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oi graças à interferência dos chamados mento- res, que com sua expe- riência no negócio po- dem aconselhar e apontar novos pontos de atenção, que a Bid- Corp sustentou seu objetivo de “ter um negócio que resolva um problema real”, segundo seu só- cio-fundador Arthur Rozenblit. Os três negócios estão sob as asas da 21212, aceleradora de startups digitais focada na pon- te entre o Brasil e os Estados Unidos que aporta o capital (e o aconselhamento) inicial para que o projeto decole. A própria 21212 é uma operação recente, mas que reúne ex-empresários do setor mobile. A força deste time gera eventos como o De- mo Day, onde as startups (sele- cionadas a partir de aproxima- damente 400 projetos) têm seus planos e modelos de negó- cio apresentados a investido- res. “A oferta de crédito pode ser pequena em relação a ou- tros países, mas está aumentan- do. Havia fila de possíveis in- vestidores curiosos para conhe- cer os projetos escolhidos”, conta o sócio-fundador Frede- rico Lacerda. São colegas de atividade da 21212 empresas como a Acelera- dora.net, a Mountain e a própria Anjos do Brasil. Tratam-se de or- ganismos essenciais para este ecossistema, pois aceitam o risco e mesmo o erro. Considerando que startups e microempresas são muitas vezes o primeiro negó- cio de uma pessoa, o que aconte- ce não só pela oportunidade de negócio mas também pela per- cepção de autonomia, é com- preensível a inconsistência de al- guns itens da análise de mercado e estratégia. Por isso a importân- cia do “smart money”, que além do dinheiro também oferece co- nhecimento aplicado ao negócio e, invariavelmente, uma rede de contatos. Este apoio torna-se es- sencial na implementação, pois é grande a chance de o empreende- dor ver-se obrigado a desviar o foco do desenvolvimento do pro- duto, onde é especialista, para ou- tras atribuições que não domina. “É comum que os planos des- ta fase batam na trave. Eles cos- tumam apresentar uma carên- cia de fórmulas que transfor- mem produto em valor, de mé- tricas que comprovem sua efi- ciência ou e estudos que com- provem a demanda”, pontua o fundador da Aceleradora.net, Yuri Gitahy. Conhecimento e rede de contatos apoiam projetos Mentores dão aconselhamento e apontam novos pontos de atenção para viabilizar negócios Divulgação Inovação pela inovação não basta. Saber como entrar e se movimentar no mercado e comprovar a escalabilidade do negócio são itens mais importantes. É preciso um outro nível de visão estratégica e empreendedora Cássio Spina Fundador e líder da Anjos do Brasil O percentual de startups que recebem apoio oscila entre 3% e 8%, enquanto apenas 1% dos projetos em busca de venture capital obtém sucesso na empreitada É comum que os planos de início batam na trave. Eles costumam apresentar carência de fórmulas que transformem produto em valor, de métricas que comprovem sua eficiência ou de estudos que comprovem a demanda Yuri Gitahy Fundador da Aceleradora.net EMPREENDEDORISMO O F universo das startups, bem como das pequenas e médias empresas (PMEs) e seus financiadores, vive anos de efervescência neste come- ço de década, não só em países onde o mode- lo está mais maduro e definido (sobretudo Es- tados Unidos e extremo Oriente), como tam- bém nos países em desenvolvimento, como o Brasil, que corre atrás do tempo perdido. So- bram exemplos em todos os continentes de projetos inovadores, escaláveis e com poten- cial internacional. Porém, o percentual de startups que recebem apoio oscila dos 3% aos 8%, enquanto apenas 1% dos projetos em busca de venture capital o obtém. E, na outra ponta, somente uma fração decimal das em- presas que alcançaram o médio porte lançam- se à aventura da abertura de capital. Embora representem 50% dos empregos do G20, estas companhias recebem apenas 6% do investimento direcionado aos 20 paí- ses mais ricos, segundo o recente estudo Funding the Future promovido pela Ernst & Young. Com um detalhe: a maior parte des- te montante ainda provém de empréstimos bancários, e não de investidores-anjo, seed ou venture capital. É por conta deste cenário que o planeja- mento estratégico de modelo e de desenvol- vimento de negócios visando a obtenção de financiamento é fundamental. A GoJames, empresa que promete “revolucionar a expe- riência de transporte” com motoristas parti- culares a partir de janeiro, está nessa etapa. Ao lado de um investidor-anjo, que além de aportar recursos dá aconselhamento e enca- minha a operação para seus passos futuros, o projeto conseguiu o primeiro financiamen- to em apenas seis meses. Mas o plano estra- tégico tem sido aperfeiçoado quase que dia- riamente rumo à implementação. “Apren- demos mais nestes poucos meses do que em um mestrado”, conta o francês Fabien Men- des, sócio da GoJames ao lado de Fernando Freitas e Edward Martins. O parceiro deste momento crucial é Cás- sio Spina, também o nome por trás da Anjos do Brasil, entidade de fomento deste mode- lo de financiamento que, segundo pesquisa recente da própria instituição, cresceu 18% em 2012, movimentando R$ 495 milhões. “Mas ainda falta abertura para o risco”, con- sidera Spina, que arrisca um possível moti- vo para esta postura defensiva: os anjos bra- sileiros podem ser obrigados a assumir passi- vos de empresas investidas nas quais eles não interferem administrativamente. Soma- se a isso o alto índice de empreendedores naïf, ou seja, que apegam a uma ideia dife- rente acreditando que a “inovação pela ino- vação” será suficiente. “Isso é um mito. Sa- ber como entrar e se movimentar no merca- do e comprovar a escalabilidade do negócio são itens mais importantes. É preciso um ou- tro nível de visão estratégica e empreende- dora”, diz Spina. Seu ponto de vista é uma unanimidade entre as fontes ouvidas pelo BRASIL ECONÔMICO: à parte do conservadoris- mo de investidores, ainda falta formação, in- formação e preparo para a postura empreen- dedora entre os jovens brasileiros. Os erros, ou os prejuízos, ainda são vistos como fra- casso e não como aprendizado. Segundo o coordenador do Comitê de Em- preendedorismo, Capital Semente e Inova- ção da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP), Robert Binder, o degrau seguinte das aventuras do financia- mento — o venture capital — é marcado pela análise de dois itens: a capacidade da solução atender à demanda gerada por uma possível expansão, e as características únicas da opera- ção capazes de ampliar as barreiras de entra- da para concorrentes. Outro filtro desta eta- pa é a usual especialização dos fundos de maior porte em setores da economia. TEXTOS ALISSON ÁVILA O desafio de obter orientação e recursos de investidores Binder, da ABVCAP: barreiras de entrada aos concorrentes são vantagens importantes A8 Brasil Econômico - MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS | Terça-feira, 18 de dezembro, 2012

