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  1 ÍNDICE 1. Considerações iniciais 2. Fundamentos da limitação da jornada de trabalho 3. Conceito de jornada de trabalho 3.1. Tempo efetivamente trabalhado 3.2. Horas “in itinere”  3.3. Tempo à disposição do empregador 4. Natureza jurídica da jornada de trabalho 5. Distinções importantes 5.1. Duração do trabalho 5.2. Horário de trabalho 5.3. Jornada de trabalho 6. Jornada normal de trabalho 7. Turnos de revezamento 8. Trabalho noturno 9. Empregados excluídos da proteção da jornada de trabalho 9.1. Trabalhadores que exercem atividades externas 9.2. Gerentes, diretores e chefes de departamento 10. Trabalhador bancário 11. Trabalhador a domicílio 12. Trabalhador doméstico 13. Trabalhador que reside no local de trabalho 14. intervalos para descanso 14.1. Intervalos intrajornada 14.1.1. Intrajornadas  remunerados 14.1.2. Conseqüência da não concessão dos intervalos intrajornada 14.2. Intervalo interjornada 14.3. Resumo dos intervalos para descanso 15. Repouso semanal remunerado 15.1. Considerações iniciais 15.2 Conceito 15.3. Fundamentos legais 15.4. Trabalhadores beneficiados 15.5. Requisitos para pagamento 15.6. Atestado médico  justificativa de falta 15.7. Remuneração 15.8. Feriados 15.9. Comissionistas

Jornada de Trabalho - Aspectos Práticos

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NDICE

1. Consideraes iniciais 2. Fundamentos da limitao da jornada de trabalho 3. Conceito de jornada de trabalho 3.1. Tempo efetivamente trabalhado 3.2. Horas in itinere 3.3. Tempo disposio do empregador 4. Natureza jurdica da jornada de trabalho 5. Distines importantes 5.1. Durao do trabalho 5.2. Horrio de trabalho 5.3. Jornada de trabalho 6. Jornada normal de trabalho 7. Turnos de revezamento 8. Trabalho noturno 9. Empregados excludos da proteo da jornada de trabalho 9.1. Trabalhadores que exercem atividades externas 9.2. Gerentes, diretores e chefes de departamento 10. Trabalhador bancrio 11. Trabalhador a domiclio 12. Trabalhador domstico 13. Trabalhador que reside no local de trabalho 14. intervalos para descanso 14.1. Intervalos intrajornada 14.1.1. Intrajornadas remunerados 14.1.2. Conseqncia da no concesso dos intervalos intrajornada 14.2. Intervalo interjornada 14.3. Resumo dos intervalos para descanso 15. Repouso semanal remunerado 15.1. Consideraes iniciais 15.2 Conceito 15.3. Fundamentos legais 15.4. Trabalhadores beneficiados 15.5. Requisitos para pagamento 15.6. Atestado mdico justificativa de falta 15.7. Remunerao 15.8. Feriados 15.9. Comissionistas

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16. Espcies de prorrogao de jornada de trabalho 16.1. Horas extras resultantes de compensao de jornada de trabalho 16.2. Horas extras resultantes de acordo de prorrogao de horas 16.3. Horas extras decorrentes de necessidade imperiosa 16.3.1. Horas extras fora maior 16.3.2. Horas extras servios inadiveis 16.3.3. Horas extras reposio de horas de paralisao 16.4. Trabalhador menor prorrogao da jornada de trabalho 16.5. Atividades insalubres 16.6. Bancrio 16.7. Hora extras incidncias 16.8. Adicional de sobreaviso, uso de bip e celulares 16.9. Minutos que antecedem ou sucedem a jornada de trabalho 16.10. Marcao de ponto 17. Supresso de horas extras indenizao 18. Sistema de compensao de horas Banco de horas 18.1. Conceito 18.2. Acordo individual ou acordo coletivo? 18.3. Funcionamento do sistema 18.4. Perodo de validade 18.5. Limite de horas 18.6. Resciso contratual

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JORNADA DE TRABALHO

1. Consideraes iniciais

A utilizao do trabalho humano um fato que esteve presente na histria da humanidade. O homem sempre teve sua mo-de-obra utilizada e, na maioria das vezes, explorada desde a mais tenra idade.

O Prof. Amauri Mascaro Nascimento destaca que na antigidade somente uma elite scio-econmica desfrutava de intervalo de descanso e na idade mdia, poucas foram as modificaes, apesar do maior respeito pelo homem.1

Com o advento da Revoluo Industrial e a descoberta da mquina vapor como fonte de energia e a sua aplicao nas fbricas e na industrializao, operou uma autntica revoluo nos mtodos de trabalho. Na medida em que a industrializao invadia o setor produtivo, os trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho estafantes.

No havia leis para regular a proteo dos trabalhadores e, muito menos, limitar a durao diria da jornada de trabalho dos mesmos, que na grande parte dos pases da Europa variava entre doze a dezesseis horas dirias.

Os trabalhadores ficavam sujeitos a longas jornadas de trabalho, exercendo atividades perigosas insalubres, em ambientes nocivos sade, desprovidos de condies sanitrias e de higiene. Trabalhavam em minas de subsolo, fbricas metalrgicas, fbricas de cermica e fbricas de tecelagem, sem qualquer limite ou proteo social.

Diante deste quadro que o Estado passou a se mobilizar e a interferir nas relaes trabalhistas para proteger os trabalhadores, sendo certo que as primeiras leis de proteo aos trabalhadores foram exatamente as que se destinaram a limitar a durao da jornada de trabalho. Na Inglaterra em 1847 foi fixada a jornada de trabalho de 10 horas. Na Frana foi estabelecido o mesmo limite em 1848 e em Paris foi fixada a jornada de trabalho de 11 horas em 1849. Em 1868 foi fixada a jornada de trabalho de 8 horas dirias no servio pblico federal dos Estados Unidos e em 1901 esse mesmo limite foi estabelecido de forma geral na Austrlia.1

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 17 ed. rev. atual., So Paulo: Saraiva, 2001, p. 697.

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No Brasil a evoluo histrica e legislativa mostra que a preocupao com a limitao da durao do trabalho recente. Em 1932 foi fixada a jornada de trabalho de 8 horas para os trabalhadores do comrcio. Em 1933 leis esparsas fixaram a jornada de trabalho nas barbearias, farmcias e panificao. Tambm em 1933 leis fixaram em 6 horas a jornada de trabalho nas casas de diverses nos bancos e casas bancrias e em 7 horas nas casas de penhores.

Em 1934 foram editadas leis para fixar em 8 horas a durao da jornada de trabalho dos empregados em transportes terrestres, armazns, hotis, restaurantes e frigorficos e para estabelecer em 6 horas a durao da jornada de trabalho dos empregados em telegrafia, radiotelegrafia e radiotelefonia.

Mas foi em 1943 que a legislao sobre jornada de trabalho ganhou pulso definitivo no Brasil. Em conseqncia das profundas modificaes sociais e polticas implementadas por Getlio Vargas, foi editada a Consolidao das Leis do Trabalho, que no seu Captulo II, trata da Durao da Jornada de Trabalho, que composta de vrias sees, que dispem sobre jornada de trabalho, perodos de descanso, trabalho noturno e quadro de horrio.

2. Fundamentos da limitao da jornada de trabalho

Do contrato de trabalho emergem obrigaes recprocas que devem ser cumpridas pelas partes contratantes, da o seu carter sinalagmtico. A principal obrigao do empregado a de prestar servios e a principal obrigao do empregador a de pagar salrio. E exatamente por essa razo que deve haver um sistema legal que imponha limites durao da jornada de trabalho do empregado.

A limitao da durao da jornada de trabalho para o fim de garantir ao trabalhador o direito de horas de descanso ou de tempo livre encontra fundamento em aspectos fsicos (relacionados com a necessidade do trabalhador se restabelecer da fadiga e do cansao do trabalho), aspectos sociais (relacionados com a necessidade do empregado ter de uma vida social, em companhia da famlia, desfrutando de lazer e descontrao) e aspectos econmicos (relacionados com a necessidade de impor um gravame pecunirio ao empregador como forma de evitar o excesso na jornada de trabalho.

Nas palavras do Prof. Sergio Pinto Martins os fundamentos que balizam a limitao da jornada de trabalho so pelo menos trs: a) biolgicos: que dizem respeito aos efeitos psicofisiolgicos causados ao empregado, decorrentes da fadiga; b) sociais: o empregado

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precisa conviver e se relacionar com outras pessoas, dedicar-se famlia, dispor de horas de lazer; c) econmicos: no perodo em que o empregado presta servios cansado ou quando faz horas extras, ocorre o maior ndice de acidentes. Os aspectos econmicos dizem tambm respeito produo da empresa, em que o empresrio aumenta a jornada de trabalho, pagando horas extras, justamente para aumentar a produo, da a necessidade da fiscalizao do Estado para limitar a jornada de trabalho e para que no haja excessos.2

O trabalho desenvolvido longamente pode levar fadiga fsica e psquica: da a necessidade de pausas para evitar a queda de rendimento e consequentemente insegurana do trabalhador.3

As normas que regem a limitao da jornada de trabalho visam proteger a integridade fsica dos trabalhadores, evitando a fadiga fsica e psquica e a conseqente insegurana no ambiente de trabalho, pois justamente quando o empregado est cansado ou quando faz horas extras que aumenta a possibilidade de ocorrncia de acidente de trabalho.

3. Conceito de jornada de trabalho

O conceito de jornada de trabalho est ligado idia de medida do tempo de trabalho, correspondendo ao perodo em que o empregado est disposio do seu empregador, aguardando ou executando ordens.

Existem trs teorias que procuram explicar o conceito de jornada de trabalho: a) tempo efetivamente trabalhado; b) tempo in itinere; c) tempo disposio do empregador.

A primeira teoria considera jornada de trabalho como sinnimo de horas trabalhadas. A segunda considera jornada de trabalho, alm das horas trabalhadas, o tempo em que o empregado gasta para se deslocar de sua residncia para o trabalho e vice-versa. A terceira considera jornada de trabalho as horas trabalhadas, acrescidas do tempo disposio do empregador, conforme adiante explicado.

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MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho.15 ed. atual., So Paulo: Atlas, 2002, p. 454. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciao ao Direito do Trabalho. 28 ed., rev. atual., So Paulo: LTR, 2002, p. 285.

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3.1. Tempo efetivamente trabalhado

A primeira teoria - do tempo efetivamente trabalhado - no considera as paralisaes ocorridas durante o tempo em que o empregado est na empresa mas no est produzindo, computando na durao da jornada de trabalho apenas o tempo em que o empregado efetivamente est trabalhando.

No uma teoria aceitvel, uma vez que existem certas paralisaes que so includas na jornada de trabalho, consideradas como tempo disposio do empregador e, portanto, remuneradas, como, por exemplo: artigo 72 da CLT (servios de mecanografia), artigo 253 da CLT (servios em frigorficos), artigo 298 da CLT (servios no interior de minas); art. 396 da CLT (descanso para amamentao do filho).

3.2. Horas in itinere A segunda teoria - do tempo in itinere - considera como jornada de trabalho o tempo disposio do empregador, no centro de trabalho, ou fora dele, englobando o tempo gasto pelo empregado no itinerrio de sua residncia at o local de trabalho e vice-versa, sem desvio de percurso.

