12
Nº 11 | Novembro de 2009 Empresas cobram R$ 7bi a mais nas contas de luz O apagão do setor elétrico Belo Monte de problemas Página 6 Página 7 Página 10 Foto: João Zinclair Sérios problemas no atual modelo energético brasileiro

Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal do MAB

Citation preview

Page 1: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 2009 1

Nº 11 | Novembro de 2009

Empresas cobram R$ 7bia mais nas contas de luz

O apagão dosetor elétrico

Belo Montede problemas

Página 6 Página 7 Página 10

Apagão, cobranças irregulares e violações dos direitos humanos

Foto

: Joã

o Zi

ncla

ir

Sérios problemas no atualmodelo energético brasileiro

Page 2: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 20092

EDITORIAL

www.mabnacional.org.br

Jornal do MABExpEdiEntE

Uma publicação do Movimento dos Atingidos por BarragensProdução: Setor de Comunicação do MAB

Projeto Gráfico: MDA Comunicação IntegradaTiragem: 5.000 exemplares

Erros?Organização dos atingidos

por barragens garanteliberação de crédito para

produção de alimentosem reassentamentos

Os agricultores atingidos pela Barragem de Barra Grande tem mais um motivo para comemorar. A pouco tempo foi liberado o projeto de Pronaf A para as primeiras famílias de atingidos por

barragens organizadas no MAB, no Rio Grande do Sul.

Por enquanto os benefi-ciados são os camponeses do reassentamento São Francisco, no município de Esmeralda, norte do Estado. Os projetos aprovados serão para as famí-lias fazerem investimentos na área de produção de leite, frutas e outros alimentos.

“Esta é uma reivindicação antiga do Movimento dos Atingidos por Barragens. Queremos que todos os reassentados organizados te-nham acesso ao Pronaf A. Nada mais justo do que este incentivo para produzirmos comida, mas temos consciência de que foi pela nossa organização que conseguimos este recurso”, disse uma das coordena-doras do Movimento dos Atingidos por Barragens.

Cada família poderá acessar o valor máximo de R$ 21.500 reais, sendo que deste total R$ 1.500 reais é destinado para a assistência técnica, a qual será organi-zada pelos próprios atingi-dos. Ao todo serão cerca de 1400 famílias que estão em processo de cadastramento e aprovação de projetos em todo o estado do Rio Gran-

de do Sul e 415 famílias reassentadas no estado de Santa Catarina.

“A princípio, a proposta é produzir os alimentos, mas ao longo do tempo temos que pensar no proces-so de industrialização, para agregar valor ao nosso produto”, finalizou ela.

Ao chegarmos neste fi-nal de 2009 percebemos que a cada dia são noticiados “erros” de empresas e políticas de go-verno. É interessante ver que os “erros” são sempre contra os trabalhadores e favoráveis às grandes empresas:

- São “erros” de empresas flagradas com uso de trabalho escravo;

- São “erros” que violam os direitos humanos dos atingidos por bar-ragens;

- São “erros” que cobram preços absurdos nas ta-rifas de energia.

Constatar que esses “erros” tem sempre pou-cos previlegiados e muitos prejudicados nos indica que não são simplesmente “erros”. Corrigí-los já é um bom caminho, porem se não mudarmos essa lógica de nossa sociedade eles serão cada vez maiores. A ação do povo organizado é, sem dúvida, a melhor forma de, muito mais do que corrigir-mos esses “erros”, mudar o rumo e a lógica da atual sociedade.

Boa luta aos atingidos por barragens em 2010!

Boa leitura.Coordenação nacional

do MAB

Produção de hortaliças nos reassentamentos do MAB

Page 3: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 2009 3

Usina de Baguarí, no leste de MG,é inaugurada sem licença de operaçãoA barragem de Baguari foi inaugurada no final de outubro, em Minas Gerais, mesmo com uma série de pendências.

Esta é a primeira usina do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) a ser

inaugurada. Foi construída pelas

No sudoeste do Paraná há pelo menos doze projetos de barragens no Rio Cho-

pim. Se construídas, estas barragens expulsarão milhares de famílias de suas terras. Duas delas, projetadas para os municípios de Clevelândia e Honório Serpa, já encontram-se na fase de elaboração do Estudo de Impacto Ambiental.

Em outubro, cerca de 500 agri-cultores atingidos pelas barragens, representantes da Comissão de Meio Ambiente, da Comissão de Acom-panhamento dos Aproveitamentos Hidroenergéticos e da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislati-va do Estado do Paraná, além de pre-feitos da região, Promotoria Pública Estadual, INCRA, entidades parceiras e membros da sociedade civil da re-gião estiveram reunidos para debater sobre a construção das barragens.

empresas Neonergia, Cemig e Fur-nas e possui uma série de pendências referentes à legislação ambiental e às condicionantes necessárias.

Um dos principais problemas é o fato de que a obra foi inaugurada sem a licença de operação, liberada pelo Conselho de Política Ambiental do estado, o Copam. Além disso, o lago foi represado sem a retirada da vegetação. Os atingidos pela barragem também denunciam que diversas famí-lias ainda estão em área de risco; que o consórcio não concluiu acordo firmado com parceiros e meeiros; e que dezenas de agricultores e demais trabalhadores não foram indenizados. Por isso várias famílias estão às margens da BR 381 e não foram reassentadas.

