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8/7/2019 Julia - 1403 - Lisa Valdez - Paixão Ardente http://slidepdf.com/reader/full/julia-1403-lisa-valdez-paixao-ardente 1/124 Paixão Ardente Paixão Ardente Passion Lisa Valdez Lisa Valdez Inglaterra, 1851 Ela não conhecia o prazer... Ele não conhecia o amor... Apesar de ser jovem, linda e viúva, Elizabeth não tinha planos de se envolver outra vez com um homem, muito menos imaginava que se deixaria beijar por um desconhecido em um local público. Porém, ao ver-se perseguida, nos corredores de um suntuoso museu de Londres, por um cavalheiro atraente e sedutor, ela é incapaz de resistir ao magnetismo sensual que lhe desperta um desejo novo e intenso. A cada encontro furtivo e arrebatador, cresce a paixão que une Mark e Elizabeth, levando-os a descobrir um sentimento raro e precioso. Mas uma vil chantagem ameaça destruir aquele romance... Na iminência de um escândalo, eles terão de escolher entre o dever e o desejo, o amor por suas famílias, e o amor que sentem um pelo outro! Digitalização Joyce

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Paixão ArdentePaixão ArdentePassion

Lisa ValdezLisa Valdez

Inglaterra, 1851

Ela não conhecia o prazer... Ele não conhecia o amor...

Apesar de ser jovem, linda e viúva, Elizabeth não tinha planos de se envolver outravez com um homem, muito menos imaginava que se deixaria beijar por umdesconhecido em um local público. Porém, ao ver-se perseguida, nos corredores de

um suntuoso museu de Londres, por um cavalheiro atraente e sedutor, ela é incapazde resistir ao magnetismo sensual que lhe desperta um desejo novo e intenso. Acada encontro furtivo e arrebatador, cresce a paixão que une Mark e Elizabeth,levando-os a descobrir um sentimento raro e precioso. Mas uma vil chantagemameaça destruir aquele romance... Na iminência de um escândalo, eles terão deescolher entre o dever e o desejo, o amor por suas famílias, e o amor que sentemum pelo outro!

Digitalização Joyce

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Prólogo

A carta fatídica

12 de julho de 1824

Querida Abigail,

Tenho novidades! Nem sei por onde começar a contar, minha querida e lealconfidente, minha amiga de infância e minha irmã de coração. Você que tanto meavisou direta e honestamente sobre o que poderia acontecer caso eu deixasse ocoração guiar minha mente! E quão certa estava você! Agora aqui estou, sofrendoas conseqüências de meus desejos desenfreados. Já adivinhou a situação em que

me encontro? Não duvido que sim. Entretanto, devo contar-lhe logo, pois tenhocerteza de que seus olhos estão esquadrinhando a missiva com rapidez paradescobrir meu segredo.

Eu, Lucinda Margarita Hawkmore, estou esperando um bebê. Um fato que namaioria das vezes não é nada inusitado. Mas espere, minha querida, pois agora vema revelação que fará seus cabelos arrepiarem. Lembra-se daquele belo jardineiroque contratei para ressuscitar meu roseiral? Aquele dos olhos incrivelmente azuis ecabelos negros? Pois é, parece que, apesar de não ser capaz de fazer minhas rosas

crescerem, foi muito bem-sucedido em plantar uma semente de outro tipo, queagora está florescendo em meu ventre e cujo fruto deverá nascer dentro de doismeses.

Agora, minha querida, não deve me recriminar. Como sabe, sou inteiramentedevotada ao meu marido, lorde Fentworth. Já lhe dei, inclusive, um herdeiro. E comoele é louco por crianças, tenho certeza de que aceitará e amará mais esta. Portanto,nenhum mal foi feito. Eu, ao contrário, não suporto as atribuições e os fardos quenos impõem os filhos. Como sabe, mal posso suportar o primeiro. Ainda bem queestou livre por alguns meses!

Aí está, minha querida, você é a única que sabe de meu segredo. Aguardouma carta sua em breve, pois preciso saber sua opinião sobre tudo isso. Já possoaté ouvir sua gentil recriminação. Mas, como sempre, estou certa de que meperdoará.

Com todo amor, Lucinda

P.S.: Tenho certeza de que posso confiar que, após ler esta carta, você adestruirá.

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Capítulo I

Londres, Palácio de Cristal, 4 de maio de 1851

Elizabeth Dare olhou para baixo e viu a mão enluvada pressionando-lhe oabdômen. Um braço forte envolvia-lhe a cintura, apertando-a com força. Tanto quepodia sentir a pressão do corpo másculo atrás de si.

Será que ninguém estava vendo?

Não. Os espectadores e expositores encontravam-se muito ocupadostentando segurar os três desordeiros que tombaram sobre a escultura em forma deâncora, fazendo-a despencar da base, e tomando providências para que nenhumadas valiosas peças de porcelana fosse danificada. Ocupados demais para notar seuembaraço, após ter sido literalmente catapultada da frente da escultura, antesmesmo que pudesse perceber a situação de perigo.

De súbito, a mão moveu-se, deslizando pelo vestido de seda, até envolver-lheum dos seios.

Ela sentiu o coração acelerar. Tentou erguer a cabeça para ver o rostodaquele desconhecido, porém a aba de seu chapéu a impediu. Era como seestivesse mergulhada em um sonho. Um completo estranho a mantinha cativa emseus braços e a tocava com intimidade em público! Ele exalava uma agradávelfragrância de verbena. Por que se sentia tão segura?

Ao se virar para encará-lo, seu olhar seguiu a trilha da luva cinza que agoralhe provocava um dos mamilos. Uma sensação desconhecida penetrou-lhe na pele,inflamando-lhe os nervos e descendo pela espinha, até fazer suas pernas tremerem.

Liza abafou um gemido. Os dedos dele agora lhe pressionavam os ombros.Quando fora a última vez que sentira desejo?

O burburinho de vozes chegou a seus ouvidos, fazendo-a despertar daqueletranse. Estava no Palácio de Cristal, o maravilhoso empreendimento do príncipeAlbert, para exibir as novidades mais avançadas do mundo em matéria deartesanato, artigos têxteis e obras de arte. Tinha vindo até ali para se encontrar coma prima Charlotte e não para ser acariciada por um estranho...

Azuis. Os olhos que a fitavam eram de um azul vívido e intenso, como asasas de uma borboleta que certa vez vira voando da janela de seu quarto. Deu um

longo suspiro. Seria capaz de pintar olhos daquela cor? Conseguiria captar aintensidade daquele olhar? Poderia reproduzir aquelas sobrancelhas espessas e

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muito negras que se franziam sob a aba do chapéu? E o que dizer dos lábioscarnudos e sensuais que se curvavam num meio sorriso? Deus do céu! Jamais viraum homem tão bonito em toda sua vida!

As mãos másculas deslizaram suavemente por seus braços até agarrar-lhe

os pulsos com firmeza. Liza não conseguia se mover, nem emitir som algum.Apenas conseguia, com muito esforço, manter-se de pé, tremendo, enquanto aqueleolhar implacável a media de cima a baixo.

As pessoas se movimentavam em volta deles. Alguém riu alto e aquilo adespertou. O estranho lançou um olhar fulminante à fonte do ruído e em seguidavoltou a fitá-la. Por um longo momento seus olhares ficaram presos um ao outro. Eracomo se a terra tivesse parado de girar. Por fim, o desconhecido ergueu uma dasmãos até seu chapéu e com um aceno de cabeça girou sobre os calcanhares e seafastou.

A respiração de Liza voltou ao normal. Seus olhos seguiram a figura alta dohomem enquanto ele se movia agilmente entre a multidão. Quando julgou que iriadesaparecer, ele estacou. Liza sentiu a tensão dominá-la de imediato e arregalou osolhos quando o homem deu meia-volta e bem devagar começou a caminhar em suadireção. Era impossível ler a expressão em seu olhar. O que aquele homem estariapensando?

Liza deu dois passos indecisos para trás. Em seguida, girou e correu emdireção à outra sala de exposição. Quando olhou por sobre o ombro, ele permanecia

em seu raio de visão, encurtando a distância que os separava, com uma intensidadepredatória no olhar.

Liza continuou correndo, saindo de uma sala para outra sem saber exatamente onde se encontrava. Por fim, parou próximo a um grupo de pessoas queouvia as explicações de um guia com sotaque germânico. Relógios. O rapaz falandoalgo sobre relógios suíços. Liza olhou para trás. Um súbito desapontamento atingiu-lhe o peito. O estranho havia desaparecido. Procurou-o em vão entre as pessoasagrupadas. De repente, por trás de um antigo relógio de pé, a mão na luva cinza

acenou para ela.Desapontamento? Não. Alívio, talvez. Por que mentir para si mesma?

Desejava que ele a seguisse. Desejava que a tocasse apenas mais uma vez.

O pequeno homem suíço continuava a falar. A mão enluvada acenou outravez, enquanto o pêndulo do relógio balançava para frente e para trás. Liza fixou oolhar no desconhecido até quase ficar hipnotizada. Ele estava muito próximo, porémseu olhar fixava-se no guia, como se prestasse atenção a cada palavra. Enquantoisso, um dos dedos longos introduziu-se dentro da luva feminina e deslizava comsensualidade pela palma de sua mão. Ela fechou a mão apertando-lhe o dedo, e

observou um músculo da mandíbula máscula contrair-se.

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Um aplauso cortês seguiu-se ao final da explanação do guia. Lisa, porém,continuava a encarar o estranho a sua frente. As palavras saíram-lhe da boca semque pudesse evitá-las.

— Seu perfil deveria ser talhado em bronze.

Os incríveis olhos azuis fitaram-na com intensidade.

— Seu corpo deveria estar pressionado contra o meu.

A boca de Liza ficou seca. Sentia-se derreter por dentro.

— O que disse? — perguntou, dando um passo atrás.

— Disse que queria fazer amor com você.

O tom suave da voz máscula fez os músculos de suas coxas tremerem. Lizamordeu o lábio inferior e engoliu várias vezes antes de arranjar forças para correr e

misturar-se à multidão.

Ela desacelerou o passo ao entrar na galeria principal do Palácio de Cristal.Permaneceu um momento a observar o reflexo dos raios de sol que penetravampela torre em forma de abóbada. Sabia que deveria ir ao encontro da tia. Em vezdisso, olhou para trás.

Ele estava lá. Seguindo-a alguns passos atrás. Um canto da boca sensualcurvava-se em um meio sorriso.

Liza entrou em outra sala mais vazia. Peças de prata sobre pedestaiscobertos de veludo davam ao ambiente um brilho difuso. Parou em frente a umaescultura etérea e sentiu a presença do estranho atrás de si. Estava tão próximo quepressionava as várias camadas de saias e anáguas contra suas pernas. Ela mordeuo lábio inferior. Não reagiu. O que ela estava fazendo? Por que não o impedia deprosseguir?

Os dedos másculos deslizaram ao longo de suas costas. Em seguida, moveu-se para o lado dela, observando a estátua.

Liza estudou-o. Era alto, com ombros largos, pernas compridas e um corpo

bem-proporcionado. Estava impecavelmente vestido, com um terno marrom ecalçava sapatos polidos.

— Passei no teste? — o estranho perguntou.

Lisa encarou-o e notou que ele a fitava com intensidade.

— Sim.

As pessoas passavam em volta, mas ela não se importava.

— Ótimo, pois você também obteve minha aprovação. Dizendo isso, puxou-a

de encontro ao peito e beijou-a com tal paixão, que a cabeça de Liza começou arodar.

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Tentou desvencilhar-se dos braços fortes que a envolviam, mas ele a seguroucom firmeza. Os lábios dele se curvaram mais uma vez naquele meio sorriso que jálhe era familiar e então enrijeceu ao notar que um grupo de pessoas se aproximava.Involuntariamente começou a tremer.

— Temor ou excitação? — perguntou ele com o olhar cínico.

— Ambos — a palavra escapuliu de sua boca sem que pudesse evitar.

Ele soltou-a, mas deixou os dedos deslizarem pelos seios dela.

Liza, por um momento, observou o grupo de pessoas admirando o estranhoobjeto de arte. Quão diferente se sentia daquela gente! Mas, a bem da verdade, comexceção de suas irmãs, ela sempre se sentira um peixe fora d'água. E, naquelemomento, aquela sensação intensificava-se. Era como se estivesse se movendo emum cenário idílico.

Fitou o misterioso estranho. Ele parecia bem real. E, apesar de desconhecido,sentia como se fosse parte de sua vida. Ele estava recostado em uma pilastraobservando-a. O que estaria pensando? Que ela seria uma cortesã? Que situaçãoestranha! Logo ela, Elizabeth Dare, filha devotada, irmã dedicada e, principalmente,uma viúva respeitável!

De repente, Liza sentiu uma necessidade enorme de sair daquele recinto.Começou a correr de sala em sala. Não sabia para onde ir, nem o que fazer. Por fim,entrou em uma sala de mobília gótica. Parou em frente a uma pintura enorme

retratando a fachada de um castelo medieval que estava posicionada em um cantoda sala.

Ela pressentiu a presença do estranho antes mesmo que a tocasse. Aspirou oodor de verbena e por um momento julgou que iria desfalecer.

O estranho abraçou-a e com um movimento rápido puxou-a para trás doquadro da fachada.

— Linda — disse ele com voz rouca. — Quero beijá-la agora.

Lisa cerrou as pálpebras e sentiu o frio da parede as suas costas. Mesmocom a iluminação fosca, ela podia sentir a intensidade daqueles olhos azuis. Se elenão a mantivesse firmemente segura pelos ombros, teria deslizado até o chão.Tentou emitir algum som, porém as palavras morreram em sua garganta.

A voz dele soou baixa e muito calma, enquanto com uma das mãosdesamarrava a fita do chapéu que ela usava.

— Se quer dizer não, diga agora ou nunca mais.

Liza encarou-o. Sua respiração estava acelerada. Sentia-se em umaencruzilhada. Aquele era o momento de retroceder. Jamais se imaginara outra vezem situação de intimidade com nenhum homem. E ali estava ela. Na mais

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inacreditável e inusitada situação. Aquele homem, aquele momento, aquelacircunstância jamais tornaria a acontecer. Seria capaz de fugir? Todas as moléculasde seu corpo imploravam que ficasse.

Ela ergueu uma das mãos e, segurando o chapéu, retirou-o e jogou-o ao

chão, deixando a cascata de cabelos cair sobre as costas.

No momento seguinte a boca sensual do desconhecido tomava a sua. Ocorpo rijo pressionava o seu. Ela mal conseguia respirar. Mas não importava. Seucérebro não precisava mais de oxigênio, pois tinha parado de raciocinar.

O estranho abraçou-a com força, como se quisesse absorvê-la por todos osporos, enquanto sua língua percorria todos os cantos da boca feminina. Com umadas mãos acariciava-lhe um seio, depois outro. Liza cogitou se seria possível morrer de amor. Ela mal podia respirar. Todo seu corpo estava tomado por sensações

maravilhosas e alucinantes. Abraçou-o com força, sentindo os músculos das costasdo estranho vibrarem sob seus dedos. Aquela união de dois corpos a levava aodelírio.

Inundada pelo êxtase, rendeu-se por completo àquele momento sublime epensou que enfim encontrara o verdadeiro sentido da vida.

— E então? Qual a aparência da srta. Charlotte Lawrence? Do lado de forado Palácio de Cristal, Mark caminhava ao lado do irmão.

— Não sei. Não a vi.

— Como não? Ela deveria estar no salão das porcelanas.

— Pois não estava.

— E o que ficou fazendo esse tempo todo lá dentro, então? — perguntouMatthew, colocando as mãos nos bolsos da calça. — Vou acabar chegandoatrasado ao chá na casa de Rosalind.

— Você não acreditaria se eu lhe contasse. Vamos dizer apenas queencontrei a mulher mais linda de todo universo.

— O quê? E como conseguiu o meu querido irmão essa façanha em meio atodos os espectadores do Palácio de Cristal?

Eles acenaram com cortesia para duas matronas que passavam.

— Foi mais fácil do que imagina — respondeu Mark.

— Ah, essa história eu faço questão de ouvir.

— Nada disso. Você está atrasado para o chá. Matthew riu, enquanto erguiao braço para o cocheiro.

— Conte-me no caminho — falou enquanto subia na carruagem com o brasãodos Hawkmore.

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— Vamos à casa dos Benchley — instruiu Matthew ao cocheiro, enquanto osirmãos se acomodavam no interior do veículo.

Sentados um em frente ao outro, ambos descansavam os pés nosrespectivos assentos contrários. Eles sempre viajavam assim, desde a infância.

Mark mantinha os braços cruzados, enquanto o irmão reclinava-se, relaxado, noassento.

— E então? — perguntou Matthew. Mark deu de ombros.

— O que quer que eu diga? O dia foi bem mais prazeroso do que jamaisesperei que fosse.

— Você é capaz de ser muito hilariante quando quer. Agora deixe de rodeiose conte-me os detalhes.

— Eu a beijei atrás de um quadro enorme com a fachada de um castelomedieval, no salão de mobília gótica. Tudo aconteceu muito depressa esilenciosamente, dadas as circunstâncias. — Ele fez uma pausa. — E foi o melhor encontro de toda minha vida.

— Você está exagerando. Ou então é uma brincadeira. Mark meneou acabeça em sinal de negativa e olhou para fora da janela, sem enxergar a paisagem.Seu pensamento se concentrava na pele alva e macia, na boca carnuda e sensualdaquela desconhecida.

— Não. Foi melhor do que bom. Melhor do que magnífico. Melhor do que

qualquer coisa.

As feições de Matthew se iluminaram.

— Qual é o nome dela? Quem é?

— Não faço a menor idéia. O irmão franziu o cenho.

— Você teve uma mulher maravilhosa nos braços e não sabe quem ela é,nem onde encontrá-la?

Mark jogou o chapéu sobre o banco.

— Exatamente.

— Muito bem. Pode começar a me contar. Como ela é? — Matthew inquiriu.

Mark sentiu o coração acelerar.

— Ela é linda, sensual, tentadora... Tem olhos cor de mel, expressivos econvidativos. É diferente de todas as moças que já conheci. Tem a pele perfumada,um sorriso cativante, uma voz inebriante.

— É jovem?

— Sim, e eu diria que é viúva. Usa uma fita preta amarrada no antebraço.

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— Uma viúva jovem e linda — observou Matthew, com ar sonhador. —Parece que você encontrou uma prenda, meu irmão.

As lágrimas de Liza mancharam o lenço de linho impecavelmente branco queo estranho lhe oferecera. Ela olhou para a letra "M" bordada no lenço. Estava

sentada em um banco do salão mais movimentado do Palácio de Cristal, mas aúnica coisa que conseguia enxergar era aquela inicial. Seu polegar movia-se sobre obordado em linha azul-marinho, seguindo os contornos da letra. Quem seria ele?Onde estaria agora? Estaria pensando nela? Levou o lenço ao nariz e fechou osolhos ao sentir a fragrância de verbena.

— Misericórdia! Onde você se enfiou? E onde está Charlotte? Liza abriu osolhos para encontrar a tia sentada a seu lado. As

faces de Mathilda Dare estavam rubras e sua respiração saía entrecortada

como se tivesse participado de uma maratona.— Desculpe, tia Matty. Charlotte não apareceu e eu... Bem, acho que fiquei

atordoada com todo esse movimento.

— Oh, nem me fale em movimento... Deixe-me pegar meu leque antes que eudesmaie.

Liza deslizou o lenço do estranho discretamente para dentro do bolso da saia.Não queria que a tia o visse e começasse um interrogatório. Não poderia falar sobreisso. O simples pensamento a perturbava.

Agitando energicamente o leque negro que sempre carregava consigo,Mathilda fechou os olhos. As plumas azuis de seu chapéu balançavam devido àbrisa que criava.

Por mais que Mathilda Dare ameaçasse desmaiar durante a vida inteira, Lizajamais presenciara tal acontecimento, portanto não estava preocupada com aencenação da tia.

— Está bem. Já me recuperei — anunciou a tia dramaticamente, virando-sena direção da sobrinha. — Agora, conte-me onde estava. — Ela parou ao fitar a

sobrinha. — Deus do Céu! O que lhe aconteceu?

Liza prendeu a respiração alarmada. Seu coração batia descompassado e elalevou uma das mãos à face. Santo Deus! Será que sua aparência denunciava o queacabara de acontecer?

Mathilda apontou para o canto da boca de Liza.

— Tem uma marca vermelha aí. — Inclinou-se em direção à sobrinha eergueu o monóculo para examinar melhor. — Parece uma mordida!

Liza levou a mão ao peito. Ela odiava contar mentiras.

— Eu... quando estava aguardando Charlotte no salão de porcelanas uma

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estátua despencou da base bem na minha frente. Achei que havia escapadoincólume, mas, pelo visto, algum pedaço dela esbarrou em mim.

Mathilda baixou o monóculo e afastou-se.

— Que coisa horrível! Você poderia ter perdido um olho — disse, abanando-se com mais força ainda. — Esta exposição será um completo fracasso se osorganizadores não proporcionarem segurança aos visitantes.

Os braços fortes daquele estranho a seguraram com tamanha firmeza, queLiza não sentiu um pingo de medo.

— É bastante seguro, tia. A estátua não teria caído se não fossem três jovensarruaceiros.

Matty deu de ombros.

— Essa juventude rebelde e repugnante de hoje em dia — vociferou a tia. —Eu mesma fui atropelada por um cavalheiro insolente que quase arrancou meudedão do pé fora e nem desculpas pediu. — Ela balançou a cabeça. — Aliás, nemsei por que estou lhe creditando esse título. Ele estava com tamanha pressa, quenão via nada na frente.

Liza amassou o lenço dentro do bolso. Um cavalheiro apressado. Seria oestranho?

— Não precisamos voltar — murmurou Liza quase para si mesma.

— Não precisamos voltar aqui? — A tia fitou-a surpresa. — Bem, por mim,nem teria vindo. Fizeste sacrifício apenas por você. Pelo seu amor à arte. Atécombinei com Mary e Agnes Swittly de nos encontrarmos aqui durante toda estasemana. — Mais abanadelas. Mais plumas esvoaçantes. — Devo cancelar oencontro com elas, então? Apesar de elas terem de recusar vários outros convitespara se encontrarem comigo aqui. Mas se é esse seu desejo...

Liza não era ingênua. A tia e suas irmãs eram inseparáveis e a maioria deseus eventos sociais consistia de visitas mútuas. Além disso, o que tinha a recear?

Apesar da experiência que acabara de viver ter sido censurável, ela e seuamante se separaram tão rápido quanto se encontraram. Aquela foi uma experiênciaúnica na vida. Jamais voltaria a encontrá-lo.

Ela deu umas palmadinhas na mão da tia.

— É claro que não precisa mudar seus planos por minha causa. Estavaapenas pensando na senhora. Pobrezinha, quase teve o dedo arrancado!

Matty fez uma expressão de puro sacrifício.

— Oh, sim. Meu pobre pé. E você quase ficou cega! Mas, para sua felicidade,

minha querida, enfrentarei esta horda de amantes da arte. — A tia pousou uma dasmãos sobre a de Liza. — Além do mais, temos que correr alguns riscos na vida. Só

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porque.teve seu olho quase arrancado, não quer dizer que deva se fechar para omundo e esconder-se no campo como costuma fazer. Não. — Matty balançou acabeça. — Não permitirei que faça isso.

— Não permitirá?

— Definitivamente não.

Liza ficou em silêncio por alguns instantes. A tia possuía o poder espantosode mudar uma situação. O mais espantoso era que ela própria acabava acreditandoem suas justificativas.

— Muito bem, então — disse Liza. — Está decidido. Voltaremos amanhã.

— Claro, minha querida.

A tia parecia ter esquecido do tempo. Liza sorriu.

— Não acha que devemos ir? Charlotte não chegou até agora e estou certade que não virá, tendo em vista o adiantado da hora.

— Oh! — exclamou Matty. — Essa Charlotte Lawrence! Não entendo comovocê consegue ter tanta paciência com sua prima. Ela jamais pintará flores emporcelana tão bem quanto você, querida. — Liza ajudou-a a levantar-se. — Eacabamos perdendo o chá. Não admira que eu esteja a ponto de desmaiar.

Ele desejava intensamente vê-la de novo. O que estaria fazendo naqueleexato momento? Mark assoviava enquanto subia de dois em dois os degraus de sua

casa. O mordomo, Cranford, mantinha a porta aberta para ele.— A condessa se encontra na biblioteca, milorde.

O humor de Mark de súbito mudou. Ele franziu o cenho, enquanto entregavaas luvas e o chapéu ao mordomo.

— Obrigado, Cranford.

Droga! A última pessoa que gostaria de ver naquele momento era sua mãe.Desejava ficar sozinho... para pensar nela.

— Devo trazer alguns refrescos, milorde?— Não. Minha mãe não vai demorar — disse em voz alta, enquanto

atravessava a biblioteca.

Lucinda Hawkmore encontrava-se estirada em um sofá com um copo deconhaque na mão.

— Olá, meu filho. Isso é que chamo de uma recepção calorosa. Mark sentou-se em uma poltrona diante da mãe e cruzou as pernas, encarando-a.

Lucinda lançou um olhar de desdém às botas do filho e em seguida em torno

do aposento.

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— Quando vai vender esta casa minúscula e mudar-se para algum lugar maiscondizente com sua posição? Fico envergonhada de ser vista aqui.

— Então por que vem? Lucinda não lhe deu ouvidos.

— Você não consegue nem se divertir adequadamente aqui. — Ela apontouem volta do aposento com o copo. — É uma caixa de fósforos.

— Não costumo vir a Londres para me divertir. Venho sempre a trabalho.

— Trabalho! — Lucinda fez um gesto de escárnio. — Que burguês! Como seprecisasse trabalhar.

Mark cerrou os dentes.

— Divirto-me na fazenda Hawkmore e trabalho porque amo a arquitetura.Agora, mãe, o que deseja?

Lucinda deu de ombros.

— Quando se casar, vai precisar de uma casa adequada em Londres. Por que não a constrói você mesmo? — Tomou um gole da bebida. — E então, o queachou da sita. Lawrence? É uma moça adorável, não é mesmo?

— Não saberia lhe dizer. Não a vi.

— O quê? — Lucinda aprumou-se no sofá. — Abigail contou-me que elaestaria na exposição. Você não viu uma jovem com um chapéu amarelo e umapluma escarlate?

— Já lhe disse, mãe. Ela não estava lá. — Mark lembrou-se de um par deolhos cor de mel, circundados por longos cílios negros. — De qualquer forma, nãoimporta.

— Como assim? Não importa? O que quer dizer com isso?

— Quero dizer que amanhã vou oferecer a sua querida amiga Abigail umasubstancial soma de dinheiro em troca daquela carta.

— Ela não se importa com dinheiro. O que deseja é um título para a filha. —

Lucinda tomou outro gole antes de perguntar: — Quanto dinheiro?Ele pretendia oferecer quinze mil libras. Mas agora sentia uma necessidade

ainda maior de livrar-se daquele enredo. Não queria pensar em mais nada, nem emmais ninguém, além dela.

— Vinte e cinco mil libras devem ser suficientes. Lucinda ofegou.

— Vai oferecer vinte e cinco mil libras àquela miserável? Ela está mechantageando e você vai oferecer-lhe uma fortuna?

A fúria de Mark aflorou.

— Chantageando você? Diga-me, mãe, que preço a senhora está pagando

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pela chantagem da sua amiga?

— Abigail Lawrence não é minha amiga há anos — argumentou Lucindaarrogante. — Acho mesmo que nunca deve ter sido. Ela era de uma classe inferior aminha. Mas eu era jovem e não reconhecia que não poderia ter nenhuma afinidade

com a filha de um comerciante, não importa quão rico fosse.

Mark cerrou os punhos.

— Oh, mas ela era sua confidente mais confiável. Sua irmã de coração — elevociferou antes de desferir um chute na mesa de centro entre eles.

Lucinda não se abalou com o gesto de fúria do filho.

— Quando descobri meu erro, eu a dispensei e em seguida toda a nobrezafez o mesmo. Ela achava que iria arranjar um marido com um título por meuintermédio. — Lucinda arqueou as sobrancelhas. — Pus um fim naquela amizadesem sentido.

Levantando-se, Mark afastou-se da mãe e sentou-se em sua escrivaninha.

— Sua presunção é espantosa, mãe. Apesar de ser a única culpada dessasituação, sou eu quem está sendo forçado a casar-se com a filha de Abigail. Ela nãoestá chantageando você e sim a mim. A mim e a Matthew. Mas, no que depender demim, ele jamais saberá.

Lucinda fitou o filho com frieza.

— Bem, eu tenho uma reputação a zelar, mesmo que não se incomode comisso.

Mark soltou uma gargalhada.

— Sua reputação! A senhora pisou em sua reputação tantas vezes e comtamanha energia, que se torna difícil acreditar que se preocupa com ela. Imagino se,depois de tudo isso, ainda existe alguma reputação para zelar.

Lucinda sorveu o restante da bebida de um só gole, antes de depositar ocopo na mesa.

— Como você se parece com seu pai! Deus me proteja, você se torna a cadadia mais parecido com ele.

— Aí é que a senhora se engana, mãe. Não sou tão parecido com ele a pontode me deixar destruir. — Mark sentia a respiração ofegante e tentou acalmar-se.Não iria deixar que ela o provocasse com uma discussão sobre o pai. Não naqueledia especial. — Saiba que não ligo a mínima para sua reputação. Nem tão poucoestou preocupado comigo. Minha preocupação é com Matthew. Ele é meu irmão equero poupá-lo da revelação ultrajante de sua paternidade.

Mark fechou os olhos e imaginou o irmão tomando chá em casa da noiva,lady Rosalind. Matthew estava tão apaixonado por ela! Olhou para a mãe e viu-a

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dedo o contorno dos lábios. Os dedos másculos daquele homem a haviam tocadocom tal intimidade como se ela fosse propriedade dele. Não houve um traço de hesi-tação naquele toque. Ele a beijara com uma paixão tão veemente que não admitirarecusas, exigindo uma entrega incondicional. Em alguns minutos alcançara o êxtase

que jamais sentira.Santo Deus! O que acontecera com ela? Entregara-se a um estranho! Mal

podia acreditar no que fizera. Elizabeth Dare, uma mulher sempre tão comedida.Tão cumpridora de seus deveres de filha, irmã e esposa. Como podia ter se igualadoa mais vulgar das cortesãs?

Mas aquilo só poderia ter acontecido com ele, pensou. Jamais aconteceriacom qualquer outro homem. Ele era tão raro e irresistível quanto um meteorocruzando os céus.

Sua existência sempre tão pacata e monótona fora de repente atingida por um terremoto. Deveres e obrigações sempre nortearam sua vida. E então, noPalácio de Cristal, encontrara o prazer.

Liza dobrou o lenço com cuidado e colocou-o embaixo do travesseiro. Talvezjamais voltasse a encontrar aquele estranho, mas o odor de verbena a faria lembrar-se dele para sempre.