Para essa teoria a jornada de trabalho se inicia e deve ser computada a partir do momento em que o empregado sai de sua casa at que a ela retorne. Tambm no uma teoria muito aceitvel, posto que existem trabalhadores que residem muito longe da empresa e no seria razovel se computar o tempo de percurso na durao da jornada de trabalho.

Todavia, em situaes excepcionais, a jurisprudncia do Tribunal Superior do Trabalho vem entendendo que as horas in itinere devam ser computadas na durao da jornada de trabalho quando a conduo ser fornecida pelo empregador e que o local seja de difcil acesso ou que no seja servido por transporte pblico regular.

Tal o que se verifica das Smulas n 90, 320, 324 e 325 do Tribunal Superior do Trabalho. Vejamos: Smula 90 - TEMPO DE SERVIO CONDUO FORNECIDA PELO EMPREGADOR O tempo despendido pelo empregado, em conduo fornecida pelo empregador, at o local de trabalho de difcil acesso ou no servido por transporte regular pblico, e para o

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seu retorno, computvel na jornada de trabalho. (RA 69/1978, DJ 26/09/78). Smula 320 HORAS IN ITINERE OBRIGATORIEDADE DE CMPUTO NA JORNADA DE TRABALHO. O fato de o empregador cobrar, parcialmente ou no, importncia pelo transporte fornecido para local de difcil acesso ou no servido por transporte regular, no afasta o direito percepo das horas in itinere. (RES 12/1993. DJ 29/11/93). Smula

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HORAS

IN

ITINERE

ENUNCIADO

90

INSUFICINCIA DE TRANSPORTE PBLICO. A mera insuficincia de transporte pblico no enseja o pagamento de horas in itinere. (RES 16/1993. DJ 21/12/93). Smula

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HORAS

IN

ITINERE

ENUNCIADO

90

REMUNERAO EM RELAO A TECHO NO SERVIDO POR TRANSPORTE PBLICO. Se houver transporte pblico regular, em parte do trajeto percorrido em conduo da empresa, as horas in itinere remuneradas limitam-se ao trecho no alcanado pelo transporte pblico. (RES 17/1993. DJ 21/12/93).

Com a edio da Lei n 10.243 de 19/06/01, que incluiu o 2 no art. 58 da CLT, a matria passou a ter tratamento legal. O referido preceito dispe: 2 - O tempo despendido pelo empregado at o local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de transporte, no ser computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difcil acesso ou no servido por transporte pblico, o empregador fornecer a conduo.

importante destacar que o dispositivo legal sofreu inegvel influncia da Smula 90 do Tribunal Superior do Trabalho.

Com a edio do 2 do art. 58 da CLT a questo foi pacificada no sentido de que o tempo despendido pelo empregado at o seu local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de transporte, no ser computado na durao da jornada de trabalho, salvo tratando-se de local de difcil acesso e no servido por transporte pblico e o empregador

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fornecer a conduo, hiptese em que o tempo de itinerrio ser computado na durao da jornada de trabalho. Cumpre acrescentar que a teoria do tempo in itinere adotada pela legislao previdenciria para o fim de equiparar o acidente in itinere ao acidente de trabalho.

O artigo 21, inciso IV, letra d da Lei 8.213/91, que trata do plano de benefcios da previdncia social preceitua que se compreende por acidente in itinere o acidente sofrido pelo trabalhador no percurso da residncia para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoo. Art. 21 Equiparam-se tambm ao acidente do trabalho, para os efeitos desta Lei. .............. IV o acidente de trabalho sofrido pelo segurado, ainda que fora do local de trabalho e horrio de trabalho. ............... d) no percurso da residncia para o local de trabalho ou desta para aquela, qualquer que seja o meio de locomoo, inclusive veculo de propriedade do segurado.

Portanto, o acidente de trabalho in itinere sofrido pelo segurado fora do local e horrio de trabalho equiparado ao acidente de trabalho tipo, previsto pela Lei 8.213/91 e assegura ao empregado acidentado o direito ao recebimento do auxlio-acidente previsto no Plano de benefcios da Previdncia Social.

3.3. Tempo disposio do empregador

A terceira teoria - do tempo disposio do empregador - considera como jornada de trabalho o tempo que o empregado estiver disposio do empregado, no centro de trabalho, aguardando ou executando ordens. Pode ser interpretado como centro de trabalho o local onde o trabalhador deve se apresentar aps o percurso de sua residncia, computando-se a partir de ento a sua jornada de trabalho.

Conforme preleciona o Prof. Amauri Mascaro Nascimento, o critrio de tempo disposio do empregador, no sentido restrito, fundamenta-se na natureza do trabalho do

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empregado, isto , na subordinao contratual, de modo que o empregado remunerado por estar sob a dependncia jurdica do empregador e no apenas por que e quando est trabalhando.4

A partir do momento em que o trabalhador coloca sua fora laborativa disposio do seu empregador, ter cumprido sua obrigao contratual e, ainda que no haja prestao de servios esse perodo dever ser computado como de servio efetivo.

Esta teoria a mais aceita pela doutrina trabalhista e ratificada pelo entendimento do artigo 4 da CLT que considera como de servio efetivo o perodo em que o empregado esteja disposio do empregador trabalhando ou disposio do mesmo, aguardando ordens. Art. 4 - Considera-se como e servio efetivo o perodo em que o empregado esteja disposio do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposio expressamente consignada.

Seguindo essa teoria possvel a concluso de que a jornada de trabalho corresponde ao perodo de tempo em que o empregado est disposio do empregador, trabalhando ou aguardando ordens, desde o momento em que chega ao centro de trabalho at o momento em que se retira do mesmo.

4. Natureza jurdica da jornada de trabalho

O Prof. Mauricio Godinho Delgado assinala que o universo normativo que incide sobre a jornada e a durao do trabalho bastante variado. Todavia, destaca que as normas jurdicas estatais que regem a estrutura e dinmica da jornada e durao do trabalho so, de modo geral, imperativas e por essa razo, a renncia feita pelo trabalhador no mbito da relao de emprego em relao a alguma vantagem ou situao decorrente dessas normas referentes absolutamente invlida.5

A natureza jurdica da jornada de trabalho envolve dois aspectos importantes: de interesse pblico e privado.

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NASCIME NTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 17 ed. rev. atual., So Paulo: Saraiva, 2001, p. 695. 5 DELGADO, Maurcio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3 ed. So Paulo: LTR, 2004, p. 848/849.

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O interesse pblico reside nas disposies legais que regem a jornada de trabalho que so imperativas e no podem ser objeto de transao ou renncia por parte do trabalhador e nem violadas por parte do empregador. O Estado tem interesse em proteger o trabalhador e limitar a sua jornada de trabalho permitindo o descanso e evitando que o mesmo preste servios em jornadas extensas de trabalho.

Tambm envolve o interesse privado, no sentido de permitir s partes contratantes fixar jornadas de trabalho inferiores s previstas na legislao trabalhista ou nas normas coletivas. A lei fixa apenas o limite mximo da jornada de trabalho, podendo as partes fixar limites inferiores. O objetivo primordial da limitao da jornada de trabalho o de evitar a fadiga e afastar os trabalhadores da ocorrncia de riscos sua sade e de acidentes de trabalho.

Por esta razo, como critrio geral que afirma que as normas sobre jornada de trabalho so de ordem pblica e, salvo nas hipteses do art. 7 XIII e XIV da Constituio Federal, so irrenunciveis, no podendo ser negociadas por qualquer ajuste entre trabalhador e empregador, nem pelas normas coletivas que lhe sejam aplicveis, sob pena de violao do art. 9 e art. 444 e 468 da CLT e da declarao de nulidade do ato.

5. Distines importantes: Durao do Trabalho Horrio de Trabalho e Jornada de Trabalho

O estudo do tema envolve trs expresses que se referem a conceitos importantes ao entendimento do tempo de trabalho disposio empregador. So elas: a) durao do trabalho; b) jornada de trabalho; c) horrio de trabalho, que no so sinnimas e precisam ser conceituadas e diferenciadas.

5.1. Durao do trabalho

A durao do trabalho a noo mais ampla entre as trs expresses, abrangendo o lapso temporal de trabalho ou a disponibilidade do empregado em relao ao seu empregador em decorrncia do contrato de trabalho. H trs aspectos importantes a destacar nesta expresso: a durao diria do trabalho (nmero de horas dirias de trabalho, intervalo intrajornada e interjornada), a durao semanal do trabalho (descanso hebdomadrio) e a durao anual do trabalho (frias anuais remuneradas).

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5.2. Horrio de trabalho

O horrio de trabalho a fixao da hora de incio e da hora final da jornada de trabalho. A expresso corresponde delimitao do incio e do trmino do horrio dirio de trabalho, dos dias semanais de trabalho e dos correspondentes intervalos interjornada e intrajornada fixados durante o seu cumprimento.

5.3. Jornada de trabalho

A jornada de trabalho expresso de sentido mais restrito e significa o tempo em que o empregado est efetivamente trabalhando ou aguardando ordens disposio do empregador. Em suma, a medida de tempo dirio que o empregado trabalha ou est disposio do empregador em virtude do contrato de trabalho.

Desta forma, enquanto a expresso durao do trabalho tem sentido mais abrangente, comportando um estudo trplice, a expresso horrio de trabalho significa a fixao do incio e do fim da jornada laboral e a expresso jornada de trabalho significa o tempo em que empregado est efetivamente trabalhando ou aguardando ordens do seu empregador.

6. Jornada de trabalho normal

A Constituio Federal de 1988 consagrou no artigo 7 inciso XIII a regra referente durao normal do trabalho em funo do dia (jornada de trabalho) e da semana. Inc. XIII - A durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensao e a reduo da jornada, mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho

A Carta Magna estabeleceu o limite mximo de 8 dirias e 44 horas semanais de trabalho.

Esse o tempo mximo previsto para o trabalhador executar as obrigaes do contrato de trabalho e no poder ser extrapolado, salvo nas hipteses de prorrogao de horas, previstas no artigo 59 da CLT e que sero abordadas no curso deste trabalho.

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Cumpre destacar que a imperatividade da norma constitucional regula o limite mximo estatudo para a durao normal de trabalho, nada obstando que condies mais favorveis ao trabalhador, decorrentes de outras hierarquias de normas de direito do trabalho possam fixar limites menores, prevalecendo em prol do mesmo.

A lei poder adotar limite inferior para atividades profissionais que justifiquem o tratamento diferenciado (mdico, bancrio, ascensorista, dentre outros). O acordo coletivo e a conveno coletiva de trabalho podem estabelecer limites inferiores ao fixado pela norma constitucional. O contrato individual de trabalho e o regulamento interno da empresa tambm podem estipular durao normal de trabalho abaixo do parmetro imposto pela Constituio Federal.

Portanto, so vlidas e plenamente prevalentes as leis especiais, bem como assim a clusula de acordo ou conveno coletiva e o regulamento de empresa que venha estabelecer limite de durao normal do trabalho diria ou semanal inferior ao fixado pela Carta Magna.