Durante o ato de inauguração, os atingidos pela barragem entregaram à Secretaria Geral da Presidência uma

carta onde apresentaram uma pauta de reivindicações cobrando, entre outras coisas, que o Presidente Lula cumpra a promessade que ele não irá sair do go-verno sem pagar a dívida que o Estado brasileiro tem com os atingidos.

O MAB entende que é uma afronta ao povo atingido inaugurar uma barragem com tantas pendências ambientais e sociais: ‘É uma incoe-rência do Governo Federal dizer que reconhece a dívida com a população atingida, como fez no mês de julho em Brasília, e agora inaugurar uma barragem que vai aumentar ainda mais a dívida social’, afirmam os militantes do movimento. A constru-ção da usina de Baguari custou R$ 584 milhões, 70% dos quais foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os atingidos denunciaram ao Ministério Público que a empresa Gerdau, que construirá as barragens, não quer indenizar todos os atingidos e não está divulgando as audiências públicas previstas para o próximo período. “Eles fazem a audiência sem a nossa presença e saem dizendo que a população está totalmente de acor-do. Nós não concordamos com isso”, afirmaram os atingidos.

Durante o encontro os atin-gidos elaboraram um documento onde afirmam que, com as barragens no Rio Chopin, a histórica e atual função social do rio será substituída pela lógica privatista, concentradora e excludente das grandes empre-sas. “A Gerdau, uma das maiores produtoras de aço do Brasil, está interessada na energia dessas bar-ragens para suas indústrias. Seus diretores já afirmam que não reco-

nhecerão o direito de parceiros e de arrendatários para indenização, uma vez que essas famílias não pos-suem documento de posse da terra”,

comentou um dos coordenadores do Movimento no estado. Para o MAB, atingido é todo aquele que se sentir prejudicado pela construção da barragem, seja ele afetado ou não pelo lago da represa. O MAB afirma ainda que muita luta será or-ganizada na região para a garantia do direito de todos.

Barragens no Rio Chopim:agricultores exigem garantia de direitos

Ato dos atingidos na inauguração da usina

Page 4: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 20094

Em novembro a Usina Hidrelé-trica de Tucuruí completou 25 anos de violação aos direitos

dos povos atingidos. Desde a sua inauguração, a população sofre com a pobreza que se instalou na região e a contínua degradação das condições de vida dos atingidos.

A barragem que deslocou 32 mil famílias - segundo dados da Eletronorte, construtora da barragem - foi construída anterior-mente à lei que exige a realização de Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) antes da construção, o mesmo foi elabora-do simultaneamente às obras, sem quase nenhuma influência.

Segundo estudo do Instituto de Pesquisa da Amazônia (INPA), “a cortina de sigilo que a Eletronorte manteve sobre muitos aspectos do projeto de Tucuruí, impediu o en-tendimento de seus impactos” e as consequências sociais e ambientais da barragem foram, e continuam a ser, negativas e prejudiciais. Os atingidos denunciam que no período do enchimento do lago foi usado o desfolhante Agente Laranja e tam-bores com resíduos do produto ainda estão submersos, poluindo a água e ocasionando muitas doenças.

Acampados desde junho, os atingidos pela barragem de Estreito querem que todos

sejam reconhecidos e indenizados. Não estão sendo reconhecidos como atingidos os extrativistas, os bar-queiros, barraqueiros, vazanteiros, meeiros e arrendatários, entre outros. Segundo levantamento do MAB, são cerca de 2500 famílias nesta situação. A barragem está sendo construída no Rio Tocantins, na divisa entre os es-tados do Maranhão e Tocantins, pelas

Barragem de Tucuruí completa 25 anoscom grandes problemas sociais

Entre as conseqüências da barragem estão a perda de floresta, o deslocamento de povos indígenas e demais comunidades na área de inun-dação; o desaparecimento da pesca; a proliferação de mosquitos e os efeitos sobre a saúde devido à malária e a contaminação por mercúrio. Ainda,

segundo o INPA, hidrelétricas em áreas de florestas tropicais produzem emissões significativas de gases de efeito estufa. “Embora a incerteza sobre a quantia exata de gases emi-tidos, a magnitude das emissões é suficiente para que afete os níveis globais. Em 1990, Tucuruí teve um impacto sobre o efeito estufa maior que o combustível fóssil queimado pela cidade de São Paulo”.

empresas Tractebel-Suez, Vale do Rio Doce, Camargo Correa e Alcoa.

Cerca de 300 famílias assen-tadas pelo INCRA também não tem destino certo, pois o consórcio não tem previsão de compra de novas terras. No sentido de ouvir as reivin-dicações, já foram realizadas duas audiências públicas, convocadas pelo Ministério Público do Tocantins e do Maranhão, nas quais as empresas persistem em não participar. “Esta-

mos acampados e permaneceremos até que as donas da barragem que nos tiram o sustento reconheçam os nos-sos diretos. São as mesmas empresas que construíram a UHE São Salva-dor, também no Rio Tocantins. Então questionamos porque o tratamento aos atingidos é tão diferente. Em São Salvador, os atingidos tiveram grandes conquistas, aqui em Estreito também queremos garantir os direi-tos”, afirmou uma das lideranças do MAB no estado.

