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RESENDE E ITATIAIA - MAIO DE 2012 Nº 193 . ANO 17 - JORNAL MENSAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA [email protected] www.pontevelha.com A lagoa é invisível não por cegueira da gente. É que entre os olhos e a água tem muito carro na frente. Invisível é a lagoa na memória da pessoa porque o barulho da Dutra apaga-a, de forma abrupta Não invisível pela inépcia contumaz de autoridades, e sim pela correnteza que nos leva a outros mares A Lagoa Invisível Visível ainda, a lagoa, aos olhos de uma coruja, atenta (não como nós) ao pulsar do chão de turfa Nós só vemos desejados Corças, Celtas, Volks, Kia. O design do Triste Pia? Do Tricolino? Apagados. De repente, resplandece a lagoa; muitos vivas! ganha colar de automóveis - trilhas interpretativas. Sobre a lagoa da Turfeira (ou da Kodak) em processo de terraplenagem pela Nissan Nóis toma di treis mas caga eis no dibre Corrente forte, grosseira, de uma só dimensão, que empobrece as cabeças, faz ricos sem pés no chão. Invisível porque andamos só pela rota do asfalto, e já quase não precisam de solas nossos sapatos Visível no google earth a 10 mil metros de altura; mais real, assim na tela, que na real visão nua Visível agora, a lagoa, é gema de corolário mais efetivo que as aves e seus voos arbitrários. Veja! A lagoa existe! poema de Gustavo Praça

Jornal Ponte Velha - Maio de 2012

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Jornal Ponte Velha - Maio de 2012

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Page 1: Jornal Ponte Velha - Maio de 2012

RESENDE E ITATIAIA - MAIO DE 2012Nº 193 . ANO 17 - JORNAL MENSAL

DISTRIBUIÇÃO [email protected]

www.pontevelha.com

A lagoa é invisívelnão por cegueira da gente.É que entre os olhos e a águatem muito carro na frente.

Invisível é a lagoana memória da pessoaporque o barulho da Dutraapaga-a, de forma abrupta

Não invisível pela inépcia contumaz de autoridades,e sim pela correnteza que nos leva a outros mares

A Lagoa Invisível

Visível ainda, a lagoa,aos olhos de uma coruja,atenta (não como nós)ao pulsar do chão de turfa

Nós só vemos desejados Corças, Celtas, Volks, Kia.O design do Triste Pia?Do Tricolino? Apagados.

De repente, resplandecea lagoa; muitos vivas!ganha colar de automóveis - trilhas interpretativas.

Sobre a lagoa da Turfeira (ou da Kodak) em processo de terraplenagem pela Nissan

Nóis toma di treis mas caga eis no dibre

Corrente forte, grosseira,de uma só dimensão,que empobrece as cabeças,faz ricos sem pés no chão.

Invisível porque andamossó pela rota do asfalto,e já quase não precisamde solas nossos sapatos

Visível no google eartha 10 mil metros de altura;mais real, assim na tela,que na real visão nua

Visível agora, a lagoa,é gema de coroláriomais efetivo que as avese seus voos arbitrários.

Veja! A lagoa existe!

poema de Gustavo Praça

Page 2: Jornal Ponte Velha - Maio de 2012

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2 - O Ponte Velha - Maio de 2012

P O L I T I C Á L Y ACabo Euclides e Professor Silva

O Romário também era mas fazia os gols

Diz que o mal do Noel é ser meio marrento...

O DOMÍNIO DO PODER EXE-CUTIVO EM RESENDE

1 - O RODRIGUISM0 – 1947 a 1966 - edição de dez/111. 2 - O ROCHISMO - 1967 a 1976 - edição de jan/121. 3- O CARVALH\ISMO - 1955/62; 1977/82; 1989/96; 2005/08 - edição de fev/121. 4 - O OLIVEIRISMO - 1983 a 1988 - edição de mar/121. 5 - O EDUAR-DISMO - 1997 a 2004 - edição de abr/12 1. 6 - O RECHUANISMO - 2009 a 2012

1 .6 .1 - JOSÉ RECHUAN JUNIOR - chegou em Resende, em 1994, junto com sua então noiva, Dra. ANA PAULA, como médicos concursados, para trabalhar no Hospital de Emergência. O casal e seus filhos formam uma família de capa de revista, transmitindo às pessoas uma imagem de segurança e seriedade. A Dra. Ana Paula é cardiologista, com grande clientela e uma extensa área de influência, mercê de suas enormes competência e simpatia. Sua ajuda ao Prefeito é inestimável. A primeira incursão de Rechuan na política resendense foi em 2004, como candidato a verea-dor, quando obteve expressivos 805 votos, pelo PMN, mas o partido não conseguiu votos suficientes para eleger vereador. Foi Diretor do Hospital de Emergência, no governo Silvio de Carvalho. Logo na eleição seguinte, sua primeira ideia era ser vice do Silvio, Prefeito de Resende, imbatível na análise de todos os cientistas políticos locais. Acabou no grupo que se formou contra o Silvinho, reorganizado pelo Eduardo Meohas e equipe (leia-se BJ, PC e outros), provando, mais uma vez, que, em política, o desamor une mais que o amor. Tudo indicava que o candidato da oposição seria o João Alberto Stagi, o vencedor das prévias (segundo alguns), que ganhou, mas não levou. Em manobra discutível, a candidatura da oposição ficou com o Rechuan. Em desdobramento magistral, conseguiu a vitória por 1.046 votos contra um candidato que todos julgavam reeleito. De sua pro-fissão de médico e sua ascendência árabe, Rechuan extrai a paciência e o gosto pela arte da negociação, tão

necessários ao exercício da política. Mais do que paciência, é preciso estômago para conviver com o “me dá, me dá” da ampla coligação que o elegeu e, ainda, arrumar espaço para abrigar os inúmeros adesistas que correram à sua porta. Haja estômago... e cargos! Dizem que os cargos comissionados da Prefeitura de Resende hoje chegam a 1.200. Sua capacidade política revelou-se, sobretudo, no relacionamento com o governo estadual, mesmo sendo de um partido de oposição- o DEM, do qual acabou expulso, talvez por isso mesmo (rsrs). Sérgio Cabral desde criancinha, Rechuan logo foi reconhecido pelo Serginho como colega de infância e de política. Isto resultou na revitalização da entrada da cidade, na UPA da Alegria e outras obras. O Deputado Glauber, do PSB, conseguiu as verbas para a contenção do Sesmaria, obra de vitrine e de grande necessidade. Junte-se à sorte de Rechuan a sua enorme capacidade de trabalho e seu gosto pelo poder, e, eis o rechuanismo. Pegue-se esse bom governo, dê para o Ricardo Moraes (presença constante no CICC) pentear e entregue para o Ricardo Paiva (e os Vivacidades) divulgar, que logo o transformarão no melhor governo de todos. A vulnerabilidade está nos múltiplos processos contra o Prefeito; no relacionamento com a imprensa; em problemas relacionados com o meio- ambiente, e nos neo-eleitores ligados nas redes sociais.

1.6.2 - NOEL DE OLIVEIRA – Na última eleição, pretendia se candidatar ao Legislativo Municipal, função mais condizente com as suas experiência e idade. Confirmando a boa sorte do candidato da oposição, acabou sendo o Vice e jogando a vitória no colo do Rechuan. Hoje, é o nó górdio da chapa. As contas de sua campanha de 2010 não foram apro-vadas pelo Tribunal Eleitoral. Além disso, o Executivo não seria mais a melhor forma de aproveitar sua larga

experiência. Por outro lado, se sair da chapa, poderá haver um cisma na base do governo. Como Alexandre, o Grande, Rechuan certamente cortará o nó, lançando como Vice o seu fiel escudeiro José Antonio ou a res-plandecente Soraia Balieiro. Fala-se, ainda, no Pedra ou na Rita Oliveira, como solução pedetista, e em Gilmar Moreira, pelo DEM.

1.6.3 - MARCIAL CORRÊA – empresário bem sucedido, não veio

se fazer na política. Em 2008, era um dos amigos mais chegados do Prefeito Silvinho. Tudo o que queria era emplacar Rechuan, seu sobrinho emprestado, como vice do PMDB. Não obtendo êxito, acabou no grupo de oposição, onde ajudou Rechuan a se tornar o vitorioso Prefeito de Resende. É forte na administração e no CICC (Conselho Informal da Cozinha do Chefe).

1.6.4 - WELLINGTON JOSÉ ANTONIO RENNÓ KNEIPP – O festejado arquiteto Tom, com seus postes desaprumados e seus revesti-mentos de cacos coloridos, deu cara e cor (predominantemente laranja) ao governo. Como todo gênio, sua obra desperta paixões. Há quem ame. Há quem deteste. Não há indiferentes. Se deixará a imagem de mudanças e cores, o tempo dirá!

1.6.5 - RENATO VIEGAS – Homem de Finanças, provado em importantes cargos na Caixa Eco-nômica Federal, recebeu a chave do cofre, com segurança e tranquilidade.

Sabedor de que Tesoureiro é aquele que toma conta do tesouro, age de forma a sempre ter do que tomar conta. Acostumado a ter status, não se empavonou com o cargo, nem com sua privilegiada posição no CICC.

1.6.6 - DANIEL BRITO – Oficial do Exército e médico, tem segurado a barra na sensível área da saúde, trans-mitindo seriedade e competência. Recentemente quis deixar o Governo, pois não é homem de ficar falando

amém para tudo. Felizmente, preva-leceu o bom senso de conservá-lo.