A durao do trabalho normal corresponde soma das horas da jornada normal com o tempo de servio extraordinrio ou suplementar durante o qual, em determinadas condies, a lei permite a prestao de trabalho pelo empregado e na forma do artigo 4 da CLT o tempo computado para esse fim aquele em que o empregado permanece disposio do empregador, trabalhando ou aguardando ordens.

O artigo 58 da CLT tambm disciplina que a durao normal do trabalho no poder ultrapassar o limite de oito horas dirias. Vejamos: Art. 58 - A durao do trabalho, para os empregados em qualquer atividade privada, no poder exceder de oito horas dirias, desde que no seja fixado expressamente outro limite.

Portanto, a durao normal do trabalho no pode ser ultrapassada de 8 horas dirias e de 44 horas semanais. O art. 58 da CLT foi inteiramente recepcionado pelo art. 7 VIII da Constituio Federal.

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7. Turnos de revezamento

A Constituio Federal de 1988 no seu artigo 7, inciso XIV, assegurou jornada normal de seis horas aos empregados que trabalham em turnos ininterruptos de revezamento. Vejamos: XIV Jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociao coletiva.

O trabalho em turnos ininterruptos de revezamento se caracteriza pela prestao de servios realizada por empregados que se sucedem na operao de mquinas e equipamentos de forma escalonada e que permitem o funcionamento sem interrupo das atividades empresariais.

Os turnos ininterruptos de revezamento so utilizados por empresas que necessitam trabalhar vinte quatro horas por dia para atender peculiaridades de produo e a jornada de trabalho mximo nesta hiptese de seis horas dirias.

Nas atividades empresariais que adotam o sistema de turnos ininterruptos de revezamento o empregado fica submetido a jornadas de trabalho variadas a cada perodo. Em uma semana labora pela manh, em outra tarde e na seguinte noite.

O trabalho em turnos de revezamento muito desgastante e o empregado sofre as consequncias das modificaes de horrio no repouso noturno, sono, contato familiar e hbitos alimentares. Trata-se de um trabalho extremamente penoso.

Por essa razo que o legislador optou por diminuir a jornada para o trabalho realizado em tais circunstncias para o fim de fixar no mximo em seis horas dirias, salvo negociao coletiva.

O Tribunal Superior do Trabalho vem entendendo como turno ininterrupto o trabalho que se alterna em horrios diferentes, trabalho o empregado nos perodo e noturno. O entendimento pretoriano esclarece no se exigir que o empregado trabalhe necessariamente em trs turnos, mas que haja alternncia de turnos, ora diurno, ora noturno, o que suficiente para caracterizar o gravame para a sade e para a vida social e familiar. .6

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TST E-RR-406.667/1997.0 TRT 3 Regio Ac. SDI-1 Partes: Cia. Vale do Rio Doce (embargante) x Francisco de Paula Vtor (embargado). Embargos no conhecidos. Redator: Min. Rider Nogueira de Brito. DJU de 28/06/02, p. 925.

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8. Trabalho noturno

8.1. Consideraes iniciais

O trabalho noturno mais penoso do que o trabalho executado durante o dia. Esse tipo de jornada ocasiona maior cansao do que o trabalho prestado durante o dia, exigindo maior esforo mental e em conseqncia, a fadiga, que pode gerar a diminuio do rendimento profissional e aumentar o risco de acidentes de trabalho.

Tambm acarreta prejuzos de ordem social e familiar tendo em vista que o trabalho noturno, o perodo de descanso e os hbitos da vida social no se harmonizam.

Em razo do trabalho noturno, uma boa parte do dia deve ser reservada ao repouso, perturbando a vida social do trabalhador provocando o desencontro de seus membros e dificultando a convivncia familiar.

Do ponto de vista mdico pacfico o entendimento de que a jornada de trabalho realizada no perodo noturno deve ser formal e genericamente proibida, uma vez que extremamente prejudicial sade do trabalhador.

Todavia, no obstante a prejudicialidade do trabalho noturno ao bem-estar e sade do trabalhador, h situaes em que o mesmo inevitvel, como ocorre nos servios de utilidade pblica ou nas indstrias que funcionam diuturnamente, tornando impossvel seja genericamente proibido.

Assim, via de regra, o trabalho noturno permitido, contudo, em condies excepcionais formalmente proibido, sobretudo para os menores.

A proibio de trabalho noturno aos menores de dezoito anos est prevista no inciso XXXIII do art. 7 da Constituio Federal. Antes dos dezoito anos, o texto constitucional veda, sem excepcionar, qualquer tipo de trabalho em jornada noturna.

A vedao do trabalho noturno aos menores de dezoito anos tambm encontra fundamento legal no artigo 404 da Consolidao das Leis do Trabalho e no inciso I, do artigo 67, do Estatuto da Criana e do Adolescente.

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8.2. Adicional noturno e hora noturna reduzida

O inciso IX do artigo 7 da Constituio Federal estabelece que a remunerao do trabalho noturno dever ser superior do trabalho diurno. O dispositivo constitucional apenas menciona que a remunerao deve ser superior remunerao do trabalho diurno, contudo, no indica o valor do acrscimo. IX remunerao do trabalho noturno superior do diurno.

O artigo 73 da CLT disciplina que a remunerao do trabalho noturno dever ser superior do trabalho diurno e corresponder a um adicional mnimo de vinte por cento, pelo menos, sobre a hora diurna. Art. 73 Salvo nos casos de revezamento semanal ou quinzenal, o trabalho noturno ter remunerao superior do diurno, e, para esse efeito, sua remunerao ter um acrscimo de 20% (vinte por cento), pelo menos, sobre a hora diurna.

O 1 do artigo 73 da CLT criou uma fico jurdica no sentido de que a hora noturna considerada reduzida. Nesse sentido, a durao da hora noturna ser computada como cinqenta e dois minutos e trinta segundos e no como sessenta minutos, o que caracteriza uma vantagem de natureza salarial ao empregado. 1 - A hora do trabalho noturno ser computada como de 52 minutos e 30 segundos.

A leitura do art. 73 caput e do seu 1 da Consolidao das Leis do Trabalho permite a concluso de que o trabalho noturno recebeu dupla proteo do legislador trabalhista:

a) reduo do tempo da hora, fixada por uma fico legal em cinqenta e dois minutos e trinta segundos - a cada perodo de 52 minutos e 30 minutos de servios prestados entre as 22 horas de um dia e s 5 horas da manh do dia seguinte computado como uma hora, para o fim de cmputo da jornada de trabalho e para o fim de pagamento do salrio. A reduo do tempo da hora noturna tem natureza fisiolgica, dada a rudeza do trabalho noturno.

b) pagamento de adicional salarial nunca inferior a 20% sobre a hora noturna - o valor do salrio da hora noturna acrescido de um adicional mnimo de 20% sobre o valor da hora normal para o

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trabalhador urbano. O adicional salarial tem natureza econmica e visa recompensar financeiramente o trabalhador que despende maior energia durante o trabalho noturno.

Portanto, o artigo IX do art. 7 da Constituio Federal disciplina que a remunerao do trabalho noturno dever ser superior remunerao do trabalho diurno.

A Norma Consolidada no seu art. 73 estabelece que o adicional noturno ser de pelo menos vinte porcento superior ao valor da hora diurna e considerando a hora noturna reduzida fixada em cinqenta e dois minutos e trinta segundos.

Em relao aos trabalhadores rurais a matria disciplinada pelo artigo 7 da Lei 5.889/73, que estatui normas reguladoras da profisso rurcula. Art. 7 - Para os efeitos desta lei, considera-se como trabalho noturno o executado entre a 21 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte, na lavoura, e entre as 20 horas de um dia e as 4 horas do dia seguinte, na atividade pecuria. Pargrafo nico Todo trabalho noturno ser acrescido de 25% sobre a remunerao normal.

O dispositivo legal supracitado considera trabalho noturno aquele prestado entre as 21 horas de um dia e 5 horas do dia seguinte na lavoura e entre as 20 horas de um dia e as 4 horas do dia seguinte na pecuria.

Para os trabalhadores rurais a hora noturna de 60 minutos e no sofre a reduo prevista para o trabalhador urbano e o valor do adicional noturno deve ser de 25% sobre o valor da hora normal.

Para os advogados o horrio de trabalho noturno aquele compreendido entre as 20 horas de um dia e 5 horas do dia seguinte e o valor do adicional noturno deve ser de 25% sobre o valo da hora normal. o que dispe o 3 do art. 20 da L 8.906/94: 3 - As horas trabalhadas no perodo das vinte horas de um dia at cinco horas do dia seguinte sero remuneradas como noturnas, acrescidas do adicional de vinte e cinco por cento.

O trabalhador temporrio tem direito ao adicional noturno, conforme preceitua o art. 12, letra e da Lei n 6.019/74, que dispe sobre o trabalho temporrio nas

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empresas urbanas e d outras providncias. O temporrio faz jus ao recebimento de adicional noturno com acrscimo de 20%, pelo menos, sobre a hora diurna e ao cmputo da hora noturna reduzida de 52 minutos e 30 segundos.

Ao trabalhador porturio tambm assegurado o direito ao recebimento do adicional noturno, conforme disciplina o art. 4 da Lei n 4.860/65 e a Orientao Jurisprudencial n 60 da SDI-1 do TST. A hora noturna do trabalhador porturio fixada em 60 minutos e o adicional salarial deve ser de, no mnimo, 20% superior ao valor da hora diurna.

Os empregados domsticos no tm direito ao reconhecimento da hora noturna reduzida e nem ao recebimento do adicional noturno, pela ausncia de previso legal. Na Lei n 5.859/72 de 1/12/72, que regula a profisso de empregado domstico e no pargrafo nico do art. 7 da Constituio Federal, que assegura direitos sociais aos trabalhadores domsticos no estenderam o direito ao adicional noturno em favor dos domsticos.

O artigo 73 caput da CLT disciplina que nos casos de revezamento semanal ou quinzenal o empregado no tem direito ao adicional noturno.

Ocorre, porm, que o Supremo Tribunal Federal pacificou entendimento em sentido contrrio, sustentando que subsiste o direito ao adicional noturno na hiptese de trabalho do empregado sujeito ao regime de revezamento semanal ou quinzenal. o que se verifica da leitura da Smula 213 do STF Smula 213 ADICIONAL NOTURNO. devido o adicional de servio noturno, ainda que sujeito o empregado ao regime de revezamento.

O Prof. Sergio Pinto Martins tambm sustenta que o caput do art. 73 da CLT foi derrogado pelo inciso III do art. 157 da Constituio Federal de 1946, pois esta vedao foi prevista na Constituio de 1937 e no foi repetida na Constituio Federal de 1946.7

O 4 do artigo 73 da CLT regula os horrios mistos de trabalho, onde o empregado, durante a mesma jornada de trabalho, presta servios em uma parte da jornada no horrio diurno e outra parte no horrio noturno.

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MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho.15 ed. atual., So Paulo: Atlas, 2002, p. 487.

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4 - Nos horrios mistos, assim entendidos os que abrangem perodos diurnos e noturnos, aplica-se s horas de trabalho noturno o disposto neste artigo e seus pargrafos.

O artigo celetista em comento prev que na hiptese de horrio misto de trabalho (diurno e noturno) a jornada de trabalho ativada aps as 22 horas deve ser apurada de forma reduzida e remunerada com o adicional legal de 20% sobre o valor da hora normal ( 4 do art. 73 da CLT).

