Jogo da Dissimulação Wlamyra

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  • 8/14/2019 Jogo da Dissimulao Wlamyra

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    [email protected]

    Grafia atualizada segundo oAcordo Ortogrfico da Urlgua Portuguesa de 1990que entrou em vigor no 13rasil em 2009.CapaMariana NewlandsFoto de capaAlbum/akg-imagcs / Latin StockPreparaoLucimara Carvalhondice remissivoLuciano MarchioriRevisoMrcia MouraAna Maria Barbosa

    Dados ln ternacionais de C a t a l o g a ~ o na Publiculo (u ')C ~ m a r Drasileira do livro . 1'. Drasil)

    A l l l l ] ( l U c ~ l l ( \ \ V I ~ r l l y r n R. ,ko jogo da dissill111h,,;,;o : a b l i ~ dadaIlia negra no Brasil;

    Wbm) r" R. J e Albuquerque - Sal> Paulo Companhia da, Letras,2009.

    L llnlsil - Histria 2. Brasil- Hislria - Aboliu da c,cravido,18833. CidadaIlia 4. Cla . , ,o i - Bra iI5. r o s - Brasil 6.,

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    pginas que se seguem fique evidente meu elnpel1ho ,I ' ' em InC itar oeltor a pensar a rac ializao das re laes nas ltimas dcadas oito

    centlstascomo ummanu scr itoestran ho desbotado ch ' d I , ~ I elO c e lP -ses lI O renCl3S emendas suspeitas e comentrios tcndenciosos .2 1

    I Cnsules, doutores e os sditosde cor preta: razes e aes polticasnum processo de racializao

    Desde a chegada da fanlia real ao Brasil, po lticos, di ploma-tas e juristas se viam s voltas com a obs tinada presso inglesa cmpro lda emancipao dos escravos.Foram incessantes as investidasdiplomticas e comerciais dos britnicos Entre 1808 e 1850, aofensiva dos ingieses so freu revezes, e essa histr ia j bas tan teconhecida.' Mesmo depo is de aprovada a lei de 183 1 proibindo otrfico transatlntico para o Brasil, o que oS ing leses viram foi ahabilidade brasileira pa ra dribl -Ia e o incremento at meados dosculo, da lucrativa indstr ia de imp ortao de africanos para ostrpicos.Diss imulao e sabotagem, como adj etivou Ubiratan Castro,foram as pr incipais polticas br asileiras frente coao dos ingleses.' Mas,apesar de tambm no ter sido arazo de terminan te parao fim do trfico em 1850, no se pode dizer que a misso br itnicafoi incua. Segundo PierreVe rger, o governo brasileiro se queixavade que, depois da lei de 183J, os cruzadores britnicos, detinhame visitavam os vasos n cionais em guas brasj le iras e especia lmente logo sada do porto da Bahia. ' Naq uele mo mento de co n-

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    solidao da independncia nacional, tamanh a insistncia indignava os polticos brasileiros e transform ava a defesa do trfico emqu es to de soberan ia. No mais, os ingleses tinham os seus interes-ses na frica e na Amrica e conti nuaram a t-los dep ois de 1850,quando o trfico atlntico foi finalmente extinto. Afinal,peJa largabarra da baa ainda adentrava a mquina mercante bri tn ica. Noano de 1859, por exe mplo, foram registrados no porto de Salvador180 navios comerciais eonl bandeira britnica, co nt ra 87 001 aportuguesa . Te mpos depois, em 1871, entr e os 924 ali apa rtados,309 eram ingleses.

    EntTetan to,o Conselho de Estado no temeu prejuzoscomerciais ao negar um pedido do cn sul ingls que em 1877, se empenhou para gara nt ir a permanncia na Bahia de dezesseis libertosafricanos retornado s da costa da frica. Eram comerciantes q uecom passaportes expedidos em Lagos, j possesso inglesa, preten diam negociar na capital da provncia. A chegada deles provocouum incidente diplomtico que ocupou o Co nselho de Es tado doImpri o. Situao inusitada. Dessa vez os ingleses queriam que osafricanos aqui se es tabelecessem os brasileiros que no es tavmTImais dispostosa mportar negros.Como se ver os argumentos pre co ntrao trnsito ent re o Brasil e a costa africana pendiam ao sabordas conveni ncias comerciais e convices ideolgicas .

    En quan to os africanos aguardavam no porto de Sa lvado r adeciso sob re os seus destinos, na Cor te, os membros da seo deju stia do Conselho de Estado criavam arti fcios jurdicos paraimp edir que qualquer homem de cor pudesse imigrar para o Brasil. O desafio era elaborar mecanism os eficazes sem que se explicitassem restries pautadas em critrios raciais. Em telnpo dedesarticu lao do escravismo, essa era lIJlla tarefa to rduaquanto delicada e que no preocupava apenas os notveis mem bros do Conselho de Estado. ainda na dcada de 1870 qu e em

    abo li cionista passa a ser lnais ben1 articulada e a contar CO ll1 afranca participa o de abo licionistas negros e mesmo coiteirosafricanos. Tanto nos sales do Co nselho de Estado qu anto nassedes das sociedades abolicionista s comparti lhava-se a mes maordem de questes: como lidar com a presena africana no Brasil?Qua l o papel da populao de cor no pro cesso emancipacionista?Afi nal, quais os desdobramentos da que sto servil?

    COMERCIANTES AFRICANOS NEG CIOS IN GLESES :.os SU D I TOS DE COR PRETANo dia 6 de agosto de 1877, o patacho Paraguas chegou de

    La gos e apartou em Sa lva dor tra zendo entre os passageiros dezesseis africanos. A chegada do grupo no passou despercebida ao scal da alfnd ega, que tratou de informar ao chefe de pol cia ,Amphilophio Botelho Freire de Car valho - esse personagem se rmais bem conhecido por ns nas prximas pginas por ter se tornado um juiz que favoreceria vrias aes de liberdade movidaspelo abo licio nista Eduardo Carig. Informado sobre a chegada dogrup o, o futuro juiz cuidou de proib ir a livre desembarq ue dos viajan tes e de interrog- los.

    Diantt: dele, os dczesseis africanos apr esentaram passaportesingleses; viajavam em condies legais. Um dcles possua passaporte expedido dali mesmo , da Bahia. Com ares de abolicion ista,ochefe de po\(cia desconfiou do que viue julgou se rem eles reescravizado s. Cogitou que estava diante de indivduos qu e j livres daescravido, estav am na imin nci a de a ela sereln recondu zidos.Depois de ve rificar os livros da repartio e concluir o interro ga tr io, Amphilophio se convenceu de que os africanos eram libertosretornados, ou se ja j haviam cruzado O Atln tico depo rtados daBahia para a costa da ti:ica, e agora voltavam dispostos a se insta-

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    lar como cOlnerciantes na mesma cidad e onde hav iam sido esc ra-vos.RegistTos, interrogatrios eo passapo rte bras ileiro no deixava m d vidas. Ocorrncia inlprevista a romper com a rotina.

    A chegada desse grupo no porto da Ilahia, com aval ingls,perturbou os afazeres do chefe de polcia c do presidente da provncia. A convergncia entre os propsitos dos ingleses e as aesdos ati' ica nos ainda inquietavam os brasileiros. Amphilophio julgo u ser pru dente mant-los no Paragua sssob pena de punio aoresponsvel pelo navio caso eles desobed ecessem, e m vista do disposto no artigo 7da lei de 7 de novembro de J83 1e na doutrina doaviso de 9 de maio de 1835':' Na verdade, o chefe de polcia estavaconfuso.Ele qu eria mesmo era se referir lei de J83 1 e ao ar tigo 7da lei n ' 9, de 13 de maio de 1835 .

    A leide 183 1, como j sabemos, visava ex tinguir a trfico e es tabelecia punies para quem importasse escravos para o Brasil, mastendo sido aprovada em meio crisepoltica ge rada peja abdicao ded. Pedro I ascenso do ministrio liberal e ao rec rud esc imento daperseg ui o inglesa aos navios negreiros, no passou de legis laoinofensiva para os tTaficantes. Existia ainda o decreto de \832 , quedelegava polcia o poder de inspecionar todo nav io apartado e reembarcar qualquer negro, mesmo livre,queporventura fosse trazidopara o Bras il. ' Os pesquisadores do tema tm demons trado como ostumbeiros co ntinuavam a transitar no Atl ntico a mercancia deescravos, de cachaa ede fumo, driblando as restries legais ao longoda primeira metade do sculo XIX. O trfico continuava motivadopor 'uma maldi ta sede de torpes ganhos ; c ita Jaime Rodrigues .'Tendo sido de pouca va lia para coibir o comrcio de escravos, a lei de183 \ serviu para balizar aesdeliberdade na dcada de 1870.

    J no dia 13 de maio de 1835,foi regulamentad a a deportaode afr icanos libertos pela lei n 9 em seu art igo 7' , determinandoqu e os africa n os forros que chegassem provncia e os suspeitosqu e depo is de expul sos regressassem deveriam se r presos e proces-

    sadOSC01110 incursos no crime de insurreio e, caso fossemabsol-vidos, seria m novanlente expulsos, perman ece nd o enl custdia que se concretizasse a sua sada. Na ocasio, se prev ia o esta-

    belecimento de wna colnia em qualquer por to da Afriea ,com ofim de repatriar-se todo africano que se liberte, ou mes mo todoo afTicano que ameacenossa segurana \ um aconveno com o go -verno do Uruguai e das provncias do Rio do Prata proibindo a

    impor tao de africanos a ttulo de colonos ; e, principalm ente,a completa in terrupo de qualquer comrcio entr e nossoS portos eos da Afri ca ocidental e oriental, exceo da co lnia do Cabo,recusando qualquerpassaporte por temp o que julgar necess rio aqualque remb arcao comercialll

    Doutrina e leis fizeram parte do conjunto de medidas repres sivas populao africana depois qu e os plan os para a revolta malforam descobertos. Os africano s fo ram identificados como os arlICladores da rebelio e, portanto, alvo ce rteiro da represso. Comobe,mdisse Joo Reis, um aatmosfera de histeria) rac ismo,persegui-o e vio lncia contra os africanos envolveu a I3ahia , fazendo c.omque os vencedores se lanassem vingana . Em l836, 150 afrIcanos foram deportados e 120 banidos como suspe itos. Aseguranajustifica va uma legislao to dura, mas passado o tempo das revoltasescravas, alei n 9 se fazia desnecessria e fo i revo gada em 1872. 5

    O chefe de po lcia ignorava o u preferia ignorar a revogao.Mas tambm n o es tava bem certo se a lei podi a ser aplicadaq uela situao . Ao passo que ponderava sobr e as bases legaispara evitar o desembarque daquel es africanos, ele encaminhouuma correspon dncia reservada e ur ge nte ao pres idente da pr ovncia Henrique Pereira de Lucena. Amp hilophio tinha d vidassobre a de liberao tomada. Preocupou-se com as consequncia sda sua ordem de deteno no navio dos africanos tutelados poring leses . Ele prpr io desconfiava da propriedade dos se us argu

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    Sem razo de ser a dita lei , por n o da r-se mil is O rfico de es

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    Ju stia com a moralidade e com a o rdem, e fo i deportado em1875. Ao providenciar, na dcada de 1870, essas deportaes, ogoverno imperial demon strava empenh o em desmobilizar redescomerciais e religiosas protagoni zadas por afri canos. Ora , se adeportao para a frica se apresen tava como medida policialcontra feitice iros bem relacionad os, pode-se supor o que representava par a as autoridades o regresso de africanos que foramesc ravos no Brasil.