1.6.7 - GILMAR MOREIRA DE ALMEIDA – Líder do Governo na Câmara Municipal, o Vereador tem, ainda, a importante missão de ampliar a base rechuanista no meio rural, contingente de votos que, juntando os ruralistas que vivem na cidade, chegaria a 10% do eleito-rado. Pode ser o vice do Rechuan, na remota possibilidade de manter a união com o DEM.

1 . 6 . 8 - M I G U E L D I A S M O R E I R A D E A L M E I D A BALIEIRO – Engenheiro Civil, estrela do PSB, especializado em obras rurais, de reconhecidas capa-cidade e popularidade. Miguelzinho Bin Laden é egresso do “eduar-dismo”, quando foi Tri-Secretário (Indústria e Comércio, Agricultura e Obras). É meio excêntrico, mas sabe o mato em que lenha e conhece o caminho das pedras, como convém a um Secretário de Agricultura e Pecuária. Com sua destacada

atuação junto aos ruralistas, certa-mente ampliou a base eleitoral de Rechuan. Seu sonho é ser Prefeito ... de Arimatéia!

1.6.9 - JOSÉ ANTONIO DE CARVALHO PINTO – O Veteriná-rio e Advogado Totonho Paiva, em conjunto com a eficiente e simpática Secretária MAGALI DALOSSO, controla o umbral do templo. Pode-roso Presidente do PDT (cargo con-quistado no voto), é um faz tudo no Governo. Trabalha com a serenidade daqueles que não vieram se fazer na política. Divide com a Soraia e Gilmar Moreira a responsabilidade de ser reserva do Noel de Oliveira.

1.6.10 - SORAYA BALIEIRO – Oriunda do “eduardismo”, desa-brochou agora no “rechuanismo”, pelo seu trabalho como Secretária de Educação. Excelente de votos, já teve mais de 1.000 em duas oportunida-des. Foi vereadora de 2005 a 2008, eleita pelo PT. Hoje é a menina dos olhos do PSB. Encontra-se em seu melhor momento político e divide com o Zé Antonio e Gilmar Moreira o banco do Noel de Oliveira.

1.6.11 - GLAUCIO JULIA-NELLI – Um dos principais elemen-tos da coligação que elegeu Rechuan, o médico Dr. Julianelli, depositário da maior votação conquistada por um Vereador em Resende – 2.216 votos –, hoje é quase um estranho no ninho. Suas construtivas críticas não são bem recebidas pelo Governo. Pena que nem todos têm consciência histórica. Na Antiga Roma, haviam escravos que eram designados para ficar atrás dos Generais vitorio-sos, nos desfiles. A função desses escravos era falar nos ouvidos dos Generais, lembrando que “toda glória é efêmera”. Há quem prefira só aplausos!

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1-No pouco que a gente apita, estamos apitando bem. É a Sônia Leite que convoca o patrimônio histó-rico para avaliar a passarela ao lado da ponte velha, é o biológo Luciano Moreira Lima que denuncia a agressão à lagoa da Turfeira (vejam na pg 12), é o funcionário

que denuncia o chorume. Democracia participativa de fato. Um sonho: um dia vamos apitar em coisas fundamentais

como o sentido da produção, a qualidade do alimento, os bens de que necessitamos. E surgirão os estadistas, os artista da política, que querem realizar uma obra, como o menino quer empinar a sua pipa. Dinheiro não é uma necessidade infantil, dizia o Freud; não é fundamental para a nossa essência.

Uma tese: a corrupção aumenta na medida em que dimi-nuem os estadistas. Já que não dá para ter o grande prazer da arte, rouba-se. Algum sentido, afinal, a atividade do sujeito tem que ter.

2- Os moradores de Penedo estão reivindicando um direito prosaico: receber sua correspondência em casa como qualquer cidadão. Itatiaia está emancipada há 23 anos e até agora não foi feita uma lei de abairramento, as ruas não têm nome, as casas não têm número, o carteiro fica louco com um envelope endereçado assim: rua projetada sem número. Representante dos Correios estiveram recentemente no Clube Finlândia conversando com algumas pessoas da comunidade e da prefeitura. Ficou dito que no bojo do novo plano diretor, a ser votado em julho e agosto, estará a lei de abairramento, e que a partir daí Penedo poderá ter CEPs específicos por bairros. Hoje há um CEP geral (27.598.000), e até fevereiro passado era usado o CEP de Itatiaia. Atualmente, menos de 20% do Penedo recebe suas cartas em casa, a maior parte da correspondência vai para a posta restante da agência da Casa do Papai Noel. Não se pode nem fazer compras pela internet. Os representantes dos Correios deixaram claro que dependem da prefeitura lhes fornecer os dados para poderem fazer as entregas. É mole, a nossa Itatiaia? É mole.

3- Não moro em Resende, mas se morasse votaria no Noel de Carvalho. E não só porque ele é meu primo, mas também por sua capacidade. Só um exemplo: ele começou o processo de industrialização aqui mas também dobrou o número de habitações com a Cidade Alegria. Não concordo com essa coisa de dizer que o tempo dele passou. O espírito (empreendedor) não engorda. Fica mais maduro. “Envelhe-çam, envelheçam” aconselhava o Nélson Rodrigues aos jovens. Nosso tempo precisa de grandes iniciativas, não de verniz modernoso. O Noel tem o potencial do estadista. Ainda vou vê-lo liderando o investimento maior possível na agricul-tura familiar do nosso entorno, com a firme convicção de uma imperiosa mudança de rumo.

Maio de 2012 - O Ponte Velha - 3G

usta

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raça

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cos

Cotr

imApita, Moçada!1) A utopia da Terra sem males (e sem homens,

por suposto) está prestes a fazer nova vítima, caso a criação do Parque Estadual da Pedra Selada saia como diz o Fernando Menandro: “A proposta do Governo do Estado é criar o Parque através de DE-

CRETO, o que limita bastante as discussões sobre prazos, limites, desapropriações, valores de indenizações... dá pouca transparência ao processo e, essencialmente, pouco espaço para debates e conhecimento a fundo de tudo o que envolve uma iniciativa que trata [...] de propriedades que se encontram – algumas há séculos – produ-zindo e mantendo gerações e gerações de resendenses.”

Fora do mérito, deve-se observar a maré crescente de regula-mentação da tecno-cracia que parasita as utopias. Exemplos de entulho autoritário há muitos. As filas têm mais compradores, as estradas mais moto-ristas, as escolas mais alunos, o espaço mais decibéis, as clínicas de aborto mais clien-tes, as prisões mais detentos, nesse processo politiqueiro de inclusão social abstrata. Décadas não bastarão para educar-se a massa dos neoconsumidores. Nem pão e circo haverá suficientes.

Podem-se incluir os mais pobres na sociedade de consumo com decretos e medidas provisórias, mas não se consegue educá-los na marra. Educação é sutileza... O mito igualitário de que todos são aptos à mesma escolari-zação formal é um redondo engano. Bilhões continuarão a ser desperdiçados para construir depósitos de crianças e para bajular a UNESCO, o panóptico comissariado da educação globalizada. Leis não “pegam” num país que tem queimado etapas educacionais importantes. A paranoia da regulamentação torna tudo isso um negócio insustentável.

2) O “desenvolvimento sustentável” é impossível, diz Andrew Simms (Ecological Debt: Global Warming and the Wealth of Nations, 2009). No contexto de débâcle da

A insustentável leveza do desenvolvimentousura global e crítica à ganância financeira, ele apela para a troca dos indicadores de vida decente, e propõe reinven-tar um PIB social. Seu endereço é a ética na economia e na política. Como Zigmunt Bauman (tempo social), Leonardo Boff (eco-espiritualidade) e Fritjoh Capra (de-senvolvimento qualitativo), Simms traz à tona o vício de origem de nosso modelo de progresso: a falta de sabedoria na lida com o tempo e os desastres metafísicos que daí decorrem.

Está bem... O “metafísico” é por minha conta. E sustento: fruto não é produto. Fecundidade não é produti-vidade. Lidar com o mistério da vida não pode ser substi-tuído pela agitação que acelera o tempo na fabricação da riqueza que vira sucata.

Qualquer que seja a pirueta teórica que se tente, cai-se no mal de raiz: o espírito de negócio utilitário da civili-zação do individualismo. Ora, a alma do bem comum é o ócio, mobilizador das atitudes liberais e dos serviços gratuitos. E não o espírito de negócio, que alui as tradi-ções, polui a natureza, monetariza a economia e rouba do homem sua condição de cuidar, repartir, cooperar. O tempo do “negócio” é tecnocrático, autoritário. Mesmo pintado de verde, suprime o ideal de homem educado, o único jardineiro fiel capaz viver em comunidade e preve-nir o pior.

3) Melhor prevenir que remediar - Como sugeriu o Fernando, o melhor aliado da sustentabilidade é o proprietário histórico, desde que educado para isso. A pro-priedade responsável é um tipo de representação política que dá forma ética ao espaço público e mantém a escala humana no tempo econômico. Evitaria a proletarização, a massificação, a sub-urbanização, o Estado que em vez de usurpar uma competência legítima e tradicional das comunidades e famílias, cumprisse o dever de subsidiar sua educação e fixação no meio rural. Não teríamos ape-nas mais um parque, mas centenas deles.

