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JADIS VI / CIED II CADERNO DE RESUMOS ORGANIZADORES Faculdade de Letras da Universidade do Porto I&D Centro de Linguística da Universidade do Porto Em parceria com USP Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 26. 27 e 28 de outubro de 2016 Site: http://web.letras.up.pt/jadis/ E-mails: [email protected] ; [email protected]; OBSERVAÇÃO: Os resumos dos painéis temáticos estão organizados pela ordem numérica por que se encontram na programação. Os resumos das comunicações individuais encontram-se por ordem alfabética pelo primeiro nome de cada autor. O conteúdo e a redação de todos os textos são da inteira responsabilidade dos seus autores.

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JADIS VI / CIED II

CADERNO DE RESUMOS

ORGANIZADORES

Faculdade de Letras da Universidade do Porto I&D Centro de Linguística da Universidade do Porto Em parceria com USP – Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

26. 27 e 28 de outubro de 2016

Site: http://web.letras.up.pt/jadis/

E-mails: [email protected] ; [email protected];

OBSERVAÇÃO:

Os resumos dos painéis temáticos estão organizados pela ordem numérica por que se encontram na programação. Os resumos das comunicações individuais encontram-se por ordem alfabética pelo primeiro nome de cada autor. O conteúdo e a redação de todos os textos são da inteira responsabilidade dos seus autores.

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RESUMOS DOS PAINÉIS TEMÁTICOS

PAINEL TEMÁTICO 1

BRASIL.com: O DISCURSO DO GOLPE NAS REDES SOCIAIS

Coordenadora: Karina Falcone

Universidade Federal de Pernambuco

O Brasil mergulhou definitivamente, em 2016, numa profunda crise política que não cessa de produzir seus efeitos sobre os sujeitos e seus discursos, colocando à mostra diversas feridas de uma nação cindida. No campo do discurso, um espaço tem se mostrado como particularmente profícuo para a análise desses momentos, da luta de classes que o gestou, da manipulação midiática que o alimenta, da disputa pela palavra, pelo sentido que tem sido uma de suas marcas: o virtual e suas redes colocam em evidência os sujeitos e seus discursos, as contradições, os atos falhos que se produzem numa língua que falta, na qual se tropeça. Os trabalhos que reunimos nesse Painel Temático se ocupam desse momento e dos discursos que o produzem, que o denunciam, que mostram suas diversas fases. Tratam-se de trabalhos que, em diálogo com diferentes vertentes da análise do discurso, vão se ocupar dos discursos que circulam no espaço virtual mostrando tanto as formas de resistência ao golpe, como os modos de gestá-lo, mediante a construção de uma divisão nacional que coloca, de um lado, os que reconhecem o golpe e seus efeitos e, de outro, aqueles que o recusam enquanto possibilidade de interpretação dessa realidade social. Das disputas pelo significante aos discursos de ódio, das hashtags que se proliferam aos ataques à cultura...... vamos vendo se gestar uma divisão talvez irreconciliável em uma sociedade que se recusa a reconhecer suas próprias feridas.

O FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DAS #: PENSANDO O DISCURSO POLÍTICO DAS REDES

Fabiele Stockmans De Nardi

Universidade Federal de Pernambuco

Lucirley Alves de Oliveira Universidade Federal de Pernambuco

Os fatos recentes da história política brasileira, entre outras questões, colocaram as redes sociais da Internet em um lugar de protagonismo na luta política. A “militância digital” tem sido fundamental nas lutas travadas no país, visto que trazem para esse espaço vozes que, talvez, fora deles, tardiamente seriam ouvidas ou percebidas. A rede parece constituir-se, assim, como um espaço no qual os sujeitos usuários encontraram formas diversas de se organizar para denunciar, protestar e reivindicar. Dentro desse universo, nos interessa, em

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particular, o modo como aparecem as hashtags como espaço de construção de demandas coletivas, que se condensam nesse enunciado convocatório (GRIGOLETTO; DE NARDI, 2015; 2016) que acompanha a hashtags, chamando os sujeitos a aderir a ele, a colar-se a essa voz. Olhando para o entrecruzamento entre as questões técnicas que envolvem o uso e circulação da hashtags, e seu funcionamento discursivo (PAVEAU, 2013; SILVEIRA, 2015), pretendemos, nesse trabalho, discutir a construção da relevância para hashtags como #ForaTemer #NãoVaiTerGolpe, que têm circulado em diversos espaços nos últimos meses, saindo da rede para as ruas. Perguntamo-nos se, nesse contexto, dada a pluralidade de ideias/opiniões/posicionamentos, as hashtags surgem como uma ferramenta que permite transformar a voz do "eu" na voz do "nós"? Como ecoam, essas vozes, no espaço público e no espaço virtual? Em que medida são, as hashtags, uma marca ou um fruto da resistência que se materializa nas redes? “A CULTURA TAMBÉM MERECE QUE SE LUTE POR ELA”: O GOLPE NO BRASIL E OS SENTIDOS EM TORNO DO SIGNIFICANTE “CULTURA” NO

ESPAÇO VIRTUAL[1]

Felipe Augusto Santana do Nascimento (CNPq) Doutorando na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

O recente golpe parlamentar que afastou a Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, em maio de 2016, foi alvo de muitas críticas por parte da população e de movimentos sociais e, em contrapartida, gerou o silêncio da grande mídia brasileira. A extinção do Ministério da Cultura (MinC) foi uma das primeiras medidas tomada pelo Presidente interino, Michel Temer, produzindo em parte dos artistas, dos produtores culturais e da população brasileira críticas e repercussões negativas. O Estado, por meio de seu papel de “articulador simbólico” dos vínculos sociais (ORLANDI, 2010), por muito tempo, produziu um imaginário de consenso pelas políticas públicas de cultura, ao administrar a diferença em prol de uma unidade imaginária; no entanto, a ruptura parlamentar-democrática provocou na esfera cultural conflitos e embates políticos. Iniciou-se, assim, uma série de mobilizações nos mais variados espaços culturais e nas redes sociais que culminaram na recriação do MinC, onze dias após a sua extinção. Filiado à Análise de Discurso materialista, busco analisar o lugar atribuído à cultura e os sentidos em torno desse significante nos discursos que circularam no espaço virtual a partir do golpe de 2016 no Brasil. Dessa forma, tanto o ódio à cultura quanto a resistência pela cultura foram postas em circulação num país onde os sentidos em torno do direito à cultura pareciam estar semanticamente estáveis. A breve extinção do Minc, portanto, expôs a diferença constitutiva das relações sociais e a dificuldade do governo ilegítimo de administrar esse litígio.

[1]Refiro-me à passagem “a metáfora também merece que se lute por ela”, do livro “A vida está em outro lugar”, de Milan Kundera, à qual Françoise Gadet e Michel Pêcheux fazem referência em “A língua inatingível”.

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MÍDIA NINJA E O CONTRAPODER DAS REDES SOCIAIS NO PROCESSO DE (DES)LEGITIMAÇÃO DO GOLPE

Karina Falcone Universidade Federal de Pernambuco

Discursos constituem sociedades e têm força para (des)legitimar atores, grupos

e fatos sociais. Tal afirmação tem como aporte teórico a Análise Crítica do

Discurso e a Linguística Cognitiva. Seguindo essas perspectivas, proponho

analisar o processo de categorização (LAKOFF, 1990; MARCUSCHI, 2004) e

(des)legitimação (HABERMAS, 1973) do afastamento da Presidenta Dilma

Rousseff do cargo, partindo de duas macrocategorias: impeachment x golpe.

Essas macrocategorias constituem discursos que se situam em campos

ideológicos antagônicos: os das mídias tradicional e dos coletivos midiáticos,

respectivamente, sendo que os coletivos têm protagonizado um processo de

democratização da comunicação brasileira e promovido o acesso discursivo

(FALCONE, 2005; VAN DIJK; 2008) de vozes contrárias ao status quo.

Historicamente, o jornalismo brasileiro opera na categorização de fatos sociais

legitimando discursos de grupos ideologicamente dominantes (FALCONE,

2008). Para esta investigação, analisamos a cobertura do Mídia Ninja (MN) e da

Folha de S. Paulo (FSP) sobre um mesmo evento: as manifestações do dia 11

de junho de 2016, ocorridas em várias cidades do Brasil, da América Latina e da

Europa contra o golpe. O objetivo deste estudo é identificar as ações do MN

como um grupo do contrapoder no embate político brasileiro, e que, ao promover

um novo modelo de comunicação, vem desconstruindo o discurso da mídia

tradicional (impeachment) e denunciado o golpe. O Mídia Ninja surge em 2013

como um braço de comunicação do coletivo Fora do Eixo, organizado pouco

antes das Jornadas de Rua ocorridas no Brasil em junho de 2013. Ninja é uma

sigla de “Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação” e tem sido um dos

coletivos que proporciona a já denominada “Revolução Compartilhada”: a

possibilidade de acessar, a partir de recursos tecnológicos, protestos e

manifestações sistematicamente silenciados pela mídia tradicional brasileira. As

comunidades em rede possibilitam a visibilidade de atores sociais que

empoderam minorias sociais e que passam a enfocar, de forma crítica e criativa,

experiências sociais significativas (BOQUILLION e MATHEWS, 2010).

QUANDO A FALHA DENUNCIA O GOLPE: REDES SOCIAIS, DESLIZE E RESISTÊNCIA

Rita de Kássia Kramer Wanderley (CNPq) Doutoranda na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

A imprensa internacional tem repercutido a situação política brasileira como um golpe; no entanto, no País, através da mídia de massa, essa nominação tem sido

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relacionada a grupos políticos que apoiam o PT, sigla da presidenta afastada Dilma Rousseff. Michel Temer, presidente em exercício, apesar de ter o apoio da mídia institucional brasileira, enfrenta a resistência dos eleitores que não reconhecem a legitimidade de sua posição no cargo para o qual não foi eleito e que assumiu em condições escusas. Nesse cenário, as redes sociais têm funcionado como principal canal midiático da resistência ao que estamos chamando de Golpe de 2016, uma vez que a mídia institucional tem silenciado os discursos que defendem esse ponto de vista. Há, portanto, uma luta ideológica, política e discursiva em torno do significante “golpe”, que marca posições econômicas e sociais complexas no cenário brasileiro. Partimos de uma perspectiva discursiva na qual entendemos o discurso como materialidade múltipla: linguística, histórica, ideológica e atravessada pelo inconsciente. A língua, materializada em discurso, não é idêntica a si mesma e admite a falha (PÊCHEUX, 1995). Nossa análise se desenvolverá tomando como ponto de partida um enunciado produzido em uma postagem do presidente interino Michel Temer em seu Twitter a respeito do “golpe”, em que a falha se revela e irrompe a formulação: “[...] pelo que sei, a senhora presidente utiliza o avião [...] para fazer campanha denunciando o golpe”. Essa publicação gerou vários comentários e compartilhamentos nas redes sociais sublinhando o deslize discursivo, em que os sujeitos internautas posicionam-se resistindo ao golpe. Nosso trabalho, portanto, procura demonstrar como, nas redes, a partir da produção de enunciados relacionados a essa publicação, a luta no terreno da linguagem alarga as possibilidades para discursos de resistência quando o controle do dizer é capilarizado.

ÓDIO E IMAGINÁRIO: A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE NORDESTINOS E PETISTAS COMO INIMIGOS DO BRASIL

Thiago Alves França (PAC-UNEB) Doutorando na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Desde a disputa eleitoral entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) durante o segundo turno das eleições presidenciais, no final de 2014, a imagem de um Brasil cindido voltou a se materializar em diferentes espaços, incluindo os virtuais. Pareceu necessário, para alguns, naquele momento, utilizar o mapeamento da maioria dos eleitores que decidiu pela reeleição da presidenta para culpabilizá-los pelo mal que teriam feito ao país. A região Nordeste do Brasil, embora não tivesse condição de determinar sozinha o resultado final apresentado com a apuração das urnas, foi escolhida como principal responsável pela reeleição de Dilma Rousseff, o que justificaria, segundo essa “lógica”, a urgência de uma medida separatista. Os enunciados que apontavam para a divisão do Brasil indiciavam uma “identidade” nacional fraturada, que se desdobrou na necessidade de salvar o Brasil daqueles que, supostamente, queriam destruí-lo. Nesse processo imaginário de reconstrução de uma identidade nacional, que passa pela produção de um inimigo cuja necessidade de exterminar é princípio reunificador, assistimos à construção discursiva do nordestino-petista como “inimigo” do Brasil, e, depois, o petista em geral. Nesse cenário, de diferentes suportes, ecoava um enunciado nem sempre explícito, mas persistente: “Brasileiros, uni-vos para combater os petistas e, assim, salvar

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o Brasil”. Disfarçado de patriotismo, em 2016, o Golpe urdido contra a presidenta legitimamente eleita foi apresentado como a salvação do país, o que garantiu adesão de uma parte da população. É esse “enunciado” de defesa do Brasil, materializado em diferentes formulações (re)produzidas em espaços virtuais, que tomamos como objeto de análise. Analisamo-lo a partir da Análise de Discurso pecheutiana, atentando para o modo como o imaginário funciona como Condição de Produção de discursos, e propondo alguns diálogos com outros teóricos, como Michel Foucault e Jacques Sémelin.

PAINEL TEMÁTICO 2

AS RELAÇÕES DE (CONTRA)PODER NO DISCURSO: PRÁTICAS

MIDIÁTICAS, PEDAGÓGICAS E POLÍTICAS

Coordenadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino Universidade de São Paulo

O painel temático proposto busca conciliar as perspectivas teóricas dos pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) voltados aos Estudos do Discurso em Língua Portuguesa e que se interessam por questões concernentes ao discurso pedagógico, ao discurso da mídia e ao discurso político. Propõe-se como fio condutor o tema relações de poder no discurso que será abordado a partir das discussões em torno da Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 2003; 2010) em sua vertente cognitivista (Hart, 2014; Gonçalves-Segundo, 2014; 2015; van Dijk, 2014), da Teoria da Mesclagem Conceptual (Fauconnier e Turner, 2002 e ss), da Teoria da Argumentação (do modo como a abordam Aquino (1997 e ss) e Palumbo (2010), da Teoria Foucaultiana (1979 e ss) e, ainda, segundo Pennycook (2006), Peters (2008,) Estrela (1994), Morgado (1997). SUBJETIVAÇÃO, SABERES E PODERES: O AUTOR DO LIVRO DIDÁTICO

COMO UM INTERVENIENTE NA RELAÇÃO PEDAGÓGICA

Eduardo Lopes Piris Universidade Estadual de Santa Cruz

Assumindo os pressupostos teóricos foucaultianos, tomo o livro didático como um documento que materializa a disciplinarização dos saberes que legitimam as relações de poder na instituição escolar, a fim de encaminhar uma reflexão acerca da função do livro didático nos processos de objetivação e de subjetivação dos intervenientes na relação pedagógica. Esta discussão parte das formulações de Estrela (1994) e de Morgado (1997) sobre a noção de relação pedagógica, especialmente no que tange à assimetria na relação de saber-poder entre os intervenientes de uma situação pedagógica, a saber: o professor e o estudante. Assim, proponho esta reflexão por meio da análise do discurso do livro didático de português para estrangeiros Fala Brasil, com a 17ª edição publicada no Brasil em 2011, examinando os enunciados que constituem

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tanto a apresentação da proposta pedagógica pelo autor ao professor e ao estudante quanto os comandos dos exercícios. A análise sugere que a presença do livro didático na sala de aula institui, simbolicamente, o autor da obra como um terceiro sujeito na relação pedagógica que se coloca na condição de disputar com o professor o lugar de detentor do saber-poder na sala de aula. Por fim, concluo ressaltando a importância do posicionamento crítico do professor nessa relação de poder para além de se afastar ou de se submeter ao livro didático.

DISPOSITIVO DE ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UMA DISCUSSÃO

EM TORNO DO PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO

Isabel Cristina Michelan de Azevedo Universidade Federal de Sergipe

Este trabalho objetiva contribuir para a discussão do que podemos chamar de tradição de ensinar e de aprender língua estrangeira. Concebemos o conceito de dispositivo de ensino de língua estrangeira (ELE), referenciado em Foucault (1979), para investigar um mecanismo de dominação estabelecido, historicamente, por toda uma rede formada pela relação entre o discurso didático-pedagógico, as instituições de ensino, o discurso midiático, as políticas de língua, as leis, a produção científica, os cursos de formação docente e as editoras que publicam livros didáticos. Trata-se de um estudo de caráter bibliográfico e propositivo, que recorre ao conceito de tradição formulado por Bornheim (1987), para refletir como a ruptura pode nos fazer indagar de que maneira, apesar das transformações sócio-históricas e dos “avanços” tecnológicos, a tradição de ensinar e de aprender língua estrangeira vem se perpetuando por séculos. Em fase inicial, consideramos que seja possível delinear os elementos discursivos e não discursivos constitutivos do dispositivo de ELE, por isso recortamos para este momento a observação do livro didático de PLE (LD/PLE), como materialidade que compõe estrategicamente esse dispositivo, analisando-o a partir dos princípios de inversão, descontinuidade, especificidade e exterioridade (FOUCAULT, 2003 [1971]). Os resultados preliminares revelam que a legitimação do discurso do LD/PLE está associada à força contraditória da tradição/ruptura de ensinar e de aprender língua estrangeira, cujos saberes e poderes perpetuam o mecanismo de dominação instituído pelo dispositivo de ELE. Movidos pela suspeição crítica preconizada por Foucault (2000 [1997]) e defendida por Pennycook (2006) e Peters (2008 [2007]), parece-nos imprescindível produzir conhecimento sobre outros elementos constitutivos desse dispositivo, pois a articulação dos discursos e das práticas de todos elementos possibilita o eficaz funcionamento e a perpetuação do dispositivo, ainda que não se tenha clareza acerca das fontes, da origem, das rupturas pelas quais o dispositivo passa no decorrer do tempo.

REPRESENTAÇÃO, CONFLITO E CONCILIAÇÃO: A OCUPAÇÃO DE

ESCOLAS ESTADUAIS PAULISTAS NA FOLHA DE S. PAULO

Paulo Roberto Gonçalves-Segundo Universidade de São Paulo

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Entre o fim de 2015 e o início de 2016, ocorreu, no estado de São Paulo (Brasil),

uma série de ocupações de escolas públicas estaduais por estudantes

secundaristas com o objetivo de protestar contra o processo de reorganização

escolar proposto pela gestão do governador Geraldo Alckmin, que, dentre outras

medidas, previa o fechamento de unidades de ensino e o remanejamento de

funcionários e de estudantes. O movimento ganhou força, espalhou-se por

outros estados e alcançou uma vitória local, na medida em que a medida acabou

sendo revogada temporariamente pelo governo. O objetivo deste trabalho é

analisar, por um lado, a construção de um discurso (aparentemente) conciliatório

realizado pelo jornal Folha de S. Paulo – periódico com maior penetração no país

– em relação à atuação tanto do movimento secundarista quanto do governo em

seus editoriais e, por outro, a construção de um conflito decorrente de tal

posicionamento, que serviu de mote para uma polarização político-partidária

explícita vigente nos comentários online a esses textos. A fim de realizar tal

análise, parte-se de uma abordagem cognitivo-retórica dos estudos crítico-

discursivos, que concilia a abordagem tridimensional de Fairclough (2003, 2010)

com a tipologia de operações de construal de Hart (2014) e com a análise dos

processos e das estratégias argumentativas empregadas nos textos (Reisigl,

2014; Grácio, 2010).

DISCURSO POLÍTICO E RELAÇÕES DE PODER: UM PROCESSO DE ATIVAÇÃO/REATIVAÇÃO DE FRAMES

Zilda Gaspar Oliveira de Aquino

Universidade de São Paulo

A proposta deste trabalho diz respeito à observação do discurso político a partir da Teoria da Mesclagem Conceptual, segundo Fauconnier e Turner (2002 e ss), ampliada, de tal modo que se possa destacar a utilização de frames na relação interdiscursos. Entendemos que a formulação linguístico-discursiva promova a ativação de determinados frames no discurso político de modo estratégico, por funcionar como mecanismo de reativação de determinadas concepções mentais que mereçam ser lembradas ao interlocutor (cidadão de modo geral), a fim de que esse discurso se superponha ao discurso anteriormente formulado por outro político, seu adversário, criando, assim, uma relação de poder em que o último a se pronunciar tente convencer, mais veementemente, a plateia. O corpus constitui-se dos pronunciamentos de Dilma Roussef e de Michel Temer, quando do afastamento da presidente de seu cargo, para serem apuradas as denúncias que lhe foram feitas de crime de responsabilidade. Os resultados permitem apontar para a possibilidade de inter-relação entre o processamento cognitivo e o argumentativo nos discursos.

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PAINEL TEMÁTICO 3

ENUNCIAÇÃO E PODER EM DISCURSOS LITERÁRIOS

Coordenadora: Ana Elvira Luciano Gebara Universidade Cruzeiro do Sul / FGV Direito SP

O discurso literário frequentemente coloca em questão os discursos de poder

por (re)criar o mundo em seu espaço. É, ao mesmo tempo, como afirma

Maingueneau, em Discurso Literário (2006), autoconstituinte e heteroconstituinte

uma vez que autoriza a si mesmo e desempenha papel de constituinte de outros.

Nele, é possível identificar-se, pela constituição do código de linguagem e das

cenografias, diferentes representações dos participantes do discurso e dos seus

entornos. Partindo da inescapável presença do ethos que se configura nas vozes

do discurso, explícitas ou silenciadas, e nas relações por elas estabelecidas de

posições em concordância ou em conflito, este painel temático “Enunciação e

poder em discursos literários” tem como objetivo identificar, analisar e discutir os

processos enunciativos que indiciam e, por vezes, estabelecem as relações de

poder no discurso literário. As reflexões apresentadas no painel decorrem dos

estudos realizados no âmbito das pesquisas desenvolvidas no Grupo Estudos

Estilísticos (Mestrado em Linguística – Universidade Cruzeiro do Sul / CNPq)

com ênfase nas representações do que seja o literário; a quem pertence esse

poder de denominação e de estabelecimento de fronteiras, nas relações entre

as vozes e as representações desse domínio discursivo e os que igualmente

assim se denominam.

A POESIA DE PAULO LEMINSKI E O DISCURSO DE PODER

Alessandra Ignez Instituto Federal de São Paulo

A literatura - uma forma de comunicação expressiva que busca desautomatizar

usos linguísticos comuns e desgastados - enseja a tradução de ideias já

conhecidas de modo inédito (GUILBERT, 1975), chamando a atenção dos

leitores para uma maneira particular de expressar a realidade. Sendo o escritor

marcado historicamente, há, sem dúvida, um vínculo entre sua obra e o contexto

histórico em que vive. A produção literária constrói-se sobre um discurso que

preza a individuação da forma de dizer, isto é, do estilo, e, ao mesmo tempo,

deixa transparecer vozes sociais, fazendo eco ao posicionamento de uma

determinada parcela da sociedade. Por vezes, a depender da época, dos fatos

históricos e dos escritores, encontramos produções de cunho engajado que

tentam debelar ações opressivas e discursos de poder por meio da linguagem –

arma do poeta, do escritor contra a tirania. Dessa forma, a palavra empregada

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nesse universo, em conjunto com outras, marca e individualiza o modo de dizer,

o estilo do poeta na construção do poema, mas, ao mesmo tempo, permite a

eclosão de outras vozes que querem se quer fazer ouvir. Um dos poetas

brasileiros que produz poemas com temática social é Paulo Leminski, que busca

uma poesia livre, sem censuras no contexto da ditatura militar. A presente

comunicação tem como objetivo evidenciar o embate de vozes na poesia de

Leminski, observando como o poeta engendra seu discurso, a fim de combater

um discurso de poder. Para tanto, será fundamentada nos estudos de Martins

(2000), Bakhtin (1997) e Guilbert (1975).

A AQUISIÇÃO DA ESCRITA E O EMPODERAMENTO INFANTIL EM VEJAM

COMO EU SEI, DE JOSÉ PAULO PAES

Ana Elvira Luciano Gebara Universidade Cruzeiro do Sul / FGV Direito SP

A aquisição da escrita permite que as crianças passem a circular no mundo

letrado, muitas vezes de caráter cifrado pela anterior ausência de chaves de

descodificação de códigos e estruturações de sentido que eram, para elas, fruto

da mediação do adulto-leitor. Esse processo tem como resultado o

empoderamento de meninos e meninas que passam a escrever sobre si e sobre

o mundo que as circundam. Na literatura, no entanto, o mais usual é que autores

adultos busquem essa voz para escreverem aos leitores mirins recriando o

universo de expectativas, formas de dizer, e identidades. Por vezes, os textos

resultantes são, ao mesmo tempo, caminhos e espelhos para esses leitores.

Criam, por assim dizer, uma maneira de se ocupar o mundo, autorizada por

adultos dispostos a ouvi-los; e identificam formas de ser que um dia esses

adultos autores vivenciaram ou acreditam ser o que as crianças necessitam. A

constituição das vozes nesse discurso literário infantil, aparece de modo

contundente no livro de poemas Vejam como eu sei escrever, de José Paulo

Paes (2001). A cada poema, o leitor tem a impressão de reconhecer-se e

reconhecer a outros, pelos traços criados no ethos do sujeito lírico que visita os

lugares do espaço imediato, representado principalmente pelo filtro dado pelo

espaço escolar. As cenografias se baseiam principalmente no gênero redação e

revelam a posição desse sujeito em relação a outros de seu mundo. Este

trabalho tem como objetivo identificar como se constitui essa voz, qual o ethos

unificador dos poemas do livro, e qual a representação da escrita e do gênero

poético no fim do século XXI tendo como base Maingueneau (1998, 2006, 2010);

Amossy (2010), Martins (2003) e Micheletti (2011).

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DISCURSO POÉTICO E AS RELAÇÕES DE E COM O PODER NA POESIA

DE CACASO

Guaraciaba Micheletti Universidade Cruzeiro do Sul / USP

A literatura, como toda expressão artística, estabelece relações com o contexto

histórico. Dependendo do autor, das circunstâncias político-sociais e mesmo das

tendências estéticas, encontrar-se-ão marcas mais vincadas no discurso

literário. Medeiros

(http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/literatura-engajada/),

referindo-se a Sartre, registra que “há escritores que escolhem “engajar-se”

através de suas obras e escritos a partir dos quais expressam, entre outras

coisas, o embate entre a arte e o realismo político.” É o que se constata na poesia

de Cacaso, Antonio Carlos Brito (1944-1987). Estabelecendo um claro diálogo

com outros autores e valendo-se do recurso da ironia, Cacaso, um dos ícones

da poesia marginal dos anos 70, constrói uma poesia cerebrina e assaz crítica à

ditadura militar a que estava submetido o Brasil entre 1964 e o início dos anos

80. O engajamento implica numa reflexão do escritor sobre as relações que trava

a literatura com a política e com a sociedade em geral. Ainda, conforme

Medeiros, há uma percepção “que a sensibilidade estética pode se tornar um

instrumento que convida o leitor a se entregar em um mundo de reflexões e

pensamentos sobre os principais problemas da sociedade: o mundo das guerras,

da luta das minorias, das desigualdades sociais etc. Há, por assim dizer, um

compromisso do escritor com a sociedade.” Sem arvorar-se em panfletária, é

esse o legado poético de Cacaso à Literatura Brasileira: uma poesia reflexiva,

construída com o cotidiano, perpassada por toques de humor. A presente

comunicação busca analisar as relações entre o poder e a construção poética

de Cacaso, em poemas da coletânea “Lero-Lero”, em especial os que se

encontram em “Grupo Escolar” tendo como bases teóricas, entre outros, Bakhtin

(2006), Brait (2008), Martins (2003), Friedrich (1978).

O DISCURSO LITERÁRIO E A AUTORIDADE ENUNCIATIVA

Magalí Elisabete Sparano Universidade Cruzeiro do Sul

Entre os estudos literários e os estudos linguísticos sempre houve uma tensão.

O empoderamento da fala literária vem da mesma ordem do empoderamento da

fala ordinária, ou seja, do uso, observada as condições sóciohistóricas de quem

produz essas falas e como se dá a organização ou a ruptura das estruturas

previstas em uma dada gramática que as prevê e as descreve. Diante dessas

tensões, propomo-nos a estudar o processo enunciativo e o poder na criação

literária, considerando as discussões sobre a elaboração poética nos escritos de

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Vinícius de Moraes, destacando-se textos metalinguísticos e trechos em que

encontramos um enunciador-poeta pondo-se como produtor e aprendiz num jogo

enunciativo de empoderamento linguístico-literário dentre os domínios da

criação da poesia. Essa discussão está de acordo com as proposições de

Maingueneau (2006) sobre Discurso Literário, além das considerações sobre o

ethos, cenografia e discurso constituinte em Maingueneau (1993,2001, 2013);

Amossy (2008), Martins (2008) e Micheletti (2011).

CRÔNICA POLÍTICA, PODER E ENUNCIAÇÃO: UMA PROPOSTA PARA

ENSINO DE LÍNGUA

Sonia Sueli Berti-Santos Universidade Cruzeiro do Sul

Esta comunicação objetiva uma discussão sobre a constituição de efeitos de

sentido de empoderamento em textos literários jornalísticos. Visa estabelecer

como o ensino de língua pode-se utilizar de valores enunciativos encontrados

em crônicas jornalísticas da esfera política, na constituição de sentidos e no

levantamento de valores que evidenciem o ethos do enunciador, que se

configura nas vozes do discurso, explícitas ou silenciadas, e nas relações por

elas estabelecidas de posições em concordância ou em conflito, facultando uma

leitura profícua desses enunciados. Para Maingueneau, uma enunciação

constitui um ato que intenta modificar uma situação e esses atos integram-se

num discurso de um determinado gênero (um panfleto, uma crônica, por

exemplo), que visam produzir uma modificação nos destinatários. Para análise

do corpus, toma-se como base a teoria de análise do discurso (AD) nas palavras

de Maingueneau (2008, 2010, 2012, 2015). O corpus escolhido foi a crônica de

opinião “Acerto e erro”, que circulou em mídia digital na Folha de São Paulo, em

29/05/2016, que aborda questões políticas atuais. Essa discussão tem como

intuito ressaltar a importância do ensino de língua por meio de gêneros

discursivos que se encontram no cotidiano do leitor, levando-o a perceber os

efeitos de sentido que se estabelecem nos atos enunciativos.

PAINEL TEMÁTICO 4

O DISCURSO POLÍTICO: FORMAS E MANIFESTAÇÕES DISCURSIVAS

Coordenadora: Maria Aldina Marques Universidade do Minho

Assumimos como ponto de partida que os discursos presidenciais são política e

socialmente importantes. É que os discursos, todos os discursos e não apenas

os discursos políticos, não são neutros nem transparentes. No regime

semipresidencial português (passemos ao lado da discussão sobre esta

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denominação), os discursos são importantes, porque o magistério presidencial é

essencialmente um magistério da palavra; importa o que o Presidente diz, o que

é, estamos certos, uma conclusão consensual. A análise linguística dos

discursos, enquanto disciplina das Ciências da Linguagem, vai mais longe neste

domínio para demonstrar que não se pode dissociar o que o Presidente diz dos

modos (linguísticos, discursivos) como o diz, do contexto onde o diz ou dos

destinatários do que diz. Por isso os discursos são um lugar nuclear do exercício

do poder presidencial. As comunicações que apresentamos têm por base os

discursos presidenciais nos 100 anos da República Portuguesa, sem no entanto

se limitar ao espaço nacional; antes se abre a um enriquecedor confronto com

outras realidades de outros países. Pretendemos com este projeto contribuir

para uma literacia política que só pode passar por uma competência discursiva

aprofundada.

CONFLITOS DE OPINIÃO NO FACEBOOK SOBRE O CENÁRIO POLÍTICO

BRASILEIRO: POLÊMICA E AGRESSIVIDADE

Ana Lúcia Tinoco Cabral Universidade Cruzeiro do Sul

O século XXI é marcado pela interação digital; grande parte da população

mundial tem perfil no Facebook, no Instagram, em blogs, participa de redes

sociais, interage enfim. Espera-se que, nas interações verbais, especialmente

em espaços públicos, como é o caso dos sítios da Web, que a polidez linguística

seja mantida, a fim de preservar o caráter harmonioso da relação interpessoal,

em detrimento dos riscos de que implica qualquer encontro social. (Kerbrat-

Orecchioni, 2005, p.189). Entretanto, conforme lembram Cabral, Marquesi e

Seara (2015), o fato de os participantes de redes sociais poderem permanecer

anônimos lhes chancela a possibilidade de expressar suas emoções mais

livremente, incluindo sua agressividade. As recentes situações de tensão no

cenário politico brasileiro têm propiciado interações polêmicas nas quais vigora

a radicalização do discurso; é comum que se rebata o discurso contrário com

força e até violência. Dito isso, o presente trabalho analisará grupos cujos perfis

encontram-se no Facebook com o objetivo de manifestar-se a respeito dos

eventos políticos no Brasil, assumindo posições antagônicas. Serão analisadas

mensagens postadas do perfil Facebook de dois grupos cujas posições políticas

se opõem. As análises focalizarão as estratégias linguístico-discursivas

utilizadas fundadas, sobretudo, no ataque verbal aos manifestantes de opinião

oposta e no discurso emocionado. As análises fundamentam-se em estudos da

(im)polidez (Culpeper, 2011; Terkourafi, 20080; Kerbrat-orecchioni, 2005;

Larguèche, 2009; Lagorgette, 2009;), em diálogo com estudos do discurso

polêmico e panfletário (Amossy, 2014; Angenot, 2008) e com o discurso

emocionado (Plantin, 2011; Charaudeau, 2008). Procuramos evidenciar uma

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mudança social promovida pelo uso das redes sociais e a consequente mudança

nas formas de interação, lembrando, com Terkourafi (2008), que a construção

da sua própria face pode envolver constituir ou ameaçar a face do interlocutor.

“QUEBRAR O SILÊNCIO": EM TORNO DAS “NARRATIVAS” DE JOSÉ SÓCRATES

Isabel Sebastião

Universidade do Porto

Isabelle Simões Marques Universidade Aberta

Na nossa comunicação, pretendemos analisar a primeira entrevista1 de José Sócrates, ex-primeiro ministro, que decidiu falar, em 2013, depois de se ter afastado da vida política desde 2011, sobre as consequências da crise política e económica em Portugal. Pretendemos, especificamente, debruçar-nos sobre o termo “narrativa” e os diferentes sentidos e usos que esta unidade lexical assume ao longo do seu discurso. Veremos que, consoante o objeto discutido, este termo se faz acompanhar por substantivos, adjetivos e estruturas sintáticas. Estas estruturas visam sustentar linguisticamente a crítica feita aos seus opositores e marcar a sua posição. Como sabemos, tanto as definições como os conceitos desempenham um papel crucial em todos os campos do raciocínio humano. Uma das formas de argumentação consiste num elevado grau de precisão entre significados explícitos e implícitos de um argumento. No entanto, e como refere Ilie (2009: 39): “In political discourse, definitions are not necessarily conceived as universal axioms, but they are often clarifications or explanations of contextualised terms”. Partimos, assim, da perspetiva da eficácia da linguagem em co(n)texto(s) diferentes, como o sustenta Amossy (2009: 254) 2 quando afirma que “argumentation is an aspect of an overall ‘discursive function’ that has to be analyzed in its intrinsic logic”, uma vez que o responsável pela enunciação usa conscientemente mecanismos de natureza lexical para sustentar a argumentação do seu discurso, atribuindo, assim, diferentes significados na tentativa de criar um sentido lógico e um sentido persuasivo ao longo do seu discurso. Reforce-se esta ideia invocando, mais uma vez, Amossy (2000) quando afirma que “L’analyse argumentative n’examine pas le lexique en soi et pour soi: elle se préoccupe de la façon dont le choix des termes oriente et modèle l’argumentation. Elle étudie donc l’utilisation des lexèmes (ou unités de base lexique) par un énonciateur dans une interaction donnée...” (Amossy, 2000: 144)3, impregnando o significado do discurso de uma determinada ideologia que se pretende transmitir (van Dijk, 20034), visto que “a escolha de uma palavra em

1 A 27 de março de 2013: https://www.youtube.com/watch?v=du2pj-2P-z8 2 Amossy, R. (2009). “Argumentation in Discourse: A Socio-discursive Approach to Arguments”. Informal Logical, v. 29, n.º 3, pp. 252-267. 3 Amossy, R. (2000). L’argumenation dans le discours. Paris: Nathan Université. 4 van Dijk, T. (2003). Ideología y Discurso. Barcelona: Editorial Ariel.

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detrimento de outra evidencia uma postura ideológica” (van Dijk, 2005: 68)5. Dado que o género suporte do discurso em análise é a entrevista, pretendemos, ainda, mostrar a variação de significado do termo lexical analisado e as suas implicações no discurso, tanto de José Sócrates como também na retoma do vocábulo por parte dos jornalistas que o entrevistam. Analisaremos com atenção as diferentes posições ideológicas e as diversas estratégias argumentativas usadas em prol da construção da interação discursiva.

DISCURSOS POLÍTICOS DE CELEBRAÇÃO EM TERRITÓRIO

PORTUGUÊS: UMA ABORDAGEM TEXTUAL-DISCURSIVA

Sara Pita CLUNL/Universidade de Aveiro

Rosalice Pinto CLUNL/CEDIS

Na prática política podem ser encontradas inúmeras intervenções assumidas por diferentes agentes dentro da governação caracterizando certo teor de celebração. Alguns destes discursos ocorrem em datas de grande relevo para a Nação, nomeadamente a comemoração do Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas (10 de junho) ou do Dia da Liberdade (25 de Abril), ou em momentos festivos (Natal e Ano Novo). Assim como intervenções políticas ocorridas em outros momentos da esfera pública, os argumentos utilizados e as escolhas linguísticas a eles relacionados ou não apoiam-se em valores socialmente partilhados, os quais por sua vez apresentam forte apelo às emoções. De facto, o efeito patémico do discurso depende, muito fortemente, dos imaginários sociodiscursivos (Charaudeau, 2000). Partindo deste contexto, procurar-se-ão aqui identificar os valores sociais convocados em discursos de celebração de alguns atores políticos nos últimos 2 anos. Para tal descrição, far-se-á um levantamento de certas categorias linguísticas: emprego de formas verbais e pronominais, organizadores textuais e modalizações, itens lexicais - centralizando-se naqueles que traduzem certo grau de emoção (Plantin et al. 2008). Ainda, far-se-á a análise de alguns esquemas argumentativos – Walton et al. (2008). Os resultados preliminares apontam para a utilização de argumentos falaciosos: ad populum, ad baculum ou ad misericordiam. Ainda, observa-se a exploração do sentimento de união nacional, tanto através da repetição de vocábulos como “povo” ou “comunidade”, quanto através do emprego da 1.ª pessoa do plural de formas verbais e pronominais.

PAINEL TEMÁTICO 5

O ESPAÇO DO POLÍTICO NOS DISCURSOS DO COTIDIANO: A INSTITUIÇÃO DE ENSINO, A IMPRENSA E A MÍDIA

5 van Dijk, T. (2005). Discurso, notícia e ideologia. Estudos na Análise Crítica do Discurso. Porto: Campo das Letras.

