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JADIS VI / CIED II
CADERNO DE RESUMOS
ORGANIZADORES
Faculdade de Letras da Universidade do Porto I&D Centro de Linguística da Universidade do Porto Em parceria com USP – Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
26. 27 e 28 de outubro de 2016
Site: http://web.letras.up.pt/jadis/
E-mails: [email protected] ; [email protected];
OBSERVAÇÃO:
Os resumos dos painéis temáticos estão organizados pela ordem numérica por que se encontram na programação. Os resumos das comunicações individuais encontram-se por ordem alfabética pelo primeiro nome de cada autor. O conteúdo e a redação de todos os textos são da inteira responsabilidade dos seus autores.
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RESUMOS DOS PAINÉIS TEMÁTICOS
PAINEL TEMÁTICO 1
BRASIL.com: O DISCURSO DO GOLPE NAS REDES SOCIAIS
Coordenadora: Karina Falcone
Universidade Federal de Pernambuco
O Brasil mergulhou definitivamente, em 2016, numa profunda crise política que não cessa de produzir seus efeitos sobre os sujeitos e seus discursos, colocando à mostra diversas feridas de uma nação cindida. No campo do discurso, um espaço tem se mostrado como particularmente profícuo para a análise desses momentos, da luta de classes que o gestou, da manipulação midiática que o alimenta, da disputa pela palavra, pelo sentido que tem sido uma de suas marcas: o virtual e suas redes colocam em evidência os sujeitos e seus discursos, as contradições, os atos falhos que se produzem numa língua que falta, na qual se tropeça. Os trabalhos que reunimos nesse Painel Temático se ocupam desse momento e dos discursos que o produzem, que o denunciam, que mostram suas diversas fases. Tratam-se de trabalhos que, em diálogo com diferentes vertentes da análise do discurso, vão se ocupar dos discursos que circulam no espaço virtual mostrando tanto as formas de resistência ao golpe, como os modos de gestá-lo, mediante a construção de uma divisão nacional que coloca, de um lado, os que reconhecem o golpe e seus efeitos e, de outro, aqueles que o recusam enquanto possibilidade de interpretação dessa realidade social. Das disputas pelo significante aos discursos de ódio, das hashtags que se proliferam aos ataques à cultura...... vamos vendo se gestar uma divisão talvez irreconciliável em uma sociedade que se recusa a reconhecer suas próprias feridas.
O FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DAS #: PENSANDO O DISCURSO POLÍTICO DAS REDES
Fabiele Stockmans De Nardi
Universidade Federal de Pernambuco
Lucirley Alves de Oliveira Universidade Federal de Pernambuco
Os fatos recentes da história política brasileira, entre outras questões, colocaram as redes sociais da Internet em um lugar de protagonismo na luta política. A “militância digital” tem sido fundamental nas lutas travadas no país, visto que trazem para esse espaço vozes que, talvez, fora deles, tardiamente seriam ouvidas ou percebidas. A rede parece constituir-se, assim, como um espaço no qual os sujeitos usuários encontraram formas diversas de se organizar para denunciar, protestar e reivindicar. Dentro desse universo, nos interessa, em
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particular, o modo como aparecem as hashtags como espaço de construção de demandas coletivas, que se condensam nesse enunciado convocatório (GRIGOLETTO; DE NARDI, 2015; 2016) que acompanha a hashtags, chamando os sujeitos a aderir a ele, a colar-se a essa voz. Olhando para o entrecruzamento entre as questões técnicas que envolvem o uso e circulação da hashtags, e seu funcionamento discursivo (PAVEAU, 2013; SILVEIRA, 2015), pretendemos, nesse trabalho, discutir a construção da relevância para hashtags como #ForaTemer #NãoVaiTerGolpe, que têm circulado em diversos espaços nos últimos meses, saindo da rede para as ruas. Perguntamo-nos se, nesse contexto, dada a pluralidade de ideias/opiniões/posicionamentos, as hashtags surgem como uma ferramenta que permite transformar a voz do "eu" na voz do "nós"? Como ecoam, essas vozes, no espaço público e no espaço virtual? Em que medida são, as hashtags, uma marca ou um fruto da resistência que se materializa nas redes? “A CULTURA TAMBÉM MERECE QUE SE LUTE POR ELA”: O GOLPE NO BRASIL E OS SENTIDOS EM TORNO DO SIGNIFICANTE “CULTURA” NO
ESPAÇO VIRTUAL[1]
Felipe Augusto Santana do Nascimento (CNPq) Doutorando na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
O recente golpe parlamentar que afastou a Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, em maio de 2016, foi alvo de muitas críticas por parte da população e de movimentos sociais e, em contrapartida, gerou o silêncio da grande mídia brasileira. A extinção do Ministério da Cultura (MinC) foi uma das primeiras medidas tomada pelo Presidente interino, Michel Temer, produzindo em parte dos artistas, dos produtores culturais e da população brasileira críticas e repercussões negativas. O Estado, por meio de seu papel de “articulador simbólico” dos vínculos sociais (ORLANDI, 2010), por muito tempo, produziu um imaginário de consenso pelas políticas públicas de cultura, ao administrar a diferença em prol de uma unidade imaginária; no entanto, a ruptura parlamentar-democrática provocou na esfera cultural conflitos e embates políticos. Iniciou-se, assim, uma série de mobilizações nos mais variados espaços culturais e nas redes sociais que culminaram na recriação do MinC, onze dias após a sua extinção. Filiado à Análise de Discurso materialista, busco analisar o lugar atribuído à cultura e os sentidos em torno desse significante nos discursos que circularam no espaço virtual a partir do golpe de 2016 no Brasil. Dessa forma, tanto o ódio à cultura quanto a resistência pela cultura foram postas em circulação num país onde os sentidos em torno do direito à cultura pareciam estar semanticamente estáveis. A breve extinção do Minc, portanto, expôs a diferença constitutiva das relações sociais e a dificuldade do governo ilegítimo de administrar esse litígio.
[1]Refiro-me à passagem “a metáfora também merece que se lute por ela”, do livro “A vida está em outro lugar”, de Milan Kundera, à qual Françoise Gadet e Michel Pêcheux fazem referência em “A língua inatingível”.
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MÍDIA NINJA E O CONTRAPODER DAS REDES SOCIAIS NO PROCESSO DE (DES)LEGITIMAÇÃO DO GOLPE
Karina Falcone Universidade Federal de Pernambuco
Discursos constituem sociedades e têm força para (des)legitimar atores, grupos
e fatos sociais. Tal afirmação tem como aporte teórico a Análise Crítica do
Discurso e a Linguística Cognitiva. Seguindo essas perspectivas, proponho
analisar o processo de categorização (LAKOFF, 1990; MARCUSCHI, 2004) e
(des)legitimação (HABERMAS, 1973) do afastamento da Presidenta Dilma
Rousseff do cargo, partindo de duas macrocategorias: impeachment x golpe.
Essas macrocategorias constituem discursos que se situam em campos
ideológicos antagônicos: os das mídias tradicional e dos coletivos midiáticos,
respectivamente, sendo que os coletivos têm protagonizado um processo de
democratização da comunicação brasileira e promovido o acesso discursivo
(FALCONE, 2005; VAN DIJK; 2008) de vozes contrárias ao status quo.
Historicamente, o jornalismo brasileiro opera na categorização de fatos sociais
legitimando discursos de grupos ideologicamente dominantes (FALCONE,
2008). Para esta investigação, analisamos a cobertura do Mídia Ninja (MN) e da
Folha de S. Paulo (FSP) sobre um mesmo evento: as manifestações do dia 11
de junho de 2016, ocorridas em várias cidades do Brasil, da América Latina e da
Europa contra o golpe. O objetivo deste estudo é identificar as ações do MN
como um grupo do contrapoder no embate político brasileiro, e que, ao promover
um novo modelo de comunicação, vem desconstruindo o discurso da mídia
tradicional (impeachment) e denunciado o golpe. O Mídia Ninja surge em 2013
como um braço de comunicação do coletivo Fora do Eixo, organizado pouco
antes das Jornadas de Rua ocorridas no Brasil em junho de 2013. Ninja é uma
sigla de “Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação” e tem sido um dos
coletivos que proporciona a já denominada “Revolução Compartilhada”: a
possibilidade de acessar, a partir de recursos tecnológicos, protestos e
manifestações sistematicamente silenciados pela mídia tradicional brasileira. As
comunidades em rede possibilitam a visibilidade de atores sociais que
empoderam minorias sociais e que passam a enfocar, de forma crítica e criativa,
experiências sociais significativas (BOQUILLION e MATHEWS, 2010).
QUANDO A FALHA DENUNCIA O GOLPE: REDES SOCIAIS, DESLIZE E RESISTÊNCIA
Rita de Kássia Kramer Wanderley (CNPq) Doutoranda na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
A imprensa internacional tem repercutido a situação política brasileira como um golpe; no entanto, no País, através da mídia de massa, essa nominação tem sido
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relacionada a grupos políticos que apoiam o PT, sigla da presidenta afastada Dilma Rousseff. Michel Temer, presidente em exercício, apesar de ter o apoio da mídia institucional brasileira, enfrenta a resistência dos eleitores que não reconhecem a legitimidade de sua posição no cargo para o qual não foi eleito e que assumiu em condições escusas. Nesse cenário, as redes sociais têm funcionado como principal canal midiático da resistência ao que estamos chamando de Golpe de 2016, uma vez que a mídia institucional tem silenciado os discursos que defendem esse ponto de vista. Há, portanto, uma luta ideológica, política e discursiva em torno do significante “golpe”, que marca posições econômicas e sociais complexas no cenário brasileiro. Partimos de uma perspectiva discursiva na qual entendemos o discurso como materialidade múltipla: linguística, histórica, ideológica e atravessada pelo inconsciente. A língua, materializada em discurso, não é idêntica a si mesma e admite a falha (PÊCHEUX, 1995). Nossa análise se desenvolverá tomando como ponto de partida um enunciado produzido em uma postagem do presidente interino Michel Temer em seu Twitter a respeito do “golpe”, em que a falha se revela e irrompe a formulação: “[...] pelo que sei, a senhora presidente utiliza o avião [...] para fazer campanha denunciando o golpe”. Essa publicação gerou vários comentários e compartilhamentos nas redes sociais sublinhando o deslize discursivo, em que os sujeitos internautas posicionam-se resistindo ao golpe. Nosso trabalho, portanto, procura demonstrar como, nas redes, a partir da produção de enunciados relacionados a essa publicação, a luta no terreno da linguagem alarga as possibilidades para discursos de resistência quando o controle do dizer é capilarizado.
ÓDIO E IMAGINÁRIO: A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE NORDESTINOS E PETISTAS COMO INIMIGOS DO BRASIL
Thiago Alves França (PAC-UNEB) Doutorando na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Desde a disputa eleitoral entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) durante o segundo turno das eleições presidenciais, no final de 2014, a imagem de um Brasil cindido voltou a se materializar em diferentes espaços, incluindo os virtuais. Pareceu necessário, para alguns, naquele momento, utilizar o mapeamento da maioria dos eleitores que decidiu pela reeleição da presidenta para culpabilizá-los pelo mal que teriam feito ao país. A região Nordeste do Brasil, embora não tivesse condição de determinar sozinha o resultado final apresentado com a apuração das urnas, foi escolhida como principal responsável pela reeleição de Dilma Rousseff, o que justificaria, segundo essa “lógica”, a urgência de uma medida separatista. Os enunciados que apontavam para a divisão do Brasil indiciavam uma “identidade” nacional fraturada, que se desdobrou na necessidade de salvar o Brasil daqueles que, supostamente, queriam destruí-lo. Nesse processo imaginário de reconstrução de uma identidade nacional, que passa pela produção de um inimigo cuja necessidade de exterminar é princípio reunificador, assistimos à construção discursiva do nordestino-petista como “inimigo” do Brasil, e, depois, o petista em geral. Nesse cenário, de diferentes suportes, ecoava um enunciado nem sempre explícito, mas persistente: “Brasileiros, uni-vos para combater os petistas e, assim, salvar
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o Brasil”. Disfarçado de patriotismo, em 2016, o Golpe urdido contra a presidenta legitimamente eleita foi apresentado como a salvação do país, o que garantiu adesão de uma parte da população. É esse “enunciado” de defesa do Brasil, materializado em diferentes formulações (re)produzidas em espaços virtuais, que tomamos como objeto de análise. Analisamo-lo a partir da Análise de Discurso pecheutiana, atentando para o modo como o imaginário funciona como Condição de Produção de discursos, e propondo alguns diálogos com outros teóricos, como Michel Foucault e Jacques Sémelin.
PAINEL TEMÁTICO 2
AS RELAÇÕES DE (CONTRA)PODER NO DISCURSO: PRÁTICAS
MIDIÁTICAS, PEDAGÓGICAS E POLÍTICAS
Coordenadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino Universidade de São Paulo
O painel temático proposto busca conciliar as perspectivas teóricas dos pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) voltados aos Estudos do Discurso em Língua Portuguesa e que se interessam por questões concernentes ao discurso pedagógico, ao discurso da mídia e ao discurso político. Propõe-se como fio condutor o tema relações de poder no discurso que será abordado a partir das discussões em torno da Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 2003; 2010) em sua vertente cognitivista (Hart, 2014; Gonçalves-Segundo, 2014; 2015; van Dijk, 2014), da Teoria da Mesclagem Conceptual (Fauconnier e Turner, 2002 e ss), da Teoria da Argumentação (do modo como a abordam Aquino (1997 e ss) e Palumbo (2010), da Teoria Foucaultiana (1979 e ss) e, ainda, segundo Pennycook (2006), Peters (2008,) Estrela (1994), Morgado (1997). SUBJETIVAÇÃO, SABERES E PODERES: O AUTOR DO LIVRO DIDÁTICO
COMO UM INTERVENIENTE NA RELAÇÃO PEDAGÓGICA
Eduardo Lopes Piris Universidade Estadual de Santa Cruz
Assumindo os pressupostos teóricos foucaultianos, tomo o livro didático como um documento que materializa a disciplinarização dos saberes que legitimam as relações de poder na instituição escolar, a fim de encaminhar uma reflexão acerca da função do livro didático nos processos de objetivação e de subjetivação dos intervenientes na relação pedagógica. Esta discussão parte das formulações de Estrela (1994) e de Morgado (1997) sobre a noção de relação pedagógica, especialmente no que tange à assimetria na relação de saber-poder entre os intervenientes de uma situação pedagógica, a saber: o professor e o estudante. Assim, proponho esta reflexão por meio da análise do discurso do livro didático de português para estrangeiros Fala Brasil, com a 17ª edição publicada no Brasil em 2011, examinando os enunciados que constituem
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tanto a apresentação da proposta pedagógica pelo autor ao professor e ao estudante quanto os comandos dos exercícios. A análise sugere que a presença do livro didático na sala de aula institui, simbolicamente, o autor da obra como um terceiro sujeito na relação pedagógica que se coloca na condição de disputar com o professor o lugar de detentor do saber-poder na sala de aula. Por fim, concluo ressaltando a importância do posicionamento crítico do professor nessa relação de poder para além de se afastar ou de se submeter ao livro didático.
DISPOSITIVO DE ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UMA DISCUSSÃO
EM TORNO DO PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO
Isabel Cristina Michelan de Azevedo Universidade Federal de Sergipe
Este trabalho objetiva contribuir para a discussão do que podemos chamar de tradição de ensinar e de aprender língua estrangeira. Concebemos o conceito de dispositivo de ensino de língua estrangeira (ELE), referenciado em Foucault (1979), para investigar um mecanismo de dominação estabelecido, historicamente, por toda uma rede formada pela relação entre o discurso didático-pedagógico, as instituições de ensino, o discurso midiático, as políticas de língua, as leis, a produção científica, os cursos de formação docente e as editoras que publicam livros didáticos. Trata-se de um estudo de caráter bibliográfico e propositivo, que recorre ao conceito de tradição formulado por Bornheim (1987), para refletir como a ruptura pode nos fazer indagar de que maneira, apesar das transformações sócio-históricas e dos “avanços” tecnológicos, a tradição de ensinar e de aprender língua estrangeira vem se perpetuando por séculos. Em fase inicial, consideramos que seja possível delinear os elementos discursivos e não discursivos constitutivos do dispositivo de ELE, por isso recortamos para este momento a observação do livro didático de PLE (LD/PLE), como materialidade que compõe estrategicamente esse dispositivo, analisando-o a partir dos princípios de inversão, descontinuidade, especificidade e exterioridade (FOUCAULT, 2003 [1971]). Os resultados preliminares revelam que a legitimação do discurso do LD/PLE está associada à força contraditória da tradição/ruptura de ensinar e de aprender língua estrangeira, cujos saberes e poderes perpetuam o mecanismo de dominação instituído pelo dispositivo de ELE. Movidos pela suspeição crítica preconizada por Foucault (2000 [1997]) e defendida por Pennycook (2006) e Peters (2008 [2007]), parece-nos imprescindível produzir conhecimento sobre outros elementos constitutivos desse dispositivo, pois a articulação dos discursos e das práticas de todos elementos possibilita o eficaz funcionamento e a perpetuação do dispositivo, ainda que não se tenha clareza acerca das fontes, da origem, das rupturas pelas quais o dispositivo passa no decorrer do tempo.
REPRESENTAÇÃO, CONFLITO E CONCILIAÇÃO: A OCUPAÇÃO DE
ESCOLAS ESTADUAIS PAULISTAS NA FOLHA DE S. PAULO
Paulo Roberto Gonçalves-Segundo Universidade de São Paulo
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Entre o fim de 2015 e o início de 2016, ocorreu, no estado de São Paulo (Brasil),
uma série de ocupações de escolas públicas estaduais por estudantes
secundaristas com o objetivo de protestar contra o processo de reorganização
escolar proposto pela gestão do governador Geraldo Alckmin, que, dentre outras
medidas, previa o fechamento de unidades de ensino e o remanejamento de
funcionários e de estudantes. O movimento ganhou força, espalhou-se por
outros estados e alcançou uma vitória local, na medida em que a medida acabou
sendo revogada temporariamente pelo governo. O objetivo deste trabalho é
analisar, por um lado, a construção de um discurso (aparentemente) conciliatório
realizado pelo jornal Folha de S. Paulo – periódico com maior penetração no país
– em relação à atuação tanto do movimento secundarista quanto do governo em
seus editoriais e, por outro, a construção de um conflito decorrente de tal
posicionamento, que serviu de mote para uma polarização político-partidária
explícita vigente nos comentários online a esses textos. A fim de realizar tal
análise, parte-se de uma abordagem cognitivo-retórica dos estudos crítico-
discursivos, que concilia a abordagem tridimensional de Fairclough (2003, 2010)
com a tipologia de operações de construal de Hart (2014) e com a análise dos
processos e das estratégias argumentativas empregadas nos textos (Reisigl,
2014; Grácio, 2010).
DISCURSO POLÍTICO E RELAÇÕES DE PODER: UM PROCESSO DE ATIVAÇÃO/REATIVAÇÃO DE FRAMES
Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Universidade de São Paulo
A proposta deste trabalho diz respeito à observação do discurso político a partir da Teoria da Mesclagem Conceptual, segundo Fauconnier e Turner (2002 e ss), ampliada, de tal modo que se possa destacar a utilização de frames na relação interdiscursos. Entendemos que a formulação linguístico-discursiva promova a ativação de determinados frames no discurso político de modo estratégico, por funcionar como mecanismo de reativação de determinadas concepções mentais que mereçam ser lembradas ao interlocutor (cidadão de modo geral), a fim de que esse discurso se superponha ao discurso anteriormente formulado por outro político, seu adversário, criando, assim, uma relação de poder em que o último a se pronunciar tente convencer, mais veementemente, a plateia. O corpus constitui-se dos pronunciamentos de Dilma Roussef e de Michel Temer, quando do afastamento da presidente de seu cargo, para serem apuradas as denúncias que lhe foram feitas de crime de responsabilidade. Os resultados permitem apontar para a possibilidade de inter-relação entre o processamento cognitivo e o argumentativo nos discursos.
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PAINEL TEMÁTICO 3
ENUNCIAÇÃO E PODER EM DISCURSOS LITERÁRIOS
Coordenadora: Ana Elvira Luciano Gebara Universidade Cruzeiro do Sul / FGV Direito SP
O discurso literário frequentemente coloca em questão os discursos de poder
por (re)criar o mundo em seu espaço. É, ao mesmo tempo, como afirma
Maingueneau, em Discurso Literário (2006), autoconstituinte e heteroconstituinte
uma vez que autoriza a si mesmo e desempenha papel de constituinte de outros.
Nele, é possível identificar-se, pela constituição do código de linguagem e das
cenografias, diferentes representações dos participantes do discurso e dos seus
entornos. Partindo da inescapável presença do ethos que se configura nas vozes
do discurso, explícitas ou silenciadas, e nas relações por elas estabelecidas de
posições em concordância ou em conflito, este painel temático “Enunciação e
poder em discursos literários” tem como objetivo identificar, analisar e discutir os
processos enunciativos que indiciam e, por vezes, estabelecem as relações de
poder no discurso literário. As reflexões apresentadas no painel decorrem dos
estudos realizados no âmbito das pesquisas desenvolvidas no Grupo Estudos
Estilísticos (Mestrado em Linguística – Universidade Cruzeiro do Sul / CNPq)
com ênfase nas representações do que seja o literário; a quem pertence esse
poder de denominação e de estabelecimento de fronteiras, nas relações entre
as vozes e as representações desse domínio discursivo e os que igualmente
assim se denominam.
A POESIA DE PAULO LEMINSKI E O DISCURSO DE PODER
Alessandra Ignez Instituto Federal de São Paulo
A literatura - uma forma de comunicação expressiva que busca desautomatizar
usos linguísticos comuns e desgastados - enseja a tradução de ideias já
conhecidas de modo inédito (GUILBERT, 1975), chamando a atenção dos
leitores para uma maneira particular de expressar a realidade. Sendo o escritor
marcado historicamente, há, sem dúvida, um vínculo entre sua obra e o contexto
histórico em que vive. A produção literária constrói-se sobre um discurso que
preza a individuação da forma de dizer, isto é, do estilo, e, ao mesmo tempo,
deixa transparecer vozes sociais, fazendo eco ao posicionamento de uma
determinada parcela da sociedade. Por vezes, a depender da época, dos fatos
históricos e dos escritores, encontramos produções de cunho engajado que
tentam debelar ações opressivas e discursos de poder por meio da linguagem –
arma do poeta, do escritor contra a tirania. Dessa forma, a palavra empregada
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nesse universo, em conjunto com outras, marca e individualiza o modo de dizer,
o estilo do poeta na construção do poema, mas, ao mesmo tempo, permite a
eclosão de outras vozes que querem se quer fazer ouvir. Um dos poetas
brasileiros que produz poemas com temática social é Paulo Leminski, que busca
uma poesia livre, sem censuras no contexto da ditatura militar. A presente
comunicação tem como objetivo evidenciar o embate de vozes na poesia de
Leminski, observando como o poeta engendra seu discurso, a fim de combater
um discurso de poder. Para tanto, será fundamentada nos estudos de Martins
(2000), Bakhtin (1997) e Guilbert (1975).
A AQUISIÇÃO DA ESCRITA E O EMPODERAMENTO INFANTIL EM VEJAM
COMO EU SEI, DE JOSÉ PAULO PAES
Ana Elvira Luciano Gebara Universidade Cruzeiro do Sul / FGV Direito SP
A aquisição da escrita permite que as crianças passem a circular no mundo
letrado, muitas vezes de caráter cifrado pela anterior ausência de chaves de
descodificação de códigos e estruturações de sentido que eram, para elas, fruto
da mediação do adulto-leitor. Esse processo tem como resultado o
empoderamento de meninos e meninas que passam a escrever sobre si e sobre
o mundo que as circundam. Na literatura, no entanto, o mais usual é que autores
adultos busquem essa voz para escreverem aos leitores mirins recriando o
universo de expectativas, formas de dizer, e identidades. Por vezes, os textos
resultantes são, ao mesmo tempo, caminhos e espelhos para esses leitores.
Criam, por assim dizer, uma maneira de se ocupar o mundo, autorizada por
adultos dispostos a ouvi-los; e identificam formas de ser que um dia esses
adultos autores vivenciaram ou acreditam ser o que as crianças necessitam. A
constituição das vozes nesse discurso literário infantil, aparece de modo
contundente no livro de poemas Vejam como eu sei escrever, de José Paulo
Paes (2001). A cada poema, o leitor tem a impressão de reconhecer-se e
reconhecer a outros, pelos traços criados no ethos do sujeito lírico que visita os
lugares do espaço imediato, representado principalmente pelo filtro dado pelo
espaço escolar. As cenografias se baseiam principalmente no gênero redação e
revelam a posição desse sujeito em relação a outros de seu mundo. Este
trabalho tem como objetivo identificar como se constitui essa voz, qual o ethos
unificador dos poemas do livro, e qual a representação da escrita e do gênero
poético no fim do século XXI tendo como base Maingueneau (1998, 2006, 2010);
Amossy (2010), Martins (2003) e Micheletti (2011).
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DISCURSO POÉTICO E AS RELAÇÕES DE E COM O PODER NA POESIA
DE CACASO
Guaraciaba Micheletti Universidade Cruzeiro do Sul / USP
A literatura, como toda expressão artística, estabelece relações com o contexto
histórico. Dependendo do autor, das circunstâncias político-sociais e mesmo das
tendências estéticas, encontrar-se-ão marcas mais vincadas no discurso
literário. Medeiros
(http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/literatura-engajada/),
referindo-se a Sartre, registra que “há escritores que escolhem “engajar-se”
através de suas obras e escritos a partir dos quais expressam, entre outras
coisas, o embate entre a arte e o realismo político.” É o que se constata na poesia
de Cacaso, Antonio Carlos Brito (1944-1987). Estabelecendo um claro diálogo
com outros autores e valendo-se do recurso da ironia, Cacaso, um dos ícones
da poesia marginal dos anos 70, constrói uma poesia cerebrina e assaz crítica à
ditadura militar a que estava submetido o Brasil entre 1964 e o início dos anos
80. O engajamento implica numa reflexão do escritor sobre as relações que trava
a literatura com a política e com a sociedade em geral. Ainda, conforme
Medeiros, há uma percepção “que a sensibilidade estética pode se tornar um
instrumento que convida o leitor a se entregar em um mundo de reflexões e
pensamentos sobre os principais problemas da sociedade: o mundo das guerras,
da luta das minorias, das desigualdades sociais etc. Há, por assim dizer, um
compromisso do escritor com a sociedade.” Sem arvorar-se em panfletária, é
esse o legado poético de Cacaso à Literatura Brasileira: uma poesia reflexiva,
construída com o cotidiano, perpassada por toques de humor. A presente
comunicação busca analisar as relações entre o poder e a construção poética
de Cacaso, em poemas da coletânea “Lero-Lero”, em especial os que se
encontram em “Grupo Escolar” tendo como bases teóricas, entre outros, Bakhtin
(2006), Brait (2008), Martins (2003), Friedrich (1978).
O DISCURSO LITERÁRIO E A AUTORIDADE ENUNCIATIVA
Magalí Elisabete Sparano Universidade Cruzeiro do Sul
Entre os estudos literários e os estudos linguísticos sempre houve uma tensão.
O empoderamento da fala literária vem da mesma ordem do empoderamento da
fala ordinária, ou seja, do uso, observada as condições sóciohistóricas de quem
produz essas falas e como se dá a organização ou a ruptura das estruturas
previstas em uma dada gramática que as prevê e as descreve. Diante dessas
tensões, propomo-nos a estudar o processo enunciativo e o poder na criação
literária, considerando as discussões sobre a elaboração poética nos escritos de
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Vinícius de Moraes, destacando-se textos metalinguísticos e trechos em que
encontramos um enunciador-poeta pondo-se como produtor e aprendiz num jogo
enunciativo de empoderamento linguístico-literário dentre os domínios da
criação da poesia. Essa discussão está de acordo com as proposições de
Maingueneau (2006) sobre Discurso Literário, além das considerações sobre o
ethos, cenografia e discurso constituinte em Maingueneau (1993,2001, 2013);
Amossy (2008), Martins (2008) e Micheletti (2011).
CRÔNICA POLÍTICA, PODER E ENUNCIAÇÃO: UMA PROPOSTA PARA
ENSINO DE LÍNGUA
Sonia Sueli Berti-Santos Universidade Cruzeiro do Sul
Esta comunicação objetiva uma discussão sobre a constituição de efeitos de
sentido de empoderamento em textos literários jornalísticos. Visa estabelecer
como o ensino de língua pode-se utilizar de valores enunciativos encontrados
em crônicas jornalísticas da esfera política, na constituição de sentidos e no
levantamento de valores que evidenciem o ethos do enunciador, que se
configura nas vozes do discurso, explícitas ou silenciadas, e nas relações por
elas estabelecidas de posições em concordância ou em conflito, facultando uma
leitura profícua desses enunciados. Para Maingueneau, uma enunciação
constitui um ato que intenta modificar uma situação e esses atos integram-se
num discurso de um determinado gênero (um panfleto, uma crônica, por
exemplo), que visam produzir uma modificação nos destinatários. Para análise
do corpus, toma-se como base a teoria de análise do discurso (AD) nas palavras
de Maingueneau (2008, 2010, 2012, 2015). O corpus escolhido foi a crônica de
opinião “Acerto e erro”, que circulou em mídia digital na Folha de São Paulo, em
29/05/2016, que aborda questões políticas atuais. Essa discussão tem como
intuito ressaltar a importância do ensino de língua por meio de gêneros
discursivos que se encontram no cotidiano do leitor, levando-o a perceber os
efeitos de sentido que se estabelecem nos atos enunciativos.
PAINEL TEMÁTICO 4
O DISCURSO POLÍTICO: FORMAS E MANIFESTAÇÕES DISCURSIVAS
Coordenadora: Maria Aldina Marques Universidade do Minho
Assumimos como ponto de partida que os discursos presidenciais são política e
socialmente importantes. É que os discursos, todos os discursos e não apenas
os discursos políticos, não são neutros nem transparentes. No regime
semipresidencial português (passemos ao lado da discussão sobre esta
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denominação), os discursos são importantes, porque o magistério presidencial é
essencialmente um magistério da palavra; importa o que o Presidente diz, o que
é, estamos certos, uma conclusão consensual. A análise linguística dos
discursos, enquanto disciplina das Ciências da Linguagem, vai mais longe neste
domínio para demonstrar que não se pode dissociar o que o Presidente diz dos
modos (linguísticos, discursivos) como o diz, do contexto onde o diz ou dos
destinatários do que diz. Por isso os discursos são um lugar nuclear do exercício
do poder presidencial. As comunicações que apresentamos têm por base os
discursos presidenciais nos 100 anos da República Portuguesa, sem no entanto
se limitar ao espaço nacional; antes se abre a um enriquecedor confronto com
outras realidades de outros países. Pretendemos com este projeto contribuir
para uma literacia política que só pode passar por uma competência discursiva
aprofundada.
CONFLITOS DE OPINIÃO NO FACEBOOK SOBRE O CENÁRIO POLÍTICO
BRASILEIRO: POLÊMICA E AGRESSIVIDADE
Ana Lúcia Tinoco Cabral Universidade Cruzeiro do Sul
O século XXI é marcado pela interação digital; grande parte da população
mundial tem perfil no Facebook, no Instagram, em blogs, participa de redes
sociais, interage enfim. Espera-se que, nas interações verbais, especialmente
em espaços públicos, como é o caso dos sítios da Web, que a polidez linguística
seja mantida, a fim de preservar o caráter harmonioso da relação interpessoal,
em detrimento dos riscos de que implica qualquer encontro social. (Kerbrat-
Orecchioni, 2005, p.189). Entretanto, conforme lembram Cabral, Marquesi e
Seara (2015), o fato de os participantes de redes sociais poderem permanecer
anônimos lhes chancela a possibilidade de expressar suas emoções mais
livremente, incluindo sua agressividade. As recentes situações de tensão no
cenário politico brasileiro têm propiciado interações polêmicas nas quais vigora
a radicalização do discurso; é comum que se rebata o discurso contrário com
força e até violência. Dito isso, o presente trabalho analisará grupos cujos perfis
encontram-se no Facebook com o objetivo de manifestar-se a respeito dos
eventos políticos no Brasil, assumindo posições antagônicas. Serão analisadas
mensagens postadas do perfil Facebook de dois grupos cujas posições políticas
se opõem. As análises focalizarão as estratégias linguístico-discursivas
utilizadas fundadas, sobretudo, no ataque verbal aos manifestantes de opinião
oposta e no discurso emocionado. As análises fundamentam-se em estudos da
(im)polidez (Culpeper, 2011; Terkourafi, 20080; Kerbrat-orecchioni, 2005;
Larguèche, 2009; Lagorgette, 2009;), em diálogo com estudos do discurso
polêmico e panfletário (Amossy, 2014; Angenot, 2008) e com o discurso
emocionado (Plantin, 2011; Charaudeau, 2008). Procuramos evidenciar uma
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mudança social promovida pelo uso das redes sociais e a consequente mudança
nas formas de interação, lembrando, com Terkourafi (2008), que a construção
da sua própria face pode envolver constituir ou ameaçar a face do interlocutor.
“QUEBRAR O SILÊNCIO": EM TORNO DAS “NARRATIVAS” DE JOSÉ SÓCRATES
Isabel Sebastião
Universidade do Porto
Isabelle Simões Marques Universidade Aberta
Na nossa comunicação, pretendemos analisar a primeira entrevista1 de José Sócrates, ex-primeiro ministro, que decidiu falar, em 2013, depois de se ter afastado da vida política desde 2011, sobre as consequências da crise política e económica em Portugal. Pretendemos, especificamente, debruçar-nos sobre o termo “narrativa” e os diferentes sentidos e usos que esta unidade lexical assume ao longo do seu discurso. Veremos que, consoante o objeto discutido, este termo se faz acompanhar por substantivos, adjetivos e estruturas sintáticas. Estas estruturas visam sustentar linguisticamente a crítica feita aos seus opositores e marcar a sua posição. Como sabemos, tanto as definições como os conceitos desempenham um papel crucial em todos os campos do raciocínio humano. Uma das formas de argumentação consiste num elevado grau de precisão entre significados explícitos e implícitos de um argumento. No entanto, e como refere Ilie (2009: 39): “In political discourse, definitions are not necessarily conceived as universal axioms, but they are often clarifications or explanations of contextualised terms”. Partimos, assim, da perspetiva da eficácia da linguagem em co(n)texto(s) diferentes, como o sustenta Amossy (2009: 254) 2 quando afirma que “argumentation is an aspect of an overall ‘discursive function’ that has to be analyzed in its intrinsic logic”, uma vez que o responsável pela enunciação usa conscientemente mecanismos de natureza lexical para sustentar a argumentação do seu discurso, atribuindo, assim, diferentes significados na tentativa de criar um sentido lógico e um sentido persuasivo ao longo do seu discurso. Reforce-se esta ideia invocando, mais uma vez, Amossy (2000) quando afirma que “L’analyse argumentative n’examine pas le lexique en soi et pour soi: elle se préoccupe de la façon dont le choix des termes oriente et modèle l’argumentation. Elle étudie donc l’utilisation des lexèmes (ou unités de base lexique) par un énonciateur dans une interaction donnée...” (Amossy, 2000: 144)3, impregnando o significado do discurso de uma determinada ideologia que se pretende transmitir (van Dijk, 20034), visto que “a escolha de uma palavra em
1 A 27 de março de 2013: https://www.youtube.com/watch?v=du2pj-2P-z8 2 Amossy, R. (2009). “Argumentation in Discourse: A Socio-discursive Approach to Arguments”. Informal Logical, v. 29, n.º 3, pp. 252-267. 3 Amossy, R. (2000). L’argumenation dans le discours. Paris: Nathan Université. 4 van Dijk, T. (2003). Ideología y Discurso. Barcelona: Editorial Ariel.
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detrimento de outra evidencia uma postura ideológica” (van Dijk, 2005: 68)5. Dado que o género suporte do discurso em análise é a entrevista, pretendemos, ainda, mostrar a variação de significado do termo lexical analisado e as suas implicações no discurso, tanto de José Sócrates como também na retoma do vocábulo por parte dos jornalistas que o entrevistam. Analisaremos com atenção as diferentes posições ideológicas e as diversas estratégias argumentativas usadas em prol da construção da interação discursiva.
DISCURSOS POLÍTICOS DE CELEBRAÇÃO EM TERRITÓRIO
PORTUGUÊS: UMA ABORDAGEM TEXTUAL-DISCURSIVA
Sara Pita CLUNL/Universidade de Aveiro
Rosalice Pinto CLUNL/CEDIS
Na prática política podem ser encontradas inúmeras intervenções assumidas por diferentes agentes dentro da governação caracterizando certo teor de celebração. Alguns destes discursos ocorrem em datas de grande relevo para a Nação, nomeadamente a comemoração do Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas (10 de junho) ou do Dia da Liberdade (25 de Abril), ou em momentos festivos (Natal e Ano Novo). Assim como intervenções políticas ocorridas em outros momentos da esfera pública, os argumentos utilizados e as escolhas linguísticas a eles relacionados ou não apoiam-se em valores socialmente partilhados, os quais por sua vez apresentam forte apelo às emoções. De facto, o efeito patémico do discurso depende, muito fortemente, dos imaginários sociodiscursivos (Charaudeau, 2000). Partindo deste contexto, procurar-se-ão aqui identificar os valores sociais convocados em discursos de celebração de alguns atores políticos nos últimos 2 anos. Para tal descrição, far-se-á um levantamento de certas categorias linguísticas: emprego de formas verbais e pronominais, organizadores textuais e modalizações, itens lexicais - centralizando-se naqueles que traduzem certo grau de emoção (Plantin et al. 2008). Ainda, far-se-á a análise de alguns esquemas argumentativos – Walton et al. (2008). Os resultados preliminares apontam para a utilização de argumentos falaciosos: ad populum, ad baculum ou ad misericordiam. Ainda, observa-se a exploração do sentimento de união nacional, tanto através da repetição de vocábulos como “povo” ou “comunidade”, quanto através do emprego da 1.ª pessoa do plural de formas verbais e pronominais.
PAINEL TEMÁTICO 5
O ESPAÇO DO POLÍTICO NOS DISCURSOS DO COTIDIANO: A INSTITUIÇÃO DE ENSINO, A IMPRENSA E A MÍDIA
5 van Dijk, T. (2005). Discurso, notícia e ideologia. Estudos na Análise Crítica do Discurso. Porto: Campo das Letras.
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Coordenadora: Maria Inês Batista Campos Universidade de São Paulo
Este painel temático propõe uma reflexão sobre relações entre política e discurso considerando, conforme Hannah Arendt (2013) em “O Que é Política” que a política nos permite compreender tanto as formas como funcionam as relações desiguais como os modos por meio dos quais pode-se tratar da convivência entre os diferentes. Entendendo que os espaços institucionais se constituem em espaços de tensão entre posições contraditórias e desiguais, buscamos analisar como o discursivo e o político se articulam nas práticas superestruturais e nos textos das instituições de ensino e da mídia. Para a consecução de nossos objetivos, analisaremos discursos das esferas de ensino e midiática. Em torno do primeiro, nos debruçamos sobre as publicações do ENEM, buscando configurar o enfoque dado às redações; a seguir, analisaremos o discurso das gramáticas, dos dicionários e dos falantes sobre o funcionamento da língua diante do discurso de posse da Presidente Dilma Roussef com fundamentos teóricos de Marxismo e Filosofia da Linguagem (1929/1986), “O que é a linguagem” de Valentin Volochinov (1930/2013). Na esfera da mídia, propomos analisar a relação entre vozes e poder; examinar como se produzem os ‘recortes’ temáticos das matérias e manchetes em textos jornalísticos; tratar das formas de funcionamento de recursos verbo-visuais em reportagens, das marcas destes discursos enquanto enunciados. Para tanto, buscamos fundamentos teóricos na obra de Mikhail Bakhtin e Valentin Volochinov para as análises, a partir de perspectivas institucionais e enunciativas, que dão destaque à diferença, à ordem do político e às relações discursivas de poder.
