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ESTUDO DA LACTAÇÃO EM MULHERES DO DISTRITO DE SÃO PAULO, BRASIL João Yunes * Vera Shirley C. Ronchezel ** RSPU-B/259 YUNES, J. & RONCHEZEL, V.S. Estudo da lactação em mulheres do Distrito de São Paulo, Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:191-213, 1975. RESUMO: Foi feito um estudo sobre as inter-relações existentes entre a lactação, fertilidade e variáveis sócio-econômicas em uma amostra de mulheres do Distrito de São Paulo, Brasil. Constatou-se que o tempo de amamentação rana com a paridade, com a idade e a instrução da mulher e com o gasto mensal da família; e também existir relação entre o tempo de amamentação e o intervalo entre duas gestações subsequentes para as mulheres que não usam métodos anticoncepcionais. UNITERMOS: Amamentação. Lactação. Paridade. l. INTRODU ÇÃO Este trabalho baseia-se nos dados da pesquisa realizada em mulheres do Dis- trito de São Paulo ***. Antes de se ana- lisar os resultados, serão apresentadas as principais conclusões de estudos semelhan- tes realizados em outros países. Esta re- visão da literatura se prende aos princi- pais fatores demográficos, sociais, econô- micos e biológicos que apresentam algu- ma associação ou relação com o hábito e a duração da amamentação, bem como seu efeito na fisiologia da reprodução huma- na medida através da concepção. Os dados referentes à duração do tem- po de amamentação variam nas diversas regiões do mundo na medida em que as situações econômicas e padrões culturais também são diferentes. As mães indus amamentavam seus filhos, em média, du- rante 21 meses (Potter 9 ), as inglesas 5.5 meses (Guttmacher 4 . 1952) e as chine- sas de Formosa. 16 meses (Jain e col. 1972). Os dados mais recentes mostram que. nos países desenvolvidos, as mães lactantes não excedem a 20% e o perío- do de lactação é breve. Por outro lado. em muitos dos países em desenvolvimen- to, cerca de 90% das mães amamentam seus filhos durante um período que varia de 2 a 36 meses. Em relação à paridade observou-se que as mães primíparas tendem a amamentar ' Do Centro de Estudos de Dinâmica Populacional (CEDIP) da Faculdade de Saúde Pú- blica da USP Av. Dr, Arnaldo, 715 — São Paulo, SP — Brasil; Da Disciplina de Pediatria Social da Faculdade de Medicina da USP; Da Divisão de Epidemiologia do Departamento Técnico Normativo da Secretaria de Estado da Saúde Da Divisão de Epidemiologia do Departamento Técnico Normativo da Secretaria do Es- tado da Saúde — Rua Teodoro Sampaio, 833 — São Paulo, SP — Brasil Pesquisa realizada em 1965, pela Prof. a E. Berquó e os membros do então Departamento de Estatística Aplicada à Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP

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ESTUDO DA LACTAÇÃO EM MULHERES DO DISTRITO DESÃO PAULO, BRASIL

João Yunes *Vera Shirley C. Ronchezel **

RSPU-B/259

YUNES, J. & RONCHEZEL, V .S . — Estudo da lactação em mulheres do Distrito deSão Paulo, Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:191-213, 1975.

RESUMO: Foi feito um estudo sobre as inter-relações existentes entre alactação, fertilidade e variáveis sócio-econômicas em uma amostra de mulheresdo Distrito de São Paulo, Brasil. Constatou-se que o tempo de amamentaçãorana com a paridade, com a idade e a instrução da mulher e com o gastomensal da família; e também existir relação entre o tempo de amamentaçãoe o intervalo entre duas gestações subsequentes para as mulheres que não usammétodos ant iconcepcionais .

UNITERMOS: Amamentação. Lactação. Paridade.

l. INTRODU ÇÃO

Este trabalho baseia-se nos dados dapesquisa realizada em mulheres do Dis-trito de São Paulo *** . Antes de se ana-lisar os resultados, serão apresentadas asprincipais conclusões de estudos semelhan-tes realizados em outros países. Esta re-visão da literatura se prende aos princi-pais fatores demográficos, sociais, econô-micos e biológicos que apresentam algu-ma associação ou relação com o hábito ea duração da amamentação, bem como seuefei to na fisiologia da reprodução huma-na medida através da concepção.

Os dados referentes à duração do tem-po de amamentação variam nas diversasregiões do mundo na medida em que as

situações econômicas e padrões culturaistambém são diferentes. As mães indusamamentavam seus filhos, em média, du-rante 21 meses ( P o t t e r 9 ) , as inglesas 5.5meses (Gu t tmache r 4. 1952) e as chine-sas de Formosa. 16 meses (Ja in e col.1972). Os dados mais recentes mostramque. nos países desenvolvidos, as mãeslactantes não excedem a 20% e o perío-do de lactação é breve. Por outro lado.em muitos dos países em desenvolvimen-to, cerca de 90% das mães amamentamseus filhos duran te um período que var iade 2 a 36 meses.

