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IX ENCONTRO DA ABCP Ensino e Pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais OS CURSOS DE BACHARELADO EM CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL: REFLETINDO SOBRE A QUESTÃO DA DOCÊNCIA Luiz Fernando Nunes Moraes – UNINTER Ana Paula Ferraz Krueger – UNINTER Audren M. Azolin - UNINTER Bruna Tays Silva – UNINTER/UFPR Brasília, DF 04 a 07 de agosto de 2014

IX ENCONTRO DA ABCP Ensino e Pesquisa em Ciência Política ... · aqui se as promessas nos sites dos cursos têm reflexo na grade curricular dos mesmos. 2.1- A promessa dos cursos:

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IX ENCONTRO DA ABCP

Ensino e Pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais

OS CURSOS DE BACHARELADO EM CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL:

REFLETINDO SOBRE A QUESTÃO DA DOCÊNCIA

Luiz Fernando Nunes Moraes – UNINTER

Ana Paula Ferraz Krueger – UNINTER

Audren M. Azolin - UNINTER

Bruna Tays Silva – UNINTER/UFPR

Brasília, DF 04 a 07 de agosto de 2014

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OS CURSOS DE BACHARELADO EM CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL:

REFLETINDO SOBRE A QUESTÃO DA DOCÊNCIA

Luiz Fernando Nunes Moraes – UNINTER

Ana Paula Ferraz Krueger – UNINTER

Audren M. Azolin - UNINTER

Bruna Tays Silva – UNINTER/UFPR Resumo

Em 1989, a UnB criou o primeiro curso de bacharelado em Ciência Política no Brasil, com

uma proposta diferente da formação de cientistas políticos dentro da linha de formação das

ciências sociais. Desde então, foram criados 16 cursos dessa natureza. A justificativa é:

formação/qualificação de cientistas políticos para o mercado de trabalho fora da academia.

Para tanto, buscou-se reflexões a respeito da docência destes cursos: debates em Grupos

de Trabalho; das nossas pesquisas sobre a relação do campo científico (ciência política),

acadêmico (ensino de ciência política) e mercadológico (mercado da política) e, em mesas

temáticas em congressos de Ciência Política. A metodologia empregada utilizou o banco de

dados do Grupo de Pesquisa e Análise de Conteúdo, obtendo três resultados: a diferença

entre a linha de formação em Ciência Política; a identificação da natureza dos cursos e os

objetivos quanto à formação/qualificação. A importância deste trabalho consiste na

apresentação da estrutura, dos objetivos e da natureza dos cursos de bacharelado em

Ciência Política no Brasil para que se possa pensar no perfil do corpo docente mais

adequado para cursos dessa natureza.

Palavras-chave: Cursos de Ciência Política no Brasil; Ensino de Ciência Política; Docência.

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1- INTRODUÇÃO

Em 1989, a Universidade de Brasília - UnB criou o primeiro curso de bacharelado em

Ciência Política no Brasil, com uma proposta diferente da formação de cientistas políticos

dentro da tradicional linha de formação das ciências sociais. Desde então, foram criados 16

cursos dessa natureza em Instituições de Ensino Superior – IES públicas e particulares,

espalhados por todas as regiões do país, encontrando-se atualmente 13 cursos em

atividade.

A justificativa para a criação desses cursos é bem clara: formação/qualificação de

cientistas políticos para o mercado de trabalho fora da academia, que denominamos de

mercado da política. Isso não significa que esses cursos não formem egressos para seguir a

vida acadêmica (professor universitário, mestres e doutores). Nesse sentido, a proposta é

chamar a atenção para a direção e a natureza da formação do cientista político sejam para o

mercado da política ou para o mercado acadêmico.

Para tanto, percebeu-se que não havia nenhuma pesquisa, pelo menos publicada,

sobre os cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil e o mercado de trabalho no

qual se insere o cientista político, em especial fora da academia. Posto isso, em 2012 foi

criado o Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política no Centro Universitário Internacional

Uninter com o propósito de pesquisar a relação entre ciência política (campo científico),

ensino de ciência política - mais especificamente sobre a formação/qualificação do cientista

político (campo acadêmico) e mercado da política (campo mercadológico).

Neste trabalho, estamos trazendo algumas reflexões a respeito da docência dos

cursos de bacharelado em Ciência Política em três momentos: i) dos debates nos Grupos de

Trabalhos/Área Temáticas que apresentamos artigos; ii) das nossas pesquisas sobre a

relação acima citada e, iii) dos debates em mesas temáticas que assistimos nos seminários

e congressos de Ciência Política, mais especificamente: na Asociación Latinoamericana de

Ciencia Política - ALACIP 2013; Associação Brasileira de Ciência Política - ABCP em 2012;

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS em 2013 e Sociedad Argentina de

Análisis Política - SAAP em 2013.

A questão docente emerge porque a partir desses momentos, nos questionamos

sobre a qualificação dos docentes dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil,

já que, diferente da formação do cientista político dentro da linha de formação em ciências

sociais, os cursos focam a qualificação dos egressos para o mercado de trabalho.

Dentro da proposta apresentada, o artigo tem quatro objetivos bem delineados: i)

Analisar os sites dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil; ii) Analisar os

projetos políticos pedagógicos (ementas) dos cursos de bacharelado em Ciência Política no

Brasil; iii) Analisar as ementas, a partir do banco de dados do Grupo de Pesquisa Ensino de

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Ciência Política, dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil e, iv) Analisar, a

partir dos relatórios de atividades do Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política, os

principais aspectos abordados nos debates em mesas temáticas que assistimos nos

seminários e congressos de Ciência Política na ALACIP 2013; ABCP em 2012; UFRGS em

2013 e SAAP em 2013.

Assim, por meio dessas análises, é possível entender a proposta de formação/qualificação

dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil fazendo-nos refletir e questionar

sobre qual o perfil de docentes é mais adequado aos cursos dessa natureza.

A metodologia empregada neste paper utiliza enquanto fonte secundária o banco

de dados do Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política. Para análise dos projetos

políticos pedagógicos, ementas e o site dos cursos, utilizou-se a Análise de Conteúdo, pois

a mesma nos instrumentaliza analisar textos considerando o contexto de sua produção.

Alcançamos três resultados importantes para que se possa refletir sobre a docência

dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil: i) a diferença entre a linha de

formação em Ciência Política dentro dos cursos de ciências sociais e os cursos de

bacharelado em Ciência Política; ii) A identificação da natureza dos cursos de bacharelado

em Ciência Política no Brasil e, iii) A identificação dos objetivos dos cursos de bacharelado

em Ciência Política no Brasil quanto à formação/qualificação dos egressos.

