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JUVENíLIA N.11 Novembro de 2013 EMPREGO JOVEM

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Juvenília Novembro 2013 - Emprego Jovem

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JUVENíLIAN.11Novembro de 2013

EMPREGOJOVEM

ÍNDICE

FICHA TÉCNICA

A JUVENÍLIA É UMA PUBLICAÇÃO GRATUITAOS ARTIGOS ASSINADOS REFLETEM EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DOS SEUS AUTORESOS ARTIGOS DOS COLABORADORES EXTERNOS FORAM ESCRITOS NOS MESES DE JUNHO E JULHO DE 2013

EDIÇÃO: Conselho Nacional de Juventude | COORDENAÇÃO: Ivo Santos e Margarida Prata | REDACÇÃO: Amália Martins, Ivo Santos, Negesse Pina, Margarida Prata, Sara Amaral e Sara Silvestre | COLABORARAM NESTE NÚMERO: Anabela Laranjeira – Interjovem/CGTP-IN; Bruno Teixeira - Comissão de Juventude da UGT; CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social; Fórum Europeu de Juventude; Emídio Guerreiro, Secretário de Estado do Desporto e Juventude; Helena Águeda Marujo - ISCSP; Isabel Lopo de Carvalho - IES; Instituto do Direito do Trabalho; JOC - Juventude Operária Católica; José Luís Cardoso – ICS Un. Lisboa; Juan Carlos Ballesteros Guerra, UniversidadeComplutense de Madrid; Lazlo Andor - Comissário Europeu para o Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão; Maria Emília Brederode Santos - CNE; Maria da Paz Campos Lima – Dinâmia’CET-IUL; Octávio Oliveira – IEFP; Ricardo Brito Paes – AJAP; Secretaria de Estado do Emprego | DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO: Bruno Ferreira | CAPA: Bruno Ferreira | IMPRESSÃO: Gráfica Amares | TIRAGEM: 500 exemplares.

EDITORIAL

PROMOÇÃO DE POLÍTICAS PARA A FELICIDADE DOS JOVENS

UMA APOSTA NA JUVENTUDE A ESPERANÇA NUM FUTURO MELHOR

EMPREENDEDORISMO SOCIAL E A CRIAÇÃO DE EMPREGO

SINDICALIZAÇÃO E LUTA PELO TRABALHO COM DIREITOS: DESAFIO ACTUAL PARA OS JOVENS TRABALHADORES

AJAP UMA NOVA DINÂMICA NO ESPAÇO RURAL!

O EMPREGO JOVEM E O PAPEL DAS COOPERATIVAS

EMPREGAR PARA INCLUIR?

UNIÃO DE ESFORÇOS NO COMBATE AO DESEMPREGO JOVEM

GARANTIA JOVEM: A ABORDAGEM EUROPEIA AO PROBLEMA DO DESEMPREGO

EMPREGABILIDADE E ENSINO SUPERIOR EM PORTUGAL

QUE CURRÍCULO PARA OS PRÓXIMOS ANOS?

A JUVENTUDE ESPANHOLA PERANTE A CRISE

(DES)EMPREGO JOVEM: UMA GERAÇÃO EM RISCO

DESAFIOS DO DESEMPREGO JOVEM EM PORTUGAL NO CONTEXTO DA CRISE E DA AUSTERIDADE

MOBILIZAR PARA O EMPREGO JOVEM

PROMOÇÃO DO EMPREGO JOVEM: UMA PRIORIDADE PARA O GOVERNO

GUIA DE EMPREGO PARA JOVENS:UMA FERRAMENTA PARA OS JOVENS NO MERCADO DE TRABALHO

O EMPREGO NAS ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A POLÍTICA DE JUVENTUDE

CNJ: O QUE SE FAZ POR CÁ?

28.º ANIVERSÁRIO DO CNJ

HAJA SAÚDE: CNJ ENQUANTO PROMOTOR DE ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS

INCLUIR PARA CONSTRUIR: O 3º CICLO DO DIÁLOGO ESTRUTURADO

ENTREVISTA - OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÉNIO: MÓNICA FERRO

THE LEAGUE OF YOUNG VOTERS JÁ FALA PORTUGUÊS!

NOTÍCIAS DA ÁREA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O CNJ NA REDE DAS UNIVERSIDADES DE JUVENTUDE E CIDADANIA GLOBAL

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Dotados de consciência, não podemos viver na indiferença face à realidade de que as novas gerações se defrontam com muros, que isolam e deixam à margem uma juventude que não tem acesso ao trabalho e, por esse motivo, não tem acesso a um sistema social que se pode caracterizar pelo conjunto de direitos associados a um cidadão pleno, isto é, um salário, prestações sociais, cuidados de saúde, desenvolvimento de um projeto de vida que considere o crédito à habitação ou investimento na educação.

Na verdade, a atual “luta de classes” divide mais aqueles que têm acesso a este sistema social (o qual podemos resumir ao exercício do direito ao trabalho) e aqueles que vêem vedado o acesso a esse direito, que em grande medida têm em comum, apenas, uma faixa etária, sendo por isso uma geração.

Também há mais de 30 anos, uma geração se defrontava com um sentimento de desajuste social, ora oprimidos, ora isolados. Da imaginação do baixista e letrista dos Pink Floyd, Roger Waters, nasceu um álbum, que mais tarde originou um filme, em que a personagem Pink interpretava toda uma geração.

The Wall, em especial o tema “Another Brick in the Wall”, veio mais tarde a ser banda sonora de um dos momentos mais relevantes da história da Europa e do mundo, no seculo XX - a queda do muro de Berlim, em 1989 - inspirando assim, os jovens que à data aspiravam a construção de um modelo social e político mais equitativo, mais democrático, mais livre, mais solidário.

EDITORIALPassaram-se, agora, mais de 20 anos e o muro que separava a Europa é agora um muro social, que circunda muitos “Pinks”, toda uma geração, onde ser muito bom não chega, onde ter muita formação não é suficiente, onde a lotaria social, atribuiu arbitrariamente critérios de sucesso ou infortúnio a cada jovem.

Irónico, mas honesto será reconhecer que todos aqueles que cresceram e se afirmaram num ideário de progresso e prosperidade, ao som de Pink Floyd, hoje líderes políticos, económicos, sociais, intelectuais, atuam como se tivessem esquecido de tais valores e princípios que “The Wall” lhes sugeriu em tempos. Ou pelo menos, devemos reconhecer, não têm sido eficazes e coerentes com a sensibilidade que tal álbum exigia.

“Another Brick in the Wall” pode ser nos dias de hoje a precariedade laboral, a injustiça social, a ausência de equilíbrio social, fiscal ou económico entre gerações, a ausência de critérios de sustentabilidade de pensões de reforma no presente e no futuro, ou um desajuste entre educação e formação e necessidades do mercado de trabalho, ou ainda mecanismos de coesão e equilíbrio social.

A história que nos sugere o Filme “The Wall” tem paralelismos sinistros com toda uma nova geração, seja pela forma como a educação trata os jovens - sem estratégia, desenvolvimento de consciência crítica, ou desenvolvendo competências em cada um, no respeito pela diversidade e afirmação personalista - seja pela forma como o mercado de trabalho olha os jovens e as suas capacidades como mais um “martelo”, um número, sem alma, consciência ou direito à esperança. E por fim, um sistema social, que aprisiona toda uma geração num sonho adiado em permanência.

Seria bom que em breve, esse muro, ao som desta ou de outra qualquer música, pudesse ser derrubado, por mim e por ti, para avançarmos em esquemas de partilha social de risco, comprometendo indivíduos, organizações e Estado, num novo modelo de arquitetura social, que considere a responsabilidade social como um bem superior, resgatando toda uma geração do desalento a que parece condenada.

Esta juvenília é assim um contributo em tom de reflexão, com várias perspectivas, todas elas valiosas, cumprindo-me agradecer muito todos os que para este número prestaram o seu testemunho, e assim suscitam meditação sobre o maior desafio dos nossos tempos:

Devolver propósito aos mais jovens!

All in all it's just another brick in the wallAll in all you're just another brick in the wall.

IVO SANTOS

PRESIDENTE DA DIREÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE

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1. Da agonia social ao arriscado culto da felicidadeEstamos perante um instante económico, político e social da nossa história nacional em que falar da felicidade dos jovens tem que ser enquadrado num debate ético, e exige esmeros e coragem moral: pode ser perigoso e arrisca-se a ser entendido como desrespeitador. (Honrar a memória do passado é aqui, no entanto, essencial. Houve outros momentos, como o da dizimadora e esquecida guerra colonial, em que ser jovem em Portugal – em particular, ser jovem varão – pesava também de forma pungente na nossa possibilidade de felicidade própria e coletiva).

O alerta lançado por Amartya Sen, ao falar-nos do risco do condicionamento mental induzido nos Happy Slaves – pessoas escravizadas, inconscientes da sua situação gravosa, socialmente injusta, excluída e marginal, mas que se dizem felizes – ajusta-se e urge, mais do que nunca, quando falamos de jovens em contexto de (des)emprego. Mas não acabam aqui os perigos.

Como falar de políticas de felicidade neste empobrecido tempo de escassez – de valores, de recursos, de escolha, de humanidade? Como não ficar prisioneiro de uma perspetiva individual e casuística, tão comum às própria concepções mais normativas de felicidade? Como ir além da colonização da esfera privada, e de políticas para o comportamento individual, se tentarmos propor ou provocar nos cidadãos a felicidade (“interessa-me a minha felicidade; não quero saber da tua!”)? Como assegurar que não passamos ao largo do contexto comunitário, agora tão ferido e fragilizado, onde se desmoronou a imprescindível confiança entre todos e face às instituições? Como abordar este tema sem cinismos, trazendo horizontes compassivos para o exercício de prospecção do futuro? Como enobrecer os mais novos numa sociedade envelhecida, que lhes pesará nos ombros?

Num balanço desequilibrado entre o foco no individual e o foco no colectivo, entre o destaque do material em detrimento do relacional, entre uma cultura de negação do mal e outra, paralela e igualmente extremada, de negação do bem, a celebração da felicidade emergiu como um processo privado e subjetivo, e como uma virtude final em si mesma.

Há quem defenda que este advento da banalidade de uma felicidade vazia, ou da busca da perpétua euforia, vista como especialmente saliente nos jovens, se pode ter enraizado como resposta ao desencantamento com a vida publica, a par, claro, de uma pressão incisiva dos mercados para um individualismo consumista.

A virtuosidade de práticas de envolvimento e responsabilização na esfera cívica delegou essas práticas para segundo plano, pondo à frente o preenchimento das satisfações pessoais através de emoções positivas, essenciais à felicidade e ao bem-estar, mas em si mesmas passageiras e insuficientes.

Neste contexto delicado, que políticas então para a felicidade dos jovens, campo de cultivo único e incontornável dos nossos futuros?

2. Bens públicos e felicidade coletiva

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Os estudos da psicologia positiva, em que me filio, indicam-nos que a corrupção, a violência e insegurança, a falta de organização urbanística e suportada no betão, o fraco investimento na prevenção da saúde psicológica e física, o estímulo à comparação social, a injustiça económica e o desemprego – não esquecer que Portugal tem um escandalosamente elevado índice de Gini, que caracteriza a diferença entre ricos e pobres – são propulsores inequívocos de infelicidade. Olhamos estes dados, e ficamos já com um leque claro de horizontes para essas políticas promotoras de bem-estar: basta fazer o oposto. Mas há mais.

É especialmente saliente que, neste momento preciso, alguns economistas europeus se lancem numa determinada busca de modelos económicos alternativos, em que a aposta na promoção da felicidade pública, e em bens relacionais, especialmente pensados para uma juventude em sofrimento, emergem de forma crítica à mesa social.

Dentro deste contexto vasto, a ênfase em políticas de promoção da felicidade parece poder então ir fazendo (mais) sentido. Essas políticas poderão:

trazer à prática das opções políticas a concepção napolitana do sec. XVIII sobre felicidade pública, entendida como desenvolvimento económico, promoção de contextos (públicos e institucionais) virtuosos, e experiência da felicidade como comum a todos (e não apenas alguns, nem apenas possível nalgumas etapas maduras de vida);

retomar conceitos e práticas de fraternidade, equilibrando-a com a liberdade e a igualdade, tríptico de valores da modernidade e da revolução francesa, assim estimulando formas de viabilização da vida cívica (vemos muitos jovens hoje a concretizar espontaneamente esta premissa);

fomentar condições sociais e organizacionais para promover o que Aristóteles considerava ser o mais elevado bem humano: a realização do potencial pessoal e, por inerência, do crescimento psicológico de cada pessoa e de cada comunidade (quanto poderiam os jovens beneficiar com isto!);

acompanhar as práticas económicas comuns de relações de troca (pagar por serviços) por outras que, permitindo tempo e espaço, levem ao investimento nos bens relacionais (ajudar a construir redes de relações efetivas, participadas e igualitárias, urgentes e naturais na juventude);

criar condições de autodeterminação, em que a possibilidade de autonomia, de sentido de competência e de conectividade, possam acontecer (quanto precisam os jovens que lhes permitam isto!);

avaliar o potencial de impacto comunitário das escolhas políticas, tornando transparentes essas escolhas e impactos no florescimento de uma construtiva vida cívica (quanto merecem os jovens que se faça isto!).

É a busca do bem comum, e através dele da construção de sentido, que nos torna virtuosos: mas jovens cidadãos virtuosos precisam de organizações virtuosas, e de lideranças virtuosas. Isso acontecerá num contexto de um novo humanismo civil e de uma nova economia da felicidade pública, onde é urgente a reconciliação do presente com um futuro que nos sirva. Nunca haverá sociedades felizes se os seus jovens não o forem.Poderemos – deveremos - então imaginar um (jovem) Sísifo feliz, como nos dizia Albert Camus?

PROMOÇÃO DE POLÍTICAS PARA A FELICIDADE DOS JOVENS

Helena Águeda MarujoInstituto Superior de Ciências Sociais e Politicas Universidade Técnica de Lisboa

... é urgente a reconciliação do presente com um futuro que nos sirva. Nunca haverá sociedades felizes se os seus jovens não o forem.

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A atual crise das dívidas soberanas, que afeta Portugal e a Europa, tem como consequência direta a degradação da economia e o aumento do desemprego. Em termos sociais, a recessão profunda que vivemos tem um reflexo imediato e cruel no aumento do desemprego, em particular para os jovens, trabalhadores precários e menos qualificados. Os números do desemprego em Portugal do 1º trimestre de 2013 revelam que mais de 42% dos jovens até aos 24 anos e mais de 20% dos 25 aos 34 anos estão desempregados, com tendência ascendente.

Para além disso, quando conseguem encontrar um posto de trabalho, este é quase sempre mal remunerado e com condições contratuais altamente precárias.

A resposta tímida e quase inexistente dos líderes europeus tem sido a de privilegiar uma contenção orçamental a todo o custo, sem atender aos seus efeitos colaterais para as economias nacionais, europeias e mundial e, consequentemente, para as populações.

A receita de corte abrupto e injustificado no investimento público tem levado a um aumento generalizado do desemprego e, com isso, das prestações sociais associadas o que torna irrelevante a estratégia política que pretende reduzir os défices públicos ao cortar o dinheiro que chega à economia: o dinheiro poupado na redução do investimento público é rapidamente consumido pelo aumento das prestações sociais de desemprego e pela diminuição das receitas fiscais. Não é por isso de estranhar, que as receitas fiscais estejam a descer e também não é de estranhar, lamentavelmente, a subida do desemprego.

O flagelo do desemprego não pode ser entendido como inevitável, nem como uma mais-valia para que os cidadãos saiam da sua zona de conforto. Mais ainda, não se pode aceitar que a reboque da crise e do desemprego, sejam delapidados direitos sociais e laborais que demoraram décadas a conquistar, com o falso pretexto da competitividade e da comparabilidade com o exterior. Temos a profunda convicção de que a precariedade laboral que se tem vindo a instalar não conduz à criação de um mercado de trabalho justo, qualificado e condigno e não assegura as condições de estabilidade, auto-subsistência e valorização pessoal que é devida a todos os trabalhadores esforçados e dedicados.

Saudamos iniciativas que fomentem a inserção dos jovens no mercado, como o Impulso Jovem ou a Garantia para a Juventude da Comissão Europeia, no entanto estas medidas por si só não resolvem o problema estrutural do desemprego jovem. Sabemos que tendencialmente o desemprego jovem é sempre o dobro do valor da média de desemprego nacional, e este apenas se consegue diminuir com uma forte aposta em medidas de crescimento económico.

Temos hoje aquela que é a geração mais qualificada de sempre, mas que simultaneamente, e por incrível que pareça, corre um sério risco de viver pior que a geração que a antecedeu. As perspetivas não são as mais animadoras, principalmente se continuarmos a seguir esta ausência de políticas eficientes de combate ao desemprego jovem e de promoção da desregulação do mercado de trabalho.

É fundamental reforçar as políticas ativas de emprego, que não podem nem devem passar apenas pela redução dos subsídios de desemprego, mas sim pela reativação dos desempregados, com instrumentos que permitam desbloquear positivamente a eventual falta de motivação dos jovens desempregados. Para tal é necessário continuar a apostar na qualificação, que ao contrário da mensagem que algumas vozes tentam fazer passar, o grau de formação continua a ser a ferramenta central que contribui e ajuda a atenuar o tempo de desemprego.

Na transição do sistema de ensino para o mercado de trabalho, os jovens portugueses defrontam-se por vezes com grandes dificuldades para fazerem essa passagem de forma natural e suave. É portanto, fundamental uma aposta os estágios profissionais, assim como os curriculares, para que os jovens possam ter um contacto, em contexto de formação, com a realidade empresarial. É por isso, da mais elevada importância, que seja aplicada a “Garantia Jovem”, aprovada pela Comissão Europeia, que visa que os jovens à procura de emprego não fiquem fora do mercado de trabalho por períodos demasiados longos, e que lhes seja apresentada uma oferta de emprego com qualidade, uma educação contínua, uma formação ou um estágio profissional nos quatro meses imediatamente a seguir ao início do desemprego ou do fim do ensino obrigatório.

Os jovens portugueses não podem deixar que usurpem das suas vidas, como se de meros objetos se tratassem. Há que lutar por um emprego com dignidade que garanta um mínimo de estabilidade para que seja possível estimular o que de melhor a juventude tem para oferecer ao país. É fundamental percebermos que os falsos recibos verdes, vistos por muitos como, única forma de encontrarem um posto de trabalho, acabam a médio prazo por serem totalmente contraproducentes e apenas contribuem para piorar e generalizar a precariedade duma geração inteira.

Também a emigração só poderá ser entendida como viável, se a mesma se efetuar voluntariamente, e não como acontece hoje, quando é apontada por alguns, como grande solução para o desemprego jovem.

Somos um país com mais de 900 anos de história, não podemos perder o nosso direito à soberania. A nossa geração merece ser feliz, e delinear um projeto de vida pessoal e profissional junto dos seus e do seu país. Temos que mobilizar e devolver aos jovens portugueses a esperança num futuro melhor.

UMA APOSTA NA JUVENTUDEA ESPERANÇA NUM

FUTURO MELHOR

Bruno Teixeira Presidente da Comissão de Juventude da UGT

A nossa geração merece ser feliz, e delinear um projeto de vida pessoal e profissional junto dos seus e do seu país.