Em relação à paridade observou-se queas mães primíparas tendem a amamenta r

' Do Centro de Estudos de Dinâmica Populacional (CEDIP) da Faculdade de Saúde Pú-blica da USP — Av. Dr, Arnaldo, 715 — São Paulo, SP — Bras i l ; Da Disciplina dePediatria Social da Faculdade de Medicina da USP; Da Divisão de Epidemiologia doDepartamento Técnico Normativo da Secretaria de Estado da SaúdeDa Divisão de Epidemiologia do Departamento Técnico Normativo da Secretaria do Es-tado da Saúde — Rua Teodoro Sampaio, 833 — São Paulo, SP — BrasilPesquisa realizada em 1965, pela Prof.a E. Berquó e os membros do então Depa r t amen tode Es t a t í s t i c a A p l i c a d a à Saúde P ú b l i c a da F a c u l d a d e de Saúde P ú b l i c a da USP

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mais os recém-nascidos do que as multí-paras, embora estatisticamente a diferen-ça não tenha sido significativa nos estu-dos de Robertson 10. Segundo este autor,o desmame é mais precoce nas multípa-ras, e a idade materna não tem influên-cia na mudança da quantidade ou com-posição do leite materno. Neste mesmoestudo, constatou-se que as mães com ní-vel educacional até o primeiro ciclo ounível universitário tendem a amamentarseus filhos mais do que as que têm o se-gundo ciclo. A amamentação foi tambémmais comum nas mulheres de classe socialbaixa e alta que nas de classe média. Se-gundo Jain e col. 5, em seu estudo emFormosa, a duração média da lactaçãodas mães aumenta com a paridade (aocontrário de Robertson 10) e com a idadematerna, sendo de 13 meses para mulhe-res com menos de 25 anos de idade e de20 meses para mulheres com mais de 40anos. A duração média da lactação, nes-te estudo, variou de 11 meses para a pa-ridade l, até 18 meses para as mulhe-res com mais de 8 filhos. Da mesma ma-neira, o período de amenorréia aumentoucom o aumento da idade e paridade e pa-ra cada uma destas o período de amenor-réia é substancialmente maior para asmães que amamentam do que para aque-las que não amamentam. Enquanto a ida-de e paridade estão associadas com a du-ração da amamentação e amenorréia, aque-la é muito mais importante do que estadurante o período de lactação.

Durante este período, há uma fase deamenorréia e anovulação cuja duração va-ria consideravelmente. É desconhecido omecanismo exato desta inibição ovárica.

Taylor apud Chopra 3 diz que a ame-norréia pós-parto dura de 6 a 8 semanasna ausência da lactação e que nas popu-lações que praticam a amamentação na-tural, o período de infecundidade deve-ria ser equivalente a 3/4 do período mé-dio da lactação.

Tietze12 afirma que, na ausência delactação, a duração média de amenorréiadepois do parto é de 6 a 8 semanas. Seé certo que a lactação pode ser acompa-nhada de amenorréia prolongada e su-pressão da ovulação, convém recordar quehá um risco de 5% de conceber durantea amenorréia pós-parto, risco este queaumenta rapidamente logo que reaparecea menstruação.

Lyon & Stamn6 encontraram ciclosanovulatórios em 95% dos casos estuda-dos durante a primeira menstruação pós-parto. Udesky13 encontrou em todos osseus casos ciclos anovulatórios durante operíodo da primeira menstrução e 50%na segundo. O terceiro ciclo menstrualfoi 100% ovulatório. Peckham8 em seusestudos refere que 1/10 das mulheres en-gravidam sem terem tido nenhuma mens-truação.

Mc Keown 7 reportou em seu estudo que7% das mulheres de sua amostra conce-beram dentro de um ano após o parto.Guttmacher 4 reportou os achados de Dou-glas, concluindo que em mães lactantes achance de conceber durante os primeirosnove meses após o parto foi menor do queas das mães não lactantes, e de nove adez meses após o parto ambos os grupostiveram igual probabilidade de fecundar.

Taylor apud Chopra 3 assinala que,aproximadamente, metade das mulheresconcebeu nos três meses do período mens-trual posterior ao parto e 80% ao fimde um ano.

Outro problema que se levanta em rela-ção ao período de esterilidade durante aamenorréia pós-parto é se isto poderia serdevido à baixa freqüência das relações se-xuais ou mesmo tabus sociais com rela-ção ao coito. Potter e col. 9 em estudorealizado na Índia observaram que cercade 2/3 das mulheres reportaram absti-nência de coito por menos de 4 meses,20% por 5 a 6 e 15% por 7.

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O objetivo de nosso estudo foi verifi-car:

1.°) Variação do tempo médio de ama-mentação em relação à paridade ou ordemde nascimentos (de 1 a 5) e idade damulher.

2.°) Tempo de amamentação das mu-lheres que usaram ou não contraceptivossegundo a paridade e idade da mulher.

3.°) Inter-relação entre amamentação-e fertilidade.

4.°) Tempo médio de amamentação se-gundo a situação sócio-econômica (grau deinstrução e gasto mensal da família) eorigem da mulher.

