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ENFORMABILIDADE EM ESTAMPAGEM INCREMENTAL João Miguel de Carvalho Soeiro Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientadores: Doutora Maria Beatriz Cipriano de Jesus Silva Doutor Paulo António Firme Martins Júri Presidente: Doutor Rui Manuel dos Santos Oliveira Baptista Orientador: Doutora Maria Beatriz Cipriano de Jesus Silva Vogal: Doutor Carlos Manuel Alves da Silva Novembro de 2014

João Miguel de Carvalho Soeiro - Autenticação · Tabela 4.2 - Resultados obtidos no fabrico de flanges complexas por estampagem incremental na liga de alumínio AA1050-H111, utilizando

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ENFORMABILIDADE EM ESTAMPAGEM INCREMENTAL

João Miguel de Carvalho Soeiro

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Orientadores: Doutora Maria Beatriz Cipriano de Jesus Silva

Doutor Paulo António Firme Martins

Júri

Presidente: Doutor Rui Manuel dos Santos Oliveira Baptista

Orientador: Doutora Maria Beatriz Cipriano de Jesus Silva

Vogal: Doutor Carlos Manuel Alves da Silva

Novembro de 2014

i

Resumo

A estampagem incremental de chapa é um processo flexível e de fácil implementação que se destina

à produção de protótipos e pequenos lotes de peças simples ou complexas. Este processo utiliza

ferramentas e equipamentos universais em detrimento dos dedicados a cada geometria, permitindo

reduzir os custos de produção e os prazos de entrega, o que tem levado ao seu crescente

desenvolvimento e investigação.

Em estampagem incremental de chapa, as fissuras podem surgir sem manifestação prévia de

estricção. Neste caso, a fractura é governada pela curva limite de fractura (CLF), cuja fractura

associada resulta de tensões de tracção (modo I da mecânica da fractura), e pela curva limite de

fractura ao corte (CLFC), cuja fractura associada é causada por tensões de corte no plano da chapa

(modo II da mecânica da fractura).

O presente trabalho mostra que uma peça de geometria cónica com quatro lóbulos elípticos,

produzida por estampagem incremental na liga de alumínio AA1050-H111, permite caracterizar a

CLFC e demonstra experimentalmente, pela primeira vez, a abertura de fissuras segundo o modo II

neste processo de fabrico.

Nesta tese produziram-se também dois tipos de flanges por estampagem incremental na liga de

alumínio AA1050-H111: as circulares e as complexas (combinação da flange quadrada com a

circular). O objectivo destes ensaios foi estudar a influência do diâmetro da ferramenta na produção

de flanges circulares e investigar de que forma o raio de canto da geometria do furo inicial influencia o

fabrico de flanges complexas, nomeadamente a mecânica da deformação e da fractura.

Palavras-chave: Enformabilidade, Estampagem incremental, Fractura, Curva limite de fractura ao

corte (CLFC), Flanges, Alumínio.

ii

Abstract

Single point incremental forming (SPIF) is a flexible incremental sheet metal forming technology with

high capability to produce small batch-production and prototypes of simple and complex parts. This

process can be done with universal tools which is useful to reduce tooling costs and, as consequence,

to reduce the total cost of the part. SPIF also allows shorter lead times than traditional technologies,

like conventional press-working, to manufacture small batch of parts. These two facts lately induced

an increase on development and research of SPIF.

In SPIF, crack propagation can occur with suppression of necking. In this case, failure by fracture is

governed by the fracture forming limit line (FFL), which is associated to failure by tension (mode I of

fracture mechanics), and by the in-plane shear fracture forming limit line (SFFL), which is related to

failure caused by in-plane shear (mode II of fracture mechanics).

This work shows, experimentally, that a truncated four-lobe conical shape produced by SPIF in

aluminium AA1050-H111 is capable of providing fracture strain pairs in crack opening by in-plane

shear and can be successfully employed to characterize the SFFL.

In this thesis also were produced cylindrical and complex hole-flanges (mix of square and cylindrical

hole-flanges) by SPIF in aluminium AA1050-H111. The objective of these experiments was to study

the influence of the tool diameter on the production of cylindrical hole-flanges and investigate how the

corner radius of the pre-cut hole geometry influences the fabrication of complex hole-flanges, namely

the plastic flow and failure.

Keywords: Formability, Single point incremental forming (SPIF), Fracture, In-plane shear fracture

forming limit line (SFFL), Hole-flanging, Aluminium.

iii

Agradecimentos

Desejo apresentar os meus agradecimentos a todos os que de alguma forma contribuíram para a

realização da presente dissertação.

À Professora Beatriz Silva, um agradecimento especial pela investigação, oportunidades, constante

motivação e conhecimentos transmitidos, bem como pela inesgotável, permanente e preciosa ajuda e

orientação que tornaram possível a realização desta dissertação.

Ao Professor Paulo Martins, por todo o conhecimento, apoio, disponibilidade e colaboração no

decurso desta tese.

Ao Doutor Carlos Silva, por todo o apoio prestado, motivação transmitida, disponibilidade e amizade.

Ao Senhor Carlos Farinha, pela ajuda e disponibilidade.

À Área Científica de Tecnologia Mecânica e Gestão Industrial do Instituto Superior Técnico pelas

facilidades e meios concedidos que tornaram possível a realização desta tese.

À Tânia Madeira, João Ricardo, Nuno Chaveiro, Miguel Batista, Hugo Fontes, Pedro Pardal,

João Ruivo, Pedro Coelho e Ricardo Videira, pela amizade, disponibilidade, ajuda e encorajamento.

Ao Redolfo Pereira, pela ajuda, disponibilidade, conselhos e amizade.

Aos meus amigos e colegas, por toda a sua amizade, companheirismo, solidariedade e espírito de

entreajuda.

Aos meus avós, pela compreensão, carinho e apoio concedidos.

Aos meus pais, João e Rosalina, por tudo o que fizeram e fazem por mim, em particular pelo apoio e

amor incondicional em todos os momentos.

iv

Índice

RESUMO ...................................................................................................................................................i

ABSTRACT .............................................................................................................................................. ii

AGRADECIMENTOS .............................................................................................................................. iii

LISTA DE TABELAS ...............................................................................................................................v

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................... vi

ABREVIATURAS .................................................................................................................................... ix

NOMENCLATURA ...................................................................................................................................x

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1

2. ESTADO DA ARTE ......................................................................................................................... 4

2.1. Estampagem incremental de chapa ........................................................................................ 4

2.2. Enformabilidade ....................................................................................................................... 7

2.3. Fabrico de flanges por estampagem incremental ................................................................. 17

3. TRABALHO EXPERIMENTAL ...................................................................................................... 27

3.1. Propriedades do material ...................................................................................................... 27

3.1.1. Caracterização mecânica .............................................................................................. 27

3.1.2. Caracterização da enformabilidade ............................................................................... 28

3.2. Equipamentos ........................................................................................................................ 30

3.3. Preparação da chapa ............................................................................................................ 32

3.4. Equipamentos e técnicas de medição ................................................................................... 34

3.5. Metodologia de ensaio .......................................................................................................... 35

3.6. Plano de ensaios ................................................................................................................... 37

3.6.1. Geometrias cónicas truncadas com lóbulos .................................................................. 37

3.6.2. Flanges .......................................................................................................................... 39

3.6.2.1. Flanges circulares .................................................................................................. 39

3.6.2.2. Flanges complexas ................................................................................................ 40

3.7. Projecto de uma estrutura de suporte para estampagem incremental ................................. 41

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................................... 48

4.1. Geometrias cónicas truncadas com lóbulos .......................................................................... 48

4.2. Flanges .................................................................................................................................. 55

4.2.1. Flanges circulares.......................................................................................................... 55

4.2.2. Flanges complexas ........................................................................................................ 58

5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS DE TRABALHO FUTURO .................................................. 65

6. REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 67

v

Lista de Tabelas

Tabela 2.1 - Principais parâmetros da estampagem incremental que influenciam a enformabilidade. 13

Tabela 3.1 - Propriedades mecânicas da liga de alumínio AA1050-H111 (Isik et al., 2014). ............... 28

Tabela 3.2 - Parâmetros utilizados na operação de abertura do furo complexo. ................................. 34

Tabela 3.3 - Parâmetros constantes em todos os ensaios ................................................................... 36

Tabela 3.4 - Plano de ensaios para o fabrico de geometrias cónicas truncadas com lóbulos por

estampagem incremental. A terminologia encontra-se de acordo com a Figura 3.11. ........................ 38

Tabela 3.5 - Plano de ensaios para o fabrico de flanges circulares por estampagem incremental. .... 40

Tabela 3.6 - Plano de ensaios para o fabrico de flanges complexas por estampagem incremental.... 41

Tabela 3.7 - Propriedades do aço AISI 1045 CD. ................................................................................. 44

Tabela 3.8 - Resultados obtidos do estudo estrutural para as duas configurações testadas sujeitas a

N e N. .................................................................................................................. 47

Tabela 4.1 - Resultados obtidos no fabrico de flanges circulares por estampagem incremental na liga

de alumínio AA1050-H111, utilizando-se ferramentas de diferentes diâmetros. .................................. 55

Tabela 4.2 - Resultados obtidos no fabrico de flanges complexas por estampagem incremental na liga

de alumínio AA1050-H111, utilizando uma ferramenta de diâmetro igual a 8 mm............................... 58

vi

Lista de Figuras

Figura 2.1 – Variantes da estampagem incremental de chapa ............................................................... 5

Figura 2.2 - Trabalho realizado por Duflou et al. (2007): (a) peça elaborada (cone) e sistema de eixos

definido e (b) evolução das forças na estampagem incremental. .......................................................... 7

Figura 2.3 - Esquema dos limites de enformabilidade sugeridos por: (a) Marciniak (1984) e

(b) Isik et al. (2014). ................................................................................................................................. 8

Figura 2.4 - Equipamentos utilizados para medir as deformações a partir da grelha de círculos:

(a) câmara digital e (b) réguas graduadas flexíveis (Câmara, 2009). ................................................... 10

Figura 2.5 - Medição da (a) espessura final e da (b) largura final no provete do ensaio de tracção para

posterior cálculo das extensões principais (Montanari et al., 2013). .................................................... 10

Figura 2.6 - Resultados obtidos por Isik et al. (2014). .......................................................................... 12

Figura 2.7 – Loci da fractura proposto por Li et al. (2010). ................................................................... 12

Figura 2.8 - Geometrias truncadas propostas por Jeswiet e Young (2005). ........................................ 14

Figura 2.9 – Extensões principais obtidas a partir do cone truncado com 5 lóbulos por

Jeswiet e Young (2005). ........................................................................................................................ 15

Figura 2.10 - Modos de fractura: (a) modo I, (b) modo II e (c) modo III (Martins et al., 2014). ............ 16

Figura 2.11 - Tipos de flanges: (a) côncava, (b) convexa, (c) recta, (d) simétrica e (e) assimétrica. .. 18

Figura 2.12 - Estratégias testadas para a trajectória da ferramenta (Cui e Gao, 2010). ...................... 18

Figura 2.13 – Representação esquemática do processo estudado por Petek et al. (2011). ................ 19

Figura 2.14 - (a) Flange cónica de trajectória em que o ângulo de estampagem é variável com a

evolução da deformação (Centeno et al., 2012); (b) Esquema da evolução da trajectória multi-

passagem utilizada no fabrico de flanges circulares (Centeno et al., 2012). ........................................ 20

Figura 2.15 - (a) Extensões principais obtidas das flanges circulares com diâmetros do furo inicial

iguais a 102 e 120 mm após a segunda fase de estampagem (65⁰+70⁰) (Centeno et al., 2012);

(b) Trajectórias de deformação da flange circular de diâmetro do furo inicial igual a 120 mm após três

fases de estampagem diferentes (Centeno et al., 2012). ..................................................................... 21

Figura 2.16 - Trajectórias de deformação resultantes do fabrico de flanges circulares pelos processos

de estampagem convencional e incremental: (a) Resultados para a chapa da liga de alumínio

AA1050-H111 com um furo inicial de diâmetro igual a 111 mm. Os marcadores sólidos a cinzento

correspondem à estricção e a preto à fractura; (b) Resultados para chapa de titânio (grau 2) com um

diâmetro do furo inicial de 127 mm. Os marcadores sólidos correspondem à fractura

(Silva et al., 2013). ................................................................................................................................. 21

Figura 2.17 - Resultados obtidos a partir da flange circular de diâmetro inicial do furo igual a 102 mm:

(a) Linhas de extensão efectiva e envelope de deformação (Montanari et al., 2013); (b) Envelope de

tensão (Montanari et al., 2013). ............................................................................................................ 23

vii

Figura 2.18 - Trajectórias de deformação dos pontos da grelha A a J, definidos ao longo de uma

secção meridional, para os ângulos de estampagem º a 90º da flange com um furo de

diâmetro inicial ....................................................................................................................................... 24

Figura 2.19 –Nomenclatura e definição das variáveis do furo inicial da chapa utilizada para fabricar

flanges quadradas (Silva et al., 2014). .................................................................................................. 25

Figura 2.20 - (a) Envelopes de deformação das diferentes zonas da flange quadrada de raio de canto

igual a 5 mm; (b) Fissura presente na flange de raio de canto igual a 5 mm; (c) Zonas da flange

quadrada e ilustração das respectivas deformações dos círculos da grelha (Cristino et al., 2014). .... 26

Figura 3.1 - Limites de enformabilidade à estricção e à fractura da liga de alumínio AA1050-H111

obtidos a partir dos ensaios de Isik et al. (2014) e Madeira et al. (2014). ............................................ 29

Figura 3.2 - (a) Centro de maquinagem CNC DECKEL MAHO, Modelo DMC 63V (Pardal, 2013);

(b) Características técnicas principais do centro de maquinagem. ..................................................... 30

Figura 3.3 - Estruturas de fixação utilizadas no fabrico de (a) flanges circulares e geometrias cónicas

truncadas com lóbulos e (b) flanges complexas. .................................................................................. 31

Figura 3.4 - Dimensões das placas espera utilizadas no fabrico de (a) flanges circulares e geometrias

cónicas truncadas com lóbulos e (b) flanges complexas. ..................................................................... 31

Figura 3.5 - Ferramenta de ponta hemisférica de 8 mm de diâmetro (Pardal, 2013). .......................... 32

Figura 3.6 - (a) Equipamento utilizado na marcação electroquímica das chapas (Robalo, 2011);

(b) Grelha de círculos utilizada para medir as deformações. ................................................................ 32

Figura 3.7 - Montagem elaborada para se efectuar o furo da chapa a ser utilizada nos ensaios de

flanges complexas (à esquerda) e estrutura de fixação utilizada nos mesmos testes (à direita). ........ 33

Figura 3.8 - (a) Equipamento 3Com® HomeConnect™ utilizado na medição das deformações

(Teodora, 2013); (b) Ilustração do processo de medição das deformações utilizando uma câmara

digital. .................................................................................................................................................... 35

Figura 3.9 – Metodologia utilizada nos ensaios de estampagem incremental. .................................... 35

Figura 3.10 - (a) CAD da peça a produzir por estampagem incremental; (b) Trajectórias de

deformação elaboradas no programa CAM. ......................................................................................... 36

Figura 3.11 - Terminologia utilizada para caracterizar as geometrias cónicas truncadas com lóbulos

realizadas no presente trabalho (a” e “b” referem-se ao comprimento do semi-eixo maior e menor do

lóbulo, respectivamente). ...................................................................................................................... 37

Figura 3.12 - Estratégia para elaborar as geometrias cónicas truncadas com lóbulos no desenho

CAD: (a) lóbulos circulares, (b) lóbulos elípticos e (c) trajectória em que o ângulo de estampagem é

variável com a evolução da deformação. .............................................................................................. 39

Figura 3.13 – Estrutura de suporte projectada e elementos constituintes. ........................................... 42

Figura 3.14 - Principais configurações para colocação de possíveis placas espera e respectivas

dimensões (ou dimensões mínimas das placas espera). ..................................................................... 43

viii

Figura 3.15 – (a) Meia estrutura montada; (b) Utilização da placa consumível. ................................... 43

Figura 3.16 – Configurações analisadas: (a) placa espera de 300 mm x 300 mm e (b) placa espera de

772 mm x 490 mm. ................................................................................................................................ 45

Figura 3.17 – Resultados obtidos da análise estrutural efectuada à estrutura com placa espera de

300 mm x 300 mm sujeita a yF -2000 N: (a) distribuição de tensões e (b) deslocamento total. ..... 46

Figura 3.18 - Resultados obtidos da análise estrutural efectuada à estrutura com placa espera de

772 mm x 490 mm sujeita a yF -2000 N: (a) distribuição de tensões e (b) deslocamento total. ..... 46

Figura 4.1 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 1 da

Tabela 3.4 com 5.2vr mm e ao cone e pirâmide truncados de trajectória em que o ângulo de

estampagem varia com a evolução da deformação. ............................................................................ 49

Figura 4.2 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 1 da

Tabela 3.4 para (a) 5.2vr mm, (b) 5.1vr mm, (c) 5.0vr mm e (d) 1.0vr mm. .......................... 50

Figura 4.3 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 2 da

Tabela 3.4. ............................................................................................................................................. 51

Figura 4.4 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 3 da

Tabela 3.4. ............................................................................................................................................. 52

Figura 4.5 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 4 da

Tabela 3.4. ............................................................................................................................................. 53

Figura 4.6 - Fotografias e ilustração esquemática da fractura em estampagem incremental: à

esquerda, aparecimento da fissura por tensões de tracção numa região convexa e, à direita,

aparecimento da fissura por tensões de corte no plano numa região côncava. ................................... 54

Figura 4.7 - Envelopes de deformação das flanges circulares produzidas a partir de chapas com um

furo inicial de diâmetro 1200 D mm e diversos diâmetros das ferramentas. .................................... 57

Figura 4.8 - (a) Secções definidas na flange complexa para posterior análise das deformações;

(b) Pontos da grelha de círculos da secção aa’ que seriam analisados. .............................................. 59

Figura 4.9 - Fissuras presentes na flange complexa com um raio de curvatura (a) 0R 15 mm e

(b) 0R 15 mm. .................................................................................................................................... 59

Figura 4.10 - Envelopes de deformação associados às secções meridionais (a) aa’, (b) bb’, (c) cc’ e

(d) dd’ da flange complexa cujo raio de canto do furo inicial é de 10 mm. ........................................... 61

Figura 4.11 - Envelopes de deformação e maiores extensões efectivas associados às secções

meridionais (a) aa’, (b) bb’, (c) cc’ e (d) dd’ da flange complexa cujo raio de canto do furo inicial é de

10 mm. ................................................................................................................................................... 63

Figura 4.12 - Envelope de deformação de um secção meridional que passa na zona de fractura da

flange complexa de raio de canto do furo inicial igual a 30 mm. .......................................................... 64

ix

Abreviaturas

CAD Computer-aided Design

CAM Computer-aided Manufacturing

CD Cold Drawn

CLD Coeficiente Limite de Deformação

CLE Curva Limite de Estampagem

CLF Curva Limite de Fractura

CLFC Curva Limite de Fractura ao Corte

CNC Comando Numérico Computadorizado

FFL Fracture Forming Limit Line

FLC Forming Limit Curve

HR Hot Rolled

IST Instituto Superior Técnico

SFFL In-plane Shear Fracture Forming Limit Line

SPIF Single Point Incremental Forming

x

Nomenclatura

Símbolos latinos Definição

a Comprimento do semi-eixo maior do lóbulo

A Alongamento após fractura

b Comprimento do semi-eixo menor do lóbulo

Diâmetro inicial do círculo da grelha

Diâmetro inicial do furo da chapa

Diâmetro máximo interior da flange produzida

E Módulo de elasticidade

Força aplicada segundo o eixo x

Força aplicada segundo o eixo y

Força aplicada segundo o eixo z

Comprimento do eixo maior da elipse

Comprimento do eixo menor da elipse

Dimensão do lado do furo

Coeficiente de anisotropia

Raio de concordância do vale

Coeficiente de anisotropia normal

Raio de canto do furo

Espessura da chapa

Máxima redução de espessura para cada secção meridional

w Largura do provete de chapa

Símbolos gregos Definição

Anisotropia planar

Extensão verdadeira

Extensão efectiva

Extensão efectiva na fractura

Extensão efectiva máxima

Extensão principal máxima no plano da chapa

Extensão principal mínima no plano da chapa

Extensão principal na direcção da espessura

Extensão verdadeira segundo a espessura do provete

Extensão verdadeira segundo a largura do provete

Incremento de extensão efectiva

Coeficiente de Poisson

Densidade

Tensão verdadeira

xi

Tensão de rotura

Tensão de cedência

Ângulo de estampagem

Ângulo inicial de estampagem

Ângulo máximo de estampagem

1

1. Introdução

Os elevados custos e tempos associados à produção de protótipos e de pequenos lotes de peças de

geometria simples ou complexa colocam constrangimentos a nível financeiro e a nível de prazos de

entrega no mercado actual, levando a que o desenvolvimento e investigação dos processos de

deformação plástica incremental, e em particular a estampagem incremental de chapa metálica, se

tenham acentuado bastante nos últimos tempos. A estampagem incremental de chapa é um processo

de fabrico no qual uma ferramenta, constituinte de uma máquina-ferramenta CNC como, por exemplo,

um centro de maquinagem, deforma plasticamente e de forma progressiva uma chapa através de

trajectórias de deformação previamente programadas. A natureza da deformação resultante da

estampagem incremental de chapa (deformação localizada) permite atingir deformações maiores do

que as atingidas em processos de deformação de chapa convencionais. Tal facto revela uma

melhoria ao nível da enformabilidade do material (Silva et al., (2011)).

