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Em Maio de 1968 a França mergulhou no caos: o protesto de amplos sectores da sociedade francesa contra a situação económica e social provocou graves confrontos entre civis e as forças da ordem, que alastraram a todo o país.
Tudo começou, porém, no início desse ano, quando os estudantes, liderados por Daniel
Cohn-Bendit, exigiram em Nanterre, através de greves e manifestações, uma
reforma radical do ensino superior. Depois do encerramento da Universidade de
Nanterre por ordem do governo, foram organizadas em Paris manifestações de
solidariedade, durante as quais se registaram violentos confrontos entre os
estudantes e a polícia. O ministro da Educação, Alain Peyrefitte, ordenou o
encerramento da Sorbonne pela primeira vez nos seus mais de 700 anos de história. Esta sua decisão lançou na rua cerca de 40
mil estudantes, o que fez com que a revolta estudantil se propagasse
rapidamente.
Estes distúrbios foram seguidos por marchas de protesto e batalhas de rua. No dia 6 de Maio, mais de 3000 polícias cercaram cerca de 5000 manifestantes, no Quartier Latin, contra os quais lançaram granadas de gás lacrimogéneo. As imagens da brutalidade da actuação das forças policiais e dos manifestantes feridos e maltratados provocaram uma vaga de indignação do povo francês.
O movimento que se iniciara como uma revolta estudantil acabou por mobilizar toda a população. Os sindicatos convocaram uma
greve geral, cujo objectivo aparente era apoiar as reivindicações revolucionárias dos
estudantes, entre as quais se incluía a abolição do sistema capitalista. Muitos
franceses manifestaram o seu descontentamento em relação ao governo e
à situação económica, enquanto os sindicatos exigiam aumentos salariais e a redução do horário de trabalho. Devido à elevada taxa de desemprego, sobretudo
entre as camadas mais jovens, o movimento grevista atingiu grandes dimensões. A greve geral de 24 horas de 13 de Maio, convocada pelos sindicatos, estendeu-se a todo o país.
Em meados do mês de Maio estavam em greve mais de 2 milhões de trabalhadores
em todo o país. Em diversas regiões francesas os trabalhadores mobilizaram-se,
primeiro espontaneamente e depois de modo organizado. A 16 de Maio, por
exemplo, a fábrica estatal da Renault foi ocupada pelos seus trabalhadores.
Perante esta situação, cada vez mais precária, a oposição exigiu a demissão do governo de Georges Pompidou, mas a moção de censura apresentada na Assembleia Nacional foi rejeitada por uma escassa margem de votos. O caos apoderou-se completamente da França: a televisão estatal declarou-se em greve, assim como os trabalhadores dos transportes públicos, correios e serviços de recolha do lixo. O presidente Charles de Gaulle assumiu uma posição intransigente, afirmando em tom lapidar, numa reunião de emergência do gabinete: «Reformas, sim; porcaria, não». Estima-se em cerca de 10 milhões o número de trabalhadores que aderiram à greve. Muitas famílias açambarcaram alimentos, a gasolina começou a faltar e o fornecimento de energia eléctrica foi interrompido. A 27 de Maio os sindicatos e o patronato assinaram um acordo em que se aceitava grande parte das reivindicações dos trabalhadores. Este pacto foi, no entanto, rejeitado por amplos sectores operários.
Confrontado com o carácter ameaçador dos acontecimentos, Charles de Gaulle
anunciou para o mês de Junho um referendo sobre a sua política. Não se
verificou, no entanto, qualquer melhoria da situação. Finalmente, o presidente francês
foi obrigado a ceder, face à pressão da rua, e a 30 de Maio dissolveu a Assembleia
Nacional e convocou novas eleições. Simultaneamente declarou-se disposto a
recorrer às forças policiais, a fim de impedir, a qualquer preço, a implantação de uma «ditadura comunista». Os receios
do presidente eram, porém, infundados. Nas eleições realizadas a 30 de Junho os
gaullistas obtiveram uma vitória esmagadora, conseguindo a maioria
absoluta. A situação foi-se normalizando pouco a pouco, pois o cansaço gerado
pelas greves e acções de massas acabou por conduzir a uma fragmentação do
movimento de protesto.