O proprietário rural é um aliado potencial da susten-tabilidade. Tirá-lo da cena é abrir espaço ao especulador travestido de investidor. O especulador não tem história; vive do interesse imediato ou da ideologia. Como esses governos que fabricam artifícios ecológicos para remediar uma industrialização predatória.

Em vez de se associar à especulação arrivista, os gover-nos poderiam ser parceiros do proprietário histórico. Gas-tariam menos com desapropriações e com os remendos populistas que depois costuram nas cidades, que seguem inchando. Afinal, famílias e comunidades que há gerações produzem e conservam deveriam valer, pelo menos, tanto quanto quilombolas de vitrine e índios de palanque.

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4 - O Ponte Velha - Maio de 2012

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Desde1985

Se eu disser a vocês que aprendi uma nova matemática, talvez vocês dirão: “endoidou”. Mas é simples assim: 1, 2, 20, 30... 80, 90, 100 + 1 = 101. É a matemática da longevidade, que aconteceu recentemente.

No dia 10 de abril de 1911, nascia em Bocaina de Minas o meu bom com-panheiro José Rosa, que completou esses dias 101 anos. É mole?! Homem simples, como todo bom mineiro daquela cidade, Zé Rosa chegou a ser fiscal do estado. Há pouco mais de uma década mudou-se para Resende, onde marca ponto quase sempre no bar do Edinho, ali na Alfredo Whately. O recado dele é sempre o mesmo: “abre o olho!” , e aí, um, dois conhaques e cerveja geladinha. Nessa batida, sempre uma brincadeira: “estamos igual a cobra de museu, só conservamos no álcool”. E assim a vida continua.

Foi casado com dona Jordelina Maria da Silva, já falecida, de onde nasceram 10 filhos: João, Maria, Luiz, Marta, Edina (diz-se Êdinas) e Eva (estes vivos) e mais ainda Ana Luzia, Carmem Lúcia, Antônio e Sebastião (infelizmente falecidos). Foi concu-nhado do inesquecível Antônio Quirino, com quem conviveu muito tempo.

Para ser breve, é para mim no mínimo gratificante poder contar, no dia a dia, com uma prosa tão interes-sante, apesar da idade. Ao querido Zé Rosa e familiares deixo aqui o abraço dos amigos e o meu próprio, aguar-dando a continuidade dessa matemá-tica tão atual: 100+2, 100+3...

PS: Por falta de prática na escrita, peço perdão por não colocar no texto as origens do Zé Rosa. Pensem assim: filho de Francisco José Diniz e de dona Ana Rosa.

Matemática AtualJosé Roberto Badger

Deixei de falar de uma figura na política de Rezende que também conheci logo no meu primeiro ano na cidade, que foi o advogado João Rodrigues, ou o Joãozinho do Hotel Leme. Esse era brizolista roxo. Me lembro que numa audiên-cia, ele estava com um adesivo do PDT no terno, o Juiz mandou tirar e ele não tirou. Acabou a audiência, o Juiz oficializou à OAB mas ele não tirou. Nesse ano apostamos nossas barbas, eu no Miro e ele no Brizola. Perdi e ele nunca me cobrou a aposta.

Mas vamos para o ano de 1983 e a criação do Grupo de Teatro Boca de Cena, e é quando também que entra para minha vida o Clau-dionor Rosa.

Não cheguei a conhecer o bar que era do Mario Peres que ficava na Praça do Centenário, parece que se chamava Amarelinho, mas o point de 83 era o Vermelho 17, que ficava na Av. Beira Rio, numa casa que hoje não existe mais. Virou prédio. Era muito bem tocado pelo Tadeu Rachid e numa noite pra ir tomar sopa de cebola estávamos eu, a Martha a Celina Whately e a Marina Beviláqua. Eu e Celina eramos ex-alunos d’O Tablado, uma escola de teatro no Rio de Janeiro comandada pela magistral Maria Clara Machado. Conversa vai, conversa vem, decidimos ali montar um grupo de teatro para encenar o Pluft, O Fantasminha. Nascia naquela noite o Grupo de Teatro Boca de Cena. Aos poucos foram se juntando os primeiros membros, a Patrícia Carvalho, o Luis Ricardo Alves, o Valter, o Jorge de Itatiaia e um casal, também atores, vindos de Juiz de Fora, que seria a espinha dorsal do Grupo que durante dez anos

montou em Rezende quase vinte espetáculos de grande sucesso: o Dudu Arbex e a Virgínia Calaes.

Ensaiávamos na Escola Um quando ainda era na Rua do Rosário e fizemos uma temporada de um mês – coisa rara em teatro no interior e inédito em Rezende – no GSSAN; ganhamos festivais - e mais do grupo meus poucos e fiéis

leitores aguardem para esse ano no livro sobre a história do Boca, escrito pela Celina e pela Virgínia.

Mas durante os ensaios apare-cia uma figura estranha que entrava mudo e saía calado, às vezes lendo a Lyra. Era o Claudionor, que aos poucos foi se aproximando da gente. E que viveu intensamente a vida desse grupo de teatro. Para se ter uma idéia, quando o Boca estava apresentando seu maior sucesso – A Aurora da Minha Vida – em Juiz de Fora, em 1985, um dos atores simplesmente esqueceu a calça do figurino. Pois o Claudio-nor, que estava com uma calça da mesma cor, cedeu-a para a pessoa, ficando de cuecas durante toda a apresentação. Quer dizer, deu as calças pelo grupo.

Esse é o Claudionor, que dá as calças, que se preciso dá a vida pela cultura de Rezende.

******Vocês, meus poucos mas fiéis

leitores, devem estar estranhando

eu ter escrito Rezende com Z. Explico: em consequência desse valhacouto de traidores que se instalou na nossa política, fiquei de férias forçadas por 3 meses. Se por um lado serviu para eu me endivi-dar, por outro lado me fez mergu-lhar nos livros. Acho que li nesses três meses o que não li em 50 anos. Pois bem, li os livros 1808

e 1822 e neles sempre aparece a figura do Vice-Rei do Brasil, o Conde de Rezende, sempre com a letra Z e não S em seu nome. Aí você vai no livro sobre os duzen-tos anos de Rezende e todos os anúncios eram escritos com Z. E você pega os selos da época – tudo com Z. De agora em diante, pra mim, Rezende é com Z, embora a Bizinha discorde e o Marcos Cotrim não.

******

Não é por nada não, mas: A Princesa Isabel acabou com a escravidão e o poder econômico da época derrubou o império; o Jango mudou a lei de remessa de lucros das multinacionais e o poder econômico da época derrubou o presidente.

A presidenta Dilma mandou acabar com a agiotagem oficial no país. Será que ela terá estabilidade para governar os próximos dois anos e meio?

Antes que me esqueça (ou que me esqueçam) (III)

E o Claudionor assistiu à peça de cuecasZé Leon

Foi quando o Boca estava apresentando seu maior sucesso – A Aurora da Minha Vida –

em Juiz de Fora, em 1985, e um dos atores esqueceu a calça do figurino. O Claudionor estava

com uma da mesma cor...

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Maio de 2012 - O Ponte Velha - 5

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A que ponto chegamos. É hu-milhante você ouvir um dos mais influentes jornalistas deste país dizer, ao vivo, para milhões de pessoas, o que o âncora do Jornal da Band, Ricardo Boechat, disse ao prefeito de Resende, José Re-chuan: “prefeito, vá para a PQP”. Não importa se o xingamento foi feito por sigla ou “por extenso”. O que importa é o motivo do insulto. Mais uma vez, o prefeito Rechuan e seu governo foram pegos com baton na cueca.

O mal feito, desta vez, foi a completa omissão no processo de licenciamen-to e fiscalização das obras da fábrica da Nissan. Por conta desta omissão, uma das mais importan-tes lagoas do médio Rio Paraíba, que ocupa uma área de cerca de 700.000m² (70 campos de futebol) está sendo destruída para a construção de uma fábrica de automóveis. Esta lagoa é tão importante para a biodiversidade e o equilíbrio ecológico da nossa região, que ela aparece em destaque no livro “A Birdwatching Guide to South--East-Brazil”.

Nada justifica a destruição de tão importante ativo natural, mesmo que o pretexto seja o da criação de empregos. Esse discur-so é coisa do passado. O discurso que queremos ouvir e ver pratica-do é o do desenvolvimento eco-nômico com sustentabilidade. E isso o governo Rechuan ainda não descobriu.

Mais uma vez o governo Re-chuan tenta se livrar do proble-

PQP, CPI, WOma jogando a culpa nos outros, no caso o governo estadual e a empreiteira que executa a obra. Exatamente como ele tenta fazer com relação ao chorume, botando a culpa na Água das Agulhas Negras. A Prefeitura é, sim, responsável pela fiscalização da obra. A Prefeitura de Resende ignora a legislação ambiental e o Estatuto da Cidade, que é uma

lei federal, ao não ter exigido do governo do estado a realização de audiências públicas e a apresen-tação prévia do projeto e de todos os estudos e relatórios de impacto ambiental. Quem legisla e fisca-liza todas as ações de uso do solo é o poder executivo municipal, independentemente do órgão licenciador.

A Prefeitura de Resende foi omissa desde o início do projeto, só se manifestando depois que uma professora e um biólogo mostraram a monstruosidade de mais este crime ambiental praticado pela prefeitura de Resende. A lei é clara quanto às responsabilidades. Ela se dá tanto pela ação, quanto pela omissão. O governo Rechuan foi, mais uma vez, omisso e negligente,

em pleno ano da RIO+20, no ano que se discute mais rigor na defesa do meio ambiente.