A CLT dispe no 5 do artigo 73 sobre o trabalho prestado pelo empregado aps as 5 horas, em continuao ao horrio noturno. 5 - s prorrogaes do trabalho noturno aplica-se o disposto neste Captulo.

Depois de integralmente cumprida a jornada de trabalho no perodo noturno e uma vez que a mesma prorrogada aps as 5 horas devido o adicional noturno tambm em relao s horas prorrogadas no perodo diurno.

A jurisprudncia do Tribunal Superior do Trabalho vem se posicionando no sentido de considerar noturno o trabalho prestado pelo empregado aps as 5 horas, quando se tratar de hiptese de prorrogao de jornada noturna.

o que se verifica da Orientao Jurisprudencial n 6 da Seo de Dissdios Individuais 1 - SDI-1 do TST. Orientao

Jurisprudencial

n

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ADICIONAL

NOTURNO.

PRORROGAO EM HORRIO DIURNO. Cumprida integralmente a jornada no perodo noturno e prorrogada esta, devido tambm o adicional quanto s horas prorrogadas. Exegese do art. 73, 5 da CLT. (25/11/96).

O adicional noturno pago com habitualidade pelo empregador em razo do trabalho prestado em jornada noturna deve integrar o salrio do empregado para todos os fins e efeitos do contrato de trabalho, como frias, 13 salrio, FGTS, descanso semanal remunerado, aviso prvio, horas extras (Orientao Jurisprudencial n 97 da SDI-1), adicional de periculosidade (Orientao Jurisprudencial n 259 da SDI-1)

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Esse o entendimento cristalizado da Smula 60 do Tribunal Superior do Trabalho. Vejamos: Smula 60 ADICIONAL NOTURNO HABITUALIDADE. O adicional noturno, pago com habitualidade, integra o salrio do empregado, para todos os efeitos. (RA. 105/1974, DJ 24/11/74).

Portanto, o adicional noturno pago com habitualidade integra o salrio do empregado para todos os efeitos, enquanto persistir o trabalho em horrio noturno. Cessado o trabalho em tais condies, opera-se a supresso do respectivo adicional.

O fato gerador do direito ao recebimento do adicional noturno reside exatamente no trabalho noturno. Uma vez que o trabalho noite deixa de ser prestado, no h o que se falar em direito adquirido, nem em reduo salarial. Portanto, a transferncia do trabalhador para o perodo diurno implica na cessao do direito do mesmo ao recebimento do adicional noturno, eis que mais benfica para a higidez do mesmo.

Este o entendimento pacificado pela Smula 265 do Tribunal Superior do Trabalho. Vejamos: Smula 365 ADICIONAL NOTURNO ALTERAO DO TURNO DE TRABALHO POSSIBILIDADE DE SUPRESSO. A transferncia para o perodo diurno implica a perda do direito ao adicional noturno. (Res. 13/1986. DJ 20/01/97).

O pagamento do adicional noturno depende de uma condio especfica, que o trabalho prestado em jornada noturna. Se o empregado deixa de trabalhar noite, no subsiste mais o direito ao recebimento do adicional. Deixando de existir o fato gerador que o trabalho noturno, por conseqncia deixa de haver o direito ao pagamento do adicional salarial.

9. Empregados excludos da proteo da jornada de trabalho

O Captulo II da CLT que trata da Durao do Trabalho composto por diversas sees que dispem sobre jornada de trabalho, perodos de descanso, trabalho noturno e quadro de horrio.

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O conjunto de medidas que rege a durao do trabalho visa proteger todos os destinatrios das leis trabalhistas. Portanto, a regra interpretada no sentido da proteo de todos os trabalhadores. Todavia, em situaes excepcionais, a prpria lei ressalva alguns tipos de trabalhadores, excluindo-os da proteo que emana do Captulo II da norma consolidada.

Os incisos I e II do art. 62 da CLT disciplinam que as regras sobre a durao do trabalho no so aplicveis aos exercentes de atividades externas incompatveis com a fixao de horrio e nem aos gerentes, diretores e chefes de departamento ou filial. Art. 62 No so abrangidos pelo regime previsto neste captulo: I os empregados que exercem atividade externa incompatvel com a fixao de horrio de trabalho, devendo tal condio ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdncia Social e no registro de empregados. II os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gesto, aos quais se equiparam, para efeito do disposto neste artigo, os diretores, chefes de departamento ou filial. Pargrafo nico O regime previsto neste captulo ser aplicvel aos empregados no inciso II deste artigo, quando o salrio do cargo de confiana, compreendendo a gratificao, se houver, for inferior ao valor do respectivo salrio efetivo acrescido de 40% (quarenta por cento).

O artigo 62 da CLT exclui da jornada normal de trabalho os exercentes de atividades externas incompatveis com a fixao de horrio de trabalho e os gerentes, que no so protegidos pelas disposies do Captulo II da norma consolidada que trata da Durao do Trabalho.

Com o advento da Constituio Federal de 1988 e o disposto no inciso XIII do art. 7 fixando a durao normal da jornada de trabalho de oito horas dirias e quarenta e quatro semanais uma parte da corrente doutrinria passou a admitir que o art. 62 da CLT se tornou inconstitucional.

Porm, como preleciona Arnaldo Sussekind, a circunstncia da Carta Magna ter limitado a durao normal do trabalho no inciso XIII do artigo 7, o dispositivo constitucional no se atrita com o art. 62 da CLT, posto que os trabalhadores a que alude o inciso I

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do artigo em comento prestam servios sem submisso a horrio e fora do controle do empregador, enquanto os gerentes, diretores e chefes de departamento ou filial desfrutam de posio singular na empresa, nela exercendo poder de comando, diretivo e disciplinar.8

O Prof. Sergio Pinto Martins destaca o art. 62 da CLT no est mencionando que o empregado deva trabalhar mais do que a jornada especificada na Constituio, mas apenas que as pessoas que no tm controle de horrio ou os gerentes, de modo geral, deixam de ter direito a horas extras, pois no primeiro caso, difcil dizer qual o horrio em que prestam servios, por trabalharem externamente, e no seguro caso, o empregado faz o horrio que quer, podendo entrar mais cedo e sair mais tarde ou entrar mais tarde e sair mais cedo, a seu critrio, razo pela qual tais pessoas no tm direito a horas extras e nem inconstitucional o art. 62 da CLT.9

Nesse sentido correta a afirmao de que o art. 62 da CLT continua em vigor e no se atrita com o disposto no inciso VIII do art. 7 da Constituio Federal, permanecendo excludos do regime de proteo da durao da jornada de trabalho os trabalhadores que exercem atividades externas, incompatveis com controle de horrio de trabalho e os gerentes.

9.1. Trabalhadores que exercem atividades externas

O inciso I do art. 62 da CLT exclui da proteo da durao da jornada de trabalho os empregados que exercem atividades externas, incompatveis com a fixao de horrio de trabalho.

Alm do exerccio de atividades externas, incompatveis com a fixao de controle de trabalho, o artigo celetista dispe que essa condio deve ser expressamente anotada na Carteira de Trabalho e Previdncia Social e no livro ou ficha de registro de empregados.

A falta das anotaes na CTPS faz presumir que o trabalhador est inserido na proteo da durao do trabalho e que tem direito ao recebimento de horas extras quando ativar alm do limite de sua jornada normal de trabalho.

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Sussekind, Arnaldo et al. Instituies de Direito do Trabalho. 21 ed. atual. So Paulo: LTR. v. 2, p. 802. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho.15 ed. atual., So Paulo: Atlas, 2002, p. 506.

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Na hiptese da empresa organizar sistema de fiscalizao e controle do trabalho externo e fixar a durao da jornada de trabalho, o empregado estar protegido por todas as disposies do Captulo II da CLT que trata da durao do trabalho.

Os trabalhos externos a que se refere o inciso I do art. 62 da CLT so aqueles executados sem a observncia de horrios, fiscalizao ou controle de ponto. So as atividades laborativas prestadas pelo empregado, que esto fora do permanente controle e fiscalizao do empregador, que fica impossibilitado de saber o tempo efetivamente dedicado pelo mesmo empresa.

A caracterstica principal que exclui os trabalhadores externos da proteo da jornada de trabalho a impossibilidade de controle efetivo horrio de trabalho. Assim, o direito ao recebimento de horas extras somente fica excludo na hiptese de ficar configurada a absoluta impossibilidade do controle de horrio de trabalho.

Nesse contexto, esto inseridos os vendedores, viajantes ou pracistas, que no trabalham internamente na empresa. Tambm se inserem neste rol os motoristas que fazem viagem, como os de caminho e de nibus, dentre outros.

Ocorre, porm, que no se pode admitir a sumria excluso do direito do trabalhador ao recebimento de horas extras, to-somente pela circunstncia de os servios serem prestados externamente.

O Tribunal Superior do Trabalho tem se inclinado a reconhecer o direito ao recebimento de horas extras ao trabalhador que, embora exercente de atividade externa, o mesmo esteja sujeito a controle de sua jornada de trabalho. Horas extras. Motorista. Carreteiro. Controle de Jornada. Art. 62, I, da CLT. 1. A norma do artigo 62, inciso I, da CLT exclui o empregado do direito s horas extras quando incompatvel o controle de horrio, ou quando desenvolva atividade externa, por natureza insuscetvel de propiciar aferio da efetiva jornada de labor. Preceito

excepcional, h de ser interpretado restritivamente, em boa hermenutica. 2. Dilatada a jornada normal, faz jus s horas extras o motorista carreteiro cuja jornada de labor controlada pelo empregador, ainda que de forma indireta, seja pela presena de tacgrafo, seja pela determinao de cumprimento de rotas previamente conhecidas e com possibilidade de previso de durao das viagens. O tacgrafo mecanismo que enseja a apurao no

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apenas da velocidade do veculo, mas tambm a distncia percorrida e a data e a hora do incio da operao, dia-a-dia. (Resoluo n 816/86, do CONTRAN). 3. Embargos de que se conhece e a que se nega provimento. (TST E-RR-423510/1998.0 Ac. SDI-1 Rel. Min. Joo Oreste Dalazen DJ 04.04.2003, p. 593).

Portanto, o que interessa para a excluso do trabalhador ao direito de horas extras a total incompatibilidade entre a natureza das atividades prestadas e a fixao do horrio de trabalho. Se o trabalhador ficar subordinado a controle efetivo de jornada de trabalho atravs de telefones celulares, monitoramento por satlite, rotas programadas, relatrios com previso de horas de viagem, dentre outros meios, estar protegido por todas as disposies do captulo II da CLT dedicado durao do trabalho e ter direito ao recebimento de horas extras.

9.2. Gerentes, diretores e chefes de departamento

O inciso II do art. 62 da CLT tambm exclui da proteo da durao da jornada de trabalho os empregados que exercem o cargo de gerente, aos quais se equiparam os diretores e chefes de departamentos.

Os gerentes e os diretores empregados so os exercentes de cargos de gesto e administrao da empresa, ocupando funes de mando e que sofrem com menor intensidade os efeitos do poder de direo do empregador, no estando subordinados ao cumprimento de ordens. Tm nas mos a destinao concreta do contedo da prestao obrigacional, desfrutando de ampla liberdade de atuao, recebendo do empregador apenas as diretrizes gerais sobre o desenvolvimento das atividades.