O termo enformabilidade é utilizado para caracterizar o nível máximo de deformação que um material

pode atingir num processo tecnológico de deformação plástica, sem que ocorra estricção ou fractura

(Rodrigues e Martins, 2010). Desta forma, existem limites de enformabilidade à estricção e à fractura.

O limite de enformabilidade à estricção é caracterizado pela curva limite de estampagem (CLE)

enquanto que o limite de enformabilidade à fractura é definido pela curva limite de fractura (CLF) e

pela curva limite de fractura ao corte (CLFC). A CLE é obtida a partir da medição, na grelha de

círculos, das extensões na fractura dos provetes provenientes dos ensaios de enformabilidade

convencionais (ensaios de tracção, de expansão hemisférico, Nakazima e Bulge) e a CLF a partir da

medição da espessura e da largura, inicial e após fractura, dos mesmos provetes. Contudo,

Isik et al. (2014) propuseram uma geometria simples, fabricada por estampagem incremental, que

permite caracterizar a CLF de forma mais adequada do que com os ensaios de enformabilidade

convencionais em que não é necessário medir as espessuras e larguras do provete devido à

ausência de estricção na peça antes da sua rotura. Assim, neste caso, podem ser utilizados os

mesmos métodos e procedimentos que são empregues na determinação da CLE. Quanto à CLFC,

esta é obtida a partir da medição das extensões na fractura de provetes de chapa testados à torção e

ao corte, nos quais se verifica o fenómeno de localização antes da sua fractura. Por este motivo,

nestes ensaios, a metodologia usada para medição das extensões na fractura é semelhante à

utilizada na determinação da CLF a partir de provetes provenientes de ensaios de enformabilidade

convencionais.

Nesta dissertação será projectada e optimizada uma geometria, produzida por estampagem

incremental, que permita caracterizar a CLFC por um procedimento semelhante ao que

Isik et al. (2014) apresentaram para caracterizar a CLF, evitando, assim, a necessidade de se utilizar

o ensaio de corte e de torção, nos quais se verificou a ocorrência do fenómeno de localização antes

da fractura. Hoje em dia, estes ensaios são os únicos usados para determinar esta curva. Ao conjunto

de geometrias testadas para este fim deu-se o nome de geometrias cónicas truncadas com lóbulos.

2

Para além da geometria referida, estudar-se-á o fabrico de flanges circulares e complexas na liga de

alumínio AA1050-H111 por estampagem incremental, usando chapas previamente furadas. A

produção de flanges por estampagem incremental evita a necessidade de se utilizarem punções e

matrizes como na estampagem convencional, sendo assim uma técnica mais flexível e de menor

custo, e permite obter maiores deformações devido à deformação plástica localizada que se verifica

junto à ferramenta de deformação, como foi anteriormente referido. O fabrico de flanges circulares por

estampagem incremental nesta dissertação tem como objectivo estudar como é que esta operação é

influenciada pelo diâmetro da ferramenta de deformação, dando continuidade ao trabalho realizado

por Montanari et al. (2013). Em relação às flanges complexas, estas possuem uma geometria que

resulta da combinação de flanges previamente estudadas em estampagem incremental: as circulares,

estudadas por Montanari et al. (2013), e as quadradas, investigadas por Cristino et al. (2014b).

Ambas as flanges referidas foram investigadas individualmente, surgindo, agora, a necessidade de

rever os fundamentos do fabrico de flanges por estampagem incremental, partindo dos resultados

existentes na área das flanges circulares e quadradas para obter novos dados com flanges

complexas. Nesta dissertação, o fabrico de flanges complexas por estampagem incremental tem

como principal objectivo estudar a influência da geometria do furo inicial no processo, nomeadamente

do raio de canto, ao nível da mecânica da deformação e da fractura.

Neste trabalho será também projectada uma estrutura de suporte mais flexível para realizar ensaios

de estampagem incremental. Este projecto é acompanhado por um estudo estrutural da estrutura.

A tese encontra-se organizada em 5 capítulos, sendo a presente introdução o primeiro.

O Capítulo 2 – Estado da Arte tem início com a apresentação do processo de estampagem

incremental de chapa e suas variantes. De seguida surge uma secção sobre enformabilidade, na qual

se abordam os seus limites e como são determinados, a mecânica da fractura e da deformação

plástica em estampagem incremental e os principais parâmetros da estampagem incremental que

influenciam a enformabilidade. Finalmente, é apresentada uma revisão bibliográfica sobre o fabrico

de flanges através de estampagem incremental.

O Capítulo 3 – Trabalho Experimental inicia-se com a caracterização das propriedades do material,

seguindo-se a apresentação dos equipamentos utilizados nos ensaios de estampagem incremental e

o modo de preparação da chapa. Posteriormente, são abordados os equipamentos e técnicas para

medição dos resultados obtidos e a metodologia de ensaio. De seguida, são apresentados os planos

de ensaios para o fabrico de geometrias cónicas truncadas com lóbulos, de flanges circulares e de

flanges complexas. Este capítulo termina com o projecto de um estrutura de suporte e respectivo

estudo estrutural.

No Capítulo 4 – Resultados e Discussão são apresentados e analisados os resultados obtidos a partir

dos ensaios onde se produziram, por estampagem incremental na liga de alumínio AA1050-H111,

geometrias cónicas truncadas com lóbulos, flanges circulares e flanges complexas.

3

Finalmente, no Capítulo 5 – Conclusões e Perspectivas de Trabalho Futuro são identificadas as

principais conclusões do trabalho realizado e apontadas algumas investigações que podem ser

efectuadas em trabalhos no futuro.

4

2. Estado da Arte

Este capítulo iniciar-se-á com a apresentação e descrição do processo de estampagem incremental

de chapa e das suas variantes. De seguida será abordada a temática da enformabilidade, mais

concretamente os limites de enformabilidade e sua determinação, a mecânica da fractura e da

deformação plástica em estampagem incremental e os principais parâmetros da estampagem

incremental que influenciam a enformabilidade. Finalmente, apresentar-se-á uma revisão bibliográfica

sobre o fabrico de flanges através de estampagem incremental, sendo descritas investigações

realizadas nesta área.

2.1. Estampagem incremental de chapa

Os elevados custos e tempos associados à produção de protótipos e de pequenos lotes de peças de

geometria complexa colocam constrangimentos a nível financeiro e a nível de prazos de entrega no

mercado actual. Contudo, as tecnologias de deformação incremental têm mostrado que é possível

produzir os componentes referidos numa fracção de tempo e custo menores do que os fabricados

pelas tecnologias de deformação convencionais, levando a que o desenvolvimento e investigação dos

processos de deformação plástica incremental se tenham acentuado bastante nos últimos tempos. A

estampagem incremental de chapa é um destes processos, devendo-se tal facto às suas vantagens

face a outros e que são apresentadas de seguida:

- é um processo rápido e mais barato para produzir protótipos e pequenos lotes de peças desde o

seu projecto até à sua produção final;

- não são necessários equipamentos ou ferramentas especializados para o efeito, sendo utilizados

equipamentos que permitem efectuar diversos processos de fabrico como, por exemplo, centros de

maquinagem ou braços robóticos, e ferramentas universais.

- o processo é muito flexível: as peças são feitas a partir do seu desenho CAD e cada alteração pode

ser feita de forma rápida e efectiva, permitindo produzir tanto peças simples como muito complexas;

- o tamanho da peça é apenas limitado pela máquina-ferramenta utilizada;

- conseguem-se obter maiores deformações devido à natureza incremental e deformação localizada

do processo.

Como qualquer processo também apresenta desvantagens em relação a outros:

- aplica-se apenas a pequenos lotes de peças e protótipos;

- para se produzirem formas com ângulos rectos tem que se aplicar uma estratégia multi-passagem

(a deformação é efectuada progressivamente através de várias passagens e diferentes trajectórias da

ferramenta de deformação);

- o tempo de estampagem é muito maior quando comparado com a estampagem convencional;

5

- apresenta menor precisão geométrica face a outros processos de deformação incremental de chapa

como o fluo-torneamento (Rodrigues e Martins, 2010).

Existem três variantes de estampagem incremental de chapa (Figura 2.1) que se denominam por

estampagem incremental sem matriz, estampagem incremental com ferramenta auxiliar e

estampagem incremental com matriz, sendo que a matriz pode ser parcial ou total. Em todas as

variantes são necessários encostadores, máquinas-ferramentas CNC, ferramentas e estruturas.

Figura 2.1 – Variantes da estampagem incremental de chapa

As máquinas-ferramentas CNC mais utilizadas são os braços robóticos e os centros de maquinagem,

sendo a sua função a de suportar a ferramenta e executar as trajectórias definidas para fabricar a

peça pretendida.

As ferramentas encontram-se em contacto com a chapa a deformar e efectuam a deformação

progressiva desta até se obter a peça com a geometria final. Normalmente, estampa-se

incrementalmente com ferramentas sólidas de ponta esférica ou hemisférica.

Estampagem Incremental

Com matriz Sem matriz

Com ferramenta auxiliar

Total

Parcial

6

As estruturas suportam a chapa e podem ser do tipo fixa (não tem componentes móveis) ou do tipo

móvel (alguns componentes podem ter movimento).

Os encostadores fixam a chapa a deformar. Na estampagem incremental sem matriz, para além da

máquina-ferramenta CNC, da estrutura, da ferramenta e dos encostadores, pode ser utilizada uma

placa espera. O seu uso permite definir melhor o contorno da peça na fase inicial da deformação. A

placa espera é conectada à estrutura, e ambas suportam a chapa a ser deformada. Para além disso,

o furo da placa espera delimita a zona de trabalho da ferramenta que deforma plasticamente a chapa

com as trajectórias efectuadas pela máquina-ferramenta. Na estampagem incremental sem matriz, a

estrutura é do tipo fixa e os encostadores são ligados à placa espera (caso haja) ou à estrutura,

fixando a chapa. Neste processo a ferramenta desloca-se na parte interior da peça a produzir

(Silva e Martins, 2014).

O processo de estampagem incremental com ferramenta auxiliar é semelhante ao de estampagem

incremental sem matriz, residindo a diferença entre ambos no facto de se utilizar, no primeiro

processo enunciado, uma ferramenta auxiliar no lado oposto da ferramenta principal. A ferramenta

auxiliar pode ou não ter a mesma trajectória da ferramenta principal. Caso tenha trajectória diferente,

a ferramenta auxiliar tem que ser controlada de forma independente recorrendo a uma máquina-

ferramenta diferente da que controla a ferramenta principal ou a um mecanismo de accionamento

auxiliar (Silva e Martins, 2014; Meier et al., 2011).

Na variante de estampagem incremental com matriz é utilizada uma estrutura móvel. A chapa é

suportada pela parte móvel superior da estrutura e fixa a esta por intermédio de um encostador.

Durante a estampagem incremental, a parte superior da estrutura movimenta-se verticalmente no

sentido descendente, acompanhando o movimento da ferramenta que se desloca na parte exterior da

peça a produzir, desde o topo da peça até à base, ao contrário do que acontece nas outras variantes

do processo. Na parte interior da peça encontra-se a matriz que é fixa à estrutura. A matriz pode ser

parcial ou total. A matriz total tem a forma do negativo da peça a produzir, servindo como molde,

enquanto que a parcial se encontra em contacto com a chapa em apenas algumas zonas

(Jadhav, 2005; Jeswiet et al., 2005; Robalo, 2011; Silva e Martins, 2014).

De forma a quantificar as forças no processo de estampagem incremental sem matriz,

Duflou et al. (2007) mediram-nas durante a produção de cones da liga de alumínio 3003-O. Estes

autores verificaram que a força segundo o eixo yy não ultrapassa os 1000 N e as forças que se

desenvolvem segundo os eixos xx e zz não ultrapassam os 500 N. A definição dos eixos apresenta-

se na Figura 2.2, bem como a evolução das forças medidas.

7

(a) (b)

Figura 2.2 - Trabalho realizado por Duflou et al. (2007): (a) peça elaborada (cone) e sistema de eixos definido e

(b) evolução das forças na estampagem incremental.

2.2. Enformabilidade

A enformabilidade de um material caracteriza o seu nível máximo de deformação, durante um

processo tecnológico, sem que ocorra estricção ou fractura (Rodrigues e Martins, 2010). Este

parâmetro pode ser quantificado, em estampagem incremental de chapa, através do ângulo máximo

de estampagem e dos limites de enformabilidade.

O ângulo máximo de estampagem, , é o maior ângulo que é possível atingir sem que ocorra

estricção ou fractura na peça a ser fabricada.

Os limites de enformabilidade podem ser determinados e traçados à estricção e à fractura, e

permitem quantificar a enformabilidade em chapa. A representação destes limites no plano das

extensões principais tem o nome de diagrama limite de enformabilidade. Neste diagrama encontra-se

a curva limite de estampagem (CLE), que define a deformação admissível a partir da qual surge o

fenómeno de estricção, a curva limite de fractura (CLF) e a curva limite de fractura ao corte (CLFC),

que definem a deformação plástica a partir da qual surge fractura na chapa.

Keeler (1965) publicou a sua investigação na análise de instabilidade plástica e rotura em provetes

deformados por expansão a partir de um punção, analisando a distribuição de extensões, e tentou

identificar a ocorrência de rotura, sem sinais exteriores de esta estar a acontecer, em estampagens

industriais. Este trabalho consistiu na primeira publicação sobre a CLE, mas apenas no domínio da

deformação por expansão. Keeler (1968) continuou a sua investigação anterior e Goodwin (1968)

aplicou o conceito do autor referido anteriormente à análise de deformações por retracção com o fim

de prever a ocorrência de fractura na parede cilíndrica ou na região do canto do cunho dos provetes

por si ensaiados, permitindo o aparecimento da CLE completa, ou seja, juntou os domínios da

expansão e da retracção.

8

No final da década de 70 foi apresentado o conceito de curva limite de fractura.

Embury e Duncan (1981) mostraram através de ensaios de tracção biaxial que a CLE e a CLF

podem interagir, de tal forma que a fractura pode ocorrer sem a existência de estricção.

Marciniak (1984) apresentou uma visão integrada para avaliar a enformabilidade de chapa metálica,

representando no plano das extensões principais três limites (Figura 2.3 (a)):

- o limite de enformabilidade ao engelhamento, ilustrado pela curva na parte inferior do segundo

quadrante, que ocorre quando as tensões de corte que se desenvolvem no plano da chapa são de

compressão;

- o limite de enformabilidade à estricção (CLE), representado pela curva em forma de “V”;

- o limite de enformabilidade à fractura, definido por duas curvas que se cruzam na parte superior

direita do segundo quadrante.

A visão de Marciniak (1984) considera que as fissuras resultam de tensões de corte no plano da

chapa e fora do plano desta (na direcção da espessura). Contudo, não há conhecimento de que estas

considerações tenham sido acompanhadas por evidências experimentais ou fenomenológicas.

(a) (b)

Figura 2.3 - Esquema dos limites de enformabilidade sugeridos por: (a) Marciniak (1984) e (b) Isik et al. (2014).

Atkins (1996) mostrou que a CLF pode ser associada ao facto de se atingir a redução de espessura

crítica numa peça e ao critério de fractura dúctil de McClintock (1968), propondo a representação

gráfica deste limite de enformabilidade como sendo uma linha recta de declive “-1”.

Muscat-Fenech et al. (1996) correlacionaram a CLF com a tenacidade à fractura em modo I,

mostrando que a fractura a que está associada a CLF resulta de tensões de tracção e não de tensões

de corte na direcção da espessura da chapa como tinha sido proposto por Marciniak (1984).

9

Desde 1996 muitas alternativas para os limites de enformabilidade à fractura têm sido propostas, mas

o desenvolvimento dos processos de deformação plástica incremental de chapa metálica nos últimos

anos foi fulcral para a obtenção de novos resultados. Com base neste desenvolvimento,

Silva et al. (2011) mostraram que a fractura em estampagem incremental pode ocorrer sem o

aparecimento prévio de estricção, tendo identificado as condições para que tal aconteça. Assim, em

estampagem incremental podem atingir-se limites de enformabilidade superiores àqueles que são

obtidos nos processos convencionais de deformação plástica de chapa. Tal facto levou Silva e co-

autores a concluírem que a CLF é essencial na análise e controlo da enformabilidade dos processos

de deformação plástica incremental de chapa e comprovaram-se os resultados de Silva et al. (2008),

que propuseram que a fractura com supressão de estricção é governada pela curva limite de fractura.

Para se determinar a CLE são medidas as extensões ao longo de uma direcção que atravessa a

fissura presente no provete de chapa e resultante de ensaios de enformabilidade convencionais,

como o ensaio de tracção, de expansão hemisférico, Nakazima e Bulge (elíptico e circular), nos quais

ocorre estricção. O método utilizado para medir as referidas extensões consiste em determinar, na

fractura de cada provete, as extensões principais máxima e mínima no plano do provete, que são,

respectivamente, e . Antes de se efectuarem os ensaios referidos anteriormente, os provetes de

chapa são marcados previamente com uma grelha de círculos. Durante os ensaios, estes provetes

deformam plasticamente e rompem. Assim, os círculos marcados previamente transformam-se em

elipses, cujos lados maior e menor correspondem às direcções principais. As extensões principais

são determinadas a partir da deformação medida directamente nos círculos/elipses adjacentes

deformados perpendicularmente às fissuras resultantes dos ensaios (calcula-se na zona da fissura

pois é onde ocorreu intensa deformação localizada) e podem ser obtidas a partir das seguintes

expressões:

d

lmaiorln1

d

lmenorln2

(2.1)

onde e são, respectivamente, o comprimento do maior e menor eixo das elipses

resultantes da deformação plástica, enquanto é o diâmetro inicial dos círculos marcados nas

chapas ensaiadas. É importante referir que as deformações são medidas, normalmente, recorrendo

ao uso de câmaras de alta resolução (Figura 2.4 (a)) ou por intermédio de réguas graduadas flexíveis

(Figura 2.4 (b)). As extensões principais no início da estricção (fenómeno a que a CLE se refere) são

obtidas por um processo que envolve a interpolação das extensões principais medidas

experimentalmente após a fractura.