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Coordenadora: Maria Inês Batista Campos Universidade de São Paulo

Este painel temático propõe uma reflexão sobre relações entre política e discurso considerando, conforme Hannah Arendt (2013) em “O Que é Política” que a política nos permite compreender tanto as formas como funcionam as relações desiguais como os modos por meio dos quais pode-se tratar da convivência entre os diferentes. Entendendo que os espaços institucionais se constituem em espaços de tensão entre posições contraditórias e desiguais, buscamos analisar como o discursivo e o político se articulam nas práticas superestruturais e nos textos das instituições de ensino e da mídia. Para a consecução de nossos objetivos, analisaremos discursos das esferas de ensino e midiática. Em torno do primeiro, nos debruçamos sobre as publicações do ENEM, buscando configurar o enfoque dado às redações; a seguir, analisaremos o discurso das gramáticas, dos dicionários e dos falantes sobre o funcionamento da língua diante do discurso de posse da Presidente Dilma Roussef com fundamentos teóricos de Marxismo e Filosofia da Linguagem (1929/1986), “O que é a linguagem” de Valentin Volochinov (1930/2013). Na esfera da mídia, propomos analisar a relação entre vozes e poder; examinar como se produzem os ‘recortes’ temáticos das matérias e manchetes em textos jornalísticos; tratar das formas de funcionamento de recursos verbo-visuais em reportagens, das marcas destes discursos enquanto enunciados. Para tanto, buscamos fundamentos teóricos na obra de Mikhail Bakhtin e Valentin Volochinov para as análises, a partir de perspectivas institucionais e enunciativas, que dão destaque à diferença, à ordem do político e às relações discursivas de poder.

O PODER DO DONO DAS VOZES CONVOCADAS NA MÍDIA

Dóris de Arruda C. da Cunha Universidade Federal de Pernambuco / Universidade Católica de Pernambuco

Essa comunicação se propõe a apresentar algumas reflexões sobre o vozes e poder na mídia, lugar de encontro de diferentes discursos. Busca mostrar que o modo como elas são convocadas no “discurso citante”, especialmente nos jornais televisivos, ilustram e acentuam o ponto de vista do enunciador. Desse modo, o poder do discurso representado pode ser ampliado ou minimizado pela forma como é introduzido, categorizado (o discurso convocado e seu autor) e situado (no tempo, no espaço, no contexto histórico) pelo enunciador. Retomamos algumas noções de Bakhtin e Volochinov ‒ linguagem, dialogismo, “sujeito”, discurso alheio ‒, de François e Cunha ‒ ponto de vista, retomada-modificação ‒, e Moirand (discurso convocado). A análise do corpus mostra o grande poder da voz do enunciador-jornalista: não só ele escolhe as vozes em função do seu ponto de vista, da audiência, do propósito da retomada e do gênero, mas também as avalia, as categoriza e faz uso delas como argumento de autoridade para reforçar o poder do seu ponto de vista ou para desqualificar o ponto de vista contrário ao seu.

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POLÍTICA, ÉTICA, CIDADANIA: DISCURSOS DO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO?

Maria Inês Batista Campos Universidade de São Paulo

Nos últimos dezoito anos, o Exame Nacional do Ensino Médio /Enem foi se tornando uma avaliação impositiva para ingresso no ensino superior, tendo cada vez mais um maior número de participantes. Do seu início em 1998, três portarias federais reformularam as condições de produção, e o resultado foi que muitos candidatos acabam sendo excluídos do processo. As discussões em torno das redações do Enem trazem em seu eixo teórico algumas correntes epistemológicas sustentadas pela teoria dos gêneros discursivos, linguística de texto, tipologia textual. Ao longo dos anos, as propostas insistem que o candidato discuta temas de interesse coletivo, com a finalidade de intervir criticamente na vida social. Este trabalho parte das seguintes indagações em torno do discurso apresentado pelo Enem no seu documento oficial -“A redação no Enem 2013-Guia do Participante”: O que se pode entender por “política” e “cidadania”? De que maneira a coletânea apresenta as informações ao candidato para que ele construa os argumentos necessários? Que razões levam o Enem a publicar somente as redações nota 1000 e sem dar visibilidade também aos textos com notas boas e regulares? Que posicionamento ideológico se tem atrás destas escolhas? O objetivo desta comunicação é discutir uma redação publicada no documento oficial Enem 2013 que revela, com base nos dados levantados, uma valorização excessiva apenas na leitura funcional. A partir dos conceitos de signo ideológico (Volochinov); “discurso autoritário” e “discurso interiormente persuasivo” (BAKHTIN, Teoria do romance I, A estilística), analisar as consequências para o ensino da argumentação nas escolas da adoção do Enem como processo seletivo nacional, que dissolve inteiramente a originalidade das palavras do outro, em detrimento de uma abordagem que procura impor o que deve ser entendido como postura cidadã.

A LINGUAGEM VERBO-VISUAL E SEU PODER DE PERSUASÃO EM CAPAS DE REVISTA: UMA PROPOSTA DE LEITURA EM SALA DE AULA

Miriam Bauab Puzzo

Universidade de Taubaté Esta comunicação tem por objetivo discutir a importância da linguagem verbo-visual que circula nos meios de comunicação como recurso argumentativopersuasivo na formação de opinião do leitor. Essa peculiaridade informativa torna-se um objeto de leitura em sala de aula com o intuito de demonstrar como as formas de representação verbo-visual criam efeitos de sentido que conduzem à formação de opinião conforme o ponto de vista e o interesse do veículo de comunicação na interpretação dos fatos noticiados. As capas de revistas, consideradas enunciados concretos, apresentam em sua estruturação verbo-visual uma unidade temática de força persuasiva. Essa proposta está fundamentada na teoria dialógica bakhtiniana entendendo que os enunciados não são neutros, expressando valores do enunciador em resposta

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ao contexto imediato de produção. Sendo assim são consideradas as categorias de Bakhtin e do Círculo, tais como enunciado concreto, estilo, tom valorativo e ideologia, assim como autores que tratam da linguagem verbo-visual, Haynes, Brait, Dondis, Guimarães. Como objeto de análise foram selecionadas duas capas de revista de grande circulação em cuja elaboração é possível perceber o poder argumentativo-persuasivo na constituição enunciativa composta pela verbo-visualidade: revista Veja edição 2476, nº18, 04de maio de 2016, e Le Monde Diplomatique Brasil ano 9, nº 106, maio de 2016, que tratam do momento sócio-político-econômico atual, expressando pontos de vista valorativos antagônicos. O objetivo final é demonstrar a importância dessa leitura como atividade em sala de aula de modo a preparar o aluno para perceber, na constituição visual e verbal de tais enunciados, os efeitos de sentido que servem como argumentopersuasivo na formação de opinião do leitor. Palavras-chave: leitura, linguagem verbo-visual, capas de revista, análise dialógica. 5. Título: Verbo-visualidade, o ato ético e estético e alteridade em discussões políticas brasileiras: uma proposta para ensino de língua Autor: Sonia Sueli Berti-Santos Filiação: Universidade Cruzeiro do Sul /UNICSUL Contato: +55 11 981937929; e-mail: [email protected] RESUMO: Esta comunicação objetiva uma discussão sobre a constituição de efeitos de sentido impressos na confluência da linguagem verbal e visual em textos jornalísticos. Visa estabelecer como o ensino de língua pode-se utilizar de valores éticos e estéticos encontrados em enunciados verbo-visuais na constituição de sentidos e no levantamento de valores que evidenciem a alteridade do autor criador, facultando uma leitura profícua desses enunciados. Para análise do corpus, toma-se como base a teoria dialógica postulada por Bakhtin e o Círculo, bem como outros autores que trabalham a verbovisualidade como Brait, Puzzo, Berti-Santos, Sobral, Dondis, Machado. Como categorias de análise trabalharemos o ato ético e estético, tom valorativo, alteridade, carnavalização. O corpus escolhido foram duas colunas de opinião de capa do jornal, que circula em mídia impressa e digital há 23 anos, Tribuna do Direito: O domínio da Corrupção, edição n. 275 de março de 2016 e Em jogo, o futuro do Brasil: a sorte está lançada, edição n. 277 de maio de 2016, que abordam questões políticas atuais. Essa discussão tem como intuito ressaltar a importância do ensino de língua por meio de gêneros discursivos verbo-visuais que se encontram no cotidiano do leitor, levando-o a perceber os efeitos de sentido que se estabelecem na imbricação dessas linguagens.

PAINEL TEMÁTICO 6

DISCURSOS PRESIDENCIAIS: MODOS DE DISCURSIVIZAÇÃO DA

PALAVRA PRESIDENCIAL

Coordenadora: Isabel Margarida Duarte Universidade do Porto

Assumimos como ponto de partida que os discursos presidenciais são política e

socialmente importantes. É que os discursos, todos os discursos e não apenas

os discursos políticos, não são neutros nem transparentes. No regime

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semipresidencial português (passemos ao lado da discussão sobre esta

denominação), os discursos são importantes, porque o magistério presidencial é

essencialmente um magistério da palavra; importa o que o Presidente diz, o que

é, estamos certos, uma conclusão consensual. A análise linguística dos

discursos, enquanto disciplina das Ciências da Linguagem, vai mais longe neste

domínio para demonstrar que não se pode dissociar o que o Presidente diz dos

modos (linguísticos, discursivos) como o diz, do contexto onde o diz ou dos

destinatários do que diz. Por isso os discursos são um lugar nuclear do exercício

do poder presidencial. As comunicações que apresentamos têm por base os

discursos presidenciais nos 100 anos da República Portuguesa, sem no entanto

se limitar ao espaço nacional; antes se abre a um enriquecedor confronto com

outras realidades de outros países. Pretendemos com este projeto contribuir

para uma literacia política que só pode passar por uma competência discursiva

aprofundada.

AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2016: IDENTIDADE E ALTERIDADE

NOS DISCURSOS DOS CANDIDATOS A PRESIDENTE

Alexandra Pinto Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Confrontamos, para este trabalho, cinco dos manifestos eleitorais das eleições

presidenciais portuguesas de 2016, tendo estes sido os manifestos dos cinco

candidatos mais votados nestas eleições, a saber os de Marcelo Rebelo de

Sousa, António Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias, Edgar Silva e Maria de Belém

Roseira.

Uma das questões que pretendemos comprovar no nosso trabalho é que, entre

os manifestos analisados, se desenha uma área de prototipicidade, com a

saliência de alguns aspetos regulares comuns, aos níveis composicional,

semântico-pragmático e enunciativo, aspetos esses que nos habilitam a falar do

desenho de um género de texto específico, dentro do tipo de discurso político.

Utilizando a proposta de J.M.Adam (2001: 40-41) para a delimitação de géneros

textuais, segundo as componentes semântica, composicional/estrutural,

enunciativa, pragmática, estilística e fraseológica, metatextual, peritextual e

material, esboçaremos uma caracterização breve do género de texto “manifesto

político eleitoral” dentro do tipo de “discurso político”.

Em contrapartida, embora o enquadramento num género e num tipo de texto nos

permita antecipar algumas linhas de organização comuns dos manifestos, a

verdade é que se desenha também, em cada um deles, uma área de

especificidade, com diferenças semântico-pragmáticas e enunciativas, que são

resultado e, simultaneamente, que produzem efeitos na construção do ethos e

nas estratégias discursivas e políticas de cada um. É também nosso objetivo,

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neste trabalho, pôr em relevo estas diferenças, falando do impacto das mesmas

na estratégia política de cada um dos candidatos.

O 25 DE ABRIL COMO MEMÓRIA CONSTRUÍDA NOS DISCURSOS

PRESIDENCIAIS DE COMEMORAÇÃO: NEGAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE

UM POSICIONAMENTO ENUNCIATIVO

Isabel Margarida Duarte

Universidade do Porto

Maria Aldina Marques

Universidade do Minho

Nos discursos de comemoração, o evento comemorado é um tópico central que

implica um posicionamento enunciativo com consequências na construção dos

sentidos do discurso. (…proposer un topic, de la part de l'énonciateur, signifie

proposer une façon de construire et de structurer discursivement un monde dans

un espace intersubjectif. (Berthoud & Mondada, CLF 17 : 206)). Os discursos

proferidos pelos Presidentes na comemoração anual do 25 de Abril mostram

como os sucessivos locutores se detêm na representação discursiva do evento

celebrado. O estatuto presidencial, de mais alto magistrado da nação, confere-

lhe legitimidade para coconstruir com a comunidade portuguesa uma memória

de Abril, que determina o significado simbólico do evento na relação que a

sociedade com ele estabelece. Num quadro de análise da construção da

referenciação nos discursos de comemoração de Abril (Marques, em curso),

centramo-nos na análise das estruturas de negação e no modo com contribuem

para a construção dessa memória. A nossa perspetiva é pois discursiva. O

corpus de análise é constituído por excertos de discursos presidenciais de

comemoração de Abril, entre 1977, a primeira cerimónia realizada na

Assembleia da República e 2011, ano do centenário da República Portuguesa.

Estes excertos têm como elemento comum a referência ao evento comemorado,

a que, cotextualmente, se agrega uma estrutura de negação. Pretendemos

determinar as funções discursivas destas estruturas, explorando as implicações

da sua natureza polifónica ou dialógica nos sentidos do discurso. Interessa-nos,

em particular, identificar essas vozes que o locutor traz para o discurso, o

posicionamento enunciativo que assume relativamente a essas vozes e o

contributo destas para a construção da memória coletiva de Abril.

OS DISCURSOS PRESIDENCIAIS ESPONTÂNEOS: O ETHOS DE

AUTENTICIDADE EM MOMENTOS DE CONSTERNAÇÃO NACIONAL

Isabel Roboredo Seara Universidade Aberta / CLUNL

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Maria Aldina Marques

Universidade do Minho

Os discursos presidenciais afiguram-se um campo muito importante de análise

no âmbito dos estudos linguístico-discursivos, pois permitem descortinar

posturas políticas, antever posicionamentos ideológicos, e confirmar construção

da autoridade presidencial (Marques 2014). Todavia, conhecida a estrutura

orgânica da Presidência da República, é indiscutível que a preparação e redação

escrita dos discursos presidenciais resulta de um trabalho colaborativo de uma

equipa que ultima os textos, conferindo-lhes um grau de formalidade e

institucionalidade, colmatando a mais do que compreensível falta de tempo do

Presidente que tem, como facilmente se comprova no sítio oficial da presidência,

uma agenda diária assoberbada. Sendo preferencialmente esses discursos

oficiais alvo de estudo do Grupo/ Projeto O discurso do Presidente. Cem anos

de discursos presidenciais em Portugal, considerámos pertinente analisar

estoutros discursos, não preparados, totalmente espontâneos, que nos permitem

observar o improviso das palavras, e que espelham, com maior fidelidade, o

ethos da figura presidencial. Assim, dados os poucos meses deste novo

mandato, o corpus de análise restringe-se, no âmbito deste estudo, aos

discursos do atual Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo

de Sousa, por ocasião da morte de algumas personalidades ilustres do

panorama político, literário, artístico português durante o corrente ano de 2016,

nomeadamente do ator Nicolau Breyner, do Dr. António Almeida Santos e do

arquiteto Paulo Varela Gomes. Dado não se encontrarem transcritos,

procederemos, num primeiro momento, à transcrição escrita dos mesmos, a

partir de gravações televisivas. Posteriormente, convocaremos alguns

pressupostos teóricos, quer do campo da análise do discurso, quer da

pragmática (atos de pesar e de elogio), quer, ainda, da retórica (ethos e figuras

retóricas), para evidenciarmos as especificidades retórico-discursivas do

discurso espontâneo presidencial: a partilha do estado de consternação, a

construção da exaltação, as marcas de proximidade, de cumplicidade e dos

afetos, do discurso do ‘eu’ , que foram igualmente o bastião da campanha

presidencial.

O PRESIDENTE NA RELAÇÃO COM O(S) PODER(ES): ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÃO E MANIPULAÇÃO NOS DISCURSOS PRESIDENCIAIS DE

TOMADA DE POSSE DO ESTADO NOVO Micaela Aguiar

Universidade do Minho

A comunicação que nos propomos apresentar insere-se no quadro teórico da

Análise do Discursos, numa perspetiva discursiva-enunciativa e tem como

objetivo central a análise dos mecanismos linguístico-discursivos e das

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estratégias de legitimação que constroem a relação do Presidente da República

com o(s) poder(es), nos discursos de tomada de posse, proferidos no período

político do Estado Novo (1926-1974). Colocámos como hipótese de partida que,

sendo o Presidente da República acima de tudo uma figura de autoridade (ainda

que, no caso, do Estado Novo, apenas teoricamente ((Braga da Cruz, 1982)), o

discurso presidencial refletirá necessariamente a relação que o Presidente

estabelece com os poderes que lhe são atribuídos pelo ato da tomada de posse.

Para esta análise, partiremos dos contributos teóricos de Charaudeau (2005,

2007) sobre formas de legitimação, no contexto de estratégias discursivas de

influência no discurso político e das propostas de Maingueneau (1999) e Amossy

(1999, 2010), no âmbito da construção ethos ou das imagens de si.

Metodologicamente, privilegiámos uma análise qualitativa, partindo do

pressuposto da contextualidade do sentido. O corpus a estudar é constituído

pelos oito discursos de tomada de posse proferidos no regime ditatorial

denominado de Estado Novo:

Presidente da República

Ano Mandato

Óscar Carmona 1926 1º mandato Óscar Carmona 1935 2º mandato Óscar Carmona 1942 3º mandato Óscar Carmona 1949 4º mandato Craveiro Lopes 1951 1º mandato Américo Tomás 1958 1º mandato Américo Tomás 1965 2º mandato Américo Tomás 1972 3º mandato

Tabela: Corpus

Para esta análise, traçamos como objetivos: (1) Analisar e categorizar mecanismos linguístico-discursivos ao serviço das estratégias de legitimação que participam na construção da relação do Presidente com o poder instituído; (2) Explicar as dimensões político-ideológicas e orientações argumentativas necessariamente implicadas nesta relação; (3) Verificar como a construção desta relação contribui, por sua vez, para a construção de imagens presidenciais.

DISCURSOS DO PRESIDENTE MÁRIO SOARES NAS COMEMORAÇÕES

DO 25 DE ABRIL (1986-1995)

Rui Ramos Universidade do Minho

O presente estudo recorre ao quadro conceptual e aos instrumentos

metodológicos da Análise do Discurso para a identificação e descrição dos traços

mais distintivos de um conjunto de discursos do Presidente da República Mário

Soares (1986-1995), em sessões comemorativas da Revolução de 25 de Abril

de 1974. O corpus de análise é, assim, constituído por 10 discursos

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presidenciais, proferidos em cerimónias públicas de celebração (oito deles na

Assembleia da República, dois fora desse espaço), sempre no dia 25 de abril de

cada ano. O estudo identifica as mais relevantes isotopias que perpassam o

discurso de Mário Soares e a sua retórica inerente. Mostra quais os valores que

o enunciador associa à revolução de 1974, apontando as expressões

correferenciais da Revolução de Abril. Destaca a orientação retrospetiva ou

prospetiva dos discursos e dos seus segmentos e a manifestação explícita e

implícita dos respetivos valores subjacentes. Discute as estratégias de

construção e projeção do ethos do enunciador, assim como, fortemente

imbricada neste processo, a identificação dos destinatários discursivos. Conclui

que os discursos do Presidente Mário Soares são, efetivamente, discursos

marcados por valores republicanos; são fortemente percorridos por uma

orientação prospetiva otimista, muito mais do que discursos revivalistas ou

saudosos dos dias da Revolução; exortam incisivamente os portugueses à ação,

valorizando as oportunidades que o 25 de Abril de 1974 trouxe ao povo

português, sem ignorar os erros do percurso corrido ou os riscos do presente; e

fazem o elogio de uma organização política e social onde a livre iniciativa e o

mérito individual se equilibram com preocupações de justiça social.

PAINEL TEMÁTICO 7

DISCURSO JURÍDICO: UMA ABORDAGEM LINGUÍSTICA POR MÚLTIPLOS

OLHARES

Coordenadora: Maria das Graças Soares Rodrigues Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Este painel reúne trabalhos de professores universitários que vêm pesquisando

a relação linguagem / discurso jurídico. Nessa direção, pesquisadores de três

instituições de ensino superior brasileiras e de duas instituições portuguesas

têm por objetivos descrever, analisar e interpretar os mesmos corpora, porém

trabalhando dispositivos linguísticos diferentes. Nessa direção, esclarecemos

que os corpora, objeto de análise, são: (1) Denúncia por crime de

responsabilidade contra a Presidenta Dilma Rousseff (Brasil) e (2) Defesa do

Advogado-Geral da União. O quadro teórico que subsidiará as análises é amplo

e envolve teorias e postulados seguidos no âmbito da Linguística de Texto, da

Linguística Enunciativa, da Análise Textual dos Discursos, da Análise do

Discurso, da Teoria do Discurso Social, da Semântica Argumentativa, da

Polêmica,da Retórica, da Lógica Natural, entre outros. Ressaltamos que, entre

os dispositivos linguísticos, serão analisados: (1) estratégias argumentativas que

marcam tanto a aproximação relativa ao próprio discurso como o distanciamento

em relação ao conteúdo do discurso da parte contrária; (2) retórica, persuasão,

ethos, pathos; (3) plano de texto, os pontos de vista (PDV) divergentes e a

responsabilidade enunciativa coletiva; (4) estrutura composicional, conteúdos

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semânticos das predicações e (5) representações discursivas. Assim, os

pesquisadores contribuirão com as investigações que se situam no âmbito da

relação linguagem / discurso jurídico, a partir desse conjunto de diferentes

dispositivos linguísticos focalizado(s) por múltiplos olhares. Por fim, acreditamos

queas análises, em virtude da escolha dos corpora, certamente, poderão

impactar no corpo social como um todo, ou seja, extrapolar os contextos

acadêmicos e científicos.

CONFLITO E POLÊMICA NA ACUSAÇÃO E NA DEFESA DO PROCESSO

DE IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF NO CONGRESSO BRASILEIRO

Ana Lúcia Tinoco Cabral Universidade Cruzeiro do Sul – Brasil

Assim como acontece no discurso jurídico do contencioso, no contexto político,

se vêm com frequência situações de conflito nas quais posições antagônicas se

manifestam. Nossas pesquisas se dedicam ao uso da linguagem verbal pelos

profissionais da área jurídica, especialmente, à construção da argumentação em

situações de litígio, observando as estratégias argumentativas que marcam tanto

a aproximação relativamente o próprio discurso como o distanciamento em

relação ao conteúdo do discurso da parte contrária. Tendo em vista recentes

acontecimentos políticos ocorridos no Brasil, nos quais Política e Direito atuaram

no mesmo espetáculo, e considerando possíveis semelhanças entre as

manifestações de desacordo na política e no Direito, este trabalho apresenta

uma análise dos pronunciamentos dos advogados que propuseram o processo

de impeachment contra Dilma Rousseffno congresso brasileiro e da defesa

proferida pelo então Advogado Geral da União. Considerando que esse evento

foi marcado pela contra-argumentação e a controvérsia, o objetivo é verificar as

estratégias linguísticas utilizadas pelas duas partes oponentes para marcar o

desacordo. O quadro teórico que dá suporte às análises insere-se na linha

teórica da Semântica Argumentativa (Ducrot, 1981; 1984) em confluência com

os teóricos dedicados aos estudos da Linguística da Enunciação (Benveniste,

1966; 1974; Kerbrat-Orecchioni, [1998] 1997) e do Estudo da Polêmica (Amossy,

2014). Como metodologia de análise, apresentamos o quadro enunciativo em

que se desenvolveram os atos de acusação e defesa e, em seguida, procedemos

ao levantamento deestratégias propostas por Amossy (2014) para marcar a

polêmica, verificando as marcas linguísticas que as concretizam eprocurando

identificar, por conjectura, conforme ensina Kerbrat-Orecchini([1998] 1997), a

intenção que motivou essas escolhas. As análise evidenciam que, embora as

teorias que tratam da argumentação atribuam um lugar privilegiado à ideia de

acordo ligada à negociação da distância entre os indivíduos (cf. Amossy,

2014),nos pronunciamentos analisados, ao contrário, vigora o desacordo.

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REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS E ARGUMENTAÇÃO: O CASO DA DENÚNCIA POR CRIME DE RESPONSABILIDADE CONTRA A

PRESIDENTA DILMA

João Gomes da Silva Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Neste painel, apresentamos um estudo sobre as representações discursivas e seus efeitos argumentativos nos textos da “Denúncia por Crime de Responsabilidade”, contra a Presidenta da República Dilma Rousseff, e da “manifestação a respeito da Denúncia”, apresentada pela Advocacia-Geral da União. Mais especificamente, observamos a construção de imagens de Dilma, nas perspectivas de acusação e de defesa que orientam os dois documentos, situados em um contexto histórico midiatizado e de forte impacto social, no cotidiano brasileiro. Tais imagens são aqui consideradas, a um só tempo, no sentido de orientações argumentativas antitéticas e de uma formação sociodiscursiva complexa, cujas fronteiras diluem-se no intertexto e no interdiscurso associados a textos jurídicos e textos do sistema de comunicação de massa, relativos ao processo de impeachment da presidenta. Trata-se de uma abordagem de Linguística do Texto e do Discurso, na perspectiva da Análise Textual dos Discursos (Adam, 2011, 2015), complementada por noções da Lógica Natural (Grize, 1996) e da Teoria do Discurso Social (Angenot, 2015). Devido ao considerável volume textual do corpus, trataremos de alguns tópicos de acusação em contraste comas respectivas retomadas na “manifestação” da defesa. Na análise, examinamos, primeiramente, a estrutura composicional dos dois textos, tendo, como critério, as marcas de pessoa e os principais conteúdos semânticos das predicações atribuídas a essas marcas. Em seguida, analisamos a representação discursiva da Presidenta, conforme as perspectivas distintas dos dois documentos, relacionando-a a representações construídas no intertexto/interdiscurso. Por fim, analisamos os efeitos argumentativos dessas representações, considerando-as nas perspectivas de locutores enunciadores distintos que advogam, cada um por seu turno,“em desfavor” de uma figura política condenável e “em favor” de uma estadista defensável.

A TESSITURA TEXTUAL DA DENÚNCIA CONTRA A PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF E DA SEÇÃO DE CONCLUSÃO DA DEFESA - PLANO DE TEXTO, PONTOS DE VISTA E RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA

COLETIVA

Maria das Graças Soares Rodrigues Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Sueli Cristina Marquesi

Pontifícia Universidade Católica e Universidade Cruzeiro do Sul

A denúncia contra a Presidenta do Brasil, por crime de responsabilidade, gerou

um conflito nacional, dividindo brasileiras e brasileiros, acirrando a separação

entre as classes sociais, manifestando posturas de deputados e de senadores,

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que surpreenderam parte do eleitorado. É, pois, focalizando esse conflito público

que elegemos por corpora a "denúncia contra a Presidenta da República, por

crime de responsabilidade" e a seção de "Conclusão da defesa" contra essa

denúncia. Nessa direção, propomo-nos a descrever, analisar e interpretar o

"Plano de texto", os "Pontos de vista" (PDV) divergentes e a "Responsabilidade

enunciativa coletiva" (RABATEL, 2008), nos textos da denúncia e da seção de

conclusão da defesa. Para tanto, faremos remissão às inúmeras narrativas que

estruturam esses documentos, ressaltando as instâncias enunciativas, discursos

reportados e, naturalmente, os PDV contrários que orientam a visada

argumentativa.

RETÓRICA E PERSUASÃO NA PRÁTICA JURÍDICA: UMA ABORDAGEM

EMPÍRICA

Rosalice Pinto Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa

Centro de Investigação & Desenvolvimento sobre Direito e Sociedade da FDUNL – Portugal

Este artigo visa a mostrar que a seleção, por parte do agente produtor, de certos

aspectos organizacionais e estilísticos em textos inseridos em práticas sociais,

é constrangida por aspectos contextuais diversos. Inclusive, tal escolha pode vir

a contribuir para a construção de uma pluralidade de ethos e de pathos a ser

depreendida no universo textual, contribuindo para a construção de certo teor

persuasivo. De forma a demonstrar esses objetivos, far-se-á a análise de um

texto inserido em uma prática social específica: a jurídica. O texto em análise

corresponde à defesa da Presidente Dilma Rousseff desenvolvida pelo Dr. José

Eduardo Cardozo, em 4 de abril de 2016. Estudos preliminares atestam que, no

intuito de corroborar a tese (defesa da Presidente), o advogado geral da União

faz uso de uma heterogeneidade de ethos, atendendo a uma pluralidade de

pathos. De forma a atingir a finalidade proposta, o trabalho será dividido em três

partes. Primeiramente, procurará definir as noções de texto e gênero de texto,

defendendo a perspectiva teórica de uma linguística de gênero (Rastier, 1989;

Pinto, 2015). Em seguida, a partir do estudo de aspectos ‘externos’ e ‘internos’

relacionados à produção textual, proporá um quadro analítico para o estudo do

texto jurídico. Por fim, atestará que alguns aspectos internos (estilísticos e

organizacionais), relacionados aqui à construção dos ethos e pathos, são

constrangidos por questões contextuais e têm no texto empírico em análise um

papel persuasivo relevante.

PAINEL TEMÁTICO 8

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O QUE SE PODE, O QUE SE DIZ E O QUE SE DEVE DIZER NO BRASIL/2016

Coordenação: Silmara Dela Silva

Universidade Federal Fluminense /FAPERJ) Michel Pêcheux, em sua teoria do discurso, aponta para o modo como os processos de produção de sentidos funcionam ideologicamente, tendo os seus limites determinados por uma conjuntura sócio-histórica. Tudo não se pode dizer, e aquilo que pode e deve ser dito se inscreve em relação ao não-dito, e é determinado por posições ideológicas em sua contingência histórica. É desta perspectiva teórico-metodológica que, neste painel, tomamos como foco de nossas reflexões aquilo que pode e deve ser dito no cenário político brasileiro na atualidade, em um contexto sócio-histórico em que a divisão de sentidos se faz especialmente visível. No conjunto dos trabalhos, desenvolvidos por pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa brasileiras, analisamos: discursos de legitimação do fascismo, do nazismo, da violência do Estado e da intolerância ao outro, decorrentes do confronto discursivo que marca a situação política do Brasil no primeiro semestre de 2016; a relação entre sujeito e língua que se marca na materialidade discursiva de cartazes escritos em língua inglesa, postos em circulação em grandes cidades brasileiras, durante protestos anticorrupção e pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República; os gestos e o seu funcionamento como prática de resistência e sustentação do ato político na atualidade; os deslizamentos de sentidos e o lugar da mídia no processo de (des)legitimação de sentidos acerca da mulher e dos homossexuais no discurso político; o sistema editorial brasileiro e o modo como, por meio da base material linguística e também das condições materiais de produção/existência de seus trabalhadores e livros, ele faz circular sentidos sobre literatura, tradução, trabalho e ciência. Reunimos, assim, trabalhos que tratam, cada um a seu modo, de dizeres em curso no Brasil nos dias atuais, com circulação na mídia e nas redes sociais, que evidenciam o embate dos sentidos, o político no discurso.

O GESTO COMO ATO POLÍTICO: OS DEPUTADOS, O CUSPE E O TORTURADOR

Alexandre da Silva Zanella

Universidade Federal Fluminense /CAPES

Dantielli Assumpção Garcia Universidade do Oeste Paulista /CAPES

Neste trabalho, da perspectiva teórica da Análise de Discurso de linha francesa, dividido em dois momentos, pretendemos analisar uma sequência do processo de votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, realizado no dia 17 de abril de 2016, em que Jair Bolsonaro, do Partido Social Cristão (PSC), declara seu voto a favor do impedimento da presidenta legitimamente reeleita e dedica seu voto à memória do Coronel (torturador da Ditadura Militar Brasileira) Carlos Alberto Brilhante Ustra. O discurso de Bolsonaro gerará dois gestos: um na própria Câmara dos Deputados e outro nas redes sociais. Na Câmara, após as

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declarações do deputado do Partido Social Cristão, o gesto de Jean Wyllys, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), de cuspir em direção ao deputado Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, o gesto dos internautas de rememorar quem foi o coronel Brilhante Ustra e de sustentar/ressignificar o discurso de Bolsonaro como um discurso de apologia à tortura e contra os direitos humanos (principalmente de mulheres, negros e homossexuais). Considerando, com Pêcheux (1969, p. 76), que “um discurso pode ser um ato político direto ou um gesto vazio”, analisaremos esses gestos, não como vazios de significação, mas no jogo das relações de força antagonistas que existem no estágio atual do campo político brasileiro, mostrando como esses gestos (de cuspir, de ressignificar na rede) textualizam práticas de resistência e se sustentam como um ato político que busca, portanto, contraidentificar o discurso machista, racista, homofóbico de Jair Bolsonaro.

BELA, RECATADA E DO LAR? O DISCURSO POLÍTICO E O IMAGINÁRIO DA MULHER NA ATUALIDADE

Ceres Carneiro

Universidade Federal Fluminense / Universidade Federal do Rio de Janeiro

Elaine Daróz Universidade Federal Fluminense / FAPERJ

Nosso trabalho de investigação se realiza tendo como aporte teórico-metodológico a Análise de discurso de linha francesa, objetivando uma análise dos efeitos de sentidos do enunciado “Marcela Temer: bela, recatada e do lar”, título de uma entrevista dada à revista Veja pela então pretensa primeira-dama do Brasil, que circulou amplamente, em abril de 2016. A matéria causou um sem número de reações de brasileiros e brasileiras, derivando sentidos que se materializaram em postagens de internautas nas redes sociais. Considerando que os sentidos se regularizam na formação social por um embate que se estabelece na e pela língua, entendemos que tais discursividades nos têm muito a dizer sobre o imaginário da mulher (a ser regularizado) no discurso político na/em nossa formação social. Em contrapartida a essa ilusão de evidência dos sentidos, discursivamente compreendemos que inerente às palavras, às histórias da palavra, às memórias dos fatos e dos dizeres, há uma plurivocidade de sentidos que deslizam numa cadeia de significantes ao encontro do sujeito banhado de linguagem, clamando por significar. Apresentaremos, a partir de um gesto de interpretação, uma análise discursiva dos dizeres em circulação na mídia, em seus diferentes espaços de enunciação (GUIMARÃES, 2000), levando em consideração as repetições e/ou deslizamentos destes sentidos nos dizeres outros dispostos nas redes sociais a partir das condições sócio-histórico-ideológicas em que estas discursividades foram produzidas em suas posições-sujeito por vezes distintas. Neste gesto de interpretação, buscamos uma melhor compreensão do lugar da mídia na regularização dos sentidos na formação social, a partir de uma desnaturalização de sentidos sobre a mulher no discurso político, relativamente estabilizados no discurso midiático, em detrimento de sentidos outros por vezes silenciados.

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O DISCURSO MIDIÁTICO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES NO BRASIL: RELAÇÕES ENTRE SUJEITO E LÍNGUA

Fernanda Lunkes Universidade Federal do Sul da Bahia

Silmara Dela Silva

Universidade Federal Fluminense / FAPERJ

A perspectiva da análise de discurso considera a língua em sua forma material tecida com a materialidade histórica, possibilitando ao analista debruçar-se sobre a materialidade discursiva, na qual se coloca em relevo as tensões entre estrutura e acontecimento. Torna-se possível, deste modo, pela constituição do sujeito na e pela língua, analisar os gestos de interpretação nos processos de formulação e circulação, ou seja, os sentidos postos a circular em seus efeitos de evidência, próprios do funcionamento da ideologia. Este estudo, na esteira de trabalhos anteriores que buscaram desenvolver reflexões acerca dos discursos da/na mídia sobre as manifestações no Brasil, dedica-se a situar alguns dos gestos de interpretação sobre o movimento da língua inscrita na história para a constituição de discursos e a relação entre língua e sujeito que se marca nesses dizeres. O corpus será constituído de fotografias que compuseram galerias de imagens dos protestos que se autodenominaram, inicialmente anticorrupção, realizados no Brasil no primeiro semestre de 2015, e, posteriormente, favoráveis ao afastamento de Dilma Roussef da presidência da República, realizados no primeiro semestre de 2016, e que circularam amplamente na grande mídia. Os recortes para análise privilegiam fotografias dos cartazes com escritos em língua inglesa, registrados pela mídia como em circulação por ruas e avenidas de grandes cidades brasileiras, com foco na relação entre sujeito e língua que neles se materializa.

DISCURSOS EM CONFRONTO

Lucília Sousa Universidade de São Paulo

Vanise Medeiros

Universidade Federal Fluminense / CNPq) Dada a situação política do Brasil no primeiro semestre de 2016, observamos a emergência de um embate de dois discursos em situação de um litígio tal que recuperam sentidos de legitimação do fascismo, do nazismo, da violência do Estado e da intolerância ao outro. Tais sentidos reclamam interpretação, dada a forma como se constituíram, foram produzidos e circularam. Intentamos com este trabalho percorrer alguns desses sentidos escutando como a memória faz neles reverberar seus efeitos. A título de análise, mobilizaremos cartazes que foram produzidos nas manifestações em 2016 em diferentes lugares do Brasil e que circularam pelas redes sociais. Cartazes que indiciam um modo de as línguas de ferro, de madeira e de vento jogarem entre si efeitos imprevisíveis de deslocamento, de ressonância, de aliança e de rupturas. Trata-se de um trabalho, fruto de uma interlocução científica e acadêmica entre dois laboratórios

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brasileiros (ELA@DIS/ USP-Ribeirão Preto e LAS/UFF), que tem como ancoragem teórica a análise de discurso pecheutiana.

O DISCURSO EDITORIAL E O LIVRO: RESISTÊNCIAS E FUNCIONAMENTO DA EDIÇÃO

Phellipe Marcel da Silva Esteves

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Thiago Mattos de Oliveira Universidade de São Paulo / FAPESP

Neste trabalho, escrito das perspectivas da História do Livro (Lefevere e Wolikow) e da Análise do Discurso (Pêcheux e Orlandi), pretendemos investigar de que modo o sistema editorial brasileiro, por meio da base material linguística e também das condições materiais de produção/existência de seus trabalhadores e livros, faz circular sentidos sobre literatura, tradução, trabalho e ciência. Partimos analiticamente de um gesto editorial supostamente mínimo (a explicitação impressa ou não da identidade dos trabalhadores envolvidos na produção de enciclopédias, na página de créditos ou no colofão) e chegamos a uma análise de como as editoras operam na escolha e manipulação (no sentido proposto por Lefevere) de títulos, autores, tradutores etc. Recentemente, ao se inscreverem numa prática de esvaziamento de determinadas editorias, as grandes casas de edição privilegiam outras editorias — e outras línguas —, não coincidentemente preferindo publicar, de modo geral, livros traduzidos provenientes de língua inglesa ou livros como “histórias politicamente incorretas”, provocando efeitos de sentido conservadores e reforçam o discurso dominante. Finalmente, pretendemos também nos questionar se há espaço (e como se daria) para resistência nesses discursos em circulação no sistema e na prática editoriais.

PAINEL TEMÁTICO 9

A RELAÇÃO DE PODER EM DIFERENTES DOMÍNIOS DISCURSIVOS

Coordenador: Alexandro Teixeira Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Este painel congrega trabalhos que discutem as relações de poder em diferentes domínios discursivos. Assim, professores universitários de três diferentes instituições de ensino superior do Brasil objetivam descrever, analisar e interpretar, a partir de pontos de vista diferentes, como se manifestam as relações de poder em variados gêneros do discurso. Do ponto de vista teórico, as análises pautar-se-ão em aportes da Linguística de Texto, da Linguística Enunciativa, da Análise Textual dos Discursos, da Teoria da Argumentação, da Análise do Discurso, entre outros. Do ponto de vista metodológico, os corpora analisados são: 1- parecer do relator da comissão especial da Câmara dos Deputados sobre a denúncia por Crime de Responsabilidade em desfavor da Presidente Dilma Rousseff; 2- justificativas mobilizadas por deputados federais

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brasileiros favoráveis ao processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff; 3- o discurso de posse do presidente interino, Michel Temer, a fala do juiz responsável pela Operação Lava Jato, Sergio Moro, em 11 de maio e a capa da revista semanal Isto É, número 2424; 4- discurso de renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães. Por fim, entendemos que os trabalhos desse painel contribuirão para o aprofundamento dos estudos do texto e do discurso em diversos domínios discursivos e suas relações de poder.

