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Introdução Este trabalho tem como fim uma análise simplista da teoria aristotélica sobre a justiça em conjunto com o direito, tornando ela um dos princípios fundamentais dele e comparando autores e opiniões. Dentre os diversos aspectos teleológicos do direito, pode- se dizer que a justiça surgiu como objetivo principal dele. Apesar da divergência de opiniões, não podemos deixar de notar que a sociedade sempre anseia essa justiça, independente da variedade de conceitos e das mudanças históricas, desejando que o desproporcional seja equilibrado. Aristóteles, como foco principal do trabalho, em sua teoria de justiça assemelha ela a outras virtudes gregas, portanto, a conduzi para um lado mais ético em que se observa o comportamento do homem perante a sociedade não somente como um ‘conhecedor’ de justiça mas também como uma ator de ações justas. Como dito por ele: “O homem, quando virtuoso, é o mais excelente dos animais; mas separado da lei e da justiça, é o pior de todos” 1 Se analisarmos a norma e a justiça, como mencionado anteriormente, em conjunto ambas são capazes de tornar concreto o Bem Comum. Um bem prezado por Aristóteles em seu livro Ética a Nicômaco, que podemos dizer, antecipado a escola utilitarista do século XVIII. Nesse livro, Ética a Nicômaco, o capítulo V foi o que tratou especificamente da teoria de justiça, no decorrer de sua 1 Política, I,1

Justiça Para Aristóteles

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IntroduoEste trabalho tem como fim uma anlise simplista da teoria aristotlica sobre a justia em conjunto com o direito, tornando ela um dos princpios fundamentais dele e comparando autores e opinies.Dentre os diversos aspectos teleolgicos do direito, pode-se dizer que a justia surgiu como objetivo principal dele. Apesar da divergncia de opinies, no podemos deixar de notar que a sociedade sempre anseia essa justia, independente da variedade de conceitos e das mudanas histricas, desejando que o desproporcional seja equilibrado.Aristteles, como foco principal do trabalho, em sua teoria de justia assemelha ela a outras virtudes gregas, portanto, a conduzi para um lado mais tico em que se observa o comportamento do homem perante a sociedade no somente como um conhecedor de justia mas tambm como uma ator de aes justas. Como dito por ele: O homem, quando virtuoso, o mais excelente dos animais; mas separado da lei e da justia, o pior de todos[footnoteRef:1] [1: Poltica, I,1]

Se analisarmos a norma e a justia, como mencionado anteriormente, em conjunto ambas so capazes de tornar concreto o Bem Comum. Um bem prezado por Aristteles em seu livro tica a Nicmaco, que podemos dizer, antecipado a escola utilitarista do sculo XVIII.Nesse livro, tica a Nicmaco, o captulo V foi o que tratou especificamente da teoria de justia, no decorrer de sua fundamentao sobre a justia ampliou e limitou seus conceitos de justo e injusto e exemplificou-a de uma forma matemtica e prtica. Os tipos de justia que pude analisar foram essas: Justia Ampla, justia estrita que se subdividia em justia distributiva e justia corretiva (esta se subdivide em voluntria e involuntria), Justia poltica, Justia domstica.[footnoteRef:2] [2: De acordo com, Teorias sobre a justia de Eduardo C.B, Bittar.]

Ainda se tratando desse livro, o filsofo finalizou a justia igualando-a a equidade, e esta sendo melhor que aquela. Podemos analisar isso nesse trecho: a justia e a equidade so portanto a mesma coisa embora a equidade seja melhor.[footnoteRef:3] [3: tica a Nicmaco, Livro V, pgina 109.]

Aps as questes abordadas acima acredito que j podemos examinar a teoria de justia de Aristteles.

Justia e ticaAristteles, como discpulo de Plato, tambm aplica sua teoria ligada ao campo tico e virtuoso, porm acentua ela como um princpio social que tem como o objetivo regular as relaes entre os homens com fundamento na igualdade[footnoteRef:4]. [4: O fundamento do direito, Antnio bento Betiolli pgina 526]

A virtude, em um conceito atual, a Disposioconstantedoespritoquenosinduzaexercerobemeevitaromal[footnoteRef:5]. Muito semelhante a definio inicial de justia feita pela filsofo, que a justia a disposio da alma graas qual elas se dispem a fazer o que justo, a agir justamente e a desejar o que justo.[footnoteRef:6] [5: "virtude", in Dicionrio Priberam da Lngua Portuguesa [em linha], 2008-2013,http://www.priberam.pt/dlpo/virtude[consultado em 05-11-2013].] [6: tica a Nicmaco]