Em julho de 2007 a Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), ligada ao Ministério da Justiça, visitou Tucuruí e constatou que na implemen-tação da barragem foram violados onze direitos humanos, entre eles o direito à dignidade da pessoa humana, “na medida em que, no seu conjunto, as violações de direitos humanos ocorri-das impossibilitaram a reestruturação da vida individual e coletiva, com graves impactos sobre a identidade, a estima e as perspectivas de futuro”, conforme consta no relatório.

Além disso, a energia gerada em hidrelétricas é um dos principais produtos de exploração da região amazônica em geral, e do Pará em particular. A UHE de Tucuruí, por exemplo, foi planejada para garantir o funcionamento das indústrias de produção de alumínio como a Vale e a Alcoa. Ou seja, enquanto 75% da ener-gia de Tucuruí é destinada para estas indústrias, ainda hoje grande parte da população local vive sem acesso à luz elétrica. E como não foram indeniza-das pela construção da obra, centenas de famílias atingidas vivem nas ilhas formadas com o enchimento do lago, sem acesso à transporte, água potável, educação, saúde e outros.

Atingidos pela UHE de Estreitoestão acampados há 5 meses

Usina de Tucuruí, no Pará

Page 5: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 2009 5

Foi em 1989 que a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), do grupo Vo-

torantim, apresentou os primeiros estudos de impacto ambiental para a construção da barragem de Tiju-co Alto, no rio Ribeira de Iguape, entre os estados de São Paulo e Paraná. E é em 2009 que o povo do Vale do Ribeira completa 20 anos de luta e resistência contra todo o tipo de des-truição no Vale.

“O Vale é a bola da vez. Sempre foi o Vale do esquecimento, o Vale da miséria, mas agora as empresas se voltaram pra cá porque descobriram que nós temos uma ri-queza muito grande e eles querem explorá-la em benefício do lucro de poucos”, afirmou Galindo, militante do MOAB (Movimento dos Ameaçados pelas Barragens do Vale do Ribeira).

O Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) do projeto de Tijuco Alto aponta que cerca de 51quilômetros qua-drados da região serão inundados, o equivalente a 11 mil campos de futebol, sendo que 46% são terras aptas para a agricultura e 35% para pastagem.

Todo esse sofrimento e des-truição é o custo do progresso, dizem as empresas. Mas progresso pra quem? A energia gerada pela hidrelétrica de Tijuco Alto será des-tinada somente à produção de alu-mínio, nem um kilowat sequer será para o povo brasileiro. Além disso, 70% desse alumínio será exportado. Segundo o Prof. Célio Bermann, da USP, a energia consumida para produzir uma tonelada de alumínio

20 anos de resistênciano Vale do Ribeira

equivale à energia consumida por 200 famílias durante um mês.

Entre 1989 e 1997 a CBA realizou um processo de cooptação e despejo dos trabalhadores rurais que moravam nos municípios que seriam atingidos pela barragem.

Ela adquiriu 379 imóveis pagando muito pouco ou nada por eles. “Ou seja, antes mesmo de ser construí-da a barragem gerou desemprego e miséria”, analisaram as imãs ângela e Sueli, duas das funda-

doras do MOAB. Elas lembram ainda que o Antonio Ermírio de Morais (dono da Votorantim) já tem uma dívida enorme com o povo do Vale do Ribeira. “Se a gente for contabilizar todo o es-forço, o tempo e o dinheiro gasto

nesses 20 anos de luta, as horas em manifesta-ções, de baixo do sol, sem comer nem beber; o tempo que os agricul-tores perderam ao invés de estarem produzindo em suas terras, a dívida do Antonio Ermirio co-nosco já é enorme”.

Caso a barragem de Tijuco Alto seja cons-truída, ela aumentará as vendas e o lucro da CBA, poucos serão os empre-

gos gerados e o Vale do Ribeira herdará todos os impactos socio-ambientais. É por isso que o povo do vale do Ribeira organizado no MOAB e no MAB lutam há vinte anos contra isso.

Comemoração

A festa de comemoração dos 20 anos de luta aconteceu no dia 21 de novembro, em Iporanga. Cente-nas de pessoas estiveram presentes recordando os atos, as lutas e mar-chas contra a barragem. Durante o ato, foi feito o lançamento do vídeo

Encontro de comemoração dos 20 anos de luta do MOAB

“O Vale de resistência”, que retrata os 20 anos de lutas dos atingidos por barragens no Vale do Ribeira. Você pode acompanhar o vídeo pelo site do MAB: http://www.mabnacional.org.br/multimidia/videos.html

Manifestação em Ribeira (SP), 14 de março de 2009

Foto

: Jok

a M

adru

ga

Page 6: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 20096

Reações de todo tipo vieram à tona com o anúncio de que as 63 distribuidoras de

energia elétrica do país estão acu-mulando, desde 2002, um valor de 7 bilhões de reais a mais pelo preço cobrado nas tarifas de energia elétri-ca devido a um erro no cálculo para os reajustes anuais.

As irregularidades foram re-veladas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) ao realizar uma audi-toria nas companhias energéticas de Pernambuco (CELPE), Mi-nas Gerais (CEMIG), Mara-nhão (CEMAR), Piauí (CE-PISA) e Alagoas (CEAL) para saber por que as contas de luz tinham aumentos superiores à inflação. Para todos os brasileiros, as ta-rifas de energia elétrica au-mentaram cerca de 400%, justamente no período da maior onda de privatização do setor elétrico.

