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Conferência Nacional do Ensino Superior e da Investigação aprovou direcções de trabalho Um debate opor tuno e um reforço do Departamento Exigimos negociação O Sistema Científico e Tecnológico no Programa do Gover no pág. 20 Exigimos negociação

Junho de 2005

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Jornal da FENPROF / Sup - Junho de 2005

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Conferência Nacional do Ensino Superior e da Investigação aprovou direcções de trabalho

Um debate opor t u n oe um re f o r ç odo Depart a m e n t o

Exigimosnegociação

O Sistema Científico e Tecnológico no Programa do Gover n opág. 20

Exigimosnegociação

SUP AO N.º 201JUNHO 20052

Propriedade, Redacçãoe AdministraçãoFederação Nacional dos ProfessoresRua Fialho de Almeida, 31070-128 LISBOATels.: 213819190 – Fax: 213819198Email: [email protected] page: www.fenprof.pt/superior

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SUMÁRIO

EntrevistaProfessor Guilherme Arrozà conversa com a revistada AE do Instituto SuperiorTécnico: O Taguspark,o futuro do ISTe o Processode Bolonha 14

DepoimentoProfessor Meira Soares numaAudição promovida pelaFENPROF: "Será que ospolíticos europeus aindanão perceberam que averdadeira integraçãonão se faz porDeclaraçõesou Directivas?" 21

Iniciativa da IE/CSEE

Conferência pan-europeiasobre ensino superior

e investigação De Bolonha a Bergen, um balanço a dois trajectos:

o ponto de vista dos académicos

Bruxelas acolheu a Conferência pan-europeia IE/CSEE, subordinada ao tema geral"De Bolonha a Bergen, um balanço a dois trajectos: o ponto de vista das persona -lidades académicas". Realizada nos dias 11 e 12 de Fevereiro, o encontro reuniucerca de 80 participantes, oriundos de 21 países. A FENPROF esteve representadapor Manuel Pereira dos Santos, membro do Departamento de Ensino Superior.

A conferência serviu para avaliar o nível de envolvimento dos académicos e das suasorganizações sindicais representativas na elaboração do processo de Bolonha às escalasnacional e europeia. Foi apresentado um estudo sobre essa matéria, pelo instituto norueguêsNIFU-STEP, que viria a enriquecer a contribuição sindical docente na reunião ministerialque, entretanto, teve lugar em Bergen, nos dias 19 e 20 de Maio de 2005.

Os participantes insistiram no papel nuclear que os académicos têm no processo juntodos estudantes e das instituições, devendo acompanhar sistematicamente a evolução do pro-cesso de Bolonha, numa plataforma de intercâmbio e de cooperação.

A Declaração que saiu da reunião de Bruxelas reassume a determinação dos profissio-nais académicos e de investigação da Europa em ver desenvolvidos fortes laços entre o pro-cesso de Bolonha e o Espaço Europeu de Investigação.

O texto realça ainda que o ensino superior é um bem público que deve ser preservado edinamizado por políticas públicas, acrescentando que é inaceitável a omissão de referênciasaos académicos, ao seu papel e estatuto, na Declaração de Bolonha e nas suas repercussões.

Por outro lado, esta Conferência permitiu reforçar a cooperação com a Association Euro -péenne de l’ Université (AEU) e com a Association Européenne des Etudiants (ESIB).

Aconjuntura tecnicamente recessiva da economia e altamente deficitária das contas doEstado, e as recentes medidas restritivas tomadas pelo Governo, na sequência deoutras de cariz idêntico tomadas por governos anteriores, não auguram nada de bom,nem quanto à aplicação do Processo de Bolonha, nem relativamente à solução dosprincipais problemas que afectam a situação profissional dos docentes e dos investi-

gadores – precariedade laboral e estagnação nas carreiras – nem no que concerne à criaçãode emprego científico, apesar das promessas eleitorais e do constante do Programa doGoverno.Na realidade, a ampliação da idade de reforma, ao mesmo tempo que contraria as expectati-vas criadas, vai atrasar a possibilidade de contratação de jovens doutorados, contribuindoassim negativamente para o crescimento do emprego científico.A recente decisão do Governo, sem negociação com as organizações sindicais (como é obri-gatório), de congelar por um ano e meio a contagem de tempo de serviço para efeitos de pro-gressão nas carreiras, veio acrescentar um bloqueamento ainda maior ao avanço salarial dosdocentes e dos investigadores, uma vez que os quadros se encontram completamente preen-chidos em muitas instituições, isto apesar de se estimar que a maioria dos colegas estão jáposicionados no último escalão das respectivas categorias. Trata-se de uma medida que afec-tará sobretudo os mais novos – aqueles para quem certamente mais falta fará o salário que oGoverno decidiu subtrair-lhes.

Écerto que as carreiras do ensino superior, embora encontrando-se entre as mais exi-gentes da Administração Pública, incluem progressões salariais automáticas dentrode uma mesma categoria. No entanto, a sua passagem à dependência de avaliaçõesde desempenho nunca foi obstaculizada pela FENPROF. Na realidade, nada justifica,nem mesmo a carga burocrática envolvida, que as transições de escalão não sejam

realizadas a partir de avaliações de desempenho com critérios adequados. Não faz, porém,sentido a situação actual em que um docente ou um investigador pode atingir o último esca-lão de uma categoria, sem ter tido oportunidades de promoção devidas à inexistência devagas, ficando assim impedido de ver o seu desempenho e as suas qualificações avaliados ereconhecidos para efeitos de melhorias salariais. Daí a continuada insistência da FENPROFnos quadros de dotação global e nas provas de mérito absoluto para passagem a categoriasuperior.Ainda mais grave é a situação daqueles que, por mais qualificações que obtenham e pormelhores desempenhos que evidenciem, nem sequer têm reconhecido o direito a uma carreira,embora desempenhem funções em regime de tempo integral e, até, de dedicação exclusiva.Como vai ser possível mobilizar e motivar os docentes e os investigadores para uma correctae empenhada aplicação das orientações de Bolonha se deste modo são tratados por quemdeveria reconhecer na prática que o sector do ensino superior e da investigação é estratégicopara o desenvolvimento do país?Importa assim que os docentes do ensino superior e os investigadores manifestem comveemência ao Governo o seu desagrado pelas medidas tomadas exigindo a negociação ime-diata de todas as alterações a realizar nos estatutos das carreiras, designadamente as reivindi-cadas pela FENPROF com vista a reduzir a precariedade de emprego, a desbloquear as pro-moções, a assegurar o direito a uma carreira e a garantir equidade, justiça e transparência nosprocessos de avaliação dos docentes e dos investigadores.

Assim Não! Exigimos

negociação!João Cunha Serra

EDITORIAL

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Na reunião realizada em Lisboa,no passado dia 10 de Maio,com o Ministro Mariano Gago,a FENPROF reafirmou as suasposições relativamente à

necessidade de melhorar a qualidade ea relevância social do sistema deensino superior e promover o sucessoescolar, no âmbito do objectivo da qua-lificação da população activa portu-guesa.

A FENPROF manifestou igual-mente ao Ministro a urgência datomada de medidas destinadas àmelhoria da situação profissional dosdocentes, tanto do ensino público comodo privado (direito a uma carreira, quea muitos é negada, e possibilidade deobtenção de vínculo estável; desblo-queamento das promoções; transparên-cia nos concursos e valorização da acti-vidade pedagógica), para a negociação

das quais reclamou a fixação de umcalendário.

Bolonha

A este propósito Mariano Gagoreferiu encontrarem-se em curso inicia-tivas de aplicação do Processo deBolonha, às quais se seguirá a propostade uma nova lei de autonomia, e queapenas se encontrará em condições deapresentar um calendário negocial rela-tivo a questões de carreiras no próximomês de Junho.

No entanto, afirmou que iria tomarmedidas para forçar as instituições aabrirem concursos para as vagas de quedispõem nos seus quadros.

Foram discutidas as questões daaplicação do Processo de Bolonha,designadamente as alterações propostaspelo Governo à Lei de Bases do Sis-

tema Educativo, bem como as medidasde racionalização do Sistema recente-mente anunciadas, relacionadas com aelevação para 20 do número mínimoalunos a ingressar numa licenciatura.

O Ministro informou FENPROF deque teria que ser criada um AgênciaNacional de Acreditação e que o actualsistema de avaliação teria que ser inter-nacionalizado e abranger não apenas oscursos mas as próprias instituições.

Assegurou também que as excep-ções já contidas na lei, que permitemque certos cursos funcionem comnúmeros mais reduzidos de alunos, nãoiriam ser modificadas e que o seuobjectivo não era o de despedir docen-tes mas apenas o de levar as institui-ções a reorganizarem, nos próximos 4anos, a sua oferta formativa de modo autilizarem mais racionalmente os res-pectivos recursos.

Relativamente à posição da FEN-PROF favorável a que as instituiçõessejam apoiadas para oferecerem maiscursos destinados a alunos já inseridosno mercado de trabalho em horáriospós-laborais, Mariano Gago referiu quetentaria ajudar as instituições a quebrara sua natural inércia quanto a este tipode iniciativas.

Portanto, a lgumas expectativaspositivas a aguardar confirmação.

JCS

SUP AO N.º 201JUNHO 20054

NACIONAL

Delegação da FENPROF esteve reunida com o Ministro

Mariano Gago• Instituições irão ter que pôr as vagas a concurso.• Manter-se-ão as excepções ao mínimo de 20 alunos

à entrada dos cursos.• Calendário negocial será apresentado em Junho.

www.fenprof.pt/superiorwww.fenprof.pt/superiorActualização diária

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 5

Conferência Nacional do Ensino Superior e da Investigação

Um interessante debate e um significativo reforço

do Departamento"Na aplicação do Processo de Bolonha" não devem ser impostas "medidasuniformizadoras, com vista à redução da duração do 1º ciclo" mas adopta -das "metodologias baseadas na definição prévia dos objectivos das forma-ções, tendo em consideração a sua função social, designadamente, as suasfinalidades culturais, científicas ou profissionais, para não contrariar osobjectivos da diversificação das ofertas formativas e da inovação das meto -dologias pedagógicas e das estruturas curriculares", sublinha a resoluçãoaprovada pelos delegados à Conferência Nacional do Ensino Superior e daInvestigação, que abordamos neste caderno até à página 13.

Esta Conferência apetre-chou melhor o Departamento paraas actuais necessidades de intervenção noâmbito da s ituação profiss ional dosdocentes e dos investigadores, domínioem que foi aprovada uma"carta reivin-dicativa e um conjunto de princípios aobservar no exercício das profissões dedocente e de investigador, e no âmbitodas mudanças necessárias para oaumento da relevância social, da quali-dade, da eficácia e eficiência do Sistemade Ensino Superior e de Investigação dopaís, que foram objecto de uma reso-lução e do documento sobre o Futuro doEnsino Superior e da Investigaçãoaprovados pela Conferência.

O Departamento saiureforçado pela aprovação de docu-mentos orientadores para a sua acção epelo alargamento do número de sindica-lizados que passam a participar na suaestrutura (Conselho de Departamento,Comissão Coordenadora e Grupos de Tra-balho), responsabilizados para tal pelaconfiança que os associados que oselegeram neles depositaram.

