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JOGOS COOPERATIVOS: Ressignificando o Esporte Escolar JUEGOS COOPERATIVOS: Dar un nuevo significado a la Escuela de Deportes 1 Cirlene Gonçalves Pádula 2 Sueli Carrijo Rodrigues RESUMO Este artigo refere-se ao projeto de pesquisa elaborado para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), desenvolvido no período do ano de 2008. Critica o esporte praticado no ambiente escolar e apresenta uma metodologia alternativa, desenvolvida a partir dos princípios dos Jogos Cooperativos. Busca a ressignificação do esporte voleibol nas aulas de Educação Física, para o 1º ano do Ensino Médio. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, aplicada através da proposta da pesquisa-ação. Utilizou-se dos seguintes procedimentos: Sensibilização ao tema (Direção; Equipe Pedagógica, Professores, Funcionários e alunos); Inserção do projeto na realidade; Assimilação, reelaboração e produção de atividades teóricas e praticas; Organização de uma minicompetição de voleibol; Avaliação investigativa (Entrevista diagnóstica, Check list e Depoimentos); Registro das dificuldades encontradas e possíveis soluções. Analisou-se os dados qualitativamente através das respostas dadas pelos atores às atividades propostas, do comportamento e da atitude dos alunos. O foco principal esteve na aula de Educação Física, e conseqüentemente na atuação da professora e pesquisadora e não apenas na observação dos acontecimentos. Como resultado obteve–se que esta metodologia de trabalho é viável e bem aceita pelos alunos. Palavras chave: Educação. Educação Física. Jogos Cooperativos. Ensino Médio. RESUMEN Este artículo hace referencia al proyecto de investigación elaborado para el Programa de Desarrollo Educativo (PDE), desarrollado durante el año 2008. Critica el deporte practicado en el entorno escolar y presenta un enfoque alternativo, desarrollado a partir de los principios de los juegos cooperativos. Consulta la significación de balonvolea en las clases de educación física para el 1er año de la escuela secundaria. Se trata de una encuesta cualitativa, aplicada a través de la investigación-acción propuesta. Se utilizaron los siguientes: arribar el tema (administradores, el Equipo, Facultad de Pedagogía, personal y estudiantes) insertar el proyecto en realidad, la asimilación, el rediseño y la producción de la teoría y actividades prácticas, la organización de una minicompetición de balonvolea; Calificación de encuesta (entrevista de diagnóstico, listas de verificación y testimonios), registro de las dificultades encontradas y las posibles soluciones. Se analizaron los datos de manera cualitativa a 1 Professora de Educação Física da Rede Pública do Estado do Paraná. Universidade Estadual de Londrina. Especialização em Magistério da Educação Básica, com concentração em Interdisciplinaridade na Escola. Faculdades Integradas “Espírita” E-mail: [email protected] 2 Professora do Curso de Educação Física da Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP. Jacarezinho. Mestre em Educação. Universidade Estadual de Londrina – UEL. Doutora em Educação. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

jogos cooperativos

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JOGOS COOPERATIVOS: Ressignificando o Esporte Escolar

JUEGOS COOPERATIVOS: Dar un nuevo significado a la Escuela de Deportes

1 Cirlene Gonçalves Pádula 2Sueli Carrijo Rodrigues

RESUMO

Este artigo refere-se ao projeto de pesquisa elaborado para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), desenvolvido no período do ano de 2008. Critica o esporte praticado no ambiente escolar e apresenta uma metodologia alternativa, desenvolvida a partir dos princípios dos Jogos Cooperativos. Busca a ressignificação do esporte voleibol nas aulas de Educação Física, para o 1º ano do Ensino Médio. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, aplicada através da proposta da pesquisa-ação. Utilizou-se dos seguintes procedimentos: Sensibilização ao tema (Direção; Equipe Pedagógica, Professores, Funcionários e alunos); Inserção do projeto na realidade; Assimilação, reelaboração e produção de atividades teóricas e praticas; Organização de uma minicompetição de voleibol; Avaliação investigativa (Entrevista diagnóstica, Check list e Depoimentos); Registro das dificuldades encontradas e possíveis soluções. Analisou-se os dados qualitativamente através das respostas dadas pelos atores às atividades propostas, do comportamento e da atitude dos alunos. O foco principal esteve na aula de Educação Física, e conseqüentemente na atuação da professora e pesquisadora e não apenas na observação dos acontecimentos. Como resultado obteve–se que esta metodologia de trabalho é viável e bem aceita pelos alunos.

Palavras chave: Educação. Educação Física. Jogos Cooperativos. Ensino Médio.

RESUMEN

Este artículo hace referencia al proyecto de investigación elaborado para el Programa de Desarrollo Educativo (PDE), desarrollado durante el año 2008. Critica el deporte practicado en el entorno escolar y presenta un enfoque alternativo, desarrollado a partir de los principios de los juegos cooperativos. Consulta la significación de balonvolea en las clases de educación física para el 1er año de la escuela secundaria. Se trata de una encuesta cualitativa, aplicada a través de la investigación-acción propuesta. Se utilizaron los siguientes: arribar el tema (administradores, el Equipo, Facultad de Pedagogía, personal y estudiantes) insertar el proyecto en realidad, la asimilación, el rediseño y la producción de la teoría y actividades prácticas, la organización de una minicompetición de balonvolea; Calificación de encuesta (entrevista de diagnóstico, listas de verificación y testimonios), registro de las dificultades encontradas y las posibles soluciones. Se analizaron los datos de manera cualitativa a

1 Professora de Educação Física da Rede Pública do Estado do Paraná. Universidade Estadual de Londrina. Especialização em Magistério da Educação Básica, com concentração em Interdisciplinaridade na Escola. Faculdades Integradas “Espírita” E-mail: [email protected] Professora do Curso de Educação Física da Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP. Jacarezinho. Mestre em Educação. Universidade Estadual de Londrina – UEL. Doutora em Educação. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

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través de las respuestas dadas por los actores a las actividades propuestas, el comportamiento y la actitud de los estudiantes. El objetivo principal era la clase de educación física, y por lo tanto el desarrollo del profesor y de investigador y no, sólo la observación de los acontecimientos. Como resultado se comprobó que esta metodología de trabajo es factible y bien aceptada por los estudiantes.

