Joao, A. Materiais Pintura Mural Romana Segundo Vitruvio. 2004

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    paredes. Alm da enumerao dos materiais usados na pintura mural como a maior parte da pintura romana que at ns chegou , Vitrvio tece a algumasconsideraes a respeito do valor e da qualidade desses materiais e fornece infor-

    maes acerca dos respectivos processos de preparao. Embora, como se disse,actualmente estejam disponveis duas tradues em lngua portuguesa do textovitruviano, qualquer uma delas muito deficiente no que toca aos mencionadoscaptulos dedicados aos materiais responsveis pela cor. O problema relaciona-se com as enormes dificuldades que, de uma forma geral, esto envolvidas nainterpretao e, por conseguinte, traduo de antigos textos tcnicos, dificul-dades estas que derivam, antes de mais, da alterao ao longo dos sculos, porvezes radical, do vocabulrio tcnico que, independentemente disso, j fre-quentemente hermtico. No concreto caso dos pigmentos, sucede que muitasdas designaes latinas nada tm que ver com os actuais nomes dos materiais(cf. Quadro 1); quando parece haver continuidade, por vezes ela no existe narealidade (por exemplo, o minium romano completamente diferente do nossomnio); o mesmo nome era utilizado para materiais diferentes (a sandaracatanto pode ser o realgar como o mnio da actualidade); ou, pelo contrrio, mate-riais essencialmente semelhantes tinham vrias designaes (pode ser o caso decreta e paraetonium). Por estas e outras razes, o conhecimento dos dois idiomasenvolvidos no suficiente para que a traduo de um tratado antigo possa ser

    feita correctamente; indispensvel um profundo conhecimento do assunto emcausa uma exigncia que incontornvel em qualquer traduo que se preze,mas que no caso de alguns temas, como o presente, no fcil conciliar com odomnio da lngua original.

    As pginas de Vitrvio dedicadas cor, no entanto, so de consulta obriga-tria numa histria tcnica da arte, quer por traarem uma imagem organizadae sistemtica sobre a matria de que feita a pintura de um certo momento daAntiguidade Clssica imagem esta que a primeira com tais caractersticas 6

    , quer pelas influncias que tiveram em sculos posteriores, directa ou indirec-

    tamente, ao nvel real ou no plano do ideal. A este respeito interessante a afir-mao de Francisco de Holanda, em 1548, sobre os materiais usados no seutempo: E das cores, de que eu alguma coisa pudera dizer, no digo mais pelagrande melancolia que tenho de M. Vetrvio, que sendo arquitector soube delastanto como escreve no stimo livro que as ensina a fazer e a apurar 7. Porm,foi Plnio, o Velho (23-79 d.C.), quem mais utilizou essas informaes, cem anosdepois de Vitrvio, na sua Histria Natural, sobretudo nos livros XXXIII eXXXV, dedicados, respectivamente, aos metais e pintura. Como Plnio no selimita e essa fonte e frequentemente acrescenta outros informes, a sua obra no

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    6. Cf., por exemplo, Slvia BORDINI, Materia e Imagem. Fuentes bibliogrficas de las tcnicas dela pintura, Barcelona, Ediciones de Serbal, 1995. Edio original, em italiano: 1991.

    7. Francisco de HOLANDA, Da Pintura Antiga, introduo, notas e comentrios de Jos da Feli-cidade ALVES, Lisboa, Livros Horizonte, 1984, p. 73

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    pode ser ignorada quando se pretende interpretar as passagens vitruvianas 8.Considerando o exposto, pretende-se apresentar aqui uma nova traduo emportugus das pginas de Vitrvio dedicadas s cores que, espera-se, esteja

    tecnologicamente correcta. A traduo complementada por alguns comentriosque, alm de organizarem o contedo do tratado, tm como objectivo enquadraras informaes disponibilizadas, sublinhar algumas questes menos visveise dar conta das principais dvidas e incertezas associadas traduo. Embora ocompleto entendimento dessas pginas requeira alguns conhecimentos de natu-reza qumica e fsica, atendendo ao local, essas questes s muito pontualmenteso explicitamente abordadas. Da mesma forma, as referncias bibliogrficasapresentadas como sugestes de leitura para o desenvolvimento de alguns dosassuntos abordados evitam a literatura dessas reas tanto quanto possvel.

    Deve notar-se que as cores, no sentido de materiais, e no de propriedade,so ps muito finos que eram misturados com gua ou outro aglutinante (cola,goma, ovo, entre outros); a tinta assim obtida era aplicada, respectivamente,sobre a argamassa hmida (pintura a fresco) ou, muito menos frequentemente,sobre a argamassa seca (pintura a seco) 9.

    Sobre a traduo e os seus problemas

    A presente traduo incide essencialmente sobre os captulos 6 a 14 dolivro VII de A Arquitectura, de Vitrvio, mas inicia-se com um curto extracto docaptulo 5, que, embora no encaixe, tal como est, na estrutura definida pelosoutros captulos mencionados, muito interessante. A traduo no foi realizadaa partir do latim, por desconhecimento do mesmo, mas de vrias tradues,nomeadamente verses em ingls, francs e castelhano, referidas de seguida.Mais do que uma traduo linguisticamente correcta, no sentido de reproduziro mais fielmente possvel o estilo original, o que est fora de questo devido

    mencionada limitao, pretende ser uma traduo tecnologicamente correcta.Isto : tendo por base os estudos de diferente natureza at ao presente realizadosem torno dos assuntos e dos materiais abordados por Vitrvio nestes captulos,trabalhos estes conduzidos no mbito de outras tradues da obra vitruviana

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    8. Como snteses acessveis sobre as cores (materiais) da Antiguidade, que, evidentemente,utilizam extensivamente os textos de Vitrvio e Plnio, podem referir-se, por exemplo: Joo M.Peixoto CABRAL, Histria Breve dos Pigmentos. III Das artes grega e romana, Qumica. Boletimda Sociedade Portuguesa de Qumica, n. 82, 2001, pp. 57-64; Franois DELAMARE e BernardGUINEAU, Colour. Making and using dyes and pigments, Londres, Thames & Hudson Ltd, 2000(edio original, em francs: 1999); Philip BALL, Bright Earth. Art and the invention of color,Chicago, The University of Chicago Press, 2001.

    9. Sobre as tcnicas da pintura mural romana, cf. Paolo MORA, Laura MORA e Paul PHILIPPOT,Conservation of Wall Paintings, Londres, Butterworths, 1984, especialmente as pp. 89-101.

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    ou independentes deste contexto, pretende interpretar correctamente o texto arespeito dos materiais em causa e procedimentos a que os mesmos so sujeitos.