10

(a) (b)

Figura 2.4 - Equipamentos utilizados para medir as deformações a partir da grelha de círculos: (a) câmara digital

e (b) réguas graduadas flexíveis (Câmara, 2009).

Contudo, não é possível ter grelhas de círculos tão pequenas quanto a zona de estricção, tornando

impossível obter a CLF a partir da medição experimental directa das extensões principais no plano do

provete de chapa.

Assim sendo, para se determinar a CLF a partir dos ensaios de enformabilidade convencionais

anteriormente referidos é necessário medir a espessura antes e depois de ocorrer a fractura do

provete em vários locais ao longo da fissura (Figura 2.5 (a)), a fim de se obter a extensão na direcção

da espessura (extensão principal ), e medir também a extensão na direcção da largura do provete

(extensão principal ) a partir da largura inicial e final do provete na zona da fractura (Figura 2.5 (b)).

A extensão principal , e que corresponde à deformação ao longo da direcção longitudinal, obtém-se

pela condição de incompressibilidade.

(a) (b)

Figura 2.5 - Medição da (a) espessura final e da (b) largura final no provete do ensaio de tracção para posterior

cálculo das extensões principais (Montanari et al., 2013).

Recentemente, Isik et al. (2014) propuseram uma nova metodologia para determinar a curva limite de

fractura no plano das extensões principais baseada em ensaios de estampagem incremental, nos

quais se produziram geometrias cónicas e piramidais truncadas com o ângulo de estampagem

variável usando a liga de alumínio AA1050-H111. Nestes ensaios não se verificou estricção antes da

fractura. Em estampagem incremental, e tal como foi referido anteriormente, a fractura pode ocorrer

sem aparecer estricção, levando a que a evolução das extensões seja linear ao longo da peça. Tal

11

facto permite obter a CLF a partir das extensões máximas e mínimas na fractura, e , resultantes

da medição experimental feita directamente na peça, através da grelha de círculos deformada. Assim,

não há a necessidade de se medirem espessuras e larguras, antes e após a fractura, que é um

processo complexo e de introdução de grandes erros experimentais. Com esta metodologia é

possível obter a CLF de forma fácil e eficiente, utilizando procedimentos e equipamentos que são

também usados para obtenção da CLE.

Isik et al. (2014) propuseram também no seu trabalho uma nova visão dos limites de enformabilidade

à fractura em chapa metálica, apresentando a curva limite de fractura ao corte (CLFC)

(Figura 2.3 (b)) e complementando o trabalho de Atkins (1996) sobre a CLF. A CLFC define a

deformação plástica a partir da qual surge fractura provocada pela distorção crítica resultante de

tensões de corte no plano. Esta nova visão é suportada por um trabalho experimental com a liga de

alumínio AA1050-H111, focado na determinação das extensões na fractura, e por um trabalho

analítico que visa permitir a compreensão das circunstâncias em que a rotura ocorre. O trabalho

experimental consistiu em realizar ensaios de corte e de torção com provetes de chapa e posterior

medição das extensões na fractura de modo a traçar a CLFC, constatando-se também que a fractura

que caracteriza a CLFC se deve a tensões de corte no plano (modo II da mecânica da fractura). O

trabalho analítico propõe que a CLFC seja definida por uma recta de declive igual a “+1”, ou seja, é

uma linha perpendicular à CLF. Demonstrou-se também que os valores de dano crítico devido a

tensões de corte no plano se encontram localizados numa linha recta de declive “+1”, o que está de

acordo com a condição de distorção crítica no início da fractura. Em termos teóricos, a CLFC apenas

necessita de um tipo de ensaio experimental para ser caracterizada devido à sua perpendicularidade

com a CLF.

Na Figura 2.6 encontram-se representados os resultados provenientes dos trabalhos de

Isik et al. (2014). É possível constatar que a CLF obtida a partir de ensaios de estampagem

incremental (linha preta contínua na Figura 2.6)) é semelhante à obtida a partir dos ensaios de

enformabilidade convencionais (linha preta a tracejado na Figura 2.6)), tendo as equações que as

definem declives iguais a “-0.70” e “-0.68”, respectivamente. Verifica-se que as extensões principais

da geometria cónica truncada evoluem sob condições de deformação plana enquanto que na

geometria piramidal truncada evoluem sob condições de deformação plana (no lados) e expansão

biaxial (no cantos). Os marcadores com preenchimento representam os pontos de fractura. Em

relação aos ensaios realizados para se obter e caracterizar a CLFC constata-se que as extensões

principais do provete sujeito ao ensaio de corte evoluem sob condições próximas de corte puro

enquanto que no provete utilizado no ensaio de torção evoluem sob condições de corte puro.

Contudo, nestes ensaios ocorre o fenómeno de localização que leva a uma redução significativa da

espessura na rotura, sendo, neste caso, a extensão na fractura obtida a partir de uma metodologia

semelhante à utilizada na determinação da CLF quando se recorre a provetes provenientes de

ensaios de enformabilidade convencionais (medindo as espessuras e as larguras dos provetes). A

CLFC resultante é definida por uma equação com declive igual a 1.39, estando de acordo com a

fundamentação teórica que acompanha esta investigação. Apesar de teoricamente ser necessário

12

apenas um destes ensaios para caracterizar a CLFC devido à sua perpendicularidade com a CLF,

Isik e co-autores utilizaram os resultados de ambos pois os declives experimentais de ambas as

curvas não são exactamente “+1” e “-1”.

Figura 2.6 - Resultados obtidos por Isik et al. (2014).

Quanto ao loci da fractura (designação dada ao conjunto formado pela CLF e a CLFC) da Figura 2.6,

verifica-se que o ângulo entre as duas linhas, para a liga de alumínio AA1050-H111, é de 91⁰,

comprovando a perpendicularidade proposta entre ambas (tal como os declives experimentais não

são exactamente “+1” e “-1”, também não é esperado que este ângulo seja exactamente 90⁰).

Neste trabalho, Isik et al. (2014) compararam o seu loci da fractura com outros já publicados,

nomeadamente com o de Li et al. (2010), que difere no comportamento assimptótico proposto, por

estes últimos, para a CLFC e CLF (Figura 2.7). Esta diferença deve-se ao facto dos procedimentos e

métodos usados por Isik et al. (2014) se basearem exclusivamente em ensaios de deformação de

chapa enquanto os de Li et al. (2010) se baseiam em ensaios de deformação de chapa e na massa.

Figura 2.7 – Loci da fractura proposto por Li et al. (2010).

13

A enformabilidade pode ser influenciada por parâmetros do processo de estampagem incremental.

Os principais parâmetros da estampagem incremental que influenciam a enformabilidade encontram-

se descritos na Tabela 2.1 e serão analisados de seguida.

Tabela 2.1 - Principais parâmetros da estampagem incremental que influenciam a enformabilidade.

Principais parâmetros da estampagem incremental que influenciam a enformabilidade

- Diâmetro da ferramenta

- Velocidade de rotação da ferramenta

- Velocidade de avanço da ferramenta

- Geometria da peça

- Incremento de deslocamento na direcção vertical

- Lubrificação

Ao se aumentar o diâmetro da ferramenta obtém-se uma distribuição de tensões numa área maior da

peça produzida, uma vez que a superfície de contacto entre a ferramenta e a chapa a ser deformada

é também maior. Hirt et al. (2002) mostraram que a enformabilidade aumenta com a diminuição do

diâmetro da ferramenta, visualizando no plano das extensões principais que as extensões

provenientes de ensaios realizados por ferramentas de menor diâmetro são de maior valor, para a

mesma geometria. Silva et al. (2011) também verificaram que o aumento do diâmetro da ferramenta

resulta numa diminuição da enformabilidade do material com base em ensaios de estampagem

incremental onde se produziram geometrias cónicas e piramidais truncadas. Estes autores

concluíram que o aumento do diâmetro da ferramenta leva a que o ângulo de estampagem máximo

diminua e o rácio de triaxilidade de tensões (

) aumente.

A velocidade de rotação da ferramenta é um parâmetro que não gera acordo na comunidade

científica acerca da sua influência na enformabilidade do material. Ham e Jeswiet (2006) concluíram

que o aumento da velocidade de rotação da ferramenta leva ao aumento da enformabilidade, pois

velocidades de rotação maiores geram maior aquecimento localizado derivado do atrito entre a peça

e a ferramenta. Neste trabalho, os autores também referem um estudo realizado anteriormente na

Queen’s University em que as conclusões foram contrárias, isto é, a diminuição da velocidade de

rotação levaria a um aumento da enformabilidade. Ambrogio et al. (2004) obtiveram conclusões

idênticas a Ham e Jeswiet (2006), uma vez que os seus resultados indicaram que o aumento da

velocidade de rotação implica um aumento da enformabilidade do material e do desgaste da

ferramenta. Finalmente, Silva et al. (2009) mostraram em ensaios com a ferramenta livre (esta pode

rodar consoante a sua necessidade e trajectória) que, pelo facto do atrito circunferencial resultante do

14

contacto entre a ferramenta e a chapa ser desprezável, a rotação da ferramenta não influencia

significativamente os resultados de enformabilidade obtidos nos ensaios de estampagem incremental.

Em relação à velocidade de avanço da ferramenta, Ham e Jeswiet (2006) concluíram que a

diminuição desta velocidade leva a um aumento da enformabilidade. Tal facto é explicado da seguinte

forma: a diminuição da velocidade de avanço leva a um aumento do aquecimento localizado, devido

ao atrito resultante do contacto pontual entre a ferramenta e a peça a ser deformada, resultando num

aumento da enformabilidade. Anteriormente, Kim e Park (2002) e Jeswiet et al. (2005) também

constataram tal situação nos seus trabalhos de investigação.

A geometria da peça é um parâmetro de significativa importância porque cada uma tem um tipo de

deformação diferente, obtendo-se assim pontos em diferentes zonas do plano das extensões

principais. Isto permite caracterizar os limites de enformabilidade e o ângulo máximo de estampagem.

Muitas geometrias têm sido propostas para se proceder a tal acção e para demonstrar as

potencialidades da estampagem incremental: por exemplo, Jeswiet e Young (2005) utilizaram

geometrias cónicas, piramidais, em forma de cúpula, hipérboles (cone em que o ângulo de

estampagem varia com a evolução da deformação) e cónicas com 5 lóbulos, todas truncadas

(Figura 2.8). Contudo, actualmente, as mais utilizadas são as geometrias cónicas e as piramidais. É

importante referir que para se determinar o ângulo máximo de estampagem deve-se utilizar uma

trajectória em que o ângulo de estampagem seja variável, como no caso da hipérbole, porque

verifica-se que o ângulo máximo obtido a partir da trajectória enunciada é superior ao obtido a partir

de geometrias com declives constantes (Hussein et al. (2007)).

Cone Pirâmide Cúpula Hipérbole Cone com 5 lóbulos

Figura 2.8 - Geometrias truncadas propostas por Jeswiet e Young (2005).

Jeswiet e Young (2005) verificaram que a geometria cónica truncada com 5 lóbulos permite obter

pontos de extensão principal no segundo quadrante do plano das extensões principais (Figura 2.9).

15

Figura 2.9 – Extensões principais obtidas a partir do cone truncado com 5 lóbulos por Jeswiet e Young (2005).

Quanto ao incremento de deslocamento na direcção vertical, isto é, a quantidade de material que é

deformado por volta, estudos indiciam que o aumento deste parâmetro diminui a enformabilidade do

material no processo de estampagem incremental devido à maior rugosidade da peça resultante. Este

aumento também leva à diminuição do tempo de fabrico da peça (Hirt et al. (2002);

Hagan e Jeswiet (2004)). Grandes incrementos de deslocamento na direcção vertical aumentam a

tensão no material em contacto com a ponta da ferramenta, levando a que as fissuras possam

ocorrer mais rapidamente.

Em estudos relativos à lubrificação em estampagem incremental, Bramley et al. (2001) concluíram

que a utilização de lubrificante é necessária para obter uma superfície da peça com menor

rugosidade e que o tipo de lubrificante a utilizar no ensaio não é um factor relevante.

Kim e Park (2002) estudaram dois tipos de ferramentas, uma de ponta esférica e outra de ponta

hemisférica, com e sem utilização de lubrificante, tendo concluído que a utilização da ferramenta de

ponta esférica sem lubrificante permitiu aumentar a enformabilidade do material, embora se deva ter

em atenção que o aumento do atrito resultante pode levar à abertura de fissuras precoces na peça.

Em 2006, Carrino et al. (2006) verificaram que as diferenças no efeito do atrito são apenas

significantes em condições extremas, como comparando o processo de estampagem incremental

com e sem lubrificação. A importância do efeito da lubrificação faz-se sentir ao nível do desgaste da

ferramenta.

Os mecanismos de fractura e de deformação plástica em estampagem incremental de chapa metálica

têm sido objecto de controvérsia na comunidade científica. Tal facto será demonstrado de seguida

com a apresentação de algumas conclusões obtidas a partir de trabalhos de investigação já

realizados. Antes, é importante referir que existem três de modos de abertura de fissuras no estudo

da mecânica da fractura (Figura 2.10): modo I, onde a abertura da fissura é devido a tensões de

tracção, modo II, devido a tensões de corte no plano e modo III, devido a tensões de corte na

direcção da espessura.

16

Figura 2.10 - Modos de fractura: (a) modo I, (b) modo II e (c) modo III (Martins et al., 2014).

Silva et al. (2008) propuseram um novo modelo teórico construído com base na análise de

membrana, na mecânica do dano e em observações experimentais onde a fractura resultante não é

precedida por estricção e a fissura surge e propaga-se devido a tensões de tracção meridionais

(modo I).

O trabalho de Alwood e Shouler (2009) proporcionou evidências circunstanciais de que a tensão de

corte segundo a direcção da espessura pode ter um papel importante na fractura em estampagem

incremental (modo III). Neste trabalho, os autores referidos tentaram representar um estado de

deformação típico de estampagem incremental através da análise M-K de Marciniak-Kuczyisnki. Para

tal, abordaram esta análise fazendo com que as seis componentes do tensor das tensões fossem

diferentes de zero.

Malhotra et al. (2012) apresentaram um trabalho onde se estudaram as forças, a redução de

espessura e a fractura em estampagem incremental de chapa, utilizando um modelo de fractura e

implementando-o numa análise de elementos finitos. Nesta investigação também foram realizados

ensaios experimentais, para posterior comparação com os resultados provenientes da análise de

elementos finitos, onde se efectuaram duas geometrias cónicas: uma com um ângulo de estampagem

constante e igual a 70⁰ e outra com um ângulo de estampagem variável, à qual foi chamada funil.

Desta investigação, Malhotra e co-autores concluíram que a fractura em estampagem incremental é

controlada por flexão, expansão e tensões de corte na direcção da espessura da chapa. A flexão e a

tracção provocadas pela ferramenta de ponta hemisférica causam uma maior extensão no lado

exterior da peça, levando a um dano maior neste lado. Contudo, as tensões de corte na direcção da

espessura são maiores no lado interior da peça devido à actuação da ferramenta nesta zona. Os

autores referidos defendem que a combinação destes efeitos origina o aparecimento da fissura no

lado exterior da peça que se propaga depois em direcção ao lado interior.

Recentemente, Isik et al. (2014) e Martins et al. (2014) apresentaram uma nova visão dos limites de

enformabilidade para os processos de deformação de chapa metálica. Nesta visão é apresentado que

a deformação plástica e a fractura em chapa resultam da competição entre a redução da espessura

crítica provocada por tensões de tracção (modo I) e a distorção crítica causada por tensões de corte

no plano da chapa (modo II). Esta nova perspectiva dos limites de enformabilidade assenta num

(a) (b) (c)

17

trabalho analítico e num trabalho experimental. No trabalho experimental foram realizados ensaios de

estampagem incremental, dos quais se obtiveram fissuras devido a tensões de tracção, e ensaios de

torção e de corte, dos quais surgiram fracturas devido a tensões de corte no plano. Além disto,

Martins et al. (2014) defendem que a tensão de corte na direcção da espessura não é um modo de

fractura que ocorra na deformação plástica da chapa metálica. É importante referir que, para

conhecimento do autor, nas mais recentes publicações sobre a mecânica da fractura e da

deformação plástica em estampagem incremental nunca foi abordada a ocorrência de fissuras

resultantes pelo modo II.

Finalmente, Madeira et al. (2014) tentaram provar, por meio de ensaios independentes, que a fractura

em estampagem incremental ocorre devido a tensões de tracção (modo I). Assim, determinou-se a

tenacidade à fractura directamente de peças cónicas truncadas produzidas por estampagem

incremental e comparou-se este valor com o obtido em provetes de duplo entalhe sujeitos a tracção

uniaxial. Os resultados dos ensaios permitiram verificar que os valores de tenacidade à fractura

obtidos para ambos são semelhantes. Além disto, constatou-se que as extensões na fractura das

peças cónicas truncadas, que apresentam fissuras circunferenciais devido a tensões meridionais, se

encontram localizadas, no plano das extensões principais, junto das extensões na fractura

determinadas a partir dos provetes de duplo entalhe que fracturaram devido a uma fissura que abre

segundo o modo I da mecânica da fractura. Ao se juntar a estes resultados o trabalho de

Muscat-Fenech et al. (1996) que permitiu correlacionar a CLF com a tenacidade à fractura em modo I,

pode-se concluir que a fractura em estampagem incremental ocorre por modo I devido a tensões

meridionais que são aplicadas ao longo da região deformada plasticamente e são resultado do

contacto entre a ferramenta e a chapa a ser deformada.

2.3. Fabrico de flanges por estampagem incremental

Uma flange é um elemento que permite unir dois componentes, sendo muito utilizado em sistemas de

tubos, por exemplo. Para sua produção pode ser utilizado o processo de estampagem incremental

sem matriz. Nesta situação, adoptando-se uma trajectória multi-passagem (isto é, a peça é produzida

realizando diversas fases intermédias de deformação até à fase final), a chapa previamente furada

deforma por flexão e expansão provocadas por uma ferramenta de deformação. O furo da chapa terá

a mesma geometria que a flange que se pretende produzir. As flanges podem ser rectas, côncavas,

convexas, simétricas ou assimétricas (Figura 2.11).

18

(a) (b) (c) (d) (e)

Figura 2.11 - Tipos de flanges: (a) côncava, (b) convexa, (c) recta, (d) simétrica e (e) assimétrica.

