Jornal do Rio Vermelho 06 edição

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  • O projeto total de revitalizao da Orla de Salva-dor, orado inicialmente em R$ 111 milhes, prev implantao de 50 mil m de novas cala-das, 16 mil m de espao compartilhado entre pe-destres e carros, seis quilmetros de ciclovias, dez quilmetros com nova iluminao pblica, alm

    de quadras, praas e restaurantes. As interven-es foram divididas em nove trechos: So Thom de Paripe, Tubaro, Ribeira, Barra, Rio Vermelho, Jardim de Alah/Armao, Boca do Rio, Piat e Ita-pu. Os recursos, segundo a prefeitura, j esto assegurados.

    A prefeitura estima investir cerca de R$ 30 milhes nas obras de requalificao do Rio Vermelho, anuncia-do com a entrega dos projetos e previso do comeo das obras aps a Copa do Mundo FIFA 2014.

    Pgs. 8 e 9

    Foto: Darjan Sanches

    J o r n a l d o R i o V e r m e l h o u m a p u b l i c a o d a A M A R V S a l v a d o r , B a h i a M a r o d e 2 0 14 a n o I I I n m e r o 6

    Festa de Yemanj 2014 Pg. 14

    Foto: Edgard Carneiro

    Capinan na Galeria do Artista Pg. 16

    Foto: Andr Avelino

    100 anos do Buda do Rio Vermelho Pgs. 12 e 13

    Foto: Divulgao

    Nova orla do Rio Vermelho

  • 2 JRV

    EDITORIAL

    Continuamos nossa luta por um Rio Vermelho melhor tra-zendo uma boa notcia, que se antes o bairro sequer tinha um projeto de interveno urbana, agora ele passa a ter um projeto de requalifi cao de sua orla com recursos

    disponveis e previso de comeo das obras logo aps a Copa

    do Mundo FIFA 2014. Nesta edio apresentamos o projeto

    fi nal da Prefeitura de Salvador para o nosso bairro.

    Homenageamos o Buda do Rio Vermelho como era chama-

    do o cantor e compositor Dorival Caymmi, que teve residn-

    cia no bairro e comemora, agora em abril, o centenrio do seu

    nascimento. Este ano tambm comemoramos o centenrio

    do Engenheiro Carlos Batalha, um operrio da engenharia.

    Um bate papo na Galeria do Artista com o poeta e compo-

    sitor Luis Carlos Capinan, morador do bairro h mais de 30

    anos, que conta um pouco da sua trajetria de vida e porque

    ele louco por ti Amrica.

    A Personagem do Rio Vermelho a arquiteta Arilda Souza

    que mostra sua ligao com o bairro e d dicas de como

    preservar esse bairro histrico de um patrimnio arquitet-

    nico to importante.

    Destacamos a cobrana por mais democracia e transparn-

    cia no futebol, com a estreia do Bom Senso Futebol Clube e

    do Fair Play Financeiro, novidades bem vindas no campo e

    no esporte.

    Publicamos uma interessante e apropriada crnica do poeta

    Ferreira Gullar sobre a importncia do jornal de bairro, trans-

    crita do jornal Folha de So Paulo. E mais uma vez agradece-

    mos a aceitao e elogios ao Jornal do Rio Vermelho, como

    tambm o apoio de comerciantes e empresas que acredi-

    tam na proposta dessa publicao.

    Boa leitura,

    Lauro Alves da Matta Jnior

    Presidente da AMARV

    EXPEDIENTECONSELHO EDITORIAL Jos Sinval Soares Andr Avelino de Souza Ferreira Jos Mrio de Magalhes Oliveira Wanderley Souza Fernandes Carmela Talento Marcos Antonio Pinto Falco

    Jornalista Responsvel Jos Sinval Soares MTE 1369Reviso Carlos Amorim DRT/BA 1616Projeto Grfi co e Editorao Dend ComunicaoTiragem 8.000 exemplaresImpresso Grfi ca Press ColorContato [email protected] GRATUITA

    Esta uma publicao da Associao dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho AMARV. Fotos e artigos assinados so de responsabilidade de seus autores.

    ANUNCIE AQUI!LIGUE PARA LAURO MATTA:(71) 9158-8000 / 9667-9666 / 8164-7144 / 8849-2674

    Passeios para passear

    A Prefeitura de Salvador lanou uma

    campanha de recuperao das cala-

    das da cidade, visando mudar com-

    pletamente o perfi l da cidade, acos-

    tumada com caladas destrudas,

    esburacadas e com elevado ndice

    de acidentes com pedestres.

    A campanha no se resume apenas

    aos passeios pblicos, mas tambm

    aos proprietrios dos imveis cujas

    caladas tero que ser recuperadas.

    No Rio Vermelho, a AMARV fez um

    levantamento das caladas do

    bairro, abrangendo todas as ruas e

    enviou o resultado Prefeitura de

    Salvador com endereos e algumas

    fotos da situao.

    Voc, proprietrio de imvel, procu-

    re colaborar. Custa to pouco parti-

    cipar da campanha para uma convi-

    vncia melhor. Faa a recuperao

    de sua calada, lembrando que a

    responsabilidade pela calada do

    seu imvel sua. Evite notifi caes.

    O Rio Vermelho agradece.

    Sobre o Festival da Primavera

    As ruas da orla do Rio Vermelho se

    transformaram em palco de shows,

    exposies, recreao infantil, gas-

    tronomia, entre outras atraes

    culturais da primeira edio do Fes-

    tival da Primavera que deu incio ao

    novo Calendrio de Eventos para

    Salvador projetado pela Prefeitura,

    atravs da Secretaria de Desenvol-

    vimento, Turismo e Cultura.

    O Festival com o seu modelo vira-

    da cultural comeando ao pr do

    sol de sbado e seguindo ininter-

    ruptamente at a noite de domin-

    go foi um sucesso.

    Representantes das entidades do

    bairro e autoridades fi zeram uma

    avaliao positiva do evento.

    De acordo com o secretrio Gui-

    lherme Bellintani: O Festival mar-

    cou um novo conceito para even-

    tos de rua na cidade, um projeto

    de envolvimento com a comuni-

    dade. A nossa inteno, tanto no

    Festival da Primavera como em

    todos os eventos do Calendrio,

    fazer com que estas datas sejam

    um fomento ao turismo e cultu-

    ra da cidade. O Rio Vermelho tem

    tudo a ver com o nosso projeto,

    um bairro muito intenso, cultural

    e com uma sociedade civil bem

    organizada algo fundamental

    para nosso planejamento.

    A diretora de eventos da Prefeitura

    Eliana Dunet: O evento reuniu du-

    rante as 24 horas cerca de 10 mil

    pessoas. Foi um sucesso principal-

    mente em termos de participao

    popular. Os moradores do Rio Ver-

    melho abraaram o projeto.

    A vereadora Aladilce destacou a

    ocupao do espao pblico e o

    clima de confraternizao.

    O cantor Luiz Caldas uma das atra-

    es do Festival: Foi um prazer

    enorme participar do evento, estou

    muito honrado. muito importante

    para revitalizar o bairro que possui

    vocao bomia.

    O cantor Mrcio Mello, outra atrao

    do Festival: O Rio Vermelho estava

    precisando mesmo de algo nesse

    sentido. Aqui a casa da bomia.

    O presidente da AMARV, Lauro

    Matta mostrou-se satisfeito com a

    participao das lideranas e mora-

    dores do bairro, destacando a rele-

    vncia dessa interao no evento.

    De acordo com a delegada da 7

    Delegacia Jussara Souza, apenas um

    registro de roubo foi feito durante os

    dois dias de festa, enquanto o Co-

    mandante da 12 CIPM, Major Andr

    Ricardo, disse que nenhuma ocor-

    rncia de violncia foi registrada.

    Outras lideranas tambm se ma-

    nifestaram de forma unnime elo-

    giando o evento.

    A Economia Criativa do Rio Vermelho

    O Sebrae Bahia est realizando o

    Projeto Territrios Criativos em sete

    bairros de Salvador. No Rio Vermelho,

    o Sebrae trabalha com o apoio da

    AMARV e est iniciando a etapa de

    Cadastramento dos Empreendimen-

    tos da Economia Criativa. Os dados

    relativos aos negcios serviro para

    montar um cadastro situacional da

    economia criativa no Rio Vermelho,

    e com isso o Sebrae poder atuar de

    forma mais efetiva e adequada ao

    perfi l econmico das empresas, alm

    de poder divulgar os negcios da

    economia criativa do Rio Vermelho

    de maneira unifi cada e mais atraente.

    O Projeto Territrios Criativos se pro-

    pe a fomentar os negcios inte-

    grantes dos segmentos criativos nos

    territrios selecionados, promoven-

    do a competitividade dos pequenos

    negcios. importante a participa-

    o de todos os empreendimentos

    de Economia Criativa do Rio Verme-

    lho. Exemplos de empresas que sero

    atendidas pelo projeto so: atelier de

    artistas, artesos e designers, galerias

    de arte, antiqurios, academias de ca-

    poeira, sedes de manifestaes cultu-

    rais e religiosas, gastronomia, pontos

    de cultura, rdios comunitrias, est-

    dios de gravao, escolas comunit-

    rias, associaes de bairro, cooperati-

    vas de moda e outras.

    Notas da AMARV

    Como sempre, foi muito comentada por todas as tribos do Rio Vermelho a edio n 5 do nosso Jornal

  • JRV 3

    Foto: Andr Avelino

    Secretrios Bellintani e Rosema Maluf, Lauro Matta e vereadora Aladilce

    Com a presena do secre-trio Guilherme Bellintani e da secretria Rosemma Ma-luf, da Secretaria Municipal de Ordem Pblica SEMOP, acompanhada por repre-sentantes de outros rgos da administrao munici-pal, entre eles a Limpurb, foi realizada uma reunio sobre o reordenamento da Praa da Mariquita, no Restaurante Casa de Tereza.

    Organizada pela AMARV, a reunio contou com a pre-sena de lideranas de en-tidades do bairro como o

    Conselho Comunitrio de Se-gurana, a Colnia de Pesca Z-1 e Associao do Mercado do Peixe, alm da participa-o macia de comerciantes que atuam na rea da Praa da Mariquita.

    Nessa reunio foram aborda-dos temas como a ilumina-o pblica, reordenamento de mesa e cadeiras, ocupa-o do espao pblico sem autorizao, e, o mais im-portante, a necessidade de elaborao de um projeto urbanstico e paisagstico para a praa. Uma prxima

    reunio ser convocada pela AMARV que vai centralizar as reivindicaes encaminha-das pelos presentes. Em sua fala, a secretria destacou a importncia de construir um projeto ouvindo a co-munidade, sem imposio de cima para baixo.

    J estava passando da hora de procurar resolver os pro-blemas da Praa da Mariqui-ta que est desorganizada, maltratada e ocupada por um comrcio informal de forma indiscriminada e sem o necessrio ordenamento.

    Reunio discute o reordenamento da Praa da Mariquita

    A Prefeitura de Salvador con-seguiu aprovar na Cmara de Vereadores o projeto de lei que estabelece o Sistema Municipal de Cultura.

    O projeto prev a composi-o do Conselho Municipal de Poltica Cultural, a adoo de ferramentas para a prote-o e estmulo preservao do Patrimnio Cultural de Salvador e o reconhecimen-to, valorizao e fomento de manifestaes que expres-sem a diversidade tnica e cultural da cidade.

    Com essa medida, a capital baiana passa a integrar o Sistema Nacional de Cultu-ra, um modelo de gesto e promoo conjunta de po-lticas pblicas de cultura entre governo e sociedade civil, coordenado pelo Mi-nistrio da Cultura. esse sistema que organiza, siste-

    matiza e estabelece critrios para as polticas culturais nacionais, que, obrigatoria-mente, refletem nos estados e municpios. Entre eles, por exemplo, a distribuio de recursos e o financiamento de projetos.

    Com a aprovao do Sistema Municipal de Cultura, Salva-dor torna-se apta a receber recursos do Fundo Nacional de Cultura, alm de aderir aos editais nacionais e inte-grar uma rede de coordena-o e cooperao intergo-vernamental.