Virou-se de lado e encarou a chama da vela. No dia seguinte voltaria aoPalácio de Cristal. Uma onda de excitação atingiu-lhe o peito. Um par de olhos

incrivelmente azuis fitando-a com intensidade surgiram em sua mente. Lembrou-seda curva dos lábios sensuais, do ângulo de sua mandíbula. A despeito da insensatezdaquela situação, ansiava por encontrá-lo mais uma vez.

Capítulo II

Mark passou mais uma vez pela galeria principal do Palácio de Cristal,observando com cuidado as pessoas que lá se encontravam naquele fim de manhã.O lugar parecia mais concorrido do que no dia anterior. Onde estaria ela? Já estavaprocurando há mais de meia hora. Um sentimento de frustração atingiu-lhe o peito.Por que achara que seria tão fácil encontrá-la?

E se nunca mais a visse? Exasperado, afastou tal pensamento da mente. E

se ela estivesse lá? Eles poderiam caminhar o dia inteiro sem se encontrarem.Tomou uma decisão. Ficaria em um local específico e aguardaria até que ela

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aparecesse. A questão agora era onde ficar. No salão de exposição de porcelanas?De prataria? Ou no salão de mobília gótica? Tomou uma decisão rapidamente. Sim,ficaria no salão de mobília gótica. Afinal, aquele era o lugar deles.

Os ombros de Mark tensionaram enquanto seguia adiante. Ela viria. Tinha

que vir. Só precisava de um pouco de paciência. Ele odiava esperar.

Dezenas de pessoas se amontoavam em frente a cada peça exposta. No finaldo salão um pequeno grupo se encontrava em frente a um oratório antigo. O olhar de Mark fixou-se de imediato na figura feminina vestida de azul escuro. Os músculosde sua mandíbula se contraíram. Quando o grupo se dispersou em direção a outrapeça, pôde ver a fita preta em volta do braço dela.

Seu corpo relaxou e o sangue pôde circular outra vez em suas veias. Ele aencontrara afinal! Uma sensação de alívio fluía por seu corpo como as ondas do

mar. Alívio e outro sentimento indefinível que o fez sentir vontade de rir. Retirandoas luvas e desabotoando o sobretudo, ele se aproximou bem devagar.

Ao chegar bem perto, levantou uma das mãos e deu um suspiro. Seus dedostocaram-lhe os ombros com suavidade e em seguida deslizaram pelas costasesguias.

Liza enrijeceu e depois visivelmente relaxou. Ele permanecia atrás delaocultando-a das pessoas que se encontravam no salão. Sentiu a fragrância debaunilha e flor de laranjeira que emanava do corpo feminino.

Tocá-la e aspirar seu perfume deixava-o numa espécie de torpor, como seestivesse no meio de um sonho. Graças a Deus a encontrara! A necessidade detomá-la nos braços era quase irresistível.

— Olá — cumprimentou com voz rouca.

— Olá. — Ela virou-se e Mark deixou as mãos deslizarem por sua cinturaantes de retirá-las.

Os olhos dela eram ainda mais bonitos do que se recordava. Seria por causadaqueles aros dourados que circundavam as pupilas? Ou pela expressão de alegria

que eles irradiavam?

Seus olhares ficaram presos um ao outro enquanto um grupo de senhoras seposicionava ao lado deles para admirar o oratório.

— Diga-me seu nome — pediu ele. Ela hesitou.

— Por quê?

— Porque gosto de saber o nome das moças com quem me relaciono.—Marksentiu uma ponta de arrependimento assim que proferiu aquelas palavras. Mas logoem seguida descartou tal sentimento. Afinal, embora cruel, era verdade e ela nãodeveria alimentar falsas ilusões acerca da presença dele ali.

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As faces de Liza tornaram-se rubras, mas no momento seguinte estendeu amão direita.

— Meus amigos me chamam de Liza.

Mark encarou-a. A pena azul safira do chapéu que usava moldava-lhe o rostode uma forma feminina e sensual. Os lindos olhos encaravam-no sem pestanejar e amaravilhosa boca escarlate eslava entreaberta. Ele sentiu algo vibrar em sua virilhae tomou-lhe a mão na sua, levando-a ao peito e entrelaçando os dedos nos dela.

— Verdade? Eu sou Mark.

Ela mordeu delicadamente o lábio inferior, enquanto o observava de mododiscreto.

O que ela veria?, perguntou-se. Desejo, cobiça e algo mais que ele não sabiadefinir. Mas aquela mulher não deveria ter nenhuma ilusão a seu respeito.

Naquele instante, tomou-a nos braços, fazendo-a sentir toda a força de suavirilidade.

— Este é o motivo pelo qual estou aqui — informou ele. — Você entende?

— Sim, entendo. — Os lábios de Liza tremeram ao proferir essas palavras.

Uma vontade imperiosa de beijá-la tomou-o de assalto. Olhou por sobre oombro e viu alguns casais que se encontravam absortos do outro lado do salão.Agarrou-a pelo pulso e em uma fração de segundo puxou-a para trás da fachada do

castelo medieval.Mark encostou-se à parede e trouxe-a consigo. Seus braços esmagavam-na

num abraço apertado. De repente, tomou-lhe a boca de assalto, sugando-lhe o lábiosuperior e explorando com a língua todas as reentrâncias, saboreando-a até quaselhe roubar o ar. Sabia que não estava sendo gentil, mas a culpada era ela. Aquelamulher instigava-lhe um desejo veemente e impetuoso, sem precedentes.

Liza lutava por sua respiração, mas não se afastava do corpo másculo nemum milímetro. Ao contrário, colava-se cada vez mais a ele, abrindo a boca para

recebê-lo.Ele sentiu-a retirando-lhe o chapéu da cabeça e quando os dedos femininos

deslizaram por seus cabelos, soltou um gemido abafado.

O corpo de Liza começou a mover-se suavemente sobre o dele e ele sentiu ocalor invadir seu corpo.

Mark sentia que não conseguiria controlar seu desejo por muito tempo mais,mas lutava para não exceder-se. Uma de suas mãos acariciava-lhe o seio, enquantoseus lábios traçavam uma linha de fogo do lóbulo da orelha até a curva do pescoço.

Foi então que a ouviu murmurar:— Por favor...

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— O quê?

— Eu... preciso...

Mark removeu a contragosto a boca da pele sedosa e encarou-a. Por ummomento reteve a respiração. O belo rosto de Liza era a própria imagem do desejo.Um cacho de cabelos ruivos caía-lhe sobre a testa e as faces estavam rubras. Oslongos cílios negros adornavam os radiantes olhos cor de mel, de onde uma lágrimabrotava. Em seguida rolou-lhe pela face indo cair sobre o peito alvo.

— Diga-me o que precisa. — A voz dele soava baixa e rouca. Os olhosúmidos de Liza fitaram-no.

— Você sabe.

— Sei, mas quero ouvi-la dizer. Diga-me.

Liza mordeu o lábio e suas mãos agarram-se à camisa dele. Mais umalágrima rolou.

Mark deslizou a língua pelas faces molhadas, beijando-lhe os olhos.

— Preciso de você — sussurrou ela, com voz trêmula. — Agora.

Naquele momento, ele julgou que poderia afogar-se nas profundezasdaqueles olhos.

Quando Liza baixou o rosto, ele ergueu-lhe o queixo com uma das mãos.

— Nunca sinta vergonha. Não há necessidade. Veja minha situação. Meusamigos jamais acreditariam que, neste momento, me encontro escondido atrás deuma pintura no Palácio de Cristal. Mas não sinto vergonha. Sabe por quê? Porqueestou aqui com você E é isso que importa. Foi por isso que viemos aqui hoje.

Sem conseguir esperar, ele tomou-lhe a boca num beijo longo e intenso. Emseguida deslizou os lábios pela face quente de Liza e perguntou-lhe bem próximo aoouvido.

— Era isso que queria, não era? Foi por isso que voltou aqui?

— Sim... sim...Permaneceram imóveis por um longo tempo. Abraçados e alheios ao

burburinho do outro lado do salão. Mark sentia seu coração bater acelerado no peito,como se fosse um tambor. Ele não conseguia ouvir nenhum som, além das própriasrespirações. Abriu a boca sobre o ombro de Liza e saboreou-lhe a pele úmida.

Liza deu um longo suspiro e começou a recompor-se, passando as mãospelos cabelos.

— Deixe-me ajudá-la — murmurou ele.

— Obrigada.

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Mark jamais havia ajudado uma mulher a se recompor. Nem mesmo suasamantes. Nunca se preocupara. Na verdade, uma vez satisfeitas suasnecessidades, costumava desinteressar-se por completo pela mulher que estava aseu lado. Nem mesmo tentava manter uma conversação cortês. Mas também,

jamais sentira com outra mulher o êxtase que Liza lhe proporcionara. Nenhumademonstrara tamanho desprendimento. Nenhuma lhe oferecera lágrimas. A vozsuave de Liza despertou-o de seus devaneios.

— Posso lhe perguntar uma coisa?

— Claro. — Ele notou que estava franzindo o cenho e suavizou a expressão.

— Você disse antes que gostava de saber o nome das mulheres com quemse relaciona...

— Vá em frente.

— Você sempre faz isso?

— O que quer saber? Se sempre beijo desconhecidas? Ou se costumoabordar mulheres em lugares públicos?

Ela considerou a pergunta por um momento.

— A segunda alternativa, eu acho. Mark conteve o riso.

— Nunca. — Mark traçou-lhe o contorno dos lábios com o dedo. — Com vocêfoi a primeira vez.

Liza estudou-o por um momento, como se quisesse certificar-se daveracidade daquelas palavras.

— Obrigada pela resposta.

Ele deslizou a mão pelos cabelos ruivos de Liza antes de recolocar-lhe ochapéu.

— Quero vê-la outra vez. Você pode me encontrar amanhã neste mesmolugar às dez e trinta?

Ela ficou em silêncio por alguns instantes.— E então? Você virá? — repetiu a pergunta, ansioso.

— Sim — Liza respondeu, sucinta.

Mark deu um sorriso largo e pegou seu chapéu.

— Ótimo.

Quando fitou aqueles olhos cor de mel, desejou poder fazer as pessoasdesaparecerem do salão para que pudesse amá-la outra vez.

— Até amanhã, então — disse ela.

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— Beije-me.

Liza hesitou por um segundo e então envolveu-lhe o pescoço com os braçose pôs-se na ponta dos pés. Quando Mark não se moveu, nem se inclinou, elaestacou, encarando-o. Em seguida, pôs uma das mãos em sua nuca e gentilmente

puxou-o para baixo e o beijou.

Mark não respirou. Cerrou os olhos e deixou-se levar pela sensaçãomaravilhosa que experimentava. Uma onda de tontura o assolou, enquanto elapressionava os- lábios macios contra os dele e sugava-lhe a língua. E teve que seamparar contra a parede para manter-se de pé. Foi com relutância que afastou ocorpo feminino do seu.

— É melhor você sair agora, antes que eu a impeça de fazê-lo. No instanteseguinte Liza havia desaparecido.

Liza pintava uma hortênsia azul em um prato de porcelana. Mas um par deolhos azuis circundados por sobrancelhas pretas não lhe saía da mente. De vez emquando seu corpo vibrava, como se ondas de eletricidade o percorressem.

— Desculpe-me. Não consegui encontrar-me com você ontem na exposição— Charlotte explicou, enquanto tentava dar os retoques finais na rosa que pintava.

— Não tem problema. — Liza deslizava o pincel pelo centro do prato. Elaconseguia ouvir a voz dele, rouca e sensual. Podia sentir as mãos fortes em suapele. E seus beijos... profundos e famintos faziam-na perder a respiração.

— Minha mãe me pressionou para ir, mas tive uma terrível enxaqueca.

— Hum. — Liza mergulhou o pincel na tinta azul e lembrou-se do olhar penetrante de Mark. Sentiu o odor de verbena e imaginou-se aninhada nos braçosmásculos.

— Não sei por que mamãe estava tão insistente — continuou Charlotte.

— Isso é estranho — Liza respondia alheia, enquanto se imaginava atrás dafachada de um castelo medieval no Palácio de Cristal. Em um mundo onde arealidade não existia.

— Se eu não tivesse começado a chorar, acho que ela me obrigaria a ir.

— É mesmo?

— Você não ficou brava comigo, não é? — perguntou Charlotte. — Eu disse àmamãe que não ficaria.

— Claro que não. — Será que Mark estaria lá amanhã?, pensou Liza, dandoum profundo suspiro.

— Você ficou zangada, posso ver por sua expressão.

Liza por fim encarou a prima. O sol da tarde que entrava pela janela

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Jamais colocaria o nome do marido em suas pinturas, pensou ela.

— Para o mundo sou Elizabeth Redington, mas no meu coração e na minhaarte sou apenas Elizabeth Dare. E até que eu entregue meu coração a alguém,assim permanecerei.

O som de vozes atraiu a atenção das moças.

— Estou tão feliz por o senhor ter vindo nos visitar! — a voz de Mathildasoava alta e estridente, mesmo quando tentava ser discreta. — Sente-se, enquantovou chamar minha sobrinha e a prima dela.

No instante seguinte o chapéu de Mathilda apareceu à porta do estúdio,

— Meninas... venham comigo.

Liza e Charlotte levantaram-se e acompanharam a tia.

— Venham rápido — insistiu Mathilda. — Charlotte, você está com tinta nasmãos. Liza, querida, deixe-me observá-la. Está perfeita.

Um homem alto e corpulento com cabelos louros levantou-se assim que elaschegaram à sala de estar.

— Meninas, tenho a honra de lhes apresentar o sr. Alfred Swittly, sobrinho deduas de nossas mais diletas amigas, a sra. Eustácia e a sra. Arabella Swittly.

Liza sentiu a mão da tia impulsioná-la para frente.— Estou encantado, sra. Redington — disse o homem, olhando-a de cima a

baixo.

— E esta é Charlotte Lawrence, prima de Liza.

— Mais uma vez encantado.

Todos se sentaram e Liza temeu que a cadeira cedesse sob o peso dohomem. O móvel rangeu perigosamente quando o sr. Swittly conseguiu acomodar-se.

— Deve perdoar-me por interromper sua aula de pintura, srta. Lawrence... —ele começou. — Sua tia contou-me, sra. Redington, que está ensinando a sua primaa bela arte de pintar botânica em porcelana. Devo dizer-lhe que considero uma dasmais adequadas formas de uma dama ocupar seu tempo. As mãos se mantêmocupadas, enquanto a mente não é sobrecarregada. E o resultado final é uma belapeça para decorar a casa. — Ele sorriu. — Essas atividades domésticas são umverdadeiro predicado de uma dama. Que maçante!, pensou Liza, forçando umsorriso.

— Não sei como agradecer por tão comovente elogio. Sinto quesobrecarregaria minha pobre mente se tentasse formular uma resposta apropriada.

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Então permanecerei em silêncio ante a superioridade de sua sabedoria.

Mathilda lançou um olhar desconfiado à sobrinha por trás do leque, mas sir Alfred sentiu-se visivelmente ufanado por tal condescendência.

—Deve orgulhar-se, sra. Dare, por ter sobrinhas tão famosas e encantadoras.

Mathilda sorriu.

— Eu me orgulho. As filhas de meu irmão são as meninas de meus olhos.Contudo, Charlotte não é minha sobrinha. A mãe dela, Abigail Lawrence, era primada mãe de Lisa. — A voz de Mathilda traiu um leve toque de desdém e seu leque semovimentou com mais vigor.

— Srta. Redington, sabe que temos mais coisas em comum do que podesupor? Ambos somos viúvos — ele disse com tanto entusiasmo que Liza sentiu-secompelida a ser cruel.

— Não diga! — exclamou, baixando a cabeça e procurando o lenço no bolsoda saia. Assim que o encontrou, levou-o aos olhos.

— Perdoe-me, sr. Swittly. Mas a simples menção dessa situação pesarosaabre a ferida deixada em meu coração.

— Bem... eu... eu... — Alfred gaguejou, embaraçado. — Sua tia assegurou-me que...

Liza soluçou alto e continuou a encenação.

— E tenho certeza de que minha dor é tão profunda quanto a sua, sr. Swittly.

Gotículas de suor brotaram na testa de Alfred.

— Bem... eu... claro — concordou ele, com expressão triste.

— Ainda lamento a perda de minha adorável esposa. Meu coração está tãocontrito quanto o seu, sra. Redington.

Liza deu um suspiro de alívio.

— Na qualidade de um companheiro de dor e luto, tenho certeza de que o

senhor não se incomodará se eu me retirar para prantear minha dor na privacidadede meus aposentos.

— Claro, sra. Redington.

Liza levantou-se, seguida pela prima. Quando passaram por Mathilda ambasdepararam com seu olhar de censura, porém na presença de sir Alfred Swittly, eladispensou as moças sem protesto.

Já fora da sala de estar, Liza ouviu um fragmento da voz da tia dizendo algocomo "talhada para o casamento". Seu sangue congelou nas veias, enquanto subia

a escada. Santo Deus! Perdera a conta das vezes que já dissera à tia que não tinha

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intenção de voltar a se casar, que gostava de sua vida do jeito que estava. Tinhaconcordado em passar as férias em Londres apenas para despender algum tempoem companhia da tia e da prima e talvez freqüentar alguns eventos sociais após seuperíodo de luto. Nada mais. E muito menos tinha intenção de encontrar um marido.

— Milady, não tenho intenção de me casar nem agora e nem nunca — Marksibilou por entre os dentes.

Sentada em sua cadeira, como uma rainha, Abigail Lawrence ergueu o queixoe encarou seu interlocutor.

— Não imagino como poderá evitar esse fato, milorde. Mark levantou-se.

— É muito simples. Basta a senhora desistir dessa chantagem imoral e ilegal.

— Desistir? Por que faria isso? Que lei ou moral impediria uma mãe deassegurar o futuro e a felicidade da filha? — Abigail sorveu pequenos goles de seuchá e em seguida depositou a xícara na mesa. — Além disso, estou apenasaproveitando uma oportunidade com a melhor das intenções.

— O inferno está cheio de boas intenções, milady. A senhora não sente obafo do demônio em seu pescoço?

Nem uma ponta de incerteza surgiu nos olhos da sra. Lawrence.

— Por que não faz essa pergunta a sua mãe?

Mark retirou a carteira do bolso da calça e colocou-a sobre a mesa.

— Quanto a senhora quer para me entregar a carta? Abigail reclinou-se emsua cadeira.

— Não é uma questão de dinheiro, milorde. Mark tentava controlar sua ira.

— O que quer, então? — bradou. Abigail sorriu.

— Seu título de nobreza, é claro. Dinheiro é passageiro, milorde. Um título éeterno, e minha Charlotte merece pertencer à nobreza.

— E quanto ao meu irmão? Ele não tem direito a se casar com a mulher que

ama? Se sua paternidade for exposta ele perderá tudo.Abigail deu de ombros.

— Você tem o poder de salvar seu irmão.

— Com bastante dinheiro poderá comprar o título que tanto almeja — Marksugeriu.

— Para isso é preciso tempo e energia, e todos ficariam sabendo. Não éassim que quero. Não há honra alguma nisso.

Mark caminhou até se posicionar atrás da cadeira de Abigail.— Não mencione essa palavra na minha frente, milady. Ouvi-la de seus lábios

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me ofende.

As faces de Abigail ficaram rubras de raiva.

— Pois trate de manter uma atitude civilizada, milorde, ou publicarei a históriado romance de sua mãe com o jardineiro em todos os periódicos de Londres.

— Não. A senhora não fará isso. E sabe por quê? Porque cobiça meu títulode nobreza. Portanto, não me ameace.

— Eu enviei uma minuta de contrato matrimonial ao seu advogado, milorde,marcando a data do casamento para o dia dez de junho.

Mark sentiu o sangue ferver.

— Daqui a um mês? — Ele precisava de mais tempo para estudar uma formade se livrar daquela chantagem. — Todos vão pensar que sua querida filha está

grávida.— O que me importa é assegurar o futuro de minha filha. Não me interessam

as fofocas que possam surgir. Quero que os proclamas comecem a correr aindaesta semana.

Sem responder, Mark retirou-se do aposento batendo a porta atrás de si comfúria.

— Aí está você, finalmente.

Mark ergueu os olhos do esboço de arquitetura e encarou o irmão.

— O que você quer?

— Por andou a tarde inteira? Esperei quase duas horas. Mark gostaria decontar a Matthew a história de Abigail Lawrence, mas jamais estragaria a vida doirmão.

— Tinha negócios a tratar.

Matthew sentou-se na beirada da mesa e sorriu.

— Mas insisto em saber se voltou a encontrar sua fada do Palácio de Cristal.

O sorriso de Mark se alargou.

— Encontrei.

— Eu sabia que ela voltaria lá. — Matthew inclinou-se na direção do irmão. —Agora, não seja cruel e ponha-me a par dos detalhes sórdidos. Quem é ela?

— Só sei que se chama Liza.

— E o que mais? Vocês... beijaram-se outra vez?

— Sim — respondeu Mark lacônico.

— E foi como ontem?

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Seus olhos estavam cerrados como se estivesse concentrada em umaoração.

— Desculpe-me. — Uma voz grave despertou-a de seus devaneios.

Liza encarou o estranho e uma sombra de desapontamento surgiu em seusolhos.

— Não era minha intenção interrompê-la, mas a senhora está bem?

Algo no semblante daquele estranho a fez lembrar de Mark. Liza olhou emvolta e tornou a fitar o homem que a abordara.

— Estou perfeitamente bem, obrigada.

Naquele instante, Liza sentiu-se abraçada pela cintura ao mesmo tempo queum aroma de verbena se fazia sentir no ar. Um estranho excitamento tomou conta

de seu corpo.— Este cavalheiro a está incomodando, querida?

Liza estremeceu. Para todos os efeitos eles eram dois estranhos. Ninguémsabia que eles se conheciam. Como ousava abraçá-la em público? Ainda assim, seucoração palpitou de alegria ao ouvir aquela voz grave.

— Eu... ah... não.

Olhando de relance para o estranho a sua frente, Liza ficou surpresa por encontrá-lo sorrindo.

— Bem... Agora que não está mais sozinha, permita-me que me retire. —Assim dizendo, fez uma mesura e afastou-se.

— Como vai, Liza? — cumprimentou Mark assim que ficaram a sós.

— Bem, obrigada, Mark.

— Desculpe-me por ter me atrasado. Tive uns assuntos a tratar e demorei umpouco mais do que o previsto.

Liza não pôde deixar de imaginar quem seriam seus amigos. Como seria a

vida daquele homem. O que fazia. Com quem moraria. Tinha consciência de quejamais saberia as respostas para todas aquelas indagações. Afinal, aquele era openúltimo dia que tinham para se encontrar e depois disso não se veriam outra vez.Uma ruga de apreensão franziu-lhe a testa.

— O que há de errado? — ele indagou, erguendo-lhe o queixo.

— Nada. Eu... estava apenas imaginando que tipo de homem é você. Echeguei à conclusão de que nunca saberei. Quero dizer, devido às circunstâncias.

Mark fitou-a intensamente.

— Sou o tipo de homem que persegue aquilo que deseja, custe o que custar.

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Mark tomou-a nos braços e beijou-a com voracidade. Em seguida afastou-a etomou-lhe a mão esquerda entre as suas.

— Fale-me sobre ele — pediu, fitando o anel de ouro que ela ainda usava.

— O que quer saber?

— Tudo que quiser me contar.

— Fui casada durante três anos, antes de meu marido morrer emconseqüência da queda de um cavalo.

— Você o amava?

O coração de Liza se apertou. Nunca alguém lhe fizera tal pergunta.

— Não — respondeu num fio de voz.

— E ele a amava?Liza suspirou longamente antes de responder:

— Não.

— Você tem filhos?

— Não posso ter filhos — respondeu Liza com uma ponta de tristeza na voz.

Mark ficou lívido. Por que aquela confissão o surpreendeu tanto? Por quedeveria se importar com isso?

Um segundo depois estavam atrás da fachada do castelo medieval, lutandocontra a força de beijos selvagens, de mãos que exploravam cada curva dos corposfamintos. Até que tudo desapareceu da mente de Liza, o casamento sem amor, ador, a frustração, os anos perdidos, a necessidade veemente de amar e ser amada.

Quando afinal Liza conseguiu encontrar sua voz, encarou-o muito séria.

— Vou sentir falta de nossos encontros quando nos separarmos amanhã.

O corpo de Mark ficou rígido.

— Por que amanhã será nosso último encontro?

— Estou de visita em Londres — respondeu Liza. — E amanhã é o último diaem que virei visitar o Palácio de Cristal com minha tia.

— Você irá embora de Londres amanhã?

— Ainda não, mas estou hospedada em casa de minha tia e não posso vir aqui todos os dias.

— Quando tempo ficará em Londres?

— Dois meses. Talvez um pouco mais.

— E depois disso? Liza fez uma pausa.

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— Depois... irei para casa.

— E onde fica sua casa?

Ela encarou-o com um brilho estranho no olhar.

— Mark, entenda uma coisa. Nunca fiz isso antes. Além de meu marido, vocêfoi o único homem que beijei. Meu pai é o vigário da minha cidade e lá sou umaviúva respeitável. Não podemos continuar nos encontrando para sempre.

— "Para sempre" não existe no meu vocabulário, querida. Só quero quecontinuemos a nos encontrar até que um de nós perca o interesse. Então, sóprecisamos nos preocupar com a discrição. Na qualidade de viúva, deve ter umcerto grau de liberdade.

— Você não entende. Não posso me encontrar com você sem arruinar minhareputação e magoar minha família. Momentos atrás, por exemplo, quando eu estavaconversando com aquele estranho, você me abraçou e me chamou de querida. E seele fosse meu conhecido? Minha reputação já estaria arruinada agora.

— Eu sabia que não o conhecia.

— Como poderia saber?

— Porque ele é meu irmão.

Os olhos de Liza alargaram-se e suas faces enrubesceram. Um longo silênciopairou entre eles.

— Você falou sobre mim com seu irmão?

— Ele é a única pessoa no mundo em quem confio e a quem conto tudo queacontece comigo. Além disso, meu irmão é um cavalheiro. Sua reputação continua asalvo.

— Talvez eu fale de você às minhas irmãs. Assim ficaremos quites.

— E onde residem essas suas irmãs? Ela arrumou os cabelos.

— Minha tia está me aguardando. Preciso ir. Mark segurou-a pelo braço.

— Droga, Liza. — Sua voz era quase um sussurro. — Não quero que issotermine assim. É cedo demais.

Ela fitou a mão forte em seu braço.

— Você me forçaria, se eu o recusasse?

— Claro que não. — Soltou-a no mesmo instante e ela colocou o chapéu. —Mas você também não quer que isso acabe, admita.

Liza ficou em silêncio por alguns instantes.

— Tem razão. Eu estaria mentindo se dissesse que sim. Uma onda de alíviopercorreu o corpo de Mark.

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— Então, diga-me. Onde é a casa de sua tia?

— Contudo, estou acostumada a não ter o que desejo.

Capítulo III

Sentada sob a sombra da frondosa amendoeira no jardim de Mathilda, Lizadesenhava o esboço de uma nova figura para ser moldada sobre porcelana. Sua

mente, contudo, estava muito distante dali, atrás da fachada de um certo castelomedieval.

Por que Mark se mostrara tão resistente à iminente separação? Afinal, depoisde tudo que ele lhe contara sobre sua personalidade, era de se esperar queaceitasse o inevitável final daqueles loucos encontros sem a menor resistência. Umhomem como aquele não teria nenhuma dificuldade em encontrar muitas outrasmulheres que o satisfizessem. Será que sua relutância significava que precisavadela além do plano físico? Claro que não! Liza descartou imediatamente talpensamento. Mark tinha sido bastante claro quanto as suas intenções e não devia

alimentar falsas ilusões. Bastava ter sido crédula uma vez.

No início de seu casamento acreditara nas palavras doces do marido e,apesar de não amá-lo, pensara que o amor viria com o tempo e que construiriam umlar feliz. Em vez disso, foi o período mais triste e vazio de toda sua existência.

— Aqui está ela! — a voz da tia arrancou-a de seus devaneios. — Veja quemveio nos visitar.

Alfred Swittly e outro rapaz encontravam-se parados a sua frente.

— Sra. Redington — disse sir Alfred. — Que prazer encontrá-la mais umavez. Permita-me apresentar-lhe meu sobrinho, sr. John Crossman. Ele é herdeirodos Estaleiros Crossman.

— Encantada — cumprimentou Liza e preparou-se para mais uma tardeenfadonha. Sua tia não desistia nunca de lhe arranjar um novo marido.

Mark encarava a delicada figura de Charlotte Lawrence sentada em frente aele e sua mente insistia em voltar a um certo recanto no Palácio de Cristal, atrás deuma tela gigante. Não queria estar naquela sala em companhia da odiosa sra.

Lawrence e de sua mãe.— Acabei de informar a minha filha hoje pela manhã de suas intenções,

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milorde — comentou Abigail. — Expliquei-lhe como o senhor a viu na Ópera Italianae a achou adorável. — Mark olhou para moça, que baixou os olhos, fitando o tapete.Cachos dourados caíam-lhe sobre os ombros. Era uma bela jovem. — Charlotteficou honrada e naturalmente orgulhosa de se tornar sua noiva. E coincidência feliz

que nós já nos conhecemos, não é mesmo, condessa?Mark fitou a mãe de relance.

— Bem. Não nos vemos há anos, sra. Lawrence. — Lucinda disse em tomfrio. — Quase havia esquecido que um dia nos conhecemos.

Os olhos de Abigail faiscaram de ódio.

— Bem, agora teremos oportunidade de nos ver com mais freqüência. Eminha Charlotte será a nova condessa.

— É verdade. Meu filho sempre teve uma certa facilidade em freqüentar ascamadas inferiores. Não era de se espantar que acabasse arranjando uma noivaentre elas. Espero que sua filha tenha a graça e inteligência para superar suadescendência. Ostentar o título de condessa de Langley requer responsabilidade.

Abigail Lawrence cerrou os punhos.

— Talvez sua memória não a deixe lembrar de fatos do passado, mas...

— Bem, estou de partida — interrompeu Mark.

— De partida? — indagou Abigail. — Como assim? Não quer conversar com

Charlotte?— Conversar? Eu não sabia que ela era capaz de falar, milady. A senhora

falou por ela o tempo todo. A senhorita realmente aceita esta proposta? Com certezadeve ter uma fila de pretendentes.

A moça olhou nervosamente da mãe para o conde, sem saber o queresponder.

— Eu... eu... bem... não tenho conhecimento de nenhum pretendente e... sim,aceito sua proposta.

Mark franziu o cenho.

— Quando minha mãe tinha sua idade casou-se com um homem que nãoconhecia e acabou odiando-o e infernizando a vida dele até o dia de sua morte.

— Basta! — bradou a condessa. — Cale-se.

A moça encarava-o com uma profunda surpresa.

— Eu... eu...

— Minha filha não é sua mãe — atalhou a sra. Lawrence. — Que direito tem

de supor que ela agirá da mesma forma?

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— Sendo sua filha, posso supor o que quiser — bradou ele.