No fabrico de flanges é comum ouvir-se falar no Coeficiente Limite de Deformação (CLD). Este

parâmetro pode ser considerado um limite de enformabilidade no fabrico de flanges circulares (para

um valor acima do CLD, a flange falha por fractura), definindo-se como o quociente entre o diâmetro

máximo interior da flange, ,e o diâmetro inicial do furo, :

(2.2)

Cui e Gao (2010) foram os autores da primeira contribuição sobre produção de flanges por

estampagem incremental, onde testaram e investigaram a influência de três trajectórias da ferramenta

na produção de flanges circulares (Figura 2.12). Em todas estas estratégias, a ferramenta efectuava

trajectórias multi-passagem. Na primeira estratégia, o diâmetro do furo inicial ia aumentando em cada

fase de deformação até ao diâmetro final pretendido, formando-se sempre uma parede vertical no fim

de cada uma das fases. A segunda estratégia consistiu em aumentar o ângulo da parede em diversas

fases consecutivas, numa sequência de 30⁰, 45⁰, 60⁰, 75⁰ e 90⁰. Por fim, a terceira estratégia resulta

da combinação das duas referidas anteriormente, aumentando-se o diâmetro do furo e o ângulo da

parede em cada fase de deformação.

Figura 2.12 - Estratégias testadas para a trajectória da ferramenta (Cui e Gao, 2010).

De forma a investigar qual das estratégias se apresenta como a melhor, chapas da liga de alumínio

1060, com o mesmo diâmetro do furo inicial e a mesma espessura (1 mm), foram deformadas usando

as três estratégias enunciadas com duas, três, quatro e cinco fases. A espessura da parede da flange

foi também medida para se perceber qual é a sua variação entre as diferentes fases e as diferentes

estratégias. Analisando os resultados obtidos, Cui e Gao concluíram que a melhor estratégia de entre

as três estudadas seria a primeira. As razões para tal facto foram as seguintes: esta trajectória

apresentou o maior CLD, a maior espessura da peça produzida, evitando uma redução excessiva da

chapa, e a distribuição da espessura é mais uniforme ao longo da parede da flange. É importante

referir que a estratégia que apresentou menor CLD foi a segunda.

19

Petek et al. (2011) estudaram a aplicação do processo de estampagem incremental multi-passagem a

uma ferramenta que possuía trajectória ascendente (Figura 2.13), deformando localmente a chapa de

aço carbono DC05 na direcção oposta ao processo de estampagem incremental comum e produzindo

flanges impossíveis de moldar utilizando o sentido descendente. Com este estudo, Petek e co-

autores concluíram que com este processo e uma trajectória de deformação em que se aumenta

progressivamente o ângulo da parede é possível produzir flanges simétricas e assimétricas em

chapas metálicas com sucesso, sendo que estas flanges possuem uma parede maior e um CLD

superior quando comparadas às produzidas por estampagem convencional.

Figura 2.13 – Representação esquemática do processo estudado por Petek et al. (2011).

Os dois trabalhos referidos anteriormente focaram-se, essencialmente, no estudo das trajectórias da

ferramenta, dos parâmetros operativos e de potenciais aplicações do processo de estampagem na

produção de flanges. Existia, então, a necessidade de perceber a mecânica da deformação e a física

por detrás da ocorrência da fractura nestas peças. Tais factos foram abordados e investigados por

Centeno et al. (2012), utilizando uma grelha de círculos para análise e obtenção da evolução das

deformações.

Centeno et al. (2012) fabricaram flanges cónicas utilizando uma trajectória variável (Figura 2.14 (a)),

ou seja, o ângulo de estampagem da peça varia com a evolução da deformação, e flanges

circulares/cilíndricas usando uma estratégia multi-passagem (Figura 2.14 (b)). Ambas as flanges

foram produzidas através de estampagem incremental e em chapas da liga de alumínio

AA1050-H111 com 1 mm de espessura.

A partir dos resultados provenientes das flanges cónicas, os autores referidos verificaram que a

evolução da espessura com a profundidade em flanges que possuem um furo inicial de pequeno

diâmetro é uniforme e semelhante à do cone truncado e verifica-se o aparecimento de fissuras

circunferenciais devido a tensões meridionais, permitindo concluir também que pode não ocorrer

estricção antes de surgir a fractura em estampagem incremental. À medida que o diâmetro do furo

inicial aumenta verifica-se a inexistência de fractura e a espessura mínima na peça aumenta. As

flanges cónicas serviram também para estudar a variação do diâmetro do furo inicial durante a

deformação, constatando-se que pequenos diâmetros não sofrem alterações nas suas dimensões,

em oposição a grandes diâmetros que sofrem significativas alterações com o aumento da

20

profundidade. Recorrendo ainda a flanges cónicas, Centeno e co-autores representaram a sua

trajectória de deformação ao longo de uma secção meridional, no plano das extensões principais, e

obtiveram a distribuição de extensão efectiva. A extensão efectiva foi calculada a partir do critério de

plasticidade de Von Mises, desprezando-se assim a anisotropia, ou seja, assumiu-se que a

deformação plástica se faz sob condições isotrópicas. A partir da distribuição de extensão efectiva

calculada e recorrendo à equação que traduz a curva tensão-extensão, obteve-se também a

distribuição de tensão efectiva na peça.

(a) (b)

Figura 2.14 - (a) Flange cónica de trajectória em que o ângulo de estampagem é variável com a evolução da

deformação (Centeno et al., 2012); (b) Esquema da evolução da trajectória multi-passagem utilizada no fabrico

de flanges circulares (Centeno et al., 2012).

As flanges circulares ensaiadas por Centeno et al. (2012) foram fabricadas recorrendo a uma

trajectória multi-passagem, em que, em cada fase, o ângulo de estampagem aumenta, começando

com um ângulo inicial de 65⁰ e finalizando quando se atingir os 90⁰, existindo incrementos de 5⁰ entre

as fases que se encontram neste intervalo (Figura 2.14 (b)). Foi adoptada a estratégia de se

aumentar progressivamente o ângulo de estampagem porque é a que apresenta menor CLD, sendo o

pior cenário. O ângulo de estampagem inicial foi determinado através de ensaios realizados por

estampagem incremental nos quais se produziram peças cónicas truncadas com diferentes ângulos

de estampagem constantes, tendo-se verificado que, para ângulos superiores a 65⁰, as deformações

se encontram muito próximas ou no interior da zona de incerteza de 10% da CLF, indiciando a

ocorrência de fractura. Assim, decidiu-se que o ângulo de estampagem inicial seria 65⁰.

Nos ensaios de flanges circulares foram produzidas duas flanges: uma com o diâmetro do furo inicial

igual a 102 mm e o da outra igual a 120 mm. A primeira flange enunciada fracturou na segunda fase

de estampagem (65⁰+70⁰), em conformidade com o ponto de fractura (marcador triangular sólido)

presente na zona de incerteza da CLF que indicia tal facto (Figura 2.15 (a)). Já a segunda flange

enunciada foi fabricada com sucesso, sem ocorrência de fractura. Na Figura 2.15 (b) encontram-se

representadas as evoluções da deformação desta flange, ao longo de uma direcção meridional, da

primeira fase de estampagem (65⁰), da terceira fase de estampagem (65⁰+70⁰+75⁰) e da sexta e

última fase de estampagem (65⁰+70⁰+75⁰+80⁰+85⁰+90⁰), constatando-se que, ao longo da sequência

de fases, a evolução das deformações se aproxima da CLF.

21

(a) (b)

Figura 2.15 - (a) Extensões principais obtidas das flanges circulares com diâmetros do furo inicial iguais a 102 e

120 mm após a segunda fase de estampagem (65⁰+70⁰) (Centeno et al., 2012); (b) Trajectórias de deformação

da flange circular de diâmetro do furo inicial igual a 120 mm após três fases de estampagem diferentes

(Centeno et al., 2012).

Posteriormente, Silva et al. (2013) fabricaram flanges circulares por estampagem incremental e

convencional em dois materiais diferentes, a liga de alumínio AA1050-H111 e o titânio (grau 2), de

forma a comparar ambos os processos. Os resultados obtidos para cada material encontram-se na

Figura 2.16.

(a) (b)

Figura 2.16 - Trajectórias de deformação resultantes do fabrico de flanges circulares pelos processos de

estampagem convencional e incremental: (a) Resultados para a chapa da liga de alumínio AA1050-H111 com

um furo inicial de diâmetro igual a 111 mm. Os marcadores sólidos a cinzento correspondem à estricção e a

preto à fractura; (b) Resultados para chapa de titânio (grau 2) com um diâmetro do furo inicial de 127 mm. Os

marcadores sólidos correspondem à fractura (Silva et al., 2013).

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

1.80

2.00

-0.60 -0.40 -0.20 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40

Hole Diameter 102 mm (65º+70º)

Hole Diameter 120 mm (65º+70º)

FFL

Majo

rT

rue S

train

Minor True Strain

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

1.80

2.00

-0.30 -0.20 -0.10 0.00 0.10 0.20 0.30

65º

65º+70º+75º

65º+70º+75º+80º+85º+90º

FFL

Majo

rT

rue S

train

Minor True Strain

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

1.80

2.00

-0.30 -0.20 -0.10 0.00 0.10 0.20 0.30

Multi-stage SPIF

Conventional press-working

FFL

FLC

Minor True Strain

Ma

jor

Tru

e S

tra

in

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

-0.30 -0.20 -0.10 0.00 0.10 0.20 0.30

Multi-stage SPIF

Conventional press-working

FFL

FLC

Minor True Strain

Ma

jor

Tru

e S

tra

in

22

Visualizando a Figura 2.16, verifica-se que a evolução da deformação nas peças obtidas por

estampagem incremental é caracterizada por pontos que se encontram, inicialmente, em deformação

plana e à medida que nos deslocamos ao longo da parede da flange, em direcção à aresta do furo, a

deformação dos pontos desvia ligeiramente e reverte para condições de expansão biaxial. A evolução

da deformação das peças obtidas a partir de estampagem convencional é caracteriza por pontos que

se encontram, inicialmente, junto à origem do plano das extensões principais e à medida que nos

deslocamos ao longo da aba da flange, em direcção à aresta do furo, a deformação dos pontos

aproxima-se de condições de tracção uniaxial. Analisando as trajectórias de deformação juntamente

com os limites de enformabilidade, conclui-se que quando a CLE e a CLF se encontram muito

próximas uma da outra, especialmente na zona de expansão biaxial, é provável que a flange obtida

pelo processo incremental fracture antes de ocorrer a estricção na flange obtida por estampagem

convencional, tal como acontece no caso do titânio (grau 2). Este facto, leva a concluir que o CLD de

flanges obtidas por estampagem incremental é superior e mais favorável ao das flanges obtidas por

estampagem convencional apenas no caso em que a CLF se encontra bem acima da CLE no plano

das extensões principais, tal como acontece com a liga de alumínio AA1050-H111. A situação inversa

verifica-se no titânio (grau 2).

Voswinckel et al. (2013) estudaram o processo de estampagem incremental com matriz no fabrico de

flanges rectas, côncavas e convexas. Este estudo incidiu na influência da trajectória da ferramenta e

do comprimento e raio da flange no fabrico destas peças. Os autores obtiveram rácios entre o

comprimento e o raio da flange maiores nos ensaios de estampagem incremental efectuados para

produzir flanges côncavas e convexas do que os encontrados na literatura em relação aos ensaios de

estampagem convencional efectuados para fabricar as mesmas peças. Assim, concluiu-se que o

fabrico de flanges côncavas e convexas por estampagem convencional apresenta mais limitações

que o fabrico das mesmas por estampagem incremental.

Em 2013, Montanari et al. (2013) ampliaram o trabalho realizado por Centeno et al. (2012). Como foi

anteriormente referido, o trabalho de Centeno et al. (2012) focou-se no estudo da mecânica da

deformação e da física da fractura em flanges circulares produzidas por estampagem incremental.

Contudo, neste estudo, as tensões correspondentes às extensões principais calculadas não foram

abordadas. Apenas a tensão efectiva foi obtida a partir da combinação da extensão efectiva

calculada, desprezando-se o efeito da anisotropia, e da curva tensão-extensão do material. Assim,

Montanari e co-autores fabricaram duas flanges circulares por estampagem incremental com a liga de

alumínio AA1050-H111. Os diâmetros dos furos iniciais das flanges utilizados foram 102 e 121 mm,

obtendo-se os mesmo resultados que Centeno et al. (2012), tanto a nível da evolução da trajectória

de deformação como ao nível da ocorrência ou não de fracturas, tal como era esperado. Na flange de

diâmetro do furo inicial igual a 102 mm ocorreu fractura enquanto na outra não. A novidade

introduzida por Montanari et al. (2013) foi o cálculo das tensões principais, da extensão efectiva e da

tensão efectiva a partir da medição experimental das extensões principais e não desprezando o efeito

da anisotropia no processo de estampagem incremental de chapa. Este efeito foi contabilizado a

23

partir do critério de plasticidade quadrático de Hill e assumindo que o coeficiente de anisotropia

normal se mantém constante durante a deformação plástica.

A Figura 2.17 refere-se aos resultados obtidos para a flange circular em que ocorreu fractura

(diâmetro do furo inicial igual a 102 mm). Na Figura 2.17 (a) é possível visualizar as isolinhas de

extensão efectiva, caracterizadas pela sua forma elíptica e representadas com contorno cinzento

tracejado, e o envelope de deformação (linha contínua a preto) que contém as maiores deformações

na flange, ao longo de uma secção meridional. A isolinha indica que todos os pontos que a cruzem

possuem o mesmo valor de extensão efectiva. Quanto à Figura 2.17 (b) encontram-se representados

o envelope das maiores tensões atingidas (envelope de tensão), ilustrado pela linha contínua preta,

os limites dos estados de tensão correspondentes à estricção e à fractura e o limite de elasticidade.

No plano das tensões principais adimensionalizadas com a tensão limite de elasticidade

(Figura 2.17 (b)) verifica-se que a distância entre a CLE e a CLF é relativamente pequena e o limite

de elasticidade encontra-se próximo das curvas enunciadas anteriormente, o que indica que o

material em estudo tem uma resposta pequena ao endurecimento. É importante referir também que

tanto o envelope de deformação como o de tensão intersectam a CLF, estando de acordo com as

observações experimentais pois ocorreu fractura nesta flange.

(a) (b)

Figura 2.17 - Resultados obtidos a partir da flange circular de diâmetro inicial do furo igual a 102 mm: (a) Linhas

de extensão efectiva e envelope de deformação (Montanari et al., 2013); (b) Envelope de tensão

(Montanari et al., 2013).

Montanari et al. (2013) avaliaram também as deformações de pontos específicos ao longo das

diversas fases de estampagem das flanges circulares tendo concluído que as trajectórias de

deformação dos vários pontos evoluem de um modo linear e contínuo desde a origem até atingir o

valor de deformação máxima (Figura 2.18).

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

1.80

2.00

-1.60 -1.40 -1.20 -1.00 -0.80 -0.60 -0.40 -0.20 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40

CLE

CLF

Envelope 102 mm

Ex

ten

o P

rin

cip

al

1

Extensão Principal 2

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60

CLE

CLF

Limite de Elasticidade

Envelope

Deformação Plana

Tensão 2 / Tensão limite de elasticidade

Ten

são

1 /

Ten

são

lim

ite d

e e

lasti

cid

ad

e

46.1

1

75.0

5.0

24

A, ..., J A, ..., JA, ..., J

Figura 2.18 - Trajectórias de deformação dos pontos da grelha A a J, definidos ao longo de uma secção

meridional, para os ângulos de estampagem º a 90º da flange com um furo de diâmetro inicial

(Montanari et al., 2013).

Posteriormente, Cristino et al. (2014a) apresentaram uma nova metodologia para determinar a

acumulação de dano e a tenacidade à fractura em flanges circulares feitas a partir da liga de alumínio

AA1050-H111 e por estampagem incremental. Esta metodologia é limitada a casos em que o material

se encontre em condições de deformação plana, ou próximas desta, e resulta da combinação da

teoria da plasticidade e dos resultados experimentais obtidos. Desta metodologia surgem expressões

para calcular os parâmetros enunciados de forma rápida e eficaz a partir do conhecimento das

extensões efectivas no início da fractura, evitando-se a necessidade de integrar as funções que

permitem também obter o valor destes parâmetros, ao longo da trajectória de deformação.

Cristino et al. (2014b) estudaram o fabrico de flanges quadradas por estampagem incremental. Para

produzir estas peças, os autores referidos utilizaram uma trajectória multi-passagem em que o ângulo

de estampagem aumentava em cada fase de acordo com a sequência 65⁰, 70⁰, 75⁰, 80⁰, 85⁰ e 90⁰. O

ângulo de estampagem inicial igual a 65⁰ foi assumido de acordo com os resultados provenientes da

produção de peças com forma piramidal, através de estampagem incremental, por Silva et al. (2011),

onde se verificou que o início da fractura surgiu para um ângulo de estampagem próximo de 75⁰.

Para escolher a geometria do furo mais adequada para produzir as flanges, Cristino e co-autores

A

B

C D

E

F

G

H

I

J

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

-0.10 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40

A

B

C

D

E

F

G

H

I

J

CLE

CLF

Envelope

Exte

nsão

Pri

ncip

al 1

Extensão Principal 2

25

basearam-se nos ensaios preliminares de Pardal (2013) que concluiu que a melhor geometria seria

uma em que os furos possuíssem raios constantes e concordantes. Esta geometria bem como a

representação das suas variáveis encontram-se representadas na Figura 2.19.

Figura 2.19 –Nomenclatura e definição das variáveis do furo inicial da chapa utilizada para fabricar flanges

quadradas (Silva et al., 2014).

Dos resultados obtidos por Cristino et al. (2014b) concluiu-se o seguinte: quanto maior a dimensão

do furo inicial e mantendo o raio de canto constante, maior é a enformabilidade; o aumento do

raio de canto do furo inicial leva a que a sua dimensão diminua para que a flange seja

produzida com sucesso; quer o aumento da dimensão inicial do furo , quer o aumento do seu raio

de canto permitem o fabrico das flanges com parede vertical. Nesta investigação são comparadas

duas flanges com dimensão inicial do furo igual a 140 e 147 mm e raios de canto cujo valor são

22.5 mm e 5 mm, respectivamente. Para a flange de raio de canto maior não se verificou fractura

enquanto que para a de menor raio ocorreu uma fissura no meio do canto. Para analisar as flanges

quadradas, os autores referidos identificaram quatro zonas (Figura 2.20 (c)): a zona aa’ que se se

situa a meio da parede lateral, a zona bb’ que se localiza na zona de transição entre a parede lateral

e o canto, a zona cc’ que está numa região intermédia entre a zona bb’ e o meio do canto e a zona

dd’ que corresponde ao meio do canto da flange. Na Figura 2.20 (a) encontram-se os envelopes de

deformação correspondentes às zonas referidas da flange quadrada em que ocorreu fractura. Tal

facto é visível nesta figura pois o envelope da zona dd’ intersecta a CLF. Por fim, na Figura 2.20 (b) é

possível visualizar a fissura resultante. A sua morfologia e modo de propagação (começa na aresta

do furo e desloca-se ao longo da direcção meridional) permitem afirmar que a fractura se deve a

tensões circunferenciais e resulta de uma redução de espessura, sem sinais prévios de estricção. Os

autores concluíram também que a fractura nas flanges quadradas pode ser evitada através do

aumento da dimensão do furo inicial, do aumento do raio de canto do furo inicial ou do aumento de

ambos em simultâneo.

26

(b)

(a) (c)

Figura 2.20 - (a) Envelopes de deformação das diferentes zonas da flange quadrada de raio de canto igual a

5 mm; (b) Fissura presente na flange de raio de canto igual a 5 mm; (c) Zonas da flange quadrada e ilustração

das respectivas deformações dos círculos da grelha (Cristino et al., 2014).