    A partir da aprovao do Sistema Municipal de Cul-tura, a Prefeitura tem quatro meses para estabelecer um Conselho de Cultura, que, por sua vez, ir elaborar a Lei Municipal de Cultura, com durao de dez anos. De carter deliberativo, o

    Conselho ser formado por 15 representantes do poder pblico, 10 de linguagens artsticas e 5 representantes de bairros soteropolitanos que tenham culturas for-tes. Esperamos que incluam o Bairro dos Artistas, o Rio Vermelho.

    Em paralelo, tambm foi aprovada a Lei do Patrim-nio Municipal equivalente, na esfera federal, ao Instituto do Patrimnio Histrico e Ar-tstico Nacional Iphan, e no plano estadual, Instituto do Patrimnio Artstico e Cultu-ral da Bahia Ipac.

    Para uma cidade com a pu-jana cultural de Salvador, estar fora do Sistema Na-cional de Cultura era uma grande lacuna aponta o se-cretrio municipal de Desen-volvimento, Turismo e Cultu-ra, Guilherme Bellintani.

    Sistema Nacional de CulturaEstabelece mecanismos de gesto compartilhada entre os estados, municpios, Governo Federal e a sociedade civil para a construo de polticas pblicas na rea. Funciona como ponte entre o Plano Nacional de Cultura e os estados, municpios e o Governo Federal.

    PEC 150Proposta de Emenda Constitucional que prev o repasse anual de 2% do oramento federal, 1,5% do oramento dos estados e Distri-to Fedral e 1% do oramento dos municpios, de receitas resultan-tes de impostos para a Cultura. Em tramitao na Cmara Federal, com promessa de ser votada agora, no incio de 2014.

    Plano Nacional de CulturaConjunto de princpios, objetivos, diretrizes e metas que devem orientar o poder pblico nas polticas culturais em prol do de-senvolvimento, valorizao e preservao da diversidade cultural brasileira.

    Estabelece 53 metas a serem cumpridas at 2020, como a destina-

    o de 10% do Fundo Social do Pr-Sal para a cultura, e 4,5% de

    participao do setor Cultural no Produto Interno Bruto PIB.

    Sistema Municipal de CulturaAprovado pela Cmara Municipal, integra Salvador ao Sistema Na-cional de Cultura, assegurando o repasse de recursos do Fundo Nacional de Cultura e o estabelecimento de diretrizes prprias de gesto cultural.

    Salvador passa a integrar o Sistema Nacional de Cultura

  • 4 JRV

    A Igrejinha de SantAna ser palco para um espetculo teatral adap-tado da obra de Jorge Amado Compadre de Ogum, montagem adaptada e dirigida por Edvard Passos com patrocnio da Prefeitu-ra de Salvador, atravs da Funda-o Gregrio de Mattos. a mon-tagem vencedora do segmento teatro do primeiro edital Arte em Toda Parte, da Secretaria de De-senvolvimento, Turismo e Cultura do municpio, dando segmento nova poltica cultural para a cidade.

    O espetculo contar com a participao, em um intrnseco trabalho de formao, interativi-dade e de encenao, de entida-des culturais importantes como o Cortejo Afro, o Afox Filhos de Ghandi e a Parquia de SantAna do Rio Vermelho.

    O elenco composto por um mis-to de atores jovens e veteranos, en-tre eles Jos Carlos Jr., Danilo Cairo e Thais Laila, alm de atores reve-lados pelo Cortejo Afro. A tcnica conta com nomes consagrados do teatro baiano como os premia-

    dos Rodrigo Frota na cenografia, Luciano Bahia na direo musical, e as definies estticas da monta-gem sero do artista Alberto Pitta, presidente do Cortejo Afro.

    Dentre os principais objetivos da montagem: divulgar e valorizar a cultura da Bahia, celebrar o ani-versrio da Cidade de Salvador; estimular a tolerncia religiosa e a convivncia respeitosa entre

    credos e etnias distintas; com-parar aspectos de Salvador hoje e de 1950 quando se passa a trama; ocupar com arte e teatro um espao de ampla visibilidade dentro da cidade a Igrejinha de SantAna; e homenagear o escritor Jorge Amado ao lado de sua est-tua no Largo de Santana.

    O Rio Vermelho recebe o grupo de braos abertos, parabenizando

    pelo conjunto de ideias, e a certeza que a montagem nasce vencedora.

    Foto: Divulgao

    Na imagem: atores do Curso Livre de Teatro, msicos do Cortejo Afro e, entre eles, o professor e pesquisador Mateus Schimith, o diretor Edvard Passos, o diretor musical Luciano Bahia e o ator Danilo Cairo

    O que Teatro na Igreja com a pea Compadre de Ogum, de Jorge Amado. Direo: Edvard PassosOnde Igrejinha de SantAna Largo de Santana no Rio VermelhoQuando 23 a 30 de maro de 2014Ingresso 01 kg de alimento para Campanha

    da Parquia de SantAna do Rio Vermelho

    Teatro na igrejaLanada pelos moradores do Alto

    de So Gonalo do Rio Vermelho

    em 2012, a Campanha de Cons-

    cientizao para a Convivncia

    Responsvel com Animais no Es-

    pao Pblico com palestras edu-

    cativas de veterinrios e adestra-

    dores, distribuio de sacos para

    coleta de dejetos, visando desper-

    tar nos moradores de todo o bair-

    ro a conscientizao para a posse

    responsvel de animais no espao

    pblico, precisa ser mais assimila-

    da pelos donos dos animais.

    Quem faz suas caminhadas ou cor-

    rida pelas caladas do bairro, alm

    do piso cheio de buracos ou mal-

    -conservado, ainda tem que se des-

    viar dos dejetos de animais e con-

    viver com um cheiro insuportvel.

    Apesar da campanha, a quantida-

    de de fezes de animais nas cala-

    das ainda assusta. No necessrio

    lembrar que essas fezes trazem v-

    rios tipos de doenas, ocasionan-

    do riscos ao contato principalmen-

    te para as crianas.

    No custa nada voc, dono do ani-

    mal, ter mais conscincia, refletir so-

    bre a campanha e se responsabilizar

    pela coleta dos dejetos do seu animal.

    Campanha de convivncia com os animais

    Foi o maior sucesso a Festa das Crianas na Praa da Rua Fon-te do Boi. O Grupo de capoeira Ganga Zumba, comandado pelo mestre Marcelo, deu um show parte para a garotada. Com a par-ticipao de moradores, amigos e comerciantes, arrecadou-se e dis-tribuiu-se lanches e brinquedos para alegria dos presentes.

    Gostaramos de agradecer a colaborao dos parceiros:DLilian Moda, Ciranda Caf,

    Casa 5 Restaurante, Planeta Sol Camisetas, Boteco Assuno, Restaurante Sabor de Casa, Beij da Moa, J. Berg Alfaiate, Boteco Santa Rita, Miguel Joaquim Her-mida, Limpurb e 12 CIPM Rio Vermelho.

    Comisso Organizadora do Evento:Ana Rosa, Adriana Machado, Ga-briel e Telma Moreira, Jorge Silva e Eunice, Jackson Assuno e Gi-leno Duarte

    Brincando na Fonte

    Foto: Noemia Mello/Adriana Machado

    Mulekas de OuroCriado em 26 de setembro de 1998, o Grupo de Dana Moderna da Melhor Idade Mulekas de Ouro tem como objetivo a alegria, autoestima, qualidade de vida com a pers-pectiva de viver a maturidade plena atravs da dana com coreografias diversificadas, o canto e imitaes. Para tanto, utiliza diversas dinmicas de trabalho no grupo, de acordo com a poca, as condies e interesses especficos do tema, levando em considera-o a experincia, a histria de vida e sabedoria.

    Ao longo desses 15 anos, elas se renem para se divertir e divertir os outros de uma for-ma multidisciplinar: Coralistas no Natal, Folionas no Carnaval, Coelhinhas na Pscoa, Forro-zeiras no So Joo, Floristas na Primavera e Crianas no ms de outubro, sempre levando a alegria e o colorido nas suas apresentaes.

    Segundo Jandira da Silva Be-renguer, mentora e coorde-nadora das Mulekas de Ouro: Nossa misso disseminar atravs da dana uma nova perspectiva de se viver a ma-turidade com alegria e me-lhor qualidade de vida. Nossa meta principal renovar a vida atravs da dana, divul-gando, atuando e brilhando nos diversos segmentos da sociedade, buscando a valo-

    rizao do ser humano que infinito, portanto, sua dimen-so no tem limites, visto que as pessoas no devem ser li-mitadas nem avaliadas pela faixa etria.

    Atravs do [email protected], poder ser feito o contato para as apresenta-es em datas especiais, fes-tas, confraternizaes, encon-tros, seminrios etc.

    Foto: Divulgao

  • JRV 5

    Foto: Carmela Talento

    Conviver o verbo urgente da ci-dade. Viver com o outro. Salvador perdeu o convvio e o abismo social e cultural chegou ao pice. Convivamos na praia, nas festas de largo, no Carnaval. Ningum mais vai praia, voc conhe-ce algum que, nos tempos de hoje, marca para se ver na praia? Perdemos as pessoas, as festas, a praia e o Carnaval. A a granfina-gem namorava a suburbanidade e vice versa. Existia convvio hu-mano, diverso e interao. Na praia, nas festas de rua, no Carna-val, Salvador se via e se convergia em suas desigualdades. Ganha-mos agora a insegurana e a vio-lncia das distncias.

    O Rio Vermelho sempre foi reduto de resistncia cultural, durante um tempo perdeu o posto, na parte mais social, para a Barra, depois para o Pelourinho, que depois se perdeu em si mesmo. Ainda hou-ve uma poca que o Aeroclube promovia o encontro de muitos, mas o foco na diversidade j ha-via se perdido. O entretenimento e o consumo levaram todos para o vazio dos shoppings, que aqui, nem teatro conseguiram imple-mentar, em uma clara demonstra-o de emburrecimento e empo-brecimento cultural.

    Desde a morte da Barra, do Pel e do Aeroclube que Salvador morre junto. Tudo foi descentra-lizado, exterminado, falido, vili-pendiado, roubado, massacrado e tornado um boteco de caran-guejo a cu aberto. Derrubaram as barracas das praias, das festas de rua, derrubaram o Carnaval. O povo s sai de casa para beber e comer caranguejo. Nada con-tra os caranguejos, mas tudo a favor do cu aberto.

    Um povo que no se v, nem se alimenta da sua cultura, morre contaminado. Para isto, sugiro que o Executivo Muni-cipal, implante e construa com

    os moradores e comrcio dos locais, com urgncia, o decreto do CONVVIO CULTURAL J.

    Salvador est vida por isto e de-monstrou no final de semana do Festival da Primavera, um gola-o de placa, marcado por toda a Prefeitura, atravs da equipe da Sedes, sob o comando de Gui-lherme Bellintani.

    As famlias, as mentes, a juventu-de, gente de todos os cantos foi para as ruas do Rio Vermelho, sem ter que disputar com os Transfor-mers no meio da rua. Andei por todo o permetro da festa, revi amigos, encontrei de tudo um pouco, e de todos, muitos. Vi uma menina fantasiada andando de bicicleta, uma cena de Fellini, vi fa-mlias sorrindo, vi beijos, abraos, encontros e flores brotando pelo Festival e pela Primavera.

    Me dei conta, mais uma vez, do quanto urge que faamos um espao de convvio cultural, onde a cidade saia da infovida e v assistir e viver cultura nas ruas, a maior tradio desta ci-dade. Salvador se fez nas ruas, de Castro Alves a Dod e Osmar, passando pelo Candeal e pelas quadras dos Blocos Afros.

    Respeitando o tempo dos en-tendimentos e das construes, j pensou se o Rio Vermelho, por exemplo, mantivesse todo o final de semana, seu aceso somente para pedestres? No Carnaval, queridos moradores, ocupao cultural.