Palabras clave: Educación. Educación Física. Juegos Cooperativos. Escuela.

1. INTRODUÇÃO

A Educação Física, muitas vezes sem perceber, ao trabalhar com Jogos

Brincadeiras e o Esporte Escolar tem reforçado valores como: ser o melhor,

focalizando o resultado e não o processo e a qualidade, reforçando algumas

características como a superioridade, a competitividade e o individualismo, gerando

a exclusão. Com base nesses pressupostos, apresenta-se o seguinte problema para

estudo: Será possível utilizar uma metodologia para se trabalhar o esporte na escola

de uma forma não excludente? De qual forma?

O esporte escolar que atualmente é transmitido no ambiente da escola está

fortemente atrelado a competição, refletindo a ordem cultural de um sistema

econômico. Se a competição excludente da sociedade capitalista não representa

uma dinâmica aparentemente adequada, deve-se tentar mudar esta direção, e

caminhar em busca de uma sociedade mais cooperativa, democrática, solidária e

justa. Portanto, pretende-se apresentar novos valores, intervir, dar uma direção ao

processo educativo em um sentido crítico. (BRACHT, 1992). Não objetiva-se abolir a

competição, mas atribuir a ela um significado menos central, e mostrar que há

alternativas de participação nas aulas e na sociedade. O estudo evoluiu no sentido

de ressignificar e afirmar que o esporte escolar, em específico o esporte Voleibol,

para o 1º ano do Ensino Médio, pode ser utilizado através de uma outra perspectiva,

a dos fundamentos dos Jogos Cooperativos. que seja crítica, transformadora e

inclusiva, questionando as práticas da Educação Física como instrumento ideológico

da sociedade dominante. Esta é uma pesquisa de natureza qualitativa, aplicada

através da proposta da pesquisa-ação, que tem base empírica por estar voltada para

a descrição de situações concretas e para a intervenção ou a ação orientada em

função da resolução de problemas efetivamente detectados. Porém, não deixa de

colocar questões relativas aos quadros de referência teórica, sem os quais a

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pesquisa empírica não faria sentido. O estudo desenrola paralelamente ao

acompanhamento da ação. A mediação teórica está presente em todas as fases de

desenvolvimento do trabalho.

Para transformar essa realidade exclusiva e tornar a escola um ambiente

alegre, inclusivo, agradável de estar, de aprender, é necessário repensar algumas

práticas pedagógicas, procurando utilizar atividades que valorizem as experiências e

desejos dos alunos e, jogos que criem oportunidades para o desenvolvimento físico,

moral e intelectual garantindo, dessa forma, a formação de um indivíduo com

consciência social, crítica, solidária e democrática.

A Educação Física é capaz de proporcionar todas estas oportunidades, pois é

uma área de conhecimento que não se limita, ou melhor, não deveria se limitar, ao

esporte. Quando trabalha com ele, necessariamente não precisa ter como único

modelo o esporte de rendimento, ou seja, o competitivo. A Educação Física pode e

deve mostrar que há alternativas de se trabalhar com este conteúdo, buscando

contribuir para uma sociedade menos excludente.

2. EDUCAÇÃO FÍSICA E AS PEDAGOGIAS CRÍTICAS.

Na década de 1980, iniciou-se um debate crítico, principalmente de

orientação marxista, no pensamento pedagógico brasileiro em relação à função do

sistema educacional. Esta crítica denunciava o papel conservador da educação

que, através de sistemas ideológicos, marginalizadores e de exclusão, contribuía,

não para a transformação da realidade social, mas sim para sua reprodução nos

moldes vigentes. (BRACHT, 2005)

Criou-se pelos estudiosos na área da Educação, um movimento que procurou

construir alternativas para o sistema educacional, dando origem às chamadas

Pedagogias Progressistas, ou críticas, cujo objetivo era colocar a educação na

perspectiva da transformação social, contribuindo para a busca de uma sociedade

mais democrática, solidária e igualitária.

Segundo Bracht (2005), a adesão teórica referente às Pedagogias

Progressistas, parece ser maior do que a sua efetiva prática. Alguns estudos

mostram que o conhecimento destas propostas é grande no meio acadêmico, mas

ainda pequeno entre aqueles que estão em atividade nas escolas de ensino

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Fundamental e Médio.

Partindo dessa constatação buscou-se implementar a Educação Física na

perspectiva da colaboração na transformação social.

A escola deve ser um instrumento de luta contra a marginalidade, onde deve

garantir um ensino da melhor qualidade possível aos trabalhadores. Deve-se

valorizar e priorizar os conteúdos relevantes e significativos.

O professor deve ser um intelectual da educação, dominar o saber da classe

dominante, para transmiti-lo às classes dominadas. Ser o transformador e o

mediador entre os alunos e o complexo cultural. Transformador. Ter bem claro quais

são os objetivos político-pedagógicos que possam orientar os seus conteúdos e

métodos num sentido crítico-social.

