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Jerry Carvalho Borges - Movendo as engrenagens da vida - leite - lactose - evolução - genes

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Movendo as engrenagens da vida

Colunista discute papel da evolução por seleção natural na luta da espécie humana contra as doenças

Jerry Carvalho Borges Colunista da CH On-line  02/05/2008

A sugestão de que nossa espécie compartilhou ancestrais relativamente recentes com os símios, lançada por Charles Darwin no século 19, causou enorme alvoroço na época. Muitos contemporâneos do naturalista não admitiam a existência de parentesco entre humanos e chimpanzés (imagens: Wikimedia Commons).

A evolução é um processo contínuo e incessante que afeta todos os organismos vivos. Mutações no material genético acumulam-se ao longo de gerações e levam a modificações na morfologia, na fisiologia e no comportamento dos organismos.

A ocorrência desse processo só começou a ser compreendida pela ciência e aceita pela sociedade na segunda metade do século 19. A sugestão de que nossa espécie compartilhou ancestrais comuns relativamente recentes com os símios, por exemplo, causou um enorme alvoroço quando foi lançada por Charles Darwin (1809-1882) e, de certa forma, obscureceu e tirou do foco das discussões sua brilhante teoria evolutiva.

Muitos contemporâneos de Darwin não admitiam a existência de um

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parentesco dos humanos com os chimpanzés – uma espécie desprovida da linguagem articulada e do pensamento abstrato, apesar da semelhança física com o Homo sapiens. Hoje, porém, a genética mostrou que homens e chimpanzés compartilham mais de 99% de seu genoma.

Outro problema relacionado com a aceitação da evolução é que muitos têm bastante dificuldade para entender que esse é um processo constante, que está em ação neste exato momento, sobre os humanos e demais seres vivos. Muitos ainda vêem o processo evolutivo como responsável pela existência de imensas criaturas extintas como os dinossauros, mas se esquecem que, para realizar tal proeza, foram necessários milhões de anos.

Por esse motivo, temos dificuldades em entender que o Homo sapiens não é uma espécie acabada e tampouco o ponto final da cadeia evolutiva, mas está em constante evolução. Para que isso ocorra, é necessária a presença de variações genéticas e a ocorrência de um processo de seleção que, ao agir sobre indivíduos com patrimônio genético diferente, afeta sua capacidade de propagar seus genes para as gerações futuras, um processo conhecido entre os geneticistas como fitness ou aptidão.

Diversidade genética

A espécie humana é riquíssima em variação genética, e as diferenças na aparência das pessoas são apenas parte dessa variabilidade. Acredita-se que existam cerca de 10 milhões de pares de base do código genético que diferem entre humanos. Além disso, uma nova dose de variabilidade é adicionada a cada geração na forma de mutações.

Toda essa variabilidade constitui um imenso campo de ação para a seleção natural. Algumas versões de genes (alelos) têm um impacto negativo sobre a aptidão dos indivíduos e fazem com que seus portadores tenham uma prole menos numerosa nas gerações seguintes. Outras, porém, têm um impacto positivo e tornam seus portadores proporcionalmente mais bem representados nas gerações futuras. Em muitos casos, esses alelos se transformam virtualmente na única forma gênica presente em uma dada população (um processo conhecido como fixação).

Por que, então, as mutações ruins não são totalmente eliminadas

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enquanto aquelas que proporcionam vantagens são fixadas? Uma das razões é que a aptidão se modifica à medida que ocorrem mudanças no ambiente. Assim, a “melhor” versão de um gene atual pode ser diferente da que existia há 100 mil anos ou da que existirá daqui a 50 anos. O alelo que representa maior vantagem para a aptidão de um indivíduo também pode variar de um local para outro.

Além disso, é importante lembrar que a manutenção de alguns poucos indivíduos que apresentem alelos diferentes dos da maioria de uma população é essencial para a preservação da mesma durante um longo período temporal, fazendo frente às mudanças ambientais e, conseqüentemente, a novos fatores de seleção natural.

Tolerância à lactose

Leiteira, tela de 1658-1660 do pintor holandês Jan Vermeer van Delft (1632-1675).