    Depo is que Os africanos do navio araguass foram interro-gados, e enquanto o chefe de polcia ponderava sob re a pertinncia da leg islao disponvel, a polcia do porto ficou incumbida deas segurar a permanncia do s v iajantes indesejados n o navio.Eram duas mu lheres, Bemvinda Maria da Conce io e CiprianaI.eopoldina dos Santos; e catorze homens, Lui z Vitr ia, Leodoro JPinto, Ventura Ramos, Ivo, Janllrio Csar Manoe l, Fran c iscoAgostin ho, Francisco Jos Leite, Clemente Medeiro, Pitta Ribeiro,Abraham da Costa, Joaquim Ribeiro de S, Feliciano Ca lmon deS e Fernando.' Como o interrogatrio no foi anexado correspondncia mantida entre Amphilophio e Henrique Lucena, ficamo s sem saber por que e quando aconteceu o retorno frica.Segundo o chefe de polcia, aqueles viajantes fo ram exportadosda provnc ia da Bahia como africanos co nfonn e ele mesmoregistrou nos livros da sua repartio. Isso sugere duas possibilidades. Uma delas que eles embarcaram muito jovens nas primeiras levas de retorno frica, depois de 1835, mas que continuaramamanter vnculos com parentes amigos e parce iros naBahiaA outra que a onda de deportaes de africa nos defl agrada narepresso revolta do s mal s alcanou geraes posterio res,estend endo a pe rseguio para qu em sequ er compa rtilhou doprojeto rebelde de 1835.

    1 Vista da zOlla porturia de Salvador 1884Sem o interrogat rio, tambm ficamo s na igno rnc ia acerca

    da explicao dos acusados pa ra o retorno Bahia. Res ta especular. E, para tanto , preciso seguir-lhes a rota. fundamenta latenta r para os caminhos e interesses dos viajantes/cOlnerCla ntesafricanos da poca.Em 1851, foi instalado o consulado ingls em Lagos, que dezanos depois fo i anexada Gr-Bretanh a. Desde ellto aquclacidade por turia foi o destino preferencial de libertos emIgradosdo Brasil e de Cuba, principalmente os iorubs .Tal predileo seexplica pela inge rnc ia do governo britnico na dotrfico negreiro, o que diminua os riscos de reescravlzaao; e peloestabelec imento de relaes comerci ais, em certa medida protecio nistas, para os retornados. Ao analisar a trajetria pessoal dealguns deles,Lisa Lindsayconcluiu que a prosperidade econmicadepend ia, sobremaneira, da competio estabe.ecld a com osuutros comerciantes , dos acordos con1 as autOridades Inglesas e

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    exemplo de traficantes brancos, capites de navios negreiros erepatriados c u b a n o s 2 ~ Negociao nada fcil, mesmo para quemj havia atravessado um oceano, p lo 111enos duas vezes, por contada indstria Inercante.

    Os autores que investigaran1 o processo de reinsero dosretornados nas sociedades africanas nos sugerelll algunlas possibilidades interpretativas para eSsa viagem. Para Manuela Carneiro da Cunha, a razo de a maioria dos procedentes do Brasilter se estabelecido na costa, em detrimento do interior, foram asmelhores oportunidades de comrcio. Mesmo porque ao voltarelll para a frica, eles no tinhanl em vista um lugar etnicanlente deInarcado - j que Lagos era, fundamentalmente,porto de embarque de escravos - sim, alguma prosperidadeeconmica. 27 COlno assinala Beatriz Gis, o lugar de origemganhou, simbolicalllente, outra dimenso para as conlunidadesde retornados. 8 Nesse sentido, a terra dos ancestrais tambm eraestrangeira, com habitantes e costumes que Dluitas vezes lheseralll desconhecidos.. Os retornados constituram, assim, U grupo especfico que

    tlnha e commll a experincia do desterro, do cativeiro e da volta frica. Ao for111ar uma comunidade que, sinlultaneanlente, buscava abrigo no continente de origem e reiterava seus vnculos comUlna sociedade escravocrata, l s vivenciaram no s a transiogeogrfica, mas, principalmente, a cultural. Michael Turner tambm comentou a singularidade dos retornados do Brasil em Lagos.Conhecidos por amaros eles tiveram diante de si o desafio dereconstruir, na frica, uma identidade carregada do passadoescravo na Amrica lusitana. A lngua portuguesa, a f catlica, aatividade comercial, o modo como se vesti31n, suas crenas e valores foram sinais dia crticos dentro de urna populao que mesclava experincias negras distintas. 29 COlno Turner acentuou

    b r a n ~

    ,{ .

    l OS chapus-panam, grandes bigodes, bengalas e charutos disI Ilguia-os da sociedade local .w

    Com a franca expanso do poderio ingls, Lagos se tornoulima encruzilhada cultural e conlercial, na qual afro-cubanos,; fro-bra sileiros, os saros de Serr a Leoa, africanos das nlais diversasprocedncias e ingleses se encontravam.]. Lorand Matoryinformaque, em 1889, uma enl cada sete pessoas residentes em Lagos haviamorado no Brasil ou eIn Cuba, e se considerarmos a afluncia deconlerciantes vindos da Europa e do Brasil em busca de bons negcios, poJenlos imaginar conlO, a partir de Lagos, a frica se espalhava pelo mundo navegvel. Tamanha presena estrangeiraimpactava continuamente as leituras acerca do que era a frica eos vnculos entre as populaes da dispora. Talvez por isso, paramuitos comerciantes afro descendentes que no se afastavam dacosta, frica e Lagos fossem sinnimos nUIDa redefinio territorial e cultural da sua ancestralidade.O estivador Domingos Jernimo dos Santos, ao solicitarnaturalizao brasileira em 1887, afirmou que tinha sessenta anose que era natural da estao inglesa em Lagos.-l2 Cypriano JosMartins, em maro de 1888, prestou juramento e obedincia Constituio brasileira, reconhecendo o Brasil conlO sua ptria, ea Igreja catlica como sua nica f. 33 Cypriano, comerciante , disseter nascido em Onin (Lagos), na costa da frica, ser solteiro, terdois filhos e trs casas, unl sobrado, muitos n1veis e algumas dvidas. Com a nat urali za o e o test3111ento, ele assegurava que os seusbens no seriam arrecadados pelo Poder Judicirio. Formas deUln pertencin1ento sin1ultneo Bahia e a Lagos pareciam estarsendo cruzadas no cotidiano deles. Por certo, essa duplicidade dereferncias foi relevante na constituio de identidades dessacOlllunidade na Bahia e na estao inglesa .

    Enlbora no se possa saber com preciso o que os dezesseis

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    vel que pauos, dend e obis adquiridos em Lagos estivessem entreseus pertences. Tratava-se de D1ercadores que viveram nas fricasbaianas e sabiam bem das demandas locais. Tambm bem provvel que os visitantes tivessem alguma fluncia em ingls, almdo portugus, o que os punha em situao privilegiada na realizao de negociaes transatlnticas, quando era preciso acertarvalores e condies da viagem com navegadores ingleses, comprar mercadorias de africanos e revend-las a brasileiros ou aoutros africanos.

    Afinal, esse comrcio tambm foi muito favorecido pela presena expressiva de brasileiros cm Lagos. Numa carta publicadapelo Dirio da Bahia de dezembro de 1863, h a denncia de umc0111crciante brasileiro que teve a sua propriedade, distante 35milhas de Lagos, ocupada por tropas inglesas que viajavam paracombater um chefe africano em Eppe. Porter sido obrigado a hospedar os soldados, o comerciante ficou impedido de desembarcarum carrega mento de azeite de dend, e ainda teve que assistir substituio da b andeira brasileira erguida diante da propriedade, pela inglesa. Ofendido, o proprietrio sugeria ao governobrasileiro que pela quantidade de brasileiros residentes emLagos, e o nenso capital que anualmente transige entre a Bahia ea costa africana, fosse instalado ali un1 consulado brasileiro paradefend-Ios ,35 Os nossos viajantes estariam, desse modo, dentrode un1 antigo e pequeno circuito de cOlnrcio internacional doqual se sustentavam alguns africanos e brasileiros, a exemplo deum certo Panja que, em 1873, acu111u10u n1uitos credores no Brasil por ter negcios com a costa ,:\(' As relaes entre cOlnerciantesdas possesses inglesas na frica e da Bahia pennanecerarn numbom ritmo at o fim do sculo XIX Eram negcios que incluam ofumo, a aguardente baiana, o dend 7 e, principalInente,produtosreligiosos africanos 8

    Em 1890, o patacho Aliana que teria sido comprado por um

    grupo de descendentes de africanos no Brasil com a finalidade defazer negcios na costa da frica, teve problemas na viagem: estavainfecta do pela febre ama reJa. Havia sessen ta passageiros no navio,quc enfrentaram os dissabores da travessia, levando mercadorias aserem entregues aos comerciantes brasileiros estabelecidos naCosta. Com anoticiada contalninao do navio no porto de Lagos,s6 desembarcarmD os passageiros; mercadorias , bagagcln) dinheiro e joias tiveram que ser trazidos de volta ao Brasil. Aps o malogro dessa viagen1 de negcios, vrias pessoas na Bahia reclamarmna posse de seus bens. Muita gente esperou para ter notcias dos passageiros ou reaver as nlercadorias embarcadas para Lagos. Entreeles estava a afric ana Julia Maria da Conceio) comerciante estabelecida na freguesia do Pao. A ela pertenciam os 125 barris defumo que voltaram no navio, 0

    Mas o volume da n1ercadoria de Julia ivIariada Conceio noparece ter sido a regra. Nos avisos expedidos pela polcia do portoeram noticiadas as tempestades e epidemias que itnpediarn oretorno dos navios costa da Africa) prejudicando comerciantesdos dois lados do Atlntico. Como o que se pde ler em 1881, naqual o inspetor da alfndega dava a conhecer que seria leiloadatoda a mercadoria salva do patacho Boa-f inclusive 137 panos dacosta, argolas, colares e pulseiras) que pertenciam a vrias pessoas.'11O que interessa salientar que a regularidade desses acertoscOlTIerciais certmTIente mo tivava gente COlno Juca Rosa a vir para aBahia em busca de objetos e especiarias importadas diretamenteda frica. A fluidez desse trnsito provavelmente institua parcerias e vinculos cntre cOlnerciantes e cOlnunidades religiosas do Riode Janeiro, de Sa lvador e de Lagos.

    Nina Rodrigues avaliou que ainda nos ltimos anos dosculo XIX, embora CID menor nmero e frequncia, navios a velaCOln comerciantes nags) fluentes elTI ingls e iorub) viajavan1para a Bahia trazendo objetos para o culto aos orixs. l Impor-

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    tantes figuras reIjgiosas tiveram lucros com o comrcio de pro-du tos africanos e com o intercmbio de experincias culturaisp,ropo rcionado poresse trnsito, A famlia de Ad o da ConceioCosta por exemplo, importante empreiteiro da esti va nos fins dosculo XIX teria vindo de uma possesso inglesa na frica parase m stalar n a n ahia. Atravs dos depoimentos de seu sobr inhoMiguel Sa nt ana, sabe-se da importn c ia d o co mrcio com afri ca paraaquelas que serian1 as mais fam osas casas de candom-bl Bahia. Miguel Santana tambm contou qu e ap rendiamgles com um professor africano contratado por seu tio e iorubn os terreiros de candombl que frequentava, dentre eles o ll AxOp Afonj, que passou a ser referido como smb olo da autenticidade das t radies africanas no Brasil.' Tamb m Mar tinianoEliseu Bonfim, conhecido pelo prestgio religioso e por ter sidoIllform ant e de Nina Rodrigues, tinha uma quitanda de produ tos da Costa na ladeira de Santana e de qu and o em quandodava aulas de in gls j4

    Nessas tradi cionais casas de cand ombl, a id eia de pertencimen to e continuidade entre a Bahia e O pOVO ior ub ano foi ummecanismo importante para garantir-lhes distin o dentro dacomunidad e afro-brasileira. Para). LorandMatory a imp ortnciaatribuda preservao de tradies ancestrais ga rantiu um sensode gen u in idade cultura local ento aliment ado por retornos fn ca . Nesse sentido, o que se lia como nag na Bah ia po deria sero resultado de uma co nstruo transatlntica, na qualosv iajanles--come rciantes, como aquelesdo Paraguass foram fiJndamentais.Talvez po r isso , nas ltimas dcadas oitocentistas, di zer-se nagfosse o modo mais explcito de dizer-se african o, como vou argumentar daqui a algun s captu los.