    Poder combinar e levar seus fi-lhos, sua famlia, para ver pesso-as de verdade, ruas de verdade, arte de verdade, amigos de ver-dade, todos os bares com suas

    programaes artsticas reve-zando com palcos gratuitos para a populao.

    No primeiro momento, mui-tos podem at ser contra, mas acredito que assistir a revoluo da guitarra baiana tocada pela Baiana System sbado, por Lus Caldas domingo, por exemplo, e de tantos outros artistas brilhan-tes desta terra, pode ser funda-mental para materializar estes novos tempos de abertura das mentes.

    Depois de fazer Salvador viver e conviver junto e misturado, a vitalizao do Pelourinho, de outros centros de cultura da ci-dade, das festas de rua e at do prprio Carnaval, ser natural. Ser objeto de desejo ir aos es-paos que estaro ricos de pro-duo cultural e artstica.

    CONVVIO CULTURAL J. O que fazem a JAM NO MAN, a ESCA-DARIA, a VARANDA DO SESI. Se o poder executivo no conseguir fazer isto ainda todo final de se-mana, que se faa primeiro aos domingos, uma vez por ms, no importa, mas tem que ser J! Poetas, artistas, atores, au-tores, compositores, cantores, danarinos, produtores, empre-endedores culturais, enfim, todo o povo da cultura, da vida e da cidade espera isto. Um lugar de orgulho, inflamado, flamejante, que acolha novamente a nossa alma criativa que se foi e est louca para retornar.

    Sinceramente, acho que isto est mais fcil do que se imagina e de maneira simples o Rio Vermelho pode sediar e espelhar a transfor-mao cultural da cidade. Os co-merciantes no gostaram? Quero ver depois que virar uma espcie de Calado Cultural a cu aber-to, se algum vai querer passar seu ponto. Os moradores no apoiaro? Duvido. Os de bom senso so a maioria. Sempre qui-seram um Rio Vermelho pulsan-do cultura e no invadido por lixo artstico, de todos os tipos.

    Salvador precisa ir para a rua, para sua vocao primordial, com urgncia e ver sua cultura sair do discurso, do empreen-dedorismo de editais, do caran-guejismo, que s anda para os lados e formar novas platias, que j esto nas ruas, mas a aula no acontece, parece que a greve eterna.

    A Primavera Soteropolitana co-meou. Ocupemos nossas ruas. Ocupemos nossas praas. Ocu-pemos nossos artistas. Ocupe-mos nosso povo. Ocupemos nossas mentes, em regime de urgncia urgentssima. CONVVIO CULTURAL J! Est em nossas mos e nas suas mos ACM Neto, Guilherme Bellintani e equipe.

    Convvio cultural j!Por: Andr Simes

    Festival da Primavera divertiu e encantou a todos

  • 6 JRV

    Casa n 33 da Rua Alagoinhas

    Memorial de Jorge AmadoA famosa casa da Rua Alagoi-nhas, n 33, no Rio Vermelho, onde viveram durante quase 40 anos os escritores Jorge Amado, Zlia Gattai e famlia, finalmente ser transformada em memorial.

    O projeto ser viabilizado graas parceria da Prefeitura de Salva-dor com uma empresa privada que assumir a gesto do espao. Segundo a famlia, a previso de inaugurao ser em junho de 2014 durante o perodo da Copa da Mundo de Futebol, conse-quentemente fazendo parte do roteiro turstico durante o evento.

    A casa foi fechada em 2003 e ali se encontram depositadas as

    cinzas do casal ao lado de uma mangueira, no quintal onde cur-tiam as tardes do Rio Vermelho.

    O projeto de reforma da casa com viabilidade de visitao foi elabo-rado pelo arquiteto portugus Mi-guel Correia e uma equipe com-posta de paisagista, muselogo e arquiteto tocam o projeto na bus-ca de sua concretizao.

    Todo o acervo, como mveis, objetos, vesturio, livros, obras de arte, voltaro aos seus luga-res de origem na casa, contando a histria de vida dos escritores.

    O Rio Vermelho aguarda com muito carinho.

    Foto: Carmela Talento

    A importncia do jornal de bairroTem muita gente que no d a mni-ma importncia aos jornais de bair-ro. Entretanto, esse artigo de Ferreira Gullar, publicado no Jornal Folha de So Paulo, mostra, exatamente, a importncia desse meio de comuni-cao. Para muitas pessoas essa a ferramenta mais importante de saber o que est acontecendo no seu entor-no. Por essas e outras que cada vez me conveno mais da importncia desse tipo de comunicao direcionado ao bairro. Leia e confira.*

    Na boca dos vizinhos

    Ao chegar caixa do supermercado, a moa que ali atendia me falou: verdade que o senhor vai parar de escrever poesia? No faa isso, poeta, por favor!. No acreditei no que ou-vira. Aquela moa, que mal conheo e passa o dia a cobrar pelas compras dos fregueses, sabe quem sou eu e lamenta que eu no v mais escrever poesia! Mas quem lhe disse isso, per-guntei, e ela: Li naquele jornalzinho que o pessoal distribui de graa.

    S ento me lembrei da entrevista que havia dado a um jornal de bairro e que fora publicada com um ttulo mais ou menos assim: Gullar diz que no vai mais escrever poesia.

    No foi bem isso que eu disse, ex-pliquei moa do caixa. Afirmei foi que talvez no venha mais a escre-ver poesia. No disse que decidi no escrever mais.

    Peguei minhas compras e me dirigi para casa, um tanto surpreso com aquela conversa. A moa no ape-nas deu importncia ao que sara no jornal, como lamentara minha su-posta deciso. Jamais pensara que minha poesia interessasse a uma caixa de supermercado. Na minha viso equivocada, s pessoas do povo o que importa so as novelas de televiso. Da o meu espanto.

    Mas o espanto no parou a. Dias de-pois, ao atravessar a rua, uma senhora me interpela e me diz que seu filho de

    dez anos ficara muito triste ao saber que eu ia parar de escrever poesia. Ele sabe seus poemas de cor. Expliquei--lhe que no foi aquilo o que disse reprter. Diga ao seu menino que a poesia sopra onde e quando quer, ningum manda nisso.

    E segui meu caminho, feliz de saber que um garoto de dez anos ama meus poemas. S me resta agora pe-dir s Musas que me ajudem e no me deixem parar de escrever poemas.

    De qualquer modo, vendo que a no-tcia se alastrara e que, para minha surpresa, h quem deseja que eu continue a escrever poesia, sinto-me na obrigao de esclarecer o assunto. A coisa a seguinte: escrever ou no escrever poesia no coisa que se de-cida. Logo, no foi o que eu declarei quela reprter do jornal de bairro.

    Na verdade, sempre que termino de escrever um livro de poemas, tenho a impresso que no vou es-crever mais, de que a fonte secou. A primeira vez que isso aconteceu foi com Luta Corporal, cujos ltimos poemas datam do comeo de 1953.

    Ao escrever o poema Rozeiral, em que desintegrava a linguagem, achei que no iria escrever mais. Naquela vez, pelo menos havia uma razo efe-tiva, j que, ao desintegrar o discurso potico, tornava invivel seguir escre-vendo. Mas a coisa se repetiu, anos depois, quando publiquei Barulhos, quando publiquei Muitas Vozes e,

    recentemente, ao dar por concludo Em Alguma Parte Alguma.

    Creio que isso se deve ao fato de que no planejo nada, muito menos meus livros de poemas. De repente, descubro um tema novo, um veio que passo a explorar at esgot-lo. Isso demora anos, porque, tambm, ao concluir cada poema, tenho a impresso que o veio se esgotou.

    Sim, pois do contrrio, no daria por findo o poema. Mas chega um momento em que o veio se esgota mesmo, percebo que no h mais nada a retirar dali. Dou o livro por concludo e a vem a sensao de que no escreverei mais. Sim, por-que se no descobrir outro veio, no terei o que escrever. E enquanto no o descubro, essa sensao se man-tm at que, de repente, um belo dia, a poesia volta a me iluminar.

    Os fatos tm mostrado que acabo por descobrir um veio novo e vol-to a escrever. Pelo menos foi o que aconteceu at ento. Sucede que o ltimo poema do meu ltimo livro Em Alguma Parte Alguma data de novembro de 2009, e at hoje, trs anos e sete meses depois, no voltei a fazer nenhum poema.

    Nunca fiquei tanto tempo sem escre-ver poesia. E no me sinto motivado a escrever. Sempre digo que meus poemas nascem do espanto, ou seja, de algo que pe diante de mim um mundo sem explicao. essa per-plexidade que me faz escrever. Pode ser que, aos 82 anos de idade, j nada mais me espante na vida.

    Mal escrevo essas palavras e chega Maria, empregada minha h mais de 20 anos, que nunca leu um poema meu e nunca tocou nesse assunto durante todos esses anos, e me diz:

    Seu Gullar, verdade que o senhor resolveu no escrever mais poesia? o que o pessoal anda dizendo por a.

    Ferreira Gullar

    Foto: Divulgao

    O Rveillon do Mercado do Peixe proporcionou, na passagem do ano, grandes momentos com o show dos cantores e composito-res Antnio Carlos & Jocafi, trazi-dos Bahia depois de muitos anos pela Bad Produes.

    A dupla que faz sucesso desde a dcada de 1970, encantou o pblico presente com canes inesquecveis. Antonio Carlos, conhecido carinhosamente no bairro como Vieira foi menino do Rio Vermelho. Antnio Carlos Marques Pinto (Antnio Carlos) e Jos Carlos Figueiredo (Jocafi) fazem parte de uma gerao ta-lentosa e prdiga, dentre os mui-tos cones da msica, literatura e arte que a Bahia teve a felicidade de conceber.

    Antnio Carlos & Jocafi foram unidos pelo poeta e letrista Ild-sio Tavares, de quem ganharam poemas e letras para suas m-sicas no incio da carreira. Des-cobertos pelo maestro Carlos Lacerda (guru musical da Bahia), participaram com xito de v-

    rios festivais em Salvador. Gra-varam seu primeiro LP Mudei de Ideia, um sucesso imediato. Da em diante, msicas como Voc Abusou, Mas que Doidi-ce, Morte de Amor e Tor de Lgrimas conquistaram o povo brasileiro.

    Como compositores, tiveram opor-tunidade de gravar com nomes como Vincius de Moraes, Luiz Gon-zaga, Gilberto Gil, Elza Soares, Maria Creuza, Nelson Gonalves, Toqui-nho, Clara Nunes, Angela Maria, Alcione, Djavan, Daniela Mercury, Jair Rodrigues, Marcelo D2, Diogo Nogueira, entre outros.

    A simplicidade gostosa de suas letras e o forte apelo popular dos sambas-de-roda da Bahia, fize-ram do show de Antnio Carlos & Jocafi uma grande festa pro-porcionada pela Associao do Mercado do Peixe.

    Antonio Carlos & Jocafi

    * Texto publicado no Blog do Rio Vermelho

  • JRV 7

    Cresci ouvindo estrias do Rio Vermelho. Primeiro, contadas por minha av Amlia. Uma san-tamarense nascida em 02 de ja-neiro de 1882, que adotou o Rio Vermelho aos dois anos.

    L, minha av casou e nasceram todos os seus filhos. As emocio-nantes estrias por ela contadas no foram registradas em ne-nhum documento, mas ficaram fresquinhas na minha memria. Tem at estria de lobisomem que aparecia frequentemente. Falava de fatos, pessoas, lugares, transportes etc.

    Contava do sucesso do meu av Manuel da Paixo Ferreira, tam-bm conhecido como Peque-no, comerciante que teve um dos maiores armazns na po-ca. Dos compadres Joo Batista e Raul. Do Sr. Nazareth. Dona Anunciata, uma amiga italiana que teria morrido afogada na Praia da Pacincia se no fosse a coragem e habilidade de minha bisav Joaquina. Das famlias Odilon Santos e Tabuada.

    Do presente da Me Dgua, hoje conhecido como Festa de Ye-manj. Do Bando Anunciador. Da Ladeira do Papagaio, onde mo-rou, hoje integrante do corredor Cardeal da Silva. Dos sobrados coloniais. Das pescarias de xaru. Das canoas e saveiros.