As análises dos dados dos sites dos cursos, das ementas e dos projetos políticos

pedagógicos deixam bem claro que o objetivo dos cursos dessa natureza é qualificar os

egressos para o mercado da política. Este se encontra dividido em três grandes áreas:

Eleições/Gestão e Estratégia de Campanhas Eleitorais; Administração Pública/Análise de

Políticas Públicas e Gestão Governamental e Relações Políticas/Relações Governamentais

e Institucionais.

Os cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil visam qualificar, e este é

seu foco principal, seus egressos para o mercado da política (mercado fora da academia).

Por sua vez, a linha de formação em ciência política dentro das ciências sociais foca o

mundo acadêmico (magistério superior, mestrado e doutorado), logo, a natureza dos cursos

de bacharelado em Ciência Política é de Ciências Sociais Aplicadas.

Em síntese, a importância em identificar os objetivos dos cursos e a sua natureza é

fundamental para determinar o perfil do corpo docente. A partir dos debates nas mesas

temáticas sobre Ciência Política no Brasil, percebeu-se que um dos grandes problemas dos

cursos é a pouca, ou nenhuma existência de cientistas políticos no corpo docente dos

cursos. O resultado deste trabalho consiste na apresentação da estrutura, dos objetivos e da

natureza dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil para que se possa pensar

no perfil do corpo docente mais adequado para cursos dessa natureza.

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2- A FORMAÇÃO/QUALIFICAÇÃO DO CIENTISTA POLÍTICO

Nesta seção procura-se detalhar as atividades do cientista político no mercado da

política na perspectiva dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil. Analisa-se

aqui se as promessas nos sites dos cursos têm reflexo na grade curricular dos mesmos.

2.1- A promessa dos cursos: o mercado de trabalho

Os cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil focam nos seus sites, com

exceção da Universidade do Pampa1, o mercado de trabalho no qual se insere o bacharel

em Ciência Política. Por exemplo, o site da UnB:

Quem se identifica com esse nicho pode prestar assessoria política aos órgãos públicos e às empresas privadas. No caso de Brasília, o mercado é amplo, com espaço nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Porém, as ofertas não estão só na capital: prefeituras também contam com serviços de consultoria na área. O bacharel em Ciência Política pode trabalhar em partidos, institutos de pesquisa ou com marketing político. No setor privado, o profissional pode atuar em bancos e indústrias como analista e organizador de estratégias políticas (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, 2008).

O foco do curso da UnB condiz claramente com a formação/qualificação para o

mercado da política. O curso da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE segue a

mesma lógica:

O bacharel em ciência política é um profissional habilitado a trabalhar [...]: instituições políticas (Senado, Câmara dos Deputados, sistemas de governo, sistemas eleitorais, Poder Judiciário, etc.), políticas públicas (planejamento e gestão pública, formulação e avaliação de políticas públicas, políticas sociais, etc.), eleições (pesquisas eleitorais, estratégias eleitorais, partidos políticos, etc.), relações internacionais (política externa, política internacional, diplomacia, etc.) e comportamento político (mobilizações sociais, organizações da sociedade civil, opinião pública, etc.) (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2009).

O que se observa é que a maioria dos cursos fazem poucas referências ao mercado

acadêmico. As Instituições de Ensino Superior - IES particulares também apresentam o

mesmo foco:

As opções de atuação para o profissional de Ciência Política estão tanto no setor público quanto na área privada. Nos órgãos governamentais, o profissional exerce assessoria parlamentar, consultoria legislativa e gestão pública, sendo um especialista em políticas públicas, orçamentos e planejamento. No ramo empresarial, há vagas para assessoria governamental, consultoria política e pesquisador em institutos, analisando dados e resultados. Outra opção é exercer consultoria política para empresas, partidos políticos, sindicatos, veículos de comunicação, organizações não

1 Neste site não se faz referência ao mercado de trabalho acadêmico nem fora desse espaço.

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governamentais e movimentos sociais (CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER, S/D).

Fica claro que a proposta do curso do Centro Universitário Internacional Uninter é

focada na qualificação dos seus egressos para o mercado da política. A Universidade

Luterana do Brasil – Ulbra também foca nesse mercado, pois:

[...] marcado por novas demandas na arena política, a Universidade criou em 1994 a primeira graduação em Ciência Política no Rio Grande do Sul, cujo objetivo principal é formar profissionais capacitados para prestar assessoria para parlamentares, partidos políticos, empresas e órgãos públicos, empresas privadas amparados no background teórico desenvolvido pela ciência política, e no controle dos instrumentos aplicados especializados desta área do conhecimento (UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, S/D).

O curso do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF destaca o seguinte:

Brasília, como capital federal, é sede do Governo Federal e do Distrito Federal e mantém todas as instituições dos três poderes, além da estrutura institucional do Distrito Federal. Como capital, ainda mantém a sede dos organismos internacionais e embaixadas, bem como grandes organizações do terceiro setor. Todo esse contexto proporciona um amplo mercado de trabalho para o cientista político, principalmente aqueles com aprofundamento em conhecimento do sistema de produção de políticas públicas (CENTRO UNIVERSITÁRIO DO DISTRITO FEDERAL, 2013).

É notório que os cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil focam, quase

que, exclusivamente, no mercado de trabalho fora da academia, no qual se insere o cientista

político.

Sendo assim, a partir de nossa análise dos sites dos cursos classificamos as

atividades do cientista político no mercado de trabalho (aqui incluindo o mercado

acadêmico) em quatro áreas: 1) Magistério Superior; 2) Gestão e Estratégia de Campanha

Eleitoral; 3) Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamental e, 4) Relações

Governamentais e Institucionais.

Entretanto, a questão que surge é: os Projetos Políticos Pedagógicos dos cursos

focam no mercado de trabalho fora da academia, ou os discursos que figuram nos sites são

instrumentos de marketing para atrair pessoas interessadas nesse mercado e também atrair

aqueles que já trabalham na área?

2.2- Os Projetos Políticos Pedagógicos

Analisamos seis projetos políticos pedagógicos dos cursos de bacharelado em Ciência

Política no Brasil2. O objetivo é identificar duas questões: saber se essa ênfase no mercado

de trabalho fora da academia figura no projeto pedagógico, bem como entender o porquê da

2 Analisamos apenas seis projetos políticos pedagógicos aos quais tivemos acesso. Um curso, por exemplo, se

negou a nos encaminhar o projeto político pedagógico e outro curso não nos encaminhou até o momento. Os

demais não conseguimos entrar em contato com os cursos (respectivos coordenadores).