Os chefes de departamento ou filiais so os empregados que no exerccio desses cargos desfrutam de plena confiana do empregador, recebendo delegao de comando para dirigir e disciplinar os departamentos e sees que lhes so confiados.

So considerados como tais os empregados que possuem poderes de gesto das atividades empresariais e assumem funes de cpula administrativa para dirigir, planejar, fiscalizar e decidir, podendo admitir, advertir, punir ou dispensar empregados sob sua subordinao direta ou indireta, pois no h como se conceber um empregado que esteja investido nesta posio sem a presena de subordinados.

Para a excluso da limitao da jornada de trabalho, tanto os gerentes e diretores empregados como os chefes de departamento ou filiais, alm de exercerem cargos de

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mando e gesto na empresa e fundamental que tenham um padro salarial mais elevado do que os demais empregados da empresa.

A lei exige que os salrios dos empregados inseridos nesta hiptese de excluso seja superior em 40% ao valor do salrio base.

Portanto, conforme reza o pargrafo nico do art. 62 da CLT, embora um cargo seja efetivamente de confiana, dotado de poderes de mando e gesto, deixar de ser assim considerado na hiptese do exercente no receber vantagem salarial superior a 40% do cargo efetivo.

O pagamento da gratificao salarial se constitui em exigncia legal e tem por objetivo compensar a maior responsabilidade decorrente do exerccio dessas funes e o pagamento de eventuais horas extras que venha a ser prestada pelo empregado.

10. Trabalhador bancrio

Na forma dos artigos 224 a 226 da CLT, a durao normal da jornada do trabalhador bancrio de seis horas dirias, podendo excepcionalmente se prorrogada, observando-se o limite mximo de oito horas dirias. Portanto, os bancrios esto sujeitos a regime especial de trabalho. Esta a regra que regula a durao do trabalho bancrio.

Ocorre, porm, que o 2 do art. 224 da CLT prev uma exceo a essa regra, disciplinando que o regime da durao normal da jornada de trabalho do bancrio no se aplica aos empregados que exercem funo de direo, gerncia, fiscalizao, chefia e equivalentes, ou que desempenhem outros cargos de confiana, desde que o valor da gratificao no seja inferior a 1/3 do salrio do cargo efetivo.

Portanto, na hiptese do trabalhador bancrio exercer quaisquer das funes ou cargos de confiana acima indicados e, desde que receba gratificao no inferior a um tero do seu salrio, fica excludo do regime da proteo da durao da jornada de trabalho e do direito ao recebimento de horas extraordinrias.

As questes relacionadas com a durao da jornada de trabalho do bancrio e as hipteses de incidncia, ou no, da regra de excluso do 2 do art. 224 da CLT foram reiteradamente discutidas e decidas pelo Tribunal Superior do trabalho, resultando nos entendimentos sumulados a seguir indicados.

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O trabalhador bancrio que exerce funo ou cargo de confiana na forma que dispe o 2 do art. 224 da CLT e que recebe gratificao no inferior a 1/3 do seu salrio j tem remunerado as duas horas extraordinrias que excederem de seis. (Smula n 166 do TST).

O trabalhador bancrio que exerce funo ou cargo de confiana na forma que alude o 2 do art. 224 da CLT, cumpre jornada normal de oito horas dirias, sendo consideradas como horas extraordinrias aquelas trabalhadas alm da oitava diria. (Smula n 232 do TST).

A jornada de trabalho do empregado bancrio que exerce a funo de gerente de agncia regida pelo 2 do art. 224 da CLT, sendo consideradas como horas extras aquelas ativadas alm da oitava diria. Todavia, quanto ao gerente-geral da agncia bancria, presume-se o exerccio de encargo de gesto, aplicando-se ao mesmo a regra do art. 62 da CLT. (Smula n 287 do TST).

12. Trabalhador a domiclio

O artigo 6 da CLT trata do trabalho a domiclio, disciplinando que no se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador e o executado no domiclio do empregado, desde que esteja caracterizada a relao de emprego.

O trabalhador a domiclio, embora na condio de empregado, executa suas atividades funcionais em sua prpria residncia, portanto, longe dos olhos do empregador, sem fiscalizao, controle ou direo de suas atividades laborativas, em horrios que melhor consulte aos seus interesses prprios.

Tratando-se de trabalho a domiclio, por sua prpria natureza, torna-se difcil de se avaliar o real horrio de trabalho em que o empregado est disposio do empregador, executando suas atividades funcionais. Portanto, o trabalhador a domiclio est

excludo da proteo do Captulo II da CLT que trata da Durao do Trabalho, no fazendo jus ao recebimento de horas extras.

12. Trabalhador domstico

O trabalho domstico regido pela Lei 5.859/72, de 11/12/72, que dispe sobre a profisso de empregado domstico e regula os direitos trabalhistas. O nico do art. 7 da Constituio Federal regula os direitos sociais garantidos aos trabalhadores domsticos.

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O trabalhador domstico no tem direito a horas extras, tendo em vista que ao mesmo no se aplica o inciso XIII do art. 7 da CF (durao da jornada normal de trabalho de oito horas dirias e quarenta e quatro semanais) e tampouco o inciso XVI do art. 7 da CF (adicional de horas extras de 50% sobre o valor da hora normal). O art. 7, letra a da CLT tambm dispe que os preceitos celetistas no se aplicam ao trabalhador domstico.

O trabalhador domstico est fora da proteo do Captulo II da CLT que trata da Durao do Trabalho e excludo da limitao de jornada de trabalho, no tendo direito ao recebimento de horas extras.

13. Trabalhador que reside no local de trabalho

A peculiaridade e a natureza de certas atividades profissionais demandam que o trabalhador resida no prprio local de trabalho. So exemplos dessas atividades: zelador, caseiro e guarda patrimonial.

Quando o trabalhador mora no local de trabalho, permanece em contato dirio e permanente com seu ambiente laboral. Todavia, uma vez configurada a inviabilidade ou a impossvel do empregador controlar o horrio de trabalho, a freqncia e a fiscalizao das atividades profissionais o empregado ficar excludo da proteo do Captulo II da CLT que trata da Durao do Trabalho, no fazendo jus ao recebimento de horas extras.

Cumpre ressaltar que a simples circunstncia de o empregado residir no local de trabalho (exemplo do zelador de prdio) no pode ser considerado como excludente do direito ao recebimento de horas extras. O que de fato importa para o reconhecimento desta excluso a caracterizao da inviabilidade ou da impossibilidade da adoo de mecanismos de controle e fiscalizao do horrio de trabalho do empregado.

Por outra via de entendimento: se o trabalhador reside no local de trabalho e sofre controle e fiscalizao do horrio de trabalho e das atividades laborativas por parte do empregador ter direito ao recebimento de horas extras prestadas alm da durao normal da jornada de trabalho.

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14. Intervalos para descanso

Para o fim de evitar a fadiga, afastar os trabalhadores de riscos sade e a da ocorrncia de acidentes de trabalho e, ainda, permitir o convvio familiar e social, a legislao trabalhista regula intervalos para descanso do mesmo durante uma jornada de trabalho ou entre uma jornada de trabalho e outra.

A natureza jurdica dos intervalos envolve a obrigao do empregado de no trabalhar para se alimentar ou para repousar e a obrigao do empregador de se abster de exigir trabalho do empregado nesses perodos.

Tendo em vista a durao diria da jornada de trabalho os intervalos que devem ser concedidos so os intrajornada e interjornada. Levando-se em considerao a jornada de trabalho semanal o intervalo que deve ser concedido o descanso semanal remunerado. Tomando-se por base a jornada de trabalho anual o intervalo que deve ser concedido o descanso anual de frias.

Neste estudo sero abordados apenas os intervalos intrajornada (que ocorrem dentro de uma mesma jornada de trabalho) e os intervalos interjornada (que ocorrem entre uma jornada de trabalho e outra).

14.1. Intervalos intrajornada

Os intervalos intrajornada so aqueles concedidos ao trabalhador dentro de uma mesma jornada de trabalho. No curso de uma jornada de trabalho a legislao disciplina a concesso de intervalo para repouso e alimentao do trabalhador, visando a sua recomposio fsica e a manuteno da sua plena capacidade de produo.

De modo geral, os intervalos de descanso no so computados na durao do trabalho, ou seja, no so considerados na somatria da jornada de trabalho e no so considerados como tempo disposio do empregador. o que disciplina o 2 do art. 72 da CLT.

2 - Os intervalos de descanso no sero computados na durao do trabalho.

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O intervalo intrajornada considerado como hiptese de suspenso do contrato de trabalho, onde o empregado paralisa a prestao de servios e o empregador est desobrigado do pagamento do salrio correspondente ao perodo da paralisao.

O art. 71 e o seu 1 da CLT regulam os intervalos intrajornada que devem ser concedidos ao trabalhador, conforme a durao da jornada de trabalho. Art. 71 Em qualquer trabalho contnuo, cuja durao exceda de seis horas, obrigatria a concesso de um intervalo para repouso ou alimentao, o qual ser, no mnimo, de uma hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrrio, no poder exceder de duas horas.

1 - No excedendo de seis horas o trabalho, ser, entretanto, obrigatrio um intervalo de quinze minutos quando a durao ultrapassar de quatro.

A leitura dos dispositivos em comento permite a concluso de que quando a durao da jornada de trabalho for inferior a quatro horas no existe obrigatoriedade da concesso de intervalo para descanso, salvo disposto em lei especfica ou norma coletiva de trabalho.

Quando a durao da jornada de trabalho ser superior a quatro horas at o limite de seis horas dirias obrigatria a concesso de intervalo de quinze minutos para descanso.

Quando a durao da jornada de trabalho exceder a seis horas dirias obrigatria a concesso de intervalo para descanso de, no mnimo, uma hora, no podendo ser superior a duas horas.

O repouso mnimo de uma hora pode ser reduzido por ato do Ministrio do Trabalho e Emprego, aps parecer da Secretaria de Segurana e Medicina do Trabalho, desde que se fique comprovado que o estabelecimento atende integralmente s exigncias referentes organizao dos refeitrios e quando os empregados da empresa so estiverem sob regime de prorrogao de jornada de trabalho (horas extras). o que preceitua o 3 do art. 71 da CLT.

3 - O limite mnimo de uma hora para repouso ou refeio poder ser reduzido por ato do Ministro do Trabalho, quando, ouvido o Departamento Nacional de Higiene e Segurana do Trabalho

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(DNHST), se verificar que o estabelecimento atende integralmente s exigncias concernentes organizao dos refeitrios e quando os respectivos empregados no estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas suplementares.

O nico meio de a empresa reduzir o intervalo intrajornada atravs de autorizao do Ministrio do Trabalho e Emprego, uma vez que o 3 do art. 71 da CLT disciplina que compete a este rgo a funo de avaliar o local e as condies de trabalho com vistas a permitir que a empresa venha adotar tempo inferior a uma hora de intervalo para refeio e descanso.

No possvel a reduo ou a supresso do intervalo de descanso atravs de acordos ou convenes coletivas de trabalho. As medidas de proteo durao do trabalho no podem ser objeto de negociao, transao ou renncia por parte dos sindicatos.

