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ASSISTÊNCIA MÉDICO-SANITÁRIA NA REGIÃO TAQUARI-ANTAS RIO GRANDE DO SUL, BRASIL João YUNES * RSPSP - 129 YUNES, J. — Assistência médico-sanitária na região Taquari-Antas, Rio Grande do Sul, Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 6:171-82, 1972. RESUMO: A assistência médico-sanitá- ria foi estudada para a Região Taquari- Antas, composta de 50 municípios, com uma população aproximada de 1.300.000 habitantes e cerca de 20% da popula- ção do Estado do Rio Grande do Sul. A rede sanitária da região é compos- ta de 47 unidades não havendo homoge- neidade na sua distribuição, pois a 13. a Região Sanitária a que se encontra em condições mais favoráveis, apresenta uma unidade sanitária para cada 22.300 habitantes, enquanto que, em outras re- giões, esta proporção varia de 53.500 a 73.500 habitantes. O atendimento médico foi bastante baixo, de 0,4 consultas por hora, por médico, enquanto que em Por- to Alegre, embora tenha sido também baixo, foi de 1,5. A rede estadual de dis- pensários de tuberculose conta com 27 unidades e exceto num único caso fun- ciona junto a centros de saúde, integran- do a unidade polivalente. A proporção da população por cada dispensário é de 631.450 habitantes enquanto que para Porto Alegre e para o Estado é de res- pectivamente 238.060 e 255.220 habitan- tes. A rede de dispensários de hansenía- se é composta de 37 unidades, havendo uma proporção de 123.900 habitantes por unidade. A Região Taquari-Antas apre- senta melhor proporção que o Estado e Porto Alegre uma vez que o número de habitantes por unidade é de respectiva- * Do Centro de Estudos de Dinâmica Populacional da Faculdade de Saúde Pública da USP - Av. Dr. Arnaldo, 715 - São Paulo, S. P., Brasil. Da Disciplina de Pediatria Social da Faculdade de Medicina da USP. Da Divisão de Epidemiologia da Secretaria da Saúde do Estado de S. Paulo. mente 186.243 e 315.530 habitantes. Os serviços de saúde mental funcionam in- tegrados às unidades sanitárias, através de seus 10 ambulatórios contando cada um deles com um médico psiquiatra. Pa- ra a Região verifica-se a relação de um ambulatório para 681.454 habitantes, en- quanto no Estado é de um para 689.100 e em Porto Alegre de um para 233.250 habitantes. Em relação aos recursos hu- manos existe um médico para cada 2.655 habitantes, variando esta proporção, por região sanitária, de 1.778 e 4.528 habitan- tes por médico. Esta proporção é bas- tante baixa quando comparada com o pa- drão proposto pela OMS de um médico para cada 1.000 habitantes. Na rede das unidades sanitárias existem apenas 10 profissionais de enfermagem concentra- dos em 5 municípios, ou seja, 45 muni- cípios não contam com este tipo de pro- fissional em seus Centros de Saúde. Portanto, existe uma proporção bem maior de médicos que de enfermagem, embora o padrão daquele esteja tam- bém baixo. UNITERMOS: Assistência médico-sanitá- ria*; Centro de saúde*; Unidade sani- tária *. 1. INTRODUÇÃO O presente estudo integrou o plano de desenvolvimento integrado da Região Ta- quari-Antas, encomendado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul nos

João YUNES

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Page 1: João YUNES

ASSISTÊNCIA MÉDICO-SANITÁRIA NA REGIÃO TAQUARI-ANTAS

RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

João YUNES *

RSPSP - 129

YUNES, J. — Assistência médico-sanitáriana região Taquari-Antas, Rio Grandedo Sul, Brasil. Rev. Saúde públ., S.Paulo, 6:171-82, 1972.