A fase de preparação d aConferência foi bastante rica. Foramefectuadas várias reuniões com sindica-lizados e, pela primeira vez, foram rea-lizadas 3 Audições a colegas destacados,para o efeito convidados, quer do EnsinoSuperior Público (universitário e politéc-nico), quer do Ensino Superior Particulare Cooperativo (ESPC). As audições abor-daram questões relativas ao futuro doSistema do Ensino Superior, em particu-lar, a autonomia e gestão, o financia-mento, o acesso e o sucesso no EnsinoSuperior, o Ensino ao Longo da Vida,novos públicos, a investigação e a situa-ção no ESPC. Várias das intervenções rea-lizadas no âmbito destas audições foramjá publicadas na nossa última edição. Foiainda realizado em Lisboa um Colóquiosobre o Processo de Bolonha.

A Conferência teve aparticipação de cerca de uma cen-tena de delegados, a maioria dos quaiseleitos directamente pelos associados dosector. O objectivo foi conseguir umaassembleia representativa. No entanto, ainiciativa teve a participação de quem sequis inscrever, sindicalizado ou não.Houve espaço para a apresentação decomunicações individuais, bem comopara o debate e para a votação dos docu-mentos de trabalho apresentados à Con-ferência.

JCS

Ainiciativa, promovida pelaFENPROF nos dias 11 e 12 deMarço no auditório da Facul-dade de Psicologia e Ciênciasda Educação da Universidade

de Lisboa, registou a participação dedocentes e investigadores de diferentesregiões do País, além de três convida-dos estrangeiros: José Manuel Palazon,da FECCOO (Espanha); Jens Vraa-Jensen, do DM, organização sindicalda Dinamarca; e Maurice Hérin, secre-tário-geral do SNESUP de França, queapresentaram expressivos depoimentossobre as realidades do Ensino Superiore da Investigação nos seus países,tendo-se referido também a temáticasque envolvem o espaço europeu emundial.

O futuro do Ensino Superior e daInvestigação em Portugal; o desenvol-vimento profissional e a representaçãosindical; e ainda a organização daque-les sectores no quadro da FENPROF eda acção sindical, foram os grandestemas em debate nesta Conferência,que registou no início dos trabalhosintervenções de Paulo Sucena, secretá-rio-geral da FENPROF, e de JoãoCunha Serra, membro do SecretariadoNacional e coordenador do Departa-mento de Ensino Superior da FEN-PROF, que encerraria o encontro, lem-brando que "é necessário olhar a edu-cação e o ensino como um conjunto,fundamental para o desenvolvimentodo País".

Seis grupos de trabalho

Além da resolução, a Conferênciaaprovou os documentos-base que dina-mizaram o debate preparatório e queforam enriquecidos com várias propos-

tas e também duas moções, uma sobreo prosseguimento da luta em torno dodireito ao subsídio de desemprego paraos docentes e investigadores do EnsinoSuperior público e outra sobre a consti-tuição de seis grupos de trabalho noâmbito da acção sindical. Estes terãocomo objectivo "acompanhar a evolu-ção da situação" em cada área temática,"recolher a informação relevante para oseu trabalho, lançar os estudos necessá-rios ao desenvolvimento da sua activi-dade e definir projectos de intervençãosindical a propor à estrutura do Depar-tamento e aos órgãos da FENPROF".Os grupos irão trabalhar temas como,por exemplo, a autonomia, gestão efinanciamento, formação, qualificaçãoe avaliação dos docentes e investigado-res, avaliação e acreditação das escolase dos cursos, investigação, inovação erelação com a sociedade, questões pro-fissionais, entre outras.

A Conferência elegeu ainda o Con-selho do Departamento do EnsinoSuperior e da Investigação da FEN-PROF, integrando elementos efectivose suplentes, oriundos de diferentes ins-tituições de todas as regiões do País edos vários Sindicatos de Professoresque constituem a Federação.

A iniciativa contou também com apresença e a intervenção no debate deum prestigiado painel de convidados,entre os quais os Professores AntónioMartins, vice-reitor da Universidade deCoimbra; José Tribolet, do InstitutoSuperior Técnico e do INESC; Rai-mundo Delgado, da Universidade doPorto; Rui Namorado Rosa, da Univer-sidade de Évora; e António Mendonça,do ISEG (Lisboa).

JPO

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Aentrada emfunções deum novoG o v e r n osaído das

eleições legislativas de 20 de Fevereirovem abrir novas perspectivas para oEnsino Superior de forma a que a situa-ção profissional dos seus docentes einvestigadores tome novos e mais pro-missores rumos.

Tal não acontecerá, porém, sem oempenhamento e a participação activados docentes e dos investigadores naafirmação da importância estratégicado Ensino Superior e da Ciência para odesenvolvimento cultural, social, eco-nómico, científico, tecnológico e ambi-ental do país.

Sobre o Ensino Superior:

1. Reclama que o novo Governoesclareça de imediato a sua posiçãoquanto ao financiamento dos ciclos deformação decorrentes da aplicação doProcesso de Bolonha, de forma a afas-tar o receio de que esta possa vir a serpretexto para uma ainda mais acentu-ada desresponsabilização do Estadopelo financiamento do Ensino Supe-rior. Em particular, considera indispen-sável que o novo Governo garanta quea redução que venha a ocorrer na dura-ção de alguns cursos de licenciaturanão implicará diminuição no financia-mento das instituições, e que, as forma-ções de 2º ciclo sobreponíveis, total ouparcialmente, com as actuais licencia-turas serão financiadas, pelo menos, aum nível idêntico ao dessas licenciatu-ras, sem que os seus custos venham arecair sobre os alunos e suas famílias;

2. Entende que um importante sinalquanto à importância que o novoGoverno irá atribuir ao Ensino Supe-rior será verificar se vai eliminar, doPrograma de Estabilidade e Cresci-mento a apresentar pelo Governo aBruxelas durante o próximo mês deAbril, a cláusula restritiva que impõe

q u e ,até 2007, não haverá crescimentonominal no financiamento do ensinosuperior, situação que, a manter-se,significará a continuação de significati-vos cortes orçamentais anuais noEnsino Superior e uma desvalorizaçãoda importância estratégica do sectorpara o desenvolvimento do país;

3. Reclama que, na aplicação doProcesso de Bolonha, não sejamimpostas medidas uniformizadoras,com vista à redução da duração do 1ºciclo, mas que sejam adoptadas meto-dologias baseadas na definição préviados objectivos das formações, tendoem consideração a sua função social,designadamente, as suas finalidadesculturais, científicas ou profissionais,para não contrariar os objectivos dadiversificação das ofertas formativas eda inovação das metodologias pedagó-gicas e das estruturas curriculares.

4. Defende que o actual Sistema deEnsino Superior (universitário e poli-técnico) deve caminhar para um sis-tema integrado e diversificado, semdiscriminações baseadas em denomina-ções e incentivando a criação de parce-rias entre as actuais instituições univer-sitárias e politécnicas, respeitadorasdas respectivas autonomias, em que acapacidade para a atribuição dos grausacadémicos de pós-graduação dependaapenas de requisitos de aplicação uni-versal de cumprimento comprovadopor processos idóneos de avaliação daqualidade das instituições e das suasformações.

5. Considera que as alterações quevenham a ser introduzidas nas leis deautonomia devem ir no sentido:

a) da garantia da participação dos 3corpos (docentes e investigadores, não-docentes e estudantes) na gestão dasinstituições, tendo em consideração ascompetências dos órgãos e as diferen-tes funções desempenhadas por

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 7

Resolução aprovada

Um diversificado conjuntode materiais de actualidade

no âmbito do Ensino Superior e da Investigação

dá vida à resolução aprovada pela ConferênciaNacional que a FENPROFrealizou em Lisboa. Aí se

reclama que, "na aplicaçãodo Processo de Bolonha,

não sejam impostas medidas uniformizadoras,

com vista à redução da duração do 1º ciclo,

mas que sejam adoptadasmetodologias baseadas na definição prévia dos

objectivos das formações,tendo em consideração

a sua função social, designadamente, as suas

finalidades culturais, científicas ou profissionais,

para não contrariar osobjectivos da diversificaçãodas ofertas formativas e dainovação das metodologias

pedagógicas e das estruturas curriculares."

A realidade do sistema universitárioespanhol (48 Universidades públicas e22 privadas; 13 são da Igreja Católica)foi descrita na Conferência por JoséManuel Palazon, da FECCOO.

cada um dos corpos;b) do reforço da autonomia finan-

ceira das instituições para geriremlivremente as dotações do O.E. e asverbas incluídas nos respectivos orça-mentos privativos, de forma unica-mente condicionada a uma transparentee rigorosa prestação de contas peranteo Estado e a sociedade;

c) da garantia de condições para aprática de uma gestão responsável, efi-ciente e eficaz, na base de objectivosestratégicos aprovados pelas institui-ções, com a participação de represen-tantes da sociedade envolvente;

d) da criação, em cada instituição,de uma instância, de natureza a definirnos respectivos estatutos, destinada àprocura de soluções para conflitos decarácter laboral e à audição obrigatóriade representantes sindicais dos docentese dos investigadores, em matérias deordem interna, com incidência directana respectiva situação profissional;

6. Apoia a consagração de parâme-tros exigentes de qualidade com vista àacreditação periódica de todas as insti-tuições de Ensino Superior Públicas, ouParticulares, ou Cooperativas, apoiadaem processos rigorosos de avaliação.

Sobre a Investigação:

7. Defende as seguintes medidaspara a promoção da actividade de

investigação:a) aumento do financiamento à

investigação e desenvolvimento, apro-ximando-o da média dos países daunião europeia;

b) prosseguimento dos programasde formação avançada em Ciência eTecnologia, incluindo nomeadamenteos níveis de mestrado e de doutora-mento;

c) promoção do emprego científico;d) reforço da figura do orçamento

plurianual para as instituições de I&D;e) incentivos fiscais que favoreçam

o mecenato e o investimento privadona investigação, bem como a incuba-ção de empresas de elevado valor cien-tífico e técnico acrescentado;

f) favorecimento, com discrimina-ção positiva, dos domínios e das insti-tuições de investigação mais incipien-tes ou periféricas.

g) implementação de políticas quepromovam a inovação e a transferênciade tecnologias.

Sobre as Questões Profissionais:

8. Defende uma revisão dos estatu-tos das carreiras do ensino superior eda investigação, com base nos seguin-tes princípios:

No Ensino Superior Público:a) Quadros de dotação global e com

dimensão sufic iente para abrangertodos os docentes e investigadoresnecessários ao funcionamento, comqualidade, das actividades permanentesdas instituições;

b) Efectivo direito de todos osdocentes e investigadores que se encon-trem a suprir necessidades permanentesdas instituições ao acesso a uma car-reira com perspectivas de obtenção denomeação definitiva e com garantia devínculo estável à função pública, apósum período probatório a definir;

c) Valorização efectiva de todas ascomponentes do trabalho dos docentes,designadamente, de investigação, dedocência, de gestão e de relação com asociedade, de forma ponderada, noâmbito dos processos de avaliação daactividade dos docentes do EnsinoSuperior;

d) Direito dos docentes à progres-são em todos os níveis da carreira porcritérios de mérito absoluto, separandoos processos de recrutamento e de pro-gressão.

No Ensino Superior Particular eCooperativo:

e) Aprovação de um instrumentoregulador da contratação e da carreirados docentes do Ensino Superior Parti-cular e Cooperativo.

f) Consagração do paralelismo decarreiras com as do Ensino SuperiorPúblico.

