Jorge Adoum - 28 - Rumo Aos Misterios

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  • RUMO AOS MISTRIOSD.Jorge Adoum

    I

    1. O mundo morre de sede.Entretanto, ao invs de se acudir s guas vivas, abre-se s veias e bebe seu prprio sangue, cuja abrasadora acritude, longe de aplacar aquele mal, ainda o exarceba.

    2. Todo escritor deseja ter leitores, pois no bom que esteja s.s vezes o autor se pergunta, para que escrever se no h leitores?Permita-se franqueza na resposta.Antes de tudo, o escritor deve ser um artista.O verdadeiro artista, ao compor uma poesia, pintar um quadro, ou improvisar uma sinfonia age para si mesmo, porque no existe alegria maior que a do conhecimento, ainda quando solitrio.A alegria do conhecimento a da fora, e a fora mede-se pela expresso (expresso que significa pressionar para fora).Que no diga o que deve dizer; nem como deva dizer; pelo menos o artista no diz o que todo mundo diz.O verdadeiro artista, sempre, conta com um reduzido nmero de pessoas que sabem apreciar suas obras.O bom pouco ou reduzido, por isso que um homem bom vale por dez mil malvados. O bom no sobra.Os leitores esperam do escritor que seja como a abelha, que rene a doura das flores para formar os favos.As almas dos leitores gostam do mel e, como este, tornam-se to brandas que se derretem ante o fogo e se endurecem ante o gelo.Mas, o escritor, artista, finalmente, no escreve para os seus contemporneos.Como algum iniciado, que compreende o verdadeiro poder de seus pensamentos, materializa este poder em suas palavras e espera tranqilamente a idade futura, para mais cedo ou mais tarde, obter o efeito.

    3. A verdade e a falsidade lutam, corpo a corpo.O mundo, presa de uma ansiedade confusa, indizvel, que nada pode acalmar, busca, com af, a soluo do enigma.Resta o pressentimento de que o problema no de um, seno de todos, isto , dasociedade e no da realidade.

    4. A Esfinge tem que devorar DIPO, este no pode escapar dela.Alguns blasfemaram em atribuir o mal do mundo a Deus, e outros deliram por acoim-lo ao demnio; mas ningum o atribui sua prpria impiedade-que o sumo do mal, fonte de todos os problemas individuais e sociais: os mpios so contra o Estado, destruidores da cidade (nas palavras de Hertodo).

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  • A piedade o vinculo humano, por excelncia, pois que rene os homens em sociedade.Roto este lao, a sociedade se desagrega.

    5. O objetivo de toda religio marcar a Humanidade com o selo inapagvel da Caridade Universal.Com DEUS, ou contra ELE, o homem universal; porem na atmosfera religiosa rarefeita no se pode respirar.Deus ergueu a face do homem para contemplar o Cu; todavia o homem, por tanta inclinao para baixo, j no pode levantar seus olhos para o Sol.Os homens, ao romper o lao Religio-Caridade, que os unia, odeiam-se at a antropofagia, e os corpos vivos converteram-se em massas mortas que se chocam, entre si, destroem-se e volvem ao caos.Muita razo teve o socialismo em escolher a palavra massa para designar as multides humanas; fala delas como massas fsicas inanimadas.A impiedade, esse aoite que assola o mundo, a necessidade de matar o Divino Amor.

    6. H cincia-dom divino; e h cientificismo, que no cincia pois no passa de ignorncia intelectualizada.A douta ignorncia uma nova barbrie, refinada; por seus frutos reconhec-la-eis.O fruto do cientificismo a guerra; porque as maravilhas do progresso so transformadas em prodgios diablicos.

    7. Se a luz no alumia em ns, quo densas ho de ser as trevas?Para que buscar o Sol? No est ele diante de nossos olhos?Se no fosse a essncia solar, o olho no veria a luz disse Plotino; porem, os ignorantes, que tudo sabem, colocam uma venda nos olhos e buscam sempre, sem nunca encontrar.Polignoto, ao pintar o inferno, mostra duas mulheres: uma velha e outra jovem, que levam gua em potes rachados (no plano divino, tudo que procede do cientificismo um pote rachado das Danaides).

    8. A religio do Amor pode ser compreendida por uma experincia simptica, mas isto , precisamente, o que falta aos pseudo-sbios.Toda ignorncia douta nunca pode compreender a religio da verdade, assim como o vidro mau condutor de eletricidade. Religio a atitude do homem a respeito de Deus.Se o olho que no de essncia solar no pode ver nos antigos santurios de Serpis, de Vnus, de Apolo, outra coisa alm de um conjunto de tijolos (porque os contempla com atitude irreverente); ento, a que Deus rezavam os tolos visionrios?

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  • Foram ditas repetidas tolices sobre as coisas eternas.

    9. Quando se descobriu mmia do fara Ramss II, foi envolta em folhas do jornal Temps e transportada ao Cairo em um veiculo.O fiscal aduaneiro pesou-a e ,como no houvesse nas tarifas a rubrica correspondente ao achado, aplicou-lhe a taxa de bacalhau seco.Para a douta ignorncia, o corpo das antigas religies bacalhau seco.Se o cristianismo foi necessrio, para que serviu o paganismo?Algum cristo se incomodou em buscar sob a envoltura do mito para encontrar o mistrio?No. Porque nenhum suspeitou que a verdade do mito est no mistrio.

    10. Omar, ao queimar a biblioteca de Alexandria, disse:Se os livros so bons ,no os necessitamos, pois tudo o que bom temos no Koro,e , se so maus , no devem existir.A chave do mito o mistrio , e a chave do mistrio o sacramento .O homem a medida de todas as coisas -dizia Pitgoras; e , qual a medida do homem seno sua semelhana com Deus?Se isto verdade, no s o homem ser semelhante a Deus, como Deus ser semelhante ao homem .O mito que faz homens dos deuses certo; porem, certos so, tambm, os mistrios que fazem deuses dos Homens.

    11. Os mistrios dos santurios so os mesmos de nossas almas; o que esta nelas esta, igualmente, em ns prprios.Aquele que no encontrou em seu prprio corao a chave, que abre as portas do templo, no penetrar no santurio.

    II

    1. A mitologia contm, em si, a verdade religiosa-diz Schelling.A religio no mitologia: porm, sim, a mitologia religio.O Mediterrneo significa o corao da Terra, e em suas ondas palpita o corao da Humanidade. Sculos e naes agrupam-se em seu redor.