RESUMO: A assistência médico-sanitá-ria foi estudada para a Região Taquari-Antas, composta de 50 municípios, comuma população aproximada de 1.300.000habitantes e cerca de 20% da popula-ção do Estado do Rio Grande do Sul.A rede sanitária da região é compos-ta de 47 unidades não havendo homoge-neidade na sua distribuição, pois a 13.aRegião Sanitária a que se encontra emcondições mais favoráveis, apresentauma unidade sanitária para cada 22.300habitantes, enquanto que, em outras re-giões, esta proporção varia de 53.500 a73.500 habitantes. O atendimento médicofoi bastante baixo, de 0,4 consultas porhora, por médico, enquanto que em Por-to Alegre, embora tenha sido tambémbaixo, foi de 1,5. A rede estadual de dis-pensários de tuberculose conta com 27unidades e exceto num único caso fun-ciona junto a centros de saúde, integran-do a unidade polivalente. A proporçãoda população por cada dispensário é de631.450 habitantes enquanto que paraPorto Alegre e para o Estado é de res-pectivamente 238.060 e 255.220 habitan-tes. A rede de dispensários de hansenía-se é composta de 37 unidades, havendouma proporção de 123.900 habitantes porunidade. A Região Taquari-Antas apre-senta melhor proporção que o Estado ePorto Alegre uma vez que o número dehabitantes por unidade é de respectiva-

* Do Centro de Estudos de Dinâmica Populacional da Faculdade de Saúde Pública da USP - Av.Dr. Arnaldo, 715 - São Paulo, S. P., Brasil. Da Disciplina de Pediatria Social da Faculdade deMedicina da USP. Da Divisão de Epidemiologia da Secretaria da Saúde do Estado de S. Paulo.

mente 186.243 e 315.530 habitantes. Osserviços de saúde mental funcionam in-tegrados às unidades sanitárias, atravésde seus 10 ambulatórios contando cadaum deles com um médico psiquiatra. Pa-ra a Região verifica-se a relação de umambulatório para 681.454 habitantes, en-quanto no Estado é de um para 689.100e em Porto Alegre de um para 233.250habitantes. Em relação aos recursos hu-manos existe um médico para cada 2.655habitantes, variando esta proporção, porregião sanitária, de 1.778 e 4.528 habitan-tes por médico. Esta proporção é bas-tante baixa quando comparada com o pa-drão proposto pela OMS de um médicopara cada 1.000 habitantes. Na rede dasunidades sanitárias existem apenas 10profissionais de enfermagem concentra-dos em 5 municípios, ou seja, 45 muni-cípios não contam com este tipo de pro-fissional em seus Centros de Saúde.Portanto, existe uma proporção bemmaior de médicos que de enfermagem,embora o padrão daquele esteja tam-bém baixo.

UNITERMOS: Assistência médico-sanitá-ria*; Centro de saúde*; Unidade sani-tária *.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo integrou o plano dedesenvolvimento integrado da Região Ta-quari-Antas, encomendado pelo Governodo Estado do Rio Grande do Sul nos

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anos de 1969 e 1970. Esta região esten-de-se por cerca de 45.600 km2 que cor-responde a 17,0% do total da área doEstado e possui 50 municípios com po-pulação aproximada de 1.300.000 habi-tantes, cerca de 20,0% da população doEstado.

Após a análise dos níveis de saúde daRegião (YUNES, 1972) *, o presente tra-balho tem por objetivo avaliar os servi-ços oficiais de saúde pública instaladosna área de estudo. Estes serviços serãoanalisados através das regiões sanitáriasque compõem a Região Taquari-Antas,segundo critério estabelecido pela Secre-taria da Saúde.

A Secretaria da Saúde divide todos osmunicípios da área de estudo em seisRegiões Sanitárias. Destas, três perten-cem à Região Taquari-Antas, englobando46 dos seus 50 municípios. Os quatro mu-nicípios restantes estão vinculados a ou-tras três Regiões Sanitárias, com sedefora da área de análise.

Os 50 municípios que compõem as Re-giões Sanitárias são os que se seguem:

A 5a Região Sanitária, com sede emCaxias do Sul, abrange os municípios de:Antonio Prado, Bento Gonçalves, BomJesus, Camborá do Sul, Carlos Barbosa,Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi,Nova Prata, São Francisco de Paula, SãoMarcos, Salvador do Sul, Vacaria e Ve-ranópolis.