Um exemplo interessante da evolução humana recente é a tolerância de adultos à lactose. Originalmente, os seres humanos, como muitos outros mamíferos, eram alimentados com leite apenas no início da vida e, na fase adulta, eram intolerantes à lactose. Contudo, em populações que tinham produtos lácteos à disposição e o hábito de consumir leite diariamente, foram selecionados alelos que expressavam durante toda a vida dos indivíduos enzimas que digerem lactose. O mesmo não ocorreu em grupos que não tinham acesso a esses alimentos.

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O ganho calórico e nutricional proporcionado por esses produtos gerou vantagens para as populações que os consumiam diariamente. Análises genéticas dessa enzima indicaram que os alelos relacionados com a tolerância à lactose na idade adulta evoluíram recentemente em descendentes das primeiras populações que consumiam diariamente leite e derivados.

O seqüenciamento do genoma humano e a criação de um catálogo detalhado da diversidade de nossa espécie, conhecido como HapMap, têm gerado ferramentas poderosas para que possamos compreender os mecanismos associados com a seleção natural sobre alelos de nossa espécie. Essas e outras ferramentas biotecnológicas têm permitido detectar a ocorrência de seleção positiva em humanos em genes relacionados com a fala, com funções cerebrais, com a cor da pele e a resistência a doenças.

Embora seja difícil prever o ambiente no qual nossa espécie viverá no futuro, doenças causadas por patógenos permanecerão um fator importante para a nossa espécie em um futuro próximo, principalmente em países pobres.

Algumas populações européias e do norte da Ásia apresentam um alelo raro que confere resistência contra o vírus HIV, causador da Aids. Os efeitos desse alelo ainda não se fazem notar, pois ele não está presente em populações que sofrem taxas elevadas de infecção por esse vírus (principalmente na África). Se a epidemia de HIV/Aids se tornar mais severa nessas populações ou se surgirem novas mutações nas populações sob epidemia, uma resistência à doença pode se desenvolver no futuro.

É claro que esse processo não ocorrerá de forma rápida e milhões de indivíduos morrerão antes que possamos combater de forma natural essa doença. Além do mais, o vírus pode também desenvolver mecanismos para evitar que isso ocorra.

O caso da malária

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A cada ano, cerca de 500 milhões de pessoas são infectadas por protozoários do gênero Plasmodium, causadores da malária. Em algumas populações historicamente afetadas pela doença, a seleção de pelo menos seis genes levou à evolução de resistência a essa enfermidade.

Outras doenças têm seguido um caminho similar. Um bom exemplo é o da malária, contra a qual a humanidade tem lutado há milênios – a cada ano, cerca de 500 milhões de pessoas são infectadas por protozoários do gênero Plasmodium, causadores da doença. Esse processo levou à evolução, em algumas populações historicamente afetadas pela malária, de resistência à doença, por meio da seleção de pelo menos seis genes.

Estaríamos, então, interferindo nesse processo natural ao criarmos vacinas e tratamentos contra essas doenças? De certa forma, sim, pois modificamos o regime de seleção ao qual nossa espécie está exposta. Do ponto de vista da seleção natural, os efeitos de uma doença sobre nossa aptidão deixam de atuar quando tratamos dessa patologia.

Contudo, nem sempre o tratamento elimina a doença e nem todas as pessoas são tratadas. Voltemos ao exemplo da malária: essa doença foi erradicada do sul dos Estados Unidos e em Cingapura, mas em lugares como o Brasil, os programas de erradicação não têm alcançado sucesso.

A seleção natural mantém os alelos que causam doenças genéticas em baixa freqüência nas populações. Contudo, novos alelos relacionados com essas patologias são criados em populações humanas por meio de novas mutações com a mesma velocidade em que são eliminados de outras pela seleção natural. Essa freqüência é determinada parcialmente pelas vantagens ou

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desvantagens que esses alelos conferem a seus portadores. Será que, ao tratarmos de pessoas com doenças genéticas, estaríamos, portanto, auxiliando a conservar esses alelos nas populações humanas?

É importante se estabelecer que qualquer mudança na freqüência gênica devido a esses tratamentos somente ocorrerá após várias gerações, um período suficiente para que novos estudos genéticos sejam conduzidos e novas alternativas sejam desenvolvidas. Além disso, esses tratamentos não se distribuem de forma igualitária a toda a população humana, excluindo muitos indivíduos que não têm acesso a eles.

