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Thiago Lasco Muitos fãs de gatos ficam com o coração mole quando se depa- ram com um filhote abandona- do e não resistem à tentação de adotá-lo, ainda que a casa já es- teja cheia de bichanos. O desig- ner Denis Queiroz tem um ins- tinto parecido, mas com o sau- doso Escort XR3. Seu acervo já conta com três unidades da ver- são esportiva do Ford e uma quarta está a caminho – com- prada no Rio de Janeiro, ainda não foi entregue ao novo dono. O interesse pelo hatch não veio cedo – na infância, era com o “muscle car” Maverick que ele sonhava. Mas em 2003, quando resolveu comprar seu primeiro antigo, o compacto despontou como opção. “Eu queria um carro barato e com boa potência. O Gol era vi- sado demais e o Escort, além de melhor acabamento, tinha teto solar”, lembra o designer. O escolhido, um Escort L de 1990, ficou com Queiroz por se- te anos. No quinto ano, ganhou a companhia de um XR3 conver- sível ano 1991 de cor branca. Depois de se desfazer da ver- são básica, Queiroz encontrou, no interior do Estado, um XR3 1986 preto. O carro precisava de reparos na funilaria, pintura e tapeçaria, mas o “coração de mãe” falou mais alto e o desig- ner acabou fechando negócio. No ano passado, um amigo o avisou que o exemplar das fo- tos desta reportagem, outro XR3 1986 preto, estava à venda em Joinville (SC). E estava mais bem conservado que o mo- delo anterior. Queiroz não teve dúvidas e arrematou o Ford. “Minha família achou loucura eu ter dois carros iguais, mas depois se acostumou.” Algum tempo se passou e o primeiro XR3 preto foi trocado por outro exemplar, de 1986, cor azul. E o quarto hatch, que está sendo trazido da capital fluminense, é do mesmo ano e cor. O designer garante que ca- da um tem sua razão de ser. “O primeiro azul está mais mexido, recebeu bancos de couro e motor AP 2000, da Volkswagen. Já esse que es- tá vindo eu quero deixar o mais original possível, pa- ra poder obter a placa pre- ta. Ele tem ar-condiciona- do, item raro nessa safra.” Mas é pelo exemplar pre- to que Queiroz nutre mais carinho. “Não tenho dó de usá-lo, mas tomo alguns cuida- dos. Viajo muito com ele e faço eu mesmo a manutenção bási- ca”, conta. “Às vezes, chego a ir até Porto Alegre apenas para procurar peças.” Apesar de ser fã e até ter aju- dado a fundar um clube dedica- do ao Escort, o designer descre- ve com imparcialidade os prós e contras do modelo. “É um car- ro bom para curtir no fim de semana, com motor esperto e volante pequeno, o que facilita as manobras”, afirma. “Por ou- tro lado, é complicado rodar no dia a dia com um modelo tão raro e pouco confortável – ele incorporou a direção hi- dráulica em 1992.” Após a chegada do quarto XR3, a coleção de Queiroz deve- rá ficar algum tempo sem rece- ber novidades. Mas trata-se de uma pausa estratégica. “Primei- ro, vou comprar um imóvel pa- ra guardar os carros. Depois dis- so, pretendo sair atrás de um XR3 amarelo.” História. O Escort surgiu na Eu- ropa em 1967. A terceira gera- ção, que foi lançada em 1980, marcou a estreia do modelo no Brasil, três anos depois, para substituir o Corcel II, que estava saindo de linha. Eram quatro as versões de aca- bamento: L (básica), GL (inter- mediária), Ghia (luxuosa) e XR3 (esportiva). A opção XR3 conver- sível veio mais tarde, em 1985. O motor CHT 1.6 de origem Renault é uma atualização do quatro-cilindros usado pela Ford desde o primeiro Corcel nacional e rende até 73 cv com etanol – no esportivo, graças ao retrabalho de válvulas, a potên- cia é de 83 cv. Em 1987 veio a primeira rees- tilização. Com o surgimento da Autolatina, união da Ford e Volkswagen, em 1990, o Escort ganhou, nas versões mais ca- ras, opção de motor AP 1.8 de 90 cv usado pela marca alemã. No mesmo ano, veio a versão sedã, batizada de Verona. A segunda geração do Escort brasileiro chegou no fim de 1992. Foi substituída em 1997 pela derradeira, que tinha ver- sões GL e GLX em configura- ções hatch, sedã e perua. O mo- delo saiu de cena em 2003. No coração, sempre cabe mais um XR3 O designer Denis Queiroz tem quatro unidades da versão esportiva do Ford Escort, feita entre 1983 e 1995. E já pensa na quinta Alarmes e sistemas de segurança Estreante. Hatch veio ao País em 1983 e saiu de linha 20 anos depois Capotas e protetores Incrementado. Versão tem bancos e volante esportivos FOTOS: SERGIO CASTRO/ESTADÃO Fôlego. Retrabalhado, motor CHT 1.6 tem potência de 83 cv Instrumentos. Opções Ghia e XR3 traziam conta-giros Fã. Queiroz gosta tanto do modelo que, em duas ocasiões, chegou a ter dois exemplares de mesma cor e ano de fabricação 6 Jornal do Carro DOMINGO, 4 DE OUTUBRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO

[JCARRO BR - 1] EST SUPL2/JORNAL DO … · doso Escort XR3. Seu acervo já contacomtrêsunidadesdaver-são esportiva do Ford e uma quarta está a caminho – com-prada no Rio de Janeiro,

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Thiago Lasco

Muitos fãs de gatos ficam como coração mole quando se depa-ram com um filhote abandona-do e não resistem à tentação deadotá-lo, ainda que a casa já es-teja cheia de bichanos. O desig-ner Denis Queiroz tem um ins-tinto parecido, mas com o sau-doso Escort XR3. Seu acervo jáconta com três unidades da ver-são esportiva do Ford e umaquarta está a caminho – com-prada no Rio de Janeiro, aindanão foi entregue ao novo dono.

