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Nº 10 | Setembro de 2009 Seminário internacional unifica atingidos por modelo de desenvolvimento Resistência do povo contra as barragens: 20 anos de luta no Vale do Ribeira (SP) A construção de barragens aumenta a violência no campo Página 2 Página 6 Página 7 Marcha na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, durante o Acampamento Nacional Foto: João Zinclar

Jornal do MAB | Nº 10 | Setembro de 2009

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Nº 10 | Setembro de 2009

Seminário internacional unifica atingidos por modelode desenvolvimento

Resistência do povo contra as barragens: 20 anos de luta no Vale do Ribeira (SP)

A construção de barragens aumenta a violênciano campo

Página 2 Página 6 Página 7

Marcha na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, durante o Acampamento Nacional

Lula reconhece dívida histórica do Estado com

os atingidos por barragens

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EDITORIAL

www.mabnacional.org.br

Jornal do MABExpEdiEntE

Uma publicação do Movimento dos Atingidos por BarragensProdução: Setor de Comunicação do MAB

Projeto Gráfico: MDA Comunicação IntegradaTiragem: 5.000 exemplares

O trem enferrujado,será que vai andar?

Seminário internacionalunifica atingidos por

modelo de desenvolvimento

Em meados de julho, o MAB e o Núcleo de Direitos Humanos da Fase organizaram, no Rio de Janeiro, um seminário histórico para a luta

dos trabalhadores: o Seminário Internacional dos Atin-gidos, que reuniu atingidos por barragens, mineradoras, extração de petróleo e gás, os atingidos pela transposição do Rio São Francisco, atingidos pela usina nuclear de Angra dos Reis, quilombolas e pescadores, entre outros. O seminário teve a participação de 47 entidades de seis países com o objetivo de debater e traçar estratégias de ação frente ao atual modelo de desenvolvimento que ex-propria os trabalhadores de suas terras, privatiza a água, a energia, o petróleo e todos os recursos naturais.

Pelos depoimentos, foi possível verificar que o que acontece com os atingidos por barragens, acontece também com os demais atingidos por grandes obras de infraestrutura em toda a América Latina. “A ação do capital contra os trabalhadores obedece a mesma cartilha no Brasil e em diversos países. É necessário que neste momento de crise, quando são os trabalhadores quem mais sofrem perdas, fortaleçamos a unidade e pautemos outro modelo de desenvolvimento onde as populações sejam respeitadas em seus locais de trabalho e de mo-radia”, disseram os representantes da Fase.

No final do seminário foi elaborado um documen-to, no qual os participantes criticam o atual modelo de desenvolvimento da América Latina, monopolizado principalmente pelo capital financeiro, pela metalurgia, pelas empresas de energia e do agronegócio e pelas construtoras. “Questionamos este modelo que privilegia a concentração do capital e a apropriação dos recursos estratégicos nas mãos de poucos. O mais importante deste seminário foi perceber que a violação dos direitos e a expropriação de nossas formas de vida nos identificam como atingidos pelo mesmo modelo de desenvolvimen-to capitalista. As corporações transnacionais e grandes grupos empresariais nacionais são os principais respon-sáveis pela miséria do povo e pela destruição ambiental”, afirmaram os coordenadores do seminário.

Você já tentou fazer andar um trem enferrujado? Não é fácil. O trem é pesado, e como criou ferrugem fica ainda mais pesado. Assim que

vemos o trem dos direitos dos atingidos no atual mo-mento da história do Brasil, é um trem enferrujado.

Mas somos otimistas, o trem pode andar. Vejam porque achamos isso.

Primeiro motivoO povo está mais ativo e se mobilizando (estes

sim podem colocar rapidamente o óleo necessário e, se for o caso, até empurrar o trem para ele andar). Foi assim que aconteceram inúmeras lutas pelo Bra-sil neste mês de agosto - por reforma agrária, pelos direitos dos atingidos, pela redução da jornada de trabalho, para que o petróleo seja nosso, pelo direito das mulheres, para baixar o preço da luz e tantos outros motivos justos que nosso povo tem para lutar. As mobilizações foram boas, mas para o trem andar teremos que fazer muito mais força, e lubrificar ainda mais esta máquina pesada.