A Aneel (Agência Na-cional de Energia Elétrica) é a responsável pelos cálculos no reajuste das tarifas aplicado pelas distribuidoras. No entanto, a agência reguladora não admite a distorção, mesmo considerando necessária a re-visão no processo de reajuste tarifário determinada pelo TCU.

A irregularidade nos cálculos

Além dos serviços prestados pelas distribuidoras de energia, são cobrados 11 encargos setoriais na conta de luz, embutidos na tarifa. Esses encargos financiam programas federais, como o Programa de Incen-tivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e o Luz para Todos, e deveriam ser pagos pelas distribui-doras. No entanto, irregularmente, as distribuidoras repartem esse custo entre o seu total de consumidores, cerca de 63 milhões em todo o terri-tório nacional.

Empresas cobram 7 bilhões a maisdo povo brasileiro nas contas de luz

Um exemplo explicaria o erro. Se uma distribuidora tiver de arre-cadar para o governo R$ 1 bilhão para custear sua parte na conta de encargos do sistema, o aumento da demanda por energia poderá fazer com que a concessionária arrecade R$ 1,05 bilhão. No reajuste, a Aneel verifica se a distribuidora pagou R$ 1 bilhão, como era devido. Os R$ 50 milhões adicionais recolhidos dos consumidores são embolsados pela distribuidora.

Isso não poderia ocorrer porque a distribuidora não pode obter nenhum ganho no recolhimento de um encargo e a remuneração da empresa só pode acontecer pela prestação do serviço de distribuição. Ou seja, desde 2002, as distribuidoras de energia estão tirando do bolso dos consumidores um bilhão de reais ao ano, num total de 7 bilhões nesse período.

Só a ponta do icebergPara o professor da Univer-

sidade Federal de Mato Grosso, Dorival Gonçalves Júnior, o fato das empresas terem lucrado 7 bilhões de reais indevidamente “é só a ponta do iceberg”. Segundo o professor, as empresas distribuidoras tem vá-rios outros mecanismos para lucrar às custas da população, além desse evidenciado pelo TCU. “A própria Aneel, é bom dizer, atua, através

de suas leis e regras, para garantir o funcionamento do setor elétrico brasileiro de modo que beneficie o lucro das empresas”, afirmou.

“Como a hidroeletricidade - que é a base da matriz energética brasileira – têm um baixo custo de produção, a Aneel teve que criar uma metodologia para as empresas conseguirem lucrar ‘legalmen-te’ com ela”, denunciou Gonçalves.

O outro exemplo é o preço cobrado pela energia aos consumi-

dores cativos (aqueles que não compram no mercado livre, ou seja, a maioria da população). Mesmo com o baixo custo, o preço da energia elétrica deixou de ser cobrado pelo seu custo de produção real (baseado na hidroeletricidade) para ser definido pelos padrões internacionais e determi-nado pela energia que tem o maior custo de produção, predominante nos demais países: a energia térmica, proveniente principalmente do petróleo.

Para o Movimento dos Atin-gidos por Barragens, esta denúncia só reforça o que o MAB e diversas organizações e entidades da Via Campesina e da Assembléia Popu-lar tem afirmado desde o início da Campanha contra os Altos Preços da Energia Elétrica, em 2007. “O atual modelo elétrico não favorece o povo e sim as grandes empresas, quase todas estrangeiras. No plebiscito popular que realizamos em 2007, mais de 3 milhões de brasileiros disseram não a essa exploração no preço da luz. Viemos sistematica-mente denunciando a atuação das geradoras na violação dos direitos dos atingidos e das distribuidoras na ineficiência do serviço e no verdadeiro absurdo que representa hoje o preço da energia elétrica pago pelas famílias”, afirmou uma das lideranças do MAB.

Protesto em frente à CEMIG, uma das distribuidoras que lucraramcom a irregularidade da Aneel

Page 7: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 2009 7

O apagão do setor elétrico

No início do mês de novem-bro ocorreu uma queda de energia elétrica que atingiu

18 estados e durou cerca de 4 horas até voltar à normalidade. Especu-lações de toda ordem foram apon-tadas para explicar o que realmente aconteceu e, para agravar, a disputa política e eleitoral entrou em cena. O Movimento dos Atingidos por Barragens acredita que, mais do que discutir o fato em si, devemos aproveitar este momento para in-tensificar o debate que nos parece central: a insustentabilidade do atual modelo e a necessidade da criação de um novo projeto energético e social para o Brasil.

Em nota, o MAB apontou uma série de elementos que estão na origem do apagão. Entre eles está o modelo energético neoliberal, que privatizou e entregou o patrimônio do povo nas mãos de grandes em-presas privadas transnacionais, indo em direção contrária aos interesses do povo brasileiro. Além disso, este modelo transformou a energia elétri-ca em uma mercadoria com o objeti-vo principal de extrair as mais altas taxas de lucro, tendo como principal forma a negação dos direitos das populações atingidas e a cobrança dos mais altos preços nas contas de luz. Com isso nos distanciamos ainda mais da soberania energética, e ficamos subordinados aos interes-ses dos grandes grupos econômicos mundiais que passam a tomar as decisões estratégicas e se apropriam do patrimônio público nacional, super-explorando os trabalhadores e destruindo a natureza.