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  • Se traam duas linhas uma de Mnfis a Constantinopla, a outra de Babilnia at Roma; Obtm-se uma cruz, que sombra da do Glgota.A histria universal realiza-se debaixo desse sinal da cruz.

    2. A tradio o mistrio da cruz.Inumerveis so os povos, os idiomas, os mitos; porem, no h mais que um mistrio: o do deus morto e ressuscitado.Osris, Tammuz, Adonis, ttis, Mitra, Dionsio, so sombra das coisas vindouras, mas o corpo se encontra no Cristo.Os mistrios de Elusis unem todo o gnero humano.Na noite sagrada, sobre o anaktoron de Elusis, acende-se uma grande luminria a luz para alumiar as naes:O povo que caminha entre as trevas ver uma grande luminria; sobre aqueles que habitam o pais da sombra da morte brilhara a luz.O mito universal do deus que padece, no se fundamenta em um feito, que tenha ocorrido uma vez, mas sobre um acontecimento que se sucede sempre que o sentido de novo na vida da Humanidade.Este sentido se repete sempre.

    3. A histria universal o espao geomtrico em que o corpo do Cristo se constri.O Cristo oculto no paganismo, revelou-se no cristianismo.De fato, o cristianismo o Apocalipse do paganismo.Se os cegos no vem o Sol, no esto impedidos de sentir seu calor. O Cristo atuou sobre os pagos como o Sol irradia sobre os cegos. O mito do Cristo existia antes de Jesus.Mas o Cristo no um mito.Tanto quanto as montanhas longnquas se assemelham a nuvens; o cristianismo, cadeia principal (Himalaia da histria do mundo), est envolto pelas nuvens dos mitos.Porem, disso no se deduz que o Himalaia no seja mais que uma nuvem.Cristo existiu?Os verdugos do Cristo so os nicos que no crem Nele, conquanto o mesmo desejo de mat-lo, de suprimi-lo, demonstra at a evidencia sua existncia real.O mito do Cristo o mito do deus que padece; a sombra do Messias por vir, estendida por sobre toda a Humanidade.

    4. Eleusis vem da voz: leusis - a vinda.O sentido mais profundo dos mistrios de Elusis no outro que a vinda do deus que acaba com todos os verdugos do Cristo.

    5. A propsito, consta que a verso de Leon Tolstoi, sobre um bispo, que, quando navegava pelo mar Branco, ouviu contar que em uma ilhota viviam trs velhos

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  • ocupados com sua prpria salvao e que eram to simples de esprito, que nem, sequer, sabiam orar.

    Cheio de curiosidade por v-los, o bispo se aproximou da ilhota, desembarcou, e, ali, se deparou com trs ancies de cabelos grisalhos, que levantavam as mos postas para o alto a rezar.Como orais a Deus? Perguntou-lhes o bispo.E o mais velho dos ancies disse:Eis como rezamos: Ns somos trs; Vs sois Trs. Tende piedade de ns!.O bispo sorriu e retrucou:Ouvistes falar da Santssima Trindade, porem no assim que deveis rezar..Ento, passou a lhes ensinar como se deve orar.A lio durou todo dia, at a noite to pouca memria tinham os ancios.Depois, ao final, retornou a sua embarcao.A lua se levantava, e, enquanto o bispo, sentado na popa, contemplava o mar, viu o reflexo de uma coisa clara e brilhante. Olhou mais atentamente e percebeu que os trs ancios corriam pelo mar, na direo do barco.Suas barbas reluziam na noite. Com os braos faziam sinais, e uma vez que o alcanaram, os trs ancios exclamaram a uma s voz:Esquecemos tua lio, irmozinho. J no recordamos nada. Ensina-nos de novo.O bispo se benzeu e respondeu-lhes:Vossa orao chega at Deus. Nada tenho a ensinar-vos.Em seguida, prosternou-se ate os ancios.

    6. Os rficos designavam os cabiros com trs nomes: Axier, o Pai Celeste (Zeus); Axioskersa, a Me Celeste(Demeter); e, Axioker, o Filho do Cu e da Terra (Dionsio).Nos mistrios de Elusis voltam a se encontrar as mesmas trs pessoas - se bem que numa outra ordem: o Pai, Dionsio; a Me, Demter; e o Filho, Iccos.Posteriormente , os homens regaram os antigos nomes dos trs ;mas sabiam que eram Trs e Uno ,a uma s vez.Na ilha de Creta, dentro do labirinto de Minos (o rei-deus fabuloso), foram descobertas trs pequenas colunas de argila unidas pelo seu pedestal.Em cada uma delas est pousada uma pomba, que simboliza a descida dos Trs.Os cnssios, em Creta, desde antes da guerra de Tria, adoravam aos trs e como era simples; como no sabiam rezar, murmuravam: Vs sois Trs, ns somos trs. Tende piedade de ns!.

    III

    1. Ser certo que tenha dito Goethe:

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  • No; jamais trs sero um.

    So Clemente afirmou:Temo escrever daquilo que me atrevo ao falar.Eis a formula algbrica de Schelling:- A = o Pai;+A = o Filho; + - A= o Esprito. Einstein sabe algo da quarta dimenso; porm, talvez, Orfeu soubesse mais, e tambm, Pitgoras - o hierofante da Ctedra Sacra (que foi por ele celebrada como numero dos nmeros e fonte da eterna Natureza) Acima do Pai, do Filho e do Esprito Santo reina Deus, em sua mesma Unidade; de sorte que o mistrio do Criador e do Mundo (o criador) se expressa assim: 3+1 = 4(que significa: Trs em Deus, Quatro no Mundo). A Trindade, em metafsica, corresponde quarta dimenso da metageometria. Este o mesmo jogo dos nmeros divinos que se materializam na pirmide dos egpcios - ao unir em um ponto do cu quatro tringulos que brotam da terra; e, de igual modo, os babilnios na zigurat (torre de sete pavimentos 3 + 4 = 7). O nmero trs base de toda a arte, e de toda cincia, pelo idntico impulso das trs dimenses para a quarta.