Ao refletir sobre essa comparao feita acima e analisar os tipos de justia estabelecidos durante o captulo V, Aristteles, de forma geral, conduz a justia para uma forma de excelncia moral perfeita em que o bem dos outros a fundao dela. Portanto, diga-se a princpio, atribui a ela um fim utilitrio que visa alcanar um bem geral e uma equidade.Em face da busca de um bem comum a prtica de um conduta moral primordial, pois ela que torna realizvel a harmonia entre as relaes sociais e individuais. O indivduo conquistando essa prtica tica, tem a capacidade de reconhecer o justo e injusto e assim optar, voluntariamente, que tipo de atos realizar. Assim podemos aplicar uma frase do filsofo: Sendo os atos justos e injustos aqueles que descrevemos, uma pessoa age injustamente ou justamente sempre que pratica tais atos voluntariamente; quando os pratica involuntariamente, ela no age injustamente nem justamente, a no ser de maneira acidental.[footnoteRef:7] [7: tica a Nicmaco, Aristoteles, pgina 104.]

Deste modo, no basta o indivduo conhecer a virtude (atos bons e ticos), ele deve coloca-los em pratica para que o fim justo seja atingido de forma plena. Ao homem inerente a capacidade racional de deliberao, o que lhe permite agir aplicando a razo prtica na orientao de sua conduta social. Conhecer em abstrato (teoricamente) o contedo da virtude no basta, como exausto j se disse, ao prudente (phrnimos), sendo de maior valia a atualizao prtica e a realizao da virtude[footnoteRef:8]. [8: Teorias sobre a justia, Eduardo C.B. Bittar]

Justia total Durante o decorrer do captulo V, do livro tica a Nicmacos, Aristteles analisa as diversas noes de justias e as classificas. E dentre essas classificadas, a sua primeira definio de justia, de justia total (dkaion nomimm). Ela se fundamenta basicamente, na observncia da lei e como essa lei visa o bem da comunidade poltica.O justo, ento, aquilo que conforme a lei e correto, e o injusto ilegal e inquo. (...)Em seus preceitos sobre todos os assuntos as leis visam ao interesse comum a todas as pessoas, ou s melhores, ou s pessoas das classes dominantes, ou algo do mesmo tipo, de tal forma que em certo sentido chamamos justo os atos que tendem a produzir e preservar a felicidade e os elementos que ela compem, para a comunidade poltica[footnoteRef:9]. [9: Livro V, tica a Nicmaco, pgina 92]

Assim, toda ao vinculada a legalidade tem carter justo, ou seja, a partir do momento em que o legislador virtuoso aplica a norma, os atos que condizem com a norma so legais, portanto justos; e os divergentes injustos e inquos. Logo o legislador ao formula uma lei, pretende que ela seja empregada de forma geral para que o Bem Comum seja atingido e os cidados mantenham esse padro de conduta tica. vista disso, a lei prescreve certa conduta[footnoteRef:10] portanto quem age de acordo com esse padro de conduta est agindo com justia. Entretanto quando um indivduo age contra esse princpio legal, torna-se injusto; mas no s injusto, torna-se ilegal e inquo. Nesse sentido, Ilegal se relaciona com tudo que est na esfera de homem bom[footnoteRef:11] perante a lei; j inquo, em seu significado atual Contrrioequidade[footnoteRef:12], podendo ser comparado com o significado de Aristteles que se relaciona com a honra, ou com o dinheiro, ou com a segurana e sua motivao o prazer decorrente do ganho. [10: Os grandes filsofos do Direito, Clarence Morris; Aristteles.] [11: Aristoteles, Etica a nicmaco] [12: "inquo", in Dicionrio Priberam da Lngua Portuguesa [em linha], 2008-2013,http://www.priberam.pt/dlpo/in%C3%ADquo[consultado em 10-11-2013].]

O comentrio de Eduardo Bittar diante dessa ideia de justia geral de Aristteles bem interessante. Este, segue a seguir: Este o tipo de justia aplicvel para a vida poltica, organizao comunitria organizada pelos ditames emanados pelo legislador. Aqui no reside parte da virtude, mas toda a virtude, pois o respeito lei corresponde ao respeito de todos. Desta forma, ao analisarmos essas justia no sentido amplo, ela se caracteriza como a virtude perfeita perante os outros, ou seja, buscando o bem alheio.

