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Jornal Universitário de Coimbra a cabra 7 de Julho de 2009 Ano XVIII N.º 201 Quinzenal gratuito Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo C H E G A D A À L U A 4 0 a n o s d e p o i s , s e r á q u e o g r a n d e p a s s o p a r a a h u m a n i d a d e d e N e i l A r m s t r o n g n ã o p a s s o u d e u m a e n c e n a ç ã o ? P 1 5 R E L I G I Õ E S À d e s c o b e r t a d a s c r e n ç a s q u e c o a b i t a m e m C o i m b r a P 1 0 e 1 1 C I N E M A A a n t e v i s ã o d o s f i l m e s q u e e s t r e i a m n a s f é r i a s P 1 6 Câmara de Coimbra Candidatos avançam com propostas A três meses das eleições autárqui- cas, fomos para a rua saber quais os problemas que os conimbricenses vêem na sua cidade e o que gosta- riam que fosse resolvido. A insegu- rança e o viaduto do Choupal são as maiores preocupações. Até ao mo- mento, perfilam-se sete nomes para a corrida. Em entrevista, os candi- datos respondem com as ideias para os próximos quatro anos. P 1 2 e 1 3 AAC Queixa ao próximo Provedor de Justiça A Direcção-Geral da Associação Aca- démica de Coimbra vai apresentar uma queixa a requerer a fiscalização sucessiva do regime jurídico e da lei de financiamento do superior assim que o novo Provedor de Justiça for eleito pela Assembleia da República. Ainda este mês, decorre uma campa- nha, a nível nacional, de sensibiliza- ção para uma acção conjunta entre académicas a realizar em Outubro. P 4 O músico francês que ficou célebre com a banda sonora de “O fabuloso destino de Amélie Poulain” fala sobre o que liga a sua música ao cinema P 6 Yann Tiersen A equação de ANDRÉ FORTE O balanço da época Os resultados das secções desportivas e do desporto universitário da Académica P 7 , 8 e 9

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

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Edição 197 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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Page 1: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

Jornal Universitário de Coimbra

a cabra7 de Julho de 2009Ano XVIIIN.º 201Quinzenal gratuito

Director: João MirandaEditor-executivo: Pedro Crisóstomo

CHEGADA À LUA40 anos depois, será que o “grande passo paraa humanidade” de Neil Armstrong nãopassou de uma encenação?P 15

RELIGIÕESÀ descoberta dascrenças que coabitamem CoimbraP 10 e 11

CINEMAA antevisão dos

filmes que estreiamnas férias

P 16

Câmara de Coimbra

Candidatos avançamcom propostas

A três meses das eleições autárqui-cas, fomos para a rua saber quais osproblemas que os conimbricensesvêem na sua cidade e o que gosta-riam que fosse resolvido. A insegu-rança e o viaduto do Choupal são asmaiores preocupações. Até ao mo-mento, perfilam-se sete nomes paraa corrida. Em entrevista, os candi-datos respondem com as ideiaspara os próximos quatro anos.P 12 e 13

AAC

Queixa ao próximoProvedor de Justiça

A Direcção-Geral da Associação Aca-démica de Coimbra vai apresentaruma queixa a requerer a fiscalizaçãosucessiva do regime jurídico e da leide financiamento do superior assimque o novo Provedor de Justiça foreleito pela Assembleia da República.Ainda este mês, decorre uma campa-nha, a nível nacional, de sensibiliza-ção para uma acção conjunta entreacadémicas a realizar em Outubro. P 4

O músico francês que ficou célebrecom a banda sonora de “O fabulosodestino de Amélie Poulain” fala sobreo que liga a sua música ao cinemaP 6

Yann TiersenA equação de

ANDRÉ FORTE

O balançoda épocaOs resultados das secções desportivase do desporto universitário daAcadémicaP 7, 8 e 9

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DESTAQUE2 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

Depois das aulas, dos trabalhose dos exames, a maioria dos estu-dantes aproveita os dois meses dasférias de Verão para descansar eesquecer por completo a rotina dauniversidade. Contudo, são cadavez mais os alunos que usam otempo de férias para se aproxima-rem do mundo do trabalho. Du-rante um, dois ou três meses,quem concorre aos estágios decurta duração sujeita-se a horá-rios, tarefas e responsabilidadesinerentes à vida profissional quepretendem seguir. Para este ano,são cerca de 600 os estudantes daUniversidade de Coimbra (UC)que aproveitam os estágios emempresas e instituições promovi-dos pelo gabinete de Saídas Pro-fissionais.

É o caso do estudante de Econo-mia David Dias, que após ter as-sistido a um workshop sobreprocura de emprego se apercebeuque “cada vez mais as empresas,quando recrutam uma pessoa, dãovalor à actividade extracurriculare à experiência que ela tem”. O es-tudante, que acabou a licenciaturaeste ano, passou o mês de Agosto

de 2008 na agência do Banco Por-tuguês de Investimentos (BPI),em Coimbra. Enquanto estagiouna banca, David Dias conseguiuexperimentar um pouco de tudo:“estive na caixa, na parte de crédi-tos a empresas, um pouco portodo o lado”, conta o estudante,que se prepara agora para concor-rer a um novo estágio.

A ideia da importância que a ex-periência perto da profissão as-sume na candidatura a um futuroemprego é corroborada pelo do-cente da licenciatura de Ciênciasda Educação na UC, José ManuelCanavarro: “se as pessoas conse-guirem encontrar uma actividadede ocupação durante o Verão, issoé uma valorização curricular. Evi-dentemente que se essa ocupaçãoestiver ligada à área de formaçãoda pessoa, tanto melhor”.

De resto, segundo a coordena-dora das Saídas Profissionais, Fer-nanda Pereira, são muitos oscasos de quem faz mais do que umestágio durante o curso. MariaInês Silva, estudante de Engenha-ria do Ambiente, é um bom exem-plo. Desde que entrou nafaculdade fez três estágios na Da-none de Castelo Branco e já se ins-creveu para o quarto, numacâmara municipal. Tal comoMaria Inês, há vários estudantes

de Engenharia do Ambiente quefazem o mesmo. “O nosso curso émuito teórico e queria ter umaideia do que era a vida de trabalhoe um pouco mais de experiência”,justifica. No entanto, também hácríticas a apontar: “a empresa estámal preparada para estes estágios.Às vezes, tinha um projecto que sefazia numa semana e andava láum mês, porque demoravammuito tempo a dar-me materialpara trabalhar”. Apesar do can-saço, Inês considera a experiênciapositiva. “Quando lá estou, refilomuito, mas todos os anos me ins-crevo e é por algum motivo”.

Aprender a“acordar cedo”José Manuel Canavarro apontaalguns aspectos negativos e riscosdecorrentes dos estágios de Verão.“Nas áreas onde há muita procura,os estudantes fazem estágio numadeterminada empresa, a empresagosta do estudante, incentiva-o acontinuar e isso pode fazer comque demore mais tempo a concluiros seus estudos ou os deixe ameio”, explica o docente, queexemplifica com o caso dos estu-dantes de Engenharia Informá-tica, onde a situação é maisrecorrente.

Fernanda Pereira defende que a

grande vantagem destes estágios éa de constituírem “uma oportuni-dade para os estudantes de traba-lharem numa organização eentrarem em contacto com a cul-tura organizativa”. Os estágios decurta duração integram a emissãodo certificado de Suplemento aoDiploma pela universidade, ouseja, são uma mais valia a nível

curricular.Quem passa

por uma expe-riência deste género re-fere invariavelmente o que ganhouao nível do contacto com o mundodo trabalho, nem que seja para, talcomo David Dias, passar a ternoção de que “tem que acordarcedo”.

Os estágios de curta duração representam uma oportunidade para os estudantes tomaremcontacto com o mundo profissional da sua área de estudo, ainda antes da conclusão docurso. Este ano, o número de candidatos da UC ascende aos 600

Filipa FariaJoão Miranda

João Ribeiro

DAVID DIAS prepara-se para estagiar este Verão numa instituição bancária

Para cada vez mais estudantes, ofim das aulas não significa o aban-donar da sala de aula. De cursos delínguas a intercâmbios com outrasuniversidades, a oferta de cursos deVerão abrange um leque cada vezmais vasto e a que os estudantes daUniversidade de Coimbra (UC) nãosão alheios.

Para José Manuel Canavarro, “oscursos de Verão constituem umamais-valia do ponto de vista curric-ular, porque permitem aprofundaralguns temas, ou conhecer temasnovos”. O docente de Ciências daEducação na UC explica ainda quea frequência destes programas acar-reta outros benefícios, na medidaem que “as entidades empregado-ras valorizam muito as pessoas quefrequentaram cursos de Verão, pois

demonstra que têm um interessequase contínuo por aprender”.

Para além do ingresso nestes pro-gramas, muitos estudantes optampor frequentar os cursos em univer-sidades que não as de origem, oque, segundo José ManuelCanavarro, lhes permite “lidar comrealidades que não são exactamenteas mesmas com que foram lidandoao longo do ano lectivo”.

É o caso de Carlos Pedro Mendes,aluno do quinto ano de Medicina naUC, que teve conhecimento de umprograma promovido pela Feder-ação Internacional de Estudantes deMedicina. Em Agosto de 2008, par-tiu para Valladolid, Espanha, ondedurante quatro semanas integrou oserviço de emergência do hospital.

Marco Duarte soube do programa

NO VERÃO TAMBÉM SE ESTUDA

Pôr o curso em prática no Verão

JOÃO RIBEIRO

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DESTAQUE7 Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 3

Trabalhar para pagar os estudos

Alcançar a independência finan-ceira, suportar os custos da univer-sidade ou simplesmente satisfazeralguns caprichos de férias são razõesque levam vários estudantes a, todos

os anos, trocar o descanso por tra-balhos de Verão. Do final dos exa-mes ao início das aulas, emSetembro, as mesas das salas de aulasão substituídas por balcões de caféou até mesmo por um posto na linhade montagem de uma adega.

Desde que ingressou na licencia-tura de Psicologia, Vera Baetaspassa todos os Verões longe das se-

bentas de Freud e dos testes dos bor-rões de Rorschach e as garrafas epipas de vinho alentejano tornam-se os seus instrumentos de trabalho.“Eu trabalho todo o Verão e vou umfim-de-semana ou outro à praia”,conta a estudante. A opção de traba-lhar durante as férias deve-se, se-gundo Vera Baetas, sobretudo a umarazão: “sou aluna bolseira e quandoo ano começa ainda não temosbolsa, este dinheiro fica para mimpara me aguentar até a bolsa che-gar”.

Os locais de trabalho mais fre-quentes acabam por ser cafés e res-taurantes. Liliana Beldroega,estudante de Serviço Social, é umdestes casos. A perspectiva de inte-grar o programa Erasmus levou-a aprocurar uma ocupação remune-rada. “Trabalhei num hotel e fazia detudo um pouco, estava no café, aju-dava na cozinha e fazia limpezas”,recorda. Para além da compensaçãomonetária, Liliana admite que ga-nhou também alguma experiênciapessoal e profissional, de tal formaque pretende neste Verão voltar atrabalhar. “Preferia viajar e fazer ou-tras coisas, mas acho que mesmo senão tivesse necessidade não me im-portava de trabalhar durante oVerão”, refere ainda a estudante.

O motivo que levou Pedro Brancoao balcão de um restaurante foi um

pouco diferente das razões aponta-das pelas colegas. “Apenas fui traba-lhar porque quis”, confessa Pedro,que encontrou no emprego umaforma de independência financeirarelativamente aos pais. “Chegamosa uma certa idade, tornamo-nosmais adultos e foi isso que me moti-vou”, explica.

A experiência profissional é, se-gundo o docente da Faculdade dePsicologia e Ciências da Educaçãoda Universidade de Coimbra, JoséManuel Canavarro, sobretudo valo-rizada pelas entidades empregado-ras, por acostumar o estudante auma série de práticas que o acompa-nharão no futuro. “A pessoa já sabeque tem que obedecer a horários,que tem que acatar com determina-das responsabilidades e que tem quefazer tarefas que às vezes não sãoaquelas que queremos”, especificaJosé Manuel Canavarro.

Ordenados baixos,muito trabalhoA natureza precária destes tipos deemprego coloca muitas vezes os es-tudantes em situações pouco dese-jáveis. Carga horária pesada, baixossalários e, por vezes, más condiçõeshigiénicas são alguns dos pontos re-feridos. Pedro Branco conta que norestaurante onde trabalhou nãoaceitavam empregados a curto

termo. A condição imposta passouentão por “ter um ordenado maisbaixo e trabalhar mais que os ou-tros”. O estudante refere comoexemplo uma época de maior traba-lho em que não largou o posto du-rante 16 horas seguidas, mais do queo triplo dos colegas. Contudo, ad-mite que, “à partida, quando seentra não se espera um ordenadomuito elevado”.

O cansaço resultante de trêsmeses de trabalho, dirigidos ao des-canso das aulas, pode ser o grandeaspecto negativo desta opção. “É im-portante que os alunos consigam en-contrar aqui algum equilíbrio entreo que podem ou devem dispensardurante os dois meses em que nãohá actividades lectivas”, adverteJosé Manuel Canavarro. Também osestudantes estão cientes desta des-vantagem. Porém, Pedro Brancoapresenta uma fórmula: “se umapessoa souber gerir bem o tempoacaba por se divertir e trabalhar aomesmo tempo”.

Também o desejo de prolongar aactividade profissional inicialmentepensada somente para o período deférias é apontado por José ManuelCanavarro como um possível pro-blema: “não é que isso tenha mal,mas pode é ser difícil conciliar essaactividade profissional com o es-tudo”.

Os empregos de Verão surgem como resposta não só a necessidades financeiras mas tambémcomo meio de apreender certos hábitos de trabalho, contribuindo para uma valorização

curricular. Apesar de possuirem aspectos negativos, continuam a ser procurados

de intercâmbio através de colegasde turma e do núcleo de estudantese decidiu participar este ano. “Con-heço muita gente que já fez e quegostou muito da experiência”, conta.No entanto, considera que já terfeito Erasmus “também ajudou umbocado na decisão”. Antes de iniciaro sexto ano de Medicina, o estu-dante está “à espera de obter novosconhecimentos” num hospital deTunes, na Tunísia. Justifica que “é apartir da prática que se consegueaprender”.

Carlos Pedro Mendes caracterizaa experiência como enriquecedora.“É óptimo por causa do conheci-mento, contactamos com formas detrabalhar diferentes e também parater mais alguma experiência clínica”,aponta o estudante, que também

refere o lado de “conhecer pessoasde outros países, fazer amigos econtactar com todo o tipo de cul-turas e pensares diferentes”. “É umaforma impecável de passar as férias”,reitera.

O melhoramento do currículonão é uma das principais razões paraintegrar este tipo de experiências.“Foi mesmo uma questão enriquec-imento, tanto em termos profission-ais como pessoais”, explica CarlosPedro Mendes.

No início do ano lectivo, MarcoDuarte considera que não vai estarem desvantagem em relação aoscolegas por abdicar do tempo livre.Pelo contrário: “acho que me voudivertir muito mais que alguns cole-gas”.

F.F.