Embora a Constituio Federal de 1988 no inciso VI do art. 7 admita a flexibilizao do salrio e no inciso XIV do art. 7 a flexibilizao da jornada de trabalho, as normas referentes durao do trabalho revestem-se de carter imperativo para a proteo do trabalhador, razo pela qual so de ordem pblica e no admitem derrogao pela vontade das partes.

O Tribunal Superior do Trabalho vem se posicionando no sentido de vedar a reduo ou supresso do intervalo atravs da negociao coletiva, sob o argumento de que esta prtica viola norma de ordem pblica. o que se verifica da Orientao Jurisprudencial n 342 da Seo de Dissdios Individuais 1 do TST. Orientao Jurisprudencial n 342 INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAO. No concesso ou reduo. Previso de norma coletiva. Validade. invlida clusula de acordo ou conveno coletiva de trabalho, contemplando a supresso ou a reduo do intervalo intrajornada porque este se constitui medida de higiene e sade e segurana do trabalho, garantido por norma de ordem pblica (art. 71 da CLT e art. 7, XXII da CF/88), infenso negociao coletiva. (DJ 22/06/04).

Portanto, o entendimento jurisprudencial caminha no sentido de vedar a supresso ou a reduo de intervalo intrajornada atravs de acordo ou conveno coletiva de trabalho, disciplinando que os intervalos previstos no art. 71 e no seu 1 so garantidos por

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norma de ordem pblica, de higiene e de sade do trabalho, que no podem ser objeto de transao pelos sindicatos.

Urge destacar que no h violao ao inciso XXVI do art. 7 da Constituio Federal, que garante o reconhecimento das convenes e dos acordos coletivos, posto que referidos institutos devem respeitar as normas de ordem pblica. Tambm inexiste violao ao inciso XIII do art. 7 da Constituio Federal, eis que possibilidade de reduo de jornada de trabalho nele tratada no significa a mesma coisa que reduo ou supresso de intervalo intrajornada. So institutos completamente distintos.

Na hiptese do empregador conceder intervalos durante a jornada de trabalho fora das hipteses previstas pela lei trabalhista, o tempo correspondente aos intervalos concedidos ser considerado como disposio da empresa e reputado como trabalho extraordinrio, se acrescido no final da jornada. o que preceitua a Smula 118 do Tribunal Superior do Trabalho. Smula 118 JORNADA DE TRABALHO HORAS EXTRAS - Os intervalos concedidos pelo empregador, na jornada de trabalho, no previstos em lei, representam tempo disposio da empresa, remunerados como servio extraordinrio, se acrescidos ao final da jornada. (RA 12/1981, DJ 19/03/81).

Caso o empregador institua intervalos no previstos na lei trabalhista e acresa o tempo referente ao descanso concedido ao final da jornada de trabalho, ter este tempo considerado como disposio da empresa e ser obrigado a pagar o mesmo como horas extras.

A interpretao jurisprudencial vai de encontro ao disposto no art. 4 da CLT disciplinando que jornada de trabalho o tempo em que o empregado est disposio do empregador, executando tarefas ou aguardando ordens. uma forma de impor limites ao poder de controle do empregador, impedindo-o de criar intervalos intrajornadas para fazer com que o empregado fique sua inteira disposio, sem o recebimento de qualquer remunerao.

Seria a hiptese de a empresa estabelecer intervalos para caf - um na parte da manh e outro na parte da tarde - durante a jornada de trabalho, acrescendo o tempo correspondente ao intervalo concedido ao final da jornada. Por no estar previsto na lei e por representar tempo disposio do empregador, o referido intervalo deve ser remunerado como horas extras. Todavia, na hiptese deste intervalo no ser acrescido ao final da jornada de

trabalho, mas considerado como tempo disposio do empregador, no haver necessidade do pagamento de horas extras.

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14.1.1. Intervalos intrajornada remunerados

Os intervalos intrajornada, como regra, no so computados na durao do trabalho ( 2 do art. 71 da CLT), no so considerados como tempo disposio do empregador e no so remunerados.

Contudo, esta regra comporta algumas excees.

Essas excees esto ligadas s hipteses abaixo estudadas e se referem a intervalos ocorridos durante a jornada de trabalho que so computados na durao da jornada, so considerados como tempo disposio do empregador e so remunerados.

Nos servios permanentes de mecanografia (datilografia, escriturao, clculo) e por analogia, de digitao (Smula 346 do TST), a cada perodo de noventa minutos consecutivo de trabalho dever ser concedido ao trabalhador um intervalo de dez minutos, que no poder ser deduzido da durao normal do trabalho (art. 72 da CLT). O referido intervalo considerado como tempo disposio do empregador e no poder ser acrescentado ao final da jornada de trabalho. Art. 72 Nos servios permanentes de mecanografia (datilografia, escriturao ou clculo), a cada perodo de noventa minutos de trabalho consecutivo corresponder um repouso de dez minutos no deduzidos da durao normal de trabalho. Smula 346 DIGITADOR INTERVALOS INTRAJORNADA APLICAO ANALGICA DO ART. 72 DA CLT. Os digitadores, por aplicao analgica nos do art. 72 de da CLT, equiparam-se aos

trabalhadores

servios

mecanografia

(datilografia,

escriturao ou clculo), razo pela qual tm direito a intervalos de descanso de 10 (dez) minutos a cada 90 (noventa) de trabalho consecutivo. (Res. 56/1999, DJ 28/06/96).

Nos servios no interior de frigorficos, bem como aqueles em que h trabalho em cmaras frias onde o trabalhador movimenta mercadorias do ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, a cada perodo de uma hora e quarenta minutos de trabalho consecutivo, dever ser concedido um intervalo de vinte minutos, que no poder ser deduzido da durao normal de trabalho (art. 253 da CLT). O referido intervalo considerado como tempo disposio do empregador e no poder ser acrescentado ao final da jornada de trabalho.

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Art. 253 Para os empregados que trabalham no interior das cmaras frigorficas e para os que movimentam mercadorias do ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, depois de uma hora e quarenta minutos de trabalho contnuo ser assegurado um perodo de vinte minutos de repouso, computado esse intervalo como de trabalho efetivo.

Nos servios prestados no interior de minas, onde o empregado labora na explorao do subsolo, a cada perodo de trs horas consecutivas de trabalho, dever ser concedido um intervalo de quinze minutos, que no poder ser deduzida da durao normal de trabalho (art. 298 da CLT). O referido intervalo considerado como tempo disposio do empregador e no poder ser acrescentado ao final da jornada de trabalho. Art. 298 - Em cada perodo de trs horas consecutivas de trabalho, ser obrigatria uma pausa de quinze minutos para repouso, a qual ser computada na durao normal de trabalho efetivo.

Em relao ao mdico a cada perodo de noventa minutos consecutivo de trabalho, dever ser concedido um intervalo de dez minutos, que no poder ser deduzido da durao normal do trabalho (letra a 1 do art. 8 da Lei 3.999, de 15/12/61). O referido intervalo considerado como tempo disposio do empregador e no poder ser acrescentado ao final da jornada de trabalho.

1 - Para cada noventa minutos de trabalho gozar o mdico de um repouso de dez minutos.

As disposies contidas na Lei n 3.999/61 so extensivas ao cirurgiodentista, razo pela qual o mesmo tambm faz jus ao descanso remunerado de dez minutos a cada perodo de noventa minutos consecutivos trabalhado.

Na hiptese da mulher que se encontra em fase de amamentao de seu filho, at que este complete seis meses de idade, devero ser concedidos dois intervalos especiais de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho (art. 396 da CLT). Os referidos intervalos so considerados como tempo disposio do empregador e no podero ser acrescentados ao final da jornada de trabalho. Art. 396 Para amamentar o prprio filho, at que este complete seis (6) meses de idade, a mulher ter direito, durante a jornada de trabalho, a dois descansos especiais, de meia hora cada um.

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A hipteses de intervalos intrajornada acima indicadas constituem-se em exceo regra, sendo computadas na durao do trabalho, consideradas como tempo disposio do empregador e portanto, remuneradas.

14.1.2. Conseqncia da no concesso dos intervalos intrajornada

Com a edio da Lei n 8.923/94, que alterou a redao do 4 do art. 71 da CLT, a ausncia de concesso do intervalo para repouso e alimentao, determina que o empregador faa o pagamento das horas suprimidas com acrscimo de 50% sobre o valor da remunerao da hora normal de trabalho. 4 - Quando o intervalo para repouso e alimentao, previsto neste artigo, no for concedido pelo empregador, este ficar obrigado a remunerar o perodo correspondente com um acrscimo de, no mnimo, cinqenta por cento sobre o valor da remunerao da hora normal de trabalho.

O perodo correspondente no concesso do intervalo para repouso e alimentao deve ser pago pelo empregador com acrscimo de 50% sobre o valor da remunerao da hora normal de trabalho, alm da imposio de multa prevista no artigo 75 da CLT que se reverte em favor da Unio Federal.

Outro aspecto importante relativo ao tema: na hiptese do intervalo de 1:00 hora para refeio e descanso ser suprimido em 20 minutos dirios, todo o intervalo deve ser remunerado com o adicional de 50% ou apenas os 20 minutos suprimidos diariamente?

Em outras palavras: se o empregado tinha um intervalo de 1:00 hora para refeio e descanso e desfrutava de apenas 40 minutos para esse fim, a empresa dever pagar uma hora diria com o adicional de 50% ou apenas os 20 minutos de intervalo que no foram concedidos? A Orientao Jurisprudencial n 307 da Seo de Dissdios Individuais 1 SDI-1 do Tribunal Superior do Trabalho, entende que a no concesso total ou parcial do intervalo em questo implica no pagamento total do perodo correspondente ao intervalo para refeio e descanso. Orientao Jurisprudencial n 307 INTERVALO INTRAJORNADA (PARA REPOUSO E ALIMENTAO). NO CONCESSO OU

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CONCESSO PARCIAL. Aps a edio da Lei n 8.923/1994, a no concesso total ou parcial do intervalo intrajornada mnimo, para repouso e alimentao, implica o pagamento total do perodo correspondente, com acrscimo, de, no mnimo, 40% sobre o valor da remunerao da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT). (DJ 11/08/03).

Portanto, a orientao jurisprudencial em exame se posiciona no sentido de que deva ser paga a integralidade do perodo correspondente ao intervalo intrajornada, ainda que haja descumprimento apenas parcial do disposto no 4 do art. 71 da CLT.

Outro ponto interessante deste assunto reside na identificao da natureza do acrscimo de 50%, pago em razo da no concesso parcial ou total do intervalo intrajornada.

O 4 do art. 71 da CLT utiliza a frase que o empregador ficara obrigado a remunerar. Logo, o acrscimo de 50% sobre o valor da hora normal de trabalho tem ntida natureza salarial e no indenizatria, devendo refletir sobre todos os demais ttulos trabalhistas, tais como, frias, 13 salrio, FGTS, previdncia social, dentre outros.

14.2. Intervalo interjornada

O intervalo interjornada diz respeito ao perodo de descanso que deve ser concedido ao empregado entre uma jornada de trabalho e outra.

A sua concesso visa proteger o repouso fsico e mental do trabalhador e permitir ao mesmo um convvio familiar e social profcuo.

