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A psicologia clínica amplia seus campos de atuação e suas bases con- ceituais, tanto em suas abordagens próprias, quanto articulando-se com outras áreas das ciências humanas e da saúde. Os desdobramentos da clínica psicológica, com suas interfaces biopsicossociais, marcam o estado da arte desta obra literária. Vários caminhos se ampliam, no sentido de pensar a clínica psicológica e os processos de saúde e doença como uma unidade, sem as divisões impostas pelo pensamento cartesiano, marcado pelo afastamento entre corpo e mente, percebidos como entidades separa- das. Nesse sentido, a obra problematiza outros modos de cuidado, em dife- rentes nuances e ramificações, principalmente, os agenciamentos entre as distintas áreas de conhecimento. Isso porque a visão de saúde segue afas- tando-se, progressivamente, do modo reducionista, próprio da unicausali- dade, deslocando-se para uma visão multicausal e interdisciplinar. Desse modo, o ente humano passa a ser percebido e cuidado em todas as esferas que o compõem. Assim, as intervenções clínicas ampliam seus horizontes, superando o modelo que naturaliza os fenômenos humanos, reduzindo-os às categorias nosológicas consideradas como psicopatológi- cas e identificadas por sintomas apenas objetivos. Com isso, resgatam-se a subjetividade e os contínuos processos de subjetivação, próprios do humano; legitimando sua singularidade e a diversidade de seus modos de existir; afirmando a existência como única e irrepetível; promovendo um acolhimento ético, onde o cliente que precisa da psicologia como suporte para encontrar novos sentidos para sua existência, possa sentir-se livre para vivenciar o mundo da vida, permeado por múltiplas afecções e afetos, bem como pelas experimentações da vida e na vida. Simony Faria ISBN 978-85-444-2378-3 Autores: Aline Tavares Machado Silva Alison Silva Veras Auterives Maciel Júnior Claudia Abbês Baêta Neves Diogo Boechat Lessa Eduardo Passos Elissandra Siqueira da Silva Erica Menezes Dutra Francisca Morais da Silveira Iacã Machado Macerata Jadir Machado Lessa Lins Aurora Gonçalves Gomes Luciano da Costa Espírito Santo Maria Antônia de Sousa Marta Helena de Freitas Rita de Cássia da Silva Simony de Sousa Faria Victor Amorim Rodrigues Williana Louzada 9 788544 423783 INTERFACES ENTRE PSICOLOGIA CLÍNICA E SAÚDE “Os corpos entram em encontros e desses encontros resultam os acontecimentos. Desse modo, nunca somos os mesmos. O que prevalece é o movimento e a transformação. Estamos sempre mudando de posição e de sentido, estamos sempre em trânsito.” Jadir Lessa In: A clínica como exercício ético dos encontros afetivos. INTERFACES ENTRE PSICOLOGIA CLÍNICA E SAÚDE Organizadores: Jadir Machado Lessa Simony de Sousa Faria Auterives Maciel Júnior Eduardo Passos INTERFACES ENTRE PSICOLOGIA CLÍNICA E SAÚDE

Jadir Lessa 17648...distintas áreas de conhecimento. Isso porque a visão de saúde segue afas-tando-se, progressivamente, do modo reducionista, próprio da unicausali-dade, deslocando-se

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A psicologia clínica amplia seus campos de atuação e suas bases con-ceituais, tanto em suas abordagens próprias, quanto articulando-se com outras áreas das ciências humanas e da saúde. Os desdobramentos da clínica psicológica, com suas interfaces biopsicossociais, marcam o estado da arte desta obra literária. Vários caminhos se ampliam, no sentido de pensar a clínica psicológica e os processos de saúde e doença como uma unidade, sem as divisões impostas pelo pensamento cartesiano, marcado pelo afastamento entre corpo e mente, percebidos como entidades separa-das. Nesse sentido, a obra problematiza outros modos de cuidado, em dife-rentes nuances e ramificações, principalmente, os agenciamentos entre as distintas áreas de conhecimento. Isso porque a visão de saúde segue afas-tando-se, progressivamente, do modo reducionista, próprio da unicausali-dade, deslocando-se para uma visão multicausal e interdisciplinar.

Desse modo, o ente humano passa a ser percebido e cuidado em todas as esferas que o compõem. Assim, as intervenções clínicas ampliam seus horizontes, superando o modelo que naturaliza os fenômenos humanos, reduzindo-os às categorias nosológicas consideradas como psicopatológi-cas e identificadas por sintomas apenas objetivos. Com isso, resgatam-se a subjetividade e os contínuos processos de subjetivação, próprios do humano; legitimando sua singularidade e a diversidade de seus modos de existir; afirmando a existência como única e irrepetível; promovendo um acolhimento ético, onde o cliente que precisa da psicologia como suporte para encontrar novos sentidos para sua existência, possa sentir-se livre para vivenciar o mundo da vida, permeado por múltiplas afecções e afetos, bem como pelas experimentações da vida e na vida.

Simony Faria

ISBN 978-85-444-2378-3

Autores:

Aline Tavares Machado SilvaAlison Silva VerasAuterives Maciel JúniorClaudia Abbês Baêta NevesDiogo Boechat LessaEduardo PassosElissandra Siqueira da SilvaErica Menezes DutraFrancisca Morais da SilveiraIacã Machado MacerataJadir Machado LessaLins Aurora Gonçalves GomesLuciano da Costa Espírito SantoMaria Antônia de SousaMarta Helena de FreitasRita de Cássia da SilvaSimony de Sousa FariaVictor Amorim RodriguesWilliana Louzada

9 788544 423783

INTERFACES ENTRE PSICOLOGIA CLÍNICA E SAÚDE

“Os corpos entram em encontros e desses encontros resultam os acontecimentos. Desse modo, nunca somos os mesmos. O que prevalece é o movimento e a transformação. Estamos sempre mudando de posição e de sentido, estamos sempre em trânsito.” Jadir Lessa In: A clínica como exercício ético dos encontros afetivos.

INTERFACES ENTRE PSICOLOGIA CLÍNICA

E SAÚDE

Organizadores:Jadir Machado Lessa

Simony de Sousa Faria Auterives Maciel Júnior

Eduardo Passos

INTERFACES ENTRE PSICOLOGIA CLÍNICA E SAÚDE

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Editora CRVCuritiba – Brasil

2019

Jadir Machado LessaSimony de Sousa Faria Auterives Maciel Júnior

Eduardo Passos(Organizadores)

INTERFACES ENTRE PSICOLOGIA CLÍNICA E SAÚDE

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Interfaces entre psicologia clínica e saúde / Jadir Machado Lessa, Simony de Sousa Faria, Auterives Maciel Júnior, Eduardo Passos (organizadores) – Curitiba : CRV, 2019.238 p.

Bibliografi aISBN 978-85-444-2378-3DOI 10.24824/978854442378.3

1. Psicologia. 2. Saúde. 3. Psicanálise. I. Lessa, Jadir Machado. org. II. Faria, Simony de Sousa. org. III. Maciel Júnior, Auterives. org. IV. Passos, Eduardo. org. V. Título. VI. Série.

CDU 15 CDD 156

Copyright © da Editora CRV Ltda.Editor-chefe: Railson Moura

Diagramação e Capa: Editora CRVRevisão: Os Autores

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)CATALOGAÇÃO NA FONTE

2019Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004

Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRVTodos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV

Tel.: (41) 3039-6418 - E-mail: [email protected]ça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br

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Índice para catálogo sistemático1. Psicologia 150

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Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc.

Comitê Científico:Andrea Vieira Zanella (UFSC)Christiane Carrijo Eckhardt Mouammar (UNESP)Edna Lúcia Tinoco Ponciano (UERG)Edson Olivari de Castro (UNESP)Érico Bruno Viana Campos (UNESP)Fauston Negreiros (UFPI)Francisco Nilton Gomes Oliveira (UFSM)Ilana Mountian (Manchester Metropolitan University, MMU, Grã-Bretanha)Jacqueline de Oliveira Moreira (PUC-SP)Marcelo Porto (UEG)Marcia Alves Tassinari (USU)Maria Alves de Toledo Bruns (FFCLRP)Mariana Lopez Teixeira (UFSC)Monilly Ramos Araujo Melo (UFCG)Olga Ceciliato Mattioli (ASSIS/UNESP)Regina Célia Faria Amaro Giora (MACKENZIE)Virgínia Kastrup (UFRJ)

Conselho Editorial:Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB)

Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN)Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ)

Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT)Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro)

Carmen Tereza Velanga (UNIR)Celso Conti (UFSCar)

Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Três de Febrero – Argentina)

Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG)Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL)

Élsio José Corá (UFFS)Elizeu Clementino de Souza (UNEB)

Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB)Francisco Carlos Duarte (PUC-PR)Gloria Fariñas León (Universidade

de La Havana – Cuba)Guillermo Arias Beatón (Universidade

de La Havana – Cuba)Jailson Alves dos Santos (UFRJ)

João Adalberto Campato Junior (UNESP)Josania Portela (UFPI)

Leonel Severo Rocha (UNISINOS)Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO)

Lourdes Helena da Silva (UFV)Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US)

Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar)Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG)

Renato Francisco dos Santos Paula (UFG)Rodrigo Pratte-Santos (UFES)Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)

Simone Rodrigues Pinto (UNB)Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)

Sydione Santos (UEPG)Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)

Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)

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SUMÁRIO

PREFÁCIO �������������������������������������������������������������������������������������������� 9Natalino Salgado Filho

CAPÍTULO 1 A INTERDISCIPLINARIDADE DA PSICOLOGIA NA ATUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA ����������������������������������������������������� 13Lins Aurora Gonçalves GomesSimony de Sousa Faria

CAPÍTULO 2CURA OU CUIDADO PSICOLÓGICO ������������������������������������������������ 29Alison Silva VerasErica Menezes DutraJadir Machado Lessa

CAPÍTULO 3PSICOPATOLOGIA EM NOVA CHAVE: subsídios para uma aproximação Hermenêutica Crítica ��������������������������������������������� 43Victor Amorim Rodrigues