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Estamos a assistir a uma mudança na sociedade. Há uma nova geração de pessoas que se empenha em desenvolver soluções inovadoras que visam a resolução de problemas importantes e negligenciados da nossa sociedade. São os chamados Empreendedores Sociais, indivíduos que encontram formas de responder com criatividade, energia e otimismo a desafios locais, nacionais e globais, através da criação de iniciativas poderosas nas quais é frequente observar seis características base:

Missão - resolvem problemas sociais negligenciados… Inovação - …através de novas abordagens e ferramentas que

desafiam a visão tradicional...Impacto - …transformando mentalidades e as dinâmicas na

sociedade… Empoderamento - …envolvendo e capacitando as partes

interessadas... Escalabilidade - …com a preocupação e capacidade de crescer e se

replicar… Sustentabilidade - …baseadas em modelos de funcionamento

eficientes e viáveis.

Apesar de encontrarmos muitos exemplos de Empreendedorismo Social ao longo da nossa História, só mais recentemente é que este movimento ganhou dimensão, dinâmica e credibilidade. O Relatório de Empreendedorismo Social do Global Entrepreneurship Monitor revela que 5,1% da população ativa dos países da Europa Ocidental está envolvida na criação de iniciativas que têm como finalidade criar impacto social.

Os Empreendedores Sociais são especialistas em criar novos paradigmas e são pioneiros de novas abordagens com o potencial de transformarem a sociedade. Por exemplo, o português Miguel Neiva, criou um código de cores universal que torna a comunicação pela cor inclusiva para os daltónicos – o ColorADD. Este código está a ser aplicado progressivamente nas áreas de educação, transporte e saúde e tem despertado interesse internacional pela ajuda que dá às pessoas daltónicas. Mas nem sempre é necessário criar algo completamente novo. Muitas vezes, os Empreendedores Sociais transformam algumas ideias já existentes, utilizando a criatividade para afinar ou reinventar processos que melhoram as soluções já existentes. Ao implementarem as suas iniciativas, os empreendedores sociais geram o seu auto emprego, bem como novas oportunidades de emprego para a sua equipa. E, como frequentemente desenham soluções sustentáveis e com elevado potencial de crescimento, o número de postos de trabalho criados pode ter tendência para crescer ao longo do tempo, à medida que a inovação criada se propaga para novos pontos geográficos. Mais interessante ainda, é que o Empreendedorismo Social constitui-se como um veículo poderoso na criação de oportunidades de trabalho para pessoas que são excluídas da sociedade, como por exemplo, os desempregados de longa duração, pessoas com necessidades especiais, idosos, etc.

Quando Thorkil Sonne, um executivo dinamarquês de uma empresa de telecomunicações descobriu que o seu filho de 3 anos tinha autismo, começou a pensar como o poderia ajudar a ser feliz. Concluiu que nada teria mais valor para Lars do que um trabalho onde as suas características particulares fossem apreciadas. Nasceu assim a Specialisterne (Especialistas, em dinamarquês) que consiste numa organização de programação de software, testes e controle de qualidade, que contrata colaboradores autistas e lhes proporciona um ambiente de trabalho adequado às suas necessidades. Ao contrário das outras pessoas, os autistas gostam de fazer tarefas rotineiras porque lhes dão a sensação de segurança. Estes jovens passam a ser

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EMPREENDEDORISMO SOCIALE A CRIAÇÃO DE EMPREGO

Isabel Lopo de CarvalhoÁrea de Investigação do IES

um elemento chave para a criação de valor e sentem-se reconhecidos, mais felizes, têm menos problemas de saúde e tornam-se participantes ativos da sociedade, em vez de institucionalizados e com um elevado custo associado a essa situação. Esta organização, está presente em 7 países e atualmente emprega mais de 110 colaboradores dos quais cerca de 75% têm autismo.

Em Portugal, a Cais Recicla visa criar emprego para a população sem-abrigo, reutilizando lixo industrial na criação de peças artísticas. Para tal, designers da rede da empresa parceira Unicer concebem protótipos de objetos a partir do lixo industrial que a Unicer gera, que são depois replicados por sua indicação por pessoas apoiadas pela Associação Cais que têm assim oportunidades de emprego. Os produtos são, depois, vendidos quer a empresas, quer em lojas. Entre os produtos existentes encontram-se guarda-sóis, crachás e relógios de parede.

Outro exemplo, é o Complexo de Serviços para a Comunidade do CRID - Centro de Reabilitação e Integração de Deficientes - que visa promover, de formas alternativas, a integração social, profissional e económica da pessoa com deficiência através do estímulo e apoio à criação de micro negócios. A iniciativa consiste num espaço onde funcionam 7 empresas sociais: papelaria, lavandaria, reparação de calçado, reparação de electrodomésticos, artes decorativas, cafetaria e loja de ajudas técnicas “Sem Obstáculos”. Nesta iniciativa, pessoas com deficiência trabalham por conta própria e autonomia, pagando uma renda simbólica ao CRID. Em poucos meses estes negócios tornaram-se sustentáveis e permitiram emprego e uma vida preenchida a mais de 15 pessoas com necessidades especiais no Concelho de Cascais.

Estes são alguns exemplos de iniciativas de Empreendedorismo Social que visam criar oportunidades de emprego para públicos mais fragilizados e que o fazem contribuindo para criar mais e melhor valor para a sociedade. De notar que a lógica de ação dominante por detrás destes exemplos é a capacitação, ou seja, promovem a autonomia e responsabilidade individual dos beneficiários da iniciativa.

Assim, pode-se olhar para o Empreendedorismo Social como um caminho a percorrer que tem o potencial de transformar individualmente cada um de nós, as pessoas que nos rodeiam e a sociedade onde vivemos. Mas não é um caminho que se faça sozinho. É preciso que outras pessoas se juntem, partilhem e trabalhem em prol da mesma visão. É preciso trabalhar em parceria com outros agentes da sociedade, como as empresas, organizações públicas e a sociedade civil para criar as soluções mais sustentáveis e eficazes. É, mais do que tudo, preciso acreditar que existe o poder, dentro de nós, para construir o mundo de novo.

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Tendo existido desde sempre, e sendo mesmo o motor de desenvolvimento e progresso, de conquista de direitos laborais pelas gerações anteriores, o desafio de participação na luta pelo trabalho com direitos é uma das questões mais debatidas hoje.

É possível e tem interesse para os jovens trabalhadores a luta organizada , dentro do movimento sindical de classe? Como é que ela se desenvolve num contexto de graves ataques ao próprio direito à atividade sindical?

Está presente, de forma cada mais clara, o confronto entre o interesse que têm os trabalhadores e o interesse dos grandes grupos económicos que, a nível mundial, controlam Estados soberanos e se movem para multiplicar os seus lucros, fazendo com que a nossa geração seja mais explorada, mais sujeita ao desemprego, à extinção dos direitos sociais e laborais, à precariedade e aos baixos salários.

A realidade impõe um confronto de classes com interesses opostos que, por mais apelos ao “diálogo social”, nunca conciliarão o lucro e o poder nas mãos de alguns com a existência de direitos, apropriação da riqueza por quem a produz, servindo os interesses dos trabalhadores e das populações.

O caso do nosso país é paradigmático com a imposição de um pesado conjunto de medidas, contidas no designado “Memorando de Entendimento”, cujas consequências se revelam nos dramáticos números do desemprego entre os jovens do nosso país, mais de 42%.

Os sucessivos compromissos dos governos portugueses com os interesses dos grandes países que dominam hoje a União Europeia, nomeadamente com a assinatura de acordos que levam à diminuição da produção em sectores fundamentais como a construção naval, a agricultura, a indústria têxtil e metalúrgica, ou mesmo as pescas, levaram a uma destruição desastrosa do sector produtivo no nosso país. Esta destruição teve, e continua a ter, consequências graves, tanto para a entrada de trabalhadores mais jovens nas empresas, de forma directa na produção, como para a aposta na inovação e tecnologia, no aproveitamento das capacidades dos milhares de quadros técnicos e superiores que se formam no nosso país e que, hoje, mais do que nunca, estão sujeitos a uma crescente vaga de emigração.

Aliada a esta situação, está a opção política de promover a ideia do “trabalho como ocupação”, em vez do trabalho como direito, conceito bem presente nas chamadas “medidas activas de emprego” que levam, na prática, à perda de salários reais e à marginalização e discriminação dos jovens no mundo laboral.

Perante esta situação e numa altura em que se travam importantes lutas, rejeitando a perda de conquistas históricas para a classe trabalhadora (o caso das 8 horas de trabalho diário ou dos direitos de maternidade e paternidade), é de toda importância assinalar a actualidade do projecto sindical que hoje envolve a maioria dos trabalhadores sindicalizados em Portugal.

Este projecto, faz da CGTP-IN, uma central sindical histórica, largamente maioritária, decisiva na Revolução de Abril e nos avanços sociais que a ela se seguiram.

Os sindicatos são associações de trabalhadores, que defendem o seu interesse de classe e que, em cada sector, reivindicam, negoceiam e defendem, de forma colectiva, o cumprimento dos direitos de quem trabalha. Todos os trabalhadores, em qualquer sector de actividade, e

em qualquer local de trabalho se podem sindicalizar ou constituir sindicatos.

Podem e devem sindicalizar-se, ao contrário do que é constantemente transmitido nas empresas e na comunicação social dominante, todos os jovens que trabalham, independentemente do vínculo laboral com a empresa, da idade ou do salário, estejam a trabalhar em part-time ou a tempo inteiro. É uma garantia constitucional.

No seu artigo 55º, a Constituição da República Portuguesa reconhece aos trabalhadores a Liberdade Sindical “como condição e garantia da construção da sua unidade para a defesa dos seus direitos e interesses”. No exercício da liberdade sindical é garantido aos trabalhadores o direito a criarem associações sindicais, a exercerem actividade sindical dentro da empresa, nomeadamente, à informação e consulta dos dados da empresa, à protecção legal no exercício das suas funções.

O direito à liberdade sindical está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), no seu Artigo 23.º, “Toda a pessoa tem o direito de fundar, com outras pessoas, sindicatos, e de neles se filiar para a defesa dos seus interesses”.

Afirmar a importância da sindicalização de jovens, esclarecer e desfazer ideias falsas acerca dos sindicatos é um dos papéis da Interjovem/CGTP-IN, a organização de jovens trabalhadores, dirigentes e delegados sindicais da CGTP-IN

A Interjovem/CGTP-IN afirma-se, fundamentalmente, como espaço/movimento de debate e acção político-sindical em torno de questões concretas, mantendo, em toda a estrutura sindical da CGTP-IN uma dinâmica permanente de discussão dos problemas específicos dos jovens trabalhadores, no quadro da Luta pela resposta aos problemas dos jovens, propondo formas de intervenção e participação próprias nas acções a desenvolver.

Reafirmamos, desde o início deste ano, após a realização da 7ªConferência Nacional, o interesse que tem uma maior participação e entrega de responsabilidades aos jovens trabalhadores dentro do movimento sindical. Serão os trabalhadores mais jovens, com a sua experiência e com a acção, dentro do local de trabalho, que contribuirão decisivamente para a transformação social. São eles que trarão para a discussão, trocando experiências de trabalho entre gerações com vivências diferenciadas, os temas com que nos confrontamos hoje, e que, resultando da velha exploração capitalista, assumem novas formas.

Quando hoje recomendam aos jovens que emigrem, dizendo-nos que não há alternativa e que “todos estão a fazer sacrifícios”, escondem que uma minoria enriquece à custa da intensificação da exploração laboral e do empobrecimento generalizado. É envolvendo-nos na acção sindical que estamos a construir um presente e um futuro melhor, um país onde possamos trabalhar com direitos, onde a riqueza que produzimos esteja nas nossas mãos e ao nosso serviço.

SINDICALIZAÇÃO E LUTA PELO TRABALHO COM DIREITOS

DESAFIO ACTUAL PARA OS JOVENS TRABALHADORES

Anabela Laranjeira Interjovem/CGTP-IN

Podem e devem sindicalizar-se, ao contrário do que é constantemente transmitido nas empresas e na comunicação social dominante, todos os jovens que trabalham, independentemente do vínculo laboral...

A agricultura portuguesa está, pelos vistos, na “moda”. Não necessitava de estar se os nossos governantes do passado recente não a tivessem desprezado como fizeram.

Sendo crucial na alimentação humana, responsável por funções que mais nenhuma actividade pode proporcionar como sejam, a preservação do ambiente, dos recursos naturais e da manutenção da biodiversidade, em nosso entender, este sector está sempre na “moda”, uma vez que sempre que sai de “moda” os países e responsáveis políticos, mais tarde ou mais cedo, têm de pagar a fatura.Os números da população humana e perspectivas de curto prazo apontam para uma maior e mais eficiente necessidade de produzir, devemos produzir mais não prejudicando os recursos, temos de produzir mais beneficiando o nosso planeta.

São efectivamente desafios difíceis, possíveis se o Homem colocar o seu saber ao serviço de causas justas, ao invés de o colocar ao serviço de interesses pessoais, políticos, materiais e outros.

Cada agricultor, cada Jovem Agricultor, cada potencial agricultor pode dar o seu melhor, mas devem seguir este caminho, reconhecidos por uma sociedade que valorize o seu trabalho, e pela classe política que os deve estimular e contribuir para o seu sucesso.

Em Portugal, nos últimos tempos, tem despertado e muito o interesse pela agricultura, associada à crise, mas também por existirem apoios ao sector, pela primeira vez assistimos a um esvaziar das verbas à disposição no Proder, nomeadamente no que diz respeito à instalação de Jovens Agricultores.

Efectivamente o número de candidaturas de Jovens Agricultores aumentou de forma substancial em Portugal, tendo-se verificado um boom muito significativo no último ano. Os dados do Proder relativos ao ano passado indicam que, em média, se instalaram por mês 280 Jovens Agricultores e 6000 até à data.

Temos que ter a noção que o perfil do Jovem Agricultor de hoje é muito diferente daquele a que estávamos habituados. Hoje temos Jovens com formação superior noutras áreas e que na maior parte das vezes não têm qualquer ligação à “terra”. Se por um lado podemos dizer que este facto pode e traz com certeza valor acrescido ao sector, inovação, novas dinâmicas de gestão…, a verdade é que também traz muitas preocupações, infelizmente alguns destes Jovens vêm para este sector não por vocação, mas sim por falta de opções, à procura de alternativas momentâneas como forma de ultrapassar situações profissionais menos favoráveis.

É aqui que as Organizações Agrícolas e a AJAP, em particular, bem como o próprio Ministério da Agricultura têm um grande trabalho pela frente. Se por um lado, o Ministério fez desta matéria bandeira, promovendo que mais e mais Jovens se instalassem, por outro lado, tem agora a obrigação de lhes proporcionar todas as condições para que esta sua escolha se torne acertada.

A AJAP numa atitude de seriedade tem a verdadeira noção deste trabalho difícil (parte já o executa com recursos próprios), mas o setor necessita de sinais claros e ferramentas, para que este apoio e acompanhamento aos Jovens Agricultores passe pelas Organizações de Agricultores acredidatas.

Neste sentido, a AJAP deixa algumas das suas reflexões, acima de tudo sugestões, que em nosso entender devem ser enquadradas no próximo Quadro de Apoio:

Existe necessidade de termos técnicos projectistas credenciados pelo Ministério, sujeitos a uma formação e avaliação para poderem desempenhar esta tarefa.

A Formação em agricultura tem que ser mais aprofundada, com maior duração e no nosso entendimento deve ter início aquando da submissão da candidatura e deverá estar concluída até ao términus do investimento.

Este é o ponto fulcral do sucesso destes Jovens, assenta na necessidade de garantir que o Jovem tenha um acompanhamento técnico nos primeiros anos da sua instalação, este acompanhamento fará seguramente a diferença entre uma instalação bem-sucedida de uma menos bem-sucedida.

Por fim, gostaria só de referir que a AJAP embora apreensiva com este “tsunami” de instalações, não deixa de estar extremamente satisfeita, pois hoje, graças a estas instalações e à redescoberta do sector temos uma janela de oportunidades que se abre. No entanto, podemos garantir que nos vamos manter com humildade e profissionalismo a fazer o nosso trabalho de acordo com as exigências que a representação estatutária da classe nos obriga, não vamos cair na tentação de fazer um trabalho fácil.

1. Projectistas:

2. Formação:

3. Acompanhamento técnico:

AJAP UMA NOVA DINÂMICA NO ESPAÇO RURAL!

Ricardo Brito PaesPresidente da AJAP – Associação dos Jovens Agricultores de Portugal

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O EMPREGO JOVEM E O PAPEL DAS COOPERATIVAS

Projeto GeraçãoCoop, CASES Cooperativa António Sérgio para a Economia Social

As cooperativas desempenham um papel essencial na criação de auto-emprego e são um fator disseminador e potenciador da participação, da cidadania e do empreendedorismo.

Tal como as restantes organizações da economia social, as cooperativas têm como finalidade central o empowerment dos seus membros, procurando colmatar necessidades ainda existentes nos vários domínios da sociedade. Existem inúmeras cooperativas que, para além da aplicação dos seus valores e princípios, procuram através do seu objeto social, promover e intensificar a participação das comunidades em geral e de grupos vulneráveis em particular.

De natureza local, as empresas cooperativas criam valor e emprego dentro da própria comunidade, contribuindo para o seu desenvolvimento e combatem a desertificação.

Este modelo empresarial, com mais de 150 anos, continua jovem ao ser capaz de responder aos desafios atuais, colocando as pessoas no centro da ação, não os lucros, uma vez que todos/as os/as envolvidos/as na organização identificam as necessidades não satisfeitas, constroem as soluções e reúnem-se na mesma estrutura pessoas que são simultaneamente proprietárias e trabalhadoras na organização.

Neste sentido, as cooperativas são uma forma de empreendedorismo coletivo, já que resultam da soma das capacidades, da partilha de riscos e da procura de obtenção de impacto transformador, através da participação ativa e democrática dos seus membros.

Os últimos números sobre as cooperativas e o emprego dizem-nos que este sector gera 100 milhões de postos de trabalho em todo o mundo, o que demonstra claramente o seu importante papel na criação de emprego.

Estas organizações são, assim, uma solução de auto-emprego, de criação de oportunidades para os/as jovens, possibilitando-lhes transformar as suas ideias num negócio empreendedor como resposta às suas necessidades.

De acordo com o Relatório V da OIT – A crise do emprego jovem: Tempo de agir (2012) – “nos países da OCDE, há indicações semelhantes de que a formação de cooperativas de jovens profissionais nas profissões liberais (arquitetos, designers, serviços de TI, contabilistas, etc.) está a aumentar e que estas são, por vezes, assumidas sob a forma de cooperativas de empresários onde pequenas e médias empresas se juntam para formar uma cooperativa para partilhar serviços.”

O mesmo relatório refere que alguns estudos têm apontado para o facto de que as cooperativas são mais resilientes e sustentáveis do que outros tipos de empresas.

O CIRIEC Portugal realizou em 2012 um inquérito às cooperativas sobre o emprego jovem em Portugal. Estes são alguns dos resultados: »

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w w w. g e r a c a o c o o p . p [email protected]

Os/as jovens (menos de 35 anos) representam quase um terço (31%) dos/as trabalhadores/as das cooperativas;

A quase totalidade dos/as trabalhadores/as (93%) trabalha a tempo inteiro;

Quatro em cada cinco trabalhadores/as das cooperativas está contratado/a “sem termo”;

As mulheres são maioritárias (58%) no conjunto dos/as trabalhadores/as das cooperativas;

A diferença entre as percentagens de cooperativas que geraram emprego e que despediram dá um saldo positivo de 13% a favor da criação de postos de trabalho.

Se quiseres saber mais sobre este universo consulta o u c o n t a c t a - n o s a t r a v é s d e

.