SUP AO N.º 201JUNHO 20058

A valorização sociale económica da investigação – "Via Verde" para a Inovação

Depois de um período em que opaís investiu na estruturação dos orga-nismos de investigação e aumentousignificativamente o número de mes-tres e doutorados será agora a altura deolhar atentamente para os resultados detodo esse investimento em Inovação eDesenvolvimento (ID).

Impõe-se pois responder às seguin-tes perguntas:

- que utilidade social tiveram nasua generalidade os novos mestres edoutores quando não se integraram nacarreiras do ensino superior?

- que produção científica se materi-alizou em processos ou produtos decarácter inovador que tenham origi-nado o retorno económico do investi-mento feito em ID?

Sem possuir números, julgamos serconsensual considerar que o tecidoempresarial português não tem sabidoou podido aproveitar convenientementeos graduados de nível mais elevado. Damesma forma a produção de novaspatentes e a materialização, comimpacto na sociedade, de novos produ-tos ou processos tem sido muitoescassa, apesar das centenas de projec-tos concluídos com bons resultados

Sem procedermos a uma avaliaçãoprévia não podemos legitimamentereclamar à nossa depauperada econo-mia que invista mais em ID, isto é, senão formos capazes de identificar eultrapassar as causas da baixa taxa desucesso do esforço realizado.

A nosso ver tal resulta, entre outrascausa, do gap que existe entre os resul-tados dos projectos de investigação e asua transferência para o tecido econó-mico.

O Estado inves-tiu a montante, noslaboratórios nos pro-jectos de ID e nosrecursos humanos,mas deixou intacta a inércia de toda amáquina administrativa e dos seus lon-gos prazos de decisão, começandopelas patentes para continuar na homo-logação e terminar no licenciamento.

Sem uma intervenção activa noencadeamento de projectos científicosque possam passar com prioridade aprojectos de transferência de tecnolo-gia, empresas de capital de risco e cria-ção de mecanismos de efectivo entro-samento da Inovação e do Desenvolvi-mento no tecido empresarial, não serápossível garantir o retorno do investi-mento em ID.

Não será plausível nem justo que asociedade portuguesa apoie a Investi-gação nem reconheça os seus protago-nistas, se o esforço continuar a incidirapenas sobre um dos elos da cadeia – ainvestigação – descurando todos osoutros que a jusante possam constituirmecanismos de bloqueio sobre etapasessenciais para a rentabilização doinvestimento.

Para obviar aos problemas enuncia-dos propõem os participantes na Confe-rência Nacional do Ensino Superior quesejam tomadas medidas no sentido de:

- Garantir a sequência de financia-

m e n t odos projectos de investigação finaliza-dos com sucesso e demonstradamentecom potencial de desenvolvimento eaplicabilidade económica.

- Atribuir o qualificativo "Inova-ção" a processos ou produtos inovado-res mediante escrutínio devidamenteformalizado, que permita seleccionaros de presumível potencial económico.

- Criar um gabinete de acompanha-mento do processo de transferênciapara o tecido económico ou social dosprodutos ou processos qualificadoscomo "Inovação".

- Integrar os produtos ou processoscom o qualificativo "Inovação" no sis-tema de incentivos ao desenvolvimentodas empresas, assegurando que toda atramitação legal de iniciativas ouinvestimentos em que estes se incluam– patente, homologação, aprovação,licenciamento – seja executada em pra-zos curtos pré definidos, garantindo-seassim que a aposta na Inovação possaconstituir de forma acrescida uma ver-dadeira "Via Verde" para o desenvolvi-mento.

Pelo direito ao subsídio de desemprego

A Conferência Nacional do EnsinoSuperior e da Investigação promovidapela FENPROF em Lisboa, exige aoGoverno e Partidos Políticos comassento na Assembleia da Repúblicaque de modo expedito tomem as inicia-tivas legislativas necessárias para con-cretizar o reconhecimento legal dodireito ao subsídio de desemprego, umdireito constitucional inalienável, aosdocentes do ensino superior público einvestigadores nos mesmos termos daLei Geral de Trabalho.

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Moçõesaprovadas

SUP AO N.º 201JUNHO 200510

ment, sa faculté, son université en refu-sant le LMD, alors que «d’autres le met-tent en place».

Aujourd’hui quel bilanpeut-on dresser?

Officiellement c’est une «révolutionréussie» et sans moyens nouveaux! Maisconcrètement sur le terrain, c’est l’éclate-ment complet des formations supérieureset des diplômes nationaux. Personne,même au Ministère, ne peut établir untableau, une carte lisible des intitulés deslicences, des masters. Les contenus sci-entifiques, le sens des parcours-types qui

doivent les diversifier sont à la seule ini-tiative des établissements et sans corres-pondance entre eux. Au sens propre duterme, il n’y a aucune harmonisation, ninationale, ni a fortiori européenne. Danscette déréglementation, il ne reste quedes éléments formels, 3 ( licence), 5(master), 8 (doctorat). A l’opposé dans lesens des exigences d’ouverture, énoncéesplus haut, le SNESUP développe ses pro-positions du référentiel national pourassurer contenu, cohérence, visibilité,reconnaissance des diplômes, réussite desétudiants. Les références nationales doi-vent constituer la base commune à desformations diversifiées.

En même temps, nous posons la

Maurice Herin, Secretário-Geral do SNESUP-FSU:

"Nous sommes donc à un moment crucial"

DEPOIMENTO

C ’est en avril 2002 qu'ont étéarrêtées les dispositions régle-mentaires mettant en place leLMD (Liccence, Master, Docto-rat) en France. Le SNESUP s’est

opposé à ces dispositions de déréglemen-tation. En effet, l’Enseignement Supéri-eur avait et a besoin de transformationsprofondes mais dans le sens de la démo-cratisation des accès et de la réussite desjeunes; la diversification des formationsen est un élément.

C’est pourquoi nous avons développéet défendu les exigences d’ouverturesscientifique, culturelle, pédagogique,professionnelle, internationales et socia-les pour les formations supérieures.

Ces exigences ont été mises en avantde façon factice dans les discours offici-els, notamment sur le thème «LMD –mobilité».

Ces exigences ont le plus souvent étépartagées par les équipes pédagogiques, lesjustifiant dans leur mise en place du LMD.

D’autres facteurs ont poussé à cettegénéralisation du LMD (à 75% des uni-versités à fin 2004):

- les pressions du Ministère (par lescrédits, les emplois, les habilitations…).

- la crainte pour de nombreux collè-gues de mettre en danger son départe-

Je voudrais me limiter ici à préciser deux points que

j’ai abordé dans mon intervention à votre

importante conférence: les formations supérieures,le LMD, l’espace européen;les luttes et les mouvements

en France, dans la recherche et l’Enseignement

Supérieur.

Maurice Herin

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 11

question des références européennes àconstruire. Les travaux des «groupesTuning», montrent, au niveau européen,la force de cette nécessité. Et l’expéri-ence et le désordre de ces trois années, dedéréglementation montre que cette exi-gence de références fortes et communesest maintenant partagée ou au moins lar-gement comprise. Cette question a unenjeu immédiat et concret: celui de l’ave-nir des étudiants qui y sont engagés, celuide l’avenir du Service Public d’enseigne-ment supérieur et de recherche en Franceet dans l’espace européen. Nous avonsbeaucoup à faire ensemble sur ce plan!

Les luttes

Les luttes ont mobilisé la Commu-nauté scientifique toute l’année 2004.Elles connaissent un nouveau développe-ment en 2005. Elles ont en fait com-mencé en 2003, à l’initiative des syndi-cats, particulièrement les syndicats de laFSU (SNCS et SNESUP). En janvier2004, elles prennent un développementsoudain avec l’initiative des directeursscientifiques de démissionner, à l’impul-sion de l’association «Sauvons la Recher-che» (SLR).

Le SNESUP et l’Intersyndicale s’yassocient rapidement, les jeunes cher-cheurs y participent massivement, lapopulation en soutient les exigences. Le7 avril 2004, le Gouvernement est obligéde céder aux revendications de ce vérita-ble mouvement social, par des créationsde 1000 emplois stables, des crédits debase, pour la recherche publique, l’orga-nisation d’Etats Généraux. Ceux-ci setiennent en octobre 2004, les difficultésqui ont pu surgir entre les syndicats etl’association SLR peuvent être dépasséesen se plaçant sur le terrain du rassemble-ment et de la lutte.

En réaction, le Ministre, le Gouverne-

ment ont lancé en janvier 2005, un projetde Loi opposé aux revendications et pro-positions construites ensemble en 2004.Il est donc décisif que le mouvementlance une nouvelle dynamique de mobili-sation. Les actions nationales du 4 février

et du 9 mars témoignent de la force desexigences symboliques:

- la lutte contre la précarité del’emploi des jeunes chercheurs ;

- les créations d’emplois titulaires,notamment d’enseignants-chercheursdans les universités;

- les crédits de base garantissant ledéveloppement de la recherche fondamen-tale et non les dotations et avantages fis-caux sous contrôle aux entreprises privées.

Nous sommes donc à un moment cru-cial, ou bien la logique libérale et concur-rentielle peut être imposée par le gouver-nement et ce serait catastrophique, oubien le mouvement se renforce et obtientréponse à ses revendications; prise encompte de ses propositions.

C’est donc un affrontement de soci-été, pour la France. Ce sont aussi lesvoies du développement scientifique,social, technologique de l’espaceeuropéen qui sont ainsi interpellées etexplorées. ■

2. Bologna process

Bologna is basically based on princi-ples of merit transfer and not on trade ineducational services between the partici-pating European countries. But the ove-rall goal is to create a European Area ofHigher Education to make Europe morecompetitive to US and Asia (Japan).

The key principle in Europe has beenconvergence rather that harmonisation ofstudies in European Higher Education.

The university teachers are the personi-fications of the connection between tea-ching and research in the day to day life atuniversities and therefore it is of vitalimportance that we are involved in theimplementation at the local level. The pro-cess has to be changes from a top-down toa more bottom-up process where teachersand students are involved at all levels frominstitution over national implementationbodies to the ministerial level in Europe.

We have been involved in the national

follow-up in DK since 2001, where theMinister after returning from the firstMinisterial follow-up conference in Pragueat a national meeting claimed that Euro-pean University Association was recogni-sed as a partner to the Ministers becausethe implementation had to take place attheir institutions, and the students‘ organi-zation ESIB was recognised becausewithout students there would be no studies.I replied that without teachers there wouldbe no teaching and basically no instituti-ons, and after this we got an invitation tojoin the national follow-up process.

3. Trade and GATS

Negotiations are being launchedagain after the break down at the Minis-terial Conference in Cancun, Mexico.There are heavy discussions to createsome preliminary agreements to preventanother break down at the coming Minis-terial Conference in December 2005 in

SUP AO N.º 201JUNHO 200512

Jens Vraa-Jensen / DM, organização sindical de Docentes da Dinamarca:

"Keeping higher educationas a public responsibility

in the interest of the society"

DEPOIMENTO

1. Resent developmentsin Denmark

Denmark is a small country – only 5,2millions inhabitants and 12 universitiesand app. 100 other institutions of highereducation. Only in universities are bothresearch and teaching. Other institutionsare teaching only – but in half of themteaching should be research connected.

New university act - A new act onuniversity governance came into force inJune 2003. It suppresses democraticinfluence from the staff as all collegialbodies are only advisory bodies and allleaders are appointed instead of elected.