2 . M E T O D O L O G I A

Os dados elaborados e interpretados,conforme foi mencionado, foram extraí-dos do levantamento retrospectivo de Pes-quisa sobre Reprodução Humana no Dis-trito de São Paulo. A população em estu-do foi constituída pelas mulheres não sol-teiras de 15 a 49 anos completos e resi-dentes no Distrito de São Paulo, em 1965.A amostra escolhida constou de 2.857mulheres, ou seja, 0,25% do total da po-pulação, das quais 2.647 tiveram pelo me-nos um nascido vivo até a época da en-trevista (Berquó e col. 1 e Camargo e Ber-quó 2).

A variável ''tempo de amamentação"foi definida como a duração da amamen-tação do recém-nascido vivo. Para efeitode análise as mulheres foram divididasem 9 subgrupos que se seguem:

Os subgrupos 1 e 2 "não amamentou"e "amamentou até 3 semanas" represen-tam as mulheres que não querem ou nãopodem amamentar seus filhos, ou por al-gum motivo desistiram da amamentaçãoantes de completar 3 semanas. Os óbitosde crianças ocorridos no período perinatal(menos de 7 dias) ou neonatal (menos de28 dias), podem refletir no comporta-mento das mulheres do subgrupo 2.

O subgrupo 3, "3 a 6 semanas" repre-senta o período em que a mulher é emgeral aconselhada à abstinência ou dimi-nuição das relações sexuais (40 dias) e,em muitos casos, neste período é que re-começam as medidas de uso de anti-con-cepcionais.

Os subgrupos 4, 5, 6 e 7, "6 semanasa 3 meses"; "3 meses a 6 meses"; "6 me-ses a 9 meses" e "9 meses a um ano" di-videm o ano em quartos (exceto para osubgrupo 9 em que o período é de 4 me-ses) .

O subgrupo 9, "um a 2 anos", foi in-cluído para possibilitar a comparação compaíses em que o hábito de amamentaçãoestende-se por períodos longos. Além dis-so, teve por objetivo separar o período delactação considerado "normal" das mulhe-res que amamentam por "mais de 2 anos".

As Tabelas a serem analisadas foramelaboradas partindo-se do total de nasci-dos vivos amamentados. O tempo de ama-mentação foi dividido em classes: menosde 3 semanas, mais de 3 semanas, maisde 3, 6, 9 e 13 meses e mais de 2 anos,e os nascidos vivos foram distribuídos emnúmeros absolutos e em percentagem acu-mulados.

A classe de menos de 3 semanas paratempo de amamentação foi consideradapor apresentar, na maioria das vezes, ten-dência totalmente inversa das demais.

O tempo médio de amamentação (TMA)foi calculado pela relação que se segue:

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em que X é o ponto médio dos intervalosdas classes "duração de amamentação dorecém-nascido" considerados e onde f éa distribuição dos recém-nascidos nas res-pectivas classes. A classe "não amamen-tou" foi excluída da análise por estarmosquerendo obter "tempo médio de ama-mentação". O ponto médio da classe"amamentou até 3 semanas" foi conside-rado 1,5 semanas. O ponto médio da clas-se "2 anos e mais" foi considerado 110semanas, ou seja, '27,5 meses. A classefoi montada considerando-se seu extremosuperior igual a 30 meses. O número de

semanas em cada mês foi consideradoigual a 4.

Utilizou-se como método estatístico aregressão linear ajustada.

3 . R E S U L T A D O S

3.1. Tempo de Amamentação eParidade

Ao se analisar a amamentação segundoa paridade de l a 5, constata-se, conformeTabela l, que a proporção de mulheresque amamentaram seus filhos variou de86.59% para o 4.° nascimento vivo. a88,99% para o 2.°. Portanto, a maior iadas mulheres amamentou seus filhos.

Em relação ao tempo de amamentaçãoverifica-se que a moda para cada nascimen-to vivo foi de 3-5 meses até a paridade 4, ede 9-12 meses na paridade 5 (Tabela 2).Como de uma maneira geral nas paridadesmaiores foram de mulheres nos extremosdos estratos sociais, sugere-se como hipóteseque o maior tempo de amamentação nes-sa paridade se deva a fatores predomi-nantemente econômicos no estrato socialbaixo, e a valorização dos benefícios daamamentação natural, no estrato maisalto. Embora a tendência seja discreta,nota-se que o hábito de não amamenta r

aumenta com a paridade. Considerando-se as mulheres que amamentam, nota-seque a duração do tempo médio de lacta-ção aumeta à medida em que o númerode filhos cresce. Tal fato pode estar re-lacionado ao nível sócio-econômico da fa-mília que, provavelmente, tende a dimi-nuir com o aumento da paridade. A du-ração, por paridade, variou de 30,2 se-manas para a paridade l e 34,8 para a5. Portanto, a variedade da duração mé-dia do tempo de lactaçao apresenta aumen-to discreto em relação a ordem do nasci-mento, sendo pata amplitude em torno de4.6 semanas.