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criação de cursos de formação em Ciência Política fora da tradicional linha de formação das

ciências sociais.

A primeira resposta nós encontramos no projeto político pedagógico do Centro

Universitário Internacional Uninter:

O Curso de Bacharelado em Ciência Política da Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER3 – visa a fornecer instrumentos técnicos para o desenvolvimento e gerenciamento de campanhas eleitorais e gestão pública, além de conhecimento científico voltado para a reflexão sobre a organização e a lógica do Estado, poder e governo (CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER, 2012, p. 13).

Logo na seqüência afirma que, “[...] no caso específico de Curitiba, contamos com o

curso de Ciências Sociais da UFPR que possui uma vocação mais acadêmica [...]”

(CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER, 2012, p. 14). Posto isso,

entendemos que dentro dessa perspectiva, os cursos de bacharel em Ciência Política focam

na formação/qualificação de seus egressos para o mercado de trabalho fora da academia e,

por sua vez, os cursos que formam cientistas políticos dentro da linha de formação das

ciências sociais formam seus egressos para academia (magistério superior, mestrado e

doutorado).

O projeto político pedagógico da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

parece que, de certa forma, corrobora com a distinção acima apresentada, pois afirma que:

Na sociedade, a deficiência da atual graduação em Ciências Sociais é sentida principalmente na dificuldade de alocação dos seus egressos nos espaços sociais em que os cientistas políticos são mais acolhidos, como os diversos níveis da esfera estatal, as ONGs, os institutos de pesquisa, etc. Esses espaços terminam por ser ocupados por egressos da pós-graduação e/ou graduados de outros cursos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2012, p. 14).

O projeto político pedagógico do curso de bacharelado em Ciência Política da

Universidade Federal do Piauí - UFPI é bastante contundente:

A formação que tem sido dada até o momento, na área, não tem contemplado as necessidades de qualificação teórico-metodológica capaz de abarcar os novos desafios colocados pela sociedade à Universidade, o que justifica a implantação do Bacharelado em Ciência Política. Dessa forma, esse curso procura atender as novas demandas impostas pela dinâmica social (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ, 2010, p. 5).

A resposta a nossa indagação está bem clara nesses projetos políticos pedagógicos:

a formação em Ciência Política enquanto linha de formação dentro das ciências sociais não

qualifica seus egressos para o mercado de trabalho fora da academia. Essas novas

demandas consistem em qualificar cientistas políticos para o mercado da política.

3 Antes de se tornar Centro Universitário Internacional Uninter chamava-se Faculdade Internacional de Curitiba

– Facinter. O status de Centro Universitário foi conferido em 2012.

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Ainda dentro desse quadro, o projeto político pedagógico da Universidade Luterana do

Brasil - Ulbra enfatiza o seguinte:

[...] compreende um elenco de disciplinas cujo objetivo é transmitir aos alunos conhecimentos teóricos de política aplicada, preparando-o para atuar como profissional no mercado político, e em atividades de assessoramento legislativo e de governo, a exemplo das disciplinas de Planejamento de Campanha Eleitoral, Marketing Político, Pesquisa de Opinião Qualitativa, Pesquisa de Opinião Quantitativa, Políticas Públicas e Projetos de Políticas Públicas (UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, 2012).

O projeto político pedagógico do curso da UFPI destaca que:

[...] a formação em Ciência Política tem a capacidade de preencher os requisitos necessários para a atuação em diversos setores da sociedade piauiense, como: órgãos governamentais (assessoramento de políticas públicas, desde sua formulação, implementação e avaliação etc.), Organizações Não-Governamentais (ONG´s), sindicatos, movimentos sociais, instituições da iniciativa privada (institutos de pesquisa, consultorias, entre outros), docência superior etc. A exigência atual por profissionais que compreendam a natureza e as especificidades das relações de poder põe a atividade do cientista político, em nosso estado, como importante campo de atuação (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ, 2010, p. 5).

Esses projetos políticos pedagógicos nos permitem afirmar que os cursos de

bacharelado em Ciência Política estão no espectro do que podemos nominar de Ciência

Política Aplicada. Por sua vez, a Ciência Política enquanto linha de formação dentro dos

cursos de ciências sociais está no espectro da Ciência Política Acadêmica.

Embora faça parte dos projetos políticos pedagógicos a ênfase no mercado de

trabalho fora da academia, pode realmente nos permitir dizer se criam-se condições de

qualificar cientistas políticos para o mercado de trabalho fora da academia? Para

Schwartzman (1977), não há uma qualificação “adequada”. Segundo o autor, a Ciência

Política, enquanto disciplina acadêmica, “[...] não gera uma tecnologia social própria, nem dá

base a uma profissão” (SCHWARTZMAN, 1977). Enquanto que, para Nascimento (2008),

existem ainda alguns obstáculos. Nessa perspectiva, ele afirma que:

Do lado da Ciência Política, pelo menos a curto prazo, não há chances de serem criadas graduações em Ciência Política nas universidades públicas – com o objetivo de inverter o padrão de dependência herdado em relação a Sociologia –, dada a forte presença dos cursos de Direito e de Administração como fornecedores de quadros para a burocracia estatal. [...], parece ser um padrão sem chances de mudança em horizonte próximo (NASCIMENTO, 2008, p. 26).

Diante destas colocações torna-se importante analisar a seguir, as ementas dos

cursos para verificarmos se existem disciplinas em condições de gerar uma tecnologia

própria da Ciência Política que qualifique para o mercado.

2.3- Dados sobre as ementas

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Para efeito de análise das ementas dos cursos de bacharelado em Ciência Política no

Brasil, utilizaremos as classificações elaboradas pelo Grupo de Pesquisa - a distinção entre

cursos de Instituições públicas de particulares e a classificação das ementas em quatro

grandes grupos de disciplinas: 1) grupo de disciplinas com características teóricas; 2) grupo

de disciplinas relacionadas ao tema eleições; 3) grupo de disciplinas relacionadas ao tema

administração pública e, 4) grupo de disciplinas relacionadas ao tema relações políticas.

