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4 JORNAL SEM TERRA MAR/ABR/MAI 2012 JORNAL SEM TERRA MAR/ABR/MAI 2012 Fortalecimento da articulação representa avanço, mas o desafio é construir nos estados REALIDADE BRASILEIRA MAYRÁ LIMA SETOR DE COMUNICAÇÃO OS PRINCIPAIS movimentos sociais do campo brasileiro firmaram um compro- misso de unificar as lutas por Reforma Agrária, direitos territoriais, soberania alimentar, contra o agronegócio e o apoio do Estado às empresas transnacionais da agricultura, no final de fevereiro. Organizações como a Via Campe- sina, a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), a Confe- deração Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Mo- vimento Camponês Popular (MCP) e Cáritas Brasileira assinaram um ma- nifesto unitário (veja o Manifesto na página ao lado), depois de uma ampla discussão em um seminário. “Essa unidade é uma construção his- tórica, que aconteceu a partir de um debate qualificado das principais organizações do campo. Esperamos que o compromis- so com esse processo se fortaleça nos estados e ajude na realização de jornadas unitárias em defesa dos camponeses e da Reforma Agrária”, avalia o dirigente do MST, Alexandre Conceição. O documento destaca a importância do desenvolvimento rural com o fim das desigualdades sociais e defende a produção e o acesso a alimentos saudá- veis, a garantia dos direitos dos traba- lhadores rurais, inclusive os territoriais dos povos indígenas e quilombolas. “Diante da conjuntura, o conjunto dos movimentos sociais têm dificul- dades de avançar em suas pautas e isso reflete em todo o movimento campo- nês e sindical. Esse manifesto é uma orientação para a nossa militância para o processo de unidade nas lutas que devemos encampar neste próximo período”, explica Rosângela Piovizani, integrante da Via Campesina. Desafio A construção unitária das lutas cam- ponesas e da agricultura familiar é um momento de permanente desafio para as organizações. O reconhecimento da diversidade política é importante, no entanto, os debates devem ser funda- mentados na maturidade, no respeito às diferenças, sempre em busca de con- quistas concretas para os trabalhadores. Segundo Piovizani, a construção desse processo de articulação na base é uma das tarefas diante da unidade. “É a partir dos estados que vamos conse- guir que o povo esteja junto para lutar pelo o conjunto dos direitos. É neces- sário que essa construção também se faça na ponta, com toda a militância e de forma que criemos espaços de dis- cussão para a luta conjunta”, disse. Um elemento importante é que as demandas que unificam são estruturan- tes e, de acordo com Rosângela, con- templam o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. “A paralisação da Reforma Agrária, o uso indiscriminado dos agrotóxicos, as dívidas dos pequenos agricultores e a violência contra os trabalhadores são questões que estamos discutindo em conjunto. Desta forma, avaliamos que temos um maior potencial de pressão para a priorização das políticas necessárias frente ao governo”, afirma. Os dados são preocupantes: segun- do o Incra, 2011 apresentou os piores índices para a Reforma Agrária dos últimos 16 anos com o assentamento de apenas 22.021 famílias assentadas, número que inclui os processos de regularização fundiária. Do processo real de obtenção de terras, apenas 35 A construção da unidade dos movimentos do campo As demandas que unificam são estruturantes e contemplam o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras rurais áreas foram transformadas em assentamentos, beneficiando somente seis mil famílias. O agronegócio avança e prejudica os trabalhadores do campo e da cidade com o modelo que prioriza o uso de venenos. O Brasil é o maior consumi- dor de agrotóxicos do mundo desde 2009. Mais de um bilhão de litros de venenos foram jogados nas lavou- ras, de acordo com dados oficiais. No caso do endividamento dos pequenos agricultores, o valor já chega a mais de R$ 30 bilhões, sendo necessária a renegociação para dar continuidade à produção e o acesso a créditos. No que tange à violência, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), só