    Mas a persistncia no s negcios no implicava o tr 1ino dasrestries aesse trnsito, mesmo nos fins do sculo XIX. Se analisarm os testamentos de africanos que viviam na Bahia poss vel

    notar que algun s deles ci rcularam tranquilamente, sem ser incomo dados pela polcia , naturalizando -se br as ileiros . Ve jamoscom hrevidade a histria de Vitorino do s San tos Lim a. Ele faleceu em jan eiro de 1891 poucos dia s an tes da chegada do vapo riafra co m uma carga de seis po nches de azeite, que lhe foi reme

    tida por M. Balth azar, comerciante em Lagos.O investimento narota d o azeite garantiu-lhe o acmul o de alg u ns bens: umsobrado na freguesia da S, lna casa na rua dos Adobes, algunsmveis e m ercadorias. Vitorino devia estar bem informadoacerca da vida em Lagos, dos conflitos na fri ca e das po ss ibilidades de negcio de azeite bastante incentiva do pelo governoin gls. Ele declarou ser casado com um a crio ula e ter 56 an osqu and o se naturalizou brasileiro em 1887.Empenhado cm pareceralgum de boa s relaes e co tumes ,cumpriu a exigncia da 1ci)quepennitja anat uralizao apenas aosque atestassem ser catlicos e tcr boa conduta e respeito pelas leisbras ileiras. No mesmo ano em queVitorino dos Sa ntos l.ima conseg uiu se naturalizar, outros 28 estran ge iros tambm o fi zeram naprovncia da n ahia. Desses, 23 eram portu gueses, um era alemo,outro italiano e trs eram africanos. O pequ eno n mero de pedidos e consequente concesso de naturalizao a africanos pode serexplicado por motivos bem bvios. O primeiro deles a dim inui o dessa popul ao,outra razo a utilidad e do recurso. Anatura

    i z a o s6 podia ser til para quem prec isava garantir a posse dealguns bens e a permanncia definitiva no Bras il.Q uem lanava mo desse recur so eram,em geraLco.mercian-tes co m algum patrimnio, o que os di ferenciavam dos demaisafricanos em sua maioria m p o r Foi o que deve termovido Benvind o da Fonseca Gaivo a sol icitar ser naturali zadobras ilciro. Ele estava preocupado cm provar ser prop rietrio deduas casas registr adas em nome dos seus mh os em razo da proibio das leis provinciais [1835], que se opunham aos africanos

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    adquirirem b d .

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    segunda metad e do sculo.5 Ao sucesso dos negcios ingleses correspo ndia cm igual mo nta a arrognci a do cnsul. Em 1860, porno ter sido recebido em audi ncia pelo presidente da provncia,Antnio de Costa Pin to, o diplom ata encaminh ou-l he uma ca rtaen1 to m nada cordia l, como se v no trecho a segu ir :

    Hoje foi a terceira vez que se me de negou a hon ra de uma audinciacomV EX3 .Acreditando pela pr tica de oito anos [ .. ] que cm horasde servio pod ia eu, como c nsul da Gr -Bretanha, p edir umaaudincia em benefci o dos in teresses que me so con fI ados nes taprovncia, e no sendo eu reque renlc de favores pessoaiso u)gado em qua lquer servio que no seja do meu pas venho agorasolicitar o o bsqu io de V. Ex 11 me dizer [ .. ] os dias da semana e ashoras quando se dignar receber-me em servio pblico; a fim deev itar a reprod u o de uma recusa que reputo desautorizar a mi nhaposioNo descobri qua ndo ele finalmen te fo i recebido por Costa

    Pin to, mas a pos tura, d igamos en rg ica, lhe rendeu algun s Ir utos.Tendo feito em 865 minucioso levantamen to das po tenci a lidadeseconmic as da Ha hia, John Mor gan enca min hou aos inves tid oresingleses um relatrio comentando a concesso do governo br as ileiro para a construo da estrada de fer ro Paraguass (curiosa mente o mesmo nome do na vio qu e tro uxe os com erciantes afr ican os de Lagos ). Segu ndo ele, o empreend im en to garantiria omonoplio no tra nspo rte de mercado rias e pessoaspor longas d is tncias e ai nda pe rmitiria a explorao de ln inas de ou ro, pr ata eou tros minrios em toda a extenso da es trada de fe rro. O cnsultalnbm planejava cultivar, na rota da ferrov ial algodo de qual idade igual ao d e New Orleans :- ;8

    /::: .

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    ;::.

    2 Casa Comercinllnglesa nawn po rturia de Salvador

    IIII

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    Morgan foi especialmente esforado em fazer prevalecer osin teresses da Coroa inglesa. E para tanto contava com a co labora-o de polticos baianos. O prprio president e da pr ovncia em1877, Henrique Pereira Lucen a, organizo u uma sociedade a nnima (em que a provncia subscreveu lnetade das aes com o fimde fazer aquisies na Inglaterra da estrada de fe rro de N a z a r ' ~Como se nota, os planos dos ing leses na 13ah ia no eram nadamo destos, o que nos leva a supor que a defesa de Morgan pela per-man ncia dos africanos tivesse razes com erciais relevantes.

    Em 1877, a reao do cnsul John Morgan 8 proibio dedesembarque dos comerciantes foi intempestiva. J no dia seguinte ordem de reembarque, pediu explicaes ao presidente da provnciaenfatiza ndo que os implicados eram sditos de cor preta de S.M.Britnica ,autorizados a viajar pelo govern o de Lagos. John Mo rgantambm ex igia a devoluo imediata dos passaportes apreendidospelo chefe de policia durante o interrogatr io. Di zendo-se con hecedo r da leique proibia o desembarque de africanos no Bras il,ele argulnentou que aquela situao era distinta por ser referente a pessoasvindas de uma nao amiga, ainda que nascidos na Costa da f r i c a ' ~Tal ressalva s retoravaa tutela inglesa queMorgan representava.Ouseja, ((apesar de africanos eram sditos ingleses ecomo taisdeverian1ser tratados. Assim, eraIU os interesses ingleses que deveriam prevalecer e no qualqu er reivindicao de cidadania.

    Todo o alarde em torno do caso era exagerado , reclamava ocnsul. Tratava-se de um falso pro blema, porque a questo j haviasid o reso lvida pelo desemba rgador Costa Pinto , q uando presidente da provncia. Parece que depo is da abordagem nada branda,no s6 Costa Pinlo o recebeu canlO ou viu as suas ponderaes, dasquais o comrc io m a cos ta da frica talvez fh esse parte. JohnMorgan foi incisivo e desdobrou argumentos a tavor dos co merciantes afr icanos. Assinalou, principalment e, que o trnsito de africa nos entreLagos eSalvador no era excepcional; era autorizado ou

    pelo m enos no era proibido. 'Nesse po nto, com o j d iscut i, eletinha razo. Mas, dessa vez, a persistncia do diplo mata de nadaadiantou: no impediu que o caso fosse submet ido a ind a naquelasem ana seo de Justia do Conselho de Es tado.

    o CONSELHO DE ES TADO E A PR EPONDERNCIA DARAA AFRlCANA NO BRASlL

    Insti tuio admirvel, e quando qua se tudo exceto a dinastia) setinha vulgarizado, o Conselho de Estado [ ..] guardou por muitotempo o sabor, oprestgio de um velho ,onselho ulico conser-vado no meio da nova estrutura democrtica, depositario dosantigos segredos do Estado, da velha arte de govemar, preciosaherana do regime colonial, que se de via gastar pouco a pOUCO.61

    Assim Joaqu im Nabuco delinia um a das in stituies maiscontroversas do Imprio. Por reunir experimentados es tad istas ejuristas eminentes escolhidos pessoalmente pelo imperador, apertin@ncia desse rgo consultivo dividia op inies . Para uns eraum artifcio para reforar o Poder Moderador, para outros era aconscincia do rei )). Questes itnportantcs com o a guerr a contra oParaguai e a emancipao do elemento servil tiveram no Conselhoum frum decisivo. Teria sido no vero de 1866 que o processoemancipacionista foi tratado pela primeira vez, com a discussodo s projetas apre sentados pelo co nselheiro Piment a Bueno , om arqu s de So Vicen te.

    As longas sesses na Quinta da Boa Vista resultariam, anosdepo is, na lei d e J871 e na concepo de gradualid ade do ftm daescravido.2 Ass im sendo, embora formassem Uln rgo sem funes deliberativas, os conselheiros tinham um papel poltico

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    muito importante na arquitetura do governo imperial e exe rciamplenamente o papel de analisar diferentes assuntos e ind icar aoim perador o que lhes parecesse mais adequado poltica ej uridicamente. O desfecho da empreitada dos com erciantes retornadoses tava merc das consideraes de sses estadistas do Imprio.Dito isso, pod e-se dedu zir que o parecer do Conselho em relao presena dos dezesseis africanos se ria, como de fato foi, dec isivo.

    Logo que o ofcio do pres idente da provncia chegou Corte,foi encaminhado aos membros da comisso de justia do Conselho de Estado. Lo episdio foi analisado a partir do julg,tmento deo lltrasocorrncias con sideradas de igual teo r': Ulna delas era a deum hOmelTI branco norte-america no que, elTI 1866, tenlOu en1i gra rpara o .Brasil tra ze nd o consigo uma negra nascida livre, tambm nor te-americana, com duas crian as. A outra , o ped ido deem presrios paulistaspara quefossepermitida, em 1877, a importad' de negros livres norte-americanos, a fim de empreg-los naconstruo de uma estrada de ferro. Cada um dos casos foi analisado en1 perodos distintos , mas sob o D1e SlTIO princpio: pessoasde cor no podiam imigrar para o Brasil , fo ssem livres ou libertas,todas deve riam se r deportadas.As trs histrias co ntam trajetriasparticulares que remetialTI ao m esmo problema: como evitarque pessoas de cor imigrassenl para o Brasil sem se lanar mo deuma legislao racista?

    Para melhor acom panhar os meandros desse dilema precisoconhecer um pouco majs dos casos de igual teo r que fundamen taram o parecer sobre os dezesseis africanos. Vanl0s a eles.

    O autor do pedido de 1866 era). A. Cole, fazendeiro brancoque pretendia se estabel ece r num a propriedade recm-adquiridaem Campinas, interior da provncia de So Paulo. Foi o prprioCole que relatou ao chefe de po lcia a sua histria.Tudo teve inciocom a compra das terras em So Paulo e a resoluo de viver noBrasil. Concretizado o negcio, ele vo ltou para os Estados Unidos

    apenas para di spor dos seus bens e entender-se co m amigos ,quando tomou conhecimento da circular do cnsul brasileiroNovaYork, na qual se lia acerca da proibio de importao de catlvo s. A partir da concluiu que s havia proibio de imp ortaode escravos, eque era permitidaa introd uo de pess oas de cor, queno fossem esc ravas . Ainda que o tex to do cnsul parecesse bemclaro e existindo o desejo de traze r e Tl sua comp anhia umamulher de cor preta, COm suas duas filhas menores, que h muitosanos [estava] a seu servio , o faz endeiro consultou um advogadoque apenas corroborou a interpretao que ele havia dado . ParaCole e se u advogado, nada impediaa imigrao; para o cnsulbrasileiro, contudo) no era elTI assim.

    Solicitaran1-se passa po rtes para os nortc-anle ri cano s , obranco e as negras. Mas logo que o pedido chegou ao conhecimento do diplomata br as ileiro, es te se recusOU a con ced-los. Aal egao era de haver impedimento entrada de pessoas de cor noBrasi l. O impa e estava es tabelecido. j A. Cole con testou com apr pria circular do con sulado; o cnsul insistiu na recusa .A diverg ncia de interpretao estava lo nge de ser um mero equ voco.Sinalizava o os sub terfgios diplomticos podiam eVitar aimi grao emesmo o tr nsito de pessoas de co r no pas.Ao mesmotempo, revelava a inex istncia de dispositivos leg ais que a barras-sem . Para O advogado c o fazend eiro nor te-americanos, negro eescravo no era m termos que se confundiam. Nessa lgica, a proibio do governo brasileiro no tinha mesmo nenhum res paldolega l. No utra perspectiva, a raci al, a re s istncia governamentalremetia a um pro jeto social excludente, que estava em ges tao nacontexto de desarticulao da escravido no Brasil.