O que nós, cidadãos cons-cientes, esperamos é que o Ministério Público Federal apure e penalize os culpados. O que se espera também é o embargo des-ta obra até que tudo aquilo o que está estabelecido pelo Estatuto da Cidade seja rigorosamente cumprido.

O Rechuan é hoje uma ilha cercada de siglas por todos os lados: PQP, CPI, MPE, MPF, IBAMA, TCE, CODIN, INEA, PF, além de outras. Mas a sigla que o Rechuan mais teme neste momento é WO. Do que jeito que as coisas caminham, ele cor-re o sério risco de não entrar em campo para disputar a reeleição.

Notas

O Rechuan é hoje uma ilha cercada de siglas por todos os lados: PQP, CPI, MPE, MPF, IBAMA, TCE, CODIN, INEA, PF, além de outras. Mas a sigla que o Rechuan mais teme neste momento é WO

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// A XX Festa do Pinhão, acontece em Mauá nos dias 11, 12 e 13 de maio.Na sexta, abertura com o Coral da Serra e Corporação Musical Visconde de Mauá; e show com Tunai (irmão do João Bosco), encerrando com samba de raiz, na Casa do Pai João. No sábado, tem show com Moda Universitá-ria; e no domingo, com Chapéu Brasil. Também no domingo, às 10 horas, a tradicional Procissão do Cruzeiro. Uma atração a parte é o Salão do Pinhão, no Centro Cultural Visconde de Mauá, aberto à visitação de 10h às 18h

// O ator resendense Remo Rocha é um dos protagonistas do filme “Teus Olhos Meus”, que deve entrar no circuito comercial no final do ano. Dirigido por Caio Sóh e filmado com “parcos” 10 mil reais, o longa, em sua primeira participação em festivais, foi aclamado como grande vencedor do Labriff (LA), onde ganhou o nome de “Soulbaund”, derrotando filmes com orçamentos faraônicos como “400 contra 1” com Daniel de Oliveira, “Mães de Chico Xavier” e “Federal”, com Selton Mello e Ricceli.

O filme foi exibido no festival de San Francisco e venceu o FestCine Maracanaú, em Fortaleza - direção, ator e filme pelo juri popular. No festival do Rio, participou da mostra competitiva “Novos Rumos”, sendo aplaudido de pé por 150 pessoas na sua estréia. A consagração veio na 35ª Mostra Internacional de São Paulo, de onde saiu vitorioso como melhor filme eleito pelo público. Boa Remo!

// Está uma beleza a exposição de arte popular no MAM. Entre muita escultura, pintura, cerâmica, as obras dos nossos artistas, Jorge Brito e Mestre Cláudio. Está aberta até o fim de junho.

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6 - O Ponte Velha - Maio de 2012

JOEL: Por que você foi morar em Brasília?MÁRCIA: Mudei para Brasília em 72, com minha

família, porque os dois irmãos mais velhos já estudavam lá, foram da primeira turma de Economia da UNB. Eu tinha então nove anos, e com 14 voltei para Montes Claros com minha mãe e fiquei lá por cinco anos, e acho que foram os anos mais importantes para a minha formação cultu-ral, porque aí que eu vi a riqueza que era Montes Claros; a riqueza de arte, de folclore, de devocação pela cultura popular. Brasília com aquele tanto de gente chegando de tudo que é parte fica com a cultura muito fragmentada.

JOEL: E você estudou o quê, Márcia?MÁRCIA: Eu sou formada em Educação Artística com

licenciatura em Educação Musical, na Fundação Brasileira de Teatro, uma faculdade criada na tempo da ditadura, quando o José Aparecido convidou a Dulcina de Moraes, grande atriz, para criar essa faculdade; fizeram um teatro junto. Eu inclusive tive muito contato com a Dulcina, fui de Diretório Acadêmico, de diretoria de música.

GUSTAVO: E como é que foi a sua vinda para Mauá?MÁRCIA: Foi basicamente por causa do Joaquim, um

carioca que eu conheci em Brasília e que era apaixonado por Mauá. Aqui me ofereci nas escolas para fazer trabalho volun-tário, fui muito bem recebida na escola municipal, e de cara, naquele ano mesmo, a gente fez um auto de Natal: um coral com 260 crianças,a igreja lotada, todos os pais, uns chegando de bicicleta outros a cavalo; uma coisa muito bonita, uma coisa diferente. Foi a maneira que eu tive de me apresentar, de dizer: olha, eu sou uma nova moradora e sei fazer esse tipo de trabalho. Aí, no ano seguinte a gente já abriu a Festa do Pinhão com esse coral das crianças cantando três músicas. E quando o prefeito, que era o Eduardo Meohas, foi fazer o discurso de abertura, ele fez um link das três músicas com o que ele queria dizer. E eu, que nem sou muito ligada na polí-tica, fiquei sensibilizada. Fazia um ano que eu tinha chegado e eu já me sentia muito acolhida por todos. Eu já trazia uma boa experiência de Brasília, onde tive um coral que chegou a contar com 400 crianças. Mas se canta muito pouco nas escolas; devia se começar o dia de aula cantando. Porque a música é alimento para tudo, para o corpo e para a alma.

GUSTAVO: O Centro Cultural de Mauá começou com o

Coral do Visconde, não foi?MÁRCIA: Foi. Eu comecei a conhecer mais os alterna-

tivos e fiquei muito amiga da Elsa, que me levou um dia lá no Roberto Magalhães, onde a gente fez uma roda bonita, dançamos e tal, e a Elsa disse que eles tinham um coral que havia acabado. E ali, uma animada pela outra, nasceu o Coral do Visconde. No primeiro ano já estávamos cantando músicas a quatro vozes. E o Coral está aí até hoje.

GUSTAVO: E é uma beleza, e une muito os amigos. Conte como nasceu o Centro Cultural.

MÁRCIA: Um dia, já em 2004, eu estava tomando um café na shopping Aldeia dos Imigrantes e alguém me apre-sentou ao seu Llerena, o pai do violonista Marcos Llerena

e que era o dono daquele shopping. Ele já havia formado uma banda de música em Visconde de Mauá, com os jovens, estava bancando essa banda, e estava muito interessado nessa questão de apoio cultural.

REGINA: É uma banda marcial, com uniforme, que tem roçador de pasto, pedreiro, tem o Reiner que é arquiteto. O seu Llerena achou que a banda aumentaria a auto-estima das pessoas. Ele foi fundamental. Nos anos 50 ele havia sido diretor de umas das maiores empresas de navegação do mundo;as amizades que ele mantinha até o fim da vida talvez formassem a maior parte do PIB do Brasil; o SESC até hoje financia a Banda de Música.

MÁRCIA: Ele já tinha 80 anos e estava com pressa de ajudar. Eu andava com dificuldade para arranjar flautas para as crianças, e ele fez um cheque na hora para eu comprar 20 flautas; me deu o cheque ali, acabando de me conhecer. E me deu também a chave de uma sala do shopping para eu

concentrar o trabalho. Eu disse: vou fazer um Centro Cultu-ral. Ele ficou rindo e disse: faça o que você quiser. E eu fui pegando uns quadros com amigos pintores, fui expondo, e estamos ali até hoje. As pessoas me apoiaram muito, acre-ditaram em mim, acho que porque sou uma pessoa muito verdadeira, eu nunca tenho uma outra intenção por trás do que eu estou fazendo. As pessoas às vezes ficam falando: por que a Márcia está fazendo isso, qual a intenção dela, por que ela foi contratada, por que eu vou dar dinheiro a ela? Fazem mil conjecturas. Mas comigo não rola. Eu faço a coisa por ela mesmo. Eu não vou te dar nem um recibo se você me der um dinheiro. O recibo é você ver o que está acontecendo. E eu comecei a trazer as escolas para ver os artistas de Mauá.

Porque eu acho que Cultura tem que estar colada na Educação. O que acontece nos países mais desenvol-vidos? Eles tiveram melhor educação, melhor berço, conhecem sua história, criaram amor por sua pátria.

JOEL: Eu acho que nós fizemos o caminho inverso. Quando eu fiz o primeiro ano ginasial, tinha canto orfeônico, no Colégio Dom Bosco. Fazia parte do currículo. Eu não entendo porque essas coisas desapareceram. Tinha trabalhos manuais também.

REGINA: Eu também tinha, no Rio, no Instituto de Educação.

Há 10 anos a comunidade de Visconde de Mauá se surpreendeu e se emocionou com um coral de 260 crianças cantando na noite de Natal. Era o cartão de visitas da artista e educadora Márcia Patrocínio, que chegara naquele ano e começava um trabalho voluntário nas escolas. No ano seguinte, junto com Elsa Sanvicente, ela organizava o Coral do Visconde - este, formado por adultos, é hoje uma marca de Mauá -, e logo em seguida fundava um Centro Cultural. Neste mês de maio o Centro comemora oito anos, contabilizando mais de 60 exposições de arte, aulas de vários instrumentos, lançamentos de livros, etc. E há dois anos o Centro foi escolhido para se tornar um dos muitos “Pontos de Cultura”da recente política do país para o setor, recebendo apoio dos governos federal e estadual. Às vésperas de completar 50 anos de idade, essa mineira de Monte Claros, que viveu metade da vida em Brasília, diz que sente-se reconhecida no seu trabalho. Nesta conversa ela ressalta a importância do Sr. Llerena, pai do violonista Marcos Llerena, que apoiou moral e financeiramente o seu trabalho, fala da importância da música, que “devia ser matéria de todo dia nas escolas”, e reflete sobre a identidade cultural da região. A entrevista - às vésperas da abertura do VII Salão do Pinhão - foi na casa da jornalista Regina Guerra e teve ainda a participação de Gustavo Praça, Joel Pereira e do artista plástico Fernando Fleury.

