algumascomoinaceitáveiseoutrascomoirrelevantes.Asrazõessãodiversas.DaIdadeMédia atéo séculoXIV, a escrita foi se transformandoatravésdeumconsenso tácitosobre como deveriam ficar as relações entre os sons da língua, em diferentes momentos elugares,eassuasrepresentaçõesortográficas,gerandoumaortografiadeconsensosocial.

A partir do século XIV e, sobretudo, nos séculos XV e XVI, aparecem as primeirasgramáticas(Oliveira,1936;Barros,1540)eosprimeirosortógrafos(Gândavo,1574;Leão,1576;Vera1631),todosassumindoumaautoridadecientíficaquelhespermitiaditarumaortografiaparaalíngua,cominevitáveiscorreçõesdeusosdaépoca.

Asinovaçõesdosestudiososvisam:1)corrigirerrostrazidospelahistória;2)aproximaraescritaalfabéticadeumapronúnciaconsideradaidealparaareforma;3)facilitarumaescritaea leitura nosmoldes contemporâneos, deixando para trás as antigas escritas da língua. NoséculoXVIII,ortógrafoscomoFeijó(1734),Verney(1746),entreoutros,passaramacuidarmaisdasrelaçõesentreletrasesons,atualizandovelhasgrafias,deacordocomseusentendimentossobreoassunto.Atéaquelemomento,aspropostasdereformaouforamignoradasouaceitassemmuitoquestionamento.Porémdo séculoXVIII aoXX, formaram-sedois timesopostos,um querendo uma ortografiamais fonética (ou sónica) e outro querendo recuperar formasantigas de escrever, por julgarem-nas mais eruditas e apropriadas para uma escrita formal(Gonçalves,2003).

No finaldoséculoXIX,osestudos linguísticos já tinhampassadopeloscomparativistas,pelos neogramáticos, pelos dialetólogos e começo da linguística moderna. Esses linguistasfaziammuitas transcrições fonéticas e isso motivou alguns ortógrafos a fazer ver que umaortografiadebasefonéticaeramuitomelhordoqueumaescritadelembrançasfilológicas.Aortografiasaidodomínioacadêmicoepassaaserobjetodelei(CASTRO,DUARTE,LEIRIA,1987).Comissõessãoformadasparaprocederamasdevidasreformasquecomeçaramem1910e,passandopordiferentesacordos,chegarematéoacordode1990-2009,implementadasnospaísesdeLínguaPortuguesa(BR:2013;PT:2015)

Durantetantosséculosdereformas,oquemenossediscutiufoianaturezaeasfunçõesdossistemasdeescritae,emparticular,dosistemaalfabéticoedeseusistemaortográfico.Asreformaspoderiamserdiferentes,setaisconhecimentosestivessempresentes.Aortografiaéumsistemadeescritamaisimportantedoqueoalfabeto.Éosistemaqueexisteparaevitaravariação dialetal na escrita e, dessemodo, permitir que cada um leia em seu dialeto. Se oobjetivomaisimportanteépermitiraleitura,ossistemasalfabético-ortográficosnãodeveriamse preocupa com reformas (SILVA, 2009; CAGLIARI, 2009, p.17-52). Muitos problemaseducacionaiseculturaisexistemporqueaspessoasnãosederamcontadeconceitosbásicosdossistemasortográficos.

Palavras-chave:SistemasdeEscrita;ReformasOrtográficas;TeoriadaOrtografia.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

140

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS PARA A ELABORAÇÃO DE UM CORPUS DIACRÔNICO: ENTRE A CRÍTICA TEXTUAL E A HISTÓRIA SOCIAL

LilianBorbaUniversidadeEstadualdeCampinasEstetrabalhotemcomoobjetivoprincipaldiscutirproblemaseprocedimentosmetodológicosrelativosàediçãocríticadeartigosdeCândidodaFonsecaGalvão,oD.ObáIId’África(1838-1890).Comoproblemasparaaelaboraçãodestecorpusdiacrônicopode-secitar:dispersãodedocumentos, dúvidas sobre a autoria emartigos e questões referentes a diferençasde estiloencontradasnostextos.Entende-sequeotrabalhocomfontesdesincroniaspassadascolocaanecessidade de se estabelecer uma abordagem interdisciplinar. A presente investigação seconstitui emumestudode caso cujo lugar teórico é a sociolinguística histórica.Apesquisadialoga com estudos relacionados à história social, corrente historiográfica que se interessaporváriosaspectosdocotidianodediversificadosagentesdahistória,sobretudodaquelesqueparticipam da história em papéis subalternizados, a chamada história vista de baixo. Essaabordagemhistoriográficapropiciaapoiometodológicoà investigaçãolinguísticaqueanalisatambémosmodosdeparticipaçãonacultura letradadosujeitodapesquisa.Comrelaçãoaométododeanálise,aabordagempropostaéserialeintertextualcomopropõeSchlieben-Lange(1993)umavezqueGalvãopublicoudiversosartigosemjornaisdofimdoséculoXIX–oquenesta pesquisa constitui uma série.Os resultados prévios desta investigação fazemparte dapesquisaintitulada“PronunciamentosdeD.ObáIInosjornaisdaCorte:fontesparaahistóriada escrita de afrodescendentes no século XIX”. Pesquisa esta desenvolvida junto ao projetotemático A língua portuguesa no tempo e no espaço: contato linguístico, competição degramáticasemudançaparamétrica(TemáticoFapesp2012/06078-9).Bibliografia:BARBOSA, A.G. Tratamento dos Corpora de sincronias passadas da língua portuguesa no Brasil:recortesgrafológicose linguísticos.In:LOPES,C.R.dosS.(Org.).ANormaBrasileiraemConstrução:fatos linguísticos em cartas pessoais do século XIX – Rio de Janeiro: UFRJ, Pós-Graduação em LetrasVernáculas: FAPERJ. 2005. Disponível em: <http://www.letras.ufrj.br/posverna/docentes/71719-1.pdf>Acessoem:31jan.2017.GALVES,C.Posfácio.In:LOBO,T.eOLIVEIRA,K.[orgs.]Áfricaàvista.DezestudossobreoportuguêsescritoporafricanosnoBrasildosecXIX.Salvador:EDUFBA.2009MARQUILHAS,R.Entreaediçãohistoriográficaeaediçãolinguística,ActasdoEncontrosobreEdiçãodefontesdosséculosXVIIeXVIII,FaculdadedeLetrasdaUniversidadedeLisboa,11-12deDezembrode2008,JoãoLuísLisboaetal.(eds.),12pp.Disponívelem:<http://www.clul.ul.pt/files/rita_marquilhas/MarquilhasEdicoes.pdf>Acessoem:31jan.2017.OLIVEIRA, K. Ajuntamento de fontes para a história do português popular brasileiro: amores,desamoreseoutrasespéciesdedores.Cad.Est.Ling.,Campinas,50(2):217-230,Jul./Dez.2008.Disponívelem:http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/cel/article/view/1497/1060Acessoem:31jan.2017.SCHLIEBEN-LANGE,B.Históriadofalarehistóriadalinguística.TARALLO,F.etal.(Trad.).Campinas:EditoradaUNICAMP.1993.

141

HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA, PEDAGOGIA, TRADUÇÃO

SESSÃO 1. ENSINO DE LÍNGUAS

ATLAS SEMÂNTICO-LEXICAL E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

RitadeCássiadaSilvaSoaresUNIAN-SP;GPDG-USP;GPS-UFUYukoTakanoUnB;GPDG-USP;GPS-UFUPara essa comunicação oral, apresentaremos os itens lexicais, fruto das respostas dadas àquestãonúmero217doQuestionárioSemântico-LexicaldoProjetoAtlasSemântico-LexicaldeSãoPaulo,desenvolvidopeloGPDG,naUSP:“...amisturadebebidas,geralmentetomadapela manhã, quente, na padaria?”. O propósito é mostrar como a variedade lexical dossujeitosdaregiãodagrandeSãoPauloocorre,apartirdaanálisedasrespostasapresentadaspelossujeitos-entrevistadosdeambosgênerosededuasfaixasetárias.Paraessacomunicação,osexemplosforamretiradosdoAtlasSemântico-LexicaldaRegiãoNortedoAltoTietê(ReNAT)- São Paulo. O atlas apresenta os falares, isto é, realizações linguísticas de agrupamentoshumanos que podem ser associadas a uma realização semântico-lexical própria da região,definida coma escolhadeum item lexical.A linguagem reflete e refrata as escolhas deumsujeitoque, por sua vez, está situadonumahistória, numespaço social, numa cultura. Essesujeito é influenciado por outros discursos e expressa suas preferências, escolhas, opiniões,crenças, valores, ideologias sobre umdeterminado assunto ou objeto. E, também, recorre aumamemória discursiva, que faz parte do interdiscurso. Acredita-se que cada comunidadeapresenta características e especificidades linguísticas, denotando a identidade histórica ecultural dos sujeitos, que se desenvolve, sobretudo, nosmomentos de interação. Dada essacaracterística,conheceravariedade linguísticaeumacomunidadedefalapoderáauxiliarnoprocessodeensinoeaprendizagemdeumalíngua,pois,seoensinodeLínguaPortuguesanãofor associado a esse contexto, tende a se afastar da realidade linguística dos discentes,causando-lhesodesinteresseporaprender.Palavras-chave:Variação;Discurso;EnsinodeLP.ReferênciasBibliográficasDIJK,TeunA.van.DiscursoeContexto:umaabordagemsociocognitiva.Trad.RodolfoIlarti.SãoPaulo:Contexto,2012.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

142

LABOV, William et al. Trad. Marcos Bagno. Fundamentos Empíricos para uma Teoria da MudançaLinguística.3ed.SãoPaulo:Parábola,2015.RIBEIRO, Branca Telles; GARCEZ, Pedro M. (Org.) Sociolinguística Interacional. São Paulo: EdiçõesLoyola,2002.SANTOS,IrenildePereirados;CRISTIANINI,AdrianaCristina.Sociolinguísticaemquestão:ReflexõeseAnálises.EditoraPaulistana,2012.SOARES,RitadeCássiadaSilva.AtlasSemântico-LexicaldaRegiãoNortedoAltoTietê(ReNAT)-SãoPaulo.(TesedeDoutorado).SãoPaulo:FFLCH/USP,2012.AÇÕES DIDÁTICAS PARA AMPLIAÇÃO DO VOCABULÁRIO

M.SuzettBiembengutSantadeUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro/SELEPROT/FMPFMeFIMI-MogiGuaçu-SPDarciliaSimõesUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro/SELEPROTVisando a auxiliar as práticas didáticas no que tange ao desenvolvimento do repertóriodiscente,vimosdesenvolvendopesquisasemquetestamosestratégiasquevêmsemostrandoprodutivas.Certasdequealeituraéfontedeaquisiçãodepalavraseexpressões,iniciamosotrabalhoestimulandoaleituradetextoscurtos(minicontosecrônicas),paratreinarapráticaleitora. Observando a dificuldade de leitura com compreensão, constatamos que os textoscurtos (preferencialmente humorísticos) são lidos na íntegra e que palavras e expressõesdesconhecidassãoindicadaspelosleitores.Então,partimosparaaconstruçãodeumglossário.Inicialmente,produzem-selistasdepalavrasebuscam-seseussignificadosemdicionários.Emseguida,tenta-sesubstituirnotextoaspalavras-problemaporalguma(s)acepção(ões)obtidasnapesquisa.Entãosedeflagrao trabalhodecompatibilizaçãosemânticaeestilística,poisàsvezesnenhumadasacepçõesdicionarizadascorrespondeaosignificadoinscritonotextolido.Apartirdaí, tem inícioaorientação técnica.Apresentam-seasemânticaeaestilísticacomociências auxiliares da escolha e do emprego de palavras/expressões. Por conseguinte,desenvolve-se um estudo sobre vocabulário, acepções, inexistência de sinonímia perfeita,possibilidadededarnovosignificadoaumitemléxicocomauxíliodasemânticaedaestilística.Roteiro: (1)oensinoda leituranãoestáseconcretizando.Alunoschegamà faculdadesemaindispensávelcompetêncialeitoraecomumrepertórioreduzidíssimo.(2)amultiplicidadedecódigose linguagensqueoraencontramosnos textosexigeumsuporte teóricomaisamplo,que dê conta disso. O avanço cibernético facilita a produção de textos sincréticos em querecursos não verbais se associam aos verbais na construção de signos complexos. (3) osprojetos devem fornecer suporte metodológico e prático para o ensino da leitura e daproduçãodetextos;e(4)paragostardeleréprecisopraticar.Portanto,énecessáriorealizarpráticasdeleituraemvozaltaemsalaparaque,comaajudadaentonação,daexpressividade,a curiosidade seja despertada. Esse roteiro é cumprido sob a orientação semântica de: (a)Ullmann (1964) ‒ palavras transparentes e opacas; (b) Simões (2008; 2010) ‒ iconicidadelexical;e,(c)BiembengutSantade(2006;2014)‒leituraeproduçãodotextoinformalaotextoformal. A comunicação se pauta na crença de que o trabalho do léxico é ferramentaindispensávelnaaquisiçãodedomíniodalínguaemsuaamplitude.Referências:BIEMBENGUT SANTADE, M. S. (2006). A palavra e o desenho: uma interação da semântica e dasemióticanaaprendizagemdalíngua.PesquisadePós-Doutoramento,InstitutodeLetrasdaUERJ-RiodeJaneiro.BIEMBENGUTSANTADE,M.S.(2014)DotextoinformalaotextoformalnasaulasdoEnsinoSuperior.XVIIALFAL,JoãoPessoa-PB-Brasil.Acessoem:22mar2017.