    Mas o fazende iro es tava convenc ido de que o cnsul b rasileiro no conhecia bem as lcis do prprio pais. Por iss o resolveuviajar para o Rio de lane iro acompanhado da mu lher e das cr

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    Inetido junto c01l1panhia de paquetes que arcaria con1 quaisquernus, se porventura fosse descoberto. Na Corte , assin1 que desembarcaram foram-lhes solicitados documentos que provassem acond io de livresede norte-americanas das negras. Os docun1entos inexistiam. Chamado para resolver a situao, o chefe de polciase julgou incapaz de decidir sobre o assunto, ainda mais porqueeles pretendiam seguir do Rio de Janeiro para Santos. Eis ento ocaso Cole nas mos da seo de justia do Conselho.M

    Eln 1866, a discusso sobre o iInigrante branco e suas acompanhantes negras no demandou Inuito esforo da comisso de justia,sen1pre empenhada cm legitimar a ordem de deportao. L estavamThomas Nabuco de Arajo, o visconde de Jequitinhonha e Eusbiode Queiroz- trs das Inaiores figuras do In1prio. Em comum, a formao em direito, os cargos de senador e lnen1bro do Conselho eprestgio suficiente para interfer ir nos rumos polticos do pas.

    Nabuco de Arajo assumira o cargo de conselheiro naqueleano de 1866, depois de uma trajetria poltica que excluir amagistratura, a presidncia da provncia de So Paulo, assentos na CInarae no Senado, alm do Ministrio da Justia, onde coibiu duramenteas derradeiras tentativas de trfico ilegal de escravos para o Brasil.Ele foi personagen1 cent ral na boa sociedade)) npcria1. 63 O conselheiro Nabuco tambm foi o relator do projeto de reformulao dalei de IOde junho de 1835, por julg-la ineficaz para coibir os crin1es praticados por escravos.M Devo lembr-los de que era exatamente essa lei uma das justificativas legais que o chefe de polcia dalahia utilizou para impedir o desembarque do grupo de africanos

    retornados. Uma vez extinta a lei, ponderava o conselheiro, seriapossvel estabelecer penas diferenciadas, sem a au steridade que osanos das revoltas escravas exigian1.Ainda coube aele a discusso doprojeto do Cdigo Civil, a relatori a do projeto dalei de 1871, enviado pelo governo imperial Cmara dos Deputados, e a elaboraodalei de locao de servios de 1879."

    Tendo sido do Partido Conservador, Nabuco passou a fazerparte das fileiras liberais quando a emanci pao dos escravos estavana ordem do dia, tornando-se nn1 ardoroso eInancipacionista.Estava entre os autores do manifesto do Par tido Liberal de 1869, noqual o principal compromisso era com a emancipao gradual daescravatura.t;gO baiano s continha a sua disposio antiescravistaquando a ocasio no era favorvel. :t o que nos sugere EduardoSpiller Pena ao COlnentar a oposio de Nabuco , en1 nome da tranq llilidade e segura na pblica" ao uso da lei de 1831 nas aes deliberdade. Ironicamente , foi a partir dessa lneS111a lei que a comisso de justia, presidida por ele, fundamentou o parecer proibitivo permanncia das negras americanas em terras brasileiras.

    O segundo integrante da cOlnisso era o no 111enos famoso ecertamente) mais polInico, viscondc de Jequitinhonha. Baiano enativista de prin1eira hora) ele adotou o nome de Francisco G deAcaiaba MontezUlna para honlenagear as razes indgenas do pas,cntretanto foi chamado pela inlprensa de "antibrasileiro)) porconta da sua defesa dos tratados cOlnerciais COil1 a Inglaterra. nFilho de un1 traficant e de escravos e de Ulna negra, o mulato fez-sejornalista, filsofo e magistrado depois de ter estudado na Universidade de Coimbra) onde conseguiu brilhan te reputao nosestudos e pssima nos costulnes)), conlO assina lou Ktia Matoso. 71Foi tambm um dos fundadores do Instituto dos Advogados Brasileiros, tendo sido o seu prin1eiro presidente. 72 Frente questoservil, a sua posio, CIn vrios monlentos, primou pela dubiedade; avaliava que a lei da abolio deve ser silnples e breve", apesar de apoiar a ideia da emancipao gradual, a partir da liberdadedo ventre, inlportante passo no cmninho dessa reforn1a social').'-'

    Sobre Eusbio de Qu eiroz, j se disse ter sido ele o "papa" dossaquarelnas, como ficou conhecida a clebre trindade que assegurou por longos anos a hegemonia poltica dos conservadores noImprio. Mas o conselheiro tambm ficon bastante famoso por

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    ter sido, cm 1830, o primeiro chefe de policia da Corte, cargo queocupou por onze anos. Sob as suas ordens inaugu rou-se uma coao ostensiva aos africanos nutrida porexaustivas investigaes eint ole rnci a. Os historiadores Ca rlos Eugnio Soares e FlvioGomes creditam lhe a dura investida repress iva movida pelostemores de que os ventos da Bahi de 1835 tambm soprassemsobre o Rio de Janeiro. Em larga medida foi a suspeio de Eus bio de Queiroz em relao aos negros em geral, e aos afr icanos emespecial, que fez dele um incansvel defensor do fim do trficoatlntico em 1850.

    Anos mais tarde, ele argumentou no Conselho de Estado queeram bvios os 111otivos que o levavam a insist ir na contrataode soldados es trangeiros brancos para lu tar contra O Paragua i emdetrimento aos libertos brasileiros.AobviedadevislumbradaporQueiroz es tava na sua certeza de que o negro, ainda que brasileiro,era menos confivel que qualquer branco, mesmo estrangeiro. Oemp enh o de Q ueiro z pelo fim do trfico no significava que elenu trisse a lguma simpatia pela ao in glesa naquela questo; aocontrrio, foi um crtico feroz ingerncia britnica em assuntosnacionais .77 V-se logo que a emigrao de africanos ava li zadospelo govern o ingls em nada o agradaria.

    Assim apresentados os jurisconsultos encarregadosde aval ara questo, voltemos a 1866, Rio de Janeiro, quando Cole e o chefede policia aguardavam a deciso sobre o caso. Crente na possibilidade de ver os seus arglllnentos preva lecerem , o fazendeiro in sistia. O chefe de polcia, por sua vez, tornou -se seu aliado e tentavaatenuar qualquer procedimento irregula r, alegando que Cole erahomem de bemqu e apenas incorreu numa'Cnterpretao err

    nea da circular oficial. Para defend-lo chegou mesmo a considerar qu e a viage m por terra at Campinas se ria relativamente fd l,o isentaria dos olhos da polcia e de sanes da justia brasileira,mas a opo de Cole era pelos trajetos da lei. A intermediao do

    chefe de polcia foi to ineficiente quanto o argumento de Cole dequ e negro e escravo no eram sinnitnos.

    A comisso de justia estava disposta a provar a coe rnc ialegal da proibio. Ma labarismo retrico e art imanha jurdicaorientaram o cncannhanlento. Persistia-se na ex igncia deque asmulheres em questo ap resentassem atestados comprobatrios desuas condies, documentos inexistentes porque eram nascidaslivres . Sem a C p rovao da condio estavam, portanto suscetve is leide 1831.A cobrana dos documentos no passou de ardiljurdico para expul s-Ias. Dissimulao esabotagem co ntinuavama compor a poltica brasileira. Por fim, e o m e n o u ao imperador a depo rtao imediata e a proibio explcita da imigrao denegros norte-americanos, aind a que nasc idos livres pois:

    dev e ponderar Vossa Majestade Imperialo perigo ordem pblica,qu e have ria, adm itida a imigrao de homens de cor proced entesdos Estado s Unido s cxis nd o aind a entre ns ri escravi do, o con tato dest a gente recenternente emancipada) e que vem da guerracom o en tusias mo da vitria, no pode deixar de ser uma grande

    f l a g r a

    preciso lemb rar que essa histria se passa em 1866, numaconjuntllrl delicada. pouco se en cerrava a guerra nos EstadosUnidos e in crementava-se o debate sobre a emancipao dosescravos no Brasil . importante lembrar que b i o de Queiroztem ia pelos riscos que a nao corr ia por afinar libertos na guerrado Paraguai, e que o v isconde de Jequ itinhonha suspeitava qu etoda sorte de perigos pudesse abater uma sociedad e s voltas como fim da escrava tura ,5 Nesse sentido )a imigrao de negros americanos era particularmente indesejada e mes mo peri gosa, naopinio dos conselh eiros.

    Foi naquele mesmo ano que Pedro II cm resposta Junta Fran-

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    cesa de Elnancipao, disse que o fi111 da es cravido era un1

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    Cmara dos Deputados. Durante longos dois meses os deputados,entre eles o visconde de Jequitinhonha, estiveram ocupados comos pormenores legais e lllorais que envolviam a determinao deque os filhos de mulher escrava nascidos livres deveriam ficarempoder e sob a autoridade dos senhores de suas mes at os oito anosde idade. A partir de ento os senhores poderiam optar entreentreg-los ao Estado, 11lcdiante indenizao de 600 ll1il-ris, oucontinuar a desfrutar dos servios deles at que completassem 21anos. Nesse debate, Jequi tinhonha e Nabuco de Arajo se posicionaram eil1 canlpos distintos quando se debruaram sobre aseguinte questo: como deveria ser denominado o filho da escravadepois da lei: ingnuo ou liberto?

    Para o Conselho de Estado, autor do projeto, a denominaoeraingnuo. SidneyChalhoub ao esmiuara debate, esclarece queos conselheiros pretendiam assiIn evidenciar que os filhos a seremgerados por escravas no eram propriedades dos senhores delas.Esse artifcio evitava que o Estado devesse inden iz -los por expropriao da propriedade escrava. Mas o arranjo, capaz de isentar oEstado da sanha indenizatria dos senhores trazia tona outracontrovrsia que muito nos interessa: a condio de cidadania dess s ingnuos. 5 Da nasce a divergncia entre os nossos dois pareceristas e deputados na poca. Jequitinhonha achava que se os tllhosde escravas fossenl definidos COI110 pessoas nascidas livres, elespoderiam usufruir das prerrogativas de cidados brasileiros. Oque seria unl agravo, ele argumentava , Constitui o Imperial porestender os direitos de cidadania a quem no era capaz de usufru-los plenamente. Assim sendo, cabia melhor ao Estado cham-lose trat-los como libertos. Nabuco de Arajo contestava Jequitinhonha considerando que o alvitre de criar incapacidade polticadessa forma justificava-se nos Estados Unidos, onde havia 'antagonisn10 de raa'; no Brasil; o pe rigo era estabelecer tal antagonismosupostau1 ente inexistente':96

    A dissiInulao e o engenho de no evidenciar os significadosraciais que encobrian1 decises polticas era o grande mrito daboa sociedade que compunha o Conselho de Estado, principalmente diante do acirramento da rivalidade entre negros e brancosnos Estados Unidos e da quebra de legi timidade do escravismo noBrasil. Sidney halhoub analisa dois pareceres elaborados peloConselho de Estado tambm na dcada de 1870, que julgavam serinconveniente a criao da Sociedade de Beneficncia da NaoCongaAmigada Conscincia e da Associao Beneficente SocorroMtuo dos Homens de Cor. O parecer do conselheiro PimentaBueno sugere que o iInperador proba as associaes de pretos,mulatos, caboclos e etc. [ ] a poltica ensina antes a regra de nofalar-se nisso . Diante da lio de estratgia do conselheiro cabebem o comentrio de halhoub ao considerar a produo dosilncio sobre a questo racial pressuposto essencia l para forjar oideal de nao homognea .'

    Nessa atmosfera de embates entre consideraes diplomticas, convices ideolgicas, silncios ditados pela poltica e interesses comerciais, espero j t-los convencido de que o destino dosafricanos do navio araguass estava traado antes mesmo de ocaso ser analisado pelo parecerista da COll1isso. Entretanto, aindavale a pena acompanhar o encaminhamento dessa histria.