— Falando em suposições, milorde. Minha filha supõe que o senhor desejasua mão em casamento. Estará ela enganada a esse respeito,?

Bruxa! Mark desejava estrangulá-la com as próprias mãos.

— Claro que meu filho deseja casar-se com a sita. Charlotte — interveioLucinda. — Ele apenas está zangado comigo e, como todos os homens, confundeos sentimentos rios momentos importantes da vida. Só precisamos agora determinar qual a melhor forma de informar a sociedade.

— Ótimo. Acho que já posso me retirar e deixá-las discutindo as formalidades— Assim dizendo, Mark retirou-se sem olhar para trás.

Liza abandonou o sonho com relutância. Enquanto dormia, sua mente vagaraaté uma floresta magnífica onde raios de sol iluminavam esplêndidas paisagens. Elaabraçava um enorme leão e não sentia medo. O que a teria acordado? Queria voltar ao mundo da fantasia.

Foi então que ouviu um som em sua janela. No mesmo instante, sentou-se nacama. A luz da lua iluminava o quarto e podia ver que não havia nada lá. Mas, aomesmo tempo ouviu o barulho de algo caindo no chão. Levantou-se e pegou oobjeto. Era uma das pequenas pedras que decoravam o jardim de Mathilda.

Seu corpo todo tremeu. Só havia uma pessoa no mundo que teria a ousadiade jogar pedras em seu quarto. Mas aquilo era impossível. Não poderia ser ele. Não

sabia onde ela morava.

Incerta, caminhou até a janela e deslizou as cortinas. Lá estava ele. Markequilibrava-se nas grades da varanda.

Liza ficou paralisada. Suas pernas tremiam. Sua respiração quase parou.

— Todos estão dormindo. Deixe-me entrar — a voz dele era quase ummurmúrio.

Como poderia deixá-lo entrar?

— Eu não posso.

— Preciso falar com você.

— Como descobriu onde eu morava?

— Depois da nossa conversa no Palácio de Cristal, pensei que talvez vocêpudesse desaparecer. Então pedi que meu irmão a seguisse.

Por que não estava assustada? A razão lhe dizia que deveria.

— Você não deveria ter feito isso.

— Só quero conversar com você, Liza. E se eu prometer não tocá-la? — Um

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longo silêncio pairou entre eles. — Apenas alguns minutos. É só o que peço.

Liza pressionou as têmporas. Aquilo era perigoso. Deveria pedir que ele seretirasse, mas faltavam-lhe forças para proferir as palavras.

Com um movimento rápido, como se fosse um felino, Mark pulou para dentrodo quarto.

— Deixe-me acender uma lamparina. — Ela encaminhou-se até criado mudopara pegar um fósforo. — Sente-se.

Subitamente o quarto tornou-se muito pequeno. Tudo parecia encolher napresença daquele homem magnífico.

— Você é tão linda! Eu não quero perdê-la ainda. Que diferença faz se nósnos encontrarmos no Palácio de Cristal ou em qualquer outro lugar? Que mal podefazer uma semana de amor? Ou um mês?

— Não. Não está certo. Não podemos continuar a nos encontrar. O quecompartilhamos deveria ter permanecido atrás da fachada daquele casteloinexistente.

— Por quê? O que há de tão horrível? Estamos magoando alguém? Por acaso alteramos o curso da história? — Liza tinha que admitir que a resposta eranão. No entanto, não podia dizê-lo. — Eu sei que isto não continuará para sempre,mas também sei que não devemos nos privar desse prazer tão intenso queproporcionamos um ao outro. O que existe entre nós não pode ser errado.

Seria verdade? Ou apenas o desejo falando mais alto? Liza permanecia depé, fitando as próprias mãos. Incapaz de encará-lo.

— Liza, ouça-me. Tenho uma proposta a fazer-lhe. — Ela ergueu os olhos.Ele estava tão próximo. Teve que usar de todo seu autocontrole para não tocá-lo. —Em dois meses partirá de Londres. Se concordar em continuar nossorelacionamento nesse período, concordo em dizer-lhe adeus quando tiver que voltar para sua cidade.

Uma pontada de apreensão apertou o peito de Liza. Quão difícil seria dizer aquela palavra no final de dois meses?

— Você não quer dizer adeus agora. O que o faz pensar que o fará depois?

— Posso não querer, mas o farei.

— Tem certeza? — murmurou Liza.

— Hoje à tarde quando me disse que amanhã seria nosso último dia, foi umasurpresa. Eu não gosto de surpresas. Se estiver preparado, posso lidar comqualquer situação. E então? Qual a sua resposta? — Mark estava rígido aguardando

a sentença.— Você é muito persuasivo. No entanto, uma parte de mim ainda diz que eu

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deveria recusar sua proposta. — Fez uma longa pausa e encarou-o bem dentro dosolhos. — Apesar dos meus medos, anseio por seus abraços. Aceito sua proposta,Mark.

Ele deu um longo suspiro. A tensão afinal deixou seu corpo e foi substituída

por um turbilhão de emoções: alívio, satisfação, conforto e... desejo.

Mark pousou as mãos nos ombros de Liza e, lentamente, deslizou-as pelosombros macios, levando consigo a camisola. Em seguida, acariciou os seios, oventre, a curva dos quadris, descendo pelas coxas. E então, voltaram a subir com amesma lentidão e reverência.

Ela, porém, impediu-lhe o movimento.

— Isso não é justo. Estou despida e vulnerável e você continua vestido.

— Não seja por isso, minha querida dama. Dispa-me.

Liza acatou a ordem. Era a primeira vez em sua vida que despia um homem eestava adorando.

Quando ambos se encontravam nus, Mark explorou aquele corpo alvo emacio. Dessa vez, afagava-lhe as costas e as nádegas. Beijou-lhe a curva dopescoço e os ombros. Enquanto uma das mãos lhe acariciava os seios, a outradesceu até encontrar o caminho por entre as coxas dela.

Liza sentia os joelhos trêmulos. O prazer provocado por aquelas carícias

afugentava os últimos vestígios de incerteza.Mark continuou explorando as reentrâncias daquele corpo maravilhoso, até

senti-la contorcer-se de puro prazer.

— Mark... por favor... eu... preciso... eu quero...

— Eu sei o que você quer, querida. Mas tenha calma. A noite está apenascomeçando. Temos todo o tempo do mundo...

A luz débil da alvorada penetrou através das cortinas atingindo os olhos deLiza e fazendo-a piscar várias vezes até despertar por completo. Alguma vez

sentira-se tão segura e aquecida? Aconchegou-se ainda mais ao corpo másculocurvado a seu lado.

Mark!

Arregalou os olhos, fitando-o por sobre os ombros.

Ele estava acordado. Deitado de lado, apoiava-se sobre o cotovelo e com acabeça sustentada pela mão, observava-a com olhar sério. Só o Criador poderia ter concebido tão belos olhos.

— Bom-dia — murmurou Mark.Liza sentiu um rubor intenso subir-lhe à face.

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— Bom-dia.

— Nunca havia passado uma noite com uma mulher. Surpresa e umaagradável sensação de prazer perpassaram-lhe a alma.

— Está falando sério?

— Sim — respondeu, franzindo o cenho. — Durante o seu casamento dividiaa mesma cama com seu marido?

Desconcertada, Liza não respondeu de imediato.

— Bem... sim. — Por que ele insistia em fazer perguntas sobre seu ex-marido? — Mas nunca dessa forma — completou, observando o peito musculoso. —Ele não me tocava. Dormíamos um em cada canto da cama.

Ele franziu ainda mais a testa e deslizou a mão firme em volta da cintura

delgada.— Fico feliz que ele nunca fez amor com você dessa maneira. Liza sorriu.

— Eu também — Ela olhou para a janela e depois para o relógio no criado-mudo. — Deus! São quase cinco horas. — Desvencilhou-se dos braços fortes que aseguravam e pegou a camisola que estava ao pé da cama antes de se levantar.

— Tem de ir agora. Os criados levantam às cinco e meia.

Ao notar que ele não parecia inclinado a se mover, franziu o cenho emreprovação.

— Se formos surpreendidos juntos, minha tia terá um ataque apoplético. Semmencionar o escândalo.

Em resposta Mark apenas entrelaçou as mãos por detrás da cabeça,parecendo bastante relaxado.

— Beije-me e partirei.

Oh, Deus! Um beijo poderia significar sua perdição. Arqueou a sobrancelhanum gesto incrédulo.

— Promete?

A estrutura dos ombros largos encolheu-se num suave movimento.

— Claro.

Segurando com firmeza o lençol preso ao corpo, Liza encaminhou-se para olado da cama que ele ocupava e inclinou-se de modo lento, roçando de leve oslábios contra os dele num breve contato.

Não pôde deixar de notar o olhar de reprovação no rosto másculo de traços

perfeitos.— Não posso chamar isso de beijo — reclamou, indignado.

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— Oh, você é incorrigível — censurou-o Liza com pretensa repreensão. Emseguida, sentou-se a seu lado, deslizando a mão de modo suave por detrás dopescoço largo e envolvendo-lhe os lábios num beijo quente e úmido. Pretendia ser breve, mas o gosto daquela boca sensual e o ardor com o qual ele correspondia a

detiveram por um tempo que pareceu uma eternidade.Aprofundando o beijo, Mark puxou a mão livre de Liza, escorregando-a por 

debaixo do lençol. Ela ofegou ao contato do corpo másculo.

Deus a ajudasse! Ainda ansiava por ele.

Ele a beijou de modo profundo e possessivo, em seguida afastou-se,sorrindo.

— Prometi que se me beijasse eu partiria — disse, reunindo todas as forçasque possuía. — Não brinco com minha palavra.

Liza descerrou as pálpebras, franzindo o cenho.

— Malvado — protestou, fingindo-se aborrecida. Mark levantou-se e falou:

— Só estou partindo porque sei que a encontrarei mais tarde no Palácio deCristal. Prometa-me que a verei lá?

Ela se inclinou para pegar o robe que jazia no chão.

— Sim.

Enquanto abotoava a calça, observou-o se espreguiçar. Não pôde deixar deadmirar o magnífico corpo. Avantajado, porém de proporções perfeitas. Os ombroslargos emolduravam o peito musculoso e o torso esguio.

Mark deixou as mãos penderem ao lado do corpo. Em seguida, encaminhou-se para o local onde havia deixado o restante de suas roupas.

Liza umedeceu os lábios e engoliu em seco. A masculinidade parcialmenteexcitada a fazia ansiar por ele.

Lançando-lhe um olhar malicioso enquanto recolhia suas roupas, ele sorriuzombeteiro.

— Se continuar olhando desse modo, não me responsabilizarei por meusatos.

Corando, ela pegou a camisa pousada sobre a cadeira e ajudou-o a vesti-la.

Mark se voltou para encará-la, depositando-lhe um beijo suave e demoradona testa.

— Obrigado.

Enquanto Liza o ajudava com os botões da camisa, ele examinou os objetos

que decoravam a cornija da lareira. Fixou o olhar no prato de porcelana com o

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desenho de uma hortênsia e notou as iniciais E.D.

— Foi você quem o fez?

— Sim.

— É lindo — afirmou sem tirar os olhos da peça.Ela achou graça da expressão de surpresa estampada no belo rosto.

— Obrigada.

— Também pinta em telas ou só em porcelana?

Uma sensação prazerosa tomou conta do coração de Liza.

— Ultimamente tenho pintado em telas, mas na maioria das vezes trabalhoem porcelana.

Ele continuou a observar a obra de arte, meneando a cabeça.— É muito talentosa.

Liza exibiu um sorriso luminoso. A admiração de Mark a fazia exultar defelicidade. Pelo que conhecia dele, sabia que estava sendo sincero. Do contrário,não emitiria sua opinião.

— E.D. — repetiu ele, voltando-se para encará-la. — Não vai me dizer osignificado dessas letras?

Como seria fácil satisfazer-lhe o desejo. Tornarem-se mais íntimos do quedeveriam ser.

— Acho melhor continuarmos a ser apenas Mark e Liza. Ele sentou-se nacadeira e começou a calçar as botas.

— Sei onde mora. Poderia facilmente descobrir seu nome. Ela franziu ocenho.

— Mas não o fará, atendendo ao meu pedido.

Mark a observou por um logo instante e deu de ombros.

— De qualquer forma sei o que significam essas iniciais. Os olhos de Lizadilataram-se de surpresa.

— Como pode saber?

Ele sorriu maroto, lançando-lhe um olhar encantador.

— Por hora não vou lhe dizer.

Ela compreendeu a brincadeira, dirigindo-se em seguida até à janela eabrindo as cortinas.

— Sua carruagem, milorde.

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Uma expressão preocupada perpassou no rosto másculo, que logo sedesanuviou. Ele caminhou em sua direção, estacando para fitá-la com olhar intenso.

— Deus! Que adorável criado de libré — dizendo isso, deslizou ambas asmãos pela cascata de cabelos que caíam sobre os ombros alvos e delicados,

tomando-lhe os lábios num beijo longo e suave.

Liza ofegou, envolvendo-lhe a lapela com as mãos e puxando-o para si. Odesejo de ser possuída por aquele homem pulsava por todo seu corpo.

Ele se afastou, segurando-lhe a face afogueada com as mãos em concha. Aoencontrar o olhar de Mark, ela teve a certeza de nunca ter visto espécime tão belo.

— Nunca senti tanto prazer como na noite passada — declarou ele, com osolhos fixos nos dela.

Aquelas palavras aqueceram-lhe a alma e o coração.

— Tampouco eu.

Ele pareceu querer dizer mais alguma coisa, mas apenas sorriu e beijou-aoutra vez. Em seguida, com um movimento rápido é preciso pulou a janela.

Quando alcançou o chão, ergueu o rosto para fitá-la.

— Vejo-a no Palácio de Cristal — sussurrou.

— Estarei lá.

Mark disparou pelo jardim, a longa capa esvoaçando atrás dele. Liza sesurpreendeu quando o viu estacar e olhar para trás.

Seus olhares se encontraram por um longo instante. A intensidade daexpressão daquele rosto que se tornara tão desejado fê-la tremer por dentro. Elaofegou, amparando-se contra o peitoril da varanda.

Como poderia abrir mão daquela sensação?

Observou-o desaparecer na luz difusa do alvorecer e sentiu as lágrimasquentes brotarem dos olhos.

Deus! O que faria?

Mark jogou a capa sobre a cadeira ao lado da mesa do vestíbulo de entrada.Apesar da noite agitada e da precocidade da hora, sentia-se totalmente desperto erevigorado. Passou a mão por entre os cabelos e sorriu. Nada como uma boa noitede sexo para reanimar um homem!

Caminhou até seu escritório. Pretendia trabalhar algumas horas no projeto daBiblioteca até que chegasse a hora de ir para o Palácio de Cristal.

Abriu a porta e estacou surpreso. Matthew estava sentado próximo à janela

com uma bandeja de desjejum posta na mesa ao lado dele. O irmão lançou-lhe um

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olhar especulativo.

— Bom-dia, mano.

Mark ergueu uma sobrancelha enquanto atravessava o aposento.

— Sinta-se em casa — gracejou ao mesmo tempo em que afundava nacadeira.

— Sempre me disse para fazê-lo — retrucou o caçula, observando-o por sobre a borda da xícara que levara aos lábios.

— Disse? — O conde franziu o cenho e, observando a bandeja, pegou umpedaço de torrada.

— Presumo — começou Matthew, pousando a xícara sobre o pires. — Pelasua aparência desleixada e pelo fato de ter me feito seguir uma certa dama ontem,

que acabou de chegar da cama de Liza.— Acertou. E foi maravilhoso — afirmou, mordendo a torrada. Diante da

expressão nada divertida do irmão, ele ergueu o sobrolho.

— Qual o problema?

— Me parece que tem uma grande atração por essa mulher. Estou errado?

— E se eu tiver?

— Pensei que o conhecesse. Mark o fitou intrigado.

— O que está se passando em sua mente?

— Vou lhe dizer — disse Matthew, colocando o pedaço de torrada que estavaem sua mão de volta à bandeja. — Jantei com nossa mãe ontem à noite. Ela ficoufalando o tempo todo dessa tal srta. Charlotte Lawrence. Quão bonita, charmosa eprendada ela é e o quanto seria perfeita para você. — O caçula se recostou, semdesviar o olhar do irmão. — Então disse para mim mesmo. Mark não estáinteressado em Charlotte Lawrence. Ele mesmo afirmou. Além disso, sei que eleestá ardendo por uma beldade chamada Liza. E meu irmão não costuma abrir mãofacilmente de uma bela mulher.

Mark sentiu os ombros tensionarem. Sabia onde seu irmão queria chegar.

— Então — continuou Matthew. — Pretendendo poupar meu caro irmão defuturos aborrecimentos, disse a nossa mãe que ela devia esquecer a srta. Lawrence,pois você estava interessado em outra mulher.

A expressão de Mark tornou-se sombria. Sua mãe não precisava saber daexistência de Liza.

— Imagine minha surpresa quando ela me informou que eu estava

completamente equivocado. — Matthew bateu com a mão sobre a mesa. — Poisvocê havia ficado noivo da srta. Lawrence naquela mesma tarde!

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— Calma — pediu o irmão mais velho.

— Você é meu irmão — afirmou Matthew, abaixando o tom de voz. —Costumamos contar tudo um ao outro. Como pôde tomar uma decisão dessas semme informar? Algo tão importante quanto um noivado?—A expressão do rapaz era

de incredulidade. — Tive de saber através da mamãe?

Que situação!, pensou Mark. Sua mente estivera tão absorta em Liza que nãohavia avaliado as implicações de se envolver na chantagem de Abigail Lawrence. Sepretendia esconder a verdade do irmão, devia ter pensado num meio de fazê-lo.

Mark abandonou o pedaço de torrada na bandeja. Aquela situação estavafugindo de seu controle. Contraiu a mandíbula, irritado. Detestava mentiras. Maisainda odiava a mulher conivente que o forçava a dizê-las.

Fitou o irmão nos olhos.

— Peço perdão por não tê-lo informado. — Deus! Como abominava ter dementir para Matthew. — Não esperava tomar esta decisão de modo tão repentino —afirmou, dando de ombros. — Mas quero ter filhos.

A visão repentina de Liza com o ventre abaulado preencheu-lhe a mente.Suspirou fundo e tentou fixar-se no irmão.

— Ela é graciosa. E parece bastante prendada. Sabe que nunca deiimportância a títulos. Na verdade, prefiro uma esposa plebéia.

Matthew o encarou com olhar severo.— Plebeus costumam cometer adultério também. Achei que não queria o

mesmo fardo de nosso pai.

Mark engoliu em seco o gosto amargo que lhe assomara à garganta.

— Ao contrário de papai, não estou esperando fidelidade em meu casamento.E não pretendo agonizar no inferno da abstinência.

Impassível, o caçula recostou-se na cadeira, pensando na situação.

— E Liza?

— É apenas um passatempo. O irmão franziu o cenho.

— Por quê?

Mark sentiu todos os músculos se contraírem de raiva e frustração.

— Porque tudo é passageiro. Tudo que é bonito morre. O que é doce torna-seamargo. É apenas uma questão de tempo.

— Não penso assim.

— É uma pena.Não suportando mais aquele diálogo, Mark se levantou da cadeira, dirigindo-

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se a sua mesa. Os croquis do projeto da biblioteca estavam espalhados sobre ela,bem como seus instrumentos de trabalho, mas não se sentia disposto a trabalhar.

Matthew o seguiu, estendendo a mão.

— Parabéns por seu noivado.

O irmão mais velho aceitou-a, relutante.

— Obrigado.

— Quando a conheceremos?

— Em breve. Matthew assentiu.

— Não se esqueça do jantar dos Benchley esta noite.

— Certo — concordou Mark com um fio de voz.

— E seja agradável. Costuma deixar Rosalind nervosa quando está mal-humorado.

— Disse para ir para o inferno. O que ainda está fazendo aqui?

— Esperando que me mostre o caminho.

Mark observou o sorriso maroto do irmão. Quando Matthew pegou o chapéuque estava sobre a mesa para partir, uma batida forte à porta se fez ouvir. Com aanuência de Mark, Cranford, o mordomo, adentrou o aposento.

— Senhor, aquele jovem... acabou de chegar.

— Ótimo. Faça-o entrar.

— Se insiste, senhor.

A expressão do rosto de Mark se iluminou. Mickey Wilkes assomou à porta.Cranford o introduziu no aposento e, franzindo o cenho para o rapaz, se retirou.Matthew sorriu.

— O que este patife está fazendo aqui?

— Fui chamado, senhor—replicou o criado, alternando o olhar entre os dois

cavalheiros.

O irmão de Mark meneou a cabeça.

— Pensei que estava querendo empregá-lo aqui em sua casa. Acho que acidade não é o lugar adequado para que esse larápio perca seus velhos hábitos.

— Oh, estou completamente curado de meus maus hábitos, sr. Hawkmore —argumentou o rapaz, contorcendo a aba do chapéu com as mãos.

Mark duvidava. Embora tivesse apenas dezessete anos, Mickey possuía a

segurança dos que já haviam passado por muitos apuros na vida, mas conseguiramescapar sem sérias conseqüências.

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— Estou precisando de um mensageiro — justificou Mark ante o olhar inquisitivo do irmão.

Matthew o fitou por cima do ombro enquanto se retirava.

— Terá sorte se ele não for preso na sua primeira entrega. — E se retirou,fechando a porta atrás de si.

Só então o conde se referiu ao rapaz.

— Sente-se. Tenho um trabalho para você.

— Não será capaz de adivinhar quem está aqui, querida — anunciouMathilda, chamando-a do primeiro andar.

Liza alisou o cetim cinza da saia, enquanto se movia pelo andar superior. Osorriso congelou em sua face quando chegou ao topo da escada. Lá embaixo, com

seu imenso rosto sorridente, se encontrava Alfred Swittly.— Bom-dia, sra. Redington. — O homem tinha uma das mãos pousadas

sobre o corrimão e um pé apoiado no primeiro degrau da escada, como se estivessea fazer pose. — Impressiona-me o fato de conseguir estar mais bela a cada dia quepassa.

Liza moveu-se lentamente escada abaixo, sentindo um rubor de desconfortoaquecer-lhe a face.

— Bom-dia, sr. Swittly. Que surpresa revê-lo.

— De fato — disse ele, tomando-lhe a mão nas suas, quando ela atingiu o péda escada. Liza retirou-a, assim que alcançaram o saguão. — Não pude deixar deobservar, sra. Redington, que o cetim cinza a faz parecer uma flor prestes adesabrochar.

— Ou talvez uma lagarta, trocando sua pele para se tornar uma lindaborboleta — completou Mathilda, orgulhosa.

Liza contraiu a mandíbula para não irromper numa gargalhada. Sentia-secomo em um jogo de tênis. Seu olhar movia-se entre os dois, incrédula.

Pior ainda, a bola em jogo era ela.

No mesmo instante sentiu-se envergonhada de tal pensamento. Estaria setornando uma libertina, pensando apenas no seu próprio prazer? Não devia deixar seus desejos carnais sobrepujarem a necessidade dos outros ou mesmo aimportância deles em sua vida.

Mas, à medida que a tia e o sr. Alfred enveredavam por uma longa conversasobre jardinagem, ela sentia os ombros tensionarem.

— Oh, sr. Swittly, não sabia que era um genuíno apreciador de jardins —dizia Mathilda. Gostaria de visitar o nosso?

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—Não, tia! — interveio Liza, sem conseguir conter as palavras. — Ambos afitaram, com expressão de surpresa. — Não estamos praticamente de partida para oPalácio de Cristal? — perguntou em tom mais ameno. — Será nosso último dia, eainda há tantas coisas que desejo ver.

Mathilda anuiu.

— Claro, querida — e voltando-se para Alfred. — Sr. Swittly, teremos quedeixar o passeio pelo jardim para uma próxima oportunidade. Temos de ir agora.

— Sim, claro. Compreendo perfeitamente, senhora. Fica para uma outra hora.

Liza passou o braço pelo da tia.

— Sinto termos que nos despedir tão cedo, sr. Swittly. Sei que acabou dechegar, mas minha tia e eu passamos a semana visitando o Palácio de Cristal e hojeé nosso último dia.

Alfred franziu o cenho, confuso.

— Mas...

— Querida, eu convidei o sr. Swittly para juntar-se a nós.

— O quê? — O coração de Liza parecia querer pular pela boca. Mathilda deuuma pancadinha em seu braço.

— Claro que os deixarei explorar o Palácio, sozinhos. Por certo, têm muitacoisa para conversar.

Não! Ela queria gritar a todos os pulmões, mas não conseguiu.

Se apressasse o passo naquele momento, poderia escapar de modo fácilpela multidão de visitantes. Mas não podia fazer aquilo. Seria grosseiro eembaraçoso para com a tia. Observou o homem a seu lado, e concluiu que talcomportamento estava fora de questão.

— Como este lugar está repleto! — comentou Alfred. — Pessoalmente, sra.Redington, aprecio multidões. Podemos ver e ser vistos com maior facilidade.

E como era visto!, pensou Liza. Com aquele corpanzil, esbarrava em todosque atravessavam seu caminho.

Precisava que Mark soubesse por que não podia encontrá-lo.

— Gostaria de visitar o salão de móveis góticos, sr. Swittly? Há peçasadmiráveis lá.

— Adoraria, sra. Redington — concordou o gigante, inclinando-se em suadireção. — Estou a seu inteiro dispor.

Liza deu um passo para trás.

— Que gentileza! Ele sorriu, radiante.

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Alfred discursava num tom de voz que podia ser ouvido por qualquer um quepassasse. Parecia estar mais interessado na reação dos transeuntes sobre suaspalavras do que na dela.

Liza corou de vergonha.

— Oh! Mas veja que tela assombrosa, sra. Redington! — exclamou o gigante.— Já viu algo de tamanha proporção?

Liza voltou os olhos para a tela. Sentiu o corpo relaxar. Estendeu a mão paratocar a madeira encravada. Aquela era sua tela e de Mark. Virou o rosto para olhar por cima do ombro.

A uma curta distância, um par de olhos de um azul profundo a fitava comintensidade. Sentiu o coração disparar de felicidade e sua pulsação acelerou.

Ele permaneceu onde estava, em um dos cantos do salão, destacado damultidão. Liza observou-o lançar um olhar inquisitivo para Alfred.

Ela fitou o grandalhão a seu lado e depois voltou o olhar para Mark.

Detestava tê-lo tão perto dos olhos e tão longe do alcance das mãos. Ansiavapor sua proximidade, pelo seu toque ousado e macio. Deixou o olhar vaguear pelacompleição magnífica do corpo másculo. Sentiu o ventre contrair ante a lembrançada última noite que passaram juntos. Oh, Deus! Como o desejava.

— Não vejo a utilidade de algo tão. grande — dizia Alfred a seu lado,

encarando-a como se esperasse uma resposta.Liza engoliu em seco o próprio desejo.

— Como?

— Eu disse que a tela tem proporções gigantescas. Não ficaria bem em umacasa. Impraticável em minha opinião.

Ela desviou o olhar para Mark outra vez. Ele se aproximava com as mãosenfiadas nos bolsos da calça. Liza sentiu todo o corpo tremer.

— Para ser sincera, acho-a magnífica. Algumas vezes precisamos de algogrande para preencher os espaços vazios.

O aroma de verbena inundou-lhe as narinas. Alfred observou a obra de artecom mais atenção.

— Bem, pode ser.

Liza estremeceu ao sentir os dedos firmes de Mark traçarem toda a extensãode suas costas. Ele estava postado a seu lado, fingindo apreciar a tela.

— Mas como poderia acomodar uma coisa tão grande? — perguntou o sr.

Swittly.

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Ela se voltou para seu interlocutor, enquanto aquele homem magníficotomava-lhe uma das mãos na sua e a direcionava de encontro ao membro rijo. Lizasentiu o coração disparar. Temia que as pessoas à sua volta percebessem.

— Não desejaria nada menor.

Em seguida, desvencilhou-se da mão de Mark ao notar Alfred se mover atéficar de frente para ela.

— Verdade? Gostaria de ver o local onde colocaria tal coisa — sugeriusorrindo. — Talvez possa visitar sua casa em breve. Estou certo de que seusparentes iriam gostar de me conhecer. — Segurando-a pelo ombro, afastou-a datela. — A sra. Dare me disse que seu pai a sustenta. Ele deve ter um abastadovicariato para garantir uma vida tão confortável à irmã. — Liza afastou-se das mãosdescomunais de Alfred. — Deve ser bastante generoso além de rico — completou.

— Meu pai tem muitas qualidades, sr. Swittly. A maior de todas é o amor quededica às filhas.

Enquanto adentravam a lotada galeria principal, Liza olhou por sobre oombro. Mark os seguia com expressão sombria.

De repente, Alfred abriu os braços e começou a citar um trecho da obra O ReiLear de Shakespeare. Quando acabou, enlaçou com uma das mãos a cinturadelgada de Liza.

Ela observou os olhares curiosos dos que estavam em torno deles. Mark

encontrava-se bem próximo com os olhos fitos nela. Por que não podia estar caminhando a seu lado? Por que tinha de estar na companhia de um homem quegostava tanto de se vangloriar?

Franzindo o cenho, desvencilhou-se das mãos de Alfred.

— Devo dizer, sra. Redington, que estou impressionado pelo seuconhecimento sobre arte. — afirmou, pousando mais uma vez a mão na cintura dela.E mais uma vez Liza desviou de seu toque.

— Obrigada, sr. Swittly. — Liza percebeu que enquanto falava ele a guiavapara um recanto deserto do fundo da galeria. — Por favor, sr. Swittly!

Tentando tirar a mão daquele contato asqueroso, escrutinou o local à procurade Mark. Ele estava parado a uma certa distância, conversando com um pequenogrupo que admirava uma das obras expostas.

Ela ofegou quando Alfred a puxou para trás de uma grande escultura,segurando-lhe firme a mão enluvada.

— Desculpe-me, sra. Redington, mas não pude deixar de notar a maneiracomo me olha — afirmou, puxando-a para si e mantendo-a cativa em seus braços.— Percebi a ânsia do desejo em seus lindos olhos. Não pode imaginar quão

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prazeroso me sinto ao saber de seu interesse por mim.

Os olhos de Liza se arregalaram enquanto lutava para se esquivar dele.

— Solte-me agora mesmo, sr. Swittly!

— Não posso, minha pequena—declarou, começando a recitar outro trechoshakespeariano.

O homem parecia uma muralha. Não tinha como livrar-se dele.

— Estou ordenando que me solte — argumentou ela, debatendo-se.

Ele inclinou a cabeça em sua direção. Uma gota de suor assomou-lhe à testa,enquanto continuava a palrear de modo ininterrupto.

Liza lutava por ar ao mesmo tempo em que se contorcia sob os braçosimperiosos.

— Solte-me, solte-me — repetia frenética. — Senão vou gritar! O grandalhãocontinuava a ameaçá-la. Os lábios descomunais cada vez mais próximos.