PEDRO BRANCO aproveita o tempo livre antes de começar a trabalhar nas férias

Filipa FariaJoão Miranda

João Ribeiro

LUÍS GOMES

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ENSINO SUPERIOR4 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

RJIES e Lei deFinanciamentocontestados junto deAlfredo José de Sousa.Iniciativa entreacademias do paísarranca ainda este mês

Logo que a Assembleia da Repú-blica eleja o novo Provedor de Jus-tiça, na próxima sexta-feira, 10, aDirecção-Geral da Associação Acadé-mica de Coimbra (DG/AAC) vai apre-sentar uma queixa a requerer afiscalização sucessiva do Regime Ju-

rídico das Instituições de Ensino Su-perior (RJIES) e da Lei de Financia-mento do Ensino Superior. A decisãoestá pendente há quatro meses,desde que a direcção-geral apresen-tou em Assembleia Magna umamoção na qual alega que algumasmatérias reguladas pelo regime jurí-dico do superior “invadem” a auto-nomia estatutária das instituições deensino superior.

Assim que Alfredo José de Sousa– o nome proposto em conjunto peloPS e pelo PSD para ocupar o cargo –entrar em funções, a AAC vai contes-tar, com outras académicas, “a formade designação, a competência e osmandatos dos titulares dos órgãos degestão da universidade” constantesno RJIES. À data da magna, 11 deMarço, a DG/AAC corroborava “as

dúvidas de constitucionalidade” nosdois diplomas levantadas em 2008por Jorge Miranda – que viria a servotado para provedor de Justiça noParlamento e que entretanto desistiudo processo.

Quando questionado sobre o factode não ter sido enviada a queixa en-quanto Nascimento Rodrigues aindaera titular da Provedoria de Justiça –até 3 de Junho –, o presidente daDG/AAC, Jorge Serrote, justifica que“a questão foi mesmo o [novo] pro-vedor” e por isso optou por aguardara eleição de Alfredo José de Sousa.

Também em conjunto, as acade-mias do país vão realizar uma cam-panha de informação para retratar osproblemas do ensino superior, a co-meçar ainda este mês. A iniciativaestá a ser elaborada pela Associação

Académica da Universidade doMinho e advém de uma moção apro-vada no último Encontro Nacional deDirecções Associativas, em Maio, emCoimbra. O objectivo da actividade é,de acordo com Jorge Serrote, “mobi-lizar para a manifestação nacional emOutubro”. O dirigente associativoacrescenta que a campanha vai co-meçar em Julho mas “terá mais ex-pressão em Setembro, quandochegam os novos estudantes”.

Com o mesmo objectivo, aDG/AAC vai levar a cabo, em Setem-bro, uma iniciativa intitulada “UC apente fino”, que vai consistir na apre-sentação à comunidade estudantil deum levantamento dos problemas pe-dagógicos e físicos de todas as facul-dades e departamentos daUniversidade de Coimbra.

DG/AAC apresenta queixa ao próximo Provedor de JustiçaLEANDRO ROLIM

São duas da manhã na sala de es-tudo da AAC e vários os alunos devolta de livros e apontamentos paraa última fase dos exames. “É umaafronta para os estudantes haveraqui um bar”, atira o aluno de Eco-nomia Henrique Santana. As reac-ções da generalidade dosfrequentadores da sala fazem verque nem sempre é fácil a concen-tração com o barulho provenientedo bar exterior, que se impõe ao si-lêncio. Luís Vizeu, estudante de Di-

reito, sugere mesmo o “encerra-mento” do espaço.

Mas nem todos se sentem afecta-dos pelo ambiente dos jardins daAAC. Nas cantinas, as alunas deCiências Farmacêuticas, NicoleCaetano e Ana Costa, dizem já estar“habituadas ao barulho” e pensamque os estudantes deviam arranjaroutros sítios para estudar, já quepara as cantinas e a sala de estudo“só vai quem quer”.

Quando confrontado com asqueixas dos estudantes, o adminis-trador da Direcção-Geral da AAC(DG/AAC), Miguel Franco, defende

que tem tentado chegar a um en-tendimento com o concessionáriodo bar dos jardins “para que o níveldo ruído esteja dentro dos parâme-tros legais” e que “consiga ir ao en-contro das necessidades da casa edos estudantes”. Miguel Francoacrescenta que ficou decidido que,durante todo o ano, “a partir dauma da manhã, o som deixaria deser ambiente”.

Quanto à sala de estudo, foi defi-nido, em plenário de secções, a 31de Março, que a direcção-geral iriatentar diminuir o ruído através dacolocação de vidros duplos. O ad-

ministrador garante que o projectojá está feito, mas que os vidrosainda não podem ser colocados.“Para fazer as obras de remodela-ção tínhamos que fechar a sala eisso seria prejudicial por causa dosexames”, justifica.

No entanto, Miguel Franco ex-plica que “qualquer alteração noedifício tem de ter a aprovação dareitoria e dos arquitectos”, visto quea Universidade de Coimbra é can-didata a património da UNESCO.Apesar disso, o dirigente associa-tivo acredita que “neste Verão oprojecto poderá avançar”.

Pensar agestão do edifícioAs secções da AAC também têm vá-rias críticas a fazer. O presidente dasecção de xadrez, Bruno Pais, contaque “quase perderam um jogo porcausa do barulho”. Depois de aequipa da AAC ter ganho, os adver-sários “aproveitaram o facto de terhavido barulho durante o jogo eapresentaram isso na secretaria[para alterar o resultado], mas foipossível contrapor”, adianta.

A vice-presidente do Ciclo de Ini-ciação Teatral da Academia deCoimbra (CITAC), Margarida Ca-bral, diz que o horário para aumen-tar o volume da música tem sidocumprido, mas que se torna “insu-portável” se alguém quiser trabalharaté mais tarde. “Desistimos de mui-tas coisas por causa do barulho”, la-menta.

O presidente do Grupo de Etno-grafia e Folclore da Academia deCoimbra (GEFAC), Filipe Balão, cri-tica o facto de não haver mais casas-de-banho e conta que já viu pessoasa “urinar no corredor”. O adminis-trador da DG/AAC revela que o pro-blema já está a ser solucionado coma “construção de novas casas-de-banho no jardim”.

A Rádio Universidade de Coimbra(RUC) foi também uma das secçõescom críticas à esplanada. Mas, maisimportante do que discutir o baru-lho do bar, para o presidente da sec-ção, Alexandre Lemos, “deveaproveitar-se o momento para pen-sar como se vai gerir o edifício”.

Já a secção de fado conseguiu che-gar a um acordo com os concessio-nários do bar exterior. “Houve ocompromisso de o som baixarquando a escola de música funcio-nasse”, que se traduziu no aumentodo nível do som apenas a partir dauma da manhã. Nas salas Dr. JorgeGomes, no edifício da AAC, e Tó No-gueira, por baixo da sala de estudo,os ensaios dos grupos são afectadospela música do bar exterior. A solu-ção foi encontrada através de umapolítica interna em que “os gruposprocuram optimizar o tempo per-dido num ensaio”, explica o presi-dente da secção, Hugo Ribeiro.

Críticas ao novo bar continuamBarulho da esplanada da Associação Académica de Coimbra, durante a noite, motiva desagradopor parte de estudantes e secções. Direcção-geral planeia remodelar sala de estudo ainda este Verão

SALA DE ESTUDO DA AAC, numa quina-feita à noite, onde os estudantes se preparam para os exames

LEANDRO ROLIM

Pedro CrisóstomoCláudia Teixeira

Diana Craveiro

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ENSINO SUPERIOR7 Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 5

Dos milhares de alunos colocadospor ano no ensino superior, nemtodos têm a felicidade de ficar nocurso que desejam. Outros entramna primeira opção, mas depressachegam à conclusão que não têm vo-cação ou que a influência exercidapor familiares para ingressar em de-terminados cursos venceu as pró-prias ambições pessoais.

Bárbara Baptista, finalista da li-cenciatura em Jornalismo da Facul-dade de Letras da Universidade deCoimbra é um dos exemplos: “estavaem Engenharia Física porque aminha mãe queria muito que fossepara Engenharia Biomédica, masnesse ano não consegui entrar e elaviu que Física seria a coisa mais pa-recida e então foi a minha segundaopção”.

O que fazer? Satisfazer os capri-chos alheios à própria vontade ouprocurar alternativas? A soluçãopara fugir a anos frustrantes a estu-dar matérias que não fazem clara-mente as suas pretensõesprofissionais afigura-se única. NaUniversidade de Coimbra (UC) cen-tenas de alunos mudam todos osanos de curso à procura de uma ex-periência académica mais satisfató-ria, recorrendo para o efeito aoregime de mudança de curso ou op-tando novamente pelo concurso na-

cional de acesso ao ensino superior.Telma Mateus está actualmente a

estudar Serviço Social na Faculdadede Psicologia e Ciências da Educaçãoda Universidade de Coimbra. Depoisde quatro anos em Direito percebeuque “não [se] revia no curso”. “Nãoia ao encontro do meu gosto pessoale depois a minha vocação não eraaquela”, explica. Por sua vez, Bár-bara Baptista confessa que “se fi-casse em Engenharia Física,provavelmente iria demorar dezanos para terminar o curso. Assimfoi bem mais fácil e estou naquiloque gosto”.

De acordo com números do De-partamento de Estudos e Estatísticada UC centenas de alunos ingressampor mudança de curso. Direito, Ciên-cias Farmacêuticas, Economia, En-genharia Civil, Jornalismo, Turismo,Lazer e Património e Psicologia sãoos cursos da universidade que rece-bem mais alunos por este regime.

Contudo, os dados do departamentonão veiculam as licenciaturas de pro-veniência dos estudantes que ace-dem ao regime de mudança.

Por uma vagaem MedicinaMedicina é, desde há vários anos,dos cursos com mais candidaturas eque regista as notas de candidatura

mais elevadas. Os que não conse-guem uma das cerca de 1500 vagasnas universidades portuguesas e nãoquerem perder um lugar no ensinosuperior matriculam-se noutras op-ções como Ciências Farmacêuticasou Medicina Dentária.

É o caso de Estela Loureiro, quecompletou o primeiro ano em Ciên-cias Farmacêuticas e mais tarde con-

seguiu mudar para Medicina. “Aideia era ficar num curso que depoispudesse facilitar a entrada em Medi-cina ou que tivesse cadeiras emcomum que me dessem equivalên-cias”, justifica. Catarina Faria viu asua tentativa lograda de ingressarem Medicina depois de ter feito doisanos em dentária: “no meu primeiroano, não tinha média suficiente para

entrar na Madeira pelo contingentee, como quis garantir um lugar noensino superior, candidatei-me tam-bém para Medicina Dentária emCoimbra”. “Voltei a tentar no se-gundo ano e repeti os exames nacio-nais, mas falhei o objectivo. Só oconsegui quando ia para o terceiroano”, lembra ainda a estudante.

No entanto, depois de um ano deexperiência em cursos que não satis-fazem as suas pretensões a hipótesede permanecer é, muitas vezes, postaem causa. “Ponderei ficar em Ciên-cias Farmacêuticas e mesmo agoraàs vezes arrependo-me de ter mu-dado. Cheguei a considerar voltar ouentrar em Medicina Veterinária, queera outra das opções”, confessa Es-tela Loureiro.

O caso repete-se. Também Cata-rina Faria admite ter ponderadoficar em Medicina Dentária: “não iaficar seis anos a tentar mudar paraMedicina”. “A certa altura pensei sevaleria o esforço estar todos anos afazer os exames nacionais paramudar”, acrescenta.

Outra realidadeEncontrar um novo rumo traz con-sigo mudanças radicais. Uma novafaculdade, com novos colegas e, porvezes, um espírito e uma relação devivência completamente díspar àque estavam habituados. “Encontreium ambiente mais familiar na facul-dade de Direito já que só existem

dois cursos”, revela Gonçalo Ribeiroque se transferiu de Jornalismo paraDireito. “Também o estilo de ensinoé completamente diferente. É maisexigente, aprende-se e enriquece-semais”, complementa.

Para Telma Mateus, a faculdadede Direito foi o lugar de saída e con-fessa ter sentido diferenças bastantesignificativas. “A faculdade de Psico-logia é mais pequena e em ServiçoSocial somos apenas cerca de 50.Acho que as pessoas são mais uni-das”, analisa.

Aqueles a que a mudança decurso não obriga a um novo sítiopara estudar não deixam de sentirquaisquer alterações. Foi o que sepassou com Catarina Faria, que aomudar para Medicina deparou-secom “um mundo completamente àparte”. “Estávamos no meio de cen-tenas de pessoas e só as conhecía-mos de vista, dos corredores”,reflecte.

Com a época de exames a chegar ao fim são vários os estudantes que decidem transferir-separa outro curso da UC. Desinteresse e falta de vocação estão entre os motivos mais apontados

Mudar o curso da vida

ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

MIGRAÇÕES NA UC

Vasco Batista

Ciências Farmacêuticasé o curso que recebemais alunos portransferência interna

Com a mudança decurso, muda tambémo quotidiano demuitos estudantes

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CULTURA6 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

cápor

8TAGV • 21H30ESTUDANTE 10¤

cultura

10JUL

B FACHADA

MúsicaFNAC • 22H

ENTRADA LIVRE

FNAC • 21H30ENTRADA LIVRE

Festival Internacional de CinemaTAGV • 22H

ESTUDANTE 3,50¤

até

16 JUL

Fotografia DocumentalGALERIA PINHO DINISENTRADA LIVRE

Teatro Novo do BrasilTAGV • 21H30

ESTUDANTE 8¤

18JUL

EXPEÃO

MúsicaFNAC • 17HENTRADA LIVRE

até

23JUL

PinturaGALERIA ALMEDINA

ENTRADA LIVRE

FotografiaGALERIA ALMEDINAENTRADA LIVRE

MICHAEL BUBLÉ

até

20SET

PAISAGEM

Pintura de João Carrilho Graça CENTRO DE ARTES VISUAIS

ENTRADA LIVRE

Por Sara Oliveira

17JUL

ELAS SOU EU

EUNICE MAIA

17º CURTAS DE VILA DO CONDE

ORQUESTRA TÍPICA

FERNÁNDEZ FIERRO

11JUL

16JUL

JOSÉ MIGUEL FERREIRA

om as faces rosadas, numclaro sinal de quem já des-frutou do sol português,Yann Tiersen, 39 anos,

apresentou-se descontraidamente,com chinelos e camisa meia aberta.Alguns cabelos brancos e olheiras de-notam o cansaço de mais uma di-gressão e as pulseiras no pulso direitodo cantor contam estórias musicais,de outros concertos já idos. Pausada-mente, entre grandes silêncios, o ar-tista, oriundo da Bretanha, confessouque a banda sonora de “O fabulosodestino de Amélie Poulain” é passadoe os seus planos para o futuro.

Esta é a sua quarta visita aonosso país. Gosta de Portugal? Gosto muito. Já passei bons momen-tos cá.

Temos um bom público? Sim, muito bom.

Uma nova visita com um novoálbum para mostrar... Sim, já o terminei, mas irá ser lan-çado no início do próximo ano, Ja-neiro penso eu.

Tem, então, um novo álbum.Lançou, em 2006, um DVD aovivo... Quais as diferenças quepodemos esperar entre o YannTiersen desse DVD e o de ac-tualmente? Canções diferentes, em primeira ins-tância. E, também, uma banda dife-rente: o baterista, Dave Green, e oguitarrista, Robin Allende. Nós temostrabalhado juntos desde o início dadigressão, em Paris, onde nos conhe-cemos, quando eles tocavam comuma banda britânica.