    Talvez al o cnsul John Morgan j suspeitasse do resultadodo litgio, no qual se envolvera antes da deciso final. Muito provavelmente ele e os conselheiros tinham conheclnento mtuo depropsitos e ideias. Ao opinar sobre a relevncia de uma lei qnelibertasse os filhos de escravos, o visconde de Jequit inhonha chegou a citar a avaliao do cnsul sobre o decrscimo da populaoescrava no Brasil depois de 1850. Tal estatstica fundamentava aelncubrao do visconde de que, assegurando a liberdade ao ventre das escravas e COln o crescimento do nmero de alforrias, empouco tempo o Brasil se livraria do cancro da escravido .9R

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    Mas o representante dos interesses da Coroa britnica no serendia s convices dos conselhei ros quanto imigrao negra. Odebate entre o cnsul ingls, o presidente da provncia e o Ministrio da Justia se estendeu por dois meses, sempre girando emtorno de du as questes: a legalidade e a convenincia da presenados dezesseis africanos no pas. Decerto o caso ia alm da querelajurd ica. Di sc utianl- se razes polticas que foram enumeradaspelos jurisconsultos do seguinte modo: ob star ao crescimento epreponderncia da raa africana; aplainar a colonizao europeiae prevenir a fraude de introduo de escravos sobre o pretexto delibertos . Sem subterfgios caam por terra ostais princpios legais,sobressaam os critrios raciais.

    Ao analisar os trs casos como questes de igual teor)),se atribuiu unidade a trajetrias pessoais distintas. Ati nai, o que havia emcomum entre o grupo de comerciantes, a mulher disposta a enligrar com o fazendeiro norte-americano e trabalhadores a seremempregados na construo de estradas de ferro?Em se tratando dehistrias to particulares o que levou o Conselho de Estado aestender a todos o mesmo veredicto? A partir de quais pr incpiosfoi inferida uma afinidade inevitvel e perigosa entre africanosretornados e trabalhadores neg ros norte-americanos? Naquelasreunies da comisso de jus tia il11aginou-se uma comunidade apartir da condio de africano ou afrodescendente e do passadoescravo dos estrangeiros em qu esto. Explicados os objetivos daresoluo, a deportao imediata dos africanos do araguass foirecomendada pelo Ministrio da Justia. A ao e os argumentosdo Conselho diziam respeito a um projeto nacional que, raramente explicitado (c mesmo negado pelo discurso abolicionista) ,revelava um Estado que agia a partir da noo da existncia deraas distin tas e hierarquicamente desiguais.

    Mas as convices ideolgicas dos conselheiros do Imprio

    Bahia,que buscaram sem sucesso, reverter a deciso. presidenteda provncia, Henrique Pereira de Lucena, mo strou-se convencidoda importncia de sepermitir os negcios com os africanos e pediumoderao ao Conselho. Sugeriu que a deciso fo sse reconsiderada com base na insistncia de John Morgan de contestar o respaldo legal do veredicto. Recorreu tambm a razes econ6micas,pois (a Bahia era a nica provncia que ainda mantinha relaescomerciais C0111 Lagos') e a dep ortao iria levantar clamor nocOlnrcio e conlpr0111 eter as rendas p l i c s ~ ~ Nenhum praglnatismo eco nlnico parec ia ter ressonncia no seleto grupo dejuristas do Conselho, para desalento de Lucena e de Morgan.

    Diante de tamanha insistncia, foi elaborado um aditalnentoao parecer. Nesse documento, a artiInanha jurdica dava lugar aoimperativo das deliberaes polticas. Enfatizou-se que a reiteraodo pedido seria interpretada como uma tentativa de introdu o clandestina de verdadeiros escravos sub a aparncia de ingnuas estrangeiros . Qnanto inexatido da lei que proibia aimportao de escravOS e no ge nte de cor, o texto foi enftico:no podia haver dvida sobre a absoluta proibio de pessoas deCOf, sejam livres ou libertas irnigrarenl para o Brasil ,Oque dever iaser cumprido em todas as provncias. Sobre as tais atenes devidas s naes amigas , sem diplomacia se mandou inforn1ar aocnsul ingls que acima delas estavam as leis do pas . Nenhumap reo fui reservado para as ponderaes do presidente da provnc.ia,na medida en1 que no se compreende como, sem mais explicaes, a reexportao de dezesse is africanos sem importnciaalguma possa influir to perniciosamente no comrcio e na rendapblica .'''' Desdenhando das pretensoes inglesas e das preocnpa6es baianas, muito mais ateno cabia s consequncias da indesejada imigrao de africanos.

    O pouco -caso do conselho certamente no foi bem recebidopelo presidente da provn cia, que se dizia pressionado pela

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    classe comercia r'. Por certo no agradaria aos ingleses estabelecidos na capital baiana a impossibilidade de recorrer ao trnsitodos africanos para incrcnlentar os seus negcios, e nisso residia apresso sobre Lucena. Numa economia em crise, desagradar osinvestidores britnicos no devia fazer parte dos planos dosgovcrnan tes locais. Pelamesma razo) as relaes comerciais COllla costa da frica, ainda que ern pequena escala) tambnl nopodiam ser descartadas. Apesar das presses e dos argumentos, adeciso do Conselho foi definitiva: nada 1nais a fazer excctodeportar os comerciantes.

    A deciso do Conselho subsidiou o aviso do Ministrio daJustia, que, ainda no ano de 1877, determinou a reexportao detodo o grupo. Mas essa determinao foi cU111prida com muitamorosidade. elo ll1enos um deles) o africano Fernando) s obtevepassaporte para regressar a Lagos enl 1878. 101 ben1 provvel quedurante os dois anos que pernlancceu na Bahia tenha rcalizado osseus negcios como havia planejado, contando C0111 a conivnciado governo provi ncial e con1 a proteo do cnsul ingls.

    Contudo) a consequncia da preponderncia da raa africanano Brasil de modo algum era preocupao exclusiva dos estadistasdo Imprio. A certeza de que a escravido extinguia-se a passos largos d0111inava o debate poltico da poca, e no apenas as reuniesdo Conselho de Estado. Nas dcadas de 1870 e 1880, a evidente falncia do escravismo trouxe pa ra o debate conselheiros de Estado, estudantes) juristas, fazendeiros) escravos) libertos, presidentes de provncia e chefes de polcia e tantos outros interessados na questoservil. Mesmo porque as discusses sobre o fim de urn a instituioamda to fundamental na sociedade oitocentista pressupunhamquestes corno o carter da nao e da cidadania dos emancipados .

    os ambientes abolicionistas, projetos sociais diferentes emeSlTIO antagnicos para o ps-escravido eram concebidos edifundidos. Na Bahia no foi diferente. Sob a bandeira abolicio-

    nista se reuniram o nosso j conhecido chefe de polcia Amphilophio, o mulato Manoel Querino c o advogado Rui Barbosa, todosconvencidos de que j era hora de a escravido ser extinta no Brasil. quele tenlpO esses protagonist as eram to unninles quantoaos benefcios que o finl da escravido tr aria ao pas) quanto dissonantes acerca dos desdo bramentos da advindos. COlllO veremos aseguir, estratgias abolicionistas e empreendimentos polticos n os os diferenciavam quanto revelavam significados distintos parao finl da escravido, a cidadania dos hOlllens de cor e a ('preponderncia da raa africana .

    ENTRE O ' (BANQUETE DA CIVILIZAO E A REDENODA RAA : o JOGO ABOLICIONISTA

    Enquanto o governo in1perial evitava aimigrao de honlens decor, a articulao abolicionista nas provncias estruturava fornlas decompreender as llludanas sociais em curso. Nas dcadas de 1870 e1880)com as cores j plidas do ROnlantislTIO a palx:o emancipacionista prod uzia cenas drmllticas. Os memorialistas e literatos colecionaranl situaes em que a viso de um escravo a inlplo rar a liberdade arrancava lgrinlas de coraes j to arrebatados por grandescausas. Eram cenas como as protagonizadas por uma pobre escravaandrajante ) que irrompeu desesperadamente numa sesso daLibertadora Baiana para implorar pela sua liberdade. A aflio daescrava, como no poderia deixar de ser causou consternao geral ea doao da qu antia necessria para garantir-lhe alforria. :Foi Teodoro Sampaio quenl registrou um evento COlnenl0rativo ocorrido em 1884 pelo fim da escravido no Cear, promovidopela sociedade abolicionista Libertadora Baiana. A solenidade, batizada de banque te da civilizao': teve como po nto alto a entrega decartas de alforria a alguns escravos - expediente recorrente nessas

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    ocasies.Aps as saudaes e discursos de praxe sobre a "jus tia dacausa dos op rimidos'; deu-se incio passeata em prol da abo li oporm o pice da fes ta foi resen 'ado para a programao noturna. '

    Desde o fun da ta rd e, a rua do Palcio e a praa do Teatro SoJoo, no da cidade, "enche ra-se de povo" dispos to a seguirem corteJo at o Teatro Politeama. L chegando, depois de dive rsaspausas para d isc ursos e poemas, os or ganizadores da festa ocuparam o palco. Quando o pano do cenrio foi descerrado ve rificou- 'to rno de vultosa mesa", pronta para o ('ba nquete dacIvIlizao', sen taram -se os principais nom es da Libertadora e dooutro lado, em p um grupo de escrav izados aguardava a ent regadas cartas de alfor ria.Aps "un s instautes decorridos de silncio"O lder abo licionista Eduardo Carig levantou-se risonh o e lesto':saIu do palco para reto rnar tra zendo pela mo o poe ta Lus lvares dos San tos a recitar: "neste banquete de livres/ Neste c lice debravos/ no tem que beber tiranos/ no tem qu e sent arem-se escravos': De pois da rpida distribuio das cartas, a comoo tomouconta do amb iente e no meio dos recm-libe rtos, cC l a ve lha mulher exclama: meu Deus, viva o Senhor do Bonfim ". '"

    Por certo o uso da emoo foi um trao im portante na constrn o de discu rsos e aes em prol do fim da escravido; a comooprovocada pela conquista da alforria impreg nava as relaes ent reescravos e abo licionistase transbordava para as interpretaes sobrepossveis d iferenas entre a "raa emancipada" e a "raa e .anclpa-dora". Toda a ce na descrita por Teodoro Sa mp aio evocava a ddivada liberdade. A atmosfera de reden o abolicionista do evento reiterava as regras e distines construdas no mundo escravista.

    . Em 1884, a Gazeta da Ta rde ava liava que "no [era] pela aodlreta sobre o esprito do escravo qu e lhe podemos faze r algumbem, os l ivres que nos deve mos entende r, com esses quevamos pleI tear a ca usa daqueles ( .. ] porque a eles lhes proibimosde leva nta r o b rao em defesa prp r ia". ''' O texto ind ica c1ara-

    mente a qu em caberia o encaminhamento da qu esto servil,decerto ao ser lido em alguma assembleia da rua do Palcio expu nh a como no se pretendia mu dar a autoria das dec ises polticasno pas. Co mo indica o articulista, cabia ao movimento abolicio-nista insti tu ir-se como salvao p ossvel para o d rama dos escravos, re forando a ideia da tutela indispensvel que lhes deveria serassegur ada sob re os libertos. Como j disse Lilia Schwarcz, a liber-da de era ass im ent endida como "um presente qu e merec ia atosrec procos de obedinciae subnsson 1;Entre tanto, se analisarmos mais de perto as fil eiras abolicionistas c) espec ifica mente, a Sociedade Libertadora Ba iana) serinevitvel assinalar que no havia tanta un iformidade de prop si-tos entre 0 seus associado s.