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Pela observação da regressão ajustada(em que se admitiu que a variável inde-pendente, paridade na ocasião, está no 3.°nível de mensuração e que se tomou ape-nas como amplitude de interesse as pari-dades de 1 a 5, restringindo-se a parida-de 0) e dos valores observados parece-nos lícito inferir que à medida que a pa-ridade aumenta há um aumento do tem-po de amamentação de forma linear, pelomenos para as paridades observadas.

3.2. Tempo Médio de Amamentação porParidade Segundo a Idade daMulher na Entrevista

Considerando-se cada coorte de mulhe-res pode-se observar pela Tabela 3 que di-ferem as tendências de tempo de ama-mentação por paridade. Para as mulhe-res mais jovens (de 15 a 24 anos) obser-va-se uma diminuição do tempo médio deamamentação à medida que aumenta aparidade. Contudo, pode-se objetar queprovavelmente são poucas as mulherescom essas idades que tiveram 5 nascidosvivos ou até mesmo 4. Nota-se, no entan-to, que o número total de nascidos vivosdeste grupo de mulheres é consideravel-mente menor que o dos demais gruposetários, diminuindo de mais de 50%quando se passa da paridade 2 para a 3,e sendo de apenas 5 nascidos vivos na pa-ridade 5. Para as mulheres mais velhas(com mais de 35 anos) em que se veri-fica terem tido mais de 50% do total dosnascidos vivos, a tendência não difere datendência geral, ou seja, o tempo médiode amamentação aumenta com a parida-de.

Ainda pela Tabela 3, é interessante ob-servar que o tempo de amamentação, in-dependente da paridade, aumenta, em mé-dia, conforme o aumento da idade da mu-lher. Considerando-se, pois, o total denascidos vivos de cada coorte, o tempomédio de amamentação das mulheres commais de 35 anos (36,8 semanas) é maiorque o das mulheres de 15 a 24 anos (21,2semanas) . Tendência semelhante pode ser

observada considerando-se as paridades l,2 e 3, isto é, quanto maior a idade damulher, maior o tempo médio de amamen-tação. Com relação às paridades 4 e 5essas tendências não são tão nítidas, po-dendo estar influindo neste caso o pequenonúmero de eventos ocorridos.

3.3. Tempo de Amamentação SegundoIdade da Mulher na Entrevista

Através da Tabela 4 em que se estudao comportamento das mães em relaçãoao tempo de amamentação segundo a ida-de e independente da paridade, observa-se que apenas 0,83% dos nascidos vivosde mães que pertencem à coorte de 15 a24 anos são amamentados mais de 2 anos,enquanto que 3,57% dos filhos daquelasda coorte de 35 e mais anos são amamen-tados por esse mesmo período. Isto leva-nos a concluir que as mulheres perten-centes a coortes mais novas amamentammenos tempo que as das mais velhas. Ob-serva-se, também, que o aumento de nú-mero dos nascidos vivos amamentados pormais de 2 anos se faz gradualmente e deacordo com o aumento de idade das mães.Para os nascidos vivos amamentados me-nos de 3 semanas observa-se uma tendên-cia inversa, isto é, maior percentagem de-les se concentra na coorte mais nova(16,25%) e a menor na coorte mais ve-lha (6,89%).

Ao se analisar por paridade, ou seja,pela ordem de nascimentos observa-se amesma tendência, ou seja, as mulheres dascoortes mais novas amamentam menostempo que as mais velhas. A tendênciaobservada para as demais paridades nãoaparecem claramente para o 5.° nascidovivo. Isso deve-se, possivelmente, ao pe-queno número de casos estudados.

Pela Fig. 1 em que se analisa a distri-buição percentual dos nascidos vivos ama-mentados mais de um ano, observa-se cla-ramente a tendência das mulheres dascoortes mais velhas amamentarem maistempo que as mais novas,

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As mulheres mais velhas da amostraevidenciam, assim, hábito de amamentarseus filhos por um tempo maior que asmais novas. A que fatores se pode atri-buir este hábito é indagável cuja respostamereceria um estudo específico.

3.4. Tempo de Amamentação e Usode Contraceptivos

A Tabela 5 mostra a distribuição per-centual das mulheres que utilizaram mé-todos anticoncepcionais ( M A C ) logo apóso nascimento da criança e aquelas quenão usaram, de acordo com o tempo deamamentação. Nota-se que o número demulheres que usaram e que não usaramcontraceptivos por ordem de nascimentosão bastante próximos, com exceção paraa paridade 2. A proporção de mulheresque usaram contraceptivos segundo a or-dem de nascimento vivo foi sempre maior,com exceção da paridade 5. A proporçãodaquelas que amamentaram e que não usa-ram contraceptivos por ordem de nasci-mento vivo foi de: 46,5% (paridade 1) ;37,0% (paridade 2); 41,3% (paridade3 ) ; 48,3% (paridade 4) e 55,4% (pa-ridade 5).

A duração média da amamentação foicalculada usando os subgrupos 2 a 9, "me-nos de 3 semanas" até "2 anos e mais".