O perodo correspondente ao intervalo interjornada se constitui em hiptese de suspenso do contrato de trabalho, onde o empregado no presta servios e o empregador no fica obrigado no pagamento de salrio correspondente ao perodo.

Trata-se, portanto, de um intervalo intrajornada, no remunerado.

O artigo 66 da CLT estabelece que entre duas jornadas de trabalho deve ser observado um intervalo mnimo de onze horas consecutivas .

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Art. 66 Entre duas jornadas de trabalho haver um perodo mnimo de onze horas consecutivas para descanso.

Pelo que se verifica da leitura do dispositivo legal, as onze horas de descanso devem ser consecutivas e no podem ser interrompidas.

Nesse sentido, importante destacar que se o empregado trabalha de segunda a sbado, as 11 horas consecutivas destinadas ao intervalo interjornada devem ser somadas com as 24 horas destinadas ao repouso semanal remunerado, perfazendo o total de 35 horas, pois o primeiro intervalo no pode ser absorvido pelo segundo intervalo.

Portanto, se o empregado trabalha no sbado at as 12 horas, somente poder voltar a trabalhar no domingo a partir das 23 horas. O trabalho somente poder ocorrer aps 35 horas (11 horas de intervalo intrajornada e 24 horas de descanso semanal remunerado).

A contagem das 11 horas consecutivas dever ser computada a partir da ltima hora trabalhada (inclusive horas extras), ou seja, a partir do momento em que o empregado efetivamente cessou suas atividades laborativas.

Insta acentuar que a no observncia do intervalo interjornada de onze horas consecutivas entre uma jornada de trabalho e outra no resulta no entendimento de que as horas suprimidas devam ser reconhecidas como horas extras em favor do empregado. Portanto, o desrespeito ao art. 66 da CLT, implica apenas em infrao administrativa e, na hiptese de no caracterizar excesso de jornada de trabalho efetivamente trabalhada, no outorga direito a qualquer indenizao ou ressarcimento ao trabalhador.

Todavia, em relao aos trabalhadores que ativam em regime de revezamento, as horas trabalhadas em seguida ao repouso semanal de 24 horas, com prejuzo do intervalo mnimo de 11 horas consecutivas para descanso interjornada, implica no pagamento das horas suprimidas como extraordinrias, com o adicional de 50%, no mnimo, sobre o valor da hora normal.

o entendimento perfilado pela Smula 110 do Tribunal Superior do Trabalho: Smula 110 - JORNADA DE TRABALHO INTERVALO No regime de revezamento, as horas trabalhadas em seguida ao repouso semanal de 24 horas, com prejuzo do intervalo mnimo de 11 horas consecutivas para descanso entrejornadas, devem ser remuneradas

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como extraordinrias, inclusive com o respectivo adicional. (RA 101/1980, DJ 25/09/80).

A smula em questo reconhece o direito ao recebimento de horas extras em razo da no observncia do intervalo intrajornada apenas aos trabalhadores em regime de revezamento, razo pela qual ficam excludas do entendimento jurisprudencial as demais hipteses de violao ao art. 66 da CLT.

Cumpre tambm destacar que em relao a alguns tipos especiais de trabalhadores no se aplica o disposto no art. 66 da CLT, que prev um perodo mnimo de 11 horas consecutivas de descanso entre duas jornadas de trabalho.

Os jornalistas profissionais tm o intervalo interjornada regulado pelo art. 308 da CLT disciplinando que em seguida a cada perodo dirio de trabalho haver um intervalo mnimo de dez horas, destinado ao repouso. Art. 308 Em seguida a cada perodo dirio de trabalho haver um intervalo mnimo de dez horas, destinado ao repouso.

Portanto, em relao aos jornalistas profissionais deve haver um intervalo mnimo de dez horas consecutivas de descanso entre uma jornada de trabalho e outra.

Os operadores cinematogrficos tm o intervalo interjornada regulado pelo 2 do art. 235 da CLT, preceituando que em seguida a cada perodo dirio de trabalho haver um repouso mnimo de doze horas, destinado ao repouso. 2 - Em seguida a cada perodo de trabalho haver um intervalo de repouso no mnimo de doze horas.

Portanto, em relao aos operadores cinematogrficos deve haver um intervalo mnimo de doze horas consecutivas de descanso entre uma jornada de trabalho e outra.

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14.3. Resumo dos intervalos para descanso

Espcie de intervalo trabalho contnuo com jornada de trabalho superior a 4 horas e no excedente a 6 horas dirias trabalho contnuo com jornada de trabalho superior a 6 horas dirias trabalho contnuo de mecanografia (datilografia, escriturao ou clculo) e por analogia, de digitador trabalho no interior de cmaras frigorficas e na movimentao de mercadorias em ambientes diferentes trabalho no interior de minas de subsolo trabalho do mdico e do cirurgio dentista trabalho da mulher no perodo de amamentao do prprio filho at que o mesmo complete 6 meses de idade intervalo entre duas jornadas de trabalho (trabalhadores em geral) intervalo entre duas jornadas de trabalho (jornalistas profissionais) intervalo entre duas jornadas de trabalho (operadores cinematogrficos)

Base

Tempo de descanso

Observao

art. 71, 1 da CLT art. 71 da CLT art. 72 da CLT e smula 346 do TST art. 253 da CLT

mnimo, 15 minutos

intervalo no remunerado intervalo no remunerado intervalo remunerado intervalo remunerado intervalo remunerado intervalo remunerado intervalo remunerado intervalo no remunerado intervalo no remunerado intervalo no remunerado

art. 298 da CLT letra a, 1 do art. 8 da lei 3.999/61 art. 396 da CLT

art. 66 da CLT

art. 308 da CLT

2 do art. 235 da CLT

mnimo, 1 hora, mximo, 2 horas 10 minutos a cada 90 minutos de trabalho consecutivo 20 minutos a cada 1 hora e 40 minutos de trabalho consecutivo 15 minutos a cada 3 horas de trabalho consecutivo 10 minutos a cada noventa minutos de trabalho consecutivo 2 descansos de 30 minutos cada,durante a jornada de trabalho 11 horas consecutivas entre uma jornada e outra 10 horas consecutivas entre uma jornada e outra 12 horas consecutivas entre uma jornada e outra

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15. Repouso semanal remunerado

15.1. Consideraes iniciais

O descanso semanal tem origem nos costumes religiosos. Nas festas e eventos a participao era obrigatria em razo do carter oficial das religies, razo pela qual no havia trabalho nesses dias. Portanto, foi a fora da religio quem imps a observncia do descanso, eis que no haviam leis para regular a interrupo semanal do trabalho.

Modernamente,

com

o

advento

da

Revoluo

Industrial

e

a

universalizao dos direitos sociais a instituio do repouso semanal ao trabalhador visou eliminar a fadiga decorrente do trabalho, aumentar o rendimento funcional, aprimorar a produo, restringir o desemprego e possibilitar a prtica de atividades recreativas, culturais e fsicas, bem como o convvio social e familiar.10

Os fundamentos do descanso semanal obrigatrio so de ordem biolgica, social e econmica. O descanso visa eliminar a fadiga e o desgaste fsico e mental ocasionado pela semana de trabalho, garantindo a higidez do trabalhador. Alm disso, proporciona ao trabalhador a oportunidade ao convvio familiar, social, religioso e a prtica de atividades culturais e de lazer. Visa tambm aprimorar e aumentar a produo, eis que o empregado descansado produz de forma mais acentuada.

Vrias so as denominaes utilizadas para conceituar o instituto. As mais comumente empregadas so: repouso semanal remunerado, descanso semanal remunerado, repouso hebdomadrio, folga semanal, repouso dominical, descanso semanal, repouso semanal.

A natureza jurdica do repouso semanal remunerado advm do carter tutelar e do repertrio de normas irrenunciveis. A lei fixa uma obrigao ao empregador de ordem pblica que visa proteger a incolumidade fsica e mental do trabalhador, alm de permitir-lhe o convvio social e familiar, que no pode ser renunciada ou transacionada por ajuste entre as partes.

O repouso semanal remunerado se constitui em hiptese de interrupo do contrato de trabalho, na qual o empregado no est obrigado a prestar servios ao empregador, mas tem o direito de receber o pagamento correspondente e de contar esse perodo no tempo de servio para todos os fins e efeitos do contrato de trabalho.

10

Sussekind, Arnaldo et al. Instituies de Direito do Trabalho. 21 ed. atual. So Paulo: LTR. v. 2, p. 841.

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15.2. Conceito

O repouso semanal remunerado corresponde ao perodo de vinte e quatro horas consecutivas, de preferncia aos domingos e nos feriados, no qual o empregado deixa de prestar servios, uma vez por semana ao empregador, mas recebe a remunerao correspondente.

A expresso adotada para o estudo deste instituto ser descanso semanal remunerado.

15.3. Fundamentos legais

A matria est disciplinada pelos artigos 67 a 70 da CLT e pela Lei n 605/49, de 05/01/49 (regulamentada pelo Decreto n 27.048/49, de 12/08/49), que dispe sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento de salrio nos dias feriados civis e religiosos.

Tambm a Constituio Federal no inciso XV do artigo 7 garante aos trabalhadores urbanos e rurais o direito ao repouso semanal remunerado.

15.4. Trabalhadores beneficiados

Os trabalhadores urbanos, rurais e avulsos tm direito ao descanso semanal remunerado. (art. 7, XV da CF e art. 1 da Lei 605/49).

O

descanso

semanal

remunerado

tambm

assegurado

aos

trabalhadores de autarquias e de empresas industriais ou sob administrao da Unio, dos Estados e dos municpios, ou incorporadas em seus patrimnios, desde que regidos pelo regime da CLT, ou seja, no subordinados ao regime do funcionalismo pblico. (art. 4 da Lei n 605/49).

O trabalhador temporrio tambm tem direito ao descanso semanal remunerado. (art. 12, letra d da Lei n 6.019/74).

O trabalhador domstico tem direito ao descanso semanal remunerado. Embora o art. 5, letra a da Lei n 605/49 aponte que o instituto no se aplica ao domstico, o pargrafo nico do art. 7 da CF de 1988 que consagra os direitos sociais assegurados categoria dos trabalhadores domsticos, garantiu-lhes o direito ao descanso semanal remunerado previsto no inciso XV do art. 7 da CF.

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15.5. Requisitos para pagamento

O empregador somente estar obrigado a pagar a remunerao correspondente ao descanso semanal na hiptese de o empregado cumprir integralmente as exigncias que so estabelecidas no art. 6 da Lei n 605/49. Art. 6 - No ser devida a remunerao, quando, sem motivo justificado, o empregado no tiver trabalhado durante toda a semana anterior, cumprindo integralmente o seu horrio de trabalho.

Para que empregado garanta o direito ao recebimento da remunerao correspondente ao descanso semanal preciso que, na semana anterior, tenha cumprido integralmente o horrio de trabalho fixado pelo empregador e, ainda, que no tenha faltado injustificadamente ao trabalho.

Portanto, so dois os requisitos que precisam ser cumpridos pelo empregado para recebimento do descanso semanal remunerado: assiduidade e pontualidade. As faltas e os atrasos injustificados eximem o empregador do pagamento do repouso semanal.

