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OS ECONOMISTAS

Karl Marx a Assim Chamada Acumulacao Primitiva

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Marx e a Acumulação Primitiva

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  • OS ECONOMISTAS

  • KARL MARX

    O CAPITAL

    CRTICA DA ECONOMIA POLTICA

    LIVRO PRIMEIRO

    O PROCESSO DE PRODUO DO CAPITAL

    TOMO 2

    (CAPTULOS XIII A XXV)

    Coordenao e reviso de Paul Singer

    Traduo de Regis Barbosa e Flvio R. Kothe

  • FundadorVICTOR CIVITA

    (1907 - 1990)

    Editora Nova Cultural Ltda.

    Copyright desta edio 1996, Crculo do Livro Ltda.

    Rua Paes Leme, 524 - 10 andarCEP 05424-010 - So Paulo - SP

    Ttulos originais:Value, Price and Profit; Das Kapital -

    Kritik der Politischen konomie

    Direitos exclusivos sobre a Apresentao de autoria deWinston Fritsch, Editora Nova Cultural Ltda.

    Direitos exclusivos sobre as tradues deste volume:Crculo do Livro Ltda.

    Impresso e acabamento:DONNELLEY COCHRANE GRFICA E EDITORA BRASIL LTDA.

    DIVISO CRCULO - FONE (55 11) 4191-4633

    ISBN 85-351-0831-9

  • CAPTULO XXIV

    A Assim Chamada Acumulao Primitiva

    1. O segredo da acumulao primitiva

    Viu-se como dinheiro transformado em capital, como por meiodo capital produzida mais-valia e da mais-valia mais capital. A acu-mulao do capital, porm, pressupe a mais-valia, a mais-valia a pro-duo capitalista, e esta, por sua vez, a existncia de massas relati-vamente grandes de capital e de fora de trabalho nas mos de pro-dutores de mercadorias. Todo esse movimento parece, portanto, girarnum crculo vicioso, do qual s podemos sair supondo uma acumulaoprimitiva (previous accumulation em A. Smith), precedente acu-mulao capitalista, uma acumulao que no resultado do modo deproduo capitalista, mas sim seu ponto de partida.

    Essa acumulao primitiva desempenha na Economia Polticaum papel anlogo ao pecado original na Teologia. Ado mordeu a mae, com isso, o pecado sobreveio humanidade. Explica-se sua origemcontando-a como anedota ocorrida no passado. Em tempos muito re-motos, havia, por um lado, uma elite laboriosa, inteligente e sobretudoparcimoniosa, e, por outro, vagabundos dissipando tudo o que tinhame mais ainda. A legenda do pecado original teolgico conta-nos, contudo,como o homem foi condenado a comer seu po com o suor de seu rosto;a histria do pecado original econmico no entanto nos revela por queh gente que no tem necessidade disso. Tanto faz. Assim se explicaque os primeiros acumularam riquezas e os ltimos, finalmente, nadatinham para vender seno sua prpria pele. E desse pecado originaldata a pobreza da grande massa que at agora, apesar de todo seutrabalho, nada possui para vender seno a si mesma, e a riqueza dospoucos, que cresce continuamente, embora h muito tenham paradode trabalhar. Tais trivialidades infantis o sr. Thiers, por exemplo, serveainda, com a solene seriedade de um homem de Estado, em defesa da

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  • proprit,673 aos franceses, outrora to espirituosos. Mas, to logo entraem jogo a questo da propriedade, torna-se dever sagrado sustentar oponto de vista da cartilha infantil, como o nico adequado a todas asclasses etrias e graus de desenvolvimento. Na histria real, como sesabe, a conquista, a subjugao, o assassnio para roubar, em suma,a violncia, desempenham o principal papel. Na suave Economia Po-ltica reinou desde sempre o idlio. Desde o incio, o direito e o trabalhotm sido os nicos meios de enriquecimento, excetuando-se de cadavez, naturalmente, este ano. Na realidade, os mtodos da acumulaoprimitiva so tudo, menos idlicos.

    Dinheiro e mercadoria, desde o princpio, so to pouco capitalquanto os meios de produo e de subsistncia. Eles requerem suatransformao em capital. Mas essa transformao mesma s poderealizar-se em determinadas circunstncias, que se reduzem ao seguin-te: duas espcies bem diferentes de possuidores de mercadorias tmde defrontar-se e entrar em contato; de um lado, possuidores de di-nheiro, meios de produo e meios de subsistncia, que se propem avalorizar a soma-valor que possuem mediante compra de fora de tra-balho alheia: do outro, trabalhadores livres, vendedores da prpriafora de trabalho e, portanto, vendedores de trabalho. Trabalhadoreslivres no duplo sentido, porque no pertencem diretamente aos meiosde produo, como os escravos, os servos etc., nem os meios de produolhes pertencem, como, por exemplo, o campons economicamente au-tnomo etc., estando, pelo contrrio, livres, soltos e desprovidos deles.Com essa polarizao do mercado esto dadas as condies fundamen-tais da produo capitalista. A relao-capital pressupe a separaoentre os trabalhadores e a propriedade das condies da realizao dotrabalho. To logo a produo capitalista se apie sobre seus prpriosps, no apenas conserva aquela separao, mas a reproduz em escalasempre crescente. Portanto, o processo que cria a relao-capital nopode ser outra coisa que o processo de separao de trabalhador dapropriedade das condies de seu trabalho, um processo que transforma,por um lado, os meios sociais de subsistncia e de produo em capital,por outro, os produtores diretos em trabalhadores assalariados. A assimchamada acumulao primitiva , portanto, nada mais que o processohistrico de separao entre produtor e meio de produo. Ele aparececomo primitivo porque constitui a pr-histria do capital e do modode produo que lhe corresponde.

    A estrutura econmica da sociedade capitalista proveio da estru-tura econmica da sociedade feudal. A decomposio desta liberou oselementos daquela.

    O produtor direto, o trabalhador, somente pde dispor de sua

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    673 Propriedade. (N. dos T.)

  • pessoa depois que deixou de estar vinculado gleba e de ser servo oudependente de outra pessoa. Para tornar-se livre vendedor de fora detrabalho, que leva sua mercadoria a qualquer lugar onde houver mer-cado para ela, ele precisava ainda ter escapado do domnio das corpo-raes, de seus regulamentos para aprendizes e oficiais e das prescriesrestritivas do trabalho. Assim, o movimento histrico, que transformaos produtores em trabalhadores assalariados, aparece, por um lado,como sua libertao da servido e da coao corporativa; e esse aspecto o nico que existe para nossos escribas burgueses da Histria. Poroutro lado, porm, esses recm-libertados s se tornam vendedores desi mesmos depois que todos os seus meios de produo e todas asgarantias de sua existncia, oferecidas pelas velhas instituies feudais,lhes foram roubados. E a histria dessa sua expropriao est inscritanos anais da humanidade com traos de sangue e fogo.

    Os capitalistas industriais, esses novos potentados, tiveram dedeslocar, por sua vez, no apenas os mestres-artesos corporativos,mas tambm os senhores feudais, possuidores das fontes de riquezas.Sob esse aspecto, sua ascenso apresenta-se como fruto de uma lutavitoriosa contra o poder feudal e seus privilgios revoltantes, assimcomo contra as corporaes e os entraves que estas opunham ao livredesenvolvimento da produo e livre explorao do homem pelo ho-mem. Mas os cavaleiros da indstria s conseguiram desalojar os ca-valeiros da espada explorando acontecimentos em que no tiveram amenor culpa. Eles se lanaram ao alto por meios to vis quanto osque empregou outrora o liberto romano para tornar-se senhor de seupatronus.674

    O ponto de partida do desenvolvimento que produziu tanto otrabalhador assalariado quanto o capitalista foi a servido do tra-balhador. A continuao consistiu numa mudana de forma dessasujeio, na transformao da explorao feudal em capitalista. Paracompreender sua marcha, no precisamos volver a um passado tolongnquo. Ainda que os primrdios da produo capitalista j senos apresentam esporadicamente em algumas cidades mediterr-neas, nos sculos XIV e XV, a era capitalista s data do sculo XVI.Onde ela surge, a servido j est abolida h muito tempo e o pontomais brilhante da Idade Mdia, a existncia de cidades soberanas,h muito comeou a empalidecer.

    O que faz poca na histria da acumulao primitiva so todosos revolucionamentos que servem de alavanca classe capitalista emformao; sobretudo, porm, todos os momentos em que grandes massashumanas so arrancadas sbita e violentamente de seus meios de sub-sistncia e lanadas no mercado de trabalho como proletrios livres

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    674 Patrono. (N. dos T.)

  • como os pssaros. A expropriao da base fundiria do produtor rural,do campons, forma a base de todo o processo. Sua histria assume co-loridos diferentes nos diferentes pases e percorre as vrias fases em se-qncia diversa e em diferentes pocas histricas. Apenas na Inglaterra,que, por isso, tomamos como exemplo, mostra-se em sua forma clssica.675

    2. Expropriao do povo do campo de sua base fundiria

    Na Inglaterra, a servido tinha na ltima parte do sculo XIVde fato desaparecido. A grande maioria da populao676 consistia na-quela poca, e mais ainda no sculo XV, de camponeses livres, econo-micamente autnomos, qualquer que fosse a etiqueta feudal que ocul-tasse sua propriedade. Nos domnios senhoriais maiores o bailiff,677

    outrora ele mesmo servo, foi desalojado pelo arrendatrio livre. Ostrabalhadores assalariados da agricultura consistiam, em parte, emcamponeses, que aproveitavam seu tempo de lazer trabalhando paraos grandes proprietrios, em parte numa classe independente, relativae absolutamente pouco numerosa, de trabalhadores assalariados pro-priamente ditos. Tambm estes eram, ao mesmo tempo, de fato cam-poneses economicamente autnomos, pois recebiam, alm de seu sal-rio, um terreno arvel de 4 ou mais acres alm do cottage. Alm disso,junto com os camponeses propriamente ditos, gozavam o usufruto dasterras comunais, em que pastava seu gado e que lhes forneciam aomesmo tempo combustveis, como lenha, turfa etc.678 Em todos os pases

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    675 Na itlia, onde a produo capitalista desenvolveu-se mais cedo, ocorre tambm mais cedoa dissoluo das relaes de servido. O servo emancipado aqui antes de ter-se assegurado,por prescrio, qualquer direito base fundiria. Sua emancipao transforma-o, pois,imediatamente num proletrio livre como os pssaros, que, porm, j encontra os novossenhores nas cidades, em sua maioria originrias da poca de Roma. Quando a revoluodo mercado mundial, no final do sculo XV, destruiu a supremacia comercial do norte daItlia, surgiu um movimento em sentido contrrio. Os trabalhadores das cidades foramexpulsos em massa para o campo e l deram pequena agricultura, exercida sob a formade jardinagem, impulso nunca visto.

    676 "Os pequenos proprietrios fundirios, que cultivavam suas prprias terras com as prpriasmos e usufruam modesto bem-estar (...) constituam ento uma parte muito mais impor-tante da nao em relao aos tempos atuais. (...) Nada menos que 160 mil proprietrios,que com suas famlias deviam ter representado mais de 1/7 da populao total, viviam daexplorao de suas pequenas parcelas freehold" (freehold propriedade plenamente livre).O rendimento mdio desses pequenos proprietrios fundirios (...) avaliado como sendode 60 a 70 libras esterlinas. Calculou-se que o nmero daqueles que cultivavam sua prpriaterra era maior que o dos arrendatrios que lavraram terra alheia. (MACAULAY. Hist.of England. 10 ed., Londres, 1854. I, pp. 333-334.) Ainda no ltimo tero do sculo XVII,4/5 da massa popular inglesa eram agricultores (Op. cit., p. 413). Cito Macaulay porque,como falsrio sistemtico da Histria, ele poda tanto quanto possvel tais fatos.