em 2011, 173 pessoas adentraram à lista dos ameaçados de morte e 29 pessoas, entre sem-terras e indígenas, foram assassinadas. A partir destes pontos, o seminário nacional, com a representação de diri- gentes das principais organizações cam- ponesas, foi o primeiro passo para a cons- trução da unidade. Foi realizado um ato público na Câmara dos Deputados, que se configurou como uma primeira ativi- dade. Mobilizações mais amplas devem ser construídas com o conjunto das enti- dades que compõem a articulação. “Manifestamos a nossa indignação diante da prioridade concedida ao agro- negócio exportador, que não produz ali- mentos saudáveis. A agricultura familiar e camponesa, que produz mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa do bra- sileiro, precisa voltar para a centralidade das políticas. Esta é a forma de se cons- truir cidadania e erradicar a pobreza no meio rural”, completa Piovizani. Unificação do calendário de lutas é fundamental para obter conquistas João Zinclar Dirigentes dos movimentos sociais camponeses ressaltam a importância da unidade REALIDADE BRASILEIRA A realização do Congresso é importante porque no ano de 2011 se comemorou cinqüenta anos do último Congresso Camponês, ocorrido em Belo Horizonte. A relevância do Congresso se dá pela conjuntura do campo brasileiro, na qual se torna fundamental construir uma unidade que seja capaz de lutar pela realização da Reforma Agrária e pela garantia da soberania alimentar.. Altacir Bunde– Dirigente do Movimento Camponês Popular (MCP) A realidade do campo está dividida entre camponeses e o agronegócio. Para que a luta avance é preciso construir a unidade entre as muitas organizações do campo. O objetivo do Congresso é retomar esta unidade da luta social pelo campo. A realidade das organizações é muito semelhante e há essa disposição de construir unidade, pois a Reforma Agrária e a agricultura camponesa não tem tido prioridade na pauta do governo, por isso precisamos pressionar. Gilberto Cervinski – da Coordenação Nacional da Via Campesina Estamos juntos nesse processo de articulação e unidade dos movimentos no campo. O Congresso é importante na luta dos movimentos sociais para fazermos um enfrentamento da conjuntura atual, na qual é preciso se pensar num novo modelo de desenvolvimento para o campo, que garanta a soberania alimentar. É também importante para se questionar a questão fundiária no Brasil. Elisângela Araújo, coordenadora geral da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF Brasil) O balanço que fazemos deste primeiro semestre, que contou com diversas jornadas de luta no campo em relação à Reforma Agrária, mostra que o governo não tem a Reforma Agrária como política prioritária. No segundo semestre, o Congresso Camponês vai servir para os movimentos do campo se organizarem para fazer uma grande reflexão sobre a questão agrária no país, e pautar a Reforma Agrária como a principal política de combate à miséria, porque não é possível falar em combate a miséria sem Reforma Agrária. William Clementino – Secretário de Política Agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) A necessidade de uma rearticulação no campo dos movimentos sociais de luta por terra e território é urgente. Nos dois mandatos do Presidente Lula, várias mobilizações com este tema foram organizadas. Inclusive um plebiscito nacional, que tinha o objetivo estratégico de recolocar o tema da questão agrária novamente na pauta da sociedade. No decorrer deste primeiro ano do governo de Dilma, o processo de desarticulação das forças sociais que atuam no campo determinou que sofrêssemos derrotas e perdêssemos espaço junto ao processo de construção e efetivação de políticas públicas no campo. Nesse sentido, realizar neste momento um processo que tenha como horizonte estratégico a consolidação de uma força articulada, que una a luta dos movimentos, não só é oportuno como central para avançarmos para além das mobilizações, lutas e pautas específicas dos movimentos e das organizações que atuam no campo. Luis Cláudio Lopes da Silva - assessor e membro da Coordenação Colegiada do Secretariado Nacional da Cáritas Brasileira