    As agremiaes abolicionistas, como se observou em outrasprovncias, se to rnaram atuantes na Bahia nas dcadas de 1870 e1880, ma s, em 1852, os m dicos Jernimo Sodr e Jos Lus deAlmeida Couto j tinham fundado a Sociedade Abol cionista Doisde Julho, que funcionava na vizinhana da Faculdade de Medicinada Ba hia. lO O histo riador jailton Brito considera que fo i justamente nessa t radicional instituio qu e se formou a "va nguardaabo licionista" local. As mais importantes associaes foram fundadas em suas salas, ptio s e adjacncias da faculdade, ent o logradouro do cen tro administrativo e cultural da cidade. Ent re a praado Terreiro e a ru a do Palcio - atual rua Chile - circulavam amocidade acadmica, os caixeiro s artistas e dema is interessado snas not clSso bre a crise escravista e as conqu is tas do abolicionismo, sempre publicadas na Gazeta da Tarde no Dirio de Not-ciase no Dirio do Povo entre outros peridicos liberais da poca .Rui Barbosa, ao criticar a lentido com que se desagregava oescravismo no Brasil, se referiu s sociedades cmancipacionistascomo meros fru tos da espontnea benevolncia de almas bem formadas , que se fazianl protetoras de irracionais te i ,Seriam raros

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    3 Discurso deRu i Barbosa da sacada do hotel de Frana em So Palllo1869 cervo RB

    at sde generos idade que no sanavam O problema, concluiu ojuri.sta.W7 De fato na Bahia amaioria delas foi efmera e s6 conse-guia arregimentar scios c verba para libertar alguns poucos escra-vos. As dificuld ades das sociedades eram via de regra explicadaspela ex iguidadede recursos para o pagamento dos peclilios. Poucastiveram flego epres tgio. Um das maisimportantes fo ia SociedadeLibertadora Se te de Se tembro a mais atu nte na primeira metadedos anos 1870. Em 1871 a Sete de Setembro contabilizou 512scios, a edio regular de um peridico chamado O bolicionista ea compra da alfonia de cerca de quinhentos escravos. J no ano de1880 foi a Sociedade Libertadora Baiana que agremiou Um maiornmero de entusiasmados militantes da causa abolicionista, enos md icos advogados e chefes polticos mas ta mb m artesescaixe iros e peq uen os comerciantes.

    4 Gravura Orad ores do povo de Carib. O ambiente a tenda de um S{1-pclteiro espao pa ra debates polticos.

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    Teodoro Sampaio, ele prprio um homem de cor, registrou ascostumeiras assembleias para os encaminhamentos da que stose rvil': organizadas por scios da Libertadora Baiana nas pastelarias da praa do Palc';o, principais pontos de encontros de intelectuais, jornalistas e ((oradores do povo': expresso utilizada par a sereferir a abolicionistas negros como Manoel Roq uee Manoel Querin o. '''' Manoel Roque era um sa pateiro de cor preta alfabetizado ,que teve a seu encargo a tesoura ria da Sociedade Libertado raBaiana. Na opinio de Lus Anselmo, tambm associado, Mano elRoque era uma espcie de tradutor das ideias do s abolicionistaspara os menos inteligentes e o s ~ numaaluso ao seu trn-sito porterritrios sociais diferenciados.OMas preciso capturar aatuao desses personagens para alm da mera traduo de planose argumentos para quem no dominava os jarges dos doutores ,Eles es tava m entr e os qu e no se encaixavam na itnagem de umabol cionismo dentro dos preceitos legais, exercidos por ho mensdeestudo, bacharis eacad micos , como j disse E1ciene Azevedo.

    Do mesnlO modo, o preto Salustiano Pedra, comensal deRoque sapa teiro ,cont rariava o de legado de polcia porque, ins istentemente, em qu alquer lugar que chegasse ocupava-se com omagno assunto da justia para com sua raa . Tambm fazia parteda sua ao abolicionis ta confessar, sempre pu blicamente, suaido latr ia por Jos do Patrocnio e por Lus Gama ,qu e emprcslou

    o seu nome a um clube abolicionista fu ndado por ele. ' A pregao de Salustiano devia mesmo aborrecer a p olcia, que no viacom bons olhos os abolicionistas de cor . En tre a concesso desentar-se no banqu ete da civilizao num tea tro e a pregaopblica pel a redeno da raa havia um hi ato. E justamentenesse nterim,nessa descontinuidade de atitud es que se revelavamleituras distintas sob re os desdobramentos do fim da escravido.

    pr incipalmente a trajetr ia polti ca de Manoel Querin o queme faz considerar essa pe rspectiva. Foram muitos os seus espaos

    de insero social. Querino era artista, funcion.rio da Secretari adaAgr icultura, diretor do clube carn avalescos Pndegos d' frica,'professor,associado da Sociedade Libertadora J ~ r n a l i naGazeta da1rde alm de ter fundado dois outros pendIcos: Pro-vn em 1887,e O Trabalho em 1892 .Asuaatuao na Gazeta daTa rde foi fundam ental. Escrevia artigos, organizava conferncias emeetings. Em 1882, como sc io do Lic eu deA rtes e Oficias, ManoelQu erin o promoveu uma srie de conferncias abo licionistas. Josdo Patrocnio foi um dos primeiros palestrantes.A figura pblica de Manoel Querino foi construda pelo empenh o com que ele se envolveu na campanha abo licionista , em aSSO ciaes operrias e, sobretudo, nas pesquisas sobre u l t u ~ a negra naBahia.' Bem articulado no m eio poltico, ele se beneficlOu da proteo poltica do conse lheiro Dantas, Uder do s liberais na Bahia, queo teria liv rado de servir nao no Paraguai. Mas no se manteve fiels filiaes polticas do seu benfeitor. Em 1870,a despeito do mo nar quismo de Dantas, aderiu cau sa rep ublicana, tendo sido um dosautores do manifesto republicano, o que o credenciou a ser candI-dato a deputado pelo partido republica no em 1878.'''A atuao de Manoel Querino se m d vi da co ntradlZla aim age m de qu e era apenas at ravs da ao dos ab olicionistasbrancos que os rec m-emancipados se torn avam aptos a compar t ilhar do banq uete d a c ivili zao. Me smopo rque, paraQuerino, a ideia de civilizao no excetuava os afncanos nem air rac ionalidade fazia parte das ca ractersticas da raa negra .Aocontrrio, para ele, foi o trabalho do negro que aqui sustentou,por sculos e sem desfa leciment o, a nobreza e a prosperidad e doBrasil ; foi com O produto do seu trabalho qu e ltvemo s as InstI-tuies cientficas, letras, artes, comrcio, ind stria etc . [ .. ]com petindo- lh e, portanto, um lu gar de d estaque como fator da

    b ] Iticivilizao ras ena

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    5 Manoel Querino

    A dive rsidade de atores sociais da Libertadora Baiana permitia que ela exe rcitasseestratgias distintas nn movimento abolicionista, a exemplo da organ izao de fu gas e acoitamento de escravos, nas quais a participao de liber tos africanos era decisiva.Eram aes arqui te tadas no quartel da guarda velha, como ficouconhecid a sua sedc lI7 A estratgia era a m eSlna de outras associa -es abolicionistas da poca. Quando se decidia sobre a vi abilidad e de uma ao de liberdade providenciava-se acoitar o escravona casa de p esso a de reputa o , at que as prov idncias jurdicasfo ssem toma das. Entretanto, nem sempre os coiteiros eram idealistasbrancos caridosos e de boa reput ao. Tinha-se uma rede queenvolvia personagens bem distintos. A associao entre abolicionistas e coiteiros africanos eIn vrios momentos despertouas des-confianas da polcia e foi eficientemente investigada, em 1887,pelo delegado Fortunato Freitas.Com o timbrede r ervadoprprio aos assuntos mais inquietantes dos gabinetes policiais Fortunato Freitas enviou ao chefe depolc ia , Domingos Rodrigues, o auto de perguntas ao qu al forasubmetido Silvestre, um africano liberto. Parece ter sido o pr priointerrogado qu em procurou a polcia para queixar-se contraEduardo Ca rig, peia apropriao de42 mil-r s destinados Jiberdade de ln,sua enteada. A hi str ia contada por Silvestre tem sutilezas que nos esclarecem so bre as relaes entre liber tos africanosescravos e abolicionistas. Aos sessenta anos,o liberto Si lvestredisseter ouvido dizer que os africanos vindos para o Brasil depois da leide 1831 eram livres'; e como pretendia certificar-se desse negcio resolveu procurar o famoso Edu ar do Carig. Ta mb m lhein teressava saber se a sua enteada ln es tava matriculada com oescrava. A inteno de Silvestre era garantir-lhe a liberdade comprovando ser ela filha de uma africana importada ilegalmente. u

    De fato, Silvestre estava bem infor mado sobre as suas chancesde vitria,a ponto de procu rar Carig, um dosmais obstinados en-

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    tre os que apostavam nas aes de liberdade. Era facil saber, aindaque nas zonas rurais, sobre as suas investidas judiciais, porque elaseram fartamente divulgadas. Ao analisar a situao dos engenhosdo Recncavo baiano na dcada de 1880, WanderIey Pinho comentou que a cada barco que apartava no engenho Freguesia chegava notcia dos expedientes revolucionrios de Carig, o Antnio Bento da Bahia: fuga de cativos, acoitamento, ousadias erebeldia de escravos ,l19 A fama de Carig como patrono de escravos cm busca da alfonia era tamanha que na festa do Senhor doBonfim, em janeiro de 1889, se cantava a seguinte quadrinha: Olaia Carig ciec Iueu pape': 120

    Entretanto, as desconfianas de Silvestre foram acionadasquando o abolicionista lhe tomou 24 mil-ris, a ttu lo de despesas.Do ll1esmo modo e eOIl1 o meS1110 finl, queixava-se Silvestre, aindaandava Carig perseguindo-o por mais dezoito mil-ris , necessrios para uma cart a de depsito. Esse documento asseguraria aIn sair do seu esconderijo SClTI riscos. Salvo todo o encaminhamento parecer de acordo com trmites previstos pela lei de 1871,Silvestre dizia ter certeza de que nenhum passo havia sido dadoeln favor de sua enteada e por isso, procurara a polcia para reaver o dinheiro empregado. E no obstante o delegado insistirsobre o paradeiro de 1n, o desconfiado Silvestre esquivou-sedizendo que o esconderijo foi sugerido por Carig, c que apenassabia estar ela em casa de uma crioulinha a quen1 ele no conhe cia neln sabia sua morada. 12l

    Embora outros autores j tenham abordado as relaes entreabolicionistas, libertos e escravos, tan1bm no pude me esquivar,assim como o delegado Furtado, de prestar ateno histria deSilvestre. 122 Os vnculos entre as sociedades abolicionistas, coitciros africanos e escravos fugitivos desvendam uma teia de interesses compartilhados, mas tambm de interpretaes peculiaressobre os papis polticos reservados a cada um naquele contexto.

    evidente que para o xito de investidas abolicionistas mais ousadas, a colaborao de homens de cor como Roque Sapateiro e delibertos africanos se fazia relevante, pelo trnsito que tinham dentro da comunidade negra e pobre. Nessa rede de colaborao, asfugas e aes de liberdade arquitetadas no quartel da guarda velhaesclareciam sobre alianas e acordos estabelecidos entre oshome ns esclarecidos das sociedades abolicionistas e segmentosda populao de cor. .

    Ao meSlno tempo, a denncia de Silvestre revela como a Clf-culao de informaes patrocinada pelos abolicionistas eraimportante para a conquista ou garantia da liberdade. WalterFraga Filho comenta o quanto, a partir da dcada de J870, intensi ficaralTI -se as fugas de escravos dos engenhos para Salvador com opropsito de tratar de alfonia.' Ao se deslocarem das regies den1ando de seus senhores para a capital, eles esperavan1 uma aomais isenta das autoridades judicirias e o apoio do moviInentoabolicionista, lnais bem articulado no mundo urbano. Ao ouvirdizer, em 1887, sobre os direitos assegurados s vtimas do trficoilegal, ele nos informasobre a aposta na via judicial e o peso da propaganda abolicionista na desestruturao do sistema escravista.Era a pregao abolicionista, especialmente dos oradores dopovo , como Roque Sapateiro, que informavan1 aos escravos queuma ao de liberdade com boas chances de sucesso naqueles diasprocurava articular os dispositivos previstos na lei de 183 I: aausncia de n1atrcula e o desconhecin1ento da filiao.

    ano de 1887 foi especial para aqueles que, como Silvestre,buscavan1 bases legais para contestar a escravido. Havia sidonomeado para juiz de direito da vara cvel o magistrado dr. Amphilophio Botelho Freire de Carvalho, o mesmo que dez anos antestomara as prin1eiras providncias para inviabilizar o desembarquedos dezesseis africanos apadrinhados pelo cnsul ingls.124 A essaaltura, a sua lnilitncia abolicionista nada ficava a dever obstina-

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    o com que havia defendido a deportao dos africanos. EduardoCarig, ciente da predisposio do juiz para fazer valer a lei de1831, encaminhou uma srie de aes a serem julgadas porAmphilophio.' Foram cerca de duzentas as aes julgadas embenefcio dos escravos num espao de nove meses. 126 E medidaque corria a notcia do empenho de Carig e da disposio abolicionista de Amphilophio, o delegado Fortunato Freitas se empenhava ainda lnais elll desfazer a rede de colaborao entre coiteiT S e abolicionistas.