Jornal Brasil Econômico: Financiamento de startups e a necessidade de planejamento

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Reportagem produzida para especial do jornal Brasil Econômico, publicada em 18/12/2012.

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Page 1: Jornal Brasil Econômico: Financiamento de startups e a necessidade de planejamento

oi graças à interferênciados chamados mento-res, que com sua expe-riência no negócio po-

dem aconselhar e apontar novospontos de atenção, que a Bid-Corp sustentou seu objetivo de“ter um negócio que resolva umproblema real”, segundo seu só-cio-fundador Arthur Rozenblit.

Os três negócios estão sob as

asas da 21212, aceleradora destartups digitais focada na pon-te entre o Brasil e os EstadosUnidos que aporta o capital (eo aconselhamento) inicial paraque o projeto decole. A própria21212 é uma operação recente,mas que reúne ex-empresáriosdo setor mobile. A força destetime gera eventos como o De-mo Day, onde as startups (sele-cionadas a partir de aproxima-damente 400 projetos) têmseus planos e modelos de negó-cio apresentados a investido-

res. “A oferta de crédito podeser pequena em relação a ou-tros países, mas está aumentan-do. Havia fila de possíveis in-vestidores curiosos para conhe-cer os projetos escolhidos”,conta o sócio-fundador Frede-rico Lacerda.

São colegas de atividade da21212 empresas como a Acelera-dora.net, a Mountain e a própriaAnjos do Brasil. Tratam-se de or-ganismos essenciais para esteecossistema, pois aceitam o riscoe mesmo o erro. Considerando

que startups e microempresassão muitas vezes o primeiro negó-cio de uma pessoa, o que aconte-ce não só pela oportunidade denegócio mas também pela per-cepção de autonomia, é com-preensível a inconsistência de al-guns itens da análise de mercadoe estratégia. Por isso a importân-cia do “smart money”, que alémdo dinheiro também oferece co-nhecimento aplicado ao negócioe, invariavelmente, uma rede decontatos. Este apoio torna-se es-sencial na implementação, pois é

grande a chance de o empreende-dor ver-se obrigado a desviar ofoco do desenvolvimento do pro-duto, onde é especialista, para ou-tras atribuições que não domina.

“É comum que os planos des-ta fase batam na trave. Eles cos-tumam apresentar uma carên-cia de fórmulas que transfor-mem produto em valor, de mé-tricas que comprovem sua efi-ciência ou e estudos que com-provem a demanda”, pontua ofundador da Aceleradora.net,Yuri Gitahy.