    677 Bailio. (N. dos T.)678 No se deve esquecer jamais que o prprio servo no era apenas proprietrio, ainda que

    proprietrio sujeito a tributos, da parcela de terra pertencente a sua casa, mas tambmco-proprietrio das terras comunais. O campons l (na Silsia) servo. No obstante,possuem esses serfs bens comunais. No se conseguiu at agora induzir os silesianos partilha das terras comunais, enquanto na Neumark no existe quase nenhuma aldeia emque essa partilha no tenha sido efetuada com grande sucesso. (MIRABEAU. De la Mo-narchie Prussienne. Londres, 1788. t. II, pp. 125-126).

  • da Europa, a produo feudal caracterizada pela partilha do soloentre o maior nmero possvel de sditos. O poder de um senhor feudal,como o de todo soberano, no se baseava no montante de sua renda,mas no nmero de seus sditos, e este dependia do nmero de cam-poneses economicamente autnomos.679 Embora o solo ingls, depoisda conquista normanda, tenha sido dividido em baronias gigantescas,das quais uma nica muitas vezes abrangia a extenso de 900 antigossenhorios anglo-saxnicos, ele estava salpicado de pequenas exploraescamponesas, interrompidas apenas aqui e ali por domnios senhoriaismaiores. Tais condies, com o florescimento simultneo das cidades,caracterstico do sculo XV, permitiam aquela riqueza do povo de queo chanceler Fortescue tanto fala em seus Laudibus Legum Angliae,mas excluam a riqueza de capital.

    O preldio do revolucionamento, que criou a base do modo deproduo capitalista, ocorreu no ltimo tero do sculo XV e nas pri-meiras dcadas do sculo XVI. Uma massa de proletrios livres comoos pssaros foi lanada no mercado de trabalho pela dissoluo dossquitos feudais, que, como observa acertadamente Sir James Steuart,por toda parte enchiam inutilmente casa e castelo.680 Embora o poderreal, ele mesmo um produto do desenvolvimento burgus, em sua lutapela soberania absoluta tenha acelerado violentamente a dissoluodesses squitos, ele no foi, de modo algum, sua nica causa. Foi muitomais, em oposio mais teimosa realeza e ao Parlamento, o grandesenhor feudal quem criou um proletariado incomparavelmente maiormediante expulso violenta do campesinato da base fundiria, sobre aqual possua o mesmo ttulo jurdico feudal que ele, e usurpao de suaterra comunal. O impulso imediato para isso foi dado, na Inglaterra, no-meadamente pelo florescimento da manufatura flamenga de l e a con-seqente alta dos preos da l. A velha nobreza feudal fora devoradapelas grandes guerras feudais; a nova era uma filha de seu tempo, paraa qual o dinheiro era o poder dos poderes. Por isso, a transformao deterras de lavoura em pastagens de ovelhas tornou-se sua divisa. Harrison,em sua Description of England. Prefixed to Holinsheds Chronicles, descrevecomo a expropriao dos pequenos camponeses arruna o pas. Whatcare our great incroachers! (Mas o que importa isso a nossos grandesusurpadores!) As habitaes dos camponeses e os cottages dos traba-lhadores foram violentamente demolidos ou entregues runa.

    Consultando, diz Harrison, os inventrios mais antigos de

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    679 O Japo, com seu sistema puramente feudal de propriedade fundiria e sua economiadesenvolvida de pequena agricultura, oferece um quadro muito mais fiel da Idade Mdiaeuropia que todos os nossos livros de Histria, ditados em sua maioria por preconceitosburgueses. fcil demais ser liberal custa da Idade Mdia.

    680 STEUART, James. An Inquiry into the Principles of Political Economy. Dublin, 1770, v. I,p. 52. (N. da Ed. Alem.)

  • cada domnio senhorial, ver-se- que desapareceram inmerascasas e pequenas exploraes camponesas, que o campo alimentamuito menos gente, que muitas cidades decaram, ainda que al-gumas novas floresam. (...) De cidades e aldeias, que foram des-trudas para dar lugar a pastagens de ovelhas e onde ficaramapenas as casas senhoriais, eu poderia dizer algo.

    As queixas daquelas antigas crnicas so sempre exageradas,mas ilustram exatamente como a revoluo nas condies de produoimpressionou os prprios contemporneos. Uma comparao dos escri-tos do chanceler Fortescue e de Thomas Morus torna visvel o abismoentre os sculos XV e XVI. De sua idade de ouro, a classe trabalhadorainglesa caiu sem transio, como Thornt diz acertadamente, idadede ferro.

    A legislao aterrorizou-se com esse revolucionamento. No tinhachegado quele pice da civilizao em que a wealth of the nation, isto, a formao do capital e a explorao inescrupulosa e o empobreci-mento da massa do povo, considerada o pncaro de toda a sabedoriade Estado. Em sua histria de Henrique VII, diz Bacon:

    Naquele tempo (1489) aumentaram as queixas sobre a trans-formao de terras de lavoura em pastagens (para criao deovelhas etc.) fceis de cuidar por poucos pastores; e arrenda-mentos por tempo determinado, vitalcios ou anualmente revo-gveis (dos quais vivia grande parte dos yeomen)681 foram trans-formados em domnios senhoriais. Isso provocou uma decadnciadas cidades, igrejas, dzimos. (...) Na cura desse mal, a sabedoriado rei e do Parlamento naquela poca foi admirvel. (...) Tomarammedidas contra essa usurpao despovoadora das terras comunais(depopulating inclosures) e a explorao pastoril despovoadora(depopulating pasture) que lhe seguia as pegadas.

    Um decreto de Henrique VII, de 1489, c. 19, proibiu a destruiode todas as casas camponesas, s quais pertenciam pelo menos 20acres de terra. Num decreto 25,682 de Henrique VIII, a mesma lei renovada. Diz-se ali, entre outras coisas, que:

    muitos arrendamentos e grandes rebanhos de gado, especial-mente de ovelhas, acumulam-se em poucas mos, por meio doque as rendas da terra tinham crescido muito, decaindo, ao mesmotempo, a lavoura (tillage), sendo demolidas igrejas e casas e mas-sas populares maravilhosas incapacitadas de sustentar a si mes-mas e a suas famlias.

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    681 Camponeses livres. (N. dos T.)682 Ou seja, um decreto baixado no 25 ano do reinado de Henrique VIII. (N. dos T.)

  • A lei ordena, por isso, a reconstruo das propriedades campo-nesas decadas, determina a proporo entre campos de cereais e pas-tagens etc. Um decreto de 1533 se queixa de que alguns proprietriospossuam 24 mil ovelhas e limita seu nmero a 2 000.683 As queixasdo povo e a legislao, que a partir de Henrique VII continuamente,por 150 anos, se voltava contra a expropriao dos pequenos arrenda-trios e camponeses, foram igualmente infrutferas. O segredo de seufracasso nos revela Bacon, sem o saber.

    O decreto de Henrique VII, diz ele, em seus Essays, Civiland Moral, seo 29, era profundo e digno de admirao ao criarexploraes camponesas e casa rurais de determinado padro,isto , ao manter para os lavradores uma proporo de terra queos capacitava a trazer ao mundo sditos com riqueza suficientee sem posio servil, mantendo o arado em mo de proprietriose no de trabalhadores de aluguel (to keep the plough in thehand of the owners and not hirelings).

    Mas o que o sistema capitalista requeria era, ao contrrio, umaposio servil da massa do povo, sua transformao em trabalhadoresde aluguel e a de seus meios de trabalho em capital. Durante esseperodo de transio, a legislao procurou tambm conservar os 4acres de terras junto ao cottage do assalariado agrcola e lhe proibiude tomar inquilinos em seu cottage. Ainda em 1627, sob Carlos I, RogerCrocker de Fontmill foi condenado pela construo no domnio de Font-mill de um cottage sem 4 acres de terra como anexo permanente; aindaem 1638, sob Carlos I, foi nomeada uma comisso real para impor aexecuo das velhas leis, notadamente sobre os 4 acres de terra; Crom-well tambm proibiu a construo de uma casa num raio de 4 milhasao redor de Londres se no estivesse dotada de 4 acres de terra. Aindana primeira metade do sculo XVIII fazem-se queixas quando o cottagedo trabalhador agrcola no tem como complemento 1 ou 2 acres. Hojeele est feliz quando ela dotada de um jardinzinho ou quando podearrendar longe dela umas poucas varas de terra.

    Senhores de terra e arrendatrios, diz Dr. Hunter, agem,nesse caso, de mos dadas. Poucos acres junto ao cottage torna-riam o trabalhador demasiado independente.684

    O processo de expropriao violenta da massa do povo recebeunovo e terrvel impulso, no sculo XVI, pela Reforma e, em conseqncia

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    683 Em sua Utopia, Thomas Morus fala de um pas singular, onde as ovelhas devoram osseres humanos. (Utopia. Traduo de Robinson. Ed. Arber, Londres, 1869, p. 41).

    684 Dr. HUNTER. Op. cit., p. 134. A quantidade de terra que (nas velhas leis) era atribudaseria hoje considerada grande demais para trabalhadores e mais apropriada para trans-form-los em pequenos arrendatrios. (ROBERTS, George. The Social History of the Peopleof the Southern Counties of England in Past Centuries. Londres, 1856, p. 184.)

  • dela, pelo roubo colossal dos bens da Igreja. Na poca da Reforma, aIgreja Catlica era a proprietria feudal de grande parte da base fun-diria inglesa. A supresso dos conventos etc. lanou seus moradoresna proletarizao. Os prprios bens da Igreja foram, em grande parte,dados a rapaces favoritos reais ou vendidos por um preo irrisrio aarrendatrios ou a habitantes das cidades especuladoras, que expul-saram em massa os antigos sditos hereditrios, juntando suas explo-raes. A propriedade legalmente garantida a camponeses empobreci-dos de uma parte dos dzimos da Igreja foi tacitamente confiscada.685

    Pauper ubique jacet,686 exclamou a rainha Elisabeth aps uma viagematravs da Inglaterra. No 43 ano de seu reinado, foi forado finalmenteo reconhecimento oficial do pauperismo, mediante a introduo do im-posto para os pobres.

    Os autores dessa lei se envergonhavam de enunciar suas ra-zes e por isso, contra toda a tradio, trouxeram-na ao mundosem nenhum prembulo (exposio de motivos).687

    Essa lei foi declarada perptua por 16. Car. I., 4,688 e recebeu,na realidade, somente em 1834, uma forma nova e mais dura.689 Esses

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    685 "O direito dos pobres a participar nos dzimos da Igreja fixado por velhos estatutos."(TUCKETT. Op. cit., v. II, pp. 804-805.)