    O depoimento de Silvestre foi enviado ao chefe de polciaC01110 uma pequena joia, um achado, pea-chave para incrinlinarEduardo Carig por incentivar e acoitar fugitivos, e assim justifica ra represso aos coiteiros.Anexado ao inqurito seguia outro doculTIento. Era o interrogatrio feito ao escravo Braz, alguns mesesantes) naquela meS111a delegacia. Braz, africano, disse ser filho daafricana Lubadou, ter mais de sessenta anos, s f solteiro e estarfugido da casa do seu senhor) no distrito de Pojuca) C 111 o pensamento de procurar a sua alforria, Braz talllbm ouviu dizee)sobre a possibilidade de aquisio da alforria por meio de ao delIberdade) c assin1 viajou at a capitaL onde, apesar de no conhecer ningum ) soube atravs de um crioulo que UD1 IllOO chamado Eduardo Carig poderia ajud-lo. Contou Braz que, aoaceitar a causa, Carig recebeu logo vista para esle fin1 a quantiade sessen ta n1il-r s . 117

    Acertado o negcio , coube ao abolicionista escond-lo nar o ~ de outro africano nos arredores da cidade, de onde fugiu porque foi n1altratado com muito trabalho , Assim conlO SilvestreBraz no delatou o coiteiro, dizendo no saber o lugar onde estava:por no conhecer a cidade) e nenl mesmo saber o nome de quem oacolheu, Diante do delegado, Brazinsinuou o seu nico propsito:ser restitudo Inonetariamente selll que isso impli casse punio aquem o acoitara. Nesse sentido, a fidelidade a Eduardo Carig foi

    abandonada, mas no ao africano con10 ele, seu coiteiro, De possedas duas denncias, o chefe de polcia tinha meios para barrar aao de Carig, o mais conhecido entre os abolicionistas baianos,pela ousadia de suas aes tanto nos tribunais quanto nosempreendimentos ilegais. Sobre as decises do chefe de polcianada posso concluir porque no encontrei outros documentos arespeito do assunto, mas desconfio que o resultado da exaustivainvestigao do delegado no o surpreendeu. quela altura, a presso abolicionista fazia avolumar as denncias contra coiteiros,principalnlente africanos, estabelecidos nos arredores da cidade. 28

    Como se pode notar, havia modos de interlocuo e cooperao que subvertiam a concepo de que a causa abolicionista seriamais ben1 equacionada se a ela se dedicassenl apenas os hOlnenslivres e brancos, Nesse sentido, a tenso em torno dos encaminhanlentos da questo servil expressava a expectativa sobre os papisque seriam destinados a diferentes atares numa sociedade egressada escravido. Tal expectativa suscitou atitudes con10 a do Conselho de Estado para q llem era preciso criar obstculos preponderncia da raa africana , sem instituir UIll discurso racializado, nlastambn1 deixou mostra posturas conlO a de l\1anocl Sapateiro, arecl31nar pela redeno da sua raa . Sintetizando esses extren10S,prevalecia a dubiedade da Sociedade Libertadora Baiana que, porullllado julgava que os african os padeciam de um (nlal de origem ,e por outro os tinha como parceiros na cruzada abolicionista,I29Nesse jogo, a dissin1ulao da questo racial ganhou cada vez nlaisespao e pern1itiu a Joaquin1 Nabuco, ainda na dcada de 1880,avaJiarcom certo orgulho que,no Brasil, ao contrrio do que aconteceu nos Estados Unidos, a escravido, ainda que fundada sobrea diferena das duas raas, nunca desenvolveu a preveno de cor,e nisso foi infinitamente mais hbil ,1l0

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    8. Hebe Maria Mattos, t:scravido e cidadunia no Brasil monrquico, Rio deJaneiro: Editora Jorge Zahar, 2000, p. 59.

    9. Keila Grinherg tambm aposta nesta perspectiva em Grinberg, O iador dosbrasileiros - cidadania, escravido e direito civil no tempo de Antnio PereiraRebouas, Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2002.10. Olvia Maria Gomes da Cunha e Flvio dos Santos Gomes, Quase-cidado

    - histrias e antropologias da ps-emancipao no Brasil, Rio de Janeiro: Editorada FGV, p. 1311 Barbara J Fields, ldeology and race in America n history", p. 155.12. Por retomados ficaram conhecidos os africanos que foram repatriados ou

    migraram para a Africa ao conseguirem a alforria na segunda metade do sculoXIX. Para saber mais: Manoela Carneiro da Cunha, Negros estrangeiros- os lfricanos libertos e sua volta ji-ica, So Paulo: Brasiliense, 1985.

    13. Clia Maria Marinho de Azevedo, Onda negra, medo branco - o negro noimaginrio das elites do sculo XiX, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; Irmo ouinimigo: o escravo no imaginrio abolicionista dos Estados Unidos e do Brasil",in Revista da U S P- dossi povo negro, 28, 1995-96, pp. 97 -1 09; "Abolicionismo ememria das relaes raciais", EstudosAf;o-Asiticos, 26, 1994, pp. 5-19; Abolicionismo: Estados Unidos e Brasil, uma histria comparada (sculo XiX , So Paulo:Annablume, 2003.

    14. Clia Maria Marinho de Azevedo, Irmo ou inimigo: o escravo no imaginrio abolicionista dos Estados Unidos e do Brasil", p. 100. Ao traar paralelosentre o discurso abolicionista norte-americano e o bra ;ileiro, a autora consideraque num predominou uma fundamentao religiosa; no outro, a cientifica.

    15. Sobre os conflitos decorrentes da abolio na Bahia, ver Walter .FragaFilho, Encruzilhadas de liberdade: histrias de escravos e libertos na Bahia ( 1870-- 1910), So Paulo: Editora da Unicamp, 2006.

    16. Estes dado ; sero apr esenta dos no captulo 1.17. Sobre a construo poltica e simblica da ideia da abolio como ddiva,ver Lilia Moritz Schwarcz, Dos males da ddiva - sobre as ambiguidades no

    processo da Abolio brasileira", in Olvia Maria Gomes da Cunha e Flvio dosSantos Gomes (org.), Quase-cidado, pp. 23-54.

    18. Hebe Maria Mattas, Das cores do silncio - os significados da liberdade noSudeste escravista, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.19.13. J llarickma n, "At a vspera: o trabal ho escravo e a produao de acar

    nos engenhos do Recncavo baiano", in Afro-sia, n' 21-22, 1998/99, pp. 177 -237.20. Lilia Moritz Schwarcz, O espetculo das raas - cientistas, instituies equesto racial no Brasil, So Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 17.

    porm, o carter europeizante dessas doutrinas: Preto 110 branco - raa e nacionalidade no pensamento brasileiro, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.22. Nina Rodrigues, Os africanos no Brasil, So Paulo/Braslia: Editora Nacio

    nal/Editora Ul\H, 1988,p. 9.23. Clifford Geertz, A interpretao das culturas, Rio de Janeiro: Zahar, 1978,p.20.

    1. CNSULES, DOUTORES E OS SDITOS DE COR PRETA : RAZES EAES POLTICAS NUM PROCESSO DE RACIALIZAO [pP. 45-93]

    1. H vrios ttulos sobre o tema, dentre eles: Leslie Bethel l, The abolition ofthe Rrazilian Slave Frade - Britnin, Brazil ur/(/ slave trade qllestion, Cambridge:Cambridge University Press, 1970; Pierre Verger, Fluxo e refluxo do trfico deescravos entreo Golf) de 13enin e a Bahia de Todos 05 Sal1tos dos sculos XVII ao XIX,So Paulo: Corrupio, 19R7, pp. 293-321; Robert Conrad, Tumheiros - o trficocscravista para o Brasil, Sao Paulo: Brasiliense, 1978; Manolo Florentino, Em costas negras: uma histriu do trIico de escravos entre a frica eo Rio de Janeiro (sculoXV111 cXiX , So Paulo: Companhia das Letras, 1997; Jaime Rodrigu es, O infamecomrcio - propostas e experincias /lO final do trfICO de africanos para o Brasil

    180 )-18SO), Campinas/So Paulo: Unicamp/Cecult, 2000.2. Ubiratan Castro d e Arajo," 1846: um ano na rota Bahia-Lagos. Negcios,negociantes e outros parceiros", AFo-sia, n'" 21-22, J998-9, p R9.

    3. Vergcr, Pluxo erefluxo, p. 385.4. Jaime Rodrigues comenta que a presso inglesa estava relacion ada a investidas comerciai s na frica ena Amrica no sculoXJx. Rodrigu es, O infame comrcio, especialmente captulo 3. J os historiado res Dav id Eltis, Stephcn D. Behrendte David Richardson articulam o empenho dos ingleses em extinguir o trficoatlnlico ao papel secundrio que eles passaram a ocupar nesse comrcio, a partir do sculo XVIII. "Aparticipao dos pases da Furopa e das Amricas no trficotransatlntico de escravos: novas evidncias': AFo-sia, 24, 2000, pp. 9-50.

    5. APEB, Fala presidente da provncia Herculano Ferreiru Pena em IOde abril de1860, Bahia: Tipografia Antnio Olavo, 1860.

    6 Al EB, seo colonial, Mapas de entrada esada de embarcaes, mao 3177.7. APEB, seo colonial, mao 3139-55, Ofcio do chefe de polcia AmphilophioBotelho Freire de Carvalho ao presidenteda prol/llcia Henrique Pereira de Luccna,

    8de agosLo de 1877.8. Verger, r:luxo e refluxo, p. 323.9. Rodrigues, () infame comrcio, p. 109. Sobre os produtos desse comrcio:

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    Pier re Vcrgcr, Fluxo crefluxo; M an u ela Carn eiro da ClUlha. Neg ros estrangeiros:ose cravos libertos e sua Vo lta fricn, So Paulo: Brasiliense, 1985. Os interesses econfl itos e nvolvidos n o t rfico tam bm foram ab o rda dos por Jaime Ro d r iguesem De Cos ta a costa - escravos, marirlheiros e intermediriosdI' trfico Atlnticode Angola ao Rio de )al/eiro ( 1780-/860),So Paul o: Com p;m h ia d as Letras, 2005.

    10. A lei de 183 1 fo i o principal mo te das acs de libe rdade quando se questionava o direi to de p ropriedade sobre escravos. Sobre esse assunto, ver ElcieneAzevedo, "O di reito dos escravos utas ~ l r d j c a s e abolicionismo na provn ciade So P

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    30. J.Michael Turner. A fro- bras ileiros c iJc n tiJ aJe lni ca na frica Oc idental': Estudos Afro-Asiticos, nD 28, 1995 , p. 89.

    31. J. Lora nd Ma to ry, "Jeje: repensa ndo naes e t rasnaciona lismo': cmMANA Estudos t ~ A n t r o p o l Social, vo I. 5, I1n 1, ab ri1l1999. pp. 72-97.

    32. APEH, seo ju d ici ria, Pedido de nnturalizao de Domingos Jer"imo dosSantos, 10 janeiro de 1887, ma o 1593. Flvio Go mes e Carlos Eugn io Soaresen co nt ra r am um do cu mento muito in ter essant e, no qu a l um africano livre,cient e de ter sido escravizado no trfico ilegal, dizia estar esperan do que os ingleses viessem bu sc-lo e proteg-lo, em Com o p sob re um Vll1co , p. 30.