O PODER DO DONO DAS VOZES CONVOCADAS NA MÍDIA
Dóris de Arruda C. da Cunha Universidade Federal de Pernambuco / Universidade Católica de Pernambuco
Essa comunicação se propõe a apresentar algumas reflexões sobre o vozes e poder na mídia, lugar de encontro de diferentes discursos. Busca mostrar que o modo como elas são convocadas no “discurso citante”, especialmente nos jornais televisivos, ilustram e acentuam o ponto de vista do enunciador. Desse modo, o poder do discurso representado pode ser ampliado ou minimizado pela forma como é introduzido, categorizado (o discurso convocado e seu autor) e situado (no tempo, no espaço, no contexto histórico) pelo enunciador. Retomamos algumas noções de Bakhtin e Volochinov ‒ linguagem, dialogismo, “sujeito”, discurso alheio ‒, de François e Cunha ‒ ponto de vista, retomada-modificação ‒, e Moirand (discurso convocado). A análise do corpus mostra o grande poder da voz do enunciador-jornalista: não só ele escolhe as vozes em função do seu ponto de vista, da audiência, do propósito da retomada e do gênero, mas também as avalia, as categoriza e faz uso delas como argumento de autoridade para reforçar o poder do seu ponto de vista ou para desqualificar o ponto de vista contrário ao seu.
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POLÍTICA, ÉTICA, CIDADANIA: DISCURSOS DO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO?
Maria Inês Batista Campos Universidade de São Paulo
Nos últimos dezoito anos, o Exame Nacional do Ensino Médio /Enem foi se tornando uma avaliação impositiva para ingresso no ensino superior, tendo cada vez mais um maior número de participantes. Do seu início em 1998, três portarias federais reformularam as condições de produção, e o resultado foi que muitos candidatos acabam sendo excluídos do processo. As discussões em torno das redações do Enem trazem em seu eixo teórico algumas correntes epistemológicas sustentadas pela teoria dos gêneros discursivos, linguística de texto, tipologia textual. Ao longo dos anos, as propostas insistem que o candidato discuta temas de interesse coletivo, com a finalidade de intervir criticamente na vida social. Este trabalho parte das seguintes indagações em torno do discurso apresentado pelo Enem no seu documento oficial -“A redação no Enem 2013-Guia do Participante”: O que se pode entender por “política” e “cidadania”? De que maneira a coletânea apresenta as informações ao candidato para que ele construa os argumentos necessários? Que razões levam o Enem a publicar somente as redações nota 1000 e sem dar visibilidade também aos textos com notas boas e regulares? Que posicionamento ideológico se tem atrás destas escolhas? O objetivo desta comunicação é discutir uma redação publicada no documento oficial Enem 2013 que revela, com base nos dados levantados, uma valorização excessiva apenas na leitura funcional. A partir dos conceitos de signo ideológico (Volochinov); “discurso autoritário” e “discurso interiormente persuasivo” (BAKHTIN, Teoria do romance I, A estilística), analisar as consequências para o ensino da argumentação nas escolas da adoção do Enem como processo seletivo nacional, que dissolve inteiramente a originalidade das palavras do outro, em detrimento de uma abordagem que procura impor o que deve ser entendido como postura cidadã.
A LINGUAGEM VERBO-VISUAL E SEU PODER DE PERSUASÃO EM CAPAS DE REVISTA: UMA PROPOSTA DE LEITURA EM SALA DE AULA
Miriam Bauab Puzzo
Universidade de Taubaté Esta comunicação tem por objetivo discutir a importância da linguagem verbo-visual que circula nos meios de comunicação como recurso argumentativopersuasivo na formação de opinião do leitor. Essa peculiaridade informativa torna-se um objeto de leitura em sala de aula com o intuito de demonstrar como as formas de representação verbo-visual criam efeitos de sentido que conduzem à formação de opinião conforme o ponto de vista e o interesse do veículo de comunicação na interpretação dos fatos noticiados. As capas de revistas, consideradas enunciados concretos, apresentam em sua estruturação verbo-visual uma unidade temática de força persuasiva. Essa proposta está fundamentada na teoria dialógica bakhtiniana entendendo que os enunciados não são neutros, expressando valores do enunciador em resposta
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ao contexto imediato de produção. Sendo assim são consideradas as categorias de Bakhtin e do Círculo, tais como enunciado concreto, estilo, tom valorativo e ideologia, assim como autores que tratam da linguagem verbo-visual, Haynes, Brait, Dondis, Guimarães. Como objeto de análise foram selecionadas duas capas de revista de grande circulação em cuja elaboração é possível perceber o poder argumentativo-persuasivo na constituição enunciativa composta pela verbo-visualidade: revista Veja edição 2476, nº18, 04de maio de 2016, e Le Monde Diplomatique Brasil ano 9, nº 106, maio de 2016, que tratam do momento sócio-político-econômico atual, expressando pontos de vista valorativos antagônicos. O objetivo final é demonstrar a importância dessa leitura como atividade em sala de aula de modo a preparar o aluno para perceber, na constituição visual e verbal de tais enunciados, os efeitos de sentido que servem como argumentopersuasivo na formação de opinião do leitor. Palavras-chave: leitura, linguagem verbo-visual, capas de revista, análise dialógica. 5. Título: Verbo-visualidade, o ato ético e estético e alteridade em discussões políticas brasileiras: uma proposta para ensino de língua Autor: Sonia Sueli Berti-Santos Filiação: Universidade Cruzeiro do Sul /UNICSUL Contato: +55 11 981937929; e-mail: [email protected] RESUMO: Esta comunicação objetiva uma discussão sobre a constituição de efeitos de sentido impressos na confluência da linguagem verbal e visual em textos jornalísticos. Visa estabelecer como o ensino de língua pode-se utilizar de valores éticos e estéticos encontrados em enunciados verbo-visuais na constituição de sentidos e no levantamento de valores que evidenciem a alteridade do autor criador, facultando uma leitura profícua desses enunciados. Para análise do corpus, toma-se como base a teoria dialógica postulada por Bakhtin e o Círculo, bem como outros autores que trabalham a verbovisualidade como Brait, Puzzo, Berti-Santos, Sobral, Dondis, Machado. Como categorias de análise trabalharemos o ato ético e estético, tom valorativo, alteridade, carnavalização. O corpus escolhido foram duas colunas de opinião de capa do jornal, que circula em mídia impressa e digital há 23 anos, Tribuna do Direito: O domínio da Corrupção, edição n. 275 de março de 2016 e Em jogo, o futuro do Brasil: a sorte está lançada, edição n. 277 de maio de 2016, que abordam questões políticas atuais. Essa discussão tem como intuito ressaltar a importância do ensino de língua por meio de gêneros discursivos verbo-visuais que se encontram no cotidiano do leitor, levando-o a perceber os efeitos de sentido que se estabelecem na imbricação dessas linguagens.
PAINEL TEMÁTICO 6
DISCURSOS PRESIDENCIAIS: MODOS DE DISCURSIVIZAÇÃO DA
PALAVRA PRESIDENCIAL
Coordenadora: Isabel Margarida Duarte Universidade do Porto
Assumimos como ponto de partida que os discursos presidenciais são política e
socialmente importantes. É que os discursos, todos os discursos e não apenas
os discursos políticos, não são neutros nem transparentes. No regime
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semipresidencial português (passemos ao lado da discussão sobre esta
denominação), os discursos são importantes, porque o magistério presidencial é
essencialmente um magistério da palavra; importa o que o Presidente diz, o que
é, estamos certos, uma conclusão consensual. A análise linguística dos
discursos, enquanto disciplina das Ciências da Linguagem, vai mais longe neste
domínio para demonstrar que não se pode dissociar o que o Presidente diz dos
modos (linguísticos, discursivos) como o diz, do contexto onde o diz ou dos
destinatários do que diz. Por isso os discursos são um lugar nuclear do exercício
do poder presidencial. As comunicações que apresentamos têm por base os
discursos presidenciais nos 100 anos da República Portuguesa, sem no entanto
se limitar ao espaço nacional; antes se abre a um enriquecedor confronto com
outras realidades de outros países. Pretendemos com este projeto contribuir
para uma literacia política que só pode passar por uma competência discursiva
aprofundada.
AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2016: IDENTIDADE E ALTERIDADE
NOS DISCURSOS DOS CANDIDATOS A PRESIDENTE
Alexandra Pinto Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Confrontamos, para este trabalho, cinco dos manifestos eleitorais das eleições
presidenciais portuguesas de 2016, tendo estes sido os manifestos dos cinco
candidatos mais votados nestas eleições, a saber os de Marcelo Rebelo de
Sousa, António Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias, Edgar Silva e Maria de Belém
Roseira.
Uma das questões que pretendemos comprovar no nosso trabalho é que, entre
os manifestos analisados, se desenha uma área de prototipicidade, com a
saliência de alguns aspetos regulares comuns, aos níveis composicional,
semântico-pragmático e enunciativo, aspetos esses que nos habilitam a falar do
desenho de um género de texto específico, dentro do tipo de discurso político.
Utilizando a proposta de J.M.Adam (2001: 40-41) para a delimitação de géneros
textuais, segundo as componentes semântica, composicional/estrutural,
enunciativa, pragmática, estilística e fraseológica, metatextual, peritextual e
material, esboçaremos uma caracterização breve do género de texto “manifesto
político eleitoral” dentro do tipo de “discurso político”.
Em contrapartida, embora o enquadramento num género e num tipo de texto nos
permita antecipar algumas linhas de organização comuns dos manifestos, a
verdade é que se desenha também, em cada um deles, uma área de
especificidade, com diferenças semântico-pragmáticas e enunciativas, que são
resultado e, simultaneamente, que produzem efeitos na construção do ethos e
nas estratégias discursivas e políticas de cada um. É também nosso objetivo,
20
neste trabalho, pôr em relevo estas diferenças, falando do impacto das mesmas
na estratégia política de cada um dos candidatos.
O 25 DE ABRIL COMO MEMÓRIA CONSTRUÍDA NOS DISCURSOS
PRESIDENCIAIS DE COMEMORAÇÃO: NEGAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE
UM POSICIONAMENTO ENUNCIATIVO
Isabel Margarida Duarte
Universidade do Porto
Maria Aldina Marques
Universidade do Minho
Nos discursos de comemoração, o evento comemorado é um tópico central que
implica um posicionamento enunciativo com consequências na construção dos
sentidos do discurso. (…proposer un topic, de la part de l'énonciateur, signifie
proposer une façon de construire et de structurer discursivement un monde dans
un espace intersubjectif. (Berthoud & Mondada, CLF 17 : 206)). Os discursos
proferidos pelos Presidentes na comemoração anual do 25 de Abril mostram
como os sucessivos locutores se detêm na representação discursiva do evento
celebrado. O estatuto presidencial, de mais alto magistrado da nação, confere-
lhe legitimidade para coconstruir com a comunidade portuguesa uma memória
de Abril, que determina o significado simbólico do evento na relação que a
sociedade com ele estabelece. Num quadro de análise da construção da
referenciação nos discursos de comemoração de Abril (Marques, em curso),
centramo-nos na análise das estruturas de negação e no modo com contribuem
para a construção dessa memória. A nossa perspetiva é pois discursiva. O
corpus de análise é constituído por excertos de discursos presidenciais de
comemoração de Abril, entre 1977, a primeira cerimónia realizada na
Assembleia da República e 2011, ano do centenário da República Portuguesa.
Estes excertos têm como elemento comum a referência ao evento comemorado,
a que, cotextualmente, se agrega uma estrutura de negação. Pretendemos
determinar as funções discursivas destas estruturas, explorando as implicações
da sua natureza polifónica ou dialógica nos sentidos do discurso. Interessa-nos,
em particular, identificar essas vozes que o locutor traz para o discurso, o
posicionamento enunciativo que assume relativamente a essas vozes e o
contributo destas para a construção da memória coletiva de Abril.
OS DISCURSOS PRESIDENCIAIS ESPONTÂNEOS: O ETHOS DE
AUTENTICIDADE EM MOMENTOS DE CONSTERNAÇÃO NACIONAL
Isabel Roboredo Seara Universidade Aberta / CLUNL
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Maria Aldina Marques
Universidade do Minho
Os discursos presidenciais afiguram-se um campo muito importante de análise
no âmbito dos estudos linguístico-discursivos, pois permitem descortinar
posturas políticas, antever posicionamentos ideológicos, e confirmar construção
da autoridade presidencial (Marques 2014). Todavia, conhecida a estrutura
orgânica da Presidência da República, é indiscutível que a preparação e redação
escrita dos discursos presidenciais resulta de um trabalho colaborativo de uma
equipa que ultima os textos, conferindo-lhes um grau de formalidade e
institucionalidade, colmatando a mais do que compreensível falta de tempo do
Presidente que tem, como facilmente se comprova no sítio oficial da presidência,
uma agenda diária assoberbada. Sendo preferencialmente esses discursos
oficiais alvo de estudo do Grupo/ Projeto O discurso do Presidente. Cem anos
de discursos presidenciais em Portugal, considerámos pertinente analisar
estoutros discursos, não preparados, totalmente espontâneos, que nos permitem
observar o improviso das palavras, e que espelham, com maior fidelidade, o
ethos da figura presidencial. Assim, dados os poucos meses deste novo
mandato, o corpus de análise restringe-se, no âmbito deste estudo, aos
discursos do atual Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo
de Sousa, por ocasião da morte de algumas personalidades ilustres do
panorama político, literário, artístico português durante o corrente ano de 2016,
nomeadamente do ator Nicolau Breyner, do Dr. António Almeida Santos e do
arquiteto Paulo Varela Gomes. Dado não se encontrarem transcritos,
procederemos, num primeiro momento, à transcrição escrita dos mesmos, a
partir de gravações televisivas. Posteriormente, convocaremos alguns
pressupostos teóricos, quer do campo da análise do discurso, quer da
pragmática (atos de pesar e de elogio), quer, ainda, da retórica (ethos e figuras
retóricas), para evidenciarmos as especificidades retórico-discursivas do
discurso espontâneo presidencial: a partilha do estado de consternação, a
construção da exaltação, as marcas de proximidade, de cumplicidade e dos
afetos, do discurso do ‘eu’ , que foram igualmente o bastião da campanha
presidencial.
O PRESIDENTE NA RELAÇÃO COM O(S) PODER(ES): ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÃO E MANIPULAÇÃO NOS DISCURSOS PRESIDENCIAIS DE
TOMADA DE POSSE DO ESTADO NOVO Micaela Aguiar
Universidade do Minho
A comunicação que nos propomos apresentar insere-se no quadro teórico da
Análise do Discursos, numa perspetiva discursiva-enunciativa e tem como
objetivo central a análise dos mecanismos linguístico-discursivos e das
22
estratégias de legitimação que constroem a relação do Presidente da República
com o(s) poder(es), nos discursos de tomada de posse, proferidos no período
político do Estado Novo (1926-1974). Colocámos como hipótese de partida que,
sendo o Presidente da República acima de tudo uma figura de autoridade (ainda
que, no caso, do Estado Novo, apenas teoricamente ((Braga da Cruz, 1982)), o
discurso presidencial refletirá necessariamente a relação que o Presidente
estabelece com os poderes que lhe são atribuídos pelo ato da tomada de posse.
Para esta análise, partiremos dos contributos teóricos de Charaudeau (2005,
2007) sobre formas de legitimação, no contexto de estratégias discursivas de
influência no discurso político e das propostas de Maingueneau (1999) e Amossy
(1999, 2010), no âmbito da construção ethos ou das imagens de si.
Metodologicamente, privilegiámos uma análise qualitativa, partindo do
pressuposto da contextualidade do sentido. O corpus a estudar é constituído
pelos oito discursos de tomada de posse proferidos no regime ditatorial
denominado de Estado Novo:
Presidente da República
Ano Mandato
Óscar Carmona 1926 1º mandato Óscar Carmona 1935 2º mandato Óscar Carmona 1942 3º mandato Óscar Carmona 1949 4º mandato Craveiro Lopes 1951 1º mandato Américo Tomás 1958 1º mandato Américo Tomás 1965 2º mandato Américo Tomás 1972 3º mandato
Tabela: Corpus
Para esta análise, traçamos como objetivos: (1) Analisar e categorizar mecanismos linguístico-discursivos ao serviço das estratégias de legitimação que participam na construção da relação do Presidente com o poder instituído; (2) Explicar as dimensões político-ideológicas e orientações argumentativas necessariamente implicadas nesta relação; (3) Verificar como a construção desta relação contribui, por sua vez, para a construção de imagens presidenciais.
DISCURSOS DO PRESIDENTE MÁRIO SOARES NAS COMEMORAÇÕES
DO 25 DE ABRIL (1986-1995)
Rui Ramos Universidade do Minho
O presente estudo recorre ao quadro conceptual e aos instrumentos
metodológicos da Análise do Discurso para a identificação e descrição dos traços
mais distintivos de um conjunto de discursos do Presidente da República Mário
Soares (1986-1995), em sessões comemorativas da Revolução de 25 de Abril
de 1974. O corpus de análise é, assim, constituído por 10 discursos
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presidenciais, proferidos em cerimónias públicas de celebração (oito deles na
Assembleia da República, dois fora desse espaço), sempre no dia 25 de abril de
cada ano. O estudo identifica as mais relevantes isotopias que perpassam o
discurso de Mário Soares e a sua retórica inerente. Mostra quais os valores que
o enunciador associa à revolução de 1974, apontando as expressões
correferenciais da Revolução de Abril. Destaca a orientação retrospetiva ou
prospetiva dos discursos e dos seus segmentos e a manifestação explícita e
implícita dos respetivos valores subjacentes. Discute as estratégias de
construção e projeção do ethos do enunciador, assim como, fortemente
imbricada neste processo, a identificação dos destinatários discursivos. Conclui
que os discursos do Presidente Mário Soares são, efetivamente, discursos
marcados por valores republicanos; são fortemente percorridos por uma
orientação prospetiva otimista, muito mais do que discursos revivalistas ou
saudosos dos dias da Revolução; exortam incisivamente os portugueses à ação,
valorizando as oportunidades que o 25 de Abril de 1974 trouxe ao povo
português, sem ignorar os erros do percurso corrido ou os riscos do presente; e
fazem o elogio de uma organização política e social onde a livre iniciativa e o
mérito individual se equilibram com preocupações de justiça social.
PAINEL TEMÁTICO 7
DISCURSO JURÍDICO: UMA ABORDAGEM LINGUÍSTICA POR MÚLTIPLOS
OLHARES
Coordenadora: Maria das Graças Soares Rodrigues Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Este painel reúne trabalhos de professores universitários que vêm pesquisando
a relação linguagem / discurso jurídico. Nessa direção, pesquisadores de três
instituições de ensino superior brasileiras e de duas instituições portuguesas
têm por objetivos descrever, analisar e interpretar os mesmos corpora, porém
trabalhando dispositivos linguísticos diferentes. Nessa direção, esclarecemos
que os corpora, objeto de análise, são: (1) Denúncia por crime de
responsabilidade contra a Presidenta Dilma Rousseff (Brasil) e (2) Defesa do
Advogado-Geral da União. O quadro teórico que subsidiará as análises é amplo
e envolve teorias e postulados seguidos no âmbito da Linguística de Texto, da
Linguística Enunciativa, da Análise Textual dos Discursos, da Análise do
Discurso, da Teoria do Discurso Social, da Semântica Argumentativa, da
Polêmica,da Retórica, da Lógica Natural, entre outros. Ressaltamos que, entre
os dispositivos linguísticos, serão analisados: (1) estratégias argumentativas que
marcam tanto a aproximação relativa ao próprio discurso como o distanciamento
em relação ao conteúdo do discurso da parte contrária; (2) retórica, persuasão,
ethos, pathos; (3) plano de texto, os pontos de vista (PDV) divergentes e a
responsabilidade enunciativa coletiva; (4) estrutura composicional, conteúdos
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semânticos das predicações e (5) representações discursivas. Assim, os
pesquisadores contribuirão com as investigações que se situam no âmbito da
relação linguagem / discurso jurídico, a partir desse conjunto de diferentes
dispositivos linguísticos focalizado(s) por múltiplos olhares. Por fim, acreditamos
queas análises, em virtude da escolha dos corpora, certamente, poderão
impactar no corpo social como um todo, ou seja, extrapolar os contextos
acadêmicos e científicos.
CONFLITO E POLÊMICA NA ACUSAÇÃO E NA DEFESA DO PROCESSO
DE IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF NO CONGRESSO BRASILEIRO
Ana Lúcia Tinoco Cabral Universidade Cruzeiro do Sul – Brasil
Assim como acontece no discurso jurídico do contencioso, no contexto político,
se vêm com frequência situações de conflito nas quais posições antagônicas se
manifestam. Nossas pesquisas se dedicam ao uso da linguagem verbal pelos
profissionais da área jurídica, especialmente, à construção da argumentação em
situações de litígio, observando as estratégias argumentativas que marcam tanto
a aproximação relativamente o próprio discurso como o distanciamento em
relação ao conteúdo do discurso da parte contrária. Tendo em vista recentes
acontecimentos políticos ocorridos no Brasil, nos quais Política e Direito atuaram
no mesmo espetáculo, e considerando possíveis semelhanças entre as
manifestações de desacordo na política e no Direito, este trabalho apresenta
uma análise dos pronunciamentos dos advogados que propuseram o processo
de impeachment contra Dilma Rousseffno congresso brasileiro e da defesa
proferida pelo então Advogado Geral da União. Considerando que esse evento
foi marcado pela contra-argumentação e a controvérsia, o objetivo é verificar as
estratégias linguísticas utilizadas pelas duas partes oponentes para marcar o
desacordo. O quadro teórico que dá suporte às análises insere-se na linha
teórica da Semântica Argumentativa (Ducrot, 1981; 1984) em confluência com
os teóricos dedicados aos estudos da Linguística da Enunciação (Benveniste,
1966; 1974; Kerbrat-Orecchioni, [1998] 1997) e do Estudo da Polêmica (Amossy,
2014). Como metodologia de análise, apresentamos o quadro enunciativo em
que se desenvolveram os atos de acusação e defesa e, em seguida, procedemos
ao levantamento deestratégias propostas por Amossy (2014) para marcar a
polêmica, verificando as marcas linguísticas que as concretizam eprocurando
identificar, por conjectura, conforme ensina Kerbrat-Orecchini([1998] 1997), a
intenção que motivou essas escolhas. As análise evidenciam que, embora as
teorias que tratam da argumentação atribuam um lugar privilegiado à ideia de
acordo ligada à negociação da distância entre os indivíduos (cf. Amossy,
2014),nos pronunciamentos analisados, ao contrário, vigora o desacordo.
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REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS E ARGUMENTAÇÃO: O CASO DA DENÚNCIA POR CRIME DE RESPONSABILIDADE CONTRA A
PRESIDENTA DILMA
João Gomes da Silva Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Neste painel, apresentamos um estudo sobre as representações discursivas e seus efeitos argumentativos nos textos da “Denúncia por Crime de Responsabilidade”, contra a Presidenta da República Dilma Rousseff, e da “manifestação a respeito da Denúncia”, apresentada pela Advocacia-Geral da União. Mais especificamente, observamos a construção de imagens de Dilma, nas perspectivas de acusação e de defesa que orientam os dois documentos, situados em um contexto histórico midiatizado e de forte impacto social, no cotidiano brasileiro. Tais imagens são aqui consideradas, a um só tempo, no sentido de orientações argumentativas antitéticas e de uma formação sociodiscursiva complexa, cujas fronteiras diluem-se no intertexto e no interdiscurso associados a textos jurídicos e textos do sistema de comunicação de massa, relativos ao processo de impeachment da presidenta. Trata-se de uma abordagem de Linguística do Texto e do Discurso, na perspectiva da Análise Textual dos Discursos (Adam, 2011, 2015), complementada por noções da Lógica Natural (Grize, 1996) e da Teoria do Discurso Social (Angenot, 2015). Devido ao considerável volume textual do corpus, trataremos de alguns tópicos de acusação em contraste comas respectivas retomadas na “manifestação” da defesa. Na análise, examinamos, primeiramente, a estrutura composicional dos dois textos, tendo, como critério, as marcas de pessoa e os principais conteúdos semânticos das predicações atribuídas a essas marcas. Em seguida, analisamos a representação discursiva da Presidenta, conforme as perspectivas distintas dos dois documentos, relacionando-a a representações construídas no intertexto/interdiscurso. Por fim, analisamos os efeitos argumentativos dessas representações, considerando-as nas perspectivas de locutores enunciadores distintos que advogam, cada um por seu turno,“em desfavor” de uma figura política condenável e “em favor” de uma estadista defensável.
A TESSITURA TEXTUAL DA DENÚNCIA CONTRA A PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF E DA SEÇÃO DE CONCLUSÃO DA DEFESA - PLANO DE TEXTO, PONTOS DE VISTA E RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA
COLETIVA
Maria das Graças Soares Rodrigues Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Sueli Cristina Marquesi
Pontifícia Universidade Católica e Universidade Cruzeiro do Sul
A denúncia contra a Presidenta do Brasil, por crime de responsabilidade, gerou
um conflito nacional, dividindo brasileiras e brasileiros, acirrando a separação
entre as classes sociais, manifestando posturas de deputados e de senadores,
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que surpreenderam parte do eleitorado. É, pois, focalizando esse conflito público
que elegemos por corpora a "denúncia contra a Presidenta da República, por
crime de responsabilidade" e a seção de "Conclusão da defesa" contra essa
denúncia. Nessa direção, propomo-nos a descrever, analisar e interpretar o
"Plano de texto", os "Pontos de vista" (PDV) divergentes e a "Responsabilidade
enunciativa coletiva" (RABATEL, 2008), nos textos da denúncia e da seção de
conclusão da defesa. Para tanto, faremos remissão às inúmeras narrativas que
estruturam esses documentos, ressaltando as instâncias enunciativas, discursos
reportados e, naturalmente, os PDV contrários que orientam a visada
argumentativa.
RETÓRICA E PERSUASÃO NA PRÁTICA JURÍDICA: UMA ABORDAGEM
EMPÍRICA
Rosalice Pinto Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa
Centro de Investigação & Desenvolvimento sobre Direito e Sociedade da FDUNL – Portugal
Este artigo visa a mostrar que a seleção, por parte do agente produtor, de certos
aspectos organizacionais e estilísticos em textos inseridos em práticas sociais,
é constrangida por aspectos contextuais diversos. Inclusive, tal escolha pode vir
a contribuir para a construção de uma pluralidade de ethos e de pathos a ser
depreendida no universo textual, contribuindo para a construção de certo teor
persuasivo. De forma a demonstrar esses objetivos, far-se-á a análise de um
texto inserido em uma prática social específica: a jurídica. O texto em análise
corresponde à defesa da Presidente Dilma Rousseff desenvolvida pelo Dr. José
Eduardo Cardozo, em 4 de abril de 2016. Estudos preliminares atestam que, no
intuito de corroborar a tese (defesa da Presidente), o advogado geral da União
faz uso de uma heterogeneidade de ethos, atendendo a uma pluralidade de
pathos. De forma a atingir a finalidade proposta, o trabalho será dividido em três
partes. Primeiramente, procurará definir as noções de texto e gênero de texto,
defendendo a perspectiva teórica de uma linguística de gênero (Rastier, 1989;
Pinto, 2015). Em seguida, a partir do estudo de aspectos ‘externos’ e ‘internos’
relacionados à produção textual, proporá um quadro analítico para o estudo do
texto jurídico. Por fim, atestará que alguns aspectos internos (estilísticos e
organizacionais), relacionados aqui à construção dos ethos e pathos, são
constrangidos por questões contextuais e têm no texto empírico em análise um
papel persuasivo relevante.
PAINEL TEMÁTICO 8
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O QUE SE PODE, O QUE SE DIZ E O QUE SE DEVE DIZER NO BRASIL/2016
Coordenação: Silmara Dela Silva
Universidade Federal Fluminense /FAPERJ) Michel Pêcheux, em sua teoria do discurso, aponta para o modo como os processos de produção de sentidos funcionam ideologicamente, tendo os seus limites determinados por uma conjuntura sócio-histórica. Tudo não se pode dizer, e aquilo que pode e deve ser dito se inscreve em relação ao não-dito, e é determinado por posições ideológicas em sua contingência histórica. É desta perspectiva teórico-metodológica que, neste painel, tomamos como foco de nossas reflexões aquilo que pode e deve ser dito no cenário político brasileiro na atualidade, em um contexto sócio-histórico em que a divisão de sentidos se faz especialmente visível. No conjunto dos trabalhos, desenvolvidos por pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa brasileiras, analisamos: discursos de legitimação do fascismo, do nazismo, da violência do Estado e da intolerância ao outro, decorrentes do confronto discursivo que marca a situação política do Brasil no primeiro semestre de 2016; a relação entre sujeito e língua que se marca na materialidade discursiva de cartazes escritos em língua inglesa, postos em circulação em grandes cidades brasileiras, durante protestos anticorrupção e pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República; os gestos e o seu funcionamento como prática de resistência e sustentação do ato político na atualidade; os deslizamentos de sentidos e o lugar da mídia no processo de (des)legitimação de sentidos acerca da mulher e dos homossexuais no discurso político; o sistema editorial brasileiro e o modo como, por meio da base material linguística e também das condições materiais de produção/existência de seus trabalhadores e livros, ele faz circular sentidos sobre literatura, tradução, trabalho e ciência. Reunimos, assim, trabalhos que tratam, cada um a seu modo, de dizeres em curso no Brasil nos dias atuais, com circulação na mídia e nas redes sociais, que evidenciam o embate dos sentidos, o político no discurso.
O GESTO COMO ATO POLÍTICO: OS DEPUTADOS, O CUSPE E O TORTURADOR
Alexandre da Silva Zanella
Universidade Federal Fluminense /CAPES
Dantielli Assumpção Garcia Universidade do Oeste Paulista /CAPES
Neste trabalho, da perspectiva teórica da Análise de Discurso de linha francesa, dividido em dois momentos, pretendemos analisar uma sequência do processo de votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, realizado no dia 17 de abril de 2016, em que Jair Bolsonaro, do Partido Social Cristão (PSC), declara seu voto a favor do impedimento da presidenta legitimamente reeleita e dedica seu voto à memória do Coronel (torturador da Ditadura Militar Brasileira) Carlos Alberto Brilhante Ustra. O discurso de Bolsonaro gerará dois gestos: um na própria Câmara dos Deputados e outro nas redes sociais. Na Câmara, após as
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declarações do deputado do Partido Social Cristão, o gesto de Jean Wyllys, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), de cuspir em direção ao deputado Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, o gesto dos internautas de rememorar quem foi o coronel Brilhante Ustra e de sustentar/ressignificar o discurso de Bolsonaro como um discurso de apologia à tortura e contra os direitos humanos (principalmente de mulheres, negros e homossexuais). Considerando, com Pêcheux (1969, p. 76), que “um discurso pode ser um ato político direto ou um gesto vazio”, analisaremos esses gestos, não como vazios de significação, mas no jogo das relações de força antagonistas que existem no estágio atual do campo político brasileiro, mostrando como esses gestos (de cuspir, de ressignificar na rede) textualizam práticas de resistência e se sustentam como um ato político que busca, portanto, contraidentificar o discurso machista, racista, homofóbico de Jair Bolsonaro.
BELA, RECATADA E DO LAR? O DISCURSO POLÍTICO E O IMAGINÁRIO DA MULHER NA ATUALIDADE
Ceres Carneiro
Universidade Federal Fluminense / Universidade Federal do Rio de Janeiro
Elaine Daróz Universidade Federal Fluminense / FAPERJ
Nosso trabalho de investigação se realiza tendo como aporte teórico-metodológico a Análise de discurso de linha francesa, objetivando uma análise dos efeitos de sentidos do enunciado “Marcela Temer: bela, recatada e do lar”, título de uma entrevista dada à revista Veja pela então pretensa primeira-dama do Brasil, que circulou amplamente, em abril de 2016. A matéria causou um sem número de reações de brasileiros e brasileiras, derivando sentidos que se materializaram em postagens de internautas nas redes sociais. Considerando que os sentidos se regularizam na formação social por um embate que se estabelece na e pela língua, entendemos que tais discursividades nos têm muito a dizer sobre o imaginário da mulher (a ser regularizado) no discurso político na/em nossa formação social. Em contrapartida a essa ilusão de evidência dos sentidos, discursivamente compreendemos que inerente às palavras, às histórias da palavra, às memórias dos fatos e dos dizeres, há uma plurivocidade de sentidos que deslizam numa cadeia de significantes ao encontro do sujeito banhado de linguagem, clamando por significar. Apresentaremos, a partir de um gesto de interpretação, uma análise discursiva dos dizeres em circulação na mídia, em seus diferentes espaços de enunciação (GUIMARÃES, 2000), levando em consideração as repetições e/ou deslizamentos destes sentidos nos dizeres outros dispostos nas redes sociais a partir das condições sócio-histórico-ideológicas em que estas discursividades foram produzidas em suas posições-sujeito por vezes distintas. Neste gesto de interpretação, buscamos uma melhor compreensão do lugar da mídia na regularização dos sentidos na formação social, a partir de uma desnaturalização de sentidos sobre a mulher no discurso político, relativamente estabilizados no discurso midiático, em detrimento de sentidos outros por vezes silenciados.
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O DISCURSO MIDIÁTICO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES NO BRASIL: RELAÇÕES ENTRE SUJEITO E LÍNGUA
Fernanda Lunkes Universidade Federal do Sul da Bahia
Silmara Dela Silva
Universidade Federal Fluminense / FAPERJ
A perspectiva da análise de discurso considera a língua em sua forma material tecida com a materialidade histórica, possibilitando ao analista debruçar-se sobre a materialidade discursiva, na qual se coloca em relevo as tensões entre estrutura e acontecimento. Torna-se possível, deste modo, pela constituição do sujeito na e pela língua, analisar os gestos de interpretação nos processos de formulação e circulação, ou seja, os sentidos postos a circular em seus efeitos de evidência, próprios do funcionamento da ideologia. Este estudo, na esteira de trabalhos anteriores que buscaram desenvolver reflexões acerca dos discursos da/na mídia sobre as manifestações no Brasil, dedica-se a situar alguns dos gestos de interpretação sobre o movimento da língua inscrita na história para a constituição de discursos e a relação entre língua e sujeito que se marca nesses dizeres. O corpus será constituído de fotografias que compuseram galerias de imagens dos protestos que se autodenominaram, inicialmente anticorrupção, realizados no Brasil no primeiro semestre de 2015, e, posteriormente, favoráveis ao afastamento de Dilma Roussef da presidência da República, realizados no primeiro semestre de 2016, e que circularam amplamente na grande mídia. Os recortes para análise privilegiam fotografias dos cartazes com escritos em língua inglesa, registrados pela mídia como em circulação por ruas e avenidas de grandes cidades brasileiras, com foco na relação entre sujeito e língua que neles se materializa.
DISCURSOS EM CONFRONTO
Lucília Sousa Universidade de São Paulo
Vanise Medeiros
Universidade Federal Fluminense / CNPq) Dada a situação política do Brasil no primeiro semestre de 2016, observamos a emergência de um embate de dois discursos em situação de um litígio tal que recuperam sentidos de legitimação do fascismo, do nazismo, da violência do Estado e da intolerância ao outro. Tais sentidos reclamam interpretação, dada a forma como se constituíram, foram produzidos e circularam. Intentamos com este trabalho percorrer alguns desses sentidos escutando como a memória faz neles reverberar seus efeitos. A título de análise, mobilizaremos cartazes que foram produzidos nas manifestações em 2016 em diferentes lugares do Brasil e que circularam pelas redes sociais. Cartazes que indiciam um modo de as línguas de ferro, de madeira e de vento jogarem entre si efeitos imprevisíveis de deslocamento, de ressonância, de aliança e de rupturas. Trata-se de um trabalho, fruto de uma interlocução científica e acadêmica entre dois laboratórios
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brasileiros (ELA@DIS/ USP-Ribeirão Preto e LAS/UFF), que tem como ancoragem teórica a análise de discurso pecheutiana.
O DISCURSO EDITORIAL E O LIVRO: RESISTÊNCIAS E FUNCIONAMENTO DA EDIÇÃO
Phellipe Marcel da Silva Esteves
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Thiago Mattos de Oliveira Universidade de São Paulo / FAPESP
Neste trabalho, escrito das perspectivas da História do Livro (Lefevere e Wolikow) e da Análise do Discurso (Pêcheux e Orlandi), pretendemos investigar de que modo o sistema editorial brasileiro, por meio da base material linguística e também das condições materiais de produção/existência de seus trabalhadores e livros, faz circular sentidos sobre literatura, tradução, trabalho e ciência. Partimos analiticamente de um gesto editorial supostamente mínimo (a explicitação impressa ou não da identidade dos trabalhadores envolvidos na produção de enciclopédias, na página de créditos ou no colofão) e chegamos a uma análise de como as editoras operam na escolha e manipulação (no sentido proposto por Lefevere) de títulos, autores, tradutores etc. Recentemente, ao se inscreverem numa prática de esvaziamento de determinadas editorias, as grandes casas de edição privilegiam outras editorias — e outras línguas —, não coincidentemente preferindo publicar, de modo geral, livros traduzidos provenientes de língua inglesa ou livros como “histórias politicamente incorretas”, provocando efeitos de sentido conservadores e reforçam o discurso dominante. Finalmente, pretendemos também nos questionar se há espaço (e como se daria) para resistência nesses discursos em circulação no sistema e na prática editoriais.
PAINEL TEMÁTICO 9
A RELAÇÃO DE PODER EM DIFERENTES DOMÍNIOS DISCURSIVOS
Coordenador: Alexandro Teixeira Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Este painel congrega trabalhos que discutem as relações de poder em diferentes domínios discursivos. Assim, professores universitários de três diferentes instituições de ensino superior do Brasil objetivam descrever, analisar e interpretar, a partir de pontos de vista diferentes, como se manifestam as relações de poder em variados gêneros do discurso. Do ponto de vista teórico, as análises pautar-se-ão em aportes da Linguística de Texto, da Linguística Enunciativa, da Análise Textual dos Discursos, da Teoria da Argumentação, da Análise do Discurso, entre outros. Do ponto de vista metodológico, os corpora analisados são: 1- parecer do relator da comissão especial da Câmara dos Deputados sobre a denúncia por Crime de Responsabilidade em desfavor da Presidente Dilma Rousseff; 2- justificativas mobilizadas por deputados federais
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brasileiros favoráveis ao processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff; 3- o discurso de posse do presidente interino, Michel Temer, a fala do juiz responsável pela Operação Lava Jato, Sergio Moro, em 11 de maio e a capa da revista semanal Isto É, número 2424; 4- discurso de renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães. Por fim, entendemos que os trabalhos desse painel contribuirão para o aprofundamento dos estudos do texto e do discurso em diversos domínios discursivos e suas relações de poder.
A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NA DENÚNCIA CONTRA A
PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF: UMA ANÁLISE DA SEÇÃO
“CONCLUSÃO” DO PARECER EMITIDO PELO RELATOR DO PROCESSO
NA CÂMARA DOS DEPUTADOS
Alexandro Teixeira Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte
No dia 06 de abril de 2016, o deputado Jovair Arantes, relator da comissão
especial da Câmara dos Deputados, destinada a dar parecer sobre a denúncia
por Crime de Responsabilidade em desfavor da Presidente da República, Sra.