    O Rio Vermelho, uma vila predo-minantemente de pescadores, era separada do centro da cidade por florestas e fazendas. O aces-so ao centro, quando no feito a cavalo, era feito por um trem, chamado pelo povo de mquina que ligava o Campo Grande at as imediaes da atual Rua Ldio Mesquita. Para vencer a grande di-ferena de nvel, o traado da linha do trem contornava toda a eleva-o onde hoje se situa o Colgio Antnio Vieira, da o nome de Cur va Grande, passava por baixo do

    Primeiro Arco, atingia uma via que viria a ser denominada Rua do Tri-lho e, posteriormente, Rua Gomes Brando, alcanava a Rua Garibal-di, passava o Segundo Arco, nas proximidades do viaduto da TV Itapu, seguindo pela Garibaldi at a Rua da Pacincia.

    Mais tarde essas histrias eram ratificadas por minha me, N-bia, nascida naquele arrabalde, como se dizia antigamente.

    Quando me entendi no havia nibus. O transporte de passa-geiros era o bonde, que saa do Terreiro de Jesus at o Campo Grande, da at o Largo da Ma-riquita. S que o bonde no ia pela Curva Grande. Fazia o per-curso ao longo da atual Avenida Leovigildo Filgueiras, passava por cima do Primeiro Arco, se-guindo o trajeto do antigo trem. Era a Linha 14 Rio Vermelho.

    Para se chegar ao Rio Vermelho, tambm poderiam ser utilizadas as Linhas 16 Amaralina e 15 Rio Vermelho de Baixo. Esta l-tima tinha o seguinte itinerrio: Barroquinha, Largo do Teatro,

    hoje Praa Castro Alves, Rua da Ajuda, Rua do Tijolo, Baixa dos Sapateiros, Sete Portas, Rua Djal-ma Dutra, Fonte Nova, Rua Vas-co da Gama, Largo da Mariquita.

    As mais recentes histrias aqui narradas foram por mim vividas

    Lembro-me que entre o Pri-meiro Arco e a Rua da Pacin-cia no havia pavimentao. A linha do bonde s era dupla em alguns trechos. Havia necessi-dade de se esperar o sinal livre enquanto o outro bonde vinha em sentido contrrio.

    Lembro-me do mato que arras-tava nos passageiros que viaja-vam no estribo. A maior emoo, quando levado praia por meu pai e minha me em companhia do meu irmo Ayrton, era sentir o cheiro de mar quando o bon-de passava da Vila Matos.

    Nosso destino era o banho de mar na praia de Santana. Trocva-mos a roupa na casa de Manuel de Lucila, pois no se andava nos bondes em trajes de banho.

    Lembro-me das pessoas que ali moravam: Major Chaves, um eter-no batalhador pela pavimenta-o da Rua Garibaldi. Morreu sem ver seu desejo concretizado.

    De Aymar Veloso, um fiscal da pre-feitura, Dr. Gratulino Melo, Chefe do Campo de Experimentao de Ondina, Dr. Lacerda, engenhei-ro da prefeitura, dos seus filhos maestros Carlos e Toninho Lacer-da e de sua filha Emlia Lacerda, que nos deixou prematuramente. Da beleza de Marlene, do escultor Mrio Cravo e tantos outros.

    Do guarda 59 e do motorneiro, Sr. Xavier, que moravam na Vila Matos. De Eloi, meu barbeiro, que tambm morava na Vila Matos.

    De quando, nos fins da dcada de 40, a Linha 14 Rio Vermelho foi contemplada com bondes fecha-dos tipo sossega-leo. Que festa!

    Do motorneiro do bonde 286, apelidado de Mo de Luva, que tinha um grande f clube, mas sempre era punido por excesso de velocidade. Dos descarrilamentos. E da ltima

    linha de bondes que existiu em Salvador: Campo Grande--Rio Vermelho. Isso no incio dos anos 1960.

    Dos meus colegas que utiliza-vam o mesmo transporte: do meu amigo Edyano Castro Mei-ra, que morava na Rua Euricles de Matos (Pacincia), 49. De Ivan Reis, Ivan Rabelo, Jos Ca-lazans. Dos irmos Milton e Car-los Arajo. De comprar manga na roa de Ren, onde hoje est situado o Parque das Manguei-ras. Que delcia!

    Da sede do Esporte Clube Ypiranga

    Do alargamento da Rua da Paci-ncia quando foram demolidos vrios casares, inclusive a an-tiga Escola Guiomar Pereira. Da demolio do forte na Rua Gue-des Cabral para urbanizar a rea. Da construo da nova Igreja de SantAna . Tudo isso at o fim da dcada de 1960.

    Esses depoimentos datam de tempos remotos, desde uma pequena Salvador de pouco mais de 100 mil habitantes at os nossos dias com quase trs milhes de habitantes.

    Em que pese o o progresso, das novas teconologias, de luxuo-sas edificaes, hotis cinco es-trelas, o Rio Vermelho mantm vivas lembranas de um passa-do opulento.

    Sempre teve o privilgio de acolher pessoas ilustres como o inesquecvel Jorge Amado.

    o bairro preferido para moradia e lazer de artistas e intelectuais. o bairro dos bares, restaurantes e comidas tpicas. Abriga uma das mais belas festas populares do Brasil. A Festa de Yemanj.

    Continua com o mesmo charme.

    O Rio Vermelho da minha infncia e juventudePor: Almir Santos

    Foto: Divulgao

    Rio Vermelho retratado no incio do sculo XX

  • 8 JRV

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    O prefeito ACM Neto apresentou no dia 01 de fevereiro durante uma coletiva, no auditrio da As-sociao Caballeros de Santiago, o projeto de requalificao da orla do Rio Vermelho. O projeto visa reestruturar o trecho entre a Praia da Pacincia (Av. Ocenica) e a Rua da Fonte do Boi (Mariqui-ta). Queremos resgatar a autoes-tima de um bairro tradicional da cidade conhecido por seu aspec-to bomio afirmou o prefeito.

    De acordo com o cronograma da prefeitura, o processo de re-vitalizao do Rio Vermelho ser dividido em trs fases. A primei-ra, vai do Largo de Santana ao Largo da Mariquita; a segunda do Largo da Mariquita Fonte do Boi; e a terceira, da Praia da Pacincia ao Largo de Santana.

    Para dar incio ao projeto, o pre-feito disse que est aguardando a entrega dos planos de adequa-o da Coelba, da Embasa e das operadoras de telefonia. Haver pontos em que a fiao eltrica ser enterrada, o que causa im-

    pactos nas tubulaes da Emba-sa. Essas empresas precisam se adaptar ao nosso projeto para que eu possa liberar a licitao, e ento dar incio primeira fase das obras, explicou ACM Neto.

    A entrega desses projetos est prevista para o incio de maro. Em seguida, os ajustes finais sero dados ao plano geral e o oramento ser definido. A esti-mativa que a licitao da pri-meira fase seja publicada tam-bm em maro.

    O arquiteto Sidney Quintela, um dos autores, em sua exposio, apresentou o projeto que suge-re mudanas no calamento e estrutura das vias, seguindo o padro do projeto de revitaliza-o da Barra. As ruas passariam a ter nivelamento nico para carros, pedestre e ciclistas, alm de novos sistemas de iluminao subterrnea. O plano estabele-ce tambm construo de um parque para skatista na Garibal-di, moderna quadra de esportes na Pacincia, faixa exclusiva para

    ciclista e revitalizao das princi-pais esculturas do bairro . No Lar-go de Santana o piso de suas cal-adas e o conjunto paisagstico far uma homenagem a Yemanj e no Largo da Mariquita a Oxum.

    As obras esto previstas para co-mearem aps a Copa do Mun-

    do, mas no foram definidos prazos especficos. No entanto, de acordo com o prefeito, o tr-mino das trs fases est previsto para o final de 2015.

    O prefeito preferiu no anteci-par a data de entrega das obras concludas, mas adiantou que

    no 2 de fevereiro de 2015 as obras estaro bem avanadas e a festa de Yemanj dever apresentar um visual diferen-te. Vamos entrar em processo de licitao e em curto prazo de tempo iremos entregar um novo bairro para os morado-res, soteropolitanos e turistas, garante Neto ao alertar que durante as obras, transtornos, principalmente no trnsito, se-ro inevitveis.

    Diferente do projeto de requa-lificao da orla da Barra que j nasceu pronto, o projeto da orla do Rio Vermelho abriu-se em dilogo entre a prefeitura e a comunidade local na bus-ca do melhor para o bairro, numa contribuio importante para o projeto final. Durante o ano passado diversas reunies aconteceram com resultados bastante positivos e quase todas as interferncias foram consideradas.

    A ONG Cip atravs do Bairro Escola Rio Vermelho apresen-

    Nova orla do Rio VermelhoFoto: Divulgao

  • JRV 9

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    tou um documento Reflexes relacionadas Proposta da Prefeitura para o bairro do Rio Vermelho sistematizou as con-tribuies feitas por Grupo de Trabalho (GT) da Praa, Grupo Ampliado (GA) do Bairro Es-cola e Grupo Estratgico (GT da Praa + Vizinhos da Praa) e apresentou estudo pelo es-critrio de arquitetura da ONG com todo o coletivo.

    Suas reflexes tinham reas de abrangncia desde a Praia da Sereia (Praa do Sukyaki), mudanas das quadras da orla, deck, museu/quadras, Largo de Santana/Praa Pr do Sol, ciclovias, estacionamentos, Lar-go da Mariquita e Rua Fonte do Boi. Apresentou sugestes de uma gesto participativa dos espaos pblicos e interiorizou o projeto para alm da orla, considerando principalmente as escolas do bairro (conexo das escolas com as praas e outros espaos pblicos como teatros, bibliotecas, praias e reas de lazer).

    A AMARV atravs da colabo-rao das arquitetas Ananda Assmar e Jade Bahia Falco, apresentou um estudo que buscou junto a comunidade do Rio Vermelho opinies so-bre sua relao com a faixa litornea do bairro, mostran-do a caracterstica de cada es-

    pao, a situao atual de suas praias, equipamentos urbanos nelas inseridos e propostas de melhoramento como: postos guarda-vidas, sanitrios, lixeiras, alongamento de passeios, mo-dificaes de acesso s praias, estacionamentos, criao de decks e quiosques, rampas para

    embarcaes, ciclovias, recupe-rao de praas e paisagismos, visando contribuir para o enri-quecimento do projeto final da Prefeitura. Resaltando que no basta apenas urbanizar tem que animar, projetando um sistema apoiado em programas que va-lorizem o espao com a partici-

    pao do cidado, seu desfrute e com isso novos relacionamen-tos e qualidade de vida.

    De acordo com Lauro Matta, presidente de AMARV , Ns opi-namos, discutimos e sugerimos. O projeto resultado do que foi trabalhado nas reunies.

    Foto: Divulgao Maquetes digitais do

    projeto mostram a reestruturao do trecho

    da Praia da Pacincia e do Largo da Mariquita

  • 10 JRV

    Como um osis em meio expanso

    imobiliria cada vez mais adensada

    nos grandes centros urbanos, a praa

    caracteriza a comunho entre os es-

    paos habitados pelas comunidades

    e o espao comum que a todos per-

    tence, isto , atendendo necessidade

    precpua de comunicao entre os ci-

    dados. Desde a sociedade neoltica,

    constituda pelos povos mais primiti-

    vos, passando pela civilizao grega,

    bero da democracia, poltica, filosofia

    e do conhecimento em seu sentido

    mais amplo, chegando a Roma, ao

    perodo do Renascimento e ao ps-re-

    nascentista, at alcanar o movimento

    modernista e o contemporneo, um

    trao marcante identificou a praa: um

    local de encontro e de convvio social.

    Naturalmente, com as diferenas do

    tempo e suas diversas acepes, o

    elemento humano se inseriu perma-

    nentemente em sua configurao,

    seja em celebraes de casamentos,

    comemoraes, realizao de torneios

    esportivos, peas teatrais e festas p-

    blicas, localizao de feiras e mercados

    ou como palco de execues pblicas,

    a exemplo da vivenciada pela Praa da

    Piedade, em Salvador, onde em 1799

    foram enforcados e esquartejados

    mrtires da Conjurao Baiana.