    Foram utilizadas vrias edies, mas as mais teis ou mais frequentemente

    consultadas foram as seguintes, ordenadas, tanto quanto possvel, por ordemdecrescente de importncia: a edio em latim e francs da Collection des Uni-versits de France, de LIOU, ZUINGHEDAU e CAM 10, a traduo inglesa de MORGAN 11,a edio em latim e ingls de GRANGER que integra a The Loeb Classical Library12, a traduo castelhana de ORTZ Y SANZ 13, a edio em latim e francs deMAUFRAS 14, a traduo francesa de PERRAULT 15 e a traduo inglesa de GWILT 16.Alm dos comentrios inseridos nalgumas destas edies, nomeadamente a deLIOU, ZUINGHEDAU e CAM, a de MAUFRAS, a de PERRAULT e a de ORTZ Y SANZ,alguns outros estudos foram especialmente proveitosos 17. Os captulos 6 a 14foram traduzidos na ntegra, com as excepes da primeira parte do captulo 6,dedicada ao mrmore, de parte do captulo 8, sobre as propriedades do mercrio,que foi suprimida por ser irrelevante para o assunto das cores, e do ltimo par-grafo do captulo 14, que funciona como concluso do livro VII. As omisses estoassinaladas por [].

    Os nomes dos materiais, nomeadamente dos pigmentos e corantes, colo-caram trs tipos de problemas. O primeiro j foi mencionado e consiste em sabero que se esconde por detrs de cada uma das designaes. um problema geral,

    que rigorosamente est relacionado com a interpretao e no com a traduo.

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    10. VITRUVE, De lArchitecture. Livre VII, estabelecimento do texto e traduo de Bernard LIOUe Michel ZUINGHEDAU, comentrios de Marie-Thrse CAM, Paris, Les Belles Lettres, 1995.

    11. VITRUVIUS, The Ten Books on Architecture, traduo de Morris Hicky MORGAN, Nova Iorque,Dover Publications, 1960. 1. edio: 1914.

    12. VITRUVIUS, On Architecture, estabelecimento do texto e traduo de Frank GRANGER, 2 volu-mes, Cambrige-Londres, Harvard University Press William Heinemann Ltd, 1983-5. 1. edio: 1934.

    13. M.VITRUVIO POLION, Los Diez Libros de Archtectura, traduo e comentrios de D. Joseph

    ORTZ YSANZ, Madrid, Imprenta Real, 1787.14. VITRUVE, LArchitecture, traduo de Ch. L. MAUFRAS, 2 volumes, Paris, C. L. F. Panckoucke,

    diteur, 1847.15. VITRUVE, Les Dix Livres dArchitectura, traduo de Claude PERRAULT, Paris, Jean Baptiste

    Coignard, 1673. H edio fac-similada recente com introduo de Antoine PICON: Paris, Biblio-thque de lImage, 2002.

    16. Marcus VITRUVIUS POLLIO, The Architecture, traduo de Joseph GWILT, Londres, Priestleyand Weale, 1826.

    17. Entre os estudos de natureza geral, que so obras de referncia, contam-se os seguintes:R. J. FORBES, Studies in Ancient Technology, vol. III, 3. ed., Leiden-Nova Iorque-Colnia, E. J. Brill,1993, cap. VII (1. edio: 1965); R. J. GETTENS, G. L. STOUT, Painting Materials: A Short Encyclo-pedia, Nova Iorque, Dover Publications, 1966 (1. edio: 1942); R. L. FELLER (org.), Artists Pigments.A Handbook of their History and Characteristics. Volume 1, Cambridge, Cambridge UniversityPress, 1986; A. ROY, (org.), Artists Pigments. A Handbook of their History and Characteristics.Volume 2. Washington, National Gallery of Art, 1993; E. FITZHUGH, (org.), Artists Pigments. A Hand-book of their History and Characteristics. Volume 3, Washington, National Gallery of Art, 1997.Pela sua natureza de referncia e o seu permanente uso, s excepcionalmente so mencionadasestas obras ao longo dos comentrios finais; caso contrrio proliferariam as notas com as refernciasbibliogrficas.

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    Uma das formas de o ultrapassar passa pela considerao de todas as informa-es a respeito dos materiais, particularmente as suas propriedades, prestadasquer no texto a traduzir, quer noutras obras da mesma poca o que na presente

    situao significa sobretudo a Histria Natural, de Plnio 18. Nos comentriosque se seguem traduo so referidas algumas das concretas dificuldadesencontradas.

    O segundo problema est relacionado com a forma de apresentao simul-tnea dos nomes dos materiais em latim e portugus. Desde o primeiro momentofoi considerado que, no caso das cores, era indispensvel manter as duas desig-naes, no s por razes histricas, mas para tornar inteligvel o prprio texto.Por exemplo, como se pode perceber a afirmao de que a azurite mostra atravsdo seu nome o local de provenincia? No se percebe! J o nome latino arme-nicum remete claramente para a Armnia. Portanto, tomada esta opo dedupla designao, surge a questo de como a fazer. Das vrias possibilidadesconsideradas, pareceu que as notas em p de pgina ou no final da traduo eraalgo a evitar a bem da legibilidade e da inteligibilidade. Assim, cada pigmentoou corante identificado pelo seu nome em portugus e, na primeira ocorrnciaem cada captulo, sua denominao latina, entre parntesis rectos, imediata-mente depois.

    O terceiro problema tem que ver com a designao a utilizar em portugus.

    Por um lado, no caso de existirem vrias alternativas, qual escolher? A maisutilizada actualmente? Ou a mais tradicional, eventualmente j em desuso, deforma a no tornar os anacronismos to evidentes e dar uma aparncia arcai-zante ao texto, mais de acordo com a sua idade? Por outro lado, que nome apre-sentar quando no h equivalente em portugus? Forj-lo, utilizar umadesignao descritiva ou, no caso de isso ser possvel, usar uma designao maisgenrica correspondente a um outro material do mesmo tipo? Sobre a primeirasituao, considerando o objectivo desta traduo, pareceu que a designaoactual deveria ser sempre preferida. No entanto, como pode haver algum inte-

    resse nas outras designaes, por exemplo, para o confronto do texto de Vitrviocom os de outras pocas, os sinnimos mais importantes no contexto da trata-dstica so apresentados no Quadro 1 19. Quanto segunda situao, foram apro-veitados dois neologismos recentemente propostos melino e paretnio 20 epara os restantes materiais a opo foi tomada caso a caso.

    AS CORES VITRUVIANAS 71

    18. Foram utilizadas sobretudo as seguintes edies: PLINY, Natural History. Books 33-35,traduo de H. RACKHAM, Cambridge-Londres, Harvard University Press, 2003 (1. edio: 1952);PLINE LANCIEN, Histoire Naturelle. Livre XXXIII. Nature des mtaux, estabelecimento do texto etraduo de Hubert ZEHNACKER, introduo e notas de Pierre-Emmanuel DAUZAT, Paris, Les BellesLetres, 1999; PLINE LANCIEN, Histoire Naturelle. Livre XXXV. La Peinture, estabelecimento do textoe traduo de Jean-Michel CROISILLE, introduo e notas de Pierre-Emmanuel DAUZAT, Paris,Les Belles Letres, 2001.

    19. A respeito de alguns desses sinnimos colhem-se informaes cronolgicas interessantesno Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa, 6 volumes, Lisboa, Crculo de Leitores, 2002-2003.