Historiografia linguística, pedagogia, tradução

143

Disponívelem:http://www.mundoalfal.org/CDAnaisXVII/trabalhos/R0905-1.pdfSIMÕES, D. (2008). O percurso semiótico da leiturização e da textualização. In: SIMOES, D. (Org.)Mundossemióticospossíveis.RiodeJaneiro:Dialogarts,pp.101-112.SIMÕES, D. (2010). Contribuições para desenvolvimento do domínio lexical. Acta Semiótica etLinguística-Vol.15–Ano34–N°2,pp.101-116.ULLMANN, S. (1964). Semântica: uma introdução à ciência do significado. 4. ed. Lisboa: CalousteGulbenkian.INTERFACES ENTRE A HISTÓRIA DAS LÍNGUAS E A INTERCOMPREENSÃO EM LÍNGUAS ROMÂNICAS

FranciscoCalvodelOlmoUniversidadeFederaldoParanáKarineRochadaCunhaUniversidadeFederaldoParanáNossa comunicação tem por objetivo explorar as interfaces existentes entre duas áreas daLinguística: aHistória da Língua e a Intercompreensão entre as LínguasRomânicas (ICLR).Por um lado, a ICLR se enquadra dentro dos chamados Enfoques Plurais para o Ensino deLínguas e pode ser definida como a forma de compreender e fazer-se compreensível entrelínguas damesma família usando estratégias cognitivas emetacognitivas que se beneficiamdospontoscomunsentreaslínguasemquestão.Poroutrolado,aHistóriadaLínguaseocupatantodeestudarasmudançasnosdiferentesníveisdalínguadentrodoseueixodiacrónico-história interna - como de traçar o percurso das suas comunidades de falantes - históriaexterna. Cabe lembrar que os processos de mudança se originam em um determinadocontexto social ou geográfico desde onde podem crescer gradativamente até abranger oconjunto da comunidade de falantes. Consequentemente uma inovação não substitui asformas antigas precedentes no momento em que surge e, desse modo, formas em desusocontinuam a ser compreendidas de maneira passiva durante algumas gerações antes dedesaparecerem.Taisformasrecebemonomede‘arcaísmos’epermeiamosdiferentessistemasda língua.Nesta exposição centraremos a atenção no nível lexical. As normas padronizadasdaslínguasromânicas,entreelasadoportuguês,formaram-sesobreocontinuumdefalaresdaRomania.Assim, cognatosde formas consideradas arcaicas (oumuitas vezesdeum registromuitoaltoe/ouespecíficodeumaárea)pelanormadoportuguês,podemtermantidoasuavigênciausualemoutraslínguas.Dessaforma,oadvérbioassezdofrancês,cognatodeassazem portuguêsmantém a sua vigência; omesmo acontece com o substantivo italiano scopo(escopo em pt); ou ainda com o substantivo espanhol falda (falda em pt). Esses exemplosrepresentampalavrasdasrespectivaslínguaseumaprendizpodedeparar-secomosmesmosentre os níveis A2 e um B1 do Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas.Pretendemosapresentareproblematizaroutrosexemploseconcluirtraçandointerfacesentrea ICLR e a História da Língua como um espaço aberto de conhecimento de estágios maisantigosdoportuguês,acessíveisprincipalmenteatravésdetextosliterários,oquepermiteumaaproximação às outras línguas românicas e, vice-versa, possibilitando a compreensão deregistrospoucousuaisdoPortuguês.Palavras-chave:línguasromânicas;intercompreensão;históriadalíngua;arcaísmos;variantes.ReferênciasBibliográficas:BASSETTO,B.F.(2005).ElementosdeFilologiaRomânica.Vol.IeII.SãoPaulo:Edusp.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

144

BLANCHE-BENVENISTE,C.(2008).Aspetti lessicalidelconfrontotralingueromanze.Esisteunlessicoeuropeo? InM.Barni,D.Troncarelli&C.Bagna(coord.)(2008).Lessicoeapprendimenti: Ilruolodellessiconellalinguisticaeducativa(pp.47-66).Milano:FrancoAngeli.JANSON,T. (2015).Ahistóriadas línguas:uma introdução.Trad.MarcosBagno.– 1.Ed.–SãoPaulo:ParábolaEditorial.TEYSSIER,P. (2012).Comprendre les languesromanes–Methóded’Intercompréhension–du françaisàl’espagnol,auportugais,àl’italianetauroumain.Paris:Chandeigne.

SESSÃO 2. HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA

A DEMANDA DA ORTOGRAFIA MIRANDESA: ENTRE A NORMA, A CONVENÇÃO E O FLORESCIMENTO

AntónioBárboloAlvesCentrodeEstudosemLetras–UniversidadedeTrás-os-MonteseAltoDouroA línguamirandesacomeçouaescrever-se,de formasistemática,emfinaisdoséculoXIX.Aprimeira“proposta”ortográfica foiesboçadapelofoneticistaAnicetoR.GonçalvesViana,em1894, num breve texto introdutório à publicação do Evangelho de S. Lucas, numa primeiraversãomirandesa, feitaporBernardesFernandoMonteiro,naRevistadeEducação eEnsino.Em 1900e 1901,LeitedeVasconcelospublicouos seusEstudos sobreomirandês,nosquais,comjustificadapreocupaçãocientífica,seiniciaumatradiçãofoneticista,quesobrecarregavaarepresentaçãográfica,prejudicavaa reproduçãoedificultavao acessoao texto.Ao longodequase todoo séculoXXospoucos “escritores” em línguamirandesa seguiramas pisadasdofilólogo, esforçando-se por guardar uma transcrição tão foneticista quanto possível. Talpreocupação traduziu-se em poucas vantagens e muitos prejuízos. Assim, em 1993, nasequênciadasconclusõesdoEncontrodaAssociaçãoPortuguesadeLinguística,realizadoemMirandadoDouro, iniciaram-seos trabalhos tendentesàelaboraçãodeumaConvenção–enão de uma Norma, como referiu Isabel Hub Faria – nos quais participaria muitodeterminantemente,IvoCastro.Em1995foipublicadaumaprimeiraPropostaque,depoisdecolocadaemdiscussãopública,resultarianaConvenção,editadaem1999.Umanomaistarde,esta sofreria a primeira e única adenda. A “demanda da ortografiamirandesa”, tomando deempréstimo um título ao professor Ivo Castro, pretende traçar um pouco da história daortografiamirandesa, da suaprocura, da forma comoos falantes e escreventesdomirandêsaceitaram e se reviram nos critérios então definidos, e ainda aduzir alguma atestaçãodocumental antiga que tenha entretanto vindo confirmar algumas opções tomadas. Numplano sincrónico, pretendemos igualmente reflectir sobre uma das “aspirações” consagradasnaquele documento, averiguando de que forma a ortografia contribuiu ou não “para apermanênciadomirandêscomolínguaviva”.Palavras-chave:mirandês;ortografia;normalinguística. Bibliografia:AA.VV. (1999),Convenção ortográfica da línguamirandesa,CentrodeLinguísticadaUniversidadedeLisboa,CâmaraMunicipaldeMirandadoDouro,1999.VASCONCELOS,JoséLeitede(1900),Estudosdephilologiamirandesa.Lisboa:ImprensaNacional.HERRERAS,JoséCarlos(Dir.)(2003),Normelinguistiqueetsociété.Valenciennes:PressesUniversitairesdeValenciennes.

Historiografia linguística, pedagogia, tradução

145

PURISMO, LUSISMO E AUTONOMISMO NA LINGÜÍSTICA GALEGA CONTEMPORÁNEA: UNHA APROXIMACIÓN HISTORIOGRÁFICA

GabrielRei-DovalUniversidadedeWisconsin-MilwaukeeEstapresentacióntencomoobxectivoanalizarasvisiónspuristasxurdidasnodebatesobreaestandarización da lingua galega entre 1970 e a actualidade. Tras analizar brevemente osantecedentes desta situación, trazarase o desenvolvemento dos puristic idioms (Neustupny1989)ouexpresiónsdiscursivaspuristasdocumentadasnodebateacontecidonoúltimomedioséculoenGalicia.

Seránobxectodeanáliseasafirmaciónsmetalingüísticasrealizadasparaapoiarasformasgalegas supostamente exitosas e para rexeitar as formas corrixidas. Os textos obxecto deanálise serán as obras lingüísticas principais tanto da perspectivaoficialou autonomistadoInstituto da Lingua Galega e a Real Academia Galega, coma do punto de vista lusista oureintegracionistadefendidopolaAsociaçomGalegadaLíngua,aAcademiaGalegadaLínguaPortuguesaeorganizaciónsafíns.

Esteestudoprocuraráresolversedesdeaperspectivagalegaasprincipaisargumentaciónspuristasseproducennoeixocorrectovs.incorrecto,seexistenounonetiquetassistemáticaspara caracteriza-las formasproscritas, se as avaliaciónsnegativas superanaspositivas e seorexeitamentodasformasrexeitadasseproducedexeitodirectooubaixooutrosargumentariosnon-expresos.Asímesmo,analizaraseautilización,posible combinacióne interacciónentrerazoamentos relativos á historia da lingua, o uso espontáneo contemporáneo, a variacióndialectaleaharmoníacodominiolingüísticoluso-brasileirocomoxustificacióndaspropostasnormativasedorexeitamentodasformasproscritas.

Tras realizar esta análise na historia da lingüística galega recente, procurarase situarbrevementeestedebateenperspectivacomparadacosestudossobreopurismoexistentesnalingüísticaportuguesacontemporánea,enparticularnocontextobrasileiro(Leite1999).Bibliografía:LEITE, Marli Quadros (1999).Metalinguagem e Discurso: a Configuração do Purismo Brasileiro. SãoPaulo:Humanitas.NEUSTUPNY,J.V.(1989).“Languagepurismasatypeoflanguagecorrection”,inJernudd,BjörnH.&MichaelJ.Shapiro:ThePoliticsofLanguagePurism.DeGruyterMouton,211-224.A ANALOGIA EM VARRÃO E EM FERNÃO DE OLIVEIRA: UMA ABORDAGEM CONTRASTIVA

AntonioCarlosSilvadeCarvalhoUniversidadedeSãoPauloOescopodotrabalhoécotejarcomoessesdoisgramáticosinauguraislidaramcomaanalogia,conceitoquefiguracomoumadasseispartesdaprimeiragramáticadoOcidente,adogregoDionísioTrácio.Varrão,quecombinouosestudosdeCleantes,daescoladePérgamo,comosde Aristófanes de Bizâncio, da escola de Alexandria, escreveu vinte e cinco livros de teoriagramatical “Sobre a Língua Latina”, tendo remanescido os livros V ao X; os três últimosdedicou-os à controvérsia entre analogistas e anomalistas, destinando o livro VIII aosargumentos contrários à analogia, o livro IX aos contrários à anomalia, e o livro X, a suaopinião pessoal sobre a analogia (Pagliaro). Destacamos algumas características desse