A 6.a Região Sanitária abrange os mu-nicípios de: Casca, Ciríaco, David Cana-barro, Guaporé, Ibiraiaras, Lagoa Verme-lha, Marau, Nova Araçá, Nova Bossano,Paraí e Serafina Corrêa.

A 13.a Região Sanitária com sede emSanta Cruz do Sul, abrange os municí-pios de: Anta Gorda, Arroio do Meio,Arvorezinha, Bom Retiro do Sul, BarrosCassai, Cruzeiro do Sul, Encantado, Es-trela, Fontoura Xavier, General Câmara,Ilópolis, Lajeado, Muçuru, Nova Brés-

cia, Putinga, Roca Sales, Taquari, Ve-nâncio Alves.

A 8.a Região Sanitária, com sede emCachoeira do Sul — fora da Região Ta-quari-Antas, atinge apenas o municípiodo Rio Pardo.

A 2a Região Sanitária, com sede emCanoas — fora da Região Taquari-Antas,atinge os municípios de Montenegro eTriunfo.

A 9a Região Sanitária, com sede emCruz Alta — fora da Região Taquari-Antas, atinge apenas o município de So-ledade.

2. ASSISTÊNCIA MÉDICA GERAL

A assistência médica geral no RioGrande do Sul é prestada por diferentestipos de unidades sanitárias que, deacordo com os programas desenvolvidos,obedecem terminologia específica, segun-do critérios adotados pela Secretaria daSaúde.

Centro de Saúde — CS: unidade poli-valente integrada por serviços especiali-zados, localizada em municípios classi-ficados como sub-polo regional ou quetenham mais de 12.000 habitantes;

Posto de Saúde — PS: unidade médiapolivalente, localizada em municípioscom mais de 4.000 habitantes;

Posto de Assistência Médico-Sanitária— PAMS.: unidade polivalente média, lo-calizada em municípios com menos de4.000 habitantes, que funciona medianteacordos e convênios com as prefeituraslocais;

Posto de Assistência Sanitária-Integra-do — PASI: unidade polivalente peque-na, localizada em municípios com menosde 4.000 habitantes e que funciona inte-grada às unidades hospitalares, median-te acordos ou convênios com as prefei-turas locais;

* YUNES, J. — Os níveis de saúde na região Taquari-Antas, Rio Grande do Sul, Brasil. Rev.Saúde públ., S. Paulo, 6: 25-33, 1972.

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Posto de Puericultura — PP: unidadeclássica para o atendimento materno-in-fantil. Na Região Taquari-Antas só exis-te uma unidade sanitária desse tipomantida em convênio com a Legião Bra-sileira de Assistência, localizada no Mu-nicípio de Caxias do Sul;

Centro de Assistência Médico-Social —CAMS: unidade que, além de ofereceratendimento global, propicia também oensino da Medicina Preventiva e SaúdePública e o treinamento de pessoal dosdemais serviços da Secretaria de Saúde.Esse tipo de unidade sanitária não é en-contrado na Região.

Na análise da assistência médica ge-ral, as unidades sanitárias foram classi-ficadas por tipo e de acordo com a sualocalização.

A rede sanitária mantida pelo Gover-no do Estado, na área-programa, é com-posta por 47 unidades, conforme Tabela1, das quais 19 estão localizadas na Re-

gião de Santa Cruz do Sul, 15 na Regiãode Caxias do Sul e 9 na Região de PassoFundo. Em cada um dos quatro muni-cípios restantes — Rio Pardo, Soledade,Montenegro e Triunfo —- que pertencema Regiões Sanitárias com sede fora daárea-programa, existe apenas uma uni-dade sanitária.

O padrão quantitativo para toda a Re-gião Taquari-Antas é de uma unidadesanitária para cada 29.200 habitantes.Analisando-se esse padrão por regiõessanitárias, verifica-se que a 13.a regiãoencontra-se em condições mais favorá-veis, apresentando uma unidade para ca-da 22.300 habitantes, seguindo-se, compadrões pouco menos expressivos, a 6.a e5.a Regiões. Entretanto, em municípiosda 8.a, 9.a e 2.a Regiões registra-se apenasuma unidade para populações que va-riam de 53.500 a 73.500 habitantes. Emquatro dos municípios da área-progra-ma — Cambará do Sul, David Canabar-

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ro, Nova Araçá e Paraí — não existemunidades sanitárias.