    686 "O pobre em toda parte subjugado." Da obra de Ovdio. Fasti. Livro Primeiro, verso 218.687 COBBET, William. A History of the Protestant Reformation. 471.688 4 lei do 16 ano do reinado de Carlos I. (N. dos T.)689 Reconhece-se o esprito protestante, entre outras coisas, no seguinte. No sul da Inglaterra,

    vrios proprietrios fundirios e arrendatrios abastados reuniram suas inteligncias eformularam 10 perguntas sobre a interpretao correta da Lei dos Pobres da rainha Eli-zabeth, as quais submeteram a um jurista famoso daquele tempo, Sergeabt Snigge (maistarde juiz, sob Jaime I) para dar parecer. Nona pergunta. Alguns dos ricos arrendatriosda parquia imaginaram um plano inteligente, pelo qual podem ser afastadas todas asconfuses na aplicao da lei. Eles propem a construo de uma priso na parquia. Atodo pobre que no se deixar encarcerar nessa priso, dever ser negado o auxlio. Deverento ser anunciado vizinhana que, se qualquer pessoa estiver disposta a arrendar ospobres dessa parquia, deve apresentar propostas lacradas, em determinado dia, dando opreo mais baixo pelo qual ela nos desejaria tom-los. Os autores desse plano supem que,nos condados vizinhos, haja pessoas que no desejam trabalhar e no possuem fortuna oucrdito para conseguir um arrendamento ou um barco, de modo que possam viver semtrabalho (so as to live without labour). Tais pessoas devem estar dispostas a fazer propostasmuito vantajosas para a parquia. Caso um ou outro pobre morra sob a tutela do contratante,o pecado ser dele, pois a parquia teria cumprido seus deveres para com os mesmospobres. Receamos, porm, que a atual lei no permita uma medida prudente (prudentialmeasure) dessa espcie; mas o senhor precisa saber que os demais freeholders desse condadoe dos adjacentes se juntaro a ns para induzir seus representantes na Cmara dos Comunsa propor uma lei que permita o encarceramento e o trabalho forado dos pobres, de modoque qualquer pessoa que se opuser ao encarceramento no tenha direito a nenhum auxlio.Isso, esperamos, ir impedir pessoas que se encontram na misria de requerer ajuda (willprevent persons is distress from wanting relief). (BLAKEY, R. The History of PoliticalLiterature from the Earliest Times. Londres, 1855. v. II, pp. 84-85.) Na Esccia, a abolioda servido teve lugar sculos depois de sua extino na Inglaterra. Ainda em 1698, Fletcherde Saltoun declarou no Parlamento escocs: O nmero de mendigos, na Esccia, estimadoem no menos que 200 mil. O nico remdio que eu, um republicano por princpio, possopropor restaurar a antiga condio de servido e tornar escravos todos os que sejamincapazes de prover sua prpria subsistncia". Assim tambm EDEN. Op. cit., Livro Pri-

  • efeitos imediatos da Reforma no foram os mais persistentes. A pro-priedade da Igreja constitua o baluarte religioso das antigas relaesde propriedade. Ao cair aquela, estas no poderiam ser mantidas.690

    Ainda nas ltimas dcadas do sculo XVII, a yeomanry, umaclasse de camponeses independentes, era mais numerosa que a classedos arrendatrios. Ela constitura a fora principal de Cromwell e,conforme confessa o prprio Macaulay, contrastava vantajosamente comos fidalgos porcalhes e beberres e seus lacaios, os curas rurais, quetinham de conseguir casamento para a criada preferida do senhor.Os assalariados rurais ainda participavam da propriedade comunal.Ao redor de 1750, a yeomanry tinha desaparecido691 e, nas ltimasdcadas do sculo XVIII, o ltimo vestgio de propriedade comunal doslavradores. Abstramos as foras motrizes puramente econmicas darevoluo agrcola. O que procuramos so as alavancas com que foiviolentamente realizada.

    Sob a restaurao dos Stuarts, os proprietrios fundirios impu-seram legalmente uma usurpao, que em todo o continente realizou-sesem rodeios legais. Eles aboliram a constituio feudal do solo, isto ,jogaram as obrigaes que o gravavam sobre o Estado, indenizaramo Estado por meio de impostos sobre o campesinato e o resto da massado povo, vindicaram a moderna propriedade privada de bens, sobre osquais possuam apenas ttulos feudais, e outorgaram, finalmente, aque-las leis de assentamento (laws of settlement) que tiveram, mutatis mu-tandis, sobre os lavradores ingleses os mesmos efeitos que o edito dotrtaro Boris Godunov sobre o campesinato russo.692

    A Glorious Revolution (Revoluo Gloriosa)693 trouxe, com Gui-

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    meiro, cap. 1, pp. 60-61. Da liberdade dos lavradores data o pauperismo (...) manufaturase comrcio so os verdadeiros pais de nossos pobres nacionais. Eden, como aquele repu-blicano escocs por princpio, equivoca-se apenas porque no a abolio da servido, masa abolio da propriedade do lavrador sobre a base fundiria que o torna proletrio, res-pectivamente pauper. s leis dos pobres da Inglaterra correspondem na Frana, ondea expropriao operou-se de outro modo, a Ordenana de Moulins, 1566, e o Edito de 1656.

    690 O Sr. Rogers, apesar de ser ento professor de Economia Poltica na Universidade deOxford, sede da ortodoxia protestante, acentua em seu prefcio History of Agriculture pauperizao da massa do povo pela Reforma.

    691 A Letter to Sir T. C. Bunbury, Brt.: On the High Price of Provisions. By a Suffolk Gentleman.Ipswich, 1795. p. 4. Mesmo o fantico defensor do sistema de grandes arrendamentos, oautor [J. Arbuthnot] da Inquiry into the Connection of Large Farms etc. (Londres 1773. p.139) diz: O que deploro mais a perda de nossa yeomanry, aquele conjunto de homensque, na realidade, sustentou a independncia desta nao; e lamento ver suas terras, agoranas mos de lordes monopolizadores, serem arrendadas a pequenos arrendatrios, queobtm seus arrendamentos sob tais condies que so pouco mais que vassalos que em todaocasio adversa tm de atender a chamados.

    692 Sob o reinado de Fiodor Ivanovitch (1584-1598), quando o soberano de fato da Rssia eraBoris Godunov, foi decretado um edito, em 1597, segundo o qual os camponeses que tinhamfugido do jugo insuportvel e das chicanas dos proprietrios fundirios seriam procuradosdurante cinco anos e devolvidos fora a seus antigos senhores.

    693 Designao habitual, na historiografia burguesa da Inglaterra, para o golpe de Estado de1688. O golpe de Estado consolidou a monarquia constitucional na Inglaterra, que se baseavanum compromisso entre os nobres proprietrios fundirios e a burguesia. (N. da Ed. Alem.)

  • lherme III de Orange,694 extratores de mais-valia fundirios e capita-listas ao poder. Inauguraram a nova era praticando o roubo dos do-mnios do Estado, at ento realizado em propores apenas modestas,em escala colossal. Essas terras foram presenteadas, vendidas a preosirrisrios ou, mediante usurpao direta, anexadas a propriedades pri-vadas.695 Tudo isso ocorreu sem nenhuma observncia da etiqueta legal.O patrimnio do Estado apropriado to fraudulentamente, junto como roubo da Igreja, na medida em que no sumiram durante a revoluorepublicana, formam a base dos atuais domnios principescos da oli-garquia inglesa.696 Os capitalistas burgueses favoreceram a operaovisando, entre outros motivos, transformar a base fundiria em puroartigo de comrcio, expandir a rea da grande explorao agrcola,multiplicar sua oferta de proletrios livres como os pssaros, prove-nientes do campo etc. Alm disso, a nova aristocracia fundiria eraaliada natural da nova bancocracia, da alta finana que acabava desair da casca do ovo e dos grandes manufatureiros, que ento se apoia-vam sobre tarifas protecionistas. A burguesia inglesa agiu assim, emdefesa de seus interesses, to acertadamente quanto os burgueses sue-cos que, ao contrrio, junto com seu baluarte econmico, o campesinato,apoiaram os reis na recuperao violenta das terras da Coroa em mosda oligarquia (desde 1604, mais tarde sob Carlos X e Carlos XI).

    A propriedade comunal inteiramente diferente da propriedadedo Estado considerada acima era uma antiga instituio germnica,que continuou a viver sob a cobertura do feudalismo. Viu-se como aviolenta usurpao da mesma, em geral acompanhada pela transfor-mao da terra de lavoura em pastagem, comea no final do sculoXV e prossegue no sculo XVI. Mas ento o processo efetivava-se comoato individual de violncia, contra a qual a legislao lutou, em vo,durante 150 anos. O progresso do sculo XVIII consiste em a prprialei se tornar agora veculo do roubo das terras do povo, embora osgrandes arrendatrios empreguem paralelamente tambm seus peque-nos e independentes mtodos privados.697 A forma parlamentar do roubo

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    694 Sobre a moral privada desse heri burgus l-se, entre outras coisas: As grandes concessesde terras a Lady Orkney na Irlanda, no ano de 1695, so uma demonstrao pblica daafeio do rei e da influncia da lady. (...) consta que os preciosos servios de Lady Orkneyconsistiram em (...) foeda-labiorum ministeria. (Na Sloane Manuscript Collection, no MuseuBritnico, n 4224. O manuscrito intitulado: The charakter and behaviour of King William,Sunderland etc. as represented in Original Letters to the Duke of Shrewsbury from Somers,Halifax, Oxford, Secretary Vermon etc." Est cheio de curiosidades.)

    695 "A alienao ilegal dos bens da Coroa, em parte por venda e em parte por doao, constituium captulo escandaloso na histria inglesa (...) uma fraude gigantesca contra a nao(gigantic fraud on the nation)". (NEWMAN, F. W. Lectures on Political Econ. Londres,1851. pp. 129, 130) {Como os atuais latifundirios ingleses chegaram a suas terras,pode-se ver em pormenores em [EVANS, N. H.] Our Old Nobility. By Noblesse Oblige.Londres, 1879. F. E.}

    696 Leia-se, por exemplo, o panfleto de E. Bures sobre a casa ducal de Bedford, cujo fruto,Lord Russell, the tomtit of liberalism.

    697 "Os arrendatrios probem aos cottagers (caseiros) manterem qualquer ser vivo alm deles

  • a das Bills for Inclosures of Commons (leis para o cercamento daterra comunal), em outras palavras, decretos pelos quais os senhoresfundirios fazem presente a si mesmos da terra do povo, como pro-priedade privada, decretos de expropriao do povo. Sir F. M. Edenrefuta sua astuta argumentao de advogado, na qual ele busca apre-sentar a propriedade comunal como propriedade privada dos grandesproprietrios fundirios, que tomaram o lugar dos feudais, ao pedirele mesmo uma lei parlamentar geral para o cercamento das terrascomunais, admitindo, portanto, que necessrio um golpe de Estadoparlamentar para sua transformao em propriedade privada, porm,por outro lado, solicitando da legislatura uma indenizao para ospobres expropriados.698

    Enquanto o lugar dos yeomen independentes foi tomado por te-nants-at-will, arrendatrios menores sujeitos a serem evictos em umano, um bando servil e dependente do capricho do landlord, foi, aolado do roubo dos domnios do Estado, sobretudo o furto sistematica-mente executado da propriedade comunal que ajudou a inchar aquelesgrandes arrendamentos que, no sculo XVIII, eram chamados de ar-rendamentos de capital699 ou arrendamentos de mercador,700 e a li-berar o povo rural como proletariado para a indstria.

    O sculo XVIII entretanto no chegou ainda a compreender, namesma medida que o sculo XIX, a identidade entre riqueza nacionale pobreza do povo. Da, portanto, a mais violenta polmica na literaturaeconmica dessa poca sobre o inclosure of commons. Eu cito do volu-moso material que tenho vista algumas passagens porque assim ascircunstncias sero visualizadas de modo mais vivo.

    Em muitas parquias de Hertfordshire, escreve uma penaindignada, 24 arrendamentos com 50-150 acres em mdia foramfundidos em 3 arrendamentos.701 Em Northamptonshire e Lin-colnshire tem predominado muito o cercamento das terras comu-nais e a maioria dos novos senhorios surgidos dos cercamentosest convertida em pastagens; em conseqncia, muitos senhoriosno tm 50 acres sob o arado, onde anteriormente eram arados1 500. (...) Runas de antigas habitaes, celeiros, estbulos etc.so os nicos vestgios dos antigos habitantes. Cem casas e fa-

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    prprios, sob o pretexto de que, caso eles tivessem gado ou aves, roubariam forragem dosceleiros. Eles dizem tambm: Mantenha os cottagers pobres e os manter laboriosos. Arealidade dos fatos, porm, que os arrendatrios usurpam, assim, todos os direitos sobreas terras comunais." (A Political Enquiry into the Consequences of enclosing Waste Lands.Londres, 1785. p. 75.)