A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NA DENÚNCIA CONTRA A

PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF: UMA ANÁLISE DA SEÇÃO

“CONCLUSÃO” DO PARECER EMITIDO PELO RELATOR DO PROCESSO

NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

Alexandro Teixeira Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Universidade do Estado do Rio

Grande do Norte

No dia 06 de abril de 2016, o deputado Jovair Arantes, relator da comissão

especial da Câmara dos Deputados, destinada a dar parecer sobre a denúncia

por Crime de Responsabilidade em desfavor da Presidente da República, Sra.

Dilma Vana Rousseff, conclui pela admissibilidade jurídica e política da acusação

e pela consequente autorização para a instauração, pelo Senado Federal, do

processo por crime de responsabilidade. Nesse sentido, entendendo a (não)

assunção da Responsabilidade Enunciativa, doravante RE, como recurso

argumentativo fortemente marcado pelo produtor de um texto com vistas a seus

propósitos comunicativos (Cf. Gomes, 2014), objetivamos, nesse trabalho,

discutir como se configura a (não) assunção da RE na seção “Conclusão” do

parecer do relator, bem como refletir sobre como a (não) assunção da RE

corrobora para fomentar os discursos de poder presentes no discurso do autor

do texto. Em termos teóricos, ancoramo-nos, sobretudo, nos aportes de Adam

(2011), Lourenço e Rodrigues (2013), Gomes (2014), Marquesi (2014), Rabatel

(2009), Nølke (2013), Nølke, Fløttum e Norén (2004), Guentchéva (1994, 1996)

e Guentchéva et al. (1994). Por fim, entendemos que este trabalho contribuirá

para o aprofundamento dos estudos voltados para o tema dessa investigação,

bem como para os estudos do texto e do discurso e suas relações de poder.

MARCAS DE RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO DISCURSO DE POSSE DE

TEMER

Marise Adriana Mamede Galvão Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Entre as dimensões da interação face a face, as relações horizontal e vertical,

conforme Kerbrat-Orecchioni (2006), são eixos que orientam os interactantes, de

modo que eles podem revelar laços de maior distanciamento ou de proximidade,

além de poder, hierarquia, dominação, que mostram as posições e papéis sociais

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experimentados pelas pessoas em interação. Marcadores verbais e não verbais

utilizados nas interlocuções evidenciam como nos situamos em relação às

pessoas em diferentes situações, sejam elas formais ou informais. Assim sendo,

neste trabalho objetivamos identificar, descrever, analisar e interpretar a

materialização linguístico-discursiva das relações interacionais no

pronunciamento do Presidente – em exercício - da República Federativa do

Brasil, notadamente no que se refere às formas de tratamento adotadas por esse

falante principal ao se dirigir à audiência. Adotamos, para tanto, posturas teóricas

de autores como Kerbrat-Orecchioni (2006), Marcuschi(2008), Adam (2011),

entre outros, considerando que eventos interativos são construídos e

reconstruídos socialmente, o que possibilita assumir um ponto de vista de que

as pessoas falam de um determinado lugar, utilizando-se para tanto, de

indicadores do momento em que se encontram.

PAINEL TEMÁTICO 10

EL PAPEL DE LA PRENSA EN LA CONSTRUCCIÓN DE LAS IDENTIDADES

NACIONALES: RECODIFICACIÓN MULTIMEDIA Y MULTIMODAL – II

Coordinadora: Carla Prestigiacomo Università di Palermo

LEGIONES Y FALANGES: CONSTRUCCIÓN LINGÜÍSTICO-DISCURSIVA DEL ENEMIGO

Carla Prestigiacomo Università di Palermo

Si bien se puede afirmar que la prensa no se identifica con «una instancia del

poder» (Charaudeau), es necesario considerar que en algunos contextos y

momentos históricos el discurso de los medios se perfila como un instrumento

de orientación y coacción, voz de un grupo dominante que convierte la palabra

en un arma al servicio de la manipulación ideológica del receptor. Es lo que se

percibe en Legiones y Falanges, revista en la que el joven gobierno franquista

busca justificar y fortalecer su razón de ser, mediante la denuncia de la crisis y

la designación de la fuente del mal y de los culpables (Charaudeau). Con este

intento, el enunciador institucional de la revista adopta toda clase de

expedientes, forjando un discurso ideológico en el que sobresalen la polarización

Nosotros-Ellos (Van Dijk) y el recurso a otras estrategias argumentativas ilícitas

y no (Fuentes y Prestigiacomo). Por lo que a este trabajo se refiere, dentro del

marco teórico de los estudios de la pragmática lingüística, del ACD y de la

argumentación, se analiza un corpus de artículos cuyo objetivo se identifica con

la contrucción discursiva de la imagen del enemigo.

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CONSTRUCCIÓN DE IDENTIDADES NACIONALES Y DE GÉNERO EN LA PRENSA FASCISTA: MODELOS FEMENINOS EN LAS REVISTAS

LEGIONES Y FALANGES Y SIGNAL

Mechthild Albert Universität Bonn

Después de sendos estudios dedicados a la construcción de modelos femeninos

en las revistas fascistas Legiones y Falanges y Signal, la presente comunicación

se propone un acercamiento comparado, multifocal y multimedia a este mismo

corpus periodístico. Nos interesa saber en qué medida ambas revistas –la

hispano-italiana y la alemana– se distinguen al construir identidades de género,

relacionadas con identidades nacionales, en el marco de una nueva Europa

fascista. Asimismo se tendrá en cuenta la relevancia de la imagen fotográfica

como complemento mediático indispensable –e ideológicamente muy eficaz- del

texto.

DE LIBROS, LIBRERÍAS Y REVISTAS: UNA APROXIMACIÓN AL MUNDO DE LAS LETRAS EN LOS ANUNCIOS PUBLICITARIOS DE LA

VANGUARDIA Y OTRAS PUBLICACIONES COETÁNEAS (1939-1945)

Rosa Mateu Serra Universitat de Lleida

El objetivo de este trabajo es llevar a cabo una primera aproximación al apartado

dedicado a los anuncios publicitarios en el periódico La Vanguardia,

concretamente en el periodo comprendido entre el final de la Guerra Civil y los

primeros años del régimen franquista. Es en esta sección donde de forma más

explícita o implícitamente se dibujan aspectos que nos pueden aportar datos

sobre el telón de fondo el momento, en especial sobre la vida cotidiana (tipología

de los productos anunciados, tipo de público al que se dirigen, valores que se

transmiten, análisis pragmático-lingüístico de los mecanismos de persuasión

utilizados, etc.) En concreto, entre estos anuncios podemos encontrar huellas

del momento que vivía en ese contexto el mundo de las Letras.

ESPAÑA, ITALIA Y EL REICH EN LA REVISTA 'SIGNAL' (1940-45):

REPRESENTACIONES NACIONALES E INTERCAMBIO CULTURAL EN LA CONSTRUCCIÓN DE LA 'NUEVA EUROPA'

Lena Kissmer Universität Bonn

La revista Signal (1940-45) no solo ilustraba la vida cotidiana en los varios

campos de batalla de la Segunda Guerra Mundial. Editada exclusivamente para

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el extranjero y traducida a más de 20 idiomas, se trata del instrumento de

propaganda más importante del régimen nacionalsocialista. En medio de

páginas cargadas de fotografías e impresiones de un heroismo militar,

igualmente se encuentran artículos que transmiten las ideas constituyentes e

ideológicas de una ‘Nueva Europa‘. En este contexto, proponemos analizar, en

base a textos selectos, las representaciones nacionales de España e Italia, cuyos

valores socio-culturales son destacados por la Wehrmacht, y mostrar en qué

medida son negociados ante la ideología nazi que los estiliza de manera

(pseudo-)intercultural, a fin de enriquecer y reforzar el surgimiento de una nueva

comunidad europea basado en el modelo nazi.

LITERATURA Y PROPAGANDA EN HORIZONTE (1938-1942)

Antonella Russo Università di Salerno

Horizonte es una publicación miscelánea de gran tamaño y calidad asombrosa,

surgida entre las filas de los sublevados durante la guerra civil española.

Hermana menor de la más famosa Vértice, fundada y dirigida por el mismo

incansable periodista, Manuel María Gómez Comes, conocido como Romley.

Empeñada en la propaganda de la guerra civil y en la creación y acreditación del

Nuevo Estado, la revista, como otras publicaciones de la época, se inserta en

ese contexto de movilización colectiva y se convierte en un arma más en el

enfrentamiento no solo bélico, sino también identitario, teleológico y estético

entre los dos bandos. Tenemos un corpus muy extenso y heterogéneo que, a la

manera de Vértice, no es expresión de escuelas o de un movimiento literario

stricto sensu. Lo que revela ese conjunto de textos es la respuesta, no siempre

orgánica pero eficaz, a las necesidades culturales del bando insurgente, primero,

y, sucesivamente, del régimen franquista. Una ojeada a los nombres que

participan en la redacción de la revista confirma su papel de primer plano en la

creación de una estética literaria, de un magisterio de autores y tendencias,

adoptadas por una de las dos Españas.

PAINEL TEMÁTICO 11

Coordenadora: Alexandra Guedes PInto Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Os manifestos eleitorais de candidatos à presidência da república configuram um

género de texto dentro do tipo de discurso político, que se pauta por certas

regularidades assinaláveis. É propósito deste painel contribuir, através da

análise dos manifestos eleitorais de alguns dos candidatos às eleições

presidenciais portuguesas de 2016, para a clarificação dos parâmetros deste

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género, ao mesmo tempo que pretende destacar, dentro das pautas do género,

que estratégias discursivas os candidatos usam para construir o seu ethos

diferenciado e se posicionar na arena política. A construção da

intersubjetividade, através do desenho do EU; do TU e da relação entre os dois,

bem como a definição da imagem do OUTRO / dos OUTROS por referência a

quem o EU se posiciona, serão eixos de análise privilegiados neste painel.

ESTRATÉGIAS DE APROXIMAÇÃO DO TU NO MANIFESTO

PRESIDENCIAL DE ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA ÀS ELEIÇÕES

PRESIDENCIAIS PORTUGUESAS DE 2016

Ana Sofia Freixo Pinto

Maria Beatriz Andrês Fachada

Tânia Regina Teixeira Monteiro

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

O manifesto presidencial para as eleições de 2016 do candidato António

Sampaio da Nóvoa apresenta-se como um manifesto diferente, se

considerarmos algumas das características prototípicas de um manifesto

presidencial, pois não estão explícitas neste manifesto as críticas ao Outro.

No entanto, o candidato aposta na construção do ETHOS como forma de

aproximação do TU. Desta maneira, a partir do eixo de análise “a aproximação

do TU”, exploramos e analisamos, neste trabalho, as estratégias utilizadas pelo

candidato presidencial na construção da referida aproximação. Na nossa análise

incluímos estratégias de aproximação como: as marcas de 1º pessoa, presentes

nos atos compromissivos, em que o locutor se vincula com o discurso e com o

Tu; o Nós inclusivo, como forma de o locutor juntar a sua voz à voz do povo; a

utilização da intertextualidade como estratégia de credibilização do seu discurso,

entre outros mecanismos.

A CONSTRUÇÃO DO ETHOS NO MANIFESTO PRESIDENCIAL DE

MARCELO REBELO DE SOUSA ÀS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

PORTUGUESAS DE 2016

Débora Rocha

Marta Rodrigues

Renata Soares

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

O ethos representa a identidade do sujeito no discurso e corresponde à imagem

refletida pelo discurso, portanto, é a imagem do “eu” do discurso. O ethos

relaciona-se com o enunciador através das escolhas linguísticas feitas pelo

mesmo, escolhas que revelam vestígios da imagem do próprio enunciador,

durante o processo discursivo. Nesta perspetiva, é possível explorar de que

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maneira a imagem de um candidato politico no discurso, neste caso, a imagem

do candidato Marcelo Rebelo de Sousa, candidato à presidência da República

nas eleições presidenciais portuguesas de 2016, se constrói no sentido de

conquistar o maior número de votos possíveis na corrida ao cargo, e, desta

forma, atingir o objetivo de o alcançar.

No seu manifesto, Marcelo Rebelo de Sousa faz escolhas discursivas

relevantes para a construção da sua imagem, utilizando marcas linguísticas que

mostram claramente a sua presença no texto, focando-se, essencialmente na

construção de um “eu” credível, empático e humilde. Uma dessas escolhas

prende-se com a componente composicional e enunciativa do texto, que recria

o género autobiográfico, afastando-se, dessa forma, das marcas mais

prototípicas de um manifesto eleitoral.

Neste trabalho, estudaremos a forma como este candidato constrói a sua

imagem no texto.

O MANIFESTO ELEITORAL DE EDGAR SILVA ÀS ELEIÇÕES

PRESIDENCIAIS PORTUGUESAS DE 2016 - O LUGAR DO EU E DO OUTRO

NA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM PÚBLICA

Renata Maia

Rui Lopes

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

O trabalho a ser apresentado nestas Jornadas foca-se na análise do Manifesto

político de Edgar Silva, um dos 10 candidatos à presidência, nas eleições

presidenciais portuguesas de 2016.

O trabalho segue três grandes eixos de análise, que se encontram

correlacionados entre si. O primeiro eixo é a análise da construção do Ethos, isto

é, a construção da imagem do EU do candidato no discurso; o segundo eixo

contempla a construção das imagens dos atores discursivos com ele

correlacionados, como sejam a imagem do TU e a imagem do OUTRO /

OUTROS; o terceiro eixo, por sua vez, particulariza as estratégias de

aproximação utilizadas pelo EU, o candidato, para se relacionar com o TU, os

portugueses.

O Manifesto presidencial é um género de texto que se insere dentro do tipo

discurso político e, como tal, apresenta uma estrutura maioritariamente

expositiva.e argumentativa. Tem como objetivo expor as ideias, objetivos e

propostas do seu locutor, comprometendo-o com estes, e apelando ao

sentimento do alocutário, para o levar a realizar a ação pretendida, neste caso

específico confiar o voto ao candidato Edgar Silva.

Para concretizar a sua especificidade pragmática, o manifesto presidencial

exibe algumas marcas linguísticas regulares, que nos propomos destacar neste

trabalho.

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PAINEL TEMÁTICO 12

DISCURSO ACADÊMICO E ENSINO

Coordenador: João Gomes da Silva Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Neste painel, são apresentadas pesquisas sobre os discursos em Educação, em

perspectivas teóricas em convergência com os estudos da linguagem, sendo

discutidas questões de genericidade e textualização na interface com os ensinos

básico e superior. Em sua comunicação, Isabel Roboredo Seara apresenta um

estudo sobre os modalizadores epistêmicos e suas funções pragmáticas no

discurso científico veiculado em textos do ensino superior. Em análises de um

corpus de medicina, tratada recorrência à modalidade epistêmica e das

estratégias de atenuação,assim como de suas implicações com a fiabilidade da

informação transmitida. Por sua vez, Maria Eduarda Giering apresenta uma

pesquisa sobre as potencialidades emergentes de textos de divulgação científica

midiática aplicados à educação científica na aula de língua portuguesa. Na sua

análise,considera as possibilidades projetadas pela notícia de divulgação

científica midiática, numa abordagem discursivo-textual que contemple, ao

mesmo tempo, fatores linguístico-discursivos e características do discurso

científico. Em sua abordagem do discurso educacional, Maria Inês Batista

Campos traz apresenta uma pesquisa em que explora as relações entre a

concepção bakhtiniana de arquitetônica e o trabalho com manuais didáticos de

língua portuguesa. Com foco nos manuais didáticos de dissertação, discute o

projeto de ensino de dissertação em dois compêndios publicados entre o final do

século XIX e início do século XX. Por fim, Maria das Graças Soares Rodrigues e

João Gomes da Silva Neto abordam o lugar do discurso científico no ensino

superior, refletindo sobre a problemática dos resumos em periódicos científicos,

quanto às variações do plano de texto e do sujeito enunciador. Para tanto,

apresentam análises de um corpus de textos do Portal de Periódicos da CAPES,

com foco no plano de texto, no ponto de vista, no apagamento enunciativo e no

quadro mediativo.

O PODER DA ATENUAÇÃO NO DISCURSO CIENTÍFICO

Isabel Roboredo Seara Universidade Aberta / Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa

Nas últimas décadas tem-se revelado crescente o interesse sobre o discurso científico, no âmbito das análises linguístico-discursivas, que decorre da premissa de que o discurso científico, para além de um meio de transmissão de meros resultados científicos, de forma neutra e objetiva, encerra um inestimável poder retórico que visa não apenas informar ou dar conta de resultados pioneiros ou inovadores, mas preferencialmente a convencer e a persuadir. (MarkkanenetSchröder 1997 : 9). Bazerman sublinha, a este propósito, a importância de estudar as estratégias retóricas nos textos de divulgação

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científica, lamentando a escassez de estudos no que designa da “retórica das ciências” e preconiza insistentemente a realização de estudos neste domínio, sobretudo com fins didáticos (1988 : 332). É objetivo deste estudo recensear os modalizadores epistémicos num corpus de artigos científicos de medicina e perceber quais as realizações linguísticas predominantes para exprimir esta modalização e quais as funções pragmáticas que realizam. Propomo-nos mostrar a recorrência à modalidade epistémica ou de atenuação (‘hedging’), aos marcadores de incerteza que evidenciam estratégias de atenuação e que esta assunção de avaliação epistémica por parte do locutor configura um juízo sobre a fiabilidade da informação transmitida, podendo efetivamente transmitir uma incerteza real, como também uma estratégia de convencer, de antecipar uma crítica ou mesmo espelhar um atitude de modéstia científica. Adotaremos a perspetiva de Hyland (1998), defendida na obra Hedgingin Scientific Research Articles e mostremos que, na maioria dos casos analisados, os marcadores epistémico-modais de incerteza são reconhecidos como atenuadores. Finalmente, será importante reconhecer que a pesquisa no domínio científico é cada vez mais competitiva e não importa apenas avaliar resultados originais e criteriosamente sustentados, mas igualmente transmiti-los de forma eficaz, persuasiva e convincente.

PLANO DE TEXTO, PONTO DE VISTA, APAGAMENTO DO SUJEITO

ENUNCIATIVO E QUADRO MEDIATIVO EM RESUMOS DE PERIÓDICOS

CIENTÍFICOS DE DIFERENTES ÁREAS DO CONHECIMENTO

Maria das Graças Soares Rodrigues Universidade Federal do Rio Grande do Norte

João Gomes da Silva Neto

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

No meio acadêmico, conforme a área do conhecimento, há variação no que

concerne à orientação acerca do plano de texto de um resumo, o qual integra

um artigo. Observamos também diferenças quanto ao sujeito enunciador,

havendo ocorrências de apagamentos. Assim, se há apagamento do sujeito

enunciador, interessa-nos saber como se constrói o ponto de vista (PDV) do

locutor enunciado primeiro (L1/E1) (RABATEL, 2012, 2015) e suas posturas

enunciativas. Ademais, buscaremos averiguar se o apagamento do sujeito

enunciador implica a ocorrência de quadro mediativo (GUENTCHÉVA, 1994,

1996, 2011). Nessa direção, interessa-nos descrever, analisar e interpretar o

plano de texto, o ponto de vista (PDV), o pagamento enunciativo e o quadro

mediativo em resumos de periódicos científicos de diferentes áreas do

conhecimento, conforme classificação da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal do Nível Superior (CAPES). Por fim, esclarecemos que os corpora foram

coletados na base de dados do Portal de Periódicos da CAPES.

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EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA E EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR

Maria Eduarda Giering

Universidade do Vale dos Sinos

Trabalha-se com as potencialidades emergentes de textos de divulgação científica midiática (DCM) aplicados a contextos escolares e suas contribuições para a promoção de uma educação científica na sala de aula de língua portuguesa. Estuda-se um corpus de notícias de divulgação científica da revista Galileu, focalizando aspectos discursivos e textuais. Parte-se da noção de contrato de midiatização da ciência de Charaudeau (2013; 2014) e investiga-se o nível textual da notícia por meio de categorias da Análise Textual dos Discursos (ATD) postuladas por Adam (2011): orientação argumentativa, responsabilidade enunciativa, ponto de vista. Discutem-se os resultados da análise considerando-se as possibilidades projetadas pela notícia de DCM numa abordagem em sala de aula através de um olhar discursivo-textual que contemple, ao mesmo tempo, fatores linguístico-discursivos e características do discurso científico. O foco é a promoção da educação linguística e da educação científica no currículo de língua portuguesa do Ensino Médio. Considera-se que, ao fazer uso dos materiais de divulgação científica que já circulam na escola, é possível promover uma educação científica através de textos sobre ciência publicados na mídia, com os quais os alunos estão em contato constante. Entende-se que o trabalho com textos de DCM, abordados em seus aspectos discursivo e textual, pode contribuirpara o desenvolvimento de uma cultura científica necessária para uma atuação cidadã.

OS MANUAIS DIDÁTICOS DE DISSERTAÇÃO: POR UMA ARQUITETÔNICA

DO ENSINO DA ARGUMENTAÇÃO

Maria Inês Batista Campos Universidade de São Paulo

A proposta de refletir sobre as confluências entre os estudos do discurso e o

ensino de língua materna representa uma oportunidade de expor o projeto de

pesquisa no qual tenho me dedicado, explicitando as relações entre a concepção

bakhtiniana de arquitetônica e o trabalho com manuais didáticos de língua

portuguesa. O objetivo é analisar o projeto de ensino de dissertação em dois

compêndios – um francês (Gustave Lanson) e outro, brasileiro (Olavo Bilac;

Manoel Bonfim), publicados entre o final do século XIX e início do século XX. A

partir do conceito de “arquitetônica” (M. Bakhtin), buscarei linhas de

convergência entre os livros. Tal procedimento comparativo permite traçar a

finalidade e o modo como a produção da dissertação foi ensinada. O resultado

demonstra que há, nos manuais, uma valorização na arte do bem escrever por

meio da imitação das obras-primas e uma ausência dos procedimentos de

escritura do texto e dos aspectos interacionais da escrita.

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PAINEL TEMÁTICO 13

EL PAPEL DE LA PRENSA EN LA CONSTRUCCIÓN DE LAS IDENTIDADES

NACIONALES: RECODIFICACIÓN MULTIMEDIA Y MULTIMODAL

Coordinadora: Floriana Di Gesù Università di Palermo

El Network ‘MEMITA’ – “Memory, identity, integration to identify analysis models in media communication”-, entre la Universidad de Palermo, que lo coordina, y la Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universitat (Bonn), la Hassan II-Aïn Chock (Casablanca), la Complutense (Madrid), la Uniwersytet Łodzki (Łodz), así como las de Sevilla, Porto, Roma Tor Vergata, Minho, Lleida y Venezia ‘Cà Foscari, propone un panel que pretende representar un avance en el análisis de la función de la prensa en la constitución de la identidad individual, grupal y nacional, y por consiguiente, subrayar su relevancia en la recuperación de la memoria histórica del ciudadano europeo del s. XXI. El formato multimedia y multimodal del texto periodístico, además de ofrecer un panorama exhaustivo de la cultura de una determinada época, permite un enfoque transdisciplinar que conjuga las competencias investigadoras con los componentes del grupo. De hecho, el discurso periodístico se identifica con un “macro-acto” lingüístico mediante el cual un locutor manifiesta (o no, como en los casos de persuasión oculta o manipulación) la intención, no solo de comunicar su tesis u opinión, sino sobre todo de convencer, o por lo menos de persuadir a un específico interlocutor de la validez de su discurso (Lo Cascio, 2009). Este discurso público se traduce en un poder discursivo que permite controlar los actos de los demás por medio de la persuasión, la manera actual de ejercer el poder. De ahí que podamos afirmar que existe un control mental a través del discurso (Van Dijk, 2012). El enfoque pragma-lingüístico utilizado se constituye como una herramienta fundamental para descubrir, mediante la observación de diferentes fenómenos lingüístico-discursivos en un amplio corpus de artículos, aquellas estrategias argumentativas, persuasivas o manipuladoras, que participan en la construcción de la identidad y de la imagen social. Debido a ello, cada speaker intentará ofrecer una muestra de análisis del discurso de un corpus variado de textos ideológicamente orientados. EL DISCURSO PUBLICITARIO AL SERVICIO DE LA CONSTRUCCIÓN DE

LA IDENTIDAD EN ESTADO NOVO: EL CASO DE MUNDO GRÁFICO

Aldina Marques Universidade do Minho

Alexandra Guedes Pinto

Universidade do Porto

Isabel Margarida Duarte Universidade do Porto

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El análisis del discurso publicitario en la revista Mundo Gráfico tiene como

objetivo mostrar hasta qué punto la revista y sus objetivos explícitos condicionan

el producto, que se contextualiza brevemente, desde el punto de vista histórico

e ideológico. Por otro lado, el análisis nos ayudará a estudiar los mecanismos

lingüísticos discursivos y multimodales que afectan al rendimiento del receptor

para convencerlo a tomar medidas y, sobre todo, y a analizar cómo el discurso

publicitario contribuye a la construcción de la imagen de la identidad del hombre

y de la mujer portuguesa al servicio de la ideología del Estado Novo.

LEGIONES Y FALANGES: ESPEJO DE UN AZORÍN DESCONOCIDO

Ambra Pinello Università di Palermo

En el presente trabajo se pretende examinar los artículos de Azorín contenidos en la revista Legioni e Falangi/Legiones y Falanges (1940-43) con el propósito de abordar uno de los autores más conocidos de todos los tiempos desde una perspectiva nueva que permita abrir una vía alternativa para el entendimiento de su postura ante la realidad histórica del régimen de Franco. Frente a los numerosos análisis críticos que hasta ahora se han hecho sobre el escritor y de acuerdo con los objetivos del Network MEMITA’, este trabajo es ante todo una invitación a discutir de una parte de su producción que bien se presta al estudio de la función de la prensa en la constitución de la identidad tanto individual como colectiva. De hecho, el análisis de los articulos mencionados funciona como llave de lectura para interpretar los aspectos menos indagados del autor, el cual, a pesar de la fuerte politización tanto de la revista como de otros textos suyos explícitamente propagandísticos, decide no tratar temas políticos, sino prefiere dedicarse a una escritura evasiva, intrínsecamente cultural. Esta actitud podría reflejar un tentativo de ripudiar la realidad, de enajenarse de un contexto histórico-social que tanto al comienzo como al final de su carrera le hace sufrir aquella “sensación de abatimiento” de la que habla en sus páginas más íntimas. El aporte a la crítica preexistente consiste en presentar una revisión de cómo él no se desliga abiertamiente de su producción antecedente ni de la ideología política que declara, sino da vida, consciente o inconscientemente, a un pequeño corpus de textos sui generis, capaz de ofrecer nuevas perspectivas hermenéuticas sobre un autor de la tradición que nunca deja de ser fuente de inspiración para la actualidad.

IDENTIDAD CULTURAL E IDENTIDADES EN CRISIS EN LA NARRATIVA

BREVE DE LA REVISTA LEGIONI E FALANGI/LEGIONES Y FALANGES

(1940-1943)

Assunta Polizzi Università di Palermo

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Entre 1940 y 1943 se publica paralelamente, en edición italiana y española, la

revista Legioni e Falangi/Legiones y Falanges, dando vida a un proyecto de

vinculación político-cultural entro los dos países bajo dos regímenes totalitarios:

la España recién salida del conflicto civil y entrada en la dictadura franquista y la

Italia ya asentada en el régimen fascista desde dos décadas. Un espacio

relevante de la revista, en ambas ediciones, se le destinaba a la literatura,

incluyendo la reflexión crítica, el cuento de viaje y de ficción. Respecto al cuento

literario, la edición española incorpora la sección titulada “El cuento mensual” a

partir del N° 19 (mayo-junio 1941), mientras que en la edición italiana es a partir

del N° 20 que se empieza a notar una presencia esparcida, aunque constante,

de narrativa breve. Se van alternando autores no siempre relacionados con el

periodismo, sobre todo en Legiones y Falanges, temas y motivos variados,

narraciones fantásticas, intimistas o en relación con recursos discursivos y

argumentativos de carácter odepórico. Este estudio se centra en la narrativa

breve de ambas ediciones de la revista, que parece consagrarse a un espacio

de ficción capaz de abrir grietas para la representación de experiencias

problemáticas o surreales, protagonizadas por sujetos en crisis, y colocándose

en intersticios de ruptura respecto a la ‘sobrecarga’ de referencias

socioculturales e ideológicas que marcan el proyecto editorial en su conjunto.

NATIONALIST NARRATIVES AND THEIR METAPHORICAL

CONSTRUCTION IN THE BRITISH FASCIST PRESS OF 1930s.

Cinzia Spinzi Università di Palermo

This work looks at the connection between nationalist movements and totalitarian

regimes considering that over the last decades new right-wing populist parties

have been active in Europe (e.g. UKIP in the UK) posing significant challenges

to liberal democracy. The economic crisis, terrorism threats and immigration

issues are thus generally mixed with issues of national identity and far-right

ideology. Here we assume that the analysis of the failure of past nationalisms, in

this case British nationalism, gives insights into connections among the European

fascist movements and between the old and new discourses used in the press.

Furthermore, it is relevant to the understanding of the current position of the

European Union and the British exit from the Union. In conflictual situations the

press then constitutes a key persuasive weapon at politicians’ disposal. Previous

research (Spinzi 2015), based on the analysis of the Italian version of the

newspaper Legioni e Falangi, has revealed how the use of interwoven discourses

in language (e.g. geographical, religious, sentimental discourses) (Fairclough

1989), serves the ideological purpose of justifying opportunist and greedy

behaviours such as those attributed to Spanish and Italian fascism. This work

aims to investigate the British nationalism and its metaphorical/ideological

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construction through the analysis of the newspapers founded by the British

‘fascist man’ par excellence, Oswald Mosley. The data for the analysis come from

a corpus of articles from three British newspapers The Blackshirt, The Fascist

week “The official organ of the British Union of Fascists”, and Action. The

approach used in this study draws upon the Critical Discourse Analysis

(Fairclough, 1995) and looks at metaphorical collocational patterns in that the

analysis of collocations contributes to the semantic analysis of a word becoming

a significant vehicle to understand the discursive representation of nationalist

narratives.

MODELOS MENTALES Y MODELOS SOCIALES EN LEGIONI E FALANGI /

LEGIONES Y FALANGES

Floriana Di Gesù Università di Palermo

Este artículo tiene el objetivo de investigar el papel de los modelos mentales y de los modelos sociales a través del análisis de una muestra significativa de artículos aparecidos en una revista ideológicamente marcada como L&F. Según Van Dijk (2003 y 2008) los modelos mentales son representaciones mentales esencialmente personales sobre un evento determinado y se basan en conocimientos, actitudes e ideologías. Los Modelos mentales se construyen a través de la información que se desprende del discurso, simultáneamente con nuestro conocimiento general sobre un tema concreto. Por tanto, los modelos mentales intervienen en la cognición social, lo cual implica influir en factores como las actitudes e ideologías compartidas por los grupos. Los Modelos mentales son la base de la memoria de las personas y conllevan a crear las opiniones y las actitudes con relación a un tema ya que definen cómo las personas interpretan cada evento.

PAINEL TEMÁTICO 14

DISCURSO E LEGITIMAÇÃO DE PODER: OS SENTIDOS INSCRITOS NA

MATERIALIDADE LINGUÍSTICA

Coordenadora: Poliana Coeli Costa Arantes Universidade do Estado do Rio de Janeiro

O presente painel tem por objetivo apresentar uma discussão sobre o tema do congresso – o poder do discurso e o discurso do poder –, tendo como base as diferentes configurações da materialidade linguística. Segundo Dominique Maingueneau (1993), “o uso da língua que implica um discurso dá-se como a maneira pela qual é necessário enunciar, pois é a única conforme ao universo de sentido que ele instaura”. A partir desse pressuposto de investigação, os trabalhos aqui apresentados procuram analisar os sentidos do poder que se

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produzem em práticas discursivas no mesmo movimento em que se constrói um código linguageiro, um etos e uma cenografia. Nessa perspectiva, estarão em foco neste painel:

modos de constituição de etos em pronunciamentos de parlamentares brasileiros, indicando compromissos assumidos na implantação de uma lei de cotas em universidade pública;

condições de enunciabilidade em textos midiáticos sobre a educação pública brasileira, legitimando contextos de desmonte de conquistas democráticas;

dispositivos de linguagem presentes em formulários de uma agência de fomento de pesquisa, apontando para relações hierarquizantes em cursos de pós-graduação;

marcas de heterogeneidade nos pronunciamentos do governo alemão acerca de refugiados, delimitando estereótipos acerca dessa população no debate público;

pressuposições e designações no discurso publicitário, constituindo imagens de intolerância aos direitos individuais como subtexto de posturas antidemocráticas.

A (NÃO) INTEGRAÇÃO PELO SILENCIAMENTO: IMAGENS DA

DIVERSIDADE ÉTNICA NO DISCURSO PUBLICITÁRIO

Bruno Deusdará Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Fundação de Amaparo à Pesquisa

do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)

Considerando a intensificação da expressão da intolerância social, propomos uma investigação que acione os dispositivos do método da cartografia com o propósito de mapear a produção de imagens discursivas do outro a partir de processos diversos de pretensa neutralização ou desqualificação da diversidade. Para tanto, recuperamos a reflexão de Rancière, segundo o qual o ódio à democracia se sustentaria na intolerância à pretensa “inflação” de direitos individuais. Como quadro teórico, partimos da produtividade da concepção polifônica da linguagem (BAKHTIN, 2000; DUCROT, 1987) e da abordagem do discurso como prática (MAINGUENEAU, 1997, 2005) de intervenção sobre o real (ROCHA, 2014, 2006; DEUSDARÁ; ROCHA, 2013), para interrogar os modos de constituição do sentido para além do que se expressa no plano do dito. Como material submetido à análise, recorremos a campanha publicitária de um refrigerante na qual se observa uma não coincidência entre o que se tematiza explicitamente no plano verbal e o que se apresenta no plano do não verbal. A partir da análise dos pressupostos e das designações, delimitamos os embates construídos nos textos midiáticos, evidencia tensões contemporâneas em torno da intolerância. Por fim, destaque-se que esse modo de conceber a pesquisa linguística tem permitido articulação produtiva entre os estudos do discurso e as reflexões contemporâneas acerca da subjetividade como produção.

LINGUAGEM E PODER: PRÁTICA DISCURSIVA E TRABALHO DOCENTE

EM PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

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Décio Rocha Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Este trabalho se interroga a respeito do modo como se atualiza na contemporaneidade o trabalho docente em pós-graduação stricto sensu no Brasil, buscando explicitar a natureza dos encontros entre profissionais e estudantes que atuam no referido nível de ensino. Para tal, constituiu-se um córpus que inclui dispositivos presentes no item Classificação de livros de documentos de área da Capes de 2009 e 2013: formulários a serem preenchidos pelos diferentes programas de pós-graduação com o objetivo de avaliar a produção bibliográfica da autoria de docentes-pesquisadores e de fundamentar o ponto de vista segundo o qual a realidade que hoje vivemos nos programas de pós-graduação brasileiros não é nem natural, nem necessária. Diante do objetivo proposto, procede-se inicialmente a um breve histórico do modo como o espaço da pós-graduação veio se construindo no país desde 1965, na certeza de que as poucas informações reunidas já serão suficientes para dar conta de muitas das dificuldades encontradas hoje, quando, por exemplo, se reclama dos prazos exíguos e dos critérios draconianos que dão o tom das avaliações a que todos se encontram submetidos – docentes e pós-graduandos. Não será, desse modo, difícil perceber, por intermédio da articulação entre linguagem e dispositivos de poder, os efeitos nefastos das alianças feitas pela pós-graduação no país com as práticas neoliberais. Dentre as conclusões que se oferecem, destacam-se as seguintes: (i) o conceito de prática discursiva dá visibilidade a implicações políticas do exercício da linguagem ao vincular produção de textos e produção de grupos; (ii) os dispositivos que regem o funcionamento dos programas de pós-graduação não promovem a formação de coletivos de trabalho, carecendo-se de novos intercessores que logrem constituir espaços de discussão menos hierarquizantes e mais afirmativos de uma lógica promotora de trocas entre os profissionais.

O FRACASSO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA: A PRODUÇÃO DE

DESMANCHES PELA CONSTITUIÇÃO DO RUMOR PÚBLICO

Del Carmen Daher Universidade Federal Fluminense / Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq)

A Educação no Brasil, de acordo com sua legislação, deve garantir de forma democrática e laica a todos seus estudantes “igualdade de condições de acesso e permanência na escola, a liberdade de aprender" e aos professores a de "ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; o respeito à liberdade” (Resolução CNE nº 02/ 2015) . Nos últimos anos, no entanto, vimos nos deparando com massivas críticas, pressões e iminentes tentativas de interferência na escola pública – sua organização enquanto sistema e currículos escolares – a partir de discursos que encontram apoio e circulação nos espaços midiáticos. O fracasso escolar e o despreparo dos professores, constituídos como “verdades” inquestionáveis, institui-se por meio de discursos aqui denominados como rumores públicos. Nossa participação no painel tem como foco identificar (novos) dispositivos que autorizam essas

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práticas e manifestações de desmanche de conquistas democráticas alcançadas no âmbito educacional e a naturalização do trabalho docente, a partir de aportes teóricos advindos de uma perspectiva discursiva de base enunciativa (MAINGUENEAU, 1984, 1987, 2000) e de uma concepção ampliada de situação de trabalho (ROCHA, DAHER, SANT ANNA, 2002), que a compreende a partir de uma rede de discursos proferidos e de suas condições de enunciabilidade (FOUCAULT, 2007 [1969]).

DISCURSOS SOBRE REFUGIADOS NOS PRONUNCIAMENTOS DO GOVERNO ALEMÃO: ESTEREÓTIPOS, EFEITOS DE SENTIDOS E PODER,

ENTRE ACOLHIDA E REJEIÇÃO

Poliana Coeli Costa Arantes Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Desde a Segunda Guerra Mundial, o mundo não havia testemunhado um número tão grande de pessoas obrigadas a deixarem seus países de origem em busca de refúgio. A Europa Central tem sido o principal destino de muitos solicitantes de refúgio. Nesse contexto, nos impressiona como a discussão sobre as políticas de acolhida a refugiados tornou-se questão de grande debate público, sobretudo na Alemanha, dividindo as opiniões da população civil. Acompanhando o crescimento dessa discussão, temos assistido à assustadora expansão de partidos políticos, movimentos e organizações políticas de extrema direita nesse país. Para investigar a construção de sentidos e as estratégias argumentativas utilizadas nesses discursos, buscamos analisar as imagens e estereótipos de refugiados produzidos pelos pronunciamentos do governo alemão na mídia, e discutir pressupostos e efeitos de sentidos criados pelos pronunciamentos favoráveis e contrários às políticas públicas de acolhida a refugiados anunciadas por Angela Merkel. Nesse sentido, buscamos orientar a discussão sobre a construção de um lugar de poder nesses discursos, que disputam a opinião pública atualmente na Alemanha. Partiremos, para direcionar as análises propostas, das discussões sobre poder e instituições em M.Foucault; pressupostos e subentendidos em O. Ducrot; marcas de heterogeneidade discursiva em Authier-Revuz e dos conceitos de dialogismo e polifonia em M. Bakhtin.

RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES

INDIVIDUAIS

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REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MULHER EM EDITORIAIS DA REVISTA FEMININA TPM

Alice Vasques de Camargo Universidade de São Paulo

Pretende-se apresentar nesta comunicação os resultados da pesquisa de mestrado “Representação social da mulher e interdiscurso em editoriais da revista Tpm”, orientada pela Profa. Dra. Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade e financiada pelo CNPq, com término previsto para agosto de 2016. A revista Tpm é um periódico mensal publicado pela editora Trip na cidade de São Paulo desde 2001 que pretende romper com alguns padrões de representação da mídia feminina brasileira. O objetivo da pesquisa é analisar a representação social da mulher construída nos editoriais dessa publicação atentando para as relações interdiscursivas e para a definição do perfil de leitora ideal da revista. A fundamentação teórica e metodológica foi pautada pela Análise Crítica do Discurso (ACD) – com base em Fairclough (2004, 2010, 2012) e Van Dijk (2012) – e pelo Sistema de Avaliatividade (MARTIN e WHITE, 2005), ancorado na perspectiva da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), de Halliday (2014). Partindo do pressuposto de que, por meio da linguagem, é possível estabelecer, afirmar ou confrontar relações de poder, acredita-se que a análise discursiva deve ser usada como ferramenta de crítica social de forma a alavancar processos de mudança na sociedade que apontem para relações mais justas e igualitárias. Nesse sentido, analisar a representação social da mulher em veículos de comunicação é um exercício necessário para que pensemos em como esses discursos reproduzem ou rompem com a ideologia machista e com os estereótipos de gênero. Os resultados da pesquisa revelam o que há de transformador e o que há de conservador nos editoriais da revista Tpm, de tal modo que é possível tecer considerações a respeito do potencial e das limitações do periódico para o empoderamento feminino e apontar possíveis alternativas de superação de algumas das amarras discursivas que ainda restringem a luta pela igualdade entre os gêneros.

ARGUMENTATIVIDADE NO JORNALISMO POLÍTICO BRASILEIRO: ASPECTOS LINGUÍSTICO-DISCURSIVOS DO ADJETIVO NAS NOTÍCIAS

SOBRE O GOVERNO ATUAL

André Crim Valente Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Se buscamos, sobretudo, interagir, valemo-nos, prioritariamente, de textos argumentativos para a consecução dos nossos objetivos. Em última instância, o ser humano – por ser gregário – quer quase sempre agir sobre o outro; tenta convencê-lo ou intenta persuadi-lo. Entendemos que só uma visão dialética permite ao analista da linguagem superar preconceitos e distorções presentes no maniqueísmo midiático. Cabe, então, destacar tanto seus aspectos negativos como os positivos, estes pouco observados nos vários trabalhos a respeito do tema. Já a partir da sua etimologia – do latim medium/media, o meio/os meios – pode se constatar que ela intermedeia. E a mídia intermedeia o quê? O que se interpõe na relação entre o fato ocorrido, origem da notícia, e o processamento dela pelos destinatários. Se, em si, a linguagem não é cópia da realidade, menos

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ainda será, na mídia, expressão fiel dos fatos ocorridos no mundo. As construções linguístico-discursivas sempre estarão permeadas pelas escolhas lexicais, morfossintáticas e semântico-estilísticas dos produtores do texto. Sabemos que nenhuma escolha é gratuita: não há, et pour cause, neutralidade no uso da linguagem. Pode-se perceber que a conceituação do adjetivo e as considerações sobre seu emprego tiveram um percurso evolutivo nas gramáticas tradicionais brasileiras, de Said Ali a Cunha/Cintra, passando por Rocha Lima e Bechara. A ampliação foi maior ainda nas gramáticas de maior embasamento linguístico. Em consonância com os objetivos deste estudo, dar-se- á prioridade aos trabalhos de Raposo et alli (2013), Castilho (2010), Azeredo (2008), Moura Neves (2000) e Demonte (1999). Estabeleceremos, com base em tais estudos, uma tipologia dos adjetivos - classificadores/qualificadores e eufóricos/disfóricos – combinada com as modalizações deôntica e epistêmica para a análise comparativa no tratamento dado pelas revistas Veja e Carta Capital aos governos de Dilma Roussef e Michel Temer no primeiro semestre de 2016.

A ORDEM POLÍTICA DA/NA LÍNGUA: METÁFORAS DE LULA E A DERIVA

DOS SENTIDOS

Andréia da Silva Daltoé Universidade do Sul de Santa Catarina

Neste trabalho, investigamos o forte estranhamento que o uso de metáforas pelo

então Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) produziu no modo de

falar a língua política no país, bem como as relações de poder travadas neste

movimento contraditório entre o deslizamento dos sentidos estabilizados de uma

língua política ideal, por/para um interlocutor também ideal, e a instauração de

novos sentidos mobilizados por saberes do homem comum, neste caso, de um

ex-retirante nordestino. À luz da Análise do Discurso de linha francesa,

analisamos um corpus formado por metáforas coletadas durante os dois

mandatos em que Lula esteve na Presidência (2002-2006 e 2006-2010). Por

considerar que a noção de metáfora, conforme seu entendimento em senso

comum, não dava conta de explicar o que estávamos observando no

funcionamento, que não tinha a ver com relações de similitudes estabelecidas,

mas da ordem de um litígio, de um desentendimento, chegamos a um conceito

de Metáfora Discursiva que pudesse explicar o duplo trabalho de produzir um

novo modo de enunciar a língua política, ao mesmo tempo em que questionava

sentidos estabilizados. Procuramos, desse modo, investigar se as ML poderiam

se transformar em pistas do que Gadet e Pêcheux (2004) tratam como a gestão

discursiva do Estado, que busca, a todo custo, reinstaurar fissuras e anular

contradições sociais, num trabalho da ordem política na língua, contra a ordem

(própria) da língua. É a partir da irrupção destes sentidos que já não se encaixam

mais nas relações naturalizadas de língua-poder que se abrem brechas para

sentidos e sujeitos outros, cujo trabalho aponta para a resistência da/na língua:

o funcionamento do que, nesta pesquisa, tratamos pela noção que cunhamos

como língua de barro.

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O “MOVIMENTO SURDO EM FAVOR DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA SURDA”: UMA QUESTÃO DE MILITÂNCIA NO ESPAÇO URBANO?

Angela Corrêa Ferreira Baalbaki

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Este trabalho, embasado na perspectiva teórica da Análise de Discurso de linha francesa (PÊCHEUX, 1988), tem como objetivo analisar três notícias de jornais digitais sobre a passeata organizada pelo “Movimento Surdo em favor da Educação e da Cultura Surda”, que aconteceu em Brasília, nos dias 19 e 20 de maio de 2011, e cotejá-las com os relatos de surdos publicados em edições da revista da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS). O principal confronto do movimento foi travado em oposição ao Ministério da Educação (MEC). De acordo com Campello e Rezende (2014), algumas ações governamentais teriam sido o estopim para a mobilização: a inclusão de deficientes em escolas regulares, como previsto no projeto do Plano Nacional de Educação (PNE), e o anúncio do fechamento da primeira escola de surdos brasileira, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Compreendemos a passeata como uma forma de ação política historicamente marcada que produz deslocamentos mobilizadores de sentidos sobre o sujeito surdo e sua língua. Portanto, consideramos a passeata um gesto de resistência e um furo no discurso estabilizado, fazendo circular outra discursividade sobre esse sujeito: o surdo como integrante de uma minoria linguística. As formas variadas de produzir a sua militância, no “espaço público urbano” (ORLANDI, 2001), constituem o surdo como um sujeito de voz e vez. Em continuidade a nosso gesto de análise, buscamos verificar o modo como a mídia digital fez circular determinados sentidos sobre a manifestação. Pretendemos responder a alguns questionamentos, quais sejam: que imagens de surdo e de sua língua essas notícias fazem circular na sociedade? Como o movimento surdo a favor da escola bilíngue é discursivizado? Ao analisar o corpus, nossas ponderações a essas questões que constituíram o dispositivo analítico procuram compreender as imbricações possíveis com os modos de (re)significar o sujeito surdo urbano.

REFLEXOS POLÍTICOS NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO FACEBOOK:

GÊNEROS DO DISCURSO E RESPONSIVIDADE

Artur Daniel Ramos Modolo Universidade de São Paulo

A ciência é uma das esferas de atividade humana que goza de maior prestígio e

credibilidade na sociedade contemporânea. A divulgação científica, em suas

diversas materializações (revistas, jornais, blogues etc.), tem sido um dos meios

pelos quais o liame entre ciência e público se consolida. A presente comunicação

tem como objetivo analisar o modo pelo qual elementos do contexto político

brasileiro refletem nos enunciados publicados em páginas de divulgação

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científica no Facebook e a conseqüente reação do público leitor. Como material

de análise foi selecionado o bloco de publicações relacionados à política

elaborados pela Superinteressante, Scientific American Brasil e Pesquisa

Fapesp em suas respectivas páginas no Facebook. Foram analisadas

publicações feitas durante o primeiro semestre de 2016, período no qual parte

do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff transcorreu. No

aspecto quantitativo, por meio de uma perspectiva bakhtiniana, analisa-se a

freqüência com que publicações com tema político foi publicado nas referidas

páginas, assim como o número de reações dos usuários (curtidas, comentários

e compartilhamentos) e os gêneros do discurso utilizados (notícia, artigo,

publicação em blogue etc.). No quesito qualitativo, empregando o conceito

bakhtiniano de responsividade, analisa-se o posicionamento ético e político do

público leitor (crítico, entusiástico, reflexivo etc.) frente ao material publicado.

Como resultado do presente estudo será possível perceber como os reflexos

políticos se materializaram nas páginas de divulgação científica e o

comportamento do público leitor frente às publicações que estão no limite entre

ciência, jornalismo e política no Facebook.

A CONSTRUÇÃO DO PODER NA REPRESENTAÇÃO DOS ATORES

SOCIAIS NO GÉNERO REPORTAGEM

Audria Leal CLUNL/FCT

Este trabalho tem como finalidade verificar quais os modos de representação

dos atores sociais na organização temática e discursiva das reportagens de capa

nas revistas portuguesas Visão e Sábado. A representação dos atores sociais

vai implicar na construção de uma identidade que se deve coadunar com os

interesses políticos de grupos sociais. Como salientou Voloshinov (1997), esta

construção de caráter ideológico é essencialmente reproduzida na língua e,

como acrescenta Kress (1997), é uma construção multimodal. A relação dialética

entre discurso e estruturação social constrói também o que podemos chamar de

relações de poder (Kress, 1990). Isto é, quem determina o papel de determinado

ator social detém o poder, sendo refletido na relação entre a temática e o

discurso. Teremos como base o quadro teórico da Análise Crítica do Discurso,

com referência a autores como Kress (1997), Fairclough (2001) e van Leuuwen

(1997), numa conjunção com o Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart,

2008). Além disso, assume-se que os textos da comunicação social contribui

para a construção e manutenção das relações de poder (Fairclough, 2001). Para

complementar, seguiremos o quadro teórico-metodológico da Semiótica Social

(Kress e van Leeuwen, 2006) que fornece ferramentas metodológicas para

análise de textos multimodais. Face ao exposto, esta apresentação será dividida

em três partes: na primeira, centrar-nos-emos na apresentação dos quadros

teóricos da ACD e do ISD; na segunda procuraremos mostrar características

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linguísticas que apontam para a construção e valoração de uma identidade de

atores sociais. Na terceira parte, concluiremos, refletindo sobre como o modo de

representação dos atores sociais configura-se numa relação de poder que

ambiciona determinar posicionamentos ideologicamente aceitáveis. Como

resultado da nossa análise, esperamos contribuir para um estudo sobre a

construção de ideologias pela comunicação social e para mostrar de que modo

o impacto desta construção ideológica configura-se como um exemplo de

construção e manutenção do poder.

AS CONCEPTUALIZAÇÕES HUMANAS: A CONCEPÇÃO DO TERMO

"MORTE" NA RELIGIÃO ESPÍRITA E PROTESTANTE

Bruno De Jesus Espírito Santo Universidade Federal da Bahia

Morte (do latim mors), óbito (do latim obitu), falecimento (falecer+mento),

passamento (passar+mento), ou ainda desencarne (deixar a carne), são

sinônimos usados para se referir ao processo irreversível de cessamento das

atividades biológicas necessárias à caracterização e manutenção da vida em um

sistema outrora classificado como vivo. Após o processo de morte o sistema não

mais vive; e encontra-se morto. Os processos que seguem-se à morte (pós-

mortem) geralmente são os que levam à decomposição dos sistemas. Sob

condições ambientais específicas, processos distintos podem segui-la, a

exemplo aqueles que levam à mumificação natural ou a fossilização de

organismos. A morte faz-se notória e ganha destaque especial ao ocorrer em

seres humanos. Não há nenhuma evidência científica de que a consciência

continue após a morte, no entanto existem várias crenças em diversas culturas

e tempos históricos que acreditam em vida após a morte. Com notórias

consequências culturais e suscitando interesse recorrente na Filosofia, existem

diversas concepções sobre o destino da consciência após a morte, como as

crenças na ressurreição (religiões abraâmicas), na reencarnação (religiões

orientais, Doutrina Espírita, etc) ou mesmo o eternal oblivion ("esquecimento

eterno"), conceito esse o comum na neuropsicologia e atrelado à ideia de fim

permanente da consciência após a morte. Sabe-se que o Brasil é regido pelo

estado laico, onde configura-se que todos os indivíduos que habitam suas terras

tem a liberdade de seguir aquela concepção religiosa que mais lhe atinge. Neste

território, predominam-se as religiões voltadas para os dogmas do cristianismo,

sendo a doutrina católica a com mais números de adeptos. Mas, um termo

bastante recorrente e que está presente na maioria das doutrinas que fazem

parte da vida do brasileiro é o nome “morte”. Este, reside de milhões de

conceptualizações que são de extrema importância para os seguidores de cada

uma doutrina. Porém, há de se fazer aqui uma comparação de conceptualização

deste termo entre as doutrinas protestante e espírita. Morte, pode ser

considerado como algo positivo ou negativo, dependendo assim do que a religião

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interpreta a partir de sua visão de realidade. A doutrina protestante conceptualiza

“morte” como um verdadeiro sono, um sono profundo onde as pessoas ou

“espíritos” não vão a lugar algum, a não ser, a própria cova do cemitério. Os

seguidores desta doutrina não acreditam em vida após a morte, pois, ao

interpretarem a bíblia dentro dos seus dogmas acreditam que haverá um período

de ressurreição, onde o Cristo, o salvador para eles, ressuscitará todos aqueles

que estão assim “dormindo”. Porém, a conceptualização do termo “morte” vista

pelos espíritas é totalmente diferente, onde o corpo é visto como um verdadeiro

composto, onde no ato de acontecimento da morte, o espírito se desprende do

corpo físico e o ser só passa a ter o corpo espiritual, passando assim, para um

outro plano espiritual, a tão conceptualizada por diversas doutrinas “vida após a

morte”. Fazendo uma comparação entre os polos, é possível perceber então

como a morte, lembrando dos postulados de Lakoff, é conceptualizada como

negativa na doutrina protestante - sono, fim eterno - para positiva na religião

espírita - continuidade, um novo estágio, um novo mundo. É possível perceber

então como essas conceptualizações são construídas, cada doutrina faz a sua

escolha de visão, mas o termo "morte" continua lexicalmente. Através dos

dogmas, cada argumento sobre ela é interpretada de uma forma, mostrando

assim a importância das conceptualizações humanas.

O PODER DOS DISCURSOS DO PATRONATO PORTUENSE NAS

SESSÕES COMEMORATIVAS DE ANIVERSÁRIOS: RITUAIS VERBAIS,

ARGUMENTAÇÃO E CONFIGURAÇÃO ENUNCIATIVA

Carla Aurélia de Almeida Universidade do Porto

O enfoque teórico e metodológico deste trabalho é orientado por uma perspetiva

semântico-pragmática (Verschueren, 1998: 236) da organização e

funcionamento de cinco discursos proferidos nos aniversários da Associação

Industrial Portuense publicados na revista A Indústria do Norte (1949-1970).

Procederemos à análise do modo como, nestes discursos, se constrói uma

imagem dos “homens industriosos” (Monteiro, 2015), considerando a

organização enunciativa do discurso comemorativo de aniversário: analisaremos

o quadro interacional (Goffman, 1981) construído nas sessões comemorativas,

consideraremos a sequência de atos de discurso e as estratégias discursivas

que estes atos configuram e estudaremos o rumo discursivo ou discursivização

(Fonseca, 1992: 316) que os enunciados proferidos determinam. Verificaremos

que, nestes discursos de comemoração de aniversários da Associação Industrial

Portuense, os representantes dos patrões põem em funcionamento um

dispositivo argumentativo de convocação de uma doxa partilhada pela

comunidade de discurso (Gumperz, 1989), característica de uma tomada de

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posição ideológica (Bourdieu, 1979; Monteiro, 2015: 134) que se faz através de

uma argumentação no discurso. Esta estratégia de argumentação visa a

persuasão e é reveladora de uma tomada de posição específica de um locutor

representativo do patronato portuense. Procederemos, assim, à descrição do

modo como se constroem as identidades discursivas (Boden; Zimmerman,

1993), localmente construídas (Antaki; Widdicombe, 1998) em lugares

interacionais (Kerbrat-Orecchioni, 2004: 16). Procuraremos demonstrar que o

discurso nestes contextos comemorativos apresenta a construção de “social

schemas” (Gibbs, 1985: 98) convencionais com estratégias de credibilização,

de apelo ao consenso e inúmeros atos de elogio ao serviço de um macroato de

persuasão e de apelo à manutenção de uma ordem institucional que é também

discursiva, revelando um discurso emotivo (Plantin et al., 2000) e a construção

de um “saber compartilhado” (Kayser, 1988 : 142) entre os representantes no

discurso do patronato e o operariado industrial.

O PODER DA OPINIÃO: ANÁLISE COMPARADA DE COMENTÁRIOS TELEVISIVOS

Carla Teixeira Universidade Nova de Lisboa/NOVA

Teresa Oliveira

Universidade Nova de Lisboa/NOVA

Os media apresentam recorrentemente diversas personalidades que têm como

propósito comentar, apresentando o seu ponto de vista sobre acontecimentos

relevantes para a sociedade e tentando contribuir para o esclarecimento desses

mesmos acontecimentos. De facto, há muito que os géneros da atividade

jornalística congregam textos mais informativos e textos mais opinativos, entre

outros, o que é visível pela diversidade de temáticas tratadas que convoca

múltiplas áreas sociais. É propósito deste trabalho refletir sobre o modo como se

realizam as diferentes ações de linguagem comentar em comentários televisivos

e quais as marcas linguísticas que manifestam. A presente investigação situa-se

no marco do Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart 2003, 2008) e pretende

comparar dois exemplares do género textual comentário televisivo. Seguindo

uma abordagem descendente, procurar-se-á aprofundar a proposta de Teixeira

(2016) para a análise de textos jornalísticos de comentário, que se centra na

saliência de aspetos enunciativos, temporais e referenciais. De um ponto de vista

metodológico, serão consideradas e analisadas as marcas linguísticas mais

relevantes de ordem enunciativa, temporal e referencial. Essas mesmas marcas

serão revistas de acordo com os tipos de discurso (ou modos enunciativos),

segundo a perspetiva sociointeracionista. Esta última fase da análise permitirá

contribuir para uma associação das formas linguísticas aos géneros textuais e

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uma caraterização dos tipos de discurso em Português Europeu. Possibilitará,

ainda, definir com maior exatidão tipo(s) de agir desempenhado(s) pelos sujeitos

que assinam estes textos na constituição do entendimento coletivo.

LULA E A LÍNGUA FLUIDA: UMA RELAÇÃO NATURAL?

Daianna B. A. Pompeu Universidade do Vale do Sapucaí

Este artigo visa analisar ocorrências da Língua Fluida presentes em trechos

falados pelo ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, e coletados pelo

jornalista Marcelo Tas em seu livro “Nunca Antes na História deste país”,

publicado no ano de 2009. A obra condensa fragmentos proferidos pelo ex-

presidente em ocasiões variadas durante seus dois mandatos – 2003 a 2010 –

fragmentos estes onde Lula opina, discursa, conceitua, enfim, aborda os mais

diversos assuntos fazendo uso de um léxico e de um discurso – entendendo-se

discurso aqui como o lugar onde se dá a relação entre língua e ideologia – que,

através da Língua Fluida, ou seja, aquela falada no dia a dia, em constante

movimento e que não pode ser contida, é mais real. Seriam essas escolhas

lexicais carregadas de metáforas, apelativas na maioria das vezes e que lançam

mão do senso comum, uma estratégia de marketing consciente para causar o

efeito de sentido de proximidade com a maioria da população brasileira através

do uso constante da língua coloquial/fluida? Recortes como “Lá, a crise é um

tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar”

mostram como tais “usos e costumes” linguísticos são hábitos naturais no

discurso do presidente que contribuíram significativamente no aumento de sua

popularidade junto às classes menos favorecidas. A partir da análise de trechos

selecionados da obra em questão e lançando mão dos conceitos da Análise de

Discurso de Michel Pêcheux e Eni P. Orlandi, este artigo procura refletir sobre

tal situação com o objetivo maior de levantar questionamentos a respeito da força

das palavras que, uma vez lançadas a público, causam efeitos de sentidos

difíceis de ser mensurados.

DISCURSO JURÍDICO E ARGUMENTAÇÃO: A QUESTÃO DOS DANOS MORAIS NA SENTENÇA JUDICIAL

Daniela da Silveira Miranda Universidade de São Paulo

Este estudo propõe-se a investigar o discurso jurídico, sobretudo a sentença judicial, observando as estratégias discursivo-argumentativas arroladas, pelo Juiz de Direito, para a construção de seu texto. Selecionamos, como objeto de análise, uma sentença judicial emitida em 02 de junho de 2014, em Brasília, na

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Vigésima Vara Cível. Trata-se de um processo de danos morais, contra a Revista Carta Capital, movido por Gilmar Mendes, jurista brasileiro e atual Ministro do Supremo Tribunal Federal, que se sentiu depreciado por publicações desse veículo de comunicação em 2012. Dado o caráter filosófico do conceito de danos morais e a complexidade em se estabelecerem os limites entre liberdade de imprensa e liberdade da intimidade e honra da pessoa humana, constata-se que, ao redigir essa sentença, o magistrado utiliza determinadas estratégias para a construção dos fundamentos de seu texto. Já que essa questão é muito controversa no Direito Brasileiro, a argumentação se faz necessária para estabelecimento dos limites entre a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade. Para esta pesquisa, optamos por analisar determinadas lexias e locuções lexicais constituídas de sintagmas nominais e verbais, que nos pudessem fornecer, linguisticamente, subsídios para observar as estratégias argumentativas selecionadas pelo juiz. Foram adotados, para os propósitos deste trabalho, os construtos teóricos da Teoria da Argumentação (Perelman e Olbrechts-Tyteca, 2005 [1958]; Aquino, 1997), da Teoria da Argumentação Jurídica (Atienza, 2000; Alexy, 2001) e das Ciências do Direito (Kelsen, 1993; Ferraz Júnior, 1997; Bobbio, 2005; Godoy, 2008).

ETHOS E IRONIA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA CRISE NA POLÍTICA BRASILEIRA RETRATADA PELO DISCURSO JORNALÍSTICO DA

REVISTA VEJA

Daniella de Almeida Santos Ferreira de Menezes Universidade de São Paulo

O cenário político brasileiro, notadamente marcado por escândalos de corrupção, constitui um acontecimento não só no que diz respeito ao contexto histórico-social da sociedade brasileira, que assiste impotente a infindáveis casos de desonestidade e improbidade administrativa, colocando em risco a estabilidade e consequentemente a credibilidade econômica do país no mercado financeiro mundial, como também no que se refere a toda uma discursividade que circula nas redes sociais e na mídia tanto impressa quanto televisiva. Imputada a ela, entre outras, a função de formadora de opinião, a mídia, sem dúvida, desempenha um papel significativo na maneira como os fatos se desenrolam e, sobretudo, como são interpretados. Expressões como “CPI”, “mensalão”, “impeachment” e tantas outras exaustivamente por ela utilizadas evocam, assim, sentidos vários conforme remetam a formações discursivas diferentes e até conflitantes. Considerando-se, portanto, as condições de produção em que esses dizeres circulam e as relações de poder presumidas entre os sujeitos envolvidos na cena enunciativa da crise política brasileira, importa problematizar os efeitos de sentido produzidos pela mídia ao assumir um ethos da “ironia” para tratar de questões políticas que têm consequências diretas nas práticas sociais que envolvem a vida econômica do cidadão brasileiro.

AS MARCAS LINGUÍSTICO-DISCURSIVAS COMO RECURSOS ESTRATÉGICOS NOS DISCURSOS DE TOMADA DE POSSE

PRESIDENCIAIS (BRASIL & PORTUGAL)

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Dayse Francisnéia Santana Correia Alfaia Universidade de Évora

Pretende-se nesta comunicação proceder à análise de dois discursos políticos: os discursos de tomada de posse dos ex-presidentes da República do Brasil e de Portugal (no mesmo ano de 2011). A ancoragem teórica deste estudo filia-se nos estudos da retórica, tendo em consideração a vertente da retórica clássica e incluindo os estudos contemporâneos sobre argumentação. Pretende-se, assim, demonstrar como os recursos linguístico-discursivos, usados pelos enunciadores presidenciais, revelam uma intenção estratégica com o fim de persuadir o enunciatário de uma determinada ideia política, tendo em conta que as questões de ordem macrolinguísticas (discursivas) dependerão das questões de ordem microlinguísticas (proposta de Adam, 2010,). Vale lembrar que, segundo alguns teóricos, como Amossy (2000) e Marques (2007), não há dissociabilidade entre o texto e o contexto, por esta razão foi mencionada a relação macro e microlinguística. Um dos aspetos relevantes verificados nas construções dos enunciados foi a responsabilidade enunciativa (as vozes do texto), bem como o que já na Antiguidade Clássica eram denominados de ethos e pathos, elementos de estudo propostos por Aristóteles. Nesta perspetiva de análise, pergunta-se: que relação tem o ethos com a identidade social e discursiva dos enunciadores políticos? O pathos é construído numa perspetiva somente emocional? Será, portanto, evidenciado como o pathos se constitui em outra vertente com o intuito de responsabilizar o enunciatário a participar dos problemas políticos do governo, por exemplo, e como a repercursão causada no outro pode ser evidenciada de forma menos emotiva. Foi também evidenciada a indissociabilidade entre a construção de um ethos e a identidade social e discursiva, comprovando, assim, os pressupostos teóricos já enunciados por Charaudeau (2009). Pretende-se, em suma, descortinar as idiossincrasias e as eventuais diferenças nestes discursos oficiais, bem como perceber se as intenções persuasivas dos dois chefes de Estado, que espelham os ethè, revelam as estratégias/mecanismos ao serviço dessa argumentação linguística e persuasiva. DISCURSO E IDENTIDADE: O RECURSO DA REPETIÇÃO NA FORMAÇÃO

DAS IDENTIDADES EM INTERAÇÃO COM UM MENOR INFRATOR

Denilson de Souza Silva. Universidade Estadual do Pará

As questões de identidade têm sido exploradas pelos mais diversos campos das ciências humanas. As mudanças ocorridas nas sociedades modernas têm posto o conceito de identidade “em xeque”, pois provocam um certo descentramento do sujeito que poderá apresentar identidades fragmentadas e móveis. Tal construção fluida das identidades está patente nas interações sociais. É, portanto, nas interações sociais e nos encontros face a face que os sujeitos podem se posicionar e reorientar suas condutas e formas de ver o mundo, o que evidencia a importância de tais interações na formação das identidades. Nesta pesquisa, estudamos como as identidades sociais podem emergir dos sistemas representacionais construídos socialmente. Para tal, utilizamos uma interação

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face a face com um “menor infrator” em uma unidade socioeducativa prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil. Como as identidades são formadas no e pelo discurso, também por meio de recursos textuais, escolhemos a repetição, um processo de reformulação textual bem usado na conversação, para a análise de tal formação. A escolha de um grupo estigmatizado socialmente se deu pelo fato de pretendermos analisar como acontece a apresentação da identidade do “infrator” face a uma sociedade que espera, através de suas leis, a “reabilitação social” daquele que é “desviante”. A entrevista com o menor infrator apresentou, em um primeiro momento, a afirmação de uma “identidade de infrator” que não pode ser negada e é observada por meio de escolhas lexicais como verbos que representam ações que o levaram às atividades ilícitas. Da mesma forma, o falante utiliza as repetições para reforçar o argumento de que não reincidirá em atos infracionais e endossa o discurso da unidade socioeducativa bem como o discurso da família e de outras instituições de que a vida de infrator não é proveitosa, demonstrando assim, o que chamamos de “identidade da transformação”.

O DISCURSO DO PODER: AS RELAÇÕES DO PODER FALAR E DO DEVER CALAR NA DRAMATURGIA BRASILEIRA

Denise Aparecida de Paulo Ribeiro Leppos Universidade Federal de São Carlos

Atualmente, tem-se realizado muitos estudos acerca do discurso enquanto exercício de poder e seus efeitos de sentido na linguagem. Para este trabalho, propomos uma análise, na qual sejam abordadas as relações de poder existentes entre a arte dramática e o campo político, investigando as condições de produção da censura no cenário artístico, em particular quando se trata do chamado teatro popular. Reiteramos o fato de que o teatro brasileiro contemporâneo sempre esteve comprometido com a política, tornando essa relação teatro e relações de força no drama nacional um lugar privilegiado de crítica social, motivo pelo qual sofreu repressões, praticamente desde suas ocorrências iniciais em nosso país. Em consonância com a Análise do Discurso, mobilizaremos dispositivos teóricos e analíticos provenientes do teatro, da história e da mídia impressa, de modo que possamos compreender o funcionamento discursivo do papel crítico/político que o teatro exerceu durante os anos de chumbo no Brasil, a partir da obra de Plínio Marcos, um dos maiores representantes da dramaturgia neste período, do controle que a censura exerce sobre ela e de sua repercussão, uma vez que, nos textos do dramaturgo estabelecia-se em um espaço para dar voz aos marginalizados e oprimidos, representados por suas personagens. Por conseguinte, é possível pensar no poder do discurso como uma “arma” eficiente, não apenas utilizada no campo político, mas também, em um instrumento de ataque ou resistência, pela dramaturgia brasileira. A partir disso, propomos uma discussão sobre os efeitos de controle e das relações de poder do discurso que, por sua vez, regulam e determinam o que pode e deve ser dito, evidenciando o discurso como um dispositivo que aumenta e estimula transformações na sociedade, visto que é nela que ocorrem as mudanças sociais (políticas, econômicas, linguísticas etc.) que geram relações discursivas de resistências e de hegemonias.

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ETHOS DISCURSIVO E ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS: "IMAGENS DE SI" EM CAPAS DE REVISTAS SEMANAIS

Denise Ferreira dos Santos

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais O trabalho propõe-se a identificar, em um contexto político-midiático, a manifestação do ethos discursivo – isto, é, a construção das "imagens de si" – em publicações impressas durante o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil em 2014. O corpus base para a condução das reflexões é constituído por três capas das revistas semanais Época, Isto É e Veja, correspondentes às últimas edições anteriores à realização do pleito. O primeiro aspecto enfocado pelo trabalho diz respeito à análise dos elementos constituintes da cena de enunciação (cena englobante – discurso midiático; cena genérica – capa; e cenografia). Para essa etapa, são consideradas as concepções teóricas de Maingueneau. Para a análise dos significados presentes nos códigos visuais das capas – imagens, composições gráficas e textuais – é utilizada a Gramática do Design Visual (GDV). Esta é a segunda linha teórica de abordagem do trabalho. Por meio da GDV, são relacionadas as metafunções ideacional, interpessoal e textual. Tal estudo é importante para o entendimento da construção das “imagens de si” das revistas. A base teórica dessa etapa é composta pelas abordagens de Kress e Van Leeuwen, dentro da perspectiva da Semiótica Social. Parte-se da premissa de que textos, imagens e elementos gráfico-visuais, em conjunto – dentro de uma perspectiva multimodal –, foram instrumentos largamente explorados e que permitiram ao público leitor de cada periódico a possibilidade de identificação com o conteúdo apresentado. O ethos é construído a partir da convergência entre esses movimentos. Por meio da investigação do ethos discursivo construído pelas revistas semanais, e através, sobretudo, da categorização da cena de enunciação e da análise dos significados presentes nos códigos visuais e verbais, é possível compreender se as publicações utilizaram a capa (e todos os seus elementos) para propagar e confirmar valores sociais ratificados pelas próprias revistas, influenciando (ou não) a interpretação e a tomada de decisões do leitor/eleitor.

DISCURSO PRESIDENCIAL ENTRE HEGEMONIAS E RESISTÊNCIAS

Denise Silva Macedo Universidade de Brasília

Meu tema se refere a um discurso nodal em cenário de globalização e de avanço neoliberal no Brasil por meio das parcerias de governança. Trata-se do discurso de posse da Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, por ocasião de sua reeleição em 2014. Com foco na educação por meio do lema Pátria Educadora e no relacionamento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), esse discurso de posse aponta o alinhamento discursivo presidencial brasileiro ao avanço neoliberal dos mercados centrais na educação, mas também uma visão de empoderamento desses cinco países por meio da criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics, visando ao reequilíbrio de forças dos países dos

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blocos globais para a construção de modelos alternativos de práticas sociais igualmente globais. Minha abordagem considera a articulação entre Análise de Discurso Crítica (ADC), Economia Política Cultural (EPC) e Economia Baseada no Conhecimento (EBC) para enfatizar, no discurso, a relação entre economia, política e cultura e a incorporação do conhecimento a novos produtos e a novos serviços oferecidos no mercado. Minha análise dar-se-á à luz dos conceitos faircloughianos de avaliação, de democratização e de tecnologização. A transdisciplinaridade da ADC será garantida pelo diálogo com a Pedagogia Crítica de Giroux e de McLaren; com a Sociologia de Thompson, de Giddens, de Castells e de Bauman; com a Sociologia do Capitalismo, de Luc Boltanski e Ève Chiapello; com a Economia Política de Jessop; com a Teoria da Educação de Silva, de Kiziltan, Bain e Cañizares e com a Filosofia da Educação de Nietzsche.

A CONCEPÇÃO DE VERDADE ÚNICA NA POLÍTICA PÚBLICA DE

LEITURA

Denísia Moraes dos Santos Universidade de São Paulo

Neste trabalho, nosso objetivo é apresentar uma breve análise dos critérios de

seleção de obras literárias destinadas aos alunos das escolas da rede pública

estadual de ensino do estado de São Paulo. Trata-se dos critérios de seleção

adotados pelo Programa de leitura Apoio ao Saber, que tem como foco principal

a formação de leitores e o incentivo de leitura de obras de autores consagrados

na literatura brasileira e estrangeira. Discutiremos a concepção de verdade única

que permeia os critérios de seleção de obras literárias no discurso da política

pública de leitura. Esse programa é alvo de nossa pesquisa sobre o diálogo de

estudantes de Ensino Médio com as obras literárias oferecidas por programas

de leitura. Sob o ponto de vista teórico, recorremos a alguns aspectos do

pensamento bakhtiniano, ou seja, do trabalho desenvolvido por Mikhail Bakhtin

(1875-1975) no texto de Para uma filosofia do ato, datado do início dos anos de

1920. Essa perspectiva oferece uma reflexão teórico-filosófica em torno da

distinção entre duas formas de verdade – istina e pravda, que, neste trabalho,

servem de apoio para análise das formas de verdades abordadas pelo discurso

do poder sob a ótica da política pública de leitura.

O DISCURSO E A VOZ NOS TELEJORNAIS

Eda Maria Franco Universidade Luterana do Brasil - Rio Grande do Sul

A voz é um dos principais meios de comunicação. Transmissora de informações subjetivas pode exteriorizar os estados emocionais e atitudes avaliativas do falante. Não é somente um fazer conhecer seus conteúdos afetivos, mas

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também, pela voz, tentar impor aos destinatários seus pontos de vista. Isto pode ser detectado por meio dos traços da presença do enunciador em seu discurso, na expressão vocal de seus estados emocionais e modalização de seus enunciados. Propomos aqui refletir sobre a dimensão avaliativa e emocional da atividade vocal do homem. Este estudo teve como objetivo analisar os recursos vocais utilizados nos telejornais como coadjuvantes de efeitos de sentido pretendidos com a divulgação da notícia. Foram estudados a média e a variação da frequência vocal em enunciados proferidos por apresentadores de telejornais brasileiros. Foram analisados 40 enunciados, de 20 apresentadores (10 homens e 10 mulheres), de 6 telejornais, abrangendo 3 redes de televisão. Os enunciados foram classificados em 2 tipos de notícias: positivas e negativas. Foi realizada análise acústica computadorizada da frequência média e variação de cada enunciado. Nesta pesquisa usamos como suporte teórico a Linguística enunciativa de Émile Benveniste, e os estudos do discurso das mídias de Patrick Charadeau. Analisou-se o discurso dos telejornais demonstrando sua estratégia de construção de verdade e o papel da voz neste processo. Os resultados confirmam a presença da relação voz e efeitos de sentido nos telejornais. Nas notícias positivas, houve um aumento da média das frequências, já nas negativas houve um decréscimo, tanto nos homens como nas mulheres. A variação das médias das frequências foi mais significante nas locuções femininas. Conclui-se que a voz tem um papel importante como estratégia de persuasão na busca de credibilidade da notícia.

OLHAR DISCURSIVO SOBRE LÍNGUA E SUJEITO: ALUNOS DE LÍNGUA

ESPANHOLA DO MATO GROSSO DO SUL/BRASIL

Élida Cristina de Carvalho Castilho Instituto Federal de São Paulo – Avaré

Este trabalho problematiza o processo de constituição identitária de alunos

delíngua espanhola da cidade de Campo Grande/MS sobre a aprendizagem

desse idioma, com base no método arquegenealógico de Foucault (2008) e

fundamentado nos postulados da Análise do Discurso de linha francesa

(PÊCHEUX, 1999 e 2002), na Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006, 2010

e 2013; KLEIMAN, 2013), nos estudos culturalistas (HALL, 2006; BAUMAN,

2005) e na noção de relações de saber-poder de Foucault (1984). Assim, a partir

desse aporte teórico, partimos da hipótese de que os discursos dos alunos

estudantes de língua espanhola sul mato-grossenses tendem a desvalorizar e

(re)negar a aprendizagem desse idioma, pela condição fronteiriça do espanhol

do Estado (NOLASCO, 2013; STURZA, 2010) e pela simbologia que o status

linguístico da língua espanhola frente a língua inglesa, por exemplo, não lhe

proporciona. Tendo em vista o objetivo de investigar o processo de construção

identitária, a análise dos recortes busca a interpretação das representações

discursivas pela problematização das formações discursivas que possibilitaram

a construção de determinados sentidos, a respeito da constituição das verdades

e/ou saberes, poderes e resistências nos discursos dos sujeitos-alunos. Nessa

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perspectiva, divididas em três eixos de representações: a língua “instrumento”,

a língua “(re)negada” e sujeito e a língua espanhola, as análises apontaram que,

apesar da sustentação em seus discursos dos regimes de verdades sobre a

aprendizagem de línguas na contemporaneidade (Governo/Globalização), os

efeitos que os silenciamentos e a resistências se articulam, refletem a

heterogeneidade constitutiva que os discursos sobre a língua espanhola se

materializam no contexto da educação brasileira e, sobretudo, no Estado de

Mato Grosso do Sul, deixando atravessar outras vozes, dada a relação

inseparável de toda prática discursiva e não-discursiva de saber-poder e,

consequentemente, resistência (FOUCAULT, 1984).