Como conseqüência da privati-zação, houve o fracionamento do se-tor elétrico em geração, transmissão, distribuição e em comercialização de energia elétrica, tornando o modelo menos eficiente e mais suscetível à problemas. Passaram por cima de normas e procedimentos necessários para o bom funcionamento do setor, com a redução de equipes e de qua-dro técnico, trabalhos terceirizados,

trabalhadores mal remunerados, pre-carização e intensificação do trabalho, redução de exigências ambientais.

Por fim, o MAB alerta que com a privatização do setor elétrico, houve a criação de mecanismos como a ANEEL, o Operador Nacional do

Sistema Elétrico (ONS) e a Câmara de Comercialização de Energia Elé-trica (CCEE), espaços controlados pelas empresas privadas, servindo aos interesses destas e aplicando aos con-sumidores residências uma das tarifas de energia mais caras do mundo.

Foto

: Joã

o Zi

ncla

ir

Frente ao caos que se instalou logo depois do apagão e com a di-versidade de opiniões, o Movimento dos Atingidos por Barragens propõe uma séria de ações a serem tomadas imediatamente pelo Governo e pelos órgãos responsáveis pela segurança energética brasileira: 1. Deve-se paralisar imediatamen-

te o processo de privatização do conjunto do setor elétrico;

2. O governo e o Estado devem reassumir imediatamente o seu papel no controle da energia elétrica para que possamos caminhar rumo a um projeto com soberania energética e popular;

3. Deve-se investir prioritariamente para que todos os processos de produção, distribuição e uso de energia sejam pautados por uma política de racionalidade, conser-vação e economia de energia;

4. Devemos caminhar para que a energia atenda, em primeiro lugar, aos interesses vitais do povo brasileiro e, portanto,

devemos combater o modelo eletrointensivo exportador de energia, que nada traz de bene-fícios ao nosso país;

5. Exigimos imediatamente a redu-ção dos preços da energia elétri-ca e a devolução dos 7 bilhões de reais ao povo brasileiro;

6. Exigimos o cancelamento de projetos, como a Hidrelétrica de Belo Monte, que vai penalizar o povo brasileiro e a Amazônia para beneficiar meia dúzia de empresas transnacionais;

7. Exigimos o imediato pagamento da dívida social que o estado brasileiro tem com as popula-ções atingidas por barragens.

De uma coisa temos certeza, não falta energia no país. Segundo divulgou a imprensa no dia do apa-gão, o Brasil conta hoje, em média, com 8 mil MW de energia de sobra, no horário de pico. Ou seja, não é ne-cessária a construção de tantas novas barragens, como prevê o governo e como querem as grandes empresas eletrointensivas.

Page 8: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 20098

Os altos preços da energia elétrica estão sendo inves-tigados desde meados de

junho por uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI da Aneel. Um dos focos da investigação é a atuação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na autorização dos reajustes tarifários. O principal argumento usa-do é de que a tarifa de energia elétrica no Brasil é maior do que em nações do chamado G7, grupo dos sete países mais desenvolvidos do mundo.

Atualmente, cerca de 80% da energia elétrica gerada é de origem hídrica, ou seja, deveríamos estar pagando uma das tarifas mais baratas do mundo, no entanto, o preço de R$ 0,41 Kw/h pago por um morador do Maranhão significa quase 300% da tarifa paga por um morador do Cana-dá, por exemplo, conforme estudo do professor Roberto D’Araujo.

Para o MAB não há dúvidas de que os preços das tarifas de energia elétrica são abusivos. “É o que esta-mos denunciando desde o início da Campanha contra os altos preços da energia elétrica, em 2007. Após as privatizações, o setor elétrico é domi-nado por multinacionais que elevaram

CPI investiga alto preçoda energia elétrica

os preços aos padrões internacionais, e passaram a cobrar a tarifa como se estivéssemos produzindo energia tér-mica. Este modelo está gerando lucros extraordinários aos controladores da energia elétrica brasileira, enquanto o povo brasileiro paga a conta”, disse um dos coordenadores do MAB.

Em nota, o Movimento exigiu publicamente uma séria e profunda investigação pela CPI de todas as questões centrais do atual modelo energético. A saber, os contratos dos consumidores livres, os subsí-dios das estatais às eletrointensivas, o atual formato de definição dos preços, a atuação da Aneel em todo este processo, as irregularidades das empresas privadas, das empreiteiras construtoras de barragens e suas fraudes, os financiamentos do BN-DES, entre outros. “É preciso que o povo brasileiro saiba o quanto tem sido vítima deste modelo energético. Além disso, o lobby dessas empresas tem sido muito forte. O financia-mento de campanhas eleitorais pelos chamados ‘donos da energia’, como revelou a operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, foi um desses casos”, declarou o coordenador.

Entre os pontos que o MAB apontou na nota como importantes para o andamento da CPI, destacamos:

Que o preço da energia para as residências seja baseado no custo da produção real e não na especulação financeira. Tam-pouco pode estar sob controle de grandes grupos econômicos internacionais; Que os interesses do povo brasileiro estejam acima de quaisquer interesses eleitorais e financistas entre as empresas privadas e seus representantes do congresso federal; Que a soberania energética esteja calcada nos princípios da democracia e da descen-tralização, com a defesa do meio ambiente e a participação popular no planejamento, na tomada de decisões e na gestão da produção e distribuição de energia elétrica.