(...) o trabalho docente é uma atividade conjunta entre professor e aluno, onde o primeiro planeja, organiza, dirige e controla o ensino, tendo em vista a atividade dos alunos; que o principal fator de ensino é a contradição entre as tarefas teóricas e práticas do ensino, e nível de conhecimentos, hábitos e capacidades dos alunos em função da idade; que o ensino deve ter como ponto de partida e ponto de chegada a atividade prática dos alunos no seu cotidiano, no trabalho, na sociedade; que é preciso conjugar a atividade individual com a coletiva, de acordo com o princípio de que o coletivo promove o bem de cada um e cada um promove o bem da coletividade; que o ensino não visa apenas à instrução, mas, por meio dela, à educação de uma pessoa convicta, de caráter, capaz de transformar os conhecimentos e habilidades em ações práticas em seu próprio benefício e no da coletividade. (LIBÂNEO, 1988, apud GUIRALDELLI JR. 1991, p. 12-13)

3. BREVE HISTÓRICO E AS CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA

As primeiras sistematizações que o conhecimento sobre as práticas corporais

recebeu em solo nacional, ocorreram a partir de teorias oriundas da Europa. Sob a

égide de conhecimentos médicos e da instrução militar, a então denominada

Ginástica surgiu, principalmente, a partir da preocupação com o desenvolvimento da

saúde e a formação moral dos cidadãos brasileiros. Esse modelo de prática corporal

pautava-se em prescrições de exercícios visando o aprimoramento de capacidades

e habilidades físicas como a força, a destreza, a agilidade e a resistência, além de

visar a formação do caráter, da auto-estima, de hábitos higiênicos, do respeito à

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hierarquia e do sentimento patriótico. (SOARES, 2004, apud PARANÁ, 2008).

Com a intenção de entender um pouco mais a história da Educação Física e

suas concepções, considera-se estas informações como um objeto de superação,

de análise, de crítica, de reorientação e/ou transformação.

Segundo Ghiraldelli Júnior (1991) a Educação Física até os meados dos anos

80, se classificou em cinco concepções: Higienista, militarista, pedagogicista,

competitivista e popular. No momento, interessa-nos destacar a concepção

competitivista como um dos focos da pesquisa.

Após 1964, o desporto de alto nível ganhou espaço na sociedade e,

conseqüentemente, na Educação Física. A Educação Física Competitivista, a

exemplo das concepções higienista e militarista, esteve a serviço de uma

hierarquização e elitização social. Seu objetivo foi e é a competição e a superação

individual. Cultua o atleta-herói, aquele que apesar de todas as dificuldades chegou

ao podium. Para estes “eram” concedidas bolsas de estudos.

O esporte reduziu-se ao desporto de alto nível. A sua prática tornou-se

massificada, para que se pudesse brotar e extrair dele, expoentes capazes de

conquistar medalhas olímpicas para o país.

Na visão competitivista, a ginástica, o treinamento, os jogos recreativos, etc.,

ficam submetidos ao desporto de elite. Cria-se e privilegia o Treinamento Desportivo,

para melhorar a técnica.

O desporto de alto nível é modelo para a Educação Física e trouxe a

competição irrestrita para dentro da escola. Esta concepção também serviu para

atender as ideologias dominantes, mascarar os problemas políticos e desmobilizar a

classe popular da luta de seus interesses, oferecendo à população, pelos meios de

comunicação, doses exageradas de um esporte espetáculo.

Segundo Soler (2006), algumas destas concepções já foram superadas,

embora ainda encontremos alguns modelos, ou pior ainda, uma mistura deles:

“professor sargento médico e treinador”.

Mas o perfil do professor de Educação Física, vem mudando.

A Educação Física passou e está passando por transformações. Está

buscando através de vários estudos “descobrir e reforçar” a sua identidade dentro do

contexto escolar. Procurando se desligar do modelo que se pauta na prática

esportiva e na aptidão física, onde o enfoque pedagógico esta centrado na

competição e na performance do aluno, busca uma proposta crítica, onde o principal

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objeto de estudo é a Cultura Corporal, o conhecimento e a reflexão sobre as práticas

corporais historicamente produzidas pela humanidade e transformada em saber

escolar.

O Coletivo de Autores (1992), ao discutir a Educação Física escolar, faz a

comparação entre o modelo pautado na aptidão física e a perspectiva de um

trabalho voltado para o desenvolvimento da Cultura corporal. Eles defendem a

segunda, e a explicam:

Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular, no âmbito da Educação Física, tem características bem diferenciadas [...] Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte [...] (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 38)

Mas sabendo desta perspectiva da Educação Física escolar e mais

especificamente refletindo, perguntamos: Como tem sido trabalhado o esporte

escolar?

Temos trabalhado o esporte na escola? Ou o esporte da escola?

Será que estamos conseguindo “educar” através do esporte?

4. A INFLUÊNCIA DO ESPORTE NA ESCOLA

O esporte de caráter competitivo surgiu no século XVIII, na cultura européia,

sobretudo na Inglaterra, e se expandiu para o resto do mundo.

O modelo esportivo europeu foi se tornando a expressão superior da cultura

corporal de movimento, passou a ser padrão, “folclorizando” as demais

manifestações esportivas de outras sociedades. O esporte se expandiu tão rápido e

tão ferozmente quanto o capitalismo (BRACHT, 2003).

É evidente que o esporte em todas as sociedades, ainda é um fenômeno

muito valorizado, pelo menos no sentido econômico. Esta importância se dá mais no

setor do esporte de rendimento ou espetáculo, onde os meios de comunicação lhe

dão total cobertura, fazendo com que mesmo sem praticá-lo, estejamos sempre em

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contato com ele. Já no âmbito do esporte escolar, temos pouca divulgação.

Juntamente com o debate crítico sobre a Educação, na década de 1980, a

crítica feita ao Esporte também teve relevância neste período. Os críticos

começaram a denunciar a abordagem biológica e o ensino tecnicista característicos

da área, tomando como base uma abordagem sociológica, questionando os fins

sociais. Focalizaram principalmente o esporte de alto rendimento. Essas críticas não

eram contra o esporte, mas contra o ensino limitado das técnicas esportivas, onde a

mesma se reduz, se fragmenta, se mecaniza e se racionaliza, e mesmo assim

estavam (ou ainda estão) servindo de modelo nas escolas.