CAPÍTULO 4ENCONTROS COM A CLÍNICA NA REFORMA PSIQUIÁTRICA: pegando as agulhas em meio ao ‘lixo’ ������������������������������������������������ 61Claudia Abbes Eduardo PassosWilliana Louzada

CAPÍTULO 5CONSULTÓRIO NA RUA: o território como base de construção da integralidade entre Atenção Básica e Saúde Mental ���������������������� 83Elissandra Siqueira da SilvaIacã Machado Macerata

CAPÍTULO 6SINAL DE ANGÚSTIA E O ENCONTRO TRAUMÁTICO: pensamento e resistência na psicanálise e na filosofia ���������������������� 97Auterives Maciel JúniorDiogo Boechat LessaJadir Machado Lessa

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CAPÍTULO 7LAÇOS AFETIVOS NA UTI: a visita que fala de uma identificação������������������������������������������������ 125Aline Tavares Machado SilvaJadir Machado Lessa

CAPÍTULO 8PSICO-ONCOLOGIA PEDIÁTRICA: as dimensões do cuidado na presentificação do encontro ��������������������������������������� 143Simony de Sousa Faria

CAPÍTULO 9SAÚDE MENTAL E OS ASPECTOS PSICOEMOCIONAIS DE CRIANÇAS CONVIVENDO COM O VÍRUS HIV/AIDS ��������������� 177Francisca Morais da SilveiraMaria Antônia de Sousa Simony de Sousa Faria

CAPÍTULO 10PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS SOBRE RELIGIOSIDADE E SAÚDE MENTAL: estudo fenomenológico num CAPS do Distrito Federal ������������������������������������������������������������������ 193Luciano da Costa Espírito SantoMarta Helena de Freitas Rita de Cássia da Silva

SOBRE OS AUTORES ��������������������������������������������������������������������� 229

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PREFÁCIO

O marco histórico do início da Psicologia como ciência e profissão, organizada e estabelecida, remonta ao final do século 19, precisamente em 1879, com o estabelecimento de um laboratório em Leipzig, Alemanha, di-rigido pelo cientista Wilhelm Wundt. É certo, porém, que o conhecimento psicológico é bem anterior, pois é possível ver seu rastro em inúmeras obras filosóficas e teológicas.

No Brasil, a Psicologia começou, historicamente, com um marco legal e tem pouco mais de cinquenta anos. Mas não se iniciou, naturalmente, apenas com uma lei. A lei é antecedida pela prática psicológica por vários pioneiros. Suas marcas remontam aos primeiros praticantes da psicanálise nos albores do século 20.

Ao longo do século passado, a ciência psicológica brasileira se diversi-ficou. Refiro-me a todas as novas áreas nas quais se instalou: educação, jurí-dica, social e saúde, dentre outras. Dessas destaco, em especial, sua inserção no campo da saúde, área que abracei como profissão e sacerdócio. Inegável, portanto, a alegria e a honra de prefaciar esta obra, considerando que meu labor profissional médico, no campo da Nefrologia, em sua maior parte se desenvolveu em espaço multiprofissional, o que me fez trabalhar, lado a lado, com psicólogos e psicólogas; a segunda alegria é que, em minha trajetória na direção do Hospital Universitário Presidente Dutra, tive a oportunidade de testemunhar a inserção desses profissionais na condição de estagiários, residentes ou membros do quadro efetivo do hospital, atuando em todas as áreas de especialidade da saúde ofertada à comunidade. Em particular, mais uma vez, destaco a Nefrologia, seja na hemodiálise, na prevenção de doenças renais ou no transplante renal.

Assim, as análises aqui apresentadas emergem desta realidade benfazeja, que é a participação da Psicologia na saúde pública, desde a atenção básica até a alta complexidade. A ênfase da saúde mental, no serviço público brasileiro de saúde, evoluiu consideravelmente desde a redemocratização, o que produ-ziu efeitos importantes como o advento da Lei do Sistema Único de Saúde, cujos princípios desencadearam movimentos como a desmanicomialização, com a chamada Lei da Reforma Psiquiátrica. Essas são parte fundamental de uma nova mentalidade sobre a saúde mental, na qual, em seu centro, seja no sentido de produzir pensamentos ou, mais ainda, em sua prática efetiva, estão os profissionais da Psicologia.

Desse modo, chamar a Lei criadora do SUS de Lei Orgânica da Saúde, representa bem o sentido fundamental pretendido pela norma legal, posto que defende a ruptura da díade diagnóstico-cura que, por tantos anos, vigorou na

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prática médico-hospitalar. Além disso, a centralidade no hospital também sofreu uma releitura no sistema de saúde pública que agora ganha um perfil comunitário. Ou seja, uma saúde que possa ir de encontro a cada indivíduo, que possa abarcar a comunidade onde vive, como seus valores e cultura. Diante disso, a saúde não se mostra apenas como tentativa de cura ou ausência de doença, mas sim, como um processo de educação psicossocial e de pro-moção, prevenção e recuperação da saúde em todos os níveis.

Acontecimentos como esses supracitados, abriram as portas para a mul-tidisciplinaridade na assistência, o que inclui a Psicologia como elemento que colabora com a ampliação da visão global sobre a pessoa adoecida. Desse modo, a Psicologia contribui para sair do reducionismo naturali-zante, para uma visão que devolve a palavra ao indivíduo, percebendo-o agora como ser histórico, inserido em determinado espaço sociocultural e econômico, onde essas variáveis também estão diretamente implicadas no diagnóstico, tratamento e acompanhamento clínico.

A psicologia saiu dos consultórios onde viveu confinada e, assim, elitista, posto que o acesso, naquele momento histórico era concedido apenas àqueles que podiam arcar com o custo financeiro da psicoterapia, abrindo assim, novos espaços de intervenção psicológica, como consul-tórios de rua, intervenção e mediação dentro das comunidades e na área da saúde. Portanto, a presença da Psicologia abre condições de possibili-dade para dar suporte para todo sofrimento físico e psicológico, pelo viés biopsicossocial. Partindo desse pressuposto, tanto médicos, quanto outros profissionais da saúde inseridos na assistência visualizaram a necessidade de intervir além do uso dos instrumentos físicos e de alta complexidade inserindo, nesse contexto, o olhar clínico ampliado, direcionado para o sofrimento subjetivo e individual.

Diante do exposto, o processo de humanização hospitalar tem, por-tanto, nos psicólogos o ethos fundamental no sentido de que ampliam a compreensão do indivíduo, não somente como um alvo de diagnóstico mas, fundamentalmente, enquanto pessoa com sua própria historicidade, que a diferencia dos outros em sua unicidade e, por extensão, singulariza sua relação com os processos de saúde e doença e com o mundo em que vive. Neste contexto podemos perceber as interfaces entre a Medicina e a Psicologia presentes nessa obra literária, pois a Medicina tem como marco histórico uma frase atribuída a Hipócrates: “Curar algumas vezes, aliviar quase sempre, consolar sempre”.

Ademais, nos últimos anos, tem havido o despertar de uma medicina que se abre para as humanidades e para a espiritualidade, colocando os

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médicos em franco diálogo com a Psicologia. Redescobrir a frase hipocrá-tica é uma necessidade, nestes tempos, não de conhecimentos estanques, mas de diálogos ampliados. Afinal, este é um sinal da humildade de cada conhecimento, entender que seu saber não pode abarcar o ser humano em sua totalidade. Desse modo, a obra aqui prefaciada, enfatiza os múl-tiplos contextos da Psicologia no Brasil, ampliando nossos olhares para a atividade psicológica, sendo neste sentido, útil a todos que demonstram interesse por este campo do conhecimento, em especial, àqueles que mi-litam na área da saúde.

Prof. Dr. Natalino Salgado FilhoMédico Nefrologista do HU-UFMA

Membro da Academia Nacional de Medicina

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CAPÍTULO 1

A INTERDISCIPLINARIDADE DA PSICOLOGIA NA ATUAÇÃO

EM SAÚDE COLETIVALins Aurora Gonçalves Gomes

Simony de Sousa Faria

1. Introdução

O estudo visa uma melhor compreensão dos atendimentos psicológicos no âmbito da Saúde Coletiva, e no enfrentamento de demandas das mais diversas situações encontradas por psicólogos, bem como as dificuldades inerentes a acontecimentos previsíveis e imprevisíveis nesse contexto. Diante destas circunstâncias, a interdisciplinaridade hoje constitui uma ampla gama de conhecimentos que facilita a intervenção dos profissionais em saúde, onde o psicólogo pode fazer uso efetivo de suas práticas. As características dos indivíduos e sua história de vida são apresentadas nos diferentes contex-tos sociais e individuais, assim como, o psicólogo por meio de pesquisas e usando a interdisciplinaridade, pode avaliar todas as questões envolvidas, o que facilita uma melhor intervenção.

Considerando o pouco esclarecimento em praticar intervenções nos locais de atuações, onde as equipes de saúde trabalham em conjunto, visualiza-se a importância desde os primeiros períodos de graduação e de estágio o trabalho em equipe, com foco no individual e no coletivo, pois ao se deparar com o campo da Saúde Coletiva percebe-se que os conhecimentos adquiridos em sala de aula precisam ser alinhados, para que os futuros psicólogos, ao chegar aos locais de estágios, possam desenvolver atividades mais apropriadas ao bem comum de uma comunidade.

Diante disso, disciplinas estudadas na graduação têm peso relevante na formação do profissional, quer na teoria, quer também quanto ao uso da prática em campo, pois habitualmente o estagiário hesita ou fica com algum tipo de dúvida sobre procedimentos na atuação. Desse modo, a Saúde Coletiva se constitui um desafio para os novos profissionais que atuarão nesse contexto. Percebemos durante o estudo, pouca literatura e pesquisa a respeito dessa temática, talvez por se tratar de um assunto que recentemente começou a ser pesquisado por psicólogos, visto a inserção do psicólogo no atendimento nas unidades e instituições de saúde.