Mas é notória uma grande evo-lução desde o lançamento dabanda sonora do filme “O fabu-loso destino de Amélie Pou-lain”... Na verdade, essa banda sonora foiuma compilação dos meus dois pri-meiros álbuns. Basicamente, apenasfiz duas novas canções para o filme.Por isso, como os trabalhos de baseremontam a 1996, já passou muitotempo, como é óbvio. E é muito abor-recido, para mim, falar sobre isso...

Pois, é sabido [risos]. No en-tanto, torna-se inevitável, já queé óbvia a sua ligação com o ci-nema, uma vez que actuou comgrupos de teatro quando eramais novo.

Não sou ligado ao cinema, somenteautorizei a que as minhas cançõesfossem utilizadas na banda sonora,que, depois disso, se transformaramnum sucesso massivo. Creio que setornou num mal-entendido, porqueeu realizei três bandas sonoras e, àexcepção da banda sonora do filme"Adeus, Lenin!", todas elas eramcompilações de trabalhos prévios.Quanto aos grupos de teatro, apenastive um amigo que estava a dirigiruma peça e eu tocava música lá quejá tinha composto. Não tenho ne-nhum problema com o cinema,porém acabo por ficar com poucacoisa para dizer sobre ele.

Mas o cinema e a música sãoduas artes que trabalham demãos dadas...Sem dúvida. Só penso que filmes emúsica estão numa equação de sen-timento comum, não numa questãode trabalho. Não acredito que sejarealmente possível compor músicapara imagens, antes penso que é algoabstracto, não é linguagem. Por

vezes, "encaixa" no filme, devido a al-guma razão desconhecida. É como navida.

Mesmo assim, nos seus primei-ros álbuns, "La Valse des Mons-tres" e "Rue de Cascades", énotório um ambiente cinemato-gráfico. Sim, sim. Acho que são álbuns maiscinematográficos do que, por exem-plo, trabalhos de Tortoise ou Mogwai.

Mencionando essas bandas, opost-rock é uma influência parao seu trabalho? Nem por isso. Eu sempre gostei debandas como Pink Floyd ou Genesis.

Encara a sua música comotendo um lugar mais tradicio-nal, mais clássico ou minima-lista?Sim. Quando era mais novo, toqueisete ou oito anos numa banda derock. No fim, estava farto, já que nãofazia as coisas à minha maneira. Tal-vez porque os instrumentos acústi-

cos, como o violino, me ajudam a en-contrar o meu próprio caminho. Parajá, é o oposto. Por exemplo, no pró-ximo álbum existem novos instru-mentos, um ambiente mais sóbrio,dado que já não consigo tocar alguns,creio que os usei em demasia no pas-sado e acabam por me enfadar.

Instrumentos como o piano? O piano é diferente. Antigamente,nos meus anteriores trabalhos, exis-tiam peças de piano, violino e algunsdetalhes mais electrónicos ou or-questrais. Eu continuo a utilizar essespormenores, mas, em especial no querespeita ao último álbum, quis mudarum pouco, para não ser sempre omesmo. Aliás, há somente oito can-ções no disco, não se trata um traba-lho longo.

Recentemente, começou a utili-zar efeitos no som. Trata-se deuma maneira de evitar o abor-recimento das mesmas can-ções? Sem dúvida. No próximo álbum,existe um efeito que eu costumo usarcom sombras de brinquedos e maisefeitos, sim. Eu estava tão habituadoa olhar canções, buscar sons, que,hoje em dia, já não os consigo utili-zar, é impossível.

Então, é mais uma questão deambiente do que de som? Não sei. Penso que, quando tocamosmúsica temos de encontrar a nossaprópria forma de gostar dela, casocontrário torna-se um pesadelo.

Na sua página online, é mencio-nado que desistiu da "solidão"do piano para abraçar novosinstrumentos. Para si, o piano ésolidão?Gosto de organizar as ideias no sim-ples acto de tocar e buscando novosinstrumentos. Se eu pretendo encon-trar novas ideias, o piano torna-secomplicado, muito técnico e, porvezes, impede-me de encontrar o queprocuro. Desde o início, quandocriava meras peças de piano a solo - oque, ainda assim, acaba por ser raro,nos meus trabalhos -, a maioria dasideias acabava mesmo por ser encon-trada na guitarra, por exemplo.

E, de facto, muitas das suas in-fluências acabam por vir dasguitarras. Falo, concretamente,de Joy Division e Nick Cave. Sim. Os Joy Division foram a bandada minha adolescência [risos].

C

O músico francês esteve de passagem pela Figueira da Foz para encantara audiência do Centro de Artes e Espectáculos e mostrar o novo álbum,“Dust Lane”. Com três espectáculos em Portugal, Yann Tiersen esgotouas bilheteiras de Norte a Sul. Por Ana Beatriz Rodrigues

YANN TIERSEN • MÚSICO

ANDRÉ FORTE

JUL

VOAR SOBRE COIMBRA

HÁ MEIO SÉCULO

28JUL

13AGO

até

O MÚSICO ficou célebre com o filme “O fabuloso destino de Amélie Poulan”

“Filmes e música estão numaequação de sentido comum”

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DESPORTO7 Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 7

As contas da

A equipa de an-debol da Acadé-mica esperaainda uma deci-são da Federação

Portuguesa deAndebol para saber se mantém aequipa sénior na segunda divisãoou se desce para a terceira, comoconsequência da reestruturação dosquadros. Para o presidente, FilipeCoelho, o balanço desta época é“bastante positivo”, pois os objecti-vos foram conseguidos, com a (pos-sível) subida de divisão à vista. Noentender de Filipe Coelho, “a apostana continuidade do projecto quetem vindo a ser desenvolvido nasúltimas duas épocas e a aposta naformação” são os factores de su-cesso da secção. Para o ano, a sec-ção de andebol traçou comoobjectivo a manutenção nesta novasegunda divisão.

Com a épocaainda a decor-rer, a secção deatletismo conti-nua a amealhar

sucesso após 15

anos sem participarna segunda divisão.Até agora, o atletismoda Académica ganhou al-guns prémios colectivos econta também com váriosindividuais, dos quais sedestacam LenineCunha e LuísSilva. Nas cama-das jovens, os ju-niores atornaram-secampeões distri-tais. “Das últimas dez épocas,esta está a ser a melhor e a sec-ção de atletismo vai ter dificul-dades em fazer igual nospróximos anos”, relata MárioRui. O presidente da secção re-vela que a “mística do clube” éum dos factores do sucesso, maso facto de “juntar atletas maisvelhos com um grupo de jovensatletas torna a equipa equili-brada”.

Com a épocaconcluída, asequipas mascu-linas e as mis-tas de

badminton daAAC terminaram no quarto lugar.Em sub-17, a dupla masculinaLuís Baía/Marco Simão e a dupla

mista Luís Baía/Maria Rodriguesalcançaram o segundo lugar. Nasegunda divisão de seniores, JoséSilva e Luís Silva foram vice-cam-peões. “Todos os atletas ficaramentre os oito melhores nos seusrespectivos rankings”, resume opresidente da secção, Nuno Baía.No entender do responsável, osresultados são “bons, compa-rando com os clubes madeirenses,que são profissionais”. Com 80atletas, o projecto que se segue é acriação de uma escola de badmin-ton. “Estamos à espera de um pa-recer da federação e do Institutodo Desporto de Portugal”, avança.

O campeonatonacional só co-meça em Se-tembro e acompetição

mais próxima é a Taça de Portu-gal a realizar nos dois últimosfins-de-semana deste mês. Asexpectativas para a época são“elevadas”, como refere o presi-dente da secção, José Valente.“A Académica tem como tradi-ção ser sempre uma das melho-res equipas e o grande objectivopara a próxima época passa porvencer todas as competições emque está envolvida”, defende.José Valente destaca ainda a al-teração do local de treinos parao Campo de Santa Cruz como“um factor de aumento da quan-tidade de praticantes da modali-dade e muito importante para asecção”.

O basquetebolteve em 2008-09 a melhorprestação noprincipal esca-

lão, a liga portu-guesa. Com o orçamento maisbaixo da prova, a AAC terminouem terceiro lugar, depois de terobrigado o Benfica ao quintojogo nas meias-finais. Para o pre-sidente, Luís Viegas, a participa-ção foi “brilhante”. A “coesão, oespírito de equipa e o espírito deunião” entre dirigentes e atletaslevou Coimbra “de volta à alta-roda do basquetebol nacional”.

Mas nem tudo corre bem e, paraLuís Viegas, a falta de “uma casaprópria dificulta as coisas”. Naformação, a equipa recebeu oprémio de equipa mais dinâmicapela Associação de Basquetebolde Coimbra. Os objectivos para apróxima época são “chegar aosplay-off” e, na formação, “maisdo que ganhar títulos, formaratletas para o futuro”.

No primeiroano da equipade bilhar daAcadémica, ogrupo alcançou

o terceiro lugarno Campeonato Distrital de PoolPortuguês e o quinto lugar noTorneio Nacional de Pool. Para omembro da pró-secção de bilhar,Ricardo Salgado, o terceiro postopor equipas é “um objectivo atin-gido”. A nível individual, umatleta conseguiu a participaçãona fase final do campeonato debola 8, em Las Vegas. “O maisimportante era começar a activi-dade, criar condições e promovera criação da equipa universitáriapara o próximo ano”. A pró-sec-ção de bilhar foi criada em Outu-bro de 2008 e está a seguirpercurso para chegar a secção.“Temos todos os sinais de quepodemos chegar lá”, acredita.

Andebol

Segunda divisãodebaixo de olho

Ao nível dos clubesprofissionais

Atletismo

Melhor épocados últimos dez anos “Expectativas elevadas”

Badminton

Basebol

Basquetebol

A surpresa da liga

Primeiros passos vitoriosos

Bilhar

Com o fim da época para a maioria das modalidades da Académica, A CABRA recupera osprincipais resultados e conta quais as expectivas das secções que vão continuar a competirdurante o Verão. Por Miguel Custódio, Catarina Domingos, Sónia Fernandes e André Ferreira

temporada

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DESPORTO8 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

A secção temtido algumas di-ficuldades paraencontrar atle-tas para compe-

tir, mas muitosprocuram a secção para aprendera modalidade. Com o campeonatoainda a decorrer, o presidente,Miguel Silva, espera que, na úl-tima prova do campeonato, mar-cada para o fim do ano, a AACconsiga obter um bom resultadona segunda categoria. O boxeconta com um grupo de cincoatletas nos quais deposita grandesesperanças. Para além de tor-neios, a secção tem participadoem algumas galas de kickboxing.O balanço está a ser positivo, diz opresidente, para quem o facto deexistir “um grupo estável e umtreinador com alguma experiên-cia” é o principal factor de êxito.

Com umagrande remode-lação desde doinício desteano, a cultura

física tem váriosatletas que voltaram a competir eoutros que chegaram à secçãopara entrar em competição pelaprimeira vez. Ainda com o cam-peonato a decorrer, Eduardo Ca-brita diz que “o balanço dascompetições até agora é positivo”.O elemento da comissão adminis-trativa revela que a “estabilizaçãoda secção” era algo que preocu-pava. A renovação do equipa-mento, “já muito degradado”, foio principal factor para que a sec-ção tenha desenvolvido uma boacampanha. Eduardo Cabritaaponta ainda como principal de-safio “a continuação da moderni-zação da secção”.

Os desportosmotorizadosestão a meio daépoca. Em cros-scar, Luís Ca-

seiro encontra-seem segundo lugar e Ricardo Antu-nes está em sexto. Na competiçãode todo-o-terreno de navegação,que este ano mudou de formato, asecção já conseguiu um terceiro

lugar nas cinco primeiras provas.Para Caseiro, também vice-presi-dente da secção de desportos mo-torizados, as dificuldades são“principalmente monetárias”. Naopinião do atleta eram necessáriasmais verbas “para organizar com-petições”, porque as actividadesque promovem “não têm fins lu-crativos”. Para o próximo ano, asecção tem como objectivos alar-gar o leque de atletas e organizarnovas provas, como o campeonatonacional de perícias e um encon-tro de clássicos.

Com o campeo-nato na rectafinal, a secçãotenta manter oprimeiro lugar

do Ranking Na-cional de Clubes até ao fim. Esteano, os náuticos já contam comalgumas conquistas de destaque,entre as quais o segundo lugar nacompetição Shell 8, em que, pelaprimeira, vez chegou ao pódio.Nos escalões de formação, a sec-ção também conta com bons re-sultados. O atleta Tomé Perdigãodomina por completo o Skiff jú-nior. O presidente, Ruben Leite,diz que o sucesso da secção passapor “uma aposta na formação” epor “elevar o nome da Acadé-mica”. Até ao fim o objectivopassa por “manter o primeirolugar e a equipa como número umdo remo nacional”, acrescenta.

“Correu muitobem”. É com en-tusiasmo que RuiPita, atleta e pre-sidente da secção

de futebol da Aca-démica, classifica esta temporada.A equipa alcançou o primeirolugar da I Divisão Distrital e ga-rantiu a subida à Divisão de Honrada Associação de Futebol de Coim-bra (AFC). Segundo Rui Pita, aequipa técnica “foi uma mais-valiaporque já conhecia e plantel”, oque tornou a equipa “mais forte ecoerente”. A AAC chegou aindaaos quartos de final da Taça daAFC. Para a próxima época o prin-cipal objectivo é a “manutenção naDivisão de Honra” afirma o RuiPita, que também quer vencer ocampeonato de futebolda Federação Acadé-mica do DesportoUniversitário.

A comemorar 45anos, a secçãode ginástica con-seguiu “evoluirnas suas três

modalidades[acrobática, tumbling e trampo-lim]”, como considera a presi-dente, Vânia Henriques.“Conseguimos mais do dobro dostítulos do ano passado”, estima.Com pódios em trampolins, ginás-tica acrobática, nas equipas femi-ninas e mistas de TeamGym e noscampeonatos de trampolim e deduplo mini trampolim, VâniaHenriques justifica o sucesso com“o nível dos treinadores, trabalhointenso e um investimento emmaterial que rondou os 30 mileuros”. Para o futuro, a secçãopretende “conseguir um pavilhãode ginástica ou um outro espaçofísico”.

O halterofilismoesteve paradocerca de quatroanos, devido àextinção da fe-

deração nacional.Há dois, os clubes associaram-sejuntamente com os apoios da fe-deração mundial e a actividade foiretomada. No entanto, o calendá-rio nacional deste ano está inter-ditado porque não há mulheres.Sem competição, a secção apenasmantém a vertente da manuten-ção com cerca de 12 atletas, en-quanto que outros desistiram.“Estamos de portas abertas paratreinar e prestamos apoio a outrassecções, emprestando o nosso es-paço”, relata o responsável pelasecção, Alexandre Brás.

A equipa séniormasculina deHóquei em Pa-tins conseguiusubir à 2.ª divi-

são nacional. Odirector desportivo da secção,Joaquim Nogueira, justifica o su-

cesso com “o trabalhoque é feito nos esca-

lões de forma-ção”. Para o

ano

novos desafios se avizinham “sãonecessários maiores apoios paracompetir na 2.ª divisão”. As des-pesas são maiores e as desloca-ções mais longas. O segredo paraa manutenção passa, segundo odirigente, por “muito trabalho epela procura de novos apoios quepossam melhorar as condições dasecção e da equipa”.