    2. Os Serafins clamam:Santo! Santo! Santo!Tenha sido Herclito iniciado ou no, toda sua doutrina esta fundada no mistrio dos trs.Os dois princpios opostos se unem em um terceiro: A + A = A.Mesmo o homem que no sabe o que trindade; toda lei fsica ternria; dois corpos contrariamente concordantes se fundem em um terceiro.Ternria, igualmente, a lei da vida orgnica (duas orelhas, dois olhos, dois hemisfrios cerebrais, dois plos; e, entre eles, sempre a eterna chispa divina).Todos os homens, com seus inumerveis sistemas filosficos (monismo, dualismo, pluralismo), parece guardar um terror, ou temor, a respeito da Trindade.No entanto, os trs ancios, em sua ilha, to somente admitiam: Ns somos trs. Vs sois Trs; tende piedade de ns.Trs h que do testemunho no Cu, e trs h que do testemunho na Terra.No Cu a Trindade Divina, e na Terra a trindade humana; mas, se no se compreende o que no Uno, no possvel compreender o que a Trindade.

    3. O mistrio do Uno o mistrio do Eu divino.Eu Sou aquele que , diz o Senhor.E o homem, imagem do Criador, repete:Eu Sou.Aqui

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  • ele que nunca disse: Eu Sou, por certo no ter dito Deus . Se digo: Eu Sou, porque Deus existe.Antes que eu nasa, devo ter existido.Eu sei, por conhecimento interno, que Eu Sou, antes de toda experincia exterior.Sei, assim mesmo, que existe, alm mais, outra coisa que no o eu externo.E tudo o que no o Eu (interno), nega-se e exclui-se, ou negado e excludo: todo corpo estranho, ao penetrar no meu: ou o destri, ou o mata ou morto por ele. a lei, em todas ordens, e sempre; menos em um s e nico ponto: o sexo.Somente no amor sexual, meu prprio corpo e um corpo alheio se penetram; no para destruir ou matar, mas para conhecer-se como Ado conheceu Eva.

    4. Possuo conhecimento unicamente externo de meu corpo; dos demais corpos no conheo mais do que meu prprio.

    O amor sexual a fonte do nascimento, assim como o da morte; pois tudo o que nasce, tambm morre-morte e nascimento so dois caminhos que levam ao mesmo ponto, ou a um mesmo percurso, que vem do mais alm, e para l retorna.O mistrio do Pai, do Uno, esta no Filho; porm, o mistrio de Deus consiste no que foi dito anteriormente.Todo corpo pertence s trs dimenses; e o sexo, quarta.No principio Deus criou o homem sua imagem.Mas, Deus j era Uno.Criou-o macho e fmea, a fim de que fosse dois em uma s carne, no reino do Sacramento da Igreja (da Carne e do Sangue)- assim como no Reino de Deus, na Sociedade Divina: porque, todos formam no mais que o Uno, semelhana Tua, Pai. Tu ests em mim, e Eu Sou em Ti; do mesmo modo que eles no compem mais que o Uno em Ns...e, Eu Sou o mesmo Eu neles.

    5. A Trindade pag o Pai, a Me e o Filho; na Trindade crist, o Esprito Santo substitui a Me.

    Logo, o Filho nasce sem Me, isto , parece incluso que no nasce por completo.No a revelao viva, seno um dogma morto; ento, o sexo est em Deus-fato que nosso corao rechaa (porque o homem j no santifica o sexo; mas, tudo o que faz manchar o amor).O sacramento do matrimonio que aceitamos, tampouco o admite nosso corao.O corao do cristianismo- a Eucaristia incompatvel com o sacramento do matrimonio .Os dois sero uma s carne, um s sangue, mas no ato da concepo.No ser blasfmia este pensamento: comei, esta minha carne; e bebei, este o meu sangue - se o compararmos com o anterior?

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  • IV

    1. A trindade de Herclito no outra coisa, seno a unio dos sexos:

    A Natureza- diz ele atrada pela oposio, de que extrai harmonia...Assim tem reunido o masculino com o feminino.Dois sexos, dois princpios contrrios se unem na ao ,como as duas opostas partesda lira e do arco.O oposto no outra coisa que o trinitarismo, no mundo do sexo.Em Deus est a Trindade.Entre dois sexos - entre dois plos eltricos surge divina chispa do amor: a Centelha que a tudo cria .Semelhante a um relmpago que veio do Oriente e que brilha at o Ocidente, assim ser a vinda do Filho do Homem.Antes, veio para trazer o fogo a Terra.Deus ama a Seu Filho como Pai; e, tambm, como esposo Sua esposa.Os Serafins esto abarcados com a chispa do amor nupcial, enquanto a lei do amor (Atrao) rege as estrelas:Amore Che muvoe Sole e laltre stelle (Dante).So Francisco de Assis, o Pai Serfico, soube sentir o ardor das rosas de fogo deste amor.

    2. O sexo a Trindade Divina no corpo humano-a espada de dois gumes do Senhor, o mistrio dos dois em nossa carne; , enfim, a primeira, a primordial, sangunea e carnal percepo do Deus triplo no Uno.O sexo sua ponte entre a Personalidade Uno e a sociedade mltipla; ponte que se desmoronou e em que, sobre uma das margens do aberto Abismo, se ala personalidade no social - enquanto se ergue na outra a sociedade impessoal.Em nossa poca, falsamente crist, reina o sindicalismo ateu.A essncia do cristianismo, do socialismo, do comunismo e correlatos assexual, posto que atia.Proletrios (de prole) so produtores, engendradores pelo corpo, porm eunucos pelo esprito - j no so homens, nem mulheres, porque se deu morte ao Sexo (o Templo de Elusis foi trocado por uma casa publica).

    2. O mistrio do Uno est a na personalidade; o do Dois, no Sexo; porm, o do Trs, forosamente, haveremos de encontr-lo na Sociedade (ali onde se renem trs em Meu Nome, ali estou Eu entre eles).

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  • Desde o comeo do Mundo, o caminho da humanidade ruma para a Sociedade Divina, ou o Reinado de Deus na terra: Venha a ns o Teu Reino (splica chegada ao corao antes, mesmo, do que nos lbios humanos).No EGITO, em Babilnia e, at em Roma, pag ou crist, a monarquia se confundiu com a teocracia: s podia ser rei o Filho de Deus E quem no o fosse?Todos os que vieram antes que Eu so os ladres... Eu sou o Bom Pastor que d Sua vida por suas ovelhas, e no haver mais que um s rebanho e um s Pastor.