There is a board of each universitywith the majority of members comingfrom outside the university.

There is more focus on exchange ofknowledge with industry than on creationof new knowledge by basic research.

There is a reduction of academic free-dom as researchers are limited by the ins-titutional research strategy in their choiceof subject for their research.

(Link to the act in English:h t t p : / / w w w . v i d e n s k a b s m i n i s t e r i e t . d k /

c g i - b i n / t h e m e - l i s t . c g i ? t h e m e _ i d = 1 3 8 2 3 )Insufficient funding - Research in

public research institutions in Denmarkare – like in most other OECD-countries– suffering from insufficient funding.Denmark is still far from the Barcelonagoal on investment of 1% of the GNPfrom public sources to research and 3%of GNP in overall investment. Jokinglywe are talking about a typing mistakebecause it is more likely to reach the goalin 2100 instead of 2010.

Jens Vraa-Jensen

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 13

Hong Kong. A delegation from Educa-tion International had talks with tradeofficials from several both industrialisedand developing countries in Geneva lastmonth to prevent further liberalisation ineducation.

There has been fixed a time limit inMay this year to present new offers andrequests. EU is negotiating on behalf ofthe Member States and is totally closed ontheir next steps and the big fear from edu-cational trade unions is that further libera-lisation in education will be incorporatedin a bigger deal on agriculture etc.

4. Risks of a trade agenda

There are several risks to universitiesand to the university teachers in furthercommercialisation of higher education.The main risks are:

• Reduction of costs• Reduction of Quality• Undermining diversity• Undermining of working conditions• Reduction of academic freedom and

intellectual property rights• Loosing institutional reputation.Cost-reduction to increase the ear-

nings when selling your "product" in amarket-place is a well-known mecha-nism.

The easiest way to reduce the costs ofan educational service will be to reducethe time spend on developing new cour-ses and time for preparation, with instantnegative consequences for the quality.

Another way will be to either reducethe wage-pay or enhance the teachingobligations of the academic staff. Wehave heard examples of American uni-versity teachers who had to answer e-mails from students in the middle of thenight because the students were living onthe opposite side of the globe.

And when high-ranked universitiesare entering the commercial market theaims to reduce the costs will result in areduction of institutional reputationbecause the best teachers will have foundother jobs and the quality of the teachingwill have been reduced.

5. EU-Constitutional Treatyand the Service directive

Education is at the moment definedto be a national competence. All tradematters are EU competence, and there isa clear exemption in the treaty for tradein education, health etc.

This exemption is weaker in the pro-posed Constitutional Treaty, and we cantherefore face a situation, where it is up

to the EU Court of Justice to take finaldecision on the interpretation of theexemption on a case by case basis.

There is also a major debate amongthe European trade unions in education toconvince the decision-making bodies inEU to exempt education from the newService Directive.

If education is not clearly exemptedwe can face a situation in the near futurewhere growing tuition fees (which is amain tendency across Europe) willchange the concept of higher educationfrom a Service of General Interest – SGI,which is not covered by the Directive –to a Service of General Economic Inte-rest – SGEI, which will have to followthe rules for free movement in the inter-nal market and the rules for Country ofOrigin.

European trade unions in educationwill continue to fight for education as apublic responsibility and thereby not tobe included in Directives and other rulesof trading services.

6. UNESCO-OECDGuidelines on cross-borderhigher education

During the last year a working groupwith participation from both UNESCOand OECD has been working to producecommon guidelines for the provision ofcross-border higher education. This couldbe the first step to meet one of the resolu-tions from the last EI World Congress,which asked for a legally binding instru-ment for the protection of high qualityand fair working conditions in cross-bor-der educational activities.

The guidelines proposed are not tobecome legally binding, but they can beseen as the first step to protect both stu-dents and employees against rough provi-ders of higher education.

EI has been invited to participate in

the working group, but our claims formore involvement of teachers in qualityassurance and planning of trans-nationalactivities have in general been overheard.

7. Importance of involvingteachers and theirorganisations

Why is it so important for the futuredevelopment of higher education toinvolve the teachers?

We are working for a sustainabledevelopment which means:

• Reduction of the risks mentionedearlier

• Sustainable implementation of newMinisterial initiatives at the institutionallevel

• Protecting the attractiveness of theprofession

• Developing recruitment and careerperspectives for the academic staff

• Protecting high quality and ethicalbehaviour in research and teaching.

As I have said before, teachers playan important role and we are in manycases the only advocates for keeping hig-her education as a public responsibility inthe interest of the society in the broadestsense and to argue for the relevance tothe society of the profession and to arguefor further professional development ofour members.

8. Future developments

Education International has at thelatest World Congress developed policiesand strategies in relation to the struggleto protect higher education from furthercommercialisation.

There are suggestions for strategies atthe national, regional (European in ourcase), and global level.

The main trend at the moment isunfortunately that the trade agenda isseen by both national governments,regional and global governmental organi-sations as the only solution to all pro-blems in the world.

On this background it is a very up-hill job to argue for keeping higher edu-cation as a public responsibility whichshould not be traded in a global market-place.

We have seen some success over theyears of our efforts, but strong argumentsare needed from all the national tradeunions and their regional and globalorganisations to protect our members andthe profession as a hole from developinginto a role of shopkeepers in a commerci-alised system of higher education.

"Strong arguments are needed from all the

national trade unions andtheir regional and global

organisations to protect ourmembers and the

profession as a hole fromdeveloping into a role

of shopkeepers in a commercialised system of higher education."

SUP AO N.º 201JUNHO 200514

O Sr. Professor foi renomeadocomo Vice-Presidente do ConselhoCientífico e Director-Adjunto para oInstituto Superior Técnico – Tagus-park…

Como se sabe, nos estatutos do Ins-tituto Superior Técnico (IST), nuncahouve uma revisão de fundo que pre-visse a existência de dois campus e oque deverá acontecer com a nova lei daautonomia, pelo que o que existe demomento é uma nomeação do Direc-tor-Adjunto por parte do plenário doConselho Directivo.

O professor tem alguma ideia for-mada para aquela que deve ser a cri-ação de uma direcção para o Insti-tuto Superior Técnico no Taguspark,com órgãos de gestão autónomos?

Há que distinguir entre as questõespolíticas e as questões de gestão maisoperacional. O campus do Taguspark éIST, nós somos uma escola única. Doponto de vista de política de ensino,temos sempre que ter um ConselhoDirectivo único da escola, um ConselhoPedagógico único da escola, assimcomo os órgãos que tiverem de vir a sercriados. Do ponto de vista operacional,a situação é diferente e isso já foi con-versado informalmente. A ideia é criaruma estrutura de direcção com muitaautonomia e que de alguma forma jáexiste, porque com a recente estrutura-

ção que houve a nível do técnico, ascompetências que ainda não tínhamos,passámos a ter e isso dará origem a umareestruturação dos serviços no Tagus-park, como por exemplo a contrataçãode outras pessoas. A única coisa quetemos de respeitar é os procedimentosglobais do técnico, nomeadamente, otrajecto escolar dos estudantes que éúnico, pelo que haverá apenas uma basede dados de inscritos no IST e qualqueraluno poderá transferir-se de um cursodo Taguspark para um cursa na Ala-meda e vice-versa, Temo portanto, cadavez mais autonomia.

O que acha de o lST-Tagusparkpoder vir a ter uma representaçãodos estudantes, docentes e nãodocentes em conselho directivo?

Neste momento não tem e pensoque era muito útil o Taguspark passar ater uma representação formal em Con-selho Directivo.

Graças à actual lei da autonomia,o facto de 2/3 do corpo de alunos daAR ter votado em branco, impediu areeleição em primeira volta do pro-fessor Carlos Matos Ferreira, noprocesso eleitoral em 30 Novembro.Acha que, tal como o Sr. Prof. Car-los Matos Ferreira defende (entre-vista Jornal Negócios), os estudantestêm um papel demasiado "pesado",

ENTREVISTA

Professor Guilherme Arroz à conversa com a revista da AE do Instituto Superior Técnico:

O Taguspark, o futuro do IST

e Bolonha

Guilherme Arroz, ProfessorAssociado do Instituto

Superior Técnico, renomeado recentementecomo Director-Adjuntopara o IST – Taguspark,

fala desta estrutura, do futuro do Instituto e também dos desafios

de Bolonha.

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 15

no que diz respeito à tomada de deci-são, nos órgãos de gestão?

Já tive ocasião de dizer vár iasvezes, em Assembleia de Representan-tes que os alunos tiveram muita forçanesta escola quando não estavam nosórgãos de gestão, em grupo que lutoupelos seus interesses. Já por váriasvezes dei o exemplo que enquanto fuidelegado de curso estivemos um ano emeio de greve a uma cadeira e ganhá-mos. Portanto, a força que os estudan-tes têm na orientação da escola nãopassa necessariamente por estarem nosórgãos de gestão. Acho que o facto deestarem representados nos órgãos degestão, adormeceu muito a capacidadereivindicativa em relação a coisas quese passam na escola e que os estudan-tes deviam ter um papel mais activo decontestação, porque estão comprometi-dos com a gestão ou porque as coisasacabam por ficar embrulhadas dentrodos órgãos de gestão e tal como acon-tece com os professores, as competên-cias não são de órgão nenhum, as coi-sas passam de órgão em órgão e osestudantes acabam por não conseguirresolver coisa nenhuma, com a estru-tura de órgãos existente. (...)

Também é conhecido, que acho queos professores não devem ter o podertodo dentro das escolas, tal como diziaAlfredo Bensaúde nas suas notas histó-rico-pedagógicas sobre o IST.

Então acha que, ao haver maisrepresentação dos estudantes nosórgãos de gestão, se adormeceu todoo movimento estudantil?

Acho. Sem querer transmitir qual-quer aspecto pejorativo, os estudantesacomodaram-se nos órgãos de gestão,começaram a ser embrulhados nosdetalhes do dia-a-dia e deixaram de sepreocupar com as questões básicas efulcrais daquele que deve ser o movi-mento estudantil.

O professor defende que existeuma participação excessiva dos estu-dantes nos órgãos da gestão, defendeentão uma redução ou a sua extinção?

A participação dos estudantes nosórgãos de gestão deve existir. Defendo,portanto uma redução.

Sendo o Taguspark um pólo tec-nológico constituído por empresascom cerca de 80% de licenciados,mestrados e doutorados nos seusquadros, acha que o desenvolvi-

mento tecnológico do país poderá sercondicionado pelo desenvolvimentodeste parque, já sendo este uma refe-rência nacional?

O Taguspark constitui uma peçamuito importante na evolução tecnoló-gica do país. Nós temos aqui algumasempresas muito boas no parque, aautarquia e a sociedade gestora doTaguspark souberam criar um ambi-ente de incentivo ao desenvolvimentode empresas de alta tecnologia. Nóstemos aqui algumas empresas multina-cionais que se instalaram aqui porperto e o facto de estas empresas esta-rem perto umas das outras é importanteporque cria uma rede efectiva, não umarede formal, mas uma rede efectiva,seja porque as pessoas se encontram àhora de almoço nos restaurantes, ouporque realizam reuniões

juntas, faz com que as parcerias surjammais facilmente pois será sempre maisfácil criar uma parceria com umaempresa que está mais perto. É evi-dente que existem outras boas empre-sas tecnológicas , mas acho que oTaguspark foi uma maneira de se fazeralgo por esta região onde provavel-mente se encontra a maior concentra-ção de empresas de tecnologia avan-çada, o que tem uma vantagem signifi-cativa porque se torna um motor dopaís. Para que haja uma maior capaci-dade de interacção entre o IST e asempresas, decidiu-se apostar na criaçãodesta escola aqui no Taguspark. Nestemomento, tem havido muitas reuniõesentre empresas e o IST, o LEM (Labo-ratório de Excelência e Mobilidade),que é uma estrutura "chapéu-de-chuva"de projectos de investigação com liga-ção às empresas e portanto, com a pre-ocupação da inovação na sua base,

outras são os portfólios através dosquais estamos a tentar contactar comalgumas empresas e isso irá desenvol-ver-se cada vez mais.