    20. MACIEL, op. cit.

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    Para concluir estas observaes prvias, importa fazer mais duas adver-tncias. A primeira a de que os topnimos foram conservados em latim, exceptoquando existe nome em portugus com grafia prxima. Nos casos em que os

    nomes latinos e os nomes actuais diferem significativamente apresentada aequivalncia entre parntesis rectos. O mapa da figura 1 d conta dos locaise das regies mencionadas 21. A segunda observao a de que a reduzidaextenso do texto traduzido e a economia de espao levaram a no destacar oincio dos captulos, nem atribuir qualquer ttulo aos mesmos. Alis, sucede quea diviso em captulos inexistente no principal e mais antigo manuscritoconhecido do texto latino o manuscrito Harleian 2767, da British Library, dat-vel do sculo IX , tendo sido introduzida pela primeira vez por Fra GIOCONDO,na sua edio incontornvel, de Florena, de 1522 22. No entanto, manteve-se ahabitual numerao dos captulos e dos pargrafos indicada pelos nmeros noincio de cada pargrafo, com o formato Captulo. Pargrafo , a qual, sendoa forma mais cmoda e universal de referenciar o texto vitruviano, por exemplo, utilizada nos comentrios finais para remeter para a traduo efectuada.

    Traduo do texto de Vitrvio

    5.8. Quem, entre os antigos, no parece ter utilizado o cinbrio [minium]com parcimnia, como uma droga? Mas actualmente frequentemente utilizadopara revestir paredes inteiras. E o mesmo acontece com a malaquite [chryso-colla], a prpura [ostrum] e a azurite [armenicum]. Quando so usadas estascores, brilham nos olhos, mesmo que aplicadas sem jeito, e, porque so dispen-diosas, estipulado nos contratos o seu fornecimento pelo encomendante e nopelo pintor. []

    6.1. [] Quanto s cores, algumas formam-se, elas prprias, em determi-

    nados locais, de onde se obtm por minerao, mas outras so obtidas artificial-mente a partir de outras substncias sujeitas a certos tratamentos e misturas,de forma que podem ser usadas da mesma forma no revestimento dos edifcios.

    7.1. Em primeiro lugar, descreverei as cores formadas por si mesmas quese obtm por minerao, como o ocre amarelo [sil], que os gregos chamam ochra.Este encontrado em muitos locais, como em Itlia; mas o melhor, o tico, j noh agora, desde que os escravos abriram galerias nas minas de prata em Atenaspara extrarem a prata. Ento, quando por acaso encontravam um veio de ocre

    amarelo seguiam-no como se fosse de prata e, assim, os antigos dispunham degrande cpia de bom ocre amarelo para usar nas suas obras.

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    21. Alm de outra bibliografia de uso corrente e das vrias edies de Vitrvio, foi muito til atabela de equivalncias geogrficas apresentada em PLINY THE ELDER, Natural History. A selection,traduo, introduo e notas de John F. HEALY, Londres, Penguin Books, 1991, pp. 379-385.

    22. GRANGER, introduo sua edio do tratado, volume I, p. XXV.

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    7.2. O ocre vermelho [rubrica] tambm se acha com abundncia em muitoslocais, mas o bom raro e encontra-se apenas em Sinope (Ponto), e no Egipto,nas Baleares (Hispnia) e no menos em Lemnos, ilha cujas receitas foram atri-

    budas aos atenienses pelo Senado e pelo Povo Romano.

    7.3. O paretnio [paraetonium] deve o seu nome ao local [Paraetonium =Mathruh] onde obtido. Da mesma forma, o melino [melinum], que, diz-se, ummineral extrado em Melos, nas ilhas Cclades.

    7.4. A terra verde [creta viridis] surge em muitos locais, mas a melhor ade Esmirna; os gregos chamam-lhe theodoteion porque Theodotus era o nome dodono da propriedade onde pela primeira vez foi encontrada esta terra.

    7.5. O auripigmento [auripigmentum], que os gregos chamam arsenicon, extrado no Ponto. O realgar [sandaraca] tambm se encontra em muitos locais,mas o melhor obtido no Ponto, prximo do rio Hypanis [=Boug].

    8.1. Passarei agora a explicar a natureza do cinbrio [minium]. Diz-se quefoi descoberto nos campos Cilbianos, em feso. A sua natureza e as suas proprie-dades merecem admirao. Antes de se ter o cinbrio, escolhido o minrio deonde provm, o qual semelhante ao do ferro, mas mais avermelhado e cobertode um p vermelho. Durante a extraco batido com ferros at libertar muitasgotas de mercrio, que so recolhidas pelos mineiros.

    8.2. Quando o minrio levado para a oficina, devido sua humidade, colocado num forno para secar e os vapores que liberta em resultado do aqueci-mento pelo fogo assentam no fundo do forno e do origem a mercrio. []

    9.1. Volto agora preparao do cinbrio. Quando o minrio est seco,

    modo com piles de ferro e, atravs de sucessivas lavagens e aquecimentos, soremovidas as impurezas e obtida a cor. Quando o mercrio removido, o cin-brio perde as suas qualidades naturais e torna-se frgil e quebradio.

    9.2. Assim, quando utilizado no acabamento de salas fechadas, conservaa sua cor sem alterao; porm, em espaos abertos, como os peristilos, asxedras e etc., onde o Sol e a Lua fazem chegar o seu esplendor e os seus raios,a cor altera-se e, perdendo a sua fora, escurece. Assim aconteceu, entre muitosoutros, ao escriba Faberius que queria ter a sua habitao no Aventino decorada

    com elegncia e fez pintar com cinbrio todas as paredes do peristilo, mas ao fimde XXX dias as paredes tinham adquirido uma cor desagradvel e desigual.Assim, teve que as mandar pintar com outras cores.

    9.3. Mas quem mais cuidadoso e quer que as paredes pintadas com cin-brio conservem a sua cor, depois de seca sobre ela aplica com um pincel cerapnica derretida no fogo misturada com um pouco de leo; depois coloca carvo

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    num vaso de ferro e assim aquece a parede at que a cera sue e fique nivelada;finalmente procede ao polimento com uma vela e com panos de linho, como se fazs esttuas nuas de mrmore (este processo chamado ganosis em grego).

    9.4. Assim, a camada protectora de cera pnica evita que o esplendor daLua e os raios de Sol, lambendo as paredes, retirem a cor dos revestimentos.As oficinas que existiam nas minas de feso foram agora transferidas paraRoma, dado que este tipo de mineral foi descoberto nalgumas regies da Hisp-nia e daqui transportado para Roma, onde os publicanos controlam o seu trata-mento. As oficinas ficam entre os templos de Flora e de Quirinus.

    9.5. O cinbrio adulterado por mistura com cal. Assim, quem quiser

    testar a sua pureza deve fazer da forma seguinte. Tome uma lmina de ferro,coloque a o cinbrio e leve ao fogo at a lmina ficar incandescente. Quando acor mudar para preto, devido ao aquecimento, retire a placa do fogo e se aps oarrefecimento readquirir a sua cor inicial fica demonstrada a sua pureza; mas sepermanecer preto, significa que est adulterado.