    4. No haver mais que um s rei: o Cristo.Ento o crucificaram, e Pilatos fez pr no alto da cruz um rtulo com estas palavras: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.O rei segue, at hoje, crucificado, e os homens gritam para Ele;- Desce!...No ser este o mistrio da serpente do Fogo Sacro, do Poder criador do sexo?Em verdade este o Vu de Isis, e cada um tem de levant-lo, por seus prprios esforos; porque ningum se atreve a rasg-lo, para que outros se deleitem em profan-lo.

    5. A teocracia crist no mais que a sombra do CORPO Crucificado (do Filho de Deus feito homem); porm, o Bom Pastor pode dizer:Quantos vieram depois que Eu no sou seno ladres e imprudentes.A teocracia, ou Reino de Deus, no se realizou no cristianismo mais que no paganismo.Aqui a personalidade sem sexo; ali o sexo sem responsabilidade.O mistrio do Uno (Personalidade), e do Dois (Sexo), no pode ser completo sem o Trs que a sociedade.

    6. A humanidade busca o Reino do Cristo, mas o foi o de outro rei:

    Vim em nome de Meu Pai e no Me recebeste; outro chegar, no seu prprio nome, e o recebers.Qual ser esse outro (qual seu nome)Por confusas lembranas crists, sabemos o que seja personalidade; por outras, mais confusas, de origem pag, sabemos o que seja sexo;Porm, o que no sabemos, nem pouco, nem muito, o seja que a Igreja Reino de Deus (Sociedade Divina).Tenho conscincia de mim mesmo, em meu corpo fsico (razes da Personalidade); tenho conscincia de mim mesmo, em outro corpo (razes do Sexo); tenho conscincia de mim mesmo, em todos os demais corpos (razes da Sociedade).

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  • Entretanto, ignoro este terceiro estgio, por completo, porque as razes da Sociedade no se arraigam no interior de meu corpo vivo - seno fora dele, isto , na matria morta (nas massas humanas).

    7. Pelo amor nupcial, somente, que se disse frase: os dois sero uma s carne.Tambm sero, todos, uma s carne e um s sangue, no sacramento da Igreja, no Reinado de Deus, na Sociedade Divina.Todos formam no mais que um, semelhana Tua, Pai.Tu s em mim e eu sou em Ti, do mesmo modo que eles no compem mais que Um em Ns...E, que sou neles, Eu mesmo...Que so seus filhos?Dirigem-se, rindo para a morte, para o fratricdio (inscrio babilnica).Todos os corpos esto confundidos, como no pecado da fornicao (em um s corpo, sem forma). como um espelho, que se reflete ao revs.

    8. A Terra est prosternada ante a Besta.Porm, ainda que s restasse uma voz, no fundo subterrneos, que clamasse: Venha a ns o Teu Reino, haveria a esperana da ressurreio (da redeno).Jamais o Mundo esteve to perto de sua perdio; todavia, nunca sua salvao esteve to prxima.O socialismo ateu gua morta, e o Mundo tem sede de gua viva.O sedento bebe gua em seus sonhos; mas, ao acordar, sente-se com a alma abrasada.O ardor da sede pode julgar a procedncia da gua? Na ordem religiosa possvel.Nunca a Humanidade esteve to sedenta; sem embargo, a gua esta ao seu alcance.Personalidade, Sexo e Sociedade so os trs parcas que entretecem os fios dos sentidos da Humanidade.Trs ancios seguem orando, em algum lugar: Vs sois Trs; ns somos trs; tende piedade de ns...Trs no Cu, trs na Terra.Isto significa que a Terra ser salva pelo celeste mistrio dos Trs.

    V

    1. Certo dia, um homem tartamudo ensinava uma criana a falar, e dizia: ga, ga, ga...lo.

    A criana, naturalmente se desesperava, repetia: ga, ga, ga, ga...lo.

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  • O pobre tartamudo se desesperava, e, por fim, cansado, censurou: -Pronunciou como eu (ga, ga, ga, ga... lo; e, no como tu (ga, ga, ga, ga... lo)).Sua inteno est clara para o leitor.Os historiadores so tartamudos, e transmitem sua gagueira de uma gerao para outra.Fui convidado para uma sesso literria de um colgio, e, no programa, havia um numero de cinema, que representava algumas passagens do Egito e suas crenas.Um aluno avanado explicava aos ouvintes os mistrios do Egito:

    Os egipcios eram pagos ignorantes; adoravam ao boi, ao escaravelho, ao gato e a muitos outros animais.Pobre tartamudo, cujo pai tambm o !Se no queremos gaguejar, prefervel nos mantermos calados.

    2. O cristianismo comeou com a fuga para o Egito.Se o Cristo no morreu, para sempre, no corao dos homens; se h de renascer, dever fugir, novamente, para o Egito.Dois marcos eternos anunciam o mistrio do Egito: as pirmides e a Esfinge

    Pirmide, em egpcio, significa sada da terra, ou eu brotou da terra (pir-m-us, ressurreio).

    No Livro dos Mortos, o texto egpcio por excelncia, est pir-m-haru, que significa sada para a luz (das trevas da morte para a luz da ressurreio).A Esfinge tem dois nomes: um Hor_Harmajitu (que quer dizer Deus do Sol Levante); e, o outro Khepra (que significa Devenir ou seja, sair do nada para ser, ressuscitar).Nos confins do deserto egpcio reinou a morte; ento, a Esfinge levanta a cabea para ser a primeira a receber o Sol ressuscitado.Me e filho descansavam ao p da Esfinge, sombra das pirmides (negros tringulos dos sepulcros eternos).No sorriso da criana e no da Esfinge se achava o mesmo mistrio.

    3. Moiss tirou seu povo do EgitoMas, o Menino volveu, porque o Egito encontrou Deus.Nossa terra o Santurio do Universo, dizia Hermes Trimegisto.O santo Egito a ptria de Deus.No entanto, se o Egito encontrou Deus, ns O perdemos.Quando Napoleo disse: Quarenta sculos vos contemplam, no falou a verdade. (1798).Mais de quarenta sculos: todos os sculos, desde o comeo do Mundo (o comeo do Mundo contempla o seu fim).O Egito o comeo do Mundo, e ao Apocalipse o seu fim.

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  • Quanto mais algum se acerca de seu fim, mais prximo se acha de seu comeo - Aqui onde convm que comece meu caminho, dizia Peer Gynt.Do Egito parte o caminho que conduz ao Terceiro Reinado, ao fim do tempo: Reinado de mil anos, dos santos sobre a Terra, segundo predisse o Apocalipse.