A AAC conse-guiu o terceirolugar no Cam-peonato Nacio-nal de Equipas

Seniores Mascu-linos, a prova por equipas maisimportante do escalão principal.Segundo o presidente da secçãode judo, Rui Fonseca, este “é umresultado histórico, que já nãoera conseguido há 20 anos”. Anível individual, a secção tam-bém alcançou bons resultados.Luís Mendes sagrou-se campeãonacional de esperanças e con-quistou diversas medalhas emtorneios do circuito europeu. JáPedro Gonçalves e Nuno Silvasagraram-se campeões nacio-nais de Katas. O próximo anotraz novos desafios fruto dobronze alcançado: a Académicaprepara-se para participar naLiga Europeia de Clubes pelaprimeira vez na história.

O karaté daAAC está maisdireccionadoaos jovens e écom eles que

tem chegado aopódio. Nos campeonatos regio-nais foram os infantis e os juve-nis que alcançaram os primeiroslugares. Os cadetes e junioresconseguiram apurar três atletaspara o campeonato nacional. Se-gundo o treinador, José Arlindo,estes lugares são possíveis de-vido ao “trabalho que tem sidodesenvolvido com as camadasjovens e que tem dado frutos”. Ofacto de terem um espaço pró-prio no Estádio Universitáriotambém ajuda aos resultados.Para o próximo ano, a secçãoquer participar no campeonatoregional da federação para “apu-rar atletas para o campeonatonacional” e também na Liga deKaraté Shokotan em que apenasparticipam cadetes e juniores.

Para além da jáhabitual lutagreco-romana,as lutas amado-ras participa-

ram naschamadas lutas agarradas. Atéagora ainda não há nenhum re-sultado que se possa realçar,mas o presidente da secção, Mi-guel Silva, está confiante para aúltima prova, onde espera queos atletas “estejam na máximaforça”. Miguel Silva entende quea grande dificuldade passa porarranjar atletas “que queiramentrar para a sec-ção, para avertentecompetitivae não sópara fazermanuten-ção”. Por isso, umdos grandes objecti-vos “é o recruta-mento de atletaspara a competi-ção”.

A conquista doCampeonatoNacional deMasters pelaAcadémica é,

até agora, “oponto alto da temporada”, naspalavras do coordenador-geralda secção de natação, MiguelAbrantes. A época ainda vai ameio, mas, até ao momento, a

Boxe

Cultura Física

Faltam atletas paracompetir

Continuar a modernização

Desportos Motorizados

A (de)correr sobre rodas

Desportos Náuticos

Guardar o primeiro lugar

Futebol

Título distrital de bolso

Ginástica

Halterofilismo

45.º aniversáriocheio de títulos

Sem competição,mas “de portas abertas”

Patinagem

Os desafiosda segunda divisão

Judo

A caminho da Europa

Karaté

Camadas jovens dão frutos

Lutas Amadoras

Ganhar a última prova

Natação

Competição vai a meio

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DESPORTO7 Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 9

Na hora de recuperar todos osresultados da temporada, de recor-dar tudo o que foi feito fora dasquatro linhas e de lembrar os de-safios que se avizinham, evoco umafrase do jornalista americano Hey-wood Broun: “Os desportos nãoconstroem o carácter. Revelam-no”.E o carácter da Académica não sefaz de milhões, mas de tostões,com os atletas muitas das vezes acorrer por amor à camisola.

Este foi um ano feito de vitórias.A surpreendente prestação daAcadémica na Liga Portuguesa deBasquetebol, a subida da equipa deténis da Académica à I Divisão, oregresso da formação de rugby àDivisão de Honra para a próximatemporada, a promoção da equipade futebol à Divisão de Honra, ovice-campeonato europeu daequipa universitária de rugbyseven’s louvam mais uma épocadesportiva. Tais triunfos só mostramque na hora de jogar a qualidadedas equipas não se mede pelos

orçamentos, mas que o brio e adedicação também têm umapalavra a dizer.

Na hora de perder, as equipas daAAC fazem-no com a mesma dig-nidade e muitas são as formaçõesque nem querem a vitória e con-sentem a derrota, porque subir deescalão, sem um projecto susten-tado e consistente, não traz qual-quer vantagem, como o caso doxadrez e do hóquei.

Mas, independentemente dasvitórias e derrotas dentro decampo, fora dele há gente a remarna direcção correcta: a inauguraçãodo Campo Santa Cruz, que deumais um espaço de treino a algu-mas secções; a adopção do es-tatuto atleta-estudante, que erauma antiga reivindicação e que veiorevalorizar a prática desportiva dosestudantes; e a aprovação de umapró-secção de bilhar, que mostraque o leque de modalidades den-tro da AAC pode continuar a ex-pandir-se.

As vitórias também acarretamdesafios. E o próximo será pensarna construção de um pavilhão quesirva as secções desportivas e narequalificação do velhinho EstádioUniversitário, que, no próximo ano,vai acolher o Campeonato EuropeuUniversitário de Ténis. Mas o quefor feito, que seja bem feito e quenão seja só para esse campeonato,mas que seja também uma boaoportunidade para o estádio, para acidade e para o desporto.

Catarina DomingosEditora de Desporto

COMENTÁRIO

A TRILHAR A DIRECÇÃOCORRECTA

AAC já conseguiu “resultados depódio nacional nos vários esca-lões de competição”. A nível re-gional, as equipas de absolutos eas de infantis são vice-campeãs.A par dos triunfos, a secção denatação organizou o II Meetingda Cidade de Coimbra, que, se-gundo o responsável, “foi consi-derado o melhor torneiointernacional em Portugal”. Nopólo aquático, que retomou a ac-tividade há três anos, a AAC as-segurou a participação nas fasesde qualificação do campeonatonacional.

Está prestes aentrar na casados 30 anos,mas nem só de“experiência

acumulada” vivea secção de pesca desportiva. Osregionais ainda vão a meio, mas2009 “já está a ser melhor” doque o ano passado. Luís Mon-teiro alcançou o título de vice-campeão no campeonatoregional da 2.ª divisão. Um re-sultado “meritório e interes-sante” deste atleta de 20 anosque apenas falhou o primeirolugar por um ponto, lembra otreinador e presidente da sec-ção, Belisário Borges. TambémRui Fernandes conseguiu umbom resultado, ao subir à pri-meira regional. Só os campeona-tos de clubes “não correramassim tão bem”. Até à Taça da

Associação, há ainda quatromeses de trabalho pela

frente. Tudo emaberto e o tudo por

tudo “para que quemestá a representar a

Académica consiga omelhor resultado”.

Também no ra-diomodelismo aépoca ainda vaia meio e só ter-mina em No-

vembro, mas,como refere o presidente, LuísVaz de Carvalho, “vários pilotosda Académica encontram-se nosprimeiros lugares e têm boas pos-sibilidades para os campeonatos”.No Campeonato Nacional de 1/5Pista, Gonçalo Almeida lideracom 360 pontos. No nacional de1/8 TT, Miguel Matias, campeãonacional no ano passado, encon-tra-se no segundo lugar. Nem

tudo corre da melhor maneira eMiguel Matias é o primeiro a ad-mitir a “falta de praticantes que,neste momento, se nota na secçãoe a nível nacional”. No entanto, aAcadémica conta ainda com 20atletas em competição.

A Académica sa-grou-se campeãnacional de 1.ªDivisão, garan-tido assim a su-

bida à Divisão deHonra, principal escalão nacionalda modalidade. Num ano em quea secção de rugby “alcançou todosos objectivos definidos no inícioda época”, como considera o pre-sidente Jaime Carvalho, a equipaconseguiu ainda o terceiro lugarno Campeonato Nacional deSeven´s. Para o ano as expectati-vas são elevadas e Jaime Carvalhocoloca a fasquia “nos quatro pri-meiros lugares para garantiracesso à final four”.

A secção conse-guiu pódios emvárias catego-rias e organizouo Torneio

Queima dasFitas, com alguns atletas a conse-guir boas prestações. A atleta Síl-via Costa foi convocada paracompetir pela selecção nacionalno Torneio Internacional do Sei-xal e de Ourense, onde conseguiuo segundo e terceiro lugar, respec-tivamente. Para o vice-presidentee treinador, Carlos Barradas, estatemporada “fez uma grandeaposta nas crianças”. Todos os re-sultados, diz, devem-se “à motiva-ção e confiança dos atletas”. Otreinador afirma ainda que, napróxima época, vai “apostar nodesporto universitário” e também“nas crianças, porque elas são ofuturo”.

A equipa séniormasculina daAcadémica ga-rantiu a pre-sença na

primeira divisãonacional para a próxima tempo-rada, depois de ter vencido oCampeonato Nacional da SegundaDivisão. A equipa feminina conse-guiu revalidar o título nacional noprimeiro escalão. “Quando háqualidade e trabalho, os resulta-

dos acabam por surgir”, defende opresidente, Tiago Fidalgo. Paradivulgar a modalidade pela ci-dade, a secção está “a negociarprotocolos de colaboração com es-colas primárias e do ensino bá-sico”. O Campeonato Europeu deTénis Universitário é o grandeprojecto para 2010. Devido àsobras no Estádio Universitário, asecção não vai organizar o Cam-peonato da Europa Coimbra Uni-versity Ladies Open, este ano.

“Os resultadosnão são definiti-vos”, porque aépoca ainda nãoterminou, mas o

tiro com arco tem,neste momento, atletas colocadosnos três primeiros lugares. Segundoo presidente, Adamo Caetano, sãoclassificações para “melhorar oupelo menos manter”. As competi-ções só acabam em Novembro e atélá os atletas têm de se deslocar aCernache, onde um dos sócios dasecção conseguiu um campo para ostreinos de Tiro de Campo. Esta é aprincipal dificuldade da secção, quenão tem espaços para treinar asprincipais modalidades: Tiro deCaça e Tiro de Campo. Outra das di-ficuldades apontadas pelo presi-dente é a “falta de dinheiro paraadquirir material”. Até ao final daépoca, a secção participa ainda noCampeonato de Besta.

Com a manuten-ção na DivisãoA2 assegurada e“os objectivospara esta época

cumpridos”, tantonos masculinos como nos fe-mininos, o presidente da sec-ção, Manuel Leal, já pensa nopróximo ano. São esperadasnovidades nas equipas de vo-leibol para a próxima época ea estratégia passa por “fazerprotocolos com varias en-tidades, nomeadamentea reitoria da universi-dade e a câmara,para conseguirtrazer paraCoimbraatletas

pré-universitários ou universitá-rios com estatuto internacional”.

As equipas daAAC já termina-ram a participa-ção na segundadivisão e na ter-

ceira divisão. AAcadémica III ficou em sétimolugar na série C do terceiro escalão,enquanto que a Académica II ficouno terceiro posto na série B da se-gunda divisão. A I Divisão tem iní-cio marcado para dia 1 de Agosto.“Não lutamos para ganhar, porqueisso acarreta gastar bastante di-nheiro e não temos vantagem ne-nhuma”, antevê o presidente dasecção de xadrez, Bruno Pais. Noentanto, já está a ser definido umprojecto para a próxima temporada.O responsável adianta que vão che-gar “jogadores de muitas partes domundo para ganhar mesmo a pri-meira divisão e ir à Liga dos Cam-peões”.

Nas provas universitárias deste ano,destaca-se o título nacional em fut-sal masculino e em rugby seven’smasculino e feminino, o segundolugar de José Silva em badminton eo terceiro lugar em voleibol depraia.Lá fora, a grande conquista foio segundo lugar alcançado em Bris-tol pela equipa masculina de rugbyseven’s no europeu. A feminina, quenunca tinha entrado a jogar junta,conseguiu uma vitória. Para o pró-ximo ano, Coimbra recebe a provaeuropeia de ténis e já se fazem osprimeiros contactos. “Os campostêm de ser requalificados, mas, parajá, o trabalho que está a ser feito éde gabinete”, afirma o coordenador-geral do desporto da Direcção-Geralda AAC, Rafael Ferreira.

Com Pedro Crisóstomo eCláudia Teixeira

Pesca Desportiva

2009 como peixedentro de água

Radiomodelismo

Boas possibilidades

Rugby

De volta aos melhores

Taekwondo

Apostar nos mais novos

Ténis

Atenções viradaspara 2010

Tiro com Arco

Em competiçãoaté Novembro

Voleibol

Perspectivas de futuro

Xadrez

A preparar a 1.ª divisão

Desporto Universitário

O triunfo vindo de Bristol

O CARÁCTER DAACADÉMICA NÃOSE FAZ DE MILHÕES,MAS DE TOSTÕES

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10 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

TEMA

A Igreja Ortodoxa está funda-mentada no credo de Niceia-Con-stantinopla, que enuncia asdiferenças entre a Igreja Ortodoxae a Católico-Romana. Apesar dasmutações culturais, linguísticas e rit-

uais que se foram acentuando aolongo dos séculos, as raízes históricase espirituais da Igreja Católica Orto-doxa e da Igreja Católica Romana sãocomuns. As Sagradas Escrituras sãoquase iguais, com as principais difer-enças a existir ao nível da interpre-tação, tendo o calendário litúrgicouma estrutura similar à da IgrejaCatólica.

De resto, a veneração da VirgemMaria, a santos e a crença em dogmascomo o Espírito Santo, a existência deapenas um Deus, a morte e a ressur-reição de Jesus Cristo são algumasdas marcas desta Igreja.

Igreja OrtodoxaMeca – cidade natal de Maomé – é

tida como o local mais importante dareligião com o maior número de fiéisno mundo. A história do Islão é com-posta por vários profetas, de entre osquais Adão e Jesus Cristo,

dia, desde amadrugada até à noite, sempre em di-recção a Meca.

IslamismoNão sendo propriamente uma re-

ligião nem uma filosofia, este “tipo deciência” baseado nos ensinamentos deSiddhartha – que procurava atingir oestado de buda, para ajudar os outros– faz a apologia da felicidade, da

Budismo

CRENÇAS DE UMA CIDADEm Julho deste ano, surgiuuma nova paróquia emCoimbra. A Igreja de SãoJoão Baptista tornou-se

no novo local de culto para a comu-nidade cristã. Mas, apesar de Coim-bra ser uma cidade católica porexcelência, são várias as religiões ecomunidades que existem na ci-dade, que contam com um grandenúmero de fiéis.

É no bairro de Santa Apolónia,em Eiras, que encontramos a mes-quita muçulmana. Localizada nacave de um prédio habitacional,passa despercebida aos olharesmais comuns. De acordo com a mu-çulmana Arcénia Chale, esta mes-quita existe há cerca de 20 anos e émuito procurada. “Existem muitoscrentes, até porque é o único localde culto aqui”, refere.

Somos recebidos por um crente.Traz nas mãos uma touca brancabordada em linho. Antes de inicia-rem as cinco rezas do dia, os mu-çulmanos têm de realizar umalavagem – a Wudu – para limparalgumas partes do corpo e queserve de purificação. Segundo Ar-cénia Chale, “todo o crente tem deestar puro quando entra numamesquita, por isso realiza esta lava-gem. Se for uma mulher, há que terainda o cuidado com a roupa inte-rior. Se estiver menstruada, a mu-lher não entra no local de culto,porque é algo considerado impuro”,afirma. Após a lavagem, e enver-gando vestes brancas, os crentesdeixam os sapatos à entrada damesquita. Existe um altar, onde seencontra o Imam, o responsávelpelo seguimento das orações. Deacordo com Arcénia, “todos seguemo Imam e rezam em conjunto. Po-demos fazê-lo em casa, mas o lugarsagrado é mesmo a mesquita, ondese privilegia o contacto com as pes-soas, a religião e Alá”, sublinha.Antes de entrar, um dos crentes ini-cia a Azan, o chamamento para aoração, em voz alta. Cerca de setehomens dispõem-se em fila diantedo altar, descalços. Baixam-se, le-

vantam-se, sempre voltados paraMeca, mais próximos do seu Deus.