Com sua capacidade de moldar dia após dia as espécies vivas às exigências ambientais, a evolução é a força motriz da vida no planeta. Cento e cinqüenta anos após a formulação da teoria da evolução por seleção natural por Charles Darwin e Alfred Wallace, sucessivas evidências tornaram esse processo algo inquestionável nos dias de hoje. O paradoxal é que, apesar disso, um número cada vez maior de pessoas mal informadas levanta dúvidas sobre a sua ocorrência. Nem parece que estamos no século 21... 

Jerry Carvalho Borges Colunista da CH On-line  02/05/2008

SUGESTÕES PARA LEITURA Bersaglieri et al. Genetic signatures of strong recent positive selection at the lactase gene. American Journal of Human Genetics 74: 1111-20, 2004.

Sabeti et al. The case for selection at CCR5-D32. PLoS Biology 3: e378, 2005.

Stephens et al. Dating the origin of the CCR5-D32 AIDS-resistance allele by the coalescence of haplotypes. American Journal of Human Genetics 62: 1507-15, 1998.

Tishkoff et al. Haplotype diversity and linkage disequilibrium at human G6PD: recent origin of alleles that confer malarial resistance.

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Science 293: 455-62, 2001.

The International HapMap Consortium. A haplotype map of the human genome. Nature 437: 1299-1320, 2005.

Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/118821

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NOTA: Com relação ao ‘leite e seus derivados’ (tolerância à lactose) é preciso redobrar a nossa atenção, no que se refere ao consumo regular destes alimentos. Várias pesquisas, nos vem alertando sobre os perigos do leite e seus derivados, como fator de várias enfermidades para o ser humano. Poderíamos citar algumas como: alergias, obesidade, diabetes tipo 2, osteoporose, hipertensão, alguns tipos de câncer (câncer de mama, de ovário, próstata etc.), otites de repetição (em crianças), etc.

É importante a leitura dos textos selecionados abaixo:

Leite

Dr. Wilson Rondó Jr. é especialista em medicina preventiva, nutrólogo e cirurgião vascular. Mantenha-se informado sobre seu trabalho e sobre os serviços oferecidos pela W.Rondó Medical Center pelo sitewww.drrondo.com

O leite, alimento destinado pela natureza a alimentar os jovens de cada espécie, é especialmente designado para o rápido cresci-mento das crianças. Nenhuma espécie de mamíferos consome leite na idade adulta. Para quase 25% das pessoas, a intolerância aos laticínios pode causar reações alérgicas, digestão pobre e o aparecimento de alteração de mucosa gastrintestinal. O organismo humano, em geral, não processa facilmente o leite de vaca, o creme de leite ou o queijo. Temos a tendência de

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ingerir em excesso esse tipo de alimento, o que provoca contínua e cumulativa tensão nos órgãos de excreção e no sistema venoso. Mesmo as pessoas que não apresentam sensibilidade aos laticínios reportam o aumento de energia a paparem de consumi-los. Por causa da alta taxa de gordura encontrada nesses alimentos, a diminuição de seu consumo significa redução proporcional efetiva na perda de peso, assim como a diminuição da pressão sangüínea e dos níveis de colesterol. Há dois elementos no leite e seus derivados que devem ser quebrados por enzimas orgânicas: lactose e caseína. A lactose é quebrada pela enzima lactase, e a caseína é quebrada pela enzima renina. Por volta dos 4 anos, a renina passa a não existir mais no trato digestivo, assim como a lactase numa parcela da população. Essa é a forma em que a natureza nos mostra o momento de descontinuarmos certos alimentos.A caseína é uma proteína do leite que se encontra trezentas vezes mais no leite de vaca do que no leite humano. Tem a consistência de cola, promovendo aderência de muco nas membranas celulares, especialmente no sistema respiratório. O corpo humano não possui mecanismo digestivo para degradar a caseína, promovendo o aumento de secreções, muco, irritações e obstruções do sistema respiratório, o que induz o aparecimento de asma, bronquites, sinusites, coriza, infecções de ouvido, etc. O leite e seus derivados são os principais causadores de alergias. Os indivíduos com intolerância à lactose apresentam normalmente gases, distenção abdominal, cólicas e diarréia, que somem poucas semanas após a suspensão do leite e seus derivados. Cerca de 40% das crianças abaixo de 6 anos apresentam otite de repetição, associada ao leite de vaca. Há evidências de que bebês de até 6 meses que bebem leite de vaca tem incidência aumentada de diabetes Tipo I. De acordo com o médico Hans Michael Dosch, da Universidade de Toronto, uma das proteínas do leite é muito parecida com as moléculas da superfície das células Beta do pâncreas, que produzem insulina. Quando o sistem imunológico reconhece a proteína do leite como corpo estranho, ataca-a, e isso causa ataque similar às células Beta, destruindo sua habilidade de produzir insulina e eventualmente causando diabetes. O leite comercial é conhecido como o maior causador de defi-ciência de ferro em bebês, não sendo aconselhável o uso de leite de vaca antes do 1 ano de idade. Somando-se a isso, há o risco dos pesticidas, antibióticos e resíduos hormonais. Quanto mais