Quando os lábios de Liza se entreabriram para gritar, algo atingiu Alfred,fazendo-o largá-la de pronto. Um gemido rouco saiu do fundo de sua garganta.

Ela fitou os olhos furiosos de Mark que estava parado atrás do homem quecaiu no chão.

— Você está bem? — perguntou ele com os punhos ainda cerrados.

Liza teve ímpetos de correr para aqueles braços fortes e protetores.

— Sim.

Ofegante, Alfred ergueu-se, lançando um olhar furioso a Mark.

— Estou acompanhando esta dama, senhor! Estamos visitando a galeria emcompanhia um do outro.

— E eu terei o prazer de acompanhá-lo até lá fora onde o encherei de socosse continuar molestando esta mulher.

O gigante conseguiu recompor-se.— Não tem o direito de interferir dessa forma.

Liza percebeu os punhos de Mark cerrarem-se mais ainda e deu um passo àfrente.

— Obrigado pela sua ajuda, senhor — disse, tocando-lhe o braço e lançando-lhe um olhar significativo. — Temo que este cavalheiro tenha confundido osentimento que achou ter vislumbrado em meu rosto.

— Isso mesmo — concordou Alfred, sacudindo a sujeira da capa. — Eembora possa parecer o contrário, minhas intenções para com esta dama são

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honráveis.

Uma expressão estranha perpassou pelo belo rosto de Mark. Ele alternou oolhar entre os dois, indeciso. O que ele estaria pensando?

Os olhos azuis fixaram-se nos dela.

— Esse homem não a merece, milady. — Dizendo isso, tocou o bordado seuchapéu e girou nos calcanhares. — Adeus.

— Devo dizer que está completamente enganado, senhor. Sou talhado paraesta dama! — vociferou Alfred pelas costas de Mark.

Liza saiu de detrás da escultura e observou-o afastar-se até quedesaparecesse na multidão, sentindo-se desolada. Quando tornaria a vê-lo?

Capítulo IV

Mark desenhava os detalhes que comporiam o hall da Biblioteca Nacional nocroqui espalhado sobre a mesa. Tentava concentrar-se no trabalho que tinha àfrente, mas a imagem de Liza cativa nos braços daquele estranho povoava-lhe amente. Estaria ela considerando casar com homem tão rude? Pensaria ela emcasar-se afinal?

Consertou o traço imperfeito que acabara de fazer.

Por certo não ficaria de luto para sempre. Quantos homens a desejariam?

Uma onda inexorável de raiva e ciúme o invadiu. Seus dedos apertaram opapel, amassando-o. Ele o jogou no chão com uma imprecação.

Quaisquer que fossem seus planos, ela lhe pertencia pelos próximos doismeses. E não estava disposto a dividi-la com nenhum tolo intrometido.

Uma suave batida à porta se fez ouvir. Pegando outra folha de papel edispondo-a a sua frente, Mark solicitou que o visitante entrasse.

Cranford abriu a porta.

— A condessa, milorde.

Mark sentiu os ombros tensos, enquanto a mãe adentrava com graça eelegância.

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— Feche a porta — ordenou a condessa em tom ríspido. Mark assentiu parao mordomo e voltou a atenção ao trabalho.

Lucinda serviu-se de um drinque antes de dirigir-se à mesa onde estava ofilho.

Ele ergueu a cabeça, fitando-a por sob os cílios longos.

— Importa-se de manter uma certa distância? Serei capaz de estrangulá-la sedeixar cair uma gota de bebida no meu trabalho.

Ela obedeceu, recuando um passo.

— Não acha que essa construção clássica está um tanto ultrapassada?

Mark não respondeu, continuando a traçar os contornos do hall de entrada.

— Sou mais afeita ao estilo do sr. Paxton.

— Ele projeta espetáculos, não construções...—Mark explicou em tom suave.— Trata-se da Biblioteca Nacional e não de um Palácio de Cristal.

Lucinda deu de ombros, desdenhosa.

— Faça como quiser. Só estou tentando ajudar. . Mark suspirou exasperado.

— O que deseja, mãe?

— Muito bem. Matthew me contou que você está tendo um caso com umamulher que conheceu há pouco tempo.

Maldição! O que ele temia acontecera. Desviou o olhar do desenho e pousou-o na mãe.

— Disse-me que está bastante envolvido e que eu deveria desistir deempurrá-lo para Charlotte Lawrence. Claro que isso foi antes de eu informá-lo quevocê havia ficado noivo dela.

Os músculos da face de Mark se contraíram de raiva. Lucinda sorveu um golede conhaque.

— Por falar nisso, ele ficou bastante aborrecido com o fato de você não lheter comunicado. Não suporta admitir que a mútua confiança entre vocês sofraqualquer abalo. Então, como você vai ter de lhe dizer mais algumas mentiras, sugiroque pense bem antes de lhe contar qualquer versão da história.

Mark detestava que lhe dissessem o óbvio. Moveu os ombros para atenuar atensão.

— O que nos traz para este seu novo affai r — continuou Lucinda. — Terá depôr um fim nele.

Aquilo era demais.— Não — declarou, decidido.

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A mãe pousou o copo na mesa com força.

— Tem noção de que o futuro de seu irmão depende disso? Seu descasopelos padrões de nossa classe leva a crer que seria capaz de unir-se em matrimônioa uma mulher sem nobreza. Mas Abigail e eu estamos tentando dar um tom

romântico a esse casamento. A aceitação desse enlace pela corte depende disso.Se espalhar-se a notícia de que está se relacionando com outra mulher, ninguémacreditará no romance entre você e Charlotte.

Mark deu de ombros, e Lucinda levou as mãos à cintura, desafiadora.

— Pensa que ainda pode escapar desse casamento, não é? Muito bem, vocênão pode! Há muita coisa em jogo para que ande se esbaldando por aí com umaqualquer.

— Veja como fala! — enraiveceu-se Mark.

— Terá de terminar esse affair .

Ele respirou fundo, tentando relaxar.

— Já disse que não!

Lucinda caminhou resoluta até a janela.

— Que diferença faz se a deixar agora ou depois? De qualquer forma, logo secansará dela.

Dois meses... Era o tempo que lhe restava.

— Desta vez é diferente. Ela não é como as outras. Lucinda o encarou comolhar fulminante.

— Está enganado. O que pensa, que ela concordará em ser sua amante parasempre?

Não para sempre, pensou Mark, sentindo um aperto no estômago.

— E se pensa que vai prendê-la com seu poder de sedução está muitoenganado.

Mark apertou a caneta entre os dedos para não perder o controle.

— Seu pai também tinha esse magnetismo e não conseguiu me prender,como está cansado de saber.

Mark franziu o cenho, tenso. Inconformada, Lucinda aproximou-se da mesa.

— Quer saber a verdade? Você não passa de uma novidade para essamulher. Quando ela se fartar, irá procurar outro que lhe ofereça algo melhor.

— Chega!

Lucinda não se deixou intimidar.

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— Não seja ingênuo a ponto de acreditar em fidelidade — continuou ela. —Fidelidade é para homens feios e ignorantes, que não têm muita escolha. Mesmoesses às vezes se desgarram. Pergunte ao pai de seu irmão. Ele tinha uma esposameiga e doce, ao mesmo tempo que se encontrava comigo.

Mark ergueu-se num impulso, fazendo a cadeira cair no chão com estrondo.Contornou a mesa e avançou com fúria em direção à mãe.

— Diga-me! Qual das duas coisas meu pai era? Feio ou ignorante?

Lucinda levou a mão ao colar de diamantes, manuseando-o de maneiranervosa. — Sim, porque pobre ele não era. Ainda assim, mesmo depois que asenhora o trocou por outro, ele continuou a lhe ser fiel e a sorrir para os homenscom quem sabia que a senhora se relacionava assim que ele virava as costas.

Mark inclinou-se ameaçador em direção à mãe.

— Certamente meu pai não era um homem desprovido de beleza, porquedepois que você se cansou dele, não faltaram belas mulheres dispostas a consolá-lo. Mas meu pai não quis nenhuma delas. Não porque fosse ingênuo, ou ignorante,mas porque acreditava em honra e lealdade. Pelo fato de que, mesmo sendo casadocom uma mulher mentirosa, ele a amava! — Os olhos de Mark cintilavam de raiva.— Até que a senhora tanto fez que até isso conseguiu destruir!

Ante a expressão aturdida da mãe, Mark continuou:

— Agora sou eu que vou lhe dizer a verdade. A senhora não passa de uma

infeliz que sente prazer em infernizar a vida de todos que estão ao seu redor. E embreve, quando seu último amante, seja ele quem for, a abandonar, estará velha esozinha para sempre! E não venha me procurar quando isso acontecer, porque sereio primeiro a lhe dar as costas! — Fitou os olhos verdes frios de Lucinda. — Agora,saia!

Sem dizer uma palavra, ela pegou o casaco e dirigiu-se à porta, onde parou evirou-se para trás.

— Nunca pedi a seu pai que se apaixonasse por mim. Casamentos são

arranjos entre famílias e você se casará com Charlotte Lawrence, a despeito de seuenvolvimento com essa mulher. É isso ou a desgraça de seu irmão. — Fitou-o comum brilho estranho no olhar. — Eu queria que fosse ao contrário. Se Matthew fossemeu primogênito, ficaria tentada a mandar Abigail Lawrence para o inferno.

— Eu não esperaria outra coisa da senhora. E não pense que acredito queestá preocupada com a reputação de meu irmão, mas sim consigo mesma. Asociedade nunca se agradou de ver o nariz enterrado na própria lama. Se essa cartavier ao conhecimento da corte, ninguém mais a receberá. Terá de encarar oostracismo social. Perderá tudo que mais preza na vida. Portanto, não vamos fingir que não sei o que está em jogo aqui! Agora suma e não apareça na minha casa

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nunca mais!

Lucinda girou nos calcanhares e desapareceu no longo corredor.

Liza viu Charlotte entrar na sala.

— Pode afastar esse vaso um pouco para a esquerda, querida?— Bom-dia para você também — provocou a prima, enquanto executava a

tarefa.

Liza sorriu.

— Desculpe-me.

— Charlotte! Sente-se e tome uma xícara de chá — ofereceu Mathilda. — Acriada já está trazendo os bolinhos.

— Daqui a pouco, tia. Antes tenho um comunicado a fazer. — Ela cruzou asmãos à frente do corpo. — Mas para isso peço a completa atenção das duas.

Pousando o lápis, Liza notou um jornal embrulhado debaixo do braço daprima. Trocou um olhar curioso com a tia.

— Estão prontas?

— Oh, por Deus do céu, criança, diga logo! — Mathilda apressou-a, curiosa.

— Estou noiva!

Os olhos de Liza se dilataram de surpresa.

— O quê?

Mathilda estava boquiaberta.

— É verdade — afirmou Charlotte.

— Oh, que boa notícia! Parabéns, querida! — cumprimentou Liza. Emseguida levantou-se para abraçar a prima, tentando afastar o sentimento de pesar por si própria. — Sente-se — convidou, guiando Charlotte até uma cadeira. — Econte-nos tudo. Quem é o felizardo?

A prima se empertigou, erguendo o queixo, orgulhosa.

— Eu, Charlotte Lawrence, estou noiva de Randolph Hawkmore, oitavo condede Langley.

— Oitavo conde de Langley? — ecoou Mathilda.

— Vou ser condessa!

— É inacreditável! — interveio Liza. — Como pôde fazer segredo disso?

Charlotte deu de ombros num gesto que denotava inocência.

— Porque nem eu mesma sabia. — Pegou o jornal debaixo do braço. — O

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que sei é que o conde me viu na Ópera Italiana — informou, corando. — E apesar de não ter manifestado seu sentimento na ocasião, achou-me a moça mais adorávelque já vira. Com o passar do tempo continuou a pensar em mim. E ontem me pediuem casamento.

Charlotte entregou o jornal a Liza.

— A história está na coluna social de hoje. Veja. Liza pegou o periódico e leuem voz alta:

— Foram anunciadas as bodas do oitavo conde de Langley, RandolphHawkmore, com a srta. Charlotte Rebecca Lawrence. As núpcias acontecerão nopróximo dia dez de junho, em cerimônia restrita a familiares no castelo Hawkmore.

— Mamãe contou-me que o contrato de casamento será assinado em breve.

Mathilda ergueu o sobrolho, com expressão de dúvida.

— Oh, tia... Isso será ótimo para Charlotte — argumentou Liza.

— Eu sei — afirmou Mathilda, olhando para a sobrinha mais nova. — Estoumuito feliz por você. Mas agora sua mãe se tornará insuportável. Ela sempre sejulgou superior ao nosso lado da família. No dia do casamento com meu queridoirmão, nos tratou com menosprezo e durante todos esses anos praticamente nos ig-norou. Agora, por certo, vamos deixar de existir. — Mathilda ergueu o queixo. —Não que ela vá me fazer falta.

— Tia Matty! — repreendeu Liza. Charlotte meneou a cabeça emconcordância.

— Não faz mal, prima. Conheço minha mãe melhor do que ninguém. —Suspirou, aborrecida. — Mas ela é minha mãe.

— Como foi o encontro de vocês? — Liza interrompeu a conversa.

— Devo confessar que nosso primeiro encontro não foi exata-mente o que euesperava.

Mathilda inclinou-se para frente, demonstrando interesse.

— Por quê? Ele é feio, defeituoso ou algo assim? Charlotte meneou acabeça, balançando os cachos que pendiam do penteado.

— Não. Ao contrário. É um dos homens mais belos que já conheci. E o maisrico dos cavalheiros da corte.

— Então qual foi o problema? — questionou Liza, intrigada. Charlotte pareceupensativa.

— Ele não demonstra estar apaixonado por mim. Na verdade, o conde mal

me olhou.Liza franziu o cenho, confusa.

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— Ele foi extremamente rude com minha mãe e a condessa — continuouCharlotte. — E quando partiu, parecia furioso com todas nós.

— Como ele poderia estar aborrecido com você? — ponderou Liza. — Talvezestivesse apreensivo por alguma outra razão.

— É possível — replicou a jovem, pousando a xícara na bandeja de prata. —A condessa disse que o filho estava zangado com ela. Suponho que tenham tidouma discussão.

Mathilda desculpou-se e foi verificar o que estava atrasando os bolinhos.

Tão logo ela saiu, Charlotte inclinou-se para frente.

— Você precisava ver o tom com o qual ele se referiu a minha mãe e à dele.

Por um lado achei interessante. Muitas vezes tive vontade de responder a minhamãe daquela maneira, mas nunca tive coragem. — Ela baixou o olhar. — Não penseque sou um ser desprezível, mas só esse motivo bastaria para me casar com aquelehomem.

Liza não sabia o que dizer. Abigail Lawrence não primava por sua bondadeou simpatia, mas uma filha sempre devia respeito à mãe.

— Estou certa de que terá outros motivos para amar seu futuro marido.Mesmo porque ele a ama.

Charlotte não pareceu convencida.— Se ele ainda me amar. Depois de conhecer minha mãe será capaz de

pensar que sou igual a ela. Acho que foi por isso que se mostrou tão frio.

— Então prove a ele que está errado.

— Espero conseguir. — O olhar da jovem tornou-se sonhador. — Já possovislumbrá-lo vestido de noivo...

A imagem de Mark parado no altar, fazendo os votos de casamento,preencheu os pensamentos de Liza, que de pronto os varreu para um canto de suamente. Aquilo era algo que nunca poderiam compartilhar.

— Ele é lindo. Espere até conhecê-lo. Parece um deus grego. Tem os maisextraordinários olhos azuis!

Liza lembrou-se da ternura que vira nos olhos de Mark naquela manhã e daintensa luxúria com que a fitara na noite anterior. Nenhum homem poderia ter olhosmais belos.

Mark fitou os olhos castanhos de Rosalind e forçou um sorriso, enquanto ela

lhe oferecia outra xícara de chocolate quente.— Não, obrigado.

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Os acordes harmoniosos do violoncelo que Matthew tocava reverberavam noambiente. Ela pousou o bule.

— Minha tia disse que pode contar conosco no que for necessário para aadaptação de sua noiva à sociedade.

O conde contraiu o maxilar. Tinha ímpetos de esganar Lucinda por envolvê-lonaquela enrascada.

A tia de Rosalind levantou os olhos dos naipes de cartas em sua mão.

— Quem recusaria um verdadeiro amor? Mark trocou um olhar com o irmão.

— Ah, o verdadeiro amor! — exclamou lorde Benchley. — Que bobagem!Casamentos são realizados para melhoria de status ou negócios. — E fitando Markpor sobre os óculos de aro fino, acrescentou: — O único motivo pelo qual acreditoque esteja de fato apaixonado é que não precisa incrementar seu status ounegócios.

Matthew pousou o violoncelo de lado e juntou-se a Rosalind no sofá.

— Ora, senhor... Rosalind e eu estamos apaixonados.

— Isso é apenas uma feliz coincidência — retrucou o lorde, sem desviar oolhar das cartas. — Casará com minha filha pelo fato de ser um Hawkmore e por ter uma boa soma em dinheiro.

Matthew sorriu para a namorada, beijando-lhe a ponta dos dedos.

— Você me amaria mesmo que eu fosse pobre?

— Claro — replicou ela sorrindo. Mark cruzou os braços sobre o peito.

— Mesmo que não fosse um Hawkmore?

Matthew franziu a testa, surpreso, e depois se dirigiu a Rosalind.

— Sim. Amaria?

— Bem, claro — afirmou Rosalind, rindo divertida. — Mas você é umHawkmore, querido, e é rico também.

Matthew acariciou-lhe a mão.

— Boa resposta.

Mark os observou em silêncio e sentiu uma súbita antipatia por RosalindBenchley. Ela estava mentindo. Pelo menos o pai fora sincero. A noiva responderaapenas o que o irmão queria ouvir. Detestava mentiras. Fechou os olhos e esfregouos dedos na testa. Por que de repente se via cercado de mentiras? Em relação aoirmão, aos Benchley. E agora, com o anúncio publicado no jornal, em relação aomundo. Aquilo lhe revirava o estômago.

Liza. Ela era seu bálsamo. Com sua musa só existia a verdade. Sentiu a

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todas as forças para interromper o beijo.

Os olhos cor de mel piscaram várias vezes.

— Como vai? — sussurrou.

Os lábios úmidos e vermelhos arquearam-se num sorriso.— Pensei que não viesse.

— Eu lhe disse que viria sempre que possível.

— É verdade — concordou Liza, ajudando-o a afrouxar a gravata.

Mark sentou-se a seu lado na cama.

— Desabotoe sua camisola.

Com movimentos lentos, ela sentou-se e começou a soltar os botões,

enquanto um rubor intenso lhe aflorava à face. Ele não conseguia desviar os olhosda figura esguia.

— De hoje em diante, quero que durma despida — disse, afrouxando ocolarinho da camisa.

Liza deixou a camisola deslizar até a cintura, enquanto observava Mark sedespir.

— Tem uma chaleira de chocolate quente na lareira para você — disse elaem tom suave.

Ele estacou estupefato.

— O quê?

— Trouxe chocolate quente para você. Achei que talvez quisesse beber algoquente.

Mark a fitou com expressão de surpresa. Nenhuma das mulheres que foramsuas amantes lhe havia alguma vez oferecido uma bebida tão singela. Sempre lhefora sugerido conhaque, vinho, uísque, tudo que fosse estimulante. Mesmo quando

criança, nunca lhe deram nada como aquilo. Possuía muitos bens materiais, masnenhum gesto de carinho.

Sentiu os olhos arderem. Nada tão reconfortante e caloroso lhe fora dadosem que ele tivesse que pedir. E havia deixado de pedir fazia muito tempo.

Liza franziu o cenho.

— Não gosta de chocolate quente?

Mark sentiu o tremor das próprias mãos enquanto acariciava os cabeloslongos e sedosos de Liza. Puxou-a para si, depositando um beijo longo na testa

alva.

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— Eu adoraria uma xícara de chocolate quente.

Liza acordou assustada e arregalou os olhos. O óleo da lamparina aindaqueimava. Porém, não sentia o calor do corpo másculo a seu lado. Sentou-se nacama com um suspiro de alívio.

Trajando apenas uma calça, Mark estava sentado em uma das cadeiras queladeavam a lareira, fitando-a fascinado.

— Pensei que tivesse partido — murmurou, sorrindo.

— Não.

Liza consultou o relógio no criado-mudo. Eram quase três horas da manhã.Deslizou para fora da cama, pegando a camisola jogada ao chão.

— Eu deveria ter dado um sumiço nisso enquanto dormia.

Ela sorriu, corando e começou a caminhar em sua direção. Quando estavapróxima, Mark segurou-lhe a mão, puxando-a e a fazendo sentar-se em seu colo.

Sorrindo divertida, Liza afastou uma mecha de cabelos que caíra sobre atesta dele.

— Por que não ficou na cama?

— Não conseguia dormir. — Os olhos azuis pousaram na pele alva do seioque ficara exposto pela camisola.—E teria me sentido tentado a acordá-la se ficassedeitado a seu lado.

Liza traçou-lhe a curva da orelha com o dedo indicador.

— Seria ótimo.

— Pensei que ainda estivesse dolorida — a voz máscula soou rouca esensual.

Ela meneou a cabeça em negativa.

— Já passou. Além do mais, a vontade de estar nos seus braços é maior.

— Oh, Liza! Você é a minha perdição. Não consigo resistir...— Então não resista — sussurrou ela, antes de envolver-lhe os lábios num

beijo quente e cálido.

Liza sentiu a camisola ser arrancada de seu corpo, mas não ofereceuresistência. Adorava a força e o poder que emanavam daquele homem!

Mark lutou por ar enquanto seus lábios procuravam os dela ansiosos.Deslizou as mãos pelas curvas perfeitas do corpo feminino detendo-se em seuquadril. Em seguida, interrompeu o beijo, fitando-a nos olhos. Neles, Liza viu

refletida a necessidade selvagem que aquele homem sentia por ela. Mas o brilhodos olhos azuis também revelava dor. Por um momento não sabia o que fazer ou

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dizer.

Então, decidiu lhe dar as duas únicas coisas que podia. Seu corpo e suaalma. Puxou-o para si, abraçando-o com ternura.

— Estou aqui — sussurrou, depositando um beijo suave em sua orelha. —Está seguro comigo.

Não sabia por que proferira aquelas palavras, mas sabia que

Mark precisava ouvi-las. Sentiu os braços másculos apertarem seu corpo atéquase perder a respiração.

— Você é mais do que bonita. É maravilhosa — sussurrou em tom suave.

Um calor intenso a envolveu.

— Fico feliz que pense assim.

Embora hipnotizada pelo brilho fulgurante dos olhos azuis, não pôde deixar de notar o cenho franzido de Mark.

— Quem era aquele homem que a acompanhava hoje? Liza sentou-se nacama e virou o rosto para encará-lo.

— É sobrinho de uma amiga de minha tia.

— Ele a está cortejando?

— Suponho que sim. Mas creio que em breve desistirá.

— Aquele homem é um paspalho — afirmou Mark. — E um devasso, peloque pude perceber. Podia ter quebrado os dentes dele pelo atrevimento de tocá-la.

Liza absteve-se de comentar que ele fizera o mesmo na primeira vez que avira.

Mark pareceu adivinhar seus pensamentos.

— Não tem comparação. Você me queria tanto quanto eu a você.

Liza tomou a mão forte nas suas.

— É verdade.

Mark a encarou com olhar sério.

— Por dois meses será minha e não tolerarei nenhum depravadoatravessando-se em meu caminho. Portanto, livre-se dele. Liza sentia a mesmairritação em relação a Alfred.

— Na verdade, depois que você partiu, o sr. Swittly e eu encontramos umgrupo de crianças em visita ao Palácio de Cristal e, deliberadamente, o informei quenão posso ter filhos. — Baixou o olhar, incapaz de encará-lo. — Isso o fará desistir.Espero que sim, pois não posso ser rude com ele. Isso criaria um transtorno para

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minha tia.

—Transtorno é achar aquele homem apropriado para você. Ele é umoportunista de primeira categoria. Concordará em se casar com você, com filhos ounão, para ter acesso ao seu patrimônio.

— Estacou e franziu o cenho. — Qual é sua real situação financeira? Disseque é filha de um vigário. Mas se veste de como uma dama da corte. Seu marido erarico?

Liza mudou de posição, sentindo-se desconfortável.

— Ele era um homem próspero. Um fazendeiro em ascensão. Depois de suamorte, passei todos os bens dele para meu pai. E recebo uma mesada por mês.Minha outra fonte de renda é a herança de minha mãe. Ela trouxe um grande dotequando se casou com meu pai. A família dela é muito rica e como não concordavam

com a união, fingem que nós não existimos. — Fitou-o nos olhos.

— Minha mãe se casou por amor e nunca se arrependeu disso. Marksustentou-lhe o olhar.

— Esse bufão nunca a fará feliz. Liza sorriu com ternura.

— Eu sei — concordou, traçando com o indicador as linhas da palma da mãomáscula. — Minha tia está apenas eufórica com o fato do meu luto estar terminando.Ela adora fazer-se de cupido.

A expressão do rosto masculino endureceu.— Foi para isso que veio para Londres?

Por que Mark parecia tão aborrecido? Estaria pensando que ela pretendiafisgá-lo?

— Vim visitar minha tia e prima, visitar os museus e galerias de arte e medivertir um pouco. Só.

A fisionomia preocupada de Mark não se alterou.

— Dentro de dois meses voltarei para casa. Para a mesma vida que levavaantes. E você estará livre... quer dizer... Já é livre para fazer o que quiser.

Mark franziu a testa.

— E quantos pretendentes a esperam lá?

Um misto de alívio e perplexidade tomou conta de Liza. Por que ele agiacomo se sentisse ciúme? O que o estava preocupando?

— Tenho poucos admiradores — informou-o, meneando a cabeça. — Minhasirmãs são muito mais cortejadas. Acho que as duas juntas são donas de todos os

corações masculinos da nossa cidade.

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Mark não sorriu com o comentário.

— Está sendo muito modesta. E distraída, devo dizer.

Liza inclinou a cabeça para o lado e fitou-o com olhar inquisitivo.

— Por quê?— Não notou todos os olhares masculinos pousados em você hoje no Palácio

de Cristal?

Foi a vez dela de franzir a testa.

— Quem?

— Muitos — ele resmungou, parecendo aborrecido. — Aposto que há umalonga fila de cavalheiros ansiosos por suas atenções, lá onde mora.

Liza ficou pensativa por instantes.— Para ser sincera, me lembro de apenas três que talvez tenham essa

intenção. Mas não estou interessada em nenhum deles.

Mark enrolou um cacho de cabelos sedosos entre seus dedos.

— Em quem está interessada?

A conversa estava tomando um rumo bastante estranho. Mark dissera que otempo deles era finito. Dois meses. Então por que se preocupava com o que elapudesse fazer depois disso?

— Não estou interessada em ninguém.

Mark desviou o olhar, parecendo decepcionado.

— Mas um dia pretende casar-se outra vez, não?

Em que aquilo poderia interessá-lo? O que esperava que respondesse? Eraimpossível imaginar-se casada com Mark. Varrera aquela esperança de sua menteno início do relacionamento dos dois. Só se permitia tal desejo em seus sonhos.

Os olhos azuis e profundos não paravam de fitá-la. Sentiu um aperto no

coração.— Não sei — admitiu em tom suave. — Sempre pensei que não, mas agora...

— Observou a mão firme colada à sua.—Talvez comece a pensar sobre o assunto.

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Capítulo V

Mark acordou e piscou várias vezes para se acostumar à fraca claridade doalvorecer. Na varanda, uma pomba arrulhava sem cessar.

Aconchegada em seus braços, Liza suspirou e colou o corpo ao dele. A facedelicada estava pousada sobre seu peito e os cabelos longos roçavam em seubraço.

Relutante, ele se afastou, tomando cuidado para não despertá-la. Por maisque desejasse continuar deitado ao lado de Liza, eram quase cinco da manhã eprecisava partir.

Enquanto se vestia, notou uma paleta e um caderno de esboços sobre amesa. Aproximou-se curioso e admirou a violeta pintada em aquarela. Era idêntica àoriginal que se encontrava no pequeno vaso ao lado do desenho. Começou a folhear o caderno com sucessivas pinturas de natureza morta e de pessoas, cada uma maisbonita que a outra.

Deteve-se algum tempo admirando o retrato de duas lindas mulheressentadas uma em frente à outra. Uma tinha um livro na mão e a outra segurava umaharpa. Na margem da página viu a legenda: Patience e Prim. Deviam ser as irmãs

de Liza, concluiu, observando certa semelhança nos traços dos rostos desenhados.Mark meneou a cabeça, encantado. Liza era mais talentosa do que ele

imaginara. Conseguia captar a essência do que estava desenhando.

Continuou folheando o caderno, com esperança de encontrar um auto-retrato.Foi então que em uma das últimas páginas deparou com algo inesperado.

Engoliu em seco. Será que era assim que ele se parecia? Reconheceu suasfeições e a expressão do próprio olhar, mas havia algo mais naquele desenho quenão conseguia definir. Talvez alguma coisa que somente aos olhos dela ressaltava.

Observou o retrato com atenção, mas a pintura era o reflexo da visão daartista. Se ela o via assim tão belo, melhor. Uma sensação de calor envolveu seucoração.

Mark voltou a fitá-la. Liza ainda dormia, a respiração compassada pelo sono.

Decidido, pegou uma caneta e escreveu um bilhete:

Até dormindo você é linda. Voltarei esta noite. M. P.S. Evelin Didlemot?

Colocou-o sobre a mesinha-de-cabeceira, onde ela não poderia deixar de ver.

— Perdoe-me, sra. Redington — entoou Alfred Swittly. — Mas sua imagem

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encantadora me faz vir à mente a personagem Hérmia, embrenhando-se na florestaà procura de seu amado Lisandro — afirmou o falastrão, referindo-se à obra deShakespeare, enquanto valsavam no salão de baile ao lado do Palácio de Cristal. Oamplo pavilhão fora dividido em dois ambientes para abrigar, além do baile

costumeiro, outra festa particular.— Obrigada, sr. Swittly — agradeceu Liza, forçando um sorriso.

Embora o homem tentasse agir como se nada tivesse acontecido no diaanterior, ela ainda se sentia desconfortável a seu lado. Apesar de ter se mostradodecepcionado quando Liza lhe informou que não podia ter filhos, seu entusiasmoreacendeu quando soube que a prima estava noiva de um conde.

Quando valsavam pelo local onde se encontravam Mathilda e as irmãsSwittly, Liza avistou John Crossman em companhia delas.

— Oh, sr. Swittly. Veja. Lá está seu primo. Talvez deseje cumprimentá-lo —sugeriu, querendo se livrar dos braços gigantes que a apertavam.

— Por certo, sra. Redington.

Ao perceber a presença de Liza, o rosto de John Crossman se iluminou numsorriso, realçando suas belas feições. O rapaz pareceu não perceber a presença doprimo, tão absorto estava a fitá-la.

— Sra. Redington — cumprimentou-a assim que o par chegou à mesa.—Pergunto-me como consegue superar sua própria beleza a cada dia — elogiou,

depositando um beijo na ponta dos dedos delicados. — Presumo que estejaoficialmente fora do luto.