    698 EDEN. Op. cit., Preface [pp. XVII, XIX].699 "Capital Farms". (Two Letters on the Flour Trade and the Deamess of Corn. By a Person

    in Business. Londres, 1767. p. 19-20.)700 "Merchant-Farms." (An Inquiry into the Present High Prices of Provisions. Londres, 1767. p. 111,

    nota.) Esse bom escrito, que apareceu anonimamente, de autoria do Rev. Nathaniel Forster.701 WRIGHT, Thomas. A Short Address to the Public on the Monopoly of Large Farms. 1779. pp. 2-3.

  • mlias, em alguns lugares, foram reduzidas (...) a 8 ou 10. (...)Os proprietrios fundirios, na maioria das parquias, onde ocercamento somente se realizou h 15 ou 20 anos, so muitopoucos em comparao com o nmero dos que lavraram a terraquando na condio de campo aberto. No nada incomum ver4 ou 5 ricos criadores de gado usurparem senhorios recentementecercados, que antes se encontravam em mos de 20 a 30 arrenda-trios e outros tantos pequenos proprietrios e moradores. Todoseles e suas famlias foram expulsos de suas posses juntamente commuitas outras famlias que eram por eles ocupadas e mantidas.702

    No apenas terra em alqueive, mas freqentemente terra culti-vada, mediante certo pagamento comunidade ou em comum, sob opretexto de cercamento era anexada pelo landlord vizinho.

    Eu falo aqui do cercamento de campos abertos e terras quej esto sendo cultivados. Mesmo os escritores que defendem osinclosures admitem que estes ltimos aumentam o monopliodos grandes arrendamentos, elevam os preos dos meios de sub-sistncia e produzem despovoamento (...) e mesmo cercamentode terras desertas, como empreendem agora, rouba aos pobresparte de seus meios de subsistncia e incha arrendamentos queagora j so grandes demais.703 Se, diz o dr. Price, a terracair nas mos de alguns poucos grandes arrendatrios, os pe-quenos arrendatrios (antes designados por ele como uma mul-tido de pequenos proprietrios e arrendatrios, que mantm asi mesmos e a famlia com o produto das terras cultivadas poreles, com ovelhas, aves, porcos etc. (...) que criam na terra co-munal, tendo portanto pouca oportunidade de comprar meios desubsistncia) sero transformados em pessoas que tero de ga-nhar sua subsistncia trabalhando para os outros e que seroforadas a ir ao mercado para comprar tudo de que precisam (...)Ser realizado, talvez, mais trabalho, porque h mais compulsopara isso. (...) Cidades e manufaturas crescero, pois mais pessoasque buscam emprego sero impelidas para elas. Essa a formacomo a concentrao dos arrendamentos opera naturalmente eem que, neste reino, h muitos anos tem realmente operado.704

    Ele resume assim o efeito global dos enclosures:

    Ao todo a situao das classes inferiores do povo tem piorado

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    702 Rev. ADDINGTON. Enquiry into the Reasons for or Against Enclosing open Fields. Londres,1772. pp. 37-43 passim.

    703 PRICE. Dr. R. Op. cit., v. II. pp. 155-156. Leia-se Forster, Addington, Kent. Price e JamesAnderson e compare-se a miservel tagarelice sicofanta de MacCulloch em seu catlogoThe Literature of Political Economy, Londres, 1845.

    704 Op. cit., p. 147-148.

  • em quase todos os sentidos; os pequenos proprietrios fundiriose arrendatrios so rebaixados condio de jornaleiros e tra-balhadores de aluguel; e, ao mesmo tempo, tornou-se mais difcilganhar a vida nessa condio.705

    Na realidade, a usurpao da terra comunal e a revoluo daagricultura que a acompanhou tiveram efeitos to agudos sobre o tra-balhador agrcola que, segundo o prprio Eden, entre 1765 e 1780, seusalrio comeou a cair abaixo do mnimo e a ser complementado pelaassistncia oficial aos pobres. Seu salrio, diz ele, bastava apenaspara as necessidades vitais absolutas.

    Ouamos, por um momento ainda, um defensor dos enclosures eadversrio do dr. Price.

    No correto concluir que haja despovoamento porque nose v mais gente desperdiando seu trabalho em campo aberto.(...) Quando, depois da transformao dos pequenos camponesesem pessoas que tm de trabalhar para outros, mais trabalho produzido, isso uma vantagem que a nao ( qual os trans-formados naturalmente no pertencem) deve desejar. (...) O pro-duto torna-se maior, quando seu trabalho combinado empregadonum arrendamento: assim formado produto excedente para asmanufaturas, e por meio deste as manufaturas, uma das minasde ouro desta nao, sero multiplicadas em proporo ao quan-tum produzido de cereais.706

    A estica serenidade com que o economista poltico encara asviolaes mais desavergonhadas do sagrado direito de propriedade eos atos de violncia mais grosseira contra as pessoas, na medida em

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    705 Op. cit., pp. 159-160. Recorda-se de Roma Antiga. Os ricos tinham se apoderado da maiorparte das terras no partilhadas. Eles confiavam, nas circunstncias da poca, que elasno lhes seriam tomadas, e adquiriam por isso os lotes dos pobres situados nas proximidades,em parte com o consentimento destes, em parte com violncia, de modo que lavravamexclusivamente vastos domnios em vez de campos isolados. Empregavam, por isso, escravospara a agricultura e para a pecuria, pois as pessoas livres haviam sido retiradas dotrabalho para prestar servio militar. A posse de escravos trouxe-lhes, alm disso, grandeslucros, pois estes, devido sua liberao do servio militar, podiam multiplicar-se semperigo e tinham uma poro de crianas. Assim, os poderosos apoderaram-se de toda ariqueza e toda regio formigava de escravos. Os talos, ao contrrio, se tornavam cada vezmenos, dizimados pela pobreza, tributos e servio militar. Mesmo quando apresentavam-sepocas de paz, porm, estavam condenados completa inatividade, porque os ricos estavamde posse do solo e usavam escravos, em lugar de pessoas livres, para a lavoura. (APIANO.Guerras Civis Romanas. 1, 7.) Essa passagem refere-se poca anterior lei licnia. Oservio militar, que tanto acelerou a runa dos plebeus romanos, foi tambm o principalmeio com o qual Carlos Magno promoveu artificialmente a converso de camponeses alemeslivres em dependentes e servos.

    706 [ARBUTHNOT, J.] An Inquiry into the Connection Between the Present Prices of Provisionsetc. pp. 124, 129. Semelhante, mas de tendncia oposta: Os trabalhadores so expulsos deseus cottages e obrigados a buscar ocupao nas cidades , mas obtm-se ento um excedentemaior, e assim o capital aumentado. ([SEELEY, R. B.] The Perils of the Nation. 2 ed.,Londres, 1843. p. XIV.)

  • que sejam necessrios para estabelecer a base do modo de produocapitalista, demonstra-nos, entre outros, este Sir F. M. Eden, que, almde tudo, apresenta matiz tory e filantropo. Toda a srie de pilhagens,horrores e tormentos do povo, que acompanham a violenta expropriaodo povo, do ltimo tero do sculo XV at o fim do sculo XVIII, leva-oapenas confortvel reflexo final:

    A proporo correta (due) entre terras para lavoura e para criaode gado tinha de ser estabelecida. Ainda no decorrer do sculo XIVe na maior parte do sculo XV, havia 1 acre de pastagem para 2,3 e mesmo 4 acres de terra para lavoura. Em meados do sculoXVI, a proporo transformou-se em 2 acres de pastagem para 2acres de lavoura, mais tarde, 2 acres de pastagem para 1 acre delavoura, at que finalmente se estabeleceu a proporo correta de3 acres de pastagem para 1 acre de lavoura.

    No sculo XIX perdeu-se, naturalmente, mesmo a lembrana daconexo entre lavoura e propriedade comunal. Sem falar dos temposposteriores, que farthing de indenizao recebeu o povo do campo al-guma vez pelos 3 511 770 acres de terra comunal que entre 1810 e1831 lhe foram roubados e parlamentarmente presenteados aos lan-dlords pelos landlords?

    O ltimo grande processo de expropriao dos lavradores da basefundiria finalmente a assim chamada Clearing of Estates (clarearpropriedades, de fato, limp-las de seres humanos). Todos os mtodosingleses at agora observados culminaram no clarear. Como se viu,pela descrio da situao moderna, na parte anterior, trata-se agora,que j no h camponeses independentes para serem varridos, de cla-rear os cottages, de modo que os trabalhadores agrcolas j no en-contram o espao necessrio para suas moradias, nem mesmo sobre osolo que lavram. Mas o que Clearing of Estates significa em sentidoprprio, vamos aprender apenas na terra prometida da moderna lite-ratura de romance, na alta Esccia. L, o procedimento se distinguepor seu carter sistemtico, pela grandeza da escala em que executadocom um s golpe (na Irlanda, os senhores fundirios conseguiram varrervrias aldeias ao mesmo tempo; na alta Esccia trata-se de reas dotamanho de ducados alemes) e finalmente pela forma especial dapropriedade fundiria usurpada.

    Os celtas da alta Esccia constituam cls, cada um deles pro-prietrio do solo por ele ocupado. O representante do cl, seu chefeou grande homem, era apenas o proprietrio titular desse solo, talcomo a rainha da Inglaterra a proprietria titular de todo o solonacional. Quando o governo ingls conseguiu reprimir as guerras in-testinas desses grandes homens e suas contnuas incurses nas pla-ncies da baixa Esccia, os chefes de cls no renunciaram, de modoalgum, a seu velho ofcio de assaltante; mudaram apenas a forma. Por

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  • conta prpria, transformaram seu direito titular de propriedade emdireito de propriedade privada e, como encontraram resistncia porparte dos membros do cl, resolveram enxot-los com violncia direta.

    Um rei da Inglaterra poderia, com o mesmo direito, lanarseus sditos ao mar,

    diz o Prof. Newman.707 Essa revoluo, que comeou na Esccia depoisdo ltimo levante do pretendente,708 pode ser seguida em suas primeirasfases, com Sir James Steuart709 e James Anderson.710 No sculo XVIII,foi simultaneamente proibida a emigrao dos galicos expulsos daterra com o fim de impeli-los fora para Glasgow e outras cidadesfabris.711 Como exemplo do mtodo dominante no sculo XIX,712 bastamaqui as clareaes levadas a cabo pela duquesa de Sutherland. Essapessoa economicamente instruda decidiu, logo ao assumir o governo,empreender uma cura econmica radical e transformar todo o condado,cuja populao j havia antes, mediante processos semelhantes, sidoreduzida a 15 mil, em pastagem de ovelhas. De 1814 at 1820, esses

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    707 A King of England might as well claim to drive his subjects into the sea. (NEWMAN, F.W. Op. cit., p. 132.)

    708 Os partidrios dos Stuarts esperavam, com sua revolta de 1745/46, forar a subida ao tronodo chamado jovem pretendente, Charles Edward, como rei da Inglaterra. Ao mesmo tempo,o levante refletia o protesto da massa do povo da Esccia e da Inglaterra contra sua ex-plorao pelos senhores da terra e contra a expulso em massa dos pequenos lavradores.A derrota da revolta teve por conseqncia a completa destruio do sistema de cls naEsccia. A expulso dos camponeses de suas terras prosseguiu ainda mais intensamenteque antes. (N. da Ed. Alem.)

    709 Steuart diz: A renda destas terras (ele transfere erroneamente essa categoria econmicapara o tributo dos taksmen ao chefe do cl) de todo modo insignificante em comparaoa sua extenso, mas, com respeito ao nmero de pessoas mantidas por um arrendamento,verificar-se-, talvez, que uma parcela de solo nas Terras Altas da Esccia alimenta dezvezes mais pessoas do que terra do mesmo valor nas provncias mais ricas. (Op. cit., v. I,cap. XVI, p. 104.)

