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JOÃO PAULO PINHEIRO - Portal FEB · Apesar do assunto “Guerra” ser, de forma geral, pesaroso, o autor soube tratar do assunto de maneira leve e agradável, tornando a leitura

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JOÃO PAULO PINHEIRO

TIRO, GUERRA E MITO:TIRO, GUERRA E MITO:TIRO, GUERRA E MITO:TIRO, GUERRA E MITO:TIRO, GUERRA E MITO:A HISTÓRIA DE UMA HISTÓRIA DE UMA HISTÓRIA DE UMA HISTÓRIA DE UMA HISTÓRIA DE UM

BARREIRENSE NA SEGUNDABARREIRENSE NA SEGUNDABARREIRENSE NA SEGUNDABARREIRENSE NA SEGUNDABARREIRENSE NA SEGUNDAGUERRA MUNDIALGUERRA MUNDIALGUERRA MUNDIALGUERRA MUNDIALGUERRA MUNDIAL

Barreiras

1ª. Edição

Editora e Gráfica Irmãos Ribeiro2015

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TIRO, GUERRA E MITO:A HISTÓRIA DE UM BARREIRENSE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

1º Tenente João Paulo Pinheiro

REVISÃO E PREFÁCIOMajor QEM Antônio Carlos PAVÃO Madureira

PRÓLOGOTenente-Coronel Art Carlos Roberto Carvalho Daróz

CAPASd QPPM-TO Amílcar Peres VEIGA Neto

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL1º Ten Pinheiro

IMPRESSÃOEditora e Gráfica Irmãos Ribeiro

FOTOSEurypedes Pamplona, 4º BEC e outros

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação__________________________________________________PINHEIRO, (1º Tenente) João Paulo

Tiro, Guerra e Mito: a história de um barreirense na Segunda GuerraMundial. 1ª. ed./ Barreiras: Irmãos Ribeiro, 2015.

Biografia do único barreirense a combater no pior conflito dahumanidade.__________________________________________________Todos os direitos reservadosPode ser reproduzido no todo ou em parte, desde que citada a fonte

1º Ten. Pinheiro - Prof. Esp. em História Militaremail: [email protected]: 0xx(79) 9870-3255

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Ao Sr. Eurypedes Lacerda Pamplona, protagonista desta história;em memória do Sr. Osvaldo, meu avô, o legítimo combatente

Pinheiro;e em memória do Tenente Guimarães, o Velho Guima, veterano

do Tocantins e do Barão de Maruim.

DEDICADEDICADEDICADEDICADEDICATÓRIATÓRIATÓRIATÓRIATÓRIA

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04SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO

Canção do Expedicionário - Pág. 5

Prefácio - Pág. 9

Agradecimentos - Pág. 11

Prólogo - Pág. 14

Introdução - Pág. 16

Cap. 1 - Aurora de Barreiras, aurora de uma vida - Pág. 19

Cap. 2 - O Tiro de Guerra 128 - Pág. 23

Cap. 3 - Do Tiro para a guerra - Pág. 32

Cap. 4 - Da FEB para a Itália - Pág. 40

Cap. 5 - O caminho para a guerra - Pág. 46

Cap. 6 - Um barreirense no front - Pág. 52

Cap. 7 - O regresso - Pág. 61

Cap. 8 - O último Lacerda Pamplona - Pág. 68

Cap. 9 - Um patrono para o 4º BEC - Pág. 75

Considerações finais - Pág. 87

Referências - Pág. 89

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05CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIOCANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIOCANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIOCANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIOCANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO

Letra: Guilherme de AlmeidaMúsica: Spartaco Rossi

Você sabe de onde eu venho?Venho do morro, do engenho.Das selvas, dos cafezais,da boa terra do côco,da choupana onde um é pouco,dois é bom, três é demais.Venho das praias sedosas,das montanhas alterosas,dos pampas, dos seringais,das margens crespas dos rios,dos verdes mares bravios,da minha terra natal.

REFRÃOPor mais terras que eu percorra,não permita Deus que eu morra,sem que volte para lá!sem que leve por divisaesse ‘’V’’ que simboliza a vitória que virá!Nossa vitória finalque é a mira do meu fuzil,a ração do meu bornal,a água do meu cantil,as asas do meu ideal,a glória do meu Brasil.

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Eu venho da minha terra,da casa branca da serra,e do luar do meu sertão;venho da minha Mariacujo nome principiana palma da minha mão.Braços mornos de Moema,lábios de mel de IracemaEstendidos para mim.Ó minha terra queridada Senhora Aparecida,e do Senhor do Bonfim!

REFRÃOPor mais terras que eu percorra,não permita Deus que eu morra,sem que volte para lá!sem que leve por divisaesse ‘’V’’ que simboliza a vitória que virá!Nossa vitória finalque é a mira do meu fuzil,a ração do meu bornal,a água do meu cantil,as asas do meu ideal,a glória do meu Brasil.

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Você sabe de onde eu venho?É de uma pátria que eu tenhono bôjo do meu violão,que de viver em meu peitofoi até tomando jeitode um enorme coração.Deixei lá atrás meu terreiro,meu limão, meu limoeiro,meu pé de jacarandá,minha casa pequeninalá no alto da colina,onde canta o sabiá.

REFRÃOPor mais terras que eu percorra,não permita Deus que eu morra,sem que volte para lá!sem que leve por divisaesse ‘’V’’ que simboliza a vitória que virá!Nossa vitória finalque é a mira do meu fuzil,a ração do meu bornal,a água do meu cantil,as asas do meu ideal,a glória do meu Brasil.

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Venho do além desse monteque ainda azula o horizonteonde o nosso amor nasceu;do rancho que tinha ao ladoum coqueiro que, coitado!de saudade já morreu.Venho do verde mais belo,do mais dourado amarelo,do azul mais cheio de luz,cheio de estrelas prateadasque se ajoelham deslumbradas,fazendo o sinal da cruz!

REFRÃOPor mais terras que eu percorra,não permita Deus que eu morra,sem que volte para lá!sem que leve por divisaesse ‘’V’’ que simboliza a vitória que virá!Nossa vitória finalque é a mira do meu fuzil,a ração do meu bornal,a água do meu cantil,as asas do meu ideal,a glória do meu Brasil.

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PREFÁCIOPREFÁCIOPREFÁCIOPREFÁCIOPREFÁCIO

Quando fui convidado a prefaciar o presente livro, já haviaantecipado que seria acometido pela nossa habitual “falta detempo”. Minhas constantes viagens certamente dificultariamminha disponibilidade para fazê-lo. Todavia, dois motivosprincipais não permitiram que eu pudesse pensar na possibilidadede recusar o convite feito pelo amigo Tenente Pinheiro.Primeiramente, o empenho do autor em descrever a trajetória dobiografado já seria motivo suficiente em convencer-me a escrevereste prefácio. Em segundo lugar, não é recorrente a oportunidadede termos o privilégio de escrever sobre a vida de um heróinacional, neste caso o nosso “pracinha”, o barreirense EurypedesPamplona.

Inicialmente, redijo a despeito do autor. O 1º TenentePinheiro despertou minha admiração desde o primeiro instanteem que me falou sobre o livro, demonstrando empolgação nãosomente pela arte da escrita histórica, mas também pela extremaadmiração que externou pelo Cabo Pamplona.

O meu respeito inicial pelo entusiasmo do amigo deu-mecoragem para, ousadamente, oferecer-me para revisargramaticalmente o livro.

Aceita a minha ousada oferta, fui acometido pela agradávelsurpresa em conhecer a história do “herói” barreirense. Conhecio nosso “pracinha” em 1996, quando aqui cheguei oriundo doglorioso Instituto Militar de Engenharia (IME). Desde aquelestempos, a figura do sr. Eurypedes já era merecidamente glorificadapelo 4º BEC, sempre sendo convidado para as formaturas ecomemorações de naturezas diversas, principalmente aquelasem comemoração aos aniversários da FEB. Nestes quase vinteanos venho acompanhando o nosso “expedicionário”apresentando a mesma vibração e fascínio pelos símbolosnacionais de outrora, independentemente do seu vigor físico.

Ao longo das diversas vezes em que palestrou acerca daII Guerra Mundial, o sr. Eurypedes vem satisfazendo a nossacuriosidade acerca daquele acontecimento, ao mesmo tempo,impressionante e horrível da história recente da humanidade.

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O livro, muito inteligentemente, ao passo que conta atrajetória do biografado, descreve a sociedade barreirense ecarioca daqueles anos 40, bem como o teatro de operaçõesencontrado na oportunidade daquela Guerra, paralelamente àdescrição social daquela época. Dá-nos, ainda, uma ideia dasterríveis dificuldades encontradas pela FEB no campo de batalha.

Outrossim, o livro relata que a falta de recursos e apreparação inadequada de nossos soldados foi superada comheróica coragem, desprendimento, patriotismo e abnegação,onde entre eles encontrava-se o jovem Eurypedes Pamplona.

Apesar do assunto “Guerra” ser, de forma geral, pesaroso,o autor soube tratar do assunto de maneira leve e agradável,tornando a leitura tranquila e relaxante.

Bem, ao findar este breve prefácio, só me restar reiterarminha admiração pelas ações tanto do biógrafo quanto dobiografado. O primeiro, pela teimosia e empenho em ultrapassaras dificuldades encontradas na produção deste brilhante livro e,o outro, pelo titânico esforço para manutenção de suasobrevivência, do nome do nosso país e do glorioso ExércitoBrasileiro.

Tenha uma boa leitura!

Barreiras-BA, 08 de maio de 2015

ANTÔNIO CARLOS PAVÃO MADUREIRA- MAJOR PAVÃO -

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AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e aos espíritos de luz, pelainfinita sabedoria em dar-me força para, a despeito de todas asdificuldades no trecho de obra, concluir este trabalho que já se estendiahá mais de dois anos.

Agradecimentos também a minha digníssima esposaWanderlany, minha companheira de todas as horas, por estar semprepronta a apoiar os meus projetos; além das minhas amadas filhasLayne, Layanne, e Layla, por transmitirem mais luz aos meus dias,juntamente com a afilhada Dandara, e o sobrinho José Luiz.

Agradeço imensamente ao sr. Eurypedes Lacerda Pamplona,o protagonista, e acima de tudo amigo, pela paciência que teve emrememorar um passado nefasto, para que eu pudesse imortalizar asua história. Assim como a minha amiga historiadora Ignez Pitta, o‘’arquivo-vivo’’ da nossa cidade, e os membros da Academia Barreirensede Letras, por aprovarem um projeto tão especial.

Seria injusto esquecer os meus pais, Vera Pinheiro e Fred Lima,os quais constantemente me ampararam durante a formação militar, edos meus familiares e amigos, como o Tio Carlos, coronel da reserva.Assim como também não posso olvidar a todos os verdadeiros amigosdo Exército Brasileiro, por me fazerem acreditar e ter prazer em servira instituição tão nobre, especialmente aos que participaram da minhaformação, em 2010, no Centro de Preparação de Oficiais da Reservado Recife; aos que me apoiaram no 7º Batalhão de Engenharia deCombate; e aos que me acolhem na grande família chamada 4º Batalhãode Engenharia de Construção, sobretudo os tenentes, e osremanescentes do Destacamento Barão de Maruim.

Considerações especiais ao Coronel Olyntho, por meproporcionar subir o primeiro degrau como historiador, pela oportunidadeno livro passado; ao Coronel Negrão, por ter sido o primeiro a ler estabiografia, e prontamente reconhecer o trabalho como de fundamentalimportância para a formação do nosso soldado; aos tenentes-coronéisClermont e Luiz Vidal, por me apoiarem na consagração das tradiçõeshistóricas militares barreirenses; e ao Major Pavão, pela preocupaçãoe empenho em valorizar, revisar e prefaciar esta obra, assim comoidealizar o lançamento e demais homenagens ao nosso expedicionário.

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12Ao professor e companheiro de farda, Tenente-coronel Daróz,

pela orientação na jornada em busca da tão almejada pós-graduaçãoem História Militar; assim como ao professor arguidor, Coronel JoséCarlos Noronha de Oliveira, ex-comandante do 6º Batalhão deEngenharia de Combate.

Aos amigos que já passaram pela Seção de ComunicaçãoSocial do 4º BEC, em especial a Tenente Miriene; o Tenente Wilbert;Cabo Veiga (hoje soldado da Polícia Militar do Tocantins); Soldado Lemos;Soldado Fábio Oliveira; Soldado Leno; e os servidores civis Abel e Durval.E aos amigos do Pelotão de Obras, pela compreensão imensuravel,em especial o Capitão Moura; o Cabo Carmo; e o servidor civil CotonhoBarroso.

Pela divulgação e busca por patrocínios, minha sincera gratidãoà nobre equipe de profissionais e amigos do Jornal Novoeste: Tenório,Aninha, Rodrigo e Itapuã.

Agradeço a família da minha comadre Viviane, e do meucompadre Tenente R/2 Vítor Leão (proprietário da Vip Cars) e, minhaamiga Tenente Mayara, por toda a consideração e apoio.

E por fim, como não poderia ser diferente, a toda famíliabarreirense, em especial aqueles que buscaram patrocínio, e tambémpatrocinaram, por sua preocupação em preservar o glorioso passadoda cidade de Barreiras: o Coronel Corrêa, ex-comandante do 4º BEC ehoje a serviço da Max Caminhões, assim como ao sr. Iolando Araújo,proprietário da mesma; o sr. Dó Miguel, empresário e pré-candidato aprefeito de Barreiras; os amigos vereadores Otoniel Teixeira, Digão Sá,Carlos Tito, e Dra. Graça, assim como a Câmara Municipal em geral;o renomado advogado Wagner Pamplona, sobrinho-neto de nossobiografado; o Sr. Gilberto Santos e demais membros do ArmazémParaíba; o Dr. Marcelo Sampaio, respeitável dentista e eterno membroda Família General Argolo; o sr. Wefferson Silva, criador da Festado Rio Grande; Socorro Sampaio, amiga e descendente de AracySampaio; e o 3º Sargento Mariano, amigo do BEC e um dos primeirosa apreciar esta história, juntamente com a colega Valéria Rodrigues.

Decerto, a lista seria infindável, mas não pretendo estender-mepara não cansar o leitor. Àqueles que não foram citados, minhas sincerasdesculpas. A todos que de alguma maneira colaboraram, o meumuitíssimo obrigado!

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13TIRO, GUERRA E MITO:TIRO, GUERRA E MITO:TIRO, GUERRA E MITO:TIRO, GUERRA E MITO:TIRO, GUERRA E MITO:

A HISTÓRIA DE UM BARREIRENSE NAA HISTÓRIA DE UM BARREIRENSE NAA HISTÓRIA DE UM BARREIRENSE NAA HISTÓRIA DE UM BARREIRENSE NAA HISTÓRIA DE UM BARREIRENSE NASEGUNDA GUERRA MUNDIALSEGUNDA GUERRA MUNDIALSEGUNDA GUERRA MUNDIALSEGUNDA GUERRA MUNDIALSEGUNDA GUERRA MUNDIAL

‘’ É dever do historiador militar identificar essesmarinheiros, soldados e aeronautas anônimos que as

fizeram, de forma a, através deles, conhecer a sua alma, opatrimônio imaterial das Forças Armadas (MOURA [et al],

2010, p.396).

Figura.1: O Cabo Pamplona no Teatro de Operações daItália.

Fonte: Eurypedes Pamplona.

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prólogoprólogoprólogoprólogoprólogo

Na metade dos anos 40 do século passado a guerrabateu à porta do Brasil. O maior conflito da História chegou aonosso país pelo mar, quando submarinos alemães e italianosafundaram navios brasileiros sob as ordens do almirante Döenitz,e ceifaram a vida de milhares de brasileiros. Respondendo àagressão, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo Berlim-Roma-Tóquio e alinhou-se com a coalizão de países Aliadoscontra o nazifascismo, e a nova posição assumida não podiaficar apenas nos discursos. Uma resposta à altura precisava serdada. O Brasil enviaria tropas para combater na Europa.

A organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB)não foi fácil, visto que o nosso exército era pequeno einsuficientemente treinado e equipado para combater em umconflito repleto de inovações bélicas, como a mecanização, astáticas de movimento, o apoio aéreo aproximado, o bombardeioestratégico, dentre outras. Havendo a previsão inicial de formarum corpo-de-exército a três divisões, o Brasil conseguiu mobilizarapenas uma divisão – a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária –que, mesmo com adestramento deficiente e dotação de materialincompleta, partiu para o Teatro de Operações do Mediterrâneoem 1944 para dar sua contribuição na luta contra o regimetotalitarista de Hitler. Mesmo com problemas na preparação e noenvio, treinada e equipada pelos americanos, a ForçaExpedicionária cumpriu as principais missões que lhe foramatribuídas pelo comando aliado na Itália, e escreveu uma páginanotável da História Militar brasileira. A FEB permaneceu duzentose trinta e nove dias ininterruptamente em combate; neste período,lutou contra nove divisões alemãs e três italianas, tendo perdidoem ação quatrocentos e cinquenta e quatro homens, além dedois mil e sessenta e quatro feridos, e trinta e cinco homensaprisionados.