1 - http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/ relatorio_empregojovem_2012.pdf

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Porque…1. São organizações democráticas e geridas pelos membros, que devem ser ouvidos e participar ativamente em todas as decisões;2. São geradoras de riqueza e emprego nas comunidades onde se inserem;3. São organizações baseadas em valores que colocam as pessoas à frente do lucro;4. Oferecem soluções práticas e reais para problemas económicos, sociais e ambientais;5. São uma forma de empowerment, através da aplicação dos valores cooperativos;6. Os membros partilham igualmente as dificuldades da “tempestade” e os benefícios da “bonança”;7. São mais resilientes em tempos de crise, unindo esforços para encontrar soluções favoráveis a todos/as;8. São um movimento internacional que faz a diferença a nível local e global;9. Tornam a vida e a economia das pessoas e das comunidades mais justa, equitativa e democrática;10. São flexíveis o suficiente para darem resposta a diferentes necessidades coletivas e individuais;

Cooperativas? Sim! Porquê?

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EMPREGAR PARA INCLUIR? JOC - Juventude Operária Católica

Numa altura em que a taxa de desemprego, em Portugal, se situa nos 17,6% e que o desemprego juvenil atinge 42,1%, (segundo os dados oficiais do Eurostat, em abril de 2013), assistimos, igualmente, a taxas de risco de pobreza e exclusão social muito elevadas, 18% e 24,4% respetivamente (dados do Eurostat, de 2011). Será, então, o emprego a solução para a pobreza e exclusão social?

Jovem vítima de bullying; Jovem discriminado devido ao tom de pele, raça, religião, sexo,

orientação sexual, entre outros; Jovem a quem é negado o transporte (de táxi) por se dirigir para um

bairro tido como “problemático”; Jovem com poucos recursos (ou nenhuns), ou simplesmente sem

motivação, que abandona o ensino obrigatório, deixando para trás a sua formação mas também sem possibilidade, vontade ou autoestima suficientes para integrar o mercado de trabalho (conhecida como geração Nem-Nem – nem trabalha nem estuda);

Jovem, sem apoio familiar, sem meios de subsistência, dependente de instituições de solidariedade social ou de subvenções sociais;

Jovem imigrante, sozinho no país, irregular, sem trabalho e sem recursos suficientes para voltar ao país de origem, dependente da solidariedade particular e de instituições religiosas e/ou sociais;

Jovem com emprego precário, sem vínculo laboral ou a recibos verdes, que não vê o seu trabalho reconhecido, é explorado, não se sente realizado e não tem tempo para a família e amigos; …

São muito diversos os fatores que podem conduzir à exclusão social; Tanto o emprego (precário) como o desemprego podem promover a

exclusão social.

O trabalho além de ser fonte de sustento (necessidades materiais básicas) é também fonte de realização pessoal e social. Desta forma, a falta de trabalho (incluindo trabalho a tempo parcial) ou o trabalho em excesso, sem estabilidade contratual, com salários muito baixos, que não deixa tempo para a vida social e cultural, conduz as pessoas ao isolamento, a depressões, ao abandono de atividades que garantiam o convívio, a participação cívica, etc. Neste sentido, podemos dizer que quando o trabalho é visto apenas como meio para atingir os fins das empresas e organizações, em que só importa a produtividade, o lucro e o enriquecimento pessoal, mesmo que a custo da exploração dos trabalhadores, é um trabalho que, desvirtuado da sua essência, pode ser gerador de exclusão social.

O trabalho digno ou decente, como defende a OIT (Organização Internacional do Trabalho), é o que mantém a sua essência – a centralidade da pessoa. É o que tem como missão dignificar e realizar o ser humano, tornando-o útil e protagonista da sociedade, através da formação, do respeito pelos seus direitos, da exigência dos respetivos deveres e da promoção de relacionamentos interpessoais saudáveis e harmoniosos. É o que proporciona ao trabalhador, crescer e desenvolver-se por meio das responsabilidades que assume, sejam elas maiores ou mais pequenas e é promotor da liberdade de opinião, do poder de decisão e da oportunidade de definir e fazer escolhas em função do seu próprio projeto de vida. Neste sentido, é fundamental o

Antes de mais, pode ser importante perceber em que tipo de situações é que pode haver risco de exclusão social, entre os mais jovens. Aqui ficam alguns exemplos, baseados em casos reais:»»

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A partir destes pequenos exemplos podemos concluir que:»»

Quando é que o (des)emprego pode aumentar o risco de exclusão social?

Quando é que o emprego promove a inclusão social?

respeito pelo horário de trabalho que não torne o homem escravo, mas que lhe dê tempo para a família, amigos, cultura, associativismo e todas as outras necessidades que tem o homem social.

Apesar de vivermos numa sociedade profundamente individualista, é importante que cada vez mais se valorize o tempo para os outros, para estar em grupo, para socializar, pois muitas vezes é nestes espaços que mais se cresce e se desenvolve, podendo isso ser, inclusivamente, um importante fator para o bom desempenho das funções profissionais.

Esta visão do trabalho implica compreender a necessidade de olharmos o outro como um “irmão”, de amarmos e nos respeitarmos uns aos outros de forma verdadeira e desinteressada. Só assim poderemos ser realmente promotores de inclusão em todas as suas vertentes, seja do desempregado, do discriminado ou do rejeitado…

Nós, jovens, temos o dever de ser estes agentes de inclusão. Para que isto seja possível, talvez sejam necessárias mudanças paradigmáticas e estruturais na nossa sociedade, que permitam o nascimento de uma nova forma de organização mundial que não coloque a tónica no lucro, na especulação, nos interesses individuais, mas sim na justa distribuição de bens e recursos existentes, conforme as necessidades de cada um e de acordo com a regra do BEM-COMUM e da JUSTIÇA SOCIAL. Mas enquanto isso não acontece, cabe a cada um de nós responsabilizar-se pelos que o rodeiam e trabalhar para a INCLUSÃO de todos!

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Atualmente existem 26.6 milhões de desempregados na UE, um número que continua a crescer a cada mês que passa. Há diferenças sem precedentes nos níveis de desemprego e outros indicadores socioeconómicos entre os 17 países da zona euro. As taxas de desemprego apresentam variações de 22.1 pontos percentuais, entre a Grécia – com 27% - e a Áustria – com 4.9%. Isto é inaceitável.

Tenho uma preocupação constante com o problema do desemprego jovem. Na Europa, os jovens têm o dobro das probabilidades dos adultos de estarem desempregados. Mais do que 5.6 milhões estão desempregados e o número total NEETs (jovens que não estão empregados ou a estudar ou em formação/estágio) é mais do que 7.5 milhões.

O desemprego pode marcar para sempre a vida dos jovens. Ficam mais propensos ao desemprego no futuro, têm uma maior probabilidade de exclusão, risco de pobreza e problemas de saúde. Se não agirmos de forma decisiva, corremos o risco de desperdiçar uma geração, o que acarreta consequências sociais graves e um sério custo económico. De acordo com um relatório publicado em Outubro de 2012 pelo Eurofound, o custo anual com os NEETs em Portugal cresceu de 1.24% do seu PIB, em 2008, para 1.57% do seu PIB em 2011.

Esta situação requere ação urgente. É óbvio que o problema fundamental é o agravamento da recessão económica. Temos de resolver a crise financeira subjacente e voltar ao crescimento sustentável. Mas também temos que tomar outros passos e estou convencido que os países europeus podem resolver da melhor forma o problema trabalhando em conjunto, partilhando ideias e cooperando.

É por isso que a Comissão lançou recentemente uma “Chamada para a Ação” para o trabalho conjunto em prol dos jovens europeus, recomendando aos Estados Membros que implementem medidas práticas, tais como a Garantia Jovem, baseada nos modelos de sucesso de países como a Áustria ou Finlândia. A ideia é simples: no período dos 4 meses seguintes a deixarem a escola ou ficarem desempregados, os jovens com idades inferiores aos 25 anos deverão receber uma oferta de emprego de qualidade, ou uma oferta de educação/formação ou estágio. Por outras palavras, os jovens que não conseguem encontrar um trabalho devem aproveitar o tempo para melhorar a sua empregabilidade, adquirindo conhecimento e competências requeridas pelos empregadores.

Os Ministros da UE já reuniram acordo sobre os princípios da Garantia Jovem em todos os países. Mas agora será necessário pô-la em prática e a UE poderá, mais uma vez, contribuir para a sua implementação. Uma das principais fontes de financiamento poderá ser o Fundo Social

Europeu, que disponibiliza cerca de 10 mil milhões de euros todos os anos. Serão afetados 3 mil milhões de euros do FSE, especificamente para este fim.

Outra questão essencial que tem de ser tida em conta é o abando escolar precoce. Em Portugal, tem-se assistido a uma diminuição significativa deste fenómeno, na última década (de 45% em 2002, para 20.8% em 2012), porém o país continua a apresentar das taxas mais altas da UE. Continuo a incitar Portugal que reforme o seu sistema de ensino para que os jovens permaneçam mais tempo na escola, ajudando-os a ganhar as competências e qualificações que os empregadores procuram.

A segmentação do mercado de trabalho por idades constitui outro dos problemas – há os trabalhadores mais velhos e estabelecidos que beneficiam de condições privilegiadas de emprego e os mais novos desempregados, ou com contratos a prazo. São por isso bem-vindas as reformas introduzidas no mercado de trabalho pelas autoridades portuguesas no ano passado, que irão contribuir para a melhoria da eficiência do mercado de trabalho nacional e para o benefício da população jovem portuguesa.

Podemos também facilitar a mobilidade laboral, promovendo o conhecimento das oportunidades de trabalho em outros países da UE, entre os jovens que querem essa mobilidade. Um relatório recente mostra que apesar do número recorde de desemprego na Europa, há 1.7 milhões de vagas que ficam por preencher. A rede Pan-Europeia de procura de trabalho – EURES –pode constituir um apoio, facilitando o contato entre empregadores de diferentes países da UE e pessoas com competências particulares à procura de trabalho. Por exemplo, na Alemanha, há empresas que demonstram interesse em recrutar jovens de outros países. Temos verificado que as pessoas voltam aos seus países de origem quando a situação melhora, como foi o caso dos imigrantes polacos no Reino Unido. Contudo, a procura de trabalho no estrangeiro será uma questão de escolha pessoal. O nosso objectivo permanece o de assegurar emprego sustentável em todos os países da UE.

Os serviços públicos de emprego são um elemento essencial para que a Garantia Jovem funcione. Podem promover a procura de emprego, arranjar um estágio ou uma oportunidade de formação de forma personalizada, adequada à sua situação e capacidades particulares. Os Países Baixos, por exemplo, concentram as quatro primeiras semanas que a pessoa está desempregada na orientação profissional. Acredito que a reforma que o Instituto de Emprego e Formação Profissional está a desenvolver é um importante passo para aumentar a sua eficiência. Além disso, a Comissão propôs recentemente estabelecer critérios de desempenho e incentivar a troca de boas práticas entre os Serviços Públicos de Emprego dos Estados Membros. Isto permitirá que países como a Alemanha e a Áustria partilhem as suas experiências de sucesso, facilitando a implementação prática da Garantia para a Juventude em outros países.

Não há uma solução mágica para o desemprego. Mas os níveis de desemprego na Europa não podem ser considerados “naturais” ou “aceitáveis”. Temos que por em prática uma combinação de medidas que funcionem de forma a fomentar a procura do trabalho e criar mercados de trabalho mais dinâmicos, que apoiem a criação de mais e melhores empregos sustentáveis, especialmente para os jovens.

UNIÃO DE ESFORÇOS NO COMBATE AO

DESEMPREGO JOVEM

László AndorComissário Europeu para o Emprego,

Assuntos Sociais e Inclusão

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O desemprego jovem tem estado no centro das atenções das políticas nacionais e europeias. As estatísticas são duras e bem conhecidas: a taxa de desemprego jovem na União Europeia é de 23,5%. Em países como a Grécia, Espanha, Portugal e Itália a situação é tão má que dois em cada três jovens estão sem um emprego.

O conceito da Garantia para a Juventude passa pelo compromisso conjunto dos governos, autoridades regionais e centros de emprego de assegurarem oportunidades de trabalho, educação, formação ou estágios a todos os jovens que estejam desempregados ou fora do sistema de ensino formal, há um determinado período de tempo. O objectivo é prevenir o início de um período de desemprego de longa duração e, particularmente, reduzir o número de NEETS (Not in Employment, Education or Training – jovens que não estão nem no mercado de trabalho, nem no sistema de educação ou nem em formação/estágio), que tem vindo a crescer desde a chegada da crise (em 2011, 14 milhões de jovens entre os 15 e os 29 anos estavam excluídos do mercado de trabalho e do sistema de educação na europa).

Em fevereiro de 2013, os Ministros de Emprego dos Estados Membros adoptaram a recomendação para a criação de sistemas de Garantia Jovem nos seus países. Com o acordo político estabelecido, as atenções estão agora centradas na forma concreta de implementação destes sistemas, quais os financiamentos necessários e como assegurar a qualidade das experiências que promovem a transição do sistema de ensino para o mercado de trabalho.

Os programas de Garantia Jovem já estão em campo em muitos países e regiões da UE. Os países nórdicos foram os primeiros a terem a iniciativa.. Na Suécia, a Garantia de Emprego tem como prioridade oferecer serviços rápidos de emprego, para evitar o desemprego de longa duração, com efeitos prejudiciais. O programa desenvolve uma avaliação pessoal das necessidades de cada jovem registado no desemprego, combinando uma actividade intensa de procura de emprego, com medidas activas do mercado de trabalho, tais como estágios, apoio no acesso à educação ou formação, apoios ao empreendedorismo.

A versão finlandesa, criada em 1996, promove oportunidade de trabalho aos jovens desempregados com menos de 25 anos ou aos jovens com formação universitária acabados de sair do sistema de ensino, no período de 3 meses a seguir a terem ficado desempregos ou terem saído da universidade. Os programas são desenhados de acordo com as necessidades e idade dos jovens. Para os jovens desempregados é dada preferência aos programas de educação e formação. Já para os jovens com idade superior a 25 anos é prioritário arranjar um trabalho. Este sistema tornou-se muito popular e com bons resultados – em 2011, 83,5% dos jovens à procura de emprego recebeu resposta adequada, nos 3 meses a seguir a terem-se registado como desempregados.

Garantia Jovem

A Prática

Investimento

Envolvimento dos Jovens

Para que estes programas tenham sucesso é evidente que é necessário investir. Os programas de Garantia Jovem da Suécia e da Áustria envolvem, por exemplo, um investimento de 5500 € a 8000 € por cada inscrito. O Conselho Europeu reservou 6 mil milhões de euros para a Iniciativa Emprego Jovem, cuja disponibilização foi antecipada já para o período 2014-2015 (em vez de 2014-2020, conforme estava inicialmente previsto), para as regiões com uma taxa de desemprego acima dos 25%. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que o custo da implementação das Garantias para a Juventude pela UE seria de 21 mil milhões de euros, o que mostra claramente que o investimento europeu não será suficiente. A Garantia Jovem terá de ser agora o alvo do investimento nacional, para que seja acessível a todos, funcione no sentido dos interesses dos jovens, com capacidade de abordar concretamente o problema do desemprego jovem, melhorando a economia europeia.

O Parlamento Europeu apoiou esta necessidade de um maior investimento Europeu e nacional nas medidas dirigidas à juventude. Martin Schulz, Presidente do Parlamento Europeu, em discurso aos seus colegas no passado mês de Maio insistiu na introdução rápida das Garantias Jovens a nível nacional, bem como na necessidade do seu financiamento adequado. Este sentimento teve eco, também, na Resolução Parlamentar de Junho sobre Emprego Jovem que apelava aos Estados Membros para investir no emprego jovem como componente chave das estratégias de investimento social.

Exemplos de investimentos nacionais e regionais em sistemas de Garantias Jovens já começam a ser conhecidos. A nível regional, a Câmara Municipal de Birmingham, no Reino Unido, lançou uma iniciativa £15 milhões de libras (17.7 milhões de euros) a serem aplicados na implementação de um programa de Garantia Jovem. Em Março de 2013, o governo de Aragão - Espanha – adoptou a declaração de apoio para a Garantia Jovem, sendo a primeira região de Espanha a fazê-lo. O Conselho Nacional de Juventude de Espanha foi convidado a ser envolvido no desenvolvimento da Garantia à Juventude.

GARANTIA JOVEM: A ABORDAGEM EUROPEIA AO PROBLEMA DO DESEMPREGO Fórum Europeu de Juventude

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Para a concepção e implementação das Garantias Jovens devem ser envolvidos um conjunto de parceiros sociais, incluindo associações de comércio, sindicatos, organizações de juventude. Estas últimas, em particular, têm demonstrado que são capazes de promover formação focada na carreira através da educação não formal e desenvolver uma cultura de empreendedorismo entre os jovens. Neste aspeto, as organizações de juventude podem ser vistas como organizações elegíveis para os investimentos a serem feitos na Garantia Jovem, tendo em conta a sua capacidade para chegar aos jovens, para aumentar a sua empregabilidade e a sua consciência sobre oportunidades no âmbito desses programas.

Além da Garantia Jovem, as medidas Europeias de emprego jovem incluem outras iniciativas que estão focadas na educação e na transição para o mercado de trabalho. O ensino vocacional e formação profissional estão cada vez mais no centro das atenções dos decisores políticos, tendo em conta que os países com as taxas mais baixas de desemprego jovem, como a Alemanha e Áustria, têm fortes sistemas de educação duplos. A iniciativa da Comissão “Aliança Europeia para as Aprendizagens” (lançamento em Julho), tem como objectivo aumentar o apoio à Aprendizagem na Europa, através da criação de uma rede de parcerias nacionais.

A criação de emprego e a promoção de oportunidades de formação são objectivos prioritários nas medidas de emprego para os jovens. No entanto, é importante salientar que a promoção destas medidas não pode acontecer em sacrifício da qualidade. Emprego de qualidade, em condições de segurança, com acesso à protecção social, direitos e remuneração digna têm de ser uma parte principal dos programas de Garantia Jovem e de promoção de oportunidades de formação, no âmbito da iniciativa Aliança Europeia para as Aprendizagens. A primazia da qualidade também é significativa quando se fala noutro passo importante rumo ao emprego, que são os estágios. Muitas vezes, os estágios têm-se tornado uma tendência abusiva no actual mercado de trabalho, com períodos de trabalho a tempo inteiro sem remuneração e sem vantagens a nível de formação. A Comissão Europeia tentará abordar a questão da falta de ferramentas legais que enquadrem os estágios, com uma proposta de um Quadro de Qualidade para os Estágios, que se espera para o fim deste ano.

O acordo em relação à Garantia Jovem, bem como para outras medidas Europeias que façam face ao desafio que os jovens têm de enfrentar da transição da escola para o mercado de trabalho, são muito bem vindas no combate ao desemprego jovem. Contudo, correm o risco de se tornarem palavras ocas se a UE e os próprios Estados membros não investirem na sua promoção. A coordenação dos Estados membros na partilha de boas práticas e nas aprendizagens recíprocas é essencial, bem como a utilização das forças das organizações de juventude para chegar aos jovens de toda a Europa. Através dessa acção coordenada entre instituições, Estados membros, parceiros sociais e representantes dos jovens, a Europa pode começar a combater o flagelo do desemprego jovem e trabalhar para a salvação de uma geração.

Aprendizagens, Estágios e Empregos de Qualidade

Conclusões

«...Emprego de qualidade, em condições de segurança, com acesso à protecção social, direitos e remuneração digna têm de

ser uma parte principal dos programas de Garantia Jovem e de promoção de oportunidades de formação... »

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O estudo dos problemas relacionados com as saídas profissionais e a empregabilidade dos cursos de ensino superior é matéria da maior relevância que preocupa responsáveis das instituições que têm a seu cargo a formação e a inserção de futuros diplomados no mercado de trabalho. E, naturalmente, começa por ser assunto que acima de tudo preocupa quem procura obter formação superior para cumprir e realizar objetivos de vida e alcançar plena satisfação pessoal e profissional.