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Diante dessa problemática, o estudo buscou contribuir no esclarecimento de alguns recursos para intervenções que o profissional da psicologia, pode fazer uso através da interdisciplinaridade cujo processo abrange diferentes disciplinas e, assim, os vários conhecimentos possam apoiar na busca de atendimentos precisos e satisfatórios nas diversas situações que se apresen-tam no âmbito da Saúde Coletiva. Constatamos um cenário, onde já existem diversos profissionais da área de saúde que recorrem à interdisciplinaridade na atuação de suas práticas, facilitando assim, seus procedimentos e intervenções e imbuídos dos mais diversos saberes oferecem bons atendimentos e ações dinâmicas de saúde aos indivíduos, familiares e pessoas envolvidas. Nesse sentido, o estudo desse tema se mostra relevante, visto que a Saúde Coletiva é um campo interdisciplinar que favorece o desenvolvimento de um trabalho amplo no campo da saúde, visando a qualidade de vida da comunidade, onde necessariamente, a prática do psicólogo precisa estar presente nesse contexto com os demais profissionais da saúde.

2. Histórico da saúde coletiva no Brasil

A Saúde Coletiva é um movimento que surgiu na América Latina no início dos anos 50, mas no Brasil tal movimento passou a existir na metade dessa mesma década e sua primeira fase durou 15 anos, indo até a década de 70. A fase inicial desse movimento foi denominada de pré-saúde-coletiva. A se-gunda fase inicia-se nos meados dos anos 70 e tem um caráter mais voltado à medicina social, por não trazer as mesmas características da primeira fase que tinha um olhar preventivista. A partir da década de 80 até a contemporaneidade passou a ser denominada Saúde Coletiva de fato (ALMEIDA FILHO, 2014).

De acordo com Osmo e Schraiber (2015), desde o seu surgimento no Brasil até a atualidade a Saúde Coletiva vem passando por inúmeras crises que a leva a se distanciar do verdadeiro objetivo para o qual foi criada, que é prestar assistências preventivistas a uma determinada população ou comu-nidade. O aparecimento do sistema de proteção social que hoje conhecemos no Brasil teve início, conforme mencionamos, no século XX, no auge da industrialização momento necessário para uma nova concepção socioeconô-mica e unificação das relações sociais, no sentido de tentar melhorar a saúde da sociedade, de modo geral.

A Constituição de 1934 deu início à implantação de regras para definir as responsabilidades do Estado, criando, então, as assistências médicas e sa-nitárias ao trabalhador, efetivando as obrigações do poder público no sentido de melhorar a qualidade nos serviços de saúde à população. Desse modo, o primeiro órgão público de assistência social no Brasil foi o Conselho Nacional

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CAPÍTULO 2

CURA OU CUIDADO PSICOLÓGICO

Alison Silva VerasErica Menezes DutraJadir Machado Lessa

1. Introdução

Problematizar as interfaces das práticas psicológicas com a área da saúde nos remete, desde o início, a pensar nas modulações entre o conceito de cuidado das escolas psicológicas e o conceito de cura utilizado nas ciências biomédicas. Em princípio, o conceito de cura se sobrepõe, no entendimento da população de modo geral, à ideia de cuidado. Isso ocorre, principalmente, em decorrên-cia da influência do positivismo na cultura, que tende a naturalizar o homem, posicionando-o como mais um dentre os elementos da natureza. Desse modo, o psicólogo corre o risco de ser visto como um profissional que se utiliza do modelo biomédico, no sentido de promover a cura de seus pacientes. Assim, os modos de subjetivação e a própria existência humana vêm sendo inadver-tidamente patologizados, trazendo sérios prejuízos, provenientes de posturas profissionais e de tratamentos muitas vezes indevidos ou inadequados. Nosso capítulo põe em pauta a discussão do conceito de cuidado, discernindo-o do entendimento biomédico, a partir da interlocução com autores que contribuíram com a proposta da análise fenomenológico-existencial, como Husserl, Heidegger, Sartre e Binswanger. Pensando com esses autores, conclui-se que o homem é um projeto de si, lançando-se para frente e realizando-se em direção ao futuro. O nexo estruturador do projeto se apoia na perspectiva de que não existe uma essência prévia do ente humano, pois, como nos ensinou Heidegger, essência e existência são concomitantes. Deste modo, o homem é um ente incompleto e incompletável, ou seja, indefinido e indeterminado e essencialmente angustiado, por se defrontar com uma negatividade estrutural que fundamenta sua existência. Em vista disso, o existencialismo vem nos mostrar que não existe cura para os sinais da negatividade estrutural, mas que cada um pode cuidar de si e ser cuidado pelo outro em suas angústias, inseguranças, indecisões e indefinições, de modo contínuo, no percurso de sua existência.

Por muito tempo, o pensamento cartesiano dominou o entendimento da ideia de homem na ciência biomédica e em outros aspectos de sua vida, como:

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saúde, doença e cura, permitindo a mecanização da vida e do próprio corpo, o qual neste campo científico foi segregado em pequenos membros e órgãos para poder obter explicações e entendimentos especializados dessa máquina tão complexa. O conceito de cura e outros correlatos à saúde passaram por diversas reformulações e direcionamentos diferentes, ao longo do tempo. Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS),para definir saúde, adota um novo conceito, que se refere a um estado de completo bem-estar físico, mental, social e espiritual. Em consequência, o homem passou a ser percebido de forma holística, entendido em suas dimensões biológica, psíquico-afetiva, social e espiritual. No artigo, discutem-se estas influências do positivismo e do pensamento cartesiano, no âmbito da saúde.

O tema não deixa de ser uma provocação para nos fazer refletir sobre o conceito de cura, que muitas vezes é relacionado à ideia de saúde psicológica. As ciências biomédicas partem da visão naturalista do homem, utilizando o termo cura para se referir ao restabelecimento da saúde e prevenção da doença por meio de exames e tratamentos, nos diversos níveis de comple-xidade. Vale lembrar que as “práticas de cura” não se restringem apenas às ciências biomédicas. Diversos povos, ao longo da história, vêm praticando rituais terapêuticos que constituem alternativas de cura, como: os curandeiros, boticários, cirurgiões-barbeiros e parteiras.

Mas, afinal, o que é cura? Segundo o dicionário Aurélio, o significado da palavras e refere ao restabelecimento da saúde, meio de debelar uma doença, tratamento e prevenção. Em vista disso, fica em evidência a sobreposição do entendimento das ciências biológicas sobre as outras, na tentativa de concei-tuação, que, por sua vez, acaba sendo o mais comumente aceita devido ao seu pensamento lógico, colocando em segundo plano outros entendimentos.

As escolas psicológicas não se utilizam desse conceito, por terem uma visão de homem e de procedimentos terapêuticos diferentes, que priorizam o conceito de cuidado psicológico e, apesar da diversidade dos conceitos apresentados entre as várias escolas, têm o sentido de cuidar geralmente visto como certa intervenção psicoterápica, apoiada por meio da verbalização, que visa a uma tomada de consciência do sujeito sobre si, objetivando a busca da construção de sua autonomia e/ou do processo de libertação de seus pressu-postos, de seus pré-julgamentos, de seus hábitos e de seus condicionamentos.

O artigo discute ainda as divergências e convergências entre o conceito de cura nas ciências biológicas e o de cuidado na abordagem fenomenológico--existencial. A cura é percebida, neste contexto teórico, como resultado de pro-cedimentos adotados por profissionais engajados para a cura do corpo biológico, por meio da tecnologia e medicamentos, com vistas a restabelecer a saúde física.

De acordo com Nasio (1999), a cura não é um conceito, nem um objetivo, nem mesmo um critério, o que equivale a não ceder diante da influência do

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CAPÍTULO 3

PSICOPATOLOGIA EM NOVA CHAVE: subsídios para uma

aproximação Hermenêutica Crítica

Victor Amorim Rodrigues

“Non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere”Espinosa

1. O caráter enigmático da psicopatologia

Será realmente necessário, no nosso século, adquirir conhecimentos sólidos de psicopatologia em ordem e especializar-se como psicoterapeuta? Apesar das exigências de inclusão da psicopatologia nos programas formati-vos das grandes associações psicoterapêuticas internacionais, pelo menos na Europa, a pergunta não é meramente retórica.

São cada vez mais as correntes psicoterapêuticas, de cariz humanista e existencial, que consideram a psicopatologia demodé, uma espécie de reli-quat de posições antiquadas, opressoras, discriminatórias. À semelhança da opressão das mulheres, das minorias sexuais, dos não brancos, dos pobres, também os assim chamados “doentes mentais” fariam parte dos excluídos, dos humilhados e ofendidos, por um discurso dicotômico e falologocêntrico, que divide os cidadãos em sãos e doentes e exerce sobre estes últimos uma violência intolerável, com internamentos compulsivos e “tratamentos” bár-baros como os eletrochoques, os duches frios e até os espancamentos, sem falar da perda da liberdade, prisioneiros sem terem cometido qualquer crime, ou melhor, cujo único crime é serem diferentes e dizerem e fazerem coisas proibidas, previstas na lista de sintomas no DSM ou qualquer outra classifi-cação de “perturbações mentais”.

Nesta ordem de ideias, o que é a psicopatologia senão um pseudossa-ber, sem fundamentos sérios, que restringe a liberdade das pessoas de serem diferentes, um poder coercivo travestido de saber, que rotula, estigmatiza e violenta os corpos e as consciências?

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Porque será que se alguém fala com Deus está a rezar mas se Deus lhe responde é esquizofrénico? Interroga-se ironicamente Jane Wagner, na onda contracultural e libertária do movimento antipsiquiátrico dos anos 60, mas ainda antes se levantou a voz de Thomas Szasz e o seu livro, de 1961, O Mito da Doença Mental, best seller que fará sucesso e cujas repercussões reverberam até hoje.

Do alto da sua cátedra na Universidade de Siracusa, Szasz sentencia: Uma doença ou tem base anátomo-fisiológica ou não existe. As doenças mentais não têm nenhuma base biológica, são mitos, inventados pela indústria da saúde mental para controlar comportamentos. Em todas as sociedades, há instâncias sociais que determinam quais os comportamentos permitidos e aqueles proibidos. Noutros tempos, esse papel competia à Igreja, hoje é a indústria de saúde mental que não perdoa a quem “cruza a linha”.