Cerca de 25.000 brasileiros ofereceram-se comovoluntários ou foram recrutados para integrar a FEB. Oriundosde todos os rincões do país, os soldados brasileiros tiveram quesuperar inúmeros obstáculos, e vencer um inimigo experiente e

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muito bem assestado em posições defensivas dominantes.Homens simples que, nas montanhas geladas da Itália, portaram-se heroicamente e, retornando vitoriosos, contribuíram paraprofundas transformações políticas e sociais no Brasil. Tiro,Guerra e Mito: a história de um barreirense na SegundaGuerra Mundial conta a história de um desses brasileiros, tãonotável quanto anônimo: o Cabo Eurypedes Pamplona, que lutouna FEB integrando o 11º Regimento de Infantaria.

O autor, 1º Tenente de Engenharia João Paulo PinheiroLima, especialista em História Militar, resgata a trajetória deEurypedes Pamplona desde seu ingresso no Exército Brasileiro,no Tiro de Guerra 128, passando pelo treinamento no Rio deJaneiro e culminando com sua atuação na 9ª Companhia do 11ºRI. Finalmente, o autor destaca o regresso do febiano à suacidade, Barreiras-BA, e os vínculos afetivos estabelecidos como 4º Batalhão de Engenharia de Construção, unidade do ExércitoBrasileiro sediada na cidade baiana banhada pelo Rio Grande.

Nietzsche, em sua obra A Gaia Ciência, responde a seupróprio questionamento: “O que é que torna heroico? Ir ao mesmotempo para além da sua maior dor e da sua maior esperança.”Tiro, Guerra e Mito traz a história de um herói brasileiro, queultrapassou as suas dores e foi vitorioso por sua esperança. Naqualidade de neto de veterano da FEB, tenho a honra de prologaresta importante obra, escrita pelo Tenente Pinheiro, e convidá-lo,prezado leitor, para se deleitar com a bela história do febianoEurypedes Pamplona.

A cobra continua fumando!

Niterói-RJ, 08 de maio de 2015

CARLOS ROBERTO CARVALHO DARÓZ- TENENTE-CORONEL DARÓZ -

Instituto de Geografia e História Militar do Brasil

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INTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃO

Neste ano de 2015, a humanidade comemora 70 anosde término da Segunda Guerra Mundial, conflito mais sangrentoda nossa existência, e que certamente mudou os rumos dahistória global.

O que muitos desconhecem é que esta guerra teve aparticipação direta do Brasil. E menos ainda sabem que um únicobarreirense homem esteve presente na sua linha de frente.

Diante desse quadro, almejo com o presente livro revelarà comunidade acadêmica, assim como aos cidadãosbarreirenses, a trajetória de Eurypedes Pamplona, o homem quenascido nos confins da Bahia foi parar nos campos de batalhada Itália.

A história do nosso pracinha1 choca pela suasimplicidade. Pamplona nunca foi rico, não teve fama, e até opresente momento era um completo desconhecido para a nossasociedade, como averiguei pessoalmente durante o ciclo depalestras ministradas sobre a Força Expedicionária Brasileira. Éuma história do mais comum dos homens, que futuramente podeser a de qualquer cidadão barreirense, especialmente dosmilitares e reservistas do 4º Batalhão de Engenharia deConstrução, único quartel do Oeste Baiano.

Esta biografia, escrita sem invencionices e sob todo origor científico, é uma prova mais do que contundente quepodemos também encontrar o extraordinário no homem comum,em cada um de nós mesmos, pois as grandes vivências nãosão prerrogativas das personalidades ilustres.

Vale lembrar que, mesmo sendo um ícone ‘’santificado’’para o batalhão e em processo de reconhecimento pelomunicípio, o febiano nunca sentiu orgulho da guerra, e tampoucofaz questão de esconder o seu desprezo pelo que considera amaior estupidez humana. Longe de ser apenas enaltecido, nosso1 Pracinha, febiano, ex-combatente ou expedicionário são alcunhas dosveteranos brasileiros da Segunda Guerra Mundial, que lutaram incorporadosna FEB (Força Expedicionária Brasileira).

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17‘’herói’’ é estudado no que há de mais humano em sua essência.Mais do que construir um mito, este livro persegue historicamenteo seu processo de mitificação, desmitificando-o. Seus defeitos,medos e desgostos não deixam de ser apontados, revelando queo maior exemplo para os nossos soldados não tem algo deperfeito, contudo, não é menos magnífico.

O mais velho dos meus amigos nunca aceitou seu títulode herói, e deixa claro que se pudesse, não teria ido ao front2.Sua vida foi completamente marcada pelos traumas que aindacarrega do conflito. Mesmo assim, participa das váriassolenidades no 4º BEC, muitas das quais como homenageado.Aos olhares mais críticos, tal atitude parece contradizer o seudiscurso desgostoso. No entanto, creio que no final da vida, aspessoas devem olhar para trás a fim de procurar um sentido,uma certeza de que não viveram em vão. E é esta a certeza quenosso bom velhinho busca incessantemente, em cada ida ao 4ºBEC, onde é relembrado como um cabo que durante meses,vivendo ao lado da morte, lutou pela vida, assim como tambémpelos ideais de liberdade e democracia no mundo.

Outrossim, lamento dizer ao nobre leitor que, caso estejaesperando uma versão brasileira do Band of Brothers, é melhorparar nestas páginas, e passar o livro a outro interessado. Maisdo que uma história da guerra, esta biografia é uma história devida, e se há algum gênero predominante, com certeza não é oda ação ou o da aventura e sim o drama. A trajetória do jovem nofront é abordada com poucos detalhes, e algumas lacunas. Omotivo? O expedicionário não gosta de tecer comentários sobrea linha-de-frente, e não raras vezes, emociona-se ao recordarseus tenebrosos momentos. Perguntas como ‘’o senhor matoumuita gente?’’, muito comum pelos seus admiradores ávidos porminúcias, deixam-no notoriamente desconcertado. Respeitandoa sua dor, optei por não forçar situações constrangedoras,utilizando como principal fonte os registros do seu diário de guerra.

Mesmo traumatizado, curto em suas palavras e serenoem seus atos, Pamplona venera o Exército Brasileiro e, como

2 Linha-de-frente da zona de combate.

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18todo bom soldado, tem boas recordações dos seus tempos deserviço militar. As virtudes, os princípios e a educação moral ecívica aprendidas no Tiro de Guerra 128 marcaram a suajuventude. A vibração bélica das formaturas, marchas etreinamentos como recruta ainda alimenta a sua alma, porém, adespeito da sua história na caserna, seu maior legado foi terrevelado a milhares de barreirenses a existência de umsentimento maior que o espírito guerreiro: o espírito da paz!

Barreiras-BA, 08 de maio de 2015

JOÃO PAULO PINHEIRO LIMA- 1º TENENTE PINHEIRO -

Licenciado em História & Especialista em História Militar

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CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1AURORA DE BARREIRAS, AURORA DE UMAAURORA DE BARREIRAS, AURORA DE UMAAURORA DE BARREIRAS, AURORA DE UMAAURORA DE BARREIRAS, AURORA DE UMAAURORA DE BARREIRAS, AURORA DE UMA

VIDAVIDAVIDAVIDAVIDA

O Nordeste é lembrado pelas suas riquezas naturais,sua cultura, seu povo guerreiro, mas também estereotipado peloseu ambiente árido. Decerto, a maior parte do Nordeste é seca,com chuvas escassas e rios temporários. Contudo, algumasregiões são verdadeiros oásis no sertão.

Uma boa parte do Oeste Baiano possui um sistema dechuvas regulares e terras férteis, além da bacia hidrográfica doRio São Francisco, formando inúmeros afluentes perenes quebanham a região, favorecendo o desenvolvimento da agropecuáriadesde a colonização.

Entretanto, um desses afluentes foi obstinadamenteexplorado apenas no início do Império. Por volta de 1825, osprimeiros barqueiros começam a desbravar o Rio Grande,subindo o seu curso d’água até chegar numas barreiras de pedrasque impediam a continuidade da navegação. Com o trajetoimpedido de progredir a barco, construíram um porto naquelelocal, batizado, não sem motivo, de Porto das Barreiras.Fazendas surgem nos arredores, além do povoado de Buracãono Arraial da Penha.

Por volta de 1870, a borracha de mangabeira foidescoberta na região, atraindo vários imigrantes que almejavamenriquecer com a extração do látex. De acordo com Pitta (2005,p.24) ‘’Foi como uma corrida do ouro: sendo um produto deexportação com alto valor no comércio internacional, logomilhares de imigrantes vieram para cá, a fim de produzir e exportara borracha.’’

Para dinamizar o comércio, um lugarejo não tardaria aser construído nas imediações do cais. Despontava, então, oPovoado de São João, chamado pelos goianos de São João dasBarreiras. Com o tempo, perderia o nome católico, e conquistariaa emancipação precocemente, no dia 26 de maio de 1891. Ocrescimento não parava!

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Foi naquele início do século XX, na cidade de Barreiras,que a Srta. Arlinda Valmório de Lacerda apaixonou-se e logocasou-se com Manoel Messias Pamplona, um jovem natural domunicípio de Remanso, situado no Vale São-Franciscano doestado.

Manoel Messias era um rapaz inteligente e trabalhador,que teve o emprego de guarda-fio do telégrafo até a suaaposentadoria, o primeiro em Barreiras a exercer tal ofício.

Enquanto sua prendada esposa dedicava-se quaseexclusivamente aos afazeres do lar, prática há muito tempocomum para as mulheres, Manoel montava em uma mula e viajavaconstantemente a Angical e Jupaguá para fiscalizar os fios. Amissão era longa, e a mata não parecia um local muito acolhedor.Sempre ia armado, pois não raras vezes avistava onçasguardando a floresta. Apesar dos perigos, precisava garantir osustento da família.

E a família não era nada pequena, pois junto com Arlindacriaram, ao todo, sete filhos. Isabel Pamplona, a primogênita,nasceu em 28 de outubro de 1911. O segundo foi Walter LacerdaPamplona, em 1912. A terceira, Maria Lacerda Pamplona, em1913. A quarta, Perolina Pamplona, em 1914. Após ela, nascerammais duas crianças, com problemas que lhes ceifaram a vidaantes da primeira semana. A situação de perder um filho não édesejável ao pior dos inimigos, e o fato de ser um consecutivo aooutro certamente amedrontou Dona Arlinda.

Porém, o alívio viria com o nascimento do quinto filho,em 1919, e no qual nos deteremos mais adiante. O sexto foiAgenor Pamplona, e o sétimo e último filho, Waldir CosmePamplona.

Sete filhos para cuidar. Com o pai e a mãe dentro decasa seriam, ao todo, nove pessoas. Porém, uma sobrinha doSr. Manoel, Maria Rosa, entrou para a família após o falecimentodo pai.

Mas voltemos ao quinto filho do casal, o foco de nossoestudo.

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A casa nº 29 da Rua Barão de Cotegipe seria o berço deuma história que Barreiras nunca contemplou igual. No dia 10 dejunho de 1919, no quarto dos pais, nascia o pequeno EurypedesLacerda Pamplona.

Eurypedes nasceu no recém-criado município deBarreiras, emancipado há apenas vinte e oito anos. Apesar desua atual potencialidade, se comparada aos demais municípiosdo Oeste Baiano, Barreiras estava longe de ser destaque regional,mais parecendo um vilarejo.

Foi batizado na única igreja católica existente: a IgrejaSanta Teresinha, à época chamada São João Batista.

O catolicismo era a religião predominante no município,e Eurypedes gostava de participar das missas desde pequeno,além do São João e das novenas promovidas pela igreja.

Seu período escolar mais marcante foi no Grupo EscolarDr. Costa Borges, mais antiga escola de Barreiras, sendo instruídopela renomada professora Guiomar Porto, cujo nome estáimortalizado na rua do estabelecimento.

Naquela época a cidade tinha poucas pessoas, e seuprincipal núcleo concentrava-se no atual sítio histórico. Não eratão quente, e chovia regularmente.

O município vivia da plantação e do comércio. Ter muitasterras era sinônimo de riqueza e poder. Dentre as grandes famíliasque dominavam a política regional, havia os Balbino, Rocha, Lopese Boaventura. Embora os antigos coronéis latifundiários tenhamdeixado um arquétipo de violência na história do Brasil, provocandoconflitos por poder político e terras, em Barreiras a história foi umpouco diferente. As famílias ricas eram aparentadas, e geralmentenão havia desavenças.

Os Lacerda Pamplona eram bastante trabalhadores. Opai, guarda-fio do telégrafo, nas horas vagas trabalhava na fazendaherdada pela esposa, Dona Arlinda. Ela, afora as lides domésticasfora contratada pela prefeitura para administrar um hidrômetro,aparelho que mede a quantidade de chuvas, para o observatóriometeorológico da cidade. Esse hidrômetro encontra-se hoje nomuseu municipal.

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A pequena casa familiar na Rua Barão de Cotegipecontava apenas com três quartos: um do casal, outro dos rapazese outro das moças.

Sua terra natal era bastante pacata, e as portas dormiamtranquilamente sem o ferrolho. A pouca violência era causadapelos jagunços, quando ordenados pelos ricos da região. Acalmaria era tamanha, e os crimes tão escassos que, quandoaconteciam, ficavam na memória da população por um bomtempo.

Eurypedes Pamplona terminou seu período escolar aosdoze anos, pois o ginasial só chegaria a Barreiras em 1948, coma fundação do Colégio Padre Vieira. Chegou a frequentar por trêsmeses o curso de francês de Alfredo Sampaio, grandepersonalidade cultural local, mas não se interessou na suacontinuidade.

Com os estudos findados, precisava obter um emprego.Não poderia viver eternamente às expensas dos pais. Foi assimque, aos 12 anos, trabalhou como alfaiate, e aos quinze comobarbeiro, montando logo depois a própria barbearia.

A maioridade já batia em sua porta, quando uma escolhamudaria seu destino para sempre.

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Foi por volta de seus sete anos que Eurypedes Pamplonaveria o Tiro de Guerra 128 chegar à cidade. O menino adoravacontemplar os soldados marchando, com os passos iguais e posturainabalável. Sua primeira reação foi parecida com a do personagemGil, da literatura de Donato (1979, p.12):

Pai – eu disse em voz baixa – quero ser linha-de-tiro [...] Sob o sol brilhavam os canos dasarmas, a pala dos quépis e as perneirasengraxadas. Aqueles moços, para mim, eramdeuses que marchavam, marchavam e medeixavam para trás. Apressado, como para nãoperdê-los de todo, cantei também, agora em vozalta com meu pai e as vozes que iam sumindo[...]

Em 1937, com dezoito anos incompletos, EurypedesPamplona finalmente realizaria um sonho: incorporar-se as fileirasdo Exército Brasileiro.

É importante frisar que a primeira Força Militar em Barreirasfoi a Guarda Nacional, extinta em 1922. Todavia, eram militaresdiferentes. Compravam ou ganhavam suas cartas patentes paraque, em caso de guerra ou conflito interno, mobilizassem a populaçãoem prol da Defesa Nacional. Enquanto nada acontecia, ficavam emsuas casas levando suas vidas normalmente.

Os mais abastados recebiam o título de coronel, e o Sr.Manoel Pamplona chegou a ganhar a patente de capitão. Entretanto,uma tropa não é formada apenas por oficiais. De que adiantariaBarreiras ter tantos coronéis, se não haviam soldados treinados?

Embora o Exército e a Guarda Nacional pudessem atuarem conjunto, como sucedeu-se na Guerra do Paraguai, eram Forçasdiferentes. Há uma diferença enorme entre confiar um fuzil a alguémversado nas artes militares, e armar quem nunca foi instruído para

CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2O TIRO DE GUERRA 128O TIRO DE GUERRA 128O TIRO DE GUERRA 128O TIRO DE GUERRA 128O TIRO DE GUERRA 128

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tal, empregado apenas para fazer número e contar com a própriasorte.

Era notório que o Brasil precisava modernizar-se dentroda realidade nacional, criando uma Reserva atuante. Foi neste intuitoque a Reforma Hermes, consubstanciada na Lei número 1860, de4 de janeiro de 1908, criou os Tiros de Guerra . Mais à frente, a 1ª.Guerra Mundial serviu como prova de que a reserva podia integraras tropas de 1º linha nas operações, motivo pelo qual o Exércitocriou, em 1917, a Diretoria Geral de Tiros de Guerra, representadaem todas as Regiões Militares.

O próprio Walter Pamplona serviu no Tiro de Guerra 128(TG-128), sendo convocado para debelar a Guerra Civil Brasileira1.Contudo, a revolução acabou antes que pudesse embarcar em umvapor.

Um Tiro de Guerra é uma escola militar menor, destinada aformar soldados reservistas de 2ª. Classe. Após o ano de instrução,seus atiradores pegam o tão sonhado certificado de reservista,seguindo a vida paisana.

Os TG’s, instalados em sua maioria nos interiores,objetivam também levar o serviço militar aos confins do país.Atualmente, a 6ª. Região Militar, Grande Comando sediado na Cidadede Salvador, cuja ação abrange os Estados da Bahia e de Sergipe,possui dezenove tiros de guerra. Não sabemos ao certo quantosexistiam em 1926, mas foi nesse ano que seria inaugurado, na cidadede Barreiras, a primeira passagem do Exército Brasileiro: O TG-128. Segundo Pinto (1988, p.47):

Na década de 20 houve um destacamentomantido pela 6ª. Região Militar, instruindojovens com recrutamento, treinamento eestilo de caserna batalhas e guerrilhassimuladas, sobrevivência, ginástica,exercício. Ao mesmo tempo os recrutasmantinham a vigilância da cidade quepoderia sofrer ataques de cangaçeiros.