Liza sorriu e entreabriu os lábios para falar, mas a tia se adiantou.

— Sim. Já estava em tempo — aparteou, fixando os olhos na sobrinha. —Uma jovem não deveria ficar de luto por tanto tempo.

John Crossman sorriu.

— Temo que não possa concordar com a senhora. Do contrário, não teria tido

a chance de testemunhar tão deslumbrante transformação.— É verdade, sr. Crossman — concordou Mathilda, orgulhosa.

— Minha sobrinha está radiante.

— Não poderia ter escolhido melhor descrição — atalhou Al-fred Swittly.

Só então o primo cumprimentou Alfred. Em seguida levantou-se e ofereceu obraço a Liza, quando os primeiros acordes da próxima valsa entoaram no salão.

— Dar-me-ia o prazer desta dança, sra. Redington? — E desviando o olhar 

para o primo que ameaçava protestar, acrescentou:— Não pode monopolizá-la a noite toda.

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Liza aceitou o convite e ele a guiou pelo salão. Enquanto abriam caminhoentre os casais que valsavam, ela sorria divertida. Fazia muito tempo que nãodançava, e embora desejasse veementemente que o cavalheiro a sua frente fosseMark, não podia negar que John Crossman era uma excelente companhia.

— Costuma comandar os navios que constrói, sr. Crossman? . Navega pelosalão com a segurança de um homem do mar.

John sorriu.

— Interessante a sua observação, mas a verdade é que nunca comandei umnavio. Meu pai nunca permitiu. Eu era seu único herdeiro e ele ficava preocupadoque algo me acontecesse.

— E quando pretende embarcar?

— Ainda não me decidi — replicou John, rodopiando mais rápido. — Gostariade uma taça de ponche?

— Sim. Por favor.

John a guiou até o balcão de bebidas.

— Liza! — ouviram uma voz chamar.

Charlotte correu em sua direção, atirando-se em seus braços.

— Vim até aqui na esperança de encontrá-la! Oh, querida... — exclamou,afastando-se. — Muito me compraz vê-la assim tão radiante. Essa cor realça suabeleza.

— São seus olhos. Mas como pôde abandonar a própria festa? — perguntouLiza, tentando mudar de assunto.

Naquele momento a voz aguda de Abigail se fez ouvir.

— Pare de venerar sua prima como se ela fosse uma deusa do Olimpo —recriminou. — Está fazendo um espetáculo.

— Mas milady — interveio John Crossman —, é tão raro testemunhar uma

genuína demonstração de afeto e admiração. Quem dera todas as mulheres fossemtão graciosas e cúmplices!

Abigail pareceu se intimidar, já que não sabia quem a contrapunha.

— Não vai apresentar seu acompanhante? — perguntou a Liza. Desde quechegara a Londres aquela era a primeira vez que

encontrava Abigail Lawrence. Não fora convidada uma vez sequer para a suaresidência. Era Charlotte quem sempre ia visitá-la.

— É um prazer revê-la, sra. Lawrence. Minha família lhe envia votos de saúde

e bem-estar.

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A mulher levantou o queixo com altivez.

— Envie-lhes os meus também. Suponho que devo lhe agradecer por tentar introduzir minha filha na arte da pintura. Foi muito gentil de sua parte, mas nomomento Charlotte tem coisas mais importantes a fazer. Temo que também não

tenha oportunidade para convidá-la e a sua tia para visitarem minha residência, tãoocupada estou com os preparativos do casamento.

Liza anuiu com um movimento de cabeça. Tanto melhor. Contanto quepudesse ver a prima, não fazia a menor questão de estar com Abigail.

— Sr. Crossman, permita-me apresentar-lhe a prima de minha mãe, sra.Abigail Lawrence, e sua filha, Charlotte Lawrence.

Antes que o rapaz pudesse falar, Abigail deu um passo à frente.

— Tem alguma relação com os Estaleiros Crossman? John assentiu.

— Sim, milady. Sou o proprietário.

A atitude de Abigail se transformou de forma radical.

— Bem — disse, oferecendo-lhe um sorriso amável. — É um prazer conhecê-lo, sr. Crossman. Peço desculpas, mas agora temos que nos retirar. Somosconvidadas de uma festa particular do outro lado do salão. É a primeira noite empúblico de minha filha com o noivo. — Segurando o braço da filha, chamou: —Venha, Charlotte. Não devemos deixar o conde esperando.

— Estamos atrasados — observou Matthew. — Mamãe vai ficar aborrecida.Mark deu de ombros displicente enquanto adentravam o pavilhão de festas.

— Quanto menos tempo eu tiver de permanecer aqui, melhor. O irmão sorriu.

— Está detestando isso tudo, não? Mas não estou me referindo apenas anossa mãe. É uma indelicadeza com sua noiva também. É a primeira ocasião devocês em público.

Mark franziu a testa. Sua futura esposa lhe estava sendo impingida goelaabaixo, mas o irmão não podia saber disso. Era um

homem bom e decente e merecia ser feliz. Detestava ter de mentir para ele.Resignado, anuiu com um movimento de cabeça.

— Acho que posso agüentar um pouco mais. Matthew sorriu aliviado.

— É assim que se fala!

Mas a tolerância de Mark durou pouco. No instante em que pousou os olhossobre a mãe e Abigail Lawrence juntas, toda a raiva que sentia por aquelas duascriaturas emergiu. Charlotte estava parada ao lado da mãe.

Mark recorreu a toda a força que possuía para manter o semblante calmo

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enquanto caminhava na direção delas. Os olhares dos convidados voltavam-se paraele à medida que avançava pelo salão. Era forçado a cumprimentá-los, apertar-lhesas mãos e fazer reverências seguidas até chegar a seu destino.

As damas sorriram quando Mark curvou-se numa reverência.

— Milady... Senhorita...

Um imperceptível empurrão da mãe levou a menina a dar um passo à frente eestender-lhe a mão. Não que a artimanha tivesse passado despercebida a Mark.

Que megera..., pensou, engolindo a revolta e depositando um rápido beijo naponta dos dedos delicados. Em seguida, apresentou o irmão.

Matthew foi encantador como sempre e Lucinda sorriu, orgulhosa daelegância do filho mais novo.

Enquanto Matthew trocava algumas palavras com Charlotte, Abigailaproveitou a oportunidade para se aproximar de Mark.

— Não se atreva a deixar minha filha esperando dessa maneira. Está meouvindo?

— Vá para o inferno — murmurou ele.

Quase que instintivamente Mark voltou o olhar à mãe que o encarava furiosa.

O que mais podia esperar daquela mulher? Que viesse em sua defesa? Quedemonstrasse alguma afeição por ele como fazia com Matthew? Isso nuncaaconteceria.

Desviou o olhar para Charlotte e a jovem lhe voltou um sorriso doce.Abominava a expressão sempre alegre estampada no rosto da noiva.

Em vez disso, estendeu o braço em sua direção.

— Concede-me essa dança, sita. Lawrence?

E assim se passaram as próximas intermináveis duas horas. Controlado pelosolhares perscrutadores da mãe e de Abigail, continuou na companhia da

desagradável noiva. Um misto de frustração e raiva crescia dentro dele à medidaque os minutos se passavam.

Seu único alento era pensar em Liza. Se precisava sorrir, lembrava do rostode traços finos e delicados de sua musa. Se precisava mostrar-se amável, recordavaa suave entrega com que ela se abandonava em seus braços. Se era obrigado adançar com alguma das três detestáveis mulheres, sonhava com sua adorávelamante.

Mas naquele momento se sentia prestes a explodir. Conseguira escapar por 

alguns momentos e encontrava-se em companhia dos Benchley, embora avistasse amãe caminhando em sua direção.

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Tinha de arranjar um meio de sair dali. Sem dizer palavra, afastou-se dogrupo e abriu caminho entre a multidão. Logo, respirou aliviado. Quanto mais seafastava para o outro lado do salão, melhor se sentia.

Em breve partiria ao encontro de Liza. E então poderia esquecer as agruras

daquela malfadada noite. Respirou fundo e pôs-se a observar os casais quedançavam no outro baile que ocorria simultaneamente.

Ela atraiu sua atenção de imediato.

Observou-a deslizar pelo salão nos braços de um estranho. Os longoscabelos ruivos ornados por fitas douradas estavam apanhados em um graciosopenteado que mal lhe cobria a nuca. Enquanto ela se movia, notou o par de ombrosdelicados e a cintura delgada envolvidos pelas fitas de cetim verde-esmeralda.

Franziu o cenho, observando o brilho lustroso do tecido do elegante vestido.

Seu par era um cavalheiro alto, bem-apessoado, e não o gigantesco bufão. Nãopodia ser ela, não ali e nem nos braços daquele homem.

Sentiu o estômago revirar ao vê-la bailar graciosamente.

Era Liza. E estava tão linda como nuca vira.

Ela não notou sua presença. Sorria divertida para o parceiro que parecia lhedizer algo muito engraçado. Era óbvio que estava se divertindo.

A chama do ciúme queimava-lhe o peito. Sentia inveja, não só pela felicidade

que exibia, mas por ter sido excluído dela. Enquanto estivera sofrendo a pior dastorturas, Liza se divertia.

Sentiu que o coração parecia querer lhe sair pela boca. Deus! Como eralinda! E ele a queria. Droga! Liza lhe pertencia.

Matthew se materializou a seu lado. Seguindo o trajeto do olhar do irmão,descobriu, sem esforço que ele observava Liza.

— Ela está linda! — exclamou o irmão sem conseguir se conter diante de tãobela visão.

— Nunca vi nada igual — concordou Mark como que hipnotizado. Em seguidaolhou para trás, avaliando a distância em que se encontrava do outro salão.

— Eu não faria isso — disse Matthew, parecendo adivinhar-lhe opensamento. — Do jeito que vocês dois se olham, todos irão notar. f 

— Será apenas uma dança.

Matthew segurou-lhe o braço, detendo-o.

— O que pretende? Arruiná-la? Você tem uma reputação a zelar. E por mais

que pense que as pessoas do outro lado do salão não estão prestando atenção noque está fazendo, asseguro-lhe de que está enganado. Vi vários convidados da

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nossa festa caminhando por aqui. Qualquer um que o conheça saberá que tem seencontrado com ela. O que incitará a curiosidade sobre a identidade dela. É isso quequer?

— Não — afirmou Mark sem tirar os olhos de Liza. Só então o irmão soltou-

lhe o braço.

— Além disso, é um homem comprometido agora. Não pode sair dançandocom quem lhe aprouver.

Mark sentiu todo o corpo tenciona.

Os últimos acordes da música soaram e o par de Liza a guiou para fora dapista de dança.

Lá estava o inconveniente sr. Swittly, reconheceu Mark. Embora Liza sorrisseatenciosa, sua expressão parecia cansada. Ela pressionou a palma da mão contra atesta e a senhora a seu lado, observou-a através do monóculo.

Queria tomá-la nos braços e carregá-la para longe dali. A levaria para casa, adespiria e a deitaria a seu lado na cama. E então poderia dormir por quanto tempoquisesse, enquanto ele velaria seu sono.

Liza disse algo para a mulher e ao sr. Alfred e voltou o olhar para a pista dedança. Os olhos vaguearam pelo salão, observando os casais que dançavamentretidos.

Mark contraiu a mandíbula.Encontre-me, querida, pediu em pensamento. Se não podia ir até Liza,

deixaria pelo menos que ela o visse.

Como que obedecendo ao comando tácito, os olhos dela pousaram em Mark.

Oh, Deus! O queixo de Liza se ergueu e os lábios se entreabriram numaexpressão de incredulidade. O desinteresse de seu olhar logo foi substituído por umbrilho de ternura e paixão. Era como se pudesse acariciá-lo a distância.

O sangue começou a correr rápido nas veias de Mark, bombeando-lhe o

coração com violência.

— Jesus Cristo! — exclamou Matthew.

No mesmo instante, Liza disse algo à senhora que a acompanhava, que depronto anuiu. Depois girou nos calcanhares e saiu.

Mark deu um passo à frente. Sabia que Liza queria que ele a seguisse.

Matthew segurou-lhe o braço mais uma vez.

Ele encarou o irmão furioso.

— Solte-me.

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Quando saiu do pavilhão, Liza afastou-se da multidão que se aglomerava nasacada para ver os fogos de artifício. Segurou a saia e correu tão depressa quantopôde. Sem olhar para trás, foi se afastando cada vez mais.

Será que Mark a seguiria? Esperava que sim.

Quando se viu sozinha, recostou-se na estatua de um leão.

Por que estava se escondendo?

Depois de alguns instantes uma sombra se moveu do outro lado da estátua.Liza fechou os olhos, enquanto a essência de verbena embotava-lhe os sentidos.

— Ansiei por sua presença durante a noite inteira.

— E eu pela sua — replicou Mark.

Liza sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha e saiu de detrás da estátua.

Ele fechou a distância entre os dois. Aquele homem era incrivelmente belo.

— Não me contou que seu luto havia acabado.

— Não.

Mark estacou bem próximo a ela.

— Deveria ter me contado

Um leve tremor agitou o corpo feminino.

— Por quê?

Ele traçou com o indicador a linha da clavícula delicada.

— Porque quero saber tudo sobre você.

O que estaria pretendendo com aquilo? Passar para um nível a mais deintimidade que só tornaria mais difícil abandoná-lo? Não fora ele que dissera quenão acreditava em relacionamentos duradouros?

No entanto, esquecendo toda a lógica, deixou-se guiar pelo coração.

— Também quero saber tudo sobre você.

Ele a tomou nos braços e Liza teve a impressão de estar no paraíso.

— Todo o tempo que eu dançava desejava que meu par fosse você —declarou, enlaçando-lhe o pescoço largo. — E, de repente, você apareceu.

Mark sustentou-lhe a intensidade do olhar, meneando a cabeça.

— Você é diferente de qualquer mulher que já conheci — dizendo isso,tomou-lhe os lábios num beijo quente e profundo.

Liza respondeu com a mesma intensidade, pressionando o corpo delgado

contra o dele.

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apetite voraz pela manhã, talvez fosse a razão de estar ali.

— Por que não me diz o que está pretendendo fazer? — perguntou Matthew,levando o garfo à salsicha.

— A que está se referindo?

— À questão do seu noivado — começou o irmão, inclinando-se para frente.— Por que ficou noivo dela?

— Porque quero ter herdeiros.

— Essa é a única razão?

Matthew o estava obrigando a mentir outra vez.

—Todos lucrarão com essa união. Como uma plebéia, ela ficará feliz em setornar condessa e eu terei os filhos que quero. Além disso, não terei de entrar por 

longas negociações de dote com pais avarentos como o seu futuro sogro.

— E Charlotte não será uma avarenta também? É só olhar para a mãe dela ever a cobiça exalando por todos os seus poros. Não gosto daquela mulher. — Eapontando para o irmão. — E sei que você a detesta.

Graças a Deus, um momento de sinceridade.

— Você está certo.

— Então esqueça esse casamento. Descubra um meio de se livrar delas.

— Vou casar com a filha, não com a mãe.

— Oh, desculpe-me — disse o irmão, sarcástico. — Esqueci o quanto estáapaixonado e como lhe é excitante a idéia de ter herdeiros. Cristo! Não consegueficar um segundo ao lado daquela mulher.

— Onde está querendo chegar? — questionou Mark, exasperado.

— Cale a boca e me escute — gritou Matthew, parecendo mais tenso que ele.— Viu o modo como Liza o fitava?

O irmão estava entrando num terreno perigoso. Não gostava de ouvi-loreferir-se a Liza.

— Claro que sim.

— É tudo que tem a dizer? — Matthew passou as mãos pelos cabelos semtirar os olhos do irmão. — Vou lhe dar um conselho e espero que o siga. Case-secom Liza. Faça-a mãe de seus herdeiros. Ela satisfaz seu desejo de se unir a umaplebéia. E, até onde sei, a família dela não é tão exasperante quanto os Lawrence.

Mark fitou o irmão por um longo instante. Como poderia casar com uma

mulher que não queria unir-se a ninguém?— Não posso. Lisa é incapaz de ter filhos.

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Não era verdadeira razão que o impedia de fazê-lo, mas não estava dizendouma mentira.

A expressão de Matthew não se modificou.

— Isso é tão importante assim? Eu e Rosalind teremos um filho. Quechamaremos de Mark. Desde que o menino tenha o sangue dos Hawkmore, quediferença faz se é meu ou seu?

Oh, aquilo era demais. Mark engoliu em seco, pressionando os dedos contraa têmpora latejante. Em seguida dirigiu-se à janela e observou a paisagem. Estavatudo errado. O irmão que tanto amava tentava desesperadamente mostrar-lhe quenão seria feliz. O problema era que ele não tinha noção das conseqüências advindasdo que estava lhe pedindo para fazer.

Sentia vergonha do papel que estava fazendo.

— Aprecio o que está fazendo — declarou cerrando os dentes. — Mas játomei minha decisão.

Um silêncio constrangedor abateu-se entre os dois.

— Então abandone Liza.

O coração de Mark pareceu pular pela boca, mediante tal sugestão.

— Não.

— Seja decente e deixe-a. Acabará por magoá-la.

Mark passou pelo irmão como uma flecha. A expressão fechada deixava claroque a conversa tinha findado. Abriu a porta e segurou-a, encarando o irmão caçula.

Matthew caminhou até a porta, estacando quando lá chegou.

— Eu o perdoarei por isso. Liza por certo, também. Mas me pergunto se vocêalgum dia se perdoará.

O som estrondoso da porta se fechando, reverberou nos ouvidos de Mark.

— Tia Matty! Torna muito difícil desenhá-la quando fica se mexendo o tempo

todo.

— Desculpe-me, querida. Mas sabe que não consigo ficar parada. Quantotempo leva para fazer um retrato?

— Horas. Às vezes, dias.

— Oh, Deus!

Naquele instante Charlotte adentrou a sala.

— Graças a Deus que está aqui. Faça companhia a sua prima enquanto

caminho um pouco. Estou colada nesse assento por uma eternidade.

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Liza sorriu para Charlotte enquanto Mathilda disparava para fora do aposento.

— Era minha primeira tentativa de fazer um retrato a óleo e já perdi a modelo.

A prima dirigiu-se a ela para observar o desenho recém-começado.

— Pensei que tivesse desistido de pintar retratos.— E tinha.

— O que a fez mudar de idéia?

Mark. O nome veio à mente de Liza de imediato, fazendo-a corar.

— Sentia-me sem motivação. Mas alguém que sempre me diz a verdadefalou que eu tinha muito talento. Foi o incentivo de que estava precisando.

— De fato, essa pessoa tem toda a razão. É muito talentosa — elogiou

Charlotte, observando o esboço no papel.Liza observou a expressão da prima. Apesar da constante suavidade, parecia

preocupada.

— Está com algum problema, querida? Charlotte largou-se na cadeira defronte para ela.

— A noite passada foi um fiasco — declarou, amargurada. Liza colocou ocaderno de desenho de lado e inclinou-se para frente.

— O que aconteceu?

— Não sei. Acho que tudo. O conde chegou atrasado e mamãe ficou furiosa.Sabe que quando isso acontece, ela acaba descontando em mim.

— Minha querida, não se incomode com isso. Você é uma pessoamaravilhosa e estava linda ontem noite. Não tive oportunidade para lhe dizer, masJohn Crossman mal conseguia desviar os olhos de você.

A prima não pareceu animada com o comentário.

— Acho que meu noivo me detesta.

— O quê?— Vi no semblante dele. Logo quando chegou lançou-me um olhar de ódio.

— Deve estar enganada. Ele manteve esse comportamento pelo resto danoite?

— Não. O resto do tempo parecia não me ver. E enquanto dançávamos, setrocamos duas palavras foi muito.

Liza pensou na valsa que dançara com Mark. Desejava que Charlotte tivessetido um milésimo de sua felicidade.

— Eu não estava lá para testemunhar, mas foi a primeira vez que saíram em

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— Verdade? — questionou Charlotte interessada.

— Apenas sua reputação. Ele é um grande investidor da frota Crossman. Meupai o conhecia bem.

Liza trocou um olhar significativo com a prima.

— Se não se importa, sr. Crossman. Poderia nos falar sobre a reputação doconde?

— Sem dúvida. Ao contrário de muitos da sua classe é um homem comtalento para os negócios. É conhecido por seu caráter integro e honesto. Possuipoucos, mas sinceros, amigos. Algumas pessoas o acham muito rígido e às vezesanti-social, mas meu pai tinha-no em alta conta.

Charlotte sorriu satisfeita.

— Aqui está o chá. — Mathilda adentrou o recinto, seguida da criada.Mark observava os desenhos espalhados por sobre a sua mesa. O trabalho

sempre constituíra uma terapia para ele, mas não naquele dia. Desde o desjejum,quando discutira com Matthew, seus pensamentos perturbavam-no.

Com um suspiro exasperado, largou a caneta na mesa e dirigiu-se à janela. Ojardim que projetara estava florescendo, mas nada parecia entretê-lo.

Liza também não lhe saía da mente. Sabia que ela era um dos motivos desua preocupação. Não porque não pudesse lhe dar herdeiros, mas porque o fizera

almejar mais do que a realidade lhe impunha.Antes de conhecê-la, pensava que seu destino já estava traçado. Tiraria o

máximo de proveito da vida, seria um bom tio e o trabalho preencheria seus dias.

Mas Liza tinha lhe inspirado uma nova casta de aspirações e emoções. Asantigas lhe pareciam frias e distantes naquele momento.

Cranford bateu à porta.

— Perdão, senhor. O sr. Wilkes deseja vê-lo. Por Deus! Tomara que tivesseencontrado a carta.

— Mande-o entrar.

Quando o mordomo fechou a porta atrás do rapaz, Mark foi direto ao assunto.

— E então? Pegou a carta?

Mickey retirou o chapéu.

— Ainda não. Mas quero lhe pôr à par do meu progresso, senhor.

Mark cruzou os braços sobre o peito, aguardando.

O ex-gatuno lhe contou que havia achado milhares de cartas no quarto deAbigail na noite anterior, mas não encontrara a que procurava. Mas informou-o que

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fizera amizade com a criada de quarto dela e esta lhe revelara que ninguém gostavada patroa e que todos os criados estariam dispostos a fazer algo contra a dona dacasa.

— Mas ninguém pode descobrir seu propósito.

— Claro que não, senhor. Sou um profissional — retrucou o rapaz, quaseindignado.

Mark guiou o rapaz para a porta, colocando uma das mãos em seu ombro.

— Preste atenção. Preciso daquela carta o mais rápido possível. Entendeu?

— Perfeitamente, senhor.

— Então volte ao trabalho.

Quando o rapaz saiu, Mark voltou para sua mesa. Apesar de novo, Wilkes lhe

parecia bastante eficiente. Já conseguira bastante para um dia de trabalho.

Mickey encontraria a carta. Pensando nisso, voltou ao trabalho.

Liza revirou-se na cabine da carruagem, ajustando o véu. Já havia mais deuma semana que tinha abandonado o luto. Passava as noites com Mark e durante odia ocupava-se com os passeios e visitas com a tia. Charlotte vinha lhe visitar quasetodos os dias. Nas festas, Mathilda sempre a acompanhava, bem como AlfredSwittly e seu primo John Crossman, que compensava a enfadonha companhia doprimeiro.

Naquele dia dissera à tia que iria sair para fazer algumas compras. Naverdade iria visitar Mark. Um tremor perpassou-lhe o corpo ante o risco que corria.Não podia deixar de sentir uma pontada de arrependimento por estar mentindo paraa tia. Pretendia passar em alguma loja no caminho de volta, para que seu disfarcefosse completo.

A chuva fina que começara havia poucos minutos agora se transformavanuma tempestade. Liza olhou através da janela cortinada. Havia poucas pessoas narua, mas não iria se arriscar. Solicitou ao cocheiro que parasse e saltou da

carruagem, abrindo a sombrinha. Teria de andar um pouco até a casa de Mark.Quando lá chegou estacou, observando a construção. Situada em uma esquina, eracomposta de dois andares. Era toda branca, com uma larga porta verde e umaaldrava em forma de cabeça de leão. Liza deteve-se a observá-la por algunsinstantes. Por certo não entraria pela porta da frente.

Contornando a casa, aconchegou o guarda-chuva à face. Sabia que o leão deseus sonhos representava Mark. Mas não pôde deixar de achar estranha acoincidência.

Apressando o passo, abriu um pequeno portão de ferro lateral e encontrou aentrada de serviço. Assim que a alcançou, a porta se escancarou de imediato,

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revelando Mark. Ele a puxou para dentro com sombrinha e tudo. A porta se fechou eele a tomou nos braços.

Mark arrancou-lhe o véu e sorriu.

— O que a fez demorar tanto?

Liza deixou a sombrinha cair no chão ao lado deles.

— Estou atrasada?

Ele apossou-se dos lábios convidativos com um beijo ousado. Quando seafastou, exibiu um sorriso malicioso.

— O que a fez demorar tanto para contornar a casa?

— Oh, bem... eu...

Mark não a deixou completar a frase. Seus lábios já estavam cobertos pelosdele. Dessa vez num beijo terno e longo. Lisa ofegou quando Mark a soltou. Osolhos azuis brilhavam.

— Deus! Como você é linda!

Em seguida guardou a sombrinha e guiou-a até a sala.

— Não se preocupe. Dei folga a todos os empregados.

— Dê-me sua capa e chapéu, milady. Ou devo chamá-la de Elvira Dartpoof?

Liza riu divertida.

— Oh, adivinhou — brincou. — Tenho de partir às quinze horas. Tenho umjantar importante esta noite.

Enquanto falava, admirava o belo espécime masculino. Ele trajava um robeazul por cima de um par de calças. Mark franziu o cenho.

— Que coincidência. Eu também tenho um jantar. Não tão importante. Aliás,preferia não comparecer.

Embora o tivesse visto nu diversas vezes, nunca o tinha visto vestido como se

fosse entrar no banho. Corou ao entregar-lhe o chapéu.— Está linda neste vestido — Mark elogiou.

Liza sorriu radiante. Aquele era um dos seus trajes favoritos e o escolhera,pensando em agradá-lo. Ele segurou-lhe a mão.

— Venha comigo.

Mark a guiou pela sala que possuía uma elegante escada em caracol em umdos cantos.

— Tem uma linda casa — observou ela, enquanto se encaminhavam aoandar de cima.

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— Obrigado. Quem a projetou foi Robert Adam — disse quando chegaram aosegundo andar. — Gosto da maneira como projeta os ambientes.

— Presumo que seja um arquiteto.

— Sim. O melhor do último século.

Seguiram por um corredor com Mark sempre à frente. Quando chegaram aofundo, ele abriu uma porta, introduzindo-a em seu quarto. O aposento era largo,comprido e decorado de forma magnífica. A cama larga estava coberta por umacolcha de cetim verde com drapeado dourado. Ao fundo uma lareira acesaesquentava o ambiente.

Uma mesa ampla estava bem localizada para receber a luz que vinha dasjanelas. Quando passou por ela, Liza notou vários desenhos espalhados.Aproximou-se curiosa. Projetos arquitetônicos preenchiam as folhas.

Ela o fitou curiosa quando Mark se aproximou.

— Você é arquiteto?

— Sim.

Liza observou os detalhes dos croquis com atenção.

— São lindos.

— Obrigado. É meu projeto para a nova Biblioteca Nacional. Isto é, se for aceito.

— Acho que acertou em optar pelo estilo clássico — opinou ela, se atendoaos detalhes do desenho. Acho que a tendência neo-gótica não se aplicaria a umabiblioteca.

— Fico feliz que tenha gostado. Concordo plenamente com você. Acho queesse tipo de construção deve ser livre de ornamentos extravagantes.

Liza o escutava, fascinada e acompanhava seu raciocínio enquanto lhe iaapontando os detalhes da obra. Aquilo era sua fonte de prazer. Sentiu-se feliz por Mark estar dividindo algo tão importante com ela.

— Estou certa de que seu projeto será aceito.

— Espero que sim. — E guiando-a até a janela. — Quero que veja uma coisa.Olhe para baixo.

Através do vidro salpicado pelas gotas da chuva, Liza observou o jardim. Láse encontravam os mais variados tipos de plantas e flores compondo um arranjoharmônico e belo. No centro estava uma fonte.

— É Afrodite? — perguntou sorrindo.

Mark depositou um beijo suave no lóbulo da orelha delicada.

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— Sim. Eu a construí há pouco tempo. Ainda não está funcionando.

Liza recostou a face ao peito másculo, enquanto ele lhe envolvia a cinturacom uma das mãos e com a outra os seios.

Em seguida Mark a tomou nos braços e começou a desabotoar-lhe o corpetedo vestido.

— A despeito do quanto gosto do seu vestido prefiro vê-la sem ele —sussurrou com voz rouca.

O coração de Liza começou a bater descompassado, enquanto o ajudava adespi-la.

Os olhos azuis percorriam o corpo feminino com avidez e Lisa sentiu-seestremecer ao perceber-se tão vulnerável. Estava sozinha com Mark. Confiava nele,mas ao mesmo tempo sentia-se completamente à mercê daquele homem.

— Você me quer agora? — perguntou ele contra o lóbulo de sua orelha.

— Quero-o sempre — retrucou Liza sem saber como as palavras ousadas lhesaíram pela boca.

A afirmação pareceu ter o efeito de fogo em palha seca.

Sem descolar os lábios da pele alva e macia, ele depositou beijos quentes eúmidos no pescoço dela e foi descendo pelo colo e ventre até se ajoelhar sob oolhar hipnotizado de Liza. Deslizou uma das mãos pela feminilidade pulsante e

começou a massageá-la, enquanto lhe beijava o interior das coxas trêmulas.Lisa ofegava, lutando por ar. Sentindo os joelhos fraquejarem, se agarrou aos

vastos cabelos de Mark, emitindo sons ininteligíveis.

— Oh, Mark. Por favor... — suplicou, ofegando.

De modo lento, ele se ergueu, detendo-se por instantes para sugar-lhe ummamilo. Em seguida, livrou-se da calça, jogando-as para o lado.

Liza o desejava com intensidade.

— Eu o quero tanto.Mark sentou-se na beirada da cama, lançando-lhe um olhar de fogo.

— Venha — convidou-a, estendendo-lhe as mãos. — Sou todo seu.

Mark depositou beijos ternos na face afogueada de Liza, que estremeceu deemoção com o toque daqueles lábios. Poderia ficar ali para sempre. Cativa nosbraços do homem mais belo que jamais conhecera.

— Tenho um presente para você — murmurou Mark. Liza sentiu o coraçãoflutuar.

— Você é meu presente.

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Ele afastou um cacho de cabelos da testa de Liza e beijou-lhe o canto daboca.

— E você o meu.

Virando-se de lado, ela se apoiou no cotovelo, sustentando a cabeça com amão. Observou-o mover-se pelo aposento. Quando teria se apaixonado por ele?Sabia que não era algo novo. Quase percebera quando dançavam nos jardins doPalácio de Cristal. Também tivera a mesma sensação na primeira vez que ele fora aseu quarto.