Também no bairro de Santa Apo-lónia existe uma outra comunidade,mas desta vez ligada ao catolicismo.A Igreja do Nazareno existe hácerca de 14 anos e, segundo o seuministro local, Marco Carvalho,“surgiu a partir de uma irmã queveio de África e que decidiu iniciara igreja na sua própria casa”. A par-tir daí, a comunidade foi crescendo,tendo o primeiro culto evangélicosido realizado na escola primária dobairro. A Igreja do Nazareno partedo catolicismo, mas apresenta al-gumas diferenças ao nível de litur-gia e de culto. Segundo Marco

Carvalho, é uma crença “que vemdos apóstolos. É uma Igreja Cató-lica Apostólica Não Romana”. Acre-ditam que a salvação decorre da fée não das obras.

Também com ligações à religiãocatólica existe a Igreja Ortodoxa,tendo a primeira paróquia surgidoem Coimbra nos finais da décadade 70. Para o bispo Damasceno Ri-beiro, “na altura da fundação dasprimeiras comunidades, a IgrejaOrtodoxa era inteiramente desco-nhecida, tendo a reputação de umaseita ou de ligações ao comunismo”.Hoje, a situação é diferente. “Todoo género de reacções ou ideias pré-concebidas tornou-se algo raro oumesmo extinto”, explica. Actual-mente com cerca de dois mil fiéis

portugueses em Coimbra, fora osimigrantes de Leste, a Igreja Orto-doxa espera crescer ainda mais emPortugal. “Temos a esperança depoder suprimir algumas deficiên-cias estruturantes, contando com oapoio das autarquias. Uma vez er-guidas mais paróquias ortodoxas, éalgo que constitui uma mais-valiapara a sociedade”, considera obispo.

“Nós, se pudéssemos, não tería-mos o rótulo de igreja, pois chama-mos a isto a casa de Deus”. É destaforma que o bispo Robson Gomes,da Igreja Universal do Reino deDeus (IURD), fala da comunidadeque tem vários locais de culto, nãosó em Portugal como em todo omundo. Em Coimbra, a IURD temdois centros de oração, onde é se-guida por cerca de 400 fiéis. No en-tender de Robson Gomes, afinalidade da IURD é “pregar a pa-lavra de Deus”. “A pessoa crê na-quela palavra e tende a expulsar opessimismo e o negativismo. Co-meça a acreditar na sua saúde e nasua qualidade de vida. Queremoslevar essas pessoas à salvaçãoeterna”, defende.

A IURD assume-se como umlocal de culto onde a Bíblia é ouvidae ensinada a todos os que necessi-tem de ajuda. “Todas as pessoas detodas as religiões podem entrar eouvir a palavra. A base do nosso en-sinamento é o meio de reflexão, emque Jesus é o caminho, a verdade ea vida”, explica Robson Gomes.Outra das diferenças face ao catoli-cismo está na imagem de JesusCristo. A IURD não usa qualquerimagem de Jesus pregado na cruz.Ao invés, apresenta no altar umacruz simples e o nome. “Se pegar-mos na Bíblia, lemos que o próprioDeus condena a imagem. É por issoque não temos qualquer represen-tação, porque Ele morreu e ressus-citou, está vivo até hoje”, explica obispo.

Numa linha completamente dife-rente encontra-se a União BudistaPortuguesa, que tem uma comuni-

A lavagem é umritual obrigatórioantes de qualquerreza islâmica

ED.R.

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7 de Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 11

TEMA

A Igreja do Nazareno considera-se “uma família cristã multi-cultural,de tradição armínio-wesleyana”, ouseja, baseia-se na doutrina do“crescimento espiritual, gradualrumo à semelhança de Cristo”, re-

conhecendo a morte e ressur-reição de Jesus Cristo.

Apoiada nas escrituras doAntigo e do Novo Testamento,esta religião foi-se construindodurante a Reforma Protestante doséculo XVI, para se afirmar noséculo XVIII impulsionada pelobritânico John Wesley.

Apesar de coincidirem em al-guns pontos, a “salvação pela fé enão pelas obras”, a liturgia, oculto e a ausência de dogmas,são alguns dos pontos que dis-tingue a Igreja do Nazareno daCatólica.

Igreja do NazarenoFundada pelo bispo Edir Macedo

em 1977, a Igreja Universal do Reinode Deus teve origem no Brasil, es-tando actualmente representada emtodos os continentes. Esta comu-nidade baseia as suas crenças na

ressurreição de Jesus Cristo, na vidaeterna, no pagamento do dízimo(oferta de uma certa quantia mon-etária, considerado algo sagrado) eainda na cura divina (“curar os enfer-mos e expulsar os demónios”).

A IURD considera Deus como aúnica entidade superior, rejeitandotoda e qualquer imagem. Por isso, nãovenera os santos da Igreja Católica,não existindo qualquer representaçãofigurativa nos locais de culto.

O objectivo principal da comu-nidade é ajudar pessoas que tenhamproblemas pessoais, através dasleituras da Biblia e da oração.

IURD

serenidade e da ajuda, para evitarcoisas que promovam a ansiedade e omedo.

Esta maneira de viver compreendeos actos passados como a causa dosofrimento, reconhecendo que exis-tem determinadas causas e que elepode acabar através de um caminhoque conduz ao abandono dos com-portamentos que o produzem, bemcomo através de acções que pro-duzem actos positivos.

O budismo praticado em Coimbraé o tibetano, que possui quatro inter-pretações diferentes: a Nyingma,Gelug, Kagyo e Sakya.

Embora em Coimbra o catolicismo assuma o papel principal, as migrações e a globalizaçãotêm provocado o acolhimento de várias religiões, cada uma com rituais demonstrativos dasua espiritualidade. Por Tiago Carvalho, Andreia Silva e Camilo Soldado

dade amadora em Coimbra criadahá cerca de um ano. Na opinião dapraticante Cláudia Quintans, “o bu-dismo não é uma religião, mas simuma maneira de viver e um métodoprático para examinar a experiên-cia, os actos e as reacções das pes-soas. Deste modo, promove-se afelicidade e evitam-se situações deansiedade ou medo”. O grupo desete pessoas medita na Secção deYoga da Associação Académica deCoimbra (AAC) todas as quartas-feiras. Sentados no chão e com aajuda de um livro de orações, o ob-jectivo é treinar a mente, paraserem e estarem mais felizes.

Os que não crêemem nenhum Deus Em Coimbra existe também umgrupo de descrentes em qualquerentidade divina. A Associação Ateísta Portuguesa(AAP) surgiu não só com o objec-tivo de “apagar o preconceito queexiste face ao ateísmo”, como tam-bém de “defender a laicidade do Es-tado”, como esclarece o presidente,Carlos Esperança. Apesar disto,este afirma que não pretendem es-palhar o ateísmo, apenas fazer comque “haja liberdade religiosa, liber-dade de não ser religioso e até li-berdade de ser religioso.” A AAPnão combate “o direito à religiosi-dade, mas sim o que são as menti-ras da religião”, afirma oresponsável. Carlos Esperança dizque “há um decréscimo de pessoasque são religiosas praticantes”,mas, apesar disso e do magro nú-mero de associados, defende que aAAP se move mais “pela defesa deprincípios”. Num artigo de opiniãopublicado no Diário de Coimbra, obispo emérito de Coimbra, D. JoãoAlves, expressou o seu ponto devista sobre o ateísmo. Citando um

texto do Vaticano, considerou “a re-jeição da união com Deus um dosfenómenos mais graves do nossotempo, devendo ser objecto de umexame sério”. Confrontado comestas afirmações, Carlos Esperançaconsidera que D. João Alves “partedo seu legítimo direito de opinião”,apesar de achar que “os ateus tam-bém têm o direito à existência”. Opresidente da AAP criticou ainda asIgrejas, dizendo que “convivem malcom a liberdade e com o plura-lismo. Há uma tendência de consi-derarem infiéis, todos aqueles quenão sejam da própria religião”.

Sinal de novos tempos A mistura entre religiões é cada vezmais comum nas sociedades ac-tuais, em que os movimentos mi-gratórios e a globalização ajudam auma coexistência de culturas. Opresidente do Secretariado Dioce-sano da Pastoral Familiar de Coim-bra, Jorge Cotovio, defende “serimportante essa diversidade deoferta para as pessoas, porque cadauma tem em comum a procura deum ser transcendente e essa é umadimensão importante da pessoaque deve ser considerada”. O bispoortodoxo Damasceno Ribeiro con-sidera que Portugal é um país afor-tunado nesse aspecto, por ter “umsentido elevado de tolerância, tal-vez mais do que qualquer outro paíseuropeu”. Jorge Cotovio pensa quea existência de uma diversidade dereligiões na cidade de Coimbra éuma novidade, “algo que está namoda”. “Pode também significarque as pessoas em tempos de criseficam mais abertas ao transcen-dente e ao esotérico, mas também éum padrão que veio para ficar”, fi-naliza.

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1 Ícone ortodoxo da Rainha Santa Isabel2 Mesquita muçulmana em Santa Apolónia3 Local do culto da oração da IURD4 Meditação budista na Secção de Yoga da AAC

ANDREIA SILVA LEANDRO ROLIM

TIAGO CARVALHO

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CIDADE12 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

A três meses das eleições autárquicas, os candidatos à Câmara Municipal de Coimbraapresentam as primeiras ideias para os próximos quatro anos. Primeiro, A CABRA foi saber oque os conimbricenses esperam que a autarquia melhore na cidade. Por Maria Eduarda Eloy

Os candidatos respondemCORRIDA À CÂMARA DE COIMBRA

São sete os candidatos que seperfilam para as eleições à Câ-mara Municipal de Coimbra(CMC), a 11 de Outubro. Depoisde ouvirmos 30 conimbricenses,de ambos os sexos e diferentes

idades e profissões, desafiámos oscandidatos a falar sobre os princi-pais problemas que preocupam oscidadãos. Álvaro Maia Seco, Car-los Encarnação, Carlos Faria, Ca-tarina Martins, Francisco Queirós,

Horácio Pina Prata e Vítor Rama-lho falam sobre a insegurança, oviaduto do Choupal, os espaçosverdes, a rede de transportes, adesertificação da Baixa, a crise dopequeno comércio e a ineficiência

dos serviços de limpeza. O Movi-mento Esperança Portugal, o Mo-vimento Partido da Terra, oPartido Humanista e o PartidoOperário de Unidade Socialistaconfirmam que não vão apresen-

tar lista concorrente à autarquia.Contactado pel'A CABRA, o Movi-mento Mérito e Sociedade nãodeu qualquer resposta até aofecho da edição.

Com Andreia Silva

“Moldar as soluções de acordo com as áreas da cidade”O actual presidente da

CMC candidata-se àquele queserá o seu terceiro e último

mandato, se vencer as eleiçõespela coligação Partido Social De-

mocrata/Partido Popular/Par-tido Popular Monárquico.

Carlos Encarnaçãoconsidera

que “dec e r -

teza

que não vai ser prejudicado na cam-panha eleitoral” pelo facto de ter sidoconstituído arguido no processo doarrendamento ilícito do antigo pré-dio dos CTT. Sobre esse ponto, a au-tarca argumenta “não ser verdadeque alguém tenha sido beneficiadocom isso”.

De entre os projectos em cursoneste mandato, aos quais pretendedar continuidade, estão a ser ultima-das as obras que vão permitir a ins-talação das câmaras de vigilância naBaixa. Mas o candidato social-demo-crata frisa que “a PSP é que tem a

competência da segurança e não acâmara”, sendo que a única inter-venção que esta pode ter é “um con-tributo adicional”.

No que respeita às queixas de de-sertificação da Baixa por parte doscomerciantes da área e do MercadoD. Pedro V, Encarnação pretende“moldar as soluções de acordo comas áreas da cidade” e afirma que oprojecto da Sociedade de Reabilita-ção Urbana para o Centro Histórico“é absolutamente fundamental”.Afirma também que “sem o metro rá-pido de superfície não é possível re-

solver o problema da Baixa” e que,apesar de ter “datas comprometi-das”, os prazos estão a sofrer atrasosde seis meses.

Sobre o Choupal, Encarnação de-clara que tenta “minimizar o maispossível os efeitos” da passagem doIC2 e do TGV pela mata, sendo quedurante o seu mandato acrescentou“mais 20 hectares de espaços verdes”à cidade.

Quanto à empregabilidade, o au-tarca admite que além do iParque, “acâmara não se pode entreter commais coisas”.

Uma escolha difícilApós um longo processo, em

que a decisão dos elementos daFederação Distrital do Partido So-cialista de Coimbra e da ComissãoPolítica Concelhia foi essencial, opresidente da Metro Mondego,Álvaro Maia Seco, foi escolhidocomo representante do PartidoSocialista (PS) na corrida à CMC,a 5 de Julho. Até ao fecho da edi-ção, foi impossível entrar em con-tacto com Maia Seco.

Recusando sobrepor-se aosprojectos do candidato, o presi-dente da Federação Distrital do

PS de Coimbra, Victor Baptista,fala pelo partido que representa eassume que o “primeiro projecto éganhar as eleições ao dr. CarlosEncarnação”. Acredita tambémque quem for presidente da CMC“tem de resolver imediatamente aquestão da Baixa e o problemados comerciantes”, no que res-peita à desertificação daquele es-paço.

Quando questionado acerca dosentimento de insegurança naBaixa, o vereador do PS afirmaque “há matérias mais importan-

tes para a cidade” e que as pessoastêm de se “habituar a convivercom situações mais delicadas”.Mas declara que para resolveresse problema, o “que é preciso érecuperar todo aquele patrimónioe habitações”, para ali colocarpessoas a viver.

Em relação ao Choupal, VictorBaptista admite que a passagemdo troço do IC2 vai afectar “umazona menor, que pode ser devida-mente preservada e para a qual háestudos de impacte ambiental”que confirmam que o problema é

inexistente. Na opinião do de-putado, a maior ameaça queafecta a mata do Choupal foicriada “com as obras do rebai-xamento do rio Mondego”,porque “a água deixou de che-gar ao Choupal e as árvoresestão a morrer”.

“Resolver as lacunas apresentadas pelo povo”Será com uma “política completa-

mente nova” que o candidato do Par-tido Comunista dos TrabalhadoresPortugueses/Movimento Reorgani-zativo do Partido do Proletariado(PCTP/MRPP), Carlos Faria, se apre-senta à CMC.

Para o partido, o desemprego apre-senta-se como a questão central.“Coimbra tem potencialidades para irpara a frente nesse aspecto. É funda-mental apostar nas energias e na ino-vação, e a Universidade de Coimbratem capacidade para isso”, afirmaCarlos Faria.

O candidato fala da questão doChoupal como “uma disciplina parabeneficiar os ‘patos bravos’”, algo deque ouve falar há oito anos. “O pul-mão da cidade deveria ser o Choupal.Se durante este tempo o têm deixadomorrer, abriram agora uma justacausa”, aponta.

Relativamente à questão da requa-lificação da Baixa, Carlos Faria con-sidera que a criação de “condições deigualdade em termos de abertura e defecho de estabelecimentos” ajuda aofomento do pequeno comércio.