1 Revolução Constitucionalista de 1932.

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Os exercícios foram praticados na serra doStand onde até hoje existe uma clareira.O Tiro de Guerra durou pouco tempo, foimudado, mas o pessoal recrutado não seesqueceu das obrigações, fiéis aojuramento, por muito tempo.

Pinheiro & Pitta (2012, p.27) complementam:Até então, fazia-se apenas o alistamento,como é comprovado pelos editais deconvocação publicados pelo jornal Correiode Barreiras, de 1908. Somente algunsjovens alistados eram enviados para fazero serviço militar em Salvador, como o fezAlcibias Almeida, natural de São Desidério,em 1920, e também o índio Sebereba, daMissão de Aricobé, em Angical. Mas erampoucos esses que iam à capital e assim foiimportante haver-se implantado aqui o Tirode Guerra 128, dando oportunidade a umgrande número de jovens, que ali aprendiammuito, como Edgard de Deus Pitta, naturalde Casa Nova, região bastante seca daBahia, que, em 1927 emigrou paraBarreiras.

No longínquo ano de 1936, Eurypedes alistou-se para aturma de 1937 do TG-128. Além de um sonho de criança, o TG eraum farol para os jovens do Oeste Baiano, pois o certificado dereservista era o documento mais cobiçado pela parcela carente dapopulação. Alguns poucos, com muito esforço e força de vontade,deslocavam-se das áreas rurais para servir, tal como ainda ocorreem vários cantos do país, inclusive Barreiras.

Ter servido ao Exército era motivo de orgulho, e conferiastatus aos menos favorecidos, que se não podiam ostentar cartaspatentes de oficiais da Guarda Nacional, vangloriavam-se com o

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serviço militar prestado. Além disso, eram preferencialmenteempregados, pois os empresários ao contratar não-reservistascorreriam o risco de continuar pagando o salário do cidadão até otérmino do ano de formação. Obviamente, nenhum empreendedorqueria esse prejuízo.

Mas, se em outros quartéis o prejuízo era total, nos TGsseria parcial. Esta escola foi criada também no intuito de seusmilitares continuarem dedicando-se a outras atividades, tendo suasinstruções realizadas à noite (exceto aos domingos), e em apenasalguns dias da semana. Por essa flexibilidade e formação maissimples é que seriam considerados reservistas de 2ª. Categoria,mas ainda assim reservistas, prontos para defenderem a pátria, senecessário.

Apesar do Serviço Militar já ser obrigatório desde janeiro de1908, no TG-128 só entravam voluntários. Os jovens não interessadoseram aconselhados sobre as dificuldades futuras, mas seriamdispensados se não optassem pela caserna.

A Junta do Alistamento, formada por cidadãos barreirenses,convocava e alistava os recrutas da região. A Cidade de Barreirasera pequena, não havendo limite de pessoas ou exame de saúdepara incorporar-se.

Começaria, então, a Jornada Militar de EurypedesPamplona, numa turma composta por quarenta e dois militares.

O TG-128 era comandado por um sargento. A sociedadelocal respeitava-o bastante, por conferir tão nobre formação à suajuventude. O praça tinha muito prestígio, e sua presença eraindispensável para abrilhantar os eventos locais. Podemos mesmoafirmar que, ser sargento e comandar o Tiro de Guerra 128 naquelepequeno município, talvez equivalesse a ser coronel e comandar o4º Batalhão de Engenharia de Construção, na Grande Barreiras dehoje.

No ano de 1937, foi responsável o 3º Sargento Aloysio, umapessoa muito bem quista e aberta ao público, além de um líder nato,convencendo pelas palavras, e arrastando por exemplos!

Eurypedes encomendou o tão sonhado fardamento naalfaiataria do município, não demorando a vesti-lo. O uniforme era

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composto por uma túnica, que nos acampamentos dava lugar àgandola, e um culote verde-oliva. Não havia coturnos, e sim calçadospretos de couro mais resistentes (e duros), que subiam quase atéos seus joelhos, chamados perneiras.

Nos domingos, o TG fazia marchas e exercícios militaresfora da cidade, e ao chegar desfilava pelas ruas barreirenses, sobos olhares atentos da população. Nada se comparava aquilo. Oscidadãos admiravam aquele andar rígido, todos com a mesmapassada, e o fardamento que deixava os rapazotes com ares dehomem feito.

‘’O Tiro de Guerra 128 tinha grande atuação social e seintegrava nos eventos da vida da comunidade, com a sua presençae banda de música’’ (PINHEIRO, PITTA, 2012, p.25-26). As criançasadoravam brincar de soldados, sonhando, desde pequenas, ementrar para a instituição. Não havia quem condenasse o TG.

A sua antiga sede hoje é uma residência situada próximaao clube da Melhor Idade. O armamento ficava guardado na sala deinstrução junto com as munições, sem necessitar de plantão ousentinela para protegê-lo.

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Figura.2.: O TG-128.Fonte: Napoleão Macedo.

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Pamplona teve instruções de rastejo; marchas; tiro ao alvo;acampamento; acantonamento; bivaque; educação moral e cívica;bem estar e boa conduta; patriotismo; dentre outras.

As instruções davam-se três vezes por semana,começando por volta das vinte horas, e terminando na madrugadado dia seguinte. Já aos domingos, começavam pela manhã eprosseguiam até as primeiras horas da tarde. O sargento ainda tinhalivre arbítrio para marcar instruções extras.

O ano de formação durava cerca de um ano. Pelo menosé o que consta nos documentos com o nome do nosso atirador,que vão desde dezembro de 1936 até o que parece ser o relatóriofinal, formulado em janeiro de 1938.

A rotina no TG era bastante pesada, mas como não recebiasoldo, Pamplona levantava cedo no dia seguinte para ganhar umpouco de dinheiro em sua barbearia.

Em algumas ocasiões teve instruções na Serra do Mimo,porém, o acampamento mais marcante ocorreu em São Desidério.Chegaram lá após uma longa marcha carregando mochila, fuzil,sabre e cantil. Não haviam capacetes, apenas quepe. Acamparamao relento, sem barraca alguma.

Eurypedes foi um dos escalados para ficar de sentinela,guardando a tropa até o horário da alvorada. Apesar daresponsabilidade, não sentiu medo algum, pois a região era muitopacata.

Os exercícios de tiro, realizados rotineiramente, aconteciamem um Estande na Serra do Mimo, outrora conhecida como Serrado Estande. Eurypedes era um bom atirador. Um por vez atiravamnas mais diversas posições, e apesar da frequência, algunscombatentes sequer acertavam o alvo. ‘’O atirador não precisavaacertar na ‘’mosca’’, mas havia um mínimo de tiros que deveriaacertar no escantilhão.’’ (Donato, 1979, p.73).

As provas finais foram avaliadas pelo Capitão JoãoDamasceno Vieira, encarregado de inspecionar o TG. No decorrerdo curso, muita gente foi desligada, tendo em vista que apenas vintee dois chegaram ao final. O motivo? Provavelmente baixo rendimento,

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faltas ou dificuldades para comparecer ao TG. Infelizmente, destes‘’sobreviventes’’ oito ainda foram considerados inabilitados.

Na ficha de Eurypedes Pamplona consta os seguintesresultados:

Nº de ordem: 5Nome: Euripedes Lacerda PamplonaFiliação: Manoel Messias Pamplona/ArlindaLacerda PamplonaDia: 10Mês: JunhoAno: 1919Estado: BahiaMunicípio: BarreirasFrequência: 85%Tiro ao alvo: BomMarcha: SatisfezProva Escripta: 6,6Educação Physica: 6,50Ordem Unida: 7Maneabilidade: 6,50Combate: 8Resultado: HabilitadoObs.: 6,93(1936/37 DOCUMENTOS SOLTOS DOTIRO DE GUERRA 128)

Dos vinte e dois, nosso rapaz obteve a quarta maior médiada turma (ninguém acima de 7,58). Apenas seis granjearam a nota‘’Bom’’ em tiro, mas, destes, dois reprovaram na prova escrita. Orestante, oscilou entre o regular e o aceitável.

O Capitão Eduardo Reis de Freitas, ao que tudo indicainspetor dos Tiros de Guerra da 6ª. Região Militar, registraria aseguinte impressão daquele ano de instrução:

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CríticaA marcha foi realizada em optimas

condições. O tiro foi realizado em bôascondições. A prova escripta, infelizmente,deu resultado desfavoravel, pois que, de 22atiradores apresentados à inspecção, 14atiradores attingiram média acima de 4. Asprovas de instrucção physica, ordem unida,maneabilidade e combate, foram realizadaspelos atiradores com muito bomaproveitamento. Levando em conta aimpressão deixada por esse T.G. no capitãoencarregado da inspecção, conforme se vêdos termos do seu relatorio, archivado naInspetoria, louvo o 3º sgt. Aloysio Leal Sallespelo zelo, intelligencia e interesse pelainstrucção, demonstrados por ocasião dapresente inspecção. Foram realizadas 115secções de instrucção nesse T.G., nesseanno. (a) Cap. Eduardo Reis de Freitas,Inspector T.G.(1936/37 DOCUMENTOS SOLTOS DOTIRO DE GUERRA 128)

Ao término da jornada, Pamplona finalmente havia seformado atirador do Exército Brasileiro. Estava alegre por todo oseu desempenho, e com a certeza de que dentro de um mês chegariade Salvador o tão sonhado certificado de reservista, a ser entreguesolenemente num baile comemorativo na sede do próprio Tiro deGuerra. Até os reprovados compareceram ao evento, provavelmentesem muitos remorsos pois no ano seguinte poderiam alistar-se outravez, como o fizeram Francisco Dias da Fonseca, João Correia Filhoe Sillvino Alves Moreno.

Entretanto, o destino não seria generoso caso reprovassemnovamente. Após o ano de 1938 não haveria mais instrução. Não se

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sabe o porquê, mas o Tiro de Guerra 128 encerrava as suasatividades.

A região foi declarada área rural, portanto isenta do serviçomilitar. O mais curioso é que, contraditoriamente, o AprendizadoAgrícola de Barreiras também foi fechado e transferido da cidade.

Hoje, restam apenas alguns livros bem superficiais sobreo assunto, além de documentos históricos no Museu MunicipalNapoleão Macedo, como livros de ata, relatórios, relação dosconvocados em treinamento e seu desempenho, assim como alista das instruções e dos armamentos e munições.

Resta, também, a memória dos pouquíssimos reservistasque se encontram vivos, já em idade avançada, alimentando asapiência com as longínquas reminiscências daquele anoinesquecível em que se tornaram militares.

Dos tempos em que foram soldados, vestiram a farda, emarcharam por um país melhor.

Recordam o juramento à Bandeira Nacional realizado aofinal do curso, e transbordam orgulho patriótico.

Naquele momento pomposo, Eurypedes imaginava que asua vida militar estava chegando ao fim; pensava que a dor finalmentehavia passado; pensava que ficariam apenas as lembranças, e asatisfação em ter formado-se no Tiro de Guerra 128, a entidademais respeitada de sua terra natal.

Pensava... apenas pensava...

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CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3DO TIRO PDO TIRO PDO TIRO PDO TIRO PDO TIRO PARA A GUERRAARA A GUERRAARA A GUERRAARA A GUERRAARA A GUERRA

O ano de 1938 transcorreu sem muitos problemas. Arotina voltara ao normal, e o jovem Pamplona permanecia emsua barbearia.

Eis que o seu tio Valdemir Lacerda, comerciante quesempre fazia compras na capital federal, estava de passagemem Barreiras. Foi a oportunidade que o jovem agarrou paraconhecer o mundo. Se deu férias, juntou a pouca economia,preparou as malas, e despediu-se da família prometendo retornarem breve.

Eurypedes partira em 20 de janeiro de 1939, Dia de SãoSebastião, embarcando no Benjamim. Era um daqueles grandesvapores como o São Francisco e o Juraci, que só podiam navegarquando as chuvas aumentavam o volume do Rio Grande.

Pela primeira vez faria uma longa viagem. Às vezes, nocarnaval, os vapores davam um passeio rápido pelo rio, evoltavam. Mas agora seria diferente. Passaria dias navegando, eapesar de somente avistar vegetação, a viagem era a grandenovidade da sua vida. Não cabia em si de tanta felicidade. Estavaa caminho da Cidade Maravilhosa!.

Eurypedes alojou-se em um camarote pequeno, comuma janela e três camas, uma por cima da outra. Durante opercurso, o vapor atracava nos portos para abastecer-se comlenha, enquanto a tripulação descia para conhecer os pequenoslugarejos.

O Benjamin descera para o município de Barra e, de lá,subira o Rio São Francisco. Eurypedes passou por Bom Jesusda Lapa, Carinhanha, entrou em Minas por Januária, e finalmentedesembarcou em Pirapora, após doze dias sobre as águas.

De Pirapora, o jovem pegara um trem para BeloHorizonte, e depois uma Maria Fumaça a caminho do Rio deJaneiro, sendo necessários mais dois dias sobre os trilhos.

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Figura.3: O Benjamim, atracado no Porto de Barreiras.Fonte: Desconhecido.

Era noite, e a Maria Fumaça chegava à Central do Brasil,com um Eurypedes Pamplona coberto de fuligem.

Finalmente estava no Rio de Janeiro, perplexo com aimponência e a beleza à sua frente. As luzes enriqueciam opanorama da cidade, que era mesmo maravilhosa! Seu ar mágicoencantava suas belezas naturais, a Baía da Guanabara, o CristoRedentor! Só aqueles primeiros minutos haviam pago o preçoda viagem. Nem conseguia imaginar quantas Barreiras cabiamali. Estava ansioso para conhecer tudo! Sempre vira o Rio deJaneiro nas fotografias, mas não sabia que pessoalmente eramuito mais bonito.

Apaixonado à primeira vista, transformou as férias emuma mudança. Com o apoio de outro tio, Nielson Lacerda,conseguiu um emprego e passou a morar na Rua da Alfândega.

O centro do Rio de Janeiro era enorme, e ostentava casasde luxo como a Manoel Silva; Silopra; a perfumaria Carneiro; e ajoalheria Krauser. A Kaiser destacava-se com um vaporizador naporta, jogando perfume para os pedestres da Rua do Ouvidor, amais pomposa e movimentada do Rio de Janeiro. Era onde todasas moças e senhoras, muito bem trajadas e sem temer ladrãoalgum, desfilavam faustosamente com roupas, joias e chapéuscaros.

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Figura.4: Rua do Ouvidor na década de 40.Fonte: <http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/posts/2011/10/26/rio-de-sempre-da-uma-volta-na-ouvidor-413332.asp> Acesso em

27 jan. 2013.

Sua rotina mudaria bastante. Não estava mais napequena Barreiras, mas sim na capital do Brasil. Sem estudo,regrava seu dinheiro para viver razoavelmente naquelapensãozinha de dois andares, onde os donos e seus dois colegasde quarto eram barreirenses. Estar entre conterrâneos era umaforma de não se distanciar tanto das origens.

Nas folgas dominicais saía com o amigo Archias Rocha,sobrinho do barreirense Geraldo Rocha. Adoravam as praias; ojardim da Praça Paris; o Cinema Metro; o Jardim Botânico; aEstrada Silvestre; o Alto da Boa Vista; o Cristo Redentor e aresidência do imperador.

O samba tomava conta das ruas cariocas. EurypedesAdorava valsar, sambar, dançar bolero e forró, ainda mais porqueem pleno Rio de Janeiro, um pernambucano estourava cantandoo Nordeste: Luiz Gonzaga. Sua sanfona lembrava as melodiasque tanto roubavam a cena em Barreiras, trazendo saudades dacidadezinha onde nascera, crescera e deixara os familiares eamigos.

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As cartas eram o único meio de comunicar-se. Queriaviajar para visitá-los, mas infelizmente não podia. Se viajasse,gastaria quase um mês inteiro a bordo dos gaiolas. Também nãopretendia regressar. Embora sua situação financeira nunca tenhamudado trabalhando na Sedas Brasil ou na Costa Pacheco, tinhafé no Rio como a terra que lhe faria crescer na vida. Continuouganhando pouco mais que um salário mínimo, mas sempre àespreita de oportunidades.

Mesmo sem uma vida abastada, o moço era feliz enamorador. Chegou a ter um caso mais firme com a Dulce, umamoça de dezesseis anos que dele engravidou. A jovem tentouesconder a gravidez com medo da reação materna, apertando abarriga até quando pôde. Apesar da vergonha que traria naquelestempos, sua mãe não lhe virou as costas, convidando o genro amorar em sua pensão. Infelizmente, a compressão trouxecomplicações ao parto, e a criança faleceu poucos dias depois.

Embora triste, Eurypedes Pamplona continuou levandoa sua vida tranquilamente, e assim permaneceu quando a guerraestourou do outro lado do Atlântico. As únicas aulas de históriaque tivera foram sobre o Brasil, e somente naquele momentosoube já ter havido uma 1ª. Guerra Mundial, que embora tenhaconstituído o conflito armado entre duas alianças, envolveumetade dos países do mundo, gerando hostilidades na Europa,Ásia, África e nos oceanos.

Inicialmente, de um lado estava a Tríplice Aliança,formada por Império Austro-Húngaro, Alemanha e Itália. Do outro,a Tríplice Entente, composta por Inglaterra, França e Rússia.Alianças que foram, ‘’muito antes da Guerra, produzidas, dentreoutros fatores, por conta dos interesses no mundo colonial [...](FREDRIGO, 2013, p.68).’’