O que as pessoas têm são problemas de vida. Todos temos problemas no decurso das nossas vidas, ai de quem cai nas mãos dos psiquiatras e outros técnicos de saúde mental e é classificado como tendo uma doença mental. Passa logo a estar sujeito a pseudotratamentos, uns violentos outros aparen-temente inócuos, mas todos vão no sentido contrário ao que deveriam – o empoderamento da pessoa, de modo a facilitar a resolução dos seus problemas.

Um interlocutor moderado, imbuído do que os ingleses designam como common sense, poderia replicar: – Sem dúvida que estas ideias radicais estão carregadas do exagero próprio da época, mas fizeram o seu caminho e tiveram genericamente um efeito benéfico. Senão vejamos: iniciou-se o movimento de desinstitucionalização dos doentes mentais; em muitos países mais avançados, os grandes hospitais psiquiátricos foram desativados e substituídos por Centros de Saúde Mental, inseridos na comunidade; foi instituída a humanização dos cuidados, as estruturas da psiquiatria e psicologia comunitárias; houve um grande avanço nos tratamentos etc. Tudo isto só foi conseguido porque os críticos da psiquiatria da época, todos eles psiquiatras, Sasz, Laing, Cooper, Basaglia, “carregaram as tintas” e atraíram a atenção da opinião pública e dos poderes políticos.

Esta versão quase idílica branqueia alguns aspectos do que realmente aconteceu. Sim, os manicómios mastodônticos foram rapidamente desativados (sobretudo quando os políticos perceberam que poderiam poupar os recursos financeiros mobilizados para a sua manutenção), mas a reinserção comunitária consistiu, para parte significativa dos residentes, numa transinstitucionalização forçada para “estruturas sociais” mais degradadas do que aquelas de onde provinham, quando não “transferências” diretas para a rua, aumentando o número da população sem-abrigo, e para as prisões.

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CAPÍTULO 4

ENCONTROS COM A CLÍNICA NA REFORMA PSIQUIÁTRICA:

pegando as agulhas em meio ao ‘lixo’

Claudia Abbes Eduardo Passos

Williana Louzada

O cartógrafo absorve matérias de qualquer procedência. Não tem o menor racismo de freqüência, linguagem ou estilo. [...] Tudo o que der língua para os movimentos do desejo, tudo o que servir para cunhar matéria de expressão e criar sentido, para ele é bem vindo (ROLNIK, 1989).

Este artigo é parte de uma dissertação de mestrado, pesquisa que nasce do encontro de uma estudante de psicologia com uma enfermaria1 de longa permanência psiquiátrica e as pessoas que ali vivem. Encontro que não se pretendia pesquisa, mas que acabou por produzir tantas afecções – e acre-dito que os efeitos de um encontro com uma Instituição Total2 não seriam diferentes – que ganharam força de estranhamento e abertura a novas sensi-bilidades. Um primeiro momento que traz a marca do encontro com a clínica como força maior. A força intensiva desse encontro é o que nos sustenta, abrindo outros sentidos para o que até então percebíamos como hostilidades. As intensidades, que foram muitas vezes insuportáveis, ganharam expressão e potência, ao assumir o campo do dizível. Há algo que ainda nos convoca a uma experimentação intensiva do fazer clínico.

1 Em muitos hospitais psiquiátricos no Brasil, há enfermarias destinadas a pessoas internadas, que perderam seus vínculos sociais e familiares e se tornaram moradores do hospital. Pessoas com alto grau de dependência para as atividades da vida diária, como alimentação, banho, vestimenta, cuidados com higiene e saúde em geral. Falamos aqui a partir de uma enfermaria dessas que conta com um projeto de desinstitucionalização dessas pessoas, o que sequer é uma realidade para todas as enfermarias de longa permanência.

2 Erving Goffman (1961, p. 11) chama de Instituição Total “um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo leva uma vida fechada e formalmente administrada”.

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Intensidades que se expressam como inconformidade com a insistência dos hospícios, que teimam em persistir em nosso país, mesmo após dezesseis anos da lei que indica seu fechamento progressivo. Após mais de vinte anos de militância contra esses estabelecimentos – não propriamente contra os estabelecimentos em si e por si –, mantemos o combate à insistência de tudo aquilo que conservam e enunciam estas instituições totais, em suas linhas duras de estratificação e homogeneização.

Trazemos aqui a costura desses diferentes encontros em suas intensidades, tendo como matéria de tecedura o feltro, imagem/textura pensada por Deleuze e Guattari (1987) como um emaranhado de fibras prensadas, essas de várias procedências, que se sobrepõem, criando matéria. Certa junção de numerosas linhas, entrelaçadas, que já não se pode separar, mas sim fazer dessa mistura outras construções, aberturas de sentidos outros3.

A partir dos incômodos gerados nesse encontro, nesse misto de linhas, interessa-nos analisar os modos de subjetivação que estão sendo produzidos com essa forma de lidar com a loucura encarcerada. Subjetividades marcadas pelas agulhas que atravessam esse feltro, por manuseios que esburacam, pelo suor das mãos que mancham os tecidos/feltros por entre o coser.

Faremos esse percurso movidos pelo encontro com Esmeralda4, moradora que acompanhamos de maneira mais próxima, mas também tomando falas e cenas de outros moradores, que serão aqui consideradas como expressões coletivas. Não as tomamos como histórias pessoais ou exposições íntimas, mas como analisadores5 do contexto maior da loucura encarcerada e dos modos de costurar uma Saúde Mental sobre outras bases.

1. Quando o ‘lixo’ se faz obra aberta

O que tem produzido esse percurso da Reforma, no que se refere aos pacientes de longa internação? Os novos dispositivos têm atendido também a esses usuários? A Reforma é também para esses? Como tem chegado a eles?

Conhecemos Esmeralda quando já estava internada há vinte e quatro anos. Esse encontro foi com Esmeralda,com a Longa6, com a clínica, que aqui já

3 Trabalharemos melhor essas imagens trazidas por Deleuze e Guattari adiante, desenvolvendo os conceitos e correlacionando com a pesquisa.

4 Todososnomesutilizadosnessetrabalhosãofictícios.5 Analisador é um conceito formulado por Félix Guattari, no contexto da Psicoterapia Institucional,

vindo a ser incorporado pela Análise Institucional Socioanalítica (LOURAU, 2014). Os analisadores são acontecimentos, aquilo que produz rupturas, que catalisa fluxos, que produz análise, quedecompõe os modos naturalizados de se lidar com o cotidiano.

6 Aqui falamos da enfermaria de Longa onde encontramos Esmeralda, ampliando as questões para as longas espalhadas pelo país. Trataremos de questões que abarcam a problemática que as políticas

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CAPÍTULO 5

CONSULTÓRIO NA RUA: o território como base de construção da integralidade

entre Atenção Básica e Saúde Mental

Elissandra Siqueira da SilvaIacã Machado Macerata

1. Introdução

Embora institucionalmente a Saúde Mental faça parte da Atenção Primária, Saúde Mental e Atenção Básica geralmente são pensadas e praticadas como intervenções diferentes e separadas. A separação se dá, em geral, entre os ti-pos de demanda que um usuário ou coletividade pode apresentar, ou melhor, na maneira como as práticas em saúde constituem seus objetos e o sujeito da demanda: demandas de cuidado para o corpo biológico ou demandas de cuidado da saúde da mente, do comportamento, saúde subjetiva ou afetiva. Pretendemos aqui abordar um ponto da interface entre Saúde Mental e Aten-ção Básica: o que, na atenção direta ao usuário, aparece como um problema de separação ou exclusão.

Um exemplo concreto disso é quando um usuário se apresenta a uma equipe de ESF e seu abuso de drogas não é trabalhado, ou mesmo, o usuário não é nem atendido sob o argumento de que “é uma demanda para CAPS AD”. O contrário também pode acontecer: um paciente hipertenso no CAPS não tem sua hipertensão considerada e trabalhada no próprio cuidado ofertado. Essa separação de demandas geralmente cria o que podemos entender como buracos na rede, no qual uma pessoa que apresenta duas demandas distintas acaba não sendo atendida por nenhum serviço. Estes buracos expressam a distância entre os saberes e práticas que compõem as ofertas de cuidado e as demandas concretas dos usuários, as quais resistem à divisão simplista pela qual as demandas do corpo biológico se apartam das demandas subjetivas e das demandas sociais. Uma categoria populacional específica acaba fre-quentemente caindo nestes “buracos”: aqueles denominados população em situação de rua (PSR).

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Sem dúvida, é importante diferenciar demandas, para construir linhas, direções do cuidado. A questão é que diferenciar é diferente de separar. O grande desafio é construir um olhar integral que possa entender a saúde e realizar ações na direção da vida, para além das divisões das disciplinas do saber: no concreto de uma vida, as várias dimensões da saúde de um sujeito não acontecem separadamente.

Essa separação simplificadora da complexidade das vidas humanas diz respeito à maneira como organizamos a construção do olhar dos saberes envolvidos na saúde: há um campo disciplinar, em que se dá a formação do profissional de saúde, que funciona na lógica da ciência moderna. Quer dizer, constroem-se objetos a partir de saberes que se especializam. O saber tor-nado especialista isola o objeto de seu contexto maior de relações concretas. O protótipo deste modelo de formação e atenção em saúde é o laboratório – dispositivo, por excelência, de produção de conhecimento da ciência moderna, onde o que é estudado é transformado em objeto pelo isolamento das variáveis do meio. O objeto se destaca de sua realidade mundana14.

Entendemos que esta é uma estratégia válida de produção de conheci-mento, possível para muitas situações, mas, sobretudo, entendemos que é apenas uma estratégia entre outras tantas possíveis. O problema da saúde de uma pessoa ou de uma coletividade também coloca necessidades que vão na contramão da especialização. Convoca a um olhar e uma prática que não tomem o sentido da especialização, mas sim do que poderíamos chamar de complexificação: diferente de complicar, trata-se de entender que se lida com uma complexidade de fatores. Nada mais complexo do que uma vida aconte-cendo em um contexto singular: contexto que é único para cada pessoa a cada momento e que, ao mesmo tempo, se faz a partir de um infinito de vetores biológicos, políticos, subjetivos, sociais, culturais, geográficos, familiares e tantas outras dimensões que se puder entender como decisivas para cada situação singular.