    Em boa hora, pois, a Praa Engenhei-

    ro Carlos Batalha, no Rio Vermelho,

    em processo de adoo pelo Grupo

    Empresarial Sagarana, sempre com

    o apoio da Amarv Associao dos

    Moradores e Amigos do Rio Vermelho.

    Carlos Batalha no foi um engenheiro

    to s. Competente, carismtico, n-

    tegro, um homem talhado para servir.

    E o fez sem limitaes. Doando sua

    capacidade profissional a sucessivas

    administraes, ele jamais se deixou

    seduzir pela vaidade, tampouco fez de

    elevadas funes que exerceu escada

    para alcanar prestgio pessoal ou for-

    tuna. Resistiu, inclusive, a apelos para

    que se lanasse na carreira poltica. Sou

    apenas um operrio da Engenharia, um

    simples muncipe de Salvador, disse

    certa vez.

    Quando se olha em torno do que ronda

    a vida pblica brasileira, onde a dignida-

    de deixa de ser regra para se transformar

    em exceo, a frase tanto mais expres-

    siva quanto exemplar. O operrio da En-

    genharia, como ele prprio se identifica-

    va, foi um operrio padro da decncia

    na administrao pblica. Se h quem

    dela se aproveita para o enriquecimen-

    to ilcito, ele optou pelo ofcio de servir

    Bahia e, principalmente, a Salvador. Em

    sua extensa operosidade, comandou

    com a capacidade do tcnico aprimo-

    rado e do servidor apaixonado grandes

    obras beneficiando a cidade e sua po-

    pulao. Nesse rol incluem-se os tneis

    Amrico Simas e Teodoro Sampaio, o

    Teatro Castro Alves, Ginsio de Esportes

    Antnio Balbino, lamentavelmente ex-

    tinto para dar lugar Arena Fonte Nova,

    a Hora da Criana, tornando realidade

    o sonho de Adroaldo Ribeiro Costa, a

    Usina Hidreltrica de Cotegipe, o Clube

    Espanhol, Maternidade Tsylla Balbino,

    escolas, centros sociais urbanos, recupe-

    rao de praas, ruas e jardins.

    Em 31 de julho de 2014, quando o cen-

    tenrio de Carlos Batalha ser comemo-

    rado, no ser bastante para lembr-lo

    a requalificao da praa que tem o seu

    nome, j em andamento. Pelo que fez

    pela cidade e pelos baianos, pelo reco-

    nhecimento de administradores aos

    quais serviu com independncia e zelo,

    pela recordao de quem teve o privil-

    gio de t-lo como timoneiro, sua famlia

    em especial, 100 anos merecem ser fes-

    tejados pela gratido do povo dessa cida-

    de. Afinal, como escreveu Antonio Carlos

    Magalhes, sintetizando inmeros de-

    poimentos de governantes com quem

    conviveu para servir cidade, Bahia ele

    deu rgua e compasso, onde serviu com

    competncia, inteligncia e amor.

    O centenrio de um operrio da engenhariaPor: Francisco Ribeiro de Carvalho

    Foto: Divulgao

    Arquiteta e urbanista formada pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, membro do conselho da Associa-o Brasileira de Arquitetos Paisa-gistas ABAP, coordenou o GT de reas verdes e espaos abertos do rgo Central de Planejamento OCEPLAN, desenvolveu projetos de restaurao e reutilizao de edifcios de mrito arquitetnico, autora de significativos projetos paisagsticos na Bahia e Medalha de Mrito do CREA-BA pelos ser-vios prestados comunidade ao longo de meio sculo, dentre ou-tros prmios recebidos.Baiana de Conceio de Feira, Aril-da casada com Jos Raymundo de Sousa tendo duas filhas, Sara, arquiteta, e Carol, formada em Pu-blicidade e Marketing. Graas a sua sensibilidade, talento e esprito empreendedor, todo o trabalho de restaurao da arquiteta est per-petuado nos sobrados do Rio Ver-melho: o Palacete dos Gonzagas, casa do sculo XIX que se transfor-mou no Hotel Catharina Paraguau e o Casaro Avenida Saudvel, da segunda metade do sculo IX, que por obra do acaso ou destino virou Villa Forma Academia.

    JRV Como foi seu comeo no Rio Ver-melho?Arilda Cardoso O meu tio era o padre do Rio Vermelho, Padre Alcides, morava aqui com minha v e eu vim para fazer o exame de admisso e estu-dar no Colgio das Mercs. No primeiro ano ainda morei aqui na casa de meu tio, mas depois fiquei interna no colgio. Terminei o quarto ano e fui para o Colgio Central. A tornei a morar na casa de meu tio, que depois voltou para Ipir. Morei em algumas penses no Centro, fiz a Escola de Arquitetura, me formei e me casei. JRV Como se deu o gosto pela arquite-tura?AC O meu grande sonho era vir aqui para Salvador, no queria ficar na minha cidade onde eu acabaria sendo professora. E eu no queria ser professora. Eu no queria fazer medicina. No queria fazer direito. Engenharia no era pra mulher naquele tempo. A resolvi fazer farmcia. Falei isso numa roda de cole-gas, a um deles disse: mas, Arilda, fazer farmcia, voc que primeiro lugar em matemtica? Por que voc no faz arquitetura? Fiz o vestibular, passei e fiz arquitetura. Gostei muito da profisso. Quando a gente faz o que gosta, sempre desenvolve mais. Comecei a trabalhar na Prefeitura, em vrios escri-trios, fiz projetos de residncia e trabalhei muito na rea de paisagismo. Me interessei muito por essa rea, fazamos cursos de paisagismo em So Paulo. Aprendi a trabalhar com grandes paisagens. Foi assim que fiz um trabalho em Pedra do Cavalo, recuperao de reas desfiguradas. Mrio Cravo tambm me chamou para ajudar ele. Eu conheci Mrio Cravo porque tinha uma casa aqui no Rio Vermelho, toda cheia de pontas. Eu no tinha ideia que Mrio Cravo era to organizado. Depois fiz ou-tros trabalhos, um trabalho grande no Horto Flo-restal. Ultimamente fiz o Parque So Bartolomeu. E fizemos o Campo Grande, eu e minha irm, fizemos a reforma do Campo Grande h uns dez anos. Sem-pre tivemos uma preocupao com essa questo da preservao, tanto da paisagem natural como tambm a preservao dos elementos que contam a histria da nossa cidade. Estmos perdendo muito isso, a cidade est acabada, quando a gente passa e v aquelas janela quebradas. Muito triste! Acho tambm que no existe uma poltica correta para preservao, no h estmulo. O que h ameaa. H pouco saiu um decreto para desapropriar as

    casas. Por que no se oferece uma linha de crdito para que os prprios proprietrios possam reformar suas casas? Embora em outros pases tenha! Por exemplo, no Equador resolveram muito o problema dos camels aproveitando esses quarteires vazios onde mantiveram a fachada e, l dentro, subdividi-ram como no Mercado Modelo. Ns fizemos um trabalho, O RIO VERMELHO QUE QUEREMOS. Apresentamos ali na Igrejinha para o prefeito Joo Henrique que perguntou secret-ria, na poca, Ktia Carmelo, que disse que o Rio Vermelho j uma rea de proteo paisagstica. S que isso no resolve nada. Temos que ter par-metros, uma rea de proteo paisagstica que voc pode construir at nove, dez metros de altura, no correto. Temos que fazer uma poltica de pre-servao. Mas eles no levaram isso adiante, no. O RIO VERMELHO QUE QUEREMOS um trabalho que ainda considero interessante, porque inclusive no prope expulsar o morador. O morador uma coisa muito importante para a vida do bairro. Ve-jam o que aconteceu no Pelourinho. Construram aquilo tudo mas se no tem morador, no tem vida. O morador quem est ali presente de ma-nh, de tarde e de noite. Claro que tem que ter o comrcio tambm, mas preciso equilibrar. Acho na verdade que as coisas so muito pouco discutidas com a comunidade. Veja o exemplo da Ponte Salvador-Itaparica, foi uma escolha do governante. Eu tenho minhas dvidas sobre essa ponte. O bonde vem a. O metr vem a. A ponte vem a. Ento tenho minhas dvidas sobre tanto vem a. A participao, ouvir o morador, muito importante. E esto dizendo que agora o Carna-val vem a. E pode acontecer o que aconteceu na Barra. As casas bonitas que tinham l foram se transformando em comrcio. Com a vinda do carnaval para aquela rea, os comerciantes co-meraram a alugar suas casas para o carnaval por preos absurdos, valores irreais, tipo R$ 500 mil. Ento, o que eles fizeram: no alugam mais para ningum, deixam ali fechados o ano todo e s alugam na poca do carnaval. JRV E o patrimnio arquitetnico do Rio Vermelho?AC Quando comearam a construir um prdio bem alto aqui no Rio Vermelho, eu estava na Pre-feitura. Foi lanado um decreto chamado Decreto de So Lzaro, que se estendia at aqui. Esse de-creto limitava a um gabarito mximo de dois pa-vimentos. Isso desencorajava as pessoas a jogarem a sua construo no cho para levantar outra que s poderia ter dois pavimentos. Veio outro prefeito que mandou subir o gabarito para trs pavimentos, a o pessoal comeou a desfigurar a arquitetura. Nesse trabalho que fizemos na ocasio, tnhamos desfigurados s 10% das ocupaes das dcadas de 1940 e 50 que ia da Pacincia at a Fonte do Boi e na Rua do Meio. Imagine, s 10% era uma coisa irreversvel! Isso o tipo da coisa que acontece em pases que no preservam seu patrimnio.

    JRV Sobre o projeto da nova orla do Rio Vermelho...AC Nas discusses desse projeto da orla do Rio Vermelho eu vi uma proposta que foi apresentada e, felizmente, no foi acatada, que era a criao de um museu de vidro nas Quadras da Pacincia para abrigar as obras de Frans Krajcberg. Ia ficar uma coi-sa muito bonita, mas o mais importante dali a vista da praia, a gente no pode por mais lindo que seja ocultar a frente da praia que tem uma soberania muito maior. Tambm ia ser uma estrutura de vidro. Vidro na frente da praia ia precisar de muita conser-vao, ou seja, ia ser um problema em pouco tempo. Ningum vai visitar um museu todo dia, ali pede um espao de uso coletivo, rea de convivncia diria.JRV E sobre o Centro Social Monsenhor Amlcar Marques?AC Chegou uma senhora, Maria Clara, daqui do Rio Vermelho, da famlia Marinho, perguntando se eu no queria tomar a frente do Centro Social Monsenhor Amlcar Marques. A princpio eu no quis. Insistiram e acabei aceitando. uma hist-ria muito bonita, comeou com uma professora, D. Abba, que realizava essa obra em Feira de San-tana, distribuam cestas bsicas e davam cursos. Ela tinha um irmo que era monsenhor, chamado Amlcar Marques. Ele morreu num acidente vindo de Feira de Santana para Salvador. Ela veio para c e resolveu continuar a sua obra. Uma obra que, naquela poca, j tinha 40 anos. Primeiro haviam se instalado no casaro onde a Academia (Villa Forma). A Igrejinha ia ser demolida quando a nova estivesse pronta. Ento o padre disse que fossem para a Igrejinha. Quem sabe elas no arrumavam o dinheiro para reformar a Igrejinha? E no que elas conseguiram o dinheiro e fizeram a reforma! Isso h 25 anos. Quando eu peguei j precisava novamente de consertar. Estava cheia de goteiras e de cupins. Mas elas continuavam a realizar seu trabalho. Eu comecei a fazer campanhas: fiz uma campanha para arrecadar telhas no meu anivers-rio, fiz outras, depois veio a campanha Sua Nota Um Show. Ento o que a gente faz l mesmo : a distribuio de cestas bsicas, as pessoas de terceira idade se renem para costurar e depois fazem bazar para vender o que produzem. Temos alguns cursos dados por voluntrios. A gente no tem como pagar professor, Sua Nota um Shom no permite, nada permite. E a gente trabalha fazendo algumas coisas para vender e comprar material de consumo dos curso de arte culinria, do curso de bijouteria, curso de violo, desenho artstico, de capoeira e teatro.JRV O que curte no Rio Vermelho?AC Eu tenho uma histria de vida no Rio Verme-lho. Minhas coisas eu tenho aqui. Eu curto muito essa atmosfera antiga dos casarios. sempre um lugar que remete ao passado. Eu gosto muito daqui. Acho que um dia ainda vou acabar vindo morar no Rio Vermelho. Eu tenho contato com o Rio Vermelho desde os sete anos, j estou com 78! So 70 anos de vida aqui.