Dilma Vana Rousseff, conclui pela admissibilidade jurídica e política da acusação
e pela consequente autorização para a instauração, pelo Senado Federal, do
processo por crime de responsabilidade. Nesse sentido, entendendo a (não)
assunção da Responsabilidade Enunciativa, doravante RE, como recurso
argumentativo fortemente marcado pelo produtor de um texto com vistas a seus
propósitos comunicativos (Cf. Gomes, 2014), objetivamos, nesse trabalho,
discutir como se configura a (não) assunção da RE na seção “Conclusão” do
parecer do relator, bem como refletir sobre como a (não) assunção da RE
corrobora para fomentar os discursos de poder presentes no discurso do autor
do texto. Em termos teóricos, ancoramo-nos, sobretudo, nos aportes de Adam
(2011), Lourenço e Rodrigues (2013), Gomes (2014), Marquesi (2014), Rabatel
(2009), Nølke (2013), Nølke, Fløttum e Norén (2004), Guentchéva (1994, 1996)
e Guentchéva et al. (1994). Por fim, entendemos que este trabalho contribuirá
para o aprofundamento dos estudos voltados para o tema dessa investigação,
bem como para os estudos do texto e do discurso e suas relações de poder.
MARCAS DE RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO DISCURSO DE POSSE DE
TEMER
Marise Adriana Mamede Galvão Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Entre as dimensões da interação face a face, as relações horizontal e vertical,
conforme Kerbrat-Orecchioni (2006), são eixos que orientam os interactantes, de
modo que eles podem revelar laços de maior distanciamento ou de proximidade,
além de poder, hierarquia, dominação, que mostram as posições e papéis sociais
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experimentados pelas pessoas em interação. Marcadores verbais e não verbais
utilizados nas interlocuções evidenciam como nos situamos em relação às
pessoas em diferentes situações, sejam elas formais ou informais. Assim sendo,
neste trabalho objetivamos identificar, descrever, analisar e interpretar a
materialização linguístico-discursiva das relações interacionais no
pronunciamento do Presidente – em exercício - da República Federativa do
Brasil, notadamente no que se refere às formas de tratamento adotadas por esse
falante principal ao se dirigir à audiência. Adotamos, para tanto, posturas teóricas
de autores como Kerbrat-Orecchioni (2006), Marcuschi(2008), Adam (2011),
entre outros, considerando que eventos interativos são construídos e
reconstruídos socialmente, o que possibilita assumir um ponto de vista de que
as pessoas falam de um determinado lugar, utilizando-se para tanto, de
indicadores do momento em que se encontram.
PAINEL TEMÁTICO 10
EL PAPEL DE LA PRENSA EN LA CONSTRUCCIÓN DE LAS IDENTIDADES
NACIONALES: RECODIFICACIÓN MULTIMEDIA Y MULTIMODAL – II
Coordinadora: Carla Prestigiacomo Università di Palermo
LEGIONES Y FALANGES: CONSTRUCCIÓN LINGÜÍSTICO-DISCURSIVA DEL ENEMIGO
Carla Prestigiacomo Università di Palermo
Si bien se puede afirmar que la prensa no se identifica con «una instancia del
poder» (Charaudeau), es necesario considerar que en algunos contextos y
momentos históricos el discurso de los medios se perfila como un instrumento
de orientación y coacción, voz de un grupo dominante que convierte la palabra
en un arma al servicio de la manipulación ideológica del receptor. Es lo que se
percibe en Legiones y Falanges, revista en la que el joven gobierno franquista
busca justificar y fortalecer su razón de ser, mediante la denuncia de la crisis y
la designación de la fuente del mal y de los culpables (Charaudeau). Con este
intento, el enunciador institucional de la revista adopta toda clase de
expedientes, forjando un discurso ideológico en el que sobresalen la polarización
Nosotros-Ellos (Van Dijk) y el recurso a otras estrategias argumentativas ilícitas
y no (Fuentes y Prestigiacomo). Por lo que a este trabajo se refiere, dentro del
marco teórico de los estudios de la pragmática lingüística, del ACD y de la
argumentación, se analiza un corpus de artículos cuyo objetivo se identifica con
la contrucción discursiva de la imagen del enemigo.
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CONSTRUCCIÓN DE IDENTIDADES NACIONALES Y DE GÉNERO EN LA PRENSA FASCISTA: MODELOS FEMENINOS EN LAS REVISTAS
LEGIONES Y FALANGES Y SIGNAL
Mechthild Albert Universität Bonn
Después de sendos estudios dedicados a la construcción de modelos femeninos
en las revistas fascistas Legiones y Falanges y Signal, la presente comunicación
se propone un acercamiento comparado, multifocal y multimedia a este mismo
corpus periodístico. Nos interesa saber en qué medida ambas revistas –la
hispano-italiana y la alemana– se distinguen al construir identidades de género,
relacionadas con identidades nacionales, en el marco de una nueva Europa
fascista. Asimismo se tendrá en cuenta la relevancia de la imagen fotográfica
como complemento mediático indispensable –e ideológicamente muy eficaz- del
texto.
DE LIBROS, LIBRERÍAS Y REVISTAS: UNA APROXIMACIÓN AL MUNDO DE LAS LETRAS EN LOS ANUNCIOS PUBLICITARIOS DE LA
VANGUARDIA Y OTRAS PUBLICACIONES COETÁNEAS (1939-1945)
Rosa Mateu Serra Universitat de Lleida
El objetivo de este trabajo es llevar a cabo una primera aproximación al apartado
dedicado a los anuncios publicitarios en el periódico La Vanguardia,
concretamente en el periodo comprendido entre el final de la Guerra Civil y los
primeros años del régimen franquista. Es en esta sección donde de forma más
explícita o implícitamente se dibujan aspectos que nos pueden aportar datos
sobre el telón de fondo el momento, en especial sobre la vida cotidiana (tipología
de los productos anunciados, tipo de público al que se dirigen, valores que se
transmiten, análisis pragmático-lingüístico de los mecanismos de persuasión
utilizados, etc.) En concreto, entre estos anuncios podemos encontrar huellas
del momento que vivía en ese contexto el mundo de las Letras.
ESPAÑA, ITALIA Y EL REICH EN LA REVISTA 'SIGNAL' (1940-45):
REPRESENTACIONES NACIONALES E INTERCAMBIO CULTURAL EN LA CONSTRUCCIÓN DE LA 'NUEVA EUROPA'
Lena Kissmer Universität Bonn
La revista Signal (1940-45) no solo ilustraba la vida cotidiana en los varios
campos de batalla de la Segunda Guerra Mundial. Editada exclusivamente para
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el extranjero y traducida a más de 20 idiomas, se trata del instrumento de
propaganda más importante del régimen nacionalsocialista. En medio de
páginas cargadas de fotografías e impresiones de un heroismo militar,
igualmente se encuentran artículos que transmiten las ideas constituyentes e
ideológicas de una ‘Nueva Europa‘. En este contexto, proponemos analizar, en
base a textos selectos, las representaciones nacionales de España e Italia, cuyos
valores socio-culturales son destacados por la Wehrmacht, y mostrar en qué
medida son negociados ante la ideología nazi que los estiliza de manera
(pseudo-)intercultural, a fin de enriquecer y reforzar el surgimiento de una nueva
comunidad europea basado en el modelo nazi.
LITERATURA Y PROPAGANDA EN HORIZONTE (1938-1942)
Antonella Russo Università di Salerno
Horizonte es una publicación miscelánea de gran tamaño y calidad asombrosa,
surgida entre las filas de los sublevados durante la guerra civil española.
Hermana menor de la más famosa Vértice, fundada y dirigida por el mismo
incansable periodista, Manuel María Gómez Comes, conocido como Romley.
Empeñada en la propaganda de la guerra civil y en la creación y acreditación del
Nuevo Estado, la revista, como otras publicaciones de la época, se inserta en
ese contexto de movilización colectiva y se convierte en un arma más en el
enfrentamiento no solo bélico, sino también identitario, teleológico y estético
entre los dos bandos. Tenemos un corpus muy extenso y heterogéneo que, a la
manera de Vértice, no es expresión de escuelas o de un movimiento literario
stricto sensu. Lo que revela ese conjunto de textos es la respuesta, no siempre
orgánica pero eficaz, a las necesidades culturales del bando insurgente, primero,
y, sucesivamente, del régimen franquista. Una ojeada a los nombres que
participan en la redacción de la revista confirma su papel de primer plano en la
creación de una estética literaria, de un magisterio de autores y tendencias,
adoptadas por una de las dos Españas.
PAINEL TEMÁTICO 11
Coordenadora: Alexandra Guedes PInto Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Os manifestos eleitorais de candidatos à presidência da república configuram um
género de texto dentro do tipo de discurso político, que se pauta por certas
regularidades assinaláveis. É propósito deste painel contribuir, através da
análise dos manifestos eleitorais de alguns dos candidatos às eleições
presidenciais portuguesas de 2016, para a clarificação dos parâmetros deste
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género, ao mesmo tempo que pretende destacar, dentro das pautas do género,
que estratégias discursivas os candidatos usam para construir o seu ethos
diferenciado e se posicionar na arena política. A construção da
intersubjetividade, através do desenho do EU; do TU e da relação entre os dois,
bem como a definição da imagem do OUTRO / dos OUTROS por referência a
quem o EU se posiciona, serão eixos de análise privilegiados neste painel.
ESTRATÉGIAS DE APROXIMAÇÃO DO TU NO MANIFESTO
PRESIDENCIAL DE ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA ÀS ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS PORTUGUESAS DE 2016
Ana Sofia Freixo Pinto
Maria Beatriz Andrês Fachada
Tânia Regina Teixeira Monteiro
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
O manifesto presidencial para as eleições de 2016 do candidato António
Sampaio da Nóvoa apresenta-se como um manifesto diferente, se
considerarmos algumas das características prototípicas de um manifesto
presidencial, pois não estão explícitas neste manifesto as críticas ao Outro.
No entanto, o candidato aposta na construção do ETHOS como forma de
aproximação do TU. Desta maneira, a partir do eixo de análise “a aproximação
do TU”, exploramos e analisamos, neste trabalho, as estratégias utilizadas pelo
candidato presidencial na construção da referida aproximação. Na nossa análise
incluímos estratégias de aproximação como: as marcas de 1º pessoa, presentes
nos atos compromissivos, em que o locutor se vincula com o discurso e com o
Tu; o Nós inclusivo, como forma de o locutor juntar a sua voz à voz do povo; a
utilização da intertextualidade como estratégia de credibilização do seu discurso,
entre outros mecanismos.
A CONSTRUÇÃO DO ETHOS NO MANIFESTO PRESIDENCIAL DE
MARCELO REBELO DE SOUSA ÀS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
PORTUGUESAS DE 2016
Débora Rocha
Marta Rodrigues
Renata Soares
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
O ethos representa a identidade do sujeito no discurso e corresponde à imagem
refletida pelo discurso, portanto, é a imagem do “eu” do discurso. O ethos
relaciona-se com o enunciador através das escolhas linguísticas feitas pelo
mesmo, escolhas que revelam vestígios da imagem do próprio enunciador,
durante o processo discursivo. Nesta perspetiva, é possível explorar de que
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maneira a imagem de um candidato politico no discurso, neste caso, a imagem
do candidato Marcelo Rebelo de Sousa, candidato à presidência da República
nas eleições presidenciais portuguesas de 2016, se constrói no sentido de
conquistar o maior número de votos possíveis na corrida ao cargo, e, desta
forma, atingir o objetivo de o alcançar.
No seu manifesto, Marcelo Rebelo de Sousa faz escolhas discursivas
relevantes para a construção da sua imagem, utilizando marcas linguísticas que
mostram claramente a sua presença no texto, focando-se, essencialmente na
construção de um “eu” credível, empático e humilde. Uma dessas escolhas
prende-se com a componente composicional e enunciativa do texto, que recria
o género autobiográfico, afastando-se, dessa forma, das marcas mais
prototípicas de um manifesto eleitoral.
Neste trabalho, estudaremos a forma como este candidato constrói a sua
imagem no texto.
O MANIFESTO ELEITORAL DE EDGAR SILVA ÀS ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS PORTUGUESAS DE 2016 - O LUGAR DO EU E DO OUTRO
NA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM PÚBLICA
Renata Maia
Rui Lopes
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
O trabalho a ser apresentado nestas Jornadas foca-se na análise do Manifesto
político de Edgar Silva, um dos 10 candidatos à presidência, nas eleições
presidenciais portuguesas de 2016.
O trabalho segue três grandes eixos de análise, que se encontram
correlacionados entre si. O primeiro eixo é a análise da construção do Ethos, isto
é, a construção da imagem do EU do candidato no discurso; o segundo eixo
contempla a construção das imagens dos atores discursivos com ele
correlacionados, como sejam a imagem do TU e a imagem do OUTRO /
OUTROS; o terceiro eixo, por sua vez, particulariza as estratégias de
aproximação utilizadas pelo EU, o candidato, para se relacionar com o TU, os
portugueses.
O Manifesto presidencial é um género de texto que se insere dentro do tipo
discurso político e, como tal, apresenta uma estrutura maioritariamente
expositiva.e argumentativa. Tem como objetivo expor as ideias, objetivos e
propostas do seu locutor, comprometendo-o com estes, e apelando ao
sentimento do alocutário, para o levar a realizar a ação pretendida, neste caso
específico confiar o voto ao candidato Edgar Silva.
Para concretizar a sua especificidade pragmática, o manifesto presidencial
exibe algumas marcas linguísticas regulares, que nos propomos destacar neste
trabalho.
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PAINEL TEMÁTICO 12
DISCURSO ACADÊMICO E ENSINO
Coordenador: João Gomes da Silva Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Neste painel, são apresentadas pesquisas sobre os discursos em Educação, em
perspectivas teóricas em convergência com os estudos da linguagem, sendo
discutidas questões de genericidade e textualização na interface com os ensinos
básico e superior. Em sua comunicação, Isabel Roboredo Seara apresenta um
estudo sobre os modalizadores epistêmicos e suas funções pragmáticas no
discurso científico veiculado em textos do ensino superior. Em análises de um
corpus de medicina, tratada recorrência à modalidade epistêmica e das
estratégias de atenuação,assim como de suas implicações com a fiabilidade da
informação transmitida. Por sua vez, Maria Eduarda Giering apresenta uma
pesquisa sobre as potencialidades emergentes de textos de divulgação científica
midiática aplicados à educação científica na aula de língua portuguesa. Na sua
análise,considera as possibilidades projetadas pela notícia de divulgação
científica midiática, numa abordagem discursivo-textual que contemple, ao
mesmo tempo, fatores linguístico-discursivos e características do discurso
científico. Em sua abordagem do discurso educacional, Maria Inês Batista
Campos traz apresenta uma pesquisa em que explora as relações entre a
concepção bakhtiniana de arquitetônica e o trabalho com manuais didáticos de
língua portuguesa. Com foco nos manuais didáticos de dissertação, discute o
projeto de ensino de dissertação em dois compêndios publicados entre o final do
século XIX e início do século XX. Por fim, Maria das Graças Soares Rodrigues e
João Gomes da Silva Neto abordam o lugar do discurso científico no ensino
superior, refletindo sobre a problemática dos resumos em periódicos científicos,
quanto às variações do plano de texto e do sujeito enunciador. Para tanto,
apresentam análises de um corpus de textos do Portal de Periódicos da CAPES,
com foco no plano de texto, no ponto de vista, no apagamento enunciativo e no
quadro mediativo.
O PODER DA ATENUAÇÃO NO DISCURSO CIENTÍFICO
Isabel Roboredo Seara Universidade Aberta / Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa
Nas últimas décadas tem-se revelado crescente o interesse sobre o discurso científico, no âmbito das análises linguístico-discursivas, que decorre da premissa de que o discurso científico, para além de um meio de transmissão de meros resultados científicos, de forma neutra e objetiva, encerra um inestimável poder retórico que visa não apenas informar ou dar conta de resultados pioneiros ou inovadores, mas preferencialmente a convencer e a persuadir. (MarkkanenetSchröder 1997 : 9). Bazerman sublinha, a este propósito, a importância de estudar as estratégias retóricas nos textos de divulgação
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científica, lamentando a escassez de estudos no que designa da “retórica das ciências” e preconiza insistentemente a realização de estudos neste domínio, sobretudo com fins didáticos (1988 : 332). É objetivo deste estudo recensear os modalizadores epistémicos num corpus de artigos científicos de medicina e perceber quais as realizações linguísticas predominantes para exprimir esta modalização e quais as funções pragmáticas que realizam. Propomo-nos mostrar a recorrência à modalidade epistémica ou de atenuação (‘hedging’), aos marcadores de incerteza que evidenciam estratégias de atenuação e que esta assunção de avaliação epistémica por parte do locutor configura um juízo sobre a fiabilidade da informação transmitida, podendo efetivamente transmitir uma incerteza real, como também uma estratégia de convencer, de antecipar uma crítica ou mesmo espelhar um atitude de modéstia científica. Adotaremos a perspetiva de Hyland (1998), defendida na obra Hedgingin Scientific Research Articles e mostremos que, na maioria dos casos analisados, os marcadores epistémico-modais de incerteza são reconhecidos como atenuadores. Finalmente, será importante reconhecer que a pesquisa no domínio científico é cada vez mais competitiva e não importa apenas avaliar resultados originais e criteriosamente sustentados, mas igualmente transmiti-los de forma eficaz, persuasiva e convincente.
PLANO DE TEXTO, PONTO DE VISTA, APAGAMENTO DO SUJEITO
ENUNCIATIVO E QUADRO MEDIATIVO EM RESUMOS DE PERIÓDICOS
CIENTÍFICOS DE DIFERENTES ÁREAS DO CONHECIMENTO
Maria das Graças Soares Rodrigues Universidade Federal do Rio Grande do Norte
João Gomes da Silva Neto
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
No meio acadêmico, conforme a área do conhecimento, há variação no que
concerne à orientação acerca do plano de texto de um resumo, o qual integra
um artigo. Observamos também diferenças quanto ao sujeito enunciador,
havendo ocorrências de apagamentos. Assim, se há apagamento do sujeito
enunciador, interessa-nos saber como se constrói o ponto de vista (PDV) do
locutor enunciado primeiro (L1/E1) (RABATEL, 2012, 2015) e suas posturas
enunciativas. Ademais, buscaremos averiguar se o apagamento do sujeito
enunciador implica a ocorrência de quadro mediativo (GUENTCHÉVA, 1994,
1996, 2011). Nessa direção, interessa-nos descrever, analisar e interpretar o
plano de texto, o ponto de vista (PDV), o pagamento enunciativo e o quadro
mediativo em resumos de periódicos científicos de diferentes áreas do
conhecimento, conforme classificação da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal do Nível Superior (CAPES). Por fim, esclarecemos que os corpora foram
coletados na base de dados do Portal de Periódicos da CAPES.
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EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA E EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
Maria Eduarda Giering
Universidade do Vale dos Sinos
Trabalha-se com as potencialidades emergentes de textos de divulgação científica midiática (DCM) aplicados a contextos escolares e suas contribuições para a promoção de uma educação científica na sala de aula de língua portuguesa. Estuda-se um corpus de notícias de divulgação científica da revista Galileu, focalizando aspectos discursivos e textuais. Parte-se da noção de contrato de midiatização da ciência de Charaudeau (2013; 2014) e investiga-se o nível textual da notícia por meio de categorias da Análise Textual dos Discursos (ATD) postuladas por Adam (2011): orientação argumentativa, responsabilidade enunciativa, ponto de vista. Discutem-se os resultados da análise considerando-se as possibilidades projetadas pela notícia de DCM numa abordagem em sala de aula através de um olhar discursivo-textual que contemple, ao mesmo tempo, fatores linguístico-discursivos e características do discurso científico. O foco é a promoção da educação linguística e da educação científica no currículo de língua portuguesa do Ensino Médio. Considera-se que, ao fazer uso dos materiais de divulgação científica que já circulam na escola, é possível promover uma educação científica através de textos sobre ciência publicados na mídia, com os quais os alunos estão em contato constante. Entende-se que o trabalho com textos de DCM, abordados em seus aspectos discursivo e textual, pode contribuirpara o desenvolvimento de uma cultura científica necessária para uma atuação cidadã.
OS MANUAIS DIDÁTICOS DE DISSERTAÇÃO: POR UMA ARQUITETÔNICA
DO ENSINO DA ARGUMENTAÇÃO
Maria Inês Batista Campos Universidade de São Paulo
A proposta de refletir sobre as confluências entre os estudos do discurso e o
ensino de língua materna representa uma oportunidade de expor o projeto de
pesquisa no qual tenho me dedicado, explicitando as relações entre a concepção
bakhtiniana de arquitetônica e o trabalho com manuais didáticos de língua
portuguesa. O objetivo é analisar o projeto de ensino de dissertação em dois
compêndios – um francês (Gustave Lanson) e outro, brasileiro (Olavo Bilac;
Manoel Bonfim), publicados entre o final do século XIX e início do século XX. A
partir do conceito de “arquitetônica” (M. Bakhtin), buscarei linhas de
convergência entre os livros. Tal procedimento comparativo permite traçar a
finalidade e o modo como a produção da dissertação foi ensinada. O resultado
demonstra que há, nos manuais, uma valorização na arte do bem escrever por
meio da imitação das obras-primas e uma ausência dos procedimentos de
escritura do texto e dos aspectos interacionais da escrita.
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PAINEL TEMÁTICO 13
EL PAPEL DE LA PRENSA EN LA CONSTRUCCIÓN DE LAS IDENTIDADES
NACIONALES: RECODIFICACIÓN MULTIMEDIA Y MULTIMODAL
Coordinadora: Floriana Di Gesù Università di Palermo
El Network ‘MEMITA’ – “Memory, identity, integration to identify analysis models in media communication”-, entre la Universidad de Palermo, que lo coordina, y la Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universitat (Bonn), la Hassan II-Aïn Chock (Casablanca), la Complutense (Madrid), la Uniwersytet Łodzki (Łodz), así como las de Sevilla, Porto, Roma Tor Vergata, Minho, Lleida y Venezia ‘Cà Foscari, propone un panel que pretende representar un avance en el análisis de la función de la prensa en la constitución de la identidad individual, grupal y nacional, y por consiguiente, subrayar su relevancia en la recuperación de la memoria histórica del ciudadano europeo del s. XXI. El formato multimedia y multimodal del texto periodístico, además de ofrecer un panorama exhaustivo de la cultura de una determinada época, permite un enfoque transdisciplinar que conjuga las competencias investigadoras con los componentes del grupo. De hecho, el discurso periodístico se identifica con un “macro-acto” lingüístico mediante el cual un locutor manifiesta (o no, como en los casos de persuasión oculta o manipulación) la intención, no solo de comunicar su tesis u opinión, sino sobre todo de convencer, o por lo menos de persuadir a un específico interlocutor de la validez de su discurso (Lo Cascio, 2009). Este discurso público se traduce en un poder discursivo que permite controlar los actos de los demás por medio de la persuasión, la manera actual de ejercer el poder. De ahí que podamos afirmar que existe un control mental a través del discurso (Van Dijk, 2012). El enfoque pragma-lingüístico utilizado se constituye como una herramienta fundamental para descubrir, mediante la observación de diferentes fenómenos lingüístico-discursivos en un amplio corpus de artículos, aquellas estrategias argumentativas, persuasivas o manipuladoras, que participan en la construcción de la identidad y de la imagen social. Debido a ello, cada speaker intentará ofrecer una muestra de análisis del discurso de un corpus variado de textos ideológicamente orientados. EL DISCURSO PUBLICITARIO AL SERVICIO DE LA CONSTRUCCIÓN DE
LA IDENTIDAD EN ESTADO NOVO: EL CASO DE MUNDO GRÁFICO
Aldina Marques Universidade do Minho
Alexandra Guedes Pinto
Universidade do Porto
Isabel Margarida Duarte Universidade do Porto
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El análisis del discurso publicitario en la revista Mundo Gráfico tiene como
objetivo mostrar hasta qué punto la revista y sus objetivos explícitos condicionan
el producto, que se contextualiza brevemente, desde el punto de vista histórico
e ideológico. Por otro lado, el análisis nos ayudará a estudiar los mecanismos
lingüísticos discursivos y multimodales que afectan al rendimiento del receptor
para convencerlo a tomar medidas y, sobre todo, y a analizar cómo el discurso
publicitario contribuye a la construcción de la imagen de la identidad del hombre
y de la mujer portuguesa al servicio de la ideología del Estado Novo.
LEGIONES Y FALANGES: ESPEJO DE UN AZORÍN DESCONOCIDO
Ambra Pinello Università di Palermo
En el presente trabajo se pretende examinar los artículos de Azorín contenidos en la revista Legioni e Falangi/Legiones y Falanges (1940-43) con el propósito de abordar uno de los autores más conocidos de todos los tiempos desde una perspectiva nueva que permita abrir una vía alternativa para el entendimiento de su postura ante la realidad histórica del régimen de Franco. Frente a los numerosos análisis críticos que hasta ahora se han hecho sobre el escritor y de acuerdo con los objetivos del Network MEMITA’, este trabajo es ante todo una invitación a discutir de una parte de su producción que bien se presta al estudio de la función de la prensa en la constitución de la identidad tanto individual como colectiva. De hecho, el análisis de los articulos mencionados funciona como llave de lectura para interpretar los aspectos menos indagados del autor, el cual, a pesar de la fuerte politización tanto de la revista como de otros textos suyos explícitamente propagandísticos, decide no tratar temas políticos, sino prefiere dedicarse a una escritura evasiva, intrínsecamente cultural. Esta actitud podría reflejar un tentativo de ripudiar la realidad, de enajenarse de un contexto histórico-social que tanto al comienzo como al final de su carrera le hace sufrir aquella “sensación de abatimiento” de la que habla en sus páginas más íntimas. El aporte a la crítica preexistente consiste en presentar una revisión de cómo él no se desliga abiertamiente de su producción antecedente ni de la ideología política que declara, sino da vida, consciente o inconscientemente, a un pequeño corpus de textos sui generis, capaz de ofrecer nuevas perspectivas hermenéuticas sobre un autor de la tradición que nunca deja de ser fuente de inspiración para la actualidad.
IDENTIDAD CULTURAL E IDENTIDADES EN CRISIS EN LA NARRATIVA
BREVE DE LA REVISTA LEGIONI E FALANGI/LEGIONES Y FALANGES
(1940-1943)
Assunta Polizzi Università di Palermo
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Entre 1940 y 1943 se publica paralelamente, en edición italiana y española, la
revista Legioni e Falangi/Legiones y Falanges, dando vida a un proyecto de
vinculación político-cultural entro los dos países bajo dos regímenes totalitarios:
la España recién salida del conflicto civil y entrada en la dictadura franquista y la
Italia ya asentada en el régimen fascista desde dos décadas. Un espacio
relevante de la revista, en ambas ediciones, se le destinaba a la literatura,
incluyendo la reflexión crítica, el cuento de viaje y de ficción. Respecto al cuento
literario, la edición española incorpora la sección titulada “El cuento mensual” a
partir del N° 19 (mayo-junio 1941), mientras que en la edición italiana es a partir
del N° 20 que se empieza a notar una presencia esparcida, aunque constante,
de narrativa breve. Se van alternando autores no siempre relacionados con el
periodismo, sobre todo en Legiones y Falanges, temas y motivos variados,
narraciones fantásticas, intimistas o en relación con recursos discursivos y
argumentativos de carácter odepórico. Este estudio se centra en la narrativa
breve de ambas ediciones de la revista, que parece consagrarse a un espacio
de ficción capaz de abrir grietas para la representación de experiencias
problemáticas o surreales, protagonizadas por sujetos en crisis, y colocándose
en intersticios de ruptura respecto a la ‘sobrecarga’ de referencias
socioculturales e ideológicas que marcan el proyecto editorial en su conjunto.
NATIONALIST NARRATIVES AND THEIR METAPHORICAL
CONSTRUCTION IN THE BRITISH FASCIST PRESS OF 1930s.
Cinzia Spinzi Università di Palermo
This work looks at the connection between nationalist movements and totalitarian
regimes considering that over the last decades new right-wing populist parties
have been active in Europe (e.g. UKIP in the UK) posing significant challenges
to liberal democracy. The economic crisis, terrorism threats and immigration
issues are thus generally mixed with issues of national identity and far-right
ideology. Here we assume that the analysis of the failure of past nationalisms, in
this case British nationalism, gives insights into connections among the European
fascist movements and between the old and new discourses used in the press.
Furthermore, it is relevant to the understanding of the current position of the
European Union and the British exit from the Union. In conflictual situations the
press then constitutes a key persuasive weapon at politicians’ disposal. Previous
research (Spinzi 2015), based on the analysis of the Italian version of the
newspaper Legioni e Falangi, has revealed how the use of interwoven discourses
in language (e.g. geographical, religious, sentimental discourses) (Fairclough
1989), serves the ideological purpose of justifying opportunist and greedy
behaviours such as those attributed to Spanish and Italian fascism. This work
aims to investigate the British nationalism and its metaphorical/ideological
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construction through the analysis of the newspapers founded by the British
‘fascist man’ par excellence, Oswald Mosley. The data for the analysis come from
a corpus of articles from three British newspapers The Blackshirt, The Fascist
week “The official organ of the British Union of Fascists”, and Action. The
approach used in this study draws upon the Critical Discourse Analysis
(Fairclough, 1995) and looks at metaphorical collocational patterns in that the
analysis of collocations contributes to the semantic analysis of a word becoming
a significant vehicle to understand the discursive representation of nationalist
narratives.
MODELOS MENTALES Y MODELOS SOCIALES EN LEGIONI E FALANGI /
LEGIONES Y FALANGES
Floriana Di Gesù Università di Palermo
Este artículo tiene el objetivo de investigar el papel de los modelos mentales y de los modelos sociales a través del análisis de una muestra significativa de artículos aparecidos en una revista ideológicamente marcada como L&F. Según Van Dijk (2003 y 2008) los modelos mentales son representaciones mentales esencialmente personales sobre un evento determinado y se basan en conocimientos, actitudes e ideologías. Los Modelos mentales se construyen a través de la información que se desprende del discurso, simultáneamente con nuestro conocimiento general sobre un tema concreto. Por tanto, los modelos mentales intervienen en la cognición social, lo cual implica influir en factores como las actitudes e ideologías compartidas por los grupos. Los Modelos mentales son la base de la memoria de las personas y conllevan a crear las opiniones y las actitudes con relación a un tema ya que definen cómo las personas interpretan cada evento.
PAINEL TEMÁTICO 14
DISCURSO E LEGITIMAÇÃO DE PODER: OS SENTIDOS INSCRITOS NA
MATERIALIDADE LINGUÍSTICA
Coordenadora: Poliana Coeli Costa Arantes Universidade do Estado do Rio de Janeiro
O presente painel tem por objetivo apresentar uma discussão sobre o tema do congresso – o poder do discurso e o discurso do poder –, tendo como base as diferentes configurações da materialidade linguística. Segundo Dominique Maingueneau (1993), “o uso da língua que implica um discurso dá-se como a maneira pela qual é necessário enunciar, pois é a única conforme ao universo de sentido que ele instaura”. A partir desse pressuposto de investigação, os trabalhos aqui apresentados procuram analisar os sentidos do poder que se
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produzem em práticas discursivas no mesmo movimento em que se constrói um código linguageiro, um etos e uma cenografia. Nessa perspectiva, estarão em foco neste painel:
modos de constituição de etos em pronunciamentos de parlamentares brasileiros, indicando compromissos assumidos na implantação de uma lei de cotas em universidade pública;
condições de enunciabilidade em textos midiáticos sobre a educação pública brasileira, legitimando contextos de desmonte de conquistas democráticas;
dispositivos de linguagem presentes em formulários de uma agência de fomento de pesquisa, apontando para relações hierarquizantes em cursos de pós-graduação;
marcas de heterogeneidade nos pronunciamentos do governo alemão acerca de refugiados, delimitando estereótipos acerca dessa população no debate público;
pressuposições e designações no discurso publicitário, constituindo imagens de intolerância aos direitos individuais como subtexto de posturas antidemocráticas.
A (NÃO) INTEGRAÇÃO PELO SILENCIAMENTO: IMAGENS DA
DIVERSIDADE ÉTNICA NO DISCURSO PUBLICITÁRIO
Bruno Deusdará Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Fundação de Amaparo à Pesquisa
do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)
Considerando a intensificação da expressão da intolerância social, propomos uma investigação que acione os dispositivos do método da cartografia com o propósito de mapear a produção de imagens discursivas do outro a partir de processos diversos de pretensa neutralização ou desqualificação da diversidade. Para tanto, recuperamos a reflexão de Rancière, segundo o qual o ódio à democracia se sustentaria na intolerância à pretensa “inflação” de direitos individuais. Como quadro teórico, partimos da produtividade da concepção polifônica da linguagem (BAKHTIN, 2000; DUCROT, 1987) e da abordagem do discurso como prática (MAINGUENEAU, 1997, 2005) de intervenção sobre o real (ROCHA, 2014, 2006; DEUSDARÁ; ROCHA, 2013), para interrogar os modos de constituição do sentido para além do que se expressa no plano do dito. Como material submetido à análise, recorremos a campanha publicitária de um refrigerante na qual se observa uma não coincidência entre o que se tematiza explicitamente no plano verbal e o que se apresenta no plano do não verbal. A partir da análise dos pressupostos e das designações, delimitamos os embates construídos nos textos midiáticos, evidencia tensões contemporâneas em torno da intolerância. Por fim, destaque-se que esse modo de conceber a pesquisa linguística tem permitido articulação produtiva entre os estudos do discurso e as reflexões contemporâneas acerca da subjetividade como produção.
LINGUAGEM E PODER: PRÁTICA DISCURSIVA E TRABALHO DOCENTE
EM PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
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Décio Rocha Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Este trabalho se interroga a respeito do modo como se atualiza na contemporaneidade o trabalho docente em pós-graduação stricto sensu no Brasil, buscando explicitar a natureza dos encontros entre profissionais e estudantes que atuam no referido nível de ensino. Para tal, constituiu-se um córpus que inclui dispositivos presentes no item Classificação de livros de documentos de área da Capes de 2009 e 2013: formulários a serem preenchidos pelos diferentes programas de pós-graduação com o objetivo de avaliar a produção bibliográfica da autoria de docentes-pesquisadores e de fundamentar o ponto de vista segundo o qual a realidade que hoje vivemos nos programas de pós-graduação brasileiros não é nem natural, nem necessária. Diante do objetivo proposto, procede-se inicialmente a um breve histórico do modo como o espaço da pós-graduação veio se construindo no país desde 1965, na certeza de que as poucas informações reunidas já serão suficientes para dar conta de muitas das dificuldades encontradas hoje, quando, por exemplo, se reclama dos prazos exíguos e dos critérios draconianos que dão o tom das avaliações a que todos se encontram submetidos – docentes e pós-graduandos. Não será, desse modo, difícil perceber, por intermédio da articulação entre linguagem e dispositivos de poder, os efeitos nefastos das alianças feitas pela pós-graduação no país com as práticas neoliberais. Dentre as conclusões que se oferecem, destacam-se as seguintes: (i) o conceito de prática discursiva dá visibilidade a implicações políticas do exercício da linguagem ao vincular produção de textos e produção de grupos; (ii) os dispositivos que regem o funcionamento dos programas de pós-graduação não promovem a formação de coletivos de trabalho, carecendo-se de novos intercessores que logrem constituir espaços de discussão menos hierarquizantes e mais afirmativos de uma lógica promotora de trocas entre os profissionais.
O FRACASSO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA: A PRODUÇÃO DE
DESMANCHES PELA CONSTITUIÇÃO DO RUMOR PÚBLICO
Del Carmen Daher Universidade Federal Fluminense / Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq)
A Educação no Brasil, de acordo com sua legislação, deve garantir de forma democrática e laica a todos seus estudantes “igualdade de condições de acesso e permanência na escola, a liberdade de aprender" e aos professores a de "ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; o respeito à liberdade” (Resolução CNE nº 02/ 2015) . Nos últimos anos, no entanto, vimos nos deparando com massivas críticas, pressões e iminentes tentativas de interferência na escola pública – sua organização enquanto sistema e currículos escolares – a partir de discursos que encontram apoio e circulação nos espaços midiáticos. O fracasso escolar e o despreparo dos professores, constituídos como “verdades” inquestionáveis, institui-se por meio de discursos aqui denominados como rumores públicos. Nossa participação no painel tem como foco identificar (novos) dispositivos que autorizam essas
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práticas e manifestações de desmanche de conquistas democráticas alcançadas no âmbito educacional e a naturalização do trabalho docente, a partir de aportes teóricos advindos de uma perspectiva discursiva de base enunciativa (MAINGUENEAU, 1984, 1987, 2000) e de uma concepção ampliada de situação de trabalho (ROCHA, DAHER, SANT ANNA, 2002), que a compreende a partir de uma rede de discursos proferidos e de suas condições de enunciabilidade (FOUCAULT, 2007 [1969]).
DISCURSOS SOBRE REFUGIADOS NOS PRONUNCIAMENTOS DO GOVERNO ALEMÃO: ESTEREÓTIPOS, EFEITOS DE SENTIDOS E PODER,
ENTRE ACOLHIDA E REJEIÇÃO
Poliana Coeli Costa Arantes Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Desde a Segunda Guerra Mundial, o mundo não havia testemunhado um número tão grande de pessoas obrigadas a deixarem seus países de origem em busca de refúgio. A Europa Central tem sido o principal destino de muitos solicitantes de refúgio. Nesse contexto, nos impressiona como a discussão sobre as políticas de acolhida a refugiados tornou-se questão de grande debate público, sobretudo na Alemanha, dividindo as opiniões da população civil. Acompanhando o crescimento dessa discussão, temos assistido à assustadora expansão de partidos políticos, movimentos e organizações políticas de extrema direita nesse país. Para investigar a construção de sentidos e as estratégias argumentativas utilizadas nesses discursos, buscamos analisar as imagens e estereótipos de refugiados produzidos pelos pronunciamentos do governo alemão na mídia, e discutir pressupostos e efeitos de sentidos criados pelos pronunciamentos favoráveis e contrários às políticas públicas de acolhida a refugiados anunciadas por Angela Merkel. Nesse sentido, buscamos orientar a discussão sobre a construção de um lugar de poder nesses discursos, que disputam a opinião pública atualmente na Alemanha. Partiremos, para direcionar as análises propostas, das discussões sobre poder e instituições em M.Foucault; pressupostos e subentendidos em O. Ducrot; marcas de heterogeneidade discursiva em Authier-Revuz e dos conceitos de dialogismo e polifonia em M. Bakhtin.
RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES
INDIVIDUAIS
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REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MULHER EM EDITORIAIS DA REVISTA FEMININA TPM
Alice Vasques de Camargo Universidade de São Paulo
Pretende-se apresentar nesta comunicação os resultados da pesquisa de mestrado “Representação social da mulher e interdiscurso em editoriais da revista Tpm”, orientada pela Profa. Dra. Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade e financiada pelo CNPq, com término previsto para agosto de 2016. A revista Tpm é um periódico mensal publicado pela editora Trip na cidade de São Paulo desde 2001 que pretende romper com alguns padrões de representação da mídia feminina brasileira. O objetivo da pesquisa é analisar a representação social da mulher construída nos editoriais dessa publicação atentando para as relações interdiscursivas e para a definição do perfil de leitora ideal da revista. A fundamentação teórica e metodológica foi pautada pela Análise Crítica do Discurso (ACD) – com base em Fairclough (2004, 2010, 2012) e Van Dijk (2012) – e pelo Sistema de Avaliatividade (MARTIN e WHITE, 2005), ancorado na perspectiva da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), de Halliday (2014). Partindo do pressuposto de que, por meio da linguagem, é possível estabelecer, afirmar ou confrontar relações de poder, acredita-se que a análise discursiva deve ser usada como ferramenta de crítica social de forma a alavancar processos de mudança na sociedade que apontem para relações mais justas e igualitárias. Nesse sentido, analisar a representação social da mulher em veículos de comunicação é um exercício necessário para que pensemos em como esses discursos reproduzem ou rompem com a ideologia machista e com os estereótipos de gênero. Os resultados da pesquisa revelam o que há de transformador e o que há de conservador nos editoriais da revista Tpm, de tal modo que é possível tecer considerações a respeito do potencial e das limitações do periódico para o empoderamento feminino e apontar possíveis alternativas de superação de algumas das amarras discursivas que ainda restringem a luta pela igualdade entre os gêneros.
ARGUMENTATIVIDADE NO JORNALISMO POLÍTICO BRASILEIRO: ASPECTOS LINGUÍSTICO-DISCURSIVOS DO ADJETIVO NAS NOTÍCIAS
SOBRE O GOVERNO ATUAL
André Crim Valente Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Se buscamos, sobretudo, interagir, valemo-nos, prioritariamente, de textos argumentativos para a consecução dos nossos objetivos. Em última instância, o ser humano – por ser gregário – quer quase sempre agir sobre o outro; tenta convencê-lo ou intenta persuadi-lo. Entendemos que só uma visão dialética permite ao analista da linguagem superar preconceitos e distorções presentes no maniqueísmo midiático. Cabe, então, destacar tanto seus aspectos negativos como os positivos, estes pouco observados nos vários trabalhos a respeito do tema. Já a partir da sua etimologia – do latim medium/media, o meio/os meios – pode se constatar que ela intermedeia. E a mídia intermedeia o quê? O que se interpõe na relação entre o fato ocorrido, origem da notícia, e o processamento dela pelos destinatários. Se, em si, a linguagem não é cópia da realidade, menos
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ainda será, na mídia, expressão fiel dos fatos ocorridos no mundo. As construções linguístico-discursivas sempre estarão permeadas pelas escolhas lexicais, morfossintáticas e semântico-estilísticas dos produtores do texto. Sabemos que nenhuma escolha é gratuita: não há, et pour cause, neutralidade no uso da linguagem. Pode-se perceber que a conceituação do adjetivo e as considerações sobre seu emprego tiveram um percurso evolutivo nas gramáticas tradicionais brasileiras, de Said Ali a Cunha/Cintra, passando por Rocha Lima e Bechara. A ampliação foi maior ainda nas gramáticas de maior embasamento linguístico. Em consonância com os objetivos deste estudo, dar-se- á prioridade aos trabalhos de Raposo et alli (2013), Castilho (2010), Azeredo (2008), Moura Neves (2000) e Demonte (1999). Estabeleceremos, com base em tais estudos, uma tipologia dos adjetivos - classificadores/qualificadores e eufóricos/disfóricos – combinada com as modalizações deôntica e epistêmica para a análise comparativa no tratamento dado pelas revistas Veja e Carta Capital aos governos de Dilma Roussef e Michel Temer no primeiro semestre de 2016.
A ORDEM POLÍTICA DA/NA LÍNGUA: METÁFORAS DE LULA E A DERIVA
DOS SENTIDOS
Andréia da Silva Daltoé Universidade do Sul de Santa Catarina
Neste trabalho, investigamos o forte estranhamento que o uso de metáforas pelo
então Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) produziu no modo de
falar a língua política no país, bem como as relações de poder travadas neste
movimento contraditório entre o deslizamento dos sentidos estabilizados de uma
língua política ideal, por/para um interlocutor também ideal, e a instauração de
novos sentidos mobilizados por saberes do homem comum, neste caso, de um
ex-retirante nordestino. À luz da Análise do Discurso de linha francesa,
analisamos um corpus formado por metáforas coletadas durante os dois
mandatos em que Lula esteve na Presidência (2002-2006 e 2006-2010). Por
considerar que a noção de metáfora, conforme seu entendimento em senso
comum, não dava conta de explicar o que estávamos observando no
funcionamento, que não tinha a ver com relações de similitudes estabelecidas,
mas da ordem de um litígio, de um desentendimento, chegamos a um conceito
de Metáfora Discursiva que pudesse explicar o duplo trabalho de produzir um
novo modo de enunciar a língua política, ao mesmo tempo em que questionava
sentidos estabilizados. Procuramos, desse modo, investigar se as ML poderiam
se transformar em pistas do que Gadet e Pêcheux (2004) tratam como a gestão
discursiva do Estado, que busca, a todo custo, reinstaurar fissuras e anular
contradições sociais, num trabalho da ordem política na língua, contra a ordem
(própria) da língua. É a partir da irrupção destes sentidos que já não se encaixam
mais nas relações naturalizadas de língua-poder que se abrem brechas para
sentidos e sujeitos outros, cujo trabalho aponta para a resistência da/na língua:
o funcionamento do que, nesta pesquisa, tratamos pela noção que cunhamos
como língua de barro.
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O “MOVIMENTO SURDO EM FAVOR DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA SURDA”: UMA QUESTÃO DE MILITÂNCIA NO ESPAÇO URBANO?
Angela Corrêa Ferreira Baalbaki
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Este trabalho, embasado na perspectiva teórica da Análise de Discurso de linha francesa (PÊCHEUX, 1988), tem como objetivo analisar três notícias de jornais digitais sobre a passeata organizada pelo “Movimento Surdo em favor da Educação e da Cultura Surda”, que aconteceu em Brasília, nos dias 19 e 20 de maio de 2011, e cotejá-las com os relatos de surdos publicados em edições da revista da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS). O principal confronto do movimento foi travado em oposição ao Ministério da Educação (MEC). De acordo com Campello e Rezende (2014), algumas ações governamentais teriam sido o estopim para a mobilização: a inclusão de deficientes em escolas regulares, como previsto no projeto do Plano Nacional de Educação (PNE), e o anúncio do fechamento da primeira escola de surdos brasileira, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Compreendemos a passeata como uma forma de ação política historicamente marcada que produz deslocamentos mobilizadores de sentidos sobre o sujeito surdo e sua língua. Portanto, consideramos a passeata um gesto de resistência e um furo no discurso estabilizado, fazendo circular outra discursividade sobre esse sujeito: o surdo como integrante de uma minoria linguística. As formas variadas de produzir a sua militância, no “espaço público urbano” (ORLANDI, 2001), constituem o surdo como um sujeito de voz e vez. Em continuidade a nosso gesto de análise, buscamos verificar o modo como a mídia digital fez circular determinados sentidos sobre a manifestação. Pretendemos responder a alguns questionamentos, quais sejam: que imagens de surdo e de sua língua essas notícias fazem circular na sociedade? Como o movimento surdo a favor da escola bilíngue é discursivizado? Ao analisar o corpus, nossas ponderações a essas questões que constituíram o dispositivo analítico procuram compreender as imbricações possíveis com os modos de (re)significar o sujeito surdo urbano.
REFLEXOS POLÍTICOS NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO FACEBOOK:
GÊNEROS DO DISCURSO E RESPONSIVIDADE
Artur Daniel Ramos Modolo Universidade de São Paulo
A ciência é uma das esferas de atividade humana que goza de maior prestígio e
credibilidade na sociedade contemporânea. A divulgação científica, em suas
diversas materializações (revistas, jornais, blogues etc.), tem sido um dos meios
pelos quais o liame entre ciência e público se consolida. A presente comunicação
tem como objetivo analisar o modo pelo qual elementos do contexto político
brasileiro refletem nos enunciados publicados em páginas de divulgação
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científica no Facebook e a conseqüente reação do público leitor. Como material
de análise foi selecionado o bloco de publicações relacionados à política
elaborados pela Superinteressante, Scientific American Brasil e Pesquisa
Fapesp em suas respectivas páginas no Facebook. Foram analisadas
publicações feitas durante o primeiro semestre de 2016, período no qual parte
do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff transcorreu. No
aspecto quantitativo, por meio de uma perspectiva bakhtiniana, analisa-se a
freqüência com que publicações com tema político foi publicado nas referidas
páginas, assim como o número de reações dos usuários (curtidas, comentários
e compartilhamentos) e os gêneros do discurso utilizados (notícia, artigo,
publicação em blogue etc.). No quesito qualitativo, empregando o conceito
bakhtiniano de responsividade, analisa-se o posicionamento ético e político do
público leitor (crítico, entusiástico, reflexivo etc.) frente ao material publicado.
Como resultado do presente estudo será possível perceber como os reflexos
políticos se materializaram nas páginas de divulgação científica e o
comportamento do público leitor frente às publicações que estão no limite entre
ciência, jornalismo e política no Facebook.
A CONSTRUÇÃO DO PODER NA REPRESENTAÇÃO DOS ATORES
SOCIAIS NO GÉNERO REPORTAGEM
Audria Leal CLUNL/FCT
Este trabalho tem como finalidade verificar quais os modos de representação
dos atores sociais na organização temática e discursiva das reportagens de capa
nas revistas portuguesas Visão e Sábado. A representação dos atores sociais
vai implicar na construção de uma identidade que se deve coadunar com os
interesses políticos de grupos sociais. Como salientou Voloshinov (1997), esta
construção de caráter ideológico é essencialmente reproduzida na língua e,
como acrescenta Kress (1997), é uma construção multimodal. A relação dialética
entre discurso e estruturação social constrói também o que podemos chamar de
relações de poder (Kress, 1990). Isto é, quem determina o papel de determinado
ator social detém o poder, sendo refletido na relação entre a temática e o
discurso. Teremos como base o quadro teórico da Análise Crítica do Discurso,
com referência a autores como Kress (1997), Fairclough (2001) e van Leuuwen
(1997), numa conjunção com o Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart,
2008). Além disso, assume-se que os textos da comunicação social contribui
para a construção e manutenção das relações de poder (Fairclough, 2001). Para
complementar, seguiremos o quadro teórico-metodológico da Semiótica Social
(Kress e van Leeuwen, 2006) que fornece ferramentas metodológicas para
análise de textos multimodais. Face ao exposto, esta apresentação será dividida
em três partes: na primeira, centrar-nos-emos na apresentação dos quadros
teóricos da ACD e do ISD; na segunda procuraremos mostrar características
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linguísticas que apontam para a construção e valoração de uma identidade de
atores sociais. Na terceira parte, concluiremos, refletindo sobre como o modo de
representação dos atores sociais configura-se numa relação de poder que
ambiciona determinar posicionamentos ideologicamente aceitáveis. Como
resultado da nossa análise, esperamos contribuir para um estudo sobre a
construção de ideologias pela comunicação social e para mostrar de que modo
o impacto desta construção ideológica configura-se como um exemplo de
construção e manutenção do poder.
AS CONCEPTUALIZAÇÕES HUMANAS: A CONCEPÇÃO DO TERMO
"MORTE" NA RELIGIÃO ESPÍRITA E PROTESTANTE
Bruno De Jesus Espírito Santo Universidade Federal da Bahia
Morte (do latim mors), óbito (do latim obitu), falecimento (falecer+mento),
passamento (passar+mento), ou ainda desencarne (deixar a carne), são
sinônimos usados para se referir ao processo irreversível de cessamento das
atividades biológicas necessárias à caracterização e manutenção da vida em um
sistema outrora classificado como vivo. Após o processo de morte o sistema não
mais vive; e encontra-se morto. Os processos que seguem-se à morte (pós-
mortem) geralmente são os que levam à decomposição dos sistemas. Sob
condições ambientais específicas, processos distintos podem segui-la, a
exemplo aqueles que levam à mumificação natural ou a fossilização de
organismos. A morte faz-se notória e ganha destaque especial ao ocorrer em
seres humanos. Não há nenhuma evidência científica de que a consciência
continue após a morte, no entanto existem várias crenças em diversas culturas
e tempos históricos que acreditam em vida após a morte. Com notórias
consequências culturais e suscitando interesse recorrente na Filosofia, existem
diversas concepções sobre o destino da consciência após a morte, como as
crenças na ressurreição (religiões abraâmicas), na reencarnação (religiões
orientais, Doutrina Espírita, etc) ou mesmo o eternal oblivion ("esquecimento
eterno"), conceito esse o comum na neuropsicologia e atrelado à ideia de fim
permanente da consciência após a morte. Sabe-se que o Brasil é regido pelo
estado laico, onde configura-se que todos os indivíduos que habitam suas terras
tem a liberdade de seguir aquela concepção religiosa que mais lhe atinge. Neste
território, predominam-se as religiões voltadas para os dogmas do cristianismo,
sendo a doutrina católica a com mais números de adeptos. Mas, um termo
bastante recorrente e que está presente na maioria das doutrinas que fazem
parte da vida do brasileiro é o nome “morte”. Este, reside de milhões de
conceptualizações que são de extrema importância para os seguidores de cada
uma doutrina. Porém, há de se fazer aqui uma comparação de conceptualização
deste termo entre as doutrinas protestante e espírita. Morte, pode ser
considerado como algo positivo ou negativo, dependendo assim do que a religião
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interpreta a partir de sua visão de realidade. A doutrina protestante conceptualiza
“morte” como um verdadeiro sono, um sono profundo onde as pessoas ou
“espíritos” não vão a lugar algum, a não ser, a própria cova do cemitério. Os
seguidores desta doutrina não acreditam em vida após a morte, pois, ao
interpretarem a bíblia dentro dos seus dogmas acreditam que haverá um período
de ressurreição, onde o Cristo, o salvador para eles, ressuscitará todos aqueles
que estão assim “dormindo”. Porém, a conceptualização do termo “morte” vista
pelos espíritas é totalmente diferente, onde o corpo é visto como um verdadeiro
composto, onde no ato de acontecimento da morte, o espírito se desprende do
corpo físico e o ser só passa a ter o corpo espiritual, passando assim, para um
outro plano espiritual, a tão conceptualizada por diversas doutrinas “vida após a
morte”. Fazendo uma comparação entre os polos, é possível perceber então
como a morte, lembrando dos postulados de Lakoff, é conceptualizada como
negativa na doutrina protestante - sono, fim eterno - para positiva na religião
espírita - continuidade, um novo estágio, um novo mundo. É possível perceber
então como essas conceptualizações são construídas, cada doutrina faz a sua
escolha de visão, mas o termo "morte" continua lexicalmente. Através dos
dogmas, cada argumento sobre ela é interpretada de uma forma, mostrando
assim a importância das conceptualizações humanas.
O PODER DOS DISCURSOS DO PATRONATO PORTUENSE NAS
SESSÕES COMEMORATIVAS DE ANIVERSÁRIOS: RITUAIS VERBAIS,
ARGUMENTAÇÃO E CONFIGURAÇÃO ENUNCIATIVA
Carla Aurélia de Almeida Universidade do Porto
O enfoque teórico e metodológico deste trabalho é orientado por uma perspetiva
semântico-pragmática (Verschueren, 1998: 236) da organização e
funcionamento de cinco discursos proferidos nos aniversários da Associação
Industrial Portuense publicados na revista A Indústria do Norte (1949-1970).
Procederemos à análise do modo como, nestes discursos, se constrói uma
imagem dos “homens industriosos” (Monteiro, 2015), considerando a
organização enunciativa do discurso comemorativo de aniversário: analisaremos
o quadro interacional (Goffman, 1981) construído nas sessões comemorativas,
consideraremos a sequência de atos de discurso e as estratégias discursivas
que estes atos configuram e estudaremos o rumo discursivo ou discursivização
(Fonseca, 1992: 316) que os enunciados proferidos determinam. Verificaremos
que, nestes discursos de comemoração de aniversários da Associação Industrial
Portuense, os representantes dos patrões põem em funcionamento um
dispositivo argumentativo de convocação de uma doxa partilhada pela
comunidade de discurso (Gumperz, 1989), característica de uma tomada de
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posição ideológica (Bourdieu, 1979; Monteiro, 2015: 134) que se faz através de
uma argumentação no discurso. Esta estratégia de argumentação visa a
persuasão e é reveladora de uma tomada de posição específica de um locutor
representativo do patronato portuense. Procederemos, assim, à descrição do
modo como se constroem as identidades discursivas (Boden; Zimmerman,
1993), localmente construídas (Antaki; Widdicombe, 1998) em lugares
interacionais (Kerbrat-Orecchioni, 2004: 16). Procuraremos demonstrar que o
discurso nestes contextos comemorativos apresenta a construção de “social
schemas” (Gibbs, 1985: 98) convencionais com estratégias de credibilização,
de apelo ao consenso e inúmeros atos de elogio ao serviço de um macroato de
persuasão e de apelo à manutenção de uma ordem institucional que é também
discursiva, revelando um discurso emotivo (Plantin et al., 2000) e a construção
de um “saber compartilhado” (Kayser, 1988 : 142) entre os representantes no
discurso do patronato e o operariado industrial.
O PODER DA OPINIÃO: ANÁLISE COMPARADA DE COMENTÁRIOS TELEVISIVOS
Carla Teixeira Universidade Nova de Lisboa/NOVA
Teresa Oliveira
Universidade Nova de Lisboa/NOVA
Os media apresentam recorrentemente diversas personalidades que têm como
propósito comentar, apresentando o seu ponto de vista sobre acontecimentos
relevantes para a sociedade e tentando contribuir para o esclarecimento desses
mesmos acontecimentos. De facto, há muito que os géneros da atividade
jornalística congregam textos mais informativos e textos mais opinativos, entre
outros, o que é visível pela diversidade de temáticas tratadas que convoca
múltiplas áreas sociais. É propósito deste trabalho refletir sobre o modo como se
realizam as diferentes ações de linguagem comentar em comentários televisivos
e quais as marcas linguísticas que manifestam. A presente investigação situa-se
no marco do Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart 2003, 2008) e pretende
comparar dois exemplares do género textual comentário televisivo. Seguindo
uma abordagem descendente, procurar-se-á aprofundar a proposta de Teixeira
(2016) para a análise de textos jornalísticos de comentário, que se centra na
saliência de aspetos enunciativos, temporais e referenciais. De um ponto de vista
metodológico, serão consideradas e analisadas as marcas linguísticas mais
relevantes de ordem enunciativa, temporal e referencial. Essas mesmas marcas
serão revistas de acordo com os tipos de discurso (ou modos enunciativos),
segundo a perspetiva sociointeracionista. Esta última fase da análise permitirá
contribuir para uma associação das formas linguísticas aos géneros textuais e
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uma caraterização dos tipos de discurso em Português Europeu. Possibilitará,
ainda, definir com maior exatidão tipo(s) de agir desempenhado(s) pelos sujeitos
que assinam estes textos na constituição do entendimento coletivo.
LULA E A LÍNGUA FLUIDA: UMA RELAÇÃO NATURAL?
Daianna B. A. Pompeu Universidade do Vale do Sapucaí
Este artigo visa analisar ocorrências da Língua Fluida presentes em trechos
falados pelo ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, e coletados pelo
jornalista Marcelo Tas em seu livro “Nunca Antes na História deste país”,
publicado no ano de 2009. A obra condensa fragmentos proferidos pelo ex-
presidente em ocasiões variadas durante seus dois mandatos – 2003 a 2010 –
fragmentos estes onde Lula opina, discursa, conceitua, enfim, aborda os mais
diversos assuntos fazendo uso de um léxico e de um discurso – entendendo-se
discurso aqui como o lugar onde se dá a relação entre língua e ideologia – que,
através da Língua Fluida, ou seja, aquela falada no dia a dia, em constante
movimento e que não pode ser contida, é mais real. Seriam essas escolhas
lexicais carregadas de metáforas, apelativas na maioria das vezes e que lançam
mão do senso comum, uma estratégia de marketing consciente para causar o
efeito de sentido de proximidade com a maioria da população brasileira através
do uso constante da língua coloquial/fluida? Recortes como “Lá, a crise é um
tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar”
mostram como tais “usos e costumes” linguísticos são hábitos naturais no
discurso do presidente que contribuíram significativamente no aumento de sua
popularidade junto às classes menos favorecidas. A partir da análise de trechos
selecionados da obra em questão e lançando mão dos conceitos da Análise de
Discurso de Michel Pêcheux e Eni P. Orlandi, este artigo procura refletir sobre
tal situação com o objetivo maior de levantar questionamentos a respeito da força
das palavras que, uma vez lançadas a público, causam efeitos de sentidos
difíceis de ser mensurados.
DISCURSO JURÍDICO E ARGUMENTAÇÃO: A QUESTÃO DOS DANOS MORAIS NA SENTENÇA JUDICIAL
Daniela da Silveira Miranda Universidade de São Paulo
Este estudo propõe-se a investigar o discurso jurídico, sobretudo a sentença judicial, observando as estratégias discursivo-argumentativas arroladas, pelo Juiz de Direito, para a construção de seu texto. Selecionamos, como objeto de análise, uma sentença judicial emitida em 02 de junho de 2014, em Brasília, na
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Vigésima Vara Cível. Trata-se de um processo de danos morais, contra a Revista Carta Capital, movido por Gilmar Mendes, jurista brasileiro e atual Ministro do Supremo Tribunal Federal, que se sentiu depreciado por publicações desse veículo de comunicação em 2012. Dado o caráter filosófico do conceito de danos morais e a complexidade em se estabelecerem os limites entre liberdade de imprensa e liberdade da intimidade e honra da pessoa humana, constata-se que, ao redigir essa sentença, o magistrado utiliza determinadas estratégias para a construção dos fundamentos de seu texto. Já que essa questão é muito controversa no Direito Brasileiro, a argumentação se faz necessária para estabelecimento dos limites entre a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade. Para esta pesquisa, optamos por analisar determinadas lexias e locuções lexicais constituídas de sintagmas nominais e verbais, que nos pudessem fornecer, linguisticamente, subsídios para observar as estratégias argumentativas selecionadas pelo juiz. Foram adotados, para os propósitos deste trabalho, os construtos teóricos da Teoria da Argumentação (Perelman e Olbrechts-Tyteca, 2005 [1958]; Aquino, 1997), da Teoria da Argumentação Jurídica (Atienza, 2000; Alexy, 2001) e das Ciências do Direito (Kelsen, 1993; Ferraz Júnior, 1997; Bobbio, 2005; Godoy, 2008).
ETHOS E IRONIA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA CRISE NA POLÍTICA BRASILEIRA RETRATADA PELO DISCURSO JORNALÍSTICO DA
REVISTA VEJA
Daniella de Almeida Santos Ferreira de Menezes Universidade de São Paulo
O cenário político brasileiro, notadamente marcado por escândalos de corrupção, constitui um acontecimento não só no que diz respeito ao contexto histórico-social da sociedade brasileira, que assiste impotente a infindáveis casos de desonestidade e improbidade administrativa, colocando em risco a estabilidade e consequentemente a credibilidade econômica do país no mercado financeiro mundial, como também no que se refere a toda uma discursividade que circula nas redes sociais e na mídia tanto impressa quanto televisiva. Imputada a ela, entre outras, a função de formadora de opinião, a mídia, sem dúvida, desempenha um papel significativo na maneira como os fatos se desenrolam e, sobretudo, como são interpretados. Expressões como “CPI”, “mensalão”, “impeachment” e tantas outras exaustivamente por ela utilizadas evocam, assim, sentidos vários conforme remetam a formações discursivas diferentes e até conflitantes. Considerando-se, portanto, as condições de produção em que esses dizeres circulam e as relações de poder presumidas entre os sujeitos envolvidos na cena enunciativa da crise política brasileira, importa problematizar os efeitos de sentido produzidos pela mídia ao assumir um ethos da “ironia” para tratar de questões políticas que têm consequências diretas nas práticas sociais que envolvem a vida econômica do cidadão brasileiro.
AS MARCAS LINGUÍSTICO-DISCURSIVAS COMO RECURSOS ESTRATÉGICOS NOS DISCURSOS DE TOMADA DE POSSE
PRESIDENCIAIS (BRASIL & PORTUGAL)
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Dayse Francisnéia Santana Correia Alfaia Universidade de Évora
Pretende-se nesta comunicação proceder à análise de dois discursos políticos: os discursos de tomada de posse dos ex-presidentes da República do Brasil e de Portugal (no mesmo ano de 2011). A ancoragem teórica deste estudo filia-se nos estudos da retórica, tendo em consideração a vertente da retórica clássica e incluindo os estudos contemporâneos sobre argumentação. Pretende-se, assim, demonstrar como os recursos linguístico-discursivos, usados pelos enunciadores presidenciais, revelam uma intenção estratégica com o fim de persuadir o enunciatário de uma determinada ideia política, tendo em conta que as questões de ordem macrolinguísticas (discursivas) dependerão das questões de ordem microlinguísticas (proposta de Adam, 2010,). Vale lembrar que, segundo alguns teóricos, como Amossy (2000) e Marques (2007), não há dissociabilidade entre o texto e o contexto, por esta razão foi mencionada a relação macro e microlinguística. Um dos aspetos relevantes verificados nas construções dos enunciados foi a responsabilidade enunciativa (as vozes do texto), bem como o que já na Antiguidade Clássica eram denominados de ethos e pathos, elementos de estudo propostos por Aristóteles. Nesta perspetiva de análise, pergunta-se: que relação tem o ethos com a identidade social e discursiva dos enunciadores políticos? O pathos é construído numa perspetiva somente emocional? Será, portanto, evidenciado como o pathos se constitui em outra vertente com o intuito de responsabilizar o enunciatário a participar dos problemas políticos do governo, por exemplo, e como a repercursão causada no outro pode ser evidenciada de forma menos emotiva. Foi também evidenciada a indissociabilidade entre a construção de um ethos e a identidade social e discursiva, comprovando, assim, os pressupostos teóricos já enunciados por Charaudeau (2009). Pretende-se, em suma, descortinar as idiossincrasias e as eventuais diferenças nestes discursos oficiais, bem como perceber se as intenções persuasivas dos dois chefes de Estado, que espelham os ethè, revelam as estratégias/mecanismos ao serviço dessa argumentação linguística e persuasiva. DISCURSO E IDENTIDADE: O RECURSO DA REPETIÇÃO NA FORMAÇÃO
DAS IDENTIDADES EM INTERAÇÃO COM UM MENOR INFRATOR
Denilson de Souza Silva. Universidade Estadual do Pará
As questões de identidade têm sido exploradas pelos mais diversos campos das ciências humanas. As mudanças ocorridas nas sociedades modernas têm posto o conceito de identidade “em xeque”, pois provocam um certo descentramento do sujeito que poderá apresentar identidades fragmentadas e móveis. Tal construção fluida das identidades está patente nas interações sociais. É, portanto, nas interações sociais e nos encontros face a face que os sujeitos podem se posicionar e reorientar suas condutas e formas de ver o mundo, o que evidencia a importância de tais interações na formação das identidades. Nesta pesquisa, estudamos como as identidades sociais podem emergir dos sistemas representacionais construídos socialmente. Para tal, utilizamos uma interação
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face a face com um “menor infrator” em uma unidade socioeducativa prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil. Como as identidades são formadas no e pelo discurso, também por meio de recursos textuais, escolhemos a repetição, um processo de reformulação textual bem usado na conversação, para a análise de tal formação. A escolha de um grupo estigmatizado socialmente se deu pelo fato de pretendermos analisar como acontece a apresentação da identidade do “infrator” face a uma sociedade que espera, através de suas leis, a “reabilitação social” daquele que é “desviante”. A entrevista com o menor infrator apresentou, em um primeiro momento, a afirmação de uma “identidade de infrator” que não pode ser negada e é observada por meio de escolhas lexicais como verbos que representam ações que o levaram às atividades ilícitas. Da mesma forma, o falante utiliza as repetições para reforçar o argumento de que não reincidirá em atos infracionais e endossa o discurso da unidade socioeducativa bem como o discurso da família e de outras instituições de que a vida de infrator não é proveitosa, demonstrando assim, o que chamamos de “identidade da transformação”.
O DISCURSO DO PODER: AS RELAÇÕES DO PODER FALAR E DO DEVER CALAR NA DRAMATURGIA BRASILEIRA
Denise Aparecida de Paulo Ribeiro Leppos Universidade Federal de São Carlos
Atualmente, tem-se realizado muitos estudos acerca do discurso enquanto exercício de poder e seus efeitos de sentido na linguagem. Para este trabalho, propomos uma análise, na qual sejam abordadas as relações de poder existentes entre a arte dramática e o campo político, investigando as condições de produção da censura no cenário artístico, em particular quando se trata do chamado teatro popular. Reiteramos o fato de que o teatro brasileiro contemporâneo sempre esteve comprometido com a política, tornando essa relação teatro e relações de força no drama nacional um lugar privilegiado de crítica social, motivo pelo qual sofreu repressões, praticamente desde suas ocorrências iniciais em nosso país. Em consonância com a Análise do Discurso, mobilizaremos dispositivos teóricos e analíticos provenientes do teatro, da história e da mídia impressa, de modo que possamos compreender o funcionamento discursivo do papel crítico/político que o teatro exerceu durante os anos de chumbo no Brasil, a partir da obra de Plínio Marcos, um dos maiores representantes da dramaturgia neste período, do controle que a censura exerce sobre ela e de sua repercussão, uma vez que, nos textos do dramaturgo estabelecia-se em um espaço para dar voz aos marginalizados e oprimidos, representados por suas personagens. Por conseguinte, é possível pensar no poder do discurso como uma “arma” eficiente, não apenas utilizada no campo político, mas também, em um instrumento de ataque ou resistência, pela dramaturgia brasileira. A partir disso, propomos uma discussão sobre os efeitos de controle e das relações de poder do discurso que, por sua vez, regulam e determinam o que pode e deve ser dito, evidenciando o discurso como um dispositivo que aumenta e estimula transformações na sociedade, visto que é nela que ocorrem as mudanças sociais (políticas, econômicas, linguísticas etc.) que geram relações discursivas de resistências e de hegemonias.
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ETHOS DISCURSIVO E ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS: "IMAGENS DE SI" EM CAPAS DE REVISTAS SEMANAIS
Denise Ferreira dos Santos
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais O trabalho propõe-se a identificar, em um contexto político-midiático, a manifestação do ethos discursivo – isto, é, a construção das "imagens de si" – em publicações impressas durante o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil em 2014. O corpus base para a condução das reflexões é constituído por três capas das revistas semanais Época, Isto É e Veja, correspondentes às últimas edições anteriores à realização do pleito. O primeiro aspecto enfocado pelo trabalho diz respeito à análise dos elementos constituintes da cena de enunciação (cena englobante – discurso midiático; cena genérica – capa; e cenografia). Para essa etapa, são consideradas as concepções teóricas de Maingueneau. Para a análise dos significados presentes nos códigos visuais das capas – imagens, composições gráficas e textuais – é utilizada a Gramática do Design Visual (GDV). Esta é a segunda linha teórica de abordagem do trabalho. Por meio da GDV, são relacionadas as metafunções ideacional, interpessoal e textual. Tal estudo é importante para o entendimento da construção das “imagens de si” das revistas. A base teórica dessa etapa é composta pelas abordagens de Kress e Van Leeuwen, dentro da perspectiva da Semiótica Social. Parte-se da premissa de que textos, imagens e elementos gráfico-visuais, em conjunto – dentro de uma perspectiva multimodal –, foram instrumentos largamente explorados e que permitiram ao público leitor de cada periódico a possibilidade de identificação com o conteúdo apresentado. O ethos é construído a partir da convergência entre esses movimentos. Por meio da investigação do ethos discursivo construído pelas revistas semanais, e através, sobretudo, da categorização da cena de enunciação e da análise dos significados presentes nos códigos visuais e verbais, é possível compreender se as publicações utilizaram a capa (e todos os seus elementos) para propagar e confirmar valores sociais ratificados pelas próprias revistas, influenciando (ou não) a interpretação e a tomada de decisões do leitor/eleitor.
DISCURSO PRESIDENCIAL ENTRE HEGEMONIAS E RESISTÊNCIAS
Denise Silva Macedo Universidade de Brasília
Meu tema se refere a um discurso nodal em cenário de globalização e de avanço neoliberal no Brasil por meio das parcerias de governança. Trata-se do discurso de posse da Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, por ocasião de sua reeleição em 2014. Com foco na educação por meio do lema Pátria Educadora e no relacionamento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), esse discurso de posse aponta o alinhamento discursivo presidencial brasileiro ao avanço neoliberal dos mercados centrais na educação, mas também uma visão de empoderamento desses cinco países por meio da criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics, visando ao reequilíbrio de forças dos países dos
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blocos globais para a construção de modelos alternativos de práticas sociais igualmente globais. Minha abordagem considera a articulação entre Análise de Discurso Crítica (ADC), Economia Política Cultural (EPC) e Economia Baseada no Conhecimento (EBC) para enfatizar, no discurso, a relação entre economia, política e cultura e a incorporação do conhecimento a novos produtos e a novos serviços oferecidos no mercado. Minha análise dar-se-á à luz dos conceitos faircloughianos de avaliação, de democratização e de tecnologização. A transdisciplinaridade da ADC será garantida pelo diálogo com a Pedagogia Crítica de Giroux e de McLaren; com a Sociologia de Thompson, de Giddens, de Castells e de Bauman; com a Sociologia do Capitalismo, de Luc Boltanski e Ève Chiapello; com a Economia Política de Jessop; com a Teoria da Educação de Silva, de Kiziltan, Bain e Cañizares e com a Filosofia da Educação de Nietzsche.
A CONCEPÇÃO DE VERDADE ÚNICA NA POLÍTICA PÚBLICA DE
LEITURA
Denísia Moraes dos Santos Universidade de São Paulo
Neste trabalho, nosso objetivo é apresentar uma breve análise dos critérios de
seleção de obras literárias destinadas aos alunos das escolas da rede pública
estadual de ensino do estado de São Paulo. Trata-se dos critérios de seleção
adotados pelo Programa de leitura Apoio ao Saber, que tem como foco principal
a formação de leitores e o incentivo de leitura de obras de autores consagrados
na literatura brasileira e estrangeira. Discutiremos a concepção de verdade única
que permeia os critérios de seleção de obras literárias no discurso da política
pública de leitura. Esse programa é alvo de nossa pesquisa sobre o diálogo de
estudantes de Ensino Médio com as obras literárias oferecidas por programas
de leitura. Sob o ponto de vista teórico, recorremos a alguns aspectos do
pensamento bakhtiniano, ou seja, do trabalho desenvolvido por Mikhail Bakhtin
(1875-1975) no texto de Para uma filosofia do ato, datado do início dos anos de
1920. Essa perspectiva oferece uma reflexão teórico-filosófica em torno da
distinção entre duas formas de verdade – istina e pravda, que, neste trabalho,
servem de apoio para análise das formas de verdades abordadas pelo discurso
do poder sob a ótica da política pública de leitura.
O DISCURSO E A VOZ NOS TELEJORNAIS
Eda Maria Franco Universidade Luterana do Brasil - Rio Grande do Sul
A voz é um dos principais meios de comunicação. Transmissora de informações subjetivas pode exteriorizar os estados emocionais e atitudes avaliativas do falante. Não é somente um fazer conhecer seus conteúdos afetivos, mas
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também, pela voz, tentar impor aos destinatários seus pontos de vista. Isto pode ser detectado por meio dos traços da presença do enunciador em seu discurso, na expressão vocal de seus estados emocionais e modalização de seus enunciados. Propomos aqui refletir sobre a dimensão avaliativa e emocional da atividade vocal do homem. Este estudo teve como objetivo analisar os recursos vocais utilizados nos telejornais como coadjuvantes de efeitos de sentido pretendidos com a divulgação da notícia. Foram estudados a média e a variação da frequência vocal em enunciados proferidos por apresentadores de telejornais brasileiros. Foram analisados 40 enunciados, de 20 apresentadores (10 homens e 10 mulheres), de 6 telejornais, abrangendo 3 redes de televisão. Os enunciados foram classificados em 2 tipos de notícias: positivas e negativas. Foi realizada análise acústica computadorizada da frequência média e variação de cada enunciado. Nesta pesquisa usamos como suporte teórico a Linguística enunciativa de Émile Benveniste, e os estudos do discurso das mídias de Patrick Charadeau. Analisou-se o discurso dos telejornais demonstrando sua estratégia de construção de verdade e o papel da voz neste processo. Os resultados confirmam a presença da relação voz e efeitos de sentido nos telejornais. Nas notícias positivas, houve um aumento da média das frequências, já nas negativas houve um decréscimo, tanto nos homens como nas mulheres. A variação das médias das frequências foi mais significante nas locuções femininas. Conclui-se que a voz tem um papel importante como estratégia de persuasão na busca de credibilidade da notícia.
OLHAR DISCURSIVO SOBRE LÍNGUA E SUJEITO: ALUNOS DE LÍNGUA
ESPANHOLA DO MATO GROSSO DO SUL/BRASIL
Élida Cristina de Carvalho Castilho Instituto Federal de São Paulo – Avaré
Este trabalho problematiza o processo de constituição identitária de alunos
delíngua espanhola da cidade de Campo Grande/MS sobre a aprendizagem
desse idioma, com base no método arquegenealógico de Foucault (2008) e
fundamentado nos postulados da Análise do Discurso de linha francesa
(PÊCHEUX, 1999 e 2002), na Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006, 2010
e 2013; KLEIMAN, 2013), nos estudos culturalistas (HALL, 2006; BAUMAN,
2005) e na noção de relações de saber-poder de Foucault (1984). Assim, a partir
desse aporte teórico, partimos da hipótese de que os discursos dos alunos
estudantes de língua espanhola sul mato-grossenses tendem a desvalorizar e
(re)negar a aprendizagem desse idioma, pela condição fronteiriça do espanhol
do Estado (NOLASCO, 2013; STURZA, 2010) e pela simbologia que o status
linguístico da língua espanhola frente a língua inglesa, por exemplo, não lhe
proporciona. Tendo em vista o objetivo de investigar o processo de construção
identitária, a análise dos recortes busca a interpretação das representações
discursivas pela problematização das formações discursivas que possibilitaram
a construção de determinados sentidos, a respeito da constituição das verdades
e/ou saberes, poderes e resistências nos discursos dos sujeitos-alunos. Nessa
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perspectiva, divididas em três eixos de representações: a língua “instrumento”,
a língua “(re)negada” e sujeito e a língua espanhola, as análises apontaram que,
apesar da sustentação em seus discursos dos regimes de verdades sobre a
aprendizagem de línguas na contemporaneidade (Governo/Globalização), os
efeitos que os silenciamentos e a resistências se articulam, refletem a
heterogeneidade constitutiva que os discursos sobre a língua espanhola se
materializam no contexto da educação brasileira e, sobretudo, no Estado de
Mato Grosso do Sul, deixando atravessar outras vozes, dada a relação
inseparável de toda prática discursiva e não-discursiva de saber-poder e,
consequentemente, resistência (FOUCAULT, 1984).