A flange quadrada em que não ocorreu fractura apresenta modos de deformação distintos: a zona aa’

encontra-se em condições de deformação plana, a zona dd’ está sujeita a condições de expansão

biaxial e as zonas bb’ e cc’ apresentam trajectórias de deformação complexas devido à interacção

entre a zona do meio do canto e a parede lateral. Verifica-se também que o envelope de deformação

da zona cc’ desta flange é semelhante ao envelope de deformação obtido a partir de uma flange

circular com grande diâmetro do furo inicial produzida por estampagem incremental.

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

-0.20 -0.10 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40

Envelope Zona aa'

Envelope Zona bb'

Envelope Zona cc'

Envelope Zona dd'

Ex

ten

o P

rin

cip

al

1

Extensão Principal 2

CLF

CLE

27

3. Trabalho Experimental

Este capítulo iniciar-se-á com a caracterização das propriedades do material, seguindo-se a

apresentação dos equipamentos utilizados nos ensaios de estampagem incremental bem como a

explicação acerca do modo de preparação das chapas. Posteriormente, serão abordados os

equipamentos e técnicas utilizados na medição dos resultados obtidos e a metodologia usada para se

efectuarem os ensaios. Depois serão apresentados os planos de ensaios para o fabrico de

geometrias cónicas truncadas com lóbulos, de flanges circulares e de flanges complexas. Este

capítulo terminará com o projecto de um estrutura de suporte e respectivo estudo estrutural.

3.1. Propriedades do material

O material utilizado em todos os ensaios, cujos resultados são apresentados neste trabalho, foi a liga

de alumínio AA1050-H111. Este material tem um teor em alumínio superior a 99.0% e uma pureza de

99.50%, tendo sido endurecido por encruamento sem sofrer algum outro tratamento suplementar. De

seguida, serão apresentadas as propriedades mecânicas (caracterização mecânica) e as curvas

limite de estampagem (CLE), limite de fractura (CLF) e limite de fractura ao corte (CLFC) deste

material (caracterização da enformabilidade).

3.1.1. Caracterização mecânica

De forma a analisar o comportamento deste material quando sujeito a deformação plástica a partir do

processo de estampagem incremental, torna-se necessário conhecer as suas propriedades

mecânicas. Estas propriedades são obtidas a partir do ensaio de tracção e definem a resposta de um

material a uma determinada solicitação imposta, sob condições térmicas ou ambientais bem

definidas. Isik et al. (2014), num trabalho anterior, determinaram as principais propriedades

mecânicas do material que se encontra aqui a ser caracterizado. Deste trabalho, ficou a saber-se que

a curva tensão-extensão da liga de alumínio AA1050-H111 pode ser aproximada pela seguinte

equação de Ludwik-Hollomon:

(3.1)

Isik et al. (2014) determinaram ainda o módulo de elasticidades (E), a tensão de cedência ( ), a

tensão de rotura ( ), os coeficientes de anisotropia normal ( ) e planar ( ) e o alongamento após

fractura (A). Os valores destas propriedades encontram-se na Tabela 3.1 para um ângulo de 0⁰, 45⁰ e

90⁰ em relação à direcção de laminagem.

28

Tabela 3.1 - Propriedades mecânicas da liga de alumínio AA1050-H111 (Isik et al., 2014).

Ângulo

Módulo de

elasticidade E

(GPa)

Tensão de

cedência

(MPa)

Tensão de rotura

(MPa)

Alongamento

após fractura A

(%)

Coeficiente de

anisotropia

0º 72.7 115.4 119.0 7.1 0.71

45º 67.9 120.4 121.2 5.2 0.88

90º 71.8 123.0 120.8 5.6 0.87

Média 70.0 119.9 120.5 6.8 r 0.84

r -0.11

O coeficiente de anisotropia define-se como sendo o quociente entre as extensões verdadeiras

(equação 2.1) segundo a largura, , e segundo a espessura, , do provete de chapa:

(3.2)

Os produtos resultantes da laminagem possuem dois tipos de anisotropia: a anisotropia planar, , e

a anisotropia normal, . A anisotropia planar é um indicador do grau de anisotropia existente no plano

do provete (chapa) e é dada por:

(3.3)

onde , , são os coeficientes de anisotropia segundo a direcção de laminagem e direcções a

45⁰ e a 90⁰ com a de laminagem, respectivamente. A anisotropia normal é um indicador do grau de

anisotropia segundo a direcção da espessura do material, sendo definida pela seguinte equação:

(3.4)

3.1.2. Caracterização da enformabilidade

A enformabilidade do material, em estampagem incremental de chapa, pode ser quantificada a partir

do conhecimento da CLE, que marca o limite de enformabilidade à estricção, e das CLF e CLFC, que

definem o limite de enformabilidade à fractura.

Isik et al. (2014) determinaram previamente a CLE (Figura 3.1) a partir de ensaios de tracção, de

expansão hemisférico, Nakazima e Bulge. A metodologia utilizada foi a que se encontra descrita na

secção 2.2., tendo-se obtido a CLE a partir da medição das deformações próximas da zona de

fractura do provete de chapa e posterior cálculo das extensões principais através das equações 2.1,

de acordo com o Método Nº 5 de Zurique (Rossard, 1976). Depois deste cálculo é efectuada uma

interpolação que permite obter as extensões principais na estricção.

29

A CLF foi obtida a partir da combinação das extensões na fractura de cones e pirâmides truncados

produzidos em ensaios de estampagem incremental por Isik et al. (2014) com as extensões na

fractura obtidas por Madeira et al. (2014) a partir de provetes de chapa com duplo entalhe sujeitos a

cargas de tracção. Ambos os autores utilizaram chapas de 1 mm de espessura para realizarem os

ensaios. Na Figura 3.1, os marcadores com preenchimento a preto são as extensões

correspondentes à fractura resultantes dos trabalhos dos autores referidos anteriormente e a CLF é a

linha recta de cor preta, inclinada da esquerda para a direita em conformidade com a condição teórica

de redução da espessura crítica na fractura, cuja equação é:

(3.5)

Por fim, a CLFC foi obtida por Isik et al. (2014) através da combinação das extensões na fractura de

provetes sujeitos aos ensaios de torção e de corte. Na Figura 3.1, a CLFC é a linha recta de cor

cinzenta, inclinada da esquerda para a direita em conformidade com a condição teórica de distorção

crítica na fractura, e os pontos sólidos cinzentos são as extensões correspondentes à fractura obtidas

nos testes de torção e de corte enunciados anteriormente. A CLFC é definida pela seguinte equação:

(3.6)

É importante salientar ainda que as áreas a cinzento claro que envolvem a CLF e a CLFC na

Figura 3.1 correspondem a um intervalo de incerteza de na sua determinação por métodos

experimentais.

Figura 3.1 - Limites de enformabilidade à estricção e à fractura da liga de alumínio AA1050-H111 obtidos a partir

dos ensaios de Isik et al. (2014) e Madeira et al. (2014).

30

Da Figura 3.11 é possível concluir que a liga de alumínio AA1050-H111 pode suportar uma extensão

considerável entre o aparecimento da estricção e da fractura, uma vez que a distância entre a CLE e

a CLF ou a CLFC também é considerável, indicando que este material é dúctil.

3.2. Equipamentos

Os ensaios de estampagem incremental descritos na presente tese foram realizados no centro de

maquinagem CNC DECKEL MAHO, Modelo DMC 63V que se encontra no Laboratório de Tecnologia

Mecânica do IST. Esta máquina-ferramenta pode ser visualizada na Figura 3.2, bem como as suas

características técnicas principais. As chapas utilizadas para fabricar flanges complexas também

foram maquinadas neste centro de maquinagem durante a sua preparação, onde foi necessário

proceder à abertura de um furo por fresagem.

Principais características técnicas

Controlo numérico Siemens

Número de eixos

controlados 3 (X, Y e Z)

Curso dos eixos

(X, Y e Z) [mm] 850 x 630 x 500

Armazém de ferramentas 24 posições

Diâmetro máximo da

ferramenta [mm] 125

Comprimento máximo

da ferramenta [mm] 250

Cone ISO 40

Potência [kW] 9.5

Velocidade de rotação

máxima [rpm] 8000

Avanço máximo

[mm/min] 10 000

(a) (b)

Figura 3.2 - (a) Centro de maquinagem CNC DECKEL MAHO, Modelo DMC 63V (Pardal, 2013);

(b) Características técnicas principais do centro de maquinagem.

Para se proceder à realização dos ensaios de estampagem incremental, foi introduzida uma estrutura

para fixar a chapa a ser deformada (estrutura de fixação) no interior do centro de maquinagem. A

estrutura é constituída por uma placa espera, um suporte e quatro encostadores e possuí duas

configurações possíveis, consoante a placa espera utilizada no ensaio. Para ambas as configurações,

que se encontram representadas esquematicamente na Figura 3.3, são comuns o suporte e os

encostadores, sendo diferente a placa espera que é aparafusada ao suporte. Os encostadores são

31

unidos à placa espera por intermédio de parafusos, fixando a chapa a deformar. O suporte é fixado à

mesa da máquina-ferramenta.

Ferramenta

Chapa

Encostadores

Placa Espera

Suporte

(a) (b)

Figura 3.3 - Estruturas de fixação utilizadas no fabrico de (a) flanges circulares e geometrias cónicas truncadas

com lóbulos e (b) flanges complexas.

Como foi referido anteriormente, foram utilizadas duas placas espera diferentes: uma para os ensaios

de flanges complexas, fabricada durante a realização do trabalho experimental que consta neste

documento, e outra para os ensaios com flanges circulares e geometrias cónicas truncadas com

lóbulos, fabricada em trabalhos anteriores. Ambas as placas espera foram produzidas em aço

AISI 1050 HR e as suas dimensões e geometria do furo interior são apresentadas na Figura 3.4. As

suas espessuras são de 10 mm.

(a) (b)

Figura 3.4 - Dimensões das placas espera utilizadas no fabrico de (a) flanges circulares e geometrias cónicas

truncadas com lóbulos e (b) flanges complexas.

A placa espera usada no fabrico de flanges complexas possuí um furo idêntico à geometria da flange,

sendo a combinação das geometrias circular e quadrada. O furo da outra placa espera é circular.

32

Neste trabalho foram utilizadas ferramentas de ponta hemisférica (Figura 3.5), fabricadas em aço

inoxidável AISI 316 e de diâmetros iguais a 8, 12 e 25 mm.

Figura 3.5 - Ferramenta de ponta hemisférica de 8 mm de diâmetro (Pardal, 2013).

3.3. Preparação da chapa

Os ensaios de estampagem incremental realizados neste trabalho foram feitos em chapas da liga de

alumínio AA1050-H111. As dimensões das chapas utilizadas foram 250 mm x 250 mm x 1 mm, tendo

sido obtidas a partir do corte de chapas de maiores dimensões por intermédio de uma guilhotina.

Após o corte, as chapas foram limpas e marcadas electroquimicamente com grelhas de círculos,

utilizando-se o equipamento presente na Figura 3.6 (a). Os círculos marcados permitirão quantificar a

deformação da chapa em cada um dos ensaios, sendo assim possível determinar também as

correspondentes extensões para posterior análise dos resultados.

(a) (b)

Figura 3.6 - (a) Equipamento utilizado na marcação electroquímica das chapas (Robalo, 2011); (b) Grelha de

círculos utilizada para medir as deformações.

Na Figura 3.6 (b) é possível visualizar também a grelha de círculos marcada nas chapas. É uma

grelha circular grande, cujo diâmetro inicial dos círculos é de 2.553 mm. Este diâmetro foi obtido a

partir de diversas medições efectuadas num projector de perfis.

Para se realizarem os ensaios com flanges complexas é necessário, ainda, efectuar um furo com a

geometria da flange a produzir. Assim, e como neste caso o furo também é complexo, optou-se por

efectuá-lo no centro de maquinagem por fresagem. Para tal, realizou-se uma montagem em metade

da mesa da máquina-ferramenta, tendo sido utilizada a outra metade para colocar a estrutura de

fixação (Figura 3.7). Esta montagem era constituída por um bloco maciço de alumínio, cortado à

esquadria, que se encontra fixo à mesa por meio de 4 grampos. Sobre o bloco de alumínio foi

33

colocada a chapa de 1 mm a maquinar, que é fixa a este através de um parafuso e de 4 conjuntos de

encostadores (barras verdes na Figura 3.7). Foi necessário realizar previamente, com um engenho de

furar e uma broca, um furo no centro de cada chapa para possibilitar a entrada do parafuso. No

centro do bloco maciço também se fez um furo roscado. Antes de se fixar o bloco de alumínio, este

foi alinhado com os eixos do centro de maquinagem por intermédio de um relógio comparador, tal

como aconteceu no alinhamento das placas espera. O objectivo desta montagem é realizar o furo

com o melhor acabamento possível, reduzindo as vibrações provenientes da maquinagem de uma

chapa com 1 mm de espessura caso fosse realizada no ar ou em condições em que a chapa ficasse

mal apoiada (situação evitada com a fixação da chapa ao bloco de alumínio), e tentando que os lados

rectos da aresta do furo ficassem alinhados com os lados da chapa (conseguido com o furo central

existente e com o bloco de alumínio cortado à esquadria, permitindo alinhar os lados da chapa com

este).

Figura 3.7 - Montagem elaborada para se efectuar o furo da chapa a ser utilizada nos ensaios de flanges

complexas (à esquerda) e estrutura de fixação utilizada nos mesmos testes (à direita).

Depois de elaborada a montagem, foi necessário definir as trajectórias de maquinagem e os

parâmetros de corte para, posteriormente, serem importados para o centro de maquinagem. Este

processo começou com o desenho da peça ou do seu negativo no SolidWorks de modo a construir o

seu CAD (ambas as abordagens permitem atingir o fim proposto, mas por vezes pode ser mais fácil

elaborar o negativo da peça do que a própria peça, ou vice-versa). Depois de construído o CAD, este

foi importado para um programa CAM que permite definir as trajectórias e os parâmetros de

maquinagem em linguagem CNC. O programa CAM utilizado foi o MasterCAM X5. Os parâmetros

utilizados na realização dos furos encontram-se descritos na Tabela 3.2.

34

Tabela 3.2 - Parâmetros utilizados na operação de abertura do furo complexo.

Diâmetro da fresa

[mm]

Velocidade de

rotação [rpm]

Velocidade de

avanço [mm/min]

Incremento de deslocamento

segundo a profundidade

[mm]

10 1000 160 0.3

Para realizar o furo, foi definida uma trajectória em rampa, com um avanço de 0.3 mm por volta

segundo a direcção da profundidade, tendo sido utilizada uma velocidade de avanço de 160 mm/min

e uma velocidade de rotação da ferramenta de 1000 rpm. A ferramenta utilizada foi uma fresa com

10 mm de diâmetro. Por fim, antes de terminar a operação, definiu-se que a ferramenta realizaria um

passo final, sem incremento de deslocamento segundo a direcção da profundidade, quando fosse

atingida a profundidade final do corte (definiu-se o valor para a profundidade final do corte de 1.2 mm

em relação à superfície da chapa a maquinar, ou seja, este nível é 0.2 mm maior que a espessura da

chapa de modo a garantir que se dê o corte pleno). É importante referir também que foi testado o

corte recorrendo ao uso ou não de óleo durante a maquinagem, tendo-se verificado um melhor

acabamento do furo com a sua utilização. Assim, optou-se por usar óleo durante estas operações.

No caso das flanges circulares, foram utilizadas brocas de trepanar, de diâmetros 102, 120 e

130 mm, para efectuar os furos nas chapas a ensaiar.

Para terminar a operação de abertura de furos nas chapas, e de forma a remover as rebarbas

resultantes que podem influenciar os resultados obtidos através do aparecimento de fissuras na peça,

as arestas destes foram polidas com lixas de grau 400.

3.4. Equipamentos e técnicas de medição

As chapas, antes de ensaiadas, são marcadas electroquimicamente com uma grelha de círculos (ver

secção 3.3). Com a deformação plástica que se verifica na chapa após a realização dos ensaios, os

círculos iniciais transformam-se em elipses, cujas direcções dos eixos maior e menor das mesmas

coincidem com as direcções principais no plano da chapa. Medindo as deformações, ou seja, os

comprimentos maior e menor das elipses resultantes, é possível obter e quantificar as extensões

principais da chapa testada através da equações 2.1, permitindo compreender o comportamento do

material no teste efectuado.

Para medir as deformações, utilizou-se o equipamento 3Com® HomeConnect (Figura 3.8 (a)). O

3Com® HomeConnect é constituído por uma câmara de alta resolução, um bocal e o software

GPA 3.0. O procedimento de medição (Figura 3.8 (b)) é o seguinte: a câmara capta uma imagem da

parte da grelha que se encontra sob o bocal, que é posteriormente importada para o software. Este

software, por sua vez, realiza a aquisição e análise dos dados provenientes da imagem captada,

apresentando os resultados em termos de extensões principais.

35

(a) (b)

Figura 3.8 - (a) Equipamento 3Com® HomeConnect™ utilizado na medição das deformações (Teodora, 2013);

(b) Ilustração do processo de medição das deformações utilizando uma câmara digital.

De forma a minimizar os erros experimentais efectuados durante a captação da imagem, como por

exemplo, a imagem captada não mostrar com clareza o contorno do círculo/elipse ou a câmara não

estar completamente perpendicular à peça devido a acentuadas curvaturas, foram efectuadas 10

medições por cada círculo/elipse analisado.

Quando aconteceram as situações anteriormente descritas, optou-se por utilizar réguas graduadas

flexíveis (Figura 2.3 (b)). Com estas réguas, e recorrendo também a uma lupa, mediram-se os

comprimentos maior e menor das elipses resultantes, calculando-se de seguida as extensões

principais com base nas equações 2.1.

3.5. Metodologia de ensaio

Para realizar um ensaio de estampagem incremental é necessário efectuar várias operações até à

sua execução e produção de uma peça final. Estas operações encontram-se esquematizadas na

Figura 3.9.

Figura 3.9 – Metodologia utilizada nos ensaios de estampagem incremental.

A primeira operação a ser efectuada consistiu em desenhar a peça ou o seu negativo em CAD

(Figura 3.10 (a)), com recurso ao programa SolidWorks, tendo-se depois importado este ficheiro para

um programa CAM de forma a se elaborarem as trajectórias de deformação da ferramenta

(Figura 3.10 (b)). O programa CAM utilizado foi o MasterCAM X5, onde se programaram trajectórias

Criação da geometria em

CAD

Criação das trajectórias de

deformação em CAM

Execução do ensaio de

estampagem incremental

Importação do CAD para

o programa CAM

Importação do CAM para

a máquina-ferramenta

36

de deformação helicoidais para as ferramentas de ponta hemisférica usadas e cujos diâmetros variam

consoante os ensaios realizados.

(a) (b)

Figura 3.10 - (a) CAD da peça a produzir por estampagem incremental; (b) Trajectórias de deformação

elaboradas no programa CAM.

Na definição da trajectória da ferramenta, o incremento de deslocamento segundo a profundidade e a

velocidade de avanço mantêm-se constantes em todos os ensaios. Tal facto deve-se aos trabalhos

realizados por Silva et al. (2011) e Hirt et al. (2004), que investigaram os parâmetros anteriormente

referidos em estampagem incremental, e por Cui e Gao (2010) e Centeno et al. (2012), que os

investigaram no fabrico de flanges circulares. Outro parâmetro que permanece constante é a

ferramenta não possuir velocidade de rotação, podendo rodar consoante a sua necessidade. Isto

deve-se à investigação efectuada por Silva et al. (2009), na qual se realizaram ensaios em que a

ferramenta se encontra livre, mostrando-se que, pelo facto do atrito circunferencial resultante do

contacto entre a ferramenta e a chapa ser desprezável, a rotação da ferramenta não influencia

significativamente os resultados de enformabilidade obtidos nos ensaios de estampagem incremental.