    9.6. Disse tudo o que sabia a respeito do cinbrio. A malaquite [chrysocolla] trazida da Macednia; extrada na vizinhana de minas de cobre. A azurite[armenicum] e o ndigo [indicum] mostram atravs dos seus nomes os locaisonde surgem.

    10.1. Passarei agora s substncias que, por tratamento adequado, mudama sua composio e adquirem novas cores. E em primeiro lugar tratarei do atra-mento [atramentum], cujo uso indispensvel em tantas obras, de forma atornar conhecidos os mtodos de preparao deste material de acordo com osprocessos estabelecidos.

    10.2. Constri-se um pequeno edifico [laconicum] todo revestido demrmore cuidadosamente polido. sua frente feito um forno com ligao aessa construo e com uma abertura que possa ser bem fechada para que aschamas no escapem para o exterior. No forno coloca-se resina. A potncia dofogo ao queim-la faz com que se liberte fuligem que passa para o edifcio e sedeposita nas suas paredes e abbada. ento recolhida e uma parte misturadae trabalhada com goma para ser usada como tinta para escrever e o resto misturado com cola e usado pelos pintores na pintura das paredes.

    10.3. Mas se no for possvel, por falta de provises, eis como se poderesponder s necessidades, sem se atrasar a obra: queimam-se sarmentos ouaparas de pinho, apaga-se o carvo formado e mi-se este com cola num almo-fariz; assim se obtm um atramento a que no falta beleza.

    10.4. A partir de borras de vinho secas e queimadas num forno tambm seobtm um atramento que pode ser aplicado nas paredes depois de modo com

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    cola e que ainda mais agradvel; e quanto melhor for o vinho, melhor ser aimitao, no apenas do atramento, mas tambm do ndigo.

    11.1. A preparao do azul egpcio [caerulium] foi inicialmente inventadaem Alexandria e mais tarde Vestrio deu incio sua preparao em Puteoli[=Puzzuoli]. A inveno admirvel, vistas as substncias a partir das quais preparado. Areia e flores de natro so modas juntamente at ficarem to finascomo farinha; adiciona-se limalha de cobre de Chipre feita com limas grossas erega-se tudo com um pouco de gua para fazer uma pasta com a qual se moldamvrias bolas com as mos, que se deixam secar; depois de secas, colocam-se estasbolas num pote e o pote no forno: o cobre e a areia, devido veemncia do fogo,do e recebem os suores libertados ao serem aquecidos e perdem as suas proprie-dades devido veemncia do fogo e originam a cor azul.

    11.2. O ocre queimado [usta], que muito til aos pintores de paredes, obtido assim: minrio de bom ocre amarelo aquecido no fogo at incandes-cncia; ento arrefecido com vinagre [aceto] e obtm-se uma cor prpura.

    12.1. No est fora de propsito tratar agora do branco de chumbo [cerussa]e do verdigris, que ns chamamos aeruca. Em Rodes colocam sarmentos nofundo de uma vasilha de barro, onde deitam vinagre, e sobre os sarmentoscolocam pedaos de chumbo; as vasilhas so bem fechadas para impedir a evapo-rao. Ao fim de certo tempo abrem-se e os pedaos de chumbo esto transfor-mados em branco de chumbo. Da mesma forma, usando lminas de cobre obtmo verdigris, a que ns chamamos aeruca.

    12.2. O branco de chumbo, se for queimado num forno, muda a sua cor poraco do fogo e d origem a mnio [sandaraca] facto que o acaso de um incndioensinou aos homens , que de muito melhor qualidade que o mineral que se

    obtm nas minas [=realgar].

    13.1. Comeo agora a falar da prpura [ostrum] que, de todas as cores, amais cara e mais agradvel vista. obtida das conchas marinhas que propor-cionam a cor prpura usada nos tecidos e no merece pequena admirao porparte dos observadores das coisas da natureza porque no a mesma em todosos locais, mas est de acordo com o curso do Sol.

    13.2. A que recolhida no Ponto e na Glia, porque estas regies esto mais

    prximas do setentrio, negra; entre o setentrio e o ocidente azulada; nooriente e no ocidente equinocial tem cor violcea; e nas regies meridionais vermelha, e esta qualidade que se encontra na ilha de Rodes e noutras regiesprximas do curso do Sol.

    13.3. Estas conchas, depois de recolhidas, so cortadas com ferramentas elibertam umas gotas de um humor purpreo que recolhido num almofariz onde

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    triturado. E porque obtido de conchas marinas, chama-se ostrum. Devido aosal, seca rapidamente, a no ser que se misture com mel.

    14.1. Tambm se faz a cor prpura com cr ou terra branca [creta] tingidacom garana [rubiae radice] e quermes [hysginum], tal como das flores se obtmoutras cores. Assim, quando os pintores das paredes querem imitar o ocreamarelo [sil] colocam violetas secas [viola] em gua e fervem-na no fogo equando a mistura est feita deitam-na num tecido e espremem-na com as mospara um almofariz onde recolhem a cor resultante das violetas; e adicionam cre moem, obtendo a cor do ocre tico [sil atticum].

    14.2. Da mesma forma misturando mirtilos [vaccinium] com leite obtm-seuma elegante cor prpura. Os que no podem usar a malaquite [chrysocolla] porser cara, misturam o azul egpcio [caerulum] com uma erva que se chama lrio-dos-tintureiros [luteum] e obtm um bom verde; chama-se [verde] de tingimento[infectiva]. Na falta de ndigo [indicum], usa-se terra de Selinus [creta Selinusia]ou anular [creta anularia] e pastel-dos-tintureiros [vitrum], que os gregos cha-mam isatis, e faz-se uma boa imitao de ndigo.

    Comentrios ao texto de Vitrvio

    Materiais naturais e materiais artificiais

    Vitrvio divide os materiais responsveis pela cor em duas categorias: osmateriais naturais, obtidos por minerao, e os materiais artificiais, que sopreparados a partir de outras substncias (6.1). A distino pertinente e peem evidncia o facto de a utilizao de pigmentos sintticos em pintura no

    ser recente. Apenas deve ser feito um reparo: com base nos seus critriosno correcta a incluso do ndigo na primeira destas categorias, ainda que sejabreve a referncia a essa cor (9.6). Provavelmente, este erro est relacionadocom a ideia, que sobreviveu at tempos relativamente recentes, de que o ndigo,isto , um material proveniente da ndia, era um mineral, ainda que Plnioparea descrever correctamente o processo envolvido na sua obteno a partirde plantas 23. Tendo-se em conta esta correco, verifica-se que so consideradosmateriais naturais aqueles que correspondem a minerais que, alm da inevi-tvel moagem, eventualmente s so sujeitos a simples operaes de purificao

    que conduzem remoo das impurezas, enquanto so classificados como mate-riais artificias quer os que se obtm atravs de transformaes qumicas de

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    23. Helmut SCHWEPPE, Indigo and woad, in E. W. FITZHUGH, op. cit., pp. 81-107, especial-mente p. 82. Cf., tambm, Michel PASTOUREAU, Bleu. Histoire dune couleur, Paris, dtions du Seuil,2002, pp. 18-19.