As mulheres que não amamentaram fo-ram eliminadas para efeito de compara-ção com outros estudos. A duração mé-dia da amamentação para cada nascidovivo segundo o uso ou não de métodosanticoncepcionais ( M A C ) é apresentadana Tabela 5. Note-se que há d i fe rençaentre os dois grupos. Mães que não usa-ram contraceptivos mostraram uma ten-dência a aumentar o tempo de lactaçãocom o aumento de paridade. A partir dacategoria de tempo de lactação de ''9 me-ses a 1 ano" observa-se que as propor-ções destas categorias aumentam à me-dida em que aumenta a paridade. Paraas mulheres que usaram contraceptivosnão se observa uma tendência nítida,ocorrendo flutuações. Observando-se otempo médio de amamentação, segundo ouso ou não de métodos anticoncepcionais esegundo a paridade, nota-se ser sempremaior a duração média da amamentaçãopara as mulheres que não usaram contra-ceptivos. Isto sugere a hipótese de que oalongamento da amamentação funciona co-mo meio de prevenir uma nova concepção.Esta hipótese é coerente com a motivaçãoàs vezes expressa no contacto clínico, pro-longando as mulheres o tempo de lacta-ção como "proteção" contra a concepção.A diferença do tempo médio de lactaçãoentre as que usaram MAC e as que nãousaram variou de 3 semanas (paridade 1)a 7,5 (paridade 4), sendo as demais: 7semanas (paridade 2), 4,5 semanas (pa-ridade 3) e 4,7 semanas (paridade 5) .

Ainda pela Tabela 5, observamos queo tempo de lactação mais freqüente tam-bém varia para os dois grupos. Para asmães que usaram contraceptivos a modado tempo de lactação para cada paridadeé de 3 a 5 meses, enquanto que, para asmães que não usaram medidas anticon-cepcionais é de 9 meses a 1 ano, exceçãopara a paridade 1 (moda 3 a 5 meses).As diferenças acima apresentadas podemser atribuídas em parte a diferenças cul-turais com padrões de comportamento dis-tintos e à situação sócio-econômica diver-sa. A hipótese é de que as mães que usam

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contraceptivos têm em geral melhor situa-ção sócio-econômica e hábito de amamen-tar menos freqüente. A implicação nestadiferença parece também estar no fato deque as mulheres que não usam medidasanticoncepcionais amamentam por tempomaior para cada paridade, talvez numatentativa de diminuir a probabilidade deconceber. O tempo médio de lactação pa-ra as mulheres que não usaram MAC é de31.7 semanas para a paridade 1 e aumen-ta para 37.9 semanas no 5.° nascimento.

Segundo Chopra3 "numerosas classesde pílulas contraceptivas exercem algumefeito adverso sobre a lactação. Assim, re-duzem a quantidade de leite e duração dalactação propriamente dita. Estes efeitosadversos são maiores se o emprego docontraceptivo começa nas primeiras sema-nas depois do parto e antes da plena lac-tação". "As pílulas contraceptivas prepa-radas principalmente a base de estróge-nos exercem o maior efeito inibidor sobrea lactação. Em geral quanto maior é adose de estrógeno mais pronunciado é oefeito adverso sobre a lactação".

Pela observação da regressão ajustadaparece-nos lícito aqui também inferir queà medida que a paridade aumenta há umaumento do tempo da lactação para asmulheres que não usaram MAC o mesmonão acontecendo para as que usaram.

3.5. Tempo de Lactação e Tempo atéa Gestação Seguinte

Observa-se pela Tabela 6 que não exis-te relação entre o tempo de amamentaçãoe tempo até a gestação seguinte para asmulheres que usam contraceptivos.

Analisando-se o comportamento das mu-lheres que não fazem uso de contracepti-vos, observa-se que para todas as parida-des à medida que o tempo de amamen-tação aumenta, aumenta também o tempoentre as gestações.

Ainda pela Tabela 7 analisamos na dia-gonal as percentagens das mulheres que en-gravidaram no fim da amamentação, aci-ma da diagonal as mulheres que engra-vidaram algum tempo depois que deixa-ram de amamentar; e abaixo dela as queengravidaram enquanto amamentavam.Observa-se que para o 1.° nascido vivoé maior a proporção das mulheres queengravidam algum tempo depois de te-rem interrompido a amamentação. A me-nor proporção se observa entre as queengravidaram enquanto amamentavam.Tal fato repete-se para todas as parida-des estudadas, observando-se ainda que adiferença percentual entre as que engra-vidaram antes do desmame e as que en-gravidaram depois ou concomitantementeé de mais de 80% para todas as pari-dades (Fig. 2) .

3.6. Tempo de Amamentação SegundoInstrução da Mulher na Entrevista

No presente trabalho a instrução foi to-mada como indicador da situação socio-econômica da mulher e sua família, talcomo outras variáveis incluídas no estudo.

As informações de que dispomos nãopermitem avaliar o nível de instrução quea mulher tinha em cada momento de suavida reprodutiva e, portanto, não pode-mos avaliar diretamente a influência dainstrução sobre os hábitos da amamen-tação.

