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O Brasil e o Congresso Anfictiônico do Panamá JOSÉ CARLOS BRANDI ALEIXO* Introdução Aos 21 de junho de 1976, o Presidente Ernesto Geisel, por ocasião das comemorações do Sesquicentenário do Congresso Anfictiônico do Panamá, conhecendo o desejo dos países bolivarianos, decidiu depositar, junto ao Governo da República Ístmica, em monumento a ser nela erigido, os únicos originais existentes das Atas daquele conclave, conservados no Rio de Janeiro, no Arquivo Histórico do Ministério das Relações Exteriores. Em continuidade a vários estudos e diligências, e valorizando ainda mais a herança bolivariana, a Presidente Mireya Moscoso, ao restaurar o edifício do antigo convento de São Francisco, onde se realizou o Congresso de 1826, próxima sede da Chancelaria do país, organizou nele uma “Sala de Actas del Museo de Bolivar”, destinada a guardar, em urna doada pela famosa empresa alemã, GLASBAU- HAHN & Co.kg, os valiosos Protocolos. 1 O traslado das Atas, do Rio de Janeiro para a cidade do Panamá, programado para novembro de 2000, no contexto da X Cúpula Ibero-americana, é oportunidade particularmente propícia para refletir sobre a importância do Congresso e o relacionamento do Brasil com ele. 2 É muito significativo que o Libertador tenha considerado o Istmo do Panamá como local privilegiado para sediar encontros internacionais e até mesmo ser a capital do mundo. Na carta profética da Jamaica, em 1815, dirigida, conforme minuciosa investigação do eminente historiador venezuelano Monsenhor Nicolás Eugenio Navarro, ao Cavalheiro Enrique Cullen, vizinho de Falmouth, escreveu Bolívar: “Que belo seria que o Istmo do Panamá fosse para nós o que o de Corinto para os gregos! Oxalá que algum dia tenhamos a fortuna de instalar ali um augusto congresso dos representantes das repúblicas, reinos e impérios a tratar e discutir sobre os altos interesses da paz e da guerra, com as nações das outras três partes do mundo...” 3 Rev. Bras. Polít. Int. 43 (2): 170-191 [2000] * Professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, aposentado. Vice-Presidente da Sociedade Bolivariana da República Federativa do Brasil.

JOSE CARLOS BRANDI ALEIXO O Brasil e o Congresso Anfictionico Do Panama

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  • 170 JOS CARLOS BRANDI ALEIXO

    O Brasil e o CongressoAnfictinico do Panam

    JOS CARLOS BRANDI ALEIXO*

    Introduo

    Aos 21 de junho de 1976, o Presidente Ernesto Geisel, por ocasio dascomemoraes do Sesquicentenrio do Congresso Anfictinico do Panam,conhecendo o desejo dos pases bolivarianos, decidiu depositar, junto ao Governoda Repblica stmica, em monumento a ser nela erigido, os nicos originaisexistentes das Atas daquele conclave, conservados no Rio de Janeiro, no ArquivoHistrico do Ministrio das Relaes Exteriores.

    Em continuidade a vrios estudos e diligncias, e valorizando ainda mais aherana bolivariana, a Presidente Mireya Moscoso, ao restaurar o edifcio do antigoconvento de So Francisco, onde se realizou o Congresso de 1826, prxima sededa Chancelaria do pas, organizou nele uma Sala de Actas del Museo de Bolivar,destinada a guardar, em urna doada pela famosa empresa alem, GLASBAU-HAHN & Co.kg, os valiosos Protocolos.1

    O traslado das Atas, do Rio de Janeiro para a cidade do Panam,programado para novembro de 2000, no contexto da X Cpula Ibero-americana, oportunidade particularmente propcia para refletir sobre a importncia doCongresso e o relacionamento do Brasil com ele.2

    muito significativo que o Libertador tenha considerado o Istmo do Panamcomo local privilegiado para sediar encontros internacionais e at mesmo ser acapital do mundo.

    Na carta proftica da Jamaica, em 1815, dirigida, conforme minuciosainvestigao do eminente historiador venezuelano Monsenhor Nicols EugenioNavarro, ao Cavalheiro Enrique Cullen, vizinho de Falmouth, escreveu Bolvar:

    Que belo seria que o Istmo do Panam fosse para ns o que o de Corintopara os gregos! Oxal que algum dia tenhamos a fortuna de instalar ali umaugusto congresso dos representantes das repblicas, reinos e impriosa tratar e discutir sobre os altos interesses da paz e da guerra, com asnaes das outras trs partes do mundo...

    3

    Rev. Bras. Polt. Int. 43 (2): 170-191 [2000]* Professor de Relaes Internacionais da Universidade de Braslia, aposentado. Vice-Presidente daSociedade Bolivariana da Repblica Federativa do Brasil.

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    Na Circular de Lima, de 7 de dezembro de 1824, Simn Bolvar, ao convocar oCongresso Anfictinico, prope que os Delegados se renam no Panam e ponderaa respeito:

    Parece que se o mundo tivesse que escolher sua Capital, o Istmo doPanam seria assinalado para este augusto destino, colocado como estno centro do globo, vendo por uma parte a sia, e por outra parte africa e a Europa...O Istmo est a igual distncia das extremidades e por este motivo, poderiaser o lugar provisrio da primeira Assemblia dos Confederados

    4.

    Comenta o ilustre escritor panamenho Bonifcio Pereira Jimenez apropsito:

    Os conceitos emitidos pelo Libertador sobre o nosso pas, definem demaneira precisa a misso histrico-geogrfica da nossa ptria. Para ocumprimento dessa misso, devemos seguir marchando e aprofundandoem nossa histria, porque os povos tm uma vocao claramente definidapela geografia que fora determinante do processo histrico

    5.

    Importncia histrica do Congresso do Panam

    O Congresso do Panam consagrou princpios que seriam aceitos muitomais tarde, no sculo XX, pelo sistema interamericano e mundial. O conhecidointernacionalista colombiano Jesus Mara Yepes demonstra como o PresidenteWoodrow Wilson se inspirou no Tratado de 1826, para seu projeto da Sociedadedas Naes6 , inclusive com a cpia de alguns de seus artigos. O mesmo autorsintetiza assim as idias do Tratado de Unio, Liga e Confederao Perptua doPanam:

    manuteno da paz, segurana coletiva, defesa recproca e mtua ajudacontra o agressor; garantia da independncia poltica e da integridadeterritorial dos estados membros; soluo pacfica das controvrsiasinternacionais, quaisquer que sejam suas naturezas e origens; codificaodo Direito Internacional; enfim, emprego da fora justa para assegurar oreinado do direito

    7.

    Os Congressos de Westflia de 1648 e de Viena de 1815, realizadosrespectivamente depois das guerras dos Trinta Anos e de Napoleo, trataram dasrelaes entre vencedores e vencidos. O Congresso do Panam, celebrado noperodo de paz, procurou estabelecer os instrumentos de paz.

    No Tratado do Panam de 1826 a responsabilidade para a manuteno dapaz recaa sobre a Assemblia Geral de Plenipotencirios (artigos XIII, XVI, etc.)

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    a se reunir cada dois anos em tempo de paz e anualmente em tempo de guerra(art. XI). o que ocorre com a Organizao dos Estados Americanos, porm nocom a Organizao das Naes Unidas (Conselho de Segurana) ou com a extintaLiga das Naes (Conselho)8 .

    Os artigos II e XXI do Tratado do Panam so antecedentes lgicos doartigo X da Liga das Naes, que trata da garantia da independncia poltica eintegridade territorial dos estados. A respeito, o renomado internacionalista francsAlbert de la Pradelle dizia que o artigo X do Pacto da Sociedade das Naes no mais do que a aplicao ao mundo inteiro das doutrinas de Simn Bolvar9 .

    A ttulo de exemplo, vale ressaltar outros pontos do Tratado do Panam.Pelo artigo XVI as partes contratantes se obrigam, e se comprometem solenementea transigir amigavelmente entre si todas as diferenas que existam ou possamexistir entre elas... Segundo Jesus Mara Yepes no Tratado do Panam que semenciona pela primeira vez, na histria das instituies internacionais, o sistemade conciliao para resolver os conflitos entre os Estados, a cargo da AssembliaGeral10 . O princpio de consulta mtua, que s firmado na ConfernciaInteramericana para a Manuteno da Paz, realizada em Buenos Aires, em 1936,encontra-se claramente no artigo XIII do Tratado do Panam. Inclui entre osobjetivos principais da Assemblia Geral:

    contribuir para a manuteno de uma paz e amizade inalterveis entre aspotncias confederadas, servindo-lhes de conselho nos grandesconflitos, de ponto de contato nos perigos comuns, de fiel intrprete dostratados e convenes pblicas que tenham concludo na mesmaAssemblia, quando sobre sua interpretao ocorra alguma dvida, e deconciliador em suas diferentes disputas.