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    outras substncias, designadamente as que esto envolvidas na calcinao (atra-mento, ocre queimado e mnio), oxidao dos metais (branco de chumbo e ver-digris) e relativamente elaborado processo de sntese (azul egpcio), quer os

    corantes extrados de vegetais (ndigo, garana, imitao do ocre amarelo prepa-rada a partir de violetas, imitao da prpura feita a partir de mirtilos, pastel-dos-tintureiros e corante amarelo obtido do lrio-dos-tintureiros usado naimitao da malaquite) ou animais (prpura e quermes).

    A distino entre materiais naturais e materiais artificiais, no entanto,actualmente no feita da mesma forma, j que os corantes extrados de vege-tais ou animais so includos na categoria dos materiais naturais em virtudede na sua obteno estarem essencialmente envolvidos processos fsicos e notransformaes qumicas distinguindo-se dos equivalentes corantes artificiaisque, na 2. metade do sculo XIX, comearam a ser sintetizados em laboratrio 24.A classificao apresentada no Quadro 1 feita de acordo com este critrio.

    Pigmentos, corantes e lacas

    Uma outra classificao dos materiais referidos por Vitrvio, que possvelfazer hoje, mas no no seu tempo, envolve a sua diviso em pigmentos ecorantes. Embora estes dois termos sejam habitualmente usados como sin-

    nimos, sendo utilizados para designar o constituinte responsvel pela cor deum material independentemente das suas caractersticas, num sentido maisrestrito, comum no contexto dos materiais usados em pintura, correspondem amateriais significativamente diferentes 25. Nesta perspectiva, so consideradoscorantes os materiais orgnicos, isto , os materiais que tm uma composioqumica elementar qualitativa muito semelhante base de carbono, hidrognio,oxignio e azoto, os quais at meados do sculo XIX apenas tm origem em vege-tais ou animais; e so considerados pigmentos os materiais inorgnicos, isto

    , no orgnicos, sejam eles naturais (minerais) ou artificiais. Deve notar-se queos materiais de cor preta designados por Vitrvio como atramentum devem serclassificados como pigmentos e no como corantes pois, ainda que a sua matria-prima tenha origem vegetal, o carvo resultante da combusto essencialmentecorresponde a carbono e, por isso, no um material orgnico. Portanto, trata--se de um material inorgnico com origem vegetal.

    Esta distino entre pigmentos e corantes tem algumas importantes conse-quncias prticas, entre outras. Enquanto os pigmentos apenas so utilizadosem pintura, os corantes, em geral, tm a sua principal aplicao no tingimento

    dos txteis. Esta situao est relacionada com o facto de os pigmentos sereminsolveis em gua, o que impede a sua fixao a uma fibra txtil, e os corantes

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    24. Cf., por exemplo, as obras citadas de DELAMARE e GUINEAU e de BALL.25. Cf., por exemplo, GETTENS e STOUT, op. cit., entradas Dye e Pigment.

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    serem solveis, o que muito dificulta a sua manipulao em pintura e, sendodesta forma usados, d origem a camadas cromticas sem opacidade. Algunscorantes, no entanto, tm sido empregues em pintura, mas na forma de laca.

    Trata-se de um material que resulta da fixao do corante a um pigmento, geral-mente de cor branca e que neste contexto designado por carga. insolvel e,por isso, tem as mesmas aplicaes de um pigmento 26. Na sua obteno estenvolvido um processo semelhante ao do tingimento dos txteis. Vitrvio dconta da preparao de lacas quando se refere garana, ao quermes, imitaode ocre amarelo feita com violetas, imitao da malaquite preparada com azulegpcio e lrio-dos-tintureiros e imitao de ndigo obtida a partir do pastel-dos--tintureiros (14.1-14.2). Salvo o caso da imitao da malaquite, em que usadoum pigmento azul, as outras situaes so tpicas, envolvendo como carga mine-rais de cor branca (o cr ou terras brancas ricas em aluminosilicatos ou outrosminerais siliciosos). Embora Vitrvio no refira expressamente nenhuma cargaa respeito da prpura, ela est subentendida quando afirma que as gotas docorante so trituradas (14.2). Alm disso, numa interessante passagem, Plniodiz que a prpura absorvida mais rapidamente pela terra branca [creta argen-taria] do que pela l 27. O caso do ndigo diferente, j que este corante, excep-cionalmente insolvel, pode ser usado directamente em pintura, portanto semser na forma de laca.

    A propsito da distino entre pigmentos e corantes, deve igualmentenotar-se que a identificao dos corantes nos textos antigos, em particular notratado de Vitrvio, muito mais difcil do que a identificao dos pigmentos.Resulta daqui, por exemplo, que o captulo 14 o que envolve maior incerteza arespeito da traduo apresentada. A maior semelhana dos corantes ao nvel doselementos qumicos, a sua composio mais complexa e o seu maior nmero soas principais causas desta situao. Estas razes a que se junta o facto de, porregra, os corantes serem muito menos estveis e, portanto, poderem degra-dar-se com alguma facilidade durante dois mil anos seguramente contribuem

    para que a informao que h dois sculos tem sido obtida por anlise qumicade pinturas romanas seja muito mais omissa a respeito de corantes do que depigmentos. No entanto, devido menor estabilidade dos corantes, que se traduzno facto de ser comum perderem a cor por continuada exposio luz, tambm provvel que os corantes fossem muito menos utilizados do que os pigmentos.Sobre esta possibilidade interessante reparar-se que a maior parte dos

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    26. Talvez seja conveniente sublinhar que no contexto dos materiais tradicionais usados nasvrias manifestaes artsticas, a palavra laca usada para designar dois tipos de materiais comple-tamente distintos: o material compsito resultante da fixao de um corante superfcie de umpigmento, como aqui se faz, e o material, com algumas afinidades com as resinas, usado no revesti-mento de objectos de madeira no Oriente. Em francs e castelhano a situao semelhante, sendousados nas duas acepes as palavras lacque e laca, respectivamente Em ingls, no entanto, cadamaterial tem a sua designao: lake e lacquer, respectivamente.

    27. PLNIO, Histria Natural, livro XXXV, pargrafo 44.

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    corantes mencionados por Vitrvio eram materiais considerados de segundacategoria, sendo usados em pintura sobretudo como imitaes de outras cores.A principal excepo a prpura, mas ao destaque que lhe dado (13.1-13.3) no

    estranho o seu elevado preo, alis mencionado por Vitrvio (5.8), e a posiosocial associada aos tecidos tingidos com essa cor 28.