A classificação apresentada acima é coerente com as quatro áreas de atividades do

cientista político no mercado de trabalho que elaboramos a partir da análise dos sites:

Magistério Superior (disciplinas com características teóricas), Gestão e Estratégia de

Campanha Eleitoral (Eleições), Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental

(Administração Pública) e Relações Governamentais e Institucionais (Relações Políticas).

Dividimos as disciplinas em duas categorias: aplicadas e não aplicadas. A primeira é

um conjunto de disciplinas aplicadas ao mercado de trabalho fora da academia. Por sua vez,

a segunda é composta de disciplinas puramente teóricas. Esta distinção é importante para

compreendermos se os cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil estão

qualificando seus egressos para academia ou para o mercado de trabalho fora da academia.

2.3.1- Os cursos de bacharelado em Ciência Política das Instituições de Ensino Superior

públicas

Nesta subseção apresentamos os dados referentes ao conjunto de disciplinas

aplicadas e não aplicadas, por áreas de atividades do cientista político fora da academia e

por disciplinas de características teóricas. O gráfico 1 nos permite analisar os dados a

respeito das disciplinas aplicadas e não aplicadas.

Gráfico 1: Instituições de Ensino Superior – IES Públicas – dividido em disciplinas

aplicadas e não aplicadas

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Percebe-se que o conjunto de disciplinas aplicadas é da ordem de 40,93%. Por sua

vez, o conjunto de disciplinas não aplicadas é da ordem de 59,07%. A diferença entre as

duas categorias é de 18,14 pontos percentuais. Embora haja uma maior quantidade de

40,93

59,07

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

APLICADAS NÃO

APLICADAS

%

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disciplinas não aplicadas, as disciplinas aplicadas apresentam uma quantidade bastante

considerável.

Porém, não basta identificar se há ou não disciplinas aplicadas, mas também se há

relação entre disciplinas aplicadas e o mercado da política, segundo a classificação que

elaboramos a partir dos sites dos cursos. A comparação em busca da coerência entre o que

está exposto nos sites e a ementa das disciplinas significa, a priori, que os discursos nos

sites não são meros instrumentos de marketing. Os dados do gráfico abaixo podem

responder a essa questão.

Gráfico 2: Instituições de Ensino Superior – IES Públicas – por área de atividade

profissional no mercado da política

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

As disciplinas aplicadas se enquadram nas três áreas de atividade profissional do

mercado da política: Eleições/Gestão e Estratégia de Campanha Eleitoral, Administração

Pública/Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamental e Relações

Políticas/Relações Governamentais e Institucionais. Observa-se que a ênfase dos cursos de

bacharelado em Ciência Políticas das IES Públicas encontra-se na área de Administração

Pública, com 37,78% das disciplinas destinadas a qualificar os egressos para esta área. A

segunda ênfase é na área Eleições, na ordem de 35,56% das disciplinas aplicadas. E, por

último, a área de Relações Governamentais com 26,67% das disciplinas.

Os editais publicados pelos órgãos/entidades governamentais e entidades

internacionais4 exigem conhecimentos sobre metodologia. Para tanto, analisamos nas

ementas dos cursos o conjunto de disciplinas metodológicas e as classificamos como sendo

aplicadas. Neste particular, o gráfico abaixo é bastante elucidativo:

Gráfico 3: Instituições de Ensino Superior – IES Públicas – por área de atividade

profissional no mercado da política considerando disciplinas metodológicas

4 Os quais serão vistos posteriormente

35,56 37,7826,67

0,00

50,00

Eleições Relações

governamentais

%

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Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

As disciplinas me

aplicadas com 43,04% das disciplinas. A área Administração Pública, a maior ênfase

quando não consideradas as disciplinas metodológicas, com 21,52%, depois Eleições com

20,25% e uma menor ênfase nas

ordem de 15,19%.

O conjunto das disciplinas metodológicas é exatamente o dobro do conjunto das

disciplinas da área de Administração Pública. O somatório das disciplinas (das áreas

Eleições, Administração Pública e Relações Governamentais) é de 56,96%. A diferença

desse somatório das disciplinas metodológicas é da ordem de 13,92 pontos percentuais.

Os cursos de bacharelado em Ciência Política das IES públicas apresentam o que

chamamos de nexo qualificacio

mercado da política (atividades).

A análise considerou também disciplinas de outras áreas do conhecimento. O gráfico

abaixo demonstra essa representação:

Gráfico 4: Instituições de Ensino

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Estas são disciplinas do Grupo de características teóricas. A disciplina Teoria Política

é a de maior ênfase na ordem de 21,93% do total de disciplinas. As disciplinas de Ciência

Política e Sociologia ocupam o segundo lugar com 15,79% cada. Em terceiro lugar Relações

Internacionais com 12,28%. A menor ênfase é em Antropologia com 5,26%.

20,25 21,52

0,00

20,00

40,00

60,00 %

0,005,00

10,0015,0020,0025,00

7,89 7,8915,79

21,93

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

As disciplinas metodológicas assumem uma maior ênfase entre as disciplinas

aplicadas com 43,04% das disciplinas. A área Administração Pública, a maior ênfase

quando não consideradas as disciplinas metodológicas, com 21,52%, depois Eleições com

20,25% e uma menor ênfase nas disciplinas da área de Relações Governamentais, na

O conjunto das disciplinas metodológicas é exatamente o dobro do conjunto das

disciplinas da área de Administração Pública. O somatório das disciplinas (das áreas

Pública e Relações Governamentais) é de 56,96%. A diferença

desse somatório das disciplinas metodológicas é da ordem de 13,92 pontos percentuais.

Os cursos de bacharelado em Ciência Política das IES públicas apresentam o que

nexo qualificacional, isto é, a relação direta entre disciplinas (qualificação) e

mercado da política (atividades).

A análise considerou também disciplinas de outras áreas do conhecimento. O gráfico

abaixo demonstra essa representação:

Gráfico 4: Instituições de Ensino Superior – IES Públicas – disciplinas não aplicadas

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Estas são disciplinas do Grupo de características teóricas. A disciplina Teoria Política

nfase na ordem de 21,93% do total de disciplinas. As disciplinas de Ciência

Política e Sociologia ocupam o segundo lugar com 15,79% cada. Em terceiro lugar Relações

Internacionais com 12,28%. A menor ênfase é em Antropologia com 5,26%.