Para o candidato, a abertura das

grandes superfícies ao fim-de-semana representa “uma desigual-dade de direitos relativamente aospequenos comerciantes”, já que faceao maior tempo de exposição doscentros comerciais “o comércio tradi-cional não consegue competir”, ga-rante. A insegurança dessa zona dacidade é outro dos problemas levan-tados, na qual a polícia municipal éacusada de se dedicar mais à fiscali-zação do estacionamento do que à vi-gilância das ruas.

Apostar numa cidade mais limpa emais cultural, “com espectáculos a

custo reduzido”, são também outrosprojectos pensados para uma candi-datura que se afirma pronta a traba-lhar “para resolver as lacunasapresentadas pelo povo”, remata Car-los Faria.

Nota Editorial: Contactado

pel’A CABRA, o PCTP/MRPP

apenas fez saber que Carlos

Faria era candidato à CMC

a 5 de Julho. Por não se en-

contrar na cidade até ao

fecho da edição, vimo-nos im-

possibilitados de obter uma fo-

tografia.

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CIDADE7 Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 13

“Coimbra, actualmente, não oferece oportunidades nenhumas”É com uma candidatura “caute-

losa” que o candidato do PartidoNacional Renovador (PNR), VítorRamalho, se apresenta à CâmaraMunicipal de Coimbra. Tudo por-que afirma não gostar de promes-sas, “ao contrário dos partidos dosistema, que tudo prometem emaltura de eleições e que depoisnada cumprem”, acusa.

O aumento da criminalidade, aquestão do Choupal, a emprega-bilidade e a revitalização da Baixasão as questões centrais apresen-tadas pelo PNR à câmara.

Relativamente à construção doviaduto junto ao Choupal, que iráprovocar o abate de algumas ár-vores, Vítor Ramalho confessa ser“um atentado ao ambiente, umavergonha”. “O Choupal já se en-contra votado ao abandono, ecom esta situação irá piorar, aoponto de qualquer dia já não exis-tir mais”, alerta.

Contrariar a desertificação daBaixa é uma das preocupações,para do candidato do PNR, queconsidera ser necessário “dimi-nuir a influência das grandes su-

perfícies, recuperar os prédios,fazer espectáculos de rua e criarestacionamentos gratuitos para aspessoas que façam compras”. Acriminalidade é outro dos aspec-tos apontados. “A videovigilânciaque vai ser instalada não resolvenada. A Baixa precisa de políciasque saiam das esquadras”, afirmao candidato.

Quanto ao aumento da empre-gabilidade em Coimbra, Vítor Ra-malho considera importante umamelhoria da ligação entre a uni-versidade e a cidade. “Coimbra,

actualmente, não ofereceoportunidades nenhumas”.“É necessário criar empre-sas, onde os estudantespossam fazer estágios du-rante o curso, o que ajudariaà criação de postos de traba-lho”, sugere Vítor Ra-malho.

“Reconstruir uma Coimbra eficaz”O antigo vice-presi-

dente da CMC, Horá-cio Pina Prata, que secandidata como inde-pendente, define o

seu projectocomo “um

imperativod e

consciência” para “reconstruir umaCoimbra eficaz”. Pina Prata apoia oprojecto iParque, que ajudou a lan-çar, considerando ser necessárioatrair “investimento estrangeiro”para a área. A construção de um aero-porto para Coimbra é também umaprioridade na candidatura, algo que,no seu entender, constitui uma opor-tunidade para potenciar “o turismo eo negócio”. O candidato discorda daplataforma política criada para defesa

de um aeroporto internacional nabase de Monte Real, prefe-

rindo um “de natureza re-

gional, mas com um interface nacio-nal”, com 300 metros de pista e seismilhões euros de investimento”.

O apoio às iniciativas económicasna zona da Baixa é outro dos planosde Pina Prata para travar a desertifi-cação. A recuperação urbana passapela “reabilitação do património”, co-meçando pelos edifícios públicos.Pina Prata pretende apoiar tambéma criação de “actividades de naturezanocturna”, como bares, para dar vidaà Baixa e abrir a CMC aos sábados,para “actividades relacionadas com oatendimento à população”.

Outros projectos de Pina Prata in-cluem a construção de um centro decongressos e espectáculos e a criaçãode uma “autoridade única de trans-portes” que coordene os SMTUC como futuro Metro Mondego. Planeiaainda a orientação dos transportespúblicos para uma “política de efi-ciência energética” que evite a dupli-cação de linhas e gastos excessivos decombustível e a melhoria dos espaçosverdes, bem como a concretização do“silo” de estacionamento nos terrenosdos Hospitais da Universidade deCoimbra.

“Reforço do papel das freguesias”As principais linhas do projecto

do candidato da Coligação Demo-crática Unitária (CDU), FranciscoQueirós, baseiam-se no “reforço dopapel das freguesias”, através doaumento de verbas, e na “gestãoparticipativa das populações”.Acredita que, “em algumas ques-tões marcantes da cidade, as deci-sões foram tomadas à revelia daspopulações”. Francisco Queiróspretende alterar essa tendência etornar a autarquia “mais próximados cidadãos”.

Na área da Cultura, o candidato

da CDU entende que “é necessárioque haja uma nova política” e,nesse âmbito, a coligação vai “pro-por a criação de um conselho con-sultivo” para a essa área, caso vençaas eleições de 11 de Outubro.

Francisco Queirós concorda comos cidadãos que se queixam da faltade transportes públicos para zonasmais periféricas de Coimbra.“Temos que ter mais transportespúblicos e precisamos sobretudo deredes integradas, para que o cida-dão possa mais facilmente deslo-car-se pela cidade e ter mais tempo

para aquilo que é importante, queé o lazer e a família”, defende.

No que respeita à limpeza da ci-dade, o candidato crê “que não éum problema dos mais graves,neste momento” e, em relação à se-gurança, Francisco Queirós consi-dera que Coimbra “não será dascidades com maiores problemasnesse campo”, mas admite que “asegurança é muito preocupante emzonas como a Baixa”. Na sua opi-nião, o sentimento de insegurançaencontra-se “interligado com aquestão do abandono do comércio

tradicional”, pelo queserá importante “atrairpessoas para a Baixa” eimplementar “políticasde incentivo ao comér-cio”.

“Devolver a cidade às pessoas”A candidata do Bloco

de Esquerda (BE), Ca-tarina Martins,aposta em “devolvera cidade às pessoas”.

A docente da Fa-culdade de Le-

tras daUnivers i -dade de

Coimbraacreditaque a“ c o n s -t r u ç ã o

exagerada” é o principal problemade gestão da cidade e a causa de vá-rios problemas, como a poluição. Aexpansão de Coimbra para a peri-feria “obriga as pessoas a desloca-rem-se diariamente, portanto,ambientalmente é uma catástrofe”,conclui. Para Catarina Martins, otroço do IC2 que irá substituircerca de cinco por cento da área damata do Choupal “é inaceitável”.“Vamos ter um viaduto a separar acidade daquela mata”, onde “ vãopassar cerca de 100 mil veículospor dia, o que, em emissões de

gases poluentes e ruído, vai afectarinevitavelmente toda a flora e afauna”, revela.

Uma das medidas que CatarinaMartins pretende implementar,caso ganhe as eleições, é o Orça-mento Participativo: “uma formade gestão em que a câmara dispo-nibiliza parte do orçamento” à po-pulação para a deliberação deprojectos que considerem essen-ciais à cidade. A defesa, a promo-ção de zonas verdes e a aposta em“novas modalidades de transportemuito mais ecológicas, com com-

bustíveis não poluentes” serãotambém projectos a realizar.

Catarina Martins afirma que ocentro histórico é uma das preocu-pações centrais do BE, no “sentidoda sua reabilitação”, porque“dando vida à Baixa não existe umsentimento de insegurança”. Oprojecto do partido passa pela re-novação dos edifícios e a “inclusãode habitação a custos controladosno centro histórico, para trazer fa-mílias jovens e estudantes para azona”, bem como pelo fomento da“dinamização cultural”.

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PAÍS & MUNDO14 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

Quem quer ser voluntário

As contas voltaram a complicar avida a Durão Barroso e o ponto de vi-ragem europeu volta a ser o referendoirlandês. Após a consulta de todos osgrupos parlamentares europeus, opresidente do Conselho da União Eu-ropeia, Frederik Reinfeld, viu-se con-frontado pela posição desfavoráveldos grupos socialista, verdes, liberale da esquerda europeia para a eleiçãode um novo presidente da comissãoantes do referendo irlandês.

A decisão de Reinfield mostra ocomplicado entendimento dentro daUnião Europeia (UE), como explica aespecialista do Instituto de EstudosEstratégicos e Internacionais (IEEI),

Rosário de Moraes Vaz: “aquilo quehá um mês era certo, dada a posição[favorável] dos estados e a composi-ção do Parlamento Europeu (PE),hoje já não é”. Contudo, e até à data,o antigo primeiro-ministro portuguêsé o único nome avançado.

Pressa para a eleiçãoLíderes como a chanceler alemã, An-gela Merkel, e o próprio primeiro-ministro da Suécia, que agora presideao conselho, insistiram várias vezesao longo do último mês na necessi-dade de uma resolução para estaquestão já em Julho. Ou seja, bem atempo de evitar a “ginástica de anca”parlamentar a que o Tratado de Lis-boa obriga, isto se aprovado no refe-rendo irlandês. Com o novo tratado, o

presidente da Comissão Europeia(CE) passa a necessitar de uma maio-ria qualificada e não de uma maioriasimples, o que obriga a um consensomuito mais alargado para a reeleiçãode Barroso. Moraes Vaz conclui queesta eleição, depois de Julho, “estálonge de ser certa”. A necessidade dealianças vai levar à negociação “emconfronto” entre grupos parlamenta-res de lugares chave dentro da CE, omesmo se aplica para a nova figura deAlto Representante da União para osNegócios Estrangeiros e Política deSegurança.

A importância do referendo doTratado de Lisboa na Irlanda volta asurgir depois de o primeiro-ministrodo país, Brian Cowen, ter conseguidogarantias de independência em ma-

térias essenciais para os irlandeses.Através de um protocolo, com forçajurídica e paralelo ao tratado, per-mite-se aos irlandeses manter a au-tonomia em questões como aproibição do aborto, neutralidade mi-litar e garantia de política fiscal; epermite-se à UE obter o tão esperado“Sim”.

Problemas para o presidenteOs problemas, na perspectiva da es-pecialista do IEEI, passam por umamaior “preocupação de aproximaçãoda Europa aos cidadãos”. “Os resul-tados das últimas eleições mostramque apesar dos esforços a abstençãoé alta”, alerta. Importa ainda refazeras medidas de resposta à crise econó-mica que, segundo Moraes Vaz,“foram insuficientes”. Outro pro-blema é o lugar da UE no mundo. Aespecialista acredita que a UE tem deassumir um papel credível na gover-nação mundial.

Rui Miguel Pereira

Barroso mais longe da reeleiçãoDepois das eleições europeias e com um referendo irlandês iminente,trava-se a batalha pelo próximo presidente da Comissão Europeia

ANA BELA FERREIRA / ARQUIVO

Reconhecimento,oferta formativa e sat-isfação pessoal maisimportantes do que a“caridade” para o milhão e meio de portugueses que fazem voluntariado

Com as férias de Verão a chegar,as instituições que promovem o vo-luntariado têm as portas abertas atodos os que queiram ajudar. Deacordo com um estudo da Universi-dade Católica Portuguesa, são cercade 1,5 milhões os portugueses quefazem trabalho voluntário. Segundoo responsável pelo Gabinete de Ju-ventude da Cruz Vermelha Portu-guesa (CVP), Pedro Pina, “osestudantes universitários são 80 porcento” dos voluntários desta organi-zação.

A presidente da Associação deAmizade Portugal - Cuba, ArmandaFonseca, realça este interesse aoafirmar que “há muitos jovens inte-ressados em participar”.Marta Pires é um exemplo da parti-cipação dos jovens no trabalho vo-luntário: “comecei aos 11 anos noBanco Alimentar Contra a Fome.Entretanto fui fazendo participaçõesmais regulares”. Hoje, já a estudarna Universidade de Coimbra, naárea da saúde, tem tentado que a ex-periência de voluntariado seja tam-bém coerente com a formaçãoacadémica.Por que participam, então, os jo-vens? Segundo Pedro Pina, há inú-meras vantagens, como sejam aparticipação social, o reconheci-mento, a gratidão, a oferta forma-tiva e a satisfação pessoal.“Concebemos o voluntariado en-quanto força de transformação so-

cial e de participação cívica”. No quediz respeito à formação, Pina diz quea CVP “tenta ao máximo ir ao en-contro das áreas de interesse dos vo-luntários e corresponder àquilo quesão as expectativas”. Armanda Fon-seca sublinha: “há amigos nossosque já têm uma obra feita, que vol-tam e que revêem a escola que cons-truíram”. Para além disso, relembraque “as pessoas criam um ambientede grande amizade e solidariedadeque lhes toca muito”.

Uma experiênciapara toda a vidaPara o responsável da CVP, o objec-tivo é que a experiência de volunta-riado se repita. “Quando

entrevistamos e recrutamos volun-tários, tentamos que o processo sejasistemático, respeitando sempre adisponibilidade do voluntário, queé, aliás, a regra de ouro”. Interessasobretudo respeitar e manter as re-lações estabelecidas. E dá o exemploda ocupação de tempos livres embairros desfavorecidos: “aquelascrianças desde a primeira vez come-çam a estabelecer uma relação afec-tiva. Não faz sentido que na sessãoseguinte sejam pessoas completa-mente diferentes”. Armanda Fon-seca concorda que, por norma, aexperiência é repetida, pelo menosna associação a que pertence:“anualmente há dois ou três gruposde voluntários que vão prestar o seu

apoio solidário a Cuba e é isso quefazemos há 30 anos”

Quem gostaria de voltar a fazervoluntariado é Catarina Guerra.Educadora de infância em 1991, al-tura em que esteve três meses naRoménia, viveu uma das experiên-cias “mais incríveis” da sua vida. Ac-tualmente professora do ensinobásico, explica que desde aí não olhapara as coisas da mesma maneira.“O valor dos bens materiais é muitorelativo”, realça. Catarina refereainda uma situação ocorrida poucodepois do fim da missão: “quandocheguei a Madrid a minha mãe euma amiga resolveram levar-me ao'El Corte Inglés'. Quando entrei fi-quei horrorizada, senti que havia

demasiadas coisas”. Catarina relataoutros episódios que a marcarampela sua desumanidade: “junto dosítio onde trabalhávamos, havia ca-madas de dejectos secos no chão”. Avisão de jovens a atirar comida parao chão e pessoas de gatas para se ali-mentarem, “como se fossem cães”, éoutra das imagens que ainda relem-bra.

Apesar do esforço e da dedicaçãodos envolvidos, há sempre trabalhoa fazer. Armanda Fonseca é da opi-nião de que “se deve informar e des-pertar as pessoas”, explicando issomesmo. “Há muito que podemosfazer, ensinando, construindo, e éimportante que as pessoas apoiem eajudem os outros”.

80 POR CENTO dos voluntários da Cruz Vermelha Portuguesa são universitários

Bruno Monterroso

D.R.