Pode-se considerar que os padrõesatuais são bastante razoáveis, aproxi-mando-se do recomendado pela Orga-nização Mundial da Saúde que é de1:50.000. Entretanto, há que ressalvarque esse é apenas um entre os critériosadotados para se avaliar o padrão deatendimento. A avaliação mais precisademandaria a análise de outros fatores,tais como densidade demográfica, viasde acesso, facilidade de transporte edistribuição da população por classes derenda, elementos fundamentais na apre-ciação do padrão existente. Todavia, da-da a dificuldade de se obter essas infor-mações, somente foi utilizado o padrãoquantitativo global.

Ao se comparar a distribuição das uni-dades sanitárias e a população teorica-mente atendida na Região Taquari-Antascom Porto Alegre, observa-se que o nú-mero de habitantes por unidade sanitá-ria é muito elevado na Capital, fato quepode ser explicado pela maior densidadedemográfica, maiores facilidades de aces-so e melhores recursos de transportes.

Para se ter apenas a idéia do volumede atendimento prestado pela rede deassistência médica geral, foram somenteanalisados os dados referentes à assis-tência materno-infantil, uma vez que nãose dispõe de informações processadascom a segurança desejável sobre o nú-mero de consultas na Região e o núme-ro de pacientes inscritos nas unidadessanitárias. Assim, os últimos dados dis-poníveis, referentes a 1967, apontam que,dos 30.000 nascimentos ocorridos na área-programa, somente 6.701 gestantes ou22,3% do total estavam inscritas nas uni-dades sanitárias. Essa percentagem po-de ser considerada baixa, embora care-cendo de avaliação qualitativa mais apu-

rada, devido ao fato de se desconhecer onúmero médio de consultas por gestan-tes durante o período pré-natal.

Ao se avaliar, ainda de forma indireta,a qualidade do atendimento pelas unida-des sanitárias de acordo com os equipa-mentos disponíveis, constatou-se: das 47unidades que compunham a rede em1967, dispunha-se de informações * paraapenas 37 e dentre estas somente 10 con-tavam com recursos de laboratório paraanálises clínicas; 8 podiam realizar abreu-grafias; 5 possuíam serviços de radio-grafias; 4 atendiam o setor de parasito-logia; 3, o setor de bacteriologia; uma,o setor de sorologia. Nenhuma delasdispunha de recursos para exame hema-tológico e anatomopatológico. A carênciadesses serviços que completam o diag-nóstico do paciente compromete de mui-to a qualidade do atendimento e o prog-nóstico de cura.

Para a avaliação do rendimento de tra-balho das unidades sanitárias, tomou-secomo base a relação entre o número deconsultas feitas em 1967 nas diversasunidades da Região e o número de mé-dicos, estabelecendo-se a média de pa-cientes atendidos por hora e por profis-sional. Esse cálculo baseou-se no crité-rio de que o médico trabalha 33 horassemanais, o que corresponde, consideran-do-se apenas os dias úteis, à média de1.550 horas anuais. Assim o rendimentona Região foi, em média, conforme Tabe-la 2, de 0,4 consultas por hora por mé-dico. Em confronto com o Estado, queapresentou média de 1,5, conclui-se que onúmero de pacientes atendidos por mé-dico é muito baixo, o que equivale a di-zer que o índice de ociosidade é muitoelevado.

A distribuição das unidades sanitáriaspor tipo segundo as regiões sanitáriasencontra-se na Tabela 3.

* Informações prestadas ao Departamento Estadual de Estatística, por ocasião da CampanhaEstatística de 1967.

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3. ASSISTÊNCIA MÉDICAESPECIALIZADA

O estudo da assistência médica espe-cializada tomou como base a análise dosserviços prestados pelos dispensários detuberculose, lepra e ambulatórios desaúde mental, funcionando isoladamente

ou integrados a um Centro ou Posto deSaúde.