    Pelo artigo XXV poderiam incorporar-se Confederao as potnciasda Amrica cujos plenipotencirios no tivessem comparecido celebrao eassinatura do presente tratado...

    Cabe ressaltar que os congressos hispano-americanos do sculo XIX,reunidos sob a inspirao de Bolvar, tinham carter eminentemente poltico e deorganizao da paz. J a primeira conferncia internacional americana de 1889-1890, reunida em Washington, atribuiu particular relevo a questes monetrias ecomerciais.

    A importncia do Congresso de 1826 reconhecida por inumerveistestemunhos. A Santa S e a Organizao das Naes Unidas, duas entidades decarter mundial, manifestaram-na reiteradas vezes.

    O Papa Paulo VI, em sua mensagem Sesso Protocolar do ConselhoPermanente de 21 de junho de 1976, na cidade do Panam, em homenagem aoSesquicentenrio do Congresso Anfictinico, assim se expressou:

  • O BRASIL E O CONGRESSO ANFICTINICO DO PANAM 173

    O Congresso Anfictinico do Panam constitui um exemplo eloqente dasperspectivas que se oferecem, ao esprito humano quando busca sinceramente apaz pelos caminhos da justia e do respeito mtuo. Com efeito, esse Congresso,com o influxo eficaz do Libertador Simn Bolvar, representa um alto ideal deunidade, de aliana e de paz entre os povos que dele participam, sendo por sua vezgerme de futuras iniciativas, empreendimentos e progressos11 .

    O Papa Joo Paulo II, em 17 de dezembro de 1980, sesquicentenrio damorte de Simn Bolvar, como o fizera Pio XI, cinqenta anos antes, rendeuhomenagem pessoa insigne do Libertador. Na homilia da missa celebrada naCapela Sistina, enalteceu seu labor em prol da unidade dentro da Ptria Grande,um legado... que ultrapassa os confins das naes de pura essncia bolivariana12 .

    A Assemblia Geral das Naes Unidas, ao comemorar o Sesquicentenriodo Congresso Anfictinico do Panam, estabeleceu em sua Resoluo 31/42:

    Reconhecer que o Congresso Anfictinico do Panam representa omais relevante e denodado ensaio unionista no plano internacional dosculo XIX, com caracteres ecumnicos, em antecipao e coincidnciacom os objetivos do sistema das Naes Unidas

    13.

    O Brasil e o Congresso do Panam

    Sculo XIX

    Idias e iniciativas no Brasil em prol da unio entre naes americanasanteriores circular de Lima

    Numa oportunidade como esta grato recordar alguns dospronunciamentos no Brasil, favorveis unio entre os estados americanos e aexistncia de clima propcio para a sua participao em um congresso regionalconvocado com esta finalidade.

    Caberia inicialmente recordar um documento histrico do sculo XVIII.Alexandre de Gusmo, grande estadista e diplomata brasileiro, nascido em

    Santos, foi um dos protagonistas do Tratado de Madrid de 1750. sua inspiraose atribui o artigo XXI:

    Sendo a guerra a principal ocasio dos abusos e motivo de se alteraremas regras mais bem concertadas, querem suas Majestades Fidelssima eCatlica, que se (o que Deus no permita) se chegasse a romper entre asduas Coroas, se mantenham em paz os Vassalos de ambas, estabelecidosem toda a Amrica Meridional, vivendo uns e outros como se no houvera

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    tal guerra entre os Soberanos, sem fazer-se a menor hostilidade, nem porsi ss, nem juntos com seus Aliados. E os promotores e cabos de qualquerinvaso, por leve que seja, sero castigados com pena de morteirremissvel, e qualquer presa que fizerem, ser restituda de boa f einteiramente. E assim mesmo, nenhuma das duas naes permitir ocmodo de seus portos, e menos o trnsito pelos seus territrios daAmrica Meridional, aos inimigos da outra, quando intentem aproveitar-se deles para hostiliz-la... A dita continuao de perptua paz e boavizinhana no ter lugar somente nas terras e ilhas da AmricaMeridional...

    14.

    Em 1817, eclodiu no Brasil, em Pernambuco, um movimento republicano.Seu representante nos Estados Unidos, Antnio Gonalves da Cruz (Cabug),falou ento a favor da colaborao entre os pases Americanos15 .

    Vale ressaltar que em conseqncia desta rebelio, reprimida, violentamente,pelo Poder Central, muitos pernambucanos emigraram. Vrios deles se juntaramaos movimentos emancipadores da Hispano-Amrica. Destaca-se entre todos JosIgncio de Abreu e Lima, que lutou ao lado de Bolvar e foi promovido por ele aGeneral16 .

    Em carta de 1818, Arajo Carneiro pugnava por uma aliana das naesda Amrica onde estavam os aliados natos do Brasil como nico meio deimpedir a interferncia europia17 .

    Em 1819, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes, em parecer encaminhado aThomas Antnio de Villanova Portugal, Ministro de Negcios de Guerra e deEstrangeiros, argumentava a favor de uma Liga Americana com seus vizinhos donorte e do sul, como nico meio de o Brasil se proteger das ameaas da Europa18 .

    Silvestre Pinheiro Ferreira, o ltimo Ministro de Negcios Estrangeirosnomeado, no Brasil, por Dom Joo VI, props, no ano de 1822, s jovens naesdo Continente, um projeto de Tratado de Confederao e Mtua Garantia deIndependncia, com o propsito de assegurar a obra de regenerao da grandefamlia hispano-lusitana, composta de diferentes Estados que, apesar deindependentes entre si, estavam natural e necessariamente unidos em umaconfederao de independncia em relao a qualquer potncia agressora destedireito, o mais sagrado e inalienvel de todas as naes. Este documento notvelfoi divulgado, graas s investigaes do renomado diplomata e escritor venezuelanoSimn Planas Surez19 .

    O pensamento do Brasil em prol da solidariedade continental se evidenciamuito bem nas declaraes do grande estadista e Patriarca da nossa independncia,Jos Bonifcio de Andrada e Silva:

    O sentido comum, a poltica, a razo que nela se baseia, e a crticasituao da Amrica nos esto dizendo, e ensinando a quantos temos

  • O BRASIL E O CONGRESSO ANFICTINICO DO PANAM 175

    ouvidos para ouvir e olhos para ver, que uma liga defensiva e ofensiva dequantos Estados ocupam este vastssimo continente, necessria paraque todos e cada um deles possa conservar intactas sua liberdade eindependncia profundamente ameaadas pelas irritantes pretenses daEuropa

    20.

    Em junho de 1822, Jos Bonifcio de Andrada e Silva, em carta a Rivadavia,dizia:

    .... o mesmo Senhor [ Prncipe D. Pedro ], como Regente do Brasil, nodeseja nem pode adotar outro sistema que no o Americano, e se achaconvencido de que os interesses de todos os Governos da Amrica,sejam quais forem, devem se considerar homogneos, e derivados todosdo mesmo princpio, ou seja: uma justa e firme repulsa contra as imperiosaspretenses da Europa

    21.

    A idia da unidade Americana representava assim uma constante da polticaexterior do Brasil, antes e depois da sua independncia22 .

    Convite da Gr Colmbia e aceitao do Brasil

    Em nota de 07 de junho de 1825, encaminhada ao Governo Imperial doBrasil, o Ministro Plenipotencirio da Colmbia, Manuel Jos Hurtado, ilustre prcerpanamenho, escreve:

    ... em conseqncia de autorizao expressa de seu governo, tem ahonra de chamar a ateno do Cavalheiro de Gameiro, Ministro de suaMajestade o Imperador do Brasil, para um objetivo que ocupa atualmentea solicitude dos estados Americanos Confederados...O Istmo do Panam o lugar interinamente proposto para as sesses. Alocalizao da Assemblia ser fixada definitivamente mediante pluralidadede votos de seus membros.Fcil perceber pela exposio precedente que entre os objetos dedeliberao da Assemblia h alguns de considervel importncia, quedizem respeito no somente aos Governos estabelecidos nas Provnciasantes Espanholas, mas tambm s demais potncias americanas; eparticularmente ao Governo de S. M. I. Brasiliense.A todos os Povos Americanos importa formar relaes mtuas de amizadee comrcio, evitar dissenses que possam conduzir a rupturas, e ajustaros pontos controvertidos do direito de gentes; ajuste que tanto convm humanidade.Alm disso, os novos estados tm o interesse comum de consolidar suasinstituies nascentes; objeto, para cuja consecuo parece

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    indispensvel a boa harmonia entre todos e particularmente entre osestados vizinhos.Se o Governo de S. M. I. B., imbudo destas consideraes, acreditasseconveniente associar-se com os de outros estados Americanos Assemblia, enviando Plenipotencirios que tomassem parte nasdeliberaes de interesse geral, no incompatveis com o carter deneutralidade, o subscrito se acha autorizado para anunciar ao Cavalheirode Gameiro que o Governo da Colmbia veria com a maior satisfao aconsecuo dos objetivos de S. M. I. e empregaria toda a sua influnciajunto a seus aliados para que os representantes de S. M. I. fossemacolhidos com a devida honra e distino

    23.