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

146

material:Varrãoavalizatantooseguimentodaanomaliaquantodaanalogia,talvezporsentira circunstância histórica que exigia a sistematização do uso da língua, por Roma alçar-se acentro de uma civilização; quando esses conceitos são colocados no plano da análise dainclinatio “flexão”,passandosejapelaquestãodaformasejapeladafunçãodaspalavras,porvezes, ocorre certo deslocamento de ambos, e a anomalia passa a sugerir o desvio peladessemelhançaeaanalogia,pelasemelhança;Varrãoevitoutrasladarotermogregoanalogia,diferentemente de Nebrija, v. g., que o substitui por proporcion “proporção”. Por sua vez,Oliveira se reporta à antiga controvérsia grega muita vez em consonância com Varrão —considerandoaoposiçãoregularidade-irregularidade—,mas,paraCoseriu, indoalémdeste,pornãoselimitaraestabeleceranalogiaseanomalias,antes,concebendoalínguacomodoisprocedimentos concorrentes do mesmo nível do uso linguístico (Oliveira). Para nós, quelidamoscomconceitoscomohorizontederetrospecçãoehorizontedeprojeção,própriosdahistoriografia linguística (Auroux), importa explorar nuanças entre suas obras, para checarsuas fontesdiretase indiretas,alémdeperquirir sobrea influênciaqueexerceram juntoaosautoresparaosquais serviramde fonte,porque, sendoosprimevos, tiveramnecessidades eatuaisparticularmentedistintas.Porexemplo,aoabordaracategoriagramaticaldenúmero,Oliveirafalaemdeclinação,termomaisprópriodelínguassintéticas,comoogregoeolatim;logo, podemos divisar aí um momento em que a língua portuguesa, analítica, exige umametalínguamaisadequadaàssuasurgências.Palavras-chave:Analogia;Varrão;gramáticalatina;FernãodeOliveira;gramáticaportuguesa.Referências:AUROUX.Aquestãodaorigemdaslínguas,seguidodeAhistoricidadedasciências.Campinas:EditoraRG,2008.COSERIU.Teoriada linguageme lingüísticageral: cincoestudos.Riode Janeiro:Presença;SãoPaulo:EDUSP,1979.KEIL.Grammaticilatini.Lipsiae:Tevbneri,8vol.,1866.KENT.Varro:onthelatinlanguage.V.I-II.Cambridge:HUP,1977-1979.LEITE.Onascimentodagramáticaportuguesa–uso&norma.SãoPaulo:Paulistana/Humanitas,2007.NEBRIJA.Gramáticacastellana.Madrid:FundaciónAntoniodeNebrija,1992.PAGLIARO.Sommariodilinguisticaarioeuropea.vol.IRoma:TipografiaPoliglotta,1930.OLIVEIRA. Gramática da linguagem portuguesa (1536). Edição crítica, semidiplomática e anastática:Amadeu Torres e Carlos Assunção; estudo introdutório: Eugenio Coseriu. Lisboa: Academia dasCiênciasdeLisboa,2000.UHLIG.Grammaticigraeci.Lipsiae:Teubneri,1979.PARA UMA EDIÇÃO DA PRIMEIRA GRAMÁTICA DE PORTUGUÊS PARA ITALIANOS (1647?)

MonicaLupettiDipartimentodiFilologia,LetteraturaeLinguistica–UniversitàdiPisaComotivemosaoportunidadedeassinalaremoutrasocasiões(Lupetti2013e2014),ostextosmetalinguísticosquemarcamocontactoentreoportuguêseoitaliano–apesardasfrequenteseprofícuasrelaçõesculturaisepolíticasentreosdoispaíses–sãoescassospelomenosatéametadedoséculoXIX.Nomeadamente,asgramáticasdeportuguêspensadasparaopúblicoitalófonosãomuitomenosnumerosasdasque forampublicadasemItáliaparaoensinoeaaprendizagemdeoutraslínguas(inglês,francês,espanhol).

ORistrettodigrammaticaportogheseadusodeiMissionaridiPropaganda,redigidopelopadre Paolo G.M. G., sai em Roma em 1846, em apoio ao complexo sistema educativo daordem dos Jesuítas, reconstituída pelo papa Pio VII em 1814; segui-lo-á a tradução da

Historiografia linguística, pedagogia, tradução

147

gramática filosóficade JerónimoSoaresBarbosa, adaptada aousodos italianosporAntonioBernardini,queapublicaemTriesteem1859.ApenasentrefinaisdeOitocentoseoiníciodeNovecentos criam-se contextos institucionais que favorecem a total afirmaçãoda prática deensinodoportuguês.Osmanuaisquesaemnestaépoca,sebemcomlimiteseporvezesatécom lacunas,contribuemparaodesenvolvimentoemchavemodernadosestudoshistóricosdo português, em relação, por um lado, à institucionalização da Filologia Românica naacademia italiana e, pelo outro, à consciência do papel que o português vinha desenvolvercomo língua veicular na circulação internacional de mercadorias e de pessoas, e ainda, naformaçãodanovanaçãobrasileira.

A Introduttione alla lingua portoghese,manuscrito até agora de autoria incerta, datado1647,constituiumaparcialexceçãoàpanorâmicaatéaquiesboçada.Conserva-senaBibliotecaNacionaldeNápoles(cotaIE35)ecompõe-sedenoventaeumapáginasnumeradasalápis,medindo14x21cm.TemosnotíciasdeleapenasgraçasaoInventariodeiManoscrittidellaRealBibliotecaBorbonica(tambéminédito)eoúnicoestudoatéagorapublicadodeve-seaErildeReali(1963).

Nesta comunicação visamos fornecer novos elementos para a reconstrução de umcontextosócio-culturalmaispormenorizado,oferecendoinformaçõesúteisparamelhortraçara identidade do autor da Introduttione. Com base nos estudos de história do ensino daslínguas(1993,20002)edasmetodologiasaplicadasnessecontexto,onossoobjetivoétambéminvestigarsobreavertentedidáticadaobraemquestão,abordandosejaasuacaranormativasejaadialogal,analisandoasfontesdiretaseindiretasdocorpusconversacionalerefletindo,finalmente,sobremaisumaspetorelevante:operfildosseusrecetores.

Palavras-chave:históriadoensinodaslínguas;gramáticasdeportuguês;filologia.Referências:Claude GERMAIN (1993), Évolution de l'enseignement des langues: 5000 ans d'histoire, Paris, CLEInternational;MonicaLUPETTI (2013),«Tradurreper imparare: il ruolodella traduzioneneimanualidi italianoperlusofoni(sec.XVIII-XX)»,Traduzioneeautotraduzione:unpercorsoattraversoigeneriletterari,MonicaLUPETTIetValeriaTOCCO(eds.),Pisa,Ets,219-242;Monica LUPETTI (2014), «O Thesouro de Antonio Michele: tradição e inovação metodológica nadidácticadoitalianoparaportugueses»,DosAutoresdeManuaisaosMétodosdeEnsinodasLínguaseLiteraturas Estrangeiras em Portugal (1800-1910), Sónia Duarte, Fatima Outerinho Rogelio Ponce deLeónRomeo (eds.), Porto, Edições da Faculdadede Letras daUniversidadedoPorto e doCentro deLinguísticadaUniversidadedoPorto,99-115.Erilde REALI (1963), «La prima “grammatica” italo-portoghese», Annali dell'Istituto UniversitarioOrientale,V,1,227-276.Aquilino SÁNCHEZ PÉREZ (20002), Los Metodos en la enseñanza de idiomas. Evolución Histórica yanálisisDidáctico,Madrid,SociedadGeneralEspañoladeLibrería.GiuseppeTAVANI (1958), «Grammatiche portoghesi ad uso degli italiani (contributo alla bibliografiadeglistudiportoghesiinItalia)»,FilologiaRomanza,V,1,17,438-458.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

148

SESSÃO 3. PATRIMÓNIO LINGUÍSTICO

WILHELM STORCK E CAROLINA MICHAËLIS DE VASCONCELOS. TRÊS DÉCADAS DE CORRESPONDÊNCIA INÉDITA

PhilippKampschroerCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaWilhelmStorck (1829-1905), Professor daUniversidadedeMünster, eCarolinaMichaëlis deVasconcelos (1851-1925), eruditaalemãnaturalizadaemPortugal,dedicarampraticamenteassuas vidas inteiras ao estudo da poesia de língua portuguesa, e, em trabalhos aos quais otempo e o rigor deram a certidão, contribuíram para a profissionalização da filologiaportuguesanoséculoXIX.Entreosprojetosconjuntosdosdoisalemãesdestaca-seatraduçãoportuguesa de Luis’ de Camões Leben (1890), a extensa biografia camoniana de Storck, queCarolinaMichaëlis,comnumerososacrescentamentosecorreções,verteuparaportuguês.

ComoStorckeMichaëlisseencontravamseparadospormilharesdequilómetros,amaiorpartedointercâmbioentreelesrealizou-seporcartas.Nacomunicaçãoapresentaremos,pelaprimeiravez,estapreciosacorrespondência,conservadaemMünstereCoimbra,quecontinua–apesardoseuvalorparaahistóriadafilologia–atéagorainédita.

Esta correspondência “nasce” da entre Storck e o marido de Michaëlis, Joaquim deVasconcelos,fluentenalínguaalemã,queapoioueincentivouStorckaprosseguircomasuatradução deCamoens Sämmtliche Gedichte (1880-1885). Michaëlis, a certa altura, assume opapelde“co-remetente”e“co-autora”nessatrocademissivas,até,em1880,passaracartear-sediretamentecomStorck,intercâmbioquesemanteráatéàmortedocamonista.

Apontaremos os dados gerais e alguns problemas (cartas desaparecidas de Storck;dificuldades de leitura) da correspondência, para de seguida expor uma série de temastratadosnascartas.Dar-se-ádestaqueàdiscussãodasrecensõesdeMichaelissobreatraduçãocamonianadeStorck(1880-1884),àmediaçãodeMichaelisentreStorckeAnterodeQuental(1886-1887) e a relatos pessoais de Michaëlis, que ilustram tratar-se não só de umrelacionamentoentreacadémicos,masdeumaligaçãoafetivaeíntimaentredoisamigos.Palavras-chave:Históriadaciência;relaçõesluso-alemães;filologiacamoniana;AnterodeQuental.Referências:CASTRO, I.; RODRIGUES-MOURA, E.; VIEIRA, Y. F. (2008). Cartas a três. CarolinaMichaëlis entreLeiteeSchuchardt.Oarqueólogoportuguês,4,26,451-470.DELILLE,M.M. G. (2001). CarolinaMichaëlis de Vasconcelos 1851-1925): “intermediária nata entre aculturaneolatinaeagermânica”.RevistadaFaculdadedeLetras[Porto],XVIII,33-48.KAMPSCHROER,P. (2016).CamõesentreMünstereoPorto.CartasdeWilhelmStorcke JoaquimdeVasconcelos.Diacrítica–CiênciasdaLiteratura,30/3,79-101.LEANDRO,S.(2014).JoaquimdeVasconcelos:Historiador,CríticodeArteeMuseólogo.Lisboa:IN-CM.LEITE DE VASCONCELOS, J. (1910).ODoutor Storck e a Litteratura Portuguesa, Estudo Historico -Bibliografico.Lisboa:TypografiadaAcademiaRealdasSciencias.

Historiografia linguística, pedagogia, tradução

149

ECOS DE GIL VICENTE DURANTE LA GUERRA CIVIL ESPAÑOLA

MaríaVictoriaNavasSánchez-ÉlezUniversidadComplutensedeMadrid/CLULEntrelasvariasiniciativasdetipoliterarioqueseprodujerondurantelaguerracivilespañola(1936-1939)enelexilioseencuentralacreaciónderevistas.Enestetrabajo,enprimerlugar,seda cuenta de la publicación en Londres de 1616 (English& Spanish Poetry), dirigida por lospoetasConchaMéndezyManuelAltolaguirre,donde,en1934,aparecetraducidoalinglésunfragmentode laSebilaCasandradeGilVicente.Ensegundo lugar, secaracterizaydefineeltextovicentinoyseanalizalainterpretacióndelaversión.

Palabras clave: Gil Vicente; Sebila Casandra; 1616 (English & Spanish Poetry); Manuel Altolaguirre;ConchaMéndez.

Referenciasbibliográficas:MÉNDEZ,ConchayManuelAltolaguirre(eds.eimpr.)(1934):1616(English&SpanishPoetry),vol.2,p.29,London.MUÑOZ ROJAS, José Antonio (1981): “Introducción”, 1616 (English & Spanish Poetry), Madrid:Turner/Verlag,pp.IX-X.CALDERÓN, Manuel (1996): La lírica de tipo tradicional de Gil Vicente. Alcalá de Henares/Madrid:UniversidaddeAlcaládeHenares,pp.236-237.CAMÕES,José(dir.)(2002):AsobrasdeGilVicente.Lisboa:ImprensaNacional-CasadaMoeda,vol.1,pp.51-74;vol5,pp.6-7.

150

MÚSICA, CULTURA, LITERATURA

SESSÃO 1. MÚSICA: PROSÓDIA, LÉXICO E LINGUÍSTICA COGNITIVA

O PAPEL DA RELAÇÃO ENTRE LETRA E MÚSICA NA INVESTIGAÇÃO DE ELEMENTOS PROSÓDICOS EM PERÍODOS PASSADOS DA LÍNGUA

GladisMassini-CagliariUniversidadeEstadualPaulistaEste trabalho focaliza a interface Música-Linguística, com o objetivo de investigar em quemedida a análise da relação entre letra e música pode contribuir para a caracterização daprosódia,emperíodospassadosdalíngua,dadoqueasmúsicascantadassebaseiamemumarelaçãoentreosníveismusicalelinguístico,mediadapelonívelpoético.Trabalhosanteriores(Massini-Cagliari, 2008, 2010, 2011 eCosta, 2010), que analisaram cantigasmedievais galego-portuguesas profanas e religiosas, mostraram que proeminências musicais combinam-seprioritariamente com proeminências linguísticas, trazendo pistas do acento e do ritmo naoralidadedaépoca.Noentanto,háapossibilidadedeproeminênciasmusicaisseremocupadaspor sílabas que não correspondem a proeminências linguísticas. Porém, isso não podeacontecer na maior parte dos casos, porque, do contrário, não haveria a possibilidade deprodução e reconhecimento de um padrão rítmico, já que os padrões de ritmo linguístico,poéticoemusicalbaseiam-senarepetiçãodeestruturas.