15,19

43,04

21,9315,79

7,0212,28

5,26 6,14

todológicas assumem uma maior ênfase entre as disciplinas

aplicadas com 43,04% das disciplinas. A área Administração Pública, a maior ênfase

quando não consideradas as disciplinas metodológicas, com 21,52%, depois Eleições com

disciplinas da área de Relações Governamentais, na

O conjunto das disciplinas metodológicas é exatamente o dobro do conjunto das

disciplinas da área de Administração Pública. O somatório das disciplinas (das áreas

Pública e Relações Governamentais) é de 56,96%. A diferença

desse somatório das disciplinas metodológicas é da ordem de 13,92 pontos percentuais.

Os cursos de bacharelado em Ciência Política das IES públicas apresentam o que

, isto é, a relação direta entre disciplinas (qualificação) e

A análise considerou também disciplinas de outras áreas do conhecimento. O gráfico

disciplinas não aplicadas

Estas são disciplinas do Grupo de características teóricas. A disciplina Teoria Política

nfase na ordem de 21,93% do total de disciplinas. As disciplinas de Ciência

Política e Sociologia ocupam o segundo lugar com 15,79% cada. Em terceiro lugar Relações

Internacionais com 12,28%. A menor ênfase é em Antropologia com 5,26%.

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2.3.2 – Os cursos de bacharelado em Ciência Política das Instituições de Ensino Superior

particulares

Analisamos também as ementas dos cursos de bacharelado em Ciência Política das

Instituições de Ensino Superior – IES Particulares. Os dados nos mostram o seguinte

panorama, conforme o gráfico abaixo:

Gráfico 5: Instituições de Ensino Superior – IES Particulares – dividido em disciplinas

aplicadas e não aplicadas

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Os cursos de bacharelado em Ciência Política das IES Particulares apresentam

também uma quantidade bastante significativa de disciplinas aplicadas, na ordem de

45,83%, contra 54,17% de disciplinas não aplicadas. A diferença entre essas categorias é

da ordem de 8,34 pontos percentuais. Em relação às três áreas encontramos os seguintes

dados:

Gráfico 6: IES Particulares – por área de atividade profissional no mercado da política

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Assim como nos cursos das Instituições Públicas, as disciplinas aplicadas se

enquadram nas três áreas de atividade profissional do mercado da política: Eleições/Gestão

e Estratégia de Campanha Eleitoral, Administração Pública/Análise de Políticas Públicas e

Gestão Governamental e Relações Políticas/Relações Governamentais e Institucionais.

Considerando as três áreas do mercado da política, os dados referentes às IES

Particulares demonstram que as áreas Eleições e Administração Pública são as mais

45,83

54,17

40,00

45,00

50,00

55,00

APLICADAS NÃO

APLICADAS

%

40,91 40,91

18,18

0,00

20,00

40,00

60,00

Eleições Relações

governamentais

%

Page 13: IX ENCONTRO DA ABCP Ensino e Pesquisa em Ciência Política ... · aqui se as promessas nos sites dos cursos têm reflexo na grade curricular dos mesmos. 2.1- A promessa dos cursos:

enfatizadas, ambas com 40,91% das disciplinas. A menos enfatizada é a área de Relações

Governamentais com 18,18% das disciplinas. Quando consideramos as disciplinas

metodológicas, os dados são os seguintes:

Gráfico 7: IES Particulares

considerando disciplinas metodológicas

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Quando consideramos as disciplinas metodológicas, estas assumem

importância, na ordem de 33,33%. Por sua vez, as áreas Eleições e Administração Pública

são as segundas mais enfatizadas, na ordem de 27,27% cada e Relações Governamentais

a menos enfatizadas na ordem de 12,12%. Em relação às disciplinas não aplicad

dados se apresentam da seguinte forma:

Gráfico 8: Instituições de Ensino Superior

aplicadas

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

A ordem de importância das disciplinas não aplicadas é a seguinte: Teoria Política é

a de maior ênfase juntamente com Relações Internacionais, na ordem de 17,95% cada. Em

segundo lugar Sociologia e Direito, 12,82% cada. Ciência Política, com 10,26% figura em

terceiro lugar. Economia é a quarta mais importante com 7,69%, depois Antropologia com

5,13% e, por fim, História com 2,56%.

0,0020,0040,00

27,27 27,2712,12

%

12,827,69

10,26

0,00

10,00

20,00

enfatizadas, ambas com 40,91% das disciplinas. A menos enfatizada é a área de Relações

Governamentais com 18,18% das disciplinas. Quando consideramos as disciplinas

metodológicas, os dados são os seguintes:

Gráfico 7: IES Particulares – por área de atividade profissional no mercado da política

considerando disciplinas metodológicas

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Quando consideramos as disciplinas metodológicas, estas assumem

importância, na ordem de 33,33%. Por sua vez, as áreas Eleições e Administração Pública

são as segundas mais enfatizadas, na ordem de 27,27% cada e Relações Governamentais

a menos enfatizadas na ordem de 12,12%. Em relação às disciplinas não aplicad

dados se apresentam da seguinte forma:

Gráfico 8: Instituições de Ensino Superior – IES Particulares

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

importância das disciplinas não aplicadas é a seguinte: Teoria Política é

a de maior ênfase juntamente com Relações Internacionais, na ordem de 17,95% cada. Em

segundo lugar Sociologia e Direito, 12,82% cada. Ciência Política, com 10,26% figura em

lugar. Economia é a quarta mais importante com 7,69%, depois Antropologia com

5,13% e, por fim, História com 2,56%.

12,1233,33

10,26

17,9512,82

2,56

17,95

5,13

12,82%

enfatizadas, ambas com 40,91% das disciplinas. A menos enfatizada é a área de Relações

Governamentais com 18,18% das disciplinas. Quando consideramos as disciplinas

rea de atividade profissional no mercado da política

Quando consideramos as disciplinas metodológicas, estas assumem grande

importância, na ordem de 33,33%. Por sua vez, as áreas Eleições e Administração Pública

são as segundas mais enfatizadas, na ordem de 27,27% cada e Relações Governamentais

a menos enfatizadas na ordem de 12,12%. Em relação às disciplinas não aplicadas os

IES Particulares – disciplinas não

importância das disciplinas não aplicadas é a seguinte: Teoria Política é

a de maior ênfase juntamente com Relações Internacionais, na ordem de 17,95% cada. Em

segundo lugar Sociologia e Direito, 12,82% cada. Ciência Política, com 10,26% figura em

lugar. Economia é a quarta mais importante com 7,69%, depois Antropologia com

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Até aqui identificamos a relação entre os discursos dos sites e os projetos político

pedagógicos, o que inclui as disciplinas e ementas. Ma

organização dos cursos e o mercado da política?