Neste artigo, procede-se a uma apresentação das principais conclusões e recomendações resultantes de um estudo recente no qual se lida com o conceito de empregabilidade através de diferentes perspetivas que podem ser construídas para o entendimento da sua importância acrescida no espaço público. A empregabilidade começa por funcionar como critério e fator de motivação que orienta as escolhas que os alunos fazem sobre os ciclos de estudos de ensino superior em que se inscrevem. Mas a empregabilidade também se constitui como estratégia orientadora, quer para a estruturação e revisão dos curricula e planos de estudos levadas a cabo pelas instituições de ensino superior que procuram alargar as possibilidades de captação de novos alunos, quer para as próprias decisões que os estudantes tomam quando confrontados com a necessidade de gerir opções curriculares e oportunidades de obtenção de experiência profissional ao longo do seu ciclo de formação. Assim, a empregabilidade surge ainda no debate público como o efeito ou resultado de um processo de escolhas e opções em torno de experiências, competências e qualificações, mais ou menos valorizadas na inserção no mercado de trabalho, processo esse que envolve múltiplos atores e intervenientes, com destaque para os estudantes, as instituições de ensino e as entidades empregadoras.

O levantamento de informação a que procedemos foi, à partida, orientado pela preocupação de se compreender a situação atual dos diplomados e a sua inserção no mercado de trabalho, o que determinou o desenvolvimento de um eixo metodológico de incidência empírico-quantitativa assente na análise de dados estatísticos disponíveis para o efeito. O nosso estudo também teve em atenção as ações que têm vindo a ser desenvolvidas pelas instituições e organizações com responsabilidades diretas acrescidas na promoção da empregabilidade dos diversos ciclos de estudos, procurando proceder a uma avaliação de âmbito qualitativo sobre os percursos de aproximação das universidades e institutos politécnicos às condições reais do mercado de trabalho. Todavia, esta abordagem qualitativa, que também contemplou uma avaliação do papel desempenhado pelas ordens e associações profissionais e sua articulação com as instituições de ensino superior, não será discutida no presente texto. A análise da evolução do número de diplomados e a caracterização da entrada e progressão no mercado de trabalho, permitem concluir que se registou na última década um crescimento do número de diplomados no ensino superior público e uma estabilização dos diplomados no ensino superior privado. O 1º ciclo de licenciatura afirmou-se, de forma clara, como o grau académico mais frequente, assistindo-se, nos últimos anos, com a adoção generalizada do

Processo de Bolonha nas instituições portuguesas, a um aumento considerável dos diplomados ao nível de mestrado. Este facto parece indiciar que o 2º ciclo do ensino superior passou a ser, de forma crescente, considerado como um nível necessário para uma melhor empregabilidade. As áreas de educação e formação dos diplomados têm registado alterações significativas no período em análise, sugerindo que os alunos são sensíveis à informação disponibilizada sobre essas áreas, nomeadamente sobre a respetiva empregabilidade.Os resultados alcançados parecem sugerir uma tendência para uma continuidade entre ciclos de estudos, o que neste caso não corresponde completamente às intenções inicialmente inscritas no Processo de Bolonha, que preconizava as vantagens de períodos de educação intercalados com períodos de participação no mercado de trabalho. No mesmo sentido, embora com alguma diferença por áreas, a maioria dos diplomados prossegue os seus estudos de 2º ou 3º ciclo na mesma área de especialização em que obteve o diploma anterior. Cerca de metade dos alunos inscritos no 2º e 3º ciclo, fazem-no na mesma instituição em que obtiveram o diploma anterior. Estes resultados sugerem um padrão de mobilidade relativamente reduzido.

Quanto à inserção profissional dos diplomados, regista-se um peso crescente dos diplomados do ensino superior entre os que entram pela primeira vez no mercado de trabalho, sinalizando uma tendência de aumento das qualificações das gerações mais novas no momento da entrada no mercado de trabalho. Por outro lado, os diplomados com mestrado ou doutoramento têm vindo, também, a ver o seu peso crescer entre os que ingressam pela primeira vez no mercado de trabalho, o que mais uma vez sugere alguma tendência para percursos académicos contínuos, em que os jovens obtêm os diversos ciclos de ensino superior sem passarem por qualquer experiência de participação no mercado de trabalho. Entre os que entram no mercado de trabalho regista-se, igualmente, uma alteração das áreas de formação.

Em termos espaciais, as áreas metropolitanas continuam a concentrar a maior absorção de diplomados com o ensino superior, se bem que se observe uma perda de peso, sinalizando a disseminação crescente em regiões fora das áreas metropolitanas dos empregos para diplomados com o ensino superior. As atividades económicas terciárias são responsáveis pela maior absorção dos indivíduos que entram pela primeira vez no mercado de trabalho com habilitações superiores, em particular, as atividades relacionadas com os serviços às empresas e as atividades nos domínios da saúde e ação social. As empresas de maior dimensão apresentam maior probabilidade de contratar trabalhadores que entram com habilitações escolares mais elevadas. É de notar, no entanto, que 50% dos doutorados que entram pela primeira vez no mercado de trabalho são contratados por empresas com menos de 50 pessoas ao serviço, dos quais, 26% por microempresas (0 a 9 pessoas ao serviço), o que poderá indiciar a lguma capac idade de in ic iat iva empresar ia l , ou de empreendedorismo, por parte dos diplomados com maiores habilitações.

Por outro lado, verifica-se a existência de um «prémio» de remuneração associado às habilitações escolares mais elevadas, mas com alguma tendência de redução para os diplomados que entram pela primeira vez no mercado de trabalho. Ao longo dos últimos anos este «prémio» tem vindo a perder relevância para os diplomados com o bacharelato e a licenciatura, mantendo-se todavia para os mestrados e doutoramentos, que registam, também, «prémios» superiores. Este «prémio» é claramente diferenciado por áreas de educação e formação.

EMPREGABILIDADE E ENSINO SUPERIOR EM PORTUGAL

José Luís CardosoInstituto de Ciências Sociais daUniversidade de Lisboa

1 - José Luís Cardoso, Vitor Escária, Vitor Sérgio Ferreira, Paulo Madruga, Alexandra Raimundo e Marta Varanda, Empregabilidade e Ensino Superior em Portugal. Lisboa: A3ES Readings, 2012.

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No que respeita ao impacto de qualificações adicionais na situação e carreiras profissionais, a análise efetuada permitiu verificar que o mercado de trabalho parece atribuir um valor acrescido à obtenção de qualificações, ainda que obtidas em momento posterior à entrada no mercado de trabalho. Os trabalhadores que alteram as suas habilitações escolares depois de estarem no mercado de trabalho obtêm ganhos na sua remuneração superiores à média verificada no mercado para o mesmo período.

Quanto à questão do desemprego dos licenciados, a análise efetuada com base nos desempregados registados nos centros de emprego revela que se verificou uma tendência de aumento, em termos absolutos, do número de desempregados registados com diploma de ensino superior. Todavia, este aumento em termos absolutos não se reflete num aumento do peso dos diplomados no total de desempregados. Estes resultados constituem um alerta relativamente à análise da evolução deste fenómeno.

Com efeito, se de facto se assiste a um aumento substancial do total de diplomados inscritos como desempregados, não se assiste a um incremento equivalente do seu peso no total de desempregados inscritos. Assim, pelo menos parcialmente, o aumento do total de diplomados inscritos não é mais do que o reflexo do aumento do desemprego, sendo também reflexo do aumento do número de diplomados, não espelhando um aumento tão significativo da incidência relativa do desemprego entre os diplomados.

Verifica-se, ainda, uma alteração significativa da distribuição por áreas de educação dos diplomados registados como desempregados nos centros de emprego. A análise de um indicador de empregabilidade construído pela DEEC/MEC (ex-GPEARI/MCTES) para cada par estabelecimento-curso, que mede a relação entre o número de diplomados registados nos centros de emprego e o número de diplomados em cada par estabelecimento-curso, revela também uma variabilidade significativa, o que indicia diferentes adequações das formações ministradas às necessidades do mercado de trabalho.

A análise do desemprego dos diplomados do ensino superior, efetuada com base nos dados do Inquérito ao Emprego do INE, revelou um perfil de evolução da taxa de desemprego dos diplomados e não diplomados relativamente distinta, sendo que a taxa de desemprego entre os diplomados – com exceção de um ano – foi sempre inferior à dos não diplomados. Tendo essa diferença aumentado no período mais recente, denota-se que a taxa de desemprego dos diplomados não aumentou tanto quanto a dos não diplomados no contexto da atual crise. Entre os diplomados com ensino superior, verifica-se que aqueles que possuem graus mais elevados tendem a registar taxas de desemprego inferiores, sugerindo uma valorização pelo mercado dessas qualificações adicionais. Observou-se, ainda, a existência de uma variabilidade relativamente elevada da taxa de desemprego para as diferentes áreas de educação e formação.

No que respeita à problemática da migração de diplomados, os dados analisados sugerem uma tendência de aumento deste fenómeno, sendo esse aumento transversal aos diversos graus de ensino superior. Porém, importa ter presente que os dados a que este estudo se refere não contemplam as alterações que parecem ter ocorrido nos últimos 2 anos, como consequência do agravamento da situação económica e financeira do país.

Da análise estatística efetuada resulta, claramente, a importância de se ter informação de qualidade para se poder avaliar adequadamente a empregabilidade dos diplomados do ensino superior. Não obstante os avanços efetuados nos anos mais recentes – em particular com o reforço dos dados do RAIDES recolhidos pela atual DGEEC/MEC e dos trabalhos efetuados pela mesma entidade em torno da questão do desemprego dos diplomados – ainda subsistem aspetos passíveis de melhoria que permitirão obter resultados de melhor qualidade e orientar melhor as políticas públicas nesta área. Por exemplo, para poder avaliar as questões da mobilidade e dos percursos dos estudantes, a possibilidade de ter no RAIDES identificadores individuais, ou de tornar obrigatório o preenchimento por parte das instituições da informação retrospetiva sobre os graus anteriores frequentados pelos inscritos, permitiriam reforçar a qualidade das análises efetuadas.

Apesar do esforço efetuado pela DGEEC/MEC (ex-GPEARI/MCTES) no sentido de se construir um indicador de empregabilidade para cada par estabelecimento-curso, subsistem alguns problemas com este indicador. Assim, esse indicador deverá ser analisado com cautela e a sua utilização para efeitos de decisão sobre a organização da oferta de ciclos de estudos deverá ser cuidadosamente ponderada. De facto, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego é uma informação administrativa que resulta de uma ação dos indivíduos que decidem inscrever-se, não sendo uma amostra necessariamente representativa da população desempregada. O próprio conceito de desemprego que é utilizado não corresponde ao conceito estatístico utilizado nas estatísticas do desemprego. Por outro lado, a informação nada diz sobre se os que estão empregados o estão em áreas relacionadas com a sua área de educação ou formação. Assim, faz sentido desenvolver um esforço mais global de construção de um indicador de empregabilidade, de forma harmonizada para todas as instituições, que possa constituir uma base credível para decisão de políticas públicas.

«...a análise efetuada permitiu verificar que o mercado de trabalho parece atribuir um valor acrescido à obtenção de

qualificações, ainda que obtidas em momento posterior à entrada no mercado de trabalho.. »

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Cerca do ano 2000, perguntei aos alunos de uma escola básica nos arredores de Lisboa que aprendizagens achavam que deveriam e gostariam de fazer na sua escolaridade, tendo em conta a entrada no novo milénio.

O mais extraordinário nas suas respostas foi que, analisadas e agrupadas em categorias, e embora, naturalmente, numa linguagem mais elementar, acabavam por indicar aprendizagens muito próximas daquelas que diversos órgãos da União Europeia definiram como currículo básico de todo o cidadão europeu: comunicação em língua materna; comunicação em línguas estrangeiras; competência matemática e competências básicas em ciências e tecnologia; competência digital; aprender a aprender; competências sociais e cívicas; espírito de iniciativa e empreendedorismo; sensibilidade e expressão culturais e capacidades transversais como pensamento crítico e criativo; espírito de iniciativa ou resolução de problemas etc.

Ora os alunos entrevistados davam uma grande importância ao domínio da língua portuguesa e à aprendizagem de línguas estrangeiras – o Inglês era consensual, mas defendiam também a aprendizagem de línguas mais exóticas. Também gostariam e achavam que deviam aprender Informática e as novas formas de comunicação e de aceder à informação. Reconheciam, embora mais a custo, que deviam aprender Matemática, Ciências, História, Geografia…Mas defendiam também, com entusiasmo, aprendizagens desportivas (nadar em primeiro lugar), artísticas (sobretudo dançar) e sociais (trabalhar em grupo, colaborar, compreender os fenómenos sociais…). Ou seja: defendiam um currículo amplo, arejado, moderno e equilibrado!

Esta experiência é interessante não só pelo currículo defendido, não só pela coincidência apontada com o “currículo básico” comum a todos os cidadãos definido pela União Europeia, mas também como prova de que os principais interessados – neste caso, os jovens – deveriam ser ouvidos para a definição do currículo que lhes é destinado. Não sendo, obviamente, nem a única nem mesmo a principal fonte do currículo da Educação Básica, os alunos deveriam participar na sua elaboração. Aliás, o currículo da Educação Básica deveria, sempre que possível, conter uma dimensão de “pessoalização”, consistindo, por exemplo em disciplinas ou temas de opção que contribuiriam certamente para estimular o gosto por aprender, a auto-motivação para serem e fazerem o melhor possível – ao fim e ao cabo talvez a competência mais importante a desenvolver nos nossos tempos incertos e de rapidíssimas transformações a exigirem uma disponibilidade permanente para aprender.

Um currículo básico comum é necessário por razões de desenvolvimento individual e da própria sociedade. As sociedades contemporâneas, urbanas, competitivas, assentes na tecnologia exigem hoje uma escolaridade muito mais longa e complexa do que as sociedades rurais onde a transmissão de saberes se fazia calmamente, de geração para geração; ou do que as sociedades industriais onde a escola da maioria se restringia à aprendizagem de certos hábitos de trabalho e à aquisição de conhecimentos elementares.

Mas essa aprendizagem mais longa e complexa não se limita a conhecimentos cumulativos, estruturados e compartimentados. Consiste também num conjunto de atitudes, disposições (como a abertura ao novo e a flexibilidade para lidar com o incerto), capacidades (como a de trabalhar em equipa, a de saber colocar questões e procurar responder-lhes ou a de tomar decisões e agir em conformidade) além de um conhecimento aprofundado de conceitos e a capacidade de os relacionar. E sobretudo requer o gosto e a disponibilidade para uma aprendizagem permanente.

Um currículo básico comum – indispensável a uma sociedade coesa, equitativa, democrática – não deveria impedir que as escolas tivessem propostas diversas que estimulassem os alunos a reflectirem sobre os seus gostos e necessidades, que os orientassem nas suas preferências vocacionais, que lhes dessem os apoios e respostas necessários aos seus ritmos e dificuldades e que os tornassem abertos à contemporaneidade, às aprendizagens económicas, financeiras, ambientais, jurídicas e políticas, por exemplo, tão prementes no mundo actual que requer cidadãos informados e conscientes.

Sairá esta diversidade de propostas demasiado cara? A nossa experiência recente – senão o bom senso mais elementar – exige que se preveja o custo de qualquer mudança. Mas o uso adequado e inteligente das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC), uma organização escolar diferente e um novo mandato para os professores (que inclua funções de tutoria e organização das aprendizagens) poderão contrabalançar esses custos. Nem tudo o que a escola oferece tem que ser proporcionado com recursos da própria escola. Desde que a oferta esteja acessível na comunidade, através dos media ou por recursos on-line, a escola pode proporcionar esse acesso e monitorizar o seu desenrolar e os seus resultados. Isto implica que haja uma parte substancial do currículo dependente do poder de decisão das escolas, atribuindo-se assim um conteúdo autêntico à sua tão propalada “autonomia”.

Que a existência desta dimensão “pessoalizada” não sirva de pretexto para a determinação minuciosa e indutora de imobilidade do currículo “comum”.

É todo o currículo que tem que se orientar para promover a reflexão, o conhecimento aprofundado e flexível, as capacidades de sentir, criar, investigar e trabalhar com os outros e para todos. E que as escolas, ouvidos também regularmente os alunos, assumam essa nova função de desenvolvimento curricular (articulando tronco comum e diversidade) e de organização e gestão de recursos.

QUE CURRÍCULO PARA OS PRÓXIMOS ANOS?

Maria Emília Brederode SantosMembro do Conselho Nacional de Educação (Coordenadora da 4ª Comissão Especializada Permanente sobre Currículo, Manuais e outros Recursos Educativos)

1 - Recommendation 2006/962/EC do Parlamento Europeu e do Conselho de 18 de Dezembro 2006 sobre competências-chave para a aprendizagem ao longo da vida, OJ L 394, 30.12.2006. European Commission/EACEA/ Eurydice, 2012. Developing Key competences at School in Europe: Challenges and Opportunities for Policy - 2011/12. Eurydice Report. Luxembourg: Publications Office of the European Union.

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Espanha, à semelhança de outros países Europeus, enfrenta desde há anos os efeitos de uma grave crise económica que afeta grande parte dos elementos que sustentam o bem estar e a qualidade de vida dos cidadãos. A taxa de desemprego, o aspeto mais dramático da crise, alcança 27.16%. Em relação aos jovens, considerados até aos 25 anos, a taxa de desemprego eleva-se até um espetacular 57.22% sobre o total dos ativos.

Evidentemente, tal situação – e as perspetivas mais pesimistas sobre o futuro imediato que os organismos económicos internacionais apresentam – condiciona de maneira absoluta o desenvolvimento vital de toda uma geração de jovens, condenada a lutar pelo seu futuro em condições laborais adversas. Em Espanha, o acesso ao trabalho por parte dos jovens nunca foi fácil; mesmo antes da atual crise a inserção dos jovens no mercado de trabalho apresentava uma forte precariedade, ou seja, até que o/a jovem conseguisse um contrato fixo e estável, via-se obrigado a experimentar períodos marcados por trabalhos temporários, salários baixos e condições insatisfatórias. A atual crise veio ampliar ineficiências do sistema laboral espanhol que já estavam presentes há muito tempo. E esta situação, somada a outros fatores, provocou, em grande parte, o atraso na emancipação e o alargamento dos estados de dependência dos e das jovens em relação às suas famílias de referência.

Os/as jovens, perante a situação de escassez laboral, desenvolveram dois tipos de comportamentos; um é o da sobre-qualificação, na crença que uma maior formação implica melhores possibilidades de encontrar trabalho. Assim, grande parte dos jovens planeiam realizar ciclos de formação médios ou superiores (formação profissional, licenciaturas, mestrados, pós-graduações, etc) à espera que tal preparação assegure uma entrada no mercado de trabalho. Este movimento pode ser qualificado como uma estratégia, porque é ativa e procura adaptar-se à situação atual. Outro comportamento mais passivo baseia-se em esperar e confiar que a situação mude e retorne a um ciclo económico positivo. Esta é, na essência, a ideia que subjaz ao grupo de jovens a que se chamou Ni-Ni (“ni trabajan ni estudian”), composto por uma variedade de perfis. Por um lado, este grupo é formado pelos jovens que abandonaram os estudos de forma prematura, no calor da “bolha imobiliára” que oferecia empregos de baixa qualificação académica – maioritariamente no setor da construção – e que asseguravam estabilidade laboral, com altas remunerações, sem passar por períodos de formação muito longos. A crise expulsou do mercado de trabalho grande maioria desses jovens. O seu retorno ao sistema de Educação – que poderia ser um caminho para aumentar as possibilidades de encontrar trabalho - na atualidade não constitui uma opção para eles, dadas as debilidades que tradicionalmente se apontam à Formação em Espanha, supostamente de baixa qualidade e ineficiente para as exigências e necessidades laborais. Ou simplesmente, é impossível para estes jovens dar continuidade aos estudos por razões económicas.