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gordurosos são o leite e seus derivados, mais se encontram os pes-ticidas, pois estes têm afinidade pela gordura.

“Ao contrário do que diz a publicidade, os laticínios não são a melhor fonte de cálcio.”

Ao contrário do que diz a publicidade, os laticínios não são a melhor fonte de cálcio. A absorção é pobre por causa da pasteurização, do processamento, do alto teor de gordura e da relação de dese-quilíbrio quanto ao consumo de fósforo. Resíduos hormonais e aditi-vos encontrados nas pastagens do gado influem na incompleta absorção de cálcio e outros minerais. Em testes realizados com animais, os bezerros que foram alimentados com o próprio leite ma-terno, mas primeiramente pasteurizado, não viveram mais do que seis semanas.

(trecho do livro “Prevenção: A Medicina do Século XXI”, Wilson Rondó Jr., São Paulo, SP, Editora Gaia, 2000 – páginas 52 e 53).

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“Prevenção: A Medicina do Século XXI”, A guerra ao envelhecimento e às doenças; Dr. Wilson Rondó Jr., São Paulo, Editora Gaia, 2000.

Para adquirir este livro:

Editora Gaia Ltda(uma divisão da Global Editora e Distribuidora Ltda)Rua Pirapitingüi, 111-A – LiberdadeCEP 01508-020 – São Paulo – SPTel: (11) 3277-7999 – Fax (11) 3277-8141e-mail: [email protected]

Livraria Saraivahttp://www.livrariasaraiva.com.br/index.htm

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DOS DERIVADOS DO LEITE AO CÂNCER DE MAMA

Capítulo 1Um caso extraordinário

Dr. Raphaël Nogier,Clínico em Lyon, consultor junto à Organização Mundial de Saúde, lecionando e encarregado das relações internacionais junto ao grupo lionês de estudos médicos, profere regularmente conferências em uma quinzena de países. Já publicou inúmeros artigos no exterior.

Na vida de um homem há encontros em especial que deixam pela vida inteira um traço indelével. Assim, algumas pessoas nos marcam com sua contribuição. O mesmo ocorre com um médico. Nós clínicos, passamos a metade de nossa vida fechados em nossos consultórios. Voltamos à noite cansados, mas ao mesmo tempo felizes com os resultados obtidos, assim como deprimidos por termos cruzado com tanta miséria humana. Num dia de consulta desfilam todo tipo de pacientes: tímidos, covardes, frouxos, fanfarrões, corajosos, mas raramente seres excepcionais. Eu os chamo de “príncipes”, eles ou elas, os que saem do normal e cujas reações são belas, tão imprevistas que são. Aqueles ou aquelas cujo essencial é invisível aos olhos. Nesse dia, eu iria encontrar uma princesa. Quando ela entrou na sala do meu consultório, essa pequenina mulher me olhou com olhos espantados do alto de seu metro e meio. Magra, miúda, ela se sentou com distinção. Depois das apresentações de costume, eu lhe perguntei: – Em duas palavras, me diga do que padece. – De um câncer de mama! Eu ergui os olhos do papel: – Me conte. Ela se expressou com tato e polidez. Sem nenhuma queixa, ela descreveu seus males como se fossem os de outra pessoa. A história havia começado em 1985. Ela tinha 27 anos. Seu ginecologista tinha descoberto um grave tumor no seio esquerdo no quarto supero-externo. Ele imediatamente lhe indicou um cirurgião que, praticando a ablação do seio, infelizmente constatou que inúmeros gânglios sob o braço, estavam também contaminados.