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A variável instrução da mulher foi di-vidida em 4 (quatro) categorias: analfa-betas e mulheres que sabem ler e escreversofrivelmente; primário (incompleto ecompleto), 1.° ciclo (incompleto e com-pleto) e 2.° ciclo (colegial) juntamentecom o curso superior (incompleto e com-pleto).

Pela Tabela 8 observa-se que, indepen-dente da paridade, há uma tendência dasmulheres analfabetas e que sabem ler e es-crever sofrivelmente, amamentar seus fi-lhos por um período mais longo do queas mulheres com nível de instrução corres-pondente ao 2.° ciclo e ao curso superior.Assim é que 4,72% dos nascidos vivosde mães que pertencem à primeira cate-goria acima citada são amamentados pormais de dois anos, enquanto que apenas0,50% dos nascidos vivos cujas mães es-tão na última categoria são amamentadospor esse mesmo período. Tal redução égradual à medida que o nível de instru-ção cresce, sendo mais acentuada entreanalfabetas e aquelas com instrução pri-mária. Pela Fig. 3 nota-se que o mesmofato ocorre ao se considerar a clas-se tempo de amamentação mais de umano — para todas as paridades consi-deradas, com exceção da 4.a em que o2.° ciclo e o curso superior apresentamuma percentagem de nascidos vivos ama-mentados no período um pouco maior queo secundário. Observa-se aqui tambémdiferença maior entre a proporção de nas-cidos vivos de mães analfabetas e de mãescom instrução primária que entre outrosníveis se se considera duas classes vizi-nhas.

Observa-se a mesma tendência para to-das as paridades em todas as classes detempo observadas. Algumas flutuaçõesverificadas para o 4.° e 5.° nascidos vivospodem ser explicados pelo pequeno nú-mero de casos estudados. Para a classede tempo de amamentação menos de 3semanas observa-se que, independente daparidade, a maior proporção de nascidosvivos aí contida pertence a mães com grau

de instrução correspondente do 2.° cicloe o curso superior. Apenas 7,05% dosnascidos vivos de mães analfabetas e quesabem ler sofrivelmente são amamentadospor um período inferior a 3 semanas, en-quanto que 11,85% dos de mães com ograu de instrução mais elevado são ama-mentados pelo mesmo período. Conside-rando-se a paridade, observa-se essa mes-ma nítida diferença na proporção de nas-cidos vivos de mães analfabetas e de mãescom nível de instrução mais elevada, pa-ra qualquer ordem de nascimento consi-derado, nessa classe de tempo de ama-mentação.

Poder-se-ia tentar explicar a relaçãoinversa entre o tempo de amamentação eo grau de instrução admitindo-se a hipó-tese que as mulheres de menor grau deinstrução pertencem à coorte mais velha,que por sua vez apresentam padrões cul-turais favoráveis ao hábito de amamen-tar. Tomas Szmerecsanyi11 refere queé fato sabido que as oportunidades edu-cacionais ampliaram-se consideravelmenteno Brasil e de modo especial no Estadode São Paulo nas duas ou três últimasdécadas. Deste modo, é de se crer queas gerações mais jovens sejam mais esco-larizadas que as mais velhas, podendo,por esta razão, estar menos ligadas a va-lores, normas e atitudes tradicionais. Adiferença acentuada no hábito de ama-mentar entre mulheres analfabetas e mu-lheres com instrução primária pode tam-

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bém ser devido à permanência das mulhe-res analfabetas nos trabalhos domésticos.

3.7. Tempo Médio de Amamentação( em semanas ) por Paridade,Segundo Instrução da Mulher naEntrevista

Considerando-se agora os tempos mé-dios de amamentação segundo a instru-ção da mulher, conforme Tabela 9, algu-mas tendências podem ser observadas.Tomando-se as médias de tempo de ama-mentação para todas as ordens de nasci-dos vivos observa-se que as mulheres comnível de instrução inferior (analfabetas esofrivelmente instruídas), amamentam emmédia seus filhos 39,8 semanas. As mé-dias de tempo de amamentação decrescemà medida em que o nível de instrução seeleva, atingindo 21,7 semanas para asmulheres com curso colegial e/ou supe-rior. Considerando-se cada paridade ( la 5 ) esta mesma tendência pode ser ob-servada. Nota-se ainda que a diferençaentre a duração do tempo de amamenta-ção é maior entre os nascidos vivos demães analfabetas e os nascidos vivos demães com instrução primária (39,8 sema-nas e 31,5 semanas respectivamente — in-dependente da paridade) do que entre osde mães com instrução primária (31,5 se-manas) e os de instrução secundária (25,8semanas) ou entre os de mães com ins-trução secundária e mães de instrução su-perior (21,7 semanas) .

Considerando-se cada paridade, a mes-ma tendência pode ser observada sendomaior entretanto para o 3.° nascido vivoem que as mães analfabetas amamentamem média 42,2 semanas e as com instru-ção primária amamentam em média 32,3semanas havendo portanto uma diferençade 9,83 semanas (Tabela 9 ) .