Mas também encontramos entre os “Ni-Ni” os jovens com estudos médios ou superiores, que não abandonaram de forma prematura os estudos, mas que apesar dos seus títulos têm dificuldades semelhantes em encontrar trabalho. Entre estes continuar a estudar também não é uma solução, ou porque já atingiram um limite, ou porque entendem que o aumento das suas qualificações académicas não seria eficaz na procura de um posto de trabalho. Ou também porque não podem continuar a estudar, na sequência do aumento dramático dos custos da formação académica.

Independentemente do perfil, neste grupo denominado “Ni-Ni” predominam sentimentos de desespero e conformismo. Porém, contrariamente ao muito que é dito, a maioria procura emprego de forma ativa, não permanece parada e está disposta a aceitar qualquer oportunidade de trabalho. Põem as suas esperanças num golpe de sorte que lhes permita encontrar trabalho, numa mudança de ciclo económico ou, no limite, procuram a sua saída profissional fora de Espanha, especialmente aqueles que estão melhor preparados. Seja como for, é um grupo numeroso da população que se pode permitir um largo período de inatividade sem que daí resulte uma situação de autêntica catástrofe nacional, devido ao sistema de solidariedade familiar espanhola, que permite a um membro da família contar com o sustento económico e emocional do resto dos membros e em que os jovens e as jovens (e também os menos jovens) encontram um refúgio perante a adversidade, que lhes permite sobreviver em estes tempos excepcionalmente duros.

A JUVENTUDE ESPANHOLA PERANTE A CRISE

Juan Carlos Ballesteros GuerraFundador e co-diretor da SociológicaTres,

instituto de investigación social y opinión pública.Professor da facultade de Ciências Políticas e

Sociologia da Universidad Complutense de Madrid.

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1. Os números dramáticos

2. As dificuldades acrescidas

De acordo com os dados mais recentes, publicados pela OIT no relatório «Tendências Globais do Emprego Jovem 2013: Uma geração em risco», a taxa global de desemprego jovem situa-se nos 12,6% (em 2007, antes da crise, era de 11,5%), o que se traduz em 73.4 milhões de desempregados jovens em todo o mundo. Hoje a possibilidade de um jovem estar desempregado é três vezes superior à de um adulto.

No caso dos países industrializados, a taxa de desemprego jovem cifrava-se em 18,1% em 2012. Outros dados relevantes dizem respeito ao número de jovens que não estão nem a estudar, nem em formação e que estão desempregados (NEET). Neste caso, a taxa NEET aumentou 2,1 pontos percentuais entre 2008 e 2012 atingindo «15,8% como média dos países da OCDE».

A crise do emprego jovem nestes países é ainda caracterizada por: períodos de procura de emprego mais longos («um terço ou mais dos jovens à procura de emprego estão desempregados há pelo menos seis meses»); número crescente de jovens que se encontram de forma involuntária em situações de emprego temporário ou a tempo parcial («na Europa, do total de emprego jovem, 25% constitui emprego a tempo parcial. Outros 40,5% de jovens empregados na região trabalham com contratos temporários»); e transição da escola para o emprego mais tardia (efeito «hiding out» através dos estudos e múltiplos períodos de desemprego, como referia a atualização de 2011 do relatório de 2010).

Outra dimensão diz respeito à qualidade dos empregos. No ano passado, foi discutido, na 101ª Conferência Internacional do Trabalho (CIT), o relatório da OIT «A crise do emprego jovem: Tempo de agir». Neste pode ler-se que «Os jovens são afetados desproporcionalmente com o défice de trabalho digno e com empregos de baixa qualidade, medidos em termos de pobreza no trabalho, baixos salários e/ou situação no emprego, incluindo a incidência de informalidade».

Por outro lado, dois novos desafios emergiram com esta crise: muitos jovens desistiram de procurar emprego; e regista-se um aumento no número de desempregados com formação superior. No primeiro caso, de acordo com o relatório do emprego jovem, o desencorajamento resulta ou de baixas perspetivas em encontrar um emprego ou da perceção de que os empregos disponíveis estão abaixo das qualificações. Em todo o caso, a incidência é superior junto dos que abandonaram precocemente os estudos e dos que provém de contextos socioeconómicos mais desfavoráveis. No segundo caso, esta é uma tendência preocupante que deve ser analisada com maior profundidade – «É devido à deterioração da qualidade do ensino superior e degradação dos diplomas obtidos? Ou é devido à inadequação de competências (...)? Ou, como a maioria acredita, é uma questão de padrões de crescimento que não criam o tipo de empregos de boa qualidade que correspondem quer às elevadas competências adquiridas, quer às aspirações dos jovens?» Em todo o caso, e de acordo com o relatório relativo às tendências globais do emprego jovem (2013), convém sublinhar que, nas economias avançadas, o risco de inadequação de competências continua a ser maior para os menos qualificados.

Para além da dificuldade de encontrar empregos de qualidade, os jovens debatem-se com perspetivas de futuro sombrias. O relatório «A crise do emprego jovem: Tempo de agir» alerta para as dificuldades destes jovens em «garantir uma pensão digna e uma proteção social adequada (...) devido à precariedade atual das finanças públicas».

(DES)EMPREGO JOVEM: UMA GERAÇÃO EM RISCO

Mafalda TronchoDiretora OIT-Lisboa

Também devem ser sublinhados dois aspetos: as dificuldades são maiores para os mais jovens dos jovens; e, apesar de haver uma diminuição do fosso, as mulheres continuam em desvantagem. Esta desvantagem agrava-se junto de grupos tradicionalmente mais vulneráveis como migrantes e pessoas com deficiência.

Já em 2010 a OIT alertava para os custos que o desemprego jovem acarretava para a economia, para a sociedade e para cada jovem e respetiva família. Neste contexto, alguma literatura tem-se debruçado sobre o «efeito cicatriz», ou seja, como se pode ler neste relatório de 2010, «a premissa é a de que existem consequências de longo prazo para os jovens cuja primeira experiência no mercado de trabalho é o desemprego. Presumivelmente, o jovem desempregado reduzirá o seu salário de reserva com o passar do tempo, aceitando empregos de má qualidade e menos seguros e, portanto, tornando-se mais vulnerável a futuros períodos de desemprego».

Por outro lado, os dados de que a OIT dispõe provam uma relação entre o desemprego jovem e a exclusão social.

Para as famílias esta situação representa igualmente um custo elevado. Não só porque não existe o retorno do investimento e dos sacrifícios feitos para que os filhos tivessem uma vida melhor, mas também porque continuam a ter de os apoiar financeiramente. O relatório «A crise do emprego jovem: Tempo de agir» vai ainda mais longe, sublinhando que «a atual crise do emprego jovem está a comprometer a ideia de que cada geração verá melhorias no seu emprego e nas perspetivas económicas. Está também a ameaçar o princípio da igualdade de oportunidades entre gerações».

Mas as dificuldades não se colocam só ao nível intergeracional. Mesmo entre os jovens as desigualdades tendem a agravar-se. Estamos portanto, se nada for feito, a caminhar para sociedades mais desiguais (entre jovens e entre jovens e adultos) que já se vêm traduzindo em tensões sociais e políticas imprevisíveis.

Para as sociedades os custos são enormes. A nível económico, perde-se todo um investimento que foi feito na educação dos jovens. Perde-se o seu potencial, a sua motivação, capacidade de inovação e criatividade. Estes jovens não contribuem para os sistemas de segurança social e adiam sucessivamente o projeto de constituir família, com as consequências conhecidas. E, finalmente, sublinhe-se o perigo que a falta de confiança encerra. De facto, «a crise do emprego jovem é uma ameaça para a coesão social e para a estabilidade política (...) Está a comprometer a confiança dos jovens homens e mulheres nos paradigmas políticos atuais e na possibilidade de um futuro melhor».

3. As consequências nefastas e o seu custo

Em 2012, a questão do emprego jovem teve particular destaque na CIT, que culminou com a adoção da já referida Resolução «A Crise do Emprego Jovem: Um apelo à ação». Nesta Conferência, teve ainda lugar o Fórum da Juventude, que refletiu sobre os resultados de diversas consultas nacionais. Em Portugal, esta consulta teve lugar a 4 de maio numa iniciativa organizada conjunta da OIT-Lisboa e da CASES e que contou, entre outros, com a participação do CNJ.

Para além de todas estas iniciativas e dos estudos e relatórios que a OIT tem vindo a assegurar, a Organização dispõe ainda de um programa relativo ao emprego jovem que opera em mais de 60 países em todo o mundo. Através deste programa a OIT presta assistência técnica, promovendo intervenções integradas e coerentes.

Finalmente, deve ser sublinhado que a OIT e a Comissão Europeia prosseguem formas de cooperação com o objetivo de analisar mecanismos de garantias à juventude, bem como um conjunto de outras medidas/políticas promotoras de emprego jovem. Os resultados deste exercício serão posteriormente divulgados, constituindo uma nova etapa no seguimento do já referido apelo da OIT de 2012 a favor do emprego jovem.

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«…a crise do emprego jovem é uma ameaça para a coesão social e para a estabilidade política (...) Está a comprometer a

confiança dos jovens homens e mulheres nos paradigmas políticos atuais e na possibilidade de um futuro melhor.»

4. Boas práticas

5. A ação da OIT

Como o Pacto Global para o Emprego, aprovado pela CIT de 2009 sublinha, não existe uma solução única para o problema do desemprego e do desemprego jovem. As respostas políticas devem ser enquadradas em função das circunstâncias nacionais e num contexto mais vasto de desenvolvimento económico e crescimento do emprego. Assim, uma intervenção bem-sucedida passa em primeiro lugar, por um estudo detalhado da realidade. As análises devem ainda ter em consideração a heterogeneidade deste grupo etário. Só para dar um exemplo, como refere a nota conjunta OCDE/OIT «Giving youth a better start», preparada para a reunião dos Ministros do Trabalho e do Emprego do G20 (Setembro de 2011, Paris), «deve ser feita a distinção entre adolescentes e jovens adultos, e dar particular atenção aos que abandonam precocemente os estudos». No primeiro caso, é mais relevante mantê-los ou encorajá-los a regressar aos estudos, enquanto no segundo, ganha maior importância criar condições para que adquiram experiência de trabalho.

A OIT tem, neste quadro, identificado algumas tendências e boas práticas a ter em conta.

Relativamente às tendências, é possível afirmar que «as iniciativas para o emprego jovem são mais bem-sucedidas se combinadas com um conjunto de medidas que abranjam a educação e a formação, os serviços do mercado de trabalho, apoio para obter experiência profissional e o desenvolvimento do empreendedorismo. Estas iniciativas funcionam melhor quando concebidas em conjunto com os parceiros sociais» (Emprego Jovem: Um objetivo global, um desafio nacional).

Relativamente a boas práticas, deve ser sublinhado que não existe uma fórmula mágica mas a partir de diversos estudos foi possível identificar áreas chave a serem consideradas a par das especificidades de cada país. Estas áreas constam da Resolução «A Crise do Emprego Jovem: Um apelo à ação», adotada na CIT de 2012 e são as seguintes: emprego e políticas económicas que promovam a procura agregada e melhorem o acesso ao crédito; educação e formação que facilitem a transição da escola para o trabalho e previnam a inadequação de competências; políticas do mercado de trabalho que incidam sobre o emprego dos jovens mais desfavorecidos; empreendedorismo e auto-emprego; e direitos laborais baseados nas normas internacionais do trabalho.

Nestas áreas tem sido possível identificar boas práticas, que podem ser consultadas com mais detalhe nos documentos referidos neste artigo. A título de exemplo, refiram-se os programas «garantia jovem» inicialmente implementados pelos países nórdicos e recentemente adotados pela Comissão Europeia.

Desde há muito que a questão do emprego jovem vem sendo seguida pela OIT. Em junho de 2005, os mandantes tripartidos da OIT adotaram uma importante resolução sobre emprego jovem e concluíram quanto à necessidade de uma abordagem integrada combinando políticas macroeconómicas e medidas específicas cobrindo tanto o lado da oferta quanto o da procura e atendendo à quantidade e qualidade dos empregos. Também em 2009, os mandantes tripartidos a OIT reforçaram a sua preocupação com esta realidade ao inscrever no Pacto Global para o Emprego a necessidade de apoiar os e as jovens especificando algumas medidas concretas a serem adotadas pelos Estados (formação, desenvolvimento da iniciativa privada…).

O efeito combinado da crise económica e das políticas de austeridade traduziu-se na redução de 563.100 postos de trabalho em Portugal entre 2008 e 2012, dos quais 343.500 foram suprimidos nos últimos dois anos, no quadro da implementação do programa de ajustamento imposto pela TROIKA e das políticas do governo PSD-CDS. Estas políticas – cortes salariais no sector público e declínio dos salários no privado; redução das verbas para a educação, saúde e protecção social; aumento de impostos sobre o trabalho; facilitação dos despedimentos; redução do investimento público; e redução das prestações sociais – acrescentaram recessão à recessão traduzindo-se no decréscimo do PIB de 1,6% em 2011 e 3,2% em 2012, e por via da retracção da procura interna influenciaram fortemente a escalada do desemprego em geral e do desemprego jovem em particular (Quadro 1).

No primeiro trimestre de 2013 a taxa de desemprego jovem (15-24) em Portugal atingiu 40,7% abrangendo um total de 161 mil jovens desempregados, representando 19% do total da população desempregada, enquanto a taxa de desemprego entre os adultos (população com mais de 25 anos) alcançou 15.8% e a taxa global de desemprego 17.7%. No mesmo período, a percentagem de desemprego de longa duração (superior a um ano) entre os jovens desempregados atingiu 33,7% enquanto entre os adultos atingiu 52,8%. A evolução dramática da taxa de desemprego entre 2008 e 2012 atingiu particularmente Portugal e mais especificamente os jovens comparativamente com a evolução das taxas de desemprego dos adultos e dos jovens na Zona Euro (Quadro 2). Contudo, o crescimento do desemprego foi mais acelerado na população adulta que aumentou, entre 2008 e 2012, cerca de 95% (contra 57% na Zona Euro), enquanto o crescimento do número de jovens desempregados foi de 44% (contra 30% na Zona Euro). Em síntese, Portugal enfrenta uma situação altamente crítica e sem precedentes no que diz respeito ao desemprego dos jovens, no contexto do crescimento acelerado da população desempregada. Quadro 2

DESAFIOS DO DESEMPREGO JOVEM EM PORTUGAL NO CONTEXTO DA CRISE E DA AUSTERIDADE

Maria da Paz Campos LimaInstituto Universitário de Lisboa, DINÂMIA'CET-IUL

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A dramática escalada do desemprego nos últimos dois anos teve lugar apesar da fortíssima vaga de emigração no mesmo período. Embora a informação disponível não permita avaliar cabalmente a amplitude da emigração, os dados existentes apontam para números que se aproximam das grandes vagas migratórias da década de 1960. Segundo as estimativas anuais do Instituto Nacional de Estatística (INE) 44 mil pessoas residentes em Portugal emigraram em 2011 para outro país – a grande maioria dos quais de nacionalidade portuguesa e uma parte significativa com formação superior – representando um aumento de 85% face às 23.760 pessoas que emigraram em 2010. Em 2011, segundo as estimativas do INE, emigraram cerca de 9.099 jovens dos 15 aos 24 anos (3.315 dos 15 aos 19 e 5.784 dos 20 aos 24); cerca de 5.876 dos 25 aos 29 anos; e cerca de 5.027 dos 30 e 34 anos. Contudo, segundo as estimativas da Secretaria de Estado das Comunidades, nos últimos dois anos (2011 e 2012) terão saído do país 100 a 120 mil portugueses por ano.

Desafios e respostasUma vez que o desemprego juvenil é fortemente influenciado pelo ciclo económico (Dietrich, 2012), a mudança do actual panorama exige certamente a substituição das políticas de austeridade por políticas de crescimento económico que gerem empregos (em quantidade e qualidade). Embora as políticas activas de emprego – e em primeiro plano a formação profissional de qualidade (que urge implementar) – sejam necessárias para potenciar a empregabilidade dos jovens, se não se actuar ao nível da oferta de emprego o seu impacto será limitado.

Simultaneamente, temos que nos interrogar sobre o tipo de oferta de emprego que se pretende gerar. Esta é uma questão central para a juventude já que o problema da inserção dos jovens no mercado de trabalho não é apenas o desemprego, mas também o trabalho precário, contingente e de baixos salários, predominante entre os mais jovens (dos15 aos 24) e muito frequente entre os jovens adultos (dos 25 aos 34). Com efeito em 2012, cerca de 56,5% dos jovens tinham contratos de trabalho temporários e 11,0% tinham empregos a tempo parcial.

Fonte: Eurostat,LFS.

Fonte: Eurostat,LFS.

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«…as medidas de apoio à inserção profissional dos jovens como o financiamento de estágios, ao apontar para remunerações

extremamente baixas, como é o caso em Portugal, contribuem para a reprodução deste padrão de precaridade»

Como se tem visto, as respostas ao desemprego juvenil na UE e em Portugal têm ignorado em grande medida esta dimensão do problema (Chung et al, 2012). Paralelamente, as medidas de apoio à inserção profissional dos jovens como o financiamento de estágios, ao apontar para remunerações extremamente baixas, como é o caso em Portugal, contribuem para a reprodução deste padrão de precaridade. Os apoios à contratação a termo têm o mesmo efeito. A filosofia do “mal menor” contribui para a desregulação do mercado de trabalho e para a degradação da inserção profissional dos jovens. Simultaneamente esta orientação abrange não só os mais jovens mas também jovens adultos já com compromissos familiares. O horizonte da juventude varia assim entre estar no desemprego ou ingressar nas fileiras dos “working poor”.

Um dos problemas mais preocupantes em Portugal que a recessão e a austeridade agravaram é a persistente taxa de desemprego entre os jovens licenciados. O nível de educação já não protege os jovens uma vez que a probabilidade de ficar desempregado não atinge apenas os grupos menos escolarizados mas também os mais escolarizados. Em Portugal, na Itália e na Grécia a obtenção de diploma universitário já näo reduz o risco de desemprego em comparação com os grupos menos qualificados (Eurofound, 2012). A emigração de jovens licenciados é um reflexo desta situação.

Além de ser necessário criar condições atractivas para reter estes jovens, urge garantir ao grupo mais jovem (15-24) a possibilidade/oportunidade efectiva de prosseguir/retomar os estudos, na óptica da sua valorização pessoal e da melhoria do nível educacional da população, ainda muito baixo em Portugal. Contudo, a redução acentuada e continuada das verbas do orçamento do estado

Chung, H et al (2012) Young people and the post-recession labour market in the context of Europe 2020. Transfer: European Review of Labour and Research, 18(3): 301-317.Campos Lima, M P (2012) The Challenges of youth unemployment in Portugal against recession and austerity policies. Social Europe Journal: http://www.social-europe.eu/2012/11/the-challenges-of-youth-unemployment-in-portugal-against-recession-and-austerity-policies/eDietrich, H (2012). Youth Unemployment in Europe: Theoretical considerations and empirical findings.Friedrich Ebert Foundation: http://library.fes.de/pdf-files/id/ipa/09227.pdfEuropean Foundation for the improvement of Living and Working Conditions - Eurofound (2012). Young people and NEE in Europe: first findings. http://www.eurofound.europa.eu/pubdocs/2011/72/en/1/EF1172EN.pdf

para a educação compromete claramente tal garantia, ao mesmo tempo que limita o impacto que o prolongamento da escolaridade obrigatória poderia ter.