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Depois da operação, ela passou por tratamentos de quimioterapia e uma radioterapia, consultando regularmente seu cancerologista. Até 1991 tudo parecia caminhar bem. Em junho de 1992, ela teve uma dor ciática; seu médico de família lhe prescreveu radiografias simples, que evidenciaram uma coluna vertebral lombar normal. O médico então lhe administrou antiinflamatórios de acordo com o costume em vigor. As dores não tendo cedido, Christine consultou novamente o cancerologista. Ele lhe participou seus temores e a aconselhou que se submetesse a uma tomografia. Esse exame permite detectar nos ossos, lesões que podem passar despercebidas nas radiografias simples.

Pág 52 A tomografia revelou lesões patentes (metástases) ao nível da 6ª e 7ª vértebras cervicais, da 1ª, 3ª e 5ª vértebras lombares. Christine se submeteu a uma nova série de radiações. Um mês mais tarde, a conselho de seu enfermeiro, ela me contactou. Esta mulher me contou toda a sua história sem pestanejar. Sua formação de engenheira lhe havia ensinado a precisão, a ser concisa. Ela me expôs os fatos de uma maneira brutal. “Gostaria que o senhor me ajudasse”. Amparado por meu bom senso e principalmente por minha boa vontade, eu a tomei pelas mãos. Ela passou por sua radioterapia e injeções para cimentar suas vértebras a fim de consolidar os ossos atingidos. Todas as semanas, eu acompanho seu estado geral. Cada consulta é um aprendizado, onde sem dúvida essa melhora excepcional me dá muito mais do que eu posso lhe dar em troca. Após três meses de tratamento, tivemos uma má notícia: há metástases pulmonares e hepáticas. Sua respiração se torna cada vez mais difícil. É estabelecido um tratamento por meio de cortisona, seguido de uma quimioterapia. Os sinais respiratórios melhoram pouco a pouco. Hoje, Christine está melhor. No momento em que estou escrevendo, ela foi passar uns dias no campo, com seu marido e seus dois filhos de 8 e 9 anos. Passou-se um ano desde que a conheci. Não há um dia sem que eu pense nela. Alguns casos são mais dolorosos do que os outros. Quando uma moléstia grave atinge uma pessoa em plena flor da idade, o médico, com freqüência, se comove em seu foro íntimo, mas por pudor, ele pouco discute, com medo de abordar temas tão terríveis como a morte. Christine, esta se encarregou de sua vida. Ela sabe que seu caso é gravíssimo, frequentemente falávamos sobre isso. Durante

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nossas conversas, abordávamos todos os assuntos: a vida, a morte, Deus. Ela não se fecha em si mesma, mas prefere se abrir ao mundo exterior. Ela recusa todo tratamento antidepressivo, todo tranqüilizante. Ela luta. Um dia, quando ela estava deitada sobre a maca, e que eu apalpava seu abdômen distendido por um empanzinamento, eu perguntava sobre sua vida passada. Sua história pode parecer banal. Para mim foi uma revelação. Christine nasceu numa família unida. Ela é a mais velha de cinco irmãs. As outras quatro, todas gozam de boa saúde. Após ter feito um bacharelado brilhante, prosseguiu seus estudos científicos, se casou, teve dois filhos. Foi em 1985, com 27 anos, que apareceu um caroço no seio. Christine nunca tomou remédios, nunca usou a pílula, e nunca esteve gravemente enferma. Quando criança ela era esguia, e tinha anginas freqüentes. Ela pratica esporte, não fuma, não bebe. Em sua família, ninguém, nem sua mãe, nem suas tias, jamais tiveram um câncer de mama. Aparentemente, nada pode, portanto, explicar o surgimento dessa terrível doença. Sem dúvida tendo mais tempo do que de costume, tive a idéia de lhe perguntar sobre seus pais. De fato, os choques afetivos favorecem o aparecimento de um câncer. Fazendo-lhe essa pergunta, eu lhe prestei uma ajuda. – Meu pai era alegre e bom para nós, ela me respondeu. Um espírito aberto que nos acrescentou muito. Não... nada desse lado, pensei. Mais por polidez que por interesse, eu ainda perguntei: – Que seu pai fazia?