    Quanto aos pigmentos, a frequncia com que tm sido identificados empinturas murais romanas, atravs da anlise qumica, nem sempre coincidentecom o destaque que lhes dado, ou no, no texto vitruviano. Entre os pigmentosque parece terem sido mais usados, contam-se os ocres, a terra verde, o cinbrio(no obstante tratar-se de um pigmento assaz dispendioso), o negro de carvo(atramento) e o azul egpcio. Alm dos corantes, o auripigmento, o realgar, aazurite, a malaquite e os pigmentos brancos possivelmente so os materiaisdetectados menos vezes. No caso dos ltimos, a situao deve estar relacionadacom o facto de a cor branca na pintura mural frequentemente corresponder argamassa sobre a qual a executada a obra.

    Amarelos

    So dois os pigmentos de cor amarela referidos no tratado: o ocre (7.1) e oauripigmento (7.5). O primeiro, com que iniciada a enumerao, ainda que seja

    sugerida alguma escassez do mesmo no tempo de Vitrvio, era certamente muitoabundante, como sempre tem sido, j que essencialmente uma terra rica emcompostos de ferro. Como acontece com os pigmentos deste tipo, muito estvel,sendo adequado a qualquer tcnica de pintura, nomeadamente pintura a fresco.Variaes quantitativas dos diversos componentes so responsveis pelas varia-es de tonalidade apresentadas por ocres com diferente provenincia. EmboraVitrvio destaque o de origem grega, interessante a sua referncia ao pigmentoobtido em Itlia, j que no ltimo milnio tm sido muito apreciados os ocres com

    essa procedncia. Dada a abundncia destes materiais, inesperada a imitaodo ocre amarelo atravs de um corante extrado da viola, provavelmente avioleta (14.1).

    O auripigmento, geralmente de cor mais intensa do que o ocre, deve o seunome a se pensar que dele se podia obter ouro, como refere Plnio 29, mas pareceter tido uma importncia muito reduzida na pintura romana. No s a suadisponibilidade relativamente reduzida, como se considerava, ainda que semrazo, que um dos pigmentos que gosta de ser aplicado numa argamassaseca e se recusa a ser usado numa argamassa hmida 30. Sucede, no entanto, que

    pode facilmente reagir com pigmentos de chumbo ou de cobre, originando man-

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    28. Cf. Gsta SANDBERG, The Red Dyes: Cochineal, Madder, and Murex Purple. A world tour oftextiles techniques, Asheville, Lark Books, 1997.

    29. Livro XXXIII, pargrafo 79.30. PLNIO, livro XXXV, pargrafo 49.

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    chas escuras, o que eventualmente ocorre mais rapidamente na pintura a frescodo que na pintura a seco.

    Vtrvio menciona um outro corante amarelo, provavelmente o lrio-dos-

    -tintureiros (14.2), mas apenas como constituinte de um material verde em quetambm entra o azul egpcio. referido adiante, a propsito dos verdes.

    Vermelhos

    A cor vermelha era obtida atravs de um grande nmero de materiais.O ocre vermelho, semelhante ao amarelo excepto no facto de no serem hidra-tados os xidos de ferro que o constituem, o que Vitrvo refere em primeiro

    lugar (7.2), provavelmente devido sua grande utilizao, mas ao cinbrio quededica maior ateno (8.1-9.5) o que dever relacionar-se com o estatuto deluxo desfrutado por este pigmento, que o encomendante adquiria e fornecia aopintor (5.8). Esta posio depreende-se tambm do episdio ocorrido com Fabrio(9.2), secretrio de Jlio Csar, e das informaes prestadas por Plnio, que, porexemplo, dizia que a mina na Btica de onde provinha a maior parte do cinbrioconsumido no Imprio era guardada como mais nenhum outro local 31. Era preci-samente devido ao elevado valor do cinbrio que ocorria o problema da sua adul-terao com cal (9.5). O ocre queimado (11.2), que resulta da desidratao do

    ocre amarelo por aquecimento, muito semelhante ao ocre vermelho e, prova-velmente, no distinguido deste na maioria das anlises.

    Dos outros dois pigmentos vermelhos, o realgar (7.5) e o mnio (12.2), amboscom uma certa tonalidade alaranjada, o ltimo o mais importante, possivel-mente pela sua maior acessibilidade e, como se l no tratado, por ser de melhorqualidade que o realgar. A este respeito deve notar-se que, ao contrrio do que sugerido em traduo actual (em portugus ou noutro idioma) e geralmente afirmado, o mnio que Vitrvio diz obter-se nas minas, muito provavelmente

    no a variedade natural do mnio, que existe mas s muito excepcionalmentetem sido usada em pintura, mas sim o realgar, com origem natural, pois osnossos mnio e realgar no eram percepcionados como diferentes materiais, mascomo um s, designado por sandaraca.

    Alm destes cinco pigmentos vermelhos, de acordo com o texto vitruvianoeram usados em pintura vrios corantes desta tonalidade: a prpura (13.1-13.3)e suas imitaes provavelmente preparadas a partir de garana, quermes emirtilos (14.1-14.2). Se no h dvidas de que o ostrum era o corante prpura extrado de diversas espcies de moluscos, com diferentes distribuies geogr-

    ficas, relacionadas com as variaes de cor referidas por Vitrvio 32 , em relaoaos outros corantes a situao bem mais incerta, j que deles apenas temos o

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    31. Livro XXXIII, pargrafo 118.32. Christopher J. COOKSEY, Tyrian Purple: 6,6-dibromoindigo and related compounds, Mole-

    cules, vol. 6, 2001, pp. 736-769.

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    nome. Mesmo assim, h algumas razes que explicam a unanimidade reinanteacerca da equivalncia entre a rubiae radice e a garana 33, que obtida dasrazes de uma planta. De qualquer forma, a utilizao da garana na pintura

    mural do perodo romano est claramente demonstrada por anlise qumica 34.A interpretao do hysgyinum como quermes muito mais incerta, sucedendoque aquele corante atribudo a uma planta no identificada em quase todas asedies do texto vitruviano. No entanto, parece haver alguns dados que per-mitem relacion-lo com o quermes 35, um corante obtido do insecto com o mesmonome que, na Europa ocidental, vive como hospedeiro de uma certa espcie decarvalho, com uma longa histria de utilizao, ainda que mal documentadaanaliticamente. Deve notar-se que na Antiguidade o quermes era visto comouma flor da rvore. Quanto equivalncia entre vaccinium e mirtilos, foi tam-bm seguida a traduo feita na edio de LIOU, ZUINGHEDAU e CAM.

    O problema do escurecimento do cinbrio ou do seu equivalente sinttico, overmelho, bem conhecido, ainda que no estejam suficientemente esclare-cidos alguns aspectos do processo: traduz a formao de metacinbrio, subs-tncia que tem a mesma composio qumica do cinbrio, mas diferenteestrutura cristalina. A alterao influenciada pela luz e pela humidade, entreoutros factores 36, e o caso relatado por Vitrvio (9.2) tem sido referido como umexemplo do problema. Porm, o processo no assim to frequente e, quando

    ocorre, parece ser lento; portanto, pouco crvel que tenha adquirido to signifi-cativa extenso durante os 30 dias referidos. Ser que o pigmento usado na habi-tao de Fabrio estava adulterado com mnio? Sabendo-se que esta falsificaofoi comum ao longo da histria, tendo sido apontada, por exemplo, por Plnio 37,e, por outro lado, considerando-se a maior facilidade do mnio em escurecer 38,esta hiptese, que no foi colocada at ao momento, parece merecer algumaconsiderao. No entanto, atendendo-se ao contexto histrico, necessriaalguma prudncia.