Finalmente, uma outra questão que urge equacionar refere-se às condições de vida dos jovens desempregados, uma parte importante dos quais não aufere qualquer subsídio de desemprego: não só os que procuram o primeiro emprego, mas também os jovens trabalhadores cujas trajectórias contingentes e precárias (entre o trabalho temporário e o desemprego) não os habilitam a tais benefícios. A extensão do direito ao subsídio de desemprego a diferentes grupos de jovens (procura de primeiro emprego e trabalho precário) é um imperativo de cidadania e nas condições actuais uma resposta necessária, quando as redes de suporte familiar entraram em colapso por via da recessão e da austeridade.

As políticas e medidas necessárias para combater a degradação da situação dos jovens no mercado de trabalho chocam fundamentalmente com as políticas de austeridade. Não é possível um verdadeiro e efectivo “New deal” para a juventude se este não for integrado num “New Deal” global na Europa que liberte os países do Sul do efeito devastador das políticas de austeridade, abrindo caminho para o investimento público na economia e para a criação de emprego (em quantidade e qualidade); para o investimento na educação e na formação profissional; e para o investimento na protecção social. Em conclusão: o futuro dos jovens é indissociável do futuro do país e o encontro entre gerações, jovens e não jovens, para substituir a austeridade pelo desenvolvimento económico e social, aqui e pela Europa fora, surgem como imperativo para tornar tal futuro possível.

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A dimensão do desemprego jovem é uma preocupação em Portugal e na Europa, pelo que se têm sucedido iniciativas ao nível das políticas públicas, mobilizando ações e recursos, que possam contribuir para a inserção e emprego dos jovens.

A União Europeia adotou recentemente a “Garantia Jovem” e a “Iniciativa para a Juventude”, no sentido de apoiar os Estados-Membros nas medidas orientadas para o emprego jovem.

A Comissão Europeia sublinhou que os Estados-Membros devem garantir aos jovens transições seguras do ensino para a vida profissional e implementar instrumentos de Garantia para a Juventude, ao abrigo dos quais todos os jovens com menos de 25 anos devem estar enquadrados na escola, no trabalho, ou em formação permanente, aprendizagem ou estágio. Os jovens com menos de 25 anos que não estejam enquadrados nestas três dimensões, emprego, estudos ou formação são designados de (NEET) e o objetivo da garantia jovem é que a estes jovens, no espaço temporal de quatro meses após a saída do sistema educativo seja apresentada uma oportunidade de trabalho, de estágio ou de aprendizagem.

Há 7,5 milhões de jovens NEET na Europa, o que corresponde a 12,9% dos europeus no grupo etário dos 15-24 anos.

Cerca de 30% dos desempregados com menos de 25 anos estão sem emprego há mais de 12 meses, com custos humanos e sociais enormes.Estudos realizados revelam que o desemprego juvenil pode deixar marcas permanentes, como um risco acrescido de futuro desemprego, perspetivas de baixas remunerações futuras, perda de capital humano, transmissão intergeracional da pobreza ou menos motivação para constituir família, o que contribui para tendências demográficas negativas.

A nível de medidas de apoio à integração no mercado de trabalho, com o objetivo de melhorar as competências, recomenda-se propor aos jovens que abandonaram a escola precocemente e aos jovens com poucas qualificações percursos de reintegração no ensino ou na formação ou ainda programas de ensino de segunda oportunidade, com modelos de aprendizagem que respondam às suas necessidades específicas e lhes permitam de adquirir as qualificações de que carecem.

Igualmente, é mencionado o objetivo de incitar as escolas (do ensino básico e secundário), incluindo os centros de formação profissional e os serviços de emprego, a promover e prestar orientação permanente na área do empreendedorismo e do autoemprego para os jovens, designadamente através de cursos de empreendedorismo.

O recente Conselho Europeu de 27 e 28 de Junho tomou várias iniciativas, com caráter de urgência, para combater o desemprego dos jovens: aceleração da Iniciativa para o Emprego dos Jovens, dotada de 6 mil milhões de euros, concentrando o financiamento nos dois primeiros anos do próximo Quadro Financeiro Plurianual; aceleração da execução da Garantia para a Juventude até ao final de 2013 para os Estados-Membros com maiores níveis de desemprego jovem e aumento da mobilidade dos jovens e da participação dos parceiros sociais.

O reforço do programa "O teu primeiro emprego EURES" e operacionalização do programa "Erasmus +", a partir de janeiro de 2014, constituem esforços de promoção da mobilidade dos jovens.

Outras iniciativas europeias como o lançamento da Aliança Europeia da Aprendizagem e o Quadro de Qualidade para os Estágios, a ser implementado em princípios de 2014 expressam a importância conferida ao emprego jovem.

Em Portugal o aumento do desemprego jovem conduziu à criação de adicionais medidas consubstanciadas na criação do Programa “Impulso Jovem” (Resolução do Conselho de Ministros nº 51-A/2012, de 14 de junho), em complemento com outras medidas de política pública já desenvolvidas, designadamente pelo IEFP.

O Plano Estratégico - Impulso Jovem – mereceu uma expansão na atividade, no quadro de uma avaliação após seis meses de vigência, designadamente com o alargamento à região de Lisboa e Vale do Tejo, área metropolitana e península de Setúbal, dos estágios designados de Passaportes Emprego; complementaridade e harmonização entre o programa Estágios Profissionais do IEFP (Portaria 192/20119) e os Passaportes Emprego, designadamente nos seguintes princípios: estratificação por idade, duração de ambos em 12 meses, eliminação do período de inscrição obrigatório e adoção das mesmas regras de financiamento.

Pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 36/2013, de 30 de maio de 2013, o “Impulso Jovem” mereceu ajustamentos no sentido de imprimir às intervenções maior racionalidade e simplificação, que consubstanciem respostas dotadas de maior eficiência, sendo assumidos quatro eixos de intervenção: Estágios Emprego, medida de inserção profissional concretizada pela experiência em contexto laboral, Apoio à Contratação, apoios a entidades empregadoras pela contratação de jovens, Formação Profissional, visando a qualificação profissional e melhores níveis de empregabilidade com base em competências e Empreendedorismo, com apoios à criação de empresas por parte de jovens.

A atual versão do Programa “Impulso Jovem” tem em consideração a institucionalização da “Garantia Jovem” e as recomendações do Conselho e da Comissão Europeia e constitui um repositório de medidas simplificadas e dirigidas. O portal do “Impulso Jovem” -

- congrega toda a informação útil para os promotores e beneficiários.

A Portaria nº 204-B/2013 de 18 de Junho, já instituiu a simplificação de todas as medidas com a natureza de estágios profissionais.

É muito importante que as medidas e recursos postos à disposição da sociedade portuguesa, sejam utilizados pelas empresas e entidades empregadoras, com a mobilização e envolvimento dos parceiros sociais, e uma participação ativa dos destinatários diretos, os jovens.As entidades públicas têm o dever, além de operacionalizar as medidas, de as divulgar, de forma à maximização da sua utilidade, o que está a acontecer.

No entanto, a dimensão do problema do desemprego jovem em Portugal, com os aspetos sociais e humanos que comporta, exige uma mobilização geral, e que os próprios jovens não esperem pelas soluções, pelas oportunidades, e sejam personagens ativos, cultivando atitudes empreendedoras, promovendo ou desenvolvendo as suas capacidades e aptidões, consoante o perfil de competências e empregabilidade e sendo eles próprios veículos de divulgação dos recursos públicos que estão à disposição.

www.impulsojovemportugal.pt/

MOBILIZAR PARA O EMPREGO JOVEM

Octávio OliveiraEconomista e Presidente do Conselho Diretivo do IEFP, I.P.

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A inversão da tendência de crescimento do desemprego em Portugal é uma das maiores prioridades deste Governo.

A situação do desemprego em Portugal em que, no 1.º trimestre de 2013, a taxa foi de 17,7% e em que entre a população desempregada, há 165,9 mil jovens entre os 15 e 24 anos, a que corresponde uma taxa de desemprego de 42,1%, é um cenário que urge reverter, nomeadamente através da adoção de medidas concertadas com os Parceiros Sociais, que se mostrem eficazes no combate a este flagelo social.

O desemprego jovem, mais especificamente, encontra-se no topo das preocupações. A Política Nacional de Emprego para os Jovens consubstancia-se no Plano Estratégico de Iniciativas de Promoção de Empregabilidade Jovem «Impulso Jovem». Este Programa, que existe há cerca de 1 ano, foi recentemente alterado, com os objetivos principais de racionalizar e simplificar as medidas que o constituem e a integrar todos os instrumentos de combate ao desemprego jovem, nomeadamente a formação profissional.

» Medida de estágio que visa promover a inserção de jovens no mercado de trabalho ou a reconversão profissional de desempregados através da formação e de experiência prática em contexto laboral; » A bolsa de estágio varia em função das qualificações do jovem e é, em grande parte, comparticipada pelo Instituto do Emprego e da Formação Profissional, I.P. (IEFP, I.P.), representando assim, um verdadeiro incentivo para as empresas recrutarem estagiários; » Desde o princípio do ano até dia 07 de julho, para jovens dos 18 aos 30 anos, foram apresentadas 18.897 candidaturas para medidas de estágios, correspondendo a 20.847 estágios.

Reembolso da TSU, que consiste no reembolso de 75% ou de 100% da TSU, no caso de contratação a termo ou sem termo, respectivamente;

Desde agosto de 2012 a 07 de julho de 2013, foram criados 3.589 postos de trabalho, 2.008 dos quais já preenchidos;

A medida Estímulo 2013 também se enquadra nos apoios à contratação de jovens, na medida em que prevê uma majoração de 10 pontos percentuais no apoio financeiro concedido aos empregadores (de 50% para 60% do salário pago ao trabalhador), em caso de contratação e formação profissional de jovens com menos de 25 anos;

No âmbito do Estímulo 2013, foram colocados, entre 14 de abril e 07 de julho, 1206 jovens com menos de 25 anos.

Aposta no Sistema de Aprendizagem dual, que se destina a jovens com idade até aos 24 anos, com o 9.º ano de escolaridade;

A relevância atribuída à formação prática em contexto de trabalho é o grande ponto de diferenciação destes cursos, onde cerca de 40% do tempo de formação dos jovens é desenvolvido nas empresas;

Medida Vida Ativa, cujos objetivos são, entre outros: reforçar a adequação da formação ministrada às necessidades reais do mercado de trabalho; capacitar os desempregados com competências profissionais, sociais e empreendedoras, com particular incidência em áreas tecnológicas ou orientadas para setores de bens ou serviços transacionáveis.

Na sua versão atual, o Impulso Jovem integra as seguintes medidas:

Estágios Emprego:

Apoios à contratação:»

»

»

»

Formação profissional de jovens, designadamente: »

»

»

Apoios ao empreendedorismo: assente na promoção e dinamização do empreendedorismo, designadamente, através das seguintes medidas e programas: »

»

»

»

Empreendedor», abrangendo um conjunto de medidas articuladas que desenvolvem projetos de empreendedorismo levados a cabo por jovens ou por empresas;

Programa COOPJOVEM como projeto de empreendedorismo jovem, apoiando os jovens na criação de cooperativas ou em projetos de investimento que envolvam a criação líquida de postos de trabalho em cooperativas agrícolas existentes, através do financiamento direto por cada cooperante que tenha idade compreendida entre os 18 e os 30 anos e o 9.º ano de escolaridade;

Desenvolvimento do Programa Nacional de Microcrédito, destinado a facilitar o acesso ao crédito - através da tipologia MICROINVEST - e a prestar apoio técnico na criação e na formação do empreendedor durante os primeiros anos de vida do negócio;

Aposta na formação profissional na área do empreendedorismo, nomeadamente através do desenvolvimento de módulos de Competências Empreendedoras, integrados na medida Vida Ativa.

O problema do combate ao desemprego jovem não é exclusivo de Portugal, é uma preocupação generalizada na Europa. Recentemente foi lançada pela Comissão Europeia a Iniciativa Emprego Jovem, que cria o mecanismo da Garantia Jovem, que visa garantir que todos os jovens de menos de 25 anos tenham acesso a um emprego, um estágio ou uma ação de formação nos 4 meses que seguem a sua inscrição como desempregado ou a sua saída do sistema formal de ensino. Esta iniciativa europeia tem uma dotação financeira de 6 mil milhões de euros para 2014-2020.

A reformulação do Impulso Jovem vai igualmente permitir que este se torne o instrumento de operacionalização da Garantia Jovem, uma vez que agregará todas as medidas de combate ao desemprego de jovens dos 18 até aos 24 anos inclusive.

Os parceiros sociais têm um importante contributo a dar no desenvolvimento destas medidas e estiveram envolvidos em permanência na criação/reformulação do Impulso Jovem.

Também a sociedade civil portuguesa está envolvida no combate ao desemprego jovem. É disso exemplo o Movimento para o Emprego, lançado publicamente em Maio de 2013, que se constitui como uma iniciativa inovadora que pretende promover o potencial de trabalho dos jovens desempregados com formação de nível superior, licenciados, mestrados e doutorados, em diferentes áreas de conhecimento, através da criação de oportunidades para a realização de estágios profissionais.

Atualmente, 160 empresas aderiram ao Movimento para o Emprego, num total de 2.362 estágios, mostrando que a preocupação com o desemprego jovem é transversal a todos os sectores da sociedade.

«Passaporte para o Empreendedorismo» e Programa «Portugal

PROMOÇÃO DO EMPREGO JOVEM: UMA PRIORIDADE PARA

O GOVERNOSecretaria de Estado do Emprego

A Política Nacional de Emprego para os Jovens consubstancia-se no Plano Estratégico de Iniciativas de Promoção de Empregabilidade Jovem «Impulso Jovem»

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Em Março de 2012, o IDT – Instituto de Direito do Trabalho, em colaboração com o CNJ – Conselho Nacional de Juventude, publicou o Guia de Emprego para Jovens, cujo conteúdo se encontra disponível em http://www.fd.ul.pt/LinkClick.aspx?fileticket=GOvy8L7efb0%3 d&tabid=395.Tendo em linha de conta que o exercício dos direitos e o cumprimento das obrigações pressupõem o seu prévio conhecimento por parte dos interessados, este Guia contém informação sobre um conjunto variado de matérias, com vista a habilitar os jovens trabalhadores com os principais conteúdos relativos à celebração e ao cumprimento de um contrato de trabalho.

A sua leitura encontra-se, por isso, destinada a todos aqueles que estão a iniciar a sua vida ativa, sendo escrito numa perspetiva simples e de acessível compreensão para não juristas, com base numa estrutura de perguntas e respostas.

O Guia de Emprego para Jovens apresenta-se dividido em cinco capítulos:

Este primeiro capítulo contém um conjunto de informações sobre os Apoios e Políticas de Emprego e a oferta existente de programas de Estágios, quer a nível interno, quer no contexto internacional.

Numa época em que o desemprego é uma realidade em expansão e que ameaça, em especial, os jovens, é fundamental que estes disponham dos elementos necessários para a procura ativa de experiência profissional, aspeto nuclear no processo de obtenção de emprego. Assim, este Guia procura constituir uma ferramenta importante para a redução dos períodos de inatividade dos jovens trabalhadores e, bem assim, para o aumento das suas qualificações, tanto a nível teórico, como prático.

O empreendedorismo representa uma oportunidade de criação de emprego que se baseia na pro-atividade e na criatividade daqueles que têm a coragem de desenvolver e pôr em prática uma ideia de negócio. Assim, neste segundo capítulo são abordadas matérias relacionadas com a iniciativa de criação de emprego e os apoios existentes para a prossecução desse objetivo.

No especialmente grave contexto de crise económica e de aumento da taxa de desemprego, a criação de emprego por via do empreendimento de novos negócios pode ser uma oportunidade para o sucesso na vida profissional, existindo um conjunto de apoios a estes projetos que convém não olvidar, especialmente devido ao impacto financeiro que muitas vezes os mesmos implicam.

Por outro lado, a criação de uma empresa requer o cumprimento de determinadas formalidades, sendo por isso importante garantir que o negócio se encontra em conformidade com os trâmites legais. O Guia pretende, também nesta área, constituir uma ferramenta de apoio aos jovens empreendedores.

Para aqueles que ocupam já uma posição de trabalhador, mostra-se relevante o conhecimento dos aspetos essenciais da relação laboral, ainda que numa perspetiva leve e necessariamente não técnica. Com efeito, o conhecimento dos direitos e deveres laborais contribui para a boa execução do contrato e para o exercício esclarecido dos direitos por parte dos jovens trabalhadores.

1) Inserção no Mercado de Trabalho

2) Jovens Empreendedores

3) Trabalho por conta de outrem

Este terceiro capítulo contém informações acerca da entrada no mercado de trabalho, incluindo os elementos necessários para a apresentação de candidaturas e os procedimentos atinentes aos processos de seleção.

As modalidades de contrato de trabalho, assim como as formalidades inerentes à sua celebração são igualmente objeto de explicitação. É tratado em especial o contrato de trabalho a termo ou a prazo, dada que, do ponto de vista da prática, é particularmente frequente o recurso a esta forma de contratação por parte das empresas. O Guia contempla ainda uma secção relativa aos principais direitos e deveres do empregador e do trabalhador, bem como as consequências em caso do respetivo incumprimento.

São enunciadas as formas de cessação do contrato de trabalho, tanto por iniciativa do trabalhador, como do empregador, bem como os direitos das partes resultantes de tal cessação. Por fim, o Guia compreende algumas noções sobre o regime de greve e seus efeitos na relação laboral.

Considerando que este é um instrumento destinado em especial aos jovens, este capítulo inclui ainda as regras aplicáveis aos Trabalhadores Estudantes. É conferida particular atenção às condições de atribuição e de retirada do estatuto de trabalhador estudante e aos direitos conferidos a esta categoria de trabalhadores, com destaque para o regime de tempo de trabalho, faltas por motivo de prestação de provas, marcação de férias e gozo de licenças.

Trabalhar num país estrangeiro é uma experiência enriquecedora e pode constituir muitas vezes uma oportunidade única para a aquisição de currículo e experiência profissional. A inserção de Portugal na União Europeia permite facilitar a circulação de trabalhadores e empresários, já que existe um conjunto de regras comuns a todos os Estados-Membros, para além da moeda única.

O conhecimento das oportunidades de expansão da atividade é muitas vezes esquecido pelos profissionais, situação que constituiu motivação para incluir no Guia as informações essenciais para a internacionalização da carreira. Deste modo, encontram-se neste capítulo as principais informações relativas ao exercício de uma atividade em outros Estados-Membros da União Europeia.

, que contém os endereços de acesso à principal legislação laboral.Espera-se que o Guia de Emprego para Jovens possa cumprir uma função de esclarecimento dos principais atores do mercado de trabalho, contribuindo para o exercício de direitos e para o cumprimento das obrigações legalmente estabelecidas. Do mesmo modo, procura-se aumentar o conhecimento acerca das oportunidades de enriquecimento da carreira e do currículo, potenciando um efetivo aproveitamento dos mecanismos atualmente existentes e que estão à disposição dos jovens.

A vertente de divulgação das questões laborais, que neste caso se encontra especialmente direcionada para os jovens trabalhadores e para as dúvidas frequentes com que estes se debatem, permite assim prosseguir um dos objetivos do Instituto de Direito do Trabalho.

Conscientes de que nunca todas as questões podem ficar respondidas, espera-se, contudo, que este Guia de Emprego para Jovens constitua um princípio de resposta, que poderá fazer a diferença no acesso ao Direito por parte dos jovens trabalhadores.