    4. Terra Negra (Khem) o nome do prprio Egito. A negrura do limo do rio Nilo, mido e brilhante como a viva pupila dos olhos de sis, contrasta com o tom vermelho de suas areias mortas: a vida junto morte (no em luta e em tempestade sbitas, mas em unio eterna e pacifica).Todos os anos, na mesma ocasio do ciclo, o Nilo cresce, inunda, engendrando a vida na morte.E, num outro mesmo momento anual, comea a decrescer, a baixar suas guas, seguindo o ritmo regular dos astros celestes quando volta ao seu leito, at um novo transbordamento no ano subseqente. O que no eterno no verdadeiro, disse Hermes Trimegisto.O Egito a verdade eterna.Toda juventude passa. S o velho Egito floresce com juventude imortal.Os livros sagrados, os ritos, as crenas, as expresses do rosto, as atitudes, o metal da voz, so quase imutveis, tanto que a lamentao e o manero (canto fnebre de sis sobre o corpo de Osris) se recitavam exatamente assim, desde a primeira dinastia: nem um som mudou em trs mil anos.

    VI

    1. O que chama a ateno para o todo egpcio, acima de tudo, um extraordinrio silncio.Esse mutismo levou um poeta a dizer:Pas mudo, e imvel, e morto.No tanto pas vivo; porm, mais mudo quanto mais vivo.Eis o versculo de um hino ao deus Sol, Amon-R:Aborrecido a Deus o rudo. Rezai em silncio, homens.

    2. O Egito vive na eternidade presente, e no na eternidade futura.Para o Egito, j no existe o tempo.A histria no pode sondar a Antigidade egpcia um abismo que no tem fundo.As pirmides so o final de um Egito mais antigo.Plato no se enganou, quando assegurou que as artes j existiam no Egito desde dez mil anos antes do que entre os gregos.

    3. A Humanidade vai das trevas para a luz.

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  • O Egito inverso; pois, quando mais se retrocede no seu passado, mais intensa a luz.Houve em outro tempo frente ao estreito que dais o nome de Colunas de Hrcules uma ilha: uma terra maior que a Lbia e que a sia Menor juntas. Chama-se Atlntida. aquela a que se refere o mesmo sacerdote de Sas. Os atlantes eram filhos dos deuses.Diz o Gnesis:Os filhos de Deus baixaram s filhas dos homens e tiveram filhos. Havia na Terra, naquele tempo, gigantes.E, falou o sacerdote de Sas:Quando a natureza divina dos homens foi esgotada, gradualmente, ao mesclar-se com a natureza humana, esta alcanou completa predominncia; os homens se perverteram e Zeus determinou castigar a prfida raa dos homens.E, o eterno, vendo que a malcia dos homens era, sobremaneira, perversa sobre a Terra, sentiu grande aflio em seu corao. Ento, disse: Extirparei os homens da face da Terra (Gnesis).O deus egpcio Atum sentenciou:Destruirei quanto foi criado, submergirei a terra, e tudo tornar a ser gua.As guas do dilvio vieram sobre a terra e toda a carne expirou.Ocorreram grandes cataclismas e, em um s dia, a Atlntida desapareceu nas profundezas do mar (Plato, Timeo).

    Em outra parte, Plato escreveu: Os atlantes estenderam seu domnio at os confins do Egito E, segundo Herdoto, houve um caminho que ia desde Tebas at as Colunas de Hercules. Esta histria a primeira balbuciao da Humanidade. A origem de nosso mundo est unida ao fim de um outro; e, o vinculo entre o fim e o comeo o Egito. A luz da Atlntida se acha no fundo da espantosa antiguidade egpcia. Por isto que o Egito nos produz a nobre impresso da infinita velhice e da infinita novidade. O fim da Atlntida (primeiro mundo) o comeo do Egito (segundo mundo); porm, o Apocalipse marca o fim do segundo e o comeo do terceiro, porque assim se cumpre o mistrio dos Trs. Que o Egito o nico caminho para este mistrio coisa que um dia a Humanidade compreender desde que o Cristo no haja morrido em seu corao (de outro modo, no tria nenhum significado a fuga do Egito). Logo, devemos fugir do Egito, para compreender e penetrar todos os mistrios, tanto religiosos quanto filosficos.

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  • 4. Na primeira hora da noite, o sacerdote, que l as oraes dos mortos esparge, com gua viva do Num (o Nilo Celeste), sobre o corpo de Osris, faz arder os perfumes, e profere quatro vezes:

    O Cu se une Terra.A grande carpideira (tangendo o saltrio), completa:Celeste alegria na Terra. sua vez, o sacerdote:Deus vem. Glorificai-o.Novamente, a grande carpideira clama (tangendo o saltrio):Celeste alegria na Terra.Que quer dizer isto? Lede os Evangelhos!Os deuses de Homero no passam de seres imortais, pois que vencem a morte e ressuscitam.No Egito, a cor do luto azul cor da morte, cor do Cu.Seja minha tumba o palcio do festim diz um morto, numa inscrio funerria.A morte no , seno, um retorno infncia. Todos os mortos voltam sua ptria ao pas em que os deuses foram crianas:Ali nasceste tambm tu; ali cresceste e ali, so e salvo, envelhecers (Livro dos Mortos).E, de maneira idntica:Se no vos converteis e no vos fazeis semelhantes s crianas, no entrareis no Reino dos Cus.Mas isto est escrito para outros, porque os egpcios, nem sequer, necessitam converter-se para entrar nesse Reino.

    5. E a arte egpcia?Nosso olho, ao contemplar demasiado, deixa de ver; mas, o olho do egpcio infatigvel quanto mais fita, mais v; o escaravelho, que faz rolar sua bola; o bucho inflado da serpente real; o Uraeus; o ltus que se abre; as asas estendidas do falco, que se despregam em seu vo estas imagens, que se repetem em toda parte, permanecem eternamente novas.Uma pintura, que decora as tumbas de Tell-el-Amarna, representa o deus Aton (Disco do Sol), enderea, desde o Cu at a Terra, longos raios, retos e finos, cada um dos quais acaba em minscula mo infantil.Estas mos acariciam o corpo do fara Akhenaton (Alegria do sol), o da rainha Nefertiti sua esposa, e os de suas seis filhas; outras, infundindo em seus narizes sopro de vida, sustentam pequeninas cruzes rematadas em ansa (anj, ou ank).Nessas mos, h raios de calor do Sol, primaveril, doce como as caricias de me.E, no em vo, est o sol, vivificante, representado em sua tumba reino da morte.O mistrio do Sol o amor, e o mistrio do amor a ressurreio: aqui onde reside o sentimento mais profundo do Egito (o da ressurreio).Nefer, em lngua egpcia, significa, exotericamente, alade, e, esotericamente, beleza (bondade, ou amor).Em Nefer est o mistrio da magia egpcia; porquanto, a eterna, a verdadeira magia, no seno a vitria alcanada s obre a lei da morte, por outra lei mais poderosa isto , pelo amo que ressuscita.A ressurreio dos mortos comeou, realmente, no Egito.