    Foto: Andr Avelino

    Personagem do Rio VermelhoArilda Maria Cardoso Sousa

  • JRV 11

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    Todo mundo lembra, no ano passado no incio das partidas de futebol, os jogadores sim-plesmente ficavam parados ou sentavam-se no cho como for-ma de protesto. Era uma ao do Bom Senso F. C., um movimento de jogadores profissionais que reivindica mudanas estruturais no futebol brasileiro. A proposta do movimento, chamada Pro-posta de Sucesso, visa cobrar diversas mudanas no futebol do pas no que diz respeito a ca-lendrio, frias, perodo de pr--temporada, fair play financeiro e trabalhista, alm de maior par-ticipao nos conselhos tcnicos das entidades que organizam as competies.

    Algumas das propostas: Aponta solues para as dvi-das dos clubes sem compro-meter as receitas de curto pra-zo. O pagamento das parcelas da dvida aumentaria gradati-

    vamente medida em que o faturamento fosse maior.

    Antes de cada competio, o clu-be teria que apresentar certides negativas comprovando a nego-ciao dos seus dbitos. A cada rodada sem estes documentos, o clube perderia trs pontos.

    Salrios, direitos trabalhistas e direitos de viagem devem ser pagos em dia. O pagamento por direito de imagem no pode ultrapassar 20% do valor do salrio para se evitar fraudes.

    Criao de uma Agncia Regula-dora do Futebol, principalmente para o controle e cumprimento dos direitos trabalhistas.

    Cobrana na abertura de di-logo direto por parte da CBF e Federaes.

    Segundo o Bom Senso F. C. necessrio que os gestores dos clubes cumpram risca o plano estratgico dos clubes e se res-ponsabilizem por suas aes.

    O que Bom Senso Futebol Clube

    Cronograma fura de novo. Ceasinha deve-ria comear a funcio-nar em janeiro

    A Ceasinha do Rio Vermelho que deveria comear a funcionar em novas instalaes no ms de ja-neiro, de acordo com o crono-grama do governo, no funcio-nou. As obras de requalificao comearam em janeiro de 2012, com a demolio da antiga es-trutura. Com o novo prdio o nmero de boxes passou de 100 para 135, as vagas de estacio-namento passaram de 100 para 240 e o local vai ganhar ainda uma praa de alimentao.

    Audincia Pblica no Alto do So Gonalo

    Moradores do Alto do So Gonalo participaram de uma audincia pblica realizada no salo de eventos do edifcio Bahia Bela, para discutir e bus-car solues para os problemas da localidade. Participaram do encontro os vereadores Everal-do Augusto (PC do B), Aladilce (PCdo B), Fabola Mansur (PSB), Marcell Moraes (PV), Claudio Tinco (DEM). Os moradores continuam mobilizados para que as reivindicaes sejam atendidas.

    Praia da Pacincia abandonada pelos poderes pblicos

    A Praia da Pacincia uma das mais bonitas da cidade, mas nem por isso merece a ateno dos poderes pbli-cos. Muito lixo, mato e ago-ra com moradores sem-teto que usam o local para acu-mular lixo reciclvel. Odor de urina, alm da gua suja que escorre dos dois esgotos e a sujeira inviabilizam uma das poucas opes de lazer dos moradores.

    Porteiros e vigilantes qualificados

    A 12 CIPM, em parceria com o Conselho Comunitrio de Segu-rana do Rio Vermelho/Ondina e com o apoio da UNIFACS, realizou um curso de capacitao para vigilantes dos prdios dos dois bairros. No total 120 profissionais receberam certificados. Nos pr-ximos meses novas turmas sero abertas.

    Deu no Blog blogdoriovermelho.blogspot.com.brFotos: Carmela Talento

    Mais uma novidade

    Ao lado das mscaras do artista plstico Bel Borba, na Pacincia, apareceu uma nova obra de arte.

    Fair Play FinanceiroO Esporte Clube Bahia e o Esporte Clube Vitria na temporada de 2014. Andam falando muito em Fair Play Financeiro e Bom Senso F.C. O que realmente significa isso?

    Aprovado por unanimidade pelo Comit Executivo da UEFA em se-tembro de 2009, regulamentado em maio de 2010 com perodo de trs anos para implementao e j em vigor em 2013 e 2014, o conceito de Fair Play Financeiro veio para o bem-estar do futebol europeu. Sendo seus principais objetivos:

    Introduzir mais disciplina e ra-cionalidade nas finanas dos clubes de futebol.

    Diminuir a presso sobre salrios e verbas de transferncias e limi-tar o efeito inflacionrio.

    Encorajar os clubes a competir apenas com valores das suas receitas.

    Encorajar investimentos a longo prazo no futebol juvenil e em in-fraestrutura.

    Proteger a viabilidade a longo prazo do futebol europeu.

    Assegurar que os clubes resol-vam os seus problemas financei-ros a tempo e horas.

    Sob esse conceito, os clubes no podem repetidamente gastar mais do que as receitas que ge-rem, estaro obrigados a respei-tar todos os compromissos rela-cionados com pagamentos de transferncia e de empregados. Clubes de risco mais elevado que falham determinados indicado-res tambm sero obrigados a providenciar oramentos em que detalhem os seus planos estra-tgicos. Tudo com muita clareza e transparncia. Aqui no Brasil, alguns clubes j assimilam o con-ceito, mas o grande problema continua a ser a transparncia.

  • 12 JRV

    Em homenagem ao centenrio de nascimento do cantor e compositor Dorival Caymmi, que ocorrer no dia 30 de abril, uma ampla programao comemorativa se estender pelo ano de 2014, oportunidade de se fazer uma releitura de suas canes e refletir sobre a importncia do compositor baiano no cenrio da msica nacional.

    Dorival Caymmi nasceu em Salva-dor, Bahia, em 30 de abril de 1914, filho de Durval Henrique Caym-mi, descendente de italianos que tocava violo, bandolim e piano, e de Aurelina Cndida Soares Caymmi (Dona Sinh), mestia de portugueses e africanos, dona de casa que cantava muito bem. Ca-sou com Adelaide Tostes, nome verdadeiro da cantora Stella Ma-ris, tendo trs filhos: Dinair (Nana, 1941), Dorival (Dori, 1943) e Danilo Cndido (1948), que se tornaram grandes nomes da msica popu-lar brasileira. Teve seis netos, Stella Teresa, Denise Maria e Joo Gil-berto (filhos de Nana), Joo Vitor (filho de Dori) e Juliana e Gabriel (filhos de Danilo).

    Aos seis anos comeou a fre-qentar a Escola de Belas Artes, no Colgio de Dona Adalgisa. Es-tudou depois no Colgio Batista e, em 1926, concluiu o curso pri-mrio no Colgio Olmpio Cruz.

    No ano seguinte matriculou-se no curso ginasial no mesmo co-lgio mas abandonou o curso no mesmo ano para trabalhar. Em-pregou-se no escritrio do jornal O Imparcial, da capital baiana, onde fazia diferentes servios. Na mesma poca comeou a fazer as primeiras pinturas, desenhan-do tabuletas para lojas comer-ciais. Em 1929 o jornal fechou e Dorival Caymmi teve que se de-dicar a outros servios. Tornou-se vendedor de bebidas.

    Aprendeu a tocar violo com seu pai e seu tio Cici, depois es-tudou sozinho e se tornou um grande autodidata. Ouvindo fo-ngrafo e depois vitrola, cresceu sua vontade de compor. Canta-va na adolescncia em um coro de igreja como baixo-cantante.

    Em 1930, comeou a compor marchinhas e toadas como No

    Serto, sua primeira msica. Aos 20 anos estreou como cantor e violonista em programas da Rdio Clube da Bahia. Em 1935, passou a apresentar o musical Caymmi e suas Canes Praiei-ras. Com 22 anos venceu como compositor o concurso de mu-sicas de carnaval com o samba A Bahia Tambm D. O diretor Gilberto Martins da Rdio Clube da Bahia, o incentiva a seguir carreira no sul do pas. Em 1937 aos 23 anos, Caymmi viaja para o Rio de Janeiro, ento Capital Federal para tentar a sorte por l. Em sua bagagem a msica O que que a baiana tem que fez um tremendo sucesso nacional e internacional na voz de Car-mem Miranda, a pequena not-vel, a partir do filme Banana da Terra, de 1938.

    Com ajuda de parentes e ami-gos consegue um emprego em

    O Jornal do Grupo dos Dirios Associados e realizar o curso pre-paratrio de Direito, ainda assim continuava a compor e cantar.

    Recebeu conselhos para seguir a carreira de cantor. Foi apresenta-do ao diretor da Rdio Tupi, Tefi-lo de Barros Filho, que se agradou da sua voz e o contratou por 30 mil ris. Em 1939, conhece num programa de calouros da Rdio Nacional, a cantora Stella Maris, quando ela cantava ltimo De-sejo de Noel Rosa e no ano se-guinte tornou-se sua esposa.

    Comps inspirado pelos hbitos, costumes e as tradies do povo baiano. Tendo como forte influ-ncia a msica negra, desenvol-veu um estilo pessoal de compor e cantar, demonstrando espon-taneidade nos versos, sensualida-de e riqueza meldica. Nas com-posies a Bahia surge como um

    local extico com um discurso tpico que estabelecera-se nas primeiras dcadas do sculo XX, com referncias cultura africa-na, comida, s danas, s rou-pas e, principalmente, religio.

    Entre suas msicas que cantam a Bahia, o seu mar azul, a gua escura do Abaet, a areia bran-ca de suas dunas, a tragdia de negros e pescadores, esto clssicos como: Maracangalha, Saudade da Bahia, Joo Valen-to, Coqueiros de Itapu, O Mar, A Jangada, Bahia de So Salvador, Tieta, Me Menini-nha, Gabriela, Morena Rosa, Rosas de Abril e mais dezenas de outras composies que marcaram sua vida artstica.

    Caymmi frequentava muito o Rio Vermelho e adorava o bair-ro, pois seus amigos Jorge Ama-do e Caryb eram moradores.