Na Tabela 3.3. encontram-se os valores utilizados nos ensaios de estampagem incremental para os

parâmetros referidos anteriormente.

Tabela 3.3 - Parâmetros constantes em todos os ensaios

Velocidade de

rotação [rpm]

Velocidade de

avanço [mm/min]

Incremento de deslocamento

segundo a profundidade

[mm]

Nula (ferramenta livre) 1000 0.2

Depois de programada a trajectória de deformação, obteve-se o correspondente ficheiro CAM a partir

do MasterCAM. Este ficheiro foi, de seguida, importado para o centro de maquinagem e procedeu-se

à execução do ensaio de estampagem incremental. Em todos os ensaios foi utilizado, entre a

ferramenta e a chapa, o óleo Castrol Iloform TDN 81 para reduzir o atrito meridional.

37

3.6. Plano de ensaios

Nesta secção são apresentados os planos de ensaios para o fabrico de geometrias cónicas truncadas

com lóbulos, de flanges circulares e de flanges complexas, através de estampagem incremental sem

matriz, que foram estudadas nesta dissertação. O material utilizado em todos os ensaios foi a liga de

alumínio AA1050-H111.

3.6.1. Geometrias cónicas truncadas com lóbulos

Em primeiro, tem que se referir que geometrias cónicas truncadas com lóbulos é a designação dada a

todas as peças que se encontram na Tabela 3.4 e em que o objectivo de realizar ensaios onde se

produzem estas mesmas peças é encontrar uma geometria apropriada, executada por estampagem

incremental, de forma a obter pontos de extensões principais que permitam determinar e caracterizar

a curva limite de fractura ao corte (CLFC), à semelhança do que acontece com a determinação da

curva limite de fractura (CLF) por parte de Isik et al. (2014), que recorreram a cones e pirâmides

truncados produzidos por estampagem incremental, com trajectória em que o ângulo de estampagem

é variável com a evolução da deformação, para caracterizar a referida curva.

Como referido na secção 2.2 deste trabalho, Jeswiet e Young (2005) verificaram, em chapas de

alumínio, que a geometria cónica com 5 lóbulos permite obter extensões principais que se encontram

no segundo quadrante do plano das mesmas. As extensões principais que se encontram no segundo

quadrante são obtidas de pontos provenientes da zona dos vales que estão localizados entre os

lóbulos da peça (a nomenclatura utilizada é explicada na Figura 3.11).

Figura 3.11 - Terminologia utilizada para caracterizar as geometrias cónicas truncadas com lóbulos realizadas no

presente trabalho (a” e “b” referem-se ao comprimento do semi-eixo maior e menor do lóbulo, respectivamente).

Uma vez que a CLFC é o limite de enformabilidade à fractura que caracteriza o segundo quadrante

do plano das extensões principais, a primeira geometria a ser testada foi o cone truncado com 5

lóbulos circulares e de trajectória em que o ângulo de estampagem é variável com a evolução da

38

deformação de forma a obter fractura nos vales da peça e conseguir pontos de extensão na fractura

que permitam caracterizar a CLFC. Com este ensaio verificou-se que o raio de concordância dos

vales influencia a zona onde surge a fissura nesta geometria, tendo-se testado 4 raios de

concordância. As geometrias 2 a 4 presentes na Tabela 3.4 foram projectadas consoante os

resultados obtidos a partir das peças anteriores testadas. Assim, resultou que o plano de ensaios,

descrito na Tabela 3.4, seria constituído por taças cónicas truncadas com lóbulos e de trajectória em

que o ângulo de estampagem é variável com a evolução da deformação (vai de 0⁰ até 90⁰, Figura

3.12 (c)). As geometrias cónicas truncadas com lóbulos variam entre si no número e geometria dos

lóbulos, utilizando-se também diferentes raios de concordância dos vales, . Os ensaios terminam

quando surge uma fissura na peça estampada incrementalmente, tendo sido utilizada uma ferramenta

de ponta hemisférica com 8 mm de diâmetro.

Tabela 3.4 - Plano de ensaios para o fabrico de geometrias cónicas truncadas com lóbulos por estampagem

incremental. A terminologia encontra-se de acordo com a Figura 3.11.

Geometria

Lóbulos Vales

Número Geometria Razão ba

Raio de

concordância vr

(mm)

1

5 Circular

1

a = 17 mm

b = 17 mm

2.5

1.5

0.5

0.1

2

14 Circular

1

a = 11 mm

b = 11 mm

0.5

3

5 Elíptica

3.4

a = 17 mm

b = 5 mm

0.1

4

4 Elíptica

3

a = 21 mm

b = 7 mm

0.1

A metodologia adoptada para construir as geometrias em CAD foi a seguinte: a base (zona da chapa

não deformada) de todas as peças foi elaborada a partir de um círculo com diâmetro igual a 160 mm

enquanto o topo foi definido consoante a geometria dos lóbulos. Os lóbulos circulares foram

construídos de forma a serem tangentes e inscritos a um círculo com um determinado diâmetro,

sendo definidos os raios de concordância na intersecção entre os círculos que constituem os lóbulos,

tal como demonstrado na Figura 3.12 (a). Os lóbulos elípticos foram construídos de modo a que o

39

ponto da extremidade do eixo menor da elipse seja tangente a um círculo com um determinado

diâmetro, sendo os raios de concordância definidos na zona de intersecção entre as elipses

(Figura 3.12 (b)).

(a) (b) (c)

Figura 3.12 - Estratégia para elaborar as geometrias cónicas truncadas com lóbulos no desenho CAD: (a) lóbulos

circulares, (b) lóbulos elípticos e (c) trajectória em que o ângulo de estampagem é variável com a evolução da

deformação.

3.6.2. Flanges

Como foi referido anteriormente, neste trabalho foram estudadas flanges circulares e flanges

complexas, cuja geometria destas últimas resulta da combinação das flanges circulares com as

quadradas.

3.6.2.1. Flanges circulares

O fabrico de flanges circulares por estampagem incremental tem como principal objectivo estudar a

influência do diâmetro da ferramenta nesta operação, complementando o trabalho de

Montanari et al. (2013). O conjunto de ensaios realizados e os parâmetros utilizados estão descritos

na Tabela 3.5. Nestes ensaios foram utilizadas três ferramentas de ponta hemisférica de diferentes

diâmetros: 8, 12 e 25 mm. Para produzir estas flanges é utilizada uma estratégia multi-passagem, ou

seja, a deformação é efectuada através de várias fases intermédias, onde entre cada uma delas se

vai variando o ângulo de fase (ver Figura 2.11 (b)). Começa-se com um ângulo de fase inicial de 65⁰,

com o qual se faz a primeira passagem, até ao ângulo máximo de 90⁰, inclusive (ângulo que leva ao

fabrico da flange com sucesso), tendo-se incrementos de 5⁰ entre cada fase. A determinação do

ângulo de estampagem inicial foi feita por Centeno et al. (2012). O ensaio termina quando surge uma

fissura durante uma das fases de deformação ou quando se obtém a flange pretendida.

40

Tabela 3.5 - Plano de ensaios para o fabrico de flanges circulares por estampagem incremental.

Diâmetro do

furo [mm]

Diâmetro da

ferramenta

[mm]

Ângulos das fases

intermédias [⁰]

Diâmetro da

placa espera

[mm]

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª

102 8

65 70 75 80 85 90 165

120

120 12

130

120 25

130

3.6.2.2. Flanges complexas

Os trabalhos realizados por Montanari et al. (2013) e Cristino et al. (2014b) estudaram,

respectivamente, o fabrico de flanges circulares e quadradas por estampagem incremental, com a

liga de alumínio AA1050-H111. Surge, agora, a necessidade de rever os fundamentos do fabrico de

flanges por estampagem incremental, partindo dos resultados existentes na área das flanges

circulares e quadradas para obter novos resultados com flanges complexas, neste caso, flanges que

combinam a forma circular com a quadrada. Os ensaios realizados neste documento com as peças

referidas nesta secção têm como principal objectivo estudar a influência do raio de canto do furo

inicial na produção destas flanges complexas. Nestes ensaios também se seguiu a estratégia multi-

passagem descrita na secção 3.6.2.1, utilizando-se agora apenas uma ferramenta com ponta

hemisférica de 8 mm de diâmetro. O ensaio termina quando surge uma fissura durante uma das fases

de deformação ou quando se obtém a flange pretendida. O plano de ensaios encontra-se na

Tabela 3.6. A determinação do ângulo de estampagem inicial para estes ensaios tem por base os

resultados obtidos por Centeno et al. (2012), que sugeriu um ângulo de estampagem inicial de 65⁰

para o fabrico de flanges circulares, e por Cristino et al. (2014b), que em ensaios com flanges

quadradas utilizou um ângulo de estampagem inicial igual ao das flanges circulares, baseando-se,

para tal, nos resultados provenientes da produção de peças com forma piramidal através de

estampagem incremental obtidos por Silva et al. (2011), onde se verificou que o início da fractura

surgiu para um ângulo de estampagem próximo dos 75⁰. Deste modo, para as flanges complexas

utilizar-se-á um ângulo de estampagem inicial de 65⁰ também.

41

Tabela 3.6 - Plano de ensaios para o fabrico de flanges complexas por estampagem incremental.

Geometria do furo Diâmetro da

ferramenta

[mm]

Ângulos das fases

intermédias [⁰] Diâmetro

da placa

espera

[mm]

Lado da

placa

espera

[mm]

Diâmetro

do Furo

[mm]

Lado do

Furo

[mm]

Raio de canto

do furo

[mm]

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª

128

128 10,15,20,30 8 65 70 75 80 85 90 170 170

3.7. Projecto de uma estrutura de suporte para estampagem

incremental

Actualmente, os ensaios de estampagem incremental efectuados no Laboratório de Tecnologia

Mecânica do Instituto Superior Técnico são realizados em suportes que permitem utilizar unicamente

placas espera com dimensões de 300 mm x 300 mm (Figura 3.4). Contudo, com a contínua

investigação e a necessidade de se estudarem novas geometrias, torna-se necessário utilizar placas

espera de dimensões diferentes das disponíveis. Assim, de modo a tornar esta situação possível, é

necessário o uso de novos suportes para se fixarem as novas placas espera, tendo-se procedido,

durante a realização da presente tese, ao projecto, para posterior construção, de uma nova estrutura

de suporte para o efeito.

A ideia base para o projecto da nova estrutura de suporte para placas espera e chapas, utilizadas nos

ensaios de estampagem incremental, é produzir uma estrutura que seja o mais flexível possível,

permitindo utilizar diversas placas espera diferentes.

Na Figura 3.13 encontra-se representada a estrutura projectada. Esta estrutura é constituída por uma

base, seis colunas, seis barras, três apoios, uma coluna de apoio e dezoito grampos. As barras e os

apoios possuem rasgos que permitem o encaixe entre si, e consoante a colocação dos apoios nas

barras são formadas diversas configurações que permitem suportar diversas placas espera de

diferentes dimensões. A cada uma destas configurações chamou-se moldura. Na base da estrutura

são embutidas as seis colunas que suportam a moldura de maior dimensão possível. Cada coluna,

para além de embutida na base, é ligada a esta por meio de um conjunto de três grampos. Para

algumas configurações, poderá utilizar-se uma coluna de apoio de forma a aumentar a rigidez da

estrutura e diminuir as vibrações resultantes da execução do ensaio. Os elementos da estrutura

42

permanecem conectados entre si por intermédio de parafusos e pelo atrito resultante do seu contacto.

As placas espera serão ligadas às barras e apoios da estrutura através de parafusos, tal como

acontece na estrutura actual.

Figura 3.13 – Estrutura de suporte projectada e elementos constituintes.

A estrutura apresentada será posteriormente montada no centro de maquinagem CNC DECKEL

MAHO, Modelo DMC 63V existente no Laboratório de Tecnologia Mecânica. As dimensões gerais da

estrutura são comprimento e largura de 800 mm e 500 mm, respectivamente, e uma altura de

300 mm. O comprimento e largura são iguais aos da mesa do centro de maquinagem. Entendeu-se

atribuir uma altura de 300 mm à estrutura pois este valor permite uma margem adequada para

estampar peças durante os ensaios experimentais, onde é necessário ter altura para que possa

ocorrer a deformação plástica do material a ensaiar, e evita possíveis contactos entre a ferramenta e

a estrutura durante a operação de referenciação dos eixos por parte da máquina-ferramenta, estando

assim todos os elementos em condições de segurança.

Na Figura 3.14 são apresentadas as principais configurações que permitem suportar diversas placas

espera. Na figura estão identificadas, com diferentes cores, as configurações que permitem assentar

uma placa espera de determinada dimensão, sendo que na tabela se faz a correspondência entre a

cor e as dimensões mínimas da placa espera que é possível fixar. As dimensões presentes na tabela

dizem respeito às medidas exteriores que resultam das diferentes molduras pois são estas as

medidas que permitem uma correcta fixação. Contudo, podem ser colocadas placas espera com

maiores dimensões que as descritas. Por exemplo, a configuração de cor azul fluorescente

(772 mm x 490 mm) pode suportar no máximo uma placa espera com 800 mm x 500 mm que são as

dimensões máximas da estrutura e da mesa do centro de maquinagem, como foi anteriormente

referido. Medidas superiores a estes valores poderão levar a colisões durante a movimentação da

mesa. É importante referir que a estrutura de suporte projectada permite fixar as placas espera de

300 mm x 300 mm já existentes e que, como os cursos úteis do centro de maquinagem não são

iguais às dimensões da sua mesa e da estrutura projectada, não é possível estampar nem maquinar

43

junto às barras que constituem a moldura desta última, mas sim a uma distância de aproximadamente

10 mm destas.

Cor Dimensões mínimas da

placa espera [ ]

220 x 220

300 x 300

490 x 300

406 x 300

490 x 406

500 x 300

500 x 490

772 x 300

772 x 490

Figura 3.14 - Principais configurações para colocação de possíveis placas espera e respectivas dimensões (ou

dimensões mínimas das placas espera).

Um outro aspecto a realçar é que, trabalhando com placas espera inferiores a 490 mm x 406 mm,

existe a possibilidade de ter apenas metade da estrutura montada (Figura 3.15 (a)), tendo-se espaço

para se proceder a outras operações de maquinagem na metade livre, tal como aconteceu na

abertura do furo na chapa, para posterior fabrico de flanges complexas, em que se recorreu ao centro

de maquinagem (ver secção 3.3). Assim, a base da estrutura possuí diversos furos, uns roscados e

outros sem rosca, que permitem fixar a estrutura à mesa do centro de maquinagem bem como os

elementos necessários às possíveis operações de maquinagem.

(a) (b)

Figura 3.15 – (a) Meia estrutura montada; (b) Utilização da placa consumível.

Para efectuar as operações de maquinagem em chapas de dimensão superior a 490 mm x 406 mm,

sem ter que se desmontar a estrutura, adoptou-se uma estratégia que consiste em utilizar uma placa

consumível e maquinar-se sobre a estrutura (Figura 3.15 (b)). A placa consumível é o elemento que

permite fixar a chapa, contendo para isso vários furos roscados e não roscados, e possuí esta

designação porque também ela pode ser maquinada, à semelhança do que acontece com o bruto de

alumínio durante a abertura do furo na chapa utilizada para produzir flanges complexas (ver

secção 3.3.). A placa consumível é fixa à placa espera montada, através dos furos roscados que

44

permitem também fixar os encostadores a esta, e/ou à moldura que se encontra a ser utilizada por

intermédio de parafusos. Existe a possibilidade de se utilizarem calços que permitem que a placa

consumível esteja bem apoiada no caso de se fixar esta à moldura. Contudo, maquinar-se nesta

situação poderá tornar esta operação mais instável, pois haverá mais vibrações se as forças forem

demasiado elevadas, uma vez que a estrutura foi construída para suportar principalmente esforços

segundo a direcção das colunas.

Uma outra etapa do projecto consistiu em realizar um estudo estrutural, recorrendo a elementos

finitos, para verificar o comportamento da estrutura quando sujeita a algumas solicitações impostas. A

análise numérica foi efectuada através do software Ansys Workbench.

O modelo utilizado na análise estrutural efectuada foi elaborado em SolidWorks, sendo

posteriormente importado para o Ansys Workbench. A estrutura projectada será construída

recorrendo ao aço de construção AISI 1045 CD, cujas principais propriedades utilizadas na simulação

por elementos finitos se encontram descritas na Tabela 3.7.

Tabela 3.7 - Propriedades do aço AISI 1045 CD.

Aço AISI 1045 CD

Densidade [Kg/m ] 7850

Módulo de Young E [GPa] 200

Coeficiente de Poisson 0.3

Tensão de cedência [MPa] 250

Tensão de rotura [MPa] 460

Para efectuar o estudo estrutural, definiu-se que a base da estrutura se encontrava encastrada e que

todos os elementos se encontram ligados entre si, simulando a utilização dos parafusos. Para cada

análise efectuada, a estrutura encontra-se simultaneamente sujeita à força da gravidade e a uma

força pontual exercida no centro da placa espera, cuja direcção é segundo cada um dos eixos

coordenados presentes na Figura 3.16. Considerando um coeficiente de segurança igual a 2 e os

valores dos esforços medidos por Duflou et al. (2007) (ver secção 2.1 do presente trabalho), os

valores das forças definidos para serem exercidos nas placas espera durante as análises estruturais

foram N (força segundo a direcção das colunas da estrutura) e N (forças

segundo o comprimento e a largura da estrutura). A direcção e sentidos dos eixos referidos

encontram-se na Figura 3.16. Nas análises foram testadas duas configurações diferentes: uma

utilizando a placa espera de 300 mm x 300 mm (Figura 3.16 (a)), na qual se utilizou também a coluna

de apoio, e outra usando a placa espera de 772 mm x 490 mm (Figura 3.16 (b)), ambas sujeitas a

cada uma das forças enunciadas anteriormente. Foram realizadas seis análises estruturais, três para

cada configuração, em que em cada uma delas foi aplicada apenas uma das forças enunciadas em

simultâneo com a força gravítica.

45

(a) (b)

Figura 3.16 – Configurações analisadas: (a) placa espera de 300 mm x 300 mm e (b) placa espera de

772 mm x 490 mm.

Depois de se refinar a malha de elementos tetraédricos até se conseguir a convergência de

resultados, obtiveram-se os resultados de tensão e deslocamento da estrutura. Na Figura 3.17 são

apresentados os resultados obtidos a partir da análise em que se utilizou uma placa espera de

300 mm x 300 mm sujeita a uma força de -2000 N segundo a direcção y. Na Figura 3.17 (a) está

representada a distribuição de tensões na estrutura para este caso, em que a escala de tensões

indica que a tensão máxima é de 28.1 MPa. Contudo, como é visível no detalhe da figura, este valor

apenas se encontra presente em dois pontos da periferia do grampo (pontos de cor lilás) e aumenta

continuamente após cada refinamento da malha. Isto ocorre porque os programas de elementos

finitos como o Ansys calculam a tensão dos nós da malha por interpolação e não através de

integração, fazendo com que os nós presentes na fronteira da estrutura a estudar possam possuir

valores que variam continuamente, não convergindo para um determinado valor. Assim, estes valores

máximos pontuais não devem ser considerados. A distribuição de tensões na estrutura permite

visualizar zonas a vermelho que correspondem a tensões iguais a 8.56 MPa, sendo este o maior

valor de tensão considerado. O deslocamento total máximo que se verifica na estrutura é de 7.98 µm,

correspondente à zona a vermelho na Figura 3.17 (b) A deformação da estrutura nesta figura

encontra-se ampliada de modo a se perceber como é que os elementos da estrutura se deformam.