    Brancos

    Vitrvio cita vrios materiais de cor branca, entre pigmentos usados comotal e pigmentos empregues como cargas, isto , como suporte de corantes, mas,

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    33. Cf. os comentrios de M. T. CAM na edio de VITRVIO referida na nota 10, especialmente nap. 180.

    34. Vincent GUICHARD e Bernard GUINEAU, Identification de colorants organiques naturels dansdes fragments de peintures murales de lAntiquit, in Pigments et Colorants de lAntiquit et duMoyen ge, Paris, CNRS Editions, 2002, pp. 245-254.

    35. M. T. CAM, op. cit., pp. 180-181.36. Marika SPRING e Rachel GROUT, The blackening of vermilion: An analytical study of the

    process in paintings, National Gallery Technical Bulletin, vol. 23, 2002, pp. 50-61.37. Livro XXXIII, pargrafo 120.38. Cf. Elisabeth West FITZHUGH, Read lead and minium, in R. L. FELLER, op. cit., pp. 109-139,

    especialmente as pp. 115-118.

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    quimicamente, correspondem apenas a trs tipos de substncias. Em primeirolugar, refere o paretnio (7.3), proveniente de Paraetonium, no Egipto, sobre oqual diz-se que espuma do mar endurecida com lodo; por isso constituda por

    pequenas conchas 39. Seguramente, trata-se de cr, isto , carbonato de clcio.O melino (7.3), obtido na ilha de Melos, tendo em vista a geologia da ilha e outrasfontes documentais, deve corresponder a uma terra branca constituda essen-cialmente por minerais argilosos sobretudo a caulinite 40. Quanto ao branco dechumbo, no h qualquer dvida: o material que durante muitos sculos conti-nuou a ser preparado atravs do ataque do chumbo por vapores de vinagre, comono essencial indicado por Vitrvio, e veio a tornar-se no pigmento mais usadona pintura de cavalete. Na pintura a fresco tem alguma facilidade em escurecer.Os pigmentos usados como carga e designados como creta, creta Selinusia e cretaanularia (14.1-14.2), ou so essencialmente semelhantes ao paretnio, isto ,cr, ou so essencialmente terras constitudas por minerais argilosos ou outrosmateriais siliciosos, portanto anlogas ao melino. difcil saber, j que a palavracreta pode ter vrios significados. No caso da creta anularia tambm h dvidasse essa carga continha ou no algum vidro modo.

    Verdes

    Os principais pigmentos verdes mencionados por Vitrvio no colocamqualquer dificuldade de identificao. A terra verde (7.4) o pigmento desta cormais adequado pintura mural, pela sua grande estabilidade qumica, e essen-cialmente constituda por certos minerais argilosos. Conforme a sua prove-nincia, assim a sua composio e, portanto, a sua cor. Juntando grandeestabilidade o seu baixo custo, facilmente se percebe o facto de ser o pigmentoverde usado na grande maioria das pinturas murais romanas 41. A malaquite(9.6) um pigmento de cobre, facto que justifica a referncia s minas deste

    metal, que frequentemente surge associado azurite, de composio muitosemelhante. Sendo um pigmento muito dispendioso, era fornecido pelo enco-mendante (5.8) e era alvo de imitao. Vitrvio d conta da que era designadapor infectiva ou verde de tingimento, feita a partir de azul egpcio e de umcorante amarelo luteum (14.2) corante este que pode corresponder ao lrio--dos-tintureiros 42, embora a passagem onde referido coloque muitas dvidasde interpretao. O verdigris (12.2) era o nico pigmento verde de origem artifi-cial, sendo um produto de alterao do cobre formado em resultado da sua expo-

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    39. PLNIO, livro XXXV, pargrafo 36.40. Cf. M.-T. CAM, op. cit., pp. 180-182.41. Franois DELAMARE, Laurent DELAMARE, Bernard GUINEAU e Gilles-Serge ODIN, Couleur,

    nature et origine des pigments verts employs en peinture murale gallo-romaine, in Pigments etColorants, citado, pp. 103-116.

    42. Cf. M.-T. CAM, op. cit., p. 181.

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    sio aos vapores do vinagre. O processo descrito, semelhante ao que conduzia obteno do branco de chumbo, continuou a ser usado durante muitos sculos.Ainda que de uma forma geral seja considerado um pigmento muito reactivo, o

    seu uso em pintura mural no parece colocar significativos problemas, como atestado pela sua utilizao ao longo dos sculos.

    A obteno do verde atravs da mistura de um pigmento azul com umcorante amarelo interessante: se, por um lado, parece estar em contradiocom o pouco apreo em que eram tidas as misturas na Antiguidade 43, por outrolado, sucede que as misturas de azuis e amarelos parecem ser uma constante dahistria 44. Alm disso, este material descrito como a imitao de um pigmentoque, no entanto, parece ter sido pouco utilizado por opos i o com o queaconteceu com o cinbrio, outro pigmento igualmente dispendioso. Talvez arazo principal para o seu uso esteja relacionada com a procura de uma corverde intensa e de boa qualidade que no era proporcionada pelos pigmentosdisponveis, alis, como aconteceu em tempos mais recentes. Nesta situao deforma alguma seria uma imitao da malaquite.

    Azuis

    Entre os azuis h igualmente grande predominncia de um dos materiais

    o azul egpcio, de que Vitrvio apresenta o modo de preparao (11.1). Na his-tria da humanidade, o primeiro pigmento sinttico no sentido mais rigorosoda expresso, isto , preparado a partir de materiais quimicamente maissimples, tendo surgido no Egipto no 3. milnio a.C., portanto, muito antes dafundao de Alexandria. Enquanto os outros pigmentos referidos por Vitrvio,pelo menos os principais, continuaram a ser usados at ao presente ou, nomnimo, at sculos bem prximos de ns, o azul egpcio, que to grande impor-tncia teve na pintura romana, deixou de ser utilizado muito mais cedo, datando

    do sculo IX os mais tardios casos conhecidos45

    . O processo de sntese, no essen-cial, envolve a fuso de uma mistura de cobre, slica (areia), uma fonte de clcioe um fundente que torna possvel a obteno do pigmento a uma temperaturamais baixa do que a necessria na sua ausncia. Na descrio de Vitrvio ofundente o natro (carbonato de sdio), mas, aparentemente, falta um consti-tuinte fundamental o composto de clcio, que geralmente o calcrio (carbo-nato de clcio). A falta, porm, pode ser apenas aparente, j que algumas areias,

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    43. John CAGE, Color and Culture. Practice and meaning from Antiquity to Abstraction, Berkeley--Los Angeles, University of California Press, 1999, pp. 30-32.