Pág 53 – Dirigia uma leiteria. De repente, minhas idéias se entrechocaram. O tempo parou, ele não mais existia. Acho que fiquei silencioso por um bom tempo, pois Christine me perguntou: – O senhor está pensando em alguma coisa? É claro, eu estava pensando em alguma coisa. Como não havia pensado mais cedo! Isso me parecia tão evidente! O câncer de mama se desenvolve muitos anos antes de aparecer. Mais de oito anos se passaram entre o surgimento de uma célula cancerosa e o momento em que o tumor, de alguns milímetros, é palpável ao médico. O câncer, que aparece mais nas mulheres que sofrem dores nos seios ou mastoses, não seria provocado por uma intolerância aos derivados do leite?

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Após alguns minutos de reflexão, eu lhe fiz as duas últimas perguntas: – Seus pais a alimentaram com muitos produtos à base de leite? – Meu pai sempre nos trazia muitos iogurtes para casa. Frequentemente eu tomava uns seis por dia. – Sua mãe a amamentou? – Não, minha mãe tinha tido um abcesso no seio, e nunca me amamentou!

Quando Christine saiu de meu consultório, eu estava pensativo. As idéias iam e vinham. Eu estava obcecado por esta hipótese: o câncer de mama é provocado, em muitos casos por uma intolerância aos derivados do leite? Eu tentava organizar meus pensamentos. Como e por que ninguém pensou antes? A última peça do quebra-cabeças parecia, portanto, que tinha sido colocada no lugar. Era preciso ir mais longe e tratar de anular ou confirmar essa hipótese de trabalho. Sem dúvida, serão necessários muitos anos. Assim como dizia no primeiro capítulo, as novas mazelas da sociedade são tantas, que sempre se pode especular sobre a toxicidade de um produto. Por isso hoje me é impossível aliar de maneira formal a intolerância aos derivados do leite e o câncer de mama. Uma vez esse livro publicado, espero que colaboradores, centros de pesquisa, tratem, por meio de estudos, de criticar minha forma de agir, dando prosseguimento. Hoje eu dou avanço à uma hipótese, dando o melhor apoio possível. Farei como Demócrito que ensinava que através do pensamento tudo se pode conceber e descobrir. Num primeiro momento, eu reli toda a bibliografia atual sobre o câncer de mama, sua epidemiologia, e seu tratamento. Depois, peguei meu cajado de peregrino e fui bater à porta dos hospitais para interrogar as mulheres atingidas pelo câncer de mama. Lá, eu muitas vezes fiquei chocado em ver o espírito refratário de alguns cancerologistas. Outros, a quem eu expunha minhas idéias, me acolhiam com cortesia e me autorizavam a interrogar as pacientes sobre sua alimentação. Durante minhas férias, eu percorri as cidades de Poitou e as aldeias de Touraine, perguntando aos farmacêuticos se conheciam mulheres suscetíveis de me dar respostas. Eu seria ingrato se não dissesse a verdade toda. Fui amplamente ajudado nesse trabalho pela Sra. Valérie Bachellier, que também se deslocou aos hospitais, e cuja eficácia em obter resultados ficou provada de forma espantosa.

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Pág 54 Paralelamente, escrevia à FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), à OMS (Organização Mundial de Saúde), e às diversas embaixadas para conhecer o consumo de leite nos diversos países. Aí mais uma vez, eu me defrontei com dificuldades. Os números não eram facilmente obtidos, o serviço das embaixadas não é gratuito. Um estudo nunca é simples e não se faz sem tenacidade. Foi, portanto, à força de empenho, de cartas, de discussões com profissionais, que pude obter informações e responder à muitas perguntas:

– Existe em cada país uma correlação entre o consumo de derivados do leite e o câncer de mama? – O câncer de mama existe no animal selvagem? – O que ocorre com o aleitamento maternal? – As mulheres que sofrem de câncer de mama apresentam outros sinais de intolerância aos derivados do leite? – Haveria um teste biológico para detectar uma intolerância aos derivados do leite?