Nestaapresentação,opropósitoéavançarnaanálisedarelaçãoentre letraemúsicaemcantigas medievais religiosas, ampliando a investigação para além do ritmo e analisandotambém a linha melódica dos enunciados, verificando se há alguma relação entre odirecionamento da linha (ascendente, descendente) e a diferença entre afirmação einterrogação.Paratal,serãoconsideradasalgumasCantigasdeSantaMariadeAfonsoX(1121-1284),cujasletrascontêmtantofrasesafirmativasquantointerrogativas.

A análise preliminar das cantigas consideradas mostra que, para a investigação daentoação de períodos passados da língua, a construção de uma metodologia partindo darelação entre letra emúsicamostra-semuitomais complexa do que para o ritmo, uma vezque, namaior parte dos casosmapeados, amesmamelodia pode servir ao canto de frasesinterrogativaseafirmativas,emdiferentesestrofesdamesmacanção.

Referências:COSTA,D.S.Ainterfacemúsicaelingüísticacomoinstrumentalmetodológicoparaoestudodaprosódiadoportuguêsarcaico.TesedeDoutorado (LinguísticaeLínguaPortuguesa).Araraquara,FCL/UNESP,2010.MASSINI-CAGLIARI, G. Contribuição para a análise do ritmo linguístico das cantigas medievaisprofanasereligiosasapartirdeumainterfaceMúsica-Linguística.In:REBELO,H.(Coord.)Lusofonia:TempodeReciprocidades.ActasdoIXCongressodaAssociaçãoInternacionaldeLusitanistas.Madeira,4a9deagostode2008.Porto:EdiçõesAfrontamento,2011.Vol.I,p.41-53.(ISBN978-972-36-1150-2)

Música, cultura, literatura

151

MASSINI-CAGLIARI,G.FromMusicalCadencestoLinguisticProsody:HowtoAbstractSpeechRhythmof the Past. In: PARTRIDGE, John (ed.) Interfaces in language. Newcastle upon Tyne: CambridgeScholars,2010.p.113-134.(ISBN1-4438-2399-6)MASSINI-CAGLIARI,G.Dascadênciasmusicaisparaoritmolingüístico:UmaanálisedoritmodoPortuguêsArcaico,apartirdanotaçãomusicaldasCantigasdeSantaMaria.RevistadaABRALIN,v.7,n.1,p.9-26,jan./jun.2008.(ISSN1678-1805)CONCEPTUALIZAÇÕES DO SER AMADO EM MÚSICAS BREGAS E SERTANEJAS

EvaniPereiraRodriguesUniversidadeFederaldaBahiaPretende-se,nessetrabalho,apresentarosresultadosobtidosapartirdaobservaçãoeanálisedasconceptualizaçõesqueoamantefazsobreoseramadoemmúsicas“bregas”esertanejas,verificando se a diferença de sexo / gênero dos amantes interfere na variação dessaconceptualização. Foram analisadas composições a partir das últimas décadas do séculoXXaos dias atuais, tendo como destaque os intérpretes e ou compositores Pablo do Arrocha,TayroneCigano,ZezédeCamargoeLuciano,RobertaMirandaeMaríliaMendonça.Apartirdospostuladosteóricos-metodológicosdaLinguísticaCognitiva,maisprecisamente,daTeoriadaMetáforaConceptualLakoffeJohnson(1980),Lakoff(1993),LakoffeJohnson(1999),Grady(1999), Kövecses (2000, 2002), dentre outros, fez-se uma pesquisa nos sites musicaisletras.mus.br e o www.vagalume.com.br, dos quais foram selecionadas as canções queapresentam o ser amado conceptualizado, seguida da análise e interpretação.Os resultadosencontradosdemonstramqueoamadoapareceemimagenseformatosdiversos,issodependedasexperiênciasvividaspelocompositor(a)e intérpretedasmúsicasesãoconstruídassobainfluênciadastradições,daculturaedaprópriaconstruçãodasociedade.Palavras-chave:LinguísticaCognitiva;conceptualizações;seramado.Referências:GRADY,Joseph.Atypologyofmotivationforconceptualmetaphor:correlationvs.resemblance.In:R.GIBBS;G.STEEN(eds.).Metaphorincognitivelinguistics.Amsterdam:Benjamins,1999.P.79-100.KÖVECSES,Zoltán.Metaphor: andemotion:Language, culture andbody inhuman feeling.NewYorkandCambridge:CambrigeUniversityPress,2000.KÖVECSES,Zoltán.Metaphor:APraticalIntroduction.NewYork:OxfordUniversityPress,2002.LAKOFF,George; JOHNSON,Mark.Metaphorswe live by. Chicago: TheUniversity ofChicagoPress,1980.LAKOFF,George; JOHNSON,Mark.Philosophy in the flesh: the embodiedmind and its challenge towesternthought.NewYork:BasicBooks,1999.

A LETRA DE SAMBA: UM CORPUS PARA ESTUDOS DO PORTUGUÊS DO BRASIL NO SÉCULO XX

FlávioBarbosaUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiroEsteéumestudodascaracterísticaslexicaisdascomposiçõesdesambistaspioneirosdoRiodeJaneiro, alicerçada na constituição de um corpus representativo da sua produção lítero-musical. Tal corpus contém composições de três artistas: Paulo da Portela, Ismael Silva eCartola.Asvariáveisconsideradasnessaseleçãosãoa)musicalederepresentatividade:todos

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

152

sãosambistas‒compõemsambaseidentificam-secomcomunidadescariocasrelacionadasaessas práticas musicais (respectivamente, Portela, Estácio e Mangueira); b) geográfica:independentemente da cidade natal, eles integraram grupos sambistas cariocas; c)cronológica: todosnasceramnaprimeiradécadado séculoXXe suageração foi responsávelpelainstitucionalizaçãodosambaurbanocarioca,sejapormeiodainauguraçãodasescolasdesamba,sejapelodesenvolvimentodomercadofonográfico,sejaaindapelaconstruçãodeumideárioedeumasimbologiadosambacomoexpressãomusicalbrasileiraporexcelência.

PormeiodeconsultasaosacervosdoMuseudaImagemedoSom,daBibliotecaNacionaledoInstitutoMoreiraSales,alémdebiografiasediscografias,levantaram-seasvariantesdasletrasetranscreveram-seascomposições.Asdificuldadesdetratamentoparaessasvariantesdevem-se ao fato de que canções são feitas para ser cantadas, o que faz com que registrosimpressosdeencartesepartiturasnemsempresejamosmaisconfiáveisnoestabelecimentodas letras. Lançou-se mão de três critérios para resolver questões desse tipo: prioridade afonogramas com interpretações do próprio autor da canção; documentações de registrosbiográficos com esclarecimento do informante da letra, ou do acervo no qual foi apurada;partiturasougravaçõesfeitasporoutrosintérpretes.

Para todas as 296 canções do corpus, registraram-se título; autor; data; suporte doregistro; tema; título da fonte; responsável pela publicação; e intérprete (em fonogramas).Usou-seoWordsmithToolsparaobtençãodeinformaçõessobrefrequências,alémdeíndicesanalíticos, com ocorrências contextualizadas, e de listas de palavras-chave. Tais dadosfundamentaram a seleção das palavras que constituíram tabelas com ocorrências datadas,usadasparaestudoslexicográficosdovocabuláriodosamba.

Serão apresentadas, como resultado da constituição e análise do corpus, ocorrênciasligadas à oralidade, que dão suporte ao canto de refrãos, representam sonsonomatopaicamente, ou documentam alterações fonológicas próprias da língua faladapopular.

Palavras-chave:PortuguêsdoBrasil;SambaUrbanoCarioca;Lexicografia.Referências:BERBERSARDINHA,Tony.Linguísticadecorpus.SãoPaulo:Manole,2004.SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro, 1917-1933. Rio deJaneiro:JorgeZahar:EdUFRJ,2001.SANROMÁN,ÁlvaroIriarte.Aunidade lexicográfica:palavras,colocações, frasemas,pragmatemas.441p. 2000.Dissertação (Doutoramento emCiências da Linguagem – LinguísticaAplicada). –Centro deEstudos Humanísticos, Universidade do Minho, Braga, 2000. Disponível em:<https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4573/1/ A_Unidade_Lexicografica.pdf>. Acessoem:30jan.2017.

Música, cultura, literatura

153

SESSÃO 2. LITERATURA DO FINAL DA IDADE MÉDIA AO SÉCULO XX

O QUE É CADA PALAVRA DITA?

JoãoDionísioCentrodeLinguística,FaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboaO caderno de autógrafos de José Osório de Castro e Oliveira ganhou alguma celebridadequando, depois de ter sido adquirido por José Paulo Cavalcanti, se percebeu incluir umaredacção limpadopoema“Cadapalavadictaéavozdeummorto” (19.9.1918),de FernandoPessoa[Meireles2016es.n.2016].Omanuscritoteminteressepelomenosportrêsviasparaosestudospessoanos:1.AlargaoespóliodocumentaldopoetadeMensagem;2.Complementaodossiê genético até agora conhecido do texto, exclusivamente constituído por redacçõestentativas [Dionísio 2005: 193 e 420-421]; 3. Complexifica a nossa percepção dos modos decirculaçãoescritadapoesiapessoana,que,grossomodo,sereduziaàpublicaçãoemperiódicose, mais raramente, em livros, assim como à partilha por via epistolar com algunscorrespondentes.Emgrausdiferentes,estastrêsviasforamdestacadasnaimprensaperiódicabrasileiraeportuguesaquefezecodadescobertadocaderno.Noentanto,oconteúdodotextodo poema ficou algo à margem da revelação do “Livro de autographos” de José Osório deCastro e Oliveira. O objectivo desta comunicação consiste em ler o texto à luz do que seconhecedasuagénese,articulando-ocomoutraspartesdaobrapessoana,designadamenteoLivro do Desassossego [Pizarro 2010; Patrício 2012], e dando atenção ao modo como eleconsenteserlidoenquantoeventualpeçaprospectivadedoutrinaeditorial.Assimseprocurarevisitar (ediscutir)aalegação,caraacertacrítica,dequeFernandoPessoaescreveuparaaposteridadearquivística.Palavras-chave:ediçãodeinéditos;publicação;génese;intenções.Bibliografia:MaurícioMEIRELES, “Bibliófilo encontra versão inédita de poema de Fernando Pessoa”, Folha de S.Paulo 11.6.2016 http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/06/1780385-brasileiro-revela-caderno-com-versao-inedita-de-poema-de-fernando-pessoa.shtml(acesso30.1.2017).FernandoPESSOA,LivrodoDesasocego,ediçãodeJerónimoPizarro,Lisboa:ImprensaNacional–CasadaMoeda,2010.Fernando PESSOA,Poemas 1915-1920, edição de João Dionísio, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa daMoeda,2005Rita PATRÍCIO, Episódios. Da teorização estética em Fernando Pessoa, V. N. Famalicão: Húmus /U.Minho–CentrodeEstudosHumanísticos,2012.s.n., “Há um poema inédito de Fernando Pessoa num caderno de viagem”, Público, 12.6.2016,https://www.publico.pt/2016/06/12/culturaipsilon/noticia/ha-um-poema-inedito-de-pessoa-escrito-na-travessia-do-atlantico-1734874(acesso:30.1.2017).