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE GAY NO DISCURSO DA MÍDIA IMPRESSA BRASILEIRA: UM PROCESSO DE VIA DUPLA ENTRE

PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES. Elso Soares Leite

Universidade Federal da Bahia

No mundo contemporâneo, a mídia impressa produz seus discursos de acordo com as condições e procedimentos que ela mesma estabelece, baseada em sua própria “ordem do discurso”. Nesse sentido, a mídia impressa se utiliza de práticas discursivas e não-discursivas que moldam a construção representativa e, portanto, identitária, da homossexualidade de acordo com suas condições de produção. Assim, esse trabalho tem por objetivo analisar aspectos do funcionamento do discurso midiático sobre a homossexualidade, materializado em algumas capas de revistas brasileiras, que circularam na sociedade brasileira nas décadas de setenta e de oitenta. No processo de análise, discutimos de que maneira a mídia impressa tem representado a homossexualidade, por meio de recursos discursivos, palavras e enunciados, e não-discursivos, imagens. Por meio disso, investigamos como se dá a construção identitária dos homossexuais representados no discurso midiático. Para realizar esse trabalho, recorremos aos aportes teóricos da Análise de Discurso, de linha francesa, a partir das contribuições teóricas de Michel Pêcheux (1997; 2008) e da teórica brasileira, Eni Orlandi (2007; 2010); recorremos, também, a Michel Foucault (2009; 2010) nas discussões referentes às questões sobre discurso e homossexaulidade; nas discussões sobre representação e identidade, recorremos a Moita Lopes (2003), Hall (2009), Woodward (2009), Silva (2009). Os resultados nos mostraram que, nas décadas de setenta e oitenta, a homossexualidade foi representada, no funcionamento do discurso da mídia, materializado nas capas de revistas analisadas, em torno de sentidos estereotipados, tais quais: doença, pecado, promiscuidade e marginalidade. Esses sentidos determinaram a construção das identidades dos homossexuais como doentes, pecadores, promíscuos e marginais. Observamos que a interdição, como mecanismo de controle discursivo, apaga ou silencia os dizeres que representam as vozes dos homossexuais representados no discurso da mídia impressa. Com isso, há o apagamento ou silenciamento dos sentidos que cinscunscrevem marcas identitárias dos homossexuais representados no discurso da mídia analisado.

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EM DEFESA DE QUEM? PATHOS, PODER SIMBÓLICO E ETHOS

DISCURSIVO DE UM PRESIDENTE EM INTERDIÇÃO

Eliane Davila dos Santos Ernani Cesar de Freitas Gislene Feiten Haubrich

Universidade FEEVALE; Universidade de Passo Fundo

O cenário político é palco à encenação de emoções como estratégia de persuasão das diferentes instâncias por ele envolvidas. Recentemente, instaurou-se no Brasil o processo de impeachment da presidenta da República. Este trabalho tem como objetivo analisar a construção enunciativo-discursiva dos pronunciamentos de “despedida” de Dilma Rousseff, mediante a situação e o contrato de comunicação que os permeiam, a fim de identificar a cenografia, entremeada pelo poder simbólico, que implica a produção de ethé discursivos da presidenta que se encontra afastada do poder. Elenca-se como objeto de estudo o discurso presidencial dessa despedida, que se insere no escopo das investigações do discurso político. Diante dessa proposta, elegem-se como corpus dois pronunciamentos realizados pela presidenta brasileira, Dilma Rousseff, após o anúncio oficial de seu afastamento provisório do cargo em razão da instauração do processo de impeachment. A escolha desses discursos, pronunciados em sequência em 12 de maio de 2016, dentro e fora do Palácio do Planalto, contempla públicos diferentes. O estudo se caracteriza como descritivo, bibliográfico e qualitativo, visto que o desenvolvimento da análise procura convergir às proposições de Charaudeau (2008, 2007) para contemplar a situação e o contrato comunicacional vigente no processo enunciativo-discursivo. Nesse sentido, investigam-se quais são as instâncias envolvidas no ato de comunicação, bem como as estratégias adotadas para acionar elementos imbricados ao imaginário social e político e ao exercício do poder simbólico, conforme depreendido por Bourdieu (2002), a fim de persuadir os interlocutores à argumentação construída. Tais aspectos são entrelaçados pelas categorias teóricas defendidas por Maingueneau (2008, 2013) para a produção da cenografia e dos ethé discursivos da presidenta brasileira nessas situações comunicativas. Fundamentada no pathos, a construção enunciativa dos discursos políticos analisados permite afirmar que são produzidos ethé de identificação e de sensibilização para credibilidade em relação ao público destinatário.

WORDS OF EMPOWERMENT: PSEUDO-SCIENTIFIC DISCOURSE IN MAGAZINE ADVERTISEMENTS

Elsa Simões Lucas Freitas

Sandra Gonçalves Tuna Universidade Fernando Pessoa

Since its inception, advertising discourse corresponds to an asymmetrical practice as to the power relationships involved. In fact, ads are structured around

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a message conveyed by an instance that blatantly claims authority enough to intervene, advise, suggest, question and take sides – all of this on issues which, very often, are the sole concern of the addressee. However, due to the audience’s degree of advertising literacy and to the myriad ads in existence competing nowadays for our attention, this authoritative voice in ads has to be supported by borrowing from other undisputed and credible discourses in contemporary society, such as the ones pertaining to science in general and more specifically, to the areas of medicine, mathematics and ecology, among others. For the sake of empowerment, advertising, as a shady and ambiguous discourse ‘for sale’, often feels the need to be backed by forms of communicating which are undisputed and which involve an aura of inaccessibility to the layperson. Thus, for enablement purposes, traces of such pseudo-scientific sub-texts are easily found in the different semiotic codes available to advertising: pictures, copy, paratext and audiovisual elements. In this paper, we will highlight instances where ads resort to the use of more or less overt hints of (a) medicine and medical speech, (b) mathematics and mathematical jargon and (c) environmentally-friendly forms of address, in an effort to better convince audiences of the underlying scientific basis of the arguments presented. Increasingly more, ads target both heart and mind (i.e, emotion and reason), in an effort to convince audiences that both affectively and rationally, the product or service that is being put forward is indeed the best choice at all levels. For the purposes of this presentation, we will be focussing on the specific case of magazine advertisements where such approaches can be found, which means that special attention will be given to elements normally present in such specimens: illustration and copy. These elements will be closely scanned, using discourse analysis methods, so as to detect the specific forms these occurrences may assume. The sample will be chosen from randomly selected magazines from the period between July and September 2016.

DISCURSOS PRESIDENCIAIS NA AMÉRICA LATINA: POPULISMO,

CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE SI E A RECORRÊNCIA AO PATHOS

Ernani Cesar de Freitas Iverton Gessé Ribeiro Gonçalves

Universidade de Passo Fundo

O presente trabalho se propõe analisar os discursos presidenciais de

importantes figuras de governo da América Latina, com o objetivo de verificar as

marcas que convergem para o populismo. Para tanto, selecionamos

pronunciamentos oficiais de Dilma Roussef (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina)

e Evo Morales (Bolívia) como corpus dessa pesquisa. O trabalho realiza uma

interface teórica, partindo da Semiolinguística, de Charaudeau (2008a, 2008b),

através dos circuitos interno e externo do ato linguageiro e das implicações sobre

o discurso político relacionando, no campo do dizer, às trocas simbólicas e ao

poder simbólico, de Bourdieu. Ainda recorremos ao sentido da política, em

Hannah Arendt (2002), e às proposições de Habermas (1997) sobre esfera

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pública e democracia. Os procedimentos metodológicos são de ordem qualitativa

e método descritivo e bibliográfico. Assentindo ao postulado de Charaudeau

sobre a dramatização existente no discurso político, vemos que, nos discurso

presidenciais da América Latina, há uma constante que é a organização

enunciativa para as grandes massas compostas pela classe baixa e que os bens

simbólicos, evocados no circuito do dizer, repercutem no campo do fazer,

propondo um novo modelo doxal em que a noção de democracia, por vezes é

contaminada pela prática do paternalismo. As modalizações no discurso

presidencial demarcam a necessidade de conquistar o povo pelo caminho do

pathos.

O PODER DO DISCURSO DO PODER POLÍTICO

Fátima Silva Purificação Silvano

António Leal Luís Filipe Cunha

Universidade do Porto

Tendo em conta a temática geral do encontro, centramo-nos num tipo de

discurso do poder, o discurso político, em particular o discurso político do atual

Presidente da República (Charaudeau, 2005, e.o.). Partindo da análise do

discurso da tomada de posse, procuramos estabelecer em que medida algumas

marcas linguísticas deste discurso específico se manifestam também em outros

discursos do mesmo autor proferidos em diversas ocasiões. Pretendemos

verificar, deste modo, se o texto do qual partimos apresenta características

adaptadas à situação e contexto de tomada de posse ou se, pelo contrário,

apresenta características que de alguma forma se repetem e são marcas

identitárias do discurso do autor. A análise inclui dois parâmetros: as condições

de produção e a arquitetura textual (Bronckart, 1996, e.o.), no âmbito da qual se

consideram essencialmente a organização textual e marcas morfossintáticas,

semânticas e discursivas dos discursos. A título exemplificativo, observamos que

há características recorrentes como a repetição de estruturas de natureza

diversa (expressões nominais, por exemplo) que funcionam em grande medida

como estruturas caracterizadores, mas que enquadradas no texto, servem um

objetivo comunicativo mais geral. Com este estudo, espera-se contribuir para a

identificação de algumas marcas linguísticas que fundamentam a interpretação

dos discursos em causa.

SOBRE O QUE PODE E DEVE SER DITO: LIVROS, LITERATURA E LEITURA

Fernanda Correa Silveira Galli

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UNESP de São José do Rio Preto

Assim como outras pesquisas que têm circulado na mídia recentemente, a

“Retratos da Leitura no Brasil” – apoiada por entidades que se interessam por

questões relacionadas ao livro, dentre elas: o Instituto Pró-livro (IPL), a Câmara

Brasileira da Indústria do Livro (CBL), o Sindicato Nacional das Editorias de

Livros (SNEL), a Associação Brasileira de Editores de Livros (ABRELIVROS) –

discursiviza o livro como um “objeto” legitimado para leitura, de modo que os

discursos sobre leitura e literatura parecem se entrecruzar e/ou, se confundir,

especialmente quando se pensa nas relações entre o que se pode e se deve

ensinar e/ou aprender dentro da escola. Esses discursos, também presentes em

documentos oficiais de ordem – como os resultados da pesquisa “Retratos da

Leitura no Brasil”, por exemplo, e outros que lançam diretrizes, parâmetros e

orientações, especialmente para o ensino básico – tendem a afetar sujeitos e

reforçar, por meio da repetição, o imaginário construído socialmente a respeito

dos discursos sobre livros, leitura e literatura. Com base no aporte teórico da

Análise do Discurso de linha francesa, na interface com os Novos Estudos de

Letramento, proponho uma reflexão em torno das redes discursivas que se

tecem sobre livros, literatura e leitura, a partir da hipótese de que há um

atravessamento que contribui para que as redes de sentidos (sobre leitura, livros

e literatura) se entrecruzem e, nesse entrecruzamento, discursivizam o livro

como um “objeto” legitimado e a literatura como uma exigência (BLANCHOT,

2005) para a prática da leitura. Para tanto, lanço um olhar para relatos de

professores da educação infantil sobre o trabalho com a leitura em sala de aula.

Interessa-me, de modo particular, promover uma discussão sobre como as

diferentes formações discursivas (FD) se relacionam a posições ideológicas que

determinam e/ou limitam o que pode e deve ser dito (PÊCHEUX, 2009), na

ordem do discursivo, a respeito do livro, da literatura e da leitura.

O ÍNDIO COMO INIMIGO INTERNO: ARTIMANHAS DISCURSIVAS DA

POLÍTICA DESENVOLVIMENTISTA DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA E

VIOLÊNCIA AOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS

Francisco Paulo da Silva Universidade de Coimbra

Este trabalho fundamenta-se nas contribuições da Análise do Discurso, especialmente nas contribuições da arqueogenealogia de Michel Foucault para análise das relações saber-poder que engendram os discursos, com foco naquilo que no Relatório da Comissão Nacional da Verdade - CNV (Brasil) inscreve práticas de violações aos direitos dos povos indígenas durante a ditadura militar brasileira. Considera que o direito à verdade está associado às políticas da vida, e, portanto, configura-se em um problema de governo. Com base nesses pressupostos teóricos, o objetivo é analisar as artimanhas discursivas da ditadura militar na produção do índio como inimigo interno na grande arquitetura

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de seu projeto desenvolvimentista e os efeitos dessa política sobre os povos indígenas. Verifica-se no Relatório e em vários documentos consultados pela CNV a propagação, nos discursos dos agentes do Estado, dos índios como obstáculos ao desenvolvimento do país. Com essa concepção, o Estado não mediu esforços no sentido de acelerar a “integração” dos povos indígenas e colonizar seus territórios, com graves consequências sobre a vida dos índios. Assim, as conclusões e recomendações da CNV são vistas como diretrizes para a instauração da política de reparação dos direitos dos povos indígenas, logo, como condição para o exercício da governamentalidade necessária à instauração do Estado democrático de direito.

ENTRE INSULTOS E FALSAS HARMONIAS: A CONSTRUÇÃO DOS

EFEITOS DE AGRESSIVIDADE NO DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL NA

CAMPANHA DE 2014

Geovana Chiari Vanice Sargentini

Universidade Federal de São Carlos

Durante o período pré-eleitoral das eleições presidenciais brasileiras no pleito de

2014, as notícias e os comentários acerca das campanhas políticas dos

candidatos à presidência foram de que nelas se adotaram discursos agressivos,

seja nos debates, nas redes sociais, nas campanhas televisivas, ou mesmo nos

sites oficiais. Isso se deu tanto no primeiro turno quanto no segundo, entretanto,

em um quadro de disputa mais acirrada pela sucessão presidencial, o período

referente ao segundo turno, entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-

senador Aécio Neves (PSDB), foi marcado pelo confronto também dito ainda

mais agressivo e acalorado. Tendo em vista que, de forma genérica, atribuiu-se

a um e outro candidato a liderança de uma campanha marcada pela

agressividade, elegemos como objetivo deste trabalho a análise do discurso dito

agressivo, buscando compreender sua formulação e materialização no discurso

político, a qual pode se dar pelos recursos da ironia, da seleção temática, do

dizer derrisório, do escracho, da gestualidade, do tom de fala, dentre outros. O

que seria o discurso agressivo, ácido, desrespeitoso? Como ele se materializa

no discurso político? Orientados por essas perguntas de pesquisa e pelo

arcabouço teórico da Análise do discurso de linha francesa, propomos a análise

de fragmentos dos debates políticos televisivos, imagens e vídeos que

circularam nas redes sociais (Facebook, Youtube), bem como nos sites oficiais

de campanha, no período pré-eleitoral, tendo o objetivo de compreender como

se produz e circula o que, no Brasil, se denomina agressivo no discurso político

na atualidade.

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A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO SOBRE O TRABALHO INFANTIL EM MATERIAIS DIDÁTICOS PRODUZIDOS PELO MPT-CE PARA USO EM

SALA DE AULA DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Germana da Cruz Pereira Universidade Federal do Ceará

Maria Valdênia Falcão do Nascimento

Universidade Federal do Ceará

Nos dias atuais o trabalho precoce continua sendo causa premente tanto da evasão escolar como dos elevados índices de reprovação de alunos na Educação Básica. Para enfrentar esse problema que afeta tão gravemente escolas e famílias brasileiras, o Ministério Público do Trabalho (MPT) no Brasil, órgão encarregado da defesa dos direitos trabalhistas dos diversos grupos sociais, tem como parte de sua missão zelar pelo cumprimento das leis de proteção às crianças e adolescentes. No presente trabalho, destacamos, particularmente, as práticas e discursos do MPT-Ceará produzidos com o intuito de combater a Exploração do Trabalho Infantil no referido estado. Objetivamos analisar o material produzido e distribuído por esse órgão institucional nas escolas da rede pública de ensino. Visamos responder aos seguintes questionamentos: 1. o que diz a legislação brasileira sobre o trabalho infantil? 2. de que forma a escola se constitui um espaço de estudo e enfrentamento à exploração do trabalho infantil? 3. que materiais pedagógicos são disponibilizados pelo MPT-CE nas escolas de Educação Básica? 4. como esses materiais tematizam as consequências negativas do trabalho infantil na aprendizagem de crianças e adolescentes? Para lograr os objetivos propostos, tomamos como referencial teórico o trabalho de autores como Aguero (2008), Alves-Mazzotti (2001,2002), Papparelli (2001) e Patto (2000). A análise dos dados se deu seguindo o arcabouço metodológico dos Estudos Críticos do Discurso, conforme proposto por Van Dijk (2006). Os resultados das análises nos permitiram compreender como os materiais didáticos analisados regulam práticas sociais e podem ser utilizados para construir determinadas representações e produzir sentidos. Além disso, apontam para uma compreensão do objeto discursivo como uma questão social que solicita o engajamento de diferentes setores da sociedade na luta para que o país possibilite a suas crianças uma vivência saudável da infância que garanta uma formação escolar para a cidadania.

AS REPRESENTAÇÕES DOS PAPÉIS DA MULHER NO SERIADO TELEVISIVO A GRANDE FAMÍLIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO

IMAGÉTICO-VERBAL Germana da Cruz Pereira

Universidade Federal do Ceará

As séries televisivas veiculam e legitimam, utilizando seu discurso imagético-verbal, representações, reforçando papéis sociais que podem ser orientados por certas ideologias. Essa construção e propagação das representações e

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ideologias acontece por meio de estruturas linguísticas e discursivas presentes no discurso midiático e utiliza recursos simbólicos e materiais. Baseados na observação dessa abrangência midiática e nos deslocamentos discursivos no que tange às questões de gênero e, sobretudo, aos papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade brasileira, objetivamos com este trabalho desenvolver uma análise crítica do discurso imagético-verbal do seriado televisivo brasileiro A Grande Família, exibido no período de 2001 a 2014, com foco no exame da dimensão ideológico-discursiva dos papéis sociais atribuídos ao gênero feminino. Para tanto, tomamos como base os Estudos Críticos do Discurso de van Dijk (2003; 2006; 2008) e seu conceito de Ideologia, os estudos das Representações Sociais, de Denise Jodelet (2001), de Serge Moscovici (2009) e Doise (2001), bem como os estudos sobre imagem e análise fílmica de Aumont (1993) e Joly (2007), e os estudos de gênero de Scott (1995) e Buttler (2010). A partir destes autores traçamos um construto teórico-metodológico (PEREIRA, 2014) de modo a desenvolver um estudo analítico-interpretativista, de abordagem qualitativa, da categoria papéis da mulher. Por fim, podemos afirmar que o discurso imagético-verbal do seriado televisivo A Grande Família constrói e partilha papéis sociais, bem como representações, sobretudo do gênero feminino, por meio da estereotipação das personagens, pelo alinhamento de seus discursos com uma ideologia vigente nos contextos de produção e recepção da série, e pela estruturação do discurso imagético-verbal.

LEGENDS IN LIQUID MODERNITY

Giana Targanski Steffen

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira

Urban Legends (ULs) have been extensively studied by folklore studies, focusing

on the role of these texts in society. Following the early focus on orally transmitted

legends, recent research has addressed the written format of ULs on the Internet.

In this context, the present research investigates textual and contextual features

of contemporary ULs following the perspective of Critical Discourse Analysis

(Fairclough, 1989, 1992, 1995, 2003, 2004), a multidisciplinary field to the study

of texts that stresses the bidirectional relation between texts and contexts. The

texts in this study are analyzed as a type of discourse and genre, examined in

relation to specific lexicogrammatical features viz. TRANSITIVITY, MOOD and

exponents of Modality (Halliday & Matthiessen, 2004), and discussed both in

terms of their immediate context of situation and of the broader context of culture.

Besides, aspects of the representation of social practices, social actors and

legitimation are explored applying van Leeuwen’s (1996, 2008) sociosemantic

categories. In order to discuss the sociological component of language in the

data, I look at these texts as social semiotic activities in a globalized context that

Bauman has called Liquid Modernity. Results show that though relying on the

narrative structure, contemporary Urban legends can be considered a type of

hortatory discourse; the textual and contextual parameters allow the readers to

identify with the victims’ position, creating a virtual group of ‘us’ (possible victims)

versus ‘them’ (deceivers), and the mundane, daily contemporary environments

and social actions are represented as unsafe and fearful. In addition, the

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writers/senders establish a degree of intimacy with the readers, rely on a series

of legitimation techniques to manipulate belief in fabulous events and entice the

re-transmission of the texts. Furthermore, these stories can be seen as a social

practice that represents and propagates the fears and insecurities characteristic

of liquid modernity.

AS MARCAS DE PODER NA ESCRITUR(AÇÃO) DO EU

Girlândia Gesteira Santos Vânia Lúcia Menezes Torga

Universidade Estadual de Santa Cruz

Esta proposta de comunicação visa discutir o espaço autobiográfico, como o

lócus das várias vozes de um menino-narrador, que pelas memórias transcreve

os conflitos internos de um mundo que sendo seu passado, ecoa, ressoa e

reverbera o presente de nossa sociedade. Nesse sentido, alguns

questionamentos inquietam e movem a reflexão: como as marcas de poder são

percebidas na narrativa de um eu, que em sendo „eu‟ passa a expressão de um

„nós‟? Como a personagem da madrasta, empoderada por um lugar social,

marca as relações dialógicas do eu-para-mim e do eu-para-outros na obra? O

objetivo dessa proposta é o de discutir como a escrituraação querosiana em

Vermelho amargo (2011) revela e desvela as marcas de poder que nas palavras,

sentimentos e emoções do menino-narrador circunscrevem e denunciam os

modos políticos e o exercício de um poder em uma sociedade que para seus

filhos o “nascer é abrir-se em feridas”. Desse modo, as relações dialógicas que

constroem o elo entre a arte e a vida na narrativa possibilitam ao leitor transvê o

passado com a lupa do presente nos traços, imagens, verbos e silêncios que

metaforicamente vão desenhando a contemporaneidade política. Para reforçar

tal análise, trilharemos o caminho teórico-metodológico fundamentando-se nos

estudos de Bakhtin e o Círculo e em Arfuch (2010), para desvelar as marcas de

poder que circunscrevem o mundo do menino-narrador e constitui

metaforicamente o nosso próprio mundo.

O AFORIZADOR GLOSADOR DILMA ROUSSEF: EMBATES DISCURSIVOS

SOBRE AS LEXIAS “GOLPE” E “IMPEACHMENT” EM PEQUENAS

FRASES

Gleice Antonia Moraes de Alcântara Universidade Federal de São Carlos

As narrativas produzidas sobre o processo de afastamento da Presidenta do

Brasil, Dilma Rousseff, ocorrido em 17 de maio último, em sessão do senado

brasileiro ganha diariamente espaço em inúmeras mídias brasileiras e

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internacionais. Dada a grande repercussão desse acontecimento histórico

produz-se uma história da política brasileira engendrada pela maquinaria

midiática que retoma insistentemente o acontecimento por meio de enunciados

breves que são destacados, transformados e postos a circular em diferentes

cenas de enunciação. Neste contexto enunciativo, duas lexias disputam

ferrenhamente o espaço de significação do acontecimento, a saber

“impeachment” e “golpe”. Nesta comunicação, à luz das reflexões de

Maingueneau (2007, 2008, 2010, 2014), Krieg- Planque (2011, 2012), Authier-

Revuz (1998) e Austin (1962) temos como objetivo analisar as enunciações

engendradas por Dilma Rousseff sobre o processo de seu afastamento da

Presidência da República. Buscaremos, a partir de um extenso corpus,

constituído por pequenas frases que circularam em diversas mídias nacionais e

internacionais, evidenciar nesses enunciados o caráter acional do discurso

encadeado pelos desdobramentos em glosas metaenunciativas, que se impõem

em suas enunciações pelo encontro e representações da não-coincidência das

palavras consigo mesmas nas lexias “golpe” e “impeachment”, entendendo que

nessa reflexividade enunciativa acional o aforizador glosador orienta como os

enunciados devem ser interpretados pelos interlocutores. Elegemos como

metodologia analítica a categoria de percurso, proposta por Dominique

Maingueneau (2007) procurando analisar em diferentes mídias brasileiras e

internacionais a irrupção, a retomada, a transformação e circulação de pequenas

frases de Dilma Rousseff em que as glosas metaenunciativas sobre as lexias

“golpe” e “impeachment” estejam em confronto. Para tal empreendimento,

estabelecemos como recorte temporal o período de dezembro de 2015 a maio

de 2016.

REPRESENTAÇÃO E VERDADE NOS DISCURSOS PRESIDENCIAIS BRASILEIROS NA DÉCADA DE 1930

Hannah Maruci Aflalo

Universidade de São Paulo

O trabalho proposto tem por objetivo a análise da concepção de representação política presente nos discursos presidenciais da década de 1930 no Brasil. Nossa interrogação incide sobre as noções que passaram a ser amplamente aceitáveis e naturalizadas a partir do regime introduzido pela chamada Revolução de 1930. A presença do conteúdo de verdade nos discursos da época expõe a necessidade de uma substituição do falso pelo verdadeiro, o que implica o silenciamento de algumas vozes e a valorização de outras. O Governo Provisório, por ter se constituído a partir de um golpe, necessitava urgentemente de legitimação, a qual foi buscada por duas vias: o aumento da participação e a transparência das eleições. No entanto, mapeamos dois problemas em relação a essa “fórmula”: o primeiro, a exclusão dos analfabetos, que constituíam 62% da população brasileira; o segundo, é que a relativa extensão do voto não veio

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acompanhada da mesma possibilidade de ser eleito. A análise dos discursos nos leva a pensar que o conceito de representação verdadeira, embora evoque diversas vezes a ideia de democracia, foge à democratização do regime por meio de restrições. Esses impedimentos se dão no âmbito discursivo, na construção do corpo dos representados, criando um acordo sobre aqueles que devem ser excluídos - os analfabetos e, de forma indireta, as mulheres – sem ameaçar a verdade dessa representação. A construção do corpus dos representados determina quem deve pertencer a esse corpo, ou seja, quem é qualificado para conformar uma relação de representação, tendo sempre como justificativa a vontade de verdade. Dessa forma, a representação verdadeira pode ser altamente restritiva sem perder seu caráter de verdade.

O DISCURSO POLÍTICO-GOVERNAMENTAL: APELOS E ORDENS

Heder Rangel Universidade Federal de Alagoas

Refletir sobre o discurso da propaganda é tentar desvelar apelos e ordens estabelecidos na sociedade. Nossa intenção é pesquisar os sentidos que circundam a prática da propaganda em slogans do governo brasileiro, analisando uma parte específica: o modo como são desenvolvidos e apresentados esses slogans. A comunicação mostra apenas uma face: que um slogan referencia o mundo em suas diversas intencionalidades. Esta investigação ancora-se na teoria de Análise do Discurso (AD), de origem francesa (MICHEL PÊCHEUX), acrescenta diálogos com alguns teóricos que nos fazem verificar aspectos que se entrelaçam com o nosso propósito. Tais como Bakhtin, Florêncio et. al, Mészáros. Incluímos estudiosos da comunicação, da propaganda e do marketing – Figueiredo Neto, Sant’Anna, Predebon, Gracioso, Yanaze. Desejamos perscrutar esta questão por uma discussão que pode servir de paradigma a novos estudos relativos a duas grandes áreas do conhecimento social: Análise de Discurso e Comunicação para entender como se configura o discurso da propaganda – espaço de múltiplas proposições – que se faz atrelando-se aos ditames dos negócios, das organizações e funcionalidades econômicas. Nessa perspectiva, propomo-nos a alguns objetivos: possibilitar uma leitura crítica da propaganda; verificar sua forma de produção – objetividades e subjetividades, seus cursos e recursos estratégicos, persuasivos e de influência; reconhecer traços ideológicos constituintes das posições dos sujeitos; compreender sua prática como um dos sintomas do capital pelo exercício de um poder que utiliza linguagem opaca, focalizada em conflitos, contradições, encontrando terreno fértil para o próprio desenvolvimento. Sua redação discursiva caracteriza-se pela forte presença de adjetivos, palavras plenas de vários significados; intercalada por um complexo de relações verbais e não verbais interpostas socialmente – postulações que não ocorrem sem razão, sem sentido.

(AINDA) SOBRE DISCURSO, RACISMO E ABUSO DE PODER:

A RELEVÂNCIA DA FÓRMULA “CONSCIÊNCIA NEGRA” NO BRASIL

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Helio Oliveira

Universidade Estadual de Campinas

O racismo é essencialmente um sistema de dominação e de desigualdade social, de acordo com Van Dijk (2008). Ainda conforme o autor citado, essa dominação se define como um abuso de poder de um grupo sobre outro e está representada por dois sistemas de práticas sociais inter-relacionados: primeiro, as várias formas de discriminação e exclusão; segundo, as crenças, atitudes e ideologias preconceituosas e estereotipadas. Muitas vezes, o segundo conjunto de elementos é considerado como "razão" ou "motivo" para explicar ou legitimar o primeiro. A partir da problemática apresentada, este trabalho analisa o processo de constituição e a circulação da fórmula “consciência negra” no universo discursivo brasileiro contemporâneo. O corpus é constituído de textos de diversos gêneros, oriundos do campo jornalístico-informacional, e a metodologia diz respeito aos procedimentos teóricos e analíticos da Análise do Discurso (AD), especificamente aos relativos à noção de fórmula discursiva tal como propõe Krieg-Planque (2009). O objetivo é analisar em que medida “consciência negra” funciona como um “lugar” privilegiado para compreender a forma como os diversos atores sociais organizam, por meio dos discursos, as relações de poder e de opinião. Por meio de seu funcionamento como referente social, a fórmula se apresenta como um foco de discursivizações, ou seja, ela mobiliza posicionamentos em confronto. Dessa forma, “consciência negra” se constitui como participante essencial do debate sobre o racismo no Brasil e contribui para a emergência de um discurso que legitimamente represente as demandas do movimento negro, reconhecido como tal por esse movimento. Pesquisa desenvolvida com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (proc. 2015/19670-1).

FAZER FALAR E FAZER CALAR: RELAÇÕES DE PODER EM UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO DISCURSO DE LIBERDADE DE

EXPRESSÃO

Hulda Gomides Oliveira Universidade Federal de São Carlos

Esta reflexão compõe a nossa pesquisa de doutorado, que se encontra em desenvolvimento no Brasil e que se intitula “Discurso, sujeito e liberdade de expressão: da ágora ao agora - a idade da mídia”. Propomos por ora uma análise de diferentes formas de fazer falar e fazer calar, que historicamente se materializam em dispositivos de controle do que pode ou não ser dito. Considerando o panorama teórico da Análise de Discurso, fundamentamo-nos no pressuposto de que não existe plena liberdade de expressão (PÊCHEUX 1971: 2011). Nem a contemporaneidade ocidental (globalizada e cheia de mídias acessíveis e alternativas às hegemônicas) nem a democracia grega oferecem espaços do livre pensar e expressar, pois, a despeito das resistências, persistem condições históricas de interdição (FOUCAULT 1970: 2009). Levando em conta, entretanto, que os sistemas democráticos sempre apregoaram a liberdade de expressão como garantia fundamental, interessa-nos ressaltar relações de poder entre o falar e o calar. Para isso, apresentamos aqui dois espaços de análise,

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que funcionam como recorte da grande rede de discursos que sustentam um imaginário de que somos livres para nos expressar: a) trechos de leis que surgiram como garantia de tal “direito à fala”; e b) elementos de redes sociais em que circula o lugar-comum de que os meios virtuais são um espaço onde “tudo pode ser dito”.

HEGEMONIA DO DISCURSO CIENTÍFICO CONTÁBIL NO BRASIL

Iracema Raimunda Brito Neves Aragão Universidade Estadual de Feira de Santana

Gilberto de Andrade Martins Universidade de São Paulo

O objetivo desta pesquisa foi conhecer especificidades do discurso subjacente às publicações da área contábil a fim de verificar como elas contribuem para o que poderíamos chamar de cultura escrita da área. Secundariamente, buscamos conhecer as identidades/ideologias que emergem da política editorial do contexto da investigação, Revista Contabilidade e Finanças (RC&F) e as decorrentes de instituições e fontes de pesquisa representadas pela visão de mundo dos pesquisadores que exercem influência intelectual sobre a concepção de ciência traduzida no periódico. A investigação se fundamentou na visão tridimensional de discurso da Análise do Discurso (AD) de tradição anglo-saxônica de Fairclough (2008) – texto, prática discursiva e prática social. O corpus examinado foi selecionado dos 355 artigos publicados nos últimos 15 anos da RC&F online: primeiro, identificamos a linha de pesquisa hegemônica (Linha 2 – Contabilidade para usuários externos), em seguida, identificamos agrupamentos em função da Abordagem Temática (AT) para determinar proximidade ideológica dos textos. Os resultados revelaram que o discurso emergente dos artigos possui léxico técnico fundamentado na área Contábil e afins, Administração e Economia, além da Matemática, Estatística e do Direito. Há prevalência de termos com polaridade semântica positiva, estrangeirismos e fragilidade no emprego de alguns argumentos de coesão textual. Focamos os operadores de argumentação para identificar a contribuição dos autores diante das assertivas. Detectamos superficialidade crítica e reflexiva, apoio contínuo em intertextos que acabam por silenciar e homogeneizar o discurso de ideologia normativista e técnica, pouco ou nada interdisciplinar, com tímida potencialidade de provocar inquietações ou trazer efetivas contribuições à cultura escrita da área. O texto com prática discursiva e social gera uma hegemonia fundada no silenciamento dos pesquisadores, e conseguinte reprodução e pactuação com o óbvio, distanciamento de teorias e fuga da criticidade e da realidade social circundantes. Tal fato é ratificado na opinião estabelecida pelos editores de periódicos da área.

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O PODER DA PALAVRA: A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DAS EMOÇÕES

NO QUADRO DE UMA CONSULTA REFERENDÁRIA

Isabel Fuzeta Gil Universidade Católica Portuguesa / C.E.L.G.A

A atividade argumentativa é, reconhecidamente, permeada pelas emoções. As

emoções têmm sido nos últimos anos objeto de renovado interesse por parte das

modernas teorias da argumentação. Na senda dos estudos de Christian Plantin

(2000, 2002, 2011) e Raphaël Micheli (2007, 2008, 2010), é nosso propósito

destacar as estratégias de “patemização” delineadas com vista a agir sobre um

Outro; nesta dimensão discursiva de um FAZER FAZER, interessa-nos

descrever os modos de semiotização das emoções, assinalando ainda que as

emoções são elas próprias constituídas em objetos de discurso e passíveis de

serem argumentadas. Tal questão é indissociável da construção discursiva dos

actantes no discurso, a ser contemplada também nesta análise. A partir de um

corpus de textos de opinião (cujos autores se posicionam ideologicamente como

opositores) publicados na imprensa aquando da campanha que antecipou uma

consulta referendária (para manutenção ou alteração do prazo legal para abortar

e enquadramento legal para o fazer), a qual potenciou momentos fortemente

agónicos, dar-se-á particular enfoque às dimensões enunciativopragmática e

configuracional dos discursos, de modo a salientar a estruturação argumentativa

e o modo como as emoções são mobilizadas, convocando outras vozes e outros

discursos no exercício da influência através da palavra.

REFERENCIAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO DISCURSIVA: CONSTRUÇÃO

DO(S) SENTIDO(S) NO DISCURSO DE PRESIDENCIÁVEIS NO TWITTER

Jaqueline Barreto Lé Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas contribuições teóricas mais

recentes sobre a natureza multifuncional das expressões referenciais, levando

em conta, sobretudo, o seu papel argumentativo no processamento discursivo.

Para tanto, serão abordados os processos de referenciação indireta no gênero

digital Twitter, nas esferas política e publicitária, considerando o seu caráter

interativo e os mecanismos argumentativos presentes na ativação dos objetos

do discurso. A esse respeito, Koch (2001:76) assinala que, ao se colocar em

ação a estratégia de descrição definida, “opera-se uma seleção, entre

propriedades passíveis de serem atribuídas a um referente, daquela(s) que, em

dada situação discursiva, é (são) relevantes para o locutor, tendo em vista a

viabilização do seu projeto de dizer.” Desse modo, assumindo tal perspectiva na

análise textual/discursiva do domínio político, entende-se que a argumentação

também pode ser acionada, reforçada e reestruturada por meio de estratégias

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referenciais. Em outras palavras, a ação de “referir” e construir um dado objeto

do discurso é motivada, em última instância, pela imagem referencial que o

falante pretende levantar e ativar discursivamente. O corpus deste estudo é

composto por textos de candidatos brasileiros presidenciáveis nas eleições de

2014 (Dilma Roussef, Aécio Neves, Marina Silva, Luciana Genro e Eduardo

Jorge), em sua página oficial no Twitter, no período de setembro a outubro,

sendo analisado um total de 200 tweets. A pesquisa se insere na linha teórica da

Linguística Textual, com foco na relação entre gênero discursivo, argumentação

e referenciação. Serão de especial interesse, aqui, os trabalhos desenvolvidos

por autores como Bakhtin (2003), Marcuschi (2005, 2008), Apothéloz e Pekarek

Doehler (2003), Mondada e Dubois (1995), Bazerman (2005, 2011) , Koch (1998,

2001, 2006), entre outros.

AS REPRESENTAÇÕES ACERCA DO ABORTO POR POLÍTICOS

BRASILEIROS

Jaqueline Coêlho Suassuna Universidade de Brasília

As audiências públicas interativas que são objeto deste trabalho são eventos que

visam ao debate acerca de sugestões legislativas propostas por membros da

sociedade civil e que acontecem no Senado Federal brasileiro. Importa a este

trabalho o debate acerca da sugestão nº 15, de 2014 que visa regular "a

interrupção voluntária da gravidez, dentro das doze primeiras semanas de

gestação, pelo sistema único de saúde” (SENADO FEDERAL, 2015). O objetivo

deste trabalho é compreender as representações sociais acerca das mulheres

que abortam, representações que são construídas nos discursos de políticos

participantes das cinco primeiras audiências sobre o tema. As representações

sociais expressam aqueles que tem poder para as forjar e definir de maneira

específica o objeto por elas representado e, no caso deste trabalho, ajuda a

compreender como a realidade do aborto é construída por políticos que debatem

nas audiências sobre o tema. Aliada à Teoria das Representações Sociais, a

Análise de Discurso Crítica é utilizada como aparato teórico-metodológico, pois

entende o discurso das audiências como um momento da prática social que

pode, por meio de investidas ideológicas, criar e/ou sustentar relações de poder

dos políticos entre si e dos políticos com a população fora do parlamento. A maior

parte dos políticos participantes das audiências analisadas é contrária à

sugestão legislativa e construiu seus argumentos baseada nas representações

de que as mulheres que abortam o fazem por falta de informação, induzidas por

movimentos que lucram com a prática do aborto ou por libertinagem. É comum

o uso de argumentos religiosos e com de caráter de conversão que

compreendem a maternidade por meio da gestação como essência do que é ser

mulher e que o aborto é a negação dessa essência, além da contestação das

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taxas de mortalidade materna, entendidas como objetos de manipulação por

grupos interessados no aborto.