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  • VII

    1. Os escultores e os artistas, no Egito, recebem o nome de seeneck: os que vivificam, os que ressuscitam.

    A arte do Egito antigo mais que arte; mais que vida; a fonte mesma da vida a religio verdadeira. A arte egpcia no buscava a beleza; porm, algo maior; buscava o Reino de Deus (e, encontrou mais, por acrscimo).

    2. Todo homem possui o que os egpcios chamam de k: o duplo de Plato, ou o corpo espiritual de So Paulo, ou o corpo astral de nossos ocultistas.Enquanto o homem vive, o invisvel k se adere a ele, como uma sombra; quando morre, o k se v forado a desgarrar-se dele, dolorosamente. Erra pelos espaos vazios amargurado; quer voltar a seu corpo; busca-o e no o encontra.Quando conseguir ach-lo, o homem ressuscitar. preciso ajudar o ka, em suas buscas isso o que fazemos retratos do morto e as esculturas funerrias.A semelhana deve ser to exata quanto possvel; porm, com exatido interior (ntima); deve refletir quando existe de particular no homem, de insubstituvel, de nico, de pessoal, de eterno (digno de eternidade) tudo aquilo que deve ser ressuscitado.Tal semelhana, tal perfume divino, o que atra o ka para o corpo fsico (como o perfume do mel, encontrado na tumba do vale dos reis, que atrai a vespa, quando penetra no recinto e revoluteia avidamente por cima do vaso).No s o homem, mas todas as criaturas, inclusive os objetos inanimados, que recebem uma alma no contato do homem, impregnam-se do perfume da personalidade todas as criaturas possuem, igualmente, um k. Devem, pois, ser representadas com a mesma exatido que a do rosto do homem, para ressuscitar com ele.Semelhante s flores de uma grande pradaria, atraem o k (abelha vida de mel) para a suprema e divina flor da personalidade eu se abrir por completo ao Sol da ressurreio.A arte egpcia tinha o poder de triunfar sobre a morte.

    A ressurreio dos mortos a verdadeira magia; o Sol que brilha nas trevas das tumbas.

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  • 3. Os egpcios foram os primeiros a criar o retrato, a ver e compreender o rosto humano.

    A Grande Esfinge, smbolo da ressurreio, mais velha do que as pirmides. Em sua face aparece o semblante do homem, revelao de sua personalidade; a ressurreio vai unida personalidade (o mistrio dos Trs, ou o mistrio do Uno).Ento, o Egito sabia tudo, e sua cincia no estava no futuro, e, sim, no passado.Os olhos do egpcio Rochedel parecem ter sido arrancados e encaixados ali, na tela do retrato. Ao rev-lo, uma mulher do povo gritou:Veja! Veja! Sinto desejo de gritar.... uma fora diablica....

    4. Imhopet foi quem erigiu a grande pirmide de Gizeh.Nos seus acessos j se encontra a fora sobre-humana, que fez surgir da terra o mais gigantesco smbolo da ressurreio.Champollion disse:No posso descrever, por um de dois motivos: ou porque as palavras no diro a milsima parte do que h para narrar, ou porque, se fao uma imagem plida, seria tomado por homem exaltado e por louco.S posso imaginar uma coisa que aqueles homens construam como gigantes de cem cvados (4,11m) de altura..Filon de Bizncio, ao falar das pirmides, concluiu:... nelas, os homens subiam para os deuses, e os deuses desciam at os homens.Segundo Meyer, trata-se de sonho sobre-humano, que foi realizado uma vez na Terra, e que no se repetir nunca.As cmaras interiores, as galerias, os corredores (a despeito de uma presso de dezenas de milhes de quilogramas) conservam sua regularidade primitiva, ao cabo de sessenta sculos.Da tumba de Quops, apesar dos milhares de anos transcorridos, apesar dos tremores de Terra, nem uma pedra se moveu.Ningum construiu, nem jamais construir com mais solidez. a mais duradoura das criaes humanas. a perfeio, no do cristal, mas, sim, do tecido orgnico vivo.At os gregos, e frente deles Hertodo, foram cegos, com respeito chave da Antigidade egpcia, quando aquele historiador disse:Os reis construtores das pirmides foram criaturas cruis, que obrigavam o povo a erigir tumbas inteis, como testemunhos de sua vaidade insana.Pobre Herdoto!Ele tambm abocanhou o anzol, e contou, ingenuamente, essa fbula.

    Mas, isto no certo.Aqueles reis no foram cruis, seno libertadores, que emanciparam seus sditos da escravido para a ressurreio.Os cem mil homens, que construram a pirmide de Queps, durante vinte anos, trabalharam com alegria com sbia demncia, em perfeito xtase de f e de orao.

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  • O que sobe, com essas oraes, no o gemido das vitimas, seno o clamor vitorioso daqueles que, pela vez primeira, viram como a ponta da pirmide abriria caminho para o Cu.Pirmide no um acmulo de pedras; nem sua forma geomtrica to simples.como parece.A metafsica das pirmides mais perfeita. o complexo simplificado.Sua forma no foi achada de uma vez, porm muito depois de milhares de buscas.Seus tringulos perfeitos, alando-se da Terra, unem-se num s ponto do Cu.

    5. Comecei por ser Deus Uno, porm Trs Deuses estiveram em Mim diz o deus Num, em antigo livro egpcio.

    Por acaso, os padres do Conclio de Nicia falaram melhor?Deus uno em substncia, e Trs no Mundo.Deus e o Mundo Unidade e Trindade): 1+3 = 4.Est na arquitetura das pirmides a unio de quatro tringulos em um s ponto.Sem embargo, os cegos seguem repetindo sobre um Egito pago; enquanto as pirmides seguem indicando aos homens o nico caminho para a ressurreio o do mistrio dos Trs (da Santssima Trindade).