Segundo motivoAlguns já reconhecem que o trem está enferrujado

e foi assim com o presidente Lula ao admitir, depois de quase sete anos de governo, que o Estado Brasileiro tem muitas dívidas com os atingidos por barragens. E é ver-dade. Tem muita gente revoltada com o progresso que nunca chega, com o dinheiro público e o lucro indo só pras multinacionais e nós sendo expulsos das terras e pagando a conta. E tinha gente nos ministérios que dizia que estava tudo resolvido, que não tinha problema. Êta ferrugem! E foi bem interessante ver que depois deste recado do pre-sidente muita coisa que não andava há tempo passou a ser azeitada de novo e parece que vai andar.

Nosso sonho é que os direitos dos atingidos an-dem na velocidade do trem bala e que a ferrugem fique para quem explora o povo e destrói a natureza.

Boa leitura!Coordenação Nacional do MAB

O seminário teve a participação de 47 entidades de seis países

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Lula admite: o Estado Brasileiro tem dívida com os atingidos por barragens

O Movimento dos Atingidos por Barragens está tendo bons motivos para come-

morar ultimamente. Depois de anos de luta e pressão por parte do MAB, finalmente um presidente da repúbli-ca admitiu que o Estado Brasileiro tem dívidas históricas com os atin-gidos por barragens no Brasil.

O presidente Lula, em discur-so, disse que durante muito tempo se construiu hidrelétricas no país sem que os atingidos recebessem indenizações e reassentamentos. Lula afirmou ainda que não quer deixar o governo sem pagar essa dívida. “Esse (o MAB) é um mo-vimento que eu pedi para o compa-nheiro Dulci conversar e ver qual é a dívida que o Estado Brasileiro tem com eles, porque certamen-te nós temos dívidas com eles. Durante muito tempo se construiu hidrelétricas, se prometia dar casas, e não veio as casas e não veio as terras”, reconheceu o presidente.

Por causa dessas declarações, o ministro Luiz Dulci convocou uma série de reuniões para negociar a pauta do MAB. A coordenação nacional do Movimento entende este gesto como uma porta aberta para resolver problemas históricos das famílias atingidas em todo o Brasil. “Nós fomos bem recebidos nos ministérios em que estivemos reunidos e todos reconheceram as dívidas com os atingidos. Porém, ainda estamos esperando resulta-dos concretos das nossas reuniões com o governo”, afirmaram.

O MAB espera também que a negociação não se resuma

apenas em reparar os danos do pas-sado, e sim que ela evolua para a criação de uma política social de tratamento às po-pulações atingi-das. No Brasi l , não há uma legis-lação que assegure e estabeleça quais são os direitos dos atingidos por bar-ragens, nem há um órgão público encarregado de realizar as indenizações e reassentamentos. Sendo assim, há muitos casos de indenizações injustas e de desrespeito aos di-reitos humanos no processo de instalação de uma barragem.

“Em todos os estados os atin-gidos ficam a mercê das empresas donas da barragem, que estão in-teressadas somente no lucro e não nos direitos humanos. Não pode-mos deixar esta situação continuar. É por isso que nós não queremos somente resolver os problemas do passado, e sim criar uma nova política”, afirmou a coordenação nacional do MAB.

Acampamento NacionalUma das ações que impulsio-

nou as negociações dos movimentos sociais com o governo foi o Acam-pamento Nacional de Luta Pela Re-forma Agrária, em Brasília, do qual participaram mais de 200 atingidos por

barragens de Minas Gerais, Tocantins e Goiás.

Durante o acampa-mento, o MAB protocolou uma carta ao presidente Lula e ao ministro Luiz Dulci, propondo a criação de uma Comissão que possa elaborar diretrizes e critérios a serem adotados nas obras do setor elétrico nacional, em especial na construção de barragens. Ou seja, que se crie essa nova política social. O Movimento ainda

não recebeu uma resposta positiva em relação a esta proposta.

Na proposta do MAB, algumas questões centrais devem ser objeto de estudo da Comissão: estabelecer o conceito de atingido; estabelecer quais são os direitos dos atingidos e as formas de garantir esses direitos; e que se realize um amplo levanta-mento dos problemas sociais e am-bientais das obras construídas.

Acampamento Nacional de Luta Pela Reforma Agrária, em Brasília

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O acampamento contou com a participação de mais de 200 atingidos por barragens de Minas Gerais, Tocantins e Goiás.