AS RELAÇÕES DE PODER EM SALVADOR NO SÉCULO XVII: UM GESTO DE INTREPRETAÇÃO DE JOSÉ ALENCAR

João Antonio de Santana Neto Universidade do Estado da Bahia

Nesse trabalho, tem-se por objetivo aplicar pressupostos teóricos da Análise de Discurso filiada a Pêcheux com vistas a estudar a cidade do Salvador em uma perspectiva discursiva. Entre os pressupostos teóricos, destacam-se formações ideológica e discursiva, interdiscurso, memória discursiva e arquivo, sujeito. O corpus selecionado para esse trabalho é composto por recortes do primeiro capítulo do romance As minas de prata de José de Alencar (1865), uma vez que nesse trecho da obra são apresentadas as relações de poder, em uma narrativa complexa, que se reporta ao ano de 1609. Alencar, enquanto formulador, é interpelado pela ideologia e é assujeitado à língua, para se constituir, em um sujeito que se filia a uma formação discursiva e exerce a função-autor, expressando um gesto de interpretação literário, o qual está vinculado à formação ideológica definida por Martius e, consequentemente, à formação discursiva do romantismo, que busca desenvolver a tarefa nacionalista de cunhar uma identidade nacional e perpetuar a história pátria na criação dessa imagem exemplar. Nessa perspectiva, Alencar, enquanto formulador do discurso, apresenta uma identificação plena com a forma-sujeito universal da formação discursiva a que se filia. Para realizar esse gesto de interpretação literário, Alencar valeu-se do arquivo (memória institucionalizada), composto pelos livros de história e pelas crônicas coloniais, realizando referências no corpo do texto e em notas de rodapé. As consultas ao arquivo são fruto de uma interpelação ideológica com vista à reconstituição ficcional da sociedade colonial brasileira e suas relações de poder no início do século XVII.

OS DISCURSOS DE (DES)LEGITIMACÃO NOS COMENTÁRIOS DE UMA

NOTÍCIA POLÍTICA: O CASO DE DILMA ROUSSEFF NA ONU

(José) Cláudio Vasconcellos Universidade Estadual de Campinas

Na atualidade, o comentário na internet é uma ferramenta discursiva que nos parece ser bastante democrática e que é utilizada pelos internautas para expressar seus pensamentos, valores e fazer julgamentos sobre tudo que se lê, vê e assiste na web e fora dela. A internet virou uma espécie de arena discursiva, onde os participantes “jogam” um tópico conversacional e as disputas de verdade são lançadas. É notável que as interações digitais por meio dos comentários de internet mudaram completamente o cenário das redes sociais no Brasil (VASCONCELLOS, 2015). A revista Fórum é um exemplo dessa transformação. Fundada em 2001, em Porto Alegre, tem como descrição ser uma “[...] revista

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que tem no seu DNA a força dos movimentos e a certeza de que é na multiplicidade de vozes que se faz um mundo melhor.” A revista conta com uma versão somente online e mantém um contato com seus leitores por meio de perfís nas redes. Pensando-se nessas mutações e tendo como corpus de análise os comentários postados no Facebook e no site da revista Fórum, esta comunicação tem como objetivo analisar os processos de (des)legitimação social mobilizados em torno dos comentários sobre a notícia: “Dilma na ONU: Nosso povo é trabalhador e saberá impedir qualquer retrocesso.” Considerando a teoria da legitimidade cultural (LAHIRE, 2006), analisaremos todos os comentários gerados a partir desta. Neste trabalho consideramos estas práticas sociais (HANKS, 2008) como disputas por legitimação das representações da fala da presidenta Dilma Russeff na ONU em Nova Iorque para assinar o acordo de Paris logo após a votação do impeachment passar pela câmara dos deputados. As análises nos mostram que os comentaristas articulam suas reflexões pautados em modelos cognitivos idealizados (LAKOFF, 1990) e na teoria da recursividade da língua (LUCY, 1993).

DISCURSO POLÍTICO, MEDIAS SOCIAIS E PODER: O USO DO

FACEBOOK E DO TWITTER NA CONSTRUÇÃO DO ETHOS POLÍTICO DO

GOVERNADOR DO MARANHÃO, FLÁVIO DINO

Josenilde Cidreira Vieira Universidade do Porto / Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Maranhão

A sociedade contemporânea, que se conecta em rede, caracteriza-se pela “possibilidade de interação, acesso, produção e troca de informações. Essa dinâmica tem se refletido em todo processo de comunicação humana e neste caso particular, na política”. Levy, (1999, p.190). No caso do Brasil, desde 2010, muitos políticos passaram a utilizar essa inovação nas campanhas eleitorais, mais recentemente, as redes sociais Twitter e Facebook. O discurso político, por sua vez, dedica-se a construir imagens de atores (ethos) e usar estratégias de persuasão e de sedução (Charaudeau, 2015, p. 40). Dessa forma, quando se pronuncia um discurso, age-se sobre o mundo, demarca-se uma posição e disso decorre uma relação de poder. Para efeito deste trabalho, entendemos poder como " [...] uma característica da relação entre grupos, classes ou outras formações sociais, ou entre pessoas na qualidade de membros sociais [...]" (Van Dijk, 2008, p. 41). Assim, esta comunicação pretende analisar a construção do ethos político de Flavio Dino, governador do Maranhão a partir das estratégias de persuasão e de sedução utilizadas no Facebook e Twitter, para estabelecer relações de poder nessas redes sociais. O corpus de análise é constituído por 50 posts e 50 tweets. A metodologia do trabalho consiste na seleção do corpus e na análise do conteúdo linguística.

NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A FORMAÇÃO

DOCENTE: NOVOS DISCURSOS?

Jozanes Assunção Nunes Universidade do Porto

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Este trabalho faz parte de nossa pesquisa de doutorado que objetiva

compreender as relações de sentido entre os discursos dos professores que

integram o Núcleo Docente Estruturante de cursos de Letras de uma

universidade pública brasileira, atuantes no processo de reestruturação dos

cursos, e os discursos oficiais da educação que dispõem sobre a reestruturação

curricular de cursos de licenciatura. O Núcleo Docente Estruturante é constituído

por um grupo de professores, com atribuições de formulação e

acompanhamento do Projeto Pedagógico de um curso de graduação,

formalmente indicado pela instituição. Como parte da pesquisa que

desenvolvemos, está a análise de Diretrizes Curriculares Nacionais, elaboradas

com objetivo de orientar as reformas curriculares nos cursos de licenciatura. Com

base nos pressupostos teórico-epistemológicos e metodológicos do Círculo de

Bakhtin e da Análise Dialógica do Discurso, subsidiada nos mesmos

pressupostos, analisamos, neste trabalho, a dialogicidade entre as novas

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos

Profissionais do Magistério da Educação Básica, aprovadas em 2015 e as

Diretrizes que foram revogadas, formuladas em 2001, no que diz respeito ao

discurso das dimensões teoria e prática na formação docente. Partimos do

pressuposto bakhtiniano de que entre o discurso e seu objeto interpõem-se

discursos alheios e que o discurso se entrelaça com interações complexas

enquanto o objeto está penetrado por apreciações de outros. A análise dialógica

do discurso das novas Diretrizes nos conduz ao entendimento de que, ao garantir

tempo e espaço próprios para realização da dimensão prática, os enunciadores

do documento acabaram reforçando a dicotomia entre a teoria e a prática, assim

como ocorre nas Diretrizes revogadas. Certificamos, conforme o pensamento

bakhtiniano, que o discurso das Diretrizes de 2015, se encontra com o discurso

das Diretrizes de 2001, interagindo com ele de uma forma viva e (in)tensa.

DISCURSO, HISTÓRIA E PODER: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE DISCURSOS POLÍTICOS EM SITUAÇÕES DE ADVERSIDADE

Leiva de Figueiredo Viana Leal

Universidade Federal de Minas Gerais

O presente artigo apresenta um estudo comparativo de duas vozes de lideranças políticas na história do Brasil: a do ex-presidente Getúlio Vargas e a do ex-presidente Lula Inácio da Silva, pertencentes a partidos de trabalhadores e colocados na condição de líderes no país. Ao primeiro, um contexto de impotência frente à condição de não governabilidade e, ao segundo, a condição de quem, fora do lugar de poder, luta pela permanência do partido na governabilidade do país. Longe de intentar proceder a uma análise histórica do que resulta desses discursos, esse estudo inscreve-se no campo da análise de

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discursos de sujeitos situados em um mesmo lugar de poder, garantidos ideologicamente por um mesmo partido político; portanto de mesmo lugar de enunciação discursiva. Para constituição do corpus serão analisados dois discursos: o discurso do ex-presidente Getúlio Vargas, expresso na sua Carta Testamento, produzida em agosto de 1954 e o discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, proferido em manifestação pública, em 18 de março de 2016, em protesto contra o impeachment da presidente atual. Do ponto de vista teórico, assenta-se na concepção de discurso político e de efeitos patêmicos de Charaudeau; na relação entre sujeito e memória de Bakhtin(1993). Assenta-se, ainda, em Amossy(2011) que, com base na Nova Retórica, coloca em debate a intencionalidade discursiva: o interlocutor visa, para além da persuasão, alterar modos de pensar, de ver, de sentir. Que vozes se manifestam nesses discursos? De que estratégias discursivas lançam mão esses interlocutores? Quando se compara um eu que se despede:” saio da vida para entrar na história”, a um outro eu que diz “Eu não sou o resultado de uma eleição. Eu sou o resultado de uma história”. há discursos, verdades e encenações. Contribuir, em parte, para a compreensão dessas categorias é a pretensão desse estudo comparativo.

O DESAFIO DA LINGUÍSTICA TEXTUAL: O TEXTO COMO EVENTO DIALÓGICO, LINGUÍSTICO-SEMIÓTICO

Lícia Maria Bahia Heine

Universidade Federal da Bahia O desafio da linguística textual (LT), o texto como evento dialógico, linguístico-semiótico, nos conduz a uma nova fase da LT, provisoriamente denominada “Fase Bakhtiniana da Linguística Textual” (HEINE, 2012). A opção por Bakhtin se justifica pelo seu aparato teórico que nos permite considerar o texto não apenas compreendido por aspectos linguístico-formais, mas também por princípios histórico-ideológicos, que lhe são constitutivos. Assim alicerçado, é possível trazer à baila algumas discussões sobre o seu sujeito, historicidade, e ideologia, pondo em foco uma nova reflexão da noção de intencionalidade a partir de duas faces, a social e suas nuances individuais. Além disso, sugerimos a ampliação da noção de referenciação que passa também a considerar os signos semióticos no processo de coesão e coerência textuais.

DO DISCURSO À IMAGEM: O ESTEREÓTIPO COMO UMA PRÁTICA DE PODER?

Ligia Mara Boin Menossi de Araújo

Marco Antonio Almeida Ruiz Universidade Federal de São Carlos

A mídia brasileira, em especial os diversos jornais e revistas, por exemplo, em decorrência dos conturbados movimentos políticos que assolaram o país nos últimos meses, produziram os mais variados tipos de discursos, favoráveis ou não, a destituição da presidenta Dilma Rousseff. Tais discursos exaltavam não

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somente os ânimos dos adversários, mas também produziram uma certa euforia àqueles que a defendiam. Sua figura tem sido cada vez mais retomada (e calcada) nesses meios de informação, trazendo, muitas vezes, afirmações que não se relacionam diretamente ao seu cargo como chefe de estado – e como consequência, avaliar suas ações – mas sim, questionando o lugar em que ela, enquanto mulher, ocupa carregando consigo traços negativos que refletem sobre sua figura política. Estes traços retomam certos juízos de valores cristalizados na memória social e corroboram para um discurso machista. Com efeito, o que se pode notar na maioria destes discursos é de que Dilma seria histérica e descontrolada, ressaltando um possível traço identitário – estereotipado – da mulher. Para pensarmos a noção de estereótipo, traremos, inicialmente, algumas considerações de Amossy e Pierrot (2005) que o definem como um conjunto de representação coletiva ou imagens cristalizadas que são compartilhadas: “o estereótipo não existe em si, não se constitui nem como um objeto palpável nem como uma entidade concreta, mas sim como uma construção de leitura” (AMOSSY; PIERROT, 2005, p. 79). Nesse sentido, para pensar tal noção, as autoras tomaram como base a linguagem verbal, todavia, convidam-nos a explorar outros campos, sobretudo, os que dizem respeito às imagens. Tomados por estas reflexões e pela proposta teórica dos estereótipos básicos e opostos perscrutada por Possenti (2010), ancorados na análise do discurso de orientação francesa, propomos, nesta comunicação, investigar como se dá a construção do estereótipo da mulher e presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, em duas revistas de circulação nacional – Época e IstoÉ – tomando a materialidade linguística e não linguística, com o objetivo de observar como certos estereótipos construídos socialmente são retomados, atualizados e (re)significados a partir de novas produções discursivas promovendo, assim, um discurso de ódio. Ademais, buscamos compreender como o discurso de uma presidenta pode ser taxado – negativamente – por meio de novos dizeres produzidos a base de pré-construídos e, com isso, pensar qual é a relação de poder (FOUCAULT, 1999) que tal produção discursiva estabelece na (des)caracterização de sua figura política.

RACISMO (DES)VELADO: LEITURA A PARTIR DA ANÁLISE DO

DISCURSO

Lilia Odete Nantes de Oliveira Nara Sgarbi

Centro Universitário do Grande Dourados O presente trabalho tem por finalidade realizar uma leitura sobre os discursos racistas como determinantes de lugares sociais. Apesar da existência de uma falsa democracia racial, enunciados com esse enfoque ainda são motivadores de pesquisas. Os lugares sociais estão pré-determinados discursivamente por meio de discursos racistas e/ou conformistas. Há no imaginário social a ilusão de poder de manutenção do status quo. Nesse sentido, a resistência a essa aparente ordem social vem demonstrar que esse poder centralizado em somente uma das partes envolvidas nesse embate, não se sustenta, pois, as partes que sempre estiveram às margens, se tornaram evidentes a partir dos estudos relacionados aos discursos e seus efeitos de sentidos produzidos. Como sujeito

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do referido estudo, utilizamos um enunciado produzido por um agente político, ocupante de um cargo de representação significativa na sociedade e tecemos a sustentação teórica a partir das orientações da Análise do Discurso de linha Francesa e da Análise Crítica do Discurso. Os autores de referência utilizados como pano de fundo, foram BAKHTIN (2002), FOUCAULT (2003), PÊCHEUX (1990) FAIRCLOUGH, (2001) e BOURDIEU (1983).

O SUJEITO POLÍTICO ELEITORAL E A CONSTITUIÇÃO DE SEU

DIZER: UMA ANÁLISE DOS DEBATES TELEVISIVOS PRESIDENCIAIS

ELEITORAIS

Livia Maria Falconi Pires Vanice M. Oliveira Sargentini

Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

O debate televisivo eleitoral configura-se como uma arena para o embate

discursivo, na medida em que se constitui como um espaço que propicia a

interlocução entre os candidatos, funcionando como mais um “palanque” da fala

pública. Assim, na esteira dos estudos atuais sobre as mutações sofridas no

modo de produção e circulação do discurso político e considerando que os locais

de pronunciamento, como a ágora clássica e a tribuna medieval, interferiram na

constituição da fala pública e a modificaram, voltamos nossos olhares para as

disposições do debate político eleitoral de segundo turno para a Presidência da

República do Brasil, os quais podem interferir na construção do discurso político

presidencial eleitoral. Apesar de sua cuidadosa construção fortemente

evidenciada na arquitetura dessa “mise en scène” eleitoral, é no debate televisivo

que os candidatos se expõem e falam de maneira mais direta aos eleitores.

Devido ao aparato audiovisual, não podemos mais dissociar o verbo do corpo

que, na atualidade, é essencial para a política, principalmente no momento de

campanha eleitoral; assim sendo, o debate eleitoral presidencial é aparato

fortalecedor do entrelaçamento de verbo e imagem. Para o presente trabalho,

portanto, apresentaremos uma análise da constituição do sujeito político eleitoral

juntamente com as mutações do gênero debate televisivo, voltando-nos aos

debates de segundo turno de pleitos presidenciais a partir da redemocratização

(1989) até a atualidade (2014), e focando-nos em categorias como “a arquitetura

do debate”, “o rosto”,“ a silhueta” e “o verbo”. Para tanto, pautar-nos-emos em

reflexões sobre os estudos da Análise do Discurso, os quais levam em conta o

enunciado sincrético em sua densidade histórica, bem como os estudos da fala

pública amparando-nos nas contribuições de J.-J. Courtine e no pensamento de

M. Foucault, focalizando, assim, a importância de se estudar os discursos em

sua articulação com a história, vista em suas descontinuidades.

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JORNALISMO CULTURAL: O CONTRATO DE LEITURA DAS REVISTAS

REVESTRÉS E SELECT

Luana Lia da Cunha Lopes Sena Paulo Fernando de Carvalho Lopes

Universidade Federal do Piauí

O presente artigo busca descrever as operações enunciativas dos processos

jornalísticos das revistas Revestrés e Select, para identificar as marcas de

funcionamento de seus contratos de leitura. Analisar o “modo de dizer” dessas

revistas é tentar identificar a relação entre o suporte e sua leitura. A metodologia

utilizada é a Análise de Discursos (PINTO, 1999), e o artigo trabalha ainda com

o conceito de contrato de leitura, desenvolvido por Eliséo Verón (2004). O corpus

para a pesquisa é composto por seis edições das revistas, que circularam no

período de seis meses, entre agosto de 2015 e janeiro de 2016. Pode-se ao final

perceber que a revista Revestrés propõe vínculos com o leitor calcados em uma

relação de amizade, a partir de um enunciador conselheiro e amigo - são

editoriais que quebram a formalidade, no que diz respeito ao estilo textual,

enquanto que a revista Select apresenta editoriais mais formais, marcados por

discursos de autoridade nos enunciados.

A RESPONSABILIDADE DO SUJEITO ARGUMENTANTE E SEU ATO ARGUMENTATIVO: DISCURSOS EM TORNO DA CRIMINALIZAÇÃO DA

HOMOFOBIA NO BRASIL Lucas Nascimento

Universidade Federal da Bahia

Todo ato é realizado por um sujeito agente, cuja ação é responsiva e inscrita em práticas sócio-históricas, sem contudo aí se esgotar, pois o sujeito possui um excedente de visão que o capacita a assumir um compromisso ético. Neste sentido, há na constituição do ato/atividade um conteúdo, um processo, um produto e um agente. Deste, diz-se que ele é ativo e relacional, porque é um eu para-si, ao mesmo tempo em que é um eu para-o-outro, estando, porquanto, a identidade no plano relacional responsável/responsivo, em que o ato do sujeito é a junção de processo e conteúdo, ou seja, do repetível e do irrepetível. Prenhes dessas noções basilares postuladas por Mikhail Bakhtin ([1920-24] 2010), em Para uma filosofia do ato, objetivamos, primeiramente, estabelecer um diálogo, em termos de coerência, complementaridade e aproximações, entre as noções bakhtinianas de ato e de sujeito com as noções perelmanianas de discurso como ato do orador (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA ([1958] 2005). Em seguida, cientes da noção que argumentar é uma forma de agir sobre o outro com a intenção de criar/intensificar a adesão acerca de uma questão, discutimos, por

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sua vez, a noção de ato argumentativo e de sujeito argumentante. O que nos leva a colocar em questão o fato de que a argumentação se distingue da demonstração, sobretudo, porque a interação entre o orador e o seu discurso é constitutiva da apreciação do sentido dos enunciados. Para efeito de análise, tomamos como objeto de estudo alguns enunciados concretos em torno do Projeto de Lei da Câmara 122/2006, o qual versa sobre a criminalização da homofobia no Brasil. Tal empreendimento analítico nos permite observar como o sujeito argumentante mobiliza os argumentos dando a eles entonações valorativas com vistas à persuasão.

MISE-EN-SCÈNE DA LIDERANÇA: UMA ANÁLISE DO PRIMEIRO DISCURSO DE MICHEL TEMER COMO PRESIDENTE DO BRASIL

Luis Henrique Boaventura

Ernani Cesar de Freitas Universidade FEEVALE / Universidade de Passo Fundo

A conjuntura política brasileira vem sendo tema recorrente do noticiário internacional nos últimos meses em função do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. O impacto de um segundo impeachment em pouco mais de duas décadas, para uma democracia jovem como a brasileira, avança sobre as fronteiras do país e alcança também o cenário político latino-americano, historicamente frágil. Nesse contexto, muito pode ser apreendido ao dar atenção à figura do líder e seu discurso aceca do porvir de seu governo e de suas visões de nação ideal. Este trabalho pretende analisar o primeiro discurso do presidente interino brasileiro Michel Temer após o afastamento de Dilma Rousseff. O corpus é a transcrição integral do discurso publicada em diversos jornais de circulação nacional. O marco teórico repousa na semiolinguística de Patrick Charaudeau, em específico nas obras Discurso político (2006) e Discurso das mídias (2010) em relação à semiotização do mundo, às visadas discursivas e à mise-en-scène. A pesquisa também fará interface com Pierre Bourdieu em O poder simbólico (1989) e A economia das trocas simbólicas (2009), além de Jürgen Habermas em Mudança estrutural da esfera pública (2003). A análise discursiva mostra Temer posicionado como líder em seu primeiro discurso enquanto presidente interino e realizando uma semiotização de mundo conveniente às suas condições de governo, mediante uso de palavras-chave como “confiança” e repetidamente do verbo “trabalhar”, além da apropriação de símbolos nacionais como o lema da bandeira, configurado em lema de governo.

LÍNGUA, CORPO E VOZ NO DISCURSO POLÍTICO LATINO-AMERICANO: PROPRIEDADES E TRANSFORMAÇÕES DAS MANIFESTAÇÕES DE

REPRESENTAÇÃO POLÍTICA

Maísa Ramos Pereira Universidade Federal de São Carlos

No presente trabalho, parte de nossa pesquisa de doutoramento em Linguística, apresentamos como tema de discussão uma tendência à eleição de presidentes que de alguma forma se assemelham ao povo que representam, na América

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Latina. Tratamos sobre um fenômeno político emergente relativo à eleição e tomada de poder por representantes que rompem com um corpo político padrão hegemônico. O corpo “masculino, branco, heterossexual” (Coulomb, 2011) tem, em certa medida, sua hegemonia desestabilizada com a assunção de presidentes oriundos de camadas populares, mais próximos àqueles que dizem representar. Como casos emblemáticos dessa tendência, podemos citar Evo Morales, líder sindical cocalero e primeiro presidente indígena da Bolívia; e, Lula, o presidente operário do Brasil, cuja sucessora é a primeira mulher a chegar à presidência no país, Dilma Rousseff. Com base em teorias discursivas derivadas das reflexões de Jean-Jacques Courtine e em estudos das Ciências Políticas sobre a questão da legitimidade democrática, visamos analisar pronunciamentos proferidos pelos presidentes latino-americanos Lula da Silva e Evo Morales, que evoquem uma suposta identificação com o povo que representam como fator de legitimidade para seus dizeres políticos, destacando como encarnam e materializam língua, corpo e voz de seus representados. Tomamos como corpus falas públicas dos referidos presidentes em ocasiões especiais: 1º de maio e Ano Novo Aymara, no Brasil e na Bolívia, respectivamente. A emergência de gestores representativos de maiorias minorizadas permite-nos observar o quão excludente é o regime “democrático”: passaram-se séculos até que pudessem chegar à presidência representantes com características de segmentos sociais historicamente excluídos do gerenciamento dos Estados. Não seria o povo que supostamente poderia exercer sua soberania sob a democracia? Com base nessas reflexões e indagações, investigamos novas modalidades de representação política, considerando deslizamentos, continuidades, deslocamentos e rupturas em relação a um padrão de sujeito político outrora hegemônico e (im)posto como neutro.

DA DECLARAÇÃO À IDENTIFICAÇÃO: OS DISCURSOS DE DILMA ROUSSEFF PÓS-IMPEACHMENT

Marco Túlio Pena Câmara

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Em maio de 2016, a presidenta Dilma Rousseff teve seu mandato interrompido, temporariamente, após aprovação do processo de impeachment pelo Senado Federal. Na ocasião, Dilma realizou uma declaração à imprensa e, em seguida, dirigiu-se aos manifestantes que a apoiavam, em um tom intimista, firmando um processo de identificação com o público. Para Charaudeau, a instância política é composta por diversos status, situações e organismos. Nos discursos em análise, Dilma se porta com o status de presidenta, na situação de afastamento, através dos organismos jurídicos e midiático. Os discursos de Dilma são inteiramente dialógicos, pois se estabelecem em relação a discursos anteriores. Dessa forma, o presente artigo objetiva analisar e tentar compreender como se deram essas marcas discursivas e o papel delas na construção e proferimento dos referidos discursos, marcados por interdiscursos, retomando opiniões alheias. As análises foram baseadas em autores que refletem o discurso político, o discurso de outrem e a situação de comunicação, a partir dos discursos transcritos com termos utilizados pela presidenta afastada, desde o cumprimento

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ao público até a defesa de ataques anteriores. Para a análise de discursos políticos, deve-se levar em consideração o contexto no qual ele foi criado, o meio em que está sendo proferido, para qual público ele se destina e a finalidade dele. Mais que simples discursos políticos, a pesquisa verificou maior posicionamento de autoridade, quando Dilma se dirige aos jornalistas, e de identidade, aos manifestantes. Apesar de estar em um mesmo contexto comunicacional e da semelhança de conteúdo, os discursos carregam características e estratégias distintas, marcando a diferença de como a presidenta afastada se comunica com seus interlocutores. Tais especificidades foram demarcadas por marcas discursivas aliadas à finalidade de cada discurso, corroborando com a ideia de Bakthin, pois a finalidade que o contexto narrativo pretende alcançar é parte fundamental na produção discursiva.

O FUNCIONAMENTO DO ETHOS E DO ANTIETHOS NO DISCURSO

POLÍTICO ELEITORAL PRESIDENCIAL BRASILEIRO

Maria Célia Cortêz Passetti Universidade Estadual de Maringá

A proposta deste trabalho é mostrar o funcionamento do ethos e do antiethos no

discurso político eleitoral brasileiro, em que a instância adversária (Charaudeau,

2006) se põe, em nosso ver, de forma constitutiva. Partindo dos princípios

discursivos ensinados por Pêcheux e Fuchs (1975) no tocante às relações

imaginárias, resgatamos rapidamente os avanços teóricos na concepção

discursiva do ethos (Maingueneau (1998, 2000, 2002, 2008 e 2014) e mostramos

a necessidade de situar sua problemática, também como o faz Maingueneau,

em relação às coerções da cena enunciativa (englobante, genérica e da

cenografia), mas destacamos a necessidade de se trabalhar com todo o

processo discursivo imaginário centrado no “eu” para se chegar ao ethos como

produto resultante dessa cena, em âmbito textual-discursivo. O corpus é formado

por recortes de sequências discursivas extraídas de propagandas eleitorais

televisivas nas campanhas das eleições presidenciais brasileiras de 2010 e

2014, nas quais estiveram envolvidos os sujeitos políticos Dilma Rousseff, do

Partido dos Trabalhadores, como candidata da situação em 2010 e 2014 e José

Serra e Aécio Neves do Partido da Social Democracia Brasileira,

respectivamente em 2010 e 2014, como candidatos da oposição.

Metodologicamente relacionamos a imagem de si a todo esse complexo jogo

imaginário centrado no “eu”, em função das diferentes coerções que cada cena

enunciativa impõe aos sujeitos nela envolvidos. Os resultados nos levam a

concluir que a produção do ethos, enquanto parte integrante das coerções de

uma da formação discursivo-ideológica, depende ainda do envolvimento do(s)

interlocutor(es), na des(construção) ou reforço do ethos ou do antiethos e, no

caso do discurso político, a instância adversária pode se transformar em

“referente”, o qual a produção direta ou indireta de antiethos está a serviço da

produção simultânea ou do reforço do próprio ethos.

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DIMENSÕES DA JUSTIFICAÇÃO NO DISCURSO DO PODER

LEGISLATIVO: UMA ABORDAGEM DIACRÓNICA

Maria Clara Barros Universidade do Porto

Pretendo analisar, em textos legislativos de sincronias diferentes da língua portuguesa, alguns aspetos de uma evolução observável no modo como o discurso do poder legislativo justifica as disposições jurídico-legislativas, sobretudo quando apresentam enunciados que contêm atos de discurso com valor de justificação. Numa perspetivação comparativa e diacrónica procederei ao confronto de textos jurídicos medievais da legislação de Afonso X (como as versões portuguesas da Primeyra Partida e do Foro Real) com textos legislativos portugueses contemporâneos. Tentarei mostrar que nos textos legislativos medievais, além da maior extensão dos segmentos justificativos, há também uma estruturação discursiva que recorre a argumentos de autoridade. Nos textos da legislação de Afonso X é veiculada legislação régia e o Locutor, designado pela primeira pessoa “nós”, está identificado com o rei, detendo um poder inerente a esse estatuto. Não deixa de reafirmar o seu estatuto de autoridade e a conveniência da ação legislativa régia e afirma a necessidade pragmática da existência da justiça pelo seu efeito favorável que é identificado eticamente com o Bem Comum. Em contraste, o discurso legislativo contemporâneo apresenta-se em 3ª pessoa e esta não designa nenhum sujeito individualizado. O direito está estabilizado, sedimentado em instituições plurisseculares e os direitos fundamentais já estão assegurados, sendo a legislação nova geralmente conjuntural, ‘ao sabor dos tempos’, e sobretudo casuística. A alteração legislativa vai frequentemente no sentido de dar maior poder às partes envolvidas, conferindo-lhes uma maior participação nos processos. Noutros casos, a reformulação vai no sentido de concentrar o poder nas instituições, dando maior ênfase à gestão da aplicação da lei, às formalidades e ao poder de gestão que pode consistir até na simplificação dos procedimentos. Quando há alterações legislativas, na nova versão dos códigos figura um Preâmbulo inicial, de dimensões reduzidas, em que as novas disposições são objeto de explicação. Os preâmbulos têm extensão variável, mas sempre diminuta em relação ao texto legislativo em que se integram. Nas formulações legislativas contemporâneas não há um discurso de legitimação do poder. É menor a dimensão dos segmentos justificativos, frequentemente reduzidos a breves considerações iniciais que enumeram e explicam o que a nova disposição legislativa acrescenta ou substitui no código.

DISCURSO, ALTERIDADE E RELAÇÕES DE PODER:

QUESTÕES (EM REDES) SOCIAIS

Maria da Glória Corrêa Di Fanti

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

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Na atualidade, em que as redes sociais fazem parte do cotidiano de grande parte

da sociedade, faz-se necessário problematizar a relação eu / outro bem como

relações de poder engendradas nas práticas discursivas. O que se percebe é

que nas redes sociais são materializadas variadas formas de se relacionar

consigo mesmo e com o outro, seja na exposição pessoal e/ou do outro, seja no

modo de acessar/consumir os acontecimentos e notícias dos mais diferentes

temas e lugares. Nesse cenário, as redes sociais, em especial o Facebook,

emergem como um espaço privilegiado de produção, circulação e recepção de

discursos, instigando distintas investigações, que não podem deixar de tocar na

dinâmica relação entre linguagem e poder. O propósito desta reflexão é

problematizar, via teoria bakhtiniana, a relação eu / outro, observando

características do tenso diálogo de vozes que constitui a tessitura do discurso

bem como posições valorativas assumidas nas trocas interlocutivas (Bakhtin,

2010, 2011; Vološinov, 2010). Para tanto, são analisados discursos veiculados

no Facebook que apresentem diferentes relações de alteridade, de modo a

desenvolver reflexões que possam contribuir, por um lado, para o entendimento

da (re)produção de práticas sociais e, por outro, para discussões acerca de

desafios e perspectivas que se impõem aos estudos do discurso na

contemporaneidade.

CATEGORIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA IMAGEM SOCIAL DE REPRESENTANTE POLÍTICO: UM ESTUDO SOBRE A FACE DA

PRESIDENTE DILMAEM CHARGES DE GILBERTO ZAPPA

Maria da Penha Pereira Lins Universidade Federal do Espírito Santo

Bharbara Bonelle de Sousa

Universidade Federal do Espírito Santo O presente estudo procura, por meio da análise de charges políticas com foco em representante presidencial, observar como o processo de categorização/ recategorização de objeto de discurso pode contribuir na construção da representação da imagem social. Nesse sentido, centramos a atenção na intenção do criador das charges e em como este intenciona construir a face da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, a partir do uso de atos de polidez/ impolidez. Toma-se como base, então, a noção de referenciação, no sentido de verificar como o processo referencial contribui na construção da face, bem como sua relação com a imagem social. Para tanto, apoiamo-nos em Koch (2008, 2011, 2012), Cavalcante (2014) e Mondada e Dubois (2003)no que diz respeito a referenciação e construção do objeto de discurso, além das contribuições teóricas de Brown &Levinson (1975) e Goffman (1980, 1992) a fim de entender as questões relacionadas à imagem social.

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A INTERAÇÃO JORNALISTA E ALIADOS POLÍTICOS NO GOVERNO

DILMA ROUSSEFF: PAPÉIS E MÁSCARAS DO OFF

Maria da Penha Pereira Lins Universidade Federal do Espírito Santo

Rosani Muniz Marlow

Universidade Federal do Espírito Santo

Diariamente, a editoria política do jornalismo impresso reserva espaços razoáveis para a veiculação de notícias das esferas governamentais, especialmente a federal. Esta pesquisa pretende evidenciar as informações prestadas, na condição do off, por aliados políticos, aos quais cabe a responsabilidade de representar ou assessorar personalidades do poder público na interação com profissionais do jornalismo que, por sua vez, ocupam uma posição de interlocução em relação ao cidadão, leitor e consumidor do jornal. Foram analisados fragmentos de notícias políticas de A Tribuna, jornal do Estado do Espírito Santo, em dois períodos: novembro de 2012 a fevereiro de 2013 e novembro de 2014 a fevereiro de 2015, os quais antecederam e procederam à posse de eleitos em cargos públicos. O conteúdo desses fragmentos de notícias são declarações à imprensa originadas de aliados políticos em off e com referências à presidente Dilma Rousseff. Os teóricos da Pragmática que contribuíram com a pesquisa são Grice ([1975] 1982) e Goffman (1995). O primeiro, para explicar uma aparente quebra do Princípio da Cooperação, bem como para entender como se opera a compreensão de sentidos implicados e inferidos para expressões e jargões reconhecidos no linguajar jornalístico como próprios de fontes não reveladas. E o segundo, à luz da Teoria das Faces, para analisar o discurso de aliados políticos que, tendo estes a sua face preservada pelo off, podem se valer da visibilidade de um veículo de massa para interesses particulares ou próprios daqueles a quem assessoram. Ainda, interessa compreender como as declarações em off, de aliados de direita ou esquerda, se comportam em relação à face da presidente Dilma Rousseff. Outros estudiosos, das esferas jornalística e política, como Lage (2005) e Chaparro (1994), auxiliaram para o entendimento de particularidades do cenário e da atuação dos atores sociais num contexto de jogo de interesses e disputa pelo poder.

A (DES)ORDEM DO MUNDO NA ORDEM DO ESPELHO

Maria Rachel Fiúza Moreira Universidade Federal de Alagoas

Nosso trabalho está baseado nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso (AD), e analisa os efeitos de sentidos nos espelhos do Jornal Nacional, programa jornalístico apresentado diariamente na Rede Globo de Televisão. O corpus analisado se constitui de quatro semanas de telejornal, entre os meses de junho, julho e agosto de 2015, disponíveis no site Globo.com. Além

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de estar embasado em autores da AD, entre os quais Pêcheux, Orlandi e Maldidier, nosso percurso teórico inclui ainda estudiosos do jornalismo, como Paternostro, Rezende, Traquina e Lage. Com isso, buscamos compreender as condições de produção do discurso jornalístico na televisão brasileira, ou seja, do telejornalismo. Em nosso gesto de interpretação, analisamos como os espelhos - sequenciamento das notícias no telejornal - produzem sentidos a partir daquilo que apresentam e que silenciam, no tocante ao arranjo jornalístico. Partindo da perspectiva de que o telejornal é um espaço diário de construção de sentidos, negando, assim, o entendimento de um discurso jornalístico imparcial e transparente, compreendemos que o sujeito desse lugar de análise se constitui nas práticas sócio-históricas e nas lutas ideológicas de uma determinada formação social. Logo, todo discurso está entrelaçado nas relações sociais e são essas relações que sustentam seus efeitos de sentido. A partir das leituras, discussões e análises realizadas, foi possível compreender, dentre outros aspectos, que a organização e funcionamento dos espelhos dos telejornais estão relacionados a práticas dos sujeitos jornalistas que ocupam uma determinada posição na sociedade e que, a partir desse lugar, assumem uma posição ideológica no cenário discursivo dos telejornais.

O CORPO ARREGIMENTADO: VIA DE NASCIMENTO E DISCURSO MÉDICO

Maria Ribeiro Thiago Pierangelo

Universidade de São Paulo O presente artigo integra o grupo de estudos dedicados às consequências biopolíticas de um certo discurso médico e institucional ocupado em colonizar o corpo da mulher, bem como impeli-la a escolher determinada via de parto – a saber, o parto cesáreo eletivo. As reflexões aqui exibidas foram suscitadas pelo conjunto de experiências ao qual os autores se viram submetidos por ocasião do nascimento do primogênito. Há, pelo menos, duas importantes vertentes de análise. A primeira delas está interessada pelo corpo nascido, de algum modo, unidade condicional do processo comunicacional humano. A segunda, por sua vez, lança atenção sobre a potência do discurso capaz de capturar aquela unidade e controlar o que, por ora, chamaremos consciência de si. As sublinhas de Cornelius Castoriadis sob a constituição do sujeito e as considerações de Michel Foucault sobre a prática discursiva, o privilégio dado àquele que tem direito de fala e a vinculação entre saber e poder embasarão, entre outras, a análise que se segue. Nosso objetivo é o de apresentar o conjunto de conceitos contra o qual o corpo nascido trava luta, convocando autores afinados com a ideia de que a força do discurso é capaz de deslocar a vontade do sujeito em direção às determinações do poder vigorante.

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NOVOS DISCURSOS DE PODER NO BINÓMIO

ENSINO/APRENDIZAGEM - O CASO PARADIGMÁTICO DA

ARQUITECTURA, NA FAUP

Mário João Mesquita Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

No contexto geral do ensino científico-artístico de nível superior, no âmbito da

área disciplinar de Arquitectura, estudamos as transformações decorridas na

Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, nos últimos dez anos. A

mudança de paradigma verificada com a adequação dos seus cursos a Bolonha

(2006-2016) modificou as relações de poder no binómio ensino/aprendizagem,

colocando no segundo factor desta equação um valor superior ao até então

vigente, alterando, em consequência, as relações de poder e os discursos a ele

associados. O processo desta investigação insere-se num quadro de estudo

mais abrangente que se situa cronologicamente entre a implementação da

reforma de 1950, em 1957, com a criação da Escola Superior de Belas Artes do

Porto e a centralização do ensino universitário público, nomeadamente dos seus

procedimentos/orientações burocráticos e administrativos na tutela da

Universidade do Porto, na década actual. Nesse sentido, reflectimos sobre a

influência destes processos de transformação, tanto no plano vertical entre

instituições interdependentes, como no plano horizontal, no interior do curso de

Arquitectura e nas relações entre as unidades curriculares, cruzando essas duas

premissas com a referida reponderação da equação educativa e a decorrente

reformulação das relações de poder na sala de aula. O caso singular da “Escola

do Porto”, igualmente paradigmático pela resistência do modelo pedagógico e

didáctico anterior (no qual preponderava a relação mestre/aprendiz e a

reprodução na “Escola” das relações de poder típicas do ambiente de

atelier/escritório de arquitectura), é estimulante para a reflexão geral sobre os

discursos de poder em ambiente académico dadas as características específicas

de uma área disciplinar onde os centros de decisão, oscilando entre o pendor

académico e o profissional/profissionalizante, tornam o quadro de relação entre

os modelos teóricos e a empiria bastante controverso. Pelo exposto, de que

novos discursos de poder falamos no ensino/aprendizagem em Arquitectura, na

FAUP, hoje?