Márcia Patrocínio: dez anos de liderança no movimento cultural de Mauá

o cotidiano do trabalho cultural devia ser sustentado pela sociedade civil organizada; e infelizmente, por ela não ser organizada, ela não consegue sustentar. Você fica dependendo de colaborações individuais espontâneas

foto: Fernando Fleury

(continua na página 7, após o encarte)

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JOEL: Parece que a música desenvolve alguma área do cérebro que dá outra dimensão à pessoa.

MÁRCIA: E o cara não precisa se tornar músico, mas a música enriquece. Sem falar na afetivi-dade. A música é muito misteriosa. Eu passei por uma experiências nessa viagem que eu fiz agora à Europa... Você chegar naquelas catedrais góticas, na Páscoa, com um cara tocando órgão, as pessoas derramam lágrimas.

JOEL: E é uma linguagem universal, é uma coisa impressio-nante. Naquele filme “A Missão” é impressionante a cena em que o padre toca oboé e os índios inte-ragem com ele. É uma ficção, mas retrata a verdade, é assim mesmo a música.

MÁRCIA: A música, e a arte em geral, tem a capacidade de trazer o homem para o Divinal, para perto de uma coisa mais etérea. A vida já é tão misteriosa, e eu acho que a arte ajuda a gente a encarar esse mistério com mais beleza, com mais sutileza. Hoje em dia eu acho que as escolas já enten-dem mais isso, mas mesmo assim eu tenho que continuar batendo na porta. Mas eu sou meio obstinada.

JOEL: E o poder público cola-bora com você?

MÁRCIA: Olha, como todo mundo que trabalha com cultura eu também meto um pouco o malho no poder público. Só que, nesse fazer cultural meu, eu vou perce-bendo que esse trabalho deveria ser sustentado pela sociedade civil. Com apoio do governo, com editais, dando maior abrangência. Mas o cotidiano do trabalho devia

ser sustentado pela sociedade civil organizada; e infelizmente, por ela não ser organizada, ela não conse-gue sustentar um trabalho desse. Você fica dependendo de colabo-rações individuais espontâneas. O meu trabalho, por exemplo, cresceu tanto que hoje não seria sustentável sem o poder público. Hoje eu sinto que tenho um reconhecimento defi-nitivo. Não sei se a palavra cabe ou se estou sendo muito pretensiosa...

GUSTAVO: É uma palavra difícil. Mas você está firmada.

MÁRCIA: Eu falei definitivo acho que foi porque lembrei de uma entrevista do Isack Karabi-tchevisk em que o Roberto Dávila (que aliás, igual a vocês, deixa o sujeito falar à vontade; e eu quando

começo a falar não paro), mas o Roberto disse assim: “E o Villa Lobos?”. E o Isack respondeu: “O Villa Lobos é definitivo”. Então é nesse sentido que eu falo, do reconhecimento, mas talvez não seja mesmo uma boa palavra. O que eu quero dizer é que todas as esferas envolvidas com o Centro Cultural, seja governo, seja ONGs, seja empresa, estão fortalecidas com a gente; o trabalho não está mais capenga. E hoje eu entro até em editais do governo através da pessoa jurídica da ONG que o seu Llerena criou para dar suporte à

Banda e ao Centro Cultural.GUSTAVO: E foi assim que

você se tornou Ponto de Cultura, nesse projeto do governo federal.

MÁRCIA: Primeiro eu me tornei Ponto de Leitura, que era um projeto de iniciativas particulares de fomento à leitura. Eu já tinha feito uma pequena biblioteca e entrei. Ganhei 600 livros, estan-tes, uns pufs, computador, algum mobiliário. Não ganhava verba. E aí me animei e concorri ao edital de Ponto de Cultura, cuja idéia é descentralizar a cultura, sair dos grandes centros, dar apoio ao inte-rior. 80% da verba é federal e 20% dos estados. Com esse dinheiro eu pude aumentar a abrangência do trabalho: passamos a ter aulas de

violino, violão, percussão, teatro... E é muito específicada a forma de usar o dinheiro: tem que ser com equipamento, professor, o INSS, a gráfica...

GUSTAVO: Vocês já fizeram mais de 60 exposições de arte. Uma das mais interessantes foi a chamada “O Papel das Vilas”, à base de papel reciclado, que já existe há algum tempo e está se tornando uma exposição perma-nente, e mutante. Fale um pouco sobre ela.

MÁRCIA: Tem o Maurício Rosa na história, que é um cara

que faz pesquisa com as plantas da Mantiqueira, faz papel a partir delas; talvez ele tenha sido o pri-meiro a fazer papel com a casca do pinhão. E ele consegue vários tons conforme cozinha mais ou menos a casca: marrom, bege, roxo. Bem, ele já participava dos bazares de natal com um artesanato feito com seu papel e um dia me sugeriu que a gente colocasse aquele papel nas artes plásticas, para não ficar só no artesanato.

FLEURY: Aí ele forneceu três folhas para cada artista. Você podia pintar, rabiscar, cortar, montar, usar conforme quisesse. O resultado foi maravilhoso.

MÁRCIA: Começou com 37 artistas e agora já está com 80.

FLEURY: E em cada cidade visitada, novos artistas se incorpo-ram e ela vai crescendo.

MÁRCIA: Já fomos a sete cidades com ela e agora estamos tentando levá-la para a Rio +20.

GUSTAVO: Outra coisa legal que eu vi no Centro Cultural foi um folder que vocês fizeram com um roteiro de bibliotecas da região, em escolas, e se não me engano até em casas particulares.

MÁRCIA: Sim, a biblioteca da Comunidade Sol da Montanha entre elas. O folder chamava-se

Caminhos da Leitura. Eu gosto muito dessa palavra “caminhos”, porque acho que Educação é ofe-recer caminhos. Antes nós tínha-mos feito outro folder chamado “Caminho das Artes”, um roteiro de todos os ateliers; o do Fleury está lá.

FLEURY: E vamos falar também do Salão do Pinhão, que vai acontecer agora.

MÁRCIA: O Salão do Pinhão foi uma idéia que a gente teve de aproveitar a Festa do Pinhão, que já existe há 20 anos, com seu concurso gastronômico e tal, e criar uma vertente artística a partir do pinhão e da araucária, ou seja, de uma coisa que é símbolo da nossa natureza. Até porque, desde o início, o mote do Centro Cultural é aliar cultura e natureza. Num pri-meiro momento o salão foi até um pouco criticado porque eu delimitei o tema. A obra tem que remeter à temática. Parece que limita, mas acaba instigando o artista a criar algo inusitado. Pode até ser um trabalho abstrato, mas na textura, em algum aspecto, tem que remeter ao pinhão ou à araucária.

FLEURY: E é até bom para renovar. Se um artista cansa de

Tem a gente genuína da terra e também os alternativos que vieram morar com amor pela montanha. Eu acho que o filme (Os Caminhos da Mantiqueira) mostra o que a Mantiqueira tem de genuíno em termos de natureza e de gente. É a Mantiqueira que a gente quer.

(continuação da página 6)

(continua na página 8)

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Vendemos pelo Construcard da CAIXA e pelo CDC do Banco do Brasil

8 - O Ponte Velha - Maio de 2012

fazer araucárias, vão surgindo outros.

MÁRCIA: Começou em 2006, esse agora é o sétimo. É a exposi-ção mais visitada do Centro. Em 40 dias a gente recebe 900 pessoas, que têm a oportunidade de ver uma arte nossa, feita a partir de um tema nosso. Se a gente fortalece a nossa identidade cultural, a gente vai ter um turismo - que é a nossa vocação - muito mais rico. Se você chega na Argentina, o que é que você quer ver? Um tango. Você chega na França, você adora ver um cara tocando um acordeon no metrô, sozinho. A globalização não destrói isso. Por isso que eu sou otimista.

JOEL:Para mim, o cara que bolou a Festa do Pinhão é um gênio, deu uma marca à identi-dade do lugar. Mas quero voltar àquilo que você disse sobre aulas de violino, violão, etc. Por que não tem aula de sanfona? Num lugar rural como Mauá?

MÁRCIA: Você sabe, Joel, que Mauá não tem vida rural...

JOEL: Não?...MÁRCIA: Por incrível que

pareça.REGINA: É um subúrbio deca-

dente de Resende.MÁRCIA: Não, eu não diria

que é um subúrbio decadente.REGINA: As pessoas da terra

só querem ir para os shoppings e ouvir funk.

GUSTAVO: Naquele filme “Pelos Caminhos da Mantiqueira” a gente vê o universo maravi-lhoso dessas montanhas, e Mauá faz parte, está meio na fronteira. Inclusive, tem o Coral do Visconde no filme, assim como tem o cara lá da comunidade do Matutu.

MÁRCIA: Tem a gente genuína da terra e também os alternativos que vieram morar com amor pela montanha. Eu acho que o filme mostra o que a Mantiqueira tem de genuíno em termos de natureza e de gente. É a Mantiqueira que a gente quer.

GUSTAVO: A impressão que eu tenho é que nunca houve uma liga muito grande entre o povo da terra e as pessoas de fora, alternativas.