    44. Cf. H. KHN, Terminal dates for paintings derived from pigment analysis, in W. J. YOUNG(org.), Application of Science in Examination of Works of Art. Proceedings of the Seminar: June 15-19, 1970, Boston, Museum of Fine Arts, 1973, pp. 199-205.

    45. Maria Carolina GAETANI, Ulderico SANTAMARIA e Claudio SECCARONI, The use of Egyptianblue and lapis lazuli in the Middle Ages. The wall paintings of the San Saba Church in Rome,Studies in Conservation, vol. 49, n. 1, 2004, pp. 13-22.

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    nomeadamente do Egipto, tm concentrao de carbonato de clcio que podedispensar a adio isolada do calcrio 46.

    A utilizao dos outros materiais azuis parece ter sido bastante diminuta.

    A azurite (9.6) um mineral que geralmente surge associado malaquite, mas,segundo Vitrvio, enquanto a azurite provinha da Armnia, de onde derivava onome latino do pigmento (armenicum), a malaquite era obtida na Macednia.Contudo, os dois eram igualmente dispendiosos. O ndigo (9.6) vinha da ndia,como d conta a designao indicum, e, talvez por essa origem longnqua,Vitrvio desconhecia a sua natureza e o processo envolvido na sua obteno,como j se disse. De acordo com o tratado, era usada uma imitao de ndigoextrada do pastel-dos-tintureiros (14.2), mas, quimicamente, o principal consti-tuinte o mesmo da a afirmao de que se tratava de uma boa imitao.No entanto, so possveis algumas diferenas de tonalidade devido presena deconstituintes secundrios que surgem com desigual abundncia nos extractosobtidos de plantas de diferentes espcies.

    Pretos

    Vitrvio utiliza apenas uma designao a respeito dos materiais de corpreta atramentum a qual corresponde a um pigmento constitudo essencial-

    mente por carbono na forma de carvo. Todavia, d conta de diferentes varie-dades. O atramento de melhor qualidade corresponde a negro de fumo, ou seja,fuligem, resultante da combusto de resina (10.2). Era recolhido das paredesde uma pequena construo por onde era feito passar o fumo e, alm de serusado em pintura, constitua matria-prima de uma tinta de escrever equiva-lente actual tinta da China. A sua superioridade est relacionada com o factode o pigmento obtido desta forma ser constitudo por um p muitssimo fino.Este seria o verdadeiro atramento, j que Vitrvio diz de outra variedade tratar-

    se de uma boa imitao. Esta segunda variedade, ou imitao, corresponde anegro de uva e resultava da calcinao de borras de vinho (10.4). O pigmento depior qualidade, certamente por ser o mais grosseiro, corresponde a carvoformado por combusto de madeira (10.3) trata-se de negro de carvo.

    Sobre o negro de uva Vitrvio parece afirmar que tambm uma boa imi-tao do ndigo. A passagem no clara, mas, se efectivamente feita esta compa-rao, ela pode resultar de este pigmento adquirir uma tonalidade azulada quandomisturado com um pigmento branco 47 e, por outro lado, o ndigo ter uma cor muitoescura, quase preta, quando se encontra na forma de agregado, no diludo com

    outros materiais, como certamente acontecia quando chegava da ndia 48.

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    46. A. LUCAS e J. R. HARRIS, Ancient Egyptian Materials and Industries, reedio da 4. edio,Nova Iorque, Dover Publications, 1999, p. 341. 1. edio: 1926; 4. edio: 1962.

    47. GETTENS e STOUT, op. cit., entrada Vine black.48. H. SCHWEPPE, op. cit., especialmente pp. 84-87.

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    a Tipo de material: A = material orgnico de origem animal; IA = material inorgnico de origem artificial;IN = material inorgnico de origem natural (mineral); V = material orgnico de origem vegetal.

    b Os processos alternativos de obteno do atramento, referidos por Vitrvio, conduzem ao negro de uva e aonegro de carvo.

    AS CORES VITRUVIANAS 85

    QUADRO 1

    As cores de Vitrvio: designao latina e designao em portugus,

    tipo de material e composio

    DesignaoCaptulo

    DesignaoSinnimos Tipo a Composio

    de Vitrvio actual

    Aeruca 12.2 Verdigris Verdete, azinhavre IA Acetato bsico de cobre,(CH3COO)22Cu(OH)2

    Armenicum 9.6 Azurite Azul montanha IN Carbonato bsico de cobre,2CuCO3 .Cu(OH)2

    Atramentum 10.1-10.4 Atramento Negro de fumo b IA Carbono, C

    Auripigmen 7.5 Auripigmento Ouro-pigmento, ouro- IN Sulfureto de arsnio, As2S3-tum pimentaCaerulium 11.1 Azul egpcio IA CaCuSi4O10Cerussa 12.1 Branco de chumbo Cerusa, alvaiade IA Carbonato bsico de chumbo,

    2PbCO3Pb(OH)2Chrysocolla 9.6 Malaquite Verde montanha IN Carbonato bsico de cobre,

    CuCO3Cu(OH)2Creta 14.1 Cr ou terra branca IN

    Creta anularia 14.2 Terra anular IN

    Creta Selinusia 14.2 Terra de Selinus IN

    Creta viridis 7.4 Terra verde IN Celadonites e glauconitesHysginum 14.1 Quermes Carmin A cido quermsico

    Indicum 9.6 ndigo Anil V ndigo

    Infectiva 14.2 Verde de tingimento IA+V Azul egpcio + lrio-dos-tintureiros

    Luteum 14.2 Lrio-dos-tintureiros Resed V Luteolina

    Melinum 7.3 Melino Terra branca IN Caulinite

    Minium 8.1-9.5 Cinbrio IN Sulfureto de mercrio, HgS

    Ostrum 13.1-13.3 Prpura Ostro A 6,6-dibromo-ndigo

    Paraetonium 7.3 Paretnio Cr IN Carbonato de clcio, CaCO3Rubiae radice 14.1 Garana Laca-de-ruiva, V Alizarina

    ruiva-dos-tintureiros

    Rubrica 7.2 Ocre vermelho IN xido de ferro (hematite), Fe2O3Sandaraca 7.5 Realgar Rosalgar IN Sulfureto de arsnio, As4S4Sandaraca 12.2 Mnio Zarco, vermelho IA xido de chumbo, Pb3O4

    de chumboSil 7.1 Ocre amarelo IN xido de ferro hidratado (goetite),

    FeO.fOH

    Usta 11.2 Ocre queimado IA xido de ferro (hematite), Fe2

    O3Vaccinium 14.2 Mirtilo V

    Viola 14.1 Violeta V

    Vitrum 14.2 Pastel-dos-tintureiros V ndigo

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    Fig. 1. Locais e regies mencionadas no texto de Vitrvio. Falta apenas a ndia, de onde provinhao ndigo.