    Esta nota foi enviada por Gameiro e por Caldeira Brant ao Governo Imperialdo Brasil em 18 de junho seguinte, pelo oficio n 63.

    O Ministro de Negcios Estrangeiros Carvalho e Melo, do Rio de Janeiro,respondeu a Gameiro Pessoa, a 18 de agosto do mesmo ano de 1825. Escreve emsua correspondncia n 58:

    ...tenho pois de participar a V. Sa., para sua inteligncia e regulamento,que S. M. Imperial resolveu aceitar o dito convite depois de reconhecidoeste Imprio pelas Potncias da Europa

    24.

    Em outra correspondncia de n 60, do mesmo 18 de agosto de 1825,escreve Carvalho e Melo a Gameiro Pessoa que:

    ...reinava a melhor inteligncia entre o Imprio do Brasil e aquelaRepblica [Colmbia], o que exato, pois S. M. I. no contrrio Colmbia, nem aos outros Estados Republicanos, com os quais desejaconservar a melhor harmonia...

    25.

    O agente diplomtico brasileiro em Londres, Ministro Manuel RodriguesGameiro Pessoa, em nota, em francs, de 30 de outubro de 1825, dirigida ao ministroPlenipotencirio da Colmbia, na mesma cidade, Senhor Manuel Jos Hurtado,comunicou que o Imperador Dom Pedro I aceitou o convite. Escreveu, ento:

    A poltica do Imperador, to deferente e generosa como , estar semprepronta para contribuir para a paz, felicidade e glria da Amrica, e assimque a negociao relativa ao reconhecimento do Imprio estiver concludahonrosamente no Rio de Janeiro, enviar um Plenipotencirio aoCongresso para tomar parte nas deliberaes de interesse geral, quesejam compatveis com a estrita neutralidade que guarda entre os estadosbeligerantes da Amrica e da Espanha

    26.

  • O BRASIL E O CONGRESSO ANFICTINICO DO PANAM 177

    A 9 de novembro de 1825, Gameiro Pessoa envia ao Ministro Carvalho eMelo cpia da nota remetida ao Sr. Hurtado em 30 de outubro anterior. Informa aele, no mesmo dia 9 de novembro, que havia recebido no dia dois de novembro,cpia do Tratado de Paz, Amizade e Reconhecimento celebrado entre Brasil ePortugal, em 29 de agosto. Prosseguindo, Gameiro recorda a promessa, feita peloGoverno do Brasil ao Ministro da Colmbia, em Londres, de nomear umplenipotencirio para o Panam. Gameiro conclui seu oficio secreto n 63, de 30 denovembro de 1825, com este pargrafo:

    Em conversao que tive com o Ministro da Colmbia, avancei aproposio de que, estando a cidade de Par [Belm] no ponto maiscentral da Amrica, e o mais prximo da Europa, era ali que se deveriaminstalar os futuros Congressos Americanos e parece-me que esta idiadeve ser reproduzida no Congresso de Panam, e que ao menos se deveadotar o princpio de alternar-se o lugar das subseqentes reunies.

    27

    interessante observar que a XXIV Assemblia Geral da Organizaodos Estados Americanos se realizou em Belm, em junho de 1994. Esta a cidadeonde nasceu o Embaixador Joo Clemente Baena Soares, que ento completavaseus dez anos de servio como Secretrio Geral.

    O Libertador compreendeu e aprovou plenamente a iniciativa de Santander,de convidar o Brasil.

    A atitude correta de Dom Pedro I, no episdio de Chiquitos, desfezapreenses. Depois de Ayacucho, o Governador espanhol quis colocar esta Provnciado Alto Peru sob a proteo temporria do Imprio do Brasil. A mesma Junta deMato Grosso que acatou condicionalmente a solicitao, anulou esta sua resoluoantes mesmo de receber resposta, absolutamente negativa, por parte de DomPedro I.

    Fez-se claro, tambm, que os vnculos sanguneos do Imperador comFernando VII (era seu sobrinho) no significavam simpatias polticas peloabsolutismo, e pela assim chamada Santa Aliana. Muito ao contrrio, o Governodo Brasil temia suas ameaas e planos de reconquista.

    Antes e depois do Congresso do Panam, Simn Bolvar manifestou muitasvezes seu apreo pelo Brasil. Ao receber Luis de Souza Dias, Enviado Extraordinrioe Ministro Plenipotencirio do Brasil, em Bogot, em 30 de abril de 1830, disse oLibertador:

    A misso de que vindes encarregado da parte de S. M. o Imperador doBrasil junto ao Governo da Colmbia me enche de satisfao, porque elaser um vnculo de amizade entre ambas as naes. O Imprio do Brasil,recentemente criado por seu ilustre monarca, uma das garantias maispoderosas que as Repblicas de Amrica receberam, no processo de sua

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    independncia. Dando o vosso soberano o louvvel exemplo de aceitarespontaneamente a constituio mais liberal, fez-se credor do aplauso eda admirao do mundo.

    28

    Manifestaes de outros pases favorveis ao convite ao Brasil

    Vrios homens pblicos hispano-americanos expressaram apoio presenado Brasil no Panam.

    Os delegados da Amrica Central, Monsenhor Antonio Larrazabal e PedroMolina, em ofcio dirigido, do Panam, em 1 de maio de 1826, ao Secretrio deEstado e do Despacho de Relaes de seu pas, escreveram:

    Nada devemos ocultar de quanto nos parece que o governo deve terpresente para o acerto nas resolues indicadas, e neste conceitomanifestamos que nos parece conveniente a admisso dosplenipotencirios brasileiros, porque o Congresso seria visto na Europacom tanto mais respeito e considerao, quanto maior seja o nmero dasnaes que represente; e mais ainda, tendo o apoio da Gr Bretanha ...Alm disso, deve-se ter em considerao no causar desaire Colmbia,que pelos seus convites Gr Bretanha e ao Brasil, se acha de certamaneira comprometida.

    29

    importante tambm ressaltar que a Gr Bretanha contribuiu, tanto paraque a Colmbia estendesse o convite ao Brasil como para que este o aceitasse.30

    A Gr Bretanha recebeu o convite por intermdio da Legao da Colmbiaem Londres, a 11 de janeiro de 1825. Diligenciou-a Manuel Jos Hurtado. Tratava-se de obter o importante apoio de Londres para a consolidao da independnciadas novas nacionalidades da Amrica, ameaada por planos da Santa Aliana emfavor de Madri.

    O Reino Unido nomeou, em maro de 1826, Mr. Edward James DawkinsMinistro Plenipotencirio no Panam. Chegou ao Istmo acompanhado de doissecretrios, em 2 de junho de 1826.31

    No dia 7 de novembro de 1825, Hurtado conferenciou com George Canninge em sua correspondncia oficial escreveu:

    Canning me disse que a Gr Bretanha faria uso de toda a sua influnciacom o Imperador [do Brasil] para decidi-lo a este passo.

    32

    O chanceler mexicano, Lucas Alamn, escreveu ao Ministro peruanoSnchez Carrin: Julga igualmente (meu Governo) que seria importante que oGoverno de Brasil fosse convidado para o Congresso do Panam, pois embora suaforma de governo seja diferente das demais do Continente Americano, como osassuntos que vo ser tratados no se referem poltica interior das naes

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    americanas, mas somente exterior, parece que essa diversidade no deve serobstculo para que aquele governo concorra aos objetivos dos demais.33Os plenipotencirios bolivianos Jos Mara Mendizbal e Mariano Serrano,nomeados por Sucre, estavam autorizados a aceitar o Brasil, com a maioria, comomembro da Confederao34 . Sanchez Carrin, do Peru, desejava convidar o Brasile o Haiti para o Congresso.

    Escreve o internacionalista mexicano Francisco Cuevas Cancino sobre amatria: O governo que convida [Peru] e os primeiros pases convidados reagiramde idntica maneira sobre um ponto e sobre a circular bolivariana: era imperiosoincluir o Brasil. Por sua posio central dentro do Continente, por sua imensaextenso territorial e pela necessidade de alcanar, a partir de um princpio, auniformidade no sentir das raas latinas do Novo Mundo, consideraram necessrioenglob-lo dentro de uma profunda anfictionia. Havia, no obstante, objees,derivadas do sistema monrquico adotado pelo Brasil; da as sutilezas ecaractersticas diplomticas35 .