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE GAY NO DISCURSO DA MÍDIA IMPRESSA BRASILEIRA: UM PROCESSO DE VIA DUPLA ENTRE
PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES. Elso Soares Leite
Universidade Federal da Bahia
No mundo contemporâneo, a mídia impressa produz seus discursos de acordo com as condições e procedimentos que ela mesma estabelece, baseada em sua própria “ordem do discurso”. Nesse sentido, a mídia impressa se utiliza de práticas discursivas e não-discursivas que moldam a construção representativa e, portanto, identitária, da homossexualidade de acordo com suas condições de produção. Assim, esse trabalho tem por objetivo analisar aspectos do funcionamento do discurso midiático sobre a homossexualidade, materializado em algumas capas de revistas brasileiras, que circularam na sociedade brasileira nas décadas de setenta e de oitenta. No processo de análise, discutimos de que maneira a mídia impressa tem representado a homossexualidade, por meio de recursos discursivos, palavras e enunciados, e não-discursivos, imagens. Por meio disso, investigamos como se dá a construção identitária dos homossexuais representados no discurso midiático. Para realizar esse trabalho, recorremos aos aportes teóricos da Análise de Discurso, de linha francesa, a partir das contribuições teóricas de Michel Pêcheux (1997; 2008) e da teórica brasileira, Eni Orlandi (2007; 2010); recorremos, também, a Michel Foucault (2009; 2010) nas discussões referentes às questões sobre discurso e homossexaulidade; nas discussões sobre representação e identidade, recorremos a Moita Lopes (2003), Hall (2009), Woodward (2009), Silva (2009). Os resultados nos mostraram que, nas décadas de setenta e oitenta, a homossexualidade foi representada, no funcionamento do discurso da mídia, materializado nas capas de revistas analisadas, em torno de sentidos estereotipados, tais quais: doença, pecado, promiscuidade e marginalidade. Esses sentidos determinaram a construção das identidades dos homossexuais como doentes, pecadores, promíscuos e marginais. Observamos que a interdição, como mecanismo de controle discursivo, apaga ou silencia os dizeres que representam as vozes dos homossexuais representados no discurso da mídia impressa. Com isso, há o apagamento ou silenciamento dos sentidos que cinscunscrevem marcas identitárias dos homossexuais representados no discurso da mídia analisado.
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EM DEFESA DE QUEM? PATHOS, PODER SIMBÓLICO E ETHOS
DISCURSIVO DE UM PRESIDENTE EM INTERDIÇÃO
Eliane Davila dos Santos Ernani Cesar de Freitas Gislene Feiten Haubrich
Universidade FEEVALE; Universidade de Passo Fundo
O cenário político é palco à encenação de emoções como estratégia de persuasão das diferentes instâncias por ele envolvidas. Recentemente, instaurou-se no Brasil o processo de impeachment da presidenta da República. Este trabalho tem como objetivo analisar a construção enunciativo-discursiva dos pronunciamentos de “despedida” de Dilma Rousseff, mediante a situação e o contrato de comunicação que os permeiam, a fim de identificar a cenografia, entremeada pelo poder simbólico, que implica a produção de ethé discursivos da presidenta que se encontra afastada do poder. Elenca-se como objeto de estudo o discurso presidencial dessa despedida, que se insere no escopo das investigações do discurso político. Diante dessa proposta, elegem-se como corpus dois pronunciamentos realizados pela presidenta brasileira, Dilma Rousseff, após o anúncio oficial de seu afastamento provisório do cargo em razão da instauração do processo de impeachment. A escolha desses discursos, pronunciados em sequência em 12 de maio de 2016, dentro e fora do Palácio do Planalto, contempla públicos diferentes. O estudo se caracteriza como descritivo, bibliográfico e qualitativo, visto que o desenvolvimento da análise procura convergir às proposições de Charaudeau (2008, 2007) para contemplar a situação e o contrato comunicacional vigente no processo enunciativo-discursivo. Nesse sentido, investigam-se quais são as instâncias envolvidas no ato de comunicação, bem como as estratégias adotadas para acionar elementos imbricados ao imaginário social e político e ao exercício do poder simbólico, conforme depreendido por Bourdieu (2002), a fim de persuadir os interlocutores à argumentação construída. Tais aspectos são entrelaçados pelas categorias teóricas defendidas por Maingueneau (2008, 2013) para a produção da cenografia e dos ethé discursivos da presidenta brasileira nessas situações comunicativas. Fundamentada no pathos, a construção enunciativa dos discursos políticos analisados permite afirmar que são produzidos ethé de identificação e de sensibilização para credibilidade em relação ao público destinatário.
WORDS OF EMPOWERMENT: PSEUDO-SCIENTIFIC DISCOURSE IN MAGAZINE ADVERTISEMENTS
Elsa Simões Lucas Freitas
Sandra Gonçalves Tuna Universidade Fernando Pessoa
Since its inception, advertising discourse corresponds to an asymmetrical practice as to the power relationships involved. In fact, ads are structured around
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a message conveyed by an instance that blatantly claims authority enough to intervene, advise, suggest, question and take sides – all of this on issues which, very often, are the sole concern of the addressee. However, due to the audience’s degree of advertising literacy and to the myriad ads in existence competing nowadays for our attention, this authoritative voice in ads has to be supported by borrowing from other undisputed and credible discourses in contemporary society, such as the ones pertaining to science in general and more specifically, to the areas of medicine, mathematics and ecology, among others. For the sake of empowerment, advertising, as a shady and ambiguous discourse ‘for sale’, often feels the need to be backed by forms of communicating which are undisputed and which involve an aura of inaccessibility to the layperson. Thus, for enablement purposes, traces of such pseudo-scientific sub-texts are easily found in the different semiotic codes available to advertising: pictures, copy, paratext and audiovisual elements. In this paper, we will highlight instances where ads resort to the use of more or less overt hints of (a) medicine and medical speech, (b) mathematics and mathematical jargon and (c) environmentally-friendly forms of address, in an effort to better convince audiences of the underlying scientific basis of the arguments presented. Increasingly more, ads target both heart and mind (i.e, emotion and reason), in an effort to convince audiences that both affectively and rationally, the product or service that is being put forward is indeed the best choice at all levels. For the purposes of this presentation, we will be focussing on the specific case of magazine advertisements where such approaches can be found, which means that special attention will be given to elements normally present in such specimens: illustration and copy. These elements will be closely scanned, using discourse analysis methods, so as to detect the specific forms these occurrences may assume. The sample will be chosen from randomly selected magazines from the period between July and September 2016.
DISCURSOS PRESIDENCIAIS NA AMÉRICA LATINA: POPULISMO,
CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE SI E A RECORRÊNCIA AO PATHOS
Ernani Cesar de Freitas Iverton Gessé Ribeiro Gonçalves
Universidade de Passo Fundo
O presente trabalho se propõe analisar os discursos presidenciais de
importantes figuras de governo da América Latina, com o objetivo de verificar as
marcas que convergem para o populismo. Para tanto, selecionamos
pronunciamentos oficiais de Dilma Roussef (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina)
e Evo Morales (Bolívia) como corpus dessa pesquisa. O trabalho realiza uma
interface teórica, partindo da Semiolinguística, de Charaudeau (2008a, 2008b),
através dos circuitos interno e externo do ato linguageiro e das implicações sobre
o discurso político relacionando, no campo do dizer, às trocas simbólicas e ao
poder simbólico, de Bourdieu. Ainda recorremos ao sentido da política, em
Hannah Arendt (2002), e às proposições de Habermas (1997) sobre esfera
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pública e democracia. Os procedimentos metodológicos são de ordem qualitativa
e método descritivo e bibliográfico. Assentindo ao postulado de Charaudeau
sobre a dramatização existente no discurso político, vemos que, nos discurso
presidenciais da América Latina, há uma constante que é a organização
enunciativa para as grandes massas compostas pela classe baixa e que os bens
simbólicos, evocados no circuito do dizer, repercutem no campo do fazer,
propondo um novo modelo doxal em que a noção de democracia, por vezes é
contaminada pela prática do paternalismo. As modalizações no discurso
presidencial demarcam a necessidade de conquistar o povo pelo caminho do
pathos.
O PODER DO DISCURSO DO PODER POLÍTICO
Fátima Silva Purificação Silvano
António Leal Luís Filipe Cunha
Universidade do Porto
Tendo em conta a temática geral do encontro, centramo-nos num tipo de
discurso do poder, o discurso político, em particular o discurso político do atual
Presidente da República (Charaudeau, 2005, e.o.). Partindo da análise do
discurso da tomada de posse, procuramos estabelecer em que medida algumas
marcas linguísticas deste discurso específico se manifestam também em outros
discursos do mesmo autor proferidos em diversas ocasiões. Pretendemos
verificar, deste modo, se o texto do qual partimos apresenta características
adaptadas à situação e contexto de tomada de posse ou se, pelo contrário,
apresenta características que de alguma forma se repetem e são marcas
identitárias do discurso do autor. A análise inclui dois parâmetros: as condições
de produção e a arquitetura textual (Bronckart, 1996, e.o.), no âmbito da qual se
consideram essencialmente a organização textual e marcas morfossintáticas,
semânticas e discursivas dos discursos. A título exemplificativo, observamos que
há características recorrentes como a repetição de estruturas de natureza
diversa (expressões nominais, por exemplo) que funcionam em grande medida
como estruturas caracterizadores, mas que enquadradas no texto, servem um
objetivo comunicativo mais geral. Com este estudo, espera-se contribuir para a
identificação de algumas marcas linguísticas que fundamentam a interpretação
dos discursos em causa.
SOBRE O QUE PODE E DEVE SER DITO: LIVROS, LITERATURA E LEITURA
Fernanda Correa Silveira Galli
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UNESP de São José do Rio Preto
Assim como outras pesquisas que têm circulado na mídia recentemente, a
“Retratos da Leitura no Brasil” – apoiada por entidades que se interessam por
questões relacionadas ao livro, dentre elas: o Instituto Pró-livro (IPL), a Câmara
Brasileira da Indústria do Livro (CBL), o Sindicato Nacional das Editorias de
Livros (SNEL), a Associação Brasileira de Editores de Livros (ABRELIVROS) –
discursiviza o livro como um “objeto” legitimado para leitura, de modo que os
discursos sobre leitura e literatura parecem se entrecruzar e/ou, se confundir,
especialmente quando se pensa nas relações entre o que se pode e se deve
ensinar e/ou aprender dentro da escola. Esses discursos, também presentes em
documentos oficiais de ordem – como os resultados da pesquisa “Retratos da
Leitura no Brasil”, por exemplo, e outros que lançam diretrizes, parâmetros e
orientações, especialmente para o ensino básico – tendem a afetar sujeitos e
reforçar, por meio da repetição, o imaginário construído socialmente a respeito
dos discursos sobre livros, leitura e literatura. Com base no aporte teórico da
Análise do Discurso de linha francesa, na interface com os Novos Estudos de
Letramento, proponho uma reflexão em torno das redes discursivas que se
tecem sobre livros, literatura e leitura, a partir da hipótese de que há um
atravessamento que contribui para que as redes de sentidos (sobre leitura, livros
e literatura) se entrecruzem e, nesse entrecruzamento, discursivizam o livro
como um “objeto” legitimado e a literatura como uma exigência (BLANCHOT,
2005) para a prática da leitura. Para tanto, lanço um olhar para relatos de
professores da educação infantil sobre o trabalho com a leitura em sala de aula.
Interessa-me, de modo particular, promover uma discussão sobre como as
diferentes formações discursivas (FD) se relacionam a posições ideológicas que
determinam e/ou limitam o que pode e deve ser dito (PÊCHEUX, 2009), na
ordem do discursivo, a respeito do livro, da literatura e da leitura.
O ÍNDIO COMO INIMIGO INTERNO: ARTIMANHAS DISCURSIVAS DA
POLÍTICA DESENVOLVIMENTISTA DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA E
VIOLÊNCIA AOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS
Francisco Paulo da Silva Universidade de Coimbra
Este trabalho fundamenta-se nas contribuições da Análise do Discurso, especialmente nas contribuições da arqueogenealogia de Michel Foucault para análise das relações saber-poder que engendram os discursos, com foco naquilo que no Relatório da Comissão Nacional da Verdade - CNV (Brasil) inscreve práticas de violações aos direitos dos povos indígenas durante a ditadura militar brasileira. Considera que o direito à verdade está associado às políticas da vida, e, portanto, configura-se em um problema de governo. Com base nesses pressupostos teóricos, o objetivo é analisar as artimanhas discursivas da ditadura militar na produção do índio como inimigo interno na grande arquitetura
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de seu projeto desenvolvimentista e os efeitos dessa política sobre os povos indígenas. Verifica-se no Relatório e em vários documentos consultados pela CNV a propagação, nos discursos dos agentes do Estado, dos índios como obstáculos ao desenvolvimento do país. Com essa concepção, o Estado não mediu esforços no sentido de acelerar a “integração” dos povos indígenas e colonizar seus territórios, com graves consequências sobre a vida dos índios. Assim, as conclusões e recomendações da CNV são vistas como diretrizes para a instauração da política de reparação dos direitos dos povos indígenas, logo, como condição para o exercício da governamentalidade necessária à instauração do Estado democrático de direito.
ENTRE INSULTOS E FALSAS HARMONIAS: A CONSTRUÇÃO DOS
EFEITOS DE AGRESSIVIDADE NO DISCURSO POLÍTICO ELEITORAL NA
CAMPANHA DE 2014
Geovana Chiari Vanice Sargentini
Universidade Federal de São Carlos
Durante o período pré-eleitoral das eleições presidenciais brasileiras no pleito de
2014, as notícias e os comentários acerca das campanhas políticas dos
candidatos à presidência foram de que nelas se adotaram discursos agressivos,
seja nos debates, nas redes sociais, nas campanhas televisivas, ou mesmo nos
sites oficiais. Isso se deu tanto no primeiro turno quanto no segundo, entretanto,
em um quadro de disputa mais acirrada pela sucessão presidencial, o período
referente ao segundo turno, entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-
senador Aécio Neves (PSDB), foi marcado pelo confronto também dito ainda
mais agressivo e acalorado. Tendo em vista que, de forma genérica, atribuiu-se
a um e outro candidato a liderança de uma campanha marcada pela
agressividade, elegemos como objetivo deste trabalho a análise do discurso dito
agressivo, buscando compreender sua formulação e materialização no discurso
político, a qual pode se dar pelos recursos da ironia, da seleção temática, do
dizer derrisório, do escracho, da gestualidade, do tom de fala, dentre outros. O
que seria o discurso agressivo, ácido, desrespeitoso? Como ele se materializa
no discurso político? Orientados por essas perguntas de pesquisa e pelo
arcabouço teórico da Análise do discurso de linha francesa, propomos a análise
de fragmentos dos debates políticos televisivos, imagens e vídeos que
circularam nas redes sociais (Facebook, Youtube), bem como nos sites oficiais
de campanha, no período pré-eleitoral, tendo o objetivo de compreender como
se produz e circula o que, no Brasil, se denomina agressivo no discurso político
na atualidade.
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A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO SOBRE O TRABALHO INFANTIL EM MATERIAIS DIDÁTICOS PRODUZIDOS PELO MPT-CE PARA USO EM
SALA DE AULA DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Germana da Cruz Pereira Universidade Federal do Ceará
Maria Valdênia Falcão do Nascimento
Universidade Federal do Ceará
Nos dias atuais o trabalho precoce continua sendo causa premente tanto da evasão escolar como dos elevados índices de reprovação de alunos na Educação Básica. Para enfrentar esse problema que afeta tão gravemente escolas e famílias brasileiras, o Ministério Público do Trabalho (MPT) no Brasil, órgão encarregado da defesa dos direitos trabalhistas dos diversos grupos sociais, tem como parte de sua missão zelar pelo cumprimento das leis de proteção às crianças e adolescentes. No presente trabalho, destacamos, particularmente, as práticas e discursos do MPT-Ceará produzidos com o intuito de combater a Exploração do Trabalho Infantil no referido estado. Objetivamos analisar o material produzido e distribuído por esse órgão institucional nas escolas da rede pública de ensino. Visamos responder aos seguintes questionamentos: 1. o que diz a legislação brasileira sobre o trabalho infantil? 2. de que forma a escola se constitui um espaço de estudo e enfrentamento à exploração do trabalho infantil? 3. que materiais pedagógicos são disponibilizados pelo MPT-CE nas escolas de Educação Básica? 4. como esses materiais tematizam as consequências negativas do trabalho infantil na aprendizagem de crianças e adolescentes? Para lograr os objetivos propostos, tomamos como referencial teórico o trabalho de autores como Aguero (2008), Alves-Mazzotti (2001,2002), Papparelli (2001) e Patto (2000). A análise dos dados se deu seguindo o arcabouço metodológico dos Estudos Críticos do Discurso, conforme proposto por Van Dijk (2006). Os resultados das análises nos permitiram compreender como os materiais didáticos analisados regulam práticas sociais e podem ser utilizados para construir determinadas representações e produzir sentidos. Além disso, apontam para uma compreensão do objeto discursivo como uma questão social que solicita o engajamento de diferentes setores da sociedade na luta para que o país possibilite a suas crianças uma vivência saudável da infância que garanta uma formação escolar para a cidadania.
AS REPRESENTAÇÕES DOS PAPÉIS DA MULHER NO SERIADO TELEVISIVO A GRANDE FAMÍLIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
IMAGÉTICO-VERBAL Germana da Cruz Pereira
Universidade Federal do Ceará
As séries televisivas veiculam e legitimam, utilizando seu discurso imagético-verbal, representações, reforçando papéis sociais que podem ser orientados por certas ideologias. Essa construção e propagação das representações e
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ideologias acontece por meio de estruturas linguísticas e discursivas presentes no discurso midiático e utiliza recursos simbólicos e materiais. Baseados na observação dessa abrangência midiática e nos deslocamentos discursivos no que tange às questões de gênero e, sobretudo, aos papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade brasileira, objetivamos com este trabalho desenvolver uma análise crítica do discurso imagético-verbal do seriado televisivo brasileiro A Grande Família, exibido no período de 2001 a 2014, com foco no exame da dimensão ideológico-discursiva dos papéis sociais atribuídos ao gênero feminino. Para tanto, tomamos como base os Estudos Críticos do Discurso de van Dijk (2003; 2006; 2008) e seu conceito de Ideologia, os estudos das Representações Sociais, de Denise Jodelet (2001), de Serge Moscovici (2009) e Doise (2001), bem como os estudos sobre imagem e análise fílmica de Aumont (1993) e Joly (2007), e os estudos de gênero de Scott (1995) e Buttler (2010). A partir destes autores traçamos um construto teórico-metodológico (PEREIRA, 2014) de modo a desenvolver um estudo analítico-interpretativista, de abordagem qualitativa, da categoria papéis da mulher. Por fim, podemos afirmar que o discurso imagético-verbal do seriado televisivo A Grande Família constrói e partilha papéis sociais, bem como representações, sobretudo do gênero feminino, por meio da estereotipação das personagens, pelo alinhamento de seus discursos com uma ideologia vigente nos contextos de produção e recepção da série, e pela estruturação do discurso imagético-verbal.
LEGENDS IN LIQUID MODERNITY
Giana Targanski Steffen
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira
Urban Legends (ULs) have been extensively studied by folklore studies, focusing
on the role of these texts in society. Following the early focus on orally transmitted
legends, recent research has addressed the written format of ULs on the Internet.
In this context, the present research investigates textual and contextual features
of contemporary ULs following the perspective of Critical Discourse Analysis
(Fairclough, 1989, 1992, 1995, 2003, 2004), a multidisciplinary field to the study
of texts that stresses the bidirectional relation between texts and contexts. The
texts in this study are analyzed as a type of discourse and genre, examined in
relation to specific lexicogrammatical features viz. TRANSITIVITY, MOOD and
exponents of Modality (Halliday & Matthiessen, 2004), and discussed both in
terms of their immediate context of situation and of the broader context of culture.
Besides, aspects of the representation of social practices, social actors and
legitimation are explored applying van Leeuwen’s (1996, 2008) sociosemantic
categories. In order to discuss the sociological component of language in the
data, I look at these texts as social semiotic activities in a globalized context that
Bauman has called Liquid Modernity. Results show that though relying on the
narrative structure, contemporary Urban legends can be considered a type of
hortatory discourse; the textual and contextual parameters allow the readers to
identify with the victims’ position, creating a virtual group of ‘us’ (possible victims)
versus ‘them’ (deceivers), and the mundane, daily contemporary environments
and social actions are represented as unsafe and fearful. In addition, the
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writers/senders establish a degree of intimacy with the readers, rely on a series
of legitimation techniques to manipulate belief in fabulous events and entice the
re-transmission of the texts. Furthermore, these stories can be seen as a social
practice that represents and propagates the fears and insecurities characteristic
of liquid modernity.
AS MARCAS DE PODER NA ESCRITUR(AÇÃO) DO EU
Girlândia Gesteira Santos Vânia Lúcia Menezes Torga
Universidade Estadual de Santa Cruz
Esta proposta de comunicação visa discutir o espaço autobiográfico, como o
lócus das várias vozes de um menino-narrador, que pelas memórias transcreve
os conflitos internos de um mundo que sendo seu passado, ecoa, ressoa e
reverbera o presente de nossa sociedade. Nesse sentido, alguns
questionamentos inquietam e movem a reflexão: como as marcas de poder são
percebidas na narrativa de um eu, que em sendo „eu‟ passa a expressão de um
„nós‟? Como a personagem da madrasta, empoderada por um lugar social,
marca as relações dialógicas do eu-para-mim e do eu-para-outros na obra? O
objetivo dessa proposta é o de discutir como a escrituraação querosiana em
Vermelho amargo (2011) revela e desvela as marcas de poder que nas palavras,
sentimentos e emoções do menino-narrador circunscrevem e denunciam os
modos políticos e o exercício de um poder em uma sociedade que para seus
filhos o “nascer é abrir-se em feridas”. Desse modo, as relações dialógicas que
constroem o elo entre a arte e a vida na narrativa possibilitam ao leitor transvê o
passado com a lupa do presente nos traços, imagens, verbos e silêncios que
metaforicamente vão desenhando a contemporaneidade política. Para reforçar
tal análise, trilharemos o caminho teórico-metodológico fundamentando-se nos
estudos de Bakhtin e o Círculo e em Arfuch (2010), para desvelar as marcas de
poder que circunscrevem o mundo do menino-narrador e constitui
metaforicamente o nosso próprio mundo.
O AFORIZADOR GLOSADOR DILMA ROUSSEF: EMBATES DISCURSIVOS
SOBRE AS LEXIAS “GOLPE” E “IMPEACHMENT” EM PEQUENAS
FRASES
Gleice Antonia Moraes de Alcântara Universidade Federal de São Carlos
As narrativas produzidas sobre o processo de afastamento da Presidenta do
Brasil, Dilma Rousseff, ocorrido em 17 de maio último, em sessão do senado
brasileiro ganha diariamente espaço em inúmeras mídias brasileiras e
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internacionais. Dada a grande repercussão desse acontecimento histórico
produz-se uma história da política brasileira engendrada pela maquinaria
midiática que retoma insistentemente o acontecimento por meio de enunciados
breves que são destacados, transformados e postos a circular em diferentes
cenas de enunciação. Neste contexto enunciativo, duas lexias disputam
ferrenhamente o espaço de significação do acontecimento, a saber
“impeachment” e “golpe”. Nesta comunicação, à luz das reflexões de
Maingueneau (2007, 2008, 2010, 2014), Krieg- Planque (2011, 2012), Authier-
Revuz (1998) e Austin (1962) temos como objetivo analisar as enunciações
engendradas por Dilma Rousseff sobre o processo de seu afastamento da
Presidência da República. Buscaremos, a partir de um extenso corpus,
constituído por pequenas frases que circularam em diversas mídias nacionais e
internacionais, evidenciar nesses enunciados o caráter acional do discurso
encadeado pelos desdobramentos em glosas metaenunciativas, que se impõem
em suas enunciações pelo encontro e representações da não-coincidência das
palavras consigo mesmas nas lexias “golpe” e “impeachment”, entendendo que
nessa reflexividade enunciativa acional o aforizador glosador orienta como os
enunciados devem ser interpretados pelos interlocutores. Elegemos como
metodologia analítica a categoria de percurso, proposta por Dominique
Maingueneau (2007) procurando analisar em diferentes mídias brasileiras e
internacionais a irrupção, a retomada, a transformação e circulação de pequenas
frases de Dilma Rousseff em que as glosas metaenunciativas sobre as lexias
“golpe” e “impeachment” estejam em confronto. Para tal empreendimento,
estabelecemos como recorte temporal o período de dezembro de 2015 a maio
de 2016.
REPRESENTAÇÃO E VERDADE NOS DISCURSOS PRESIDENCIAIS BRASILEIROS NA DÉCADA DE 1930
Hannah Maruci Aflalo
Universidade de São Paulo
O trabalho proposto tem por objetivo a análise da concepção de representação política presente nos discursos presidenciais da década de 1930 no Brasil. Nossa interrogação incide sobre as noções que passaram a ser amplamente aceitáveis e naturalizadas a partir do regime introduzido pela chamada Revolução de 1930. A presença do conteúdo de verdade nos discursos da época expõe a necessidade de uma substituição do falso pelo verdadeiro, o que implica o silenciamento de algumas vozes e a valorização de outras. O Governo Provisório, por ter se constituído a partir de um golpe, necessitava urgentemente de legitimação, a qual foi buscada por duas vias: o aumento da participação e a transparência das eleições. No entanto, mapeamos dois problemas em relação a essa “fórmula”: o primeiro, a exclusão dos analfabetos, que constituíam 62% da população brasileira; o segundo, é que a relativa extensão do voto não veio
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acompanhada da mesma possibilidade de ser eleito. A análise dos discursos nos leva a pensar que o conceito de representação verdadeira, embora evoque diversas vezes a ideia de democracia, foge à democratização do regime por meio de restrições. Esses impedimentos se dão no âmbito discursivo, na construção do corpo dos representados, criando um acordo sobre aqueles que devem ser excluídos - os analfabetos e, de forma indireta, as mulheres – sem ameaçar a verdade dessa representação. A construção do corpus dos representados determina quem deve pertencer a esse corpo, ou seja, quem é qualificado para conformar uma relação de representação, tendo sempre como justificativa a vontade de verdade. Dessa forma, a representação verdadeira pode ser altamente restritiva sem perder seu caráter de verdade.
O DISCURSO POLÍTICO-GOVERNAMENTAL: APELOS E ORDENS
Heder Rangel Universidade Federal de Alagoas
Refletir sobre o discurso da propaganda é tentar desvelar apelos e ordens estabelecidos na sociedade. Nossa intenção é pesquisar os sentidos que circundam a prática da propaganda em slogans do governo brasileiro, analisando uma parte específica: o modo como são desenvolvidos e apresentados esses slogans. A comunicação mostra apenas uma face: que um slogan referencia o mundo em suas diversas intencionalidades. Esta investigação ancora-se na teoria de Análise do Discurso (AD), de origem francesa (MICHEL PÊCHEUX), acrescenta diálogos com alguns teóricos que nos fazem verificar aspectos que se entrelaçam com o nosso propósito. Tais como Bakhtin, Florêncio et. al, Mészáros. Incluímos estudiosos da comunicação, da propaganda e do marketing – Figueiredo Neto, Sant’Anna, Predebon, Gracioso, Yanaze. Desejamos perscrutar esta questão por uma discussão que pode servir de paradigma a novos estudos relativos a duas grandes áreas do conhecimento social: Análise de Discurso e Comunicação para entender como se configura o discurso da propaganda – espaço de múltiplas proposições – que se faz atrelando-se aos ditames dos negócios, das organizações e funcionalidades econômicas. Nessa perspectiva, propomo-nos a alguns objetivos: possibilitar uma leitura crítica da propaganda; verificar sua forma de produção – objetividades e subjetividades, seus cursos e recursos estratégicos, persuasivos e de influência; reconhecer traços ideológicos constituintes das posições dos sujeitos; compreender sua prática como um dos sintomas do capital pelo exercício de um poder que utiliza linguagem opaca, focalizada em conflitos, contradições, encontrando terreno fértil para o próprio desenvolvimento. Sua redação discursiva caracteriza-se pela forte presença de adjetivos, palavras plenas de vários significados; intercalada por um complexo de relações verbais e não verbais interpostas socialmente – postulações que não ocorrem sem razão, sem sentido.
(AINDA) SOBRE DISCURSO, RACISMO E ABUSO DE PODER:
A RELEVÂNCIA DA FÓRMULA “CONSCIÊNCIA NEGRA” NO BRASIL
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Helio Oliveira
Universidade Estadual de Campinas
O racismo é essencialmente um sistema de dominação e de desigualdade social, de acordo com Van Dijk (2008). Ainda conforme o autor citado, essa dominação se define como um abuso de poder de um grupo sobre outro e está representada por dois sistemas de práticas sociais inter-relacionados: primeiro, as várias formas de discriminação e exclusão; segundo, as crenças, atitudes e ideologias preconceituosas e estereotipadas. Muitas vezes, o segundo conjunto de elementos é considerado como "razão" ou "motivo" para explicar ou legitimar o primeiro. A partir da problemática apresentada, este trabalho analisa o processo de constituição e a circulação da fórmula “consciência negra” no universo discursivo brasileiro contemporâneo. O corpus é constituído de textos de diversos gêneros, oriundos do campo jornalístico-informacional, e a metodologia diz respeito aos procedimentos teóricos e analíticos da Análise do Discurso (AD), especificamente aos relativos à noção de fórmula discursiva tal como propõe Krieg-Planque (2009). O objetivo é analisar em que medida “consciência negra” funciona como um “lugar” privilegiado para compreender a forma como os diversos atores sociais organizam, por meio dos discursos, as relações de poder e de opinião. Por meio de seu funcionamento como referente social, a fórmula se apresenta como um foco de discursivizações, ou seja, ela mobiliza posicionamentos em confronto. Dessa forma, “consciência negra” se constitui como participante essencial do debate sobre o racismo no Brasil e contribui para a emergência de um discurso que legitimamente represente as demandas do movimento negro, reconhecido como tal por esse movimento. Pesquisa desenvolvida com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (proc. 2015/19670-1).
FAZER FALAR E FAZER CALAR: RELAÇÕES DE PODER EM UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO DISCURSO DE LIBERDADE DE
EXPRESSÃO
Hulda Gomides Oliveira Universidade Federal de São Carlos
Esta reflexão compõe a nossa pesquisa de doutorado, que se encontra em desenvolvimento no Brasil e que se intitula “Discurso, sujeito e liberdade de expressão: da ágora ao agora - a idade da mídia”. Propomos por ora uma análise de diferentes formas de fazer falar e fazer calar, que historicamente se materializam em dispositivos de controle do que pode ou não ser dito. Considerando o panorama teórico da Análise de Discurso, fundamentamo-nos no pressuposto de que não existe plena liberdade de expressão (PÊCHEUX 1971: 2011). Nem a contemporaneidade ocidental (globalizada e cheia de mídias acessíveis e alternativas às hegemônicas) nem a democracia grega oferecem espaços do livre pensar e expressar, pois, a despeito das resistências, persistem condições históricas de interdição (FOUCAULT 1970: 2009). Levando em conta, entretanto, que os sistemas democráticos sempre apregoaram a liberdade de expressão como garantia fundamental, interessa-nos ressaltar relações de poder entre o falar e o calar. Para isso, apresentamos aqui dois espaços de análise,
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que funcionam como recorte da grande rede de discursos que sustentam um imaginário de que somos livres para nos expressar: a) trechos de leis que surgiram como garantia de tal “direito à fala”; e b) elementos de redes sociais em que circula o lugar-comum de que os meios virtuais são um espaço onde “tudo pode ser dito”.
HEGEMONIA DO DISCURSO CIENTÍFICO CONTÁBIL NO BRASIL
Iracema Raimunda Brito Neves Aragão Universidade Estadual de Feira de Santana
Gilberto de Andrade Martins Universidade de São Paulo
O objetivo desta pesquisa foi conhecer especificidades do discurso subjacente às publicações da área contábil a fim de verificar como elas contribuem para o que poderíamos chamar de cultura escrita da área. Secundariamente, buscamos conhecer as identidades/ideologias que emergem da política editorial do contexto da investigação, Revista Contabilidade e Finanças (RC&F) e as decorrentes de instituições e fontes de pesquisa representadas pela visão de mundo dos pesquisadores que exercem influência intelectual sobre a concepção de ciência traduzida no periódico. A investigação se fundamentou na visão tridimensional de discurso da Análise do Discurso (AD) de tradição anglo-saxônica de Fairclough (2008) – texto, prática discursiva e prática social. O corpus examinado foi selecionado dos 355 artigos publicados nos últimos 15 anos da RC&F online: primeiro, identificamos a linha de pesquisa hegemônica (Linha 2 – Contabilidade para usuários externos), em seguida, identificamos agrupamentos em função da Abordagem Temática (AT) para determinar proximidade ideológica dos textos. Os resultados revelaram que o discurso emergente dos artigos possui léxico técnico fundamentado na área Contábil e afins, Administração e Economia, além da Matemática, Estatística e do Direito. Há prevalência de termos com polaridade semântica positiva, estrangeirismos e fragilidade no emprego de alguns argumentos de coesão textual. Focamos os operadores de argumentação para identificar a contribuição dos autores diante das assertivas. Detectamos superficialidade crítica e reflexiva, apoio contínuo em intertextos que acabam por silenciar e homogeneizar o discurso de ideologia normativista e técnica, pouco ou nada interdisciplinar, com tímida potencialidade de provocar inquietações ou trazer efetivas contribuições à cultura escrita da área. O texto com prática discursiva e social gera uma hegemonia fundada no silenciamento dos pesquisadores, e conseguinte reprodução e pactuação com o óbvio, distanciamento de teorias e fuga da criticidade e da realidade social circundantes. Tal fato é ratificado na opinião estabelecida pelos editores de periódicos da área.
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O PODER DA PALAVRA: A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA DAS EMOÇÕES
NO QUADRO DE UMA CONSULTA REFERENDÁRIA
Isabel Fuzeta Gil Universidade Católica Portuguesa / C.E.L.G.A
A atividade argumentativa é, reconhecidamente, permeada pelas emoções. As
emoções têmm sido nos últimos anos objeto de renovado interesse por parte das
modernas teorias da argumentação. Na senda dos estudos de Christian Plantin
(2000, 2002, 2011) e Raphaël Micheli (2007, 2008, 2010), é nosso propósito
destacar as estratégias de “patemização” delineadas com vista a agir sobre um
Outro; nesta dimensão discursiva de um FAZER FAZER, interessa-nos
descrever os modos de semiotização das emoções, assinalando ainda que as
emoções são elas próprias constituídas em objetos de discurso e passíveis de
serem argumentadas. Tal questão é indissociável da construção discursiva dos
actantes no discurso, a ser contemplada também nesta análise. A partir de um
corpus de textos de opinião (cujos autores se posicionam ideologicamente como
opositores) publicados na imprensa aquando da campanha que antecipou uma
consulta referendária (para manutenção ou alteração do prazo legal para abortar
e enquadramento legal para o fazer), a qual potenciou momentos fortemente
agónicos, dar-se-á particular enfoque às dimensões enunciativopragmática e
configuracional dos discursos, de modo a salientar a estruturação argumentativa
e o modo como as emoções são mobilizadas, convocando outras vozes e outros
discursos no exercício da influência através da palavra.
REFERENCIAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO DISCURSIVA: CONSTRUÇÃO
DO(S) SENTIDO(S) NO DISCURSO DE PRESIDENCIÁVEIS NO TWITTER
Jaqueline Barreto Lé Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas contribuições teóricas mais
recentes sobre a natureza multifuncional das expressões referenciais, levando
em conta, sobretudo, o seu papel argumentativo no processamento discursivo.
Para tanto, serão abordados os processos de referenciação indireta no gênero
digital Twitter, nas esferas política e publicitária, considerando o seu caráter
interativo e os mecanismos argumentativos presentes na ativação dos objetos
do discurso. A esse respeito, Koch (2001:76) assinala que, ao se colocar em
ação a estratégia de descrição definida, “opera-se uma seleção, entre
propriedades passíveis de serem atribuídas a um referente, daquela(s) que, em
dada situação discursiva, é (são) relevantes para o locutor, tendo em vista a
viabilização do seu projeto de dizer.” Desse modo, assumindo tal perspectiva na
análise textual/discursiva do domínio político, entende-se que a argumentação
também pode ser acionada, reforçada e reestruturada por meio de estratégias
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referenciais. Em outras palavras, a ação de “referir” e construir um dado objeto
do discurso é motivada, em última instância, pela imagem referencial que o
falante pretende levantar e ativar discursivamente. O corpus deste estudo é
composto por textos de candidatos brasileiros presidenciáveis nas eleições de
2014 (Dilma Roussef, Aécio Neves, Marina Silva, Luciana Genro e Eduardo
Jorge), em sua página oficial no Twitter, no período de setembro a outubro,
sendo analisado um total de 200 tweets. A pesquisa se insere na linha teórica da
Linguística Textual, com foco na relação entre gênero discursivo, argumentação
e referenciação. Serão de especial interesse, aqui, os trabalhos desenvolvidos
por autores como Bakhtin (2003), Marcuschi (2005, 2008), Apothéloz e Pekarek
Doehler (2003), Mondada e Dubois (1995), Bazerman (2005, 2011) , Koch (1998,
2001, 2006), entre outros.
AS REPRESENTAÇÕES ACERCA DO ABORTO POR POLÍTICOS
BRASILEIROS
Jaqueline Coêlho Suassuna Universidade de Brasília
As audiências públicas interativas que são objeto deste trabalho são eventos que
visam ao debate acerca de sugestões legislativas propostas por membros da
sociedade civil e que acontecem no Senado Federal brasileiro. Importa a este
trabalho o debate acerca da sugestão nº 15, de 2014 que visa regular "a
interrupção voluntária da gravidez, dentro das doze primeiras semanas de
gestação, pelo sistema único de saúde” (SENADO FEDERAL, 2015). O objetivo
deste trabalho é compreender as representações sociais acerca das mulheres
que abortam, representações que são construídas nos discursos de políticos
participantes das cinco primeiras audiências sobre o tema. As representações
sociais expressam aqueles que tem poder para as forjar e definir de maneira
específica o objeto por elas representado e, no caso deste trabalho, ajuda a
compreender como a realidade do aborto é construída por políticos que debatem
nas audiências sobre o tema. Aliada à Teoria das Representações Sociais, a
Análise de Discurso Crítica é utilizada como aparato teórico-metodológico, pois
entende o discurso das audiências como um momento da prática social que
pode, por meio de investidas ideológicas, criar e/ou sustentar relações de poder
dos políticos entre si e dos políticos com a população fora do parlamento. A maior
parte dos políticos participantes das audiências analisadas é contrária à
sugestão legislativa e construiu seus argumentos baseada nas representações
de que as mulheres que abortam o fazem por falta de informação, induzidas por
movimentos que lucram com a prática do aborto ou por libertinagem. É comum
o uso de argumentos religiosos e com de caráter de conversão que
compreendem a maternidade por meio da gestação como essência do que é ser
mulher e que o aborto é a negação dessa essência, além da contestação das
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taxas de mortalidade materna, entendidas como objetos de manipulação por
grupos interessados no aborto.
AS RELAÇÕES DE PODER EM SALVADOR NO SÉCULO XVII: UM GESTO DE INTREPRETAÇÃO DE JOSÉ ALENCAR
João Antonio de Santana Neto Universidade do Estado da Bahia
Nesse trabalho, tem-se por objetivo aplicar pressupostos teóricos da Análise de Discurso filiada a Pêcheux com vistas a estudar a cidade do Salvador em uma perspectiva discursiva. Entre os pressupostos teóricos, destacam-se formações ideológica e discursiva, interdiscurso, memória discursiva e arquivo, sujeito. O corpus selecionado para esse trabalho é composto por recortes do primeiro capítulo do romance As minas de prata de José de Alencar (1865), uma vez que nesse trecho da obra são apresentadas as relações de poder, em uma narrativa complexa, que se reporta ao ano de 1609. Alencar, enquanto formulador, é interpelado pela ideologia e é assujeitado à língua, para se constituir, em um sujeito que se filia a uma formação discursiva e exerce a função-autor, expressando um gesto de interpretação literário, o qual está vinculado à formação ideológica definida por Martius e, consequentemente, à formação discursiva do romantismo, que busca desenvolver a tarefa nacionalista de cunhar uma identidade nacional e perpetuar a história pátria na criação dessa imagem exemplar. Nessa perspectiva, Alencar, enquanto formulador do discurso, apresenta uma identificação plena com a forma-sujeito universal da formação discursiva a que se filia. Para realizar esse gesto de interpretação literário, Alencar valeu-se do arquivo (memória institucionalizada), composto pelos livros de história e pelas crônicas coloniais, realizando referências no corpo do texto e em notas de rodapé. As consultas ao arquivo são fruto de uma interpelação ideológica com vista à reconstituição ficcional da sociedade colonial brasileira e suas relações de poder no início do século XVII.