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

154

ANÓNIMO, BAÍA E OS OUTROS: UMA BASE DE DADOS DA LÍNGUA E LITERATURA BARROCAS

AnabelaLealdeBarrosDepartamentodeEstudosPortugueseseLusófonos,UniversidadedoMinhoCorre manuscrito que no século XVII os escritores eram quase tão numerosos como osleitores.Frequentementecoincidiamnasmesmaspessoas,jáqueolivromaisapreciadoeraoorganizadopelopróprioleitor,aseugosto,semcedênciasaogostoreconhecidamenteférreoeinsípido da RealMesa Censória. Diz-nos a tradiçãomanuscrita que sãomais numerosos osautoresaindahojedesconhecidosouquasedesconhecidosdoqueaquelesqueseconhecem.Mesmodestesúltimos,émaisabundanteaprodução literáriapor lereeditardoqueaquelaque se temoferecido à leitura.Ainda assim, é conhecido e tradicional o desprezodamaiorpartedoscríticos literários relativamenteaobarroco—queéomesmoquedizeràmínimaparte que se conhece do icebergue barroco. Alheios a gostos e discriminações estéticas ouéticasqueflutuam—ouresistem—comopassardosséculos,osfilólogosprosseguemassuasescavações em direcção ao aprofundamento do conhecimento de cada um dos períodos doportuguês, em diálogo com outras línguas relevantes no espaço peninsular; a linguísticahistórica, nem crítica nem normativa, observa entusiástica e despretensiosamente, semveleidadesdesuperioridadeestilística,estéticaouintelectual.Aconstituiçãodeumabasedeprimeiros versos e primeiras frases de centenas de cancioneiros e miscelâneas barrocos,divisívelporautores,completadacomosdostestemunhosimpressosconhecidoseainda,emmuitoscasos,coma transcrição integraldos textos—projectoantigo,cujoembriãopode irachar-seàpesquisapréviaeàsubsequentetesedelicenciaturaemFilologiaRomânicadeIvoCastro (1969), e que em vários momentos continuou depois a ser por ele impulsionado ealimentado —, constitui o primeiro passo para responder a perguntas como as seguintes:Quantos e quais os poetas ou autores barrocos portugueses (e castelhanos) cujos nomesficaram inscritos em algum códice ou papel solto dos séculos XVII-XVIII? Quais os maisrepresentados ou mais populares segundo a tradição manuscrita? Que outras línguasprivilegiaram, e em que proporção? Qual o corpus e o cânone da literatura barrocaportuguesa?Quaisostemasemotivostratados,espelhandoounão,afinal,aprópriavida?Queparte dessa literatura nunca foi recenseada, permanece inédita e merece edição, seja pormotivos literáriosou linguísticos, culturais ehistóricos?Queparte foiobjectodeediçãoemvidados seusautores?Queporçãosenosofereceaoconhecimentoapenasemtestemunhosapógrafos? Que percentagem permanece anónima mesmo depois de recolhidas váriasunidadesouatédezenasdetestemunhosmanuscritos,emcentenasdecancioneirosdasmaisrelevantes bibliotecas e arquivos de Portugal e do mundo? Como se distribuemterritorialmenteoscódicescomlocalizaçãoexpressa,deixandocristalizadostraçosdedistintasvariedades do português? Quais as reais dimensões desse fenómeno que foi a via detransmissãomanuscrita, quanto a númerosmédio emáximo de testemunhos por texto, oudistribuição geográfica de copistas, calígrafos, coleccionadores e proprietários decancioneiros? Quais os traços gerais da língua barroca manuscrita (seguramente maisexuberantesevariadosqueosda língua impressa,coadapelo filtrodaRealMesaCensória)?Quaisosqueaparentamcorresponderavariaçãodiatópica?Qualanaturezaeamplitudedavariaçãoentretestemunhos?Apresentar-se-ãonestetrabalhoalgunsresultadosdaobservaçãodessa base, cuja constituição continua em curso; entre eles, os traços dominantes da línguabarrocaeumramalhetedeversosinéditos.Palavras-chave:Filologiaportuguesa;portuguêsdos séculosXVII-XVIII; ediçãode textobarroco;basededadosdeliteraturabarroca.

Música, cultura, literatura

155

“PORTUGUÉS ENTENDIMIENTO Y PLUMA CASTELLANA”. BILINGUISMO FEMININO EM LA LENGUA ESPAÑOLA EN LA LITERATURA PORTUGUESA, DE MARTÍNEZ ALMOYNA E VIEIRA DE LEMOS

PedroÁlvarez-CifuentesUniversidaddeOviedoApesar das frequentes tensões entre portugueses e castelhanos que caracterizam o períodomaisdeslumbrantedaliteraturahispânica―oschamadosSéculosdeOuro―,surgiramnestetempo numerosos escritores em ambos os lados da raia ibérica que utilizaram tanto oespanholcomooportuguêsnacomposiçãodassuasobras(VázquezCuesta1988;Buescu2000;Bethencourt 2002; García Martín 2008). Um caso que merece especial atenção é o dasportuguesasBernardaFerreiradeLacerdaouSororViolantedoCéu,entremuitasoutras,queescolheramoespanholcomolíngualiterária.Semdúvida,aobraclássicaparaoseuestudoéoCatálogo razonado biográfico y bibliográfico de los autores portugueses que escribieron encastellano, de Domingo Garcia Peres (1890). Além do relativo sucesso desta primeiraaproximação bibliográfica a “dos literaturas tan estrechamente unidas que en ellas es másdifícil que en losmapas geográficos señalar con exactitud la líneadivisoria de cadapueblo”(Peres 1890), os manuais de literatura não têm aprofundado aspetos pertencentes a estedomíniodoconhecimento.Nestaocasião,revisitaremososexemplosdebilinguismofemininoqueapresentaamonografiaLalenguaespañolaenlaliteraturaportuguesa,deJulioMartínezAlmoyna y Antero Vieira de Lemos (1968), para analisar a atividade literária das autorasportuguesasqueescreveramemespanholentreosséculosXVIeXVIII.

Referências:BETHENCOURT,F. (dir.) (2002):La littératured’auteursportugais en langue castillane. Lisboa;París:CentroCulturalCalousteGulbenkian.BUESCU,A.I.(2000):“Ylahespañolaesfácilparatodos:Obilinguismo,fenómenoestrutural(séculosXVI-XVIII)”.InMemóriaepoder.EnsaiosdeHistóriaCultural(séculosXV-XVIII).Lisboa:Cosmos,51-66.GARCÍAMARTÍN,A.M.(2008):“Elbilingüismoluso-castellanoenPortugal:estadodelacuestión”.InMarcosdeDios,Á.(ed.),AulaBilingüeI:InvestigaciónyarchivodelcastellanocomolengualiterariaenPortugal.Salamanca:Luso-EspañoladeEdiciones,15-44.MARTÍNEZALMOYNAJ.&LEMOS,A.Vieirade(1968):Lalenguaespañolaenlaliteraturaportuguesa.Madrid:Imnasa.PERES, D. Garcia (1890):Catálogo razonado biográfico y bibliográfico de los autores portugueses queescribieronencastellano.Madrid:ImprentadelColegioNacionaldeSordomudosyCiegos.VÁZQUEZCUESTA,P. (1988):ALínguaeaCulturaPortuguesasnoTempodosFilipes.MemMartins:PublicaçõesEuropa-América.BREVE OLHAR SOBRE MODOS DE RECRIAR UMA TRADUÇÃO PORTUGUESA EM FINS DO MEDIEVO: REPRESENTAÇÕES MODELARES DE CRISTO NA VITA CHRISTI DE LUDOLFO DE SAXÓNIA

ElsaBrancodaSilvaFaculdadedeLetras,UniversidadedeLisboa1.Éconsabidoquenomedievo a evolução estruturantedas línguas vernáculas, diantedo jádistanciado latim, foi dominada pela tradução de textos clássicos. E a afirmação da línguaportuguesanãofoialheiaataldomínio.AVitaChristideLudolfodeSaxónia,escritanaversãooriginal em latim,participado roldeobrasquemais traduções conheceramparadiferentesidiomas.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

156

Atraduçãoportuguesa,jáconcluídaemmeadosdequatrocentos,veioapúblicoem1495.Realidadequedizbemdaplasticidadeque,aotempo,caracterizavaalínguadereceção,parapermitir a interpretação de um tratado singularizado pelas grandes dimensões eespecificidadeslinguísticasditadaspelatemáticadoutrinaleespiritual.

2.Dentreostemascentrais,impõe-seodaimitaçãoou“sequelaChristi”,sejanaimediataaceçãomoraldeseguimentodasvirtudescristãs,sejanamística,deuniãoespiritualàdivinaperfeição. E a tradução da Vita afirma-se, nesse e noutros contextos doutrinais, como umexercício essencialmente didático: ao desconstruir o significado das estruturas do discurso“original”, o intérpretepropõe-se, simultaneamente,despertar sensibilidades e afetos e abrircaminhoamúltiplosseguimentosdamodelarfiguradeCristo.Estandoa“sequela”alicerçadanaafetivameditaçãodasEscrituras, exploramúltiplaspotencialidadesoferecidaspela línguamaterna,porformaatornaradoutrinainteligíveleadespertardevoções.

Por um lado, se entrevê que, dentre os desígnios que o movem, intenta não trair amensagemdaobraquetraslada.Poroutraparte,nãoperdedevistaospotenciaisleitoresdodifundido tratado. Inventa, assim, estratégias de codificação, não dependentes apenas deexigências linguísticas do idioma nativo, mas também da própria liberdade recriadora, oraclarificando conteúdos menos inteligíveis, ora intensificando outros, em seu entender,merecedores de realce, a fim de estabelecer pontes que aproximem o destinatário dasmeditaçõesdaVita.

A “perspicuitas”ea “amplificatio” revelam-se,por isso,duaspropriedades fundamentaisdesseamplo,quãocomplexoprogramadidático.Enosdoiscompromissosessenciaisreferidos,complementarmente, instituídos com a obra “original” e com o fiel leitor, em permanenteobservânciada integridadeda línguamaterna,se fundamentamassoluçõesdetraduçãoquenospropõe.

3. É nosso propósito fazer uma descrição, ainda que sumária, dos procedimentosmaissignificativos de interpretação do Livro Primeiro do tratado, que o intérprete pensou pararecriaraversãolusadaVita,consubstanciados,quernoplanodasubstituição-“immutatio”-dasestruturasdotextolatino,quernoplanodoacrescimento-“adiectio”-deoutras,oracomfunção clarificadora, orameramente intensificadora, de exploração dos efeitos retóricos dasapelativasmeditações.Intentamosumaaproximaçãoaosdiferentesplanosdiscursivos,desdeasestruturasdemaiorsignificaçãoatéàslexicais.

Referências:LUDOLFODESAXÓNIA-VitaChristi.Traduçãoquatrocentistaportuguesa.EdiçãocríticaporElsaBrancodaSilva(emcurso).LUDOLPHUS DE SAXONIA - Vita Jesu Christi ex evangelio et approbatis ab Ecclesia CatholicaDoctoribussedulecollecta.Ed.L.M.Rigollot.Paris-Roma,1870,4vols.Estudos:SILVA,ElsaM.Brancoda-AFortunada'VitaChristi'noMedievoemPortugal:Pensaraespiritualidadeàluzdatradução.Coimbra:AlmaAzul,2006,1061pp.SILVA,ElsaM.Brancoda-“ParaumaleituradaparteprimeiradatraduçãoportuguesadaVitaChristideLudolfoocartuxano”.InMedievalismoenExtremadura:EstudiossobreLiteraturayCulturaHispânicasdelaEdadMedia.Ed.JesúsCañasMurilloetal..ActasdoXIICongressoInternacionaldaA.H.L.M.FaculdadedeFilosofiaeLetrasdaUniversidadedaExtremadura–25-29Setembrode2007.Cáceres:UniversidaddeExtremadura.ServiciodePublicaciones,2009,p.635-647

157

PÓSTERES PROCEDIMENTOS DE FIGURATIVIZAÇÃO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DAS CANÇÕES DE NOEL ROSA

AlfredoWerneyInstitutoFederaldeEducação,CiênciaeTecnologiadoPiauíAmúsicapopularbrasileirasempreestabeleceuumintensodialogouintertextualcomasérieliterária,principalmenteapartirdosurgimentodemovimentosestilísticoscomoabossanovaeoTropicalismo.Dentreoscompositoresbrasileirosque forambasilaresparaa invençãodachamadaMPB,podemosdestacarNoelRosa,umdosparadigmasdacançãopopularurbana.Utilizando-se de procedimentos poético-musicais até então pouco usuais – como o tomcoloquial, a ironia refinada, a linguagem harmônica cheia de engenho, a estruturação damúsicaempartesdiferentes–firmouaimagemdomalandrocariocaedeumRiodeJaneiromodernoeurbano.Suasobrasforamelaboradascomumclarotomdecrônicadocotidiano,antesmesmodaconsolidaçãodasideiaspoéticasdoModernismode1922.Emsuamaioria,ascanções de Noel apresentam um sujeito lírico que narra, de forma despojada e repleta dehumor, assuntos prosaicos do dia-a-dia, como a vida boêmia pelas ruas e bares da capitalcarioca,ahipocrisiadasociedade,asmulheresinteresseiras,omalandroquezombadomundodo trabalho. O presente trabalho pretende realizar um estudo dos procedimentos defigurativizaçãonaobradocompositorcarioca,enfocandoascanções“Conversadebotequim”(1935), “Gago apaixonado” (1930) e “Três apitos” (1933). Interessa-nos compreender asestratégias discursivas utilizadas por Noel Rosa para dar o efeito de sentido de que oenunciadoestáocorrendoexatamentenomomentodafaladosujeitolírico.Emoutrostermos,desejamosentenderosprocessosdearticulaçãoentreletraemúsicaqueforamempregadosnaobra para emular uma conversa informal em uma situação cotidiana. A partir da leiturasemióticadaobramusicaldessecompositor,defendemosa ideiadequeessascançõesestãofortementearticuladascomprocessosdefigurativização,jáqueoenunciadomusicaladapta-seàs instabilidades sonorasdodiscursocoloquial eos elementosprosódicos sobrepõem-seaoselementos melódicos, fazendo com que o enunciador se projete no discurso e simule apresença da enunciação no enunciado. A análise proposta nesse trabalho está pautada emelementosdasemióticaenosestudosdodiscurso,sobretudonosautoresLuizTatit(2007)eJosé Luiz Fiorin (2011), e nos ensaios de Affonso Romano de Sant’Anna (2013) acerca dasrelaçõesintertextuaisentrepoesiamodernaemúsicapopularbrasileira.Palavras-chave:NoelRosa;Cançãopopularbrasileira;Figurativização;semióticadacanção.Bibliografia:FIORIN,JoséLuiz.Elementosdeanálisedodiscurso.15ed.SãoPaulo:Contexto,2011.TATIT,Luiz.Musicandoasemiótica.2ªed.SãoPaulo:Annablume,1997.TATIT,Luiz.Ocancionista:composiçãodecançõesnoBrasil.2ªed.SãoPaulo:EditoradaUniversidadedeSãoPaulo,2002.TATIT,Luiz.Asemióticadacanção:melodiaeletra.3ªed.SãoPaulo:EditoraEscuta,2007.SANT'ANNA, Affonso Romano de. Música popular e moderna poesia brasileira. São Paulo: NovaAlexandria,2013.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