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4 JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

Fortalecimento da articulação representa avanço, mas o desafio é construir nos estadosREALIDADE BRASILEIRA

MAYRÁ LIMA

SETOR DE COMUNICAÇÃO

OS PRINCIPAIS movimentos sociais docampo brasileiro firmaram um compro-misso de unificar as lutas por ReformaAgrária, direitos territoriais, soberaniaalimentar, contra o agronegócio e o apoiodo Estado às empresas transnacionais daagricultura, no final de fevereiro.

Organizações como a Via Campe-sina, a Federação dos Trabalhadores daAgricultura Familiar (Fetraf), a Confe-deração Nacional dos Trabalhadores daAgricultura (Contag), a Associação dosPovos Indígenas do Brasil (Apib), Mo-vimento Camponês Popular (MCP) eCáritas Brasileira assinaram um ma-nifesto unitário (veja o Manifesto napágina ao lado), depois de uma ampladiscussão em um seminário.

“Essa unidade é uma construção his-tórica, que aconteceu a partir de um debatequalificado das principais organizaçõesdo campo. Esperamos que o compromis-so com esse processo se fortaleça nosestados e ajude na realização de jornadasunitárias em defesa dos camponeses e daReforma Agrária”, avalia o dirigente doMST, Alexandre Conceição.

O documento destaca a importânciado desenvolvimento rural com o fimdas desigualdades sociais e defende aprodução e o acesso a alimentos saudá-veis, a garantia dos direitos dos traba-lhadores rurais, inclusive os territoriaisdos povos indígenas e quilombolas.

“Diante da conjuntura, o conjuntodos movimentos sociais têm dificul-dades de avançar em suas pautas e issoreflete em todo o movimento campo-nês e sindical. Esse manifesto é umaorientação para a nossa militância parao processo de unidade nas lutas quedevemos encampar neste próximoperíodo”, explica Rosângela Piovizani,integrante da Via Campesina.

Desafio

A construção unitária das lutas cam-ponesas e da agricultura familiar é ummomento de permanente desafio paraas organizações. O reconhecimento da

diversidade política é importante, noentanto, os debates devem ser funda-mentados na maturidade, no respeitoàs diferenças, sempre em busca de con-quistas concretas para os trabalhadores.

Segundo Piovizani, a construçãodesse processo de articulação na base éuma das tarefas diante da unidade. “Éa partir dos estados que vamos conse-guir que o povo esteja junto para lutarpelo o conjunto dos direitos. É neces-sário que essa construção também sefaça na ponta, com toda a militância ede forma que criemos espaços de dis-cussão para a luta conjunta”, disse.

Um elemento importante é que asdemandas que unificam são estruturan-tes e, de acordo com Rosângela, con-

templam o conjunto dos trabalhadores etrabalhadoras rurais. “A paralisação daReforma Agrária, o uso indiscriminadodos agrotóxicos, as dívidas dos pequenosagricultores e a violência contra ostrabalhadores são questões que estamosdiscutindo em conjunto. Desta forma,avaliamos que temos um maior potencialde pressão para a priorização das políticasnecessárias frente ao governo”, afirma.

Os dados são preocupantes: segun-do o Incra, 2011 apresentou os pioresíndices para a Reforma Agrária dosúltimos 16 anos com o assentamentode apenas 22.021 famílias assentadas,número que inclui os processos deregularização fundiária. Do processoreal de obtenção de terras, apenas 35

A construção da unidade dosmovimentos do campo

As demandas que unificamsão estruturantes econtemplam o conjuntodos trabalhadores etrabalhadoras rurais

áreas foram transformadas emassentamentos, beneficiando somenteseis mil famílias.

O agronegócio avança e prejudicaos trabalhadores do campo e da cidadecom o modelo que prioriza o uso devenenos. O Brasil é o maior consumi-dor de agrotóxicos do mundo desde2009. Mais de um bilhão de litros devenenos foram jogados nas lavou-ras, de acordo com dados oficiais.

No caso do endividamento dospequenos agricultores, o valor jáchega a mais de R$ 30 bilhões,sendo necessária a renegociaçãopara dar continuidade à produção eo acesso a créditos.

No que tange à violência, deacordo com a Comissão Pastoral daTerra (CPT), só em 2011, 173 pessoasadentraram à lista dos ameaçados demorte e 29 pessoas, entre sem-terras eindígenas, foram assassinadas.

A partir destes pontos, o seminárionacional, com a representação de diri-gentes das principais organizações cam-ponesas, foi o primeiro passo para a cons-trução da unidade. Foi realizado um atopúblico na Câmara dos Deputados, quese configurou como uma primeira ativi-dade. Mobilizações mais amplas devemser construídas com o conjunto das enti-dades que compõem a articulação.

“Manifestamos a nossa indignaçãodiante da prioridade concedida ao agro-negócio exportador, que não produz ali-mentos saudáveis. A agricultura familiare camponesa, que produz mais de 70%dos alimentos que chegam à mesa do bra-sileiro, precisa voltar para a centralidadedas políticas. Esta é a forma de se cons-truir cidadania e erradicar a pobreza nomeio rural”, completa Piovizani.