46

(a) (b)

Figura 3.17 – Resultados obtidos da análise estrutural efectuada à estrutura com placa espera de

300 mm x 300 mm sujeita a yF -2000 N: (a) distribuição de tensões e (b) deslocamento total.

Na Figura 3.18 são apresentados os resultados obtidos a partir da análise estrutural em que se

utilizou uma placa espera de 772 mm x 490 mm sujeita a uma força de -2000 N segundo a

direcção y. Na distribuição de tensões apresentada na Figura 3.18 (a), o valor máximo da tensão que

surge na sua escala também é associado a um ponto e, tal como acontece no caso da

Figura 3.17 (a), não deve ser considerado. Assim, o valor de tensão máxima presente na estrutura é

3.08 MPa, que corresponde às zonas a laranja visíveis na figura. Na Figura 3.18 (b) encontra-se

representado o deslocamento total dos diversos elementos que constituem a estrutura, sendo o

deslocamento total máximo verificado igual a 2.34 µm e correspondente à zona indicada pela seta

vermelha pois esta zona não é visível na imagem da figura apresentada. A deformação da estrutura

nesta figura encontra-se ampliada para se perceber como é a deformação dos seus elementos

constituintes.

(a) (b)

Figura 3.18 - Resultados obtidos da análise estrutural efectuada à estrutura com placa espera de

772 mm x 490 mm sujeita a yF -2000 N: (a) distribuição de tensões e (b) deslocamento total.

47

Os valores de tensão máxima e de deslocamento total máximo provenientes das análises às duas

configurações da estrutura, sujeitas às forças N e N, são apresentados na

Tabela 3.8.

Tabela 3.8 - Resultados obtidos do estudo estrutural para as duas configurações testadas sujeitas a

N e N.

Todos os valores de tensão máxima obtidos das análises estruturais não ultrapassam o valor da

tensão de cedência = 250 MPa, o que indica que a estrutura, sujeita a solicitações de intensidade

e direcção semelhantes às aplicadas na simulação numérica, permanece em regime elástico e, por

consequência, em segurança. Verifica-se também que os deslocamentos totais obtidos neste estudo

estrutural são de valor micrométrico, levando a concluir que a estrutura permanece estável durante os

ensaios de estampagem incremental.

Força Placa espera Tensão máxima na

estrutura [MPa]

Deslocamento total máximo na estrutura

[µm]

300 mm x 300 mm

26.21 80.52

28.85 109.79

792 mm x 490 mm

29.31 69.11

27.41 69.45

48

4. Resultados e Discussão

Neste capítulo serão apresentados e analisados os resultados provenientes dos ensaios de

estampagem incremental sem matriz efectuados nesta tese com a liga de alumínio AA1050-H111.

Primeiramente, analisar-se-ão os resultados obtidos no fabrico de geometrias cónicas truncadas com

lóbulos. De seguida, serão estudados os ensaios onde se procedeu à produção de flanges circulares

e, finalmente, discutir-se-ão os resultados obtidos no fabrico de flanges complexas.

4.1. Geometrias cónicas truncadas com lóbulos

O objectivo de realizar testes com as geometrias cónicas truncadas com lóbulos é encontrar uma

geometria que permita caracterizar a curva limite de fractura ao corte (CLFC) por estampagem

incremental.

O primeiro ensaio consistiu em estampar incrementalmente um cone truncado com 5 lóbulos cujo raio

de concordância dos vales tem valor = 2.5 mm e de trajectória em que o ângulo de estampagem

varia ao longo da peça com a evolução da deformação desde 0⁰ até 90⁰ (geometria 1 da Tabela 3.4).

A terminologia utilizada nesta secção encontra-se explicada na Figura 3.11.

Na Figura 4.1 encontram-se representadas quatro trajectórias de deformação descritas a partir de

pontos seleccionados da grelha ao longo da direcção meridional. Estas trajectórias pertencem à

geometria 1 e a um cone e a uma pirâmide truncados e estão representadas na figura com o

objectivo de comparar a mecânica da deformação entre estas geometrias. O cone e a pirâmide

truncados foram estudados e estampados incrementalmente com o ângulo de estampagem a variar

continuamente (de 30⁰ até 90⁰) por Silva et al. (2008). Os marcadores pretos com forma de losango e

triângulo, referem-se às extensões principais medidas experimentalmente, ao longo da direcção

meridional, das secções AA’ e BB’ da geometria 1, respectivamente. A secção AA’ prolonga-se ao

longo da raiz do vale enquanto a secção BB’ se desenvolve ao longo do pico/topo do lóbulo. Estas

secções encontram-se representadas na Figura 4.1. O marcador sólido preto com forma de losango é

o ponto de fractura da geometria 1, representando o par de extensões principais para as quais

ocorreu a fractura da peça. Os marcadores circulares e quadrados correspondem, respectivamente,

às extensões principais do cone e da pirâmide referidos anteriormente. Os marcadores sólidos

representam os seus pontos de fractura.

Observando ainda a Figura 4.1, verifica-se que a deformação plástica ao longo da secção meridional

AA’ da geometria 1 evolui sob condições de deformação plana à semelhança com o que acontece na

trajectória de deformação do cone truncado. Nota-se, particularmente, que as extensões principais na

fractura se encontram junto à curva limite de fractura (CLF), concluindo-se que esta fissura ocorre

devido a tensões de tracção. Por outro lado, a trajectória de deformação da secção meridional BB’

(secção ao longo da raiz do vale) evoluí no segundo quadrante do plano das extensões principais.

49

Figura 4.1 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 1 da Tabela 3.4 com

5.2vr mm e ao cone e pirâmide truncados de trajectória em que o ângulo de estampagem varia com a

evolução da deformação.

No ensaio com a geometria cónica truncada com 5 lóbulos circulares (geometria 1) verificou-se que o

raio de concordância influencia o aparecimento das fissuras. Assim, testou-se esta geometria com 4

raios de concordância diferentes, encontrando-se representadas as trajectórias de deformação das

secções AA’ e BB’ para cada um dos 4 casos estudados na Figura 4.2. Nesta figura também são

visíveis as zonas do início da fractura nas peças ensaiadas. No primeiro ensaio com a geometria 1

usou-se um raio de concordância igual a 2.5 mm (Figura 4.2 (a)), tendo-se verificado que a fractura

ocorre no topo do lóbulo. Utilizando-se um raio de concordância de 1.5 mm (Figura 4.2 (b)) constatou-

se que a fractura surge numa zona intermédia entre o topo do lóbulo e a raiz do vale. Em ambos os

casos, o ponto de fractura encontra-se junto à CLF. Para um raio de concordância igual a 0.5 mm

(Figura 4.2 (c)), a fractura ocorre primeiro na raiz do vale devido à elevada distorção gerada nesta

zona da geometria, encontrando-se o ponto de fractura deste caso no interior da zona de incerteza de

10% da CLFC. Realizou-se ainda um ensaio com um raio de concordância menor que os anteriores

( 0.1 mm) mas nesta situação a fissura voltou a aparecer numa zona intermédia entre as secções

AA’ e BB’ e o seu ponto de fractura encontra-se junto à CLF (ver Figura 4.2 (d)).

50

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.2 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 1 da Tabela 3.4 para

(a) 5.2vr mm, (b) 5.1vr mm, (c) 5.0vr mm e (d) 1.0vr mm.

De forma a tentar optimizar a peça produzida por estampagem incremental que permita obter

extensões na fractura que possam caracterizar a CLFC, elaborou-se uma segunda geometria. Esta

geometria (geometria 2 da Tabela 3.4) consiste num cone truncado com 14 lóbulos, de trajectória em

que o ângulo de estampagem varia com a evolução da deformação e com raio de concordância

5.0vr mm. O objectivo de aumentar o número de lóbulos circulares (reduzindo-se também, por

consequência, o seu diâmetro) era minimizar a prepotência das tensões de tracção nesta geometria.

O que se verifica é que quanto maior o diâmetro do lóbulo circular, maior a variação da inclinação da

parede da peça entre o pico do lóbulo e a raiz do vale, para o mesmo nível de profundidade, levando

a maiores deformações e a maiores esforços de tracção no lóbulo porque a inclinação neste (máximo

valor é no seu topo) é superior à da raiz do vale. Tentou-se assim, com a estratégia apresentada,

reduzir a variação da inclinação da parede da peça entre o topo do lóbulo e a raiz do vale.

51

Na Figura 4.3 encontram-se representadas as trajectórias de deformação ao longo das secções

meridionais AA’ (topo do lóbulo) e BB’ (raiz do vale) da geometria 2. Analisando esta figura, conclui-

se que com a geometria 2 não houve benefício em localizar as fissuras na raiz dos vales. A fractura

ocorre devido a tensões de tracção no topo do lóbulo (ponto de fractura situa-se no interior da zona

de incerteza da CLF), para uma extensão efectiva de . Este valor de extensão efectiva na

fractura é indicado pela isolinha de contorno tracejado cinzento presente na Figura 4.3, tendo sido

obtido a partir das extensões principais medidas na fractura ),( 21 ff e do critério de plasticidade

quadrático de Hill (Hill, 1948) para materiais anisotrópicos. A partir do critério de plasticidade

quadrático de Hill, o incremento de extensão efectiva é dado por:

[( )

( ) ] (4.1)

onde os índices x, y e z se referem aos eixos principais de anisotropia (Rodrigues e Martins, 2010).

Uma vez que a relação entre os incrementos de extensão efectiva é igual à relação das extensões

efectivas, utiliza-se também a equação 4.1 para determinar a extensão efectiva e a respectiva

isolinha. A isolinha de extensão efectiva contém os pontos onde a extensão efectiva é constante no

plano das extensões principais.

Figura 4.3 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 2 da Tabela 3.4.

Com base nos resultados e conhecimentos obtidos com as geometrias 1 e 2, projectou-se a

geometria 3 da Tabela 3.4. A estratégia para elaborar a geometria 3 consistiu em reduzir o número de

lóbulos e modificar a sua forma geométrica de circular para elíptica, de modo a amplificar o efeito de

distorção com a passagem da ferramenta de ponta hemisférica entre o topo do lóbulo e a raiz do vale

e entre a raiz do vale e o topo do próximo lóbulo. Na geometria 3, a razão entre os comprimentos dos

52

semi-eixos maior e menor das elipses que definem a geometria dos lóbulos, ba / , é de 3.4 e o raio

de concordância dos vales é de 0.1 mm.

Na Figura 4.4 está representada a evolução da deformação plástica ao longo das secções

meridionais AA’ (pico do lóbulo) e BB’ (raiz do vale) da geometria 3. Com base nos resultados

obtidos, verifica-se que esta geometria vai de encontro ao objectivo pretendido com os ensaios de

geometrias cónicas truncadas com lóbulos, uma vez que o início da fractura se dá na raiz do vale. O

ponto de fractura da geometria 3 (marcador triangular sólido de cor preta) encontra-se inclusive no

interior da área de incerteza de 10% da CLFC, o que permite obter pontos de extensão principal que

se localizam próximos desta curva e que resultam da maior influência da distorção provocada na raiz

do vale.

São também visíveis na Figura 4.4, com contorno tracejado cinzento, as isolinhas correspondentes à

extensão efectiva na fractura e maior deformação na secção BB’, cujo valor é de , e à

extensão efectiva da maior deformação registada na secção AA’, de valor . Estas duas

isolinhas são apresentadas nesta figura para demonstrar que os valores de extensão efectiva não

fornecem uma boa indicação do início da fractura, bem como os critérios de dano baseados nesta

extensão, porque existem valores de extensão efectiva na secção AA’ que são maiores do que os

valores verificados na fractura (secção BB’), ou seja, o facto de o valor da extensão efectiva ser

superior num determinado ponto, não significa que a fractura ocorra nesse mesmo ponto.

Figura 4.4 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 3 da Tabela 3.4.

A linha contínua a preto presente na Figura 4.4 é o envelope de deformação da geometria 3. Neste

caso, o envelope de deformação define-se como a linha que une as maiores deformações, ao longo

da direcção circunferencial, entre o topo do lóbulo e a raiz do vale (secção A’B’). Os marcadores

quadrados simbolizam as maiores deformações de duas secções situadas entre as secções AA’ e

53

BB’ e que se desenvolvem segundo a direcção meridional. Da observação do envelope de

deformação referido pode-se antecipar que a causa do aparecimento de fissuras nas regiões entre as

secções AA’ e BB’ será, provavelmente, derivado da combinação de esforços de tracção e de corte

no plano da chapa deformada, levando a que o modo de falha seja misto.

Contudo, os melhores resultados foram obtidos com a geometria 4 da Tabela 3.4. Esta geometria é

constituída por 4 lóbulos elípticos de razão ba / igual a 3 e o raio de concordância entre os lóbulos é

de 0.1 mm, de forma optimizar a distorção no material.

As trajectórias de deformação das secções meridionais AA’ (topo do lóbulo) e BB’ (raiz do vale) da

geometria 4 encontram-se representadas na Figura 4.5. Observando esta figura, pode-se verificar

que a fractura voltou novamente a ocorrer na raiz do vale. O ponto de fractura da geometria 4

(marcador triangular sólido preto) encontra-se ainda mais próximo da CLFC do que no caso da

geometria 3, permitindo uma melhor caracterização desta curva.

Figura 4.5 - Trajectórias de deformação associadas às secções AA’ e BB’ da geometria 4 da Tabela 3.4.

Na Figura 4.5 estão também representadas duas isolinhas: uma correspondente à extensão efectiva

na fractura e de valor , e outra correspondente à maior deformação na secção do topo do

lóbulo, cujo valor é de .

Com base nos resultados já discutidos para a geometria 4, pode-se afirmar que esta geometria,

produzida por estampagem incremental, permite obter pontos de fractura que resultam da maior

influência da distorção provocada por tensões de corte na raiz do vale.

Relacionando os resultados obtidos para as diferentes geometrias aqui estudadas com os já

publicados na literatura, verifica-se que a fissura que aparece nos lóbulos, bem como o seu modo de

54

abertura devido a esforços de tracção (modo I da mecânica da fractura), são semelhantes aos

resultados obtidos no trabalho de Silva et al. (2008) onde foram produzidas peças cónicas e

piramidais, ambas truncadas, por estampagem incremental. Contudo, as fissuras presentes nas

raízes dos vales devido às tensões de corte no plano levam a um novo mecanismo de deformação

plástica e a um novo modo de fractura (modo II da mecânica da fractura) em estampagem

incremental, nunca antes abordados na literatura para conhecimento do autor, que se desenvolvem

em cantos côncavos afiados de raio muito pequeno. As tensões de corte no plano da chapa a ser

deformada são induzidas no momento em que a ferramenta passa nestes cantos. De facto, a

abertura de fissuras por tensões de corte no plano é induzida no material pelo avanço da ferramenta

ao longo dos raios de concordância côncavos afiados em combinação com a resistência artificial do

material que não se deforma ao longo dos vales por causa das nervuras existentes entre os lóbulos.

O esquema da Figura 4.6 tenta ilustrar os mecanismos que originam as fissuras nas geometrias

estudadas.

Figura 4.6 - Fotografias e ilustração esquemática da fractura em estampagem incremental: à esquerda,

aparecimento da fissura por tensões de tracção numa região convexa e, à direita, aparecimento da fissura por

tensões de corte no plano numa região côncava.

A CLF e a CLFC são limites de enformabilidade à fractura. O primeiro indicia a existência de fractura

devido à redução de espessura crítica provocada por tensões de tracção (modo I da mecânica da

fractura). O segundo sugere a existência de fissuras resultantes da distorção crítica provocada por

tensões de corte no plano que se fazem sentir na peça produzida (modo II da mecânica da fractura).

De acordo com os resultados discutidos nesta secção, é legítimo concluir-se que a deformação

55

plástica e a fractura no processo de estampagem incremental resultam de uma competição entre a

redução de espessura crítica e a distorção crítica (competição entre o modo I e o modo II da

mecânica da fractura). A redução de espessura prevalece em geometrias côncavas e convexas

arredondadas enquanto que a distorção é um elemento de extrema importância em cantos côncavos

afiados de raio muito pequeno.

4.2. Flanges

Como foi referido anteriormente, neste trabalho foram estudadas flanges circulares e flanges

complexas, cuja geometria destas últimas resulta da combinação das flanges circulares com as

quadradas. Neste subcapítulo serão apresentados e discutidos os resultados obtidos a partir destes

ensaios.

4.2.1. Flanges circulares

O objectivo de fabricar flanges circulares por estampagem incremental foi estudar a influência do

diâmetro da ferramenta nesta operação.

A Tabela 4.1 apresenta os resultados dos ensaios obtidos na produção de flanges circulares, através

de estampagem incremental, para diferentes diâmetros do furo inicial, 0D , e diversos diâmetros da

ferramenta. O símbolo significa a realização do ensaio com sucesso para uma determinada fase

de estampagem, enquanto o símbolo x traduz a identificação de uma fissura numa dada fase de

estampagem e, por consequência, o fim do ensaio.

Tabela 4.1 - Resultados obtidos no fabrico de flanges circulares por estampagem incremental na liga de

alumínio AA1050-H111, utilizando-se ferramentas de diferentes diâmetros.

Ângulos das fases intermédias i [º]

Diâmetro do

furo 0D [mm]

Diâmetro da

ferramenta [mm] 65 70 75 80 85 90

102

8

x

120

120

12

x

130

120 25

130

56

Como se pode observar a partir da Tabela 4.1, nos ensaios de estampagem incremental com uma

ferramenta de 8 mm, não é possível produzir uma flange circular de paredes verticais partindo de um

diâmetro do furo inicial igual a 102 mm devido ao aparecimento de uma fissura circunferencial.

Analisando os resultados obtidos com a utilização das ferramentas de 8 e 12 mm de diâmetro,

verifica-se que com o aumento do diâmetro da ferramenta, o diâmetro mínimo do furo inicial que

permite produzir a respectiva flange circular com sucesso também aumenta. Quando o diâmetro da

ferramenta aumenta de 8 para 12 mm deixa-se de conseguir estampar incrementalmente uma flange

circular cujo diâmetro do furo inicial é de 120 mm, diminuindo o ângulo de estampagem máximo

admissível (maior ângulo de estampagem para o qual o ensaio decorre sem a ocorrência de fissuras)

de =90⁰ para =80⁰. Com a ferramenta de 12 mm de diâmetro é possível obter uma flange circular

partindo de uma chapa com um furo de diâmetro igual a 130 mm. Relacionando os resultados

comentados neste parágrafo com a literatura já publicada, verifica-se que a redução do ângulo de

estampagem máximo admissível, , com o aumento do diâmetro da ferramenta está de acordo com

os resultados experimentais observados por Silva et al. (2009) em ensaios de estampagem

incremental onde se produziram geometrias cónicas e piramidais.

Em relação aos resultados obtidos com a ferramenta de 25 mm, verifica-se uma performance superior

ao nível da enformabilidade pois consegue-se estampar incrementalmente uma chapa com um furo

de diâmetro igual a 120 mm, o que não é possível com uma ferramenta de menor diâmetro (12 mm).