3.1 — Tuberculose

O serviço de controle e atendimentodos casos de tuberculose é prestado pe-la rede de unidades sanitárias estaduais,

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e, particularmente, através de dispensá-rios especializados a elas agregados, sob

a coordenação da Seção de Tuberculoseda Secretaria da Saúde. São atribuiçõesdessa Seção: fornecer medicamentos, re-por os equipamentos de cada unidadesanitária, orientar tecnicamente o pes-soal e centralizar o registro e a análisede dados pertinentes aos serviços desen-volvidos .

Cabe destacar, segundo informações daSecretaria da Saúde, que 61% das imu-nizações por BCG-oral feitas em 1968ocorreram em unidades sanitárias quenão dispõem de dispensários de tuber-culose. O mesmo fato pode ser obser-vado em relação a 45% dos serviços dediagnóstico prestados através de provasde tuberculina, bem como ao atendimen-to em estabelecimentos não especializa-dos a 42% dos pacientes em tratamento.Cumpre ressaltar ainda que os casos dehospitalização identificados são encami-nhados para o Hospital Sanatório Par-thenon, mantido pela Secretaria da Saú-de do Estado, em Porto Alegre.

A rede estadual de dispensários de tu-

berculose conta atualmente com 27 uni-dades, conforme Tabela 4, das quais 4encontram-se em Porto Alegre, 2 na Re-gião Taquari-Antas, localizadas nos mu-nicípios de Caxias do Sul e Passo Fundo,e 21 nos demais municípios do Estado.Exceto num único caso, os dispensáriosde tuberculose funcionam junto a centrosde saúde, integrando a unidade poliva-lente, estrutura que permite atendimen-to global e racional. Quanto ao pessoal,cada dispensário é dirigido por um mé-dico tisiologista e conta, além disso,com pessoal para-médico e auxiliar pró-prio.

Na análise da população teoricamenteatendida por dispensários, observa-se quena Região Taquari-Antas existe um dis-

pensário para cada 631.450 habitantes. NoEstado e Porto Alegre, a população teo-ricamente atendida é de um dispensáriopara 255.220 e 238.060 habitantes, respec-tivamente. Essa disparidade adquire sig-nificado mais grave ao se considerarque a mortalidade proporcional por tu-berculose é a primeira causa de óbitosentre as doenças infecto-contagiosas(YUNES, 1972) *.

* op. cit.

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Os dois dispensários existentes na Re-gião, localizados em Passo Fundo e Ca-xias do Sul, dispõem de equipamentospara exames radiológicos e abreugráfi-cos e de serviços de laboratórios espe-cializados.

Quanto ao atendimento, de acordocom a Tabela 5, o volume registrado nodispensário de Caxias do Sul foi duasvezes superior ao observado em PassoFundo durante o ano de 1968, tanto nasatividades de imunização por BCG-orale nas provas de tuberculina, como emrelação a exames radiológicos. O progra-ma de controle epidemiológico desenvol-vido inclui o acompanhamento de casossuspeitos de tuberculose e o controleperiódico, através de exames radiológi-cos e visitas domiciliares feitas por edu-cadoras sanitárias às famílias dos pa-cientes em tratamento.

3.2 — Hanseníase

A seção de profilaxia da hanseníaseno Estado funciona com a colaboraçãoda Campanha Nacional Contra a Leprado Serviço Nacional da Lepra.

Para esse tipo de assistência foramestabelecidas 6 zonas que cobrem toda a

área do Estado, sendo que 70% dos mu-nicípios da Região Taquari-Antas encon-tram-se na zona 4, que compreende aRegião Sanitária de Caxias do Sul — 5.a

Região — e de Santa Cruz do Sul — 13.a

Região.

Segundo dados da Secretaria da Saúde,a rede de dispensários especializadospara o combate à lepra, no Estado, au-mentou substancialmente nos últimosdoze anos, passando de 15 unidades regis-tradas em 1956, para 34 em 1964, alcan-çando 37 unidades em 1968. Todos osdispensários funcionam integrados àsunidades sanitárias, dos quais, conformeTabela 4, 11 estão localizados na RegiãoTaquari-Antas, 3 em Porto Alegre e 23nos demais municípios do Estado.