OS DISCURSOS DE (DES)LEGITIMACÃO NOS COMENTÁRIOS DE UMA
NOTÍCIA POLÍTICA: O CASO DE DILMA ROUSSEFF NA ONU
(José) Cláudio Vasconcellos Universidade Estadual de Campinas
Na atualidade, o comentário na internet é uma ferramenta discursiva que nos parece ser bastante democrática e que é utilizada pelos internautas para expressar seus pensamentos, valores e fazer julgamentos sobre tudo que se lê, vê e assiste na web e fora dela. A internet virou uma espécie de arena discursiva, onde os participantes “jogam” um tópico conversacional e as disputas de verdade são lançadas. É notável que as interações digitais por meio dos comentários de internet mudaram completamente o cenário das redes sociais no Brasil (VASCONCELLOS, 2015). A revista Fórum é um exemplo dessa transformação. Fundada em 2001, em Porto Alegre, tem como descrição ser uma “[...] revista
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que tem no seu DNA a força dos movimentos e a certeza de que é na multiplicidade de vozes que se faz um mundo melhor.” A revista conta com uma versão somente online e mantém um contato com seus leitores por meio de perfís nas redes. Pensando-se nessas mutações e tendo como corpus de análise os comentários postados no Facebook e no site da revista Fórum, esta comunicação tem como objetivo analisar os processos de (des)legitimação social mobilizados em torno dos comentários sobre a notícia: “Dilma na ONU: Nosso povo é trabalhador e saberá impedir qualquer retrocesso.” Considerando a teoria da legitimidade cultural (LAHIRE, 2006), analisaremos todos os comentários gerados a partir desta. Neste trabalho consideramos estas práticas sociais (HANKS, 2008) como disputas por legitimação das representações da fala da presidenta Dilma Russeff na ONU em Nova Iorque para assinar o acordo de Paris logo após a votação do impeachment passar pela câmara dos deputados. As análises nos mostram que os comentaristas articulam suas reflexões pautados em modelos cognitivos idealizados (LAKOFF, 1990) e na teoria da recursividade da língua (LUCY, 1993).
DISCURSO POLÍTICO, MEDIAS SOCIAIS E PODER: O USO DO
FACEBOOK E DO TWITTER NA CONSTRUÇÃO DO ETHOS POLÍTICO DO
GOVERNADOR DO MARANHÃO, FLÁVIO DINO
Josenilde Cidreira Vieira Universidade do Porto / Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Maranhão
A sociedade contemporânea, que se conecta em rede, caracteriza-se pela “possibilidade de interação, acesso, produção e troca de informações. Essa dinâmica tem se refletido em todo processo de comunicação humana e neste caso particular, na política”. Levy, (1999, p.190). No caso do Brasil, desde 2010, muitos políticos passaram a utilizar essa inovação nas campanhas eleitorais, mais recentemente, as redes sociais Twitter e Facebook. O discurso político, por sua vez, dedica-se a construir imagens de atores (ethos) e usar estratégias de persuasão e de sedução (Charaudeau, 2015, p. 40). Dessa forma, quando se pronuncia um discurso, age-se sobre o mundo, demarca-se uma posição e disso decorre uma relação de poder. Para efeito deste trabalho, entendemos poder como " [...] uma característica da relação entre grupos, classes ou outras formações sociais, ou entre pessoas na qualidade de membros sociais [...]" (Van Dijk, 2008, p. 41). Assim, esta comunicação pretende analisar a construção do ethos político de Flavio Dino, governador do Maranhão a partir das estratégias de persuasão e de sedução utilizadas no Facebook e Twitter, para estabelecer relações de poder nessas redes sociais. O corpus de análise é constituído por 50 posts e 50 tweets. A metodologia do trabalho consiste na seleção do corpus e na análise do conteúdo linguística.
NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A FORMAÇÃO
DOCENTE: NOVOS DISCURSOS?
Jozanes Assunção Nunes Universidade do Porto
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Este trabalho faz parte de nossa pesquisa de doutorado que objetiva
compreender as relações de sentido entre os discursos dos professores que
integram o Núcleo Docente Estruturante de cursos de Letras de uma
universidade pública brasileira, atuantes no processo de reestruturação dos
cursos, e os discursos oficiais da educação que dispõem sobre a reestruturação
curricular de cursos de licenciatura. O Núcleo Docente Estruturante é constituído
por um grupo de professores, com atribuições de formulação e
acompanhamento do Projeto Pedagógico de um curso de graduação,
formalmente indicado pela instituição. Como parte da pesquisa que
desenvolvemos, está a análise de Diretrizes Curriculares Nacionais, elaboradas
com objetivo de orientar as reformas curriculares nos cursos de licenciatura. Com
base nos pressupostos teórico-epistemológicos e metodológicos do Círculo de
Bakhtin e da Análise Dialógica do Discurso, subsidiada nos mesmos
pressupostos, analisamos, neste trabalho, a dialogicidade entre as novas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos
Profissionais do Magistério da Educação Básica, aprovadas em 2015 e as
Diretrizes que foram revogadas, formuladas em 2001, no que diz respeito ao
discurso das dimensões teoria e prática na formação docente. Partimos do
pressuposto bakhtiniano de que entre o discurso e seu objeto interpõem-se
discursos alheios e que o discurso se entrelaça com interações complexas
enquanto o objeto está penetrado por apreciações de outros. A análise dialógica
do discurso das novas Diretrizes nos conduz ao entendimento de que, ao garantir
tempo e espaço próprios para realização da dimensão prática, os enunciadores
do documento acabaram reforçando a dicotomia entre a teoria e a prática, assim
como ocorre nas Diretrizes revogadas. Certificamos, conforme o pensamento
bakhtiniano, que o discurso das Diretrizes de 2015, se encontra com o discurso
das Diretrizes de 2001, interagindo com ele de uma forma viva e (in)tensa.
DISCURSO, HISTÓRIA E PODER: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE DISCURSOS POLÍTICOS EM SITUAÇÕES DE ADVERSIDADE
Leiva de Figueiredo Viana Leal
Universidade Federal de Minas Gerais
O presente artigo apresenta um estudo comparativo de duas vozes de lideranças políticas na história do Brasil: a do ex-presidente Getúlio Vargas e a do ex-presidente Lula Inácio da Silva, pertencentes a partidos de trabalhadores e colocados na condição de líderes no país. Ao primeiro, um contexto de impotência frente à condição de não governabilidade e, ao segundo, a condição de quem, fora do lugar de poder, luta pela permanência do partido na governabilidade do país. Longe de intentar proceder a uma análise histórica do que resulta desses discursos, esse estudo inscreve-se no campo da análise de
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discursos de sujeitos situados em um mesmo lugar de poder, garantidos ideologicamente por um mesmo partido político; portanto de mesmo lugar de enunciação discursiva. Para constituição do corpus serão analisados dois discursos: o discurso do ex-presidente Getúlio Vargas, expresso na sua Carta Testamento, produzida em agosto de 1954 e o discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, proferido em manifestação pública, em 18 de março de 2016, em protesto contra o impeachment da presidente atual. Do ponto de vista teórico, assenta-se na concepção de discurso político e de efeitos patêmicos de Charaudeau; na relação entre sujeito e memória de Bakhtin(1993). Assenta-se, ainda, em Amossy(2011) que, com base na Nova Retórica, coloca em debate a intencionalidade discursiva: o interlocutor visa, para além da persuasão, alterar modos de pensar, de ver, de sentir. Que vozes se manifestam nesses discursos? De que estratégias discursivas lançam mão esses interlocutores? Quando se compara um eu que se despede:” saio da vida para entrar na história”, a um outro eu que diz “Eu não sou o resultado de uma eleição. Eu sou o resultado de uma história”. há discursos, verdades e encenações. Contribuir, em parte, para a compreensão dessas categorias é a pretensão desse estudo comparativo.
O DESAFIO DA LINGUÍSTICA TEXTUAL: O TEXTO COMO EVENTO DIALÓGICO, LINGUÍSTICO-SEMIÓTICO
Lícia Maria Bahia Heine
Universidade Federal da Bahia O desafio da linguística textual (LT), o texto como evento dialógico, linguístico-semiótico, nos conduz a uma nova fase da LT, provisoriamente denominada “Fase Bakhtiniana da Linguística Textual” (HEINE, 2012). A opção por Bakhtin se justifica pelo seu aparato teórico que nos permite considerar o texto não apenas compreendido por aspectos linguístico-formais, mas também por princípios histórico-ideológicos, que lhe são constitutivos. Assim alicerçado, é possível trazer à baila algumas discussões sobre o seu sujeito, historicidade, e ideologia, pondo em foco uma nova reflexão da noção de intencionalidade a partir de duas faces, a social e suas nuances individuais. Além disso, sugerimos a ampliação da noção de referenciação que passa também a considerar os signos semióticos no processo de coesão e coerência textuais.
DO DISCURSO À IMAGEM: O ESTEREÓTIPO COMO UMA PRÁTICA DE PODER?
Ligia Mara Boin Menossi de Araújo
Marco Antonio Almeida Ruiz Universidade Federal de São Carlos
A mídia brasileira, em especial os diversos jornais e revistas, por exemplo, em decorrência dos conturbados movimentos políticos que assolaram o país nos últimos meses, produziram os mais variados tipos de discursos, favoráveis ou não, a destituição da presidenta Dilma Rousseff. Tais discursos exaltavam não
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somente os ânimos dos adversários, mas também produziram uma certa euforia àqueles que a defendiam. Sua figura tem sido cada vez mais retomada (e calcada) nesses meios de informação, trazendo, muitas vezes, afirmações que não se relacionam diretamente ao seu cargo como chefe de estado – e como consequência, avaliar suas ações – mas sim, questionando o lugar em que ela, enquanto mulher, ocupa carregando consigo traços negativos que refletem sobre sua figura política. Estes traços retomam certos juízos de valores cristalizados na memória social e corroboram para um discurso machista. Com efeito, o que se pode notar na maioria destes discursos é de que Dilma seria histérica e descontrolada, ressaltando um possível traço identitário – estereotipado – da mulher. Para pensarmos a noção de estereótipo, traremos, inicialmente, algumas considerações de Amossy e Pierrot (2005) que o definem como um conjunto de representação coletiva ou imagens cristalizadas que são compartilhadas: “o estereótipo não existe em si, não se constitui nem como um objeto palpável nem como uma entidade concreta, mas sim como uma construção de leitura” (AMOSSY; PIERROT, 2005, p. 79). Nesse sentido, para pensar tal noção, as autoras tomaram como base a linguagem verbal, todavia, convidam-nos a explorar outros campos, sobretudo, os que dizem respeito às imagens. Tomados por estas reflexões e pela proposta teórica dos estereótipos básicos e opostos perscrutada por Possenti (2010), ancorados na análise do discurso de orientação francesa, propomos, nesta comunicação, investigar como se dá a construção do estereótipo da mulher e presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, em duas revistas de circulação nacional – Época e IstoÉ – tomando a materialidade linguística e não linguística, com o objetivo de observar como certos estereótipos construídos socialmente são retomados, atualizados e (re)significados a partir de novas produções discursivas promovendo, assim, um discurso de ódio. Ademais, buscamos compreender como o discurso de uma presidenta pode ser taxado – negativamente – por meio de novos dizeres produzidos a base de pré-construídos e, com isso, pensar qual é a relação de poder (FOUCAULT, 1999) que tal produção discursiva estabelece na (des)caracterização de sua figura política.
RACISMO (DES)VELADO: LEITURA A PARTIR DA ANÁLISE DO
DISCURSO
Lilia Odete Nantes de Oliveira Nara Sgarbi
Centro Universitário do Grande Dourados O presente trabalho tem por finalidade realizar uma leitura sobre os discursos racistas como determinantes de lugares sociais. Apesar da existência de uma falsa democracia racial, enunciados com esse enfoque ainda são motivadores de pesquisas. Os lugares sociais estão pré-determinados discursivamente por meio de discursos racistas e/ou conformistas. Há no imaginário social a ilusão de poder de manutenção do status quo. Nesse sentido, a resistência a essa aparente ordem social vem demonstrar que esse poder centralizado em somente uma das partes envolvidas nesse embate, não se sustenta, pois, as partes que sempre estiveram às margens, se tornaram evidentes a partir dos estudos relacionados aos discursos e seus efeitos de sentidos produzidos. Como sujeito
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do referido estudo, utilizamos um enunciado produzido por um agente político, ocupante de um cargo de representação significativa na sociedade e tecemos a sustentação teórica a partir das orientações da Análise do Discurso de linha Francesa e da Análise Crítica do Discurso. Os autores de referência utilizados como pano de fundo, foram BAKHTIN (2002), FOUCAULT (2003), PÊCHEUX (1990) FAIRCLOUGH, (2001) e BOURDIEU (1983).
O SUJEITO POLÍTICO ELEITORAL E A CONSTITUIÇÃO DE SEU
DIZER: UMA ANÁLISE DOS DEBATES TELEVISIVOS PRESIDENCIAIS
ELEITORAIS
Livia Maria Falconi Pires Vanice M. Oliveira Sargentini
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
O debate televisivo eleitoral configura-se como uma arena para o embate
discursivo, na medida em que se constitui como um espaço que propicia a
interlocução entre os candidatos, funcionando como mais um “palanque” da fala
pública. Assim, na esteira dos estudos atuais sobre as mutações sofridas no
modo de produção e circulação do discurso político e considerando que os locais
de pronunciamento, como a ágora clássica e a tribuna medieval, interferiram na
constituição da fala pública e a modificaram, voltamos nossos olhares para as
disposições do debate político eleitoral de segundo turno para a Presidência da
República do Brasil, os quais podem interferir na construção do discurso político
presidencial eleitoral. Apesar de sua cuidadosa construção fortemente
evidenciada na arquitetura dessa “mise en scène” eleitoral, é no debate televisivo
que os candidatos se expõem e falam de maneira mais direta aos eleitores.
Devido ao aparato audiovisual, não podemos mais dissociar o verbo do corpo
que, na atualidade, é essencial para a política, principalmente no momento de
campanha eleitoral; assim sendo, o debate eleitoral presidencial é aparato
fortalecedor do entrelaçamento de verbo e imagem. Para o presente trabalho,
portanto, apresentaremos uma análise da constituição do sujeito político eleitoral
juntamente com as mutações do gênero debate televisivo, voltando-nos aos
debates de segundo turno de pleitos presidenciais a partir da redemocratização
(1989) até a atualidade (2014), e focando-nos em categorias como “a arquitetura
do debate”, “o rosto”,“ a silhueta” e “o verbo”. Para tanto, pautar-nos-emos em
reflexões sobre os estudos da Análise do Discurso, os quais levam em conta o
enunciado sincrético em sua densidade histórica, bem como os estudos da fala
pública amparando-nos nas contribuições de J.-J. Courtine e no pensamento de
M. Foucault, focalizando, assim, a importância de se estudar os discursos em
sua articulação com a história, vista em suas descontinuidades.
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JORNALISMO CULTURAL: O CONTRATO DE LEITURA DAS REVISTAS
REVESTRÉS E SELECT
Luana Lia da Cunha Lopes Sena Paulo Fernando de Carvalho Lopes
Universidade Federal do Piauí
O presente artigo busca descrever as operações enunciativas dos processos
jornalísticos das revistas Revestrés e Select, para identificar as marcas de
funcionamento de seus contratos de leitura. Analisar o “modo de dizer” dessas
revistas é tentar identificar a relação entre o suporte e sua leitura. A metodologia
utilizada é a Análise de Discursos (PINTO, 1999), e o artigo trabalha ainda com
o conceito de contrato de leitura, desenvolvido por Eliséo Verón (2004). O corpus
para a pesquisa é composto por seis edições das revistas, que circularam no
período de seis meses, entre agosto de 2015 e janeiro de 2016. Pode-se ao final
perceber que a revista Revestrés propõe vínculos com o leitor calcados em uma
relação de amizade, a partir de um enunciador conselheiro e amigo - são
editoriais que quebram a formalidade, no que diz respeito ao estilo textual,
enquanto que a revista Select apresenta editoriais mais formais, marcados por
discursos de autoridade nos enunciados.
A RESPONSABILIDADE DO SUJEITO ARGUMENTANTE E SEU ATO ARGUMENTATIVO: DISCURSOS EM TORNO DA CRIMINALIZAÇÃO DA
HOMOFOBIA NO BRASIL Lucas Nascimento
Universidade Federal da Bahia
Todo ato é realizado por um sujeito agente, cuja ação é responsiva e inscrita em práticas sócio-históricas, sem contudo aí se esgotar, pois o sujeito possui um excedente de visão que o capacita a assumir um compromisso ético. Neste sentido, há na constituição do ato/atividade um conteúdo, um processo, um produto e um agente. Deste, diz-se que ele é ativo e relacional, porque é um eu para-si, ao mesmo tempo em que é um eu para-o-outro, estando, porquanto, a identidade no plano relacional responsável/responsivo, em que o ato do sujeito é a junção de processo e conteúdo, ou seja, do repetível e do irrepetível. Prenhes dessas noções basilares postuladas por Mikhail Bakhtin ([1920-24] 2010), em Para uma filosofia do ato, objetivamos, primeiramente, estabelecer um diálogo, em termos de coerência, complementaridade e aproximações, entre as noções bakhtinianas de ato e de sujeito com as noções perelmanianas de discurso como ato do orador (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA ([1958] 2005). Em seguida, cientes da noção que argumentar é uma forma de agir sobre o outro com a intenção de criar/intensificar a adesão acerca de uma questão, discutimos, por
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sua vez, a noção de ato argumentativo e de sujeito argumentante. O que nos leva a colocar em questão o fato de que a argumentação se distingue da demonstração, sobretudo, porque a interação entre o orador e o seu discurso é constitutiva da apreciação do sentido dos enunciados. Para efeito de análise, tomamos como objeto de estudo alguns enunciados concretos em torno do Projeto de Lei da Câmara 122/2006, o qual versa sobre a criminalização da homofobia no Brasil. Tal empreendimento analítico nos permite observar como o sujeito argumentante mobiliza os argumentos dando a eles entonações valorativas com vistas à persuasão.
MISE-EN-SCÈNE DA LIDERANÇA: UMA ANÁLISE DO PRIMEIRO DISCURSO DE MICHEL TEMER COMO PRESIDENTE DO BRASIL
Luis Henrique Boaventura
Ernani Cesar de Freitas Universidade FEEVALE / Universidade de Passo Fundo
A conjuntura política brasileira vem sendo tema recorrente do noticiário internacional nos últimos meses em função do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. O impacto de um segundo impeachment em pouco mais de duas décadas, para uma democracia jovem como a brasileira, avança sobre as fronteiras do país e alcança também o cenário político latino-americano, historicamente frágil. Nesse contexto, muito pode ser apreendido ao dar atenção à figura do líder e seu discurso aceca do porvir de seu governo e de suas visões de nação ideal. Este trabalho pretende analisar o primeiro discurso do presidente interino brasileiro Michel Temer após o afastamento de Dilma Rousseff. O corpus é a transcrição integral do discurso publicada em diversos jornais de circulação nacional. O marco teórico repousa na semiolinguística de Patrick Charaudeau, em específico nas obras Discurso político (2006) e Discurso das mídias (2010) em relação à semiotização do mundo, às visadas discursivas e à mise-en-scène. A pesquisa também fará interface com Pierre Bourdieu em O poder simbólico (1989) e A economia das trocas simbólicas (2009), além de Jürgen Habermas em Mudança estrutural da esfera pública (2003). A análise discursiva mostra Temer posicionado como líder em seu primeiro discurso enquanto presidente interino e realizando uma semiotização de mundo conveniente às suas condições de governo, mediante uso de palavras-chave como “confiança” e repetidamente do verbo “trabalhar”, além da apropriação de símbolos nacionais como o lema da bandeira, configurado em lema de governo.
LÍNGUA, CORPO E VOZ NO DISCURSO POLÍTICO LATINO-AMERICANO: PROPRIEDADES E TRANSFORMAÇÕES DAS MANIFESTAÇÕES DE
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
Maísa Ramos Pereira Universidade Federal de São Carlos
No presente trabalho, parte de nossa pesquisa de doutoramento em Linguística, apresentamos como tema de discussão uma tendência à eleição de presidentes que de alguma forma se assemelham ao povo que representam, na América
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Latina. Tratamos sobre um fenômeno político emergente relativo à eleição e tomada de poder por representantes que rompem com um corpo político padrão hegemônico. O corpo “masculino, branco, heterossexual” (Coulomb, 2011) tem, em certa medida, sua hegemonia desestabilizada com a assunção de presidentes oriundos de camadas populares, mais próximos àqueles que dizem representar. Como casos emblemáticos dessa tendência, podemos citar Evo Morales, líder sindical cocalero e primeiro presidente indígena da Bolívia; e, Lula, o presidente operário do Brasil, cuja sucessora é a primeira mulher a chegar à presidência no país, Dilma Rousseff. Com base em teorias discursivas derivadas das reflexões de Jean-Jacques Courtine e em estudos das Ciências Políticas sobre a questão da legitimidade democrática, visamos analisar pronunciamentos proferidos pelos presidentes latino-americanos Lula da Silva e Evo Morales, que evoquem uma suposta identificação com o povo que representam como fator de legitimidade para seus dizeres políticos, destacando como encarnam e materializam língua, corpo e voz de seus representados. Tomamos como corpus falas públicas dos referidos presidentes em ocasiões especiais: 1º de maio e Ano Novo Aymara, no Brasil e na Bolívia, respectivamente. A emergência de gestores representativos de maiorias minorizadas permite-nos observar o quão excludente é o regime “democrático”: passaram-se séculos até que pudessem chegar à presidência representantes com características de segmentos sociais historicamente excluídos do gerenciamento dos Estados. Não seria o povo que supostamente poderia exercer sua soberania sob a democracia? Com base nessas reflexões e indagações, investigamos novas modalidades de representação política, considerando deslizamentos, continuidades, deslocamentos e rupturas em relação a um padrão de sujeito político outrora hegemônico e (im)posto como neutro.
DA DECLARAÇÃO À IDENTIFICAÇÃO: OS DISCURSOS DE DILMA ROUSSEFF PÓS-IMPEACHMENT
Marco Túlio Pena Câmara
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Em maio de 2016, a presidenta Dilma Rousseff teve seu mandato interrompido, temporariamente, após aprovação do processo de impeachment pelo Senado Federal. Na ocasião, Dilma realizou uma declaração à imprensa e, em seguida, dirigiu-se aos manifestantes que a apoiavam, em um tom intimista, firmando um processo de identificação com o público. Para Charaudeau, a instância política é composta por diversos status, situações e organismos. Nos discursos em análise, Dilma se porta com o status de presidenta, na situação de afastamento, através dos organismos jurídicos e midiático. Os discursos de Dilma são inteiramente dialógicos, pois se estabelecem em relação a discursos anteriores. Dessa forma, o presente artigo objetiva analisar e tentar compreender como se deram essas marcas discursivas e o papel delas na construção e proferimento dos referidos discursos, marcados por interdiscursos, retomando opiniões alheias. As análises foram baseadas em autores que refletem o discurso político, o discurso de outrem e a situação de comunicação, a partir dos discursos transcritos com termos utilizados pela presidenta afastada, desde o cumprimento
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ao público até a defesa de ataques anteriores. Para a análise de discursos políticos, deve-se levar em consideração o contexto no qual ele foi criado, o meio em que está sendo proferido, para qual público ele se destina e a finalidade dele. Mais que simples discursos políticos, a pesquisa verificou maior posicionamento de autoridade, quando Dilma se dirige aos jornalistas, e de identidade, aos manifestantes. Apesar de estar em um mesmo contexto comunicacional e da semelhança de conteúdo, os discursos carregam características e estratégias distintas, marcando a diferença de como a presidenta afastada se comunica com seus interlocutores. Tais especificidades foram demarcadas por marcas discursivas aliadas à finalidade de cada discurso, corroborando com a ideia de Bakthin, pois a finalidade que o contexto narrativo pretende alcançar é parte fundamental na produção discursiva.
O FUNCIONAMENTO DO ETHOS E DO ANTIETHOS NO DISCURSO
POLÍTICO ELEITORAL PRESIDENCIAL BRASILEIRO
Maria Célia Cortêz Passetti Universidade Estadual de Maringá
A proposta deste trabalho é mostrar o funcionamento do ethos e do antiethos no
discurso político eleitoral brasileiro, em que a instância adversária (Charaudeau,
2006) se põe, em nosso ver, de forma constitutiva. Partindo dos princípios
discursivos ensinados por Pêcheux e Fuchs (1975) no tocante às relações
imaginárias, resgatamos rapidamente os avanços teóricos na concepção
discursiva do ethos (Maingueneau (1998, 2000, 2002, 2008 e 2014) e mostramos
a necessidade de situar sua problemática, também como o faz Maingueneau,
em relação às coerções da cena enunciativa (englobante, genérica e da
cenografia), mas destacamos a necessidade de se trabalhar com todo o
processo discursivo imaginário centrado no “eu” para se chegar ao ethos como
produto resultante dessa cena, em âmbito textual-discursivo. O corpus é formado
por recortes de sequências discursivas extraídas de propagandas eleitorais
televisivas nas campanhas das eleições presidenciais brasileiras de 2010 e
2014, nas quais estiveram envolvidos os sujeitos políticos Dilma Rousseff, do
Partido dos Trabalhadores, como candidata da situação em 2010 e 2014 e José
Serra e Aécio Neves do Partido da Social Democracia Brasileira,
respectivamente em 2010 e 2014, como candidatos da oposição.
Metodologicamente relacionamos a imagem de si a todo esse complexo jogo
imaginário centrado no “eu”, em função das diferentes coerções que cada cena
enunciativa impõe aos sujeitos nela envolvidos. Os resultados nos levam a
concluir que a produção do ethos, enquanto parte integrante das coerções de
uma da formação discursivo-ideológica, depende ainda do envolvimento do(s)
interlocutor(es), na des(construção) ou reforço do ethos ou do antiethos e, no
caso do discurso político, a instância adversária pode se transformar em
“referente”, o qual a produção direta ou indireta de antiethos está a serviço da
produção simultânea ou do reforço do próprio ethos.
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DIMENSÕES DA JUSTIFICAÇÃO NO DISCURSO DO PODER
LEGISLATIVO: UMA ABORDAGEM DIACRÓNICA
Maria Clara Barros Universidade do Porto
Pretendo analisar, em textos legislativos de sincronias diferentes da língua portuguesa, alguns aspetos de uma evolução observável no modo como o discurso do poder legislativo justifica as disposições jurídico-legislativas, sobretudo quando apresentam enunciados que contêm atos de discurso com valor de justificação. Numa perspetivação comparativa e diacrónica procederei ao confronto de textos jurídicos medievais da legislação de Afonso X (como as versões portuguesas da Primeyra Partida e do Foro Real) com textos legislativos portugueses contemporâneos. Tentarei mostrar que nos textos legislativos medievais, além da maior extensão dos segmentos justificativos, há também uma estruturação discursiva que recorre a argumentos de autoridade. Nos textos da legislação de Afonso X é veiculada legislação régia e o Locutor, designado pela primeira pessoa “nós”, está identificado com o rei, detendo um poder inerente a esse estatuto. Não deixa de reafirmar o seu estatuto de autoridade e a conveniência da ação legislativa régia e afirma a necessidade pragmática da existência da justiça pelo seu efeito favorável que é identificado eticamente com o Bem Comum. Em contraste, o discurso legislativo contemporâneo apresenta-se em 3ª pessoa e esta não designa nenhum sujeito individualizado. O direito está estabilizado, sedimentado em instituições plurisseculares e os direitos fundamentais já estão assegurados, sendo a legislação nova geralmente conjuntural, ‘ao sabor dos tempos’, e sobretudo casuística. A alteração legislativa vai frequentemente no sentido de dar maior poder às partes envolvidas, conferindo-lhes uma maior participação nos processos. Noutros casos, a reformulação vai no sentido de concentrar o poder nas instituições, dando maior ênfase à gestão da aplicação da lei, às formalidades e ao poder de gestão que pode consistir até na simplificação dos procedimentos. Quando há alterações legislativas, na nova versão dos códigos figura um Preâmbulo inicial, de dimensões reduzidas, em que as novas disposições são objeto de explicação. Os preâmbulos têm extensão variável, mas sempre diminuta em relação ao texto legislativo em que se integram. Nas formulações legislativas contemporâneas não há um discurso de legitimação do poder. É menor a dimensão dos segmentos justificativos, frequentemente reduzidos a breves considerações iniciais que enumeram e explicam o que a nova disposição legislativa acrescenta ou substitui no código.
DISCURSO, ALTERIDADE E RELAÇÕES DE PODER:
QUESTÕES (EM REDES) SOCIAIS
Maria da Glória Corrêa Di Fanti
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
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Na atualidade, em que as redes sociais fazem parte do cotidiano de grande parte
da sociedade, faz-se necessário problematizar a relação eu / outro bem como
relações de poder engendradas nas práticas discursivas. O que se percebe é
que nas redes sociais são materializadas variadas formas de se relacionar
consigo mesmo e com o outro, seja na exposição pessoal e/ou do outro, seja no
modo de acessar/consumir os acontecimentos e notícias dos mais diferentes
temas e lugares. Nesse cenário, as redes sociais, em especial o Facebook,
emergem como um espaço privilegiado de produção, circulação e recepção de
discursos, instigando distintas investigações, que não podem deixar de tocar na
dinâmica relação entre linguagem e poder. O propósito desta reflexão é
problematizar, via teoria bakhtiniana, a relação eu / outro, observando
características do tenso diálogo de vozes que constitui a tessitura do discurso
bem como posições valorativas assumidas nas trocas interlocutivas (Bakhtin,
2010, 2011; Vološinov, 2010). Para tanto, são analisados discursos veiculados
no Facebook que apresentem diferentes relações de alteridade, de modo a
desenvolver reflexões que possam contribuir, por um lado, para o entendimento
da (re)produção de práticas sociais e, por outro, para discussões acerca de
desafios e perspectivas que se impõem aos estudos do discurso na
contemporaneidade.
CATEGORIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA IMAGEM SOCIAL DE REPRESENTANTE POLÍTICO: UM ESTUDO SOBRE A FACE DA
PRESIDENTE DILMAEM CHARGES DE GILBERTO ZAPPA
Maria da Penha Pereira Lins Universidade Federal do Espírito Santo
Bharbara Bonelle de Sousa
Universidade Federal do Espírito Santo O presente estudo procura, por meio da análise de charges políticas com foco em representante presidencial, observar como o processo de categorização/ recategorização de objeto de discurso pode contribuir na construção da representação da imagem social. Nesse sentido, centramos a atenção na intenção do criador das charges e em como este intenciona construir a face da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, a partir do uso de atos de polidez/ impolidez. Toma-se como base, então, a noção de referenciação, no sentido de verificar como o processo referencial contribui na construção da face, bem como sua relação com a imagem social. Para tanto, apoiamo-nos em Koch (2008, 2011, 2012), Cavalcante (2014) e Mondada e Dubois (2003)no que diz respeito a referenciação e construção do objeto de discurso, além das contribuições teóricas de Brown &Levinson (1975) e Goffman (1980, 1992) a fim de entender as questões relacionadas à imagem social.
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A INTERAÇÃO JORNALISTA E ALIADOS POLÍTICOS NO GOVERNO
DILMA ROUSSEFF: PAPÉIS E MÁSCARAS DO OFF
Maria da Penha Pereira Lins Universidade Federal do Espírito Santo
Rosani Muniz Marlow
Universidade Federal do Espírito Santo
Diariamente, a editoria política do jornalismo impresso reserva espaços razoáveis para a veiculação de notícias das esferas governamentais, especialmente a federal. Esta pesquisa pretende evidenciar as informações prestadas, na condição do off, por aliados políticos, aos quais cabe a responsabilidade de representar ou assessorar personalidades do poder público na interação com profissionais do jornalismo que, por sua vez, ocupam uma posição de interlocução em relação ao cidadão, leitor e consumidor do jornal. Foram analisados fragmentos de notícias políticas de A Tribuna, jornal do Estado do Espírito Santo, em dois períodos: novembro de 2012 a fevereiro de 2013 e novembro de 2014 a fevereiro de 2015, os quais antecederam e procederam à posse de eleitos em cargos públicos. O conteúdo desses fragmentos de notícias são declarações à imprensa originadas de aliados políticos em off e com referências à presidente Dilma Rousseff. Os teóricos da Pragmática que contribuíram com a pesquisa são Grice ([1975] 1982) e Goffman (1995). O primeiro, para explicar uma aparente quebra do Princípio da Cooperação, bem como para entender como se opera a compreensão de sentidos implicados e inferidos para expressões e jargões reconhecidos no linguajar jornalístico como próprios de fontes não reveladas. E o segundo, à luz da Teoria das Faces, para analisar o discurso de aliados políticos que, tendo estes a sua face preservada pelo off, podem se valer da visibilidade de um veículo de massa para interesses particulares ou próprios daqueles a quem assessoram. Ainda, interessa compreender como as declarações em off, de aliados de direita ou esquerda, se comportam em relação à face da presidente Dilma Rousseff. Outros estudiosos, das esferas jornalística e política, como Lage (2005) e Chaparro (1994), auxiliaram para o entendimento de particularidades do cenário e da atuação dos atores sociais num contexto de jogo de interesses e disputa pelo poder.
A (DES)ORDEM DO MUNDO NA ORDEM DO ESPELHO
Maria Rachel Fiúza Moreira Universidade Federal de Alagoas
Nosso trabalho está baseado nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso (AD), e analisa os efeitos de sentidos nos espelhos do Jornal Nacional, programa jornalístico apresentado diariamente na Rede Globo de Televisão. O corpus analisado se constitui de quatro semanas de telejornal, entre os meses de junho, julho e agosto de 2015, disponíveis no site Globo.com. Além
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de estar embasado em autores da AD, entre os quais Pêcheux, Orlandi e Maldidier, nosso percurso teórico inclui ainda estudiosos do jornalismo, como Paternostro, Rezende, Traquina e Lage. Com isso, buscamos compreender as condições de produção do discurso jornalístico na televisão brasileira, ou seja, do telejornalismo. Em nosso gesto de interpretação, analisamos como os espelhos - sequenciamento das notícias no telejornal - produzem sentidos a partir daquilo que apresentam e que silenciam, no tocante ao arranjo jornalístico. Partindo da perspectiva de que o telejornal é um espaço diário de construção de sentidos, negando, assim, o entendimento de um discurso jornalístico imparcial e transparente, compreendemos que o sujeito desse lugar de análise se constitui nas práticas sócio-históricas e nas lutas ideológicas de uma determinada formação social. Logo, todo discurso está entrelaçado nas relações sociais e são essas relações que sustentam seus efeitos de sentido. A partir das leituras, discussões e análises realizadas, foi possível compreender, dentre outros aspectos, que a organização e funcionamento dos espelhos dos telejornais estão relacionados a práticas dos sujeitos jornalistas que ocupam uma determinada posição na sociedade e que, a partir desse lugar, assumem uma posição ideológica no cenário discursivo dos telejornais.
O CORPO ARREGIMENTADO: VIA DE NASCIMENTO E DISCURSO MÉDICO
Maria Ribeiro Thiago Pierangelo
Universidade de São Paulo O presente artigo integra o grupo de estudos dedicados às consequências biopolíticas de um certo discurso médico e institucional ocupado em colonizar o corpo da mulher, bem como impeli-la a escolher determinada via de parto – a saber, o parto cesáreo eletivo. As reflexões aqui exibidas foram suscitadas pelo conjunto de experiências ao qual os autores se viram submetidos por ocasião do nascimento do primogênito. Há, pelo menos, duas importantes vertentes de análise. A primeira delas está interessada pelo corpo nascido, de algum modo, unidade condicional do processo comunicacional humano. A segunda, por sua vez, lança atenção sobre a potência do discurso capaz de capturar aquela unidade e controlar o que, por ora, chamaremos consciência de si. As sublinhas de Cornelius Castoriadis sob a constituição do sujeito e as considerações de Michel Foucault sobre a prática discursiva, o privilégio dado àquele que tem direito de fala e a vinculação entre saber e poder embasarão, entre outras, a análise que se segue. Nosso objetivo é o de apresentar o conjunto de conceitos contra o qual o corpo nascido trava luta, convocando autores afinados com a ideia de que a força do discurso é capaz de deslocar a vontade do sujeito em direção às determinações do poder vigorante.
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NOVOS DISCURSOS DE PODER NO BINÓMIO
ENSINO/APRENDIZAGEM - O CASO PARADIGMÁTICO DA
ARQUITECTURA, NA FAUP
Mário João Mesquita Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
No contexto geral do ensino científico-artístico de nível superior, no âmbito da
área disciplinar de Arquitectura, estudamos as transformações decorridas na
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, nos últimos dez anos. A
mudança de paradigma verificada com a adequação dos seus cursos a Bolonha
(2006-2016) modificou as relações de poder no binómio ensino/aprendizagem,
colocando no segundo factor desta equação um valor superior ao até então
vigente, alterando, em consequência, as relações de poder e os discursos a ele
associados. O processo desta investigação insere-se num quadro de estudo
mais abrangente que se situa cronologicamente entre a implementação da
reforma de 1950, em 1957, com a criação da Escola Superior de Belas Artes do
Porto e a centralização do ensino universitário público, nomeadamente dos seus
procedimentos/orientações burocráticos e administrativos na tutela da
Universidade do Porto, na década actual. Nesse sentido, reflectimos sobre a
influência destes processos de transformação, tanto no plano vertical entre
instituições interdependentes, como no plano horizontal, no interior do curso de
Arquitectura e nas relações entre as unidades curriculares, cruzando essas duas
premissas com a referida reponderação da equação educativa e a decorrente
reformulação das relações de poder na sala de aula. O caso singular da “Escola
do Porto”, igualmente paradigmático pela resistência do modelo pedagógico e
didáctico anterior (no qual preponderava a relação mestre/aprendiz e a
reprodução na “Escola” das relações de poder típicas do ambiente de
atelier/escritório de arquitectura), é estimulante para a reflexão geral sobre os
discursos de poder em ambiente académico dadas as características específicas
de uma área disciplinar onde os centros de decisão, oscilando entre o pendor
académico e o profissional/profissionalizante, tornam o quadro de relação entre
os modelos teóricos e a empiria bastante controverso. Pelo exposto, de que
novos discursos de poder falamos no ensino/aprendizagem em Arquitectura, na
FAUP, hoje?