158

ANTÓNIO DA COSTA PEIXOTO'S OBRA NOVA DA LÍNGUA GERAL DE MINA (1731/1741) - A PRINT -AND ONLINE-EDITION OF AN UNIQUE HISTORICAL DOCUMENT ON THE EWE-FON-LEGACY IN BRAZIL

ChristinaMärzhäuserLudwig-Maximilians-UniversitätMünchenEnriqueRodrigues-MouraOtto-Friedrich-UniversitätBambergThis poster will present our re-edition project (in progress) of the original documents ofAntóniodaCostaPeixoto’sObranovadalínguageraldeMina.Thisshortglossarydocumentsthe presence of a Ewé-Fon in Brazil in the 18th century. It is one of two known historicaldocuments testifying the vitality of an African language during colonial rule and slavery inBrazil. The edition will be based on the two handwritten originals, preserved in a shorterversionfrom1731(NationalLibraryLisbon,Códice3052,F.2355)andinanextendedonefrom1741(BibliotecaPúblicadeÉvora,CódiceCXVI/1-14), the latteronere-editedinprint in1944and1945inPortugalintwocensuredversions(divergingfromtheoriginal).Ourcontributionwillshortlyoutlinewhat isknownabouttheauthorAntóniodaCostaPeixoto,aPortuguesefromEntreDouroeMinho(seeAraujo2013).

A semantic analysis of the document’s content (899 lemmata and lists of phraseswithPortugueseequivalents)willhelptogetnewinsightsintothefunctionsandareasofuseofthelanguage Peixoto called língua geral de Mina. The document is highly relevant for thediscussion of basic assumptions regarding the presence and vitality of African languages incolonial Brazil, and their contact with Portuguese, as discussed in Petter (2001), Petter &Fiorin(2008)andByrd(2007,2012).

Inourproject,thecontentoftheoriginalhand-writtendocumentsisalsocontrastedwiththe re-editions published in Portugal in the 1940ies, on which de Castro (2002) based herstudiescomparingtheentrieswithmodernFon(seealsoFernandes2012oncensuredentriesinthePortugueseedition).TheprinteditionofPeixoto’sObranovadalínguageraldeMinaatBamberger Editionen (University of Bamberg) is a first step for the follow-up multilingualonline edition with the option of interdisciplinary digital cooperation we are planning torealise in a joint project of the Romance Institute of Bamberg University and the AustrianCentreforDigitalHumanitiesattheUniversityofGraz.

References:PEIXOTO, Antonio da Costa (1731/1741).Obra nova da língua geral deMina. Sao Bartolomeu,MinasGerais.(re-editedbyLuísSilveira(1944/1945)atAgênciaGeraldasColônias,Lisbon)ARAUJO,Fernando(2013)“Fomedoouroefamadaobra.AntoniodaCostaPeixotoea‘ObraNovadeLingoaGeraldeMina’–alianças,proximidadesedistânciasdeumescritorportuguêsnoBrasilcolonialdoséculoXVIII”,www.antropologia.com.br/arti/colab/a53-faraujo.pdf.BYRD, Steven (2007). “Calunga: uma fala afro-brasileira de Minas Gerais, sua gramática e história.”RevistaInternacionaldeLingüísticaIberoamericana(RILI)V,1(9),203-222.BYRD, Steven (2012).Calunga and the legacy of anAfrican language in Brazil. Albuquerque:Univ. ofNewMexicoP.CASTRO,YedadePessoa(2002).Alínguamina-jejenoBrasil:UmfalarafricanoemOuroPretodoséculoXVIII.BeloHorizonte,Brazil:FundaçãoJoãoPinheiro;SecretariadeEstadodaCultura.FERNANDES, Gonçales (2012). “A Língua geral de Mina (1731/1741) de António da Costa Peixoto”,https://repositorio.utad.pt.

Pósteres

159

PETTER,Margarida.(2001).“AfricanismosnoPortuguêsdoBrasil”.In:EniOrlandi(Org.).HistóriadasIdéiasLingüísticas:Construçãodo sabermetalingüístico e constituiçãodaLínguaNacional.Campinas:Pontes,Cáceres:UNEMATEditora,223-234.PETTER,Margarida&Fiorin,JoséLuiz(Eds.)(2008).ÁfricanoBrasil:aformaçãodalínguaportuguesa.1.ed.SãoPaulo:EditoraContexto.RODRIGUES,AryonDall’Igna. (2003). “ObraNovadaLínguaGeral deMina:A línguaEwenasMinasGerais”.Papia13,2003.92-96.O EMPREGO DE VÍRGULA ANTES DE ÊNCLISE E PRÓCLISE DO PORTUGUÊS CLÁSSICO AO PORTUGUÊS EUROPEU MODERNO

CynthiaTomoeYanoInstitutodeEstudosdaLinguagem–UniversidadeEstadualdeCampinasEstetrabalhopretendeapresentarumaanálisepreliminarsobreoempregodevírgulaantesdeêncliseeprócliseemoraçõesmatrizeseencaixadasemtextosdeautoresportuguesesnascidosentreosséculosXVIeXIX.Paratanto,parte-sedoestudodeGalves,Britto&PaixãodeSousa(2005), em que as autorasmostram que o clítico enclítico possui um contorno entoacionalindependente, mas o clítico proclítico, não, pois estaria contido no mesmo contornoentoacionaldoverbo.Ademais,Galves&Kroch(2014)mostramque,emconstruçõescomumpronomeproclíticoouenclíticoprecedidoporumaoraçãodependente,antesdoséculoXVIII,ocomprimentode taloraçãoseriaumfatordeterminanteparaaposiçãodoclítico, sendoaênclise mais corrente quando a oração é longa (> 8 palavras). Do século XVIII em diante,porém, a ênclisepassa a sermais frequente como sintagmacurto (≤8palavras), indicandoqueocomprimentodeixoudeestarnecessariamenteassociadoàposiçãodoclíticoeaênclise,desersensívelàprosódia.Assim,tomandoessasanálises,pretende-semostrarqueaposiçãodo clítico e o comprimento do sintagma que precede o verbo, um sujeito ou uma oraçãodependente,seriamfatoresmotivadoresparaapresençaounãodevírgulaantesdoverbonaescritadoportuguêsclássico,quandoosistemadepontuaçãoeramaisbaseadonaretóricaenaprosódiadalíngua.Contudo,apartirdoséculoXVIII,taisfatoresteriamdeixadodeexercertantainfluêncianoempregodevírgula,havendoumamudançanosistemadepontuação,comafunçãosintático-semânticapassandoaocuparoprimeiroplano.Alémdisso,espera-se,comeste trabalho, trazer uma contribuição para os estudos, ainda bastante escassos, sobre apontuação do português clássico, período importante na história do português, quandoocorrerammudançassignificativasnasuasintaxeeprosódia.POESIA E VARIEDADE LINGUÍSTICA: UMA ANÁLISE DA LINGUAGEM REGIONAL DA OBRA MORTE E VIDA SEVERINA, DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO

DaíseCardosoUniversidadeEstadualdoPiauíA linguagem reconstrói-se e se reafirma a partir da intencionalidade de seus usuários. Suavariedade de registro, domesmomodo, está condicionada à intenção comunicativa de seusfalantes. Assim, essas variedades linguísticas atuam como marcadores de identidades,regionalidadeseoutrascaracterísticasdeumdeterminadogruposocial.Otextoliterárionãoestá isento de apresentar tais aspectos, pelo contrário, quando incorpora essas variedadespermiteumaleituradiferenciada,conduzoleitoraouniversoregionalqueestásendonarrado,seja através dos versos ou da prosa. Neste sentido, este trabalho tem como objetivos

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

160

específicos: I) analisar a variedade dialetal presente no poema dramático Morte e VidaSeverina; II) compreender de que forma a variedade linguística tecida pelo poeta influi naconstrução de sentido da obra; III) e caracterizar os traços de regionalismo presentes nopoema,especificamentepormeioda linguagemverbal.Para tanto,nossaanálise foipautadanospressupostosmetodológicosquesealinhamaumapesquisabibliográfica,ouseja,aquelaemqueopesquisadorrecorreatextos jápublicadosedisponíveisparaconsultaemdiversosmeios. Como base teórica para a presente pesquisa elegemos estudos de linguística e depoesia,sobretudoaobradosautoresCarlosFranchieJoséLuizFiorin(2011),queestudamaslinguagens diversificadas em textos poéticos como elementos constitutivos de sentido dotexto;Willian Labov (2008), que discute sobre as diferenças sociolinguísticas entre osmaisdiversossujeitosusuáriosdalíngua,apontandoasmarcasderegionalismoeoutrasdistintivasda linguagem e Humberto Hermenegildo Araújo (2008), que dialoga sobre a tradição doregionalismo na literatura brasileira. O poema Morte e Vida Severina, do escritorpernambucano João Cabral de Melo Neto, traz marcas de regionalismo, como o acentomarcadamenteoraleoritmopoéticorepletodeexpressãomusical,quesãonotórias.Assim,ostraços linguísticos, expressos pelo eu lírico, denotam maneiras peculiares da sociedadehumanaestabelecidaemumadeterminadaregião.Osdiálogos,emversos,aproximamleitoreo Nordeste brasileiro, inclusive no que diz respeito ao dialeto da região. Alguns vocábulosestãoarraigadosdeimagemsonora,ouseja,aotempoquesãopronunciadospeloleitor,nãoapenas constituem um significado, mas o conduz para um determinado local. Expressõescomo:“mortematada”,“plantavapalha”,“viagemsefinda”,“comendoossirisqueapanha”,“jáfinado, Zacarias”, são marcas da região do Nordeste brasileiro. Esta escrita marcada pordialetoseculturasdeumadeterminadaregião,estãoexpressas,demaneiraostensiva,emsuaurdiduraliterária.Anarrativapoética,aomesmotempoemquesegueosmoldestradicionaisde uma escrita própria do universo da poesia tradicional (optando pela predominância daredondilhamenor),ampliaaspossibilidadesdeexpressãodesuaescritaapartirdainserçãodesignosregionaiseneologismos.Pormeiodessemodusoperandi,otextotematizaavidadeumretiranteque sedeslocade sua cidade embuscademelhores condiçõesde vida.Emúltimaanálise,observamosnessetextoaexistênciadeumeu-líricoquenarrasuavida“severina”embuscadeumarealidadediferentee,assim,conquistaoleitorpelomodoencantatóriocomquearticulaossignosverbais.Palavras-chave:MorteeVidaSeverina;VariedadeLinguística;Linguagem;Poesia.Referências:ARAÚJO,HumbertoHermenegildo.Atradiçãodo regionalismona literaturabrasileira:dopitorescoàrealizaçãoinventiva.RevistaLetras,Curitiba,n.74,jan/abr,2008,p.119-132.FRANCHI, Carlos; FIORIN, José Luiz. Linguagem Atividade Constitutiva: teoria e poesia. São Paulo:Editoraparábola,2011.LABOV,Willian.Padrõessociolinguísticos.SãoPaulo:Parábola,2008MELONETO,JoãoCabralde.MorteeVidaSeverinaeoutrospoemasparavozes.34ed.RiodeJaneiro:NovaFronteira,1994.