Em relação à população regional teo-ricamente atendida — uma unidade pa-ra cada 123.900 habitantes — a Regiãoapresenta melhor proporção do que oEstado — uma unidade para cada 186.240habitantes — e bem melhor do que Por-to Alegre — uma unidade para cada315.530 habitantes.

A área-programa também apresentamenor incidência de casos diagnostica-dos de lepra. Assim as estimativas daSecretaria da Saúde para 1968 registram

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38,4 casos de lepra para cem mil habi-tantes nos municípios da Região, 86,2casos por cem mil habitantes em PortoAlegre e 45,3 casos por cem mil habitan-tes no Estado. Nos casos levantados,predominam as formas clínicas lepro-matosas, que correspondem à metadedos diagnósticos positivos e de tubercu-loide, que aparece em 30% dos registros.

As atividades dos dispensários espe-cializados e das demais unidades sani-tárias compreendem exames de diagnós-ticos, tratamento dos casos diagnostica-dos e exames e reexames dos contatan-tes, isto é, dos membros da famíla dodoente expostos a contato direto.

3.3 — Saúde Mental

Os serviços de Saúde Mental no Esta-do funcionam integrados às unidades sa-nitárias, através dos seus 10 ambulató-rios especializados, 2 dos quais criadosem 1968. Os programas desenvolvidosnesses ambulatórios são coordenados pe-lo Departamento de Saúde Mental da Se-cretaria da Saúde. Cada ambulatórioconta com um médico psiquiatra e uti-liza o pessoal para-médico e auxiliar daunidade sanitária a que pertence. Aárea-programa conta com dois ambula-tórios de saúde mental conforme Tabe-la 4, localizados em Caxias do Sul ePasso Fundo.

Analisando-se a população teoricamen-te atendida, verifica-se que a relação éde um ambulatório para 681.454 habitan-tes, na Região Taquari-Antas, enquantono Estado é de um para 689.100 e, emPorto Alegre, de uma para 233.250 habi-tantes. Constata-se, portanto, que a situa-ção do Estado é ligeiramente inferior àda Região, aparecendo Porto Alegre emsituação bem melhor.

Os programas desenvolvidos nos am-bulatórios restringem-se a consultas psi-quiátricas e distribuição de medicamen-

tos. Em 1968, foram propiciadas, no Es-tado, 15.533 consultas, das quais 31,6%constituídas por pacientes que procura-ram pela primeira vez o ambulatório.Na Região registraram-se 4.269 consul-tas, das quais 34,4% pela primeira vez.Em Porto Alegre foram prestadas 6.610consultas, sendo que 27,3% dos pacien-tes procuraram o ambulatório pela pri-meira vez.

Observa-se, assim, que a maior pro-porção de primeiras consultas ocorreuna Região Taquari-Antas.

4 — ASSISTÊNCIA MÉDICAFORNECIDA PELO INPS

A Coordenação da Assistência Médica,do Instituto Nacional de Previdência So-cial no Estado do Rio Grande do Sul,atua através de 36 agências regionais,das quais uma localizada em Porto Ale-gre e 9 na Região Taquari-Antas, sediadasem Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul,Bento Gonçalves, Passo Fundo, Lajeado,Montenegro, Guaporé, Vacaria e Estrela,cujas jurisdições abrangem 44 aos 50municípios da área-programa. Os 6 mu-nicípios restantes pertencem a agênciassituadas fora da Região. A essas agên-cias compete recolher e distribuir osrecursos do Instituto Nacional de Previ-dência Social (INPS), realizar credencia-ções médicas e encaminhar os convênioshospitalares.

A credenciação do médico é feita porespecialidade, o que de certa forma li-mita a assistência médica beneficiáriaque, na Região, é satisfatória apenas pa-ra algumas especialidades, como obste-trícia e cirurgia geral. Desse modo,quando se fazem necessárias interven-ções mais especializadas ou tratamentomais específico, o paciente é oneradocom despesas extras de locomoção aoprocurar tratamento fora da área deseu domicílio.

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Dos 347 médicos existentes na Região,69,2% são credenciados pelo INPS, dis-tribuídos em três grandes grupos demunicípios, classificados de acordo coma população estimada em 1967: grupo I,com menos de 15.000 habitantes; grupoII, de 15.000 a 50.000 habitantes e gru-po III, com mais de 50.000 habitantes.