Para o professor da Univer-sidade de São Paulo, Ildo Sauer, um dos pontos positivos da CPI da Energia Elétrica foi o debate sobre o reajuste incorreto anual das tarifas, que foi trazido a público por causa da CPI. “A Comissão encontrou coisas importantes, mas muitas outras que foram lá apresentadas serão varridas para debaixo do ta-pete. Haveria outros problemas que poderiam ser revelados se [a CPI] tivesse ganhado mais apoio dentro do Congresso”, afirmou. Já o MAB afirmou que para que a CPI seja efe-tivamente um instrumento positivo, ela deverá esclarecer e revisar os va-lores das tarifas de energia elétrica no Brasil e o rombo de 7 bilhões no bolso dos brasileiros.

Foto

: Joã

o Zi

ncla

ir

Page 9: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 2009 9

Uma coisa é certa, sem o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvi-

mento Econômico e Social (BN-DES), as usinas hidrelétricas como Santo Antônio, Jirau e Belo Monte não sairiam do papel e milhares de pessoas não estariam morando de favor na casa de amigos e parentes ou teriam perdido seu trabalho, como está acontecendo com os ribeirinhos do Madeira, em Rondônia. Ou seja, o Banco é o financiador do modelo energético que desloca milhares de pessoas de suas casas e causa imensuráveis im-pactos ambientais, sociais e culturais na Amazônia e no Brasil inteiro.

É para debater este e outros assuntos que acon-teceu o I Encontro Sul-Americano de Populações Afetadas pelos Projetos Financiados pelo BNDES, no Rio de Janeiro, de 23 a 25 de novembro. Com o encontro foi pos-sível dar visibilidade aos impactos causados pelas obras e explicitar a necessidade do Banco cumprir o seu caráter de banco público, ao invés de atuar como um instrumento de enriquecimento de empresas multi-nacionais. O MAB esteve presente relatando a realidade dos atingidos pelas barragens do Rio Madeira, mas também estiveram presentes atingidos por barragens da várias regiões do Brasil.

O BNDES, que para o desenvolvimento social tem

reservado pouco ou quase nada, é o financiador dos

principais movimentos da economia brasileira desde o

início da segundametade do século 20.

BNDES, dinheiro do povopara as grandes empresas

Somente de janeiro até a segunda semana de setembro de 2009, havia investido nas empresas mais de R$ 105 bilhões de reais.

“O próprio banco financia a ditadura das empresas construtoras e a expulsão dos ribeirinhos”, sentencia uma liderança da coordenação nacio-nal do MAB, ao lembrar os 15 bilhões de reais investidos pelo BNDES nas

duas usinas, Santo Antônio e Jirau. Atualmente, o banco é o maior finan-ciador da construção de barragens e de 2003 até metade de 2008, já havia financiado 210 projetos. Ou seja, to-das as grandes empresas nacionais e estrangeiras construtoras de barragens, como a Odebrecht e a Suez-Tractebel, passaram os riscos e os custos das obras para um banco público.

“O total de investimentos é assustador, e devemos observar que torna-se público apenas uma parte do dinheiro aplicado. É fundamental ver o total dos custos previstos para podermos fazer uma avaliação dos investimentos sob outro ponto de vista. Principalmente levar em conta o que poderia ser feito se esse dinheiro fosse investido em obras do interesse do povo, como moradia, saneamento, educação, saúde e geração de empre-go, justamente o que mais falta aos atingidos por barragens”, afirmou.

Neste sentido também fala Antônia Melo, uma das coordena-doras do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que luta contra a construção da barragem de Belo Monte. Para ela, o verdadeiro de-senvolvimento que o povo precisa é a melhoria nas estradas, no sistema educacional e de saúde, no inves-timento às iniciativas de sustenta-

bilidade e sobrevivência dos povos da floresta. O BNDES deveria estar voltado para isso e não para o financiamento de 16 bilhões de reais na construção da Usina Hi-drelétrica de Belo Monte, como está sendo estima-do. “É vergonhoso que um banco público invista recursos deste porte em projetos nefastos como a UHE Belo Monte. Repu-diamos com veemência esta decisão do BNDES de investir na privatiza-

ção e morte do Rio Xingu e do seu povo”, declarou.

A liderança também se re-fer iu ao desmascaramento do projeto de Belo Monte pelo Painel de Especialistas realizado por professores de diversas univer-sidades, lançado recentemente: “A mentira deste projeto foi re-velada pelos especialistas que se debruçaram sobre o EIA/Rima. Os Estudos de Impacto Ambiental não revelam problemas de várias ordens, as usinas hidrelétricas de Balbina, Samuel e Tucuruí, todas na Amazônia, são exemplos dos erros irreversíveis e incalculáveis de obras como Belo Monte. Ficou clara e evidente a monstruosidade deste projeto que já vínhamos de-nunciando há vários anos e que o governo brasileiro e o BNDES se negam a reconhecer”, finalizou.

Concretagem do Canteiro de obras da Barragem de Santo Antonio (RO).As obras do Complexo Madeira receberam R$ 15 bilhões do BNDES

Foto

: Mar

cello

Cas

sal J

R/A

BR

Page 10: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 200910

Assim vem sendo chamada a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, prevista para o Rio

Xingu, no Pará, que, se construída, causará irreparáveis impactos sociais e ambientais, como vem sendo denun-ciado pelos movimentos sociais, pela igreja e por diversos especialistas.