    6. Conquanto haja os que afirmem que o corpo matria inerte; para os egpcios, a matria morta um corpo vivo.

    O esprito e a matria so reciprocamente penetrveis, transparentes, translcidos: a Grande Esfinge est talhada em rocha virgem.A pedra se transforma em animal, o animal em homem, o homem em Deus.Disse Spinozza:No sei por que no h de ser a matria digna da Natureza de Deus.Ningum respondeu e esta dvida, seno o Egito.As sombras se adensam at a total obscuridade do Sanctum Sanctorum Sechem, onde habita Deus; h que se fixar na construo dos templos egpcios para comprovar esta verdade.- Glria a ti, Deus que habitas as trevas.- E a Luz nas trevas resplandece, mas as trevas no A compreenderam .O primeiro pargrafo era a celebrao do deus sol (Amom-R); e o segundo o Evangelho de So Joo.O prprio Moiss, no monte Sinai, entrou nas trevas em que est Deus.De quem, seno de seus mestres egpcios, aprendeu ele que Deus habita as trevas?

    VIII

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  • 1. Por que os egpcios adoram aos animais?Por que os cristos adoram ao cordeiro e pomba?A palavra silenciosa da Esfinge, que, todavia, ningum ouviu, :Busca Deus dentro do animal.Quis a Humanidade fugir da animalidade do Egito, ao ir com Israel para o deserto da razo pura, e continua errando nas areias com os israelitas.Que so os Querubins de Ezequiel seno os pis egpcios, ante o trono do Senhor?Esquecemo-nos das quatro bestas do Apocalipse que, nem de dia, nem de noite, conhecem repouso, proclamando a Glria do Senhor.Ao esquecer de Deus no animal, olvidamo-nos do prprio Deus.A alegria celeste da Terra brilha, sempre, no animal, enquanto no homem est morta.

    2. Nunca os egpcios adoraram aos animais, com, tampouco, os cristos no adoraram ao cordeiro e pomba.

    O animal um de tantos smbolos que servem ao homem. Na busca do incomensurvel, para confundir-se com o Criador, o homem no conhece beleza, nem feira, mas, somente, a divina alegria de realizar. O escaravelho faz rolar sobre a terra sua bolinha de esterco como o Sol roda, no Cu, sua grande bola de fogo; e, aqui, o inseto humilde em animal sagrado: deus, Sol, R.

    Os babunos chiam e brincam como para glorificar o Sol nascente; e, aqui, oito babunos passam a ser os oito grandes deuses solares.O bis, de compridas patas, percorre os pntanos do Nilo, como se medisse a Terra; e, aqui, o bis o deus da medida e da sabedoria: Thot, o Hermes Trimegisto.Quando o homem vai pelo deserto, o chacal gosta de segui-lo, e, depois de o ultrapassar, detm-se, volta cabea para o viageiro espera-o, e reinicia sua carreira, como se quisesse guiar atravs das areias reino da solido e da morte. E, aqui, o chacal trocado pelo deus Anbis, guia dos mortos (o que abre os caminhos eternos).

    3. Depois da inundao, as criaturas parecem nascer da lama mida e clida do Nilo: a metade do corpo j est formada, a outra ainda est por acabar.

    Assim, no Num (rio Nilo), matria original, nascem os oito deuses de Hermpolis seres misteriosos, com a cabea de serpente e de r, que se arrastam no lodo antigo, como crias animais e divinas do caos.Que quer dizer essa lenda? o mistrio supremo da Natureza, mistrio da gerao, da vida e da morte: o mistrio do que chamamos evoluo criadora.

    Multido de pequeninas rs verdes aparece, subitamente, nos desertos mais secos da frica Central, aps os aguaceiros tormentosos da primavera, e enchem os charcos de um coaxar agudo.Os nativos supem que esses animaizinhos (matlomatlo) caem das nuvens, porque, efetivamente, dormem durante a seca invernal, escondidos em cavidades profundas, e,

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  • quando comeam as chuvas, saem de seus esconderijos surgem das tumbas, ressuscitam.Eis, aqui a grande deusa Heket, ou a enorme r verde, no santurio de Denderah (no altar das divindades): a parteira que ajuda no segundo nascimento, na ressurreio de Osris.Dos primeiros sculos do cristianismo no Egito, chegou-nos uma lmpada de igreja, em forma de r, com esta diviso:Ego heimi Anastasis (Eu sou a Ressurreio).Em verdade, estavam mais cerca do Senhor que ns aquela pessoa simples, que no temia comparar com uma humilde criatura Aquele que veio para salvar a todos os homens.

    4. A mais monstruosa das divindades do Egito a fmea do Hipoptamo, erguida sobre suas patas traseiras, com uma estpida bocarra, exibindo os dentes, com as tetas penduradas e um ventre volumoso de mulher grvida.

    Se no nos deixamos assustar, sua terrvel mscara cair e atrs dela veremos o verdadeiro resplendor a dourada, a verde, a que ilumina o Mundo, com sua claridade lunar, misteriosa, virginal; a que, com seus midos fogos, nutre as boas sementeiras: a Me dos homens e dos deuses, a Rainha do Cu (sis-Hthor).Veremos o eterno feminino, que baixa a Terra em corpo imortal.

    5. Na maravilhosa escultura de Saqqara (essa mesma Isis-Hthor) existe o traado de uma bezerra de rosto maternal, irradiante de bondade divina.

    A face do fara Psamtico, que aparece entre as patas dianteiras da deusa, com expresso to humana e to fina, , contudo, mais grosseira e mais animal.No a mesma face bovina a daquela que, ao inclinar-se por sobre o prespio de Belm (rosto da Me Purssima), sopra no Filho o calor que se mistura ao divino alento, pelo estbulo.

    6. A noite, smbolo da terra subterrnea, e tambm do seio materno, apropriada para quem pretende interrogar tumba.

    - Vo convertido em grande falco... elevo-me... Chego e sou admitido entre os que so de essncia divina.Eis aqui o smbolo do Falco.

    7. A flor do ltus, que vive nas lagoas do Egito, nasce debaixo da gua, e, por seus prprios esforo, sai superfcie, para abrir seu corao luz do Sol.

    Eis aqui o adepto, que aparece sob a forma dessa flor, significando, com a transformao, que conquistou a paz ditosa (que a planta simboliza), e que recebeu os dons da intuio. onde o Cu se une Terra.