Como é que o Sr. Professor vê aposição do IST no Taguspark?

Eu vejo esta evolução positiva-mente. Se compararmos o que existehoje com o que existia no ano 2000 ecom os projectos que temos para daquia alguns anos, verificamos que existeuma trajectória que tem vindo a melho-rar, tanto no número de alunos comona diversidade das licenciaturas queestão aqui, na presença cada vez maiorde docentes aqui instalados, nas activi-dades de investigação que também paraaqui vêm porque interessam aos estu-dantes porque nos anos terminais delicenciatura e os estudantes de mes-trado, permitem que eles tenham umaligação mais efectiva com áreas dosaber que estão em desenvolvimentonesta altura e desse ponto de vista aescola e o campus têm evoluído muitopositivamente.

Com o financiamento garantidocom a assinatura do contrato de desen-volvimento, entre o Estado português eo técnico, vamos agora prosseguir ocrescimento com qualidade e temos jáprevista a criação de uma licenciaturade Engenharia Bio-Molecular e Nano-Tecnologias, o nome poderá variar,mas será sempre relacionado commicro electrónica e informática. Eraalgo que o M.l.T. andava muito interes-sado em fazer e que começa agora afazer. Já não estamos, portanto, a 30anos de distância do MIT, começamosagora a pensar nas mesmas coisas, parafazer daqui a cerca de 5 anos. Estalicenciatura deve arrancar daqui a 2 ou3 anos, dependendo da construção dosnovos módulos.

O que o IST está a fazer no Tagus-park é um esforço muito significativo.Claro que temos alguns problemas,como o dos transportes e que afastamos estudantes para a Alameda, sobre-tudo os que moram em Lisboa. Tere-mos uma residência universitária comumas dezenas de camas, em 2007, queficará perto, mas fora do campus, poisas grandes orientações dizem que asresidências devem ficar fora do campuspois os estudantes devem ter capaci-dade para pensar noutras coisas quandosaem da faculdade, mas ficará a umadistância que dê para vir a pé e issopermitirá crescer e desenvolver. ➔

Em 2009/2010 estão previstos 2900alunos no Taguspark, não haveráuma redução de 1900 alunos...

Temos cerca de 1000 alunos noTaguspark, pelo que em 2009/2010teremos mais 1000 alunos de gradua-ção e cerca de 900 em pós-graduação.No que diz respeito às pós-graduações,nomeadamente, mestrados, ainda estátudo em aberto com a questão da decla-ração de Bolonha e é de admitir quemuitas dessas pós-graduações venhama ser feitas por pessoas que já estejam atrabalhar e que venham fazer mestradomais tarde, como é tradicional em mui-tos países europeus e nos EUA. Por-tanto, o peso que esses estudantesrepresentam em termos de espaço ocu-pado e recursos consumidos, é bastantemais limitado do que aquilo que é hojeum estudante de licenciatura. (...)

Neste momento, não é possívelgarantir que estejam 2900 estudantes aestudar no Taguspark. Apenas poderiagarantir isso, se as regras de funciona-mento se mantivessem em vigor, o quenão acontecerá, com alteração de fun-cionamento das licenciaturas, impostapela declaração de Bolonha.

Mesmo assim, teremos mais dedois mil estudantes no IST-Tagus-park em 2009. Acha que o universoempresarial, no qual o IST está inse-rido, será suficiente para toda a pro-cura de emprego que isto originará?

Quando pensamos que o Tagusparkse vai alargar para o outro lado daestrada, está em estudo o desenvolvi-mento de novos edifícios, quando pen-samos na zona de Oeiras em geral, pelaexistência de diversos outros parquesempresariais, eu não tenho medo defalta de empresas, porque desde queconsigamos desenvolver e manter umalinha de crescimento, quer na indústria,quer na formação, teremos sempre amelhor taxa de emprego em empresasde alta tecnologia da área de Lisboa.

Tendo a realização do projectoTaguspark partido de premissas,como a empregabilidade e relaçãocom as empresas, será que a declara-ção de Bolonha poderá fazer comque o Instituto Superior Técnico,nomeadamente o Taguspark sejauma facilidade muito forte numespaço europeu de ensino?

Estaremos muito bem colocadospara oferecer algo que já se faz noutroslocais da Europa, que é oferecer uma

formação complementar em que osestudantes têm parte da sua actividadeacadémica nas empresas. É algo quegostaria de ver acontecer no Tagus-park, mas acho que há demasiadas car-tas em jogo para se avançar já e deve-mos deixar vir a reestruturação e aimplementação do processo de Bolo-nha. Acho que há, no entanto, umavantagem nossa em relação a outrasuniversidades.

O IST tem defendido que os cur-sos de engenharia não deveriam vero seu 1º ciclo de ensino reduzido de 5para 4 ou 3 anos. Isto deve-se a umaincerteza sobre o financiamento do2º ciclo, ou devido a uma reestrutu-ração que poderá levar a uma for-mação incompleta?

O documento publicado pelo téc-nico aceita os 2 ciclos, mas em muitasengenharias a capacidade para exercercomo engenheiro é apenas conseguidarecorrendo aos 5 anos de ensino. OTécnico não está contra a criação do 1°ciclo de ensino cujo título será qualquercoisa como Bacharel em Ciências Bási-cas de Engenharia. Isto irá fazer comque a empregabilidade seja apenas poraquilo que o estudante aprendeu doponto de vista de disciplina mental, masnão será uma pessoa com formaçãopara sair e aplicar novas tecnologias.

Quanto a uma formação pelo 1°ciclo e 2º ciclo, o Técnico e as outrasuniversidades irão evoluir bastante deacordo com o comportamento dos estu-dantes e do mercado de trabalho. É evi-dente para mim que precisamos de terescolas capazes de formar estudantesde elite, capazes de ir para o terreno ecriar coisas inovadoras. (...) Muitosestudantes têm a vontade de ir traba-lhar ao fim de 3 anos, depois voltar àescola e aprender mais, depois voltar atrabalhar e então mais tarde voltar aestudar, portanto existe caminho paraos dois ciclos de formação.

Em países como Portugal e tipica-mente do sul, existe uma certa rivali-dade entre os engenheiros técnicos for-mados por escolas politécnicas e osengenheiros formados em escolas uni-versitárias. Numa reunião em Bruxelas,assisti a insultos em público entre estesdois tipos de institutos em reuniões.

Este problema não exis te emFrança, Alemanha ou em países nórdi-cos. Na Alemanha existem os doistipos de formação e coexistem perfeita-mente. A declaração de Bolonha,

deverá aproximar estes dois tipos deensino e instituições, mas o futurosobre isto será sempre uma incógnita.

A declaração de Bolonha foi base-ada num estudo em que a nível euro-peu, verificou-se que existia algumdinheiro a ser desperdiçado, pela partede muitos governos, em excesso de for-mação com algumas pessoas que nãonecessitavam desta formação. A ques-tão da procura pela rentabilização doensino superior vem, de facto, desde oinício da declaração de Bolonha.

Se pensarmos no que muitos dosestudantes universitários irão fazer nasua vida profissional, poderemos estara desperdiçar recursos com uma forma-ção tão longa para tantos estudantes. Oque acaba por envenenar tudo isto, éque com isto, alguns governos inclu-indo o nosso, poderão estar a usar esseargumento para financiar apenas o pri-meiro ciclo, ou para o sub-financiarainda mais, assim como ao segundociclo. Isto é mau, pois isto significa umpagamento integral da propina pelaparte dos estudantes, o que acaba porcriar um factor de selecção adicionalpara os estudantes que querem entrarno 2º ciclo de formação. Para a própriaescola, também significaria uma dimi-nuição de alunos, bem como uma redu-ção elevada no seu orçamento e pode-ria tornar-se insustentável. De facto, aquestão do financiamento de Bolonha éimportante, mas em muitas escolasestá-se a perder muito tempo com estadiscussão, sem pensar em muitosoutros problemas que poderão existir,tal como a utilidade deste projecto.

O ano 2010 não é um prazo curtopara a implementação?

Em Portugal tem havido algumatraso, que não é culpa da declaraçãode Bolonha e sim de Portugal que temo hábito de fazer tudo em "cima do joe-lho" e que acaba por conseguir imple-mentar tudo, mas sempre no últimomomento. Outras universidades emvários países europeus já implementa-ram um sistema que caminha paraBolonha. Seria bom que houvesse maistrabalho feito, existem algumas escolasmais avançadas e outras escolas queestão a esperar pelas que estão pelalinha da frente. Penso que dentro de 2,3 anos poderá ser possível ter o sistemaimplementado. (…)

A declaração de Bolonha vemalterar os dois sistemas, implicando

SUP AO N.º 201JUNHO 200516

uma convergência para um só sis-tema?

A declaração de Bolonha permite aexistência dual de sistemas, pelo quepoderá haver essa convergência ounão. O que existirá, de certeza, é umciclo que terminará ao fim de 3 anos.Já tive a oportunidade de falar pordiversas vezes com Alemães e Holan-deses, onde existem sistemas duais, osquais acham que os sistemas acabarãopor convergir num só sistema, mas sãoapenas especulações.

Mas esta não é a ideia principalda declaração de Bolonha?

Não. A ideia principal da declara-ção de Bolonha passa, desde o inicio,pela compatibilização e transformaçãodos sistemas existentes no espaço euro-peu, de forma a que dentro da Europaseja possível a mobilidade real exis-tente na vida futura dos estudantes.Quando olhamos para os EUA, pode-mos verificar um sistema de funciona-mento facilmente decifrável e atrac-tivo, contrário do que acontecia naEuropa em que existiam variados siste-mas, pelo que tudo era muito confuso.

A Europa tem o mesmo problemaque os EUA que se rege pela falta deestudantes em áreas de altas tecnolo-gias e precisamos de crescer a essenível. Se não conseguimos ter candida-tos suficientes para colmatar esta falhade candidatos, teremos que nos tornaratractivos para o exterior e isso conse-gue-se inicialmente com a criação deum sistema transparente e perceptível.

A avaliação dos docentes tem sidoalgo muito discutido ultimamente eque os estudantes reivindicam. Oque acha acerca da aplicação de umaavaliação pedagógica de docentes?

Estou de acordo que é necessáriofazer algo nesse sentido. Não estou deacordo com a separação ensino-investi-gação, pois existam pessoas muito boasnas duas áreas e pessoas fracas para asduas áreas. Existe neste momento umnúmero reduzido de lugares de quadro,o que pela estrutura e concursos da car-reira docente, privilegia-se, de facto,fundamentalmente as actividades deinvestigação e isso leva a que o traba-lho pedagógico de um docente sejacondicionado pelo empenho na área deinvestigação científica.