O Esporte de caráter competitivo teve, e tem até hoje, grande receptividade

na área escolar. Para Bracht (2003), o fenômeno esportivo possui abordagens

diferenciadas, ou seja:

a) Esporte enquanto atividade de lazer – suas formas são derivadas do

esporte de alto rendimento ou espetáculo. Seus códigos internos ligados à saúde, ao

prazer e à sociabilidade, se diferem e apresentam-se capazes de orientar a ação.

b) Esporte de alto rendimento ou espetáculo – é a transformação do esporte

em mercadoria. Empreendimento com fins lucrativos. Possui proprietários e

vendedores de força de trabalho, submetidos às leis do mercado. Seus códigos

internos são: vitória-derrota, maximização do rendimento e racionalização dos

meios. A prática do mesmo levaria à adaptação, às normas e ao comportamento

competitivo, requisitos básicos para a estabilidade e/ou reprodução do sistema

capitalista.

Já para Bernett (apud Bracht, 2003 p.25) o esporte-espetáculo como arma

dos dominantes, é utilizado como meio para desviar a atenção das massas da luta

de classes e como fuga da realidade política.

Complementando, na visão do Coletivo de Autores (1992), e de Caparroz

(2005) é esta abordagem que fornece o modelo de atividade para a grande parte do

esporte, ou seja, para o esporte enquanto atividade de lazer e para o esporte

escolar.

Essa influência do Esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos, então não o Esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a subordinação da educação física aos códigos/sentido da instituição esportiva, caracterizando-se o esporte na escola como um prolongamento da instituição esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional. Esses códigos podem ser

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resumidos em: princípios de rendimento atlético/desportivo, competição, comparação de rendimento e recordes, regulamentação rígida, sucesso no esporte como sinônimo de vitória, racionalização de meios e técnicas etc.O esporte determina, dessa forma, o conteúdo de ensino da Educação Física, estabelecendo também novas relações entre professor e aluno, que passam da relação professor-instrutor e aluno recruta para a de professor-treinador e aluno atleta.[...] (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 54)

Bracht (2003), afirma que é possível notar a ausência de uma forma de

abordagem esportiva escolar ou educacional, mas o autor explica que toda prática

esportiva é considerada educativa, mesmo que se valendo de conceitos de

educação distintos do presente nas pedagogias progressistas.

A proposta fundamentada na concepção histórico-crítica de educação

resgata o compromisso social da ação pedagógica da Educação Física e vislumbra

a transformação de uma sociedade fundada em valores individualistas, em uma

sociedade com menor desigualdade social. (PARANÁ, 2008).

A expectativa da Educação Física escolar, que tem como objeto a reflexão sobre a cultura corporal, contribui para a afirmação dos interesses de classe das camadas populares, na medida em que desenvolve uma reflexão pedagógica sobre valores como solidariedade substituindo individualismo, cooperação confrontando a disputa, distribuição em confronto com a apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos movimentos – a emancipação -, negando a dominação e submissão do homem pelo homem (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.40).

Ainda segundo Bracht (2003), a crítica ao esporte é uma crítica à sociedade,

portanto se torna necessário analisá-lo criticamente, especialmente se por ele

passarem quaisquer questões educacionais, ou se por qualquer uma delas ele

passar.

Concebe-se dessa forma, a possibilidade de uma ressignificação do esporte

escolar, construindo uma perspectiva de esporte que contribua para a superação da

ordem social vigente, preocupando-se com os interesses da classe trabalhadora.

5. JOGOS COOPERATIVOS: Uma alternativa inclusiva.

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Segundo Orlick, os Jogos Cooperativos (JC) não são manifestações culturais

recentes, eles existem há milhares de anos, mas começaram a ser sistematizados

na década de 1950 nos Estados Unidos, através dos trabalhos de Ted Lentz. Um

dos estudiosos do tema Jogos Cooperativos é Terry Orlick, da Universidade de

Ottawa, no Canadá, que pesquisou a relação entre o jogo e a sociedade. No Brasil o

pioneiro foi o professor Fábio Otuzi Brotto, que vem trabalhando e divulgando a

proposta e a metodologia dos Jogos Cooperativos.

Apesar de termos vários trabalhos desenvolvidos nesta área, a sua aplicação

na área escolar ainda se encontra tímida.

Para Orlick (1978), na escola, os jogos competitivos são mais divulgados do

que os jogos cooperativos, e a própria escola valoriza só os vencedores, pois não

ensina o aluno a amar o aprendizado e sim a tirar notas cada vez mais altas. A

Educação Física, por sua vez, não ensina os alunos a amarem o jogo e sim, a

vencer.

Sabe-se que a sociedade é altamente competitiva e que a estrutura social e o

sistema econômico, tornam uma sociedade competitiva ou cooperativa. O ser

humano não nasce competitivo ou cooperativo, ele torna-se. Assim, podemos

observar a influência que a sociedade tem na Educação, mas que o inverso também

é verdadeiro. E é deste inverso que parte a nossa luta por uma sociedade mais

solidária, democrática e justa.

Brotto (2002), ao analisar e comparar os jogos competitivos e cooperativos,

não tem a intenção de opor um ao outro.

(...) visa primeiramente, ampliar nossa percepção sobre as dimensões que o Jogo e o Esporte nos oferecem como campo de vivência humana. E, em segundo lugar, pretende indicar que nos Jogos e Esportes, bem como na Vida, existem alternativas para jogar além das formas de competição, usualmente sugeridas como única ou a melhor maneira de jogar e viver. (BROTTO, 2002, p. 56-7).