    O plenipotencirio brasileiro Theodoro Jos Biancardi e possveis motivospara a ausncia do Brasil

    Por decreto de 25 de janeiro de 1826, firmado pelo Visconde de Inhambuquede Cima ( Pereira da Cunha) e rubricado por Dom Pedro I, foi nomeadoPlenipotencirio do Brasil junto ao Congresso do Panam, o Comendador TheodoroJos Biancardi por gozar das necessrias qualidades de luzes, dexteridade epatriotismo36 .

    Nascido em Lisboa pelo ano de 1777 chegou ao Brasil ao redor de 1816.Tornou-se brasileiro em conformidade com o artigo 6 da Constituio de 1824,pargrafo 4. Comendador das Ordens de Cristo (12-10-1825) e da Rosa(18-10-1829), foi do Conselho de Sua Majestade Imperial e Oficial-Maior da Secretariade Estado dos Negcios do Imprio e da Cmara dos Deputados. Coube-lhe aredao final do Dirio da Constituinte de 1823. Escreveu vrios trabalhos.37

    Em setembro de 1826 Jos Alexandre Carneiro Leo (Visconde de SoSalvador de Campos) foi nomeado Ministro do Brasil na Colmbia. Nas instruesenviadas a ele, l-se:

    No devero tambm merecer a Vossa Excelncia menos cuidado ospassos que tem dado esse governo relativamente ao Congresso doPanam a fim de explicar as disposies que ele tenha tomado a tal respeito,e se ser necessria nossa cooperao para suas decises

    38.

    Como outros pases americanos convidados, que se independizaram antesde 1826 (Argentina, Bolvia, Chile, Estados Unidos), o Brasil no logrou comparecerao Congresso do Panam. Isto se atribui a diversas razes.

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    A agenda do Congresso no previa a discusso de formas de governo.O Reino Unido, uma monarquia, esteve presente. A Constituio brasileira de1824 era a de uma monarquia constitucional. Sem embargo, houve notcias de quese introduziriam manifestaes a favor do sistema republicano. Elas poderiam tercontribudo para que a Corte do Rio de Janeiro no se empenhasse maiormente noenvio de seu representante.39

    Em 1825 j ocorriam hostilidades militares entre Buenos Aires e Rio deJaneiro por motivo do litgio sobre o territrio do atual Uruguai. As notcias do nocomparecimento de Buenos Aires ao Panam podem ter infludo no sentido de queo Governo do Brasil procedesse de igual forma. Dom Pedro I era contrrio discusso deste tema no congresso, mas a possvel presena de Buenos Aires e olevantamento deste conflito por seu representante poderia ser estmulo para queum delegado do Brasil expusesse sua posio. Como se sabe, aps negociaes,com a mediao da Inglaterra, Argentina e Brasil assinaram em 27 de agosto de1828, no Rio de Janeiro, Conveno Preliminar de Paz, garantindo ambos aindependncia do Uruguai.40

    No se podem desconsiderar, por outro lado, os problemas na poca, deuma viagem longa e difcil. O grande prcer Pedro Gual, um dos dois representantesda Colmbia, demorou um ms, s de Bogot a Cartagena. No havia comunicaesregulares e diretas entre Brasil e Panam. Havia motivos srios para imaginar-seque no se chegaria, a tempo, ao destino. H notcias de que Theodoro JosBiancardi haja comeado a viagem e a tenha interrompido em Salvador da Bahia. tambm possvel que tenha adoecido nesta provncia.41

    Sculo XX

    No sculo XX h numerosas manifestaes, no Brasil, de interesse e apreopelo Congresso Anfictinico de 1826.

    Participao no Congresso de 1926

    Argeu Guimares, delegado do Brasil ao Congresso do Panam de 1926,comemorativo do centenrio do anterior de mesmo nome, props um voto, aprovadopor aclamao, segundo o qual a Assemblia: registrou em seus Anais umalembrana piedosa, e tributou uma homenagem de respeito memria dos delegadosda Amrica, que, designados para assistir ao Congresso de Bolvar, porcircunstncias independentes de sua vontade, no puderam comparecer ao Istmo,sendo, entretanto, fiis intrpretes dos sentimentos pan-americanos dos Governosque corresponderam ao convite de Simn Bolvar42 . Entre os homenageadosestava Theodoro Jos Biancardi.

  • O BRASIL E O CONGRESSO ANFICTINICO DO PANAM 181

    Presena na reunio de Presidentes de 1956

    Foi no mesmo local de 1826 que, por convite do Presidente do Panam,Dr. Ricardo M. Arias Espinoza, ocorreu a primeira reunio de Presidentes dasRepblicas Americanas. A sesso especial comemorativa do 130 aniversrio doCongresso Anfictinico realizou-se em 18 de julho de 1956. Pela primeira vez, umPresidente do Brasil, o Dr. Juscelino Kubistchek, visitou o Panam.

    Em seu discurso de 23 de julho de 1956, em sesso de homenagem aoCongresso Anfictinico, o Presidente Juscelino Kubistchek declarou:

    Seremos livres, protegeremos a dignidade do ser humano, seconseguirmos dominar a misria. A consolidao de tudo o que foirealizado pelo fundador, o idealizador do Congresso do Panam em 1826,est ligada ao melhoramento do nvel de vida de todos os povos. Aunidade do continente, que constitui a substncia mesma da idia pan-americana de Bolvar, est hoje associada e intimamente relacionada como esforo para a eliminao da pobreza...

    43

    A Declarao do Panam, firmada pelas Repblicas Americanas, em 22de julho de 1956, considerou a Assemblia de 1826 como a primeira manifestaocoletiva de Pan-americanismo e reconheceu a contnua validade dos ideais queinspiraram os precursores da solidariedade continental.

    Naquela oportunidade estabeleceram-se normas para combater a fome, apobreza, a ignorncia, as enfermidades e a misria em todos os pases44 .

    Os originais das Atas do Congresso Anfictinico de 1826

    De 22 de junho a 15 de julho de 1826, na cidade do Panam, as Delegaes(compostas cada uma de dois Plenipotencirios) da Colmbia, Centro Amrica,Estados Unidos Mexicanos e Repblica do Peru, realizaram dez conferncias. Osoito representantes assinaram cada um dos Protocolos ou Atas.

    O itinerrio destas Atas tem sido matria de muitos estudos e pesquisas.Em 1976, o Dr. Ernesto J. Castillero R., ex-Presidente da Sociedade

    Bolivariana do Panam, publicou em seu pas, o livro Bolvar en Panam. Gnesisy realidad del Pacto Americano. Las Actas extraviadas del congreso deBolvar de 1826. Nele afirma que um Protocolo Geral, destinado a formar oArquivo da Assemblia, com todos os documentos correspondentes suaSecretaria, foi organizado e confiado, ao Dr. Pedro Gual, Delegado e Ministro dasRelaes Exteriores da Colmbia, qual pertencia ento a sede do congresso, oIstmo do Panam. E logo informa o autor: Don Pedro, sin duda, fue quien facilital general Florencio O Leary, Edecn y custodio del archivo del Libertador, las

  • 182 JOS CARLOS BRANDI ALEIXO

    copias de las Actas de Panama, que figuran en las MEMORIAS del primero,volumen XXXV, titulado PROTOCOLOS.

    Dado que en los Archivos de la Nacin de Colombia, ni en los de Venezuela,aparecen sus originales, es de suponer que el Dr. Gual conserv entre sus papelesmientras vivi en Ecuador, donde falleci [6-5-1862], la documentacin del Congresode Panam de 1826....45

    A ntegra das Atas e de outros documentos referentes ao congressoencontra-se na Collecin de Ensayos i Documentos relativos a la Unin iConfederacin de los Pueblos Hispano-Americanos, publicada en Santiago deChile, en 1862.46

    Em 1944 o renomado internacionalista chileno Julio Escudero Guzmanpublicou nos Anales de la Faculdad de Ciencias Juridicas y Sociales da Universidadedo Chile o artigo Las Actas extraviadas del Congreso de Panam de 1826 47.Afirmou a que o enigma do paradeiro das Atas extraviadas se resolveu,definitivamente, ao adquirir, a Chancelaria brasileira, fazia pouco tempo, das mosde um particular, os preciosos documentos. Informou, outrossim, o autor, que oChanceler brasileiro Oswaldo Aranha, em sua visita a Santiago, em novembro de1941, ao ser recebido na Faculdade de Direito, em sesso solene, doou a ela cpiafotosttica das Atas48.

    Sesquicentenrio do congresso do Panam e regresso das Atas

    No dia 19 de novembro de 1975, uma Misso especial panamenha entregouao Presidente do Brasil, Ernesto Geisel, um convite do Presidente da Repblica doPanam, para participar da Reunio de Chefes de Governo da Amrica Latina, arealizar-se na capital do pas stmico em 26 de junho de 1976.