Mark desapareceu por instantes e retornou com uma cesta de piquenique euma caixa preta atada com uma fita de cetim dourado, formando um laço gracioso.

Ele estacou, fitando-a nos olhos.

— Adoro vê-la deitada em minha, cama. Enquanto está aí, sei que mepertence.

— Sou sua onde quer que eu esteja.

Ambos se fitaram por um longo tempo e em seguida Mark sentou-se a seulado.

Liza recostou-se no espaldar da cama e ele colocou a caixa sobre seu colo.

— Para você.

Ela sentiu um aperto no peito. Com movimentos lentos, querendo congelar aquele momento para sempre, desatou o laço de fita.

— Nunca presenteei uma mulher antes — revelou com voz rouca. — Mas nãopude resistir. Esse parece ter sido feito para você.

Liza desviou o rosto para esconder as lágrimas que ameaçavam cair.

Retirou a tampa de papelão. Um papel de seda preto cobria o conteúdo.Afastou as dobras do papel para descobrir um fino cachecol de lã estampado emverde, vermelho, azul e preto. Liza ergueu a peça para observá-la melhor. Suabeleza e qualidade eram dignas de uma rainha.

Não pôde mais controlar as lágrimas que rolaram livres pela. face delicadaenquanto admirava o presente.

— Obrigada, Mark. É lindo!

Ele roçou os lábios de leve nos dela.

— Se soubesse que ia gostar tanto, teria lhe comprado uma centena deles.

E então Lisa soube. Amara aquele homem desde a primeira vez que o vira.

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Capítulo VI

Mark deixou a mão repousar sobre o joelho de Liza.

— Gostaria que ficasse parado — protestou ela, sorrindo e cobrindo com olençol a perna desnuda.

Haviam comido todo o conteúdo da cesta de piquenique e se encontravamnus sentados na cama.

Liza estava tentando desenhar o perfil harmônico de Mark. O cachecol jogado

por sobre seus ombros e ele não parava de tentar acariciar-lhe as nádegas e aspernas.

— Não estou movendo o rosto — argumentou Mark, deslizando uma dasmãos por baixo do lençol e tocando-lhe a perna.

— Se quer que o desenho fique bom, não deve tentar me distrair — retrucouLiza, contendo o riso.

Ele suspirou resignado e tomou um gole de vinho.

— Por que não me conta algo sobre você? — sugeriu, enquanto traçava o

contorno do rosto másculo no papel.

— O quê, por exemplo?

— Deixe-me ver. — Liza ergueu os olhos para o teto, pensativa.

— Alguma passagem de sua adolescência.

— Não tenho histórias interessantes para contar. Ela o fitou com ternura.

— Nada?

Mark a observou por cima do caderno.

— Quando estava em Oxford, fizemos uma competição entre os garotos paraver aquele que cuspia mais longe. Eu e meu irmão ganhamos.

Liza deu uma gargalhada.

— Não sabia que em Oxford se perdia tempo com coisas tão inusitadas.

— Algumas vezes estudamos também. Ela revirou os olhos.

— Ainda bem.

— Agora fale você. Nunca fez nada ousado antes de me conhecer?

Liza pensou por um tempo e depois riu divertida.

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— Eu e minhas irmãs costumávamos nadar no rio, próximo da nossa casa,completamente despidas.

— Verdade? — inquiriu Mark surpreso. — Que idade tinha na época?

— Quinze. Certa vez, depois de nadarmos por um longo tempo, deitamos nagrama e Prim, de repente, levantou gritando e sacudindo os quadris. Eu e Patiencecorremos para acudi-la, mas não passava de uma joaninha que havia lhe mordido asnádegas. Eu a arranquei, mas ela ficou com a marca.

A respiração de Mark acelerou. A imagem de Liza nua a beira de um lago,excitou-o novamente.

— Gostaria de tê-la conhecido naquela época. Eu a acompanharia àquelelago todos os dias. Assim, você conheceria o verdadeiro prazer aos quinze anos deidade.

Liza sorriu, mas logo depois sua expressão se fechou.

— Quem me dera tê-lo conhecido naquela ocasião. Assim não teria casadocom meu ex-marido.

O pensamento da vida que Lisa levara ao lado de um frígido cafajeste oenfurecia. Franziu o cenho.

— Eu não a deixaria casar com ele.

— E de que modo teria me impedido? A resposta dele veio de imediato.

— Casando-me com você.

As palavras ficaram suspensas no ar.

Mark sabia que estava sendo sincero e não sentiu nenhum desconforto emproferi-las.

— Mas você disse que não acredita em relacionamentos duradouros —contestou Liza.

Era verdade. Mas quando estava a seu lado tudo parecia diferente. Com ela,

sua vida parecia cheia de felicidade e novas possibilidades. Liza lhe trouxera devolta a fé na eternidade dos sentimentos.

— Sim — disse Mark por fim. — Mas se a tivesse conhecido quando eragaroto, teria tido outra visão do amor.

— Mas só nos conhecemos agora.

— É verdade — concordou Mark, traçando com os dedos a curva dos seiosfartos. — Graças a Deus. — Deixou a mão escorregar para o ventre liso. — Estivepensando. O fato de não ter tido filhos com seu marido não quer dizer que não os

possa conceber. O problema podia ser dele.

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Liza o fitou, consternada.

— Era meu.

— Como sabe?

Ela piscou várias vezes para impedir as lágrimas que lhe brotavam aos olhos.— Ele me traía com uma das criadas da fazenda. Observei-os duas vezes no

estábulo. Dentro de pouco tempo a moça ficou grávida. Quando ele soube,ofereceu-lhe dinheiro para que partisse de lá.

— Sinto muito — disse Mark embaraçado. — Não deveria ter tocado noassunto.

Ele se afastou, limpando uma lágrima do rosto delicado com a ponta dopolegar. Os olhos cor de mel estavam ligeiramente avermelhados. Queria que

brilhassem de felicidade e não de tristeza. Desejava fazê-la ciente de que só pelofato de o ex-marido ter se deitado com a criada, não queria dizer que o filho fossedele.

Mas deteve-se, inseguro. Podia estar enganado e não queria lhe dar falsasesperanças. E então decidiu consolá-la, abordando o problema por outro ângulo.

— Alguns maridos perdem o desejo pela esposa no momento que põem o péfora da igreja — começou em tom suave. — E na maioria das vezes o problema nãoé delas, mas do fato de estarem sempre ao alcance de suas mãos. Alguns perdem o

entusiasmo e se voltam para as que não podem ter.Liza o fitou por um longo instante.

— É por isso que me deseja tanto?

Mark franziu o cenho. Seus sentimentos eram muito diversos do exemplo quedera.

— Sabe muito bem que entre nós é diferente.

— Eu sei — afirmou Liza, sustentando-lhe o olhar. — Só queria ouvir vocêdizer.

Ele ergueu-lhe o queixo, depositando um beijo suave em seus lábios.

— O que me faz desejá-la tanto é o fato de você se entregar inteira para mim.Porque não me pede nada e aceita tudo que lhe ofereço. — Franziu a testa, fitando-a com seriedade. — O que me faz desejar que me peça alguma coisa. Algo queninguém possa lhe dar. — Notou um brilho intenso e indefinido nos olhos dela.Observou-a por instantes e reconheceu a mesma nuance intangível que vira nodesenho de seu retrato quando estava no quarto de Liza. A voz máscula sooutrêmula. — Acima de tudo a quero porque você é tudo que sempre sonhei na vida.

Liza acariciou o tecido fino do cachecol. Combinava com perfeição com o

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vestido de seda vermelha que usava. Ajustou-o mais sobre o pescoço, enquantoJohn Crossman a guiava em direção à casa dos Lawrence.

A residência parecia toda iluminada. Todo o clã Lawrence fora convidadopara o jantar de noivado de Charlotte.

Seria a única representante da família Dare. Os parentes campestres queAbigail tanto evitava citar. A prima fizera questão de convidá-los para o casamento.Mas o convite formal havia chegado naquele dia. Porém, para o jantar só ela forarequisitada a comparecer. Mathilda fora excluída e Abigail tivera o atrevimento dedesignar John Crossman como seu acompanhante.

Liza pensara em declinar do convite, mas Mathilda a fizera ver que Charlotteficaria muito magoada sem a sua presença.

Tocaram a campainha e foram admitidos por um mordomo vestido a rigor. O

vozerio que vinha dos salões de cima denunciava a presença de muitos convidados.Abigail desceu a escada para recebê-los. O olhar altivo avaliava Liza com um quasedesdém.

— Que gentil em aceitar o convite — disse, dirigindo-se primeiro a JohnCrossman. — Não sabia se sua agenda social o permitiria vir.

— Gentileza alguma, milady — replicou o milionário. — É um prazer estar emcompanhia da sra. Redington. Cancelaria um compromisso com a rainha paradesfrutar de sua convivência.

Liza o fitou com um sorriso agradecido. John encarava Abigail com ar sério.

Só então a megera pareceu notar-lhe a presença.

— Charlotte ficará feliz em vê-la. Mas não a monopolize por muito tempo.Quando está presente, minha filha parece não notar mais ninguém. Depois que for apresentada a seu noivo, cuide para manter distância de minha filha.

Liza assentiu com um aceno de cabeça e, aceitando o braço estendido deJohn Crossman, seguiu Abigail.

O volume da música e das vozes aumentou quando alcançaram o andar decima. Seguiram-na entre a multidão. Liza sorria e cumprimentava algumas pessoasde seu conhecimento. E então seu olhar pouso sobre um par de ombros largos.

Liza franziu a testa com expressão interrogativa. Conhecia aquela compleiçãofísica perfeita, mesmo em meio a uma multidão.

Sentiu as pernas tremerem e o coração disparar. Deus! Abigail parecia estar os guiando em direção a ele.

— Milorde — disse a anfitriã.

Milorde? As palavras fizeram eco na mente de Liza. Por que se referia a eledaquela maneira?

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— Deixe-me apresentar a prima em segundo grau de Charlotte, sra.Redington e seu acompanhante, sr. John Crossman dos Estaleiros Crossman.

Por um instante ninguém se moveu. Em seguida, o homem elegante com avasta cabeleira preta girou para encará-los.

Os olhos azuis pousaram-se diretamente em Liza. Os lábios carnudos esensuais se entreabriram e a expressão do rosto másculo de traços perfeitos sefechou.

Liza tentou sorrir. Por que não parecia contente em vê-la?

— Liza! — exclamou Charlotte, correndo para abraçá-la. Ela retribuiu oabraço com o coração ainda muito acelerado.

Até o momento não havia notado a presença da prima. Percebeu que o irmãode Mark também estava presente e ao lado dele, uma senhora que devia ser a mãedeles.

Mark estava cumprimentando John Crossman, enquanto Matthew, fitando-acom expressão estranha no olhar, deu um passo a frente e estendeu a mão paraela.

Liza estava confusa. Charlotte não lhe havia dito que o noivo tinha olhosazuis?

— Prazer em conhecê-la, sra. Redington — disse o irmão de Mark. Sua mão

a segurava com tanta força que parecia querer ampará-la.A prima estava cumprimentando John Crossman. O estômago de Liza

contorcia-se em antecipação.

— Estou tendo o prazer de conhecer o conde de Langley, milorde? —perguntou ela com a voz trêmula. — O senhor é Randolph Hawkmore, não?

Matthew franziu o cenho, ao mesmo tempo em que se curvava numaprofunda reverência.

Mark tomou a mão de Liza do irmão e ela notou um brilho de compaixão nos

olhos azuis.

— Eu sou o conde de Langley, sra. Redington. Mark Randolph Hawkmore, assuas ordens.

Não, Deus! Não podia ser verdade.

— Todos os condes de Langley são batizados com o nome Mark. Por isso,costumamos nos identificar com nossos nomes intermediários — acrescentou com oolhar cheio de ternura. — Só nos chamam pelo primeiro nome os que nos são muitoíntimos.

Liza sentia-se zonza. O estômago revirava com espasmos violentos. Lutava

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por ar, sem lograr êxito e tudo a sua volta parecia rodar.

Mark franziu a testa, amparando-a com a outra mão.

Ela começou a tremer de modo descontrolado.

— Liza — Charlotte aproximou-se. — Está branca como uma folha de papel!Gotas de suor assomaram-lhe à fronte.

— Eu... não estou me sentindo bem. — Ofegou. Não conseguia encará-lo,embora ele ainda lhe segurasse a mão. Com muito esforço dirigiu-se ao seuacompanhante. — Sr. Crossman, por favor...

John colocou a mão em seu ombro.

— Quer que chame um médico?

— Eu... não... — Tinha de sair dali antes que desmaiasse. — Fitou Crossmanatravés dos olhos banhados de lágrimas. — Leve-me para casa.

— Posso levá-la até um aposento contíguo — interveio Mark.

— Não! — o grito escapou sem perceber. Quando tentou se mover, osjoelhos cederam.

Mark precipitou-se em sua direção, mas John Crossman foi mais rápido e aamparou, enlaçando-lhe a cintura.

Mark deu mais um passo a frente. A mandíbula contraída pela tensão, mas o

irmão segurou-lhe o braço enquanto John a levava embora.

Charlotte seguiu ao lado da prima. Liza levou a mão ao estômago, sentindouma profunda náusea. Não conseguia suportar a presença de Charlotte.

— Por favor, querida—conseguiu articular as palavras quando alcançaram oandar térreo. — Volte para sua festa.

Mark correu até o salão com o irmão em seu encalço.

Percebendo que ele a seguia, Liza apressou-se pela escada, sempre se

amparando em John. A visão turvada pelas lágrimas, que agora lhe inundavam aface, não lhe permitia ver nada a sua frente. Sem conseguir se conter começou asoluçar.

Mark, o amor de sua vida, era o noivo de Charlotte!

Liza tropeçou e mais uma vez Crossman estava lá para ampará-la. Ouviu-ofalar algo para alguém sobre sua carruagem.

As últimas palavras de Mark reverberavam em seus ouvidos.

Era insuportável aceitar que durante todo o tempo em que ele a acariciava,

lhe fazia amor e deitava a seu lado, estava mentindo.

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— Deixe-a ir — sussurrava Matthew ao ouvido do irmão. — Ela estáacompanhada. Não pode confortá-la agora.

Abigail e Lucinda surgiram ao lado deles.

— Milorde, os convidados aguardam sua presença — disse a primeira emtom severo.

— Estamos preocupados com Liza — replicou Charlotte.

— Ora! — Aborreceu-se Abigail. — Espero que agora entenda por que eu nãoqueria convidá-la. Tinha de fazer um show particular. Agora todos só comentarãosobre seu mal súbito e não sobre a sua apresentação à sociedade.

Mark teve ímpetos de estapeá-la.

— Cale-se ou saio daqui agora mesmo e então eles terão bons motivos para

comentários.Os olhos de Charlotte se arregalaram de surpresa. Matthew apertou o braço

de irmão.

Abigail não pareceu se intimidar. Lançou-lhe um olhar gélido.

— Se o fizer, garanto que vai se arrepender.

Mark cerrou os dentes, furioso. Naquele exato momento, Liza estavapensando as piores coisas a seu respeito, enquanto ele permanecia preso às garrasdaquela chantagista.

Recuou um passo, mas o irmão adiantou-se com expressão indignada.

— O que pensa que está fazendo ao ameaçar um conde desse jeito? Deveriaestar prostrada nesses seus joelhos gordos, agradecendo pelo fato de um nobrequerer casar com sua filha. — Lucinda que até então apenas assistia à cena,segurou o braço do filho mais novo. — Veja o modo como fala — continuouMatthew. — Ou eu a farei se arrepender.

Mark pensou que tudo poderia ir pelos ares em instantes. E então estaria livrepara correr para Liza e convencê-la a ficar com ele.

— Vamos embora — disse o caçula, dirigindo-se ao irmão. — Essa mulher não vale o chão que pisa.

Mark deu um passo à frente. Liza precisava dele. O irmão sobreviveria àverdade.

— Querido! — exclamou Rosalind, aproximando-se de Matthew. — Está tudobem? Soube que alguém foi acometido de um mal súbito.

Mark sentiu a tensão tomar conta de todo o seu ser ao notar a expressão do

irmão se suavizar de pronto. As palavras de lorde Benchley ecoaram em seusouvidos: Só casará com minha filha porque é um Hawkmore.

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Se a origem de Matthew fosse revelada, perderia o amor de sua vida.

— Pode ir se quiser — disse Mark ao irmão. — Eu vou ficar.

— Não estou entendo — argumentou o caçula, indignado. Abigail exibiu umsorriso triunfante e girou nos calcanhares, seguindo pelo salão.

Mark fitou Charlotte por cima do ombro do irmão. Odiava aquela mulher que oaprisionava enquanto Liza precisava dele.

— Por ela — disse, apontando em direção a Charlotte. Só então o irmão maisnovo pareceu percebê-la.

— Desculpe-me, srta. Lawrence. Espero que saiba que minha raiva não eradirigida à senhorita. Tive a oportunidade de conhecê-la melhor nesta última semanae pude perceber que não se parece em nada com a sua mãe.

A jovem assentiu com um aceno de cabeça, mas não parecia decidida seficava ou ia embora. Optou por fitar Mark.

— Conheço bem o temperamento de minha mãe. Mas garanto-lhe, milorde,que não sou como ela.

Mark a encarou com frieza. Detestava aquela aparente apatia,

— Estarei com você dentro de alguns instantes. Charlotte fez uma pequenareverência e partiu com Rosalind. Matthew lançou um olhar furioso à mãe, e dirigiu-se ao irmão.

— Eu lhe disse, não? Eu o avisei que você a machucaria. Mas isso superoutodas as minhas expectativas. Escolheu o pior modo de fazê-lo.

Mark cerrou os punhos.

— Vá para o inferno! Eu não sabia que elas se conheciam.

— Suponho que agora vá abandoná-la para ficar atado a essa bruxainteresseira! — esbravejou Matthew. — Sabe de uma coisa, meu dileto irmão? Vocêmerece ser infeliz.

Furioso, Mark girou nos calcanhares e desapareceu pelo salão. Enquanto seafastava, consultou o relógio. Ainda era muito cedo. Não conseguiria ir ao encontrode Liza por um bom tempo.

Deus! O que ela estaria pensando?

Abalada e exausta, Liza deitou-se, puxando o lençol até a altura do queixo.Algumas horas haviam se passado desde que Mathilda e John Crossman adeixaram a sós em seu quarto. O gosto de fel ainda lhe fustigava a garganta e aslágrimas insistiam em rolar pela face pálida. A dor da traição lhe oprimia o peito de

maneira torturante.Sentia-se ao mesmo tempo traída e traidora. E o pior. O único amor de sua

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vida não passava de uma ilusão, que trouxera consigo danos e prejuízos.

Levou a mão ao coração. Não era verdade. Seu amor era puro e verdadeiro.

E indigno. Como pudera enganá-la daquela forma?

Sufocou um soluço e enterrou o rosto no travesseiro. Por que logo Charlotte?A resposta atingiu-a como um raio, partindo-a ao meio. A prima era jovem e

rica. E um conde precisava de herdeiros.

Como poderia sobreviver ao casamento de sua querida prima com o seuúnico e verdadeiro amor? Conseguiria esquecê-lo com o tempo?

— Estava certo de que encontraria a janela aberta.

Liza ofegou ao som da voz de Mark, erguendo o rosto par, encará-lo.

Ele a fitou com um misto de ternura e compaixão.— Oh, Liza! — Conseguiu dizer, precipitando-se em direção à cama.

Lisa sentou-se com um movimento rápido, esticando o braço num gesto deimpedimento.

— Não se aproxime. — Deixara a janela aberta de propósito, mas agora queele estava ali, questionava sua decisão de conversar com Mark naquela noite. —Pensei muito — começou Liza com a voz trêmula. — Mas por fim decidi que...preciso lhe dizer adeus.

— Não há necessidade disso, querida.

Ela não sabia o que pensar. Como Mark era capaz de dizer uma coisadaquelas?

— Em breve será o marido de minha prima. Como pode dizer que nãoprecisamos nos afastar? — A voz dela começou a falhar. — Deveríamos ter acabado com isso há muito tempo.

Mark franziu o cenho.

— Nunca diga isso. Está mentindo. — Fitou-a com intensidade no olhar. —Você é a melhor parte da minha vida. A parte perfeita.

Liza levou a mão ao coração que batia descompassado.

— Não percebe o que está dizendo? Você pertence a Charlotte.

— Não é verdade — protestou ele, passando a mão pelos cabelos vastosnum gesto cansado.

Em seguida pegou uma cadeira e aproximou-a da cama. Sentou-se, fitandoos punhos cerrados antes de erguer os olhos para encará-la.

— Vou lhe contar o que me levou a esse noivado.

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Mark contou a história em todos os seus pormenores. A origem do irmão, atraição que mãe fizera ao pai, a carta que ela escrevera a Abigail e por fim a infamechantagem.

Liza escutava tudo, estarrecida. Sempre soubera que Abigail era uma mulher 

interesseira e avarenta, mas jamais esperara que fosse capaz de tamanha sordidez.

— E então é isso — concluiu o conde. — Não só tenho de casar comCharlotte, mas gerar filhos com ela. Só então Abigail concordará em me devolver amissiva. Embora eu duvide muito que isso vá acontecer algum dia.

Liza lutava contra as emoções contraditórias que se agitavam dentro dela.Envergonhava-se pelo fato de uma parte de sua família estar impingindo talsofrimento ao homem que amava. Mas por outro lado, ficara claro que ele nãoqueria Charlotte. Sentia-se aliviada e ao mesmo tempo pesarosa.

Apesar de tudo, não podia deixar aquela situação se perpetuar por nem maisum segundo.

Juntando todas as forças que possuía, engoliu em seco, erguendo os olhosrasos marejados de lágrimas para encará-lo.

— Essa é a ultima vez que nos encontramos desta maneira. Apesar de toda amaldade da mãe, Charlotte é inocente. Deve ser um bom marido para ela.

— Não! — Mark protestou, elevando o tom de voz. — Não abrirei mão devocê. Não tenho intenção de casar com sua prima.

Ante o olhar surpreso de Liza, Mark lhe contou todo o seu plano pararecuperar a carta.

Grossas lágrimas rolavam pela face dela.

— Não pode fazer isso. Se abandonar Charlotte agora, o que será dela? Irádifamá-la perante toda a sociedade.

— Isso não é justo. Não percebeu que estou sendo vítima da mais vil daschantagens? Olhe, se espera que abra mão de você em detrimento de qualquer 

outra coisa na vida está muito enganada.— Espero que você seja o homem nobre e honrado que eu sei que é. Não

podemos manter nosso relacionamento. Você pertence a minha prima.

— Só pertenço a você — retrucou Mark com a voz embargada. — No dia emque nos conhecemos no Palácio de Cristal eu estava lá para conhecer sua prima. Eue meu irmão estávamos andando pelos salões quando decidi que não queria vê-la.Então, quando estávamos próximos da saída, algo me impeliu para a sala dasesculturas. Naquele instante não sabia o que era, mas agora sei. Tinha de conhecê-la. Você. Elizabeth Dare. Não sua prima. — Suspirou fundo, lançando-lhe um olhar intenso. — Quando a desviei da escultura que iria atingi-la, e fitei os seus lindos

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olhos, soube que a queria mais do que tudo na vida.

— Basta — interrompeu-o Liza, sem poder escutar mais. — Você é umconde. E os nobres precisam de herdeiros — disse, levando a mão ao ventre. —Hoje à tarde, enquanto conversamos, fiquei imaginando como seria viver a seu lado.

Mas sabe que agora isso se torna impossível. É com minha prima que deve casar.

— Eu não a amo!

— Mas eu sim! — retrucou Liza, quase fenecendo. — E não a trairei.Charlotte é inocente.

Mark ergueu-se com expressão sombria.

— Abigail Lawrence está colocando uma faca no meu pescoço. E Charlotte éa ferramenta da minha tortura. Portanto, não me diga que ela é inocente. Sua primatem tanta participação no meu infortúnio quanto a mãe dela e a minha.—Liza ofegouquando Mark lhe ergueu o queixo. — E eu não vou trocá-la por ela. Está meouvindo? Você me pertence.

Liza fechou os olhos. Não podia mais suportar tanto sofrimento. Mas quandodescerrou as pálpebras para encará-lo, ele já havia partido.

Sentiu o coração se despedaçar. Nunca mais se sentiria inteira outra vez.Uma parte de si havia partido com Mark.

Capítulo VII

Mark enrolou as plantas já concluídas do projeto da nova Biblioteca Nacionale atou-as com duas fitas verdes. Postou um selo com o brasão dos Hawkmore.

Observou-as por um longo instante. Há três semanas elas significavam muito.No dia anterior, quando Liza as elogiara, sentira-se orgulhoso e recompensado por todo seu esforço. Acreditara quando lhe dissera que seu projeto iria ser aprovado.

Naquele momento, o comentário parecia ter perdido totalmente o significado.

Colocou as plantas na prateleira.

— Concluiu-as? — ouviu a voz do irmão atrás de si.

— Sim — respondeu evasivo, apontando a bandeja coberta em cima da

mesa. — Seu café da manhã está ali.

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Ótimo. Então assuma sua decisão.

— Não abrirei mão de Liza.

— Pois deve fazê-lo!

Mark se ergueu e caminhou pelo aposento.— Essa discussão está ficando cansativa.

— Jesus Cristo, meu irmão! Você se casará com a prima dela. Ele abriu aporta com um gesto bruto.

— Chega! — dizendo isso, saiu apressado do aposento, dirigindo-se àescada.

Matthew o seguiu.

— Não abrirá mão de Liza porque não pode viver sem ela, não é? Pois émuito tarde para isso! — gritou o irmão, encaminhando-se para a porta de saída. —Acha que a convencerá a ficar a seu lado? Eu vi o olhar de Liza ontem. Ela o varrerápara fora de sua vida!

Mark sentiu os joelhos cederem ao subir os degraus. Matthew estava errado.Liza nunca o abandonaria. Ela lhe pertencia. Nunca a deixaria partir. Nunca!

—Não acha um pouco cedo para visitas? — perguntou Abigail, enquanto Lizaadentrava à mansão dos Lawrence.

— Sim. Perdoe-me.— Sente-se.

Ouviu o farfalhar do cetim quando tomou o assento em frente à dona da casa.

Os olhos azuis gélidos de Abigail a avaliavam, enquanto uma criada entravacom uma bandeja, contendo uma jarra de suco e dois copos.

Liza nunca gostara da mãe de Charlotte, mas agora a repugnava mais do quenunca. Aquela mulher estava impingindo um terrível sofrimento a seu amado.

— Parece bastante abatida. Para ser sincera acho que deveria ter ficado emcasa ontem à noite. Tive de me explicar várias vezes para os convidados.

Liza não pôde evitar o rubor que lhe assomou à face.

— Peço que me perdoe. Foi um mal súbito. Não viria se não estivesse mesentindo bem.

— Espero que esteja recuperada. Não suportaria o fato de você infectar minha casa. Charlotte não pode ficar doente agora.

Aquela mulher era a rudeza personificada. Como Charlotte conseguia

suportá-la?

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— Asseguro-lhe de que estou bem. Vim para desculpar-me e falar com minhaprima.

— De fato foi muito desagradável o que aconteceu. Depois de sua partida,todos quiseram saber o que ocorrera e o noivo de minha filha fez uma infinidade de

perguntas sobre você.

Agora Mark sabia tudo sobre ela.

— Posso falar com Charlotte?

— Ela está em seu quarto, tomando café da manhã. Pode ir até lá, mas nãose demore.

Liza assentiu, apressando-se em sair da companhia desagradável de Abigail.Sendo assim, precipitou-se pela escada. Piscou várias vezes para dispersar aslágrimas que lhe inundavam os olhos. Que direito tinha Abigail de dispor da vida dosoutros daquela forma? Como poderia querer casar a filha com um homem que arejeitava?

Quando chegou ao corredor, surpreendeu uma das criadas atracada numabraço apertado com um jovem alto de cabelos escuros. A mão do rapaz deslizavapelas costas dela até pousar em suas nádegas.

Liza suspirou, recordando-se dos momentos em que esteve envolvida nosbraços fortes de Mark, sentindo o toque firme e sensual de suas mãos. Sentiu umaperto no'peito, ao lembrar-se de que nunca mais desfrutaria daqueles momentos.

A criada se afastou do rapaz com uma risadinha e em seguida teve umsobressalto ao avistar Liza. Um misto de medo e vergonha perpassou o rosto dajovem. O homem parecia muito à vontade.

Liza forçou um sorriso compreensivo.

— Fique tranqüila. Não conterei nada a sra. Lawrence. Estou procurando oquarto de Charlotte.

A criada fez uma profunda reverência.

— Obrigada, milady. Fica no final do corredor.

Parando em frente à porta do aposento, Liza suspirou fundo e bateu. Ao ouvir o convite da prima, adentrou o quarto, forçando um sorriso.

Charlotte encontrava-se na cama. A bandeja do desjejum permaneciaintocada a seu lado.

— Oh, graças a Deus que é você! — exclamou a jovem. — Temia que fosseminha mãe.

Liza franziu o cenho ao fechar a porta atrás de si. Charlotte parecia muitopálida e escuras olheiras rodeavam os seus olhos.

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— Tudo bem com você, querida?

A prima apenas esboçou um sorriso.

— Agora que está aqui, sim. Venha. Sente-se a meu lado. Liza obedeceu,colocando a mão sobre a testa da prima.

— Não está com febre, mas parece tão pálida.

— Você também — observou Charlotte. — Fiquei preocupada. Como está sesentindo?

Ela baixou os olhos. Quando se sentiria bem outra vez?

— Não deve se preocupar comigo. Estou recuperada. Encarou a prima que afitava preocupada. Doce Charlotte. Tão inocente! Não sabia das maquinações damãe.

Pena, remorso e inveja contristavam o coração de Liza. Não estaria passandopor aquilo, se tivesse se comportado segundo os preceitos d,a moral e dos bonscostumes pelos quais sempre se pautara. Quando as leis divinas são quebradas...

— Peço-lhe que me perdoe por tudo, querida. Quero que saiba que jamais amagoaria.

A prima franziu a testa, confusa.

— Aposto que andou conversando com minha mãe, não foi? Não lhe devedar ouvidos. Você precisava ver o que ela fez ontem à noite. Aborreceu tanto oconde e o irmão que os dois quase foram embora. — Os olhos de Charlotteencheram-se de lágrimas. — Não sei o que seria se o fizessem. Se o conde desistir de nosso casamento, ficarei arruinada. Não tenho nobreza nem dinheiro suficientespara abafar um escândalo. Se um nobre rompe com uma plebéia depois de tão curtonoivado, todos vão presumir que ela tenha alguma mácula.

Liza abraçou a prima, afagando-lhe os cabelos. Charlotte tinha razão. Marknão poderia romper o compromisso assumido em público. Mas não podia culpá-lopor tentar. O que seria da vida dele preso a um casamento que não desejava?

— Ele não a abandonará, querida. Afinal teve a opção de sair e não quis.