    710 ANDERSON, James. Observations on the Means of Exciting a Spirit of National Industryetc. Edimburgo, 1777.

    711 Em 1860, pessoas expropriadas violentamente foram exportadas para o Canad sob falsaspromessas. Algumas fugiram para a montanha ou para as ilhas vizinhas. Foram perseguidaspor policiais, entraram em choque com eles e escaparam.

    712 "Nas Terras Altas", diz Buchanan, o comentarista de A. Smith, em 1814, a antiga condiode propriedade diariamente subvertida pela fora. (...) O landlord, sem considerao pelosarrendatrios hereditrios (esta tambm uma categoria empregada erroneamente), ofe-rece a terra ao melhor ofertante, e se este um inovador (improver), introduzir imedia-tamente um novo sistema de cultura. O solo, antes coberto de pequenos camponeses, estavapovoado em proporo a seu produto; sob o novo sistema de cultura melhorada e rendasmultiplicadas, obtm-se a maior produo possvel ao menor custo possvel, e para esse fimos braos tornados inteis so afastados. (...) Os expulsos de suas terras buscam sua subsistncianas cidades fabris etc. (BUCHANAN, David. Observations on etc. A. Smiths Wealth of Nations.Edimburgo, 1814. v. IV, p. 144.) Os grandes da Esccia expropriaram famlias como se esti-vessem exterminando erva ruim, trataram aldeias e sua populao como os ndios procurade vingana tratam as bestas selvagens em suas covas. (...) O ser humano trocado por umapele de ovelha ou uma perna de carneiro, ou menos ainda. (...) Quando da invaso das provnciasdo norte da China, foi proposto no Conselho dos Mongis exterminar os habitantes e convertersua terra em pastagem. Essa proposta muitos landlords escoceses puseram em prtica em seuprprio pas, contra seus prprios conterrneos. (ENSOR, George. An Inquiry Concerning thePopulation of Nations. Londres, 1818. pp. 215-216.)

  • 15 mil habitantes, cerca de 3 mil famlias, foram sistematicamenteexpulsos e exterminados. Todas as suas aldeias foram destrudas earrasadas pelo fogo, todos os seus campos transformados em pastagem.Soldados britnicos foram encarregados da execuo e entraram emchoque com os nativos. Uma velha senhora foi queimada nas chamasda cabana que ela se recusava a abandonar. Dessa forma, essa madameapropriou-se de 794 mil acres de terras, que desde tempos imemoriaispertenciam ao cl. Aos nativos expulsos ela destinou aproximadamente6 mil acres de terras, 2 acres por famlia, na orla martima. Os 6 milacres tinham at ento estado desertos e no haviam proporcionadonenhuma renda aos proprietrios. A duquesa foi to longe com seusnobres sentimentos a ponto de arrendar por 2 xelins e 6 pence, emmdia, o acre de terra s pessoas do cl que desde sculos tinhamvertido seu sangue pela famlia. Ela dividiu toda a terra roubada aocl em 29 grandes arrendamentos para a criao de ovelhas, cada umhabitado por uma nica famlia, na maioria servos ingleses de arren-datrios. No ano de 1825, os 15 mil galicos j tinham sido substitudospor 131 mil ovelhas. Aquela parte dos aborgines que foi jogada naorla martima procurou viver da pesca. Eles se tornaram anfbios eviviam, como diz um escritor ingls, metade sobre a terra e metadena gua e viviam, com tudo isso, apenas a metade de ambas.713

    Mas os bravos galicos deviam pagar ainda mais caro por suaidolatria romntica montanhesa pelos grandes homens do cl. O chei-ro de peixe subiu ao nariz dos grandes homens. Farejaram algo lucrativopor trs dele e arrendaram a orla martima aos grandes comerciantesde peixes de Londres. Os galicos foram expulsos pela segunda vez.714

    Finalmente, porm, uma parte das pastagens para ovelhas foi retrans-formada em reserva de caa. Sabe-se que na Inglaterra no h florestaspropriamente ditas. A caa nos parques dos grandes constitucional-mente gado domstico, gordo como aldermen715 londrinos. A Esccia ,portanto, o ltimo asilo da nobre paixo.

    Nas Terras Altas, diz Somers em 1848, as florestas forammuito ampliadas. Aqui, de um lado de Gaick vocs tm a nova

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    713 Quando a atual duquesa de Sutherland recebeu, com grande pompa, em Londres, a autorade A Cabana do Pai Toms, Harriet Beecher Stowe, a fim de exibir sua simpatia pelosescravos negros da Repblica Americana o que ela, ao lado dos demais aristocratas,sabiamente se absteve de fazer durante a guerra civil, quando cada nobre corao inglspulsava a favor dos escravocratas apresentei, na New York Tribune, as condies dosescravos dos Sutherland. (Em algumas passagens aproveitado por CAREY. The Slave Trade.Filadlfia, 1853. pp. 202-203.) Meu artigo foi reproduzido num jornal escocs e provocouuma bela polmica entre este ltimo e os sicofantas dos Sutherland.

    714 Algo interessante sobre esse comrcio de peixe encontra-se em Portfolio, News Series doSr. David Urquhart. Nassau W. Senior qualifica, em seu escrito pstumo j citado acima,o procedimento em Sutherlandshire como uma das mais generosas clareaes (clearings)registradas pela memria humana. (Op. cit., p. 282.)

    715 Vereadores. (N. dos T.)

  • floresta de Glenfeshie e l, do outro lado, a nova floresta deArdverikie. Na mesma linha vocs tm o Bleak-Mount, um imensodeserto, recentemente erguido. De leste para oeste, das vizinhan-as de Aberdeen at os penhascos de Oban, vocs tm agora umalinha contnua de florestas, enquanto, em outras partes das Ter-ras Altas, encontram-se as novas florestas de Loch Archaig, Glen-gary, Glenmoriston etc. (...) A transformao de sua terra empastagem de ovelhas (...) impeliu os galicos para terras menosfrteis. Agora o veado comea a substituir a ovelha e lana aquelesem misria ainda mais triturante. (...) As florestas de caa716 eo povo no podem existir um ao lado do outro. Um ou outro temde ceder espao. Deixem as florestas de caa crescer em nmeroe extenso, no prximo quarto de sculo, como no passado, evocs j no encontraro nenhum galico sobre sua terra natal.Esse movimento entre os proprietrios das Terras Altas deve-se,em parte, moda, pruridos aristocrticos, paixo pela caa etc.,em parte, porm, eles exercem o comrcio da caa exclusivamentecom um olho sobre o lucro. Pois fato que uma rea de terrasmontanhosas convertida em reserva de caa em muitos casosincomparavelmente mais lucrativa do que em pastagem para ove-lhas. (...) O aficionado que procura uma reserva de caa limitasua oferta apenas pelo tamanho de sua bolsa. (...)Foram impostos sofrimentos s Terras Altas que no so menoscruis que aqueles impostos pela poltica dos reis normandos Inglaterra. Os veados ganharam espaos mais livres, enquantoos seres humanos foram acossados em um crculo cada vez maisestreito. (...) Uma liberdade atrs da outra foi sendo roubada aopovo. (...) E a opresso ainda cresce diariamente. Clareao edisperso do povo so seguidas como princpio inabalvel pelosproprietrios, como uma necessidade agrcola, do mesmo modoque as rvores e os arbustos nas selvas da Amrica e Austrlia sovarridas, e a operao segue sua marcha tranqila e comercial.

    O roubo dos bens da Igreja, a fraudulenta alienao dos domniosdo Estado, o furto da propriedade comunal, a transformao usurpadorae executada com terrorismo inescrupuloso da propriedade feudal e cl-nica em propriedade privada moderna, foram outros tantos mtodosidlicos da acumulao primitiva. Eles conquistaram o campo para aagricultura capitalista, incorporaram a base fundiria ao capital e cria-ram para a indstria urbana a oferta necessria de um proletariadolivre como os pssaros.

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    716 As deer forests (florestas de veados) da Esccia no contm uma nica rvore. Impelem-seas ovelhas para fora e os servos para dentro das montanhas desnudas e denomina-se aisso uma deer forest. Nem mesmo, portanto, silvicultura!

  • 3. Legislao sanguinria contra os expropriados desde ofinal do sculo XV. Leis para o rebaixamento dos salrios

    Os expulsos pela dissoluo dos squitos feudais e pela intermi-tente e violenta expropriao da base fundiria, esse proletariado livrecomo os pssaros no podia ser absorvido pela manufatura nascentecom a mesma velocidade com que foi posto no mundo. Por outro lado,os que foram bruscamente arrancados de seu modo costumeiro de vidano conseguiam enquadrar-se de maneira igualmente sbita na disci-plina da nova condio. Eles se converteram em massas de esmoleiros,assaltantes, vagabundos, em parte por predisposio e na maioria doscasos por fora das circunstncias. Da ter surgido em toda a Europaocidental, no final do sculo XV e durante todo o sculo XVI, umalegislao sanguinria contra a vagabundagem. Os ancestrais da atualclasse trabalhadora foram imediatamente punidos pela transformao,que lhes foi imposta, em vagabundos e paupers. A legislao os tratavacomo criminosos voluntrios e supunha que dependia de sua boavontade seguir trabalhando nas antigas condies, que j no existiam.

    Na Inglaterra, essa legislao comeou sob Henrique VII.Henrique VIII, 1530: Esmoleiros velhos e incapacitados para o

    trabalho recebem uma licena para mendigar. Em contraposio, aoi-tamento e encarceramento para vagabundos vlidos. Eles devem seramarrados atrs de um carro e aoitados at que o sangue corra deseu corpo, em seguida devem prestar juramento de retornarem a suaterra natal ou ao lugar onde moraram nos ltimos 3 anos e se poremao trabalho (to put himself to labour). Que cruel ironia! 27 HenriqueVIII,717 o estatuto anterior repetido mas agravado por novos adendos.Aquele que for apanhado pela segunda vez por vagabundagem deverser novamente aoitado e ter a metade da orelha cortada; na terceirareincidncia, porm, o atingido, como criminoso grave e inimigo dacomunidade, dever ser executado.

    Eduardo VI: Um estatuto de seu primeiro ano de governo, 1547,estabelece que, se algum se recusa a trabalhar, dever ser condenadoa se tornar escravo da pessoa que o denunciou como vadio. O donodeve alimentar seu escravo com po e gua, bebida fraca e refugos decarne, conforme ache conveniente. Tem o direito de for-lo a qualquertrabalho, mesmo o mais repugnante, por meio do aoite e de correntes.Se o escravo se ausentar por 14 dias ser condenado escravido portoda a vida e dever ser marcado a ferro na testa ou na face com aletra S; caso fuja pela terceira vez, ser executado como traidor doEstado. O dono pode vend-lo, leg-lo, ou, como escravo, alug-lo, como

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    717 Isto , lei do 27 ano de reinado de Henrique VIII. Nas citaes seguintes, os algarismosdados em segundo lugar so os nmeros das leis promulgadas no ano do reinado emquesto. (N. da Ed. Alem.)