    100 anos de Dorival Caymmi

    Dorival Caymmi no veleiro Laffite do amigo Carlos Guinle

    Foto: Agncia A TARDE

  • JRV 13

    lbuns

    Carmem Miranda & Dorival Caymmi, abril de 1939

    Carmem Miranda & Dorival Caymmi, setembro de 1939

    Dorival Caymmi, trs discos em dezembro de 1943

    Dorival Caymmi, 1945 Dorival Caymmi, 1946 Dorival Caymmi, 1947 Dorival Caymmi, 1948 Dorival Caymmi, 1949 Dorival Caymmi, 1952 Dorival Caymmi, 1953 Dorival Caymmi, 1954 Dorival Caymmi e Seu Violo, 1954

    Samba de Caymmi, 1955 Dorival Caymmi, janeiro de 1956

    Dorival Caymmi, maro de 1956

    Dorival Caymmi, agosto de 1956

    Canes Praieiras, 1956 Dorival Caymmi, maio de 1957

    Dorival Caymmi, junho de 1957

    Caymmi: Canes do Mar, 1957

    Caymmi e o Mar, 1957 Eu Vou Pra Maracangalha, 1957

    Dorival Caymmi, dezembro de 1957

    Ary Caymmi Dorival Barro-so, 1958

    Eu No Tenho Onde Morar Compacto Duplo, 1959

    Dorival Caymmi, fevereiro de 1960

    Dorival Caymmi e Nana Caymmi, maio de 1960

    Caymmi e Seu Violo, 1960 Eu no tenho onde morar, 1960

    Caymmi Compacto Sim-ples, 1964

    Caymmi visita Tom, 1964 Caymmi (KAI-EE-ME) and The Girls from Bahia

    Vincius/Caymmi no Zum Zum, 1967

    Dorival Caymmi, 1969 Encontro com Dorival Caymmi, 1969

    Dorival Nacional, 1970 Caymmi, 1972 Caymmi tambm de Rancho, 1973

    O Mar (The Sea) Songs by Dorival Caymmi, 1974

    Caymmi Setenta Anos, 1984

    Caymmi Indito, 1984 Caymmis Grandes Amigos, 1985

    Dorival Caymmi, 1986 Dori, Nana, Danilo e Dori-val Caymmi, 1987

    Famlia Caymmi em Mon-treaux, 1991

    Caymmi em Famlia, 1994 Caymmi in Bahia, 1994

    Participaes

    Recordando Carlinhos Guinle, 1962

    Stio do Pica Pau Amarelo, 1977

    Nana Caymmi, 1995 Martimo Adriana Calca-nhoto, 1999

    Coletneas

    Milagre, 1980 Saudades da Bahia, 1980 Grandes Compositores, 1990

    Minha Histria, 1992 Meus Momentos, 1993 Mestres da MPB, 1994 Srie Aplauso, Dorival Caym-mi e Nana Caymmi, 1995

    Personalidade, 1995 Histria de Pescadores, 1996

    Millenium, 1998 Srie Razes do Samba, 1999

    Srie Sem Limite, 2001 Caymmi Amor e Mar, 2001

    Sempre se via o grupo toman-do banho de mar e apreciando o pr do sol na Praia de Santa-na. Para ficar junto com seus amigos o Governo da Bahia, em 1968, presenteou Caymmi com uma casa na Rua Pedra da Sereia no Rio Vermelho, em frente ao mar da Praia da Sereia onde passou alguns anos. Sua esposa Stella Maris no queria morar na Bahia, nem passear, nem veranear. Com isso, Caym-mi retorna ao Rio de Janeiro dessa vez levando na bagagem Saudades da Bahia.

    Vtima de cncer renal, Caymmi faleceu em sua casa no bairro de Copacabana no Rio de Janeiro, a 16 de agosto de 2008. Seu corpo foi transportado pelo Corpo de Bombeiros para a Cmara Mu-nicipal do Rio onde foi velado e seu sepultamento aconteceu no Cemitrio So Joo Batista em Botafogo no mausolu da fam-lia de Carmem Miranda.

    Comemoraes

    O marco inicial das comemora-es do centenrio do cantor e compositor Dorival Caymmi foi o lanamento no ano passado do livro O que que a Baiana Tem Dorival Caymmi na Era do Rdio, de autoria da sua neta Stella Te-resa, que escreveu o livro a partir de mais de 70 entrevistas com o av, complementadas com pes-quisas em seu arquivo pessoal e do prprio compositor. A jorna-lista tambm autora de uma extensa biografia do av Caym-mi O Mar e o Tempo resultado de 10 anos de pesquisas.

    Este ano, nos dia 9 a 12 de janei-ro, no SESC Pompia, zona Oeste de So Paulo subiram ao palco os filhos Nana, Dori e Danilo para homenagear o pai com o show Famlia Caymmi 100 Anos de Dorival Caymmi, que deve per-correr todo o pas. As apresen-taes exploram canes muito

    conhecidas e aquelas que esto no imaginrio popular. So to-cadas com novos arranjos, mos-trando o fascnio de Caymmi pe-las coisas da Bahia e seu folclore. H inclusive uma cano nunca antes gravada.

    O Arquivo N que vai ao ar na Globo News, comemora o cen-tenrio de Caymmi com vrios programas durante 2014. No primeiro programa o prprio Dorival Caymmi quem conta sua histria, atravs de antigas entrevistas e programas musi-cais da Globo.

    Aqui na Bahia, no Irdeb, come-aram as comemoraes com entrevistas ao vivo dos filhos e netos de Caymmi no Multicultu-ra da 107.5 Educadora FM, alm de programas dedicados ao compositor em TVE Revista, Per-fil e Opinio da TVE. Voc pode acompanhar toda a programa-o especial pela internet.

    Dorival Caymmi e sua esposa Stella Maris

    Foto: Divulgao

    DiscografiaSo Salvador, Bahia de So Salvador, a terra do branco mulato, a terra do preto doutor

  • 14 JRV

    Foto: Edgard Carneiro

    Ody, Yemanj!A Festa do dia 2 de Fevereiro reu-niu seguidores de vrias crenas em homenagem Rainha do Mar. Seguidores e fiis do Can-dombl, Espiritismo, Umbanda e Catlicos passaram o dia em frente Colnia de Pesca Z-1 entregando oferendas e espe-rando a sada do presente que foi ao mar s 16 horas.

    A Festa de Yemanj a maior manifestao pblica de f do Candombl a um orix no mun-do. A tradio de reverenciar o orix muda a rotina de milhares de baianos e turistas, indepen-dentemente de religio, um ritual nico e emocionante.

    As comemoraes comearam cedo com a alvorada de fogos s 4 horas da manh na chegada do presente e a colocao des-te no Carramancho ao lado da Colnia de Pesca Z-1. No mes-mo horrio houve a passagem do msico Carlinhos Brown com o grupo Zrabes.

    Nesse ano, o presente principal foi uma rplica de uma tartaru-ga marinha, pea confeccio-nada pelo artista plstico Ruy Sanatana, morador do bairro. Para a Me Ace Santos fren-te das obrigaes religiosas da

    festa h 22 anos, o presente especial: Foi um pedido de Yemanj, a escultura homena-geia seu filho Xang que est regendo o ano junto com Yan-s, explicou.

    Durante todo o dia centenas de devotos fizeram filas para entre-gar as suas oferendas que so co-locadas em balaios, at s 16 ho-ras quando so levadas em um cortejo martimo para o alto mar.

    Nas ruas do bairro desfilam gru-pos de samba, ijex, blocos afros, blocos de percusso, grupos fantasiados e rodas de capoeira, demonstrando devoo e muita alegria durante a festa.

    Hotis, bares, boates e residn-cias realizam festas particulares com muita comida e bebida, alm de atraes artsticas e DJs para todos os gostos.

    A cada ano essa festa atrai multi-des para o bairro do Rio Verme-lho, tornando-se uma das maio-res festas populares da Bahia. A festa reuniu cerca de 700 mil pessoas no bairro e foi conside-rada uma das mais tranquilas em nmero de ocorrncias po-liciais. O Posto Mdico no teve ocorrncias graves.

    Mais uma vez milhares de baianos e turistas vieram prestar suas homenagens Rainha do Mar

    Palhaos, arlequins, colombi-nas, mascarados, ala de baia-nas, fantasias diversas, confe-tes e serpentinas marcaram o quarto desfile dos Palhaos do Rio Vermelho, no sbado, 22 de fevereiro, numa autntica prvia do Carnaval de Salvador.

    O bloco rene crianas, jovens, adultos e idosos numa explo-

    so de alegria e descontrao contagiando todo o bairro. No repertrio msicas atuais, mar-chinhas carnavalescas e muito samba sob a responsabilidade de Banda Marmelada. Parti-cipando do cortejo o grupo Zambiapunga de Nilo Peanha com suas mscaras, fantasias e instrumentos diferentes, sempre um destaque.

    O homenageado do ano foi o cantor Mrcio Melo que rece-beu a coroa do Reino dos Palha-os. Desde a concentrao nas Quadras da Pacincia at o fim do desfile na Rua Fonte do Boi, a tranqilidade e a alegria foi a tnica da festa. Os Palhaos do Rio Vermelho a cada ano con-seguem atrair um pblico cada vez maior com sua beleza.

    Palhaos do Rio VermelhoFoto: Edgard Carneiro

  • JRV 15

    Lero-Lero desfila capitaneado por Cacau do Pandeiro

    Abrindo o Carnaval de Rua de Salvador, o Bloco Lero-Lero reali-zou no dia 16 de fevereiro o seu desfile pelas principais ruas do bairro culminando com o tradi-cional Banho de Mar Fantasia, nica festa do gnero que ainda acontece em Salvador. Trata-se de uma manifestao popular que ocorre h 74 anos e sempre 15 dias antes do Carnaval.

    O desfile pr-carnavalesco per-correu as ruas do bairro saindo da concentrao na Vila Matos e

    seguindo pela Rua da Pacincia em direo Mariquita e retor-nando Praia da Sereia, onde acontece o banho de mar ao por do sol do Rio Vermelho. uma verdadeira exploso de ale-gria e irreverncia que anima o bairro e arrasta pessoas de todas as idades.

    Conduzido pelo Mestre Cacau do Pandeiro e sua bateria, o som de tima qualidade, repleto de sambas e marchinhas carnava-lescas, este ano teve a participa-

    o do cantor Mateus (Olodum) morador do Rio Vermelho que subiu no minitrio animando ain-da mais a galera.

    Fantasias improvisadas, muito papel crepom, muito brilho e protestos bem humorados so a marca do Lero-Lero.

    De parabns Luciana Souza Cruz Silva, coordenadora do bloco que mantm viva a tradio do Banho de Mar Fantasia no Rio Vermelho.

    Lero-Lero e seu Banho de Mar FantasiaFo

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    Gerao Jovem Guarda, o bloco que no sai do lugarO Bloco Gerao Jovem Guar-da se reuniu mais uma vez no Bar do Manu no Largo da Ma-riquita, no domingo, 16 de fe-vereiro. Numa tradio de 14 anos, o bloco foi formado com o objetivo de reunir amigos e moradores do Rio Vermelho, ao som de uma boa batucada,

    descontrao, sem faltar uma loura gelada.

    O bloco que desfila sem sair do lugar, mantendo assim a fidelidade dessa diferente ma-nifestao, homenageou esse ano a Arara Azul, trazendo na camisa um dos smbolos da

    Copa do Mundo de Futebol de 2014. Coordenado por Boror e Pino, o bloco mantm viva a tradio, proporcionando muita alegria e momentos de confraternizao. Contou com a presena do imortal Gilda-sio Freitas e do cantor Mateus Aleluia (Ticos). Beto Bulhes, Mateus Aleluia, Pino, Solange e Boror confraternizam

    Foto: Carmela Talento

    Lauro Matta ladeado pelas baianas no desfile do Bloco Amgios do Rio Vermelho

    Em continuidade a uma tradi-o de 14 anos durante a Festa de Yemanj, o Bloco Amigos do Rio Vermelho desfilou renova-do, mas com mesma disposio e alegria de sempre.

    A Banda Rio Vermelho, com-posta por 100 msicos sob o

    comando dos maestros Chico (percusso) e Jorge (metais), fez um som da melhor qualidade repleto de sambas e marchi-nhas carnavalescas.

    A Ala das Baianas, composta por 50 figurantes, abriu o cor-tejo levando as oferendas a Ye-

    manj, distribuindo muita gua de cheiro.

    A segurana do bloco com 50 homens ficou a cargo do Gru-po Escolta VIP e prestou um servio de primeira qualidade. A camisa do desfile de 2014, homenageando a Rainha do

    Mar, voltou a ter a assinatura do designer grfico Rafael Tito-nel, morador do bairro h mui-tos anos.

    A concentrao foi na Praa Brigadeiro Faria Rocha, onde houve grandes momentos de confraternizao entre os

    mais de 1.000 alegres folies. Esse ano o desfile foi anteci-pado para 11 horas e seguiu pela Rua Odilon Santos, Praa Colombo, Rua Borges dos Reis, Rua Guedes Cabral e retornou pela Rua Joo Gomes e Odilon Santos at a concentrao na Praa Brigadeiro Faria Rocha.