Em continuidade, Brotto (1999), explicita a definição de ambos:

Cooperação: é um processo de interação social, em que os objetivos são comuns,

as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.

Competição: é um processo de interação social, em que os objetivos são

mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas às outras, e os

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benefícios são concentrados somente para alguns.

A seguir, a tabela “Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos”, adaptada de

Walker (apud Brotto, 2002, p. 56), traz uma comparação entre essas duas formas de

jogar.

JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOSSão divertidos apenas para alguns. São divertidos para todos.Alguns participantes têm um sentimento de derrota.

Todos têm um sentimento de vitória.

Alguns jogadores são excluídos por sua falta de habilidade.

Todos se envolvem independentemente de sua habilidade.

Seus adeptos aprendem a ser desconfiados, egoístas ou se sentirem melindrados com os outros.

Aprende-se a compartilhar e a confiar.

Divisão por categorias: “meninos x meninas”, criando barreiras entre as pessoas e justificando as diferenças como uma forma de exclusão.

Há mistura de grupos que brincam juntos criando alto nível de aceitação mútua.

Os perdedores ficam de fora do jogo e simplesmente se tornam observadores.

Os jogadores ficam envolvidos nos jogos por um período maior, tendo mais tempo para desenvolver suas capacidades.

Os jogadores não se solidarizam e ficam felizes quando alguma coisa “ruim” acontece aos outros.

Aprende-se a solidarizar com os sentimentos dos outros, desejando também o seu sucesso.

Os jogadores são desunidos. Os jogadores aprendem a ter um “senso de unidade”.

Os jogadores perdem a confiança em si mesmos, quando são derrotados ou rejeitados.

Desenvolve-se a autoconfiança porque todos são bem aceitos.

Pouca tolerância à derrota desenvolve em alguns jogadores um sentimento de desistência diante de dificuldades.

A habilidade de perseverar face às dificuldades é fortalecida.

Poucos se tornam bem sucedidos. Todos encontram um caminho para o crescimento e o desenvolvimento.

Fonte: Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos (Walker, 1987) apud Brotto, 2002

Apesar de observar as distinções, não pretende - se opor uma a outra ou

abolir a competição, sabe-se que ambas fazem parte da vida. Mas, se colocar que

vencer é a única coisa que importa, que não interessam os meios que se usem,

reforça-se a cultura competitiva que nos cerca. Pretende-se dar um significado

menos central a competição nas aulas de Educação Física.

Segundo Orlick, (1978, p.116), ao introduzir atividades que alterem os

conceitos de vitória e derrota, a vontade de participar do jogo apenas pelos valores

intrínsecos são reavivados e legitimados. A experiência com esses novos jogos deve

demonstrar que ser aceito como ser humano e aceitar os outros não depende de um

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resultado numérico. Desta forma, posteriormente, poderão encarar a competição e

também a cooperação de modo mais saudável e positivo. Assim os esportes tornar-

se-ão uma busca pelo desenvolvimento pessoal e não uma oportunidade de

“destruir” os outros.

Orlick, ainda nos demonstra mais algumas reflexões norteadoras dos estudos

dos Jogos Cooperativos.

Jogos de aceitação devem substituir os jogos de rejeição. Se fizermos com que cada criança se sinta aceita e dermos a cada uma um papel significativo a desempenhar no ambiente de atividades, estaremos bem adiantados em nosso caminho para a solução da maioria dos sérios problemas psico-sociais que atualmente permeiam os jogos e os esportes. Essa é uma das razões porque é tão importante criar jogos e ambientes de aprendizado onde ninguém se sinta um perdedor. (Orlick 1978, p. 104),

Deseja-se trabalhar com uma outra visão a respeito do jogo, onde todos se

sintam responsáveis em contribuir com o resultado, onde o sentimento de rejeição

seja eliminado e o desejo de se envolver, de fazer parte do grupo aumente.

6. ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO

6.1 DIAGNÓSTICO DA REALIDADE

O estudo ocorreu no Colégio Estadual Jerônimo Farias Martins Ensino

Fundamental e Médio, que possui atualmente cerca de 540 alunos matriculados.

Situa-se na Avenida General Osório s/n. Santa Cecília do Pavão. Núcleo de

Cornélio Procópio, Estado do Paraná.

O Colégio possui duas quadras, uma de areia e outra poliesportiva somente

com pavimentação.

Os pesquisados foram vinte e três alunos do 1º ano do Ensino Médio,

matriculados no início do ano. Nesta turma não há nenhum aluno com histórico de

repetência escolar, portanto,não há defasagem idade/série. A maioria dos alunos

demonstra interesse e condições favoráveis para a aprendizagem das atividades

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propostas, embora seja possível verificar, através de algumas atividades, que o

aprendizado referente aos conteúdos de Educação Física ainda estão fragmentados

e sem significado, o que leva parte dos alunos a não participar das aulas e a dizer

que não gostam das atividades. Uma minoria ainda demonstra dificuldades de

aprendizagem, tais como: ler e escrever, interpretar, analisar e expor as idéias sobre

fatos e atividades realizadas.

Em relação ao nível sócio-econômico,considerando o poder de compra de

bens materiais, a maioria pertence a classe média/baixa (C e D), com pouco acesso

a bens culturais, principalmente as tecnologias.

Os dados informam que a situação familiar engloba aspectos variados como:

pais separados, somente a mãe é a mantenedora da casa, filhos que moram apenas

com o pai, filhos que cuidam de pais portadores de deficiência etc. A participação

dos pais na vida escolar é quase nula, a não ser quando um fato muito grave

acontece e lhes é solicitado à presença.