Em certas situações, desenvolvem--se cadeiras que interessam a um grupode docentes que querem evoluir nas

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 17

suas carreiras científicas, mais do queestar assentes em estudos reais queexplicitam a necessidade de um alunoter essas cadeias.

É cada vez mais difícil encontrarequipas que estejam interessadas nobom funcionamento das escolas ,devido a, hoje em dia, os docentes esta-rem muito mais voltados para a suacarreira científica por perceberem queo esforço dispendido no funcionamentoda escola não tem nenhuma recom-pensa quando chega a altura do con-curso para o grau seguinte da carreira,o que é mau. A avaliação pedagógicados docentes pode ajudar, mas nãoresolve. O docente deve ser avaliadonum aspecto mais global, exceptuandoalguns casos, os quais muitas das vezesse resolvem de outra forma. A univer-sidade deve olhar para os seus quadrosde uma forma mais integrada e nãoapenas para os aspectos menos científi-cos. Há 30 anos atrás, era muitopequena a actividade científica, peloque foi multo importante a aposta eminvestigação científica, mas acho queestá na altura de olharmos para isto de

forma a equilibrar as funções de umauniversidade e dar mais relevo às ques-tões ligadas à gestão e ao ensino.

Concorda com os cursos pedagó-gicos, financiados pelo IST, paradocentes?

Existem já alguns cursos, promovi-dos pela Universidade Técnica de Lis-boa, que ensinam alguns aspectos téc-nicos que são importantes. Não meparece que haja financiamento do ISTpara isso. Quanto a desviar algumdinheiro dos Projectos de Melhoria daQualidade do Ensino financiados pelaspropinas de licenciatura para isso, nãome parece que venha a ter resultadosefectivos, uma vez que esses cursos jáexistem. A dificuldade é estimular osprofessores, nomeadamente os maisnovos para que os frequentem, no sen-tido de conseguirem aprender algumastécnicas importantes de comunicaçãocom os alunos. (...)

In Revista AE do IST, ano 4, nº 10, Abril 2005

Questões relacionadas com a presença do Instituto Superior Técnico no TagusPark e outras matérias como Bolonha, são abordadas pelo Professor GuilhermeArroz na entrevista que publicamos nestas páginas

SUP AO N.º 201JUNHO 200518

1. O Financiamentoe a Aplicação do Processode Bolonha

A aplicação do Processo de Bolo-nha encontra-se inquinada pela fortedesconfiança das instituições de queserá aproveitada para reduzir a respon-sabilidade do Estado pelo financia-mento do Ensino Superior. De facto, aorientação do Governo anterior era ade forçar a duração do 1º ciclo o maispossível a ser de 3 anos (exceptuandoos casos de formações destinadas aoexercício de profissões regulamenta-das), o que, apesar das tentativas daMinistra para tranquilizar as institui-ções de ensino superior, levou a que secriasse a convicção de que iriam serexigidas aos alunos propinas de mes-trado (hoje de montantes muito eleva-dos - da ordem do custo real) se dese-jassem frequentar o 2º ciclo. Como este2º ciclo irá ter, em muitos casos, gran-des sobreposições com os anos termi-nais das actuais licenciaturas, no que serefere a objectivos formativos, umasituação destas corresponderia a trans-ferir para os estudantes e para as suasfamílias os custos daquilo que hoje oEstado já suporta.

A este respeito, o Programa doGoverno, apesar de referir que "as uni-versidades e os politécnicos terão agarantia de que a passagem para umaestrutura em dois ciclos de estudos nãorepresentará, por si só, diminuição dofuncionamento público disponível",

deixa algumas dúvidas porque maisadiante refere o compromisso de "nãoaumentar, a preços constantes, o valordas propinas de frequência do primeirociclo e adequar o valor das propinas ànova natureza do 2º ciclo".

Uma leitura benevolente deste com-promisso pode levar a concluir-se queas propinas do 2º ciclo serão tais que oscustos acrescidos que provenham deuma procura do 2º ciclo superioràquela que actualmente se verifica nosmestrados serão pagos pelos estudantese pelas suas famílias, através de propi-nas mais elevadas do que as do 1ºciclo, mas ainda assim mais baixas doque as actualmente praticadas nos mes-trados. Isto é, as "poupanças" feitascom a redução da duração dos cursosde licenciatura serviriam para financiaruma redução das propinas no 2º ciclo,relativamente às hoje em vigor nosmestrados.

Ora, se esta é a proposta doGoverno - e conviria que houvesseuma clarificação - ela não se coadunacom a necessidade de alargar e demo-cratizar o acesso ao 2º ciclo, pois a ele-vação do valor das propinas na passa-gem do 1º para o 2º ciclo irá afastarmuitos alunos do prosseguimento dosestudos.

É, aliás, interessante verificar queBolonha acentua a sequência: 1º, 2ºciclo - e não licenciatura, mestrado -com a ideia de que o 2º ciclo completao 1º. Portanto, um estudante, logo apóster terminado o 1º ciclo, ou depois de

algum tempo a trabalhar, irá frequentaro 2º ciclo, eventualmente noutra insti-tuição do país ou do estrangeiro.

A Declaração de Bolonha apontaassim claramente no sentido do acen-tuar a tendência para a universalizaçãodo acesso ao ensino superior, tanto noque se refere ao 1º ciclo, como, especi-almente, ao 2º ciclo de estudos. Estedesiderato, conforme aos objectivos da"Estratégia de Lisboa", é fundamentalpara a elevação da qualificação danossa população activa e para o desen-volvimento cultural, social e econó-mico sustentável do país. Ele não seráatingível sem que o Estado se respon-sabilize pelo financiamento do EnsinoSuperior Público, em particular pelosdois ciclos de estudos, sob pena de seacentuarem os efeitos muito negativos,já denunciados por responsáveis dasinstituições, de que o aumento das pro-pinas, concretizado pelo 1º GovernoPSD/PP, levou milhares de alunos aabandonarem os seus estudos, ou aterem que passar à situação de estudan-tes-trabalhadores.

Uma importante questão, relativa-mente à qual não há qualquer compro-misso no Programa do Governo, é a dadesejável eliminação do conteúdo doPrograma de Estabilidade e Cresci-mento, que o Governo terá que apre-sentar em Bruxelas no próximo mês deMaio, da cláusula que afirma que nãohaverá, até 2007, qualquer aumentonominal de f inanciamento para oensino superior. Esta limitação, a per-

4 comentários ao Programa do Governo

Ensino Superior e Investigação: Que caminhos?

Prof. João Cunha Serra*

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 19

sistir, levantará as mais sérias dúvidassobre o efectivo empenho do Governoneste sector estratégico para o desen-volvimento do país, pois significará acerteza do prosseguimento de umaacentuada redução em termos reais dosrecursos disponíveis.

Ainda quanto a Bolonha, anote-secomo potencialmente muito positiva aposição expressa no Programa de queserá seguido "o modelo de organizaçãopor ciclos, com um primeiro ciclo deestudos de duração não inferior a seissemestres". Se isto significar que oGoverno não irá forçar as instituições areduzirem a duração dos seus cursos delicenciatura, obrigando-as a uniformi-zar essa duração ao mínimo propostopor Bolonha (3 anos), independente-mente das necessidades impostas pelosobjectivos culturais, científicos e pro-fissionais das formações (definidoscom audição de representantes da soci-edade nelas interessados), e das limita-ções da formação com que os alunosingressam do secundário, então estare-mos no bom caminho. O SPGL e aFENPROF têm vindo a bater-se porisso e continuarão a fazê-lo.

2. A Qualidade e o Futurodo Sistema de EnsinoSuperior

É positivo que no Programa doGoverno tenha caído o entusiasmo apo-logético que transparecia no Programado PS quanto ao sistema binário (uni-versidades/politécnicos): "O PS é favo-rável ao sistema binário". O Programaafirma uma posição que se aproximamuito da posição que o SPGL e a FEN-PROF têm defendido, ao referir valori-zar "a articulação entre instituiçõescom missões distintas e funções diver-sificadas", e ao defender que "a coexis-tência de formações e ambientes deensino e pesquisa de perf il típicodaqueles tradicionalmente associados auniversidades e de perfil tradicional-mente associado a politécnicos consti-tui uma riqueza de que não devemosabdicar". O Programa refere logodepois: "mas isso deve ser conseguidogarantindo o relacionamento maisestreito entre os subsistemas universi-tário e politécnico, valorizando a exce-lência em ambos", o que pode ser umaforma mitigada de o Governo dizer quepretende perpetuar a existência e aseparação dos subsistemas, emboracom um relacionamento mais estreito,

orientação que difere da que o SPGL ea FENPROF têm defendido, não noque concerne à cooperação institucio-nal que têm advogado e às exigênciasda sua qualidade, mas no que se refereà proposta que de há muito fazem de secaminhar para um sistema integrado ediversificado.

Deve registar-se, no entanto, comoespecialmente positivo, aquilo que sediz imediatamente a seguir: "Em parti-cular, a possibilidade de concessão degraus deixará de estar fixada por crité-rios unicamente administrativos, parapassar a depender da satisfação derequisitos, exigentes e comuns, de qua-lidade".

Este compromisso coincide comaquilo que a FENPROF vem recla-mando há muito. Resta saber se oGoverno vai ou não atribuir condiçõesde igualdade de oportunidades,designadamente no que se refere afinanciamento, às instituições universi-tárias e politécnicas, para se desenvol-verem com qualidade e relevânciasocial acrescidas.

É fundamental que seja posta emprática uma política de discriminaçãopositiva e de incentivos à qualidade,baseada em processos transparentes deprestação de contas e de avaliação comcritérios adequados e amplamente par-tilhados.

Quanto ao Ensino Superior Particu-lar e Cooperativo (ESPC), o Programado Governo é substancialmenteomisso. Para além da ideia geral deapoio a iniciativas privadas no ensinosuperior, surge apenas a afirmação deque "o Ministério da tutela deve zelarpelo cumprimento dos requisitos dequalidade para cursos e instituições eda responsabilidade própria das insti-tuições privadas face aos seus alunos".Espera-se que esta afirmação de cum-primento das funções de regulação que,note-se, se deve aplicar igualmente aoEnsino Superior Público, seja paralevar a sério e não persista a atitude deomissão que na prática tem represen-tado cumplicidade para com a falta dequalidade e para com inúmeros atrope-los à legalidade que se têm verificado.

3. A Situação Profissionaldos Docentes

Regista-se como muito negativo ofacto de nada se referir quanto ao corpodocente do ensino particular e coopera-tivo que continua a ser tratado de

forma prepotente e indigna por muitasentidades instituidoras do ESPC. OPrograma nada adianta quanto às exi-gências que o SPGL e a FENPROFtêm apresentado relativamente à exis-tência em todas as instituições de cor-pos docentes próprios, adequadamentequalificados, com uma carreira docenteparalela à dos docentes do EnsinoSuperior Público (exigência da próprialei que não é cumprida) e com condi-ções dignas de contratação e de vincu-lação estável. Sem que estas exigênciassejam contempladas é ilusório falar-sede que se vai "zelar pelo cumprimentodos requisitos de qualidade".