  • qualquer outro bem mvel ou gado. Se os escravos tentarem algumacoisa contra os senhores, devem ser da mesma forma executados. Osjuzes de paz, quando informados, devem perseguir os marotos. Se severificar que um vagabundo est vadiando h 3 dias, ele deve serlevado a sua terra natal, marcado com ferro em brasa no peito com aletra V e l posto a ferro para trabalhar na rua ou ser utilizado emoutros servios. Se o vagabundo der um falso lugar de nascimento,como castigo dever ser escravo vitalcio dessa localidade, de seus ha-bitantes ou da corporao, e marcado a ferro com um S. Todas aspessoas tm o direito de tomar os filhos dos vagabundos e mant-loscomo aprendizes, os rapazes at 24 anos e as moas at 20. Se fugirem,eles devem, at essa idade, ser escravos dos mestres, que podem acor-rent-los, aoit-los etc., conforme quiserem. Todo dono pode colocarum anel de ferro no pescoo, nos braos ou pernas de seu escravo parareconhec-lo mais facilmente e estar mais seguro dele.718 A ltimaparte desse estatuto prev que certos pobres devem ser empregadospela comunidade ou pelos indivduos que lhes dem de comer e debeber e desejem encontrar trabalho para eles. Essa espcie de escravosde parquia subsistiu at bem longe no sculo XIX, na Inglaterra, sobo nome de roundsmen (circulantes).

    Elisabeth, 1572: Esmoleiros sem licena e com mais de 14 anosde idade devem ser duramente aoitados e tero a orelha esquerdamarcada a ferro, caso ningum os queira tomar a servio por 2 anos;em caso de reincidncia, se com mais de 18 anos, devem ser executados,caso ningum os queira tomar a servio por 2 anos; numa terceiraincidncia, sero executados sem perdo, como traidores do Estado.Estatutos anlogos: 18 Elisabeth, c. 13 e ano de 1597.719

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    718 O autor do Essay on Trade etc., 1770, observa: Sob o reinado de Eduardo VI, os inglesesparecem, de fato, terem-se proposto, com toda seriedade, o encorajamento das manufaturase a ocupao dos pobres. Isso apreendemos de um notvel estatuto, no qual se diz quetodos os vagabundos devem ser marcados a ferro etc. (Op. cit., p. 5.)

    719 Thomas Morus diz, em sua Utopia, pp. 41-42: Acontece, ento, que um vido e insacivelcomilo, verdadeira peste de sua terra natal, pode apossar-se de milhares de acres de terrase contorn-los com uma paliada ou uma cerca, ou ento, por meio de violncia e fraude,atormentar de tal modo seus proprietrios que estes so obrigados a vender tudo. Por ummeio ou outro, dobrando-os ou quebrando-os, eles so obrigados a partir pobres, simples,miserveis almas! Homens, mulheres, esposos, esposas, crianas sem pais, vivas, meschorosas com crianas de peito, todo o domiclio, escasso em meios e numeroso em pessoas,pois a lavoura necessitava de muitos braos. Arrastam-se, digo eu, para longe de suasmoradias conhecidas e habituais, sem encontrar um lugar de descanso; a venda de todosos seus utenslios domsticos, embora sem grande valor, sob outras circunstncias lhesproporcionaria certo valor: mas, postos subitamente para fora, precisam desfazer-se delespor preos irrisrios. E ao vaguearem at que o ltimo real tenha sido comido, que outracoisa podem fazer, alm de roubar, e ento, por Deus, serem enforcados com todas asformalidades da lei, ou sair a esmolar? E tambm nesse caso so jogados na priso, comovagabundos, porque perambulam e no trabalham: eles, aos quais nenhuma pessoa querdar trabalho, por mais que se esforcem para tanto. Desses pobres fugitivos, dos quaisThomas Morus diz que se os coagiu a roubar, foram executados 72 mil pequenos e grandesladres, sob o reinado de Henrique VIII. (HOLINSHED. Description of England. v. I, p.186.) Na poca de Elisabeth, vagabundos foram enforcados em srie: geralmente no passava

  • Jaime I: Uma pessoa que perambule e mendigue ser declaradaum malandro e vagabundo. Os juzes de paz nas Petty Sessions720 estoautorizados a mandar aoit-los publicamente, e na primeira vez queforem apanhados sero encarcerados por 6 meses, na segunda por 2anos. Durante a priso, devem ser aoitados tanto e tantas vezes quantoos juzes de paz considerem adequado. (...) Os malandros irrecuperveise perigosos devem ser marcados a ferro no ombro esquerdo com umR721 e condenados a trabalho forado, e se forem apanhados de novomendigando devem ser executados sem perdo. Essas prescries sub-sistiram legalmente at o comeo do sculo XVIII e foram revogadassomente por 12. Ana, c. 23.

    Leis semelhantes vigoraram na Frana, onde em meados do sculoXVII se estabeleceu um reino de vagabundos (royaume des truands)em Paris. Ainda nos primeiros anos de reinado de Lus XVI (ordenanade 13 de julho de 1777) todo homem com boa sade de 16 a 60 anos,sem meios de existncia e sem exercer uma profisso, devia ser man-dado s gals. Analogamente o estatuto de Carlos V para os PasesBaixos, de outubro de 1537, o primeiro edito dos Estados e Cidadesda Holanda, de 19 de maro de 1614, e o das Provncias Unidas de25 de julho de 1649 etc.

    Assim, o povo do campo, tendo sua base fundiria expropriada fora e dela sendo expulso e transformado em vagabundos, foi en-quadrado por leis grotescas e terroristas numa disciplina necessriaao sistema de trabalho assalariado, por meio do acoite, do ferro embrasa e da tortura.

    No basta que as condies de trabalho apaream num plo comocapital e no outro plo, pessoas que nada tm para vender a no sersua fora de trabalho. No basta tambm forarem-nas a se venderemvoluntariamente. Na evoluo da produo capitalista, desenvolve-seuma classe de trabalhadores que, por educao, tradio, costume, re-conhece as exigncias daquele modo de produo como leis naturaisevidentes. A organizao do processo capitalista de produo plena-mente constitudo quebra toda a resistncia, a constante produo deuma superpopulao mantm a lei da oferta e da procura de trabalho

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    um ano em que no fossem levados forca 300 ou 400 deles, em um lugar ou outro.(STRYPE. Annals of the Reformation and Establishment of Religion, and other VariousOcurrences in the Church of England during Queen Elisabeths Happy Reign. 2 ed. 1725.v. II.) Segundo o mesmo Strype, em Somersetshire, num nico ano, 40 pessoas foramexecutadas, 35 marcadas a ferro, 37 chicoteadas e 183 soltas como malfeitores desespe-rados. Contudo, diz ele, esse grande nmero de acusados no inclui nem 1/5 dos delitospenais, graas negligncia dos juzes de paz estpida compaixo do povo. Ele acrescenta:Os demais condados da Inglaterra no estavam em melhores condies que Somersetshire,e muitos at mesmo em piores.

    720 Reunies dos tribunais de paz na Inglaterra; elas tratam de pequenos casos em processossimplificados. (N. da Ed. Alem.)

    721 De rogue: vagabundo. (N. dos T.)

  • e, portanto, o salrio em trilhos adequados s necessidades de valori-zao do capital, e a muda coao das condies econmicas sela odomnio do capitalista sobre o trabalhador. Violncia extra-econmicadireta ainda, verdade, empregada, mas apenas excepcionalmente.Para o curso usual das coisas, o trabalhador pode ser confiado s leisnaturais da produo, isto , sua dependncia do capital que seorigina das prprias condies de produo, e por elas garantida eperpetuada. Outro era o caso durante a gnese histrica da produocapitalista. A burguesia nascente precisa e emprega a fora do Estadopara regular o salrio, isto , para comprimi-lo dentro dos limites con-venientes extrao de mais-valia, para prolongar a jornada de trabalhoe manter o prprio trabalhador num grau normal de dependncia. Esse um momento essencial da assim chamada acumulao primitiva.

    A classe dos trabalhadores assalariados, que surgiu na ltimametade do sculo XIV, constitua ento e no sculo seguinte apenasuma parte mnima da populao, que em sua posio estava fortementeprotegida pela economia camponesa autnoma no campo e pela orga-nizao corporativa da cidade. No campo e na cidade, mestres e tra-balhadores estavam socialmente prximos. A subordinao do trabalhoao capital era apenas formal, isto , o prprio modo de produo nopossua ainda carter especificamente capitalista. O elemento variveldo capital predominava fortemente sobre o constante. A demanda detrabalho assalariado crescia, portanto, rapidamente com toda a acu-mulao do capital, enquanto a oferta de trabalho assalariado seguiaapenas lentamente. Grande parte do produto nacional, convertida maistarde em fundo de acumulao do capital, ainda entrava no fundo deconsumo do trabalhador.

    A legislao sobre o trabalho assalariado, desde o incio cunhadapara a explorao do trabalhador e em seu prosseguimento semprehostil a ele,722 foi iniciada na Inglaterra pelo Statute of Labourers723

    de Eduardo III, em 1349. A ele corresponde na Frana a Ordenanade 1350 promulgada em nome do rei Joo. A legislao inglesa e afrancesa seguem paralelas, e quanto ao contedo so idnticas. Namedida em que os estatutos dos trabalhadores buscam forar o pro-longamento da jornada de trabalho, no voltarei a eles, pois esse pontoj foi tratado anteriormente (Captulo VIII, 5).

    O Statute of Labourers foi promulgado em virtude das queixasinsistentes da Cmara dos Comuns.

    Outrora, diz ingenuamente um tory, os pobres exigiam sa-lrios to altos que ameaavam a indstria e a riqueza. Agora,

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    722 "Sempre que a legislao procura regular as diferenas entre empresrios e seus trabalha-dores, seus conselheiros so sempre os empresrios", diz A. Smith. O esprito das leis a propriedade, diz Linguet.

    723 Estatuto dos Trabalhadores. (N. dos T.)

  • seu salrio est to baixo que igualmente ameaa a indstria ea riqueza, mas de modo diferente e talvez mais perigoso queento.724

    Uma tarifa legal de salrios foi estabelecida para a cidade epara o campo, para o trabalho por pea e por dia. Os trabalhadoresrurais deviam alugar-se por ano, os da cidade no mercado aberto.Proibia-se, sob pena de priso, pagar salrios mais altos do que oestatutrio, porm o recebimento de salrios mais altos era punidomais duramente do que seu pagamento. Assim, o Estatuto dos Apren-dizes de Elisabeth, nas sees 18 e 19, impunha 10 dias de prisopara quem pagasse salrio mais alto, em contraposio a 21 dias paraquem os recebesse. Um estatuto de 1360725 agravou as penas e atmesmo autorizava o patro a recorrer coao fsica para extorquirtrabalho pela tarifa legal de salrio. Todas as combinaes, acordos,juramentos etc., pelos quais pedreiros e carpinteiros se vinculavamreciprocamente, foram declarados nulos e sem valor. Coalizo de tra-balhadores considerada crime grave, desde o sculo XIV at 1825,ano da abolio das leis anticoalizao." O esprito do Estatuto dosTrabalhadores de 1349 e de seus descendentes se revela claramenteno fato de que um salrio mximo ditado pelo Estado, mas de formaalguma um mnimo.

    No sculo XVI, como se sabe, piorou muito a situao dos tra-balhadores. O salrio monetrio subiu, mas no em proporo de-preciao do dinheiro e correspondente elevao dos preos das mer-cadorias. O salrio, portanto, caiu de fato. Contudo, continuavam emvigor as leis destinadas a seu rebaixamento, simultaneamente com oscortes de orelhas e a marcao a ferro daqueles que ningum queriatomar a seu servio. Pelo Estatuto dos Aprendizes 5 Elisabeth c. 3,os juzes de paz foram autorizados a fixar certos salrios e a modific-lossegundo as pocas do ano e os preos das mercadorias. Jaime I estendeuessa regulao do trabalho tambm aos teceles, fiandeiros e a todasas categorias possveis de trabalhadores;726 Jorge II estendeu a leianticoalizo a todas as manufaturas.

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    724 BYLES, J. B. Sophisms of Free Trade. By a Barrister. Londres, 1850, p. 206. Ele acrescentamaliciosamente: Estivemos sempre disposio para intervir pelo empregador. Nada sepode fazer pelo empregado?