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Atingidos por barragens:

De 10 a 14 de agosto os trabalhadores e trabalha-doras do Brasil fizeram

manifestações contra a crise e as demissões, pela manutenção dos direitos e pela sua ampliação. Os movimentos sociais da Via Cam-pesina também se mobilizaram por Reforma Agrária e por uma política agrícola voltada aos camponeses. O MAB esteve em luta fazendo ações em di-versos estados reivindicando os direitos dos atingidos, a redução do preço da energia elétrica e a aplicação da Tarifa Social de energia. Historica-mente, a luta conjunta é que fortalece a possibilidade de ganhos políticos e foi nesse sentido que trabalhadores do campo e da cidade se uniram.

Além da luta pelos direi-tos, o grande questionamen-to do MAB nesta jornada foi sobre a construção de novas barragens num período em que o consumo de energia, principalmente pelas indús-trias, sofreu uma queda acen-tuada. Para os próximos anos, estaria sobrando o equivalen-te à geração das barragens de Jirau e Santo Antônio juntas. Mesmo assim, as empresas continuam construindo usinas hidrelétricas.

Vitória dos trabalhadores no Ceará

Os atingidos pelas barragens do Ceará fizeram manifestações em Fortaleza ocupando a Secre-taria de Desenvolvimento Agrário e a distribuidora de energia do estado, a Coelce.

Jornada Nacional de Lutas - de 10 a 14 de agosto

Na Secretaria, depois de três dias acampados, saíram com o compromisso do INCRA e do governo estadual em fazer o ca-dastramento das famílias sem terra das barragens de Castanhão, Fi-gueiredo e Aracoiaba. Também foi organizada uma comissão que fará

o levantamento das demandas e iniciará a reestruturação das condi-ções sociais das famílias atingidas pela barragem de Castanhão, que exigem acesso à água e cisternas de placas, entre outros. Também ficou definido que a Secretaria de Recursos Hídricos acompanhará a pauta dos atingidos pela barragem de Aracoiaba.

Já na Coelce, o protesto do dia 14 forçou um canal de ne-gociações que se abriu entre os manifestantes e a distribuidora de energia. A Coelce reconheceu a existência da Tarifa Social de Energia e afirmou que não aplicava a lei aos usuários que consomem até 140 Kw/h mês, o limite de con-sumo do estado para se enquadrar no direito.O sucesso da ação foi a preparação da luta com antecedên-cia nos bairros e vilas da cidade e a unidade entre os movimentos e entidades urbanos e camponeses. Como encaminhamento da nego-ciação, as partes acertaram que a Coelce vai divulgar a Tarifa Social nas contas de energia e em canais

de comunicação. “Por outro lado, as entidades e movimentos sociais vão continuar organizando o povo para a entrega de autodeclarações coletivas na distribuidora, que se comprometeu em aplicar a lei”, afirmou um dos coordenadores do MAB no Ceará.

Na região sul:atingidos querem o BNDES ajudando o povo

Centenas de agricultores de vários movimentos sociais mon-taram acampamento em Pinhal da Serra, no Rio Grande do Sul, próximo da Usina Hidrelétrica de Barra Grande. Eles debateram sobre os direitos da população e pressionaram para o encaminha-mento das reivindicações como o direito à água, luz e tarifa social; defesa, preservação e recupera-ção do meio ambiente; perdão da dívida aos pequenos agricultores e crédito especial para a produção de alimentos.

Pinhal da Serra - RS

Além disso, debateram sobre as barragens e o financiamento do BNDES. Na região, o banco colo-cou mais de 5 bilhões de reais para construir usinas, além disso, só em 2007, as sete barragens da região faturaram quase 6 bilhões de reais. “Isso tudo vai para empresas como Tractebel, Engevix, Alcoa, CBA e outras. Nós não concordamos com

Fortaleza - CE

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só a luta faz valer!isso, acampamos e discutimos que parte desse dinheiro deveria ser investido na melhoria de vida da população”, afirmaram os coorde-nadores do MAB.

No último dia do acampa-mento, os atingidos marcharam até a usina de Barra Grande e de-nunciaram que as empresas donas das barragens promovem fraudes nos estudos de impacto ambiental para garantir licenças e autoriza-ção dos órgãos ambientais, como foi o caso de Barra Grande, que teve o EIA/Rima fraudado para ser construída.

Também no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, os atin-gidos e demais movimentos e organizações sociais se mobili-zaram no Ministério da fazenda e no INCRA.