6.2 ARMAZENANDO OS DADOS

As informações foram coletadas através de entrevistas, observações de

diferentes momentos e atividades desenvolvidas, sendo registradas em relatórios

agrupados e arquivados.

6.3 O TRATAMENTO DOS DADOS

Com o objetivo de apresentar descritivamente a observação dos fatos,

informações referentes ao comportamento dos atores e outros dados relevantes da

proposta, apresenta-se a partir deste item as etapas percorridas no estudo.

6.3.1 Sensibilização (Direção; Equipe Pedagógica, Professores, Funcionários e

alunos.

A sensibilização fez-se necessária para resgatar e fortalecer o vínculo entre

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professor pesquisador e todos os órgãos da escola, para que cada um pudesse

entender e perceber o seu papel relevante para a consolidação da pesquisa.

A princípio foi utilizado um momento da Semana Pedagógica para apresentar

e expor aos professores, funcionários e Equipe pedagógica, através da TV

multimídia, slides sobre o projeto de pesquisa e Material Didático, um resumo de

como aconteceria a implementação na Escola, seus objetivos e a relevância do

estudo. Para os alunos, utilizou-se os primeiros dias de aula, para apresentar os

mesmos tópicos e estabelecer coletivamente o Contrato de Aprendizagem.

Na etapa da sensibilização, enfatizou-se que a participação e o apoio de

todos os atores da escola seria muito importante para a coleta de dados

necessários e ainda para confrontar a teoria contida no Projeto e a sua efetiva

prática.

6.3.2 Inserção do Projeto na Realidade (análise e comentários de textos escritos e

audiovisuais).

Como etapa complementar de sensibilização ao projeto apresentou-se dois

vídeos: “VIRTUDES MORAIS E EDUCAÇÃO FÍSICA”, e “MANIFESTO PELO

DIREITO AO ESPORTE NO BRASIL”. No primeiro vídeo foi solicitado aos alunos

que observassem e logo após copiassem as palavras surgidas; a seguir, foi

apresentado novamente o vídeo e a orientação referiu- se para a atenção nas

imagens, seguida dos significados das palavras naquele contexto. Em seguida, foi

utilizado dicionários para que os alunos pesquisassem o significado de cada palavra

do vídeo: Consideração, Benevolência, Perseverança, Justiça, Humildade,

Prudência, Respeito, Determinação, Coragem, Autoconfiança, Superação, Amizade.

Instigou-se a reflexão sobre o significado e o uso das mesmas.

Na próxima tarefa, foi solicitado que fizessem uma Redação com o tema: Como

podemos utilizar estas virtudes (palavras) nas aulas de Educação Física?

Contamos com a ajuda da professora de Português na estruturação da redação.

Na apresentação do segundo vídeo (“MANIFESTO PELO DIREITO AO ESPORTE

NO BRASIL”), primeiro foi solicitado a leitura do texto traduzida em português, e em

seguida houve a apresentação do vídeo, o mesmo estava em espanhol. Com este

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vídeo, realizou-se também um debate. Os alunos demonstraram sensibilidade e

compreensão sobre como deve ser trabalhado o esporte na escola.

-O esporte numa visão educacional;

-O esporte como um direito de aprendizagem a todos;

-A diferença entre o esporte divulgado na mídia e o da escola;

O resultado foi satisfatório. As Redações foram coerentes com o tema

proposto. Nas aulas em determinadas situações, as Virtudes e sua real utilização,

são partes constituintes, levando os alunos a refletir se estão ou não as utilizando

adequadamente.

Através desta prática pedagógica procurou-se instigar os alunos para uma

reflexão de como se comportavam ou se comportam durante as aulas de Educação

Física, de como a mesma vem sendo trabalhada na escola. Se a Educação Física

que temos, é a que queremos ou a que temos o direito de ter?. Se a mesma está

dando a oportunidade de inclusão ou não. Dessa forma a análise crítica do

fenômeno esportivo, situando e relacionando-o com o contexto social, econômico,

político e cultural foi o objeto desejado.

6.3.3 Assimilação, Reelaboração e Produção de Atividades Teóricas e Práticas.

Como já evidenciado neste artigo, objetiva-se trabalhar as atividades teóricas e

práticas, conjugando a atividade individual com a coletiva, buscando um ensino que

não visa apenas à instrução, mas, por meio dela, à educação de uma pessoa

convicta, de caráter, capaz de transformar os conhecimentos e habilidades em

ações práticas em seu próprio benefício e no da coletividade. (LIBÂNEO, 1988, apud

GUIRALDELLI JR. 1991, p. 12-13)

Para uma melhor assimilação do conteúdo trabalhado, foram realizadas

atividades teóricas tais como: leitura de textos do Livro didático público – “Competir

ou Cooperar: eis a questão”, Pesquisa bibliográfica sobre o Voleibol, Debates,

Entrevista Diagnóstica, Elaboração de Conceito, Contato com o Grupo de Trabalho

em Rede (GTR), Check list. Atividades práticas tais como: Dinâmicas de

apresentação e sensibilização, Gato e rato, Jogo dos Autógrafos, Bola Salvadora,

Jogo do Anjo, Voleibol Gigante, Voleibol semi-cooperativo, Volençol, Minicompetição

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de Voleibol, Queima-ameba, Queimada maluca, Mini-Voleibol Divertido, Rede Viva,

Voleibol semi-cooperativo e Cooperativo, Futebol quatro cantos, entre outras.

6.3.3.1 Descoberta Orientada: Pesquisando os conteúdos

A pesquisa faz-se necessária para uma melhor assimilação do conteúdo. Para

tanto, utilizou-se da Metodologia Descoberta Orientada para mediar a relação do

aluno a novos conhecimentos. Com base neste estilo de ensino já estabelecido,

instigou-se o grupo a pesquisar diferentes tópicos relacionados ao esporte Voleibol.