A causa da 1ª. Guerra? Poderíamos listar inúmeras: acorrida armamentista, alimentando a tensão entre as nações; osgovernos autocráticos, mais sensíveis que os democráticos àsdesaprovações da sua política; a entrada tardia da recém-unificada Alemanha na Partilha da África; o nacionalismoexacerbado, dentre outros fatores.

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A euforia patriótica dos envolvidos fazia acreditar, antesda declaração oficial do conflito, em 1914, em uma vitória rápidacom consequências gloriosas. Entretanto, o resultado foi umacompleta destruição, e uma Alemanha derrotada.

Com o Tratado de Versalhes, esta nação foi declarada aúnica culpada e teve que assumir toda a responsabilidade,sofrendo várias sanções. Chocada e humilhada, o sentimentode revanche nasceria desde o final do conflito.

No ano de 1933, a República de Weimar assistiu aascensão de Adolf Hitler, líder do partido nazista, cuja sede deconquistar o mundo e purificar a humanidade com a raça arianaestava levando o seu país ao delírio. A Alemanha acabou nãocumprindo os acordos do Tratado, desviando grande parte dasua energia produtiva para os assuntos militares.

O líder nazista também adotou uma política imperialista,conforme a própria denominação ‘’Terceiro Reich’’ (TerceiroImpério) sugeria. Os países que lhe fizeram frente na 1ª. GrandeGuerra assistiam a tudo calados, e, recordando as desgraçasque o primeiro conflito trouxe ao mundo, tentaram resolver asituação diplomaticamente. Mobilizações, demonstrações deforça, ultimatos, ameaças e comentários ostensivos deixavam ocenário europeu tenso.

Após a invasão da Polônia, em 1º de setembro de 1939,não restava alternativa para a Inglaterra e França senão adeclaração da guerra.

Os chanceleres das repúblicas americanas, temendoas proporções a que o conflito poderia chegar, e relembrando asperdas ocasionadas pela guerra passada, reuniram-se naConferência do Panamá para assumir a posição de neutralidade.

Na Europa, a Itália Fascista de Mussolini visava recuperaros dias de glória do Império Romano, e aliou-se à Alemanha.

‘’A situação político-militar da Europa e as ameaçaseixistas impuseram, em julho de 1940, uma nova Reunião deConsulta de Chanceleres, desta vez em Havana’’ (MORAES,2005, p.23). Estar cercado de inimigos no próprio continente,situação em que viviam os países europeus durante o conflito,

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era algo extremamente perigoso. A união e a neutralidade, dooutro lado do Atlântico, era a única chance para a América sairilesa do conflito.

Definiram então que todo atentado contra a integridade,inviolabilidade, soberania ou independência política promovido porum Estado não-americano a qualquer membro do Novo Mundo,seria considerado como ato de agressão a todos os outros.

Mas a guerra não tardaria a chegar à América. Em 7 dedezembro de 1941, os japoneses, pertencentes ao Eixo Roma-Berlim-Tóquio, atacaram a base naval americana de Pearl Harbor,obrigando os Estados Unidos a entrar no conflito.

Eurypedes Pamplona soube do bombardeio por meiodos rádios e jornais, porém acreditava que a guerra estava longeda sua realidade. Talvez não atentasse para o fato de que o mundonão era mais o mesmo. Os tempos e espaços foram reduzidospelos avanços tecnológicos, e os países estavam maisintrinsecamente ligados do que nunca. Uma guerra naquelasproporções interferia na vida de quase todos.

E assim foi feito. Não esperava que a guerra chegasseao Brasil, e nem sabia que cortariam laços com o Eixo desde oataque no Pacífico.

Apesar de nosso país ter apenas cumprido a sua palavra,foi uma decisão arriscada. O Brasil, com seu extenso território,precisava ser guarnecido. O Exército tratou de proteger as zonassensíveis ao longo do litoral, assim como a Marinha e a ForçaAérea Brasileira patrulharam intensamente a costa e as escoltasde comboios.

As bases militares consideradas indispensáveis tambémforam cedidas aos Estados Unidos. O próprio aeroporto deBarreiras tornou-se base aérea durante a guerra.

Mas a ousadia eixista não recuou. Mesmo com o Brasiltomando todas as medidas de proteção, a partir do início de 1942nossos navios mercantes seriam vítimas de uma série detorpedeamentos causados por submarinos ítalo-alemães. Nosdias 18 e 19 de agosto, a pequena distância das praias de Sergipe,os submarinos afundaram os vapores Araraquara, Aníbal,

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Benévolo, Baependi, Itagira e Arara, fazendo mais de seiscentasvítimas, inclusive crianças.

O clima tornou-se bastante tenso. Todos os jornais erádios noticiavam os ataques. A mídia não parava de denegrir aimagem dos nazifascistas, incitando a recuperação da nossahonra.

O povo também estava revoltado. Uma multidão lotouas ruas pedindo guerra! Além dos protestos, houve xenofobia.Os escritórios alemães em solo brasileiro foram invadidos esumariamente depredados. A famosa Casa Alemã, localizada naRua do Ouvidor, destinada à moda mais grã-fina, foi todadestruída, e seus donos fugiram do espancamento como sefossem os culpados.

O jovem Pamplona assistia a manifestação de longe, eapesar de achar aquilo absurdo, não tomava partido algum. Eramtempos perigosos, e qualquer um que se opusesse à guerra seriaigualmente linchado. Sempre gostara da vida militar, mas nuncalhe passou pela cabeça ir ao combate, ainda mais agora que elemostrava-se tão próximo. Temia a guerra. E sabia que, casodeclarada, poderia ser convocado a qualquer momento. Suasituação de reservista, ainda que de 2ª. Classe, não era nadaconfortável.

Mas nem o próprio Presidente Getúlio Vargas poderiaacuar o país diante dos fatos. Uma decisão como esta nãopoderia ser tomada de outra forma, senão por aclamação popular,e o povo queria a luta!

Foi então que o Governo Brasileiro, no dia 22 de agostode 1942, reconheceu o estado de beligerância, e no dia 31 deagosto declarou guerra às Potências do Eixo!

A cabeça do jovem Pamplona não pensava em outracoisa, senão na possibilidade de ser convocado. Nervoso, nemconseguia raciocinar direito.

Dois dias passaram-se, o estresse aumentava e resolveuespairecer. Foi então ao cinema. Nem sabe qual filme assistiu,mas aquela sala escura longe dos noticiários já era um alento àsua mente. Guerra? Ele próprio ir à linha de frente? Não podia

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ser... o Brasil era muito grande, o Rio de Janeiro também, e eleapenas um reservista de 2ª. categoria... por que iriam convocá-lo? Estava fazendo tempestade em copo d’água!

O filme acabou e ele regressou à pensão. Já era tarde danoite, e o silêncio no estabelecimento era tão profundo que pensouestar sozinho, até deparar-se com uma mesa cheia. A jovem Dulce,sua sogra e alguns hóspedes estavam em absoluto silêncio.

Eurypedes estanhou e, brincando, perguntou se estavamnuma sessão espírita. Mas logo notou que ninguém estava debrincadeira. Foi então que a sogra entregou-lhe uma carta.

Ao apanhá-la, foi o mesmo que levar uma pancada nacabeça. Lhe faltaram as pernas e quase caiu ao chão. Não lembrase a cabeça esvaziou, ou ficou a mil por hora. Ficara totalmenteatordoado. Aquilo era sério? Não seria uma brincadeira de seusamigos? Não, não... ninguém brincaria com algo tão sério. Estavabastante amedrontado, e não era o único... o semblante da jovemDulce não escondia a desolação... E agora? Deveria fugir? Deveriasair do Rio de Janeiro?

Naquela noite, o silêncio fúnebre da pensão ecoou maisque o samba da noite carioca, e a cidade já não era mais tãomaravilhosa assim...

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CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4DA FEB PDA FEB PDA FEB PDA FEB PDA FEB PARA A ITÁLIAARA A ITÁLIAARA A ITÁLIAARA A ITÁLIAARA A ITÁLIA

Milhares de reservistas regressaram às Forças Armadas.Ao contrário do que ocorrera no Tiro de Guerra, Eurypedespassaria por um rigoroso processo de seleção, com detalhadainspeção de saúde.

Aprovado em tudo, não tardou a incorporar no 2º.Regimento de Infantaria, vulgo ‘’Dois de Ouro’’. O apelido eradecorrente dos dizeres dourados do quepe: 2º RI.

O Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra,afirmava que morada de soldado é no quartel, e Eurypedes viu-se obrigado a residir na caserna. Sem perspectiva de futuro,rompeu o relacionamento com a Srta. Dulce e foi embora dapensão.

O Soldado Pamplona passou a servir na 3ª. Companhiade Metralhadora, comandada pelo Capitão Antônio Tavares, econsiderada a melhor do regimento.

Surgia, então, a ideia de uma participação direta noconflito, cuja primeira referência oficial foi feita pelo próprio GeneralEurico Dutra, por ocasião da visita realizada aos Estados Unidos.Segundo o Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes,Comandante da 1ª. Divisão Expedicionária (MORAES, 2005,p.25):

Tratava-se, sem dúvida, da criação de uminstrumento militar nacional destinado adesagravar a ofensa e a cooperar comas Nações Unidas na missão de destruiro inimigo comum. Daí a ForçaExpedicionária Brasileira.

A Força Terrestre, organizada e inspirada na missãomilitar francesa de 1920, deveria passar por uma reestruturação.O modelo francês já se encontrava obsoleto, não estando mais

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à altura do novo tipo de conflito. O Brasil deveria adaptar-se aosmoldes em vigor no Exército dos Estados Unidos.

Algumas Unidades Militares precisaram ser criadas, eas existentes não estavam em perfeitas condições, de modo quequase nada do que existia pôde-se explorar. ConformeMascarenhas de Moraes (2005, p.28):

Sua organização, seus regulamentos eseus processos de combate erambaseados na chamada ‘’escola francesa’’.De repente, quase da noite para o dia,dentro da antiga moldagem e no quadroda doutrina gaulesa, surgia a tarefa deconstituir uma divisão de Infantaria, coma organização norte-americana. E, alémdisso, instruí-la e adestrá-la segundo osmétodos, processos e meios norteamericanos.Somente quem nunca se viu a braçoscom problemas análogos pode ignorar asdificuldades, as incompreensões echoques daí decorrentes.A nova organização exigia a criação deórgãos absolutamente novos e a revisãoquase revolucionária de princípios, hámuito firmados em nosso meio militar.

E não eram apenas os princípios que inexistiam emnosso território. A insuficiência do material bélico norte-americanoera outro problema. Todos os reservistas, soldados e cabos, e aesmagadora maioria dos sargentos e oficiais sequer haviam vistoo que iam utilizar, desde fardamentos até armamentos eequipamentos.

A tropa brasileira uniria-se ao IV Corpo do V ExércitoAmericano, com a missão de impedir o avanço nazista na Itália.Contudo, era notório que o Brasil não estava em condições decombater, tanto que a FEB levou dois anos preparando-se.

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A demora e as péssimas condições estruturais da FEBgeraram ‘’descrença popular quanto ao embarque dos pracinhaspara a Itália, bem como a possibilidade de sua vitória diante doexército alemão’’ (FREDRIGO, 2013, p.64), contribuindo para adisseminação da expressão que afirmava ser mais fácil umacobra fumar do que o país ir à guerra.

A resposta viria na insígnia do tal réptil com um cachimbo,para deixar claro que a cobra iria fumar, e o Brasil iria lutar!

Figura.5: Símbolo da Força Expedicionária Brasileira.Fonte: <http://aluisiodutra.zip.net/arch2009-08-01_2009-08-31.html>

Acesso em 09 set. 2014.Vale lembrar que a expressão é ‘’util izada

recorrentemente, até os dias de hoje, para aludir a uma vitóriainesperada ou a uma ação que parece improvável’’ (FREDRIGO,2013, p.64).

Aos poucos, alguns materiais chegariam para a tropa,constantemente adestrada no Campo de Instrução de Gericinó,no Rio de Janeiro.

O treinamento era bem mais pesado do que o realizadono Tiro de Guerra 128. Havia redes rasteiras de arame farpado,em que se precisava rastejar com mochila, fuzil e todo oequipamento necessário. Esta instrução não admitia um segundode distração, pois bem acima dos arames uma metralhadora

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disparava constantemente, de tal forma que se o ‘’guerreiro’’suspendesse a cabeça teria a sua face trucidada numa fraçãode segundo.

Os acampamentos eram realizados na Barra da Tijuca,também no Rio de Janeiro. Naqueles tempos, não havia casaalguma, e o espaço era tão solitário que todos despiam-se paratomar banho no mar.

Houve também treinamento de embarque edesembarque. A tropa deveria descer em cordas até o mar, ondeos barcos já estavam esperando. Cada pessoa tinha um númeroe, através deste, iria para o barco destinado, a fim de evitarconfusão.

Apesar de ter estudado somente até a 4ª. Série, oSoldado Pamplona teve conhecimentos suficientes para realizaro curso de cabo, extremamente pesado. A intenção da casernaera explorar ao máximo os alunos durante o treinamento, de formaa tornar o combate mais fácil. Após meses extenuantes, o jovemtornar-se-ia o Cabo Pamplona.

Toda aquela preparação, promoção e Eurypedes nãosentia entusiasmo algum. Estava preocupado, e achava que sefosse à Europa nunca mais veria sua família. Barreiras pareciamais distante do que nunca. Poderia embarcar a qualquermomento numa viagem sem volta, e não teria a chance dedespedir-se.

Por meio das cartas e do telégrafo contou aos seusparentes sobre a convocação. Não pôde entrar em muitosdetalhes, pois os contatos eram inspecionados: tudo era secreto.

Os Lacerda Pamplona tiveram que se conformar. Todos,imensamente preocupados, rezavam novenas com os vizinhospara implorar que Deus conservasse a sua vida, e não omandasse para a guerra.

Os dias, meses e anos passaram-se, o conflitocontinuava e a espera mista de incerteza corroía a todos pordentro. Eurypedes poderia ir para além-mar, lutar e, se morto emcombate, a sua família não teria a mínima possibilidade de recebero corpo, ou mesmo visitar o seu túmulo.

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A tensão aumentava. O Brasil seguia a sua rotina,enquanto os seus soldados preparavam-se para pelejar. O povo,que tanto clamou pela guerra, parecia ter esquecido dos heróisantes mesmo do combate. Eurypedes andava fardado nas ruas,e ninguém manifestava um mínimo de patriotismo ouconsideração.

Em breve, Pamplona deixaria o Dois de Ouro paraaguardar os dias passarem no Depósito de Pessoal da FEB, ondeencontrou militares de toda a nação. Ninguém sabia o dia dapartida, mas os sacos de viagem deveriam estar sempre prontos.

O primeiro escalão partiu com 5075 homens no dia 2 dejulho de 1944, a bordo do General Mann.

O segundo escalão saiu com mais 5075 homens, nodia 22 de setembro de 1944, no mesmo navio.

O terceiro escalão partiu no mesmo dia, mas com 5239homens embarcados no General Meighs.

Ficaria no Brasil? A guerra acabaria antes? Perguntasque só Deus sabia, pois quanto a Eurypedes só restava rezar eaceitar o seu destino.

Na terça-feira do dia 21 de novembro de 1944, o CaboPamplona completava dois anos e dois meses que regressaraao Exército, pelo 2º RI, mas a dois meses havia sido transferidopara o Depósito de Pessoal da FEB, acantonada no Morro doCapistrano, na Vila Militar, no Rio de Janeiro.

A tropa finalmente saiu do acantonamento e, por voltadas treze horas, tomou um trem que os conduziria ao desertocais do porto. Aguardaram até o final da tarde para embarcar.

Um imenso navio de transporte de tropas americanas, oGeneral Meighs, acolheria mais de quatro mil homens no quepoderia ser uma viagem sem volta.

Embarcados, a noite caíra e o navio não desatracou. OCabo Pamplona não estranhou, pois tivera instrução suficientepara saber que uma operação desse vulto deveria ocorrer nomais absoluto sigilo, pois qualquer passo em falso poderiacomprometer a vida de todos.

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O quarto escalão ficaria no porto por todo o dia 22, paraludibriar a Quinta Coluna2.

Qualquer delação e seus corpos jazeriam eternamentenas profundezas do Atlântico. O cais estava completamenteisolado. Não haveria ninguém para prestigiar a partida. Nemmesmo o Presidente Getúlio Vargas, que cumprimentara o 1ºEscalão antes dos navios zarparem, estivera presente paradespedir-se da penúltima leva de soldados que iria combater naItália.

Foi, então, ao final da madrugada carioca do dia 23 denovembro de 1944 que o quarto escalão de embarque sentira oGeneral Meighs desprender-se da Baía da Guanabara,carregando 4691 homens do primeiro escalão do Depósito dePessoal da FEB.

O Cabo Pamplona foi para o convés. Avistava o porto, oPão-de-açúcar, o Cristo Redentor e os passarinhos chilreantesanunciando um novo dia. Levaria aquela lembrança bem no âmagoda sua alma, pois não sabia se teria outra.

As 5 horas da manhã disatracou-se onavio: as 5,30 houve ordem para todossubirem ao convés afim de vêm a saídada Bahia de Guanabara. As 6 horaspassou-se pelo Pão de Açucar, caindo emalto mar. Permanecí no convés até queos encantos da cidade maravilhosadisapareceram por completo. A emoçãofoi demais porém suportei (PAMPLONA,1944,p.3-4).

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2 Espionagem inimiga.