    Integravam a Misso o Vice-Presidente do Panam, Gerardo Gonzlez,seu Chefe, o Presidente da Corte Suprema, Juan Materno Vsquez e o Presidenteda Assemblia Nacional Panamenha, Dario Gonzlez Pitti.

    No dia 21 de junho de 1976, houve em Braslia, no Ministrio das RelaesExteriores, solene comemorao do sesquicentenrio do Congresso do Panam,com a presena do Presidente da Repblica Ernesto Geisel e outras autoridadesdo Brasil, e grande nmero de embaixadores estrangeiros. Na oportunidade, oembaixador lvaro Teixeira Soares proferiu importante conferncia sobre o tema.Nesta mesma data, o Presidente Geisel anunciou a momentosa deciso mencionadano incio deste trabalho de depositar, no Panam, os originais das Atas do histricoConclave:

    O Brasil no poderia estar ausente das comemoraes com quetoda a Amrica celebra o Sesquicentenrio do Congresso Anfictinicodo Panam, realizado em 1826.

  • O BRASIL E O CONGRESSO ANFICTINICO DO PANAM 183

    Os ideais de fraternidade e colaborao, ento apresentados,desenvolveram-se de maneira extraordinria e constituem hoje o maisvalioso patrimnio do continente.

    O Governo brasileiro, ao unir-se s homenagens que ora se prestam figura de Simn Bolvar e a seu iderio pan-americano, e conhecendoo desejo dos pases bolivarianos, decidiu depositar, junto ao Governo daRepblica do Panam, no monumento que, para tal fim, ser erigidonaquele pas, os nicos originais existentes das Atas daquele Congresso,conservados no Arquivo Histrico do Ministrio das Relaes Exteriores.Braslia, em 21 de junho de 1976. Ernesto Geisel.49

    As Atas do congresso do Panam foram expostas durante a Cimeira deChefes de Estado e de Governo da Amrica Latina e da Europa, realizada, no Riode Janeiro, aos 28 e 29 de julho de 1999. Numa cerimnia que reuniu os presidentese chanceleres dos pases bolivarianos e seus embaixadores no Brasil, o Secretrio-Geral do Ministrio das Relaes Exteriores, Embaixador Luiz Felipe de SeixasCorra, em representao do Presidente da Repblica, Fernando Henrique Cardoso,reiterou o propsito do governo do Brasil de depositar as Atas no Panam50.

    De 10 a 12 de abril de 2000, em visita a Braslia, o Chanceler do Panam,Sr. Jos Miguel Alemn, frente de ilustre delegao, reuniu-se com autoridadesdo pas e membros da Sociedade Bolivariana da Repblica Federativa do Brasil.Apresentou o Proyecto para la nueva sede del Ministerio de Relaciones Exterioresde la Republica de Panama e exibiu vdeo sobre o andamento das reformas doedifcio onde ocorreu o conclave de 1826, situado no Casco Antiguo da cidadedo Panam, declarado, pela UNESCO, Patrimnio da Humanidade.

    Aos 30 de junho de 2000, por iniciativa dos embaixadores dos PasesBolivarianos e da Sociedade Bolivariana da Repblica Federativa do Brasil, houve,em Braslia, na Embaixada da Repblica Bolivariana da Venezuela, sessocomemorativa do 174 aniversrio do Congresso Anfictinico do Panam.A importncia deste conclave foi ressaltada por todos os oradores, sendo que oVice-Presidente da Sociedade Bolivariana, Pe. Jos Carlos B. Aleixo, e oEmbaixador Luiz Felipe Seixas Corra, Secretrio Geral do Itamarati e Chancelerem exerccio, ressaltaram tambm o alto significado do traslado das Atas do Riode Janeiro para o Panam.

    Consideraes finais

    A transferncia das Atas do Congresso de 1826, do Brasil para o Panam, mais um exemplo eloqente dos mltiplos e slidos vnculos de amizade entre osdois pases51 , e concomitantemente outra demonstrao do alto apreo do Brasilpela figura excelsa do Libertador e seus ideais de paz, justia e unio dos povos.

  • 184 JOS CARLOS BRANDI ALEIXO

    grato recordar que, recentemente, em 1994, o 6 Batalho de Engenharia deConstruo, com sede em Boa Vista, Roraima, recebeu do Ministro de Estado doExrcito o honroso nome de Bolvar52 . Acontecimentos auspiciosos como estescomprovam plenamente a procedncia das palavras profticas que dirigiu aoLibertador o inspirado Cura de Pucar, Alto Peru, hoje Bolvia, Pe. Jos DomingoChoquehuanca, em 17 de junho de 1825:

    Com o tempo, crescer vosso nome como cresce a sombra quando o Soldeclina.

    53

    Julho de 2000

    Notas

    1 O licenciado Anibal Illueca Sibauste, Presidente da Sociedade Bolivariana do Panam, publicou,em Loteria, Revista Cultural, de maio-junho 1996 (n 407, pp 6-19), o elucidativo artigo LasActas Originales del Congreso Anfictinico de 1826. Nele se encontram valiosas informaessobre meritrias gestes de acadmicos e autoridades do Brasil e do Panam destinadas asatisfazer as condies prvias, necessrias para a transferncia das Atas. Ver tambm: ILLUECA,Anibal: El Congresso Anfictinico de 1826 como Contribucin de America al DerechoInternacional. Loteria Revista Cultural Panam, LI (388) mar.abr. de 1992, pp. 34-47.

    2 Preparado o Monumento, as Atas retornam ao Panam menos de 25 anos aps a deciso dogoverno do Brasil a respeito. Cabe recordar que o tempo entre algumas outras deliberaes esuas implementaes foi maior. A inaugurao do Farol de Colombo em So Domingos ocorreuem 1992, quase 70 anos depois da resoluo da 5 Conferncia Internacional Americana, realizadaem 1923, em Santiago, Chile. O busto do internacionalista Frei Francisco de Vitria foi colocado,em Washington, na sede da Organizao dos Estados Americanos, em 8 de outubro de 1963,mais de 29 anos aps Resoluo da 7 Conferncia Internacional Americana, ocorrida emMontevidu, em 1933.

    3 BOLIVAR, Simn. Circular de Lima. 7-12-1824. Obras Completas de Bolvar Caracas Ministrio de Educao Nacional Compilao e notas de Vicente Lecuna, s. d. Vol II, p. 52.

    4 Idem, Ibidem. Vol. I, pp. 172-3. As Ligas Anfictinicas da Grcia reuniam habitantes dos arredores de um Santurio para sua defesa e mtua cooperao. Porevoluo histrica, a palavra anfictionia passou a designar associao poltica e tambmfederao. A anfictionia de Delfos pode ter inspirado associaes congneres. Bolvar imaginounova anfictionia, de propores geogrficas muito maiores, e que eventualmente unisse povosdiversos para a defesa de grandes ideais comuns.

    5 PEREIRA JIMENEZ, Bonifacio. Historia de Panam Panam Litografia, 1969, p. 230.6 YEPES, Jesus Maria. Del Congresso de Panam a la Conferncia de Caracas. 1826-1954.

    Caracas. Oficina Central de Informao, 1976, p. 76. Ver tambm: MARTIN, Miguel Angel. ElCongreso Anfictionico de Panama de 1826. Loteria. Revista Cultural. Nos 328-9: 16-27, jul.ago.de 1983.

    7 YEPES, Jesus Maria. Op. Cit. pp. 75-6.8 GARCIA BAUER, Carlos. Universalismo y Panamericanismo. Guatemala. Editorial

    Universitaria, 1968, p. 41.

  • O BRASIL E O CONGRESSO ANFICTINICO DO PANAM 185

    9 PRADELLE, Albert de La. Prefcio da obra de T. KORMANICKI. La questin de lintegritterritoriale dans le Pacte de la Societ des Nations. Paris, 1923. Apud YEPES, J. M. Op. cit. pp.76-7.

    10 YEPES, Jesus Maria. Op. cit. p. 82. O texto completo do tratado se encontra nas pginas 93 a102. Est tambm em GARCIA BAUER, Carlos. Universalismo y Panamericanismo.Guatemala, Editorial Universitaria, 1968, pp. 159 a 167 e outros autores.

    11 ILLUECA, Anbal. El Congresso Anfictinico de 1826. Lotera, Panam, mar. abr. 1992,p. 43.

    12 Joo Paulo II Sull esempio di Simon Bolvar costruite unautentica libert LOsservatoreRomano, Vaticano, 19-12-1980, pp. 1-2. A homilia est em espanhol. O texto encontra-se,tambm, na edio semanal em portugus do mesmo peridico. A exemplo de Simn Bolvar,constru uma liberdade autntica. 28-12-1980, (785): 5.