No Ensino Superior Público, o Pro-grama, embora refira a intenção derever os estatutos de carreira com oobjectivo de "estabelecer um únicoestatuto que acolha perfis docentesdiversificados, mas com equivalênciano topo da carreira, que premeie o bomdesempenho em todas as dimensões daprofissão docente e que facilite a mobi-lidade entre os diversos perfis e insti-tuições, entre carreiras docente e deinvestigação e entre carreiras académi-cas e actividades profissionais fora doensino", nada aponta para a correcçãodos graves problemas da precariedadede emprego e do estrangulamento dosquadros.

Quanto à valorização nas carreirasdocentes da vertente pedagógica essatem sido também uma proposta defen-dida pelo SPGL e pela FENPROF.

4. A Ciência e a Investigação

Quanto à ciência e à investigação,sector onde surgem os compromissosmais quantificados, o Programa é bas-tante ambicioso no que se refere ainvestimento, a crescimento do númerode doutorados e a aumento do empregocientífico, sendo por isso positivo.

Fica contudo a dúvida sobre se odesenvolvimento económico e socialdo país vai permitir alcançar as metasque dele dependem e que se inserem naconcretização da "Estratégia de Lis -boa", mesmo já depois da redução quelevou na sua inicial ambição. A esterespeito, não será apenas o MCIES queficará sob escrutínio, mas o Governocomo um todo.

* Coordenador do Departamento do Ensino Superior.

Membro do SN da FENPROF

l isar, asq u e s t õ e sda ciênciae tecnolo-gia, o pro-g r a m ac o m e ç apor referiros nossosv a l o r e smuito bai-xos de in-

vestimento em actividades de Investi-gação e Desenvolvimento (I&D), quenos coloca no último lugar europeu.

O nosso país investe 0,8% do PIBcontra 1,8% da média europeia, sendoa parte pública apenas 0,55%.

Compromissos assumidos

Definem-se então as metas para alegislatura e um conjunto de orientaçõespara a sua obtenção, mais ou menosconsensuais, como a promoção da edu-cação e da cultura científica, o incentivoda investigação científica em consór-cios, redes e programas, a cooperaçãointernacional ou o recurso a contratos deserviço público com Laboratórios deEstado e Laboratórios Associados.

Destacamos entre os compromissosassumidos e quantificados para os pró-ximos quatro anos:

- Duplicar o investimento públicoem I&D, de forma a que atinja 1% doPIB;

- Fazer crescer em 50% os recursoshumanos em I&D;

- Triplicar o esforço privado emI&D que actualmente não ultrapassa0,26% do PIB.

São metas absolutamente necessá-rias para recuperar o atraso nacional donosso sistema científico e tecnológiconacional e não são objectivos particu-larmente ambiciosos e impossíveis desatisfazer. Devemos porém referir duasdificuldades particulares a superar:

- Elevar o esforço privado em I&Dexigirá arte, imaginação e persistência;

- A elevação do esforço públicoexigirá a mobilização de recursos doquadro comunitário que não são com-patíveis com projectos megalómanos,como a alta velocidade, mas apadrinha-dos por poderosos grupos de interesses,como neste caso o da construção civil.

* Coordenador do Departamento do Ensino Superior do SPRC

Depois de referir questões gené-ricas como a necessidade deconfiança e a importância deaproveitar o quadro europeu, oprograma desenvolve quatro

temas do Plano Tecnológico para pro-mover o desenvolvimento.

A necessidade de recuperar o atrasona utilização das Tecnologias da Infor-mação e da Comunicação na sociedadeportuguesa em geral, a importância defomentar a inovação no sistema econó-mico, vencer o atraso científico e tec-nológico e promover a formação e qua-lificação da nossa população.

Os temas são geralmente introdu-zido com índices comparativos donosso país com os países da UniãoEuropeia ou da OCDE publicados emestudos mais ou menos recentes econhecidos e que dão conta do nossoatraso geral no contexto europeu e dospaíses desenvolvidos.

Assim, no tema que queremos ana-

SUP AO N.º 201JUNHO 200520

EM FOCO

O Sistema Científico e Tecnológico Nacional

no Programa do Governo

Prof. Nuno F. Rilo*

Com uma coerência própria, o Programa doGoverno apresenta as questões científicas

e tecnológicas num pontodesignado "Vencer o atraso

científico e tecnológico"integrado no sub-capítulo

"Um plano tecnológico para uma agenda de

crescimento" e no primeirocapítulo "Uma estratégia

de crescimento para a próxima década".

O Sistema Científico e Tecnológico Nacional

no Programa do Governo

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 21

Hoje , as Universidades e osPolitécnicos (daqui em diantequando se falar de Universida-des incluem-se os Politécni-cos, excepto quando houver

necessidade de fazer a distinção) estãoperante um desafio que não é fácil deresolver. Os governos, e não só emPortugal, não têm dinheiro que permitaum funcionamento condigno das insti-tuições e encontram todos os meiospossíveis para justificar o recurso aochamado "empresarialismo" das insti-tuições. A adopção de metodologias degestão empresarial não me parece umdisparate. Sê-lo-á se as instituiçõesficarem sujeitas ao mercado como tal,pois, nesse caso, em vez de terem opatrão Estado têm o patrão Mercado, oque não faz o mínimo sentido, e até osempresários de olhos mais abertos sãocontra esse quadro… O próprio Gio-vanni Agnelli já, em 1989, alertou paraa necessidade de manter a independên-cia das Universidades e o espírito deliberdade que nelas se vive.

O maior problema que existe emPortugal, num momento em que osmeios escasseiam e importa que sepasse à prática a já muito "matraque-ada" interacção Universidade/Empresa,é o divórcio que, de facto, existe entreos dois sectores. Nenhuma das partesse tem empenhado em fazer muitascedências, estando os resultados àvista. Há, contudo, bons exemplos de

colaboração que deveriam ser seguidose incentivados. E neste último caso, osGovernos têm o dever de criar incen-tivos reais para tornar estas parceriasmais frequentes e efectivas. Importanão esquecer que Portugal é um Paísem que o tecido empresarial consiste,na sua maioria, por PME’s, o queimplica que os referidos incentivos sãoessenciais para uma maior ligação daUniversidade com o meio empresarial.

O que os Governos (de todos ospaíses), cinicamente, argumentam parajustificar a falta de financiamento é amá gestão das Instituições, a que deramautonomia, como forma de se desres-ponsabilizarem, não reconhecendo quea massificação existiu, e que as exigên-cias de outros sectores sociais, como asaúde, os sistemas de previdênciasocial, entre outros, são cada vez maisdeficitários e exigem que eles (gover-nos) prestem contas das verbas gastascom a Educação. Não se deve esquecera introdução das muito apreciadas fór-mulas de financiamento das institui-ções (pela transparência que intro-duzem no s is tema), inicialmentebaseadas unicamente no número dealunos, mas hoje já reconhecidamente,e bem, necessitadas de ter em conta asua produção anual de licenciados, asua produção científica e outros ele-mentos que dão conta do seu desem-penho. Daí a necessidade de introduçãoda avaliação, não com objectivo

Depoimentos recolhidos nas Audições promovidas

pela FENPROF

Prof. V. Meira SoaresEx-Reitor da Univ. de Lisboa

“Será que os políticoseuropeus ainda não perceberam que a

verdadeira integração não se faz por Declarações

ou Directivas?”

Parece ponto assente que asUniversidades têm um papelfundamental na formação de

pessoas que já se encontram navida activa e a ela pretendem

recorrer para actualizar os seus conhecimentos ou, até,

procurar novos graus que sãoimportantes para a sua

actividade profissional ou paraa sua progressão na carreira.Esta é uma das missões que

compete a uma Instituição deEnsino Superior. Mas estarão

estas preparadas para, ao seremprocuradas por uma destas

pessoas, creditarem parte dasua experiência profissional?

A interrogação é do ProfessorVirgílio Meira Soares, antigo

reitor da Universidade de Lisboa, e foi colocada numa das

audições realizadas pela FENPROF no âmbito da

actividade preparatória da Conferência Nacional do Ensino

Superior e da Investigação.Recorde-se que tanto nessasaudições como depois num

colóquio e na própria conferência participaram

destacadas personalidades dosmeios académicos e científicos

do País. Deixamos à apreciação dos nossos leitores algumas dasreflexões do Professor MeiraSoares sobre a actualidade, as perspectivas e os desafiosque se colocam ao ensino

superior em Portugal, abordadasnaquele interessante

depoimento.

SUP AO N.º 201JUNHO 200522

único de melhoria, mas como meio deprestação de contas e de "punição", equase nunca de incentivos para melho-rias. A verdade é que, mesmo com fór-mulas claras para financiar as institui-ções, os orçamentos já não chegam.Incapazes de explicar os gastos,exigem então maior "eficiência", ten-tando demonstrar que os cortes orça-mentais não diminuem a qualidade (oque em muitos casos é verdadeiro).Porém, ultrapassados certos limites noscortes, há que encontrar um bode expi-atório. E esses são a autonomia que asinstituições têm, a eleição dos diri-gentes máximos pela comunidadeacadémica, a democracia interna dasinstituições. Neste momento tudo issopode estar em perigo.

O sistema nos Estados Unidos

Surgem, por isso, vozes que apoiamo sistema existente nos EstadosUnidos, em que os reitores são nomea-dos por um Board of Trustees, sendoperante ele responsável. A transposiçãodesse modelo para a Europa já está acomeçar a ter os seus seguidores entreos governos mas a avaliação dessasmedidas, já concretizadas em algunspaíses, ainda está para ser feita, nãoparecendo, porém, ser um modelo bemaceite pela maioria das instituições,para além de nada provar que a ditacapacidade de gestão venha a melhorarcom o modelo. Parece que interessamais controlar indirectamente as insti-tuições, através do tal Board, do quegarantir um ensino e uma investigaçãomais consentâneos com as tradicionaismissões da Universidade. Quer passar--se da obsoleta torre de marfim para aempresarialização das instituições, ver-gando-as a interesses a que não podemser alheias, mas que não podem ser osexclusivos nem sequer os maioritários.As Universidades sempre foram locaisque desenvolvem investigação nasfronteiras do conhecimento, o queimplica uma liberdade de investigaçãoque não se compadece com investi-gação exclusivamente direccionadapara fins lucrativos/empresariais. Estaposição não pode, contudo, ser confun-dida com o divórcio entre Universidadee a Sociedade em que vive pois ela temuma responsabilidade pública e socialque não pode ser descartada em nomeda tão abusada liberdade académica.

Em todo este processo de evolução

quem acaba por perder são as institui-ções, tanto no que respeita ao cumpri-mento da sua missão como no querespeita à sua indispensável autonomiainterna. Não será possível compatibi-lizar os modelos? Não sou contra aexistência de órgãos uninominais, comresponsabilidades acrescidas, mas temopela maior desresponsabilização dosmembros da comunidade académica,que já é bastante preocupante na situ-ação actual. Qualquer que seja aevolução, importa deixar claro quedecisões académicas têm que sertomadas por académicos, assessoradospor gente muito competente emmatéria de gestão.

É, aliás, a referida desresponsabi-lização da comunidade académica quejustifica a sua falta de envolvimento nochamado Processo de Bolonha. O quedigo não se aplica exclusivamente aPortugal. Infelizmente este comporta-mento é comum à maioria dos docentese estudantes de muitos países. E épena. Deixamos o desenvolvimento deum processo que começou mal (com afamigerada Declaração da Sorbonne,assinada, sem consulta a quem querque fosse, pelos Ministros da Educaçãodo Reino Unido, da França, da Itália eda Alemanha) e veio a ser melhoradopela reacção dos académicos e poracção dos Ministros da Educação dePortugal e da Holanda, nas mãos deburocratas e dirigentes que o vão ten-tando implementar, como entendem,sem a necessária colaboração de quemdeveria nele participar activamente.