Unificação do calendário de lutas é fundamental para obter conquistas

João

Zinc

lar

Dirigentes dos movimentos sociais camponeses ressaltam a importância da unidadeREALIDADE BRASILEIRA

A realização do Congresso é importante porque no anode 2011 se comemorou cinqüentaanos do último CongressoCamponês, ocorrido em BeloHorizonte. A relevância doCongresso se dá pela conjuntura docampo brasileiro, na qual se tornafundamental construir uma unidadeque seja capaz de lutar pelarealização da Reforma Agrária e pela garantia dasoberania alimentar..

Altacir Bunde– Dirigente doMovimento Camponês Popular (MCP)

A realidade do campo está dividida entre camponeses eo agronegócio. Para que a luta avance é preciso construira unidade entre as muitasorganizações do campo. O objetivodo Congresso é retomar estaunidade da luta social pelo campo. Arealidade das organizações é muitosemelhante e há essa disposição deconstruir unidade, pois a Reforma Agrária e aagricultura camponesa não tem tido prioridade na pautado governo, por isso precisamos pressionar.

Gilberto Cervinski – da CoordenaçãoNacional da Via Campesina

Estamos juntos nesse processo dearticulação e unidade dosmovimentos no campo. OCongresso é importante na luta dosmovimentos sociais para fazermosum enfrentamento da conjunturaatual, na qual é preciso se pensar num novo modelo dedesenvolvimento para o campo, que garanta a soberaniaalimentar. É também importante para se questionar aquestão fundiária no Brasil.

Elisângela Araújo, coordenadorageral da Federação Nacional dos

Trabalhadores e Trabalhadoras naAgricultura Familiar (FETRAF Brasil)

O balanço que fazemos deste primeiro semestre, quecontou com diversas jornadas de luta no campo emrelação à Reforma Agrária, mostra que ogoverno não tem a Reforma Agráriacomo política prioritária. No segundosemestre, o Congresso Camponês vaiservir para os movimentos do campo seorganizarem para fazer uma grandereflexão sobre a questão agrária no país,e pautar a Reforma Agrária como a principal política decombate à miséria, porque não é possível falar emcombate a miséria sem Reforma Agrária.

William Clementino – Secretário de PolíticaAgrária da Confederação Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura (CONTAG)

A necessidade de uma rearticulação no campo dosmovimentos sociais de luta por terra e território éurgente. Nos dois mandatos do Presidente Lula, váriasmobilizações com este tema foram organizadas.Inclusive um plebiscito nacional, que tinha o objetivoestratégico de recolocar o tema da questão agrárianovamente na pauta da sociedade.No decorrer deste primeiro ano do governo de Dilma, oprocesso de desarticulação das forças sociais que atuamno campo determinou que sofrêssemos derrotas eperdêssemos espaço junto ao processo de construção eefetivação de políticas públicas no campo. Nessesentido, realizar neste momento um processo que tenhacomo horizonte estratégico a consolidação de uma forçaarticulada, que una a luta dos movimentos, não só éoportuno como central para avançarmos para além dasmobilizações, lutas e pautas específicas dos movimentose das organizações que atuam no campo.

Luis Cláudio Lopes da Silva - assessor emembro da Coordenação Colegiada do

Secretariado Nacional da Cáritas Brasileira

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Manifesto das organizaçõessociais do campo

As entidades APIB, CÁRITAS, CIMI, CPT, CONTAG, FETRAF,MAB, MCP, MMC, MPA e MST, presentes no Seminário Nacionalde Organizações Sociais do Campo, realizado em Brasília, nosdias 27 e 28 de fevereiro de 2012, deliberaram pela construção erealização de um processo de luta unificada em defesa daReforma Agrária, dos direitos territoriais e da produção dealimentos saudáveis.

Considerando:1) O aprofundamento do capitalismo dependente no meio

rural, baseado na expansão do agronegócio, produzimpactos negativos na vida dos povos do campo, dasflorestas e das águas, impedindo o cumprimento dafunção socioambiental da terra e a realização da reformaagrária, promovendo a exclusão e a violência, impactandonegativamente também nas cidades, agravando adependência externa e a degradação dos recursosnaturais (primarização).