O interesse pelo hatch nãoveio cedo – na infância, era como “muscle car” Maverick queele sonhava. Mas em 2003,quando resolveu comprar seuprimeiro antigo, o compactodespontou como opção.

“Eu queria um carro barato ecom boa potência. O Gol era vi-sado demais e o Escort, além demelhor acabamento, tinha tetosolar”, lembra o designer.

O escolhido, um Escort L de1990, ficou com Queiroz por se-te anos. No quinto ano, ganhoua companhia de um XR3 conver-sível ano 1991 de cor branca.

Depois de se desfazer da ver-são básica, Queiroz encontrou,no interior do Estado, um XR31986 preto. O carro precisavade reparos na funilaria, pintura

e tapeçaria, mas o “coração demãe” falou mais alto e o desig-ner acabou fechando negócio.

No ano passado, um amigo oavisou que o exemplar das fo-tos desta reportagem, outroXR3 1986 preto, estava à vendaem Joinville (SC). E estavamais bem conservado que o mo-delo anterior. Queiroz não tevedúvidas e arrematou o Ford.“Minha família achou loucuraeu ter dois carros iguais, masdepois se acostumou.”

Algum tempo se passou e oprimeiro XR3 preto foi trocadopor outro exemplar, de 1986,cor azul. E o quarto hatch, queestá sendo trazido da capitalfluminense, é do mesmo ano ecor. O designer garante que ca-da um tem sua razão de ser.

“O primeiro azul está maismexido, recebeu bancos decouro e motor AP 2000, daVolkswagen. Já esse que es-tá vindo eu quero deixar omais original possível, pa-ra poder obter a placa pre-ta. Ele tem ar-condiciona-do, item raro nessa safra.”

Mas é pelo exemplar pre-to que Queiroz nutre maiscarinho. “Não tenho dó deusá-lo, mas tomo alguns cuida-dos. Viajo muito com ele e façoeu mesmo a manutenção bási-ca”, conta. “Às vezes, chego a ir

até Porto Alegre apenas paraprocurar peças.”

Apesar de ser fã e até ter aju-dado a fundar um clube dedica-do ao Escort, o designer descre-ve com imparcialidade os próse contras do modelo. “É um car-ro bom para curtir no fim desemana, com motor esperto evolante pequeno, o que facilitaas manobras”, afirma. “Por ou-tro lado, é complicado rodar nodia a dia com um modelo tãoraro e pouco confortável – elesó incorporou a direção hi-dráulica em 1992.”

Após a chegada do quartoXR3, a coleção de Queiroz deve-rá ficar algum tempo sem rece-ber novidades. Mas trata-se deuma pausa estratégica. “Primei-

ro, vou comprar um imóvel pa-ra guardar os carros. Depois dis-so, pretendo sair atrás de umXR3 amarelo.”

História. O Escort surgiu na Eu-ropa em 1967. A terceira gera-ção, que foi lançada em 1980,marcou a estreia do modelo noBrasil, três anos depois, para

substituir o Corcel II, que estavasaindo de linha.

Eramquatroas versõesdeaca-bamento: L (básica), GL (inter-mediária), Ghia (luxuosa) e XR3(esportiva).A opçãoXR3conver-sível veio mais tarde, em 1985.

O motor CHT 1.6 de origemRenault é uma atualização doquatro-cilindros usado pela

Ford desde o primeiro Corcelnacional e rende até 73 cv cometanol – no esportivo, graças aoretrabalho de válvulas, a potên-cia é de 83 cv.

Em 1987 veio a primeira rees-tilização. Com o surgimento daAutolatina, união da Ford eVolkswagen, em 1990, o Escortganhou, nas versões mais ca-ras, opção de motor AP 1.8 de90 cv usado pela marca alemã.No mesmo ano, veio a versãosedã, batizada de Verona.

A segunda geração do Escortbrasileiro chegou no fim de1992. Foi substituída em 1997pela derradeira, que tinha ver-sões GL e GLX em configura-ções hatch, sedã e perua. O mo-delo saiu de cena em 2003.

No coração, sempre cabe mais um XR3O designer Denis Queiroz tem quatro unidades da versão esportiva do Ford Escort, feita entre 1983 e 1995. E já pensa na quinta

Alarmes e sistemas de segurança

Estreante.Hatch veioao País em1983 e saiude linha 20anos depois

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Capotas e protetores

Incrementado. Versão tem bancos e volante esportivos

FOTOS: SERGIO CASTRO/ESTADÃO

Fôlego. Retrabalhado, motor CHT 1.6 tem potência de 83 cv

Instrumentos. Opções Ghia e XR3 traziam conta-giros

Fã. Queiroz gosta tanto do modelo que, em duas ocasiões, chegou a ter dois exemplares de mesma cor e ano de fabricação

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