    33. Arquivo Nacional, IJJ9-355, Ofcio da presidncia. da provncia da Bahia aoMiJ striodeJus/ia, 1 de maro de 1888.

    34. Fm 24 junh o de 1900, o jornal Coisa pu blicou um dilogo fictcio noqua l do is homens comentavam que muitos testamentos de africanos eram feitosdepois dos donos j es tarem no outro m undo': fa ;r,en do valer O di to popular de

    q ue traba lha o feio pa ra o bonito comer".Na crnica ,o I u t.o r insinua qu e a apro pr iao era orq uest rada po r autoridades locai s, po is qua ndo se v cm cntl:rro de

    uns certos " mo leq ues sabidos e chefes polt icos" pode-se dedu zir:e nterro dea fric3no,este povo no meio e pol tico aco m panha ndo .. tem m,lranha[esper teza ) e m uiLa maranha".

    35. Cid Te Lxeira, A fT icanistas, esse documento para vocs", em Hahia emtempo depro vllcia, Sa lvador: Funda o Cultur al da Ran ia, 19X(;, pp. 91-3 .

    36. AI'EB,seo judicir ia, lnventtrio de A1arifl da COr/ceio Teixeim, 1874. Aomorrer em 1873, Maria devia doze mil-ris a Panja "qu e Inegociava] com a costa".

    37. Desde o ano de 1840, os barris com dcnd e os esc r.wos div idiam o C0 111-pa rti rncnl.o de cargas dos navios comerciais brasileiros. O cult ivo do dend chego u mes mo a n presentar umaatividade cOlnplementar para os tr afica nte s.PierreVergel' localizou diversos documentos citando o azeit.e COlno mo eda em Flllxo erefluxo, p. 6Sl. Manuela Carneiro da Cunha fez os clcu los desse comrcio entre1RS ) e 1902. Cunh2., Neg ros estrangeiros, pp.1 14-2 7.

    38. Th a les de Azevedo, Histria do Bal/co da Bahia (1858-1958). Rio deJaneiro: Liv raricl Jos Olymp io, 1969.

    39. Nina Rod rigues, Osafrica.nos no Brasil. So Pa ulo/Braslia: Ed ito ra Nacio-naUuNA, 1988 , p. 98; e Vc rger, Fluxo e refluxo, p. 629.

    40. APEB. seo Ju d iciria, Inventrios e teswmentos, 1908.41. Dirio da Bahia, 25 dcm a iodc 188 1.42. Rod rigues, Os africanos no B r a s i p. 105.43. Do nald Piersol1, ao en trevist ar mes de san to na Sahia em 1930, ouviu de

    algumas de las que vr ios artigos usados nos rituaisp recisavam i t i m o s ou

    essa ideia de legitim idad e ver tam b m \Va ldir Fre itas Olivei ra e Viv ldo < 1

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    Santo Amaro,no Recncavo, at a chapad a diamanlina, atravess ando uma regioento bastante rica em pedras preciosas. Apesar da concesso em 1865, essaestra da de ferro s possua 45 quilmetros construdos em 1875, quando passouaser admini strad a pelaBrazilian Impe rial Central Bahia Railway Company Limited, empresa com sede em Londres. Tavares, Histria da Bahia, p. 272. Ver tambm, Elpdio Mesquita, Vailo frrea na Bahia Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal do Comrcio Rodrigues cOa., 1910. Em 1880, em todo o pas eram onze ascompanhias inglesas de estra da de ferro. R. Graham, Escravido reforma e imperialismo, So Paulo: Edito ra Perspectiva, 1979.59.Arnold Wildberg, Os presidentes da provncia da Baha Salvador: l'ipografia Beneditina I.tda, 1949, pp. 653-62.

    60. Arquivo Nacional , IJJ 1-426, Oficio do consulado britnico IUI Bahia ao presidenteda provncia, 10 de agosto de 1877.

    61. Joaquim Nabuco, Um estadista no Imprio, vol.l, Rio de Janeiro: Topbooks, 1997, pp. 685-6. Para saber mais sobre o Conselho de Estado, ver RonaldoVainfas (org.), Dicionrio do Brasil Imperial (1822-1889), Rio de Janeiro: Obj etiva, 2002, p. 165; M. C. Tavares, () Conselho de Estado Rio de Janeiro: (jlW, 1965;Jos Murilo de Carvalho, A con:;lruuo da ordem e teatro de sombras, Rio deJaneiro: Civilizao Brasileira, 2003, especialmente os captulos 1 e 2; Jos Francisco Rezek (org.), Conselho de Estado I 842-1889) - consultas da Seo dosNegcios Estrangeiros, l3raslia: Cmara de Deputados/Ministrio das RelaesExteriores, 1981.

    62. Nabuco, Um estadista no Imprio, pp. 695-736. Os projetos apresentadospor Pimen ta Bueno, ento redator imperial, foram sistematizados na lei aprovadaem28 de setembro de 1871. Para vrios autores, como Joaquim Nabuco e JosMurilo de Carvalho, tais projetos eram, na verdade, uma inspirao do prprioPedro l que julgava no ser possvel mais adiar a soluo para a quest o servil,principalmente por se estar sob "a presso moral da guerra do Paraguai" e dasociedade abolicio nista francesa, pp. 657-9. Tal presso podia ser notada nosperidicos em circulao. Tambm foi a partir de 1866 que o Jornal do Cornrciopassou a publicar uma srie de artigos de Perdigo Malheiros.As ideias de Malheiros sobre a questo servil esto na sua importante obra Escravido no ms l-ensaio histrico Jurdico social. Petrpolis: Vozes/INL 1976 [18661.

    63. Arquivo Nacional, IJJl-426, Parecer da COmiSS{IO de Justia do Conselho deEstado 30 de novembro de 1866. A proibio foi citada no original pelo cnsul:no slaves can be imported into Brazil from any country \vhatever".64. Arquivo Nacional, IJJl -426, Parecer da Comisso de Justia do Conselho de

    }:;st[ldo 30 de novembro de 1866.65. A atuao de Nabuco de Arajo discutida por Carvalho, () leatro de som-

    bras p. 302. O Lermo boa sociedade" foi usado por limar Mattos p,lra definir eanalisar o pequeno grupo que compunha a elite da poca, ver O tempo SOI/1/11-rema So Paulo/l3raslia: Hucitec/INJ., 19R7.

    66. Os argumentos de Nabuco de Arajo foram muito interessantes porexplicitar a sua compreenso sobre a condio de sujeito social do escravo. Noparecer l-se, por exemplo, que a lei de 1835 era injusta porque destri todas asregras da imputao criminal, toda a proporo das penas, porquanto os fatosgraves e menos graves so confundidos, e no se consideram circunstnciasagravantes e atenuantes, como se os escravos no fossem homens, no tivessempaix6es e o instinto de conservao", Atas do Conselho de Estado 30 de abril de1868 apud Joaqui rn Nab ueo, () Ilbolicionismo, Petrpolis/ Draslia: Vozes/lN .,1977, nota da p. 132.67. A atuao de Na buco de Arajo tambm foi discutida por Jos HonrioRodrigues, Conselho de }:;stado o quinto poder? Braslia: Senado Federal, 1978;por Ronaldo Vainfas, Dicionrio do Brasil Imperial, pp. 245-6; e por JoaquimNabllco, Um estadista no Imprio.

    6R ngela Alonso, Ideias em movimento - a gerao de ]870 na crise do ra-sil Imprio Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002, p. 73.

    fi9. Eduard o Spiller Pena,Pajens da a s a l m p e r i a l ~ Juriscol1sultos escravidi:loe a lei de 1871, Campinas: Unicamp/Cecult, 2001, p. 53. A lgica poltica deNabuco de Arajo tambm foi abordada por Lenine Nequete, Escravos e magistrados no segundo reinado Braslia: Ministrio da Justia/Fundao Pet rnio Portela, 1988.70. J\lurilo de Carvalho coment a esse episdio em Teatro de sornbras pp. 52--3. Llliz Felipe de Alcncastro considera que o Visconde de Jequitinhonha foi umcaso tpico de tllpinizao, de integrao ao movimento nativisla. Alencastro,"Vida privada e ordem privada no Imprio", em Vainfas (org.), Histria da vidaprivada no Brasil p 53.71. Ktia 1 r1 de Queirs Matoso, A Bahia no sculo XIX uma provncia noImprio Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1992, p. 273.

    72. Pena, PaJens da Casa Imperial, pp. 49-53.73. Rodrigues (org.), Atas do Conselho de Eslado p.181.74. A referncia ao papa e sua trindade est em Srgio Buarque de Holanda.

    Histria gemi da civilizar10 brasileira. Rio de Janeiro: Difel, 1978, p. 110.75. Soares e Gomes, Com o p sobre o vulco". Segu ndo Eugnio LibnioSoares, esse chefe de polcia tambm teria sido implacvel com os capoeiras e suasprticas, A capoeim escrava c outras tradies rebeldes no Rio de Janeiro Campi-nas/So Paulo: Editora Unicamp/ Cecult, 2001.

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    76, Jos Ho n rio Rodr igues (org.) , Atas do Conselho de Estado, Bras lia :Senado f ederal, 1978, p. 185 .

    77. Eusbio de Q ueiro z j ulgo u que a investid a dos ingleses em nada co ntr ihua para o fim do t r ficu,a t atrapaJhava a ao do governo imp erial por desper[ar d isursosn acionalistas em favor da cont in uid ade do negc io d e escravos.C u valho , Teat ro de sombras, p. 300.

    78 , Segu ndo Rob ert Slen es, Campinas foi o d est ino de m ui to s m igran tes cimigrantes ao lon go d o sculo X1X. O a tra livn fo i, al e meados do sculoXIXa grande lavoura aucareira e depois a produo cafecira cm Senhor es esubaltern os no oeste paulista , em Vain ls (org.), Hi stria da vida privada noBrasil.p. 242.

    79. Arq uivo Na cio nal, UI 1-426, Parecer da COInisso de Justia do CO llselho deJ stad o, 30 de novemb ro de 1866.

    80.Rod rigues (o rg.),Atasdo Con selhodoEstado,pp. JSJ-7 .Na verdad e, desdea revolu:lo no H .\it i a possibilidade de a id eia d e liberdad e alastra r-Soe pela Amrica escravista preocupava asauto r idad es b rasile iras . Essa an lise tambm foi realizada po r Mar }' Karash . A vida dos escm vos ri O Rio de Jan eiro (1808-1850). SoPaulo: Compa nh i,l das Le Lras, 2000, p.425.

    81. ( :a rvalho, Tea tro desombras, p. 305.82. Idem, p. 307.83. Sobre as restri cs cidad ania n egra nos Estados Unidos, h u ma vas ta

    bibliografia. Algu ns cxem plos so Mic hael Ran ton , A ideia ela ra a, So Paulo:Ed ies 70, t977; Barb ara Fie1ds, ''S lavery, racc and id eology ill the Unil ed Statesof America , Ni:w LeftRcview, n 81, 1990, pp. 95- 108; e r ields, ldt:ologY

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    95. Sid ney Cha Uloub, Machado de Assis - historiador,S o Paulo: Compa-nhia das Letra.", 2003; ve r especialmente o captulo 4.

    96. JosAnt nio Pimenta Ru eno, Trabalho sobre a extinio d J escr(j wltum noHrasif, Ri o de Ja neiro: Tipografia Nacional, 1868, p. 109, apud Chalhoub,Machado de Assis, historiador, p. 179.97. C halh o llb, Machadode Assis, historiador, p. 254.

    98. Rod rigues org.),Atas do Conselhodo Estado, p. 182.99. Arquivo Nac.ional, IJJ 1-426, Resolll i1o da Comisso de Ju,stia do Conselhode listedo, em 20 dr.: dezembro de 1877.

    100. Arquivo Nacional, ln 1-426, Resoluo dfl Co misso de Ju stia do Conse lho de fls tado , cm 20 de dezembro de 1877.

    101. Agradeo a T,isa C

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    123. \Valter .Fraga Pilho, Encruzilhadas da liberdade