Pósteres

161

OBSERVAÇÕES PRELIMINARES SOBRE AS VOGAIS PRETÔNICAS NA VARIEDADE URBANA DO PORTUGUÊS DE SÃO TOMÉ

FabianedeMelloViannadaRochaUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiroSilviaFigueiredoBrandãoUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiroNo âmbito do Português, as vogais pretônicas têm sido objeto de inúmeras pesquisas emfunção de servirem de parâmetro para a distinção da variedade brasileira em relação àeuropeiaeparaadelimitaçãodasmacroáreas linguísticasbrasileiras.Apesardisso,poucosesabesobreoseufuncionamentonasvariedadesafricanas,emáreasdeintensomultilinguismo.

EmSãoTomé,focodoestudoaquiapresentado,oPortuguês(aúnicalínguaoficial,usadapor98,4%dapopulação)coexistecomoForro(com36,3%deutentes)etrêsoutroscrioulostambém de base lexical portuguesa, bem como com resquícios de línguas do grupo Bantu,quadroquesemostrapertinenteparaobservarasconsequênciasdocontatomultilinguísticoparaaconstituiçãodasvariedadesnãoeuropeiasdoPortuguês.

Aanálise, realizadaà luzdaTeoriadaVariaçãoeMudança (Weinreich;Labov;Herzog,1968), tratadasvogaismédiaspretônicasnoPortuguêsdeSãoTomé (PST), combaseem 17inquéritos pertencentes ao Projeto VAPOR (Variedades do Português), do Centro deLinguísticadaUniversidadedeLisboa.Coletaram-seosdadosdeentrevistascom indivíduosquetêmoPortuguêscomoL1,estratificadossegundoosexo,trêsfaixasetáriasetrêsníveisdeescolaridade.Busca-se(i)verificarainterferênciadosprocessosdeharmonizaçãoedereduçãovocálicas na aplicabilidade do alçamento dos segmentos /e/ e /o/; (ii) indicarcondicionamentos que presidem à implementação das diferentes variantes e (iii) testar ahipótese da possível interferência do vocalismo do Forro, com base na descrição de Ferraz(1979)eemMarquilhas(2003:7)queafirmaque“oscrioulosafricanosdebaseportuguesavêmarrumar-se ao lado do português do Brasil namanifestação do fenômeno da harmonizaçãovocálicaenainsubmissãoàregrageraldaredução”.

Os resultados preliminares sugerem que, no PST, o alteamento das vogaismédias nãoapresenta a mesma produtividade observada no Português Europeu, mostrando, como noPortuguês do Brasil, contextos favoráveis à manutenção de [e o], embora com menorfrequênciadoquenestaúltimavariedade.Referências:FERRAZ,L.I.ThecreoleofSãoTomé.Johannesburg:WitwatersrandUniversityPress,1979.MARQUILHAS, R.Mudança analógica e elevação das vogais pretónicas. In: CASTRO, I.;DUARTE, I.(org.).Razõeseemoção.MiscelâneadeestudosemhomenagemaMariaHelenaMiraMateus,2.Lisboa:ImprensaNacional-CasadaMoeda,2003.p.7-18WEINREICH,U.;LABOV,W.;HERZOG,M.Empiricalfoundationsforatheoryoflinguisticchange.In:LEHMANN,W.;MALKIEL, Y. (orgs.)Directions for historical linguistics. Austin: University of TexasPress,1968.p.97-195.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

162

ENTRE O SECULAR E O ECLESIÁSTICO: PODER E SUBORDINAÇÃO ATRAVÉS DAS FORMAS DE TRATAMENTO PRESENTES EM PETIÇÕES DA ASSEMBLEIA PROVINCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO NO SÉCULO XIX

GustavoBarretoInstitutoFederaldeEducação,CiênciaeTecnologiadePernambucoDouglasdaSilvaTavaresInstitutoFederaldeEducação,CiênciaeTecnologiadePernambucoOpresentetrabalhoéumapesquisa focadanas formasdetratamentopresentesempetiçõesmanuscritas feitas por membros da igreja católica e dirigidas à Assembleia Provincial doestado de Pernambuco durante o século XIX. Nosso objetivo é compreender as funções esignificadossociaisdessasformasencontradasnosmanuscritossupracitados.

Para tanto, temos Burke & Porter (1987), Burke (2009), Leith (2003), Tavares (2009),Tavares(2012)eTavares(2017)paraumacompreensãodoquevemaserumaHistóriaSocialdas Línguas e como concretizá-la. Também, buscamos Marques, Sampaio e Silva (2012),Enders (2012),Fausto(1999),Hobsbawm(1988),Linhares (org.) (1996),OliveiraLima(1997),Coelho (2009), Schwarcz& Starling (2015) e Sobrinho (1998) enquanto referenciais paraumentendimentohistóricodoBrasiledePernambuconoperíododelimitadoemnossotrabalho.Ainda,tomamosBrown&Gilman(1960)enquantoiníciodeumacompreensãolinguísticadasformas de tratamento nas línguas humanas e Bakhtin (2006) para uma reflexão sobreideologias presentes nos discursos e escolhas das formas de tratamento encontradas naspetiçõesestudadas.Palavras-Chave:HistóriaSocialdasLínguas;FormasdeTratamento;PodereSolidariedade.Bibliografia:BAKHTIN,Mikhail.Marxismoefilosofiadalinguagem.SãoPaulo:HUCITEC,2006.______. BURKE, Peter; PORTER,Roy.The social history of language –Cambridge studies in oral andliterateculture.ThePressSyndicateoftheUniversityofCambridge.NewYork.1987.BURKE,Peter.LinguagenseComunidadesnosprimórdiosdaEuropaModerna.UNESP.SãoPaulo,2009.BROWN, R.; GILMAN, A. The pronouns of power and solidarity. In: SEBEOK, T. A. (Ed.). Style inlanguage.Cambridge:MITPress,1969.p.253-449.COELHO, Maria Filomena. A Justiça D’Além Mar: Lógicas Jurídicas Feudais em Pernambuco (séculoXVIII)ENDERS,Armelle.ANovaHistóriadoBrasil.RiodeJaneiro:Gryphus,2012.FAUSTO,Boris.AConciseHistoryofBrazil.NewYork:Cambridge,1999.HOBSBAWN,Eric.AeradosImpérios:1875-1914.SãoPaulo:PazeTerra,1988.LEITH,Dick.ASocialHistoryofEnglish.NewYork:Routledge,2013.LINHARES,MariaYeda(org.).HistóriaGeraldoBrasil.RiodeJaneiro:Campus,1996.MAIOR,A.Souto.HistóriadoBrasil.SãoPaulo:CompanhiaEditoraNacional,1988.MARQUES,CarlosBittencourtLeite;SAMPAIO,JulianadaCunha;SILVA,KalinaVanderlei.HistóriaeMemóriadaCasaJoaquimNabuco.Recife:GráficadaAssembleiaLegislativadoEstadodePernambuco,2012.MOURA,Gerson.TioSamchegaaoBrasil–apenetraçãoculturalamericana.ColeçãoTudoéHistória.7ed.SãoPaulo:EditoraBrasiliense,1991.OLIVEIRA LIMA, Manuel de. Pernambuco Seu Desenvolvimento Histórico. Recife: FUNDAJ, Ed.Massangana,1997.SCHWARCZ,LiliaM.;STARLING,HeloisaM.Brasil:UmaBiografia.SãoPaulo:CompanhiadasLetras,2015.SOBRINHO, Barbosa Lima. Pernambuco: da Independência à Confederação do Equador. Recife:FundaçãodeCulturaCidadedoRecife,1998.

Pósteres

163

TAVARES, Douglas da Silva. Rádio Oralidade Mediatizada e Letramento: Uma Perspectiva Sócio-Histórica.Recife:DissertaçãodeMestradodefendidanoProgramadePós-graduaçãoemLetrasUFPE,2009._____________________.ORádioeasEleiçõesPernambucanasde1958.Recife:RevistaCIENTECVol.4,no2,83-97,2012._____________________.Por umaHistória Social do Português de Pernambuco.Olinda: LivroRápido,2017.ENTRE UMA DISPUTA E OUTRA: UMA NARRATIVA SÓCIO-HISTÓRICA DA ENTRADA DE ESTRANGEIRISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA DE PERNAMBUCO ATRAVÉS DOS ESPORTES NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

LislySilvaUniversidade Federal de Pernambuco / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia dePernambucoDouglasdaSilvaTavaresInstitutoFederaldeEducação,CiênciaeTecnologiadePernambucoOpresente trabalhoé frutodeumapesquisaemHistóriaSocialdasLínguascujoobjetivoéestudarformasdeentradadeestrangeirismosnalínguaportuguesadoEstadodePernambuco,Brasil, durante a segunda metade do século XIX. Para tanto, seguimos os preceitosmetodológicos expressos em Burke & Porter (1987), Burke (2009), Leith (2003), Tavares(2009), Tavares (2012) e Tavares (2017) enquanto orientação do fazer científico da históriaSocialdasLínguas.Também,apoiamo-nosemKehdi(1992),Carvalho(1999)eCarvalho(2009)como referencial teórico da linguística voltado para uma compreensão dos fenômenos dasformações de palavras em língua portuguesa, dos empréstimos linguísticos e dosestrangeirismos.Ainda,temosHobsbawm(1988),Linhares(org.)(1996),OliveiraLima(1997),Sobrinho (1998), Fausto (1999), Enders (2012) e Schwarcz & Starling (2015) para umacompreensão da história tanto do Brasil quanto de Pernambuco no período de tempodelimitadonapesquisa.

OCorpus de nosso trabalho é composto de impressos publicados na cidade do Recife(capital do estado de Pernambuco) no período de tempo delimitado na referida pesquisa,quais são: Diário de Pernambuco, O Sport, Revista do Turf e Sportsman. Desse material,elegemos, enquanto foco das análises, as notícias referentes a práticas esportivas maispopulares na sociedade daqueles idos e as ocorrências de estrangeirismos presentes nossupracitadostextosnoticiosos.Nasequência,realizamosumacatalogaçãodasocorrênciasdeestrangeirismos e iniciamos a construção de uma narrativa histórica que nos permitisseconhecerasnuancessociaisehistóricasquepossibilitaramasentradasdessesestrangeirismosecomoespecificamentecadaumadelasocorreu.Palavras-chave:HistóriaSocialdasLínguas;Lexicologia;Estrangeirismos.Bibliografia:BURKE, Peter; PORTER, Roy.The social history of language – Cambridge studies in oral and literateculture.NewYork:ThePressSyndicateoftheUniversityofCambridge,1987.BURKE,Peter.LinguagenseComunidadesnosPrimórdiosdaEuropaModerna.Trad.CristinaYamagami.SãoPaulo:Ed.UNESP,2009.CARVALHO,Nelly.APalavraé.Recife:Ed.Líber,1999.________________.EmpréstimosLinguísticosnaLínguaPortuguesa.SãoPaulo:Cortez,2009.ENDERS,Armelle.ANovaHistóriadoBrasil.RiodeJaneiro:Gryphus,2012.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

164

FAUSTO,Boris.AConciseHistoryofBrazil.NewYork:Cambridge,1999.HOBSBAWN,Eric.AeradosImpérios:1875-1914.SãoPaulo:PazeTerra,1988.KEHDI,Valter.Formaçãodepalavrasemportuguês.SãoPaulo:Ática,1992.LEITH,Dick.ASocialHistoryofEnglish.8ed.NewYork:Routhledge,2003.LINHARES,MariaYeda(org.).HistóriaGeraldoBrasil.RiodeJaneiro:Campus,1996.OLIVEIRA LIMA, Manuel de. Pernambuco Seu Desenvolvimento Histórico. Recife: FUNDAJ, Ed.Massangana,1997.SOBRINHO, Barbosa Lima. Pernambuco: da Independência à Confederação do Equador. Recife:FundaçãodeCulturaCidadedoRecife,1998.SCHWARCZ,LiliaM.;STARLING,HeloisaM.Brasil:UmaBiografia.SãoPaulo:CompanhiadasLetras,2015.TAVARES, Douglas da Silva. Por uma História Social do Português de Pernambuco. Olinda: LivroRápido,2017._______________________.RádioOralidadeMediatizadaeLetramento:UmaPerspectivaSocio-Histórica.Recife:DissertaçãodeMestradodefendidanoProgramadePós-graduaçãoemLetrasUFPE,2009._____________________.ORádioeasEleiçõesPernambucanasde1958.Recife:RevistaCIENTECVol.4,no2,83-97,2012.VARIAÇÃO LEXICAL NO ATLAS GEOSSOCIOLINGUÍSTICO QUILOMBA DO NORDESTE DO PARÁ

