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JOHN OWEN – A PIEDADE SONDADORA Da Série Escravos do Senhor O pastor inglês John Owen, nascido no século XVII, é considerado o príncipe dos teólogos. Sua envergadura não fica a dever em nada à perspicácia exegética do reformador João Calvino. Em um de seus livros, “A Morte da Morte na Morte de Jesus Cristo” Owen realiza uma defesa heroica e contundente da obra substitutiva da Cruz, em favor do povo de Deus, contra a teoria arminiana da redenção universal. O sentimento após a leitura da obra é de exaustão refrigeradora. Em outras palavras, Owen nos conduz ao zênite da compreensão da morte de Cristo e nada mais precisa ser dito ou escrito, senão meras notas de rodapé. Este intelecto abrangente desafiou a minha preguiça mental; golpeou a atávica desculpa pela simplicidade que ocultava o fracasso pela profundidade. Em alguns dos polêmicos prefácios, das mais de oitenta obras, Owen desafiava os leitores a abandonarem seus livros caso não desejassem mergulhar fundo neles. De fato, é preciso fôlego e lembra mesmo a imersão em apneia. A provocação me consternou pela audácia deste sujeito de rara feiura. Quis lê-lo e o proveito foi dito e feito. Jamais abandonei a companhia de Owen. Mas por detrás desta muralha teológica, do erudito Vice- Chanceler de Oxford, do capelão de Oliver Crommwell, havia sobretudo um homem muito simples, sofredor e paciente. Filho de pastor, só se viu constrangido pelos seus pecados após os trinta anos. A experiência o levou a permanecer em silêncio literalmente por três meses ininterruptos. Daí decorrem a genialidade de sua pena e, óbvio, a minha gratidão e admiração por este velho amigo. John Owen esteve diante do Deus Santo e declarava “o homem que entende a maldade de seu próprio coração, quão vil é o mesmo, é o homem útil, frutífero e que crê e obedece de forma sólida”. A precisão cirúrgica com a qual John Owen trata a alma humana em “O pecado interior” e “A tentação” causou-me abalos sísmicos de proporções descomunais na minha frágil comunhão com Deus. Este mestre-escola puritano deixaria surpresos Freud, Carl Jung, Alfred Adler pelo vasculhamento dos porões da alma em sua obra. Owen se assemelha àquele

John Owen – a Piedade Sondadora

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John Owen – a Piedade Sondadora Wellington Costa

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JOHN OWEN A PIEDADE SONDADORADa Srie Escravos do SenhorO pastor ingls John Owen, nascido no sculo XVII, considerado o prncipe dos telogos. Sua envergadura no fica a dever em nada perspiccia exegtica do reformador Joo Calvino. Em um de seus livros, A Morte da Morte na Morte de Jesus Cristo Owen realiza uma defesa heroica e contundente da obra substitutiva da Cruz, em favor do povo de Deus, contra a teoria arminiana da redeno universal. O sentimento aps a leitura da obra de exausto refrigeradora. Em outras palavras, Owen nos conduz ao znite da compreenso da morte de Cristo e nada mais precisa ser dito ou escrito, seno meras notas de rodap.Este intelecto abrangente desafiou a minha preguia mental; golpeou a atvica desculpa pela simplicidade que ocultava o fracasso pela profundidade. Em alguns dos polmicos prefcios, das mais de oitenta obras, Owen desafiava os leitores a abandonarem seus livros caso no desejassem mergulhar fundo neles. De fato, preciso flego e lembra mesmo a imerso em apneia. A provocao me consternou pela audcia deste sujeito de rara feiura. Quis l-lo e o proveito foi dito e feito. Jamais abandonei a companhia de Owen.Mas por detrs desta muralha teolgica, do erudito Vice-Chanceler de Oxford, do capelo de Oliver Crommwell, havia sobretudo um homem muito simples, sofredor e paciente. Filho de pastor, s se viu constrangido pelos seus pecados aps os trinta anos. A experincia o levou a permanecer em silncio literalmente por trs meses ininterruptos. Da decorrem a genialidade de sua pena e, bvio, a minha gratido e admirao por este velho amigo. John Owen esteve diante do Deus Santo e declarava o homem que entende a maldade de seu prprio corao, quo vil o mesmo, o homem til, frutfero e que cr e obedece de forma slida. A preciso cirrgica com a qual John Owen trata a alma humana em O pecado interior e A tentao causou-me abalos ssmicos de propores descomunais na minha frgil comunho com Deus. Este mestre-escola puritano deixaria surpresos Freud, Carl Jung, Alfred Adler pelo vasculhamento dos pores da alma em sua obra. Owen se assemelha quele tcnico do boxeador o qual faz seu pupilo atentar para os flancos do seu oponente e ordena: bata onde do. Ele rastreia a origem mesma dos subterfgios da interioridade e revelou o meu pior inimigo: Wellington Costa.John Owen me alertou a respeito do engano da experincia de crise na santificao. Este o engodo instilado por todo o movimento gnstico desde seus embries nas cartas paulinas, at sua origem histrica, no sculo II, quando dos embates de Irineu de Leo no sul da Frana. E digo mais, esta heresia atazana a igreja de Cristo, em uma linha sucessiva, infiltrada na proposta monstica medieval, entre os anabatistas, os irmos morvios, o metodismo wesleyano e o pentecostalismo. Trata-se de confundir a santificao com a justificao. Aguardamos uma experincia ltima que nos far abandonar certos pecados, ou que nos santificar por completo a fim de termos uma vida profunda, super-espiritual.Pois bem, Owen me mostrou a tolice disto. Em seu livro A Mortificao do Pecado a santificao um ato mas, acima de tudo, um processo, espinhoso vale dizer. Inverter a equao ou superestimar o ato em detrimento do processo brincar com Deus. Owen aclarou-me os ensinos da nova obedincia nas cartas paulinas. Para ser cheio do Esprito preciso lutar, cingir, vigiar, necrosar o velho homem. Contudo sob a perspectiva de que Deus quem opera em vs tanto o querer quanto o realizar(Fl 2.13). A luta no um pensamento excludente da graa, e nem inclusivo para que haja graa. A luta um dever posto que graa, e basta (Rm 8.13,14). Assim aprendi a ser honesto, feliz e lutar com pacincia contra o pecado, dia aps dia. Agora que voc foi devidamente apresentado a um dos meus melhores amigos eu lhe convido a ouvi-lo pois depois de morto ele ainda fala(Hb 11.4) Rev. Wellington CostaWellington Costa bacharel em Teologia pelo Seminrio Presbiteriano Denoel Nicodemos Eller e jornalista formado pela Pontifcia Universidade Catlica. tradutor, revisor e colabora na produo de Revistas de Escola Dominical, publicadas pelas Editoras Cultura Crist e Os Puritanos. casado com Janana Michele e tem dois filhos. Atualmente pastor da Igreja Presbiteriana de Brotas em Salvador/Ba.Site: http://ipbrotas.org.br/