Justia restrita: Justia distributiva e Justia corretivaA Justia restrita deriva da justia total, ou seja, uma parte dela porm mais especifica. Desse modo, quem comete uma injustia no sentido restrito tambm viola a lei. Por ser considerada bem especfica, ela se divide em duas: a justia distributiva e a justia corretiva.A justia distributiva se relaciona a distribuio de bens do Estado com cada indivduo de forma proporcional, isto , dar a cada um de acordo com seu merecimento. Nela o justo est em atribuir a cada um conforme seu mrito e a capacidade de cada um diante da participao em sociedade; e o injusto o que viola a proporcionalidade[footnoteRef:13] o desigual, ou melhor, dar uma quantia menor de benefcios ou numa quantia maior de encargos que seria realmente devido a cada sdito.[footnoteRef:14] [13: Aristoteles, Etica a nicmaco] [14: Eduardo C.B. Bittar, Teorias sobre a justia]

Aristteles atribui a esse tipo de justia uma igualdade geomtrica, pois em e seu livro ele expe que nela so observado 4 partes, dois sujeitos e dois objetivos. E assim, na medida em que eles contribuem lhe dado de forma proporcional ao que foi contribudo (A:B=C:D). Segue a seguir um exemplo: se uma certa pessoa contribuiu com 50 para um imposto, de acordo com o que lhe era possvel, este receber 5 de retribuio e outro indivduo contribuiu com 80 do mesmo imposto, este receber 8 de retribuio. Assim, o justo nesta acepo o meio termo entre dois extremos desproporcionais, j que o proporcional um meio termo, e o justo o proporcional.[footnoteRef:15] [15: Aristteles, tica a nicmaco]

J a justia corretiva est para a justia entre particulares. Nela a lei olha apenas para a natureza do dano, tratando as partes como iguais e apenas perguntando se uma cometeu e a outra sofreu injustia Portanto no se observa mrito, observa-se apenas os direitos e deveres de cada pessoa.Essa justia tem a ideia de igualdade aritmtica, portanto podemos defini-la como um meio termo entre mais e o meio. Nesta, quando acontece um ato injusto as partes desiguais buscam um soluo imparcial e intermdia, que seria o juiz. Ele busca solucionar o conflito de modo que retifique essa desigualdade e torne-as iguais.Entretanto no podemos confundir esse tipo de justia com reciprocidade, pois em muitas casos ela pode estar em conflito com a justia. A reciprocidade encontra em desacordo com a justia quando prevalece a ideia de vingana ou retribuio absoluta, ou seja quando a parte que sofreu prejuzo, por exemplo, agir da mesma forma com que foi tratada. A lei de talio, para Aristteles, portanto no seria uma espcie de justia j que a justia est ligada virtude e conduta moral que visa o bem comum. Assim como o regra de Radamanto, tambm no seria:E, se um homem sofrer o mesmo que cometeu, a justia adequada ter sido feita.H, ento, dois subdivises da justia corretiva, a relaes voluntrias e involuntria. Nas voluntrias, associa-se as trocas bilatria como, compra e venda, emprstimos e contratos. A injustia nesse caso ocorre quando os bens trocados no se correspondem, por isso, deve-se estabelecer um tipo de parmetro comensurvel para que esses objetos sejam nivelados. Assim, o uso da moeda surge como um desses parmetros; objetos diferentes podem ser trocados sem que nenhuma das partes seja prejudicada.E a justia involuntria, decorre da pratica de atos injustos involuntrios, em que o causador do no tem uma conduta injusta porm agiu injustamente. So exemplos, o adultrio causado por uma paixo e o homicdio doloso quando no houve inteno de matar; ambos foram atos injustos porm devem ser julgados de forma diferentes pois no houve intencionalidade. Um ato involuntrio , por seguinte, um ato cometido na ignorncia, ou ento um ato que, embora no cometido na ignorncia, no est sob controle do agente.[footnoteRef:16] [16: Eduardo B.C. Bittar]

Justia poltica e Justia domesticaJ definida por Aristteles, A justia poltica em parte natural e em parte legal; so naturais as coisas que em todos os lugares tm a mesma fora e no dependem de as aceitarmos ou no, e legal aquilo que a princpio pode ser determinado indiferentemente de uma maneira ou de outra, mas depois que determinado no indiferente.Esta justia poltica, est relacionada na aplicao da justia na cidade em que os homens dividem os espao e as atividades e estes so vistos como iguais e livres perante a lei. Deve-se lembrar que em seu perodo histrico de Aristteles, Grcia Antigas, havia as polis democrticas em que os cidados tinha esse direitos polticos, como voto, entretanto os cidados eram uma classe restrita, no abrangia escravos, estrangeiros e nem mulheres; portanto essa ideia de justia poltica aplica-se de uma forma diferente em nossa sociedade atual. A parte natural dessa justia se d ao fato dela ser de ter a mesma validade em todas as partes e no depender de aceitarmos[footnoteRef:17]. E a parte legal, surge de uma regra de convivncia, ou seja, estabelecidas e determinadas pelos homens. [17: Eduardo B.C. Bittar]