Atingidos por barragens de Rondônia acampam em frente à obrade Santo Antônio

Durante a jornada de lutas, as famílias atingidas pelas usinas de Jirau, Santo Antônio e Samuel montaram um acampamento pró-ximo às obras da barragem de

Santo Antônio. Além dos estudos sobre a construção de barragens na Amazônia, eles marcharam até o canteiro de obras. “Nós

demarcamos nosso território fazendo mais esse acampamen-to. Demonstramos que estamos dispostos à luta para garantir os reassentamentos, a reestruturação das comunidades e o reconheci-mento dos pescadores, indígenas e garimpeiros como atingidos por barragens”, afirmou uma das coordenadoras do MAB.

No entanto, além de de-clarar que não deve nada aos atingidos, a empresa Odebrecht, recorreu a Polícia Militar que levou até o acampamento uma liminar de interdito proibitó-rio, proibindo os atingidos de bloquear a entrada do canteiro de obras. Os atingidos não se intimidaram e no último dia de acampamento, marcharam até a Ceron, distribuidora de energia do Estado, onde entregaram de-zenas de autoclarações exigindo a Tarifa Social de Energia.

Em Estreito, acampamento pelos direitos dos atingidos

Centenas de pessoas estão acampadas (até o fechamento desta edição, em 28 de agosto) em frente à Usina Hidrelétrica de Estreito desde o dia 21 de julho. Elas exigem que as em-presas Camargo Corrêa, Alcoa, Vale e a Suez-Tractebel, donas da barragem, reconheçam os pescadores, meeiros e indígenas como atingidos por barragens e solucionem os problemas causa-dos pela obra.

Entre outros pontos, os atingidos reivindicam a defi-nição dos parques aquícolas para criação de peixe em tan-ques redes, a construção de um atracadouro com infra-estrutura

para processamento e armaze-namento dos peixes, definição coletiva dos critérios para as indenizações. Como uma das principais reivindicações é a dos pescadores, no dia 18 de agosto, aconteceu uma reunião com a presença de aproximadamente 2000 atingidos, e representantes do representantes do Ministério da Pesca e Aqüicultura.

Como encaminhamento, en-tre outros avanços, definiu-se que se iniciará o levantamento das demandas da pesca artesanal, impactos e conseqüências na vida dos pescadores (as) e comunidades atingidas, através de um processo de monitoramento sócio econô-mico e dos recursos pesqueiros avaliando os impactos no desen-volvimento regional da pesca e aqüicultura.

Protesto em Rondônia

A construção das barragens é feita,

principalmente, por empresas

eletro intensivas multinacionais, que declararam falência

nos países centrais e se instalam em países

como o Brasil,que tem energia

subsidiada e muitos recursos naturais.

Mobilização em Estreito

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Resistência do povocontra as barragens

20 anos de luta no Vale do Ribeira, em São Paulo

Centenas de pessoas, inte-grantes de várias organizações, entre elas o MOAB e a Via Campesina, realizaram a mani-festação num dos pedágios da Rodovia Régis Bittencourt. Eles protestaram contra a construção das barragens no rio Ribeira do Iguape, pleiteadas desde a década de 80 pela Companhia Brasileira de Alumínio, empresa do grupo Votorantim.

“Estamos lutando contra tudo aquilo que está destruindo o nosso rio, a nossa vegetação.

A Votorantim consome cerca de 4% de toda a energia elétrica produzida no país, o que corres-ponde ao consumo de energia de um estado como Pernambuco, com 8 milhões de habitantes. A energia consumida é utilizada na produção de minérios e celulose, em sua grande maioria voltado para a exportação e nós não dei-xaremos que nos roubem nossas terras, nossos bens, para o acú-mulo de capital dessa empresa”, afirmam as lideranças.

No sul, técnicos das empresas são expulsos

Em Santa Catarina, os atin-gidos pela usina de Itapiranga realizaram um encontro e um ato público contra a construção da barragem. Segundo a coorde-nação do MAB, os agricultores querem continuar com o direito de escolher sobre o seu futuro. “Nossa luta é pelo cancelamen-to definitivo da barragem, nós queremos que o governo realize investimentos para desenvolver nossa região sem essa obra”.

No dia anterior ao encon-tro, os atingidos expulsaram seis técnicos da barragem que faziam as medições. Há anos, os agricultores resistem à cons-trução da usina de Itapiranga. Esta prática foi bastante usada contra a construção da barra-gem de Machadinho, também na região sul.

Também em Santa Catarina aconteceu um ato no dia 14 em frente à empresa Sadia, que de-mitiu dezenas de trabalhadores no último período. Depois, os manifestantes marcharam rumo à sede do Consórcio Foz do Cha-pecó, construtor da Hidrelétrica de Foz de Chapecó.