A MULHER NA MÍDIA BRASILEIRA: LUGARES IMPOSTOS, LUGARES
EXIGIDOS
Michelle Gomes Alonso Dominguez Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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Na sociedade brasileira, o debate acerca da igualdade de gênero parecia
ultrapassado, ainda que a realidade social e discursiva tenha se mantido
desigual entre homens e mulheres. Nos últimos anos, entretanto, sua retomada
tem se acirrado e originado movimentos diversificados em torno do tema:
“primavera das mulheres”, “eles por elas”, “maio lilás” etc. As motivações para
tal fato são variadas e as repercussões, ainda que de maneira sutil, chegam até
a atingir s mídias institucionais. Diante desse contexto, nosso estudo pretende
analisar os lugares discursivos que (i) são designados às mulheres e (ii) os que
são requeridos por elas em diferentes espaços midiáticos. Partimos do
pressuposto desacordo entre esses lugares, entendendo-os como projeções
discursivas da opressão machista e do empoderamento feminino. Nesse sentido,
além de demonstrar a manutenção de um discurso midiático que privilegia a voz
e a posição do homem, interessa-nos lançar luz sobre os lugares discursivos que
as vozes femininas vem construindo para si; as posições que rechaçam e as que
exigem. Assim, através do aporte teórico da Análise Semiolinguística do
Discurso, procedemos a análise de textos divulgados em meios institucionais
(jornais e propagandas) e alternativos (redes sociais e blogs) para propor uma
leitura da disputa discursiva que as mulheres atualmente tem travado, nos
diversos ambientes midiáticos brasileiros.
O EXERCÍCIO DO PODER A PARTIR DA BIOPOLÍTICA: O ESTADO E O CONTROLE DO PESO DO CORPO DO SUJEITO
Michelle Aparecida Pereira Lopes
Universidade Federal de São Carlos No contexto contemporâneo, dentre as questões que suscitam o debate das relações discursivas que oportunizam o exercício do poder, estão também as relacionadas ao controle da silhueta corporal do sujeito, nas esferas pessoal, social e política. Sendo assim, este estudo propõe uma discussão acerca dos conceitos biopolítica e biopoder que nos possibilitam analisar situações ocorridas no Brasil, em 2014, nas quais o governo do estado de São Paulo, decidiu não efetivar funcionários aprovados em concurso público por serem considerados obesos. O Estado justificou a não contratação amparando-se no saber da Medicina, em tabelas e determinações que tratam a obesidade como doença. Analisaremos enunciados sobre a contratação de um professor de Química, de Aguaí SP, após o mesmo ter perdido oito quilos. Esse, anteriormente, teve a efetivação recusada por apresentar Índice de Massa Corporal de 43,5. Alguns meses depois, após se submeter a dieta, o professor perdeu peso e sua contratação foi efetivada, conforme noticiado pelo Site UOL, em 20 de abril de 20146. Nosso estudo procura mostrar como a decisão do Estado colabora na construção discursiva do corpo do sujeito que, passa a ser considerado incapaz
6 Manchete do site UOL em 20 de abril de 2014. Disponível em: < http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2014/04/professor-perde-8-quilos-e-se-torna-apto-para-lecionar-em-aguai-sp.html>. Acesso em 19 de fevereiro de 2016.
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por ser obeso. Amparamo-nos nos estudos de Jean-Jacques Courtine, para empreendermos a constituição discursiva do corpo obeso e, em seguida, nas contribuições de Michel Foucault, à Análise do Discurso, colocando em análise o uso governamental da biopolítica para que o Estado, mascarando-se como instituição que protege a saúde e a vida, garanta a sua produção e sua ascensão, já não mais como instituição que pune, mas sim como instituição protetora. Dessa maneira, a reflexão parte de um contexto político, passa pelo social e atinge o individual, à medida que a política da não contratação de funcionários obesos, colabora no deslizamento do sentido da doença para a incapacidade, sentido esse que, além de outros socialmente instituídos, desde o passado até a atualidade, passa a compor a constituição discursiva do sujeito considerado obeso.
“O PODER DO DISCURSO MEDIADOR”: POLÍTICAS LINGUÍSTICAS
ACADÊMICAS E O ENSINO DE LÍNGUAS ESLAVAS NO PARANÁ
Milan Puh Universidade de São Paulo
Nesta apresentação abordamos as pesquisas produzidas no contexto das
universidades brasileiras e que dizem respeito às comunidades eslavas do
Estado do Paraná. Escolhemos o ensino dessas comunidades
(predominantemente ucranianas e polonesas) com a intenção de mostrar quais
são as Políticas Linguísticas que essas pesquisas constituem. Analisamos a
formação e a consolidação de um discurso utilizado no meio acadêmico ao
descrever e estudar as atividades voltadas para o ensino cujo propósito é de
preservar a identidade linguística e cultural das comunidades. O nosso objetivo
é analisar e comentar as políticas linguísticas constituídas na Universidade e
investigam as práticas de ensino/aprendizagem das línguas mencionadas.
Sendo assim, a nossa hipótese é que a política linguística de comunidades de
imigração eslavas se estabelece na relação de tensão entre o poder das políticas
institucionais e/ou oficiais e das políticas locais, sendo a Universidade um dos
principais mediadores dessa relação. Portanto, a principal preocupação é
abordar pesquisas universitárias e observar o que se produz academicamente
no tratamento do ensino das línguas ucraniana e polonesa. Para tal, tomaremos
como corpus os artigos acadêmicos sobre o assunto e os interpretamos em sua
materialidade discursiva, por meio da análise do inter e intradiscurso na
constituição do discurso acadêmico. O aparato teórico-metodológico foi
organizado a partir da leitura de autores como Pecheux (1997), Orlandi (2007)
para organizar e interpretar as identificações discursivas, utilizando o processo
de dezescrita, conceito-base cunhado por Barzotto (2014). Por fim,
apresentaremos alguns dos resultados da análise de uma área que nomeamos
Políticas Linguísticas Acadêmicas (PLA) presentes nos discursos que tratam o
ensino nas comunidades de imigrantes eslavos, discutindo de que modo a
Universidade e seus pesquisadores definem os temas “pesquisáveis”,
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produzindo um conhecimento específico e diferente da visão do Estado, a Escola
e a Comunidade.
REFLEXOS E REFRAÇÕES NO ESPELHO EPISTOLAR
Mônica Gomes da Silva Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
O trabalho em tela propõe uma reflexão sobre os desdobramentos da mise-en-scène presente no texto epistolar. Consoante à análise de Michel Foucault (1926-1984), cujo estudo realiza uma genealogia das “escritas de si”, busca-se compreender as implicações decorrentes do “face-a-face” epistolar. Foucault aponta a carta como um dos primeiros gêneros a ensejar uma espécie de investigação da personalidade por meio do acolhimento, favorável ou não, do outro (FOUCAULT, 2006). Captar a dinamicidade da encenação discursiva nas cartas só é possível na medida em que se pode avaliar o “espelho” o qual o remetente busca observar-se. Quando não é possível reconstituir integralmente a correspondência, a avaliação é feita no sentido de captar as ressonâncias do texto do interlocutor, em que proporção influi nas concepções e pontos de vista defendidos, comparando-os à exposição a outros destinatários. Delineia-se a relação firmada entre os interlocutores, o nível de proximidade e o reflexo/refração dos pensamentos propostos. Cabe assinalar, todavia, o reverso desta situação. Se a carta é a busca do outro para atender à falta fundadora do gênero, incidindo sobre o estilo e teor da mensagem, o epistológrafo pode utilizar-se da escrita para convencer, seduzir, instruir e comover o destinatário, ignorando-o ou destruindo-o no texto epistolar. Dentro dessa dinâmica, sobressai a autorreferencialidade; o missivista é um Narciso para o qual o espelho epistolar reflete apenas suas convicções, angústias, desejos, arrastando impiedosamente o destinatário, restando-lhe apenas a condição de pretexto. Desse modo, para abordar os matizes complexos da encenação discursiva, o trabalho se concentra na correspondência de escritores, que potencializa os problemas até aqui levantados. Para tratar dessa dubiedade, tanto de busca da alteridade, quanto do exercício irreprimível e indomável de si, serão analisados textos de Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852), Mário de Andrade (1893-1945) e António de Alcântara Machado (1901-1935).
DISCURSO POLÍTICO E REPRESENTAÇÃO: O LUGAR DO SAGRADO
Nádia Marques Gadelha Faculdade da Grande Fortaleza
O discurso político é um discurso de tomada de defesa das muralhas e
armadilhas ideológicas, sua força está em enfraquecer e desqualificar o outro, o
inimigo. Nesse sentido engendra violência em diversas manifestações. Uma das
racionalidades mais proeminentes na luta política é o discurso religioso,
saneador e salvador. No Brasil, os últimos eventos políticos que culminaram com
o processo de afastamento da Presidente Dilma, foi avassalador o discurso do
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sagrado, todo poder e suas teologias soberanas que transformaram o Congresso
Nacional na mais eloquente manifestação exorcista e seus rituais de expurgo e
doutrinação da inimiga. A prática discursiva produzida ao longo da votação são
formas secularizadas de conceitos teológicos. Como exemplo, tem-se o
impeachment caracterizado como similar aos atributos de purificação sob o
manto sagrado, quer da Constituição Federal (transforma-se no livro santo), quer
da própria Bíblia Sagrada e Deus, constantemente evocados, para garantir o
milagre da democracia (análoga ao milagre teológico), assim, como o papel do
voto parlamentar, análogo à função de Deus que cria a ordem e a justiça no
mundo. A questão proeminente é a identificação das alianças com o sagrado e
suas teologias políticas que partem das diferentes vertentes ideológicas em suas
lutas políticas. O presente trabalho tem como objeto, discutir o discurso político
como uma tentativa de secularização fracassada ao longo da história. Ancorado
nas teologias políticas, não conseguem estabelecer um projeto cosmopolita de
paz e transformação ao mundo dominado por tantos conflitos. Pretendemos
discutir que as possibilidades de mudanças sob os disfarces secularizados do
discurso religioso soam pessimistas, pois no nosso entendimento, uma ética do
humano necessita ser redesenhadas noutras instâncias discursivas, entre elas
refletir sobre o fracasso da colonização epistêmica a dominar o mundo.
RESSIGNIFICAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
Nara Maria Fiel de Quevedo Sgarbi
Centro Universitário Grande Dourados Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul
Este trabalho tem como objetivo identificar a eficácia ideológica dos
interdiscursos (Pêcheux, 1997) sobre educação escolar indígena presentes nos
discursos (Pêcheux, 2002) materializados por meio de redações elaboradas por
professores indígenas de Dourados/MS/Brasil , os quais participaram do
Processo Seletivo para a Licenciatura Intercultural Indígena ocorrido em 2010
,realizado pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).Para tanto
utilizamos as concepções de sujeito de Pêcheux, (1997),quando, em
"Semântica e Discurso", afirma que o lugar do sujeito não e vazio, sendo
preenchido por aquilo que ele designa de forma-sujeito, ou sujeito do saber de
uma determinada Formação Discursiva (FD), levando ,para tal, em consideração
o contexto discursivo , a situação histórico-social em que se deu a produção dos
textos , as ideias de poder e resistência advindas de Foucault(1979) e a
identidade desses professores, na perspectiva de Bakhtin (2006), como sendo
representação imaginária, instaurada na memória discursiva( Pêcheux,1999),
pois para os povos indígenas a questão da identidade é algo forte e se mescla
com cultura, com tradição dos povos, com preservação da língua de berço, mas
, também, com o desejo de acessar a “outra língua”, a segunda língua, que é a
língua portuguesa , o que faz com que a identidade desse “eu” se estabeleça
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de forma complexa linguisticamente em um processo discursivo nas variadas
esferas de atividades.
MICHELLE, CRISTINA E DILMA: O PODER DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM
DE SI NO DISCURSO POLÍTICO SUL-AMERICANO
Paula Camila Mesti Roberto Leiser Baronas
Universidade Federal de São Carlos
Na política do contexto sul-americano, a entrada da mulher e a conquista do seu
espaço de reivindicação foram tardias. Essa luta das mulheres por igualdades
sociais e por paridade política engendrou o princípio de uma transformação
social. Foram tantas mudanças que hoje na América do Sul, por exemplo, líderes
mulheres ocuparam e ocupam o cargo de Presidente da República. Pensando-
se também nas transformações teórico-metodológicas de alguns conceitos da
Análise do Discurso, destaca-se o fato de que a noção de ethos discursivo como
construção de uma imagem de si no discurso é profundamente discutida nos
trabalhos de Dominique Maingueneau desde a década de 1980 até os dias
atuais. Porém, com os deslocamentos epistemológicos que a multiplicação dos
gêneros discursivos (principalmente os digitais) possibilitaram, a noção de ethos
passou a apresentar muitas dificuldades que resultaram em uma diversidade de
trabalhos sobre este tema. Com base em um extenso corpus de entrevistas das
presidentas sul-americanas – Michelle Bachelet, Cristina Kirchner e Dilma
Rousseff – e considerando o conceito de ethos discursivo, esta comunicação
tem como objetivo apresentar e discutir os recentes deslocamentos
epistemológicos deste conceito, demonstrando gestos interpretativos que
evidenciam que o ethos, para além de ser construído pelo destinatário do
discurso, pode ser construído nos enunciados das questões feitas pelos
jornalistas, nos enunciados das respostas dadas por essas presidentas e nos
comentários que os internautas postam no canal Youtube. As análises
evidenciam que é pertinente para os estudos discursivos expandir os trabalhos
que tratam sobre o conceito de ethos e atestam que cada gênero discursivo
apresenta suas especificidades e necessidades de se utilizar outras
metodologias para analisar os mais variados tipos de corpora. (FAPESP-
Processo 2013/12814-2).
O ACONTECIMENTO ENQUADRADO: A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NAS CAPAS DE JORNAIS LOCAIS
Paulo Fernando de Carvalho Lopes Cintia Lucas Freitas de Lima
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Universidade Federal do Piauí
O presente artigo tem por objetivo analisar o enquadramento do acontecimento através da cobertura jornalística do estupro coletivo de quatro menores da cidade de Castelo do Piauí, ocorrido em maio de 2015, nos três jornais de maior circulação do Piauí: O Dia, Meio Norte e Diário do Povo do Piauí para perceber os diferentes modos de tratamento dados a um acontecimento de grande repercussão. Como recorte, vamos nos deter as capas dos jornais e discutirmos a maneira como a mídia transforma, recorta, e seleciona o acontecimento para entregá-lo enquadrado ao seu público. A violência sofrida pelas quatro meninas chocou o Estado e repercutiu na imprensa nacional e internacional. Partimos da questão: até onde a narrativa jornalística consegue ir e como o jornalismo responde a um acontecimento com tamanho poder para se impor? Vamos trabalhar com os autores Vaz (2006), França (2006), Chareaudeau (2006), Silverstone (2002) e Rebelo (2000). A metodologia a ser usada é a análise de discursos, na perspectiva da Teoria dos Discursos Sociais, que busca compreender como os sentidos são produzidos a partir do acontecido e como ocorre seu enquadramento pelos jornais. Como conclusão foi possível perceber que o acontecimento organizado em texto e imagem materializou-se como um acontecimento midiático atrativo para que os leitores comprassem os jornais. Mesmo tratando-se do mesmo assunto, os três jornais apresentaram textos e fotos totalmente diferentes ao enquadrarem o acontecimento, mesmo que o tom de luto e indignação fossem os mesmos. O estupro coletivo está ali, enquadrado, fechado, narrado com sentido e dando distintas lógicas ao acontecimento.
DO SABER AO PODER: ESTRUTURAS RETÓRICAS E PLANOS DE TEXTO NAS INTRODUÇÕES DE TESES DE DOUTORAMENTO
Paulo Nunes da Silva
Universidade Aberta / CELGA-ILTEC
Maria Joana de Almeida Vieira Santos Universidade de Coimbra / CELGA-ILTEC
No discurso académico, todos os textos possuem dimensões retóricas onde se intersectam vetores de poder sustentados pelo saber (Hyland 2009). Neste âmbito, a Introdução é particularmente valorizada (Swales 1990, Bunton 2002, Kwan 2006), por apresentar o plano de texto (Adam 2002), os conteúdos a incluir, os movimentos retóricos (de acordo com o modelo “creating a research space”, Swales 1990) e os objetivos do autor – legitimar a investigação, demonstrar que se distingue de outras e projetar uma identidade científica credível (Hyland 2009). Possui portanto um carácter programático e abrangente, o que a torna numa secção decisiva para dilucidar a construção dialética do saber e do poder do discurso. Dentro destes pressupostos teóricos, o trabalho apresenta os resultados da análise comparativa das Introduções em vinte teses de doutoramento da Universidade de Coimbra (dez de Ciências de base experimental e dez de Ciências Sociais e Humanas). Considera-se a estrutura retórica e temática (Swales 1990) e descreve-se (i) as estruturas retóricas
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adotadas, ii) os conteúdos selecionados, e iii) os planos de texto. Os dados quantitativos foram seguidamente cruzados com as respetivas áreas disciplinares e indiciam que as práticas sociodiscursivas de cada área constituem um guião orientador para a arquitetura retórica deste género incluído.
A VOZ QUE CANTA NA VOZ QUE FALA: POÉTICA E POLÍTICA NA
TRAJETÓRIA DE GILBERTO GIL
Pedro Henrique Varoni de Carvalho Universidade Tiradentes / Universidade Federal de São Carlos
Com base na Análise do Discurso de vertente Francesa (PECHEUX, 1977,1999;
FOUCAULT,1979, 2004; COURTINE, 2006) analisamos o discurso do Ministro
da Cultura do Governo Lula, o cantor e compositor Gilberto Gil, entre os anos de
2003-2008. Há uma memória tropicalista- antropofágica a conduzir o discurso do
Ministro que se relaciona as relações de saber- poder (FOUCAULT, 1979) em
torno da canção popular brasileira. A ascensão de Lula emerge como símbolo
da expressão popular representada pelos segmentos excluídos dos centros
urbanos e pelas populações rurais do nordeste. A aproximação com Gilberto Gil
indica uma transferência do lastro tropicalista para o Presidente eleito, o que teria
contribuído para o “carisma pop” (AB’ SABER, 2011) de Lula. O tropicalismo foi
objeto de resistências tanto entre setores engajados da esquerda quanto entre
os militares que prenderam e exilaram seus principais artistas. A esquerda
tradicional via no tropicalismo a adesão alienada ao imperialismo americano; a
ditadura militar percebia a força revolucionária de um discurso capaz de revelar
as contradições mais profundas do Brasil. Na ascensão de Lula ao poder há
um distanciamento dos fundamentos de base marxista do Partido dos
Trabalhadores; contexto em que a aproximação com o tropicalismo sinaliza uma
terceira via, o que faz Caetano Veloso considerar Gil como “O Lula de Lula”
(VELOSO, 1997). Nossa análise contempla as manifestações de um ministro-
artista, capaz de se expressar na linguagem da música, como em duas
apresentações na ONU. A pesquisa busca fundamentar o conceito de arquivo
de brasilidade que desenvolvemos no Doutorado, procurando contemplar as
relações entre discurso, história e subjetividade. Propomos ainda o diálogo entre
a Análise do Discurso e a Semiótica da Canção de Luís Tatit por onde se dão as
relações entre a voz que fala e a voz que canta como expressões poéticas e
políticas da brasilidade.
O DISCURSO DA GREVE: A VERBO-VISUALIDADE NOS ENUNCIADOS DA
GREVE DOCENTE DA FOLHA DE SÃO PAULO
Poliana Ferreira dos Santos
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Universidade Federal de São Paulo
A mídia ocupa um lugar significativo na produção e manutenção de discursos
acerca da realidade social, constituindo um importante dispositivo para a
configuração do funcionamento sociocultural. Em vista disso, a presente
comunicação traz a análise de um conjunto de enunciados que circularam na
mídia por meio da versão impressa do jornal Folha de S. Paulo acerca da greve
dos professores estaduais paulistas no ano de 2015. Devido à extensão do
trabalho e ao escopo da nossa análise, selecionamos, dentre um grupo amplo
de enunciados, aqueles que apresentam materialidade verbo-visual e que se
referem diretamente aos professores em greve. Nosso objetivo aqui é descrever
de que forma, por meio do funcionamento discursivo verbo-visual dos
enunciados, as discursivizações da Folha concorrem para a construção de
sentidos acerca da greve de professores, além de demonstrar como as
diferentes materialidades discursivas constituem signos que refletem e refratam
uma realidade social ligada à greve docente. A análise se dá a partir de um
percurso interpretativo que consiste na mobilização dos conceitos como
enunciado e signo ideológico discutidos por Bakhtin e o Círculo, assim como, as
noções de verbo-visualidade tratadas por Brait com inspiração no legado
bakhtiniano. A partir da análise, concluímos que a Folha de São Paulo, por meio
dos enunciados verbo-visuais que mobilizam a questão da greve, faz circular
discursivizações que concorrem para a construção de sentidos e valores da
greve docente que refletem uma realidade ligada a greve como um movimento
de luta, persistência, que pode chegar a extremos, como posturas desordeiras e
violentas dos grevistas, a fim de alcançar seus objetivos; e refrata essa realidade
ao discursivizar a greve como um movimento fraco, sem grande adesão e
aparentemente sem grandes prejuízos para o governo e a população e,
consequentemente, sem conquistas significativas.
O MATERIAL DIDÁTICO E SUAS RELAÇÕES DE PODER – A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE SURDOS E O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
COMO LÍNGUA MATERNA ONTEM E HOJE
Priscila Costa Lemos Barbosa Universidade do Estado do Rio de Janeiro
A prática educacional do ensino de línguas e a produção de materiais didáticos têm sido objetos de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento, bem como vêm sendo tratadas sob diferentes enfoques teóricos. Promovemos aqui uma reflexão sobre a relação de poder que o material didático Lições de Linguagem Escripta, datado de 1871, de Tobias Rabello Leite, exerce sobre a educação dos surdos, uma vez ter sido publicado no mesmo ano em que é criado no Brasil o
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cargo de professor de português. À luz da Análise do Discurso (Pêcheux e Orlandi), observaremos o processo de instrumentação linguística do português como L2 para surdos, à medida em que ocorre a institucionalização da língua portuguesa a partir da criação de gramáticas elaboradas por professores brasileiros. Ressaltamos que nenhum professor poderia ser promovido a professor de língua portuguesa sem ter elaborado um compêndio gramatical, portanto, a posição-sujeito professor será por nós discutida considerando-a legitimada a partir da posição-sujeito autor de gramática brasileira. Para nossas análises, percorreremos algumas etapas: primeiramente, recuperamos um percurso histórico-social-político-pedagógico que vai instituindo materiais didáticos de português em português língua materna (PLM). Em seguida, observaremos o impacto da institucionalização da disciplina de língua portuguesa na produção de materiais didáticos e sua relação com a posição-professor. Por último, focalizaremos o ensino de língua portuguesa e a produção do material didático Lições de Linguagem Escripta aos surdos brasileiros, no Instituto Imperial de Educação de Surdos-Mudos, visando à observação do lugar do professor e, ainda mais, ao lugar que a língua portuguesa ocupa como PLM para os surdos, bem como as implicações que essa determinação linguístico-discursiva impõe sobre a educação dos surdos até os dias de hoje.
IGUALDADE DE GÊNERO E EMPODERAMENTO DAS MULHERES NO
DISCURSO DIPLOMÁTICO DE DILMA ROUSSEFF E FRANÇOIS
HOLLANDE
Rafael Batista Andrade Unviersidade Federal de Minas Gerais / Université Paris-Sorbonne
No dia 27 de setembro de 2015, foi realizado o Encontro de líderes globais sobre
"Igualdade de gênero e empoderamento das mulheres: um compromisso para
a ação" em Nova York. Nosso objetivo, neste trabalho, é apresentar a análise do
pronunciamento da presidenta brasileira Dilma Rousseff e do presidente francês
François Hollande nesse evento realizado pela ONU. Assumimos, para isso, que
as estratégias apreendidas nos textos enunciados por esses atores sociais são
delimitadas não apenas pelo discurso político, mas sobretudo pelo discurso
diplomático de um ponto de vista institucional. Buscamos evidenciar que a
problematização do tema do encontro, feita pelos líderes e representantes dos
dois países, emerge da mobilização de procedimentos próprios do discurso
diplomático. Os pressupostos teórico-metodológicos utilizados são os estudos
sobre discurso diplomático de Cohen-Wiesenfeld e Villar, a pesquisa de
Charaudeau sobre o discurso político, o manual de Krieg-Planque para
investigações no âmbito do discurso institucional e as propostas teórico-
metodológicas de Maingueneau. Esperamos demonstrar as estratégias
linguístico-discursivas que caracterizam o gênero de discurso pronunciamento
de chefes de Estado em encontros da ONU, colocando em evidência a questão
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da igualdade de gênero sob um prisma discursivo particular. Assim,
evidenciaremos a importância de se discutir esse tema a partir de um lugar social
específico de onde emerge uma cena da comunicação política particular: as
relações diplomáticas no quadro institucional da ONU.
O PODER DO DISCURSO DE SUBMISSÃO – REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS DISCURSIVAS NA ESFERA DA ADMINISTRAÇÃO
SETECENTISTA
Renata Ferreira Munhoz Universidade de São Paulo
Esta comunicação analisa a prática discursiva produzida na esfera da
administração pública do Brasil colonial no período de 1765 a 1775. Por meio do
estudo de manuscritos produzidos durante os dez anos de governo do Morgado
de Mateus em São Paulo, pretende-se pontuar aspectos referentes ao uso do
poder no discurso oficial. Analisam-se cartas e ofícios que compuseram a
documentação pública enviada dessa capitania aos governantes
hierarquicamente superiores em Portugal, com destaque ao Marquês de
Pombal. Observando-se as formas como o poder é “exercido, manifestado,
descrito, disfarçado ou legitimado” (Dijk, 2012, p. 39) nos discursos políticos da
segunda metade do século XVIII, nota-se que ultrapassa a proposta de
meramente comunicar as ocorrências locais e solicitar orientações. Tais
discursos, conservados em manuscritos, pressupunham o cuidado com a
manutenção de seu ethos por parte do autor e conduziam à legitimação do poder
das autoridades políticas europeias no Brasil colonial. Dentre as diversas
características do discurso do período, nota-se o aspecto da “vassalagem”
enquanto prática de rebaixamento e menosprezo da própria imagem do autor. O
recurso de inferiorizar-se e exaltar o outro é bastante empregado no período a
interlocutores hierarquicamente superiores. Além da evidente função de
apresentar-se submisso ao sistema monárquico vigente, as estratégias
discursivas de submissão permitem, embora paradoxalmente, a elevação da
estima do ethos do sujeito em seu meio social. O embasamento teórico e
metodológico consiste na teoria do Sistema de Avaliatividade, desenvolvida por
Martin e White (2005), a fim de se conceberem as marcas textuais que
exemplificam a ideologia coeva, bem como as esferas contextuais que
motivaram a sujeição como garantia de prestígio social. Pela recolha das
estratégias discursivas empregadas pelo Governador e Capitão-General na
manutenção de seu ethos perante seus superiores, pretende-se, portanto,
verificar a intersubjetividade que legitimou o poder no século XVIII e suas
repercussões na contemporaneidade.
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OS SUJEITOS BRASILEIROS NOS DISCURSOS PRESIDENCIAIS DE
GETÚLIO VARGAS
Renata Ortiz Brandão Universidade Estadual de Campinas
O presente trabalho propõe apresentar uma análise semântica da enunciação
de Getúlio Vargas enquanto locutor-presidente em seus discursos. O intuito é
investigar e analisar o conjunto de palavras que nomeiam os sujeitos brasileiros
na sua relação com o Estado durante a Era Vargas. O estudo está ancorado na
Semântica do Acontecimento, tal como proposta por Eduardo Guimarães (2002)
e cuja filiação é materialista. Entende-se assim que uma palavra, enquanto forma
da língua, significa na relação entre uma memória de enunciações passadas e o
presente do acontecimento, produzindo uma latência de futuro. É neste jogo
entre presente, passado e futuro que se configura a designação de uma palavra
no acontecimento enunciativo. Pelos movimentos textuais de reescritura(ção) e
articulação, observaremos como as formas linguísticas são predicadas e
determinadas nos textos em que se inscrevem. Ao analisar o conjunto de
palavras que designam os sujeitos brasileiros na sua relação com o Estado,
interessa-nos compreender como essas palavras significam os sujeitos na sua
relação com a própria construção da República brasileira, entendendo que a
república se constrói também pelas palavras que a compõem e pelo modo como
elas se estabilizam por meio da enunciação. Isto nos levará a compreender os
modos de identificação do sujeito brasileiro pelo Estado e de construção da
relação entre governante e governados, a partir dos discursos presidenciais de
Getúlio Vargas. Essas palavras e o modo como elas se inscrevem na enunciação
do presidente nos levarão a compreender os movimentos particulares na
República tal como ela foi configurada na Era Vargas, em suas contradições.
A LÍNGUA PORTUGUESA COMO SÍMBOLO DE PODER NA POLÍTICA
INTERNACIONAL
Renata Palumbo Faculdade Carlos Drummond de Andrade
Partimos do pressuposto de que a propagação de um idioma, em encontros
interestatais, faz parte de uma disputa por uma ocupação de destaque no cenário
internacional, pois quanto mais um idioma é reconhecido como forte tanto mais
o Estado no qual a língua é oficial fortalece-se. Tal procedimento retórico pode,
ao mesmo tempo, cumprir papel de difusor da imagem de um país ou grupo e de
fabricar o consenso, importantíssimo para a negociação política. Nessa direção,
neste trabalho, observamos o modo como a Língua Portuguesa é construída,
metafórico e discursivamente, nos discursos oficiais dos países membros da
Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), tendo em vista seu
102
caráter retórico. Neste momento, analisamos o Discurso de Abertura da III
Assembleia Parlamentar da CPLP, pelo Presidente do Parlamento Nacional de
Timor-Leste, Fernando La Sama de Araújo, e o de Dilma Rousseff, durante a
cerimônia de entrega do Prêmio Camões - Lisboa-Portugal, em 10 de junho de
2013. O referencial teórico corresponde à articulação dos estudos acerca da
Referenciação, sobretudo, os que dizem respeito à Referenciação
Metalinguística, em pesquisas de Marcuschi (2007), Vereza (2007, 2010); das
questões relacionadas à Metáfora e à Sociocognição, a partir de trabalhos de
Charteris-Black (2013), Fauconnier e Turner (2008), Fauconnier (2015), Lakoff e
Johnson (1992 [1980], 1993, 2003); das discussões a respeito do Discurso
político e da Argumentação, nos estudos de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1958,
2002). No complexo jogo de poder existente na política internacional, parece-nos
plausível reconhecer que a Língua Portuguesa vem sendo construída como um
símbolo de poder e de comunhão pelos políticos da CPLP, tal como confirmam
nossas análises.
INDÍCIOS DO DISCURSO POLÍTICO OITOCENTISTA: NA CIRCULAÇÃO DE
ENUNCIADOS DESTACADOS NA MÍDIA CONTEMPORÂNEA
Rilmara Rosi Lima Universidade Federal de São Carlos / Paris IV Sorbonne
Alicerçada nos trabalhos teórico-metodológicos de Dominique Maingueneau, o
presente trabalho tem por objetivo lançar um olhar discursivo sobre a linguagem
jornalística oitocentista no Brasil e o seu eco na cena sociopolítica
contemporânea, lugar este em que a produtividade enunciativa se entrecruza e
atesta a dinamicidade da língua e da sociedade, o que em certa medida traz
traços ressoantes do discurso oitocentista do cenário político brasileiro, período
aquele significativo da história brasileira que foi a passagem da monarquia à
república, bem como o seu reflexo no discurso político brasileiro. Para dar conta
de tal empresa, mobilizaremos, mais especificamente, os conceitos formulados
por Dominique Maingueneau, em vários escritos, acerca de aforização, cena de
enunciação e destacabilidade. Para compor o arquivo de pesquisa de nosso
corpus de análise, selecionamos alguns exemplares da coleção da Revista
Illustrada (Rio de Janeiro, ano de 1885 até 1893) publicada por Ângelo Agostini
e alguns enunciados que circularam recentemente na mídia durante o governo
da presidente Dilma Rousseff no Brasil, com o propósito de investigar e
compreender, por um lado, o papel da imprensa periódica oitocentista nos
processos de produção, circulação e divulgação de textos inteiros, fragmentados
e adaptados ao longo das edições da Revista Illustrada e, por outro, de verificar
como essa mecânica de produção/circulação/divulgação interferiu nos gestos de
leitura dos acontecimentos histórico-políticos da sociedade brasileira do final do
século XIX e atualmente. Acreditamos que analisar o discurso oitocentista e
103
atual, nos possibilita acentuar tipos de percursos analíticos que irromperam para
produzir diferentes sentidos aos fatos históricos relatados e cristalizados aos
estudos já existentes e, ainda compreender o funcionamento do espaço público
midiático como lugar que se apresenta em um contínuo e inesgotável espaço de
circulação, retomada e transformação de discursos por meio de enunciados
curtos, o que evidencia como os acontecimentos sociopolíticos se entrecruzam
e atestam a dinamicidade da língua e da sociedade operado pelas mídias.
.(Apoio: FAPESP – Processo 2015/11971-2)
ALLORA FLAVIA COSA HAI FATTO DI BELLO QUESTO FINE SETTIMANA?”: VOZES DE DISCORDÂNCIA DA AULA DE LÍNGUA
ESTRANGEIRA.
Roberta Ferroni Universidade de São Paulo
Com esta comunicação pretendemos investigar, do ângulo epistemológico da Didática de Línguas (ARAÚJO E SÁ; ANDRADE, 2002), os atos de identidade utilizados pelos aprendizes de italiano língua estrangeira (LE) nas interações entre professor e aluno, descrevendo a forma como surgem e são geridos em situação de sala de aula, de forma a podermos esboçar algumas reflexões úteis para a formação profissional de um docente em pré-serviço. Entendemos por “atos de identidade”, expressão cunhada por Ellwood (2008), os atos linguísticos por meio dos quais os falantes revelam seja sua identidade pessoal seja o papel social que almejam alcançar. Os dados discutidos foram recolhidos num curso de italiano de nível intermediário, organizado pelo centro de línguas de uma universidade pública do Estado de São Paulo. Partindo do pressuposto de que os aprendizes têm a obrigação, na aula de língua, de respeitar um conjunto de obrigações, ou seja, de falar e compreender em LE (MOORE; SIMON, 2002), sob pena de “sanções” (LAUGA-HAMID, 1990: 56), apontamos os atos de identidades produzidos por aprendizes de LE nas interações que acontecem entre professor e aluno segundo dois critérios principais: os atos por meio dos quais os aprendizes respeitam as obrigações impostas pelo professor a fim de reivindicarem seu papel de aprendizes; os atos por meio dos quais os estudantes negam a dimensão ritual do cenário imposta pelo professor a fim de reivindicarem seu próprio papel de “eu” sujeito. As reflexões decorrentes desse estudo de caso mostram que a maneira como surgem e são gerenciados na sala de aula os atos iniciados pelos aprendizes para reivindicarem seu próprio papel de “eu” sujeito podem oferecer aos professores indicações preciosas sobre a sua própria formação no intuito de melhorarem a qualidade das interações.
UMA PARATOPIA TESTEMUNHO-DOCUMENTAL NO DISCURSO DA NEGRITUDE
Rosângela Aparecida Ribeiro Carreira
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Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão
O território de embates a que pertence o discurso denota as relações de poder
estabelecidas no tempo e no espaço como revelam os estudos de Althusser
(1998), Pêcheux (1975), Foucault (2004-2005a) e Maingueneau (1983-2015),
suportes conceituais para a Análise do Discurso (AD) para fundamentar a noção
de paratopia do discurso da negritude. Consideramos discurso da
negritude aquele que é instaurado pelas redes semânticas globais simbólicas
estabelecidas como reação, defesa e manifesto do perfil cultural do negro,
seja de forma tópica, atópica ou paratópica, em diferentes gêneros do discurso
e por diferentes formações discursivas. A paratopia expressa o pertencimento e
o não pertencimento, a impossível inclusão em uma “topia”. Pode assumir a
forma de alguém que se encontra em um lugar que não é o seu, de alguém que
se desloca de um lugar para outro sem se fixar, de alguém que não encontra um
lugar; a paratopia afasta esse alguém de um grupo (paratopia de identidade), de
um lugar (paratopia espacial) ou de um momento (paratopia temporal) e, ainda,
há a paratopia linguística, que caracteriza aquele que enuncia em uma língua
considerada como não sendo sua língua. (MAINGUENEAU, 2010). Partimos
dessas noções no recorte da análise do romance “Vencidos e Degenerados” de
José Nascimento Moraes, discurso maranhense publicada em 1910, com o
objetivo de revelar que as condições sócio-históricas de produção delineiam
uma proxêmica discursiva capaz de desvendar elementos que levarão à
concepção de uma paratopia documento-testemunhal do discurso da negritude,
como ampliação das noções dadas por Maingueneau (1996, 2006 e 2010). Para
isso, seguimos a característica interdisciplinar da AD e apropriamo-nos dos
conceitos dados ao termo negritude por Cesàrie (1987), Fanon (2008) e
Munanga (2006 e 2012), somados aos conceitos de proxêmica estabelecidos
por Hall (1977), Knapp (1982), Steinberg (1988) e autores da Antropologia,
Sociologia e História do Brasil.
APRENDIZAGEM AUTORREGULADA: ESTUDO DISCURSIVO SOBRE MATERIAL DIDÁTICO VOLTADO PARA AS ESCOLAS DA REDE
ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO
Shayane França Lopes UFF/Capes
A pesquisa se situa no âmbito da Análise do discurso de base enunciativa e considera a relação existente entre as práticas discursivas e parte do universo das propostas de ensino da Secretaria de Educação de Estado do Rio de Janeiro – SEEDUC-RJ. Levando em consideração a importância dos estudos sobre a linguagem para compreender o processo de construção de possíveis sentidos e valores que permeiam o meio educacional, esta proposta tem como objetivos: colaborar com os estudos sobre a educação linguística nas escolas da rede estadual do Rio de Janeiro; investigar os aspectos do trabalho do professor, tematizados por meio das pistas deixadas pelos ditos, interditos e não ditos na teia discursiva do córpus; identificar a materialidade discursiva, assim como o perfil do professor, que se constroem discursivamente de acordo com os planos
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da semântica global, de Dominique Maingueneau. Para isso, trabalharemos com um córpus composto pelos Cadernos de atividades de aprendizagem autorregulada – Cadernos do professor, referentes aos componentes curriculares de literatura e língua portuguesa, produzidos recentemente pela SEEDUC-RJ. O marco teórico que orienta esta pesquisa considera as noções de discurso e de enunciado (Maingueneau, 1997, 2000, 2008, 2010, 2011, 2015) e tem como categoria de análise a semântica global (Maingueneau, 2008). A metodologia de análise se organiza com base na forma de menção/convocação do coenunciador, nos aspectos tematizados do trabalho do professor, na construção dos gabaritos e nos roteiros formulados (Maingueneau, 2008). Os resultados parciais apontam para uma nítida desvalorização do professor (análise focada no professor) e para atividades questionáveis quanto à validade e à relevância, visto que muito é anunciado na Apresentação e nos Objetivos gerais dos Cadernos, contudo, as atividades não condizem com o que é apresentado (análise focada nas atividades).