4) Internacionalização da Carreira

5) Legislação e Ligações Úteis

GUIA DE EMPREGO PARA JOVENSUMA FERRAMENTA PARA OS JOVENS NO MERCADO DE TRABALHO

Instituto de Direito do TrabalhoFaculdade de Direito da Universidade de Lisboa

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A discussão e o aprofundamento das políticas públicas de juventude só poderão ser feitos numa lógica de abertura, diálogo e auscultação, envolvendo uma transversalidade de temas e de atores, sempre numa lógica de participação.

Tenho, pois, que as políticas de juventude são aquelas que envolvem quer os entes públicos – Governo, Administração Pública, Autarquias, Regiões Autónomas – quer os privados, num claro exemplo de que não deverá haver um “nós" e um “eles”.

De entre elas, a promoção do Emprego Jovem reveste-se – neste momento – como absolutamente prioritária para o Governo.

Trata-se mesmo do seu principal desígnio, neste momento, essencial para uma efetiva e desejada emancipação dos jovens portugueses.

Com uma taxa de desemprego geral que se cifra nos 17,6%, mas que é bastante mais gravosa para os jovens, todos os esforços serão poucos para ultrapassar esta situação.

Nesse sentido – e indo de encontro ao repto formulado pela Comissão Europeia em janeiro de 2012 - o Governo lançou, em junho do ano passado, o Plano Estratégico “Impulso Jovem”, recentemente alvo de uma reformulação no sentido de o aproximar da Garantia Jovem Europeia, contendo um pacote global de € 343 milhões de euros, proveniente da reafectação de fundos comunitários (do quadro 2007-2013) de outras áreas e que procura atingir 120 mil jovens num universo temporal de 18 meses.

Programa este assente em 4 eixos de intervenção.

Em primeiro lugar, um único Programa de Estágios Profissionais - Estágios Emprego – a 12 meses, com prémio de integração para a entidade empregadora. De salientar, neste eixo em particular, o esforço desenvolvido pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), na atribuição de uma bolsa – Incentivo ao Desenvolvimento Associativo (IDA) – complementando o apoio atribuído pelo Programa Impulso Jovem.

Por outro lado, através de Apoios à Contratação, visando a integração de jovens no mercado de trabalho.

Ainda, apostando na Formação Profissional, visando a inclusão social e profissional dos jovens, através do sistema de aprendizagem dual e da requalificação.

Por fim, na dinamização de diversas medidas de Empreendedorismo, de entre as quais gostaria de destacar a Rede de Percepção e Gestão de N e g ó c i o s ( R P G N ) , m e d i d a - c h a p é u d e p r o m o ç ã o d o empreendedorismo jovem, gerida também pelo IPDJ.

Apesar de comportar um conjunto extenso de medidas e estímulos à empregabilidade dos mais jovens, o Programa Impulso Jovem não pretende ser o exclusivo do combate ao desemprego jovem no nosso País.

Pretende sim, ser um contributo público deste governo (com rasgados elogios no exterior) para ultrapassar este flagelo nacional, que nunca poderá ser ultrapassado sem o envolvimento de todos, sociedade civil, associações juvenis e estudantis e entidades empregadoras.

O Associativismo Juvenil, que o Conselho Nacional de Juventude tão bem personifica e representa, ferramenta essencial de participação dos jovens, emerge como um dos fatores essenciais para este desígnio. Escola de valores e princípios, de aquisição de saberes e competências é, sem dúvida, uma mais-valia para a formação cívica e democrática de qualquer jovem.

Por outro lado, as competências adquiridas em contexto de Educação não formal e o seu reconhecimento, traduzem-se num fortalecimento das capacidades individuais dos jovens, aumentando e melhorando as ferramentas ao seu dispor.

Esta é a hora da responsabilidade e todos temos de estar à sua altura, para que os nossos jovens tenham um futuro mais próspero e risonho. Este Governo procura, e eu muito em particular - todos os dias – dar o seu melhor, para que isso aconteça.

O EMPREGO NAS ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A

POLÍTICA DE JUVENTUDEEmídio Guerreiro

Secretário de Estado do Desporto e Juventude

EMPREGO

CNJ: O QUE SE FAZ POR CÁ?

Comemoração dos 28 anos do Conselho Nacional de Juventude (CNJ), com a realização da Tertúlia Políticas de Juventude para os próximos 28 anos – Que futuro para as Novas Gerações?, realizado no dia no dia 25 de Julho de 2013.

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De acordo com o Artigo 64.º da Constituição da República Portuguesa “todos têm o direito à protecção de saúde e o dever de a defender e promover”. O Conselho Nacional de Juventude tem a responsabilidade de monitorizar as políticas nacionais e europeias, de desempenhar um papel ativo na consolidação das políticas públicas de saúde juvenil e promover a educação para a saúde como instrumento para dotar os jovens com conhecimentos, atitudes e valores para a tomada de decisões adequadas à sua saúde e bem-estar.

Considerando a definição da Organização Mundial da Saúde (1946) em que “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou enfermidade” e a Estratégia Europeia de Juventude (2008 – 2013) que identifica a saúde dos jovens como uma prioridade de ação transversal às várias políticas comunitárias e nacionais, é imperativo o continuo contributo individual e colectivo para o desenho das políticas públicas de saúde juvenil. Aquando na formulação destas há que considerar as fortes ligações entre a saúde/bem-estar dos jovens e a sua integração social, papel na sociedade e o seu pleno desenvolvimento para a fase adulta.

É da responsabilidade do poder político português de “garantir o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação” (artigo 64.º, alínea 3, Constituição da República Portuguesa), de “promover uma cultura de cidadania … visando a promoção da literacia, capacitação, empowerment e participação, tendo como eixos a difusão da informação, o desenvolvimento de competências, na decisão individual, institucional e política, criando condições para que os cidadãos se tornem mais autónomos e responsáveis em relação à sua saúde e à saúde de quem deles depende, bem como uma visão positiva em saúde” (PNS, 2012 -2016).

Contudo, o CNJ reconhece a importância do papel do indivíduo e da sociedade civil para melhorar o seu conhecimento, a sua capacidade de exercer as responsabilidades e direitos assim como cumprir os seus deveres em saúde. No que concerne ao CNJ, é imperativo o papel da sociedade civil na monitorização, prevenção, promoção e informação dos cidadãos.

No Plano Nacional de Saúde 2012 -2016 está vincada a presença da Cidadania em Saúde, conceito que emerge, em 1978, da Declaração de Alma-Ata como “o direito e dever das populações em participar individual e coletivamente no planeamento e prestação dos cuidados de saúde” (Alma-Ata, 1978)., de forma a responsabilizar o “cidadão pela sua própria saúde e da sociedade onde está inserido, tendo o dever de a defender e promover, no respeito pelo bem comum e em proveito dos seus interesses e reconhecida liberdade de escolha (Lei de Bases da Saúde, 1990), através de ações individuais e/ou associando-se a instituições”.

O equilíbrio entre os direitos e deveres de todos os atores responsáveis (Governo, sociedade civil e cidadão no geral) será a resposta para o desenho de políticas públicas de saúde juvenil capazes de responder às necessidades de saúde dos jovens portugueses no âmbito da prevenção, informação e intervenção.

Assim, o CNJ enquanto plataforma representativa das organizações juvenis de âmbito nacional procura desempenhar o seu papel na sociedade civil não só através da monitorização e consulta política mas também através de projetos com/para jovens, recorrendo a metodologias de educação não formal para a saúde no âmbito da alimentação e atividade física, na saúde sexual e reprodutiva, e consumo nocivo de substâncias psicoativas, tendo como exemplo:

Nutrition 4 YOUth (2013 -2014): espaço de formação para dotar jovens de quatro países europeus (Roménia, Grécia, Itália e Portugal) com competências na área da alimentação saudável, especificamente para a aquisição, preparação e confeção de refeições saudáveis com baixo custo; e para a sensibilização para a prática de atividade física ao ar livre - numa lógica de intercâmbio gastronómico e cultural. O Nutrition 4 YOUth surge com a necessidade de alertar o governo para a importância do projeto “Alimentação em Ação” que teve como objetivo de dotar os Gabinetes de Saúde Juvenil existentes em cada c a p i t a l d e d i s t r i t o d o t e r r i t ó r i o c o n t i n e n t a l c o m dietistas/nutricionistas. Parceiros: Direção Geral da Saúde, Instituto Português da Saúde e do Desporto, Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Lisboa, Federação Académica do Desporto Universitário e Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril.

Estudo "Consumos e Estilos de Vida no Ensino Superior" (2012/2014) - é resultado de uma parceria entre o CNJ, Observatório Permanente da Juventude do Instituto de Ciências Sociais (OPJ/ICS-UL) e o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), no âmbito do projeto de responsabilidade ComSUMOS Académicos (http://www.comsumos.org) com o objetivo de retratar os estilos de vida saudáveis dos estudantes da Universidade de Lisboa (ULisboa) nas áreas da saúde e bem-estar, práticas desportivas e de lazer, alimentação, consumo de bebidas alcoólicas e outras substâncias psicoativas.

Triangle Project (2013/2014)- projeto piloto europeu que visa capacitar jovens líderes em advocacy e políticas públicas do álcool, criar um espaço de partilha de boas práticas e cooperação entre os jovens europeus de três países: Portugal, Lituânia e Eslovénia. Parceiros: CNJ, EMSA EUROPE, NO Excuse; Institute Utrip, LIMSA e NTAKK.

Who Wants to be Healthy (2010-2011): projeto inserido no âmbito da Campanha HELP - Youth without tobacco em que se desenvolveu uma campanha de sensibilização sobre saúde e estilos de vida através de um jogo interativo de conhecimentos e atitudes em saúde. Esta iniciativa esteve presente em várias instituições de ensino superior e também no Festival Sudoeste.

Safe II Promoting the Sexual and Reproductive Health and Rights of Youth (2010/2011): um concurso organizado em parceria com a APF e IPDJ direcionado para jovens de diferentes faixas etárias sobre os Direitos e a Saúde Sexual e Reprodutiva dos jovens, onde tiveram oportunidade de expressar livremente a sua opinião sobre: o direito à saúde sexual e reprodutiva, a educação sexual na escola, a sexualidade, o corpo em mudança, os amores e desamores, contracepção, entre outros.

HAJA SAÚDECNJ ENQUANTO PROMOTOR

DE ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS

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O conceito de diálogo estruturado, desenvolvido em 2005/2006, constitui hoje um marco fundamental nas políticas europeias de juventude. É um processo através do qual a juventude europeia é chamada a participar no debate alargado sobre os temas prioritários da União Europeia.

Em janeiro de 2013 iniciou-se o terceiro ciclo do diálogo estruturado dedicado ao tema da Inclusão Social dos jovens. Com a duração total de 18 meses, e sob as presidências da UE Irlandesa, Lituana e Grega, jovens e decisores políticos debatem o problema e tentam chegar a propostas de solução que melhorem a vida dos jovens. Os resultados deste debate são tidos em conta nas Conclusões ou Resoluções que emanam do Conselho da UE, no que respeita a políticas de juventude.

Cada ciclo de Diálogo Estruturado é dividido em seis meses e três subtemas relacionado com a prioridade central. A presidência irlandesa centrou-se na questão da qualidade do youth work e a presidência da lituânia está a promover o debate sobre os NEETs (not in employment, education or training). A terceira fase irá decorrer no primeiro semestre de 2014, sob a presidência grega que se concentrará no subtema da “cultura e empreendedorismo”.

O debate é, assim, estruturado quer em termos de tempos, como temas e desenrola-se principalmente a 3 níveis: local, nacional e Europeu. Em Portugal, o Conselho Nacional de Juventude, enquanto membro do Grupo de Trabalho Nacional para o Diálogo Estruturado, tem dinamizado processos de consulta e promovido o diálogo entre jovens e decisores políticos. Os resultados da auscultação são depois enviados para o European Steering Group do DE, que recebe e compila os contributos dos 28 estados membros. Nas conferências europeias de juventude, realizadas em cada presidência da EU, os vários contributos nacionais são trabalhados conjuntamente por jovens e decisores políticos, resultando daí as Conclusões Conjuntas, a serem tidas em conta no nas Conclusões do Conselho da UE.

Durante o terceiro ciclo do Diálogo Estruturado, o CNJ tem desenvolvido várias ações que visam envolver os jovens nas decisões que lhes dizem respeito e que afetam a sua inclusão/exclusão social, promovendo o diálogo estruturado entre decisores políticos, especialistas e técnicos com os jovens. Inserido no projecto “Incluir para Construir”, apoiado pelo Programa Juvenude em Ação, destacamos aqui o XIII Encontro Nacional de Juventude, realizado entre os dias 23 e 26 de maio, na cidade do Porto, que proporcionou um programa alargado aliando a oferta formativa, política, informativa à lúdica, artística e cultural. Cerca de 300 jovens de vários pontos do país debateram e chegaram a recomendações sobre os mais diversos aspectos que afetam a sua inclusão na sociedade, tais como Emprego, Educação, Empreendedorismo, Associativismo e Participação Juvenil, Cooperação Internacional, Ambiente, Saúde e Qualidade de Vida.

Durante este ciclo, foram também promovidas duas sessões de informação sobre Diálogo Estruturado dirigidas a organizações de juventude, que contaram com a participação de representantes do Fórum Europeu de Juventude e European Steering Group, bem como atores nacionais que intervêm neste processo. Deste modo, jovens e decisores políticos estiveram sentados lado a lado para debater questões que os afetam, bem como às suas organizações. Até ao culminar deste 3º ciclo do DE terão ainda lugar outras actividades tais como “Praça Temática – CNJ em proximidade: Empreendedorismo Social”; Seminário sobre Emprego Jovem; Conferência "A Inclusão Social dos Jovens em Períodos de Austeridade: constrangimentos e desafios”

Ainda no decorrer deste 3º ciclo o Conselho nacional de Juventude, enquanto coordenador do Grupo de Trabalho Nacional, organizou duas sessões de informação dirigido às associações juvenis e que contou com a presença do Presidente e Vice-presidente do Fórum Europeu de Juventude, Peter Matjasic e Guoda Lomanaite respectivamente, Dr. Ricardo Araújo, Vogal do Conselho Directivo do IPDJ, IP, Representante do Ministério da Economia e Emprego, Representante da Agência Nacional para a Gestão do Programa Juventude e um Representante Secretaria de Estado do Desporto e da Juventude.

INCLUIR PARA CONSTRUIRO 3º CICLO DO DIÁLOGO ESTRUTURADO

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Mudanças o processoVolvidos três ciclos desde a sua implementação e tendo em conta que o Processo do Diálogo Estruturado se encontra em fase de análise e reformulação a nível europeu, o CNJ pretende contribuir para uma melhoria do processo, apresentando propostas que vão ao encontro da necessidade de se alterar algumas premissas, no sentido de o fortalecer, de o tornar mais eficaz e apelativo para os jovens, aumentando assim, a participação dos mesmos nos momentos de consulta, nacional, regional e local.

Apesar da evolução positiva que o processo tem sofrido, acreditamos que deverá ser dada mais atenção aos seguintes aspectos:- Timing - a organização do processo num ciclo de 18 meses, em três fases de seis meses, consome demasiados recursos dos conselhos nacionais de juventude, o que coloca em causa a materialização de todo o ciclo. Muitos dos CNJs não possuem condições para responder às necessidades de implementação do ciclo, conforme está desenhado. Assim, propomos que o ciclo de 18 meses seja organizado de seguinte forma: Preparação - 3 meses; Implementação - 9 meses; Acompanhamento - 6 meses.

Com a implementação deste modelo, os CNJs terão mais tempo para prepararem a implementação do processo e melhor alocarem os recursos de que dispõem.

- Financiamento - propomos a criação de uma linha específica de financiamento ao Processo de Diálogo Estruturado para os conselhos nacionais de juventude. Esta linha permitiria que os cnjs conseguissem financiamento adequado para a materialização do Processo, sem comprometerem as verbas para quais as organizações juvenis podem candidatar-se, a fim de desenvolverem iniciativas para a promoção do diálogo estruturado a nível local.

- Acompanhamento – consideramos que não existe um acompanhamento ao nível europeu sobre os resultados saídos dos processos de consulta aos jovens. Neste sentido, propomos que seja criado um mecanismo para que passe a existir uma coordenação reforçada a nível europeu sobre os resultados políticos do processo de Diálogo Estruturado, a nível nacional, ou seja, com revisões periódicas por parte do Grupo de Trabalho Nacional e também através dos relatórios nacionais para a Estratégia Europeia da Juventude.

- Visibilidade - acreditamos que é necessário haver uma maior visibilidade ao processo, bem como o trabalho que os GTN desenvolvem na sua implementação. O desenvolvimento de uma linha específica/orçamento para o Diálogo Estruturado implementada pelo GTN poderia reforçar o interesse e a motivação dos parceiros do GNT em contribuir continuamente para o processo.

Consideramos que estas mudanças poderão contribuir para o necessário impulso no processo de implementação do Diálogo Estruturado que constitua um incremento para a participação juvenil, feito para os jovens e com os jovens.

«Com a implementação deste modelo, os CNJs terão mais tempo para prepararem a implementação do processo e melhor

alocarem os recursos de que dispõem.»

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A Declaração dos Objetivos do Milénio (A/RES/55/2), adotada a 18 de Setembro de 2000, veio lançar um processo decisivo da cooperação global no século XXI. Nela foi dado um enorme impulso às questões do Desenvolvimento, com a identificação de desafios enfrentados pela humanidade no dealbar do novo milénio e com a aprovação dos denominados Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), a serem atingidos num prazo de 15 anos. Alguns foram atingidos, nalgumas partes do mundo, outros estão ainda por atingir.

Considerando a necessidade de um novo quadro para a cooperação global e o desenvolvimento, na iminência da meta 2015, as Nações Unidas lançaram-se num debate de escala mundial que vise contributos para uma nova visão do desenvolvimento – assente nas reais necessidades e expectativas das populações do mundo e consciente da diversidade de meios de ação e pontos de partida. Tem sido um processo e dele se espera, também, maior compromisso político e real investimento multilateral.

Tanto os ODM quanto a nova Agenda Global pós-2015 são claros, as novas gerações estão no centro da ação para o desenvolvimento humano e o progresso das sociedades. Deste modo, os jovens não se podem arredar nem do debate, nem da ação, e devem reclamar o espaço e a voz na tomada das decisões.

Como não podia deixar de ser, o CNJ tem sido agente ativo no envolvimento dos jovens no debate dos ODM, procurando uma maior consciencialização e compromisso para com as questões da cooperação global e desenvolvimento.

Mónica Ferro, deputada pelo PSD à Assembleia da República e Coordenadora do Grupo Parlamentar Português para a População e o Desenvolvimento, fala-nos sobre o processo e as prioridades para a concertação e ação.

Juv - O Grupo Parlamentar Português sobre População e Desenvolvimento tem vindo a relevar as questões relativas ao desenvolvimento humano no debate público. Quais são os principais marcos desde a sua criação e quais as principais conquistas?Este Grupo Parlamentar, membro fundador do Fórum Europeu de Parlamentares para a População e Desenvolvimento (EPF), tem conseguido colocar os temas de População & Desenvolvimento nas agendas política e pública nacionais. Como grandes marcos destacaria o lançamento no Parlamento do Relatório sobre a Situação da População Mundial do Fundo das Nações Unidas para a População, o trabalho com o EPF, a aprovação por unanimidade de uma Resolução que insta o Governo Português a enfatizar, na cooperação para o desenvolvimento, o cumprimento dos ODM relativos à saúde infantil e materna, a realização de uma exposição pelo Fim da Mutilação Genital

Feminina e de inúmeros colóquios e conferências temáticas, como o Colóquio “os direitos humanos na ordem do dia”. Temos estado presentes nas grandes conferências internacionais sobre População e Desenvolvimento, Empoderamento das Mulheres, Eliminação da Violência contra Raparigas e Mulheres e produzido reflexão e informação sobre estes temas.