Esta situação parece ir contra às observações feitas por Silva et al. (2009), mas é explicada pelo

facto de que quando o diâmetro da ferramenta aumenta de 12 para 25 mm, o estado de deformação

junto à aresta do furo da flange muda de condições próximas de expansão biaxial simétrica para

condições próximas de tracção uniaxial, respectivamente, assemelhando-se este último estado

referido às condições de deformação presentes no fabrico de flanges por estampagem convencional

estudadas por Silva et al. (2013), ou seja, com o aumento do diâmetro da ferramenta, o fabrico de

flanges circulares por estampagem incremental assemelha-se ao fabrico das mesmas flanges por

estampagem convencional. Tal situação pode ser visualizada na Figura 4.7, através da representação

dos envelopes de deformação de três flanges circulares produzidas a partir de uma chapa com um

furo de diâmetro igual a 120 mm e utilizando-se cada uma das três ferramentas de diferentes

diâmetros (8, 12 e 25 mm). O envelope de deformação é a linha que une os pontos de maior

extensão (que são obtidos na última fase de estampagem (90⁰) ou na fase onde houve fractura) ao

longo da aba da flange, ou seja, liga a deformação máxima atingida pelos diversos pontos que

constituem uma secção que se desenvolve, segundo a direcção meridional, desde a base da flange

(zona junto à chapa não deformada) até à aresta do furo.

57

Figura 4.7 - Envelopes de deformação das flanges circulares produzidas a partir de chapas com um furo inicial

de diâmetro 1200 D mm e diversos diâmetros das ferramentas.

Ao analisar os envelopes de deformação presentes na Figura 4.7, verifica-se também que a evolução

das deformações máximas das flanges produzidas com ferramentas de 8 e 12 mm de diâmetro é

semelhante à observada por Montanari et al. (2013), estando os pontos junto à base da flange em

condições próximas de deformação plana, os pontos intermédios em expansão biaxial e os pontos

junto à aresta do furo estão em condições próximas de expansão biaxial simétrica. A flange circular

obtida a partir da ferramenta de diâmetro igual a 25 mm tem uma evolução diferente: os pontos junto

à base encontram-se em condições próximas de expansão biaxial simétrica, numa altura intermédia

da parede da flange existem pontos em deformação plana e os pontos junto à aresta do furo

encontram-se em condições próximas de tracção uniaxial, como foi referido anteriormente.

A observação dos diferentes envelopes de deformação da Figura 4.7 permite explicar a razão pela

qual a chapa é enformada com sucesso numa flange circular de paredes verticais a partir das

ferramentas de diâmetros iguais a 8 e a 25 mm enquanto que a flange produzida pela ferramenta com

12 mm de diâmetro apresenta fissuras circunferenciais. Isto deve-se ao facto de os envelopes de

deformação resultantes dos ensaios com as ferramentas de 8 e 25 mm de diâmetro se encontrarem

abaixo da CLF enquanto que no caso da ferramenta de 12 mm de diâmetro, o envelope resultante

intersecta a zona de incerteza de 10% da CLF, indiciando o aparecimento de fissuras na peça. Os

marcadores circulares sólidos de cor preta representam os pontos de fractura.

Finalmente, também é importante referir que com o aumento do diâmetro da ferramenta a altura da

flange diminui.

D8

D12

D25

58

4.2.2. Flanges complexas

O objectivo dos ensaios de estampagem incremental com flanges complexas é fazer uma pesquisa

preliminar de modo a perceber os fundamentos do fabrico de flanges complexas, cuja geometria

resulta da combinação de duas mais simples e já estudadas em trabalhos anteriores (a circular e a

quadrada). Pretende-se, nomeadamente, estudar a influência do raio de canto do furo inicial da chapa

na produção destas peças.

A Tabela 4.2 apresenta os resultados obtidos no fabrico de flanges complexas por estampagem

incremental para diversas dimensões do furo inicial em que o seu diâmetro, , e lado, , são

constantes e há variação dos raios de canto . O símbolo significa a realização do ensaio com

sucesso para uma determinada fase de estampagem, enquanto o símbolo x traduz a identificação de

uma fissura numa dada fase de estampagem e, por consequência, o fim do ensaio. A nomenclatura

utilizada encontra-se apresentada e representada na Tabela 3.6.

Tabela 4.2 - Resultados obtidos no fabrico de flanges complexas por estampagem incremental na liga de

alumínio AA1050-H111, utilizando uma ferramenta de diâmetro igual a 8 mm.

Geometria do furo Ângulos das fases intermédias [⁰]

Diâmetro

do Furo

[mm]

Lado do

Furo

[mm]

Raio de canto

do furo

[mm]

65⁰ 70⁰ 75⁰ 80⁰ 85⁰ 90⁰

128 128

10 x

15 x

20 x

30 x

Analisando os resultados presentes na Tabela 4.2, verifica-se que não é possível produzir flanges

complexas de paredes verticais, com as dimensões do furo inicial testadas, devido à ocorrência de

fracturas. Entre as quatro flanges complexas produzidas, o ângulo de estampagem máximo

admissível (maior ângulo de estampagem para o qual o ensaio decorre sem a ocorrência de fractura)

é de =70⁰.

Tendo em conta a geometria das flanges complexas, foram identificadas quatro secções diferentes

em cada peça de forma a avaliar os resultados obtidos. Estas secções, que se desenvolvem segundo

a direcção meridional e que podem ser observadas na Figura 4.8 (a), são as seguintes: a zona aa’,

localizada no meio do lado circular, a zona bb’, presente na parede recta entre o canto e a zona de

transição de geometrias (quadrada para a circular), a zona cc’ que se situa no meio do canto e a zona

dd’ que se encontra a meio da parede recta entre os cantos. Ao se estudarem as flanges complexas

pretendia-se também analisar a evolução das deformações, ao longo das diversas fases de

estampagem, em pontos da grelha específicos como os representados esquematicamente na

Figura 4.8 (b) para a secção aa’. Contudo, isto não foi possível de executar porque não se conseguiu

59

estampar incrementalmente uma flange complexa com paredes verticais, tendo-se procedido à

medição das extensões ao longo das secções meridionais descritas anteriormente na fase de

estampagem em que ocorreu fractura e traçado os seus envelopes de deformação.

(a)

(b)

Figura 4.8 - (a) Secções definidas na flange complexa para posterior análise das deformações; (b) Pontos da

grelha de círculos da secção aa’ que seriam analisados.

Nestes ensaios, a fractura ocorreu em duas zonas distintas das flanges complexas consoante

o raio de canto utilizado: para mm, as fissuras surgiram nos cantos (Figura 4.9 (a)), e para

mm ocorreu fractura na transição entre os cantos e as paredes rectas da flange

(Figura 4.9 (b)).

(a) (b)

Figura 4.9 - Fissuras presentes na flange complexa com um raio de curvatura (a) 0R 15 mm e

(b) 0R 15 mm.

Quando mm, a flange falha devido ao aparecimento de uma fissura que surge no meio do

canto à semelhança do que acontece com as flanges quadradas com raios de canto pequenos

60

estudadas por Cristino et al. (2014b). Para compreender a mecânica da deformação ao longo da

direcção meridional e o aparecimento da fractura nas flanges complexas, foram traçados os

envelopes de deformação para cada uma das quatro secções enunciadas anteriormente para o caso

da flange complexa de raio de canto do furo inicial igual a 10 mm (Figura 4.10). O envelope de

deformação é a linha que une a deformação máxima atingida pelos diversos pontos que constituem

uma secção que se desenvolve segundo a direcção meridional, desde a base da flange (zona da

chapa não deformada) até ao seu topo/aresta do furo. Por exemplo, para a secção aa’, unir-se-á as

maiores deformações dos pontos A até H (ver Figura 4.8 (b)), formando-se o envelope aa’.

Observando-se a Figura 4.10 (a), onde se encontra representado o envelope de deformação da

secção aa’, pode-se constatar que os pontos A a G se encontram em condições de deformação

plana, sendo que o ponto D, que se encontra a meia altura da parede da flange, é o que verifica a

maior deformação desta secção. Neste ponto, a redução de espessura é de 69%. É visível

também que os pontos que se situam entre a meia altura da aba da flange e a aresta do furo evoluem

de condições de deformação plana para condições de expansão biaxial, estando o ponto junto à

aresta do furo (ponto H) em condições próximas de expansão biaxial simétrica. Comparando este

envelope de deformação com o obtido no estudo de Montanari et al. (2013) sobre flanges circulares,

verifica-se que a evolução de ambos os envelopes de deformação é semelhante.

Na Figura 4.10 encontram-se também as isolinhas de redução de espessura máxima, (%),

representadas com contorno tracejado cinzento. Estas isolinhas foram determinadas segundo a

condição de extensão de espessura constante na fractura (Atkins,1996):

(

) (4.2)

Quanto à secção bb’, verifica-se que todos os pontos que a constituem se encontram em condições

próximas de deformação plana, sendo o ponto de maior deformação o J (Figura 4.10 (b)). Este ponto

encontra-se a meio da parede da flange e a redução de espessura correspondente é de 42%.

Relacionando estes resultados com os obtidos nos lados rectos das flanges quadradas com raio de

canto pequeno por Cristino et al. (2014b), verifica-se que a evolução dos envelopes de deformação é

semelhante em ambos os casos.

Na Figura 4.10 (c) visualiza-se o envelope de deformação da secção cc’, verificando-se

imediatamente que este intersecta a zona de incerteza de 10% da CLF, passando muito próximo

desta curva. Tal facto está de acordo com a observação experimental efectuada, uma vez que

ocorreu fractura na secção em estudo neste parágrafo. De acordo com a morfologia e o modo de

propagação da fractura segundo a direcção meridional, conclui-se que o aparecimento desta fissura

deve-se a tensões circunferenciais que actuam no canto da flange e que levam a uma redução de

espessura de 76%. Em relação ainda ao envelope de deformação da secção cc’, observa-se

que os pontos entre a base e o ponto de fractura (ponto R) evoluem, primeiro, em condições

próximas de expansão biaxial simétrica passando, depois, para condições de expansão biaxial. Os

61

pontos junto à aresta do furo encontram-se em condições próximas de deformação plana.

Comparando este envelope de deformação e a fissura que surgiu com os resultados obtidos por

Cristino et al. (2014b) no estudo de flanges quadradas com raio de canto pequeno, verifica-se que a

fractura ocorreu na mesma zona em ambos os casos e possui a mesma morfologia e tipo de

propagação. Contudo, a fissura que surge no canto da flange complexa dá-se numa zona intermédia

da parede enquanto que na flange quadrada se dá junto à aresta do furo. Isto deve-se ao excesso de

material existente na zona dos cantos da flange complexa, consequência das dimensões do furo

inicial. Tal ocorrência leva também a que a altura da parede da flange complexa não seja constante.

Em relação aos envelopes de deformação obtidos na flange quadrada e na complexa, verifica-se uma

semelhança na sua evolução desde a base até ao ponto de fractura.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.10 - Envelopes de deformação associados às secções meridionais (a) aa’, (b) bb’, (c) cc’ e (d) dd’ da

flange complexa cujo raio de canto do furo inicial é de 10 mm.

= 69%

= 42%

= 76%

= 42%

62

Por fim, analisando o envelope de deformação da secção dd’ (Figura 4.10 (d)) que se situa no lado

recto entre os cantos da flange, constata-se que todos os pontos se encontram em condições

próximas de deformação plana, excepto os pontos junto à aresta do furo que se encontram em

condições próximas de tracção uniaxial. O ponto de maior deformação é o W, que se situa a meia

altura da parede da flange, sendo a redução de espessura neste local igual a 42% ( 42%).

Relacionando estes resultados com os obtidos nos lados rectos das flanges quadradas com raio de

canto pequeno, verifica-se que a evolução de ambos os envelopes de deformação é semelhante,

excepto nos pontos junto à aresta do furo, onde na flange quadrada se encontram em condições

próximas de deformação plana, tal como os outros pontos da secção, enquanto que na flange

complexa estão em condições próximas de tracção uniaxial como foi anteriormente referido.

Na Figura 4.11 encontram-se representadas as isolinhas de extensão efectiva máxima para cada

secção estudada na flange complexa com = 10 mm, corroborando-se, com a sua visualização, que

os pontos referidos anteriormente durante a análise da evolução da deformação em cada secção da

flange são, de facto, os de maior deformação/extensão. Constata-se que a extensão efectiva máxima

presente na flange, e que corresponde neste caso também à extensão efectiva na fractura, ocorre na

secção cc’, seguindo-se a aa’ e por fim a bb’ e a dd’ que possuem valores máximos semelhantes. A

extensão efectiva foi obtida a partir da equação 4.1.

63

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.11 - Envelopes de deformação e maiores extensões efectivas associados às secções meridionais

(a) aa’, (b) bb’, (c) cc’ e (d) dd’ da flange complexa cujo raio de canto do furo inicial é de 10 mm.

Para o caso em que mm, a fissura surge na zona de transição entre o canto e a parede recta,

junto à aresta do furo, e propaga-se no sentido descendente segundo a direcção meridional. Contudo,

esta fissura não se deve a uma questão de enformabilidade do material, mas poderá ocorrer devido

às dimensões e acabamento superficial do furo inicial ou ao facto do canto, devido à sua geometria,

parecer funcionar como um corpo rígido provocando esforços de fadiga que levam à propagação das

fissuras. A Figura 4.12 permite visualizar o envelope de deformação de uma secção meridional que

passa na zona de fractura da flange complexa cujo raio de canto do furo inicial é de 30 mm,

verificando-se que este envelope não intersecta a zona de incerteza da CLF, o que indica e comprova

que o aparecimento da fissura não se deve ao facto de se ter atingido o limite de enformabilidade.

= 1.33

= 0.63

= 0.64

1.48

64

Figura 4.12 - Envelope de deformação de um secção meridional que passa na zona de fractura da

flange complexa de raio de canto do furo inicial igual a 30 mm.

É importante referir também que, na zona de transição entre o canto e a parede recta da flange, o

material sofre uma deformação combinada devido à interacção dos cantos com os lados rectos e

vice-versa. Como a zona do canto se assemelha a um quarto de uma flange circular de raio pequeno

e os lados rectos a uma flange recta fabricada por flexão incremental, resulta na criação de duas

zonas que diferem no seu tipo de deformação, levando à combinação das mesmas na zona de

transição entre ambas (Cristino et al., 2014b).

Sumarizando esta discussão sobre a influência do raio de canto da geometria do furo inicial na

produção de flanges complexas, verifica-se que a geometria dos furos iniciais favorece lados rectos e

redondos de raio grande em detrimento de cantos com raios muito pequenos. Os raios de canto

pequenos levam a fracturas que se propagam segundo a direcção meridional devido a tensões

circunferenciais, tal como acontece no caso das flanges quadradas. Para raios de canto grandes

ocorrem fracturas entre os cantos e os lados rectos da flange, embora tenham sido testadas

dimensões do furo inicial abaixo das necessárias para produzir uma flange com sucesso.

= 54%

65

5. Conclusões e Perspectivas de Trabalho Futuro

Neste capítulo são apresentadas as principais conclusões do trabalho efectuado, bem como

perspectivas de trabalho que possa ser desenvolvido no futuro.

Este documento propõe que um cone truncado com 4 lóbulos de geometria elíptica e em que o

ângulo de estampagem varia com a evolução da deformação (geometria 4 da Tabela 3.4), produzido

por estampagem incremental, pode ajudar a caracterizar a curva limite de estampagem ao

corte (CLFC), uma vez que permite obter extensões na fractura que se localizam próximas desta

curva. Estas extensões são medidas directamente na peça por se verificar a ausência de estricção

antes de ocorrer a fractura em componentes obtidos através de estampagem incremental

(Silva et al., (2011)). Tal facto torna a estampagem incremental da geometria 4 mais adequada para

determinar e caracterizar a CLFC do que os ensaios de corte e torção convencionais, nos quais

Isik et al. (2014) verificaram a ocorrência do fenómeno de localização antes da rotura. Com a

adopção deste novo método de caracterização é possível utilizar apenas os procedimentos e

equipamentos usados para determinar a curva limite de estampagem (CLE), em detrimento da

necessidade de se terem que medir espessuras, para posterior cálculo da extensão na sua direcção,

como é efectuado actualmente com os provetes provenientes de muitos ensaios de enformabilidade

convencionais e, nomeadamente, os ensaios de corte e de torção.

A investigação realizada em torno das geometrias cónicas truncadas com lóbulos vem também

fornecer novos dados em torno da deformação plástica e da mecânica da fractura em estampagem

incremental. A fissura que surge na geometria 4 deve-se à distorção crítica resultante de tensões de

corte no plano da chapa que se encontra a ser deformada. Noutras geometrias testadas, como por

exemplo o cone e a pirâmide truncados e a geometria 2 da Tabela 3.4 presente nesta dissertação,

verifica-se a abertura de fissuras devido à redução de espessura crítica provocada por tensões de

tracção. Estes resultados vêm comprovar que a fractura e a deformação plástica em estampagem

incremental resultam de uma competição entre a redução de espessura (modo I) e a

distorção (modo II), algo que não é referido nem defendido nas recentes publicações editadas sobre

este assunto. Do conhecimento do autor, este é o primeiro resultado em que se observa

experimentalmente o modo II da mecânica da fractura em estampagem incremental, reforçando o

trabalho analítico de Martins et al. (2014) que propõe que a fractura e a deformação plástica em

processos de deformação incremental de chapa metálica resultam da referida competição entre o

modo I e o modo II da mecânica da fractura.

Quanto ao fabrico de flanges circulares com ferramentas de diferentes diâmetros é possível identificar

duas situações. Para diâmetros de ferramenta pequenos, à medida que estes aumentam, o diâmetro

mínimo do furo inicial que permite produzir uma flange com sucesso também aumenta. Para

ferramentas de grandes diâmetros, a produção de flanges circulares pelo processo de estampagem

incremental assemelha-se ao fabrico das mesmas flanges por estampagem convencional,

verificando-se também que com o aumento do diâmetro da ferramenta a altura da flange diminui.

66

Relativamente à discussão sobre a influência do raio de canto da geometria do furo inicial no fabrico

de flanges complexas, pode-se verificar que esta geometria favorece lados rectos e redondos de raio

grande em detrimento de cantos com raios muito pequenos. Raios de canto pequenos levam a

fissuras nos cantos, que se propagam segundo a direcção meridional devido a tensões

circunferenciais, tal como acontece no caso das flanges quadradas. Para raios de canto grandes

ocorrem fracturas entre os cantos e os lados rectos da flange, embora tenham sido testadas

dimensões do furo inicial abaixo das necessárias para produzir uma flange com sucesso.

Por fim, constata-se que a estrutura de suporte projectada é bastante flexível, uma vez que permite

fixar inúmeras placas espera de diferentes dimensões. Segundo o estudo estrutural realizado,

verifica-se que a estrutura se encontra em segurança e permanece estável, durante os ensaios de

estampagem incremental de chapa, para solicitações típicas deste processo.

No futuro, ao nível da caracterização da enformabilidade da chapa metálica, poder-se-á alargar a

caracterização da CLFC a outros materiais e investigar outros ensaios experimentais que permitam

obter pontos de extensão para caracterizar este limite de enformabilidade. Para além disto, deverá

apostar-se na verificação numérica por elementos finitos dos resultados obtidos neste trabalho.

Quanto ao fabrico de flanges, um possível trabalho futuro é analisar e verificar os resultados obtidos

neste trabalho por análise de elementos finitos, bem como alargar este trabalho a outras geometrias

diferentes. Particularmente, em relação às flanges complexas, deverá ser expandido o seu estudo

com a realização de ensaios com raios de canto maiores que os testados nesta dissertação, bem

como investigar a influência dos outros parâmetros da geometria do furo inicial, como o seu diâmetro

e o seu lado, no processo de fabrico destas flanges por estampagem incremental.

67

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