Conhecimento e rede de contatos apoiam projetosMentores dão aconselhamentoe apontam novos pontos deatenção para viabilizar negócios

Divulgação

Inovação pelainovação não basta.Saber como entrare se movimentarno mercado ecomprovar aescalabilidade donegócio são itensmais importantes.É preciso umoutro nível devisão estratégicae empreendedora

Cássio SpinaFundador e líder da

Anjos do Brasil

Opercentualdestartupsquerecebemapoiooscilaentre 3%e8%,enquantoapenas1% dos projetosem busca de venture capital obtém sucesso na empreitada

É comum que osplanos de iníciobatam na trave.Eles costumamapresentarcarência defórmulas quetransformemproduto em valor,de métricas quecomprovemsua eficiênciaou de estudosque comprovema demanda

Yuri GitahyFundador da Aceleradora.net

EMPREENDEDORISMO

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universo das startups, bem comodas pequenas e médias empresas(PMEs) e seus financiadores, viveanos de efervescência neste come-

ço de década, não só em países onde o mode-lo está mais maduro e definido (sobretudo Es-tados Unidos e extremo Oriente), como tam-bém nos países em desenvolvimento, como oBrasil, que corre atrás do tempo perdido. So-bram exemplos em todos os continentes deprojetos inovadores, escaláveis e com poten-cial internacional. Porém, o percentual destartups que recebem apoio oscila dos 3% aos8%, enquanto apenas 1% dos projetos embusca de venture capital o obtém. E, na outraponta, somente uma fração decimal das em-presas que alcançaram o médio porte lançam-se à aventura da abertura de capital.

Embora representem 50% dos empregosdo G20, estas companhias recebem apenas

6% do investimento direcionado aos 20 paí-ses mais ricos, segundo o recente estudoFunding the Future promovido pela Ernst &Young. Com um detalhe: a maior parte des-te montante ainda provém de empréstimosbancários, e não de investidores-anjo, seedou venture capital.

É por conta deste cenário que o planeja-mento estratégico de modelo e de desenvol-vimento de negócios visando a obtenção definanciamento é fundamental. A GoJames,empresa que promete “revolucionar a expe-riência de transporte” com motoristas parti-culares a partir de janeiro, está nessa etapa.Ao lado de um investidor-anjo, que além deaportar recursos dá aconselhamento e enca-minha a operação para seus passos futuros,o projeto conseguiu o primeiro financiamen-to em apenas seis meses. Mas o plano estra-tégico tem sido aperfeiçoado quase que dia-

riamente rumo à implementação. “Apren-demos mais nestes poucos meses do que emum mestrado”, conta o francês Fabien Men-des, sócio da GoJames ao lado de FernandoFreitas e Edward Martins.

O parceiro deste momento crucial é Cás-sio Spina, também o nome por trás da Anjosdo Brasil, entidade de fomento deste mode-lo de financiamento que, segundo pesquisarecente da própria instituição, cresceu 18%em 2012, movimentando R$ 495 milhões.“Mas ainda falta abertura para o risco”, con-sidera Spina, que arrisca um possível moti-vo para esta postura defensiva: os anjos bra-sileiros podem ser obrigados a assumir passi-vos de empresas investidas nas quais elesnão interferem administrativamente. Soma-se a isso o alto índice de empreendedoresnaïf, ou seja, que apegam a uma ideia dife-rente acreditando que a “inovação pela ino-vação” será suficiente. “Isso é um mito. Sa-ber como entrar e se movimentar no merca-do e comprovar a escalabilidade do negóciosão itens mais importantes. É preciso um ou-tro nível de visão estratégica e empreende-dora”, diz Spina. Seu ponto de vista é umaunanimidade entre as fontes ouvidas peloBRASIL ECONÔMICO: à parte do conservadoris-mo de investidores, ainda falta formação, in-formação e preparo para a postura empreen-dedora entre os jovens brasileiros. Os erros,ou os prejuízos, ainda são vistos como fra-casso e não como aprendizado.

Segundo o coordenador do Comitê de Em-preendedorismo, Capital Semente e Inova-ção da Associação Brasileira de Private Equity& Venture Capital (ABVCAP), Robert Binder,o degrau seguinte das aventuras do financia-mento — o venture capital — é marcado pelaanálise de dois itens: a capacidade da soluçãoatender à demanda gerada por uma possívelexpansão, e as características únicas da opera-ção capazes de ampliar as barreiras de entra-da para concorrentes. Outro filtro desta eta-pa é a usual especialização dos fundos demaior porte em setores da economia.

TEXTOS ALISSON ÁVILA

O desafio de obter orientaçãoe recursos de investidores

Binder,daABVCAP:barreirasdeentrada aosconcorrentessãovantagens importantes

A8 Brasil Econômico - MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS | Terça-feira, 18 de dezembro, 2012