É em função dessas cinco questões que será possível estabelecer um conjunto de argumentos aptos a formular uma hipótese. Uma resposta afirmativa apenas à uma ou duas destas questões não permite formar uma idéia do assunto. É o conjunto de respostas, se estas se direcionam no mesmo sentido, que vai forjar a convicção íntima, como um juiz de instrução. Quando uma criança tem dor na barriga, isso não quer forçosamente dizer que tenha comido chocolate. Por outro lado, se houver chocolate na boca, e o tablete tenha sumido e ela se queixa de dores abdominais, dispomos de um feixe de argumentos que levam legitimamente a pensar que ela comeu este tablete de chocolate que esteja faltando. Esse estudo depende de sorte: trata-se de trazer à luz muitos indicadores concordantes. Porém, antes de ir mais longe, convém comparar a composição do leite de vaca à do leite humano a fim de compreender sua toxicidade potencial.

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(fonte: trecho do livro “O Leite que ameaça as Mulheres”, Dr. Raphaël Nogier, págs. 51 a 54).

Livro:

“O Leite que ameaça as Mulheres”, Dr. Raphaël Nogier, Um documento explosivo: o consumo de derivados do leite teria uma influência preponderante sobre os cânceres de mama. Ícone Edirora, 1999.

ÍCONE EDITORA LTDARua das Palmeiras, 213 – Sta. CecíliaCEP 01226-010 – São Paulo – SPTels. /Fax; (011) 3666-3095

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Livros recomendados:-

"A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos", Dra Marcia Angell, 319 páginas,Editora Record,Rio de Janeiro/ São Paulo, 2007;

"Leite: Alimento ou Veneno?" do cientista Robert Cohen, 354 páginas, Editora Ground, 2005.

Peter Rost, "The Whistleblower: Confessions of a Healthcare Hitman" (O Denunciante: Confissões de um Combatente do Sistema de Saúde), lançado em 2006 nos EUA e inédito no Brasil.

“Fique mais jovem a cada ano” Chege aos 80 anos com a saúde, o vigor e a forma física de um cinqüentão; Chris Croeley e Henry S. Lodge, M.D. – Editora Sextante, 2007.

“O Leite que ameaça as mulheres”, um documento explosivo: o consumo de derivados do leite teria uma influência preponderante sobre os cânceres de mama; Raphaël Nogier, Ícone Editora Ltda, São Paulo, 1999.

“As Alergias Ocultas nas Doenças da Mama”, Raphaël Nogier, Organização Andrei Editora Ltda,1998.

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“Alimentação que evita o Câncer e outras doenças”, Dr. Sidney Federmann/ Dra. Miriam Federmann – Editora Minuano”

“Curas Naturais “Que” Eles Não Querem Que Você Saiba”, Kevin Trudeau, Editora Alliance Publishing Group. Inc., 576 páginas, Spain, 2007 (Edição em português publicada pela LTVM, S.A.) (pedidos pelo tel: 012-11-3527-1008 ou www.gigashopping.com.br/ )

“Técnicas de Controle do Estresse”, Dr. Vernon Coleman, Imago Editora, 116 páginas (O Livro Explica Como, Porque e Quando o Estresse Causa Problemas Alem de Mostrar Formas Eficientes de Controlar e Minimizá-lo em sua Empresa.)

“Fazendo as Pazes com Seu Peso”, Obesidade e Emagrecimento: entendendo um dos grandes problemas deste século, Dr. Wilson Rondó Jr., Editora Gaia, São Paulo, 3ª Edição, 2003.

“Prevenção: A Medicina do Século XXI”, A Guerra ao Envelhecimento e às Doenças, A terapia molecular irá diminuir a incidência de câncer, doenças cardiovasculares, envelhecimento e muito mais; Dr. Wilson Rondó Junior, 240 páginas, Editora Gaia, São Paulo, 2000.

“A dieta do doutor Barcellos contra o Câncer” e todas as alergias, Sonia Hirsch - uma publicação Hirsch & Mauad, Rio de Janeiro, 2002, www.correcotia.com

"Atividade Física e Envelhecimento Saudável", Dr. Wilson Jacob Filho, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), Editora Atheneu.

“O Fator Homocisteína”, A revolucionária descoberta que mostra como diminuir o risco da doença cardíaca, Dr. Kilmer McCully e Martha McCully, 231 páginas, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2000.

“Apague a Luz!”, durma melhor e: perca peso, diminua a pressão arterial e reduza o estresse; T S Wiley e Bent Formby, Ph.D. – Editora Campus, 2000.

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