A interface Saúde Mental e Atenção Básica coloca, para trabalhadores, gestores e usuários, este problema da complexidade do olhar integral nas ações do cuidado em saúde. A AB é um campo que lida com esta complexidade, porque se depara com as questões de saúde justamente no lugar onde elas se produzem: no território, em conexão com o mundo, na realidade mundana e cotidiana da vida das pessoas. É neste terreno do cotidiano que as separações realizadas pelos campos de saber perdem o sentido. Na vida de uma pessoa, questões de saúde que seriam da alçada da Saúde Mental, ou de uma equipe de Estratégia de Saúde da Família, se dão juntas, em concomitância, em coemergência.

Assim, o objetivo deste artigo é discutir o problema da integralidade do olhar e da atenção, especificamente localizados na interface Saúde Mental

14 Despret, 2011.

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CAPÍTULO 6

SINAL DE ANGÚSTIA E O ENCONTRO TRAUMÁTICO: pensamento e

resistência na psicanálise e na filosofia

Auterives Maciel JúniorDiogo Boechat LessaJadir Machado Lessa

1. Introdução

Duas formas de pensamento sobre a angústia no mundo contemporâneo – que justifica uma abordagem noológica interdisciplinar com as contribuições da psicanálise e da filosofia – colocam em evidência uma relação entre as manifestações da angústia e uma flutuação sócio-histórica. Na situação atual, tal afeto é vinculado a um saber científico hegemônico que invade todos os domínios da vida humana, movido por um suposto propósito de erradicar o sofrimento que, no entanto, manifesta-se pela denegação do sujeito e da afirmação do desejo que lhe é constitutiva. Tal saber, por sua vez, funciona como elemento regulador de um discurso capitalista que exige do homem a eficácia social condizente, de um modo geral, com interesses econômicos. Sendo assim, na atual conjuntura capitalista, a angústia é registrada com palavras novas, que passam a designar transtornos.

Por outro lado, é fato que, na atualidade, assistimos ao incremento de transtornos que têm desafiado as diversas modalidades de técnicas e trata-mentos psíquicos: compulsões – toxicomania, bulimia, anorexia – pânico e depressões. Um dos traços característicos de todos estes transtornos, dos quais a compulsão se afigura como o mais representativo, é a impossibilidade de escolha. Em tais circunstâncias, os indivíduos atuam como se não pudessem escolher, mobilizados por imperativos sociais de gozo, que funcionam como procedimentos de sujeição.

Além disso, observamos, na contemporaneidade, a consolidação de uma sociedade que faz do excesso de excitação o motor do seu funcionamento. A sociedade capitalista atual – regida por um mercado transnacional – se apresenta como uma sociedade do excesso, em que a abundância de excita-ções, induzidas por imperativos de gozo, obrigam os indivíduos a agirem a

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qualquer preço, fazendo de tal ação a única condição de inserção social. Em outras palavras, os poderes empenhados em sujeitar a vida ao mercado mundial determinam um discurso capitalista, que faz do excesso do consumo o meio de produção de sujeitos sujeitados à engrenagem social.

O paroxismo de tal situação se verifica nas subjetividades como impos-sibilidade de escolha. Os indivíduos se veem incitados a escolherem o que o mundo impõe, assimilando informações em uma velocidade nunca antes assistida, entregando-se à sujeição e movidos pela promessa de um gozo a mais.

Se a incitação ao consumo – típica do discurso capitalista – é inseparável do discurso científico que funciona como meio regulador, a impossibilidade de escolha vê-se então reforçada pela imposição de um saber hegemônico, que funciona ofertando a ilusão de um mundo sem sofrimento. O uso exclu-sivo dos psicofármacos, a medicalização ostensiva da vida – quando postos a serviço de uma perspectiva hegemônica que visa a efetuar dispositivos de controle e adaptação – configuram a ciência como um saber-poder totalitário, que cria categorias fechadas e limitadas para explicar a experiência humana. O efeito imediato deste saber consiste na oferta de uma explicação para o comportamento, que procura recobrir o real do sofrimento, diminuindo a angústia que emerge diante do não saber.

Sendo assim, a exigência de consumo imediato – discurso capitalista – acrescido da promessa de um saber normativo – o poder da ciência – acaba reduzindo, ou mesmo impedindo, que o próprio homem encontre as respostas para sua vivência, construindo, a partir da experiência pessoal, um sentido para o seu sofrimento e para sua vida.

Por isso, defendemos nesse estudo a necessidade de apresentarmos duas formas de pensamento para pensarmos a experiência da angústia na esfera do capitalismo contemporâneo. O que queremos é estabelecer um confronto entre o discurso médico, o pensamento psicanalítico e o pensamento do Fora, mostrando como a psicanálise e a filosofia podem ser lidas como práticas de resistências que favorecem as escolhas por duas razões: 1) Elas trabalham com o propósito de conferir ao sujeito responsabilidade ética pelo seu desejo; 2) Denunciam na sociedade os mecanismos de sujeição, implementados pelos dispositivos de poder imanentes ao discurso da ciência.

Faremos este percurso em três etapas: na primeira, trabalharemos o discurso médico com o propósito de mostrar como nele há uma negação do sujeito e como isso desemboca em uma comercialização de uma cura fácil que alia tal discurso às estratégias capitalísticas; na segunda, mostraremos como é possível inferir do pensamento da psicanálise um conceito de resistência compatível com uma abordagem filosófica extraída da filosofia de Foucault; finalmente, trabalharemos o pensamento do Fora24 como condição da resistência

24 Pensamento do Fora é uma forma de pensamento que foi apresentada por três autores no mundo contemporâneo: Foucault, Blanchot e Deleuze. No nosso texto ela deve ser compreendida como

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CAPÍTULO 7

LAÇOS AFETIVOS NA UTI: a visita que fala de uma identificação

Aline Tavares Machado SilvaJadir Machado Lessa

1. Introdução

A internação em uma Unidade de Terapia Intensiva – doravante UTI – é algo que desestabiliza não só o paciente internado, mas também seus fami-liares, amigos e demais conhecidos, pelo fato de nunca estarmos preparados para enfrentar a doença, a morte, o imprevisível. Há autores, inclusive, que relacionam esse período de internação hospitalar a um momento de crise na existência do paciente e de seus entes queridos, pois acontece uma interrupção em suas vidas. Ambos vivenciam mudanças em suas rotinas e em seus esti-los de vida, que, além de limitarem a vida social dos mesmos, geram muito sofrimento psíquico.

Para o paciente, a internação hospitalar é influenciada por algumas características específicas que interferem diretamente no seu estado emo-cional, tais como: clima de morte iminente, estresse constante, isolamento das figuras que geram segurança e conforto, relação com aparelhos intra e extracorpóreos, perda da noção de tempo e espaço, perda da privacidade e da liberdade, despersonalização e participação direta ou indireta no sofrimento alheio (ANGERAMI-CAMON, 2010).

Por outro lado, o impacto do adoecimento e da internação, em um setor do hospital onde tais características são sentidas de forma mais intensa, pode desencadear nos visitantes de UTI as mais diversas reações afetivas e emo-cionais. Dessa forma, a UTI se constitui como um espaço de vulnerabilidade emocional também para os visitantes, que precisam confiar na equipe e na possibilidade de resolução dos sintomas de seus pacientes, sem garantias de bons resultados.

Sendo assim, ambos, pacientes e visitantes, precisam compreender a UTI como etapa fundamental para a superação da doença e colaborar para mudar a perspectiva tradicional, de cuidado centrado na doença, independente do

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prognóstico, para uma abordagem cujo núcleo está no relacionamento entre o paciente, o visitante e a equipe de saúde. Em se tratando de UTI, onde o modelo assistencial é fortemente marcado pelo modelo biomédico, pode não ser algo fácil, mas extremamente necessário, tendo em vista que tal modelo tornou pouco eficaz a maneira de lidar com o sofrimento das pessoas e de cuidá-las, a partir do momento em que passou a adotar o ato prescritivo do médico de forma imperiosa e este passou a ser o principal recurso para cuidar das pessoas e não os atos de fala, de cuidado e de toque.

A palavra clínica foi descaracterizada e a terminologia de origem grega, que significa “o debruçar-se sobre o corpo”, foi substituída pelo ato prescritivo do exame, do medicamento. O toque e o olhar, a fala e a escuta, foram substi-tuídos, pois o médico passou a dialogar com os exames e não com as pessoas: “[...] a subjetividade que vem nesse corpo não é atendida no ato prescritivo, não é objeto de interação com o profissional. O cuidado centrado apenas em procedimentos se tornou extremamente ineficaz e caro” (FRANCO, 2007, p. 37).

E foi na contramão desse discurso biomédico hegemônico que a Política de Humanização ancorou e veio regulamentar a presença de uma equipe in-terdisciplinar nos hospitais. O psicólogo está nesta equipe, o que possibilitou e legitimou seu lugar nos mais diversos setores de especialidades médicas, dentre eles a UTI. A partir desse contexto, o processo de inserção da Psicologia na UTI vem acontecendo gradativamente e tornando cada vez mais frequente a presença do psicólogo hospitalar em diversas iniciativas no referido setor.

Dentro dessa perspectiva, o tema “Laços afetivos na UTI: a visita que fala de uma identificação” busca retratar uma parcela da realidade hospitalar e do setor que foi escolhido para estudar: a UTI.

2. Metodologia

Chauí (1998) define o método como um instrumento racional para ad-quirir, demonstrar ou verificar conhecimentos. Tal pressuposto se justifica, quando o indivíduo pensa em ciência moderna e suas grandes formulações acerca do real, que permitem um grande poder de controle sobre os fatos da natureza. Nesse modelo de ciência, as metodologias são bem constituídas, principalmente seus métodos, que permitem a descrição de muitos fenômenos por meio de uma linguagem matemática e precisa, fornecendo ao cientista caminhos assertivos para sua tarefa de pesquisar.