REGINA: A Márcia só conse-gue chegar através das crianças; os adultos passam na porta do Centro Cultural e não entram. O filme da Mantiqueira mostra pessoas puras que ainda existem

por essa montanha, mas em Mauá não existem mais.

MÁRCIA: Olha, eu sou uma pesssoa que veio também do inte-rior e então eu não tenho dificul-dade com eles. Acho que eles têm mais dificuldade comigo.

JOEL: No caso, eu acho que o inocente paga pelo pecador. Porque quando chega a primeira leva de gente de fora num povoado desses é uma coisa que violenta a cultura local: os caras bonitões pegam as menininhas, os pretensos namorados delas do local já ficam com raiva por isso...

REGINA: E também porque os de fora são vistos como os que fumam maconha, tomam banho de rio pelados, moram juntos sem ser casados, não vão à igreja cató-lica...

JOEL: Mas depois as pessoas vão aprendendo a separar o joio do trigo, a ver que você não é uma ameaça para eles.

MÁRCIA: Mas o pezinho que está lá atrás eles não tiram muito. Eles reconhecem o meu trabalho com os filhos deles, mas podendo não me cumprimentar, nem cum-primentam...

REGINA: E você tem a vanta-gem de ser “professora”, porque

“professora” eles respeitam.GUSTAVO: E tem uma terceira

vertente para entrar nessa história que é a classe média emergente, o tipo de turista que predomina agora, principalmente depois da estrada-parque.

REGINA: A classe pobre alta. Nesse ponto eu sou preconceituosa mesmo.

JOEL: O que você acha do asfalto, Márcia?

MÁRCIA: Eu acho que com essa forçação de barra com o asfalto a vida rural acaba de desa-parecer mesmo.

GUSTAVO: O povo da terra se identifica mais com essa nova classe média do que com vocês?

REGINA: Sim.MÁRCIA: Eu não acho que

seja o caso de afirmar totalmente isso, mas a coisa parece que está caminhando para isso... A gente chega em Mauá em busca de vida interior... Mauá não tem horizonte grande, eu sinto falta aqui do céu de Brasília, e então você tem que buscar esse horizonte no seu interior.

GUSTAVO: Esse tipo de gente com que você lida, incluindo esse turista que chega aos borbotões só pensando em consumir, você pensa nisso quando estabelece a política

do seu trabalho? MÁRCIA: Eu tenho uma

grande facilidade aí que é minha tendência natural para interagir. Então eu converso com todo mundo que chega, até com esse cara que vem lá de Barra Mansa com aquele som alto no carro.

GUSTAVO: E esse cara se interessa pelos quadros que estão expostos no Centro?

REGINA: Não, ele só passa pela porta do Centro para ir ao banheiro do shopping, e para procurar a coisa mais porcaria que tem, tipo batata ships, para comer.

MÁRCIA: Mas aí é que entra o meu papel. O cara entrou ali para outra coisa mas eu posso conse-guir chamar a atenção dele para o valor do da arte. É difícil, porque esse cara que está chegando agora, com o asfalto, é aquele cara que não coloca o seu carrinho numa estrada de terra, é aquele cara que já traz com ele a sua cultura, a sua bebida, a sua música. Ele não está em busca de uma possível cultura de Mauá, ele já vem envolvido na sua. E, por outro lado, Mauá tem um problema grave de identidade cultural.

GUSTAVO: Como é esse pro-blema?

MÁRCIA: Olha, eu não quero impor nenhuma cultura erudita, mas tem coisas que são universais, como as obras de gente como Bach, como Villa Lobos, como Piazzolla que podem atingir qualquer pessoa. Meus alunos de flauta tocam Villa Lobos, Luis Gonzaga, etc. Eu parti-cipo de vários grupos em Mauá, de ambientalistas, de moradores, mas o meu preferido é o coral, onde

estamos todos envolvidos pela liga da música. Então, é isso o que eu tenho para oferecer. O Centro tem isso para oferecer.

GUSTAVO: O coral tem uma abertura para o sujeito da terra? Porque eu vejo que ali só tem gente que veio de fora.

MÁRCIA: Olha, esse é um outro assunto; essa segregação social ela acontece em todo lugar. Olha eu já tive aquelas coisas de quando a gente tem 30 anos: vamos interagir com todos! Isso é baba-quice. Somos tribos.

GUSTAVO: Mas no Centro tem espaço para eles. Sempre que eu vou lá eu vejo o Jorge Brito e o pessoal da Folia de Reis cantando com você.

MÁRCIA: Claro, eles têm o espaço, já fiz muita coisa com eles, mas pergunta se as famílias vão...

JOEL: Calango também é uma beleza! Essa cultura popular é um negócio que eu acho que é mais rico do que a gente imagina, só que o pessoal é muito desconfiado. Quer ver um exemplo: Em muitas taperas da roça você encontra na porta e nas janelas a estrela de David, às vezes até desenhada a carvão. Eles chamam de “cinco salomão” e dizem que aquilo é para expulsar o demônio. Pois bem:um dia eu vejo na antiga revista Reali-dade uma matéria sobre um papa, que agora não me lembro qual, que era também exorcista; e a revista mostrava o traje especial com que ele fazia os exorcismos. Sabe o que tinha no traje? Um monte de estre-las de David.

REGINA: A cultura popular tem uma tradição medieval, mas

Esse cara que está chegando agora, com o asfalto, é aquele cara que não coloca o seu carrinho numa estrada de terra, é aquele cara que já traz com ele a sua cultura, a sua bebida, a sua música. (...) A vida rural acaba de desaparecer mesmo.

(continuação da página 7)

Page 13: Jornal Ponte Velha - Maio de 2012

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em Mauá não tem mais isso.MÁRCIA: Eu respeito muito,

mas eles precisam se manifestar. O seu Jorge Brito, o seu Zé da Viola, eles não são desconfiados, mas estão sozinhos. O seu Jorge Brito foi me procurar porque não tinha respaldo dentro da sua própria cultura.

JOEL: Mas eu aposto que se você fizer no Centro Cultural, por exemplo, um concurso de calango, vai aparecer gente de todo lugar.

REGINA: Podem vir aí dos cantões de Minas, mas não de Mauá.

GUSTAVO: O Centro teria que ter um jeito de se voltar para o lado da Mantiqueira, para a cultura genuína dali, mas é difícil, o pessoal não tem e.mail, etc.

MÁRCIA: Sim, eu gostaria de atingir essa gente, mas é compli-cado.

GUSTAVO: Eu acho muito triste é pensar que esse mundo da Mantiqueira vai sendo acessado pelo asfalto por todo canto e não vai sobrar mais nenhuma fazendi-nha linda daquela. Dá vontade de tombar.

JOEL: O mais triste da globa-lização é a parte do esmagamento cultural. As pessoas que têm o seu grupinho de jongo, com suas roupinhas humildes, sentem-se constrangidas quando veem esses super espetáculos na TV.

MÁRCIA: Outro dia eu fui ser jurada num festival de talentos no colégio. Eu tinha uma aluna de flauta e eu sugeri a ela que fosse ao palco tocar, mas ela teve vergonha. Disse assim: “ninguém vai tocar flauta, só eu”. Gente, os 16 números foram de funk; coisas repetidas de televisão. Isso me dá pânico. Eu não tenho preconceito com nenhum ritmo.

GUSTAVO: Mas tem que resis-tir ao esmagamento.

MÁRCIA: Ao esmagamento e ao estereótipo. Nesse dia - já fazem uns quatro anos - eu ameacei fazer um comentário e fui rechaçada por uma professora, que disse assim: “isso é coisa dos alunos; não estamos discutindo conteúdo”. Olha só... Então, o que eu quero defender é a coisa genuína. Eu gosto de Pena Branca e Xavantinho mas não gosto do que se chama hoje de “sertanejo--universitário”.

GUSTAVO: E a comida genuína? Em Mauá tem a feiri-nha orgânica. Você acha que está aumentando a procura por essa comida? Eu sempre sonho com a Mantiqueira produzindo uma comida orgânica, em pequenas propriedades, abastecendo as cidades do entorno...

MÁRCIA: A procura é muito pouca, e a produção também é pouca. É outra frente que tem dificuldade de se organizar. E é

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REGINA: É só querer. Eu tinha alface quando ninguém em Mauá tinha porque eu peguei um monte de garrafas dessas aqui, e pegava umas redes velhas...

MÁRCIA: Agricultura de subsitência...

REGINA: Mas dava pra seis famílias.

GUSTAVO: Em Israel nego planta até na areia do deserto.

JOEL: Eu respeito a idéia, mas acho utopia.

GUSTAVO: Se você partir de um pensamento de que o planeta vai passar por coisas graves em breve se a gente não mudar o modelo, o que se chama de utopia passa a ser sensato. Você resolve o seu entorno.

MÁRCIA: Mas voltando à feirinha, eu acho que está fal-tando ali uma liderança. Ontem, por exemplo, a Carmem esteve lá sozinha.

REGINA: Mas eles não estão sendo capacitados pelo SEBRAE para conseguir selo verde e etc.

MÁRCIA: Regina... estão, mas é tudo um processo. E por falar em processo eu quero voltar ao tema específico da área da cultura: eu acho que o Brasil está passando por um processo maravilhoso que é essa profusão de editais; parece que o governo está querendo mesmo apresentar um novo quadro cultural

no Brasil; uma coisa que começou com o Wefort, com a lei Rouanet, e se fortaleceu com o Gilberto Gil. A idéia é apoiar o que já existe; é a coisa mais democrática que já houve no Brasil em termos de cultura, como disse o Augusto Boal. Nasce de baixo para cima.