3- O MERCADO DE TRABALHO DO CIENTISTA POLÍTICO NO BRASIL

O banco de dados do Grupo de Pesquisa classificou, para efeito de análise, o

mercado de trabalho do cientista político no Brasil em segmentos públicos e privados, já que

esta distinção figura nos sites dos cursos.

3.1- Consultorias privadas

O Grupo de Pesquisa analisou 26 sites de empresas de consultorias políticas. As

atividades dessas empresas estão dentro de uma classificação aqui apresentada:

Estratégia de Campanha Eleitoral

Relações Governamentais e Institucionais

Muitas empresas de consultoria política atuam em mais de um

três áreas do mercado da política. O gráfico abaixo mostra os dados das áreas em que as

empresas atuam.

Gráfico 9: Áreas nas quais as empresas atuam

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário

A partir dos dados percebe

Estratégia de Campanha Eleitoral, na ordem de 44,19%. A segunda área de maior atuação

das empresas é a de Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamenta

das empresas. Por fim, na área de Relações Governamentais e Institucionais com 25,58%.

Em outra análise, buscou

de consultoria atuando em mais de uma área poderia apresentar o foco em ape

áreas como mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 10: Foco das empresas de consultoria política

0,0020,0040,0060,00

44,19

Até aqui identificamos a relação entre os discursos dos sites e os projetos político

pedagógicos, o que inclui as disciplinas e ementas. Mas há uma relação significativa entre a

organização dos cursos e o mercado da política?

O MERCADO DE TRABALHO DO CIENTISTA POLÍTICO NO BRASIL

O banco de dados do Grupo de Pesquisa classificou, para efeito de análise, o

cientista político no Brasil em segmentos públicos e privados, já que

esta distinção figura nos sites dos cursos.

O Grupo de Pesquisa analisou 26 sites de empresas de consultorias políticas. As

esas estão dentro de uma classificação aqui apresentada:

Estratégia de Campanha Eleitoral, Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamental

Relações Governamentais e Institucionais.

Muitas empresas de consultoria política atuam em mais de um

três áreas do mercado da política. O gráfico abaixo mostra os dados das áreas em que as

Gráfico 9: Áreas nas quais as empresas atuam

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

A partir dos dados percebe-se que as empresas atuam mais na área de Gestão e

Estratégia de Campanha Eleitoral, na ordem de 44,19%. A segunda área de maior atuação

das empresas é a de Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamenta

das empresas. Por fim, na área de Relações Governamentais e Institucionais com 25,58%.

Em outra análise, buscou-se identificar o foco das empresas. Mesmo uma empresa

de consultoria atuando em mais de uma área poderia apresentar o foco em ape

áreas como mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 10: Foco das empresas de consultoria política

30,23 25,58

Até aqui identificamos a relação entre os discursos dos sites e os projetos político

s há uma relação significativa entre a

O MERCADO DE TRABALHO DO CIENTISTA POLÍTICO NO BRASIL

O banco de dados do Grupo de Pesquisa classificou, para efeito de análise, o

cientista político no Brasil em segmentos públicos e privados, já que

O Grupo de Pesquisa analisou 26 sites de empresas de consultorias políticas. As

esas estão dentro de uma classificação aqui apresentada: Gestão e

Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamental e

Muitas empresas de consultoria política atuam em mais de uma área, às vezes nas

três áreas do mercado da política. O gráfico abaixo mostra os dados das áreas em que as

se que as empresas atuam mais na área de Gestão e

Estratégia de Campanha Eleitoral, na ordem de 44,19%. A segunda área de maior atuação

das empresas é a de Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamental, com 30,23%

das empresas. Por fim, na área de Relações Governamentais e Institucionais com 25,58%.

se identificar o foco das empresas. Mesmo uma empresa

de consultoria atuando em mais de uma área poderia apresentar o foco em apenas uma das

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Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

O foco principal das empresas de consultoria privada

área Gestão e Estratégia de Campanha Eleitoral, na ordem de 57,69%. O segundo foco é

na área Relações Governamentais e Institucionais, com 26,92%. E, por fim, na área de

Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamental co

3.2- Consultorias públicas

Segundo o banco de dados do Grupo de Pesquisa, foram analisados 37 editais de

diversos órgãos/entidades públicas publicados nos anos de 2010, 2011, 2012 e 2013 para

contratação de consultor individual, que exi

Política. A tabela abaixo mostra os dados dos editais que exigiram profissionais com

graduação em Ciência Política:

Tabela 1- profissionais com graduação em Ciência Política

Entidades

Casa Civil Controladoria Geral da UniãoDistrito Federal - DF Frente Nacional de PrefeitosMinistério do Desenvolvimento Social e Combate à FomeMinistério do Planejamento, Orçamento e GestãoSecretaria de Assuntos Estratégicos Secretaria de Direitos Humanos Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ministério da Educação -Ministério da Justiça Organização dos Estados IberoUniversidade do Legislativo

TOTAL Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Dentre os órgãos/entidades que publicaram editais para consultor individual que

também exigiram profissionais especificamente formados em graduação em Ciência

0,0010,0020,0030,0040,0050,0060,00

57,69

15,38

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

O foco principal das empresas de consultoria privada se concentra nas atividades da

área Gestão e Estratégia de Campanha Eleitoral, na ordem de 57,69%. O segundo foco é

na área Relações Governamentais e Institucionais, com 26,92%. E, por fim, na área de

Análise de Políticas Públicas e Gestão Governamental com 15,38%.

Segundo o banco de dados do Grupo de Pesquisa, foram analisados 37 editais de

diversos órgãos/entidades públicas publicados nos anos de 2010, 2011, 2012 e 2013 para

contratação de consultor individual, que exigiram também profissionais formados em Ciência

Política. A tabela abaixo mostra os dados dos editais que exigiram profissionais com

graduação em Ciência Política:

profissionais com graduação em Ciência Política

Controladoria Geral da União

Frente Nacional de Prefeitos Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Secretaria de Assuntos Estratégicos - PR Secretaria de Direitos Humanos - PR Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA

- MEC

Organização dos Estados Ibero-Americanos Universidade do Legislativo

Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

Dentre os órgãos/entidades que publicaram editais para consultor individual que

também exigiram profissionais especificamente formados em graduação em Ciência

15,3826,92

se concentra nas atividades da

área Gestão e Estratégia de Campanha Eleitoral, na ordem de 57,69%. O segundo foco é

na área Relações Governamentais e Institucionais, com 26,92%. E, por fim, na área de

Segundo o banco de dados do Grupo de Pesquisa, foram analisados 37 editais de

diversos órgãos/entidades públicas publicados nos anos de 2010, 2011, 2012 e 2013 para

giram também profissionais formados em Ciência

Política. A tabela abaixo mostra os dados dos editais que exigiram profissionais com

%

4,55 9,09

13,64 4,55 9,09 4,55 0,00

13,64 0,00 0,00

27,27 9,09 4,55

100,00

Dentre os órgãos/entidades que publicaram editais para consultor individual que

também exigiram profissionais especificamente formados em graduação em Ciência

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Política, destacamos apenas os que mais publicaram editais em busca de profissionais com

essa formação (acima de 10%).