A MULHER NA MÍDIA BRASILEIRA: LUGARES IMPOSTOS, LUGARES

EXIGIDOS

Michelle Gomes Alonso Dominguez Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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Na sociedade brasileira, o debate acerca da igualdade de gênero parecia

ultrapassado, ainda que a realidade social e discursiva tenha se mantido

desigual entre homens e mulheres. Nos últimos anos, entretanto, sua retomada

tem se acirrado e originado movimentos diversificados em torno do tema:

“primavera das mulheres”, “eles por elas”, “maio lilás” etc. As motivações para

tal fato são variadas e as repercussões, ainda que de maneira sutil, chegam até

a atingir s mídias institucionais. Diante desse contexto, nosso estudo pretende

analisar os lugares discursivos que (i) são designados às mulheres e (ii) os que

são requeridos por elas em diferentes espaços midiáticos. Partimos do

pressuposto desacordo entre esses lugares, entendendo-os como projeções

discursivas da opressão machista e do empoderamento feminino. Nesse sentido,

além de demonstrar a manutenção de um discurso midiático que privilegia a voz

e a posição do homem, interessa-nos lançar luz sobre os lugares discursivos que

as vozes femininas vem construindo para si; as posições que rechaçam e as que

exigem. Assim, através do aporte teórico da Análise Semiolinguística do

Discurso, procedemos a análise de textos divulgados em meios institucionais

(jornais e propagandas) e alternativos (redes sociais e blogs) para propor uma

leitura da disputa discursiva que as mulheres atualmente tem travado, nos

diversos ambientes midiáticos brasileiros.

O EXERCÍCIO DO PODER A PARTIR DA BIOPOLÍTICA: O ESTADO E O CONTROLE DO PESO DO CORPO DO SUJEITO

Michelle Aparecida Pereira Lopes

Universidade Federal de São Carlos No contexto contemporâneo, dentre as questões que suscitam o debate das relações discursivas que oportunizam o exercício do poder, estão também as relacionadas ao controle da silhueta corporal do sujeito, nas esferas pessoal, social e política. Sendo assim, este estudo propõe uma discussão acerca dos conceitos biopolítica e biopoder que nos possibilitam analisar situações ocorridas no Brasil, em 2014, nas quais o governo do estado de São Paulo, decidiu não efetivar funcionários aprovados em concurso público por serem considerados obesos. O Estado justificou a não contratação amparando-se no saber da Medicina, em tabelas e determinações que tratam a obesidade como doença. Analisaremos enunciados sobre a contratação de um professor de Química, de Aguaí SP, após o mesmo ter perdido oito quilos. Esse, anteriormente, teve a efetivação recusada por apresentar Índice de Massa Corporal de 43,5. Alguns meses depois, após se submeter a dieta, o professor perdeu peso e sua contratação foi efetivada, conforme noticiado pelo Site UOL, em 20 de abril de 20146. Nosso estudo procura mostrar como a decisão do Estado colabora na construção discursiva do corpo do sujeito que, passa a ser considerado incapaz

6 Manchete do site UOL em 20 de abril de 2014. Disponível em: < http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2014/04/professor-perde-8-quilos-e-se-torna-apto-para-lecionar-em-aguai-sp.html>. Acesso em 19 de fevereiro de 2016.

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por ser obeso. Amparamo-nos nos estudos de Jean-Jacques Courtine, para empreendermos a constituição discursiva do corpo obeso e, em seguida, nas contribuições de Michel Foucault, à Análise do Discurso, colocando em análise o uso governamental da biopolítica para que o Estado, mascarando-se como instituição que protege a saúde e a vida, garanta a sua produção e sua ascensão, já não mais como instituição que pune, mas sim como instituição protetora. Dessa maneira, a reflexão parte de um contexto político, passa pelo social e atinge o individual, à medida que a política da não contratação de funcionários obesos, colabora no deslizamento do sentido da doença para a incapacidade, sentido esse que, além de outros socialmente instituídos, desde o passado até a atualidade, passa a compor a constituição discursiva do sujeito considerado obeso.

“O PODER DO DISCURSO MEDIADOR”: POLÍTICAS LINGUÍSTICAS

ACADÊMICAS E O ENSINO DE LÍNGUAS ESLAVAS NO PARANÁ

Milan Puh Universidade de São Paulo

Nesta apresentação abordamos as pesquisas produzidas no contexto das

universidades brasileiras e que dizem respeito às comunidades eslavas do

Estado do Paraná. Escolhemos o ensino dessas comunidades

(predominantemente ucranianas e polonesas) com a intenção de mostrar quais

são as Políticas Linguísticas que essas pesquisas constituem. Analisamos a

formação e a consolidação de um discurso utilizado no meio acadêmico ao

descrever e estudar as atividades voltadas para o ensino cujo propósito é de

preservar a identidade linguística e cultural das comunidades. O nosso objetivo

é analisar e comentar as políticas linguísticas constituídas na Universidade e

investigam as práticas de ensino/aprendizagem das línguas mencionadas.

Sendo assim, a nossa hipótese é que a política linguística de comunidades de

imigração eslavas se estabelece na relação de tensão entre o poder das políticas

institucionais e/ou oficiais e das políticas locais, sendo a Universidade um dos

principais mediadores dessa relação. Portanto, a principal preocupação é

abordar pesquisas universitárias e observar o que se produz academicamente

no tratamento do ensino das línguas ucraniana e polonesa. Para tal, tomaremos

como corpus os artigos acadêmicos sobre o assunto e os interpretamos em sua

materialidade discursiva, por meio da análise do inter e intradiscurso na

constituição do discurso acadêmico. O aparato teórico-metodológico foi

organizado a partir da leitura de autores como Pecheux (1997), Orlandi (2007)

para organizar e interpretar as identificações discursivas, utilizando o processo

de dezescrita, conceito-base cunhado por Barzotto (2014). Por fim,

apresentaremos alguns dos resultados da análise de uma área que nomeamos

Políticas Linguísticas Acadêmicas (PLA) presentes nos discursos que tratam o

ensino nas comunidades de imigrantes eslavos, discutindo de que modo a

Universidade e seus pesquisadores definem os temas “pesquisáveis”,

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produzindo um conhecimento específico e diferente da visão do Estado, a Escola

e a Comunidade.

REFLEXOS E REFRAÇÕES NO ESPELHO EPISTOLAR

Mônica Gomes da Silva Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

O trabalho em tela propõe uma reflexão sobre os desdobramentos da mise-en-scène presente no texto epistolar. Consoante à análise de Michel Foucault (1926-1984), cujo estudo realiza uma genealogia das “escritas de si”, busca-se compreender as implicações decorrentes do “face-a-face” epistolar. Foucault aponta a carta como um dos primeiros gêneros a ensejar uma espécie de investigação da personalidade por meio do acolhimento, favorável ou não, do outro (FOUCAULT, 2006). Captar a dinamicidade da encenação discursiva nas cartas só é possível na medida em que se pode avaliar o “espelho” o qual o remetente busca observar-se. Quando não é possível reconstituir integralmente a correspondência, a avaliação é feita no sentido de captar as ressonâncias do texto do interlocutor, em que proporção influi nas concepções e pontos de vista defendidos, comparando-os à exposição a outros destinatários. Delineia-se a relação firmada entre os interlocutores, o nível de proximidade e o reflexo/refração dos pensamentos propostos. Cabe assinalar, todavia, o reverso desta situação. Se a carta é a busca do outro para atender à falta fundadora do gênero, incidindo sobre o estilo e teor da mensagem, o epistológrafo pode utilizar-se da escrita para convencer, seduzir, instruir e comover o destinatário, ignorando-o ou destruindo-o no texto epistolar. Dentro dessa dinâmica, sobressai a autorreferencialidade; o missivista é um Narciso para o qual o espelho epistolar reflete apenas suas convicções, angústias, desejos, arrastando impiedosamente o destinatário, restando-lhe apenas a condição de pretexto. Desse modo, para abordar os matizes complexos da encenação discursiva, o trabalho se concentra na correspondência de escritores, que potencializa os problemas até aqui levantados. Para tratar dessa dubiedade, tanto de busca da alteridade, quanto do exercício irreprimível e indomável de si, serão analisados textos de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852), Mário de Andrade (1893-1945) e António de Alcântara Machado (1901-1935).

DISCURSO POLÍTICO E REPRESENTAÇÃO: O LUGAR DO SAGRADO

Nádia Marques Gadelha Faculdade da Grande Fortaleza

O discurso político é um discurso de tomada de defesa das muralhas e

armadilhas ideológicas, sua força está em enfraquecer e desqualificar o outro, o

inimigo. Nesse sentido engendra violência em diversas manifestações. Uma das

racionalidades mais proeminentes na luta política é o discurso religioso,

saneador e salvador. No Brasil, os últimos eventos políticos que culminaram com

o processo de afastamento da Presidente Dilma, foi avassalador o discurso do

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sagrado, todo poder e suas teologias soberanas que transformaram o Congresso

Nacional na mais eloquente manifestação exorcista e seus rituais de expurgo e

doutrinação da inimiga. A prática discursiva produzida ao longo da votação são

formas secularizadas de conceitos teológicos. Como exemplo, tem-se o

impeachment caracterizado como similar aos atributos de purificação sob o

manto sagrado, quer da Constituição Federal (transforma-se no livro santo), quer

da própria Bíblia Sagrada e Deus, constantemente evocados, para garantir o

milagre da democracia (análoga ao milagre teológico), assim, como o papel do

voto parlamentar, análogo à função de Deus que cria a ordem e a justiça no

mundo. A questão proeminente é a identificação das alianças com o sagrado e

suas teologias políticas que partem das diferentes vertentes ideológicas em suas

lutas políticas. O presente trabalho tem como objeto, discutir o discurso político

como uma tentativa de secularização fracassada ao longo da história. Ancorado

nas teologias políticas, não conseguem estabelecer um projeto cosmopolita de

paz e transformação ao mundo dominado por tantos conflitos. Pretendemos

discutir que as possibilidades de mudanças sob os disfarces secularizados do

discurso religioso soam pessimistas, pois no nosso entendimento, uma ética do

humano necessita ser redesenhadas noutras instâncias discursivas, entre elas

refletir sobre o fracasso da colonização epistêmica a dominar o mundo.

RESSIGNIFICAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

Nara Maria Fiel de Quevedo Sgarbi

Centro Universitário Grande Dourados Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul

Este trabalho tem como objetivo identificar a eficácia ideológica dos

interdiscursos (Pêcheux, 1997) sobre educação escolar indígena presentes nos

discursos (Pêcheux, 2002) materializados por meio de redações elaboradas por

professores indígenas de Dourados/MS/Brasil , os quais participaram do

Processo Seletivo para a Licenciatura Intercultural Indígena ocorrido em 2010

,realizado pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).Para tanto

utilizamos as concepções de sujeito de Pêcheux, (1997),quando, em

"Semântica e Discurso", afirma que o lugar do sujeito não e vazio, sendo

preenchido por aquilo que ele designa de forma-sujeito, ou sujeito do saber de

uma determinada Formação Discursiva (FD), levando ,para tal, em consideração

o contexto discursivo , a situação histórico-social em que se deu a produção dos

textos , as ideias de poder e resistência advindas de Foucault(1979) e a

identidade desses professores, na perspectiva de Bakhtin (2006), como sendo

representação imaginária, instaurada na memória discursiva( Pêcheux,1999),

pois para os povos indígenas a questão da identidade é algo forte e se mescla

com cultura, com tradição dos povos, com preservação da língua de berço, mas

, também, com o desejo de acessar a “outra língua”, a segunda língua, que é a

língua portuguesa , o que faz com que a identidade desse “eu” se estabeleça

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de forma complexa linguisticamente em um processo discursivo nas variadas

esferas de atividades.

MICHELLE, CRISTINA E DILMA: O PODER DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

DE SI NO DISCURSO POLÍTICO SUL-AMERICANO

Paula Camila Mesti Roberto Leiser Baronas

Universidade Federal de São Carlos

Na política do contexto sul-americano, a entrada da mulher e a conquista do seu

espaço de reivindicação foram tardias. Essa luta das mulheres por igualdades

sociais e por paridade política engendrou o princípio de uma transformação

social. Foram tantas mudanças que hoje na América do Sul, por exemplo, líderes

mulheres ocuparam e ocupam o cargo de Presidente da República. Pensando-

se também nas transformações teórico-metodológicas de alguns conceitos da

Análise do Discurso, destaca-se o fato de que a noção de ethos discursivo como

construção de uma imagem de si no discurso é profundamente discutida nos

trabalhos de Dominique Maingueneau desde a década de 1980 até os dias

atuais. Porém, com os deslocamentos epistemológicos que a multiplicação dos

gêneros discursivos (principalmente os digitais) possibilitaram, a noção de ethos

passou a apresentar muitas dificuldades que resultaram em uma diversidade de

trabalhos sobre este tema. Com base em um extenso corpus de entrevistas das

presidentas sul-americanas – Michelle Bachelet, Cristina Kirchner e Dilma

Rousseff – e considerando o conceito de ethos discursivo, esta comunicação

tem como objetivo apresentar e discutir os recentes deslocamentos

epistemológicos deste conceito, demonstrando gestos interpretativos que

evidenciam que o ethos, para além de ser construído pelo destinatário do

discurso, pode ser construído nos enunciados das questões feitas pelos

jornalistas, nos enunciados das respostas dadas por essas presidentas e nos

comentários que os internautas postam no canal Youtube. As análises

evidenciam que é pertinente para os estudos discursivos expandir os trabalhos

que tratam sobre o conceito de ethos e atestam que cada gênero discursivo

apresenta suas especificidades e necessidades de se utilizar outras

metodologias para analisar os mais variados tipos de corpora. (FAPESP-

Processo 2013/12814-2).

O ACONTECIMENTO ENQUADRADO: A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NAS CAPAS DE JORNAIS LOCAIS

Paulo Fernando de Carvalho Lopes Cintia Lucas Freitas de Lima

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Universidade Federal do Piauí

O presente artigo tem por objetivo analisar o enquadramento do acontecimento através da cobertura jornalística do estupro coletivo de quatro menores da cidade de Castelo do Piauí, ocorrido em maio de 2015, nos três jornais de maior circulação do Piauí: O Dia, Meio Norte e Diário do Povo do Piauí para perceber os diferentes modos de tratamento dados a um acontecimento de grande repercussão. Como recorte, vamos nos deter as capas dos jornais e discutirmos a maneira como a mídia transforma, recorta, e seleciona o acontecimento para entregá-lo enquadrado ao seu público. A violência sofrida pelas quatro meninas chocou o Estado e repercutiu na imprensa nacional e internacional. Partimos da questão: até onde a narrativa jornalística consegue ir e como o jornalismo responde a um acontecimento com tamanho poder para se impor? Vamos trabalhar com os autores Vaz (2006), França (2006), Chareaudeau (2006), Silverstone (2002) e Rebelo (2000). A metodologia a ser usada é a análise de discursos, na perspectiva da Teoria dos Discursos Sociais, que busca compreender como os sentidos são produzidos a partir do acontecido e como ocorre seu enquadramento pelos jornais. Como conclusão foi possível perceber que o acontecimento organizado em texto e imagem materializou-se como um acontecimento midiático atrativo para que os leitores comprassem os jornais. Mesmo tratando-se do mesmo assunto, os três jornais apresentaram textos e fotos totalmente diferentes ao enquadrarem o acontecimento, mesmo que o tom de luto e indignação fossem os mesmos. O estupro coletivo está ali, enquadrado, fechado, narrado com sentido e dando distintas lógicas ao acontecimento.

DO SABER AO PODER: ESTRUTURAS RETÓRICAS E PLANOS DE TEXTO NAS INTRODUÇÕES DE TESES DE DOUTORAMENTO

Paulo Nunes da Silva

Universidade Aberta / CELGA-ILTEC

Maria Joana de Almeida Vieira Santos Universidade de Coimbra / CELGA-ILTEC

No discurso académico, todos os textos possuem dimensões retóricas onde se intersectam vetores de poder sustentados pelo saber (Hyland 2009). Neste âmbito, a Introdução é particularmente valorizada (Swales 1990, Bunton 2002, Kwan 2006), por apresentar o plano de texto (Adam 2002), os conteúdos a incluir, os movimentos retóricos (de acordo com o modelo “creating a research space”, Swales 1990) e os objetivos do autor – legitimar a investigação, demonstrar que se distingue de outras e projetar uma identidade científica credível (Hyland 2009). Possui portanto um carácter programático e abrangente, o que a torna numa secção decisiva para dilucidar a construção dialética do saber e do poder do discurso. Dentro destes pressupostos teóricos, o trabalho apresenta os resultados da análise comparativa das Introduções em vinte teses de doutoramento da Universidade de Coimbra (dez de Ciências de base experimental e dez de Ciências Sociais e Humanas). Considera-se a estrutura retórica e temática (Swales 1990) e descreve-se (i) as estruturas retóricas

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adotadas, ii) os conteúdos selecionados, e iii) os planos de texto. Os dados quantitativos foram seguidamente cruzados com as respetivas áreas disciplinares e indiciam que as práticas sociodiscursivas de cada área constituem um guião orientador para a arquitetura retórica deste género incluído.

A VOZ QUE CANTA NA VOZ QUE FALA: POÉTICA E POLÍTICA NA

TRAJETÓRIA DE GILBERTO GIL

Pedro Henrique Varoni de Carvalho Universidade Tiradentes / Universidade Federal de São Carlos

Com base na Análise do Discurso de vertente Francesa (PECHEUX, 1977,1999;

FOUCAULT,1979, 2004; COURTINE, 2006) analisamos o discurso do Ministro

da Cultura do Governo Lula, o cantor e compositor Gilberto Gil, entre os anos de

2003-2008. Há uma memória tropicalista- antropofágica a conduzir o discurso do

Ministro que se relaciona as relações de saber- poder (FOUCAULT, 1979) em

torno da canção popular brasileira. A ascensão de Lula emerge como símbolo

da expressão popular representada pelos segmentos excluídos dos centros

urbanos e pelas populações rurais do nordeste. A aproximação com Gilberto Gil

indica uma transferência do lastro tropicalista para o Presidente eleito, o que teria

contribuído para o “carisma pop” (AB’ SABER, 2011) de Lula. O tropicalismo foi

objeto de resistências tanto entre setores engajados da esquerda quanto entre

os militares que prenderam e exilaram seus principais artistas. A esquerda

tradicional via no tropicalismo a adesão alienada ao imperialismo americano; a

ditadura militar percebia a força revolucionária de um discurso capaz de revelar

as contradições mais profundas do Brasil. Na ascensão de Lula ao poder há

um distanciamento dos fundamentos de base marxista do Partido dos

Trabalhadores; contexto em que a aproximação com o tropicalismo sinaliza uma

terceira via, o que faz Caetano Veloso considerar Gil como “O Lula de Lula”

(VELOSO, 1997). Nossa análise contempla as manifestações de um ministro-

artista, capaz de se expressar na linguagem da música, como em duas

apresentações na ONU. A pesquisa busca fundamentar o conceito de arquivo

de brasilidade que desenvolvemos no Doutorado, procurando contemplar as

relações entre discurso, história e subjetividade. Propomos ainda o diálogo entre

a Análise do Discurso e a Semiótica da Canção de Luís Tatit por onde se dão as

relações entre a voz que fala e a voz que canta como expressões poéticas e

políticas da brasilidade.

O DISCURSO DA GREVE: A VERBO-VISUALIDADE NOS ENUNCIADOS DA

GREVE DOCENTE DA FOLHA DE SÃO PAULO

Poliana Ferreira dos Santos

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Universidade Federal de São Paulo

A mídia ocupa um lugar significativo na produção e manutenção de discursos

acerca da realidade social, constituindo um importante dispositivo para a

configuração do funcionamento sociocultural. Em vista disso, a presente

comunicação traz a análise de um conjunto de enunciados que circularam na

mídia por meio da versão impressa do jornal Folha de S. Paulo acerca da greve

dos professores estaduais paulistas no ano de 2015. Devido à extensão do

trabalho e ao escopo da nossa análise, selecionamos, dentre um grupo amplo

de enunciados, aqueles que apresentam materialidade verbo-visual e que se

referem diretamente aos professores em greve. Nosso objetivo aqui é descrever

de que forma, por meio do funcionamento discursivo verbo-visual dos

enunciados, as discursivizações da Folha concorrem para a construção de

sentidos acerca da greve de professores, além de demonstrar como as

diferentes materialidades discursivas constituem signos que refletem e refratam

uma realidade social ligada à greve docente. A análise se dá a partir de um

percurso interpretativo que consiste na mobilização dos conceitos como

enunciado e signo ideológico discutidos por Bakhtin e o Círculo, assim como, as

noções de verbo-visualidade tratadas por Brait com inspiração no legado

bakhtiniano. A partir da análise, concluímos que a Folha de São Paulo, por meio

dos enunciados verbo-visuais que mobilizam a questão da greve, faz circular

discursivizações que concorrem para a construção de sentidos e valores da

greve docente que refletem uma realidade ligada a greve como um movimento

de luta, persistência, que pode chegar a extremos, como posturas desordeiras e

violentas dos grevistas, a fim de alcançar seus objetivos; e refrata essa realidade

ao discursivizar a greve como um movimento fraco, sem grande adesão e

aparentemente sem grandes prejuízos para o governo e a população e,

consequentemente, sem conquistas significativas.

O MATERIAL DIDÁTICO E SUAS RELAÇÕES DE PODER – A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE SURDOS E O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

COMO LÍNGUA MATERNA ONTEM E HOJE

Priscila Costa Lemos Barbosa Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A prática educacional do ensino de línguas e a produção de materiais didáticos têm sido objetos de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, bem como vêm sendo tratadas sob diferentes enfoques teóricos. Promovemos aqui uma reflexão sobre a relação de poder que o material didático Lições de Linguagem Escripta, datado de 1871, de Tobias Rabello Leite, exerce sobre a educação dos surdos, uma vez ter sido publicado no mesmo ano em que é criado no Brasil o

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cargo de professor de português. À luz da Análise do Discurso (Pêcheux e Orlandi), observaremos o processo de instrumentação linguística do português como L2 para surdos, à medida em que ocorre a institucionalização da língua portuguesa a partir da criação de gramáticas elaboradas por professores brasileiros. Ressaltamos que nenhum professor poderia ser promovido a professor de língua portuguesa sem ter elaborado um compêndio gramatical, portanto, a posição-sujeito professor será por nós discutida considerando-a legitimada a partir da posição-sujeito autor de gramática brasileira. Para nossas análises, percorreremos algumas etapas: primeiramente, recuperamos um percurso histórico-social-político-pedagógico que vai instituindo materiais didáticos de português em português língua materna (PLM). Em seguida, observaremos o impacto da institucionalização da disciplina de língua portuguesa na produção de materiais didáticos e sua relação com a posição-professor. Por último, focalizaremos o ensino de língua portuguesa e a produção do material didático Lições de Linguagem Escripta aos surdos brasileiros, no Instituto Imperial de Educação de Surdos-Mudos, visando à observação do lugar do professor e, ainda mais, ao lugar que a língua portuguesa ocupa como PLM para os surdos, bem como as implicações que essa determinação linguístico-discursiva impõe sobre a educação dos surdos até os dias de hoje.

IGUALDADE DE GÊNERO E EMPODERAMENTO DAS MULHERES NO

DISCURSO DIPLOMÁTICO DE DILMA ROUSSEFF E FRANÇOIS

HOLLANDE

Rafael Batista Andrade Unviersidade Federal de Minas Gerais / Université Paris-Sorbonne

No dia 27 de setembro de 2015, foi realizado o Encontro de líderes globais sobre

"Igualdade de gênero e empoderamento das mulheres: um compromisso para

a ação" em Nova York. Nosso objetivo, neste trabalho, é apresentar a análise do

pronunciamento da presidenta brasileira Dilma Rousseff e do presidente francês

François Hollande nesse evento realizado pela ONU. Assumimos, para isso, que

as estratégias apreendidas nos textos enunciados por esses atores sociais são

delimitadas não apenas pelo discurso político, mas sobretudo pelo discurso

diplomático de um ponto de vista institucional. Buscamos evidenciar que a

problematização do tema do encontro, feita pelos líderes e representantes dos

dois países, emerge da mobilização de procedimentos próprios do discurso

diplomático. Os pressupostos teórico-metodológicos utilizados são os estudos

sobre discurso diplomático de Cohen-Wiesenfeld e Villar, a pesquisa de

Charaudeau sobre o discurso político, o manual de Krieg-Planque para

investigações no âmbito do discurso institucional e as propostas teórico-

metodológicas de Maingueneau. Esperamos demonstrar as estratégias

linguístico-discursivas que caracterizam o gênero de discurso pronunciamento

de chefes de Estado em encontros da ONU, colocando em evidência a questão

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da igualdade de gênero sob um prisma discursivo particular. Assim,

evidenciaremos a importância de se discutir esse tema a partir de um lugar social

específico de onde emerge uma cena da comunicação política particular: as

relações diplomáticas no quadro institucional da ONU.

O PODER DO DISCURSO DE SUBMISSÃO – REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS DISCURSIVAS NA ESFERA DA ADMINISTRAÇÃO

SETECENTISTA

Renata Ferreira Munhoz Universidade de São Paulo

Esta comunicação analisa a prática discursiva produzida na esfera da

administração pública do Brasil colonial no período de 1765 a 1775. Por meio do

estudo de manuscritos produzidos durante os dez anos de governo do Morgado

de Mateus em São Paulo, pretende-se pontuar aspectos referentes ao uso do

poder no discurso oficial. Analisam-se cartas e ofícios que compuseram a

documentação pública enviada dessa capitania aos governantes

hierarquicamente superiores em Portugal, com destaque ao Marquês de

Pombal. Observando-se as formas como o poder é “exercido, manifestado,

descrito, disfarçado ou legitimado” (Dijk, 2012, p. 39) nos discursos políticos da

segunda metade do século XVIII, nota-se que ultrapassa a proposta de

meramente comunicar as ocorrências locais e solicitar orientações. Tais

discursos, conservados em manuscritos, pressupunham o cuidado com a

manutenção de seu ethos por parte do autor e conduziam à legitimação do poder

das autoridades políticas europeias no Brasil colonial. Dentre as diversas

características do discurso do período, nota-se o aspecto da “vassalagem”

enquanto prática de rebaixamento e menosprezo da própria imagem do autor. O

recurso de inferiorizar-se e exaltar o outro é bastante empregado no período a

interlocutores hierarquicamente superiores. Além da evidente função de

apresentar-se submisso ao sistema monárquico vigente, as estratégias

discursivas de submissão permitem, embora paradoxalmente, a elevação da

estima do ethos do sujeito em seu meio social. O embasamento teórico e

metodológico consiste na teoria do Sistema de Avaliatividade, desenvolvida por

Martin e White (2005), a fim de se conceberem as marcas textuais que

exemplificam a ideologia coeva, bem como as esferas contextuais que

motivaram a sujeição como garantia de prestígio social. Pela recolha das

estratégias discursivas empregadas pelo Governador e Capitão-General na

manutenção de seu ethos perante seus superiores, pretende-se, portanto,

verificar a intersubjetividade que legitimou o poder no século XVIII e suas

repercussões na contemporaneidade.

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OS SUJEITOS BRASILEIROS NOS DISCURSOS PRESIDENCIAIS DE

GETÚLIO VARGAS

Renata Ortiz Brandão Universidade Estadual de Campinas

O presente trabalho propõe apresentar uma análise semântica da enunciação

de Getúlio Vargas enquanto locutor-presidente em seus discursos. O intuito é

investigar e analisar o conjunto de palavras que nomeiam os sujeitos brasileiros

na sua relação com o Estado durante a Era Vargas. O estudo está ancorado na

Semântica do Acontecimento, tal como proposta por Eduardo Guimarães (2002)

e cuja filiação é materialista. Entende-se assim que uma palavra, enquanto forma

da língua, significa na relação entre uma memória de enunciações passadas e o

presente do acontecimento, produzindo uma latência de futuro. É neste jogo

entre presente, passado e futuro que se configura a designação de uma palavra

no acontecimento enunciativo. Pelos movimentos textuais de reescritura(ção) e

articulação, observaremos como as formas linguísticas são predicadas e

determinadas nos textos em que se inscrevem. Ao analisar o conjunto de

palavras que designam os sujeitos brasileiros na sua relação com o Estado,

interessa-nos compreender como essas palavras significam os sujeitos na sua

relação com a própria construção da República brasileira, entendendo que a

república se constrói também pelas palavras que a compõem e pelo modo como

elas se estabilizam por meio da enunciação. Isto nos levará a compreender os

modos de identificação do sujeito brasileiro pelo Estado e de construção da

relação entre governante e governados, a partir dos discursos presidenciais de

Getúlio Vargas. Essas palavras e o modo como elas se inscrevem na enunciação

do presidente nos levarão a compreender os movimentos particulares na

República tal como ela foi configurada na Era Vargas, em suas contradições.

A LÍNGUA PORTUGUESA COMO SÍMBOLO DE PODER NA POLÍTICA

INTERNACIONAL

Renata Palumbo Faculdade Carlos Drummond de Andrade

Partimos do pressuposto de que a propagação de um idioma, em encontros

interestatais, faz parte de uma disputa por uma ocupação de destaque no cenário

internacional, pois quanto mais um idioma é reconhecido como forte tanto mais

o Estado no qual a língua é oficial fortalece-se. Tal procedimento retórico pode,

ao mesmo tempo, cumprir papel de difusor da imagem de um país ou grupo e de

fabricar o consenso, importantíssimo para a negociação política. Nessa direção,

neste trabalho, observamos o modo como a Língua Portuguesa é construída,

metafórico e discursivamente, nos discursos oficiais dos países membros da

Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), tendo em vista seu

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caráter retórico. Neste momento, analisamos o Discurso de Abertura da III

Assembleia Parlamentar da CPLP, pelo Presidente do Parlamento Nacional de

Timor-Leste, Fernando La Sama de Araújo, e o de Dilma Rousseff, durante a

cerimônia de entrega do Prêmio Camões - Lisboa-Portugal, em 10 de junho de

2013. O referencial teórico corresponde à articulação dos estudos acerca da

Referenciação, sobretudo, os que dizem respeito à Referenciação

Metalinguística, em pesquisas de Marcuschi (2007), Vereza (2007, 2010); das

questões relacionadas à Metáfora e à Sociocognição, a partir de trabalhos de

Charteris-Black (2013), Fauconnier e Turner (2008), Fauconnier (2015), Lakoff e

Johnson (1992 [1980], 1993, 2003); das discussões a respeito do Discurso

político e da Argumentação, nos estudos de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1958,

2002). No complexo jogo de poder existente na política internacional, parece-nos

plausível reconhecer que a Língua Portuguesa vem sendo construída como um

símbolo de poder e de comunhão pelos políticos da CPLP, tal como confirmam

nossas análises.

INDÍCIOS DO DISCURSO POLÍTICO OITOCENTISTA: NA CIRCULAÇÃO DE

ENUNCIADOS DESTACADOS NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA

Rilmara Rosi Lima Universidade Federal de São Carlos / Paris IV Sorbonne

Alicerçada nos trabalhos teórico-metodológicos de Dominique Maingueneau, o

presente trabalho tem por objetivo lançar um olhar discursivo sobre a linguagem

jornalística oitocentista no Brasil e o seu eco na cena sociopolítica

contemporânea, lugar este em que a produtividade enunciativa se entrecruza e

atesta a dinamicidade da língua e da sociedade, o que em certa medida traz

traços ressoantes do discurso oitocentista do cenário político brasileiro, período

aquele significativo da história brasileira que foi a passagem da monarquia à

república, bem como o seu reflexo no discurso político brasileiro. Para dar conta

de tal empresa, mobilizaremos, mais especificamente, os conceitos formulados

por Dominique Maingueneau, em vários escritos, acerca de aforização, cena de

enunciação e destacabilidade. Para compor o arquivo de pesquisa de nosso

corpus de análise, selecionamos alguns exemplares da coleção da Revista

Illustrada (Rio de Janeiro, ano de 1885 até 1893) publicada por Ângelo Agostini

e alguns enunciados que circularam recentemente na mídia durante o governo

da presidente Dilma Rousseff no Brasil, com o propósito de investigar e

compreender, por um lado, o papel da imprensa periódica oitocentista nos

processos de produção, circulação e divulgação de textos inteiros, fragmentados

e adaptados ao longo das edições da Revista Illustrada e, por outro, de verificar

como essa mecânica de produção/circulação/divulgação interferiu nos gestos de

leitura dos acontecimentos histórico-políticos da sociedade brasileira do final do

século XIX e atualmente. Acreditamos que analisar o discurso oitocentista e

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atual, nos possibilita acentuar tipos de percursos analíticos que irromperam para

produzir diferentes sentidos aos fatos históricos relatados e cristalizados aos

estudos já existentes e, ainda compreender o funcionamento do espaço público

midiático como lugar que se apresenta em um contínuo e inesgotável espaço de

circulação, retomada e transformação de discursos por meio de enunciados

curtos, o que evidencia como os acontecimentos sociopolíticos se entrecruzam

e atestam a dinamicidade da língua e da sociedade operado pelas mídias.

.(Apoio: FAPESP – Processo 2015/11971-2)

ALLORA FLAVIA COSA HAI FATTO DI BELLO QUESTO FINE SETTIMANA?”: VOZES DE DISCORDÂNCIA DA AULA DE LÍNGUA

ESTRANGEIRA.

Roberta Ferroni Universidade de São Paulo

Com esta comunicação pretendemos investigar, do ângulo epistemológico da Didática de Línguas (ARAÚJO E SÁ; ANDRADE, 2002), os atos de identidade utilizados pelos aprendizes de italiano língua estrangeira (LE) nas interações entre professor e aluno, descrevendo a forma como surgem e são geridos em situação de sala de aula, de forma a podermos esboçar algumas reflexões úteis para a formação profissional de um docente em pré-serviço. Entendemos por “atos de identidade”, expressão cunhada por Ellwood (2008), os atos linguísticos por meio dos quais os falantes revelam seja sua identidade pessoal seja o papel social que almejam alcançar. Os dados discutidos foram recolhidos num curso de italiano de nível intermediário, organizado pelo centro de línguas de uma universidade pública do Estado de São Paulo. Partindo do pressuposto de que os aprendizes têm a obrigação, na aula de língua, de respeitar um conjunto de obrigações, ou seja, de falar e compreender em LE (MOORE; SIMON, 2002), sob pena de “sanções” (LAUGA-HAMID, 1990: 56), apontamos os atos de identidades produzidos por aprendizes de LE nas interações que acontecem entre professor e aluno segundo dois critérios principais: os atos por meio dos quais os aprendizes respeitam as obrigações impostas pelo professor a fim de reivindicarem seu papel de aprendizes; os atos por meio dos quais os estudantes negam a dimensão ritual do cenário imposta pelo professor a fim de reivindicarem seu próprio papel de “eu” sujeito. As reflexões decorrentes desse estudo de caso mostram que a maneira como surgem e são gerenciados na sala de aula os atos iniciados pelos aprendizes para reivindicarem seu próprio papel de “eu” sujeito podem oferecer aos professores indicações preciosas sobre a sua própria formação no intuito de melhorarem a qualidade das interações.

UMA PARATOPIA TESTEMUNHO-DOCUMENTAL NO DISCURSO DA NEGRITUDE

Rosângela Aparecida Ribeiro Carreira

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Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão

O território de embates a que pertence o discurso denota as relações de poder

estabelecidas no tempo e no espaço como revelam os estudos de Althusser

(1998), Pêcheux (1975), Foucault (2004-2005a) e Maingueneau (1983-2015),

suportes conceituais para a Análise do Discurso (AD) para fundamentar a noção

de paratopia do discurso da negritude. Consideramos discurso da

negritude aquele que é instaurado pelas redes semânticas globais simbólicas

estabelecidas como reação, defesa e manifesto do perfil cultural do negro,

seja de forma tópica, atópica ou paratópica, em diferentes gêneros do discurso

e por diferentes formações discursivas. A paratopia expressa o pertencimento e

o não pertencimento, a impossível inclusão em uma “topia”. Pode assumir a

forma de alguém que se encontra em um lugar que não é o seu, de alguém que

se desloca de um lugar para outro sem se fixar, de alguém que não encontra um

lugar; a paratopia afasta esse alguém de um grupo (paratopia de identidade), de

um lugar (paratopia espacial) ou de um momento (paratopia temporal) e, ainda,

há a paratopia linguística, que caracteriza aquele que enuncia em uma língua

considerada como não sendo sua língua. (MAINGUENEAU, 2010). Partimos

dessas noções no recorte da análise do romance “Vencidos e Degenerados” de

José Nascimento Moraes, discurso maranhense publicada em 1910, com o

objetivo de revelar que as condições sócio-históricas de produção delineiam

uma proxêmica discursiva capaz de desvendar elementos que levarão à

concepção de uma paratopia documento-testemunhal do discurso da negritude,

como ampliação das noções dadas por Maingueneau (1996, 2006 e 2010). Para

isso, seguimos a característica interdisciplinar da AD e apropriamo-nos dos

conceitos dados ao termo negritude por Cesàrie (1987), Fanon (2008) e

Munanga (2006 e 2012), somados aos conceitos de proxêmica estabelecidos

por Hall (1977), Knapp (1982), Steinberg (1988) e autores da Antropologia,

Sociologia e História do Brasil.

APRENDIZAGEM AUTORREGULADA: ESTUDO DISCURSIVO SOBRE MATERIAL DIDÁTICO VOLTADO PARA AS ESCOLAS DA REDE

ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

Shayane França Lopes UFF/Capes

A pesquisa se situa no âmbito da Análise do discurso de base enunciativa e considera a relação existente entre as práticas discursivas e parte do universo das propostas de ensino da Secretaria de Educação de Estado do Rio de Janeiro – SEEDUC-RJ. Levando em consideração a importância dos estudos sobre a linguagem para compreender o processo de construção de possíveis sentidos e valores que permeiam o meio educacional, esta proposta tem como objetivos: colaborar com os estudos sobre a educação linguística nas escolas da rede estadual do Rio de Janeiro; investigar os aspectos do trabalho do professor, tematizados por meio das pistas deixadas pelos ditos, interditos e não ditos na teia discursiva do córpus; identificar a materialidade discursiva, assim como o perfil do professor, que se constroem discursivamente de acordo com os planos

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da semântica global, de Dominique Maingueneau. Para isso, trabalharemos com um córpus composto pelos Cadernos de atividades de aprendizagem autorregulada – Cadernos do professor, referentes aos componentes curriculares de literatura e língua portuguesa, produzidos recentemente pela SEEDUC-RJ. O marco teórico que orienta esta pesquisa considera as noções de discurso e de enunciado (Maingueneau, 1997, 2000, 2008, 2010, 2011, 2015) e tem como categoria de análise a semântica global (Maingueneau, 2008). A metodologia de análise se organiza com base na forma de menção/convocação do coenunciador, nos aspectos tematizados do trabalho do professor, na construção dos gabaritos e nos roteiros formulados (Maingueneau, 2008). Os resultados parciais apontam para uma nítida desvalorização do professor (análise focada no professor) e para atividades questionáveis quanto à validade e à relevância, visto que muito é anunciado na Apresentação e nos Objetivos gerais dos Cadernos, contudo, as atividades não condizem com o que é apresentado (análise focada nas atividades).