Atingidos por barragens e atingidos pela mineração protestam em Minas Gerais

Centenas de famílias atingidas por mineradoras e atingidas por barragens, juntamente com sindicatos e Assembléia Popular trancaram a BR 040 para alertar a sociedade para os problemas que as grandes empresas multinacionais, donas de mineradoras e barragens, trazem à região. O trancamento ocorreu após um encontro onde debateram os impactos que empresas como Vale, CSN, Sumitomo e Valorec, vêm causando em toda a região do Alto Paraopeba.

“Bairros inteiros vão desaparecer com a ex-pansão dessas empresas mineradoras e o governo do estado de Minas é conivente com isso”, disseram os coordenadores do ato.

Campo e cidade protestam em Salvador

No dia 14, atingidos por barragens e centenas de manifestantes protestaram em frente ao Banco Central e pelas ruas de Salvador contra a crise mun-dial, o alto preço da energia e por reforma agrária. Eles criticaram a posição do Governo Federal, que injetou bilhões de reais na economia para salvar os bancos privados e montadoras, enquanto que as demissões continuam aumentando.

No vale do Rio São Francisco a campanha contra os altos preços da energia também se fortaleceu nesta jornada. Em Petrolina/PE, atingidos por barragens, mo-vimentos sociais e entidades urbanas fizeram uma grande mobilização nos bairros e vilas esclarecendo sobre a Tarifa Social de Energia e recolhendo autodeclarações.

Jornada Nacional de Lutas - de 10 a 14 de agosto

Vale do Ribeira

Marcha em Itapiranga

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A construção de barragensaumenta a violência no campo

Recentemente, a luta dos atingidos por barragens que reivindicam a terra

teve mais um episódio de vio-lência. Odilon Bernardo da Silva, atingido pela barragem de Acauã e integrante do MAB, foi assas-sinado com tiros de espingarda, em frente a sua casa, no municí-pio de Aroeiras, na Paraíba. Este caso não é isolado e as lideranças sofrem constantes ameaças de morte na região.

Na Paraíba, os atingidos estiveram acampados na fazen-da Mascadi, no município de Itatuba. Eles reivindicavam a revisão das indenizações pagas e terra para garantir o modo de vida que possuíam anteriormen-te à barragem. Exatamente dois meses depois do início do acam-pamento, as 120 famílias acam-padas na Fazenda receberam da justiça a ordem de despejo e reintegração de posse. A ação de desocupação foi acompanhada por cerca de 100 policiais da Polícia de Choque.

Outra região cujos militantes vêm sofrendo ameaças de morte é no Pará. Os atingidos pela barra-gem de Tucuruí alertam a socieda-de para o fato: “Essas ameaças têm vindo de setores ligados aos grandes interesses econômicos da região, principalmente os da grilagem de terras, do agronegócio, da indústria do carvão e da indústria ma-deireira, que em sua maioria, desen-volvem atividades ilegais, causando a destruição da Amazônia”.

Poesia escrita em homenagem a Odilon Bernardo da Silva

Os rios correrão Atingiram-te.Atingiram-te covardemente Arrancaram-te do lugaronde sempre vivesteDe lá guardavas lindas lembranças,a infância livre em meios a roçados e banhos de rio,os primeiro namoros,o casamento e nascimentode teus filhos. Atingiram-te.Atingiram-te covardemente Inundaram teu passadoAfogaram tua existênciaBarraram tua felicidadee a dos teus pequenos e velhos. Atingiram-te.Atingiram-te covardemente Atingiram-te com as águas de AcauãAtingiram-te com a pobrezaque te deixaramAtingira-te sumariamentecinco vezes pelas costas Atingiram-te companheiroMas teu sangue derramadoainda corre em nossas veias E para aquelesque tantas vezes te atingiramAs lutas do teu povo os renderãoAos teus inimigos libertaremos Como nossa libertação E só assim tuas crianças correrão,juntas com as demais,livres e purascomo rios sem represasnem barragens.

Paula Adissi,Militante da Consulta Popular da Paraíba

Os atingidos estão preocu-pados com a situação de conflito instalada em Tucuruí e requerem dos órgãos competentes uma in-tervenção rápida, buscando evitar crimes e garantindo a integridade das lideranças que fazem a defesa dos direitos das famílias cam-ponesas contra a ação ilegal de grupos econômicos.