    Amigos do Rio Vermelho na Festa de Yemanj

    Foto: Edgard Carneiro

  • 16 JRV

    Nosso entrevistado na Galeria do Artista o poeta, msico, escri-tor, publicitrio, jornalista, mdico e tropicalista Jos Carlos Capinan, au-tor de sucessos como Papel Mach, Soy Loco Por Ti Amrica, Ponteio e Viramundo, parceiro de Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso e Joo Bosco, e pai de Emanoel, Tiago e Cla-rice. Morador do Rio Vermelho, esse baiano nascido em Entre Rios, no distrito de Pedras, vem de uma fa-mlia de 12 irmos. autor de cerca de trezentas msicas e confessa que no d para viver de direito autoral no Brasil. Imortal da Academia de Letras da Bahia, luta com todas as foras para manter vivo o Museu da Cultura Afrobrasileira.

    JRV Conte sobre a amafRo

    CaPINaN A AMAFRO Sociedade de Ami-gos da Cultura Afrobrasileira, foi criada em 2002, para, principalmente, protagonizar a instalao de um museu da cultura afrobrasileira na Bahia. Para ser instalado, o museu conquistou dois prdios em runas. Tudo aprovado pela Lei Rouanet. Isso no go-verno Fernando Henrique que foi o propositor bsi-co da idia, tendo em vista a necessidade de mu-seus e a grande dificuldade de ter equipamentos dativos de memria, para que pudssemos ter uma viso da nossa cara, do legado da cultura afrobra-sileira. A proposta do governo Fernando Henrique, do ministro Francisco Weffort, era a instalao de cinco museus desse naipe no Brasil. Sendo que esse da cultura afrobrasileira seria na Bahia. Foi feito um seminrio internacional para decidir isso, com a participao de vrios estados brasileiros, a Bahia foi escolhida por conta da sua forte caracterstica cultural, da presena do negro na nossa vida, das grandes contribuies nas reas da culinria, das artes plsticas, da msica. A Bahia ganhou essa parada. Houve a um acontecimento que foi muito importante para o futuro desse projeto. O Fernando Henrique perdeu a eleio com seu candidato e Lula ganha a eleio. Toda descontinuidade ad-ministrativa a gente sabe que um horror, porque normalmente o eleito v nos projetos que o adver-srio deixa, uma coisa que no a sua proposta. Bom, no nosso caso, tivemos uma particularidade que no tornou to drstica a situao porque foi convidado para o Ministrio da Cultura Gilberto Gil, que levou uma equipe baiana que entendeu a importncia do projeto para a Bahia. Mesmo com toda simpatia do ministro Gil e sua equipe, o projeto teve um recomeo: em vez de estar pronto em 2004 como era a ideia, levou dois anos para conseguir os primeiros recursos para montar os projetos executi-vo, arquitetnico, da prpria museologia e, tambm o projeto de modelo gestor. S em 2004 com o pa-trocnio da Caixa que ns conseguimos preparar esses projetos. Comeamos a buscar aprovao deles dentro do ministrio, durante esse tempo houve uma grande dificuldade em dialogar com o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus). Como o projeto a instalao de um museu federal, era muito difcil avanar sem que o governo federal estivesse nos apoiando. Na sada do ministro Juca, ele conseguiu um bom convnio com o IBRAM com recursos, mas hoje a burocracia, o controle, que so coisas importantes mas ao mesmo tempo acabam sendo malficos pensam com a idia mais de obstruir do que ajudar no fazer, no que se queira agir assim, mas as lgicas do controle prejudicam a dinmica de realizao. Se bem que, por cautela, diante de tantas coisas que acontecem, a gente reconhece a necessidade de controle, mas repara a contradio: ns fizemos um convnio que no re-conhecia recursos para custeio, ou seja, a AMAFRO tinha que realizar um projeto do governo federal, proposto desde o incio pelo prprio governo, mas no podia receber verba de administrao. Ou seja, teramos que trabalhar de graa para o governo. Um situao kafkaniana! Isso trouxe problemas s-rios para a entidade: fazer um museu de tamanha

    complexidade ainda mais com duas runas a serem recuperadas! Um museu por natureza no tem finalidade lucrativa, no se traduz em resultados financeiros, ele existe para o usufruto intelectual. Mas mesmo assim ele tem custos, tem um cus-to essencial, o custo de memria, de preservar a identidade, o custo de reconhecer quem voc , de que pas voc , qual a sua origem. Ns temos uma grande memria, temos um grande acervo e temos que mostrar isso. Porque o que ns somos, o que construmos. Ento, eu acho que isso no foi perce-bido da forma como deveria ser percebido. Este ano passamos um ano muito difcil, ameaamos fechar inclusive, porque temos um acervo de duzentas e poucas peas, com a curadoria de Emanoel Arajo, um profundo conhecedor da cultura baiana e afro-brasileira, que adquiriu um acervo maravilhoso e interessante porque a visita de escolas mostra como h uma carncia de ter um espao como esse para o prprio ensino sobre a frica, a cultura afrobrasilei-ra, e ns fazemos um papel herico de resistir a tudo isso com um aspecto importante: recuperamos o antigo prdio do Tesouro e o prdio da Assistncia Pblica Municipal que estavam em runas. Lem-brando que a AMAFRO uma instituio cultural, no uma instituio com expertise de obras. O que d um trabalho maior para controlar, fiscali-zar, porque usamos verbas pblicas. Trabalhamos, realizamos muita coisa, nos arriscamos muito, no sentido de que fazendo nessas condies, voc no s dilata seu prazo o que representa mais recursos, como tambm acumula problemas relativos a sua administrao, controle, medies etc.

    Mas ao mesmo tempo a AMAFRO caminhou muito, porque ns somos de uma cultura glau-beriana, de uma idia na cabea e uma cmera na mo, fazer cinema como ele fez, que uma indstria, uma arte industrial, com os recursos precrios que ele tinha, quer dizer fazer cultura na miserabilidade. E ele fez! Como ns estamos fazendo um museu da maior importncia cul-tural, com uma cultura precria, uma cultura de carncias. Por isso, dizemos que somos um museu em processo, ou seja, antes de inaugurar fizemos exposies internacionais, fizemos cinco exposies temporrias, exposio de Mestre Didi, esse autor muito importante da cultura afrobrasileira. Fizemos uma exposio comemo-rativa da cultura afrodescendente, dedicada ao ano dos afrodescendentes, que foi uma proposta da ONU. Fizemos uma exposio sobre a religio afrobrasileira no Rio Grande do Sul Cavalo de

    Santo. Fizemos uma exposio sobre a Revolta de Bzios, com o pessoal do Cortejo Afro, uma instituio muito importante do carnaval baiano. Vale dizer que as instituies ligadas ao carna-val no so somente instituies do carnaval. O Olodum, o Yl Ai Y, so instituies educativas, assim como os candombls, o Yl Ax Op Afon-j, liderado por Me Estela, no somente uma instituio de preservao da ancestralidade mas tambm uma escola de formao de carter, de pessoas, de mestres com alguns saberes como fa-zer tambor, fazer smbolos em metal dos orixs, ento ela prepara toda uma gerao nova para cultivar a herana deixada pelos nossos anteces-sores, nossos parceiros de construo da socidade brasileira, que so os negros. Ento o museu traz uma perspectiva mais organizada de fazer esse trabalho, porque uma entidade de pesquisa, que tem mestres no s da histria e da cultura, e trabalha com a concepo de tornar esse conhe-cimento pblico, tornar esse conhecimento um patrimnio da cidade, na mo da coletividade. Por isso, a importncia do museu to grande. Por isso me dediquei com tanto afinco, mas j cansado, confesso, a esse ideal, a esse sonho. E acho que no tem mais retorno, que no tem mais chance de se abortar esse projeto.

    JRV Voc falou em fechar o mu-seu para avanar. Como isso?

    CaPINaN Foi. Existem esses paradoxos: dar dois passos para trs e avanar um para frente. uma provocao isso. O que eu estou dizendo : vamos fechar mesmo? Ou vai haver uma reao do governo? Ou vamos entender finalmente que no d pra fechar um museu! Felizmente, a ministra Martha Suplicy uma pessoa que tem sensibilidade para cultura, e que tem fora poltica. Porque tem ministro que ministro mas no tem fora. O Gil mes-mo quando foi assumir o cargo perguntou para Lula: eu vou ser uma rainha da Inglaterra ou vou ter espao para trabalhar? O Juca tambm foi outro que deu magnitude ao ministrio. Essa dupla ressignificou o Ministrio da Cultura. Inclusive conceituou de uma forma nova a cul-tura, de uma forma antropolgica, que mudou muita coisa na rea. O problema que a poltica cultural tem ataques de espasmos financeiros.

    JRV o que foi o tropicalismo?

    Ns temos dentro de ns essa coisa chamada Tropicalismo. Na verdade, Tropicalismo uma ex-

    presso crtica e ao mesmo tempo afetiva. como se fssemos crticos mas, ao mesmo tempo, sou-bssemos que somos aquilo que criticamos. O Tro-picalismo um movimento pelo desenvolvimento, pela liberdade na criao artstica, pela democracia e, sobretudo, pela expresso cultural. O Tropicalis-mo sofreu muitas crticas como se ele fosse um movimento antinacionalista, fosse um adversrio do samba. O que queremos dizer que essa cul-tura autctone que ns pretendamos ter, no , no existe. Ns temos misturado negro e branco e ndio, e essa mistura veio pela sexualidade. O portugus teve com a negra uma relao amorosa que no era amorosa, usou da superioridade da posio social para obter prazer. O Tropicalismo se refere a muitas coisas que so da nossa histria, da nossa vontade de ter um futuro. Ele criticou as atitudes que pareciam repressoras, de costas para o conhecimento, era contra o preconceito. O Tropica-lismo tem paz. J havia entre artistas e intelectuais muitos precedentes, por isso o Tropicalismo sempre cita Oswald de Andrade, cita os modernistas, se vale desses exemplos. Era a necessidade do Brasil sair da condio provincial para uma condio cos-mopolita. Salvador era uma cidade cosmopolita desde o seu nascimento, era um porto de grandes negcios, era um dos principais portos das Am-ricas, e fomos perdendo essa caracterstica, o que j vinha sendo apontado por Gregrio de Mattos no carter da nossa cultura, em nossos dirigentes. O Tropicalismo uma fora que tem matrizes. As matrizes so o modernismo do sculo 20, a liber-dade de expresso, de criao e a grande aposta no conhecimento, no desenvolvimento, na criao de sociedades novas, democrticas, de amplo saber, de amplo fazer. Um desejo de contemporaneidade, fazendo caricatura daquilo que era atraso, que era obsoleto, sob os pontos de vista moral, sexual e comportamental.

    JRV Como se deu a indicao para a academia de Letras da Bahia?

    CaPINaN Eu recebi um convite de um baiano que considero muito interessante. s vezes a nossa viso poltica pe sombras sobre algumas pessoas que so diferentes da gente do ponto de vista ideolgico, mas que so de uma grandeza que preciso que os olhos estejam des-vendados. Esse homem foi o Dr. Jorge Calmon. Depois, quando eu me aproximei, j como secre-trio, Dr. Jorge Calmon respeitou muito a Secreta-ria de Cultura e tambm me respeitou.

    JRV fale um pouco sobre sua msica e seus parceiros

    CaPINaN Eu tenho muitos parceiros musicais, alguns da Bahia. Talvez s Vincius de Moraes tenha tido mais parceiros ah, lembro agora que estamos vivendo o centenrio do Po-etinha. Tenho quase trezentas msicas gravadas. As pessoas perguntam se vivo de direito autoral, no vivo. A minha gerao deu um salto na ques-to do direito autoral no Brasil. Toda essa gerao que est no panteo atual da msica brasileira foi responsvel por essa mudana. Apesar disso o sistema de direito autoral ainda deixa muito a de-sejar. O problema que todos sofrem com a falta de controle do ECAD. Mas os artistas no sentem tanto quanto os que no sobem no palco. Eu tive muitos sucessos gravados desde Viramundo, Ponteio, Soy Loco Por Ti Amrica, Massemba. Realmente, tenho muitas msicas tocadas, mas que no me trouxeram sucesso financeiro. Minha primeira msica chama-se Ladainha, foi gra-vada num compacto onde, no ou