GUSTAVO: E você, e os pontos de cultura de um modo geral, podem trazer um enriquecimento para essa nova classe média, que por sua vez também deve ter o que ensinar.

REGINA: Ilusão sua. Eles só querem funk, só querem entrar lá para fazer xixi.

GUSTAVO: Você está sendo uma pessoa de pouca fé.

REGINA: Eu não tenho a menor fé na humanidade.

JOEL: Eu não sou anticapita-lista, mas acho que o governo tinha

A maior ladra da cultura é a televisão. Quando a gente tem uma TV que homogeniza e um povo com

o histórico de educação que o nosso tem, é triste. Ela rouba a cultura de um país e impõe um padrão.

que ter uma TV para competir com a Globo.

GUSTAVO: Por que as TVs do governo não têm um sinal tão bom quanto o da Globo?

FLEURY: A Tereza Cruvinel botou 10 anos da vida dela nesse projeto da TV Brasil e agora saiu, não aguentou mais a falta de estrutura.

MÁRCIA: A maior ladra da cultura é a televisão. Quando a gente tem uma TV que homogeniza e um povo com o histórico de edu-cação que o nosso tem, é triste. Ela rouba a cultura de um país e impõe um padrão.

JOEL: Eu sou muito mais o Lampião do que o Che Guevara. E como é que você vai cultuar isso? O Lampião era o nosso Guevara, e não tem boné dele, não tem camiseta...

GUSTAVO: E o sucesso dele hoje ia ser enorme porque ele era metro-sexual, com aqueles anéis todos.

MÁRCIA: Eu acho que o Joel tem toda a razão. Se você me per-guntar qual o filme brasileiro que eu mais gosto é “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

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Rememorando 2065 Essa coluna trará as principais

reportagens do ano em que se comemorou os 70 anos do Ponte

Egocard supera Facebook em número de usuários

um pacote de viagens de seis meses ao longo do mundo por ter ganho a disputa da foto mais bela. Já o espanhol Pablo Cervantes ganhou um prêmio de um milhão de euros pelo corpo mais sarado. E um dos prêmios mais disputados, a Ferrari de cinco milhões de dólares, dada a quem permanecer por mais tempo conectado e postando no site, saiu no começo de ano para o brasileiro José Alter Id Marra, que permane-ceu 480 horas seguidas ligado em seu perfil, sem parar de postar e responder às perguntas dos amigos. Marra, que já recebeu tratamento psiquiátrico na adolescência para tentativa de cura de vício de vide-ogame, agora ostenta o cobiçado título mundial de Superegocard-

man, e já tem convite para posar nu para as principais revistas LGBTT da Europa.

Criado há apenas dez anos pelo grande nome da atualidade computacional, o trilhonário argen-tino Juan Dios, o Egocard busca, segundo o próprio Dios, “enaltecer os atributos daqueles que foram favorecidos pela natureza por possuírem os mais belos rostos, os mais belos corpos e as melhores performances”.

Embora sofra acusações de acumular indevidamente capital e de financiar os testes nucleares paquistaneses em território afegão ocorridos em 2040, Dios é adorado no mundo do entretenimento por bancar as pesquisas e as realizações da tecnologia de cinema 7D. O

sistema operacional Lindows, de sua empresa, a Megahard, lucrou só no primeiro trimestre desse ano mais de 200 bilhões de reais.

Muitos acham um absurdo tanto dinheiro nas mãos de uma só pessoa, mas Dios sempre rebate aos críticos que apoia importantes pro-jetos sociais em todos os continen-tes através de sua ONG Esperança Infantil, sustentada pelas doações voluntárias dos participantes do Egocard.

O Facebook, que praticamente reinou por meio século como o maior site de relacionamen-tos mundial, agora tenta usar a estratégia de atacar na mídia os embaraços políticos causados pelo concorrente. Há dois anos, por exemplo, o primeiro ministro russo,

pego em seu gabinete acessando seu perfil no Egocard, foi exone-rado do cargo, tendo-se descoberto que ficara por mais de uma semana somente postando e comentando fotos de suas viagens pelo Caribe e Ilhas Virgens, sem dar despacho a um documento sequer. Em 2050 foi criada, naquele país, a Universi-dade de Psicologia para Tratamento de Dependentes de Internet, com cursos voltados especificamente para a questão. A psicóloga mexi-cana Marta Plaza, que lá fez seu Doutorado, e que chegou a traba-lhar no escritório da filial tailandesa de Juan Dios, publicou um livro (disponível apenas em e-book e ainda inédito no Brasil), intitulado “El terror de los bytes”, no qual descreve suas experiências apren-didas na universidade russa sobre o que a eletrônica tem feito na vida de grande parte da população mundial. Apresenta várias pesqui-sas, em conjunto com neurocien-tistas, em que se conclui que parte da grande crise psicológica que a humanidade vem sofrendo se dá pelo excessivo uso de aparelhos eletrônicos desde tenra idade. Apesar de tudo, Plaza confessa, em seu livro, que não resiste e sempre dá uma olhadinha no seu perfil do Egocard todos os dias antes do café da manhã.

Page 15: Jornal Ponte Velha - Maio de 2012

Maio de 2012 - O Ponte Velha - 11

Joel Pere

ira Nossa História, Nossa Gente

Posto AvenidaBob`s

Seu carro agradece e seu paladar tambémCREDIBILIDADE

Esta invocação é uma Prece MundialExpressa verdades essenciais.

Não pertence a nenhuma religião, seita ou grupo em especial. Pertence a toda humanidade como

forma de ajudar a trazer a Luz Amor e a Boa Vontade para a Terra. Deve ser usada

frequentemente de maneira altruísta, atitude dedicada, amor puro e pensamento concentrado.

A Grande Invocação

Desde o ponto de Luz na Mente de Deus,que aflua Luz às mentes dos homens.

Que a Luz desça à Terra.

Desde o ponto de Amor no Coração de Deus, que aflua Amor aos corações dos homens.

Que aquele que vem volte à Terra.

Desde o Centro, onde a Vontade de Deus é conhecida, que o propósito guie

as pequenas vontades dos homens.O propósito que os Mestres conhecem

e a que servem.

Desde o centro a que chamamos raça humana, que se cumpra

o plano de Amor e Luz. E que se feche a porta onde mora o mal.

Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleçam o Plano Divino na Terra.

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AFFONsO MáxIMO BALIEIROO objetivo desta coluna é homenagear

pessoas que dão nome a logradouros de Resende. Nesta edição, o homenageado é o Affonso Máximo Balieiro, que dá nome à antiga Rua 3, no Bairro Mirante das Agulhas, CEP 27524-585, conforme Lei Municipal 1960, de 22/11/96.

Filho de José Theodoro Balieiro e Gui-lhermina Maria de Almeida, Affonso nasceu em 09/08/1909, em Rosário da Bocaina, então distrito de Aiuruoca, hoje a cidade de Bocaina de Minas, MG.

Começou a trabalhar, ainda garoto, em um Armazém na Vargem Grande (Pedra Selada), e ali iniciou os estudos. Saiu para servir ao Exército em Juiz de Fora, onde graduou-se em Ciências Contábeis, antes de voltar para Resende. Além de fazendeiro, foi proprietário da Farmácia Central, no Bairro Campos Elíseos, vendida para seus conter-râneos Antonino Lourenço e Jaci Maciel da Costa. Depois foi co-proprietário do Bar Zé Carioca, na Av. Alfredo Whately, onde era, também, o seu QG político.

Fundador do Partido Trabalhista Brasi-

leiro – PTB, em Resende, junto com Dr. José de Azevedo Souza e Manoel Teixeira Ramos. Com seus compa-nheiros trabalhistas, incluindo os Rodrigues, Augusto Carvalho e João Maurício, Affonso Balieiro deu as cartas na política resendense, durante todo o reinado do PTB, de 1947 a 1966. Foi Secretário Municipal em Resende, nos governos de João Mauricio de Macedo Costa e de Oswaldo da Cunha Rodrigues.

Passava as manhãs, em uma mesa de seu Bar Zé Carioca, lendo o Correio da Manhã, recebendo pessoas e tecendo suas articu-lações políticas, no que foi reconhecido como um dos maiores

mestres. Inteligente e concilia-dor, foi respeitado pelas suas honestidade e sabedoria.

Recentemente, em entrevista ao Ponte Velha, Fulvio Stage contou um de seus encontros com Affonso Balieiro, para saber se o Manoel Ramos seria o próximo candidato a Pre-feito. Affonso disse que seria o Geraldo Rodrigues, ao que o Fúlvio objetou, dizendo que ninguém conhecia o Geraldo. Affonso Balieiro retrucou: o

Monsenhor Ludovico conhece! Geraldo Rodriguestornou-se conhecido e venceu a

eleição.Nosso home-

nageado casou-se com Nietta Ferraiolo Consentino e tiveram seis filhos: Affonso Guilherme (funcionário do Banco do Brasil, aposentado); Silvério Paulo (líder sindical e religioso, aposentado do Banco Real); José Carlos, engenheiro da CERJ, já no Oriente Eterno; Fernando Marcos, contador apo-sentado; Eliane Fischer, corretora de imóveis; George Henrique, Engenheiro e Professor.

Sua última ativi-dade foi a de Coletor

Estadual em Resende, período no qual também deixou seu exemplo de homem íntegro, digno de ostentar o título de servidor público.