Atribui-se aos conhecimentos gerados nesse período histórico (Mo-dernismo, século XVII-XVIII) a instalação de uma revolução no campo do conhecimento, na qual antigas verdades científicas são abandonadas e a imagem mítica do Cosmos é destruída por Galileu (1564-1642), com a

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CAPÍTULO 8

PSICO-ONCOLOGIA PEDIÁTRICA: as dimensões do cuidado na presentificação do encontro

Simony de Sousa Faria

1. Introdução

‘Nós’ não existe, mas é composto de Eu e Tu; é uma fronteira sempre móvel onde duas pessoas se encontram. E quando há encontro, então eu me transformo e você também se transforma (Friederich Salomon Perls, 1977, p. 9).

Os estudos sobre Psico-Oncologia Pediátrica sempre me despertaram um profundo desejo de compreender os diversos sentimentos envolvidos no pro-cesso de adoecimento de crianças em tratamento de câncer e sua repercussão em seus familiares, principalmente no(s) irmão(s) saudável(s) que se afeta(m) pela experiência do adoecimento do(a) irmão(a), agravada pela ausência dos pais. Dependendo da idade ou maturidade emocional e cognitiva, a criança saudável precisa de cuidado, não só do cuidado físico mas, sobretudo, do cuidado afetivo, que antes era a ela dispensado e agora é destinado, quase que totalmente, ao irmão adoecido.

Escrever sobre a Psico-Oncologia Pediátrica e sobre todo esse contexto que envolve o adoecimento de uma criança foi um desafio estimulante. Mesmo sendo uma área que desperta interesses em diversos profissionais, pouco se publica sobre esse tema, devido à escassez de material bibliográfico sobre o assunto. Porém, o esforço foi feito no sentido de desenvolver a temática e incentivar, a partir daí, que surjam novas problematizações e outros olhares sobre o cuidado integral à criança adoecida e sua família, como uma unidade.

Cuidado e presença são palavras bastante utilizadas no decorrer desse trabalho. Destacamos aqui os benefícios da presentificação. Estar presente, aqui e agora, perto dos pais, faz a diferença, tanto para o tratamento da criança adoecida quanto para o reasseguramento afetivo do(a) irmão(a) saudável, que fica em casa.

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O cuidado também foi apresentado aqui como modo de contemplar a relação homem-mulher/pai-mãe, pensando que, mesmo no processo do ado-ecimento do filho, existe a necessidade do estreitamento e da preservação dos vínculos amorosos do casal, para que possam elaborar juntos a dor desse momento vivido. Essa questão do estar junto também pode se ampliar para a conquista da cura do filho, poiso compartilhamento dos desafios que surgem no percurso do tratamento pode fortalecer e nutrir os laços amorosos dos pais, considerando-se a perspectiva, de que o descuido dos membros da família para consigo mesmos, em prol da criança adoecida, independentemente de como se manifeste, também pode ser considerado um modo do cuidado.

A presença e o cuidado com o outro e com a relação do casal parecem constituir uma condição fundamental para o fortalecimento das relações e dos ânimos como processo de preparação para o período angustiante que se segue, seja para a cura, para a recidiva ou, até mesmo, para a possibilidade da morte. Em princípio, e na maioria das vezes, o contato com o outro conforta, fortalece pessoas e relações e amplia seus horizontes existenciais.

O presente trabalho se fundamentou nas bases conceituais da Gestalt--terapia de Frederick Perls, da relação com a filosofia do encontro EU-TU, formulada por Martin Buber, no sentido da vida, na perspectiva de Viktor Frankl e no conceito de cuidado de Martin Heidegger. Desse modo, foi possível compor o contexto da proposta do trabalho sobre a importância da presença do outro na vida de quem passa pela experiência do adoecimento, encontrando o sentido na presentificação do encontro.

Tendo em vista a temática escolhida, este estudo foi realizado, não ape-nas a partir de uma revisão bibliográfica, teórica e conceitual, mas também é atravessada por todas as emoções que foram experienciadas no desenvol-vimento deste trabalho.

2. A criança com câncer e seu universo infantil

Não professamos verdades absolutas. Ao contrário, estamos polemizando e levantando dúvidas que também são nossas. A gaivota voa em direção ao sol no rumo do vento em busca do verão. Busca, por meio da orienta-ção da energia solar, um local adequado para suprir suas necessidades. Irão me perguntar sobre o sentido da gaivota. Simplesmente responderei: ela vive. A complexidade de sua vida é a própria vida [...]. A criança igualmente vive. Simplesmente vive. A vida vai transformando seus dias em horizontes azuis ou sombrios. Ela tem na vida o próprio sentido da vida, e qualquer outra dimensão que se queira atribuir a isso não passa de arroubo teórico sem estruturação lógica diante dos fatos. E assim é. Escrevemos sobre um turbilhão de emoção chamado criança. Um ser que

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CAPÍTULO 9

SAÚDE MENTAL E OS ASPECTOS PSICOEMOCIONAIS DE CRIANÇAS

CONVIVENDO COM O VÍRUS HIV/AIDS

Francisca Morais da SilveiraMaria Antônia de SousaSimony de Sousa Faria

1. Introdução

Os estigmas construídos socioculturalmente sobre as pessoas soropo-sitivas, no que diz respeito ao preconceito, discriminação, distanciamento afetivo e muitas vezes a falta de assistência dos governos em suas várias esferas, dentre outros, persistem desde que essa patologia foi descoberta pela ciência e ainda hoje se mantém. Na maioria das vezes, esses estereótipos estão presentes no âmbito social e muitas vezes familiar e de vários os profissionais de saúde que não se capacitaram para cuidar de pessoas que convivem com HIV/AIDS, principalmente em nível dos cuidados em saúde mental. Contudo, qualquer pessoa pode adquirir o vírus. Não tem um público específico, já que existem pessoas que mantem relações sexuais sem preservativo, ademais, o vírus pode se manifestar não apenas via relação sexual e sem prevenção, mas, também, nas suas diversas formas de transmissão, como a transmissão vertical de mãe para filhos, ou seja, pode afetar jovens e adultos, idosos ou crianças, de diferentes idades e classes sociais.

Ao longo do tempo, os infectologistas ressaltaram que havia alguns gru-pos de pessoas, considerados de riscos e mais vulneráveis à doença. Porém, pesquisas desenvolvidas em todo o mundo, mostraram que essa teoria não se confirma, tornando-se uma condição suscetível a qualquer pessoa. Apesar de ampla divulgação na mídia e em alguns artigos científicos, o tema é abor-dado quase sempre relacionado aos adultos, poucos mostram que crianças, principalmente filhos de pais soropositivos, também estão nessa estatística. Alguns estudos que compuseram esta pesquisa mostraram, também, a inci-dência do vírus em idosos, contudo no âmbito infantil a divulgação do tema ainda é incipiente.

Considerando o argumento referido, não existe uma justificativa plau-sível a respeito do assunto, visto que muitas pesquisas e avanços têm sido

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considerados tanto em nível da saúde física, quanto em nível da saúde mental. Desse modo, doenças autoimunes com HIV/AIDS comprometem várias esperas que compõem não só o físico, mas abrange o cuidado com a saúde mental. Nesse sentido, convém ressaltar que há profissionais da área da mental com capacitação para tratar dos aspectos psicoemocionais, a fim de promover uma harmonização e adesão ao tratamento. No que se refere ao campo infantil, percebe-se que o cuidado com a saúde mental necessita ser estudada com mais afinco, ou com uma melhor ênfase. Algumas conjecturas são levantadas quanto à criança não possuir a noção sobre a doença, por conta de sua pouca idade, porém, a nível psicológico, a criança percebe que o corpo já não res-ponde às demandas advindas da infância como pular, correr, estudar e viver sem medicamentos, pois as idas ao médico e medicação de amplo espectro modificam sua rotina. Há um entendimento que a criança não tem noção da dimensão ou da gravidade do adoecimento, porém, ela sente do modo que lhe compete o universo infantil, a fragilidade de estar adoecido.

Diante dessa possibilidade generalista faz-se necessário observar a condição única de cada criança sentir o adoecimento, mesmo sabendo-se que crianças convivendo com o HIV/AIDS possuem dinâmicas sociais e estruturas familiares diferentes, que pode interferir diretamente na maneira de relacionar--se com a condição que ela precisa conviver. Torna-se imprescindível, portanto, conhecer acerca do tema, identificar formas de compreender o sentimento da criança sobre a doença e sua percepção sobre o adoecimento, bem como as consequências acarretada sem nível de saúde mental.

Analisar apenas fatores físicos ou patológicos da doença é uma condi-ção reducionista e delimitada uma vez que a criança é vista só como pessoa doente. É necessário que haja uma compreensão de sua subjetividade, mesmo porque a criança faz sua avaliação e também do meio em que ela se relaciona de formas diferentes.

Desse modo, objetivou-se compreender acerca dos aspectos psicoemo-cionais de crianças convivendo com o vírus HIV/AIDS e os danos causados à sua saúde mental, sobre o adoecer e as possíveis formas de intervenções do psicólogo neste contexto.

Face ao exposto, o presente estudo justifica-se por buscar outra pers-pectiva em benefício das crianças que convivem com a soropositividade, compreendendo o sofrimento psíquico causado pela doença e por suas con-sequências psicoemocionais.

O presente artigo está organizado a partir de um breve histórico do HIV/AIDS e suas consequências na sociedade, com resgate histórico do crescimento da população infantil convivendo com a AIDS, a dimensão do HIV/AIDS e suas implicações na infância, as perspectivas de atuação do psicólogo e a

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CAPÍTULO 10

PERCEPÇÕES DE PSICÓLOGOS SOBRE RELIGIOSIDADE E SAÚDE

MENTAL: estudo fenomenológico num CAPS do Distrito Federal57

Luciano da Costa Espírito SantoMarta Helena de Freitas

Rita de Cássia da Silva

1. Introdução

O novo modelo brasileiro de saúde mental se caracteriza por uma assistên-cia interdisciplinar e ampliada, com acompanhamento terapêutico comunitário e descentralizado, que deve se integrar à atenção básica em saúde (BRASIL, 2005). Com caráter marcante de reabilitação e reinserção psicossocial dos por-tadores de transtornos mentais, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são unidades essenciais para o cumprimento dos objetivos da nova rede de saúde mental (BRASIL, 2004). Estas unidades devem estar articuladas aos demais serviços de saúde e a outras instituições e recursos sociais, componentes das redes assistenciais e de suporte comunitárias. Dentre tais recursos, incluem-se as comunidades e instituições religiosas, que podem contribuir como fonte de tratamento, suporte social e agente de ressocialização dos pacientes.