Para realizar a tarefa sugeriu-se aos alunos sites e o livro didático público de

Educação Física. Após a realização do trabalho escrito, os alunos apresentaram os

resultados aos colegas de sala, em assembléia geral.

O trabalho foi realizado com dificuldades, pois os alunos “disseram nunca ter

feito um trabalho dentro das normas da ABNT”. Foi verificado ainda dificuldades

para pesquisar, já que muitos não possuem computador, a nossa biblioteca tem

pouquíssimos livros e em nosso laboratório de informática não havia nenhuma

pessoa que pudesse atendê-los no contra-turno. Durante as aulas os alunos

utilizaram apenas duas vezes o laboratório de informática, tempo insuficiente para

uma pesquisa neste nível.

Apesar das dificuldades, alguns grupos que tinham acesso à informática em

outro espaço, que não o da escola, se dedicaram e conseguiram realizar o trabalho

com bastante sucesso.

Verifica-se o quanto os membros das camadas populares estão desprovidos

dos instrumentos necessários para o acesso aos bens culturais, à tecnologia, à

margem da produção dos conhecimentos.

Saviani (1983, p. 61), afirma que “o dominado não se liberta se ele não vier a

dominar aquilo que os dominantes dominam”.

Os responsáveis pelo ensino devem estar atentos aos pressupostos que são

defendidos e de como estão garantindo a assimilação dos conteúdos. Sabe-se que

para amenizar as dificuldades encontradas deve-se redobrar os esforços, para não

acabar reforçando a discriminação e sendo politicamente reacionários.

Na etapa seguinte foi proposto a Organização de uma Minicompetição de

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Voleibol, realizada a partir da leitura e do debate referente ao capítulo do livro

Didático público– “Competir ou Cooperar: eis a questão” (PARANÁ, 2006 p. 65)

Organizou-se a minicompetição. Depois de concluída a tarefa, os alunos foram

desafiados a novas investigações, todas relacionadas ao significado e as vivências

praticadas na minicompetição.

Buscou-se os depoimentos dos alunos como forma de expressar os seus

sentimentos, resistências e interesses na participação.

Entre eles, destacamos:

“Foi um jogo legal, porque todos cooperaram, mas mesmo assim houve competição para ganhar o prêmio”.

“Divertido, emocionante, sem muita competição”

“Interessante, apesar de não haver muita colaboração dos participantes, ao invés deles me ajudarem quando errei, riram de mim”!

“Gostei, porque me ajudaram quando eu errei, me respeitando”.

“Muito chato, estressante, porque ninguém ajudou e por isso perdemos”.

“Alguns critérios foram alcançados, porém muitos participantes, não entenderam o objetivo do jogo, mostrando desinteresse, e não dedicação. Em minha opinião, achei a competição motivante, com uma premiação. Percebi que ainda há brincadeirinhas que podem ofender, tipo, “não sabe jogar” com zuação dos colegas. O dilema que muitos enfrentam é o fato de não saberem jogar. Muitos do próprio time se xingam e dão risada um do outro, dizendo, que o colega não sabe jogar, mas quando vão fazer, fazem igual ou até pior. Entendo que o objetivo seja, a participação em grupo, e acredito que as aulas tenham o propósito de descontrair, conhecer o corpo, aprender, respirar ar livre, e não uma competição e exclusão”.

Alguns alunos disseram não querer participar por preguiça, por não gostar,

por vergonha de errar. Os que receberam o prêmio disseram se sentir os melhores,

sentiram muita felicidade. Os que não receberam relataram sentir muita raiva,

vontade de bater nos vencedores. Os alunos responsáveis pela organização

relataram que não conseguiram elaborar bem as regras devido ao pouco tempo. Um

árbitro afirmou que cometeu alguns erros, mas tentou ser o mais justo possível e

que é muito difícil apitar um jogo. Os pontos positivos citados foram: seguiram e

aprenderam algumas regras; conseguiram organizar uma competição; todos tiveram

a oportunidade de jogar; o prêmio. Os pontos negativos foram: não houve

dedicação; houve humilhação; alguns alunos ficaram de fora.

Segundo Orlick (1978), para muitos em nossa sociedade, a competição

tornou-se a reação costumeira em quase todas as situações. Para outros, a

rivalidade e a depreciação do outro tornou-se a norma. O consumo e a competição

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são as mensagens básicas da nossa sociedade e é difícil escaparmos delas. Mas a

cooperação pode também tornar-se uma reação normal ao ambiente, um hábito

capaz de promover atos mutuamente benéficos, que possibilitam a busca por

soluções para muitos dos problemas desumanizadores da sociedade.

O esporte pode apresentar resultados positivos e negativos, pode promover a

integração de um grupo ou a exclusão do mesmo, a aceitação ou a rejeição, a

sensação de realização ou de fracasso e a evidência de auto-estima ou de

inutilidade.

É possível criar ambientes de atividades que atendam às necessidades dos

participantes, que estimulem comportamentos desejáveis e que influenciem a

personalidade dos participantes em uma direção positiva.

Ainda segundo Orlick, a competição e a exploração criam feridas que

somente a cooperação e a empatia podem sanar. Neste caso, verifica-se o quanto

uma metodologia de trabalho faz diferença no processo educacional.

Na Entrevista Diagnóstica realizada no início do projeto, os alunos

evidenciaram que a Educação Física não trabalhava com todos os seus conteúdos,

limitava-se a alguns esportes, que muitas vezes estavam pautados em valores

individualistas. Relata-se que a Educação Física vivenciada por eles até hoje foi

excludente, que há discriminação e separação de classes: ricos e pobres, que há

alunos que não participam das aulas por vergonha de errar, por medo de serem

humilhados e que quando “perdem” sentem-se culpados, despontados,

desanimados, tristes, desprezados e com raiva. Estes sentimentos são ressaltados

numa metodologia individualista, que focaliza o resultado e não o processo, que

reforça características como a superioridade, a competitividade e a exclusão.