Juv. - É importante que os decisores políticos e técnicos auscultem a população e tenham em conta as necessidades reais na tomada da decisão. Que ferramentas considera mais relevantes para o exercício da função de representante político? Os parlamentares têm uma necessidade imperiosa de estar em contacto com as pessoas – são representantes do povo e tomam decisões que visam dar respostas às suas necessidades. O contacto com o eleitorado tem, assim, um papel fundamental no nosso trabalho. Mas também o tem a participação em momentos de reflexão, em momentos de partilha de experiências e conhecimentos. O trabalho com as organizações da sociedade civil, com as ONGs, com movimentos de cidadãos, a presença em redes sociais são ferramentas fulcrais para que esta relação seja biunívoca: parlamentares e cidadãos são partes interdependentes do mesmo sistema social.

Juv - O cumprimento dos ODMs até 2015 não será possível. Porquê? O que não funcionou e o que poderia ter sido diferente? Essa é a pergunta estruturante de toda a reflexão para o pós-2015. Os ODM são a mais mobilizadora narrativa em prol do Desenvolvimento de que há memória: descodificam o que significa ser desenvolvido e impulsionam a ação. O que falhou foi a operacionalização do desenvolvimento humano para objetivos mensuráveis, foi o não cumprimento pelos países doadores dos compromissos assumidos e a incapacidade de alguns países em implementarem uma agenda coerente de desenvolvimento. Se nos tivéssemos mantido mais fiéis à Declaração do Milénio, envolvido mais a comunidade de direitos humanos e de desenvolvimento e os presumíveis beneficiários na definição do roteiro que foram os ODM teríamos tido um resultado mais positivo.

Juv - Qual o balanço que faz - quais os progressos a celebrar e quais os ODM mais comprometidos?Os ODM têm um balanço muito positivo. Não só tornaram o “desenvolvimentês” mais percetível, como tornaram o desenvolvimento em algo mais próximo de todas as pessoas. Celebro em especial os sucessos na universalização do ensino primário, na redução da mortalidade infantil e na erradicação da pobreza extrema. Lamento profundamente o que não foi feito em termos de empoderamento dos jovens e na realização da saúde para todos, em especial a saúde sexual e reprodutiva, a saúde materna. Os jovens, o grande dividendo demográfico capaz de alavancar o desenvolvimento das sociedades, permanecem relativamente ausentes da agenda internacional e todos os dias morrem 800 mulheres e raparigas de causas evitáveis ligadas à gravidez, parto e pós-parto… é inaceitável.

Juv - Como é que a crise em Portugal se manifesta no contributo que o país pode dar no cumprimento dos ODM?A crise em Portugal manifesta-se única e exclusivamente nas nossas disponibilidades financeiras enquanto grande doador internacional. Mesmo assim, espero que o nosso contributo para o UNFPA e para a cooperação em saúde sexual e reprodutiva e direitos conexos (como o planeamento familiar que é um direito humano) possa ser rapidamente retomado, pois este é o investimento mais produtivo que se pode fazer num país. Em todas as outras dimensões: na partilha de

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÉNIO

ENTREVISTA

MÓNICA FERRO COORDENADORA DO GRUPO PARLAMENTAR PORTUGUÊS PARA A POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

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boas práticas, na produção de conhecimento, na elaboração de políticas, na capacidade de influenciar a agenda nacional, regional e internacional a capacidade portuguesa mantem-se intacta e muitíssimo proactiva. É quem somos, não onde estamos, que determina este empenho.

Juv - O desemprego afeta particularmente e cada vez mais os jovens, colocando-os em risco de pobreza e exclusão social. Como é que os ODM tratam esta problemática?Os jovens não estavam autonomizados na agenda dos ODM, não pelo menos enquanto portadores de direitos específicos e de potenciais concretos. São tratados como alunos, como dependentes das suas famílias, mas nunca como atores do seu próprio desenvolvimento e expostos a riscos particulares de exclusão. Há uma grande pressão internacional – à qual me associo – no sentido de se reconhecer o impacto desproporcional que a pobreza e a exclusão social tem nos jovens e destacar a necessidade de os empoderar como atores políticos e sociais e agentes de mudança. Ter jovens nas negociações para o pós-2015 é uma questão da mais elementar justiça. E de eficácia!!

Juv - O que vai ser diferente nos ODM pós 2015?No pós-2015 há uma diferença estrutural que me parece auspiciosa: realizaram-se centenas de reuniões, auscultações, sondagens… abriram-se fóruns aos cidadãos perguntando-lhes o que querem para o nosso mundo. Mas envolveram-se também as organizações regionais e internacionais e os países em desenvolvimento. Teremos, pela primeira vez, uma agenda de desenvolvimento elaborada de cima para baixo e não de baixo para cima e de fora para dentro – como acontecia frequentemente. O próximo quadro de desenvolvimento está centrado nos direitos humanos, na saúde, na boa governação, na sustentabilidade do planeta e dos nossos consumos, terá uma abordagem especial para os países frágeis e parte do pressuposto de que um mundo mais digno é um mundo em que todas as pessoas vivem livres do medo e ao abrigo da necessidade… a operacionalização de tudo isto é a pergunta do milhão de dólares.

Juv - Qual o lugar dos Jovens nos ODM pós-2015?Podia responder apenas com duas palavras: centro e topo. Os jovens têm que estar sentados à mesa das negociações. Ser vistos como atores políticos, como protagonistas e não apenas como eventuais beneficiários de medidas que outros adotam. As necessidades dos jovens têm que ser mapeadas e respondidas. As necessidades de educação/formação e a sua ligação com o mundo do trabalho; a participação política e não apenas em organismos de consulta facultativa e não vinculativa; a sua saúde sexual e reprodutiva para que lhes permita planear as suas famílias e protegerem-se de doenças como o VIH/SIDA, são apenas alguns temas que estão em cima da mesa.

Juv - E como poderão eles envolver-se no debate e na implementação de uma agenda para o desenvolvimento global?Os jovens podem envolver-se no debate usando as qualidades que lhes são unanimemente reconhecidas. Falo da sua capacidade de inovar, de mobilizar as opiniões públicas de formas criativas, de sensibilizar os poderes políticos quer pelos seus representantes, quer pelas suas ações. Reivindicando um espaço de representação e ação mais amplo, podem ser parceiros de debate a agentes de mudança mais ativos e mais assertivos. As várias iniciativas organizadas pelas associações de juventude têm demonstrado que os jovens não são o futuro mas sim o nosso presente. O CNJ tem sido parceiro do GPPsPD em debates e em consultas públicas, como as sobre Igualdade e Saúde no quadro do pós-2015 e que recentemente tiveram lugar no Camões, com a P&D Factor, e vários outros atores fundamentais.

«Os jovens, o grande dividendo demográfico capaz de alavancar o desenvolvimento das sociedades, permanecem

relativamente ausentes da agenda internacional e todos os dias morrem 800 mulheres e raparigas de causas evitáveis

ligadas à gravidez, parto e pós-parto… é inaceitável.»

THE LEAGUE OF YOUNG VOTERSJÁ FALA PORTUGUÊS!

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O Conselho Nacional de Juventude (CNJ) foi reconhecido como o ramo nacional da campanha europeia The League of Young Voters - movimento que visa mobilizar os jovens nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, em Maio de 2014, e dar voz às suas preocupações e expectativas em relação às decisões tomadas a nível europeu.

A iniciativa do Fórum Europeu de Juventude, em parceria com a Votewatch e a Internacional Debate and Education Association (IDEA), pretende aumentar e melhorar o nível de informação dirigido aos jovens de toda a Europa sobre as eleições, bem como incentivar os partidos políticos e candidatos a dirigirem-se directamente aos jovens nas suas campanhas, abordando os assuntos que lhes interessam. Desta forma, será promovido um melhor conhecimento e compreensão do funcionamento da UE e a influência das suas decisões na vida diária dos jovens e no futuro das sociedades em que se inserem.

De acordo com um estudo do Fórum Europeu de Juventude, as anteriores campanhas para as eleições europeias, quer a nível nacional como europeu, não envolveram os jovens, contribuindo para o seu desinteresse e afastamento em relação à política e instituições europeias. As taxas de abstenção dos jovens nas eleições europeias têm vindo a crescer: 64 %, em 2004, e 71% em 2009. Contudo, há que contrariar esta tendência num cenário de crise, que afeta particularmente os jovens. Torna-se essencial promover um melhor entendimento do papel do Parlamento Europeu e consciencializar os jovens que as próximas eleições são um momento marcante que requere a participação de todos para a construção de um futuro melhor.

Porquê uma “Liga de Jovens Eleitores”?

Actividades

www.youngvoters.eu

www.youngvoters.eu

A League em Portugal

Estão a ser desenvolvidos vários instrumentos que visam precisamente um maior envolvimento e entendimento do que está em causa. Na plataforma online , disponível em todas as línguas da UE, há muita informação e interactividade.

Podes expor quais os assuntos que mais te preocupam, publicando os temas que queiras ver tratados pelos políticos. Os temas mais votados serão discutidos pelos partidos políticos e incluídos nas suas campanhas (de acordo com um protocolo assinado entre a LYV e os principais partidos políticos europeus). Com base nesses temas, a League of Young Voters reunirá as posições dos diferentes partidos políticos numa tabela onde os jovens poderão comparar as diversas opiniões e propostas de solução.

Outro instrumento já disponível é a aplicação MYVote2014.eu, onde podes perceber qual é o partido que melhor te representa. É uma espécie de “calculadora de votação” para as eleições para o parlamento Europeu, baseada nos registos de votação dos eurodeputados (em vez das promessas eleitorais). Os utilizadores podem votar em questões importantes tais como energia nuclear, fiscalidade, licença de maternidade e imigração e ver de imediato quais os eurodeputados e partidos políticos que coincidem com as suas próprias preferências. Em apenas 60 segundos os utilizadores podem votar sobre 15 questões chave votadas pelos eurodeputados nos últimos 4 anos no site, aplicações do telemóvel ou facebook e um widget especial. Além de ajudar os jovens a encontrar as suas correspondências políticas, o MyVote2014.eu tem ainda as seguintes funcionalidades: mostra como todos os eurodeputados e partidos políticos votaram nas 15 questões; explica cada questão – os argumentos a favor e contra – numa linguagem simples; mostra como todos os votos dos utilizadores poderiam mudar as políticas europeias; avalia o conhecimento dos utilizadores sobre o Parlamento Europeu através de um jogo divertido.

A plataforma vai continuar a ser desenvolvida, de modo a disponibilizar toda a informação necessária para votar, um canal para transmitir debates em direto, jogos educativos, entre outras ferramentas.

O CNJ, na qualidade de promotor da campanha em Portugal, irá desenvolver várias acções para incentivar o diálogo e interação entre os jovens e os partidos políticos/candidatos, disseminar informação técnica sobre o que é preciso para votar e promover um melhor entendimento de como as decisões políticas a nível europeu afetam as suas vidas. Queremos assim, contrariar a abstenção crescente e envolver os jovens nas eleições, promovendo uma maior compreensão do que está em causa, para que haja um exercício de cidadania europeia informado e consciente.

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RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O CNJ, enquanto Secretaria Geral do Fórum da Juventude da CPLP, esteve presente no Encontro Internacional Coordenador de Organizações de Juventude (ICMYO), que teve lugar 22 e 23 de Setembro, em Nova Iorque.

Neste encontro foram acordadas de forma unânime o desenvolvimento de laços mais fortes entre as organizações membro, bem como uma maior acessibilidade das organizações juvenis especializadas que trabalham em regiões ou dos jovens marginalizados e organizações nacionais de interesse que não podem pertencer a uma plataforma internacional.

O ICMYO é uma rede que pretende reunir e representar as diversas vozes de organizações juvenis a nível global, ao disponibilizar uma plataforma de coordenação e cooperação, por forma a ter uma maior influência nos processos políticos juvenis a nível global e alcançar parcerias fortes entre organizações juvenis e decisores políticos relevantes. Atualmente reúne cerca de 30 organizações.

ICMYO - International Coordination Meeting of Youth Organisations

"ENF R-Evolução": empoderar a Educação Não-Formal no Sul da Europa

«ENF R-Evolução": empoderar a Educação Não-Formal no Sul da Europa” é um projeto Grundtvig – Aprendizagem ao Longo da Vida, composto por um grupo informal, promovido pelos SYC - Conselhos de Juventude do Sul -, que coopera a nível europeu nos domínios da educação, formação, cooperação global e advocacy junto de instituições nacionais, europeias e internacionais. Este grupo informal acordou numa estratégia educacional comum de modo a promover as bolsas de formadores em cada Conselho com o objetivo de fomentar a participação e o apoio às estratégias políticas com uma abordagem de educação não formal. Para além do Conselho Nacional de Juventude de Portugal (CNJ), são parceiros o Conselho Nacional de Juventude de Espanha, Itália, Grécia, Eslovénia, Roménia, Bulgária e Croácia.

O projeto visa o reconhecimento da Educação Não-Formal na sua dimensão individual, social, política e formal, como parte do processo de aprendizagem ao longo da vida de cada cidadão europeu. O processo de cooperação permite a troca de boas práticas entre os parceiros e a promoção da capacitação das estruturas e gestão das organizações para o desenvolvimento de uma cidadania ativa no campo das políticas e no processo de diálogo estruturado.

Até ao presente realizaram-se quatro encontros do projecto. O primeiro em Roma, em Novembro de 2012, onde se estabeleceram os alicerces da iniciativa; o segundo teve lugar em Zagreb, onde foram reforçadas as capacidades dos CNJs e das suas estruturas em termos da qualidade da educação não-formal no que toca a sua implementação e advocacy; o terceiro realizou-se em Varna, onde foram partilhadas boas práticas relativas ao reconhecimento da ENF e onde foi adoptado um documento político comum ao projecto e aprovado por todos os parceiros. Aí, tiveram também lugar discussões para a delineação do primeiro de 4 projectos de formação e-learning. O quarto encontro decorreu de 16 a 19 de Outubro, em Ljubljana, onde foram apresentadas boas práticas nacionais no Parlamento Esloveno sobre o reconhecimento da ENF e onde se discutiu um plano de ação para a implementação dos cursos e-learning.

O que é que as Nações Unidas podem fazer pelos jovens?

Desde 1998, de dois em dois anos, que cabe a Portugal, em conjunto com o Senegal (desde 2002) e com a Moldávia (desde 2009), a apresentação de uma resolução sobre juventude à 3ª Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas (Comissão para o Desenvolvimento Social). Em Outubro de 2013, o delegado jovem do CNJ acompanhou a Missão Portuguesa junto das Nações Unidas na apresentação desta resolução.

O documento salienta realidades que devem ser relembradas e reconhecidas, tais como:

» O problema dramático do desemprego jovem, que afecta jovens em todo o mundo;

» A ausência de uma geração com direitos: laborais, sociais, económicos, de saúde, educação ou outros;

» A necessidade de definir uma estratégia pós-2015, ano em que terminam os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, programa da ONU que teve oito metas de desenvolvimento global, entre as quais o combate à pobreza e exclusão;

» A afirmação da necessidade de implementar o Plano Mundial de Juventude, documento considerado de vanguarda aquando da sua aprovação por todos os estados membros da ONU, e que identifica uma estratégia de desenvolvimento para a juventude;

» Necessidade de afirmar a participação jovem a nível local, nacional, regional e global, nomeadamente em mecanismos de diálogo estruturado, onde no quadro da ONU, organizações de juventude e alguns países, defendem a criação de uma plataforma permanente de concertação entre jovens e organizações de juventude e estados.

Neste momento, em que no hemisfério Sul mais de 70% da população tem menos de 35 anos, e num hemisfério Norte onde a demografia, mas também a grave crise que a todos afecta, coloca em causa, de forma tão violenta, a capacidade que os jovens têm de se auto-realizar e desenvolver o seu próprio projecto de vida, uma resolução desta natureza poderá dar novo alento à sua condição actual.

Este documento poderá não transformar, de um dia para o outro, a realidade de muitos jovens, mas contribuirá, certamente, de forma decisiva, para a instituição de uma consciência global para os problemas que as novas gerações enfrentam, do mesmo modo que, no passado, outras resoluções, mesmo sem carácter “impositivo”, contribuíram para o fim do "apartheid" na África do Sul, ou ainda condenaram atitudes de muitos estados relativamente aos povos do mundo.

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É desde a criação da Universidade Africana de Juventude e Desenvolvimento em 2009 que o CNJ organiza a Escola de Jovens Líderes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e dá continuidade a uma iniciativa promovida pelo Fórum da Juventude da CPLP (FJCPLP). Este ano, teve lugar a V edição desta Escola, que decorreu de 3 a 10 de Maio, em Mindelo, São Vicente, Cabo Verde. O enfoque deste ano colocou-se no debate sobre a Participação dos Jovens nos processos de tomada de decisão.

O evento proporcionou a partilha de boas práticas entre os membros da CPLP, a reflexão conjunta sobre a cooperação lusófona em matéria de juventude e a coordenação do trabalho juvenil global, bem como o reforço da capacidade institucional na área da formação e participação dos Conselhos Nacionais de Juventude da CPLP. Com a proposta de um Plano Estratégico para a Juventude da CPLP, o FJCPLP obteve o reconhecimento do seu trabalho e da sua relevância para o aprofundamento da cooperação lusófona.

Com exceção de 2010 (ano em que se realizou à margem da Mostra de Jovens Criadores da CPLP), a Escola de Jovens Líderes da CPLP tem decorrido no quadro da Universidade Africana de Juventude e Desenvolvimento, promovida pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa. Deste modo, aos jovens líderes da CPLP é facultado um ambiente multicultural de troca de experiências sobre o trabalho juvenil e o desenvolvimento, nomeadamente quanto à implementação da Cooperação África-Europa em matéria de Juventude, preconizada desde a III Cimeira UE-África de Chefes de Estado e de Governo (Dezembro de 2007, Lisboa).

O CNJ reforçou ainda o seu compromisso com a Rede das Universidades de Juventude e Cidadania Global ao desenvolver a European Academy of Youth Leaders – um Curso de Formação em Políticas de Juventude e Cooperação Internacional. Este curso de formação consistiu numa parceria entre os Conselhos Nacionais de Juventude de Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Roménia, Malta e Finlândia e visou a partilha de boas práticas e sinergias para advocacy em políticas de juventude. O foco temático assentou na participação dos jovens, no (des)emprego juvenil e na cooperação internacional da juventude, debatendo como desenvolver estratégias de defesa para a agenda das novas gerações a nível europeu e nacional e encontrar respostas para os atuais debates europeus. Os participantes delinearam ainda a estrutura de um manual de advocacy para Conselhos Nacionais da Juventude, que será elaborado com o contributo de todos os parceiros.

Enquadrando-se a formação na 14ª edição da Universidade de Juventude e Desenvolvimento, que decorreu de 22 a 29 de Setembro de 2013, em Mollina, Espanha, os participantes tiveram oportunidade de reforçar o diálogo entre jovens, especialistas e decisores políticos e públicos, promover o diálogo intercultural e a solidariedade entre os jovens mundiais e criar um espaço para um debate aberto sobre a juventude.

Esta Rede de Universidades partilha um tema transversal que este ano versou sobre a cidadania democrática e terá como tema para 2014 “oportunidades para os jovens”.

O CNJ NA REDE DAS UNIVERSIDADES DE JUVENTUDEE CIDADANIA GLOBAL

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