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CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5O CAMINHO PO CAMINHO PO CAMINHO PO CAMINHO PO CAMINHO PARA A GUERrAARA A GUERrAARA A GUERrAARA A GUERrAARA A GUERrA

Eurypedes Pamplona tratou de descer as escadariasdo General Meighs para alojar-se. Nos quartos havia belichescom vários andares. Em cada compartimento do navio ficavauma companhia, para reforçar os laços entre os guerreiros decada subunidade.

Escoltando a embarcação havia navios e aviõesamericanos, como a tripulação que prestava assistência durantea travessia do Atlântico. Apenas os destróiers eram brasileiros.O comboio tinha caça-minas em cada lado, e cruzadoresguardando a proa e a popa. A aviação rondava os céusrotineiramente.

Apesar da imensidão atlântica, o General Meighs deveriaseguir uma trilha, pois o mar estava minado.

A viagem apenas começava, mas a tropa não teve muitotempo para descansar. Às quatorze horas, houve o primeirotreinamento de embarque e desembarque. Agora os soldadostinham de estar mais afiados do que nunca, pois os perigos deataques por submarino ou aviação inimiga eram constantes.

No decorrer da guerra, foram perdidos,por ação de submarinos alemães eitalianos, 33 navios mercantes, quesomaram cerca de 140 mil toneladas dearqueação (21% do total), com a mortede 480 tripulantes e 502 passageiros(PAULA, BITTENCOURT, JÚNIOR, 2010,p.287).

Em julho daquele ano, a Marinha de Guerra Brasileira jáhavia perdido o Navio Auxiliar Vital de Oliveira, torpedeado porsubmarino alemão, e a corveta Camaquã, por fortuna do mar. Nooutro ano, ainda perderiam o Cruzador Bahia.

Essa tragédia foi exacerbada peloconhecimento dos terríveis sofrimentos

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dos náufragos, abandonados no mardurante muitos dias, por incompreensívelfalha de comunicações. Três infortúniose aproximadamente 469 mortos, semcontar os cerca de 23 falecidos em outrosnavios e em navios mercantes afundados,elevando o total a 492 [...](PAULA, BITTENCOURT, JÚNIOR, 2010,p.300-301).

Nosso expedicionário não se amedrontaria durante aviagem. Não apenas por sentir segurança no comboio, mas,principalmente, por desconhecer as dimensões de uma guerraem que o perigo poderia originar-se de todos os lados.

Porém, o que lhe assustava mesmo era a linha-de-frente,agora tão próxima. Enquanto isso, as tropas não poderiamentregar-se ao ócio, sob risco de contaminar o espírito guerreiro.

Fora os treinamentos de embarque e desembarque,havia o horário das faxinas. Todos subiam ao convés e a equipeescalada limpava os compartimentos.

Quando começava a escurecer, os militares desciamaos alojamentos e fechavam as portas. A escuridão era reforçada,ainda, por uma cortina preta. O calor era insuportável, masessencial. Qualquer réstia de luz que escapasse no meio daescuridão oceânica poderia chamar a pontaria inimiga.

No dia 24 de novembro, celebrou-se a primeira missa abordo, com novo treinamento de embarque e desembarque àsquatorze horas.

Nos dias 25 e 26, o adestramento foi dinamizado com oteste dos canhões do navio, além das outras baterias antiaéreas.Depois, houve distrações como cinema, jazz e box para aliviar oestresse.

Na manhã do dia 27, subiram ao convés paracontemplar, ao longe, o belíssimo Arquipélago de Fernando deNoronha. Festejariam também a passagem pelo Equador.

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A viagem prosseguia sem maiores transtornos, excetopelo enjôo que não dava trégua. Pamplona sentia muito calor,além da alimentação ser horrível, já que havia apenas o café damanhã e o jantar, a fim de racionar os recursos. A fome castigava,mas o enjôo tornava a comida intragável.

Todos reclamavam da alimentação, mas as saudadesdos parentes e da terra natal começavam a apertar mais do quea fome. Sua família devia estar rezando em Barreiras e Pamplonanem imaginava em que ponto do globo navegava. Para todo lado,somente se avistava água. O mar estava bastante agitado.Aproximavam-se da costa africana.

No dia 1º de dezembro o mar mostrava-se assustador,de tão revolto. O frio começava a tomar conta da tripulação.

Três dias depois, o frio já se tornara insuportável. Àsquinze horas cruzaram o Estreito de Gibraltar, mas o comboioseguiu para o norte. A despedida foi marcada solenemente coma canção ‘’Deus Salve a América’’.

Novos navios recepcionaram o grupo brasileiro naentrada do Mar Mediterrâneo. Á direita avistavam-se o Marrocose Ceuta e, à esquerda, a Espanha. Havia uma enorme redeesticada de um lado a outro para os inimigos não entrarem.Entretanto, quando davam passagem a um navio Aliado, nadaimpedia os submarinos inimigos de apegarem-se à oportunidade.Eurypedes não deixou de olhar para baixo, mas a única coisaque avistara foi um tubarão solitário. Talvez nadar naquelas águasgélidas com a fera dos mares fosse mais seguro que o combatea lhe aguardar.

Continuaram costeando a África, com um caça-minasabrindo caminho no Mediterrâneo.

No dia 06 de dezembro passaram na Ilha de Sardenhae, no dia seguinte, chegaram a Nápoles, mas apenas um batalhãodesembarcou. Logo mudariam de embarcação para seguirem àLivorno. O mar estava terrivelmente agitado e as barcaças sófaltavam voar de tão rápidas.

No dia 10 finalmente despedir-se-ia das águas.Felizmente, a viagem não teve problemas, mas nem por isso o

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sentimento era de alívio. Em Livorno, os horrores da guerra eramnotórios. Todo o porto estava destruído e era possível ver muitosnavios afundados.

Partiram da cidade no dia 11, embarcados emcaminhões. Chegaram ao acampamento quase duas horasdepois. Mal terminaram de montar as barracas, caiu uma chuva.Estavam no inverno europeu. O frio era terrível!

Em 14 de dezembro o dia amanheceu ensolarado.Pamplona teve a oportunidade de juntar-se à sua turma e visitar,em Pisa, a Catedral e a histórica torre inclinada. Foi uma boadistração para aliviar a perturbação que o tomava. Entretanto,sua alegria não duraria muito tempo. Dois dias depois houve umarigorosa inspeção de saúde, e o cabo precisou ser baixado no 7ºHospital em Livorno, por suspeita de Sífilis.

O local parecia bem organizado e asseado. O pracinhafez diversos exames, enquanto lá fora a chuva fustigava. Era 20de dezembro. Começou o tratamento com dolorosas e geladasinjeções de penicilina, que deveriam ser aplicadas nas nádegasde três em três horas, durante 8 dias. Enquanto as horaspassavam, esperar pela próxima injeção era uma agonia semfim, ainda mais porque a enfermeira não atrasava um únicominuto.

Para piorar a situação, por volta das vinte e duas horase trinta minutos os canhões começaram a bradar terrivelmentenas imediações do hospital. O expedicionário sequer sabia omotivo. Amedrontado e acamado, nada podia fazer.

O frio só aumentava, o tratamento prosseguia e osprimeiros sinais de melhora começavam a aparecer. Durante anoite, poderia distrair-se com um cinema para atenuar os ânimos.Porém, foi no meio da sessão do dia 23 que se deu um inesperadoblecaute. Todas as luzes desligaram-se. O hospital assumiu umclima de expectativa. Lá fora, escutavam-se fortes tiros daartilharia.

Pamplona mal conseguiu pregar os olhos. Amanheceue era véspera de Natal. As saudades de casa apertavam! A datasempre era comemorada com o aniversário de seu pai. Enquanto

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convalescia numa das macas, as saudosas recordações iam evinham como num filme. Precisava ser forte. Precisava viver.Precisava rever a sua família. Não podia desanimar.

Houve um pequeno show à tarde e haveria um brasileiroà noite, mas foi cancelado por motivo desconhecido. Restariaapenas ir à missa da meia-noite. Porém, meia hora antes houveum grande bombardeio. ‘’foi um verdadeiro horror’’ (PAMPLONA,1944, p.14).

No dia seguinte o frio continuava imperdoável, assimcomo a nostalgia. Foi acalentado com um saboroso banquete deNatal e um cartão desejando-lhe duas coisas que lhe faltavamnaquele momento: saúde e felicidade.

Figura.6: Cartão de natal da FEB.Fonte: Eurypedes Pamplona

Pamplona continuaria o tratamento no hospital, quebrandoa monotonia com missas, pequenos shows e cinemas. O lazerdesopilava os combatentes, que deveriam partir ‘’animados’’ parao front.

Nosso cabo deixou o hospital completamente curado namanhã de 4 de janeiro de 1945, chegando no depósito americano,onde almoçou e pernoitou.

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No outro dia, estaria no Depósito de Pessoal por voltadas quinze e trinta, onde se encontrou com um grande comboioque levava muitos de seus colegas para a linha-de-frente.Eurypedes não deixou de sentir um aperto na garganta, ao indagarse voltaria a vê-los novamente.

Infelizmente, só restava aceitar a sua sina. Seguiu para a6ª. Companhia, onde encontrou vaga no 1º pelotão, recebendo todoo material distribuído na sua ausência.

Dois dias depois um péssimo acontecimento! Inimigosaproveitaram uma procissão para lançar granadas de mão e tirosde pistola contra soldados brasileiros em Santa Cruz, uma pequenacidade próxima ao acampamento. O estado dos feridos era trágico.

Eurypedes não queria abater-se. A guerra prosseguia elogo iniciaram as instruções dos pelotões que deveriam seguirmuito em breve para o front.

Os dias passaram e o combate mostrava-se próximo. Asinstruções eram pesadas e as marchas constantes. O frio nãoajudava e a neve cobria completamente as barracas. Toda aquelabrancura era diferente de tudo o que ele já vira em Barreiras ou noRio de Janeiro. Teria apreciado melhor a paisagem se os canhõesnão troassem dia e noite.

Em 3 de fevereiro as instruções haviam acabado e,preparados ou não, aqueles guerreiros deveriam partir para a linha-de-frente. Mas havia um problema...

Gripado e febril, Pamplona baixara em 21 de janeiro,perdendo uma parte crucial do adestramento, como ele mesmoregistrou em seu diário de guerra:

‘’3 – 2- 45 –Termina as instruções do pelotão: nãoassistir nenhuma instrução de armamento,por motivo de doença. Ignorava porcompleto o funcionamento de todos.Mesmo assim, fui escalado para o front(PAMPLONA, 1945, p.18)’’ [oscomplementos em negritos são nossos].

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CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6UM BARREIRENSE NO FRONTUM BARREIRENSE NO FRONTUM BARREIRENSE NO FRONTUM BARREIRENSE NO FRONTUM BARREIRENSE NO FRONT

No inesquecível 06 de janeiro de 1945, por volta do meio-dia, o Cabo Pamplona partiu do acampamento, agora comomembro da 9ª. Companhia do 11º Regimento de Infantaria.

Sem instrução preparatória com os novos armamentos,o jovem resumia-se em perturbação e medo. Teria de aprendertudo praticamente na hora, perguntando a um ou outro quehouvesse participado do adestramento. Nem mesmo a linda visãodos apeninos cobertos de neve haveriam de confortar-lhe.

Por volta das dezenove horas chegaram na cozinha da9ª. Companhia, onde tomaram um café para aplacar a fome.Pamplona transportava, também, uma ração fria, de que nãogostava.

Após deixarem a bagagem na sede da Companhia,marcharam sobre uma espessa camada de neve durante cercade três quilômetros, em direção ao Posto de Comando.Finalmente chegou no PC do Subcomandante, onde se alojouem um quarto tomado de feno. A exaustão era tanta que sópensava em dormir. Cada músculo do seu corpo pedia descanso,devido à grande subida à pé.

Acordou já preocupado, pensando no batismo de fogoque se mostrava perto. Pamplona foi escolhido para atirar nametralhadora ‘’ponto 50’’. A tropa construía as fortificaçõescasamatas3. A preparação não parava.

No dia 09 de fevereiro de 45, posicionaram a suametralhadora numa foxhole4. Entretanto, o Capitão Hugo Abreu,Comandante da 9ª. Companhia cancelou o seu tiro, por considerara proximidade arriscada. Mesmo sob chuva forte podiam avistaro inimigo em suas posições. O pracinha retornou ao posto decomando completamente encharcado e congelado.

3 Fortificações fechadas que poderiam abrigar pessoal, material e servirde posto de comando.4 Uma trincheira menor, para abrigar poucos combatentes.

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Era 12 de fevereiro, e as lembranças do Brasil eramcontínuas. Eurypedes não tinha certeza, mas achava ser carnaval.Entretanto, não teria muito tempo para recordações.

As dezesseis horas, juntamente com os seuscompanheiros, o Cabo Pamplona recebeu ordem para tomar suaposição com a metralhadora. Ocupou, então, o novo localexperimentado dois dias antes. Ele seria o atirador do trio,composto também por dois soldados que deveriam municiar asua ponto 50.

Não bastasse a tensão, os cunhetes de munição erampesados, e o pracinha levou diversas quedas sobre a neveescorregadia, preocupado em ser alvejado antes de chegar naposição. Às dezenove horas tudo estava pronto. Esperaram aordem de fogo.

Ia ser efetuado um golpe de mão. E, naretirada tinham que ser protegidos comgrande barragem de fogos. Neste diasubiram no ingrato Belvedére 2 pelotõesda 7ª. Cia, e 2 da 9ª. Cia. A meia noiteiniciou a barragem de fogos. Verdadeiroinferno de fogo (PAMPLONA, 1945, p.22).

Pamplona atirou, atirou e atirou. O seu trio era apenasuma peça de toda aquela operação, mas nem por isso poucoimportante. Em toda a sua campanha nos fronts agiria assim:ele atirava em uma área específica, e outro combatente um poucomais longe, em nova área. A intenção era dar cobertura parafacilitar a progressão da FEB, além de, claro, rechaçar oadversário. Atirava de longe, mas nem por isso corria menosperigo. Os disparos inimigos, não raro, chegavam perto do seuabrigo, às vezes atingido a neve, às vezes metralhando algunsamigos. Um verdadeiro horror. Mas tinha uma missão e precisavacumprí-la.

Os tiros prosseguiam. Barulho e fumaça para todos oslados. A Força Aérea Brasileira também atuava. Entretanto, cercade uma hora depois a ponto 50 começou a falhar. Os três

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combatentes regressaram correndo ao PC para comunicar aoSubcomandante. Estar ali, longe dos fogos, ainda quetemporariamente, era um alívio. Porém, receberam a desagradávelordem de voltar ao front, para trazer a metralhadora.

O trio regressou à posição debaixo de terrívelbombardeio. A artilharia também não dava trégua. Abaixar a silhuetaou jogar-se no chão era ato corriqueiro. Os tiros não cessavam.‘’[...] a tranqüilidade é agora tão inatingível para nós. No front, nuncahá silêncio, e a sua maldição é tão extensa que estamos sempredentro dela (REMARQUE, 2006, p.99-100).’’

Só retornariam ao PC com a pesada metralhadora porvolta das duas e meia da madrugada, quando o fogo já haviacessado. Sentia-se aliviado em estar vivo. Da 7ª. Companhia todasas armas funcionaram, entretanto, de todos ‘’os homens quecumpriram aquela árdua missão 3 não regressaram (PAMPLONA,1945, p.23).

No dia 13 estava exaurido do seu batismo de fogo. Nãofoi só o trabalho de atirar, carregar pesados cunhetes de munição,arrastar a neve pelos pés e levar inúmeras quedas que o haviamsugado. Seu espírito encontrava-se cansado. O estresse decombate retirava as energias de uma forma inexplicável. Mas elenão podia parar. Era guerra!

‘’E, assim foi o meu carnaval de 1945: enquanto outrosdansavam e bebiam alegremente eu fazia somentes isto’’(PAMPLONA, 1945, p.23).

Os dias sangrentos prosseguiram, intercalados porataques fulminantes e alguns momentos de descanso.

Mesmo nos depósitos mais afastados,nos acampamentos de repouso, o zunidoe o ribombar abafado do fogo chegamsempre aos nossos ouvidos. Nuncaestamos suficientemente longe paradeixar de ouvi-los (REMARQUE, 2006,p.100).

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Em 20 de fevereiro, após os brasileiros já terem debilitadoo inimigo, foram substituídos pelos americanos no morro doBelvedére, que completaram o ataque e a expulsão dos alemães.A 9ª. Companhia terminara a tomada em segundo escalão5.

Enquanto Pamplona observava os prisioneiros, recebeuas primeiras cartas da sua mãe, Bela, e da prima Dora, comnotícias de todos em perfeita saúde.

A missão em Belvedére estava praticamente cumprida.Podia ser que tivesse sentido um pouco de alívio, mas ao final datarde seria tomado por revolta, frustração e medo:

por ver um reboque de Jeep, lotadoapenas de cadavares de Americanos. Acontrariedade abafou-me pois sabia queaquela hora sangue brasileiro tambémcorria sobre o falado, e histórico MonteCastelo (PAMPLONA, 1945, p.24).

Não raras vezes, Pamplona sentava-se aflito na estrada,observando aqueles caminhões passarem repletos de corposensacados. Sempre imaginava se, em breve, não estaria entreos mortos.

No outro dia, sua Companhia partira para Gagio Montano,no intuito de prestar apoio, também em segundo escalão, às tropasbrasileiras que lutavam em Monte Castelo. Foi nesse mesmo diaque os seus compatriotas, após meses de investidas e muitasdificuldades, tomaram a região da batalha mais renomada dahistória da FEB.