3.8. Tempo de Amamentação SegundoGasto Mensal da Família naEntrevista

Analisando-se a Tabela 10 observa-seque, independente da paridade, há uma

tendência das mulheres cujas famílias gas-tam menos amamentarem por mais tem-po que as das que gastam mais. A va-riável gasto mensal foi dividida nas se-guintes classes: menos de Cr$ 50,00. deCr$ 50,00 a Cr$ 149,00. de Cr$ 150,00a Cr$ 249,00. de Cr$ 250,00 a Cr$ 399,00e Cr$ 400,00 e mais. Assim é que 7,89%dos nascidos vivos cujas mães gastam (nafamí l i a ) mensalmente menos de Cr$ 50,00são amamentados mais de 2 anos enquan-to que apenas 0,44% dos nascidos vivosde mães que gastam mais de Cr$ 400,00são amamentados no referido período. Adiferença observada entretanto só está re-lacionada às classes extremas de gasto; asintermediárias sofrem flutuações não sen-do possível identificar nenhuma tendên-cia. Observa-se também que essa dife-rença decresce à medida que diminui otempo de amamentação considerado (es-tão contidos na classe — tempo de ama-mentação mais de 13 meses — 21,05%dos nascidos vivos dos que pertencem afamílias com gasto menos de Cr$ 50,00enquanto que apenas 7,00% dos que per-tencem a famíl ia com gasto mais de Cr$400,00).

Há ainda a considerar que as di feren-ças entre uma classe e outra de tempo deamamentação são maiores nos gastos maio-res que nos menores, assim é que em fa-mílias com gasto mensal inferior a Cr$50,00. 55,20% dos nascidos vivos sãoamamentados mais de 6 meses, enquanto43,42% são amamentados mais de 9 me-ses tendo decrescido de uma classe paraoutra na proporção de 1,2:1. Para asclasses de tempo mais de 13 meses(21,05% ) e mais de 2 anos (7,89% ) asproporções foram respectivamente 2,0:1,0e 2,6:1,0, enquanto que nas famílias comgasto mensal superior a Cr$ 400,00 asproporções de decréscimos foram respec-tivamente 1,7:1,0, 3,2: l,0 e 15,9:1,0.

Considerando-se a paridade observa-sea mesma tendência isto é, as mulherescujas famílias gastam menos amamen-tam mais tempo que as mulheres cujas

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YUNES, J. & RONCHEZEL, V.S — Estudo da lactação em mulheres do Distrito de São PauloBrasil. Rev. Saúde pública., S Paulo, 9:191-213, 1975.

famílias gastam mais. Essa diferençatambém só se observa nas classes extre-mas de gasto. Observa-se também que ol.o nascido vivo não segue nenhuma ten-dência. Para a classe — tempo de ama-mentação mais de 13 meses — observa-se que em todas as paridades considera-das a menor proporção encontrada sãopara os nascidos vivos de mães com gas-to mensal de família superior a Cr$400,00. Nas demais classes de gasto nãose observa nenhuma tendência.

3.9. Tempo Médio de Amamentaçãopor Paridade Segundo GastoMensal da Família na Entrevista

Observando-se as médias de tempo deamamentação segundo o gasto mensal dafamília (Tabela 11), vê-se que existeuma diminuição do tempo de amamenta-ção passando-se da categoria mais baixade gasto mensal (gasto inferior a Cr$50,00) para a categoria mais alta aquiconsiderada (Cr$ 400,00 e m a i s ) . Assimé que os nascidos vivos de mães cujasfamílias têm gasto infer ior a Cr$ 50,00são, em média, amamentados durante36,4 semanas, e os nascidos vivos de mãescujas famílias gastam mensalmente Cr$400,00 e mais são amamentados 23,9 se-manas.

Levando-se em conta as diferentes pa-ridades, a mesma tendência pode ser ob-servada com exceção do primeiro nasci-do vivo. Essa tendência aparece mais ni-t idamente a partir do terceiro nascidovivo, comparando-se as classes extremasde gasto mensal de famíl ia .

3.10. Tempo de AmamentaçãoSegundo a Origem da Mulher

Analisando-se a Tabela 12, verifica-seque independente da paridade os nasci-dos vivos com mãe de origem rural/urba-na são amamentados por mais tempo queos nascidos vivos de mãe com origem ur-bana e da capital. Assim é que 4,44%dos primeiros são amamentados por mais

de 2 anos enquanto que apenas 1,43%dos últimos são amamentados por essemesmo período. Observa-se que essa di-minuição da percentagem é gradativa in-do da área rural/urbana, rural, urbanae capital. Para as demais classes de tem-po de amamentação observa-se maior per-centagem rural que rural/urbana (verFig. 4).

Observa-se ainda que a diferença en-tre o tempo de amamentação dos nasci-dos vivos de mulheres de zona rural/ur-bana e nascidas na capital vai diminuin-do de acordo com a classe de tempo con-siderada. Temos para a classe mais de2 anos a diferença de 4,44% (rural/u r b a n a ) e 1,43% (capital) , para maisde 13 meses temos 19,22% (rura l ) e14,24% (capital) ; para mais de 9 me-ses temos 36,60% (rural/urbana) e29,98% (capi ta l ) e assim sucessivamen-te, deixando-nos concluir que a diferen-ça entre mulheres de origem diferenteno hábito de amamentar é maior à me-dida que o tempo de amamentação seprolonga.