    13 ILLUECA, Anibal. Art. cit. p. 43.14 Coleo dos Tratados, Convenes e Actos Pblicos celebrados entre a Coroa de Portugal e as

    mais potncias desde 1640 at ao presente. Compilados, coordenados e anotados por JosFerreira Borges de Castro. Lisboa, Imprensa Nacional, 1856, volume 4, pp 34-35. Neste artigoXXI utiliza-se a expresso boa vizinhana mais de 180 anos antes de seu emprego peloPresidente estadunidense Franklin D. Roosevelt. (Good Neighbourhood) Na poca AmricaMeridional abarcava desde o Mxico at a Patagnia. Ampla a bibliografia sobre o tema. Soexemplos: CORTESO, Jaime. Alexandre Gusmo e o Tratado de Madri Rio de Janeiro,Instituto Rio Branco, s.d., 8 vol.; GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, Bandeirantes,Diplomatas. Um ensaio sobre a formao das fronteiras do Brasil. So Paulo, Martins Fontes,1999; HERMES. J. S. da FONSECA E BASTO, Murilo de Miranda Limites do Brasil Florianpolis, 1940. JORGE, A. G. de Arajo Ensaios de histria e crtica. Rio de Janeiro,Servio de Publicaes do Instituto Rio Branco, 1916. (Um dos ensaios intitula-se Alexandrede Gusmo, o av dos diplomatas brasileiros); OCTAVIO, Rodrigo. Alexandre de Gusmo etle sentiment amricain dans la Politique Internationale. Paris Recuel Sirey, 1930.

    15 VIANA, Hlio: Histria do Brasil, So Paulo, Melhoramentos - 1992, p.389; O Cabug, derevolucionrio a diplomata (1817/1839) . In Vultos do Imprio - So Paulo, l968, pp.6-30

    16 CHACON, Vamireh Abreu e Lima, General de Bolvar Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983;COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Jos Igncio de Abreu e Lima. Dicionrio dePernambucanos Clebres. Recife, Universal, 1882, pp 549-570. A pedido do Libertador,Abreu e Lima escreveu em sua defesa, Resumen Histrico de la ultima Dictadura del LibertadorSimon Bolvar comprobado con documentos; trabalho publicado no Rio de Janeiro em 1922 ereeditado em Caracas em 1983. Jos Incio de Abreu e Lima autor tambm de: Compndio daHistria do Brasil pelo General J. I. de Abreu e Lima. Rio de Janeiro, Laemmert, 1843, 2 vol.(Biblioteca do Senado Federal, Braslia); Synopsis, ou Deduo Chronologica dos fatos maisnotveis da Histria do Brasil . Recife, M. F. de Faria, 1845. (Biblioteca do Ministrio daJustia e Biblioteca Pedro Aleixo, da Cmara dos Deputados, Braslia). Moacyr Werneck deCastro, em seu livro O Libertador. A vida de Simn Bolvar (Rio de Janeiro. Rocco, 1998 p.163), diz que Abreu e Lima participou de vrias batalhas, entre as quais a de Ayacucho.

    17 LYRA, Heitor. Ensaios Diplomticos So Paulo, Monteiro Lobato LC. 1922, p.180; OLIVEIRALIMA, Manual de Notas Histria da Revoluo Pernambucana de 1817, de MonsenhorMuniz Tavares, Rev. Americana, V(5): 124-125.

    18 LYRA, Heitor. Ensaios Diplomticos So Paulo, Monteiro Lobato LC. 1922, pp.180-181.19 SILVA, Geraldo Eullio de Nascimento e. Influncia Brasileira na Gnese do Panamericanismo.

    Separata do Boletim da Sociedade Geogrfica de Lisboa, jan.fev. 1971, p.4. Aqui se diz tambmque Pinheiro Ferreira designou um agente de nome Schmidt, para servir junto a Bolvar.

  • 186 JOS CARLOS BRANDI ALEIXO

    Nas palavras do respeitvel historiador colombiano Raimundo Rivas, Silvestre Pinheiro Ferreirafigura com razo como um dos iniciadores da Sociedade das Naes e mais perspicazessustentadores de sua causa. (Historia Diplomatica de Colmbia, 1810-1934 . Bogot, D. E.Imprenta Nacional, 1961, p. 89). Ver tambm: FERREIRA REIS, Arthur Csar. PrimeirasManifestaes Panamericanistas do Brasil. Revista do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileirovol 215: 169-182, abr. jun. 1952.

    20 LOBO, Fernando. El Brasil. Bolvar y el Panamericanismo, Caracas, l952, p.5. O Governo doBrasil colocou, na sede da Organizao dos Estados Americanos, em Washington, o busto deJos Bonifcio, para representar seu pas, ao lado de bustos de prceres de outros pasesirmos.

    21 SILVA, Geraldo Eullio de Nascimento e. Op. cit. p.5.22 SILVA, Geraldo Eullio do Nascimento e. Ibidem; FERREIRA REIS Arthur Czar. Primeiras

    Manifestaes Panamericanistas do Brasil. Revista do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro.Vol. 215: 168-182, abr/jun. 1952.

    23 Arquivo diplomtico da Independncia. Edio facsimilada da edio de 1922. Ministrio dasRelaes Exteriores. 1972. vol. II, pp. 280-1. Ver tambm MELLO, Arnaldo Vieira de. Bolvar,o Brasil e os nossos vizinhos do Prata. (Da questo de Chiquitos guerra da Cisplatina). Riode Janeiro. Grfica Olmpica Editora, 1963.

    24 Ibidem. vol. I, p. 119.25 Ibidem. vol. I, p. 122. Vale observar que Portugal, estando ainda Dom Joo VI no Rio de Janeiro,

    foi o primeiro pas a reconhecer a independncia da Colmbia. Ver Raimundo RIVAS: HistoriaDiplomatica de Colmbia (1810-1934), Bogot, Imprenta Nacional, 1961, p. 89. Os EstadosUnidos s o fizeram em 19 de junho de 1822, quando o dedicado Manuel Torres foi recebido emaudincia pelo Presidente James Monroe. WHITAKER, Arthur. Os Estados Unidos e aIndependncia da Amrica Latina (1800-1830). Belo Horizonte, Itatiaia, 1966 p. 264.

    26 ZUBIETA, Pedro A. Congreso de Panam y Tacubaya, Bogot, Imprenta Nacional, 1912,p.35.

    27 Arquivo Diplomtico da Independncia. vol. II, p. 313. Ver tambm Arnaldo Vieira de MELLO.Op. cit., pp. 289-90.

    28 BOLVAR, Simn. Obras completas. Caracas. Ministrio de Educao Nacional, s.d. vol. III,p.820. O Brasil proclamou sua independncia em 7 de setembro de 1822 e adotou sua primeiraCarta Magna em 25 de maro de 1824. Outro exemplo elucidativo o da Mensagem que enviouBolvar, em 15 de outubro de 1827, a Jos Antonio Sucre, Presidente da Bolvia. Nela, diz ele:Le aconsejo a Ud. por todos los medios decorosos trate de obtener y conservar una buenaharmona con el gobierno brasileo. La poltica lo exige. Y lo exigen los intereses de Bolvia enparticular y de la America en general. Nada nos importa su forma de gobierno; lo que nosimporta es su amistad. Y esta ser ms estable cuanto ms centrado sea su sistema. Apud J. L.SALCEDO BASTARDO. Prologo al libro de Nestor dos SANTOS LIMA. La Imagen delBrasil en las cartas de Bolvar, Rio de Janeiro, Banco do Brasil, 1978, p. 10.

    29 RODRGUEZ CERNA, Jos. Centro Amrica en el Congreso de Bolvar. (Contribuicindocumental, indita para la historia de la primera asamblea americana). Guatemala, C.A.1938, p. 116.

    30 CASTILLERO, Ernesto J. Bolvar en Panam. Gnesis y realidad del Pacto Americano.Panam, 1976. Reimpresso de 1995, p.37.

    31 Idem. Ibidem.32 VELARDE, Fabian y Escobar, Felipe J. El Congreso de Panam de 1826. Panam, Editorial

    Minerva, 1922, IV, p.52. Apud TEIXEIRA SOARES, lvaro. Sesquicentenrio do CongressoAnfictinico do Panam 1826-1976. Braslia - Ministrio das Relaes Exteriores 1976,p.4 Edio de luxo. A conferncia aparece depois da cpia facsimilada das Atas do Congresso.

  • O BRASIL E O CONGRESSO ANFICTINICO DO PANAM 187

    33 El Congreso de Panam. 1826. Lima, Arquivo Diplomtico do Peru, 1930, p.298; Bolvar en laCancillera Mexicana compilao e notas introdutrias de Edgar Gabaldn Marquez. Mxico.Secretaria de Relaes Exteriores e Universidade Nacional Autnoma do Mxico 1983, p. 103.

    34 CUEVAS CANCINO, Francisco. Del Congreso de Panam a la Conferncia de Caracas,1826-1954. Caracas. Ragon, 1955, Tomo I, p.94.