Tal fato na época, se constituiu no maiordesafio da tropa brasileira.Logisticamente, o Monte Castello, estásituado próximo a Bolonha, cerca de 60quilômetros, um baluarte alemão quecompunha a Linha Gótica, fortemente

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5 De prontidão à retaguarda, em condições de ser empregada caso atropa em combate, no caso os americanos, fracassassem.

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armada, com mais de 200 mil minasterrestres, além dos fossos anti tanques,e os fortins guarnecidos por atiradores deelite.[...] Da parte brasileira, foram necessárias5 tentativas para a conquista do local, tudosendo iniciado em novembro de 1944,com tropa “fresca” e mal preparada.(Disponível em: <http://www.po r ta l f eb .com.b r /o - f i lme -a -montanha-de-vicente-ferraz/> Acesso em:08 dez. 2014.)

Apesar da vitória, não havia sossego. A estrada erailuminada por uma barulhenta artilharia que não parava.

Os Aliados ocuparam a montanha, conhecida comoFantasma pelos brasileiros. Pamplona ficara perplexo com amagnitude e o refinamento das casamatas alemãs, verdadeirasfortalezas posicionadas em locais estratégicos, cuja visãopermitia observar toda a região abaixo. O pracinha não pôde deixarde imaginar quanto sangue brasileiro escorrera sobre aquelemonte para que a posição pudesse ser tomada, em perigosasinvestidas de baixo para cima.

Enquanto isso, os americanos consolidavam a vitóriamantendo geradores de fumaça que ocultariam a visão da pontede Porreta, única passagem inimiga em direção ao morro.

Os dias passaram e o Cabo Pamplona permanecia nasoperações de guerra, avançando com as tropas brasileiras.

No início de março foi à Pistóia, a serviço da Companhia.Apesar de ter gostado do lugar, a cidade estava bem surrada,em decorrência do conflito.

Aproveitou para reverenciar, no cemitério local, osbrasileiros mortos no cumprimento do dever. Brasileiros quehaviam deixado para trás os seus pais, talvez ainda nem cientesda desgraça que lhes acometeram ou, quem sabe, choravam

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suas mortes, lamentando não terem condições para prestarhomenagens diante dos túmulos.

Pamplona orou pela alma dos seus irmãos de farda.Esperava que Deus confortasse aquelas famílias, agoradespedaçadas pela falta de seus filhos. Ele tinha que retornarpara rever a família que não sentia havia seis anos. Tinha quesobreviver para poder dar o mais forte dos abraços em seuspais, oportunidade que não tivera quando saíra de casa em 39,afirmando que voltaria em breve.

Dois dias depois, o expedicionário regressou à linha-de-frente.

Em meados de abril, sua Companhia foi transferida deMonte Castelo para o front de Montese. Às nove e meia do dia 14,começou o ataque!

Enquanto a Infantaria avança a artilharianossa, faz a cobertura. O front ficoutransformado em verdadeiro inferno defogo e fumaça. O morro que fica na frentede Montese disapareceu totalmente. Aôlho nú apreciavamos o bombardeioparecia rebentar granada em todo morroapenas com 1 metro de distância uma daoutra. Além da artilharia nossa aviaçãotambém tomou parte no ataque. A 10ª. Ciade montanha Americana tambémavançava a nossa direita. As 14 hs. minhaCia. ocupou o objetivo e, feito 6prisioneiros; tendo perdido 2 homenssendo 1 morto e outro ferido (PAMPLONA,1945, p.27-28).

Pamplona permanecia na sua foxhole com os doissoldados a municiarem a sua ponto 50. O cansaço apertava, e afome também. O café da manhã era distribuído pela madrugada,para que o inimigo não identificasse movimento na escuridão.

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Durante a manhã e a tarde, deveriam comer as horríveis raçõesfrias, pois não havia como entregá-las sob a luz do dia.

De todas as batalhas que lutou, Montese foi a maisterrível. ‘’Foi o mais sangrento combate da FEB, com 574 baixasentre mortos e feridos. O III Grupo de Artilharia deu em Montese 9mil tiros (BLAJBERG, 2008, p.136)’’. Em contrapartida, osbrasileiros também sofriam com a artilharia alemã. Em cadadisparo, jogavam-se no chão, protegendo os rostos dos estilhaços.

O morro estava completamente i luminado porpistolas sinalizadoras, que facilitavam a mira. Apesar daconquista do baluarte no dia 14, persistiam algumas resistências.‘’Depois de 36 horas de combate renhido a Cia. é rendida:não foi possível ocupar o objetivo final. Houve na Cia. 45baixas sendo 5 mortos e o restante feridos graves e, leves’’(PAMPLONA, 1945, p.28).

Na madrugada do dia 16, desceriam em direção acozinha. A fome maltratava. Precisava alimentar-se. Notrajeto caíram muitas granadas de artilharia. NovamentePamplona jogava-se no chão cobrindo o rosto, até chegarao seu destino sem nenhum ferimento.

Receberam 24 gloriosas horas de descanso, quepassaram ligeiramente. Retornaria ao front no dia 18, masagora em segundo escalão, num local triste e horrível. Aestrada estava completamente minada, e sob as vistasinimigas. Tiveram que seguir a pé. No caminho, avistaramum jipe completamente destruído por uma mina, além dedois brasileiros que estariam transportando munição para ocombate, agora sem vida, lançados ao longe pelo impactoda explosão. ‘’As minas alemãs custaram a FEB um grandenúmero de vítimas, entre mortos e mutilados (BLAJBERG,2008, p.138)’’.

No outro dia, a 9ª. Companhia recebeu a missão deocupar Modna, mas o in imigo já hav ia re t i rado-se.Continuaram, então, a progredir em cima dos caminhões,até onde encontrassem resistência inimiga.

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Passaram por diversas cidades, sendo recebidosentusiasticamente com flores e palmas. O avanço da FEBera notório. Os alemães já não tinham mais condições ideaisde combate, e recuavam. O sentimento de que a guerraestava acabando era vigente. Mas a deprimente visão dosestragos também era clara.

A cidade de Zocca estava completamente destruída.Os cadáveres soterrados nos escombros exalavampéssimo odor. A sensação era de impotência diante detamanha desgraça. O comboio teve que passarrapidamente, um por um, para não sofrer qualquer incidente.

A marcha para o norte prosseguia. O comboioestacionou em Escandiano por volta das dezessete horas,permanecendo naquela região por dois dias.

Após mais viagens pela consolidação do terreno,no dia 26 de abril, por volta das catorze horas, surge a notíciade que a guerra havia acabado. Não havia nada confirmado,mas o clima foi de alegria. À noite, chegaram em QuatroCastelo, onde dormiram para partir no início da tardeseguinte.

Chegaram em Arola por volta das dezessete horas,e os boatos de término da guerra continuavam. ‘’Em todacidade ou lugarejo que chegavamos tinhamos noticias queos alemãs tinham deixado aquela cidade a poucas horas,em retirada’’ (PAMPLONA, 1945, p.32-33).

Partiram de Arola em 1º de maio, e passaram pordiversos lugares, como Ociminiano e Valenza. No dia 04,em Alexandria, receberam as mais esperadas notícias:Hitler havia suicidado-se. O Comando das forças alemãsna Itália havia rendido-se desde o dia 02 de maio. A guerrada Força Expedicionária Brasileira havia acabado!

Em 7 de maio de 45 foi assinado o Tratado deRendição Alemã em Reims, ratificado no dia seguinte emBerlim. O sentimento era de alívio total! Eurypedes estavavivo! Voltaria para casa em breve. Seu corpo não estava

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mutilado. Não teria mais que pegar em armas, e lutar noque considerava uma estupidez humana.

A sensação de paz e redenção era contagiante.‘’Todos contentíssimos pela boa notícia do termino daguerra, e, animados para regressar ao querido Brasil queparece ser muito breve’’ (PAMPLONA, 1945, p.34).

Figura.7: A vitoriosa 9ª. Cia celebra o término da guerra, emAlexandria, no dia 04/05/1945.

Na fileira do centro, o quinto da esquerda para a direita é o CapitãoHugo Abreu.

Agachado, o primeiro da esquerda para a direita é o Cabo Pamplona.Fonte: Eurypedes Pamplona

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Não regressaram breve.Ficaram aquartelados a cerca de três quilômetros do

centro de Alexandria, em um antigo local fascista.Os pracinhas aproveitaram para passear bastante pela

cidade. Eram sempre bem recebidos por toda a população italianacomo os salvadores da pátria.

No dia 19 de maio, houve uma formatura na PraçaGaribaldi. As bandeiras nacionais brasileiras e americanas foramhasteadas juntas, no mesmo mastro, simbolizando a aliança queresgatara a Itália do nazismo. Estavam presentes todos osgenerais brasileiros, e alguns americanos.

A banda de música da FEB tocou o hino das duasnações amigas. ‘’Foi um momento patriótico saudoso e orgulhosopara todos da F.E.B. Vários oficiais, e praças foram condecoradosnesta formatura’’ (PAMPLONA, 1945, p.35). Por fim, encerrarama solenidade com um glorioso desfile.

Enquanto o dia do embarque não chegava, Pamplonavisitava as cidades italianas. Conheceu primeiro Torino e Gênova,belíssimas por um lado, destruídas por outro. Reconstruí-las iaser um tremendo desgaste.

Em meados de junho começaram os preparativos parao embarque. Todos ficaram entusiasmados, mas o alarme erafalso. A FEB ainda teria que ficar em solo italiano por algum tempo.Provavelmente porque os brasileiros não eram os únicosincorporados nos Exércitos de Campanha Estadunidenses.Muitas tropas que se uniram aos americanos para prestar apoio,como as canadenses, neozelandesas e indianas, tambémprecisavam voltar às suas nações.

Além disso, outras preocupações assolavam osamericanos: ainda estavam em guerra contra o Japão! Mas osfebianos não se preocupavam. Sem chances de vitória, as tropasjaponesas agonizavam, e não se rendiam apenas para honraruma forte tradição samurai: a de jamais entregar-se!

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CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7O REGRESSOO REGRESSOO REGRESSOO REGRESSOO REGRESSO

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Apesar da espera, Eurypedes não queria abater-se. Tudoestava em paz. De perigosa, a Itália passou a ponto turístico,ainda que carregasse as pesadas marcas do conflito.

O Capitão Hugo Abreu não se importava com o passeiodesenfreado de seus homens. Na FEB, foi organizado um rodíziopara que os expedicionários pudessem conhecer o país de formasegura, um grupo por vez. Todavia, depois de tanto sofrimentono front, o Comandante de Companhia liberava os subordinadospara viajar clandestinamente, contanto que não fizessem besteirae voltassem a tempo para o embarque, que ainda não tinha data.Tudo tinha que ser na surdina, pois, caso as autoridadesdescobrissem, ele seria obrigado a participar as ausências aosseus superiores. Alguns preferiam não arriscar, mas Pamplonafoi um dos desobedientes que não aderiram ao rodízio. Depoisde presenciar tantas atrocidades, precisava espairecer.

Logo visitou Milano e Bologna, esta última em estadolastimável. A estação onde tomaria o trem reduzira-se aescombros. Desembarcaria em Roma, jantaria e seguiria viagempara, na véspera de São João, chegar às cinco da manhã emEsparanise, onde regressou ao acampamento num caminhão.

Toda a FEB esperava o embarque definitivo para o Brasil,que novamente seria realizado por escalões.

No dia 26 de junho, Eurypedes pegaria um trem acaminho de um sonho. Partiu para Roma à noite, com os seusamigos Gomes e Luiz.

Chegamos no dia seguinte as 5 damanhã. passiei bastante. Ao meio diaachava-me no Vaticano, onde recebidiretamente a benção do Papa Pio XII, ebeijei o seu anel. Para mim foi o momentode grande satisfação e emoção.29-6-45-S.PedroAinda em Roma assistir missa na Basilicade S. Pedro para mim foi uma grandesatisfação. (PAMPLONA, 1945, p.39).

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Seria uma ótima notícia para contar aos barreirenses desua estima.

Pamplona ainda conheceu uma Cassino completamentedestruída. Esteve em Torre Annunziata e Pompéia, aproveitandopara ver de perto o histórico Vesúvio, cuja erupção varreu a cidadeem 79 d.C.

O mês de agosto começou, e Pamplona ainda estavana Itália. A própria guerra acabou definitivamente no dia 09 daquelemês, após o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima eNagasaki, pulverizando milhares de japoneses numa fração desegundo. Mais tarde Eurypedes saberia que o Enola Gay, aviãoresponsável por lançar a primeira bomba, chegou a pousar emBarreiras. Uma informação até hoje controversa.

Naquela mesma noite, partiu para Roma em um tremespecial militar. Foi visitar o antigo Foro Mussolini, transformadoem Hotel do V Exército Americano, onde viveria seis dias de glória.Aproveitou boas piscinas, bares, danças ao ar livre e orquestras

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Figura.8: Um amigo e o Cabo Pamplona, passeando no Vaticano.Fonte: Eurypedes Pamplona.

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diárias. O local, com os seus prédios, estádio e estátuas emmármore era de uma beleza inigualável!

Visitou, ainda, as catacumbas de São Calixto, SãoSebastião e diversas igrejas célebres. Subiu de joelhos a escadasanta, onde outrora estivera o Bom Jesus. Conheceu o Coliseu,o Fórum Romano, o Palatino e todos os pontos turísticos queexaltavam os gloriosos tempos do Império Romano. Seus últimosdias na Itália foram assim, entre a luz e as trevas.

Felizmente, chegara o grande dia. Era uma manhã de 4de setembro quando a tropa saiu de Francolise, chegando aoporto de Nápoles após as onze horas.

O General Meighs estava imponentemente atracado,como um sobrevivente de guerra, vitorioso e pronto para levar devolta os homens que tanto rezaram pela sua integridade.

Não demorou muito, e o navio despedia-se da costaitaliana.

Ao final da noite do dia 6 de setembro, passaram peloEstreito de Gibraltar, agora sem temerem indesejadossubmarinos. No outro dia, os pracinhas comemoraram o Dia daIndependência, sentindo que, mais do que nunca, estavam livres.

Voltar para casa era inexplicável. Regressavamvitoriosos! O sentimento de realização era imenso. Não haviamais consternação ou medo por sobre o Atlântico. Agora tinhamliberdade para perambular à vontade pela embarcação. À noite,ficavam no convés até a hora que bem entendessem. Nãoprecisavam mais da escuridão. Não havia mais perigo. As luzesdo navio traziam um ar mágico para os festejos, marcados pormúsicas, jogos e piadas para amenizar o sofrimento na Europa.

A manhã de 17 de setembro apenas despontava, quandoum megafone anunciou a entrada pela Baía da Guanabara. Osgritos de alegria ecoaram pelos corredores! A euforia foi geral!Muita correria para o convés. Pamplona subiu as escadas emdesabalada carreira para assistir ao espetáculo. Dezenas denavios e embarcações em festa acompanhavam o GeneralMeighs, soltando fogos e dando as boas-vindas a mais uma levade heróis.

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Figura.9: O General Meighs entrando na Baía da Guanabara.Fonte: Eurypedes Pamplona.

O Pão-de-açúcar não deixava mentir: era mesmo aCidade Maravilhosa!

Um impressionante espetáculo. Eu noconvés apreciando toda aquelamanifestação mas, tão emocionado quenão me parecia ser verdade e, sim umsonho.Os fortes, saudaram com os seus grossoscanhões atirando-os igualmente o GeneralMeigs que não deixava de ser uma fortalezaflutuante (PAMPLONA, 1945, p.45-46).

O cais do porto estava completamente tomado porfamiliares e admiradores. Por volta das dez e trinta receberamordem para desembarcar, além de um lanche pago pela LBA.

Os febianos ficaram na Avenida Rodrigues Alves até o meioda tarde, quando começou o desfile que, passando pela AvenidaRio Branco e Getúlio Vargas, iria até a Praça Mauá.

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Foi um delirio da massa humana que alise encontrava desde cêdo, esperando ahora de rever os seus entes queridos. Porfim não foi possível desfilar mais emordem o povo invadiu os cordões deisolamento afim de abraçar osexpedicionários parentes ou, qualquer um(PAMPLONA, 1945, p.46).

Enquanto Pamplona marchava, algum conhecido gritouo seu nome. Não pôde ver quem era. A multidão era assustadora.Estava emocionado! Estava de volta!

As tropas seguiram para a Central do Brasil, onde trensjá esperavam para as conduzirem-nas à Vila Militar. Foram aquirecepcionadas pelas corporações ali existentes, todas em formae distribuídas por todo o trajeto, para honrar a passagem triunfanteda mais nova geração de veteranos do Brasil.

A tropa rumou para os alojamentos no Morro Capistranode Abreu, mesmo local de onde partiram há quase um ano. Oportal de saída era o mesmo portal de chegada para muitosbrasileiros, mas infelizmente não para todos. Morreram 463militares da FEB, 8 pilotos da FAB6, e cerca de 2000 voltaramgravemente feridos e mutilados.

Nos próximos dias, perguntaram quem desejava ficar,mas nosso ‘’pracinha’’ negou-se. Por mais que admirasse oExército Brasileiro, presenciara muita destruição, dor, sofrimentoe morte nos campos da Itália. Queria esquecer tudo o queacontecera e retomar à vida paisana.