MarceloPiresDiasUniversidadeFederaldoParáEste trabalho tem como objetivo apresentar aspectos da variação lexical diatópica no AtlasGeossociolinguístico Quilombola do Nordeste do Pará (AGQUINPA). O AGQUINPA é umatlas semântico-lexical equebuscadescrever emapear a variedade linguísticadoportuguêsafro-brasileirofaladonascomunidadesremanescentesdequilombosdaMesorregiãoNordestedo Pará por meio do inventário lexical, apresentar um levantamento histórico egeossociolinguístico das comunidades pesquisadas, elaborar cartas linguísticas semânticolexicais pluridimensionais, além de constituir um banco de dados geossociolinguístico. Ascomunidadesquilombolasque fazempartedoAGQUINPAestão localizadasnasáreasruraisdosmunicípiosdoNordestedoEstadodoPará(Brasil)esãoasseguintes:a)ComunidadedoRio Acaraqui/Campompema; b) Comunidade do Cacau; c) Comunidade Laranjituba; d)ComunidadeÁfrica;e)ComunidadeTaperinhaee)ComunidadeAmérica.Paraaelaboraçãodoatlas,utilizamoso instrumentalmetodológicodaGeografiaLinguística(CARDOSO,2010;GARCÍA MOUTON, 2015; TRUDGILL & CHAMBERS, 2003; VIAPLANA, 1996) e daGeolinguística Pluridimensional (THUN, 2010), considerando as dimensões diatópica,diassexualediageracional.Acoletadedadosfoirealizadaentreosanosde2014e2016,naqualse deu a aplicação do Questionário Semântico-lexical pertencente ao Atlas Linguístico doBrasil-ALiB(ALIB,2001).OsdadoscoletadosforamtranscritosgrafematicamentenosoftwaredeanotaçãolinguísticaELANeposteriormenteforamtrasladadosparaoBancodeDadosdoAGQUINPA. Os mapas foram confeccionados através da utilização da ferramenta degeorreferenciamentoeediçãodedadosgeorreferenciadosQuantumGIS(QGIS)versãoWien,alémdaferramentaColorBrewerparaacolorimetriadosmapas.Osmapassemântico-lexicaisgeradosmostraramapresençadeléxiconão-patrimonialenão-dicionarizado,alémdemaiorincidência de variação lexical entre as mulheres e entre os colaboradores mais velhos. OAGQUINPApossui153cartassemântico-lexicais,dasquais90foramdescritas.Palavras-chave:Dialetologia;Geossociolinguística;Quilombolas;Léxico.

Pósteres

165

Referências:CARDOSO,SuzanaA.M.Geolinguística:tradiçãoemodernidade.SãoPaulo:Parábola,2010.GARCÍAMOUTON,Pilar.Quéesvariaciónlinguística.In:HERNÁNDEZ,Esther;BUTRAGUEÑO,PedroMartín.Variaciónydiversidad:haciaunateoriaconvergente.México,D.F:ElColegiodeMéxico,2015.TRUDGILL,Peter;CHAMBERS,J.K.Dialectology.Cambridge:CambridgeUniversityPress,2003.THUN,H.AtlaslinguísticodiatópicoydiastráticodelUruguay-Norte(ADDU-Norte).Kiel:UniversitätzuKiel,2001.VIAPLANA,Joaquim.Dialectologia.Valencia:UniversitatdeValència,1996.DO VOSSA EXCELÊNCIA AO TU: USOS DAS FORMAS DE TRATAMENTO EM IMPRESSOS DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DA CIDADE DO RECIFE (BRASIL) PUBLICADOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

PalomaSilvaCavalcanteInstitutoFederaldeEducação,CiênciaeTecnologiadePernambucoDouglasdaSilvaTavaresInstitutoFederaldeEducação,CiênciaeTecnologiadePernambucoOpresente trabalhoestudaospronomese formasde tratamentoencontradosem impressospropagandísticosdeestabelecimentoscomerciaiseindustriaisdacidadedoRecife,estadodePernambuco (Brasil), publicados na segunda metade do século XIX. No referido estudo,buscamos compreender quais as formas mais empregadas pelos anunciantes paradirecionarem-se aos possíveis fregueses bem como quais as relações sociais e interpessoaisconstruídasapartirdetalseleção.

Assim,temosBurke&Porter(1987),Burke(2009),Leith(2003),Tavares(2009),Tavares(2012) e Tavares (2017) para uma compreensão do que vem a ser uma História Social dasLínguasecomoconcretizá-la.Também,apoiamo-nosemLinhares(org.)(1996),OliveiraLima(1997),Sobrinho(1998),Fausto(1999),Hobsbawm(2002),Enders(2012)eSchwarcz&Starling(2015)comvistasaumacompreensãodosfenômenoshistóricosesociaisdoperíododetempodelimitado na pesquisa. Em adição, adotamos Brown & Gilman (1960) e Oliveira (2004)enquantopontodepartidaparaumacompreensãolinguísticarelativaaospronomeseformasdetratamento.Porfim,buscamosBakhtin(2006)paraumareflexãoemtornodasideologiaspresentesnosdiscursosenasescolhasdessasformasdetratamento.Palavras-Chave:HistóriaSocialdasLínguas;FormasdeTratamento;PodereSolidariedade.Bibliografia:BAKHTIN,Mikhail.Marxismoefilosofiadalinguagem.SãoPaulo:HUCITEC,2006.BURKE, Peter; PORTER, Roy.The social history of language – Cambridge studies in oral and literateculture.NewYork:ThePressSyndicateoftheUniversityofCambridge,1987.BURKE,Peter.LinguagenseComunidadesnosPrimórdiosdaEuropaModerna.Trad.CristinaYamagami.SãoPaulo:Ed.UNESP,2009.BROWN, R.; GILMAN, A. The pronouns of power and solidarity. In: SEBEOK, T. A. (Ed.). Style inlanguage.Cambridge:MITPress,1960.p.253449.ENDERS,Armelle.ANovaHistóriadoBrasil.RiodeJaneiro:Gryphus,2012.FAUSTO,Boris.AConciseHistoryofBrazil.NewYork:Cambridge,1999.HOBSBAWN,EricJ.AeradosImpérios:1875-1914.SãoPaulo:PazeTerra,2002.LEITH,Dick.ASocialHistoryofEnglish.NewYork:Routledge,2013.LINHARES,MariaYeda(org.).HistóriaGeraldoBrasil.RiodeJaneiro:Campus,1996.MAIOR,A.Souto.HistóriadoBrasil.SãoPaulo:CompanhiaEditoraNacional,1988.

IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA

166

OLIVEIRA LIMA, Manuel de. Pernambuco Seu Desenvolvimento Histórico. Recife: FUNDAJ, Ed.Massangana,1997.OLIVEIRA, Sandi M. de . Para além de Poder e Solidariedade: Uma retrospectiva sobre formas detratamentoemPortugal (1982-2002) INSpecial issue:Second-PersonPronounsandFormsofAdress inContemporaryEuropeanLanguages'Franco-BritishStudies,no.33-34,pp.126-136.2004.SOBRINHO, Barbosa Lima. Pernambuco: da Independência à Confederação do Equador. Recife:FundaçãodeCulturaCidadedoRecife,1998.SCHWARCZ,LiliaM.;STARLING,HeloisaM.Brasil:UmaBiografia.SãoPaulo:CompanhiadasLetras,2015.TAVARES, Douglas da Silva. Rádio Oralidade Mediatizada e Letramento: Uma Perspectiva Sócio-Histórica.Recife:DissertaçãodeMestradodefendidanoProgramadePós-graduaçãoemLetrasUFPE,2009._____________________.ORádioeasEleiçõesPernambucanasde1958.Recife:RevistaCIENTECVol.4,no2,83-97,2012._____________________.Por umaHistória Social do Português de Pernambuco.Olinda: LivroRápido,2017.OS VERBOS SER/ESTAR/TER/HAVER NO LEAL CONSELHEIRO DE D. DUARTE

PauloOsórioUniversidadedaBeiraInteriorOpósteraapresentarresultadeumprojetoemcursoepretendeanalisarostraçossintáticosdos verbos Ser, Estar, Haver e Ter no Leal Conselheiro de D. Duarte, apresentando-se adescrição linguística da estrutura atributiva e dos tipos de posse no corpus. Para tal,seguiremos, de perto, as considerações de Mattos e Silva (2008) e tomaremos, por base, aclassificaçãosemântico-sintáticadepredicadosdesenvolvidapelaautora,bemcomoaanáliseda estrutura atributiva e do tipo de posse: a) predicados existenciais (ou impessoais); b)predicadosatributivossubdivididosemquatrotipos-b1)equativos(ouidentificacionais);b2)descritivos; b3) locativos; b4) possessivos -; c) predicados intransitivos e d) predicadostransitivos.

Noquerespeitaàestruturaatributiva,anossaanálise,paraalémdadefiniçãodotipodepredicado, decorrerá sob a discriminação semântica da estrutura atributiva, de acordo comMattos e Silva (2008), orientada para a compreensão do sentido em que se valoriza asignificaçãodaestrutura frásica,no intuitode interpretara intencionalidadediscursiva.Estetipo de estrutura subdivide-se nos seguintes grupos: Atributiva Descritiva Permanente;Atributiva Descritiva Transitória; Atributiva Locativa Permanente; Atributiva LocativaTransitória; Atributiva Locativa Nocional Permanente; Atributiva Locativa NocionalTransitóriaeAtributivaLocativaGeográfica.

Quantoaostiposdeposse,eadotando,igualmente,atipologiadeMattoseSilva(2008),ocorpusanalisadorevelaquecomHaverpredominamostiposBMAecomTerpredominamostiposBIA.Asestruturasdeposseevoluemdeformadiferentecomcadaverbo,sendoqueTersuperaHavernostiposBIAeHaversuperaTernostiposBMA.

Palavras-chave:LealConselheiro;verbosser/estar/ter/haver;estruturaatributiva;tiposdeposse.Referência:MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia (2008),O português arcaico. Uma aproximação. Vol. II - Sintaxe emorfologia,Lisboa,ImprensaNacionalCasadaMoeda.

Pósteres

167

DOS CAREIXÓNS ÓS AMORODOS. PERCORRIDO LEXICOGRÁFICO POLOS CONCEPTOS ‘AMORODO SILVESTRE’ E ‘AMORODO CULTIVADO’

RaquelVila-AmadoInstitutodaLinguaGalega–UniversidadedeSantiagodeCompostelaO careixón defínese, segundo o Dicionario da Real Academia Galega (DRAG), como un‘amorodo silvestre’, que é diferente óamorodo (coas variantes amorogo emorote), definidopoloDRAGcomo‘plantarastreira,dafamiliadasrosáceas,vivaz,defollaspilosas,florbrancacocentroamarelo,quedáun froitovermelloe carnosoen formadecorazón, conpequenaspebidasnapelebastantemáisgrandenavariedadecultivadacanaventureira’.Contodo,dadefinición do DRAG pode concluírse que o nome amorodo podería responder tanto ávariedadecultivada(oquesedenominaamorodo)comoáventureira(istoé,ócareixón).

ÓconsultaroDicionariodeDicionarios,nasprimeirasobraslexicográficassobrealinguagalega podemos atopar o termo amorodo en varios dicionarios con diferentes significados,entre eles o de ‘amorodo silvestre’, ao igual que careixón. Omesmo acontece ó buscar noTesourodoLéxicoPatrimonialGalegoePortugués:asfroitassilvestresreferidasaparecenbaixoadenominacióndeamorodoemorote.

Nun primeiro momento podería parecer que hai unha diferenza de significado entreamorodoecareixón;édicir,entreotermoreferidoófroitosilvestreeócultivado,maisocertoéqueosdousconceptossereferíannunprimeiromomentoávariedademontesía.Logo,coaincorporación do froito cultivado, procedente de fóra, incorporouse tamén o castelanismo*fresa.Máistardeoestándarrecorreríaótermoamorodoparadesignaresanovarealidadequeseincorporouóterritoriogalego.Palabrasclave:lexicografia;semântica;contactodelinguasBibliografía:GARCÍA, Constantino / Antón SANTAMARINA (dirs.), Francisco FERNÁNDEZ REI (coord.) (2016):Atlas Lingüístico Galego. Volume VI: Léxico. Terra, plantas e árbores. A Coruña / Santiago deCompostela:FundaciónBarrié/ServizodePublicaciónsdaUniversidadedeSantiagodeCompostela.SANTAMARINA,Antón(coord.):Dicionariodedicionarios.SantiagodeCompostela:InstitutodaLinguaGalega.<http://ilg.usc.gal/TILG/>[Consultado:<20/04/2017>].SANTAMARINA, Antón (coord.): Tesouro informatizado da lingua galega. Santiago de Compostela:InstitutodaLinguaGalega.<http://ilg.usc.es/TILG/>[Consultado:<20/04/2017>].