    35 Idem. Ibidem, p. 9536 Eis o texto, na ntegra, na grafia da poca: DECRETO de 25 de janeiro de 1826. Nomeia o

    Plenipotencirio brasileiro para o congresso que deve se reunir em Panam. Desejando satisfazerao convite que me fizera o Governo de Columbia por intermdio de Meu Plenipotenciario emLondres, para que eu houvesse de tomar parte no congresso que se deve reunir em Panam, como fim de se proporem, discutirem, e deliberarem as importantes medidas que sirvam de estabelecere formar os futuros destinos dos diferentes Estados Independentes Americanos, concordandonos verdadeiros princpios de suas relaes polticas entre si, tendo a devida ateno aoslegtimos e bem entendidos interesses das Potncias Europias, e geralmente das outras partesdo mundo civilizado, segundo a forma de seus respectivos governos, e os luminosos princpiosdo direito das gentes, e publico universal; e devendo esta comisso de tanto peso ser confiada apessoa, que por suas luzes, dexteridade e patriotismo seja capaz de seu desempenho: Hei porbem nomear meu Plenipotenciario no referido congresso de Panam, ao Commendador TheodoroJos Biancardi, do Meu Conselho, e Official-Maior da Secretaria de Estado dos Negocios doImperio, por nele concorrerem aquelas necessrias qualidades. O Visconde de Inhambupe deCima, do Meu Conselho de Estado, Ministro e Secretario de Estado de Negcios Estrangeiros,assim o tenha entendido e faa executar com os despachos necessrios. Palcio do Rio de Janeiroem 25 de janeiro de 1826, 5 da Independncia do Imprio. Com a rubrica de Sua Majestade oImperador. Visconde de Inhambupe. Coleo das Leis do Imprio do Brasil de 1826. Parteprimeira. Rio de Janeiro. Tipografia nacional. 1880, pp. 6 e 7.

    37 Theodoro Jos Biancardi faleceu em Niteri, em 15 de agosto de 1853, tendo visitado Portugalem 1849. Tornou-se brasileiro em razo do artigo 6 da Constituio de 1824: So brasileiros...4) todos os nascidos em Portugal e suas possesses que, sendo j residentes no Brasil na pocaem que se proclamou a independncia nas provncias onde habitavam, aderiram a esta expressaou tacitamente, pela continuao de sua residncia. O jornal O Repblico de 19-4-1831, n 55,p. 01, informa que a Regncia Provisria o substituiu, na Secretaria de Estado dos Negcios doImprio, pelo oficial maior graduado Luiz Joaquim dos Santos Marrocos.So de sua autoria os seguintes trabalhos: Sucessos do Alentejo (Lisboa, Imp. Rgia, 1808,44pp.) onde se ocupa da Restaurao do pas; Cartas Americanas (Lisboa, Imp. Rgia, 1809,196pp. Existe um exemplar na Biblioteca do Itamarati, no Rio de Janeiro), em total de 54, emforma de novela, contam ocorrncias ocasionadas pela invaso francesa; Resposta ao manifestoque fez imprimir em Cadiz o Tenente General Joo Carrafa contra a obra intitulada Sucessosdo Alentejo (Lisboa, Imp. Rgia, 1811, 48 pp.); Reflexes sobre alguns sucessos do Brasil (Riode Janeiro, Tipografia Nacional, 1822, 48pp. H um exemplar, em Braslia, na coleo de obrasraras da biblioteca da Cmara dos Deputados). Biancardi foi redator, em Lisboa, do SemanrioLusitano (Lisboa, Imp. Rgia, 1809 a 1812), e de seu continuador Mercrio Lusitano (Lisboa,Imp. Rgia, de setembro 1812 a 1819). Seu trabalho de redao final do Dirio da Constituinte citado por Jos Theodoro Mascarenhas Menck em A Liberdade Religiosa e o ParlamentoImperial Brasileiro (1823-1889- Braslia, Ser, 1996 p.13).

    38 Carpeta de despachos Legao de Bogot, 5 Apud TEIXEIRA SOARES, lvaro.Sesquicentenrio do Congresso Anfictinico do Panam. 1826-1976. Conferncia de 26 dejunho de 1976. Opus cit. p. 5. L-se em PIVIDAL, Francisco. Bolvar, Pensamiento Precursordel Antimperialismo. Caracas, Ateneo, 1979, p. 216: Biancardi foi substitudo pelo Visconde

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    de So Salvador de Campos, Ministro Diplomtico em Bogot. Sua presena, contudo, noaparece registrada nos documentos do Congresso. Raul Adalberto de Campos observa queJos Alexandre Carneiro Leo (depois Visconde de So Salvador de Campos) foi nomeadoEnviado Extraordinario e Ministro Plenipotencirio em 15 de setembro de 1826. Nota, porm,que no chegou a partir para este posto. Relaes Diplomticas do Brasil de 1808 a 1912. Riode Janeiro. Jornal do Comrcio, 1913, p.34

    39 O historiador brasileiro Argeu Guimares menciona indiscries anti-monrquicas doplenipotencirio colombiano em Washington . Dicionario Bio-bibliogrfico Brasileiro deDiplomacia, Poltica Externa e Direito Internacional, Rio de Janeiro. Edio do Autor, 1938,p.71.

    40 CUEVAS CANCINO, Francisco. Del Congreso de Panam a la Conferencia de Caracas, 1826a 1954. Caracas. Ragon, 1955, tomo I, pp. 96-97. O autor, na nota n 25, cita vrias fontes.

    41 CALMON, Pedro. Histria do Brasil, Rio de Janeiro. J. Olympio, 1971, 3a. ed. vol. 5, pp.1551-1552. O autor, particularmente na nota n 12, cita numerosos trabalhos relevantes sobre otema. Ver tambm MELLO, Arnaldo Vieira de. Bolvar, o Brasil e os nossos vizinhos do Prata.(Da questo de Chiquitos guerra da Cisplatina Rio de Janeiro, Grfica Olmpica, 1963, p.291. Jesus Maria YEPES (op. cit. p. 66) escreve: No ano de 1826, uma viagem de Bogot(Colmbia) ao Panam era mais perigosa, difcil e custosa que fazer em 1953 uma viagem decircunavegao da Terra. O mesmo D. Pedro Gual delegado da Colmbia que saiu de Bogotem 29 de setembro de 1825, no pde chegar ao Panam antes de 11 de dezembro do mesmoano. Harold A. Bierk registra que Gual demorou um ms de Bogot a Cartgena e que l noencontrou embarcao exeqvel que o conduzisse logo ao istmo. Saiu de Cartgena em fins denovembro de 1825. (Vida Pblica de Pedro Gual Caracas. Edies do Ministrio da Educao,1947, pp. 477-8).

    42 GUIMARES, ARGEU. Dicionrio Bio-Bibliogrfico Brasileiro. Rio de Janeiro, 1938, p.71:Congreso Panamericano Conmemorativo de Bolvar. 1826 1926. Panam, Imprensa Nacional,1927, p.169 e p.225. Guimares autor tambm de: A sombra do Itamarati, Rio de Janeiro,Minerva, 1951, 266 pp.; Cafarnaum: Frases, Notas, Colquios, Perfis de Diplomatas. Rio deJaneiro, Organizao Simes, 1956, 275 p.

    43 KUBITSCHECK, Juscelino Discurso no Panam. Jornal do Comrcio, Rio de Janeiro, 24-07-1956; Boletin de la Sociedad Bolivariana de Panam n.55:304, Panam,1957.