As ameaças de morte que as lideranças estão sofrendo nas duas regiões foram registradas e os atingidos aguardam a apuração dos fatos. Segundo lideranças do MAB, é preciso que os órgãos competentes façam uma inves-tigação séria sobre esses crimes e que se tome uma postura para combatê-los. “Caso contrário, es-taremos sempre convivendo com essa triste realidade de violência no campo”, afirmaram.

Tanto na Paraíba, como em Tucuruí, entidades de defesa dos direitos humanos estão intervin-do para apuração dos fatos e para impedir que novos casos acon-teçam. A situação em Tucuruí se agravou depois que 18 atingidos foram presos, sendo que quatro deles ficaram presos por 44 dias, por motivos políticos.

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A soberania da Colômbiae de Honduras está em risco

7 de setembro: Grito dos Excluídos

Excluídos?

Vida em primeiro lugar: A força da transformação está na organização popular. Com este lema, O Grito dos Excluídos, em sua 15.ª edição, traz para as ruas a indignação dos trabalhadores contra a crise econômica, o desemprego e as ameaças aos direitos trabalhistas e sociais, contra a corrupção e a impunidade, e denuncia a criminalização dos movimentos sociais. Participe!

Já se passaram mais de dois meses e a situação em Hon-duras, na América Central,

continua instável. A conspiração da direita naquele país, com o apoio do governo dos Estados Unidos, levou ao seqüestro do presidente Manuel Zelaya no final de junho. A maioria dos países repudiou o golpe de estado e nenhum reco-nheceu o governo golpista de di-reita. A população deflagrou greve geral, saiu em defesa da soberania nacional e foi duramente punida pela repressão, principalmente

os camponeses, que somavam grande força no país.

O que aconteceu em Hon-duras recebeu uma roupagem diferente na Colômbia. Se lá a tomada do poder pela direita foi à força, na Colômbia a instala-ção de sete bases militares dos Estados Unidos teve o consenti-mento do governo daquele país, que faz divisa com a Amazônia Brasileira. Portanto, a guerra às drogas pode estar sendo uti-lizada para esconder e camuflar interesses geoestratégicos, geo-

políticos e geoeconômicos em nosso território.

“Estes fatos não são pontuais nem isolados”, dizem os espe-cialistas. A América Latina vive momentos de intensa mobilização social e eleição de presidentes de esquerda como Lugo, no Paraguai; Evo Morales, na Bolívia; Chaves na Venezuela. Vale lembrar que golpes de estado e a ofensiva es-tadunidense também aconteceram na América Latina depois de 1960, quando vivíamos um forte proces-so de organização popular.

Sabe aquele mendigo: cego, trêmulo, em farrapos,aos gritos, na Rodoviária de Manhuaçu?Somado a milhares de outros, em qualquer lugar do Mundo [“Desafortunados da vida, fazer o quê”!?],descarregam a consciência de muita gente que crê: Na assistência de uma cesta, menos que básica;Na caridade de uma fé, mais que falsa;Na vulgaridade da vida, que anda parca;Numa miséria doída, para quem a morte é descaso,no completo anonimato. Mesmo no túmulo, o defunto pobre vira pesquisa,número, projeto, que aquece os negócios, por certo,e se torna discurso inflamado na boca do político safado,que fala bem – e muito! - do coitado.E a morte de mais um mendigo [feito ferida antiga: se curada, perde o seu sentido!] alimenta a vida pobrede outro e mais outro – centenas - que vivem carentese morrerão como indigentes.

Sabe aquele menino: pobre, pançudo, magro,de olhos esbugalhados, lá de Santa Efigênia?Aquele fiozinho de vida, quase um fazer de conta,faz pose, vira retrato, fica bem na ‘bela’ foto: Sem nomeCara de fomeEm pele e osso [Quanto pior, melhor!].Sua sombra gira mundo, arrecada milhões,

talvez, engorda ONGs:Que montam projetosQue aninham algumas centenas de técnicosParasitas: bem alimentados com a imagem famintado menino pobre.

Sabe aquele trabalhador que, após as férias-prêmio,foi demitido da Vale e virou desempregado?Aquele operário que alimentou com pranto e dora gula do Capital,agora se junta às vítimas do desemprego estrutural[Ou circunstancial] e continua movendo a acumulação desmedida.Em nome do desemprego:Pressiona-se o operárioReduzem-se os direitosMingua o salário.

O mendigo em traposA criança barrigudaO operário no olho da ruaSupostamente excluídosFuncionam como excedentes: ‘Exército de reserva’De um sistema inconseqüente.

Antonio Claret FernandesMilitante do MAB Minas Gerais