O Ministério da Justiça foi o que mais publicou editais nos quais se exigia graduação

em Ciência Política (27,27%); a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da

República (13,64%) e o Governo do Distrito Federal (13,64%) ficaram em segundo lugar. Foi

analisada também a importância da titulação na área de Ciência Política exigida nos editais

como mostra a tabela 2.

Tabela 2 - por titulação acadêmica: graduação, especialização, mestrado e doutorado.

Critério Mínimo de Formação Acadêmica em Ciência Política %

Graduação 47,37 Especialização 10,53 Mestrado 39,47 Doutorado 2,63

TOTAL 100 Fonte: Grupo de Pesquisa Ensino de Ciência Política do Centro Universitário Internacional Uninter

A titulação mais exigida foi a graduação em Ciência Política com 47,37%, seguida

pelo mestrado com 39,47%, depois especialização com 10,53% e, por fim, doutorado com

2,63%. Estes dados são muito importantes, pois justificam a existência e um considerável

crescimento dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil.

A análise dos editais mostra também que distinção entre Ciência Política Aplicada5 e

Ciência Política Acadêmica6 já está legitimada no mercado da política, pois segundo o edital

publicado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos: “Graduação, desejável mestrado

na área de Ciência Política, Ciências Sociais (sociologia ou antropologia), Ciências da

informação, Economia, Análise de Sistemas, Estatística, Demografia, ou Ciências Humanas”

(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2009, p. 1).

Esta separação entre formação em ciências sociais e Ciência Política foi identificada

em todos os editais analisados, o que confirma a importância da formação em bacharel em

Ciência Política e legitima o aumento de oferta de cursos dessa natureza.

4- REFLEXÕES SOBRE A DOCÊNCIA

5 Cursos de bacharelado em Ciência Política.

6 Ciência Política enquanto linha de formação nas ciências sociais.

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No sentido de refletir sobre a questão docente dos cursos de bacharelado em Ciência

Política no Brasil, recorremos aos Relatórios de Atividades7 do Grupo de Pesquisa. Abaixo

descrevemos sumariamente os aspectos relevantes para a proposta deste trabalho.

Na Mesa Redonda Ensino e Pesquisa em Ciência Política na América Latina,

coordenada pelo professor Hélio Alves (GRUPO DE PESQUISA ENSINO DE CIÊNCIA

POLÍTICA, 2013a), destacamos os apontamentos do professor Patrício Valdivieso, da

Universidad de los Lagos no Chile, e da professora Maria do Socorro Souza Braga, da

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar e que está à frente da Secretaria de Ensino

da ABCP8.

O professor Valdivieso abordou aspectos importantes a respeito da autonomização

da Ciência Política em relação às demais ciências sociais. Segundo o professor, é

fundamental que desenvolvamos estudos a respeito da separação da Ciência Política das

demais ciências sociais. Estudos dessa natureza são importantes para se refletir sobre a

diferença entre os docentes dos dois cursos. Como mostra, por exemplo, o projeto político

pedagógico da UFPE:

Na Universidade, a deficiência do atual Departamento de Ciências Sociais é sentida principalmente no vínculo entre a graduação e a pós-graduação. O egresso do curso de Ciências Sociais tem tido dificuldades de adequar-se à pós-graduação em Ciência Política (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2012, p. 13).

Continua o documento:

O elo entre a graduação em Ciências Sociais e a pós-graduação em Ciência Política, no entanto, é sobremaneira frágil. Isso se salienta fundamentalmente pela relativamente pequena presença de egressos dessa graduação na pós-graduação. Boa parte dos alunos que ingressam nessa pós-graduação provêm de outros cursos, tais como Direito, Comunicação, etc. [...]. Isso é devido, em grande parte, à ação criteriosa da seleção da pós-graduação. Todavia, a pequena participação de egressos do curso de Ciências Sociais na pós em Ciência Política significa o elo frágil da cadeia formativa de Ciência Política na UFPE (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2012, p. 13).

Aqui temos duas informações para refletir sobre a docência: 1) os mestrandos

oriundos dos cursos de ciências sociais têm dificuldades no mestrado de Ciência Política e,

2) a maioria dos que ingressam no mestrado de Ciência Política são egressos de outras

formações profissionais. O projeto político pedagógico da UFPE não entra em detalhes do

por que das dificuldades dos alunos graduados em ciências sociais e do porque egressos de

7 Sempre que a Uninter financia viagens para participação nos eventos é exigido dos participantes o Relatório de

Atividades. Nestes relatórios informamos as mesas temáticas das quais participamos, a contribuição do evento

para a pesquisa desenvolvida pelo Grupo e alguns detalhes sobre a nossa participação no evento. 8 A existência desta secretaria mostra a importância que o tema ensino de ciência política passa a ter para essa

importante instituição.

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outras formações profissionais terem uma maior facilidade de ingressar no mestrado de

Ciência Política da UFPE.

Entretanto, parece razoável afirmar que existem diferenças fundamentais entre a

graduação em ciências sociais e o mestrado em Ciência Política, que passam por questões

epistemológicas, de estrutura curricular, de qualificação docente, etc. De acordo com o

documento:

A criação da graduação em Ciência Política é, assim, de fundamental relevância para solidificar esse elo. Ela formará graduados com o domínio de capacidades básicas nessa área, adequando-os às expectativas intelectuais definidas pela pós-graduação. Isso, por si só, já será um instrumento de alavancagem da própria pós, na medida em que essa terá potencializado o seu material humano, dinamizando os seus trabalhos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2012, p. 13).