    44 FENWICH, Charles. The Organization of American States. Washington, Kaufman Printing,1963, p.11.

    45 CASTILLERO, Ernesto J. Bolvar en Panam. Gnesis y realidad del Pacto Americano. LasActas extraviadas del Congreso de Bolvar de 1826. Panam, R. De P. 1976 p.8. O livro foireimpresso, na cidade do Panam, na Tipografia do Instituto Nacional da Cultura, em 1995.Pedro Gual foi designado representante de Gr Colmbia para a programada continuao doCongresso do Panam, em Tacubaya, Mxico. provvel que haja levado consigo as Atas de1826. Foi demorada e difcil viagem. Seu filho Pedro nasceu em Acapulco, Mxico, em 1826,quando estava com a famlia a caminho de Tacubaya. (BIERK, Harold A. Jr. Vida pblica de DonPedro Gual Caracas.[1947], pp.20, 516). Pedro Gual e Pedro Briceo Mndez, ainda nacidade de Panam, em correspondncia, datada de 30 de julho de 1826, ao Secretrio de Estadode Relaes Exteriores da Colmbia, informaram que um deles [Briceo Mndez] seguiaimediatamente para Bogot, com os seguintes documentos: Primero: copia de los plenospoderes de los dems Ministros Plenipotenciarios que han compuesto esta Asamblea. Segundo:El Tratado de Unin, Liga y Confederacin perpetua firmado el da 15 del presente mes (Este vaen original). Tercero: El convenio a que se refiere el artculo 11 de dicho Tratado. Cuarto: Unaconvencin original sobre contingentes firmada el mismo da 15. Quinto: El concierto a que se

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    refiere el artculo 2 de la misma convencin. Sexto: Copia de las declaraciones que cremosconveniente dar a los dems Ministros Plenipotenciarios sobre quedar refundidos en los Tratadosdichos, todos los que se haban hecho anteriormente sobre esta misma materia con las reservacionesque en ellos se especifican a fin de evitar en lo sucesivo la confusin que necesariamente debadimanar de interpretar los unos por los otros; y las aceptaciones de dichos Ministros. Septimo:Copia del Protocolo de las Conferencias. Memorias del General O Leary. Edicin facsimilardel original de la primera edicin, con motivo de la celebracin del Sesquicentenario de la Muertede Simn Bolvar, Padre de la Patria. Barcelona Grafesa, 1981 Tomo XXIV Documentos,pp. 371-373. O livro original foi publicado em Caracas, 1884, pela Grfica El Monitor, poriniciativa de Simn B. OLeary, filho do General OLeary, sob os auspcios do Presidente daVenezuela, General Guzmn Blanco.

    46 Collecion de Ensayos, Documentos relativos a la Unin, Confederacin de los Pueblos Hispano-Americanos, Santiago de Chile, Sociedad de la Unin Americana de Santiago de Chile, 1862. Hdeste valioso livro um exemplar em Braslia, na Biblioteca da Cmara dos Deputados. Nasegunda parte deste livro, consta a seguinte informao: El 16 de julio [1826] se cerraron lassesiones; el 24 se remitieron al Per, para la aprobacin de Bolivar, los protocolos originales dela asamblea. Son estos mismos preciosos testimonios, nica constancia autentica que queda deaquel primer ensayo de fraternidad americana, los que nosotros tuvimos la suerte de consultaren el archivo del Congreso del Per, i de los cuales recojimos los datos que publicamos. Vidaurrevino a Lima, siendo portador de aquellas piezas. (VICUA MACKENNA, B. EstudiosHistoricos, p.151).As Atas encontram-se tambm em: Ricardo ARANDA. Congresos y ConferenciasInternacionales en que ha tomado parte el Per. Lima, Ministerio de Relaciones Exteriores,Imprenta de la Revista, 1909. tomo Primero, pp. 935-948; Archivo Historico DiplomaticoMexicano, n XIX, El Congreso de Panama y algunos otros proyectos de UninHispanoamericana, Mexico, Secretaria de Relaciones Exteriores, 1926, pp. 42-54; FabianVELARDE e FELIPE J. ESCOBAR Jr. El Congreso de Panama, Panama, Editorial Minerva,1922, 168pp.; International American Conferences. Reports of Committees and DiscussionsThereon, Washington, 1889-1890, 4 vol.As Memrias del General OLeary, foram publicadas por seu filho Simon B. OLeary, emCaracas, El Monitor, em 1884. As Atas encontram-se no tomo XXIV, pp. 339-349. A obra foinovamente publicada, em edio facsimilada, em Caracas, Ministrio da Defesa, 1981.

    47 Este importante trabalho do Prof. Julio Escudero Guzman citado em vrias publicaes, semreferncia sua condio de artigo de revista. Um exemplo o premiado livro do grandeinternacionalista Jesus Maria Yepes Del Congreso de Panam a la Conferencia de Caracas(Caracas Governo da Venezuela, 1976 p.459 Houve edio anterior de 1955). Este fatodificultou ao autor do presente estudo encontrar a ntegra do texto de Escudero, apesar da grandecooperao da Embaixada do Chile no Brasil. Aps anos de pesquisa, o autor, em maro de1999, recebeu-a, em Santiago, das mos do Embaixador e historiador Jos Miguel Barros,previamente contactado por seu amigo Embaixador Juan Martabit, Chefe da Misso do Chile noBrasil. O artigo em questo apareceu no vol. X (nos 37 a 40, janeiro-dezembro de 1944, pp. 65-67) da Revista Anales de la Facutad de Ciencias Juridicas y Sociales, da Universidade do Chile.Julio Escudero Guzman, filho de Julio e Rosalba, nasceu em Rancgua, Chile, em 1903. Licenciadode Rancgua, Instituto Barros Arana e Universidade do Chile... Nos anos de 1941 e 1942 foiassessor jurdico na III Reunio de Chanceleres no Rio de Janeiro e Membro do Chile no ComitJurdico Americano com sede na mesma cidade. Foi professor de Direito Internacional Pblicoda Escola de Direito da Universidade do Chile e membro da Associao de Alunos e ex-Alunoda Academia Internacional de La Haia e do Instituto Chileno de Altos Estudos Internacionais.

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    (Diccionario Biogrfico de Chile. Undcima Edio. 1959-61 Santiago. Editores: EmpresaPeriodstica Chile, p.425). autor, entre outros, dos seguintes ttulos: Antrtida Chilena oTerritorio Chileno Antrtico. Santiago, Editorial Universitaria, 1944, 112 pags.; Situacin JurdicaInternacional de las Aguas del Estrecho de Magallanes, Santiago, Imprenta El Ilustrado, 1927;Dicionario bibliogrfico de miembros de la Universidad de Chile, 250 pags; Discursos derecepcin del Profesor de Derecho Internacional Pblico, Seor Julio Escudero Guzmn. Estoem separata dos Anales de la Facultad de Ciencias Jurdicas y Sociales. Vol. 5, ano 1965, n 5,por ocasio da Recepo do Membro Acadmico Sr. Ernesto Barros Jarpa.

    48 Em nota de n 2, ao p da pgina 67 afirma Julio Escudero: Las Actas, antes de su adquisicin,fueron expertizadas por lo que hace a su autenticidad. En cuanto a su costo, el Gobierno delBrasil pag por ellas, si no estamos equivocados, la suma de 5.000 dlares. Francisco Vinhosa,professor brasileiro de Histria, teve acesso a um Memorandum, referente s Atas, de 20 demaro de 1941, dirigido por Lus Camilo de Oliveira Pena, ao Chefe de Administrao doMinistrio das Relaes Exteriores do Brasil. O texto fala da importncia de quarenta contos deris.

    49 Sesquicentenrio do Congresso Anfictinico do Panam. 1826-1976. Braslia, Ministrio dasRelaes Exteriores, [1976] p. 5.

    50 LIMA, Rosa. O sonho de Bolvar no morreu. Jornal do Brasil Rio de Janeiro, 29-6-1999,p.4. Esteve tambm presente o Embaixador Joo Hermes Pereira Arajo, chefe do museu doEscritrio Regional do MRE no Rio de Janeiro.

    51 ALEIXO, Jos Carlos Brandi. 1) O Brasil e o Panam. Dois faustos aniversrios So Paulo,Parlamento Latino-americano, 1994; 2) Brasil y Panama. Dos faustos aniversrios. So Paulo.Parlamento Latino-americano, 1995.

    52 Portaria Ministerial n 025 de 21-01-1994. Posteriormente, pela Portaria Ministerial n 719 de11-11-1998 o Ministro de Estado do Exrcito concedeu, 10 companhia de Engenharia deCombate, com sede na cidade de So Bento do Una, Pernambuco, a histrica denominao deGeneral Abreu e Lima, pernambucano ilustre, heri na Gran Colmbia, que foi promovido aGeneral pelo prprio Simn Bolvar.

    53 Arenga dirigida ao Libertador, em 17 de junho de 1825, data intermediria entre a convocatriado Congresso do Panam e a reunio do mesmo. Apud Jesus Maria YEPES, op. cit. p. 7. Comsemelhante considerao conclui Oyden ORTEGA DURAN seu magnfico estudo Contadoray su Verdad. Madri, Rufino Blanco, 1985, p. 205.

    Resumo

    A importncia histrica do Congresso do Panam de 1826 como precursordos sistemas interamericano e mundial ressaltada. A participao de brasileirosna construo do ideal de unio dos pases americanos apresentada. O artigoconclui considerando brevemente o episdio do desaparecimento das atas originaisdo Congresso e o efeito simblico da transferncia destas do Brasil para o Panam.

    Abstract

    The article stresses the historical meaning of the Panama Congress of1826 as a predecessor of the Inter-American and World Systems. According to

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    the author, Brazilians played an important role in fostering the Pan-American ideal,even though they do not participate in the 1826 Congress. The official records ofthe Congress remained lost for sometime, but, later, they were found and transferedfrom Brazil to Panama.

    Palavras-chave: Congresso do Panam. Panamericanismo. Brasil.Key-words: Panama Congress. Pan-Americanism. Brazil.