A HETEROPIA FOUCAULTIANA COMO RESISTÊNCIA À HETERONORMATIVIDADE POLÍTICA NO PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO
DO PLC 122/06
Simone Toschi Valério Universidade Federal Fluminense
Este estudo abordará a noção de heterotopia foucaultiana (1966, 1967, 2000, 2005) traçando um percurso histórico desta e os desdobramentos que tal ideia teve ao longo da obra de Foucault. As heterotopias nos possibilitam, segundo Foucault (2005), contestar todos os outros espaços instituídos e sacralizados, já que “neutralizam ou invertem o conjunto de relações designadas, refletidas ou pensadas” nos mais diversos espaços discursivo-político-jurídico-sociais. O objetivo é apreendermos a noção de heteropia e a produtividade desta em relação às questões que envolvem a Análise do Discurso de base enunciativa (MAINGUENEAU: 1997, 2001, 2008a, 2008b, 2008c, 2010), pensando, dessa forma, quais contribuições a heterotopia poderia dar às análises discursivas que a elencam como base teórica e categoria analítica dentro da Análise do Discurso. Para tanto, os corpora de estudo são formados pelas construções e constituições discursivas do Projeto de Lei da Câmara 122/06 que altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 e que define os crimes resultantes de preconceito, raça ou de cor, dá nova redação ao § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, e ao art. 5º da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e dá outras providências. Tal projeto teve designação ordinária de lei que criminalizava a homofobia. Um processo de tramitação de Projetos de Lei ou Leis que nos chegam não são processos dados, naturais, objetivos e abstratos. Estudar tal processo constitutivo discursivo tenciona evidenciar como regimes de verdade pautados pela heteronormatividade (FOUCAULT: 2012b, 2012c, 2012d; BUTLER: 2011, 2015; MISKOLCI: 2007, 2009, 2012) influenciam, silenciam e tendem a normatizar determinadas comunidades discursivas que não se “enquadram”, pelo contrário, formam heterotopias (FOUCAULT: 2005) em práticas discursivas estabelecidas pela sociedade heteronormativa.
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FORMAS DE TRABALHO SOBRE A MEMÓRIA NA CIRCULAÇÃO DE UM PRONUNCIAMENTO DA PRESIDENTA DILMA ROUSEFF PELA IMPRENSA
INTERNACIONAL
Solange Mittmann Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Em 12 de maio de 2016, o Senado brasileiro votou pelo início de um processo de julgamento sobre a interrupção do mandato presidencial de Dilma Rousseff e pelo seu afastamento por 180 dias (período do processo). Logo após a decisão, a presidenta fez um pronunciamento à imprensa e à nação. Imediatamente, a imprensa nacional e internacional lançou notícias on line citando trechos do pronunciamento, os quais tratou de recortar, articular, interpretar e explicar. As formas de determinação de sentidos sobre os fragmentos do pronunciamento são o objeto deste estudo, pela perspectiva da Análise do Discurso fundamentada em Michel Pêcheux, em que reunimos notícias on line de jornais de Portugal, da Espanha e da França daquele 12 de maio. Interessa-nos apontar para o caráter pedagógico do discurso jornalístico internacional de explicar os fatos, atribuir sentidos ao dito, regulando interpretações, sob a ilusão necessária de evitar escapes, bem como o posicionamento ideológico manifesto no discurso jornalístico. A análise comparativa das notícias com o discurso do pronunciamento levantou diferentes formas de trabalho sobre o memorável. Em seu pronunciamento, a presidenta evoca fatos de uma história particular enlaçada à história do país. Observamos um trabalho sobre o que se deve lembrar (o que não se pode esquecer) e sobre o que se reivindica justiça: o golpe de estado de 1964, a tortura, a luta pela democracia e sua conquista, os feitos dos 13 anos de governança federal pelo Partido dos Trabalhadores, a atuação da oposição. Essa reivindicação de memória e de justiça vem sustentar a defesa da continuidade do mandato. No jornalismo internacional, selecionamos para análise duas outras formas de trabalho sobre o memorável: de um lado, um trabalho pedagógico de significação na direção da contenção da deriva de sentidos; de outro, um trabalho de reiteração que também aponta para a reivindicação da justiça.
COMUNICAÇÃO POLÍTICA E DISPERSÃO DE PODER: UMA ANÁLISE DOS BLOCOS DE CAPACIDADE-COMUNICAÇÃO-PODER NA MÍDIA
BRASILEIRA
Samuel Ponsoni Universidade Estadual de Minas Gerais
Tamires Bonani
Universidade Federal de São Carlos
É sobretudo da noção-conceito de “bloco” de capacidade-comunicação-poder,
uma das múltiplas formas de estratégias de dispersão de poder lastreadas na
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teoria de Michel Foucault, que este trabalho busca bases teóricas para dar conta
de objetos constitutivos do que chamaremos de análise discursiva da
comunicação política. A investigação deriva de outras compreensões
epistemológicas acerca de análise de discurso e comunicação política, como as
que tratam de fórmulas políticas, teoria das frases sem texto e sobre a gramática
visual e semiótica social. Entretanto, aqui, nos concentraremos nas relações e
estratégias de poder, sendo tirado da compreensão de Foucault sobre a
existência de “blocos”, nos quais o ajuste das capacidades, dos feixes de
comunicação e das relações de poder constituem sistemas regulares. Foucault
preocupava-se com as regularidades e dispersões institucionais, como em seus
exemplos das instituições escolares. Conosco, todavia, a necessidade de se
refletir sobre discursos políticos irrompe para que não se prescinda de uma
análise global desse objeto multifacetado, apreendendo-o em sua gama de
semioses: linguísticas, icônicas, sociais, históricos, culturais, conjunturais e
institucionais e o inscrevendo a um paradigma materialista dos estudos da
linguagem sob a seguinte hipótese: a comunicação política, sendo uma prática
discursiva de comunicação, passa por princípios de gestão de produção,
circulação, transformação e interpretação e, assim, tais princípios são
engendrados por regras históricas, sociais, culturais, conjunturais, linguageiras
e institucionais, o que agruparia inúmeros discursos em blocos comunicativos,
exercendo coerções e dispersões de poder nos recursos discursivos utilizados
na comunicação política. Analiticamente, utilizamos variados suportes e gêneros
discursivos que circulam na mídia brasileira, principalmente no período de 2016
que abarcou a votação de impeachment da então presidente Dilma Rousseff,
especificamente observando os usos dos termos presidenta e presidente para
testar nossas hipóteses e respondê-las teórica e analiticamente.
O “BREXIT” E A RETOMADA DOS NACIONALISMOS
Silvia Valencich Frota Universidade de Lisboa
Muito se tem falado sobre o retorno dos nacionalismos na Europa, especialmente
associado a certos discursos dos partidos políticos de extrema-direita. Neste
artigo, analisa-se um conjunto de textos publicados no jornal Público sobre o
referendo britânico, que acabou por levar à decisão de saída do Reino Unido da
União Europeia (“BREXIT”), com o intuito de se identificar os discursos de
natureza identitária construídos em torno da ideia de nação e dos nacionalismos.
A partir desse mapeamento, busca-se identificar as diferentes estratégias de
construção discursiva e as representações recorrentes que são elaboradas em
torno do tema. No processo de demarcação da diferença entre um “eu” nacional
e um “outro” estrangeiro – com os diferentes significados que tais referências
encerram –, explora-se também as diferentes posições assumidas por e/ou
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atribuídas aos participantes no discurso. Os discursos de afirmação e
valorização de uma certa identidade nacional são os mesmos do passado ou
assumem agora novos significados? De que modo conceitos como o de
etnicidade, multiculturalidade e globalização participam da construção de tais
discursos? Faz sentido se falar na retomada dos nacionalismos ou trata-se, na
verdade, da construção de novas formas de nacionalismos? Essas são algumas
das questões de fundo que informam o presente estudo de caso. O
enquadramento teórico-metodológico adotado resulta da conjugação de três
perspectivas distintas: a dos Estudos Culturais, na acepção de autores como
Stuart Hall e Homi Bhabha, entre tantos outros; a da Análise Crítica do Discurso,
especialmente na vertente desenvolvida por Norman Fairclough e Ruth Wodak,
entre outros; e a da Linguística Sistêmico-Funcional, de Michael Halliday.
A ESTILÍSTICA DO DISCURSO EM FACE DA POLÍTICA PARTIDÁRIA E O
PRECONCEITO DE GÊNERO NO IMPEACHMENT DA PRESIDENTE/A
DILMA ROUSSEFF
Suzana Mary de Andrade Nunes Faculdade Estácio
Este estudo analisa os discursos políticos de senadores, membros na comissão de impeachment da Presidente/a Dilma Rousseff, no Senado Federal. Para tal, subsidia-se das teorias da enunciação em interface aos Estudos de Gênero, a fim de perceber a integração de discursos velhos combinados com novos discursos dentro da perspectiva instrumental da linguagem. Como método de análise, destacam-se os pronunciamentos orais divulgados em cadeia nacional e internacional pela mídia televisonada, de modo que as inflexões dicursivas e a construção de turnos de diálogo: ora coerentes com o conteúdo precedente; ora desarticulado, apresentando uma quebra da unidade linguística são os corpus de análise. A concepção dialógica de Bakhtin, de autoria de Meanguenau e de Poder de Faucoult apontam para reprodução da cultura machista e patriarcal por meios de modalizadores linguísticos: palavras, frases, enunciados entrecortados e associados por pausas, entonações de voz, balbucios, trazendo uma carga de sentidos e significados, ao passo que privilegia a posição dos sujeitos diante do intercruzamento entre as estruturas linguísticas e as influências externas. O escopo analítico, portanto, debruça-se sobre a condição de instrumento comunicacional construído socialmente frente à falência da lógica racional e a inserção do sujeito ambíguo, contraditório e contingencial, contudo, autoral e responsável por seu discurso.
O PAPEL DA MÍDIA IMPRESSA NO PROCESSO DE CONFIGURAÇÃO DO
ATOR DA ENUNCIAÇÃO, PARTICIPANTE DAS MANIFESTAÇÕES DE
JUNHO DE 2013 NA CIDADE DE SÃO PAULO
109
Tânia Regina Exposito Ferreira Universidade Presbiteriana Mackenzie
O mês de junho de 2013 ficará marcado na história da cidade de São Paulo pelas
manifestações populares, cujo motivo inicial foi a revogação do aumento de R$
0,20 nos transportes públicos. A imprensa construiu, pelo filtro de seus critérios
político-ideológicos, valendo-se de diferentes recursos verbais e não verbais, o
sujeito da enunciação do texto-discurso em que se constituiu cada uma das
manifestações. Configurar o ator da enunciação destes discursos da imprensa
foi o objetivo desta pesquisa, centrado na perspectiva semântica da
reconstrução da enunciação. Para alcançar nosso objetivo, analisamos textos
veiculados em dois importantes jornais: Folha de S. Paulo e O Estado de S.
Paulo, visando a neles identificar, avaliar e analisar informações – figuras, temas,
referências intertextuais, denominações, qualificações, avaliações diretas ou
indiretas, imagens – que convergiam para a definição do sujeito da enunciação
das manifestações construído por essa mídia. Como um contraponto à análise
dos textos desses jornais, analisamos comentários de internautas no Facebook
do Movimento Passe Livre- MPL e texto do Blog do Observatório da Imprensa
sobre o assunto, com o objetivo de identificar a configuração dada ao ator da
enunciação nas redes sociais. A pesquisa foi conduzida com base nos
fundamentos teóricos da Semiótica Greimasiana, com particular ênfase no nível
discursivo da análise, em que se focaliza a configuração enunciativa do discurso.
Os resultados desse estudo mostraram que o ator da enunciação revelado pelas
várias reportagens e notícias que se seguiram a cada uma das manifestações é
mutante: “vândalo”, “baderneiro” e “herói”.
MANIPULAÇÃO DA PALAVRA E JOGOS DE PODER NAS CARTAS
PERSAS DE MONTESQUIEU
Thaïs Chauvel Universidade de São Paulo
A comunicação pretende abordar a intriga do serralho desenvolvida pelo filósofo francês Montesquieu em seu romance epistolar intitulado as Cartas persas. Esta obra elabora-se através das palavras entrecortadas dos diversos epistolários integrantes do harém: as mulheres, os eunucos e o mestre, que se comunicam por intermédio de cartas. Sendo assim, a proposta visa analisar as diferentes perspectivas enunciadas por essas três categorias de personagens, observando os procedimentos linguísticos e o léxico empregados por cada membro do serralho. O intuito é compreender em que medida a palavra torna-se uma arma de manipulação, e de que maneira o embate no discurso evidencia as tensões e os jogos de poder que operam no seio do harém de Montesquieu, que constitui um verdadeiro “laboratório ficcional”, na expressão de Jean Starobinski, criado pelo filósofo iluminista com o fim de criticar o despotismo. A fim de verificar se esta hipótese se sustenta, a comunicação pretende ainda convocar o conceito
110
de heterotopologia desenvolvido por Michel Foucault, que concebe o discurso e a razão (logos) de um espaço (topos) outro (hetero) como meio de contestação dos espaços familiares. Sendo assim, o espaço do serralho que Montesquieu representa a partir das tensionadas vozes do harém, constituiria um contra-espaço – ficcional – ao ocidente, onde a infertilidade do sistema despótico e as violentas consequências da tirania se manifestam. Dentro dessa perspectiva, a intriga do serralho desenvolvida ao longo do romance não é mais compreendida como um mero elemento de exotismo oriental, mas como o ambiente do despotismo doméstico, o que permite estabelecer um vínculo entre a intriga do harém e as reflexões político-filosóficas tecidas ao longo da obra.
REPRESENTAÇÕES DA PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF PELO
“MOVIMENTO BRASIL LIVRE”
Thaiza de Carvalho dos Santos
Viviane Cristina Vieira
Universidade de Brasília
Este artigo apresenta reflexões iniciais da pesquisa de Mestrado em desenvolvimento “Movimentos sociais em rede: uma aproximação das ações sociodiscursivas do ‘Movimento Brasil Livre’” (Santos, inédito), com base na Análise de Discurso Crítica e na Semiótica Social, compreendendo o texto e suas múltiplas semioses como a parte discursiva situada de práticas sociais mais amplas. Neste recorte do corpus, analisamos, principalmente, dois textos divulgados na página do Facebook do Movimento Brasil Livre (MBL, movimento de jovens de extrema-direita que surgiu em 2014 alinhado aos ideários políticos neoliberais) nos dias 7 e 18 de março de 2016 sobre o processo de investigação de atos de corrupção no Governo Federal. Esses textos principais representam a Presidenta do Brasil Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, eleita em 2010 e reeleita em 2014; e o juiz Sérgio Moro, responsável pela condução dos julgamentos, em primeira instância, dos crimes investigados pela Operação Lava-Jato no Brasil. Os resultados iniciais do estudo identificam, nas inter-ações em rede do MBL, seu alinhamento com uma cadeia de discursos hegemônicos que constroem uma narrativa dissimuladora fundada no esquema cognitivo protagonista-antagonista com potencial para disseminar e legitimar o funcionamento ideológico básico das sociedades capitalistas contemporâneas centrado no cinismo (Zizek, 1989; Baldini, 2009).
UM ESTUDO DO ESTILO NOS GÊNEROS DO DISCURSO BIOGRAFIA E
AUTOBIOGRAFIA
Tiago Ramos e Mattos Pontícia Universidade Católica de São Paulo
111
O presente trabalho perspectivou o estudo contrastivo dos gêneros do discurso biografia e autobiografia, por intermédio do estudo do estilo em ambos os gêneros do discurso, verificando em que convergem e no que divergem a biografia e a autobiografia. Este trabalho trouxe à tona, como tema de pesquisa, um estudo dos gêneros biografia e autobiografia, voltado para o processo de elaboração textual em sua constituição estilística, nos moldes propostos por Bakhtin. Teve como problema de pesquisa a pergunta: Quais são as características convergentes e mais precisamente as características divergentes, presentes na identificação dos gêneros do discurso biografia e autobiografia, levando-se em conta o estilo de ambos os gêneros do discurso? O objetivo central da pesquisa estava em verificar a construção dos gêneros do discurso biografia e autobiografia, estabelecendo uma análise comparativa entre os gêneros, a fim de caracterizar as semelhanças e as diferenças entre ambos os gêneros do discurso. Como bases teóricas, utilizamos as considerações de Arfuch (2009/2010), Bakhtin (1992), Bakhtin/Valoshínov (2009), Brait (2006), Brait/Melo (2005), Castro (2014), Fairclough (1992), Fiorin (2006/2008), Vilas Boas (2007). Os corpora selecionados foram a biografia e a autobiografia de Malala Yousafzai, ativista paquistanesa que luta pela questão da educação. Com base na análise contrastiva dos gêneros do discurso biografia e autobiografia, chegou-se ao resultado que a biografia, quanto ao estilo, tem como característica um estilo formal, “escrito como se escrito”, com uma preponderância do estilo pictórico sobre o estilo linear. A autobiografia também é formal, embora seja travestida de uma intenção informal derivada do seu posicionamento enunciativo-discursivo, que pressupõe a unicidade do pronome pessoal do caso reto “eu” e que tem, portanto, um estilo escrito como se falado, tendo uma preponderância do estilo linear sobre o estilo pictórico.
THE PUBLIC INSTRUCTION AS A PROGRESS AND POWER SIGN OF SOCIETY CHANGING: AN ANALYSIS OF THE EDUCATION THEME IN THE
DISCOURSE OF GLORIA’S POPULAR CONFERENCES
Urbano Cavalcante Filho
Universidade de São Paulo / Université Paris Ouest / Instituto Federal of Bahia
Considering the sociological method of language theory from the so called
Bakhtin’s Circle, my aim, in this oral communication, is analysing how the
conferences dedicated to the public instruction theme in the discourse and
ideological project of Gloria’s Popular Conferences (important activity of scientific
dissemination in the nineteenth century), constituted itself as a sign of progress
and power of Brazilian society changing in the nineteenth century. I intend this
way, from the theoretical and methodological support of the bakhtinian
metalinguistics, discuss how the conferences about education, constant in
Gloria’s Popular Conferences, structured this discourse project. In this task, I will
analyse how this theme’s effects of sense are constructed, from two main
focuses: i) the observation of the dialogical and dialectical relation between the
two centers of values that provide compositional and architectural form to this
112
axis (such as: the popular instruction as people’s right and a duty of the State); ii)
the observation of the utterances convocation of other ideological spheres and
their discourse relations in order to build and shape this project of society
changing, as “driving force of progress”. They will be used as corpus for this
study, the conferences entitled “Public Instruction” and “Obligatory Teaching”,
both issued by the Adviser Manoel Francisco Correia, the Conferences’ founder,
and published in the homonymous magazine Popular Conferences (1876).
ANÁLISE DE TEXTO SOB A ÓTICA DA LINGUÍSTICA TEXTUAL E DA ANÁLISE DE DISCURSO: UM OBJETO E DOIS PONTOS DE VISTA
Elayne Silva de Souza Valquíria Areal Carrizo
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Universidade Federal Fluminense
O presente artigo objetiva analisar a textualidade e a discursividade da capa do jornal Estado de Minas, edição do dia 26 de novembro de 2015, que alcançou grande repercussão, com dezenas de milhares de compartilhamentos nas redes sociais. A capa traz a manchete: “Nas praias, nos rios, no Senado... SUJEIRA PRA TODO LADO. QUE PAÍS É ESTE?”. Além deste, outros títulos também foram escritos a partir da letra da canção de Renato Russo, destacando a maior tragédia ambiental da história do Brasil, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), atrelada à indignação coletiva relacionada à corrupção na política brasileira, a partir de outro fato histórico, com a primeira prisão de um Senador da República, Delcídio do Amaral. Para tanto, buscamos os princípios teóricos que conduzem um trabalho analítico na Linguística Textual e na Análise de Discurso de linha francesa, por acreditar que ler e compreender textos envolvem uma atividade tanto decodificadora quanto criadora,saindo da superfície textual e dos fatores que a compõem, indo a universos construídos com bases nas experiências históricas, sociais e culturais determinadas. Com isso, no trabalho em sala de aula, o professor tem a missão de transformar as atividades de leitura em atividades de conscientização e de estudo das condições de produção de leitura e dos seus sujeitos, levando os alunos a perceber como os sentidos são produzidos no texto e seus fatores de textualidade.
O PODER DO DISCURSO NA CO-CONSTRUÇÃO DE NOVOS MATERIAIS DIDÁTICOS DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: UM CONTRAPONTO COM O
DISCURSO DO PODER NOS LIVROS FORNECIDOS PELO GOVERNO FEDERAL
Valquíria Areal Carrizo Elayne Silva de Souza
Universidade Federal Fluminense
Reflexão sobre o discurso do poder, pré-estabelecido, “já-dito”, de materiais de línguas estrangeiras, Espanhol e Inglês, destinados ao Ensino Técnico
113
integrado, do Instituto Federal de Minas Gerais – campus Muriaé, em contraponto com a criação de material didático, de línguas, que atenda -conjuntamente- ao Ensino Médio e a parte técnica dos alunos, com o prosseguimento dos estudos e ao mundo do trabalho - vida profissional do educando. É partindo desta realidade, que questões de política e planejamento lingüístico são suscitadas, trazendo a provocação sobre o “poder do discurso” no aperfeiçoamento e aprendizado da prática docente em atividade conjunta com os alunos, com o intuito de demonstrar a construção da imagem dos participantes discursivos. Um recorte na análise será feito para que os livros didáticos, legislações e ementas/ programas analíticos vigentes possam ser discutidos pelo viés do discurso. Também, o uso da multimodalidade será abordado no sentido de discutir a mediação de multissistemas no ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, na aquisição de segunda língua, principalmente, no que tange às novas metodologias e tecnologias utilizadas em sala de aula. Para melhor abordarmos as questões destacadas, partiremos do cotejo com textos de Louis-Jean Calvet, Michèle Lacoste, Yves Schwartz, Mikhail Bakhtin, Dominique Maingueneau, Eni Orlandi, Vera Lúcia Paiva, dentre outros; verificando, analisando e contrastando com o ensino de línguas estrangeiras realizado em nosso país, muitas vezes silenciado e apagado, para, enfim, traçar um plano de trabalho, corpus experimental, de co-construção dos novos materiais, que representem o ensino integrado, em nível institucional – federal.
POLÍTICA NACIONAL BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA ANÁLISE DO
DOCUMENTO A PARTIR DO MODELO TRIDIMENSIONAL DE FAIRCLOUGH
Vanessa Gomes Teixeira Universidade do Porto / Universidade do Estado do Rio de Janeiro
No inicio do século XXI, começa a ser discutida a estrutura partitiva reproduzida nos sistemas de ensino, que mantém um alto índice de pessoas com especificidades em idade escolar fora da escola regular e, majoritariamente, em escolas e classes especiais. Com a intensificação dos movimentos sociais de luta contra todas as formas de discriminação que impedem o exercício da cidadania dessas pessoas, emerge, em nível mundial, a defesa de uma sociedade inclusiva. Esta perspectiva sugere novos rumos para a educação especial e tenta implementar políticas de formação, financiamento e gestão necessárias para a transformação da estrutura educacional, a fim de fornecer condições de acesso, participação e aprendizagem de todos estudantes. A Educação Inclusiva visa à participação integrada de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular, reestruturando o ensino para que este leve em conta a diversidade dos alunos e atente para as suas singularidades. Ela tem como objetivo o crescimento de cada aluno como indivíduo e a formação de uma escola democrática, que respeita as diferenças e tem uma infra-estrutura para lidar com elas, já que o ensino deve ser para todos. Assim, o presente trabalho visa analisar o documento “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, considerado um marco teórico e organizacional na educação brasileira, pois defende à inclusão de alunos com especificidades no sistema regular de ensino, com atendimento educacional
114
especializado complementar. O referencial teórico utilizado na pesquisa é a Análise Crítica do Discurso, tendo como base para a análise o modelo tridimensional de Fairclough (1992). Para tal objetivo, organizo essa pesquisa em partes. Primeiramente, falo sobre as etapas de análise propostas por Ramalho & Resende (2006). Depois, analiso o documento “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva” a partir das etapas do modelo tridimensional proposto por Fairclough (1992).
LER, ESCREVER E FAZER CONTA DE CABEÇA”: O DISCURSO DE
PODER NA NARRATIVA LITERÁRIA QUEIROSEANA
Vânia Lúcia Menezes Torga Universidade Estadual de Santa Cruz
A presente proposta de comunicação tem como aporte teórico-metodológico a
análise do discurso bakhtiniana e as ideias de Arfuch sobre o espaço biográfico,
memória e autobiografia, em que o relato de uma vida traz, tal qual a rapidez de
um relâmpago, as vozes do passado constituindo o presente. As perguntas
motivadoras dessa reflexão são: como um projeto de poder pode ser percebido
na esfera educacional em uma narrativa literária e como o discurso literário
reflete e refrata as marcas enunciativas desse projeto de poder? O objetivo que
norteia o estudo pretende discutir como a narrativa queiroseana em Ler, escrever
e fazer conta de cabeça (1996) faz cruzarem, e desvela discursivamente, as
esferas literárias, educacional e política, denunciando os “modos discursivos do
exercício do poder” no espaço micro e macrossocial. Desse modo a proposta
de reflexão contemplará como eixo catalizador das análises, o discurso literário
queiroseano, trazendo com as memórias do menino-narrador, as marcas
enunciativodialógicas das esferas educacional e política dos anos 40-50 e que
se atualizam na contemporaneidade em “vozes, imagens, materialidades,
riscos”, configurando-se uma imposição e ou manutenção de poder.
ESTREIA NA LIDERANÇA: PARA ELES O DESAFIO, PARA ELAS A
INSEGURANÇA
Virgínia Carollo da Costa Dias Universidade do Estado do Rio de Janeiro
O trabalho a ser apresentado tem como proposta, a partir do arcabouço teórico
da análise do discurso (AD) de corrente francesa, analisar as construções dos
padrões de gênero presentes em duas matérias prescritivas sobre liderança no
trabalho retiradas das revistas brasileiras Você S/A, especializada em emprego
e empregabilidade, e Cosmopolitan/Nova, voltada para o público feminino. A
motivação para tal análise partiu dos estudos de Helena Hirata e Danièle Kergoat
115
sobre a divisão sexual do trabalho. As autoras trabalham com o conceito de
coextensividade, isto é, elas consideram que as relações de trabalho são
indissociáveis das relações sociais e não podem ser analisadas separadamente.
Não há, portanto, hierarquia entre relação econômica e sexual. Propõe-se então
pensar este conceito dentro de uma perspectiva discursiva, investigando-se qual
a relação entre o discurso sobre trabalho e os discursos de dominação masculina
e opressão feminina. Desse modo, busca-se compreender qual é a imagem do
sujeito “trabalhador corporativo” construído pelas duas matérias, uma vez que
uma delas é destinada exclusivamente a trabalhadoras mulheres e a outra aos
trabalhadores em geral, sem distinção de gênero. Tendo como base teórica a
AD de corrente francesa, trabalha-se com a noção de sujeito descentrado em
que este não é a causa de si. O sujeito é, assim, considerado como uma dentre
as várias posições no discurso. Posições essas cujos sentidos são construídos
pela historicidade e que constituem a memória discursiva, isto é, o “já-dito”, o
que fala antes, em outro lugar. A historicidade aqui não representa uma
sequência de fatos cronologicamente organizados, mas sim a forma pela qual a
história se inscreve no discurso. Desse modo, dentro da proposta trazida, busca-
se analisar como os discursos de construção de gênero e trabalho são afetados
pela historicidade e de que forma os sentidos foram e são construídos e
repetidos nessa trama discursiva.
“TCHAU, QUERIDA!” E “FICA, QUERIDA!”: MANIFESTAÇÕES
DISCURSIVAS NO CONTEXTO DO PROCESSO DE IMPEACHMENT DA
PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF À LUZ DA ADF
Virgínia Leal Universidade Federal de Pernambuco
Virgínia Colares
Universidade Católica de Pernambuco
Reeleita em 2014 com mais de 54 milhões de votos, a presidenta Dilma
Rousseff, enquanto mulher, representa mais de 51% da população brasileira.
Esse fato vem romper com a tradicional configuração patriarcal da sociedade
brasileira. Nesse novo mandato, em razão das dificuldades político-econômicas,
um processo de impeachment foi autorizado pela Câmara dos Deputados em 17
de abril do ano em curso. Em meio a manifestações dos votos com expressões
descoladas de uma argumentação política, aparece o “Tchau, querida!”,
claramente investido de ironia, ódio e rejeição às mulheres. É objetivo desta
pesquisa refletir sobre expressões e fórmulas discursivas que materializam
violência de gênero, analisando essa expressão a partir de suas condições de
produção, de seus elementos constituintes e dos efeitos de sentido gerados por
ela. Inicialmente, discute-se os significados políticos e simbólicos dos usos do
“Tchau, querida!”; em seguida, contextualiza-se o surgimento do “Fica, querida!”;
116
finalizando com a repercussão das duas expressões na sociedade brasileira, em
geral, e no movimento feminista e de direitos humanos em particular. Por fim,
com base na Análise do Discurso Francesa (ADF), especialmente nos estudos
de Alice Krieg-Planque (2010, 2011) analisa-se a caracterização dessas
expressões enquanto fórmulas discursivas. Faz-se, ainda, identificação dos
enunciadores e co-enunciadores quanto aos seus pertencimentos a grupos
históricos oriundos das elites e das camadas populares de modo a se
problematizar as formas de opressão e de luta contra essa opressão pela via do
discurso, contribuindo para a efetivação dos direitos humanos no campo das
questões de gênero.
DIREITOS INDÍGENAS E DESCOLONIALIDADE NAS DECISÕES JUDICIAIS
DAS CORTES MAJORITÁRIAS NO BRASIL
Virgínia Colares Universidade Católica de Pernambuco
Virgínia Leal
Universidade Federal de Pernambuco
Déborah Freitas de Souza Universidade Católica de Pernambuco
A sociedade atual ainda se encontra sob efeito da herança colonial iniciada pela
Europa e disseminada por todo o mundo. A ideia da superioridade ainda
presente na atualidade entre uma cultura e outra e a existência de uma forma
única e correta de comportamento fez com que o direito de grupos minoritários
fosse ignorado em prol de um direito reconhecido pela maioria. Graças a
presença ainda forte do eurocentrismo na sociedade, este trabalho encontra sua
importância na tentativa de preservar o direito de uma dessas minorias, muitas
vezes não só esquecida pela mídia como também pelo direito, os índios, a partir
do reconhecimento da ideologia nas decisões jurídicas. Este trabalho tem como
objetivo identificar, nas peças processuais autênticas, as pistas das estratégias
linguístico-discursivas dos modos de operação da ideologia no discurso de
fundamentação nas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) no que
concerne aos direitos das minorias indígenas vulneráveis. Observa-se uma
relação entre o discurso de fundamentação nas decisões do STF relativas aos
direitos das minorias e grupos vulneráveis aos achados dos estudos das
matrizes teóricas pós-colonial e descolonial para a fundamentação dos direitos
humanos. A metodologia da Análise Crítica do Discurso Jurídico (ACDJ), com
ênfase nos efeitos ideológicos e políticos do discurso, revela no corpus desta
análise, uso significativo dos modus operandi da ideologia, a seguir: (a)
117
legitimação; (b) dissimulação; (c) unificação (d) fragmentação (e) reificação e
seus desdobramentos, postos por J. B. Thompson (1995). Assim, como
resultado, desaloja-se aquilo que se oculta ideologicamente ou que se esconde
nas entrelinhas seja no plano do posto, do pressuposto, do implícito ou do
subentendido das decisões do STF. Dessa maneira contribui-se, tanto
metodologicamente com uma proposta linguístico-discursiva para análise de
decisões judiciais majoritárias, como com dados autênticos para fundamentar as
políticas públicas voltadas aos direitos das minorias e grupos vulneráveis.
A (NÃO) ASSUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO
GÊNERO SENTENÇA: UMA ANÁLISE DOS CONECTORES
William Andriola de Jesus Alexandro Teixeira Gomes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
A (não) assunção da Responsabilidade Enunciativa, doravante RE, configura-se
como recurso argumentativo fortemente marcado pelo produtor de um texto com
vistas a seus propósitos comunicativos (Cf. Gomes, 2014). Baseado nesse
entendimento, objetivamos, nesse trabalho, discutir como se configura a (não)
assunção da RE no gênero sentença condenatória. Do ponto de vista teórico,
amparamo-nos, sobretudo, em Adam (2011), Lourenço e Rodrigues (2013),
Gomes (2014), Marquesi (2014), Rabatel (2009), Nølke (2013), Nølke, Fløttum e
Norén (2004), Guentchéva (1994, 1996) e Guentchéva et al. (1994). Do ponto de
vista metodológico, analisamos um corpus constituído por cinco sentenças
condenatórias oriundas das cinco regiões do Brasil, em que discutimos a função
dos conectores enquanto marca de (não) assunção da RE. Objetivamos, ainda,
refletir sobre como a (não) assunção da RE corrobora para fomentar os discursos
de poder no discurso do produtor do texto. Por fim, esperamos que este trabalho
possa contribuir para aprofundar os estudos voltados para o tema dessa
investigação, bem como para os estudos do texto e do discurso de forma mais
geral e para os estudos do discurso jurídico de forma mais aplicada.
CITAÇÃO DO EXEMPLO COMO ESTRATÉGIA RETÓRICA NA ARGUMENTAÇÃO DE SÊNECA EM SUAS CARTAS A LUCÍLIO
Zilda Andrade Lourenço dos Santos Universidade Federal do Espírito Santo
Com base nos pressupostos aristotélicos sobre o exemplo como retórica
indutiva, efetua-se neste trabalho a análise desse funcionamento persuasivo do
exemplo no discurso, através de partes de cartas de Sêneca a Lucílio. Foucault
118
identifica que nos exemplos apontados por Sêneca, os personagens
históricos merecedores de atenção e imitação são aqueles que se mostraram
não exatamente donos do mundo, mas de si mesmos. Estes alcançaram tal
domínio, galgando a escalada da virtude. Assim como o exemplo histórico tem
por si só uma força persuasiva, como defendido por Aristóteles, o exemplo
pessoal funciona no discurso em instâncias distintas. Por um lado, o enunciador
traz para a enunciação fato ocorrido de sua própria experiência, para servir de
exemplo aos seus destinatários. Por outro lado, o exemplo pessoal serve como
forma de identificação do ethos mostrado no discurso. Desse modo, o efeito do
logos atinge o pathos, ou seja, o discurso alcança a audiência a qual o ethos se
dirige. Nessa perspectiva, as três provas: ethos, logos e pathos são acionadas
em conjunto, pela estratégia do recurso do exemplo pessoal. No gênero
epistolar, o uso do exemplo do outro pode funcionar diante do destinatário como
um incentivo ao imitatio, enquanto o exemplo pessoal pode estabelecer uma
relação de autoridade testemunhal de quem fala, trazendo para a enunciação
uma discursividade distinta daquela do exemplo histórico. Neste caso, o próprio
enunciador coloca-se como voz autorizada no fortalecimento da persuasão.
Nessa perspectiva, o exemplo pessoal, no gênero epistolar, também opera como
ensinamento de algo comum entre o emissário como enunciador e o destinatário
como co-enunciador na cena enunciativa.
119
RESUMOS DOS PÓSTERES
A RETÓRICA DO CONVENCIMENTO: UMA ANÁLISE DO DISCURSO DE
DILMA ROUSSEF NA CAMPANHA PARA A REELEIÇÃO
PRESIDENCIÁVEL EM 2014
Aldora Maia Veríssimo FAPREV - Presidente Venceslau
O propósito deste trabalho é analisar a constituição do discurso político em
campanhas eleitorais para compreender o jogo estratégico que se constrói com
o objetivo de convencimento dos eleitores. O corpus deste trabalho é formado
por trechos de discursos da candidata do PT - Partido dos Trabalhadores, do
Brasil, Dilma Roussef em campanha pela reeleição em 2014, incluindo-se
trechos do discurso de posse em janeiro de 2015. Pretende-se identificar os
processos de produção que configuram o caráter persuasivo dos textos políticos
e os efeitos de sentido gerados através da cuidadosa seleção de signos
linguísticos. A análise do discurso enfatiza a importância das condições
contextuais de produção discursiva para a determinação de funcionamento dos
signos, assim, segundo Trevizan (2002), uma concepção mais totalizante e atual
de texto, pressupõe uma unidade gramatical, uma unidade semântica e uma
unidade pragmática entendendo a enunciação verbal como uma realidade
comunicacional fortemente impregnada por relações pragmáticas. Dessa forma,
apesar do processo de construção lexical e sintático do texto, seu sentido vai
além da literalidade configurando-se enquanto símbolo socioideológico. Assim
sendo, toda comunicação verbal, inclusive a dos discursos políticos, não se
justifica se isolada em si mesma, ou seja, fora de um vínculo com a situação
extralinguística e/ou social. Sendo o discurso uma representação e significação
do mundo, sua produção envolve condições sociais, tendo em vista a sociedade
em que se insere e o objetivo a que se propõe: o convencimento do eleitorado.
Portanto, para comprovar as estratégias de convencimento, recorremos à
metodologia da Análise Crítica do Discurso, buscando analisar e refletir sobre a
questão por meio de trechos selecionados dos discursos presidenciais, como
ilustração da proposta nuclear da pesquisa. A discussão teórica faz-se a partir
também dos trabalhos de Bakhtin (1997), Trevizan (2002), Eco (1991), Foucault
(1979), entre outros.
A CONSTRUÇÃO DA FIGURA DO PAPA FRANCISCO NO DISCURSO DA
MÍDIA: UM PAPA DIFERENTE?
Carlos Eduardo Barbosa
Universidade Federal de Pernambuco
120
Este projeto buscou analisar o modo de constituição da figura do Papa Francisco
pelo discurso da mídia, dos fiéis e do próprio Papa, explorando a sua condição
de fama, assim como a sua construção heroica, o que acaba por produzir um
discurso de poder. Utilizando dos saberes da análise do discurso de linha
pecheutiana, a qual trata o sujeito como o sujeito do discurso, o qual é
interpelado pela ideologia e determinado pelas condições histórico-sociais que
trata do sujeito, buscando assim saber como ocorrem os processos de
(des)identificação com essa figura e os papéis da memória e da resistência;
foram então analisadas imagens da revista americana Out Magazine, manchetes
de reportagens e comentários de leitores (fiéis e não fiéis) que circularam na
mídia e nas redes sociais acerca dos "feitos" do Papa Francisco, bem como uma
entrevista com o discurso do próprio Papa, a partir de um recorte referente ao
seu ano de nomeação, buscando assim, trabalhar com o discurso visual e
textual, da própria mídia e do próprio Papa. Um desses feitos é a sua declaração
acerca dos homossexuais - a de que entende e aceita os homossexuais, mesmo
que a igreja não aceite tal prática - considerada uma das declarações mais
polêmicas dos últimos tempos na igreja. Por essa e outras declarações
consideradas controversas com a doutrina da Igreja Católica, algumas
abordando assuntos além da religião, o Papa Francisco foi alçado pela mídia
como um herói de alcance mundial, o qual chega a ser santificado por suas
ações "inovadoras". Observamos, nas análises realizadas, que é recorrente a
construção do Papa Francisco como santo-herói-revolucinário que busca acabar
com as injustiças desse mundo.
OS IMPACTOS SOCIAIS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: (UM OLHAR A
PARTIR DOS BO’S SOB A PERSPECTIVA DA ANÁLISE DE DISCURSO)
Laura Berguette Chaves Laura Kemper Roca
Sérgio Nunes de Jesus Instituto Federal de Rondônia
O presente trabalho fundamenta-se em pressupostos da Análise do Discurso, a saber: Althusser (1985), Pêcheux (1987), Jesus (2011), bem como Enunciação: Bakhtin (1997) que analisa a questão da violência doméstica a partir da interpretação nos Boletins de Ocorrências, observando causas e consequências do impacto sociocultural e, ao mesmo tempo linguístico. A metodologia instituída foi a partir de referências bibliográficas e de campo ao evidenciar formas distintas enunciações nos BO’s e de que maneira é atravessada no viés da discursividade. A interpretação nos BO’s é derivada pela linguagem utilizada do sujeito e a interpelação do seu interlocutor que dependerá das informações materializadas no ato do depoimento. Portanto, observou-se a partir das materialidades constituídas: linguística e discursiva – de que maneira o pré-julgamento é inserido discursivamente nas investidas da linguagem policial nos BO’s.
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