    725 Deve ser 1630, pois Elisabeth I reinou de 1558 a 1603. (N. dos T.)726 De uma clusula do estatuto 2 de Jaime I, c. 6, verifica-se que certos manufatores de pano

    se permitiram, como juzes de paz, ditar oficialmente a tarifa salarial em suas prpriasoficinas. Na Alemanha, notadamente depois da Guerra dos Trinta Anos, eram freqentesos estatutos para manter os salrios baixos. Era muito importuna aos proprietrios fun-dirios nas terras despovoadas a falta de criados e trabalhadores. Foi proibido a todos osmoradores das aldeias alugarem quartos a homens e mulheres solteiros e todos estes hs-pedes deveriam ser denunciados s autoridades e metidos na cadeia, caso no quisessemtornar-se criados, mesmo quando se mantivessem com outra atividade, trabalhando nasemeadura como jornaleiros para o campons ou at negociando com dinheiro e cereais

  • No perodo manufatureiro propriamente dito, o modo de produocapitalista estava suficientemente fortalecido para tornar a regulaolegal do salrio to impraticvel como suprflua, mas no se quis dis-pensar as armas do velho arsenal, para o caso de necessidade. 8 JorgeII proibiu para os oficiais de alfaiataria em Londres e circunvizinhanassalrios acima de 2 xelins e 7 1/2 pence por dia, salvo em casos deluto generalizado; 13 Jorge III c. 68 transferiu a regulamentao dossalrios dos teceles de seda aos juzes de paz: em 1796 necessitou-sede duas sentenas dos tribunais superiores para decidir se as ordensdos juzes de paz sobre salrios teriam validade para os trabalhadoresno-agrcolas; ainda em 1799 um ato do Parlamento confirmou que osalrio dos trabalhadores de minas da Esccia seria regulado por umestatuto de Elisabeth e dois atos escoceses de 1661 e 1671. Quanto asituao, entretanto, tinha mudado, comprovou-o um acontecimentoinaudito na Cmara Baixa inglesa. Aqui, onde h mais de 400 anosfabricaram-se leis fixando o mximo que o salrio no deveria, de formaalguma, ultrapassar, Whitbread props para o jornaleiro agrcola umsalrio mnimo legal. Pitt ops-se, mas admitiu que a situao dospobres seria cruel. Finalmente, em 1813, as leis sobre a regulao desalrios foram abolidas. Eram uma anomalia ridcula, desde que ocapitalista passou a regular a fbrica por meio de sua legislao privada,deixando o imposto dos pobres completar o salrio do trabalhador ruralat o mnimo indispensvel. As determinaes dos Estatutos dos Tra-balhadores sobre contratos entre patro e trabalhador assalariado, pra-zos de demisses e anlogos, que permitem por quebras contratuaisapenas uma ao civil contra o patro, mas uma ao criminal contrao trabalhador, permanecem, at o atual momento, em pleno vigor.

    As leis cruis contra as coalizes caram em 1825, ante a atitudeameaadora do proletariado. Apesar disso, caram apenas em parte.Alguns belos resduos dos velhos estatutos desapareceram somente em1859. Finalmente, o ato do Parlamento de 29 de junho de 1871 pre-tendeu eliminar os ltimos vestgios dessa legislao de classe, pormeio do reconhecimento legal das Trades Unions. Mas um ato do Par-lamento, da mesma data (An act to amend the criminal law relatingto violence, threats and molestation),727 restabeleceu, de fato, a situaoanterior sob nova forma. Por essa escamoteao parlamentar, os meiosde que os trabalhadores podem se servir em uma greve ou lock-out

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    (Kaiserliche Privilegien fuer Schlesien. I. 125) Por todo um sculo aparecem nas ordenaesdos soberanos sempre de novo, queixas amargas contra a petulante e maldosa ral, queno se quer submeter s duras condies nem se satisfazer com o salrio legal; proibidoao proprietrio fundirio individual pagar mais que a taxa fixada pela provncia. E aindaassim, as condies de servio depois da guerra so s vezes ainda melhores que 100 anosmais tarde; em 1652, os criados na Silsia ainda recebiam carne duas vezes por semana; emnosso sculo, porm, em certos distritos eles a recebiam apenas trs vezes por ano. Tambmo salrio dirio, depois da guerra, era mais alto que nos sculos seguintes. (G. Freytag.)

    727 Um ato para emendar a lei penal em relao a violncia, ameaas e molestamento. (N. dos T.)

  • (greve dos fabricantes coligados mediante fechamento simultneo desuas fbricas) foram subtrados ao direito comum e colocados sob umalegislao penal de exceo, cuja interpretao coube aos prprios fa-bricantes em sua qualidade de juzes de paz. Dois anos antes, a mesmaCmara dos Comuns e o mesmo sr. Gladstone, com sua conhecidahonradez, tinham apresentado um projeto de lei para abolir todas asleis penais de exceo contra a classe trabalhadora. Porm, jamais sedeixou que ele chegasse a uma segunda leitura, e assim a coisa foisendo protelada at que finalmente o grande partido liberal, por meiode uma aliana com os tories, ganhou a coragem de voltar-se resolu-tamente contra o mesmo proletariado que o havia levado ao poder. Eno satisfeito com essa traio, o grande partido liberal permitiu aosjuzes ingleses, sempre abanando o rabo a servio das classes domi-nantes, desenterrarem novamente as arcaicas leis sobre conspiraese aplic-las s coalizes de trabalhadores. V-se que apenas contrasua vontade e sob presso das massas o Parlamento ingls renuncious leis contra greves e Trades Unions, depois de ele mesmo ter assu-mido por cinco sculos, com vergonhoso egosmo, a posio de umaTrades Union permanente dos capitalistas contra os trabalhadores.

    Logo no incio da tormenta revolucionria, a burguesia francesaousou abolir de novo o direito de associao que os trabalhadores tinhamacabado de conquistar. Pelo decreto de 14 de junho de 1791 ela declaroutoda coalizo de trabalhadores como um atentado liberdade e declarao dos direitos humanos, punvel com a multa de 500 librasalm da privao, por um ano, dos direitos de cidado ativo.728 Essalei, que comprime a luta de concorrncia entre o capital e o trabalhopor meio da polcia do Estado nos limites convenientes ao capital, so-breviveu a revolues e mudanas dinsticas. Mesmo o Governo doTerror729 deixou-a intocada. S recentemente foi ela riscada totalmentedo Code Pnal.730 Nada mais caracterstico que o pretexto para estegolpe de Estado burgus.

    Se bem que, diz Le Chapelier, o relator,"seja desejvel queo salrio se eleve acima de seu nvel atual, para que aquele queo receba esteja livre dessa dependncia absoluta que produzida

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    728 O artigo I dessa lei declara: Visto que uma das bases fundamentais da Constituiofrancesa consiste na supresso de todas as espcies de unio de cidados da mesma condioe profisso, proibido restabelec-las sob qualquer pretexto ou em qualquer forma. Oartigo IV declara que, se cidados que pertencem mesma profisso, arte ou ofcio seconsultarem mutuamente e conjuntamente tomarem deliberaes que objetivem a recusaro fornecimento dos servios de sua arte ou de seu trabalho, ou conced-los apenas a de-terminado preo, as ditas consultas e acordos devero ser declarados como anticonstitu-cionais e como atentados contra a liberdade e os direitos humanos etc., portanto comocrimes contra o Estado, exatamente como nos velhos estatutos dos trabalhadores. (Rvo-lutions de Paris. Paris, 1791. t. III, p. 523.)

    729 Ditadura dos jacobinos de junho de 1793 at junho de 1794. (N. da Ed. Alem.)730 Cdigo penal. (N. dos T.)

  • pela privao dos meios de primeira necessidade, a qual quasea dependncia da escravido",

    no se deve autorizar, contudo, os trabalhadores a estabelecer entendi-mentos sobre seus interesses, agir em comum e, por meio disso, moderarsua dependncia absoluta, que quase escravido, porque assim ferema liberdade de seus ci-devant matres,731 dos atuais empresrios (a li-berdade de manter os trabalhadores na escravido!), e porque uma coalizocontra o despotismo dos ex-mestres das corporaes adivinhe umarestaurao das corporaes abolidas pela constituio francesa!732

    4. Gnese dos arrendatrios capitalistas

    Depois que consideramos a violenta criao do proletariado livrecomo os pssaros, a disciplina sanguinria que os transforma em tra-balhadores assalariados, a srdida ao do soberano e do Estado, queeleva, com o grau de explorao do trabalho, policialmente a acumulaodo capital, pergunta-se de onde se originam os capitalistas. Pois aexpropriao do povo do campo cria, diretamente, apenas grandes pro-prietrios fundirios. No que concerne gnese do arrendatrio, po-demos, por assim dizer, toc-la com a mo, por que ela um processolento, que se arrasta por muitos sculos. Os prprios servos, ao ladodos quais houve tambm pequenos proprietrios livres, encontravam-seem relaes de propriedade bastante diferentes e foram, por isso, eman-cipados tambm sob condies econmicas muito diferentes.

    Na Inglaterra, a primeira forma de arrendatrio o bailiff, elemesmo um servo. Sua posio idntica a do villicus da Roma Antiga,apenas em esfera de ao mais estreita. Durante a segunda metadedo sculo XIV, ele substitudo por um arrendatrio a quem o landlordfornece sementes, gado e instrumentos agrcolas. Sua situao no muito diferente da do campons. Apenas explora mais trabalho assa-lariado. Torna-se logo metayer,733 meio arrendatrio. Ele aplica umaparte do capital agrcola, o landlord a outra. Ambos dividem o produtoglobal em proporo contratualmente determinada. Essa forma desa-parece rapidamente na Inglaterra, para dar lugar ao arrendatrio pro-priamente dito, o qual valoriza seu prprio capital pelo emprego detrabalhadores assalariados e paga uma parte do mais-produto em di-nheiro ou in natura, ao landlord como renda da terra.

    Enquanto, durante o sculo XV, o campons independente e oservo agrcola, que trabalha como assalariado e, ao mesmo tempo, parasi mesmo, se enriquecem mediante seu trabalho, a situao do arren-datrio e seu campo de produo permanecem igualmente medocres.

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    731 Ex-mestres. (N. dos T.)732 BUCHEZ e ROUX. Historie Parlamentaire. t. X. pp. 193-195 passim.733 Meeiro. (N. dos T.)

  • A revoluo agrcola, no ltimo tero do sculo XV, que prossegue porquase todo o sculo XVI (com exceo de suas ltimas dcadas) enri-queceu o arrendatrio com a mesma rapidez com que empobreceu opovo do campo.734 A usurpao das pastagens comunais etc. permitiu-lhe grande multiplicao de seu gado, quase sem custos, enquanto ogado fornecia-lhe maior quantidade de adubo para o cultivo do solo.

    No sculo XVI acresce ainda um momento decisivamente impor-tante. Naquela poca, os contratos de arrendamento eram longos, fre-qentemente por 99 anos. A contnua queda em valor dos metais nobres,e, portanto, do dinheiro, trouxe ao arrendatrio frutos de ouro. Elareduziu, abstraindo as demais circunstncias anteriormente mencio-nadas, o salrio. Uma frao do mesmo foi acrescentada ao lucro doarrendatrio. O constante aumento dos preos de cereal, l, carne,enfim de todos os produtos agrcolas, inchou o capital monetrio doarrendatrio sem sua colaborao, enquanto a renda da terra, que eletinha de pagar, foi contrada em valores monetrios ultrapassados.735

    Assim, ele se enriquecia, ao mesmo tempo, custa de seus trabalha-dores assalariados e de seu landlord. No de admirar, portanto, quea Inglaterra, nos fins do sculo XVI, possusse uma classe de arren-datrios de capital, bastante ricos para a poca.736

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    734 "Arrendatrios", diz Harrison em sua Description of England, para os quais antes eradifcil pagar uma renda de 4 libras esterlinas, pagam agora 40, 50, 100 libras esterlinase acreditam haver feito um mau negcio, se depois de terminar seu contrato de arrendamentono puserem de parte 6 a 7 anos de rendas.