Eurypedes passou aqueles últimos dias tratando da parteburocrática, até ser oficialmente licenciado do Exército em 30 desetembro de 1945, conforme consta no seu Certificado deReservista de 1ª. Categoria, assinado pelo Coronel DelmiroPereira de Andrade.

6 Força Aérea Brasileira.

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Figura.10: Certificado de Reservista de 1ª. Categoria.Fonte: Eurypedes Pamplona.

No dia seguinte, encerraria o seu Diário de Guerra, feliz, ecarregando por toda a sua vida uma experiência que ficaria guardadaem seus escritos, talvez numa esperança frustrada de apagá-la damemória.

1º de Outubro de 1945Finalmente fui licenciado ficando assimterminado êste grande período de ingratidão.Hoje rendo mil graças ao bom Deus, e,rogando que jamais faça-me voltar as fileirasdo nosso glorioso Exercito. Adeuscompanheiros adeus farda.Rio de Janeiro 1º de Outubro de 1945Cabo nº 7294Eurypedes Lacerda Pamplona(PAMPLONA, 1945, p.48).

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Nosso expedicionário voltaria para a loja de tecidos earmarinho em que trabalhava, a Costa Pacheco, mas antesnecessitava abraçar a sua família. Tinha que comemorar queestava vivo e vitorioso. Eurypedes não se agüentava de saudadesda sua terra natal, que não pisava há quase sete anos.

Naquele outubro de 1945, pediu aos responsáveis peloestabelecimento para o reaverem quando regressasse ao Riode Janeiro, pois se afastaria alguns meses para tentarreconfortar-se das mazelas vivenciadas. O dono cedeu. Afinal,ele não era qualquer um: era um herói da guerra!

O aeroporto de Barreiras, que inclusive funcionara comobase durante o conflito, esteve em construção de 1937 a 1940.Agora, o levaria de volta para casa.

Pamplona chegaria à cidade em um inesquecível 3 deoutubro de 1945.

Do aeroporto, entrou na carroceria de um caminhão quedesceu a precária estrada da Serra da Bandeira, em direção àBarreirinhas. De lá, subiu num ajoujo7 e atravessou o rio paraencontrar um cais abarrotado de gente, festejando o seu retorno.

Os mais antigos diriam que nunca tinha havido, até omomento, uma recepção no porto como aquela. Gente que eleconhecia, gente que ele não conhecia... Toda a cidade sabia queEurypedes tinha ido para a guerra, e queriam homenageá-lo.

Houve mais recepção na lotada Igreja São João Batista.Pamplona era o herói da cidade! Um barreirense que além de terido para a Europa, lutou para defender sua nação.

O herói aproveitou intensamente aqueles três mesescom a sua família. Era muito reconfortante estar em casa e sentiro velho aconchego do lar, os mimos da mãe, a admiração do pai,a deferência dos irmãos e o carinho das irmãs. Agora, mais doque nunca, ele sentia que a guerra acabara.

CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8O ÚLTIMO LACERDA PO ÚLTIMO LACERDA PO ÚLTIMO LACERDA PO ÚLTIMO LACERDA PO ÚLTIMO LACERDA PAMPLONAAMPLONAAMPLONAAMPLONAAMPLONA

7Embarcação híbrida de balsa e canoa, típica das regiões Nordeste e Centro-Oeste.

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Figura.11: Ajoujo, transporte outrora comum para realizara travessia entre a Barreirinhas e o cais.

Fonte: <http://www.historiadebarreiras.com/rio-grande/ligacao-entre-barreiras-e-barreirinhas-por-ajoujo-decada-

de-1930/>. Acesso em 01 set. 2014.

O pior conflito da história humana trouxe um desastrososaldo de 55 milhões de mortos, 35 milhões de feridos, 20 milhõesde órfãos, 190 milhões de refugiados e ele estava ali, vivo, semnenhum pedaço a faltar-lhe, com o sentimento de dever cumprido,e ao lado dos que mais amava. Era como se tivesse nascidonovamente.

Agradecer a Deus era pouco, embora os traumasfossem muitos. Traumas que iriam acompanhá-lo pelo resto davida. Mais velho, indagaria-se o porquê de ter voltado. Será querealmente merecia isso? O que seus amigos pecaram para cairem combate, e ele não? Não tinha como culpar Nosso Senhor.

Embora seja difícil precisar aresponsabilidade por sua eclosão, aguerra é comumente vista como umaatividade desencadeada pelos homens,mais do que um castigo de Deus ou umaobra do diabo (WRIGHT, 1988, p.3).

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Os conhecidos sempre iam visitá-lo, ou convidá-lo parauma refeição. Havia uma parte muito chata nisso tudo. Todosestavam ansiosos para saber como era na guerra! E Eurypedesnão gostava de recordar aquela imbecilidade humana, que dehumana nada tinha. Eram lembranças tristes, amarguras, queteimavam em não lhe deixar esquecer, por mais que eledesconversasse, ou tocasse o mínimo possível nos detalhes.

A guerra conferiu renome ao pracinha, e uma aura decelebridade. Mesmo assim, ele não sentia um pingo de orgulhoem ter ido ao front.

O apocalipse provocado pela brutalidadegeneralizada do mais sangrento e maiorconflito armado que o mundo presencioumarcou uma época para sempre e deu inícioa uma nova fase na história do planeta.A Segunda Guerra Mundial apresentou a maiscruel face das tragédias humanas.Transformou mais da metade do mundo emlugar de sofrimento. O conflito maltratou,humilhou, paralisou, apavorou e matou.Consigo trouxe doenças, fúria, ódio,destruição, luto, agonia, fome e destruição.Honra e desonra, juntas, lutavam para verquem se sobressaia. O medo, indesejado,habitava os corações de homens, mulheres,crianças e idosos. (Disponível em: <http://www.portalfeb.com.br/2a-tenente-enfermeira-alice-neves-maia/> Acesso em: 01 set. 2014.)

Eurypedes voltou para a Costa Pacheco, e depois dedois anos vivendo com gastos muito regrados, decidiu regressardefinitivamente a Barreiras. Apesar do diploma do primário, coma Professora Guiomar Porto, ter sido suficiente para muitosbarreirenses prosperarem em cargos importantes, o máximo queo jovem conseguira foi terminar o curso de cabo.

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O herói havia feito uma economia na FEB. Resolveuentão levar toda a sorte de ‘’bugigangas’’ para revender emBarreiras. Nesses processos de compra e revenda, manteria pormuito tempo ligações com a Cidade Maravilhosa.

O trabalho era longo, e a viagem mais curta do que emoutros tempos. Para não pagar caro, despachava as bagagensnos vapores, mas voltava de avião. O lucro era considerável.

Após esses vinte anos de trabalho, suas economiasquintuplicaram, e ele aposentou-se pelo INSS em 1968, passandoa receber um salário mínimo. O pracinha não quis parar, e arrumouum emprego como tesoureiro na CODEVASF, onde trabalhou pormais 22 anos.

Após muitos anos do pós-guerra, Pamplona passou agozar da aposentadoria de ex-combatente, que lhe rendemensalmente o soldo de 2º tenente. Um benefício que só viriadepois de muito tempo, quando grande parte dos expedicionáriosjá haviam morrido.

Entretanto, sua história não se resume a isto. Muitos fatosimportantes aconteceram nesse meio tempo.

Conheceu a Srta. Enoy Barreto no ano de 1951.A jovem barreirense nasceu em 26 de março de 1928.

Residira na fazenda de seus pais, depois do Arraial da Penha, nopovoado de Buracão. Ainda no primário mudou-se para Barreirasno intuito de estudar.

Alguns anos passados, os dois conheceram-se eapaixonaram-se.

Passaram a corresponder-se. Ele em Barreiras e ela naBarra/BA. Enoy formou-se no Colégio Santa Eufrásia, em 1952.Os dois noivaram na fazenda de seus pais, numa festa quetambém comemorou a formatura da moça.

Agora de volta a Barreiras, Enoy trabalharia a vida inteiracomo professora. Primeiro, na Escola Estadual da Penha; depoisno Oswaldo Cruz; de lá para o Grupo Escolar Dr. Costa Borges;e por último no Colégio Antônio Geraldo, onde se aposentou.

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No ano de 1954, com o dinheiro do comércio, Eurypedesarrematou, em um leilão, a sua atual casa na Rua Ruy Barbosa,hoje de nº 369.

Casaram-se no memorável crepúsculo de 4 de junhode 1955, na Igreja São João Batista. Tiveram a maior alegria desuas vidas em 5 de julho de 1956: nascia a pequena Êda BarretoPamplona.

Em 5 de agosto de 1957 viria o segundo e último filho,Éverson Barreto Pamplona.

No futuro, Êda dar-lhes-ia três netos: Tiago, Bárbara eRafael Pamplona Sampaio. Éverson dar-los-ia Vanessa e MarceloPassos Pamplona.

A terceira geração veio, até o presente momento, comos bisnetos Pedro Augusto, filho da Vanessa; e Marcelo, filho daBárbara.

Mesmo aposentado e empregado, Pamplona resolveusanar seu déficit escolar, voltando aos estudos. Em 1974,granjeou o certificado de conclusão do 1º grau, por meio deexames supletivos na Escola Polivalente de Barreiras. Em 1989concluiu o ensino médio, por ter sido aprovado em Exames deSuplência de Educação Geral, conforme certificado expedido pelaEscola Estadual Professor Folk Rocha.

Mas foi no ano de 1963 que o expedicionário receberia,em casa, um presente da FEB. Foi agraciado com a Medalha deCampanha ‘’por ter, como integrante da Fôrça ExpedicionáriaBrasileira, participado de operações de guerra na Itália’’, conformeconsta no diploma da condecoração, assinado pelo Secretáriodo Ministério da Guerra, General de Brigada Floriano da SilvaMachado.

Mais do que uma insígnia honrosa e a despeito dossofrimentos vivenciados, a medalha era uma lembrança de luz,uma lembrança de vitória e, principalmente, uma lembrança devida! Entretanto, naquele mesmo ano a morte bateu na sua porta.Sofreria a sua primeira grande dor ao perder o pai, ManoelPamplona, já em idade avançada. Três anos depois, faleceriaArlinda Pamplona, sua mãe, ceifada por um câncer de mama.

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Figura.12: Diploma da Medalha de Campanha.Fonte: Eurypedes Pamplona.

Eurypedes foi o Lacerda Pamplona que por mais vezesesteve a um triz da morte. Ironicamente, viveu tempo suficientepara ver todos os seus irmãos morrerem.

Wálter, Perolina, Belinha (Isabel), Maroca (Maria), eAgenor... todos partiram! Waldir foi embora de Barreiras. Migroupara São Paulo, constituiu família e é certo que lá viveu e morreu,mas ninguém sabe onde, quando ou como.

A dor das perdas enfraquecia a sua alma. Sua famíliaresumia-se, agora, a esposa e filhos. Era o último LacerdaPamplona numa Barreiras que já se mostrava completamentediferente.

Os espaços ampliaram, as distâncias reduziram. Tudotornava-se perto. Onde havia apenas fazendas e gado, surgiramcasas e mais casas, formando bairros e mais bairros queampliaram o perímetro urbano.

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Seus primeiros amigos haviam-se ido, e a antigaBarreiras não passava de meras reminiscências. Os anos lhetiravam a vida paulatinamente, mas ele permanecia, lembrandocom ternura da sua juventude numa saudade sem fim.

Recorda os inesquecíveis carnavais com blocos e bailes,praticamente extintos pelos trios elétricos.

Ainda consegue ver as pessoas andando nas ruas ecalçadas livremente, correndo às portas para ver o Tiro de Guerrae as orquestras passarem. Hoje, cada espaço é milimetricamentedelimitado pelo asfalto, e os pedestres indiferentes a qualquerbarulho, atentos apenas aos carros que os empurram às calçadas.

Lembra os banhos no Rio Grande, as navegações e ocomércio no porto. Agora, resta apenas um cais parado, comjovens embriagados que desconhecem a sua história.

A cidade pacata, das portas abertas e pessoasamistosas, agora cede espaço à violência e a criminalidade, quetrancafiam os moradores em suas próprias casas.

Tudo se mostra tão longe, como se estivesse numasegunda vida. As únicas lembranças que lhe parecem recentessão os roncos dos canhões, e os ataques da aviação cujo barulhodas hélices até hoje assustam-lhe. Ainda pode ouvir os fuziszunindo, e fechando os olhos vê amigos que teimam em sertrucidados na sua frente. Os corpos estatelados de seuscompanheiros, cobertos de sangue e sem brilho no olhar, são aslembranças mais dolorosas que ele carrega em 95 anos deexistência.

O tempo passou, e os poucos cabelos grisalhos já estãocompletamente alvos. Os filhos cresceram, os netos nasceram,os bisnetos também e a idade avança. Entretanto, sua energiade vida continua firme, sendo levada aos poucos, de maneiranão tão imperceptível assim. Pamplona sofre de artrose naspernas, três hérnias de disco e uma diabetes quase inexistente.Não padece do coração, tampouco de colesterol, e sua vitalidadee lucidez invejam qualquer idoso em idade tão avançada.

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No ano de 1972, após mais de três décadas, o ExércitoBrasileiro volta à cidade de Barreiras. Transferido de Crateús/CE,o 4º Batalhão de Engenharia de Construção chega ao municípiotrazendo cerca de cinco mil pessoas, entre militares, servidorescivis e familiares, num processo migratório que só terminaria em1973.

O 4º BEC, como ficara conhecido, foi de suma importânciasócio-econômica para o Oeste Baiano. Além de reintroduzir oserviço militar na região, profissionalizando anualmente centenasde jovens, passaria a realizar várias obras que dariam impulso aodesenvolvimento local, como a conclusão da BR 020/242 queintegraria Barreiras ao Brasil, possibilitando o escoamento eficienteda produção agrícola.

Além de bem quisto pela sociedade, como tambémsucedeu ao TG-128, o 4º BEC tornou-se a instituição maisrespeitada do município. Eurypedes sentia imensa satisfação aopresenciar o exército atuando novamente na sua terra natal.

A guerra havia acabado há cerca de vinte e sete anos. Muitospracinhas ainda estavam vivos e o 4º BEC não tardou a descobrirEurypedes Pamplona. O febiano seria convidado para asformaturas e solenidades desde a gestão do 1º Comandante daUnidade em Barreiras, o Tenente Coronel Celso Viana de Araújo.

O respeito por ele sempre foi grande. Era um ex-combatenteno coração do Cerrado Baiano!

Desde o final da guerra os pracinhas desfilam por todo opaís no dia 7 de Setembro, para lembrar aos brasileiros o heroísmoe o sacrifício nos campos de batalha. E quando a atuação dastropas brasileiras na Segunda Guerra começou a distanciar-semais do presente, os expedicionários passaram a ser maisreverenciados pelas instituições.

A guerra certamente foi o fato mais marcante da sua vida.Não adiantava fugir. Sempre estaria atrelado a este passado. Nãosomente às lembranças ruins, mas também aos laços de

CAPÍTULO 9CAPÍTULO 9CAPÍTULO 9CAPÍTULO 9CAPÍTULO 9UM PUM PUM PUM PUM PAAAAATRONO PTRONO PTRONO PTRONO PTRONO PARA O 4º BECARA O 4º BECARA O 4º BECARA O 4º BECARA O 4º BEC

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solidariedade firmados com os companheiros de combate, unidospelo mesmo ideal.

Decorridos alguns anos após a Revolução de 1964, oagora General Hugo Abreu tornou-se chefe do Gabinete Militar. Umdos seus mais leais cabos o parabenizou, tendo a sua cartarespondida em 20 de setembro de 1974:

‘’Prezado Pamplona:Quero agradecer as gentis palavras de um companheiro

dos campos da Itália, e dizer que aqui tudo farei para manter bemalto o nome de nosso país.

Cordialmente,Gen Div Hugo de Andrade Abreu’’

Figura.13: Correspondência respondida pelo General Hugo Abreu, antigoComandante de Companhia de Eurypedes Pamplona, na 2ª. Guerra

Mundial.Fonte: Eurypedes Pamplona.

Outra vez, Hugo achou-o tomando café no aeroporto deSão Paulo. Entregaram-se num saudoso abraço, independentedo posto que os separava. Eram veteranos de guerra e, sobretudo,amigos de longa data.

Mas os anos passaram, e os febianos começaram aescassear. Pamplona era uma relíquia em Barreiras! Ele e tambéma Capitão Aracy Sampaio.

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Aracy nasceu em Barreiras no dia 19 de outubro de 1917. Amoça pertence ao tronco familiar do Brigadeiro Sampaio. Suafamília, bastante patriótica, migrou para Barreiras em 1887.

A jovem desistiu da faculdade de Ciências Econômicaspara inscrever-se no curso de Enfermagem, em Salvador/BA.Diplomada em 1942, trabalhou no Hospital Santa Izabel e no daCruz Vermelha, cuidando neste último das vítimas detorpedeamentos dos submarinos ítalo-alemães.

Quando o Exercito Brasileiro abriu ovoluntariado para mulheres participoudo curso de Adaptação. Foi a primeiracolocada na 6ª Região Militar, tendo osjornais da época enfatizado o fato dela serdescendente do General Sampaio, patronoda Infantaria Brasileira, herói da Guerra doParaguai. Enquanto aguardavaconvocação trabalhou no Hospital Militar daBahia.[...] Em 19 de outubro de 1944 (dia de seu27º aniversário) partiu de avião do Rio deJaneiro juntamente com dezoito colegastendo como destino a Europa.(Disponível em: <http:www.portalfeb.com.br/cap-enf-aracy-arnaud-sampaio/> Acesso em: 01 set.2014.)