A justia domestica abrange a esfera da casa pois at em um ambiente familiar deve haver regras de convvio e bem estar, porm no igual a justia poltica. Isso acontece porque a criana ou o escravo fazem parte do prprio pai-senhor e no possvel praticar injustia a si mesmo. J a relao entre marido e mulher, podem ser caracterizada como ambas, pois cada um so independentes ento sofrem e praticam injustias mas tambm tem deveres familiar de organizao e convvio.Justia e equidadePara Aristteles, justia e equidade tem pontos semelhantes, porm no so iguais. Ao diferenciar as duas deixa claro que equidade melhor que justia, mas no em todos aspectos e sim no sentido de justia poltica ligada a lei. A aplicao da equidade se d ao fato de que a lei so aplicadas de modo igual perante todos, e por essa generalidade pode ser cometida uma injustia por meio do prprio justo legal.Assim o juiz, como um indivduo equidistante e imparcial, deve aplicar a lei conforme a ordem estabelecida, porm adaptando ao caso conforme seria a intenso do legislador.A ideia de equidade, segundo John Rawls, se difere um pouco. Por ligar sua teoria ao contratualismo (Locke, Rousseau, Kant), define o justo e o injusto de acordo com as instituies. Ou seja, a ideia de uma igualdade original surge a partir da formao do pacto social. Portanto a equidade em sua teoria est em cada particular ter uma igualdade de direitos e deveres inicialmente, e a partir de sua capacidade e dedicao diante disso, cada cidado cresce e ganha sua coisas de acordo com seu mrito.

Bibliografia

MORRIS, Clarence. Os grandes filsofos do direito. Martins Editora, 1 Edio 2002. 549 pginas.BETIOLLI, Antnio bento. Introduo ao direito. Editora saraiva, 12Edio 2013. 600 pginas.BITTAR, Eduardo C.B. Teorias sobre a justia. Editora de Oliveira 1 Edio, 2000. 236 pginas.BARBOSA, Jlio Csar. O que justia. Editora Cultural e Editora Brasiliense 1984. 105 pginas [ usado somente para complementao das ideias]ARISTOTELES. tica a Nicomco. Editora Martin Claret, 2000. 240 pginas. Conceito de "virtude", in Dicionrio Priberam da Lngua Portuguesa [em linha], 2008-2013,http://www.priberam.pt/dlpo/virtude[consultado em 05-11-2013].

Conceito de "inquo", in Dicionrio Priberam da Lngua Portuguesa [em linha], 2008-2013,http://www.priberam.pt/dlpo/in%C3%ADquo[consultado em 10-11-2013].

UniCEUBFaculdade de Cincias Jurdicas e Sociais FAJS

Victria Lisboa do Nascimento

Analise e comparao:tica a Nicmaco, de Aristteles, e Ideias de Antnio Betiolli

Braslia-DF2013

Concluso

Conclui-se, portanto, que Aristteles em seu livro tica a Nicmaco, expes uma diversidade de conceitos de justia baseado em seu perodo histrico e sua perspectiva. Cada conceito varia de acordo com quem pratica ou sofre a injustia, quais situaes so injustas e justas, e o que faz tal injustia ser feita. Apesar de ter sido feito um momento histrico diferente, muitas de suas analises so aplicveis em nosso cotidiano, pois ele aborda a justia em um campo tico. E sim, acredito que sem aplicao de uma conduta tica diante a sociedade e suas inter-relaes no h justia. Pois a partir do momento em que se forma a sociedade necessrio algum instrumento capaz de limitar a liberdade excessiva (liberdade capaz de interferir na liberdade do prximo) para que o convvio social seja estabelecido e no voltemos ao estado de natureza pregado por Hobbes. E nesse aspecto que entra a justia, como um dos fins do direito, para que caso haja algum tipo de desproporcionalidade nas relaes de troca ou coexistncia, o intermdio de um terceiro seja capaz de igualar essa desigualdades.Diante disso, essa viso virtuosa que ele props e que muitos autores citados complementam mostra que se cada pessoa mostrasse uma conduta tica com relao ao prximo, no seria necessrio excesso de comandos normativos, pois a injustias e atos injustos no seriam cometidos voluntariamente e o bem comum seria totalmente prezado. Deste modo, no s vejo a justia como uma terceiro poder do estado mas tambm como um efeito de boas relaes perante ao prximo e como um Bem Comum acessvel a todas pessoas gentis ao prximo.