— Sim — concordou a prima, afastando-se um pouco. — E ele disse que ofazia por mim. Acho que o conde e o irmão sabem que não sou como minha mãe.

— Então, por que está tão triste? Charlotte baixou a cabeça.

— Porque meu noivo não demonstra o menor traço de afeição para comigo. Acondessa me trata com total desdém quando não estamos em público e minha mãeestá cada vez pior. Acha defeito em tudo. Maltrata os criados. Ela e a condessa sealfinetam o tempo todo. Até o irmão mais novo do conde, um dos homens mais

gentis que conheci, quase agrediu minha mãe ontem à noite.

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A prima levou as mãos ao rosto molhado.

— Oh, por instantes desejei que o fizesse. Sei que deve me achar horrível por ter tais sentimentos, mas juro que era isso que eu queria.

— Não a acho horrível. Sei que é uma filha paciente e dedicada. Mas tambémsei que existem situações nas quais não conseguimos manter os bons sentimentos.Nesses momentos devemos pedir a Deus que nos perdoe.

Charlotte segurou-lhe as mãos.

— Mas você sempre faz a coisa certa. Tem pensamentos bons e nobres.Gostaria de ser como você.

Liza sentiu o estômago revirar.

— Está enganada, querida. Já tive muitos pensamentos errados. E já fiz

coisas que me levaram para o caminho errado.Sem saber ao que ela se referia, a prima continuou ensimesmada.

— Tenho tido muitos pensamentos ruins. Minha mãe sempre foi uma pessoadifícil, mas depois da proposta do conde, tornou-se pior. Ontem à noite, demitiu umacriada que nos servia há dez anos! É por isso que sempre que posso vou para acasa de tia Matty. Sabe quantas vezes pensei em arrumar minhas coisas e sair decasa? Ir para o campo morar com você? Eu seria mais uma irmã e seu pai seria meuconselheiro. E ninguém iria gritar comigo outra vez.

— Oh, querida — Liza confortou, afagando-lhe os cabelos.— Eu a odeio. Tem dias que eu desejo que ela suma da minha vida.

Liza abraçou a prima com ternura. O que podia dizer diante daquilo?

— Tudo vai acabar bem, querida. Você vai ver.

— Você é meu único alento. Se não fosse você não sei o que faria. Voltaráamanhã para me visitar?

Liza fechou os olhos por alguns instantes. Em seguida, afastou-se para fitar 

Charlotte.— Na verdade, vim aqui hoje para me despedir. A prima arregalou os olhos,

desesperada.

— O quê? Não! Por favor, não vá! — suplicou, apertando as mãos de Liza. —Preciso de você. Se me deixar agora, não sei o que farei no meio desse turbilhão.

Não podia ficar. Como conseguiria continuar convivendo com Mark eCharlotte?

— Estou com muita saudade da minha família. Além disso, sabe como é tia

Matty com aquela mania de cupido. Eu não suporto mais a presença de Alfred

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Swittly.

As lágrimas rolaram pela face pálida de Charlotte.

— Não. Eu lhe suplico. Dentro de uma semana irei para a residência dosHawkmore. Serei apresentada ao staff da casa e ao resto da família que já estaráhospedada no castelo para a cerimônia. — Conseguiu esboçar um sorriso. —Preciso que me acompanhe. Com um noivo que mal nota minha presença e umafutura sogra que me trata com desprezo, não sobreviverei a tanto tormento se nãoestiver lá para me dar apoio. Por favor, não me deixe agora.

Liza nunca se vira em uma situação tão constrangedora. Dez dias na casa deMark, tentando resistir as suas investidas. Como conseguiria sobreviver?

Teria de se proteger de alguma forma. Precisaria de suas irmãs. E seriaobrigada a ter mais uma conversa com Mark. Ele teria de aceitar que sua decisão

fora definitiva e imutável.

Mas como podia abandonar a prima tão querida? E se Mark encontrasse acarta? Abandonaria Charlotte. Tinha de impedi-lo.

— Está bem, querida. Se isso é tão importante para você, ficarei.

Charlotte se atirou nos braços dela, rindo e chorando ao mesmo tempo.

— Obrigada! Muito obrigada!

— Escreverei para minhas irmãs hoje mesmo. Preciso delas a meu lado.

— Claro. Será um prazer tê-las conosco.

Charlotte a abraçou mais uma vez e Liza engoliu em seco o própriosofrimento.

Seria forte o suficiente para convencer o homem que amava a não abandonar a prima tão querida?

— Onde por Deus está a maldita carta? — perguntou Mark furioso, batendocom a mão na mesa.

Mickey Wilkes meneou a cabeça.— Ainda não descobri, milorde. Mas creio que estou no caminho certo.

Subtrairei a informação dos empregados. Há muito falatório entre eles a respeitodessa carta.

— Então descubra o mais rápido possível — ordenou Mark, abrindo uma dasgavetas e retirando de lá algumas moedas de ouro. — Tome. — Estendeu o braço,oferecendo-as ao rapaz. — E volte para o trabalho imediatamente.

— Muito obrigado, senhor.

— Não me agradeça ainda. Se não encontrar a missiva, serei capaz de matá-

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lo.

O rapaz sorriu.

— Certo, milorde. Da próxima vez trarei boas notícias. Depois que o ex-gatuno partiu, Mark recostou-se na cadeira.

Precisava daquela carta. Só assim poria fim a seu martírio e estaria livre parapersuadir Liza a aceitá-lo. Ela era tudo que queria. Sua doce presença, o toquesuave. Com Liza tudo de bom que existia nele e no mundo afluía. Nunca desistiriadela.

Mark observava Liza cruzando o salão nos braços de John Crossman,enquanto valsavam. Detestava a visão da mão de outro homem apossando-sedaquela cintura que cabia sob medida na palma da sua. Odiava a familiaridade quepareciam compartilhar. Mas acima de tudo, abominava ter de fingir que Liza lhe era

indiferente. Ansiava por tomá-la nos braços e gritar ao mundo que aquela mulher lhepertencia.

— Não devia ficar olhando para ela desse jeito — admoestou-o o irmão. —Mamãe já notou.

Lucinda e Abigail não tinham aprovado a idéia de convidar pessoas queconsideravam ralé. Mas para sua surpresa, Charlotte mostrara-se irredutível e ele aapoiara. As duas, embora tentassem demonstrar indiferença, faziam comentáriosentre si e observavam Liza. A sra. Lawrence, em particular, com olhar invejoso.

— Dentro em pouco ela fará parte de seu círculo familiar. Terá de seacostumar a encará-la como uma prima distante.

Um frio cortante percorreu toda a espinha de Mark.

— Como poderei fazer isso? — sussurrou para o irmão. — Como possoignorá-la se minha mente está tomada por ela?

Matthew o fitou por um longo instante.

— Não sei — murmurou, pensativo.

— Eu também não.

A valsa findou e Mark atravessou o salão antes que John Crossman pudesseguiá-la para o lugar onde estavam.

— Dar-me-á o prazer da próxima dança, sra. Redington? Liza ficou emsilêncio por alguns instantes e ele sentiu o corpo tensionar ante uma possívelrecusa.

— Sim, milorde.

John Crossman fez uma reverência e colocou a mão enluvada de Liza na deMark.

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Ele suspirou fundo e enlaçou-lhe a cintura delgada. Era assim que tinha deser. Desde a primeira vez que a tocara sabia que aquela mulher fora feita para ele.

Quando os primeiros acordes da música entoaram, Mark a puxou para si. Lisamantinha os olhos baixos, mas ele se sentia em êxtase só por tê-la nos braços.

Sentiu o aroma de baunilha e flor de laranjeira que emanava de seu pele.

Guiou-a, sempre valsando, para o outro lado do salão.

— Pode olhar para mim agora. Não nos podem ver.

— Outros podem. Estamos em um lugar público — replicou ela. — Não hámais lugar que possa nos esconder.

Mark franziu o cenho ao mesmo de tempo em que a girava em outra direção.

— O que quer dizer com isso? Liza, por fim, ergueu os olhos.

— Que não podemos fugir de quem somos.

— Não pretendo fazê-lo.

— Mas fará — disse Liza quase numa súplica. — Não percebe que nuncamais poderemos ter o que tínhamos?

Irritado, Mark sentiu os músculos do corpo enrijecerem.

— Expliquei-lhe tudo ontem à noite.

— Sim — começou ela determinada, apesar do cataclismo que ia em seupeito. — E sinto muito pela terrível circunstância em que se encontra. Mas saber averdade não muda nada.

As palavras de Matthew vieram-lhe à mente de imediato. Ela o varrerá parafora de sua vida.

— Como pode dizer isso se sabe que a única coisa que desejo é estar a seulado?

— Pensa que eu também não quero? — inquiriu Liza com a voz embargada e

os olhos rasos d'água. — Acha que isso não está me destruindo?Um lampejo de esperança brilhou nos olhos azuis.

— Então não desista de nós. Conseguirei aquela carta. E então todo essepesadelo acabará. Preciso de você. Não me abandone.

Liza baixou o olhar outra vez.

— Nosso desejo não tem mais relevância. A despeito de nossa vontade,minha prima ficará arruinada se cancelar o noivado.

Mark lutava por ar. Era como se toneladas lhe comprimissem o peito.

— Contei-lhe toda a verdade na esperança de que não abriria mão de nosso

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relacionamento.

— Não posso fazer isso.

— E se eu conseguir a carta? Vai continuar me recusando? Liza fitou-o nosolhos.

— Acho que deve tentar conseguir a carta. Deve ficar com você e não deposse de uma pessoa tão vil. Mas isso não mudará nada para mim. Nossa históriateve fim quando o anúncio de seu casamento saiu nos jornais. Se abandonar minhaprima à própria sorte, nunca mais me verá.

Ele sentia as têmporas latejarem.

— Diz isso agora. Mas como suportará as noites sem minha presença? O quedirá a seu corpo quando ansiar pelo meu? O que fará? Procurará outro? Ninguémpode satisfazê-la como eu.

— Eu sei — ofegou Liza. — Mas como poderei entregar-me ao prazer,enquanto minha prima amarga a vergonha de ter sido abandonada pelo conde deLangley?

O coração de Mark batia descompassado de fúria e medo.

— Eu direi que ela me largou.

— Chega! — as palavras de Liza saíram como um sussurro desesperado. —Ninguém acreditará nisso. E o que dirá a Charlotte? Para ela será uma rejeição de

qualquer forma. — Seu olhar estava repleto de angústia. — Não há mais o quefazer.

Mark a fitou por um longo instante. A dor que sentia parecia parti-lo ao meio.

— Então por que concordou em vir aqui hoje?

— Para ter a oportunidade de lhe dizer isso.

— Valsando em meio a uma multidão?

— Onde mais? — inquiriu ela, não suportando mais tanto tormento. — Minha

janela está trancada para você e assim permanecerá — decretou, não conseguindoencará-lo. — Os últimos acordes da valsa se fizeram ouvir. — Estou certa de queCharlotte será uma excelente esposa para você e...

— Basta! Não diga mais nada. Já me puniu o bastante. Mark a fitou por umlongo instante depois que a música findou.

Não queria deixá-la ir. Era como se estivesse abrindo mão da própria vida.Em seguida, ofereceu-lhe o braço, levando-a até a mesa onde estavam. A cadapasso sentia como se estivesse caminhando para seu próprio funeral.

Observou os rostos de Lucinda, Abigail, Charlotte e Matthew. Todoscoadjuvantes, culpados ou inocentes, de sua morte em vida.

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Liza observou o retrato inacabado da prima. A chuva fustigava as janelas dasala da casa de Mathilda. Seria o cinza daquela manhã chuvosa que emprestava aorosto da prima uma expressão tão triste? Ou seria seu próprio sofrimento guiando opincel?

— Querida. Você tem uma visita — disse Mathilda, adentrando o aposento,acompanhada da condensa de Langley.

Liza sentiu os músculos se contraírem. Tinha estado tempo o suficiente aolado de Lucinda na noite anterior para formar uma péssima opinião sobre ela.

Ergueu-se, fazendo uma reverência, enquanto a mulher atravessava a salacom expressão impassível.

— Devo ordenar um refresco, ou um chá? — Mathilda perguntou, em tomamável.

— Depende de quanto tempo a condessa pretende se demorar — retrucouLiza com os olhos fitos em Lucinda.

— Não é necessário. Não ficarei por muito tempo. Obrigada — respondeu amãe de Mark com frieza na voz.

Depois que a tia se retirou, fechando a porta dupla atrás de si, Liza falou paraa condessa.

— Por favor, queira sentar-se.

Lucinda aceitou e Liza acomodou-se em uma cadeira a seu lado.— A que devo uma visita tão inesperada?

Os olhos gélidos da condensa a fitaram por um instante.

— Não sou mulher de rodeios, portanto vou direto ao assunto. Vim até aquiadverti-la.

Liza cruzou os braços sobre o peito.

— De quê?

— Ora, sra. Redington. Somos mulheres que sabemos aproveitar o prazer davida. Não finja que não nos entendemos. — Inclinou-se um pouco para frente. — Vicomo olhou para Mark quando foi apresentada a ele na residência dos Lawrence ecomo se fitavam ontem à noite. Pensa que me engana? Estou certa de que é a atualamante de Mark.

Liza sentiu o estômago revirar ao ouvir aquelas tão rudes, mas tentou manter-se impassível.

— E quanto à advertência que veio me fazer?

A condessa recostou-se na cadeira com um sorriso cínico.

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— Afaste-se do meu filho e de sua prima.

— Isso não será possível — retrucou Liza, lutando para controlar os nervos.

— Como assim? — questionou Lucinda, franzindo o cenho, indignada. —Meu filho já está tendo dificuldade o suficiente para abrir mão da vida de solteiro,não precisa de mais uma oportunista barata para atrapalhá-lo. Por outro lado, estoulhe prestando um favor, sra. Redington. Meu filho nunca usou uma mulher por maisde três meses. Não será diferente com a senhora. — Ergueu o queixo, desafiadora.— O que pensa que significa para ele? Não passa de uma diversão passageira.

Não. A palavra reverberou na mente conturbada de Liza. Tinha certeza dossentimentos de Mark. Significava muito para ele.

— Como a senhora mesmo disse, não vamos fingir que não nos entendemos,condessa — reagiu Liza, surpreendendo-se com a própria força. — Está aqui por 

temer que Mark não perca o interesse por mim. Por não fazer idéia dos sentimentosde seu filho para comigo.

— Vejo que dessa maneira não chegaremos a um consenso. — Retirou dabolsa uma sacola de camurça, contendo uma grande quantia em dinheiro. —Portanto, estou disposta a lhe pagar. Aqui estão cinco mil libras.

Liza a fitou com repentina serenidade.

— Sabe condessa, a senhora é bem parecida com Abigail Lawrence.

— O que disse? — perguntou Lucinda. A sacola tremeu em suas mãos.— O que ouviu. As duas acham que podem dispor da vida e dos sentimentos

das pessoas a seu bel-prazer. O que acontecerá quando não tiver mais seu poder ou beleza, condessa? Como conseguirá sobreviver?

Lucinda guardou a sacola, erguendo-se num impulso.

— Estou vendo que não é uma pessoa razoável.

— Sou. Só não posso ser comprada.

— Se não se afastar de meu filho, contarei a sua prima que é amante dele.

— Chantageando-me, condessa? É realmente bem parecida com Abigail.

Os olhos da nobre pareciam saltar das órbitas.

— O que sabe sobre isso?

Liza ergueu-se, fitando-a nos olhos sem temor.

— Preste bastante atenção ao que vou lhe dizer. Prometi a minha prima queficarei a seu lado na semana que antecederá seu casamento, para que possasuportar melhor sua presença. E prometi a mim mesma que farei tudo para seu filho

se casar com ela. Portanto, se quer que essa união se realize, fique fora do meu

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A casa era uma construção forte. Um castelo imponente que se estendia por umalonga extensão.

Liza se ergueu, caminhando ao longo da margem do lago que eraatravessado por uma ponte em estilo romano. Tinha encontrado Mark quase todas

as noites da última semana, mas não tivera tempo de suplicar-lhe para que ficassecom Charlotte, pois estiveram sempre em presença de terceiros.

Agiam como meros conhecidos. De fato, Mark se comportava como umcompleto estranho. Sempre de mau humor, exibia um semblante sorumbático e nãoperdia uma oportunidade sequer de ser rude com aqueles a quem desprezava.

Charlotte mostrava-se triste e todos os dias chorava no ombro da prima.Gostava dos rompantes do noivo contra a mãe, mas nada do que fizesse pareciaagradá-lo.

Fora uma semana difícil. Quando não estava consolando Charlotte, tentavaconfortar-se a si mesma. As noites haviam sido ainda piores sem a presença deMark. A pintura tornara-se seu único alento.

Sentou-se em um banco, observando um casal de gansos deslizar pela águavítrea.

Sentia-se exausta.

Fechou os olhos, evocando as memórias dos momentos que passara comMark. A princípio evitara recordá-los, mas naquele momento eram tudo que lhe

restava. E pertenciam a ela.

— Liza!

— Liza!

Ela descerrou as pálpebras, erguendo-se num impulso ao ouvir as vozesfamiliares.

— Patience! Prim! — gritou sem poder conter a alegria de rever as irmãs.

Começou a correr em direção às duas jovens que acenavam para ela da

ponte sobre o lago. Os cachos ruivos de Patience balançavam e o chapéu de Primvoou, ficando preso apenas pelas fitas, enquanto elas se precipitaram em suadireção.

De repente, os passos de Liza foram ficando mais lentos, pois a visão estavaturvada pelas lágrimas que lhe cobriam a face.

Abriu os braços e as duas irmãs atiraram-se neles.

— Graças a Deus! — Soluçou ao sentir a fragrância familiar.

Seus joelhos falharam e as duas mulheres tombaram com ela pela grama.Patience envolveu-a num longo abraço, afagando-lhe os cabelos.

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Não estava mais sozinha. Suas amadas irmãs haviam chegado.

Soluçou durante um tempo que pareceu interminável e depois, deitada nocolo de Prim, contou às irmãs toda a sua desdita.

As duas a ouviam com muita atenção, sussurrando-lhe palavras de conforto echoraram junto com ela.

— Oh, querida irmã — manifestou-se Patience. — Você não merece isso.Deviria ficar com o homem que ama. Ninguém tem mais direito à felicidade do quevocê. Não pode abrir mão dela em detrimento de outra pessoa.

— Sim — concordou Prim, limpando-lhe as lágrimas com o polegar.

— Mas não se trata de qualquer uma e sim de Charlotte.

— E se ela soubesse — Endireitou-se a caçula. — Será que iria desejar um

casamento forçado?— Esse segredo não pertence a mim. Não posso contá-lo a ninguém. Se

Mark não se casar com ela, Abigail publicará a carta.

— Aquela bruxa! — vociferou Patience. Prim adiantou-se, abraçando-a.

— Estamos aqui agora, querida, para lhe dar todo o apoio necessário.

— Sim. Conte conosco sempre — completou a outra.

Mark recostou-se sobre o tronco largo de um velho carvalho, observando-as.

Liza tinha a cabeça recostada ao colo de uma das irmãs. Devia ser Primrose, pois aruiva que lhe segurava a mão só podia ser Patience. As duas pareciam estar confortando-a.

Sentiu um aperto no peito ao ver Liza assim tão vulnerável. Ansiava por tomá-la nos braços e dizer que a amava. Mas ela não permitiria que o fizesse. Agora tinhaas irmãs para lhe dar apoio e proteção.

— Tem uma visita esperando-o na biblioteca — disse Matthew, surgindo atrásdele. — Mickey Wilkes.

Mark deu de ombros. Estaria o rapaz de posse da carta? Agora aquilo nãosignificava mais nada para ele. Mas para o irmão seria de grande valia.

Girou nos calcanhares, deixando Matthew para trás e dirigiu-se à biblioteca.

— Bom dia, milorde! — saudou o rapaz. Mark passou por ele e sentou-se àmesa.

— Trouxe a carta?

— Não, senhor. Mas sei quem está de posse dela. O conde franziu o cenho,curioso.

— Então diga logo.

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— Vou dizer, sim senhor. A carta que o senhor tanto procura está com suanoiva, srta. Charlotte Lawrence.

— O quê?

— Isso mesmo. A criada com quem estive tendo um caso para colher informações me disse que ela mesma a entregou para a senhorita num dia em que asra. Lawrence se ausentou. Portanto, a megera nem sabe que a carta não está maiscom ela.

Mark esfregou as têmporas com as pontas dos dedos. Então Charlotte tinhaconhecimento da carta e nada dissera.

— E por que a criada entregou a carta para a srta. Lawrence?

— Ela me explicou que todos os empregados gostam muito da srta. Charlottee que ela tinha o direito de saber a verdade por mais que lhe doesse. O mordomodesconfiou das idas constantes da bruxa ao urinário da biblioteca nas últimassemanas. Só que o que ela não sabia era que ele tinha uma cópia da chave daquelearmário. Certo dia quando a sra. Lawrence saiu, ele vasculhou o lugar e encontrou acarta. E então foi conversar com a criada com quem me relacionei. Ela se prontificoua entregá-la a Charlotte e o mordomo concordou. Os criados de fato odeiam apatroa. E ainda lhe digo mais. Estão preparando mais alguma coisa.

— Sabe de que se trata?

— Não. Mas parece que nos últimos meses a megera piorou muito. Está

fazendo toda a sorte de maldades com os criados. Demitiu uma criada, só porque ainfeliz caiu da escada e quebrou a perna. Isso está criando uma revolta muito grandeentre os empregados. E pelos rumores que já ouvi, estão preparando algo grandiosopara ela.

O rapaz fez uma pausa para tomar fôlego.

— O senhor quer que eu volte para lá depois de pegar a carta para ver sedescubro alguma coisa?

— Sim, Mickey. Faça isso.

O rapaz assentiu e se retirou apressado.

Mark passou as mãos pelos cabelos vastos. Então a carta estava em suaprópria casa. O que seria que os criados dos Lawrence estavam tramando? Teriaalgo a ver com ele? Naquela mesma noite estaria de posse da carta. Pensou emLiza. Para eles de nada adiantaria, mas havia algo que teria de fazer. Que talvezinteressasse a ambos.

Esperança e desespero dividiam o coração de Mark quando saiu dabiblioteca. Ao alcançar a escada, deparou com as irmãs de Liza que vinhamdescendo. Os dois pares de olhos fixos nele.

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Quando as duas damas o alcançaram, Mark fez uma pequena reverência.

— Srta. Patience, srta. Primrose. Sejam bem-vindas à residência Hawkmore.

Ambas se inclinaram e agradeceram a hospitalidade. Os olhos, embora decores diversas dos de Liza, guardavam a mesma inteligência e força de espírito.Mas apesar das semelhanças eram completamente diferentes de sua amada.

— Desculpem o olhar insistente — disse Mark. — Mas vejo muito da sra.Redington em vocês.

— Eu é que lhe peço desculpas, milorde — adiantou-se Patience. —Masparece tão abalado quanto nossa irmã. E temo que tenha o coração tão partidoquanto o dela.

— Meu coração continua batendo apenas para bombear sangue e sustentar-me a vida — declarou amargurado, passando a mão pelos cabelos. — Asseguro-lheque se sua irmã me permitisse, teria imenso prazer em juntar todos os pedaços deseu coração e remendá-lo, assim eu poderia tornar a viver.

— Diga isso a ela, milorde — interveio Prim. — Abra seu coração. Afinalvocês merecem ao menos isso.

As duas se apartaram para que Mark pudesse passar. Quando chegou aoandar superior, ele se dirigiu ao próprio quarto. Lá, caminhou até a lareira, acendeuuma lamparina e tocou no painel que abria uma porta para um corredor secreto queo levaria ao aposento de Liza. Um de seus antepassados o construíra para ter 

acesso discreto ao quarto da amante.

Quando chegou a seu destino, apertou o painel da parede, e com um suaveestalo a porta se abriu e Mark pisou no felpudo carpete.

O coração parecia querer saltar-lhe pela boca.

Liza estava deitada na cama, trajando apenas roupas íntimas. À luz do solque penetrava pela janela, os cabelos espalhados sobre o tecido alvo do travesseiro.Mark suspirou fundo. A fragrância de baunilha e flor de laranjeira o inebriavam.

Juntou todas as forças que possuía para desobstruir o nó que se formara emsua garganta e murmurou o nome da amada.

— Liza!

Ela se ergueu num pulo. Os longos cachos desabando sobre os ombrosdesnudos.

— Mark!

— Eu... — Onde estava sua voz? — Preciso falar com você. Liza o fitou. Umamiríade de emoções parecia se mesclar em seu olhar.

— Acho que esse não é o lugar adequado — objetou com um fio de voz.

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— Terá de ser. Não há outro.

Ela caminhou em passos lentos até a poltrona onde jazia seu vestido.

Não! A ansiedade parecia dominá-lo.

— Tenho algo a lhe dizer e tem de ser agora.Liza mantinha o olhar baixo e inclinou-se para pegar o vestido. Mark sentiu

todo o corpo tremer.

— Tenho de lhe dizer isso aqui e agora. Ela parecia não o escutar.

— Encontro-o no jardim dentro de quinze minutos.

— Não! — protestou ele, lutando por ar. — Por favor, não vá.

— Fez uma última tentativa quando Liza já estava com a mão no batente da

porta do toalete.Ela estacou e o vestido lhe caiu das mãos.

— Por favor — suplicou Mark, não podendo conter as lágrimas.

— Não fuja de mim.

A mão delicada apertou a maçaneta com força.

— Está bem. Vamos conversar.

Mark cerrou as pálpebras, sentindo-se aliviado. Tinha de lhe dizer aquilo.

Poderia não haver outra oportunidade.— Eu... a amo.

Com um soluço incontido, Liza atirou-se em seus braços. Mark sentiu osjoelhos falharem. Ajoelhou-se, segurando-a pela cintura.

— Por favor, não chore — disse ele, pressionando o queixo contra o ventremacio de Liza. — Uma vez supliquei por amor e jurei que nunca mais o faria. Masagora estou lhe implorando. Por favor, me ame. — Ergueu-se, deslizando as mãosfirmes pelos cabelos ruivos e pressionando a face de encontro à dela. — Por favor,

porque a amo demais. Com todo o meu coração. Nesta vida e para sempre.A face de Liza estava inundada de lágrimas.

— Não precisa suplicar meu amor. É todo seu desde o primeiro instante emque o vi. Eu o amo, querido.

Mark a tomou nos braços e seus joelhos foram se dobrando até que os doisestivessem no chão.

Só agora conhecia o significado de amar e ser amado. Notara-o no brilho doolhar de sua amada e em sua própria face, desenhada no caderno de Liza.

Como o destino lhe fora cruel. Quando por fim encontrara o amor seria

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condenado a viver sem ele.

Mark soluçava como uma criança de encontro ao peito de Liza. Ela osegurava, afagando-lhe os cabelos e assegurando-lhe o seu amor.

— Eu o amo. Eu o amo — repetia incessantemente.

Liza não sábia por quanto tempo ficaram ali. Embora ele não mais chorasse,continuava a segurá-lo em seu colo. Mark acabara de lhe dar o único e maisprecioso presente que podia lhe ofertar. O único que não podia recusar. O seu amor.

— Em nosso último encontro quase lhe revelei meu amor, mas depois tudodesmoronou entre nós e achei que seria condenada a amá-lo em segredo, semnunca ser correspondida.

— Eu estava confuso sobre meus sentimentos. Sabia que eram fortes eduradouros — declarou ele com voz rouca. — Mas os últimos dias sem tê-la a meulado me fizeram enxergar o que esteve o tempo todo debaixo do meu nariz. Só oamor machuca dessa forma.

Liza soluçou e levou os lábios à cabeça encostada ao seu peito.

— Quero que saiba que meu coração será sempre seu. Não importa o queacontecer, sempre o amarei.

— Então devo sonhar com seu amor.

— E eu com o seu — retrucou Liza, deslizando os dedos pelos vastos

cabelos negros.Tinha de se afastar da vida dele para sempre. Não suportaria vê-lo casado

com a prima, embora achasse que essa era a única solução.

Venha. Quero lhe mostrar uma coisa.

Mark se afastou com dificuldade e a fitou por um longo instante. Os olhosazuis pareciam sem brilho e avermelhados. Os lábios sensuais curvados nos cantos.

Ele a ajudou a se erguer com a mão trêmula.

Liza guiou-o até o cavalete onde deixara o desenho.— Isto é para você.

Mark o desembrulhou, revelando o rosto meigo de Charlotte.

— Pensei que se a visse do modo como a vejo...

— Está magnífico — afirmou ele, sem tirar os olhos do quadro. — Maspreferia que fosse um retrato seu. Então eu poderia admirá-lo, e vê-la. Fitá-lo, esonhar com você. Esses seriam os melhores momentos de uma vida sem amor àqual estarei preso para sempre.

Liza mal o podia ver através dos olhos rasos d'água.

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Mark pressionou os lábios quentes e macios contra a fronte delicada por umtempo que pareceu interminável. Em seguida, dobrou o desenho, desaparecendopela porta por onde entrara.

Liza cobriu o rosto com as mãos. O estômago revirava e um forte enjôo a

acometia.

Mark desceu a escada de modo lento. Cada passo reverberava pela cabeçadolorida. Tinha se isolado, durante toda a manhã, tentando amortecer a dor esofrimento da perda. Esforçava-se por pensar no amor de Liza, mas isso o levava aofato de ter de viver sem ele.

— Milorde!

Ele se voltou para encontrar Charlotte parada no vestíbulo. Não queria vê-la.

— Sim?

— Posso falar-lhe um instante?

— Agora?

— Por favor, milorde.

Resignado, guiou-a até a biblioteca. Depois de fechar a porta, caminhou até ajanela e pôs-se a observar o jardim. Charlotte se encontrava logo atrás dele.

— Pois não.

A jovem parecia nervosa.— Parece muito cansado, milorde. Portanto, não vou tomar seu tempo —

dizendo isso, estendeu a mão que segurava um envelope de carta atado com umafita verde. Mark observou o endereço de Abigail Lawrence escrito com a caligrafia damãe.

A carta. Sentia-se aliviado, mas não feliz. Ele pegou o envelope, desatou afita e passou os olhos pelo conteúdo da famigerada missiva.

— Você está me dando essa carta? — perguntou, curioso.

— Tem algum significado para o senhor, milorde?

— Sim.

— Uma de minhas criadas a entregou para mim. Ela a encontrou na bibliotecada minha casa e disse para eu a ler, pois dizia algo a seu respeito.

— E por que a está me dando?

— Porque estou tentando amá-lo, milorde. Se vou ser sua esposa, precisoconhecer a melhor parte do senhor. Eu não a li. — Mark franziu o cenho, confuso. —

Estive me martirizando entre ler o conteúdo dessa carta ou queimá-la. E entãocheguei à conclusão que a devia entregar ao senhor. O fato de minha mãe a estar 

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escondendo me deu a certeza de que deve conter alguma coisa contra o senhor.

Mark fitava Charlotte, incrédulo. Nunca esperara por aquilo.