Dos 22 municípios que compõem oprimeiro grupo, apenas 8 não possuemmédicos credenciados.

Os restantes são servidos por 17 mé-dicos, com credenciação para 25 espe-cialidades: 44% em obstetrícia e 28% emcirurgia geral. Os 20 municípios do se-gundo grupo dispõem de 69 médicoscredenciados, 47,8% dos quais com es-pecialização em obstetrícia, 28,4% em ci-rurgia geral e ginecologia e o restantedistribuído por outras especialidades.Desses municípios, 2 não possuem umsó médico credenciado. Os 8 municípioscom mais de 50.000 habitantes, dispõemde 155 médicos credenciados, o que re-presenta 64,3% do total da Região. Das199 especializações credenciadas, 23,1%são em cirurgia geral e 19,1% em obste-trícia. Aparecem ainda, com freqüência,clínica médica, ginecologia e cirurgia gi-necológica, pediatria, clínicas para pron-to atendimento e cardiologia. Do totalde médicos credenciados na Região,48,5% estão concentrados em Caxias doSul, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul.

5 — ATIVIDADES DESENVOLVIDASPELO DEPARTAMENTO NACIONAL

DE ENDEMIAS RURAIS

O Departamento Nacional de Ende-mias Rurais (DNERu), Circunscrição doRio Grande do Sul, atua na Região Ta-quari-Antas através de três unidades sa-nitárias localizadas em Encantado, Ro-ca Sales e Taquari, cujas jurisdições

abrangem a área total de cada municí-pio.

Em Encantado e Roca Sales, as ativi-dades se destinam a profilaxia do traco-ma e das verminoses intestinais e, emTaquari, apenas a profilaxia das vermi-noses.

O DNERu atua ainda, no combate àsendemias rurais, através de equipes vo-lantes nas áreas de maior incidência,propiciando o atendimento direto nasresidências e realizando exames em la-boratórios. Além disso o DNERu propi-cia também um programa de construçãode fossas, inclusive com o fornecimentode assistência técnica, procurando, dessamaneira, debelar a incidência de molés-tias nessas áreas.

A construção de fossas é de funda-mental importância para o combate àsverminoses, enfermidades diarréicas eoutras doenças infecciosas, pois a altaincidência dessas moléstias (YUNES1972)*, como já se disse anteriormenteneste estudo, constitui clara indicaçãodas necessidades de saneamento na Re-gião.

6 — RECURSOS HUMANOS

A avaliação dos recursos médicos epara-médicos na Região Taquari-Antasfez-se através da análise do pessoal lo-tado nas unidades sanitárias e na redehospitalar. Ressalva-se, entretanto, aprovável inexatidão dos dados referen-tes ao número de médicos, uma vez quealguns profissionais ou não pertencem aqualquer das unidades existentes ouexercem suas atividades em dois oumais estabelecimentos. Quanto aos re-cursos para-médicos, procurou-se distin-guir os enfermeiros e auxiliares de enfer-magem dos demais.

* — op cit.

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6 1 — Pessoal Médico

Na Região, conforme Tabela 6, atuam504 médicos, o que equivale a um pro-fissional disponível para cada 2.655 ha-bitantes. A distribuição proporcional des-ses profissionais por Região Sanitáriavariou, em média, de 1.778 habitantespor médico na 6.a Região Sanitária, até4.528 habitantes por médico na 8.a Re-gião Sanitária (Rio Pardo), com exce-ção do município de Soledade, que apre-sentou a elevada proporção de 10.599habitantes por médico.

Comparados com o padrão propostopela Organização Mundial da Saúde —um médico para cada 1.000 habitantes— esses dados revelam condições pou-co satisfatórias para a Região. Esse ain-da é mais significativo quando se com-para a Região com Porto Alegre e com oEstado do Rio Grande do Sul, cujas mé-dias são, respectivamente, de 493 e 2.209habitantes por médico.