Como enfermeira e sob constante risco, Aracy atendeu aosferidos no 7ºth. Station Hospital em Livorno, o mesmo ondeconvalescera o nosso herói. Pamplona não tardou a reconhecê-la, e ainda que a avistasse pelos corredores, não lhe dirigiu a palavra,pois conversas de soldados e cabos com oficiais não eram bemaceitas na época.

A jovem trabalhava na Enfermaria E-22, cuidando dosoficiais baixados das Nações Aliadas. Era também amiga e serviçaldos seus pacientes. Sempre escrevia para as famílias dos feridos,

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que não tinham condições de fazê-lo pessoalmente. Lia para osmesmos, cantava e procurava alegrá-los de várias formas.

Apesar de inicialmente exercer o seu ofício apenas comocivil, recebeu o posto de tenente como reconhecimento pelo seutrabalho, já que as enfermeiras norte-americanas gozavam dooficialato.

Regressando ao Brasil, a moça não pôde continuar noserviço regular da Força Terrestre. Foi reformada no posto decapitão em conseqüência da perda de audição, causada pelaexplosão de uma mina, no próprio hospital em que trabalhava. Porinfortúnio do destino, ela estava acompanhando um paciente dentrodo compartimento da ala de cirurgia, no momento da explosão.

Em outro episódio explosivo, os estilhaços das janelascaíram sobre os feridos. Trêmula, mas tentando passartranqüilidade, a jovem limpou cautelosamente os seus pacientes.

Aracy passou o resto de seus dias ocupando-se dosexpedicionários que mais sofriam as conseqüências da guerra.Compôs a diretoria da Associação Nacional dos Veteranos da FEBe da Associação de Belém/PA, além de ter sido Presidente daAssociação de Ex-combatentes de Brasília, sendo por vários anosa única mulher no mundo a presidir uma entidade desse porte.

Eurypedes participou da Associação de Ex-combatentesde Feira de Santana/BA, e por lá hospedou-se algumas vezes,mas se afastou por não achar que estavam dando a devida atençãoaos pracinhas.

Assim como nosso herói, Aracy foi, por diversas vezes,convidada de honra para abrilhantar as solenidades comemorativasdo fim da guerra, estando presente em formaturas e palestrando amilitares e estudantes no auditório do 4º BEC.

No dia 8 de maio de 1995, ambos estiveram presentes nacerimônia militar que celebraria os 50 anos de término do conflito.

Como ela passava mais tempo fora de Barreiras, Eurypedespor diversas vezes foi o único expedicionário a participar doseventos do quartel local. Ainda mais quando Aracy Sampaio faleceuaos noventa anos de idade, no dia 8 de setembro de 2008, durante

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a Convenção dos Veteranos da FEB, que se realizava na Capitaldo Brasil.

Figura.14 & 15: Aracy jovem atuando como enfermeira, e Aracy aos 90anos de idade, um mês antes do seu falecimento.

Fonte: <http: www.portalfeb.com.br/cap-enf-aracy-arnaud-sampaio/> Acesso em: 01 set. 2014.

Em 2005, Eurypedes Pamplona foi convidado pelo CoronelCorrêa, então Comandante do 4º BEC, para abrilhantar umaformatura alusiva aos sessenta anos de término da guerra, ondedesfilou em cima de um jipe e inaugurou a Praça do Expedicionário,na própria Unidade.

A praça encontra-se até hoje de pé, entre o pátio interno deformaturas e o rancho dos cabos e soldados. Em seu centro, existeum pedestal encimado por um fuzil mosquetão 7,62 mm. ecapacete utilizados por pracinhas brasileiros no Teatro deOperações da Itália. A placa alusiva foi descerrada pelo próprioEurypedes Pamplona, com os seguintes dizeres, que já seencontram desgastados pelo tempo: Homenagem do 4º Batalhão

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de Engenharia de Construção aos 60 anos da Força ExpedicionáriaBrasileira. Barreiras – Ba, Maio de 2005.

Figura.16: Coronel Corrêa e Eurypedes Pamplona inaugurando a Praçado Expedicionário do 4º BEC.Fonte: Eurypedes Pamplona.

Como o Exército Brasileiro tem como característicainerente à instituição o culto aos heróis nacionais e aos feitos poreles protagonizados, ao 4º BEC reservou-se o dever de render-lhehomenagens.

Em 31 de julho de 2012, data em que o Batalhão doSoldado Operário8 comemorou os seus 40 anos na cidade deBarreiras, numa das mais pomposas celebrações de sua história,foi dado o toque de ex-combatente para anunciar a sua presençana formatura matinal. À noite, sentou-se ao lado do 2º Tenente

8 Alcunha do 4º BEC.

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Pinheiro e da historiadora Ignez Pitta, autores do livro No CerradoEntre o Malho e o Fuzil: O Exército Brasileiro No Oeste Baiano,para o evento de lançamento do mesmo, tornando-se uma dasatrações no Salão Nobre.

Vale lembrar que na oportunidade também se inauguravao Espaço Histórico General Argolo9, que dentre outras peçashistóricas, expõe desde aquela data, quatro quadros com materiaisoutrora pertencentes ao Cabo Pamplona. Três formam uma coleçãode estampas do sabonete Eucalol, cada qual contando um trechoda história brasileira no conflito mundial. O último é um mosaicode fotos com lembranças do febiano na guerra e no 4º BEC, muitasdas quais presentes neste trabalho. Outros objetos que lhepertenceram como uma fotografia, (ao lado de outra da CapitãoAracy), casquete da FEB, cantil e marmitex com faca e colher, járepousam há anos no Museu Municipal Napoleão Macedo.

Naquela noite, Eurypedes Pamplona foi intensamentesaudado pelo Tenente-coronel Olyntho, então Comandante daUnidade, assim como pelo General Gonçalves, ex-comandante eDiretor da DOC10, e General Velloso, Comandante do 1ºGrupamento de Engenharia, dentre outras personalidades civis emilitares com quem tirou várias fotos.

Conheceu o então Tenente-coronel Negrão, atualComandante do 4º BEC, na passagem de Comando do dia 10 dejaneiro de 2013, ganhando, de imediato, profundo respeito do maisnovo líder do Batalhão.

Em 21 de fevereiro daquele ano houve uma formaturacomemorativa à Tomada de Monte Castelo. Na ocasião, foirealizada a leitura de um alusivo com informações sobre a vidamilitar do ex-combatente, diante de uma tropa visivelmenteemocionada, e Eurypedes:

mesmo segurando-se numa bengala eandando a passos vagarosos, não seabsteve de ficar de pé e prestar as devidas

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9 General Argolo é a denominação histórica do 4º BEC.10 Diretoria de Obras e Cooperação.

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continências a tropa e a Bandeira Nacional.Na ocasião, o então Tenente CoronelNegrão, Comandante do 4º BEC, entregou-lhe o diploma da Ordem do Rio Grande noGrau Patrono, o mais elevado destacomenda honorífica. (PINHEIRO, 2013b,p.07)

A comenda da Ordem do Rio Grande foi criada peloCoronel Darcy Luiz Schmaedecke no dia 22 de fevereiro de 1988e tem:

por finalidade premiar o mérito, o trabalho,a tenacidade, a cooperação e asrealizações em prol da missão do 4º BEC,qualidades reveladas por Oficiais, praças,civis e colaboradores desta Unidade deEngenharia de Construção. (LIVRO DAORDEM DO RIO GRANDE, 1988)

Assim como as antigas ordens honoríficas imperiais, acomenda foi composta em graus: bronze, prata, ouro, platina ediamante, contados pelo tempo de serviço na Unidade; e em casosexcepcionais: reconhecimento, benemérito, liderança e patrono.

Até onde os registros encontram-se disponíveis11, apenaso General de Brigada Tibério Kimmel de Macedo, entãoComandante do 1º Grupamento de Engenharia, havia recebido acomenda no Grau Patrono, conforme consta registrado o 1º diplomana ata de inauguração do dia 26 de fevereiro de 1988.

Depois dele, apenas outro recebera a comenda:Eurypedes Pamplona. De acordo com a ata de nº 156 da Ordemdo Rio Grande:

Aos 21 dias do mês de fevereiro do ano de2013, reunido o Conselho da Ordem do RioGrande no Salão Nobre do 4º BEC, houveeste, por um dever de justiça e preito de

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gratidão e respeito, conceder a nobreComenda da ORDEM DO RIO GRANDE:- Ao Sr. Eurypedes Lacerda PAMPLONA,Ex-combatente da Força ExpedicionáriaBrasileira.Por ser um dos militares pioneiros doExército Brasileiro na Cidade de Barreiras,ao ser recrutado no ano de 1937 para oTiro de Guerra 128; Por ser reconvocadoà Força Terrestre no 2º Regimento deInfantaria, por ocasião da entrada do Brasilna Segunda Guerra Mundial, onde teve quepassar por treinamentos pesados, paradepois viajar e desembarcar em Nápolesapós 15 longos dias em um navio; Porpassar 10 meses em combate no Teatrode Operações da Itália, participando debatalhas como Belvedere e Montese,correndo perigo e lutando também contrao frio europeu; Por vencer todas asdificuldades juntamente com a ForçaExpedicionária Brasileira, sendo tambémmérito seu a vitória no maior conflitointernacional da história da humanidade; porser um barreirense exemplar não apenaspara o 4º Batalhão de Engenharia deConstrução, mas principalmente para todoo Exército Brasileiro, lhe é conferido oDiploma nº 552, no Grau PATRONO.

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11 Existe uma lacuna no livro da Ordem do Rio Grande, de 30 de novembrode 2001 a 31 de julho de 2012, data em que foi revigorado. A comendanunca deixou de ser entregue, mas os registros não existem sobre operíodo em questão.

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Assinaram a referida ata todos os quatro membros doConselho, constituído a época pelo Tenente-coronel Negrão,Presidente; Tenente-coronel Luiz Vidal, Subcomandante do 4º BEC;Major Galvão, Chefe da Seção de Operações; e 2º Tenente Pinheiro,secretário do conselho e Chefe da Seção de Comunicação Social.

Figura.17: O diploma da Ordem do Rio Grande concedido a EurypedesPamplona.

Fonte: Eurypedes Pamplona.

Na ocasião da entrega, o Tenente-coronel Negrãoressaltou a importância de Eurypedes Pamplona não somente paraBarreiras, mas para a história militar brasileira. Comparougeograficamente o Monte Castelo, local onde se deu a maisrenomada conquista da FEB, à Serra da Bandeira, situada logoatrás do 4º BEC, para que seus soldados imaginassem asdificuldades decorrentes de tomá-la sob constante fogo inimigo.

Eurypedes recebeu sua segunda homenagem em 2013na formatura alusiva ao Dia da Vitória (08 de maio). Entretanto,não se encontrou diante da tropa, pois sofrera um princípio de ataquecardíaco. Todavia, ganharia em sua residência um cartãoparabenizando-lhe pelo transcurso da data e desejando-lhe saúde.

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Pamplona ainda recebera sua terceira homenagem nodia 10 de junho de 2013, data em que completava 94 anos. Foirecepcionado, juntamente com os seus familiares, com umcaprichado café da manhã no Salão Nobre do quartel.

‘’Amigos, filhos, netos e bisneto estiverampresentes com oficiais, subtenentes,sargentos e servidores civis para prestigiá-lo em mais este ano de vida. O TenenteCoronel Luiz Vidal, Subcomandante doBatalhão, entregou-lhe um cartão deaniversário e uma escultura artesanal deum militar, com os dizeres CABOPAMPLONA e FORÇA EXPEDICIONÁRIABRASILEIRA.’’ (PINHEIRO, 2013b, p.07)

Figura.18: O Tenente Coronel Luiz Vidal recepciona a família doexpedicionário com um caprichado café da manhã.

Fonte: Subtenente Wilbert.

No ano de 2014, o Exército Brasileiro comemorou, no dia16 de setembro, os 70 anos do batismo de fogo da ForçaExpedicionária Brasileira, mas o 4º BEC celebrou a data histórica

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no dia 26, em uma grande formatura que novamente rendeuhomenagens ao nosso pracinha.

Além de ser agraciado com mais uma lembrança das mãosdo Coronel Negrão, o expedicionário também recebeu oscumprimentos do Prefeito Antônio Henrique; do Capitão Ronaldo,Chefe da 12ª. Delegacia de Serviço Militar; de oficiais da PolíciaMilitar e do Corpo de Bombeiros da Bahia; e da historiadora eamiga Ignez Pitta.

‘’Estrela’’ do momento e ícone do aquartelamento, o ex-combatente ainda concedeu entrevistas a TV Oeste, que realizoua cobertura do evento. No entanto, ao ser indagado sobre as suasrecordações da guerra, não hesitou em destacar que eram apenastristezas.

Em suas visitas, o Cabo Pamplona caminhavagarosamente pelo quartel, com a bengala na mão direita e alguéma amparar-lhe pelo braço esquerdo, mas sempre sorrindo para osque o saúdam. Seu trajeto é sempre recheado de sincerasreverências. Do general ao soldado, todos prestam-lhe continência.A importância da sua imagem para o culto às tradições militaresno 4º Batalhão de Engenharia de Construção é inegável.

Figura.19: Eurypedes Pamplona na formatura dos 70 anos de batismode fogo da Força Expedicionária Brasileira.

Fonte: Subtenente Wilbert.

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CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje, Eurypedes Pamplona é um ancião com 95 anosde idade, perfeitamente lúcido e com muitas lembranças a seremdivididas. Pamplona presenciou aproximadamente 75 por centoda história barreirense. Muitas das ruas, praças e escolas dacidade possuem o nome de seus contemporâneos.

Suas memórias são inestimáveis fontespara a história tanto do município quantoda República do Brasil. Presenciou evivenciou acontecimentos marcantespara ambos, como: Coronelismo, criaçãodo Tiro de Guerra 128, Era Vargas,Revolução Militar, chegada do 4º Batalhãode Engenharia de Construção, conquistado Cerrado Brasileiro, expansão deBarreiras, dentre outros. Entretanto, é porter vivenciado a mais sangrenta dasguerras que é lembrado e homenageado.Ainda que feliz e emocionado pelarecordação, o pracinha declara não sentirorgulho algum em ter ido para o front, masapenas em ser parte do ExércitoBrasileiro, instituição em que sempreacreditou e confiou (PINHEIRO, 2013b,p.07).

Nosso país encontra-se, apesar das suas mazelas, emrelativa estabilidade. Embora nossa história militar seja repletade conflitos, as últimas décadas conferiram à Força Terrestre oestereótipo de uma instituição sempre pacífica, ainda maisquando, através dos meios de comunicação temos tantas notíciasde guerras mundo afora, e observamos nosso país em constanteneutralidade.

Dos 25 mil brasileiros que lutaram na Itália há 70 anos,poucos são os que ainda estão vivos, e muito em breve não

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haverá mais nenhum para contar suas histórias. Quasecentenário, Pamplona é uma relíquia não apenas em Barreiras,mas também no Brasil. O aposentado é reverenciado porsimbolizar os tantos jovens humildes que, vivendo a experiênciada guerra, lutaram por um mundo melhor. É um ser humano,com virtudes e defeitos como qualquer outro. Não teve possesnem poder político, não foi o melhor combatente, tampouco omais graduado, e muito menos o mais corajoso, mas carregatoda uma vida em sua história.

Eurypedes nunca teve o seu nome gravado em ummonumento. Tampouco virou estátua, mas lutou junto àquelesque viraram. Ainda que esteja anônimo em âmbito nacional, éum exemplo para as centenas de militares incorporados eexonerados anualmente no 4º Batalhão de Engenharia deConstrução. Para a cidade, sua história guerreira foi única, masfuturamente pode ser a de qualquer membro da Família GeneralArgolo, homem ou mulher, da ativa ou da reserva.

Não é preciso mais viver em grandes centros urbanospara responder a uma convocação, como ocorrera a nosso ilustreexpedicionário. Mais do que nunca, Barreiras está integrada aoBrasil, e o Brasil ao mundo. A presença do 4º BEC em missõesinternacionais de paz comprova que seus militares e reservistaspodem ser convocados a qualquer instante, para defender osinteresses da nação.

Mesmo no pacífico presente, Pamplona permanece umícone. Sua presença nos eventos, enfrentando a dor dos anoscom o apoio de uma bengala, indica, juntamente com a sua atitudeinabalável perante os símbolos nacionais, que o seu civismo evibração militar servem de exemplo não apenas ao ExércitoBrasileiro, mas a todos os cidadãos do nosso país. Entretanto,seu maior legado foi, a despeito da sua história combatente, revelara milhares de barreirenses a existência de um sentimento maiorque o espírito guerreiro: o espírito da paz!

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• PAMPLONA, Eurypedes Lacerda. Entrevista

semi-estruturada realizada em sua residência no Centro.

Rua Ruy Barbosa, nº 369. Barreiras: 12 set. 2012.

• __________. Entrevista semi-estruturada

realizada em sua residência no Centro. Rua Ruy Barbosa,

nº 369. Barreiras: 17 nov. 2012.

• __________. Entrevista semi-estruturada

realizada em sua residência no Centro. Rua Ruy Barbosa,

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• __________. Entrevista semi-estruturada

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• __________. Meu Diário de Guerra, 1ºCaderno. 1944/1945.

• __________. Meu Diário de Guerra, 2ºCaderno. 1945.

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