— Como sua futura esposa — continuou Charlotte. — Devo lealdade emprimeiro lugar ao meu futuro marido.

Mark não sabia o que dizer. Fitou os olhos de Charlotte como se a estivessevendo pela primeira vez. Viu uma menina honesta c determinada que possuíapersonalidade e opinião própria apesar da influência maléfica da mãe.

Segurou-a as mãos pequenas.

— Obrigado por sua fidelidade — murmurou, depositando um beijo na pontados dedos delicados. — Boa-tarde.

O esboço de um sorriso curvou os lábios de Charlotte.

— Boa tarde, milorde.

Quando a porta se fechou Mark se dirigiu à lareira. Observou o fogo crepitar por instantes e depois jogou a carta sobre as chamas.

Agora Matthew estava salvo, pensou quando viu o papel se transformar emcinzas.

Exceto pelos passeios matinais com as irmãs, Liza se recolhera a maior partede tempo em seu quarto durante os três dias que seguiram à confissão de Mark.

Não tinha força nem vontade de comparecer aos intermináveis jantares comele, Charlotte e os convidados que não paravam de chegar.

Fazia as refeições no quarto, mas visitava a prima todos os dias. EmboraAbigail continuasse a exasperá-la, Charlotte agora tinha nova esperança no sucessode seu casamento. Num desses encontros, a prima lhe explicara que ele havia semostrado mais simpático desde que lhe entregara uma certa carta. Liza sentira-seorgulhosa da atitude de Charlotte e feliz por saber que o parentesco de Matthew nãoseria exposto.

Em uma manhã, sentindo-se indisposta e com um estranho enjôo que insistiaem acompanhar-lhe nos últimos dias, estava recostada em sua cama e sorviapequenos goles da bebida quente que Prim lhe oferecera.

— Asseguro-lhes de que isso tudo vai passar. — garantiu às irmãs,suspirando.

Patience aproximou-se, sentando-se na cadeira ao lado de Prim. As duas afitavam como se quisessem lhe dizer algo.

— Querida — começou Patience, fitando-a direto nos olhos. — Achamos que

está grávida.Liza se engasgou com o líquido, quase derrubando a xícara. No momento

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que ouvira aquelas palavras, soube que era verdade.

Prim tomou-lhe a xícara das mãos trêmulas, enquanto a outra colocou a mãosobre seu abdômen, acariciando-o. O coração de Liza encheu-se de alegria. Umbebê de Mark no seu ventre!

As lágrimas rolaram pela face pálida, ao mesmo tempo em que as irmãs seprecipitaram para os seus braços.

— Acreditei ser estéril por tanto tempo — soluçou ela no ombro de Patience.— Que essa possibilidade nem passou por minha mente.

— Será uma mãe maravilhosa — retrucou a irmã, com os olhos rasos d'água.— E nós seremos tias!

Prim abaixou-se, recostando a cabeça no ventre de Liza.

— Contará para o conde? — perguntou Patience.Uma tristeza profunda abalou o coração recém revigorado de Liza.

— Como poderia? O destino dele já está traçado. Saber apenas pioraria seusofrimento.

As irmãs calaram-se, parecendo entender seu infortúnio.

— O que dirá ao papai? — inquiriu Prim.

— Não sei — respondeu Liza, pensativa. — Penso que ficará bastante

desapontado comigo. Acho que não poderei ficar no vicariato. — Alternou o olhar entre as duas. — Para onde irei?

Patience tomou-lhe a mão resoluta.

— Vamos para a França. Tia Matty irá conosco. Não podemos deixar papaicompletamente sozinho, portanto, eu e Prim alternaremos visitas a você.

A idéia de ter a criança fora de seu país natal, não lhe era muito atraente,mas não via outra solução. Tinha de ficar bem longe dali. Não podia envergonhar sua família.

— Não terá de ficar fora para sempre — atalhou Prim, parecendo adivinhar-lhe o pensamento.

— Depois de algum tempo poderá voltar e nós inventaremos uma históriacomo adoção ou algo assim.

Liza meneou a cabeça, desolada. Não queria mergulhar num mar dementiras.

— Não sei o que farei.

— Pensaremos em algo — garantiu-lhe Patience.— Terei de ficar fora por muito tempo e qualquer decisão sobre o meu

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retorno, deverá ser de nosso pai.

— Pensemos nisso depois — disse Prim. — Uma coisa é certa, esse bebêterá duas tias corujas.

As três se abraçaram. O coração de Liza, embora partido, revigorava-se antea nova descoberta. Mark não lhe dera apenas seu amor, mas também amanifestação viva dele.

Fechou os olhos, sentindo o calor das irmãs e tomou sua primeira decisão.

— Hoje comparecerei ao baile e amanhã partirei.

Liza e as irmãs adentraram o amplo salão de baile depois que a músicacomeçara a- tocar.

Ela inspirava profundamente enquanto se movia pelo salão ladeada pelas

duas. Teria de informar a Charlotte sobre sua partida antes do fim da festa. Maspretendia ficar no baile por pouco tempo.

— Aquele é o irmão de Mark? — questionou Patience. — Ali, dançando comuma mulher de azul.

Liza avistou Matthew bailando com Rosalind.

— Sim. E aquela é a sua noiva.

A irmã observou a dama com certa reserva.

— É? Não me parece certa para ele. Prim ergueu o sobrolho.— E como pode saber?

— Veja. A moça não olha para ele. Está mais preocupada em ser notadapelos convidados do que pelo próprio noivo.

— Sra. Redington! — Foram interrompidas pela presença de John Crossman.

Liza apressou-se em fazer as apresentações.

O cavalheiro por sua vez apresentou-as ao um grupo de rapazes com quem

estava conversando e, em seguida, pediu que Liza dançasse com ele.A dança fora uma espécie de despedida. Embora pesaroso com a indiferença

de Liza, o milionário não lhe guardava nenhuma mágoa. Contou-lhe de seus planosde comandar um de seus navios, o que muito a alegrou. Crossman fora um bomamigo e suporte naqueles momentos difíceis.

Mark encontrava-se em uma das entradas do salão principal, ladeado peloirmão e o lorde Fitzgerald. O homem elogiava o projeto o seu projeto para abiblioteca, garantindo-lhe que o apresentaria ao Comitê como sua primeira escolha.

Há algum tempo atrás nada poderia agradá-lo mais do que aquela notícia.Mas naquele momento não sentia o menor entusiasmo. Tudo que conseguiu fazer 

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foi lhe agradecer e arrumar uma desculpa para se retirar.

Moveu-se pelo salão em companhia do irmão, cuja atenção fora captada por um grupo de damas.

Mark seguiu-lhe o olhar para encontrar Liza e as irmãs conversando comCharlotte.

Sentiu o coração disparar e o ar lhe faltar. Desde o dia em que fora a seuquarto, não a vira tão próxima. Ela trajava um vestido de cetim verde quecontrastava com perfeição com a pele alva. Parecia mais magra e, apesar dasolheiras que lhe escureciam as pálpebras, estava linda como sempre.

Liza ficaria esplêndida com as esmeraldas do Hawkmore. Afinal, fora aesposa que ele escolhera. Mesmo que isso significasse o fim de sua linhagem.

— Aquela de cachos ruivos, quem é? — inquiriu o irmão, despertando-o deseus devaneios.

— Seu nome é Patience Emmalina Dare. É uma das irmãs de Liza —respondeu antes de voltar o olhar para sua amada. Lisa o molde de perfeição peloqual as irmãs deviam ter sido modeladas.

O protótipo da graça, beleza e sensualidade.

Ansiava por tomá-la em seus braços e detestava os olhares de cobiça que osdemais cavalheiros lhe voltavam.

— Tem um ar de dona da verdade — murmurou Matthew.— E talvez seja — retrucou o irmão.

— Veja como Montrose de desfaz em rapapés para ela.

— Sim. Lembra-me o modo como age com Rosalind. Matthew o encaroufurioso.

— Vá para o inferno.

— Eu já estou lá, meu irmão — retrucou Mark, observando-a abraçar 

Charlotte e em seguida desaparecer por uma das porias laterais.Liza estacou próxima a uma das enormes portas de vidro e respirou o ar frio

da noite. Dissera a Charlotte que um dos paroquianos de seu pai estava gravementedoente e que precisava de sua presença no povoado.

Patience enlaçou-lhe a cintura.

— Aceita uma taça de ponche?

— Sim. Acho que seria... — as palavras morreram-lhe na garganta ante avisão de Mark que a fitava de dentro do salão principal.

Os olhos azuis tinham um brilho intenso e a atingiam como uma carícia, a

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qual seu corpo respondeu de imediato. As irmãs seguiram o olhar de Liza.

— Oh, querida... — Prim murmurou.

— Está tudo bem — conseguiu balbuciar ao mesmo tempo em que Charlottese aproximava do noivo.

No mesmo instante o rosto másculo se transformou numa máscara desofrimento. A prima lhe disse alguma coisa com a qual ele concordou com um gestode cabeça e guiou-a para a pista de dança.

Enquanto seu amado rodopiava com a prima pelo salão, Liza sentia-se quasefenecer. Ela o amava, seu corpo fora moldado para o dele, era seu ventre queabrigava o filho de Mark. No entanto, sentia-se só e amargurada enquanto Charlottebailava em seus braços como a noiva que ele escolhera.

Oh, Deus! Uma cortina de fumaça pareceu embotar-lhe a mente, enquantosua respiração acelerava. Grossas lágrimas lhe rolaram pela face.

— Vou dar uma volta no jardim — disse para as irmãs.

— Nós a esperaremos aqui — assegurou-lhe Patience.

Liza caminhou a passos lentos pelo jardim. Alguns casais aproveitavam aescuridão da noite para trocarem beijos furtivos.

A imagem da prima nos braços de Mark a seguia inexorável. Soltou umgemido de desespero e correu para a ponte que atravessava o lago até alcançar a

rotunda. Ofegante, afundou sobre um dos bancos que circulavam seu interior.Retirou as luvas e cobriu a face molhada com as mãos soluçando até que as

lágrimas secassem.

De repente sentiu-o se aproximar do banco. Ergueu o olhar para encontrar oslindos olhos azuis fitando-a.

— Eu o amo — soluçou, não conseguindo conter a emoção. Ele lhe tomou amão e levou ao rosto.

— E eu a amo mais que a própria vida.

Liza virou-se para encará-lo, pousando a outra mão sobre a curva do queixomásculo. Sentiu todo o corpo tremer quando Mark depositou um beijo suave napalma de sua mão e em seguida no pulso acelerado.

— Diga alguma coisa — ele suplicou.

— Eu o amo. E desde que aja um sopro de vida no meu corpo eu o amarei.Só a você. Para o resto da minha vida. Nunca me imagine nos braços de outrohomem, pois eu nunca amarei mais ninguém. Quando pensar em mim, lembre

apenas de nossos doces momentos juntos e a minha voz a repetir: eu o amo, eu oamo.

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As lágrimas rolaram pelo rosto másculo de traços perfeitos. A música quevinha do salão anunciava uma valsa.

— Dance comigo — suplicou ela. — Pela última vez.

Em seguida, ergueu-se do banco, levando-o para o salão. Mark a tomou nosbraços e começaram a dançar lenta e progressivamente até se encontraremrodopiando pela rotunda. Os olhos azuis nunca se afastavam dos dela.

Liza deslizou a mão pelo pescoço largo.

— Vou partir amanhã pela manhã.

Ele permaneceu calado, recostando apenas a fronte contra a dela.

— A dor de vê-lo no altar com minha prima seria insuportável. — Eu sei —disse ele, tocando com os lábios macios o canto dos olhos molhados de Liza.

Deus! Como o desejava. Seu corpo ansiava pelo dele. Ela impediu um soluçoe recostou a face ao peito másculo.

— Diga alguma coisa.

Mark ergueu o queixo delicado com a mão até que ela o fitasse.

— Pensarei em você todo os dias de minha vida. E sonharei com nossosmomentos todas as noites de minha existência. Vou lhe escrever todos os dias,relembrando-lhe cada um dos nossos encontros e cada vez que fizemos amor. Eassim criarei uma vida com você.

Liza fechou os olhos.

— Espero que me escreva, pois assim saberei como está passando e tocareio papel que foi tocado por você.

Mark traçou a linha dos lábios atraentes com o polegar e tomou-os num beijoapaixonado.

— Eu a amo. Nunca esqueça disso — murmurou Mark contra sua boca. Emseguida se afastou, desaparecendo na escuridão da noite.

— Não posso acreditar que tenha comprado essa tela gigante — disseMatthew, pasmo.

A luz forte do sol penetrava pela janela do quarto de Mark. Já trajado para opróprio casamento, ele deteve-se em frente a grande pintura, passando a mão pelamadeira encravada da moldura. A tela que testemunha seu amor por Liza. Ergueu opescoço para o criado ajustar-lhe a gravata.

Fitou o amontoado de diamantes e pérolas dispostas sobre a estante. Oconjunto fora tirado do cofre onde estavam guardadas as jóias do clã Hawkmore.

Entregaria-o a Charlotte como mandava a tradição.

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A tradição sempre fora as esposas Hawkmore usarem esmeraldas, mas estasMark havia colocado sobre a penteadeira de Liza na noite anterior, logo depois quea deixara na rotunda.

Ela era a esposa que seu coração havia escolhido, portanto eram dela de

fato.

Sentia as têmporas latejarem. Nas primeiras horas da manhã, assistira àpartida de Liza. Em seguida, sentara-se na escrivaninha e escrevera-lhe a primeiracarta. Estava repleta de amargura e tristeza, mas não conseguiu impedir a caneta dedar vazão ao que ia em seu coração.

— Está pronto? — perguntou Matthew, caminhando em sua direção.

Mark fechou a caixa de veludo que continha as jóias com um forte estampido.

— Não.

O irmão sorriu, tentando encorajá-lo.

— Fique tranqüilo. Estarei a seu lado para o caso de querer desistir.

Em seguida, caminhou até a porta, abriu-a e com uma reverência, dirigiu-seao irmão.

— Adiante, milorde.

O caçula postou-se à esquerda de Mark quando ele bateu à porta do quartode Charlotte.

Uma criada veio abrir a porta, mas logo Lucinda apareceu atrás dela.

Mark estendeu a caixa, entregando-a para a mãe.

— Como símbolo de minha estima por minha futura esposa. Com expressãoaltiva, Lucinda pegou a caixa, abrindo-a de imediato e analisando seu interior.

— Onde estão as esmeraldas?

— As esmeraldas são minhas. Onde estão ou o que fiz com elas é de minhaexclusiva conta.

Tendo ouvido a conversa, Abigail Lawrence correu até a porta. Olhou para oconteúdo da caixa e sua face tornou-se rubra. Encarou-o com a fúria de quem aindase achava no controle da situação.

— Onde estão elas? Todas as noivas Hawkmore usam as esmeraldas dafamília. As pessoas esperarão ver Charlotte com elas.

Mark lançou-lhe um olhar cheio da fúria que não tinha mais necessidade deconter. Lucinda deu um passo atrás, prevendo o que estava por vir.

Mas antes que Mark pudesse destilar todo o veneno guardado por aquelamegera, Charlotte assomou à porta.

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— Usarei o que milorde me der e nada mais. Abigail Lawrence apontou parao interior do quarto.

— Entre e termine de se arrumar. Sabe muito bem que a noiva não deve ser vista pelo futuro marido antes do casamento.

Charlotte continuou onde estava, ignorando-a.

— Bom-dia, milorde — disse, sorrindo. — Sinto-me honrada em aceitar seupresente.

Mark tomou a caixa das mãos de Abigail, abriu-a e pegou um colar dediamantes.

Charlotte virou, erguendo os cabelos com as mãos e ele colocou a jóia nopescoço delgado.

O perfume familiar que emanava das flores dos cabelos de Charlotteadentrou-lhe as narinas, fazendo-o recuar.

— O que houve, milorde? — perguntou Charlotte confusa. O coração de Markdisparou.

— Essas flores de laranjeira que está usando. Quero que as remova.

— Ela não o fará! — protestou Abigail.

— Concordo — aparteou Lucinda. — Os cabelos estão tão bem penteados.

— Já! Retire-as já — ordenou Mark.Charlotte voltou-se para a criada que começou a retirar os grampos e as

flores de imediato.

— O jardim desta casa é bastante florido. Escolha outras. Temos floresbrancas em profusão. — Entregou as flores de laranjeira para a empregada. — Podejogá-las fora.

A criada se apressou pelo corredor e Charlotte voltou-se para o conde,sorrindo.

— Resolvido o problema.

A prima de Liza tentava agradá-lo de todas as formas. Mark fez umareverência, entregando-lhe uma pequena caixa que ainda continha o anel e obracelete do conjunto de diamantes.

— Obrigado.

Charlotte levou à mão ao colar.

— Eu é que lhe agradeço, milorde. Nunca recebi presente tão fino.

O que mais ele poderia dizer?

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— Está linda.

Charlotte sorriu e entreabriu os lábios para falar, mas foi interrompida peloestrondo que vinha do andar de baixo, seguido de intenso vozerio.

Franzindo o cenho, Mark dirigiu-se apressado ao topo da escada seguido deperto pelo irmão. Ao olharem para baixo, viram flores espalhadas pelo chão e umvaso de porcelana quebrado. Mickey Wilkes argumentava com Cranford.

As mulheres juntaram-se a eles, curiosas.

— Tudo bem, Cranford — disse Mark para o criado. — Vou recebê-lo.

Wilkes veio ao seu encontro e antes do conde descer os degraus, o rapazcolocou um periódico aberto em sua mão.

— Saiu no jornal. A sujeira toda está estampada nessa página. O coração de

Mark começou a bater descompassado. O que poderia significar aquilo? Liberdade?Liza?

Abigail Lawrence parecia pálida e Lucinda consternada.

Matthew aproximou-se do irmão, colocando uma das mãos em seu ombro.

— A que ele está se referindo? Está metido em alguma encrenca?

Mark colocou a mão por sobre a do irmão.

— Não. Eu não.

— Procurei vir o mais rápido que pude — afirmou Mickey, ofegante. — Eudisse para o senhor que algo estava por vir. Estava no trem quando o cavalheiro ameu lado lia a notícia. Arranquei o jornal da mão dele e vim correndo para cá,milorde.

Mas Mark já não o estava ouvindo. Segurava o braço do irmão cujos olhosestavam fixos na notícia. Toda a vil história estampada na folha. Não mencionavamnomes, apenas referiam-se a ele como um importante conde que se casaria naqueledia com uma plebéia. Isso dispensava comentários.

No topo da reportagem, a reprodução de uma segunda carta que Lucindaescrevera a então amiga Abigail Lawrence, dando-lhe todas as informações sobre ofilho bastardo.

Mark olhou para a mãe furioso.

— Você me jurou que só havia escrito uma da carta, mentirosa!

— Carta? — interveio Charlotte. — É sobre aquela carta, milorde?

Abigail fitou-a surpresa.

— O que sabe sobre isso?Charlotte contou a mãe como obtivera a carta.

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— Entreguei para o conde porque sabia que a senhora a guardava por algummotivo escuso. E ao que parece eu estava certa.

Mark voltou a atenção para Abigail. Todo o ódio contido por aquela mulher desprezível estava estampado em seu rosto.

— A senhora foi recompensada pela maneira vil com que sempre tratou seuscriados. Eles que podiam ser leais e respeitosos, ao serem tratados com tantodesprezo e crueldade, tornaram-se seus algozes. E lhe desferiram esse golpe fatal.

Matthew cruzou os braços sobre o peito.

— Todos parecem estar a par do assunto, exceto eu. Podem me dizer o quesignifica tudo isso?

Mark dirigiu-se à noiva.

— Voltarei dentro de instantes — dizendo isso, segurou o braço do irmão,guiando-o à biblioteca com Lucinda em seu encalço.

Enquanto o conde contava a Matthew toda a torpe história, o caçula alternavao olhar entre ele e a mãe, incrédulo.

Quando Mark terminou seu relato, o irmão se ergueu com um impulso,precipitando-se para a mãe. Brandia o jornal na face de Lucinda ao mesmo tempoem que gritava sem poder conter a raiva.

— Ora, mamãe... Nunca pensei que fosse capaz de tanta vulgaridade!

Mark adiantou-se e segurou o braço do irmão, temendo a atitude quepudesse tomar.

— Nunca pensei que essa história viesse a público — argumentou a mãe. —Não tinha certeza de que Abigail recebera a carta. Ela nunca a respondeu. Penseique a missiva houvesse se extraviado. — Colocou a mão trêmula sobre o braço deMatthew. — Eu o amo, meu filho. Sempre o amei.

Matthew se desvencilhou dos dois.

— Mentira! Eu represento seu triunfo sobre nosso pai. Um homem cujo únicoerro foi ter casado com á senhora, tê-la amado e lhe dado um filho maravilhoso.Enquanto a esposa lhe esfregava no rosto seus amantes. Desprezo o seu amor!

Lucinda tentou tocá-lo, mas ele se afastou.

— Não me toque! Nunca mais me dirija a palavra e não se atreva a transpor aporta da minha casa. A partir de hoje não sou mais seu filho.

A mãe ergueu o queixo, resoluta, limpando as lágrimas com um lenço. Altiva,retirou-se, fechando a porta atrás de si.

Quando ficaram a sós, Matthew voltou-se para o irmão com a fisionomiatransfigurada pela dor.

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— Por que não me contou? Pensou que eu não fosse forte o suficiente parasuportar a revelação? Acha que eu iria querer que se sacrificasse por mim? Nãopensou em como me sentiria se um dia descobrisse e fosse tarde demais paravocê? — Deu um passo à frente com o dedo em riste. — Pois vou lhe dizer: me

sentiria um trapo!Mark meneou a cabeça.

— Não o considerava fraco para enfrentar a situação, mas temia por seuamor. Não estava certo de que ele sobreviveria a essa revelação.

— Vá para o inferno! Rosalind me ama. Não pelo que represento, mas peloque sou. Pensa que ela me abandonará quando souber disso? — inquiriu,apontando para o jornal. — Está muito enganado.

— Deus queira que eu esteja.

— Céus! Como deve ter odiado todas as reprimendas que lhe fiz — disseMatthew depois de algum tempo. — E pensar que sugeri que aceitasse acontinuidade da linhagem Hawkmore através de mim. — Sorriu com os olhos rasosd'água. — Posso continuar chamando-o de irmão?

— Você é meu irmão e sempre será. Sentir-me-ia honrado em passar meutítulo aos seus herdeiros.

Matthew forçou um sorriso.

— Não perca mais tempo. Vá atrás do seu amor.— Antes tenho de falar com Charlotte.

Os dois irmãos se fitaram por um longo tempo e depois se abraçaram com oamor e amizade que sempre existira entre eles. Mark encontrou a porta do quarto deCharlotte aberta.

— Sita. Lawrence — chamou.

— Estou aqui, milorde. Por favor, entre.

A jovem examinava seu reflexo no espelho, enquanto a mãe se encontravasentada em uma cadeira ao lado da cama.

— Minha mãe já me explicou tudo, milorde. Abigail ergueu-se indignada.

— E você não entendeu nada. Não sabe que fiz tudo isso por você? É muitojovem, minha filha. Não tem noção de como é ruim a sensação de nunca ter obastante para ser aceita pela nata da sociedade.

— Não, mãe — interrompeu-a Charlotte. O rosto delicado distorcido pelaraiva. — Fez isso por você. A grande mulher que sempre quis estar acima de tudo e

de todos. A senhora não tem coração! — continuou a filha, dando vazão a todamágoa contida. — Fez isso por vingança contra a condessa. Por ela possuir um

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nome e uma posição social que a senhora sempre almejou, mas que por nascimentonão tinha direito. Portanto, não tente me convencer que fez tudo por mim!

— Você é uma filha ingrata e mal-agradecida! — retrucou a mãe aos berros.

— Saia daqui! — gritou Charlotte.

Abigail Lawrence se retirou, pisando fundo e batendo a porta atrás de si comum estrondo.

Mark fitou a prima de Liza, sentindo a pulsação acelerar. Aquele era omomento crucial de sua vida. O divisor de águas entre a felicidade ou a agonia deuma vida sem amor.

— Se você quiser — começou o conde, reunindo todas as suas forças. —Prosseguiremos com o casamento. Talvez ainda possamos salvar seu nome. Alémdisso, não sou homem de voltar atrás com minha palavra.

— O senhor não empenhou sua palavra por livre e espontânea vontade,milorde. Foi obrigado a fazê-lo. É aí que reside toda a diferença.

— Desculpe-me por ter sido tão grosseiro com a senhorita — disse Mark. —Você era inocente e eu estava furioso com toda a situação em que me encontrava.

— Com toda a razão. Eu também estou. — Virou-se para encará-lo. — Sabepor que admirava meu reflexo no espelho, milorde? Porque gostei da nova pessoaque vi. Apesar dos esforços de minha mãe para me influenciar, tenho opinião

própria. — Deu um passo à frente, fitando-o com compaixão. — Eu o dispenso desua promessa. Duvido que possamos fazer algo pelo meu nome e não estou meimportando com isso. Não vou forçá-lo a um casamento que não deseja. Enfrentareio que vier, mas a partir de agora não mais viverei ao lado de pessoas que não mequeiram bem.

Mark sentiu como seu um fardo lhe tivesse sido retirado dos ombros.

— Não terá dificuldade de encontrar quem muito a estime. É uma moça lindae adorável e o homem que escolher terá muita sorte de tê-la como esposa.

— Obrigada, milorde.— Por que não nos tratamos por Mark e Charlotte?

— Está bem, Mark.

Ele teve de refrear a vontade de sair correndo.

— Quando eu sair daqui vou ao encontro de sua prima.

— Minha prima? — repetiu Charlotte, confusa.

Mark contou-lhe em breves palavras tudo que acontecera entre ele e Liza.

Quando terminou, lágrimas de emoção desciam pela face delicada da jovem.

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— Oh... claro... Vá ao encontro de minha querida prima. Eu também a amo enão quero vê-la sofrer nem mais um segundo.

Liza ajustou o xale de lã estampado aos ombros, observando o perfil austerodo pai. Os cabelos vastos e ruivos de Samuel Dare caíam sobre a testa. O nariz

aquilino e a mandíbula quadrada compunham o caráter imponente de suafisionomia. Mas, apesar da aparência severa, era o homem mais compreensivo queconhecia.

Liza deveria saber que apesar de estar decepcionado com ela, seu amor erainabalável e sempre estaria a seu lado para apoiá-la.

— Poderíamos ir todos para a França! — disse o patriarca. — Não viajo háanos.

— Porque detesta viajar, papai — retrucou Liza. — Não precisa se sacrificar.

Posso ir com tia Matty.

Ele lhe tocou o braço de leve, estacando para encará-la.

— Quero estar presente quando der à luz. A filha lhe acariciou a mão.

— Eu o amo.

Samuel a fitou com ternura.

— E eu a amo mais ainda. — Olhou para o céu e voltou-se para ela. — Estáficando tarde, acho que vou voltar.

— Sim, papai. Vou caminhar até o lago, mas retornarei a tempo do chá.

Quando se encontrou sozinha deu vazão ao choro.

Observou as águas serenas do lago através dos olhos rasos d'água. Foientão que uma brisa fria lhe roçou a face, mas apesar disso sentiu-se de súbitoaquecida. Um arrepio percorreu-lhe a espinha, antecipando o que estava por vir.

Virou-se com um movimento brusco para encontrar Mark.

Ele não usava chapéu e seu traje formal estava desalinhado.

Oh, Deus! O que teria acontecido?

Engoliu em seco ao vê-lo correr ao seu encontro. Teria ele fugido docasamento? Seus nervos pareciam paralisá-la, prendendo-a ao banco. Sentiu o xaleescorregar pelos ombros.

Os olhos azuis a fitavam com um brilho radiante.

E então se viu erguida no ar pelos braços fortes de Mark. Soltou um gemidoao mesmo tempo em que o abraçava com toda a força que possuía.

Sentiu a fragrância de verbena inundar-lhe as narinas e em seguida seuslábios foram arrebatados num beijo longo e sensual.

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Ela gemeu, colando o corpo ao dele. Depois de algum tempo, interrompeu obeijo, fitando os jubilosos olhos azuis. Pelo brilho que eles exibiam algo demaravilhoso devia ter ocorrido.

— O que aconteceu? — perguntou Liza com o coração transbordando de

esperança. — Por que está aqui?

Mark segurou-lhe a face com a mão em concha. Grossas lágrimas desciampelo rosto másculo.

— A farsa acabou, querida.

E pôs-se a relatar tudo que acontecera desde a sua partida do casteloHawkmore.

— E Charlotte? — Liza quis saber.

— Está bem. Foi ela quem optou por cancelarmos o casamento. Sua primaestá disposta a seguir a própria vida, sem a influência da mãe.

Liza deixou escapar um profundo suspiro. Temia explodir de tanta felicidade.Atirou-se nos braços do homem amado, tomando-lhe os lábios num beijo possessivocom todo o calor e desejo de uma mulher apaixonada.

— Eu o amo. Eu o amo — sussurrava contra os lábios sensuais.

— Nunca deixe de repetir essas palavras — suplicou Mark, segurando-a firmepela cintura. — E sempre que as disser eu lhes farei eco. Eu a amo. Eu a amo —

prometeu ele, beijando-lhe o queixo.Em seguida, ajoelhou-se aos pés de Liza.

— Elizabeth Dare. Eu a amo com todo a força do meu ser. Você é a mulher que me abriu as portas do paraíso. Aquela que me faz ser um homem melhor. Case-se comigo e gritemos o nosso amor para o mundo. Permita-me amá-la até aeternidade, pois meu amor por você nunca terá fim.

Liza beijou-lhe a fronte, emocionada.

— Sim. Casarei com você. Prometo dedicar-me de corpo e alma ao nossoamor — professou Liza, sentindo os joelhos cederem. — Você precisa de herdeirose...

— Não! — interrompeu-a Mark. — Preciso de você. Só você. O resto nãoimporta.

Liza beijou-lhe os lábios entreabertos e sentiu o coração flutuar de alegria.

— Então o que faremos com esse bebê que está crescendo em meu ventre?

Mark pareceu congelar. Ela se afastou um pouco para fitar a expressão

estarrecida do rosto másculo.

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Os olhos azuis a fitavam como que hipnotizados, ao mesmo tempo em queexibiam um brilho intenso.

— Está esperando um filho meu? Teremos um bebê? — inquiriu, incrédulo.

Ela assentiu, rindo divertida.

— Sim.

— Oh, Deus! — exclamou Mark, levando a mão ao ventre de sua amada. —Nosso filho.

Liza sentiu o corpo tremer de desejo, enquanto ele lhe cobria os lábios numbeijo exigente.

As mãos firmes desabotoaram-lhe o corpete com extrema rapidez.

— Oh, querida. Quero viver cada momento de minha vida a seu lado. Fazer 

amor com você tantas vezes até que nossos corpos se tornem um só.

Liza estremeceu de encontro ao corpo másculo, soltando um gemido longo,elevando os olhos ao céu numa prece. Aquilo era amor. Felicidade. O paraíso naterra.