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  • IX

    1. Acreditavam os egpcios em um s Deus? uma estranha pergunta.Diz Herdoto:Nem todos os egpcios adoravam os mesmos deuses: somente a Osris e a Isis veneram por igual todos eles.Os pensadores seguem indagando se existe monotesmo no Egito, e se os egpcios crem em vrios deuses.Os egpcios crem em deuses e crem em um s Deus; porm, a crena em deuses mltiplos no prejudica a f em um s Deus do mesmo modo que, em Israel, a crena em inmeros Baal e Astart, no obsta o monotesmo do Sinai (ou a crena em um s Deus nico: Jeov).Eis que, um dos nomes desse Deus: Elohim significa deuses; ou, pelo menos, os Dois masculino e feminino.Ele e Ela; assim como o Baal siro-fenicio Baal e Baalat.O monotesmo egpcio mais puro que em qualquer outra parte, mais do que em Israel.Ua-em-Ua. nico dos nicos. Deus Uno. No h ningum mais que ele, ensina a sabedoria egpcia.Uno, nico, Glria a Ti, assim se celebra ao deus Amon em Tebas, e a quase todos os deuses do Egito.Todos eles so os pontos do circulo cujo centro o Deus nico, e a sabedoria egpcia no faz mais que uni-los:s o Deus nico. Rene todas as imagens divinas em tua face. Os deuses so Teus membros, Senhor.Todos os deuses convergem no Uno. Seu branco raio se diversifica multicolor.

    2. Amon significa o Escondido:Nenhum homem pode nome-lo; indizvel o Seu Nome. o Desconhecido, o Invisvel. Ningum v Sua forma, ningum conhece o Seu Nome .S no Livro dos Mortos, escrito sobre papiro que se pe no atade com a mmia, Seu Nome, oculto aos viventes, revelado aos falecidos:Nuk-pu-Nuk. Sou Aquele que .Na Sara Ardente, Deus declarou a Moiss o nome Javeh: Eu sou aquele que .

    O Deus de Israel um fogo devorador.E, de igual modo, todo o Egito uma sara que arde, porm no se consome.Seus mltiplos deuses no so, seno os vrios ramos dessa Sara Ardente.Tal o Deus Transcendental do Egito: O que est fora do Mundo. Quanto ao Deus que est no Mundo,...

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  • 3. No principio foi o Num o abismo das guas primordiais.Ainda no havia terra, nem homem, nem deuses.Por cima do abismo se sobrepunham o Esprito de Deus, Atum que disse, para Si mesmo:

    Vem para Mim.E, o Uno foi Deus; foi criado o Sol-R.Primeiramente, R era em Num: o Sol no abismo das guas, como um falco com os olhos fechados; porm, R os abriu, e saiu, e saiu o Sol -apareceu o Mundo:Quando Tu viste a Luz, a Luz foi.Assim, a criao a apario do Mundo a Deus; a viso de Deus:O Mundo o k, o duplo de Deus.O Mundo o filho de Deus.Um foi Deus. O Dois transcendente ao PaiNo Deus imanente, o Filho.E infunde sopro no passarinho no ovo.Vela sobre o filho do verme,Nutre o ratinho em seu refgioE o mosquito no arGlria!Rugem os lees.Glria!Repete o deserto .Nem mesmo os Salmos, nem mesmo os Profetas, nem sequer, as splicas crists dizem nada melhor...

    4. Amon-R ,o deus Sol,diz:Sou Um feito Dois. Sou Dois feito Quatro. Sou quatro feito Oito;Porm, Sou Um .Assim se cumpre, no seio mesmo de Deus, seu desdobramento mistrio de Amon; ou ainda, seu despedaamento, sua crucificao - mistrio de Osris. o princpio da diferenciao: o indivduo deve morrer para que viva.Os homens vivem pela morte dos deuses, diz Herclito.Mas, tambm, est no Livro dos Mortos:O dia de ontem Osris; o dia de amanha R.Enfim, o Mundo Deus refratado, dilacerado, crucificado.

    5. Osris o nico dos deuses ao qual adoram, igualmente, todos os egpcios, conta Hertodo.

    Osris o Senhor do Cu, o primeiro nascido entre os mortos, o deus morto e ressuscitado.Osris (Us-Ri) significa: a fora do olho, a fora do Sol.Todavia, este no o verdadeiro nome (isto , o tom secreto), seno, unicamente, a voz externa. O sentido hermtico no se traduz, uma vez que esta velado pela angstia da busca - pela nostalgia da palavra perdida: nome indizvel, que serve como fonte de inspirao para todos o Egito.Sussurra Hertodo, a imitar os egpcios:

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  • Indizvel Seu nome. Aquele a quem no me atrevo a pronunciar.O Egito no conhece seu Nome.Ns O conhecemos e, no entanto, o Egito est mais perto Dele que ns.Conhecemos, ao menos seus prodgios:Tomou sobre Si nossas enfermidades e afastou nossas dores... Cobriu-se de chagas por nossas iniqidades, e ns nos curamos por seus sofrimentos (Isaias).

    6. Osris a grande vtima; e, em cada vtima se cumpre o desenlace: que foi a prpria morte de Osris.

    Em cada vtima imolada est o corao de Osris:s o Bezerro do sacrifcio - diz o texto egpcio.A nica diferena existe na comparao.Enquanto os egpcios diziam: s o Bezerro do sacrifcio; os cristos dizem: s o Cordeiro. O hierglifo egpcio que significava vtima, representa um homem com as mos atadas nas costas e um punhal na garganta. Mais tarde, foi utilizado outro em que o homem cedeu lugar a um animal, ao qual penduraram uma estampa de argila ou de pedra representando algum sacrificado. Finalmente, a vtima se identifica com o prprio Deus. J no o homem que se imola, seno Deus que se sacrifica pelo homem. Deus a Grande Vtima. Oh mistrio do Amor Divino imolado. Um dos nomes do Osris Bata, que significa alma do po. Ao comer o po, os homens a carne de Osris comungam em Sua carne. Assim diz o texto egpcio: Tu s Pai e Me de todos os homens; por Teu sopro respiram os homens, comem tua carne. Ningum pode chegar a ser Deus sem ser vitimado e imolado o que quer dizer que todos os deuses so outros tantos Osris (vitimas sacrificadas) Todos eles vivem, sofrem e morrem n`Ele. Este o verdadeiro monotesmo do Osris Amon.

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