Infelizmente, o Processo deBolonha está, para muitos, resumido àdiscussão da duração dos ciclos.Poucos se preocupam com o que sepretende no que respeita às condições ecompetências à saída dos alunos no fimdo primeiro ciclo.

Fala-se de empregabilidade, palavrabonita que pode esconder a intenção depassar para o estudante a responsabili-

dade que cabe aos Estados, no domínioda garantia de emprego: se o estudantetem condições de empregabilidade, quelhe foi proporcionada pelas Instituiçõesde Ensino Superior, ele que se "desem-brulhe" pois tem condições para arran-jar emprego e ao Estado já não com-pete mais nada! Mas, em qualquercaso, é preciso entender do que real-mente se trata.

Fala-se de mobilidade e, natural-mente, de transferência de créditos;parece que está assente que tal trans-ferência se baseará nos ECTS. Con-tudo, poucos sabem o que isso implicaem termos de mudanças de paradigmaensino/aprendizagem. E, depois, deixa--se que dirigentes pouco informadosapliquem burocraticamente o cálculodo número de horas de contacto, de tra-balho individual, de seminários, etc. Otrabalho feito parece igualmente nãoter contado muito com a colaboraçãodos estudantes, principalmente em Por-tugal (mas não só). E neste caso, aculpa não é só dos docentes: é igual-mente devida ao desinteresse dos estu-dantes.

O que implica o Processo de Bolonha

Mas o Processo de Bolonha implicamuito mais: mudanças nos sistemas deavaliação, a introdução da noção, eentendimento do que realmente é,acreditação (não há um comumentendimento do que é, muitas vezesmesmo dentro do mesmo país); legis-lação para graus conjuntos; colabo-ração íntima entre diferentes estruturasde vários países, como agências deavaliação, de acreditação, de financia-mento, entre outras. Ao falar de mobi-lidade de estudantes o que dizer dosprocessos de financiamento e depropinas, tão díspares elas são entre osvários países? Quem paga o quê? Aofalar de mobilidade no mercado de tra-balho é preciso saber o que pensam osempregadores dos vários países acercadas competências dos graduados, sobpena de se introduzir um protec-cionismo contrário aos objectivos apre-goados.

E que dizer do segundo ciclo? EmPortugal, onde neste momento existemquatro graus, a aplicação do Processode Bolonha pode ser visto de modosdiferentes, consoante a perspectiva decada interveniente. De facto, se se con-siderar o segundo ciclo como o corres-

Os governos, e não só emPortugal, não têm dinheiro

que permita um funcionamentocondigno das instituições eencontram todos os meiospossíveis para justificar o

recurso ao chamado "empresarialismo" das

instituições.

SUP AO N.º 201JUNHO 2005 23

pondente ao mestrado, os Politécnicosestão impedidos, por lei, de os atribuir.Será, de facto, essa a ideia? Para mimnão é ainda claro. Não será altura declarificar a situação? Claro que sim.

Este assunto levar-nos-ia muitolonge e o tempo não o permite. Maspergunto-me se fará algum sentidoimpedir os Politécnicos de atribuírem osegundo grau, quando até agorapodiam atribuir licenciaturas deduração de cinco anos, tanto quanto seprevê para os primeiro e segundo cic-los da Declaração de Bolonha (3+2 ou4+1 ou 5 anos). Pergunto-me, até, sefará sentido interditar aos Politécnicosa atribuição de Doutoramentos se, poracaso, em certas áreas obedecer aosmesmos critérios científicos que sãoexigidos ás Universidades. Mais umavez se está a pegar no problema pelolado errado. A falta de definição doque é o Ensino Politécnico deixa-onuma situação de indefinição que tem,e mal, gerado tensões inaceitáveis, porrazões de prestígio social dos seusgraduados. Se se mudar o nome paraUniversidade fica tudo resolvido! Pelomenos para os políticos e para as popu-lações que pensam ainda que um graudado por uma Universidade tem maiorprestígio social! Como solução propõe--se então um eufemismo: as Universi-dades Politécnicas, que mais não serão,na maior parte dos casos, do que umPolitécnico com outro nome. É umproblema social que tem audição nademagogia dos políticos.

O CNAVES propôs, em devidotempo, cri térios que permitiriamresolver a questão de fundo: a institui-ção que a eles obedecesse poderiaatribuir o grau que se lhes correspon-desse. E, assim, os Politécnicos, comuma missão claramente definida, pode-riam continuar a chamar-se Politécni-cos, ao passo que certas Universidadesdeixariam de poder conferir certosgraus por não terem as condições míni-mas para tal.

Afastei-me um pouco do Processode Bolonha mas, como disse de início,as questões estão todas ligadas entre si.

Pode gostar-se dele, ou não, mas,independentemente da nossa adesãopessoal, a verdade é que não lhe pode-mos escapar. E ele está a afectar, e vaicontinuar a afectar, o nosso ensinosuperior.

Os caminhos escolhidos a nívelinternacional não são animadores e jáme referi a alguns deles. A indefinição

do que se pretende dos alunos no finalde cada um dos dois primeiros ciclosnão é um bom augúrio. A necessidadede colaboração entre agências de avali-ação e de acreditação é reconhecidapor todos como essencial e encontra-seirremediavelmente atrasada, dandoorigem a receios de que super-estru-turas europeias sejam uma tentação,existente há muito tempo, que se trans-forme em realidade com todos osinconvenientes (a burocracia europeianão é a menor) e oposições esperados.

A livre circulação de estudantes etrabalhadores nos 45 países já aderen-tes não é de fácil resolução. Asquestões financeiras estão longe deterem sido contempladas. Enfim, todasas indefinições já citadas, e outras queo tempo não permite abordar, sãorazões para descrer da possibilidade dese atingir o objectivo traçado para oano 2010. Será que os políticoseuropeus ainda não perceberam que averdadeira integração não se faz porDeclarações ou Directivas? Faz-se, issosim, na prática que, muitas vezes, sãoeles próprios a entravar.

Não quero terminar sem falar deuma outra vertente que se torna cadavez mais importante nos dias de hoje: a

educação ao longo da vida. Pareceponto assente que as Universidadestêm um papel fundamental na for-mação de pessoas que já se encontramna vida activa e a ela pretendem recor-rer para actualizar os seus conhecimen-tos ou, até, procurar novos graus quesão importantes para a sua actividadeprofissional ou para a sua progressãona carreira. Esta é uma das missões quecompete a uma Instituição de EnsinoSuperior. Mas estarão estas preparadaspara, ao serem procuradas por umadestas pessoas, creditarem parte da suaexperiência profissional? Desde oregresso à Universidade até ao ingressona formação inicial de pessoas comuma determinada actividade profis-sional, poderemos imaginar um largoespectro de situações. A experiênciadiz-nos que, apesar das boas intençõesplasmadas em Declarações/Con-venções (Bolonha, ConferênciaMundial do Ensino Superior, Con-venção de Lisboa, etc.), pouco ou nadatem sido feito para creditar a experiên-cia profissional. Não foi precisa aDeclaração de Bolonha para que esteassunto fosse abordado seriamente hámais de 15 anos. Não bastam boasintenções: é preciso mudar mentali-dades e actuar. Poder-se-ia, em Portu-gal, começar com o acesso ao ensinosuperior, alterando o formato dosexames ad-hoc, dando lugar a regrasclaras de creditação da actividadeprofissional, chegando-se ao ponto dedispensar o estudante da frequência decertas disciplinas.

Já falei o suficiente e esperemosque a minha provocação tenha aresposta clara dos restantes interve-nientes.

"Infelizmente, o Processo deBolonha está, para muitos,resumido à discussão da

duração dos ciclos. Poucos sepreocupam com o que se

pretende no que respeita àscondições e competências à saída dos alunos no fim

do primeiro ciclo".

Manifestemos o nosso descontentamento

Sem dúvida que o país atravessa uma crise económica e social da qual o excessivo défice das contas públicas é uma das suasmanifestações.

Sem dúvida que é necessária uma estratégia clara e mobilizadora da sociedade como um todo – trabalhadores, empresários, polí-ticos – para que o país possa crescer e desenvolver-se com maior justiça social, ultrapassando as dificuldades devidas à crescente glo-balização económica, ao alargamento da UE (que arrasta a redução dos apoios financeiros comunitários) e à concorrência de econo-mias emergentes, com é o caso da China.

No entanto, as medidas restritivas tomadas pelo Governo, quanto ao congelamento da progressão nos escalões remuneratóriosdos funcionários públicos e no que se refere ao aumento da idade em que estes se podem reformar, estão a ser impostas sem a pro-cura séria de um consenso social que permitisse a aceitação de eventuais sacrifícios no âmbito de uma estratégia credível (inexis-tente) que congregasse o esforço proporcional de todos.

Neste quadro, não podia a FENPROF deixar de reagir: foi concluído um acordo com a FNE para formas de luta que, dada a alturado ano lectivo em que se desenrolam, não poderiam deixar de afectar exames.

Estas acções estão em consonância com o sentimento de revolta que se verifica entre os docentes que foram surpreendidos pormedidas que directamente os afectam, nada em correspondência com as promessas eleitorais, anunciadas sem negociação séria comas organizações sindicais.

No ensino superior, nomeadamente devido às diferenças de estrutura entre as carreiras, o descontentamento não tem tido amesma expressão que nos outros sectores de ensino. As escolas encontram-se no geral em período de exames. Uma greve afectandoexames, tradicionalmente a única acção com impacto que foi posta em prática pelos docentes do ensino superior (1989 e 1995) exige,como a experiência mostrou, um período preparatório extenso, com auscultação dos colegas, procedimento que se revelou incompatí-vel com os tempos exigidos por esta acção de greve.

Apesar desta limitação, a FENPROF e a FNE emitiram um pré-aviso conjunto de greve, abrangendo todos os professores detodos os sectores de educação e ensino, incluindo os docentes e investigadores.

Os docentes do ensino superior e os investigadores não aceitam alegremente, sem protestar, as medidas que o Governo pretendeimpor-lhes.

Assim, propomos-lhe que envie um mail ao Ministro ([email protected]) manifestando-lhe o seu descontentamento. Para oefeito sugerimos o seguinte texto que poderá copiar ou adaptá-lo como lhe aprouver:

Exmo. Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino SuperiorSenhor Ministro,Surpreendido(a) pelas decisões do Conselho de Ministros que visam o aumento da idade de reforma e o congelamento, por um ano emeio, da contagem de tempo de serviço para efeitos de progressão nas carreiras, que conduzirá à criação de um bloqueamentoainda maior ao avanço salarial dos docentes e dos investigadores, uma vez que os quadros se encontram completamente preenchi -dos em muitas instituições, venho por este meio manifestar a V. Exa. o meu forte descontentamento pelas medidas anunciadas e soli -citar-lhe a sua não aplicação, bem como a negociação imediata de todas as alterações a realizar nos estatutos das carreiras, desig -nadamente as destinadas a reduzir a precariedade de emprego, a desbloquear as promoções, a assegurar o direito a uma carreira ea garantir equidade, justiça e transparência nos processos de avaliação dos docentes e dos investigadores em provas e concursos.Com os melhores cumprimentos,(Nome e Instituição)