O bispo de Altamira, Dom Erwin Kräutler, tem sido um bra-vo defensor do povo e contestador da obra. Ele afirma que o modelo de desenvolvimento das obras do PAC abre todo o espaço para o capital. “Tenho absoluta certeza de que na dimensão socioambien-tal os estudos elaborados deixam muito a desejar e carecem de um maior aprofundamento, pois não se trata de máquinas e diques, de paredões de cimento e canais de derivação, mas de pessoas humanas de carne e osso, que conheço, de mulheres e homens, crianças, adultos e idosos, que sofrerão os impactos”.

Em carta enviada ao presi-dente do IBAMA, Roberto Messias Franco, o bispo alerta: “Parece-me que até esta data somente as considerações e análises do setor energético do governo estão sen-do levadas em conta e pesam. No entanto, há cientistas de renome nacional e internacional, estudiosos e peritos que se manifestam opos-

Belo Monte de problemastos às ponderações daquele setor e comprovam cientificamente a inviabilidade socioambiental e até financeira do projeto”.

Ao falar dos estudiosos e peri-tos, ele se refere ao estudo publicado recentemente por um painel de espe-cialistas que condenaram a usina de

Belo Monte depois de se debruçar sobre o estudo de impacto ambiental. A con-denação é sobre as sérias conseqüências ambientais, a viabi-lidade econômica, a ameaça à biodiver-sidade e problemas técnicos – e a pouca energia efetivamen-te gerada diante da potência instalada: a energia firme é ape-nas 39% do total.

Os pesquisadores Sônia Ma-galhães e Francisco Hernandez denunciam que a onda de discursos dos defensores da barragem sobre a viabilidade do projeto é falsa e destacam como paradigmática a situação da Volta Grande do Xingu, considerada pelo Ministério do Meio Ambiente como área de importância biológica extremamente alta: “Se construída a barragem, essa área poderá sofrer uma redução drástica da oferta de água e do lençol freático, comprometendo os modos de vida dos povos indígenas Ju-runa, Arara e Xikrin e de milhares de fa-mílias ribeirinhas e destruindo toda a floresta de seu en-torno e toda a bio-diversidade aquática e terrestre, incluindo espécies e cavernas que não foram estu-dadas. Nem sequer

há estudos que possam avaliar com-pletamente o que ali acontecerá, pois o EIA não os fez. Ademais, nenhum centímetro quadrado dessas terras é assumido pelos empreendedores como área diretamente afetada”, declararam os pesquisadores.

Mesmo com todos estes aler-tas o leilão de Belo Monte vem sendo anunciado para o início do ano de 2010, como um grande feito. No entanto, outras questões são omitidas. Qual é o custo de Belo Monte? Quantas pessoas realmente serão atingidas? Para onde serão deslocadas? Qual será a área de alagamento? E as tribos indígenas? Além do belo monte de problemas, a barragem traz consigo um belo monte de questionamentos e outras tantas confirmações, como a intensificação dos projetos de bar-ragens na Amazônia para saqueio dos recursos naturais; geração de energia para as eletrointensivas como a Vale e a Alcoa; para a cria-ção de hidrovias e escoamento das monoculturas do agronegócio.

Assim como as barragens no Rio Madeira, a barragem de Belo Monte e todas as outras em constru-ção ou projetadas fazem parte de um mesmo plano: servir aos interesses dos capitalistas que vêem no Brasil, e principalmente na Amazônia, uma grande fonte de lucros.

Ribeirinho do Xingu

Page 11: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 2009 11

Após período de lutas,MST é alvo de mais uma CPI

A CPI contra o MST está instalada, por iniciativa dos par-lamentares mais atrasados da bancada ruralista. Esses não se encaixam nem mesmo como representantes do agronegócio. Promovem as mesmas atuações da bancada da UDR, liderada por Ronaldo Caiado.

Querem projeção pré-elei-toral. Sonham em dar ao mandato parlamentar atribuições policiais contra os movimentos sociais. Rebaixam o Parlamento.

É a terceira CPI contra o MST. E todos os convênios desti-nados às áreas de reforma agrária recebem rigorosa auditoria dos

O MAB se solidariza com os trabalhadores rurais organizados no MST,

um movimento muito impor-tante para a luta popular e que agora está sendo alvo de mais

uma CPI. Nós sabemos que a CPI é uma reação da direita - ali representada pelos ruralistas e as grandes empresas do agro-negócio - à jornada de lutas de julho que arrancou do presiden-

te a promessa de atualização dos índices de produtividade e às ações de enfrentamento ao agronegócio. Veja abaixo artigo de João Pedro Stedile sobre essa nova ofensiva de direita:

órgãos competentes, como o Tri-bunal de Contas da União (TCU). Lamentamos que tal rigor não seja aplicado à classe patronal e a ONGs tucanas.

A nova CPI tem por objetivo se contrapor à luta pela atualização dos índices de produtividade agríco-la. Os atuais índices foram estabe-lecidos em 1975 e devem, pela Lei Federal 8.629, de 1993, ser atualiza-dos. Exigimos que se cumpra a lei. Estranho que o presidente do Su-premo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, não se junte a essa luta. Seria excelente vê-lo exigir que o governo atualize os índices de pro-dutividade, como manda a lei.