A assiduidade est relacionada com a necessidade do empregado ter trabalhado durante toda a semana anterior, no tendo faltado injustificadamente ao trabalho no referido perodo. A semana corresponde ao perodo de segunda-feira a domingo, anterior semana em que recair o dia destinado ao repouso. ( 4 do art. 11 do Decreto n 27.048/49)

A pontualidade diz respeito obrigao do empregado cumprir integralmente o horrio de trabalho estabelecido pelo empregador, observando o horrio de entrada no servio, o intervalo para descanso e o horrio de sada do servio, sem atrasos.

Para o fim do no pagamento da remunerao correspondente ao repouso semanal no poder o empregador considerar como faltas injustificadas as ausncias do empregado fundamentadas no 1 do art. 6 da Lei n 605/49, que regula as hipteses das ausncias justificadas, que no admitem que o empregador promova o desconto salarial e nem que faa o cmputo das mesmas para os fins do pagamento do descanso semanal. Art. 6 - No ser devida a remunerao, quando, sem motivo justificado, o empregado no tiver trabalhado durante toda a semana anterior, cumprindo integralmente o seu horrio de trabalho. 1 - So motivos justificados:

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a) os previstos no art. 473 e seu pargrafo nico da Consolidao das Leis do Trabalho; b) a ausncia do empregado, devidamente justificada, a critrio da administrao do estabelecimento; c) a paralisao do servio nos dias em que, por convenincia do empregador, no tenha havido trabalho; d) a ausncia do empregado, at trs dias consecutivos, em virtude de seu casamento; e) a falta ao servio com fundamento na lei sobre acidente de trabalho; f) a doena do empregado, devidamente comprovada.

Conforme preceitua o dispositivo acima citado, o empregador no poder computar como falta do empregado para o fim de no efetuar o pagamento da remunerao do descanso semanal, as ausncias consideradas como causas de interrupo do contrato de trabalho, denominadas faltas justificadas, faltas legais, faltas abonadas ou licenas remuneradas, onde o empregado no presta servios, mas tem o direito de receber a remunerao correspondente ao dia no trabalhado.

15.6. Atestado mdico justificativa de falta O inciso f do art. 6 da Lei 605/49 disciplina que para efeito do cmputo do descanso semanal remunerado deve ser considerada falta justificada a doena do empregado, devidamente comprovada.

A justificao da ausncia do empregado ao trabalho por motivo de doena, sem prejuzo do direito ao descanso semanal remunerado, deve observar a ordem preferencial fixada pelo 4 do art. 60 da Lei n 8.213/91, que trata do Plano de Benefcios da Previdncia Social: 4 - A empresa que dispuser de servio mdico, prprio ou em convnio, ter a seu cargo o exame mdico e o abono das faltas correspondentes ao perodo referido no 3, somente devendo encaminhar o segurado percia mdica da Previdncia Social quando a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias.

Para efeito do pagamento do salrio nos quinze primeiros dias de ausncia do empregado enfermo, ser vlido o atestado mdico da empresa ou da organizao

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mdica com o qual a mesma manter convnio mdico. Portanto, quando a empresa dispor de servio mdico prprio ou em convnio proceder ao exame mdico e ao abono das faltas do empregado.

Na hiptese da empresa no dispor de servio mdico prprio ou convnio mdico, ficar a cargo do mdico da previdncia, do sindicato ou de entidade pblica o fornecimento do atestado. o que entendimento perfilado pelas Smulas 15 e 282 do Tribunal Superior do Trabalho. Smula 15 ATESTADO MDICO A justificao da ausncia do empregado motivada por doena, para a percepo do salrioenfermidade e da remunerao do repouso semanal, deve observar a ordem preferencial dos atestados mdicos estabelecida em lei. (RA 28/1969, DO-GB 21/08/69). Smula 282 ABONO DE FALTAS SERVIO SERVIO MDICO DA EMPRESA. Ao servio mdico da empresa ou ao mantido por esta ltima mediante convnio compete abonar os primeiros quinze dias de ausncia ao trabalho. (Res.15/1988, DJ 01/03/88).

Os atestados mdicos devem observar a uma ordem para efeito de abono de faltas: primeiro vale o atestado mdico da empresa ou do convnio mantido pela mesma e somente na falta de servio mdico ou de convnio mdico mantido pela empresa que o empregado poder recorrer aos atestados dos mdicos da previdncia, do sindicato ou de entidade pblica.

15.7. Remunerao

Os empregados que recebem salrio fixo mensal j tm includo nesse valor o descanso semanal remunerado e em feriados. o que dispe o 2 do art. 7 da Lei n 605/49.

A remunerao correspondente ao aviso prvio deve ser assim calculada: a) para os que trabalham por dia, semana, quinzena ou ms um dia de servio; b) para os que trabalham por hora da sua jornada normal de trabalho; c) para os que trabalham por tarefa ou pea, ao equivalente ao salrio das tarefas ou peas feitas durante a semana, no horrio normal de trabalho, dividido pel os dias de servio efetivamente prestados ao empregador; d) para o

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empregado a domiclio, equivalente ao quociente da diviso por seis da importncia total da sua produo na semana (art. 7 da Lei 605/49); e) para o trabalhador avulso, consistir no acrscimo de 1]5 calculado sobre os salrios recebidos pelo trabalhador e pago juntamente com tais salrios (art. 3 da Lei 605/49).

As gratificaes de produtividade e por tempo de servio (anunio, qinqnio, etc.) pagas mensalmente pelo empregador por fora do contrato de trabalho ou de normas coletivas de trabalho no repercutem no clculo do descanso semanal remunerado. o que dispe a Smula 225 do TST. Smula 225 REPOUSO SEMANAL CLCULO GRATIFICAES POR TEMPO DE SERVIO E PRODUTIVIDADE. As gratificaes por tempo de servio e produtividade, pagas mensalmente, no repercutem no clculo do repouso semanal remunerado. (Res. 14/1985, DJ 19/09/85)

Tambm no incide sobre o clculo do repouso semanal remunerado o adicional de insalubridade e de periculosidade, posto que o clculo desses adicionais tem como parmetro o salrio mnimo e o salrio base contratual, respectivamente, e j se encontram compreendidos no repouso semanal. Os referidos adicionais salariais so calculados na base de trinta dias e j remuneram o descanso semanal. Portanto, a incidncia de novos reflexos, nesse caso, implicaria bis in idem. Nesse sentido o que dispe a Orientao Jurisprudencial n 103 da SDI-1 do TST. Orientao Jurisprudencial n 103 SDI-1. O adicional de insalubridade, porque calculado sobre o salrio mnimo legal, j remunera os dias de repouso semanal e feriados.

15.8. Trabalho no dia destinado ao repouso

De preferncia, o repouso semanal deve coincidir com o domingo, no todo ou em parte (art. 67 da CLT e inciso XV do art. 7 da CF). Ocorre, porm, que em situaes excepcionais, a lei admite o trabalho aos domingos e nos dias feriados e religiosos.

As hipteses que permitem o trabalho nos domingos, feriados civis e religiosos, so de ordem permanente ou temporria. As excees de ordem permanente esto condicionadas s exigncias tcnicas das empresas e dependem de autorizao do Poder

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Executivo. As excees de ordem temporria esto condicionadas ocorrncia de motivo de fora maior ou de realizao de servios inadiveis. Art. 1 - Todo empregado tem direito ao repouso semanal remunerado de vinte e quatro horas consecutivas, preferencialmente aos domingos e, nos limites das exigncias tcnicas das empresas, nos feriados civis e religiosos, de acordo com a tradio local.

............... Art. 8 - Excetuado os casos em que a execuo do servio for imposta pelas exigncias tcnicas das empresas, vedado o trabalho em dias feriados e religiosos, garantida, entretanto, aos empregados, a remunerao respectiva, observados os dispositivos dos arts. 6 e 7 desta lei.

O pargrafo nico do art. 5 da Lei 605/49 e o 1 art 6 do Decreto n 27.048/49, respectivamente, disciplinam as hipteses de exigncias tcnicas das empresas, capazes de autorizar o trabalho aos domingos e em dias feriados e religiosos: Pargrafo nico So exigncias tcnicas, para os efeitos desta Lei, as que, pelas condies peculiares s atividades da empresa, ou em razo do interesse pblico, tornem indispensvel a continuidade do servio.

1 - Constituem exigncias tcnicas aquelas que, em razo do interesse pblico, ou pelas condies peculiares s atividades da empresa ou ao local onde as mesmas se exercitarem, tornem indispensvel a continuidade do trabalho, em todos ou alguns dos respectivos servios.

Em tais atividades, o repouso semanal dever coincidir, pelo menos uma vez, no perodo mximo de quatro semanas, com o domingo, respeitadas as demais normas de proteo ao trabalho e outras previstas em acordo ou conveno coletiva de trabalho.

Nos feriados civis e religiosos, assim como no dia de repouso vedado o trabalho. Porm, em tais dias, embora o empregado no preste servios, faz jus ao recebimento da remunerao respectiva. Todavia, h casos em que a execuo do servio necessria em

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virtude de exigncias tcnicas das empresas, em caso de fora maior ou de servios inadiveis, onde o empregado dever prestar servios.

Se o empregado trabalhar em dia destinado ao repouso semanal ou feriados, deve receber em dobro, exceto se o empregador conceder folga compensatria em outro dia da semana.

o que estabelece a Smula 146 do Tribunal Superior do Trabalho: Smula 146 TRABALHO EM DOMINGOS E FERIADOS, NO COMPENSADO NOVA REDAO. O trabalho prestado em domingos e feriados, no compensado, deve ser pago em dobro, sem prejuzo da remunerao relativa ao repouso semanal. (RA 102/1982 Revisado pela Res. Adm. do TST (Pleno) n 121, de 28/10/03, DJ 19/11/03).

15.9. Comissionista

Os vendedores tm a remunerao calculada de acordo com as comisses de vendas realizadas. A Smula 27 do TST esclarece que o vendedor, ainda que pracista, que recebe salrio calculado na base de comisso, tem direito ao descanso semanal remunerado. Smula 27. COMISSIONISTA

REPOUSO

SEMANAL

REMUNERADO. devida a remunerao do repouso semanal e dos feriados ao empregado comissionista, ainda que pracista. (RA 57/1970, DO-GB 27/11/70).

Todavia, existe dvida sobre a forma de clculo do valor do descanso semanal devido ao empregado comissionista, pois o artigo 7 da Lei 605/49, que trata da remunerao do descanso semanal no contempla esta hiptese. Por analogia, a remunerao do descanso semanal do comissionista deve ser apurada levando em considerao a base de clculo do valor devido aos trabalhadores que recebem por pea ou tarefa, razo de 1/6 sobre as comisses dos dias trabalhados (letra c do art. 7 da Lei n 605/49).

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16. Espcies de prorrogao de jornada de trabalho

Jornada extraordinria aquela prestada pelo trabalhador alm da jornada normal de trabalho pactuada atravs do contrato de trabalho, normas coletivas ou lei. Haver trabalho extraordinrio toda vez que o empregado trabalhar ou permanecer disposio do empregador depois de esgotada a jornada normal de trabalho.

So utilizadas as expresses horas extras, horas extraordinrias, horas suplementares, jornada extraordinria e trabalho extraordinrio, que possuem o mesmo significado.

As horas extraordinrias devem ser remuneradas com o adic