A atuação de grupos e instituições de tratamento com filiação religiosa, de forma integrada ou independente da rede comunitária de saúde mental do SUS, é um fenômeno crescente no Brasil. Este fenômeno tem motivado intenso debate e gerado conflitos e desconfortos entre posições ideológicas mais seculares e aquelas ligadas a denominações religiosas, dentro e fora da comunidade de profissionais em saúde mental (PACHECO; SCISLESKI, 2013; RAUPP; MILNITISKY-SAPIRO, 2008; BRASIL ANVISA, 2013).

57 Este trabalho é um recorte de duas pesquisas mais abrangentes, respectivamente intituladas “Religiosidade do Imigrante: Saúde ou Sintoma? Percepção de profissionais de saúde mentalbrasileiroseportugueses”,financiadapeloCNPq(EditalMCTI/CNPq/Universal14/2014),e“SaúdeMental no Contexto daAtenção Psicossocial: Percepções dos profissionais acerca do papel dareligiosidade”,financiadapelaFAP-DF(Edital03/2015-DemandaEspontânea),ambascoordenadaspela primeira autora contando com a participaçãodos demais.

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Este contexto de conflito científico-religioso não é novidade em saúde mental. Como aponta Koenig (2000), saúde mental e religiosidade apresentaram complexas relações ao longo da história da psiquiatria e da psicopatologia, com crescente ruptura entre seus discursos. Ao longo do século XX, cresceu a atitude de desconfiança por parte dos profissionais de saúde frente ao discurso religioso sobre os fenômenos psicopatológicos, ressaltando uma perspectiva negativa em relação aos estudos que abordem as relações entre religiosidade ou espiritualidade e saúde mental.

O debate acalorado entre o darwinismo e as teorias criacionistas também marcou profundamente o desenvolvimento e o ensino das ciências da saúde no século XX e tem uma importante influência na biologia, medicina e psiquiatria modernas (DORVILLÉ, 2010; ALMEIDA; FALCÃO, 2014). A tensão ide-ológica resultante deste confronto duradouro pode ter contribuído, de forma indireta, para a resistência ou mesmo negação do estudo dos fenômenos reli-giosos em saúde. Paralelo ao silêncio e à evitação científico-acadêmica sobre o tema, está o intenso crescimento das denominações pentecostais e neopen-tecostais no Brasil (NERI, 2011), tradicionalmente ligadas ao cientificismo criacionista, gerando uma reação ideologicamente contrária à secularização das práticas em saúde (TEIXEIRA; ANDRADE, 2014).

Um exemplo importante da influência deste conflito na atenção à saúde mental é a polêmica sobre a regulamentação das comunidades terapêuticas religiosas que tratam os usuários de drogas no Brasil (CONSELHO NACIO-NAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS, 2014; SANTOS DE OLIVEIRA, 2015). Denúncias de violação dos direitos humanos, práticas de cooptação ideológica e proselitismo religioso e ausência de qualificação profissional das equipes terapêuticas são problemas constatados em muitas destas insti-tuições, o que tem alimentado o antagonismo dos conselhos profissionais dos trabalhadores em saúde à atuação das comunidades terapêuticas religiosas (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2015; CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013; CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2015). Dentre estas, destaca-se a oposição da classe psicológica (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2015a, b e c).

Há cerca de duas décadas, Ancona-Lopez (1999; 2002) tem sugerido que a notória dificuldade dos psicólogos em lidar com a religiosidade dos pacientes está relacionada à falta de conhecimento e contato com o tema durante a sua formação profissional. Ao estudar as dificuldades dos profissionais de saúde em acolher religiosidade de pacientes imigrantes, Freitas (2013a e b) e Freitas e Santos (2017) também apontam as deficiências da formação em saúde, em geral privada, das discussões sobre a relação afetiva e cultura dos pacientes e profissionais com a religiosidade, como uma das prováveis causas deste fenômeno e do sentimento de falta de qualificação para lidar com o tema.

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SOBRE OS AUTORES

Aline Tavares Machado SilvaGraduada em Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão, UFMA. Mestre em Psicologia pela Univer-sidade Federal do Maranhão, UFMA. Psicóloga Hospi-talar do Hospital Municipal Djalma Marques - Socorrão I, HMDM, atuando nas áreas de Psicologia da Saúde, Psicologia Hospitalar e Psicologia Social.

Alison Silva VerasEspecialista em Avaliação Psicológica e graduado em Psicologia pela Faculdade Pitágoras. Atua como Psi-cólogo Clínico, realizando atendimento individual com criança e adultos, desenvolvendo também em consultório particular, orientação profissional e vocacional, orientação e desenvolvimento de carreira e avaliação psicológica. Desenvolve atividade e programas em Psicologia Orga-nizacional e do Trabalho em empresas privadas (2016) como: Treinamento por competências, pesquisa de clima

organizacional, acompanhamento psicológico com marítimos, recrutamento e seleção de pessoal entre outras atividades de área de Gestão de Pessoas. Apre-senta capacitação em auditória de Recursos Humanos e knowledge management.

Auterives Maciel JúniorÉ doutor em teoria psicanalítica pela Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. Leciona no departamento de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RIO e no programa de Pós-Graduação – mestrado e doutorado – em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida (UVA-RIO). É membro associado da

Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle (SPID-RIO) e leciona cursos de intro-dução à filosofia na Sociedade de Psicanálise da Cidade do Rio de Janeiro (SPC-RJ). É autor dos livros Pré-Socráticos – A invenção da Razão. São Paulo:

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Ed. Odysseus; Polifonias – Clínica, Política e Criação. Rio de Janeiro: Ed. Contracapa e O Todo-Aberto – Duração e Subjetividade em Henri Bergson. Rio de Janeiro: Ed. Arquimedes. Endereço para acessar o CV: http://lattes.cnpq.br/1316446642154568

Claudia Abbês Baêta NevesProfessora Associado IV da Universidade Federal Flumi-nense, vinculada ao Departamento de Psicologia e ao Pro-grama de Pós-graduação strito sensu - mestrado e douto-rado. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (1985), mestrado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (1991), doutorado em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002), e pós-doutorado em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (2010). Tem

experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social e Saúde Coletiva, atuando e publicando nos seguintes temas: produção de subjetivi-dade, micropolítica, políticas públicas de saúde e assistência social, formação profissional em saúde e educação.

Diogo Boechat LessaPsicólogo, formado pela Universidade Veiga de Almeida (RJ). Pesquisador do Grupo de Pesquisas em Psicotera-pias Existenciais e Humanistas - CNPq/UFMA na Linha de Pesquisa Fundamentação Teórica das Psicoterapias.

Eduardo PassosEduardo Passos é doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992). Foi consultor do MS para a implantação da Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde (2003-2008), realizou con-sultoria junto ao Internacional Center for AIDS Care and Treatment Program do Mailman School of Public Health da Universidade de Columbia (EUA)(2008-2009) e no Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas

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Públicas do Conselho Federal de Psicologia (CREPOP/CFP) como membro da Comissão ad hoc de Metodologia do CREPOP (2010-2011). Assessoria técnica para avaliação dos projetos do NESC/UFRN/MS (2014). Desde 2009 compõe a equipe de pesquisadores brasileiros que traduziram, adaptaram e validaram o Guia de Gestão Autônoma de Medicação (GGAM). Coordena o grupo de pesquisa “Enativos: conhecimento e cuidado” no departamento de psicologia da UFF.

Elissandra Siqueira da SilvaPossui graduação em Terapia Ocupacional pelo Centro Universitário Metodista (2004). Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde Pública. Sua trajetória é marcada por atuação junto à Organização da Sociedade Civil desenvolvendo ações de prevenção ao HIV/AIDS, outras DST, Tuberculose e redução de danos junto a pessoas que usam álcool e outras drogas. Atuação profissional nas seguintes áreas: 1) no Sistema Único de Assistência Social como gestora da Proteção

Social Básica; 2) atuação como apoiadora matricial junto a NASF - Núcleo de Apoio a Saúde da Família como Terapeuta Ocupacional; 3) consultora no Projeto Ações Colaborativas TB/HIV na Região Sul do Brasil pelo PNCT/MS; 4) atuação enquanto pesquisadora bolsista (FIOTEC) no Projeto de Pesquisa Perfil dos Usuários de Crack nas 26 capitais e 9 Regiões Metropolitanas do Brasil, FIOCRUZ/SENAD; 5) apoiadora técnica da equipe de avaliação ex-terna do PMAQ - Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica/MS, equipe UFRGS; 6) apoiadora institucional junto a Coordenação Estadual da Atenção Básica da Secretaria da Saúde do Estado do RS com ênfase na interface com a Política de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, HIV/AIDS e Saúde da População em Situação de Rua.

Erica Menezes DutraPsicóloga, graduada pela Universidade Federal do Ma-ranhão (UFMA). Foi membro dos grupos de estudo em Gestalt-Terapia (GEGT-Integrar/UFMA) de 2017 a 2018 e Logoterapia e Análise Existencial (UFMA) de 2015 a 2018. Experiência em Psicologia Organizacional e do Trabalho na Labore Consultoria, empresa que atua em Recrutamento e Seleção.