Nos apontamentos da professora Maria do Socorro, destacamos a preocupação da

ABCP em relação aos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil. Em nossa

intervenção, perguntamos para a professora se havia alguma pretensão da ABCP em abrir

diálogo com os cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil, no sentido de orientar a

formação de um currículo mínimo9. A professora informou que sim. Este interesse é

axiomático, pois:

A Assembleia Geral da Associação Brasileira de Ciência Política aprovou no último dia 26 de setembro a reforma do Artigo 2 de seu estatuto. [...] Após a reforma do texto, [...], a categoria foi estendida aos estudantes de graduação em Ciência Política [...](ABCP, 2013a)

Entretanto, essa aproximação deve ser acompanhada do debate sobre o perfil

docente mais adequado às propostas dos cursos e também do mercado de trabalho fora da

academia, no qual se insere o cientista político. A ABCP informa também em seu site que:

Pela proximidade com os alunos do curso do Rio de Janeiro, a ABCP já reconhece que uma das principais questões a ser levantada pelos estudantes será a necessidade de maior reconhecimento e abertura por parte do mercado de trabalho aos bacharéis em Ciência Política, não só na forma de vagas empregos efetivas, mas principalmente de estágios nos setores público e privado (ABCP, 2013b).

Essa abertura deve vir seguida do debate sobre a docência dos cursos, pois não

estaríamos qualificando os egressos se nos cursos de bacharelado em Ciência Política no

Brasil repetir o modelo da linha de formação em Ciência Política dos cursos de ciências

sociais.

A partir do que pesquisamos, podemos dizer que, as propostas e a grade curricular

dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil não são cursos de Ciências

9 Na época não perguntamos a respeito da questão docente, pois não havíamos pensado nessa questão, que foi

despertada quando participamos do evento da SAAP.

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Sociais, mas sim de Ciências Sociais Aplicadas. O grande problema é que suspeitamos10

que os professores que estão nos cursos de bacharelado em Ciência Política são formados

nas ciências sociais não aplicadas e o que são formados em ciências sociais aplicadas não

têm formação em política. Quando se fala em ensino de ciência torna-se importante ter essa

diferença em mente.

Na Mesa Temática El Desarrollo de La Ciência Política en América Latina,

coordenada pelo professor Pablo Bulcourf, teve a participação os seguintes palestrantes:

Víctor Alarcón Olguín, Fredy Barrero, Sergio Ángel Baquero, Cecilia Rocha e Nelson

Cardozo (GRUPO DE PESQUISA ENSINO DE CIÊNCIA POLÍTICA, 2013b). Os debates

travados entre os palestrantes e os que assistiram foram “acalorados”.

Desta forma, destacamos dois pontos abordados no debate que são importantes

para a questão docente dos cursos de bacharelado em Ciência Política:

a) Grande parte dos professores dos cursos de Ciência Política não são cientistas políticos

Foi um consenso no debate que a formação dos professores dos cursos de bacharelado em

Ciência Política não é em Ciência Política, o que se torna um problema grave na docência

desses cursos. Surgindo assim, o seguinte questionamento durante o debate: é possível

formar cientistas políticos com um quadro reduzido de professores cientistas políticos nos

cursos que formam cientistas políticos?

A referência aqui tem a ver com professores de direito, administração, economia,

comunicação dentre outros que são responsáveis pelo ensino de técnicas, isto é, as

disciplinas aplicadas. E, por sua vez, com professores formados em Sociologia.

b) A confusão da Ciência Política com outras áreas do conhecimento

O panorama atual para uma definição clara do que é ciência política se encontra na sua

relação confusa com as demais áreas do conhecimento que estudam também a política: a

sociologia, a história, a economia, a filosofia, a antropologia, a psicologia, o direito, a

administração (administração pública) dentre outras. Essa confusão permite também que

professores de outras áreas do conhecimento sejam maioria nos cursos que formam

cientistas políticos.

Temos assim um círculo vicioso que impede uma definição clara de ciência política:

uma confusão entre ciência política e outras áreas que também estudam a política que abre

espaço para que profissionais formados nessas outras áreas se sintam capacitados para

formarem cientistas políticos que, por sua vez, foram formados por professores de diversas

áreas do conhecimento que não são, obviamente, cientistas políticos. Junto a esta

problemática soma-se a questão de professores formados nas ciências sociais com o foco

na academia, em detrimento da formação/qualificação para o mercado da política.

10

Esta suspeita centra-se na nossa experiência enquanto aluno e professor e as poucas entrevistas que

conseguimos com os coordenadores dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil.

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No que saem formados então esses egressos dos cursos de graduação em Ciência

Política? A definição encontrada no debate foi que saem formados em “tudologia” e não em

politologia.

Esses dois aspectos apontam para a importância de se pesquisar sobre os docentes

dos cursos de bacharelado em Ciência Política no Brasil, pois se colocam, no mínimo, duas

dúvidas: 1) se realmente nesses cursos estão se formando cientistas políticos e, 2) se a

condição docente permite realmente qualificar para o mercado de trabalho da política. Não

basta elaborar uma grande com disciplinas aplicadas e não aplicadas, precisa-se mais do

que isso, precisa-se do material humano capacitado para esses novos cursos no Brasil.

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste paper procuramos mostrar a diferença entre a formação do cientista político

dentro da linha de formação em ciências sociais (cunho acadêmico) e do cientista político

formado nos cursos de graduação em Ciência Política (área de ciências sociais aplicadas).

Nesse sentido, em um primeiro momento, salientamos o objetivo dos cursos: o foco

no mercado da política (sites, ementas, projetos políticos pedagógicos), o que possibilitou

levantarmos a seguinte reflexão: o curso de bacharelado em Ciência Política tem no corpo

docente cientistas sociais (formação em política), administradores, advogados, economistas

etc. Para tanto, é possível formar em ciência política não tendo cientistas políticos no corpo

docente?

Vale ressaltar que, este trabalho tem como objetivo principal chamar a atenção para

um quadro reduzido e, por vezes, inexistente de cientistas políticos no corpo docente dos

bacharelados em Ciência Política no Brasil, e, por conseqüência, que interfere diretamente

numa formação e/ou qualificação adequada para o mercado da política. Este é um debate

que precisa ser aprofundado.

A partir desses tópicos mostramos a importância de se pesquisar o corpo docente dos

cursos de graduação em Ciência Política no Brasil. Esse tipo de análise, em última

instância, poderá contribuir de forma singular para o avanço dos cursos de Ciência Política

no Brasil, com os estudos e pesquisas da área bem como demonstrar a possibilidade de um

amplo mercado de trabalho ainda e infelizmente pouco explorado para o cientista político no

Brasil.

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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