Mas foi possível verificar também que é possível utilizar uma metodologia

para se trabalhar o esporte na escola de uma forma não excludente. O grupo de

alunos afirmou em unanimidade que os valores podem ser trabalhados nas aulas de

Educação Física. No Check List e nos Depoimentos, pode-se observar que a

metodologia dos Jogos Cooperativos foi aceita pela maioria dos alunos, que ela é

viável e mais adequada para as aulas, pois a sua aplicação proporcionou a eles

sentirem-se incluídos e aceitos. Participaram de muitas atividades e aprenderam o

esporte Voleibol com alegria, satisfação e entusiasmo. Sentiram que o trabalho em

grupo é muito importante, que a forma como o esporte na escola é trabalhada, faz

muita diferença. Citação de alguns Depoimentos:

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Page 18: jogos cooperativos

“Eu era uma má aluna, não participava das aulas, nem praticava esportes, porque eu tinha vergonha e medo de ser o motivo de “zuação” no colégio. Hoje eu não tenho essa dificuldade, por ter o apoio dos colegas e o auxilio da professora, às vezes eu erro, mas tento conseguir e quando acerto, recebo elogios e fico mais entusiasmada ainda, agora participo de todas as aulas e amo participar. Agradeço de coração a professora e os alunos que a cada aula colaboram mais e mais”. (Aluna pesquisada)

“Em minha opinião, acho que melhorei muito nas aulas, me desempenhei, e aprendi que a competição nem sempre leva a vitória, pois se todos trabalharem em grupo será mais fácil de alcançar o objetivo. Eu era uma péssima aluna de Educação Física, porque nunca jogava, e não participava das atividades, por medo ou constrangimento dos outros colegas zombarem de mim, porque eu não sei jogar. Mas agora nas aulas desse ano estou superando o medo, pois todas as atividades são realizadas em grupo, e acho que a competição está deixando de predominar e as pessoas estão dando mais valor ao trabalho em grupo”. (Aluna pesquisada)

“Há algum tempo atrás, não participava das aulas práticas de Educação Física, por um simples razão – não sei jogar - os outros ficam me julgando, rindo de mim. Atualmente estou participando bastante das aulas, estou aprendendo a jogar, principalmente o vôlei. Me sinto melhor, quando temos aulas práticas, se a aula é prática você se sente mais alegre, interessado e se você estuda de manhã serve para despertar”. (Aluna pesquisada)

Realizou-se ainda o registro das dificuldades encontradas e possíveis

hipóteses de soluções, de um modo geral, a maior dificuldade foi mostrar que há

outra forma de se pensar e agir em um jogo. A Educação Física ainda está

fortemente pautada na competição e não é muitas vezes reconhecida pelos alunos

como uma área de conhecimento.

No decorrer da implementação do projeto, constatou-se dificuldades também

de ordem material. O acesso aos computadores foi complicado, pois não havia

nenhuma pessoa responsável para atender os alunos no contra-turno, o que

dificultou o trabalho de pesquisa. A ausência e a inadequação de ferramentas

necessárias ao nosso trabalho, também dificultaram o sucesso do mesmo. Por outro

lado, devemos repensar e mudar algumas práticas pedagógicas, procurando utilizar

atividades que valorizem as experiências e os desejos dos alunos, e jogos que criem

oportunidades para o desenvolvimento físico, moral e intelectual garantindo, dessa

forma, a formação de um indivíduo com consciência social, crítica, solidária e

democrática. A Educação Física como área de conhecimento deve e pode

proporcionar estas oportunidades através de seus conteúdos. Enquanto

profissionais podemos ampliar as perspectivas atribuídas às aulas, apresentando

novos valores, dando um direcionamento crítico ao processo educativo.

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Em relação aos materiais, precisaríamos de um investimento maior em nossa

área como: construção de quadras, compra de livros, materiais adequados. Quanto

ao uso do Laboratório de Informática, necessitamos que a escola ou outro órgão

competente se organize e oriente um professor para trabalhar neste local.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física, nos foi

possível ressignificar o esporte escolar, em específico o Voleibol, aplicando uma

metodologia baseada nos princípios dos Jogos Cooperativos, dando a oportunidade

aos alunos de experimentarem outras formas de jogar e de se relacionarem com os

outros, incentivando a inclusão, promovendo uma revisão de valores, possibilitando

a análise crítica do fenômeno esportivo, reavivando a vontade de participar e

aprender, e também a reestruturação e ressignificação dos conhecimentos e da

prática pedagógica docente. Com relação à preferência dos alunos pelos jogos

competitivos e jogos cooperativos observamos que os dois tipos de jogos são

aceitos, mas esta preferência está implícita na motivação e na organização do

trabalho pedagógico desenvolvido no ambiente da aula de Educação Física. A

realidade que temos impõe o resgate do significado pedagógico das aulas de

Educação Física.

É imprescindível que os objetivos educacionais tenham como base a

democracia, a inclusão social, a cidadania, pois além de representar valores, hábitos

e atitudes desejáveis, são plausíveis de serem formados por meio da prática

esportiva. Os resultados apontaram para alguns objetivos que só serão alcançados

a longo prazo, por este motivo, este trabalho apenas teve o intuito de abrir

caminhos. Sabemos que é preciso considerar a necessidade de continuidade

através de mais e ainda se possível, estudos longitudinais. Esta metodologia pode

ser aplicada como um processo para alcançar as metas de um plano de ensino, o

qual pretende transformar o paradigma da competição em um paradigma associado

à cooperação.

8. REFERÊNCIAS:

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