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Francisca Morais da SilveiraPesquisadora e Professora Associada do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, docente nos Cursos de Graduação e de Pós--Graduação. Doutora em Psicologia (Teoria e Pesquisa do Comportamento) pela Universidade Federal do Pará (2003-2007). Mestre em Psicologia (Teoria e Pesquisa do Comportamento) pela Universidade Federal do Pará (1998-1999). Especialista em Gestão Pública pela Fun-dação João Pinheiro de Minas Gerais (1994-1995), Es-

pecialista em Psicologia do Trânsito pela Universidade Federal do Maranhão (2000-2001). Graduação em Psicologia pelo Centro de Ensino Universitário de Brasília (1974-1979). Licenciatura em Psicologia pelo Centro de Ensino Universitário de Brasília (1975-1979). Membro do Conselho Penitenciário do Estado do Maranhão; Membro do Fórum Nacional dos Conselhos Peni-tenciários Nacionais-FONACOPEN; Presidente do Conselho Deliberativo da APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados). Membro da Associação Brasileira de Neuropsicologia. Vice Líder do Grupo de Pesquisa registrado no CNPq (GEPEEEB) Estudos e Pesquisas em Educação Especial na Educação Básica - UFMA. Linha de pesquisa: Neuropsicologia, Desen-volvimento, dificuldades de aprendizagem, avaliação e Processos cognitivos. Desenvolve pesquisas na área de programas de Reabilitação Neuropsicoló-gica, investigações da Neuropsicologia no contexto jurídico relacionado aos aspectos da criminologia e violência e disfunção cerebral, Neuropsicologia da lateralidade, escrita invertida e não invertida, pseudonegligência, canhotismo, neuropsicologia da aprendizagem. Coordena o Laboratório de Estimulação Cognitiva de Idosos. Membro do grupo de Pesquisa Neuropsicologia da Uni-versidade CEUMA. Consultora ad hoc da Fapema. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia Jurídica, Políticas Públicas e Desenvolvimento.

Iacã Machado MacerataProfessor Adjunto do Departamento de Psicologia de Rio das Ostras da Universidade Federal Fluminense. Possui graduação em Psicologia pela PUCRS (2005), mestrado e doutorado em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense, em Estudos da Subjetividade, com ênfase em clínica e subjetividade. Pesquisa e atua nas áreas: clínica ampliada; saúde pública; psicologia social; mé-todos de produção de conhecimento em saúde; pesquisa de perspectiva cartográfica; análise institucional; corpo

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e subjetividade. É pesquisador associado do AND_Lab | Arte-Pensamento e Políticas da Convivência - Lisboa/Rio de Janeiro e do Laboratório de Subje-tividade e Corporeidade (CorporeiLabS - UFF/UFRJ/UFC/FAV).

Jadir Machado LessaPesquisador e Professor Adjunto (DE) do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, lecionando nos Cursos de Graduação e de Pós-Graduação. Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES-MA. Membro da Academia Ludovicense de Letras, Membro da Academia de Letras Brasil/Suiça. Membro do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Lisboa – Portugal. Autor dos livros: Solidão e liberdade, A construção do poder pessoal, A clínica

como exercício ético dos encontros afetivos e Análise Existencial: princípios fundamentais. Coautor dos livros: Arte e ressonância, A infância medicalizada: discursos, práticas e saberes para o enfrentamento da medicalização da vida, Fenomenologia: Teoria e Clínica, Fenomenologia e Psicologia: Estudosteóricos e investigações empíricas contemporâneas, Terapia poética e Gerontologia e Transdisciplinaridade. Autor dos artigos: A Análise Existencial e a Curapela Intimidade. Estudos Contemporâneos da Subjetividade, v. 5, p. 1, 2015; Gênese e desenvolvimento da Análise Existencial.EstudosContemporâneos da Subjetividade, v. 2, p. 332-344, 2012; Coautor dos artigos: A relação psi-coterapêutica na abordagem fenomenológico-existencial. Análise Psicológica, v. 3, p. 393-397, 2006; Papel do Idoso nas dinâmicas sociais de realização do ser-no-mundo-com-o-outro. Revista Multidisciplinar de Gerontología, v. 1, p. 7, 2006. Endereço para acessar o CV: http://lattes.cnpq.br/1704453729588865

Lins Aurora Gonçalves GomesPsicóloga, com formação em Psicanálise em 2017 pela ORLA, Centro Psicanalítico do MA, UNDB e Pós Graduanda em Neuropsicologia (IPOG).

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Luciano da Costa Espírito SantoLuciano da Costa Espírito Santo concluiu Mestrado em psicologia pela Universidade de Brasília em 1997. Atual-mente é Professor Assistente II da Universidade Católica de Brasília e supervisor da clínica-escola CEFPA. Atua na área de psicologia, com ênfase em psicoterapia breve, psicanálise e psicopatologia. Foi coordenador de curso de graduação em psicologia e cursos de pós-graduação lato sensu. Em suas atividades profissionais interagiu com 7 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos. Em

seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização de produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: psicoterapia, psicanálise, atos de fala, psicopatologia, avaliação psicológica. Atua como Psicólogo clínico em consultório particular desde 1992.

Maria Antônia de SousaPsicóloga com ênfase na Abordagem Fenomenológico--Existencial; Pós-graduada em Saúde Mental e Psicos-social pela IES Gianna Beretta. Pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Psicoterapias Existenciais e Humanistas - CNPq/UFMA. Coautora do livro: A Psicologia e seus signos: ensaios psico-filosóficos - Capítulo: Imagens do Eu: a Arteterapia como um fio condutor dos fios do sen-tido da vida no processo de envelhecer. Lattes: <http://lattes.cnpq.br/2060427369738737>.

Marta Helena de FreitasDoutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (2002), com Pós-Doutoramento no Department of Reli-gious Studies, School of European Culture and Langua-ges, University of Kent at Canterbury, UK (2011-2012) e pelo Programa Doutoral em Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Portugal (2014-2015). Graduada e Licenciatura em Psicologia (1985), Mestre em Psicologia Social e da Personalidade (1991), ambos pela Universidade de Bra-

sília. Professora Adjunta da Universidade Católica de Brasília - UCB, desde 1989, atuando hoje no Curso de Graduação em Psicologia e no Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia. Experiência na área de Psicologia Clí-nica. Como docente e pesquisadora, tem produções técnicas e bibliográficas

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sobre os seguintes temas: psicologia da religião, tanatologia, gerontologia, Psicodiagnóstico de Rorschach, fenomenologia e formação em psicologia. Coordenadora da Comissão "Psicologia e Religiosidade" do CRP-01. Lecture da Cátedra Unesco “Juventude, Sociedade e Educação” – UCB. Coordenadora do GT Psicologia & Religião da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia - ANPEPP. Membro da International Association for the Psychology of Religion.

Rita de Cássia da SilvaGraduada em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Pós-Graduanda em acompanhamento de adolescentes e jovens pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Experiência em atendimento clínico. No momento, realizando atendimentos clínicos também como trabalho social da Paróquia de Macaúbas - BA.

Simony de Sousa FariaPsicóloga do PAHS – Psicologia aplicada à área Hos-pitalar e da Saúde, com ênfase em Psicologia Fenome-nológico-existencial. Atuando em: Psicoterapia indivi-dual e de casal; Psico-oncologia; Patologias Crônicas; Assistência a pessoas em processos de luto e Cuidados Paliativos. Doutoranda em Psicologia pela Universidade de Ciências Empresariais e Sociais - UCES de Buenos Aires - Argentina. Mestre em Gestão de Programas e Serviços de Saúde pela Universidade CEUMA. Espe-

cialista em Psico-Oncologia pela Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte – MG. Certificação em Psico-Oncologia pela Sociedade Brasi-leira de Psico-oncologia. Formação em Análise existencial pela Sociedade de Análise Existencial e Psicomaiêutica - SAEP. Pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Psicoterapias Existenciais e Humanistas - CNPq/UFMA - na Linha de pesquisa Psico-Oncologia e Cuidados Paliativos. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicoterapia, Fenomenologia e Sociedade, da Universidade Federal do Ceará CNPq/UFC - na linha de pesquisa: Prática Clínica, Saúde Mental e Fenomenologia: estudos sobre a significação do so-frimento psíquico e a reinvenção das práticas de cuidado. Coautora do livro A infância medicalizada: discursos, práticas e saberes para o enfrentamento

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da medicalização da vida – Capítulo: A criança diante dos lutos vivenciados no processo de adoecimento e da medicalização do tratamento oncológico; Coautora do livro: Gerontologia e Transdisplinaridade – Capítulo: O Cuidador de Idosos com Alzheimer: aspectos psicológicos relacionados à resiliência, Organizadora e Coautora do livro: A Psicologia e seus signos: ensaios psico--filosóficos - Capítulos: A Patologização da Homossexualidade: análise his-tórica das diversas formas de medicalização da homossexualidade durante o desenvolvimento da sociedade ocidental; Imagens do Eu: a Arteterapia como um fio condutor dos fios do sentido da vida no processo de envelhecer e Rap e pichação: arte da periferia expressa em meio urbano e da Cartilha Manual de orientação para novos gestores: passos para uma boa gestão de UBS. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9112509870986751

Victor Amorim RodriguesVictor Amorim Rodrigues é professor auxiliar no ISPA- Instituto Universitário em Lisboa. Médico Psiquiatra Clínico e Forense e Psicoterapeuta Existencial. Licen-ciado em Medicina pela Universidade de Lisboa, Mestre em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa e Doutor em Psicologia Pela Universidade da Extrema-dura em Espanha. Presidente do Conselho Científico da Federação Portuguesa de Psicoterapias. Conferencista convidado em várias Universidades Portuguesas e Brasi-

leiras. As suas principais áreas de interesse são a Psicopatologia e Psicoterapia Fenomenológico-Existencial.

Williana LouzadaPsicóloga; Doutora em Psicologia pela UFF; Mestre em Psicologia Institucional pela UFES. Pesquisadora do campo da Saúde Mental pública; atuou na assistência e gestão da rede de saúde mental do município do Rio de Janeiro, em assessoria de pesquisa na FIOCRUZ Rio de Janeiro. Atuação na clínica - formação e super-visão clínica institucional. Consultora de saúde mental oferecendo capacitação em instituições.

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SOBRE O LIVROTiragem: 1000Formato: 16 x 23 cmMancha:12,3X19,3cmTipologia:TimesNewRoman11,5/12/16/18Arial7,5/8/9Papel: Pólen 80 g (miolo)Royal Supremo 250 g (capa)