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA7 Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 15

Ciência contraria teorias da conspiração

A 20 de Julho de 1969, NeilArmstrong tornou-se o primeirohomem a pisar a Lua. A promessafeita pelo presidente dos EstadosUnidos da América (EUA), JohnF. Kennedy, num discurso emMaio de 1961, tinha-se finalmenteconcretizado. No entanto, quatrodécadas depois, ainda surgem dú-vidas quanto à veracidade destaodisseia espacial.

É impossível falar da conquistaespacial sem referir o confrontodos dois lados da história. Se, porum lado, há pessoas que não du-vidam, por outro, a desconfiançade alguns levou à criação de teo-rias que contestam este feito, aoponto de irritar os próprios astro-nautas. É o caso de Walter Cun-ningham – piloto da primeiramissão tripulada a fazer testespara chegar à Lua, em 1968 –,que, quando confrontado com al-guns 'factos' apresentados pelosdefensores da teoria da encena-ção, foi acutilante na resposta quedeu a A CABRA. “Que perda detempo ridícula para um estudanteuniversitário”, contrapôs por e-mail.

Os cépticos baseiam-se sobre-tudo em fotografias publicadaspela própria NASA (agência espa-cial norte-americana) e questio-nam detalhes invulgares. Todavia,a comunidade científica consegueexplicar todos os supostos erros.A bandeira americana que aparecenas imagens é objecto de suspei-tas, devido à sua aparente ondula-ção, uma vez que na Lua não hávento. O professor da Faculdadede Ciências da Universidade doPorto (FCUP), Carlos Mar-tins, evidencia que “a ban-deira não está a tremer. Para alémde estar presa ao mastro, tambémestá presa a um suporte horizontale não está completamente esti-cada”. “Comparando várias foto-grafias e filmes é fácil ver que abandeira está sempre na mesmaposição, sem qualquer oscilação”,sustenta.

Outro dos argumentos frequen-temente referido no discurso doscépticos é a existência de sombrascom direcções e tamanhos dife-rentes, quando a única fonte deluz é o Sol. O docente justifica

como sendo um “resultado óbviodo efeito de perspectiva e das pe-quenas elevações e vales da su-perfície lunar”.

Os cépticos apontam ainda aimpossibilidade de haver uma pe-gada no solo, devido à ausência dehumidade. Nuno Vaz Santos, en-genheiro da Critical Software – aúnica empresa portuguesa a tra-balhar com a NASA – compara osolo lunar a plasticina. “Uma pes-soa põe um pé e faz uma pegadaporque destrói as ligações que háentre as partículas e então forma-se uma marca”, clarifica.

Dúvidas sobrea tecnologiaA tecnologia existente na décadade 60 é também posta em causa.O coordenador do Ano Interna-cional da Astronomia (AIA 2009),João Fernandes, tal como outroscientistas, nega o argumento, umavez que “a NASA tinha um orça-mento gigantesco e cerca de meiomilhão de cientistas e en-genheiros a trabalhar noprojecto”. Carlos Martinsadmite, contudo, que nemtoda a tecnologia usada era'de ponta', já que “datava daSegunda Guerra Mundial oudos anos 50”.

A grande odisseia espacialpode ser relembrada através dasimagens obtidas pela televisãoe pelas pequenas má-quinas de fil-m a rinstala-d a s

a bordo. Acâmara Has-selblad 500ELscom películaKodak, usada paratirar as fotografias, écontestada pelos maiscríticos, que lhe apon-tam fraca resistênciaface a grandes varia-ções de temperatura.

Contactada, a KodakPortugal reencaminhoupara a congénere espa-nhola. O responsável demarketing da fabricante

de rolos fotográficos Angel Bu-querin revelou que “a película e acâmara foram fabricadas especial-mente para a ocasião”.

É ainda neste contexto que a au-sência de estrelas nas fotografiasda altura é justificada. “Para tiraruma fotografia às estrelas é pre-ciso deixar a máquina em exposi-ção, senão não há temponecessário para que o negativoseja impresso”, clarifica o coorde-nador do AIA 2009. João Fernan-des aplica o exemplo ao dia-a-dia:“se vocês pegarem numa máquinafotográfica à noite e a dispararempara o céu, garanto-vos que nãovêem nada”.

Ida à Lua, “porque sim”Para os estudantes parece nãohaver dúvidas sobre a veracidadedo feito americano. Ainda assim,na hora da justificação, o argu-mento resume-se a duas palavras:“porque sim”. Dos 12 inquiridos,

nenhum conseguiu explicar a suaconvicção. Os poucos cépticos,como Emanuel Botelho, de Estu-dos Artísticos, e Ricardo Nobre,de Radiologia, põem em causa atecnologia e o tempo de prepara-ção da missão. Botelho apontaainda como razões de uma possí-vel encenação, “a tecnologia, quenão era muito avançada” e o factode os “EUA precisarem desespe-radamente de ter alguma primeiravez no espaço”. No entanto, o es-tudante tem algumas reservas eestá aberto aos dois lados da his-tória.

Para João Fernandes, não hádúvidas de que o homem foi àLua. O clima vivido na década de60, devido à Guerra Fria, não per-mitia que este feito fosse umafarsa. “Se tivesse sido realmente

uma fraude, com a espionagem econtra-espionagem que haviaentre os dois blocos, era impossí-vel que não se soubesse”, explica.O docente apresenta ainda três ar-gumentos que considera inques-tionáveis. “Quando o homem foi àLua deixou lá ficar uns espelhoschamados retroreflectores”. Os es-pelhos foram colocados para aju-dar a calcular a distância da Terraà Lua. “Da Terra são disparadoslasers que batem nos reflectores eregressam. Se não houvesse lánada, eles não voltavam”, acres-centa o coordenador do AIA 2009.A pedra lunar que se encontra ex-posta no Museu de Ciência da UC,até 24 de Julho, é outra das pro-vas apontadas por João Fernan-des, pois um robô só seria capazde transportar gramas de pó. Paraa farsa ser possível, seria necessá-rio uma “conspiração a nível in-ternacional”, o que considera“pouco credível”.

O professor da Faculdade deCiências e Tecnologia da UC, Car-los Fiolhais, critica as teorias quenão aceitam a chegada do homemà Lua e considera-as “completa-mente absurdas”.

A última missão à Lua foi em1972. Desde então, o homem

não voltou a pisar o sololunar, por, segundo Carlos

Fiolhais, “falta devontade política”.

No aniversário da ida à Lua, há ainda quem levante suspeitas sobre o que aconteceu em 1969.Terá sido um “pequeno passo para o homem” ou um grande embuste para a humanidade?

CHEGADA À LUA FOI HÁ 40 ANOS

Diana CraveiroSara São Miguel

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ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

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ARTES FEITAS16 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

scapando ao óbvio “Up-Altamente” da inevitávelPixar, “Inimigos Públicos”é a primeira proposta.

Com data de estreia para 6 deAgosto, marca o regresso de Mi-chael Mann à cadeira de realizadordepois de “Miami Vice”, em 2006.Pelas imagens divulgadas nos trai-lers é já possível notar os habituaiscuidados visuais de Mann, assim

como a utilização do HD como dis-positivo preferencial na captação deimagem. O que não é habitual é ofacto de estrear no início do mês deAgosto, ainda época de Blockbuster(cinema de acção de grande orça-mento e grandes estrelas), um filmede época. É certo que Johnny Deppe Christian Bale cumprem a quotade estrelas de cinema e a sinopse dofilme (John Dillinger, o criminoso

mais procurado dos Estados Uni-dos, é caçado pelas autoridades)promete acção, não deixa de sur-preender enquadrar tais intençõesnuma reconstituição dos anos 1930.Também a presença de Marion Co-tillard, oscarizado pela interpreta-ção de Edith Piaf em “La Môme”,não deixa de constituir um desviodo que são as regras normais decasting para um filme de Verão.

Inimigos Públicos

CIN

EM

A

FERNANDO OLIVEIRA

DE

MICHAEL MANN

COM

JOHNNY DEPP

CHRISTIAN BALE

MARION COTILLARD

2009

“ E”

S U G E S T Õ E S D E V E R Ã O S U G E S T Õ E S D E V E R Ã O S U G E S T Õ E S D E V E R Ã O S U G E S T Õ E S

Verão, tempo de férias e de muito calor. Facto pouco reconhecido mas por muitos admitido: as salas de cinema têm arcondicionado. Por isso mesmo deixamos quatro propostas para o Verão cinematográfico

O U T R A S S U G E S T Õ E S

im, Richard Curtis é o argu-mentista das comédias ro-mânticas inglesas comHugh Grant. Sim, é o reali-

zador/argumentista de “O AmorAcontece”, o mais doce filme natalí-cio dos últimos anos. Mas é tambémum dos argumentistas de “Blackad-der”, um dos melhores momentos dacomédia britânica pós-Python. Porisso, devemos dar o destaque a “OBarco do Rock”, com estreia marcadapara 23 de Julho, com Phillip Sey-mour Hoffman, Nick Frost, KennethBranagh e o inevitável Bill Nighy nosprincipais papéis. Curtis escreve o ar-gumento e também realiza.

FERNANDO OLIVEIRA

Scinema asiático vai mar-car presença em Agostocom “Blood: O ÚltimoVampiro”. Baseado na

popular série animada do mesmonome, “Blood” conta as peripéciasde Saya, uma vampira de aparênciaadolescente que, com a ajuda deuma agência governamental, com-bate as forças do mal. Espera-semuita acção ao estilo de “O Tigre eo Dragão”, num filme que prometeser um autêntico festival de efeitosespeciais, sangue e adolescentescom pouca roupa. Uma boa alter-nativa a filmes com robôs despro-vidos de história.

JOSÉ SANTIAGO

Ouentin Tarantino voltaao grande ecrã com “Sa-canas sem Lei”, o pri-meiro remake na curta

mas prolífica carreira do realizador.Passada em França, durante a Se-gunda Guerra Mundial, a tramagira em torno de um grupo de sol-dados judaico-americanos que, soba chefia do Tenente Aldo Reine, es-palham o terror pelos soldados doTerceiro Reich. Sangue, violência ehumor negro são os elementos quese podem esperar dum elenco queconta, entre outros, com a partici-pação de Brad Pitt, Mike Meyers eEli Roth.

JOSÉ SANTIAGO

Q

Inglorious Basterds– Sacanas sem Lei”

Blood: O ÚltimoVampiro” O Barco do Rock”

DE

QUENTIN TARANTINO

COM

BRAD PITT

MIKE MEYERS

ELI ROTH

2009

DE

HIROYUKI KITAKUBO

COM

YOUKI KUDOH

SAEMI NAKAMURA

JOE ROMERSA

2009

DE

RICHARD CURTIS

COM

BILL NIGHY

KENNETH BRANAGH

PHILIP SEYMOUR HOFFMAN

2009

Page 17: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

ARTES FEITAS7 Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 17

ARTES FEITAS

uase três décadas depois,os Sonic Youth conti-nuam bem vivos e explo-sivos. “The Eternal”, o

16º álbum da banda lançado no iní-cio do mês passado pela Matador,marca o regresso dos nova-iorqui-nos a uma editora independente eagora com novo baixista – MarkIbold (ex-Pavement).

Os elementos fundamentais reú-nem-se: os riff’s de ThurstonMoore, o trio de vozes comparti-lhado entre este último, Kim Gor-don e Lee Ranaldo, a distorção dasguitarras e o som abrasivo. Estácriado o ambiente familiar a que osSonic Youth nos habituaram desdeo início da sua carreira. Torna-se,por isso, quase impossível resistir acomparações entre este “The Eter-nal” e os melhores álbuns dabanda, mas vamos fazer um es-

forço, pelo menos. Afinal, é um disco dos Sonic Youth e isso diz quasetudo.

“The Eternal” é um disco sólido e coeso – de doze canções – ex-plosão de ‘noise’, melodia e poesia. Destaca-se a quente e emotiva“Walkin Blue”, a visceral e violenta “Anti-Orgasm”, a melódica e po-derosa “No Way” e a negritude melodiosa de “Malibu Gas Station”, naqual temos a voz de uma vigorosa, mas simultaneamente sedutoraKim Gordon. E ainda os quase dez minutos de “Massage the History”,a faixa que encerra o disco com a sussurrante Gordon e a habitualdistorção das guitarras. Aliás, aqui a química de Ranaldo e Moore écada vez mais inquestionável e transforma, por exemplo, “Antenna”e “No Way” em canções absolutamente imperdíveis.

Embora pareçam, desde há uns discos para cá, rendidos aos sonsmelódicos, que não se assustem os puristas: os Sonic Youth conti-nuam, apesar disso, a fazer música abrasiva e caótica – mas agora emformato de canções.

Na linha dos anteriores álbuns dos nova-iorquinos, “The Eternal”pode ser alvo de críticas por não apresentar nada de verdadeiramenteoriginal, por não reinventar o grupo, fazendo deles algo que não são.Já ninguém pode pedir isso aos Sonic Youth.

“The Eternal” é simplesmente – ou não tão simples quanto isso –um disco dos Sonic Youth. E isso é o mesmo que dizer que estamosperante um álbum muito bom.

aía dos Tigres”, o primeiro livrodo jornalista Pedro Rosa Men-des, é sobretudo uma constela-ção de histórias com

personagens anónimas que o autor des-cobriu, em 1997, durante a viagem porterra de Angola para Moçambique.

Ao longo de 10 mil quilómetros, per-corridos, entre perigo, prisões e encon-tros, Pedro recolhe marcas de dor, dedestruição, singulares gritos de força -“Mostra-me as suas próteses com orgu-lho, porque eu não acreditava que asusasse: tinha-o visto chegar de bicicleta.”- e conta-as sob o olhar severo que en-volve a riqueza da experiência com a fic-ção.

A narrativa constrói-se através de diá-logos marcados pelo ritmo das pessoas– são elas os motores das melodiascheias de ruído – as vozes também de

fome, na Guerra Colonial em busca daindependência e depois nas Civis emtorno da disputa pelo domínio do terri-tório – esse quadro cinzento povoado deminas onde viu “raízes no lugar das per-nas, férteis na terra que as mutilou”.

E os monólogos do autor servem a his-tória a partir de si, mais do que a si. Háo sufoco da verdade nas palavras cria-doras de imagens – “na dieta de Caiundovasculho as ondas em busca de paisa-gens de resgate”.

Assim, “Baía dos Tigres”, que mereceuo prémio ‘PEN Clube’ em 2000, não éapenas um relato de viagem, é o movi-mento de pessoas que cruzam a históriaatravés do passado – tempo marcado atéao presente em cada rosto..

enunciação “Segunda GuerraMundial” sugere em nós algoaparatoso, uma espécie deevento mais que global. E o re-

lato da História não ajuda – Normandia,Estalinegrado, Pearl Harbor, quase tudoao mesmo tempo – com um olhar con-seguimos percorrer um continente, estarao mesmo tempo em dois continentes eé preciso essa atenção total, afinal trata-se de uma “Guerra Mundial”.E a certa altura damo-nos por nós a per-guntar qual a razão para que, com umaguerra que tão depressa está na Europacomo na Ásia, como a seguir envolve aAmérica, deveríamos focar a nossa aten-ção numa pequena vila rural francesa deseu nome Nouvion. “Allo! Allo!” de-monstrou-nos como mesmo uma epo-peia à escala global poderia ter tido, se

não teve mesmo, um espaço para os seusanti-heróis e, sobretudo, para os seus he-róis do dia-a-dia. Os que de um roubo deuma salsicha fizeram virar o tabuleiro daguerra, os que tiveram que dividir o seutempo entre a Resistência e uma duplade mulheres ansiosas e os que possuíamcomo único meio de combate uma bici-cleta e um terrível sotaque francês. Pelamão da Prisvideo, a sexta temporada dasérie chega, nos finais de Julho, às pra-teleiras de todo o país. Baseando-nos nasedições portuguesas anteriores, damesma distribuidora, pouco mais pode-mos esperar do que os episódios legen-dados em português e os clichés da “selecção de cenas”. Fica, contudo, umaboa forma de relembrar as míticas noi-tes de sábado da TV2.