6.2 — Pessoal Para-Médico

Na rede de unidades sanitárias, cons-tata-se, de acordo com a Tabela 7, apresença de apenas 10 profissionais, dosquais 6 estão servindo na 5.a Região Sa-nitária — Caxias do Sul — 3 na 13.a Re-gião Sanitária e um na 2.a Região Sani-tária. Portanto, apenas em 5 das 50 ci-dades da Região as unidades sanitáriasestão habilitadas, e de maneira precária,a oferecer os serviços desses profissio-nais.

Quanto à rede hospitalar a situação épouco melhor, mas ainda muito aquémda recomendável: 259 enfermeiros e auxi-liares de enfermagem são disponíveis naárea-programa. Comparando-se o númerototal de enfermeiros e auxiliares existen-tes na Região, com Porto Alegre e Es-tado do Rio Grande do Sul, constata-seque na primeira o número de enfermei-ros representa 12,1% sobre o total do Es-

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tado do Rio Grande do Sul, enquanto quena Capital essa percentagem eleva-se pa-ra 56,0%.

6.3 — Relação entre Médicos e Pessoalde Enfermagem

A relação entre o número total de mé-dicos e o de enfermeiros, incluindo-se osauxiliares de enfermagem, é bem inferiorà teoricamente desejável, ou seja, maisde um profissional de enfermagem pa-ra cada médico. Na Região Taquari-An-tas a proporção é de 0,53 enfermeiro ouauxiliar por médico, enquanto que paraPorto Alegre e Estado do Rio Grande doSul, observam-se relações de 0,67 e 0,56,respectivamente. Sob esse aspecto é ain-da mais grave a situação da Região emestudo, pois apresenta a mais baixa mé-dia das três áreas consideradas.

Conclui-se, portanto, que a formaçãode pessoal para-médico não correspon-de à relação do pessoal médico desejá-vel, afetando, dessa maneira, a qualida-de do atendimento dos serviços de saúde.

RSPSP -129

YUNES, J. — Health medical care in Ta-quari-Antas Region, Rio Grande doSul, Brazil. Rev. Saúde públ., S. Pau-lo, 6:171-82, 1972.

SUMMARY: The health care system wasstudied in the Taquari-Antas Region (Sta-te of Rio Grande do Sul — Brazil), it iscomposed of 50 cities with a populationof nearly 1,300,000 inhabitants, about20.0% of the population of the State. Thehealth centers network of the Region iscomposed of 47 units and there is nohomogeneity since the 13th Sanitary Re-

gion is the best of them and it has 22,300inhabitants for each unit center whilefor other regions the range is of 53,500to 73,500 inhabitants. The output in themedical attendance was very low, thatis each physician gives an average of0.4 medical attendance per hour whilein the capital of the State (Porto Ale-gre) this rate was 1.5. The public net-work of the tuberculosis dispensary has27 units works integrated with the healthunit center except one case, forming thepolivalent health unit. The proportion ofinhabitants for each tuberculosis dispen-sary is 631,450 inhabitants while tor thecapital and for the State this rate is res-pectively 238,060 and 255,220 inhabitants.The network for the leprous dispensaryis composed of 37 units with a propor-tion of 123,900 inhabitants for each unit.The Taquari-Antas Region presents aproportion that is better than the Stateand the Capital since this proportion isrespectively 186,243 and 315,530 inhabi-tants. The Mental Health services worksintegrated with the health unit centersthrough its 10 out-patient clinic with apsychiatrist physician in each of them.The region has one out-patient clinic foreach 681,454 inhabitants, while for the Sta-te this proportion is 689,100 and in theCapital this proportion is 233,250 inhabi-tants. Related to health manpower re-sources there is a physician for each2,655 inhabitants and the range of thisproportion per Sanitary Region is from1,778 to 4,528 inhabitants per physician.This rate is very low when comparedwith the pattern proposed by WHO thatis one medical doctor per each 1,000inhabitants. In the health unit centernetwork there are only 10 nursing con-centrated in 5 cities, that is, 45 cities donot have this kind of professionals. The-refore there is a higher proportion ofphysician than nursing, although thepattern of the medical doctor is alsolow.

UNITERMS: Health medical care*;Health center*.

Recebido para publicação em 4-4-1972

Aprovado para publicação em 25-4-1972