Faleceu em Resende, no dia 22 de maio de 1978, deixando para a posteridade a fama de ter sido o maior articulador político que a cidade já teve.

REFERÊNCIAS: Anotações de Silvério Paulo Consentino Balieiro; Indice Geral da Legislação do Município de Resende, obra inédita de Elisa Abrahão. Foto do acervo familiar

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12 - O Ponte Velha - Maio de 2012

Das milhares de pessoas que diariamente passam pelo km 299 da Rod. Presidente Dutra (BR 116), poucas devem notar que contornada a oeste por uma abrupta curva do rio Paraíba do Sul está uma das últimas grandes áreas úmidas naturais da região sul fluminense, a Lagoa da Turfeira (também conhecida como Lagoa da Kodak devido a proximi-dade com uma antiga fábrica da referida empresa). Essa situação, no entanto, causa pouco espanto já que a grande lagoa parece não ser invisível apenas para os motoris-tas concentrados na estrada. Não adianta procurar pelos seus cerca de 700.000 m2 em um detalhado mapa hidrográfico do município de Resende produzido em parceria com a prefeitura municipal. Você não verá a indicação de nem um pingo d’água em seu local. Fato no mínimo inusitado, uma vez que lagoas até 10 vezes menores são corretamente indicadas no mapa e se dos dermos conta que a Lagoa da Turfeira pode ser claramente observada a mais de 10.000 metros de altitude via Google Earth.

Se uma área equivalente a mais de 70 campos de futebol pode passar desapercebida, imagine aqueles que a habitam, como o diminuto tricolino (Pseudocolopteryx sclateri) com seus míseros 9,5 cms. Não bastasse o tamanho, esse bonito passarinho vive apenas no meio de densas moitas de taboa (Typha domingen-sis), uma das plantas mais caracte-rísticas de áreas alagadas no Brasil. Ornitólogos e observadores de aves sabem que para poder observá-lo não basta apenas vontade é preciso se embrenhar-se no taboal, muitas vezes afundar com água acima do joelho e ficar de ouvidos atentos ao seu discretíssimo canto.

Mais de 11 anos de visitas regulares à Lagoa da Turfeira e seu entorno imediato realizadas em parceria com o amigo e também ornitólogo Bruno Rennó, resultaram no registro não apenas do discreto tricolino mas também de pelo menos outras 169 espécies de aves silvestres no local. Nesse total, que representa cerca de 20% das aves

Lagoa da Turfeira

do Estado do Rio de Janeiro, estão incluídas espécies ameaçadas de extinção em âmbito estadual e diver-sas aves migratórias paras quais a lagoa representa um importante refúgio.

Os resultados desse estudo –parcialmente apresentados no XVI Congresso Brasileiro de Ornitologia - tornaram evidente a importância da Lagoa da Turfeira para conser-vação da biodiversidade fluminense e auxiliaram na sensibilização do poder público municipal para que algo fosse feito em prol da sua preservação . Dessa forma, em 2010 a Agência do Meio Ambiente do Município de Resende elaborou o documento “Estudo Técnico Prelimi-nar para Constituição de Área Prote-gida no Banhado da Kodak”, e entre as principais conclusões estavam:

“A criação e implantação de unidade de conservação no Banhado da Kodak alinha-se aos compro-missos internacionais do Brasil de proteger o ambiente, conforme metas estabelecidas pela ONU, em se tratando do Ano Internacional da Biodiversidade. A criação e implan-tação da unidade acarretará ainda um aumento do ICMS do município, conforme prevê a Lei no 5.100 de 04 de outubro de 2007 e o Decreto no 41.101 de 27 de dezembro de 2007. Constata-se, portanto, que a unidade trará grandes benefícios para o município […]”

Dois anos se passaram após finalização desse documento e aos poucos a Lagoa foi nova-mente caindo no esquecimento dos órgão governamentais, até a semana passada. Na última quinta--feira (19/04), alertado por amigos, descobri que a prefeitura Municipal de Resende havia orgulhosamente publicado uma imagem da Lagoa invisível em sua página do Facebook acompanhada de alguns parágrafos de notícia. No entanto, ao invés do título fazer qualquer menção a alguma ação visando a conserva-ção da área lá estava: “As obras

da Nissan” – veja aqui - . Meio sem rumo e sem querer acreditar no que eu havia lido me dei conta que não apenas não seria feito nada para conservar a Lagoa como também estava sendo orgulhosamente anunciada o que poderia se tornar em uma das maiores tragédias ambientais recentes da região sul fluminense. Esperei o final de semana chegar e fui para casa em Resende ver com meus próprios olhos a situação da área.

Era por volta de 14:00 do último sábado (21/04). Da Dutra já era possível ver uma gigantesca área de terra exposta meio enevoada pela poeira levantada pelo ir e vir constante de uma verdadeira frota de máquinas escavadeiras e caminhões. Segui pela estrada de chão paralela à lagoa e encarado pelo olhar apreensivo das pessoas que lá trabalhavam fui desviando das escavadeira e caminhões. O barulho constante dos motores e a poeira contribuíam deixando o cenário de destruição ainda mais desolado e logo me dei conta que eu não era o único perdido por ali, uma garça--branca-grande (Ardea alba) e duas garças-brancas-pequenas (Egretta thula) voavam sem rumo entre duas poças já lamacentas sendo repetida-mente espantadas pelas máquinas.

Procurei em vão pela área onde em 2001 havia feito o primeiro registro documentado da triste-pia (Dolichonyx oryzivorus) no Estado do Rio de Janeiro e onde também observávamos com frequência o ameaçado coleiro-do-brejo (Spo-rophila collaris). Tarde demais, a passarada havia simplesmente virado terra nua. Um pouco mais para frente em uma área que ainda mantinha um pouco de vegetação uma concentração impressionante de aves, onde chamava atenção o colorido dos dragões do brejo e da polícia-inglesa, lembravam refugia-dos aglomerando-se as centenas e fugindo de um verdadeiro massacre.

Um pouco mais pra frente na estrada dirigi até o alto de uma colina e de lá pude avaliar melhor o estrago. A extensão da área aterrada era impressionante e embora até aquele momento tenha sido poupado o espelho d’água principal diversas áreas úmidas existentes ao seu redor foram completamente aterra-das. De lá também pude rever algo que sempre me causou especial

presságio. Um antigo canal locali-zado no canto nordeste ligando-a ao Rio Paraíba do Sul, embora hoje esteja parcialmente assoreado já funcionou como sangradouro de suas águas podendo novamente ser utilizado para extinguí-la. No caminho de volta, entrei por uma estrada que acabava de ser aberta e estranhamente terminava no espelho d’ água, fiquei ainda mais apreensivo me perguntando a função daquele caminho.

Por conta do mestrado sou obrigado a morar em São Paulo e aos poucos vou me acostumando com os engarrafamentos, poluição e violência urbana. Por isso, nada contra a montadora de carros, tam-pouco contra o dito progresso que prevê que a população de Resende aumente cerca de 40.000 pessoas nos próximos 4 anos. Mas, vale lembrar que lagoas são caracteri-zadas como áreas de preservação permanente, por isso são áreas intocáveis.

Além disso, certamente deve ter sido produzido um estudo de impacto ambiental para uma obra dessa magnitude, o qual certamente

também deve ter identificado que qualquer atividade que afete a lagoa poderá resultar em uma tragédia irreversível para biodiversidade da região. Sendo assim, gostaria também de ter tido a oportunidade de participar de alguma audiência pública onde o destino da Lagoa da Turfeira pudesse ser seriamente debatido.

Embora seu entorno já tenha sido bastante impactado ainda há tempo de salvar o que restou da última grande área úmida natural da região meridional do vale do Rio Paraíba do Sul. A implementação de uma unidade de conservação no local, em âmbito municipal ou estadual, seria não apenas uma forma de garantir a existência a longo prazo da Lagoa da Turfeira e sua rica biodiversidade, mas também a opor-tunidade de criação de um espaço onde através de trilhas interpretativas e um centro de visitação a população resendense conquistasse uma nova opção de lazer que vai totalmente de encontro a vocação ambiental do município. Vale lembrar o grande potencial da área para prática de uma das atividades ao ar livre que mais crescem no país a observação de aves. Não por acaso, a Lagoa da Turfeira ocupa três páginas do livro “A Birdwatching guide to South-East Brazil”, o qual traz informações deta-lhadas sobre alguns dos principais locais para observação de aves no sudeste do país. Sem contar nas inúmeras fotos clicadas no local e disponíveis no site WikiAves e que demonstram que os ambientes da lagoa são frequentemente procurados por observadores de aves.

Por volta das 16:30 o céu nublado evolui para uma chuva fraca que ajudou a esconder os olhos cheios. De fato a ignorância é o melhor caminho para felici-dade. Minha tristeza maior não era por ser testemunha ocular de tamanha agressão à natureza, mas principalmente por saber a impor-tância daquele lugar para a vida e conhecer pelo nome e sobrenome todos aqueles fadados a buscar em vão um novo lar. Voltei para casa desolado mas disposto a fazer todo o possível para mostrar que as cores e os sons das milhares de vida que dependem da Lagoa da Turfeira fazem que ela seja considerada qualquer coisa, menos invisível. Cientes que a tragédia está anun-ciada depende de nós deixar ou não que ela aconteça.

ambienteregionalagulhasnegras.blogspot.com.br/

A indignação de um estudiosoLuciano Moreira Lima