    735 Sobre a influncia da depreciao do dinheiro, no sculo XVI, nas diversas classes dasociedade ver: A Compendious or Briefe Examination of Certayne Ordinary Complaintsof Diverse of our Countrymen in these our Days. By W. S, Gentleman. (Londres, 1581).A forma de dilogo desse escrito contribui para que durante muito tempo se o atribussea Shakespeare e ainda em 1751 fosse novamente publicado sob seu nome. Seu autor William Stafford. Em uma passagem, o cavaleiro (Knight) raciocina do seguinte modo:Knight: Vs, meu vizinho, o lavrador, vs, senhor comerciante, e vs, compadre caldeireiro,bem como os demais artesos, sabeis muito bem como vos arranjar. Pois na mesma medidaem que todas as coisas so mais caras do que eram, de tanto vs aumentais os preos devossas mercadorias e atividades, que de novo vendeis. Mas ns no temos nada para vendercujos preos pudssemos aumentar, para conseguir uma equiparao s coisas que preci-samos comprar de novo. Em outra passagem, o Knight pergunta ao doutor: Eu vos peoque digais que grupos de pessoas so essas em que vs pensais. E, primeiramente, quem,segundo vossa opinio, no tem nisto prejuzo? Doutor: Penso em todos estes quevivem da compra e venda, pois to caro como compram, eles vendem depois. Knight:Qual o prximo grupo que, como vs dizeis, ganha com isso? Doutor: Agora, todosque tm arrendamentos ou fazendas sob seu prprio trabalho (isto , cultivo) pagando arenda antiga, pois enquanto pagam segundo as taxas antigas, vendem segundo as novas isso significa que eles pagam muito pouco por sua terra e vendem caro tudo que sobreela cresce. (...) Knight: Qual o grupo que, como vs dizeis, ter nisso um prejuzomaior do que o ganho dos outros? Doutor: So todos os nobres, senhores e todos osoutros que vivem de uma renda fixa ou de um estipndio, ou no trabalham (cultivam)eles mesmos seu solo, ou no se ocupam com a compra e a venda.

    736 Na Frana, o rgisseur, administrador e coletor dos pagamentos ao senhor feudal, duranteo incio da Idade Mdia, torna-se logo um homme daffaires que mediante extorso, fraudeetc. se ala trapaceiramente posio de capitalista. Esses rgisseurs, s vezes, eram elesmesmos grandes senhores. Por exemplo: Essa conta o Sr. Jacques de Thoraisse, cavaleirosenhor do castelo de Besanon, presta ao senhor que em Dijon faz as contas para o senhor

  • 5. Repercusso da revoluo agrcola sobre a indstria.Criao do mercado interno para o capital industrial

    A intermitente e sempre renovada expropriao e expulso dopovo do campo, como foi visto, forneceu indstria urbana mais emais massas de proletrios, situados totalmente fora das relaes cor-porativas, uma sbia circunstncia que faz o velho A. Anderson (queno se deve confundir com James Anderson), em sua histria do co-mrcio, acreditar numa interveno direta da Providncia. Temos denos deter ainda um momento nesse elemento da acumulao primitiva. rarefao do povo independente, economicamente autnomo, do cam-po correspondeu o adensamento do proletariado industrial, do mesmomodo como, segundo Geoffroy Saint-Hilaire, o adensamento da matriado universo aqui se explica por sua rarefao ali.737 Apesar do nmeroreduzido de seus cultivadores, o solo proporcionava, depois como antes,tanta ou mais produo, porque a revoluo nas relaes de propriedadefundiria foi acompanhada por mtodos melhorados de cultura, maiorcooperao, concentrao dos meios de produo etc., e porque os as-salariados agrcolas no apenas foram obrigados a trabalhar mais in-tensamente,738 mas tambm o campo de produo, sobre o qual traba-lhavam para si mesmos, se contraa mais e mais. Com a liberao departe do povo do campo, os alimentos que este consumia anteriormentetambm so liberados. Eles se transformam agora em elemento ma-terial do capital varivel. O campons despojado tem de adquirir ovalor deles de seu novo senhor, o capitalista industrial, sob a formade salrio. Assim como os meios de subsistncia, foram afetadas tam-bm as matrias-primas agrcolas nacionais da indstria. Transforma-ram-se em elemento do capital constante.

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    duque e conde de Borgonha, sobre as rendas que pertencem ao mencionado domnio docastelo, do 25 dia de dezembro de 1359 at o 28 dia de dezembro de 1360". (MONTEIL,Alexis. Histoire des Matriaux Manuscrits etc., pp. 234-235.) Aqui j se mostra como emtodas as esferas da vida social a parte do leo fica para o intermedirio. Na rea econmica,por exemplo, financistas, operadores da Bolsa, negociantes, pequenos merceeiros ficam coma nata dos negcios; no Direito Civil, o advogado depena as partes, na poltica, o representantevale mais que o eleitor, o ministro mais que o soberano; na religio, Deus empurradopara o fundo pelo mediador" e este, por sua vez, deixado para trs pelos padres, que porsua vez so os intermedirios indispensveis entre o bom pastor e suas ovelhas. Na Frana,como na Inglaterra, os grandes territrios feudais estavam divididos em uma infinidade depequenas exploraes, sob condies incomparavelmente menos favorveis para o povo docampo. No sculo XIV, apareceram os arrendamentos, fermes ou terriers. Seu nmero au-mentou continuamente, chegando a bem mais de 100 mil. Eles pagavam uma renda daterra que oscilava entre 1/12 e 1/5 do produto em dinheiro ou in natura. Os terriers eramvassalos e subvassalos etc. (fiefs, arrire-fiefs), conforme o valor e a extenso dos domnios,dos quais alguns contavam apenas poucos arpents. Todos esses terriers possuam jurisdioem algum grau sobre os moradores na rea; existiam quatro graus. Compreende-se a pressosofrida pelo povo do campo sob todos esses pequenos tiranos. Monteil diz que havia ento,na Frana, 160 mil tribunais, onde hoje bastam 4 mil (juzes de paz inclusive).

    737 Em suas Notions de Philosophie Naturelle. Paris. 1838.738 Um ponto que Sir James Steuart ressalta.

  • Suponha-se, por exemplo, que parte dos camponeses da Westfalia,que no tempo de Frederico II fiavam todos linho, ainda que no seda,fosse expropriada fora e expulsa da base fundiria, sendo a outraparte restante, porm, transformada em jornaleiros de grandes arren-datrios. Ao mesmo tempo, erguem-se grandes fiaes e tecelagens delinho, nas quais os liberados trabalham agora por salrios. O linhotem exatamente o mesmo aspecto que antes. Nenhuma de suas fibrasfoi mudada; mas uma nova alma social penetrou-lhe no corpo. Eleconstitui agora parte do capital constante dos senhores da manufatura.Antes, repartido entre inumerveis pequenos produtores, que o culti-vavam e fiavam em pequenas pores com suas famlias, est agoraconcentrado nas mos de um capitalista, que faz outros fiar e tecerpara ele. O trabalho extra despendido na fiao do linho realizava-seantes como receita extra de inumerveis famlias camponesas ou, aotempo de Frederico II, tambm em impostos pour le roi de Prousse.739

    Ele realiza-se agora no lucro de alguns poucos capitalistas. Os fusose teares, antes disseminados pelo interior, esto agora concentradosem algumas grandes casernas de trabalho, tal como os trabalhadorese como a matria-prima. E os fusos, os teares e a matria-prima, demeios de existncia independente para fiandeiros e teceles, transfor-mam-se, de agora em diante, em meios de comand-los740 e de extrairdeles trabalho no-pago. Nas grandes manufaturas, bem como nos gran-des arrendamentos, no se nota que se originam da reunio de muitospequenos centros de produo e que so formados pela expropriaode muitos pequenos produtores independentes. Entretanto, a observa-o imparcial no se deixa enganar. Ao tempo de Mirabeau, o leo darevoluo, chamavam as grandes manufaturas ainda de manufacturesrunies, oficinas reunidas, assim como falamos de campos reunidos.

    Vem-se apenas, diz Mirabeau, as grandes manufaturas,onde centenas de pessoas trabalham sob as ordens de um diretore que costumeiramente so chamadas de manufaturas reunidas(manufactures runies). Aquelas, ao contrrio, em que trabalhaum nmero muito grande de trabalhadores dispersos e cada umpor conta prpria, quase no so consideradas dignas de um olhar.So colocadas bem no fundo. Esse um erro muito grande, poiss elas constituem um componente realmente importante da ri-queza do povo. (...) A fbrica reunida (fabrique runie) enriquecermaravilhosamente um ou dois empresrios, os trabalhadores, po-rm, so apenas jornaleiros e em nada participam do bem-estardo empresrio. Na fbrica separada (fabrique spare), ao con-

    OS ECONOMISTAS

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    739 Para o rei da Prssia. (N. dos T.)740 "Eu concederei", diz o capitalista, que vs tenhais a honra de servir-me, sob a condio

    de que vs me deis o pouco que vos resta pelo incmodo que me fao de vos comandar.(ROUSSEAU, J. J. Discours sur lconomie Politique [Genve, 1760. p. 70].)

  • trrio, ningum se torna rico, mas uma poro de trabalhadoresencontra-se em situao confortvel. (...) O nmero de trabalhadoreslaboriosos e econmicos crescer, pois eles reconhecem num prudentemodo de vida, na atividade, um meio de melhorar substancialmentesua situao, em vez de ganhar um pequeno aumento salarial quenunca pode ser um objeto importante para o futuro, mas que, nomximo, capacita as pessoas a viver um pouco melhor da mo paraa boca. As manufaturas individuais separadas, geralmente conju-gadas com pequena agricultura, so as livres.741

    A expropriao e a expulso de parte do povo do campo liberam,com os trabalhadores, no apenas seus meios de subsistncia e seumaterial de trabalho para o capital industrial, mas criam tambm omercado interno.

    De fato, os acontecimentos que transformam os pequenos cam-poneses em trabalhadores assalariados, e seus meios de subsistnciae de trabalho em elementos materiais do capital, criam, ao mesmotempo, para este ltimo seu mercado interno. Antes, a famlia cam-ponesa produzia e processava os meios de subsistncia e as matrias-primas que depois, em sua maior parte, ela mesma consumia. Essasmatrias-primas e esses meios de subsistncia tornaram-se agora mer-cadorias; o grande arrendatrio as vende e nas manufaturas encontraele seu mercado. Fio, pano, tecidos grosseiros de l, coisas cujas ma-trias-primas encontravam-se ao alcance de toda famlia camponesa eque eram fiadas e tecidas por ela para seu autoconsumo transfor-mam-se agora em artigos de manufatura, cujos mercados so consti-tudos justamente pelos distritos rurais. A numerosa clientela dispersa,at aqui condicionada por uma poro de produtores pequenos, traba-lhando por conta prpria, concentra-se agora num grande mercado abas-tecido pelo capital industrial.742 Assim, com a expropriao de campo-neses antes economicamente autnomos e sua separao de seus meiosde produo, se d no mesmo ritmo a destruio da indstria subsidiriarural, o processo de separao entre manufatura e agricultura. E so-mente a destruio do ofcio domstico rural pode proporcionar ao mer-cado interno de um pas a extenso e a slida coeso de que o modode produo capitalista necessita.

    MARX

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    741 MIRABEAU. Op. cit., t. III, pp. 20-109 passim. Se Mirabeau considera as oficinas dispersasmais