2) O Brasil vive um processo dereprimarização da economia, baseada naprodução e exportação de commoditiesagrícolas e não agrícolas (mineração), que éincapaz de financiar e promover umdesenvolvimento sustentável e solidário esatisfazer as necessidades do povobrasileiro.

3) O agronegócio representa um pacto de poderdas classes sociais hegemônicas, com forteapoio do Estado Brasileiro, pautado nafinanceirização e na acumulação de capital,na mercantilização dos bens da natureza, gerandoconcentração e estrangeirização da terra, contaminaçãodos alimentos por agrotóxicos, destruição ambiental,exclusão e violência no campo, e a criminalização dosmovimentos, lideranças e lutas sociais.

4) A crise atual é sistêmica e planetária e, em situações decrise, o capital busca saídas clássicas que afetam aindamais os trabalhadores e trabalhadoras com o aumentoda exploração da força de trabalho (inclusive comtrabalho escravo), super exploração e concentração dosbens e recursos naturais (reprimarização),flexibilização de direitos e investimento em tecnologiaexcludente e predatória.

5) Na atual situação de crise, o Brasil, como um país rico emterra, água, bens naturais e biodiversidade, atrai o capitalespeculativo e agroexportador, acirrando os impactosnegativos sobre os territórios e populações indígenas,quilombolas, comunidadestradicionais e camponesas.Externamente, o Brasil podese tornar alavanca do projetoneocolonizador,expandindo este modelopara outros países,especialmente na AméricaLatina e África.

6) O pensamentoneodesenvolvimentistacentrado na produção eno lucro, defendido peladireita e por setores de

esquerda, exclui e trata como empecilho povosindígenas, quilombolas e camponeses. A opção dogoverno brasileiro por um projetoneodesenvolvimentista, centrado em grandes projetos ena exportação de commodities, agrava a situação deexclusão e de violência. Consequentemente não atende aspautas estruturais e não coloca a reforma agrária nocentro da agenda política, gerando forte insatisfação dasorganizações sociais do campo, apesar de pequenosavanços em questões periféricas.

Estas são as razões centrais que levaram as organizaçõessociais do campo a se unirem em um processo nacional deluta articulada. Mesmo reconhecendo a diversidade política,estas compreendem a importância da construção da unidade,feita sobre as bases da sabedoria, da maturidade e do respeitoàs diferenças, buscando conquistas concretas para os povosdo campo, das florestas e das águas.

Neste sentido nós, organizações do campo,lutaremos por um desenvolvimento comsustentabilidade e focado na soberania alimentare territorial, a partir de quatro eixos centrais:a) Reforma Agrária ampla e de qualidade,garantia dos direitos territoriais dos povosindígenas e quilombolas e comunidadestradicionais: terra como meio de vida e afirmaçãoda identidade sociocultural dos povos, combate àestrangeirização das terras e estabelecimento dolimite de propriedade da terra no Brasil.

b) Desenvolvimento rural com distribuição de renda eriqueza e o fim das desigualdades;

c) Produção e acesso a alimentos saudáveis e conservaçãoambiental, estabelecendo processos que assegurem atransição para agroecológica.

d) Garantia e ampliação de direitos sociais e culturais quepermitam a qualidade de vida, inclusive a sucessão rural epermanência da juventude no campo.

Este é um momento histórico, um espaço qualificado, comdirigentes das principais organizações do campo que esperam aadesão e o compromisso com este processo por outras entidadese movimentos sociais, setores do governo, parlamentares,personalidades e sociedade em geral, uma vez que a agenda que

nos une é uma agenda de interesse de todos e todas.

Brasília, 28 de fevereiro de 2012.

APIB – Associação dos Povos Indígenas do BrasilCÁRITAS Brasileira

CIMI – Conselho Indigenista MissionárioCPT – Comissão Pastoral da Terra

CONTAG – Confederação Nacional deTrabalhadores na Agricultura

FETRAF – Confederação Nacional dosTrabalhadores na Agricultura Familiar

MAB – Movimento dos Atingidos por BarragensMCP – Movimento Camponês Popular

MMC – Movimento de Mulheres CamponesasMPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

MST – Movimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra

Via Campesina Brasil

O Brasil vive um processode reprimarização

da economia, baseadana produção e

exportação, que éincapaz de promoverum desenvolvimento