OUVIR

DE

SONIC YOUTH

EDITORA

MATADOR

2009

The Eternal”

Q

INÊS RODRIGUES

B

Baía dos Tigres ”

JOÃO MIRANDA

FÁTIMA ALMEIDA

Allo! Allo! - Série 6”

VER

A terrívelbatalha deNouvion

LER

VerdadeiramenteSonic Youth

A

Ao longo daestrada: ruídodos rostosnas palavrasflagrantes

D E V E R Ã O S U G E S T Õ E S D E V E R Ã O S U G E S T Õ E S D E V E R Ã O S U G E S T Õ E S D E V E R Ã O

DE

JAY REATARD

EDITORA

MATADOR

2009

O U T R A S S U G E S T Õ E S

DE

TY SEGALL

EDITORA

MATADOR

2009

Watch Me Fall” Lemons”

DE

MIA COUTO

EDITORA

CAMINHO

2009

O U T R A S S U G E S T Õ E S

DE

PEDRO ROSA MENDES

EDITORA

DOM QUIXOTE

2004

Jesusalém”

DE

CHICO BUARQUE

EDITORA

DOM QUIXOTE

2009

Leite derramado”

DE

DAVID CROFT

EDITORA

PRISVIDEO

2009

DE

CLINT EASTWOOD

EDITORA

WARNER BROS

2009

O U T R A S S U G E S T Õ E S

Gran Torino”

DE

GEORGE CLOONEY

EDITORA

PRISIVIDEO

2009

Boa noite e boa sorte – reedição”

Page 18: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

OPINIÃO18 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

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A escrita de mais um artigosobre a situação cultural coimbrãtem pouco interesse se se limitar achover um pouco mais de resig-nação ou de revolta na molhadamelancolia das repetições do cos-tume.

Pelo meu lado, prefiro tomaroutro caminho e propor uma hi-pótese: a conjugação das trans-formações patrimoniais em cursocom o desenvolvimento de umacriatividade artística disseminadalança as bases, sem precedentespróximos, da afirmação de Coim-bra como cidade de cultura con-temporânea e cosmopolita.

Embora fundamentais, deixareipara melhor oportunidade asmuito significativas transforma-ções do património histórico ma-terial.

Prática por excelência da trans-figuração, importa perceber omodo de ser decisivo reconhecidoà criatividade artística. É que tudoconspira para que, hoje (é acrise!...), as artes sejam vistas comsimples práticas subjectivas (emtempos que requerem grandes de-cisões objectivas) alimentadas so-bretudo pela imaginação (emtempos que necessitam do maiorrealismo) e concretizando-se emobras cuja dimensão material é,sobretudo, portadora do maior al-cance imaterial. Ora, a crise (ou asvárias crises imanentes à Crise)apela profundamente ao culturalporque na cultura, como em ne-nhuma outra instância, a questãomedular é a construção e a parti-lha de sentido, o labirinto do re-conhecimento de si como devir, agénese de possíveis, o trabalho (ea paciência) do comum. A artemostra que o subjectivo não seopõe ao objectivo, que a imagina-ção não se opõe ao realismo, que omaterial não se opõe ao imaterial.Cada elemento é mediado pelooutro e é este processo infinito demediações que caracteriza a cul-tura, tanto mais forte quanto maislongo e apertado for o ciclo demediações e tanto mais frágilquanto for mais breve e maissolto.

Ora, a leitura e a caracterizaçãoda cena coimbrã convém não sedistraírem de um elemento ful-cral: para além de estruturas e deiniciativas que podemos conside-rar felizmente consolidadas e das

quais não falarei agora, há umaespécie de espontaneidade cria-tiva que pode não assumir confi-gurações formais mas queimporta identificar, valorizar,acompanhar e incentivar. É im-possível não nos entusiasmarmospor um projecto conceptual como“Chambres, rooms, zimmers”,que nos faz intuir a cidade míticaenquanto percorremos a cidadereal. É impossível não saudarmosuma Associação como Rio Con-tigo e as suas arrojadas propostasde intervenção urbana. É impos-sível não ler o Magazine de Artesde Coimbra e Afins, cuja impor-tância maior é constituir uma dis-tância de análise, umdeterminado ponto de vista sobreacontecimentos que, de outromodo, se esvaneciam na tragici-dade de um presente efémero quese não pensa a si mesmo, não fre-quentar as iniciativas da novasede da Arte à Parte e não perce-ber as dinâmicas de mudança detoda a zona do Quebra Costas. Éimpossível não continuar à pro-cura de um lugar até que gruposcomo Camaleão e Marionete en-contrem condições que lhes per-mitam desenvolver as respectivasidentidades programáticas. É im-possível permanecer imune aosopro transdisciplinar que per-corre a Casa da Esquina, anco-rada em práticas como afotografia e as artes cénicas comocondição para transgressões dis-ciplinares fecundas. É impossívelnão valorizar uma experiênciaoperática como Bastien e Bas-tienne, quer pelas suas condiçõesde produção (partilhadas por AdLibitum, Companhia das Artes ea cooperativa de cultura Teatrodos Castelos) quer pelo seu pro-metedor resultado artístico.

Falo de experiências nómadas,de práticas ainda hesitantes, pro-postas à procura da sua ideia ouidentidade. É a esta zona de(in)determinações que é precisoestar atento para perceber deonde, e como, virá aquilo que vaiconjugar-se com as práticas con-solidadas e delimitar um outropresente, solto do passado paracriar as formas novas da nossaidentidade cosmopolita.

* Director regionalda Cultura do Centro

Cartas ao directorpodem ser

enviadas para

[email protected]

UMA ESPÉCIE DE

ESPONTANEIDADE CRIATIVA

António Pedro Pita *

A arte mostra queo subjectivo não seopõe ao objectivo,que a imaginação nãose opõe ao realismo,que o material nãose opõe ao imaterial

D.R.

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OPINIÃO7 Julho de 2009 | Terça-feira | a cabra | 19

EDITORIAL

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

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UM ANO DE LETARGIA

Conjecturavam-se grandes pro-jectos para 2009. Um levanta-mento total dos problemas dauniversidade e do ensino superiorera apresentado no início do ano.Também a consequente resoluçãodesses mesmos problemas e a rei-vindicação de um ensino superiorpúblico, gratuito e de qualidadenão eram deixados ao acaso.

Contudo, foi com grande cons-ternação e amargura, cada vezmenos alheias, que ouvimos rela-tos de estudantes que se viram ob-rigados a recorrer ao BancoAlimentar Contra a Fome para es-camotear as faltas de apoio social.Com a mesma afecção, vimos uminúmero conjunto de colegas obri-gados a suspender ou mesmo aabandonar a universidade e os es-tudos. Vimo-nos impedidos de, ajusta voz, participar nas decisõesde uma instituição que essencial-mente a nós pertence. A cognomi-nada taxa moderadora, que são as

propinas, a pouco está de ultra-passar a barreira dos mil euros. Eas incisivas alterações pedagógicasapenas vieram agudizar a situação.A propalada aposta numa avalia-ção contínua veio revelar-se umasobrecarga horária de trabalhos.Contemplamo-nos impedidos departicipar activamente nas aulas edeparamo-nos com a redução dasnossas licenciaturas à insignifi-cância mais profissionalizante per-mitida. E, a tudo isto, pediram-nospara acreditar. Mas acreditar nãochega. Não podemos cruzar os bra-ços. Não podemos esperar que oensino superior que, mais oumenos assumidamente, defende-mos nos caia no colo.

É preciso encontrar um rumonovo, definir uma nova orientação,que não a desenvolvida ao longodeste ano. O estado letárgico emque caiu a acção da Direcção-Geralda Associação Académica deCoimbra (DG/AAC) e, por natural

arrasto, a restante maioria dos es-tudantes demonstrou os seus fru-tos: a prorrogação da atitude algozdo ensino superior que o governoveio assumindo. Não podemos cer-rar os olhos e vulgarizar que o Pro-cesso de Bolonha é uma realidadedogmática, mas que ainda assimpossui aspectos positivos, cuja lutadeve passar somente por potencia-lizá-los. A realidade demonstra-nos o contrário. O ensino superiornunca assumiu um carácter tão eli-tista e tão regressivo desde 1974.

A iniciativa de luta agendadapara Outubro representa umavanço na determinação estudan-til por um ensino melhor. Con-tudo, não pode nem deve serencarada como um fim. Muitomenos pode ser encarada com a le-viandade que a direcção-geral as-sumiu até agora. No final do anolectivo, e para uma acção que sepretende condignamente massifi-cada, a mobilização para uma

qualquer noite de quinta-feira nosjardins da associação não pode ul-trapassar a dinamização da mani-festação. Também as propostasaprovadas e assumidas em magnanão podem continuar a ser arroga-das com o desleixo com que vêmsendo.

Não é com uma atitude atestadade servilismo e de cobardia que oensino superior evoluirá para oseixos definidos pela vontade estu-dantil. É necessário que a DG/AACnão se deixe encostar a uma histó-ria de luta e combate e que tomeuma posição, não para honraralgum estatuto ou memória colec-tiva. É imperativo que os estudan-tes saibam exigir essa atitude paraque se possa, desde já, desenvolveras bases para dar combate e rei-vindicar o mesmo ensino superiorpúblico, gratuito e de qualidadeque se defendia em altura de elei-ções.

João Miranda

Acreditar não chega.Não podemos cruzar os braços“

O portal informativo ACABRA.NET, apesar de se encontrar online, con-tinua sem possibilidade de actualização por motivos técnicos.

NOTA EDITORIAL

O ano lectivo que agora terminanão diferiu, nos seus traços essen-ciais, dos que o precederam nestalegislatura, convergindo o balançodo último ano com o de toda a le-gislatura. Penso que não se encon-tram divergências assinaláveis faceao anterior governo, antes o desen-volvimento de uma orientação po-lítica concreta.

No que respeita ao modelo orga-nizativo e financeiro, a implemen-tação do Regime Jurídico dasInstituições de Ensino Superior(RJIES), consubstancia as orienta-ções definidas pela OCDE e OMC,rumo a uma crescente liberalizaçãodo sistema. Neste sentido vem, acoberto de um necessário aumentoda autonomia das instituições deensino, fazer depender essa auto-nomia da crescente privatizaçãodas instituições, promovendo a suaconstituição em Fundações de di-reito privado. Propositadamenteconfundindo a necessária ligaçãodo ensino ao sistema produtivo,com a subjugação da educação aointeresse económico – e conti-nuando a crónica política de subfi-nanciamento das instituições – oRJIES solidifica tal orientação coma introdução de elementos da es-fera económica nos órgãos máxi-mos de gestão das instituições,gradualmente fazendo depender osinteresses destas, dos objectivosdaqueles. É também consubstan-ciada a concentração de poderes nofuncionamento dos órgãos, com acriação da figura do director, atransferência de competênciasentre órgãos, e a redução acen-tuada da participação democráticados estudantes no governo das ins-tituições.

Assistimos à consolidação doProcesso de Bolonha onde, a co-berto da importante reestruturaçãodo ensino e da sua vertente peda-gógica, se implementa um modelono qual é reduzido o investimento

do Estado e aumentado o seu graude elitização, ao dividir a formaçãoem dois ciclos, verificando-se umcrescimento muito assinalável doscustos de frequência do segundo. OEstado reduz assim, ainda mais, oinvestimento no ensino, colocandonos estudantes o ónus do financia-mento do sistema, enquanto si-multaneamente limita a formaçãoao mínimo necessário à criação deuma mão-de-obra barata, reser-vando os níveis mais avançados deconhecimento aos indivíduos demaiores possibilidades económi-cas. Tal é agravado por uma polí-tica de acção social escolar queprivatiza sectores fundamentaisdeste sistema e reduz o apoio socialdas bolsas enquanto incentiva o re-curso aos empréstimos bancários –realidade dificilmente escamoteadapelo recentemente anunciado au-mento do valor das bolsas.

Finalmente, face a tais políticaspara o ensino superior público, énotória a reduzida contestação porparte do movimento estudantil.Comparativamente à acção de vas-tos sectores da população, quantoa outras áreas da acção governa-tiva, as academias estudantis, in-cluindo a Associação Académica deCoimbra, limitam a sua acção à re-tórica negocial. Penso que as aca-demias, centrando-seexclusivamente no diálogo e comaversão às acções de massas, porvezes em estreita conivência com opoder político, procuram ignorarque negociação alguma é possível,sem a prévia conquista de espaçonegocial pela afirmação do seupoder contestatário, só demons-trado pela acção de massas. Factoque a hipotética manifestação na-cional a realizar em Outubro pró-ximo, quando já nada serámudado, pode esconder.

* Investigador-júnior doCentro de Estudos Sociais da UC

ENSINO SUPERIOR - BALANÇO DE

UM (QUATRO) ANO(S)

Alfredo Campos *

Page 20: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

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Tem sido o constante jogo da es-pera. Mas já não se espera muitoaté Janeiro. Ou melhor, espera-seque não se desespere com a espera.Serrote espera pela eleição do Pro-vedor de Justiça para apresentaruma queixa. Serrote espera pelaseleições para sair à rua. Serrote es-pera pelas outras académicas paramobilizar os estudantes. Serrote es-pera que venham os novos estu-dantes para informar. Serroteespera, sobretudo, que acabe omandato. E, então, pior do que umpresidente sem vontade própria é aimagem de um presidente desacre-ditado pelos que o rodeiam. Não seespere que algo aconteça.

P.C.

Jorge Serrote Mariano Gago

Se a má gestão ministerial pudesseser quantificada em ‘gaffes’, MarianoGago ganharia aos pontos a ManuelPinho. Mas como a ciência do minis-tro pouco tem de superior, falemosnão de quantidade, mas de qualidade.E aqui temos especialista. Desquali-ficou a aprendizagem, desqualificoua acção social, desqualificou o finan-ciamento, desqualificou-se a si pró-prio com as infelicidades que proferiusobre a gestão das universidades eagora quer desqualificar os professo-res – sacrificando em tudo a demo-cracia. Também Gago não gostamuito de entrevistas. Percebe-se por-quê. Em quatro anos de governo, temficado sempre mal na fotografia.

P.C.

Manteve-se à sombra da torre numano de “profundo edifício de refor-mas” na UC. Os últimos seis mesesforam, efectivamente, de mudançaprofunda nos órgãos de governo, nasfaculdades, de estrangulamento fi-nanceiro e de acusações de má gestão.Palavras, poucas. Há seis meses queprocuramos consecutivamente agen-dar uma entrevista com Seabra San-tos. A permanente indisponibilidadeem se pronunciar publicamente pe-rante a comunidade que representa –enquanto reitor da UC e presidentedo CRUP – denota da parte de Sea-bra Santos senão falta de vontade emevitar tanta especulação. Devemossomente lamentar.

P.C.

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Seabra Santos

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