A HETEROPIA FOUCAULTIANA COMO RESISTÊNCIA À HETERONORMATIVIDADE POLÍTICA NO PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO

DO PLC 122/06

Simone Toschi Valério Universidade Federal Fluminense

Este estudo abordará a noção de heterotopia foucaultiana (1966, 1967, 2000, 2005) traçando um percurso histórico desta e os desdobramentos que tal ideia teve ao longo da obra de Foucault. As heterotopias nos possibilitam, segundo Foucault (2005), contestar todos os outros espaços instituídos e sacralizados, já que “neutralizam ou invertem o conjunto de relações designadas, refletidas ou pensadas” nos mais diversos espaços discursivo-político-jurídico-sociais. O objetivo é apreendermos a noção de heteropia e a produtividade desta em relação às questões que envolvem a Análise do Discurso de base enunciativa (MAINGUENEAU: 1997, 2001, 2008a, 2008b, 2008c, 2010), pensando, dessa forma, quais contribuições a heterotopia poderia dar às análises discursivas que a elencam como base teórica e categoria analítica dentro da Análise do Discurso. Para tanto, os corpora de estudo são formados pelas construções e constituições discursivas do Projeto de Lei da Câmara 122/06 que altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 e que define os crimes resultantes de preconceito, raça ou de cor, dá nova redação ao § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, e ao art. 5º da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e dá outras providências. Tal projeto teve designação ordinária de lei que criminalizava a homofobia. Um processo de tramitação de Projetos de Lei ou Leis que nos chegam não são processos dados, naturais, objetivos e abstratos. Estudar tal processo constitutivo discursivo tenciona evidenciar como regimes de verdade pautados pela heteronormatividade (FOUCAULT: 2012b, 2012c, 2012d; BUTLER: 2011, 2015; MISKOLCI: 2007, 2009, 2012) influenciam, silenciam e tendem a normatizar determinadas comunidades discursivas que não se “enquadram”, pelo contrário, formam heterotopias (FOUCAULT: 2005) em práticas discursivas estabelecidas pela sociedade heteronormativa.

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FORMAS DE TRABALHO SOBRE A MEMÓRIA NA CIRCULAÇÃO DE UM PRONUNCIAMENTO DA PRESIDENTA DILMA ROUSEFF PELA IMPRENSA

INTERNACIONAL

Solange Mittmann Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Em 12 de maio de 2016, o Senado brasileiro votou pelo início de um processo de julgamento sobre a interrupção do mandato presidencial de Dilma Rousseff e pelo seu afastamento por 180 dias (período do processo). Logo após a decisão, a presidenta fez um pronunciamento à imprensa e à nação. Imediatamente, a imprensa nacional e internacional lançou notícias on line citando trechos do pronunciamento, os quais tratou de recortar, articular, interpretar e explicar. As formas de determinação de sentidos sobre os fragmentos do pronunciamento são o objeto deste estudo, pela perspectiva da Análise do Discurso fundamentada em Michel Pêcheux, em que reunimos notícias on line de jornais de Portugal, da Espanha e da França daquele 12 de maio. Interessa-nos apontar para o caráter pedagógico do discurso jornalístico internacional de explicar os fatos, atribuir sentidos ao dito, regulando interpretações, sob a ilusão necessária de evitar escapes, bem como o posicionamento ideológico manifesto no discurso jornalístico. A análise comparativa das notícias com o discurso do pronunciamento levantou diferentes formas de trabalho sobre o memorável. Em seu pronunciamento, a presidenta evoca fatos de uma história particular enlaçada à história do país. Observamos um trabalho sobre o que se deve lembrar (o que não se pode esquecer) e sobre o que se reivindica justiça: o golpe de estado de 1964, a tortura, a luta pela democracia e sua conquista, os feitos dos 13 anos de governança federal pelo Partido dos Trabalhadores, a atuação da oposição. Essa reivindicação de memória e de justiça vem sustentar a defesa da continuidade do mandato. No jornalismo internacional, selecionamos para análise duas outras formas de trabalho sobre o memorável: de um lado, um trabalho pedagógico de significação na direção da contenção da deriva de sentidos; de outro, um trabalho de reiteração que também aponta para a reivindicação da justiça.

COMUNICAÇÃO POLÍTICA E DISPERSÃO DE PODER: UMA ANÁLISE DOS BLOCOS DE CAPACIDADE-COMUNICAÇÃO-PODER NA MÍDIA

BRASILEIRA

Samuel Ponsoni Universidade Estadual de Minas Gerais

Tamires Bonani

Universidade Federal de São Carlos

É sobretudo da noção-conceito de “bloco” de capacidade-comunicação-poder,

uma das múltiplas formas de estratégias de dispersão de poder lastreadas na

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teoria de Michel Foucault, que este trabalho busca bases teóricas para dar conta

de objetos constitutivos do que chamaremos de análise discursiva da

comunicação política. A investigação deriva de outras compreensões

epistemológicas acerca de análise de discurso e comunicação política, como as

que tratam de fórmulas políticas, teoria das frases sem texto e sobre a gramática

visual e semiótica social. Entretanto, aqui, nos concentraremos nas relações e

estratégias de poder, sendo tirado da compreensão de Foucault sobre a

existência de “blocos”, nos quais o ajuste das capacidades, dos feixes de

comunicação e das relações de poder constituem sistemas regulares. Foucault

preocupava-se com as regularidades e dispersões institucionais, como em seus

exemplos das instituições escolares. Conosco, todavia, a necessidade de se

refletir sobre discursos políticos irrompe para que não se prescinda de uma

análise global desse objeto multifacetado, apreendendo-o em sua gama de

semioses: linguísticas, icônicas, sociais, históricos, culturais, conjunturais e

institucionais e o inscrevendo a um paradigma materialista dos estudos da

linguagem sob a seguinte hipótese: a comunicação política, sendo uma prática

discursiva de comunicação, passa por princípios de gestão de produção,

circulação, transformação e interpretação e, assim, tais princípios são

engendrados por regras históricas, sociais, culturais, conjunturais, linguageiras

e institucionais, o que agruparia inúmeros discursos em blocos comunicativos,

exercendo coerções e dispersões de poder nos recursos discursivos utilizados

na comunicação política. Analiticamente, utilizamos variados suportes e gêneros

discursivos que circulam na mídia brasileira, principalmente no período de 2016

que abarcou a votação de impeachment da então presidente Dilma Rousseff,

especificamente observando os usos dos termos presidenta e presidente para

testar nossas hipóteses e respondê-las teórica e analiticamente.

O “BREXIT” E A RETOMADA DOS NACIONALISMOS

Silvia Valencich Frota Universidade de Lisboa

Muito se tem falado sobre o retorno dos nacionalismos na Europa, especialmente

associado a certos discursos dos partidos políticos de extrema-direita. Neste

artigo, analisa-se um conjunto de textos publicados no jornal Público sobre o

referendo britânico, que acabou por levar à decisão de saída do Reino Unido da

União Europeia (“BREXIT”), com o intuito de se identificar os discursos de

natureza identitária construídos em torno da ideia de nação e dos nacionalismos.

A partir desse mapeamento, busca-se identificar as diferentes estratégias de

construção discursiva e as representações recorrentes que são elaboradas em

torno do tema. No processo de demarcação da diferença entre um “eu” nacional

e um “outro” estrangeiro – com os diferentes significados que tais referências

encerram –, explora-se também as diferentes posições assumidas por e/ou

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atribuídas aos participantes no discurso. Os discursos de afirmação e

valorização de uma certa identidade nacional são os mesmos do passado ou

assumem agora novos significados? De que modo conceitos como o de

etnicidade, multiculturalidade e globalização participam da construção de tais

discursos? Faz sentido se falar na retomada dos nacionalismos ou trata-se, na

verdade, da construção de novas formas de nacionalismos? Essas são algumas

das questões de fundo que informam o presente estudo de caso. O

enquadramento teórico-metodológico adotado resulta da conjugação de três

perspectivas distintas: a dos Estudos Culturais, na acepção de autores como

Stuart Hall e Homi Bhabha, entre tantos outros; a da Análise Crítica do Discurso,

especialmente na vertente desenvolvida por Norman Fairclough e Ruth Wodak,

entre outros; e a da Linguística Sistêmico-Funcional, de Michael Halliday.

A ESTILÍSTICA DO DISCURSO EM FACE DA POLÍTICA PARTIDÁRIA E O

PRECONCEITO DE GÊNERO NO IMPEACHMENT DA PRESIDENTE/A

DILMA ROUSSEFF

Suzana Mary de Andrade Nunes Faculdade Estácio

Este estudo analisa os discursos políticos de senadores, membros na comissão de impeachment da Presidente/a Dilma Rousseff, no Senado Federal. Para tal, subsidia-se das teorias da enunciação em interface aos Estudos de Gênero, a fim de perceber a integração de discursos velhos combinados com novos discursos dentro da perspectiva instrumental da linguagem. Como método de análise, destacam-se os pronunciamentos orais divulgados em cadeia nacional e internacional pela mídia televisonada, de modo que as inflexões dicursivas e a construção de turnos de diálogo: ora coerentes com o conteúdo precedente; ora desarticulado, apresentando uma quebra da unidade linguística são os corpus de análise. A concepção dialógica de Bakhtin, de autoria de Meanguenau e de Poder de Faucoult apontam para reprodução da cultura machista e patriarcal por meios de modalizadores linguísticos: palavras, frases, enunciados entrecortados e associados por pausas, entonações de voz, balbucios, trazendo uma carga de sentidos e significados, ao passo que privilegia a posição dos sujeitos diante do intercruzamento entre as estruturas linguísticas e as influências externas. O escopo analítico, portanto, debruça-se sobre a condição de instrumento comunicacional construído socialmente frente à falência da lógica racional e a inserção do sujeito ambíguo, contraditório e contingencial, contudo, autoral e responsável por seu discurso.

O PAPEL DA MÍDIA IMPRESSA NO PROCESSO DE CONFIGURAÇÃO DO

ATOR DA ENUNCIAÇÃO, PARTICIPANTE DAS MANIFESTAÇÕES DE

JUNHO DE 2013 NA CIDADE DE SÃO PAULO

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Tânia Regina Exposito Ferreira Universidade Presbiteriana Mackenzie

O mês de junho de 2013 ficará marcado na história da cidade de São Paulo pelas

manifestações populares, cujo motivo inicial foi a revogação do aumento de R$

0,20 nos transportes públicos. A imprensa construiu, pelo filtro de seus critérios

político-ideológicos, valendo-se de diferentes recursos verbais e não verbais, o

sujeito da enunciação do texto-discurso em que se constituiu cada uma das

manifestações. Configurar o ator da enunciação destes discursos da imprensa

foi o objetivo desta pesquisa, centrado na perspectiva semântica da

reconstrução da enunciação. Para alcançar nosso objetivo, analisamos textos

veiculados em dois importantes jornais: Folha de S. Paulo e O Estado de S.

Paulo, visando a neles identificar, avaliar e analisar informações – figuras, temas,

referências intertextuais, denominações, qualificações, avaliações diretas ou

indiretas, imagens – que convergiam para a definição do sujeito da enunciação

das manifestações construído por essa mídia. Como um contraponto à análise

dos textos desses jornais, analisamos comentários de internautas no Facebook

do Movimento Passe Livre- MPL e texto do Blog do Observatório da Imprensa

sobre o assunto, com o objetivo de identificar a configuração dada ao ator da

enunciação nas redes sociais. A pesquisa foi conduzida com base nos

fundamentos teóricos da Semiótica Greimasiana, com particular ênfase no nível

discursivo da análise, em que se focaliza a configuração enunciativa do discurso.

Os resultados desse estudo mostraram que o ator da enunciação revelado pelas

várias reportagens e notícias que se seguiram a cada uma das manifestações é

mutante: “vândalo”, “baderneiro” e “herói”.

MANIPULAÇÃO DA PALAVRA E JOGOS DE PODER NAS CARTAS

PERSAS DE MONTESQUIEU

Thaïs Chauvel Universidade de São Paulo

A comunicação pretende abordar a intriga do serralho desenvolvida pelo filósofo francês Montesquieu em seu romance epistolar intitulado as Cartas persas. Esta obra elabora-se através das palavras entrecortadas dos diversos epistolários integrantes do harém: as mulheres, os eunucos e o mestre, que se comunicam por intermédio de cartas. Sendo assim, a proposta visa analisar as diferentes perspectivas enunciadas por essas três categorias de personagens, observando os procedimentos linguísticos e o léxico empregados por cada membro do serralho. O intuito é compreender em que medida a palavra torna-se uma arma de manipulação, e de que maneira o embate no discurso evidencia as tensões e os jogos de poder que operam no seio do harém de Montesquieu, que constitui um verdadeiro “laboratório ficcional”, na expressão de Jean Starobinski, criado pelo filósofo iluminista com o fim de criticar o despotismo. A fim de verificar se esta hipótese se sustenta, a comunicação pretende ainda convocar o conceito

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de heterotopologia desenvolvido por Michel Foucault, que concebe o discurso e a razão (logos) de um espaço (topos) outro (hetero) como meio de contestação dos espaços familiares. Sendo assim, o espaço do serralho que Montesquieu representa a partir das tensionadas vozes do harém, constituiria um contra-espaço – ficcional – ao ocidente, onde a infertilidade do sistema despótico e as violentas consequências da tirania se manifestam. Dentro dessa perspectiva, a intriga do serralho desenvolvida ao longo do romance não é mais compreendida como um mero elemento de exotismo oriental, mas como o ambiente do despotismo doméstico, o que permite estabelecer um vínculo entre a intriga do harém e as reflexões político-filosóficas tecidas ao longo da obra.

REPRESENTAÇÕES DA PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF PELO

“MOVIMENTO BRASIL LIVRE”

Thaiza de Carvalho dos Santos

Viviane Cristina Vieira

Universidade de Brasília

Este artigo apresenta reflexões iniciais da pesquisa de Mestrado em desenvolvimento “Movimentos sociais em rede: uma aproximação das ações sociodiscursivas do ‘Movimento Brasil Livre’” (Santos, inédito), com base na Análise de Discurso Crítica e na Semiótica Social, compreendendo o texto e suas múltiplas semioses como a parte discursiva situada de práticas sociais mais amplas. Neste recorte do corpus, analisamos, principalmente, dois textos divulgados na página do Facebook do Movimento Brasil Livre (MBL, movimento de jovens de extrema-direita que surgiu em 2014 alinhado aos ideários políticos neoliberais) nos dias 7 e 18 de março de 2016 sobre o processo de investigação de atos de corrupção no Governo Federal. Esses textos principais representam a Presidenta do Brasil Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, eleita em 2010 e reeleita em 2014; e o juiz Sérgio Moro, responsável pela condução dos julgamentos, em primeira instância, dos crimes investigados pela Operação Lava-Jato no Brasil. Os resultados iniciais do estudo identificam, nas inter-ações em rede do MBL, seu alinhamento com uma cadeia de discursos hegemônicos que constroem uma narrativa dissimuladora fundada no esquema cognitivo protagonista-antagonista com potencial para disseminar e legitimar o funcionamento ideológico básico das sociedades capitalistas contemporâneas centrado no cinismo (Zizek, 1989; Baldini, 2009).

UM ESTUDO DO ESTILO NOS GÊNEROS DO DISCURSO BIOGRAFIA E

AUTOBIOGRAFIA

Tiago Ramos e Mattos Pontícia Universidade Católica de São Paulo

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O presente trabalho perspectivou o estudo contrastivo dos gêneros do discurso biografia e autobiografia, por intermédio do estudo do estilo em ambos os gêneros do discurso, verificando em que convergem e no que divergem a biografia e a autobiografia. Este trabalho trouxe à tona, como tema de pesquisa, um estudo dos gêneros biografia e autobiografia, voltado para o processo de elaboração textual em sua constituição estilística, nos moldes propostos por Bakhtin. Teve como problema de pesquisa a pergunta: Quais são as características convergentes e mais precisamente as características divergentes, presentes na identificação dos gêneros do discurso biografia e autobiografia, levando-se em conta o estilo de ambos os gêneros do discurso? O objetivo central da pesquisa estava em verificar a construção dos gêneros do discurso biografia e autobiografia, estabelecendo uma análise comparativa entre os gêneros, a fim de caracterizar as semelhanças e as diferenças entre ambos os gêneros do discurso. Como bases teóricas, utilizamos as considerações de Arfuch (2009/2010), Bakhtin (1992), Bakhtin/Valoshínov (2009), Brait (2006), Brait/Melo (2005), Castro (2014), Fairclough (1992), Fiorin (2006/2008), Vilas Boas (2007). Os corpora selecionados foram a biografia e a autobiografia de Malala Yousafzai, ativista paquistanesa que luta pela questão da educação. Com base na análise contrastiva dos gêneros do discurso biografia e autobiografia, chegou-se ao resultado que a biografia, quanto ao estilo, tem como característica um estilo formal, “escrito como se escrito”, com uma preponderância do estilo pictórico sobre o estilo linear. A autobiografia também é formal, embora seja travestida de uma intenção informal derivada do seu posicionamento enunciativo-discursivo, que pressupõe a unicidade do pronome pessoal do caso reto “eu” e que tem, portanto, um estilo escrito como se falado, tendo uma preponderância do estilo linear sobre o estilo pictórico.

THE PUBLIC INSTRUCTION AS A PROGRESS AND POWER SIGN OF SOCIETY CHANGING: AN ANALYSIS OF THE EDUCATION THEME IN THE

DISCOURSE OF GLORIA’S POPULAR CONFERENCES

Urbano Cavalcante Filho

Universidade de São Paulo / Université Paris Ouest / Instituto Federal of Bahia

Considering the sociological method of language theory from the so called

Bakhtin’s Circle, my aim, in this oral communication, is analysing how the

conferences dedicated to the public instruction theme in the discourse and

ideological project of Gloria’s Popular Conferences (important activity of scientific

dissemination in the nineteenth century), constituted itself as a sign of progress

and power of Brazilian society changing in the nineteenth century. I intend this

way, from the theoretical and methodological support of the bakhtinian

metalinguistics, discuss how the conferences about education, constant in

Gloria’s Popular Conferences, structured this discourse project. In this task, I will

analyse how this theme’s effects of sense are constructed, from two main

focuses: i) the observation of the dialogical and dialectical relation between the

two centers of values that provide compositional and architectural form to this

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axis (such as: the popular instruction as people’s right and a duty of the State); ii)

the observation of the utterances convocation of other ideological spheres and

their discourse relations in order to build and shape this project of society

changing, as “driving force of progress”. They will be used as corpus for this

study, the conferences entitled “Public Instruction” and “Obligatory Teaching”,

both issued by the Adviser Manoel Francisco Correia, the Conferences’ founder,

and published in the homonymous magazine Popular Conferences (1876).

ANÁLISE DE TEXTO SOB A ÓTICA DA LINGUÍSTICA TEXTUAL E DA ANÁLISE DE DISCURSO: UM OBJETO E DOIS PONTOS DE VISTA

Elayne Silva de Souza Valquíria Areal Carrizo

Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Universidade Federal Fluminense

O presente artigo objetiva analisar a textualidade e a discursividade da capa do jornal Estado de Minas, edição do dia 26 de novembro de 2015, que alcançou grande repercussão, com dezenas de milhares de compartilhamentos nas redes sociais. A capa traz a manchete: “Nas praias, nos rios, no Senado... SUJEIRA PRA TODO LADO. QUE PAÍS É ESTE?”. Além deste, outros títulos também foram escritos a partir da letra da canção de Renato Russo, destacando a maior tragédia ambiental da história do Brasil, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), atrelada à indignação coletiva relacionada à corrupção na política brasileira, a partir de outro fato histórico, com a primeira prisão de um Senador da República, Delcídio do Amaral. Para tanto, buscamos os princípios teóricos que conduzem um trabalho analítico na Linguística Textual e na Análise de Discurso de linha francesa, por acreditar que ler e compreender textos envolvem uma atividade tanto decodificadora quanto criadora,saindo da superfície textual e dos fatores que a compõem, indo a universos construídos com bases nas experiências históricas, sociais e culturais determinadas. Com isso, no trabalho em sala de aula, o professor tem a missão de transformar as atividades de leitura em atividades de conscientização e de estudo das condições de produção de leitura e dos seus sujeitos, levando os alunos a perceber como os sentidos são produzidos no texto e seus fatores de textualidade.

O PODER DO DISCURSO NA CO-CONSTRUÇÃO DE NOVOS MATERIAIS DIDÁTICOS DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: UM CONTRAPONTO COM O

DISCURSO DO PODER NOS LIVROS FORNECIDOS PELO GOVERNO FEDERAL

Valquíria Areal Carrizo Elayne Silva de Souza

Universidade Federal Fluminense

Reflexão sobre o discurso do poder, pré-estabelecido, “já-dito”, de materiais de línguas estrangeiras, Espanhol e Inglês, destinados ao Ensino Técnico

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integrado, do Instituto Federal de Minas Gerais – campus Muriaé, em contraponto com a criação de material didático, de línguas, que atenda -conjuntamente- ao Ensino Médio e a parte técnica dos alunos, com o prosseguimento dos estudos e ao mundo do trabalho - vida profissional do educando. É partindo desta realidade, que questões de política e planejamento lingüístico são suscitadas, trazendo a provocação sobre o “poder do discurso” no aperfeiçoamento e aprendizado da prática docente em atividade conjunta com os alunos, com o intuito de demonstrar a construção da imagem dos participantes discursivos. Um recorte na análise será feito para que os livros didáticos, legislações e ementas/ programas analíticos vigentes possam ser discutidos pelo viés do discurso. Também, o uso da multimodalidade será abordado no sentido de discutir a mediação de multissistemas no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, na aquisição de segunda língua, principalmente, no que tange às novas metodologias e tecnologias utilizadas em sala de aula. Para melhor abordarmos as questões destacadas, partiremos do cotejo com textos de Louis-Jean Calvet, Michèle Lacoste, Yves Schwartz, Mikhail Bakhtin, Dominique Maingueneau, Eni Orlandi, Vera Lúcia Paiva, dentre outros; verificando, analisando e contrastando com o ensino de línguas estrangeiras realizado em nosso país, muitas vezes silenciado e apagado, para, enfim, traçar um plano de trabalho, corpus experimental, de co-construção dos novos materiais, que representem o ensino integrado, em nível institucional – federal.

POLÍTICA NACIONAL BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA ANÁLISE DO

DOCUMENTO A PARTIR DO MODELO TRIDIMENSIONAL DE FAIRCLOUGH

Vanessa Gomes Teixeira Universidade do Porto / Universidade do Estado do Rio de Janeiro

No inicio do século XXI, começa a ser discutida a estrutura partitiva reproduzida nos sistemas de ensino, que mantém um alto índice de pessoas com especificidades em idade escolar fora da escola regular e, majoritariamente, em escolas e classes especiais. Com a intensificação dos movimentos sociais de luta contra todas as formas de discriminação que impedem o exercício da cidadania dessas pessoas, emerge, em nível mundial, a defesa de uma sociedade inclusiva. Esta perspectiva sugere novos rumos para a educação especial e tenta implementar políticas de formação, financiamento e gestão necessárias para a transformação da estrutura educacional, a fim de fornecer condições de acesso, participação e aprendizagem de todos estudantes. A Educação Inclusiva visa à participação integrada de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular, reestruturando o ensino para que este leve em conta a diversidade dos alunos e atente para as suas singularidades. Ela tem como objetivo o crescimento de cada aluno como indivíduo e a formação de uma escola democrática, que respeita as diferenças e tem uma infra-estrutura para lidar com elas, já que o ensino deve ser para todos. Assim, o presente trabalho visa analisar o documento “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, considerado um marco teórico e organizacional na educação brasileira, pois defende à inclusão de alunos com especificidades no sistema regular de ensino, com atendimento educacional

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especializado complementar. O referencial teórico utilizado na pesquisa é a Análise Crítica do Discurso, tendo como base para a análise o modelo tridimensional de Fairclough (1992). Para tal objetivo, organizo essa pesquisa em partes. Primeiramente, falo sobre as etapas de análise propostas por Ramalho & Resende (2006). Depois, analiso o documento “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva” a partir das etapas do modelo tridimensional proposto por Fairclough (1992).

LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA”: O DISCURSO DE

PODER NA NARRATIVA LITERÁRIA QUEIROSEANA

Vânia Lúcia Menezes Torga Universidade Estadual de Santa Cruz

A presente proposta de comunicação tem como aporte teórico-metodológico a

análise do discurso bakhtiniana e as ideias de Arfuch sobre o espaço biográfico,

memória e autobiografia, em que o relato de uma vida traz, tal qual a rapidez de

um relâmpago, as vozes do passado constituindo o presente. As perguntas

motivadoras dessa reflexão são: como um projeto de poder pode ser percebido

na esfera educacional em uma narrativa literária e como o discurso literário

reflete e refrata as marcas enunciativas desse projeto de poder? O objetivo que

norteia o estudo pretende discutir como a narrativa queiroseana em Ler, escrever

e fazer conta de cabeça (1996) faz cruzarem, e desvela discursivamente, as

esferas literárias, educacional e política, denunciando os “modos discursivos do

exercício do poder” no espaço micro e macrossocial. Desse modo a proposta

de reflexão contemplará como eixo catalizador das análises, o discurso literário

queiroseano, trazendo com as memórias do menino-narrador, as marcas

enunciativodialógicas das esferas educacional e política dos anos 40-50 e que

se atualizam na contemporaneidade em “vozes, imagens, materialidades,

riscos”, configurando-se uma imposição e ou manutenção de poder.

ESTREIA NA LIDERANÇA: PARA ELES O DESAFIO, PARA ELAS A

INSEGURANÇA

Virgínia Carollo da Costa Dias Universidade do Estado do Rio de Janeiro

O trabalho a ser apresentado tem como proposta, a partir do arcabouço teórico

da análise do discurso (AD) de corrente francesa, analisar as construções dos

padrões de gênero presentes em duas matérias prescritivas sobre liderança no

trabalho retiradas das revistas brasileiras Você S/A, especializada em emprego

e empregabilidade, e Cosmopolitan/Nova, voltada para o público feminino. A

motivação para tal análise partiu dos estudos de Helena Hirata e Danièle Kergoat

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sobre a divisão sexual do trabalho. As autoras trabalham com o conceito de

coextensividade, isto é, elas consideram que as relações de trabalho são

indissociáveis das relações sociais e não podem ser analisadas separadamente.

Não há, portanto, hierarquia entre relação econômica e sexual. Propõe-se então

pensar este conceito dentro de uma perspectiva discursiva, investigando-se qual

a relação entre o discurso sobre trabalho e os discursos de dominação masculina

e opressão feminina. Desse modo, busca-se compreender qual é a imagem do

sujeito “trabalhador corporativo” construído pelas duas matérias, uma vez que

uma delas é destinada exclusivamente a trabalhadoras mulheres e a outra aos

trabalhadores em geral, sem distinção de gênero. Tendo como base teórica a

AD de corrente francesa, trabalha-se com a noção de sujeito descentrado em

que este não é a causa de si. O sujeito é, assim, considerado como uma dentre

as várias posições no discurso. Posições essas cujos sentidos são construídos

pela historicidade e que constituem a memória discursiva, isto é, o “já-dito”, o

que fala antes, em outro lugar. A historicidade aqui não representa uma

sequência de fatos cronologicamente organizados, mas sim a forma pela qual a

história se inscreve no discurso. Desse modo, dentro da proposta trazida, busca-

se analisar como os discursos de construção de gênero e trabalho são afetados

pela historicidade e de que forma os sentidos foram e são construídos e

repetidos nessa trama discursiva.

“TCHAU, QUERIDA!” E “FICA, QUERIDA!”: MANIFESTAÇÕES

DISCURSIVAS NO CONTEXTO DO PROCESSO DE IMPEACHMENT DA

PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF À LUZ DA ADF

Virgínia Leal Universidade Federal de Pernambuco

Virgínia Colares

Universidade Católica de Pernambuco

Reeleita em 2014 com mais de 54 milhões de votos, a presidenta Dilma

Rousseff, enquanto mulher, representa mais de 51% da população brasileira.

Esse fato vem romper com a tradicional configuração patriarcal da sociedade

brasileira. Nesse novo mandato, em razão das dificuldades político-econômicas,

um processo de impeachment foi autorizado pela Câmara dos Deputados em 17

de abril do ano em curso. Em meio a manifestações dos votos com expressões

descoladas de uma argumentação política, aparece o “Tchau, querida!”,

claramente investido de ironia, ódio e rejeição às mulheres. É objetivo desta

pesquisa refletir sobre expressões e fórmulas discursivas que materializam

violência de gênero, analisando essa expressão a partir de suas condições de

produção, de seus elementos constituintes e dos efeitos de sentido gerados por

ela. Inicialmente, discute-se os significados políticos e simbólicos dos usos do

“Tchau, querida!”; em seguida, contextualiza-se o surgimento do “Fica, querida!”;

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finalizando com a repercussão das duas expressões na sociedade brasileira, em

geral, e no movimento feminista e de direitos humanos em particular. Por fim,

com base na Análise do Discurso Francesa (ADF), especialmente nos estudos

de Alice Krieg-Planque (2010, 2011) analisa-se a caracterização dessas

expressões enquanto fórmulas discursivas. Faz-se, ainda, identificação dos

enunciadores e co-enunciadores quanto aos seus pertencimentos a grupos

históricos oriundos das elites e das camadas populares de modo a se

problematizar as formas de opressão e de luta contra essa opressão pela via do

discurso, contribuindo para a efetivação dos direitos humanos no campo das

questões de gênero.

DIREITOS INDÍGENAS E DESCOLONIALIDADE NAS DECISÕES JUDICIAIS

DAS CORTES MAJORITÁRIAS NO BRASIL

Virgínia Colares Universidade Católica de Pernambuco

Virgínia Leal

Universidade Federal de Pernambuco

Déborah Freitas de Souza Universidade Católica de Pernambuco

A sociedade atual ainda se encontra sob efeito da herança colonial iniciada pela

Europa e disseminada por todo o mundo. A ideia da superioridade ainda

presente na atualidade entre uma cultura e outra e a existência de uma forma

única e correta de comportamento fez com que o direito de grupos minoritários

fosse ignorado em prol de um direito reconhecido pela maioria. Graças a

presença ainda forte do eurocentrismo na sociedade, este trabalho encontra sua

importância na tentativa de preservar o direito de uma dessas minorias, muitas

vezes não só esquecida pela mídia como também pelo direito, os índios, a partir

do reconhecimento da ideologia nas decisões jurídicas. Este trabalho tem como

objetivo identificar, nas peças processuais autênticas, as pistas das estratégias

linguístico-discursivas dos modos de operação da ideologia no discurso de

fundamentação nas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) no que

concerne aos direitos das minorias indígenas vulneráveis. Observa-se uma

relação entre o discurso de fundamentação nas decisões do STF relativas aos

direitos das minorias e grupos vulneráveis aos achados dos estudos das

matrizes teóricas pós-colonial e descolonial para a fundamentação dos direitos

humanos. A metodologia da Análise Crítica do Discurso Jurídico (ACDJ), com

ênfase nos efeitos ideológicos e políticos do discurso, revela no corpus desta

análise, uso significativo dos modus operandi da ideologia, a seguir: (a)

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legitimação; (b) dissimulação; (c) unificação (d) fragmentação (e) reificação e

seus desdobramentos, postos por J. B. Thompson (1995). Assim, como

resultado, desaloja-se aquilo que se oculta ideologicamente ou que se esconde

nas entrelinhas seja no plano do posto, do pressuposto, do implícito ou do

subentendido das decisões do STF. Dessa maneira contribui-se, tanto

metodologicamente com uma proposta linguístico-discursiva para análise de

decisões judiciais majoritárias, como com dados autênticos para fundamentar as

políticas públicas voltadas aos direitos das minorias e grupos vulneráveis.

A (NÃO) ASSUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO

GÊNERO SENTENÇA: UMA ANÁLISE DOS CONECTORES

William Andriola de Jesus Alexandro Teixeira Gomes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

A (não) assunção da Responsabilidade Enunciativa, doravante RE, configura-se

como recurso argumentativo fortemente marcado pelo produtor de um texto com

vistas a seus propósitos comunicativos (Cf. Gomes, 2014). Baseado nesse

entendimento, objetivamos, nesse trabalho, discutir como se configura a (não)

assunção da RE no gênero sentença condenatória. Do ponto de vista teórico,

amparamo-nos, sobretudo, em Adam (2011), Lourenço e Rodrigues (2013),

Gomes (2014), Marquesi (2014), Rabatel (2009), Nølke (2013), Nølke, Fløttum e

Norén (2004), Guentchéva (1994, 1996) e Guentchéva et al. (1994). Do ponto de

vista metodológico, analisamos um corpus constituído por cinco sentenças

condenatórias oriundas das cinco regiões do Brasil, em que discutimos a função

dos conectores enquanto marca de (não) assunção da RE. Objetivamos, ainda,

refletir sobre como a (não) assunção da RE corrobora para fomentar os discursos

de poder no discurso do produtor do texto. Por fim, esperamos que este trabalho

possa contribuir para aprofundar os estudos voltados para o tema dessa

investigação, bem como para os estudos do texto e do discurso de forma mais

geral e para os estudos do discurso jurídico de forma mais aplicada.

CITAÇÃO DO EXEMPLO COMO ESTRATÉGIA RETÓRICA NA ARGUMENTAÇÃO DE SÊNECA EM SUAS CARTAS A LUCÍLIO

Zilda Andrade Lourenço dos Santos Universidade Federal do Espírito Santo

Com base nos pressupostos aristotélicos sobre o exemplo como retórica

indutiva, efetua-se neste trabalho a análise desse funcionamento persuasivo do

exemplo no discurso, através de partes de cartas de Sêneca a Lucílio. Foucault

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identifica que nos exemplos apontados por Sêneca, os personagens

históricos merecedores de atenção e imitação são aqueles que se mostraram

não exatamente donos do mundo, mas de si mesmos. Estes alcançaram tal

domínio, galgando a escalada da virtude. Assim como o exemplo histórico tem

por si só uma força persuasiva, como defendido por Aristóteles, o exemplo

pessoal funciona no discurso em instâncias distintas. Por um lado, o enunciador

traz para a enunciação fato ocorrido de sua própria experiência, para servir de

exemplo aos seus destinatários. Por outro lado, o exemplo pessoal serve como

forma de identificação do ethos mostrado no discurso. Desse modo, o efeito do

logos atinge o pathos, ou seja, o discurso alcança a audiência a qual o ethos se

dirige. Nessa perspectiva, as três provas: ethos, logos e pathos são acionadas

em conjunto, pela estratégia do recurso do exemplo pessoal. No gênero

epistolar, o uso do exemplo do outro pode funcionar diante do destinatário como

um incentivo ao imitatio, enquanto o exemplo pessoal pode estabelecer uma

relação de autoridade testemunhal de quem fala, trazendo para a enunciação

uma discursividade distinta daquela do exemplo histórico. Neste caso, o próprio

enunciador coloca-se como voz autorizada no fortalecimento da persuasão.

Nessa perspectiva, o exemplo pessoal, no gênero epistolar, também opera como

ensinamento de algo comum entre o emissário como enunciador e o destinatário

como co-enunciador na cena enunciativa.

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RESUMOS DOS PÓSTERES

A RETÓRICA DO CONVENCIMENTO: UMA ANÁLISE DO DISCURSO DE

DILMA ROUSSEF NA CAMPANHA PARA A REELEIÇÃO

PRESIDENCIÁVEL EM 2014

Aldora Maia Veríssimo FAPREV - Presidente Venceslau

O propósito deste trabalho é analisar a constituição do discurso político em

campanhas eleitorais para compreender o jogo estratégico que se constrói com

o objetivo de convencimento dos eleitores. O corpus deste trabalho é formado

por trechos de discursos da candidata do PT - Partido dos Trabalhadores, do

Brasil, Dilma Roussef em campanha pela reeleição em 2014, incluindo-se

trechos do discurso de posse em janeiro de 2015. Pretende-se identificar os

processos de produção que configuram o caráter persuasivo dos textos políticos

e os efeitos de sentido gerados através da cuidadosa seleção de signos

linguísticos. A análise do discurso enfatiza a importância das condições

contextuais de produção discursiva para a determinação de funcionamento dos

signos, assim, segundo Trevizan (2002), uma concepção mais totalizante e atual

de texto, pressupõe uma unidade gramatical, uma unidade semântica e uma

unidade pragmática entendendo a enunciação verbal como uma realidade

comunicacional fortemente impregnada por relações pragmáticas. Dessa forma,

apesar do processo de construção lexical e sintático do texto, seu sentido vai

além da literalidade configurando-se enquanto símbolo socioideológico. Assim

sendo, toda comunicação verbal, inclusive a dos discursos políticos, não se

justifica se isolada em si mesma, ou seja, fora de um vínculo com a situação

extralinguística e/ou social. Sendo o discurso uma representação e significação

do mundo, sua produção envolve condições sociais, tendo em vista a sociedade

em que se insere e o objetivo a que se propõe: o convencimento do eleitorado.

Portanto, para comprovar as estratégias de convencimento, recorremos à

metodologia da Análise Crítica do Discurso, buscando analisar e refletir sobre a

questão por meio de trechos selecionados dos discursos presidenciais, como

ilustração da proposta nuclear da pesquisa. A discussão teórica faz-se a partir

também dos trabalhos de Bakhtin (1997), Trevizan (2002), Eco (1991), Foucault

(1979), entre outros.

A CONSTRUÇÃO DA FIGURA DO PAPA FRANCISCO NO DISCURSO DA

MÍDIA: UM PAPA DIFERENTE?

Carlos Eduardo Barbosa

Universidade Federal de Pernambuco

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Este projeto buscou analisar o modo de constituição da figura do Papa Francisco

pelo discurso da mídia, dos fiéis e do próprio Papa, explorando a sua condição

de fama, assim como a sua construção heroica, o que acaba por produzir um

discurso de poder. Utilizando dos saberes da análise do discurso de linha

pecheutiana, a qual trata o sujeito como o sujeito do discurso, o qual é

interpelado pela ideologia e determinado pelas condições histórico-sociais que

trata do sujeito, buscando assim saber como ocorrem os processos de

(des)identificação com essa figura e os papéis da memória e da resistência;

foram então analisadas imagens da revista americana Out Magazine, manchetes

de reportagens e comentários de leitores (fiéis e não fiéis) que circularam na

mídia e nas redes sociais acerca dos "feitos" do Papa Francisco, bem como uma

entrevista com o discurso do próprio Papa, a partir de um recorte referente ao

seu ano de nomeação, buscando assim, trabalhar com o discurso visual e

textual, da própria mídia e do próprio Papa. Um desses feitos é a sua declaração

acerca dos homossexuais - a de que entende e aceita os homossexuais, mesmo

que a igreja não aceite tal prática - considerada uma das declarações mais

polêmicas dos últimos tempos na igreja. Por essa e outras declarações

consideradas controversas com a doutrina da Igreja Católica, algumas

abordando assuntos além da religião, o Papa Francisco foi alçado pela mídia

como um herói de alcance mundial, o qual chega a ser santificado por suas

ações "inovadoras". Observamos, nas análises realizadas, que é recorrente a

construção do Papa Francisco como santo-herói-revolucinário que busca acabar

com as injustiças desse mundo.

OS IMPACTOS SOCIAIS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: (UM OLHAR A

PARTIR DOS BO’S SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DE DISCURSO)

Laura Berguette Chaves Laura Kemper Roca

Sérgio Nunes de Jesus Instituto Federal de Rondônia

O presente trabalho fundamenta-se em pressupostos da Análise do Discurso, a saber: Althusser (1985), Pêcheux (1987), Jesus (2011), bem como Enunciação: Bakhtin (1997) que analisa a questão da violência doméstica a partir da interpretação nos Boletins de Ocorrências, observando causas e consequências do impacto sociocultural e, ao mesmo tempo linguístico. A metodologia instituída foi a partir de referências bibliográficas e de campo ao evidenciar formas distintas enunciações nos BO’s e de que maneira é atravessada no viés da discursividade. A interpretação nos BO’s é derivada pela linguagem utilizada do sujeito e a interpelação do seu interlocutor que dependerá das informações materializadas no ato do depoimento. Portanto, observou-se a partir das materialidades constituídas: linguística e discursiva – de que maneira o pré-julgamento é inserido discursivamente nas investidas da linguagem policial nos BO’s.

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