Ao se analisar os nascidos vivos ama-mentados menos de 3 semanas, observa-se que apenas 7,74% dos que pertencemàs mães de origem rural estão contidosnessa classe, em relação a percentagemmais alta nas demais origens.

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Contrariando a tendência não existeuma maior proporção dos nascidos vivosde mães nascidas na capital em relaçãoàs demais zonas de origem, contidas nes-sa classe de tempo (Tabela 12).

Ao se analisar por paridade observa-se a mesma tendência para os nascidosvivos 1.°, 2.° e 4.°, ou seja, para os nas-cidos vivos amamentados mais de 2 anosé maior a proporção dos filhos das mulhe-res de origem rural/urbana, rural quede origem na capital. Para as demaisclasses de tempo observa-se maior pro-porção rural que rural/urbana para to-das as paridades consideradas.

Para outros períodos considerados(mais de 13 meses — mais de 9 mesesetc.) em geral há maior proporção dasmulheres nascidas na Capital que dasnascidas na zona urbana.

Para o 5.° nascido vivo há uma dife-rença na tendência devido, provavelmen-te, ao pequeno número de casos obser-vados.

3.11. Tempo Médio de Amamentaçãopor Paridade Segundo a Origemda Mulher

Observa-se que o tempo de amamen-tação independente da paridade varia, emmédia, de acordo com a origem da mu-lher. Assim, considerando-se o total denascidos vivos para cada grupo de ori-gem, o tempo médio de amamentação émaior para os nascidos vivos das mulhe-res de origem rural (38,6 semanas) quepara as mulheres nascidas na Capital(28,12 semanas). Vale salientar a pou-ca diferença existente entre o tempo mé-dio de amamentação para os nascidos vi-vos de mulheres nascidas na zona urba-na e na Capital.

A mesma tendência pode ser observa-da considerando-se as diversas paridadescom exceção do 4.° em que é maior otempo de amamentação nas mulheres nas-

cidas na Capital que na área urbana (Ta-bela 13).

O maior tempo de amamentação obser-vado nas mulheres de origem rural podeser explicado, em parte, devido a fatoresculturais e predominância do estrato só-cio-econômico baixo nesta classe.

4 . C O N C L U S Õ E S

1 — A maioria das mulheres ama-menta seus filhos, tendo variado esta pro-porção de 86,59% para a paridade 4, a88,99% para a paridade 2 e a duraçãomédia da amamentação variou de 30,2semanas para a paridade 1 a 34,8 sema-nas para a paridade 5, aumentando tam-bém com a idade da mulher.

A moda do tempo de amamentação foide 3 — 5 meses para as paridades 1 a4 e de 9 — 12 meses para a paridade 5.Como explicação desta variação sugere-se como hipótese a influência de fatoressoócio-econômicos e culturais.

2 — Há uma tendência a aumentarcom a paridade o hábito de não ama-mentar, a duração do tempo de ama-mentação para aquelas que amamentame a proporção das que amamentam pormais de 9 meses.

3 — As mães que não usam contra-ceptivos amamentam durante um períodomais prolongado do que as que usam eeste tempo médio aumenta com a pari-dade.

A proporção de mulheres que amamen-tam seus filhos e usam contraceptivos con-comitantemente é sempre maior do queaquelas que amamentam e não usam con-traceptivos, exceto para a paridade 5.

4 — Não existe relação entre o tempode amamentação e tempo até a gestaçãoseguinte para as mulheres que usam con-traceptivos. Para as que não usam à me-dida que o tempo de amamentaçãoaumenta, prolonga-se o intervalo entre asgestações.

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5 — I n d e p e n d e n t e da par idade há umatendênc ia das mulheres com níveis deinstrução mais elevadas amamentaremseus fi lhos por um período menor do queas mulheres com níveis de ins t rução in-feriores. O tempo médio de amamenta-ção decresce à medida que o nível de ins-trução se eleva sendo que a d iminuiçãodeste tempo é maior entre a classe de

a n a l f a b e t a s (39,8 semanas ) e a classe comins t rução p r i m á r i a (31,5 s e m a n a s ) . Da

mesma f o r m a há uma t e n d ê n c i a das mu-lheres c u j a s f amí l i a s têm um gasto men-sal menor , amamen ta rem seus f i l ho porum per íodo de tempo maior do que asque têm gasto mensal maior.

6 — O tempo de amamentação inde -penden te da par idade , varia em médiade acordo com a origem da m u l h e r , sen-do maior nas de origem rura l do que nasmu lhe re s nascidas na Capital .

RSPU-B 259

YUNES, J. & RONCHEZEL, V. S — [A study on the lactation of women in theDistrict of S. Paulo, Brazi l l ] .Rev. Saúde públ., S. Paulo. 9:191-213, 1975

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Recebido para p u b l i c a ç ã o em 07-03-1975Aprovado para publicação em 04-04-1975