A CPI está criada e isso nos possibilita uma ótima comuni-cação com a sociedade. Vamos potencializar essa oportunidade que nos deram. Vamos levar à sociedade todas as questões levan-tadas – e ocultadas — pela CPI. Queremos ir além da versão filtra-da pela grande mídia. Será uma óti-ma oportunidade para a sociedade saber quem realmente se apropria do dinheiro público e de terras gri-ladas, como a fazenda da Cutrale, em São Paulo, e do Daniel Dantas, no Pará. E ver a atuação e interesse de cada parlamentar.

*Integrante da coordenação nacional do MST.Artigo publicado originalmente no jornal O Dia,

em 2/11/2009.

Marcha do Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, Agosto de 2009

Foto

: Joã

o Zi

ncla

ir

Que venha a CPI do MST Por João Pedro Stedile*

Page 12: Jornal do MAB | Nº 11 | Novembro de 2009

Jornal do MAB | Novembro de 200912

Atingidos por barragensrealizam seminários estaduais

2ª Assembléia Popular Nacional

acontece no próximo ano

Perguntas de um Bertold Brecht que vê barragens

A Assembléia Popular vem de um processo amplo de articulação e organização de várias campanhas, redes e movimentos sociais no Brasil e virou prática em várias cidades e estados do país desde 2005, a partir da realização da 1ª Assembléia Po-pular Nacional, que contou com a participação de 8.000 mil pessoas, representando todos os estados.

De lá para cá o MAB esteve junto na construção da Assembléia Popular em vários estados na Cam-panha Contra o Alto Preço da Luz, na Campanha pela Reestatização da Vale do Rio Doce, na Campanha O Petróleo tem que Ser Nosso e em tantos outros espaços da organização do povo.

Agora estaremos construindo a 2º Assembléia Popular Nacional, que acontecerá em Brasília, de 25 a 28 de maio do próximo ano, mas desde novembro estarão acontecendo as plenárias estaduais da AP, participe!

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) rea-lizou neste último período

seminários em diversos estados para debater o modelo energético e o atual modelo de desenvolvimento da sociedade brasileira. Em Fortaleza (CE), em meados de setembro, de-zenas de pessoas debateram o Plano Decenal de Expansão de Energia, a questão da água no nordeste e elaboraram estratégias de ações conjuntas. Além de diversas orga-nizações de atingidos por projetos de desenvolvimento, participaram também professores e alunos da Universidade Federal do Ceará e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Em Rondônia, no final de setem-bro, o MAB e a Rede Brasil organiza-ram o seminário “Grandes projetos e barragens: conseqüências e estratégias de ação” com o objetivo de discutir sobre os projetos voltados à apropria-

ção privada e à exportação de recursos naturais da Amazônia para atender aos interesses imperialistas.

Em Minas Gerais, também no final de setembro, aconteceu o 1º Seminário dos Atingidos Gerais. A atividade contou com a presença de cerca de 100 militantes de movimentos populares organizados na Via Campe-sina, na Assembléia Popular e outras

entidades comprometidas com o povo. O objetivo do seminário foi discutir estratégias de ação frente ao ataque das empresas ao meio ambiente, aos rios e às terras na região de Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo.

Já em Santa Catarina o seminário aconteceu no final de novembro, orga-nizado pelo MAB, Sindicato dos Ele-tricitários de Florianópolis e pela ONG Amigos da Terra Brasil. Os participantes discutiram sobre os grandes projetos do capital no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, fazendo a análise de suas con-seqüências e socializando informações entre os atingidos pelos projetos de bar-ragens, plantio de monoculturas, etc.

Ainda vai acontecer o seminário dos atingidos do Pará, entre os dias 10 e 12 de dezembro. Para o MAB, neste contexto em que as empresas avançam sobre as riquezas do nosso país, a tarefa das organizações sociais é fortalecer as diversas formas de luta para combater a implantação desses projetos. Os semi-nários estaduais são fruto do Seminário Internacional dos Atingidos, realizado em julho, no Rio de Janeiro.

Quem construiu a Itá de seis comportas?Nos jornais estão os nomes das sócias, pregaram elas ao menos uma porta?E nos 141 quilômetros quadrados de área – quem plantava?Tinham luz nas suas casas, as famílias alagadas?Para onde foram pedreiros e camponeses no mês em que a obra ficou pronta?

Machadinho traria progresso para a região.Porque agressão aos comerciantes que não vendiam mais como antes?E o presidente, não teve coragem de aparecer nem na inauguração?

Alcoa, Bradesco e Votorantim ajudaram pagar 26 milhões de reais pela frau-de nos estudos ambientais em Barra Grande. E quanto lucrarão?

Campos Novos, velhas práticas.50 policiais para prender um agricultor.Casas invadidas, violência física. Uma criança de 7 anos na delegacia.Precisava tanto?

Cada inauguração uma festa. Quem cozinha o banquete?A cada dois anos uma nova usina. Quem paga a conta da energia?Tantas barragens. Tantas questões.

Leandro Scalabrin

Seminário sobre os grandes projetos e suas conseqüências no Rio Grande do Sul e Santa Catarina